UBERLÂNDIA
2016
VICTOR RODRIGUES NASCIMENTO VIEIRA
UBERLÂNDIA
2016
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 5
4 RIXA......................................................................................................................................... 36
5 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS............................................................................................................................... 42
5
1 INTRODUÇÃO
2 LESÃO CORPORAL
1
Pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo nenhuma qualidade especial do sujeito ativo.
2
Só se consuma com a produção do resultado naturalístico, ou seja, efetiva modificação no mundo dos fatos.
3
Pode ser cometido por apenas uma pessoa.
4
Pode ser cometido por qualquer meio.
5
Se consuma com a efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
6
É praticado por meio de ação.
7
É constituído de vários atos, porém é um crime único.
6
Por conseguinte, por se tratar de crime comum, via de regra, qualquer indivíduo pode
ser sujeito ativo, assim como qualquer ser humano pode ser sujeito passivo. A exceção que se
faz presente é a da mulher grávida, que é a única que figura como sujeito passivo nas figuras
qualificadas do artigo 129, §§ 1º, IV, e 2º, V.
No crime de lesão corporal, o bem jurídico tutelado é a incolumidade do indivíduo,
traduzida na integridade corporal8 e na saúde do ser humano. É importante ressaltar que
quando o tipo penal se refere à saúde, ele está se referindo à normalidade fisiológica9 e
psíquica (ou mental)10 do indivíduo, conforme o entendimento do desembargador Marcílio
Medeiros no seguinte julgado:
8
“Ofensa à integridade corporal compreende a alteração, anatômica ou funcional, interna ou externa, do corpo
humano, como por exemplo, equimoses, luxações, mutilações, fraturas, etc.”. (BITENCOURT, 2014, p. 193).
9
“Perturbação fisiológica é o desajuste no funcionamento de algum órgão ou sistema que compõe o corpo
humano. Ex.: transmissão intencional de doença que afete o sistema respiratório.” (LENZA; GONÇALVES,
2012, p. 174)
10
Perturbação mental abrange a causação de qualquer desarranjo no funcionamento cerebral. Ex.: provocar
convulsão, choque nervoso, doenças mentais etc. (LENZA; GONÇALVES, 2012, p. 174)
7
11
Intenção de ofender, de ferir, de machucar.
12
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal
relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
8
Vale ressaltar que a tentativa só é admitida quando a lesão corporal for dolosa, pois na
forma culposa ou preterdolosa ela é inadmissível pela própria natureza destas formas – é
ilógico que, o sujeito ativo, não agindo de modo intencional, mas por inobservância do dever
de cuidado, tenha tentado lesionar a integridade física ou a saúde de outro indivíduo.
Por fim, relevante observação é a de Bitencourt, afirmando que “não se pode falar em
tentativa de vias de fato, se o meio empregado pelo agente é capaz de causar dano à
incolumidade física da vítima.” (BITENCOURT, 2012, p.473). Sendo assim, caso o sujeito
desfira pontapés a outro, ou empurrões, e tal conduta resulte em lesão à vítima, não se pode
falar em tentativa de vias de fato.
2.3 Autolesão
A autolesão, por sua vez, entendida como a ação do indivíduo que ofende a sua
própria integridade, não constitui crime, podendo, no entanto, constituir elementar de outro
tipo penal. Assim, segundo Bitencourt (2014), “poderá constituir elementar do crime de
estelionato, quando o agente lesa a sua integridade física ou saúde com o fim de obter
indenização ou valor de seguro.”
No tocante à autolesão, ainda cabe ressaltar que, se um inimputável, menor, ébrio ou
por qualquer razão incapaz de entender ou de querer, por instigação, indução, auxílio ou
ordem de um terceiro, causar em si mesmo uma lesão teremos uma situação excepcional.
Sendo assim, neste caso, quem instigou o deficiente mental, o menor ou o embriagado à
autolesão deverá responder pelo crime de lesão corporal na condição de autor mediato,
conforme prevê o art. 20, §2º, do CP.
Uma questão que chama muita atenção no que diz respeito à lesão corporal é a
disponibilidade ou indisponibilidade da integridade física ou da saúde do ser humano capaz.
Esta é uma questão controversa em que não existe consenso, de forma que parte da doutrina
considera a integridade física como sendo indisponível e outra parte a considera bem jurídico
relativamente disponível, o que afastaria a tipicidade.
Concordamos com o entendimento de que, no ordenamento jurídico brasileiro, a
integridade física pode ser considerada como relativamente disponível. Como exemplo desta
relativa disponibilidade temos situações que são social e culturalmente aceitas em que as
9
pessoas podem se submeter a cirurgias estéticas, doar órgãos em vida, tatuarem-se, colocar
piercings13 e brincos e também há o caso da circuncisão realizada em recém-nascidos, casos
estes que não configuram lesão corporal.
Em consonância com este pensamento está Cezar Roberto Bitencourt, sustentando
que:
Além das questões supracitadas, outra situação que merece destaque é o direito do
transexual de “disposição relativa do próprio corpo”, sem configuração da lesão corporal.
Neste sentido, conforme a Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.955/2010 a
cirurgia de transformação plástico-reconstrutiva da genitália externa, interna e caracteres
sexuais secundários “não constitui crime de mutilação previsto no artigo 129 do Código Penal
brasileiro, haja vista que tem o propósito terapêutico específico de adequar a genitália ao sexo
psíquico” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2010).
13
A realização de tatuagens e colocação de piercings só é permitida em pessoas maiores de idade, de sorte que se
realizada em menor, constitui crime.
10
Para que uma conduta seja considerada relevante para o Direito Penal, ela deve possuir
um mínimo de gravidade na ofensa que causar contra os bens jurídicos protegidos pelo
11
ordenamento, caso contrário a conduta será insignificante, e a intervenção penal por parte do
Estado não se justificará. Isso se deve ao princípio da proporcionalidade, pois em casos de
infrações insignificantes, a rigorosa intervenção estatal não é proporcional à gravidade do
delito.
Sendo assim, dependendo da magnitude do delito, a tipicidade penal pode ser afastada,
pois a conduta não apresentará nenhuma relevância substancial, materializando-se o princípio
da insignificância ou da bagatela. Por isso, “a irrelevância ou insignificância de determinada
conduta deve ser aferida não apenas em relação à importância do bem juridicamente atingido,
mas especialmente em relação ao grau de sua intensidade, isto é, pela extensão da lesão
produzida” (BITENCOURT, 2012, p.468).
Especificamente quanto ao crime de lesão corporal, para que se tenha uma conduta
típica, a lesão deve ser juridicamente relevante à integridade física ou a saúde da vítima.
Vale ressaltar que a insignificância da ofensa não se confunde com as infrações de
menor potencial ofensivo. Essas últimas podem ou não configurar a insignificância, vai
depender da intensidade do delito. Sendo assim, não pode se afirmar que as lesões corporais
de natureza leve serão sempre atingidas pelo princípio da bagatela, pois se assim fossem, não
teriam previsão legislativa expressa como um tipo de lesão punível.
Sobre esse princípio, tem-se o julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, que julgou improcedente a aplicação do princípio da bagatela mesmo tendo a lesão
natureza leve, para o caso em que o sujeito agrediu a irmã:
Como fora dito anteriormente, na análise do crime de lesão corporal deve se observar
se a conduta não se encaixa em nenhum dos três primeiros parágrafos do artigo 129 para que
12
seja uma lesão corporal leve. No §1o desse artigo, constam as lesões corporais de natureza
grave. Todos os incisos desse parágrafo apresentam condutas que serão qualificadas pelo
resultado do crime, sejam elas dolosas ou preterdolosas. Vale ressaltar que, pelo seu maior
potencial ofensivo se comparado às lesões leves, a legislação atribui nova pena abstrata as
lesões graves, sendo de um a cinco anos de reclusão, admitindo, se presente os requisitos, a
suspensão condicional. Dito isso, tem-se a análise dos respectivos incisos do parágrafo
primeiro:
a) Inciso I: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima a incapacidade para
as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias. Percebe-se que essa
incapacidade é temporária, e se estende para todas as atividades cotidianas lícitas que
o sujeito tinha o costume de realizar, como trabalho e lazer, não ficando limitada
apenas à atividade laboral.
Das palavras de Rogério Sanches Cunha, vale destacar que a exclusão de atividades
ilícitas não se estende às atividades imorais, como a prostituição.
Por fim, é por laudo médico complementar que se comprova a ocorrência de
incapacidade por mais de 30 dias, realizado logo após o trigésimo dia, contado da data
da consumação do crime;
b) Inciso II: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima perigo de vida. Para
que se configure essa qualificadora, não basta a idoneidade da lesão, nem a região em
que foi realizada, mas sim que a mesma tenha a probabilidade concreta de êxito letal
para a vítima, ou seja, pelo diagnóstico, a vida do sujeito passivo deve efetivamente ter
sido colocada em perigo. Indispensável é afirmar que essa qualificadora só admite
como forma o preterdolo. Caso o agente tenha agido com a intenção de colocar a vida
da vítima em perigo, configurar-se-ia tentativa de homicídio;
c) Inciso III: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima debilidade
permanente de membro, sentido ou função. Se a capacidade de algum deles for
13
doença que na época era incurável, torna-se curável, não cabe revisão criminal do que
já fora julgado.
Confusão não deve ser feita entre a diferença entre enfermidade incurável e a
debilidade permanente do inciso III do §1o do artigo 129:
c) Inciso III: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima perda ou
inutilização de membro, sentido ou função. Tem-se a perda quando há o
perecimento físico de membro, sentido ou função, ou seja, um desses elementos é
extraído do corpo humano ou tem sua atividade cessada, seja por decorrência direta da
conduta criminosa, seja por intervenção cirúrgica que tenha por objetivo minorar as
consequências da lesão. Já na inutilização ocorre a perda funcional, não há exclusão
do membro, e nem cessação do sentido ou função, eles subsistem, porém inoperantes.
Tratando-se de órgãos duplos, só configurará lesão gravíssima se a lesão atingir
ambos, como por exemplo, os rins. A perda de um olho, não se confunde com a perda
de visão, sendo a primeira debilidade permanente, e a segunda perda de sentido.
Por fim, vale a afirmação a respeito da extração dos órgãos genitais, assunto que será
tratado mais a frente, mas ilustra bem a situação do dispositivo aqui tratado:
d) Inciso IV: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima deformidade
permanente.
A análise da ocorrência dessa qualificadora leva em consideração o sexo, a idade, e a
condição social da vítima. Essa deformidade permanente consiste no dano estético
definitivo, em qualquer parte do corpo, que provoca humilhação à vítima, e
15
desconforto para os que a observam, ou seja, quando o dano provoca uma impressão
vexatória, sendo esta irrecuperável - cirurgia plástica não afasta essa qualificadora;
e) Inciso V: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima o aborto. Quando o
sujeito ativo do delito de lesão corporal, tendo conhecimento da gravidez da mulher
(sujeito passivo necessário para essa qualificadora), a lesiona e causa o aborto do feto
que ela carregava, tem-se lesão gravíssima. É imprescindível que o agente não tenha o
dolo em causar o aborto na mulher, pois se tiver, o sujeito responderá por crime de
lesão e aborto, respondendo por concurso formal impróprio, devido os desígnios
autônomos. Sendo assim, a qualificadora exige a forma preterdolosa, pois a morte do
feto é provocada involuntariamente.
Tendo visto todas estas hipóteses, vale ressaltar que é possível que em um mesmo
acontecimento, coexistam qualificadoras de mais de uma natureza. Por exemplo, o sujeito
além de ter sua vida colocada em perigo devido à lesão (§1o, II) poderá ter sofrido
deformidade permanente (§ 2°, IV). Caso isso ocorra, configurará apenas um crime, e será
aplicada a pena do parágrafo mais grave.
Esta figura qualificada está prevista no art. 129, § 3º, do CP e reza que se da lesão
“resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu
o risco de produzi-lo” a pena é de reclusão e pode variar de quatro a doze anos. Esta
modalidade criminosa é exclusivamente preterdolosa – portanto não admite tentativa - e
ocorre quando o agente tem a intenção apenas de lesionar a vítima, entretanto acaba,
culposamente, causando a sua morte.
Neste caso não é admitida a existência de dolo direto ou eventual, ou seja, em nenhum
momento o agente quis ou assumiu o risco de causar a morte da vítima, sob pena de
caracterizar-se homicídio doloso. Neste sentido, é necessário que fique claro no caso em
concreto que a vontade do agente não incluía, em hipótese alguma, o resultado morte.
Por outro lado, se o agente comete ato agressivo, porém sem a intenção de lesionar a
vítima (vias de fato) e em decorrência desse ato a vítima morre, teremos um caso de
homicídio culposo e não de lesão seguida de morte. Assim, se o agente não queria lesar a
vítima, mas sua ação foi executada de forma imprudente, responderá por homicídio culposo.
16
A exemplo das situações supracitadas, temos que quando um sujeito empurra o outro e
este último cai e bate a cabeça no chão, ocasionando traumatismo craniano e em decorrência
disso a sua morte, teremos caso de homicídio culposo e não lesão corporal seguida de morte.
Ainda exemplificando, Lenza e Gonçalves (2012) consideram que quando o agente
desfere “uma facada na perna que atinge a artéria femural na região da coxa e, em face do
extenso sangramento, a vítima morre de hemorragia”, configura-se o crime de lesão corporal
seguida de morte. Outros exemplos de lesão corporal seguida de morte são: o soco na vítima
com queda14, fratura de crânio e morte e também a paulada na cabeça.
Para ilustrar a lesão corporal seguida de morte e melhor compreendê-la, vejam-se as
seguintes jurisprudências:
O §7o do artigo 129 dispõe sobre as hipóteses em que o crime de lesão corporal terá
sua pena aumentada se presentes certas circunstâncias. Caso a lesão corporal dolosa ou
14
Observe que neste caso, diferentemente do caso que foi supracitado do empurrão, o agente agiu de forma
violenta e tinha a intenção de ferir a vítima, posto que desferiu um soco. Por isso se configuraria lesão corporal
seguida de morte e não homicídio culposo.
17
preterdolosa seja praticada contra pessoa maior de sessenta anos ou menor de quatorze anos, a
pena prevista nos demais parágrafos anteriores do artigo 129 será aumentada de um terço.
Também poderá ocorrer esse aumento caso o crime de lesão corporal seja praticado por
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.
O artigo 129 §4o dispõe que, caso o crime de lesão corporal seja praticado por motivo
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, a pena aplicada ao réu pode ser reduzida de um sexto a um terço
pelo juiz. Sendo assim, a conduta do agente não deixa de ser punível, no entanto, sua
reprovabilidade é reduzida.
Esses valores sociais ou morais que podem motivar a conduta causando a redução da
sua reprovabilidade são determinados de acordo com a estruturação de cada sociedade. Ter
relevante valor social significa que a conduta fundamenta-se no interesse da coletividade. Já
para os casos de relevante valor moral, significa que aquele valor engrandece o cidadão, e
adequa-se aos princípios éticos.
Quanto ao cometimento da lesão estando o agente sob domínio de violenta emoção,
somente a emoção intensa assume a condição de privilegiada, devido ao choque emocional
que causa, levando o indivíduo a condutas incontroláveis. Além da violência emocional, é
necessário que a vítima tenha feito uma provocação injusta ao agente que justifique seu estado
emocional. A reação do agente à provocação da vítima deve ser imediata.
Esta hipótese está prevista no CP, art. 129, §5º e considera que se as lesões não forem
graves, gravíssimas ou seguidas de morte, o juiz pode substituir a pena de detenção por multa.
Assim, temos que o juiz pode seguir dois caminhos:
a) Primeiro (1º): ou reduz a pena de um sexto a um terço embasado no § 4º, ou;
b) Segundo (2º): substitui a pena por multa fundamentando-se no § 5º.
Neste sentido, conforme o entendimento de Gianpaolo Poggio Smanio:
18
criados pela Lei n. 10.886/2004 e que não constituem tipos penais autônomos, visto que não
têm nenhum verbo descrevendo conduta típica. Este é o entendimento de Lenza e Gonçalves
(2012), já que para eles:
A pena da figura qualificada que, originariamente, era de seis meses a um ano, foi
alterada pela Lei n. 11.340/200615, passando a ser de três meses a três anos de detenção,
excluindo assim, a competência do Juizado Especial Criminal para julgar tais crimes.
No § 10, por sua vez estão previstas causas de aumento de pena de um terço para os
crimes de lesão grave, gravíssima ou seguida de morte, se cometidos contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge etc. O que se observa, portanto, é que o aludido parágrafo faz
expressa menção aos §§ 1º a 3º do art. 129, deixando claro que se refere a essas modalidades
de lesão corporal.
Assim, resta evidenciado que, por eliminação, o § 9º é exclusivo para as lesões de
natureza leve. “Em suma, não existe um crime chamado ‘violência doméstica’, mas crimes
de lesão corporal agravados pela violência doméstica, mesmo porque o Capítulo em estudo
se chama Das Lesões Corporais”. (LENZA; GONÇALVES, 2012, p.195, grifo nosso)
Outros pontos de destaque são que: a vítima das hipóteses agravadas dos §§ 9º e 10
pode ser homem ou mulher e não é necessário que o fato ocorra no âmbito doméstico para que
a pena seja majorada. Assim, basta que a vítima seja uma das pessoas enumeradas 16 na lei
para que haja agravação. “Apenas nas últimas figuras do dispositivo, ou seja, quando o agente
cometer o crime prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, é
que se pressupõe que o fato ocorra no ambiente doméstico.” (LENZA; GONÇALVES, 2012,
p.196).
15
Vulgarmente conhecida como Lei Maria da Penha.
16
Importante ressaltar que essa enumeração é taxativa.
20
2.13.1 Ação penal na lesão leve qualificada pela violência doméstica contra mulher
Existem duas correntes doutrinárias que versam a respeito da ação penal na lesão leve
qualificada pela violência doméstica contra mulher. Uma considera que a ação é
incondicionada à representação e a outra diz que é condicionada à representação da vítima.
A primeira corrente diz que, em razão do art. 4117 da Lei Maria da Penha, a ação é
incondicionada, e que esta era a intenção do legislador buscando conferir eficácia ao combate
à violência contra a mulher.
A segunda corrente entende que a ação penal continua sendo condicionada à
representação já que o art. 1618 da própria Lei Maria da Penha regulamenta a forma como a
vítima pode renunciar ao direito de representação, de modo que o art. 41 desta Lei restringiria
apenas outros institutos da Lei n. 9.099/95.
Nosso entendimento é em consonância com a segunda corrente - infelizmente - já que
seria forçoso (e poderia extrapolar a literalidade da Lei Penal) atribuir caráter de ação pública
incondicionada à esta modalidade, sendo que o art. 16 menciona claramente que a lei Maria
da Penha trata de ações penais públicas condicionadas à representação.
É de se destacar ainda que tanto a Lei n. 10.886/2004, quanto a Lei n. 11.340, de 7 de
agosto de 2006, perderam uma enorme oportunidade de tipificar as agressões contra as
mulheres como sendo crimes de ação pública incondicionada à representação. Esta convicção
se dá porque acreditamos que manter a punibilidade desse tipo de violência condicionada à
representação da vítima significa dificultar-lhe o alcance da tutela penal. Isto porque num país
extremamente machista e com alarmantes índices de violência contra a mulher19, ainda pesam
17
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
18
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade,
antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
19
- 48% das mulheres agredidas declaram que a violência aconteceu em sua própria residência; no caso dos
homens, apenas 14% foram agredidos no interior de suas casas (PNAD/IBGE, 2009).
- 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos, aponta pesquisa realizada pelo
Instituto Avon em parceria com o Data Popular (nov/2014).
- 56% dos homens admitem que já cometeram alguma dessas formas de agressão: xingou, empurrou, agrediu
com palavras, deu tapa, deu soco, impediu de sair de casa, obrigou a fazer sexo. Saiba mais sobre as “Percepções
do Homem sobre a Violência Contra a Mulher” (Data Popular/Instituto Avon 2013).
- 77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões semanal ou diariamente. Em
mais de 80% dos casos, a violência foi cometida por homens com quem as vítimas têm ou tiveram algum vínculo
afetivo: atuais ou ex-companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas. É o que revela o Balanço do
Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher , da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da
República (SPM-PR). Leia mais no Balanço 2014 do Ligue 180.
- Pesquisa apoiada pela Campanha Compromisso e Atitude, em parceria com a Secretaria de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República, revela 98% da população brasileira já ouviu falar na Lei Maria da Penha
e 70% consideram que a mulher sofre mais violência dentro de casa do que em espaços públicos no Brasil. Saiba
21
contra a vítima a coabitação com o agressor, que em grande parte dos casos é mais forte e
consequentemente é temido pela mulher, o que faz com que ela sinta-se coagida e desista de
manifestar livremente sua vontade de autorizar a intervenção estatal para punir o agressor.
Para finalizar, ressaltamos que a partir de 2010, o entendimento das turmas criminais
do STJ é de que a Lei Maria da Penha trata de ações penais públicas condicionadas à
representação, conforme evidenciado no seguinte julgado:
mais: Pesquisa Percepção da Sociedade sobre Violência e Assassinatos de Mulheres (Data Popular/Instituto
Patrícia Galvão, 2013). (ATITUDE, Compromisso e. Dados e estatísticas sobre violência contra as mulheres.
Disponível em: <http://www.compromissoeatitude.org.br/dados-e-estatisticas-sobre-violencia-contra-as-
mulheres/>. Acesso em: 19 maio 2016.)
22
3 MAUS TRATOS
No atual Código Penal o crime de maus-tratos, é previsto no artigo 136 que segue:
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção
ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 (catorze) anos.
O bem juridicamente protegido pelo artigo 136 é a vida e a saúde humana, sendo que
tal tutela é destinada especificamente para aqueles que possuem uma relação especial entre
sujeitos ativos e passivos. Tal relação especial é a autoridade, guarda ou vigilância do sujeito
ativo perante o passivo, não havendo essa relação não há a tipificação do crime de maus-
tratos, assim o objeto material do delito é a pessoa contra quem a conduta lesiva e perigosa,
praticada pelo agente é dirigida, ou seja, o sujeito passivo que demanda por vezes de guarda,
vigilância, autoridade e educação de seu agressor.
Conclui-se que o dispositivo tende a proteger a integridade fisiopsíquica do sujeito
passivo, que sempre vai estar em posição de submissão jurídica, ou real, mediante o ativo.
Além dessa modalidade típica, o artigo deixa claro os elementos que devem conter a postura
do agente, definindo os meios utilizados por ele a chegar a dado fim, tais meios serão tratados
detalhadamente em sequência.
24
Pode um pai querendo corrigir seu filho, priva-lo, por exemplo, de jantar
naquele dia? Será que já teria incorrido no delito em estudo? Obviamente
que não. Aqui, buscando a finalidade da norma, somente poderíamos
visualizar o delito em questão quando a privação da alimentação fosse por
tempo suficiente que pudesse causar perigo para a vida ou para a saúde da
vítima. Diferentemente é o caso daquele que, por exemplo, querendo educar
seu filho, uma criança com apenas 4 anos de idade, o priva de alimentar-se
durante uma semana seguida, para que ele entenda o valor dos alimentos, já
que, como qualquer pessoa tinha restrições a alguns deles (como acontece
com as crianças em relação as verduras e legumes de forma geral). Como se
percebe, o fato de uma criança permanecer sete dias em jejum pode causar
sequelas graves em seu organismo, razão pela qual, nessa hipótese, se
poderia cogitar de maus-tratos, lembrando sempre que se faz necessário, no
caso concreto, a prova de que o comportamento do agente trouxe,
efetivamente, situação de perigo para a vida ou para a saúde da vítima.
(GRECO, 2015, p. 213)
25
A lei incrimina o excesso do meio mesmo que seja justo o fim, ou seja, incrimina o ato
imponderado, douto de raiva, irritabilidade e espirito de malvadez que pode ser pretendido no
momento de correção. Nesse sentido, é importante notar que o agente sempre deve pretender
aplicar uma lição de correção ao sujeito passivo, contudo tal correção deve utilizar de meios
de extrema violência, ora física, ora verbal; para ser incriminada.
Nota-se que a correção, como uma atitude dos pais em relação aos seus filhos, é um
ato legitimo, mas o abuso dos meios utilizados é ato ilegítimo, quando imoderado e excessivo.
O temo “abusar dos meios” significa a aplicação de castigos excessivos que colocam a vida
ou a saúde da vítima em risco, como já dito, a ação da correção desde que dentro dos limites é
licita, mas pode se tornar ilícita atingindo o nível criminal.
É de suma importância ressaltar aqui que o direito de jus corrigendi ou disciplinandi é
conferido apenas a pais, tutores e curadores, devendo ser exercido moderadamente atendendo
as necessidades educativas.
Nesse quesito cabe ressaltar a lei da palmadinha (Lei nº.13.010, chamada também de
Lei Menino Bernardo) que modificou o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), no intuito
de deixar explícito o repúdio por castigos físicos e psicológicos em crianças e adolescentes.
Tal lei garante-lhes o direito de serem educados sem o uso de castigos físicos e/ ou
tratamentos cruéis e degradantes, como forma de correção, disciplina, educação ou qualquer
outro pretexto utilizado por aquele ao qual se submete e tem o dever de proteger e cuidar da
criança e do adolescente.
A lei tem o objetivo de esclarecer as prerrogativas legais enumerando o que é
considerado pelo legislador como castigo físico, tratamento cruel e degradante. Além disso
ela dispõe as sanções cabíveis a tais casos, não se sobrepondo as sanções previstas nos casos
de maus tratos, que são considerados atos mais graves, a partir da hermenêutica legislativa do
dispositivo em questão. Outro ponto que deve ser abordado é a reivindicação que a lei faz
para os entes nacionais trabalharem na coibição de tais atos.
27
Para compreender como se dá a relação entre o agente e vítima do tipo criminal segue
o quadro explicativo
3.1.3 Consumação
3.1.4 Tentativa
A doutrina atribui diversas classificações ao crime de maus tratos, dentre elas pode-se
defini-lo: como próprio, haja vista que exige um vínculo especial entre o sujeito ativo e
passivo, ou seja, o primeiro tem autoridade, guarda ou vigilância sobre o segundo; também
como crime de perigo concreto, pois exige-se sua comprovação; doloso; o tipo penal define os
contornos para que se admita sua ocorrência, logo, de forma vinculante; pode ser comissivo
ou omissivo; bem como pode ser instantâneo ou permanente; monossubjetivo;
plurissubsistente e de ação múltipla ou de conteúdo variado, conforme a quantidade de
condutas praticadas perante a mesma vítima.
3.2 Modalidades
Primeiramente, faz-se mister ressaltar que o crime de maus tratos pode ser classificado
enquanto de ação múltipla ou de conteúdo variado. Desta máxima decorre a possibilidade
deste tipo admitir a forma comissiva ou omissiva.
29
A redação do artigo 136 do Código Penal define a modalidade comissiva nos seguintes
termos ”art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia (...) quer sujeitando-a a
trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: (...) “.
Assim, nota-se que esta modalidade é caracterizada pela prática de determinada conduta.
Em contrapartida, a modalidade omissiva abrange apenas um trecho do artigo aludido
‘’Art. 136 – (...) quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis (...)’’. Tal forma
tem como característica fundamental a abstenção da obrigação de fazer em prol do indivíduo
passivo da relação.
A pena para o crime de maus tratos é estipulada, no regime dedetenção, pelo período
de dois meses a um ano, ou multa. Contudo, há consequências que culminam no agravamento
da pena e são atribuídas ao agente a título de culpa, conforme o art. 19 do Código Penal.
consequência das práticas de maus tratos poderia ser prevista pelo agente, mas não era sua
intenção no momento da ação.
3.3 Jurisprudência
Para ilustrar o estudo sobre o crime de maus tratos e com o objetivo de melhor
compreender esta figura típica, a seguir serão apresentadas jurisprudências sobre algumas de
suas espécies.
Em 2003 foi implementado o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, que passou a tratar em
seu Art.99 do caso de maus tratos contra vítima de idade igual ou superior a 60 anos. Nota-se
que o dispositivo implementado recentemente, possui a mesma penalidade do art.136, que já
tínhamos trabalhado; isso nos possibilita notar que há uma similitude entre os artigos que se
difere quanto a sua especialidade.
O princípio da especialidade decorre do fato que o Estatuto do Idoso não exige que
exista relação especial entre o idoso (vítima) e o agente, o que é elemento caracterizador dos
maus tratos, podendo, portanto, ser um vizinho, amigo, companheiro o agente. Deste modo, é
possível afirmar que a lei 10.741/03 não exige que o idoso esteja em posição de submissão ao
agente, não sendo necessário que esse assuma tal postura equivoca para os fins de educação,
ensino, tratamento e custodia.
Assim, podemos concluir que se o agente expõe o idoso a perigo de saúde e de vida,
sem atender as motivações pretendidas no artigo 136 do Código Penal e sendo ele pessoa
qualquer do meio social do idoso, aplica-se o art.99, aqui referido. Contudo, se a vítima de
maus tratos tiver idade superior a 60 anos e o agente possuir com ela relação especial,
31
buscando com a sua ação atingir um dado fim- de ensino, educação, tratamento e custódia –
aplica-se o Art.136 do Código penal.
Exemplo de caso em que se aplica o Art.99 do Estatuto do Idoso:
Segue agora um exemplo em que se pode aplicar o artigo 136 do Código Penal visto
que há relação especial entre vítima e acusado, nesse caso aqueles que restringiam as
condições da vida da idosa eram os próprios familiares, comprovando o vínculo de
dependência.
A Lei nº 9.455/97 em seu art.1º, inciso II, trata do que constitui crime de tortura. Nota-
se, ao fazer a analisa comparada do artigo 136 do CP, que a pena do crime de tortura é
superior à do tal dispositivo. Isso, pois a tortura é ação dolosa que busca causar intenso
sofrimento à vítima, expondo-a a situações extremadas, quando o agente é motivado pela
vontade de fazer a vítima sofrer, ora por sadismo, ora por ódio.
De forma oposta, temos que no crime de maus tratos há apenas o abuso nos meios de
correção e disciplina não havendo, portanto, o dolo e a vontade de fazer a vítima sofrer, por
ódio ou sadismo. Tal perspectiva é consagrada por José Ribeiro Borges:
É, em tais termos, possível concluir que haverá a configuração do crime de maus tratos
quando não houver a caracterização de intenso sofrimento físico ou mental; e nos casos e que
a despeito de verificado o intenso sofrimento físico ou mental da vítima, o agente atua com
animus corrigendi ou disciplinandi, ou seja, objetiva com tal atitude apenas corrigir e
disciplinar e não com a vontade de causar sofrimento físico e mental para a vítima. Assim fica
evidente que, para uma segura distinção entre ambos os delitos, não basta a averiguação do
elemento normativo, mas é imprescindível estudar o elemento volitivo. Pois se a vontade do
agente for corrigir ou disciplinar caracterizado estará o crime de maus tratos, mesmo que tal
ação tenha decorrido de intenso sofrimento (físico e mental).
Ainda com o intuito de ilustrar o estudo segue uma jurisprudência sobre agressão
física contra filha:
mantida pelos próprios fundamentos, nos termos do artigo 82, § 5º, da Lei
9.099/95. (TJ-DF - APJ: 20130710252798, Relator: EDI MARIA
COUTINHO BIZZI, Data de Julgamento: 03/02/2015, 3ª Turma Recursal
dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Publicação: Publicado no
DJE : 06/02/2015 . Pág.: 310)
4 RIXA
O crime de Rixa vem tipificado no Capítulo IV - Da Rixa da nossa Lei Penal e versa o
seguinte:
Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena – detenção de 15 dias a 2 meses, ou multa.
Parágrafo único. Se ocorrer morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se,
pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Além disso, a própria posição geográfica que esse tipo penal ocupa na codificação
permite a afirmação de que o interesse tutelado pela norma é a incolumidade da pessoa
humana.
O crime de rixa foi criado para prevenir que fique sem punição a situação na qual não
se consegue identificar o autor inicial das agressões. Sendo assim, a simples participação na
37
rixa já implica ato punível. Ademais, é considerado crime comum, uma vez que pode ser
praticado por qualquer pessoa, independentemente da idade ou sexo, e não exige nenhuma
qualidade ou condição especial.
Primeiramente, cumpre dizer que as pessoas que participam da rixa são ao mesmo
tempo sujeitos ativos e passivos, uns em relação aos outros. Rixa é crime que exige a
participação de no mínimo três indivíduos, ainda que qualquer deles seja menor ou sequer seja
identificado. Os participantes da rixa atuam uns contra os outros; daí essa mistura de sujeito
ativo-passivo do mesmo crime: “o rixoso é sujeito ativo da conduta que pratica em relação aos
demais e sujeito passivo das condutas praticadas pelos demais rixosos” (BITENCOURT,
2015, p. 323).
A respeito disso, Luiz Regis Prado afirma que: “como a rixa é delito plurissubjetivo de
condutas contrapostas, que se caracterizam pela reciprocidade das vias de fato, a situação, de
perigo desencadeada demonstra que todos os rixosos são ofensores e ofendidos, isto é,
sujeitos ativos e passivos do delito. Não há que se falar de crime contra si próprio, já que
todos os participantes da rixa se ofendem mutua e desordenadamente, expondo-se ao perigo
gerado pela conduta de todos” (PRADO, 2002, p. 209).
Assim, será considerado participante da rixa qualquer indivíduo que estiver presente
no lugar e no momento da rixa e entrar diretamente na contenda ou prestando auxílio a algum
dos rixosos. Entretanto, vale lembrar que o indivíduo que intervém com o intuito de separar
os rixosos não infringe o tipo penal, visto que lhe falta a vontade consciente de participar do
conflito. Porém, se tal pessoa se exaltar no intuito de apartar os contendores, transforma-se em
participante, devendo responder pelo crime de rixa.
Rixa é uma briga entre mais de duas pessoas, acompanhada de vias de fato ou
violências recíprocas. “Para caracterizá-la é insuficiente a participação de dois contendores,
pois aquela se caracteriza exatamente por certa confusão na participação dos contendores,
dificultando, em princípio, a identificação da atividade de cada um”20.
20
ARIOSVALDO. Alves de Figueiredo, Comentários ao Código Penal, São Paulo, 1986, v. 2, p. 88.
38
Consuma-se o crime de rixa com a eclosão das agressões recíprocas, isto é, quando os
contendores iniciam o conflito. “Consuma-se no instante em que o participante entra na rixa
para tomar parte dela voluntariamente” 22. De acordo com o princípio da autonomia – adotado
pelo Código Penal vigente – a rixa é punida em razão do perigo proporcionado pela sua
prática. Nesse sentido, mesmo que o indivíduo desista da contenda antes de esta ter se
encerrado, responderá pelo delito, inclusive pela lesão corporal ou morte que pode ocorrer
21
ANTOLISEI, Francesco. Manuale di Diritto Penale; Parte Speciale, Milano, 1977, p. 100.
22
BITENCOURT, 2015, p. 326.
39
depois da sua retirada. Cumpre dizer que para a consumação da rixa não é necessário que
resulte lesão nos rixosos. Bitencourt (2015) considera praticamente impossível a configuração
da tentativa.
É importante destacar que Rogério Greco possui a mesma orientação de Cezar Roberto
Bitencourt, tratando-se da consumação e da tentativa do crime de rixa. Greco afirma que o
delito se consuma no momento em que as agressões recíprocas se iniciam. Em posição
contrária, Magalhães Noronha sustenta, equivocadamente no nosso entendimento, que o delito
é consumado “no momento e no lugar onde cessou a atividade dos contendores”23.
Rogério Greco, ao defender seu posicionamento, se baseia no art. 4º do Código Penal:
“considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado”.
A existência de tentativa de rixa é controversa entre os autores. A rixa subdivide-se em
ex improviso (quando as agressões recíprocas têm início repentinamente) e ex proposito
(quando é combinada previamente). De acordo com Greco e Bitencourt, é possível que ocorra
tentativa na rixa ex proposito.
Para Rogério Greco existem três situações em que é possível a legitima defesa no
crime de rixa:
Na primeira situação, retrata uma rixa em que um dos contendores saca um revólver, e
outro rixoso, sentindo-se ameaçado, se defende legitimamente, resultando na morte daquele
que portava a arma. Nessa hipótese, o indivíduo que provocou a morte de um dos rixosos não
responderá por homicídio, apenas por rixa qualificada juntamente com todos os envolvidos.
Na segunda, apresenta um terceiro que entra na rixa para separar os contendores, é
ferido injustamente, responde a agressão sofrida agindo em legitima defesa contra seu
agressor e provoca a morte dele.
A pessoa que entra na rixa para acabar com ela, separando os envolvidos, não pratica
agressão injusta, e se vem a ser repelido, pode agir em legitima defesa. No entanto, se ocorrer
a morte do seu agressor, todos responderão por rixa qualificada, pois a morte foi
desencadeada pela participação na rixa.
23
NORONHA, Edgard Magalhães. Direito Penal; Parte Especial. 15. ed. São Paulo, Saraiva, 1979, v.2.p. 117.
40
Via de regra, as rixas são comissivas, pois são oriundas de uma conduta positiva dos
envolvidos, pressupondo um comportamento ativo dos contendores.
No entanto, pode-se verificar a modalidade omissiva, que ocorre quando o omitente
possuir um status de garantidor. Tal situação é perceptível em presídios em que o agente
penitenciário não interrompe as rixas que ocorrem com os presos dentro das celas, assistindo
de forma passiva, e por vezes se divertindo com a situação. Nota-se nesse caso, uma conduta
omissiva, pois o agente carcerário é incumbido de preservar a paz e a ordem dentro do
presídio, na medida em que isto é possível. Dessa forma, o agente que detém a qualidade de
garantidor é responsabilizado pelo delito de rixa por omissão.
4.8 Pena, ação penal, competência para julgamento e suspensão condicional do processo
4.9 Destaques
a) Na primeira, em que o contendor ingressa na rixa após ter ocorrido a morte ou a lesão
corporal grave: ele não poderá ser imputado por delito qualificado, tendo em vista que
sua participação não contribuiu para este resultado;
b) Na segunda, em que o contendor sai da rixa antes da ocorrência da morte ou da grave
lesão: é responsável pela modalidade qualificada, pois colaborou direta ou
indiretamente para o agravamento do estado da vítima, gerando tal resultado.
5 CONCLUSÃO
Tendo analisado estas espécies delitivas, observa-se que o Estado tem buscado evoluir
nas últimas décadas, tentando colocar o ser humano no centro do ordenamento, ao lhe atribuir
posição de destaque na tutela que o Direito Penal lhe oferece. É imprescindível o
reconhecimento da importância do princípio da legalidade nesse âmbito do ordenamento, que
garante ao indivíduo, um dos destinatários das normas penais, a segurança sobre conhecer
quais seus direitos e deveres frente aos diversos tipos penais, aos quais suas condutas podem
subsumir.
Entretanto, não se pode deixar de ressaltar que o nosso ordenamento jurídico ainda
deixa muito a desejar e tem sofrido alguns retrocessos recentemente, como o que ocorreu no
julgamento do Habeas Corpus (HC) 126292 pelo STF, que atentou contra o princípio da
presunção de inocência24. Ademais, cabe ressaltar outros dois pontos em que os legisladores
pecaram (no nosso entendimento), um deles diz respeito a não positivação das ações penais
públicas, como sendo incondicionadas à representação, quando se tratar de violência
doméstica contra a mulher e outro diz respeito à falta de tipos penais que façam referência a
crimes de lesões corporais e rixa que motivados por homofobia, por exemplo.
Por fim, vale dizer que os tipos penais aqui abordados, por vezes, são muito
semelhantes e que é necessária muita atenção quando se proceder à análise do caso concreto,
sob pena de se prejudicar o réu, quando da subsunção do fato à norma.
24
Para mais informações: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=310153
42
REFERÊNCIAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2: Parte especial - Dos crimes
contra a pessoa.12 ed., São Paulo: Saraiva, 2012.
______. Tratado de Direito Penal, 2: Parte Especial - Dos crimes contra a pessoa. 14. ed.,
São Paulo: Saraiva, 2014.
______. Tratado de Direito Penal, 2: Parte Especial - Dos crimes contra a pessoa.15. ed.,
São Paulo: Saraiva, 2015.
BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Vade mecum. São
Paulo: Saraiva, 2015.
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: parte especial: arts 121 ao 361. 7 ed.
Salvados: jusPODIVM, 2015.
FIGUEIREDO, Ariosvaldo Alves de. Comentários ao Código Penal. São Paulo, 1986, v. 2.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal; Parte Especial, volume II. 7. ed. Niterói, RJ:
Impetus, 2010.
MAIO, I. G.; GUGEL, M. A.. Violência contra a Pessoa com Deficiência é o Avesso dos
Direitos Consagrados nas Leis e na Convenção da ONU. 2009. Disponível em:
<http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/41/docs/violencia_contra_a_pessoa_com_deficienci
a.pdf> . Acesso em: 10 maio 2016.
43
NORONHA, Edgard Magalhães. Direito Penal; Parte Especial. 15. ed. São Paulo, Saraiva,
1979, v.2.
OLIVEIRA, José Sebastião de; PEREIRA, Márcio Antonio Luciano Pires. Da alteração do
gênero sexual do transexual junto ao registro civil sem prévia submissão à cirurgia de
trasngenitalização como um direito da personalidade à concretização da identidade
real: Aspectos legais, doutrinários e jurisprudenciais. Disponível em:
<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=547dcee2f9ccacd2>. Acesso em: 17 maio
2016.
SMANIO, Gianpaolo Poggio. Direito Penal: Parte Especial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
TJ-RS - AI: 70058821703 RS, Relator: Newton Luís Medeiros Fabrício, Data de Julgamento:
28/05/2014, Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 05/06/2014
TJ-RS - AC: 70040673683 RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Data de Julgamento:
08/06/2011, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 15/06/2011
TJ-RS - RC: 71004014643 RS, Relator: Eduardo Ernesto Lucas Almada, Data de Julgamento:
17/12/2012, Turma Recursal Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
18/12/2012
44