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O jusnaturalismo teológico e suas contribuições para o pensamento econômico


de livre mercado

Theological jusnturalism and its contributions to free market society

10.34140/bjbv2n2-017

Recebimento dos originais: 20/01//2020


Aceitação para publicação: 30/03/2020

Leonardo Delatorre Leite


Graduando em Direito e História pela Universidade Presbiteriana Mackenzie- UPM
Rua Maria Antônia- 01222010, 130, Vila Buarque, São Paulo- SP. Brasil
E-mail: leonardoleite59@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho apresenta como objetivo primordial o estabelecimento de uma análise sistemática
entre a doutrina teológica do direito natural e os pressupostos do pensamento econômico de livre-
mercado. A defesa de que o homem, sendo criado à imagem e semelhança de Deus, apresenta
dignidade intrínseca e traz consigo direitos invioláveis contribuiu imensamente para a estruturação
da ética da liberdade econômica, fundada na crença do respeito à vontade autônoma e no
autodesenvolvimento individual. Quatro grandes pensadores são indispensáveis no estudo do
jusnaturalismo teológico e suas implicações na filosofia política; são eles: Santo Agostinho (354-
430), São Tomás de Aquino (1225-1274), Johannes Althusius (1563-1638) e João Calvino (1509-
1564). A síntese da teoria teológica do Direito natural com a cosmovisão da livre-iniciativa encontra-
se explícita na obra do jurista Frédéric Bastiat (1801-1850), cujo pensamento reflete os pilares do
pensamento econômico de livre-mercado.

Palavras-chave: jusnaturalismo, liberdade econômica, cosmovisão, direito natural, ética.

ABSTRACT
the following work has the prime objective of establishing a systematic analysis between the
theological doctrine of natural rights and the principles of free market capitalism. The idea that
mankind, by being created in the image of God, possesses inherent dignity and inviolable rights
immensely contributed to the development of the ethics of economic freedom, founded on respecting
the autonomous will and the personal development of individuals. Four great thinkers are essential
in the study of the natural law and its implications in political philosophy, they are: Saint Augustine
(354-430), Saint Thomas Aquinas (1225-1274), Johannes Althusius (1563-1638), and John Calvin
(1509-1564). The synthesis of the theological theory of natural law along with the worldview of free
enterprise is explicitly found in the work of the jurist Frédéric Bastiat (1801-1850), whose thinking
reflects the foundations of free market capitalism.

Keywords: social entrepreneurship, social technology, social innovation, public policy, university.

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1 INTRODUÇÃO
O PENSAMENTO ECONÔMICO DE LIVRE MERCADO
O sistema de livre-mercado é aquele que se fundamenta nas trocas voluntárias entre os
indivíduos, ou seja, não há intervenção do Estado na ordem econômica e nas atividades negociais
contratuais entre particulares. Segundo Wayne Grudem (2016, p.140), “Sistema de livre mercado é
aquele em que a produção e o consumo econômicos são determinados pela livre escolha dos
indivíduos, e não pelo governo, e esse processo se fundamenta na propriedade privada dos meios de
produção”.
A propriedade privada dos meios de produção é uma das características mais marcantes do
sistema de livre-mercado, uma vez que as empresas apresentam como proprietários os próprios
indivíduos empreendedores, afastando no âmbito do Direito Privado a presença constante e
intervencionista do poder público na condução dos negócios e contratos bilaterais. Além da
propriedade privada, o livre mercado apresenta outras características marcantes, tais como: o Estado
liberal de Direito, o livre comércio, a liberdade econômica e a existência de Direitos Fundamentais.
É importante frisar que o Estado apresenta poderes limitados bem definidos, sendo que a presença e
necessidade do governo na sociedade são, inclusive, questionadas e consideradas irrelevantes e até
mesmo ilegítimas para alguns teóricos e filósofos do pensamento econômico da livre-iniciativa,
dentre eles: Murray Rothbard (1929-1995) e Hans-Hermann Hoppe. Contudo, a maioria dos teóricos
liberais defende o fornecimento de serviços sociais por parte do Poder público, com o intuito de
assegurar o mínimo-existencial e a preservação de infraestrutura básica para o funcionamento da
economia.
No âmbito jurídico, o pensamento econômico de livre-mercado atribui grande ênfase ao
Direito privado e aos seus princípios, dentre eles: autonomia da vontade, liberdade de iniciativa,
liberdade de concorrência, garantia e defesa da propriedade privada, força obrigatória dos contratos
e a relatividade dos efeitos contratuais. Quanto ao princípio da autonomia da vontade ou autonomia
privada negocial, o civilista Paulo Lôbo comenta:

Considerado por muitos civilistas um dos princípios fundamentais do direito


privado, como diz Karl Larenz, consiste na possibilidade, oferecida e
assegurada pelo ordenamento jurídico, de os particulares regularem seus
próprios interesses ou suas relações mútuas. Após o advento da revolução
liberal burguesa, passou a ser a expressão jurídica do princípio político da
autodeterminação individual.

A autonomia da vontade consiste na capacidade conferida aos particulares de promover a


regulamentação voluntária de seus interesses em um determinado negócio jurídico. Esse princípio
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envolve três grandes liberdades: liberdade de escolher outro contratante, liberdade de escolher o tipo
de contrato e a liberdade de determinação do conteúdo.
O princípio da liberdade de iniciativa é a base do Direito Empresarial. Segundo Manoel
Afonso Vaz, a liberdade de iniciativa apresenta três grandes fundamentos e derivações: liberdade de
investimento, liberdade de organização e liberdade de contratação. A liberdade de iniciativa
encontra-se na Constituição Federal de 1988 enquanto um dos Fundamentos da República
Federativa Brasileira, contudo é certo que muitos autores e pensadores questionam a aplicabilidade
e importância desse respectivo princípio na ordem econômica nacional. A liberdade de iniciativa
destaca a importância da empresa e a relevância da iniciativa privada para que a sociedade disponha
de bens e serviços imprescindíveis para a sobrevivência; assim como gera o reconhecimento da
empresa privada como geradora de grande quantidade de riquezas e empregos.
A liberdade de concorrência decorre do princípio da liberdade de iniciativa e é considerada
um dos princípios da ordem econômica brasileira na Constituição de 1988. Sobre a livre
concorrência, Paulo Sandroni escreve: “situação do regime de iniciativa privada em que as empresas
competem entre si, sem que nenhuma delas goze da supremacia em virtude de privilégios jurídicos,
força econômica ou posse exclusiva de certos recursos” (SANDRONI,1999, p.61).
Quanto a validade e importância da livre concorrência no cenário do Brasil, diversos
pensadores e autores afirmam ser ela um princípio escasso e ameaçado pelo excesso de burocracia,
regulamentações e normas que coíbem a expansão das trocas voluntárias nos negócios jurídicos
bilaterais.

Infelizmente este também é um princípio que não vem sendo respeitado no


Brasil. E quem mais desrespeita a livre concorrência é justamente aquele ente
que, em tese, deveria protege-la: o Estado. Se, por um lado, o Estado finge
defender a livre concorrência, criando órgãos com tal missão institucional, tais
como o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), por outro
lado é o próprio Estado restringindo a sagrada liberdade de competição,
intervindo cada vez mais na economia, restringindo cada vez mais o exercício
de atividade econômica e criando cada vez mais obstáculos ao
empreendedorismo.

A garantia e defesa da propriedade privada é um dos elementos mais marcantes do sistema


capitalista, sendo considerada um dos fundamentos da ordem econômica brasileira no artigo 170 da
CF/1988. A propriedade privada é o núcleo do funcionamento de uma sociedade de livre mercado.
Segundo Ludwig Von Mises, o cálculo econômico se deve, inicialmente, à propriedade particular
dos meios de produção.

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O princípio da força obrigatória dos contratos estabelece uma obrigação recíproca entre os
contratantes, ou seja, da afirmação de um negócio jurídico bilateral decorre uma responsabilidade
a ser cumprida pelos particulares como se fosse uma norma positiva instituída legalmente. Para
muitos juristas, do princípio da força obrigatórias surgem duas consequências valorativas:
estabilidade e previsibilidade.

Radicam no princípio da força obrigatória os dois principais efeitos


pretendidos pelas partes contratantes: a estabilidade e a previsibilidade. A
estabilidade é assegurada, na medida em que o que foi pactuado será
cumprido, sem dependência do arbítrio de qualquer parte do contrato ou das
mudanças externas, inclusive legislativas. A previsibilidade decorre do fato de
o contrato projetar-se para o futuro- futuro antecipado-, devendo suas
cláusulas e condições regular as condutas dos contratantes, na presunção de
que permaneceriam previsíveis. Para alguns, em matéria contratual, basta a
segurança jurídica, que já conteria a previsibilidade e a estabilidade.

É importante destacar que os contratos voluntários estabelecidos entre as partes não são
oponíveis a terceiros, como destaca Paulo Lôbo, uma vez que os negócios jurídicos bilaterais
estabelecem obrigações e responsabilidades apenas para os particulares contratantes. Trata-se do
chamado “Princípio da relatividade dos efeitos do contrato”, uma das características do sistema de
livre mercado. Enfim, no âmbito do Direito privado, a ordem capitalista se fundamente em princípios
que objetivam assegurar trocas negociais consensuais, o florescimento do empreendedorismo e a
dinamização das relações comerciais e empresariais.
No que concerne à teoria geral do Estado, diversos pensadores foram essenciais na
construção do pensamento econômico de livre mercado, dentre eles: John Locke (1623-1704), Adam
Smith (1723-1790), Alexis de Tocqueville (1805-1859), Edmund Burke (1729-1797), Friedrich
Hayek (1899-1992) e Ludwig Von Mises (1881-1973). Grande parte dos pensadores liberais
defendia a estruturação da sociedade política com base nos pressupostos constitucionalistas do
Estado liberal de Direito, ou seja, na limitação do poder político do Estado em face dos direitos
fundamentais dos seus cidadãos. O liberalismo econômico contribuiu imensamente para o
movimento jurídico denominado de “Constitucionalismo”. “Em sentido amplo, constitucionalismo
é o fenômeno relacionado ao fato de todo Estado possuir uma constituição em qualquer época da
humanidade, independentemente do regime político adotado”. (BULOS, 2017, p.11).
O Estado de Direito, enquanto criado e regido por uma norma jurídica hierarquicamente
superior, é moldado pelo constitucionalismo e apresenta como traços marcantes: supremacia da
Constituição, a separação de poderes, superioridade da lei e a garantia dos direitos individuais. No
pensamento econômico de livre mercado, o Estado apresenta como função primordial a defesa dos
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direitos fundamentais de primeira geração, ou seja, preservar os direitos de defesa ou liberdades


negativas. Sendo assim, a igualdade defendida pelo liberalismo se restringe à igualdade jurídica, ou
seja, ao princípio da legalidade. “Do ponto de vista econômico, acreditava-se que o Estado deveria
suspender a intervenção e restringir-se a atuar para garantir a segurança dos contratos, a propriedade
privada e a ordem pública (NOHARA, 2016, p.96).
O filósofo escocês Adam Smith (1723-1790) elaborou de forma sistemática uma teoria
político-econômica acerca dos pressupostos do pensamento econômico de livre-mercado. Smith fez
oposição às doutrinas mercantilistas, as quais consideravam a posse de metais preciosos como a
fonte de riqueza de uma nação, e rejeitou a concepção fisiocrata de que a agricultura é primordial
para a geração de riqueza.

Para Smith, a riqueza das nações se funda na divisão do trabalho e na liberdade


econômica. A partir do postulado laisser-faire e da existência de uma ordem
natural que não deve ser contrariada, a busca das ambições e dos interesses
individuais pode se conjugar muito bem com o enriquecimento da
coletividade.

Segundo Smith, a divisão do trabalho aumenta a produtividade empresarial na medida em


que contribui no fomento da habilidade e especialização do trabalhador e na redução do tempo
dedicado a uma determinada tarefa, além de ajudar na criação de instrumentos de produção e de
novas tecnologias. Outra condição para a produção de riquezas é a liberdade econômica, uma vez
que o mercado seria responsável pela transição entre a satisfação do interesse individual e a
realização do interesse público.

Cada indivíduo, motivado pela busca de suas aspirações pessoais, é


incentivado a responder à demanda dos outros, com o objetivo de extrair de
sua atividade o maior benefício possível. É o que Smith chama de “mão
invisível, que guia os interesses e as paixões individuais na direção mais
favorável aos interesses de toda sociedade.

O filósofo e economista escocês alega que é impossível um indivíduo assumir o controle do


mercado e estabelecer preços demasiadamente abusivos, uma vez que, em uma sociedade de livre
concorrência, outras pessoas e empresas disponibilizariam seus produtos e serviços no mercado a
uma quantia mais acessível e justa; afetando, portanto, instituições comerciais abusivas. Logo, o
egoísmo exagerado e a imoralidade explícita são comportamentos prejudiciais para a busca do lucro.
O empreendedor, portanto, deve agir com temperança e prudência no caminho para o ganho

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particular. Smith alega que o egoísmo inteligente no ramo comercial é elemento imprescindível para
a prosperidade particular e, consequentemente, para o bem público.
Quanto ao Estado, na concepção do liberalismo clássico, apresenta funções definidas e
limitadas, sendo elas: a promoção da defesa territorial através das forças armadas, a aplicação e
administração da justiça, prestação de determinados serviços coletivos e a defesa do mercado e da
livre concorrência. Para que o poder público possa efetivar tais funções, Smith propôs um sistema
tributário fundamentado na transparência, proporcionalidade e comodidade, sendo que uma
tributação excessiva apenas prejudicaria a liberdade econômica e afetaria o empreendedorismo.
A teoria política do liberalismo econômico foi muito influenciada pela filosofia política do
inglês John Locke (1632-1704), cuja cosmovisão de que os homens apresentam direitos naturais,
invioláveis e intrínsecos contribuiu no desenvolvimento da ideia de limitação do poder do Estado e
na elaboração de conceitos políticos fundamentais, tais como: legitimidade, legalidade e direito de
resistência.

O filósofo inglês John Locke foi o primeiro a articular os princípios liberais


do governo, a saber, que o propósito do governo era preservar os direitos dos
cidadãos à liberdade, à vida e à propriedade, buscar o bem público e punir
quem violasse os direitos dos outros. Legislar tornou-se, portanto, a função
suprema do governo. Para Locke, uma das principais razões pelas quais as
pessoas estariam dispostas a entrar em num contrato social e se submeter ao
governo é que elas esperariam que o governo regulasse os desacordos e
conflitos com neutralidade. Seguindo essa lógica, Locke também foi capaz de
descrever as características de um governo ilegítimo. Depreendeu disso que o
governo que não respeitasse e protegesse os direitos naturais dos indivíduos-
ou limitasse desnecessariamente sua liberdade- não seria legítimo. Locke se
opunha, então, ao governo absoluto.

A filosofia política de Locke influenciou pensadores posteriores, dentre os principais:


Edmund Burke (1729-1797), Thomas Jefferson (1743-1826) e Alexis de Tocqueville (1805- 1859).
Em sua obra “Reflexões sobre a revolução Francesa”, o filósofo irlandês realizou uma ampla defesa
de uma sociedade fundada no respeito à propriedade privada, liberdade econômica e à tradição. Para
Burke, o homem apresenta-se corrompido pelo pecado original e para se aperfeiçoar moralmente
precisa se aproximar dos valores éticos clássicos e da vida em sociedade, compreendida como fruto
de um contrato e um meio necessário para a coexistência das necessidades e interesses particulares.
Sendo assim, o governo seria uma criação ou invenção do homem para garantir a justiça e ponderar
sobre os desejos conflitantes existentes entre os indivíduos. Em contraposição ao pensamento de
John Locke, Burke não atribuiu grande eminência aos direitos naturais, uma vez que o que realmente
importa são os métodos necessários para efetivar os direitos do homem, compreendidos como frutos

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de ambições, anseios e necessidades coletivas e individuais. Tal ideia rendeu grandes críticas por
parte do filósofo Thomas Paine (1737-1809).
Thomas Jefferson (1742-1826), pensador político e presidente norte-americano, foi um dos
grandes defensores da igualdade jurídica e do constitucionalismo, sendo considerado uma figura
eminente do clássico movimento iluminista. Jefferson teve um papel de destaque no processo de
independência dos Estados Unidos e na Revolução americana contra a coroa Britânica. Na
concepção jurídica desse pensador, os homens nascem com direitos naturais, inalienáveis e
invioláveis; sendo eles: vida, liberdade e a busca da felicidade. Thomas Jefferson elaborou a
Declaração de Independência (1776), um documento central na evolução histórica dos direitos
humanos e na cosmovisão liberal. A Declaração “Estabeleceu a separação entre as 13 colônias na
América do Norte e Reino Unido. Em seu texto determinou a representação do povo com a restrição
dos poderes do governo e a inalienabilidade dos direitos humanos” (MALHEIRO,2016, p.8).
As ideias de Jefferson representaram uma grande evolução para o pensamento econômico de
livre-mercado, uma vez que demonstraram uma preocupação imensa com a defesa da liberdade
individual e reconheciam a capacidade do ser humano de alcançar seus objetivos e promover a
satisfação de suas necessidades. Sendo assim, seguindo essa linha de raciocínio, não caberia ao poder
público dificultar ou intervir de forma arbitrária nos negócios particulares e no empreendedorismo.
Outro pensador essencial na construção da doutrina liberal foi o francês Alexis de Tocqueville (1805-
1859), cujas obras representavam uma crítica ética explícita ao sistema socialista que se mantinha
através do planejamento estatal.

Sob o socialismo, acreditava Tocqueville, a iniciativa seria sufocada por um


Estado dominador, que dirigiria toda a sociedade, mas pouco a pouco se
tornaria o “senhor de cada homem”. Enquanto a democracia pretendia
aumentar a autonomia pessoal, o socialismo a reduziria. O socialismo e a
democracia jamais poderiam seguir juntos- eles são opostos.

Para Tocqueville, o socialismo dificultaria a prática da generosidade e da fraternidade


voluntárias, uma vez que o Poder Público supervisionaria todas as esferas sociais através de
mecanismos de controle e uma falsa proposta de bem-estar coletivo. Sendo assim, o sistema
socialista representava uma ameaça clara e explícita ao exercício das virtudes morais. Na concepção
desse pensador, a democracia deveria promover dois elementos primordiais para alcançar o bem
comum: liberdade econômica ou empreendedorismo e a igualdade jurídica. O respeito ao princípio
da propriedade privada é imprescindível para a preservação da vida em sociedade, dizia Tocqueville.

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A construção do pensamento econômico de livre mercado teve início na Idade moderna, com
o desenvolvimento do método racionalista, e se desenvolveu de forma mais complexa na Idade
contemporânea, nos períodos posteriores ao período revolucionário do século XIX. No século XX,
grandes contribuições foram feitas ao liberalismo, especialmente com os escritos de Ludwig Von
Mises (1881-1973) e Friedrich Hayek (1899-1992).
Friedrich Hayek criticou veementemente o intervencionismo estatal, considerado por ele
uma ameaça totalitária às liberdades e direitos fundamentais. Esse pensador acreditava que o livre
mercado é capaz de atende de forma mais eficaz às necessidades individuais, sendo que o governo
não deveria realizar regulamentações constantes na ordem espontânea da economia, entendida como
resultado da conjugação de diversas ações humanas contrapostas e descentralizadas, mas
harmonizáveis e até mesmo coordenadas.

A ordem espontânea é um sistema que se desenvolveu não através da direção


central ou do patrocínio de um ou alguns indivíduos, mas através das
consequências não intencionais das decisões dos indivíduos que perseguem
seus próprios interesses através das trocas voluntárias, cooperação, tentativa e
erro.

Na concepção de Hayek, os indivíduos são capazes de alcançar os meios para a satisfação de


suas necessidades, sendo que um planejamento central sólido apenas representaria um empecilho
para a constante busca dos cidadãos de suprir seus anseios. Por esse motivo, o livre mercado seria
um sistema mais adequado e justo, uma vez que haveria certo equilíbrio entre oferta e demanda;
refletindo, assim, os interesses da sociedade. Hayek afirmou que as tentativas governamentais de
intervenção na livre circulação de bens e serviços e na ordem espontânea representavam caminhos
e meios para um Estado totalitarista.

Em sua obra, argumentou que o controle governamental de nossa vida


econômica leva ao totalitarismo e nos transforma em servos. Ele acreditava
que não havia uma diferença fundamental entre países socialistas com controle
central da economia e o fascismo dos nazistas, a despeito das diferenças de
intenções ocultas políticas. Na visão de Hayek, para colocar um plano
econômico mestre em ação, mesmo que fosse voltado a beneficiar a todos,
tantas políticas-chave teriam de ser delegadas a tecnocratas não eleitos que tal
programa seria, em essência, antidemocrático. Além disso, um amplo plano
econômico não deixaria espaço para a escolha individual em nenhum aspecto
da vida.

No âmbito jurídico, Hayek defendeu a organização da sociedade política com base nos
pressupostos constitucionalistas do Estado Liberal de Direito, fundamentado em dois grandes

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princípios: Justiça e Igualdade jurídica. Além disso, esse grande jurista estabeleceu diferenças entre
dois mecanismos de coesão social: as leis, compreendidas como normas observadas de forma
espontânea na vida social, e a legislação, caracterizada como um conjunto de mandamentos e regras
elaboradas pelo Poder Público e explícito no Direito Positivo. Em uma sociedade justa, haveria um
certo equilíbrio e conformidade entre lei e legislação.
Quanto à ética, o pensamento econômico de livre mercado percorre diversos princípios que
se encontram correlacionados; são eles: a doutrina do direito natural ou jusnaturalismo, a
deontologia de Kant, o princípio da auto-propriedade de Murray Rothbard e a ética argumentativa
de Hans-Hermann Hoppe.
O Jusnaturalismo é uma corrente jurídica que defende a ideia de que o ser humano apresenta
diretos naturais, invioláveis e intrínsecos, sendo eles: vida, liberdade e propriedade. Além disso, os
pensadores jusnaturalistas afirmam a existência de uma lei natural, universal e imutável, de caráter
prescritivo e sendo acessível e conhecida pela razão humana. A ideia da existência do Direito Natural
contribuiu de maneira considerável para a evolução da ética da liberdade econômica, sendo que a
relação entre essas duas cosmovisões será abordada posteriormente com maior profundidade.
Immanuel Kant (1724-1775) fundou uma teoria ética baseada na observância de um dever,
também denominado por ele de “imperativo categórico”, cujo caráter universal prescreve um
comando. “O imperativo categórico é, em verdade, um comando moral que relaciona um dever-ser

estabelecido pela razão e determinados móveis humanos. ” (CASTILHO, 2017, p.150)20. Na


concepção de Kant, a deontologia, ou seja, “cumprimento do dever”, encontra-se intrinsecamente
relacionada com a razão prática, sendo que o respectivo imperativo é compreendido como um
mecanismo ou ferramenta da razão, ou seja, um postulado da razão prática.

Resumidamente, o imperativo categórico é a afirmação do dever como


fundamento da conduta humana. Ser ético, segundo Kant, é cumprir com o
dever, e agindo assim, cada homem contribuiria para fazer com que a
coletividade alcançasse a felicidade. Por meio do imperativo categórico, o
homem seria capaz de viver em paz, evitando guerra.

Para o filósofo Kant, o exercício da ética requer a autonomia da razão, sendo que a moral
pressupõe a liberdade de pensamento, diferentemente do Direito, compreendido como a esfera
externa do cumprimento do dever. Entretanto, é importante lembrar que, na concepção kantiana, as
leis jurídicas são derivadas das leis morais. Por este motivo, no campo político, essa ética
deontológica se aproxima de um Estado constitucional liberal de Direito, fundamentado no respeito
aos padrões da justiça e ao princípio da dignidade da pessoa humana. “Em Kant, o Estado é um meio

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necessário para a garantia da liberdade das pessoas. A convivência entre estas pessoas é possibilitada
apenas pela promulgação das leis universais, papel desempenhado pelo Estado” (CASTILHO, 2017,
p.148).
A deontologia desse filósofo baseia-se no conceito de dignidade da pessoa humana, ou seja,
na máxima “o homem é um fim em si mesmo”. Segundo esse princípio, é ilegítima e imoral a
restrição aos direitos fundamentais do próximo. Dando continuidade aos desdobramentos da ética
kantiana no campo jurídico, o Direito passa a ser compreendido como um conjunto de condições
que possibilita a coexistência das vontades segundo uma lei universal da liberdade. Caberia ao
Estado, portanto, a administração da justiça e preservação da legalidade, por meio da manutenção
da juridicidade das relações intersubjetivas. Essa filosofia moral influenciou imensamente na
construção da cosmovisão libertária, doutrina segundo a qual a legitimidade de um Estado depende
da limitação máxima de suas atribuições.
Posteriormente, na contemporaneidade, o economista norte-americano Murray Rothbard
(1926-1995) estabeleceu sua teoria ética com base em dois princípios: Princípio da não-agressão e
o princípio da auto-propriedade, segundo o qual o indivíduo é dono legítimo de seu próprio corpo e,
consequentemente, dos bens e propriedades conquistadas e desenvolvidas através dos esforços
particulares e pessoais. O fundamento do princípio da auto-propriedade encontra-se na lei natural.
Em sua obra A ética da liberdade, Rothbard escreve:

Toda pessoa é a proprietária de seu próprio corpo físico assim como todos os
recursos naturais que ela coloca em uso através de seu corpo antes que
qualquer um faça; esta propriedade implica o seu direito de empregar estes
recursos como lhe convém até o ponto que isto afete a integridade física da
propriedade de outro ou delimite o controle da propriedade de outro sem seu
consentimento.

Rothbard defende que os princípios fundamentais para estruturação de uma sociedade livre
e justa (Princípio da não-agressão e princípio da auto-propriedade) apresentam uma relação
particular com a existência de uma lei natural acessível pela razão humana e que prescreve o respeito
aos direitos humanos legítimos, assim como estabelece ao homem os caminhos para realização de
sua felicidade. O economista austríaco também enxerga na lei natural uma potencial ameaça ao
Estado e seu Direito positivo coercitivo.

Se, então, a lei natural é descoberta pela razão a partir das “inclinações
fundamentais da natureza humana... absolutas, imutáveis e de validade
universal para todos os tempos e lugares”, segue-se que a lei natural fornece
um conjunto objetivo de normas éticas que guiam as ações humanas em

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qualquer tempo ou lugar. A lei natural é, em sua essência, uma ética


profundamente “radical”, pois ela expõe o status quo existente, que pode
violar gravemente a lei natural, à impiedosa e inflexível luz da razão. No
campo da política ou da ação estatal, a lei natural fornece ao homem um
conjunto de normas que pode ser radicalmente crítico às leis positivas
atualmente impostas pelo estado. Neste momento, precisamos destacar apenas
a própria existência de uma lei natural sujeita à descoberta pela razão é uma
ameaça potencialmente poderosa ao status quo bem como uma reprovação
permanente da soberania de costumes cegamente tradicionais ou à vontade
arbitrária do aparato estatal.

Seguindo a concepção de Rothbard, Hans Hermann Hoppe desenvolve a chamada “ética


argumentativa”, fundamentada em pressupostos lógicos, dentre eles: a existência do indivíduo e de
seu esforço na utilização de recursos escassos para consecução de fins determinados, a Praxeologia
e Ação humana, justiça e propriedade privada, princípio da auto- propriedade e a argumentação.
Pois bem; o homem sempre se encontra no esforço de alcançar objetivos e para isso faz uso de bens
escassos, dentre eles seu próprio corpo. O conflito se dá quando dois ou mais indivíduos decidem
utilizar o mesmo objeto (recurso limitado em sua quantidade), simultaneamente e para fins
excludentes. Desse fato, nasce a necessidade de uma ética normativa como instrumento para
assegurar a coexistência das vontades e excluir os conflitos. Nesse ponto, Hoppe se aproxima do
pensamento jurídico de Kant.
Com o objetivo de evitar dissensões e garantir o estabelecimento do consenso, os indivíduos
se valem de uma ferramenta: a argumentação, compreendida como a ação humana, cujo exercício
requer a utilização do próprio corpo, em busca da concordância entre os sujeitos para a não-
violência. Argumentação é livre de conflitos e só é possível a partir da consciência do homem de
que ele possui o controle sobre seu próprio corpo. Sendo assim, a prática argumentativa requer a
existência de uma estrutura transcendente, ou seja, uma condição formal a priori: o princípio da
auto-propriedade. Logo, toda tentativa de justificação da ética se dá pela argumentação e
consequentemente pela noção de auto-propriedade. Hans- Hermann Hoppe procura estabelecer uma
ética universal, normativa e deontológica a partir da concepção de Rothbard sobre o direito natural.
Com base no que foi apresentado, é possível compreender que a ética da liberdade econômica
apresenta uma relação intrínseca com o jusnaturalismo e com o cumprimento e observância dos
preceitos da chamada “lei natural”; impondo ao homem o princípio do dever, ou seja, a deontologia.
Na concepção liberal, o respeito aos direitos legítimos alheios (vida, liberdade e propriedade) é um
dever e objetivo a ser estabelecido na vida em sociedade.

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Portanto, para uma melhor compreensão dos pressupostos do pensamento econômico de livre
mercado se faz imprescindível o conhecimento da doutrina do direito natural e de sua evolução,
frisando que o jusnaturalismo foi, em sua grande parte, defendido com base na cosmovisão cristã.

2 A DOUTRINA DO DIREITO NATURAL E O JUSNATURALISMOTEOLÓGICO


O jusnaturalismo, também conhecido como Escola do Direito Natural ou doutrina do Direito
natural, é uma corrente da ciência jurídica, cujos prolegômenos encontram-se na Antiguidade e os
pressupostos teóricos desenvolveram-se teoricamente de forma notável até o século XVIII.

O Jusnaturalismo (ou Escola do Direito Natural) abrange diversas vertentes


que, embora apresentam certas peculiaridades próprias, envolvem aspectos
essenciais em comum, defendendo a existência de leis naturais, imutáveis e
universais quanto aos seus primeiros princípios (como “o bem deve ser feito”),
asseverando que o Direito Natural antecede ao Direito Positivo, sendo inerente
à natureza humana. Na idade Média, o jusnaturalismo apresenta conteúdo
teológico, indicando como fundamento do Direito Natural a vontade divina.

A doutrina do Direito Natural caracteriza-se pela defesa de uma lei natural, eterna, imutável
e prescritiva, de caráter universal, sendo conhecida pela razão humana. O jusnaturalismo pode ser
observado no pensamento da Antiguidade, sendo presente na obra jurídica do filósofo Aristóteles,
que em sua teoria ética, desenvolve o conceito de justiça política, sendo compreendida como o
exercício das virtudes e da cidadania no ambienta comunitário. A justiça política, na concepção
aristotélica, apresenta uma parte legal (prescrições normativas fundamentadas na vontade humana)
e outra parte natural, que regula condutas objetivamente boas ou más por si mesmas, não dependendo
do Direito Positivo ou da convenção social. Embora esse filósofo acreditava na natureza mutável da
parte natural da justiça política, uma vez que a Natureza encontra-se em constante transformação,
Aristóteles foi essencial no desenvolvimento da cosmo visão jusnaturalista.
Ainda na Idade Antiga, o filósofo estoico Marcos Tullius Cícero (106-43 a.C) realizou
grandes contribuições para a estruturação sistemática dos pressupostos do Direito Natural e de suas
relações com a Ética do Dever. Na concepção estoica, o homem moral é aquele que age em
conformidade com as regras da Razão Universal, ou seja, das leis cósmicas.

A ética estoica caminha no sentido de postular a independência do homem


com relação a tudo que o cerca, mas, ao mesmo tempo, no sentido de afirmar
seu profundo atrelamento com causas e regularidades universais. A
preocupação com o conceito de dever (kathéon) irrompe com uma série de
consequências histórico-filosóficas que haveriam de marcar nuances
anteriormente inexistentes. Razão, dever, felicidade, sabedoria e autonomia
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relacionam-se com proximidade inusitada dentro da tradição romana, o que


torna de relevo perceber qual foi o legado estoico para o universo intelectual
romano. É com base nesse tipo de preocupação que Cícero haverá de
solidificar algumas de suas preocupações nos campos filosófico e jurídico.

Portanto, na concepção estoica de Cícero, a vida ética consiste na adequação das ações com
os princípios da racionalidade. O Direito natural se equivale à razão universal, que impõe
imperativos prescritivos e regras gerais de conduta. Logo, é possível afirmar que na cosmovisão do
estoicismo há uma profunda negação do relativismo cultural e do subjetivismo particular, defendidos
por filósofos anteriores, como Epicuro.

Os estoicos, em verdade, repudiam o relativismo utilitário de Epicuro e


proclamam que a justiça não nasce da conclusão de um acordo entre os
homens, não resulta de um pacto entre homens desejosos de não se
prejudicarem mutuamente, mas é, ao contrário, anterior às leis positivas. A
justiça apresentam-na como virtude que nos dirige segundo a razão natural, no
sentido de uma vida segundo a natureza. A distinção entre justo e injusto é
anterior e superior aos variáveis e múltiplos dispositivos da lei escrita, ou
como disse Cícero, consubstanciando ensinamentos estoicos, ubi non este
justitia, ibi non potese essejus.
Sábio é aquele que vive segundo a natureza, disposto a obedecer heroicamente
às suas leis. Essas leis são iguais para todos e podem ser concebidas por todos
os homens como seres racionais.

Desde a expansão da cultura helenística até o período de declínio do Império Romano, o


estoicismo foi uma doutrina filosófica extremamente marcante, sendo que vários autores da época
foram responsáveis pela sua divulgação, como Sêneca e Marco Aurélio. Além do estoicismo, o
cristianismo foi uma doutrina imprescindível na evolução e na estruturação da cosmovisão
jusnaturalista.
O Cristianismo enxerga Jesus Cristo como o Messias, “a Palavra de Deus encarnada, o

próprio Deus feito carne”28, sendo que pela sua morte e por sua ressureição, a salvação tornou-se
possível aos homens, através da graça santificante do Espírito Santo concedida por Deus. Portanto,
na doutrina cristã, a busca pelo Reino de Deus e o exercício da vida espiritual em união com Cristo
são virtudes teologais essenciais. Em relação a vida eterna e a salvação, Augustus Nicodemus
escreve:

A vida eterna é concedida àqueles que, nesta vida, se arrependem de seus


pecados e recebem Jesus Cristo como seu único e suficiente Salvador. Não
por causa de seus méritos ou obras, mas pela graça de Deus (Ef 2.8-9),
concedida mediante o sacrifício vicário de Cristo na Cruz. Essas pessoas, pela
fé, recebem o perdão em Jesus e ganham a vida eterna.

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Em relação ao jusnaturalismo cristão, é possível encontrar prolegômenos na teologia do


apóstolo Paulo em sua Epístola aos Romanos, 2:14-15:

Os pagãos, que não tem a lei, fazendo naturalmente as coisas que são da lei,
embora não tenham a lei, a si mesmos servem da lei; eles mostram que o objeto
da lei está gravado nos seus corações, dando-lhes testemunho a sua
consciência, bem como os seus raciocínios, com os quais se acusam ou se
escusam mutuamente.

Em relação ao pensamento jurídico de Paulo, o historiador e acadêmico A.J Carlyle comenta:

Não pode haver dúvida de que as palavras de São Paulo implicam uma
concepção análoga à “lei natural” de Cícero, uma lei escrita no coração dos
homens, reconhecida pela razão do homem, um direito distinto do direito
positivo de qualquer Estado, ou o que São Paulo reconhece que é a lei revelada
de Deus. É neste sentido que as palavras de São Paulo são tomadas pelos
Padres dos séculos IV e V, como Santo Hilário de Poitiers, Santo Ambrósio e
Santo Agostinho, e parece não haver razões para duvidar da veracidade de sua
interpretação.

Durante a Idade Média, a doutrina do Direito Natural passou por uma grande evolução e
desenvolveu-se atrelada ao cristianismo, sendo que Deus representava a ordem universal, expressa
pela lei eterna, cuja derivação racional resulta na lei natural. O jusnaturalismo teológico e suas
contribuições para o pensamento econômico de livre mercado serão abordados de forma sistemática
nos capítulos posteriores. Entretanto, se faz necessário o entendimento de que na cultura medieval e
nas obras de alguns pensadores modernos, o direito natural estava intrinsecamente relacionado com
a ética bíblica.
Na Idade moderna, desenvolveu-se a concepção da “Hipótese Ímpia”, que procurava
desvincular Deus da existência e legitimidade do Direito Natural. Essa ideia foi descrita pelo filósofo
Holandês Hugo Grócio (1583-1645). “Não é mais Deus ou a ordem divina o substrato do Direito,
mas a natureza humana e a natureza das coisas” (BITTAR, 2015, p.309). Portanto, o fundamento do
jusnaturalismo encontra-se na racionalidade, sendo que o conhecimento da lei natural depende do
método dedutivo e do raciocínio matemático.
Samuel Von Pufendorf (1632-1694) foi um eminente jurista alemão e grande discípulo de
Hugo Grócio. Em sua teoria acerca do Jusnaturalismo, foi fortemente influenciado pelo racionalismo
de Descartes. A concepção que os métodos matemáticos seriam capazes de alcançar o entendimento
de um princípio jurídico universal estava presente de forma marcante no pensamento de Pufendorf.

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Além disso, o pensador alemão estabelece uma clara distinção entre a lei natural, responsável pela
organização da vida em sociedade, e a lei divina, fundamentada na Revelação de Deus ao Homem.

As Leis naturais são aquelas que estão de acordo com a natureza sociável do
homem, que uma sociedade honesta e pacífica não poderia se manter entre a
humanidade sem elas, donde que isto pode ser buscado, e seu conhecimento
adquirido pela luz daquela razão, que nasce com todos os homens, e por uma
consideração da natureza humana em geral.

Portanto, na concepção de Pufendorf, a lei natural apresenta como função essencial o bem-
estar da humanidade, assim como sua preservação integral. Sendo assim, o direito natural apresenta
uma abordagem prescritiva, na medida em estabelece obrigações para os homens: deveres para
consigo mesmo e deveres para com o próximo.
As ideias de que o direito natural se encontra presente na Natureza e apresenta um caráter
imutável influenciaram fortemente a filosofia jurídica do pensador inglês John Locke (1632-1704),
cuja teoria do conhecimento foi imprescindível no desenvolvimento do empirismo. Pode-se dizer que
Locke contribuiu para grandes correntes do pensamento político, dentre elas: Constitucionalismo,
jusnaturalismo, contratualismo, liberalismo político e liberalismo econômico. Diferentemente dos
racionalistas, o filósofo inglês negava fortemente a existência de ideias e leis inatas. Contrariando aos
ideais de Thomas Hobbes (1588-16790, Locke não apresentava uma visão pessimista do estado de
natureza, contudo afirma que um dos motivos para a elaboração do contrato social e posterior
surgimento da sociedade civil se deve ao fato da inexistência de um juiz imparcial na regulação de
conflitos.
A existência do Governo Civil, para Locke, decorre da necessidade de assegurar maior
proteção aos direitos fundamentais derivados da lei natural, sendo eles: Vida, liberdade e propriedade.
Portanto, todo Estado que se torna tirano e viola os direitos essenciais de seus cidadãos é ilegítimo e
deve sofrer resistência por parte da população. Portanto, as leis positivas deveriam fundamentar seu
conteúdo nos ditames e preceitos da lei natural.
Na Idade Contemporânea, o jusnaturalismo foi enfraquecido por diversos fatores, dentre eles:
secularização, sistematização, positivação e historicização do Direito. A ascensão do Positivismo
Jurídico, corrente de pensamento desenvolvida por Hans Kelsen (1881-1973), revelou a descrença na
existência de uma lei natural, denominada por muitos teóricos de uma “mera abstração”. Sendo assim,
o Direito é compreendido como um complexo orgânico hierarquizado de normas, um sistema
escalonado, ou seja, uma pirâmide normativa, cuja validade deriva da compatibilidade e coerência
sistemática entre suas normas jurídicas. A unidade do ordenamento jurídico deriva da chamada

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“norma fundamental”, princípio unificador e fundamento de validade, pressuposta e hipotética. O


positivismo jurídico revela uma sociedade marcada pela secularização e crescimento do relativismo
cultural.
Apesar do desenvolvimento das correntes jurídicas positivistas, alguns autores
contemporâneos resgataram os pressupostos do jusnaturalismo, dentre eles Murray Rothbard, um
importante teórico do libertarianismo. Em sua obra A ética da Liberdade, Rothbard destaca a
existência da lei natural, descoberta pela razão humana e o verdadeiro fundamento da liberdade,
compreendida como um princípio moral e a finalidade a ser alcançada pela política. Importante frisar
que a teoria ética libertária se estrutura na defesa da existência de uma lei natural e na concepção de
direitos inalienáveis. A Ética, sendo universal e atemporal, encontra-se intrinsecamente relacionada
com a Lei Natural, cujas derivações formam o Princípio da auto-propriedade e o Princípio da não-
agressão, os quais afirmam um imperativo prescritivo de não violação da propriedade privada física
do próximo.

Se a liberdade deveria ser o mais elevado fim político, então qual é a


fundamentação para este objetivo? Deveria estar claro depois deste livro que,
acima de tudo, a liberdade é um princípio moral, fundamentado na natureza
do homem. Particularmente, ela é um princípio de justiça, da abolição da
violência agressiva nos afazeres dos homens. Por esta razão, para ser
fundamentado e buscado adequadamente, o objetivo libertário deve ser
perseguido com o espírito de uma devoção total à justiça. Porém, para possuir
tal devoção naquilo que pode muito bem ser um caminho longo e penoso, o
libertário deve possuir uma paixão pela justiça, uma emoção originada e
canalizada por sua percepção racional dentro daquilo que a justiça natural
exige. A justiça, e não os discursos débeis ditados pela mera utilidade, tem
que ser a força motriz caso se queira alcançar a liberdade.

Com isso, conclui-se que o Libertarianismo é uma corrente filosófica de desprezo às correntes
jurídicas contemporâneas positivistas e pós-positivistas, pois na concepção libertária a justiça é um
princípio universal e atemporal e encontra-se relacionada com a Ética, deontológica e prescritiva.

3 ÉTICA CRISTÃ E O JUSNATURALISMO TEOLÓGICO E SUAS CONTRIBUIÇÕES


PARA O PENSAMENTO DE LIVRE MERCADO
A ética bíblica corresponde a uma reflexão teológica e investigação racional acerca das
condutas, ações humanas e valores culturais com base na mensagem central das Sagradas Escrituras
e na fé operada pelo Espírito Santo. Portanto, as noções de certo e errado decorrem da Revelação
Especial de Deus, cuja centralidade é Cristo, ou seja, trata-se de uma cosmovisão cristocêntrica.

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Quanto às características e particularidades, a ética bíblica é absoluta, prescritiva, deontológica e


baseia-se na Vontade de Deus.
A Lei da Revelação Especial encontra-se resumida no Decálogo e transmite ao homem o
conhecimento de sua depravação e de sua necessidade do perdão divino, assim como estabelece e
especifica as transgressões às normas eternas. Sendo assim, Lei e Graça apresentam uma relação
intrínseca, uma vez que o homem em seu estado de Queda necessita de Cristo para ser redimido e
buscar a obediência aos preceitos bíblicos, mediante a ação da graça irresistível e santificante do
Espirito Santo.
A cosmovisão cristã apresenta como conceitos imprescindíveis: pecado, salvação, fé e graça.
O pecado é compreendido como a transgressão da lei de Deus, a qual estabelece padrões morais a
serem executados. O homem, em seu estado original, encontra-se marcado e dominado pelas
correntes do pecado e necessita da Graça de Deus, concedida gratuitamente mediante a fé. A salvação
descrita na cosmovisão cristã refere-se ao perdão das penalidades eternas e castigos decorrentes de
nossa maldade natural.

O pecado gera consequências, e é exatamente por isso que precisamos de um


Salvador, alguém que nos livre não só da culpa, mas também da presença do
pecado: Jesus Cristo. É o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário que, de fato,
nos liberta, purifica e transforma.

O cristianismo preza pelo cumprimento dos deveres estabelecidos pela Lei Natural e pela Lei
Eterna, as quais apresentam três usos: teológico, moral e civil. Sendo assim, a ética cristã apresenta
alguns pontos essenciais: Soberania de Deus (aspecto teológico), dignidade da pessoa humana
(aspecto civil, critério de legitimidade do Direito Positivo), Graça irresistível e santificante do Espírito
Santo (aspecto teológico da Lei), Piedade prática (aspecto moral), caridade para com Deus (aspecto
teológico), justiça (aspecto civil), temor do Senhor (aspecto teológico da Lei) e a prática de virtudes
teologias e cardeais (aspecto moral da lei).
Portanto, a ética cristã não se manifesta somente na espiritualidade individual, como também
nas relações intersubjetivas e políticas do homem em sociedade. Como destaca Augustus Nicodemus
Lopes:

A primeira é que o cristianismo bíblico abrange todas as áreas da vida. Ele não
se limita apenas às questões espirituais referentes ao além. Ao contrário, tem
implicações que vão desde a escolha do cônjuge até a maneira como as
autoridades devem governar este mundo. Não há uma única área da existência
humana sobre a qual o cristianismo não tenha algo a dizer. Da criação dos
filhos até a maneira como devo me divertir e gastar meu dinheiro, da política

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até a minha maneira de me vestir. E não somente isso. O cristianismo também


tem muito a dizer sobre o mundo em que vivemos e até sobre outra raça de
seres racionais que compartilham esse planeta conosco, que são os anjos. Não
é de se admirar, portanto, que os cristãos tenham muitas perguntas.

O cristianismo se relaciona com áreas eminentes da vida social. Importante ressaltar que a
cosmovisão cristã, enquanto adepta do monoteísmo ético, se fundamenta na centralidade de Cristo;
portanto no que concerne aos aspectos políticos, não há a adoção integral de ideologias e utopias
partidárias e políticas.

O cristão não deve colocar suas esperanças em ideologias e utopias partidárias,


que se apresentam como a solução para todos os problemas sociais, pois isso
é idolatria. A esperança cristã deve ser colocada em Cristo, mesmo em
assuntos sociais.

A ética cristã não despreza a política, mas nunca se desvia de seus reais objetivos enquanto
baseados na Revelação de Deus. Alguns pontos centrais da doutrina social da filosofia política cristã
são: a prática da justiça pelas autoridades (Romanos 13.1-7, Daniel 4.27), o constitucionalismo e o
respeito às liberdades individuais (1 Pedro 2.13-14, Epístola aos Gálatas 5.1), a garantia da
propriedade privada (Êxodo 20.15, 1 Reis 21.1-29, Levíticos 25.10), a separação entre Igreja e o
Estado (Mateus 22.20,21) e o respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.
Os cristãos devem prestar obediência, por dever de consciência, às autoridades legitimas, ou
seja, àquelas que cumprem os propósitos de Deus (Justiça e o respeito ao princípio da dignidade da
pessoa humana) no mundo terreno e material. Logo, as autoridades legítimas são instituídas e
estabelecidas por Deus com o propósito de assegurar a coexistência dos indivíduos e refrear a ação
do pecado.

Como saber, então, se uma autoridade é legítima, à luz de Romanos 13? Nessa
passagem, Paulo estabelece e define a autoridade legítima ideal: ela é serva de
Deus para o bem dos súditos; recompensa o bem que é feito pelos súditos; é
agente de punição contra o mal- e, por cumprir tais prerrogativas, os súditos
cristãos se sujeitam à autoridade e pagam tributos e impostos.
Essa autoridade é legítima, então, quando afirma e recompensa aqueles que
fazem o bem, servindo-os e protegendo-os contra os maus. Portanto, como
sabemos se um governo ou autoridade é legítima? Será legítima se premia
aquele que faz o bem e, em contrapartida, pune os facínoras criminosos.

No caso de autoridades ilegítimas, é permitido ao cristão o exercício do direito de resistência


com o intuito de assegurar a prática da justiça e reestabelecer a conformidade com o princípio da
dignidade da pessoa humana. Inúmeras foram as situações descritas na Bíblia em que grandes
personagens se rebelaram contraordens e costumes decorrentes de autoridades civis. A rainha Ester
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desrespeitou uma imposição do Império persa para garantir a preservação e sobrevivência de seu
Povo.

Muito tempo depois, no reino da Pérsia, quando era proibido comparecer


diante do rei Xerxes sem ser convidado, Ester desobedeceu à lei imperial e
arriscou a própria vida para salvar seu povo, os judeus (veja Et 4.16). As
Escrituras não registram alguma ordem direta de Deus a Ester para que ela
comparecesse perante o rei, porém o desejo de salvar seu povo era, sem
dúvida, coerente com a obrigação moral básica de Levítico 19.18: “... amarás
o teu próximo como a ti mesmo”. Se Ester não tivesse ido até o rei, ela teria
desobedecido a esse mandamento divino.

O direito de resistência contra autoridades tirânicas demonstra, na maioria das vezes, um


respeito aos princípios bíblicos deontológicos de amor ao próximo, obediência a Deus, piedade
prática, justiça, misericórdia e a preocupação com o bem comum. Os pressupostos do pensamento de
direito de resistência foram construídos fortemente no âmbito da cosmovisão cristã e seus
prolegômenos encontram-se na obra de São Tomás de Aquino, cujos textos acerca da política
influenciaram o catecismo da Igreja Católica.

Quando a autoridade pública, excedendo os limites da própria competência,


oprimir os cidadãos [...] é lhes [aos cidadãos] lícito, dentro dos limites
definidos pela lei natural e pelo Evangelho, defender os seus próprios direitos
e os dos seus concidadãos contra o abuso dessa autoridade.
No caso de os dirigentes promulgarem leis injustas ou tomarem medidas
contrárias à ordem moral, tais disposições não podem obrigar as consciências
[...] O cidadão é obrigado, em consciência, a não seguir as prescrições das
autoridades civis quando tais prescrições forem contrárias às exigências de
ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do
Evangelho [...] “Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens”.

Durante a Idade Moderna, o direito de resistência foi abordado pelos chamados


monarcômacos franceses, pensadores cristãos adeptos da cosmovisão calvinista, que se opunham ao
absolutismo monárquico e às atrocidades cometidas pelas autoridades civis em meio ao contexto das
Guerras de Religião, cujo ápice foi o episódio da Noite de São Bartolomeu. François Hotman (1524-
1590), Teodoro de Beza (1519-1605) e Philippe du- Plessis Mornay (1549-1623) foram
representantes do pensamento monarcômaco, cujas ideias giravam em torno da limitação do poder
estatal em face dos direitos fundamentais de seus cidadãos. Governo Representativo, Federalismo e
Constitucionalismo foram grandes heranças da filosofia política cristã, especialmente da cosmovisão
reformada calvinista. Portanto, o direito de resistência e o tiranicídio ganham uma nova dimensão
com os escritos dos chamados “monarcômacos”.

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Na idade contemporânea, em meio ao domínio dos governos totalitaristas, alguns cristãos se


valeram de ideias teológicas acerca do direito de resistência para organizar uma oposição ordenada
aos movimentos ditatoriais coletivistas que dominavam alguns países da Europa no contexto da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Uma das figuras mais eminentes foi Dietrich Bonhoeffer
(1906-1945), pastor e teólogo luterano, membro da resistência alemã e um dos fundadores da Igreja
Confessante, cujos preceitos teológicos se opunham ao pensamento nazista e aos pressupostos do
cristianismo positivo (doutrina teológica que busca conciliar o cristianismo com o totalitarismo).
Bonhoeffer afirmou que a oposição ao nazismo era uma obrigação da fé cristã para que a igreja fosse
capaz de preservar sua integridade confessional. Sobre Bonhoeffer e a Igreja Confessante, Franklin
Ferreira escreve:

[...] por isso, desde o princípio, foi uma entidade política opondo-se ao
nazismo. Com base no estudo das Escrituras, ele entendeu que, diante da
opressão secular. A igreja necessita estar presente no mundo, sendo obediente
em circunstâncias difíceis- como ele disse o cristão precisa viver a “graça
dispendiosa” e não a “graça barata”. Ele também ressaltou a necessidade da
confissão, da meditação, da intercessão na vida em comunidade. Para esta, ele
enfatizou a liturgia e os símbolos cristãos como substitutos e corretivos dos
símbolos e rituais nazistas [...].

Klaus Von Stauffenberg (1913-1944), um oficial do exército alemão no período da Segunda


Guerra Mundial, foi outra figura eminente na aplicação prática do Direito de Resistência com base
na cosmovisão cristã. Em meio a um cenário dominado pelo totalitarismo, Stauffenberg, como um
grande nacionalista, se descontentou com o regime nazista e o com as propostas hitleristas em relação
aos rumos da Alemanha. Sendo assim, ele decidiu organizar um movimento ordenado de combate ao
nazifascismo. Assim, foi fundada uma conspiração para matar Hitler e tomar o poder político.
Entretanto, tal plano fracassou e os envolvidos foram fuzilados como traidores. Importante ressaltar
que Stauffenberg fundamentou sua oposição ao governo ditatorial tendo como base a tese do
tiranicídio defendida por Aquino para fundar o Movimento da Resistência Alemã, cuja coragem de
seus membros é lembrada até hoje, conforme destacado no Memorial da Resistência alemã: “As
pessoas sabem que princípios duram mais do que a morte. Não carregas a vergonha porque resistes!
Você não suportou a vergonha, você resistiu sacrificando sua vida pela liberdade, justiça e honra. ”
Portanto, conforme exposto a cosmovisão cristã, no âmbito político, aproxima-se da defesa de
um Estado de Direito, fundado no constitucionalismo, na limitação da atuação dos magistrados em
face dos direitos naturais legítimos dos cidadãos e na preservação da justiça. O teólogo Wayne
Grudem, em sua obra “A pobreza das nações”, afirma que o sistema de livre-mercado se encontra

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mais associado aos pressupostos deontológicos da ética bíblica e da caridade voluntária, pois favorece
a prática de virtudes socias e interpessoais. Tal pensamento encontra muita proximidade com a obra
“Da Democracia na América” do pensador Alexis de Tocqueville.
No âmbito jurídico, a doutrina que mais se aproxima do cristianismo é o jusnaturalismo
teológico e sua defesa da dignidade do ser humano, uma vez sendo ele criado à imagem e semelhança
de Deus. Importante ressaltar os impactos que os pensadores cristãos provocaram no desenvolvimento
de uma nova perspectiva para a Ciência do Direito e suas ramificações, sendo elas, principalmente:
Direito Constitucional, Direito Civil, Direito Penal e Direito Processual Penal.

É certo, no entanto, que com o advento do Cristianismo, que preconizava o


homem à imagem e semelhança de Deus, consolidou-se definitivamente a
ideia de que, semelhante ao Criador, o ser humano, por si, era dignitário de
direitos mínimos, naturais, que lhe preservassem a essência humana, a
autodeterminação, etc.

Ainda sobre o assunto, Vicente Greco Filho comenta:

Inegavelmente foi a doutrina cristã que mais valorizou a pessoa humana,


definindo o homem como criado à imagem e semelhança de Deus. Mediante
essa concepção, estabelecendo um vínculo entre o indivíduo e a divindade,
superou-se a concepção do Estado como única unidade perfeita, de forma que
o homem-cidadão foi substituído pelo homem-pessoa. Imediatamente, sentiu-
se tal influência na mitigação das penalidades atrozes, no respeito ao indivíduo
como pessoa e em outros campos.

O jusnaturalismo teológico influenciou de forma determinante a evolução de diversos ramos


do Direito, assim como colaborou na construção do pensamento econômico de livre- mercado. A
organização sistemática da doutrina do Direito Natural com base na cosmovisão cristã teve início
com Santo Agostinho (354-430).
Agostinho nasceu em uma província romana ao norte da África, na cidade de Tagaste. Era
filho de Mônica, uma mulher conhecida pela sua piedade e ligação profunda com o cristianismo.
Contudo, Agostinho se desviou da fé cristã e tornou-se adepto do maniqueísmo. Quando jovem,
dedicou-se ao estudo da retórica e literatura. Posteriormente, em Milão, conheceu Santo Ambrósio e
foi batizado no compromisso de viver uma vida segundo os preceitos de Cristo. Após o Batismo,
Agostinho acaba por se tornar padre.
“A doutrina de Santo Agostinho foi muito clara: o poder espiritual é Soberano e os homens
devem obediência a esse poder que é originário de Deus- o Rei efetivo de toda Criação”
(SCALQUETTE, 2013, p.75). Agostinho frisava a função eminente da graça e do poder Soberano de

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Deus na salvação dos homens. Deus é perfeito, enquanto os homens- herdeiros do pecado original de
Adão (teoria da imputação imediata) - são apenas cópias imperfeitas e incapazes de alcançar a verdade
absoluta apenas pelo uso de suas faculdades mentais e intelectuais. Sendo assim, os indivíduos
necessitam da misericórdia divina. O homem recebe de Deus o conhecimento acerca das verdades
eternas, pois a razão encontra-se limitada diante da fé. A teologia desenvolvida por Agostinho fazia
oposição direta ao pensamento de um monge da região da Bretanha, chamado Pelágio., cujas ideias
negavam o pecado original.

Quando se diz que Pelágio negava o pecado original, ele fazia questão de
negar a culpabilidade herdada. Isso quer dizer que o mal não nasce com os
homens, e estes são gerados sem culpa, no entanto, ao entrarem em contato
com o mundo corrompido pelo pecado, tendem a pecar porque seguem os
maus exemplos de outras pessoas. O pecado, portanto, pode ser definido como
estrutural. Os homens decidem, pelo livre-arbítrio que possuem, pecar, mas
isso se deve ao modelo incubador do pecado original que está presente na
organização social dos homens. O pecado original não é herdado
biologicamente por meio da perpetuação jurídica da culpa, da mancha do erro,
em função da primeira transgressão cometida por Adão, como pensava
Agostinho. O mal, para Pelágio, é social, e não genético.

No âmbito jurídico, Agostinho é jusnaturalista e defende a organização da vida social em


conformidade com o equilíbrio estabelecido entre a Lei Natural (Lei Eterna) e o Direito Positivo.
Portanto, é possível afirmar que a justiça apresenta duas vertentes; não sendo elas necessariamente
opostas. De um lado, relacionado ao Direito Positivo está a justiça humana, que se verifica nas
relações intersubjetivas mediante a boa-fé objetiva e a preservação da ordem pública. Enquanto a
justiça humana apresenta suas limitações derivadas da corrupção do pecado original e apresenta um
caráter mutável devido as particularidades geográficas e culturais de cada povo, a Lei eterna reflete a
onipotência e onisciência de Deus, trata-se da justiça divina, imutável, que governa e preserva o
Universo, assim como origina a lei natural.
A lei eterna influencia e inspira a elaboração da lei humana, uma vez sendo o homem criado
à imagem e semelhança de Deus. Contudo, essas espécies distintas de leis podem apresentar campos
de atuação diferenciados, pois a justiça divina estimula o homem em seu processo de santificação e
aproximação com Deus, enquanto a justiça humana procura assegurar a convivência pacífica e
harmoniosa dos indivíduos em sua vida social. Agostinho procura ressaltar que o Direito, enquanto
um conjunto de normas coercitivas e imperativas, só é válido quando coincide com a Justiça.

[...] Agostinho quer mesmo salvaguardar a noção de que o Direito só possa ser
dito Direito, quando seus mandamentos coincidirem com mandamento de

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justiça. Conceber o Direito dissociado da justiça é conceber um conjunto de


atividades institucionais humanas que se encontram dissociadas dos anseios
de justiça [...].

Agostinho afirma que o Governo legítimo é aquele que se pauta pela virtude da justiça
(derivada da lei natural ou eterna), a qual estabelece a prescrição e o compromisso de dar a cada um
o que é seu. Portanto, a justiça e o direito natural correspondem a uma graça comum de Deus para
humanidade com o intuito de evitar a desordem pública. “A justiça. Portanto, tem a ver com ordem,
da razão sobre as paixões, das virtudes sobre os vícios, de Deus sobre o homem”. O Estado é
instrumento de realização da lei natural através do Direito positivo. As ideias de Agostinho
influenciaram pensadores constitucionalistas e liberais posteriores, principalmente no que concerne a
identificação e correspondência do Direito com a justiça. Friedrich Hayek (1899-1992) retoma esse
pensamento em sua obra “Direito, Legislação e Liberdade”.
Murray Rothbard destaca três pensadores cristãos escolásticos do período medieval que são
essenciais na compreensão dos pressupostos do livre-mercado; são eles: São Tomás de Aquino,
Francisco Suárez e Francisco de Vitória. Começando por Aquino, é importante frisar sua eminência,
não só para teologia e filosofia, mas para diversas áreas do conhecimento, tais como: Ciência política,
Direito e Economia. No campo político, Tomás de Aquino considerava a monarquia como a melhor
forma para realização do bem comum, contudo não se tratava da defesa de uma espécie de
Absolutismo ou tirania pessoal. Como bem destaca Cláudio de Cicco:

A maior expressão do pensamento político medieval é São Tomás de Aquino,


dominicano italiano (1225-1274), que escreveu. Do governo dos príncipes,
obra em que, seguindo Aristóteles e Santo Agostinho, considera a monarquia
a melhor forma de governo, mas não a monarquia absoluta dos césares
romanos e sim uma monarquia limitada pelo poder da igreja, das cortes dos
nobres, das universidades e das corporações de artes e ofícios, que reuniam os
artesãos nas cidades europeias. É a chamada monarquia temperada. Chegava
a admitir o direito de revolução dos súditos contra monarcas com tendências
absolutistas ou anticatólicas.

Quanto ao seu pensamento jurídico, Aquino foi o maior expoente do jusnaturalismo teológico
da Idade Média. Classificou as leis em três tipos: lei eterna, lei natural e a lei humana. O primeiro
tipo corresponde a suprema ordem do Universo, ou seja, a providência divina. A lei natural retrata
uma relação de participação, ou seja, reflete a participação da lei eterna pela criatura racional, uma
vez que a Revelação Geral de Deus (fenômenos naturais) possibilita ao homem uma compreensão,
através da razão, do caráter normativo de seu regimento e totalidade. Entretanto, “tendo em vista que
a natureza humana é mutável, a apreensão do que é natural, por vezes, admite Aquino, pode falhar”.

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Logo, o jusnaturalismo tomista não enxerga na natureza um código normativo não suscetível
de falhas e variações.
A lei humana, na concepção tomista, é a derivação racional de lei natural por determinação
ou conclusão. Trata-se, portanto, de uma espécie de concretização da lei que se revela na Natureza.
“Em outras palavras, a lei humana deve retratar o que a lei natural preceitua; deve o legislador
positivar o que é dado pela natureza, o que da natureza decorre, e não o contrário [...]”. Portanto,
conclui-se que o critério de legitimidade do Direito positivo é o seu cumprimento com a efetivação
dos preceitos normativos da lei natural.
A Justiça Legal, enquanto a correspondência do Direito Positivo com o Direito Natural,
classifica-se em Justiça Distributiva e Justiça Comutativa. A primeira refere-se à análise dos méritos
de cada parte na sociedade, ou seja, trata de relações públicas da parte com o todo de acordo com o
grau de participação e produtividade. A segunda espécie encontre-se presente nas relações privadas
contratuais, ou seja, no âmbito da autonomia negocial privada. Portanto, na concepção tomista, a
justiça, enquanto virtude, está sempre pautada pelo equilíbrio nas interações, com o intuito de
estabelecer a igualdade entre os que se relacionam.
As ideias de Aquino foram essenciais na construção do constitucionalismo, da teoria dos
direitos humanos e fundamentais e dos pressupostos do pensamento de livre mercado, especialmente
no que concerne na sua defesa da limitação do Estado em face da autonomia dos indivíduos enquanto
seres racionais e das liberdades das instituições privadas. Sendo assim, cabia ao Estado capacitar o
povo, por meio do exercício da justiça, a promover sua dignidade. Importante ressaltar que a
escolástica de Aquino influenciou outros pensadores medievais, cujas obras são consideradas por
muitos de precursoras da escola austríaca de economia e da defesa do liberalismo econômico.

A pré-história da escola austríaca de economia pode ser encontrada nas obras


dos escolásticos espanhóis mais especificamente em seus escritos no período
conhecido como o “Século de Ouro espanhol”, que decorreu de meados do
século XVI até o século XVII.

Quem eram estes precursores intelectuais espanhóis da Escola Austríaca? A


maioria deles era formada por escolásticos que ensinavam moral e teologia na
Universidade de Salamanca, cidade espanhola medieval localizada 150 km a
noroeste de Madri, perto da fronteira da Espanha com Portugal. Esses
escolásticos, principalmente dominicanos e jesuítas, articularam a tradição
subjetivista, dinâmica e libertária a que, duzentos e cinquenta anos depois,
Carl Menger e seus seguidores iriam dedicar tanta importância [...] (pp. 41-
73).

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Historicamente, a Escolástica se divide em três grandes períodos: Escolástica Primitiva


(séculos IX ao XII); Escolástica Média (séculos XII e XVIII) e Escolástica Tardia (séculos XIV e XV
e início do século XVI). No que concerne às contribuições ao pensamento de livre mercado, a
Escolástica Tardia é a mais notável, especialmente pelos seus filósofos: Juan De Mariana, Francisco
de Suárez e Francisco de Vitória, São Bernardino de Siena (1380-1444). Dentre os pressupostos da
Escolástica Tardia, os mais importantes no âmbito econômico são: teoria do valor (enfoque
subjetivista), defesa do livre comércio e a defesa da propriedade privada.
São Bernardino de Sena (1380-1444), um teólogo franciscano, foi responsável pela
sistematização do pensamento econômico do tomismo, ou seja, foi o pioneiro na elaboração de um
livro dedicado aos estudos econômicos com base na escolástica. Em seus escritos, São Bernardino de
Siena frisava a eminência da garantia da propriedade privada, da defesa do empreendedorismo, da
importância do livre comércio, da legitimação dos lucros, da teoria do valor (preço justo decorre do
livre mercado) e também apontou os perigos de uma política de tributação excessiva.
Na Espanha, a Escolástica tardia foi representada por Francisco de Vitória (1495- 1560), um
grande nome do jusnaturalismo e um dos pioneiros no estudo e sistematização dos prolegômenos do
Direito Internacional. No campo político, ele se destacou em suas reflexões acerca da legitimidade
do poder, compreendido como derivado de Deus e necessário para a convivência harmoniosa dos
homens. Sendo assim, o poder apresenta um caráter social e tem por base o povo. Com base nessa
perspectiva, existem limitações ao exercício do poder centralizado: Deus, os direitos naturais, os
imperativos prescritivos da lei natural e a Soberania ou consulta popular. No âmbito econômico,
Francisco de Vitória reafirmou a teoria do valor, ou seja, o preço justo é o preço do mercado, e
também destacou a importância da propriedade privada e das trocas voluntárias na coexistência
pacífica e no domínio da justiça civil.
Francisco Suárez, assim como Francisco de Vitória, foi um notável membro da escolástica e
da defesa do jusnaturalismo. Quando jovem, tornou-se seminarista jesuíta em Salamanca. Seus
estudos abarcam os seguintes temas: direito de resistência, lei natural, teoria da guerra justa, teoria do
valor e direito internacional.

O filósofo espanhol Francisco Suárez seguiu a tradição de Aquino


argumentando que a lei natural é o fundamento da lei humana. Ele descreveu
como as regras humanas poderiam ser injustas e enfatizou a liberdade humana.
As leis feitas pelos homens poderiam, segundo Suárez, ser quebradas em
certos casos. Por exemplo, poder e autoridade podem ser conferidos a um
governante pelo povo, mas também podem ser tomados dele se as aplicações
forem injustas. Nenhuma lei feita pelos homens poderia sobrepor o direito

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natural do povo à vida e à liberdade. E, uma vez que a origem da autoridade


do Estado e do poder é humana, ela deveria se sujeitar à autoridade sagrada.

Suárez foi um severo defensor das limitações do Estado em face dos direitos naturais e da
autonomia da vontade dos indivíduos. Tal concepção influenciou na elaboração de sua teoria
econômica, cujos pressupostos eram semelhantes ao pensamento de Juan de Mariana (1536-1624)),
um padre e historiador espanhol.
Juan de Mariana foi claramente o escritor escolástico que influenciou explicitamente as teorias
políticas e éticas da Liberdade econômica. Em seus escritos destacou a importância da propriedade
privada (condição indispensável para o desenvolvimento econômico e social), a necessidade de
redução da carga tributária, pois empobrece a população; afirmou também a eminência de garantir o
equilíbrio do orçamento público (déficits orçamentários acarretam no aumento dos tributos e na
emissão de moeda, resultando na inflação). Além desses pontos, Juan de Mariana criticou o
monopólio do Estado na emissão e adulteração de moeda, se opôs as regulamentações e o
intervencionismo do poder público, pois representariam uma séria violação dos preceitos da lei
natural. Influenciou o pensador Hayek em sua visão sobre a “ordem espontânea”, ou seja, na ideia de
que as informações, enquanto subjetivas, encontram- se dispersas no ambiente social e que, portanto,
não cabe ao Estado estabelecer uma centralização em torno delas, pois cada indivíduo reconhece suas
necessidades e o local para encontrar informações úteis para suprir seus desejos, ou seja, o livre
comércio representa a melhor forma para a preservação da coesão social.
Juan De Mariana foi um forte crítico da criação dos monopólios estatais e do planejamento do
poder público no âmbito econômico. Ele se opôs às políticas absolutistas nos países europeus e à
crescente tirania dos governos. Portanto, concluindo; diversas são as ideias defendidas pelos autores
da Escolástica tardia que se relacionam com pressupostos e princípios da Liberdade econômica e
ideais da eminente escola austríaca, tais como: a teoria do valor com base no subjetivismo, defesa das
liberdades individuais, inflação como fenômeno provocado por distúrbios monetários, garantia da
propriedade privada, compreensão dos mercados enquanto processos, princípio da ação humana;
vínculo entre Ética, política e economia (interdisciplinaridade), reconhecimento da ordem
espontânea, a eminência do livre comércio, a liberdade de preços e concepção de que as informações
necessárias para a ordem social são dispersas.
Assim como os escolásticos, os pensadores protestantes também foram essenciais na
construção do pensamento econômico de livre mercado. Embora apresentavam divergências
teológicas e doutrinárias em relação aos adeptos do tomismo e da filosofia escolástica, os pensadores
da Reforma Protestante possuíam pontos políticos similares com alguns padres da Idade Média

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citados e abordados anteriormente, especialmente no que concerne na defesa do jusnaturalismo, do


direito de resistência e de medidas que favorecessem o empreendedorismo e a dinamização das
relações comerciais.
João Calvino (1509-1564), reformador francês de grande destaque, foi um teólogo que
contribuiu imensamente para expansão da cosmovisão reformada na Europa, especialmente na Suíça.
Quando ele se instalou em Genebra, contribuiu na formação de leis, na implantação de escolas,
hospitais e fomentou o comércio, dinamizando a economia. Importante ressaltar que as mudanças
trazidas pelo calvinismo não ficaram restritas ao âmbito teológico, mas contribuíram em questões
jurídicas, políticas, sociais, filosóficas e literárias.

A reforma calvinista transformou não apenas a teologia e a igreja, mas também


a lei e o Estado. O próprio João Calvino era um advogado de boa formação e
criou mais de uma centena de estatutos para Genebra- incluindo novas
constituições para igreja e Estados locais, novas leis e procedimentos civis e
criminais, e muitas ordenanças distintas sobre sexualidade e suntuosidade,
casamento e vida familiar, moralidade e caridade, educação e assistência aos
pobres, dentro de muitos tópicos. Calvino também foi membro do consistório
de Genebra durante duas décadas, tendo julgado milhares de casos, e lidou
com muitas questões legais intrincadas na sua obra Institutas nos comentários,
sermões, concílios e correspondências.

João Calvino atribuiu grande importância às leis, ao Estado, governo e aos magistrados. Sua
reflexão política girava em torno de sua concepção acerca da Soberania de Deus. A autoridade de um
governo decorre da providência divina. “Em última análise, em Calvino, a esfera do Estado está
segundo Kuyper, sob a majestade do Senhor e a autoridade que o homem detém, na gestão do governo
desse Estado, é dada por Deus” (SCALQUETTE, 2013, p.95).
Calvino destacou a necessidade de que cada organização política representasse uma sociedade
cristã que seguisse e obedecesse aos preceitos gerais da Bíblia e aos padrões da lei natural. Contudo,
importante frisar que na concepção de João Calvino existe uma separação básica entre igreja e Estado,
pois a Igreja deve apresentar autonomia em relação ao poder político centralizado. O governo é
compreendido como uma benção ou dádiva benevolente de Deus ao Homem, sendo a função do
governante e dos magistrados essencialmente sagrada, pois eles devem proteger o serviço externo de
Deus, fomentar o ensino da piedade, moldar a moral dos cidadãos para a justiça civil, promover o
bem comum e a ordem pública, defender a condição social da Igreja e garantir a aplicação concreta
da lei.
Calvino não se preocupou com a definição das melhores formas de governo, pois ele se
concentrou em definir e estabelecer os limites e deveres da atuação dos governantes e magistrados.

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Contudo, pode-se dizer que ele se aproximava da defesa da associação ou combinação entre
democracia e aristocracia. No âmbito jurídico, João Calvino é adepto da doutrina do Direito natural
e compreendia a lei natural como uma série de mandamentos e obrigações, inserida na consciência,
retomada nas Sagradas Escrituras e resumida no Decálogo. A lei Natural, enquanto uma graça comum
de Deus, seria usada em três diferentes funções: determinação teológica, utilização civil e no aspecto
moral-educacional. A função teológica é entendida como a capacidade que o Direito Natural possui
de repreender as pessoas na própria interioridade e fazer com que reconheçam a necessidade de uma
relação pessoal com o Criador. A ocupação civil decorre da necessidade de reprimir os efeitos da má-
fé e maldade dos pecadores no âmbito social. A utilização moral-educacional da lei natural por Deus
implica em apresentar aos convertidos na graça libertadora do Salvador os caminhos para
santificação. Enfim, a lei natural acaba por produzir a justiça civil e justiça espiritual, originando
normas que regulam a convivência dos indivíduos e garantem o predomínio da boa-fé objetiva nas
relações intersubjetivas.
Na concepção calvinista, os governantes não devem se desviar dos preceitos da legalidade, da
legitimidade e dos imperativos da lei natural. Entretanto, caso o Estado se torne tirânico e abusivo,
não é da responsabilidade dos cidadãos a organização de uma rebelião contra o respectivo poder
político. As obrigações de respeito e subordinação não são quebradas, mesmo quando as autoridades
se desviam da justiça. Contudo, Calvino reconhecia uma hipótese de necessidade do direito de
resistência. Trata-se da conjuntura em que a obediência ao Estado se torna um desrespeito ao
monoteísmo ético e ao amor incondicional a Deus. Nesse caso, caberia aos magistrados inferiores,
representantes populares, o dever de organizar uma resistência ordenada contra a tirania
governamental.
No aspecto econômico, Calvino é alvo de muitos questionamentos e debates controversos.
Primeiramente, antes do estabelecimento de qualquer tentativa de categorizar João Calvino; se
demonstra necessário estabelecer os fundamentos e desdobramentos de suas ideias no campo
socioeconômico. Em suas pregações, o reformador francês sempre se baseou na dignidade da pessoa
humana, já que o indivíduo foi criado à imagem e semelhança de Deus. Portanto, era imprescindível
a existência de uma sociedade fundada na solidariedade cristã. Ele também frisou a responsabilidade
social da Igreja, cujas obras deveriam favorecer uma conjuntura de trabalho digno para todos os
cidadãos.
Calvino realizou inúmeras reformas no âmbito econômico com base em alguns princípios
como: liberdade contratual, autonomia negocial privada, defesa dos direitos de propriedade, estímulo

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a caridade voluntária, a responsabilidade social da Igreja e a prestação de serviços e direitos sociais


por parte do Poder Público. Sobre esse assunto McGrath explica:

Embora tenha desenvolvido uma “teoria econômica” em qualquer sentido


abrangente do termo, ele parece ter sido plenamente consciente de princípios
econômico básicos, reconhecendo a natureza produtiva do capital e do
trabalho humano. Ele elogiou a divisão do trabalho pelos seus benefícios
econômicos e o modo em que ele enfatiza a interdependência humana e a
existência social. O direito das pessoas de possuírem propriedade, negado pela
ala radical da Reforma era apoiado por Calvino.

Uma cultura de livre empresa prosperou em Genebra, em grande parte graças


à atitude benigna de Calvino para com a economia e as finanças.

Em relação aos direitos de propriedade, Calvino escreve em oposição aos anabatistas de seu
tempo, que apoiavam a abolição da propriedade privada.

Isso porque, para a preservação da sociedade humana, é necessário que cada


um possua o que é seu; que alguns adquiram propriedade por compra, que para
outros isso deva vir por herança, para outros pelo título de apresentação; que
cada um aumente a sua parte proporcionalmente à sua diligência, força física
ou outras qualificações. Enfim, o governo político exige que cada pessoa
desfrute do que lhe pertence.

Calvino se opunha fortemente às medidas de distribuição de renda e de tributação progressiva


da riqueza. É possível vislumbrar nas políticas econômicas de Calvino vestígios ou primórdios de
uma ética deontológica libertária de respeito ao princípio da não-agressão, como destaca Murray
Rothbard e David Hall em seus escritos e comentários sobre o calvinismo.

Calvino [...] nos lembra de que a caridade não dispensa a justiça. Seu propósito
é condenar juízes que querem “afastar-se da equidade em favor dos pobres”,
em nome do evangelho, e “seguir uma ideia tola de misericórdia” favorecendo
os pobres. Em nome da justiça, não deve haver qualquer questão sobre prover
as necessidades dos destituídos causando danos aos ricos. O reformador
concorda com Paulo: enquanto os ricos têm o dever de dar esmolas, não se
deve obrigá-los a compartilhar suas posses. Qualquer que seja o mérito de
caridade e a preocupação de libertar os pobres da tirania, ninguém deve se
desviar da justiça, nem um fio de cabelo sequer.

Calvino defendia e valorizava o trabalho livre, compreendido como um dever que Deus
ordenou aos homens. Através dele, o indivíduo é capaz de evitar o desenvolvimento de vícios e
combater o ócio. Os frutos do trabalho devem favorecer uma vida confortável e digna. A partir das
ideias sociais e econômicas desenvolvidas pelo calvinismo, o sociólogo Max Weber, em sua obra “A

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ética protestante e o espírito do capitalismo”, estabelece uma relação de afinidade eletiva entre o
crescimento do protestantismo e o desenvolvimento do sistema capitalista.

Calvino e seus discípulos colocaram o trabalho no centro de sua teologia


social. [...]. Todo trabalho desta sociedade é investido de aprovação divina.
Qualquer filósofo ou economista exposto ao calvinismo será tentado a conferir
ao trabalho uma posição elevada no seu tratado social ou econômico, não
havendo melhor modo de enaltecer o trabalho do que combinando o trabalho
com a teoria do valor-trabalho, tradicionalmente a própria base de um sistema
econômico [...].

Entretanto seria equivocado determinar João Calvino como um libertário autêntico, pois ao
mesmo tempo em que estimulou o livre comércio e o crescimento de atividades empresariais e
contratuais, o reformador francês também estimulou serviços públicos sociais, através da fundação
de hospitais e escolas supervisionadas pelo governo municipal. Contudo, importante ressaltar que a
defesa da participação do Estado em alguns setores não exclui automaticamente a qualidade de
Liberal, uma vez que até mesmo os liberais clássicos eram defensores da intervenção do poder público
na disponibilidade de alguns serviços. Adam Smith, David Hume, David Ricardo, Jean Baptiste Say
e até mesmo pensadores liberais contemporâneos como Ludwig Von Mises e Milton Friedman
apoiavam a atuação do governo em algumas situações, tais como a criação de infraestrutura e a
garantia do chamado “mínimo-existencial” (condições mínimas de dignidade, também defendidas
por João Calvino). Sobre esse assunto, Ludwig Von Mises, um dos pensadores liberais mais
marcantes da Idade Contemporânea, escreve:

É incorreto interpretar a atitude do liberalismo, em relação ao estado, ao


afirmar-se que essa doutrina deseja limitar a sua esfera de atividades possíveis
ou que abomina, em princípio, toda atividade executada pelo estado, no que
concerne à vida econômica.

Portanto, seria errôneo caracterizar Calvino como um libertário (corrente política que procura
restringir a esfera de atuação do Estado somente ao âmbito da justiça), mas não seria um erro grave
denominá-lo de Liberal no quesito econômico, considerando os devidos aspectos históricos e sociais.
O calvinismo, enquanto uma cosmovisão, zelava imensamente pela caridade voluntária no âmbito
socioeconômico, ou seja, procurava restringir a intervenção constante e exagerada do Poder Público.
Sendo assim, a perspectiva política de Calvino apresenta afinidades com a concepção libertária, mas
encontra-se mais próxima do liberalismo econômico.
Após Calvino, outros pensadores protestantes contribuíram para o pensamento de livre
mercado, dentre eles Philippe DuPlessis Mornay e Johannes Althusius. O primeiro foi um árduo
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defensor dos direitos naturais dos indivíduos e da limitação do Estado em face da legalidade e dos
critérios de legitimidade.

Um dos seguidores mais revolucionários de Calvino, Philippe duPlessis


Mornay (1549-1623), acreditava que o propósito dos governos civis era
proteger os direitos naturais das pessoas. Isso incluía o fundamento de um
sistema econômico de livre mercado- o direito à propriedade privada. Além
disso, esse direito e outros não podiam ser totalmente alienados do povo, pois
este meramente delega a sua soberania e pode recuperá-la (via magistrados
inferiores) se o governante tornar-se tirânico.

Johannes Althusius foi um teólogo e pensador calvinista que viveu durante a Revolta
Holandesa contra as medidas absolutistas e tirânicas da Espanha, que se encontrava sob o domínio
do Rei Filipe II. Althusius, como grande defensor dos direitos naturais, defendeu o direito de
resistência contra autoridades autoritárias, pois a tirania governamental representava a quebra da
aliança entre o Estado e o povo.
Esse pensador formulou duas teorias muito recorridas no âmbito da ciência política: teoria
simbiótica e a teoria da aliança entre a sociedade e a política. Em sua concepção, os homens são
inclinados por natureza a estabelecerem associações- casamentos, famílias, cidades, províncias e
Estados. Cada um desses agrupamentos é formado por um contrato ou aliança entre os seus membros
perante Deus e diante dos outros. “Cada associação é um lugar de autoridade e liberdade que liga
tanto governantes quanto súditos aos termos do seu contrato de fundação e aos mandamentos das leis
fundamentais de Deus e da natureza[...]” (HALL, 2017, p.50).
Althusius foi um dos mais célebres nomes da filosofia política cristã e contribuiu imensamente
para ideias essenciais no mundo contemporâneo, tais como: Constitucionalismo, teoria dos direitos
fundamentais, desobediência civil, governo representativo, Federalismo, livre comércio, autonomia
negocial privada e as garantias processuais no âmbito jurídico.
Já na Idade Contemporânea, Frédéric Bastiat (1801-1850) foi um dos maiores expoentes do
Jusnaturalismo teológico e contribui para sistematização das relações da doutrina do direito natural
com o livre mercado. Em sua obra “A lei”, o respectivo filósofo condena as regulamentações
excessivas, o planejamento estatal, o coletivismo e as tendências absolutistas centralizadoras. Na
concepção de Bastiat, o conceito de lei encontra-se intrinsecamente relacionado com o direito natural.

Vida, faculdades, produção-e, em outros termos, individualidade, liberdade e


propriedade- eis o homem. E, apesar da sagacidade dos líderes políticos, estes
três dons de Deus precedem toda e qualquer legislação humana, e são
superiores a ela.

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A vida, a liberdade e a propriedade não existem pelo simples fato de os


homens terem feito leis. Ao contrário, foi pelo fato de a vida, a liberdade e a
propriedade existirem antes que os homens foram levados a fazer leis.

Logo, percebe-se que a perspectiva do jusnaturalismo teológico contribui imensamente para


a estruturação e elaboração da cosmovisão da liberdade econômica, sendo que ao longo da história,
diversos pensadores defensores do livre mercado consideravam-se cristãos e propagavam
explicitamente sua fé. O ideal de que o homem apresenta direitos naturais concedidos por Deus
mediante sua graça comum fomentou o surgimento, desenvolvimento e crescimento de teorias
políticas de limitação do Estado. Desde a patrística medieval até a consolidação da teologia reformada
cristã, diversos teólogos já evidenciavam em seus escritos ideias que mais tarde seriam os pilares do
pensamento econômico de livre mercado. Portanto, é inegável o fato de que a cosmovisão cristã
influenciou na evolução filosófica dos pressupostos do livre comércio e do constitucionalismo.

4 CONCLUSÃO
A ética da liberdade econômica apresenta em perspectiva geral alguns princípios
fundamentais, tais como: jusnaturalismo, a deontologia de Immanuel Kant, autonomia da vontade,
princípio da auto-propriedade e o princípio da não-agressão. Quanto ao jusnaturalismo, a ideia da
existência de uma Lei Natural normativa, prescritiva (Princípio do Dever), anterior e
hierarquicamente superior ao Direito positivo e que garante ao homem faculdades e garantias
mínimas foi imprescindível na posterior sistematização do pensamento econômico de livre mercado.
Grande parte dos pensadores liberais, clássicos ou contemporâneos, sustentava suas teorias com base
na existência de uma lei natural, cujos imperativos fundamentavam a propriedade privada, liberdade
contratual e autonomia negocial. Também se faz importante ressaltar que ao longo da história a
doutrina do direito natural caminhou ao lado da ética cristã, compreendida como deontológica e
prescritiva. Autores cristãos como São Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Juan de Mariana,
Francisco de Suárez, Francisco de Vitória, João Calvino e Johannes Althusius foram precursores e
defensores de particularidades do livre comércio, sendo que alguns se declaravam explicitamente
contra o planejamento estatal no âmbito econômico. Portanto, conclui-se que a cosmovisão cristã não
se encontra defasada no que concerne aos aspectos e ideais econômicos contemporâneos e que ainda
tem muito a oferecer nos estudos e reflexões acerca do livre mercado, empreendedorismo,
constitucionalismo, livre concorrência, coletivismo, totalitarismo, direitos fundamentais e
desobediência civil.

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