Você está na página 1de 151

CARREIRAS JURÍDICAS

BIBLIOTECA DIGITAL
DIREITO AMBIENTAL
DIREITO AMBIENTAL

1 DIREITO AMBIENTAL – CONCEITO PRELIMINARES ................................................................. 4


1.1 MEIO AMBIENTE NATURAL ................................................................................................................................... 4
1.2 MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL ................................................................................................................................ 4
1.3 MEIO AMBIENTE CULTURAL ................................................................................................................................ 5
1.4 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO.......................................................................................................................... 5
1.5 DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO ECONOMICO ......................................................................................... 6
1.6 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS ..................................................................................................................................... 7
1.6.1 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ..................................................................................... 7
1.6.2 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO .............................................................................................................................. 8
1.6.3 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO .............................................................................................................................. 9
1.6.4 PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR .............................................................................................................. 9
1.6.5 PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR .............................................................................................................. 10
1.6.6 PRINCÍPIO DO DIREITO À SADIA QUALIDADE DE VIDA ............................................................................... 11
1.6.7 PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO ............................................................................................................................ 12
1.6.8 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO ........................................................................................................................ 12
1.6.9 PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA INTERVENÇÃO DO PODER PÚBLICO ......................................... 13
1.7 AÇÕES JUDICIAIS DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE ................................................................................. 13

2 NORMAS CONSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL ............................................................. 15


2.1 DIMENSÃO NATURAL DO MEIO AMBIENTE .................................................................................................. 18
2.2 DIMENSÃO ARTIFICIAL DO MEIO AMBIENTE ............................................................................................... 18
2.3 MEIO AMBIENTE CULTURAL .......................................................................................................................... 18
2.4 MEIO AMBIENTE LABORAL ............................................................................................................................. 18
2.5 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS EM MATÉRIA AMBIENTAL ................................................................... 19
2.6 ANÁLISE DE JURISPRUDÊNCIA ..................................................................................................................... 24

3 ZONEAMENTO AMBIENTAL E O SISTEMA NACIONAL DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO


DA NATUREZA ....................................................................................................................................................... 24
3.1 ZONEAMENTO AMBIENTAL ............................................................................................................................ 25
3.2 SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA ................................................ 29
3.3 PODER DE POLÍCIA E DIREITO AMBIENTAL ................................................................................................ 31
3.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL ........................................................................................................................ 32
3.5 INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS ............................................................................................. 34

4 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL. CONCEITO DE DANO. A REPARAÇÃO. DANO


AMBIENTAL. DANO MORAL COLETIVO ...................................................................................................... 37
4.1 CONCEITO DE DANO ....................................................................................................................................... 38
4.2 A REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL .......................................................................................................... 41

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 1


4.3 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL ................................... 42
4.4 CRIME AMBIENTAL .......................................................................................................................................... 45

5 SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE .45


5.1 O SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE .......................................................................................................... 46

6 ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL .......................................................................................................... 51


6.1 COMPETÊNCIAS .............................................................................................................................................. 52
6.2 NATUREZA JURÍDICA ...................................................................................................................................... 53
6.3 REQUISITOS ..................................................................................................................................................... 53

7 BIODIVERSIDADE E POLÍTICA NACIONAL ............................................................................................ 56


7.1 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO INTERNACIONAL ............................................................... 58
7.2 DO ACESSO ...................................................................................................................................................... 59
7.3 PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO ................................................ 60

8 PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS .......................................................................................................................... 62


8.1 GESTÃO DAS FLORESTAS PÚBLICAS .......................................................................................................... 66
8.2 PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E ÁREAS PROTEGIDAS ...... 69
8.3 PROTEÇÃO DE FLORESTAS E QUEIMADAS NA JURISPRUDÊNCIA ......................................................... 70
8.4 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E A RESERVA LEGAL ............................................................ 72
8.5 RESERVA LEGAL ............................................................................................................................................. 78
8.6 ÁREAS DE USO RESTRITO ............................................................................................................................. 79
8.7 USO ECOLOGICAMENTE SUSTENTÁVEL DOS APICUNS E SALGADOS ................................................... 79

9 BIOSSEGURANÇA.............................................................................................................................................. 81
9.1 AGROTÓXICOS ................................................................................................................................................ 84
9.1.1 PROTEÇÃO QUÍMICA DAS CULTURAS E MEIO AMBIENTE ..................................................................... 84
9.1.2 PRODUTOS TÓXICOS .................................................................................................................................. 90

10 RECURSOS HÍDRICOS ................................................................................................................................... 95


10.1 RECURSOS HÍDRICOS E MINERAÇÃO .................................................................................................................. 99

11 MINERAÇÃO.................................................................................................................................................... 105

12 POLÍTICA NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA NO BRASIL E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL ..................................................................................................................................................... 110

13 EFETIVAÇÃO DA PROTEÇÃO NORMATIVA AO MEIO AMBIENTE: PODER JUDICIÁRIO,


MINISTÉRIO PÚBLICO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ........................................................................ 115
13.1 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA EFETIVAÇÃO DA PROTEÇÃO NORMATIVA DO MEIO AMBIENTE ......... 121
13.2 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA EFETIVAÇÃO DA PROTEÇÃO NORMATIVA DO MEIO AMBIENTE . 126

14 POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS I ..................................................................... 130


14.1 RESÍDUOS SÓLIDOS I ................................................................................................................................. 130
14.2 CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DE ACORDO COM A RESOLUÇÃO ................................. 132
14.3 LEI DA POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ......................................................................... 133

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 2


14.4 DO OBJETO E DO CAMPO DE APLICAÇÃO .............................................................................................. 133
14.5 PRINCÍPIOS .................................................................................................................................................. 133
14.6 OBJETIVOS ................................................................................................................................................... 133
14.7 DAS RESPONSABILIDADES DOS GERADORES E DO PODER PÚBLICO .............................................. 134
14.7.1 GERADOR DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES ............................................................................ 134
14.7.2 DEVER DE AGIR DO PODER PÚBLICO ................................................................................................... 134
14.7.3 RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA PELO CICLO DA VIDA ......................................................... 134
14.7.4 OBJETIVOS DA RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA PELO CICLO DA VIDA .............................. 134
14.7.5 RESPONSABILIDADE DOS FABRICANTES, IMPORTADORES, DISTRIBUIDORES E COMERCIANTES
............................................................................................................................................................................... 134
14.7.6 DAS PROIBIÇÕES ..................................................................................................................................... 135
14.7.7 RESPONSABILIDADE OBJETIVA NOS CASOS DE OMISSÃO ............................................................... 135
14.7.8 NEXO CAUSAL .......................................................................................................................................... 136
14.7.9 JURISPRUDÊNCIA NACIONAL ................................................................................................................. 136

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 3


1 DIREITO AMBIENTAL – CONCEITO PRELIMINARES

Direito ambiental é o conjunto de princípios, regras, normas e valores que são relativos ao meio
ambiente como bem de uso comum do povo. Constitui-se de normas de direito internacional,
constitucional e infraconstitucional que regulam atividades potencialmente danosas ao meio ambiente
visando sempre a sua proteção. A Constituição Federal adotou a teoria do antropocentrismo alargado, ou
seja, os direitos do homem estão no centro dos valores constitucionais tutelados, se comparados com os valores
inerentes à vida dos seres não humanos. Afastada assim a teoria do ecocentrismo, que oferece igual valia
jurídica entre as vidas humanas e não humanas. De outro lado, o Constituinte Originário não ignorou a proteção
aos animais, ao vedar a crueldade contra eles.
O direito ambiental possui caráter multidisciplinar, traz elementos da física, da química, da biologia,
da geologia, da economia, além de dialogar com diversas disciplinas jurídicas como o direito constitucional,
direito administrativo, direito civil, direito penal, direito do consumidor entre outras. O meio ambiente, embora
uno para fins conceituais, possui aspectos distintos. Pode ser natural ou físico, como previsto no artigo 225,
caput e §1º, incisos I, III e VII, da CF/88. É composto pela atmosfera, elementos da biosfera, águas, solo,
subsolo, fauna e flora.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
(...)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
(...)
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

1.1 MEIO AMBIENTE NATURAL

É aquele constituído pelo solo, água, recursos minerais, ar atmosférico, flora e fauna, em suma, os
elementos naturais, ou conforme previsto no art. 3º da Política Nacional de Meio Ambiente (L. 6.938/81) é
“o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Típicos exemplos de meio ambiente natural vêm disposto no
artigo 225, §4º da Constituição Federal: a floresta amazônica brasileira, a mata atlântica, a serra do mar, o
pantanal mato-grossense e a zona costeira.

1.2 MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL

É aquele compreendido pelo espaço urbano construído, consistente nos equipamentos antrópicos
e na estrutura urbana geral, tendo sua fonte jurídica maior no artigo 182 da CF:

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 4


Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais
fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar
de seus habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é
o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da
cidade expressas no plano diretor.
§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos
termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu
adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado
Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da
indenização e os juros legais.

1.3 MEIO AMBIENTE CULTURAL

É aquele integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que
embora natural ou artificial, o homem, lhe atribui sentido de valor especial, encontrando amparo em nossa
Constituição no artigo 216:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico.
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por
meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação.
§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências
para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.
§ 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.
§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
§ 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
(...)

Bem como foi introduzido pelo §7º (EC 96/17) do artigo 225 da Constituição Federal a possibilidade
de utilização de animais, sem que seja considerada cruel, quando utilizado em manifestações culturais, desde
que regulamentada especificamente por lei e assegurado o bem-estar dos animais envolvidos.

1.4 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

É aquele que engloba o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam
remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que
comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independentemente da condição que
ostentem. É o conjunto de condições existentes no local de trabalho relativos à qualidade de vida do
trabalhador.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 5


O objeto do direito ambiental brasileiro é o macrobem, bem de natureza difusa e indivisível, não se
trata de bem público ou privado em sentido estrito. Este bem, terceiro gênero, que é objeto de tutela e de
regulação. São suas características a extrapatrimonialidade, inalienabilidade, indisponibilidade e
essencialidade para as vidas humanas e não humanas.

1.5 DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO ECONÔMICO

O direito ambiental como direito econômico está relacionado ao princípio do desenvolvimento


sustentável. A deterioração ambiental foi o principal foco do chamado Clube de Roma, na década de 1970. O
grupo, liderado por Dennis Meadows, elaborou um documento de impacto na comunidade internacional
chamado The limitsofgrowth. Em síntese, a conclusão do documento é de que a taxa de crescimento
demográfico, os padrões de consumo e a atividade industrial são incompatíveis com os recursos naturais
existentes. A solução para esse impasse seria a estabilização econômica, populacional e ecológica. O texto
gerou grande polêmica e foi atacado pelos setores defensores do desenvolvimento econômico tradicional.
O conceito de direito ao desenvolvimento sustentável, inserto neste o seu pilar econômico, restou
moldado conjuntamente, entretanto, pela Declaração de Estocolmo (1972), pela Estratégia Mundial de
Conservação (1980), pela Carta Mundial da Natureza (1982) e, finalmente, pelo Relatório Brundtland1 (1987),
em torno do conceito de sustentabilidade.
A Comissão Brundtland divulgou relatório denominado Nosso Futuro Comum e conceituou a base do
desenvolvimento sustentável como sendo a capacidade de satisfazer as necessidades do presente, sem
comprometer os estoques ambientais para as futuras gerações.2 Daí se extraem dois elementos éticos que são
essenciais para a ideia de desenvolvimento sustentável: preocupação para com a presente geração (justiça ou
equidade intrageracional) e preocupação com o futuro.
No Brasil, extrai-se o princípio do desenvolvimento sustentável da interpretação conjunta do
Preâmbulo e dos artigos 3º, 170 e 225 da Constituição Federal de 1988. Encontra lastro no § 2º do art. 5º da
Constituição brasileira, segundo o qual os direitos e as garantias ali expressos não excluem outros decorrentes
do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais de que a República Federativa do
Brasil faça parte. A ordem econômica brasileira − atenta ao princípio do desenvolvimento sustentável nas
suas dimensões econômica, ambiental, de inclusão social e de governança − deve obedecer ao princípio da
defesa do meio ambiente por disposição constitucional:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos
e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.

1
A Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da A/RES/38/61, no ano de 1983, constituiu uma Comissão para elaborar um
relatório sobre questões atinentes ao meio ambiente (Comissão Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente), incluindo o
desenvolvimento sem o comprometimento dos recursos naturais. Essa foi a origem do Relatório Brundtland.
2
WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our common future: brundtland report. Oxford; New
York: Oxford University Press, 1987. p. 13.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 6


Portanto, toda a produção legislativa infraconstitucional de ordem econômica deve ser obediente
à tutela constitucional do meio ambiente equilibrado para que tenha validade e eficácia.

1.6 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS

Os princípios de direito ambiental são normas que visam concretizar o direito fundamental ao meio
ambiente equilibrado e servem também como norte interpretativo.

1.6.1 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O Princípio do Desenvolvimento Sustentável encontra sua base legal no preâmbulo e nos artigos 225 e
170 da CF e já foi reconhecido como princípio de direito ambiental constitucional pelo Supremo Tribunal
Federal.

MEIO AMBIENTE - DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225) - PRERROGATIVA
QUALIFICADA POR SEU CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO
(OU DE NOVÍSSIMA DIMENSÃO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA SOLIDARIEDADE -
NECESSIDADE DE IMPEDIR QUE A TRANSGRESSÃO A ESSE DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA
COLETIVIDADE, CONFLITOS INTERGENERACIONAIS - ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE
PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III) - ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DO REGIME JURÍDICO A ELES
PERTINENTE - MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI -
SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - POSSIBILIDADE DE A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR OU
PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE
RESPEITADA, QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE
PROTEÇÃO ESPECIAL - RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II, C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA
(CF, ART. 225) - COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS - CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO DESSE ESTADO
DE TENSÃO ENTRE VALORES CONSTITUCIONAIS RELEVANTES - OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA
HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES (FASES OU DIMENSÕES) DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161) -
A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO
CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE ECONÔMICA (CF, ART. 170, VI) - DECISÃO NÃO
REFERENDADA - CONSEQÜENTE INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A
PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE: EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM
DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE À GENERALIDADE DAS PESSOAS. - Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão),
que assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e à própria coletividade, a especial
obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva
e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável, representa a
garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais marcados pelo
desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de uso comum das
pessoas em geral. Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER EXERCIDA EM DESARMONIA
COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. - A
incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de
motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada
a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa
do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural,
de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os
instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio
ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável
comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar graves danos
ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural. A QUESTÃO DO
DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA
INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA
ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. - O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter
eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 7


brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia,
subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores
constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo
essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz
bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O ART.
4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO EXPRESSIVO NA
TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. - A Medida Provisória nº 2.166-67, de 24/08/2001,
na parte em que introduziu significativas alterações no art. 4o do Código Florestal, longe de comprometer os valores
constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um
real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a
impedir ações predatórias e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção
mais intensa, agora propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo
em questão. - Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente
protegidos qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas
ao princípio da reserva legal. - É lícito ao Poder Público - qualquer que seja a dimensão institucional em que se
posicione na estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) - autorizar, licenciar ou
permitir a execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos,
desde que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte
comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico de
proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III).(ADI 3540 MC, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,
julgado em 01/09/2005, DJ 03-02-2006 PP-00014 EMENT VOL-02219-03 PP-00528)

O desenvolvimento econômico deve dar-se com governança, respeito ao meio ambiente e ao


princípio da dignidade da pessoa humana para que o desenvolvimento seja considerado sustentável. O
Estado e os indivíduos têm o dever constitucional fundamental de responder aos anseios das gerações
presentes sem comprometer as necessidades das gerações futuras.

1.6.2 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

Este é o princípio que leva a proteção do meio ambiente mais longe do que qualquer outro. Havendo
dúvida sobre uma possível ação que possa prejudicar o meio ambiente e a sadia qualidade de vida, deve
prevalecer o princípio da precaução: in dúbio pro ambiente. Por força deste princípio há uma presunção de
dúvida (ou dano) em favor do meio ambiente, o que reflete no ônus probatório. Assim, o empreendedor terá
que provar que sua atividade não gera dano ao meio, ou se gera, há como mitigar e/ou compensar o
impacto causado. O princípio nº 15 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92
ou Eco-92) sobre o tema dispôs:

Princípio 15- Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos
Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de
certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para
prevenir a degradação ambiental.

O STF3e o STJ têm aplicado o princípio da precaução nos seus julgados. Estando presentes o risco de
dano e a incerteza científica (quando não se sabe quais serão as consequências da atividade), relacionadas à
atividade potencialmente danosa, esta deve ser suspensa para a tutela do meio ambiente, inclusive com a
inversão do ônus da prova contra o potencial poluidor-degradador.

3
(ADPF 101, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 24/06/2009, DJe-108 DIVULG 01-06-2012 PUBLIC
04-06-2012 EMENT VOL-02654-01 PP-00001 RTJ VOL-00224-01 PP-00011)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 8


Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
(...)
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para
a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

1.6.3 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

Consiste no dever jurídico de evitar o dano ao meio ambiente ante a sua certeza. Contrariamente ao
princípio da precaução, no princípio da prevenção já existem provas da danosidade de determinada
atividade, empreendimento ou obra. Assim este princípio visa evitar a consumação do dano, ao invés de
contabilizar os danos e tentar repará-los: mais vale prevenir do que remediar. Encontra embasamento
constitucional no artigo 225, §1º, inc. IV, da CF, e tem sido aplicado como princípio pelo egrégio STF.

1.6.4 PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR

O princípio do poluidor-pagador não pode ser confundido com o direito de poluir. Dessa forma, o
princípio do poluidor-pagador (PPP) tem por objetivo internalizar os custos (levar em conta nos custos de
produção) das externalidades negativas (os danos suportados pela sociedade) advindas do uso dos bens
ambientais. Assim, o agente econômico que causar dano ambiental diante de sua atividade deverá arcar
com os custos da poluição produzida. Antes de poluir deve pagar. A base infraconstitucional do princípio
do poluidor-pagador está no art. 4º, inc. VII, da Lei 6.938/81.
O princípio do poluidor-pagador tem sido aplicado, conforme se verifica na jurisprudência do STJ, com
a finalidade de responsabilizar aqueles que causam o dano ambiental.
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE
POR DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE. ZONA COSTEIRA. LEI 7.661/1988. CONSTRUÇÃO DE HOTEL
EM ÁREA DE PROMONTÓRIO. NULIDADE DE AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA URBANÍSTICO-
AMBIENTAL. OBRA POTENCIALMENTE CAUSADORA DE SIGNIFICATIVA DEGRADAÇÃO DO MEIO
AMBIENTE. ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL - EPIA E RELATÓRIO DE IMPACTO
AMBIENTAL - RIMA. COMPETÊNCIA PARA O LICENCIAMENTO URBANÍSTICO-AMBIENTAL.
PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (ART. 4°, VII, PRIMEIRA PARTE, DA LEI 6.938/1981).
RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 14, § 1°, DA LEI 6.938/1981). PRINCÍPIO DA MELHORIA DA
QUALIDADE AMBIENTAL (ART. 2°, CAPUT, DA LEI 6.938/1981).
1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta pela União com a finalidade de responsabilizar o Município de
Porto Belo-SC e o particular ocupante de terreno de marinha e promontório, por construção irregular de hotel de três
pavimentos com aproximadamente 32 apartamentos.
2. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por maioria, deu provimento às Apelações da União e do Ministério
Público Federal para julgar procedente a demanda, acolhendo os Embargos Infringentes, tão-só para eximir o
proprietário dos custos com a demolição do estabelecimento.
3. Incontroverso que o hotel, na Praia da Encantada, foi levantado em terreno de marinha e promontório, este último
um acidente geográfico definido como "cabo formado por rochas ou penhascos altos" (Houaiss). Afirma a união que
a edificação se encontra, após aterro ilegal da área, "rigorosamente dentro do mar", o que, à época da construção,
inclusive interrompia a livre circulação e passagem de pessoas ao longo da praia.
4. Nos exatos termos do acórdão da apelação (grifo no original): "O empreendimento em questão está localizado,
segundo consta do próprio laudo pericial às fls. 381-386, em área chamada promontório. Esta área é considerada de
preservação permanente, pela legislação do Estado de Santa Catarina por meio da Lei n° 5.793/80 e do Decreto n°
14.250/81, bem como pela legislação municipal (Lei Municipal n° 426/84)".

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 9


5. Se o Tribunal de origem baseou-se em informações de fato e na prova técnica dos autos (fotografias e laudo pericial)
para decidir a) pela caracterização da obra ou atividade em questão como potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente - de modo a exigir o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (Epia) e o Relatório de
Impacto Ambiental (Rima) - e b) pela natureza non aedificandi da área em que se encontra o hotel (fazendo-o também
com fulcro em norma municipal, art. 9°, item 7, da Lei 426/1984, que a classifica como "Zona de Preservação
Permanente", e em legislação estadual, Lei 5.793/1980 e Decreto 14.250/1981), interditado está ao Superior Tribunal
de Justiça rever tais conclusões, por óbice das Súmulas 7/STJ e 280/STF.
6. É inválida, extunc, por nulidade absoluta decorrente de vício congênito, a autorização ou licença urbanístico-
ambiental que ignore ou descumpra as exigências estabelecidas por lei e atos normativos federais, estaduais e
municipais, não produzindo os efeitos que lhe são ordinariamente próprios (quod nullum est, nullum producit
effectum), nem admitindo confirmação ou convalidação.
7. A Lei 7.661/1988, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, previu, entre as medidas de
conservação e proteção dos bens de que cuida, a elaboração de Estudo Prévio de Impacto Ambiental - Epia
acompanhado de seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - Rima.
8. Mister não confundir prescrições técnicas e condicionantes que integram a licença urbanístico-ambiental (= o
posterius) com o próprio Epia/Rima (= o prius), porquanto este deve, necessariamente, anteceder aquela, sendo
proibido, diante da imprescindibilidade de motivação jurídico-científica de sua dispensa, afastá-lo de forma implícita,
tácita ou simplista, vedação que se justifica tanto para assegurar a plena informação dos interessados, inclusive da
comunidade, como para facilitar o controle administrativo e judicial da decisão em si mesma.
9. Indubitável que seria, no plano administrativo, um despropósito prescrever que a União licencie todo e qualquer
empreendimento ou atividade na Zona Costeira nacional. Incontestável também que ao órgão ambiental estadual e
municipal falta competência para, de maneira solitária e egoísta, exercer uma prerrogativa - universal e absoluta - de
licenciamento ambiental no litoral, negando relevância, na fixação do seu poder de polícia licenciador, à dominialidade
e peculiaridades do sítio (como áreas representativas e ameaçadas dos ecossistemas da Zona Costeira, existência de
espécies migratórias em risco de extinção, terrenos de marinha, manguezais), da obra e da extensão dos impactos em
questão, transformando em um nada fático-jurídico eventual interesse concreto manifestado pelo Ibama e outros órgãos
federais envolvidos (Secretaria do Patrimônio da União, p. ex.).
10. O Decreto Federal 5.300/2004, que regulamenta a Lei 7.661/1988, adota como "princípios fundamentais da gestão
da Zona Costeira" a "cooperação entre as esferas de governo" (por meio de convênios e consórcios entre União, Estados
e Municípios, cada vez mais comuns e indispensáveis no campo do licenciamento ambiental), bem como a "precaução"
(art. 5°, incisos XI e X, respectivamente). Essa postura precautória, todavia, acaba esvaziada, sem dúvida, quando, na
apreciação judicial posterior, nada mais que o fato consumado da degradação ambiental é tudo o que sobra para
examinar, justamente por carência de diálogo e colaboração entre os órgãos ambientais e pela visão monopolista-
exclusivista, territorialista mesmo, da competência de licenciamento.
11. Pacífica a jurisprudência do STJ de que, nos termos do art. 14, § 1°, da Lei 6.938/1981, o degradador, em
decorrência do princípio do poluidor-pagador, previsto no art. 4°, VII (primeira parte), do mesmo estatuto, é obrigado,
independentemente da existência de culpa, a reparar - por óbvio que às suas expensas - todos os danos que cause ao
meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, sendo prescindível perquirir acerca do elemento subjetivo, o
que, consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé para fins de acertamento da natureza, conteúdo e
extensão dos deveres de restauração do status quo ante ecológico e de indenização.
12. Ante o princípio da melhoria da qualidade ambiental, adotado no Direito brasileiro (art. 2°, caput, da Lei 6.938/81),
inconcebível a proposição de que, se um imóvel, rural ou urbano, encontra-se em região já ecologicamente deteriorada
ou comprometida por ação ou omissão de terceiros, dispensável ficaria sua preservação e conservação futuras (e, com
maior ênfase, eventual restauração ou recuperação). Tal tese equivaleria, indiretamente, a criar um absurdo cânone de
isonomia aplicável a pretenso direito de poluir e degradar: se outros, impunemente, contaminaram, destruíram, ou
desmataram o meio ambiente protegido, que a prerrogativa valha para todos e a todos beneficie.
13. Não se pode deixar de registrar, em obiterdictum, que causa no mínimo perplexidade o fato de que, segundo consta
do aresto recorrido, o Secretário de Planejamento Municipal e Urbanismo, Carlos Alberto Brito Loureiro, a quem
coube assinar o Alvará de construção, é o próprio engenheiro responsável pela obra do hotel.
14. Recurso Especial de Mauro Antônio Molossi não provido. Recursos Especiais da União e do Ministério Público
Federal providos.(REsp 769.753/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
08/09/2009, DJe 10/06/2011)

1.6.5 PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR

A base infraconstitucional do princípio do poluidor pagador está no art. 4º, inc. VII, da Lei 6.938/81 que
prevê que a Política Nacional do Meio Ambiente visará “a imposição, ao usuário, da contribuição pela
utilização de recursos ambientais com fins econômicos”. O princípio usuário-pagador não possui caráter de
pena ou punição, pois mesmo não existindo qualquer ilegalidade no comportamento do usuário ele pode ser

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


cobrado pelo uso do bem ambiental. Referido princípio é invocado pelo egrégio STF em seus julgados, como
na declaração de constitucionalidade do art. 36 da Lei de Compensação Ambiental.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 36 E SEUS §§ 1º, 2º E 3º DA LEI Nº 9.985,
DE 18 DE JULHO DE 2000. CONSTITUCIONALIDADE DA COMPENSAÇÃO DEVIDA PELA IMPLANTAÇÃO
DE EMPREENDIMENTOS DE SIGNIFICATIVO IMPACTO AMBIENTAL. INCONSTITUCIONALIDADE
PARCIAL DO § 1º DO ART. 36. 1. O compartilhamento-compensação ambiental de que trata o art. 36 da Lei nº
9.985/2000 não ofende o princípio da legalidade, dado haver sido a própria lei que previu o modo de financiamento
dos gastos com as unidades de conservação da natureza. De igual forma, não há violação ao princípio da separação
dos Poderes, por não se tratar de delegação do Poder Legislativo para o Executivo impor deveres aos administrados.
2. Compete ao órgão licenciador fixar o quantum da compensação, de acordo com a compostura do impacto ambiental
a ser dimensionado no relatório - EIA/RIMA. 3. O art. 36 da Lei nº 9.985/2000 densifica o princípio usuário-pagador,
este a significar um mecanismo de assunção partilhada da responsabilidade social pelos custos ambientais derivados
da atividade econômica. 4. Inexistente desrespeito ao postulado da razoabilidade. Compensação ambiental que se
revela como instrumento adequado à defesa e preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações, não
havendo outro meio eficaz para atingir essa finalidade constitucional. Medida amplamente compensada pelos
benefícios que sempre resultam de um meio ambiente ecologicamente garantido em sua higidez. 5.
Inconstitucionalidade da expressão "não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a
implantação do empreendimento", no § 1º do art. 36 da Lei nº 9.985/2000. O valor da compensação-compartilhamento
é de ser fixado proporcionalmente ao impacto ambiental, após estudo em que se assegurem o contraditório e a ampla
defesa. Prescindibilidade da fixação de percentual sobre os custos do empreendimento. 6. Ação parcialmente
procedente.(ADI 3378, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 09/04/2008, DJe-112
DIVULG 19-06-2008 PUBLIC 20-06-2008 EMENT VOL-02324-02 PP-00242 RTJ VOL-00206-03 PP-00993)

1.6.6 PRINCÍPIO DO DIREITO À SADIA QUALIDADE DE VIDA

O princípio da sadia qualidade de vida possui origem na Declaração de Estocolmo de 1972 que prevê:
“O homem tem o direito fundamental a adequadas condições de vida, em um meio ambiente de
qualidade”. A Rio 92, igualmente, dispõe, em seu Princípio 1º: “Os seres humanos têm o direito a uma vida
saudável”.
O princípio da sadia qualidade de vida, relevante registrar, foi invocado, juntamente com o princípio da
precaução, pelo egrégio STJ, como fundamento para postergar o plantio e a comercialização de sementes de
soja transgênica que poderiam gerar risco de dano ao meio ambiente e a saúde pública:
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO.CULTIVARES DE SOJA.
VARIAÇÃO NA COR DO HILO. AUSÊNCIA DE NORMA REGULAMENTADORA. OMISSÃO DO
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. NÃO OCORRÊNCIA. NECESSIDADE
DE ESTUDOS TÉCNICOS-CIENTÍFICOS. DIREITO LÍQUIDO E CERTO NÃO EVIDENCIADO.MANDADO
DE SEGURANÇA DENEGADO.
1. Insurge-se a impetrante contra a omissão da autoridade coatora em normatizar a questão da variação da tonalidade
de cor do hilo das sementes de soja.
2. O meio ambiente equilibrado - elemento essencial à dignidade da pessoa humana -, como "bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida" (art. 225 da CF), integra o rol dos direitos fundamentais. Nesse aspecto,
por sua própria natureza, tem o meio ambiente tutela jurídica respaldada por princípios específicos que lhe asseguram
especial proteção.
3. O direito ambiental atua de forma a considerar, em primeiro plano, a prevenção, seguida da recuperação e, por fim,
o ressarcimento.
4. A controvérsia posta em exame no presente mandamus envolve questão regida pelo direito ambiental que, dentre os
princípios que regem a matéria, encampa o princípio da precaução.
5. Deve prevalecer, no presente caso, a precaução da administração pública em liberar o plantio e comercialização de
qualquer produto que não seja comprovadamente nocivo ao meio ambiente. E, nesse sentido, o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA tem tomado as providências e estudos de ordem técnico-científica
para a solução da questão, não se mostrando inerte, como afirmado pela impetrante na inicial.
6. Não se vislumbra direito líquido e certo da empresa impetrante em plantar e comercializar suas cultivares, até que
haja o deslinde da questão técnico-científica relativa à ocorrência de variação na cor do hilo das cultivares.
7. Mandado de segurança denegado.(MS 16.074/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 09/11/2011, DJe 21/06/2012).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


1.6.7 PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO

De acordo com o Princípio 13 da Rio/92, os Estados deverão desenvolver “legislação nacional relativa
à responsabilidade e à indenização das vítimas da poluição e outros danos ambientais”. No mesmo
sentido, deverão cooperar de maneira rápida e mais decidida na elaboração de normas internacionais sobre
“responsabilidade e indenização por efeitos adversos advindos dos danos ambientais causados por atividades
realizadas dentro de sua jurisdição ou seu controle, em zonas fora de sua jurisdição”. O dano ambiental e a sua
reparação são regulados em nível infraconstitucional pelo artigo 927 do Código Civil e artigo 14, §1°, Lei n°
6938/814. O egrégio STJ tem aplicado o Princípio da Reparação ao reconhecer a responsabilidade objetiva
calcada na teoria do risco integral, que não admite a alegação da ocorrência das excludentes da
responsabilidade civil por parte dos predadores e dos poluidores.

1.6.8 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO

De acordo com o artigo 10 da Declaração do Rio 92, “o melhor modo de tratar as questões do meio
ambiente é assegurando a participação de todos os cidadãos interessados, no nível pertinente”. Em nível
nacional, cada pessoa deve ter a possibilidade de participar no processo de tomada de decisões
(administrativas e judiciais). A Lei 7802/89 permite que as associações de defesa do meio ambiente e do
consumidor possam impugnar o registro de pesticidas ou pedir o cancelamento do registro já efetuado.
O princípio da participação assenta-se sobre dois pressupostos inarredáveis: a informação e a educação
ambiental. E já foi reconhecido como princípio de direito ambiental em precedente do egrégio STJ:
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. DANO AMBIENTAL. CONDENAÇÃO. ART. 3º DA LEI 7.347/85.
CUMULATIVIDADE. POSSIBILIDADE. OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER COM INDENIZAÇÃO.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Não há falar em vícios no acórdão nem em negativa de prestação jurisdicional quando todas as questões necessárias
ao deslinde da controvérsia foram analisadas e decididas.
2. O magistrado não está obrigado a responder a todos os argumentos das partes, quando já tenha encontrado
fundamentos suficientes para proferir o decisum. Nesse sentido: HC 27.347/RJ, Rel. Min. HAMILTON
CARVALHIDO, Sexta Turma, DJ 1º/8/05.
2. O meio ambiente equilibrado - elemento essencial à dignidade da pessoa humana -, como "bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida" (art. 225 da CF), integra o rol dos direitos fundamentais.
3. Tem o meio ambiente tutela jurídica respaldada por princípios específicos que lhe asseguram especial proteção.
4. O direito ambiental atua de forma a considerar, em primeiro plano, a prevenção, seguida da recuperação e, por fim,
o ressarcimento.
5. Os instrumentos de tutela ambiental - extrajudicial e judicial - são orientados por seus princípios basilares, quais
sejam, Princípio da Solidariedade Intergeracional, da Prevenção, da Precaução, do Poluidor-Pagador, da Informação,
da Participação Comunitária, dentre outros, tendo aplicação em todas as ordens de trabalho (prevenção, reparação e
ressarcimento).
6. "É firme o entendimento de que é cabível a cumulação de pedido de condenação em dinheiro e obrigação de fazer
em sede de ação civil pública" (AgRg no REsp 1.170.532/MG).
7. Recurso especial parcialmente provido para, firmando o entendimento acerca da cumulatividade da condenação
prevista no art.
3º da Lei 7.347/85, determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem para que fixe o quantum necessário e
suficiente à espécie.
(REsp 1115555/MG, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/02/2011, DJe
23/02/2011)

4
Art. 14. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de
culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da
União terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


1.6.9 PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA INTERVENÇÃO DO PODER PÚBLICO

O princípio da obrigatoriedade da intervenção do poder público resta estipulado pela Declaração de


Estocolmo/72 nos seguintes termos: “Deve ser confiada às instituições nacionais competentes a tarefa de
planificar, administrar e controlar a utilização dos recursos ambientais dos Estados, com o fim de
melhorar a qualidade do meio ambiente.” E, igualmente, pela RIO/92, que no seu Princípio 11 prevê: “Os
Estados deverão promulgar leis eficazes sobre o meio ambiente.” Referido princípio está calcado em novas
ideias de gerenciamento ambiental, como eficiência, democracia, prestação de contas e, de modo mais
abrangente, governança.

1.6.10 PRINCÍPIO DO ACESSO EQUITATIVO AOS RECURSOS NATURAIS

Todos seres humanos e não humanos devem possuir acesso equitativo aos recursos naturais. Os
bens que integram o meio ambiente planetário como água, ar e solo, devem satisfazer a todos os habitantes da
terra. É adequado, portanto, pensar-se o meio ambiente como bem de uso comum do povo. Outrossim, resta
previsto no Princípio 1 da Rio/92: Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com
o desenvolvimento sustentável. Tem direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza.

E na Declaração de Estocolmo/72 resta estipulado, no Princípio 5, que os recursos não renováveis da


Terra “devem ser explorados de tal modo que não haja risco de serem exauridos e que as vantagens extraídas
de sua utilização sejam partilhadas por toda a humanidade”.

1.7 AÇÕES JUDICIAIS DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

O sistema processual brasileiro recepcionado e posteriormente construído sob a égide da Constituição


Federal de 1988 possui vasto estrutura instrumental para a tutela jurisdicional do meio ambiente. São
instrumentos processuais para a defesa do meio ambiente a ação popular, a ação civil pública, a ação direta de
inconstitucionalidade, de lei ou ato normativo, o mandado de segurança coletivo, o mandado de injunção, a
ação direta de constitucionalidade por omissão e a ação de arguição de descumprimento de preceito
fundamental. Todas essas ações podem ser manejadas para a tutela do meio ambiente como tem reconhecido
a jurisprudência dos tribunais superiores, tornando-se obsoleto o aprofundamento da discussão doutrinária
travada a respeito do cabimento dessas ações. Essas ações são imprescritíveis.
A ação civil pública foi introduzida pela lei 7.347/85 como um instrumento processual, com o objetivo
de tutela dos interesses metaindividuais. Entretanto, a lei 8.078/90 dividiu os direitos metaindividuais em
direitos coletivos, difusos, individuais homogêneos. Essa legislação foi o marco na superação das lides
ambientais com base nos direitos de vizinhança individuais. Esta ação surge como instrumento mais
adequado para proteção desta tutela, tendo em vista que tem como finalidade o cumprimento de
obrigação de fazer, não-fazer, e/ou condenação pecuniária.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


Possuem legitimidade ativa para propor esta ação o Ministério Público, a União, Estados, Municípios,
as autarquias, as empresas públicas, as fundações e as sociedades de economia mista, assim como as
associações que estejam constituídas há pelo menos um ano e incluam entre as suas finalidades a proteção do
meio ambiente, de acordo com o artigo 5 da Lei 7.347 e artigo 82 da lei 8.078. De acordo com o STJ:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS E MORAIS A PESCADORES CAUSADOS POR POLUIÇÃO
AMBIENTAL POR VAZAMENTO DE NAFTA, EM DECORRÊNCIA DE COLISÃO DO NAVIO N-T NORMA
NO PORTO DE PARANAGUÁ - 1) PROCESSOS DIVERSOS DECORRENTES DO MESMO FATO,
POSSIBILIDADE DE TRATAMENTO COMO RECURSO REPETITIVO DE TEMAS DESTACADOS PELO
PRESIDENTE DO TRIBUNAL, À CONVENIÊNCIA DE FORNECIMENTO DE ORIENTAÇÃO
JURISPRUDENCIAL UNIFORME SOBRE CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO FATO, QUANTO A MATÉRIAS
REPETITIVAS; 2) TEMAS: a) CERCEAMENTO DE DEFESA INEXISTENTE NO JULGAMENTO
ANTECIPADO, ANTE OS ELEMENTOS DOCUMENTAIS SUFICIENTES;
b) LEGITIMIDADE DE PARTE DA PROPRIETÁRIA DO NAVIO TRANSPORTADOR DE CARGA PERIGOSA,
DEVIDO A RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR; c) INADMISSÍVEL A
EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE POR FATO DE TERCEIRO; d) DANOS MORAL E MATERIAL
CARACTERIZADOS; e) JUROS MORATÓRIOS: INCIDÊNCIA A PARTIR DA DATA DO EVENTO DANOSO
- SÚMULA 54/STJ; f) SUCUMBÊNCIA. 3) IMPROVIMENTO DO RECURSO, COM OBSERVAÇÃO.
1.- É admissível, no sistema dos Recursos Repetitivos (CPC, art.543-C e Resolução STJ 08/08) definir, para vítimas
do mesmo fato, em condições idênticas, teses jurídicas uniformes para as mesmas consequências jurídicas.
2.- Teses firmadas: a) Não cerceamento de defesa ao julgamento antecipado da lide.- Não configura cerceamento de
defesa o julgamento antecipado da lide (CPC, art. 330, I e II) de processo de ação de indenização por danos materiais
e morais, movida por pescador profissional artesanal contra a Petrobrás, decorrente de impossibilidade de exercício da
profissão, em virtude de poluição ambiental causada por derramamento de nafta devido a avaria do Navio "N-T
Norma", a 18.10.2001, no Porto de Paranaguá, pelo período em que suspensa a pesca pelo IBAMA (da data do fato
até 14.11.2001); b) Legitimidade ativa ad causam.- É parte legítima para ação de indenização supra referida o pescador
profissional artesanal, com início de atividade profissional registrada no Departamento de Pesca e Aquicultura do
Ministério da Agricultura, e do Abastecimento anteriormente ao fato, ainda que a emissão da carteira de pescador
profissional tenha ocorrido posteriormente, não havendo a ré alegado e provado falsidade dos dados constantes do
registro e provado haver recebido atenção do poder público devido a consequências profissionais do acidente; c)
Inviabilidade de alegação de culpa exclusiva de terceiro, ante a responsabilidade objetiva.- A alegação de culpa
exclusiva de terceiro pelo acidente em causa, como excludente de responsabilidade, deve ser afastada, ante a incidência
da teoria do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental (art. 225, § 3º, da CF e do art.14, §
1º, da Lei nº 6.938/81), responsabilizando o degradador em decorrência do princípio do poluidor-pagador. d)
Configuração de dano moral.- Patente o sofrimento intenso de pescador profissional artesanal, causado pela privação
das condições de trabalho, em consequência do dano ambiental, é também devida a indenização por dano moral, fixada,
por equidade, em valor equivalente a um salário-mínimo. e) termo inicial de incidência dos juros moratórios na data
do evento danoso.- Nos termos da Súmula 54/STJ, os juros moratórios incidem a partir da data do fato, no tocante aos
valores devidos a título de dano material e moral; f) Ônus da sucumbência.- Prevalecendo os termos da Súmula
326/STJ, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não afasta a sucumbência mínima, de modo que
não se redistribuem os ônus da sucumbência.
3.- Recurso Especial improvido, com observação de que julgamento das teses ora firmadas visa a equalizar
especificamente o julgamento das ações de indenização efetivamente movidas diante do acidente ocorrido com o Navio
N-T Norma, no Porto de Paranaguá, no dia 18.10.2001, mas, naquilo que encerram teses gerais, aplicáveis a
consequências de danos ambientais causados em outros acidentes semelhantes, serão, como natural, evidentemente
considerados nos julgamentos a se realizarem. (REsp 1114398/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 08/02/2012, DJe 16/02/2012)

A ação popular ambiental é outra ação possível, onde qualquer cidadão é parte legítima para
propor a ação que vise anular ato lesivo ao meio ambiente. O autor fica isento de custar judiciais e do ônus
da sucumbência, salvo se comprovada a má-fé. Aqui, há um estimulo que emana da CF para que o cidadão
participe da fiscalização dos riscos de dano ambiental e, ainda, promova a reparação do bem ambiente.
Entretanto, há um requisito para que o cidadão possa ajuizar a ação: deve ter certidão do cartório eleitoral,
ou título eleitoral, que comprove que a pessoa é apta a votar. Assim, não podem ajuizar ação popular
ambiental, aqueles que perderam a nacionalidade e que perderam, ou tiveram suspensos, os direitos políticos.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


O mandado de segurança coletivo ambiental é previsto no artigo 5, LXIX e LXX da CF. É um
instrumento para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício
de atribuições do poder público. São partes legitimas para impetrar mandado de segurança coletivo
ambiental as organizações sindicais, entidades de classe ou associações legalmente constituídas e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados.
São sujeitos passivos a autoridade pública ou o agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do poder público que violarem o direito liquido e certo ao meio ambiente equilibrado ou
praticarem ilegalidade ou procederem com abuso de poder contra o bem ambiental como, por exemplo,
no caso de licenciamento ambiental irregular para construção de residências em uma área de preservação
permanente.
Já o mandado de injunção ambiental é cabível na ausência de normas que regulamentem a
proteção do meio ambiente. Muito embora a norma constitucional que prevê a ação tenha por objetivo
possibilitar, na ausência de normas regulamentadoras, o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, impossível excluir o meio ambiente
deste rol.
A ação direta de inconstitucionalidade, prevista no artigo 103 da CF, é mecanismo hábil para
impugnar em um processo objetivo, sem partes, normas que contrariem o artigo 225 da CF, no que tange a
tutela do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

2 NORMAS CONSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

O Supremo Tribunal Federal, como guardião da Constituição, reconheceu o direito ao meio ambiente
como um direito fundamental. Nesse diapasão, também, o meio ambiente foi considerado como bem jurídico
merecedor de tutela constitucional, nos autos do RE 134.297-8/SP. No MS 22.164/DF5, a Corte ampliou o

5
EMENTA: REFORMA AGRARIA - IMÓVEL RURAL SITUADO NO PANTANAL MATO-GROSSENSE -
DESAPROPRIAÇÃO-SANÇÃO (CF, ART. 184) - POSSIBILIDADE - FALTA DE NOTIFICAÇÃO PESSOAL E PREVIA DO
PROPRIETARIO RURAL QUANTO A REALIZAÇÃO DA VISTORIA (LEI N. 8.629/93, ART. 2., PAR. 2.) - OFENSA AO
POSTULADO DO DUE PROCESS OF LAW (CF, ART. 5., LIV) - NULIDADE RADICAL DA DECLARAÇÃO
EXPROPRIATORIA - MANDADO DE SEGURANÇA DEFERIDO. REFORMA AGRARIA E DEVIDO PROCESSO LEGAL. -
O POSTULADO CONSTITUCIONAL DO DUE PROCESS OF LAW, EM SUA DESTINAÇÃO JURÍDICA, TAMBÉM ESTA
VOCACIONADO A PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE. NINGUEM SERÁ PRIVADO DE SEUS BENS SEM O DEVIDO
PROCESSO LEGAL (CF, ART. 5., LIV). A UNIÃO FEDERAL - MESMO TRATANDO-SE DE EXECUÇÃO E
IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE REFORMA AGRARIA - NÃO ESTA DISPENSADA DA OBRIGAÇÃO DE
RESPEITAR, NO DESEMPENHO DE SUA ATIVIDADE DE EXPROPRIAÇÃO, POR INTERESSE SOCIAL, OS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS QUE, EM TEMA DE PROPRIEDADE, PROTEGEM AS PESSOAS CONTRA A EVENTUAL
EXPANSAO ARBITRARIA DO PODER ESTATAL. A CLÁUSULA DE GARANTIA DOMINIAL QUE EMERGE DO
SISTEMA CONSAGRADO PELA CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA TEM POR OBJETIVO IMPEDIR O INJUSTO
SACRIFICIO DO DIREITO DE PROPRIEDADE. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E VISTORIA EFETUADA PELO
INCRA. A VISTORIA EFETIVADA COM FUNDAMENTO NO ART. 2., PAR. 2. , DA LEI N. 8.629/93 TEM POR FINALIDADE
ESPECIFICA VIABILIZAR O LEVANTAMENTO TECNICO DE DADOS E INFORMAÇÕES SOBRE O IMÓVEL RURAL,
PERMITINDO A UNIÃO FEDERAL - QUE ATUA POR INTERMEDIO DO INCRA - CONSTATAR SE A PROPRIEDADE
REALIZA, OU NÃO, A FUNÇÃO SOCIAL QUE LHE E INERENTE. O ORDENAMENTO POSITIVO DETERMINA QUE
ESSA VISTORIA SEJA PRECEDIDA DE NOTIFICAÇÃO REGULAR AO PROPRIETARIO, EM FACE DA POSSIBILIDADE
DE O IMÓVEL RURAL QUE LHE PERTENCE - QUANDO ESTE NÃO ESTIVER CUMPRINDO A SUA FUNÇÃO SOCIAL -

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 15


reconhecimento de características especiais do bem ambiental, à luz do art. 225 da Constituição Federal
de 1988, em que estão previstos igualmente deveres fundamentais
O professor Ayala refere que as decisões reconheceram: “a) a repartição de responsabilidades no
exercício desses deveres; b) a relação estabelecida entre a sua concretização e os deveres atribuídos aos Poderes
Públicos e à coletividade; e, sobretudo, c) a titularidade compartilhada de interesses sobre o bem, que alcançam
inclusive as futuras gerações”.
Por sua vez, o Ministro Celso de Mello, no voto condutor do segundo leading case, asseverou que o
direito ao meio ambiente constitui a representação objetiva da necessidade de se proteger valores associados
ao princípio da solidariedade. Como consta no voto, é um direito fundamental de terceira geração
Conforme o Ministro Celso de Mello, o meio ambiente “[...] assiste direito de modo subjetivamente
indeterminado a todo o gênero humano, circunstância essa que justifica a especial obrigação que incumbe ao

VIR A CONSTITUIR OBJETO DE DECLARAÇÃO EXPROPRIATORIA, PARA FINS DE REFORMA AGRARIA.


NOTIFICAÇÃO PREVIA E PESSOAL DA VISTORIA. A NOTIFICAÇÃO A QUE SE REFERE O ART. 2. , PAR. 2., DA LEI N.
8.629/93, PARA QUE SE REPUTE VALIDA E POSSA CONSEQUENTEMENTE LEGITIMA EVENTUAL DECLARAÇÃO
EXPROPRIATORIA PARA FINS DE REFORMA AGRARIA, HÁ DE SER EFETIVADA EM MOMENTO ANTERIOR AO DA
REALIZAÇÃO DA VISTORIA. ESSA NOTIFICAÇÃO PREVIA SOMENTE CONSIDERAR-SE-A REGULAR, QUANDO
COMPROVADAMENTE REALIZADA NA PESSOA DO PROPRIETARIO DO IMÓVEL RURAL, OU QUANDO EFETIVADA
MEDIANTE CARTA COM AVISO DE RECEPÇÃO FIRMADO POR SEU DESTINATARIO OU POR AQUELE QUE
DISPONHA DE PODERES PARA RECEBER A COMUNICAÇÃO POSTAL EM NOME DO PROPRIETARIO RURAL, OU,
AINDA, QUANDO PROCEDIDA NA PESSOA DE REPRESENTANTE LEGAL OU DE PROCURADOR REGULARMENTE
CONSTITUIDO PELO DOMINUS. O DESCUMPRIMENTO DESSA FORMALIDADE ESSENCIAL, DITADA PELA
NECESSIDADE DE GARANTIR AO PROPRIETARIO A OBSERVANCIA DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL, IMPORTA EM VÍCIO RADICAL. QUE CONFIGURA DEFEITO INSUPERAVEL, APTO A PROJETAR-
SE SOBRE TODAS AS FASES SUBSEQUENTES DO PROCEDIMENTO DE EXPROPRIAÇÃO, CONTAMINANDO-AS, POR
EFEITO DE REPERCUSSAO CAUSAL, DE MANEIRA IRREMISSIVEL, GERANDO, EM CONSEQUENCIA, POR
AUSÊNCIA DE BASE JURÍDICA IDONEA, A PROPRIA INVALIDAÇÃO DO DECRETO PRESIDENCIAL
CONSUBSTANCIADOR DE DECLARAÇÃO EXPROPRIATORIA. PANTANAL MATO-GROSSENSE (CF, ART. 225, PAR.
4. ) - POSSIBILIDADE JURÍDICA DE EXPROPRIAÇÃO DE IMÓVEIS RURAIS NELE SITUADOS, PARA FINS DE
REFORMA AGRARIA. - A NORMA INSCRITA NO ART. 225, PARAGRAFO 4., DA CONSTITUIÇÃO NÃO ATUA, EM
TESE, COMO IMPEDIMENTO JURÍDICO A EFETIVAÇÃO, PELA UNIÃO FEDERAL, DE ATIVIDADE EXPROPRIATORIA
DESTINADA A PROMOVER E A EXECUTAR PROJETOS DE REFORMA AGRARIA NAS AREAS REFERIDAS NESSE
PRECEITO CONSTITUCIONAL, NOTADAMENTE NOS IMÓVEIS RURAIS SITUADOS NO PANTANAL MATO-
GROSSENSE. A PROPRIA CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA, AO IMPOR AO PODER PUBLICOO DEVER DE FAZER
RESPEITAR A INTEGRIDADE DO PATRIMÔNIO AMBIENTAL, NÃO O INIBE, QUANDO NECESSARIA A
INTERVENÇÃO ESTATAL NA ESFERAL DOMINIAL PRIVADA, DE PROMOVER A DESAPROPRIAÇÃO DE IMÓVEIS
RURAIS PARA FINS DE REFORMA AGRARIA, ESPECIALMENTE PORQUE UM DOS INSTRUMENTOS DE
REALIZAÇÃO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE CONSISTE, PRECISAMENTE, NA SUBMISSAO DO DOMÍNIO
A NECESSIDADE DE O SEU TITULAR UTILIZAR ADEQUADAMENTE OS RECURSOS NATURAIS DISPONIVEIS E DE
FAZER PRESERVAR O EQUILIBRIO DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 186, II), SOB PENA DE, EM DESCUMPRINDO
ESSES ENCARGOS, EXPOR-SE A DESAPROPRIAÇÃO-SANÇÃO AQUE SE REFERE O ART. 184 DA LEI
FUNDAMENTAL. A QUESTÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO - DIREITO DE
TERCEIRA GERAÇÃO - PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE. - O DIREITO A INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE -
TIPICO DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO - CONSTITUI PRERROGATIVA JURÍDICA DE TITULARIDADE COLETIVA,
REFLETINDO, DENTRO DO PROCESSO DE AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, A EXPRESSAO SIGNIFICATIVA
DE UM PODER ATRIBUIDO, NÃO AO INDIVIDUO IDENTIFICADO EM SUA SINGULARIDADE, MAS, NUM SENTIDO
VERDADEIRAMENTE MAIS ABRANGENTE, A PROPRIA COLETIVIDADE SOCIAL. ENQUANTO OS DIREITOS DE
PRIMEIRA GERAÇÃO (DIREITOS CIVIS E POLITICOS) - QUE COMPREENDEM AS LIBERDADES CLASSICAS,
NEGATIVAS OU FORMAIS - REALCAM O PRINCÍPIO DA LIBERDADE E OS DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO
(DIREITOS ECONOMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS) - QUE SE IDENTIFICA COM AS LIBERDADES POSITIVAS, REAIS
OU CONCRETAS - ACENTUAM O PRINCÍPIO DA IGUALDADE, OS DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO, QUE
MATERIALIZAM PODERES DE TITULARIDADE COLETIVA ATRIBUIDOS GENERICAMENTE A TODAS AS
FORMAÇÕES SOCIAIS, CONSAGRAM O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE E CONSTITUEM UM MOMENTO
IMPORTANTE NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO, EXPANSAO E RECONHECIMENTO DOS DIREITOS
HUMANOS, CARACTERIZADOS, ENQUANTO VALORES FUNDAMENTAIS INDISPONIVEIS, PELA NOTA DE UMA
ESSENCIAL INEXAURIBILIDADE. CONSIDERAÇÕES DOUTRINARIAS.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 16


Estado e à própria coletividade de defendê-lo e preservá-lo em benefício das presentes e futuras gerações,
evitando-se, desse modo, que irrompam se, no seio da comunhão social os graves conflitos intergeracionais
marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade na proteção desse bem essencial de uso comum de todos
quantos compõe o grupo social”.
Nesse sentido, como referido pelo Ministro Celso de Mello:
"o meio ambiente constitui patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido pelos organismos sociais
e pelas instituições estatais, qualificando-se como encargo que se impõe – sempre em benefício das presentes e das
futuras gerações – tanto do Poder Público como à coletividade em si mesmo considerada”.

Extraem-se do voto dois pontos dignos de nota para a definição do que significa o meio ambiente à luz
do texto constitucional: o reconhecimento não de mera perspectiva, mas da titularidade subjetiva coletiva
para a tutela do ambiente e da proteção de valores indisponíveis; e, também, da natureza jurídica do bem
ambiental, sujeito à tutela autônoma, na condição de bem e valor constitucionalmente tutelado.
Existe um dever fundamental de proteção do meio ambiente, o qual emana do art. 225 da Constituição
Federal, que obriga o Estado, a coletividade e o indivíduo. A Magna Carta, em seu texto, superou o mero
reconhecimento de direitos fundamentais de primeira geração, consistentes em direitos subjetivos a serem
invocados pelo indivíduo contra os desmandos e as arbitrariedades estatais, e também dos direitos sociais
(direitos prestacionais à saúde, à moradia e à educação).
A tutela dos direitos fundamentais de terceira dimensão está intrinsicamente vinculada ao cumprimento
de deveres fundamentais de proteção ambiental. Daí decorre que o Estado, a coletividade e os indivíduos são
sujeitos passivos contra os quais a pretensão subjetiva a um meio ambiente equilibrado pode ser invocada pelo
Estado, pela coletividade e pelos indivíduos de igual modo.
Não é equivocado afirmar, considerando-se essa perspectiva, que ao direito fundamental ao meio
ambiente equilibrado corresponde um dever fundamental de preservação em benefício das presentes e das
futuras gerações.
Supera-se a visão liberal burguesa de mera proteção dos direitos individuais do cidadão contra o Estado
sem o correspondente dever fundamental para com a coletividade. Deveres fundamentais referentes ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado visam a uma obrigação de não violação de interesses metaindividuais,
consubstanciados no dever de tutela dos direitos coletivos, transindividuais e individuais homogêneos.
O dever fundamental de tutela ambiental é marca característica do Estado Socioambiental e
Democrático de Direito, atinente e vinculado aos princípios constitucionais da precaução e da prevenção em
matéria ambiental
A posição de guarda do ambiente é exercida por toda a sociedade, sob os mais diversos meios de
representação. Deveres de proteção ao ambiente estão desvinculados, sendo absolutamente independentes de
qualquer posição jurídica subjetiva pretérita.
A Magna Carta estampou a tutela do meio ambiente de modo autônomo, afastando, assim, por via
indireta e reflexa, de modo benfazejo, a exigência de comprovação de lesões patrimoniais ou a qualquer outro

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 17


direito ou interesse do indivíduo lesado ou ameaçado em virtude do dano ambiental, para que a legitimidade
processual pró-ambiente seja aceita.

2.1 DIMENSÃO NATURAL DO MEIO AMBIENTE

O meio ambiente, de acordo com o texto constitucional, outrossim, possui a sua dimensão natural (art.
225, caput, § 1o, incisos I e II).
Art. 225. ...§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa
e manipulação de material genético;

2.2 DIMENSÃO ARTIFICIAL DO MEIO AMBIENTE

Vide Art. 225; 182 e 21, inciso XX:


Art. 225. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a
serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais
fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar
de seus habitantes.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais
de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

Art. 21. Compete à União:


XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento
básico e transportes urbanos;

2.3 MEIO AMBIENTE CULTURAL

Vide Art. 216 da Constituição Federal


Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira.
Nestes se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico.

2.4 MEIO AMBIENTE LABORAL

Vide Art. 7º. Inc. XXII


Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

Vide Art. 200. Inc. VIII


Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 18


É de se referir que normas constitucionais referem-se ao meio ambiente quando disciplinam a ordem econômica e
financeira (art. 170, inc. V, art. 173, § 5o, art. 174, §3o); a política agrícola, fundiária e de reforma agrária (art. 186, inc.
II); a saúde no meio ambiente do trabalho (art. 200, inc. VIII); a cultura (art. 216, inc. V) e os direitos indígenas (art.
231, §1o).
Art. 170. A ordem econômica (...), fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos
e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;

Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções
de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor
privado.
§ 3º O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio
ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros.

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus
de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem:
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico.

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar
todos os seus bens.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para
suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as
necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

2.5 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS EM MATÉRIA AMBIENTAL

A Constituição Federal atribuiu competências para os diversos entes estatais com o propósito de assegurar e
concretizar a proteção ecológica. Como referem Sarlet e Fensterseifer, as competências constitucionais (legislativa e
executiva) em matéria ambiental - previstas respectivamente, nos arts. 24 e 23 da CF/88 - inserem-se em tal cenário,
“demarcando, sobretudo, os papéis institucionais que cabem ao Estado-Legislador, para a hipótese da competência
legislativa, e ao Estado-Administrador, no tocante às competências executivas (ou materiais)”, sem olvidar, por óbvio,
“o papel reservado também ao Estado-Juiz no controle das omissões e ações (excessivas ou insuficientes) dos demais
órgãos estatais” (SARLET, Ingo; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito constitucional ambiental. 4a ed revisada e
atualizada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 154).
O Poder Constituinte Originário, quanto à natureza, classificou as competências ambientais em administrativas
e legislativas. Quanto à extensão, as competências são exclusivas, privativas, comuns ou concorrentes e
suplementares.
A competência administrativa exclusiva está prevista na Carta Política de 1988 do seguinte modo: da União
(art. 21, incisos IX, XVIII, XX e XXIII); dos Estados (art. 25, § § 1o, 2o e 3o) e dos Municípios (art. 30, incisos VIII e
IX). A competência administrativa comum dos entes federados resta estampada no art. 23, incisos III, IV, VI, VII e
XI.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 19


III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens
naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico
ou cultural;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e
minerais em seus territórios;

Art. 21. Compete à União:


IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e
social;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as
inundações;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa,
lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados,
atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do
Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos
médicos, agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida
igual ou inferior a duas horas; d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta
Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma
da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.

§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e
a execução de funções públicas de interesse comum.

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal
e estadual.

Importante não deslembrar da competência legislativa: privativa da União (art. 22, incisos IV, XII e XXVI);
exclusiva dos Estados (art. 25 § § 1o e 3o); concorrente entre os entes federados (art. 24, incisos VI, VII e VIII) e
suplementar dos Municípios (art. 30, inciso II).
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta
Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.

Art. 30. Compete aos Municípios:


II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Consoante Paulo de Bessa Antunes:


“Na forma do artigo 23 da Lei Fundamental, os Municípios têm competência administrativa para defender o meio
ambiente e combater a poluição. Contudo, os Municípios não estão arrolados entre as pessoas jurídicas de direito
público interno encarregadas de legislar sobre meio ambiente. No entanto, seria incorreto e insensato dizer-se que os

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 20


Municípios não têm competência legislativa em matéria ambiental (...). A importância dos Municípios é evidente por
si mesma, pois as populações e as autoridades locais reúnem amplas condições de bem conhecer os problemas e
mazelas ambientais de cada localidade, sendo certo que são as primeiras a localizar e identificar o problema. É através
dos Municípios que se pode implementar o princípio ecológico de agir localmente, pensar globalmente.”

Vide art. 24:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;

É sabido que a competência administrativa em matéria ambiental demorou mais de 23 anos para ser
regulamentada. Nesse meio tempo os conflitos positivos e negativos de competência foram recorrentes: ou os entes
lutavam para assumir uma atribuição, ou lutavam para não assumi-la. Haviam vários critérios normativos para a
resolução de conflitos, a exemplo da Lei 6.938/81, da Resolução 237/97 do Conama e da titularidade do bem etc.
Entretanto, como o parágrafo único do artigo 23 da Constituição Federal exigia uma lei complementar, é evidente que
apenas essa modalidade de norma poderia resolver o problema.
No dia 8 de dezembro de 2011, finalmente foi editada a Lei Complementar 140, que regulamentou os incisos
III, VI e VII do dispositivo constitucional citado, disciplinando a competência comum nessa seara. Essa lei foi inspirada
em parte na Resolução 237/97 do Conama, e em parte foi fruto de inovações ou de adaptação de outros textos normativos.
É competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios a defesa do meio ambiente. A Lei
Complementar 140/2011, regulamenta o art. 23, parágrafo único, da Constituição Federal e estabelece normas de
cooperação entre os entes federados para o exercício da competência executiva em matéria ambiental. Referida legislação
é a consagração do princípio da cooperação em matéria ambiental.
Na expressão de Morato Leite e Ayala
“O princípio da cooperação postula uma política mínima de cooperação solidária entre os Estados em busca de
combater efeitos devastadores da degradação ambiental, o que pressupõe ajuda, acordo, troca de informações e
transigência no que toca a um objetivo macro de toda a coletividade, além de apontar para uma atmosfera política
democrática entre os Estados, visando a um combate eficaz da crise ambiental global”.

Resta previsto no art. 4o da Lei Complementar 140/2011 que os entes federativos podem valer-se, entre outros,
dos seguintes instrumentos de cooperação institucional:
I - consórcios públicos, nos termos da legislação em vigor;
II - convênios, acordos de cooperação técnica e outros instrumentos similares com órgãos e entidades do Poder Público,
respeitado o art. 241 da Constituição Federal;
III - Comissão Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e Comissão Bipartite do Distrito
Federal;
IV - fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos;
V - delegação de atribuições de um ente federativo a outro, respeitados os requisitos previstos nesta Lei Complementar;
VI - delegação da execução de ações administrativas de um ente federativo a outro, respeitados os requisitos previstos
nesta Lei Complementar.

De acordo com o art. 6º, as ações de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios deverão ser desenvolvidas de modo a atingir os objetivos previstos no art. 3º e a garantir o
desenvolvimento sustentável, harmonizando e integrando todas as políticas governamentais.
Art. 3o Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no exercício
da competência comum a que se refere esta Lei Complementar:
I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo gestão descentralizada,
democrática e eficiente;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 21


II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio ambiente, observando a
dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais;
III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação entre os entes federativos,
de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente;
IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as peculiaridades regionais e locais.

Nos arts. 7º, 8º, 9º e 10, restam previstas as competências para ações administrativas da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios respectivamente.
Art. 7o São ações administrativas da União (entre outras):
I - formular, executar e fazer cumprir, em âmbito nacional, a Política Nacional do Meio Ambiente;
II - exercer a gestão dos recursos ambientais no âmbito de suas atribuições;
III - promover ações relacionadas à Política Nacional do Meio Ambiente nos âmbitos nacional e internacional;
IV - promover a integração de programas e ações de órgãos e entidades da administração pública da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, relacionados à proteção e à gestão ambiental; (...).

Art. 8o São ações administrativas dos Estados (entre outras):


I - executar e fazer cumprir, em âmbito estadual, a Política Nacional do Meio Ambiente e demais políticas nacionais
relacionadas à proteção ambiental;
II - exercer a gestão dos recursos ambientais no âmbito de suas atribuições;
III - formular, executar e fazer cumprir, em âmbito estadual, a Política Estadual de Meio Ambiente;
IV - promover, no âmbito estadual, a integração de programas e ações de órgãos e entidades da administração pública
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, relacionados à proteção e à gestão ambiental;

Art. 9o São ações administrativas dos Municípios(entre outras):


I - executar e fazer cumprir, em âmbito municipal, as Políticas Nacional e Estadual de Meio Ambiente e demais
políticas nacionais e estaduais relacionadas à proteção do meio ambiente;
II - exercer a gestão dos recursos ambientais no âmbito de suas atribuições;
III - formular, executar e fazer cumprir a Política Municipal de Meio Ambiente;
IV - promover, no Município, a integração de programas e ações de órgãos e entidades da administração pública
federal, estadual e municipal, relacionados à proteção e à gestão ambiental;

Art. 10. São ações administrativas do Distrito Federal as previstas nos arts. 8o e 9o. (as mesmas ações previstas para
os Estados e para os Municípios)

O Supremo Tribunal Federal manifestou-se em casos relevantes sobre a competência da União para legislar em
matéria de energia nuclear, assim como fiscalizar a execução desta atividade.

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO. ART. 22, XXVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. É


inconstitucional norma estadual que dispõe sobre atividades relacionadas ao setor nuclear no âmbito regional, por
violação da competência da União para legislar sobre atividades nucleares, na qual se inclui a competência para
fiscalizar a execução dessas atividades e legislar sobre a referida fiscalização. Ação direta julgada procedente. (ADI
1575, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 07/04/2010).

Também quando decidiu que a legislação estadual não pode restringir o uso e comércio de agrotóxicos
importados, ainda que tenha como objeto a proteção dos consumidores.

Ação direta de inconstitucionalidade. Lei estadual (SC) nº 13.922/07. 1. É formalmente inconstitucional a lei estadual
que cria restrições à comercialização, à estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no Estado, ainda que
tenha por objetivo a proteção da saúde dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por outros
países. A matéria é predominantemente de comércio exterior e interestadual, sendo, portanto, de competência privativa
da União (CF, art. 22, inciso VIII). (ADI 3852, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em
07/10/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe- 249 DIVULG 10-12-2015 PUBLIC 11-12-2015.

Emblemático leading case é o reconhecimento pelo STF de que não é facultado ao Constituinte estadual criar
norma que afaste a obrigatoriedade do estudo de prévio impacto ambiental previsto pela Constituição Federal de 1988.
Compete à União, outrossim, legislar sobre organismos geneticamente modificados, foi este o entendimento do Supremo
ao julgar inconstitucional a lei estadual paranaense n. 14.162, de 27 de outubro de 2003, que estabelecia vedação ao
cultivo, a manipulação, a importação, a industrialização e a comercialização de organismos geneticamente modificados.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 22


Diante dos amplos termos do inc. IV do par. 1º do art. 225 da Carta Federal, revela-se juridicamente relevante a
tese de inconstitucionalidade da norma estadual que dispensa o estudo prévio de impacto ambiental no caso de áreas de
florestamento ou reflorestamento para fins empresariais. Mesmo que se admitisse a possibilidade de tal restrição, a lei
que poderia viabiliza-la estaria inserida na competência do legislador federal, já que a este cabe disciplinar, através de
normas gerais, a conservação da natureza e a proteção do meio ambiente (art. 24, inc. VI, da CF) (ADI 1086 MC,
Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal Pleno, julgado em 01/08/1994, DJ 16-09-1994)6
O STF entendeu que falece competência legislativa a município para impedir a utilização de queimadas da palha
na colheita da cana de açúcar:
(...) 1. O Município é competente para legislar sobre meio ambiente com União e Estado, no limite de seu interesse
local e desde que tal regramento seja e harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24,
VI c/c 30, I e II da CRFB). 2. O Judiciário está inserido na sociedade e, por este motivo, deve estar atento também aos
seus anseios, no sentido de ter em mente o objetivo de saciar as necessidades, visto que também é um serviço público.
3. In casu, 9. Recurso extraordinário conhecido e provido para declarar a inconstitucionalidade da Lei Municipal nº
1.952, de 20 de dezembro de 1995, do Município de Paulínia que vedava a queimada da palha de cana de açúcar para
colheita. (RE 586224, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 05/03/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-085 DIVULG 07-05-2015 PUBLIC 08-05-2015).

Não se pode ignorar o afirmado por Sarlet e Fensterseifer no sentido de que o “reconhecimento da competência
do município para legislar em matéria ambiental é relativamente pacífico, o que não é unânime são os limites de tal
competência suplementar” (SARLET, Ingo; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito constitucional ambiental. 4a ed revisada
e atualizada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 219).
É de se grifar decisão monocrática proferida pelo Ministro Celso de Mello no Recurso Extraordinário nº
673.681/SP7 (DJe-246 publicado em 16/12/2014), assinalando que assiste ao Município competência constitucional –
embora não ilimitada – “para formular regras e legislar sobre proteção e defesa do meio ambiente, que representa encargo
irrenunciável que incide sobre todos e cada um dos entes que integram o Estado Federal brasileiro.”
Embora decisões do STF, na ADI 3.357/RS e ADI 3.937/SP, apontem para o reconhecimento do exercício da
competência legislativa municipal mais efetiva na tutela do ambiente, a jurisprudência predominante tem sido até então
mais restritiva no aspecto do reconhecimento de uma postura legislativa mais proativa e protetiva do município na esfera
ambiental:
VENDA AMIANTO. COMPETÊNCIA NORMATIVA - COMÉRCIO. Na dicção da ilustrada maioria, em relação à
qual guardo reservas, não há relevância em pedido de concessão de liminar, formulado em ação direta de

6
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 182, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE
SANTA CATARINA. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL. CONTRAIEDADE AO ARTIGO 225, § 1º, IV, DA CARTA DA
REPÚBLICA. A norma impugnada, ao dispensar a elaboração de estudo prévio de impacto ambiental no caso de áreas de
florestamento ou reflorestamento para fins empresariais, cria exceção incompatível com o disposto no mencionado inciso IV do § 1º
do artigo 225 da Constituição Federal. Ação julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade do dispositivo constitucional
catarinense sob enfoque.
7
EMENTA: Lei municipal contestada em face de Constituição estadual. Possibilidade de controle normativo abstrato por Tribunal
de Justiça (CF, art. 125, § 2º). Competência do Município para dispor sobre preservação e defesa da integridade do meio ambiente.
A incolumidade do patrimônio ambiental como expressão de um direito fundamental constitucionalmente atribuído à generalidade
das pessoas (RTJ 158/205-206 – RTJ 164/158- -161, v.g.). A questão do meio ambiente como um dos tópicos mais relevantes da
presente agenda nacional e internacional. O poder de regulação dos Municípios em tema de formulação de políticas públicas, de
regras e de estratégias legitimadas por seu peculiar interesse e destinadas a viabilizar, de modo efetivo, a proteção local do meio
ambiente. Relações entre a lei e o regulamento. Os regulamentos de execução (ou subordinados) como condição de eficácia e
aplicabilidade da norma legal dependente de regulamentação executiva. Previsão, no próprio corpo do diploma legislativo, da
necessidade de sua regulamentação. Inocorrência de ofensa, em tal hipótese, ao postulado da reserva constitucional de administração,
que traduz emanação resultante do dogma da divisão funcional do poder. Doutrina. Precedentes. Legitimidade da competência
monocrática do Relator para, em sede recursal extraordinária, tratando-se de fiscalização abstrata sujeita à competência originária
dos Tribunais de Justiça (CF, art. 125, § 2º), julgar o apelo extremo, em ordem, até mesmo, a declarar a inconstitucionalidade ou a
confirmar a validade constitucional do ato normativo impugnado. Precedentes (RE 376.440-ED/DF, Rel. Min. DIAS TOFFOLI,
Pleno, v.g.). Recurso extraordinário conhecido e provido.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 23


inconstitucionalidade, visando à suspensão de lei local vedadora do comércio de certo produto, em que pese à
existência de legislação federal viabilizando-o. (ADI 3937 MC, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 04/06/2008, DJe-192 DIVULG 09-10-2008 PUBLIC 10-10-2008 EMENT VOL-02336-01 PP-00059).

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Lei estadual (SC) nº 13.922/07. Restrições ao comércio de produtos
agrícolas importados no Estado. Competência privativa da União para legislar sobre comércio exterior e interestadual
(CF, art. 22, inciso VIII). 1. É formalmente inconstitucional a lei estadual que cria restrições à comercialização, à
estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no Estado, ainda que tenha por objetivo a proteção da saúde
dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por outros países. A matéria é predominantemente
de comércio exterior e interestadual, sendo, portanto, de competência privativa da União (CF, art. 22, inciso VIII).
(ADI 3852, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 07/10/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-249 DIVULG 10-12-2015 PUBLIC 11-12- 2015).

2.6 ANÁLISE DE JURISPRUDÊNCIA


COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR. EDIFICAÇÃO LITORÂNEA. CONCESSÃO DE ALVARÁ MUNICIPAL.
LEI PARANAENSE N. 7.389/80. VIOLAÇÃO. A teor dos disposto nos arts. 24 e 30 da Constituição Federal, aos
Municípios, no âmbito do exercício da competência legislativa, cumpre a observância das normas editadas pela União
e pelos Estados, como as referentes à proteção das paisagens naturais notáveis e ao meio ambiente, não podendo
contrariá-las, mas tão somente legislar em circunstâncias remanescentes. 4. A Lei Municipal n. 05/89, que instituiu
diretrizes para o zoneamento e uso do solo no Município de Guaratuba, possibilitando a expedição de alvará de licença
municipal para a construção de edifícios com gabarito acima do permitido para o local, está em desacordo com as
limitações urbanísticas impostas pelas legislações estaduais então em vigor e fora dos parâmetros autorizados pelo
Conselho do Litoral, o que enseja a imposição de medidas administrativas coercitivas prescritas pelo Decreto Estadual
n. 6.274, de 09 de março de 1983. (AR - AÇÃO RESCISÓRIA – 756/STJ)

De acordo com Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco:


“Aos Municípios é dado legislar para suplementar a legislação estadual e federal, de que isso seja necessário ao
interesse local. A normação municipal, no exercício dessa competência, há de respeitar as normas federais e estaduais
existentes. A superveniência de lei federal ou estadual contrária à municipal suspende a eficácia desta. A competência
suplementar se exerce para regulamentar as normas legislativas federais e estaduais, inclusive as enumeradas no art.
24 da CF, a fim de atender, com melhor precisão, aos interesses surgidos das peculiaridades locais” (‘Curso de direito
constitucional’. 10ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 843).

Foi publicado no Informativo do STF nº 857, referente ao período de 13 a 17 de março de 2017, a seguinte
informação sobre julgado da 2ª Turma:

“Os Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam fundamentadamente. Com base nesse
entendimento, a Segunda Turma negou provimento a agravo regimental. A Turma afirmou que os Municípios podem
adotar legislação ambiental mais restritiva em relação aos Estados-Membros e à União. No entanto, é necessário que
a norma tenha a devida motivação”. ARE 748206 AgR/SC, rel Min. Celso de Mello, julgamento em 14.3.2017. (ARE-
748206).

3 ZONEAMENTO AMBIENTAL E O SISTEMA NACIONAL DAS UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

O Zoneamento Ambiental e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação são duas figuras jurídicas
estritamente ligadas aos princípios constitucionais da precaução, da prevenção e do desenvolvimento
sustentável. Para além de auxiliar no gerenciamento dos riscos de danos e de catástrofes ambientais, o
Zoneamento Ambiental limita os direitos dos indivíduos com o objetivo de tutelar o meio ambiente para as
presentes e futuras gerações.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação visa a regulamentar as unidades de conservação, que
nada mais são do que o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 24


características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e
limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.

3.1 ZONEAMENTO AMBIENTAL

O zoneamento ambiental é uma intervenção estatal na utilização de espaços geográficos e, também, no


domínio econômico e, como afirmado por Antunes, organiza a relação espaço-produção, alocando recursos,
interditando áreas, destinando outras para estas e não para aquelas atividades, incentivando e repetindo
condutas e etc.
É o resultado de uma arbitragem feita pelo poder público, de forma a definir a convivência entre os
diferentes interesses de uso dos espaços geográficos, reconhecendo e legitimando os conflitos entre os diversos
agentes. Busca estabelecer um padrão de convivência para os usuários de um mesmo espaço (ANTUNES,
Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 18a ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016, p. 537).
O poder de polícia administrativa tem no zoneamento um dos seus aspectos relevantes. Referido poder
atua com a finalidade de garantir a salubridade, a tranquilidade, a saúde, a paz e o bem estar do povo. Refere
Machado que o zoneamento, ao discriminar usos, “representa uma limitação do direito dos cidadãos. A
propriedade não poderá ser utilizada da maneira desejada unicamente pelo proprietário” (MACHADO,
Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 24a. ed. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 197).
A Constituição Federal prevê, no seu art. 21, inc. IX, que é de competência da União “elaborar e
executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social” e,
na advertência de Machado, “no desenvolvimento social devemos inserir o meio ambiente, que faz parte do
Título VIII- da Ordem Social” (MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 24a. ed. São
Paulo: Malheiros, 2016, p. 88).
A União pode estabelecer os zoneamentos definidos na Lei do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, de acordo com o mandamento constitucional previsto no art. 225, §1o, III8. Esta competência,
importante grifar, não é exclusiva ou privativa da União. Como afirma Antunes “o zoneamento, no entanto,
deve ter por base uma lei, pois como instrumento de planejamento deve se adaptar ao disposto no art. 174,
§1o, da Constituição Federal9”. (ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 18a ed. São Paulo: Editora
Atlas, 2016, p. 538).

8
Sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e
futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos
que justifiquem sua proteção; (Regulamento).
9
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização,
incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
§ 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e
compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 25


Estados-membros, em virtude da competência comum e concorrente, podem estabelecer zoneamentos
ambientais. A Lei 6803/80 dispõe as diretrizes básicas para o zoneamento industrial e estipula que os Estados
devem estabelecer legislação de zoneamento nas áreas críticas de poluição, com a finalidade de compatibilizar
a atividade industrial e a tutela ambiental.
Refere Mukai que “deverá o Município prever na Lei do Plano Diretor (art. 182, § 1o)10 o zoneamento
ambiental ao lado do urbanístico, que se confundirão através de lei própria num só esquema”. Os zoneamentos
ambientais em nível federal, estadual e municipal devem cumprir os objetivos do plano nacional, sob pena,
como adverte Machado, “de viciar o conteúdo do zoneamento” e esta situação ser arguida judicialmente.
(MUKAI, Toshio. Direito Ambiental Sistematizado. 9a. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014, p. 87.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 24a. ed. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 88).
O zoneamento industrial divide-se em três categorias. Na primeira, se inserem as zonas de uso
estritamente industrial, destinadas à instalação preferencial de estabelecimentos cujos resíduos sólidos,
líquidos e gasosos, ruídos, vibrações, emanações e radiações possam causar perigo à saúde, ao bem estar e à
segurança das populações, mesmo depois da aplicação de métodos adequados de controle e tratamento de
efluentes, nos termos da legislação vigente.
Na segunda, estão inseridas as zonas de uso predominantemente industrial destinadas
preferencialmente à instalação de indústrias cujos processos, submetidos a métodos adequados de controle e
tratamento de efluentes, não causem incômodos sensíveis às demais atividades urbanas e nem perturbar o
repouso noturno das populações.
As zonas de uso diversificado são aquelas destinadas à instalação de estabelecimentos industriais, cujo
processo produtivo seja complementar das atividades do meio urbano ou rural que se situem, e com elas se
compatibilizem, independentemente do uso de métodos especiais de controle de poluição, não ocasionando,
em qualquer caso, inconvenientes à saúde, ao bem- estar e a segurança das populações. As categorias de
zoneamento industrial estão previstas nos arts. 1o, 2o, 3º e 4o. da Lei 6.803/8011.

10
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em
lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.
(Regulamento) (Vide Lei nº 13.311, de 11 de julho de 2016)
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento
básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
11
Art. 1º Nas áreas críticas de poluição a que se refere o art. 4º do Decreto-lei nº 1.413, de 14 de agosto de 1975, as zonas destinadas
à instalação de indústrias serão definidas em esquema de zoneamento urbano, aprovado por lei, que compatibilize as atividades
industriais com a proteção ambiental.
§ 1º As zonas de que trata este artigo serão classificadas nas seguinte categorias:
a) zonas de uso estritamente industrial;
b) zonas de uso predominantemente industrial;
c) zonas de uso diversificado.
§ 2º As categorias de zonas referidas no parágrafo anterior poderão ser divididas em subcategorias, observadas as peculiaridades das
áreas críticas a que pertençam e a natureza das indústrias nelas instaladas.
§ 3º As indústrias ou grupos de indústrias já existentes, que não resultarem confinadas nas zonas industriais definidas de acordo com
esta Lei, serão submetidas à instalação de equipamentos especiais de controle e, nos casos mais graves, à relocalização.
Art. . 2º As zonas de uso estritamente industrial destinam-se, preferencialmente, à localização de estabelecimentos industriais cujos
resíduos sólidos, líquidos e gasosos, ruídos, vibrações, emanações e radiações possam causar perigo à saúde, ao bem-estar e à

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 26


Zonas de uso industrial em todas as categorias podem ser classificadas em saturadas, em vias de
saturação e não saturadas. O grau de saturação e a sua verificação se dão em virtude da área disponível para
uso industrial da infraestrutura, como dos padrões e normas ambientais fixadas pelo Ibama, Estados e
Municípios dentro de suas competências. Referida classificação vem prevista no art. 5o e 6o da Lei 6.803/8012.
Os programas de controle da poluição e o licenciamento para a instalação, operação ou aplicação de
indústrias, em áreas críticas de poluição, serão objeto de normas diferenciadas, segundo o nível de saturação,
para cada categoria de zona industrial. Os critérios baseados em padrões ambientais serão estabelecidos tendo
em vista as zonas não saturadas, tornando-se mais restritivos, gradativamente, para as zonas em via de
saturação e saturadas.
Já os critérios baseados em área disponível e infraestrutura existente, para aferição de grau de saturação,
em zonas de uso predominantemente industrial e de uso diversificado, serão fixados pelo Governo do Estado,
sem prejuízo da legislação municipal aplicável. Referida previsão é expressa nos § § §, 1o., 2o e 3o. do art. 6o
da Lei 6.803/80.

segurança das populações, mesmo depois da aplicação de métodos adequados de controle e tratamento de efluentes, nos termos da
legislação vigente.
§ 1º As zonas a que se refere este artigo deverão:
I - situar-se em áreas que apresentem elevadas capacidade de assimilação de efluentes e proteção ambiental, respeitadas quaisquer
restrições legais ao uso do solo;
II - localizar-se em áreas que favoreçam a instalação de infra-estrutura e serviços básicos necessários ao seu funcionamento e
segurança;
III - manter, em seu contorno, anéis verdes de isolamento capazes de proteger as zonas circunvizinhas contra possíveis efeitos
residuais e acidentes;
§ 2º É vedado, nas zonas de uso estritamente industrial, o estabelecimento de quaisquer atividades não essenciais às suas funções
básicas, ou capazes de sofrer efeitos danosos em decorrência dessas funções.
Art. . 3º As zonas de uso predominantemente industrial destinam-se, preferencialmente, à instalação de indústrias cujos processos,
submetidos a métodos adequados de controle e tratamento de efluentes, não causem incômodos sensíveis às demais atividades
urbanas e nem perturbem o repouso noturno das populações.
Parágrafo único. As zonas a que se refere este artigo deverão:
I - localizar-se em áreas cujas condições favoreçam a instalação adequada de infra-estrutura de serviços básicos necessária a seu
funcionamento e segurança;
II - dispor, em seu interior, de áreas de proteção ambiental que minimizem os efeitos da poluição, em relação a outros usos.
Art. . 4º As zonas de uso diversificado destinam-se à localização de estabelecimentos industriais, cujo processo produtivo seja
complementar das atividades do meio urbano ou rural que se situem, e com elas se compatibilizem, independentemente do uso de
métodos especiais de controle da poluição, não ocasionando, em qualquer caso, inconvenientes à saúde, ao bem-estar e à segurança
das populações vizinhas.
12
Art. 5º As zonas de uso industrial, independentemente de sua categoria, serão classificadas em:
I - não saturadas;
II - em vias de saturação;
III - saturadas;
Art. 6º O grau de saturação será aferido e fixado em função da área disponível para uso industrial da infra-estrutura, bem como dos
padrões e normas ambientais fixadas pela Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e pelo Estado e Município, no limite das respectivas competências. (Vide Lei nº
7.804, de 1989)
§ 1º Os programas de controle da poluição e o licenciamento para a instalação, operação ou aplicação de indústrias, em áreas críticas
de poluição, serão objeto de normas diferenciadas, segundo o nível de saturação, para cada categoria de zona industrial.
§ 2º Os critérios baseados em padrões ambientais, nos termos do disposto neste artigo, serão estabelecidos tendo em vista as zonas
não saturadas, tornando-se mais restritivos, gradativamente, para as zonas em via de saturação e saturadas.
§ 3º Os critérios baseados em área disponível e infra-estrutura existente, para aferição de grau de saturação, nos termos do disposto
neste artigo, em zonas de uso predominantemente industrial e de uso diversificado, serão fixados pelo Governo do Estado, sem
prejuízo da legislação municipal aplicável.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 27


Existem fatores que são essenciais para a concessão do licenciamento dos estabelecimentos industriais
e eles estão previstos na Lei 6830/80:
Art. 9º O licenciamento para implantação, operação e ampliação de estabelecimentos industriais, nas áreas críticas de
poluição, dependerá da observância do disposto nesta Lei, bem como do atendimento das normas e padrões ambientais
definidos pelo IBAMA, pelos organismos estaduais e municipais competentes, notadamente quanto às seguintes
características dos processos de produção:
I - emissão de gases, vapores, ruídos, vibrações e radiações;
II - riscos de explosão, incêndios, vazamentos danosos e outras situações de emergência;
III - volume e qualidade de insumos básicos, de pessoal e de tráfego gerados;
IV - padrões de uso e ocupação do solo;
V - disponibilidade nas redes de energia elétrica, água, esgoto, comunicações e outros;
VI - horários de atividade.
Parágrafo único. O licenciamento previsto no caput deste artigo é da competência dos órgãos estaduais de controle da
poluição e não exclui a exigência de licenças para outros fins.

Caberá aos Governos Estaduais, observado o disposto na Lei 6803/80 e em outras normas legais em
vigor: aprovar a delimitação, a classificação e a implantação de zonas de uso estritamente industrial e
predominantemente industrial; definir, com base na Lei e nas normas baixadas pelo IBAMA, os tipos de
estabelecimentos industriais que poderão ser implantados em cada uma das categorias de zonas; ...e instalar e
manter, nas zonas a que se refere o item anterior, serviços permanentes de segurança e prevenção de acidentes
danosos ao meio ambiente; fiscalizar, nas zonas de uso estritamente industrial e predominantemente industrial,
o cumprimento dos padrões e normas de proteção ambiental; administrar as zonas industriais de sua
responsabilidade direta ou quando esta responsabilidade decorrer de convênios com a União (art. 10 da Lei
6803/80).
Caberá exclusivamente à União, ouvidos os Governos Estadual e Municipal interessados, aprovar a
delimitação e autorizar a implantação de zonas de uso estritamente industrial que se destinem à localização de
polos petroquímicos, cloroquímicos, carboquímicos, bem como a instalações nucleares e outras definidas em
lei.
Além dos estudos normalmente exigíveis para o estabelecimento de zoneamento urbano, a aprovação
das zonas, será precedida de estudos especiais de alternativas e de avaliações de impacto, que permitam
estabelecer a confiabilidade da solução a ser adotada.
Em casos excepcionais, em que se caracterize o interesse público, o Poder Estadual, mediante a
exigência de condições convenientes de controle, e ouvidos o IBAMA, o Conselho Deliberativo da Região
Metropolitana e, quando for o caso, o Município, poderá autorizar a instalação de unidades industriais fora das
zonas de que trata a Lei 6.803/80.
Importante grifar que a Lei 8.171/91, que regula a política agrícola, previu no art. 19, inc. III13, a
necessidade do Poder Público proceder zoneamentos agroecológicos que permitam estabelecer critérios para
o disciplinamento e o ordenamento da ocupação espacial pelas atividades produtivas, bem como para a

13
Art. 19. O Poder Público deverá:
III - realizar zoneamentos agroecológicos que permitam estabelecer critérios para o disciplinamento e o ordenamento da ocupação
espacial pelas diversas atividades produtivas, bem como para a instalação de novas hidrelétricas;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 28


instalação de usinas hidrelétricas. O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, criado pela Lei 7.661/81,
prevê, por sua vez, a realização de zoneamento de usos e atividades na zona costeira.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem estado atenta em relação a zoneamentos
procedidos com base em leis municipais em desacordo com normas de tutela ambiental em nível estadual e
federal, como em precedente que envolvia lei municipal que admitia a construção de edifícios em zona
litorânea comprometendo à proteção das paisagens naturais notáveis e ao meio ambiente.

Vide o precedente do STJ:

(CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO RESCISÓRIA. LEGITIMIDADE DO MUNICÍPIO PARA


ATUAR NA DEFESA DE SUA COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL. NORMAS DE PROTEÇÃO AO MEIO
AMBIENTE. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR. EDIFICAÇÃO LITORÂNEA. CONCESSÃO DE ALVARÁ
MUNICIPAL. LEI PARANAENSE N. 7.389/80. VIOLAÇÃO. 1. A atuação do Município, no mandado de segurança
no qual se discute a possibilidade de embargo de construção de prédios situados dentro de seus limites territoriais, se
dá em defesa de seu próprio direito subjetivo de preservar sua competência para legislar sobre matérias de interesse
local (art. 30, I, da CF/88), bem como de garantir a validade dos atos administrativos correspondentes, como a
expedição de alvará para construção, ainda que tais benefícios sejam diretamente dirigidos às construtoras que receiam
o embargo de suas edificações. Entendida a questão sob esse enfoque, é de se admitir a legitimidade do município
impetrante. 2. A teor dos disposto nos arts. 24 e 30 da Constituição Federal, aos Municípios, no âmbito do exercício
da competência legislativa, cumpre a observância das normas editadas pela União e pelos Estados, como as referentes
à proteção das paisagens naturais notáveis e ao meio ambiente, não podendo contrariá-las, mas tão somente legislar
em circunstâncias remanescentes. 3. A Lei n. 7.380/80 do Estado do Paraná, ao prescrever condições para proteção de
áreas de interesse especial, estabeleceu medidas destinadas à execução das atribuições conferidas pelas legislações
constitucional e federal, daí resultando a impossibilidade do art. 25 da Constituição do Estado do Paraná, destinado a
preservar a autonomia municipal, revogá-la. Precedente: RMS 9.629/PR, 1ª T., Min. Demócrito Reinaldo, DJ de
01.02.1999. 4. A Lei Municipal n. 05/89, que instituiu diretrizes para o zoneamento e uso do solo no Município de
Guaratuba, possibilitando a expedição de alvará de licença municipal para a construção de edifícios com gabarito
acima do permitido para o local, está em desacordo com as limitações urbanísticas impostas pelas legislações estaduais
então em vigor e fora dos parâmetros autorizados pelo Conselho do Litoral, o que enseja a imposição de medidas
administrativas coercitivas prescritas pelo Decreto Estadual n. 6.274, de 09 de março de 1983. Precedentes: RMS
9.279/PR, Min. Francisco Falcão, DJ de 9.279/PR, 1ª T., Min. Francisco Falcão, DJ de 28.02.2000; RMS 13.252/PR,
2ª T., Min. Francisco Peçanha Martins, DJ de 03.11.2003. 5. Ação rescisória procedente. (STJ. Relator Teori Albino
Zavaski. 1a Seção. Ação Rescisória 199800252860. DJE. DATA:14/04/2008)

3.2 SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

A Lei 9.985/00 instituiu o Sistema Nacional de Unidades II, Sistema nacional de unidades de
conservação da natureza, Poder de polícia e Direito Ambiental, Licenciamento Ambiental de Conservação da
Natureza, e estabeleceu critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação.
São unidades de conservação o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com “características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção”. Vide art. 2º da Lei 9.985/0014.
São objetivos do SNUC contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos
genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; proteger as espécies ameaçadas de extinção no

14
Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial
de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 29


âmbito regional e nacional; contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas
naturais; promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; promover a utilização dos
princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento (...) proteger paisagens
naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; proteger as características relevantes de natureza geológica,
geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural; proteger e recuperar recursos hídricos
e edáficos; recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; proporcionar meios e incentivos para atividades
de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; ....valorizar econômica e socialmente a diversidade
biológica; favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com
a natureza e o turismo ecológico; proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações
tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e
economicamente. Vide art. 4º da Lei 9.985/0015.
As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos, com características
específicas: unidades de Proteção Integral e unidades de Uso Sustentável. O objetivo básico das Unidades de
Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com
exceção dos casos previstos na Lei 9.985/00. Já o objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é
compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.
Referida legislação que visa à conservação de bens ambientais e tem sido aplicada pelas Cortes
Federais, no mais das vezes, de modo combinado com o princípio da precaução, como demonstra precedente
do egrégio Tribunal Regional Federal da 4a Região:
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO. RESERVA EXTRATIVISTA. OBRAS NO ENTORNO. ESGOTO SANITÁRIO.
INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA DAS NORMAS PROTETIVAS. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. 1. Há de se
fazer uma interpretação sistemática do art. 46, parágrafo único, com o § 3º do artigo 36 da Lei do SNUC, não se
admitindo a construção de estação de tratamento de esgoto a 700 metros de Reserva Extrativista, sem a oitiva e
autorização do órgão gestor da Unidade de Conservação, que pode auxiliar na adequação do projeto. 2. O princípio da
precaução determina que não se permita que o dano ocorra, sobrevindo a poluição do principal corpo hídrico da
Unidade de Conservação, para, só então, adequarem-se os projetos à nova realidade. (TRF4. 4a Turma. Relatora
Desembargador Federal Marga Tessler. Ag 2009040000326050. D.E. 25.01.2010).

15
Art. 4o O SNUC tem os seguintes objetivos:
I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;
II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e
cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo
ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu
conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 30


3.3 PODER DE POLÍCIA E DIREITO AMBIENTAL

O Brasil tem enfrentado inúmeras catástrofes ambientais nos últimos anos, como demonstrado no
incêndio na Vila Socó (1984); no caso do Césio 137, em Goiânia (1987); nos vazamentos de óleo na Baía da
Guanabara e em Araucária (2000); no rompimento da barragem de Cataguases (2003); no vazamento de óleo
na Bacia de Campos (2011); no incêndio na Ultracargo (2015) e na tragédia de Mariana, em Minas Gerais, que
causou danos irreversíveis ao meio ambiente e as comunidades afetadas. Neste sentido, o exercício do poder
de polícia é essencial para a prevenção de catástrofes e danos ambientais.
O Estado tem o dever fundamental de fiscalizar atividades que geram risco de dano ao meio ambiente.
Como corolário que bem exemplifica este dever resta previsto no ordenamento jurídico brasileiro o
procedimento de licenciamento ambiental. Outrossim, para além de sanções civis e penais, aqueles que violam
normas de tutela do meio ambiente e/ou causam danos a este, estão sujeitos, observado o princípio do devido
processo legal, as sanções de cunho administrativo que visam reparar danos ambientais, restaurar o equilíbrio
ecológico e punir os infratores.
A utilização dos recursos ambientais é atividade submetida ao poder de polícia do Estado. É o exercício
do poder de polícia que servirá de parâmetro para os limites de utilização legítimos, segundo a ordem jurídica
vigente. O poder de polícia é um poderoso instrumento de harmonização de direitos individuais, fazendo com
que eles sejam exercidos com respeito ao direito de terceiros. A sua legitimidade depende da estrita observância
das normas legais e regulamentares, sendo necessário que o agente da autoridade atue dentro dos contornos
estabelecidos pela regra de direito (ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 18a ed. São Paulo: Editora
Atlas, 2016, p. 175).
O conceito legal de poder polícia para o direito brasileiro é aquele elencado no Código Tributário
Nacional:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito,
interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à
segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades
econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de
polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal
e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.

Aliás, a jurisprudência do egrégio STF tem reconhecido a constitucionalidade de taxas cobradas em


razão do controle e fiscalização ambiental, por serem cobradas em razão do exercício regular do poder de
polícia.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. TRIBUTÁRIO. TAXA DE
CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS – TFAMG. LEI ESTADUAL
14.940/2003, COM AS ALTERAÇÕES DA LEI ESTADUAL 17.608/2008. BASE DE CÁLCULO. SOMATÓRIO
DAS RECEITAS BRUTAS DE TODOS OS ESTABELECIMENTOS DO CONTRIBUINTE. ART. 145, II, § 2º, DA
CF. CONSTITUCIONALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a constitucionalidade de taxas cobradas em razão do
controle e fiscalização ambiental, por serem cobradas em razão do exercício regular do poder de polícia. (ARE 738944
AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 11/03/2014, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-059 DIVULG 25-03-2014 PUBLIC 26-03-2014)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 31


3.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL

A Política Nacional do Meio ambiente, disciplinada pela Lei 6.938/81, recepcionada pela Constituição
Federal de 1988, prevê um dos corolários do princípio da prevenção no seu texto: o licenciamento ambiental.
Como estampado no art. 9o, inc. IV, o licenciamento é um dos instrumentos da política ambiental no Brasil.

O art. 10 da referida legislação dispõe que “...a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos
e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma,
de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental”. Referida redação, aliás, foi conferida
pela Lei Complementar 140/2011.

É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios proteger o meio
ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas, de acordo com o art. 23, inciso VI, da Constituição
Federal16. É direito e dever dos entes federados exercer a competência constitucional comum. O licenciamento,
outrossim, é uma das formas de exercê-la.
As licenças, autorizações e permissões apenas podem ser criadas por lei, ou esta deve prever
expressamente a sua instituição por outro meio infralegal. De acordo com o art. 19 do Decreto 99.247/90, que
regulamenta a Lei 6.938/81, e também a Resolução 237 do CONAMA, o licenciamento é um procedimento
cujos tipos são licença prévia, licença de instalação e licença de operação.
I - Licença Prévia (LP), na fase preliminar do planejamento de atividade, contendo requisitos básicos
a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais
ou federais de uso do solo;
II - Licença de Instalação (LI), autorizando o início da implantação, de acordo com as especificações
constantes do Projeto Executivo aprovado;
III - Licença de Operação (LO), autorizando, após as verificações necessárias, o início da atividade
licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas
Licenças Prévia e de
Instalação.
Importante, observar que a Lei Complementar 140/2011, distribuiu as competências entre os entes
federados para fins de licenciamento do seguinte modo: das ações administrativas da União (art. 7o, inc. XIV);
das ações administrativas do Estado (art. 8, incisos XIV e XV); e das ações administrativas do Município (art.
9o, inc. XIV).
Art. 7o São ações administrativas da União: XIV - promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e
atividades: a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; b) localizados ou
desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva; c) localizados ou
desenvolvidos em terras indígenas; d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela
União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;
f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles
previstos no preparo e emprego das Forças Armadas, conforme disposto na Lei Complementar no 97, de 9 de junho
de 1999; g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo,
em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da

16
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 32


Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen); ou h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo,
a partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade
ou empreendimento;

Art. 8o São ações administrativas dos Estados: XIV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou
empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer
forma, de causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7o e 9o; XV - promover o licenciamento
ambiental de atividades ou empreendimentos localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas
pelo Estado, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);

Art. 9o São ações administrativas dos Municípios: XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos
previstas nesta Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos: a) que
causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos
Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade; ou b)
localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs).

Dentro desta disciplina, os empreendimentos e as atividades são licenciados, para fins ambientais, por
apenas um ente federado, facultado está o dever e o direito dos demais manifestarem-se, por meio do órgão
responsável pela licença ou autorização, de modo não vinculante, respeitados os prazos e ritos procedimentais
do licenciamento ambiental.
Como bem enfatiza Farias, é um equívoco confundir o dever de proteger o meio ambiente com a
obrigatoriedade da concomitância de ações, pois isso muito mais atrapalha do que ajuda. Por outro lado, a
autonomia federativa é que parece estar em jogo com a multiplicidade, dado que o órgão ambiental
verdadeiramente competente poderia sucumbir à atuação dos demais.
O próprio STF já se pronunciou a respeito do assunto no caso da transposição do rio São Francisco,
quando decidiu que o estado de Minas Gerais não poderia interferir decisivamente no licenciamento. Ademais,
é claro o desrespeito ao princípio da predominância do interesse, critério constitucional para a repartição de
competências. (Talden Farias)
Ademais, é claro o desrespeito ao princípio da predominância do interesse, critério constitucional para
a repartição de competências. E, de fato, o egrégio STF já encerrou questão sobre o tema na ADI 2.544/RS.1718

17
FARIAS, Talden. Licenciamento ambiental em um único nível de competência. Revista Eletrônica Consultor Jurídico. Disponível
em: http://www.conjur.com.br/2016-jun-25/ambiente-juridicolicenciamento- ambiental-unico-nivel-competencia.
18
EMENTA: Federação: competência comum: proteção do patrimônio comum, incluído o dos sítios de valor arqueológico (CF, arts.
23, III, e 216, V): encargo que não comporta demissão unilateral. 1. L. est. 11.380, de 1999, do Estado do Rio Grande do Sul, confere
aos municípios em que se localizam a proteção, a guarda e a responsabilidade pelos sítios arqueológicos e seus acervos, no Estado,
o que vale por excluir, a propósito de tais bens do patrimônio cultural brasileiro (CF, art. 216, V), o dever de proteção e guarda e a
conseqüente responsabilidade não apenas do Estado, mas também da própria União, incluídas na competência comum dos entes da
Federação, que substantiva incumbência de natureza qualificadamente irrenunciável. 2. A inclusão de determinada função
administrativa no âmbito da competência comum não impõe que cada tarefa compreendida no seu domínio, por menos expressiva
que seja, haja de ser objeto de ações simultâneas das três entidades federativas: donde, a previsão, no parágrafo único do art. 23 CF,
de lei complementar que fixe normas de cooperação (v. sobre monumentos arqueológicos e pré-históricos, a L. 3.924/61), cuja
edição, porém, é da competência da União e, de qualquer modo, não abrange o poder de demitirem-se a União ou os Estados dos
encargos constitucionais de proteção dos bens de valor arqueológico para descarregá-los ilimitadamente sobre os Municípios. 3.
Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 33


De acordo com o STF, a inclusão de determinada função administrativa no âmbito da competência
comum não impõe que cada tarefa compreendida no seu domínio, por menos expressiva que seja, haja de ser
objeto de ações simultâneas das três entidades federativas: donde, a previsão, no parágrafo único do art. 23 CF,
de lei complementar que fixe normas de cooperação (v. sobre monumentos arqueológicos e pré-históricos, a
L. 3.924/61), cuja edição, porém, é da competência da União e, de qualquer modo, não abrange o poder de
demitirem-se a União ou os Estados dos encargos constitucionais de proteção dos bens de valor arqueológico
para descarregá-los ilimitadamente sobre os municípios (STF. Plenário. Relator Ministro Sepúlveda Pertence.
Publicado no Diário da Justiça em 17/11/2006).

3.5 INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS

Vide Lei 9.605/1998/12/02/1998:


Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso,
gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. § 1º São autoridades competentes para lavrar auto de
infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema
Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das
Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.
§ 2º Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir representação às autoridades relacionadas no
parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu poder de polícia.
§ 3º A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração
imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade.
§ 4º As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito de ampla defesa e
o contraditório, observadas as disposições desta Lei.

Art. 71. O processo administrativo para apuração de infração ambiental deve observar os seguintes prazos máximos:
I - vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de infração, contados da data da ciência da
autuação;
II - trinta dias para a autoridade competente julgar o auto de infração, contados da data da sua lavratura, apresentada
ou não a defesa ou impugnação;
III - vinte dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior do Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da Marinha, de acordo com o tipo de
autuação;
IV – cinco dias para o pagamento de multa, contados da data do recebimento da notificação.

Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º:
I - advertência;
II - multa simples;
III - multa diária;
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou
veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade;
VIII - demolição de obra;
IX - suspensão parcial ou total de atividades;
XI - restritiva de direitos.
§ 1º Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas, cumulativamente, as sanções
a elas cominadas. § 2º A advertência será aplicada pela inobservância das disposições desta Lei e da legislação em
vigor, ou de preceitos regulamentares, sem prejuízo das demais sanções previstas neste artigo.
§ 3º A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo:
I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão
competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha;
II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha.
§ 4° A multa simples pode ser convertida em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio
ambiente.
§ 5º A multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se prolongar no tempo.
§ 8º As sanções restritivas de direito são:

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 34


I - suspensão de registro, licença ou autorização;
II - cancelamento de registro, licença ou autorização;
III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais;
IV - perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;
V - proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de até três anos.

Art. 73. Os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional
do Meio Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, Fundo Naval, criado pelo Decreto nº 20.923, de
8 de janeiro de 1932, fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão
arrecadador.

Art. 74. A multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo
com o objeto jurídico lesado.

Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa
federal na mesma hipótese de incidência.

De acordo com Paulo de Bessa Antunes, o Decreto 6.514/08 objetiva estabelecer as bases para a
imputação de responsabilidades administrativas para quem, por atos e omissões, lese o bem jurídico meio
ambiente, conforme determinado pelo parágrafo 3º do art. 225 da Constituição Federal. Contudo, há que se
registrar que a Lei 9.605/98, não dispõe sobre tipos administrativos (Direito Ambiental, p. 290).
Consoante o art. 4o: (...) o agente autuante, ao lavrar o auto de infração, indicará as sanções
estabelecidas no Decreto, observando: a gravidade dos fatos, tendo em vista os motivos da infração e suas
consequências para a saúde pública e para o meio ambiente; os antecedentes do infrator, quanto ao
cumprimento da legislação de interesse ambiental; e, a situação econômica do infrator.
Após intenso debate na jurisprudência, entendeu o egrégio STJ por editar a Súmula 467 19 no sentido
de que "prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da
Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental."
É entendimento da Corte, outrossim, que configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação
da pena de multa sem a necessidade de prévia imposição da pena de advertência (art. 72 da Lei 9.605/98) (STJ,
1ª Turma. REsp 1.318.051-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/3/2015 (Info 561)).
O egrégio STJ possui entendimento que o Decreto 6.514/08, ao regulamentar a Lei 9.605/98, é
compatível com princípio da legalidade, no que tange as tipificações por infrações administrativas.
No campo das infrações administrativas, exige-se do legislador ordinário apenas que estabeleça as
condutas genéricas (ou tipo genérico) consideradas ilegais, bem como o rol e limites das sanções previstas,
deixando-se a especificação daquelas e destas para a regulamentação, por meio de Decreto. De forma
legalmente adequada, embora genérica, o art. 70 da Lei 9.605/98 prevê, como infração administrativa
ambiental, "toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação
do meio ambiente".
É o que basta para, com a complementação do Decreto regulamentador, cumprir o princípio da
legalidade, que, no Direito Administrativo, não pode ser interpretado mais rigorosamente que no Direito Penal,
campo em que se admitem tipos abertos e até em branco. O transporte de carvão vegetal sem prévia licença da

19
S. 467/STJ: Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da Administração Pública de
promover a execução da multa por infração ambiental.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 35


autoridade competente caracteriza, a um só tempo, crime ambiental (art. 46 da Lei 9.605/1998) e infração
administrativa, nos termos do art. 70 da Lei 9.605/1998 c/c o art. 32, parágrafo único, do Decreto 3.179/1999,
revogado pelo Decreto 6.514/2008, que contém dispositivo semelhante (STJ. 6ª Turma. Relator Ministro
Sebastião Reis. Dje 22.06.2016).
A guarda e a manutenção de aves exóticas dependem de licença ambiental e expedição de parecer
técnico. Auto de infração administrativa dentro dos limites da legalidade. Não há atipicidade na conduta do
agente, porquanto ela se inclui na previsão estabelecida no artigo 25, §1º do Decreto 6.514/08. A descrição de
conduta típica, para fins de infração administrativa, pode vir regulamentada por meio de Decreto, desde que a
norma se encontre dentro dos contornos previstos na Lei 9.605/98, não inovando na ordem jurídica. De igual
modo, inexiste violação ao princípio da legalidade, tendo em vista a autonomia das instâncias de
responsabilização administrativa e penal (STJ, 2ª Turma, Relator Ministro Humberto Martins, ESP -
RECURSO ESPECIAL – 1441774.DJU. 24.09.2015)20.
A responsabilidade administrativa ambiental é objetiva. Deveras, esse preceito foi expressamente
inserido no nosso ordenamento com a edição da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81).
Tanto é assim, que o § 1º do art. 14 do diploma em foco define que o poluidor é obrigado, sem que haja a
exclusão das penalidades, a indenizar ou reparar os danos, independentemente da existência de culpa (STJ,
1.318.051/RJ, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe
12/05/2015).
O STJ possui jurisprudência no sentido de que, "tratando de responsabilidade administrativa
ambiental, o terceiro, proprietário da carga, por não ser o efetivo causador do dano ambiental, responde
subjetivamente pela degradação ambiental causada pelo transportador" (AgRg no AREsp 62.584/RJ, Rel.
Ministro Sérgio Kukina, Rel. p/ acórdão Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 7.10.2015) 21.

20
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. APLICAÇÃO DE MULTA ADMINISTRATIVA POR POSSE,
GUARDA E MANUTENÇÃO DE AVES EXÓTICAS SEM LICENÇA AMBIENTAL. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO
ART.535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. TIPICIDADE DA CONDUTA. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA AMBIENTAL.
DECRETO 6.514/08. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AUTÔNOMA. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DE
DOMICÍLIO. PRECEDENTES. SÚMULA 7/STJ. VIOLAÇÃO DO DIREITO DE PROPRIEDADE E PEDIDO DE INVERSÃO
DO ÔNUS DA PROVA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. 1. Inexiste a alegada violação do art.
535 do CPC, pois a prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão deduzida, conforme se depreende da análise do acórdão
recorrido. 2. A guarda e a manutenção de aves exóticas dependem de licença ambiental e expedição de parecer técnico. Não configura
nacionalização das aves o simples ingresso no território brasileiro. A conduta do recorrente não observou as exigências legais. Auto
de infração administrativa dentro dos limites da legalidade. 3. Não há atipicidade na conduta do agente, porquanto ela se inclui na
previsão estabelecida no artigo 25, §1º do Decreto nº 6.514/08. A descrição de conduta típica, para fins de infração administrativa,
pode vir regulamentada por meio de Decreto, desde que a norma se encontre dentro dos contornos previstos na Lei n. 9.605/98, não
inovando na ordem jurídica. De igual modo, inexiste violação ao princípio da legalidade, tendo em vista a autonomia das instâncias
de responsabilização administrativa e penal. 4. O pedido de afastamento da multa sob alegação de que a aquisição das aves ocorreu
em momento prévio à publicação da norma proibitiva não subsiste, visto que a conduta do agente configura ilícito de caráter
permanente. Nesse sentido, deve ser aplicada a regra vigente à época da cessação do delito, que, no caso concreto, coincidiu com a
vigência da norma proibitiva à introdução, guarda e manutenção de aves sem prévio parecer técnico e respectiva licença ambiental.
21
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. DANO AMBIENTAL. ACIDENTE NO TRANSPORTE DE ÓLEO
DIESEL. IMPOSIÇÃO DE MULTA AO PROPRIETÁRIO DA CARGA. IMPOSSIBILIDADE. TERCEIRO.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. I - A Corte de origem apreciou todas as questões relevantes ao deslinde da controvérsia de
modo integral e adequado, apenas não adotando a tese vertida pela parte ora Agravante. Inexistência de omissão. II - A
responsabilidade civil ambiental é objetiva; porém, tratando-se de responsabilidade administrativa ambiental, o terceiro, proprietário

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 36


(REsp 1401500/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/08/2016, DJe
13/09/2016)22.
A multa aplicada pela autoridade administrativa é autônoma e distinta das sanções criminais
cominadas à mesma conduta.6. Habeas corpus não conhecido (HC 272.630/SP, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 21/06/2016, DJe 29/06/2016)23.

4 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL. CONCEITO DE DANO. A REPARAÇÃO. DANO


AMBIENTAL. DANO MORAL COLETIVO

No âmbito do direito internacional a Declaração do Rio de Janeiro [RIO/92] prevê, de acordo com o
Princípio 13, que os Estados deverão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à
indenização das vítimas da poluição e outros danos ambientais. Os Estados deverão, ainda, cooperar de maneira
rápida e mais decidida, na elaboração de normas internacionais sobre a responsabilidade e a indenização por
efeitos adversos advindos dos danos ambientais causados por atividades realizadas dentro de sua jurisdição ou
seu controle, em zonas fora de sua jurisdição.
A Constituição Federal, por sua vez, prevê o dever de reparar os danos ambientais:
Art. 225. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo
com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

da carga, por não ser o efetivo causador do dano ambiental, responde subjetivamente pela degradação ambiental causada pelo
transportador. III - Agravo regimental provido.
22
PROCESSUAL CIVIL. AMBIENTAL. EXPLOSÃO DE NAVIO NA BAÍA DE PARANAGUÁ (NAVIO "VICUNA").
VAZAMENTO DE METANOL E ÓLEOS COMBUSTÍVEIS. OCORRÊNCIA DE GRAVES DANOS AMBIENTAIS.
AUTUAÇÃO PELO INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ (IAP) DA EMPRESA QUE IMPORTOU O PRODUTO
"METANOL". ART. 535 DO CPC. VIOLAÇÃO. OCORRÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DE
MANIFESTAÇÃO PELO TRIBUNAL A QUO. QUESTÃO RELEVANTE PARA A SOLUÇÃO DA LIDE. 1. Tratam os presentes
autos de: a) em 2004 a empresa ora recorrente celebrou contrato internacional de importação de certa quantidade da substância
química metanol com a empresa Methanexchile Limited. O produto foi transportado pelo navio Vicuna até o Porto de Paranaguá, e
o desembarque começou a ser feito no píer da Cattalini Terminais Marítimos Ltda., quando ocorreram duas explosões no interior da
embarcação, as quais provocaram incêndio de grandes proporções e resultaram em danos ambientais ocasionados pelo derrame de
óleos e metanol nas águas da Baía de Paranaguá; b) em razão do acidente, o Instituto recorrido autuou e multa a empresa recorrente
no valor de R$ 12.351.500,00 (doze milhões, trezentos e cinquenta e um mil e quinhentos reais) por meio do Auto de Infração 55.908;
c) o Tribunal de origem consignou que "a responsabilidade do poluidor por danos ao meio ambiente é objetiva e decorre do risco
gerado pela atividade potencialmente nociva ao bem ambiental. Nesses termos, tal responsabilidade independe de culpa, admitindo-
se como responsável mesmo aquele que aufere indiretamente lucro com o risco criado" e que "o artigo 25, § 1º, VI, da Lei 9.966/2000
estabelece expressamente a responsabilidade do 'proprietário da carga' quanto ao derramamento de efluentes no transporte marítimo",
mantendo a Sentença e desprovendo o recurso de Apelação. 2. A insurgente opôs Embargos de Declaração com intuito de provocar
a manifestação sobre o fato de que os presentes autos não tratam de responsabilidade ambiental civil, que seria objetiva, mas sim de
responsabilidade ambiental administrativa, que exige a demonstração.
23
PROCESSO PENAL E PENAL. HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL, ORDINÁRIO OU DE
REVISÃO CRIMINAL. NÃO CABIMENTO. CRIME AMBIENTAL. ART. 34, CAPUT, DA LEI Nº 9605/98. TRANCAMENTO
DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. INOCORRÊNCIA. SANÇÃO ADMINISTRATIVA. AUTONOMIA EM
RELAÇÃO À SANÇÃO CRIMINAL. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. Ressalvada pessoal compreensão diversa,
uniformizou o Superior Tribunal de Justiça ser inadequado o writ em substituição a recursos especial e ordinário, ou de revisão
criminal, admitindo-se, de ofício, a concessão da ordem ante a constatação de ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia.
2. Orienta-se a jurisprudência no sentido de que o trancamento da ação penal é medida de exceção, possível somente quando
inequívoca a inépcia da denúncia e a ausência de justa causa, o que não se verifica na hipótese. 3. Na hipótese, o Tribunal a quo
concluiu que há indícios suficientes de autoria e materialidade, corroborados pelas cópias do termo circunstanciado, do auto de
infração ambiental e relatório de fiscalização em que relatam terem os pacientes sido abordados na embarcação pescando (com
efetiva afetação do objeto jurídico-ambiental). 4. Assim, infirmar tal constatação demanda revolvimento fático-probatório inviável
na via estreita do writ. 5. A multa aplicada pela autoridade administrativa é autônoma e distinta das sanções criminais cominadas à
mesma conduta. 6. Habeas corpus não conhecido.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 37


§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

No âmbito infraconstitucional, a Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
define o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações, de ordem física, química
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (Art. 3.inc. I)24”.
De acordo com o art. 3o, incisos II, III e V25, respectivamente, da referida lei: a degradação da qualidade
ambiental é a alteração adversa das características do meio ambiente; o poluidor é a pessoa física ou jurídica,
de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental; e os recursos ambientais são a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera.

4.1 CONCEITO DE DANO

O dano ambiental e a sua reparação são regulados pelo art. 14, §1°, Lei 6938/8126 e pelo art. 927 do
Código Civil27. Neste diapasão, o legislador infraconstitucional previu a responsabilidade objetiva, com base
no risco da atividade, sem a necessária demonstração da culpa do poluidor, em matéria de danos causados ao
meio ambiente. O princípio do poluidor pagador está integrado ao sistema de responsabilização civil ambiental.
Resta previsto na Lei 6.938/81, em seu art. 4, VII, que “a Política Nacional do Meio Ambiente visará à
imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados”.
Como refere Leite, a teoria da responsabilidade causada pelo risco tem seu fundamento na socialização
dos lucros, pois aquele que lucra com uma atividade, “deve responder pelo risco ou pela desvantagem dela
resultante...A não necessidade da prova de culpa do agente degradador na responsabilidade por risco denota

24
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas;
25
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora
de degradação ambiental;
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo,
os elementos da biosfera, a fauna e a flora. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)
26
Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os
transgressores:
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa,
a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União
e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
27
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 38


tal avanço, facilitando a responsabilização” (LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao
extrapatrimonial. 2a. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2003, p. 64).
No regime da responsabilidade objetiva, fundada na teoria do risco da atividade, para que se possa
pleitear a reparação do dano, “basta a demonstração do evento danoso e do nexo de causalidade. A ação, da
qual a teoria da culpa faz depender a responsabilidade pelo resultado, é substituída, aqui, pela assunção do
risco, em provocá-lo.” (LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao extrapatrimonial. 2a.
ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2003, p. 65).
Em relação a responsabilidade civil ambiental, o egrégio STJ tem firmado posições relevantes como
quando admite a condenação simultânea e cumulativa das obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar na
reparação integral do meio ambiente. Precedentes: REsp 1328753/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 28/05/2013, DJe 03/02/2015; REsp 1307938/GO, Rel. Ministro BENEDITO
GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/06/2014, DJe 16/09/2014.
O STJ reconhece que o princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório, competindo a
quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou ou que a substância lançada ao
meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva. Precedentes: AgRg no AREsp 206748/SP, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/02/2013, DJe 27/02/2013; REsp 883656/ RS, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/03/2010, DJe 28/02/2012;
O STJ admite que, em matéria de proteção ambiental, está configurada a responsabilidade civil do
Estado quando a omissão de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar for determinante para a
concretização ou o agravamento do dano causado. Precedentes: AGRESP 495377/RJ (decisão monocrática) Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, julgado em 28/05/2014, DJe 02/06/2014.
O STJ reconhece que a obrigação de recuperar a degradação ambiental é do titular da propriedade do
imóvel, mesmo que não tenha contribuído para a deflagração do dano, tendo em conta sua natureza propter
rem. Precedentes: REsp 1240122/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
28/06/2011, DJe 11/09/2012; REsp 1251697/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 12/04/2012, DJe 17/04/2012; REsp 1186023/SP (decisão monocrática), Rel. Ministro BENEDITO
GONÇALVES, julgado em 05/03/2014, DJe 11/03/2014.
O STJ reconhece que a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco
integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato,
sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de
responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar. Precedentes: REsp 1374284/MG, Rel. Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/08/2014, DJe 05/09/2014, (julgado sob o rito do art.
543-C).
O STJ entende que os responsáveis pela degradação ambiental são coobrigados solidários, formando-
se, em regra, nas ações civis públicas ou coletivas, litisconsórcio facultativo. Precedentes: AgRg no AREsp
432409/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 19/03/2014; REsp
1383707/SC, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 08/04/2014, DJe 05/06/2014; AgRg

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 39


no AREsp 224572/MS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/06/2013, DJe
11/10/2013; REsp 771619/RR, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 16/12/2008, DJe
11/02/2009; REsp 1060653/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/10/2008,
DJe 20/10/2008; REsp 884150/MT, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/06/2008, DJe
07/08/2008;
O STJ tem reconhecido a solidariedade entre o Estado e o particular quando ambos são responsáveis
pelo dano ambiental, mas o título executivo é executado de modo subsidiário, primeiro é compelido a cumprir
a decisão o particular, ficando o Estado como devedor garante (STJ. 2ª. Turma. Rel. Min. Herman Benjamin.
REsp. 1071741. DJE. 16.12.2010).
Entende o egrégio Superior Tribunal de Justiça que é imprescritível a ação de reparação por danos de
caráter ambiental em face da natureza deste (STJ. Segunda Turma. Relator Ministro Mauro Campbel Marques.
AGRESP 1466096. DJE: 30.03.2015).
Dano ambiental é a ação ou omissão que prejudique as diversas condições, leis, influências, e interações
de ordem física, química e biológica que permita, abrigue e reja a vida, em quaisquer de suas formas
(ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 18a ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016, p. 608).
Leite refere que o dano ambiental tem um perfil multidimensional, atingindo concomitantemente o bem
jurídico ambiental e outros interesses jurídicos. O sistema jurídico brasileiro, assim, protege o bem jurídico
ambiental com finalidade dúplice: a- no que diz respeito à proteção e capacidade funcional do ecossistema; e
b- visando a conservar a sua capacidade de aproveitamento humano (LEITE, José Rubens Morato. Dano
ambiental: do individual ao extrapatrimonial. 2a. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2003, p. 65).

O dano ambiental, de acordo com a amplitude do bem protegido, pode ser:


1. Dano ecológico puro - Danos que atingem, de forma intensa, bens próprios da natureza, em sentido
estrito.
2. Dano ecológico Lato Sensu - Abrange todos os componentes do meio ambiente, inclusive o
patrimônio cultural.
3. Dano individual ambiental - É um dano individual, pois o objetivo não é a tutela direta dos bens
ambientais, mas interesses próprios do lesado, relativo ao microbem ambiental (LEITE, José Rubens Morato.
Dano ambiental: do individual ao extrapatrimonial. 2a. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2003, p. 95-
96).
O mesmo ato do degradador e do poluidor pode lesar ao meio ambiente e a direitos individuais de
terceiros, no chamado dano ricochete, ou seja, são causados danos econômicos e pessoais aos particulares em
virtude da poluição, exemplo clássico são os pescadores prejudicados pela poluição de um rio causado por uma
fábrica que causa a poluição da água própria para o consumo humano e impede a realização de pesca por uma
comunidade de pescadores.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 40


Uma concepção estrita de danos ambientais compreende apenas lesão a bens naturais e ecológicos, os
recursos naturais propriamente ditos, já uma concepção ampla de danos ambientais abarca a lesão ao meio
ambiente natural, artificial, do trabalho, cultural e virtual.

4.2 A REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL

No processo reparatório do macrobem ambiental, o que se busca é, primeiramente, de acordo com


Leite, a recuperação do dano e, como segunda hipótese, uma compensação pecuniária à coletividade que foi
subtraída da qualidade ambiental deste bem, e não a reparação para seu proprietário, seja ele público ou privado
(LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao extrapatrimonial. 2a. ed. São Paulo: Ed.
Revista dos Tribunais, 2003, p. 83).
Antunes refere que não existe um critério para a fixação do que, efetivamente, constitui o dano
ambiental e como este deve ser reparado. A primeira hipótese a ser considerada é a da repristinação do ambiente
agredido ao status quo ante. Esta pode ser conseguida por (a) intervenção humana ou por (b) regeneração
natural. Contudo, nem sempre se pode garantir que a regeneração ocorrerá. É o caso, por exemplo, de extinções
de espécies como externalidades de danos ambientais (ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 18a ed.
São Paulo: Editora Atlas, 2016, p. 610).
A destinação dos recursos, das indenizações, por sua vez, será definida pelo IBAMA, ouvido o Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, nos termos do art. 31 e seguintes do Decreto 4.340/2002.
Os fundos ambientais federais existentes são o Fundo de Defesa dos Interesses Difusos [Lei 7.347/1985], o
Fundo Nacional do Meio Ambiente [Lei 7.797/1989] e o Fundo Amazônia [Decreto 6.527/2008].
Referidos fundos não tem por finalidade viabilizar a indenização dos danos, mas possuem outros
objetivos como a prevenção, ações educativas, monitoramentos, desenvolvimento de projetos, a reconstituição
do bem lesado, não sendo autênticos fundos autônomos de compensação ecológica.
Dano moral coletivo: A possibilidade da reparação do dano moral coletivo de cunho ambiental está
estampada no art. 1º da Lei de Ação Civil Pública, encerrando todo e qualquer debate sobre o seu cabimento.
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos
morais e patrimoniais causados: l - ao meio-ambiente;

Em relação aos danos morais coletivos, adverte Antunes:


A existência de acidentes que impliquem danos ao meio ambiente tem acarretado a construção de uma recente
jurisprudência a qual reconhece a existência de dano moral ambiental...Não há dúvida de que, em análise causística, é
ampla a possibilidade de que acidentes ambientais possam, de fato, acarretar dano moral para terceiros, contudo, há
que se rejeitar que tais danos morais sejam presumidos, pois, como se sabe, danos devem ser provados, sobretudo
aqueles de natureza subjetiva. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 18a ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016.
P.610.

O egrégio Superior Tribunal de Justiça já reconheceu o direito de pescadores a serem indenizados em


virtude de danos morais coletivos causados em virtude de vazamento de Nafta decorrente do choque entre
navios no Porto de Paranaguá. No caso, foram reconhecidos, além dos danos ambientais propriamente ditos, a

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 41


reparação do dano moral coletivo e de danos individuais causados aos pescadores (STJ. 2ª. Turma. Rel. Sidnei
Beneti. REsp 1114398. DJU 16.02.2012).

4.3 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL

A Lei 9.605/98 conferiu tratamento sistemático da responsabilidade penal por condutas lesivas ao meio
ambiente. Subsistem, contudo, algumas normas esparsas que tutelam o ambiente na esfera criminal. O recurso
às normas penais em branco é comum na matéria, em razão da interface técnica nas questões ambientais
(MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco; doutrina, jurisprudência, glossário. 7ª Ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 1281).
Está previsto no art. 26 da Lei 9.605/9828 que nos crimes ambientais, a ação penal é pública
incondicionada. Cabe aos órgãos e entidades administrativas que detém o exercício do poder de polícia
ambiental, proceder à notificação de crime ambiental quando este seja constatado em concomitância com
infração administrativa ambiental. Importa esclarecer que os tipos penais encontram correspondente nas
infrações administrativas, ao menos no âmbito federal. No entanto, em vista do princípio da intervenção
mínima, nem sempre os tipos infracionais administrativos encontram similar tipificação penal (MILARÉ, Édis.
Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco; doutrina, jurisprudência, glossário. 7ª Ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2011, p. 1277).
Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará: a gravidade do fato,
tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente; os
antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; a situação econômica do
infrator, no caso de multa. Vide art. 6º da Lei 9.605/98.29
As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: tratar-
se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a quatro anos; a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do
crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime. As penas
restritivas de direitos terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída. Vide art. 7º da Lei
9.605/9830.

28
Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é pública incondicionada.
29
Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará:
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental;
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.
30
Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando:
I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a quatro anos;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do
crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a mesma duração da pena privativa de liberdade
substituída.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 42


As penas restritivas de direito são a prestação de serviços à comunidade; interdição temporária de
direitos; suspensão parcial ou total de atividades; prestação pecuniária; e, recolhimento domiciliar.
Vide art. 8º e seguintes da Lei 9.605/98:
Art. 8º As penas restritivas de direito são:
I - prestação de serviços à comunidade;
II - interdição temporária de direitos;
III - suspensão parcial ou total de atividades;
IV - prestação pecuniária;
V - recolhimento domiciliar.

Art. 9º A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a parques
e jardins públicos e unidades de conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na restauração
desta, se possível.

Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o condenado contratar com o Poder Público,
de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco
anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, no de crimes culposos.

Art. 11. A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às prescrições legais.

Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim
social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários
mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator.

Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, que deverá,
sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários
de folga em residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na sentença
condenatória.

Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:


I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação significativa da
degradação ambiental causada;
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental.

Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;

A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente. Transitada
em julgado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se sem prejuízo da liquidação para apuração
do dano efetivamente sofrido.
Vide art. 20 da Lei 9.605/98:
II - ter o agente cometido a infração:
a) para obter vantagem pecuniária;
b) coagindo outrem para a execução material da infração;
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente;
d) concorrendo para danos à propriedade alheia;
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso;
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;
g) em período de defeso à fauna;
h) em domingos ou feriados;
i) à noite;
j) em épocas de seca ou inundações;
i) no interior do espaço territorial especialmente protegido;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 43


m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos
fiscais;
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes;
r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no
valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida.

Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causado para
efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.
Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal,
instaurando-se o contraditório.

Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados
pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor fixado nos
termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido.

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto
no art. 3º, são:
I - multa;
II - restritivas de direitos;
III - prestação de serviços à comunidade.
Relevante destacar que a pessoa jurídica pode ser denunciada e condenada por crime ambiental independentemente da
inclusão do sócio no polo passivo da demanda consoante recente precedente do egrégio STF.

O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica
por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da
empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação... Tal esclarecimento, relevante para
fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a
responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas
(STF. 1 Turma. Relatora Ministra Rosa Weber. RE 548181. 06.08.2013). Referido precedente, que afasta a
teoria da dupla imputação em matéria ambiental, tem sido seguido no âmbito dos Tribunais Regionais Federais.
De acordo com recentes entendimentos dos Tribunais Superiores, a teoria da dupla imputação, segundo
a qual a responsabilidade penal da pessoa jurídica não poderia ser dissociada da pessoa física atuante em seu
benefício, não encontra suporte jurídico, já que não há tal exigência no art. 225, § 3º, da Constituição Federal.
Logo, é possível a responsabilização, em isolado, da pessoa jurídica envolvida na prática de crime ambiental
(TRF4. 7ª Turma Desembargador Federal Sebastião Ogê Muniz. ACR 00005749020094047200. 17.07.2014).
As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o
disposto no art. 3º, por sua vez, são: multa; restritivas de direitos; e, prestação de serviços à comunidade. As
penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: a suspensão parcial ou total de atividades; a interdição
temporária de estabelecimento, obra ou atividade; e a proibição de contratar com o Poder Público, bem como
dele obter subsídios, subvenções ou doações.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 44


4.4 CRIME AMBIENTAL

O crime imputado ao agravante configura-se como crime permanente, pois, mesmo que o dano
ambiental tenha se iniciado com a construção das edificações em dezembro de 2003, a conservação e a
manutenção das construções na área de conservação ambiental impedem que a vegetação se regenere,
prolongando-se assim os danos causados ao meio ambiente.
Se a ocupação ou a degradação da área ocorreu, e continua ocorrendo, impedindo e dificultando a sua
regeneração natural, permanece o recorrente em cometimento da infração penal. A ausência de informação
acerca da cessação da permanência impede a aferição do transcurso do lapso prescricional e impõe o
prosseguimento do inquérito policial (AgRg no REsp 1133632/SC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 27/09/2016, DJe 10/10/2016).
Não obstante prevaleça no Superior Tribunal de Justiça o entendimento no sentido de ser possível a
incidência do princípio da insignificância nos crimes ambientais, deve-se aferir com cautela o grau de
reprovabilidade, a relevância da periculosidade social, bem como a ofensividade da conduta, haja vista a
fundamentalidade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, inerente às presentes e futuras
gerações (princípio da equidade intergeracional) (AgRg no REsp 1558576/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 01/03/2016, DJe 17/03/2016):
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME DE PESCA. ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO,
INCISO III, DA LEI N.º 9.605/98. CRIMINOSO CONTUMAZ. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
APLICABILIDADE. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A aplicação do princípio
da insignificância, como causa de atipicidade da conduta, especialmente em se tratando de crimes ambientais, é cabível
desde que presentes os seguintes requisitos: conduta minimamente ofensiva, ausência de periculosidade do agente,
reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e lesão jurídica inexpressiva. 2. No caso dos autos, não obstante
o delito em análise se tratar da pesca irregular de 5 kg de lagosta, o Eg. Tribunal de origem consignou que o agravante
responde por outros delitos na mesma natureza, revelando seu caráter reincidente nesta prática criminosa, o que impede
o reconhecimento do aludido princípio, já que demonstra a propensão à atividade criminosa. 3. Agravo regimental não
provido. (AgRg no REsp 1430848/RN, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, QUINTA TURMA, julgado em 18/03/2014,
DJe 24/03/2014).

5 SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

O Sistema Nacional do Meio Ambiente está estruturado de modo a articular os órgãos ambientais em
todas as esferas da Administração Pública, ou seja, no âmbito federal, estadual e municipal visando preservar
o meio ambiente dentro de uma perspectiva intrageracional e intergeracional.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 45


Vide a estrutura esquematizada da Política Nacional do Meio Ambiente

5.1 O SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

O Sisnama – Sistema Nacional do Meio Ambiente representa a articulação dos órgãos ambientais
existentes e atuantes em todas as esferas da Administração Pública. Como refere Milaré, poder-se-ia dizer que
“o Sisnama é uma ratificação capilar que, partindo do sistema nervoso central da União, passa pelos feixes

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 46


nervosos dos Estados e atinge as periferias mais remotas dos organismos político-brasileiros, através dos
Municípios” (MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 10a. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 448).
O Sistema Nacional do Meio Ambiente é composto por órgãos e entidades da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental nos termos do art. 6º, da Lei 6.938/81.
O Sisnama é estruturado do seguinte modo, de acordo com a referida Lei:
I - Órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na
formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais;
II - Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a
finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para
o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões
compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida;
III - Órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de
planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente;
IV - Órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
- IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Instituto Chico Mendes, com a
finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente,
de acordo com as respectivas competências;
V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas,
projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental;
VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas
atividades, nas suas respectivas jurisdições.
Conforme o escólio de Milaré, o Sisnama tem “como principal fluxo a informação, considerando o
termo em seu sentido genérico. Nele estão compreendidas as comunicações, as deliberações, as orientações,
as avaliações e outras formas congêneres de ações e produtos. É fundamental que tudo ocorra num processo
contínuo, de modo que o próprio sistema se retroalimente” (MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 10. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 448).
A Lei 9.605/1998 confere a todos os funcionários dos órgãos ambientais integrantes do SISNAMA, o
poder para lavrar autos de infração e instaurar processos administrativos, desde que designados para as
atividades de fiscalização, o que para a hipótese, ocorreu com a Portaria 1.273/1998. Este entendimento
encontra-se em consonância com o teor da Lei 11.516/2007, que acrescentou o parágrafo único ao artigo 6º,
da Lei 10.410/200231, referendando a atribuição do exercício das atividades de fiscalização aos titulares dos

31
Art. 6o São atribuições dos titulares do cargo de Técnico Ambiental:
I – prestação de suporte e apoio técnico especializado às atividades dos Gestores e Analistas Ambientais;
II – execução de atividades de coleta, seleção e tratamento de dados e informações especializadas voltadas para as atividades
finalísticas; e

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 47


cargos de técnico ambiental (REsp 1.057.292/PR, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJe
18.8.2008).
Como órgão executor do Sistema Nacional do Meio Ambiente (art. 3º, IV, do Decreto 99.274/90), o
IBAMA detém a competência para executar estudos técnicos que permitam identificar a localização, a
dimensão e os limites mais adequados para criação de unidades de conservação, além de realizar consulta
pública destinada a garantir ampla participação da população residente, em resguardo à norma contida no art.
5º do Decreto 4.340/2002, que regulamenta o art. 22 da Lei 9.985/2000. (MS 8706/DF, Min. Teori Zavascki;
DJ 28/03/2005).
No ordenamento jurídico brasileiro, o poder de polícia ambiental é prerrogativa inafastável dos órgãos
de proteção do meio ambiente. Isso, porém, não quer dizer que o legislador esteja impedido de, em adição,
atribuí-lo também a outras entidades públicas, postura que, antes de significar bis in idem, representa, em
verdade, o reconhecimento de que o dano ambiental e as atividades capazes de causá-lo exigem, pela sua
complexidade e múltiplas facetas, a conjugação do expertise de toda a Administração Pública, no sentido de
assegurar a máxima efetividade nos esforços de prevenção, reparação e repressão.
O Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama é integrado por todos os "órgãos e entidades da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas
pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental" (art. 6º, caput, da Lei
6.938/81), o que abarca, em numerus apertus, não só aqueles listados, expressamente, nos vários incisos, como
também os que, por força de lei, recebem poderes de implementação ambiental, como o Ministério Público e
as agências governamentais especializadas ou temáticas (STJ. Rel. Min. Herman Benjamin. Resp 1142377.
DJE. 28.02.2012).
Política Nacional do Meio Ambiente: A Lei 6.938/81 dispôs sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, suas finalidades, objetivos, mecanismos de formulação e aplicação. Milaré refere que essa lei
incorporou e aperfeiçoou normas estaduais já vigentes e instituiu o “Sistema Nacional do Meio Ambiente,
integrado pela União, por Estados e Municípios, e atribuiu aos Estados a responsabilidade maior na execução
das normas protetoras do meio ambiente” (MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 10. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2015, p.442).
A Política Nacional do Meio Ambiente, por sua vez, possui relevância singular, tendo em vista que
prevê objetivos e instrumentos de tutela do meio ambiente e vincula a Administração Pública e entes privados.
Também, prevê a responsabilização administrativa, penal e civil dos entes públicos e privados que lesarem o
bem ambiental.

III – orientação e controle de processos voltados às áreas de conservação, pesquisa, proteção e defesa ambiental.
Parágrafo único. O exercício das atividades de fiscalização pelos titulares dos cargos de Técnico Ambiental deverá ser precedido de
ato de designação próprio da autoridade ambiental à qual estejam vinculados e dar-se-á na forma de norma a ser baixada pelo Ibama
ou pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Instituto Chico Mendes, conforme o Quadro de Pessoal a que
pertencerem.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 48


Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana e tem por
princípios, de acordo com o art. 2º:
A - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como
um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
B - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
C - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
D - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
E - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
F - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos
recursos ambientais;
G - acompanhamento do estado da qualidade ambiental; recuperação de áreas degradadas;
H - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
I - e a educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando
capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.
Os chamados objetivos específicos da Política Nacional do Meio Ambiente podem ser extraídos
do art. 4o da Lei e são eles:
A - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio
ambiente e do equilíbrio ecológico;
B - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio
ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios;
C - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e
manejo de recursos ambientais;
D - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de
recursos ambientais;
E - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações
ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade
ambiental e do equilíbrio ecológico;
F - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e
disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;
G - e à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de F - à preservação e restauração dos
recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a
manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário,
da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 49


As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente, consoante o art. 6º, serão formuladas em normas
e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios
e dos Municípios no que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio
ecológico, observados os princípios estabelecidos na Lei 6.938/81.
São instrumentos de implementação da Política Nacional do Meio Ambiente aqueles previstos no
seu art. 9, ou seja:
A - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; o zoneamento ambiental;
B - a avaliação de impactos ambientais;
C - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;
D - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia,
voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
E - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e
municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
F - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
G - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;
H - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção da degradação ambiental; - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente,
a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA;
J - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público
a produzi-las, quando inexistentes;
K - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos
ambientais;
L - e os instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e
outros.
Dentre os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, merece relevo o disposto no art. 9º,
IX, da Lei 6.938/91, que expressamente inclui naquele rol as penalidades disciplinares ou compensatórias ao
não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. A urgente
necessidade de preservação das matas e florestas demanda um rígido controle sobre a extração do produto
florestal. Por essa razão é que se passou a exigir para o transporte de madeira a licença para tal fim, denominada
ATPF e criada pela Portaria 44-n/93, atualmente substituída pelo Documento de Origem Florestal - DOF.
A conduta consistente em transportar/comercializar madeiras em toras, sem a devida cobertura da
ATPF, denota por parte do transgressor uma postura lesiva ao meio ambiente, porque descumpre medida
necessária à preservação da degradação ambiental e, assim, se subsome o comando do art. 14, I, da Lei 6.938/91
tornando válida a multa administrativa aplicada com base no referido normativo, sem prejuízo das demais
sanções cabíveis. Recurso especial ao qual se dá provimento (RESP 201201159849, DIVA MALERBI

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 50


(DESEMBARGADORA CONVOCADA TRF 3ª REGIÃO, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE
DATA:23/05/2016, DTPB).
A Caixa Econômica Federal sustenta que "as construções questionadas pelo Ministério Público como
causadoras de danos ambientais não foram realizadas pela Caixa Econômica Federal, mas sim por terceiros
que ocuparam a área muito antes da área ser transformada em uma APA- Área de Proteção Ambiental". O STJ
possui entendimento pacífico de que a responsabilidade civil pela reparação dos danos ambientais adere à
propriedade, como obrigação propter rem, sendo possível cobrar também do atual proprietário condutas
derivadas de danos provocados pelos proprietários antigos. Incidência Súmula 83/STJ.
Já quanto à responsabilização do IBAMA/ICM-BIO, a Corte de origem entendeu que "o art. 1° da Lei
11.516/2007, que dispõe sobre a criação do referido Instituto, expressamente prevê sua atribuição no dever de
adotar providências no sentido de coibir a pratica de danos ambientais, bem como de executar ações de
conservação e proteção da área, in verbis: (...) Ainda, a Lei 6.938/1981 consagra em seu art.2°, ser a
recuperação das áreas degradadas um dos princípios da Política Nacional do Meio Ambiente" (fl. 449, e-STJ).
4. Recursos Especiais não conhecidos. (REsp 1622512/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 22/09/2016, DJe 11/10/2016).
ADMINISTRATIVO. MEIO AMBIENTE. LEI DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
(LEI 6.938/1981), ART. 8°. COMPETÊNCIA DO CONSELHO NACIONAL DO MEIO. As Resoluções do
Conama decorrem de autorização legal, ora categórica, ora implícita, cabendo citar, entre outros, o art. 8° da
Lei 6.938/1981. Especificamente, compete ao Conselho "estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao
controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais,
principalmente os hídricos".
O próprio legislador esclareceu o que se deve entender por "recursos ambientais", definindo-os como
"a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo,
os elementos da biosfera, a fauna e a flora" (art. 3°, V), o que significa dizer que, nesse campo, a competência
do Conama é ampla, só podendo ser afastada por dispositivo legal expresso, que deve ser interpretado
restritivamente, diante da natureza de lei-quadro ou nave-mãe do microssistema que caracteriza a Lei da
Política Nacional do Meio (AgRg no REsp 1369492/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 27/08/2013, DJe 24/10/2016).

6 ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL

Estudo de Impacto Ambiental está intrinsicamente ligado ao princípio da prevenção e visa a tutelar o
meio ambiente contra eventuais danos patrocinados por potenciais degradadores e predadores. Possui
dignidade constitucional e resta regulamentado no âmbito infraconstitucional com as suas competências,
natureza jurídica e requisitos bem definidos. Inspirada no direito norte americano, no National Environmental
Policy Act- NEPA (1969), a Avaliação de Impacto ambiental foi introduzida no ordenamento brasileiro pela
Lei 6.803/80 que dispõe sobre as diretrizes para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 51


A AIA foi erigida à categoria de instrumento da política nacional do meio ambiente, sem qualquer
limitação ou condicionante, já que exigível tanto nos projetos públicos quanto particulares, industriais ou não
industriais, urbanos ou rurais, em áreas críticas de poluição ou não. Sua base legal encontra-se no art. 9, inc.
III, da Lei 6.938/8132.
No âmbito do direito internacional a Declaração do Rio de Janeiro (RIO/92) prevê, de acordo com o
Princípio 13, que os Estados deverão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à
indenização das vítimas da poluição e outros danos ambientais. Os Estados deverão, ainda, cooperar de maneira
rápida e mais decidida, na elaboração de normas internacionais sobre a responsabilidade e a indenização por
efeitos adversos advindos dos danos ambientais causados por atividades realizadas dentro de sua jurisdição ou
seu controle, em zonas fora de sua jurisdição.
O Dec. 99.274/90, ao regulamentar a Lei 6.938/81, vinculou a avaliação de impactos ambientais aos
sistemas de licenciamento, outorgando ao CONAMA competência para “fixar os critério os básicos, segundo
os quais serão exigidos estudos de impacto ambiental para fins de licenciamento”.
O CONAMA, por sua vez, vem regulamentando o licenciamento de obras e atividades mediante
avaliação de impacto ambiental, estabelecendo, para cada caso que mereça regulamentação específica um tipo
de estudo capaz de aferir o meio mais adequado a evitar interferências negativas no meio ambiente33.
Impacto ambiental no aspecto jurídico é “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
Art. 1º, da Resolução CONAMA 1, de 23.01.1986.
I- a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II- as atividades sociais e econômicas;
III- a biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V- a qualidade dos recursos naturais.

Pode ser conceituado como a avaliação realizada por uma equipe técnica multidisciplinar da área onde
o postulante pretende instalar a indústria ou exercer atividade causadora de significativa degradação ambiental,
procurando ressaltar os aspectos negativos e/ou positivos dessa intervenção humana34.

6.1 COMPETÊNCIAS

A competência referida para a exigência do Estudo de Impacto Ambiental é a mesma referente ao


licenciamento e vem disciplinada pela Lei Complementar 140/2011 que divide expressamente esta
competência entre a União, Distrito Federal, Estados e Municípios.
Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambientalmente, por um único ente
federativo, em conformidade com as atribuições estabelecidas nos termos desta Lei Complementar.
§ 1º Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável pela licença ou autorização,
de maneira não vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento ambiental.

32
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 10a. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 483.
33
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 10a. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 494.
34
SIRVINKAS, Luis Paulo. Manual de Direito Ambiental. 14a. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. P. 121.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 52


§ 2º A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo ente federativo licenciador.
§ 3º Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins devem guardar relação de
proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço prestado pelo ente federativo.

De acordo com o Art. 15, da referida Lei Complementar, os entes federativos devem atuar em caráter
supletivo nas ações administrativas de licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses:
I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a União
deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais até a sua criação;
II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado deve desempenhar
as ações administrativas municipais até a sua criação; e
III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Município, a União deve
desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos.

É de se entender como superada a aplicação da antiga redação do art. 10 da Lei 6.938/81 e do art. 17
do Decreto 99.274/90, após a entrada em vigor da Lei Complementar 140/2011.
Como modalidade de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), o EPIA é hoje considerado um dos mais
notáveis instrumentos de compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da
qualidade do meio ambiente, já que deve ser elaborado antes da instalação de obra ou de atividade causadora
de significativa degradação35.

6.2 NATUREZA JURÍDICA

O Estudo de Prévio Impacto ambiental (EPIA), outrossim, é um dos instrumentos da Política Nacional do
Meio Ambiente. Antes do licenciamento ambiental deverá ser exigido o EPIA e, consequentemente, o
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). O EPIA não podendo ser concomitante nem posterior à realização
da obra ou da implementação da atividade.
Refere Antunes que no sistema jurídico brasileiro, o estudo de impacto ambiental tem, nos termos do art.
9, inc. III, da Lei 6.938/81, a natureza jurídica de “(...) instituto constitucional, constituindo-se em instrumento da política
nacional do meio ambiente” e nessa condição “está colocado acima da política nacional do meio ambiente, surgindo aí uma
contradição, pois ao mesmo tempo ele tem uma previsão constitucional que a política nacional do meio ambiente não possui.”.

De qualquer modo, é de entender a inteira recepção da referida legislação pela Constituição Federal de
1988 que é compatível e potencializa a Política Nacional do Meio Ambiente36.

6.3 REQUISITOS

Para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, consoante o art. 225,
parágrafo 1, inc. IV, CF/8837, incumbe ao Poder Público “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou

35
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 10a. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 494.
36
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 18a ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016. P.697.
37
Constituição Federal de 1988: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 53


atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade.”
O STF já firmou entendimento no sentido de que Constituições Estaduais e normas infranconstitucionais
não podem relativizar a exigência do licenciamento prevista no texto constitucional.
De acordo com o egrégio STF, a exigência do EIA não pode sofrer exceções. A Constituição Federal impõe
a adoção do EIA. Não se trata de mera faculdade, pois, como já decidiu o STF: “a CF/88 no art. 225, parágrafo
1º, inc. IV, exigiu o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, chamado RIMA, como norma absoluta. Não pode a
Constituição Estadual, por conseguinte, excetuar ou dispensar, nessa regra, ainda que, dentro de sua
competência supletiva, pudesse criar formas mais rígidas de controle” (STF, ADI 1087/7-SC, DJ 10.08.2001.
Rel. Min. Sepúlveda Pertence).
A partir do EPIA será elaborado um Relatório de Impacto Ambiental- RIMA, que deve ser objetivo,
adequado e traduzir as informações do EPIA para linguagem acessível ao público, com recursos de
comunicação visual, para que possam ser melhor compreendidas as consequências socioambientais do
empreendimento.
Vide Art. 9º, parágrafo único, da Resolução CONAMA 1/1986:
Artigo 9º - O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá,
no mínimo:
I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas
governamentais;
II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases
de construção e operação a área de influência, as matérias primas, e mão-de-obra, as fontes de energia, os processos e
técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem
gerados;
III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência do projeto;
IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade, considerando o projeto,
suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios
adotados para sua identificação, quantificação e interpretação;
V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações da adoção
do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização;
VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos,
mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado;
VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem geral).
Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão. As informações
devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de
comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
consequências ambientais de sua implementação.

O EPIA é de maior abrangência que o relatório e o engloba em si mesmo. O EPIA compreende o


levantamento da literatura científica e legal pertinente, trabalhos de campo, análises de laboratório e a própria
redação do relatório. O RIMA refletirá as conclusões do EIA, ficando patenteado que o EIA precede ao RIMA
e é seu alicerce imprescindível38.
Os requisitos de conteúdo estão previstos na Resolução 01/86, em seus artigos 5º e 9º.
Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em especial os princípios e objetivos expressos
na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais:

38
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 223.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 54


I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as com a hipótese de não
execução do projeto;
II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação da
atividade;
III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de
influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza;
lV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de influência do projeto,
e sua compatibilidade.
Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental o órgão estadual competente, ou o
IBAMA ou, quando couber, o Município, fixará as diretrizes adicionais que, pelas peculiaridades do projeto e
características ambientais da área, forem julgadas necessárias, inclusive os prazos para conclusão e análise dos estudos.

Artigo 9º - O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá,
no mínimo:
I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas
governamentais;
II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases
de construção e operação a área de influência, as matérias primas, e mão de obra, as fontes de energia, os processos e
técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem
gerados;
III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência do projeto;
IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade, considerando o projeto,
suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios
adotados para sua identificação, quantificação e interpretação;
V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações da adoção
do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização;
VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos,
mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado;
VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem geral).
Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão. As informações
devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de
comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
consequências ambientais de sua implementação.

Os requisitos formais estão expressos na Resolução 1/86.


Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades técnicas:
I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e análise dos recursos ambientais e suas
interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto,
considerando:
a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a topografia, os tipos e aptidões
do solo, os corpos d'água, o regime hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando as espécies indicadoras da qualidade
ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente;
c) o meio socioeconômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio economia, destacando os sítios e
monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local,
os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.
II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação, previsão da magnitude
e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos
(benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau
de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais.
III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipamentos de controle e sistemas de
tratamento de despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas.
lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos positivos e negativos, indicando os
fatores e parâmetros a serem considerados.
Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto Ambiental o órgão estadual competente; ou o
IBAMA ou quando couber, o Município fornecerá as instruções adicionais que se fizerem necessárias, pelas
peculiaridades do projeto e características ambientais da área. Referida Resolução disciplina o registro de técnicos
que, eventualmente, venham a compor equipes técnicas com a finalidade de elaborar projetos para a realização de
Estudos de Impactos Ambientais.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 55


Vide algumas jurisprudências sobre o referido tema:

EXIGÊNCIA DE ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA/RIMA). OBRA IMPLEMENTADA


ANTERIORMENTE À SUA REGULAMENTAÇÃO. PROVIDÊNCIA INEXEQUÍVEL. PREJUÍZOS FÍSICOS E
ECONÔMICOS A SEREM APURADOS MEDIANTE PERÍCIA TÉCNICA. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. Atrita com o senso lógico, contudo, pretender a realização de prévio Estudo de Impacto Ambiental
(EIA/RIMA) num empreendimento que está em atividade desde 1971, isto é, há 43 anos. 6. Entretanto, impõe-se a
realização, em cabível substituição, de perícia técnica no intuito de aquilatar os impactos físicos e econômicos
decorrentes das atividades desenvolvidas pela Usina Hidrelétrica de Chavantes, especialmente no Município autor da
demanda (Santana do Itararé/PR). 7. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 1172553/PR, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/05/2014, DJe 04/06/2014)

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO POR UTILIDADE PÚBLICA. AMPLIAÇÃO DE DISTRITO


INDUSTRIAL. ART. 5º, § 2º, DO DECRETO-LEI N. 3.365/1941. ....3. A desapropriação por utilidade pública para
fins de construção ou ampliação de distrito industrial deve ser precedida de prévia aprovação do respectivo projeto,
nos termos do § 2º do art. 5º do Decreto-Lei 3.365/41, o qual deve delimitar a infraestrutura urbanística necessária,
contemplando a realização do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e o respectivo Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA), indispensáveis à criação da unidade industrial. 4. Destarte, não havendo prévio projeto, nulos são
os atos subsequentes ao decreto expropriatório, como no caso vertente. Recurso especial provido. (REsp 1426602/PR,
Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/02/2014, DJe 21/02/2014).

Acima de tudo em casos de empreendimento de larga escala (como estrada e avenida, loteamento, porto, marina ou
resort), ou daqueles que, por qualquer razão, possam colocar em risco processos ecológicos protegidos ou a paisagem
(hipótese de espigões e multiplicidade de barracas), a ocupação e a exploração de áreas de praia e ecossistemas da
Zona Costeira demandam elaboração de Estudo Prévio de Impacto Ambiental. (REsp 1410732/RN, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/10/2013, DJe 13/12/2016).

Ainda que se entenda que é possível à administração pública autorizar a queima da palha da cana de açúcar em
atividades agrícolas industriais, a permissão deve ser específica, precedida de estudo de impacto ambiental e
licenciamento, com a implementação de medidas que viabilizem amenizar os danos e a recuperar o ambiente, Tudo
isso em respeito ao art. 10 da Lei n. 6.938/81. Precedente: (EREsp 418.565/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
Primeira Seção, julgado em 29/09/2010, DJe 13/10/2010).

O art. 36 da Lei nº 9.985/2000 densifica o princípio usuário-pagador, este a significar um mecanismo de assunção
partilhada da responsabilidade social pelos custos ambientais derivados da atividade econômica... Compensação
ambiental que se revela como instrumento adequado à defesa e preservação do meio ambiente para as presentes e
futuras gerações, não havendo outro meio eficaz para atingir essa finalidade constitucional...O valor da compensação-
compartilhamento é de ser fixado proporcionalmente ao impacto ambiental, após estudo em que se assegurem o
contraditório e a ampla defesa6. Ação parcialmente procedente. (ADI 3378, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO,
Tribunal Pleno, julgado em 09/04/2008, DJe-112 DIVULG 19-06-2008 PUBLIC 20-06-2008 EMENT VOL-02324-
02 PP-00242 RTJ VOL-00206-03 PP-00993).

7 BIODIVERSIDADE E POLÍTICA NACIONAL

Um dos assuntos mais tormentosos no momento é o risco e ameaças que sofre a biodiversidade em
nosso planeta causados pelo desenvolvimento econômico insustentável, pela falta de controle de natalidade,
pelo uso indiscriminado de recursos naturais, pela poluição e especialmente pelas mudanças do clima.
Refere Milaré que “um dos pontos nevrálgicos da questão ambiental é a biodiversidade. A ameaça
sobre ela tornou-se um risco global, uma vez que essa ameaça encontra-se espalhada por todas as partes do
globo terrestre”39.
Art. 2. A Política Nacional da Biodiversidade reger-se-á pelos seguintes princípios:
I - a diversidade biológica tem valor intrínseco, merecendo respeito independentemente de seu valor para o homem ou
potencial para uso humano;
II - as nações têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos biológicos, segundo suas políticas de meio
ambiente e desenvolvimento;

39
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 10a. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 722.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 56


III - as nações são responsáveis pela conservação de sua biodiversidade e por assegurar que atividades sob sua
jurisdição ou controle não causem dano ao meio ambiente e à biodiversidade de outras nações ou de áreas além dos
limites da jurisdição nacional;
IV - a conservação e a utilização sustentável da biodiversidade são uma preocupação comum à humanidade, mas com
responsabilidades diferenciadas, cabendo aos países desenvolvidos o aporte de recursos financeiros novos e adicionais
e a facilitação do acesso adequado às tecnologias pertinentes para atender às necessidades dos países em
desenvolvimento;
V - todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se, ao Poder Público e à coletividade, o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as
presentes e as futuras gerações;
VI - os objetivos de manejo de solos, águas e recursos biológicos são uma questão de escolha da sociedade, devendo
envolver todos os setores relevantes da sociedade e todas as disciplinas científicas e considerar todas as formas de
informação relevantes, incluindo os conhecimentos científicos, tradicionais e locais, inovações e costumes;
VII - a manutenção da biodiversidade é essencial para a evolução e para a manutenção dos sistemas necessários à vida
da biosfera e, para tanto, é necessário garantir e promover a capacidade de reprodução sexuada e cruzada dos
organismos;
VIII - onde exista evidência científica consistente de risco sério e irreversível à diversidade biológica, o Poder Público
determinará medidas eficazes em termos de custo para evitar a degradação ambiental;
IX - a internalização dos custos ambientais e a utilização de instrumentos econômicos será promovida tendo em conta
o princípio de que o poluidor deverá, em princípio, suportar o custo da poluição, com o devido respeito pelo interesse
público e sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais;
X - a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente deverá
ser precedida de estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
XI - o homem faz parte da natureza e está presente nos diferentes ecossistemas brasileiros há mais de dez mil anos, e
todos estes ecossistemas foram e estão sendo alterados por ele em maior ou menor escala;
XII - a manutenção da diversidade cultural nacional é importante para pluralidade de valores na sociedade em relação
à biodiversidade, sendo que os povos indígenas, os quilombolas e as outras comunidades locais desempenham um
papel importante na conservação e na utilização sustentável da biodiversidade brasileira;
XIII - as ações relacionadas ao acesso ao conhecimento tradicional associado à biodiversidade deverão transcorrer
com consentimento prévio informado dos povos indígenas, dos quilombolas e das outras comunidades locais;
XIV - o valor de uso da biodiversidade é determinado pelos valores culturais e inclui valor de uso direto e indireto, de
opção de uso futuro e, ainda, valor intrínseco, incluindo os valores ecológico, genético, social, econômico, científico,
educacional, cultural, recreativo e estético;
XV - a conservação e a utilização sustentável da biodiversidade devem contribuir para o desenvolvimento econômico
e social e para a erradicação da pobreza;
XVI - a gestão dos ecossistemas deve buscar o equilíbrio apropriado entre a conservação e a utilização sustentável da
biodiversidade, e os ecossistemas devem ser administrados dentro dos limites de seu funcionamento;
XVII - os ecossistemas devem ser entendidos e manejados em um contexto econômico, objetivando:
a) reduzir distorções de mercado que afetam negativamente a biodiversidade;
b) promover incentivos para a conservação da biodiversidade e sua utilização sustentável;
c) internalizar custos e benefícios em um dado ecossistema o tanto quanto possível;
XVIII - a pesquisa, a conservação ex situ e a agregação de valor sobre componentes da biodiversidade brasileira devem
ser realizadas preferencialmente no país, sendo bem vindas as iniciativas de cooperação internacional, respeitados os
interesses e a coordenação nacional;

A Política Nacional da Biodiversidade reger-se-á pelas seguintes diretrizes:


4. A Política Nacional da Biodiversidade reger-se-á pelas seguintes diretrizes:
I - estabelecer-se-á cooperação com outras nações, diretamente ou, quando necessário, mediante acordos e
organizações internacionais competentes, no que respeita a áreas além da jurisdição nacional, em particular nas áreas
de fronteira, na Antártida, no alto-mar e nos grandes fundos marinhos e em relação a espécies migratórias, e em outros
assuntos de mútuo interesse, para a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica;
II - o esforço nacional de conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica deve ser integrado em
planos, programas e políticas setoriais ou intersetoriais pertinentes de forma complementar e harmônica;
III - investimentos substanciais são necessários para conservar a diversidade biológica, dos quais resultarão,
conseqüentemente, benefícios ambientais, econômicos e sociais;
IV - é vital prever, prevenir e combater na origem as causas da sensível redução ou perda da diversidade biológica;
V - a sustentabilidade da utilização de componentes da biodiversidade deve ser determinada do ponto de vista
econômico, social e ambiental, especialmente quanto à manutenção da biodiversidade;
VI - a gestão dos ecossistemas deve ser descentralizada ao nível apropriado e os gestores de ecossistemas devem
considerar os efeitos atuais e potenciais de suas atividades sobre os ecossistemas vizinhos e outros;
VII - a gestão dos ecossistemas deve ser implementada nas escalas espaciais e temporais apropriadas e os
objetivos para o gerenciamento de ecossistemas devem ser estabelecidos a longo prazo, reconhecendo que mudanças
são inevitáveis.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 57


VIII - a gestão dos ecossistemas deve se concentrar nas estruturas, nos processos e nos relacionamentos funcionais
dentro dos ecossistemas, usar práticas gerenciais adaptativas e assegurar a cooperação intersetorial;
IX - criar-se-ão condições para permitir o acesso aos recursos genéticos e para a utilização ambientalmente
saudável destes por outros países que sejam Partes Contratantes da Convenção sobre Diversidade Biológica, evitando-
se a imposição de restrições contrárias aos objetivos da Convenção.

A Política Nacional da Biodiversidade aplica-se aos componentes da diversidade biológica localizados


nas áreas sob jurisdição nacional, incluindo o território nacional, a plataforma continental e a zona econômica
exclusiva; e aos processos e atividades realizados sob sua jurisdição ou controle, independentemente de onde
ocorram seus efeitos, dentro da área sob jurisdição nacional ou além dos limites desta.
E tem como objetivo geral a promoção, de forma integrada, da conservação da biodiversidade e da
utilização sustentável de seus componentes, com a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da
utilização dos recursos genéticos, de componentes do patrimônio genético e dos conhecimentos tradicionais
associados a esses recursos.

7.1 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO INTERNACIONAL

Os instrumentos de proteção internacional à biodiversidade, restam previstos a seguir dos títulos dos
artigos 6o a 21 do anexo ao Decreto 2.159/98. Estão sistematizados como: medidas gerais para a conservação
e a utilização sustentável; identificação e monitoramento; conservação in situ; conservação ex situ; utilização
sustentável de componentes da diversidade biológica; incentivos; pesquisa e treinamento; educação e
conscientização pública; avaliação de impacto e minimização de impactos negativos; acesso a recursos
genéticos; acesso à tecnologia e transferência de tecnologia; intercâmbio de informações; cooperação técnica
e científica; gestão da biotecnologia e distribuição de seus benefícios ; e, recursos financeiros e mecanismos
financeiros.
Trata-se, originariamente, de Ação Civil Pública ambiental movida pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso
do Sul contra proprietários de 54 casas de veraneio ("ranchos"), bar e restaurante construídos em Área de Preservação
Permanente - APP, um conjunto de aproximadamente 60 lotes e com extensão de quase um quilômetro e meio de
ocupação da margem esquerda do Rio Ivinhema, curso de água com mais de 200 metros de largura. Pediu-se a
desocupação da APP, a demolição das construções, o reflorestamento da região afetada e o pagamento de indenização,
além da emissão de ordem cominatória de proibição de novas intervenções. A sentença de procedência parcial foi
reformada pelo Tribunal de Justiça, com decretação de improcedência do pedido. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE CILIAR 2. Primigênio e mais categórico instrumento de expressão e densificação da "efetividade"
do "direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado", a Área de Preservação Permanente ciliar (= APP ripária,
ripícola ou ribeirinha), pelo seu prestígio ético e indubitável mérito ecológico, corporifica verdadeira trincheira inicial
e última – a bandeira mais reluzente, por assim dizer - do comando maior de "preservar e restaurar as funções
ecológicas essenciais", prescrito no art. 225, caput e § 1º, I, da Constituição Federal. Aferrada às margens de rios,
córregos, riachos, nascentes, charcos, lagos, lagoas e estuários, intenta a APP ciliar assegurar, a um só tempo, a
integridade físico-química da água, a estabilização do leito hídrico e do solo da bacia, a mitigação dos efeitos nocivos
das enchentes, a barragem e filtragem de detritos, sedimentos e poluentes, a absorção de nutrientes pelo sistema
radicular, o esplendor da paisagem e a própria sobrevivência da flora ribeirinha e fauna. Essas funções multifacetárias
e insubstituíveis elevam-na ao status de peça fundamental na formação de corredores ecológicos, elos de conexão da
biodiversidade, genuínas veias bióticas do meio ambiente. Objetivamente falando, a vegetação ripária exerce tarefas
de proteção assemelhadas às da pele em relação ao corpo humano: faltando uma ou outra, a vida até pode continuar
por algum tempo, mas, no cerne, muito além de trivial mutilação do sentimento de plenitude e do belo do organismo,
o que sobra não passa de um ser majestoso em estado de agonia terminal. REsp 1245149/MS, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/10/2012, DJe 13/06/2013)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 58


7.2 DO ACESSO

A Lei 13.123/2015 regulamentou o inciso II do § 1º e o § 4º do art. 225 da Constituição Federal, o


Artigo 1º, a alínea j do Artigo 8º, a alínea c do Artigo 10, o Artigo 15 e os §§ 3º e 4º do Artigo 16 da Convenção
sobre Diversidade Biológica, promulgada pelo Decreto 2.519, de 16 de março de 1998.
Dispôs, outrossim, sobre o acesso ao patrimônio genético e a proteção e o acesso ao conhecimento
tradicional associado; sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade.
De outro lado, revogou a Medida Provisória 2.186, de 23 de agosto de 2001.
A lei dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético do País, bem de uso comum do povo encontrado
em condições in situ, inclusive as espécies domesticadas e populações espontâneas, ou mantido em condições
ex situ, desde que encontrado em condições in situ no território nacional, na plataforma continental, no mar
territorial e na zona econômica exclusiva.
O acesso ao patrimônio genético será efetuado sem prejuízo dos direitos de propriedade material ou
imaterial que incidam sobre o patrimônio genético acessado ou sobre o local de sua ocorrência. Entende-se
como patrimônio genético - informação de origem genética de espécies vegetais, animais, microbianas ou
espécies de outra natureza, incluindo substâncias oriundas do metabolismo destes seres vivos.
De acordo com o art. 3º, da Lei 13.123/201540, o acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento
tradicional associado existente no País para fins de pesquisa ou desenvolvimento tecnológico e a exploração
econômica de produto acabado ou material reprodutivo oriundo desse acesso somente serão realizados
mediante cadastro, autorização ou notificação, e serão submetidos a fiscalização, restrições e repartição de
benefícios nos termos e nas condições estabelecidos nesta Lei e no seu regulamento.
A Lei criou no art. 6º41, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, o Conselho de Gestão do
Patrimônio Genético - CGen, órgão colegiado de caráter deliberativo, normativo, consultivo e recursal,

40
LEI Nº 13.123, DE 20 DE MAIO DE 2015. Art. 3o O acesso ao patrimônio genético existente no País ou ao conhecimento
tradicional associado para fins de pesquisa ou desenvolvimento tecnológico e a exploração econômica de produto acabado ou
material reprodutivo oriundo desse acesso somente serão realizados mediante cadastro, autorização ou notificação, e serão
submetidos a fiscalização, restrições e repartição de benefícios nos termos e nas condições estabelecidos nesta Lei e no seu
regulamento. Parágrafo único. São de competência da União a gestão, o controle e a fiscalização das atividades descritas no caput,
nos termos do disposto no inciso XXIII do caput do art. 7o da Lei Complementar no 140, de 8 de dezembro de 2011.
41
Art. 6o Fica criado no âmbito do Ministério do Meio Ambiente o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético - CGen, órgão
colegiado de caráter deliberativo, normativo, consultivo e recursal, responsável por coordenar a elaboração e a implementação de
políticas para a gestão do acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado e da repartição de benefícios,
formado por representação de órgãos e entidades da administração pública federal que detêm competência sobre as diversas ações
de que trata esta Lei com participação máxima de 60% (sessenta por cento) e a representação da sociedade civil em no mínimo 40%
(quarenta por cento) dos membros, assegurada a paridade entre:
I - setor empresarial;
II - setor acadêmico; e
III - populações indígenas, comunidades tradicionais e agricultores tradicionais.
§ 1o Compete também ao CGen:
I - estabelecer:
a) normas técnicas;
b) diretrizes e critérios para elaboração e cumprimento do acordo de repartição de benefícios;
c) critérios para a criação de banco de dados para o registro de informação sobre patrimônio genético e conhecimento tradicional
associado;
II - acompanhar, em articulação com órgãos federais, ou mediante convênio com outras instituições, as atividades de:

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 59


responsável por coordenar a elaboração e a implementação de políticas para a gestão do acesso ao patrimônio
genético e ao conhecimento tradicional associado e da repartição de benefícios, formado por representação de
órgãos e entidades da administração pública federal que detêm competência sobre as diversas ações de que
trata a Lei com participação máxima de 60% (sessenta por cento) e a representação da sociedade civil em no
mínimo 40% (quarenta por cento) dos membros, assegurada a paridade entre o setor empresarial; setor
acadêmico; e populações indígenas, comunidades tradicionais e agricultores tradicionais.

7.3 PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO

A Lei 13.123/2015, no seu artigo art. 8º42, é expressa ao tutelar os conhecimentos tradicionais
associados ao patrimônio genético de populações indígenas, de comunidade tradicional ou de agricultor
tradicional contra a utilização e exploração ilícita.

a) acesso e remessa de amostra que contenha o patrimônio genético; e


b) acesso a conhecimento tradicional associado;
III - deliberar sobre:
a) as autorizações de que trata o inciso II do § 3 o do art. 13;
b) o credenciamento de instituição nacional que mantém coleção ex situ de amostras que contenham o patrimônio genético; e
c) o credenciamento de instituição nacional para ser responsável pela criação e manutenção da base de dados de que trata o inciso
IX;
IV - atestar a regularidade do acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado de que trata o Capítulo IV
desta Lei;
V - registrar o recebimento da notificação do produto acabado ou material reprodutivo e a apresentação do acordo de repartição de
benefícios, nos termos do art. 16;
VI - promover debates e consultas públicas sobre os temas de que trata esta Lei;
VII - funcionar como instância superior de recurso em relação à decisão de instituição credenciada e aos atos decorrentes da aplicação
desta Lei, na forma do regulamento;
VIII - estabelecer diretrizes para aplicação dos recursos destinados ao Fundo Nacional para a Repartição de Benefícios - FNRB,
previsto no art. 30, a título de repartição de benefícios;
IX - criar e manter base de dados relativos:
a) aos cadastros de acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado e de remessa;
b) às autorizações de acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado e de remessa;
c) aos instrumentos e termos de transferência de material;
d) às coleções ex situ das instituições credenciadas que contenham amostras de patrimônio genético;
e) às notificações de produto acabado ou material reprodutivo;
f) aos acordos de repartição de benefícios;
g) aos atestados de regularidade de acesso;
X - cientificar órgãos federais de proteção dos direitos de populações indígenas e comunidades tradicionais sobre o registro em
cadastro de acesso a conhecimentos tradicionais associados;
XI - (VETADO); e
XII - aprovar seu regimento interno.
§ 2o Regulamento disporá sobre a composição e o funcionamento do CGen.
42
Art. 8o Ficam protegidos por esta Lei os conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio genético de populações indígenas,
de comunidade tradicional ou de agricultor tradicional contra a utilização e exploração ilícita.
§ 1o O Estado reconhece o direito de populações indígenas, de comunidades tradicionais e de agricultores tradicionais de participar
da tomada de decisões, no âmbito nacional, sobre assuntos relacionados à conservação e ao uso sustentável de seus conhecimentos
tradicionais associados ao patrimônio genético do País, nos termos desta Lei e do seu regulamento.
§ 2o O conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético de que trata esta Lei integra o patrimônio cultural brasileiro e
poderá ser depositado em banco de dados, conforme dispuser o CGen ou legislação específica.
§ 3o São formas de reconhecimento dos conhecimentos tradicionais associados, entre outras:
I - publicações científicas;
II - registros em cadastros ou bancos de dados; ou
III - inventários culturais.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 60


O Estado reconhece o direito de populações indígenas, de comunidades tradicionais e de agricultores
tradicionais de participar da tomada de decisões, no âmbito nacional, sobre assuntos relacionados à
conservação e ao uso sustentável de seus conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio genético do
País, nos termos da Lei e do seu regulamento.
O conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético de que trata a lei integra o patrimônio
cultural brasileiro e poderá ser depositado em banco de dados, conforme dispuser o CGen ou legislação
específica. São formas de reconhecimento dos conhecimentos tradicionais associados, entre outras:
publicações científicas; registros em cadastros ou bancos de dados; ou inventários culturais.
O intercâmbio e a difusão de patrimônio genético e de conhecimento tradicional associado praticados
entre si por populações indígenas, comunidade tradicional ou agricultor tradicional para seu próprio benefício
e baseados em seus usos, costumes e tradições são isentos das obrigações prevista na Lei.
O acesso ao conhecimento tradicional associado de origem identificável, como previsto no art. 9º43,
está condicionado à obtenção do consentimento prévio informado. A comprovação do consentimento prévio
informado poderá ocorrer, a critério da população indígena, da comunidade tradicional ou do agricultor
tradicional, pela assinatura de termo de consentimento prévio; pelo registro audiovisual do consentimento; pelo
parecer do órgão oficial competente; ou pela adesão na forma prevista em protocolo comunitário.
O acesso a conhecimento tradicional associado de origem não identificável independe de
consentimento prévio informado. O acesso ao patrimônio genético de variedade tradicional local ou crioula ou
à raça localmente adaptada ou crioula para atividades agrícolas compreende o acesso ao conhecimento
tradicional associado não identificável que deu origem à variedade ou à raça e não depende do consentimento
prévio da população indígena, da comunidade tradicional ou do agricultor tradicional que cria, desenvolve,
detém ou conserva a variedade ou a raça.
Consoante o art. 10 do referido diploma legal, às populações indígenas, às comunidades tradicionais e
aos agricultores tradicionais que criam, desenvolvem, detêm ou conservam conhecimento tradicional associado
são garantidos os direitos de: ter reconhecida sua contribuição para o desenvolvimento e conservação de
patrimônio genético, em qualquer forma de publicação, utilização, exploração e divulgação... ter indicada a

§ 4o O intercâmbio e a difusão de patrimônio genético e de conhecimento tradicional associado praticados entre si por populações
indígenas, comunidade tradicional ou agricultor tradicional para seu próprio benefício e baseados em seus usos, costumes e tradições
são isentos das obrigações desta Lei.
43
Art. 9o O acesso ao conhecimento tradicional associado de origem identificável está condicionado à obtenção do consentimento
prévio informado.
§ 1o A comprovação do consentimento prévio informado poderá ocorrer, a critério da população indígena, da comunidade tradicional
ou do agricultor tradicional, pelos seguintes instrumentos, na forma do regulamento:
I - assinatura de termo de consentimento prévio;
II - registro audiovisual do consentimento;
III - parecer do órgão oficial competente; ou
IV - adesão na forma prevista em protocolo comunitário.
§ 2o O acesso a conhecimento tradicional associado de origem não identificável independe de consentimento prévio informado.
§ 3o O acesso ao patrimônio genético de variedade tradicional local ou crioula ou à raça localmente adaptada ou crioula para
atividades agrícolas compreende o acesso ao conhecimento tradicional associado não identificável que deu origem à variedade ou à
raça e não depende do consentimento prévio da população indígena, da comunidade tradicional ou do agricultor tradicional que cria,
desenvolve, detém ou conserva a variedade ou a raça.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 61


origem do acesso ao conhecimento tradicional associado em todas as publicações, utilizações, explorações e
divulgações; perceber benefícios pela exploração econômica por terceiros, direta ou indiretamente, de
conhecimento tradicional associado, nos termos desta Lei; participar do processo de tomada de decisão sobre
assuntos relacionados ao acesso a conhecimento tradicional associado e à repartição de benefícios decorrente
desse acesso, na forma do regulamento; ... usar ou vender livremente produtos que contenham patrimônio
genético ou conhecimento tradicional associado, observados os dispositivos das leis nos 9.456, de 25 de abril
de 1997, e 10.711, de 5 de agosto de 2003; e conservar, manejar, guardar, produzir, trocar, desenvolver,
melhorar material reprodutivo que contenha patrimônio genético ou conhecimento tradicional associado.
Para os fins da lei em comento, qualquer conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético
será considerado de natureza coletiva, ainda que apenas um indivíduo de população indígena ou de comunidade
tradicional o detenha. O patrimônio genético mantido em coleções ex situ em instituições nacionais geridas
com recursos públicos e as informações a ele associadas poderão ser acessados pelas populações indígenas,
pelas comunidades tradicionais e pelos agricultores tradicionais, na forma do regulamento.

8 PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS

O novo Código Florestal brasileiro, instituído pela Lei 12.651/2012, estabelece normas gerais sobre a
proteção da vegetação, áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o
suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção
dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos.
A lei tem como objetivo o desenvolvimento sustentável e tem como princípios: a afirmação do
compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas florestas e demais formas de vegetação nativa,
bem como da biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático, para o bem
estar das gerações presentes e futuras; a reafirmação da importância da função estratégica da atividade
agropecuária e do papel das florestas e demais formas de vegetação nativa na sustentabilidade, no crescimento
econômico, na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e na presença do País nos mercados
nacional e internacional de alimentos e bioenergia; ação governamental de proteção e uso sustentável de
florestas, consagrando o compromisso do País com a compatibilização e harmonização entre o uso produtivo
da terra e a preservação da água, do solo e da vegetação; responsabilidade comum da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e
restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais; fomento à
pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para o uso sustentável do solo e da água, a recuperação
e a preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa; criação e mobilização de incentivos
econômicos para fomentar a preservação e a recuperação da vegetação nativa e para promover o
desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis (art. 1º e incisos I, II, III, IV, VI e VI)44.

44
Art. 1o-A. Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva
Legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 62


As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de
utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os
direitos de propriedade com as limitações que a legislação em geral e, especialmente, o próprio novo Código
Florestal estabelece.
Vide Art. 2º da Lei 12.651/2012:
Art. 2o As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade
às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de
propriedade com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem.
§ 1o Na utilização e exploração da vegetação, as ações ou omissões contrárias às disposições desta Lei são consideradas
uso irregular da propriedade, aplicando-se o procedimento sumário previsto no inciso II do art. 275 da Lei no 5.869,
de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, sem prejuízo da responsabilidade civil, nos termos do § 1o do art.
14 da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, e das sanções administrativas, civis e penais.
§ 2o As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso
de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.

Muito embora a importância desse panorama geral trazido pelo caput do art. 2º, o que realmente é
relevante no dispositivo, notadamente em termos práticos, são os seus §§1 º e 2º. No primeiro deles, há o
reconhecimento da tríplice responsabilidade pelo dano ambiental florestal, consagrada no art. 225 §4 º, da
CF/8845, ao declarar que na utilização e exploração da vegetação , as ações ou omissões contrárias as
disposições desta Lei são considerados uso irregular da propriedade...sem prejuízo da responsabilidade civil,
nos termos do §1 º do art. 14 da Lei 6.938/81, e das sanções administrativas, civis e penais. Contudo, a maior
inovação trazida pelo dispositivo diz justamente respeito ao conteúdo do seu §2 º, que dispõe que as obrigações
prevista nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de
transferência de domínio ou posse do imóvel rural46.

prevenção dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus
objetivos. (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei atenderá aos seguintes princípios: (Incluído pela
Lei nº 12.727, de 2012).
I - afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas florestas e demais formas de vegetação nativa, bem
como da biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático, para o bem estar das gerações presentes
e futuras; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
II - reafirmação da importância da função estratégica da atividade agropecuária e do papel das florestas e demais formas de vegetação
nativa na sustentabilidade, no crescimento econômico, na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e na presença do
País nos mercados nacional e internacional de alimentos e bioenergia; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
III - ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas, consagrando o compromisso do País com a compatibilização e
harmonização entre o uso produtivo da terra e a preservação da água, do solo e da vegetação; Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
IV - responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação
de políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e
rurais; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
V - fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para o uso sustentável do solo e da água, a recuperação e a
preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
VI - criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação e a recuperação da vegetação nativa e para
promover o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis. (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
45
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são
patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. (Regulamento) (Regulamento)
46
SARLET, Ingo; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito Ambiental: Introdução, Fundamentos e Teoria Geral. São Paulo: Editora
Saraiva, 2014. P. 300-301.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 63


É relevante enfatizar, nos termos do Art. 29 do novo Código Florestal 47, a criação do CAR- Cadastro
Ambiental Rural, no âmbito do SINIMA- Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente. O cadastro
é obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das
propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental
e econômico, e combate ao desmatamento.
A inscrição do imóvel rural no CAR deverá ser feita, preferencialmente, no órgão ambiental municipal
ou estadual que, nos termos do regulamento, exigirá: identificação do proprietário ou possuidor rural;
comprovação da propriedade ou posse; identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo,
contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um ponto de amarração do perímetro do
imóvel, informando a localização dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação
Permanente, das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e, caso existente, também da localização da
Reserva Legal.
O cadastramento não será considerado título para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou
posse, tampouco elimina a necessidade de cumprimento do disposto no art. 2º da Lei 10.267, de 28 de agosto
de 200148.

47
Art. 29. É criado o Cadastro Ambiental Rural - CAR, no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente -
SINIMA, registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as
informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento
ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
§ 1o A inscrição do imóvel rural no CAR deverá ser feita, preferencialmente, no órgão ambiental municipal ou estadual, que, nos
termos do regulamento, exigirá do proprietário ou possuidor rural: (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).
I - identificação do proprietário ou possuidor rural;
II - comprovação da propriedade ou posse;
III - identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo
menos um ponto de amarração do perímetro do imóvel, informando a localização dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas
de Preservação Permanente, das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e, caso existente, também da localização da Reserva
Legal.
§ 2o O cadastramento não será considerado título para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse, tampouco elimina
a necessidade de cumprimento do disposto no art. 2o da Lei no 10.267, de 28 de agosto de 2001.
§ 3o A inscrição no CAR será obrigatória para todas as propriedades e posses rurais, devendo ser requerida até 31 de dezembro de
2017, prorrogável por mais 1 (um) ano por ato do Chefe do Poder Executivo. (Redação dada pela Lei nº 13.295, de 2016).
48
Art. 2o Os arts. 1o, 2o e 8o da Lei no 5.868, de 12 de dezembro de 1972, passam a vigorar com as seguintes alterações:
"Art. 1o ................................................
§ 1o As revisões gerais de cadastros de imóveis a que se refere o § 4o do art. 46 da Lei no 4.504, de 30 de novembro de 1964, serão
realizadas em todo o País nos prazos fixados em ato do Poder Executivo, para fins de recadastramento e de aprimoramento do Sistema
de Tributação da Terra – STT e do Sistema Nacional de Cadastro Rural – SNCR.
§ 2o Fica criado o Cadastro Nacional de Imóveis Rurais - CNIR, que terá base comum de informações, gerenciada conjuntamente
pelo INCRA e pela Secretaria da Receita Federal, produzida e compartilhada pelas diversas instituições públicas federais e estaduais
produtoras e usuárias de informações sobre o meio rural brasileiro.
§ 3o A base comum do CNIR adotará código único, a ser estabelecido em ato conjunto do INCRA e da Secretaria da Receita Federal,
para os imóveis rurais cadastrados de forma a permitir sua identificação e o compartilhamento das informações entre as instituições
participantes.
§ 4o Integrarão o CNIR as bases próprias de informações produzidas e gerenciadas pelas instituições participantes, constituídas por
dados específicos de seus interesses, que poderão por elas ser compartilhados, respeitadas as normas regulamentadoras de cada
entidade."(NR)
"Art. 2o ..............................................
.........................................................
§ 3o Ficam também obrigados todos os proprietários, os titulares de domínio útil ou os possuidores a qualquer título a atualizar a
declaração de cadastro sempre que houver alteração nos imóveis rurais, em relação à área ou à titularidade, bem como nos casos de
preservação, conservação e proteção de recursos naturais."
"Art. 8o .............................................
........................................................

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 64


A inscrição no CAR será obrigatória para todas as propriedades e posses rurais, devendo ser requerida
até 31 de dezembro de 2017, prorrogável por mais 1 (um) ano por ato do Chefe do Poder Executivo. Outrossim,
o egrégio STJ recentemente decidiu que “para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem
matrícula seja registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no
Cadastro Ambiental Rural”. [STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 28/4/2015 (Info 561].
Importante grifar, segundo Sarlet e Fensterseifer, que o novo Código Florestal destaca no seu
art. 3149 que: ...a exploração de florestas nativas e formações sucessoras, de domínio público ou privado,
ressalvados os casos previstos nos arts. 21, 23 e 24, dependerá de licenciamento pelo órgão competente do
Sisnama, mediante aprovação prévia de Plano de Manejo Florestal Sustentável – PMFS que contemple técnicas
de condução, exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os variados ecossistemas que a
cobertura arbórea forme.
Da mesma forma, o art. 3550 da legislação florestal estabelece mecanismos voltados ao controle da
origem dos produtos florestais. De acordo com o enunciado do seu caput, o controle da origem da madeira, do

§ 3o São considerados nulos e de nenhum efeito quaisquer atos que infrinjam o disposto neste artigo não podendo os serviços notariais
lavrar escrituras dessas áreas, nem ser tais atos registrados nos Registros de Imóveis, sob pena de responsabilidade administrativa,
civil e criminal de seus titulares ou prepostos.
.................................................."(NR)
49
Art. 31. A exploração de florestas nativas e formações sucessoras, de domínio público ou privado, ressalvados os casos previstos
nos arts. 21, 23 e 24, dependerá de licenciamento pelo órgão competente do Sisnama, mediante aprovação prévia de Plano de Manejo
Florestal Sustentável - PMFS que contemple técnicas de condução, exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os
variados ecossistemas que a cobertura arbórea forme.
§ 1o O PMFS atenderá os seguintes fundamentos técnicos e científicos:
I - caracterização dos meios físico e biológico;
II - determinação do estoque existente;
III - intensidade de exploração compatível com a capacidade de suporte ambiental da floresta;
IV - ciclo de corte compatível com o tempo de restabelecimento do volume de produto extraído da floresta;
V - promoção da regeneração natural da floresta;
VI - adoção de sistema silvicultural adequado;
VII - adoção de sistema de exploração adequado;
VIII - monitoramento do desenvolvimento da floresta remanescente;
IX - adoção de medidas mitigadoras dos impactos ambientais e sociais.
§ 2o A aprovação do PMFS pelo órgão competente do Sisnama confere ao seu detentor a licença ambiental para a prática do manejo
florestal sustentável, não se aplicando outras etapas de licenciamento ambiental.
§ 3o O detentor do PMFS encaminhará relatório anual ao órgão ambiental competente com as informações sobre toda a área de
manejo florestal sustentável e a descrição das atividades realizadas.
§ 4o O PMFS será submetido a vistorias técnicas para fiscalizar as operações e atividades desenvolvidas na área de manejo.
§ 5o Respeitado o disposto neste artigo, serão estabelecidas em ato do Chefe do Poder Executivo disposições diferenciadas sobre os
PMFS em escala empresarial, de pequena escala e comunitário.
§ 6o Para fins de manejo florestal na pequena propriedade ou posse rural familiar, os órgãos do Sisnama deverão estabelecer
procedimentos simplificados de elaboração, análise e aprovação dos referidos PMFS.
§ 7o Compete ao órgão federal de meio ambiente a aprovação de PMFS incidentes em florestas públicas de domínio da União.
50
Art. 35. O controle da origem da madeira, do carvão e de outros produtos ou subprodutos florestais incluirá sistema nacional que
integre os dados dos diferentes entes federativos, coordenado, fiscalizado e regulamentado pelo órgão federal competente do
Sisnama. (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).
§ 1o O plantio ou reflorestamento com espécies florestais nativas ou exóticas independem de autorização prévia, desde que
observadas as limitações e condições previstas nesta Lei, devendo ser informados ao órgão competente, no prazo de até 1 (um) ano,
para fins de controle de origem.
§ 2o É livre a extração de lenha e demais produtos de florestas plantadas nas áreas não consideradas Áreas de Preservação Permanente
e Reserva Legal.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 65


carvão e de outros produtos ou subprodutos florestais incluirá sistema nacional que integre os dados dos
diferentes entes federativos, coordenado, fiscalizado e regulamentado pelo órgão federal competente do
Sisnama51.
O novo Código Florestal, portanto, exige aprovação prévia de Plano de Manejo Florestal Sustentável
– PMFS que contemple técnicas de condução, exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os
variados ecossistemas para o licenciamento a ser concedido pelo órgão competente o Sisnama e aumenta,
também, a regulação para o controle da origem dos produtos florestais com a finalidade de proteger em maior
espectro a fauna e a flora.

8.1 GESTÃO DAS FLORESTAS PÚBLICAS

Não se pode deslembrar que os princípios de gestão das florestas públicas são aqueles previstos no art.
2º da Lei 11.284/200652. São eles: a proteção dos ecossistemas, do solo, da água, da biodiversidade e valores
culturais associados, bem como do patrimônio público; o estabelecimento de atividades que promovam o uso
eficiente e racional das florestas e que contribuam para o cumprimento das metas do desenvolvimento
sustentável local, regional e de todo o País; o respeito ao direito da população, em especial das comunidades
locais, de acesso às florestas públicas e aos benefícios decorrentes de seu uso e conservação; a promoção do
processamento local e o incentivo ao incremento da agregação de valor aos produtos e serviços da floresta,

§ 3o O corte ou a exploração de espécies nativas plantadas em área de uso alternativo do solo serão permitidos independentemente
de autorização prévia, devendo o plantio ou reflorestamento estar previamente cadastrado no órgão ambiental competente e a
exploração ser previamente declarada nele para fins de controle de origem.
§ 4o Os dados do sistema referido no caput serão disponibilizados para acesso público por meio da rede mundial de computadores,
cabendo ao órgão federal coordenador do sistema fornecer os programas de informática a serem utilizados e definir o prazo para
integração dos dados e as informações que deverão ser aportadas ao sistema nacional.
§ 5o O órgão federal coordenador do sistema nacional poderá bloquear a emissão de Documento de Origem Florestal - DOF dos
entes federativos não integrados ao sistema e fiscalizar os dados e relatórios respectivos. (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
51
SARLET, Ingo. FENSTERSEIFER, Tiago. Direito Ambiental: Introdução, Fundamentos e Teoria Geral. São Paulo: Editora
Saraiva, 2014. P. 300-301.
52
Art. 2o Constituem princípios da gestão de florestas públicas:
I - a proteção dos ecossistemas, do solo, da água, da biodiversidade e valores culturais associados, bem como do patrimônio público;
II - o estabelecimento de atividades que promovam o uso eficiente e racional das florestas e que contribuam para o cumprimento das
metas do desenvolvimento sustentável local, regional e de todo o País;
III - o respeito ao direito da população, em especial das comunidades locais, de acesso às florestas públicas e aos benefícios
decorrentes de seu uso e conservação;
IV - a promoção do processamento local e o incentivo ao incremento da agregação de valor aos produtos e serviços da floresta, bem
como à diversificação industrial, ao desenvolvimento tecnológico, à utilização e à capacitação de empreendedores locais e da mão-
de-obra regional;
V - o acesso livre de qualquer indivíduo às informações referentes à gestão de florestas públicas, nos termos da Lei no 10.650, de 16
de abril de 2003;
VI - a promoção e difusão da pesquisa florestal, faunística e edáfica, relacionada à conservação, à recuperação e ao uso sustentável
das florestas;
VII - o fomento ao conhecimento e a promoção da conscientização da população sobre a importância da conservação, da recuperação
e do manejo sustentável dos recursos florestais;
VIII - a garantia de condições estáveis e seguras que estimulem investimentos de longo prazo no manejo, na conservação e na
recuperação das florestas.
§ 1o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão as adaptações necessárias de sua legislação às prescrições desta Lei,
buscando atender às peculiaridades das diversas modalidades de gestão de florestas públicas.
§ 2o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, na esfera de sua competência e em relação às florestas públicas sob sua jurisdição,
poderão elaborar normas supletivas e complementares e estabelecer padrões relacionados à gestão florestal.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 66


bem como à diversificação industrial, ao desenvolvimento tecnológico, à utilização e à capacitação de
empreendedores locais e da mão-de-obra regional; o acesso livre de qualquer indivíduo às informações
referentes à gestão de florestas públicas, nos termos da Lei no 10.650, de 16 de abril de 2003; a promoção e
difusão da pesquisa florestal, faunística e edáfica, relacionada à conservação, à recuperação e ao uso sustentável
das florestas; o fomento ao conhecimento e a promoção da conscientização da população sobre a importância
da conservação, da recuperação e do manejo sustentável dos recursos florestais; a garantia de condições
estáveis e seguras que estimulem investimentos de longo prazo no manejo, na conservação e na recuperação
das florestas.
A gestão de florestas públicas para produção sustentável compreende, de acordo com o Art. 4º da Lei
11.284/200653, a criação de florestas nacionais, estaduais e municipais, nos termos do art. 17 da Lei 9.985, de
18 de julho de 200054, e sua gestão direta; a destinação de florestas públicas às comunidades locais; e a
concessão florestal, incluindo florestas naturais ou plantadas e as unidades de manejo das áreas protegidas.
Prevê a Lei no seu art. 5º55, que o Poder Público poderá exercer diretamente a gestão de florestas
nacionais, estaduais e municipais criadas nos termos do art. 17 da Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, sendo-

53
Art. 4o A gestão de florestas públicas para produção sustentável compreende:
I - a criação de florestas nacionais, estaduais e municipais, nos termos do art. 17 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, e sua gestão
direta;
II - a destinação de florestas públicas às comunidades locais, nos termos do art. 6 o desta Lei;
III - a concessão florestal, incluindo florestas naturais ou plantadas e as unidades de manejo das áreas protegidas referidas no inciso
I do caput deste artigo
54
Art. 17. A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo
básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável
de florestas nativas. (Regulamento)
§ 1o A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser
desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei.
§ 2o Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de populações tradicionais que a habitam quando de sua criação, em
conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.
§ 3o A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua
administração.
§ 4o A pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade,
às condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento.
§ 5o A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído
por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes.
§ 6o A unidade desta categoria, quando criada pelo Estado ou Município, será denominada, respectivamente, Floresta Estadual e
Floresta Municipal.
55
Art. 5o O SNUC será regido por diretrizes que:
I - assegurem que no conjunto das unidades de conservação estejam representadas amostras significativas e ecologicamente viáveis
das diferentes populações, habitats e ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, salvaguardando o patrimônio
biológico existente;
II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da política
nacional de unidades de conservação;
III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação;
IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de organizações privadas e pessoas físicas para o
desenvolvimento de estudos, pesquisas científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico,
monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação;
V - incentivem as populações locais e as organizações privadas a estabelecerem e administrarem unidades de conservação dentro do
sistema nacional;
VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de conservação;
VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação in situ de populações das variantes genéticas selvagens dos
animais e plantas domesticados e recursos genéticos silvestres;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 67


lhe facultado, para execução de atividades subsidiárias, firmar convênios, termos de parceria, contratos ou
instrumentos similares com terceiros, observados os procedimentos licitatórios e demais exigências legais
pertinentes.
Contudo, a duração dos contratos e instrumentos similares referidos ficará limitada a 120 (cento e vinte)
meses. Nas licitações para as contratações mencionadas na lei para a gestão direta de recursos, além do preço,
poderá ser considerado o critério da melhor técnica.
Antes da realização das concessões florestais, as florestas públicas ocupadas ou utilizadas por
comunidades locais serão identificadas para a destinação, pelos órgãos competentes, por meio de criação de
reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável, observados os requisitos previstos da Lei
9.985, de 18 de julho de 2000; concessão de uso, por meio de projetos de assentamento florestal, de
desenvolvimento sustentável, agroextrativistas ou outros similares, nos termos do art. 189 da Constituição
Federal e das diretrizes do Programa Nacional de Reforma Agrária; além de outras formas previstas em Lei.
Referida destinação será feita de forma não onerosa para o beneficiário e efetuada em ato administrativo
próprio, conforme previsto em legislação específica. As comunidades locais poderão participar das licitações
previstas no Capítulo IV da Lei, por meio de associações comunitárias, cooperativas ou outras pessoas jurídicas
legalmente autorizadas.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que a obrigação de demarcar, averbar e
restaurar a área de reserva legal constitui dever jurídico que se transfere automaticamente ao adquirente ou
possuidor do imóvel, consubstanciando-se obrigação propter rem e ex lege. Trata-se de dever que independe
da existência de floresta ou outras formas de vegetação nativa na gleba, cumprindo ao proprietário ou
adquirente do bem imóvel a adoção das providências necessárias à restauração ou à recuperação delas, a fim
de readequar-se aos limites percentuais previstos em lei.
O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais
adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias compensações ambientais
o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção, a ponto de transgredir o
limite constitucional intocável e intransponível da "incumbência" do Estado de garantir a preservação e a
restauração dos processos ecológicos essenciais (art. 225, § 1º, I). (AgInt no AgInt no AREsp 850.994/SP, Rel.

VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de conservação sejam feitos de forma integrada com as políticas
de administração das terras e águas circundantes, considerando as condições e necessidades sociais e econômicas locais;
IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso
sustentável dos recursos naturais;
X - garantam às populações tradicionais cuja subsistência dependa da utilização de recursos naturais existentes no interior das
unidades de conservação meios de subsistência alternativos ou a justa indenização pelos recursos perdidos;
XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários para que, uma vez criadas, as unidades de conservação
possam ser geridas de forma eficaz e atender aos seus objetivos;
XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e respeitadas as conveniências da administração, autonomia
administrativa e financeira; e
XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades de conservação de diferentes categorias,
próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas de amortecimento e corredores ecológicos, integrando as diferentes atividades de
preservação da natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 68


Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/12/2016, DJe
19/12/2016).
Inaplicável o disposto no art. 68 do Novo Código Florestal. A um, porque a dispensa da recomposição
florestal, consoante esse normativo, estaria limitada aos casos em que a supressão da vegetação nativa tenha
observado os percentuais de reserva legal previstos na legislação vigente à época dos fatos, o que não ocorre
no caso, pois a determinação constante do acórdão refere-se à implantação da reserva legal, mediante projeto
a ser aprovado pelas autoridades competentes (AgInt no AREsp 910.486/SP, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/02/2017, DJe 18/04/2017).
O acórdão recorrido está em sintonia com o entendimento do STJ, no sentido de que a Lei 12.651/12,
que revogou a Lei 4.771/65, manteve a ilicitude dos atos que lhe foram contrários, sujeitando os agentes aos
competentes procedimentos administrativos, com vistas à recomposição do dano ou à indenização (art. 59 do
novo Código Florestal). Incidência da Súmula 83/STJ. 6. Recurso Especial parcialmente conhecido, e nessa
parte, não provido (REsp 1549326/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 10/03/2016, DJe 31/05/2016).

8.2 PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E ÁREAS


PROTEGIDAS

O Poder Público poderá, com base em condicionantes socioambientais definidas em regulamento,


regularizar posses de comunidades locais sobre as áreas por elas tradicionalmente ocupadas ou utilizadas, que
sejam imprescindíveis à conservação dos recursos ambientais essenciais para sua reprodução física e cultural,
por meio de concessão de direito real de uso ou outra forma admitida em lei, dispensada licitação. Previsto
no art. 6º da Lei 11.284/200656.
A concessão florestal será autorizada em ato do poder concedente e formalizada mediante contrato, que
deverá observar os termos da Lei 11.284/2006, das normas pertinentes e do edital de licitação. Os relatórios
ambientais preliminares, licenças ambientais, relatórios de impacto ambiental, contratos, relatórios de
fiscalização e de auditorias e outros documentos relevantes do processo de concessão florestal serão

56
Art. 6o Antes da realização das concessões florestais, as florestas públicas ocupadas ou utilizadas por comunidades locais serão
identificadas para a destinação, pelos órgãos competentes, por meio de:
I - criação de reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável, observados os requisitos previstos da Lei no 9.985, de
18 de julho de 2000;
II - concessão de uso, por meio de projetos de assentamento florestal, de desenvolvimento sustentável, agroextrativistas ou outros
similares, nos termos do art. 189 da Constituição Federal e das diretrizes do Programa Nacional de Reforma Agrária;
III - outras formas previstas em lei.
§ 1o A destinação de que trata o caput deste artigo será feita de forma não onerosa para o beneficiário e efetuada em ato administrativo
próprio, conforme previsto em legislação específica.
§ 2o Sem prejuízo das formas de destinação previstas no caput deste artigo, as comunidades locais poderão participar das licitações
previstas no Capítulo IV deste Título, por meio de associações comunitárias, cooperativas ou outras pessoas jurídicas admitidas em
lei.
§ 3o O Poder Público poderá, com base em condicionantes socioambientais definidas em regulamento, regularizar posses de
comunidades locais sobre as áreas por elas tradicionalmente ocupadas ou utilizadas, que sejam imprescindíveis à conservação dos
recursos ambientais essenciais para sua reprodução física e cultural, por meio de concessão de direito real de uso ou outra forma
admitida em lei, dispensada licitação.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 69


disponibilizados por meio da Rede Mundial de Computadores, sendo assegurado a qualquer pessoa o acesso
aos contratos, decisões ou pareceres relativos à licitação ou às próprias concessões.
A concessão florestal pode ser extinta por qualquer das seguintes causas: esgotamento do prazo
contratual; rescisão; anulação; falência ou extinção do concessionário e falecimento ou incapacidade do
titular, no caso de empresa individual; e desistência e devolução, por opção do concessionário, do objeto da
concessão. (Vide Art. 44, da Lei da 11.284/2006)57.

8.3 PROTEÇÃO DE FLORESTAS E QUEIMADAS NA JURISPRUDÊNCIA

É proibido o uso de fogo na vegetação, de acordo com o novo Código Florestal, exceto nas seguintes
situações: em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo em práticas agropastoris
ou florestais, mediante prévia aprovação do órgão estadual ambiental competente do Sisnama, para cada
imóvel rural ou de forma regionalizada, que estabelecerá os critérios de monitoramento e controle; emprego
da queima controlada em Unidades de Conservação, em conformidade com o respectivo plano de manejo e
mediante prévia aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao manejo conservacionista
da vegetação nativa, cujas características ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;
atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa devidamente aprovado pelos órgãos
competentes e realizada por instituição de pesquisa reconhecida, mediante prévia aprovação do órgão
ambiental competente do Sisnama.
Excetuam-se da proibição constante as práticas de prevenção e combate aos incêndios e as de
agricultura de subsistência exercidas pelas populações tradicionais e indígenas. Na apuração da
responsabilidade pelo uso irregular do fogo em terras públicas ou particulares, a autoridade competente para
fiscalização e autuação deverá comprovar o nexo de causalidade entre a ação do proprietário ou qualquer
preposto e o dano efetivamente causado. É necessário o estabelecimento de nexo causal na verificação das
responsabilidades por infração pelo uso irregular do fogo em terras públicas ou particulares.

57
Art. 44. Extingue-se a concessão florestal por qualquer das seguintes causas:
I - esgotamento do prazo contratual;
II - rescisão;
III - anulação;
IV - falência ou extinção do concessionário e falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual;
V - desistência e devolução, por opção do concessionário, do objeto da concessão.
§ 1o Extinta a concessão, retornam ao titular da floresta pública todos os bens reversíveis, direitos e privilégios transferidos ao
concessionário, conforme previsto no edital e estabelecido em contrato.
§ 2o A extinção da concessão autoriza, independentemente de notificação prévia, a ocupação das instalações e a utilização, pelo
titular da floresta pública, de todos os bens reversíveis.
§ 3o A extinção da concessão pelas causas previstas nos incisos II, IV e V do caput deste artigo autoriza o poder concedente a
executar as garantias contratuais, sem prejuízo da responsabilidade civil por danos ambientais prevista na Lei no 6.938, de 31 de
agosto de 1981.
§ 4o A devolução de áreas não implicará ônus para o poder concedente, nem conferirá ao concessionário qualquer direito de
indenização pelos bens reversíveis, os quais passarão à propriedade do poder concedente.
§ 5o Em qualquer caso de extinção da concessão, o concessionário fará, por sua conta exclusiva, a remoção dos equipamentos e bens
que não sejam objetos de reversão, ficando obrigado a reparar ou indenizar os danos decorrentes de suas atividades e praticar os atos
de recuperação ambiental determinados pelos órgãos competentes.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 70


Os órgãos ambientais do Sisnama, bem como todo e qualquer órgão público ou privado responsável
pela gestão de áreas com vegetação nativa ou plantios florestais, deverão elaborar, atualizar e implantar planos
de contingência para o combate aos incêndios florestais.
O Governo Federal deverá estabelecer uma Política Nacional de Manejo e Controle de
Queimadas, Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, que promova a articulação institucional
com vistas na substituição do uso do fogo no meio rural, no controle de queimadas, na prevenção e no
combate aos incêndios florestais e no manejo do fogo em áreas naturais protegidas.
Referida Política deverá prever instrumentos para a análise dos impactos das queimadas sobre
mudanças climáticas e mudanças no uso da terra, conservação dos ecossistemas, saúde pública e fauna, para
subsidiar planos estratégicos de prevenção de incêndios florestais e, ainda, deverá observar cenários de
mudanças climáticas e potenciais aumentos do risco de ocorrência de incêndios florestais (Vide arts. 38, 39
e 40 da Lei 12.651/2012)58.
Superior Tribunal de Justiça sobre o tema já deliberou:
(...) as queimadas, sobretudo nas atividades agroindustriais ou agrícolas organizadas ou empresariais, são
incompatíveis com os objetivos de proteção do meio ambiente estabelecidos na Constituição Federal e nas normas
ambientais infraconstitucionais. Em época de mudanças climáticas, qualquer exceção a essa proibição geral, além de
prevista expressamente em lei federal, deve ser interpretada restritivamente pelo administrador e juiz (REsp 1000731,
2a. Turma, Min.Herman Benjamin, DJ de 08.09.09).

Em sentido contrário, contudo, manifestou-se o Supremo Tribunal Federal, recentemente, em favor de


queimadas em casos excepcionais, em discussão que colocou os interesses econômicos dos cortadores de cana

58
Art. 38. É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes situações:
I - em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia
aprovação do órgão estadual ambiental competente do Sisnama, para cada imóvel rural ou de forma regionalizada, que estabelecerá
os critérios de monitoramento e controle;
II - emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em conformidade com o respectivo plano de manejo e mediante
prévia aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao manejo conservacionista da vegetação nativa, cujas
características ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;
III - atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa devidamente aprovado pelos órgãos competentes e realizada
por instituição de pesquisa reconhecida, mediante prévia aprovação do órgão ambiental competente do Sisnama.
§ 1o Na situação prevista no inciso I, o órgão estadual ambiental competente do Sisnama exigirá que os estudos demandados para o
licenciamento da atividade rural contenham planejamento específico sobre o emprego do fogo e o controle dos incêndios.
§ 2o Excetuam-se da proibição constante no caput as práticas de prevenção e combate aos incêndios e as de agricultura de
subsistência exercidas pelas populações tradicionais e indígenas.
§ 3o Na apuração da responsabilidade pelo uso irregular do fogo em terras públicas ou particulares, a autoridade competente para
fiscalização e autuação deverá comprovar o nexo de causalidade entre a ação do proprietário ou qualquer preposto e o dano
efetivamente causado.
§ 4o É necessário o estabelecimento de nexo causal na verificação das responsabilidades por infração pelo uso irregular do fogo em
terras públicas ou particulares.
Art. 39. Os órgãos ambientais do Sisnama, bem como todo e qualquer órgão público ou privado responsável pela gestão de áreas
com vegetação nativa ou plantios florestais, deverão elaborar, atualizar e implantar planos de contingência para o combate aos
incêndios florestais.
Art. 40. O Governo Federal deverá estabelecer uma Política Nacional de Manejo e Controle de Queimadas, Prevenção e Combate
aos Incêndios Florestais, que promova a articulação institucional com vistas na substituição do uso do fogo no meio rural, no controle
de queimadas, na prevenção e no combate aos incêndios florestais e no manejo do fogo em áreas naturais protegidas.
§ 1o A Política mencionada neste artigo deverá prever instrumentos para a análise dos impactos das queimadas sobre mudanças
climáticas e mudanças no uso da terra, conservação dos ecossistemas, saúde pública e fauna, para subsidiar planos estratégicos de
prevenção de incêndios florestais.
§ 2o A Política mencionada neste artigo deverá observar cenários de mudanças climáticas e potenciais aumentos de risco de
ocorrência de incêndios florestais.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 71


em um polo e a tutela do meio ambiente no outro. Prevaleceu no caso em tela os pilares do desenvolvimento
sustentável da inclusão social e do desenvolvimento econômico em detrimento da tutela ambiental, o que não
é positivo em tempos de extremos climáticos causados por fatores antrópicos. Importante seria subsidiar esses
trabalhadores para reciclagem de sua mão de obra no intuito de inseri-la em um mercado de trabalho
sustentável, de acordo com uma economia verde movida por energia renovável.
O Supremo Tribunal Federal declarou que é inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer
forma, o emprego de fogo para fins de limpeza e preparo do solo na área rural do município, inclusive para a
colheita de cana-de-açúcar e de outras culturas. Entendeu a Corte que seria necessário ponderar, de um lado, a
proteção do meio ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos
empregos dos trabalhadores que atuam nesse setor.
No caso, o STF decidiu, após a ponderação dos referidos valores constitucionais, que deve prevalecer
a garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso
tecnológico e da respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da
cana mediante uso de fogo. Enfatizou a Corte a necessidade perseguida pelo legislador de se traçar um
planejamento com o intuito de se extinguir não de imediato, mas gradativamente o uso do fogo como método
despalhador e facilitador para o corte da cana. Foi a interpretação que se conferiu ao art. 40 da Lei 12.651/2012
e ao Decreto 2.661/98 (STF, RE 586.224/SP. Relator: Ministro Luiz Fux. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília,
DF, 09 set. 2011).

8.4 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E A RESERVA LEGAL

Após intenso debate político travado no âmbito do Congresso Nacional, especialmente entre
ambientalistas e investidores do agronegócio, foi aprovado o novo Código Florestal com a finalidade de tutelar
o meio ambiente sem impedir o desenvolvimento sustentável do país. Estão inseridas no novo Código Florestal
duas figuras jurídicas relevantes, as Áreas de Preservação Permanente e as Áreas de Reserva Legal, ambas
visam tutelar o meio ambiente e compatibilizá-lo com o desenvolvimento econômico e humano do povo
brasileiro. Ambas estão reguladas de modo minudente na Lei 12.651/2012.
Áreas de preservação permanente - APPs, de acordo com a nova legislação, são as áreas protegidas,
cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem,
a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar
o bem-estar das populações humanas.
E a Reserva Legal, a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a função de
assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação
e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a
proteção de fauna silvestre e da flora nativa. Ver art. 3º, incisos II e III, da Lei 12.651/201259.

59
Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 72


Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, de acordo com o art. 4º da
Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda
da calha do leito regular, em largura mínima de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa
marginal será de 50 (cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de cursos
d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento;
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio
mínimo de 50 (cinquenta) metros;
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior
declive;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; VII - os manguezais, em toda a sua extensão;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem)
metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior
que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação
sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água
adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação;
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do
espaço permanentemente brejoso e encharcado.

Tanto no revogado Código Florestal (Lei 4.771/65, art. 16, § 8º) quanto na atual Lei 12.651/2012 (arts.
18 e 29) tem-se a orientação de que a reserva legal florestal é inerente ao direito de propriedade e posse de
imóvel rural, fundada no princípio da função social e ambiental da propriedade rural (CF, art. 186, II). "É
possível extrair do art. 16, § 8º, do Código Florestal que a averbação da reserva florestal é condição para a
prática de qualquer ato que implique transmissão, desmembramento ou retificação de área de imóvel sujeito
à disciplina da Lei 4.771/65" (REsp 843.829/MG, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 19/11/2015, DJe 27/11/2015)
A entrada em vigor da Lei 12.651/2012 revogou o Código Florestal de 1965 (Lei 4.771), contudo, não
concedeu anistia aos infratores das normas ambientais. Em vez disso, manteve a ilicitude das violações da
natureza, sujeitando os agentes aos competentes procedimentos administrativos, com vistas à recomposição do
dano ou à indenização. Inteligência do art. 59 do novo Código Florestal. Ademais, o transporte de carvão
vegetal sem cobertura de ATPF constitui, a um só tempo, crime e infração administrativa, podendo, neste
último caso, ser objeto de autuação pela autoridade administrativa competente, conforme a jurisprudência

I - Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte
do paralelo 13º S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão;
II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar
os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo
e assegurar o bem-estar das populações humanas;
III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de
assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora
nativa;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 73


(AgRg no REsp 1313443/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em
18/02/2014, DJe 12/03/2014).
A isenção do ITR, na hipótese, apresenta inequívoca e louvável finalidade de estímulo à proteção do
meio ambiente, tanto no sentido de premiar os proprietários que contam com Reserva Legal devidamente
identificada e conservada, como de incentivar a regularização por parte daqueles que estão em situação
irregular. Diversamente do que ocorre com as Áreas de Preservação Permanente, cuja localização se dá
mediante referências topográficas e a olho nu (margens de rios, terrenos com inclinação acima de quarenta e
cinco graus ou com altitude superior a 1.800 metros), a fixação do perímetro a Reserva Legal carece de prévia
delimitação pelo proprietário, pois, em tese, pode ser situada em qualquer ponto do imóvel.
O ato de especificação faz-se tanto à margem da inscrição da matrícula do imóvel, como
administrativamente, nos termos da sistemática instituída pelo novo Código Florestal (Lei 12.651/2012, art.
18). Inexistindo o registro, que tem por escopo a identificação do perímetro da Reserva Legal, não se pode
cogitar de regularidade da área O ato de especificação faz-se tanto à margem da inscrição da matrícula do
imóvel, como administrativamente, nos termos da sistemática instituída pelo novo Código Florestal (Lei
12.651/2012, art. 18). Protegida e, por conseguinte, de direito à isenção tributária correspondente (EREsp
1027051/SC, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/2013, DJe
21/10/2013).
A área de reserva legal, para ser excluída do cálculo da produtividade do imóvel, deve ter sido averbada
no registro imobiliário antes da vistoria. Precedentes do STF e STJ. Com a promulgação do Novo Código
Florestal, manteve-se inalterada a intenção do legislador de exigir a perfeita identificação da área de reserva
legal, modificando apenas o órgão responsável pelo registro e manutenção desses dados, não se justificando a
alteração do entendimento jurisprudencial desta Corte a respeito da matéria.
Necessidade de retorno dos autos à origem para que as instâncias ordinárias, soberanas na análise das
provas, procedam ao reexame do laudo pericial levando em conta a área de reserva legal, à míngua de
averbação no registro imobiliário antes da vistoria. 6. Recurso especial parcialmente provido (REsp
1297128/BA, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/06/2013, DJe
13/06/2013).
Na implantação de reservatório d’água artificial destinado a geração de energia ou abastecimento
público, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão administrativa pelo empreendedor
das Áreas de Preservação Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamento
ambiental, observando-se a faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em área rural, e
a faixa mínima de 15 (quinze) metros e máxima de 30 (trinta) metros em área urbana. (Vide art. 5º da Lei
12.651/2012)60.

60
Art. 5o Na implantação de reservatório d’água artificial destinado a geração de energia ou abastecimento público, é obrigatória a
aquisição, desapropriação ou instituição de servidão administrativa pelo empreendedor das Áreas de Preservação Permanente criadas
em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima
de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa mínima de 15 (quinze) metros e máxima de 30 (trinta) metros em área urbana. § 1o Na

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 74


Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse social por ato do
Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou
mais das seguintes finalidades: conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra
e de rocha; proteger as restingas ou veredas; proteger várzeas; abrigar exemplares da fauna ou da flora
ameaçados de extinção; proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;
formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; assegurar condições de bem-estar público; auxiliar
a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares; proteger áreas úmidas, especialmente as de
importância internacional (Vide art. 6º da Lei nº 12.651/2012)61.
A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantida pelo proprietário da área,
possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado. Tendo ocorrido
supressão de vegetação situada em Área de Preservação Permanente, o proprietário da área, possuidor ou
ocupante a qualquer título é obrigado a promover a recomposição da vegetação, ressalvados os usos
autorizados previstos no novo Código Florestal.
A obrigação prevista na Lei tem natureza real e é transmitida ao sucessor no caso de transferência de
domínio ou posse do imóvel rural. No caso de supressão não autorizada de vegetação realizada após 22 de
julho de 2008, é vedada a concessão de novas autorizações de supressão de vegetação enquanto não cumpridas
as obrigações previstas na Lei. (Vide art. 7º da Lei 12.651/2012)62.
A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente somente
ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas na Lei.

implantação de reservatórios d’água artificiais de que trata o caput, o empreendedor, no âmbito do licenciamento ambiental, elaborará
Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, em conformidade com termo de referência expedido pelo órgão
competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama, não podendo o uso exceder a 10% (dez por cento) do total da Área
de Preservação Permanente. (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012). (Vide ADC Nº 42)
§ 2o O Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial, para os empreendimentos licitados a partir da
vigência desta Lei, deverá ser apresentado ao órgão ambiental concomitantemente com o Plano Básico Ambiental e aprovado até o
início da operação do empreendimento, não constituindo a sua ausência impedimento para a expedição da licença de instalação.(Vide
ADC Nº 42)
§ 3o (VETADO).
61
Art. 6o Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder
Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional.
62
Art. 7o A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou
ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
§ 1o Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de Preservação Permanente, o proprietário da área, possuidor ou
ocupante a qualquer título é obrigado a promover a recomposição da vegetação, ressalvados os usos autorizados previstos nesta Lei.
§ 2o A obrigação prevista no § 1o tem natureza real e é transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio ou posse do
imóvel rural.
§ 3o No caso de supressão não autorizada de vegetação realizada após 22 de julho de 2008, é vedada a concessão de novas
autorizações de supressão de vegetação enquanto não cumpridas as obrigações previstas no § 1 o. (Vide ADIN Nº
4.937) (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.902) (Vide ADIN Nº 4.903)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 75


A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas somente poderá ser autorizada em
caso de utilidade pública. A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação
Permanente de que tratam os incisos VI e VII do caput do art. 4o poderá ser autorizada, excepcionalmente, em
locais onde a função ecológica do manguezal esteja comprometida, para execução de obras habitacionais e de
urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas urbanas
consolidadas ocupadas por população de baixa renda.
É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em caráter de urgência, de
atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de
acidentes em áreas urbanas. Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras intervenções
ou supressões de vegetação nativa, além das previstas no Código Florestal. (Vide art. 8º da Lei 12.651/2012)63.
É permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de Preservação Permanente para obtenção de água
e para realização de atividades de baixo impacto ambiental. (Vide art. 9º da Lei 12.651/2012).
Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva
Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os
seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 do
novo Código Florestal64:
I - localizado na Amazônia Legal: a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e
cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos
gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer
título, inclusive para assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada a área do imóvel antes do
fracionamento.

63
Art. 8o A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de
utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei.
§ 1o A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas somente poderá ser autorizada em caso de utilidade
pública.
§ 2o A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente de que tratam os incisos VI e VII
do caput do art. 4o poderá ser autorizada, excepcionalmente, em locais onde a função ecológica do manguezal esteja comprometida,
para execução de obras habitacionais e de urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas
urbanas consolidadas ocupadas por população de baixa renda. (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.903)
§ 3o É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em caráter de urgência, de atividades de segurança
nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.
§ 4o Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras intervenções ou supressões de vegetação nativa, além das
previstas nesta Lei.
Art. 9o É permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de Preservação Permanente para obtenção de água e para realização de
atividades de baixo impacto ambiental.
64
Art. 68. Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que realizaram supressão de vegetação nativa respeitando os percentuais
de Reserva Legal previstos pela legislação em vigor à época em que ocorreu a supressão são dispensados de promover a
recomposição, compensação ou regeneração para os percentuais exigidos nesta Lei. (Vide ADC Nº 42) (Vide
ADIN Nº 4.901)
§ 1o Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais poderão provar essas situações consolidadas por documentos tais como a
descrição de fatos históricos de ocupação da região, registros de comercialização, dados agropecuários da atividade, contratos e
documentos bancários relativos à produção, e por todos os outros meios de prova em direito admitidos.
§ 2o Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais, na Amazônia Legal, e seus herdeiros necessários que possuam índice de
Reserva Legal maior que 50% (cinquenta por cento) de cobertura florestal e não realizaram a supressão da vegetação nos percentuais
previstos pela legislação em vigor à época poderão utilizar a área excedente de Reserva Legal também para fins de constituição de
servidão ambiental, Cota de Reserva Ambiental - CRA e outros instrumentos congêneres previstos nesta Lei.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 76


Após a implantação do CAR- Cadastro Ambiental Rural, a supressão de novas áreas de floresta ou
outras formas de vegetação nativa apenas será autorizada pelo órgão ambiental estadual integrante do Sisnama
se o imóvel estiver inserido no mencionado cadastro, ressalvado o previsto no art. 30 do novo Código Florestal.
Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto não estão sujeitos à
constituição de Reserva Legal. Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas
por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de energia hidráulica, nas
quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de
transmissão e de distribuição de energia elétrica. Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas
ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias. (Vide
art. 12 da Lei 12.651/2012)65.
Quando indicado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE estadual, realizado segundo
metodologia unificada, o poder público federal poderá reduzir, exclusivamente para fins de regularização,
mediante recomposição, regeneração ou compensação da Reserva Legal de imóveis com área rural
consolidada, situados em área de floresta localizada na Amazônia Legal, para até 50% (cinquenta por cento)
da propriedade, excluídas as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos e os
corredores ecológicos; ampliar as áreas de Reserva Legal em até 50% (cinquenta por cento) dos percentuais

65
Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da
aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do
imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei: (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).
§ 1o Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título, inclusive para assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária,
será considerada, para fins do disposto do caput, a área do imóvel antes do fracionamento.
§ 2o O percentual de Reserva Legal em imóvel situado em área de formações florestais, de cerrado ou de campos gerais na Amazônia
Legal será definido considerando separadamente os índics contidos nas alíneas a, b e c do inciso I do caput.
§ 3o Após a implantação do CAR, a supressão de novas áreas de floresta ou outras formas de vegetação nativa apenas será autorizada
pelo órgão ambiental estadual integrante do Sisnama se o imóvel estiver inserido no mencionado cadastro, ressalvado o previsto no
art. 30.
§ 4o Nos casos da alínea a do inciso I, o poder público poderá reduzir a Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento), para fins
de recomposição, quando o Município tiver mais de 50% (cinquenta por cento) da área ocupada por unidades de conservação da
natureza de domínio público e por terras indígenas homologadas. (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.901)
§ 5o Nos casos da alínea a do inciso I, o poder público estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente, poderá reduzir a
Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento), quando o Estado tiver Zoneamento Ecológico-Econômico aprovado e mais de
65% (sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por unidades de conservação da natureza de domínio público, devidamente
regularizadas, e por terras indígenas homologadas. (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.901)
§ 6o Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto não estão sujeitos à constituição de Reserva
Legal. (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.901)
§ 7o Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou
autorização para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica,
subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica. (Vide ADC Nº 42) (Vide
ADIN Nº 4.901)
§ 8o Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de
capacidade de rodovias e ferrovias.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 77


previstos no novo Código Florestal, para cumprimento de metas nacionais de proteção à biodiversidade ou de
redução de emissão de gases de efeito estufa. (Vide art. 13 da Lei 12.651/2012)66.

8.5 RESERVA LEGAL

A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo proprietário do imóvel
rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado. Admite-
se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo sustentável, previamente aprovado pelo órgão
competente do Sisnama, de acordo com as modalidades previstas no art. 20 do novo Código Florestal.
Para fins de manejo de Reserva Legal na pequena propriedade ou posse rural familiar, os órgãos
integrantes do Sisnama deverão estabelecer procedimentos simplificados de elaboração, análise e aprovação
de tais planos de manejo (Vide art. 17 da Lei 12.651/2012)67.
O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito comercial depende de
autorização do órgão competente e deverá atender as seguintes diretrizes e orientações: não descaracterizar a
cobertura vegetal e não prejudicar a conservação da vegetação nativa da área; assegurar a manutenção da
diversidade das espécies; conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a
regeneração de espécies nativas (Vide art. 22 da Lei 12.651/2012)68.

66
Art. 13. Quando indicado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEE estadual, realizado segundo metodologia unificada, o
poder público federal poderá:
I - reduzir, exclusivamente para fins de regularização, mediante recomposição, regeneração ou compensação da Reserva Legal de
imóveis com área rural consolidada, situados em área de floresta localizada na Amazônia Legal, para até 50% (cinquenta por cento)
da propriedade, excluídas as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos e os corredores ecológicos;
II - ampliar as áreas de Reserva Legal em até 50% (cinquenta por cento) dos percentuais previstos nesta Lei, para cumprimento de
metas nacionais de proteção à biodiversidade ou de redução de emissão de gases de efeito estufa.
§ 1o No caso previsto no inciso I do caput, o proprietário ou possuidor de imóvel rural que mantiver Reserva Legal conservada e
averbada em área superior aos percentuais exigidos no referido inciso poderá instituir servidão ambiental sobre a área excedente, nos
termos da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, e Cota de Reserva Ambiental. (Vide ADIN Nº 4.937) (Vide ADC
Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.901)
§ 2o Os Estados que não possuem seus Zoneamentos Ecológico-Econômicos - ZEEs segundo a metodologia unificada, estabelecida
em norma federal, terão o prazo de 5 (cinco) anos, a partir da data da publicação desta Lei, para a sua elaboração e aprovação.
67
Art. 17. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou
ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
§ 1o Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo sustentável, previamente aprovado pelo órgão
competente do Sisnama, de acordo com as modalidades previstas no art. 20.
§ 2o Para fins de manejo de Reserva Legal na pequena propriedade ou posse rural familiar, os órgãos integrantes do Sisnama deverão
estabelecer procedimentos simplificados de elaboração, análise e aprovação de tais planos de manejo.
§ 3o É obrigatória a suspensão imediata das atividades em área de Reserva Legal desmatada irregularmente após 22 de julho de
2008. (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012). (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.902) (Vide
ADIN Nº 4.903)
§ 4o Sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, deverá ser iniciado, nas áreas de que trata o § 3 o deste artigo,
o processo de recomposição da Reserva Legal em até 2 (dois) anos contados a partir da data da publicação desta Lei, devendo tal
processo ser concluído nos prazos estabelecidos pelo Programa de Regularização Ambiental - PRA, de que trata o art. 59.
68
Art. 22. O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito comercial depende de autorização do órgão
competente e deverá atender as seguintes diretrizes e orientações:
I - não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a conservação da vegetação nativa da área;
II - assegurar a manutenção da diversidade das espécies;
III - conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 78


O manejo sustentável para exploração florestal eventual sem propósito comercial, para consumo no
próprio imóvel, independe de autorização dos órgãos competentes, devendo apenas ser declarados previamente
ao órgão ambiental a motivação da exploração e o volume explorado, limitada a exploração anual a 20 (vinte)
metros cúbicos (Vide art. 23 da Lei 12.651/2012)69.

8.6 ÁREAS DE USO RESTRITO

Nos pantanais e planícies pantaneiras, é permitida a exploração ecologicamente sustentável, devendo-


se considerar as recomendações técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa, ficando novas supressões de
vegetação nativa para uso alternativo do solo condicionadas à autorização do órgão estadual do meio ambiente.
Em áreas de inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos o manejo florestal sustentável e o exercício
de atividades agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento
das atividades, observadas boas práticas agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas
as hipóteses de utilidade pública e interesse social (Vide arts. 10 e 11 da Lei 12.651/2012)70.

8.7 USO ECOLOGICAMENTE SUSTENTÁVEL DOS APICUNS E SALGADOS

A Zona Costeira é patrimônio nacional, nos termos do § 4º do art. 225 da Constituição Federal, devendo
sua ocupação e exploração dar-se de modo ecologicamente sustentável. Os apicuns e salgados podem ser
utilizados em atividades de carcinicultura e salinas, desde que observados os seguintes requisitos: área total
ocupada em cada Estado não superior a 10% (dez por cento) dessa modalidade de fitofisionomia no bioma
amazônico e a 35% (trinta e cinco por cento) no restante do País, excluídas as ocupações consolidadas que
atendam ao disposto na lei; salvaguarda da absoluta integridade dos manguezais arbustivos e dos processos
ecológicos essenciais a eles associados, bem como da sua produtividade biológica e condição de berçário de
recursos pesqueiros; licenciamento da atividade e das instalações pelo órgão ambiental estadual, cientificado
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e, no caso de uso de
terrenos de marinha ou outros bens da União, realizada regularização prévia da titulação perante a União;
recolhimento, tratamento e disposição adequados dos efluentes e resíduos; garantia da manutenção da
qualidade da água e do solo, respeitadas as Áreas de Preservação Permanente; e respeito às atividades
tradicionais de sobrevivência das comunidades locais (Vide art. 11-A da Lei 12.651/2012)71.

69
Art. 23. O manejo sustentável para exploração florestal eventual sem propósito comercial, para consumo no próprio imóvel,
independe de autorização dos órgãos competentes, devendo apenas ser declarados previamente ao órgão ambiental a motivação da
exploração e o volume explorado, limitada a exploração anual a 20 (vinte) metros cúbicos.
70
Art. 10. Nos pantanais e planícies pantaneiras, é permitida a exploração ecologicamente sustentável, devendo-se considerar as
recomendações técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa, ficando novas supressões de vegetação nativa para uso alternativo do solo
condicionadas à autorização do órgão estadual do meio ambiente, com base nas recomendações mencionadas neste artigo.
Art. 11. Em áreas de inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos o manejo florestal sustentável e o exercício de atividades
agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento das atividades, observadas boas
práticas agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as hipóteses de utilidade pública e interesse social.
71
t. 11-A. A Zona Costeira é patrimônio nacional, nos termos do § 4o do art. 225 da Constituição Federal, devendo sua ocupação e
exploração dar-se de modo ecologicamente sustentável. (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 79


Na jurisprudência: tendo em vista a ocorrência de dano ambiental totalmente dentro de área de marinha
e em área de preservação permanente, bem como considerando que os réus procederam à ocupação do local
mediante autorização da União, afigura-se perfeitamente viável que a responsabilidade pelos danos ocorridos
e a condenação aos procedimentos necessários para recuperação do local sejam realizados também pelo ente
federal, que permitiu a ocorrência de dano ao aprovar a ocupação da área, sem observar o seu dever de fiscalizar
e preservar o meio ambiente (TRF4, AC 5005552- 80.2013.404.7201, QUARTA TURMA, Relator LUÍS
ALBERTO D'AZEVEDO AURVALLE, juntado aos autos em 25/08/2016).
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INVASÃO/CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE. VEGETAÇÃO DE MANGUE. MARGEM DE RIO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DO MUNICÍPIO. 1. O encargo da municipalidade, em fiscalizar atividades capazes de causar danos ao
meio ambiente, tem o objetivo de estabelecer as devidas sanções quanto ao descumprimento. A existência de uma
situação notória de lesão a bens ambientais, sem qualquer iniciativa de coerção do poder público há uma década, sem
qualquer iniciativa do Poder Público, demonstra a prestação deficitária do serviço público devido. 2. O Município
restou inerte ante ocupação e construção irregular realizada no terreno integrante de Área de Preservação Permanente,
não exerceu, portanto, seu Poder de Polícia Administrativa e permitiu a instalação de serviços públicos, como por

§ 1o Os apicuns e salgados podem ser utilizados em atividades de carcinicultura e salinas, desde que observados os seguintes
requisitos: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
I - área total ocupada em cada Estado não superior a 10% (dez por cento) dessa modalidade de fitofisionomia no bioma amazônico
e a 35% (trinta e cinco por cento) no restante do País, excluídas as ocupações consolidadas que atendam ao disposto no § 6o deste
artigo; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
II - salvaguarda da absoluta integridade dos manguezais arbustivos e dos processos ecológicos essenciais a eles associados, bem
como da sua produtividade biológica e condição de berçário de recursos pesqueiros; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
III - licenciamento da atividade e das instalações pelo órgão ambiental estadual, cientificado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e, no caso de uso de terrenos de marinha ou outros bens da União, realizada
regularização prévia da titulação perante a União; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
IV - recolhimento, tratamento e disposição adequados dos efluentes e resíduos; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
V - garantia da manutenção da qualidade da água e do solo, respeitadas as Áreas de Preservação Permanente; e (Incluído
pela Lei nº 12.727, de 2012).
VI - respeito às atividades tradicionais de sobrevivência das comunidades locais. (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
§ 2o A licença ambiental, na hipótese deste artigo, será de 5 (cinco) anos, renovável apenas se o empreendedor cumprir as exigências
da legislação ambiental e do próprio licenciamento, mediante comprovação anual, inclusive por mídia fotográfica. (Incluído
pela Lei nº 12.727, de 2012).
§ 3o São sujeitos à apresentação de Estudo Prévio de Impacto Ambiental - EPIA e Relatório de Impacto Ambiental - RIMA os
novos empreendimentos: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
I - com área superior a 50 (cinquenta) hectares, vedada a fragmentação do projeto para ocultar ou camuflar seu porte; (Incluído
pela Lei nº 12.727, de 2012).
II - com área de até 50 (cinquenta) hectares, se potencialmente causadores de significativa degradação do meio ambiente; ou (Incluído
pela Lei nº 12.727, de 2012).
III - localizados em região com adensamento de empreendimentos de carcinicultura ou salinas cujo impacto afete áreas comuns.
Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
§ 4o O órgão licenciador competente, mediante decisão motivada, poderá, sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais
cabíveis, bem como do dever de recuperar os danos ambientais causados, alterar as condicionantes e as medidas de controle e
adequação, quando ocorrer: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
I - descumprimento ou cumprimento inadequado das condicionantes ou medidas de controle previstas no licenciamento, ou
desobediência às normas aplicáveis; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
II - fornecimento de informação falsa, dúbia ou enganosa, inclusive por omissão, em qualquer fase do licenciamento ou período de
validade da licença; ou (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
III - superveniência de informações sobre riscos ao meio ambiente ou à saúde pública. (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
§ 5o A ampliação da ocupação de apicuns e salgados respeitará o Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira - ZEEZOC,
com a individualização das áreas ainda passíveis de uso, em escala mínima de 1:10.000, que deverá ser concluído por cada Estado
no prazo máximo de 1 (um) ano a partir da data da publicação desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
§ 6o É assegurada a regularização das atividades e empreendimentos de carcinicultura e salinas cuja ocupação e implantação tenham
ocorrido antes de 22 de julho de 2008, desde que o empreendedor, pessoa física ou jurídica, comprove sua localização em apicum
ou salgado e se obrigue, por termo de compromisso, a proteger a integridade dos manguezais arbustivos adjacentes. (Incluído
pela Lei nº 12.727, de 2012).
§ 7o É vedada a manutenção, licenciamento ou regularização, em qualquer hipótese ou forma, de ocupação ou exploração irregular
em apicum ou salgado, ressalvadas as exceções previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 80


exemplo, a ligação de luz no local ocupado ilegalmente. A existência de uma situação notória de lesão a bens
ambientais, sem qualquer iniciativa de coerção do poder público, demonstra a prestação deficitária do serviço público
devido. Inarredável que o Poder Público, representado pelo Município, ignorou seu dever de proteção ambiental,
lesando o direito público subjetivo ao ambiente ecologicamente equilibrado e à sadia qualidade de vida, tutelado pelo
art. 225, caput e inciso VII da Constituição Federal. A responsabilidade civil do Município tem origem na precária
prestação do serviço e na instalação do serviço público de luz, caracterizando inegável contribuição para o dano
ambiental. (TRF4, AC 5002167-92.2011.404.7008, QUARTA TURMA, Relator LUÍS ALBERTO D'AZEVEDO
AURVALLE, juntado aos autos em 12/08/2016).

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTRUÇÃO DE CONDOMÍNIO VERTICAL ÀS MARGENS


DO CANAL MARAMBAIA EM BALNEÁRIO CAMBORIÚ/SC. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.
DANOS AMBIENTAIS. DEMOLIÇÃO. INDENIZAÇÃO. DESTINO DA VERBA. A responsabilidade civil por
danos ao meio ambiente é de natureza objetiva e encontra respaldo no art. 225, § 3º, da Constituição Federal, no art.
14, § 1º, da Lei n.º 6.938/81, no art. 7º da Lei n.º 7.661/88, no art. 2º, § 1º, do Código Florestal, e nos princípios do
poluidor-pagador, da prevenção e precaução (STJ, 2ª Seção, REsp 1114398/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI,
julgado em 08/02/2012, DJe 16/02/2012).

Em matéria ambiental, não se aplica a teoria do fato consumado, impondo-se a aplicação de sanções de
natureza pecuniária, quando inviável a demolição da obra irregular. Comprovada a ocorrência de dano
ambiental, é devido o pagamento de indenização pelo infrator em montante a ser arbitrado em consonância
com as circunstâncias do caso concreto. O valor a ser pago a título de indenização deve ser revertido ao Fundo
de que trata o art. 13 da Lei n.º 7.347/85 (TRF4, AC 5005710- 85.2011.404.7208, TERCEIRA TURMA,
Relator FERNANDO QUADROS DA SILVA, juntado aos autos em 04/01/2017).

9 BIOSSEGURANÇA

A Lei 11.105/2005, regulamentada pelo Decreto 5.591/2005, segue as diretivas do Protocolo de


Cartagena sobre Biossegurança. O Decreto estabelece normas de tutela e instrumentos de fiscalização de
atividades que envolvam os organismos geneticamente modificados- OGM.
A lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a
produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a
pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos
geneticamente modificados – OGM e seus derivados
A lei tem como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a
proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção
do meio ambiente.
Aprofundando o tema, o STF, ao julgar improcedente a ADI 3510, causou polêmica ao declarar
constitucional a pesquisa com células-tronco. Desse modo, a integralidade do art. 5º da Lei 11.105/2005 (Lei
de Biossegurança) foi considerada compatível com o texto da Constituição72.
Na decisão, constou expressamente que não existe violação do direito à vida nas pesquisas com células
tronco embrionárias para fins terapêuticos e, tampouco, aborto. Foram reconhecidas normas constitucionais

72
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 3510. Relator: Ministro Carlos Britto. Diário da Justiça da União, 29 maio 2008.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/ pesquisarInteiroTeor.asp>.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 81


conformadoras do direito fundamental a uma vida digna, notadamente o direito à saúde e ao planejamento
familiar.
A pesquisa científica com células-tronco embrionárias, segundo o STF, objetiva o enfrentamento e a
“cura de patologias e traumatismos que severamente limitam, atormentam, infelicitam, desesperam e não
raras vezes degradam a vida de expressivo contingente populacional (ilustrativamente, atrofias espinhais
progressivas, distrofias musculares, a esclerose múltipla e a lateral amiotrófica, as neuropatias e as doenças
do neurônio motor)”73.
No voto do Ministro Celso de Mello, restou consignado que “não houve ofensas ao direito à vida e à
dignidade a pessoa humana, pois a pesquisa com células-tronco embrionárias significa a celebração solidária
da vida e alento aos que se acham à margem do exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do
viver com dignidade”74.
Os Ministros entenderam que a opção do casal por um processo in vitro de fecundação artificial de
óvulos, também prevista na Lei impugnada, “é implícito direito de idêntica matriz constitucional, sem
acarretar para esse casal o dever jurídico do aproveitamento reprodutivo de todos os embriões eventualmente
formados e que se revelem geneticamente viáveis”75.
Consta no acórdão outra referência ao princípio da dignidade da pessoa humana na linha de que tal
princípio opera por modo binário, o que propicia a base constitucional para um casal de adultos recorrer a
técnicas de reprodução assistida que incluam a fertilização artificial ou in vitro. De uma parte, para aquinhoar
o casal com o direito público subjetivo à ‘liberdade’ (preâmbulo da Constituição e seu art. 5º), aqui entendida
como autonomia de vontade.
De outra banda, para contemplar os porvindouros componentes da unidade familiar, se por eles optar o
casal, com planejadas condições de bem-estar e assistência físico-afetiva (art. 226 da CF). Assim, o
planejamento familiar, “fruto da livre decisão do casal”, é “fundado nos princípios da dignidade da pessoa
humana e da paternidade responsável (art. 226, § 7º da CF/88)”76.
De acordo com o Ministro Joaquim Barbosa, igualmente, “a decisão por uma descendência ou filiação
exprime um tipo de autonomia de vontade individual que a própria Constituição rotula como direito ao
planejamento familiar, fundamentado este nos princípios igualmente constitucionais da dignidade da pessoa
humana e da paternidade responsável”77.

73
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 3510. Relator: Ministro Carlos Britto. Diário da Justiça da União, 29 maio 2008.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/ pesquisarInteiroTeor.asp>.
74
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 3510. Relator: Ministro Carlos Britto. Diário da Justiça da União, 29 maio 2008.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/pesquisarInteiroTeor.asp>.
75
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 3510. Relator: Ministro Carlos Britto. Diário da Justiça da União, 29 maio 2008.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/ pesquisarInteiroTeor.asp>.
76
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 3510. Relator: Ministro Carlos Britto. Diário da Justiça da União, 29 maio 2008.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/pesquisarInteiroTeor.asp>.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 3510. Relator: Ministro Carlos Britto. Diário da Justiça da União, 29 maio 2008.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/pesquisarInteiroTeor.asp>.
77
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 3510. Relator: Ministro Carlos Britto. Diário da Justiça da União, 29 maio 2008.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/pesquisarInteiroTeor.asp>.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 82


No acórdão, restou reconhecido o direito constitucional à liberdade de expressão científica e a lei de
biossegurança como densificação dessa liberdade. (...) o termo ‘ciência’, enquanto atividade individual, faz
parte do catálogo dos direitos fundamentais da pessoa humana (inc. IX do art. 5º da CF). E a liberdade de
expressão se afigura como clássico direito constitucional-civil ou genuíno direito de personalidade. Assim
merece o máximo de proteção jurídica, até como signo de vida coletiva civilizada. Tão qualificadora do
indivíduo e da sociedade é essa vocação para os misteres da ciência que o Magno Texto Federal abre todo um
autonomizado capítulo para prestigiá-la por modo superlativo (capítulo de nº IV do título VIII)78.
A Ministra Carmem Lúcia referiu no seu voto, afastando qualquer dúvida, que “a dignidade da pessoa
humana, prevista na Constituição Federal, dota o bloco normativo, posto no art. 5º da Lei 11.105/2005, do
necessário fundamento para dele afastar qualquer invalidade jurídica”.
Para o STF, o art. 5º da Lei de Biossegurança, além de não violar o princípio da dignidade da pessoa
humana quando permite a fertilização de embriões in vitro e a pesquisa em células-tronco para fins
terapêuticos, acaba sendo uma manifestação de tal princípio, porquanto permite o planejamento familiar e a
proteção dos direitos fundamentais à vida e à saúde.
O princípio da dignidade da pessoa humana, nessa decisão, acabou sendo aplicado concomitantemente
com outros direitos fundamentais de primeira dimensão, como o direito à vida, e de segunda, como o direito à
saúde.
O princípio da dignidade da pessoa humana, nessa decisão, acabou sendo aplicado concomitantemente
com outros direitos fundamentais de primeira dimensão, como o direito à vida, e de segunda, como o direito à
saúde. O princípio, como demonstrado na decisão, é mais do que mero norte hermenêutico na aplicação e na
ponderação dos direitos fundamentais previstos na Constituição.
O princípio é um balizador que evita uma aplicação desproporcional e excessiva do princípio da
precaução na pretensa tutela dos direitos à vida e à saúde quando confrontados com importantes pesquisas
científicas com células-tronco, que podem salvar milhares de vidas e, também, permitir que casais celebrem o
direito à vida com as fertilizações in vitro, realizando, desse modo, um racional planejamento familiar tutelado
pelo próprio texto constitucional.
Michael Sandel refere que “em vez de banir as pesquisas com células-tronco embrionárias e a
clonagem para fins de pesquisa, deveríamos permitir sua continuidade sob regulações que englobem as
restrições morais adequadas ao mistério da vida humana. Tais regulações deveriam incluir a proibição da
clonagem humana para fins de reprodução; limites razoáveis à extensão de tempo que um embrião pode ser
cultivado em laboratório; exigências para emitir licenças para clínicas de fertilidade”.
Vejamos as seguintes passagens:

“Restrições quanto à transformação de óvulos e espermatozoides em comodities e criação de um banco de células-


tronco para evitar que os interesses de patentes monopolizem o acesso à pesquisa com células-tronco. Essas medidas,

78
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 3510. Relator: Ministro Carlos Britto. Diário da Justiça da União, 29 maio 2008.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/pesquisarInteiroTeor.asp>.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 83


ao que me parece, oferecem as melhores esperanças para evitar o uso descontrolado da vida humana incipiente e tornar
o progresso da biomedicina uma benção para a saúde, não mais um episódio da erosão de nossas sensibilidades
humanas”. (SANDEL, Michael. The case against perfection. Cambridge: Harvard University Press, 2007. p. 134.).

ADMINISTRATIVO – MANDADO DE SEGURANÇA – PLANTIO DE OGM (ORGANISMOS


GENETICAMENTE MODIFICADOS) – LEI 10.814/03. 1. O propósito do Estado do Paraná de instaurar competência
concorrente com a União para legislar sobre o cultivo dos transgênicos foi obstado pelo STF, que suspendeu, em
decisão liminar, os efeitos do Lei Estadual 14.162/03. 2. As informações técnicas sobre o plantio de transgênicos,
concentradas no Ministério da Agricultura, não podem ser repassadas ao Estado, por ausência de previsão legal. 3.
Mandado de segurança denegado. .EMEN: (MS 200302325071, ELIANA CALMON, STJ - PRIMEIRA SEÇÃO, DJ
DATA:14/08/2006 PG:00250, DTPB).

ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS - OMG. EXIGÊNCIA DE REGISTRO ESPECIAL


TEMPORÁRIO - RET.APLICAÇÃO RESTRITA AOS PRODUTOS QUE SERVEM DE MATÉRIA-PRIMA PARA
PRODUÇÃO DE AGROTÓXICOS.1. O art. 39 da Lei 11.105/2005 estabelece que "não se aplica aos OGM e seus
derivados o disposto na Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, e suas alterações, exceto para os casos em que eles sejam
desenvolvidos para servir de matéria-prima para a produção de agrotóxicos”. (AgInt no REsp 1432520/DF, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/09/2016, DJe 04/10/2016).

ADMINISTRATIVO. INFRAÇÃO AMBIENTAL. PLANTIO DE TRANSGÊNICOS. ZONA DE


AMORTECIMENTO. PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU. LEI Nº 11.460/2007. REDUÇÃO DA MULTA.
COMPOSIÇÃO AMIGÁVEL. REDUÇÃO DO DANO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A plantação dos organismos
geneticamente modificados estava sendo realizada na zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, como,
inclusive, certificado no auto de infração e afirmado pelo próprio autor. 2. A conduta perpetrada pelo autor (produzir
organismos geneticamente modificados em zona de amortecimento de unidade de conservação - Parque Nacional do
Iguaçu), não deixou de ser infração ambiental pois, embora revogado o art. 11 da Lei nº 10.814/2003, o art. 2º da nova
Lei nº 11.460/2007 continua a proibir a referida conduta caso não cumpridos os requisitos por ele estabelecidos.

(...) 3. Demonstrada que a conduta perpetrada pelo demandante continua sendo vedada pelo ordenamento jurídico,
improcede o seu pleito de nulidade do auto de infração. 4. Não se verifica abusividade na multa aplicada, pois foi
fixada obedecendo aos parâmetros legais fixados para as infrações de natureza grave, e aos padrões de razoabilidade
e proporcionalidade em relação à infração. (AC 200770050024999, MARGA INGE BARTH TESSLER, TRF4 -
QUARTA TURMA, D.E. 29/03/2010.)

(...) Não há falar em negativa de vigência ao art. 7º da Lei n.11.460/2007, pois, apesar de ter revogado o art. 11 da Lei
n.11.814/2003, tal diploma legal continuou considerando vedada a conduta praticada, qual seja, o plantio de OGM em
zona de amortecimento de unidade de conservação ambiental, sem que houvesse previsão no plano de manejo. (REsp
1220843/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/04/2015, DJe
22/04/2015).

9.1 AGROTÓXICOS

9.1.1 PROTEÇÃO QUÍMICA DAS CULTURAS E MEIO AMBIENTE

A produção e o cultivo de alimentos para atender uma população mundial de 7,2 bilhões de pessoas,
que está em crescimento, restam cada vez mais incrementados na busca do aumento da produção alimentar.
Com este objetivo, agrotóxicos e outros produtos químicos são empregados n o processo de cultivo e produção
colocando em risco produtores, comerciantes e consumidores.
Se, por um lado, a população necessita de uma alimentação em quantidade e qualidade adequadas, a
ser adquirida por um preço acessível, por outro esta sofre riscos gerados pelo emprego de agrotóxicos nestas
culturas.
Na busca da solução deste dilema, o direito internacional e os países procuram regular o emprego de
agrotóxicos no processo produtivo com a adoção de medidas preventivas e de responsabilização administrativa,
civil e penal daqueles agentes econômicos integrados ao referido processo que são potenciais causadores de
danos à saúde pública e ao meio ambiente.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 84


A pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento,
a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos
resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, são regidos pela Lei 7.802/1989 e pelo Decreto 4.074/2002.
Deixou-se, finalmente, o uso do termo “defensivo agrícola”, que, segundo Machado, distorcia o
conceito e cuja denominação fugia da linha da terminologia internacional, que é “pesticida” ou “praguicida”.
Ainda que o Brasil não tenha inserido na nomenclatura oficial o termo “pesticida”, a acolhida do termo
“agrotóxico” já coloca em relevo a presença de produto perigoso (MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito
Ambiental brasileiro. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 578).
De acordo com a Lei, agrotóxicos e afins são os produtos e os agentes de processos físicos, químicos
ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos
agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também
de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a
fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; e as substâncias e produtos,
empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento. Componentes, são os
princípios ativos, os produtos técnicos, suas matérias-primas, os ingredientes inertes e aditivos usados na
fabricação de agrotóxicos e afins.
Vide art. 2º da Lei 7.802/1989:

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se:


I - agrotóxicos e afins:
a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção,
no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou
implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja
alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos;
b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento;
II - componentes: os princípios ativos, os produtos técnicos, suas matérias-primas, os ingredientes inertes e aditivos
usados na fabricação de agrotóxicos e afins.

Os agrotóxicos, seus componentes e afins só poderão ser produzidos, exportados, importados,


comercializados e utilizados, se previamente registrados em órgão federal, de acordo com as diretrizes e
exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura.
Vide art. 3º da Lei 7.802/1989:
Art. 3º Os agrotóxicos, seus componentes e afins, de acordo com definição do art. 2º desta Lei, só poderão ser
produzidos, exportados, importados, comercializados e utilizados, se previamente registrados em órgão federal, de
acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da
agricultura.
§ 1º Fica criado o registro especial temporário para agrotóxicos, seus componentes e afins, quando se destinarem à
pesquisa e à experimentação.
§ 2º Os registrantes e titulares de registro fornecerão, obrigatoriamente, à União, as inovações concernentes aos dados
fornecidos para o registro de seus produtos.
§ 3º Entidades públicas e privadas de ensino, assistência técnica e pesquisa poderão realizar experimentação e
pesquisas, e poderão fornecer laudos no campo da agronomia, toxicologia, resíduos, química e meio ambiente.
§ 4º Quando organizações internacionais responsáveis pela saúde, alimentação ou meio ambiente, das quais o Brasil
seja membro integrante ou signatário de acordos e convênios, alertarem para riscos ou desaconselharem o uso de
agrotóxicos, seus componentes e afins, caberá à autoridade competente tomar imediatas providências, sob pena de
responsabilidade.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 85


§ 5º O registro para novo produto agrotóxico, seus componentes e afins, será concedido se a sua ação tóxica sobre o
ser humano e o meio ambiente for comprovadamente igual ou menor do que a daqueles já registrados, para o mesmo
fim, segundo os parâmetros fixados na regulamentação desta Lei.
§ 6º Fica proibido o registro de agrotóxicos, seus componentes e afins:
a) para os quais o Brasil não disponha de métodos para desativação de seus componentes, de modo a impedir que os
seus resíduos remanescentes provoquem riscos ao meio ambiente e à saúde pública;
b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil;
c) que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas, de acordo com os resultados atualizados
de experiências da comunidade científica;
d) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo com procedimentos e experiências
atualizadas na comunidade científica;
e) que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com animais, tenham podido
demonstrar, segundo critérios técnicos e científicos atualizados;
f) cujas características causem danos ao meio ambiente.

As pessoas físicas e jurídicas que sejam prestadoras de serviços na aplicação de agrotóxicos, seus
componentes e afins, ou que os produzam, importem, exportem ou comercializem, ficam obrigadas a promover
os seus registros nos órgãos competentes, do Estado ou do Município, atendidas as diretrizes e exigências dos
órgãos federais responsáveis que atuam nas áreas da saúde, do meio ambiente e da agricultura.
Vide art. 4º da Lei 7.802/1989:
Art. 4º As pessoas físicas e jurídicas que sejam prestadoras de serviços na aplicação de agrotóxicos, seus componentes
e afins, ou que os produzam, importem, exportem ou comercializem, ficam obrigadas a promover os seus registros nos
órgãos competentes, do Estado ou do Município, atendidas as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis
que atuam nas áreas da saúde, do meio ambiente e da agricultura.
Parágrafo único. São prestadoras de serviços as pessoas físicas e jurídicas que executam trabalho de prevenção,
destruição e controle de seres vivos, considerados nocivos, aplicando agrotóxicos, seus componentes e afins.

Possuem legitimidade para requerer o cancelamento ou a impugnação, em nome próprio, do registro


de agrotóxicos e afins, arguindo prejuízos ao meio ambiente, à saúde humana e dos animais, as entidades de
classe, representativas de profissões ligadas ao setor; os partidos políticos, com representação no Congresso
Nacional; e as entidades legalmente constituídas para defesa dos interesses difusos relacionados à proteção do
consumidor, do meio ambiente e dos recursos naturais.
Vide art. 5º da Lei 7.802/1989:
Art. 5º Possuem legitimidade para requerer o cancelamento ou a impugnação, em nome próprio, do registro de
agrotóxicos e afins, argüindo prejuízos ao meio ambiente, à saúde humana e dos animais:
I - entidades de classe, representativas de profissões ligadas ao setor;
II - partidos políticos, com representação no Congresso Nacional;
III - entidades legalmente constituídas para defesa dos interesses difusos relacionados à proteção do consumidor, do
meio ambiente e dos recursos naturais.
§ 1º Para efeito de registro e pedido de cancelamento ou impugnação de agrotóxicos e afins, todas as informações
toxicológicas de contaminação ambiental e comportamento genético, bem como os efeitos no mecanismo hormonal,
são de responsabilidade do estabelecimento registrante ou da entidade impugnante e devem proceder de laboratórios
nacionais ou internacionais.
§ 2º A regulamentação desta Lei estabelecerá condições para o processo de impugnação ou cancelamento do registro,
determinando que o prazo de tramitação não exceda 90 (noventa) dias e que os resultados apurados sejam publicados.
§ 3º Protocolado o pedido de registro, será publicado no Diário Oficial da União um resumo do mesmo.

A propaganda comercial de agrotóxicos, componentes e afins, em qualquer meio de comunicação,


conterá, obrigatoriamente, clara advertência sobre os riscos do produto à saúde dos homens, animais e ao meio
ambiente.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 86


Vide art. 8º da Lei 7.802/1989:
Art. 8º A propaganda comercial de agrotóxicos, componentes e afins, em qualquer meio de comunicação, conterá,
obrigatoriamente, clara advertência sobre os riscos do produto à saúde dos homens, animais e ao meio ambiente, e
observará o seguinte:
I - estimulará os compradores e usuários a ler atentamente o rótulo e, se for o caso, o folheto, ou a pedir que alguém
os leia para eles, se não souberem ler;
II - não conterá nenhuma representação visual de práticas potencialmente perigosas, tais como a manipulação ou
aplicação sem equipamento protetor, o uso em proximidade de alimentos ou em presença de crianças;
III - obedecerá ao disposto no inciso II do § 2º do art. 7º desta Lei.

É competência da União legislar sobre a produção, registro, comércio interestadual, exportação,


importação, transporte, classificação e controle tecnológico e toxicológico; controlar e fiscalizar os
estabelecimentos de produção, importação e exportação; - analisar os produtos agrotóxicos, seus componentes
e afins, nacionais e importados; controlar e fiscalizar a produção, a exportação e a importação.
Vide art. 9º da Lei 7.802/1989:
Art. 9º No exercício de sua competência, a União adotará as seguintes providências:
I - legislar sobre a produção, registro, comércio interestadual, exportação, importação, transporte, classificação e
controle tecnológico e toxicológico;
II - controlar e fiscalizar os estabelecimentos de produção, importação e exportação;
III - analisar os produtos agrotóxicos, seus componentes e afins, nacionais e importados;
IV - controlar e fiscalizar a produção, a exportação e a importação.

Compete aos Estados e ao Distrito Federal, nos termos dos arts. 23 e 24 da Constituição Federal, legislar
sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e
afins, bem como fiscalizar o uso, o consumo, o comércio, o armazenamento e o transporte interno. Cabe ao
Município legislar supletivamente sobre o uso e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins.
Vide art. 11 da Lei 7.802/1989: Art. 11. Cabe ao Município legislar supletivamente sobre o uso e o armazenamento dos
agrotóxicos, seus componentes e afins.
A União, contudo, através dos órgãos competentes, prestará o apoio necessário às ações de controle e
fiscalização, à Unidade da Federação que não dispuser dos meios necessários.
Vide art. 12 da Lei 7.802/1989: Art. 12. A União, através dos órgãos competentes, prestará o apoio necessário às
ações de controle e fiscalização, à Unidade da Federação que não dispuser dos meios necessários.
Compete ao Poder Público a fiscalização da devolução e destinação adequada de embalagens vazias de
agrotóxicos, seus componentes e afins, de produtos apreendidos pela ação fiscalizadora e daqueles impróprios
para utilização ou em desuso; do armazenamento, transporte, reciclagem, reutilização e inutilização de
embalagens vazias e produtos.
Vide art. 12A da Lei 7.802/1989:
Art. 12A. Compete ao Poder Público a fiscalização: (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)
I – da devolução e destinação adequada de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, de produtos
apreendidos pela ação fiscalizadora e daqueles impróprios para utilização ou em desuso; (Incluído pela Lei nº 9.974,
de 2000)
II – do armazenamento, transporte, reciclagem, reutilização e inutilização de embalagens vazias e produtos referidos
no inciso I. (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 87


A venda de agrotóxicos e afins aos usuários será feita através de receituário próprio, prescrito por
profissionais legalmente habilitados, salvo casos excepcionais que forem previstos na regulamentação da Lei
7.802/1989.
Vide art. 13 da Lei 7.802/1989: Art. 13. A venda de agrotóxicos e afins aos usuários será feita através de receituário
próprio, prescrito por profissionais legalmente habilitados, salvo casos excepcionais que forem previstos na regulamentação desta
Lei.
As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das pessoas e ao meio
ambiente, quando a produção, comercialização, utilização, transporte e destinação de embalagens vazias de
agrotóxicos, seus componentes e afins, não cumprirem o disposto na legislação pertinente, cabem: ao
profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida; ao usuário ou ao prestador de
serviços, quando proceder em desacordo com o receituário ou as recomendações do fabricante e órgãos
registrantes e sanitário-ambientais; ao comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou em
desacordo com a receita ou recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; ao
registrante que, por dolo ou por culpa, omitir informações ou fornecer informações incorretas; ao produtor,
quando produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes do registro do produto, do rótulo,
da bula, do folheto e da propaganda, ou não der destinação às embalagens vazias em conformidade com a
legislação pertinente; e ao empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equipamentos
adequados à proteção da saúde dos trabalhadores ou dos equipamentos na produção, distribuição e aplicação
dos produtos.
Vide art. 14 da Lei 7.802/1989:
Art. 14. As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das pessoas e ao meio
ambiente, quando a produção, comercialização, utilização, transporte e destinação de embalagens vazias de
agrotóxicos, seus componentes e afins, não cumprirem o disposto na legislação pertinente, cabem: (Redação dada pela
Lei nº 9.974, de 2000)
a) ao profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida;
b) ao usuário ou a prestador de serviços, quando em desacordo com o receituário;
b) ao usuário ou ao prestador de serviços, quando proceder em desacordo com o receituário ou as recomendações do
fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000)
c) ao comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou em desacordo com a receita;
c) ao comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou em desacordo com a receita ou recomendações
do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000)
d) ao registrante que, por dolo ou por culpa, omitir informações ou fornecer informações incorretas;
e) ao produtor que produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes do registro do produto, do
rótulo, da bula, do folheto e da propaganda;
e) ao produtor, quando produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes do registro do produto,
do rótulo, da bula, do folheto e da propaganda, ou não der destinação às embalagens vazias em conformidade com a
legislação pertinente; (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000)
f) ao empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equipamentos adequados à proteção da saúde dos
trabalhadores ou dos equipamentos na produção, distribuição e aplicação dos produtos.

Aquele que produzir, comercializar, transportar, aplicar, prestar serviço, der destinação a resíduos e
embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, em descumprimento às exigências estabelecidas
na legislação pertinente estará sujeito à pena de reclusão, de dois a quatro anos, além de multa.
O empregador, profissional responsável ou o prestador de serviço, que deixar de promover as medidas
necessárias de proteção à saúde e ao meio ambiente, estará sujeito à pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 88


anos, além de multa de 100 (cem) a 1.000 (mil) MVR. Em caso de culpa, será punido com pena de reclusão de
1 (um) a 3 (três) anos, além de multa de 50 (cinqüenta) a 500 (quinhentos) MVR.
Vide art. 15 e Art. 16 da Lei 7.802/1989:
Art. 15. Aquele que produzir, comercializar, transportar, aplicar, prestar serviço, der destinação a resíduos e
embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, em descumprimento às exigências estabelecidas na
legislação pertinente estará sujeito à pena de reclusão, de dois a quatro anos, além de multa. (Redação dada pela Lei
nº 9.974, de 2000).
Art. 16. O empregador, profissional responsável ou o prestador de serviço, que deixar de promover as medidas
necessárias de proteção à saúde e ao meio ambiente, estará sujeito à pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos,
além de multa de 100 (cem) a 1.000 (mil) MVR. Em caso de culpa, será punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3
(três) anos, além de multa de 50 (cinqüenta) a 500 (quinhentos) MVR.

Sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis, a infração de disposições da Lei dos
Agrotóxicos acarretará, isolada ou cumulativamente, nos termos previstos em regulamento, independente das
medidas cautelares de estabelecimento e apreensão do produto ou alimentos contaminados, a aplicação das
seguintes sanções: advertência; multa de até 1000 (mil) vezes o Maior Valor de Referência - MVR, aplicável
em dobro em caso de reincidência; condenação de produto; inutilização de produto; suspensão de autorização,
registro ou licença; cancelamento de autorização, registro ou licença; interdição temporária ou definitiva de
estabelecimento; destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, com resíduos acima do permitido;
destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, nos quais tenha havido aplicação de agrotóxicos de uso
não autorizado, a critério do órgão competente.
Vide art. 17 da Lei 7.802/1989:
Art. 17. Sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis, a infração de disposições desta Lei acarretará,
isolada ou cumulativamente, nos termos previstos em regulamento, independente das medidas cautelares de
estabelecimento e apreensão do produto ou alimentos contaminados, a aplicação das seguintes sanções:
I - advertência;
II - multa de até 1000 (mil) vezes o Maior Valor de Referência - MVR, aplicável em dobro em caso de reincidência;
III - condenação de produto;
IV - inutilização de produto;
V - suspensão de autorização, registro ou licença;
VI - cancelamento de autorização, registro ou licença;
VII - interdição temporária ou definitiva de estabelecimento;
VIII - destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, com resíduos acima do permitido;
IX - destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, nos quais tenha havido aplicação de agrotóxicos de uso não
autorizado, a critério do órgão competente.
Parágrafo único. A autoridade fiscalizadora fará a divulgação das sanções impostas aos infratores desta Lei.

Após a conclusão do processo administrativo, os agrotóxicos e afins, apreendidos como resultado da


ação fiscalizadora, serão inutilizados ou poderão ter outro destino, a critério da autoridade competente. Os
custos referentes a quaisquer dos procedimentos mencionados correrão por conta do infrator.
Vide art. 18 da Lei 7.802/1989.
Art. 18. Após a conclusão do processo administrativo, os agrotóxicos e afins, apreendidos como resultado da ação
fiscalizadora, serão inutilizados ou poderão ter outro destino, a critério da autoridade competente.
Parágrafo único. Os custos referentes a quaisquer dos procedimentos mencionados neste artigo correrão por conta do
infrator.

A responsabilidade objetiva da sociedade empresária ficou caracterizada por envolver fabricação de produto
potencialmente lesivo a direitos alheios, como é a produção de venenos, agrotóxicos, fungicidas e herbicidas.
(AGARESP 201500778862, MARCO AURÉLIO BELLIZZE, STJ - TERCEIRA TURMA, DJE DATA: 06/06/2016,
DTPB).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 89


Direito Administrativo. 4. Responsabilidade civil do Estado. Perigo de dano ambiental. Depósito de agrotóxicos em
local inapropriado. Periclitação da saúde pública e do ambiente. 5. Ofensa meramente reflexa ao texto constitucional.
Controvérsia decidida com base nas legislações Federal e local. Incidência do Enunciado 280 da Súmula desta Corte.
Leis federais 6.938/81 e 7.802/89; Lei estadual 12.493/99. Precedentes. 6. Dever do Estado de prevenção e reparação
dos danos causados ao ambiente. Acordão recorrido em conformidade com a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF, RE-AgR 559622, GILMAR MENDES, 06.08.2013)

"as empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins, são responsáveis pela
destinação das embalagens vazias dos produtos por elas fabricados e comercializados, após a devolução pelos usuários,
e pela dos produtos apreendidos pela ação fiscalizatória e dos impróprios para utilização ou em desuso, com vistas à
sua reutilização, reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e instruções dos órgãos registrantes e sanitário-
ambientais competentes". 3. O responsável pelo destino final das embalagens vazias de agrotóxicos é o seu fabricante,
ou, quando o produto não for fabricado no país, o importador. (ROMS 200702416097, DENISE ARRUDA, STJ –
PRIMEIRA TURMA, DJE DATA:30/03/2009 RSTJ VOL.:00238 PG:00609, DTPB)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. TÉCNICOS AGRÍCOLAS DE NÍVEL MÉDIO. EXPEDIÇÃO DE


RECEITUÁRIO PARA VENDA DE AGROTÓXICOS. HABILITAÇÃO LEGAL. SÚMULA 83/STJ. 1. A Primeira
Seção do STJ firmou orientação no sentido de que os técnicos agrícolas de segundo grau possuem habilitação legal
para expedir receitas de agrotóxicos. 2. Agravo Regimental não provido. .EMEN: (AGRESP 201401308856,
HERMAN BENJAMIN, STJ - SEGUNDA TURMA,
DJE DATA:25/09/2014, DTPB)

9.1.2 PRODUTOS TÓXICOS

A Constituição Federal de 1988, no art. 225, § 1º, V79, atribui ao Poder Público o dever de controlar a
produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco à vida, à
qualidade de vida e para o meio ambiente, Outrossim, o transporte dos produtos tóxicos também é regulado
pelo ordenamento jurídico pátrio com a finalidade de evitar riscos de danos ao meio ambiente e à saúde pública.
a. Amianto
A extração, industrialização, utilização, comercialização e transporte do asbesto/amianto e dos produtos
que o contenham, bem como fibras naturais e artificiais de qualquer origem para o mesmo fim são disciplinadas
pela Lei 9.055/1995 e pelo Decreto 2.350/1997.
Art. 2º O asbesto/amianto da variedade crisotila (asbesto branco), do grupo dos minerais das serpentinas, e as demais
fibras, naturais e artificiais de qualquer origem, utilizadas para o mesmo fim, serão extraídas, industrializadas,
utilizadas e comercializadas em consonância com as disposições desta Lei.

É vedada em todo o território nacional a extração, produção, industrialização, utilização e


comercialização da actinolita, amosita (asbesto marrom), antofilita, crocidolita (amianto azul) e da tremolita,
variedades minerais pertencentes ao grupo dos anfibólios, bem como dos produtos que contenham estas
substâncias minerais; a pulverização (spray) de todos os tipos de fibras, tanto de asbesto/amianto da variedade
crisotila como daquelas naturais e artificiais referidas na Lei; e a venda a granel de fibras em pó, tanto de
asbesto/amianto da variedade crisotila como daquelas naturais e artificiais igualmente referidas no art. 2º da
Lei .

79
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 90


Os órgãos competentes de controle de segurança, higiene e medicina do trabalho desenvolverão
programas sistemáticos de fiscalização, monitoramento e controle dos riscos de exposição ao asbesto/amianto
da variedade crisotila e às fibras naturais e artificiais referidas no art. 2º da referida Lei, diretamente ou através
de convênios com instituições públicas ou privadas credenciadas para tal fim pelo Poder Executivo.
Vide art. 4º da Lei 9.055/1995:
Art. 4º Os órgãos competentes de controle de segurança, higiene e medicina do trabalho desenvolverão programas
sistemáticos de fiscalização, monitoramento e controle dos riscos de exposição ao asbesto/amianto da variedade
crisotila e às fibras naturais e artificiais referidas no art. 2º desta Lei, diretamente ou através de convênios com
instituições públicas ou privadas credenciadas para tal fim pelo Poder Executivo.

As empresas que manipularem ou utilizarem materiais contendo asbesto/amianto da variedade crisotila


ou as fibras naturais e artificiais referidas no art. 2º da Lei enviarão, anualmente, ao Sistema Único de Saúde e
aos sindicatos representativos dos trabalhadores uma listagem dos seus empregados, com indicação de setor,
função, cargo, data de nascimento, de admissão e de avaliação médica periódica, acompanhada do diagnóstico
resultante.
Todos os trabalhadores das empresas que lidam com o asbesto/amianto da variedade crisotila e com as
fibras naturais e artificiais serão registrados e acompanhados por serviços do Sistema Único de Saúde,
devidamente qualificados para esse fim, sem prejuízo das ações de promoção, proteção e recuperação da saúde
interna, de responsabilidade das empresas.
Vide art. 5º da Lei 9.055/1995.
Art. 5º As empresas que manipularem ou utilizarem materiais contendo asbesto/amianto da variedade crisotila ou as
fibras naturais e artificiais referidas no art. 2º desta Lei enviarão, anualmente, ao Sistema Único de Saúde e aos
sindicatos representativos dos trabalhadores uma listagem dos seus empregados, com indicação de setor, função, cargo,
data de nascimento, de admissão e de avaliação médica periódica, acompanhada do diagnóstico resultante.
Parágrafo único. Todos os trabalhadores das empresas que lidam com o asbesto/amianto da variedade crisotila e com
as fibras naturais e artificiais referidas no art. 2º desta Lei serão registrados e acompanhados por serviços do Sistema
Único de Saúde, devidamente qualificados para esse fim, sem prejuízo das ações de promoção, proteção e recuperação
da saúde interna, de responsabilidade das empresas.

Em todos os locais de trabalho onde os trabalhadores estejam expostos ao asbesto/amianto da variedade


crisotila ou das fibras naturais ou artificiais deverão ser observados os limites de tolerância fixados na
legislação pertinente e, na sua ausência, serão fixados com base nos critérios de controle de exposição
recomendados por organismos nacionais ou internacionais, reconhecidos cientificamente.
Outros critérios de controle da exposição dos trabalhadores que não aqueles definidos pela legislação
de Segurança e Medicina do Trabalho deverão ser adotados nos acordos assinados entre os sindicatos dos
trabalhadores e os empregadores. Os limites fixados deverão ser revisados anualmente, procurando-se reduzir
a exposição ao nível mais baixo que seja razoavelmente exequível.
Vide art. 7º da Lei 9.055/1995:
Art. 7º Em todos os locais de trabalho onde os trabalhadores estejam expostos ao asbesto/amianto da variedade crisotila
ou das fibras naturais ou artificiais referidas no art. 2º desta Lei deverão ser observados os limites de tolerância fixados
na legislação pertinente e, na sua ausência, serão fixados com base nos critérios de controle de exposição recomendados
por organismos nacionais ou internacionais, reconhecidos cientificamente.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 91


§ 1º Outros critérios de controle da exposição dos trabalhadores que não aqueles definidos pela legislação de Segurança
e Medicina do Trabalho deverão ser adotados nos acordos assinados entre os sindicatos dos trabalhadores e os
empregadores, previstos no art. 3º desta Lei.
§ 2º Os limites fixados deverão ser revisados anualmente, procurando-se reduzir a exposição ao nível mais baixo que
seja razoavelmente exeqüível.

(...) Ação direta de inconstitucionalidade. Lei estadual (RS) nº 12.427/2006. Restrições ao comércio de produtos
agrícolas importados no Estado. Competência privativa da União para legislar sobre comércio exterior e interestadual
(CF, art. 22, inciso VIII). 1. É formalmente inconstitucional a lei estadual que cria restrições à comercialização, à
estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no Estado, ainda que tenha por objetivo a proteção da saúde
dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por outros países. A matéria é predominantemente
de comércio exterior e interestadual, sendo, portanto, de competência privativa da União (CF, art. 22, inciso VIII). 3.
Ação direta julgada procedente. (STF, ADI 3813, DIAS TOFFOLI)

(...) Norma estadual que proíbe a fabricação, ingresso, comercialização e estocagem de amianto ou produtos à base de
amianto está em flagrante contraste com as disposições da Lei federal nº 9.055/95 que expressamente autoriza, nos
seus termos, a extração, industrialização, utilização e comercialização da crisotila. 7. Inconstitucionalidade aparente
que autoriza o deferimento da medida cautelar. 8. Medida liminar parcialmente deferida para suspender a eficácia do
artigo 1º, §§ 1º, 2º e 3º, do art. 2º, do art. 3º, §§ 1º e 2º e do parágrafo único do art. 5º, todos da Lei nº 2.210/01, do
Estado do Mato Grosso do Sul, até julgamento final da presente ação declaratória de inconstitucionalidade. ADI- 2396
Ministra Ellen Gracie.

b. Ascarel
O Ascarel é regulado pela Portaria Interministerial nº 19/1981, que proibiu a produção dessa substância,
a fabricação do produto que o contenha e todos tipo de uso e de comercialização deste.
O objetivo da Portaria foi evitar a contaminação do ambiente por bifenil policlorados - PCB's
(comercialmente conhecidos como Askarel, Aroclor, Clophen, Phenoclor, Kanechlor e outros), devida aos
efeitos nocivos que esses compostos causam ao homem e animais. De acordo com a portaria os mencionados
compostos provocam males, como lesões dermatológicas acentuadas, alterações no fígado e rins, alterações
morfológicas nos dentes, alterações psíquicas, perda da libido, efeitos teratogênicos e cancerígenos.
As normas que regem a portaria determinam a proibição em todo o Território Nacional, da implantação
de processos que tenham como finalidade principal a produção de bifenil policlorados - PCB's; o uso e a
comercialização de bifenil policlorados - PCB's, em todo o estado, puro ou mistura, em qualquer concentração
ou estado físico, nos seguintes casos e prazos:
a) como fluído dielétrico nos transformadores novos, encomendados a partir de 06 (seis) meses da
data da publicação da Portaria;
b) como fluído dielétrico nos capacitores novos, encomendados depois de 20(vinte) meses da data
da publicação da Portaria;
c) como aditivo para tintas, plásticos, lubrificantes e óleo de corte, fabricados a partir de 12 (doze)
meses da data de publicação da Portaria;
d) em outras aplicações, que não as acima citadas, a partir de 24 (vinte e quatro ) meses da data de
publicação da Portaria.
Os equipamentos de sistema elétrico, em operação que usam bifenil policlorados - PCB's, como fluído
dielétrico, poderão continuar com este dielétrico, até que seja necessário o seu esvaziamento, após o que
somente poderão ser preenchidos com outro que não contenha PCB's.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 92


As empresas usuárias de equipamentos elétricos deverão considerar, nas especificações de novos
capacitores de potências, a aquisição de equipamentos que não utilizam PCB's. É terminantemente proibido o
despejo de bifenil policlorados - PCB's, ou produtos que contenham, quer diretamente ou indiretamente, nos
cursos de coleções d'água ou locais expostos às intempéries. Cabe aos órgãos estaduais do meio ambiente a
vigilância e fiscalização para cumprimento das normas contidas na Portaria.

c. Mercúrio
O Decreto 97.507/1989 estabelece que é vedado o uso de mercúrio na atividade de extração de ouro,
exceto em atividade licenciada pelo órgão ambiental competente. A Resolução 357/2005 do Conama
regulamenta a concentração de mercúrio em águas doces, salobras e salinas no território nacional.

(...) evidente o interesse nacional nas ações cujo objeto envolve dano ambiental com possível poluição de lençol
freático, extração de substâncias potencialmente poluente (mercúrio), existência de animais silvestres ameaçados de
extinção. Presente a verossimilhança do direito, pois foi constatado o risco de impacto ambiental pelo IBAMA, ausente
prova em contrário, ônus que incumbia à agravante. . Risco de prejuízo irreparável que reside na ineficácia do
provimento jurisdicional após o decurso de longo prazo até o julgamento final da ação, em que o empreendimento
prosseguiria degradando o meio ambiente. . Prequestionamento quanto à legislação invocada estabelecido pelas razões
de decidir. . Agravo de instrumento improvido. (AG 200404010444032, FERNANDO QUADROS DA SILVA, TRF4
- TERCEIRA TURMA, DJ 29/11/2006 PÁGINA: 873.)

d. Cloro
A produção de cloro pelo processo de eletrólise em todo o território nacional sujeita-se às normas
estabelecidas na Lei 9.976/2000. Ficam mantidas, nos termos desta Lei, as tecnologias atualmente em uso no
País para a produção de cloro pelo processo de eletrólise, desde que observadas as seguintes práticas pelas
indústrias produtoras:
I – cumprimento da legislação de segurança, saúde no trabalho e meio ambiente vigente;
II – análise de riscos com base em regulamentos e normas legais vigentes;
III – plano interno de proteção à comunidade interna e externa em situações de emergência;
IV – plano de proteção ambiental que inclua o registro das emissões;
V – controle gerencial do mercúrio nas empresas que utilizem tecnologia a mercúrio...

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA.


CONTROLE E QUALIDADE DA ÁGUA DE PISCINAS. CONDOMÍNIO RESIDENCIAL. ANOTAÇÃO DE
FUNÇÃO TÉCNICA. Dispensável a presença de profissional habilitado junto ao CRQ e expedição de Anotação de
Função Técnica para o tratamento de água de piscinas. A fiscalização e o controle da qualidade da água, incluindo os
serviços de dosagem de cloro, ph e exames bacteriológicos estão a cargo da autoridade sanitária local, que só autoriza
o funcionamento das piscinas após o controle por laboratórios por ela indicados, o que torna desnecessária a presença
do profissional. Sucumbência mantida. Prequestionamento estabelecido pelas razões de decidir. Apelação improvida.
(AC 200272000098507, SILVIA MARIA GONÇALVES GORAIEB, TRF4 - TERCEIRA TURMA, D.E. 25/04/2007.

e. Pilhas e Baterias
A quantidade e limites do cádmio, chumbo e mercúrio utilizados em baterias e pilhas comercializadas
no Brasil, assim como os critérios e padrões para o seu gerenciamento ambiental deverão ser regulados de
acordo com a Resolução 401/2008 do Conama.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 93


Nos materiais publicitários e nas embalagens de pilhas e baterias, fabricadas no país ou importadas,
deverão constar de forma clara, visível e em língua portuguesa, a simbologia indicativa da destinação
adequada, as advertências sobre os riscos à saúde humana e ao meio ambiente, bem como a necessidade de,
após seu uso, serem encaminhadas aos revendedores ou à rede de assistência técnica autorizada. Vide art. 14
da Resolução 401/2008 do Conama:

Art. 14. Nos materiais publicitários e nas embalagens de pilhas e baterias, fabricadas no País ou importadas, deverão
constar de forma clara, visível e em língua portuguesa, a simbologia indicativa da destinação adequada, as advertências
sobre os riscos à saúde humana e ao meio ambiente, bem como a necessidade de, após seu uso, serem encaminhadas
aos revendedores ou à rede de assistência técnica autorizada, conforme Anexo I.

Os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes destas pilhas e baterias, ou de produtos que


as contenham para seu funcionamento, serão incentivados, em parceria com o poder público e sociedade civil,
a promover campanhas de educação ambiental, bem como pela veiculação de informações sobre a
responsabilidade pós-consumo e por incentivos à participação do consumidor neste processo.
Ver Art. 17 da Resolução 401/2008 do Conama.

(...) Cuida-se de medida cautelar interposta por Energizer do Brasil Ltda. para emprestar efeito suspensivo a recurso
especial interposto de acórdão prolatado em sede de agravo de instrumento que manteve decisão concessiva de tutela
antecipada que compeliu a requerente a proceder a destinação que entendesse mais adequada às pilhas e baterias que
importa e comercializa não podendo mais despejá-las nos aterros sanitários, sob pena de multa diária por dano ao meio
ambiente. Medida cautelar improcedente. Agravo regimental prejudicado. ..EMEN: (MC 200700411297, JOSÉ
DELGADO, STJ - PRIMEIRA TURMA, DJ DATA:19/11/2007 PG:00184 ..DTPB:.)

f. Transporte de produtos tóxicos


O transporte de produtos tóxicos é regulado especialmente pelo Decreto 96.044/1988, que, segundo
Machado, está “estribado no sintético Decreto-lei 2.063/1983 e na Lei 8.092/1983”. O fracionamento do
agrotóxico somente deve ser feito pelo produtor.
Durante as operações de carga, transporte, descarga, transbordo, limpeza e descontaminação os
veículos e equipamentos utilizados no transporte de produto perigoso deverão portar rótulos de risco e painéis
de segurança específicos, de acordo com as NBR-7500 e NBR- 8286. Após as operações de limpeza e completa
descontaminação dos veículos e equipamentos, os rótulos de risco e painéis de segurança serão retirados
(MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 612).
Vide art. 2º do Decreto 96.044/1988: “Art. 2° O transporte rodoviário de produtos perigosos realizado
pelas Forças Armadas obedecerá à legislação específica.”.
EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL (TCFA).
TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. ATIVIDADE DESENVOLVIDA PELA
EMBARGANTE. AUSÊNCIA DE REGULAR CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO. 1. Segundo o pronunciamento do
STF, a TCFA classificasse no conceito de taxa, restando superado, portanto, o entendimento desta Corte que a
enquadrava na categoria de contribuição de intervenção no domínio econômico. 2. Segundo a sistemática da Lei nº
6.938/1981, as pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras ou utilizadoras de
recursos naturais, mencionadas no anexo VIII da Lei, são obrigadas a se cadastrar junto ao IBAMA e, uma vez
incluídas no Cadastro, tornam-se contribuintes da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental, que devem recolher na
data e nos valores fixados pela Lei. 4. Em que pese exista informação no cadastro nacional da pessoa jurídica no
sentido de que os produtos transportados não sejam perigosos, chega-se à conclusão diversa ao se fazer a leitura do
documento apresentado pelo IBAMA. Nesse documento, é possível verificar que houve transporte realizado pela

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 94


apelada de "nitrato duplo sodio potasio", o que configura, segundo o referido documento, transporte de cargas
perigosas. 5. No caso em comento, a notificação enviada pelo IBAMA apenas intima o contribuinte a recolher as
importâncias devidas, não oportunizando defesa ou qualquer forma de impugnação. 6. A falta de menção ao prazo para
impugnação constitui vício formal no ato de lançamento, visto que suprime a ciência do sujeito passivo quanto à
possibilidade de defesa administrativa. Considerando que o direito do contribuinte de apresentar defesa e de instaurar
o contraditório na via administrativa constitui garantia constitucionalmente assegurada pelo art. 5º, inciso LV, da CF,
a falta de indicação do prazo para a defesa invalida a notificação. 7. Mantida a procedência dos embargos, ainda que
por fundamentação diversa da adotada na r. sentença. 8. Apelação improvida. (AC 50092943220124047110, JOEL
ILAN PACIORNIK, TRF4 - PRIMEIRA TURMA, D.E. 28/05/2014.)

10 RECURSOS HÍDRICOS

A água é um dos recursos naturais mais importantes para a sobrevivência do homem na Terra. É
essencial às funções vitais e existe na biosfera na forma líquida (doce e salgada), sólida (doce) e de vapor
(doce). A sua forma líquida constitui cerca de 97,72% da encontrada na biosfera, sendo que desse percentual
97% é salgada e somente 0,72% é doce (FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental
Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 100).
De acordo com Sirvinkas:
Desde que houve o esfriamento da Terra, há muitos milênios (56 bilhões de anos), permanece a mesma quantidade de
água, ou seja, 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos (salgada e doce). Somente 90 mil quilômetros cúbicos (doce)
encontram-se prontos para beber, mas nem todo este estoque está disponível na natureza, e só podemos utilizar os
recursos renováveis pelas chuvas, reduzindo-se para 34 mil quilômetros cúbicos anuais, correspondente a 0,002% das
águas do planeta.

O aumento do consumo duplicará nos próximos 35 anos, chegando no limite da disponibilidade da


água. Atualmente, perto de 70% da água do mundo é utilizada para agricultura (SIRVINKAS, Luis Paulo.
Manual de Direito Ambiental. 14a. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 198).
A água é essencial para a vida dos seres humanos e não humanos como, também, para a promoção do
desenvolvimento sustentável, em especial, produção de alimentos na agricultura. A humanidade terá que
proceder uma gestão sustentável de recursos hídricos para poder proporcionar uma existência digna para as
futuras gerações.
A Constituição Federal não ignorou a importância das águas e inseriu, como bens da União, no seu art.
20: os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado,
sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os
terrenos marginais e as praias fluviais; as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as
praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as áreas referidas no art. 26, II; os recursos
naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; o mar territorial; e os potenciais de energia
hidráulica.
Resta uma exceção prevista no § 1º do referido artigo quando assegura, nos termos da Lei, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no
resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica
e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 95


Outrossim, é de competência da União, prevista no art. 21 da Magna Carta: explorar, diretamente ou
mediante autorização, concessão ou permissão os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento
energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado ou Território; os portos marítimos, fluviais e lacustres; instituir o sistema
nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso.
É de competência privativa da União, de acordo com o art. 22 legislar sobre direito marítimo, águas,
regime dos portos, navegação lacustre, fluvial e marítima. É competência comum da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, de acordo com o art. 23, registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões
de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios.
Incluem-se entre os bens dos Estados, de acordo com o art. 26, as águas superficiais ou subterrâneas,
fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União.
Outrossim, o Brasil possui a Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei 9.443/1997.
São estes os fundamentos da PNRH: a água é um bem de domínio público; a água é um recurso natural limitado,
dotado de valor econômico; em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo
humano e a dessedentação de animais; a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo
das águas;
A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; e a gestão dos recursos
hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das
comunidades.
Vide art. 1º da Lei 9.433/1997:
Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:
I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de
animais;
IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;
V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação
do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários
e das comunidades.

São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos: assegurar à atual e às futuras gerações a
necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; a utilização
racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento
sustentável; e a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do
uso inadequado dos recursos naturais.
Vide art. 2º da Lei 9.433/1997:
Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados
aos respectivos usos;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 96


II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao
desenvolvimento sustentável;
III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado
dos recursos naturais.
IV - incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais. (Incluído pela Lei nº
13.501, de 2017).

Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos: a
gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade; a adequação
da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais
das diversas regiões do País; a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental; a articulação
do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os planejamentos regional, estadual e
nacional; a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo; e a integração da gestão das bacias
hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras.
A União articular-se-á com os Estados, tendo em vista o gerenciamento dos recursos hídricos de
interesse comum. Vide art. 3º e 4º da Lei 9.433/1997:
Art. 3º Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade;
II - a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e
culturais das diversas regiões do País;
III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;
IV - a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os planejamentos regional,
estadual e nacional;
V - a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;
VI - a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras.

Art. 4º A União articular-se-á com os Estados tendo em vista o gerenciamento dos recursos hídricos de interesse
comum.

São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos: os Planos de Recursos Hídricos; o


enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a outorga dos direitos
de uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; a compensação a municípios; e o Sistema
de Informações sobre Recursos Hídricos. Vide art. 5º da Lei 9.433/1997:
Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água;
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V - a compensação a municípios;
VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

PROCESSUAL CIVIL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO BÁSICO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO


DE FAZER. Extrai-se do acórdão vergastado e das razões do Recurso Especial que a vexata quaestio envolve possível
conflito entre disposição de Lei Estadual (Decreto 41.446/96), Leis Federais (CDC e Lei de Recursos Hídricos) e
Constituição Federal. Nesse quadro, o conflito entre lei local, federal e Constituição só pode ser resolvido pelo
Supremo Tribunal Federal, pois trata, em última análise, de matéria constitucional relacionada ao pacto federativo.
Precedentes do STJ. 3. Agravo Regimental não provido. EMEN: (AGRESP 201502709961, HERMAN BENJAMIN,
STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:30/05/2016, DTPB)

Na demanda original, o Ministério Público pleiteia provimento jurisdicional que proíba a realização da
obra pretendida, sob o argumento de que implica aproveitamento de recursos hídricos em terras indígenas, sem

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 97


prévia e obrigatória autorização do Congresso Nacional. Cautelarmente, foi requerida a concessão de liminar
especificamente para "impedir o licenciamento (...) junto ao órgão competente". O Tribunal de origem
reformou a sentença de extinção do feito sem julgamento do mérito, concluindo acertadamente que o Parquet
possui interesse de agir.
Sabe-se que, assim como outros atos administrativos, a licença ambiental apresenta
elementos/requisitos essenciais e internos - verdadeiros órgãos vitais, que compõem o corpo e a genética do
ato, por assim dizer - que vinculam sua existência per se (p. ex., sujeito competente e conteúdo/objeto lícito),
além de pressupostos de fato ou de direito externos ao ato e condicionantes de sua prática (p. ex., exigência
constitucional de prévia aprovação pelo Congresso Nacional para aproveitamento de recursos hídricos e
exploração de riquezas minerais em terras indígenas).
Em situações nas quais faltem ou se questionem a presença ou a legalidade concretas desses elementos
e pressupostos, patente a utilidade da prestação jurisdicional e o consequente interesse de agir do autor da Ação
Civil Pública, independentemente da fase em que se encontre o licenciamento. Logo, indefensável, por ilógico
e não razoável, pretender que se aguarde o término (= fait accompli) de longo, trabalhoso e custoso
procedimento administrativo para só então se objetarem em juízo suas premissas de existência e validade.5.
Recurso Especial não provido (REsp 1616027/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 14/03/2017, DJe 05/05/2017)
ÁGUA SUBTERRÂNEA (POÇO ARTESIANO). EXPLORAÇÃO. OUTORGA. LEGISLAÇÃO LOCAL.
SÚMULA 280 DO STF. INCIDÊNCIA. A Corte estadual, embora tenha feito menção ao preceito legal tido por
violado (art. 45 da Lei n. 11.445/2007), reconheceu a validade da utilização de água proveniente de fonte alternativa
para consumo humano com fundamento na legislação estadual (Lei estadual n. 3.239/1999), admitindo que a proibição
de uso de recursos hídricos do Decreto estadual n. 40.156/2006 extrapolou os limites do poder regulamentar. (AgInt
no REsp 1319483/RJ, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/02/2017, DJe
09/03/2017).

O Código de Águas (Decreto 24.643/1934) deve ser interpretado à luz do sistema da Constituição
Federal de 1988 e da Lei 9.433/1997 (Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos), que admitem apenas
domínio público sobre os recursos hídricos.4. Na forma dos arts. 20, III, e 26, I, da Constituição, abolida está
a propriedade privada de lagos, rios, águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes ou em depósito,
bem como a de quaisquer correntes de água.5. Nesse sentido, a interpretação do art. 31 do Código de Águas,
segundo o qual "pertencem aos Estados os terrenos reservados às margens das correntes e lagos navegáveis,
se, por algum título, não forem do domínio federal, municipal ou particular", implica a propriedade do Estado
sobre todas as margens dos rios estaduais, tais como definidos pelo art. 26 da CF, excluídos os federais (art.20
da CF), tendo em vista que já não existem rios municipais nem particulares.6. O título legítimo em favor de
particular, previsto nos arts. 11 e 31 do Código de Águas, que poderia, em tese, subsidiar pleito do particular,
é apenas o decorrente de enfiteuse ou concessão, jamais dominial, pois juridicamente impossível.
Conforme a Súmula 479/STF, "as margens dos rios navegáveis são de domínio público, insuscetíveis
de expropriação e, por isso mesmo, excluídas da indenização". Recurso Especial parcialmente provido (REsp

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 98


1352673/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/05/2014, DJe
07/11/2016)

10.1 RECURSOS HÍDRICOS E MINERAÇÃO

O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos assegurar o controle
quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. Estão sujeitos a
outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos: derivação ou captação de
parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo
de processo produtivo; extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo
produtivo; lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não,
com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final; aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; outros
usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água. Vide art. 11
da Lei 9.433/1997. Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em regulamento: o uso de
recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio
rural; as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes; e as acumulações de volumes de
água consideradas insignificantes.
Vide art. 12 da Lei 9.433/1997:
Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos:
I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive
abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo;
III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de
sua diluição, transporte ou disposição final;
IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água.
§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em regulamento:
I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no
meio rural;
II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;
III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.
§ 2º A outorga e a utilização de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica estará subordinada ao Plano
Nacional de Recursos Hídricos, aprovado na forma do disposto no inciso VIII do art. 35 desta Lei, obedecida a
disciplina da legislação setorial específica.

A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Poder Executivo Federal, dos Estados ou
do Distrito Federal. O Poder Executivo Federal poderá delegar aos Estados e ao Distrito Federal competência
para conceder outorga de direito de uso de recurso hídrico de domínio da União.
Vide art. 14 da Lei 9.433/1997:
Art. 14. A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Poder Executivo Federal, dos Estados ou do
Distrito Federal.
§ 1º O Poder Executivo Federal poderá delegar aos Estados e ao Distrito Federal competência para conceder outorga
de direito de uso de recurso hídrico de domínio da União.
§ 2º (VETADO).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 99


A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em
definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias: não cumprimento pelo outorgado dos termos
da outorga; ausência de uso por três anos consecutivos; necessidade premente de água para atender a situações
de calamidade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas;
A necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental; necessidade de se atender a usos
prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de fontes alternativas; necessidade de serem
mantidas as características de navegabilidade do corpo de água.
Vide art. 15 da Lei 9.433/1997:
Art. 15. A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em definitivo ou
por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias:
I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;
II - ausência de uso por três anos consecutivos;
III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições
climáticas adversas;
IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;
V - necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de fontes
alternativas;
VI - necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água.

Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á por prazo não excedente a trinta e cinco
anos, renovável. A outorga não implica a alienação parcial das águas, que são inalienáveis, mas o simples
direito de seu uso.
Vide art. 16 e 18 da Lei 9.433/1997:

Art. 16. Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á por prazo não excedente a trinta e cinco anos,
renovável.
Art. 18. A outorga não implica a alienação parcial das águas, que são inalienáveis, mas o simples direito de seu uso.

A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva: reconhecer a água como bem econômico e dar ao
usuário uma indicação de seu real valor; incentivar a racionalização do uso da água; e obter recursos financeiros
para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.
Vide art. 19 da Lei 9.433/1997:
Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:
I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor;
II - incentivar a racionalização do uso da água;
III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de
recursos hídricos.

Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, compete ao Poder Executivo Federal:


tomar as providências necessárias à implementação e ao funcionamento do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos; outorgar os direitos de uso de recursos hídricos, e regulamentar e
fiscalizar os usos, na sua esfera de competência; implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos
Hídricos, em âmbito nacional; (...) promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão
ambiental O Poder Executivo Federal indicará, por decreto, a autoridade responsável pela efetivação de
outorgas de direito de uso dos recursos hídricos sob domínio da União.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


0
Vide art. 29 da Lei 9.433/1997:
Art. 29. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, compete ao Poder Executivo Federal:
I - tomar as providências necessárias à implementação e ao funcionamento do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos;
II - outorgar os direitos de uso de recursos hídricos, e regulamentar e fiscalizar os usos, na sua esfera de competência;
III - implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em âmbito nacional;
IV - promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.
Parágrafo único. O Poder Executivo Federal indicará, por decreto, a autoridade responsável pela efetivação de outorgas
de direito de uso dos recursos hídricos sob domínio da União.

Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, cabe aos Poderes Executivos Estaduais
e do Distrito Federal, na sua esfera de competência: outorgar os direitos de uso de recursos hídricos e
regulamentar e fiscalizar os seus usos; realizar o controle técnico das obras de oferta hídrica; implantar e gerir
o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em âmbito estadual e do Distrito Federal; promover a
integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.
Vide art. 30 da Lei 9.433/1997:
Art. 30. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, cabe aos Poderes Executivos Estaduais e do
Distrito Federal, na sua esfera de competência:
I - outorgar os direitos de uso de recursos hídricos e regulamentar e fiscalizar os seus usos;
II - realizar o controle técnico das obras de oferta hídrica;
III - implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em âmbito estadual e do Distrito Federal;
IV - promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.

A Lei criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com os seguintes objetivos:
coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos
hídricos; implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a
preservação e a recuperação dos recursos hídricos; promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.
Vide art. 32 da Lei 9.433/1997:
Art. 32. Fica criado o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com os seguintes objetivos:
I - coordenar a gestão integrada das águas;
II - arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos;
III - implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;
IV - planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos;
V - promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos: o Conselho Nacional de


Recursos Hídricos; a Agência Nacional de Águas; os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito
Federal; os Comitês de Bacia Hidrográfica; os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito
Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; e as Agências de
Água.
Vide art. 33 da Lei 9.433/1997:
Art. 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos: (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)
I - o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)
I- A. - a Agência Nacional de Águas; (Incluído pela Lei 9.984, de 2000)
II - os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)
III - os Comitês de Bacia Hidrográfica; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)
IV - os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se
relacionem com a gestão de recursos hídricos; (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


1
V - as Agências de Água. (Redação dada pela Lei 9.984, de 2000).

Constitui infração das normas de utilização de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos: derivar
ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a respectiva outorga de direito de uso; iniciar a
implantação ou implantar empreendimento relacionado com a derivação ou a utilização de recursos hídricos,
superficiais ou subterrâneos, que implique alterações no regime, quantidade ou qualidade dos mesmos, sem
autorização dos órgãos ou entidades competentes; (...) utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou
serviços relacionados com os mesmos em desacordo com as condições estabelecidas na outorga; perfurar poços
para extração de água subterrânea ou operá-los sem a devida autorização;(...) fraudar as medições dos volumes
de água utilizados ou declarar valores diferentes dos medidos; infringir normas estabelecidas no regulamento
desta Lei e nos regulamentos administrativos, compreendendo instruções e procedimentos fixados pelos órgãos
ou entidades competentes; obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes no exercício
de suas funções.
Vide art. 49 da Lei 9.433/1997:
Art. 49. Constitui infração das normas de utilização de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos:
I - derivar ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a respectiva outorga de direito de uso;
II - iniciar a implantação ou implantar empreendimento relacionado com a derivação ou a utilização de recursos
hídricos, superficiais ou subterrâneos, que implique alterações no regime, quantidade ou qualidade dos mesmos, sem
autorização dos órgãos ou entidades competentes;
III - (VETADO)
IV - utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou serviços relacionados com os mesmos em desacordo com
as condições estabelecidas na outorga;
V - perfurar poços para extração de água subterrânea ou operá-los sem a devida autorização;
VI - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valores diferentes dos medidos;
VII - infringir normas estabelecidas no regulamento desta Lei e nos regulamentos administrativos, compreendendo
instruções e procedimentos fixados pelos órgãos ou entidades competentes;
VIII - obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes no exercício de suas funções.

Por infração de qualquer disposição legal ou regulamentar referentes à execução de obras e serviços
hidráulicos, derivação ou utilização de recursos hídricos de domínio ou administração da União, ou pelo não
atendimento das solicitações feitas, o infrator, a critério da autoridade competente, ficará sujeito às seguintes
penalidades, independentemente de sua ordem de enumeração: advertência por escrito, na qual serão
estabelecidos prazos para correção das irregularidades; multa, simples ou diária, proporcional à gravidade da
infração, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 10.000,00 (dez mil reais); embargo provisório, por prazo determinado,
para execução de serviços e obras necessárias ao efetivo cumprimento das condições de outorga ou para o
cumprimento de normas referentes ao uso, controle, conservação e proteção dos recursos hídricos; embargo
definitivo, com revogação da outorga, se for o caso, para repor incontinenti, no seu antigo estado, os recursos
hídricos, leitos e margens, nos termos dos arts. 58 e 59 do Código de Águas ou tamponar os poços de extração
de água subterrânea.
Vide art. 50 da Lei 9.433/1997:
Art. 50. Por infração de qualquer disposição legal ou regulamentar referentes à execução de obras e serviços
hidráulicos, derivação ou utilização de recursos hídricos de domínio ou administração da União, ou pelo não
atendimento das solicitações feitas, o infrator, a critério da autoridade competente, ficará sujeito às seguintes
penalidades, independentemente de sua ordem de enumeração:
I - advertência por escrito, na qual serão estabelecidos prazos para correção das irregularidades;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


2
II - multa, simples ou diária, proporcional à gravidade da infração, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 10.000,00 (dez mil
reais);
III - embargo provisório, por prazo determinado, para execução de serviços e obras necessárias ao efetivo cumprimento
das condições de outorga ou para o cumprimento de normas referentes ao uso, controle, conservação e proteção dos
recursos hídricos;
IV - embargo definitivo, com revogação da outorga, se for o caso, para repor incontinenti, no seu antigo estado, os
recursos hídricos, leitos e margens, nos termos dos arts. 58 e 59 do Código de Águas ou tamponar os poços de extração
de água subterrânea.
§ 1º Sempre que da infração cometida resultar prejuízo a serviço público de abastecimento de água, riscos à saúde ou
à vida, perecimento de bens ou animais, ou prejuízos de qualquer natureza a terceiros, a multa a ser aplicada nunca
será inferior à metade do valor máximo cominado em abstrato.
§ 2º No caso dos incisos III e IV, independentemente da pena de multa, serão cobradas do infrator as despesas em que
incorrer a Administração para tornar efetivas as medidas previstas nos citados incisos, na forma dos arts. 36, 53, 56 e
58 do Código de Águas, sem prejuízo de responder pela indenização dos danos a que der causa.
§ 3º Da aplicação das sanções previstas neste título caberá recurso à autoridade administrativa competente, nos termos
do regulamento.
§ 4º Em caso de reincidência, a multa será aplicada em dobro.

A água fornecida à população, após ser tratada pelas empresas concessionárias, permissionárias ou autorizadas, não
caracteriza mercadoria, razão pela qual é insuscetível de cobrança de ICMS.2. Inteligência do art. 46 do Código de
Águas e do art. 18 da Lei que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, que determinam ser a concessão do
serviço público de distribuição de água canalizada mera outorga que não implica a alienação das águas, uma vez que
se trata de bem de uso comum do povo inalienável. (AgRg no REsp 1056579/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/09/2009, DJe 05/10/2009)

ADMINISTRATIVO. POÇO ARTESIANO IRREGULAR. FISCALIZAÇÃO. OBJETIVOS E PRINCÍPIOS DA LEI


DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (LEI 9.433/97). COMPETÊNCIA COMUM DO
MUNICÍPIO.1. Hipótese em que se discutem os limites da competência fiscalizatória municipal relacionada à
perfuração de poço artesiano e sua exploração por particular.2. O Município autuou o recorrido e lacrou seu poço
artesiano, por inexistência de autorização e descumprimento da legislação estadual que veda a exploração dos recursos
hídricos, pelo particular, naquela área. 3. O Tribunal de origem entendeu que a competência do Município para
fiscalizar refere-se, exclusivamente, à proteção da saúde pública. Ocorre que a lacração do poço não decorreu dessa
competência (a água é comprovadamente potável, sem risco para a saúde), mas sim por conta de descumprimento das
normas que regem a exploração dos recursos hídricos, editadas pelo Estado.4. Não há controvérsia quanto à legislação
local, que, segundo o Ministério Público Estadual, veda a perfuração e a exploração de poço artesiano da área. 5. O
acórdão recorrido fundamenta-se nas competências fixadas pela Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei
9.433/97), ainda que interpretada à luz dos arts. 21, XIX, e 26, I, da Constituição Federal, o que atrai a competência
do STJ.6. A Lei 9.433/97, adotada pelo Tribunal de Justiça em suas razões de decidir, aponta claramente a competência
dos Municípios para a gestão dos recursos hídricos (art. 1º, VI) e para a "integração das políticas locais de saneamento
básico, de uso, ocupação e conservação do solo e de meio ambiente com as políticas federais e estaduais de recursos
hídricos" (art. 31). 7. Os arts. 1º, VI, e 31 da Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos devem ser interpretados
sob o prisma constitucional, que fixa a competência comum dos Municípios, relativa à proteção do meio ambiente e à
fiscalização da exploração dos recursos hídricos (art.23, VI e XI, da Constituição).8. A Lei da Política Nacional de
Recursos Hídricos significou notável avanço na proteção das águas no Brasil e deve ser interpretada segundo seus
objetivos e princípios. 9.Três são os objetivos dorsais da Lei 9.4433/97, todos eles com repercussão na solução da
presente demanda: a preservação da disponibilidade quantitativa e qualitativa de água, para as presentes e futuras
gerações; a sustentabilidade dos usos da água, admitidos somente os de cunho racional; e a proteção das pessoas e do
meio ambiente contra os eventos hidrológicos críticos, desiderato que ganha maior dimensão em época de mudanças
climáticas.10. Além disso, a Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos apóia-se em uma série de princípios
fundamentais, cabendo citar, entre os que incidem diretamente no litígio, o princípio da dominialidade pública (a água,
dispõe a lei expressamente, é bem de domínio público), (...) o princípio da finitude (a água é recurso natural limitado)
e o princípio da gestão descentralizada e democrática.11. As águas subterrâneas são "recurso ambiental", nos exatos
termos do art. 3º, V, da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), o que obriga o intérprete, na solução
de litígios associados à gestão de recursos hídricos, a fazer uma leitura conjunta dos dois textos legais, em genuíno
exercício de diálogo das fontes.12. É evidente que a perfuração indiscriminada e desordenada de poços artesianos tem
impacto direto no meio ambiente e na disponibilidade de recursos hídricos para o restante da população, de hoje e de
amanhã. Feita sem controle, também põe em risco a saúde (...) pública, por ausência de tratamento, quando for de
rigor.13. Em síntese, o Município tem competência para fiscalizar a exploração de recursos hídricos, superficiais e
subterrâneos, em seu território, o que lhe permite, por certo, também coibir a perfuração e exploração de poços
artesianos, no exercício legítimo de seu poder de polícia urbanístico, ambiental, sanitário e de consumo.14. Recurso
Especial provido. (REsp 994.120/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
25/08/2009, DJe 27/04/2011).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


3
EMENTA: ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERRENO DE MARINHA E ÁREA
DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AO MEIO AMBIENTE.
OBRIGAÇÃO DE RECOMPOR O MEIO AMBIENTE DEGRADADO. OBRIGAÇÃO PROPTER REM. 1. A
responsabilidade civil por danos ao meio ambiente encontra respaldo no art. 225, § 3º da Constituição Federal, que
recepcionou o regime da responsabilidade objetiva, independentemente de culpa, prevista pela Lei nº 6.938/81. 2. A
região em que localizado o imóvel é qualificada como terreno de marinha, por sofrer a influência da maré, e
considerada área de preservação permanente, por encontrar-se (...) às margens de corpo hídrico. 3. A ilegalidade do
aterro realizado pela ré é incontroversa, pois foi executado em área de preservação permanente, sem motivação de
interesse social ou utilidade pública e sem prévia licença ambiental, projeto de terraplanagem ou acompanhamento
técnico. 4. A intervenção em áreas consideradas de preservação permanente causa dano ao meio ambiente local,
independentemente de supressão de vegetação, porque a proteção abrange também os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora e o solo, além de assegurar o bem-estar das
populações humanas do entorno. 5. A obrigação de recompor o meio degradado é propter rem, inerente à função
socioambiental da propriedade, de modo que acompanha o imóvel e pode ser exigida dos adquirentes posteriores, ainda
que não tenham sido autores da lesão ecológica. (TRF4, AC 5010083-91.2013.404.7208, QUARTA TURMA, Relatora
VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, juntado aos autos em 29/05/2017).

ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RECURSOS HÍDRICOS.PRIORIDADE DO


ABASTECIMENTO PÚBLICO. LEI 9.433/1997.RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO DE
FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL. LEI 6.938/1981. DANO IN RE IPSA AO MEIO AMBIENTE.CONSTRUÇÃO DE
IMÓVEL EM ÁREA DE PROTEÇÃO DE MANANCIAIS. RESERVATÓRIO GUARAPIRANGA. ÁREA NON
AEDIFICANDI. IMPUTAÇÃO OBJETIVA E EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA. MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Trata-
se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público paulista contra o Estado de São Paulo e a
Imobiliária Caravelas Ltda. Nos termos da peça vestibular, a segunda ré construiu imóvel em área de manancial
(represa de Guarapiranga), na faixa non aedificandi. O Tribunal de Justiça reconheceu a existência das edificações
ilícitas e determinou sua demolição, entre outras providências. IMPORTÂNCIA DA ÁGUA 2. Indiscutível que sem
água não há vida. Por força de lei, abastecimento público é uso prioritário por excelência dos recursos hídricos (art. 1º,
III, da Lei 9.433/1997). Logo, qualquer outro emprego da água, de suas fontes e do entorno dos rios, lagos,
reservatórios e fontes subterrâneas que venha a ameaçar, dificultar, encarecer ou inviabilizar o consumo humano,
imediato ou futuro, deve ser combatido pelo Estado, na sua posição de guardião maior da vida das pessoas, com
medidas enérgicas e eficazes de prevenção, fiscalização, repressão e recuperação.3. Qualquer outro interesse
igualmente legítimo - habitação, comércio, indústria, lazer, agricultura, mineração - empalidece diante da
imprescindibilidade e caráter insubstituível da água, recurso precioso que só existe onde existe, ao contrário de
atividades concorrentes que, além de fungíveis, podem, em (...) tese, ser localizadas e exploradas em variados pontos
do território.4. Nas metrópoles, caracterizadas pela alta densidade populacional, o valor da água se avulta diante da
crescente escassez, que as assola de maneira geral, agravando-se pelas mudanças climáticas: o que se tem já não basta
para abastecer sequer os "com água", muito menos os milhões ainda "sem água", os carentes ou excluídos desse serviço
tão vital à dignidade da pessoa humana.5. E nem se fale em direito adquirido à ocupação, prévia ou não, pois, nos
planos ético e jurídico, ninguém possui ou incorpora, legitimamente, direito de matar de sede seus semelhantes, pouco
importando o pretexto do momento, (...) da crise habitacional à crise econômica, da especulação imobiliária ao
exercício de iniciativas produtivas úteis, que geram trabalho e renda. DANO AMBIENTAL EM ÁREA NON
AEDIFICANDI 6. Correto o Tribunal de Justiça ao concluir que "se verifica a ocorrência de lesão ao meio ambiente
pela construção de imóveis em área non aedificandi, que sujeita o infrator a sofrer as sanções previstas em lei",
deferência judicial à posição primordial da Represa Guarapiranga no abastecimento público da região metropolitana
de São Paulo.7. Com efeito, se a legislação prescreve ser o terreno non aedificandi, hipótese das Áreas de Preservação
Permanente, edificação que nele ocorra vem, (...) automaticamente e em si própria, qualificada como nociva, por
presunção absoluta de prejuízo ao bem ou bens protegidos (saúde, água, flora, fauna, paisagem, ordem urbanística,
etc). Trata-se de dano in re ipsa, inferência do próprio fato - edificação, ocupação, exploração ou uso proibidos falam
por si mesmos.8. Incompatível com pretensas justificativas técnicas ou jurídicas em sentido contrário, tal ficção legal,
lastreada na razoabilidade e no bom senso, expressa verdade indiscutível e, por isso, dispensa perícia destinada a
constatar ou contestar prejuízo concreto, já que vedado ao juiz convencer-se em sentido contrário. Não se faz prova
ou contraprova daquilo que o legislador presumiu juris et de jure. No caso de reservatórios de abastecimento público,
inútil convocar perito para desqualificar a lesão, ao apontar a não ocorrência de assoreamento, impermeabilização,
contaminação direta da água ou, ainda, a presença de emissários coletores de efluentes. RESPONSABILIDADE CIVIL
AMBIENTAL DO ESTADO POR OMISSÃO DE FISCALIZAÇÃO 9. Segundo o acórdão recorrido, deve ser
excluída a responsabilização do Estado, mesmo que reconheça haver o Ministério Público notificado a Secretaria
Estadual do Meio Ambiente, que não utilizou meios efetivos para sanar a violação e fazer cessar o dano.10. Nesse
ponto, o Tribunal de Justiça se distanciou da jurisprudência do STJ. Não se imputa ao Estado, nem se mostra viável
fazê-lo, a posição de segurador universal da integralidade das lesões sofridas por pessoas ou bens protegidos.
Tampouco parece razoável, por carecer de onipresença, exigir que a Administração fiscalize e impeça todo e qualquer
ato de infração a lei. No entanto, incumbe ao Estado o dever-poder de eficazmente e de boa-fé implementar as normas
em vigor, atribuição que, no âmbito do meio ambiente, ganha maior relevo diante da dominialidade pública de muitos
dos elementos que o compõem e da diversidade dos instrumentos de prevenção, repressão e reparação prescritos pelo
legislador.11. Apesar de se ter por certo a inexequibilidade de vigilância ubíqua, (...) é mister responsabilizar, em certas
situações, o Estado por omissão, de forma objetiva e solidária, mas com execução subsidiária (impedimento à sua

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


4
convocação per saltum), notadamente quando não exercida, a tempo, a prerrogativa de demolição administrativa ou
de outros atos típicos da autoexecutoriedade ínsita ao poder de polícia.12. Segundo a jurisprudência do STJ,
"independentemente da existência de culpa, o poluidor, ainda que indireto (Estadorecorrente) (art. 3º da Lei nº
6.938/81), é obrigado a indenizar e reparar o dano causado ao meio ambiente (responsabilidade objetiva)" 13. Recurso
Especial provido. (REsp 1376199/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
19/08/2014, DJe 07/11/2016)

11 MINERAÇÃO

A atividade de mineração causa significativos impactos ao meio ambiente e possui regulação


constitucional e infraconstitucional. De acordo com Machado, os impactos ambientais que mais se acentuam
são: Desmatamento nas áreas de operações, abrangendo núcleo de mineração constituído pela mina, bancadas
de estéril, deposição de rejeitos, estradas de serviços e áreas de apoio social e infraestrutura; Alteração do
padrão topográfico na abertura da cava de exaustão (MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental
brasileiro. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 654).
E, acrescenta, no sentido de que em geral são obras do solo, em que “atividades estão relacionadas com
as ações de escavação, desmonte, rebaixamento de lençol, transporte e bota fora de materiais, construção de
drenagens, estradas e praças de trabalho” (MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro.
24. ed. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 654).
Jazida é o depósito natural de uma ou mais substâncias úteis, inclusive os combustíveis naturais. É a
ocorrência anormal de minerais constituindo um depósito natural que existe concentrado em certos pontos da
superfície do globo terrestre. Consideram-se assim todas as substâncias minerais de origem natural, mesmo as
de origem orgânica, como carvão, petróleo, calcário e etc..
A lavra, por sua vez, é o lugar onde se realiza a exploração de mina, geralmente de ouro ou de diamante.
Lavra significa, por conseguinte, exploração econômica da jazida (MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito
Ambiental brasileiro. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 655).
E quais são os dispositivos constitucionais mais relevantes sobre a atividade de mineração? A
Constituição da República Federativa do Brasil dispõe no seu artigo 20, IX, que são bens da União os recursos
minerais, inclusive os do subsolo. É competência da União, de acordo com o Art. 21, inc. XXV, estabelecer as
áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa. E compete
privativamente à União, de acordo com o art. 22, inc. XII, legislar sobre jazidas, minas, outros recursos
minerais e metalurgia.
De acordo com o art. 174, §§ 3º e 4º80, o Estado, como agente normativo e regulador da atividade
econômica, exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este

80
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de
fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
§ 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e
compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento.
§ 2º A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.
§ 3º O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e
a promoção econômico-social dos garimpeiros.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


5
determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. O Estado favorecerá a organização da
atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção
econômico-social da atividade garimpeira.
As cooperativas, que tem como objetivo o exercício da atividade garimpeira, terão prioridade na
autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas áreas onde
estejam atuando, e naquelas fixadas nos termos do art. 21, XXV da Constituição Federal81.
As competências estaduais e municipais específicas de proteção ambiental, necessariamente, de acordo
com Antunes, terão repercussões na atividade minerária, ainda que não caiba aos Estados e aos Municípios
legislar diretamente sobre tais atividades (ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 18a ed. São Paulo:
Editora Atlas, 2016, p. 1338).
A Constituição Federal, novamente no seu art. 174, §§ 1º, 2º e 3º, prevê que a pesquisa e a lavra de
recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais de energia hidráulica somente poderão ser efetuados
mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob
as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições
específicas quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas. Resta
assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei.
E, ainda, a autorização de pesquisa será sempre por prazo determinado, e as autorizações e concessões previstas
não poderão ser cedidas ou transferidas, total ou parcialmente, sem prévia anuência do poder concedente.
Importante referir, de acordo com o art. 225, §2º82, que aquele que explorar os recursos minerais fica
obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público
competente na forma da lei. Não se pode deslembrar que, de acordo com o art. 231, §3o, da Constituição
Federal, são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo a União demarca-las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens, entre os quais, o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potencias
energéticos.
A pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem se efetivadas com autorização
do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada a participação no resultado
da lavra nos termos da lei.

§ 4º As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos
recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo com o art. 21, XXV, na
forma da lei.
81
Art. 21. Compete à União:
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.
82
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica
exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


6
A atividade mineradora deve ser licenciada, para que seja atendido o princípio da legalidade. Isto ocorre
em função do previsto no art. 10 da Lei 6.9381/1981. Porém, como bem assevera Antunes: há, entretanto,
direito especial quanto ao regime jurídico do licenciamento das atividades minerárias, estabelecido pela Lei
7.805/1989, que altera o Decreto-lei 227, de 28 de fevereiro de 1967, cria o regime de permissão de lavra
garimpeira, extingue o regime de matrículas e dá outras providências. Tanto a permissão de lavra garimpeira,
tratada no art. 3º da Lei 7.805/1989, quanto a concessão de lavra, tratada no art. 16, dependem de prévio
licenciamento pelo órgão ambiental integrante do Sisnama (ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental.
18a ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016, p. 1347-1348).
Relevante grifar que o Decreto 97.632/1989 regulamenta o artigo 2º, inciso VIII, da Lei 6.938/1981 e
disciplina de modo específico a recuperação de áreas degradadas por atividades minerárias, chegando a
estabelecer um conceito de degradação, estabelecendo a necessidade da apresentação de um plano de
recuperação da área degradada. O Decreto 97.632/1989, em seu Art. 2º, dispõe que “Para efeito deste Decreto
são considerados como degradação os processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se
perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos
recursos ambientais.”
Art. 1° Os empreendimentos que se destinam à exploração de recursos minerais deverão, quando da apresentação do
Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatório do Impacto Ambiental - RIMA, submeter à aprovação do órgão
ambiental competente, plano de recuperação de área degradada.
Parágrafo único. Para os empreendimentos já existentes, deverá ser apresentado ao órgão ambiental competente, no
prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, a partir da data de publicação deste Decreto, um plano de recuperação da
área degradada.

Consta no Decreto, outrossim, que a recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado
a uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando a obtenção de
uma estabilidade do meio ambiente.
Vide art. 3º do Decreto 97.632/1989:
Art. 3° A recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com
um plano preestabelecido para o uso do solo, visando a obtenção de uma estabilidade do meio ambiente.

Outrossim, o Ministério do Meio Ambiente passou a regular a proteção ao patrimônio espeleológico


via Portaria MMA 358/2009, instituindo o Programa Nacional de Conservação do Patrimônio Espeológico
que, segundo o art. 1º da mesma, possui como objetivo desenvolver a estratégia nacional de conservação e uso
sustentável do patrimônio espeleológico brasileiro.
Outrossim, o Programa Nacional de Conservação do Patrimônio Espeleológico tem como princípios:
todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se, ao Poder Público e à coletividade, o dever de defendê-lo e de preservá-
lo para as presentes e as futuras gerações; onde exista evidência científica de dano irreversível à diversidade
biológica, o Poder Público determinará medidas eficazes para evitar a degradação ambiental (...) a instalação
de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente deverá ser
precedida de estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; o valor de uso da biodiversidade

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


7
é determinado pelos valores culturais e inclui valor de uso direto e indireto, de opção de uso futuro e, ainda,
valor intrínseco, incluindo os valores ecológico, geológico, genético, social, econômico, científico,
educacional, cultural, recreativo e estético.
Vide art. 2º da Portaria MMA 358/2009:
Art. 2º O Programa Nacional de Conservação do Patrimônio Espeleológico tem como princípios:
I - todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se, ao Poder Público e à coletividade, o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as
presentes e as futuras gerações;
II - onde exista evidência científica de dano irreversível à diversidade biológica, o Poder Público determinará medidas
eficazes para evitar a degradação ambiental;
III - a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente deverá
ser precedida de estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; e
IV - o valor de uso da biodiversidade é determinado pelos valores culturais e inclui valor de uso direto e indireto, de
opção de uso futuro e, ainda, valor intrínseco, incluindo os valores ecológico, geológico, genético, social, econômico,
científico, educacional, cultural, recreativo e estético.

Em adição, o Decreto 99.556/1990 regulamenta a tutela das cavidades naturais subterrâneas existentes
no território nacional. As cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional deverão ser
protegidas, de modo a permitir estudos e pesquisas de ordem técnico-científica, bem como atividades de cunho
espeleológico, étnico-cultural, turístico, recreativo e educativo.
Cavidade natural subterrânea, de acordo com o Decreto, é todo e qualquer espaço subterrâneo acessível
pelo ser humano, com ou sem abertura identificada, popularmente conhecido como caverna, gruta, lapa, toca,
abismo, furna ou buraco, incluindo seu ambiente, conteúdo mineral e hídrico, a fauna e a flora ali encontrados
e o corpo rochoso onde os mesmos se inserem, desde que tenham sido formados por processos naturais,
independentemente de suas dimensões ou tipo de rocha encaixante.
Vide art. 1º do Decreto 99.556/1990:
Art. 1o As cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional deverão ser protegidas, de modo a permitir
estudos e pesquisas de ordem técnico-científica, bem como atividades de cunho espeleológico, étnico-cultural,
turístico, recreativo e educativo. (Redação dada pelo Decreto nº 6.640, de 2008).
Parágrafo único. Entende-se por cavidade natural subterrânea todo e qualquer espaço subterrâneo acessível pelo ser
humano, com ou sem abertura identificada, popularmente conhecido como caverna, gruta, lapa, toca, abismo, furna ou
buraco, incluindo seu ambiente, conteúdo mineral e hídrico, a fauna e a flora ali encontrados e o corpo rochoso onde
os mesmos se inserem, desde que tenham sido formados por processos naturais, independentemente de suas dimensões
ou tipo de rocha encaixante. (Redação dada pelo Decreto nº 6.640, de 2008).

(...) com o trânsito em julgado do acórdão proferido na PET 3.388/RR, todos os processos relacionados à Terra
Indígena Raposa Serra do Sol deverão adotar as seguintes premissas como necessárias: (i) são válidos a Portaria/MJ
nº 534/2005 e o Decreto Presidencial de 15.4.2005, que demarcaram a área, observadas as condições indicadas no
acórdão; e (ii) a caracterização da área como terra indígena, para os fins dos arts. 20, XI, e 231, da Constituição,
importa em nela não poderem persistir pretensões possessórias ou dominiais de particulares, salvo no tocante a
benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé (CF/88, art. 231, § 6º); c) o usufruto dos índios não lhes confere o
direito exclusivo de explorar recursos minerais nas terras indígenas. Para fazê-lo, quaisquer pessoas devem contar
com autorização da União, nos termos de lei específica (CF/88, arts. 176, § 1º, e 231, § 3º). De toda forma, não se
pode confundir a mineração, como atividade econômica, com as formas tradicionais de extrativismo, praticadas
imemorialmente, nas quais a coleta constitui uma expressão cultural ou um elemento do modo de vida de
determinadas comunidades indígenas. No primeiro caso, não há como afastarem-se as exigências previstas nos arts.
176, § 1º, e 231, § 3º, da Constituição. Nesse sentido, as condições integram o objeto do que foi decidido e fazem
coisa julgada material. Isso significa que a sua incidência na Reserva da Raposa Serra do Sol não poderá ser objeto
de questionamento em eventuais novos processos. (STF, Pet-ED 3388, ROBERTO BARROSO)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


8
Demanda em que se discute a proteção contra exploração por terceiros dos minérios encontrados no subsolo de área
outorgada à pesquisa. 2. A ordem constitucional, a par de reservar o domínio das reservas minerais à União, franqueia
aos particulares a exploração dos minérios, garantindo aos mineradores a propriedade do produto da lavra. 3. A fim
de ordenar o livre acesso aos recursos minerais, o Código de Mineração utiliza-se do direito de prioridade, e, por
consequência, assegura ao pesquisador, de forma exclusiva, a futura exploração da reserva pesquisada, bem como a
possibilidade de eventual negociação desse direito. 4. Terceiro que explora, clandestina e ilicitamente, a reserva
pesquisada, atenta contra o direito de prioridade e causa dano direto ao legítimo pesquisador, devendo, pois, ressarcir-
lhe integralmente o prejuízo. 5. Negado provimento ao recurso especial. (RESP 201401142687, MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, STJ - TERCEIRA TURMA, DJE DATA:26/02/2015 RIP VOL.:00090PG:00265, DTPBO)

(...) No caso concreto, o Tribunal a quo manteve em R$ 8.000,00 (oito mil reais) a indenização fixada pelos danos
morais decorrentes dos danos causados à residência do autor pelo rompimento da barragem e consequente
derramamento de lama com rejeitos da mineração de bauxita, quantia que não se revela ínfima ou exorbitante. 6.
Agravo regimental desprovido. (AGARESP 201200896603, ANTONIO CARLOS FERREIRA - QUARTA
TURMA, DJE DATA:01/10/2012, DTPB).

(...) 5. Nesse sentido, o Código de Mineração (art. 55, § 1º, do DL 227/1967) prevê a necessidade de averbação, pelo
Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, dos atos de alienação ou oneração relativos aos direitos
minerários, como requisito para sua validade. 6. Para que o DNPM averbe a cessão desses direitos, é necessária a
concordância das partes envolvidas, o que se comprova mediante petição conjunta firmada por cedente e cessionário,
nos termos do item 1.2.1 da Instrução Normativa 3/1997 do DNPM, o que não houve, na hipótese. 7. Não compete
ao DNPM dirimir desentendimento entre empresas, considerando a forte controvérsia entre as partes contratantes a
respeito da validade do instrumento de cessão dos direitos minerários. Inexiste comprovação do direito líquido e
certo a ser tutelado judicialmente. 8. Ademais, é impossível a análise da validade do contrato no bojo do presente
Mandado de Segurança, pois vedada a dilação probatória. Deve ser reconhecida a inadequação da via eleita. 9.
Mandado de Segurança denegado. (MS 200501613334, HERMAN BENJAMIN – PRIMEIRA SEÇÃO, DJE
DATA:06/11/2009).

Ação visando à interdição de atividade de extração de carvão mineral sem a necessária concessão de lavra pelo
Departamento Nacional de Produção Mineral -DNPM, bem como à míngua de licença ambiental. 2. Afastamento da
alegação de inovação processual no curso da demanda, já que o provimento alcançado na sentença se compreende
na órbita do pedido exordial concernentemente à paralisação da atividade de extração de carvão de modo ilícito, em
área sem concessão de lavra pelo DNPM e sem licença ambiental da FATMA. De outra parte, a ré deixou de
evidenciar de modo suficiente na sua apelação a falta de correlação entre o pedido inicial e a sentença. 3. A sentença
laborou de modo adequado e proporcional com a gravidade das condutas, mineração sem as competentes licenças e,
após, em local não autorizado, situação que em hipótese alguma pode ser prestigiada, pois causadoras de danos à
saúde e impactos negativos ao meio ambiente. (AC 00102104420044047204, MARGA INGE BARTH TESSLER,
TRF4 - QUARTA TURMA, D.E. 24/05/2010.)

DIREITO AMBIENTAL. EXTRAÇÃO MINERAL EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DNPM.


DANOS PREJUÍZOS AMBIENTAIS. COMPROVAÇÃO. NECESSIDA-DE DE RECUPERAÇÃO DA ÁREA
ATINGIDA. Importa registrar que a controvérsia nestes autos limita-se a definir a dimensão da responsabilidade do
requerido pelos danos ocasionados ao meio ambiente. Isso porque, afora a confissão por parte do réu de que
efetivamente procedeu à extração irregular de basalto em terra de sua propriedade, o dever de reparar o dano resulta
também da condenação proferida no âmbito criminal, conforme dão conta as cópias do processo penal, já transitado
em julgado, a qual opera influência indiscutível sobre o Juízo cível. Deste modo, cabe determinar ao demandado que
se abstenha de praticar qualquer ato de extração mineral ou atividade que possa impedir a regeneração do ambiente
degradado, salvo se obtidas as autorizações administrativas pertinentes (autorização de lavra e licença ambiental).
Na mesma esteira, deverá o réu providenciar, por meio de profissional devidamente habilitado, a elaboração e
execução de Plano de Recuperação da Área Degradada (PRAD), como forma de compensar os danos causados ao
meio-ambiente, o qual deverá ser submetido à prévia aprovação da FEPAM. De outra parte, deixo de fixar o
pagamento de indenização em dinheiro pelos prejuízos ambientais, considerando que a concretização (...) do PRAD
afigura-se medida suficiente para a compensação do dano, dado o grau de responsabilidade atribuído ao requerido.
Ademais, a exploração promovida pelo réu era de cunho artesanal, sendo ainda relevante observar que a área em
questão já se encontra sob processo de regeneração natural, conforme constatado pelas autoridades ambientais.
Improvimento da apelação. (AC 200771070005848, CARLOS EDUARDO THOMPSON FLORES LENZ, TRF4 -
TERCEIRA TURMA, D.E. 18/11/2009).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 10


9
12 POLÍTICA NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA NO BRASIL E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

O princípio do desenvolvimento sustentável foi expressamente acolhido pela Lei 12.187/2009, que
institui a Política Nacional Sobre Mudança do Clima. A Lei, embora com imperfeições e abstrações, é um
considerável avanço como marco no combate as mudanças climáticas e ao aquecimento global. Nitidamente
absorveu os conceitos dos diplomas internacionais de tutela ambiental. Fato este, aliás, extremamente positivo.
A Lei 12.187 está regulamentada pelo Decreto n 7.390/2010, que dispõe, entre outros pontos
importantes, que a linha base de emissões de gases de efeito estufa para 2020 foi estimada em 3,236 GtCO2-
eq. Assim, a redução absoluta correspondente ficou estabelecida entre 1, 168 Gt-CO2-eq e 1,259 GtCO2-eq,
36,1% e 38,9% de redução de emissões respectivamente.
O Brasil, no entanto, comprometeu-se, perante a Conferência das Nações Unidas para a Agenda de
Desenvolvimento Pós-2015, realizada em Nova York em setembro de 2015, que as reduções seriam de 37%
até 2025 e de 43% até 2030, superando em muito o previsto no Decreto. Resta saber evidentemente se o Brasil
possuirá estrutura, capacidade técnica e seriedade política para cumprir esta meta tão arrojada83.
Estabelece a Lei 12.187 os princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos da PNMC (art. 1º). Torna
legais conceitos técnicos importantes que fazem parte do direito das mudanças climáticas como de adaptação;
de efeitos adversos da mudança do clima; de emissões; de fonte emissora; de gases de efeito estufa; de impacto;
de mitigação; de mudança do clima; de sumidouro e de vulnerabilidade (art. 2º, inc. I, II, III, IV, V, VI, VIII,
IX e X)84.
Estas definições técnicas precisam estar traduzidas de forma clara para o direito, pois devem ser
empregadas na formulação e execução das políticas públicas, nas decisões judiciais e administrativas, com a
maior segurança e precisão possíveis. Dispõe, entre outros objetivos, que deve haver a compatibilização do

83
The Guardian. Brazil pledges to cut carbon emssions 37% by 2025 and 43% by 2030. Fonte: www.
theguardian.com/environment/2015/sep/28/brazil-pledges-to-cut-carbon-emissions- 37-by-2025.
84
Art 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - adaptação: iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e
esperados da mudança do clima;
II - efeitos adversos da mudança do clima: mudanças no meio físico ou biota resultantes da mudança do clima que tenham efeitos
deletérios significativos sobre a composição, resiliência ou produtividade de ecossistemas naturais e manejados, sobre o
funcionamento de sistemas socioeconômicos ou sobre a saúde e o bem-estar humanos;
III - emissões: liberação de gases de efeito estufa ou seus precursores na atmosfera numa área específica e num período determinado;
IV - fonte: processo ou atividade que libere na atmosfera gás de efeito estufa, aerossol ou precursor de gás de efeito estufa;
V - gases de efeito estufa: constituintes gasosos, naturais ou antrópicos, que, na atmosfera, absorvem e reemitem radiação
infravermelha;
VI - impacto: os efeitos da mudança do clima nos sistemas humanos e naturais;
VII - mitigação: mudanças e substituições tecnológicas que reduzam o uso de recursos e as emissões por unidade de produção, bem
como a implementação de medidas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros;
VIII - mudança do clima: mudança de clima que possa ser direta ou indiretamente atribuída à atividade humana que altere a
composição da atmosfera mundial e que se some àquela provocada pela variabilidade climática natural observada ao longo de
períodos comparáveis;
IX - sumidouro: processo, atividade ou mecanismo que remova da atmosfera gás de efeito estufa, aerossol ou precursor de gás de
efeito estufa; e
X - vulnerabilidade: grau de suscetibilidade e incapacidade de um sistema, em função de sua sensibilidade, capacidade de adaptação,
e do caráter, magnitude e taxa de mudança e variação do clima a que está exposto, de lidar com os efeitos adversos da mudança do
clima, entre os quais a variabilidade climática e os eventos extremos.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


0
desenvolvimento econômico e social com a proteção do sistema climático (art. 4º, inc. I) 85. Observa-se aí um
vínculo fundamental entre economia, ser humano e meio ambiente no que tange ao desenvolvimento, com
reduzidas emissões de carbono.
A PNMC estabelece, entre outras, como diretriz: todos os compromissos assumidos pelo Brasil na
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, no Protocolo de Quioto e nos demais
documentos sobre mudança do clima dos quais o país vier a ser signatário, como no caso da COP 21 (art. 5º.
inc. I)86. É fundamental que o Brasil, logo que aprovado novos documentos internacionais sobre mudanças do
clima, desde já os adote como diretriz, a fim de não necessitar esperar todo o lento processo de internalização
destes diplomas previsto na Constituição.
Evidentemente que mesmo enquanto não internalizados os Tratados ou Convenções, para que tenham
valor legislativo interno, podem ser adotados na condição de diretrizes das políticas públicas internas
brasileiras de combate as mudanças do clima e de adoção de medidas de resiliência.
No diploma restam eleitos os instrumentos da PNMC entre as quais o Plano Nacional sobre Mudança
do Clima, o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima e, em especial, a avaliação de impactos ambientais sobre
o microclima e o macroclima (art. 6º, incisos I ao XVIII)87. Dentre os instrumentos institucionais para a atuação
da Política Nacional de Mudança do Clima estão inclusos o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima,

85
Art. 4o A Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC visará:
I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a proteção do sistema climático;
86
Art. 5o São diretrizes da Política Nacional sobre Mudança do Clima:
I - os compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, no Protocolo de
Quioto e nos demais documentos sobre mudança do clima dos quais vier a ser signatário;
87
Art. 6o São instrumentos da Política Nacional sobre Mudança do Clima:
I - o Plano Nacional sobre Mudança do Clima;
II - o Fundo Nacional sobre Mudanca do Clima ;
III - os Planos de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento nos biomas;
IV - a Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, de acordo com os
critérios estabelecidos por essa Convenção e por suas Conferências das Partes;
V - as resoluções da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima;
VI - as medidas fiscais e tributárias destinadas a estimular a redução das emissões e remoção de gases de efeito estufa, incluindo
alíquotas diferenciadas, isenções, compensações e incentivos, a serem estabelecidos em lei específica;
VII - as linhas de crédito e financiamento específicas de agentes financeiros públicos e privados;
VIII - o desenvolvimento de linhas de pesquisa por agências de fomento;
IX - as dotações específicas para ações em mudança do clima no orçamento da União;
X - os mecanismos financeiros e econômicos referentes à mitigação da mudança do clima e à adaptação aos efeitos da mudança do
clima que existam no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e do Protocolo de Quioto;
XI - os mecanismos financeiros e econômicos, no âmbito nacional, referentes à mitigação e à adaptação à mudança do clima;
XII - as medidas existentes, ou a serem criadas, que estimulem o desenvolvimento de processos e tecnologias, que contribuam para
a redução de emissões e remoções de gases de efeito estufa, bem como para a adaptação, dentre as quais o estabelecimento de
critérios de preferência nas licitações e concorrências públicas, compreendidas aí as parcerias público-privadas e a autorização,
permissão, outorga e concessão para exploração de serviços públicos e recursos naturais, para as propostas que propiciem maior
economia de energia, água e outros recursos naturais e redução da emissão de gases de efeito estufa e de resíduos;
XIII - os registros, inventários, estimativas, avaliações e quaisquer outros estudos de emissões de gases de efeito estufa e de suas
fontes, elaborados com base em informações e dados fornecidos por entidades públicas e privadas;
XIV - as medidas de divulgação, educação e conscientização;
XV - o monitoramento climático nacional;
XVI - os indicadores de sustentabilidade;
XVII - o estabelecimento de padrões ambientais e de metas, quantificáveis e verificáveis, para a redução de emissões antrópicas por
fontes e para as remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa;
XVIII - a avaliação de impactos ambientais sobre o microclima e o macroclima.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


1
a Comissão Interministerial de Mudança do Clima, a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas
e a Comissão de Coordenação das Atividades de Metereologia, Climatologia e Hidrologia.
Importante medida foi incluir no art. 8º que as instituições financeiras oficiais disponibilizarão de linhas
de crédito e financiamento específicas para desenvolver ações e atividades que atendam aos objetivos da Lei
e, concomitantemente, estejam voltadas a indução da conduta dos agentes privados à observância e execução
da PNMC, no âmbito de suas ações e responsabilidades sociais. Observa-se que a legislação oferece
mecanismos de financiamento e crédito para a produção de energia limpa.
Princípios, objetivos, diretrizes, instrumentos das políticas públicas e programas governamentais
deverão ser compatibilizados com os princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional sobre
Mudança do Clima. Resta previsto na Lei que Decreto do Poder Executivo estabelecerá, em consonância com
a Política Nacional sobre Mudança do Clima, os planos setoriais de mitigação e de adaptação às mudanças
climáticas visando à consolidação de uma economia de baixo consumo de carbono, na geração e distribuição
de energia elétrica, no transporte público urbano e nos sistemas modais de transporte interestadual de cargas e
passageiros, (...)
Na indústria de transformação e na de bens de consumo duráveis, nas indústrias químicas, fina e de
base, na indústria de papel e celulose, na mineração, na indústria da construção civil, nos serviços de saúde e
na agropecuária, com vistas em atender metas gradativas de redução de emissões antrópicas quantificáveis e
verificáveis, considerando as especificidades de cada setor, inclusive por meio do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo - MDL e das Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas - NAMAs.
Várias previsões vinculam a PNMC ao desenvolvimento sustentável especificamente. Medidas para a
implementação da PNMC deverão considerar “o desenvolvimento sustentável como condição para enfrentar
as alterações climáticas e conciliar o atendimento às necessidades comuns e particulares das populações e
comunidades” que vivem no território nacional (art. 3º, inc. IV) 88. A legislação não apenas menciona o
desenvolvimento sustentável reiteradamente em seu texto, como o reconhece como princípio de direito.
A PNMC e as ações dela decorrentes, executadas sob a responsabilidade dos entes políticos e dos
órgãos da administração pública, observarão “os princípios da precaução, da prevenção, da participação

88
Art. 3o A PNMC e as ações dela decorrentes, executadas sob a responsabilidade dos entes políticos e dos órgãos da administração
pública, observarão os princípios da precaução, da prevenção, da participação cidadã, do desenvolvimento sustentável e o das
responsabilidades comuns, porém diferenciadas, este último no âmbito internacional, e, quanto às medidas a serem adotadas na sua
execução, será considerado o seguinte:
I - todos têm o dever de atuar, em benefício das presentes e futuras gerações, para a redução dos impactos decorrentes das
interferências antrópicas sobre o sistema climático;
II - serão tomadas medidas para prever, evitar ou minimizar as causas identificadas da mudança climática com origem antrópica no
território nacional, sobre as quais haja razoável consenso por parte dos meios científicos e técnicos ocupados no estudo dos
fenômenos envolvidos;
III - as medidas tomadas devem levar em consideração os diferentes contextos socioeconomicos de sua aplicação, distribuir os ônus
e encargos decorrentes entre os setores econômicos e as populações e comunidades interessadas de modo equitativo e equilibrado e
sopesar as responsabilidades individuais quanto à origem das fontes emissoras e dos efeitos ocasionados sobre o clima;
IV - o desenvolvimento sustentável é a condição para enfrentar as alterações climáticas e conciliar o atendimento às necessidades
comuns e particulares das populações e comunidades que vivem no território nacional;
V - as ações de âmbito nacional para o enfrentamento das alterações climáticas, atuais, presentes e futuras, devem considerar e
integrar as ações promovidas no âmbito estadual e municipal por entidades públicas e privadas;
VI - (VETADO)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


2
cidadã, do desenvolvimento sustentável e o das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, este último
no âmbito internacional” (art. 3º).
Ponto que merece crítica nos dias atuais é que o “princípio da responsabilidade comum, mas
diferenciada”, erigido no âmbito do direito internacional por pressão das nações em desenvolvimento, foi um
empecilho durante muitos anos para um acordo global sobre o clima. Não existe hoje dúvida que todas as
nações, desenvolvidas e em desenvolvimento, com base em argumentos técnicos e políticos, devem contribuir
igualmente, e desde já, para o corte nas emissões de gases de efeito estufa.
Não está excluído daí, obviamente, o apoio técnico-científico e financeiro necessário para as nações
em desenvolvimento, a ser fornecido pelos países ricos e organismos internacionais, para o corte de emissões
e implementação de políticas de resiliência e adaptação climáticas. Aliás, o princípio está em parte superado
pelo decidido na COP 21, no sentido de que todos os países devem comprometer-se em reduzir as emissões
para manter o aquecimento global abaixo de 2oC e buscar atingir um aumento de 1,5o até 2100, levando em
consideração o período pré-industrial.
Medidas a serem executadas na política nacional do clima deverão estar pautadas pela máxima que “o
desenvolvimento sustentável é a condição para enfrentar as alterações climáticas e conciliar o atendimento
às necessidade comuns e particulares das populações e comunidades que vivem no território nacional” (art.
3, inc. IV). Objetivos da PNMC deverão estar em consonância com “o desenvolvimento sustentável a fim de
buscar o crescimento econômico, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais” (art. 4,
parágrafo único).
Prevê a lei que é diretriz da PNMC “as ações de mitigação da mudança do clima em consonância com
o desenvolvimento sustentável, que sejam, sempre que possível, mensuráveis para sua adequada quantificação
e verificação a posteriori” (art. 5º, inc. II). Relevante grifar que a Lei dispõe no seu art. 9º89 que o Mercado
Brasileiro de Redução de Emissões- MBRE “será operacionalizado em bolsas de mercadorias e futuros, bolsas
de valores e entidades de balcão organizado, autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, onde
se dará a negociação de títulos mobiliários representativos de emissões de gases de efeito estufa certificadas”.
Como se observa, passados anos da publicação da Lei, este mercado no Brasil é inexistente. Estamos
distante dos mercados de cap-and-trade que estão em pleno funcionamento na União Europeia, Estados Unidos,
Canadá e em estágio inicial na China.
A grande vantagem deste mercado é que, em pleno funcionamento, estimula as empresas a diminuírem
as emissões para afastar custos. Quanto menores as emissões e maior for o emprego de energia limpa, maiores
serão os lucros das empresas neste mercado. Com o aumento das emissões as empresas terão que recorrer ao
mercado para comprar mais autorizações de emissões, aumentando os seus custos e diminuindo os lucros. A

89
Art. 9o O Mercado Brasileiro de Redução de Emissões - MBRE será operacionalizado em bolsas de mercadorias e futuros, bolsas
de valores e entidades de balcão organizado, autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM, onde se dará a negociação
de títulos mobiliários representativos de emissões de gases de efeito estufa evitadas certificadas.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


3
China recentemente anunciou o seu programa de Cap-and-Trade que visa limitar as emissões nas usinas
elétricas, na indústrias do aço e na produção de cimento e de papel90.
Sobre a utilização da extra fiscalidade tributaria para o combate as emissões restou previsto na lei, em
boa hora, que são instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente medidas fiscais e tributárias
“destinadas a estimular a redução das emissões e remoção de gases de efeito estufa, incluindo alíquotas
diferenciadas, isenções, compensações e incentivos, a serem estabelecidos em lei específica”. É importante,
contudo, que o Brasil avance com ousadia nesta seara para o combate efetivo as mudanças climáticas e, ao
mesmo tempo, estimule uma economia verde, que venha a beneficiar as presentes e futuras gerações91.
É inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de
limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-
de-açúcar e de outras culturas. Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio
ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos
trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos
dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da respectiva
mecanização. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art. 40)92 e Decreto 2.661/98. STF. Plenário. RE 586224/SP,
Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info 776).
BRAULINO BASÍLIO MAIA FILHO Vs. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS
NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA) [SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Rel. Ministro Herman Benjamin. 2a
Turma. REsp 1000731, DJ de 08.09.09] "...[as] queimadas, sobretudo nas atividades agroindustriais ou agrícolas
organizadas ou empresariais, são incompatíveis com os objetivos de proteção do meio ambiente estabelecidos na
Constituição Federal e nas normas ambientais infraconstitucionais. Em época de mudanças climáticas, qualquer
exceção a essa proibição geral, além de prevista expressamente em lei federal, deve ser interpretada restritivamente
pelo administrador e juiz". “A lei prevê a aplicação de multa pelo "não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados • pela degradação da qualidade ambiental". É certo que
a expressão "não cumprimento" inclui atos de degradação não só por omissão, como também por ação. No caso, a
conduta do recorrente por ter realizado queimada de uma área correspondente a 600 hectares sem autorização do órgão
ambiental viola a lei.

Ministério Público Federal Vs. H Carlos Schneider S/A Comércio, Indústria e Outro (Recurso Especial Nº 650.728 –
SC) Ministério Público Federal de Joinville, Santa Catarina ajuizou Ação Civil Pública contra H. Carlos Schneider
S/A Com. e Ind. e S.E.R. Parafuso, entidade classista que congrega os empregados do Grupo CISER. O Ministério
Público Federal alegou que os réus aterraram e drenaram manguezal em imóvel urbano, mesmo após autuação pelo
então IBDF, pela FATMA (órgãos ambientais), pela Prefeitura da Cidade de Joinvile e pela Capitania dos Portos. A
legislação brasileira atual reflete a transformação científica, ética, política e jurídica que reposicionou os manguezais,
levando-os da condição de risco sanitário e de condição indesejável ao patamar de ecossistema criticamente ameaçado.
Objetivando resguardar suas funções ecológicas, econômicas e sociais, o legislador atribuiu-lhes natureza jurídica de
Área de Preservação Permanente. Nesses termos, é dever de todos, proprietários ou não, zelar pela preservação dos

90
China to Announce Cap-and-Trade Program to Limit Emissions. The New York Times. 24.09.2015. Fonte:
Http://www.nytimes.com/2015/09/25/world/asia/xi-jinping-china-president-obamasummit. html?_r=0.
91
Recentes e interessantes perspectivas de crescimento e lucro dentro de uma realidade de energia limpa e sustentável podem ser
verificadas em: PERTHUIS, Christian JOUVET, Pierre Andre. Green Capital. A New Perspective on Growt. Translated by
MichaelWestlake. New York: Columbia University Press, 2015.
92
Art. 40. O Governo Federal deverá estabelecer uma Política Nacional de Manejo e Controle de Queimadas, Prevenção e Combate
aos Incêndios Florestais, que promova a articulação institucional com vistas na substituição do uso do fogo no meio rural, no controle
de queimadas, na prevenção e no combate aos incêndios florestais e no manejo do fogo em áreas naturais protegidas.
§ 1o A Política mencionada neste artigo deverá prever instrumentos para a análise dos impactos das queimadas sobre mudanças
climáticas e mudanças no uso da terra, conservação dos ecossistemas, saúde pública e fauna, para subsidiar planos estratégicos de
prevenção de incêndios florestais.
§ 2o A Política mencionada neste artigo deverá observar cenários de mudanças climáticas e potenciais aumentos de risco de
ocorrência de incêndios florestais.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


4
manguezais, necessidade cada vez maior, sobretudo em época de mudanças climáticas e aumento do nível do mar.
Destruí-los para uso econômico direto, sob o permanente incentivo do lucro fácil e de benefícios de curto-prazo (...)
drená-los ou aterrá-los para especulação imobiliária ou exploração do solo, ou transformá-los em depósito de lixo
caracterizam ofensa grave ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e ao bem-estar da coletividade,
comportamento que deve ser pronta e energicamente coibido e sancionado pela Administração e pelo Judiciário”. A
decisão do Superior Tribunal de Justiça deu-se por unanimidade no sentido de condenar os réus: a) a remoção do aterro
e de eventuais edificações que estejam sobre o manguezal, e b) reflorestamento característico de manguezal.

13 EFETIVAÇÃO DA PROTEÇÃO NORMATIVA AO MEIO AMBIENTE: PODER JUDICIÁRIO,


MINISTÉRIO PÚBLICO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

É de se observar a lição de Barroso quando refere que as normas de tutela ambiental são encontradas
difusamente ao longo do texto constitucional, em disposições de natureza processual, administrativa, penal,
civil e outras, inclusive com ênfase na responsabilidade civil e na reparação dos danos93.
Ao Poder Executivo foi reservada uma ampla gama de competências na efetivação da tutela ambiental,
remarcando-se, no particular, seus poderes regulamentar e de polícia, cujo exercício, em certos casos, poderá
ser exigido judicialmente na hipótese de omissão em agir. O Poder Judiciário é o guardião supremo da
efetividade das normas constitucionais.
Todos os direitos assegurados constitucionalmente são suscetíveis de tutela jurisdicional. Além dos
clássicos direitos subjetivos, que são aqueles referíveis a titular determinado, as duas últimas décadas
incorporaram o conceito de interesses difusos, para designar situações jurídicas de proveito que são desfrutadas
por número indeterminado de pessoas94.
O Ministério Público, órgão de Estado que constitucionalmente tem dentre suas funções institucionais
a tutela do meio ambiente é responsável pela maioria das iniciativas judiciais e extrajudiciais civis de proteção
ambiental, além de deter o monopólio da ação penal pública95.
O Poder Judiciário na efetivação da proteção normativa do meio ambiente. Mister fazer referência a
jurisprudência do egrégio Superior Tribunal de Justiça que com suas decisões tem efetivado a tutela do bem
ambiental. A Corte tem adotado uma jurisprudência extremamente progressista no que se refere à tutela do
meio ambiente como bem jurídico autônomo. Em várias situações isso pode ser verificado claramente.
A primeira delas é o reconhecimento da inversão do ônus da prova processual contra o suposto
poluidor/predador para que ele demonstre que a sua atividade não causa danos ao meio ambiente. Com efeito,
por possuir melhores informações acerca da ação supostamente perigosa e ser o causador de riscos por sua

93
BARROSO, Luis Roberto. A proteção do meio ambiente na Constituição brasileira. págs. 1001-1037. In: Doutrinas Essenciais de
Direito Ambiental. V. I. Organizadores: MACHADO, Paulo Affonso; MILARÉ, Édis. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2011. P. 1036.
94
BARROSO, Luis Roberto. A proteção do meio ambiente na Constituição brasileira. págs. 1001-1037. In: Doutrinas Essenciais de
Direito Ambiental. V. I. Organizadores: MACHADO, Paulo Affonso; MILARÉ, Édis. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2011. P. 1036.
95
CAPPELLI, Silvia. Reflexões sobre o papel do Ministério Público frente à Mudança Climática (págs. 613-642) in Doutrina
Essenciais de Direito Ambiental. V. 6. Organizadores: MACHADO, Paulo Affonso; MILARÉ, Édis. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011. P. 628.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


5
atividade, deve o empreendedor comprovar que a álea não existe e que o meio ambiente e a coletividade não
estão sujeitos a riscos ou a ameaças de dano. 96
Nesse sentido, a jurisprudência tem entendido como aplicável o art. 6º, inc. VIII, da Lei 8.078/9097 em
casos concretos envolvendo matéria ambiental, visto que os direitos metaindividuais são tutelados por um
complexo de normas processuais componentes de um microssistema que engloba as leis 4.717/65, 7.385/85 e
a Lei 8.078/9098.
No mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça adotou a teoria do risco integral na verificação do
dano ambiental. Basta a prova do dano e do nexo causal para que esteja presente o dever de indenizar. A Corte
superou a teoria do risco-proveito, porquanto não aceita excludentes da responsabilidade civil, como a culpa
exclusiva da vítima, o caso fortuito e de força maior e a cláusula contratual que prevê a prerrogativa de não
indenizar99.
O Superior Tribunal de Justiça também reconheceu a imprescritibilidade da ação que visa à reparação
do dano ambiental, tendo em vista as peculiaridades do dano que se espraia e supera limites de tempo e espaço.
É uma posição que visa dar máxima eficácia ao princípio da reparação do dano ambiental e colocar um
mecanismo à disposição do Estado, da coletividade e do indivíduo capaz de tutelar o direito fundamental ao
meio ambiente equilibrado em uma perspectiva intergeracional100.
Objetiva-se a reparação e a restauração do bem ambiental a qualquer tempo e impedir atividades de
desenvolvimento insustentáveis. Mister é abandonar o comodismo no que tange às áreas degradadas e superar
a aceitação passiva de tais áreas como fatos juridicamente consumados. Por fim, superando a teoria da falta do
serviço, o Superior Tribunal de Justiça, seguindo uma tendência demonstrada pelo Supremo Tribunal Federal
nos últimos anos, entende que a responsabilidade do Estado por danos ambientais ocorre não apenas nos casos
de ação estatal, mas de omissão, de acordo com a interpretação do art. 37, § 6º, da Constituição Federal de
1988101. Vide Recurso Extraordinário n. 603626/MS. Relator: Ministro Celso de Mello. Diário da Justiça da
União, 15 maio 2012:

96
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGARESP n. 206748. Relator: Ministro Ricardo Villas Boas Cueva. Diário da Justiça da
União, 27 mar. 2013. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>.
97
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo
as regras ordinárias de experiências;
98
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 200400011479. Relator: Ministro Luiz Fux. Diário da Justiça da União,
31 ago. 2006. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>.
99
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial n. 1412664. Relator: Ministro Raul Araújo. Diário
de Justiça Eletrônico, 11 mar. 2014. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25017000/agravo-regimentalno-
recurso-especial-agrg-no-resp-1412664-sp-2011-0305364-9-stj>.
100
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 201002176431. Relator: Ministro Castro Meira. Diário de Justiça
Eletrônico, 04 fev. 2013. Disponível em: <http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:superior.tribunal.justica;turma.2:acordao;resp:
2009-09-08;769753-1112299>.
101
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


6
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO PODER PÚBLICO – ELEMENTOS ESTRUTURAIS –
PRESSUPOSTOS LEGITIMADORES DA INCIDÊNCIA DO ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA – TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO – MORTE DE INOCENTE CAUSADA POR DISPARO
EFETUADO COM ARMA DE FOGO PERTENCENTE À POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO MATO GROSSO
DO SUL E MANEJADA POR INTEGRANTE DESSA CORPORAÇÃO – DANOS MORAIS E MATERIAIS –
RESSARCIBILIDADE – DOUTRINA – JURISPRUDÊNCIA – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - Os
elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público
compreendem (a) a alteridade do dano, (b) a causalidade material entre o “eventus damni” e o comportamento positivo
(ação) ou negativo (omissão) do agente público, (c) a oficialidade da atividade causal e lesiva imputável a agente do
Poder Público que tenha, nessa específica condição, incidido em conduta comissiva ou omissiva, independentemente
da licitude, ou não, do comportamento funcional e (d) a ausência de causa excludente da responsabilidade estatal.
Precedentes. A ação ou a omissão do Poder Público, quando lesiva aos direitos de qualquer pessoa, induz à
responsabilidade civil objetiva do Estado, desde que presentes os pressupostos primários que lhe determinam a
obrigação de indenizar os prejuízos que os seus agentes, nessa condição, hajam causado a terceiros. Doutrina.
Precedentes. - Configuração de todos os pressupostos primários determinadores do reconhecimento da
responsabilidade civil objetiva do Poder Público, o que faz emergir o dever de indenização pelo dano moral e/ou
patrimonial sofrido.

E, no mesmo sentido Recurso Extraordinário 677.283/PB. Relator: Ministro Gilmar Mendes. Diário da
Justiça da União, 07 maio 2012:
Ementa. Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Responsabilidade objetiva prevista no art. 37, § 6º, da
Constituição Federal abrange também os atos omissivos do Poder Público. Precedentes. 3. Impossibilidade de reexame
do conjunto fático-probatório. Enunciado 279 da Súmula do STF. 4. Ausência de argumentos suficientes para infirmar
a decisão recorrida. 5. Agravo regimental a que se nega provimento

Vide Recurso Especial 1.071.741/SP. Relator: Ministro Herman Benjamin. Diário de Justiça
Eletrônico, 16 dez. 2010:
AMBIENTAL. UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL (LEI 9.985/00). OCUPAÇÃO E
CONSTRUÇÃO ILEGAL POR PARTICULAR NO PARQUE ESTADUAL DE JACUPIRANGA. TURBAÇÃO E
ESBULHO DE BEM PÚBLICO. DEVER-PODER DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL DO
ESTADO. OMISSÃO. ART. 70, § 1º, DA LEI 9.605/1998. DESFORÇO IMEDIATO. ART. 1.210, § 1º, DO CÓDIGO
CIVIL. ARTIGOS 2º, I E V, 3º, IV, 6º E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981 (LEI DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE). CONCEITO DE POLUIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO DE NATUREZA
SOLIDÁRIA, OBJETIVA, ILIMITADA E DE EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO.
1. Já não se duvida, sobretudo à luz da Constituição Federal de 1988, que ao Estado a ordem jurídica abona, mais na
fórmula de dever do que de direito ou faculdade, a função de implementar a letra e o espírito das determinações legais,
inclusive contra si próprio ou interesses imediatos ou pessoais do Administrador. Seria mesmo um despropósito que o
ordenamento constrangesse os particulares a cumprir a lei e atribuísse ao servidor a possibilidade, conforme a
conveniência ou oportunidade do momento, de por ela zelar ou abandoná-la à própria sorte, de nela se inspirar ou,
frontal ou indiretamente, contradizê-la, de buscar realizar as suas finalidades públicas ou ignorá-las em prol de
interesses outros. 2. Na sua missão de proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras
gerações, como patrono que é da preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais, incumbe ao Estado
“definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos,
sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção” (Constituição Federal, art. 225, § 1º, III). 3. A criação de
Unidades de Conservação não é um fim em si mesmo, vinculada que se encontra a claros objetivos constitucionais e
legais de proteção da Natureza. Por isso, em nada resolve, freia ou mitiga a crise da biodiversidade diretamente
associada à insustentável e veloz destruição de habitat natural se não vier acompanhada do compromisso estatal de,
sincera e eficazmente, zelar pela sua integridade físico-ecológica e providenciar os meios para sua gestão técnica,
transparente e democrática. A ser diferente, nada além de um sistema de áreas protegidas de papel ou de fachada?
existirá, espaços de ninguém, onde a omissão das autoridades é compreendida pelos degradadores de plantão como
autorização implícita para o desmatamento, a exploração predatória e a ocupação ilícita. 4. Qualquer que seja a
qualificação jurídica do degradador, público ou privado, no Direito brasileiro a responsabilidade civil pelo dano
ambiental é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação
in integrum, da prioridade da reparação in natura, e do favor debilis, este último a legitimar uma série de técnicas de
facilitação do acesso à Justiça, entre as quais se inclui a inversão do ônus da prova em favor da vítima ambiental.
Precedentes do STJ. 5. Ordinariamente, a responsabilidade civil do Estado, por omissão, é subjetiva ou por culpa,
regime comum ou geral esse que, assentado no art. 37 da Constituição Federal, enfrenta duas exceções principais.
Primeiro, quando a responsabilização objetiva do ente público decorrer de expressa previsão legal, em microssistema
especial, como na proteção do meio ambiente (Lei 6.938/1981, art. 3º, IV, c/c o art. 14, § 1º). Segundo, quando as
circunstâncias indicarem a presença de um standard ou dever de ação estatal mais rigoroso do que aquele que jorra,

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


7
consoante a construção doutrinária e jurisprudencial, do texto constitucional. 6. O dever-poder de controle e
fiscalização ambiental (= dever-poder de implementação), além de inerente ao exercício do poder de polícia do Estado,
provém diretamente do marco constitucional de garantia dos processos ecológicos essenciais (em especial os arts. 225,
23, VI e VII, e 170, VI) e da legislação, sobretudo da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981,
arts. 2º, I e V, e 6º) da Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes e Ilícitos Administrativos contra o Meio Ambiente). 7. Nos
termos do art. 70, § 1º, da Lei 9.605/1998, são titulares do dever-poder de implementação os funcionários de órgãos
ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente SISNAMA, designados para as atividades de
fiscalização além de outros a que se confira tal atribuição. 8. Quando a autoridade ambiental tiver conhecimento de
infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob
pena de co-responsabilidade (art. 70, § 3°, da Lei 9.605/1998, grifo acrescentado). 9. Diante de ocupação ou utilização
ilegal de espaços ou bens públicos, não se desincumbe do dever-poder de fiscalização ambiental (e também urbanística)
o Administrador que se limita a embargar obra ou atividade irregular e a denunciá-la ao Ministério Público ou à Polícia,
ignorando ou desprezando outras medidas, inclusive possessórias, que a lei põe à sua disposição para eficazmente fazer
valer a ordem administrativa e, assim, impedir, no local, a turbação ou o esbulho do patrimônio estatal e dos bens de
uso comum do povo, resultante de desmatamento, construção, exploração ou presença humana ilícitos. 10. A turbação
e o esbulho ambiental-urbanístico podem e no caso do Estado, devem ser combatidos pelo desforço imediato, medida
prevista atualmente no art. 1.210, § 1º, do Código Civil de 2002 e imprescindível à manutenção da autoridade e da
credibilidade da Administração, da integridade do patrimônio estatal, da legalidade, da ordem pública e da conservação
de bens intangíveis e indisponíveis associados à qualidade de vida das presentes e futuras gerações. 11. O conceito de
poluidor, no Direito Ambiental brasileiro, é amplíssimo, confundindo-se, por expressa disposição legal, com o de
degradador da qualidade ambiental, isto é, toda e qualquer pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental (art. 3º, IV, da Lei 6.938/1981,
grifo adicionado). 12. Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano urbanístico-ambiental e de eventual
solidariedade passiva, equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem não se importa que façam,
quem cala quando lhe cabe denunciar, quem financia para que façam e quem se beneficia quando outros fazem. 13. A
Administração é solidária, objetiva e ilimitadamente responsável, nos termos da Lei 6.938/1981, por danos urbanístico-
ambientais decorrentes da omissão do seu dever de controlar e fiscalizar, na medida em que contribua, direta ou
indiretamente, tanto para a degradação ambiental em si mesma, como para o seu agravamento, consolidação ou
perpetuação, tudo sem prejuízo da adoção, contra o agente público relapso ou desidioso, de medidas disciplinares,
penais, civis e no campo da improbidade administrativa. 14. No caso de omissão de dever de controle e fiscalização,
a responsabilidade ambiental solidária da Administração é de execução subsidiária (ou com ordem de preferência). 15.
A responsabilidade solidária e de execução subsidiária significa que o Estado integra o título executivo sob a condição
de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o degradador original, direto ou material (= devedor
principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento patrimonial ou insolvência, seja por impossibilidade ou
incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da prestação judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de
regresso (art. 934 do Código Civil), com a desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do Código Civil). 16. Ao
acautelar a plena solvabilidade financeira e técnica do crédito ambiental, não se insere entre as aspirações da
responsabilidade solidária e de execução subsidiária do Estado ? sob pena de onerar duplamente a sociedade, romper
a equação do princípio poluidor-pagador e inviabilizar a internalização das externalidades ambientais negativas ?
substituir, mitigar, postergar ou dificultar o dever, a cargo do degradador material ou principal, de recuperação integral
do meio ambiente afetado e de indenização pelos prejuízos causados. 17. Como consequência da solidariedade e por
se tratar de litisconsórcio facultativo, cabe ao autor da Ação optar por incluir ou não o ente público na petição inicial.
18. Recurso Especial provido.

Pressupostos da responsabilidade civil, dano e nexo causal ensejam a imputação de responsabilização


estatal nos atos comissivos e omissivos dos seus agentes em caso de danos ambientais. A obrigação de restaurar
o ambiente ou reparar o dano ambiental transmite-se ao proprietário adquirente do imóvel, mesmo que ele não
tenha causado o dano. Esse é o posicionamento do STJ, que entende que a obrigação do adquirente do imóvel
é de caráter propter rem. Esses precedentes estimulam o cumprimento da função social da propriedade no seu
elemento e na sua acepção ambiental e estimulam o desenvolvimento ecologicamente sustentável, superando
o individualismo civilista napoleônico e a lógica liberal burguesa do laissez passer e do laissez faire. Vide
REsp 1.237.071. Relator: Ministro Herman Benjamin. Diário da Justiça da União, 11 set. 2012:
AMBIENTAL. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. FUNÇÃO ECOLÓGICA DA PROPRIEDADE. ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE. MÍNIMO ECOLÓGICO. DEVER DE REFLORESTAMENTO. OBRIGAÇÃO
PROPTER REM. ART. 18, § 1º, DO CÓDIGO FLORESTAL de 1965. REGRA DE TRANSIÇÃO. 1. Inexiste direito
ilimitado ou absoluto de utilização das potencialidades econômicas de imóvel, pois antes até "da promulgação da
Constituição vigente, o legislador já cuidava de impor algumas restrições ao uso da propriedade com o escopo de
preservar o meio ambiente" (EREsp 628.588/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Primeira Seção, DJe 9.2.2009), tarefa essa

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


8
que, no regime constitucional de 1988, fundamenta-se na função ecológica do domínio e posse. 2. Pressupostos
internos do direito de propriedade no Brasil, as Áreas de Preservação Permanente e a Reserva Legal visam a assegurar
o mínimo ecológico do imóvel, sob o manto da inafastável garantia constitucional dos "processos ecológicos
essenciais" e da "diversidade biológica". Componentes genéticos e inafastáveis, por se fundirem com o texto da
Constituição, exteriorizam-se na forma de limitação administrativa, técnica jurídica de intervenção estatal, em favor
do interesse público, nas atividades humanas, na propriedade e na ordem econômica, com o intuito de discipliná-las,
organizá-las, circunscrevê-las, adequá-las, condicioná-las, controlá-las e fiscalizá-las. Sem configurar desapossamento
ou desapropriação indireta, a limitação administrativa opera por meio da imposição de obrigações de não fazer (non
facere), de fazer (facere) e de suportar (pati), e caracteriza-se, normalmente, pela generalidade da previsão primária,
interesse público, imperatividade, unilateralidade e gratuidade. Precedentes do STJ. 3. "A obrigação de reparação dos
danos ambientais é propter rem" (REsp 1.090.968/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 3.8.2010), sem
prejuízo da solidariedade entre os vários causadores do dano, descabendo falar em direito adquirido à degradação. O
"novo proprietário assume o ônus de manter a preservação, tornando-se responsável pela reposição, mesmo que não
tenha contribuído para o desmatamento. Precedentes" (REsp 926.750/MG, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma,
DJ 4.10.2007; em igual sentido, entre outros, REsp 343.741/PR, Rel. Min. Franciulli Netto, Segunda Turma, DJ
7.10.2002; REsp 843.036/PR, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, DJ 9.11.2006; EDcl no Ag 1.224.056/SP, Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 6.8.2010; AgRg no REsp 1.206.484/SP, Rel. Min. Humberto
Martins, Segunda Turma, DJe 29.3.2011; AgRg nos EDcl no REsp 1.203.101/SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido,
Primeira Turma, DJe 18.2.2011). Logo, a obrigação de reflorestamento com espécies nativas pode "ser imediatamente
exigível do proprietário atual, independentemente de qualquer indagação a respeito de boa-fé do adquirente ou de outro
nexo causal que não o que se estabelece pela titularidade do domínio" (REsp 1.179.316/SP, Rel. Min. Teori Albino
Zavascki, Primeira Turma, DJe 29.6.2010). 4. "O § 1º do art. 18 do Código Florestal quando dispôs que, 'se tais áreas
estiverem sendo utilizadas com culturas, de seu valor deverá ser indenizado o proprietário', apenas criou uma regra de
transição para proprietários ou possuidores que, à época da criação da limitação administrativa, ainda possuíam
culturas nessas áreas" (REsp 1237071/PR, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 11.5.2011). 5. Recurso
Especial não provido.

A condenação por dano ambiental, nos casos de responsabilidade estatal, pode ocorrer solidariamente
entre o Estado e o poluidor; porém, para que a coletividade não seja duplamente onerada pelo dano ambiental,
o Superior Tribunal de Justiça tem entendido que a execução deve se dar em primeiro lugar sobre os bens do
poluidor privado, que lucra com a atividade, e apenas na ausência de recursos de sua parte deve a execução
prosseguir, de modo subsidiário, contra o Estado, como devedor garante.
Nesses casos de litisconsórcio passivo, a decisão condena o ente estatal e o poluidor privado
solidariamente, mas a execução é procedida com base na responsabilidade subsidiária do Estado, segundo a
construção jurisprudencial do STJ:
AMBIENTAL. UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL (LEI 9.985/00). OCUPAÇÃO E
CONSTRUÇÃO ILEGAL POR PARTICULAR NO PARQUE ESTADUAL DE JACUPIRANGA. TURBAÇÃO E
ESBULHO DE BEM PÚBLICO. DEVER-PODER DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL DO
ESTADO. OMISSÃO. ART. 70, § 1º, DA LEI 9.605/1998. DESFORÇO IMEDIATO. ART. 1.210, § 1º, DO CÓDIGO
CIVIL. ARTIGOS 2º, I E V, 3º, IV, 6º E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981 (LEI DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE). CONCEITO DE POLUIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO DE NATUREZA
SOLIDÁRIA, OBJETIVA, ILIMITADA E DE EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO.
1. Já não se duvida, sobretudo à luz da Constituição Federal de 1988, que ao Estado a ordem jurídica abona, mais na
fórmula de dever do que de direito ou faculdade, a função de implementar a letra e o espírito das determinações legais,
inclusive contra si próprio ou interesses imediatos ou pessoais do Administrador. Seria mesmo um despropósito que o
ordenamento constrangesse os particulares a cumprir a lei e atribuísse ao servidor a possibilidade, conforme a
conveniência ou oportunidade do momento, de por ela zelar ou abandoná-la à própria sorte, de nela se inspirar ou,
frontal ou indiretamente, contradizê-la, de buscar realizar as suas finalidades públicas ou ignorá-las em prol de
interesses outros. 2. Na sua missão de proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras
gerações, como patrono que é da preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais, incumbe ao Estado
definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos,
sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção (Constituição Federal, art. 225, § 1º, III). 3. A criação de
Unidades de Conservação não é um fim em si mesmo, vinculada que se encontra a claros objetivos constitucionais e
legais de proteção da Natureza. Por isso, em nada resolve, freia ou mitiga a crise da biodiversidade diretamente
associada à insustentável e veloz destruição de habitat natural, se não vier acompanhada do compromisso estatal de,
sincera e eficazmente, zelar pela sua integridade físico-ecológica e providenciar os meios para sua gestão técnica,
transparente e democrática. A ser diferente, nada além de um sistema de áreas protegidas de papel ou de fachada?

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 11


9
existirá, espaços de ninguém, onde a omissão das autoridades é compreendida pelos degradadores de plantão como
autorização implícita para o desmatamento, a exploração predatória e a ocupação ilícita. 4. Qualquer que seja a
qualificação jurídica do degradador, público ou privado, no Direito brasileiro a responsabilidade civil pelo dano
ambiental é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação
in integrum, da prioridade da reparação in natura, e do favor debilis, este último a legitimar uma série de técnicas de
facilitação do acesso à Justiça, entre as quais se inclui a inversão do ônus da prova em favor da vítima ambiental.
Precedentes do STJ. 5. Ordinariamente, a responsabilidade civil do Estado, por omissão, é subjetiva ou por culpa,
regime comum ou geral esse que, assentado no art. 37 da Constituição Federal, enfrenta duas exceções principais.
Primeiro, quando a responsabilização objetiva do ente público decorrer de expressa previsão legal, em microssistema
especial, como na proteção do meio ambiente (Lei 6.938/1981, art. 3º, IV, c/c o art. 14, § 1º). Segundo, quando as
circunstâncias indicarem a presença de um standard ou dever de ação estatal mais rigoroso do que aquele que jorra,
consoante a construção doutrinária e jurisprudencial, do texto constitucional. 6. O dever-poder de controle e
fiscalização ambiental (= dever-poder de implementação), além de inerente ao exercício do poder de polícia do Estado,
provém diretamente do marco constitucional de garantia dos processos ecológicos essenciais (em especial os arts. 225,
23, VI e VII, e 170, VI) e da legislação, sobretudo da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981,
arts. 2º, I e V, e 6º) e da Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes e Ilícitos Administrativos contra o Meio Ambiente). 7. Nos
termos do art. 70, § 1º, da Lei 9.605/1998, são titulares do dever-poder de implementação os funcionários de órgãos
ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente SISNAMA, designados para as atividades de
fiscalização, além de outros a que se confira tal atribuição. 8. Quando a autoridade ambiental tiver conhecimento de
infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob
pena de co-responsabilidade? (art. 70, § 3°, da Lei 9.605/1998, grifo acrescentado). 9. Diante de ocupação ou utilização
ilegal de espaços ou bens públicos, não se desincumbe do dever-poder de fiscalização ambiental (e também urbanística)
o Administrador que se limita a embargar obra ou atividade irregular e a denunciá-la ao Ministério Público ou à Polícia,
ignorando ou desprezando outras medidas, inclusive possessórias, que a lei põe à sua disposição para eficazmente fazer
valer a ordem administrativa e, assim, impedir, no local, a turbação ou o esbulho do patrimônio estatal e dos bens de
uso comum do povo, resultante de desmatamento, construção, exploração ou presença humana ilícitos. 10. A turbação
e o esbulho ambiental-urbanístico podem e no caso do Estado, devem ser combatidos pelo desforço imediato, medida
prevista atualmente no art. 1.210, § 1º, do Código Civil de 2002 e imprescindível à manutenção da autoridade e da
credibilidade da Administração, da integridade do patrimônio estatal, da legalidade, da ordem pública e da conservação
de bens intangíveis e indisponíveis associados à qualidade de vida das presentes e futuras gerações. 11. O conceito de
poluidor, no Direito Ambiental brasileiro, é amplíssimo, confundindo-se, por expressa disposição legal, com o de
degradador da qualidade ambiental, isto é, toda e qualquer pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental (art. 3º, IV, da Lei 6.938/1981,
grifo adicionado). 12. Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano urbanístico-ambiental e de eventual
solidariedade passiva, equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem não se importa que façam,
quem cala quando lhe cabe denunciar, quem financia para que façam e quem se beneficia quando outros fazem. 13. A
Administração é solidária, objetiva e ilimitadamente responsável, nos termos da Lei 6.938/1981, por danos urbanístico-
ambientais decorrentes da omissão do seu dever de controlar e fiscalizar, na medida em que contribua, direta ou
indiretamente, tanto para a degradação ambiental em si mesma, como para o seu agravamento, consolidação ou
perpetuação, tudo sem prejuízo da adoção, contra o agente público relapso ou desidioso, de medidas disciplinares,
penais, civis e no campo da improbidade administrativa. 14. No caso de omissão de dever de controle e fiscalização,
a responsabilidade ambiental solidária da Administração é de execução subsidiária (ou com ordem de preferência). 15.
A responsabilidade solidária e de execução subsidiária significa que o Estado integra o título executivo sob a condição
de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o degradador original, direto ou material (= devedor
principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento patrimonial ou insolvência, seja por impossibilidade ou
incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da prestação judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de
regresso (art. 934 do Código Civil), com a desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do Código Civil). 16. Ao
acautelar a plena solvabilidade financeira e técnica do crédito ambiental, não se insere entre as aspirações da
responsabilidade solidária e de execução subsidiária do Estado ? sob pena de onerar duplamente a sociedade, romper
a equação do princípio poluidor-pagador e inviabilizar a internalização das externalidades ambientais negativas ?
substituir, mitigar, postergar ou dificultar o dever, a cargo do degradador material ou principal, de recuperação integral
do meio ambiente afetado e de indenização pelos prejuízos causados. 17. Como consequência da solidariedade e por
se tratar de litisconsórcio facultativo, cabe ao autor da Ação optar por incluir ou não o ente público na petição inicial.
18. Recurso Especial provido.

Preocupou-se a Corte, e com razão, com o princípio da reserva do possível e a escassez dos recursos
estatais para reparar o bem ambiental danificado. Iníquo seria se a coletividade, já prejudicada para o pleno
exercício de sua sadia qualidade de vida, garantida pela Constituição Federal, tivesse ainda que pagar
indenizações para reparar os danos ambientais a que não deu causa. Essa modulação na execução das decisões

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


0
do STJ atende ao princípio do desenvolvimento sustentável, pois equilibra a proteção dos bens ambientais com
a finitude e a escassez dos recursos do Tesouro.
Precedentes do Superior Tribunal de Justiça firmaram-se no sentido de tutelar ao máximo o bem
ambiental dentro de uma perspectiva promotora do desenvolvimento sustentável. Danos causados ao meio
ambiente podem ser reparados sem que para isso seja necessário uma violação a priori de direitos fundamentais
individuais, como o direito à vida, à propriedade ou à saúde das pessoas. Do mesmo modo, são utilizados
mecanismos processuais que visam permitir a aceleração na reparação dos danos ambientais e, por conseguinte,
desestimular práticas que não se coadunam com o respeito ao meio ambiente.

13.1 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA EFETIVAÇÃO DA PROTEÇÃO NORMATIVA DO MEIO


AMBIENTE

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é garantia da coletividade prevista no art. 225
da Constituição Federal de 1988102. A preservação ambiental deve se dar no interesse das presentes e das
futuras gerações. Na concretização deste preceito o Ministério Público, instituição voltada à defesa da ordem
jurídica e a garantia dos direitos fundamentais de terceira dimensão, como o Meio Ambiente, atua na
concretização destes direitos.

102
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo
a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos
que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida,
a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem
a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica
exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são
patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos
ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser
instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que
utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como
bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o
bem-estar dos animais envolvidos.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


1
É o que se extrai do art. 127 da Constituição Federal103 que prevê que o Ministério Público é instituição
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. São princípios institucionais do Ministério
Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.
São funções institucionais do Ministério Público, de acordo com o art. 129, da Magna Carta 104:
promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; zelar pelo efetivo respeito dos Poderes

103
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
§ 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.
§ 2º - Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor
ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas e de
provas e títulos; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento.
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao
Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas
e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
§ 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias.
§ 4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva proposta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes
orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na
lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 3º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)
§ 5º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma do § 3º,
o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
§ 6º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que
extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de
créditos suplementares ou especiais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
104
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,
promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos;
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos
nesta Constituição;
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para
instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior;
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas
manifestações processuais;
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação
judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
§ 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses,
segundo o disposto nesta Constituição e na lei.
§ 2º -As funções de Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da
respectiva lotação.
§ 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da
respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º O ingresso na carreira far-se-á mediante concurso público de provas e títulos, assegurada participação da Ordem dos Advogados
do Brasil em sua realização, e observada, nas nomeações, a ordem de classificação.
§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a participação
da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica
e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93, II e VI.
§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)
§ 5º A distribuição de processos no Ministério Público será imediata. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


2
Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas
necessárias a sua garantia; promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; promover a ação de
inconstitucionalidade nos casos previstos na Constituição; e defender judicialmente os direitos e interesses das
populações indígenas.
Relevante observar que foi recepcionada pela Constituição Federal o art. 14 da Lei 6.938/81 105 que
atribui ao Ministério Público competência para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos
causados ao meio ambiente e, também, a Lei 7.347/1985, quando disciplina a ação civil pública para reparar
danos causados ao meio ambiente, inclusive patrimoniais e morais (art. 1º)106.

105
Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os
transgressores:
I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis
do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua
cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios.
II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público;
III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;
IV - à suspensão de sua atividade.
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa,
a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União
e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
§ 2º - No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao Secretário do Meio Ambiente a aplicação das penalidades
pecuniárias previstas neste artigo.
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda, restrição ou suspensão será atribuição da
autoridade administrativa ou financeira que concedeu os benefícios, incentivos ou financiamento, cumprindo resolução do
CONAMA.
§ 4º Nos casos de poluição provocada pelo derramamento ou lançamento de detritos ou óleo em águas brasileiras, por embarcações
e terminais marítimos ou fluviais, prevalecerá o disposto na Lei nº 5.357, de 17 de novembro de 1967.
(Revogado pela Lei nº 9.966, de 2000)
§ 5o A execução das garantias exigidas do poluidor não impede a aplicação das obrigações de indenização e reparação de danos
previstas no § 1o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
106
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e
patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).
l - ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
III - à ordem urbanística; (Incluído pela Lei nº 10.257, de 10.7.2001)
(Vide Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - (VETADO).
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)
IV - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; (Renumerado do Inciso III, pela Lei nº 10.257, de
10.7.2001)
(Vide Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)
V - por infração da ordem econômica.
(Incluído pela Lei nº 8.884 de 1994)
V - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Renumerado do Inciso IV, pela Lei nº 10.257, de 10.7.2001)
(Vide Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
V - por infração da ordem econômica e da economia popular; (Redação dada pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001) (Vide
Lei nº 12.529, de 2011)
V - por infração da ordem econômica; (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).
VI - por infração da ordem econômica. (Renumerado do Inciso V, pela Lei nº 10.257, de 10.7.2001)
VI - à ordem urbanística. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
VII - à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. (Incluído pela Lei nº 12.966, de 2014)
VIII - ao patrimônio público e social. (Incluído pela Lei nº 13.004, de 2014)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


3
O Ministério Público pode propor ação civil pública de conhecimento e cautelar para a tutela do meio
ambiente, assim como deve atuar como fiscal da lei naqueles processos em que não é parte (art. 5º, §1º, da
LACP)107. Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal
e dos Estados na defesa do meio ambiente (art. 5º, §5º, da LACP)108.
Os principais instrumentos utilizados pelo Ministério Público para a recuperação de áreas degradadas
tem sido o termo de compromisso de ajustamento e a ação civil pública. O termo de compromisso de
ajustamento de conduta ambiental – TAC é instrumento extrajudicial de solução de conflitos, em que os órgãos
públicos tomam o compromisso de adequação da conduta dos degradadores ambientais à lei (CAPPELLI,
Silvia. Reflexões sobre o papel do Ministério Público frente à Mudança Climática (pp. 613- 642) In: Doutrina
Essenciais de Direito Ambiental. V. 6. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 628)
Nela são fixadas obrigações que representam o cumprimento de medidas preventivas e repressivas de
danos ou de ilícitos, possibilitando a flexibilização das condições acessórias do cumprimento da obrigação,
como as de tempo, modo e lugar, sendo proibida a renúncia ou concessão sobre o direito material ao ambiente
hígido, por tratar-se de direito indisponível.
Normalmente o TAC é celebrado entre os órgãos públicos e o degradador, destancando-se o papel do
Ministério Público como principal órgão proponente, caso em que terá eficácia de título executivo
extrajudicial, nos termos preceituados no art. 5º, parágrafo 6º, da Lei 7.347/1985109. Poderão, entretanto, os
celebrantes optar pela homologação judicial do TAC, circunstância que o caracterizará como título executivo
judicial110.
A ACP é o principal instrumento judicial utilizado para a prevenção e recuperação de danos efetivos
ou potenciais ao meio ambiente ou, ainda, para a remoção do ilícito. Assim como no compromisso de
ajustamento, a ação civil pública pode impor ao réu a condenação em obrigações de fazer, não fazer, de
compensar ou indenizar o dano ambiental, havendo uma hierarquia entre elas, na medida em que se deve
preferir a prevenção da ocorrência do dano ou do ilícito à compensação ou indenização, pela simples razão de
que a tutela incide sobre bem de uso comum e de titularidade difusa111.
Competência do Ministério Público atuar em juízo como parte na defesa do meio ambiente está
prevista:

Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias,
o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001).
107
Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei
108
§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa
dos interesses e direitos de que cuida esta lei. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990) (Vide Mensagem de veto)
109
§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências
legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990)
110
CAPPELLI, Silvia. Reflexões sobre o papel do Ministério Público frente à Mudança Climática (pp. 613-642) In: Doutrina
Essenciais de Direito Ambiental. V. 6. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 628.
111
CAPPELLI, Silvia. Reflexões sobre o papel do Ministério Público frente à Mudança Climática (pp. 613-642) In: Doutrina
Essenciais de Direito Ambiental. V. 6. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 628-629.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


4
i. No art. 5º, inciso LXIX, LXX da CF112, via mandado de segurança individual e coletivo. Esta
legitimidade vem assegurada, também, pelo art. 31, inc. I, da Lei 8.625/1993113 e art. 6º, inc. VI, da Lei
Complementar 75/1993114;
ii. no art. 102, inc. I, “a”, da Constituição115 que foi regulamentado pela Lei 9.868/1999, via ação
declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo;
iii. no art. 102, inc. I, “a”, da Constituição que foi regulamentado pela Lei 9.868/1999, via ação
declaratória de inconstitucionalidade por omissão;
iv. no art. 102, inc. I, “a”, da Constituição que foi regulamentado pela Lei 9.868/1999, via ação direta
de inconstitucionalidade;
v. no art. 5º, inc. LXXI, da Constituição116, via mandado de injunção;
vi. no art. 102, §1º, da Constituição117, regulamentado pela Lei nº 9.882/1999, via ação de arguição de
descumprimento de preceito fundamental;
vii. no art. 129, inc. V118, via ação para defesa dos interesses das população indígenas;
viii. nos arts. 35, inc. IV119, 125, §2º120, e 129, inc. IV, da CF121, via ação direta de inconstitucionalidade
de lei estadual ou municipal em face de Constituições Estaduais.

112
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data,
quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
defesa dos interesses de seus membros ou associados;
113
Art. 31. Cabe aos Procuradores de Justiça exercer as atribuições junto aos Tribunais, desde que não cometidas ao Procurador-
Geral de Justiça, e inclusive por delegação deste.
114
Art. 6º Compete ao Ministério Público da União:
VI - impetrar habeas corpus e mandado de segurança;
115
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;
116
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;
117
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
§ 1º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal
Federal, na forma da lei. (Transformado em § 1º pela Emenda Constitucional nº 3, de 17/03/93)
118
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
119
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto
quando:
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição
Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.
120
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em
face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.
121
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos
nesta Constituição;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


5
O MP para além de possuir a competência privativa para ajuizar ação penal em defesa do meio ambiente
(art. 129, inc. I), naqueles casos previstos na Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998), também possui
competência para atuar: na Lei que regulamenta atividades nucleares (Lei 6.453/1977, arts. 23, 26 e 27)122; na
Lei dos Loteamentos (Lei 6.766/1979);
Na Lei sobre a Tutela dos Cetáceos (Lei 7.643/1987); na Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005, arts.
24 a 29)123; na Lei que regulamenta a gestão de florestas públicas (Lei 11.284/2006, que adicionou os arts. 50-
A e 69-A a Lei dos Crimes Ambientais) e na Lei da Política Nacional dos Resíduos Sólidos 12.305/2010, entre
outras.

13.2 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA EFETIVAÇÃO DA PROTEÇÃO NORMATIVA DO MEIO


AMBIENTE

A tutela administrativa do meio ambiente tem fundamento no art. 225, parágrafo 3º, da CF, que dispõe,
“as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados”.
Refere Sirvinkas:
Quase dez anos depois da promulgação da Constituição Federal, vem a lume, finalmente, a Lei no. 9605/1998,
dispondo sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. As
infrações administrativas, o procedimento administrativo e as sanções administrativas encontram-se disciplinados nos
arts. 70 a 76 da citada lei.

Tais dispositivos foram regulamentados pelo Poder Executivo Federal através do Decreto 3.179/1999,
e alterado pelo Decreto 3.919/2001. Esses textos revogaram os incisos I, II, e IV, parágrafos 2o, 3o e 4o do art.

122
Art. 23. Transmitir ilicitamente informações sigilosas, concernentes à energia nuclear: Pena: reclusão, de quatro a oito anos. Art.
Art. 26. Deixar de observar as normas de segurança ou de proteção relativas à instalação nuclear ou ao uso, transporte, posse e guarda
de material nuclear, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena: reclusão, de dois a oito anos. Art.
27. Impedir ou dificultar o funcionamento de instalação nuclear ou o transporte de material nuclear: Pena: reclusão, de quatro a dez
anos.
123
Art. 24. Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o art. 5 o desta Lei:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Art. 25. Praticar engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano ou embrião humano:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 26. Realizar clonagem humana:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 27. Liberar ou descartar OGM no meio ambiente, em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos
e entidades de registro e fiscalização:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1o (VETADO)
§ 2o Agrava-se a pena:
I – de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se resultar dano à propriedade alheia;
II – de 1/3 (um terço) até a metade, se resultar dano ao meio ambiente;
III – da metade até 2/3 (dois terços), se resultar lesão corporal de natureza grave em outrem;
IV – de 2/3 (dois terços) até o dobro, se resultar a morte de outrem.
Art. 28. Utilizar, comercializar, registrar, patentear e licenciar tecnologias genéticas de restrição do uso:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 29. Produzir, armazenar, transportar, comercializar, importar ou exportar OGM ou seus derivados, sem autorização ou em
desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


6
14 da Lei 6.938/1981, que disciplinavam sanções administrativas, bem como o Decreto 99.274/1990, na parte
que regulamentava aquelas sanções124.
A Administração Pública, de fato, possui o dever fundamental de tutelar o meio ambiente no interesse
das presentes e futuras gerações. Este dever fundamental pode ser traduzido pelas seguintes condutas a serem
adotadas pelo Poder Público e que estão descritas expressamente no texto constitucional no art. 225, §1º:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa
e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação
do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para
a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do
meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

Importante grifar que o princípio da legalidade, na esfera administrativa, deve ser observado pela
Administração Pública. Esta deve pautar-se na lei. Não pode haver fiscalização ou eventual aplicação de sanção
sem que haja expressa previsão legal. Se assim não for, haverá ofensa ao princípio previsto no art. 5º, inc. II,
da CF125.
No mesmo sentido, o poder de polícia ambiental visa a tutela do meio ambiente, através dos órgãos
estatais competentes, contudo, como adverte Sirvinkas, “é limitado pelos interesses sociais e individuais do
cidadão assegurados pela CF”126.
Jurisprudência sobre a tutela do Estado-Juiz Estado-Administrador e a atuação do Ministério Público
em defesa do meio ambiente:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DO MEIO AMBIENTE. LEGITIMIDADE DA ATUAÇÃO DO PODER
JUDICIÁRIO. INEXISTÊNCIA DE INVASÃO ÀS COMPETÊNCIAS DO PODER EXECUTIVO. PRECEDENTES
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (RE
511254 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 23/02/2016, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-043 DIVULG 07-03-2016 PUBLIC 08-03-2016). 1. A Corte Suprema já firmou a orientação de
que é dever do Poder Público e da sociedade a defesa de um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as
presentes e futuras gerações. 2. Assim, pode o Poder Judiciário, em situações excepcionais, determinar que a
Administração pública adote medidas assecuratórias desse direito, reputado essencial pela Constituição Federal, sem
que isso configure violação do princípio da separação de poderes. 3. A Administração não pode justificar a frustração
de direitos previstos na Constituição da República sob o fundamento da insuficiência orçamentária. 4. Agravo
regimental não provido. (RE 658171 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 01/04/2014,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-079 DIVULG 25-04-2014 PUBLIC 28-04-2014).

É dever do Poder Público e da sociedade a defesa de um meio ambiente ecologicamente equilibrado


para a presente e as futuras gerações, sendo esse um direito transindividual garantido pela Constituição Federal,
a qual comete ao Ministério Público a sua proteção. O Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode

124
SIRVINKAS, Luis Paulo. Manual de Direito Ambiental. 14a. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. P. 388.
125
SIRVINKAS, Luis Paulo. Manual de Direito Ambiental. 14a. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. P. 389.
126
SIRVINKAS, Luis Paulo. Manual de Direito Ambiental. 14a. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 390.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


7
determinar que a Administração pública adote medidas assecuratórias de direitos constitucionalmente
reconhecidos como essenciais sem que isso configure violação do princípio da separação de poderes. (STF,
RE 417408 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 20/03/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-081 DIVULG 25-04-2012 PUBLIC 26-04- 2012 RTJ VOL-00223-01 PP-00512)
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA. DIREITO AMBIENTAL. BAÍA DOS GOLFINHOS. PRAIA.
BEM DE USO COMUM DO POVO. ARTS. 6°, CAPUT E § 1°, E 10, CAPUT E § 3°, DA LEI 7.661/1988. FALÉSIA.
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ART. 4°, VIII, DA LEI 12.651/2012. TERRENO DE
MARINHA.DOMÍNIO DA UNIÃO. LOCAL DE NIDIFICAÇÃO DE TARTARUGAS
MARINHAS.PROPRIEDADE DO ESTADO. ART. 1°, CAPUT, DA LEI 5.197/1967. CONSTRUÇÃO ILEGAL.
DEMOLIÇÃO. SÚMULA 7/STJ.HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Cuida-se de Ação Declaratória proposta por
estabelecimento hoteleiro contra a União, buscando reconhecimento judicial de que o imóvel litigioso não se encontra
em terreno de domínio público; alternativamente, pede que se declare que a empresa detém posse legal da área, bem
como que se afirme a ilicitude de pretensão demolitória da Administração. O Juiz de 1º grau e o Tribunal Regional
Federal da 5ª Região julgaram improcedente a ação.2. Construída e em funcionamento sem licenciamento ambiental,
a edificação litigiosa é "barraca de apoio" (lanchonete/bar) destinada aos hóspedes do Hotel Village Natureza, no
Distrito de Pipa, Município de Tibau do Sul. O estabelecimento em questão se localiza na praia, no sopé de altíssima
falésia, ponto de desova de tartarugas marinhas, em trecho de mar considerado habitat de golfinhos, cartão postal do
paradisíaco litoral sul do Estado do Rio Grande do Norte. QUÍNTUPLA VIOLAÇÃO DA (...)pois denuncia privilégio
e benefício, comercial ou pessoal, do mais esperto em desfavor de multidão de respeitadores cônscios das prescrições
legais. Tal usurpação elimina, às claras, o augusto princípio da igualdade de todos perante a lei, epicentro do Estado
de Direito. Por óbvio, tampouco tolhe o agir da Administração a existência de outras ocupações irregulares no local,
visto que multiplicidade de infratores não legitima, nem anistia ou enobrece, pela banalização, ilegalidade estatuída na
Constituição ou em lei.6. Inatacável, portanto, o acórdão recorrido ao confirmar o julgamento antecipado da lide.
Construção ou atividade irregular em bem de uso comum do povo revela dano in re ipsa, dispensada prova de prejuízo
in concreto, impondo-se imediata restituição da área ao estado anterior. Demolição e restauração às expensas do
transgressor, ressalvada hipótese de o comportamento impugnado contar com inequívoca e proba autorização do órgão
legalmente competente.PRAIA (...)7.Segundo a Lei 7.661/1988 (Lei do Gerenciamento Costeiro), praia é "a área
coberta e descoberta periodicamente pelas águas, acrescida da faixa subseqüente de material detrítico, tal como areias,
cascalhos, seixos e pedregulhos, até o limite onde se inicie a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde comece um
outro ecossistema" (art. 10, § 3°).8. A mesma norma, quanto à utilização, dispõe que "praias são bens públicos de uso
comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido"
(art.10, caput). Em adição, sobre o domínio, a Constituição de 1988 não deixa dúvida: "praias marítimas" e "terrenos
de marinha e seus acrescidos" integram o conjunto dos "bens da União" (art. 20, IV e VII). (...)9. A nenhuma pessoa
se faculta, ao arrepio da lei e da Administração, ocupar ou aproveitar praia de modo a se assenhorear, com finalidade
comercial ou não, de espaço, benefícios ou poderes inerentes ao uso comum do povo. Livre acesso significa
inexistência de obstáculos, construções ou estruturas artificiais de qualquer tipo, de tal sorte que a circulação na praia
- em todas as direções, assim como nas imprescindíveis vias, estradas, ruas e caminhos de ingresso e saída - esteja
completamente desimpedida. Franco acesso equivale à plenitude do direito de ir e vir, isento de pagamento e de
controle de trânsito, diretos ou indiretos. Admite-se retribuição pecuniária quando decorrente de cobrança, pelo Estado,
por aproveitamento de bem de uso comum do povo e limitação de acesso apenas no âmbito do exercício de legítimo
poder de polícia, sobretudo para salvaguardar elevados valores coletivos, como saúde pública, meio ambiente,
paisagem, patrimônio histórico e segurança nacional. FALÉSIAS 10. Falésias marinhas, ativas (= vivas) ou inativas
(= mortas), como borda escarpada de "tabuleiro" costeiro, são Áreas de Preservação (...) permanente (art. 2°, g, da Lei
4.771/1965, revogada, e art. 4°, VIII, da Lei 12.651/2012), portanto compõem terreno non aedificandi, com presunção
absoluta de dano ambiental caso ocorra desmatamento, ocupação ou exploração, observadas as ressalvas, em rol
taxativo, expressa e legalmente previstas. Contra tal presunção juris et de jure, incabível prova de qualquer natureza,
pericial ou não. Logo, igualmente por esse motivo, correta a confirmação, pelo Tribunal de origem, do julgamento
antecipado da lide.11. Dotados de grande beleza cênica e frágeis por constituição e topografia inerentes - submetidos
amiúde a solapamento da base pela ação do mar, risco de abrasão agravado pelas mudanças climáticas, sem falar de
outros agentes erosivos exodinâmicos (vento, chuva) associados ao intemperismo -, esses paredões abruptos
constituem monumentos ancestrais e singulares da pandemônica história geológica da Terra e, por isso mesmo,
conclamam máximo respeito e diligente atenção do legislador, do administrador e do juiz, mormente no que se refere
à incessante pressão antrópica para ocupá-los e explorá-los, notadamente por atividades imobiliárias e turísticas
depredativas, desordenadas e não sustentáveis. (...) FALTA OU DESCUMPRIMENTO DE LICENCIAMENTO EM
OBRA OU ATIVIDADE NA ZONA COSTEIRA 12. Nos termos da Lei 7.661/1988, "O licenciamento para
parcelamento e remembramento do solo, construção, instalação, funcionamento e ampliação de atividades, com
alterações das características naturais da Zona Costeira, deverá observar, além do disposto nesta Lei, as demais normas
específicas federais, estaduais e municipais, respeitando as diretrizes dos Planos de Gerenciamento Costeiro" (art. 6°,
caput).13. Ainda de acordo com o mesmo texto legal, "A falta ou o descumprimento, mesmo parcial, das condições
do licenciamento previsto neste artigo serão sancionados com interdição, embargo ou demolição, sem prejuízo da
cominação de outras penalidades previstas em lei” (art. 6°, § 1°).NINHOS, ABRIGOS E CRIADOUROS NATURAIS
DA FAUNA SILVESTRE 14.Incontroverso que o local da obra impugnada é área de reprodução de tartarugas

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


8
marinhas, o que o qualifica como "propriedade do Estado", regime jurídico de todos os "ninhos, abrigos e criadouros
naturais" da fauna silvestre (art. 1°, caput, da Lei 5.197/1967). (...) (...) INEXISTÊNCIA DE POSSE PRIVADA DE
BEM PÚBLICO 15. Pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que ocupação privada de bem público não
evidencia posse, mas, sim, mera detenção, descabendo, por isso, falar em posse nova, velha ou de boa-fé. Por outro
lado, se ilícita a detenção, incumbe ao Poder Público, na forma de inafastável dever e sob pena de cometer improbidade
administrativa, mandar que, de imediato, se restitua o imóvel ao integral benefício da coletividade, irrelevante o tempo
da ocupação, se recente ou antiga, ou a presença de alvará urbanístico e licença do órgão ambiental. Tudo porque
domínio público não se submete a usucapião, rejeita privatização a ferro e fogo e, consequência de sua
indisponibilidade, não se transfere a terceiros, implicitamente, por simples licenciamento ou contribuição tributária.16.
Intolerável no Estado de Direito que o indivíduo tome para si o que, pela Constituição e por lei, é de uso público.
Eventual pagamento de laudêmio, de taxa de ocupação e de tributos não impede a Administração de buscar reaver
aquilo que integra o patrimônio da sociedade. (...). Leniência, inocente ou criminosa, do Poder Púbico não converte o
bem público em bem privado, nem outorga ao ocupante ilídimo o direito de perpetuar esbulho ou procrastinar sua
pronta correção.SÚMULA 7/STJ 17. No mais, modificar a conclusão a que chegou a Corte de origem, de modo a
acolher as teses da recorrente, demanda reexame do acervo fático-probatório dos autos, o que é inviável em Recurso
Especial, sob pena de violação da Súmula 7 do STJ.18. Recurso Especial não provido. (REsp 1457851/RN, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/05/2015, DJe 19/12/2016)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ZONA DE AMORTECIMENTO. PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA.


LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.1. Cuida-se, na origem, de Ação
Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal com a finalidade de condenar o recorrido à obrigação de fazer
consistente na demolição de imóvel construído na Vila de Jericoacoara, sem o devido licenciamento ambiental e em
desacordo com a IN 04/2001 do Ibama, e na reparação do dano provocado pelo impacto da obra irregular.2. O juízo
de 1° grau declarou a ilegitimidade ativa do MPF e determinou o envio dos autos à Justiça Estadual para que o MPE
possa avaliar a oportunidade de ratificação da petição inicial. Tal entendimento foi confirmado pelo Tribunal a quo.3
Em hipótese idêntica à dos autos, o STJ reconheceu que o MPF possui legitimidade ativa ad causam para a propositura
de Ação Civil Pública destinada à tutela ambiental da Zona de Amortecimento do Parque Nacional de Jericoacoara,
porquanto presente o interesse federal (AgRg no REsp 1.373.302/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 19.6.2013).4. Nos termos do art. 4° da Lei 11.486/2007, cabe à União administrar o Parque Nacional de
Jericoacoara, adotando as medidas
necessárias à sua efetiva implantação e proteção, de modo que se afigura evidente o interesse federal na integridade
da Zona de Amortecimento da Unidade de Conservação.5. Recurso Especial provido. (REsp 1366860/CE, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/11/2014, DJe 24/10/2016)

AMBIENTAL E ADMINISTRATIVO. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. DEMOLIÇÃO DE EDIFÍCIO


IRREGULAR. AUTOEXECUTORIEDADE DA MEDIDA. ART. 72, INC.VIII, DA LEI N. 9.605/98 (DEMOLIÇÃO
DE OBRA). PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. INTERESSE DE AGIR CONFIGURADO.1. A questão
cinge-se ao debate sobre o eventual interesse processual do Ibama em ação civil pública cujo pedido consiste na
condenação dos recorridos à reparação de danos ambientais, bem como à indenização por eventual dano coletivo
causado ao meio ambiente em razão da construção de prédio na margem do "Rio Chumbo", área de preservação
permanente. 2. A origem entendeu que a demolição de obras é sanção administrativa dotada de autoexecutoriedade,
razão pela qual despicienda a ação judicial que busque sua incidência. O Ibama recorre pontuando não ser atribuível a
autoexecutoriedade à referida sanção. 3. Mesmo que a Lei n. 9.605/98 autorize a demolição de obra como sanção às
infrações administrativas de cunho ambiental, a verdade é que existe forte controvérsia acerca de sua
autoexecutoriedade (da demolição de obra). 4. Em verdade, revestida ou não a sanção do referido atributo, a qualquer
das partes (Poder Público e particular) é dado recorrer à tutela jurisdicional, porque assim lhe garante a Constituição
da República (art. 5º, inc. XXXV) - notoriamente quando há forte discussão, pelo menos em nível doutrinário, acerca
da possibilidade de a Administração Pública executar manu militari a medida. 5. Além disso, no caso concreto, não se
trata propriamente de demolição de obra, pois o objeto da medida é edifício já concluído - o que intensifica a
problemática acerca da incidência do art. 72, inc. VIII, da Lei n. 9.605/98. 6. Por fim, não custa pontuar que a presente
ação civil pública tem como objetivo, mais do que a demolição do edifício, também a recuperação da área degradada.7.
Não se pode falar, portanto, em falta de interesse de agir.8. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte,
provido. (REsp 1246443/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
23/08/2011, DJe 13/04/2012).

ADMINISTRATIVO. OCUPAÇÃO DE ÁREA PÚBLICA POR PARTICULARES.CONSTRUÇÃO.


BENFEITORIAS. INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.1. Hipótese em que o Tribunal de Justiça reconheceu que
a área ocupada pelos recorridos é pública e não comporta posse, mas apenas mera detenção. No entanto, o acórdão
equiparou o detentor a possuidor de boa-fé, para fins de indenização pelas benfeitorias.2. O legislador brasileiro, ao
adotar a Teoria Objetiva de Ihering, definiu a posse como o exercício de algum dos poderes inerentes à propriedade
(art. 1.196 do CC).3. O art. 1.219 do CC reconheceu o direito à indenização pelas benfeitorias úteis e necessárias, no
caso do possuidor de boa-fé, além do direito de retenção. O correlato direito à indenização pelas construções é previsto
no art. 1.255 do CC. 4. O particular jamais exerce poderes de propriedade (art. 1.196 do CC) sobre imóvel público,
impassível de usucapião (art. 183, § 3º, da CF). Não poderá, portanto, ser considerado possuidor dessas áreas, senão
mero detentor.5. Essa impossibilidade, por si só, afasta a viabilidade de indenização por acessões ou benfeitorias, pois

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 12


9
não prescindem da posse de boa-fé (arts. 1.219 e 1.255 do CC). Precedentes do STJ.6. Os demais institutos civilistas
que regem a matéria ratificam sua inaplicabilidade aos imóveis públicos. 7. A indenização por benfeitorias prevista no
art. 1.219 do CC implica direito à retenção do imóvel, até que o valor seja pago pelo proprietário. Inadmissível que
um particular retenha imóvel público, sob qualquer fundamento, pois seria reconhecer, por via transversa, a posse
privada do bem coletivo, o que está em desarmonia com o Princípio da Indisponibilidade do Patrimônio Público. 8. O
art. 1.255 do CC, que prevê a indenização por construções, dispõe, em seu parágrafo único, que o possuidor poderá
adquirir a propriedade do imóvel se "a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno". O
dispositivo deixa cristalina a inaplicabilidade do instituto aos bens da coletividade, já que o Direito Público não se
coaduna com prerrogativas de aquisição por particulares, exceto quando atendidos os requisitos legais (desafetação,
licitação etc.).9. Finalmente, a indenização por benfeitorias ou acessões, ainda que fosse admitida no caso de áreas
públicas, pressupõe vantagem, advinda dessas intervenções, para o proprietário (no caso, o Distrito Federal). Não é o
que ocorre em caso de ocupação de áreas públicas. 10. Como regra, esses imóveis são construídos ao arrepio da
legislação ambiental e urbanística, o que impõe ao Poder Público o dever de demolição ou, no mínimo, regularização.
Seria incoerente impor à Administração a obrigação de indenizar por imóveis irregularmente construídos que, além de
não terem utilidade para o Poder Público, ensejarão dispêndio de recursos do Erário para sua demolição.11. Entender
de modo diverso é atribuir à detenção efeitos próprios da posse, o que enfraquece a dominialidade pública, destrói as
premissas básicas do Princípio da Boa-Fé Objetiva, estimula invasões e construções ilegais e legitima, com a garantia
de indenização, a apropriação privada do espaço público.12. Recurso Especial provido. (REsp 945.055/DF, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/06/2009, DJe 20/08/2009).

14 POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS I

14.1 RESÍDUOS SÓLIDOS I

Considerações Gerais
A Lei 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é bastante atual e contém
instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas
ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos.
Prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de
consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização
dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação
ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado).
Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores,
distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na
Logística Reversa dos resíduos e embalagens pós consumo e pós-consumo.
Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui instrumentos de
planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal e metropolitano e municipal; além
de impor que os particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.
Também coloca o Brasil em patamar de igualdade aos principais países desenvolvidos no que concerne
ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, tanto
na Logística Reversa quando na Coleta Seletiva.  Além disso, os instrumentos da PNRS ajudarão o Brasil a
atingir metas do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, que é de alcançar o índice de reciclagem de resíduos
em 20%.
A- Resíduo: de res derelictae a bem socioambiental. O primeiro tratamento jurídico dado aos resíduos
é exatamente o da res derelictae, ou seja, o abandono da coisa móvel. Neste sentido referências de Ulpiano,
Paulo e Modesto (Ver, Digesto e Fragmentos Pro Derelicto). A preocupação romana era a perda da propriedade

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


0
e a posse de um terceiro. Ressalta Ulpiano no fragmento ad Edictum, Livro XII, que uma coisa abandonada
deixava de ser nossa e imediatamente passava ao que a ocupa, pois a perda se dá da mesma forma que a
aquisição.
Nos vestígios arqueológicos é possível encontrar desde objetos manufaturados e sepulturas a objetos
rejeitados decorrentes da atividade técnico-econômica. Os últimos constituem resíduos e têm valor
arqueológico127. Existem resíduos domésticos de origem animal, como ossadas resíduos domésticos de origem
vegetal, como especiarias; resíduos de atividades artesanais e de objetos inutilizáveis, como cacos de barro e
outros objetos partidos128.
Na idade média, com o desenvolvimento do comércio, as cidades cresceram tremendamente, o que
levou a grandes proporções o problema de resíduos, que eram muitas vezes lançados nas rua. Aliás, esse fato
é apontado como causa da peste negra na Europa Ocidental resultando na morte de metade da população em
apenas quatro anos129.
Vide áreas afetadas pela Peste Negra:

127
Patrícia Faga Iglecias LEMOS,Resíduos Sólidos e Responsabilidade Civil Pós-Consumo, p.83
128
Gallay, Allain. L’Archeologie demain. Paris: Pierre Belfond, 1986, p. 126 e 129.
129
Alexandra Aragão, O princípio do nível elevado de protecção e a renovação ecológica do direito do ambiente e dos residuos.
Coimbra: Almedina, 2006, p. 72-73.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


1
Após a Revolução Industrial, com a intensificação da urbanização, os problemas aumentam e os
resíduos são Tratados como um problema de vizinhança. Há menos de um século, com a sociedade de massa
e a exacerbação do risco, os resíduos passam a ser um problema ambiental, de cuja solução e encaminhamento
depende nossa sobrevivência na Terra, tomando proporções nunca antes vistas130.
A percepção atual dos resíduos como uma questão ambiental está relacionado com o crescimento da
população mundial, decorrente da melhoria da qualidade de vida, dos alimentos, o que gerou um incremento
da expectativa de vida, além do próprio impacto paisagístico que podem causar, afetando a fauna, a flora e os
recursos naturais em geral131.

14.2 CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DE ACORDO COM A RESOLUÇÃO

GRUPO A - Resíduos que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido à
presença de agentes biológicos. Ex.: sangue e hemonoderivados; animais usados em experimentações; tecidos,
órgãos, fetos e peças anatômicas; resíduos de laboratórios de análises clínicas.
GRUPO B - Resíduos que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido às
suas marcas características. Ex.: drogas quimioterápicas e produtos por ela contaminados; resíduos
farmacêuticos (medicamentos vencidos, contaminados, interditados ou não utilizados); demais produtos
considerados perigosos segundo a NBR 10004 da ABNT (tóxicos, corrosivos, inflamáveis e reativos.

130
Patrícia Faga Iglecias Lemos,Resíduos Sólidos e Responsabilidade Civil Pós-Consumo, p.83.
131
Patrícia Faga Iglecias Lemos,Resíduos Sólidos e Responsabilidade Civil Pós-Consumo, p.86.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


2
GRUPO C - Rejeitos radioativos- enquadram-se neste grupo os materiais radioativos ou contaminados
com radionuclídeos, provenientes de laboratórios de análises clínicas, serviços de medicina nuclear e
radioterapia, segundo resolução CNEN.
Grupo D - Resíduos comuns são todos os demais que não se enquadram nos grupos descritos
anteriormente.

14.3 LEI DA POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei 9.605,
de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.

14.4 DO OBJETO E DO CAMPO DE APLICAÇÃO

Art. 1 o Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e
instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos,
incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos
aplicáveis.
§ 1 o Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis,
direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada
ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.
§ 2 o Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por legislação específica.

14.5 PRINCÍPIOS

Art. 6o São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:  I- a prevenção e a precaução;


II - o poluidor-pagador e o protetor-recebedor;
III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica,
tecnológica e de saúde pública;
IV - o desenvolvimento sustentável;
V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços
qualificados que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto ambiental e
do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta;
VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade;
VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador
de trabalho e renda e promotor de cidadania;
IX - o respeito às diversidades locais e regionais;
X - o direito da sociedade à informação e ao controle social;
XI - a razoabilidade e a proporcionalidade.

14.6 OBJETIVOS

Art. 7o São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:


I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;
II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos;
III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços;
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais;
V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;
VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de
materiais recicláveis e reciclados;
XII - integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


3
14.7 DAS RESPONSABILIDADES DOS GERADORES E DO PODER PÚBLICO

Art. 25. O poder público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis pela efetividade das ações voltadas para
assegurar a observância da Política Nacional de Resíduos Sólidos e das diretrizes e demais determinações estabelecidas
nesta Lei e em seu regulamento.

Art. 26. O titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos é responsável pela
organização e prestação direta ou indireta desses serviços, observados o respectivo plano municipal de gestão integrada
de resíduos sólidos, a Lei nº 11.445, de 2007, e as disposições desta Lei e seu regulamento.

14.7.1 GERADOR DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES

Art. 28. O gerador de resíduos sólidos domiciliares tem cessada sua responsabilidade pelos resíduos com a
disponibilização adequada para a coleta ou, nos casos abrangidos pelo art. 33, com a devolução.

14.7.2 DEVER DE AGIR DO PODER PÚBLICO

Art. 29. Cabe ao poder público atuar, subsidiariamente, com vistas a minimizar ou cessar o dano, logo que tome
conhecimento de evento lesivo ao meio ambiente ou à saúde pública relacionado ao gerenciamento de resíduos sólidos.
 Parágrafo único. Os responsáveis pelo dano ressarcirão integralmente o poder público pelos gastos decorrentes das
ações empreendidas na forma do caput.

14.7.3 RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA PELO CICLO DA VIDA

Art. 30. É instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada de forma
individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores
e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, consoante as atribuições e
procedimentos previstos nesta Seção.

14.7.4 OBJETIVOS DA RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA PELO CICLO DA VIDA

I - compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e


mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias sustentáveis;
II - promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando os para a sua cadeia produtiva ou para outras cadeias
produtivas;
III - reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais;
IV - incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de maior sustentabilidade; V -
estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e
recicláveis;
VI - propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e sustentabilidade;
VII - incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental.

14.7.5 RESPONSABILIDADE DOS FABRICANTES, IMPORTADORES, DISTRIBUIDORES E


COMERCIANTES

Vide art. 31:

I - investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de produtos:


a) que sejam aptos, após o uso pelo consumidor, à reutilização, à reciclagem ou a outra forma de destinação
ambientalmente adequada;
b) cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível;
II - divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e eliminar os resíduos sólidos associados a seus
respectivos produtos;
III - recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como sua subsequente destinação final
ambientalmente adequada, no caso de produtos objeto de sistema de logística reversa na forma do art. 33;

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


4
IV - compromisso de, quando firmados acordos ou termos de compromisso com o Município, participar das ações
previstas no plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, no caso de produtos ainda não inclusos no sistema
de logística reversa.

Vide art. 32:

As embalagens devem ser fabricadas com materiais que propiciem a reutilização ou a reciclagem.
§ 1 o Cabe aos respectivos responsáveis assegurar que as embalagens sejam:
I - restritas em volume e peso às dimensões requeridas à proteção do conteúdo e à comercialização do produto; II -
projetadas de forma a serem reutilizadas de maneira tecnicamente viável e compatível com as exigências aplicáveis ao
produto que contêm;
III - recicladas, se a reutilização não for possível.
§§ 3 o É responsável pelo atendimento do disposto neste artigo todo aquele que:
I - manufatura embalagens ou fornece materiais para a fabricação de embalagens;
II - coloca em circulação embalagens, materiais para a fabricação de embalagens ou produtos embalados, em qualquer
fase da cadeia de comércio.

Resíduos Perigosos

Art. 37. A instalação e o funcionamento de empreendimento ou atividade que gere ou opere com resíduos perigosos
somente podem ser autorizados ou licenciados pelas autoridades competentes se o responsável comprovar, no mínimo,
capacidade técnica e econômica, além de condições para prover os cuidados necessários ao gerenciamento desses
resíduos.

Licenciamento e resíduos perigosos


Art. 40. No licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades que operem com resíduos perigosos, o órgão
licenciador do Sisnama pode exigir a contratação de seguro de responsabilidade civil por danos causados ao meio
ambiente ou à saúde pública, observadas as regras sobre cobertura e os limites máximos de contratação fixados em
regulamento.

14.7.6 DAS PROIBIÇÕES

Art. 47. São proibidas as seguintes formas de destinação ou disposição final de resíduos sólidos ou rejeitos:  I -
lançamento em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos;
II - lançamento in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração;
III - queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipamentos não licenciados para essa finalidade;
IV - outras formas vedadas pelo poder público.

Art. 49. É proibida a importação de resíduos sólidos perigosos e rejeitos, bem como de resíduos sólidos cujas
características causem dano ao meio ambiente, à saúde pública e animal e à sanidade vegetal, ainda que para
tratamento, reforma, reús o, reutilização ou recuperação.

14.7.7 RESPONSABILIDADE OBJETIVA NOS CASOS DE OMISSÃO

Art. 51. Sem prejuízo da obrigação de, independentemente da existência de culpa, reparar os danos causados, a ação
ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importe inobservância aos preceitos desta Lei ou de seu regulamento
sujeita os infratores às sanções previstas em lei, em especial às fixadas na Lei n o 9.605, de 12 de fevereiro de 1998,
que “dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e
dá outras providências”, e em seu regulamento.

A responsabilidade pós-consumo está claramente envolvida nessa dinâmica e obriga uma visão
inovadora do nexo causal, de forma que o liame lógico-científico não impeça o alcance da reparação de um
dano que, embora decorrente de situação presente, possa manifestar-se no futuro, ou surgir após uma atuação

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


5
danosa...O nexo causal deve ser apreciado como questão jurídica e não fática, repousando suas bases na
relação entre o dano e a potencialidade do agente de evitá-lo”132.

14.7.8 NEXO CAUSAL

Entendemos, mais uma vez, que o nexo causal deve ser apreciado como questão jurídica e não fática,
repousando suas bases na relação entre o dano e a potencialidade do agente de evitá-lo. Propugnamos por
verdadeira responsabilidade preventiva133.

Responsabilidade preventiva

A responsabilidade preventiva é fundamental no pós-consumo, que abrange momento no qual o objeto


ou bem causador do dano já está muitas vezes desvinculado da conduta que o formou. Cabe a uma concepção
jurídica da causa o papel de fortalecer a responsabilização dos agentes nos danos pós-consumo134.
Quanto ao dano, preferimos uma abordagem a partir da teoria do interesse, vinculando-a à lesão de um
interesse digno de tutela jurídica, a ensejar o exercício da pretensão ressarcitória. O dano ambiental será
concebido como lesão a um interesse difuso, tomando por base o limite da tolerabilidade...Como medida de
prevenção aos danos pós-consumo e de fiscalização, bem como regulamentação da logística reversa, inclusive
com limitação quanto ao recolhimento e a valorização a partir da quantidade produzida135.

14.7.9 JURISPRUDÊNCIA NACIONAL

TRIBUTÁRIO. IPTU E TAXA. POSSUIDOR. RESPONSABILIDADE. ANIMUS DOMINI. 1. Trata-se, na origem,


de Embargos à execução nos quais o agravante alega ilegitimidade passiva em execução de IPTU e de Taxa de Coleta
de Resíduos Sólidos Urbanos por não ser proprietário do imóvel (em razão de ser mero possuidor). 2. Desde a petição
inicial dos Embargos à Execução, o ora agravado limita-se a afirmar que "apenas utiliza o imóvel para o exercício de
suas atividades, não havendo que se falar assim em qualquer vontade de dono sobre o mesmo" (fl. 16/STJ). Não
explicita qual a natureza de sua posse4. A posse prolongada (mais de vinte anos) somada às demais considerações
feitas no acórdão recorrido sobre o vínculo entre o proprietário e o possuidor conduzem à legitimidade da exação.
Aplica-se, portanto, o entendimento que condiciona a cobrança do IPTU à presença de animus domini. (STJ. 2ª Turma.
Relator Ministro Herman Benjamin. AGARESP 201200995524. DJE. 11.09.2012).

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE PELOS DANOS AMBIENTAIS CAUSADOS EM ÁREA DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE SITUADA NA NASCENTE DO RIBEIRÃO TRÊS BOCAS. DESPEJO DE
LIXO INDUSTRIAL E DE ARBORIZAÇÃO URBANA. O poder público municipal é parte legítima para responder
pelos danos ambientais causados por ele indiretamente (art. 225, § 3º, da CF/88, que recepcionou os artigos 3º, IV, e
14, § 1º, da lei n.º 6.938/81). Responsabilidade que decorre tanto da obrigação de destinar de forma ambientalmente
adequada os resíduos sólidos produzidos dentro do Município, quanto do dever de fiscalizar as atividades poluidoras
realizadas por terceiros. O pedido é juridicamente possível tendo em vista que, além das medidas protetivas e
preservativas (§ 1º, incisos I a VII, do artigo 225), a Constituição Federal prevê a possibilidade de responsabilização
dos causadores de dano ao meio ambiente tanto na esfera penal, quanto nas esferas administrativa e civil (§ 3º, do
referido artigo). Verificado nos autos que as providências adotadas pelo Município não atenderam às recomendações
feitas pelo IBAMA visando à recuperação da área utilizada como depósito de resíduo sólido urbano na nascente do
Ribeirão Três Bocas, deve ser mantida a condenação à obrigação de fazer. (TRF4. Relator Desembargador Candido
Leal. 4a. Turma. APELREEX 50026270320114047001Dje 05.06.2014.)

132
Patrícia Faga Iglecias Lemos,Resíduos Sólidos e Responsabilidade Civil Pós-Consumo, p.258.
133
Patrícia Faga Iglecias Lemos, Resíduos Sólidos e Responsabilidade Civil Pós-Consumo, p.258.
134
Patrícia Faga Iglecias Lemos, Resíduos Sólidos e Responsabilidade Civil Pós-Consumo, p.83.
135
Patrícia Faga Iglecias Lemos, Resíduos Sólidos e Responsabilidade Civil Pós-Consumo, p.259.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


6
1) Admite-se a condenação simultânea e cumulativa das obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar
na reparação integral do meio ambiente.
2) É vedado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA
impor sanções administrativas sem expressa previsão legal.
3) Não há direito adquirido a poluir ou degradar o meio ambiente, não existindo permissão ao
proprietário ou posseiro para a continuidade de práticas vedadas pelo legislador.

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS AO MEIO AMBIENTE. USINA
HIDRELÉTRICA DE CHAVANTES. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
LEI 7.990/89. COMPENSAÇÃO FINANCEIRA PELA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS. DANOS
AMBIENTAIS EVENTUAIS NÃO ABRANGIDOS POR ESSE DIPLOMA NORMATIVO. PRECEDENTE STF.
EXIGÊNCIA DE ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA/RIMA). OBRA IMPLEMENTADA
ANTERIORMENTE À SUA REGULAMENTAÇÃO. PROVIDÊNCIA INEXEQUÍVEL. PREJUÍZOS FÍSICOS E
ECONÔMICOS A SEREM APURADOS MEDIANTE PERÍCIA TÉCNICA. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. O Tribunal de origem apreciou adequadamente todos os pontos necessários ao desate da lide, não
havendo nenhuma obscuridade que justifique a sua anulação por este Superior Tribunal. 2. A melhor exegese a ser
dispensada ao art. 1º da Lei 7.990/89 é a de que a compensação financeira deve se dar somente pela utilização dos
recursos hídricos, não se incluindo eventuais danos ambientais causados por essa utilização. 3. Sobre o tema, decidiu
o Plenário do STF: "Compensação ambiental que se revela como instrumento adequado à defesa e preservação do
meio ambiente para as presentes e futuras gerações, não havendo outro meio eficaz para atingir essa finalidade
constitucional" (ADI 3.378-DF, Rel. Min. AYRES BRITTO, DJe 20/06/2008). 4. A natureza do direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado - fundamental e difusa - não confere ao empreendedor direito adquirido de, por
meio do desenvolvimento de sua atividade, agredir a natureza, ocasionando prejuízos de diversas ordens à presente e
futura gerações. 5. Atrita com o senso lógico, contudo, pretender a realização de prévio Estudo de Impacto Ambiental
(EIA/RIMA) num empreendimento que está em atividade desde 1971, isto é, há 43 anos. 6. Entretanto, impõe-se a
realização, em cabível substituição, de perícia técnica no intuito de aquilatar os impactos físicos e econômicos
decorrentes das atividades desenvolvidas pela Usina Hidrelétrica de Chavantes, especialmente no Município autor da
demanda (Santana do Itararé/PR). 7. Recurso especial parcialmente provido. 136

4) O princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório, competindo a quem supostamente


promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente não
lhe é potencialmente lesiva.
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS AMBIENTAIS.
ADIANTAMENTO DE DESPESAS PERICIAIS. ART. 18 DA LEI 7.347/1985. ENCARGO DEVIDO À FAZENDA
PÚBLICA. DISPOSITIVOS DO CPC. DESCABIMENTO. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. INVERSÃO DO
ÔNUS DA PROVA. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. 1. Segundo jurisprudência firmada pela Primeira Seção, descabe
o adiantamento dos honorários periciais pelo autor da ação civil pública, conforme disciplina o art. 18 da Lei
7.347/1985, sendo que o encargo financeiro para a realização da prova pericial deve recair sobre a Fazenda Pública a
que o Ministério Público estiver vinculado, por meio da aplicação analógica da Súmula 232/STJ. 2. Diante da
disposição específica na Lei das Ações Civis Públicas (art. 18 da Lei 7.347/1985), afasta-se aparente conflito de normas
com os dispositivos do Código de Processo Civil sobre o tema, por aplicação do princípio da especialidade. 3. Em
ação ambiental, impõe-se a inversão do ônus da prova, cabendo ao empreendedor, no caso concreto o próprio Estado,
responder pelo potencial perigo que causa ao meio ambiente, em respeito ao princípio da precaução. Precedentes. 4.
Recurso especial não provido.137

136
Precedentes: REsp 1172553/PR, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/05/2014, DJe
04/06/2014; AgRg no REsp 1367968/SP, Voto Vista ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/12/2013, DJe
12/03/2014; EDcl nos EDcl no Ag 1323337/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado
em 22/11/2011, DJe 01/12/2011; REsp 948921/ SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
23/10/2007, DJe 11/11/2009; MC 023429/SC (decisão monocrática), Ministra MARGA TESSLER (JUÍZA FEDERAL
CONVOCADA DO TRF 4ª REGIÃO), julgado em 17/10/2014, DJe 21/10/2014; REsp 1240201/PR (decisão monocrática), Ministro
BENEDITO GONÇALVES, julgado em 07/08/2014, DJe 14/08/2014.
137
Precedentes: REsp 1237893/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/09/2013, DJe
01/10/2013; AgRg no AREsp 206748/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
21/02/2013, DJe 27/02/2013; REsp 883656/ RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
09/03/2010, DJe 28/02/2012; AgRg no REsp 1192569/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


7
5) É defeso ao IBAMA impor penalidade decorrente de ato tipificado como crime ou contravenção,
cabendo ao Poder Judiciário referida medida.

ADMINISTRATIVO. IBAMA. IMPOSIÇÃO DE MULTA AMBIENTAL. FUNDAMENTAÇÃO. PORTARIA.


VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. 1. É vedado ao IBAMA instituir sanções sem expressa previsão
legal. Precedentes: AgRg no REsp 1.144.604/MG, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, julgado em
20.5.2010, DJe 10.6.2010; REsp 1.050.381/PA, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 16.12.2008,
DJe 26.2.2009. 2. Questão já enfrentada pelo STF, no julgamento da ADI-MC 1823/DF, ocasião em que restou
determinada a impossibilidade de aplicação pelo IBAMA de sanção prevista unicamente em portarias, por violação do
Princípio da Legalidade. Agravo regimental improvido 138.

6) O emprego de fogo em práticas agropastoris ou florestais depende necessariamente de autorização


do Poder Público.

ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.


QUEIMADA DA PALHA DA CANA-DE-AÇÚCAR. VEDAÇÃO. INCIDÊNCIA DO ART. 27 DO CÓDIGO
FLORESTAL. NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO DOS ÓRGÃOS COMPETENTES. ENTENDIMENTO DA
PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. "A palha da cana-de-açúcar está sujeita ao regime do
art. 27 e seu parágrafo do Código Florestal, razão pela qual sua queimada somente é admitida mediante prévia
autorização dos órgãos ambientais competentes, nos termos do parágrafo único do mesmo artigo e do disposto no
Decreto 2.661/98, sem prejuízo de outras exigências constitucionais e legais inerentes à tutela ambiental, bem como
da responsabilidade civil por eventuais danos de qualquer natureza causados ao meio ambiente e a terceiros" (EREsp
418.565/SP, Primeira Seção. Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJe 13/10/2010). 2. Agravo regimental não
provido139

7) Os responsáveis pela degradação ambiental são coobrigados solidários, formando-se, em regra, nas
ações civis públicas ou coletivas litisconsórcio facultativo.

PROCESSUAL CIVIL. REPARAÇÃO E PREVENÇÃO DE DANOS AMBIENTAIS E URBANÍSTICOS.


DESLIZAMENTOS EM ENCOSTAS HABITADAS. FORMAÇÃO DO POLO PASSIVO. INTEGRAÇÃO DE
TODOS OS RESPONSÁVEIS PELA DEGRADAÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA.
DESNECESSIDADE. 1. Hipótese em que a pretensão recursal apresentada pelo Município de Niterói se refere à
inclusão do Estado do Rio de Janeiro no polo passivo da Ação Civil Pública que visa a reparação e prevenção de danos
ambientais causados por deslizamentos de terras em encostas habitadas. 2. No dano ambiental e urbanístico, a regra
geral é a do litisconsórcio facultativo. Segundo a jurisprudência do STJ, nesse campo a "responsabilidade (objetiva) é

em 19/10/2010, DJe 27/10/2010; REsp 1049822/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
23/04/2009, DJe 18/05/2009.
138
Precedentes: AgRg no REsp 1164140/MG, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/09/2011, DJe 21/09/2011; AgRg no REsp 1144604/MG, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 20/05/2010, DJe 10/06/2010; REsp 1080613/PR, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
23/06/2009, DJe 10/08/2009; REsp 1050381/ PA, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2008,
DJe 26/02/2009; AREsp 557714/MG (decisão monocrática), Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 18/12/2014, DJe 03/02/2015; AREsp 574512/RO, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA
TURMA, julgado em 30/09/2014, DJe 18/07/2014; AREsp 385055/PA (decisão monocrática), Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/02/2014, DJe 07/03/2014. (VIDE INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA N.
389)
139
Precedentes: AgRg nos EREsp 738031/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
28/05/2014, DJe 04/08/2014; AgRg no AREsp 48149/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 12/04/2012, DJe 17/04/2012; REsp 1179156/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 14/04/2011, DJe 27/04/2011; EREsp 418565/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 29/09/2010, DJe 13/10/2010; EREsp 439456/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
08/08/2007, DJe 27/08/2007; REsp 439456/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/08/2006, DJe 26/03/2007; AREsp 210039/SP (decisão monocrática), Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 18/09/2012, DJe 20/09/2012. (VIDE INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA N. 321).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


8
solidária" (REsp 604.725/PR, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ 22.8.2005, p. 202); logo, mesmo
havendo "múltiplos agentes poluidores, não existe obrigatoriedade na formação do litisconsórcio", abrindo-se ao autor
a possibilidade de "demandar de qualquer um deles, isoladamente ou em conjunto, pelo todo" (REsp 880.160/RJ, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 27.5.2010). No mesmo sentido: EDcl no REsp 843.978/SP,
Rel. Ministro Heman Benjamin, Segunda Turma, DJe 26.6.2013. REsp 843.978/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe 9.3.2012; REsp 1.358.112/SC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.6.2013.
3. Agravo Regimental não provido.140

8) Em matéria de proteção ambiental, há responsabilidade civil do Estado quando a omissão de


cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar for determinante para a concretização ou o agravamento do
dano causado.

PROCESSUAL CIVIL, ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. ADOÇÃO COMO RAZÕES DE DECIDIR DE


PARECER EXARADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE. ART. 2º,
PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 4.771/65. DANO AO MEIO AMBIENTE. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ESTADO POR OMISSÃO. ARTS. 3º, IV, C/C 14, § 1º, DA LEI 6.938/81. DEVER DE CONTROLE E
FISCALIZAÇÃO. 1. A jurisprudência predominante no STJ é no sentido de que, em matéria de proteção ambiental,
há responsabilidade civil do Estado quando a omissão de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar for
determinante para a concretização ou o agravamento do dano causado pelo seu causador direto. Trata-se, todavia, de
responsabilidade subsidiária, cuja execução poderá ser promovida caso o degradador direto não cumprir a obrigação,
"seja por total ou parcial exaurimento patrimonial ou insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade, por
qualquer razão, inclusive técnica, de cumprimento da prestação judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito
de regresso (art. 934 do Código Civil), com a desconsideração da personalidade jurídica, conforme preceitua o art. 50
do Código Civil" (REsp 1.071.741/SP, 2ª T., Min. Herman Benjamin, DJe de 16/12/2010). 2. Examinar se, no caso, a
omissão foi ou não "determinante" (vale dizer, causa suficiente ou concorrente) para a "concretização ou o
agravamento do dano" é juízo que envolve exame das circunstâncias fáticas da causa, o que encontra óbice na Súmula
07/STJ. 3. Agravos regimentais desprovidos.141

9) A obrigação de recuperar a degradação ambiental é do titular da propriedade do imóvel, mesmo que


não tenha contribuído para a deflagração do dano, tendo em conta sua natureza propter rem.

Precedentes: REsp 1240122/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/06/2011,
DJe 11/09/2012; REsp 1251697/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado
em 12/04/2012, DJe 17/04/2012; AgRg no REsp 1137478/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/10/2011, DJe 21/10/2011; AgRg no REsp 1206484/ SP, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 29/03/2011; AgRg nos EDcl no REsp
1203101/ SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 08/02/2011, DJe
18/02/2011; REsp 1090968/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/06/2010, DJe
03/08/2010; REsp 926750/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/09/2007, DJ
04/10/2007; REsp 1186023/SP (decisão monocrática), Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, julgado em

140
Precedentes: AgRg no AREsp 432409/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/02/2014,
DJe 19/03/2014; REsp 1383707/SC, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 08/04/2014, DJe
05/06/2014; AgRg no AREsp 224572/MS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/06/2013,
DJe 11/10/2013; REsp 771619/RR, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 16/12/2008, DJe
11/02/2009; REsp 1060653/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/10/2008, DJe
20/10/2008; REsp 884150/MT, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/06/2008, DJe 07/08/2008; REsp
604725/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/06/2005, DJe 22/08/2005; REsp 1377700/PR
(decisão monocrática), Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, julgado em 08/09/2014, DJe 12/09/2014; Ag
1280216/RS (decisão monocrática), Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, julgado em 28/03/2014, DJe 03/04/2014. (VIDE
INFORMATIVO).
141
Precedentes: AgRg no REsp 1001780/PR, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em
27/09/2011, DJe 04/10/2011; REsp 1113789/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/06/2009,
DJe 29/06/2009; REsp 1071741/ SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/03/2009; DJe
16/12/2010; AgRg no Ag 973577/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
16/09/2008, DJe 19/12/2008; AgRg no Ag 822764/MG, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
05/06/2007, DJe 02/08/2007; REsp 647493/SC, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em
22/05/2007, DJe 22/10/2007; AGRESP 495377/RJ (decisão monocrática) Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, julgado em
28/05/2014, DJe 02/06/2014. (VIDE INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA N.429).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 13


9
05/03/2014, DJe 11/03/2014; AREsp 228067/MG (decisão monocrática), Rel. Ministro ARI PARGENDLER, julgado
em 17/11/2012, DJe 29/11/2012; Ag 1405492/SP (decisão monocrática), Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA,
julgado em 31/05/2011, DJe 07/06/2011. (VIDE INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA N. 439).

10) A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo
o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida
a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para
afastar sua obrigação de indenizar. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC)

AMBIENTAL. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. FUNÇÃO ECOLÓGICA DA PROPRIEDADE. ÁREA DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE. MÍNIMO ECOLÓGICO. DEVER DE REFLORESTAMENTO. OBRIGAÇÃO
PROPTER REM. ART. 18, § 1º, DO CÓDIGO FLORESTAL de 1965. REGRA DE TRANSIÇÃO. 1. Inexiste direito
ilimitado ou absoluto de utilização das potencialidades econômicas de imóvel, pois antes até "da promulgação da
Constituição vigente, o legislador já cuidava de impor algumas restrições ao uso da propriedade com o escopo de
preservar o meio ambiente" (EREsp 628.588/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Primeira Seção, DJe 9.2.2009), tarefa essa
que, no regime constitucional de 1988, fundamenta-se na função ecológica do domínio e posse. 2. Pressupostos
internos do direito de propriedade no Brasil, as Áreas de Preservação Permanente e a Reserva Legal visam a assegurar
o mínimo ecológico do imóvel, sob o manto da inafastável garantia constitucional dos "processos ecológicos
essenciais" e da "diversidade biológica". Componentes genéticos e inafastáveis, por se fundirem com o texto da
Constituição, exteriorizam-se na forma de limitação administrativa, técnica jurídica de intervenção estatal, em favor
do interesse público, nas atividades humanas, na propriedade e na ordem econômica, com o intuito de discipliná-las,
organizá-las, circunscrevê-las, adequá-las, condicioná-las, controlá-las e fiscalizá-las. Sem configurar desapossamento
ou desapropriação indireta, a limitação administrativa opera por meio da imposição de obrigações de não fazer (non
facere), de fazer (facere) e de suportar (pati), e caracteriza-se, normalmente, pela generalidade da previsão primária,
interesse público, imperatividade, unilateralidade e gratuidade. Precedentes do STJ. 3. "A obrigação de reparação dos
danos ambientais é propter rem" (REsp 1.090.968/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 3.8.2010), sem
prejuízo da solidariedade entre os vários causadores do dano, descabendo falar em direito adquirido à degradação. O
"novo proprietário assume o ônus de manter a preservação, tornando-se responsável pela reposição, mesmo que não
tenha contribuído para o desmatamento. Precedentes" (REsp 926.750/MG, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma,
DJ 4.10.2007; em igual sentido, entre outros, REsp 343.741/PR, Rel. Min. Franciulli Netto, Segunda Turma, DJ
7.10.2002; REsp 843.036/PR, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, DJ 9.11.2006; EDcl no Ag 1.224.056/SP, Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 6.8.2010; AgRg no REsp 1.206.484/SP, Rel. Min. Humberto
Martins, Segunda Turma, DJe 29.3.2011; AgRg nos EDcl no REsp 1.203.101/SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido,
Primeira Turma, DJe 18.2.2011). Logo, a obrigação de reflorestamento com espécies nativas pode "ser imediatamente
exigível do proprietário atual, independentemente de qualquer indagação a respeito de boa-fé do adquirente ou de outro
nexo causal que não o que se estabelece pela titularidade do domínio" (REsp 1.179.316/SP, Rel. Min. Teori Albino
Zavascki, Primeira Turma, DJe 29.6.2010). 4. "O § 1º do art. 18 do Código Florestal quando dispôs que, 'se tais áreas
estiverem sendo utilizadas com culturas, de seu valor deverá ser indenizado o proprietário', apenas criou uma regra de
transição para proprietários ou possuidores que, à época da criação da limitação administrativa, ainda possuíam
culturas nessas áreas" (REsp 1237071/PR, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 11.5.2011). 5. Recurso
Especial não provido.142

11) Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da


Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental. (Súmula 467/STJ) (Tese
julgada sob o rito do art. 543-C).

142
Precedentes: REsp 1374284/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/08/2014, DJe
05/09/2014, (julgado sob o rito do art. 543-C); AgRg no AgRg no AREsp 153797/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 05/06/2014, DJe 16/06/2014; REsp 1373788/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 06/05/2014, DJe 20/05/2014; AgRg no REsp 1412664/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
QUARTA TURMA, julgado em 11/02/2014, DJe 11/03/2014; AgRg no AREsp 273058/PR, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 09/04/2013, DJe 17/04/2013; AgRg no AREsp 119624/PR, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/12/2012, DJe 13/12/2012; REsp 1114398/PR, Rel. Ministro SIDNEI
BENETI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/02/2012, DJe 16/02/2012 (julgado sob o rito do art. 543-C); REsp 442586/ SP, Rel.
Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/11/2002, DJe 24/02/2003; AREsp 642570/PR (decisão monocrática),
Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, julgado em 02/02/2015, DJe 18/02/2015. (VIDE INFORMATIVO DE
JURISPRUDÊNCIA N. 545).

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


0
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO
DE MULTA AMBIENTAL. ARTIGO 535 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AUSÊNCIA DE OFENSA.
LITISPENDÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE. SÚMULA 7/STJ. PRESCRIÇÃO. PRAZO
QUINQUENAL. TERMO INICIAL. TÉRMINO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. 1. O art. 535 do Código de
Processo Civil não foi violado, pois o Poder Judiciário não está obrigado a emitir expresso juízo de valor a respeito de
todas as teses e artigos de lei invocados pelas partes, bastando fazer uso de argumentação adequada para fundamentar
a decisão, ainda que não espelhe qualquer das teses invocadas. 2. É pacífico nesta Corte Superior entendimento
segundo o qual, presente a tríplice identidade, existe litispendência entre ação anulatória e embargos de devedor
ajuizados em face da mesma dívida. Precedentes. 3. A origem, em análise do conjunto fático-probatório, concluiu que,
na espécie, está configurada a tríplice identidade entre as mencionadas ações. Acolher a tese recursal, esbarra no
incidência da Súmula n. 7 desta Corte Superior. 4. "Prescreve em cinco anos, contados do término do processo
administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental"
Súmula n. 467/STJ. 5. "Ora, não sendo possível a cobrança por ausência de definitividade do crédito, não há que se
falar em início do prazo prescricional, que só começará a correr quando vencido o crédito sem pagamento, o que se
dará com o término do processo administrativo - julgamento definitivo do último recurso - ou com a fluência do prazo
para a impugnação administrativa do crédito decorrente da multa aplicada. Assim, a tese da recorrente - de que o termo
inicial tem início na data da infração - não encontra amparo, pois não se admite que a fluência do prazo seja anterior à
data em que se torna possível a exigência do crédito" (REsp n. 1.112.577/SP, julgado segundo a sistemática do art.
543-C do CPC).143

12) Configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação da pena de multa sem a necessidade
de prévia imposição da pena de advertência (art. 72 da Lei 9.605/98). STJ. 1ª Turma. REsp 1.318.051-RJ, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/3/2015 (Info 561).

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO


DE MULTA AMBIENTAL. ARTIGO 535 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AUSÊNCIA DE OFENSA.
LITISPENDÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE. SÚMULA 7/STJ. PRESCRIÇÃO. PRAZO
QUINQUENAL. TERMO INICIAL. TÉRMINO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. 1. O art. 535 do Código de
Processo Civil não foi violado, pois o Poder Judiciário não está obrigado a emitir expresso juízo de valor a respeito de
todas as teses e artigos de lei invocados pelas partes, bastando fazer uso de argumentação adequada para fundamentar
a decisão, ainda que não espelhe qualquer das teses invocadas. 2. É pacífico nesta Corte Superior entendimento
segundo o qual, presente a tríplice identidade, existe litispendência entre ação anulatória e embargos de devedor
ajuizados em face da mesma dívida. Precedentes. 3. A origem, em análise do conjunto fático-probatório, concluiu que,
na espécie, está configurada a tríplice identidade entre as mencionadas ações. Acolher a tese recursal, esbarra no
incidência da Súmula n. 7 desta Corte Superior. 4. "Prescreve em cinco anos, contados do término do processo
administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental"
Súmula n. 467/STJ. 5. "Ora, não sendo possível a cobrança por ausência de definitividade do crédito, não há que se
falar em início do prazo prescricional, que só começará a correr quando vencido o crédito sem pagamento, o que se
dará com o término do processo administrativo - julgamento definitivo do último recurso - ou com a fluência do prazo
para a impugnação administrativa do crédito decorrente da multa aplicada. Assim, a tese da recorrente - de que o termo
inicial tem início na data da infração - não encontra amparo, pois não se admite que a fluência do prazo seja anterior à
data em que se torna possível a exigência do crédito" (REsp n. 1.112.577/SP, julgado segundo a sistemática do art.
543-C do CPC).

13) Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja registrada no
Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no Cadastro Ambiental Rural
(CAR). STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info
561):

143
Precedentes: AgRg no REsp 1363437/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
12/11/2013, DJe 20/11/2013; REsp 1275014/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
11/04/2013, DJe 09/05/2013; AgRg no REsp 1152786/SC, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 17/02/2011, DJe 23/02/2011; AgRg no Ag 1158805/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em
10/08/2010, DJe 20/08/2010; AgRg no Ag 1069662/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 01/06/2010,
DJe 30/06/2010; REsp 1115078/RS (recurso repetitivo), Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
24/03/2010, DJe 06/04/2010; AREsp 445481/SP (decisão monocrática), Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, julgado em 24/09/2014,
DJe 29/09/2014. (VIDE SÚMULAS ANOTADAS)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


1
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E AMBIENTAL. USUCAPIÃO. IMÓVEL RURAL SEM MATRÍCULA.
REGISTRO DA SENTENÇA. NECESSIDADE DE DELIMITAÇÃO DA RESERVA LEGAL AMBIENTAL.
REGISTRO NO CADASTRO AMBIENTAL RURAL - CAR. NOVO CÓDIGO FLORESTAL. 1. Controvérsia
acerca da possibilidade de se condicionar o registro da sentença de usucapião de imóvel sem matrícula à averbação da
reserva legal ambiental. 2. "É possível extrair do art. 16, §8º, do Código Florestal que a averbação da reserva florestal
é condição para a prática de qualquer ato que implique transmissão, desmembramento ou retificação de área de imóvel
sujeito à disciplina da Lei 4.771/65" (REsp 831.212/MG, DJe 22/09/2009). 3. Extensão desse entendimento para a
hipótese de aquisição originária por usucapião, aplicando-se o princípio hermenêutico "in dubio pro natura". 4.
Substituição da averbação no Cartório de Registro de Imóveis pelo registro no Cadastro Ambiental Rural - CAR, por
força do novo Código Florestal. 5. Adaptação do entendimento desta Corte Superior à nova realidade normativa,
mantida a eficácia da norma protetiva ambiental. 6. Necessidade de prévio registro da reserva legal no CAR, como
condição para o registro da sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis. 7. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO.

14. É imprescritível a pretensão reparatória de danos ambientais, na esteira de reiterada jurisprudência


deste Superior Tribunal de Justiça (STJ. Segunda Turma. Relator Ministro Mauro Campbel Marques. AGRESP
1466096. DJE: 30.03.2015)

ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. DESCUMPRIMENTO.
EXECUÇÃO. CARACTERIZAÇÃO. OBRIGAÇÃO. REPARAÇÃO. DANO AMBIENTAL.
IMPRESCRITIBILIDADE. IMPOSSIBILIDADE. REVISÃO. ACERVO PROBATÓRIO. SÚMULA 07/STJ.
INVIABILIDADE. INTERPRETAÇÃO. CLÁUSULA CONTRATUAL. SÚMULA 05/STJ. 1. É imprescritível a
pretensão reparatória de danos ambientais, na esteira de reiterada jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, a
qual não se aplica ao caso concreto, no entanto, porque a obrigação transcrita em termo de ajustamento de conduta não
está configurada dessa forma, segundo o texto do acórdão impugnado. 2. Dessa forma, uma vez que a natureza da
obrigação foi definida pelo Tribunal "a quo" a partir do contexto fático-probatório dos autos, sobretudo do termo de
ajustamento de conduta, como diversa de reparatória de dano ambiental, a reforma dessa conclusão, com o fim de
pontuar a imprescritibilidade, demanda a revisão do acervo fático-probatório e do TAC, o que encontra óbice nas
Súmulas 05 e 07 do Superior Tribunal de Justiça. 3. Agravo regimental não provido

15. O Poder de Polícia Ambiental pode - e deve - ser exercido por todos os entes da Federação, pois se
trata de competência comum, prevista constitucionalmente. Portanto, a competência material para o trato das
questões ambiental é comum a todos os entes. Diante de uma infração ambiental, os agentes de fiscalização
ambiental federal, estadual ou municipal terão o dever de agir imediatamente, obstando a perpetuação da
infração (STJ. 2ª Turma. Relator Humberto Martins. Dje 25.08.2015. AgRg no REsp 1417023 / PR)

ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. LEGITIMIDADE


PASSIVA. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. IBAMA. DEVER DE FISCALIZAÇÃO. OMISSÃO
CARACTERIZADA. 1. Tratando-se de proteção ao meio ambiente, não há falar em competência exclusiva de um ente
da federação para promover medidas protetivas. Impõe-se amplo aparato de fiscalização a ser exercido pelos quatro
entes federados, independentemente do local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo. 2. O Poder de Polícia
Ambiental pode - e deve - ser exercido por todos os entes da Federação, pois se trata de competência comum, prevista
constitucionalmente. Portanto, a competência material para o trato das questões ambiental é comum a todos os entes.
Diante de uma infração ambiental, os agentes de fiscalização ambiental federal, estadual ou municipal terão o dever
de agir imediatamente, obstando a perpetuação da infração. 3. Nos termos da jurisprudência pacífica do STJ, a
responsabilidade por dano ambiental é objetiva, logo responderá pelos danos ambientais causados aquele que tenha
contribuído apenas que indiretamente para a ocorrência da lesão. Agravo regimental improvido.

16. A responsabilidade solidária e de execução subsidiária significa que o Estado integra o título
executivo sob a condição de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o degradador
original, direto ou material (= devedor principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento patrimonial
ou insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da prestação

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


2
judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de regresso (art. 934 do Código Civil), com a
desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do Código Civil). Recurso Especial provido (STJ. 2ª. Turma.
Rel. Min. Herman Benjamin. REsp. 1071741. DJE. 16.12.2010).

AMBIENTAL. UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL (LEI 9.985/00). OCUPAÇÃO E


CONSTRUÇÃO ILEGAL POR PARTICULAR NO PARQUE ESTADUAL DE JACUPIRANGA. TURBAÇÃO E
ESBULHO DE BEM PÚBLICO. DEVER-PODER DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL DO
ESTADO. OMISSÃO. ART. 70, § 1º, DA LEI 9.605/1998. DESFORÇO IMEDIATO. ART. 1.210, § 1º, DO CÓDIGO
CIVIL. ARTIGOS 2º, I E V, 3º, IV, 6º E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981 (LEI DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE). CONCEITO DE POLUIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO DE NATUREZA
SOLIDÁRIA, OBJETIVA, ILIMITADA E DE EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO.
1. Já não se duvida, sobretudo à luz da Constituição Federal de 1988, que ao Estado a ordem jurídica abona, mais na
fórmula de dever do que de direito ou faculdade, a função de implementar a letra e o espírito das determinações legais,
inclusive contra si próprio ou interesses imediatos ou pessoais do Administrador. Seria mesmo um despropósito que o
ordenamento constrangesse os particulares a cumprir a lei e atribuísse ao servidor a possibilidade, conforme a
conveniência ou oportunidade do momento, de por ela zelar ou abandoná-la à própria sorte, de nela se inspirar ou,
frontal ou indiretamente, contradizê-la, de buscar realizar as suas finalidades públicas ou ignorá-las em prol de
interesses outros. 2. Na sua missão de proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras
gerações, como patrono que é da preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais, incumbe ao Estado
definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos,
sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção? (Constituição Federal, art. 225, § 1º, III). 3. A criação de
Unidades de Conservação não é um fim em si mesmo, vinculada que se encontra a claros objetivos constitucionais e
legais de proteção da Natureza. Por isso, em nada resolve, freia ou mitiga a crise da biodiversidade diretamente
associada à insustentável e veloz destruição de habitat natural, se não vier acompanhada do compromisso estatal de,
sincera e eficazmente, zelar pela sua integridade físico-ecológica e providenciar os meios para sua gestão técnica,
transparente e democrática. A ser diferente, nada além de um sistema de áreas protegidas de papel ou de fachada?
existirá, espaços de ninguém, onde a omissão das autoridades é compreendida pelos degradadores de plantão como
autorização implícita para o desmatamento, a exploração predatória e a ocupação ilícita. 4. Qualquer que seja a
qualificação jurídica do degradador, público ou privado, no Direito brasileiro a responsabilidade civil pelo dano
ambiental é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação
in integrum, da prioridade da reparação in natura, e do favor debilis, este último a legitimar uma série de técnicas de
facilitação do acesso à Justiça, entre as quais se inclui a inversão do ônus da prova em favor da vítima ambiental.
Precedentes do STJ. 5. Ordinariamente, a responsabilidade civil do Estado, por omissão, é subjetiva ou por culpa,
regime comum ou geral esse que, assentado no art. 37 da Constituição Federal, enfrenta duas exceções principais.
Primeiro, quando a responsabilização objetiva do ente público decorrer de expressa previsão legal, em microssistema
especial, como na proteção do meio ambiente (Lei 6.938/1981, art. 3º, IV, c/c o art. 14, § 1º). Segundo, quando as
circunstâncias indicarem a presença de um standard ou dever de ação estatal mais rigoroso do que aquele que jorra,
consoante a construção doutrinária e jurisprudencial, do texto constitucional. 6. O dever-poder de controle e
fiscalização ambiental (= dever-poder de implementação), além de inerente ao exercício do poder de polícia do Estado,
provém diretamente do marco constitucional de garantia dos processos ecológicos essenciais (em especial os arts. 225,
23, VI e VII, e 170, VI) e da legislação, sobretudo da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981,
arts. 2º, I e V, e 6º) e da Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes e Ilícitos Administrativos contra o Meio Ambiente). 7. Nos
termos do art. 70, § 1º, da Lei 9.605/1998, são titulares do dever-poder de implementação os funcionários de órgãos
ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente SISNAMA, designados para as atividades de
fiscalização, além de outros a que se confira tal atribuição. 8. Quando a autoridade ambiental tiver conhecimento de
infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob
pena de co-responsabilidade (art. 70, § 3°, da Lei 9.605/1998, grifo acrescentado). 9. Diante de ocupação ou utilização
ilegal de espaços ou bens públicos, não se desincumbe do dever-poder de fiscalização ambiental (e também urbanística)
o Administrador que se limita a embargar obra ou atividade irregular e a denunciá-la ao Ministério Público ou à Polícia,
ignorando ou desprezando outras medidas, inclusive possessórias, que a lei põe à sua disposição para eficazmente fazer
valer a ordem administrativa e, assim, impedir, no local, a turbação ou o esbulho do patrimônio estatal e dos bens de
uso comum do povo, resultante de desmatamento, construção, exploração ou presença humana ilícitos. 10. A turbação
e o esbulho ambiental-urbanístico podem e no caso do Estado, devem ser combatidos pelo desforço imediato, medida
prevista atualmente no art. 1.210, § 1º, do Código Civil de 2002 e imprescindível à manutenção da autoridade e da
credibilidade da Administração, da integridade do patrimônio estatal, da legalidade, da ordem pública e da conservação
de bens intangíveis e indisponíveis associados à qualidade de vida das presentes e futuras gerações. 11. O conceito de
poluidor, no Direito Ambiental brasileiro, é amplíssimo, confundindo-se, por expressa disposição legal, com o de
degradador da qualidade ambiental, isto é, toda e qualquer pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental (art. 3º, IV, da Lei 6.938/1981,
grifo adicionado). 12. Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano urbanístico-ambiental e de eventual
solidariedade passiva, equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem não se importa que façam,

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


3
quem cala quando lhe cabe denunciar, quem financia para que façam e quem se beneficia quando outros fazem. 13. A
Administração é solidária, objetiva e ilimitadamente responsável, nos termos da Lei 6.938/1981, por danos urbanístico-
ambientais decorrentes da omissão do seu dever de controlar e fiscalizar, na medida em que contribua, direta ou
indiretamente, tanto para a degradação ambiental em si mesma, como para o seu agravamento, consolidação ou
perpetuação, tudo sem prejuízo da adoção, contra o agente público relapso ou desidioso, de medidas disciplinares,
penais, civis e no campo da improbidade administrativa. 14. No caso de omissão de dever de controle e fiscalização,
a responsabilidade ambiental solidária da Administração é de execução subsidiária (ou com ordem de preferência). 15.
A responsabilidade solidária e de execução subsidiária significa que o Estado integra o título executivo sob a condição
de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o degradador original, direto ou material (= devedor
principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento patrimonial ou insolvência, seja por impossibilidade ou
incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da prestação judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de
regresso (art. 934 do Código Civil), com a desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do Código Civil). 16. Ao
acautelar a plena solvabilidade financeira e técnica do crédito ambiental, não se insere entre as aspirações da
responsabilidade solidária e de execução subsidiária do Estado ? sob pena de onerar duplamente a sociedade, romper
a equação do princípio poluidor-pagador e inviabilizar a internalização das externalidades ambientais negativas ?
substituir, mitigar, postergar ou dificultar o dever, a cargo do degradador material ou principal, de recuperação integral
do meio ambiente afetado e de indenização pelos prejuízos causados. 17. Como consequência da solidariedade e por
se tratar de litisconsórcio facultativo, cabe ao autor da Ação optar por incluir ou não o ente público na petição inicial.
18. Recurso Especial provido.

O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente


constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro
e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia,
subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores
constitucionais relevantes, a uma condição inafastavel, cuja observância não comprometa nem esvazie o
conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio
ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes
e futuras gerações (STF. Rel. Ministro Celso de Mello. ADI-MC 3540. Dje 05.05.2009).

E M E N T A: MEIO AMBIENTE - DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225) -


PRERROGATIVA QUALIFICADA POR SEU CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE - DIREITO DE
TERCEIRA GERAÇÃO (OU DE NOVÍSSIMA DIMENSÃO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA
SOLIDARIEDADE - NECESSIDADE DE IMPEDIR QUE A TRANSGRESSÃO A ESSE DIREITO FAÇA
IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE, CONFLITOS INTERGENERACIONAIS - ESPAÇOS
TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III) - ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DO
REGIME JURÍDICO A ELES PERTINENTE - MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
RESERVA DE LEI - SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE -
POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS,
AUTORIZAR, LICENCIAR OU PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS
PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA, QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS
JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL - RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º,
II, C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225) - COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS -
CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE VALORES CONSTITUCIONAIS
RELEVANTES - OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES (FASES
OU DIMENSÕES) DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161) - A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À
PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE
ECONÔMICA (CF, ART. 170, VI) - DECISÃO NÃO REFERENDADA - CONSEQÜENTE INDEFERIMENTO
DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE:
EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE À GENERALIDADE
DAS PESSOAS. - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de
terceira geração (ou de novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao
Estado e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras
gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse
encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves
conflitos intergeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção
desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER
EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO
AO MEIO AMBIENTE. - A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


4
nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade
econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele
que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de
meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente
laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela
efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria
inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar graves
danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural. A QUESTÃO DO
DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA
INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA
ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. - O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter
eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado
brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia,
subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores
constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo
essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz
bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O ART.
4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO EXPRESSIVO NA
TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. - A Medida Provisória nº 2.166-67, de 24/08/2001,
na parte em que introduziu significativas alterações no art. 4o do Código Florestal, longe de comprometer os valores
constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um
real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a
impedir ações predatórias e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção
mais intensa, agora propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo
em questão. - Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente
protegidos qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas
ao princípio da reserva legal. - É lícito ao Poder Público - qualquer que seja a dimensão institucional em que se
posicione na estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) - autorizar, licenciar ou
permitir a execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos,
desde que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte
comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico de
proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III)144.

O Supremo Tribunal Federal reconheceu o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como
um direito fundamental. Neste diapasão, também, o meio ambiente foi considerado como bem jurídico
merecedor de tutela constitucional nos autos do RE 134.297-8/SP. No MS 22.164/DF, a Corte ampliou o
reconhecimento de características especiais do bem ambiental, à luz do art. 225 da Constituição Federal de
1988, em que estão previstos também deveres fundamentais. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso
Extraordinário n 22164/SP. Relator: Ministro Celso de Mello. Acórdão publicado no Diário da Justiça da União
de 17 nov. 1995.
Aplicação do princípio da precaução, acolhido constitucionalmente, harmonizado com os demais
princípios da ordem social e econômica X ponderação dos princípios constitucionais: demonstração de que a
importação de pneus usados ou remoldados afronta os preceitos constitucionais de saúde e do meio ambiente

144
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos
que justifiquem sua proteção; (Regulamento)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


5
ecologicamente equilibrado (arts. 170, inc. I e VI e seu parágrafo único, 196 e 225 da Constituição do Brasil)
(STF. Relatora Ministra Carmen Lúcia. ADPF 101. Plenário 04.06.2009).
EMENTA: ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL: ADEQUAÇÃO.
OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE. ARTS. 170, 196 E 225 DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. CONSTITUCIONALIDADE DE ATOS NORMATIVOS PROIBITIVOS DA IMPORTAÇÃO DE
PNEUS USADOS. RECICLAGEM DE PNEUS USADOS: AUSÊNCIA DE ELIMINAÇÃO TOTAL DE SEUS
EFEITOS NOCIVOS À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO. AFRONTA AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. COISA
JULGADA COM CONTEÚDO EXECUTADO OU EXAURIDO: IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO.
DECISÕES JUDICIAIS COM CONTEÚDO INDETERMINADO NO TEMPO: PROIBIÇÃO DE NOVOS EFEITOS
A PARTIR DO JULGAMENTO. ARGUIÇÃO JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. 1. Adequação da
arguição pela correta indicação de preceitos fundamentais atingidos, a saber, o direito à saúde, direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (arts. 196 e 225 da Constituição Brasileira) e a busca de desenvolvimento econômico
sustentável: princípios constitucionais da livre iniciativa e da liberdade de comércio interpretados e aplicados em
harmonia com o do desenvolvimento social saudável. Multiplicidade de ações judiciais, nos diversos graus de
jurisdição, nas quais se têm interpretações e decisões divergentes sobre a matéria: situação de insegurança jurídica
acrescida da ausência de outro meio processual hábil para solucionar a polêmica pendente: observância do princípio
da subsidiariedade. Cabimento da presente ação. 2. Argüição de descumprimento dos preceitos fundamentais
constitucionalmente estabelecidos: decisões judiciais nacionais permitindo a importação de pneus usados de Países
que não compõem o Mercosul: objeto de contencioso na Organização Mundial do Comércio – OMC, a partir de
20.6.2005, pela Solicitação de Consulta da União Europeia ao Brasil. 3. Crescente aumento da frota de veículos no
mundo a acarretar também aumento de pneus novos e, consequentemente, necessidade de sua substituição em
decorrência do seu desgaste. Necessidade de destinação ecologicamente correta dos pneus usados para submissão dos
procedimentos às normas constitucionais e legais vigentes. Ausência de eliminação total dos efeitos nocivos da
destinação dos pneus usados, com malefícios ao meio ambiente: demonstração pelos dados. 4. Princípios
constitucionais (art. 225) a) do desenvolvimento sustentável e b) da equidade e responsabilidade intergeracional. Meio
ambiente ecologicamente equilibrado: preservação para a geração atual e para as gerações futuras. Desenvolvimento
sustentável: crescimento econômico com garantia paralela e superiormente respeitada da saúde da população, cujos
direitos devem ser observados em face das necessidades atuais e daquelas previsíveis e a serem prevenidas para
garantia e respeito às gerações futuras. Atendimento ao princípio da precaução, acolhido constitucionalmente,
harmonizado com os demais princípios da ordem social e econômica. 5. Direito à saúde: o depósito de pneus ao ar
livre, inexorável com a falta de utilização dos pneus inservíveis, fomentado pela importação é fator de disseminação
de doenças tropicais. Legitimidade e razoabilidade da atuação estatal preventiva, prudente e precavida, na adoção de
políticas públicas que evitem causas do aumento de doenças graves ou contagiosas. Direito à saúde: bem não
patrimonial, cuja tutela se impõe de forma inibitória, preventiva, impedindo-se atos de importação de pneus usados,
idêntico procedimento adotado pelos Estados desenvolvidos, que deles se livram. 6. Recurso Extraordinário n.
202.313, Relator o Ministro Carlos Velloso, Plenário, DJ 19.12.1996, e Recurso Extraordinário n. 203.954, Relator o
Ministro Ilmar Galvão, Plenário, DJ 7.2.1997: Portarias emitidas pelo Departamento de Comércio Exterior do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – Decex harmonizadas com o princípio da legalidade;
fundamento direto no art. 237 da Constituição da República. 7. Autorização para importação de remoldados
provenientes de Estados integrantes do Mercosul limitados ao produto final, pneu, e não às carcaças: determinação do
Tribunal ad hoc, à qual teve de se submeter o Brasil em decorrência dos acordos firmados pelo bloco econômico:
ausência de tratamento discriminatório nas relações comerciais firmadas pelo Brasil. 8. Demonstração de que: a) os
elementos que compõem o pneus, dando-lhe durabilidade, é responsável pela demora na sua decomposição quando
descartado em aterros; b) a dificuldade de seu armazenamento impele a sua queima, o que libera substâncias tóxicas e
cancerígenas no ar; c) quando compactados inteiros, os pneus tendem a voltar à sua forma original e retornam à
superfície, ocupando espaços que são escassos e de grande valia, em especial nas grandes cidades; d) pneus inservíveis
e descartados a céu aberto são criadouros de insetos e outros transmissores de doenças; e) o alto índice calorífico dos
pneus, interessante para as indústrias cimenteiras, quando queimados a céu aberto se tornam focos de incêndio difíceis
de extinguir, podendo durar dias, meses e até anos; f) o Brasil produz pneus usados em quantitativo suficiente para
abastecer as fábricas de remoldagem de pneus, do que decorre não faltar matéria-prima a impedir a atividade
econômica. Ponderação dos princípios constitucionais: demonstração de que a importação de pneus usados ou
remoldados afronta os preceitos constitucionais de saúde e do meio ambiente ecologicamente equilibrado (arts. 170,
inc. I e VI e seu parágrafo único, 196 e 225 da Constituição do Brasil). 9. Decisões judiciais com trânsito em julgado,
cujo conteúdo já tenha sido executado e exaurido o seu objeto não são desfeitas: efeitos acabados. Efeitos cessados de
decisões judiciais pretéritas, com indeterminação temporal quanto à autorização concedida para importação de pneus:
proibição a partir deste julgamento por submissão ao que decidido nesta arguição. 10. Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental julgada parcialmente procedente.

Obrigatoriedade do estudo prévio de impacto ambiental

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


6
A exigência do EPIA não pode sofrer exceções. A Constituição Federal impõe a adoção do EPIA. Não
se trata de mera faculdade, pois, como já decidiu o STF: “a CF/88 no art. 225, parágrafo 1º, inc. IV, exigiu o
Estudo Prévio de Impacto Ambiental, chamado EIARIMA, como norma absoluta. Não pode a Constituição
Estadual, por conseguinte, excetuar ou dispensar, nessa regra, ainda que, dentro de sua competência
supletiva, pudesse criar formas mais rígidas de controle”.
O meio ambiente, como consta no voto, é um direito de terceira geração: que assiste de modo
subjetivamente indeterminado a todo o gênero humano, circunstância essa que justifica a especial obrigação
que incumbe ao Estado e à própria coletividade – de defendê-lo e preservá-lo em benefício das presentes e
futuras gerações, evitando-se, desse modo, que irrompam no seio da comunhão social, os graves conflitos
intergeracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade na proteção desse bem essencial de uso
comum de todos quantos compõe o grupo social.
Neste sentido, como referido pelo Ministro Celso de Mello: o direito à integridade do meio ambiente
constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos
humanos, expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo em sua singularidade, mas num
sentido mais abrangente, à própria coletividade social...o meio ambiente constitui patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido pelos organismos sociais e pelas instituições estatais, qualificando-se
como encargo que se impõe – sempre em benefício das presentes e das futuras gerações – tanto do Poder
Público como à coletividade em si mesmo considerada.
No caso da farra do boi, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional lei estadual do Estado
de Santa Catarina autorizadora de tal prática oriunda da cultura lusitana medieval. Após realizar a ponderação
entre o direito de pretensa manifestação cultural do povo do Estado de Santa Catarina, consistente na
perseguição coletiva pelas ruas das cidades de um boi e posterior sacrifício do animal e o direito à integridade
física e a proteção dos bovinos, entendeu por dar prioridade aos valores e a dignidade do animal não humano.
No caso da briga de galo, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional lei aprovada no Estado
do Rio de Janeiro que regulamentava referida prática. A base normativa constitucional para a anulação da
legislação estatal foi o previsto no art. 225, §6º, inc. VII, da Constituição Federal de 1988 145, que dispõe ser
um “dever do Estado proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco
sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade”.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 4983, ajuizada pelo procurador-geral da República contra a Lei 15.299/2013, do
Estado do Ceará, que regulamenta a vaquejada como prática desportiva e cultural no estado. A maioria dos

145
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva- lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a
extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (Regulamento)

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


7
ministros acompanhou o voto do relator, ministro Marco Aurélio, que considerou haver “crueldade intrínseca”
aplicada aos animais na vaquejada.

PROCESSO OBJETIVO – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – ATUAÇÃO DO ADVOGADO-


GERAL DA UNIÃO. Consoante dispõe a norma imperativa do § 3º do artigo 103 do Diploma Maior, incumbe ao
Advogado-Geral da União a defesa do ato ou texto impugnado na ação direta de inconstitucionalidade, não lhe cabendo
emissão de simples parecer, a ponto de vir a concluir pela pecha de inconstitucionalidade. VAQUEJADA –
MANIFESTAÇÃO CULTURAL – ANIMAIS – CRUELDADE MANIFESTA – PRESERVAÇÃO DA FAUNA E
DA FLORA – INCONSTITUCIONALIDADE. A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos
culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância do disposto no inciso
VII do artigo 225 da Carta Federal, o qual veda prática que acabe por submeter os animais à crueldade. Discrepa da
norma constitucional a denominada vaquejada.

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO. ART. 22, XXVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. É


inconstitucional norma estadual que dispõe sobre atividades relacionadas ao setor nuclear no âmbito regional, por
violação da competência da União para legislar sobre atividades nucleares, na qual se inclui a competência para
fiscalizar a execução dessas atividades e legislar sobre a referida fiscalização. Ação direta julgada procedente. (ADI
1575, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 07/04/2010)

Ação direta de inconstitucionalidade. Lei estadual (SC) 13.922/07: É formalmente inconstitucional a


lei estadual que cria restrições à comercialização, à estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados
no Estado, ainda que tenha por objetivo a proteção da saúde dos consumidores diante do possível uso indevido
de agrotóxicos por outros países. A matéria é predominantemente de comércio exterior e interestadual, sendo,
portanto, de competência privativa da União (CF, art. 22, inciso VIII) (ADI 3852, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 07/10/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-249 DIVULG 10-12-
2015 PUBLIC 11-12-2015)

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Lei estadual (SC) nº 13.922/07. Restrições ao comércio de produtos
agrícolas importados no Estado. Competência privativa da União para legislar sobre comércio exterior e interestadual
(CF, art. 22, inciso VIII). 1. É formalmente inconstitucional a lei estadual que cria restrições à comercialização, à
estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no Estado, ainda que tenha por objetivo a proteção da saúde
dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por outros países. A matéria é predominantemente
de comércio exterior e interestadual, sendo, portanto, de competência privativa da União (CF, art. 22, inciso VIII). 2.
É firme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da inconstitucionalidade das leis estaduais que
constituam entraves ao ingresso de produtos nos estados da Federação ou sua saída deles, provenham esses do exterior
ou não (cf. ADI 3.813/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, DJ e de 20/04/2015; ADI nº 280, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de
17/6/1994; e ADI nº 3.035, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 14/10/2005). 3. Ação direta julgada procedente.

(...) 1. O Município é competente para legislar sobre meio ambiente com União e Estado, no limite de seu interesse
local e desde que tal regramento seja e harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24,
VI c/c 30, I e II da CRFB). 2. O Judiciário está inserido na sociedade e, por este motivo, deve estar atento também aos
seus anseios, no sentido de ter em mente o objetivo de saciar as necessidades, visto que também é um serviço público.
3. In casu, 9. Recurso extraordinário conhecido e provido para declarar a inconstitucionalidade da Lei Municipal nº
1.952, de 20 de dezembro de 1995, do Município de Paulínia que vedava a queimada da palha de cana de açúcar para
colheita. (RE 586224, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 05/03/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-085 DIVULG 07-05-2015 PUBLIC 08-05-2015)

Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL.


LIMITES DA COMPETÊNCIA MUNICIPAL. LEI MUNICIPAL QUE PROÍBE A QUEIMA DE PALHA DE
CANA-DE-AÇÚCAR E O USO DO FOGO EM ATIVIDADES AGRÍCOLAS. LEI MUNICIPAL Nº 1.952, DE 20
DE DEZEMBRO DE 1995, DO MUNICÍPIO DE PAULÍNIA. RECONHECIDA REPERCUSSÃO GERAL.
ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 23, CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, Nº 14, 192, § 1º E 193, XX E
XXI, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO E ARTIGOS 23, VI E VII, 24, VI E 30, I E II DA CRFB.
1. O Município é competente para legislar sobre meio ambiente com União e Estado, no limite de seu interesse local
e desde que tal regramento seja e harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI
c/c 30, I e II da CRFB). 2. O Judiciário está inserido na sociedade e, por este motivo, deve estar atento também aos

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


8
seus anseios, no sentido de ter em mente o objetivo de saciar as necessidades, visto que também é um serviço público.
3. In casu, porquanto inegável conteúdo multidisciplinar da matéria de fundo, envolvendo questões sociais, econômicas
e políticas, não é permitido a esta Corte se furtar de sua análise para o estabelecimento do alcance de sua decisão. São
elas: (i) a relevante diminuição – progressiva e planejada – da utilização da queima de cana-de-açúcar; (ii) a
impossibilidade do manejo de máquinas diante da existência de áreas cultiváveis acidentadas; (iii) cultivo de cana em
minifúndios; (iv) trabalhadores com baixa escolaridade; (v) e a poluição existente independentemente da opção
escolhida. 4. Em que pese a inevitável mecanização total no cultivo da cana, é preciso reduzir ao máximo o seu aspecto
negativo. Assim, diante dos valores sopesados, editou-se uma lei estadual que cuida da forma que entende ser devida
a execução da necessidade de sua respectiva população. Tal diploma reflete, sem dúvida alguma, uma forma de
compatibilização desejável pela sociedade, que, acrescida ao poder concedido diretamente pela Constituição, consolida
de sobremaneira seu posicionamento no mundo jurídico estadual como um standard a ser observado e respeitado pelas
demais unidades da federação adstritas ao Estado de São Paulo. 5. Sob a perspectiva estritamente jurídica, é
interessante observar o ensinamento do eminente doutrinador Hely Lopes Meireles, segundo o qual “se caracteriza
pela predominância e não pela exclusividade do interesse para o município, em relação ao do Estado e da União. Isso
porque não há assunto municipal que não seja reflexamente de interesse estadual e nacional. A diferença é apenas de
grau, e não de substância." (Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 1996. p. 121.) 6. Função
precípua do município, que é atender diretamente o cidadão. Destarte, não é permitida uma interpretação pelo Supremo
Tribunal Federal, na qual não se reconheça o interesse do município em fazer com que sua população goze de um meio
ambiente equilibrado. 7. Entretanto, impossível identificar interesse local que fundamente a permanência da vigência
da lei municipal, pois ambos os diplomas legislativos têm o fito de resolver a mesma necessidade social, que é a
manutenção de um meio ambiente equilibrado no que tange especificamente a queima da cana-de-açúcar. 8. Distinção
entre a proibição contida na norma questionada e a eliminação progressiva disciplina na legislação estadual, que gera
efeitos totalmente diversos e, caso se opte pela sua constitucionalidade, acarretará esvaziamento do comando
normativo de quem é competente para regular o assunto, levando ao completo descumprimento do dever deste
Supremo Tribunal Federal de guardar a imperatividade da Constituição. 9. Recurso extraordinário conhecido e provido
para declarar a inconstitucionalidade da Lei Municipal nº 1.952, de 20 de dezembro de 1995, do Município de Paulínia.

É de se grifar decisão monocrática proferida pelo Ministro Celso de Mello no Recurso Extraordinário
nº 673.681/SP (DJe-246 publicado em 16/12/2014), assinalando que assiste ao Município competência
constitucional – embora não ilimitada – “para formular regras e legislar sobre proteção e defesa do meio
ambiente, que representa encargo irrenunciável que incide sobre todos e cada um dos entes que integram o
Estado Federal brasileiro
Embora decisões do STF, na ADI 3.357/RS e ADI 3.937/SP, apontem para o reconhecimento do
exercício da competência legislativa municipal mais efetiva na tutela do ambiente, “a jurisprudência
predominante tem sido até então mais restritiva no aspecto do reconhecimento de uma postura legislativa
mais proativa e protetiva do município na esfera ambiental”.
Foi publicado no Informativo do STF nº 857, referente ao período de 13 a 17 de março de 2017, a
seguinte informação sobre julgado da 2ª Turma:

“Os Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam fundamentadamente. Com base nesse
entendimento, a Segunda Turma negou provimento a agravo regimental. A Turma afirmou que os Municípios podem
adotar legislação ambiental mais restritiva em relação aos Estados-Membros e à União. No entanto, é necessário que
a norma tenha a devida motivação. ARE 748206 AgR/SC, rel Min. Celso de Mello, julgamento em 14.3.2017. (ARE-
748206)”.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DO MEIO AMBIENTE. LEGITIMIDADE DA ATUAÇÃO DO PODER


JUDICIÁRIO. INEXISTÊNCIA DE INVASÃO ÀS COMPETÊNCIAS DO PODER EXECUTIVO. PRECEDENTES
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (RE
511254 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 23/02/2016, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-043 DIVULG 07-03- 2016 PUBLIC 08-03-2016)

1. A Corte Suprema já firmou a orientação de que é dever do Poder Público e da sociedade a defesa de um meio
ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações. 2. Assim, pode o Poder Judiciário, em
situações excepcionais, determinar que a Administração pública adote medidas assecuratórias desse direito, reputado
essencial pela Constituição Federal, sem que isso configure violação do princípio da separação de poderes. 3. A
Administração não pode justificar a frustração de direitos previstos na Constituição da República sob o fundamento

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 14


9
da insuficiência orçamentária. 4. Agravo regimental não provido. • (RE 658171 AgR, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 01/04/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-079 DIVULG 25-04-2014
PUBLIC 28-04-2014).

O art. 225, § 3º, da Constituição Federal146 não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica
por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da
empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação... Tal esclarecimento, relevante para
fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a
responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas
(STF. 1 Turma. Relatora Ministra Rosa Weber. RE 548181. 06.08.2013):

EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE


PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À
PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização
penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no
âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações corporativas
complexas da atualidade se caracterizam pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo
inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação
do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa física implica indevida restrição da
norma constitucional, expressa a intenção do constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções
penais, mas também de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização
dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. A identificação
dos setores e agentes internos da empresa determinantes da produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada
no caso concreto como forma de esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular
de suas atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da
entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se
confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa
das pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou
parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual. 5. Recurso
Extraordinário parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido.

146
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

0800 601 8686 | verbojuridico.com.br 15


0

Você também pode gostar