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Bienal

Bienal ao contrário do museu, sua função não é preservar


o passado mas sintonizar o presente e até mesmo sondar
o futuro.
Maria Alice Milliet
A história das exposições de arte é um instrumento imprescindível para a compreensão da
história da arte. A Bienal de São Paulo é um caso significativamente singular, pois foi a primeira
bienal a surgir em um país periférico no hemisfério sul, no qual provocou, a partir de 1951, uma
dinâmica local particular. A mostra 30 × Bienal - Transformações na arte brasileira da 1ª à 30ª
edição procura verificar os nexos, contextos, relações e processos que os artistas e obras
estabeleceram como momentos determinantes na história da Bienal, da arte brasileira e
também internacional. 

Paulo Venancio Filho


Para realizar a 1ª Bienal, um pavilhão especial
foi construído no belvedere do Parque Trianon,
onde hoje se encontra o MASP
Seleção de obras: artistas nacionais e estrangeiros

Regulamento da Bienal de Veneza adaptado


Ciccilo e Lourival Gomes Machado
A 2ª e a 3ª edição da mostra foram
realizadas no Pavilhão Manoel da
Nóbrega (atual Museu Afro Brasil) no
Parque do Ibirapuera
4ª. Bienal - Pavilhão Engenheiro Armando de Arruda Pereira
Bienal fica atrelada ao MAM até 1962

Fundação Bienal
1ª Bienal de São Paulo (1951)
Unidade tripartida (1948-49) do suíço Max Bill,
Cândido Portinari e Di Cavalcanti,
Pablo Picasso e do belga René Magritte

Unidade tripartida (1948-49)
do suíço Max Bill,
2ª Bienal de São Paulo (1953)
“Bienal da Guernica”, em alusão à mais famosa obra de Pablo Picasso, datada de 1937 e
considerada o grande destaque do evento. Com quase o dobro de obras em relação à edição
anterior, a 2ª Bienal foi realizada já no Parque do Ibirapuera, aproveitando sua inauguração e
ocupando dois pavilhões projetados por Oscar Niemeyer (1907-2012): o Palácio dos Estados
(atual Pavilhão das Culturas Brasileiras) e o Palácio das Nações (atual Pavilhão Padre Manoel da
Nóbrega, onde está situado o Museu Afro Brasil).
A exposição foi um marco histórico mundial pela espantosa seleção de artistas estrangeiros, a
qual incluía o fundador da escola alemã Bauhaus, Walter Gropius, o suíço Paul Klee, o holandês
Piet Mondrian, o norte-americano Alexander Calder e o austríaco Oscar Kokoschka, além de uma
sala inteiramente dedicada a 69 obras do ícone expressionista Edvard Munch. A representação
francesa no evento proporcionou ao público brasileiro o contato com obras dos protagonistas do
cubismo, Pablo Picasso e Georges Braque, além de Robert Delaunay e Marcel Duchamp. A
delegação italiana, por sua vez, destacou-se pela seleção de seus principais artistas futuristas,
entre eles, Giorgio Morandi e Umberto Boccioni. Alfredo Volpi recebeu o prêmio de Pintura e
Lívio Abramo o de Gravura. Antônio Bandeira, por sua vez, assinou o cartaz da edição.
Livio Abramo
3ª Bienal de São Paulo (1955)
Ao alcançar seu objetivo e consolidar-se como evento de arte de relevância no cenário mundial,
a 3ª Bienal teve como destaque as obras dos muralistas mexicanos Diego Rivera, José Clemente
Orozco e David Alfaro Siqueiros. A presença de artistas concretos brasileiros, como Waldemar
Cordeiro, Geraldo de Barros, Lygia Clark, Luiz Sacilotto, Mary Vieira e Maurício Nogueira Lima,
demonstrava o esforço do evento em apresentar a arte nacional como expressão madura e
digna de inclusão no cenário internacional. Salas Especiais foram dedicadas aos pintores
brasileiros Cândido Portinari e Lasar Segall, além do pintor francês Fernand Léger, cuja
retrospectiva trouxe 38 pinturas, entre elas a peçaLes loisirs (hommage à Louis David) (1948-49),
que teve enorme aceitação pela simplicidade estética e de sentido empregadas em sua criação.
O cartaz desse ano é de autoria de Alexandre Wollner.

Waldemar cordeiro Lygia Clark


Geraldo de Barros
Luiz Sacilotto

Mary Vieira Mauricio Nogueira Lima


Não entre à esquerda 1964
metal e esmalte sintético sobre aglomerado
99,2 x 59,6 cm
4ª Bienal de São Paulo (1957)
Polêmicas marcaram a quarta edição do evento, quando nomes consagrados no cenário artístico
nacional, como Flávio de Carvalho, tiveram seus trabalhos recusados pelo júri. Apesar disso, a
representação brasileira na exposição apresenta quase o dobro de obras em relação à edição
anterior, 3800 obras de 599 artistas, com destaque para a representação norte-americana, que
destinou uma sala inteira ao pintor expressionista abstrato Jackson Pollock, em pleno auge de
sua trajetória. A produção surrealista verificada em obras dos mestres René Magritte, Marc
Chagall e Paul Delvaux também marcaram a edição. Frans Krajcberg recebeu o prêmio de
Pintura, Franz Weissmann o de Escultura e Fayga Ostrower o de Gravura. A Bienal também teve
forte participação dos brasileiros Aluísio Carvão, Hermelindo Fiaminghi, Willys de Castro, Lygia
Pape, Hélio Oiticica, Hércules Barsotti, Sérgio Camargo, Almir Mavignier, Ivan Serpa, Milton
Dacosta e Maria Leontina.

Frans Krajcberg
Aluísio Carvão Hermelindo Fiaminghi

Fayga Ostrower Willys de Castro


Livio Abramo
5ª Bienal de São Paulo (1959)
Passaram pela 5ª Bienal 200 mil visitantes, garantindo o sucesso da exposição, que teve como
pontos altos a seleção de trinta obras do ícone impressionista Vincent van Gogh. Representada
pelo jovem artista brasileiro Manabu Mabe, a presença do tachismo e do informal têm
relevância na exposição. A presença de Iberê Camargo e Flavio-Shiró são destaques entre os
brasileiros. Marcelo Grassmann, por sua vez, recebe o prêmio de Desenho. A representação da
Alemanha reuniu obras dos expressionistas de Dresden: Erich Heckel, Ernst Ludwig Kirchner, Karl
Schmidt-Rottluff, Emil Nolde e Otto Müller. Com forte presença da gravura, as delegações
francesa e japonesa trouxeram expoentes históricos da técnica em seus respectivos países.

Flavio-Shiró

Marcelo Grassmann Iberê Camargo


6ª Bienal de São Paulo (1961)
Ciccillo Matarazzo deixa de ser o único mecenas da Bienal, e o evento passa por sua primeira
crise econômica. A sexta edição ficou conhecida pelo predomínio do neoconcretismo brasileiro,
evidenciado pela presença revolucionária dosBichos de Lygia Clark. O abstracionismo concreto
também tomava força, com uma retrospectiva de 95 obras de Alfredo Volpi e as outras
participações brasileiras significativas de Willys de Castro, Amilcar de Castro e Ivan Serpa. Lygia
Clark recebeu o prêmio de Escultura, Anatol Wladyslaw o de Desenho e Iberê Camargo o de
Pintura

Amilcar de Castro
Anatol Wladyslaw
Ivan Serpa
7ª Bienal de São Paulo (1963)
A 7ª Bienal foi a primeira edição desvinculada do Museu de Arte Moderna de São Paulo e
realizada sob responsabilidade da Fundação Bienal de São Paulo, instituição criada um ano
antes. De um lado, ao olhar para a produção contemporânea, a exposição abarcava a obra de
Flávio de Carvalho e apontava para o início da febre pop, protagonizada pela presença do norte-
americano George Segall e do inglês Eduardo Paolozzi. De outro, prosseguia com mostras
retrospectivas promovidas pelas delegações estrangeiras, como as salas do expressionista
alemão Emil Nolde e do modernista uruguaio Rafael Barradas, o que punha em xeque o sentido
conceitual do evento. Yolanda Mohalyi recebeu o prêmio de Pintura. Os brasileiros Anatol
Wladyslaw, Sérvulo Esmeraldo, Eleonore Koch e Arthur Piza também participaram da edição

Sérvulo Esmeraldo Falta de unidade temática

Arthur Piza
Yolanda Mohalyi
8ª Bienal de São Paulo (1965)
Início da ditadura militar no Brasil
pós-golpe de 1964.
Apesar de estrategicamente “protegida” pelo governo, interessado na aproximação da entidade
com os outros países e o apoio efetivo destes para que o evento acontecesse, a Bienal era um
espaço privilegiado em que os intelectuais reivindicavam direitos e pensavam o futuro. Tal
ambiguidade fez com que os premiados brasileiros Sérgio Camargo e Maria Bonomi
entregassem ao presidente uma moção a favor da libertação de quatro intelectuais durante a
cerimônia de abertura da exposição, causando constrangimento. A despeito das complicações
políticas, consagrou-se a apresentação de uma grande sala hours-concours, dedicada ao
surrealismo e à arte fantástica. Marcel Duchamp, com seu ready-made famoso Roue de
bicyclette (1913), era visto ao lado de Max Ernst, Marc Chagall, Joan Miró, Jean Arp, Man Ray,
Paul Klee, Paul Delvaux, René Magritte e Francis Picabia.

Sérgio Camargo
9ª Bienal de São Paulo (1967)
A Bienal da arte pop foi inaugurada sob uma polêmica já prevista: o governo militar, regido
então pelo marechal Costa e Silva, retirou duas obras que “feriam” as autoridades e a
constituição brasileira: uma pintura da brasileira Cybele Varela considerada antinacionalista e a
série Meditação sobre a Bandeira Nacional, de Quissak Jr., que utilizava o símbolo para fins não
patrióticos. A delegação estadunidense, grande destaque do evento, foi a responsável por
apresentar o preciso recorte de arte pop que trouxe ao evento obras de Andy Warhol, Roy
Lichtenstein, Robert Rauschenberg e a premiada Three Flags, de Jasper Johns. Também imersos
na linguagem pop, que requeria uma aproximação mais estreita com o espectador, estavam os
brasileiros Marcello Nitsche, que apresentou sua famosa Bolha amarela, e os
fundadores/participantes do Grupo Rex: Wesley Duke Lee, Nelson Leirner, Geraldo de Barros,
Carlos Fajardo, José Resende, Carlos Vergara, Carlos Zilio, Claudio Tozzi, Sérgio Sister, Luiz Paulo
Baravelli, Rubens Gerchman e Antonio Manuel. Uma retrospectiva dedicada ao pintor Edward
Hopper, falecido no mesmo ano, foi ponto alto da mostra.

Marcello Nitsche Rubens Gerchman Carlos Vergara


Crise da Bienal

...quilômetros de objetos os mais disparatados, distribuídos


segundo ordem geográfica que nada tem a ver com seu
significado estético. Isso resulta de um equívoco que a cada
Ano se agrava...”
Ditadura
Censura
Boicote
Pierre Restany liderou a r
epercussão internacional,
que chegou a ocupar páginas
de jornais como o
The New York Times.
1973
XII
Curador Geraldo Ferraz
Ciccillo faleceu em 1977

Porém, quem realizou a 14ª edição foi a


Associação Brasileira dos Críticos de Arte.
Alberto Beauttenmuller
Lisetta Levi
Clarival do Prado Valladares
Marc Berkowitz

Na 15ª edição, por conta da ditadura, a Bienal


encerrava ofuscada a difícil década de 1970.
Entitulada Bienal da Bienais
16ª Bienal de São Paulo (1981)
O surgimento, nesse ano, da figura de um curador-geral da mostra transformaria por completo
os rumos da Bienal. O crítico e ex-diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) Walter
Zanini foi o primeiro a assumir o posto, propondo uma edição particularmente ousada e
modernizante. Rompendo com as edições anteriores, a 16ª Bienal aboliu espaços separados por
país e optou por agrupar as obras por “analogia de linguagem” (pintura com pintura, vídeo com
vídeo, escultura com escultura etc.). Vieram nomes internacionais como Antoni Muntadas,
Gilbert & George e Alberto Burri. A seleção de brasileiros reuniu Antonio Dias, Carlos Fajardo,
Iole de Freitas, Tunga, Ivens Machado, Eduardo Sued, Carmela Gross e Mira Schendel. O impacto
ficou por conta da obra La Bruja, instalação com quinhentos metros de fios de algodão
concebida por Cildo Meireles.

Carmela Gross Cildo Meireles


Tunga
"A idéia de expor por parâmetros essenciais e ordenadamente aspectos significativos da
pluralidade artística, caracterizadora deste início da década 80, regeu as principais intenções da
XVI Bienal de São Paulo, determinada segundo três núcleos de manifestações. A estrutura do
primeiro desses setores, estabelecida para cumprir aquelas finalidades, foi pensada tendo em
vista critérios de relação e analogias de linguagem, em substituição ao antigo sistema de
espaços reservados às delegações de países convidados. Passava-se a uma exposição de artistas
e não de artistas separados em compartimentos nacionais. Com esse caráter e amplitude, era a
primeira vez que se assumia tal metodologia na Bienal. Ao Núcleo II, por sua vez, caberiam
representações de obras de "vários enfoques e de valor histórico para a arte contemporânea
Internacional.... Ao Núcleo III, finalmente, estava reservada a incumbência de marcar presença,
nesse largo contexto, de aportes dos países latino - americanos, modo de atendimento às
recomendações da Reunião de Consulta aos Críticos deste continente, realizada pela Fundação
Bienal de São Paulo, em 1980"
Walter ZANINI,. Introdução ao Catálogo da XVI Bienal, p. 19.
Na 17ª edição, em 1983, várias performances ocuparam os espaços expositivos. A pintura dos
muros urbanos chegou ao Pavilhão da Bienal pela mãos do grafiteiro novaiorquino Keith Haring.
A pintura, muitas vezes renegada na década anterior, ressurge no panorama artístico mundial.

Nessa mesma edição, Zanini dedicou um módulo ao cruzamento entre arte e tecnologia, no
qual os visitantes apertavam teclas para acionar desenhos, poemas ou formas gráfico-visuais
exibidos em televisores.

Embora a mostra se voltasse para o presente da arte, um módulo foi dedicado à arte plumária
indígena.
18ª Bienal de São Paulo (1985)
Influência marcadamente expressionistas e uma expografia inusitada pautaram o debate ao
longo de toda a 18ª Bienal. A curadora Sheila Leirner dispôs boa parte das obras em três
corredores de cem metros de extensão, instalou dezenas de quadros lado a lado e criou o que
ficaria conhecido como a Grande Tela, numa escolha provocativa e polêmica. Entre os brasileiros
que participavam da Grande Tela, destacavam-se especialmente os jovens pintores da Casa 7:
Paulo Monteiro, Nuno Ramos, Carlito Carvalhosa, Fábio Miguez e Rodrigo Andrade. Além de
Jorge Guinle, Leonilson, Daniel Senise e Leda Catunda. A mostra apresentou ainda obras de
Joseph Beuys, Rebecca Horn, Wilfredo Lam e do grupo CoBrA, para citar alguns.
Sheila Lerner

Nuno Ramos Fábio Miguez Rodrigo Andrade


Carlito Carvalhosa
Reaproximação da Imagem
A curadora da 18ª e 19ª Bienais, Sheila Leirner
Nuno Ramos
Ricardo Basbaum
Um contraponto à concepção da Bienal como
"um correlativo crítico da situação
contemporânea" ou como "metáfora do
contemporâneo", "nitidamente teatral" ou
Bienal espetáculo, foi a XX
edição (1989).
Seu curador Carlos Von Schmidt
também não concordava com a organização da
mostra a partir de critérios por analogias de
linguagem.

1987Cartaz: Rodolfo Vanni


21ª Bienal de São Paulo (1991)
Apenas nessa edição a Bienal retomou o sistema de inscrições abertas, além de extinguir o
triunvirato curatorial da edição anterior, dando lugar à questionada curadoria de João Cândido
Galvão, que estipulou o aumento de 150 mil dólares para o grande prêmio. Foram vistos
trabalhos importantes de Geraldo de Barros e Anna Maria Maiolino. Obteve especial atenção a
monumentalidade de Paralell Lines (1991), da norte-americana Ann Hamilton, que ganhou
atenção do público ao dispor uma nave feita de velas numa instalação de 27 metros de
comprimento e 8 de largura. Cândido Galvão repetiu seu trabalho da edição anterior, como
coordenador dos setores de dança, música e teatro, e foi novamente bem-sucedido ao trazer
dois espetáculos inesquecíveis para a Bienal: Suz/O/Suz, do grupo catalão Fura del Baus,
e Trilogia Clássica: Medeia, Troiana e Electra, narrado em latim e grego pela Companhia do
Teatro Nacional de Bucareste.

Anna Maria Maiolino

Rubens Gerchman durante a 21ª Biena


A XXII edição (1994), com 231 artistas e 70 países

curador geral Nelson Aguilar,

"atravessa e determina a arte contemporânea desde os anos 50."


 
Entram em cena as instalações, as performances, as peças,
Cartaz: Fernando Bakos que não se contentam com a mera contemplação,

mas querem também ser sentidas, ouvidas, manipuladas,

embora os anos 80 mostrem a retradução em suporte

bidimensional de toda a expansão anterior..."


 
Nelson AGUILAR,. Ruptura com o suporte. Catálogo da XXII Bienal

"vendem-se" as salas especiais para um patrocinador exclusivo"


criação de um espaço museológico climatizado
Curador Nelson Aguilar,

• questionamento do modelo eurocêntrico,


da interpretação da cultura ocidental como
paradigma de arte e civilização.

•assimilar a produção considerada periférica


com a compreensão de que não

• existe nenhum povo ou cultura isolados


Cartaz: Louise Bourgeois nem temporal nem espacialmente.

•Do particular ao Universal

•Desmaterialização da arte
“A consolidação da figura do curador coincidiu nesta década com a progressiva
constatação de que pensar a cultura sob o prisma estrito dos cânones eurocêntricos é
tão anacrônicos quanto supor que a Europa continua detendo o controle socio-
econômico. Similarmente, noções como centro e periferia não mais dão conta de um
panorama complexo e diverso, atravessado pelo intercâmbio entre tradições diversas,
que freqüentemente resultam em obras híbridas e cheias de vitalidade. Essas
concepções não são consensuais, bastando evocar as recentes edições da Bienal de
Veneza que insistiram em perpetuar o paradigma clássico, segundo o qual não acontece
nada de importante abaixo da linha do equador.”

Aracy AMARAL,. (Org.) . Mundo, Homem, Arte em Crise., PEDROSA. Mário - Por Dentro e
por fora das Bienais,
Esta edição da Bienal de São Paulo, a última do
milênio, foi realizada sob a direção
XXIV curatorial de Paulo
Herkenhoff e do curador - adjunto Adriano
Pedrosa, e o trabalho de mais de 70 curadores.
A proposta do curador era que cada uma das
três mostras propostas ("Roteiros",
"Representações Nacionais" e "Núcleo
Histórico") orbitasse em torno do conceito de
antropofagia.

Cartaz: Raul Loureiro e Rodrigo


Cerviño Lopez sobre desenho de
Leonilson
Conceito de densidade
(“épaisseur” - Cf. Jean - François Lyotard, Discours figure, 1974
-). Este conceito, definido por
Paulo Herkenhoff, como um “conceito de trabalho” para os
curadores de todos os segmentos da exposição, aplicar- se- ia
ao processo curatorial, como “espessura do olhar” ou
“densidade do olhar” ou ainda, como “processo de
condensação de significados”.
Os curadores responsáveis pela escolha dos
artistas dos 53 países foram estimulados a
trabalhar a partir do eixo conceitual da
antropofagia, de forma que as salas pudessem
dialogar entre si e com o público.
Mais enxuta que na Bienal anterior, a mostra
"Representações Nacionais" foi montada com
exposições individuais de artistas de 53 países.
Herkenhoff procurou diluir a noção de
fronteiras com a concepção arquitetônica de
Paulo Mendes da Rocha, que trabalhou com o
conceito de transparência.

“Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.


Roteiros. Roteiros. Roteiros” (assim mesmo,
com a palavra repetida sete vezes como no
Manifesto Antropofágico, de Oswald de
Andrade) dividiu o mundo em sete grandes
regiões. Instados a debater o conceito
proposto, curadores e artistas procuraram
responder à problematização da antropofagia
e do canibalismo estético com uma mostra
densa.
O maior foco de polêmicas da Bienal de 1998
foi a exposição “Núcleos Históricos:
Antropofagia e Histórias de Canibalismos”. Ao
enquadrar obras históricas no eixo curatorial
que propôs, Herkenhoff provocou tensões e
polarizações entre obras distantes no tempo e
no espaço. Como o encontro de uma obra de
Tunga com a de Albert Eckhout; ou o
“Tiradentes: Totem-Monumento ao Preso
Político”, de Cildo Meireles (1970), confrontado
com o “Tiradentes Esquartejado, de Pedro
Américo” (1893).
25ª Bienal de São Paulo (2002)
Centrada no tema Iconografias metropolitanas, a 25ª Bienal tornou-se famosa pela presença
numerosa de artistas brasileiros fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro. A nomeação do primeiro
curador estrangeiro, o alemão Alfons Hug, causou polêmica em alguns setores, que viam na
escolha uma espécie de dominação sobre a soberania artística brasileira. Uma vez aberta, no
entanto, a mostra recebeu excelente acolhida e bateu recorde de público, com 668.428
visitantes. A fim de compor um panorama complexo, Hug elegeu onze metrópoles
internacionais: São Paulo, Istambul, Nova York, Pequim, Caracas, Londres, Berlim, Moscou,
Tóquio, Johannesburgo e Sydney. Convidou cinco artistas representantes de cada uma delas e
juntou doze nomes de diversas partes do mundo para formar uma 12ª cidade, "Utópica”. A
mostra teve Salas Especiais reservadas a Jeff Koons, Karin Lambrecht e Julião Sarmento, e
destacou, entre os nomes nacionais, Nelson Leirner, Carlos Fajardo e Carmela Gross.
Cidades
Postdamer Platz
Michael Wesely Michael Wesely
Berlin
26ª Bienal de São Paulo (2004)
Intitulada O ateliê como arquivo, a instalação de Paulo Bruscky foi uma das peças centrais da
26ª Bienal, reunião de 400 obras de 141 artistas. Com o tema Território livre, a mostra teve
entrada gratuita, política que seria incorporada a todas as edições dali em diante. Além de
Bruscky, Artur Barrio, Cai Guo-Qiang e Beatriz Milhazes foram alguns dos artistas que ganharam
Salas Especiais. Obras de Cabelo, Chelpa Ferro, Laura Vinci e outros marcaram a entrada de uma
nova geração na cena artística.  Curador Alfons Hug,

Bruscky
Beatriz Milhazes
Artur Barrio
27ª Bienal de São Paulo (2006)
O mote Como viver junto, título de um conjunto de seminários proferidos por Roland Barthes
nos anos 1970, norteou a curadoria de Lisette Lagnado para a 27ª Bienal. Numa edição marcada
pela extinção das representações por país e a afirmação da arte como linguagem transnacional,
a curadora concebeu uma homenagem a Gordon Matta-Clark, além de reunir obras
emblemáticas de Thomas Hirschhorn, Dan Graham e León Ferrari. Entre os brasileiros, Marilá
Dardot e Laura Lima compuseram um panorama especialmente fértil de reflexão sobre os novos
rumos da arte contemporânea nacional. Como uma inovação fundamental para a Fundação
Bienal, os projetos curatoriais passaram a ser escolhidos a partir de processos de seleção.

Hélio Oiticica

Marilá Dardot
Detalhe da instalação Restore Now, de Thomas
Hirschhorn, na Bienal de São Paulo
28ª Bienal de São Paulo (2008)
Momento de repensar rumos e funções, a 28ª Bienal entraria para a história como a “Bienal do
Vazio”. Concebida por Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen, a mostra deixou um andar inteiro sem
obras, numa metáfora clara da crise conceitual atravessada pelos sistemas expositivos
tradicionais. Com apenas 54 obras de 41 artistas e 4 projetos especiais, a edição escolheu a
performance como um de seus canais principais, tendo Maurício Ianês e Marina Abramovich
como ilustres representantes. Ianês apresentou o trabalho A bondade de estranhos, em que
“morou” no prédio da Bienal durante treze dias, e comeu e se vestiu apenas com o que lhe foi
doado por visitantes. Iran do Espírito Santo e Rubens Mano foram outros nomes convidados,
numa edição em que os limites de apropriação do espaço por artistas e pichadores estiveram
em permanente discussão.

Rubens Mano
29ª Bienal de São Paulo (2010)
Com novo fôlego, a Bienal inaugurou sua 29ª edição apostando na permanência de seu Projeto
Educativo e numa ampla programação paralela. Privilegiando obras de cunho político, a
curadoria de Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos misturou nomes nacionais consagrados –
Leonilson, Lygia Pape, Antonio Dias, Artur Barrio, Antonio Manuel e Cildo Meireles – com
expoentes da nova geração, como Tatiana Blass e Marcius Galan. Entre os internacionais,
destacaram-se a fotógrafa norte-americana Nan Goldin e o ativista chinês Ai Weiwei. Intitulados
terreiros, seis espaços conceituais receberam atividades especialmente concebidas. No Pavilhão,
causou polêmica a instalação Bandeira branca, de Nuno Ramos, com urubus vivos voando com o
acompanhamento de uma montagem de sons do cancioneiro nacional.

Marcius Galan.
Tatiana Blass
Os curadoresAgnaldo Farias e
Moacir dos Anjos optaram pela
palavra poética para criação de seis
eixos conceituais que funcionam
também como aglutinadores das
obras no espaço, além de serem
materializados pelos chamados
Terreiros.
o curador Luis Pérez-Oramas
Oramas Inspiração – Documenta X – Curadoria de Catherine David -

Atlas Gehard Richter


Explicações:
1-“Se as obras de arte produzem sentido por relações, o destino é constelar.”
2-A idéia de constelações também encontra correlatos na obra de Aby Warburg.

Historiador alemão que buscou


Analisar a cultura contemporânea
Através de uma catalogação sistemática
Segundo Oramas: Warburg marca “o fim da história da arte como genealogia, formalista,
Que entende a arte como frutos de indivíduos geniais que se sucedem na temporalidade
E que nascem, crescem e morrem.” “Isso acabou. E então nasce um novo pensamento
Artístico que é mais ou menos constelar”.

CUBO BRANCO

August Sander 619 fotos

Benet Rossel
CUBO BRANCO
NÃO É UM TÍTULO MAS MOTIVO: (Oramas)

Iminência, como uma questão temporal


E que, portanto, tem a ver com a experiência;
E as poéticas.

“O princípio da Bienal não é impor diálogos,


Mas sim criar uma lógica de distÂncia e
Proximidades”.
ParaBacon , o verdadeiro filósofo natural (cientista da natureza) deveria fazer a
acumulação sistemática de conhecimentos mas também descobrir um método que permitisse

o progresso do conhecimento, não apenas a catalogação de fatos de uma


realidade supostamente fixa, ou obediente a uma ordem divina, eterna e perfeita." O saber
deveria ser ativo e fecundo em resultados práticos.
Público visita a instalação do chinês Yan Lei,
com 377 imagens

Documenta de Kassel 13

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