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Direito Ambiental

Sumário
1. NOÇÕES INICIAIS SOBRE DIREITO AMBIENTAL. A CONSTITUIÇÃO E O MEIO AMBIENTE. ...................... 6
1.1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 6
1.1.1. Espécies de Meio Ambiente: .................................................................................................. 6
1.1.2. Autonomia do Direito Ambiental: .......................................................................................... 8
1.1.3. Fontes do Direito Ambiental: ................................................................................................. 9
1.1.4. Antropocentrismo vs. Ecocentrismo (biocentrismo): ............................................................. 9
1.2. DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE .............................................................10
1.2.1. DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA ................................................................10
1.2.2. DA POLÍTICA URBANA.................................................................................................................11
1.2.3. DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA................................................12
1.2.4. DO MEIO AMBIENTE ...................................................................................................................13
2. JURISPRUDÊNCIA ..................................................................................................................................18
1.1. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL .................................................................................................21
1.1.1 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.............................................................................21
1.1.2. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO .............................................................................................................22
1.1.3. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO .............................................................................................................22
1.1.4. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (OU RESPONSABILIDADE) .................................................23
1.1.5. PRINCÍPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR .....................................................................................24
1.1.6. PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR ..........................................................................................24
1.1.7. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS ..........................................................................24
1.1.8. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL (OU EQUIDADE) ..........................................24
1.1.9. PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA (OU OBRIGATORIEDADE DA PROTEÇÃO AMBIENTAL) ............25
1.1.10. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA (OU PARTICIPAÇÃO POPULAR) ..............................25
1.1.11. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE.....................................................25
1.1.12. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO.....................................................................................................26
1.1.13. PRINCÍPIO DO LIMITE ................................................................................................................26
1.1.14. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE COMUM, MAS DIFERENCIADA .............................................26
1.1.15. OUTROS PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL.............................................................................26
2. JURISPRUDÊNCIA ..............................................................................................................................29
COMPETÊNCIA EM MATÉRIA AMBIENTAL ....................................................................................................36
1. COMPETÊNCIA MATERIAL AMBIENTAL ................................................................................................38
1.1. Competência Material Ambiental Comum ................................................................................38
1.2. Lei Complementar 140/2011.....................................................................................................39
1.3. Competência Material Ambiental Exclusiva ..............................................................................46
1.4. Competência Material Ambiental dos Municípios ....................................................................46
2. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA AMBIENTAL .........................................................................................47
2.1. Competência Legislativa Ambiental Privativa ...........................................................................47
2.2. Competência Legislativa Ambiental Concorrente .....................................................................48
3. Hermenêutica Ambiental/In Dubio Pro Natura/Posição do STJ........................................................49
4. JURISPRUDÊNCIA ..............................................................................................................................49
POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (Lei 6.938/81) ............................................................................54
1. DISPOSIÇÕES GERAIS ........................................................................................................................54
LICENCIAMENTO AMBIENTAL ......................................................................................................................63
1. DEFINIÇÕES/REGRAS GERAIS ............................................................................................................63
1.1. COMPETÊNCIA PARA O LICENCIAMENTO ..................................................................................66
1.2. LICENÇAS AMBIENTAIS .............................................................................................................73
1.2.1. DAS ESPÉCIES DE LICENÇA AMBIENTAL .............................................................................74
1.2.2. LICENÇA AMBIENTAL: ATO DISCRICIONÁRIO OU VINCULADO? CONTROLE JUDICIAL DA
DISPENSA..........................................................................................................................................80
1.2.3. Condicionantes Socioambientais: Medidas Preventivas, Medidas Mitigadoras e Medidas
Compensatórias................................................................................................................................82
1.3. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL ............................................................................................82
1.4. Modificação, Suspensão e Cancelamento da Licença Ambiental ..............................................89
1.5. Compensação Ambiental ..........................................................................................................90
1.6. Regularização das Atividades Instaladas ou em Funcionamento ..............................................91
1.7. Crimes Relacionados à Ausência ou Vício no Licenciamento Ambiental e Crimes Contra a
Administração Ambiental .....................................................................................................................91
2. JURISPRUDÊNCIA ..............................................................................................................................91
CÓDIGO FLORESTAL .....................................................................................................................................93
1. DISPOSIÇÕES GERAIS ........................................................................................................................93
2. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ........................................................................................103
2.1. FLORESTAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE POR ATO DO PODER PÚBLICO:.........................109
2.2. REGIME DE PROTEÇÃO DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: ...................................111
3. ÁREAS DE USO RESTRITO ................................................................................................................114
4. RESERVA LEGAL ..............................................................................................................................115
4.1. PROTEÇÃO DA RESERVA LEGAL ...............................................................................................123
5. SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO PARA USO ALTERNATIVO DO SOLO ...................................................128
6. CADASTRO AMBIENTAL RURAL ......................................................................................................130
7. DA EXPLORAÇÃO FLORESTAL ..........................................................................................................131
8. PROIBIÇÃO DO USO DE FOGO E CONTROLE DOS INCÊNDIOS .........................................................133
9. INSTRUMENTOS DE APOIO E INCENTIVO À CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ..........................134
10. COTA DE RESERVA AMBIENTAL ..................................................................................................135
11. INCENTIVOS À AGRICULTURA FAMILIAR .....................................................................................135
12. PROGRAMAS DE REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL - PRAs...............................................................136
13. JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................................137
SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA – SNUC..........................................142
1. DISPOSIÇÕES GERAIS ......................................................................................................................142
1.1. CATEGORIAS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ......................................................................149
1.1.1. Tipos de Unidades de Conservação (art. 7º): ...................................................................149
1.1.2. Categorias de unidades de proteção integral ..................................................................150
1.1.3. Espécies de unidades de proteção de uso sustentável ....................................................153
1.1.4. RESERVA DA BIOSFERA....................................................................................................156
2. Criação, Implantação e Gestão das Unidades de Conservação: ......................................................157
2.1. Normas Gerais: ............................................................................................................................157
2.2. Zonas de Amortecimento: ...........................................................................................................157
2.3. Corredor ecológico: .....................................................................................................................158
2.4. Mosaico de UCs: ..........................................................................................................................158
2.5. Plano de manejo:.........................................................................................................................158
2.6. Taxa de Visitação – art. 35: ..........................................................................................................159
2.7. Compensação por significativo impacto ambiental negativo – art. 36: ........................................159
2.8. Populações tradicionais: ..............................................................................................................160
3. JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................161
RESPONSABILIDADE POR DANOS AO MEIO AMBIENTE ..............................................................................163
1. DEFINIÇÕES RELACIONADAS ...........................................................................................................163
1.1. RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL ...................................................................................163
1.1.1. Responsabilidade Solidária entre Poluidores ..................................................................165
1.1.2. Inversão do Ônus da Prova..............................................................................................167
1.1.3. Obrigação Propter Rem ...................................................................................................167
1.1.4. Imprescritibilidade da Obrigação de Indenizar ................................................................168
1.1.5. Teoria do Risco Integral ...................................................................................................169
1.1.6. Cumulação de pedidos ....................................................................................................169
1.1.7. DANO AMBIENTAL ..........................................................................................................170
1.1.8. INTERVENÇÃO MÓVEL DA FAZENDA PÚBLICA .................................................................172
1.1.9. CARÁTER DÚPLICE/AMBIVALENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL ...............173
1.2. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL ...............................................................174
1.2.1. Advertência .....................................................................................................................179
1.2.2. Multa simples e multa diária – vedação ao bis in idem ...................................................180
1.2.3. Apreensão do produto e do instrumento de infração administrativa ou de crime
ambiental .......................................................................................................................................181
1.2.4. Destruição ou inutilização do produto ............................................................................182
1.2.5. Suspensão de venda e fabricação do produto .................................................................182
1.2.6. Embargo de obra ou atividade ........................................................................................182
1.2.7. Demolição de obra ..........................................................................................................183
1.2.8. Suspensão parcial ou total de atividades ........................................................................183
1.2.9. Restritiva de direitos .......................................................................................................183
1.2.10. Prescrição Administrativa Ambiental ..............................................................................183
1.3. Termo de Ajustamento de Conduta Ambiental – TAC AMBIENTAL .........................................185
2. JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................186
1. NOÇÕES INICIAIS SOBRE DIREITO AMBIENTAL. A CONSTITUIÇÃO E O MEIO
AMBIENTE.

1.1. INTRODUÇÃO

Conceito e Natureza Jurídica do Direito Ambiental - Como ensina Edis Milaré, Direito
Ambiental “é o complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras das atividades humanas
que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global,
visando à sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações”.
No geral, suas normas têm caráter imperativo e coercitivo, sujeitas aos princípios maiores
do Direito Administrativo de Indisponibilidade do Interesse Público e Supremacia do Interesse
Público sobre o Privado.
MEIO AMBIENTE, por sua vez, é o conjunto de fatores exteriores que agem de forma
permanente sobre os seres vivos, aos quais os organismos devem se adaptar e com os quais têm de
interagir para sobreviver. Segundo Édis Milaré (2003, p. 165), “o meio ambiente pertence a uma
daquelas categorias cujo conteúdo é mais facilmente intuído que definível, em virtude da riqueza e
complexidade do que encerra”.

Dessa forma, o meio ambiente sadio pertence à categoria de DIREITO FUNDAMENTAL DE


TERCEIRA GERAÇÃO, possuindo NATUREZA TRANSINDIVIDUAL e DIFUSA.

Conceito Legal - art. 3º, I da Lei 6.938/1981 - “Meio ambiente, o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida
em todas as suas formas”.

Ele tem como principais fontes internacionais:

a) A Conferência de Estocolmo de 1972: a partir dela que as Constituições posteriores


passaram a adotar o princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito
fundamental. Foi o primeiro instrumento internacional de grande relevância que reconheceu a
necessidade de uma reação global ao problema da deterioração ambiental, tendo sido
marcadamente antropocêntrica, ou seja, com foco apenas no ser humano como único merecedor
de resguardo na biosfera.
b) Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO92):
resultou numa série de documentos e Convenções, como a CDB, a Convenção sobre Mudanças do
Clima, a Agenda 21. Ela reafirmou uma série de princípios da Conferência de Estocolmo.
c) Protocolo de Kyoto: firmado em 1997, teve o objetivo precípuo de promover o controle
climático da terra por intermédio da diminuição da emissão de gases de efeito estufa.
d) Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável: realizada em Johannesburgo, em
2002, serviu para reforçar e acelerar as metas e compromissos firmados nos encontros anteriores.

1.1.1. Espécies de Meio Ambiente:


- Meio Ambiente Natural - Composto pelos recursos naturais: água, solo, ar atmosférico,
fauna e flora.
- Meio Ambiente Cultural - O patrimônio cultural nacional, incluindo as relações culturais,
turísticas, arqueológicas, paisagísticas e naturais.
- Meio Ambiente Artificial - O meio ambiente artificial é formado pelos espaços urbanos,
incluindo as edificações, que são os espaços urbanos fechados.
- Meio Ambiente do Trabalho - O local onde homens e mulheres desenvolvem suas
atividades laborais.

*#OUSESABER: O chamado meio ambiente do trabalho, que goza de previsão constitucional


expressa, se insere na competência legislativa concorrente ambiental? O meio ambiente do
trabalho goza de previsão constitucional expressa já que, consoante dispõe o art. 200, VIII, da
Constituição de 1988, compete ao Sistema Único de Saúde colaborar na proteção do meio
ambiente, nele compreendido o do trabalho. Nesse sentido, o próprio STF já reconheceu a
existência de um meio ambiente do trabalho ao afirmar que “a incolumidade do meio ambiente
não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de
índole meramente econômica, ainda mais se tiver presente que a atividade econômica,
considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios
gerais, àqueles que privilegia a ‘defesa do meio ambiente’ (CF, art. 150, VI), que traduz conceito
amplo e abrangente de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente
artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral”. Conforme aponta Frederico Amado, o STF
entende que o meio ambiente do trabalho é temática que não se insere na competência legislativa
concorrente ambiental sendo matéria que apenas poderá ser regulada por leis editadas pela União.
Neste sentido, a ADI-MC 1.893 já esclareceu que “cumpre à União legislar sobre parâmetros
alusivos à prestação de serviços – artigos 21, XXIV, e 22, I, da Constituição Federal e o gênero meio
ambiente, em relação ao qual é viável a competência em concurso da União, dos Estados e do
Distrito Federal, a teor do disposto no artigo 24,VI, da Constituição Federal, NÃO ABRANGE O
AMBIENTE DO TRABALHO, muito menos a ponto de chegar-se à fiscalização do local por autoridade
estadual, com imposição de multa”.

MEIO AMBIENTE MEIO AMBIENTE MEIO AMBIENTE MEIO AMBIENTE


NATURAL ARTIFICIAL CULTURAL LABORAL

FUNDAMENTO - art. 182 Constituído pelo patrimônio cultural, Constituído pelo


Constituído por CF: A política de descrito como os bens materiais e complexo máquina-
recursos naturais, tais desenvolvimento urbano, imateriais que identificam um grupo, trabalho, envolvendo o
como ar, água, solo, executada pelo Poder tais como as formas de viver, criar e local de trabalho, as
fauna e flora. Público municipal, fazer; as formas de expressão; as condições do ambiente do
conforme diretrizes gerais obras artísticas, dentre outras. trabalhador, os
fixadas em lei, tem por equipamentos de
-recursos bióticos
objetivo ordenar o pleno Exemplo de patrimônio cultural proteção, entre outros.
(fauna, flora).
desenvolvimento das material: Obras de arte, centros
funções sociais da cidade e históricos como de Ouro Preto, de Exemplo: luminosidade,
garantir o bem- estar de Olinda, Pelourinho. conforto térmico, os
-recursos abióticos (ar, seus habitantes. equipamentos de
água, solo). Exemplo de patrimônio cultural segurança, o próprio local
imaterial: caipirinha, frevo, samba, de trabalho, etc
Constituído pelo espaço capoeira, carnaval.
Art. 3º - Para os fins
urbano construído pelo
previstos nesta Lei,
homem. “Art. 216. Constituem patrimônio Art. 200. Ao sistema único
entende-se por: V -
Produto da interação do cultural brasileiro os bens de natureza de saúde compete, além
recursos ambientais: a
homem com o meio material e imaterial, tomados de outras atribuições, nos
atmosfera, as águas
ambiente natural. individualmente ou em conjunto, termos da lei: VIII -
interiores, superficiais
Exemplos: as vias públicas, portadores de referência à identidade, colaborar na proteção do
e subterrâneas, os
os parques, os prédios, à ação, à memória dos diferentes meio ambiente, nele
estuários, o mar
como edifícios comerciais, grupos formadores da sociedade compreendido o do
territorial, o solo, o
shoppings, biblioteca. brasileira, nos quais se incluem: I - as trabalho.
subsolo, os elementos
formas de expressão;
da biosfera, a fauna e a
II - os modos de criar, fazer e viver;
flora.
III - as criações científicas, artísticas e
tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-
culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de
valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico.”

Como é feita a tutela do patrimônio


cultural brasileiro?

REGISTRO - tutela do patrimônio


cultural imaterial brasileiro. Ex:
samba.

INVENTÁRIO - tutela através da


identificação e descrição do bem
cultural, com catalogação de suas
principais características físicas, e
culturais bem como seu estado de
conservação.

VIGILÂNCIA - decorre do poder de


polícia e consiste no exercício de
vigilância permanente dos bens
culturais.

1.1.2. Autonomia do Direito Ambiental:


Prevalece o entendimento de que o Direito Ambiental é ramo autônomo do Direito (ramo
do direito público). Segundo a doutrina majoritária, a autonomia do Direito Ambiental se caracteriza
pelo fato de possuir objetivos, princípios e instrumentos próprios, que servem para caracterizá-lo
como ramo autônomo do Direito.

1.1.3. Fontes do Direito Ambiental:

- Fontes Materiais - Movimentos Populares, Descobertas Científicas, Doutrina Jurídica etc.


- Fontes Formais - Constituição, Leis Ordinárias, Atos Internacionais, Normas administrativas
originárias dos órgãos competentes, Jurisprudência.

1.1.4. Antropocentrismo vs. Ecocentrismo (biocentrismo):

Definição Clássica: - Antropocentrismo – A visão antropocêntrica tradicional caracteriza-se


pela preocupação única e exclusiva com o bem-estar do ser humano.
- Ecocentrismo (biocentrismo) – Esta visão considera o ser humano apenas como mais um
integrante do ecossistema, no qual a fauna e a flora são merecedoras de especial proteção, devendo
ter direitos semelhantes ao ser humano.

Definição Moderna:

- Antropocentrismo Utilitarista – Considera a natureza como principal fonte de recursos


para atender as necessidades do ser humano.
- Antropocentrismo Protecionista (adotada pela CF/88) – Tem a natureza como um bem
coletivo essencial que deve ser preservado como garantia da sobrevivência e do bem-estar do
homem. Dessa forma, impõe-se um equilíbrio entre as atividades humanas e a proteção ao meio
ambiente.
- Ecocentrismo – Entende que a natureza pertence a todos os seres vivos, exigindo ações de
extrema cautela em relação à proteção dos recursos naturais.

APROFUNDANDO:
No que diz respeito aos pressupostos filosóficos do Direito Ambiental, o
antropocentrismo e o biocentrismo se sobressaem como concepções predominantes. Na
primeira, oriunda das tradições aristotélicas e judaico-cristãs, o ser humano é apontado como
titular e destinatário de todos os recursos naturais existentes, devendo a proteção ao meio
ambiente ocorrer apenas na medida necessária para que os interesses humanos sejam
resguardados.
Já na segunda concepção, que se fundamenta na Ecologia Profunda, cada recurso natural
possui um valor intrínseco e deve ser protegido em razão de sua função ecológica, pois os seres
vivos e os elementos que propiciam a vida fazem parte de um sistema integrado e
interdependente, sendo o ser humano apenas uma parte dessa complexa teia.
Apesar de a Constituição Federal adotar a visão antropocêntrica, deve-se ressaltar que se
trata de antropocentrismo alargado, pois se defende uma posição suficientemente abrangente,
a ponto de reconhecer a interdependência entre os seres humanos e a natureza.

1.2. DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE

Inicialmente, ressalta-se que nenhuma Constituição brasileira anterior havia dedicado


disposição específica à defesa do meio ambiente. Desde a Constituição de 1934, todas elas cuidaram
da proteção do patrimônio histórico, cultural e paisagístico do país, relegando ao meio ambiente
tratamento diluído e pontual.
A CR 88 pode ser denominada “verde”, tal o destaque que dá à proteção ambiental.
A utilização do termo meio ambiente, em nível constitucional, somente adveio com a nova
Constituição.
De acordo com a CR/88, “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Essa frase
significa o seguinte:
a) Todos: o meio ambiente pertence a todos e a cada um ao mesmo tempo, se enquadrando
na categoria de direitos transindividuais. É um interesse difuso.
b) Todos têm direito: trata-se de um direito público subjetivo de natureza difusa, oponível
erga omnes, completado pelo direito de exercício da ação popular para a proteção ambiental prevista
no art. 5º, LXXIII.
c) Bem de uso comum do povo: significa que o meio ambiente é indisponível, já que não se
trata de um bem dominical, não pertence ao domínio público. Refere-se à expressão “todos”.
d) Sadia qualidade de vida: a sadia qualidade foi uma inovação constitucional, visto que as
Constituições brasileiras sempre consagraram o direito à vida, mas sem expressar preocupação com
sua qualidade.
e) Impondo-se ao Poder Público e à coletividade: trata-se do reconhecimento de que o
Poder Público, por si só, não é capaz de cuidar e preservar o meio ambiente. A coletividade, ou seja,
a sociedade civil, é OBRIGADA a colaborar na proteção.
f) Presentes e futuras gerações: trata-se da consagração do princípio da solidariedade
intergeracional, à frente delineado.
Interpretação das Normas Constitucionais Ambientais - Conforme os tribunais superiores,
as normas ambientais devem atender aos fins sociais a que se destinam, ou seja, necessária à
interpretação e a integração de acordo com o princípio hermenêutico in dubio pro natura.

1.2.1. DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA


Defesa do Meio Ambiente como Princípio da Ordem Econômica - Art. 170 da CF – A ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...) VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento


diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de
seus processos de elaboração e prestação;

1.2.2. DA POLÍTICA URBANA

Objetivos - art. 182 da CF - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

- Plano Diretor - § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, OBRIGATÓRIO


PARA CIDADES COM MAIS DE VINTE MIL (20.000) HABITANTES, é o instrumento básico da política
de desenvolvimento e de expansão urbana.
- Função Social - § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em
dinheiro.
Meios de Intervenção da Propriedade Urbana - art. 182, § 4º da CF - É facultado ao Poder
Público municipal, mediante lei específica para ÁREA INCLUÍDA NO PLANO DIRETOR, exigir, nos
termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado,
que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;


II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo
no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública
de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de
resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Usucapião Constitucional Especial Urbano - art. 183 da CF - Aquele que possuir como sua
área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e
sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que
não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou
a ambos, independentemente do estado civil.
Impossibilidade de Reconhecimento Mais de Uma Vez - § 2º Esse direito não será
reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
Impossibilidade de Usucapião de Imóveis Públicos - § 3º Os imóveis públicos não serão
adquiridos por usucapião.

1.2.3. DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA

Desapropriação por Interesse Social para Reforma Agrária - art. 184 da CF - Compete à
União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja
cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo
ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
Indenização de Benfeitorias em Dinheiro - § 1º As benfeitorias ÚTEIS e NECESSÁRIAS serão
indenizadas em dinheiro.
Isenções - § 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de
transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária.
Bens Não Sujeitos à Desapropriação para Fins de Reforma Agrária - art. 185 da CF - São
insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:

I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde


que seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade
produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos
a sua função social.
Requisitos para Cumprimento da Função Social da Propriedade Rural - art. 186 da CF - A
função social é cumprida quando a propriedade rural atende, SIMULTANEAMENTE, segundo critérios
e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Destinação de Terras Públicas - art. 188 da CF - A destinação de terras públicas e devolutas
será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.
§ 1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área SUPERIOR A
DOIS MIL E QUINHENTOS HECTARES a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa,
dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional.
§ 2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões de terras
públicas para fins de reforma agrária.
Inegociabilidade das Propriedades Recebidas com Fundamento na Reforma Agrária - art.
189 da CF - Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos
de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo PRAZO DE DEZ ANOS.
Parágrafo único. O título de domínio e a concessão de uso serão
conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente
do estado civil, nos termos e condições previstos em lei.

Usucapião Constitucional Especial Rural ou Pro Misero - art. 191 da CF - Aquele que, não
sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por CINCO ANOS ININTERRUPTOS,
sem oposição, área de terra, em zona rural, NÃO SUPERIOR A CINQUENTA HECTARES, tornando-a
produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Impossibilidade de Usucapião de Imóveis Públicos - Parágrafo único: Os imóveis públicos
não serão adquiridos por usucapião.

1.2.4. DO MEIO AMBIENTE

Destinatários do Direito ao Meio Ambiente e do Dever de Proteção - art. 225 da CF - Todos


têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, BEM DE USO COMUM DO POVO e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Ante o exposto, o art. 225 da CF criou um dever genérico para o Poder Público e para a
coletividade de defender e preservar o meio ambiente para as futuras gerações. Ressalta-se que tal
dever será realizado através de ações comissivas e omissivas.

Efetividade do Direito ao Meio Ambiente (deveres específicos) - § 1º Para assegurar a


efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o


manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do
País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e
seus componentes a serem especialmente protegidos, SENDO A
ALTERAÇÃO E A SUPRESSÃO PERMITIDAS SOMENTE ATRAVÉS DE LEI,
vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos
atributos que justifiquem sua proteção;

A INSTITUIÇÃO ou o AUMENTO dos espaços especialmente protegidos pode ocorrer, em


determinados casos, por ato do poder executivo. Entretanto, sua SUPRESSÃO ou REDUÇÃO somente
pode ocorrer através de LEI ESPECÍFICA.

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade


potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade.

Exploração de Recursos Minerais e Obrigação de Recuperar o Meio Ambiente - § 2º Aquele


que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com
solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
Sanções - § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, PESSOAS FÍSICAS OU JURÍDICAS, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados (o tema responsabilidade por danos
ambientais será objeto de análise em ponto específico).
Patrimônio Nacional - § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do
Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-
á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive
quanto ao uso dos recursos naturais.
Indisponibilidade de Terras Necessárias à Proteção dos Ecossistemas Naturais - § 5º São
indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias,
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
Definição da Localização das Usinas Nucleares - § 6º As usinas que operem com reator
nuclear deverão ter sua localização definida em LEI FEDERAL, sem o que não poderão ser instaladas.
Práticas Desportivas Envolvendo Animais - § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso
VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais,
desde que sejam MANIFESTAÇÕES CULTURAIS, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição
Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro,
devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 96, de 2017)
O real objetivo desta emenda foi o de superar a decisão do STF proferida em 2016, na qual
o Tribunal declarou que a atividade conhecida como “vaquejada” era inconstitucional (reversão
jurisprudencial ou efeito blacklash).
Inconstitucionalidade da Vaquejada (ADI 4.983/2016) - Entendeu o STF que é
inconstitucional lei estadual que regulamenta a atividade da “vaquejada”. Segundo decidiu a corte,
os animais envolvidos nesta prática sofrem tratamento cruel, razão pela qual esta atividade contraria
a CF/88.
Considerando que a EC 96/2017 vai de encontro ao entendimento do STF, resta saber qual
será a manifestação da Corte Suprema quando (e se) novamente for provocada.
No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda
constitucional, a invalidação somente ocorrerá se a emenda ofender uma cláusula pétrea ou o
processo legislativo para edição de emendas. A dúvida reside em saber se a proibição de que os
animais sofram tratamento cruel, prevista no art. 225, § 1º, VII, da CF/88, pode ser considerada
como uma garantia individual (art. 60, § 4º, IV, da CF).
Julgados Semelhantes Envolvendo “Uso” de Animais:

- “Farra do Boi” - A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos


culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância da
norma do inciso VII do artigo 225 da Constituição Federal, no que veda prática que acabe por
submeter os animais à crueldade. Procedimento discrepante da norma constitucional denominado
"farra do boi". STF. 2ª Turma. RE 153531, Relator (a) p/ Acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
03/06/1997.

- “Briga de Galo” - EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 11.366/00


DO ESTADO DE SANTA CATARINA. ATO NORMATIVO QUE AUTORIZA E REGULAMENTA A CRIAÇÃO E
A EXPOSIÇÃO DE AVES DE RAÇA E A REALIZAÇÃO DE "BRIGAS DE GALO". A sujeição da vida animal a
experiências de crueldade não é compatível com a Constituição do Brasil. Precedentes da Corte.
Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado procedente. STF. Plenário. ADI 2514, Rel. Min.
Eros Grau, julgado em 29/06/2005. A promoção de briga de galos, além de caracterizar prática
criminosa tipificada na legislação ambiental, configura conduta atentatória à Constituição da
República, que veda a submissão de animais a atos de crueldade, cuja natureza perversa, à
semelhança da “farra do boi” (RE 153.531/SC), não permite sejam eles qualificados como inocente
manifestação cultural, de caráter meramente folclórico. Precedentes. A proteção jurídico-
constitucional dispensada à fauna abrange tanto os animais silvestres quanto os domésticos ou
domesticados, nesta classe incluídos os galos utilizados em rinhas, pois o texto da Lei Fundamental
vedou, em cláusula genérica, qualquer forma de submissão de animais a atos de crueldade. (...) STF.
ADI 1856, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 26/05/2011.

Meio ambiente natural Constituído pelos recursos naturais e pela correlação recíproca de cada um
desses em relação aos demais.

Meio ambiente artificial Constituído ou alterado pelo ser humano, é constituído pelos edifícios
urbanos e pelos equipamentos comunitários.

Meio ambiente cultural Patrimônio histórico, artístico, paisagístico, ecológico, científico e turístico,
constituindo-se tanto de bens de natureza material quanto imaterial.

Meio ambiente do Conjunto de fatores que se relacionam às condições do ambiente de


trabalho trabalho.

Patrimônio genético Admitido apenas por parte da Doutrina. Trata-se de informações de origem
genética oriundas dos seres vivos de todas as espécies, seja animal, vegetal,
microbiano ou fúngico.

Instrumentos de Proteção Ambiental Expressamente previstos na CR/88


Processos ecológicos essenciais são os governados, sustentados ou
intensamente afetados pelos ecossistemas, sendo indispensáveis à
Preservação e restauração
produção de alimentos, à saúde e outros aspectos da sobrevivência
dos processos ecológicos humana e do desenvolvimento sustentável. Cuida-se de garantir, através
essenciais de ações conjugadas de todas as esferas e modalidades do Poder Público,
o que se encontra em boas condições originais, e de recuperar o que foi
degradado.

Manejo ecológico é a gestão e utilização dos recursos naturais pelo


homem, baseada em princípios e métodos que preservam a integridade
Manejo ecológico das dos ecossistemas, com redução da interferência humana nos mecanismos
espécies e ecossistemas de autorregulação dos seres vivos e do meio físico.
Essa proteção foi prevista na Lei nº 11.101/05 e na Convenção da
Preservação da diversidade e Diversidade Biológica de que o Brasil é signatário. No dizer da Convenção
da integridade do patrimônio da Biodiversidade, esta vem a ser a variedade de seres que compõe a vida
genético do País na Terra, a variabilidade de organismos vivos de todas as origens,
compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos, e
outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem
parte, compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre
espécies e ecossistemas. Preservar a biodiversidade, significa reconhecer,
inventariar, e manter o leque dessas diferenças de organismos vivos. Hoje
existe uma grande preocupação no diz respeito ao patrimônio genético.

Trata-se da expressa previsão das unidades de conservação pela


Constituição da República, que são espaços especialmente protegidos,
Espaços territoriais e seus seja integral ou parcialmente. Importante ressaltar que a vedação da
utilização não ficou unificada para todos os tipos de unidades de
componentes a serem conservação, variando conforme o tipo de unidade, já que a própria
especialmente protegidos instituição e tipificação dependem dos atributos que se reconhecem e que
se quer proteger. Veja que a própria Constituição impõe que somente lei
poderá alterar ou suprimir tais espaços. A delimitação ou instituição de
um espaço territorialmente protegido pode ser feito por decreto ou lei: é
uma exceção ao paralelismo das formas.

Previsão expressa do EIA, acrescentando expressamente a Constituição o


Estudo prévio de impacto fato de que os estudos devem ser prévios, a fim de evitar interpretações
ambiental, a que se dará maquiavélicas. Inclusive, o STF várias vezes já julgou que não podem os
publicidade demais entes dispensar o EIA3; o que eles podem fazer é criar controles
mais rígidos. Menos, nunca.

Controle da produção, Essa disposição constitucional foi disciplinada, em parte, pela lei que
comercialização e emprego regula a disposição no meio ambiente de agrotóxicos.
de técnicas que comportem
risco para

a vida e meio ambiente

Promoção da educação É a conscientização pública para a preservação do meio ambiente:


ambiental em todos os níveis educação ambiental prevista na Lei nº 9.795/99.
de ensino

Proteção da fauna e flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que


coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das
espécies ou submetam os animais à crueldade: a proteção à fauna foi
Proteção da fauna e flora
prevista na Lei nº 5.179/67, enquanto a proteção à flora, no Código
Florestal, Lei nº 4.771/65.

2. JURISPRUDÊNCIA

RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR DELITOS AMBIENTAIS. É possível a


responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. A jurisprudência não mais
adota a chamada teoria da “dupla imputação”. STJ. 6ª Turma. RMS 39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015 (Info 566). STF. 1ª Turma. RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 6/8/2013 (Info 714).
* Este tema será melhor tratado oportunamente.

É INCONSTITUCIONAL A PRÁTICA DA VAQUEJADA. DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO


DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. COLISÃO DE NORMAS CONSTITUCIONAIS: PROTEÇÃO DE
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS VERSUS VEDAÇÃO DE CRUELDADE CONTRA ANIMAIS. 1. A Constituição
veda expressamente práticas que submetam animais a crueldade. O avanço do processo civilizatório
e da ética animal elevou o resguardo dos seres sencientes (i.e., capazes de sentir dor) contra atos
cruéis a um valor constitucional autônomo, a ser tutelado independentemente de haver
consequências para o meio-ambiente, para a função ecológica da fauna ou para a preservação das
espécies. 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal nos casos de colisão entre as normas
envolvendo, de um lado, a proteção de manifestações culturais (art. 215, caput e § 1º) e, de outro, a
proteção dos animais contra o tratamento cruel (art. 225, § 1º, VII), tem sido firme no sentido de
interditar manifestações culturais que importem crueldade contra animais. Nessa linha: RE 153.531,
Rel. Min. Francisco Rezek. Rel. para o acórdão Min. Marco Aurélio, j. em 03.06.1997, DJ 13.03.1998;
ADI 2.514, Rel. Min. Eros Grau, j. em 26.06.2005, DJ 02.12.2005; ADI 3.776, Rel. Min. Cezar Peluso, j.
em 14.06.2007, DJe 28.06.2007; ADI 1.856, Rel. Min. Celso de Mello, j. em 26.05.2011, DJe
13.10.2011. 3. Na vaquejada, a torção brusca da cauda do animal em alta velocidade e sua derrubada,
necessariamente com as quatro patas para cima como exige a regra, é inerentemente cruel e lesiva
para o animal. Mesmo nas situações em que os danos físicos e mentais não sejam visíveis de
imediato, a olho nu, há probabilidade de sequelas graves que se manifestam após o evento. De todo
modo, a simples potencialidade relevante da lesão já é apta a deflagrar a incidência do princípio da
precaução. 4. É permitida a regulamentação de manifestações culturais com características de
entretenimento que envolvam animais, desde que ela seja capaz de evitar práticas cruéis, danos e
riscos sérios. No caso da vaquejada, torna-se impossível a regulamentação de modo a evitar a
crueldade sem a descaracterização da própria prática. 5. Pedido em ação direta de
inconstitucionalidade julgado procedente para declarar inconstitucional lei estadual que
regulamenta a vaquejada como prática esportiva e cultural. STF. Plenário. ADI 4983/CE, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 06/10/2016 (Info 842).
* RESSALTA-SE QUE A EC 96/2017 FOI UMA TENTATIVA DE SUPERAÇÃO LEGISLATIVA DA
JURISPRUDÊNCIA (REVERSÃO JURISPRUDENCIAL), UMA MANIFESTAÇÃO DE “ATIVISMO
CONGRESSUAL” (Ver anotações sobre o tema no material - Doutrina e legislação). ÁREA DE RESERVA
LEGAL E REGISTRO DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE USUCAPIÃO. RECURSO ESPECIAL. CIVIL E
AMBIENTAL. USUCAPIÃO. IMÓVEL RURAL SEM MATRÍCULA. REGISTRO DA SENTENÇA. NECESSIDADE
DE DELIMITAÇÃO DA RESERVA LEGAL AMBIENTAL. REGISTRO NO CADASTRO AMBIENTAL RURAL -
CAR. NOVO CÓDIGO FLORESTAL.1. Controvérsia acerca da possibilidade de se condicionar o registro
da sentença de usucapião de imóvel sem matrícula à averbação da reserva legal ambiental. 2. “É
possível extrair do art. 16, §8º, do Código Florestal que a averbação da reserva florestal é condição
para a prática de qualquer ato que implique transmissão, desmembramento ou retificação de área
de imóvel sujeito à disciplina da Lei 4.771/65”; (REsp 831.212/MG, DJe 22/09/2009). 3. Extensão
desse entendimento para a hipótese de aquisição originária por usucapião, aplicando-se o princípio
hermenêutico “in dubio pro natura”; 4. Substituição da averbação no Cartório de Registro de Imóveis
pelo registro no Cadastro Ambiental Rural - CAR, por força do novo Código Florestal. 5. Adaptação do
entendimento desta Corte Superior à nova realidade normativa, mantida a eficácia da norma
protetiva ambiental. 6. Necessidade de prévio registro da reserva legal no CAR, como condição para
o registro da sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis. 7. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO. Resp. 1356207/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 28/04/2015, DJe 07/05/2015, Info. 561, STJ.

USUCAPIÃO.
Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja inferior ao
módulo mínimo dos lotes urbanos previsto no plano diretor. Se forem preenchidos os requisitos do
art. 183 da CF/88, a pessoa terá direito à usucapião especial urbana e o fato de o imóvel em questão
não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela legislação local para a respectiva área
(dimensão do lote) não é motivo suficiente para se negar esse direito, que tem índole
constitucional. Para que seja deferido o direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento
dos requisitos exigidos pelo texto constitucional, de modo que não se pode impor obstáculos, de
índole infraconstitucional, para impedir que se aperfeiçoe, em favor de parte interessada, o modo
originário de aquisição de propriedade. STF. Plenário. RE 422349/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado
em 29/4/2015 (repercussão geral) (Info 783).

USUCAPIÃO.
Pode ser deferida usucapião especial rural ainda que a área do imóvel seja inferior ao
módulo rural. Presentes os requisitos exigidos no art. 191 da CF/88, o imóvel rural cuja área seja
inferior ao "módulo rural" estabelecido para a região poderá ser adquirido por meio de usucapião
especial rural. A CF/88, ao instituir a usucapião rural, prescreveu um limite máximo de área a ser
usucapida, sem impor um tamanho mínimo. Assim, estando presentes todos os requisitos exigidos
pelo texto constitucional, não se pode negar a usucapião alegando que o imóvel é inferior ao módulo
rural previsto para a região. STJ. 4ª Turma. REsp 1.040.296-ES, Rel. originário Min. Marco Buzzi, Rel.
para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2015 (Informativo 566).
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS.
A disciplina sobre o ordenamento do espaço urbano pode ser feita por meio de outras leis
municipais além do plano diretor, desde que sejam compatíveis com esta. Os Municípios com mais
de 20 mil habitantes e o Distrito Federal podem legislar sobre programas e projetos específicos de
ordenamento do espaço urbano por meio de leis que sejam compatíveis com as diretrizes fixadas
no plano diretor. Isso significa que nem sempre que o Município for legislar sobre matéria
urbanística, ele precisará fazê-lo por meio do Plano Diretor. O Plano Diretor é o instrumento legal
que dita a atuação do Município ou do Distrito Federal quanto ao ordenamento urbano, traçando
suas linhas gerais, porém a sua execução pode se dar mediante a expedição de outras lei e decretos,
desde que guardem conformidade com o Plano Diretor. STF. Plenário. RE 607940/DF, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 29/10/2015 (Informativo 805).
1.1. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

Função dos Princípios - Os princípios, em regra, são simples, de fácil compreensão e servem com o
norte para se entender a essência de fundamentos de determinados ramos do Direito, facilitando a
construção do próprio ordenamento jurídico do referido ramo e a sua aplicação/utilização.
De maneira geral, não há consenso da doutrina sobre os princípios de direito ambiental.
Dessa forma, optamos por analisar aqueles com maior incidência em provas de concurso.

1.1.1 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Tal princípio é considerado o principal entre aqueles que regem o direito ambiental e está
fundamentado na ideia de: I) CRESCIMENTO ECONÔMICO; II) PRESERVAÇÃO AMBIENTAL; e III)
EQUIDADE SOCIAL. Dessa forma, o desenvolvimento só poderá ser considerado sustentável quando
observar esses três fundamentos de forma simultânea.

Princípio 04 - Declaração Rio (ECO/1992) - Para alcançar o desenvolvimento sustentável,


a proteção ambiental constituirá parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser
considerada isoladamente deste.
Ante o exposto, a proteção ambiental deve ser parte integrante do processo de
desenvolvimento. Assim, O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL É AQUELE QUE SATISFAZ AS
NECESSIDADES PRESENTES, SEM COMPROMETER A CAPACIDADE DAS GERAÇÕES FUTURAS DE
SUPRIR SUAS PRÓPRIAS NECESSIDADES.

Tal princípio é de extrema importância, pois as necessidades humanas são ilimitadas, mas os
recursos ambientais não. Assim, deve-se ponderar o direito fundamental ao desenvolvimento
econômico e o direito à preservação ambiental.
Importante ressaltar que esse princípio não possui apenas uma vertente ambiental, mas
também uma acepção social (equidade social), posto que a Constituição tem como um de seus
objetivos o desenvolvimento social dos povos (erradicação da pobreza) através da justa repartição
das riquezas.
O STF (ADI 3.540-MC) já se manifestou no sentido de que “o princípio do
desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente
constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo
Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia
e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação
de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância
não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos
fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da
generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações”.
Por fim, deve-se ressaltar que o princípio do desenvolvimento sustentável tem aplicação
direta aos recursos naturais renováveis (ex.: água, florestas, animais etc.) e indireta aos recursos
naturais não renováveis (ex.: minérios). No caso de recursos não renováveis, sua utilização deve ser
racional e prolongada ao máximo, devendo, sempre que possível, ser substituída pela utilização de
recursos renováveis.

1.1.2. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

Segundo esse princípio, quando já se tem base cientifica para previsão dos impactos
ambientais negativos decorrentes de determinada atividade lesiva ao meio ambiente, devem ser
impostas ao empreendedor algumas condições em sua atuação para mitigar ou impedir os prejuízos.

Dessa forma, na aplicação desse princípio, verifica-se UM RISCO CERTO, CONHECIDO,


CONCRETO, JÁ SE SABENDO A EXTENSÃO E A NATUREZA DOS DANOS AMBIENTAIS, ou seja, o risco é
certo, e o perigo é concreto.

Exemplo de Aplicação - Exigência de estudo ambiental para o licenciamento de atividade


apta a causar degradação ao ambiente.

1.1.3. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

Segundo esse princípio, quando houver possibilidade de danos graves ao meio ambiente, a
mera ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar
medidas no intuito de evitar a degradação ambiental.
Princípio 15 - Declaração Rio (ECO/1992) - Com o fim de proteger o meio ambiente, o
princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas
capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza
científica absoluta NÃO será utilizada como razão para o adiamento de medidas
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

Dessa forma, se um empreendimento puder causar danos ambientais graves, mas não se tem
absoluta certeza científica quanto a esses danos, o empreendedor deverá adotar medidas de precaução
para mitigar ou impedir eventuais danos ambientais para a população. Em casos extremos, é possível,
inclusive, que o Poder Público impeça a realização do empreendimento até que a ciência evolua, para
que se possa analisar a real natureza e extensão dos danos ambientais.
Ante o exposto, há uma ação antecipada em face de um risco desconhecido, ou seja, a
incerteza científica milita em favor do meio ambiente (in dubio pro natura).

Conforme a análise acima, na aplicação desse princípio, O RISCO AMBIENTAL É INCERTO, E


O PERIGO É ABSTRATO, POTENCIAL.

Inversão do Ônus da Prova - O princípio da precaução fundamenta a possibilidade de


inversão do ônus da prova nas demandas ambientais. Dessa forma, caberá ao suposto poluidor provar
que sua atividade NÃO acarretará danos ao meio ambiente.
SÚMULA 618 DO STJ - A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA APLICA-SE ÀS AÇÕES DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL.

Exemplos de Aplicação do Princípio da Precaução - Questões relativas ao uso de celulares


e aos organismos geneticamente modificados.

Art. 1º da Lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) - Esta Lei estabelece


normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a
produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a
exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação
no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e
seus derivados, tendo como diretrizes o estimulo ao avanço cientifico na área de
biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e
a observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente.

1.1.4. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (OU RESPONSABILIDADE)

Segundo esse princípio, o poluidor deve responder pelos custos sociais da degradação
causada por sua atividade, devendo esse valor ser agregado no custo produtivo da atividade. É a
chamada INTERNALIZAÇÃO DAS EXTERNALIDADES NEGATIVAS, a fim de evitar que os lucros sejam
privatizados e os prejuízos ambientais sejam socializados.

Princípio 16 - Declaração Rio (ECO/1992) - As autoridades nacionais devem procurar


promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo
em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com
a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos
internacionais.
Ressalta-se que esse princípio não constitui uma autorização para poluir. Na verdade, por
esse princípio, o poluidor só pode degradar o meio ambiente dentro dos limites de tolerância
previstos em lei, após o devido licenciamento.
Sob outra ótica, esse princípio também determina que todo aquele que causar dano ao meio
ambiente será obrigado a repará-lo. Assim, ainda que a poluição esteja amparada por uma licença
ambiental, caso aconteçam danos, o poluidor deverá repará-los.

Ante o exposto, CABERÁ AO POLUIDOR COMPENSAR OU REPARAR O DANO CAUSADO,


COMO MEDIDA DE INTERNALIZAÇÃO DAS EXTERNALIDADES NEGATIVAS DA SUA ATIVIDADE
POLUIDORA.

A Lei que fixa a Política Nacional do Meio Ambiente estabelece que o poluidor é obrigado,
INDEPENDENTEMENTE DA EXISTÊNCIA DE CULPA, a indenizar ou a reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade (Artigo 14,§1º, da Lei 6.938/1981).
1.1.5. PRINCÍPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR

Este princípio estabelece que, se por um lado, é preciso internalizar os danos ambientais a
quem os causa (poluidor-pagador), é também necessário que sejam criados beneficios em favor
daqueles que protegem o meio ambiente, para fomentar e premiar essas iniciativas (protetor-
recebedor). Dessa forma, este princípio é outra face da moeda que consagra o princípio do poluidor-
pagador.

Ante o exposto, há uma espécie de compensação pela prestação dos serviços ambientais
em favor daqueles que atuam na defesa do meio ambiente, no intuito de se promover a chamada
justiça ambiental.

1.1.6. PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR

Segundo esse princípio, as pessoas que se utilizam dos recursos naturais escassos devem
pagar pela sua utilização, ainda que NÃO haja poluição.

Dessa forma, por esse princípio, a utilização dos recursos naturais mais escassos deve ser
cobrada na tentativa de racionalizar sua utilização, funcionando como medida educativa para evitar
o desperdício.
Ante o exposto, a cobrança pela utilização de um recurso natural, ainda que sem poluição,
consiste em aplicação do princípio do usuário-pagador.

1.1.7. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS

É um princípio fundamental da República, devendo nortear as relações internacionais do Brasil


(art. 4º, CF/88). Dessa forma, as nações devem cooperar entre si na busca pela proteção do meio
ambiente, sobretudo porque os danos ambientais ultrapassam as divisas territoriais de um país.

1.1.8. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL (OU EQUIDADE)

Para esse princípio, as gerações presentes devem preservar o meio ambiente para as
gerações futuras. Assim, os recursos ambientais devem ser utilizados de maneira racional, para que as
futuras gerações também possam deles gozar.

Dessa forma, pode-se dizer que o princípio do desenvolvimento sustentável busca realizar o
princípio da solidariedade intergeracional. Assim, o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de
modo que as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente para as gerações presentes e
futuras sejam atendidas equitativamente.
Princípio 03 - Declaração Rio (ECO/1992) - O direito ao desenvolvimento deve ser exercido
de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de
meio ambiente das gerações presentes e futuras.

1.1.9. PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA (OU OBRIGATORIEDADE DA PROTEÇÃO AMBIENTAL)

Segundo esse princípio, o meio ambiente é um direito difuso, indispensável à vida, sendo
a sua proteção um dever irrenunciável do Poder Público. Dessa forma, o Estado deve atuar como
agente normativo (editando normas ambientais) e regulador (fiscalizando o cumprimento das
normas) da ordem econômica ambiental.

Ante o exposto, o exercício do poder de polícia ambiental é vinculado (em regra), de modo
que não há que se falar em conveniência e em oportunidade na escolha do melhor momento e
maneira de sua exteriorização. O meio ambiente é indisponível e autônomo, motivo pelo qual não pode
ser objeto de transação.

1.1.10. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA (OU PARTICIPAÇÃO POPULAR)

Segundo esse princípio, as pessoas possuem o direito de participar ativamente das decisões
políticas ambientais, na medida em que os danos ambientais são transindividuais .

Princípio 10 - Declaração Rio (ECO/1992) - A melhor maneira de tratar as questões


ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No
nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de
que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e de atividades
perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios.
Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as
informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e
administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos.
Exemplo de Aplicação - A necessidade de realização de audiências públicas em
licenciamentos ambientais complexos; a consulta pública na criação de unidades de conservação; a
ação popular; o direito de petição etc.

1.1.11. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE

Atualmente, fala-se em função socioambiental da propriedade. Isso porque um dos


requisitos para que a propriedade rural cumpra sua função social é o respeito à legislação
ambiental. No que tange à propriedade urbana, o requisito é respeitar o plano diretor, que, por sua
vez, deverá necessariamente considerar a preservação ambiental (ex.: instituição de áreas verdes).
A função social (socioambiental) não é apenas uma limitação ao exercício do direito de
propriedade. Na verdade, é um atributo do direito de propriedade ao lado do uso, gozo, disposição
e reivindicação. Fala-se, assim, em “ecologização” da propriedade.

O art. 1228, § 1º, CC/02 denota o caráter transversal do direito ambiental, que permeia todos
os ramos jurídicos – “o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados (...), a flora, a fauna (...), bem como
evitada a poluição do ar e das águas”.

1.1.12. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO

Este princípio é ligado ao princípio da participação comunitária e também ao princípio da


publicidade, que norteia a Administração Pública. Isso porque o acesso às informações é
imprescindível para que a população participe das decisões políticas ambientais.
Com base nesse princípio, os órgãos ambientais possuem obrigação de permitir o acesso
público aos documentos e aos processos administrativos que tratem de matéria ambiental, devendo
fornecer todas as informações necessárias e que estejam sob a sua guarda. Tal direito é conferido a
qualquer cidadão, independentemente, em regra, da demonstração de interesse específico.

1.1.13. PRINCÍPIO DO LIMITE

Tal princípio consiste no dever do Estado de editar e de efetivar normas jurídicas que
instituam padrões máximos de poluição, com a concepção de não afetar o equilíbrio ambiental e a
saúde pública. O estabelecimento de padrões de qualidade, inclusive, é um dos instrumentos da
Política Nacional do Meio Ambiente.

1.1.14. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE COMUM, MAS DIFERENCIADA

Tal princípio tem feição ambiental internacional e decorre do princípio da isonomia.


Segundo esse princípio, todas as nações são responsáveis pelo controle da poluição e pela busca
da sustentabilidade.

Ressalta-se que os países poluidores devem adotar medidas mais drásticas, pois são os
principais responsáveis pela poluição.

1.1.15. OUTROS PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL

Princípio do Meio Ambiente Equilibrado → Estabelece que deve ser mantido um meio
ambiente equilibrado, ou seja, sem alterações significativas provocadas pelo homem. Isso porque o
meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida.
Princípio do Direito à Sadia Qualidade de Vida → É uma evolução do direito à vida, ou seja,
não basta ser assegurado o direito à vida, mas, sim, o direito a uma vida com qualidade, o que
pressupõe condições ambientais dignas.

Princípio da Reparação Integral → É imprescindível que todos os danos causados ao meio


ambiente, em sua integralidade, sejam restaurados ou compensados, o que ocorre através de
responsabilidade civil objetiva no Brasil.
Princípio da Integração Ambiental → A proteção ambiental deve ser considerada na
formulação e na aplicação das políticas públicas, dos planos, dos programas ou das atividades que
possam causar impacto adverso no meio natural.
Princípio da Proibição do Retrocesso Ecológico → É VEDADO o recuo dos patamares legais
de proteção ambiental, salvo em situações de calamidade.

Princípio do Progresso Ambiental → É dever do Estado revisar constantemente sua


legislação ambiental com a finalidade de mantê-la sempre atualizada com a realidade.

Princípio da Ubiquidade Ambiental → Segundo o professor Celso Antônio Pacheco Fiorillo,


"este princípio vem evidenciar que o objeto de proteção do meio ambiente, localizado no epicentro
dos direitos humanos, deve ser levado em consideração toda vez que uma política, atuação, legislação
sobre qualquer tema, atividade, obra etc. tiver que ser criada e desenvolvida. Isso porque, na
medida em que possui como ponto cardeal de tutela constitucional a vida e a qualidade de vida,
tudo que se pretende fazer, criar ou desenvolver deve antes passar por uma consulta ambiental,
enfim, para saber se há ou não a possibilidade de que o meio ambiente seja degradado”.

LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010.


Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12
de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
CAPÍTULO II
DOS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS
Art. 6º São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
I - a prevenção e a precaução;
II - o poluidor-pagador e o protetor-recebedor;
III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as
variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde
pública;
IV - o desenvolvimento sustentável;
V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento,
a preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam
as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do
impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no
mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta;
VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor
empresarial e demais segmentos da sociedade;
VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como
um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e
promotor de cidadania;
IX - o respeito às diversidades locais e regionais;
X - o direito da sociedade à informação e ao controle social;
XI - a razoabilidade e a proporcionalidade.
2. JURISPRUDÊNCIA

LEGITIMIDADE DOS LIMITES FIXADOS PELA LEI 11.934/2009


De acordo com o princípio da precaução, se existe uma desconfiança, um risco de que determinada
atividade pode gerar um dano ambiental sério ou irreversível ao meio ambiente e à saúde humana,
neste caso, a referida atividade deverá ser proibida ou restringida mesmo que ainda não exista uma
certeza científica de que ela é realmente perigosa.
No caso analisado pelo STJ, uma associação de moradores de São Paulo ajuizou ação civil pública
pedindo que a concessionária de energia elétrica "Eletropaulo Metropolitana – Eletricidade de São
Paulo S.A" fosse obrigada a reduzir o campo eletromagnético na sua linha de transmissão localizada
nas proximidades deste bairro. Segundo a parte autora os níveis do campo eletromagnético
poderiam causar danos à saúde humana e ao meio ambiente e pediu que a concessionária adotasse
os mesmos parâmetros que são previstos na legislação da Suíça.
Entretanto, a Corte concluiu que, atualmente, não existem fundamentos fáticos ou jurídicos a obrigar
as concessionárias de energia elétrica a reduzir o campo eletromagnético das linhas de transmissão
de energia elétrica abaixo do patamar legal fixado pela ANEEL. STF. Plenário. RE 627189/SP, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 8/6/2016 (repercussão geral) (Info 829).

PRINCÍPIOS AMBIENTAIS
Princípio do Estado O presente princípio traz consigo uma nova dimensão ao já consagrado princípio do
Estado de Direito, no qual o Poder Público e os cidadãos devem se submeter ao
Socioambiental de
império da lei, lei esta que garanta o desenvolvimento sustentável, com o fomento do
Direito crescimento, aliado à proteção do meio ambiente e à distribuição de renda.
Com base neste entendimento o Estado não está restrito a uma postura negativa, de
apenas impedir restrições indevidas ao pleno exercício dos direitos fundamentais do
cidadão, mas está sim obrigado a se posicionar ativamente, tomando medidas que
visem concretizar tais direitos fundamentais, levando em conta a proteção do meio
ambiente como pressuposto de uma boa qualidade de vida, essencial para a garantia
da dignidade da pessoa humana. Portanto, segundo este princípio o Poder Público tem
o dever de garantir, através de uma postura proativa, o exercício dos direitos
fundamentais do cidadão, inclusive através de políticas públicas voltadas para a
promoção de um meio ambiente equilibrado, já que este é pressuposto dos demais
direitos fundamentais. O Estado Socioambiental de Direito aponta para a necessidade
de se compatibilizar crescimento econômico, desenvolvimento social e preservação do
meio ambiente. Tal princípio leva a proteção do meio ambiente para o foco de tutela
do Estado, na medida em que referido equilíbrio serve como fator de reforço do
princípio democrático. O núcleo básico de direitos de cada pessoa (saúde, educação,
vida, dignidade...), também chamado de mínimo existencial, só pode ser garantido pelo
Poder público em um ambiente onde a preservação dos recursos naturais seja uma
necessidade e prática constantes. Enfim, a base para o desenvolvimento humano e
social passa por um meio ambiente equilibrado, e cabe ao Estado garantir tal situação
por meio de políticas públicas. É a materialização do Estado Socioambiental de
Direito.
Princípio do O conceito de desenvolvimento sustentável engloba três elementos essenciais e
indissociáveis, quais sejam: CRESCIMENTO ECONÔMICO, IGUALDADE SOCIAL E
desenvolvimento
PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE. A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
sustentável Desenvolvimento conceitua o desenvolvimento sustentável como “O desenvolvimento
que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras e satisfazerem as suas próprias necessidades”. As
sociedades que buscam o desenvolvimento sustentável têm que conciliar o aumento
de riquezas com a sua justa distribuição, sem perder de vista a preservação do meio
ambiente.
Em uma comparação simplória podemos fazer a seguinte ilustração: “o bolo
tem que crescer, esse bolo tem, ainda, que ser repartido entre todos e, no final, não
pode restar sujeira na mesa, de modo que as pessoas que irão chegar possam fazer um
novo bolo sem problemas”. Essa é a essência do desenvolvimento sustentável. A
maximização dos lucros, tão perseguida no
capitalismo, tem que se adequar à necessidade premente de preservação do meio
ambiente. A Carta Magna, em seu artigo 170, exige referida compatibilização ao
informar que a ordem econômica tem por fim assegurar a todos uma existência digna,
conforme os ditames da justiça social e observado, entre outros, o princípio da defesa
do meio ambiente. O princípio do desenvolvimento sustentável foi o centro de toda a
discussão da Rio-92. Expressões da aplicação do princípio do desenvolvimento
sustentável podem ser verificadas na aplicação de fontes de energia limpa, no manejo
florestal, em atividades de reciclagem, etc. E cabe ao Estado fomentar a aplicação do
princípio em comento. Enfim, o desenvolvimento sustentável deve garantir às gerações
futuras a possibilidade real de suprirem suas necessidades. A efetivação do
desenvolvimento sustentável passa, segundo Marcelo Abelha Rodrigues13, por três
necessidades básicas:
1. Evitar/diminuir a produção de bens supérfluos e agressivos ao meio ambiente;
2. Convencer o consumidor a não consumir produtos “inimigos” do meio ambiente;
e
3. Estimular o uso de “tecnologias limpas” no exercício da atividade econômica.

CF/88
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:
...
VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação.

Lei 6.938/81
Art. 4º A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da
qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
...
VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua
utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção
do equilíbrio ecológico propício à vida;

Lei 9.433/97
Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em
padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte
aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável.
Lei 11.428/2006
Art. 6o A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o
desenvolvimento sustentável e, por objetivos específicos, a salvaguarda da
biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do
regime hídrico e da estabilidade social.
Lei 12.187/2009
Art. 4o A Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC visará:
I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a proteção do
sistema climático;
Lei 12.305/2010
Art. 6o São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
...
IV - o desenvolvimento sustentável;
Lei 12.651/2012
Art. 1o...
Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei
atenderá aos seguintes princípios:...

ATENÇÃO!!! Alguns concursos tratam do tema do desenvolvimento sustentável com


uma nomenclatura diferente, qual seja: PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
INTERGERACIONAL
Princípio Do Poluidor- Poluidor é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta
Pagador ou ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental (art. 3º, IV da Lei
Responsabilidade nº 6.938/81).
• Deve arcar com os custos sociais que a sua atividade impactante causar
(externalidades negativas);
• Transfere ao poluidor, o dever de reduzir os impactos ambientais aos níveis
considerados aceitáveis pelo Poder Público;
• Viver em sociedade, por si só, já traz impactos ambientais. Por isso surgem
concepções sobre a poluição –níveis adequados- lícita ou ilícita;
• Poluição lícita: em níveis toleráveis;
• Poluição ilícita: foge do tolerável;
• NÃO EXISTE O DIREITO DE POLUIR;
• Busca-se evitar/prevenir os danos (não se paga para poder poluir);
• Há um custo para minimizar os danos ambientais;
• Lembre-se que os princípios ambientais se comunicam; nesse caso do poluidor
pagador, deve-se atentar para a relação do desenvolvimento sustentável;

FUNDAMENTO

• Dever de solidariedade intergeracional (dever frente às futuras gerações);


• Garantia de meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e
futuras gerações.

Art. 225, §3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causado.
Princípio da função Sua aplicação traz ao possuidor/proprietário um conjunto de deveres (obrigação real
ou propter rem) ligados à defesa do meio ambiente. Em consequência, nasce para a
ambiental da posse e da
coletividade e para o Poder Público o direito de exigir que o possuidor/proprietário
propriedade exerça seu direito de posse/propriedade dentro de limites que garantam a preservação
do meio ambiente. Podemos dizer, enfim, que o princípio em tela serve como um
limitador/balizador do direito de posse/propriedade, gerando para seu titular o dever
de exercer seu direito sem que tal exercício gere danos ao meio ambiente. Portanto, o
direito de posse/propriedade não é absoluto, mas deve ser compatibilizado com a
preservação do ecossistema. Nessa toada, caso o exercício da posse/propriedade cause
danos ao meio ambiente, tal exercício mostra-se abusivo, e, portanto, ilegal, devendo
ser responsabilizado não só o causador
do dano, mas também o possuidor/proprietário, já que a obrigação acompanha a coisa
(natureza real ou propter rem). A função ambiental da posse/propriedade requer do
titular do direito não apenas atos negativos (como de não poluir, não desmatar, não
pescar determinados tipos de peixes, etc.), mas principalmente atos positivos, no
sentido de prevenir a ocorrência do dano ambiental (adoção de coleta seletiva do lixo,
colocação de filtros para evitar a poluição do ar, criação de programas de educação
ambiental, etc.).
Onde houver um desequilíbrio ambiental, nasce para o possuidor/proprietário do bem
o dever de trazer de volta o equilíbrio perdido, seja por meio de atos negativos (de
abstenção), seja por meio de atos positivos (de ação). A adoção do princípio reflete o
movimento de constitucionalização do direito de posse/propriedade, de modo que
haja uma releitura de tais institutos em conformidade com as balizas constitucionais,
devendo ser respeitada a diretriz de manutenção e garantia do equilíbrio ambiental.
As limitações trazidas pela adoção do princípio da função ambiental da
posse/propriedade não geram, em regra, direito a indenização, haja vista tratar-se
apenas de limitação constitucional do direito. Só caberá indenização ao titular do
direito caso a limitação seja de tal monta que chegue ao ponto de aniquilar seu
núcleo essencial. O Código Civil encampa, no art. 1.228, §1º, a adoção do princípio da
função ambiental da propriedade. A Constituição Federal, na mesma toada, agasalha
referido princípio no que se refere à propriedade rural em seu art. 186, II:
O princípio da função ambiental da propriedade é o fundamento
constitucional para a imposição ao proprietário de exercer seu direito de
propriedade em conformidade com as diretrizes de proteção do meio
ambiente!

ATENÇÃO!! Não confundir a obrigação civil de reparar os danos ambientais


(responsabilidade objetiva), que é propter rem, e, portanto, segue a coisa, com a
obrigação administrativa decorrente da aplicação de multa (responsabilidade
subjetiva, dependente de culpa), que é pessoal do infrator, não podendo passar para
terceiros, conforme o princípio da intranscendência das penas, insculpido no art. 5º,
XLV, CF/88.
Princípio da proibição de A proibição do retrocesso ambiental (princípio constitucional implícito) é uma
retrocesso ambiental garantia constitucional relacionada a progressão na tutela jurídica do bem ambiental,
(Entrincheiramento ou ou seja, deve haver um contínuo incremento na política de proteção do meio ambiente.
Efeito Cliquet) Os direitos fundamentais, dentre eles o direito a um meio ambiente equilibrado, são
marcados pela estabilidade, não podendo o Estado atuar de modo a fragilizar o seu
exercício. Portanto, é proibido ao legislador infraconstitucional, bem como ao
constituinte derivado, abandonar os progressos já consolidados. Um dos objetivos da
República Federativa do Brasil é a garantia do desenvolvimento nacional (art. 3º, II, da
CF/88), e tal garantia não pode ser alcançada sem que se garanta os direitos
fundamentais já conquistados. A fragilização de tais conquistas vai de encontro (choca-
se) com o desenvolvimento nacional almejado. Portanto, há a necessidade de um
gradual melhoramento na garantia dos direitos sociais e ambientais existentes, em um
processo de consolidação constante.
O princípio possui conteúdos positivo e negativo. Pelo conteúdo positivo tanto
o legislador quanto o aplicador da norma estão obrigados a manter uma postura que
visa aumentar progressivamente o grau de concretização das normas socioambientais
(criação de novas leis, aplicação dos instrumentos existentes, interpretação ampliativa
das normas de proteção, etc.). Já pelo conteúdo negativo, tais agentes estariam
impossibilitados de implementar mudanças que enfraqueçam o processo de
concretização dos direitos fundamentais em questão (estariam proibidos de suprimir
normas que garantem tais direitos, além de ser vedada a interpretação restritiva dos
direitos socioambientais). O legislador fica, portanto, refém das conquistas já
consolidadas, não podendo eliminá-las sem que haja a criação de um mecanismo
equivalente ou substituto. É a materialização do ditado que diz: “é para frente que se
anda”.
Não há desenvolvimento sem que haja a proteção e garantia dos direitos já
conquistados. A Lei 6.938/81 traz, em seu art. 2º, a melhoria da qualidade ambiental
como objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente. E só pode haver melhoria com
o resguardo dos direitos já adquiridos, além da implementação de outros que acresçam
condições ambientais favoráveis. A observância do princípio da vedação do retrocesso
ambiental é fundamental para se garantir as condições mínimas de vida para as
gerações futuras. Tal princípio vincula todos os Poderes da República. O sucateamento
ou a redução drástica da estrutura administrativa ligada a preservação do meio
ambiente seria uma forma de retrocesso ambiental por parte da Administração Pública,
o que é vedado pela Constituição Federal e passível, portanto, de controle jurisdicional.
O princípio da proibição de retrocesso ambiental vincula tanto a função
legislativa, quanto a administrativa e a jurisdicional. Referido princípio não tem o
poder, entretanto, de engessar o legislador ou o administrador público, ainda mais
quando se necessita de pequenas adaptações ou modificações. A proibição recai
quando é suprimido o núcleo essencial da proteção socioambiental.
Princípio Do Mínimo Visa garantir um patamar mínimo de qualidade e segurança do meio ambiente, sem o
Existencial Ambiental qual o núcleo essencial da dignidade da pessoa humana restaria sensivelmente
prejudicado.
Portanto, para se garantir o exercício da dignidade da pessoa humana é necessário um
meio ambiente minimamente equilibrado, haja vista que este é pressuposto daquele.
A garantia do ecossistema equilibrado é o primeiro passo para a pavimentação do
desenvolvimento da sociedade, e, no âmbito individual, da dignidade da pessoa
humana. O conceito de mínimo existencial não se restringe a questões de
sobrevivência, mas se amplia para a garantia de uma vida digna, onde haja as condições
necessárias para o desenvolvimento pessoal e coletivo, englobando todas as searas
possíveis (cultural, biológica, relacional, psicológica, política, etc.). E o conteúdo
normativo do mínimo existencial deve levar em conta aspectos históricos e culturais,
sem abrir mão dos avanços já conquistados (aplicação do princípio da proibição do
retrocesso). O mínimo existencial serve como limitador da utilização da tese da
reserva do possível (a tese da reserva do possível sustenta que a satisfação dos
direitos fundamentais é limitada pela capacidade orçamentária do Estado), ou seja,
não se pode alegar falta de recursos financeiros como motivo para a não
implementação de políticas públicas se os direitos essenciais à dignidade humana não
estiverem sendo respeitados.

O mínimo existencial ecológico associado ao


mínimo existencial social servem de esteio (base)
para o pleno exercício da dignidade da pessoa
humana!
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO Visa impedir a ocorrência do dano ambiental, através da adoção de medidas de cautela
antes da execução de atividades potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos
naturais. Aplica-se o princípio da prevenção naqueles casos em que os riscos já são
CONHECIDOS e PREVISTOS, de modo a se exigir do responsável pela atividade
potencialmente poluidora a adoção de medidas que impeçam ou diminuam os danos
ambientais. O princípio da prevenção se impõe devido ao caráter frequentemente
irreversível do dano ambiental causado. É muito difícil conseguir que o meio ambiente
retorne ao seu estado de equilíbrio após um dano ambiental. Portanto, certo está o
ditado popular em dizer que “melhor é prevenir do que remediar”. A noção de
prevenção leva em conta o conhecimento antecipado dos danos que podem ser
causados ao meio ambiente em determinada situação, a fim de que se sejam tomadas
medidas tendentes a evitar a ocorrência de tais danos. Há, portanto, um nexo de
causalidade cientificamente conhecido entre a atividade a ser exercida e o potencial de
dano decorrente dessa atividade. Não confundir o princípio da prevenção com o
princípio da precaução, que será visto mais adiante. Podemos citar, como instrumentos
implementadores do princípio da prevenção, o estudo prévio de impacto ambiental, o
licenciamento ambiental, o zoneamento, o tombamento, a ação civil pública, a ação
popular, as restrições administrativas, etc. Enfim, em caso de dano conhecido o Poder
Público e a coletividade devem agir de modo a evitar/mitigar a sua ocorrência.
PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO Visa impedir a ocorrência de danos potenciais que, de acordo com o atual estágio do
conhecimento, não podem ser identificados. Portanto, ainda NÃO HÁ certeza
científica acerca dos potenciais danos causados por uma atividade, por isso tal
atividade deve ser evitada. Não confundir com o princípio da prevenção. Lá, os riscos
já são conhecidos, e, portanto, podem ser evitados com a adoção de certas medidas.
Aqui, como os riscos não são conhecidos, a atividade não pode ser exercida,
sob pena de se colocar em perigo o meio ambiente. O princípio da precaução não deve
ser visto como obstáculo ao progresso da ciência, mas sim como importante
instrumento de proteção de um bem tão caro para a humanidade (meio ambiente).
Aplica-se o princípio em tela às questões de engenharia genética e clonagem de seres
vivos. Nada impede que, tempos depois, a ciência evolua e consiga descobrir as
consequências ambientais de uma determinada atividade, momento no qual passará a
ser aplicado o princípio da prevenção, e não mais o princípio da precaução. Enfim, em
caso de desconhecimento científico acerca da possibilidade de uma atividade ser
danosa ao meio ambiente aplica-se o princípio da precaução, e a atividade deve ser
evitada.
PREVENÇÃO PRECAUÇÃO
Certeza científica sobre o dano Incerteza científica sobre o dano
ambiental ambiental
Risco certo e conhecido Risco incerto e desconhecido
A atividade será realizada e serão A obra não será realizada (in dubio
tomadas as medidas para evitar ou pro meio ambiente).
minimizar os danos.
Princípio dopoluidor- Surgiu oficialmente por intermédio da OCDE, em 1972, significando que o poluidor ou
pagador e do usuário de recursos naturais deverá arcar com os custos das medidas de prevenção e
controle da poluição (internalização dos custos ambientais).
usuário/pagador O fornecedor, portanto, está obrigado a levar em consideração no preço final de seu
produto os custos necessários para a preservação do meio ambiente; do mesmo modo,
o usuário de recursos naturais deverá “adequar as práticas de consumo ao uso racional
e sustentável dos mesmos [recursos naturais], bem como à ampliação do uso de
tecnologias limpas no âmbito dos produtos e serviços de consumo, a exigência de
certificação ambiental dos produtos e serviços etc.”16. A linha de raciocínio dos
referidos princípios (poluidor-pagador e usuário-pagador) passa pela responsabilização
jurídica e econômica do poluidor e do usuário de recursos naturais pelos danos
causados ao meio ambiente, a fim de que a sociedade seja desonerada desse ônus. É a
chamada internalização das externalidades negativas ambientais. Expliquemos
melhor. As externalidades, segundo Marcelo Abelha Rodrigues, são os reflexos sociais
(positivos ou negativos) que um produto/serviço causa a ser lançado no mercado. Por
ser quase impossível medi-las quantitativamente, essas consequências não são
incluídas no preço final do produto/serviço, gerando um desvio de mercado, ou seja, o
preço de uma mercadoria/serviço não reflete seu valor social. Dois exemplos nos
ajudarão a entender: imagine a instalação de uma montadora de veículos em uma área
subdesenvolvida, com carência de empregos e sem uma infraestrutura básica. Como
consequência da instalação da montadora serão abertos milhares de empregos direitos
e indiretos, com o aumento da renda, novas empresas serão atraídas para dar suporte
à montadora, haverá uma consequente melhoria da infraestrutura local, etc. (esse é
um exemplo de uma externalidade positiva, um reflexo social benéfico decorrente de
uma atividade econômica).
Agora imagine uma usina termelétrica movida a óleo diesel. Como consequência da
geração de energia elétrica serão jogados no ar toneladas de CO2 (gás carbônico),
advindas da queima do óleo, poluindo a atmosfera e contribuindo para o aumento do
buraco na camada de ozônio, gerando danos não só ao meio ambiente, mas também
ao ser humano (essa é uma externalidade negativa, um prejuízo que seria arcado por
toda a coletividade). Não é justo que a sociedade tenha que arcar com esse prejuízo
ecológico. Portanto, o agente econômico responsável pelo produto deverá incluir como
custo de produção o dinheiro investido na preservação do meio ambiente. Ele
internaliza esse valor (computa como custo) e embuti no preço, dividindo com o
usuário do produto esse custo ambiental. Caso não houvesse a internalização dessa
externalidade, todos, mesmo aqueles que não participaram da relação de consumo,
estariam arcando com o prejuízo ambiental causado, o que é injusto. Nesse caso o
agente econômico estaria se enriquecendo às custas não só da presente geração, mas
da futura
também. O princípio do poluidor/usuário pagador visa corrigir esse desvio de mercado.
Paulo Affonso Leme Machado descreve com maestria o seguinte: “A atividade poluente
acaba sendo uma apropriação pelo poluidor dos direitos de outrem, pois na realidade
a emissão poluente representa um confisco do direito de alguém em respirar um ar
puro, beber água saudável e viver com tranquilidade”. Resumindo, temos que a
internalização dos custos ambientais nada mais é que o computo, no valor final do
produto/serviço, dos ganhos e das perdas ambientais verificados. O sentido jurídico
do princípio, entretanto, vai um pouco mais além do simples
cômputo do custo ambiental no preço final do produto/serviço, pois não se
trata de comprar o direito de poluir. Portanto, só será possível a internalização do
custo ambiental quando o prejuízo puder ser suportado e
quando trouxer benefícios à coletividade. Caso contrário, o produto/serviço
não poderá ser produzido/prestado/consumido, conforme preceitua o art. 225, §1º,
VII, da Carta Magna, in verbis: “ VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da
lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade”. Importante ressaltar que o
fundamento do princípio do usuário-pagador não é a poluição do meio ambiente, mas
sim o uso de bens naturais
que pertencem a todos (já que o bem ambiental é bem de uso comum do povo).
Portanto, ao usufruir de recursos naturais o usuário estará “pegando
emprestado” um bem que pertence a outras pessoas, devendo pagar por isso.
Pelo mesmo motivo referido pagamento visa garantir que o uso de tais recursos
naturais seja racional, consciente. A jurisprudência, nessa toada, tem permitido a
cobrança progressiva pelo uso de recursos naturais (por exemplo, quanto maior o
consumo de água maior o valor cobrado por m³).
Devemos lembrar que o uso regular, normal do bem ambiental não é o comercial.
Portanto, quando há o uso anormal do bem ambiental (fins comerciais) deve haver a
cobrança respectiva. O princípio do poluidor/usuário pagador é aplicado para evitar
que haja a privatização dos lucros e a socialização das perdas. Em outras palavras, o
poluidor/usuário estaria se aproveitando dos bônus, e repassando os ônus para a
coletividade, gerando, em consequência, enriquecimento ilícito. O princípio do
poluidor/usuário pagador garante a redistribuição equitativa das externalidades
ambientais.

O STJ tem utilizado o princípio do poluidor/usuário pagador para fundamentar


decisões que aplicam a teoria do risco integral no que se refere a reparação do dano
ambiental, além da inversão do ônus da prova e da caracterização do dano moral
ambiental coletivo.
Instrumentos de aplicação do princípio do poluidor/usuário pagador:
Aumento do preço do fomento do repasse para o educação Uso do “fair play” no comércio
produto/serviço uso racional poluidor dos ambiental voltada internacional, evitando
causador da dos valores para a práticas desleais em termos
externalidade elementos investidos pelo conscientização de ambientais
ambiental negativa; ambientais Estado na um
preservação do consumo que dê
meio ambiente preferência para
produtos não
poluentes
POLUIDOR-PAGADOR USUÁRIO-PAGADOR
Visa, quando possível, internalizar no Visa imputar ao usuário dos bens
custo dos produtos os prejuízos ambientais o custo por seu
sentidos por toda a sociedade com a empréstimo
degradação do meio ambiente
Destina-se a atividades poluentes Destina-se a atividades não
poluentes
Preocupa-se, primordialmente, com a Preocupa-se, primordialmente, com a
qualidade dos recursos naturais quantidade dos recursos naturais

COMPETÊNCIA EM MATÉRIA AMBIENTAL

COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL EM MATÉRIA AMBIENTAL


Competência Comum União, Estados, DF e Proteger o meio ambiente e combater a
Municípios poluição em qualquer de suas formas (art. 23,
VI)
Aproveitamento energético dos cursos de
água; instituir sistema nacional de
Competência Exclusiva União gerenciamento de recursos hídricos;
estabelecer as áreas e as condições para o
exercício da atividade de garimpagem;
organizar, manter e executar a inspeção do
trabalho.
Legislar sobre florestas, caça, pesca, fauna,
Competência União, Estados e DF conservação da natureza, defesa do solo e dos
Concorrente (Municípios, residual) recursos naturais, proteção do meio ambiente
e controle da poluição (art. 24, VI)
Competência Privativa União Legislar sobre “águas e energia” (art. 22, IV),
“jazidas, minas e outros recursos minerais”
(art. 22, XII).

A Constituição repartiu as competências entre todos os entes da Federação. Quanto ao


critério de relação entre os entes federativos, o modelo adotado no Brasil é denominado de
Federalismo Cooperativo, por existir uma relação de coordenação entre a União e os demais entes
federados.
Importante ressaltar que tanto a União, quantos os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios são dotados de autonomia. Esta se desdobra em capacidade de auto-organização, de
autogoverno, legislativa, administrativa, financeira e tributária.
A doutrina determina uma bipartição da competência em competência legislativa e
competência material. A competência legislativa se expressa no poder outorgado a cada ente
federado para elaboração das leis e demais atos normativos. Já a competência material, por sua
vez, cuida da atuação concreta do ente, através do exercício do poder de polícia.
A repartição das competências nas Federações é matéria reservada à Constituição, sendo
emanação direta da própria estruturação do Estado Federal, caracterizado pela divisão do poder
político em diversas esferas, notadamente no Brasil onde o Município é ente federativo. Para José
Afonso da Silva, “competência é a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade, ou a um órgão
ou agente do Poder Público para emitir decisões. Competências são as diversas modalidades de poder
de que se servem os órgãos ou entidades para realizar suas funções”.
O que norteia a repartição de competências é a predominância do interesse, segundo o qual
caberá à União aquelas matérias de predominante interesse geral, nacional, ou regional (quando
ultrapassem mais de um Estado), ao passo que aos Estados tocarão as matérias e assuntos de
predominante interesse regional (rectius: estadual), e aos Municípios os predominantes interesses
locais.
Assim, Terence Dornelles Trennepohl aconselha que, “diante da dúvida em responder um
quesito sobre competência, verifique sempre a qual ente da federação é mais condizente a defesa
do meio ambiente em questão. Metade da questão estará respondida!”.
A Constituição de 88 busca o equilíbrio federativo (Federalismo cooperativo) através de uma
repartição de poderes que se fundamenta na técnica da enumeração de poderes da União, dos
poderes remanescentes para os Estados e poderes definidos indicativamente para os Municípios.
Também verificamos áreas comuns de atuação paralela e setores concorrentes entre União e
Estados, em que se outorga à primeira as normas gerais e aos últimos as normas específicas (CR, art.
24, §§ 1º e 2º), bem como, e ainda, suplementação pela legislação municipal nos casos de interesse
local (CR, art. 30, I e II).
Assim, nos artigos 21 e 23 da CR (artigos ímpares) temos as competências administrativas,
enquanto que nos arts. 22 e 24 (artigos pares) temos as competências legislativas.
Subdividem-se, pois, as competências em:

ADMINISTRATIVA OU a) exclusiva (art. 21) União


MATERIAL b) comum, cumulativa ou paralela (art. 23) União, Estados, DF e
Município
a) privativa (art. 22) União
LEGISLATIVA OU b) concorrente (art. 24) União, Estados e DF
FORMAL c) suplementar (art. 24, §2º e 30, I e II) Estados e Municípios
d) exclusiva (art. 25, §§1º e 2º) Estados

1. COMPETÊNCIA MATERIAL AMBIENTAL

Competência material é, na realidade, a COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA, ou seja, refere-


se ao Poder de Execução. Este subdivide-se em competência material exclusiva e competência
material comum.

1.1. Competência Material Ambiental Comum

A competência material comum é atribuída conjuntamente à União, aos Estados, ao Distrito


Federal e aos Municípios. Dessa forma, conforme estabelecido na CF, todas as entidades políticas
têm a competência de proteger o meio ambiente, sendo esta ATRIBUIÇÃO ADMINISTRATIVA
COMUM.

Art. 23 da CF - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios:
(...)
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os
sítios arqueológicos; (proteção ao patrimônio cultural)
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de
arte e de outros bens de valor histórico, artístico e cultural; (proteção
ao patrimônio cultural)
(...)
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de
suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
(...)
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de
pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus
territórios.

Ressalta-se que os recursos minerais são bens da União, mas a fiscalização pode ser feita
por todos os entes.
Norma de Cooperação - art. 23, parágrafo único, da CF - Leis complementares fixarão
normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em
vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
Com o intuito de reforçar, em âmbito administrativo, o denominado Federalismo
Cooperativo, foi editada a Lei Complementar 140/2011, que “fixa normas, nos termos dos incisos III,
VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do
exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do
meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas,
da fauna e da flora; e altera a Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981”.

1.2. Lei Complementar 140/2011

A LC 140/2011 fixa normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas
à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em
qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora.
Objetivos Fundamentais no Exercício da Competência Comum - art. 3º - Constituem
objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no exercício da
competência comum a que se refere esta Lei Complementar:

I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente


equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e
eficiente;
Esta atuação se dá através da inserção de membros do corpo social nas decisões ambientais
(princípio democrático ou princípio da participação comunitária). Ressalta-se que, como a gestão é
descentralizada, cabe a todas as esferas de governo, inclusive os Municípios, apesar de não
constarem especificamente no dispositivo.

II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a


proteção do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa
humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades
sociais e regionais;
É consectário do princípio do desenvolvimento sustentável. Dessa forma, estabelece-se que
deve haver um meio termo no crescimento e na manutenção dos recursos naturais. Ante o exposto,
o desenvolvimento sustentável também pressupõe a redução da miséria e das desigualdades sociais.

III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a


sobreposição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar
conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente;

IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País,


respeitadas as peculiaridades regionais e locais.

Ressalta-se que essa uniformidade é dada pela Política Nacional do Meio Ambiente, sem
prejuízo das autonomias regionais.
Instrumentos de Cooperação - art. 4º - Os entes federativos podem valer-se, entre outros,
dos seguintes instrumentos de cooperação institucional: (listagem meramente exemplificativa).
I - consórcios públicos, nos termos da legislação em vigor;
II - convênios, acordos de cooperação técnica e outros instrumentos similares com órgãos
e entidades do Poder Público, respeitado o art. 241 da Constituição Federal;
Os convênios são largamente utilizados em acordos para delegação de competência para
licenciamento ambiental. Dessa forma, a regra é a delegabilidade, salvo expressa proibição legal.
Ressalta-se que, para que uma esfera de governo delegue competências, é necessário que
a outra possua órgão ambiental competente, com profissionais habilitados para exercê-la e que haja
um conselho de meio ambiente.
Art. 241 da CF - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio
de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a
gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos,
serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos.

III - Comissão Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e


Comissão Bipartite do Distrito Federal;

§ 2º A Comissão Tripartite Nacional será formada, paritariamente, por representantes dos


Poderes Executivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com o objetivo de
fomentar a gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre os entes federativos.
§ 3º As Comissões Tripartites Estaduais serão formadas, paritariamente, por representantes
dos Poderes Executivos da União, dos Estados e dos Municípios, com o objetivo de fomentar a gestão
ambiental compartilhada e descentralizada entre os entes federativos.
§ 4º A Comissão Bipartite do Distrito Federal será formada, paritariamente, por
representantes dos Poderes Executivos da União e do Distrito Federal, com o objetivo de fomentar a
gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre esses entes federativos.

IV - fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos;

Esse é mais um dos instrumentos econômicos, dentro da economia verde,


instrumentalizando o pagamento de serviços ambientais para que pessoas ganhem protegendo o
Meio Ambiente e não o degradando. O mais famoso dos fundos é o Fundo Nacional do Meio
Ambiente, onde são depositados os valores de multas ambientais.

V - delegação de atribuições de um ente federativo a outro,


respeitados os requisitos previstos nesta Lei Complementar;
Como já informado anteriormente, tal delegação é feita via convênio, desde que o ente
destinatário da delegação disponha de órgão ambiental capacitado a executar as ações
administrativas a serem delegadas e de conselho de meio ambiente.

VI - delegação da execução de ações administrativas de um ente


federativo a outro, respeitados os requisitos previstos nesta Lei
Complementar.
Delegação de Ações Administrativas - art. 5º - O ente federativo poderá delegar, MEDIANTE
CONVÊNIO, a execução de ações administrativas a ele atribuídas nesta Lei Complementar, desde que
o ente destinatário da delegação disponha de órgão ambiental capacitado a executar as ações
administrativas a serem delegadas e de conselho de meio ambiente.

Parágrafo único. Considera-se órgão ambiental capacitado, para os


efeitos do disposto no caput, aquele que possui técnicos próprios ou
em consórcio, devidamente habilitados e em número compatível com
a demanda das ações administrativas a serem delegadas.

Ações Administrativas das União - Art. 7o SÃO AÇÕES ADMINISTRATIVAS da UNIÃO:

I - formular, executar e fazer cumprir, em âmbito nacional, a Política Nacional


do Meio Ambiente;
II - exercer a gestão dos recursos ambientais no âmbito de suas atribuições;
III - promover ações relacionadas à Política Nacional do Meio Ambiente nos
âmbitos nacional e internacional;
IV - promover a integração de programas e ações de órgãos e entidades da
administração pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, relacionados à proteção e à gestão ambiental;
V - articular a cooperação técnica, científica e financeira, em apoio à Política
Nacional do Meio Ambiente;
VI - promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados à
proteção e à gestão ambiental, divulgando os resultados obtidos;
VII - promover a articulação da Política Nacional do Meio Ambiente com as
de Recursos Hídricos, Desenvolvimento Regional, Ordenamento Territorial e
outras;
VIII - organizar e manter, com a colaboração dos órgãos e entidades da
administração pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o
Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima);
IX - elaborar o zoneamento ambiental de âmbito nacional e regional; (TJCE-
2014)
X - definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos;
XI - promover e orientar a educação ambiental em todos os níveis de ensino
e a conscientização pública para a proteção do meio ambiente;
XII - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida
e o meio ambiente, na forma da lei;
XIII - exercer o controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos cuja
atribuição para licenciar ou autorizar, ambientalmente, for cometida à
União;
XIV - PROMOVER o LICENCIAMENTO AMBIENTAL de empreendimentos e
atividades:
a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;
(MPRS-2012) (MPSC-2016)
b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma
continental ou na zona econômica exclusiva;
c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas; (MPSC-2016)
d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas
pela União, EXCETO em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); (MPRS-
2012) (MPSC-2016)
e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;
f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos
de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das
Forças Armadas, conforme disposto na Lei Complementar no 97, de 9 de
junho de 1999;
g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar
e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia
nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da
Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen); ou (TJPI-2012)
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de
proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um
membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados
os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou
empreendimento; Regulamento
XV - aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e formações
sucessoras em:
a) florestas públicas federais, terras devolutas federais ou unidades de
conservação instituídas pela União, exceto em APAs; e
b) atividades ou empreendimentos licenciados ou autorizados,
ambientalmente, pela União;
XVI - elaborar a relação de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção
e de espécies sobre-explotadas no território nacional, mediante laudos e
estudos técnico-científicos, fomentando as atividades que conservem essas
espécies in situ;
XVII - controlar a introdução no País de espécies exóticas potencialmente
invasoras que possam ameaçar os ecossistemas, habitats e espécies nativas;
XVIII - aprovar a liberação de exemplares de espécie exótica da fauna e da
flora em ecossistemas naturais frágeis ou protegidos;
XIX - controlar a exportação de componentes da biodiversidade brasileira na
forma de espécimes silvestres da flora, micro-organismos e da fauna, partes
ou produtos deles derivados;
XX - controlar a apanha de espécimes da fauna silvestre, ovos e larvas;
XXI - proteger a fauna migratória e as espécies inseridas na relação prevista
no inciso XVI;
XXII - exercer o controle ambiental da pesca em âmbito nacional ou regional;
XXIII - GERIR o patrimônio genético e o acesso ao conhecimento tradicional
associado, respeitadas as atribuições setoriais; (TJAM-2016)
XXIV - exercer o controle ambiental sobre o transporte marítimo de produtos
perigosos; e
XXV - exercer o controle ambiental sobre o transporte interestadual, fluvial
ou terrestre, de produtos perigosos.
Parágrafo único. O licenciamento dos empreendimentos cuja localização
compreenda concomitantemente áreas das faixas terrestre e marítima da
zona costeira será de atribuição da União exclusivamente nos casos previstos
em tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição
da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e considerados os
critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou
empreendimento.

Ações Administrativas dos Estados - art. 8º - São ações administrativas dos Estados:

I - executar e fazer cumprir, em âmbito estadual, a Política Nacional do


Meio Ambiente e demais políticas nacionais relacionadas à proteção
ambiental;
II - exercer a gestão dos recursos ambientais no âmbito de suas
atribuições;
III - formular, executar e fazer cumprir, em âmbito estadual, a Política
Estadual de Meio Ambiente;
IV - promover, no âmbito estadual, a integração de programas e ações
de órgãos e entidades da administração pública da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, relacionados à proteção e à gestão
ambiental;
V - articular a cooperação técnica, científica e financeira, em apoio às
Políticas Nacional e Estadual de Meio Ambiente;
VI - promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados
à proteção e à gestão ambiental, divulgando os resultados obtidos;
VII - organizar e manter, com a colaboração dos órgãos municipais
competentes, o Sistema Estadual de Informações sobre Meio
Ambiente;
VIII - prestar informações à União para a formação e atualização do
Sinima;
IX - elaborar o zoneamento ambiental de âmbito estadual, em
conformidade com os zoneamentos de âmbito nacional e regional;
X - definir espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos;
XI - promover e orientar a educação ambiental em todos os níveis de
ensino e a conscientização pública para a proteção do meio ambiente;
XII - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente, na forma da lei;
XIII - exercer o controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos
cuja atribuição para licenciar ou autorizar, ambientalmente, for
cometida aos Estados;
XIV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou
empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7º e 9º;
XV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou
empreendimentos localizados ou desenvolvidos em unidades de
conservação instituídas pelo Estado, exceto em Áreas de Proteção
Ambiental (APAs);
XVI - aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e
formações sucessoras em:
a) florestas públicas estaduais ou unidades de conservação do Estado,
exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);
b) imóveis rurais, observadas as atribuições previstas no inciso XV do
art. 7º; e
c) atividades ou empreendimentos licenciados ou autorizados,
ambientalmente, pelo Estado;
XVII - elaborar a relação de espécies da fauna e da flora ameaçadas de
extinção no respectivo território, mediante laudos e estudos técnico-
científicos, fomentando as atividades que conservem essas espécies in
situ;
XVIII - controlar a apanha de espécimes da fauna silvestre, ovos e larvas
destinadas à implantação de criadouros e à pesquisa científica,
ressalvado o disposto no inciso XX do art. 7º;
XIX - aprovar o funcionamento de criadouros da fauna silvestre;
XX - exercer o controle ambiental da pesca em âmbito estadual; e
XXI - exercer o controle ambiental do transporte fluvial e terrestre de
produtos perigosos, ressalvado o disposto no inciso XXV do art. 7º.

Ações Administrativas dos Municípios - Art. 9o SÃO AÇÕES ADMINISTRATIVAS dos


MUNICÍPIOS:

I - executar e fazer cumprir, em âmbito municipal, as Políticas Nacional


e Estadual de Meio Ambiente e demais políticas nacionais e estaduais
relacionadas à proteção do meio ambiente;
II - exercer a gestão dos recursos ambientais no âmbito de suas
atribuições;
III - formular, executar e fazer cumprir a Política Municipal de Meio
Ambiente;
IV - promover, no Município, a integração de programas e ações de
órgãos e entidades da administração pública federal, estadual e
municipal, relacionados à proteção e à gestão ambiental;
V - articular a cooperação técnica, científica e financeira, em apoio às
Políticas Nacional, Estadual e Municipal de Meio Ambiente;
VI - promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados
à proteção e à gestão ambiental, divulgando os resultados obtidos;
VII - organizar e manter o Sistema Municipal de Informações sobre Meio
Ambiente;
VIII - prestar informações aos Estados e à União para a formação e
atualização dos Sistemas Estadual e Nacional de Informações sobre
Meio Ambiente;
IX - elaborar o Plano Diretor, observando os zoneamentos
ambientais; (TJCE-2014)
X - definir espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos;
XI - promover e orientar a educação ambiental em todos os níveis de
ensino e a conscientização pública para a proteção do meio ambiente;
XII - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente, na forma da lei;
XIII - exercer o controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos
cuja atribuição para licenciar ou autorizar, ambientalmente, for
cometida ao Município;
XIV - OBSERVADAS as atribuições dos demais entes federativos
previstas nesta Lei Complementar, PROMOVER o licenciamento
ambiental das atividades ou empreendimentos: (TJPE-2011) (MPRS-
2012) (TJMT-2014)
a) que CAUSEM ou POSSAM CAUSAR impacto ambiental de ÂMBITO
LOCAL, conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos
Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de PORTE,
POTENCIAL POLUIDOR e NATUREZA DA ATIVIDADE; ou (TJPB-2011)
(MPRS-2012) (TJMT-2014)
b) localizados em unidades de conservação INSTITUÍDAS pelo
Município, EXCETO em ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
(APAs); (MPRS-2012)
XV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas
nesta Lei Complementar, aprovar:
a) a supressão e o manejo de vegetação, de florestas e formações
sucessoras em florestas públicas municipais e unidades de conservação
instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental
(APAs); e
b) a supressão e o manejo de vegetação, de florestas e formações
sucessoras em empreendimentos licenciados ou autorizados,
ambientalmente, pelo Município.

Ações Administrativas do Distrito Federal - art. 10 - São ações administrativas do Distrito


Federal as previstas nos arts. 8º e 9º (cumulativas dos Estados e Municípios).
Importante a leitura dos demais dispositivos da LC 140/2011, posto que se trata de tema
muito cobrado no âmbito do direito ambiental.

1.3. Competência Material Ambiental Exclusiva

Determinadas competências materiais restaram reservadas EXCLUSIVAMENTE à União, por


força do artigo 21, IX, XII, “b”, XVIII, XIX, XX e XXIII, da CRFB. São estas:

Art. 21 da CF - Compete à União:


(...)
IX - elaborar e executar PLANOS NACIONAIS E REGIONAIS de ordenação
do território e de desenvolvimento econômico e social;
XII - explorar, DIRETAMENTE OU MEDIANTE AUTORIZAÇÃO,
CONCESSÃO OU PERMISSÃO:
(...)
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento
energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se
situam os potenciais hidroenergéticos;
(...)
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e
definir critérios de outorga de direitos de seu uso; (Lei 9.433 de 2007).
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive
habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
(...)
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza
e exercer MONOPÓLIO ESTATAL sobre a pesquisa, a lavra, o
enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de
minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios
e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida
para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a
utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e
industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção,
comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou
inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência
de culpa (responsabilidade objetiva);

1.4. Competência Material Ambiental dos Municípios

Art. 30 da CF - Compete aos Municípios:


(...)
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial,
mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano; (especialmente através do Plano Diretor
Municipal e da Lei de Parcelamento do Solo).
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local,
observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Ressalta-se que a competência para a ordenação do solo urbano municipal é dos Municípios
e é exercida principalmente pelo Plano Diretor Municipal.
Em regra, o Plano Diretor Municipal é OBRIGATÓRIO PARA OS MUNICÍPIOS COM MAIS DE
20 MIL HABITANTES, mas existem outras hipóteses de obrigatoriedade, mesmo para os com menos
de 20 mil (ex.: possuir empreendimento com significativo impacto ambiental; estar inserido em uma
zona de interesse turístico; fazer parte de uma região metropolitana etc.).
Adicionalmente, se o Município quiser se utilizar dos instrumentos de edificação compulsória
previstos na CF e no Estatuto da Cidade, tais como o parcelamento compulsório do uso do solo; IPTU
progressivo; ou desapropriação por interesse social por descumprimento da função social do solo,
DEVE POSSUIR UM PLANO DIRETOR.

2. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA AMBIENTAL

Na repartição de competências legislativas, o critério norteador será o PRINCÍPIO DA


PREDOMINÂNCIA DO INTERESSE, de modo que à União caberão aquelas matérias de predominante
interesse nacional (geral); aos Estados, matérias de predominante interesse regional; e aos
Municípios, matérias de predominante interesse local.

2.1. Competência Legislativa Ambiental Privativa

Grande parte da doutrina diferencia a competência privativa da competência exclusiva.


Segundo a doutrina dominante, a competência privativa seria aquela que possibilita a delegação a
outros entes. Já a competência exclusiva é aquela que não permite a delegação.

Art. 22 da CF - Compete PRIVATIVAMENTE à União legislar sobre:


(...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
(...)
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
(...)
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a
legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste
artigo.
Pergunta: Os Estados podem legislar sobre atividades nucleares? Em princípio, NÃO.
Entretanto, Lei Complementar poderá autorizá-los a legislar sobre questões específicas da matéria,
assim como outras de competência privativa da União.
STF: “Energia nuclear. Competência legislativa da União. Artigo 22, XXVI, da Constituição
Federal. É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre atividades relacionadas ao setor nuclear
no âmbito regional, por violação da competência da União para legislar sobre atividades nucleares,
na qual se inclui a competência para fiscalizar a execução dessas atividades e legislar sobre a referida
fiscalização. Ação direta julgada procedente”. ADI 1.575, de 07.04.2010.

2.2. Competência Legislativa Ambiental Concorrente

Art. 24 da CF - Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal


LEGISLAR CONCORRENTEMENTE sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.
§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da UNIÃO
limitar-se-á a estabelecer NORMAS GERAIS.
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais NÃO
EXCLUI A COMPETÊNCIA SUPLEMENTAR DOS ESTADOS.
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

A legislação concorrente prevista no art. 24 da CF não contempla os Municípios. Entretanto,


tal dispositivo deve ser interpretado conjuntamente com o artigo 30 da CF, de modo que cabe aos
Municípios legislar SUPLETIVAMENTE sobre a proteção ambiental, na esfera do interesse
estritamente local.
A legislação municipal, contudo, deve se restringir a atender as características próprias do
território em que as questões ambientais, por suas particularidades, não contêm o disciplinamento
consignado em lei federal ou estadual.
Dessa forma, a legislação supletiva não pode tornar ineficaz os efeitos da lei que pretende
suplementar.

Art. 30 da CF - Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local (inclusive sobre Direito
Ambiental);
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber
(inclusive sobre Direito Ambiental).

Nesse sentido, o STJ, no REsp. 29.299, 1ª Turma, de 28.09.1994:


“Constitucional. Meio ambiente. Legislação municipal supletiva. Possibilidade. Atribuindo, a
Constituição Federal, a competência comum à União, aos Estados e aos Municípios para proteger o
meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas, cabe, aos Municípios, legislar
supletivamente sobre a proteção ambiental, na esfera do interesse estritamente local. A legislação
municipal, contudo, deve se constringir a atender as características próprias do território em que as
questões ambientais, por suas particularidades, não contêm o disciplinamento consignado na lei
federal ou estadual. A legislação supletiva, como é cediço, não pode ineficacizar os efeitos da lei que
pretende suplementar”.
STJ - “a teor do disposto nos arts. 24 e 30 da Constituição Federal, aos Municípios, no âmbito
do exercício da competência legislativa, CUMPRE A OBSERVÂNCIA DAS NORMAS EDITADAS PELA
UNIÃO E PELOS ESTADOS, como as referentes à proteção das paisagens naturais notáveis e ao meio
ambiente, NÃO PODENDO CONTRARIÁ-LAS, mas tão somente legislar em circunstâncias
remanescentes” (AR 756, 1ª Seção, de 27/02/2008). Ante o exposto, a União fica responsável pela
edição de normas gerais sobre meio ambiente. Os Estados e o DF, observada a normatização geral
da União, editarão normas de acordo com seus interesses regionais. Já os Municípios editarão
normas de acordo com seus interesses locais, a exemplo da política municipal de meio ambiente.
Entretanto, se a União não editar norma geral, os Estados poderão fazê-lo. Se a União o fizer
posteriormente, suspende-se a normatização geral feita pelos Estados no que lhes for contrária.

3. Hermenêutica Ambiental/In Dubio Pro Natura/Posição do STJ

STJ: “as normas ambientais devem atender aos fins sociais a que se destinam, ou seja,
necessária a interpretação e a integração de acordo com o princípio hermenêutico in dubio pro
natura” (REsp 1.367.923, de 27/08/2013).
De acordo com o STJ, no julgamento do Recurso Especial 1.198.727, de 14/08/2012, “a
legislação de amparo dos sujeitos vulneráveis e dos interesses difusos e coletivos deve ser
interpretada da maneira que lhes seja mais favorável e melhor possa viabilizar, no plano da eficácia,
a prestação jurisdicional e a ratio essendi da norma. A hermenêutica jurídico-ambiental rege-se pelo
princípio in dubio pro natura”.
Adicionalmente, para o STJ, no caso de normas plurissignificativas, deve ser feita a
interpretação mais favorável à proteção ambiental, tomando-se como critério hermenêutico o in
dubio pro natura ou pro salute.

4. JURISPRUDÊNCIA

COMPETÊNCIA: INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI MUNICIPAL QUE PROÍBE A QUEIMA DA CANA.


O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o Estado-
membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a
disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c. o art. 30, I e II, da CF/88). O STF
julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para
limpeza e preparo do solo. Entendeu a corte que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção
do meio ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação
dos empregos dos trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria
prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores. Adicionalmente, entendeu o STF que Lei
Municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de limpeza do solo é
inconstitucional por violar norma federal que estabelece a extinção gradativa do uso do fogo como
meio facilitador da atividade. Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015
(repercussão geral) (Info 776 do STF)

COMPETÊNCIA.
A disciplina sobre o ordenamento do espaço urbano pode ser feita por meio de outras leis municipais
além do plano diretor, desde que sejam compatíveis com esta. Os Municípios com mais de 20 mil
habitantes e o Distrito Federal podem legislar sobre programas e projetos específicos de
ordenamento do espaço urbano por meio de leis que sejam compatíveis com as diretrizes fixadas
no plano diretor. Isso significa que nem sempre que o Município for legislar sobre matéria
urbanística, ele precisará fazê-lo por meio do Plano Diretor. O Plano Diretor é o instrumento legal
que dita a atuação do Município ou do Distrito Federal quanto ao ordenamento urbano, traçando
suas linhas gerais, porém a sua execução pode se dar mediante a expedição de outras lei e
decretos, desde que guardem conformidade com o Plano Diretor. STF. Plenário. RE 607940/DF, Rel.
Min. Teori Zavascki, julgado em 29/10/2015 (Informativo 805 do STF).

COMPETÊNCIA: OS MUNICÍPIOS PODEM LEGISLAR SOBRE DIREITO AMBIENTAL, DESDE QUE O


FAÇAM FUNDAMENTADAMENTE.
No caso analisado pela Corte, determinado Município editou uma lei proibindo o uso de herbicidas à
base de certa substância com a finalidade de prevenir danos ambientais futuros. Entretanto, uma das
empresas lesadas ajuizou ação judicial alegando que tal lei seria inconstitucional por violar a
competência da União para legislar sobre o tema. Em sua defesa, o Município afirmou que os imóveis
localizados na região tinham como destinação agricultura familiar e eram de pequeno tamanho.
Adicionalmente, alegou que estas áreas tinham como principais culturas o milho, soja, fumo, feijão
e fruticultura. Dessa forma, considerando o relevo acidentado do Município e o tamanho das
propriedades, que ficavam próximas umas das outras, não era possível o isolamento seguro. Ante o
exposto, o uso do herbicida, se permitido, colocaria em risco as culturas desenvolvidas nas
propriedades dos outros vizinhos. O STF, dessa forma, entendeu que o Município era competente
para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o Estado-membro/DF, no limite
do seu interesse local e desde que esse regramento fosse harmônico com a disciplina estabelecida
pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c. o art. 30, I e II, da CF/88). A Corte considerou que, se
o Município legisla sobre Direito Ambiental, fazendo de forma fundamentada segundo seus
interesses locais, não há, em princípio, violação às regras de competência. STF. 2ª Turma. ARE
748206 AgR/SC, julgado em 14/3/2017.

COMPETÊNCIA: NORMAS MUNICIPAIS PODEM PREVER MULTAS PARA OS PROPRIETÁRIOS DE


VEÍCULOS QUE EMITEM FUMAÇA ACIMA DOS PADRÕES ACEITÁVEIS.
É constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de multas para os
proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de padrões considerados
aceitáveis. O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição,
quando se tratar de interesse local. STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red.
p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 29/6/2017 (Informativo 870 do STF).

COMPETÊNCIA: ESTADO-MEMBRO PODE LEGISLAR SOBRE CONTROLE DE RESÍDUOS DE


EMBARCAÇÕES, OLEODUTOS E INSTALAÇÕES COSTEIRAS.
Em tese, o Estado-membro detém competência para legislar sobre controle de resíduos de
embarcações, oleodutos e instalações costeiras. Isso porque o objeto dessa lei é a tutela ao meio
ambiente, sendo essa matéria de competência concorrente, nos termos do art. 24, VI e VIII, da
CF/88. STF. Plenário. ADI 2030/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/8/2017 (Informativo 872
do STF).

AMIANTO: É PROIBIDA A UTILIZAÇÃO DE QUALQUER FORMA DE AMIANTO.


As leis estaduais que proíbem o uso do amianto são constitucionais. O art. 2º da Lei federal nº
9.055/95, que autorizava a utilização da crisotila (espécie de amianto), é inconstitucional. Houve a
inconstitucionalidade superveniente (sob a óptica material) da Lei nº 9.055/95, por ofensa ao direito
à saúde (art. 6º e 196, CF/88); ao dever estatal de redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio
de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7º, inciso XXII, CF/88); e à proteção do meio ambiente
(art. 225, CF/88). STF. Plenário. ADI 3937/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias
Toffoli, julgado em 24/8/2017 (Info 874 do STF). Nos dias atuais existe um consenso científico dos
órgãos nacionais e internacionais de proteção à saúde geral e saúde do trabalhador no sentido de
que a crisotila (espécie de amianto permitida pelo art. 2º da Lei nº 9.055/95) é altamente
cancerígena, não se podendo falar que exista a possibilidade de seu uso seguro.

PROIBIÇÃO DE TRANSPORTE DE ANIMAIS VIVOS E COMPETÊNCIA LEGISLATIVA.


O Plenário referendou medida liminar concedida em arguições de descumprimento de preceito
fundamental e converteu o julgamento da cautelar em decisão final de mérito para julgar
procedentes as ações e declarar a inconstitucionalidade dos arts. 1º e 3º da Lei Complementar
996/2018 do município de Santos, os quais proíbem o trânsito de veículos, motorizados ou não, que
transportem cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do referido município. O Colegiado
entendeu que a vedação prevista afronta a competência da União para legislar sobre a matéria [CF,
art. 22, VIII, IX, X, XI (1)], a qual já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o
que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização (Lei 8.171/1991, e o Decreto 5.741/2006,
que a regulamenta; Leis 1.283/1950 e 7.889/1989, e o Decreto 9.013/2017, que as regulamenta).
Asseverou ainda que, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o
legislador municipal impôs restrição desproporcional ao direito dos empresários do agronegócio de
realizarem sua atividade. ADPF 514 e 516 MC-REF/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em
11.10.2018. (Info 919 do STF)

PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE: INSTRUMENTOS DE COOPERAÇÃO E COMPETÊNCIA DO PODER


EXECUTIVO.
O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade
dos arts. 26 e 28, caput e parágrafo único, da Lei Complementar estadual 149 do estado de Roraima.
Esses dispositivos condicionam à aprovação prévia pela Assembleia Legislativa os termos de
cooperação e similares firmados naquele estado entre os componentes do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA). O Tribunal entendeu ser inconstitucional, por violar o princípio da separação
dos poderes, a aprovação prévia pelo Poder Legislativo estadual dos instrumentos de cooperação
firmados pelos órgãos componentes do Sisnama. A proteção ambiental é matéria de índole
administrativa por envolver a execução de política pública, cuja competência é privativa do Poder
Executivo, no nosso federalismo cooperativo, em que há o entrelaçamento entre as ações dos órgãos
federais, estaduais e municipais para a proteção do meio ambiente. Do mesmo modo, a transferência
de responsabilidades ou atribuições de órgãos componentes do Sisnama é, igualmente, competência
privativa do Executivo. Dessa forma, não pode ficar condicionada à aprovação prévia da casa
legislativa local. Por fim, o Colegiado asseverou que o Legislativo estadual poderá exercer a
fiscalização dos atos praticados pelo Executivo, inclusive com o auxílio do Tribunal de Contas local, a
posteriori, se houver alguma irregularidade. ADI 4348/RR, rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 10.10.2018. (Info 919 do STF)

COMPETÊNCIA CONCORRENTE E OMISSÃO DE ENTE FEDERADO.


O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade
da Lei 11.463/2000 (1) do Estado Rio Grande do Sul, que remete o regramento do cultivo comercial
e das atividades com organismos geneticamente modificados à regência da legislação federal.
O Tribunal entendeu que o ato normativo implica renúncia do ente estadual ao exercício da
competência legislativa concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII (2) da Constituição Federal (CF).
Ressaltou não caber ao ente federado recusar-se ao implemento das providências pertinentes pelos
meios próprios.
O descompasso da lei impugnada é ainda maior quando se considera o federalismo coopera􀆟vo. A
lógica mostra-se intransponível e direciona ao estabelecimento de normas gerais pela União e à
atuação dos Estados no atendimento das peculiaridades regionais. O Estado se exime de cumprir o
dever constitucional de providenciar a implementação, harmoniosa e atenta aos interesses regionais,
de valores consagrados na Lei Fundamental. Subverte-se, consequentemente, até mesmo a
elaboração de políticas públicas específicas à realidade local. A ressaltar essa óptica, a própria
temática versada nessa ação direta evidencia a indispensabilidade de tratamento particularizado,
tendo em vista a diversidade biológica verificada no País. O atendimento às necessidades regionais é
condição de viabilidade da Federação. A banalização de normas estaduais remissivas fragiliza a
estrutura federativa descentralizada, e consagra o monopólio da União, sem atentar para nuances
locais. ADI 2303/RS, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 5.9.2018. (Info 914 do STF)

ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE PREVÊ A


SUPRESSÃO DE VEGETAL EM APP PARA A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES EXCLUSIVAMENTE DE
LAZER.
Entendeu o STF que é inconstitucional a lei estadual que prevê que é possível a supressão de vegetal
em Área de Preservação Permanente para a realização de “pequenas construções com área máxima
de 190 metros quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer” (prevista na Lei Estadual do
Tocantins nº 1.939/2008). Para a Corte Suprema, essa lei possui vícios de inconstitucionalidade
formal e material. Existe inconstitucionalidade formal, porque o Código Florestal, lei que prevê as
normas gerais sobre o tema, nos termos do art. 24, § 1º, da CF, não permite a instalação em APP de
qualquer tipo de edificação com finalidade meramente recreativa. Existe ainda inconstitucionalidade
material porque houve um excesso e abuso da lei estadual ao relativizar a proteção constitucional ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, cujo titular é a coletividade, em face do direito de lazer
individual. STF. Plenário. ADI 4988/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/9/2018 (Info
916).

COMPETÊNCIA. É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade


religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana.
DIREITO CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. PROTEÇÃO AO
MEIO AMBIENTE. LIBERDADE RELIGIOSA. LEI 11.915/2003 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
NORMA QUE DISPÕE SOBRE O SACRIFÍCIO RITUAL EM CULTOS E LITURGIAS DAS RELIGIÕES DE
MATRIZ AFRICANA. COMPETÊNCIA CONCORRENTE DOS ESTADOS PARA LEGISLAR SOBRE FLORESTAS,
CAÇA, PESCA, FAUNA, CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, DEFESA DO SOLO E DOS RECURSOS NATURAIS,
PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE E CONTROLE DA POLUIÇÃO. SACRIFÍCIO DE ANIMAIS DE ACORDO
COM PRECEITOS RELIGIOSOS. CONSTITUCIONALIDADE. 1. Norma estadual que institui Código de
Proteção aos Animais sem dispor sobre hipóteses de exclusão de crime amoldam-se à competência
concorrente dos Estados para legislar sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição (art. 24,
VI, da CRFB). 2. A prática e os rituais relacionados ao sacrifício animal são patrimônio cultural
imaterial e constituem os modos de criar, fazer e viver de diversas comunidades religiosas,
particularmente das que vivenciam a liberdade religiosa a partir de práticas não institucionais. 3. A
dimensão comunitária da liberdade religiosa é digna de proteção constitucional e não atenta contra
o princípio da laicidade. 4. O sentido de laicidade empregado no texto constitucional destina-se a
afastar a invocação de motivos religiosos no espaço público como justificativa para a imposição de
obrigações. A validade de justificações públicas não é compatível com dogmas religiosos. 5. A
proteção específica dos cultos de religiões de matriz africana é compatível com o princípio da
igualdade, uma vez que sua estigmatização, fruto de um preconceito estrutural, está a merecer
especial atenção do Estado. 6. Tese fixada: “É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de
resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz
africana”. 7. Recurso extraordinário a que se nega provimento. STF. Plenário. RE 494601/RS, rel. orig.
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 28/3/2019 (repercussão geral) (Info
935).

CÓDIGO FLORESTAL: A LEGISLAÇÃO MUNICIPAL NÃO PODE REDUZIR A PROTEÇÃO CONFERIDA ÀS


APPS PREVISTAS NO CÓDIGO FLORESTAL.
Segundo o STJ, a legislação municipal não pode reduzir o patamar mínimo de proteção marginal dos
cursos d'água, em toda sua extensão, fixado pelo Código Florestal. A norma federal conferiu uma
proteção mínima, cabendo à legislação municipal somente intensificar o grau de proteção às margens
dos cursos d'água, ou quando muito, manter o patamar de proteção (nunca reduzir a proteção
ambiental). STJ. 2ª Turma. AREsp 1.312.435-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 07/02/2019 (Info
643).
POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (Lei 6.938/81)

1. DISPOSIÇÕES GERAIS

A Lei 6.938/81 define normas gerais sobre a proteção ambiental, estabelecendo princípios,
objetivos e instrumentos para a implementação da preservação dos recursos naturais no País.
Princípios da PNMA - art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por OBJETIVO A
PRESERVAÇÃO, MELHORIA E RECUPERAÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL PROPÍCIA À VIDA,
VISANDO ASSEGURAR, NO PAÍS, CONDIÇÕES AO DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO, AOS
INTERESSES DA SEGURANÇA NACIONAL E À PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA VIDA HUMANA,
atendidos os seguintes PRINCÍPIOS:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,


considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso
coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas
representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o
uso racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação
da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na
defesa do meio ambiente.

Ante o exposto, os “princípios” previstos acima se relacionam com programas, metas ou


modalidades de ação, não sendo verdadeiros “princípios”. Dessa forma, estes não se confundem com
os reais princípios do direito ambiental (já analisados anteriormente), sendo formulações distintas,
apesar de possuírem a mesma finalidade. Ressalta-se que é importante sua memorização para provas
de primeira fase.
Definições e Conceitos (importante na aplicação de outras normas de direito ambiental) -
art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
Tipos de Meios Ambientes:
- Meio Ambiente Natural – Composto pelos recursos naturais: água, solo, ar atmosférico,
fauna e flora.
- Meio Ambiente Cultural – O patrimônio cultural nacional, incluindo as relações culturais,
turísticas, arqueológicas, paisagísticas e naturais.
- Meio Ambiente Artificial – O meio ambiente artificial é formado pelos espaços urbanos,
incluindo as edificações que são os espaços urbanos fechados, como por exemplo, um prédio
residencial e os equipamentos públicos urbanos abertos, como uma via pública, uma praça, dentre
outros.
- Meio Ambiente do Trabalho – O local onde homens e mulheres desenvolvem suas atividades
laborais.
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio
ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
Esta definição é importante para a análise da responsabilidade civil por dano ambiental. Ante
o exposto, poluidor é todo aquele responsável direta ou indiretamente pela degradação ambiental.
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.
Objetivos Específicos da PNMA - art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico social com a


preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico
(relaciona-se com o princípio do desenvolvimento sustentável);
II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à
qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União,
dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios
(relaciona-se com o princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal
para proteção do meio ambiente);
III - ao estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental
e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologia nacionais
orientadas para o uso racional de recursos ambientais;
V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação
de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência
pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e
do equilíbrio ecológico (relaciona-se com os princípios da informação,
da educação ambiental e da participação);
VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à
sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para
a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida (relaciona-se com
os princípios da prevenção e precaução);
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de
recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de
contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins
econômicos.

Ressalta-se que, em diversas hipóteses, a recuperação integral do meio ambiente é inviável


ou impossível. Dessa forma, caberá ao poluidor indenizar os danos causados.
Entretanto, sempre é preferível a restauração integral do meio ambiente degradado ao
pagamento de indenizações.
AS DEFINIÇÕES APRESENTADAS ACIMA SÃO MUITO COBRADAS EM PROVAS DE PRIMEIRA
FASE. DESSA FORMA, É EXTREMAMENTE IMPORTANTE SUA MEMORIZAÇÃO.

1.1.2. COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIAS DO SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Estrutura do Sistema Nacional do Meio Ambiente - art. 6º Os órgãos e entidades da


União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as
fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade
ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:
I - ÓRGÃO SUPERIOR: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente
da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio
ambiente e os recursos ambientais;
II - ÓRGÃO CONSULTIVO E DELIBERATIVO: o CONSELHO NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de
Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e
deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compa􀆟veis com o meio
ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida;
III - ÓRGÃO CENTRAL: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República
(ATUAL MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE), com a finalidade de planejar, coordenar,
supervisionar e controlar, como órgão federal, a polí􀆟ca nacional e as diretrizes governamentais
fixadas para o meio ambiente;
IV - ÓRGÃOS EXECUTORES: o Ins􀆟tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA e o Ins􀆟tuto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade -
Ins􀆟tuto Chico Mendes, com a finalidade de executar e fazer executar a polí􀆟ca e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as respec􀆟vas competências;
O Ins􀆟tuto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Ins􀆟tuto Chico Mendes
(ICMBIO) re􀆟rou do IBAMA a tarefa de conservação ambiental, mediante a gestão das unidades
de conservação federais.
§ 4º De acordo com a legislação em vigor, é o Poder Execu􀆟vo autorizado a criar uma
Fundação de apoio técnico cien􀆟fico às a􀆟vidades do IBAMA.
V - ÓRGÃOS SECCIONAIS: os órgãos ou en􀆟dades estaduais responsáveis pela
execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de a􀆟vidades capazes de
provocar a degradação ambiental;
VI - ÓRGÃOS LOCAIS: os órgãos ou en􀆟dades municipais, responsáveis pelo controle e
fiscalização dessas a􀆟vidades, nas suas respec􀆟vas jurisdições;
Elaboração de Normas Suple􀆟vas pelos Estados e Municípios - § 1º - Os Estados, na
esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas suple􀆟vas e
complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem
estabelecidos pelo CONAMA.
§ 2º Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também
poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior.
Fornecimentos de Informações pelos Órgãos - § 3º Os órgãos central, setoriais,
seccionais e locais mencionados neste ar􀆟go deverão fornecer os resultados das análises
efetuadas e sua fundamentação, quando solicitados por pessoa legi􀆟mamente interessada.
A finalidade do SISNAMA é criar uma rede de agências governamentais, nos diversos
níveis da federação, visando assegurar meios eficientes para implementar a polí􀆟ca nacional do
meio ambiente. Dessa forma, a lei inclui como integrantes do SISNAMA órgãos regionais
(estaduais) e locais (municipais), sendo assim claramente estabelecida uma estrutura federa􀆟va.
Competências do Conselho Nacional do Meio Ambiente - art. 8º Compete ao CONAMA:
I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento
de a􀆟vidades efe􀆟va ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e
supervisionado pelo IBAMA;
II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alterna􀆟vas e das
possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando
aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a en􀆟dades privadas, as
informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e
respec􀆟vos relatórios, no caso de obras ou a􀆟vidades de significa􀆟va degradação
ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional;
IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na
obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental; (VETADO)
V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de bene􀆟cios
fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou
suspensão de par􀆟cipação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais
de crédito;
VI - estabelecer, priva􀆟vamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição
por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos
Ministérios competentes;
VII - estabelecer normas, critérios e padrões rela􀆟vos ao controle e à manutenção da
qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais,
principalmente os hídricos.
Parágrafo único. O Secretário do Meio Ambiente é, sem prejuízo de suas funções, o
Presidente do Conama.

QUADRO SINÓTICO
Órgão Superior: Função de assessorar o Presidente da República na formulação da
Conselho de polí􀆟ca nacional e nas diretrizes governamentais para o meio
Governo ambiente e os recursos ambientais.
Órgão Consul􀆟vo Função de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo,
e Delibera􀆟vo: diretrizes de polí􀆟cas governamentais para o meio ambiente e os
CONAMA recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre
normas e padrões compa􀆟veis com o meio ambiente
ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida,
com as seguintes competências:
a) estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para
o licenciamento de a􀆟vidades efe􀆟va ou potencialmente poluidoras,
a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA;
b) determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das
alterna􀆟vas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos
públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e
municipais, bem assim a en􀆟dades privadas, as informações
indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e
respec􀆟vos relatórios, no caso de obras ou a􀆟vidades de significa􀆟va
degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas
patrimônio nacional.
c) determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou
restrição de bene􀆟cios fiscais concedidos pelo Poder Público, em
caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de par􀆟cipação
em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;
d) estabelecer, priva􀆟vamente, normas e padrões nacionais de
controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e
embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes;
e) estabelecer normas, critérios e padrões rela􀆟vos ao controle e à
manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso
racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos.
Órgão Central: Função de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como
Ministério órgão federal, a polí􀆟ca nacional e as diretrizes governamentais
do Meio Ambiente fixadas para o meio ambiente.
Órgãos Executores: Função de executar e fazer executar a polí􀆟ca e as diretrizes
IBAMA e ICMBIO governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as
respec􀆟vas competências.
Órgãos Seccionais: Órgãos Estaduais com a função de executar programas, projetos e
Órgãos pelo controle e fiscalização de a􀆟vidades capazes de provocar a
ou En􀆟dades degradação ambiental.
Estaduais (e DF)
Órgãos Locais: Órgãos Municipais com a função de controle e fiscalização de
Órgãos a􀆟vidades capazes de provocar a degradação ambiental, nas suas
respec􀆟vas jurisdições.
ou En􀆟dades
Municipais

1.1.3. INSTRUMENTOS DE EXECUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE


Instrumentos da PNMA - Art. 9º - São Instrumentos da Polí􀆟ca Nacional do Meio
Ambiente:
I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II - o zoneamento ambiental;
Consiste em dividir o território em parcelas nas quais as a􀆟vidades humanas se
sujeitam a normas e restrições específicas, com a finalidade de reduzir impactos ambientais,
bem como garan􀆟r o uso sustentável dos recursos naturais.
III - a avaliação de impactos ambientais;
Não se deve confundir a avaliação de impactos ambientais com o estudo prévio de
impactos ambientais. O EIA é uma modalidade de avaliação de impactos ambientais. Sobre o
EIA, deve-se ler a resolução 01/86 do CONAMA (será analisada em ponto específico).
IV - o licenciamento e a revisão de a􀆟vidades efe􀆟va ou potencialmente poluidoras;
Conceito de Licenciamento - É um procedimento administra􀆟vo des􀆟nado a licenciar
a􀆟vidades ou empreendimentos u􀆟lizadores de recursos naturais, efe􀆟va ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental (será analisado
em ponto específico).
V - os incen􀆟vos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de
tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público
federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse
ecológico e reservas extra􀆟vistas;
VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
Conforme o art. 7º, VIII da LC 140/2011, compete a União organizar e manter, com
colaboração dos órgãos e en􀆟dades da administração pública dos Estados, do DF e dos
Municípios, o Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente – SINIMA.
VIII - o Cadastro Técnico Federal de A􀆟vidades e Instrumento de Defesa Ambiental;
IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental;
X - a ins􀆟tuição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente
pelo Ins􀆟tuto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA;
XI - a garan􀆟a da prestação de informações rela􀆟vas ao Meio Ambiente, obrigandose
o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
XII - o Cadastro Técnico Federal de a􀆟vidades potencialmente poluidoras e/ou
u􀆟lizadoras dos recursos ambientais;
XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental,
seguro ambiental e outros.
Servidão Ambiental - art. 9º-A. O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural
ou jurídica, pode, por INSTRUMENTO PÚBLICO OU PARTICULAR OU POR TERMO
ADMINISTRATIVO firmado perante órgão integrante do SISNAMA, limitar o uso de toda a sua
propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais
existentes, ins􀆟tuindo servidão ambiental.
Requisitos do Instrumento ou Termo de Servidão - § 1º O instrumento ou termo de
ins􀆟tuição da servidão ambiental deve incluir, no mínimo, os seguintes itens:
I - memorial descri􀆟vo da área da servidão ambiental, contendo pelo menos um ponto
de amarração georreferenciado;
II - objeto da servidão ambiental;
III - direitos e deveres do proprietário ou possuidor ins􀆟tuidor;
IV - prazo durante o qual a área permanecerá como servidão ambiental.
Impossibilidade de Cons􀆟tuição de Servidão Ambiental - § 2º A servidão ambiental
não se aplica às ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE e à RESERVA LEGAL MÍNIMA EXIGIDA.
Tal vedação decorre do fato de já exis􀆟r um regime especial de proteção a ser
observado. Dessa forma, a servidão des􀆟na-se à área de uso alterna􀆟vo do solo.
Restrição Mínima - § 3º A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob
servidão ambiental deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal.
Necessidade de Averbação - § 4º Devem ser objeto de averbação NA MATRÍCULA DO
IMÓVEL NO REGISTRO DE IMÓVEIS competente:
I - o instrumento ou termo de ins􀆟tuição da servidão ambiental;
II - o contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental.
§ 5º Na hipótese de compensação de Reserva Legal, a servidão ambiental deve ser
averbada na matrícula de todos os imóveis envolvidos.
Vedação à Alteração da Des􀆟nação da Área - § 6º É vedada, durante o prazo de
vigência da servidão ambiental, a alteração da des􀆟nação da área, nos casos de transmissão
do imóvel a qualquer 􀆟tulo, de desmembramento ou de re􀆟ficação dos limites do imóvel.
Caracterís􀆟cas da Servidão Ambiental - Art. 9º-B. A servidão ambiental poderá ser
ONEROSA ou GRATUITA, TEMPORÁRIA ou PERPÉTUA.
Ressalta-se que existe interesse econômico de um proprietário em ins􀆟tuir servidão
ambiental no seu imóvel para favorecer um terceiro que visa compensar a reserva legal no seu
imóvel que não possui os percentuais mínimos exigidos por lei (tema será visto em outro ponto).
Prazo Mínimo - § 1º O prazo mínimo da servidão ambiental temporária é de 15
(QUINZE) ANOS.
Equivalência da Servidão Perpétua à RPPN - § 2º A servidão ambiental perpétua
equivale, PARA FINS CREDITÍCIOS, TRIBUTÁRIOS E DE ACESSO AOS RECURSOS DE
FUNDOS PÚBLICOS, à Reserva Par􀆟cular do Patrimônio Natural - RPPN, definida no
art. 21 da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000.
Alienação, Cessão e Transferência - § 3º O detentor da servidão ambiental poderá
aliená-la, cedê-la ou transferi-la, total ou parcialmente, por prazo determinado ou em
caráter defini􀆟vo, em favor de outro proprietário ou de en􀆟dade pública ou privada
que tenha a conservação ambiental como fim social.
Contrato de Alienação, Cessão ou Transferência da Servidão - art. 9º-C. O contrato de
alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental DEVE SER AVERBADO NA MATRÍCULA
DO IMÓVEL.
Requisitos Mínimos do Contrato - § 1º O contrato referido no caput deve conter, no
mínimo, os seguintes itens:
I - a delimitação da área subme􀆟da a preservação, conservação ou recuperação
ambiental;
II - o objeto da servidão ambiental;
III - os direitos e deveres do proprietário ins􀆟tuidor e dos futuros adquirentes ou
sucessores;
IV - os direitos e deveres do detentor da servidão ambiental;
V - os bene􀆟cios de ordem econômica do ins􀆟tuidor e do detentor da servidão
ambiental;
VI - a previsão legal para garan􀆟r o seu cumprimento, inclusive medidas judiciais
necessárias, em caso de ser descumprido.
Deveres do Proprietário do Imóvel Serviente - § 2º São deveres do proprietário do
imóvel serviente, entre outras obrigações es􀆟puladas no contrato:
I - manter a área sob servidão ambiental;
II - prestar contas ao detentor da servidão ambiental sobre as condições dos recursos
naturais ou ar􀆟ficiais;
III - permi􀆟r a inspeção e a fiscalização da área pelo detentor da servidão ambiental;
IV - defender a posse da área serviente, por todos os meios em direito admi􀆟dos.
Deveres do Detentor da Servidão - § 3º São deveres do detentor da servidão
ambiental, entre outras obrigações es􀆟puladas no contrato:
I - documentar as caracterís􀆟cas ambientais da propriedade;
II - monitorar periodicamente a propriedade para verificar se a servidão ambiental
está sendo man􀆟da;
III - prestar informações necessárias a quaisquer interessados na aquisição ou aos
sucessores da propriedade;
IV - manter relatórios e arquivos atualizados com as a􀆟vidades da área objeto da
servidão;
V - defender judicialmente a servidão ambiental.
Licenciamento Ambiental (será analisado de forma aprofundada em ponto
específico) - Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos
e a􀆟vidades u􀆟lizadores de recursos ambientais, EFETIVA OU POTENCIALMENTE POLUIDORES
OU CAPAZES, SOB QUALQUER FORMA, DE CAUSAR DEGRADAÇÃO AMBIENTAL dependerão de
prévio licenciamento ambiental.
§ 1º Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respec􀆟va concessão serão
publicados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande
circulação, ou em meio eletrônico de comunicação man􀆟do pelo órgão ambiental
competente.
Art. 11. Compete ao IBAMA propor ao CONAMA normas e padrões para implantação,
acompanhamento e fiscalização do licenciamento previsto no ar􀆟go anterior, além
das que forem oriundas do próprio CONAMA.
§ 2º Inclui-se na competência da fiscalização e controle a análise de projetos de
en􀆟dades, públicas ou privadas, obje􀆟vando a preservação ou a recuperação de
recursos ambientais, afetados por processos de exploração predatórios ou poluidores.
Art. 12. As en􀆟dades e órgãos de financiamento e incen􀆟vos governamentais
condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses bene􀆟cios ao licenciamento, na forma
desta Lei, e ao cumprimento das normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA.
Parágrafo único. As en􀆟dades e órgãos referidos no caput deste ar􀆟go deverão fazer
constar dos projetos a realização de obras e aquisição de equipamentos des􀆟nados ao
controle de degradação ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente.
Incen􀆟vo do Poder Execu􀆟vo - art. 13. O Poder Execu􀆟vo incen􀆟vará as a􀆟vidades
voltadas ao meio ambiente, visando:
I - ao desenvolvimento, no País, de pesquisas e processos tecnológicos des􀆟nados a
reduzir a degradação da qualidade ambiental;
II - à fabricação de equipamentos an􀆟poluidores;
III - a outras inicia􀆟vas que propiciem a racionalização do uso de recursos ambientais.
Parágrafo único. Os órgãos, en􀆟dades e programas do Poder Público, des􀆟nados ao
incen􀆟vo das pesquisas cien􀆟ficas e tecnológicas, considerarão, entre as suas metas
prioritárias, o apoio aos projetos que visem a adquirir e desenvolver conhecimentos
básicos e aplicáveis na área ambiental e ecológica.
Penalidades Aplicadas pela Violação às Medidas de Proteção - art. 14 - Sem prejuízo
das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela
degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no
máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada
em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua
cobrança pela União se já 􀆟ver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios
ou pelos Municípios;
II - à perda ou restrição de incen􀆟vos e bene􀆟cios fiscais concedidos pelo Poder
Público;
III - à perda ou suspensão de par􀆟cipação em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de crédito;
IV - à suspensão de sua a􀆟vidade.
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste ar􀆟go, é o poluidor
obrigado, INDEPENDENTEMENTE DA EXISTÊNCIA DE CULPA, a indenizar ou reparar
os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua a􀆟vidade. O
Ministério Público da União e dos Estados terá legi􀆟midade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
Ante o exposto, a responsabilidade civil em matéria ambiental é claramente OBJETIVA.
Assim, para que haja a obrigação de indenizar, suficiente a comprovação do dano e do nexo
causal.
Importante ressaltar que a responsabilidade objetiva aplicada ao direito ambiental é a
responsabilidade civil objetiva calcada na TEORIA DO RISCO INTEGRAL. Segundo esta teoria, o
dever de indenizar se faz presente somente em face do dano, ainda que nos casos de culpa
exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou de força maior.
Chama-se atenção também para o fato de que a responsabilidade civil ambiental é
SOLIDÁRIA.
§ 2º No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao Secretário do Meio
Ambiente a aplicação das penalidades pecuniárias prevista neste artigo.
§ 3º Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda, restrição ou
suspensão será atribuição da autoridade administrativa ou financeira que concedeu os benefícios,
incentivos ou financiamento, cumprimento resolução do CONAMA.
§ 5º A execução das garantias exigidas do poluidor não impede a aplicação das obrigações de
indenização e reparação de danos previstas no § 1º deste artigo.
Cadastros - art. 17 - Fica instituído, sob a administração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA:
I - CADASTRO TÉCNICO FEDERAL DE ATIVIDADES E INSTRUMENTOS DE DEFESA AMBIENTAL, para
registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a consultoria técnica sobre
problemas ecológicos e ambientais e à indústria e comércio de equipamentos, aparelhos e
instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;
II - CADASTRO TÉCNICO FEDERAL DE ATIVIDADES POTENCIALMENTE POLUIDORAS OU
UTILIZADORAS DE RECURSOS AMBIENTAIS, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas
que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração, produção, transporte e
comercialização de produtos potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de produtos
e subprodutos da fauna e flora.

LICENCIAMENTO AMBIENTAL

1. DEFINIÇÕES/REGRAS GERAIS

A utilização dos recursos naturais depende de prévio consentimento do Poder Público, visto
que são bens de uso comum do povo e essenciais à sadia qualidade de vida.
O consentimento estatal para a utilização de recursos naturais é dado por meio de
procedimento de licenciamento ambiental, um importante instrumento de gestão ambiental, na
medida em que, por intermédio dele, o Poder Público exerce o controle prévio sobre as atividades
que possam de alguma forma impactar o meio ambiente, buscando com isso a implementação dos
princípios do desenvolvimento sustentável, da prevenção e da precaução.
Nessa perspectiva, o meio ambiente é qualificado como patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido em função do uso coletivo, cujo controle a Administração
Pública faz por meio do poder de polícia; portanto inexiste direito subjetivo à sua livre utilização.
No texto constitucional, há uma verdadeira presunção de que toda atividade econômica é
impactante do meio ambiente. Não é por acaso que a ordem econômica brasileira tem por princípio
a defesa do meio ambiente (art. 170, VI).
Conceito de Licenciamento - É um PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO destinado a licenciar
atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos naturais, efetiva ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. Dessa forma, trata-se
de uma manifestação do poder de polícia ambiental.
O licenciamento ambiental é plurifuncional, pois podem ser apontadas diversas funções por
ele exercidas:
a) Objetiva o controle de atividades potencialmente poluentes, procurando uma atuação
sustentável, para prevenir danos;
b) Operacionaliza os princípios da precaução, prevenção, poluidor-pagador e usuário-
pagador;
c) Impõe medidas mitigadoras e compensatórias para a degradação ambiental que está
prestes a ser autorizada;
d) Possui a potencialidade de inserir determinada atividade em um contexto de programação
e planificação do desenvolvimento econômico nacional, regional ou local – instrumento voltado para
o desenvolvimento sustentável;
e) Instrumento de direito econômico, pois importa no planejamento e na tomada de decisões
sobre o que preservar e o que degradar (texto adaptado de Sílvia Capelli e outras).
Carvalho Filho, leciona que o poder de polícia "é a prerrogativa de direito público que, calcada na
lei, autoriza a Administração Pública a restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade
em favor do interesse da coletividade." Com efeito, os consentimentos estatais, com as licenças,
decorrem do poder de polícia administrativo e representam resposta positiva da Administração
Pública aos pedidos formulados por indivíduos interessados na utilização de recursos naturais
(CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 30 ed. São Paulo: Atlas,
2016, p. 78).

Art. 1º da RES. CONAMA 237/97 - Para efeito desta Resolução são


adotadas as seguintes definições:
I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o
órgão ambiental competente licencia a localização, instalação,
ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras
de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente
poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar
degradação ambiental, considerando as disposições legais e
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.
Art. 2º da LC 140/2011 - Para os fins desta Lei Complementar,
consideram-se:
I - Licenciamento Ambiental: o procedimento administrativo destinado
a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos
ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob
qualquer forma, de causar degradação ambiental;

Obrigatoriedade de Licenciamento - art. 2º RES. 237/97 CONAMA - A localização, construção,


instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de
recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os
empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de
prévio licenciamento do órgão ambiental competente, sem prejuízo de outras licenças legalmente
exigíveis.
Atividades Sujeitas ao Licenciamento Ambiental - art. 2º, § 1º da RES. 237/97 CONAMA -
Estão sujeitos ao licenciamento ambiental os empreendimentos e as atividades relacionadas no
Anexo 1, parte integrante desta Resolução.
§ 2º - Caberá ao órgão ambiental competente definir os critérios de exigibilidade, o
detalhamento e a complementação do Anexo 1, levando em consideração as especificidades, os
riscos ambientais, o porte e outras características do empreendimento ou atividade.
Dessa forma, tal Resolução traz um ROL NÃO TAXATIVO, pois o ente ambiental poderá
complementá-lo conforme as especificidades, os riscos ambientais, o porte e outras características
do empreendimento ou atividade.
Licenciamento como Instrumento da PNMA - art. 9º da Lei 6.938/81 – São Instrumentos da
Política Nacional do Meio Ambiente: IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou
potencialmente poluidoras;

Art. 10 da Lei 6.938/81 - A CONSTRUÇÃO, INSTALAÇÃO, AMPLIAÇÃO e


funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de
recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou
capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental
dependerão de prévio licenciamento ambiental.

Publicidade - art. 10, § 1º da Lei 6.938/81 - Os PEDIDOS DE LICENCIAMENTO, SUA


RENOVAÇÃO E A RESPECTIVA CONCESSÃO serão publicados no jornal oficial, bem como em
periódico regional ou local de grande circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido
pelo órgão ambiental competente.
Licenciamento como Condição para Concessão de Benefícios - art. 12 da Lei 6.938/81 - As
entidades e órgãos de financiamento e incentivos governamentais condicionarão a aprovação de
projetos habilitados a esses benefícios ao licenciamento, na forma desta Lei, e ao cumprimento das
normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA.

Parágrafo único. As entidades e órgãos referidos no caput deste artigo


deverão fazer constar dos projetos a realização de obras e aquisição de
equipamentos destinados ao controle de degradação ambiental e a
melhoria da qualidade do meio ambiente.

Poder de Fiscalização - art. 17 da LC 140/2011 - Compete AO ÓRGÃO RESPONSÁVEL PELO


LICENCIAMENTO OU AUTORIZAÇÃO, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar
auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à
legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.
§ 1º Qualquer pessoa legalmente identificada, ao constatar infração ambiental decorrente
de empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se refere o caput, para efeito do exercício de
seu poder de polícia.
§ 2º Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente
federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-
la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis.
§ 3º O disposto no caput deste artigo NÃO IMPEDE O EXERCÍCIO PELOS ENTES FEDERATIVOS
DA ATRIBUIÇÃO COMUM DE FISCALIZAÇÃO da conformidade de empreendimentos e atividades
efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação
ambiental em vigor, PREVALECENDO O AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL LAVRADO POR ÓRGÃO
QUE DETENHA A ATRIBUIÇÃO DE LICENCIAMENTO OU AUTORIZAÇÃO a que se refere o caput.

1.1. COMPETÊNCIA PARA O LICENCIAMENTO

Em princípio, estabelecia o art. 10, da Lei 6.938/81, que a construção, a instalação, a


ampliação e o funcionamento de estabelecimentos e as atividades utilizadores de recursos
ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer
forma, de causar degradação ambiental dependeriam de prévio licenciamento de órgão estadual
competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de
outras licenças exigíveis.
Esse dispositivo sofreu substancial alteração com o advento da Lei Complementar n.
140/2011, de modo que passou a dispor que a construção, a instalação, a ampliação e o
funcionamento de estabelecimentos e as atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental
dependerão de prévio licenciamento ambiental, o qual deverá ser efetuado na forma do que
disciplina a mencionada Lei Complementar.
Nessa perspectiva, com a modificação da sua redação dada pela Lei Complementar 140/2011,
o art. 10, da Lei 6.938, não mais trata da competência para promoção do licenciamento ambiental,
pois essa matéria passou a ter como principal norma de regulamentação a referida Lei
Complementar.
A competência administrativa em matéria ambiental é comum, de acordo com o artigo 23,
VI, da Constituição Federal. Logo, compete a todos os entes federados atuar administrativamente
nas questões referentes à proteção ambiental, desde que a atuação de um não macule a
competência de outro.
Visando implementar o federalismo cooperativo em matéria ambiental, foi promulgada a Lei
Complementar n. 140/2011, que, em sua ementa, prescreve que “fixa normas, nos termos dos incisos
III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do
exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do
meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas,
da fauna e da flora”.
Atualmente, a LC 140/2011 é que regula as competências ambientais comuns entre União,
Estados, DF e Municípios, especialmente no que concerne ao licenciamento ambiental. Dessa forma,
todas as normas devem ser interpretadas de acordo com tal LC, especialmente a RES. CONAMA
237/97.
O procedimento tramitará perante o órgão público federal, estadual ou municipal, ou,
supletivamente, perante o órgão público federal (IBAMA) ou estadual, cujo fundamento reside na
possibilidade, constitucionalmente outorgada, de o Poder Público impor condições ao exercício do
direito de propriedade e do direito ao livre empreendimento. O licenciamento insere-se no âmbito
do exercício do poder de polícia.
Ele deve ser revestido de publicidade, permitindo-se o exercício da participação popular, a ser
viabilizada especialmente através das audiências públicas, cujo grande mérito é possibilitar o
controle da discricionariedade administrativa e da motivação do órgão ambiental quanto ao processo
decisório que resultará na concessão ou não da licença.
O licenciamento ambiental deve abranger a obra como um todo, não devendo ser
fragmentado, já que só existe em razão da atividade ou da obra que podem oferecer potencial ou
efetiva degradação ao meio ambiente.
Critérios para Definição da Competência - Dois são os principais critérios definidores da
competência material para promover o licenciamento ambiental:
I) CRITÉRIO DA DIMENSÃO DO IMPACTO OU DANO AMBIENTAL; e
II) CRITÉRIO DA DOMINIALIDADE DO BEM PÚBLICO AFETÁVEL.
Ressalta-se que dentro do critério da dominialidade do bem público afetável, pode-se incluir
o CRITÉRIO DO ENTE FEDERATIVO INSTITUIDOR DA UNIDADE.
O critério que primeiro deve ser utilizado para identificar o ente político competente para licenciar
uma obra ou atividade é o da predominância do interesse, de modo que a definição do órgão
ambiental licenciador decorrerá da dimensão do território e dos danos a serem causados: (i)
competência municipal: impacto local ‒ não ultrapassa as fronteiras do município; (ii)
competência estadual: impacto estadual ‒ ultrapassa as fronteiras do município, mas fica restrito
a um estado da federação; e (iii) competência federal (IBAMA): impacto regional ou nacional ‒
ultrapassa as fronteiras de um estado da federação, abrangendo uma região ou mesmo todo o
território nacional. Em um segundo plano, dever ser feita análise com base no critério da
dominialidade do bem público afetável.

Critério Residual - É possível apontar um critério residual, qual seja, o CRITÉRIO DA ATUAÇÃO
SUPLETIVA, posto que, quando o órgão do ente federado de menor extensão não puder atuar, o de
maior abrangência o fará.
Art. 15 da LC 140/2011 - Os entes federativos devem atuar em caráter
supletivo nas ações administrativas de licenciamento e na autorização
ambiental, nas seguintes hipóteses:
I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio
ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a União deve desempenhar
as ações administrativas estaduais ou distritais até a sua criação;
II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio
ambiente no Município, o Estado deve desempenhar as ações
administrativas municipais até a sua criação; e
III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio
ambiente no Estado e no Município, a União deve desempenhar as
ações administrativas até a sua criação em um daqueles entes
federativos.
(TJCE-2014-FCC): A empresa X pretende instalar uma indústria no Estado Alfa. Tal Estado, contudo, não possui
órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente. Nesta hipótese, segundo a LC 140/2011, a competência
para conduzir o licenciamento ambiental será supletiva da União. BL: art. 15, I da LC 140/11
Atuação Supletiva Vs. Atuação Subsidiária - Art. 2º, II e III da LC 140/2011 - Para os fins desta
Lei Complementar, consideram-se:
II - ATUAÇÃO SUPLETIVA: ação do ente da Federação que se SUBSTITUI ao ente federativo
originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar;
III - ATUAÇÃO SUBSIDIÁRIA: ação do ente da Federação que VISA A AUXILIAR no
desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, QUANDO SOLICITADO
(provocado) pelo ente federativo originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei
Complementar.
(TJAL-2015-FCC): Segundo a Lei Complementar Federal n° 140/2011, atuação supletiva é a ação do ente da
Federação que se substitui, nas hipóteses previstas na citada lei, ao ente federativo originariamente detentor das
atribuições. BL: art. 2º, II, LC 140/2011.

(TJRS-2016-Faurgs): Acerca dos princípios de Direito Ambiental, assinale a alternativa correta: A incorporação do
princípio da subsidiariedade, no ordenamento jurídico nacional, como princípio do Direito Ambiental, reforça o
princípio do federalismo cooperativo ecológico. Nesses termos, o princípio da subsidiariedade traça diretrizes
quanto à descentralização política do Estado em matéria ambiental. BL: art. 2º, III c/c art. 16, LC 140/2011

ATENÇÃO!! A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL É VACILANTE QUANTO AO CRITÉRIO QUE DEVE


PREVALECER NA DEFINIÇÃO DO ÓRGÃO COMPETENTE PARA O LICENCIAMENTO AMBIENTAL,
ORA PENDENDO PARA UM CRITÉRIO, ORA PARA OUTRO.

Critério da Extensão do Impacto Ambiental - Para esse critério, a definição do órgão


ambiental licenciador decorrerá da dimensão do território dos danos a serem causados:

Competência Municipal - Impacto Local - Não ultrapassa as fronteiras do município.


Competência Estadual - Impacto Estadual - Ultrapassa as fronteiras do município, mas fica
restrito a um Estado da Federação.
Competência Federal - Impacto Regional ou Nacional - Ultrapassa as fronteiras de um
(IBAMA) Estado da Federação, abrangendo uma região ou mesmo todo o
território Nacional.

Ressalta-se que no caso do Distrito Federal, por não possuir divisão em municípios, tem
competência para licenciar nas hipóteses de impacto que não ultrapasse as suas fronteiras.
Critério da Dominialidade do Bem - Para esse critério, a definição do órgão ambiental
licenciador decorrerá da titularidade do bem a ser afetado pelo empreendimento licenciando:

Competência Municipal Bens Públicos Municipais


Competência Estadual Bens Públicos Estaduais
Competência Federal Bens Públicos Federais
(IBAMA)

ATENÇÃO!! Para a definição da competência para o licenciamento EM UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO, COM EXCEÇÃO DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APAs), a LC 140/2011,
em seu art. 12, adotou expressamente o CRITÉRIO DO ENTE FEDERATIVO INSTITUIDOR DA
UNIDADE.
Art. 12 da LC 140/2011 - Para fins de licenciamento ambiental de
atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais,
efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma,
de causar degradação ambiental, e para autorização de supressão e
manejo de vegetação, o critério do ente federativo instituidor da
unidade de conservação não será aplicado às Áreas de Proteção
Ambiental (APAs).
Parágrafo único. A definição do ente federativo responsável pelo
licenciamento e autorização a que se refere o caput, no caso das APAs,
seguirá os critérios previstos nas alíneas “a”, “b”, “e”, “f” e “h” do
inciso XIV do art. 7º, no inciso XIV do art. 8º e na alínea “a” do inciso
XIV do art. 9º (VISTO ABAIXO).

Competência Licenciatória da União (IBAMA) - art. 7º da LC 140/2011 - São ações


administrativas da União: (...)

XIV - promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e


atividades:
a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país
limítrofe (critério da extensão do impacto ambiental);
b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma
continental ou na zona econômica exclusiva (critério da
dominialidade);
c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas (critério da
dominialidade);
d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação
instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs)
(critério da dominialidade - do ente federativo instituidor);
e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados (critério da
extensão do impacto ambiental);
f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos
termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e
emprego das Forças Armadas, conforme disposto na Lei Complementar
nº97, de 9 de junho de 1999;
g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar,
armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que
utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações,
mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen)
(critério da extensão do impacto ambiental); ou
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo
(Decreto 8.437/2015), a partir de proposição da Comissão Tripartite
Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de
porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento.
(TJPA-2012-CESPE): As obras para a construção de uma usina hidrelétrica na região amazônica, financiadas por
entidades governamentais brasileiras, afetarão mais três estados-membros da Federação, dado o alagamento de
uma área superior a dois mil hectares na Amazônia Legal, onde se localiza imóveis rurais particulares.
Considerando a situação hipotética acima e o disposto na Política Nacional de Meio Ambiente e nas Resoluções nº
01, 237 e 378 do CONAMA, compete ao IBAMA o licenciamento ambiental do empreendimento, já que o impacto
ambiental, nesse caso, é regional. BL: art. 4º, II da Res. 237 do CONAMA e art. 7º, XIV, “e” da LC 140/2011

Competência Licenciatória da União (IBAMA) estabelecidas na RES. CONAMA 237/97 - art.


4º da RES. 237/97 CONAMA - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o licenciamento ambiental, a que se
refere o artigo 10 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com
significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber:

I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país


limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona
econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de
conservação do domínio da União;
II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;
III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites
territoriais do País ou de um ou mais Estados;
IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar,
armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que
utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações,
mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN;
V - bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a
legislação específica.
COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA ATIVIDADES:
Art. 4º da Res. CONAMA 237/97. Compete ao Art. 7°, inciso XIV, da LC 140/11. Cabe à União
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos promover o licenciamento ambiental de
Recursos Naturais Renováveis — IBAMA, órgão empreendimentos e atividades:
executor do SISNAMA, o licenciamento
ambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei n.
6.938, de 31 de agosto de 1981, de
empreendimentos e atividades com
significativo impacto ambiental de âmbito
nacional ou regional, a saber:

Localizados ou desenvolvidos conjuntamente Localizados ou desenvolvidos conjuntamente


no Brasil e em país limítrofe; no Brasil e em país limítrofe;

Localizadas no mar territorial; na plataforma Localizados ou desenvolvidos no mar


continental; na zona econômica exclusiva; em territorial, na plataforma continental ou na
terras indígenas ou em unidades de zona econômica exclusiva;
conservação do domínio da União;

Localizadas em terras indígenas; Localizadas em terras indígenas;


Localizadas em unidades de conservação de Localizados ou desenvolvidos em unidades de
domínio da União; conservação instituídas pela União, exceto em
Áreas de Proteção Ambiental – APAs;

Localizados ou desenvolvidos em dois ou mais Localizados ou desenvolvidos em dois ou mais


estados; estados;

Bases ou empreendimentos militares, quando De caráter militar, excetuando-se do


couber, observada a legislação específica; licenciamento ambiental, nos termos de ato do
Poder Executivo, aqueles previstos no preparo
e emprego das Forças Armadas, conforme
disposto na Lei Complementar no 97, de 9 de
junho de 1999;

Destinados a pesquisar, lavrar, produzir, Destinados a pesquisar, lavrar, produzir,


beneficiar, transportar, armazenar e dispor beneficiar, transportar, armazenar e dispor
material radioativo, em qualquer estágio, ou material radioativo, em qualquer estágio, ou
que utilizem energia nuclear em qualquer de
que utilizem energia nuclear em qualquer de
suas formas e aplicações, mediante parecer da
suas formas e aplicações, mediante parecer da
Comissão Nacional de Energia Nuclear- CNEN;
Comissão Nacional de Energia Nuclear- CNEN;
Que atendam tipologia estabelecida por ato do
Poder Executivo, a partir de proposição da
Comissão Tripartite Nacional, assegurada a
participação de um membro do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), e
considerados os critérios de porte, potencial
poluidor e natureza da atividade ou
empreendimento.

Entende-se que o art. 4º da RES. 237/97 CONAMA é compatível com o art. 7º, XIV da LC
140/2011, com exceção de dois aspectos:
i) A LC 140/2011 abandonou a expressão “empreendimentos e atividades com significativo
impacto ambiental de âmbito nacional ou regional” para definir a competência federal, prevista
no caput do art. 4º; e
ii) Quanto às APAs, a competência deve observar os critérios do art. 12 da LC 140/2011.

Competência Licenciatória dos Municípios - art. 9º da LC 140/2011 - São ações


administrativas dos Municípios: (...)

XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas


nesta Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das
atividades ou empreendimentos:
a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local,
conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de
Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor
e natureza da atividade; ou
b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município,
exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);
(TJMS-2020-FCC): O Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) deliberou que os licenciamentos
ambientais conduzidos por Estudo de Impacto Ambiental e Respectivo Relatório (EIA-RIMA) serão estaduais e os
demais, salvo aqueles de competência da União (Lei Complementar 140/11), serão municipais. A presente
deliberação é nula, pois o critério selecionado está em desacordo com a normativa que rege o tema. BL: art. 9º,
XIV, “a”, LC 140.

##Atenção: ##TJMS-2020: ##FCC: A LC 140/11 apresenta critérios para a definição de competência para o
licenciamento ambiental pela: 1) União (art. 7º); 2) Estados e DF (art. 8º) e; Municípios e DF (art. 9º). Ort. 9º, XIV
da LC 140/11, elenca ação administrativa dos Municípios promover o licenciamento ambiental das
atividades/empreendimentos. Todavia, a questão ao indicar que o Conselho Estadual do Meio Ambiente escolheu
o critério de “ter ou não EIA-RIMA” observou apenas o “potencial poluidor”, já que o EIA-RIMA é para
qualquer atividade POTENCIALMENTE causadora de SIGNIFICATIVA degradação ambiental (a Res. 01/86
Conama, que dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental, traz uma lista
EXEMPLIFICATIVA), não considerando, assim, o “porte” e a “natureza da atividade”, que são critérios
cumulativos previstos expressamente na lei para o licenciamento ambiental realizado pelos Municípios.
Portanto, os Conselhos Estaduais de Meio Ambiente têm que considerar os critérios de “porte”, “potencial
poluidor” e “natureza da atividade”, para definir a tipologia de impacto ambiental local, que será de competência
municipal. Como apenas foi considerado o “potencial poluidor”, a presente deliberação é nula, pois, como
referido, que deveria ter considerado também o porte dos empreendimentos e a natureza da atividade.
(TJPE-2011-FCC): Os municípios brasileiros, face ao ordenamento constitucional e legal, no que se refere ao
licenciamento ambiental podem emitir licença ambiental, desde que o empreendimento seja de interesse apenas
local e não afete o meio ambiente em nível regional ou nacional.

Competência Licenciatória dos Estados - art. 8º da LC 140/2011 - São ações administrativas


dos Estados: (...)

XIV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou


empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7º e 9º;
XV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou
empreendimentos localizados ou desenvolvidos em unidades de
conservação instituídas pelo Estado, exceto em Áreas de Proteção
Ambiental (APAs);

Dessa forma, as competências dos estados para o licenciamento ambiental foram elencadas
de maneira remanescente às federais e municipais.
O DF não possui municípios, dessa forma, nos termos do art. 10 da LC 140/2001, são ações
administrativas do Distrito Federal as previstas nos arts. 8º e 9º.
Licenciamento por Ente Único - art. 13 da LC 140/2011 - Os empreendimentos e atividades
são licenciados ou autorizados, ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade
com as atribuições estabelecidas nos termos desta Lei Complementar.
§ 1º Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável
pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do
licenciamento ambiental.
Competência no Código Florestal - O novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) trouxe algumas
regras de fixação de competência no processo de licenciamento. Discute-se se tais disposições são
constitucionais, posto que o art. 23, parágrafo único da CF determina que somente LC pode regular
competências materiais comuns entre as entidades da federação.
Ocorre que, caso constitucionais, são normas especiais e posteriores à LC 140/2011, devendo
prevalecer. Seguem os dispositivos que tratam de licenciamento:

Art. 10. Nos pantanais e planícies pantaneiras, é permitida a exploração


ecologicamente sustentável, devendo-se considerar as recomendações
técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa, ficando novas supressões de
vegetação nativa para uso alternativo do solo condicionadas à
autorização do órgão estadual do meio ambiente, com base nas
recomendações mencionadas neste artigo.
Art. 11-A, § 1º, III - Os apicuns e salgados podem ser utilizados em
atividades de carcinicultura e salinas, desde que observados os
seguintes requisitos: (...) III - licenciamento da atividade e das
instalações pelo órgão ambiental estadual, cientificado o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA e, no caso de uso de terrenos de marinha ou outros bens da
União, realizada regularização prévia da titulação perante a União;
Art. 26. A supressão de vegetação nativa para uso alternativo do solo,
tanto de domínio público como de domínio privado, dependerá do
cadastramento do imóvel no CAR, de que trata o art. 29, e de prévia
autorização do órgão estadual competente do Sisnama.
Art. 31, § 7º Compete ao órgão federal de meio ambiente a aprovação
de PMFS incidentes em florestas públicas de domínio da União.
Art. 37. O comércio de plantas vivas e outros produtos oriundos da flora
nativa dependerá de licença do órgão estadual competente do Sisnama
e de registro no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente
Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais, previsto no art. 17
da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, sem prejuízo de outras
exigências cabíveis.
Parágrafo único. A exportação de plantas vivas e outros produtos da
flora dependerá de licença do órgão federal competente do Sisnama,
observadas as condições estabelecidas no caput.

1.2. LICENÇAS AMBIENTAIS

Conceito de Licença Ambiental - “Ato administrativo pelo qual o órgão ambiental


competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser
obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar
empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação
ambiental” (art. 1º, II da RES. 237/97 CONAMA).
Desta festa, licença é um ato de consentimento estatal essencialmente
vinculado, por meio do qual a Administração confere ao interessado o
consentimento para o desempenho de certa atividade. Através da
licença, o Poder Público exerce seu poder de polícia fiscalizatório,
verificando, em cada caso, se existem, ou não, óbices legais ou
administrativos para o desempenho da atividade lesiva ao meio
ambiente reivindicada (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 30 ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 147).

ATENÇÃO: Não há licença tácita, com exceção da licença de operação em renovação, caso o
órgão competente não se manifeste no prazo.
Sendo a licença um instrumento de gestão ambiental, é com ela que se identifica, controla,
previne, mitiga e compensa o uso incomum e o impacto do meio ambiente. Por meio dela, pode
tanto ser fixado o custo de internalização da degradação ambiental que virá a ser causada pela obra
ou atividade – poluidor-pagador, como pode ser estabelecido um preço pelo uso incomum do bem
ambiental – usuário-pagador.
Ademais, enquanto a licença é dotada de definitividade, a autorização é precária. Assim,
enquanto esta pode ser revogada ad nutum pela Administração Pública, o cancelamento de uma
licença gera direito a indenização. Aliás, por ser a licença ato vinculado, preenchidas as exigências
legais, tem o particular direito subjetivo à sua concessão. De forma diferente, a autorização está
sempre sujeita aos motivos de conveniência e oportunidade da Administração Pública.
E é exatamente por isso que se discute se a licença ambiental seria, de fato, uma licença.
Afinal de contas, no processo de licenciamento, há uma série de variantes e sopesamentos
verificados em cada caso concreto, em que o órgão ambiental contempla uma solução de equilíbrio
envolvendo a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento econômico. Há, aí, nítida atividade
discricionária, ainda que fundamentada em dados técnicos.
Já o licenciamento ambiental é composto por uma sequência de fases ou atos diretamente
relacionados. A etapa anterior condiciona a etapa seguinte, ou seja, caso não seja concedida a licença
prévia, não se podem conceder as licenças de instalação e de operação. E, caso não seja concedida a
de licença de instalação, também não pode ser concedida a licença de operação. A propósito, o art.
19 do Decreto n. 99.247/90 dispõe que o processo em regra se desdobra em três etapas, devendo
cada uma delas culminar na concessão da licença ambiental compatível com o andamento
processual.
Portanto, o procedimento de licenciamento ambiental – processo administrativo – é único e,
no decorrer do seu trâmite, são concedidas as três licenças em ordem hierárquica e de forma
continuada. É o chamado procedimento trifásico.

1.2.1. DAS ESPÉCIES DE LICENÇA AMBIENTAL

A licença ambiental é outorgada de forma estanque, isolada ou sucessivamente para cada


momento da atividade ou do empreendimento, mas sempre de forma evolutiva e, em todos os casos,
exarados por atos administrativos autônomos (art. 8º, Resolução CONAMA nº 237/97).
O CONAMA pode editar Resoluções criando outras espécies de licenças ambientais ou
licenciamento ambiental simplificado. É inclusive o que dispõe os arts. 9º e 12, da Resolução
CONAMA 237/97, que permite que o CONAMA crie licenças ambientais específicas. É o caso da
Resolução CONAMA 23/94, que trata de procedimentos para o licenciamento das atividades de
exploração e lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural, e, no art. 5º cria a LICENÇA
PRÉVIA PARA PERFURAÇÃO - LPper. A Resolução CONAMA 279/2001 trata de licenciamento
ambiental simplificado de empreendimentos elétricos com pequeno potencial de impacto ambiental.
A Resolução CONAMA 377/2006, trata de licenciamento ambiental simplificado de sistemas de
esgotamento sanitário.
São espécies de licença ambiental (prevista na Resolução CONAMA nº 237/97):

Espécies de Licença – art. 8º RES. 237/97 CONAMA – O Poder Público, no exercício de sua
competência de controle, expedirá as seguintes licenças:
I – Licença Prévia (LP) – concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento
ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e
estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua
implementação;

II – Licença de Instalação (LI) – autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de


acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as
medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
(TJRR-2015-FCC): A licença prévia é concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou
atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos
básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação. BL: art. 8º, I, da Res. 237/97
do Conama.

(TJPI-2012-CESPE): A licença prévia, a ser concedida na fase preliminar do planejamento de atividade, deve conter
os requisitos básicos a serem atingidos nas fases de localização, instalação e operação, observados os planos
municipais, estaduais ou federais de uso do solo. BL: art. 8º, I, da Res. 237/97 do Conama.

(TJMS-2010-FCC): O tipo de licença ambiental expedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento,


destinada, entre outras finalidades, a atestar a sua viabilidade ambiental e a estabelecer as condições para a sua
instalação denomina-se licença prévia. BL: art. 8º, I, da Res. 237/97 do Conama

III – Licença de Operação (LO) – autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após


a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de
controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.

Prazos das Licenças – art. 18 RES. 237/97 CONAMA – O órgão ambiental competente
estabelecerá os prazos de validade de cada tipo de licença, especificando-os no respectivo
documento, levando em consideração os seguintes aspectos:
I – O prazo de validade da Licença Prévia (LP) deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo
cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao empreendimento ou
atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos.
II – O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser, no mínimo, o estabelecido
pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 6
(seis) anos.
III – O prazo de validade da Licença de Operação (LO) deverá considerar os planos de controle
ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no máximo, 10 (dez) anos.
a) Licença Prévia – LP: concedida na b) Licença de Instalação – LI: c) Licença de Operação – LO:
fase preliminar do planejamento do autoriza a instalação do autoriza a operação da
empreendimento ou da atividade. empreendimento ou atividade de atividade ou empreendimento
Serve para atestar a viabilidade acordo com as especificações após a verificação do efetivo
ambiental do projeto e aprovar a constantes dos planos, programas cumprimento do que consta das
sua concepção, estabelecendo os e projetos aprovados, incluindo as licenças anteriores, com as
requisitos básicos e condicionantes a medidas de controle ambiental e medidas de controle ambiental e
serem atendidos nas próximas fases demais condicionantes, da qual condicionantes determinantes
de sua implementação. Pode ou não constituem motivo determinante. para a operação.
ser precedida de EIA/RIMA, Permite, portanto, que o
dependendo do impacto ambiental a empreendedor passe a
ser gerado pela atividade. Deve ser materializar o projeto aprovado.
instruída com certidão da Prefeitura Se, todavia, o tipo de
atestando a sua compatibilidade com empreendimento depender de
o uso do solo (conforme algum equipamento para operar,
estabelecido no Plano Diretor). Não estará condicionado à etapa
autoriza qualquer alteração física no seguinte.
empreendimento proposto, tais
como corte de árvores, aterros,
obras.
PRAZOS
Licença Prévia: mínimo fixado no Licença de Instalação: mínimo Licença de Operação: mínimo
projeto e máximo de 5 anos. fixado no projeto e máximo de 6 de 4 e máximo de 10 anos.
anos.

A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte)
dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente
prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente (LC nº 140/11, art. 11. § 4º).

Prazo de Análise da Emissão de Licença (Resolução CONAMA 237/97)

Se houver EIA/RIMA ou audiência pública 12 meses para cada licença


Se não houver 6 meses para cada licença
O não atendimento desses prazos não implica em licenciamento tácito, mas instaura a competência
supletiva do art. 15 (LC nº 140/11)

§ 1º - A Licença Prévia (LP) e a Licença de Instalação (LI) poderão ter os


prazos de validade prorrogados, desde que não ultrapassem os prazos
máximos estabelecidos nos incisos I e II.
§ 2º - O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de
validade específicos para a Licença de Operação (LO) de
empreendimentos ou atividades que, por sua natureza e
peculiaridades, estejam sujeitos a encerramento ou modificação em
prazos inferiores.

Prazo Máximo para Análise dos Pedidos de Licença – art. 14 da RES. 237/97 CONAMA – O
órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de análise diferenciados para cada
modalidade de licença (LP, LI e LO), em função das peculiaridades da atividade ou empreendimento,
bem como para a formulação de exigências complementares, DESDE QUE OBSERVADO O PRAZO
MÁXIMO DE 6 (SEIS) MESES A CONTAR DO ATO DE PROTOCOLAR O REQUERIMENTO ATÉ SEU
DEFERIMENTO OU INDEFERIMENTO, RESSALVADOS OS CASOS EM QUE HOUVER EIA/RIMA E/OU
AUDIÊNCIA PÚBLICA, QUANDO O PRAZO SERÁ DE ATÉ 12 (DOZE) MESES.
§ 1º - A contagem do prazo previsto no caput deste artigo será suspensa durante a
elaboração dos estudos ambientais complementares ou preparação de esclarecimentos pelo
empreendedor.
§ 2º - Os prazos estipulados no caput poderão ser alterados, desde que justificados e com a
concordância do empreendedor e do órgão ambiental competente.
Inexistência de Licença Tácita – art. 14, § 3º da LC 140/2011 – O decurso dos prazos de
licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a
prática de ato que dela dependa ou decorra, MAS INSTAURA A COMPETÊNCIA SUPLETIVA referida
no art. 15 (já visto acima).
Prazo para Pedido de Renovação das Licenças – art. 14, § 4º da LC 140/2011 – A renovação
de licenças ambientais deve ser requerida COM ANTECEDÊNCIA MÍNIMA DE 120 (CENTO E VINTE)
DIAS DA EXPIRAÇÃO DE SEU PRAZO DE VALIDADE, fixado na respectiva licença, ficando este
AUTOMATICAMENTE PRORROGADO ATÉ A MANIFESTAÇÃO DEFINITIVA do órgão ambiental
competente.
(MPSC-2013): De acordo com a Lei Complementar 140/2011, a renovação de licenças ambientais
deve ser requerida com antecedência mínima de 120 dias da expiração de seu prazo de validade,
fixado na respectiva licença. BL: art. 14, §4º, LC 140/11.

Art. 18, § 4º da RES. 237/97 – A renovação da Licença de Operação (LO)


de uma atividade ou empreendimento deverá ser requerida com
antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu
prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando este
automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão
ambiental competente.

Conforme o art. 225, 1° §, IV, da Constituição Federal, a licença ambiental para


empreendimentos e atividades consideradas potencialmente causadoras de significativa degradação
do meio dependerá de prévio Estudo de Impacto Ambiental – EIA e respectivo Relatório de Impacto
ao Meio Ambiente - RIMA, garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de acordo
com a regulamentação. Tanto ao EIA quanto ao RIMA deverá ser dada publicidade, ou seja, todos os
interessados deverão ter acesso a esses documentos, respeitado o sigilo industrial.
Já Resolução CONAMA nº 001/86 estabelece uma lista exemplificativa de atividades sujeitas
ao EIA e RIMA, de modo que, para efetivamente estipular se a atividade necessita ou não do
mencionado estudo, a autoridade ambiental deve observar o critério da amplitude do impacto
ambiental em cada caso analisado. Nessa perspectiva, o EIA é um importante instrumento de
orientação e fundamentação da decisão administrativa que, baseado no princípio da precaução,
licencia um empreendimento. De outro modo, a ideia do RIMA é traduzir as informações do EIA (que
normalmente é complexo, redigido em linguagem técnica) utilizando linguagem simples, mapas,
quadros e gráficos, com o intuito de explicitar as vantagens e desvantagens do projeto, bem como
todas as consequências ambientais de sua implementação.
Diante os resultados do EIA/RIMA, sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado
por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por cinquenta ou mais cidadãos, a Administração
Pública promoverá a realização de audiência pública para informação sobre o projeto e seus
impactos ambientais. O Órgão de Meio Ambiente, a partir da data do recebimento do RIMA, fixará
em edital e anunciará pela imprensa local a abertura do prazo, que será no mínimo de 45 dias, para
solicitação de audiência pública. Se houver solicitação de audiência pública e o órgão ambiental não
a realizar, a licença concedida não terá validade – Resolução CONAMA n. 09/1987.
Etapas do Processo de Licenciamento Ambiental – art. 10 da RES. 237/97 CONAMA – O
procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas:

I – Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do


empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais,
necessários ao início do processo de licenciamento correspondente à
licença a ser requerida;
II – Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor,
acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais
pertinentes, dando-se a devida publicidade;
III – Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do
SISNAMA, dos documentos, projetos e estudos ambientais
apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando necessárias;
IV – Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão
ambiental competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em
decorrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais
apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma
solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham
sido satisfatórios;
V – Audiência pública, quando couber, de acordo com a
regulamentação pertinente;
VI – Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão
ambiental competente, decorrentes de audiências públicas, quando
couber, podendo haver reiteração da solicitação quando os
esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;
VII – Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer
jurídico;
VIII – Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a
devida publicidade.
§ 1º - No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar,
obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o
local e o tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade
com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o
caso, a autorização para supressão de vegetação e a outorga para o uso
da água, emitidas pelos órgãos competentes.
§ 2º - No caso de empreendimentos e atividades sujeitos ao estudo de
impacto ambiental – EIA, se verificada a necessidade de nova
complementação em decorrência de esclarecimentos já prestados,
conforme incisos IV e VI, o órgão ambiental competente, mediante
decisão motivada e com a participação do empreendedor, poderá
formular novo pedido de complementação.

Procedimentos Específicos/Simplificados – art. 12 da RES. 237/97 CONAMA – O órgão


ambiental competente definirá, se necessário, procedimentos específicos para as licenças
ambientais, observadas a natureza, características e peculiaridades da atividade ou empreendimento
e, ainda, a compatibilização do processo de licenciamento com as etapas de planejamento,
implantação e operação.
O Conama já editou diversas normas disciplinadoras de alguns tipos de licenciamentos que,
pelo baixo impacto que os projetos causam ao meio ambiente, submeter-se-iam a um rito
simplificado. Nesse sentido, a título de exemplo, a resolução Conama 377/2006 que disciplinou o
sistema de esgotamento sanitário.
O objetivo desse dispositivo é permitir que o órgão ambiental possa, de forma mais célere e
simplificada, emitir, por exemplo, em uma única licença autorização para instalação e operação de
uma atividade, bem como exigir estudo ambientais mais simplificados de impactos para obtenção da
licença.
Esses pequenos empreendimentos e atividades, se forem similares e vizinhos ou mesmo para
aqueles integrantes de planos de desenvolvimento aprovados, previamente, pelo órgão
governamental competente, poderão ser processados em um único processo de licenciamento
ambiental.
Por fim, deverão ser estabelecidos critérios para agilizar e simplificar os procedimentos de
licenciamento ambiental das atividades e empreendimentos que implementem planos e programas
voluntários de gestão ambiental, visando a melhoria contínua e o aprimoramento do desempenho
ambiental.

§ 1º - Poderão ser estabelecidos procedimentos simplificados para as


atividades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto
ambiental, que deverão ser aprovados pelos respectivos Conselhos de
Meio Ambiente.
§ 2º - Poderá ser admitido um único processo de licenciamento
ambiental para pequenos empreendimentos e atividades similares e
vizinhos ou para aqueles integrantes de planos de desenvolvimento
aprovados, previamente, pelo órgão governamental competente,
desde que definida a responsabilidade legal pelo conjunto de
empreendimentos ou atividades.
§ 3º - Deverão ser estabelecidos critérios para agilizar e simplificar os
procedimentos de licenciamento ambiental das atividades e
empreendimentos que implementem planos e programas voluntários
de gestão ambiental, visando a melhoria continua e o aprimoramento
do desempenho ambiental.

Modificação, Suspensão ou Cancelamento de Licenças – art. 19 da RES. 237/97 CONAMA –


O órgão ambiental competente, MEDIANTE DECISÃO MOTIVADA, poderá modificar os
condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida,
quando ocorrer:
I – Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais;
II – Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição da
licença;
III – Superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.

Segundo o STF, atenta contra o Princípio da Separação dos Poderes lei que exige aprovação
legislativa para licenciamento ambiental, pois se trata de função típica do Poder Executivo tratar da
concessão de licenças ambientais.

1.2.2. LICENÇA AMBIENTAL: ATO DISCRICIONÁRIO OU VINCULADO? CONTROLE JUDICIAL DA


DISPENSA

As licenças são, no Direito Administrativo, atos tradicionalmente tidos por vinculados. No caso
da licença ambiental, há forte controvérsia sobre o assunto. Isso porque a análise administrativa do
atendimento dos requisitos necessários para se obter a licença é fase, apesar de técnica, dotada de
algum grau de discricionariedade para se chegar à conclusão da viabilidade ambiental ou não do
procedimento.
Parece que, não obstante isso, a maior parte da doutrina tende a considerá-la como um ato
vinculado. Sendo o empreendimento ou a atividade ambientalmente viável, não há como se denegar
a licença ambiental.
Essa vinculação, entretanto, é totalmente especial. Por exemplo: a licença pode ser revogada
no futuro, se houver modificação das condições fáticas (está sujeita à cláusula rebus sic stantibus);
quando o Poder Executivo demora inescusavelmente no procedimento de concessão da licença, o
Poder Judiciário, se provocado (via MS ou lei ordinária), não concede a licença ambiental, antes
fixa prazo para que isso seja feito.
Parte da doutrina entende que o termo licença estaria sendo empregado sem o rigor técnico-
jurídico, devendo, no caso, ser entendido como autorização. Essa é a posição de Paulo Affonso Leme
Machado, Toshio Mukai e de Vladimir Passos de Freitas.
De outro lado, Édis Milaré entende que a licença ambiental se trata de verdadeira licença,
uma vez que a capacidade decisória da Administração se resume ao reconhecimento formal de que
os requisitos ambientais para o exercício do direito de propriedade (empreendimento ou
atividade) estão preenchidos. É preciso, na lição de Milaré, diferenciar a licença ambiental da licença
tradicional, de modo a considerá-las apenas parentes e não irmãs gêmeas. Entendem como licença
mesmo: Antônio Inagê de Oliveira e William Freite. Paulo de Bessa Antunes entende que é sui
generis.
A licença ambiental tem uma estabilidade temporal, que não se confunde com a
precariedade das autorizações e nem com a definitividade das licenças tradicionais. Garante-se, no
lapso temporal da licença, a inalterabilidade das regras impostas no momento da outorga, salvo se o
interesse público recomendar o contrário.
Por conta dessa possibilidade de revogação/anulação da autorização/licença no prazo de sua
validade, há a discussão sobre se haveria direito à indenização ou não. O STJ e o STF têm sido
casuísticos, observando, principalmente, o estado das obras.
Importante o julgado abaixo, que dispõe sobre o controle judicial da dispensa da licença.

7. Nesta lógica, SE É VERDADE QUE AO IBAMA COMPETE AVALIAR A


NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE EIA/RIMA, NÃO É MENOS VERDADE
QUE QUALQUER CONCLUSÃO A QUE CHEGUE A REFERIDA AUTARQUIA
É SINDICÁVEL NA VIA JUDICIAL. 8. É de pelo menos muito duvidosa a
afirmação, feita peremptoriamente no acórdão recorrido em
corroboração ao que disse o DNIT, ora recorrido, de que os atos
praticados no âmbito do licenciamento ambiental são marcados por
alta discricionariedade administrativa. Se isso é correto em face de
alguns atos, trata-se de conclusão inteiramente inadequada em face
de outros. É que A SIMPLES UTILIZAÇÃO DE CONCEITOS
INDETERMINADOS NÃO É SUFICIENTE PARA CONFERIR A QUALQUER
ESCOLHA ADMINISTRATIVA A CORREÇÃO. AO CONTRÁRIO, A
UTILIZAÇÃO DESTE TIPO DE TÉCNICA DE CONSTRUÇÃO NORMATIVA
TEM POR ESCOPO POSSIBILITAR QUE A ADMINISTRAÇÃO
IDENTIFIQUE, NA ANÁLISE CASUÍSTICA, QUAL É A MELHOR ESCOLHA -
QUE, POR SER A MELHOR, É ÚNICA. (REsp 1279607/PR, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/12/2011, DJe 13/12/2011)

O Poder Judiciário pode controlar o mérito de uma licença ambiental? De acordo com o
Supremo, não poderá o Poder Judiciário entrar na questão da viabilidade da licença ambiental, no
seu MÉRITO. Este caso chegou ao STF quando da discussão das obras de transposição do Rio São
Francisco.

1.2.3. Condicionantes Socioambientais: Medidas Preventivas, Medidas Mitigadoras e Medidas


Compensatórias

Impacto ambiental pode ser entendido como qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas no meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o
bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais (art. 1°, da Resolução CONAMA nº
001/86).
Uma vez caracterizados os respectivos impactos suscetíveis de ocorrerem a partir da ação a
ser executada na área em estudo, algumas medidas mitigadoras e compensatórias devem ser
propostas para reduzir ou eliminar tais impactos negativos. Os programas ambientais e as medidas
de controle deverão ser identificados para que se possam minimizar, compensar e, até mesmo,
eliminar os impactos negativos da instalação do empreendimento e incrementar medidas que
possam potencializar os impactos socioambientais positivos advindos do projeto.
As medidas mitigadoras são estabelecidas antes da instalação do empreendimento e visam à
redução dos efeitos provenientes dos impactos ambientais negativos gerados por tal ação. Para
definir essas medidas, as avaliações devem ser executadas com os demais profissionais envolvidos
na elaboração dos projetos do empreendimento, a fim de obter soluções viáveis para amenizar os
danos ambientais.
Já as medidas compensatórias são aplicadas para compensar, de alguma forma, os prejuízos
e danos ambientais efetivos advindos da atividade modificadora do ambiente.

1.3. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL

Os estudos de impacto ambiental foram previstos na Convenção das Nações Unidas para o
Meio Ambiente – Declaração do Rio de Janeiro /92, no princípio 17:

A avaliação de impacto ambiental, como instrumento nacional, deve ser


empreendida para as atividades planejadas que possam vir a ter
impacto negativo considerável sobre o meio ambiente, e que dependam
de uma decisão de autoridade nacional competente.
Estudos ambientais são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais
relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento,
apresentado como subsídio para a análise da licença requerida.
Impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e/ou biológicas
do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia humana que, direta ou
indiretamente, afetem:
a) A saúde, segurança e bem-estar da população;
b) As atividades sociais e econômicas;
c) A biota;
d) As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
e) A qualidade dos recursos ambientais.

Conceito de Estudos Ambientais - art. 1º da RES. 237/97 CONAMA - Para efeito desta
Resolução são adotadas as seguintes definições: III - Estudos Ambientais: são todos e quaisquer
estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e
ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da
licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório
ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área
degradada e análise preliminar de risco.
Estudo de Impacto Ambiental/ Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) - É a modalidade
mais complexa de estudo de impacto ambiental, sendo decorrente diretamente da Constituição.
Trata-se de instrumentos formais que precedem a licença ambiental, dela fazendo parte, sendo de
inteira responsabilidade do interessado no empreendimento a sua elaboração, assim como os custos,
sempre que pretender realizar alguma das atividades para cujo exercício a lei os exija.

Art. 225, § 1º da CF - Para assegurar a efetividade desse direito,


incumbe ao Poder Público: (...) IV - exigir, na forma da lei, para
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;

Sabe-se, outrossim, que a constitucionalização dos Estudos de Impacto Ambiental não foi
acompanhada de uma legislação ordinária apta a concretizar a determinação constitucional no plano
da prática diária administrativa. Em verdade, a norma constitucional é considerada aberta e necessita
que o Poder Executivo defina os parâmetros e critérios capazes de estabelecer, com certa margem
de segurança, qual é o conceito de atividade que efetiva ou potencialmente possa ser causadora de
significativa degradação ambiental. Atualmente, com a finalidade de suprir eventual lacuna
legislativa, a matéria encontra-se regulada por resoluções administrativas do CONAMA.
No ano de 1972 realizava-se a Conferência de Estocolmo que, apesar da inexistência de
obrigatoriedade para os países participantes, trouxe uma série de influências. Para o Brasil, pode-se
dizer que, a partir da referida Conferência, constatou-se o início de uma legislação moderna e
engajada na proteção ao meio ambiente. Durante este período, já na década de 70, a história da
legislação nacional dava conta do surgimento do estudo de impacto ambiental, que teria vindo à
lume através da edição do Decreto-Lei nº 1.413/75.
A Lei nº 6.938/81 representou, em certa medida, uma mudança qualitativa no sistema legal
de proteção ambiental, pois buscou criar um sistema estruturado e organicamente coerente de
medidas a serem adotadas para o alcance dos objetivos fixados já a partir do DL 1.413 de 1975. Vale
lembrar que a Lei nº 6.938/1981 elevou a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) à categoria de
instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Outrossim, é importante ressaltar
que, mesmo com a Lei nº 6.938/1981, os arts. 9º e 10º da Lei nº 6.803/1980 ainda continuam em
vigor, eis que completamente coerentes com a Lei nº 6.938 de 1981. No tocante às avaliações de
estudo de impacto ambiental, temos que a resolução mais importante é a número 1, de 23 de janeiro
de 1986 (alterada pela de nº 237/97). Esta Resolução buscou dar uma regulamentação, a mais
completa possível, sobre o assunto, muito embora diversos assuntos pertinentes ao tema
remanescessem carentes. A mais importante de todas as inovações operadas diz respeito ao fato de
a resolução 1/1986 ter inovado no instituto definido pelo art. 9º, III da Lei 6.938/1981, pois a
Avaliação de Estudo de Impacto Ambiental era efetivada através da realização de EIA e dos
respectivos Relatórios de Impacto Ambiental – RIMA. Posteriormente, a denominação Estudo de
Impacto Ambiental acabou se popularizando. Hoje, bem se sabe que a exigência de estudos de
impacto ambiental, ou de qualquer outra forma de avaliação de impacto ambiental, é medida
tipicamente administrativa e, portanto, praticada pelo Poder Executivo.
Além disso, a Avaliação de Impacto Ambiental – AIA coloca-se como mecanismo de realização
do desenvolvimento sustentável.
Mas afinal, o que é a AIA?
Tendo em vista que qualquer projeto de desenvolvimento interfere no meio ambiente, mas,
igualmente, sendo certo que o crescimento socioeconômico é um imperativo, deve haver
mecanismos que conciliem tais fatores, minimizando os impactos ecológicos negativos. Um desses
mecanismos é a AIA.
Importante não incidir no equívoco reducionista de entender a AIA como apenas o EIA. A
AIA pode ser implementada tanto para projetos que envolvam execução física de obras e processo
de transformação como para políticas e planos que contemplem diretrizes programáticas, limitadas
ao campo das ideias, neste caso denominada Avaliação Ambiental Estratégica. Já o EIA é apenas uma
ferramenta do licenciamento ambiental.
Nos termos da Resolução CONAMA nº 237/97, A AIA, POR ELA DENOMINADA DE “ESTUDOS
AMBIENTAIS”, É GÊNERO DO QUAL SÃO ESPÉCIES TODOS OS ESTUDOS PARA ANÁLISE DA LICENÇA
AMBIENTAL, TAIS COMO: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório
ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área
degradada e análise preliminar de risco. Essas outras espécies de Estudos Ambientais (ou AIAs),
poderão ser requisitadas na hipótese de não se exigir o EIA.
O EIA é um dos instrumentos da PNMA, previsto no art. 225, § 1º, IV, CR/88 e no art. 9º, III,
da PNMA. A PNMA concedeu ao CONAMA a competência para estabelecer normas e critérios para
o licenciamento (e não para licenciar) de atividade efetiva ou potencialmente poluidora.
Não invade a competência dos Estados o estabelecimento dessas normas, desde que gerais,
já que a competência para legislar sobre meio ambiente é concorrente.
O EIA pode ser definido como a análise prévia das prováveis modificações ambientais em
decorrência da implantação de uma obra ou atividade potencialmente nociva. Entretanto, existe
outro conceito trazido pela Resolução nº 1/86 do CONAMA, anotando que é o estudo (procedimento
administrativo) que visa a antecipar “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, que, direta ou indiretamente, afetem a saúde, segurança e o bem-estar
da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente, e a qualidade dos recursos ambientais”, com o escopo de permitir seja verificada a
viabilidade ambiental de obra ou atividade potencialmente causadora de degradação, bem assim as
medidas mitigatórias que deverão ser adotadas visando à redução do mencionado impacto.
Ou ainda: é um mecanismo administrativo preventivo e obrigatório de planejamento
visando à preservação da qualidade ambiental.
Possui natureza jurídica de pré-procedimento administrativo, vinculado ao licenciamento
ambiental, de natureza constitucional (CR, art. 225, § 1º, IV), destinado a avaliar impactos e definir
medidas mitigadoras e/ou compensatórias pela introdução de atividade significativamente
degradante. O EIA é feito antes da concessão da licença prévia, como uma condição à expedição
desta. O EIA deve ser prévio, a luz dos princípios da precaução e prevenção, de forma que um estudo
posterior é considerado anômalo.
O caráter do EIA é preventivo e obrigatório. A CR exige o estudo prévio de impacto ambiental
para as atividades potencialmente poluidoras. É norma de caráter absoluto, que não comporta
exceção (STF, ADI 1.086/SC).
Obrigatoriedade de EIA/RIMA - art. 3º RES. 237/97 CONAMA - A licença ambiental para
empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de
SIGNIFICATIVA degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo
relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a
realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com a regulamentação.
Lista de Atividades Dependentes de EIA/RIMA (EXEMPLIFICATIVA) - art. 2º da RES. 001/86
do CONAMA - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de
impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do
IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais
como:
I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
II - Ferrovias;
III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-
Lei nº 32, de 18.11.66;
V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários
de esgotos sanitários;
VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;
VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como:
barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou
de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação,
retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras,
transposição de bacias, diques;
VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de
Mineração;
X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos
ou perigosos;
XI - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de
energia primária, acima de 10MW;
XII - Complexo e unidades industriais e agroindustriais (petroquímicos,
siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e
cultivo de recursos hídricos);
XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;
XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de
100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos
percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;
XV - Projetos urbanísticos, acima de 100 ha. ou em áreas consideradas
de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos
municipais e estaduais competentes;
XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade
superior a dez toneladas por dia.

Diretrizes do EIA - art. 5º da RES. 001/86 do CONAMA - O estudo de impacto ambiental, além
de atender à legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do
Meio Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais:

I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de


projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto;
II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais
gerados nas fases de implantação e operação da atividade;
III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente
afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto,
considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se
localiza;
IV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em
implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.
Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto
ambiental o órgão estadual competente, ou o IBAMA ou, quando
couber, o Município, fixará as diretrizes adicionais que, pelas
peculiaridades do projeto e características ambientais da área, forem
julgadas necessárias, inclusive os prazos para conclusão e análise dos
estudos.
Conteúdo Mínimo do EIA - art. 6º da RES. 001/86 do CONAMA - O estudo de impacto
ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades técnicas:

I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa


descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como
existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da
implantação do projeto, considerando:
a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os
recursos minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos
d'água, o regime hidrológico, as correntes marinhas, as correntes
atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora,
destacando as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor
científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de
preservação permanente;
c) o meio socioeconômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água
e a socioeconomia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos,
históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre
a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura
desses recursos.
II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas,
através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da
importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os
impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e
indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e
permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades
cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais.
III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre
elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de
despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas.
IV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento
(os impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a
serem considerados.
Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto
Ambiental o órgão estadual competente; ou o IBAMA ou quando
couber, o Município fornecerá as instruções adicionais que se fizerem
necessárias, pelas peculiaridades do projeto e características
ambientais da área.

Responsabilidade pelos Estudos Necessários - art. 11 da RES. 237/97 CONAMA – Os estudos


necessários ao processo de licenciamento deverão ser realizados por profissionais legalmente
habilitados, às EXPENSAS DO EMPREENDEDOR.

Parágrafo único - O empreendedor e os profissionais que subscrevem


os estudos previstos no caput deste artigo serão responsáveis pelas
informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas,
civis e penais.

Já o RIMA é o documento final que reúne os dados do EIA, apresentado ao órgão ou entidade
de meio ambiente, geralmente do Estado-membro no qual se localiza ou se pretende localizar a
atividade. Por ser documento final, deve ser elaborado após encerrado o EIA. Ele sistematiza os
estudos realizados, trazendo de forma concatenada todas as informações obtidas, as discussões da
equipe multidisciplinar, suas conclusões e as propostas decorrentes dos levantamentos efetuados
na fase de estudo, inclusive quanto a “alternativas tecnológicas e de localização do projeto”.
Relatório de Impacto Ambiental - RIMA - art. 9º da RES. 001/86 do CONAMA – O relatório de
impacto ambiental - RIMA refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental e CONTERÁ, NO
MÍNIMO:

I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e


compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas
governamentais;
II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,
especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação
a área de influência, as matérias primas, e mão-de-obra, as fontes de
energia, os processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes,
emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem
gerados;
III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da
área de influência do projeto;
IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e
operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os
horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os
métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação,
quantificação e interpretação;
V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de
influência, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e
suas alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização;
VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas
em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não
puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado;
VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e
comentários de ordem geral).
Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e
adequada a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em
linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e
demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam
entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
consequências ambientais de sua implementação.

Acessibilidade/Publicidade do RIMA - art. 11 da RES. 001/86 do CONAMA - Respeitado o


sigilo industrial, assim solicitando e demonstrando pelo interessado o RIMA será ACESSÍVEL AO
PÚBLICO. Suas cópias permanecerão à disposição dos interessados, nos centros de documentação
ou bibliotecas da SEMA e do órgão estadual de controle ambiental correspondente, inclusive o
período de análise técnica.
§ 1º - Os órgãos públicos que manifestarem interesse, ou tiverem relação direta com o
projeto, receberão cópia do RIMA, para conhecimento e manifestação.
§ 2º - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental e apresentação do RIMA, o
estadual competente ou o IBAMA ou, quando couber o Município, determinará o prazo para
recebimento dos comentários a serem feitos pelos órgãos públicos e demais interessados e, sempre
que julgar necessário, promoverá a realização de AUDIÊNCIA PÚBLICA (RES. CONAMA 009/87) para
informação sobre o projeto e seus impactos ambientais e discussão do RIMA.
(TJPA-2019-CESPE): No caso de uma empresa que pretenda iniciar atividade de mineração no
estado do Pará, o EIA exigido para licenciar essa atividade deverá ser custeado pela empresa, assim
como lhe compete a elaboração desse estudo e do RIMA. BL: art. 2º, IX1 e art. 8º da Res. 01/862 c/c
art. 11 da Res. 237/97.

(TJPB-2011-CESPE): O empreendedor e os profissionais que subscrevam os estudos necessários ao


processo de licenciamento ambiental serão responsáveis pelas informações apresentadas,
sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais em caso de estudos que apresentem dados
falsos ou incorretos. BL: art. 11, § único, Res. 237/97 do Conama.

Audiências Públicas - art. 2º da RES. CONAMA 009/87 - Sempre que julgar necessário, ou
quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinquenta) ou mais
cidadãos, o Órgão de Meio Ambiente promoverá a realização de audiência pública.
§ 1º - O Órgão de Meio Ambiente, a partir da data do recebimento do RIMA, fixará em edital
e anunciará pela imprensa local a abertura do prazo que será no mínimo de 45 dias para solicitação
de audiência pública.
§ 2º - No caso de haver solicitação de audiência pública e na hipótese do Órgão Estadual não
realizá-la, a licença concedida não terá validade.
§ 3º - Após este prazo, a convocação será feita pelo Órgão Licenciador, através de
correspondência registrada aos solicitantes e da divulgação em órgãos da imprensa local.
§ 4º - A audiência pública deverá ocorrer em local acessível aos interessados.
§ 5º - Em função da localização geográfica dos solicitantes, e da complexidade do tema,
poderá haver mais de uma audiência pública sobre o mesmo projeto de respectivo Relatório de
Impacto Ambiental - RIMA.
Ressalta-se que as observações e eventuais críticas levantadas durante a audiência pública
não vincularão a administração pública na concessão da licença.

Segundo o STF, é inconstitucional preceito da Constituição Estadual que submete o RIMA ao


crivo de comissão permanente da Assembleia Legislativa, por atentar contra o Princípio da Separação
dos Poderes.

1.4. Modificação, Suspensão e Cancelamento da Licença Ambiental

Seja em respeito ao princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, seja em


decorrência da má-fé do empreendedor, seja pela superveniência de irregularidades de atividades já
licenciadas, pode uma licença ambiental ser modificada, suspensa ou cancelada antes de findo o seu

1 Art. 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem
submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA e1n caráter supletivo, o licenciamento de atividades
modificadoras do meio ambiente, tais como: (...) IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de
Mineração;
2 Art. 8º da Res. CONAMA 001/86 – Correrão por conta do proponente do projeto todas as despesas e custos referentes á realização

do estudo de impacto ambiental, tais como: coleta e aquisição dos dados e informações, trabalhos e inspeções de campo, análises
de laboratório, estudos técnicos e científicos e acompanhamento e monitoramento dos impactos, elaboração do RIMA e
fornecimento de pelo menos 5 (cinco) cópias.
prazo de validade. O artigo 19 da Resolução CONAMA 237/97 apresenta três hipóteses: (i) violação
ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais; (ii) omissão ou falsa descrição de
informações relevantes que subsidiaram a expedição da licença; e (iii) superveniência de graves riscos
ambientais e de saúde.

1.5. Compensação Ambiental

Compensação ambiental está prevista no art. 36 da Lei nº 9.985/2000, que obriga o


empreendedor a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação, nos casos de
licenciamento ambiental de empreendimentos que causem significativo impacto ambiental, com
fundamento no EIA/RIMA.
Assim, de todo empreendimento que tenha potencial de causar grande impacto ambiental
será cobrado um valor pelo órgão ambiental licenciador, o qual deverá ser destinado às Unidades de
Conservação, preferencialmente as de proteção integral. Considerando que a cobrança é feita no
início do Licenciamento Ambiental, o STF decidiu que se trata de cobrança constitucional:

1. O compartilhamento-compensação ambiental de que trata o art. 36


da Lei no 9.985/2000 não ofende o princípio da legalidade, dado haver
sido a própria lei que previu o modo de financiamento dos gastos com
as unidades de conservação da natureza. De igual forma, não há
violação ao princípio da separação dos Poderes, por não se tratar de
delegação do Poder Legislativo para o Executivo impor deveres aos
administrados. 2. Compete ao órgão licenciador fixar o quantum da
compensação, de acordo com a compostura do impacto ambiental a ser
dimensionado no relatório - EIA/RIMA. 3. O art. 36 da Lei no 9.985/2000
densifica o princípio usuário-pagador, este a significar um mecanismo
de assunção partilhada da responsabilidade social pelos custos
ambientais derivados da atividade econômica. 4. Inexistente
desrespeito ao postulado da razoabilidade. Compensação ambiental
que se revela como instrumento adequado à defesa e preservação do
meio ambiente para as presentes e futuras gerações, não havendo
outro meio eficaz para atingir essa finalidade constitucional. Medida
amplamente compensada pelos benefícios que sempre resultam de um
meio ambiente ecologicamente garantido em sua higidez. 5.
Inconstitucionalidade da expressão "não pode ser inferior a meio por
cento dos custos totais previstos para a implantação do
empreendimento", no § 1o do art. 36 da Lei no 9.985/2000. O valor da
compensação-compartilhamento é de ser fixado proporcionalmente ao
impacto ambiental, após estudo em que se assegurem o contraditório
e a ampla defesa. Prescindibilidade da fixação de percentual sobre os
custos do empreendimento. 6. Ação parcialmente procedente. (ADI
3378, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em
09/04/2008, DJe-112 DIVULG 19-06-2008 PUBLIC 20-06-2008 EMENT
VOL-02324-02 PP-00242 RTJ VOL-00206-03 PP-00993)
Ressalta-se que: (i) o pagamento da compensação não exime o impacto que excedeu ao
previsto. Com isso, o STF acatou que 0,5% é inconstitucional, pois é o órgão ambiental que define o
percentual; e (ii) o pagamento da compensação do art. 36 da Lei nº 9.985/2000 é em dinheiro.

1.6. Regularização das Atividades Instaladas ou em Funcionamento

A Instrução Normativa de nº 184/2008, que dispõe sobre o licenciamento ambiental federal,


prevê, em seu art. 41, que a regularização do licenciamento ambiental de empreendimentos se dará
pela emissão de Licença de Operação, subsidiada por estudos ambientais definidos pela Diretoria
de Licenciamento Ambiental. Não se exige expressamente o EIA.
A Licença de Operação, portanto, deverá ser requerida quando o empreendimento, ou sua
ampliação, está instalado e pronto para operar (licenciamento preventivo) ou para regularizar a
situação de atividades em operação (licenciamento corretivo).

1.7. Crimes Relacionados à Ausência ou Vício no Licenciamento Ambiental e Crimes Contra a


Administração Ambiental

Denotando maior gravidade às condutas perpetradas em desfavor do licenciamento e da


administração ambiental, a Lei 9.605/98 prevê as seguintes condutas típicas:

Lei nº 9.605/98
Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em
qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou
serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos
órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e
regulamentares pertinentes. Pena: detenção, de um a seis meses, ou
multa, ou ambas as penas cumulativamente. (...) Art. 67. Conceder o
funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo
com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja
realização depende de ato autorizativo do Poder Público. Pena:
detenção, de um a três anos, e multa.

2. JURISPRUDÊNCIA

PROCESSO CIVIL. AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. APREENSÃO DE MADEIRA


TRANSPORTADA IRREGULARMENTE. INOBSERVÂNCIA DOS LIMITES CONTIDOS NA GUIA DE
AUTORIZAÇÃO DE TRANSPORTE. LIBERAÇÃO DA QUANTIDADE AUTORIZADA. APLICAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. DESCABIMENTO. EFEITO DISSUASÓRIO
DA LEGISLAÇÃO. RECRUDESCIMENTO DA ATIVIDADE FISCALIZATÓRIA. RECURSO A QUE SE DÁ
PROVIMENTO. 1. Discute-se na ação mandamental a legalidade do auto de infração lavrado por Fiscal
do Ibama que determinou a apreensão de toda a madeira transportada, haja vista a discrepância
entre a respectiva guia de autorização e a quantidade efetivamente contida no veículo. 2. A
efetividade da política de preservação do meio ambiente, especialmente no momento em que a
comunidade internacional lança os olhos sobre o papel das autoridades públicas brasileiras no
exercício de tal mister, atrai para o Judiciário o dever de interpretar a legislação à luz de tal realidade,
recrudescendo a proteção ambiental e a correspondente atividade fiscalizatória. 3. A legislação
ambiental estabelece como efeito imediato da infração a apreensão dos bens e instrumentos
utilizados na prática do ilícito ambiental. Tendo o infrator sido flagrado transportando madeira em
desconformidade com a respectiva guia de autorização, não é possível que o Judiciário flexibilize a
sanção prevista na lei e determine a liberação da quantia anteriormente permitida. Tal postura
compromete a eficácia dissuasória inerente à medida, consistindo em incentivo, sob a perspectiva
da teoria econômica do crime, às condutas lesivas ao meio ambiente. 4. Os critérios de
proporcionalidade e de razoabilidade, no âmbito das sanções ambientais, encontram-se
frequentemente associados à comparação entre o valor econômico do instrumento utilizado no
ilícito e à extensão do dano ambiental. Sob esse contexto, uma singela diferença entre as
quantidades autorizadas na guia de transporte e aquelas efetivamente transportadas deveria
acarretar penalidades mais brandas por parte da autoridade competente. Contudo, tal raciocínio
realizado de forma estanque desconsidera a potencialidade danosa da conduta sob uma
perspectiva global, isto é, sob a ótica da eficácia da lei ambiental e da implementação da política
de defesa do meio ambiente. 5. A técnica de ponderação de interesses deve considerar a especial
proteção jurídica conferida à preservação ambiental, de modo que os interesses meramente
individuais relacionados à livre iniciativa e à proteção da propriedade devem ceder em face da
magnitude dos direitos difusos tutelados. 6. A aferição da extensão do dano ambiental é tarefa
deveras complexa, pois não se limita a avaliar isoladamente o quantitativo que excedeu a autorização
de transporte de madeira previsto na respectiva guia. O equilíbrio ecológico envolve um imbricado
esquema de relações entre seus diversos componentes, de modo que a deterioração de um deles
pode acarretar reflexos imprevisíveis aos demais. Nesse sentido, a gravidade da conduta de quem
transporta madeira em descompasso com a respectiva guia de autorização não se calcula com base
no referido quantitativo em excesso. Sobredita infração compromete a eficácia de todo o sistema de
proteção ambiental, seja no tocante à atividade de planejamento e fiscalização do uso dos recursos
ambientais, seja quanto ao controle das atividades potencial ou efetivamente poluidoras, seja no que
diz respeito à proteção de áreas ameaçadas de degradação. Logo, a medida de apreensão deve
compreender a totalidade da mercadoria transportada, apenando-se a conduta praticada pelo
infrator e não apenas o objeto dela resultante. 7. Recurso especial a que se dá provimento. (REsp
1784755/MT, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/09/2019, DJe
01/10/2019)
CÓDIGO FLORESTAL

1. DISPOSIÇÕES GERAIS

Na linha de proteção ao meio ambiente, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, o art. 225, § 1°, III, da Constituição federal assevera que cabe ao Poder Público
definir ‒ em todas as unidades da federação, isto é, na União, nos estados, no Distrito Federal e nos
municípios, dentro da competência comum administrativa – espaços especialmente protegidos, que
só poderão ser suprimidos ou alterados por lei. O mesmo dispositivo, em seu § 4°, aduz que a
Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a
Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização se fará, na forma da lei, dentro de condições
que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
O Código Florestal de 2012 é norma geral voltada à proteção e uso sustentável das florestas
e das demais formas de vegetação nativa e, como tal, padroniza conceitos, princípios e
procedimentos que devem ser observados e especificados pelos demais entes federativos no
exercício de suas competências ambientais.

A Lei 12.651/12 é impropriamente denominada de Código Florestal, porque ela não se intitula
dessa forma e também não protege apenas florestas, posto que tutela florestas e outras formas de
vegetação nativa, conforme arts. 1-A e 2º da Lei.

Art. 1º-A - Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da


vegetação, áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva
Legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal,
o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção
dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros
para o alcance de seus objetivos.

Princípios - art. 1º, parágrafo único - Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável,
esta Lei atenderá aos seguintes princípios:

I - afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação


das suas florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da
biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e da integridade do
sistema climático, para o bem estar das gerações presentes e futuras;
II - reafirmação da importância da função estratégica da atividade
agropecuária e do papel das florestas e demais formas de vegetação
nativa na sustentabilidade, no crescimento econômico, na melhoria da
qualidade de vida da população brasileira e na presença do País nos
mercados nacional e internacional de alimentos e bioenergia;
III - ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas,
consagrando o compromisso do País com a compatibilização e
harmonização entre o uso produtivo da terra e a preservação da água,
do solo e da vegetação;
IV - responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de
políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa e de
suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais;
V - fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação
para o uso sustentável do solo e da água, a recuperação e a
preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa;
VI - criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a
preservação e a recuperação da vegetação nativa e para promover o
desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis.
OBSERVAÇÃO: Os artigos com maior incidência em provas são os artigos de 4º a 9º, referentes à
APP, e os artigos 12 a 19, que versam sobre reserva legal.

Com essa finalidade, o diploma padroniza conceitos, princípios e procedimentos que devem
ser observados e especificados pelos demais entes federativos no exercício de suas competências
ambientais, de modo que impõe limitações ao exercício do direito de propriedade, como a previsão
de instituir Áreas de Preservação Permanente – APP ou de Áreas de Reserva Legal - ARL, que deverão
ser protegidas pelo proprietário ou possuidor devido à relevância ambiental da vegetação ali situada.
Tais limitações têm por fundamento o princípio constitucional da função socioambiental da
propriedade (art. 5°, inciso XXIII, da CF).
Florestas como Bens de Interesse Comum - art. 2º - As florestas existentes no território
nacional e as demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às terras que revestem,
são BENS DE INTERESSE COMUM a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de
propriedade com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem, o
que reflete a titularidade difusa do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum da população.
A propósito, a exploração ou utilização dos recursos florestais em desacordo com o Código
Florestal é considerado uso irregular da propriedade, sujeitando o infrator a responder civil,
administrativa e criminalmente por sua conduta.
(TJRJ-2012-VUNESP): Com base na Lei 12.651/12, analise a assertiva: A utilização e a exploração
da vegetação de forma contrária à mencionada lei configura uso irregular da propriedade, com
possibilidade de responsabilidades civil, penal e administrativa. BL: art. 2º, §1º do CFLO.
De outro lado, o § 2º, do art. 2°, do Código Florestal, encampando o que vinha decidindo o
STJ sob a égide do antigo Código Florestal, prevê que as obrigações ambientais têm natureza real e
são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse
do imóvel rural. Assim, a aquisição de um imóvel rural ou urbano com um passivo ambiental
responsabilizará o novo proprietário, mesmo que este já tenha adquirido o bem com a degradação
ambiental perpetrada pelo antigo detentor, por tratar-se de uma obrigação propter rem, a exemplo
do dever de recuperar a vegetação nas áreas de preservação permanente e de reserva legal.
Destaque-se, ademais, que a responsabilidade civil por dano ao meio ambiente é objetiva, ou seja,
INDEPENDE DA COMPROVAÇÃO DE DOLO OU CULPA, BASTANDO A COMPROVAÇÃO DO DANO E
DO NEXO CAUSAL (art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81).

(MPSC-2014): As obrigações decorrentes da legislação ambiental possuem natureza "propter


rem". BL: art. 2º, §2º do CFLO.

(TJDFT-2014-CESPE): João instalou, em terreno de sua propriedade, situado na região industrial de


Brasília – DF, um depósito de determinado produto químico. Por descuido de um de seus
funcionários, um galão do produto foi derramado no solo da propriedade. O funcionário decidiu
não relatar o episódio aos seus superiores. Após quatro meses do ocorrido, em razão de dívidas
contraídas com o investimento, João decidiu vender a propriedade e contratou uma empresa de
auditoria ambiental para analisar se havia algum dano na propriedade. Os auditores afirmaram
que havia risco de o produto atingir o lençol freático, o que ainda não ocorrera. O novo comprador,
Pedro, por descuido na análise dos documentos referentes ao imóvel, não observou o laudo
técnico, que apontava risco de contaminação do lençol freático, e continuou a desenvolver a
mesma atividade que João. Após um ano da compra do imóvel, Pedro recebeu a visita de fiscais do
órgão ambiental fiscalizador, que analisavam o solo da região. Após análise da qualidade do solo,
foi constatado que o lençol freático que abastecia a região havia sido contaminado por
derramamento de produto químico no solo. Pedro foi autuado por contaminação do lençol
freático, conforme previsão das normas aplicáveis. Em face dessa situação hipotética e
considerando as normas e a jurisprudência aplicáveis, assinale a opção correta: Pedro pode ser
responsabilizado civilmente, pois a responsabilidade de reparar o dano pode ser atribuída ao
novo proprietário, ainda que este não tenha dado diretamente causa ao dano. BL: art. 2º, §2º do
CFLO.
TRF3 #Prova oral: O passivo ambiental é obrigação propter rem? E no caso de desapropriação
de bem imóvel em que há área degradada?

COMENTÁRIO DA QUESTÃO
Sim, o passivo ambiental é obrigação propter rem, inclusive está sumulado. Ademais,
desapropriação é forma originária de aquisição da propriedade. Ainda assim, o passivo ambiental
também é obrigação propter rem, porque é a lei que estabelece um a limitação administrativa.
O ponto é: o passivo ambiental no caso de desapropriação continua sendo um a obrigação
propter rem, no entendimento do professor Ilan Presser, pois está na lei ou no ato administrativo.
Assim, ainda que a desapropriação seja forma originária de aquisição da propriedade, o passivo
ambiental se adere ao título/ao domínio, de modo que pode ser exigida do Poder Público a
recomposição.
O que não se poderia exigir, na visão do professor, seria um a multa real, porque, com a
transferência originária, são apagados débitos de ITR, multa etc.
No entanto, quanto ao dever de recomposição, pela própria natureza do art. 225, CF - Estado
de Direito Ambiental - e pelos princípios de direito ambiental (com a sustentabilidade e precaução),
não se poderia criar um a exceção referente a quando o Poder Público desapropriasse um a área
já desmatada. Mesma interpretação deve ser dada ao caso de leilão (judicial ou extrajudicial), que
também é forma originária de aquisição da propriedade, no qual a obrigação propter rem persiste,
porque ela prevalece sobre esse fato.
Sobre essa questão não há julgado de tribunal superior, mas, parece ao professor, que é a
opinião m ais adequada ao sistema e m arco normativo regulatório vigente.

A propósito, a outra inovação do Código Florestal foi a previsão de criação do Cadastro


Ambiental Rural - CAR, no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente. Trata-
se de registro público eletrônico de ÂMBITO NACIONAL, OBRIGATÓRIO para todos os imóveis
rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais,
compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e
combate ao desmatamento, devendo ser feito, preferencialmente, no órgão ambiental municipal
ou estadual.
Além do mais, na linha do art. 41, II, “c”, do Código Florestal, o art. 10, § 1º, inciso II, da Lei
9.393/1996 (dispõe sobre o ITR), exclui as áreas de preservação permanente, de reserva legal, sob
regime de servidão ambiental, as declaradas de interesse ecológico, e as cobertas por florestas
nativas, primárias ou secundárias em estágio médio ou avançado de regeneração da área tributável
do Imposto Territorial Rural - ITR.

Definições - art. 3º - Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

I - Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato
Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13° S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste
do meridiano de 44° W, do Estado do Maranhão;
II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação
nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o
bem-estar das populações humanas;

São áreas destinadas exclusivamente à proteção de suas funções ecológicas e, como regra
geral, são caracterizadas pela intocabilidade e vedação de uso econômico direto. Constitui uma
limitação restritiva calcada no princípio constitucional da função socioambiental da propriedade.
Definição recorrente em provas de primeira fase.

III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse RURAL,
delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável
dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos
ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna
silvestre e da flora nativa; (Definição recorrente em provas de primeira fase).

ATENÇÃO!! A Reserva Legal e a APP têm natureza jurídica de limitação administrativa.

IV - área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22
de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste
último caso, a adoção do regime de pousio;
#CRÍTICA

Abrangência do Novo Código Florestal: o antigo (primeiro Código Florestal, de 1934)


tratava de todas as florestas brasileiras, com ênfase na produção de madeira. Tratava dos
monumentos naturais, florestas protetoras, florestas de rendimentos (produção de madeira),
florestas remanescentes (as demais). O de 1965 manteve basicamente os institutos do anterior,
mas sua abrangência diminuiu com o tempo (criação da Lei das Unidades de Conservação, Lei da
Mata Atlântica, Lei de diversidade biológica, Lei de Gestão das Florestas Públicas etc. – leis
especiais que tiraram do âmbito do Código de 65 sua regulamentação. Assim, o “Código Florestal”
ficou reservado, praticamente, apenas para áreas particulares). Porém, mantendo a tradição, nos
referimos à Lei nº 12.651/12 como Novo Código Florestal - NCF.
Destaca-se que o Novo Códigos Florestal foi objeto de acirrada discussão no Congresso,
tendo sido vários dispositivos da nova lei vetados pela Presidente, sob pressão, principalmente de
grupos ambientalistas. Criou-se até, à época, um movimento denominado “Veta, Dilma”, com a
participação de autoridades, artistas, do Greenpeace. Diz-se que o NCF foi fruto de proposta da
bancada ruralista no Parlamento.
O principal aspecto negativo apontado pelos maiores críticos foi a instituição das
chamadas “ÁREAS CONSOLIDADAS”, espaços degradados por desobediência à legislação
anterior e que tiveram legitimadas as utilizações, conforme se observa dos artigos que se seguem
do 61-A ao 68. A definição dessas áreas consta do art. 3º.
Houve, assim, o reconhecimento cabal de fatos consumados sem adequadas medidas de
efetiva de recuperação do que foi desmatado no passado, premiando quem descumpriu a lei. Já
os seus defensores asseveram que as áreas consolidadas foram criadas para compatibilizar a
proteção do meio ambiente com as atividades já realizadas, por motivo de segurança jurídica.
Essa opção legislativa contraria a jurisprudência pacífica dos tribunais pátrios no sentido de
não se aplicar a Teoria do Fato Consumado em matéria ambiental. Entendimento esse expressado,
inclusive, em recente súmula do STJ, cuja aprovação ocorreu em 09/05/2018:
Súmula 613 - Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito
Ambiental.

V - pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada mediante o trabalho


pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos
de reforma agrária, e que atenda ao disposto no art. 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006;

VI - uso alternativo do solo: substituição de vegetação nativa e formações sucessoras por


outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias, industriais, de geração e transmissão de
energia, de mineração e de transporte, assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação
humana;

VII - manejo sustentável: administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios


econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema
objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas
espécies madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização
de outros bens e serviços;

VIII - utilidade pública:

a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;


b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços
públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos
parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios,
saneamento, gestão de resíduos (expressão declarada
inconstitucional), energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações
necessárias à realização de competições esportivas estaduais,
nacionais ou internacionais (expressão declarada inconstitucional),
bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia,
argila, saibro e cascalho; (Vide ADIN Nº 4.937) (Vide ADC Nº 42) (Vide
ADIN Nº 4.903)

O STF entendeu que não se pode aceitar que um Estado, “ao qual é imposta
constitucionalmente a defesa e preservação do meio ambiente, conceba a gestão de resíduos e o
lazer como hipóteses de intervenção e supressão de vegetação em áreas de preservação
permanente e em áreas de uso restrito”. Dessa forma, para a Corte não se mostra compatível com
o art. 225 da CF/88 permitir a relativização da proteção da vegetação nativa para “gestão de
resíduos” ou para a “realização de competições esportivas”.

c) atividades e obras de defesa civil;


d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na
proteção das funções ambientais referidas no inciso II deste artigo;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas
em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa
técnica e locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do
Chefe do Poder Executivo federal;

O STF deu interpretação conforme a CF ao art. 3º, VIII, para condicionar a intervenção
excepcional em APP, POR UTILIDADE PÚBLICA, À INEXISTÊNCIA DE ALTERNATIVA TÉCNICA E/OU
LOCACIONAL À ATIVIDADE PROPOSTA. Segundo o STF, a previsão do art. 3º, VIII, é constitucional,
porém a interpretação a ser dada é a de que apenas pode haver intervenção em área de proteção
permanente (APP) EM CASOS EXCEPCIONAIS E DESDE QUE COMPROVADA A INEXISTÊNCIA DE
ALTERNATIVA TÉCNICA E/OU LOCACIONAL À ATIVIDADE PROPOSTA.

IX - interesse social:
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação
nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da
erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies
nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena
propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades
tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal
existente e não prejudique a função ambiental da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e
atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais
consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta Lei;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados
predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas
consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei nº 11.977,
de 7 de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de
água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são
partes integrantes e essenciais da atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho,
outorgadas pela autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas
em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa
técnica e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do
Poder Executivo federal;

O STF deu interpretação conforme a CF ao art. 3º, IX, para condicionar a intervenção
excepcional em APP, POR INTERESSE SOCIAL, À INEXISTÊNCIA DE ALTERNATIVA TÉCNICA E/OU
LOCACIONAL À ATIVIDADE PROPOSTA. Segundo o STF, a previsão do art. 3º, VIII, é constitucional,
porém a interpretação a ser dada é a de que apenas pode haver intervenção em área de proteção
permanente (APP) EM CASOS EXCEPCIONAIS E DESDE QUE COMPROVADA A INEXISTÊNCIA DE
ALTERNATIVA TÉCNICA E/OU LOCACIONAL À ATIVIDADE PROPOSTA.
X - atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental:

a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e


pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso d'água, ao
acesso de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de
produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável;
b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de
água e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito
de uso da água, quando couber;
c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;
d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno
ancoradouro;
e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de
comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e
tradicionais em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo
esforço próprio dos moradores;
f) construção e manutenção de cercas na propriedade;
g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros
requisitos previstos na legislação aplicável;
h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e
produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a
legislação específica de acesso a recursos genéticos;
i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas
e outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da
vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área;
j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário
e familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros,
desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente
nem prejudiquem a função ambiental da área;
k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e
de baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio
Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;

XII - vereda: fitofisionomia de savana, encontrada em solos hidromórficos, usualmente com


a palmeira arbórea Mauritia flexuosa - buriti emergente, sem formar dossel, em meio a
agrupamentos de espécies arbustivo-herbáceas;
XIII - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das
marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a
vegetação natural conhecida como mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de
regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do
Amapá e de Santa Catarina;

XIV - salgado ou marismas tropicais hipersalinos: áreas situadas em regiões com frequências
de inundações intermediárias entre marés de sizígias e de quadratura, com solos cuja salinidade varia
entre 100 (cem) e 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), onde pode ocorrer a presença de
vegetação herbácea específica;

XV - apicum: áreas de solos hipersalinos situadas nas regiões entremarés superiores,


inundadas apenas pelas marés de sizígias, que apresentam salinidade superior a 150 (cento e
cinquenta) partes por 1.000 (mil), desprovidas de vegetação vascular;

XVI - restinga: depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente alongada,
produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem
influência marinha, com cobertura vegetal em mosaico, encontrada em praias, cordões arenosos,
dunas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivo
e arbóreo, este último mais interiorizado;

XVII - nascente: afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade (e também
intermitentes) e dá início a um curso d'água;
##Atenção: ##STF: ##DOD: ##MPSC-2019: Deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao
art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para fixar a interpretação de que os entornos das nascentes e dos
olhos d´água intermitentes configuram área de preservação permanente. STF. Plenário. ADC
42/DF, ADI 4901/DF, ADI 4902/DF, ADI 4903/DF e ADI 4937/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 28/2/18 (Info
892).

##Comentários sobre o julgado acima: ##DOD: A definição de nascente envolve perenidade


(característica do que é perene = duradouro). Ocorre que o STF afirmou que não se pode negar
proteção também aos entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes. Assim, a
interpretação deve ser a de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água, mesmo que
intermitentes, também configuram área de preservação permanente.

O STF deu interpretação conforme a CF ao art. 3º, XVII, para estabelecer a interpretação de
que os entornos das nascentes, ainda que INTERMITENTES, configuram área de preservação
permanente.

XVIII - olho d'água: afloramento natural do lençol freático, mesmo que


intermitente;
XIX - leito regular: a calha por onde correm regularmente as águas do
curso d'água durante o ano;
XX - área verde urbana: espaços, públicos ou privados, com predomínio
de vegetação, preferencialmente nativa, natural ou recuperada,
previstos no Plano Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do
Solo do Município, indisponíveis para construção de moradias,
destinados aos propósitos de recreação, lazer, melhoria da qualidade
ambiental urbana, proteção dos recursos hídricos, manutenção ou
melhoria paisagística, proteção de bens e manifestações culturais;
XXI - várzea de inundação ou planície de inundação: áreas marginais a
cursos d'água sujeitas a enchentes e inundações periódicas;
XXII - faixa de passagem de inundação: área de várzea ou planície de
inundação adjacente a cursos d'água que permite o escoamento da
enchente;
XXIII - relevo ondulado: expressão geomorfológica usada para designar
área caracterizada por movimentações do terreno que geram
depressões, cuja intensidade permite sua classificação como relevo
suave ondulado, ondulado, fortemente ondulado e montanhoso.
XXIV - pousio: prática de interrupção temporária de atividades ou usos
agrícolas, pecuários ou silviculturais, por no máximo 5 (cinco) anos,
para possibilitar a recuperação da capacidade de uso ou da estrutura
física do solo;
XXV - áreas úmidas: pantanais e superfícies terrestres cobertas de
forma periódica por águas, cobertas originalmente por florestas ou
outras formas de vegetação adaptadas à inundação;
XXVI - área urbana consolidada: aquela de que trata o inciso II do caput
do art. 47 da Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009; e
XXVII - crédito de carbono: título de direito sobre bem intangível e
incorpóreo transacionável.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, estende-se o tratamento
dispensado aos imóveis a que se refere o inciso V deste artigo às
propriedades e posses rurais com até 4 (quatro) módulos fiscais que
desenvolvam atividades agrossilvipastoris, bem como às terras
indígenas demarcadas (expressão declarada inconstitucional) e às
demais áreas tituladas (expressão declarada inconstitucional) de
povos e comunidades tradicionais que façam uso coletivo do seu
território. (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.903)

O STF declarou a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, de


forma que tais terras e áreas poderão receber o tratamento diferenciado mesmo sem demarcação
e titulação. Para a Corte, a titulação do território das comunidades tradicionais e dos povos
indígenas REPRESENTA APENAS UMA FORMALIDADE DE CARÁTER DECLARATÓRIO.
Dessa forma, mesmo sem demarcação ou titulação, tais territórios já existem e devem
receber tratamento diferenciado independentemente das formalidades. Ante o exposto, tal
exclusão ocorreu para beneficiar os povos indígenas e as comunidades tradicionais.
Importante a memorização das definições, posto que muito recorrentes em provas de
primeira fase.
Precisa ser registrada no Cadastro Ambiental
Reserva Legal (RL)
Rural - CAR
Não precisa ser registrada no Cadastro
Área de Preservação Permanente (APP)
Ambiental Rural - CAR
#ATENÇÃO: As APP’s e as áreas de Reservar Legal, bem como outros espaços territoriais
especialmente protegidos, estão isentas do pagamento do Imposto Territorial Rural – ITR, de
acordo com a Lei n. 9.393/96.

2. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

As Áreas de Preservação Permanente – APPs são localizações definidas pelo Código Florestal
ou por regulamento específico onde a rigor não são permitidas as alterações antrópicas ‒ como um
desmatamento ou uma construção, ou seja, as interferências do homem sobre o meio ambiente ‒
cuja finalidade é deixar determinadas áreas a salvo do desenvolvimento econômico e da degradação.
Conceito de Área de Preservação Permanente - É a área protegida, COBERTA OU NÃO POR
VEGETAÇÃO NATIVA, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas.
São áreas destinadas exclusivamente à proteção de suas funções ecológicas caracterizadas,
como regra geral, pela intocabilidade e proibição de uso econômico.
A inexistência de vegetação não descaracteriza a área como sendo de preservação
permanente. Dessa forma, as áreas com características e funções de uma APP, coberta ou não por
vegetação, serão protegidas nos termos da lei.
Com o a APP é coberta ou não por vegetação nativa, não desnatura a APP o fato de ela estar
desmatada. Assim, se houver desmatamento, continua sendo APP e continua tendo a função
ambiental de preservar recursos hídricos, paisagens, estabilidade geológica, biodiversidade e facilitar
o fluxo gênico da fauna e flora.
Nota-se que a definição de APP até parece um pouco com a definição de Unidade de
Conservação. Além disso, verifica-se que o aspecto socioambiental é forte, pois o conceito de APP
prevê o bem-estar da população humana e, com isso, a existência e qualidade de vida da existência,
incluindo a dos demais recursos ou fatores ambientais.
A APP é sempre mais ampla do que a Área de Reserva Legal; ela já está imposta pela
legislação. O Código Florestal já define rigorosamente quais são estas áreas e já faz uma proteção
imediata. A APP atinge tanto a área urbana, quanto a rural, pública e privada.
Instituição das APPs - As áreas de preservação permanente podem ser instituídas por LEI (art.
4º) ou por ATO DO PODER EXECUTIVO (art. 6º). Tem-se as APPs criadas por lei e as APPs criadas por
ato do Poder Executivo. Já a reserva legal sempre é criada por lei, 80% , 35% ou 20% .
Importante consignar que, como as APPs previstas no art. 4º do Código Florestal de 2012 são
instituídas diretamente pela Lei, independem, em regra (exceção: reservatórios d'água artificiais), da
adoção de qualquer providência de demarcação pela Administração.
Dessa forma, configuram-se como verdadeira limitação administrativa ao direito de uso da
propriedade, sendo INCABÍVEL, EM REGRA, QUALQUER TIPO DE INDENIZAÇÃO aos proprietários
em virtude de tal regime jurídico.
Logo, se envolver espaços territoriais específicos, essa modalidade de APP não deve ser
classificada como limitação administrativa, podendo ser classificada como desapropriação indireta
e gerar direito à indenização para o proprietário.
Áreas de Preservação Permanente Instituídas por Lei (Importante Memorização) - art. 4º -
Considera-se Área de Preservação Permanente, EM ZONAS RURAIS OU URBANAS, para os efeitos
desta Lei:
(MPGO-2014): A área de preservação permanente poderá estar situada em zonas rurais ou
urbanas, áreas públicas ou particulares, podendo estar coberta ou não por vegetação nativa. BL:
art. 3º, II3 e art. 4º, caput do CFlo.

I - as faixas marginais de qualquer curso d'água natural PERENE E


INTERMITENTE, EXCLUÍDOS OS EFÊMEROS, DESDE A BORDA DA
CALHA DO LEITO REGULAR, em largura mínima de (MATAS CILIARES):
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d'água de menos de 10 (dez)
metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d'água que tenham de 10 (dez)
a 50 (cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d'água que tenham de 50
(cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d'água que tenham de 200
(duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d'água que tenham largura
superior a 600 (seiscentos) metros;
Largura do curso d’água Extensão da APP
Curso d’água com menos de 10 metros de Faixa de 30 (trinta) metros
largura
Cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 Faixa de 50 (trinta) metros
(cinquenta) metros de largura
Cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a Faixa de 100 (cem) metros
200 (duzentos) metros de largura
Para os cursos d’água que tenham largura Faixa de 500 (quinhentos) metros
superior a 600 (seiscentos) metros

3Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: (...) II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou
não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e
a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;
Vale ressaltar que a linha inicial de demarcação da largura das APPs foi alterada, reduzindo a
dimensão das APPs: mede-se, agora, não a partir do nível mais alto do corpo de água (nível
alcançado com a cheia sazonal), mas sim da “da borda da calha do leito regular”.

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com


largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, EM ZONAS RURAIS, exceto para o corpo d'água
com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50
(cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em ZONAS URBANAS;

§ 6º Nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, é admitida,


nas áreas de que tratam os incisos I (Matas Ciliares) e II (entorno de
lagos e lagoas naturais) do caput deste artigo, a prática da aquicultura
e a infraestrutura física diretamente a ela associada, desde que:
I - sejam adotadas práticas sustentáveis de manejo de solo e água e de
recursos hídricos, garantindo sua qualidade e quantidade, de acordo
com norma dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;
II - esteja de acordo com os respectivos planos de bacia ou planos de
gestão de recursos hídricos;
III - seja realizado o licenciamento pelo órgão ambiental competente;
IV - o imóvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural - CAR.
V - não implique novas supressões de vegetação nativa.
III - as áreas no entorno dos RESERVATÓRIOS D'ÁGUA ARTIFICIAIS,
decorrentes de barramento ou represamento de cursos d'água
naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento;

Como é possível perceber, este inciso não tem aplicabilidade imediata, pois depende da
licença ambiental para delimitar sua dimensão.

§ 1º Não será exigida Área de Preservação Permanente no entorno de


reservatórios artificiais de água que não decorram de barramento ou
represamento de cursos d'água naturais.

(MPGO-2019): Segundo o disposto na Lei 12.651/2012 (Código Florestal), é correto afirmar: Não
será exigida área de preservação permanente no entorno de reservatórios artificiais de água que
não decorram de barramento ou represamento de cursos d'água naturais. BL: art. 4º, §1º, CFlo.
§ 4º Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície
inferior a 1 (um) hectare, fica dispensada a reserva da faixa de proteção
prevista nos incisos II e III do caput, vedada nova supressão de áreas de
vegetação nativa, salvo autorização do órgão ambiental competente do
Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama.
IV - as áreas no ENTORNO DAS NASCENTES E DOS OLHOS D'ÁGUA
PERENES (ou intermitentes), qualquer que seja sua situação
topográfica, no raio MÍNIMO DE 50 (CINQUENTA) METROS;
O STF deu interpretação conforme a CF ao art. 4º, IV, para estabelecer a interpretação de
que os entornos das nascentes e dos olhos d´água, ainda que INTERMITENTES configuram Área De
Preservação Permanente - APP.
Ressalta-se que a doutrina majoritária entende que o Poder Público pode aumentar o
tamanho desta APP, posto que a legislação prevê apenas um raio MÍNIMO de 50 metros.
(MPSC-2019): De acordo com decisão proferida pelo STF, no julgamento da ADI 4.903, foi
reconhecida a caracterização das nascentes e olhos d'água intermitentes como áreas de
preservação permanente, de modo que, atualmente, a proteção do entorno destas áreas abrange
o raio mínimo de 50 (cinquenta) metros no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes e
intermitentes, nos termos do art. 4º, IV, da Lei Federal n. 12.651/2012. BL: Info 892, STF.

V - as ENCOSTAS ou partes destas com declividade superior a 45°,


equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive;

VI - as RESTINGAS, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de


mangues;

VII - os MANGUEZAIS, em toda a sua extensão;


VIII - as BORDAS DOS TABULEIROS OU CHAPADAS, até a linha de
ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em
projeções horizontais;

IX - no TOPO DE MORROS, MONTES, MONTANHAS E SERRAS, com


altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°,
as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3
(dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base,
sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou
espelho d'água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do
ponto de sela mais próximo da elevação;

A proteção das florestas e demais formas de vegetação que se encontrem no topo dos
morros, montes, montanhas e serras tem a finalidade de preservar a integridade dos acidentes
geográficos, evitando, ainda, enchentes e inundações nos térreos mais baixos (a vegetação constitui
barreira natural).
Ademais, o simples efeito da vigência do Código Florestal fez com que as restingas, fixadoras
de dunas ou estabilizadoras de mangue, fossem consideradas como de preservação permanente.
As florestas de preservação permanente por efeito da lei só podem ser suprimidas por outra
lei, diante do princípio da similitude das formas.
#DIZERODIREITO #STJ: A legislação municipal não pode reduzir o patamar mínimo de proteção
marginal dos cursos d'água, em toda sua extensão, fixado pelo Código Florestal. A norma federal
conferiu uma proteção mínima, cabendo à legislação municipal apenas intensificar o grau de
proteção às margens dos cursos d'água, ou quando muito, manter o patamar de proteção (jamais
reduzir a proteção ambiental). STJ. 2ª Turma. AREsp 1.312.435-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado
em 07/02/2019 (Info 643).

X - as ÁREAS EM ALTITUDE SUPERIOR A 1.800 (MIL E OITOCENTOS)


METROS, qualquer que seja a vegetação;

(MPSC-2013): Conforme a Lei 12.651/12, as áreas em altitude superior a 1.800 metros, qualquer
que seja a vegetação, considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas.
BL: art. 4º, X, do CFlo.

XI - em VEREDAS, a faixa marginal, em projeção horizontal, com


largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço
permanentemente brejoso e encharcado.

Autorização para “Agricultura de Vazante” - art. 4º, § 5º - É admitido, para a pequena


propriedade ou posse rural familiar, de que trata o inciso V do art. 3º desta Lei, o plantio de culturas
temporárias e sazonais de vazante de ciclo curto na faixa de terra que fica exposta no período de
vazante dos rios ou lagos, desde que não implique supressão de novas áreas de vegetação nativa,
seja conservada a qualidade da água e do solo e seja protegida a fauna silvestre.

2.1. FLORESTAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE POR ATO DO PODER PÚBLICO:

A instituição dessas áreas de preservação permanente, através de ato administrativo


(Decreto, via de regra), possui conteúdo declaratório. Preenchidos os requisitos do art. 6º, a
Administração deverá editar o decreto declaratório da área de preservação permanente. É
declaratório, pois “as áreas que ora estão sendo tratadas já são consideradas protegidas desde a
edição do Código Florestal”.
Áreas de Preservação Permanente Instituídas por Ato do Executivo - art. 6º - Consideram-
se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de INTERESSE SOCIAL por ato do Chefe
do Poder Executivo (Prefeito, Governador ou Presidente), as áreas cobertas com florestas ou outras
formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:
(TJAM-2016-CESPE): Considerando que se confere especial proteção ambiental a áreas com
características ambientais relevantes, assinale a opção correta: A identificação física de
determinadas APPs depende da edição de ato normativo, sendo outras APPs identificáveis por sua
localização, a partir de mera aplicação do Código Florestal. BL: arts. 4º e 6º, CFlo.

(TJPB-2011-CESPE): Com relação às APPs, assinale a opção correta: Admite-se a instituição de


APPs tanto por lei quanto por ato do poder público, que, de forma discricionária, decidirá da
conveniência ou da necessidade de instituí-las com base em critérios legalmente
preestabelecidos. BL: art. 6º do CFlo.

(TJCE-2018-CESPE): Com base no Código Florestal - Lei 12.651/12 -, assinale a opção correta: Uma
área coberta de florestas e que exerce a função de proteger várzeas pode ser considerada de
preservação permanente se declarada de interesse social por ato do chefe do Poder Executivo. BL:
art. 6º, III, CFlo.

I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos


de terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural
ou histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades
militares.
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância
internacional.

Reservatório D'água Artificial Destinado a Geração de Energia ou Abastecimento Público -


art. 5º - Na implantação de reservatório d'água artificial destinado a geração de energia ou
abastecimento público, É OBRIGATÓRIA A AQUISIÇÃO, DESAPROPRIAÇÃO OU INSTITUIÇÃO DE
SERVIDÃO ADMINISTRATIVA pelo empreendedor das Áreas de Preservação Permanente criadas em
seu entorno, conforme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a faixa mínima de
30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em ÁREA RURAL, e a faixa mínima de 15 (quinze)
metros e máxima de 30 (trinta) metros em ÁREA URBANA.
(MPMG-2013): Sobre o novo Código Florestal (Lei 12.651/12), é correto afirmar-se: Para a
implementação de reservatório d'água artificial destinado à geração de energia ou abastecimento
público, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão administrativa pelo
empreendedor das Áreas de Preservação Permanente criadas em seu entorno, conforme
estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a faixa mínima de 30 (trinta) metros e
máxima de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa mínima de 15 (quinze) metros e máxima de 30
(trinta) metros em área urbana. BL: art. 5º, CFLo.

§ 1º Na implantação de reservatórios d'água artificiais de que trata o


caput, o empreendedor, no âmbito do licenciamento ambiental,
elaborará Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do
Reservatório, em conformidade com termo de referência expedido pelo
órgão competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama,
não podendo o uso exceder a 10% (dez por cento) do total da Área de
Preservação Permanente.
§ 2º O Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de
Reservatório Artificial, para os empreendimentos licitados a partir da
vigência desta Lei, deverá ser apresentado ao órgão ambiental
concomitantemente com o Plano Básico Ambiental e aprovado até o
início da operação do empreendimento, não constituindo a sua
ausência impedimento para a expedição da licença de instalação.

2.2. REGIME DE PROTEÇÃO DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE:

A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantida pelo


proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito
público ou privado.
Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de Preservação Permanente, o
proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título é obrigado a promover a
recomposição da vegetação, ressalvados os usos autorizados pelo código (obrigação propter rem).
A obrigação prevista tem natureza real (propter rem) e é transmitida ao sucessor no caso de
transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
A supressão só pode ser autorizada mediante prévio procedimento administrativo, no qual
fique comprovada a utilidade pública ou interesse social e a inexistência de alternativa técnica e
locacional para o empreendimento.
A autorização é da competência do órgão ambiental estadual, com anuência prévia, quando
cabível, do órgão federal ou municipal competente (arts. 10; 11-A, III; 26, N. Código Florestal).
No caso de supressão não autorizada de vegetação realizada após 22 de julho de 2008, é
vedada a concessão de novas autorizações de supressão de vegetação, enquanto não cumpridas
as obrigações de recomposição.
A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente
somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto
ambiental.
Houve grande alargamento das hipóteses de utilidade pública e interesse social, que
permitem a intervenção na APP e a supressão de sua vegetação.
É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em caráter de
urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à
prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.
É permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de Preservação Permanente para
obtenção de água e para realização de atividades de baixo impacto ambiental.
Supressão de vegetação em área de Supressão da própria área de preservação
preservação permanente permanente
A supressão de vegetação em APP pode ser A supressão de uma APP só pode ser
autorizada mediante ato administrativo. autorizada mediante lei, de acordo com o
inciso III do § 1º do art. 225 da CF.
Responsabilidade pela Proteção/Recuperação das APPs - art. 7º - A vegetação situada em
Área de Preservação Permanente DEVERÁ SER MANTIDA PELO PROPRIETÁRIO DA ÁREA,
POSSUIDOR OU OCUPANTE A QUALQUER TÍTULO, PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA, DE DIREITO
PÚBLICO OU PRIVADO.

§ 1º Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de


Preservação Permanente, o proprietário da área, possuidor ou
ocupante a qualquer título é obrigado a promover a recomposição da
vegetação, ressalvados os usos autorizados previstos nesta Lei.

Ressalte-se, como já visto, que a jurisprudência tem reconhecido a responsabilidade objetiva


e solidária do poder público diante de omissão fiscalizatória que repercuta como causa de dano
ambiental:

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO


CLANDESTINO. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DEVER DE
FISCALIZAÇÃO DO ESTADO. OMISSÃO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA
E SOLIDÁRIA. REEXAME DOS ELEMENTOS DE COGNIÇÃO DOS AUTOS.
DESCABIMENTO. SÚMULA 7/STJ. (...) 4. O Superior Tribunal de Justiça
firmou o entendimento de que o ente federado tem o dever de
fiscalizar e preservar o meio ambiente e combater a poluição
(Constituição Federal, art. 23, VI, e art. 3º da Lei 6.938/1981), podendo
sua omissão ser interpretada como causa indireta do dano (poluidor
indireto), o que enseja sua responsabilidade objetiva. Precedentes:
AgRg no REsp 1.286.142/SC, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, DJe 28/2/2013; AgRg no Ag 822.764/MG, Rel. Ministro
José Delgado, Primeira Turma, DJ 2/8/2007; REsp 604.725/PR, Rel.
Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ 22/8/2005. (REsp
1666027/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 19/10/2017, DJe 01/02/2018)

§ 2º A OBRIGAÇÃO PREVISTA NO § 1º TEM NATUREZA REAL E É


TRANSMITIDA AO SUCESSOR NO CASO DE TRANSFERÊNCIA DE
DOMÍNIO OU POSSE DO IMÓVEL RURAL (Propter Rem).
(TJPR-2017-CESPE): O MP ajuizou ACP por dano ambiental contra um cidadão, por ter sido
constatada edificação em área de preservação permanente dentro de sua propriedade. O órgão
pediu a condenação na forma de obrigação de fazer a reparação in natura e de pagamento de
indenização em pecúnia. Em sua defesa, o réu alegou que a edificação foi feita pelo proprietário
anterior, que a área era previamente desmatada e que comprou o imóvel desconhecendo a condição
de APP daquele local. Nessa situação hipotética, as obrigações do réu em relação à APP têm
natureza propter rem. BL: art. 2º, §2º4 c/c art. 7º, §2º do CFLo e Entendimento Jurisprud.

4Art. 2º. (...) § 2º As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza,
no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
(TJSP-2014-VUNESP): Anos após adquirir a propriedade de um pequeno sítio, localizado em área
de preservação ambiental, “A” é notificado pela fiscalização da autoridade ambiental competente,
no sentido de que tal área apresentaria sinais de degradação. Ao adquirir o imóvel, “A” estava
ciente da referida restrição, bem como da mencionada degradação, que era preexistente. A partir
dessa premissa, assinale a opção correta: “A” é responsável, ainda que não tenha sido quem causou
a degradação da área, na medida em que a responsabilidade, in casu, deriva de obrigação propter
rem. BL: 7º, §§1º e 2º do CFlo e jurisprudência do STJ.

§ 3º No caso de supressão não autorizada de vegetação realizada após


22 de julho de 2008, é vedada a concessão de novas autorizações de
supressão de vegetação enquanto não cumpridas as obrigações
previstas no § 1º. (Vide ADIN Nº 4.937) (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN
Nº 4.902) (Vide ADIN Nº 4.903)

Exceções à Proteção Permanente - art. 8º - A intervenção ou a supressão de vegetação nativa


em Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de UTILIDADE PÚBLICA (art.
3º, VIII), DE INTERESSE SOCIAL (art. 3º, IX) OU DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL (art. 3º, X) previstas
nesta Lei.
Supressão da Vegetação Protetora de Nascentes por Utilidade Pública - § 1º A supressão de
vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas somente poderá ser autorizada em caso
de utilidade pública.
Intervenção em Restingas e Manguezais - § 2º A intervenção ou a supressão de vegetação
nativa em Área de Preservação Permanente de que tratam os incisos VI (restingas) e VII (manguezais)
do caput do art. 4º poderá ser autorizada, excepcionalmente, em locais onde a função ecológica do
manguezal esteja comprometida, para execução de obras habitacionais e de urbanização, inseridas
em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas urbanas consolidadas ocupadas
por população de baixa renda.
Dispensa de Autorização para Atividades de Segurança Nacional e Obras de Interesse da
Defesa Civil - § 3º É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em
caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil
destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.

§ 4º Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de


futuras intervenções ou supressões de vegetação nativa, além das
previstas nesta Lei.
(TJRS-2018-VUNESP): Considerando o disposto no Código Florestal – Lei 12.651/12, é correta a
seguinte afirmação: não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras
intervenções ou supressões de vegetação nativa, além das previstas na Lei 12.651/12. BL: art. 8º,
§4º, CFlo.

Memorizar os conceitos de utilidade pública; interesse social e baixo impacto ambiental.


Permissão de Acesso - art. 9º - É permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de
Preservação Permanente para OBTENÇÃO DE ÁGUA E PARA REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES DE BAIXO
IMPACTO AMBIENTAL.
Desapropriação em APP - Em caso de desapropriação de imóvel por utilidade pública ou
interesse social, entende a melhor doutrina que deve-se excluir do valor da indenização a cobertura
florestal em APP, posto que a regra é a impossibilidade de supressão da vegetação.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: É inconstitucional lei estadual prevendo que é possível a
supressão de vegetal em Área de Preservação Permanente (APP para a realização de “pequenas
construções com área máxima de 190 metros quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer”.
Essa lei possui vícios de inconstitucionalidade formal e material. Há inconstitucionalidade formal
porque o Código Florestal (lei federal que prevê as normas gerais sobre o tema, nos termos do art.
24, § 1º, da CF/88) não permite a instalação em APP de qualquer tipo de edificação com finalidade
meramente recreativa. Existe também inconstitucionalidade material porque houve um excesso
e abuso da lei estadual ao relativizar a proteção constitucional ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, cujo titular é a coletividade em face do direito de lazer individual. STF. Plenário. ADI
4988/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/9/2018 (Info 916).

3. ÁREAS DE USO RESTRITO

Exploração - art. 10 - Nos PANTANAIS e PLANÍCIES PANTANEIRAS, é permitida a exploração


ecologicamente sustentável, devendo-se considerar as recomendações técnicas dos órgãos oficiais
de pesquisa, ficando novas supressões de vegetação nativa para uso alternativo do solo
condicionadas à autorização do órgão estadual do meio ambiente, com base nas recomendações
mencionadas neste artigo.

Art. 11 - Em áreas de inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos o


manejo florestal sustentável e o exercício de atividades
agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física
associada ao desenvolvimento das atividades, observadas boas práticas
agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as
hipóteses de utilidade pública e interesse social.

4. RESERVA LEGAL

Conceito - É área localizada no interior de uma propriedade ou posse RURAL (inexistente em


área urbana), delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo
sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção
de fauna silvestre e da flora nativa.
Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto e as áreas
adquiridas ou desapropriadas para implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias
não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal. Além disso, não será exigido Reserva Legal
relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização
para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de
geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição
de energia elétrica (§§ 6°, 7° e 8°, do art. 12, do Código Florestal).
Natureza Jurídica - Considerando que as reservas legais são genéricas e decorrem
diretamente da Lei, entende-se que têm natureza jurídica de LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA AO
DIREITO DE USO DA PROPRIEDADE calcada na sua função socioambiental da propriedade prevista
constitucionalmente, NÃO SENDO ASSIM INDENIZÁVEIS.
Destaca-se que as áreas de reserva legal estão abrangidas pelo conceito de espaço territorial
especialmente protegido previsto no art. 225, parágrafo 1º, III da CF.
Inserção do Imóvel Rural em Perímetro Urbano - art. 19 - A inserção do imóvel rural em
perímetro urbano definido mediante lei municipal NÃO DESOBRIGA O PROPRIETÁRIO OU POSSEIRO
DA MANUTENÇÃO DA ÁREA DE RESERVA LEGAL, que só será extinta concomitantemente ao
registro do parcelamento do solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação específica e
consoante as diretrizes do plano diretor de que trata o § 1º do art. 182 da Constituição Federal.
Delimitação das Áreas de Reserva Legal - art. 12 - Todo imóvel rural deve manter área com
cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre
as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à
área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei:

I - localizado na Amazônia Legal:


a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de FLORESTAS;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de
CERRADO;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de CAMPOS
GERAIS;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).
Área de florestas 80% de RLF
Amazônia Legal Área de cerrado 35% de RLF
Campos gerais 20% de RLF

Demais regiões 20% de RLF

(TJPA-2019-CESPE): Rafael é proprietário de um imóvel rural com vegetação de floresta no estado


do Pará. Esse imóvel deixou de ter área de reserva legal porque o proprietário anterior a suprimiu.
Nessa situação, Rafael deve reflorestar 80% de sua propriedade. BL: art. 3º, I e III5 c/c art. 12, I, “a”,
CFlo.

(TRF2-2018): Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de
Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente,
observado o seguinte percentual mínimo em relação à área do imóvel situado em Cerrado: 35%.
BL: art. 12, I, “b”, do CFlo.

(TRF3-2016-CESPE): Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a
título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação
Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel caso os
imóveis estejam situados na Amazônia Legal, excetuados os casos previstos no art. 68 da referida
Lei: 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; 35% (trinta e cinco por cento),
no imóvel situado em área de cerrado; 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos
gerais. Para os imóveis situados nas demais regiões do país, o percentual é de 20% (vinte por
cento). BL: art. 12, incisos I e II do CFlo.

5Art. 3º, Lei 12.651/12: Para os efeitos desta Lei, entende-se por: I – Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas,
Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13º S, dos Estados de Tocantins e Goiás,
e ao oeste do meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão; (...) III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma
propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo
sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e
promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa;
O Novo Código Florestal definitivamente superou a antiga e errônea interpretação de que a
ARL estabelecia um percentual de desmatamento lícito. Não é disso que se trata. Ao estabelecer a
ARL, a lei impõe um mínimo protetivo, o que não significa que o proprietário é livre para suprimir.
Ele somente poderá fazê-lo, após implantado o CAR, se houve autorização do órgão ambiental
estadual.
O art. 12 define, nas propriedades rurais, o mínimo que o proprietário tem que deixar para
a ARL, que não pode ser concomitantemente com a APP. Isso é importante, pois não se pode
aproveitar a APP da propriedade e dizer que ela concomitantemente é ARL. As duas áreas têm que
ser somadas.
Fracionamento do Imóvel - § 1º Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título,
inclusive para assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada, para fins do
disposto do caput, a área do imóvel ANTES DO FRACIONAMENTO.
Imóvel Situado em Áreas Diversas (Áreas de Transição) - § 2º O percentual de Reserva Legal
em imóvel situado em área de formações florestais, de cerrado ou de campos gerais na Amazônia
Legal será definido considerando SEPARADAMENTE OS ÍNDICES contidos nas alíneas a, b e c do
inciso I do caput.
Supressão de Novas Áreas Após Implementação do CAR - § 3º Após a implantação do CAR, a
supressão de novas áreas de floresta ou outras formas de vegetação nativa apenas será autorizada
pelo órgão ambiental estadual integrante do Sisnama se o imóvel estiver inserido no mencionado
cadastro, ressalvado o previsto no art. 30.

Art. 30. Nos casos em que a Reserva Legal já tenha sido averbada na
matrícula do imóvel e em que essa averbação identifique o perímetro e
a localização da reserva, o proprietário não será obrigado a fornecer ao
órgão ambiental as informações relativas à Reserva Legal previstas no
inciso III do § 1º do art. 29.
(MPRS-2017): No que tange à delimitação da Área de Reserva Legal disciplinada na Lei 12.651/12,
é correto afirmar que a supressão de novas áreas de floresta ou outras formas de vegetação nativa,
após a implantação do Cadastro Ambiental Rural – CAR, apenas será autorizada pelo órgão
ambiental estadual integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) se o imóvel
estiver inserido no mencionado cadastro, ressalvado o previsto no artigo 30 da Lei 12.651/12. BL:
art. 12, §3º, do CFlo.

Possibilidade de Redução da Reserva Legal na Amazônia Legal em Áreas de Floresta - § 4º


Nos casos da alínea a do inciso I (áreas de florestas), o poder público poderá reduzir a Reserva Legal
para até 50% (cinquenta por cento), para fins de recomposição, quando o Município tiver mais de
50% (cinquenta por cento) da área ocupada por unidades de conservação da natureza de domínio
público e por terras indígenas homologadas.
Possibilidade de Redução da Reserva Legal na Amazônia Legal em Áreas de Floresta
Havendo Zoneamento Ecológico-Econômico - § 5º Nos casos da alínea a do inciso I (áreas de
florestas), o poder público estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente, poderá reduzir
a Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento), quando o Estado tiver Zoneamento Ecológico-
Econômico aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por
unidades de conservação da natureza de domínio público, devidamente regularizadas, e por terras
indígenas homologadas.
“Dispensa” de Reserva Legal:

§ 6º Os empreendimentos de ABASTECIMENTO PÚBLICO DE ÁGUA E


TRATAMENTO DE ESGOTO não estão sujeitos à constituição de
Reserva Legal.
§ 7º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização
para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais
funcionem EMPREENDIMENTOS DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA,
SUBESTAÇÕES OU SEJAM INSTALADAS LINHAS DE TRANSMISSÃO E DE
DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA.
§ 8º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas com o objetivo de IMPLANTAÇÃO E AMPLIAÇÃO DE
CAPACIDADE DE RODOVIAS E FERROVIAS.
(TRF3-2016-CESPE): Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de
esgoto não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal. Também não será exigido Reserva Legal
relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou
autorização para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem
empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de
transmissão e de distribuição de energia elétrica. Também não será exigido Reserva Legal relativa
às áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade
de rodovias e ferrovias. BL: art. 12, §§ 6º a 8º do CFlo.

Alteração na Reserva Legal em Virtude de ZEE - art. 13 - Quando indicado pelo Zoneamento
Ecológico-Econômico - ZEE estadual, realizado segundo metodologia unificada, o poder público
federal poderá:
I - reduzir, exclusivamente para fins de regularização, mediante
recomposição, regeneração ou compensação da Reserva Legal de
imóveis com área rural consolidada, situados em área de floresta
localizada na Amazônia Legal, para até 50% (cinquenta por cento) da
propriedade, excluídas as áreas prioritárias para conservação da
biodiversidade e dos recursos hídricos e os corredores ecológicos;
§ 1º No caso previsto no inciso I do caput, o proprietário ou possuidor
de imóvel rural que mantiver Reserva Legal conservada e averbada em
área superior aos percentuais exigidos no referido inciso poderá
instituir servidão ambiental sobre a área excedente, nos termos da Lei
nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, e Cota de Reserva Ambiental.
II - ampliar as áreas de Reserva Legal em até 50% (cinquenta por cento)
dos percentuais previstos nesta Lei, para cumprimento de metas
nacionais de proteção à biodiversidade ou de redução de emissão de
gases de efeito estufa.
Prazo para o ZEE - § 2º Os Estados que não possuem seus Zoneamentos
Ecológico-Econômicos - ZEEs segundo a metodologia unificada,
estabelecida em norma federal, terão o prazo de 5 (cinco) anos, a partir
da data da publicação desta Lei, para a sua elaboração e aprovação.

Critérios para Definição da Área de Reserva Legal - art. 14 - A localização da área de Reserva
Legal no imóvel rural deverá levar em consideração os seguintes estudos e critérios:

I - o plano de bacia hidrográfica;


II - o Zoneamento Ecológico-Econômico;
III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com
Área de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou
com outra área legalmente protegida;
IV - as áreas de maior importância para a conservação da
biodiversidade; e
V - as áreas de maior fragilidade ambiental.
§ 1º O órgão estadual integrante do Sisnama ou instituição por ele
habilitada deverá aprovar a localização da Reserva Legal após a inclusão
do imóvel no CAR, conforme o art. 29 desta Lei.

Impossibilidade de Sanção Administrativa Após o Protocolo da Documentação Referente à


Localização da Reserva Legal - § 2º Protocolada a documentação exigida para a análise da localização
da área de Reserva Legal, ao proprietário ou possuidor rural não poderá ser imputada sanção
administrativa, inclusive restrição a direitos, por qualquer órgão ambiental competente integrante
do Sisnama, EM RAZÃO DA NÃO FORMALIZAÇÃO DA ÁREA DE RESERVA LEGAL.
Requisitos para o Cômputo das APPs no Percentual da Reserva Legal - art. 15 – Será admitido
o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal do
imóvel, desde que:

I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas


áreas para o uso alternativo do solo (“Desmatamento”);
II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de
recuperação, conforme comprovação do proprietário ao órgão
estadual integrante do Sisnama; e
III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no
Cadastro Ambiental Rural - CAR, nos termos desta Lei.

O art. 15 do Código Florestal não se aplica para situações consolidadas antes de sua vigência
O art. 15 da Lei nº 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação permanente no
cálculo do percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não retroage para alcançar
situações consolidadas antes de sua vigência. Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio
tempus regit actum, de forma a não se admitir a aplicação das disposições do
novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental. STJ. 1ª Turma. REsp
1646193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, julgado em
12/05/2020 (Info 673).

Em que consiste a área de reserva legal?

Reserva legal é...


- uma área (uma porção de terra)
- localizada no interior de um imóvel rural
- e dentro da qual o proprietário ou possuidor fica obrigado, por força de lei (Lei nº 12.651/2012),
- a manter a cobertura de vegetação nativa,
- com a função de:
• assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural,
• auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos,
• promover a conservação da biodiversidade e
• assegurar abrigo e proteção da fauna silvestre e da flora nativa.

Natureza
A Área de Reserva Legal consiste em uma limitação ao direito de propriedade (limitação
administrativa existente em função do princípio da função socioambiental da propriedade).
Trata-se de obrigação “propter rem”, ou seja, é uma obrigação que acompanha a coisa e vincula
todo e qualquer proprietário ou possuidor de imóvel rural, já que adere ao título de propriedade
ou à posse.

Quem tem o dever de preservar a área de reserva legal? Só o proprietário?


NÃO. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa não apenas pelo
proprietário, como também pelo possuidor ou por qualquer outra pessoa que ocupe, a qualquer
título, a área, seja ele uma pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado (art. 17, caput).

Admite-se algum tipo de atividade econômica na área de reserva legal?


SIM. Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo sustentável,
previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama (art. 17, § 1º).

Qual é o tamanho da área de reserva legal?


Será um percentual do imóvel baseado na região do país onde ele está situado e na natureza da
vegetação. A Lei nº 12.651/2012(Código Florestal) prevê os percentuais de cada imóvel rural que
deverão ser separados e protegidos como área de reserva legal. Veja:
Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva
Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente,
observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos
previstos no art. 68 desta Lei:
I — localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
II — localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).
Nos parágrafos do art. 12 estão previstas situações em que é possível alterar o percentual mínimo
da área de reserva legal. A depender do grau de complexidade do concurso público que você está
prestando, vale a pena fazer uma leitura desses dispositivos.

Onde fica a área de reserva legal dentro do imóvel rural? Em outras palavras, em um sítio, por
exemplo, como a pessoa sabe onde está a área de reserva legal? É o proprietário/possuidor que
define isso?
NÃO. A localização da área de Reserva Legal dentro da propriedade ou posse rural deverá ser
aprovada pelo órgão estadual integrante do SISNAMA ou instituição por ele habilitada, conforme
os critérios previstos no art. 14 do Código Florestal.

Existem imóveis rurais que não precisam constituir área de reserva legal?
SIM. Segundo prevê os §§ 6º a 8º do art. 12, não será exigida Reserva Legal para:
• empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto;
• áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para
exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração
de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de
energia elétrica;
• áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade
de rodovias e ferrovias.

Áreas de Preservação Permanente (APP)


Área de Preservação Permanente (APP) é uma área protegida, coberta ou não por vegetação
nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o
bem-estar das populações humanas (art. 3º, III, da Lei nº 12.651/2012).

Cômputo da APP no percentual da Reserva Legal


O novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) autorizou que a APP fosse considerada para cálculo
do percentual da Reserva Legal do imóvel. Veja:
Art. 15. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual
da Reserva Legal do imóvel, desde que:
I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo
do solo;
II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme
comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e
III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural -
CAR, nos termos desta Lei.
Essa previsão do art. 15 representou uma “redução de proteção ambiental. Isso porque a legislação
revogada, em regra, não admitia o computo das áreas de preservação permanente no cálculo da
reserva legal, que deviam ser somadas, salvo expressas exceções.” (AMADO, Frederico. Sinopse de
Direito Ambiental. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 177).
Explicando melhor:
• legislação anterior: o proprietário teria que proteger a área da Reserva Legal e mais a APP;
• art. 15 da Lei nº 12.651/2012: na contagem do que é Reserva Legal, já se pode utilizar a APP
(diminui a área protegida).

Alguns autores alegaram que esse art. 15 do novo Código Florestal seria inconstitucional porque
implicaria um retrocesso na proteção do meio ambiente, afrontando, portanto, o art. 225 da
CF/88. O STF acolheu esse argumento?
NÃO. O STF declarou a constitucionalidade do art. 15 da Lei nº 12.651/2012 tendo em vista que
ele está de acordo com o “desenvolvimento nacional” (art. 3º, II, da CF/88) e o “direito de
propriedade” (art. 5º, XXII, da CF/88).

Manutenção do Regime de Proteção das APPs - § 1º O regime de proteção da Área de


Preservação Permanente não se altera na hipótese prevista neste artigo.
Possibilidade de Constituição de Servidão ou CRA com a Área Excedente - § 2º O proprietário
ou possuidor de imóvel com Reserva Legal conservada e inscrita no Cadastro Ambiental Rural - CAR
de que trata o art. 29, cuja área ultrapasse o mínimo exigido por esta Lei, poderá utilizar a área
excedente para fins de constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva Ambiental e outros
instrumentos congêneres previstos nesta Lei.
(TJPR-2019-CESPE): Em uma área completamente preservada, com bioma intacto, localizada em
sua integralidade no bioma cerrado, existe uma propriedade particular de 100 ha, dos quais 40 ha
constituem reserva legal com a devida averbação na matrícula do imóvel e com o registro no
cadastro ambiental rural (CAR). Nessa situação, o limite máximo de hectares que o proprietário
poderá destinar para fins de instituição de servidão ambiental corresponde a 65 ha. BL: art. Art. 9º-
A, caput e §2º da Lei 6938/816 c/c art. 12, I, alínea “b”7 c/c art. 15, §2º, CFLo.

##Atenção: A servidão ambiental compreende um dos instrumentos do PNMA pelo qual o


proprietário ou possuidor de imóvel rural, pessoa natural ou jurídica, limita o uso de toda a sua

6 Art. 9o-A. O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou particular
ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de toda a sua propriedade ou de
parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental.
(Redação dada pela Lei nº 12.651, de 2012). (...) § 2o A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente
e à Reserva Legal mínima exigida. (Redação dada pela Lei nº 12.651, de 2012).
7 Art. 12 do Código Florestal - Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva

Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes
percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei: I - localizado na
Amazônia Legal: (...) b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais
existentes (art. 9º-A da Lei nº 6.938/81). Trata-se de uma proteção adicional e, justamente por isso,
não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal mínima exigida (art. 9º-A, §2º
da Lei nº 6.938/81). A reserva legal tem áreas mínimas definidas no art. 12 do CFlo. No caso
concreto, temos o seguinte: i) a propriedade está integralmente localizada no bioma cerrado; 2) 40%
da área já constitui reserva legal. Essas informações são importantes, já que o art. 12, I, alínea “b”,
do CFLo estabelece que o percentual mínimo de Reserva Legal em área de cerrado deverá ser 35%.
Pelo fato de a servidão ambiental não poder sobrepor à parte obrigatória da Reserva Legal, a
servidão poderá, no máximo, abranger 65 ha. Em resumo, temos o seguinte raciocínio:
100 ha (total da área) – 35 ha (mínimo de área de Res. Legal obrigatória) = 65 há (área excedente).

Dispensa da Proibição de Conversão de Novas Áreas para o Uso Alternativo do Solo


(“Desmatamento”) - § 4º É dispensada a aplicação do inciso I do caput deste artigo, quando as Áreas
de Preservação Permanente conservadas ou em processo de recuperação, somadas às demais
florestas e outras formas de vegetação nativa existentes em imóvel, ultrapassarem: I - 80% (oitenta
por cento) do imóvel rural localizado em áreas de floresta na Amazônia Legal;
Reserva Legal Condominial ou Coletiva - art. 16 - Poderá ser instituído Reserva Legal em
regime de condomínio ou coletiva entre propriedades rurais, respeitado o percentual previsto no art.
12 em relação a cada imóvel.

Requisitos:
i) propriedades contínuas; e
ii) percentual legal em relação a cada imóvel devidamente respeitado.

4.1. PROTEÇÃO DA RESERVA LEGAL

Art. 17 - A Reserva Legal DEVE SER CONSERVADA COM COBERTURA DE VEGETAÇÃO NATIVA
pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica,
de direito público ou privado.
Possibilidade de Exploração - § 1º Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal
mediante MANEJO SUSTENTÁVEL, PREVIAMENTE APROVADO PELO ÓRGÃO COMPETENTE DO
SISNAMA, de acordo com as modalidades previstas no art. 20.
Procedimento Simplificado - § 2º Para fins de manejo de Reserva Legal na pequena
propriedade ou posse rural familiar, os órgãos integrantes do SISNAMA deverão estabelecer
procedimentos simplificados de elaboração, análise e aprovação de tais planos de manejo.
Suspensão das Atividades - § 3º É obrigatória a suspensão imediata das atividades em área
de Reserva Legal desmatada irregularmente após 22 de julho de 2008. (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN
Nº 4.902) (Vide ADIN Nº 4.903)
ATENÇÃO!! Diferentemente da APP, na qual a regra geral é a intocabilidade, na reserva legal,
permite-se o manejo florestal sustentável, assim, a utilização, sem descaracterizar ecologicamente
os recursos florestais e os ecossistemas, é permitida.
Prazo para Recomposição - § 4º Sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais
cabíveis, deverá ser iniciado, nas áreas de que trata o § 3º deste artigo, o processo de recomposição
da Reserva Legal em até 2 (dois) anos contados a partir da data da publicação desta Lei, devendo
tal processo ser concluído nos prazos estabelecidos pelo Programa de Regularização Ambiental -
PRA, de que trata o art. 59.
Registro Através da Inscrição no CAR - art. 18 - A área de Reserva Legal deverá ser registrada
no órgão ambiental competente por meio de inscrição no CAR de que trata o art. 29, SENDO
VEDADA A ALTERAÇÃO DE SUA DESTINAÇÃO, NOS CASOS DE TRANSMISSÃO, A QUALQUER TÍTULO,
OU DE DESMEMBRAMENTO, com as exceções previstas nesta Lei.
Garantia da Reserva Legal em Caso de Posse do Imóvel - § 2º Na posse, a área de Reserva
Legal é assegurada por TERMO DE COMPROMISSO firmado pelo possuidor com o órgão competente
do Sisnama, com FORÇA DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, que explicite, no mínimo, a
localização da área de Reserva Legal e as obrigações assumidas pelo possuidor por força do previsto
nesta Lei.
§ 3º A transferência da posse implica a sub-rogação das obrigações
assumidas no termo de compromisso de que trata o § 2º.

Dispensa de Averbação no Cartório em Caso de Registro no CAR - § 4º O registro da Reserva


Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, sendo que, no período entre
a data da publicação desta Lei e o registro no CAR, o proprietário ou possuidor rural que desejar fazer
a averbação terá direito à gratuidade deste ato.
(MPRS-2014): O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro
de Imóveis. BL: art. 18, §4º do CFLo.

(TJMG-2014): Sobre a Área de Reserva Legal, assinale a alternativa CORRETA: O registro da


Reserva Legal no CAR (Cadastro Ambiental Rural) desobriga a averbação no Cartório de Registro
de Imóveis. BL: art. 18, §4º do CFLo.

Inserção do Imóvel Rural em Perímetro Urbano - art. 19 - A inserção do imóvel rural em


perímetro urbano definido mediante lei municipal não desobriga o proprietário ou posseiro da
manutenção da área de Reserva Legal, que só será extinta concomitantemente ao registro do
parcelamento do solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação específica e consoante as
diretrizes do plano diretor de que trata o § 1º do art. 182 da Constituição Federal.
(MPMG-2019): Assinale a alternativa correta: A inserção do imóvel rural em perímetro urbano
definido mediante lei municipal não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da
área de Reserva Legal, que só será extinta concomitantemente ao registro do parcelamento do
solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do
plano diretor. BL: art. 19, CFlo.

(MPSC-2016): De acordo com a Lei 12.651/12 (Código Florestal), o registro da Reserva Legal no
Cadastro Ambiental Rural (CAR) desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis.
Também prevê a referida lei que a inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido
mediante lei municipal não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva
Legal, que só será extinta concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins
urbanos aprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que
trata o § 1º do art. 182 da Constituição Federal. BL: art. 18, §4º c/c art. 19 do CFLo.
Manejo Sustentável - art. 20 - No manejo sustentável da vegetação florestal da Reserva Legal,
serão adotadas práticas de exploração seletiva nas modalidades de manejo sustentável sem
propósito comercial para consumo na propriedade e manejo sustentável para exploração florestal
com propósito comercial.

Requisitos para Coleta de Produtos Não Madeireiros - art. 21 - É livre a coleta de produtos
florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e sementes, devendo-se observar:

I - os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos


específicos, quando houver;
II - a época de maturação dos frutos e sementes;
III - técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos
e da espécie coletada no caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos,
resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes.
(MPBA-2015): É livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas
e sementes, devendo-se observar: os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos
específicos, quando houver; a época de maturação dos frutos e sementes; e técnicas que não
coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie coletada no caso de coleta de flores,
folhas, cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes. BL: art. 21 do CFlo.

Requisitos e Autorização para Manejo Sustentável - art. 22 - O manejo florestal sustentável


da vegetação da Reserva Legal com propósito comercial depende de autorização do órgão
competente e deverá atender as seguintes diretrizes e orientações:

I - não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a


conservação da vegetação nativa da área;
II - assegurar a manutenção da diversidade das espécies;
III - conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas
que favoreçam a regeneração de espécies nativas.
Com efeito, para a pequena propriedade ou posse rural familiar, o manejo sustentável da
Reserva Legal para exploração florestal eventual, sem propósito comercial direto ou indireto, para
consumo no próprio imóvel, independe de autorização dos órgãos ambientais competentes, limitada
a retirada anual de material lenhoso a 2 metros cúbicos por hectare, sem comprometer mais de 15%
da biomassa da Reserva Legal, nem ser superior a 15 quinze metros cúbicos de lenha para uso
doméstico e uso energético, por propriedade ou posse rural, por ano (art. 56 do Código Florestal).
Dispensa de Autorização - art. 23 - O manejo sustentável para EXPLORAÇÃO FLORESTAL
EVENTUAL SEM PROPÓSITO COMERCIAL, PARA CONSUMO NO PRÓPRIO IMÓVEL, independe de
autorização dos órgãos competentes, devendo apenas ser declarados previamente ao órgão
ambiental a motivação da exploração e o volume explorado, limitada a exploração anual a 20
(vinte) metros cúbicos.
(TJDFT-2015-CESPE): O manejo sustentável para exploração florestal eventual, limitada a vinte
metros cúbicos, sem propósito comercial e para consumo no próprio imóvel, independe de
autorização dos órgãos competentes. BL: art. 23 do N Cflo.

Desapropriação em Área de Reserva Legal - Entende a doutrina majoritária, bem como o STJ,
que, em caso de desapropriação, DEVERÁ SER INDENIZADA A COBERTURA FLORESTAL NA ÁREA DE
RESERVA LEGAL, POIS PASSÍVEL DE EXPLORAÇÃO VIA MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL, PORÉM
EM QUANTIA INFERIOR À ÁREA ONDE É PERMITIDO O CORTE RASO DA VEGETAÇÃO.
Importante ressaltar que o STJ exige, para que haja indenização, que exista plano de manejo
devidamente confirmado pela autoridade competente (Resp. 867.085/2007).
Compensação/Recomposição da Reserva Legal - art. 66 - O proprietário ou possuidor de
imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área de Reserva Legal em extensão inferior ao
estabelecido no art. 12, poderá regularizar sua situação, independentemente da adesão ao PRA,
adotando as seguintes alternativas, isolada ou conjuntamente:

I - recompor a Reserva Legal;


II - permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva
Legal;
III - compensar a Reserva Legal.

OBSERVAÇÃO: Áreas Consolidadas em Áreas de Reserva Legal - É importante a leitura dos


artigos 66 a 68 que tratam das Áreas Consolidadas em Áreas de Reserva Legal.

Art. 66. O proprietário ou possuidor de imóvel rural que detinha, em


22 de julho de 2008, área de Reserva Legal em extensão inferior ao
estabelecido no art. 12, poderá regularizar sua situação,
independentemente da adesão ao PRA, adotando as seguintes
alternativas, isolada ou conjuntamente:
I - recompor a Reserva Legal;
II - permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva
Legal;
III - compensar a Reserva Legal.
(TJPI-2015-CESPE): A compensação da Reserva Legal é possível para os proprietários ou
possuidores rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, área de Reserva Legal em extensão
inferior ao estabelecido em lei. BL: art. 66, III do CFlo.

§ 1º A obrigação prevista no caput tem natureza real e é transmitida ao


sucessor no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
§ 2º A recomposição de que trata o inciso I do caput deverá atender os
critérios estipulados pelo órgão competente do Sisnama e ser concluída
em até 20 (vinte) anos, abrangendo, a cada 2 (dois) anos, no mínimo
1/10 (um décimo) da área total necessária à sua complementação.
§ 3º A recomposição de que trata o inciso I do caput poderá ser
realizada mediante o plantio intercalado de espécies nativas com
exóticas ou frutíferas, em sistema agroflorestal, observados os
seguintes parâmetros: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
I - o plantio de espécies exóticas deverá ser combinado com as espécies
nativas de ocorrência regional;
II - a área recomposta com espécies exóticas não poderá exceder a 50%
(cinquenta por cento) da área total a ser recuperada.
§ 4º Os proprietários ou possuidores do imóvel que optarem por
recompor a Reserva Legal na forma dos §§ 2o e 3o terão direito à sua
exploração econômica, nos termos desta Lei.
§ 5º A compensação de que trata o inciso III do caput deverá ser
precedida pela inscrição da propriedade no CAR e poderá ser feita
mediante:
I - aquisição de Cota de Reserva Ambiental - CRA;
II - arrendamento de área sob regime de servidão ambiental ou Reserva
Legal;
III - doação ao poder público de área localizada no interior de Unidade
de Conservação de domínio público pendente de regularização
fundiária;
IV - cadastramento de outra área equivalente e excedente à Reserva
Legal, em imóvel de mesma titularidade ou adquirida em imóvel de
terceiro, com vegetação nativa estabelecida, em regeneração ou
recomposição, desde que localizada no mesmo bioma.
§ 6º As áreas a serem utilizadas para compensação na forma do § 5o
deverão:
I - ser equivalentes em extensão à área da Reserva Legal a ser
compensada;
II - estar localizadas no mesmo bioma da área de Reserva Legal a ser
compensada;
III - se fora do Estado, estar localizadas em áreas identificadas como
prioritárias pela União ou pelos Estados.
§ 7º A definição de áreas prioritárias de que trata o § 6o buscará
favorecer, entre outros, a recuperação de bacias hidrográficas
excessivamente desmatadas, a criação de corredores ecológicos, a
conservação de grandes áreas protegidas e a conservação ou
recuperação de ecossistemas ou espécies ameaçados.
§ 8º Quando se tratar de imóveis públicos, a compensação de que trata
o inciso III do caput poderá ser feita mediante concessão de direito real
de uso ou doação, por parte da pessoa jurídica de direito público
proprietária de imóvel rural que não detém Reserva Legal em extensão
suficiente, ao órgão público responsável pela Unidade de Conservação
de área localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio
público, a ser criada ou pendente de regularização fundiária.
§ 9º As medidas de compensação previstas neste artigo não poderão
ser utilizadas como forma de viabilizar a conversão de novas áreas para
uso alternativo do solo.
Art. 67. Nos imóveis rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, área
de até 4 (quatro) módulos fiscais e que possuam remanescente de
vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no art. 12, a
Reserva Legal será constituída com a área ocupada com a vegetação
nativa existente em 22 de julho de 2008, vedadas novas conversões
para uso alternativo do solo.
Art. 68. Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que
realizaram supressão de vegetação nativa respeitando os percentuais
de Reserva Legal previstos pela legislação em vigor à época em que
ocorreu a supressão são dispensados de promover a recomposição,
compensação ou regeneração para os percentuais exigidos nesta Lei.
§ 1º Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais poderão provar
essas situações consolidadas por documentos tais como a descrição de
fatos históricos de ocupação da região, registros de comercialização,
dados agropecuários da atividade, contratos e documentos bancários
relativos à produção, e por todos os outros meios de prova em direito
admitidos.
§ 2º Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais, na Amazônia
Legal, e seus herdeiros necessários que possuam índice de Reserva
Legal maior que 50% (cinquenta por cento) de cobertura florestal e não
realizaram a supressão da vegetação nos percentuais previstos pela
legislação em vigor à época poderão utilizar a área excedente de
Reserva Legal também para fins de constituição de servidão ambiental,
Cota de Reserva Ambiental - CRA e outros instrumentos congêneres
previstos nesta Lei.

5. SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO PARA USO ALTERNATIVO DO SOLO


Em certas situações se faz necessária a supressão de vegetação nativa para uso alternativo
do solo. Nos termos do art. 3°, VI, Código Florestal, isso significa a "substituição de vegetação nativa
e formações sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias, industriais,
de geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte, assentamentos urbanos ou
outras formas de ocupação humana".
Art. 26 - A supressão de vegetação nativa para uso alternativo do solo, tanto de domínio
público como de domínio privado, dependerá do cadastramento do imóvel no CAR, de que trata o
art. 29, e de prévia autorização do órgão estadual competente do SISNAMA.
Priorização de Projetos que Priorizem Utilização de Espécies Nativas - § 3º No caso de
reposição florestal, deverão ser priorizados projetos que contemplem a utilização de espécies
nativas do mesmo bioma onde ocorreu a supressão.
Requerimento para Supressão - § 4º O requerimento de autorização de supressão de que
trata o caput conterá, no mínimo, as seguintes informações:

I - a localização do imóvel, das Áreas de Preservação Permanente, da Reserva


Legal e das áreas de uso restrito, por coordenada geográfica, com pelo menos
um ponto de amarração do perímetro do imóvel;
II - a reposição ou compensação florestal, nos termos do § 4º do art. 33;
III - a utilização efetiva e sustentável das áreas já convertidas;
IV - o uso alternativo da área a ser desmatada.

Existência de Espécies Ameaçadas de Extinção ou Migratórias - art. 27 - Nas áreas passíveis


de uso alternativo do solo, a supressão de vegetação que abrigue espécie da flora ou da fauna
ameaçada de extinção, segundo lista oficial publicada pelos órgãos federal ou estadual ou municipal
do SISNAMA, ou espécies migratórias, dependerá da adoção de medidas compensatórias e
mitigadoras que assegurem a conservação da espécie.
Impossibilidade de Conversão da Vegetação para Uso Alternativo em Imóvel Abandonado -
art. 28 - Não é permitida a conversão de vegetação nativa para uso alternativo do solo no imóvel
rural que possuir área abandonada.
(MPGO-2019): Segundo o disposto na Lei 12.651/2012 (Código Florestal), é correto afirmar: Não é
permitida a conversão de vegetação nativa para uso alternativo do solo no imóvel rural que possuir
área abandonada. BL: art. 28, CFlo.

6. CADASTRO AMBIENTAL RURAL

Conceito - É um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todas as


propriedades e posses rurais, compondo uma base de dados para controle, monitoramento,
planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Criação e Finalidade - art. 29 - É criado o Cadastro Ambiental Rural - CAR, no âmbito do
Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente - SINIMA, registro público eletrônico de
âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as
informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle,
monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Inscrição - § 1º A inscrição do imóvel rural no CAR deverá ser feita, preferencialmente, no
órgão ambiental municipal ou estadual, que, nos termos do regulamento, exigirá do proprietário ou
possuidor rural:

I - identificação do proprietário ou possuidor rural;


II - comprovação da propriedade ou posse;
III - identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo,
contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um
ponto de amarração do perímetro do imóvel, informando a localização
dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação
Permanente, das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e, caso
existente, também da localização da Reserva Legal.

Não Configura Título de Posse ou Propriedade - § 2º O cadastramento não será considerado


título para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse, tampouco elimina a
necessidade de cumprimento do disposto no art. 2º da Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001.
Obrigatoriedade - § 3º A inscrição no CAR é OBRIGATÓRIA E POR PRAZO INDETERMINADO
para todas as propriedades e posses rurais. (Redação dada pela Lei nº 13.887, de 2019)

§ 4º Os proprietários e possuidores dos imóveis rurais que os


inscreverem no CAR até o dia 31 de dezembro de 2020 terão direito à
adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), de que trata o
art. 59 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.887, de 2019)

Dispensa de Informações Referentes à Reserva Legal - art. 30 - Nos casos em que A RESERVA
LEGAL JÁ TENHA SIDO AVERBADA NA MATRÍCULA DO IMÓVEL E EM QUE ESSA AVERBAÇÃO
IDENTIFIQUE O PERÍMETRO E A LOCALIZAÇÃO DA RESERVA, o proprietário não será obrigado a
fornecer ao órgão ambiental as informações relativas à Reserva Legal previstas no inciso III do § 1º
do art. 29.
Parágrafo único. Para que o proprietário se desobrigue nos termos do
caput, deverá apresentar ao órgão ambiental competente a certidão de
registro de imóveis onde conste a averbação da Reserva Legal ou termo
de compromisso já firmado nos casos de posse.

7. DA EXPLORAÇÃO FLORESTAL
INSTRUMENTOS DE MANEJO DA EXPLORAÇÃO FLORESTAL (ARTS. 31 A 34)

Devem ser elaborados por indústrias que utilizam grande


quantidade de matéria-prima florestal, com a submissão à
Plano de Suprimento aprovação do órgão competente do Sisnama. O PSS assegurará
Sustentável (PSS) produção equivalente ao consumo de matéria-prima florestal pela
atividade industrial.

A exploração de florestas nativas e formações sucessoras, de


domínio público ou privado, ressalvados os casos previstos nos arts.
21, 23 e 24, dependerá de licenciamento pelo órgão competente do
Plano de Manejo Florestal Sisnama, mediante aprovação prévia de Plano de Manejo Florestal
Sustentável (PMFS) Sustentável - PMFS que contemple técnicas de condução,
exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os
variados ecossistemas que a cobertura arbórea forme. A aprovação
do PMFS pelo órgão competente do Sisnama confere ao seu
detentor a licença ambiental para a prática do manejo florestal
sustentável.

Necessidade de Licenciamento e Plano de Manejo - art. 31 - A exploração de florestas nativas


e formações sucessoras, de domínio público ou privado, ressalvados os casos previstos nos arts. 21,
23 e 24, DEPENDERÁ DE LICENCIAMENTO PELO ÓRGÃO COMPETENTE DO SISNAMA, MEDIANTE
APROVAÇÃO PRÉVIA DE PLANO DE MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL - PMFS que contemple
técnicas de condução, exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os variados
ecossistemas que a cobertura arbórea forme.
A aprovação do PMFS confere ao seu detentor a licença ambiental para a prática do manejo
florestal sustentável, não se aplicando, na prática, outras etapas de licenciamento ambiental. Para
fins de manejo florestal na pequena propriedade ou posse rural familiar, os órgãos do Sisnama
deverão estabelecer procedimentos simplificados de elaboração, análise e aprovação dos referidos
PMFS. Ademais, compete ao órgão federal de meio ambiente a aprovação de PMFS incidentes em
florestas públicas de domínio da União.
Fundamentos do Plano de Manejo - § 1º O PMFS atenderá os seguintes fundamentos
técnicos e científicos:

I - caracterização dos meios físico e biológico;


II - determinação do estoque existente;
III - intensidade de exploração compatível com a capacidade de suporte
ambiental da floresta;
IV - ciclo de corte compatível com o tempo de restabelecimento do
volume de produto extraído da floresta;
V - promoção da regeneração natural da floresta;
VI - adoção de sistema silvicultural adequado;
VII - adoção de sistema de exploração adequado;
VIII - monitoramento do desenvolvimento da floresta remanescente;
IX - adoção de medidas mitigadoras dos impactos ambientais e sociais.
§ 2º A APROVAÇÃO DO PMFS PELO ÓRGÃO COMPETENTE DO SISNAMA
CONFERE AO SEU DETENTOR A LICENÇA AMBIENTAL PARA A PRÁTICA
DO MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL, NÃO SE APLICANDO OUTRAS
ETAPAS DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL.
(...)
§ 7º Compete ao órgão federal de meio ambiente a aprovação de PMFS
incidentes em florestas públicas de domínio da União.

São isentos de PMFS: (i) a supressão de florestas e formações sucessoras para uso
alternativo do solo; (ii) o manejo e a exploração de florestas plantadas localizadas fora das Áreas
de Preservação Permanente e de Reserva Legal; e (iii) a exploração florestal não comercial realizada
nas pequenas propriedades rurais ou por populações tradicionais.
Isenção de Plano de Manejo - art. 32 - São isentos de PMFS:

I - a supressão de florestas e formações sucessoras para uso alternativo


do solo;
II - o manejo e a exploração de florestas plantadas localizadas fora das
Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal;
III - a exploração florestal não comercial realizada nas propriedades
rurais a que se refere o inciso V do art. 3º ou por populações
tradicionais.

Uso de Matéria-Prima Florestal - art. 33 - As pessoas físicas ou jurídicas que utilizam matéria-
prima florestal em suas atividades devem suprir-se de recursos oriundos de:

I - florestas plantadas;
II - PMFS de floresta nativa aprovado pelo órgão competente do
Sisnama;
III - supressão de vegetação nativa autorizada pelo órgão competente
do Sisnama;
IV - outras formas de biomassa florestal definidas pelo órgão
competente do Sisnama.
(TJMG-2018-Consulplan): A sociedade empresária X consome carvão vegetal na produção de ferro
gusa. Requereu isenção quanto à obrigação de fazer reposição florestal, porque o carvão é
produzido com 80% de madeira de floresta plantada e o restante de floresta nativa. O requerimento
deverá ser parcialmente deferido quanto ao percentual de utilização da floresta plantada. BL: art.
33, caput, incisos I a III, §1º e §2º, II, “b”, do Cflo.
Obrigação de Reposição Florestal - § 1º São obrigadas à reposição florestal as pessoas físicas
ou jurídicas que utilizam matéria-prima florestal oriunda de supressão de vegetação nativa ou que
detenham autorização para supressão de vegetação nativa.
Isenção da Reposição Florestal - § 2º É isento da obrigatoriedade da reposição florestal
aquele que utilize:

I - costaneiras, aparas, cavacos ou outros resíduos provenientes da


atividade industrial
II - matéria-prima florestal:
a) oriunda de PMFS (Plano de Manejo);
b) oriunda de floresta plantada;
c) não madeireira.
§ 3º A isenção da obrigatoriedade da reposição florestal não desobriga
o interessado da comprovação perante a autoridade competente da
origem do recurso florestal utilizado.
§ 4º A reposição florestal será efetivada no Estado de origem da
matéria-prima utilizada, mediante o plantio de espécies
preferencialmente nativas, conforme determinações do órgão
competente do Sisnama.

8. PROIBIÇÃO DO USO DE FOGO E CONTROLE DOS INCÊNDIOS

Proibição do Uso de Fogo - art. 38 - É proibido o uso de fogo na vegetação, EXCETO NAS
SEGUINTES SITUAÇÕES:

I - em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do


fogo em práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação
do órgão estadual ambiental competente do SISNAMA, para cada
imóvel rural ou de forma regionalizada, que estabelecerá os critérios de
monitoramento e controle;
II - emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em
conformidade com o respectivo plano de manejo e mediante prévia
aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao
manejo conservacionista da vegetação nativa, cujas características
ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;
III - atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa
devidamente aprovado pelos órgãos competentes e realizada por
instituição de pesquisa reconhecida, mediante prévia aprovação do
órgão ambiental competente do SISNAMA.
(MPMG-2013): Sobre o novo Código Florestal (Lei 12.651/12), é correto afirmar-se: É permitido o
uso de fogo na vegetação em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o seu emprego em
práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação do órgão estadual ambiental
competente do SISNAMA, para cada imóvel rural ou de forma regionalizada, que estabelecerá os
critérios de monitoramento e controle. BL: art. 38, I, CFLo.

Exceções para Combate aos Incêndios e para Agricultura de Subsistência - § 2º Excetuam-se


da proibição constante no caput as práticas de prevenção e combate aos incêndios e as de agricultura
de subsistência exercidas pelas populações tradicionais e indígenas.
Comprovação de Nexo de Causalidade para Responsabilização - § 3º Na apuração da
responsabilidade pelo uso irregular do fogo em terras públicas ou particulares, a autoridade
competente para fiscalização e autuação deverá comprovar o nexo de causalidade entre a ação do
proprietário ou qualquer preposto e o dano efetivamente causado.

§ 4º É necessário o estabelecimento de nexo causal na verificação das


responsabilidades por infração pelo uso irregular do fogo em terras
públicas ou particulares.

Incompetência do Município para Proibir a Queima de Cana - O STF julgou inconstitucional


lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de limpeza e preparo do
solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e
de outras culturas. Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio
ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos
empregos dos trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria
prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteção diante do
chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão de
proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo. Além disso, entendeu a corte que as
normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçar um
planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador
e facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art. 40) e Decreto 2.661/98. STF.
Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info 776).

9. INSTRUMENTOS DE APOIO E INCENTIVO À CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

O artigo 41, do Código Florestal, estabeleceu a aprovação pela União do Programa de Apoio
e Incentivo à Conservação do Meio Ambiente, bem como a adoção de tecnologias e boas práticas
que conciliem a produtividade agropecuária e florestal com redução dos impactos ambientais, como
forma de promoção do desenvolvimento ecologicamente sustentável, observados sempre os
critérios de progressividade. Cuida-se de uma importante concretização do princípio do protetor-
recebedor, com a previsão de pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição,
monetária ou não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e àquelas que gerem
serviços ambientais.
No âmbito do referido programa, foi previsto o pagamento pelos seguintes serviços
ambientais: (i) o sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento do estoque e a diminuição
do fluxo de carbono; (ii) a conservação da beleza cênica natural; (iii) a conservação da biodiversidade;
(iv) a conservação das águas e dos serviços hídricos; (v) a regulação do clima; (vi) a valorização cultural
e do conhecimento tradicional ecossistêmico; (vii) a conservação e o melhoramento do solo; e (viii)
a manutenção de Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito.
Para a consecução desse programa, foram elencados os seguintes instrumentos: (i) obtenção
de crédito agrícola, em todas as suas modalidades, com taxas de juros menores, bem como limites e
prazos maiores que os praticados no mercado; (ii) contratação do seguro agrícola em condições
melhores que as praticadas no mercado; (iii) dedução das Áreas de Preservação Permanente, de
Reserva Legal e de uso restrito da base de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural,
gerando créditos tributários; (iv) destinação de parte dos recursos arrecadados com a cobrança pelo
uso da água, na forma da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, para a manutenção, recuperação ou
recomposição das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito na bacia de
geração da receita; (v) linhas de financiamento para atender às iniciativas de preservação voluntária
de vegetação nativa, proteção de espécies da flora nativa ameaçadas de extinção, manejo florestal e
agroflorestal sustentável realizados na propriedade ou posse rural, ou recuperação de áreas
degradadas; e (vi) isenção de impostos para os principais insumos e equipamentos, tais como: fios
de arame, postes de madeira tratada, bombas d’água, trado de perfuração de solo, dentre outros
utilizados para os processos de recuperação e manutenção das Áreas de Preservação Permanente,
de Reserva Legal e de uso restrito.

10. COTA DE RESERVA AMBIENTAL

O código Florestal, por meio do art. 44, instituiu a Cota de Reserva Ambiental - CRA, título
nominativo representativo de área com vegetação nativa, existente ou em processo de recuperação,
sob regime de servidão ambiental, de Reserva Particular do Patrimônio Natural, de Reserva Legal
instituída voluntariamente sobre a vegetação que exceder os percentuais estabelecidos em lei, ou
existentes em propriedade rural localizada no interior de unidade de conservação de domínio público
que ainda não tenha sido desapropriada. Tais cotas poderão ser negociadas com proprietários cujas
terras apresentem percentual de vegetação nativa inferior ao mínimo exigido em lei, nos casos
autorizados pelo Código Florestal. Dessa forma, a lei busca atribuir valor à vegetação nativa
preservada, remunerando aqueles que contribuem para a proteção dos recursos naturais. O vínculo
de área da propriedade à CRA deve ser averbado na matrícula do respectivo imóvel no registro de
imóveis competente.
Além do mais, uma vez emitida a CRA, ela pode ser transferida, onerosa ou gratuitamente, a
pessoa física ou jurídica de direito público ou privado, por meio de assinatura de termo pelo titular
da CRA e pelo seu adquirente.

11. INCENTIVOS À AGRICULTURA FAMILIAR

Conforme o art. 3°, V, do Código Florestal, considera-se como pequena propriedade ou posse
rural familiar aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor
familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, com dimensão de até quatro
módulos fiscais. O Código Florestal dedicou o Capítulo XII para tratar da agricultura familiar nas
pequenas propriedades e posses rurais, dispensando um tratamento jurídico diferenciado para o
pequeno produtor rural.
A intervenção eventual de baixo impacto ambiental nas Áreas de Reserva Legal e de
Preservação Permanente, nessas pequenas áreas, terá um processo de licenciamento ambiental
simplificado, sendo apenas necessária uma simples declaração do órgão ambiental, desde que o
imóvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural, que terá procedimento simplificado e registro da
reserva legal gratuito.
Da mesma forma, o manejo sustentável da reserva legal para exploração florestal eventual,
sem propósito comercial direto ou indireto, para consumo no próprio imóvel, independe de
autorização dos órgãos ambientais competentes, mas fica limitada a retirada anual de material
lenhoso a dois metros cúbicos por hectare (art. 56, § 1.º, do Código Florestal).
Ademais, na integralização da área de reserva legal, poderão ser computados os plantios de
árvores frutíferas, ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em
sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas da região em sistemas agroflorestais. Essas
pequenas propriedades ainda foram desobrigadas de promover a reposição florestal, desde que a
matéria-prima utilizada se destine ao consumo próprio. Finalmente, foi prevista para atender
prioritariamente à pequena propriedade ou posse rural a criação de um Programa de Apoio Técnico
e Incentivos Financeiros, com a inclusão de medidas indutoras e linhas de financiamento, desde que
adotadas medidas benéficas ao ambiente, tais como a conservação da reserva legal acima dos
percentuais mínimos e a recuperação de áreas degradadas.

12. PROGRAMAS DE REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL - PRAs

Implementação - art. 59. A União, os Estados e o Distrito Federal deverão implantar


Programas de Regularização Ambiental (PRAs) de posses e propriedades rurais, com o objetivo de
adequá-las aos termos deste Capítulo. (Redação dada pela Lei 13.887, de 2019)

§ 1º Na regulamentação dos PRAs, a União estabelecerá normas de


caráter geral, e os Estados e o Distrito Federal ficarão incumbidos do
seu detalhamento por meio da edição de normas de caráter específico,
em razão de suas peculiaridades territoriais, climáticas, históricas,
culturais, econômicas e sociais, conforme preceitua o art. 24 da
Constituição Federal. (Redação dada pela Lei 13.887, de 2019)

Obrigatoriedade de Inscrição no CAR - § 2º A inscrição do imóvel rural no CAR é condição


obrigatória para a adesão ao PRA, que deve ser requerida em até 2 (dois) anos, observado o disposto
no § 4º do art. 29 desta Lei. (Redação dada pela Lei 13.887, de 2019)
Ressalta-se que atualmente, com a alteração do art. 29, § 3º do Código Florestal, promovida
pela Lei 13.887/2019, todas as propriedades e posses rurais devem ter inscrição no CAR.
Termo de Compromisso - § 3º Com base no requerimento de adesão ao PRA, o órgão
competente integrante do Sisnama convocará o proprietário ou possuidor para assinar o termo de
compromisso, que constituirá título executivo extrajudicial.

§ 7º Caso os Estados e o Distrito Federal não implantem o PRA até 31


de dezembro de 2020, o proprietário ou possuidor de imóvel rural
poderá aderir ao PRA implantado pela União, observado o disposto no
§ 2º deste artigo. (Incluído pela Lei 13.887, de 2019)

Suspensão da Punibilidade de Crimes Ambientais - art. 60. A assinatura de termo de


compromisso para regularização de imóvel ou posse rural perante o órgão ambiental competente,
mencionado no art. 59, suspenderá a punibilidade dos crimes previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei
nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, enquanto o termo estiver sendo cumprido.

§ 1º A prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão


da pretensão punitiva.
§ 2º Extingue-se a punibilidade com a efetiva regularização prevista
nesta Lei.

13. JURISPRUDÊNCIA

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

INFORMATIVO 776 - COMPETÊNCIA: INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI MUNICIPAL QUE


PROÍBE A QUEIMA DA CANA

O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o Estado-
membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a
disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c. o art. 30, I e II, da CF/88). O STF
julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para limpeza
e preparo do solo. Entendeu a corte que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio
ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos
empregos dos trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria
prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores.
Adicionalmente, entendeu o STF que Lei Municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de
fogo para fins de limpeza do solo é inconstitucional por violar norma federal que estabelece a
extinção gradativa do uso do fogo como meio facilitador da atividade. Plenário. RE 586224/SP, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (repercussão geral)

INFORMATIVO 892 - CONSTITUCIONALIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL

Após analisar a constitucionalidade de certos dispositivos do Novo Código Florestal (Lei nº


12.651/2012), assim decidiu o STF:
a) Declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e “instalações necessárias
à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”, presentes no art.
3º, VIII, b, da Lei nº 12.651/2012;
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: (...) VIII - utilidade pública: (...) b) as obras de
infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema viário,
inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios,
saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à
realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração,
exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho;
O STF entendeu que não se pode aceitar que um Estado, “ao qual é imposta constitucionalmente a
defesa e preservação do meio ambiente, conceba a gestão de resíduos e o lazer como hipóteses de
intervenção e supressão de vegetação em áreas de preservação permanente e em áreas de uso
restrito”. Dessa forma, para a Corte não se mostra compatível com o art. 225 da CF/88 permitir a
relativização da proteção da vegetação nativa para “gestão de resíduos” ou para a “realização de
competições esportivas”.
b) Dar interpretação conforme a CF ao art. 3º, VIII e IX, da Lei, para condicionar a intervenção
excepcional em APP, POR INTERESSE SOCIAL OU UTILIDADE PÚBLICA, À INEXISTÊNCIA DE
ALTERNATIVA TÉCNICA E/OU LOCACIONAL À ATIVIDADE PROPOSTA;
Segundo o STF a previsão do art. 3º, VIII e IX, é constitucional, porém a interpretação a ser dada é a
de que apenas pode haver intervenção em área de proteção permanente (APP) em casos
excepcionais e desde que comprovada a inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à
atividade proposta.
c) Dar interpretação conforme a CF ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para estabelecer a interpretação
de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água INTERMITENTES configuram área de
preservação permanente;
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: (...) XVII - nascente: afloramento natural do lençol
freático que apresenta perenidade e dá início a um curso d'água;
Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos
desta Lei: (...) IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d'água perenes, qualquer que seja
sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;
Para a Corte Suprema, a interpretação a ser dada é a de que os entornos das nascentes e dos olhos
d´água, MESMO QUE INTERMITENTES, também configuram área de preservação permanente.
d) Declarar a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, contidas no art. 3º,
parágrafo único;
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: (...) V - pequena propriedade ou posse rural familiar:
aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural,
incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, e que atenda ao disposto no art. 3º da Lei
nº 11.326, de 24 de julho de 2006; (...) Parágrafo único. Para os fins desta Lei, estende-se o
tratamento dispensado aos imóveis a que se refere o inciso V deste artigo às propriedades e posses
rurais com até 4 (quatro) módulos fiscais que desenvolvam atividades agrossilvipastoris, bem como
às terras indígenas DEMARCADAS e às demais áreas TITULADAS de povos e comunidades tradicionais
que façam uso coletivo do seu território.
O STF declarou a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, de forma que tais
terras e áreas poderão receber o tratamento diferenciado mesmo sem demarcação e titulação. Para
a Corte a titulação do território das comunidades tradicionais e dos povos indígenas REPRESENTA
APENAS UMA FORMALIDADE DE CARÁTER DECLARATÓRIO. Dessa forma, mesmo sem demarcação
ou titulação, tais territórios já existem e devem receber tratamento diferenciado
independentemente das formalidades. Ante o exposto, tal exclusão ocorreu para beneficiar os povos
indígenas e as comunidades tradicionais.
e) Dar interpretação conforme a CF ao art. 48, § 2º, para permitir compensação apenas entre áreas
com identidade ecológica;
Art. 48. A CRA (Cota de Reserva Ambiental) pode ser transferida, onerosa ou gratuitamente, a pessoa
física ou a pessoa jurídica de direito público ou privado, mediante termo assinado pelo titular da CRA
e pelo adquirente. (...) § 2º A CRA só pode ser utilizada para compensar Reserva Legal de imóvel rural
situado no mesmo bioma da área à qual o título está vinculado.
Para o STF a aquisição de uma área no mesmo bioma é insuficiente como mecanismo de
compensação, pois, dentro de um mesmo bioma, pode existir uma alta heterogeneidade de
formações vegetais. Assim, pela redação legal, o proprietário poderia, dentro de um mesmo bioma,
compensar áreas com formações vegetais completamente diferentes. Dessa forma, o STF entendeu
que as compensações devem ser realizadas somente em áreas ecologicamente equivalentes,
considerando-se não apenas o mesmo bioma, mas também as diferenças de composição de
espécies e estrutura dos ecossistemas que ocorrem dentro de cada bioma. Em resumo, não basta
simplesmente que a área seja do mesmo bioma, é necessário ainda que haja identidade ecológica
entre elas.
f) Dar interpretação conforme a CF ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo a afastar, no decurso da execução
dos termos de compromissos subscritos nos programas de regularização ambiental, o risco de
decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais praticados antes de 22.7.2008, seja das
sanções deles decorrentes, aplicando-se extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei
12.651/2012, segundo o qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da
pretensão punitiva”.
O art. 59, § 4º e 5º conferiu uma espécie de anistia aos proprietários que cometeram ilícitos
ambientais relacionados com a supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação
Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito, desde que cumpridos determinados requisitos.
O STF entendeu que esses dispositivos são válidos, porém deve-se evitar a prescrição e a decadência.
Dessa forma, deu interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, para que, durante a
execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de regularização ambiental, não
corra o prazo de decadência ou prescrição.
Todos os demais dispositivos do Novo Código Florestal foram considerados constitucionais pelo
STF. STF. Plenário. ADC 42/DF, ADI 4901/DF, ADI 4902/DF, ADI 4903/DF e ADI 4937/DF, Rel. Min. Luiz
Fux, julgados em 28/2/2018 (Info 892 do STF).

INFORMATIVO 896 - INCONSTITUCIONALIDADE DA REDUÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO


POR MEIO DE MEDIDA PROVISÓRIA

Entendeu o STF que é inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais


especialmente protegidos, como é o caso das unidades de conservação, por meio de medida
provisória. Isso viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88.
Assim, a redução ou supressão de unidade de conservação somente é permitida mediante lei em
sentido formal. A medida provisória possui força de lei, mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em
sentido estrito. STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).

INFORMATIVO 916 - É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE PREVÊ A POSSIBILIDADE DE


SUPRESSÃO DE VEGETAL EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE PARA A REALIZAÇÃO DE
ATIVIDADES DE LAZER

Entendeu o STF que é inconstitucional lei estadual prevendo a possibilidade de supressão de vegetal
em Área de Preservação Permanente (APP) para a realização de “pequenas construções com área
máxima de 190 metros quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer”. Para a Corte, essa lei possui
tanto vício de inconstitucionalidade formal, como material.
Existe inconstitucionalidade formal, pois o Código Florestal, que é a lei federal que prevê as normas
gerais sobre o tema (art. 24, § 1º, da CF/88), não permite a instalação em APP de edificação com
finalidade meramente recreativa. Adicionalmente, também existe inconstitucionalidade material,
pois houve excesso da lei estadual ao relativizar a proteção constitucional ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, cujo titular é a coletividade, em face do direito de lazer individual. STF.
Plenário. ADI 4988/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/9/2018 (Info 916).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

INFORMATIVO 561 - ÁREA DE RESERVA LEGAL: REQUISITO PARA REGISTRO DA SENTENÇA


DECLARATÓRIA DE USUCAPIÃO

Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja registrada no
Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no Cadastro
Ambiental Rural (CAR). A Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal) instituiu o Cadastro Ambiental
Rural (CAR), que passou a concentrar as informações ambientais dos imóveis rurais, sendo
dispensada a averbação da reserva legal no Registro de Imóveis (art. 18, § 4º). Assim, ante esse novo
cenário normativo, como condição para o registro da sentença de usucapião no Cartório de Registro
de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no CAR. A nova lei não pretendeu reduzir
a eficácia da norma ambiental, pretendeu tão somente alterar o órgão responsável pelo "registro"
da reserva legal, que antes era o Cartório de Registro de Imóveis, e agora passou a ser o órgão
ambiental responsável pelo CAR. STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

INFORMATIVO 643 - NÃO É PERMITIDA A REDUÇÃO DA PROTEÇÃO CONFERIDA ÀS ÁREAS DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE PREVISTAS NO CÓDIGO FLORESTAL ATRAVÉS DE LEGISLAÇÃO
MUNICIPAL.

Entendeu o STJ que a legislação municipal não pode reduzir o patamar mínimo de proteção marginal
dos cursos d'água, em toda sua extensão, fixado pelo Código Florestal. Para a Corte, a norma federal
geral conferiu uma proteção mínima, cabendo à legislação municipal somente intensificar o grau de
proteção às margens dos cursos d'água, ou quando muito, manter o patamar de proteção. Dessa
forma, não poderia reduzir a proteção ambiental. STJ. 2ª Turma. AREsp 1.312.435-RJ, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 07/02/2019 (Info. 643).
SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA – SNUC

1. DISPOSIÇÕES GERAIS

As unidades de conservação constituem mais uma modalidade de espaços ambientais


territoriais especialmente protegidos a serem instituídos pelo Poder Público.
A criação dos espaços ambientais especialmente protegidos afeta diretamente a função
socioambiental da propriedade privada, tratando-se de um dos instrumentos da Política Nacional
do Meio Ambiente (inciso VI, do art. 9º, da Lei n. 6.938/8). O subsolo e o espaço aéreo, sempre que
influírem na estabilidade do ecossistema, integram os limites das unidades de conservação (art. 24,
da Lei do SNUC).
A faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, núcleo econômico do direito de propriedade,
está condicionada à estrita observância pelo proprietário atual da obrigação propter rem de proteger
a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem
como evitar a poluição do ar e das águas. Nos regimes jurídicos contemporâneos, os imóveis, rurais
ou urbanos, transportam finalidades múltiplas (privadas e públicas, inclusive ecológicas), o que faz
com que sua utilidade econômica não se esgote em um único uso, no melhor uso e, muito menos,
no mais lucrativo uso.
Nesse contexto, está um importante entendimento do STJ:
(Inf. 388 STJ) Entende haver responsabilidade solidária do Estado quando, devendo agir para
evitar o dano ambiental, mantém-se inerte ou atua de forma deficiente. A responsabilização decorre
da omissão ilícita, a exemplo da falta de fiscalização e de adoção de outras medidas preventivas
inerentes ao poder de polícia, as quais, ao menos indiretamente, contribuem para provocar o dano,
até porque o poder de polícia ambiental não se exaure com o embargo à obra, como ocorreu no caso.
Há que ponderar, entretanto, que essa cláusula de solidariedade não pode implicar benefício para o
particular que causou a degradação ambiental com sua ação, em detrimento do erário. Assim, sem
prejuízo da responsabilidade solidária, deve o Estado- que não provocou diretamente o dano nem
obteve proveito com sua omissão- buscar o ressarcimento dos valores despendidos do responsável
direto, evitando, com isso, injusta oneração da sociedade. Com esses fundamentos, deu-se
provimento ao recurso. [g.n] (REsp 1.071.741-SP. Rel. Min. Herman Benjamin. DJE 24/03/2009).

As unidades de conservação poderão ser compostas por áreas públicas ou particulares, a


depender da modalidade. Caso o Poder Público institua uma UC pública em área particular, salvo se
o particular fizer a doação do espaço, será necessária a sua desapropriação, na modalidade utilidade
pública, nos termos do Decreto-lei 3.365/1941 (artigo 5º, alínea “k”, da Lei do SNUC, situação em
que a terra nua e a cobertura florística explorável não devem ser indenizadas em títulos públicos,
mas, sim, em pecúnia, pois essa intervenção estatal supressiva da propriedade é não sancionatória.
O artigo 45, da Lei do SNUC, exclui da indenização as espécies arbóreas declaradas imunes ao corte,
os lucros cessantes, os juros compostos e as áreas que não tenham prova inequívoca do domínio
anterior à criação da unidade de conservação. Também será possível a desapropriação de áreas
públicas, caso uma entidade política de maior abrangência territorial resolva criar UC em área de
outra.
A Lei que institui o SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA –
SNUC regulamenta o art. 225, § 1º, I, II, III e VII da Constituição Federal:

Art. 225 da CF - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do
País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e
seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas SOMENTE ATRAVÉS DE LEI, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção;
(...)
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade.

Conceitos (Importante Memorização) - art. 2º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se
por:
I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de
administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção;
(importante definição)
II - conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza,
compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável,
a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa
produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações,
mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações
das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em
geral;
III - diversidade biológica: a variabilidade de organismos vivos de todas
as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres,
marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos
de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de
espécies, entre espécies e de ecossistemas;
IV - recurso ambiental: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os
elementos da biosfera, a fauna e a flora;
V - preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políticas que
visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas,
além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a
simplificação dos sistemas naturais;
VI - proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de
alterações causadas por interferência humana, ADMITIDO APENAS O
USO INDIRETO dos seus atributos naturais;
VII - conservação in situ: conservação de ecossistemas e habitats
naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de
espécies em seus meios naturais e, no caso de espécies domesticadas
ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades
características;
VIII - manejo: todo e qualquer procedimento que vise assegurar a
conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas;
IX - uso indireto: aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou
destruição dos recursos naturais;
X - uso direto: aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos
recursos naturais;
XI - uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a
perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos
ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos
ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável;
XII - extrativismo: sistema de exploração baseado na coleta e extração,
de modo sustentável, de recursos naturais renováveis;
XIII - recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população
silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser
diferente de sua condição original;
XIV - restauração: restituição de um ecossistema ou de uma população
silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original;
XVI - zoneamento: definição de setores ou zonas em uma unidade de
conservação com objetivos de manejo e normas específicos, com o
propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os
objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e
eficaz;
XVII - plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com
fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se
estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da
área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das
estruturas físicas necessárias à gestão da unidade;
XVIII - zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de
conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e
restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos
negativos sobre a unidade; e
XIX - corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais ou
seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre
elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão
de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a
manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência
áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais.
Consoante o inciso I, do Art. 2°, da Lei do SNUC, Unidade de Conservação se constitui no
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de
proteção.
Nesse contexto, as Unidades de Conservação podem ser definidas como áreas públicas ou
privadas destinadas à proteção, integral ou parcial, da diversidade biológica, da paisagem e dos
recursos naturais, no intuito de resguardar a qualidade ambiental da coletividade por meio de um
regime especial de fruição. Essas áreas particulares incluídas dentro de UC públicas serão
desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
Uma unidade de conservação da natureza pode ser instituída tanto pela União, quanto pelos
Estados, DF e municípios. O conjunto de unidades de conservação de todos os entes federados forma
o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Corroborando tal entendimento, a lei
Complementar 140/ 2011 reconhece como ação administrativa da União (art. 7º, X), dos Estados (art.
8º, X) e dos municípios (art. 9°, X) a definição de seus espaços protegidos no âmbito de sua
competência.

Objetivos do SNUC - art. 4º - O SNUC tem os seguintes objetivos:

I - CONTRIBUIR PARA A MANUTENÇÃO da diversidade biológica e dos


recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;
II - PROTEGER as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e
nacional;
III - CONTRIBUIR PARA A PRESERVAÇÃO e a RESTAURAÇÃO da
diversidade de ecossistemas naturais;
IV - PROMOVER O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL a partir dos
recursos naturais;
V - PROMOVER a utilização dos princípios e práticas de conservação da
natureza no processo de desenvolvimento;
VI - PROTEGER paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza
cênica;
VII - PROTEGER as características relevantes de natureza geológica,
geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
VIII - PROTEGER e RECUPERAR recursos hídricos e edáficos;
IX - RECUPERAR ou RESTAURAR ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa
científica, estudos e monitoramento ambiental;
XI - VALORIZAR econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação
ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo
ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de
populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e
sua cultura e promovendo-as social e economicamente.
Diretrizes do SNUC - art. 5º - O SNUC será regido por diretrizes que:

I - assegurem que no conjunto das unidades de conservação estejam


representadas amostras significativas e ecologicamente viáveis das
diferentes populações, habitats e ecossistemas do território nacional e
das águas jurisdicionais, salvaguardando o patrimônio biológico
existente;
II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao
envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da política
nacional de unidades de conservação;
III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação,
implantação e gestão das unidades de conservação;
IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-
governamentais, de organizações privadas e pessoas físicas para o
desenvolvimento de estudos, pesquisas científicas, práticas de
educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico,
monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das
unidades de conservação;
V - incentivem as populações locais e as organizações privadas a
estabelecerem e administrarem unidades de conservação dentro do
sistema nacional;
VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das
unidades de conservação;
VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação
in situ de populações das variantes genéticas selvagens dos animais e
plantas domesticados e recursos genéticos silvestres;
VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de
conservação sejam feitos de forma integrada com as políticas de
administração das terras e águas circundantes, considerando as
condições e necessidades sociais e econômicas locais;
IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no
desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso
sustentável dos recursos naturais;
X - garantam às populações tradicionais cuja subsistência dependa da
utilização de recursos naturais existentes no interior das unidades de
conservação meios de subsistência alternativos ou a justa indenização
pelos recursos perdidos;
XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros
necessários para que, uma vez criadas, as unidades de conservação
possam ser geridas de forma eficaz e atender aos seus objetivos;
XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis
e respeitadas as conveniências da administração, autonomia
administrativa e financeira; e
XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto
integrado de unidades de conservação de diferentes categorias,
próximas ou contiguas, e suas respectivas zonas de amortecimento e
corredores ecológicos, integrando as diferentes atividades de
preservação da natureza, uso sustentável dos recursos naturais e
restauração e recuperação dos ecossistemas.

ATENÇÃO!! É extremamente importante a leitura atenta dos objetivos e diretrizes do SNUC,


posto que as bancas costumam trocar tais definições em provas objetivas.

Órgãos do SNUC - art. 6º - O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas
atribuições:
I - Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio
Ambiente - Conama, com as atribuições de acompanhar a
implementação do Sistema;
II - Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de
coordenar o Sistema; e
III - Órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em caráter
supletivo, os órgãos estaduais e municipais, com a função de
implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as
unidades de conservação federais, estaduais e municipais, nas
respectivas esferas de atuação.

ATENÇÃO!! A execução das ações referentes à PNMA, que antes era atribuição exclusiva do
IBAMA, passou a ser do Instituto Chico Mendes (autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio
Ambiente). Dessa forma, o IBAMA permaneceu somente com a possibilidade de exercício do poder
de polícia supletivamente, nos casos de omissão do Instituto Chico Mendes.

Parágrafo único. Podem integrar o SNUC, excepcionalmente e a critério


do Conama, unidades de conservação estaduais e municipais que,
concebidas para atender a peculiaridades regionais ou locais, possuam
objetivos de manejo que não possam ser satisfatoriamente atendidos
por nenhuma categoria prevista nesta Lei e cujas características
permitam, em relação a estas, uma clara distinção.

Criação das Unidades de Conservação (art. 22) - São criadas por Ato do Poder Público, ou
seja, por LEI OU DECRETO DO PODER EXECUTIVO (Federal, Estadual ou Municipal).
Da mesma forma, a ampliação das unidades de conservação também pode ser realizada por
meio de lei ou decreto do executivo. Entretanto, SUA REDUÇÃO (OU SUPRESSÃO) SOMENTE PODE
OCORRER ATRAVÉS DE LEI (art. 225, parágrafo 1º, III da CF).

Art. 22, § 6º A ampliação dos limites de uma unidade de conservação,


sem modificação dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo
proposto, pode ser feita por instrumento normativo do mesmo nível
hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os
procedimentos de consulta estabelecidos no § 2º deste artigo.
Art. 22, § 7º A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de
conservação só pode ser feita mediante lei específica.

Necessidade de Estudos Técnicos e Consulta Pública - Em regra (exceção de Estação


Ecológica ou Reserva Biológica), a criação de uma unidade de conservação deverá ser precedida de
estudos técnicos e de consulta pública para definição de sua localização e de seus limites (art. 22, §§
2º e 3º).
Transformação de Unidades de Conservação - art. 22, § 5º - As unidades de conservação do
grupo de Uso Sustentável podem ser transformadas total ou parcialmente em unidades do grupo
de PROTEÇÃO INTEGRAL, por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a
unidade, desde que OBEDECIDOS OS PROCEDIMENTOS DE CONSULTA estabelecidos no § 2º deste
artigo.

ATENÇÃO!! Redução de Unidade de Conservação por Medida Provisória - Entendeu o STF


que É INCONSTITUCIONAL A REDUÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO POR MEIO DE MEDIDA
PROVISÓRIA. (Info. 896 do STF). Para a Corte, apesar das Medidas Provisórias possuírem força de Lei,
a redução ou supressão de unidade de conservação somente pode ser realizada por lei em sentido
estrito (art. 225, § 1º, II da CF).
Integração do Subsolo e do Espaço Aéreo - art. 24 - O subsolo e o espaço aéreo, sempre que
influírem na estabilidade do ecossistema, integram os limites das unidades de conservação.

1.1. CATEGORIAS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

1.1.1. Tipos de Unidades de Conservação (art. 7º):

a) Unidades de Proteção Integral - O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é


preservar a natureza, sendo admitido apenas o USO INDIRETO dos seus recursos naturais, com
exceção dos casos previstos na Lei.
O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto por cinco unidades de conservação:
(i) estação ecológica; (ii) reserva biológica; (iii) parque nacional; (iv) monumento natural; e (v)
refúgio de vida silvestre (art. 8°, da Lei do SNUC).
uso indireto: aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais.

b) Unidades de Uso Sustentável - O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é


compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos
naturais. Assim, a Lei do SNUC admite a exploração de parcela dos recursos naturais em regime de
manejo sustentável, desde que observado o zoneamento da área, as limitações legais e o plano de
manejo da respectiva UC, de modo a garantir não apenas a proteção dos recursos naturais, os meios
de vida e a cultura das populações extrativistas tradicionais, como também o uso sustentável dos
recursos naturais da respectiva unidade.
O grupo de uso sustentável é composto por sete unidades de conservação: (1) área de
proteção ambiental; 2) área de relevante interesse ecológico; 3) floresta nacional; 4) reserva
extrativista; 5) reserva da fauna; 6) reserva de desenvolvimento sustentável; e 7) reserva particular
do patrimônio natural.
uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos
ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais
atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável.

Unidades de Proteção Integral – UPI Unidades de Uso Sustentável – UUS

têm por objetivo básico a preservação da destinam-se à compatibilização entre a


natureza, sendo admitido apenas o uso indireto conservação da natureza e o uso sustentável de
dos seus recursos naturais, com exceção dos parcela dos seus recursos naturais. Admite o uso
casos previstos na própria lei. direto e indireto, de consumo e coleta.
Estação Ecológica Área de proteção ambiental

Reserva Biológica Área de relevante interesse ecológico

Parque Nacional Floresta Nacional

Monumento Natural Reserva Extrativista

Refúgio da Vida Silvestre Reserva de Fauna

– Reserva de desenvolvimento sustentável

– Reserva particular do patrimônio natural

1.1.2. Categorias de unidades de proteção integral

I - ESTAÇÃO ECOLÓGICA (art. 9º) - A Estação Ecológica tem como objetivo a preservação da
natureza e a realização de pesquisas científicas.
Esta unidade é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em
seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
É proibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o
que dispuser o Plano de Manejo da unidade ou regulamento específico.
Nessas unidades a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável
pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem
como àquelas previstas em regulamento.
Na Estação Ecológica só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas no caso de:
I - medidas que visem a restauração de ecossistemas modificados;
II - manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica;
III - coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas;
IV - pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado
pela simples observação ou pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área
correspondente a no máximo três por cento (3%) da extensão total da unidade e até o limite de um
mil e quinhentos (1.500) hectares.

II - RESERVA BIOLÓGICA (art. 10) - A Reserva Biológica tem como objetivo a preservação
integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana
DIRETA ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus
ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio
natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais.
A Reserva Biológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas
em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
Nessas unidades é proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de
acordo com regulamento específico.
Nesta unidade, a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela
administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como
àquelas previstas em regulamento. As modificações ambientais permitidas são apenas:
a) Medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados;
b) Ações de manejo necessárias para recuperar e preservar;
c) Equilíbrio natural;
d) Diversidade biológica;
e) Processos ecológicos naturais.

III - PARQUE NACIONAL (art. 11) - O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação
de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização
de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental,
de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.
Esta unidade é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em
seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. É forma de conservação in situ.
Nele, é absolutamente vedada a exploração econômica dos recursos naturais.
Nesta unidade a visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano
de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e
àquelas previstas em regulamento.
Por fim, a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela
administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como
àquelas previstas em regulamento.
Se criadas por Estado ou Município, serão denominadas, respectivamente, Parque Estadual e
Parque Natural Municipal.

IV - MONUMENTO NATURAL (art. 12) - O Monumento Natural tem como objetivo básico
preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.
Esta unidade pode ser constituída por áreas particulares, desde que seja possível
compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local
pelos proprietários. Entretanto, havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades
privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão
responsável pela administração da unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso
da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei.
Por fim, nesta unidade a visitação pública está sujeita às condições e restrições estabelecidas
no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua
administração e àquelas previstas em regulamento.

V - REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE (art. 13) - O Refúgio de Vida Silvestre tem como objetivo
proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de
espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.
Esta unidade pode ser constituída por áreas particulares, desde que seja possível
compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local
pelos proprietários. Entretanto, havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades
privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão
responsável pela administração da unidade para a coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o
uso da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei.
Nesta unidade a visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano
de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e
àquelas previstas em regulamento.
Por fim, a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela
administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como
àquelas previstas em regulamento.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL


Proibida a Pesquisa
Preservar a
visitação científica
ESTAÇÃO natureza e Posse e Áreas
pública, depende de Conselho
ECOLÓGICA realizar domínio particulares serão
exceto com autorização Consultivo.
(ART. 9º) pesquisas públicos. desapropriadas.
objetivo prévia do órgão
científicas.
educacional. responsável.
Preservar Proibida a
Pesquisa
integralmente a visitação
RESERVA Posse e Áreas depende de
biota e demais pública, Conselho
BIOLÓGICA domínio particulares serão autorização
atributos exceto com Consultivo.
(ART. 10) públicos. desapropriadas. prévia do órgão
naturais objetivo
responsável.
existentes. educacional.
Preservar
Visitação está
Ecossistemas Pesquisa
sujeita a
PARQUE naturais de Posse e Áreas depende de
normas e Conselho
NACIONAL grande domínio particulares serão autorização
restrições do Consultivo.
(ART. 11) relevância públicos. desapropriadas. prévia do órgão
Plano de
ecológica e responsável.
Manejo.
beleza cênica.
Pode ser
constituído por
áreas
particulares,
Visitação está
A lei não desde que haja
Preservar sítios sujeita a Pesquisa
MONUMENTO fala que compatibilidade
naturais raros, normas e depende de
NATURAL são de entre os Conselho
singulares ou de restrições do autorização
(ART. 12) posse e objetivos da Consultivo.
grande beleza Plano de prévia do órgão
domínio unidade com a
cênica. Manejo responsável
públicos utilização pelo
(art. 32, §2º).
proprietário.
Caso contrário,
haverá
desapropriação.
Pode ser
constituído por
Proteger áreas
ambientes particulares,
naturais para a A lei não desde que haja Visitação está
Pesquisa
REFÚGIO DA existência ou fala que compatibilidade sujeita a
depende de
VIDA reprodução de são de entre os normas e Conselho
autorização
SILVESTRE espécies ou posse e objetivos da restrições do Consultivo.
prévia do órgão
(ART. 13) comunidades de domínio unidade com a Plano de
responsável.
flora local e da públicos utilização pelo Manejo.
fauna residente proprietário.
ou migratória. Caso contrário,
haverá
desapropriação.

1.1.3. Espécies de unidades de proteção de uso sustentável

I - ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (art. 15) - A Área de Proteção Ambiental é uma área em
geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos,
estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das
populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o
processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
Esta é constituída por terras públicas ou privadas. Respeitados os limites constitucionais,
podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada
em uma Área de Proteção Ambiental.
As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio
público serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade. Disporá de um Conselho presidido pelo
órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de
organizações da sociedade civil e da população residente, conforme regulamento.
Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para
pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais.
O tratamento especial dado à APA pela Lei Complementar 140/2011, mais especificamente
no tocante ao licenciamento ambiental, e à supressão de vegetação em unidades de conservação. A
definição de competência para promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e
atividades e para aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e formações sucessoras
em unidades de conservação não observa o critério do ente federativo instituidor – que é o critério
geral, de modo que essa competência será definida conforme os critérios da predominância do
interesse.
(CESPE – 2006 – TRF 4ª Região – Juiz Federal) No regime jurídico das Áreas de Proteção
Ambiental (APAs), consoante a Lei nº 9.985/2000 (que instituiu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza - SNUC), as propriedades particulares
permanecem na posse e domínio dos proprietários, os quais deverão adequar suas
atividades às funções socioambientais da APA. (CERTO)

II - ÁREA DE RELEVANTE INTERESSE ECOLÓGICO (art. 16) - A Área de Relevante Interesse


Ecológico é uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana,
com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem
como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso
admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza.
A Área de Relevante Interesse Ecológico é constituída por terras públicas ou privadas.
Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a
utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Relevante Interesse Ecológico.

III - FLORESTA NACIONAL (art. 17) - A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal
de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos
recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de
florestas nativas.
A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas
em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei.
Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de populações tradicionais que a habitam
quando de sua criação, em conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da
unidade.
A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da
unidade pelo órgão responsável por sua administração.
A pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão
responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e
àquelas previstas em regulamento.
A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por
sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da
sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes.

IV - RESERVA EXTRATIVISTA (art. 18) - A Reserva Extrativista é uma área utilizada por
populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e,
complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem
como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso
sustentável dos recursos naturais da unidade.
A Reserva Extrativista é de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas
tradicionais conforme disposto na lei e em regulamentação específica, sendo que as áreas
particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
A Reserva Extrativista será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão
responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de
organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se
dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade.
A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e de acordo
com o disposto no Plano de Manejo da área.
A pesquisa científica é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão
responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às
normas previstas em regulamento.
Nessas unidades são proibidas a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou
profissional.
A exploração comercial de recursos madeireiros só será admitida em bases sustentáveis e em
situações especiais e complementares às demais atividades desenvolvidas na Reserva Extrativista,
conforme o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.

V - RESERVA DE FAUNA (art. 19) - A Reserva de Fauna é uma área natural com populações
animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para
estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos.
A Reserva de Fauna é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas
em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei.
A visitação pública pode ser permitida, desde que compatível com o manejo da unidade e de
acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração.
Nessa unidade é proibido o exercício da caça amadorística ou profissional.
A comercialização dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas obedecerá ao
disposto nas leis sobre fauna e regulamentos.

VI - RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (art. 20) - A Reserva de


Desenvolvimento Sustentável é uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência
baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de
gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na
proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável tem como objetivo básico preservar a natureza e,
ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos
modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem
como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente,
desenvolvido por estas populações.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é de domínio público, sendo que as áreas
particulares incluídas em seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas, de acordo com
o que dispõe a lei.

VII - RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL (art. 21) - A Reserva Particular do


Patrimônio Natural é uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a
diversidade biológica.
O gravame constará de termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que
verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro
Público de Imóveis.
Só poderá ser permitida, na Reserva Particular do Patrimônio Natural, conforme se dispuser
em regulamento: I - a pesquisa científica; II - a visitação com objetivos turísticos, recreativos e
educacionais;
Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação
técnica e científica ao proprietário de Reserva para a elaboração de um Plano de Manejo ou de
Proteção e de Gestão da unidade.
São vantagens: isenção de ITR (art. 104, p.u., Lei 8.171/91), preferência na concessão de
recursos do Fundo Nacional de Meio Ambiente e crédito agrícola, nas instituições de crédito oficiais
(Decreto n./ 1.922/96, arts. 12 e 13).
OBS: A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso
aos recursos de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio Natural (Art. 9º-B, Lei 6.938,
redação pelo Novo CFlo, Lei 12.615/12).

1.1.4. RESERVA DA BIOSFERA

Definição - art. 41 - A Reserva da Biosfera é um modelo, adotado internacionalmente, de


gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais, com os objetivos básicos de
preservação da diversidade biológica, o desenvolvimento de atividades de pesquisa, o
monitoramento ambiental, a educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da
qualidade de vida das populações.
Constituição - § 1º A Reserva da Biosfera é constituída por:
I - uma ou várias áreas-núcleo, destinadas à proteção integral da natureza;
II - uma ou várias zonas de amortecimento, onde só são admitidas atividades que não
resultem em dano para as áreas-núcleo; e
III - uma ou várias zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo de ocupação e o
manejo dos recursos naturais são planejados e conduzidos de modo participativo e em bases
sustentáveis.
§ 2º A Reserva da Biosfera é constituída por áreas de domínio público ou privado.
§ 3º A Reserva da Biosfera pode ser integrada por unidades de conservação já criadas pelo
Poder Público, respeitadas as normas legais que disciplinam o manejo de cada categoria específica.
Gestão - § 4º A Reserva da Biosfera é gerida por um Conselho Deliberativo, formado por
representantes de instituições públicas, de organizações da sociedade civil e da população residente,
conforme se dispuser em regulamento e no ato de constituição da unidade.

2. Criação, Implantação e Gestão das Unidades de Conservação:

2.1. Normas Gerais:

Criadas por ato do Poder Público: Para Paulo Bessa Antunes, a criação se dá por decreto,
enquanto para Vladimir Passos de Freitas, por lei, decreto ou resolução. Frederico Amado entende
que a criação ocorre por lei ou decreto.
A depender da modalidade, podem ser compostas de área pública ou particular. Neste último
caso, será necessária sua desapropriação, por utilidade pública. A Lei do SNUC, no art. 45, exclui da
indenização as espécies arbóreas declaradas imunes ao corte, os lucros cessantes, juros compostos
e áreas sem prova inequívoca do domínio anterior.
A criação deve ser precedida de estudos técnicos e consulta pública. A consulta pública,
concretização do princípio democrático, visa subsidiar a definição da localização, da dimensão e dos
limites mais adequados (art. 5º, Dec. 4.340/02). O STF (MS 24.184/2003) já decidiu que ela não pode
ser dispensada, sob pena de invalidade do ato de criação, apesar de não ser vinculativa. Frise-se que
a consulta pública é DISPENSADA para ESTAÇÕES ECOLÓGICAS e RESERVAS BIOLÓGICAS, uma vez
que o interesse público é presumido. A mera ampliação dos limites territoriais, sem redução em
outras áreas, depende dos requisitos da criação. No MS 25.347/2010, o STF entendeu não haver
ilegalidade na criação de mais de um tipo de UC pelo mesmo procedimento administrativo.
A desafetação ou redução dos limites de uma UC apenas pode se dar por meio de lei
específica. (exceção ao princípio do paralelismo das formas), já que o art. 225, §1º, III, CRFB, afirma
que alteração e supressão somente podem ser feitas por lei.
Durante os estudos técnicos, podem ser instituídas limitações administrativas provisórias ao
exercício de atividades e empreendimentos efetiva ou potencialmente causadores de degradação
ambiental, pelo prazo improrrogável de sete meses. Essas limitações visam a proteção cautelar da
área, quando houver risco de dano grave aos recursos ali existentes, a critério do órgão competente.
Nelas, não serão permitidas atividades que importem em exploração a corte raso da floresta e demais
vegetações nativas. Ficam ressalvadas as atividades agropecuárias e outras atividades econômicas
em andamento, bem como obras públicas licenciadas (art. 22-A, Lei 9.985/2000).

2.2. Zonas de Amortecimento:

Zona de amortecimento é o entorno de uma UC, onde as atividades humanas estão sujeitas
a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a UC
(art. 2º, XVIII, Lei do SNUC). Todas as UC devem possuir uma zona de amortecimento, salvo as Áreas
de proteção ambiental e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (art. 25, caput).
Pela inexistência de definição dos limites em lei, eles podem ser definidos no ato de criação
da UC ou posteriormente, devendo ser ouvidos os proprietários e possuidores das áreas.
Cabe ao órgão de administração da UC estabelecer normas específicas regulamentando a
ocupação e o uso dos recursos da zona. Se o regime for incompatível com o uso anterior da
propriedade, o Poder Público deve indenizar o proprietário, ou, em último caso, deve desapropriar.
A zona de uma UC de proteção integral, uma vez definida formalmente, não pode ser
transformada em zona urbana.
2.3. Corredor ecológico:

São porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação,


que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de
espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que
demandam, para a sua sobrevivência, áreas com extensão maior do que aquelas da UC individual
(Art. 2º, XIX Lei do SNUC). São instituídos pelo Ministério do Meio Ambiente (art. 11, Dec. 4.340/02)
e terão o mesmo tratamento de uma zona de amortecimento, a menos que integrem um mosaico.
2.4. Mosaico de UCs:

Conjunto de Unidades de Conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas


ou sobrepostas e outras áreas protegidas, públicas ou privadas. Os corredores integram o mosaico.
Esse mosaico exige gestão integrada e participativa, feita por um conselho de mosaico, que
considerará os distintos objetivos de conservação, para compatibilizar a presença da biodiversidade,
valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional. É
reconhecido em ato do Ministério do Meio Ambiente, a pedido de órgãos gestores das UC.

2.5. Plano de manejo:

É documento técnico mediante o qual se estabelece seu zoneamento e as normas que devem
presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas
físicas necessárias à gestão da UC. Tem caráter vinculante.
OBS: Zoneamento é a definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com
objetivos de manejo e normas específicas, com o intuito de proporcionar os meios e as condições
para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz.
O plano, que deve ser elaborado em até 5 anos a partir da criação da UC, deve abranger a
área da UC, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, devendo incluir medidas com
o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas.
É garantida a ampla participação da população residente na atualização e implementação
em Reservas Extrativistas, Reservas de Desenvolvimento Sustentável, Áreas de Proteção Ambiental
e, quando couber, das Florestas Nacionais e Áreas de Relevante Interesse Ecológico.
Nas Áreas de Proteção Ambiental e nas zonas de amortecimento das demais UC, o plano de
manejo poderá dispor sobre as atividades de liberação planejada e cultivo de organismos
geneticamente modificados, observada as informações técnicas da CTNBio (Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança) sobre:
a) O registro de ocorrência de ancestrais diretos e parentes silvestres;
b) As características de reprodução, dispersão e sobrevivência do organismo geneticamente
modificado;
c) O isolamento reprodutivo do organismo geneticamente modificado em relação aos seus
ancestrais diretos e parentes silvestres; e
d) Situações de risco do organismo geneticamente modificado à biodiversidade.

2.6. Taxa de Visitação – art. 35:

Pode ser cobrada quando se tratar de unidade de conservação de proteção integral, e seus
recursos devem ser aplicados nas áreas. Não foram definidos pressupostos básicos da cobrança.

2.7. Compensação por significativo impacto ambiental negativo – art. 36:

Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimento de significativo impacto


ambiental, conforme o órgão ambiental competente, fundamentado em EIA/RIMA, o empreendedor
é obrigado a apoiar a implantação e manutenção da unidade de conservação de proteção integral.
O montante de recursos é destinado a essa finalidade, sendo o percentual fixado pelo órgão
ambiental licenciador, conforme o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. É a
realização do princípio do usuário-pagador.
STF ADI 3.378/2008: declarou inconstitucional a expressão que previa que o montante “não
pode ser inferior a 0,5% dos custos totais de implantação do empreendimento”. Entendeu que o
valor da compensação deve ser fixado proporcionalmente o impacto ambiental, após estudo que
assegurasse contraditório e ampla defesa, que prescinde de fixação percentual sobre os custos do
empreendimento.
Em retrocesso, por ser prejudicial às UC, o Dec. 6.848/2009, que alterou o Dec. 4.340/02,
estabeleceu regras para o cálculo do valor, limitando a 0,5% dos custos totais.
O órgão licenciador definirá as UC beneficiadas, considerando o EIA/RIMA, ouvindo o
empreendedor. Pode, até mesmo, ser criada nova UC. Se o empreendimento afetar UC específica ou
sua zona de amortecimento, o licenciamento dependerá de autorização do órgão responsável por
sua administração, devendo a UC ser beneficiada, mesmo que não seja de proteção integral.
No RESP 896.863/2011, o STJ afirmou que, se o dano ambiental já tiver sido alvo de
compensação ambiental, não deve gerar a responsabilidade civil posterior do empreendedor, sob
pena de bis in idem. Apenas no caso de dano ambiental não previsto no EIA/RIMA é que será possível
a posterior responsabilização.
Destaque-se, por fim, que o Novo Código Florestal proporciona aos proprietários localizados
nas zonas de amortecimento de UC de proteção integral a possibilidade de receber apoio técnico-
financeiro decorrente da compensação ambiental, com a finalidade de recuperação e manutenção
das áreas prioritárias para a gestão da unidade.

2.8. Populações tradicionais:

Em que pese a lei 9.985/2000 não ter definido o termo, a ideia de populações tradicionais
está essencialmente ligada à preservação de valores, de tradições, de cultura. O Decreto 6.040/2007,
art. 3º, I, que aprovou a política nacional de desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades
tradicionais define como: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que
possuem recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e
econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
São considerados como tal os povos indígenas, quilombolas, seringueiros, pescadores
artesanais, extrativistas, caiçaras, entre outros. É possível sua manutenção, desde que observem o
regime jurídico de utilização dos recursos de cada modalidade, nas:
a) Áreas de proteção ambiental
b) Áreas de relevante interesse ecológico
c) Florestas nacionais
d) Reservas extrativistas
e) Reservas de desenvolvimento sustentável
Nas UC que não podem mantê-los, por manifesta incompatibilidade, as populações serão
indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas pelo poder
público em lugar e condições acordados entre as partes, devendo o poder público priorizar o seu
reassentamento. Até que isso ocorra, serão estabelecidas normas e ações específicas destinadas a
compatibilizar a sua presença.
Espaços Protegidos Não Incluídos na Lei Do SNUC. Terras Indígenas. Cultivo de Organismos
Geneticamente Modificados (OGM)

Há espaços que as normas anteriores à Lei do SNUC definiam como espaços ambientalmente
protegidos, e não foram abarcados pela lei do SNUC, tais como jardins botânicos e jardins
zoológicos. O artigo 55, da Lei do SNUC, estabelece que eles deverão ser reavaliados, no todo ou
em parte, com o objetivo de serem enquadrados nas categorias criadas pela Lei 9.985/00.
Enquanto não são tomadas as providências, aquelas áreas ambientalmente protegidas continuam
existindo.
Já as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da União (art. 20, XI, CF) e
destinam-se à sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos
rios e dos lagos nelas existentes (art. 231, § 2º, CF). Todavia, as terras indígenas, apesar de sua
relevância ambiental, não estão compreendidas como espécie de unidade de conservação da
natureza da Lei do SNUC.
Além do mais, em respeito ao princípio da precaução, com base nas incertezas científicas
sobre os possíveis impactos do cultivo dos transgênicos ao meio ambiente e à saúde, são vedados
a pesquisa e o cultivo de OGM (organismos geneticamente modificados) nas terras indígenas,
assim como nas áreas de Unidades de Conservação (exceto nas Áreas de Proteção Ambiental -
APA), de acordo com o art. 1º, da Lei 11.460/2007. Já que as terras indígenas são equiparadas às
APP's para efeito de exploração dos recursos florestais, apenas as próprias comunidades indígenas
podem explorar tais recursos, ainda assim em regime de manejo florestal sustentável, respeitando
as características ambientais da área.

Terras Devolutas, Ilhas Oceânicas e Costeiras com Função de Proteção Ambiental

Cabe Poder Público fazer o levantamento nacional das terras devolutas e definir quais serão
as destinadas à conservação da natureza (art. 43, Lei do SNUC), que, indispensáveis à preservação
ambiental, são bens da União (art. 20, 11, CRFB/1988), e podem ser classificadas como bens
públicos de uso especial, por terem destinação pública específica.
Do mesmo modo que as terras devolutas indispensáveis à proteção ambiental, também são
bens da União as ilhas oceânicas e costeiras (art. 20, IV, CF), com exceção das áreas que estiverem
no domínio do estado-membro (art. 26, II, CF). A lei do SNUC atribui às ilhas oceânicas e costeiras
relevante função ambiental, estabelecendo que se destinam, prioritariamente, à proteção da
natureza. Nesse sentido, de acordo com a lei do SNUC, a destinação das ilhas costeiras e oceânicas
para fins que não sejam de proteção ambiental deve ser precedida de autorização do órgão
ambiental competente (art. 44, da Lei do SNUC).
(CESPE – 2006 – TRF 5ª Região - Juiz Federal) As terras devolutas, em regra, pertencem aos estados,
sendo consideradas bens dominiais. No entanto, as áreas de proteção ambiental localizadas em
terras devolutas são bens de uso especial e pertencem à União. (CERTO)

3. JURISPRUDÊNCIA

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


INFORMATIVO 896 - POSSIBILIDADE DE EDIÇÃO DE MEDIDA PROVISÓRIA SOBRE MATÉRIA
AMBIENTAL. Entendeu o STF que é possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria
ambiental, porém sempre constando normas favoráveis ao meio ambiente. Para a corte, normas que
importem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem ser editadas por meio de
lei formal, posto que necessita de amplo debate parlamentar e participação da sociedade civil e dos
órgãos e instituições de proteção ambiental para garantir o direito de todos ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Dessa forma, para o STF é inconstitucional a edição de MP que importe
em diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado (Info 896).

INFORMATIVO 896 - INCONSTITUCIONALIDADE DA REDUÇÃO DE UNIDADE DE


CONSERVAÇÃO ATRAVÉS DE MEDIDA PROVISÓRIA. Entendeu o STF que é inconstitucional a
REDUÇÃO OU A SUPRESSÃO de espaços territoriais especialmente protegidos, entre eles as unidades
de conservação, através de medida provisória. Para a Corte, tal ato viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88,
posto que a redução ou supressão de unidade de conservação somente é permitida mediante lei em
sentido formal. Dessa forma, apesar da medida provisória possuir força de lei, o art. 225, § 1º, III, da
CF/88 exige lei em sentido estrito. Ante o exposto, conclui o STF que a proteção ao meio ambiente é
um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste expressamente do
elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88. (Info 896).
RESPONSABILIDADE POR DANOS AO MEIO AMBIENTE

1. DEFINIÇÕES RELACIONADAS

A título de introdução, é oportuno registrar que a responsabilidade civil por danos ambientais
é um tema alvo de inúmeras indefinições, mas é certo que tem um regime jurídico próprio, pois sofre
o influxo de normas específicas ambientais, apenas se utilizando as normas dos demais ramos
jurídicos supletivamente no que for compatível, especialmente do Direito Civil e Administrativo.
Definição de Degradação da Qualidade Ambiental - art. 3º, II da Lei 6.938/81 – Entende-se
por degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;
Definição de Poluição - art. 3º, III da Lei 6.938/81 - Poluição, a degradação da qualidade
ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

Definição de Poluidor - art. 3º, IV da Lei 6.938/81 - Poluidor, a pessoa física ou jurídica, de
direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental.
O poluidor direto é aquele que promove imediatamente a degradação ambiental, a exemplo
de um agricultor que executa a derrubada de uma floresta.
Já o poluidor indireto, conquanto não realize diretamente a degradação ao ambiente, faz
parte da cadeia que ensejou a lesão ambiental, a exemplo de uma instituição financeira que liberou
os recursos ao agricultor sem exigir previamente a licença ambiental.

1.1. RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL

A responsabilidade civil advém de ato contrário à ordem jurídica e tem como fato gerador o
comportamento humano (conduta), de modo que é garantido à vítima o direito de restaurar a
situação anterior, ressarcindo-lhe pelo prejuízo causado e oriundo de violação a direito. Com efeito,
a responsabilidade civil finaliza impor a determinada pessoa o dever de indenizar o dano causado a
outrem; é, pois, seu fim precípuo o restabelecimento do status quo ante. Ele decorre, naturalmente,
do princípio do poluidor-pagador.
É um a responsabilidade objetiva, por risco integral, cujo nexo de causalidade é robustecido
de modo a não se romper por causas que, normalmente, o romperiam.
ATENÇÃO: Apesar do robustecimento do nexo de causalidade, ainda é necessário prová-lo.
Ainda em termos constitucionais, é competência concorrente entre a União, os estados e o
Distrito Federal legislar sobre a responsabilidade por dano ao meio ambiente, com espeque no artigo
24, VIII, cabendo aos municípios editar normas suplementando as federais e estaduais, de acordo
com o interesse local.
Responsabilidade Objetiva do Poluidor - art. 14, § 1º da Lei 6.938/81 – “Sem obstar a
aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, INDEPENDENTEMENTE DA
EXISTÊNCIA DE CULPA, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade”, mas a Constituição federal não prevê, de forma expressa e específica,
a reparação objetiva do dano ambiental.
Um dos motivos da introdução da responsabilidade objetiva no direito ambiental foi a
circunstância de que os danos ambientais são causados ou por grandes corporações econômicas ou
pelo próprio Estado, o que torna quase impossível a comprovação da culpa desses agentes
causadores de degradação ambiental. Nesse sentido, a
jurisprudência do STJ vem aplicando o Princípio da Reparação Integral nas ações civis públicas
que objetivam a reparação do dano ambiental, a fim de impedir qualquer margem de lucro para os
responsáveis (RESP n° 625.249. Rel Min. Herman Benjamin. Segunda Turma. DJE 15/08/2006).
A responsabilidade objetiva conforma uma obrigação de indenizar, a qual é atribuída ao
agente causador do dano, pouco importando se agiu ou não com culpa, isto é, É-LHE ATRIBUÍDA A
RESPONSABILIDADE CIVIL POR TER ASSUMIDO O RISCO AO DESENVOLVER A ATIVIDADE. Além
disso, também é irrelevante a licitude da atividade desenvolvida, pois o fato de a conduta do
agente causador do dano ter sido autorizada pelo poder competente e ter obedecido aos padrões
técnicos ao exercício de sua atividade não exclui o dever de indenizar.
Com efeito, a degradação tolerada socialmente, amparada em regular licenciamento
ambiental, dentro dos padrões fixados pela legislação ambiental, não isenta o poluidor de responder
civilmente pelos danos ambientais, pois a reparação não tem a natureza jurídica de sanção civil, já
que visa recompor o estado ambiental anterior ou compensá-lo.
Legitimidade do MP - O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para
propor ação de responsabilidade CIVIL e CRIMINAL, por danos causados ao meio ambiente.
Obrigação de Reparar Prevista na CF - art. 225, § 2º da CF - Aquele que explorar recursos
minerais fica obrigado a RECUPERAR o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica
exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
Responsabilidade Prevista na CF - art. 225, § 3º da CF - As condutas e atividades consideradas
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, A SANÇÕES PENAIS E
ADMINISTRATIVAS, INDEPENDENTEMENTE DA OBRIGAÇÃO DE REPARAR OS DANOS CAUSADOS.
Responsabilidade Objetiva por Danos Nucleares - art. 21, XXIII, “d” da CF – A
responsabilidade civil por danos nucleares INDEPENDE DA EXISTÊNCIA DE CULPA.
Outra questão peculiar é que, no direito ambiental, existem inúmeras especificidades que
impedem a adoção integral da linha privatística, pois, tecnicamente, o dano ambiental normalmente
é irreparável in natura, de modo que uma floresta desmatada, por exemplo, não poderá ser
reintegrada na mesma forma que a originária, podendo-se no máximo reflorestar e constituir novo
ecossistema similar. Assim, uma vez impossibilitada a restauração em espécie, que é prioritária,
dever-se-á partir para uma compensação ambiental ou, em último caso, para a indenização em
pecúnia.
1.1.1. Responsabilidade Solidária entre Poluidores

Segundo a doutrina e a jurisprudência, a responsabilidade é SOLIDÁRIA entre todos os


poluidores (direto e indireto), inclusive o próprio Estado, em litisconsórcio facultativo.

“Ação civil pública. Dano causado ao meio ambiente.


Legitimidade passiva do ente estatal. Responsabilidade objetiva.
Responsável direto e indireto. Solidariedade. Litisconsórcio
facultativo. Art. 267, IV, do CPC. Prequestionamento. Ausência.
Súmulas 282 e 356 do STF. [...] 5. Assim, independentemente da
existência de culpa, o poluidor, ainda que indireto (Estado-
recorrente) (art. 3.º da Lei n.º 6.938/1981), é obrigado a
indenizar e reparar o dano causado ao meio ambiente
(responsabilidade objetiva). 6. Fixada a legitimidade passiva do
ente recorrente, eis que preenchidos os requisitos para a
configuração da responsabilidade civil (ação ou omissão, nexo de
causalidade e dano), ressalta-se, também, que tal
responsabilidade (objetiva) é solidária, o que legitima a inclusão
das três esferas de poder no polo passivo na demanda, conforme
realizado pelo Ministério Público (litisconsórcio facultativo)”
(RESP 604.725, DJ 22.08.2005).

Súmula 623/STJ: “As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível
cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.”
Aplica-se, na responsabilidade ambiental, a Teoria do Bolso Profundo, segundo a qual é o
autor da ação que escolhe contra quem demandar. Há, com o visto acima, um a obrigação solidária
com litisconsórcio facultativo.
Deep Pocket Doctrine (Doutrina do Bolso Profundo)

Deep Pocket doctrine possui origem no Direito norte-americano e preconiza que havendo vários
responsáveis pelo dano ambiental, e sendo de difícil aferição a responsabilidade de cada um, deve-
se transferir o ônus da reparação aquele que possui as melhores condições financeiras, daí o termo
“bolso profundo”, pois se remeteria a um bolso com bastante dinheiro.
Nesse sentido, afirma Frederico Amado:
“Há uma tendência específica no Direito Ambiental em buscar responsabilizar quem tem mais
condições de arcar com os prejuízos ambientais, com base na doutrina americana do “bolso
profundo”, uma vez que prevalece que todos os poluidores são responsáveis solidariamente pelos
danos ambientais”.

Ante o exposto, o Estado responde pelos danos ambientais objetivamente, quer por
conduta COMISSIVA, quer por conduta OMISSIVA.
Responsabilidade Subsidiária - Conquanto a responsabilidade do Estado seja objetiva, ela é
de EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA. Dessa forma, somente quando os particulares, diretamente causadores
do dano ambiental, não tiverem patrimônio para responder pelos danos causados o Estado será
responsabilizado.
EXEMPLO: Omissão de fiscalização. Não há teoria da falha do serviço, pois a responsabilidade,
em si, é objetiva. Portanto, o Estado possui um a “obrigação solidária” com “execução subsidiária”.
A súmula destaca, ainda, que a obrigação ambiental é propter rem, tendo natureza real. Se o
sujeito comprar um a área já desmatada, mesmo sem ter nexo de causalidade com o desmatamento
em si, haverá o nexo de causalidade a partir da propriedade ou posse da coisa.
Segundo o STJ, há responsabilidade objetiva do Estado por danos ambientais mesmo em se
tratando de omissão na fiscalização ambiental. Nesse sentido, vale colacionar passagem do
julgamento do REsp. 1.071.741, de 24.03.2009:

“4. Qualquer que seja a qualificação jurídica do degradador,


público ou privado, no Direito brasileiro a responsabilidade civil
pelo dano ambiental é de natureza objetiva, solidária e ilimitada,
sendo regida pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação
in integrum, da prioridade da reparação in natura, e do favor
debilis, este último a legitimar uma série de técnicas de facilitação
do acesso à Justiça, entre as quais se inclui a inversão do ônus da
prova em favor da vítima ambiental.
5. Ordinariamente, a RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO, POR
OMISSÃO, É SUBJETIVA OU POR CULPA, regime comum ou geral
esse que, assentado no art. 37 da Constituição Federal, enfrenta
duas exceções principais. Primeiro, quando a responsabilização
objetiva do ente público decorrer de expressa previsão legal, em
microssistema especial, como na proteção do meio ambiente (Lei
6.938/1981, art. 3.º, IV, c/c. o art. 14, § 1.º).
Segundo, quando as circunstâncias indicarem a presença de um
standard ou dever de ação estatal mais rigoroso do que aquele
que jorra, consoante a construção doutrinária e jurisprudencial,
do texto constitucional”.

Direito de Regresso do Estado contra o Poluidor Direto - Mesmo que o Estado se enquadre
como poluidor indireto por sua inércia em evitar o dano ambiental, após a reparação do dano, deverá
regressar contra o poluidor direto. Nesse sentido, colaciona-se passagem do Informativo 388 do STJ:

“Assim, sem prejuízo da responsabilidade solidária, deve o Estado


– que não provocou diretamente o dano nem obteve proveito
com sua omissão – buscar o ressarcimento dos valores
despendidos do responsável direto, evitando, com isso, injusta
oneração da sociedade. Com esses fundamentos, deu-se
provimento ao recurso. Precedentes citados: AgRg no Ag
973.577-SP, DJ 19.12.2008; REsp 604.725-PR, DJ 22.08.2005;
AgRg no Ag 822.764-MG, DJ 02.08.2007, e REsp 647.493- SC, DJ
22.10.2007. REsp 1.071.741-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 24/3/2009”.
Desconsideração da Personalidade Jurídica - art. 4º da Lei 9.605/98 - Poderá ser
desconsiderada a pessoa jurídica SEMPRE QUE SUA PERSONALIDADE FOR OBSTÁCULO ao
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente (teoria menor da
desconsideração).

1.1.2. Inversão do Ônus da Prova

Apesar de não haver previsão legal neste sentido, o STJ passou a admitir a inversão do ônus
da prova nas ações de reparação dos danos ambientais, com base no interesse público da
reparação e no Princípio da Precaução.

Trata-se da inversão do ônus probatório em ação civil pública


(ACP) que objetiva a reparação de dano ambiental. A Turma
entendeu que, nas ações civis ambientais, o caráter público e
coletivo do bem jurídico tutelado – e não eventual
hipossuficiência do autor da demanda em relação ao réu – conduz
à conclusão de que alguns direitos do consumidor também devem
ser estendidos ao autor daquelas ações, pois essas buscam
resguardar (e muitas vezes reparar) o patrimônio público coletivo
consubstanciado no meio ambiente. A essas regras, soma-se o
princípio da precaução.
Esse preceitua que o meio ambiente deve ter em seu favor o
benefício da dúvida no caso de incerteza (por falta de provas
cientificamente relevantes) sobre o nexo causal entre
determinada atividade e um efeito ambiental nocivo. Assim, ao
interpretar o art. 6º, VIII, da Lei n. 8.078/1990 c/c. o art. 21 da Lei
n. 7.347/1985, conjugado com o princípio da precaução, justifica-
se a inversão do ônus da prova, transferindo para o
empreendedor da atividade potencialmente lesiva o ônus de
demonstrar a segurança do empreendimento. (Precedente
citado: REsp 1.049.822-RS, DJe 18/5/2009. REsp 972.902-RS, Rel.
Min. Eliana Calmon, julgado em 25/8/2009.)

SÚMULA 618 DO STJ - A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA APLICA-SE ÀS AÇÕES DE


DEGRADAÇÃO AMBIENTAL.

1.1.3. Obrigação Propter Rem

Natureza Real (propter rem) da Obrigação de Reparação - art. 2º, § 2º da Lei 12.651/2012
(Novo Código Florestal) - As obrigações previstas nesta Lei TÊM NATUREZA REAL E SÃO
TRANSMITIDAS AO SUCESSOR, DE QUALQUER NATUREZA, NO CASO DE TRANSFERÊNCIA DE
DOMÍNIO OU POSSE DO IMÓVEL RURAL.

2. A obrigação de reparação dos danos ambientais é propter rem,


por isso que a Lei 8.171/1991 vigora para todos os proprietários
rurais, ainda que não sejam eles os responsáveis por eventuais
desmatamentos anteriores, máxime porque a referida norma
referendou o próprio Código Florestal (Lei 4.771/1965) que
estabelecia uma limitação administrativa às propriedades rurais,
obrigando os seus proprietários a instituírem áreas de reservas
legais, de no mínimo 20% de cada propriedade, em prol do
interesse coletivo. Precedente do STJ: REsp. 343.741/PR, Relator
Ministro Franciulli Netio, DJ de 07.10.2002.
3. Tal obrigação, aliás, independe do fato de ter sido o
proprietário o autor da degradação ambiental, mas decorre de
obrigação propter rem, que adere ao título de domínio ou posse.
Precedente: (AgRg. no REsp. 1206484/SP, Rel. Min. Humberto
Martins, 2.ª T. j. 17.03.2011, DJe 29.03.2011).

SÚMULA 623 DO STJ - AS OBRIGAÇÕES AMBIENTAIS POSSUEM NATUREZA PROPTER REM,


SENDO ADMISSÍVEL COBRÁ-LAS DO PROPRIETÁRIO OU POSSUIDOR ATUAL E/OU DOS ANTERIORES,
À ESCOLHA DO CREDOR.

1.1.4. Imprescritibilidade da Obrigação de Indenizar


TRF1 - PROVA ORAL. A pretensão reparatória de dano coletivo é imprescritível? A pretensão
reparatória ambiental coletiva é prescritível?

COMENTÁRIO DA QUESTÃO
A pretensão reparatória do dano ambiental público/difuso/coletivo é imprescritível.
Com o visto, o STJ admite o dano moral pela violação aos direitos de personalidade da coletividade
e admite cumulação de obrigação de fazer/não fazer e pagar indenização.

Tratando-se de direito difuso, a reparação civil assume grande amplitude, com profundas
implicações na espécie de responsabilidade do degradador que é objetiva, fundada no simples risco
ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano.
Dessa forma, o direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade
hermenêutica, está protegido pelo manto da IMPRESCRITIBILIDADE, por se tratar de direito
inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente de não estar
expresso em texto legal.

Em matéria de prescrição cumpre distinguir qual o bem jurídico


tutelado: se eminentemente privado seguem-se os prazos
normais das ações indenizatórias; se o bem jurídico é
indisponível, fundamental, antecedendo a todos os demais
direitos, pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem
lazer, considera-se imprescritível o direito à reparação. O dano
ambiental inclui-se dentre os direitos indisponíveis e como tal
está dentre os poucos acobertados pelo manto da
imprescritibilidade a ação que visa reparar o dano ambiental.
(REsp. 1.112.117, de 10.11.2009)
1.1.5. Teoria do Risco Integral

Definição - Para essa teoria, basta que presentes os pressupostos do dano e do nexo causal,
DISPENSANDO-SE AS EXCLUDENTES, como a culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso
fortuito ou força maior.
A posição que prevalece na doutrina ambiental é no sentido de que a Lei nº 6.938/81
adotou, em seu art. 14, § 1º, a RESPONSABILIDADE OBJETIVA na modalidade do RISCO INTEGRAL,
ou seja, o dever de reparação é fundamentado simplesmente pelo fato de existir uma atividade de
onde adveio o prejuízo, sendo desprezadas as excludentes da responsabilidade, como o caso
fortuito ou a força maior, ou seja, não há necessidade de verificar a intenção do agente.
Basta que se configure um prejuízo relacionado com a atividade praticada.

“A alegação de culpa exclusiva de terceiro pelo acidente em


causa, como excludente de responsabilidade, deve ser afastada,
ante a incidência da teoria do risco integral e da responsabilidade
objetiva ínsita ao dano ambiental (art. 225, § 3º, da CF e do art.
14, § 1º, da Lei nº 6.938/81), responsabilizando o degradador em
decorrência do princípio do poluidor-pagador” (REsp. 1.114.398).
TRF1 - PROVA ORAL. Qual a diferença entre a teoria do risco integral e a do risco criado, e qual
delas o ordenamento adotou?

A teoria do risco integral foi a adotada pelo nosso ordenamento. A teoria do risco criado permite
excludentes, ao passo que, na teoria do risco integral, o nexo causal é robustecido.

1.1.6. Cumulação de pedidos

É plenamente possível a cominação de obrigação de reparação com a indenização


pecuniária cumulativamente, até que haja a recuperação total do dano, se possível. Nesse sentido,
o entendimento do STJ, divulgado pelo Informativo 427:

“MEIO AMBIENTE. REPARAÇÃO. INDENIZAÇÃO. O princípio da


reparação in integrum aplica-se ao dano ambiental. Com isso, a
obrigação de recuperar o meio ambiente degradado é compatível
com a indenização pecuniária por eventuais prejuízos, até sua
restauração plena. Contudo, se quem degradou promoveu a
restauração imediata e completa do bem lesado ao status quo
ante, em regra, não se fala em indenização. Já os benefícios
econômicos que aquele auferiu com a exploração ilegal do meio
ambiente (bem de uso comum do povo, conforme o art. 225,
caput, da CF/1988) devem reverter à coletividade, tal qual no
caso, em que se explorou garimpo ilegal de ouro em área de
preservação permanente sem qualquer licença ambiental de
funcionamento ou autorização para desmatamento.
Com esse entendimento, a Turma deu parcial provimento ao
recurso para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação
de indenização pecuniária e obrigações de fazer voltadas à
recomposição in natura do bem lesado, o que impõe a
devolução dos autos ao tribunal de origem para que verifique
existir dano indenizável e seu eventual quantum debeatur.”
Precedente citado: REsp. 1.120.117-AC, Dje 19/11/2009. REsp.
1.114.893-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
16/3/2010.

SÚMULA 629 DO STJ - QUANTO AO DANO AMBIENTAL, É ADMITIDA A CONDENAÇÃO DO


RÉU À OBRIGAÇÃO DE FAZER OU À DE NÃO FAZER CUMULADA COM A DE INDENIZAR.

A Súmula 629 trata da possibilidade de cumulação. Suponha que há um a ação de


responsabilidade civil. Pode-se cumular a obrigação de fazer, não fazer e pagar. Em bora a Lei da Ação
Civil Pública utilize a conjunção alternativa “ou”, é admissível a condenação simultânea da obrigação
de fazer e não fazer com a de indenizar.

1.1.7. DANO AMBIENTAL

O dano ambiental é aquele que supera os limites de tolerabilidade normativamente


previstos. Deve-se lembrar que degradação é um a alteração adversa das características do meio
ambiente. É a degradação qualificada pela superação dos limites que gera a poluição.
O dano ambiental pode ser classificado considerando (i) a amplitude do bem protegido, (ii)
a reparabilidade e os interesses jurídicos envolvidos, (iii) a extensão e (iv) o interesse objetivado, de
acordo com a classificação e conceitos propostos por José Rubens Morato Leite, uma das mais
completas, senão a mais completa da doutrina.
Em relação à amplitude do bem protegido classifica-se em:
a) dano ecológico puro: aquele em que um ou alguns dos componentes naturais do
ecossistema é atingido de forma intensa;
b) dano ambiental lato sensu: abrange todos os componentes do meio ambiente, inclusive
o patrimônio cultural, protegendo-se, pois, o meio ambiente e todos os seus componentes, numa
concepção unitária;
c) dano individual ambiental ou reflexo (ricochete ou refluxo): atinge pessoas
individualmente consideradas e incide sobre interesses próprios do lesado, pois o dano patrimonial
ou extrapatrimonial sofrido por uma pessoa, ou a doença contraída, inclusive a morte, podem
decorrer de degradação ambiental.
Quanto à reparabilidade e ao interesse envolvido pode ser:
a) dano ambiental de reparabilidade direta: diz respeito a interesses próprios, tanto os
individuais quanto os individuais homogêneos. O interesse que sofreu lesão será indenizado
diretamente;
b) dano ambiental de reparabilidade indireta: relaciona-se aos interesses difusos, coletivos
e, eventualmente, individuais de dimensão coletiva. A reparação é dirigida preferencialmente ao bem
ambiental de interesse coletivo, considerando-se a capacidade funcional ecológica e a de
aproveitamento humano do meio ambiente. Não objetiva, pois, ressarcir interesses próprios e
pessoais.
Considerando-se a extensão pode-se dividir em:
a) dano patrimonial ambiental: incide sobre os bens materiais. Trata-se do dano material;
b) dano extrapatrimonial ambiental: é o dano moral ocasionado à sociedade e/ou aos
indivíduos decorrente de lesão ao meio ambiente. Abrange o dano ambiental extrapatrimonial
coletivo (quando atingido o macrobem ambiental) e o dano ambiental extrapatrimonial reflexo, a
título individual (quando se referir ao microbem ambiental).
Relativamente aos interesses objetivados biparte-se em:
a) dano ambiental de interesse da coletividade ou de interesse público: à coletividade
interessa preservar o macrobem ambiental para as presentes e futuras gerações;
b) dano ambiental de interesse individual: aquele que se reflete no interesse particular da
pessoa, inclusive o de defender o macrobem, tutelado via ação popular.
*#OUSESABER: O que se entende por carácter sinérgico do dano ambiental? O caráter sinergético
do dano ambiental corresponde à hipótese em que a degradação do meio ambiente decorre de
várias fontes independentes que somadas resultam em lesão ao bem jurídico ambiental, obrigando
solidariamente todos os poluidores à sua reparação.

*#OUSESABER: em que consiste os efeitos transitórios, remanescentes ou reflexos, do dano


ambiental?
Nas demandas ambientais, por força dos princípios do poluidor-pagador e da reparação in
integrum, admite-se a condenação do réu, simultânea e agregadamente, em obrigação de fazer
(recompor/restaurar/recuperar as áreas afetadas), não fazer (não mais poluir ou degradar) e
indenizar em pecúnia. Se o bem ambiental lesado for imediata e completamente restaurado ao
status quo ante não há falar, ordinariamente, em indenização remanescente. Contudo, a
possibilidade técnica, no futuro, de restauração in natura nem sempre se mostra suficiente para
reverter ou recompor integralmente as várias dimensões do dano ambiental causado. Há uma
parcela que, causada pelo mesmo comportamento pretérito do agente, apresenta efeitos
deletérios de cunho futuro, irreparável ou intangível. Essa degradação ou dano transitório,
remanescente ou reflexo do meio ambiente inclui: a) o prejuízo ecológico que medeia,
temporalmente, o instante da ação ou omissão danosa e o pleno restabelecimento ou
recomposição da biota; b) a ruína ambiental que subsista ou perdure, não obstante todos os
esforços de restauração (= dano residual ou permanente), e c) o dano moral coletivo. Nesse
sentido: STJ - REsp 1.180.078/MG (Rel. Min Herman Benjamin, DJe de 28/2/2012)

É aquele em que um ou alguns dos componentes naturais do


Dano Ecológico Puro
ecossistema é atingido de forma intensa;

Quanto à Abrange todos os componentes do meio ambiente, inclusive o


Dano Ecológico Lato
amplitude do patrimônio cultural, protegendo-se, pois, o meio ambiente e
Sensu
bem protegido todos os seus componentes, numa concepção unitária;
Dano individual Atinge pessoas individualmente consideradas e incide sobre
ambiental ou interesses próprios do lesado, pois o dano patrimonial ou
reflexo extrapatrimonial sofrido por uma pessoa, ou a doença
contraída, inclusive a morte, podem decorrer de degradação
ambiental.

Dano ambiental de Diz respeito a interesses próprios, tanto os individuais quanto


reparabilidade os individuais homogêneos. O interesse que sofreu lesão será
direta indenizado diretamente;

Quanto à
Reparabilidade Relaciona-se aos interesses difusos, coletivos e,
eventualmente, individuais de dimensão coletiva. A reparação
Dano ambiental de
é dirigida preferencialmente ao bem ambiental de interesse
reparabilidade
coletivo, considerando-se a capacidade funcional ecológica e
indireta
a de aproveitamento humano do meio ambiente. Não
objetiva, pois, ressarcir interesses próprios e pessoais.
Dano patrimonial
Incide sobre os bens materiais. Trata-se do dano material.
ambiental
Considerando à É o dano moral ocasionado à sociedade e/ou decorrente de
extensão do Dano lesão ao meio ambiente. Abrange o dano ambiental
dano extrapatrimonial extrapatrimonial coletivo (quando atingido o macrobem
ambiental ambiental) e o dano ambiental extrapatrimonial reflexo, a
título individual (quando se referir ao microbem ambiental).
Dano ambiental de
À coletividade interessa preservar o macrobem ambiental
interesse da
para as presentes e futuras gerações;
Interesses coletividade
objetivados Aquele que se reflete no interesse particular da pessoa,
Dano ambiental de
inclusive o de defender o macrobem, tutelado via ação
interesse individual
popular.

1.1.8. INTERVENÇÃO MÓVEL DA FAZENDA PÚBLICA

O professor Ilan Presser abre um parêntese para falar da “intervenção móvel da Fazenda
Pública”. Ele ressalta que, apesar de não ser um assunto estritamente de Direito Ambiental, também
aparece nas provas dessa disciplina.
Se um ente público quiser deslocar-se do polo passivo para o ativo (exemplo: há um
desmatamento em um a unidade de conservação da União, e ela afirma que também foi vítima e,
portanto, quer ir para o polo ativo da demanda), é possível a intervenção móvel do ente público. Para
tanto, ele deve demonstrar de maneira concreta e indubitável que, de boa-fé e eficazmente, tom ou
as medidas necessárias saneadoras da ilicitude.
Isso é parecido com a ação de improbidade administrativa: se o ente público tomar todas as
providências para sanar a lesividade do ato, ele pode deslocar-se para o polo ativo da demanda (ele,
portanto, tem os cadastros no SIAFI e no CAUC retirados).
Isso acontece muito quando há a troca de prefeito. Se o novo prefeito ficar submetido aos
problemas da gestão anterior, ele não conseguirá governar. Portanto, a jurisprudência diz que, se ele
tomar todas as medidas para sanar o ilícito (mandar para o TCU, buscar cobrar o que é de direito do
município etc), ele não terá essa restrição.
Da mesma maneira, no dano ambiental, há um a possibilidade de intervenção móvel do ente
público. Entretanto, isso é um reconhecimento implícito do pedido.
Imagine que o poder público foi colocado no polo passivo. Ele pode fazer a intervenção móvel
se ele, de maneira concreta e indubitável, tiver um a postura extraprocessual que reconheça
implicitamente o pedido, ou seja, que vise a sanar a lesividade.
O juiz admite isso quando o ente público demonstra de maneira concreta, indubitável e de
boa-fé que tomou as providências para sanar a ilicitude e também medidas disciplinares contra
servidores omissos, ímprobo etc. Trata-se de um tema interessante para um a prova discursiva. Essa
intervenção móvel não tem preclusão. Ela pode se dar a qualquer tempo, mesmo após a
apresentação de contestação pelo ente público.

1.1.9. CARÁTER DÚPLICE/AMBIVALENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL

A responsabilidade civil ambiental tem caráter ambivalente ou dúplice: pode ser pública ou
privada. A pública é imprescritível, seja material ou moral [3]. O dano ambiental privado, que também
pode ser material ou moral, é prescritível (é o "dano ambiental em ricochete" ou "bumerangue").
Conforme a tese n. 10 do Jurisprudência em Teses visto acima, o pescador tem direito ao dano
moral ambiental pela privação de suas condições de trabalho em caso de acidente ambiental.
Contudo, o Inf. 574 do STJ diz que, se o causador for um empreendimento lícito e licenciado,
como, por exemplo, um a usina hidrelétrica, o pescador não terá direito a dano moral ambiental
individual, porque oneraria o contrato de concessão.
Fora essa situação, o acidente ambiental dá direito ao dano moral ambiental individual
privado, que é prescritivo e não tem caráter punitivo.
Segundo o STJ, é legítima a fixação de indenização, por dano m oral ambiental privado, de
R$3.000,00 por pescador. Isso porque o caráter punitivo é do direito penal e administrativo. No dano
ambiental material individual é preciso abater da indenização o período de defeso, posto que, no
período de defeso, o sujeito já recebe a mensalidade para não pescar.
Logo, por exemplo, em razão do acidente de Mariana, da mineradora Hydro em Barcarena e
de Brumadinho, os pescadores profissionais que nesses locais viviam não podem m ais pescar em
razão da contam inação. O STJ disse, em repetitivo, que há o direito ao dano material e m oral
individual (que não tem caráter punitivo).
Este foi o caso em que o STJ disse que não há caráter punitivo: Resp 1.354.536-SE (Inf.
538/STJ). O caso envolve um acidente ocorrido em 2008, quando subsidiária da Petrobras deixou
vazar para as águas do rio Sergipe cerca de 43 mil litros de amônia, que resultou em dano ambiental
provocando a morte de peixes e frutos do mar e quebra da cadeia alimentar do ecossistema fluvial
local.
Nesse caso, o STJ afirmou que há legitimidade para pedir indenização por dano ambiental que
resultou na redução da pesca, com o registro de pescador profissional e a habilitação ao seguro-
desemprego, durante o período de defeso, que, somados a outros elementos de prova, são idôneos
à sua com provação.
Lembrando que a emissão da carteira pode ser posterior ao dano ambiental (está, inclusive,
no Jurisprudência em Teses n. 119).
Isso é muito utilizado para ações de segurado especial. O início de prova material legítimo é
a carteira de pescador profissional, pois o STJ disse que esta legitima o pedido de indenização.
Portanto, o que há é um a responsabilidade por dano ambiental objetiva pela teoria do risco
integral. Em regra, ela não admite excludentes. Quem explora atividade econômica se coloca na
posição de garantidor da preservação ambiental.
É inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo
imediato, pois a punição é função que incumbe ao direito penal e administrativo. Dano moral
individual não tem caráter punitivo.
Em suma: o dano moral individual não tem caráter punitivo e, no dano material, deduz-se o
período de defeso, pois o sujeito já recebeu o seguro defeso.
A compensação pelos danos morais tem um a função preventiva essencial de eliminar fatores
capazes de produzir riscos intoleráveis. Contudo, não há que se falar em punitive damages no direito
brasileiro, que não consagra esse instituto do direito comparado.
O STJ admite também a possibilidade de dano moral coletivo. Ele não decorre apenas do
dano material coletivo (que, no Direito Ambiental, é o dano ambiental público), sendo necessário
que haja algum a demonstração. Não incide a teoria subjetiva do dano moral. Isto é, não é necessário
comprovar dor, sofrimento, humilhação ou constrangimento. Incide, tanto para o individual quanto
para o público, a teoria objetiva do dano moral. Em outras palavras, é um a violação objetiva a um
dos direitos da personalidade. No caso do dano moral coletivo, violação dos direitos objetivos da
coletividade.

1.2. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL

A Constituição federal, no seu artigo 225, § 3º, prevê a incidência cumulativa das sanções
administrativas e penais contra os infratores ambientais, independentemente da reparação civil dos
danos. Desse modo, uma conduta poderá gerar a responsabilidade das pessoas físicas ou jurídicas
nas três instâncias, que são independentes e autônomas.
Tendo em vista que a regra geral é a competência material comum entre todos os entes
políticos para proteger o meio ambiente e controlar a poluição em todas as suas formas (art. 23, IV,
da CF), assim como legislar concorrente sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da
natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição
(art. 24, VI, da CF) ‒ cada qual terá a atribuição de instituir as suas próprias infrações administrativo-
ambientais por lei, que culminarão com a aplicação de penalidades administrativas com base no
poder de polícia ambiental, observado o devido processo legal, especialmente com a ampla
possibilidade de defesa, mediante a oportunização de instrução probatória, representação por
advogado e recurso a autoridade superior, entre outras garantias.
Para José Afonso da Silva, a responsabilidade administrativa fundamenta-se na capacidade
que têm as pessoas jurídicas de direito público de impor condutas aos administrados. Esse poder
administrativo é inerente à Administração de todas as entidades estatais – União, Estados, Distrito
Federal e Municípios - nos limites das respectivas competências institucionais.
Dessa forma, a responsabilização administrativa decorre da infração às normas
administrativas de proteção ambiental e enseja a imposição de uma sanção ao sujeito infrator.
Ambas, a infração e a sanção, devem estar previstas em lei em atenção ao princípio da
legalidade, que deve necessariamente reger os atos administrativos.
Poder de Polícia - De forma simplificada é o poder que a Administração Pública exerce sobre
todas as atividades e bens que afetam ou possam afetar a coletividade.
Desta feita, o chamado poder de polícia ambiental consiste na tutela da Administração
Pública sobre as atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, tendo em vista o direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Essa obrigação é um corolário do caput
do art. 225 da Constituição Federal, que impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defender
e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações (AMADO, Frederico. Direito
Ambiental. 4 ed. São Paulo: Forense, 2014, p. 134).
Se o poder de polícia é monopólio do Estado, o poder de polícia ambiental só pode ser
exercido pelos órgãos ambientais integrantes do SISNAMA e pela Capitania dos Portos, conforme
estabelece o § 1°, do art. 70, da Lei n. 9.605/98. Os órgãos ambientais integrantes do SISNAMA com
poder de polícia são aqueles responsáveis pela emissão de atos administrativos autorizativos, pela
fiscalização e pela imposição de sanções administrativas ambientais, seja em âmbito federal,
estadual, distrital seja municipal.
A competência para o licenciamento ambiental não se confunde com a atribuição para
exercer a fiscalização ambiental, podendo ser exercidos por diferentes esferas, já que todos os entes
federados têm competência constitucional comum para o controle da poluição, na forma do artigo
23, VI, da Constituição federal.

Entretanto, de acordo com o artigo 17, caput, da Lei Complementar 140/2011, compete ao
órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou
atividade lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de
infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou
autorizada.
Nos termos do § 3°, do mesmo dispositivo, essa competência não impede os entes federativos
da atribuição comum de fiscalizar a conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou
potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor,
prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de
licenciamento ou autorização.
Ao fim, o art. 7º, XIII, da LC 140/2011, assevera que compete à União exercer o controle e
fiscalizar as atividades e empreendimentos cuja atribuição para licenciar ou autorizar,
ambientalmente, for cometida à União. O mesmo foi previsto para os estados, o Distrito Federal e os
municípios nos artigos 8º, XIII, e 9º, XIII, todos da Lei Complementar 140/2011, sendo esta a regra
atual: ordinariamente, quem licenciou é que irá fiscalizar.
Definição de Infração Administrativa - A infração administrativa é o descumprimento
voluntário de uma norma administrativa para o qual se prevê sanção cuja imposição é decidida por
uma autoridade competente no exercício da função administrativa.

Art. 70 da Lei 9.605/98 - Considera-se infração administrativa


ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas
de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio
ambiente.
Natureza da Responsabilidade Administrativa - Existe grande divergência doutrinária e
jurisprudencial sobre a natureza da responsabilidade administrativa ambiental. Existem julgados do
STJ afirmando ser de natureza objetiva e julgados informando ser de natureza subjetiva. Entretanto,
a posição mais segura a ser adotada é a de que a responsabilidade administrativa em matéria
ambiental é SUBJETIVA, OU SEJA, DEPENDE DA EXISTÊNCIA DE DOLO OU CULPA. Os julgados mais
recentes do STJ apontam para esse entendimento (Resp .1.401.500/PR de 2016 e EREsp. 1318051/RJ
de 2019).

2. A insurgente opôs Embargos de Declaração com intuito de


provocar a manifestação sobre o fato de que os presentes autos
não tratam de responsabilidade ambiental civil, que seria
objetiva, mas sim de responsabilidade ambiental administrativa,
que exige a demonstração de culpa ante sua natureza subjetiva.
Entretanto, não houve manifestação expressa quanto ao pedido
da recorrente. 3. Cabe esclarecer que, no Direito brasileiro e de
acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a
responsabilidade civil pelo dano ambiental, qualquer que seja a
qualificação jurídica do degradador, público ou privado,
proprietário ou administrador da área degradada, é de natureza
objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do
poluidor-pagador, da reparação in integrum, da prioridade da
reparação in natura e do favor debilis. 4. Todavia, os presentes
autos tratam de questão diversa, a saber a natureza da
responsabilidade administrativa ambiental, bem como a
demonstração de existência ou não de culpa, já que a
controvérsia é referente ao cabimento ou não de multa
administrativa. 5. Sendo assim, o STJ possui jurisprudência no
sentido de que, "tratando-se de responsabilidade
administrativa ambiental, o terceiro, proprietário da carga, por
não ser o efetivo causador do dano ambiental, responde
subjetivamente pela degradação ambiental causada pelo
transportador" (AgRg no AREsp 62.584/RJ, Rel. Ministro Sérgio
Kukina, Rel. p/ acórdão Ministra Regina Helena Costa, Primeira
Turma, DJe 7.10.2015). 6. "ISSO PORQUE A APLICAÇÃO DE
PENALIDADES ADMINISTRATIVAS NÃO OBEDECE À LÓGICA DA
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA ESFERA CÍVEL (PARA
REPARAÇÃO DOS DANOS CAUSADOS), MAS DEVE OBEDECER À
SISTEMÁTICA DA TEORIA DA CULPABILIDADE, OU SEJA, A
CONDUTA DEVE SER COMETIDA PELO ALEGADO
TRANSGRESSOR, COM DEMONSTRAÇÃO DE SEU ELEMENTO
SUBJETIVO, E COM DEMONSTRAÇÃO DO NEXO CAUSAL ENTRE A
CONDUTA E O DANO". (REsp. 1.251.697/PR, Rel. Ministro Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 17.4.2012)
2013 - CESPE - AGU - PROCURADOR FEDERAL - Discursiva - Tendo em vista que, na atualidade,
inúmeras ações judiciais têm sido impetradas contra autarquias federais, visando à liberação de
bens apreendidos por estarem sendo utilizados em infrações ambientais, com o, por exemplo,
caminhões utilizados no transporte de madeira ilegalmente extraída; gaiolas e m alas utilizadas no
transporte de animais silvestres; e tratores utilizados para desmatamento ou parcelamento
irregular, redija um texto dissertativo a respeito da apreensão de bens utilizados na prática de
infrações administrativas ambientais.
Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes pontos:
COMENTÁRIO DA QUESTÃO
Registra-se que o bem pode ser apreendido cautelarmente, a exemplo de um fiscal do Ibama que
vê toras de madeira, veículos estruturalmente alterados e barcos transportando madeira ilegal, de
modo que ele apreende, imediatamente, os instrumentos, nesse caso, do crime. Contudo, ressalta-
se que o Ibama não autua por crimes, mas sim pela infração administrativa, pois existe
independência de instâncias. Ademais, pontua-se que o crime de tráfico de animais silvestres é de
competência da Justiça Federal, conforme reconhecido pelo Supremo em razão da
transnacionalidade desse delito de tráfico internacional.
O texto de resposta deve abordar a apreensão como cautela (art. 25, Lei 9.605/98) ou sanção
administrativa (art. 70 e seguintes da Lei 9605/98). Tem-se a possibilidade de apreensão imediata
- pois, enquanto a infração administrativa estiver sendo praticada, existe a exigibilidade e
executoriedade -, além da própria sanção. Na apreensão, na prática, é comum deixar alguém com
o depositário, quando for um bem grande ou de difícil acondicionamento.
EXEMPLO: Dois fiscais do Ibama verificam um a retroescavadeira gigante. Eles não têm estrutura
para fazer a remoção desse bem.
Caso em que os fiscais podem colocar alguém com o depositário e deixar o bem onde ele foi
encontrado. Isso também acontece, mas, normalmente, quando há cautela, faz-se a apreensão.
Depois que isso é feito, é comum haver ações na Justiça Federal para liberar os bens.
Às vezes, depois do fim do processo administrativo, há apreensão na sede da empresa, por
exemplo. Situação em que também é comum ações na Justiça Federal, normalmente mandado
segurança, para liberação de bens.
Há, portanto, esses dois momentos de aplicação: ou apreensão como cautela ou apreensão como
sanção. Era esse aspecto que deveria ser debatido na resposta à questão discursiva supra.
Em relação ao diálogo da esfera penal, tem-se a independência de instâncias.
EXEMPLO: O Ibama em um a operação (pontua-se que a polícia, privativamente, realiza inquéritos
policiais, mas nem toda investigação é da polícia) fez a apreensão cautelar de retroescavadeira,
veículos e embarcação estruturalmente alterada. Em seguida, ele encaminha a autuação para o
MPF.
O MPF, titular da ação penal, verifica e denuncia. A investigação será justamente a documentação
do Ibama, que tem presunção relativa de veracidade, de modo que será chamado, no processo
criminal, quem fez a operação.
O problema é que, às vezes, isso demora. Há demora para chegar no MP, para este ajuizar ação e
para se chegar na audiência. Com isso, geralmente, o oficial nem lembra muito bem da operação.
Pode-se, também, haver a apreensão criminal. Considerando-se que há um a independência de
instâncias, mesmo com um a absolvição na seara criminal, é possível uma condenação
administrativa, salvo se houver, na esfera criminal, uma absolvição por ausência de autoria ou por
ausência de materialidade comprovada.
Esses casos são raros, porque normalmente a absolvição criminal se dará por prescrição ou por
falta de provas, hipóteses nas quais não há um juízo categórico, porque a esfera criminal busca a
verdade real, de modo que ela possui um a modalidade de instrução muito mais detalhada.
Portanto, se no âmbito criminal restar assentada a ausência de autoria ou que não houve o fato,
haverá a comunicação, de modo que o juízo administrativo fica obrigado a também absolver e não
punir administrativamente.
Entretanto, se for um a absolvição por falta de provas ou se houver, eventualmente, uma
condenação criminal, pode ser que não seja infração administrativa, em razão da independência
de instâncias.
Inclusive está no Jurisprudência em Teses que o Ibama não pode impor sanções administrativas
sem expressa previsão legal (Enunciado 2 do Jurisprudência em Teses nº 30).
Portanto, nesse caso, tem-se, às vezes, um a condenação criminal com um a absolvição
administrativa. A regra geral é a independência de instâncias. Som ente há comunicação e
obrigatoriedade no caso, por exemplo, de absolvição, se for um a absolvição categórica por
ausência de autoria.
Ressalta-se que há a possibilidade ou não de apreensão administrativa se houver absolvição do
autuado na esfera penal. Contudo, se a absolvição for por ausência de autoria, não se pode fazer
apreensão, porque, nessa hipótese, há comunicação do penal para o administrativo. No entanto,
se for um a absolvição por falta de provas ou prescrição, pode haver a condenação administrativa.

O STJ vem admitindo que a lavratura dos autos de infração pelo IBAMA não é atividade
exclusiva dos analistas ambientais, desde que haja designação para atual na fiscalização ambiental.
Nesse sentido, conforme entendimento sedimentado pelo STJ, o ato administrativo deverá ser
anulado se o servidor que lavrar o auto de infração não estiver designado para fazê-lo.

O auto de infração deverá ser lavrado em impresso próprio, com a identificação do autuado,
a descrição clara e objetiva das infrações administrativas constatadas e a indicação dos respectivos
dispositivos legais e regulamentares infringidos, não devendo conter emendas ou rasuras que
comprometam sua validade (art. 97 do Decreto 6.514/2008).

Caso apresente vício sanável, caberá a convalidação do auto de infração pela autoridade
administrativa superior, desde que seja reaberto novo prazo de defesa ao autuado, a exemplo de
mácula em sua forma. Todavia, o vício insanável ensejará a pronúncia de nulidade do auto de
infração e o arquivamento do processo administrativo, assim considerado aquele em que a correção
da autuação implica modificação do fato descrito no auto de infração. O erro no enquadramento
legal da infração não implica vício insanável, podendo ser alterado pela autoridade julgadora
mediante decisão fundamentada, que retifique o auto de infração.

O processo administrativo para apuração de infração ambiental deve observar os seguintes


prazos máximos: (i) vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de
infração, contados da data da ciência da autuação; (ii) trinta dias para a autoridade competente
julgar o auto de infração, contados da data da sua lavratura, apresentada ou não a defesa ou
impugnação; (iii) vinte dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior do
Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da
Marinha, de acordo com o tipo de autuação; e (iv) cinco dias para o pagamento de multa, contados
da data do recebimento da notificação.

Sanções Administrativas Previstas na Lei de Crimes Ambientais - art. 72 da Lei 9.605/98 - As


infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º:

I - advertência;
II - multa simples;
III - multa diária;
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e
flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de
qualquer natureza utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade;
VIII - demolição de obra;
IX - suspensão parcial ou total de atividades;
XI - restritiva de direitos.
§ 8º As sanções restritivas de direito são:
I - suspensão de registro, licença ou autorização;
II - cancelamento de registro, licença ou autorização;
III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais;
IV - perda ou suspensão da participação em linhas de
financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;
V - proibição de contratar com a Administração Pública, pelo
período de até três anos.

1.2.1. Advertência

O objetivo da advertência é formalizar a comunicação ao infrator sobre determinada


irregularidade, estabelecendo forma e prazo para sua adequação. Trata-se da mais leve das sanções
administrativas ambientais, já que de sua imposição não decorre qualquer efeito prático imediato, a
não ser o início da contagem do prazo de adequação ao final do qual a atividade poderá ser multada
e embargada (§ 2°, art. 72, da Lei n. 9.605/98).
De acordo com o art. 5° do Decreto n. 6.514/08, essa é uma sanção aplicada às infrações de
menor potencial ofensivo, para as quais a multa máxima cominada não ultrapasse o valor de RS
1.000,00, ou, no caso de multa por unidade de medida, a multa aplicável não exceda o valor referido.
A advertência serve para ressaltar a função didática e preventiva dos órgãos ambientais, que, muitas
vezes, são acusados de enfatizar mais a arrecadação do que a defesa do meio ambiente.

1.2.2. Multa simples e multa diária – vedação ao bis in idem

A multa simples ‒ que terá por base a unidade, o hectare, o metro cúbico, o quilograma ou
outra medida pertinente de acordo com o objeto jurídico lesado, cabendo ao órgão ambiental
especificar e justificar a escolha da unidade de medida aplicável (art. 74 da Lei 9.605/1998) ‒ será
aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo, não sanar as irregularidades no prazo
consignado na advertência ou opuser embaraço à fiscalização (§ 3°, do art. 72, da Lei n. 9.605/98).
Nesse contexto, a multa simples é aplicada em função de uma infração administrativa
ambiental comum. Caso haja a ocorrência de uma infração administrativa continuada, poderá a
autoridade ambiental aplicar a multa diária (§ 5°, do art. 72, da Lei n. 9.605/98).
Normalmente a multa diária é aplicada quando a irregularidade permanece mesmo após a
aplicação da multa simples, embora nada impeça que aquela modalidade de multa seja aplicada
diretamente. Os valores arrecadados com as multas serão revertidos para o Fundo Nacional do Meio
Ambiente, para o Fundo Naval ou para os fundos estaduais, distrital e municipais de meio
ambiente, de acordo com o órgão responsável pela lavratura do auto de infração da (art. 73, da Lei
n. 9.605/98).
Quando houver dano direto ao meio ambiente e a recuperação da área degradada não puder
ocorrer naturalmente ‒ a multa simples pode ser convertida em prestação de serviços ambientais,
contribuindo, de forma mais efetiva, para a preservação, a melhoria e a recuperação do meio
ambiental (§ 4°, do art. 72, da Lei n. 9.605/98).
Regulamentando essa disposição, o artigo 141, do Decreto 6.514/2008, veda a referida
conversão da multa quando não houver dano direto ao meio ambiente ou quando a recuperação da
área degradada puder ser realizada pela simples regeneração natural.
Se o mesmo fato que originou o auto de infração lavrado pelo IBAMA foi objeto de multa
administrativa aplicada pelo órgão estadual ou pelo órgão municipal de meio ambiente, caberá ao
infrator fazer o pagamento junto à entidade que escolher. O art. 76, da Lei n. 9.605/98, foi claro ao
vedar a possibilidade do bis in idem no caso de multas administrativas em matéria ambiental, pois
o pagamento de multa imposta pelos estados, municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a
multa federal na mesma hipótese de incidência.
Portanto, não é admissível que uma pessoa sofra duas sanções administrativas semelhantes
ao mesmo tempo pelo mesmo fato e sob as mesmas justificativas na mesma esfera de
responsabilização jurídica, que no caso é a responsabilidade administrativa. Somente o efetivo
pagamento da multa pode justificar o arquivamento do processo administrativo em tramitação nos
outros órgãos ambientais.
Tal dispositivo poderá gerar um conflito entre entes políticos, pois bastará uma multa
estadual, distrital ou municipal pelo mesmo fato para afastar a federal, independentemente do valor
e do momento da imposição, o que não se mostra razoável. Logo, deverá prevalecer a primeira multa
imposta, o que privilegia a célere atuação administrativa do órgão ambiental e melhor respeita a
competência comum para a preservação do meio ambiente. Em regulamentação ao artigo 76, da Lei
9.605/1998, o artigo 12 do Regulamento aponta uma interessante saída que se mostra compatível
com o atual ordenamento constitucional, pois prevê que a substituição da multa se dará até o limite
do Decreto 6.514/2008, ou seja, se a multa federal for maior, a substituição será parcial, bem como
será condicionada ao efetivo pagamento ao Poder Público local.
Contudo, o art. 76 da Lei 9.605/1998 deve ser aplicado em harmonia com o art. 17, § 3º, da
Lei Complementar 140/2011, haja vista que, na concorrência de autos de infração lavrados por
diversos órgãos ambientais, irá prevalecer a autuação da entidade que promoveu o licenciamento
ambiental, caso tenha havido esse procedimento administrativo. Caso inexista licenciamento
ambiental ou as multas pelo mesmo fato tenham sido lavradas por entidades ambientais não
concessoras da licença, haverá a aplicação do art. 76, da Lei 9.605/1998.
A ação judicial que busca anular um auto de infração ambiental deve contar com a
participação do Ministério Público como fiscal da lei, pois é evidente o interesse público da
demanda, conforme posicionamento do STJ:

Nulidade. Infração ambiental. Manifestação. MPF. Trata-se de


ação ordinária com pedido de declaração de nulidade de auto de
infração ambiental. Em primeiro grau, julgou-se procedente o
pleito, sendo que o acórdão recorrido anulou de ofício a sentença
ao fundamento de ser necessária a manifestação do Ministério
Público Federal (MPF) na causa, o que não ocorreu. A Turma
conheceu parcialmente do recurso, mas lhe negou provimento
por entender, entre outras questões, que o MPF deve manifestar-
se em causa na qual se discute nulidade de auto de infração
ambiental porque, no mais das vezes, o interesse envolvido
transcende o interesse meramente patrimonial no crédito
gerado, abarcando discussões de cunho substancial que dizem
respeito ao meio ambiente em si, tal como no caso. Para tanto,
observou-se o disposto no art. 5.º, III, ‘d’, entre outros, da LC
75/1993. (STJ. RESP 1.264.302-SC. Rel. Min. Mauro Campbell
Marques. DJE 08/11/2011).

1.2.3. Apreensão do produto e do instrumento de infração administrativa ou de crime ambiental

Os órgãos integrantes do SISNAMA podem reter um bem obtido ou transportado de forma


irregular, em função da flagrante irregularidade ou de risco de dano considerável ao meio
ambiente, como os animais, produtos e subprodutos da fauna e da flora, instrumentos, petrechos,
equipamentos e veículos de qualquer natureza utilizados na prática da infração (art. 25 da Lei
9.60598).
Os animais da fauna silvestre serão libertados em seu habitat ou entregues a jardins
zoológicos, fundações, entidades de caráter cientifico, centros de triagem, criadouros regulares ou
entidades assemelhadas, desde que fiquem sob a responsabilidade de técnicos habilitados e,
respeitados os regulamentos vigentes, põem ser entregues em guarda doméstica provisória. Já os
animais domésticos ou exóticos deverão ser vendidos, ou doados quando não houver viabilidade
econômica na venda.
Os produtos perecíveis e as madeiras sob risco iminente de perecimento serão avaliados e
doados a instituições de caráter altruístico, científico ou de saúde. O órgão ou entidade ambiental
deverá estabelecer mecanismos que assegurem a indenização ao proprietário dos animais vendidos
ou doados, pelo valor de avaliação consignado no termo de apreensão, caso esta não seja confirmada
na decisão do processo administrativo.

1.2.4. Destruição ou inutilização do produto

A Administração Pública ambiental poderá destruir ou inutilizar produtos, subprodutos e


instrumentos utilizados na prática da infração quando a medida for necessária para evitar o seu uso
e aproveitamento indevidos nas situações em que o transporte e a guarda forem inviáveis em face
das circunstâncias, ou quando possam expor o meio ambiente a riscos significativos ou
comprometer a segurança da população e dos agentes públicos envolvidos na fiscalização. É uma
medida preventiva adotada para impedir a ocorrência de danos consideráveis ao meio ambiente,
sobretudo no caso de substâncias ou produtos tóxicos, perigosos ou nocivos à saúde humana ou ao
meio ambiente.
Por se tratar de uma sanção mais drástica, que comumente implica prejuízo patrimonial ao
autuado, o termo de destruição ou de inutilização deve identificar a avaliação do bem e a justificativa
da adoção da penalidade. Além do mais, o infrator deve-se encarregar das despesas, em virtude do
princípio do poluidor-pagador.

1.2.5. Suspensão de venda e fabricação do produto

Trata-se de um mecanismo que visa a evitar a colocação no mercado de produtos e


subprodutos oriundos de infração administrativa ao meio ambiente ou que tenha como objetivo
interromper o uso contínuo de matéria-prima e subprodutos de origem ilegal. Como se trata de
uma medida preventiva, o intuito é impedir que produtos nocivos ao meio ambiente ou à saúde
humana circulem no mercado de consumo.

1.2.6. Embargo de obra ou atividade

O embargo é a paralização da atividade ou da obra em decorrência do descumprimento das


condicionantes da licença ambiental ou da inobservância da legislação vigente. Em virtude do
princípio da proporcionalidade, a aplicação dessa sanção administrativa se limita à parte irregular do
empreendimento.
Por conta da autonomia dos entes federativos, somente o órgão ambiental responsável pela
imposição da penalidade poderá revê-la, a não ser que ocorra ordem judicial nesse sentido. Não
ocorrendo ou não podendo ocorrer a regularização posterior, o embargo se tornará definitivo,
devendo ser aplicada a penalidade de demolição em uma espécie de progressão no caso de
edificações incompatíveis com a legislação ambiental, de maneira que se trata de uma medida
preventiva.
1.2.7. Demolição de obra

Nos termos do artigo 19 do Decreto 6.514/2008, a sanção de demolição de obra poderá ser
aplicada pela autoridade ambiental, após o exercício do contraditório e da ampla defesa, à custa do
infrator, quando: (i) verificada a construção de obra em área ambientalmente protegida em
desacordo com a legislação ambiental; ou (ii) quando a obra ou construção realizada não atenda às
condicionantes da legislação ambiental e não seja passível de regularização.
As despesas para a realização da demolição serão pagas pelo infrator, que será notificado
para realizá-la ou para reembolsar os cofres públicos dos gastos que tenham sido efetuados pela
administração. Não será aplicada a penalidade de demolição quando, mediante laudo técnico, for
comprovado que o desfazimento poderá trazer piores impactos ambientais que sua manutenção,
caso em que a autoridade ambiental, mediante decisão fundamentada, deverá, sem prejuízo das
demais sanções cabíveis, impor as medidas necessárias à cessação e mitigação do dano ambiental.

1.2.8. Suspensão parcial ou total de atividades

A suspensão parcial ou total de atividades constitui medida que visa a impedir a continuidade
de processos produtivos em desacordo com a legislação ambiental. Essa penalidade implica a
interdição da atividade, devendo ser utilizada apenas quando houver possibilidade de dano
significativo ao meio ambiente ou à saúde humana.

1.2.9. Restritiva de direitos

As sanções administrativas ambientais ‒ chamadas de restritivas de direitos ‒ são aquelas que


impõem uma limitação direta na relação entre o infrator e a Administração Pública. Segundo o art.
20 do Decreto n. 6.514/08 e o § 8° do art. 72 da Lei n. 9.605/98, são as seguintes as sanções restritivas
de direito: (i) suspensão de registro, licença ou autorização; (ii) cancelamento de registro, licença ou
autorização; (iii) perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; (iv) perda ou suspensão da
participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; e (v) proibição de
contratar com a Administração Pública por até três anos.
A validade da sanção restritiva de direitos deverá ser fixada pela autoridade competente,
devendo ter o prazo máximo de um ano, exceto para a penalidade de proibição de contratar com a
Administração Pública, cujo prazo máximo é de três anos. A regularização da conduta que deu origem
ao auto de infração extingue a sanção aplicada, independentemente de prazo.

1.2.10. Prescrição Administrativa Ambiental

O caput do artigo 1º da Lei 9.873/1999 contempla a regra geral a ser observada para a
contagem do prazo prescricional incidente sobre a o jus puniendi administrativo federal, a seguir
colacionado:

Lei 9.873/99
Art. 1º Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração
Pública Federal, direta e indireta, no exercício do poder de polícia,
objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados da
data da prática do ato ou, no caso de infração permanente ou
continuada, do dia em que tiver cessado.
§ 1º Incide a prescrição no procedimento administrativo
paralisado por mais de três anos, pendente de julgamento ou
despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante
requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da
responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o
caso.
§ 2º Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração
também constituir crime, a prescrição reger-se-á pelo prazo
previsto na lei penal.

Com efeito, especificamente no que concerne às infrações ambientais, de regra, contar-se-ão


cinco anos a partir da consumação da infração. Caso se trate de ilícito instantâneo, o prazo se iniciará
de logo, ao revés do que acontece com as infrações permanentes, cujo dia do início será o dia da
cessação.
Já o § 1º estatui uma hipótese de prescrição administrativa intercorrente, que decorre da
contumácia do ente ambiental ao apurar a autoria e materialidade da infração ambiental. Logo, uma
vez sobrestado o curso de procedimento administrativo por mais de três anos, sem nenhum
despacho, operar-se-á a prescrição extintiva intercorrente.
De outro modo, o transcrito § 2º traz disposição que em muito afeta as infrações
administrativo-ambientais, já que excepciona a regra contida no caput nas hipóteses em que a
infração ambiental também constitua crime ambiental. Ora, diante desse enunciado, o prazo
prescricional das infrações ambientais se divide em dois grandes blocos, a saber: as que não
constituem delito ambiental (com prazo de prescrição de cinco anos) e as que também constituem
crime ambiental (com prazo de prescrição regulado pelo artigo 109 do Código Penal).

A Lei 9.873/99 foi alterada pela Lei 11.941/2009, passando a prever o novel art. 1º-A que, se
constituído definitivamente o crédito não tributário, após o término regular do processo
administrativo, prescreve em 5 (cinco) anos a ação de execução da administração pública federal
relativa a crédito decorrente da aplicação de multa por infração à legislação em vigor.
Nesse sentido, o STJ editou a Súmula 467, segundo a qual:

Súmula 467 do STJ: “Prescreve em cinco anos, contada do


término do processo administrativo, a pretensão da
Administração Pública de promover a execução da multa
por infração ambiental.”

Ocorre a interrupção da prescrição punitiva: (i) pela notificação ou citação do indiciado ou


acusado, inclusive por meio de edital; (ii) por qualquer ato inequívoco, que importe apuração do fato;
(iii) pela decisão condenatória recorrível; e (iv) por qualquer ato inequívoco que importe em
manifestação expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da administração
pública federal (art. 2º, da Lei 9.873/99).
E ocorre a interrupção da prescrição executória: (i) pelo despacho do juiz que ordenar a
citação em execução fiscal; (ii) pelo protesto judicial; (iii) por qualquer ato judicial que constitua em
mora o devedor; (iv) por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe em
reconhecimento do débito pelo devedor; e (v) por qualquer ato inequívoco que importe em
manifestação expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da administração
pública federal (2º-A da Lei 9.873/99).
Garantia da Ampla Defesa na Apuração do Ilícito Administrativo - art. 70, § 4º da Lei
9.605/98 - As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o
direito de ampla defesa e o contraditório, observadas as disposições desta Lei.
Responsabilidade civil Responsabilidade Responsabilidade penal
administrativa
Objetiva Subjetiva Subjetiva
Depende da existência do Não depende da existência Não depende da existência
dano do dano do dano
Solidária Pessoal Pessoal
Pode decorrer de ato Decorre de ilícito Decorre de ilícito penal
lícito ou ilícito administrativo
Pessoa física ou jurídica Pessoa física ou jurídica Pessoa física ou jurídica
Teoria do risco integral Teoria da culpabilidade Teoria da culpabilidade

1.3. Termo de Ajustamento de Conduta Ambiental – TAC AMBIENTAL


O Termo de Ajustamento de Conduta – TAC surgiu no ordenamento jurídico como um
instrumento alternativo (portanto, não obrigatório) de resolução de conflitos relacionados aos
direitos coletivos, possibilitando a efetivação extrajudicial da proteção desses direitos, dentre os
quais se insere o direito ao meio ambiente equilibrado. A grande vantagem do instituto é evitar a
máquina judiciária, que é burocrática e já está abarrotada de processos, os quais se arrastam quase
que eternamente, colocando em risco a efetividade da tutela jurisdicional.
O TAC foi previsto no artigo 5º, §6º da Lei da Ação Civil Pública (7.347/85), in verbis:

§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos


interessados compromisso de ajustamento de sua conduta
às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia
de título executivo extrajudicial.

O Termo de Ajustamento de Conduta Ambiental é, portanto, um título executivo extrajudicial


lavrado pelos órgãos públicos (Ministério Público, União, Estados, DF, Municípios), após a realização
de acordo entre o órgão público ambiental e o agente responsável pelo dano ambiental causado ou
na iminência de ocorrer, onde este se compromete a ajustar seu comportamento, de modo a
obedecer às exigências legais, com vistas a garantir a reparação integral e/ou a prevenção da
degradação ambiental.
O TAC pode ser firmado antes ou durante um processo judicial, e, caso seja homologado
pelo juiz, torna-se um título executivo judicial, nos termos do artigo 515, III do Código de Processo
Civil.
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento
dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título:
...
III - a decisão homologatória de autocomposição
extrajudicial de qualquer natureza;

O TAC ambiental poderá prever, cumulativamente, condutas positivas (obrigação de fazer),


negativas (obrigação de não fazer), ou ainda de pagar quantia (multas civis em caso de
descumprimento, por exemplo). Importante deixar claro que as obrigações resultantes do Termo
devem ser líquidas, certas e exigíveis, ou seja, deve haver a especificação clara de como devem ser
cumpridas, sob pena de nulidade da execução, conforme artigo 803, I do CPC, in verbis:

Art. 803. É nula a execução se:


I - o título executivo extrajudicial não corresponder a
obrigação certa, líquida e exigível;

Como o meio ambiente equilibrado é um bem jurídico indisponível, o tomador do TAC (órgão
público), ao estipular as obrigações, e diante da presença de várias alternativas viáveis, deverá
escolher aquela que melhor tutele o meio ambiente, ou seja, a discricionariedade é bastante limitada
pelo interesse público envolvido.
A assinatura de TAC, extrajudicialmente, pelo Ministério Público, poderá redundar no
arquivamento total ou parcial do inquérito civil em andamento, mas não tem o condão de afastar
a ação penal, pois se trata de esfera diversa (penal), conforme pondera Eládio Lecey:

“Mesmo ocorrendo ajustamento na esfera civil e até com reparação do dano, remanescerá a
necessidade de intervenção no juízo criminal. Logicamente, tendo ocorrido termo de ajustamento
de conduta com composição do dano e sendo a infração de menor potencial ofensivo, cabível, de
regra, a transação penal, como já foi aqui destacado. Em caso de infração de médio potencial
ofensivo, constatada, posteriormente, a efetiva reparação do dano por laudo, preenchida estará
condição da suspensão do processo porventura aplicada. Finalmente, a reparação do dano poderá
influenciar, em caso de sentença condenatória, na aplicação da pena. Não terá, no entanto, o condão
de afastar a ação penal.”

A celebração de termo de compromisso de reparação ou


cessação dos danos encerrará a contagem da multa diária,
conforme artigo 10, §8º do Decreto nº 6.514/08
O STJ decidiu que a assinatura de TAC ambiental não é capaz de
afastar a tipicidade penal, pois a extensão nesta seara não é
alcançada pela esfera administrativa ou civil - independência de
instâncias. O cumprimento do TAC servirá, no máximo, para
atenuar a sanção penal imposta (Informativo STJ 467 e REsp
1.294.980)

2. JURISPRUDÊNCIA
A REPARAÇÃO DO DANO AO MEIO AMBIENTE É DIREITO FUNDAMENTAL INDISPONÍVEL, SENDO
IMPERATIVO O RECONHECIMENTO DA IMPRESCRITIBILIDADE NO QUE TOCA À RECOMPOSIÇÃO
DOS DANOS AMBIENTAIS

É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental. STF. Plenário. RE 654833,


Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 999) (Info 983 –
clipping).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

O ERRO NA CONCESSÃO DE LICENÇA AMBIENTAL NÃO CONFIGURA FATO DE TERCEIRO CAPAZ DE


INTERROMPER O NEXO CAUSAL NA REPARAÇÃO POR LESÃO AO MEIO AMBIENTE

Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a atividade
econômica ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado
responsável pelos danos vinculados à atividade. Logo, NÃO SE PODE ADMITIR A EXCLUSÃO DA
RESPONSABILIDADE PELO FATO EXCLUSIVO DE TERCEIRO OU FORÇA MAIOR. No caso concreto, a
construção de um posto de gasolina causou danos em área ambiental protegida. Mesmo tendo
havido a concessão de licença ambiental – que se mostrou equivocada – isso não é causa excludente
da responsabilidade do proprietário do estabelecimento. Mesmo que se considere que a instalação
do posto de combustível somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença
ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade do empreendedor, que gera o risco
concretizado no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de
reparar a lesão verificada. STJ. 3ª Turma. REsp 1612887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/04/2020 (Info 671).

INFORMATIVO 574 DO STJ - CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA E PREJUÍZO


AOS PESCADORES ARTESANAIS DO LOCAL
Segundo o STJ, o pescador profissional artesanal que exerça a sua atividade em rio que sofreu
modificação da fauna aquática após a regular instalação de hidrelétrica, apesar de ato lícito, tem
direito de ser indenizado pela concessionária de serviço público responsável pelos prejuízos materiais
decorrentes da diminuição ou desaparecimento de peixes de espécies comercialmente lucrativas.

INFORMATIVO 615 DO STJ - RESPONSABILIDADE CIVIL. ANÁLISE DO ACIDENTE


COM O NAVIO VICUÑA
As empresas adquirentes da carga transportada pelo navio Vicuña no momento de sua
explosão, no Porto de Paranaguá/PR, em 15/11/2004, não respondem pela reparação dos danos
alegadamente suportados por pescadores da região atingida, haja vista a ausência de nexo causal a
ligar tais prejuízos (proibição temporária da pesca) à conduta por elas perpetrada (mera aquisição
pretérita do metanol transportado). Situação concreta: três indústrias químicas adquiriam uma
grande quantidade de “metanol”, substância utilizada como matéria-prima para a produção de
alguns medicamentos. Elas adquiriram o metanol da METHANEX CHILE LIMITED, empresa chilena que
ficou responsável tanto pela contratação quanto pelo pagamento do frete marítimo. O navio
contratado pela empresa chilena para o transporte foi o “BTG Vicuña”, de bandeira do Chile. Ocorre
que quando já estava atracado no porto de Paranaguá/PR, o navio explodiu. Isso provocou uma
tragédia ambiental porque houve o vazamento de milhões de litros de óleo e de metanol. Em razão
do derramamento, a pesca na região ficou temporariamente proibida.

Informativo 650 do STJ - A responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva


Entendeu o STJ que a aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da
responsabilidade objetiva da esfera cível, mas deve obedecer à sistemática da teoria da
culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração
de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano. Assim, a
responsabilidade civil ambiental é objetiva; contudo, a responsabilidade administrativa ambiental
é SUBJETIVA. STJ. 1ª Seção. EREsp 1318051/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
08/05/2019 (Info 650).

Jurisprudência em Teses (STJ)

Os responsáveis pela degradação ambiental são co-obrigados solidários, formando-se, em regra, nas
ações civis públicas ou coletivas litisconsórcio facultativo.

A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o
nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo
descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de
responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar.

Causa inequívoco dano ecológico quem desmata, ocupa, explora ou impede a regeneração de Área
de Preservação Permanente - APP, fazendo emergir a obrigação propter rem de restaurar
plenamente e de indenizar o meio ambiente degradado e terceiros afetados, sob o regime de
responsabilidade civil objetiva.

O reconhecimento da responsabilidade objetiva por dano ambiental não dispensa a demonstração


do nexo de causalidade entre a conduta e o resultado.

A alegação de culpa exclusiva de terceiro pelo acidente em causa, como excludente de


responsabilidade, deve ser afastada, ante a incidência da teoria do risco integral e da
responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental (art. 225, § 3º, da CF e do art. 14, § 1º, da Lei nº
6.938/81), responsabilizando o degradador em decorrência do princípio do poluidor-pagador.

É imprescritível a pretensão reparatória de danos ao meio ambiente.

O termo inicial da incidência dos juros moratórios é a data do evento danoso nas hipóteses de
reparação de danos morais e materiais decorrentes de acidente ambiental.

A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.

Não há direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio ambiente.

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