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Excelentíssimo Senhor Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, eminente Relator da Ação Direta

de Inconstitucionalidade de n.º 7136, em trâmite perante este excelso Supremo Tribunal


Federal.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE – CNT, entidade


sindical de grau superior reconhecida pelo Decreto n.º 34.986/54, inscrita no CNPJ sob o n.º
00.721.183/0001-34, com sede à SAUS Quadra 01, Bloco J, Edifício CNT – 13º andar,
Entradas 10 e 20, Brasília-DF, CEP 70070-944, endereço eletrônico
administrativo@apaadv.com.br, neste ato representada por seu Presidente, Sr. VANDER
FRANCISCO COSTA, brasileiro, casado, empresário, portador do RG n.º MG752302 SSP/MG,
inscrito no CPF sob o n.º 435.094.446-04, por seus procuradores (ANEXO 01), vem, à
presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 138, do Código de Processo Civil e no
artigo 7º, §2º, da Lei n.º 9.868/99, postular sua habilitação como “AMICUS CURIAE” nos
autos da AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE em epígrafe, proposta pela
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM TRANSPORTES E LOGÍSTICAS –
CNTTL em face do artigo 4º, da Lei n.º 14.229/2021, que inseriu parágrafo único no artigo 8º
da Lei n.º 10.209/2001, consoante as razões de fato e de direito a seguir expostas:

I
Da síntese da pretensão autoral

01. Cuida-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pela


Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) que visa a
declaração de inconstitucionalidade das disposições do artigo 4º da Lei 14.229/2021, que
alterou o artigo 8º da Lei 10.209/2001.

02. Segundo a Confederação Requerente, a alteração promovida pelo


artigo 4º da Lei 14.229/2021 – que criou o prazo prescricional de 12 (doze) meses para
cobrança das multas e/ou indenizações descritas no caput do artigo 8º da Lei 10.209/2001 –
representa ofensa aos artigos 1º, inciso III (da dignidade da pessoa humana); 3º, incisos I
(construir uma sociedade livre, justa e solidária), IV (vedação a descriminação); e caput do
artigo 5º (princípio da igualdade), todos da CF/88.

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03. Neste contexto, serve a presente manifestação como pedido de
habilitação da Confederação Nacional do Transporte – CNT nos presentes autos, na condição
de amicus curiae, a fim de fornecer a Vossa Excelência subsídios instrutórios, probatórios e
jurídicos necessários ao correto julgamento da narrada ação de controle concentrado de
constitucionalidade.

II
Da legitimidade e admissibilidade da intervenção processual da
Requerente. Breve histórico e relevância da atuação da CNT no
cenário nacional. Do preenchimento dos requisitos legais

01. Inicialmente, faz-se necessário à entidade Requerente demonstrar o


atendimento aos pressupostos objetivos e subjetivos de admissão da intervenção processual
ora postulada, de maneira que reste possível e imprescindível o seu deferimento por Vossa
Excelência, nos termos que dispõe o artigo 7º, §2º, da Lei n.º 9.868/99.

02. Dispõe o artigo 138, do Código de Processo Civil1, que o magistrado


poderá admitir a participação do amicus curiae, considerando a relevância da matéria, a
especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia,
mediante representatividade adequada.

03. Pois bem. A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) é a


entidade máxima de representação do setor de transportes e logística do país, tendo como
escopo fundamental o apoio ao desenvolvimento do segmento e a defesa dos interesses de
todos aqueles que o integram.

04. Fundada em 28 de janeiro de 1954, por meio do Decreto n.º 34.986,


a pregressa Confederação Nacional dos Transportes Terrestres (CNTT) se originou em razão
da necessidade de organização deste setor tão essencial para o desenvolvimento do país. Em
1990, com um novo estatuto, a CNTT passou a se denominar CNT e começou a desempenhar
um papel ainda mais amplo junto ao setor de transportes brasileiro, representando 27 (vinte

1
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a
repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem
pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade
especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
§ 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de
recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º.
§ 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus
curiae .
§ 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.

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e sete) federações e 5 (cinco) sindicatos nacionais, além de contribuir para a origem de 164
(cento e sessenta e quatro) mil empresas e de 2,3 milhões de empregos em todo o país.

05. Pautada pelos ideais de inovação, excelência e sustentabilidade, a


Confederação Nacional do Transporte permanece na defesa dos interesses do setor,
produzindo informação e conhecimento e realizando projetos voltados a apoiar a gestão dos
negócios e o desenvolvimento da atividade transportadora no país.

06. Dentre os principais objetivos da entidade, destacam-se (i) a garantia


da defesa dos direitos das categoria dos transportadores no Poder Judiciário e a proteção
dos preceitos constitucionais; (ii) o estabelecimento de diálogo permanente com a
Administração Pública, propondo ações que contribuam para a sustentabilidade do
segmento; (iii) o protagonismo nas iniciativas destinadas ao uso racional dos recursos
ambientais e naturais; (iv) a criação e o fornecimento de informação e conhecimento
especializado para o desenvolvimento do transporte e da logística; bem como (v) o
estabelecimento de diálogo contínuo com segmentos econômicos de interesse, definindo
padrões técnicos e comerciais para novas tecnologias.

07. Com efeito, ao longo das últimas décadas, foram elaborados e


divulgados mais de quatrocentos estudos, pesquisas e análises temáticas (inclusive no
tocante à matéria discutida in casu) com o intuito de subsidiar as políticas públicas, as ações
e os planos de governo necessários para elevar a eficiência do transporte e a
competitividade do país no cenário mundial.

08. Para além disso, a articulação com os poderes Executivo, Legislativo e


Judiciário também tem sido fundamental para a construção de um novo cenário do
transporte brasileiro. A CNT, como interlocutora das demandas do setor, tem promovido o
debate e pautado as discussões em torno de grandes temas nacionais que têm impacto
direto sobre o desenvolvimento do país, sendo, inquestionavelmente, a entidade que maior
representa o setor de transportes em território nacional.

09. Desta feita, resta evidente que a matéria objeto da presente ADI é de
extrema relevância à ora Requerente, de modo que sua intervenção processual se revela
imprescindível, visto ser patente a sua expressiva representatividade ante à matéria
discutida nos autos, destacando-se que a complexidade fática e jurídica da questão
abordada, bem como o impacto social que o seu julgamento certamente enseja,
seguramente recomendam que os subsídios da Requerente sejam igualmente considerados
e apreciados por este excelso Supremo Tribunal Federal.

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10. Neste contexto, esta Corte Suprema tem endendimento pacificado
quanto à possibilidade de intervenção de terceiros, na modalidade exclusiva de amicus
curiae, nas ações diretas de inconstitucionalidade, mediante a comprovação da
representatividade do ente frente à matéria submetida ao controle abstrato de
constitucionalidade. A propósito, transcreva-se um trecho do voto do Ministro aposentado,
Sr. Celso Mello, nos autos do Agravo Regimental interposto na Ação Direta de
Inconstitucionalidade n.º 5.022 (original sem destaques), sobre o tema:

(...)

Como se sabe, não assiste a terceiros, ordinariamente , em nosso


sistema de direito positivo, legitimidade para intervir no processo de
fiscalização normativa abstrata (RDA 155/155 – RDA 157/266 – ADI 575-
AgR/PI, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
A Lei nº 9.868/99, ao regular o processo de controle abstrato de
constitucionalidade, prescreve que “Não se admitirá intervenção de
terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade” (art. 7º,
“caput” – grifei).

(...)

É certo, no entanto , que a regra constante do art. 7º , § 2º , da Lei nº


9.868/99 abrandou, em caráter inovador, o sentido da vedação
pertinente à intervenção assistencial, permitindo, agora, na condição
de “amicus curiae”, o ingresso de entidades dotadas de
representatividade adequada no processo de controle abstrato de
constitucionalidade.

11. Isso posto, visando divulgar, promover e defender o desenvolvimento


do setor de transportes no país, e estando presentes os requisitos jurisprudencial e
legalmente exigidos para intervenção da CNT na qualidade de amicus curiae, conforme
amplamente demonstrado alhures, deve ser reconhecida a utilidade e a conveniência da sua
atuação nos presentes autos, razão pela qual se espera – e ora se requer – o deferimento de
seu ingresso na Ação Direta de Inconstitucionalidade de n.º 7136, na condição de amicus
curiae.

12. Sem embargo do deferimento da intervenção processual ora


requerida, impende à Requerente, desde já, apontar novos elementos essenciais ao
julgamento da referida ADI.

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III
Do (não) preenchimento dos requisitos e pressupostos legais para
propositura da Ação Declaratória de Inconstitucionalidade pela
CNTTL

III.1 – Da ilegitimidade ativa. Da ausência de pertinência temática


para propositura da ADI pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Transportes e Logística – CNTTL

01. Consoante sedimentado pela jurisprudência deste excelso Supremo


Tribunal Federal, a propositura da Ação Direta de Inconstitucionalidade pelas confederações
demanda, concomitantemente, a comprovação de que a confederação é composta por, no
mínimo, três federações da mesma categoria econômica ou profissional, bem como a
pertinência temática entre os objetivos institucionais da postulante e o conteúdo da norma
impugnada.

02. In casu, constata-se que a CNTTL não preenche quaisquer dos


requisitos supracitados, tendo em vista que não representa as Federações ou Sindicatos da
classe de transportadores autônomos, única categoria diretamente atingida pela alteração
do artigo 8º da Lei 10.209, de 23 de março de 2001.

03. Com efeito, a única entidade competente para propositura da ADI


contra a alteração legislativa em referência é a Confederação Nacional dos Transportadores
Autônomos – CNTA, a qual tem como princípio fundamental a defesa específica dos
interesses dos caminhoneiros autônomos2 e representa 7 (sete) Federações e centenas de
Sindicatos da categoria existentes em todo o país.

04. Por consequência da não representação da categoria profissional


pela CNTTL, não há correlação entre os objetivos desta Confederação e a alteração de prazo
prescricional para cobrança de multas e indenizações pelo transportador, cujos interesses
devem ser defendidos, única e exclusivamente, pelo próprio transportador autônomo ou
pela Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos – CNTA.

05. Ora, constatada a existência de uma Confederação que representa


espeficamente os direitos e interesses do transportador autônomo, resta inoportuna e
evidentemente ilegítima a pretensão da CNTTL em representar a categoria de profissionais
autônomos de transporte em sede de controle concentrado de constitucionalidade,
exatamente como ocorre na ADI de n.º 7136.
2
https://cnta.org.br/sobre-a-cnta/

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06. Nesse sentido, conforme ressaltado anteriormente, esta Suprema
Corte há muito entende pelo reconhecimento da ilegitimidade ativa da Confederação que
não preenche os pressupostos intrínsecos da ADI (a representação de da categoria
econômica ou profissional e a pertinência temática), senão veja-se (original sem destaques):

AGRAVO REGIMENTAL EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


VIOLAÇÃO DA NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO.
CPSB. AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE DA AUTORA. CARÁTER HÍBRIDO.
INEXISTÊNCIA DE PERTINÊNCIA TEMÁTICA ENTRE O OBJETIVO
INSTITUCIONAL DA POSTULANTE E O CONTEÚDO DA NORMA
IMPUGNADA.
1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que o
reconhecimento da legitimidade ativa das confederações para incoar o
controle concentrado de constitucionalidade demanda a comprovação
de que a confederação é composta por, no mínimo, três federações da
mesma categoria econômica ou profissional, bem como a pertinência
temática entre os objetivos institucionais da postulante e o conteúdo
da norma impugnada.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(ADI 4852 AgR, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
07/05/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-119 DIVULG 14-06-2018
PUBLIC 15-06-2018)

AGRAVO REGIMENTAL EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


LEI COMPLEMENTAR 173/2020. PROGRAMA FEDERATIVO DE
ENFRENTAMENTO AO CORONAVÍRUS - SARS-COV-2 (COVID-19).
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS CARREIRAS TÍPICAS DE ESTADO
(CONACATE). PERTINÊNCIA TEMÁTICA. AUSÊNCIA. ILEGITIMIDADE
ATIVA AD CAUSAM. AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO E DESPROVIDO.
1. A jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL exige, para a
caracterização da legitimidade ativa das entidades de classe e
confederações sindicais, nas ações de controle concentrado de
constitucionalidade, a existência de correlação entre o objeto da
declaração de inconstitucionalidade e o específico escopo institucional
associativo.
2. Não há, no caso presente, relação de referibilidade direta entre os
dispositivos impugnados e o objetivo institucional específico da Autora,
ora Agravante, de representação dos interesses gerais da categoria
servidores públicos federais, estaduais e municipais, lotados nos Poderes
Legislativos e Tribunais de Contas, desatendido o requisito da

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pertinência temática. Precedentes.
3. Agravo Regimental conhecido e desprovido.
(ADI 6692 AgR, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno,
julgado em 03/08/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-164 DIVULG 17-
08-2021 PUBLIC 18-08-2021)

07. Portanto, à vista da inquestionável ilegitimidade ativa ad causam da


Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística – CNTTL, seja pela
impossibilidade de representação pela Confederação da categoria de transportadores
autônomos ou pela inexistência de pertinência temática entre o dispositivo legal impugnado
e o objetivo institucional específico da CNTTL, entende-se pelo não conhecimento da Ação
Direta de Constitucionalidade em tela.

III.2 – Da observância dos trâmites legislativos para sanção da Lei


14.229/2021

01. Em relação à promulgação do diploma legal impugnado pela CNTTL,


verifica-se que todos os trâmites e prazos legislativos para tanto foram observados, não
havendo que se questionar a inconstitucionalidade formal da Lei 14.229/2021.

02. Pormenorizando, consoante ressaltado pela própria CNTTL nos autos


presente demanda, a Lei 14.229/2021 se originou do Projeto de Lei de Conversão (PLV) n.º
20, de 2021, o qual, por sua vez, foi originado da Medida Provisória n.º 1.050, de 18 de maio
de 2021.

03. Com efeito, considerando-se que a vigência da Medida Provisória


supramencionada encerrou-se no dia 21/10/2021 e que a Lei n.º 14.229/2021 foi publicada
no Diário Oficial da União aos 22/10/2021, suas disposições são plenamente eficazes e
imediatamente aplicáveis em todo território nacional.

III.3 – Da inexistência de afronta ao princípio da isonomia. Da


fixação legal do prazo prescricional e não do evento danoso em si

01. No mérito da ADI, a CNTTL inicia suas alegações ao afirmar que não
cabe ao legislador criar uma norma que, além de supostamente ser discriminatória em
relação aos profissionais de transporte, estabelece expressamente o marco inicial para
contagem do prazo prescricional (a data do transporte), o qual é diverso daquele previsto no
artigo 189, do Código Civil – o que, em tese, representaria afronta ao princípio da isonomia.

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02. Não obstante, verifica-se que a Confederação tenta induzir este
excelso Supremo Tribunal Federal em erro ao declarar que o legislador limitou a data do fato
gerador do dano causado ao profissional de transporte. Nas palavras da CNTTL, os
profissionais de transporte não poderão reclamar dos danos sofridos da efetiva violação e
sim da data do transporte.

03. Neste contexto, a CNTTL confunde os institutos da pretensão, a qual


nasce a partir da efetiva violação do direito do titular, e da prescrição, que extingue a
pretensão/o direito de agir do titular, cujo marco inicial pode (e deve) ser delimitado pelo
legislador para fins de reparação civil.

04. Em verdade dos fatos, não houve definição legal do evento danoso,
como deixa a entender a CNTTL, mas, única e exclusivamente, a estipulação do marco inicial
do prazo prescricional para que o titular busque a efetiva reparação dos danos sofridos,
assim como ocorre em todas as hipóteses descritas no artigo 206, do Código Civil3.

05. Portanto, não houve violação do princípio constitucional da isonomia


quando o Poder Legislativo fixou o marco inicial de contagem do prazo prescricional para
cobrança das multas e/ou das indenizações descritas no caput do artigo 8º, da Lei
10.209/2001, na medida em que a referida delimitação é imprescindível para que o titular
busque a reparação dos danos sofridos sem onerar excessivamente o Poder Judiciário para
tanto.

III.4 – Da possibilidade de fixação específica de prazo prescricional.


Da natureza complementar da nova redação do artigo 8º, parágrafo
único, Lei 14.229/2021

01. No capítulo IV.2 da exordial, a CNTTL argumenta ainda que a fixação


de um prazo diferenciado, reduzido e prejudicial à categoria dos profissionais de transporte
implica a violação dos artigos 1º, 3º, inciso IV e 5º, todos da Carta Magna, visto que o prazo

3 Art. 206. Prescreve:


§ 1 o Em um ano:
(...)
§ 2 o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.
§ 3 o Em três anos:
(...)
§ 4 o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.
§ 5 o Em cinco anos:
(...)

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prescricional para reparação civil já encontra previsão no artigo 206, §3º, inciso V, do Código
Civil.

02. Embora não haja comprovação (ou mesmo explanação) do alegado


caráter prejudicial do prazo à categoria – o que, por si só, afastaria a tese de
inconstitucionalidade arguida pela Confederação – imperioso ressaltar que não existem
óbices legislativos para a criação e a efetiva aplicação de dispositivos legais específicos em
caráter complementar às legislações já existentes. Neste sentido, confira-se a disposição do
artigo 2º, §2º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (original sem destaques):

Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até


que outra a modifique ou revogue.
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o
declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par
das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

03. Na hipótese concreta, verifica-se que a nova redação da Lei


14.229/2021 não tem o condão de modificar e tampouco revogar o disposto no artigo 206,
§3º, inciso V, do Código Civil, mas apenas de conferir um tratamento específico às hipóteses
de reparação civil que remete o caput do artigo 8º da Lei 10.209/01, o que é permitido pela
legislação brasileira, conforme corroborado pelo diploma legal transcrito alhures.

04. Além disso, inexiste discriminação à categoria dos profissionais de


transporte na vigência do diploma legal impugnado pela CNTTL, até mesmo porque o
próprio Código Civil estabelece em seu artigo 206 diversas hipóteses de prescrição para
grupos específicos. Em outras palavras, reconhecer a suposta discriminação aos profissionais
de transporte na redação do parágrafo único do artigo 8º da Lei 10.209/01 significaria
reconhecer o caráter discriminatório e a nulidade de todo o artigo 206, do Código Civil.

05. Portanto, fato é que a legislação impugnada confere um tratamento


específico à hipótese de prescrição para cobrança das multas e indenizações previstas no
artigo 5º e no caput do artigo 8º, ambos da Lei Lei 10.209/01, mas não discriminatório,
sendo vedada à CNTTL a atribuição de qualquer juízo de valor (melhor ou pior) às
disposições da lei.

06. Assim sendo, inconteste que nenhum princípio constitucional foi


violado quando da promulgação da Lei 14.229/2021, em especial pela inclusão do parágrafo

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único do artigo 8º, da Lei 10.209/01, pelo que o pedido de declaração de
inconstitucionalidade do referido diploma formulado pela CNTTL deve ser rejeitado em sua
integralidade por esta Corte Suprema.

IV
Da conclusão e dos pedidos

01. Ante todo o exposto, a Requerente requer a Vossa Excelência,


inicialmente, a sua habilitação como amicus curiae no presente processo, nos termos
dispostos no artigo 138, do Código de Processo Civil, c/c o artigo 7º, §2º, da Lei n.º 9.868/99.

02. Ato seguinte, caso o pedido de habilitação seja deferido, requer a


CNT que sejam observadas todas as razões de fato e de direito expostos na presente
manifestação, para que não seja conhecida a Ação Direta de Inconstitucionalidade em tela e,
no mérito, que seja julgada totalmente improcedente, sobretudo porque o artigo 4º da Lei
14.229/2021 não contém vícios constitucionais sanáveis via ADI.

03. Requer, por oportuno, que todas as publicações e intimações destes


autos sejam realizadas em nome dos advogados Alexandre de Souza Papini, OAB/MG n.º
67.455 e Fernando Augusto Tavares Costa, OAB/MG nº 124.163, bem como da sociedade
Alexandre Papini, Notini, Canaan, Tavares e Romanelli Sociedade de Advogados, inscrita no
CNPJ/MF sob o nº 21.276.512/0001-55 e na OAB/MG sob o nº 4.412, por meio dos
endereços eletrônicos administrativo@apaadv.com.br e fernando@apaadv.com.br, sob
pena de nulidade nos termos do §5º, do artigo 272, do Código de Processo Civil.

De Belo Horizonte – MG para Brasília – DF, 29 de abril de 2022.

Alexandre de Souza Papini – Pp.


OAB/MG n.º 67.455

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