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PERFORMANCES DE POMBAGIRAS
Tulani Pereira Da Silva (UERJ)*
Pensamos com esse mesmo corpo desde a ponta dos cabelos até a
ponta dos pés, aceitando que nossas ancestralidades se manifestam em
através do nosso mover, contando nossa história e trazendo nosso legado de
continuidade e resistência. Pois bem, cá estamos diante de uma sociedade que
se ergueu nas costas de pretos e indígenas e que defende o discurso de que
somos todos iguais, quando na verdade, sabemos bem que quando o assunto
em questão é igualdade de direitos e oportunidades, existe um abismo.
Introdução
1
Apelido correspondente a Exus e Pombagiras na Umbanda, enfatizando que são entidades e
não divindades. Utiliza-se esse nome para se diferir de Orixás, Inquices e Voduns, divindades
evoluídos de todos, na linha da esquerda. Essa divisão tênue entre linha da
direita e da esquerda, resultado da herança judaico-cristã fundamentada em
dicotomias, revela as Pombagiras ligadas também ao culto da Quimbanda,
correspondendo às baixas vibrações. A Quimbanda assim seria comparada à
prática da magia associada ao mal, segundo os rótulos empreendidos à
racionalização do mundo dos espíritos e da teoria da evolução. “A quimbanda
se apresenta, portanto, como a dimensão oposta da umbanda, ela é sua
imagem invertida; tudo que se passa no reino das luzes tem seu equivalente
negativo no reino das trevas” (ORTIZ, 1978, p. 81).
africanas. Em algumas casas, utiliza-se também o termo “povo de rua” e em alguns casos,
adeptos de cultos afro-brasileiros se negam a aderir ao uso do termo catiço, por conotação
pejorativa em relação a essas entidades.
considerando as mais diversas atividades cotidianas realizadas através do
preparo e repetição como performance.
A performance afro-brasileira
3
Ogan ou ogã é o sacerdote masculino que não entra em transe e que recebe a função de
convocar as entidades/divindades a se manifestarem nos médiuns de incorporação. Isto, na
Umbanda, é feito através dos toques e do canto.
4
Expressão muito comum das comunidades de terreiro usada como sinônimo de entrar em
transe. Também se utiliza as expressões “virar no santo”, “rodar”, “incorporar”.
5
Os movimentos e gestos das Pombagiras descritos neste trabalho estão referenciados no
Sistema Universal da Dança (SUD), criado pela professora Helenita Sá Earp. Para saber mais
sobre a SUD, ver Motta (2006).
Afronto: nomeamos desta forma por se tratar de quando inclinam a
cabeça e coluna para trás, realizando um cambré6, encarando com ousadia a
quem a observa na direção oposta. A Pombagira da mãe de santo do terreiro
sempre repetia esta ação lançando os cabelos para os atabaques, seguido de
requebros de quadril.
6
Terminologia do balé clássico, escrito na língua francesa. Representa a curvatura que se
realiza com a coluna para trás.
apresenta é conhecida por Pakalala. Este termo é usado para designar uma
postura que traduz o estado alerta, pronto para atacar ou defender, o que em
outras palavras nos leva a constatar que as mesmas características são
percebidas na performance das Pombagiras.
Considerações finais:
Referências:
NOGUERA, Renato. Entrevista com Renato Noguera dos Santos Jr. Revista
Ensaios Filosóficos, Rio de Janeiro, Volume X, Dez. 2014.