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JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAPÁ
GABINETE 03
RUA GENERAL RONDON Nº 1295 - MACAPÁ-AP
Nº do processo: 0004814-94.2023.8.03.0000
Vistos, etc.
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Este documento foi assinado eletronicamente por Desembargador AGOSTINO SILVÉRIO em 20/06/2023 08:21.
O original deste documento pode ser consultado no site: http://www.tjap.jus.br. Hash: 683107586AM
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAPÁ
GABINETE 03
RUA GENERAL RONDON Nº 1295 - MACAPÁ-AP
Não há dúvida quanto à competência desta Corte para processar e julgar ações
envolvendo o direito de greve dos servidores públicos no âmbito da justiça estadual, diante do
posicionamento adotado pelo STF no julgamento dos Mandados de Injunção nºs 670/ES, 708/DF e
712/PA, conforme, aliás, o seguinte acórdão da lavra do Des. Carlos Tork, senão vejamos:
In casu, a tutela cautelar requerida em caráter antecedente tem previsão no art. 305 do
NCPC, cuja liminar tem como pressupostos para a concessão a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou risco ao resultado útil do processo (art. 300).
“[...] 1) a suspensão da prestação de serviços deve ser temporária, pacífica, podendo ser
total ou parcial; 2) a paralisação dos serviços deve ser precedida de negociação ou de tentativa de
negociação; 3) a Administração deve ser notificada da paralisação com antecedência mínima de 48
horas; 4) a entidade representativa dos servidores deve convocar, na forma de seu estatuto,
assembleia geral para deliberar sobre as reivindicações da categoria e sobre a paralisação, antes de
sua ocorrência; 5) o estatuto da entidade deve prever as formalidades de convocação e o quorum
para a deliberação, tanto para a deflagração como para a cessação da greve;6) a entidade dos
servidores representará os seus interesses nas negociações, perante a Administração e o Poder
Judiciário; 7) sãoassegurados aos grevistas, dentre outros direitos, o emprego de meios pacíficos
tendentes a persuadir oualiciar os servidores a aderirem à greve e a arrecadação de fundos e livre
divulgação do movimento; 8) em nenhuma hipótese, os meios adotados pelos servidores e pela
Administração poderão violar ou constranger osdireitos e garantias fundamentais de outrem; 9) é
vedado à Administração adotar meios para constranger os servidores ao comparecimento ao trabalho
ou para frustrar a divulgação do movimento; 10) as manifestações e os atos de persuasão utilizados
pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade
ou pessoa; 11) durante o período de greve é vedada a demissão de servidor, exceto se fundada em
fatos não relacionados com a paralisação, e, salvo em se tratando de ocupante de cargo em comissão
de livre provimento e exoneração ou, no caso de cargo efetivo, a pedido do próprio interessado;
12) será lícita a demissão ou a exoneração de servidor na ocorrência de abuso do direito de greve,
assim consideradas: a) a inobservância das presentes exigências; e b) a manutenção da paralisação
após a celebração de acordo ou decisão judicial sobre o litígio; 13) durante a greve, a entidade
representativa dos servidores ou a comissão de negociação, mediante acordo com a Administração,
deverá manter em atividade equipes de servidores com o propósito de assegurar a prestação de
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Destarte, feitas tais considerações, adianto que estão presentes no caso concreto a tutela
de urgência prevista no art. 300, do CPC, pois a evidência quanto à probabilidade do direito
invocado sobressai do fato de que os serviços prestados pelos professores/educadores envolvem o
desempenho de atividade reconhecida pela Constituição Federal como direito fundamental social,
conforme o seguinte trecho de julgado do STF:
Desse modo, embora os referidos servidores públicos possuam direito de greve, deve-se
atentar para o fato de que o seu exercício pode se tornar arbitrário e ilegítimo quando puser em
risco o princípio da continuidade da prestação dos serviços públicos realizados pela categoria.
Além disso, considerando a educação como serviço essencial à população, também não
se vislumbra nos autos, informação acerca do percentual mínimo de servidores que darão
continuidade na prestação dos serviços.
Registro, aliás, que este Tribunal já enfrentou matéria semelhante para declarar abusiva
e ilegal da paralisação dos servidores públicos da educação. Confira-se:
Precedentes. 3) O serviço público de educação possui índole essencial, tendo em vista a finalidade
precípua por ele visada e o público destinatário, com a consequente aplicação da Lei nº
7.783/1989. Precedentes. Logo, enquadrados que estão na categoria de serviço público essencial, os
servidores da educação encontram-se obrigados a garantir, durante a greve, a prestação dos
respectivos serviços. 4) Quanto ao pedido de condenação ao pagamento dos danos causados aos
cofres públicos em razão da greve deflagrada, não existem nos autos elementos suficientes para a
aferição dos alegados prejuízos. Por essa razão, tendo em vista que o autor não se desincumbiu do
ônus que lhe competia, na forma do art. 373, inciso I, do Código de Processo Civil, o pedido não
merece prosperar. 5) As astreintes têm função exclusivamente inibitória, como forma de compelir o
sujeito atingido a fazer ou deixar de fazer algo, daí por que devem, mesmo, ser arbitradas em
montante suficiente a causar reforço psicológico no ânimo do agente para cumprimento da ordem
judicial. 6) A execução de multa aplicada para dar efetivo cumprimento de ordem judicial deve ser
imediata, como forma de compelir o atingido ao atendimento da ordem judicial. Por essa razão,
prescinde da fase de cumprimento de sentença, podendo ser adotadas as medidas necessárias no
curso do processo, conforme se extrai do art. 461 do CPC. Ainda, segundo dispõe o art. 537, § 3º,
do CPC, com redação dada pela Lei nº 13.256/2015, “A decisão que fixa multa é passível de
cumprimento provisório”, estando apenas o levantamento do respectivo valor condicionado ao
trânsito em julgado da sentença favorável. 7) Ação julgada parcialmente procedente para declarar a
ilegalidade da greve deflagrada; agravos internos conhecidos e não providos.” (AGRAVO
INTERNO. Processo Nº 0001387-31.2019.8.03.0000, Relator Desembargador ROMMEL
ARAÚJO DE OLIVEIRA, TRIBUNAL PLENO, julgado em 15 de Abril de 2020). (grifos nossos)
Ante o exposto, com base nesses fundamentos, defiro o pedido de tutela provisória de
urgência para determinar ao SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS EM EDUCAÇÃO DO
ESTADO DO AMAPÁ – SINSEPEAP, que suspenda imediatamente a greve, a contar da
intimação desta decisão, garantindo-se, portanto, a regularidade e continuidade na prestação dos
serviços públicos de educação no Estado, sob pena de multa diária, em caso de descumprimento, de
R$ 20.000,00 (vinte mil reais).
Intime-se o Sindicato para o imediato cumprimento desta ordem judicial, citando-o para
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Expeça-se o que for necessário com urgência, podendo servir como mandado cópia
digitalizada desta decisão.
Cumpra-se.
MACAPÁ, 20/06/2023
Relator