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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

VICTOR RODRIGUES NASCIMENTO VIEIRA

DOS CRIMES CONTRA A PESSOA: DAS LESÕES CORPORAIS, DA RIXA E DOS


MAUS TRATOS

UBERLÂNDIA
2016
VICTOR RODRIGUES NASCIMENTO VIEIRA

DOS CRIMES CONTRA A PESSOA: DAS LESÕES CORPORAIS, DA RIXA E DOS


MAUS TRATOS

Estudo sobre os crimes de Lesão Corporal,


Rixa e Maus Tratos apresentado ao Curso de
Direito da Universidade Federal de
Uberlândia, Faculdade de Direito Professor
“Jacy de Assis”, como exigência parcial para
aprovação na Disciplina de Direito Penal II.

Prof. Dr. Edihermes Marques Coelho

UBERLÂNDIA
2016
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 5

2 LESÃO CORPORAL ................................................................................................................ 5

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................................................... 6


2.2 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.................................................................................................... 7
2.3 AUTOLESÃO.............................................................................................................................. 8
2.4 DISPONIBILIDADE RELATIVA DA INTEGRIDADE FÍSICA........................................................... 8
2.5 LESÃO CORPORAL CULPOSA E LESÃO CORPORAL PRETERDOLOSA ....................................... 9
2.6 LESÃO CORPORAL LEVE OU SIMPLES................................................................................... 10
2.6.1 Lesão corporal leve e o princípio da insignificância ......................................................... 10
2.7 LESÃO CORPORAL GRAVE .................................................................................................... 11
2.8 LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA............................................................................................. 13
2.9 LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE ................................................................................. 15
2.10 LESÕES MAJORADAS ............................................................................................................. 16
2.11 LESÕES PRIVILEGIADAS ........................................................................................................ 17
2.12 SUBSTITUIÇÃO DA PENA DA LESÃO LEVE............................................................................... 17
2.13 CRIMES DE LESÃO CORPORAL AGRAVADOS PELA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ......................... 18
2.13.1 Ação penal na lesão leve qualificada pela violência doméstica contra mulher ............... 20
2.14 ISENÇÃO DE PENA OU PERDÃO JUDICIAL.............................................................................. 21

3 MAUS TRATOS .......................................................................................................................22

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................................................... 22


3.1.1 Bem juridicamente protegido ............................................................................................. 23
3.1.1.1 Privando de alimentos .................................................................................................................24
3.1.1.2 Privar de Cuidados Indispensáveis ..............................................................................................25
3.1.1.3 Sujeitando a trabalho excessivo ...................................................................................................25
3.1.1.4 Abusando de meio corretivo ou disciplinar .................................................................................26
3.1.2 Relação entre os sujeitos ativos e passivos ........................................................................ 27
3.1.3 Consumação ....................................................................................................................... 27
3.1.3.1 Momento Consumativo ...............................................................................................................27
3.1.4 Tentativa ............................................................................................................................. 28
3.1.5 Classificação Doutrinária .................................................................................................. 28
3.2 MODALIDADES ....................................................................................................................... 28
3.2.1 Comissiva e Omissiva ......................................................................................................... 29
3.2.2 Figuras qualificadas .......................................................................................................... 29
3.2.2.1 Fato que resulta em lesão corporal de natureza grave .................................................................29
3.2.2.2 Fato que resulta em morte ...........................................................................................................29
3.2.3 Causa que eleva a pena ...................................................................................................... 30
3.3 JURISPRUDÊNCIA .................................................................................................................... 30
3.3.1 Maus tratos contra idoso – Art.99 da Lei nº10.741/03 ....................................................... 30
3.3.2 Maus tratos e crime de tortura - Lei nº9.455/97................................................................. 32
3.4 QUESTÕES ATUAIS ................................................................................................................. 32
3.4.1 Maus tratos contra o deficiente – incapaz .......................................................................... 33
3.4.2 Maus tratos no sistema prisional ........................................................................................ 34
3.5 APRESENTAÇÃO DE CASOS ..................................................................................................... 35

4 RIXA......................................................................................................................................... 36

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS...................................................................................................... 36


4.2 SUJEITOS ATIVO E PASSIVO .................................................................................................... 37
4.3 TIPO OBJETIVO: ADEQUAÇÃO TÍPICA .................................................................................... 37
4.4 TIPO SUBJETIVO: ADEQUAÇÃO TÍPICA................................................................................... 38
4.5 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................................. 38
4.6 RIXA E LEGÍTIMA DEFESA...................................................................................................... 39
4.7 MODALIDADE COMISSIVA E OMISSIVA .................................................................................. 40
4.8 PENA, AÇÃO PENAL, COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO E SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO 40
4.9 DESTAQUES............................................................................................................................. 40

5 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 41

REFERÊNCIAS............................................................................................................................... 42
5

DOS CRIMES CONTRA A PESSOA: DAS LESÕES CORPORAIS, DA RIXA E DOS


MAUS TRATOS

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo tem o objetivo de apresentar os crimes de Lesão Corporal, Rixa e


Maus Tratos que se encontram na Parte Especial do Código Penal brasileiro, em seu Título I -
Dos Crimes Contra a Pessoa. Além disso, será feita uma análise de cada figura típica
supracitada, abordando questões contemporâneas de cada uma delas e ilustrando cada tipo
penal com exemplos doutrinários e julgados de diversos tribunais.
Cumpre ressaltar que a integridade física e mental, a saúde e a vida estão entre os mais
importantes bens do ser humano que são tutelados pelo nosso ordenamento jurídico. Neste
sentido, os tipos penais dispostos nesse título são extremamente relevantes, já que dispõe a
respeito de condutas que tem potencial de atentar contra a incolumidade corporal e psíquica,
bem como eliminar a vida dos sujeitos de direito.
Ademais, o estudo que se segue não visa esgotar os temas abordados, mas tão somente
fazer considerações diversas a respeito de cada conduta criminosa, suas consequências no
âmbito jurídico e abordar questões contemporâneas de cada crime abordado.

2 LESÃO CORPORAL

O crime de lesão corporal consiste em qualquer ofensa ocasionada por alguém à


integridade física ou a saúde de outrem, sem a intenção de matar a vítima. Quanto a sua
classificação doutrinária, ele é considerado comum1 (em regra), material2, unissubjetivo3 (de
concurso eventual), de forma livre4, de dano5, comissivo6 (em regra) e plurissubsistente7.

1
Pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo nenhuma qualidade especial do sujeito ativo.
2
Só se consuma com a produção do resultado naturalístico, ou seja, efetiva modificação no mundo dos fatos.
3
Pode ser cometido por apenas uma pessoa.
4
Pode ser cometido por qualquer meio.
5
Se consuma com a efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
6
É praticado por meio de ação.
7
É constituído de vários atos, porém é um crime único.
6

2.1 Considerações Iniciais

Por conseguinte, por se tratar de crime comum, via de regra, qualquer indivíduo pode
ser sujeito ativo, assim como qualquer ser humano pode ser sujeito passivo. A exceção que se
faz presente é a da mulher grávida, que é a única que figura como sujeito passivo nas figuras
qualificadas do artigo 129, §§ 1º, IV, e 2º, V.
No crime de lesão corporal, o bem jurídico tutelado é a incolumidade do indivíduo,
traduzida na integridade corporal8 e na saúde do ser humano. É importante ressaltar que
quando o tipo penal se refere à saúde, ele está se referindo à normalidade fisiológica9 e
psíquica (ou mental)10 do indivíduo, conforme o entendimento do desembargador Marcílio
Medeiros no seguinte julgado:

O conceito de dano à saúde compreende tanto a saúde do corpo como a


mental também. Em tese, se uma pessoa, à custa de ameaças provoca na
outra, um choque nervoso, convulsões ou outras alterações, patológicas,
pode praticar lesões corporais. (TJSC – AC – Rel. Des. Marcílio Medeiros –
RT 478/374)

O crime se divide em lesões corporais culposas, lesões corporais dolosas e admite


também a forma preterdolosa, assuntos que serão tratados mais a frente. O que cabe agora
ressaltar é que a modalidade dolosa depende do resultado provocado na vítima, podendo ser
leve ou então alguma das figuras qualificadas previstas nos §§ 1º, 2º, 3º ou 9º. Assim, temos
que a lesão pode ser leve, grave, gravíssima, seguida de morte ou proveniente de violência
doméstica.
Por fim, algumas considerações a respeito da lesão corporal são relevantes. A primeira
delas é que a dor por si só não constitui lesão, podendo ser reconhecida como efeito
decorrente da violência.
Em segundo lugar, temos que o crime em questão pode ser praticado por ação ou
omissão. “É possível lesão corporal por omissão, desde que o agente tenha o dever jurídico de
impedir o resultado (art. 13, §2º). Exemplo: privação de alimentos a dependente.” (SMANIO,
1999, p. 39).

8
“Ofensa à integridade corporal compreende a alteração, anatômica ou funcional, interna ou externa, do corpo
humano, como por exemplo, equimoses, luxações, mutilações, fraturas, etc.”. (BITENCOURT, 2014, p. 193).
9
“Perturbação fisiológica é o desajuste no funcionamento de algum órgão ou sistema que compõe o corpo
humano. Ex.: transmissão intencional de doença que afete o sistema respiratório.” (LENZA; GONÇALVES,
2012, p. 174)
10
Perturbação mental abrange a causação de qualquer desarranjo no funcionamento cerebral. Ex.: provocar
convulsão, choque nervoso, doenças mentais etc. (LENZA; GONÇALVES, 2012, p. 174)
7

A terceira consideração diz respeito ao tipo subjetivo da lesão corporal. O elemento


subjetivo é o dolo, seja ele direto ou eventual. Assim, é necessário o animus laedendi11,
traduzido na vontade livre e consciente de ofender a integridade física ou a saúde de outrem.
Quanto ao tipo objetivo, quarta consideração a ser feita, temos que a conduta típica
consiste no atentado a integridade corporal e a saúde de terceiro. Aqui é preciso destacar que
não é necessária a violência física para que se caracterize a lesão, bastando ofensa por meio de
efeitos morais.
Em quinto lugar, temos que, para que fique comprovada a materialidade deste crime é
necessário que seja feito o exame pericial (exame de corpo de delito) que vai atestar se houve
ou não lesão, bem como vai aferir a extensão e a causa das lesões. A prova testemunhal pode
suprir a falta do exame de corpo delito – quando este não foi realizado - se houver o
desaparecimento das lesões pelo decurso do tempo.
Para finalizar as considerações, cabe ressaltar que para a lesão corporal leve e para a
lesão corporal culposa, desde o advento da Lei n. 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais), a
ação penal passou a ser pública condicionada à representação do ofendido ou, se incapaz, de
seu representante legal (art. 88 da Lei n. 9.099/95)12. Por outro lado, nas outras formas de
lesão dolosa (grave, gravíssima e seguida de morte), a ação penal continua sendo pública
incondicionada.

2.2 Consumação e tentativa

Os tipos penais podem se realizar no mundo dos fatos de forma completa ou


incompleta. Quando o iter criminis é percorrido por inteiro, o crime terá sido consumado. Já
na tentativa, o sujeito ativo pode até dar início à execução do delito, no entanto, o iter criminis
é interrompido.
No crime de lesão corporal, no momento em que se tem a efetiva lesão à integridade
física ou à saúde do sujeito, ou seja, quando o agente, pela sua conduta comissiva ou
omissiva, atinge seu objetivo, lesionando a vítima, tem-se o crime de lesão corporal
consumado.
No crime de lesão corporal tentado, o agente tem a intenção de lesionar a vítima, no
entanto, por fatores externos a sua vontade, é impedido de consumar o crime.

11
Intenção de ofender, de ferir, de machucar.
12
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal
relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
8

Vale ressaltar que a tentativa só é admitida quando a lesão corporal for dolosa, pois na
forma culposa ou preterdolosa ela é inadmissível pela própria natureza destas formas – é
ilógico que, o sujeito ativo, não agindo de modo intencional, mas por inobservância do dever
de cuidado, tenha tentado lesionar a integridade física ou a saúde de outro indivíduo.
Por fim, relevante observação é a de Bitencourt, afirmando que “não se pode falar em
tentativa de vias de fato, se o meio empregado pelo agente é capaz de causar dano à
incolumidade física da vítima.” (BITENCOURT, 2012, p.473). Sendo assim, caso o sujeito
desfira pontapés a outro, ou empurrões, e tal conduta resulte em lesão à vítima, não se pode
falar em tentativa de vias de fato.

2.3 Autolesão

A autolesão, por sua vez, entendida como a ação do indivíduo que ofende a sua
própria integridade, não constitui crime, podendo, no entanto, constituir elementar de outro
tipo penal. Assim, segundo Bitencourt (2014), “poderá constituir elementar do crime de
estelionato, quando o agente lesa a sua integridade física ou saúde com o fim de obter
indenização ou valor de seguro.”
No tocante à autolesão, ainda cabe ressaltar que, se um inimputável, menor, ébrio ou
por qualquer razão incapaz de entender ou de querer, por instigação, indução, auxílio ou
ordem de um terceiro, causar em si mesmo uma lesão teremos uma situação excepcional.
Sendo assim, neste caso, quem instigou o deficiente mental, o menor ou o embriagado à
autolesão deverá responder pelo crime de lesão corporal na condição de autor mediato,
conforme prevê o art. 20, §2º, do CP.

2.4 Disponibilidade relativa da integridade física

Uma questão que chama muita atenção no que diz respeito à lesão corporal é a
disponibilidade ou indisponibilidade da integridade física ou da saúde do ser humano capaz.
Esta é uma questão controversa em que não existe consenso, de forma que parte da doutrina
considera a integridade física como sendo indisponível e outra parte a considera bem jurídico
relativamente disponível, o que afastaria a tipicidade.
Concordamos com o entendimento de que, no ordenamento jurídico brasileiro, a
integridade física pode ser considerada como relativamente disponível. Como exemplo desta
relativa disponibilidade temos situações que são social e culturalmente aceitas em que as
9

pessoas podem se submeter a cirurgias estéticas, doar órgãos em vida, tatuarem-se, colocar
piercings13 e brincos e também há o caso da circuncisão realizada em recém-nascidos, casos
estes que não configuram lesão corporal.
Em consonância com este pensamento está Cezar Roberto Bitencourt, sustentando
que:

No ordenamento jurídico brasileiro, a integridade física apresenta-se como


relativamente disponível, desde que não se afronte interesses maiores e não
ofenda os bons costumes, de tal sorte que as pequenas lesões podem ser
livremente consentidas, como ocorre, por exemplo, com as perfurações do
corpo para a colocação de adereços, antigamente limitados aos brincos de
orelha. Ademais, seguindo essa linha de raciocínio, a caminho da
disponibilidade, a própria ação penal perdeu seu caráter publicístico
absoluto, passando a ser condicionada à representação do ofendido, quando
se tratar de lesão corporal leve ou culposa. (BITENCOURT, 2014, p. 194-
195)

Além das questões supracitadas, outra situação que merece destaque é o direito do
transexual de “disposição relativa do próprio corpo”, sem configuração da lesão corporal.
Neste sentido, conforme a Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.955/2010 a
cirurgia de transformação plástico-reconstrutiva da genitália externa, interna e caracteres
sexuais secundários “não constitui crime de mutilação previsto no artigo 129 do Código Penal
brasileiro, haja vista que tem o propósito terapêutico específico de adequar a genitália ao sexo
psíquico” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2010).

Ademais, há de se reconhecer que a aludida cirurgia não promove, apesar da


terminologia coloquial sempre empregada, a alteração do sexo do transexual,
mas sim, promove a adequação física ao sexo psíquico, constituindo-se em
intervenção cirúrgica para preservação da saúde psíquica da pessoa e não ato
de disposição do próprio corpo. (OLIVEIRA; PEREIRA, 2016)

2.5 Lesão corporal culposa e lesão corporal preterdolosa

Conforme foi mencionado acima, o crime de lesão corporal admite a modalidade


culposa, que está prevista no CP, art. 129, §6º e é apenada, na sua forma simples, com
detenção, de dois meses a um ano. Para que esta se configure, nas palavras de Bitencourt
(2014), são necessários os seguintes requisitos: “comportamento humano voluntário;

13
A realização de tatuagens e colocação de piercings só é permitida em pessoas maiores de idade, de sorte que se
realizada em menor, constitui crime.
10

descumprimento do dever de cuidado objetivo; previsibilidade objetiva do resultado e lesão


corporal involuntária”.
É importante ressaltar que a lesão corporal culposa pode ser simples, hipótese do §6º e
qualificada, hipótese do §7º ambos, do CP, art. 129. Será simples, portanto, qualquer que seja
o grau da lesão leve, grave ou gravíssima.
Por outro lado, será qualificada quando ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º
do art. 121 do Código Penal. Assim, o dispositivo do §7º remete ao art. 121, §4º, CP e
aumenta de um terço a pena se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir
as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Aumenta também a
pena, conforme § 6º do art. 121, de um terço até a metade se o crime for praticado por milícia
privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
Por outro lado, temos também a previsão, no CP, art. 129, §3º, da modalidade
preterdolosa do crime de lesão corporal. Assim, para que esta se configure devem concorrer
três elementos: uma ação dolosa (minus delictum); um resultado não desejado (majus
delictum) e o nexo causal entre a ação dolosa e o resultado não pretendido (nexo de
preterintencionalidade). Esta modalidade será explicada mais detalhadamente e exemplificada
mias a frente, no item 2.9 Lesão corporal seguida de morte.

2.6 Lesão Corporal Leve ou Simples

Quanto à classificação doutrinária do crime de lesão corporal, com base na gravidade


da ofensa ao bem jurídico tutelado, temos a de natureza leve ou simples, que caracteriza-se
pelo seu menor potencial ofensivo, sendo por isso a forma “básica” desse tipo penal, disposta
no artigo 129 caput. Um crime de lesão corporal só será enquadrado como de natureza leve
se, por exclusão, não configurar nenhuma das hipóteses previstas nos §§1o. 2o e 3o. Para este
tipo de classificação, o sujeito ativo deve ter agido necessariamente com dolo, porém, pela
reduzida gravidade da ofensa, a pena privativa de liberdade imposta a ele, pode ser substituída
por penas alternativas.

2.6.1 Lesão corporal leve e o princípio da insignificância

Para que uma conduta seja considerada relevante para o Direito Penal, ela deve possuir
um mínimo de gravidade na ofensa que causar contra os bens jurídicos protegidos pelo
11

ordenamento, caso contrário a conduta será insignificante, e a intervenção penal por parte do
Estado não se justificará. Isso se deve ao princípio da proporcionalidade, pois em casos de
infrações insignificantes, a rigorosa intervenção estatal não é proporcional à gravidade do
delito.
Sendo assim, dependendo da magnitude do delito, a tipicidade penal pode ser afastada,
pois a conduta não apresentará nenhuma relevância substancial, materializando-se o princípio
da insignificância ou da bagatela. Por isso, “a irrelevância ou insignificância de determinada
conduta deve ser aferida não apenas em relação à importância do bem juridicamente atingido,
mas especialmente em relação ao grau de sua intensidade, isto é, pela extensão da lesão
produzida” (BITENCOURT, 2012, p.468).
Especificamente quanto ao crime de lesão corporal, para que se tenha uma conduta
típica, a lesão deve ser juridicamente relevante à integridade física ou a saúde da vítima.
Vale ressaltar que a insignificância da ofensa não se confunde com as infrações de
menor potencial ofensivo. Essas últimas podem ou não configurar a insignificância, vai
depender da intensidade do delito. Sendo assim, não pode se afirmar que as lesões corporais
de natureza leve serão sempre atingidas pelo princípio da bagatela, pois se assim fossem, não
teriam previsão legislativa expressa como um tipo de lesão punível.
Sobre esse princípio, tem-se o julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, que julgou improcedente a aplicação do princípio da bagatela mesmo tendo a lesão
natureza leve, para o caso em que o sujeito agrediu a irmã:

LESÃO CORPORAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. Lesão sofrida pela vítima,
apesar de leve, não pode ser taxada de insignificante, eis que o agente a
agrediu com o cabo de vassoura. Inviável a desclassificação para a
contravenção de “vias de fato”. É cediço que somente ocorre “vias de fato”
quando as agressões não produzem lesão, hipótese não verificada nos autos,
pois o Laudo do Exame de Corpo de Delito aponta que a vítima sofreu uma
lesão corporal de natureza leve. RECURSO DEFENSIVO DESPROVIDO.
(TJ-RJ – APL: 00165127920078190011 RJ 0016512-79.2007.8.19.0011,
Relator: DES. MARCIA PERRINI BODART, Data de Julgamento:
17/04/2012, SÉTIMA CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação:
27/07/2012 15:30)

2.7 Lesão Corporal Grave

Como fora dito anteriormente, na análise do crime de lesão corporal deve se observar
se a conduta não se encaixa em nenhum dos três primeiros parágrafos do artigo 129 para que
12

seja uma lesão corporal leve. No §1o desse artigo, constam as lesões corporais de natureza
grave. Todos os incisos desse parágrafo apresentam condutas que serão qualificadas pelo
resultado do crime, sejam elas dolosas ou preterdolosas. Vale ressaltar que, pelo seu maior
potencial ofensivo se comparado às lesões leves, a legislação atribui nova pena abstrata as
lesões graves, sendo de um a cinco anos de reclusão, admitindo, se presente os requisitos, a
suspensão condicional. Dito isso, tem-se a análise dos respectivos incisos do parágrafo
primeiro:
a) Inciso I: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima a incapacidade para
as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias. Percebe-se que essa
incapacidade é temporária, e se estende para todas as atividades cotidianas lícitas que
o sujeito tinha o costume de realizar, como trabalho e lazer, não ficando limitada
apenas à atividade laboral.

Entende-se por ocupação habitual qualquer atividade corporal costumeira,


tradicional, não necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa,
devendo ser lícita, não importando se moral ou imoral, podendo ser
intelectual, econômica, esportiva etc. Desse modo, mesmo um bebê pode ser
sujeito passivo desta espécie de lesão, vez que tem de estar confortável para
dormir, mamar, tomar banho, ter suas vestes trocadas etc. (CUNHA, 2015,
p.103).

Das palavras de Rogério Sanches Cunha, vale destacar que a exclusão de atividades
ilícitas não se estende às atividades imorais, como a prostituição.
Por fim, é por laudo médico complementar que se comprova a ocorrência de
incapacidade por mais de 30 dias, realizado logo após o trigésimo dia, contado da data
da consumação do crime;
b) Inciso II: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima perigo de vida. Para
que se configure essa qualificadora, não basta a idoneidade da lesão, nem a região em
que foi realizada, mas sim que a mesma tenha a probabilidade concreta de êxito letal
para a vítima, ou seja, pelo diagnóstico, a vida do sujeito passivo deve efetivamente ter
sido colocada em perigo. Indispensável é afirmar que essa qualificadora só admite
como forma o preterdolo. Caso o agente tenha agido com a intenção de colocar a vida
da vítima em perigo, configurar-se-ia tentativa de homicídio;
c) Inciso III: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima debilidade
permanente de membro, sentido ou função. Se a capacidade de algum deles for
13

reduzida ou enfraquecida, por tempo indeterminado, e de recuperação incerta, aplica-


se essa qualificadora;
d) Inciso IV: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima a aceleração do
parto. Essa qualificadora tem como sujeito passivo apenas as mulheres grávidas.
Sendo assim, realiza-se quando o nascimento do feto com vida é antecipado, ou seja,
quando ocorra um parto prematuro, devido à lesão. Caso o feto morra no útero da
gestante ou fora dele, o crime será configurado como aborto, passando a lesão a ter
natureza gravíssima (art. 129,§2o, V). É necessário, para que se configure a
qualificadora, que o sujeito ativo tenha conhecimento da gravidez da vítima, caso
contrário, será o crime de lesão configurado como de natureza leve.

2.8 Lesão corporal gravíssima

A doutrina atribuiu para as qualificadoras do §2o do artigo 129, a natureza de lesões


corporais de natureza gravíssima. Como no parágrafo primeiro, os incisos do §2o dispõem
sobre condutas qualificadas pelo resultado, que nessas hipóteses terão consequências ainda
mais danosas se comparados ao parágrafo anterior. Sendo assim, a nova margem da pena
abstrata é entre dois a oito anos de reclusão. Dito isso, tem-se a análise dos respectivos incisos
do parágrafo segundo:
a) Inciso I: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima incapacidade
permanente para o trabalho. Quando o sujeito passivo fica impossibilitado de
exercer atividade laboral por tempo indeterminado, ou seja, não é sabido quando a
incapacidade cessará, o sujeito ativo terá cometido um crime de lesão corporal
qualificado por esse inciso. Vale ressaltar que a incapacidade não abrange qualquer
atividade habitual, mas apenas a atividade com fins lucrativos. Caso a vítima se torne
incapaz apenas para uma atividade laboral específica, podendo realizar outras, não se
configurará lesão corporal gravíssima;
b) Inciso II: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima enfermidade
incurável. Quando um indivíduo transmite a outro, intencionalmente, uma patologia
cuja curabilidade não se tem no atual estágio da medicina, sendo confirmada por
prognóstico pericial, tem-se a configuração dessa qualificadora. Não se afasta a
condição de enfermidade incurável, se a patologia transmitida, para ser curada, exija
intervenções cirúrgicas arriscadas ou incertas, afinal, a vítima não é obrigada a se
submeter a esses procedimentos. Vale ressaltar que, caso a medicina evolua, e a
14

doença que na época era incurável, torna-se curável, não cabe revisão criminal do que
já fora julgado.
Confusão não deve ser feita entre a diferença entre enfermidade incurável e a
debilidade permanente do inciso III do §1o do artigo 129:

Debilidade permanente é o estado consecutivo a uma lesão traumática, que


limita duradouramente o uso, a extensão e energia de uma função, sem
comprometer o estado geral do organismo. A enfermidade, ao contrário,
deve ser entendida como o estado que duradouramente altera e
progressivamente agrava o teor de um organismo. (BITENCOURT, 2012,
p.491)

c) Inciso III: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima perda ou
inutilização de membro, sentido ou função. Tem-se a perda quando há o
perecimento físico de membro, sentido ou função, ou seja, um desses elementos é
extraído do corpo humano ou tem sua atividade cessada, seja por decorrência direta da
conduta criminosa, seja por intervenção cirúrgica que tenha por objetivo minorar as
consequências da lesão. Já na inutilização ocorre a perda funcional, não há exclusão
do membro, e nem cessação do sentido ou função, eles subsistem, porém inoperantes.
Tratando-se de órgãos duplos, só configurará lesão gravíssima se a lesão atingir
ambos, como por exemplo, os rins. A perda de um olho, não se confunde com a perda
de visão, sendo a primeira debilidade permanente, e a segunda perda de sentido.
Por fim, vale a afirmação a respeito da extração dos órgãos genitais, assunto que será
tratado mais a frente, mas ilustra bem a situação do dispositivo aqui tratado:

Não caracteriza a perda de membro, sentido ou função a cirurgia que extrai


órgãos genitais externos de transexual, com a finalidade de curá-lo ou de
reduzir seu sofrimento físico ou mental. Aliás, essa conduta é atípica, não
sendo proibida pela lei, nem mesmo pelo Código de Ética Médica. Falta o
dolo de ofender a integridade física ou saúde de outrem (BITENCOURT,
2012, p. 494).

d) Inciso IV: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima deformidade
permanente.
A análise da ocorrência dessa qualificadora leva em consideração o sexo, a idade, e a
condição social da vítima. Essa deformidade permanente consiste no dano estético
definitivo, em qualquer parte do corpo, que provoca humilhação à vítima, e
15

desconforto para os que a observam, ou seja, quando o dano provoca uma impressão
vexatória, sendo esta irrecuperável - cirurgia plástica não afasta essa qualificadora;
e) Inciso V: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima o aborto. Quando o
sujeito ativo do delito de lesão corporal, tendo conhecimento da gravidez da mulher
(sujeito passivo necessário para essa qualificadora), a lesiona e causa o aborto do feto
que ela carregava, tem-se lesão gravíssima. É imprescindível que o agente não tenha o
dolo em causar o aborto na mulher, pois se tiver, o sujeito responderá por crime de
lesão e aborto, respondendo por concurso formal impróprio, devido os desígnios
autônomos. Sendo assim, a qualificadora exige a forma preterdolosa, pois a morte do
feto é provocada involuntariamente.
Tendo visto todas estas hipóteses, vale ressaltar que é possível que em um mesmo
acontecimento, coexistam qualificadoras de mais de uma natureza. Por exemplo, o sujeito
além de ter sua vida colocada em perigo devido à lesão (§1o, II) poderá ter sofrido
deformidade permanente (§ 2°, IV). Caso isso ocorra, configurará apenas um crime, e será
aplicada a pena do parágrafo mais grave.

2.9 Lesão corporal seguida de morte

Esta figura qualificada está prevista no art. 129, § 3º, do CP e reza que se da lesão
“resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu
o risco de produzi-lo” a pena é de reclusão e pode variar de quatro a doze anos. Esta
modalidade criminosa é exclusivamente preterdolosa – portanto não admite tentativa - e
ocorre quando o agente tem a intenção apenas de lesionar a vítima, entretanto acaba,
culposamente, causando a sua morte.
Neste caso não é admitida a existência de dolo direto ou eventual, ou seja, em nenhum
momento o agente quis ou assumiu o risco de causar a morte da vítima, sob pena de
caracterizar-se homicídio doloso. Neste sentido, é necessário que fique claro no caso em
concreto que a vontade do agente não incluía, em hipótese alguma, o resultado morte.
Por outro lado, se o agente comete ato agressivo, porém sem a intenção de lesionar a
vítima (vias de fato) e em decorrência desse ato a vítima morre, teremos um caso de
homicídio culposo e não de lesão seguida de morte. Assim, se o agente não queria lesar a
vítima, mas sua ação foi executada de forma imprudente, responderá por homicídio culposo.
16

A exemplo das situações supracitadas, temos que quando um sujeito empurra o outro e
este último cai e bate a cabeça no chão, ocasionando traumatismo craniano e em decorrência
disso a sua morte, teremos caso de homicídio culposo e não lesão corporal seguida de morte.
Ainda exemplificando, Lenza e Gonçalves (2012) consideram que quando o agente
desfere “uma facada na perna que atinge a artéria femural na região da coxa e, em face do
extenso sangramento, a vítima morre de hemorragia”, configura-se o crime de lesão corporal
seguida de morte. Outros exemplos de lesão corporal seguida de morte são: o soco na vítima
com queda14, fratura de crânio e morte e também a paulada na cabeça.
Para ilustrar a lesão corporal seguida de morte e melhor compreendê-la, vejam-se as
seguintes jurisprudências:

A diferença entre a lesão corporal seguida de morte e o homicídio culposo


está em que, na primeira, o antecedente é um delito doloso e, no segundo,
um fato penalmente indiferente, ou, quando muito, contravencional. Assim,
se a morte for consequência de simples vias de fato (empurrão que causa
queda da vítima e a lesão mortal), haverá homicídio culposo (RJSP — Rel.
Jarbas Mazzoni — RT 599/322);

Não se pode negar a relação de causalidade existente entre o ato do acusado,


que empurra a vítima embriagada e causa a sua queda ao solo, com fratura
de crânio, vindo a falecer dias depois. Contudo, se não teve aquele a
intenção de agredi-la ou de feri-la, somente poderia responder por homicídio
culposo e não pelo delito preterintencional previsto no art. 129, § 3º, do CP
(TJSP — Rel. Geraldo Gomes — RT 582/304);

Não é possível identificar-se delito meramente culposo na ação de quem, em


incidente ocorrido em jogo de futebol, vendo o adversário caído, desfere-lhe
violento pontapé na cabeça, fraturando-a e provocando a sua morte (Tacrim-
SP — Rel. Cunha Bueno — RT 502/279);

Não é possível negar-se que, na lesão corporal seguida de morte, a ação do


agente (em sentido amplo) é dolosa; quem feriu quis ferir; o resultado é que
escapa à vontade do agente; foi além do que ele quis, mas lhe é atribuível
pela previsibilidade, e, portanto, há culpa em sentido estrito. Trata-se, pois,
de delito doloso e culposo, há dolo no antecedente e culpa no consequente
(RT 375/165).

2.10 Lesões Majoradas

O §7o do artigo 129 dispõe sobre as hipóteses em que o crime de lesão corporal terá
sua pena aumentada se presentes certas circunstâncias. Caso a lesão corporal dolosa ou

14
Observe que neste caso, diferentemente do caso que foi supracitado do empurrão, o agente agiu de forma
violenta e tinha a intenção de ferir a vítima, posto que desferiu um soco. Por isso se configuraria lesão corporal
seguida de morte e não homicídio culposo.
17

preterdolosa seja praticada contra pessoa maior de sessenta anos ou menor de quatorze anos, a
pena prevista nos demais parágrafos anteriores do artigo 129 será aumentada de um terço.
Também poderá ocorrer esse aumento caso o crime de lesão corporal seja praticado por
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.

2.11 Lesões Privilegiadas

O artigo 129 §4o dispõe que, caso o crime de lesão corporal seja praticado por motivo
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, a pena aplicada ao réu pode ser reduzida de um sexto a um terço
pelo juiz. Sendo assim, a conduta do agente não deixa de ser punível, no entanto, sua
reprovabilidade é reduzida.
Esses valores sociais ou morais que podem motivar a conduta causando a redução da
sua reprovabilidade são determinados de acordo com a estruturação de cada sociedade. Ter
relevante valor social significa que a conduta fundamenta-se no interesse da coletividade. Já
para os casos de relevante valor moral, significa que aquele valor engrandece o cidadão, e
adequa-se aos princípios éticos.
Quanto ao cometimento da lesão estando o agente sob domínio de violenta emoção,
somente a emoção intensa assume a condição de privilegiada, devido ao choque emocional
que causa, levando o indivíduo a condutas incontroláveis. Além da violência emocional, é
necessário que a vítima tenha feito uma provocação injusta ao agente que justifique seu estado
emocional. A reação do agente à provocação da vítima deve ser imediata.

2.12 Substituição da pena da lesão leve

Esta hipótese está prevista no CP, art. 129, §5º e considera que se as lesões não forem
graves, gravíssimas ou seguidas de morte, o juiz pode substituir a pena de detenção por multa.
Assim, temos que o juiz pode seguir dois caminhos:
a) Primeiro (1º): ou reduz a pena de um sexto a um terço embasado no § 4º, ou;
b) Segundo (2º): substitui a pena por multa fundamentando-se no § 5º.
Neste sentido, conforme o entendimento de Gianpaolo Poggio Smanio:
18

1º) no caso de lesão corporal privilegiada (§4º)


2º) no caso de lesões corporais recíprocas; exemplos:
- ambos se ferem e um agiu em legítima defesa: um será absolvido e o
outro condenado com privilégio (posição majoritária);
- ambos se ferem, alegam legítima defesa e não há prova do início da
agressão: absolvição dos dois;
- ambos se ferem e nenhum em legítima defesa – condenação dos dois com
privilégio. (SMANIO, 1999, p. 45, grifo nosso)

Para consolidar o entendimento de Smanio, elucidar as suas considerações e ilustrar as


situações que trouxe à tona, seguem julgados sobre o tema:

Para se caracterizar a responsabilidade penal, nas lesões corporais dolosas,


em caso de briga, com agressões mútuas, é fundamental que a prova
esclareça quem foi o iniciador, o provocador da contenda. Se este ponto não
ficou claro, deve-se absolver ambos os litigantes (Tacrim-SP — Rel. Pedro
Gagliardi — RT 692/285, grifo nosso);

Se ambos os acusados alegam que se limitaram a defender-se de agressão


iniciada pelo outro e a prova é contraditória a esse respeito, é de se absolver
ambos, por falta de elementos precisos para se fundamentar a condenação
(Tacrim-SP — Rel. Ferreira Leite — Jutacrim 22/97, grifo nosso);

Tratando-se de entrevero de mútua iniciativa em que os briguentos se


desafiam e buscam, cada qual, desforra em razão de alterações anteriores,
devem ambos ser responsabilizados pelas consequências reciprocamente
causadas (Tacrim-SP — Rel. Camargo Sampaio — Jutacrim 32/184, grifo
nosso);

Partindo réu e vítima para recíproca agressão após mútua aceitação do


entrevero, impõe-se a dupla responsabilização pelas consequências do
desforço físico (Tacrim-SP — Rel. Manoel Pedro Pimentel — Jutacrim
23/227).

Por fim, algumas considerações são necessárias a respeito da substituição da pena. A


primeira delas é que a reincidência não impede o privilégio, a despeito do que ocorre na Parte
Geral do CP. A segunda é que este caso somente se aplica à lesão corporal dolosa. Por fim, é
importante destacar que a substituição da pena é obrigatória, caso presentes seus
pressupostos, tratando-se, portanto, de um direito subjetivo do autor do crime.

2.13 Crimes de lesão corporal agravados pela violência doméstica

Outro tema que contemporaneamente é alvo de polêmicas e discussões na seara


jurídica, diz respeito à violência doméstica, principalmente quando é praticada contra as
mulheres. Esta questão é abordada no CP, art. 129, §§ 9º e 10, dispositivos estes que foram
19

criados pela Lei n. 10.886/2004 e que não constituem tipos penais autônomos, visto que não
têm nenhum verbo descrevendo conduta típica. Este é o entendimento de Lenza e Gonçalves
(2012), já que para eles:

O legislador quis apenas acrescentar algumas circunstâncias com o intuito de


agravar o crime de lesões corporais. Tanto é assim que, como já
mencionado, não descreveu uma conduta típica nova, mas, sim, fez remissão
ao crime de lesão corporal, iniciando o § 9º, com a expressão “se a lesão...”,
deixando evidente que, ao acrescentar circunstâncias (crime contra
ascendente, descendente, irmão, cônjuge etc.) e prever novos limites de
pena, acabou criando, no § 9º, o crime de lesão corporal dolosa leve
qualificada pela violência doméstica.

A pena da figura qualificada que, originariamente, era de seis meses a um ano, foi
alterada pela Lei n. 11.340/200615, passando a ser de três meses a três anos de detenção,
excluindo assim, a competência do Juizado Especial Criminal para julgar tais crimes.
No § 10, por sua vez estão previstas causas de aumento de pena de um terço para os
crimes de lesão grave, gravíssima ou seguida de morte, se cometidos contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge etc. O que se observa, portanto, é que o aludido parágrafo faz
expressa menção aos §§ 1º a 3º do art. 129, deixando claro que se refere a essas modalidades
de lesão corporal.
Assim, resta evidenciado que, por eliminação, o § 9º é exclusivo para as lesões de
natureza leve. “Em suma, não existe um crime chamado ‘violência doméstica’, mas crimes
de lesão corporal agravados pela violência doméstica, mesmo porque o Capítulo em estudo
se chama Das Lesões Corporais”. (LENZA; GONÇALVES, 2012, p.195, grifo nosso)
Outros pontos de destaque são que: a vítima das hipóteses agravadas dos §§ 9º e 10
pode ser homem ou mulher e não é necessário que o fato ocorra no âmbito doméstico para que
a pena seja majorada. Assim, basta que a vítima seja uma das pessoas enumeradas 16 na lei
para que haja agravação. “Apenas nas últimas figuras do dispositivo, ou seja, quando o agente
cometer o crime prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, é
que se pressupõe que o fato ocorra no ambiente doméstico.” (LENZA; GONÇALVES, 2012,
p.196).

15
Vulgarmente conhecida como Lei Maria da Penha.
16
Importante ressaltar que essa enumeração é taxativa.
20

2.13.1 Ação penal na lesão leve qualificada pela violência doméstica contra mulher

Existem duas correntes doutrinárias que versam a respeito da ação penal na lesão leve
qualificada pela violência doméstica contra mulher. Uma considera que a ação é
incondicionada à representação e a outra diz que é condicionada à representação da vítima.
A primeira corrente diz que, em razão do art. 4117 da Lei Maria da Penha, a ação é
incondicionada, e que esta era a intenção do legislador buscando conferir eficácia ao combate
à violência contra a mulher.
A segunda corrente entende que a ação penal continua sendo condicionada à
representação já que o art. 1618 da própria Lei Maria da Penha regulamenta a forma como a
vítima pode renunciar ao direito de representação, de modo que o art. 41 desta Lei restringiria
apenas outros institutos da Lei n. 9.099/95.
Nosso entendimento é em consonância com a segunda corrente - infelizmente - já que
seria forçoso (e poderia extrapolar a literalidade da Lei Penal) atribuir caráter de ação pública
incondicionada à esta modalidade, sendo que o art. 16 menciona claramente que a lei Maria
da Penha trata de ações penais públicas condicionadas à representação.
É de se destacar ainda que tanto a Lei n. 10.886/2004, quanto a Lei n. 11.340, de 7 de
agosto de 2006, perderam uma enorme oportunidade de tipificar as agressões contra as
mulheres como sendo crimes de ação pública incondicionada à representação. Esta convicção
se dá porque acreditamos que manter a punibilidade desse tipo de violência condicionada à
representação da vítima significa dificultar-lhe o alcance da tutela penal. Isto porque num país
extremamente machista e com alarmantes índices de violência contra a mulher19, ainda pesam

17
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
18
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade,
antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
19
- 48% das mulheres agredidas declaram que a violência aconteceu em sua própria residência; no caso dos
homens, apenas 14% foram agredidos no interior de suas casas (PNAD/IBGE, 2009).
- 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos, aponta pesquisa realizada pelo
Instituto Avon em parceria com o Data Popular (nov/2014).
- 56% dos homens admitem que já cometeram alguma dessas formas de agressão: xingou, empurrou, agrediu
com palavras, deu tapa, deu soco, impediu de sair de casa, obrigou a fazer sexo. Saiba mais sobre as “Percepções
do Homem sobre a Violência Contra a Mulher” (Data Popular/Instituto Avon 2013).
- 77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões semanal ou diariamente. Em
mais de 80% dos casos, a violência foi cometida por homens com quem as vítimas têm ou tiveram algum vínculo
afetivo: atuais ou ex-companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas. É o que revela o Balanço do
Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher , da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da
República (SPM-PR). Leia mais no Balanço 2014 do Ligue 180.
- Pesquisa apoiada pela Campanha Compromisso e Atitude, em parceria com a Secretaria de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República, revela 98% da população brasileira já ouviu falar na Lei Maria da Penha
e 70% consideram que a mulher sofre mais violência dentro de casa do que em espaços públicos no Brasil. Saiba
21

contra a vítima a coabitação com o agressor, que em grande parte dos casos é mais forte e
consequentemente é temido pela mulher, o que faz com que ela sinta-se coagida e desista de
manifestar livremente sua vontade de autorizar a intervenção estatal para punir o agressor.
Para finalizar, ressaltamos que a partir de 2010, o entendimento das turmas criminais
do STJ é de que a Lei Maria da Penha trata de ações penais públicas condicionadas à
representação, conforme evidenciado no seguinte julgado:

1. A Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/06) é compatível com o instituto da


representação, peculiar às ações públicas condicionadas e, dessa forma, a
não aplicação da Lei n. 9.099/95, prevista no art. 41 daquela lei, refere-se
aos institutos despenalizadores nesta previstos, como a composição civil, a
transação penal e a suspensão condicional do processo. 2. O princípio da
unicidade impede que se dê larga interpretação ao art. 41, na medida em que
condutas idênticas praticadas por familiar e por terceiro, em concurso, contra
a mesma vítima, estariam sujeitas a disciplinas diversas em relação à
condição de procedibilidade. 3. A garantia de livre e espontânea
manifestação conferida à mulher pelo art. 16, na hipótese de renúncia à
representação, que deve ocorrer perante o magistrado e representante do
Ministério Público, em audiência especialmente designada para esse fim,
justifica uma interpretação restritiva do art. 41 da Lei n. 11.340/06. [...] (STJ
— 5ª Turma — HC 157.416/MT — Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe
10.05.2010);

2.14 Isenção de Pena ou Perdão Judicial

O perdão judicial é um instituto que extingue a punibilidade do crime cometido pelo


sujeito ativo do delito. Desse modo, mesmo o agente sendo culpado, a pena deixa de ser
aplicada, nas hipóteses previstas em lei, taxativamente. No crime de lesão corporal
consumado na forma culposa, é cabível o perdão por parte do juiz ao sujeito ativo, conforme o
artigo 129, §8o. Nesse caso, é necessário que as consequências do crime de lesão corporal
culposa praticado pelo sujeito também lhe afetem de forma direta, ou indireta, essa última
exigindo um vínculo afetivo entre a vítima e o agente. Sendo assim, para a forma culposa
desse tipo penal, o juiz pode deixar de aplicar a pena prevista, se presentes os requisitos
exigidos para tal extinção da punibilidade. Esse perdão é um direito subjetivo do indivíduo,
devendo o juiz se manifestar motivadamente caso não seja concebido ao réu esse direito.
Concedido o perdão, não subsiste nenhum efeito condenatório, conforme a Súmula 18 do STJ.

mais: Pesquisa Percepção da Sociedade sobre Violência e Assassinatos de Mulheres (Data Popular/Instituto
Patrícia Galvão, 2013). (ATITUDE, Compromisso e. Dados e estatísticas sobre violência contra as mulheres.
Disponível em: <http://www.compromissoeatitude.org.br/dados-e-estatisticas-sobre-violencia-contra-as-
mulheres/>. Acesso em: 19 maio 2016.)
22

3 MAUS TRATOS

No atual Código Penal o crime de maus-tratos, é previsto no artigo 136 que segue:

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção
ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 (catorze) anos.

3.1 Considerações Iniciais

Ficam evidentes na leitura e compreensão do artigo 136 do CP três pontos:


a) a determinação do tipo de ação que deve vir a ser cometida;
b) por quem e contra quem (qual devem ser os sujeitos ativos e passivos da conduta);
c) a forma da ação.
Outro aspecto que o artigo deixa claro é a sua intenção em evitar os excessos, nesse
sentido, cabe-se realizar uma perspectiva histórica do crime de maus-tratos.
Fazendo uma breve análise da noção de maus-tratos é possível averiguar que nos
primórdios da civilização - o que inclui a Idade Antiga, o Direito Romano, a Idade Moderna,
o período escravocrata - e, agora analisando especificamente o Brasil, todas as passagens
anteriores ao Código de Menores de 1927, não admitiam, ainda, a noção implementada no
artigo 136.
Nos períodos em que não havia a criminalização dos maus-tratos havia na contramão o
pater famílias (o pátrio poder na família), o direito de infligir castigos corporais, e a
rigorosidade no aferimento de disciplina. Inclusive, o Código Criminal Brasileiro, datado de
1830, justificava em seu Art.14 nº6 a conduta do castigo.
As mudanças no âmbito social, político e econômico refletem na relação de família, e
é justamente nesse ponto da sociedade em que começa a se instaurar a ruptura como o pátrio
poder. Tal ruptura é uma das maiores motivadoras para a criminalização dos maus-tratos, que
culmina na restrição do direito antes pleno, de punir.
23

Antes da tipificação dos maus-tratos havia a relativização do castigo, a concentração


do poder de castigar nas mãos do “chefe de família” que usurpava desse como bem entendia,
e submetia os que eram considerados seus submissos à punição que pensasse ser devida. No
rol dos submissos encontram-se, de acordo com o período de análise, os escravos; as esposas;
os filhos; os pupilos e os guardados.

O pátrio poder deixou de ser um direito pelo em favor dos genitores e no


interesse de quem o exerce, transformando-se em simples dever de proteção
e direção, não mais do que um meio para satisfazer seus deveres, na medida
em que o pátrio poder é instituído em benefício da família como um todo e
somente em proveito dos genitores. (BITTENCOURT, 2015)

No Brasil é com o Código de Menores, já citado anteriormente, em seus artigos 137 a


140 que surge a busca de se evitar o excesso coercitivo praticado contra os menores,
introduzindo na legislação brasileira a criminalização desses abusos. Os dispositivos em
questão são reafirmados na consolidação das Leis Penais de 1932, e concretizou-se a posição
contrária aos maus-tratos no Código Penal de 1940, com o artigo mencionado inicialmente
nesse tópico.

3.1.1 Bem juridicamente protegido

O bem juridicamente protegido pelo artigo 136 é a vida e a saúde humana, sendo que
tal tutela é destinada especificamente para aqueles que possuem uma relação especial entre
sujeitos ativos e passivos. Tal relação especial é a autoridade, guarda ou vigilância do sujeito
ativo perante o passivo, não havendo essa relação não há a tipificação do crime de maus-
tratos, assim o objeto material do delito é a pessoa contra quem a conduta lesiva e perigosa,
praticada pelo agente é dirigida, ou seja, o sujeito passivo que demanda por vezes de guarda,
vigilância, autoridade e educação de seu agressor.
Conclui-se que o dispositivo tende a proteger a integridade fisiopsíquica do sujeito
passivo, que sempre vai estar em posição de submissão jurídica, ou real, mediante o ativo.
Além dessa modalidade típica, o artigo deixa claro os elementos que devem conter a postura
do agente, definindo os meios utilizados por ele a chegar a dado fim, tais meios serão tratados
detalhadamente em sequência.
24

3.1.1.1 Privando de alimentos

Quando em mérito a privação de alimentos deve-se ressaltar que se trata de crime


permanente e omissivo, que pode ser relativo ou absoluto. Dizer que tal crime é permanente é
possível quando levamos em conta que a privação de alimentos deve se prolongar no tempo
para gerar danos à saúde e à vida, visto que uma alimentação saudável se dá no prazo de três
em três horas, e que um indivíduo consegue sobrevier ao máximo por até oito semanas sem se
alimentar, isso com acesso pleno à agua e com boa saúde e condicionamento físico.
A privação de alimentos é um crime omissivo, pois decorre da não ação do agente que
deveria cuidar do indivíduo que se encontra a ele submisso. Por fim, tal delito tem caráter
relativo ou absoluto pois basta para a sua caracterização a supressão relativa de alimentos, ou
seja, basta que o agente forneça esporadicamente, ou com quantidades reduzidas a
alimentação necessária para a subsistência do indivíduo sobre sua responsabilidade. Em um
outro lado encontramos a privação absoluta da alimentação que decorre do não fornecimento
de alimentos, que pode constituir meio de execução do crime de homicídio, de forma tentada
ou consumada.
É necessário deixar claro que a privação de alimentos deve ocorrer por um prazo que
exponha o indivíduo a perigo, quanto a saúde, tanto quanto a vida. A esse exemplo segue uma
excelente reflexão de Rogério Grecco:

Pode um pai querendo corrigir seu filho, priva-lo, por exemplo, de jantar
naquele dia? Será que já teria incorrido no delito em estudo? Obviamente
que não. Aqui, buscando a finalidade da norma, somente poderíamos
visualizar o delito em questão quando a privação da alimentação fosse por
tempo suficiente que pudesse causar perigo para a vida ou para a saúde da
vítima. Diferentemente é o caso daquele que, por exemplo, querendo educar
seu filho, uma criança com apenas 4 anos de idade, o priva de alimentar-se
durante uma semana seguida, para que ele entenda o valor dos alimentos, já
que, como qualquer pessoa tinha restrições a alguns deles (como acontece
com as crianças em relação as verduras e legumes de forma geral). Como se
percebe, o fato de uma criança permanecer sete dias em jejum pode causar
sequelas graves em seu organismo, razão pela qual, nessa hipótese, se
poderia cogitar de maus-tratos, lembrando sempre que se faz necessário, no
caso concreto, a prova de que o comportamento do agente trouxe,
efetivamente, situação de perigo para a vida ou para a saúde da vítima.
(GRECO, 2015, p. 213)
25

3.1.1.2 Privar de Cuidados Indispensáveis

É a privação dos cuidados mínimos necessários para a preservação da vida e da saúde


do indivíduo com o qual se tenha a relação especial de subordinação, importando os riscos
que a falta de tais cuidados, como: a ausência de assistência médica, condições para higiene
pessoal, vestimentas, leito, exposição às intempéries; podem exercer.

3.1.1.3 Sujeitando a trabalho excessivo

O artigo 136 do Código Penal de 1940, criminaliza a sujeição de indivíduo, sobre


tutela de outrem, à trabalho excessivo. O trabalho excessivo é aquele em que o sujeito passivo
é obrigado a realizar atividades que vão além da sua capacidade, ultrapassando o limite da
tolerância, indo além do limite de suas forças e provocando fadiga e cansaço insuportáveis.
O ponto referencial para análise da excessividade do trabalho é a própria vítima,
mediante a qual deve-se analisar a sua capacidade física, mental, muscular; além da idade e
sexo. É importante promover a diferenciação entre trabalho excessivo e trabalho inadequado,
lembrando que como Grecco diz, a excessividade se relaciona com o tempo trabalhado e a
inadequação está para a qualidade do trabalho, que não se adequa a pessoa que o realiza,
tornando-a vítima.
Deste modo, e levando em conta tal diferença podemos fazer a seguinte classificação:

• Aquele que ultrapassa o limite de


tolerância;
Trabalho • Prolongado no Tempo;
Excessivo • Vai além da capacidade física e das forças,
causando exaustão devido a continuidade;
• Provoca Fadiga.

•Aquele trabalho que é incompatível com a


capacidade física / idade / sexo e condições da
Trabalho vítima;
•Trabalho incompatível com as condições físico-
Inadequado orgânicas do individuo;
•Leva em conta a qualidade do trabalho frente a
capacidade da vítima.
26

3.1.1.4 Abusando de meio corretivo ou disciplinar

A lei incrimina o excesso do meio mesmo que seja justo o fim, ou seja, incrimina o ato
imponderado, douto de raiva, irritabilidade e espirito de malvadez que pode ser pretendido no
momento de correção. Nesse sentido, é importante notar que o agente sempre deve pretender
aplicar uma lição de correção ao sujeito passivo, contudo tal correção deve utilizar de meios
de extrema violência, ora física, ora verbal; para ser incriminada.
Nota-se que a correção, como uma atitude dos pais em relação aos seus filhos, é um
ato legitimo, mas o abuso dos meios utilizados é ato ilegítimo, quando imoderado e excessivo.
O temo “abusar dos meios” significa a aplicação de castigos excessivos que colocam a vida
ou a saúde da vítima em risco, como já dito, a ação da correção desde que dentro dos limites é
licita, mas pode se tornar ilícita atingindo o nível criminal.
É de suma importância ressaltar aqui que o direito de jus corrigendi ou disciplinandi é
conferido apenas a pais, tutores e curadores, devendo ser exercido moderadamente atendendo
as necessidades educativas.
Nesse quesito cabe ressaltar a lei da palmadinha (Lei nº.13.010, chamada também de
Lei Menino Bernardo) que modificou o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), no intuito
de deixar explícito o repúdio por castigos físicos e psicológicos em crianças e adolescentes.
Tal lei garante-lhes o direito de serem educados sem o uso de castigos físicos e/ ou
tratamentos cruéis e degradantes, como forma de correção, disciplina, educação ou qualquer
outro pretexto utilizado por aquele ao qual se submete e tem o dever de proteger e cuidar da
criança e do adolescente.
A lei tem o objetivo de esclarecer as prerrogativas legais enumerando o que é
considerado pelo legislador como castigo físico, tratamento cruel e degradante. Além disso
ela dispõe as sanções cabíveis a tais casos, não se sobrepondo as sanções previstas nos casos
de maus tratos, que são considerados atos mais graves, a partir da hermenêutica legislativa do
dispositivo em questão. Outro ponto que deve ser abordado é a reivindicação que a lei faz
para os entes nacionais trabalharem na coibição de tais atos.
27

3.1.2 Relação entre os sujeitos ativos e passivos

Para compreender como se dá a relação entre o agente e vítima do tipo criminal segue
o quadro explicativo

•Aquele que detem a autoridade, guarda ou vigilância sobre a


vítima;(elemento caracterizador da relação especial)
•Aquele que se encontra na condição especial de autoridade;
Sujeito Ativo
•Caracteriza o crime próprio.
(Agente)

•Aquele que está sob a autoriadade, a guarda ou a vigilância do


agente;
•Aquele que se encontra na condição especial de Subordinado;
Sujeito Passivo
•Caracteriza o crime próprio.
(Vítima)

3.1.3 Consumação

A consumação do delito ocorre no momento da efetiva criação de perigo e risco, para


a vida e saúde do sujeito passivo, isso através de conduta ativa ou omissiva que deve ser
comprovada mediante cada caso em questão.

3.1.3.1 Momento Consumativo

O crime de maus-tratos pode ser habitual, instantâneo ou permanente, e nesses casos o


momento da consumação é diferente. A habitualidade é exigida no caso da privação de
cuidados e de alimentos e no caso de abuso dos meios de correção, isso pois em ambos os
tipos penais é necessária a configuração de atos reiterados para a caracterização da situação de
risco/ perigo.
Já o crime permanente encontramos uma conduta em que o momento consumativo se
delonga no tempo, sendo o bem tutelado continuamente agredido. Como exemplo desse
28

delito tem-se a privação de cuidados ou de alimentos e a sujeição a trabalho excessivo ou


inadequado.
Na outra via encontramos o crime de consumação instantânea que é aquele que se
consuma em um único instante, em um único ato sem continuidade no tempo. Em alguns
casos pode ser permanente quando, por exemplo uma dada ação, realizada instantaneamente,
promove um resultado que se prolonga no tempo.

3.1.4 Tentativa

A tentativa só é admissível nos crimes comissivos, não atingindo os crimes de


privação de alimentos e de cuidados indispensáveis por serem crimes que exigem
habitualidade. Assim pode-se concluir que ela só é admitida quando há possibilidade de
fracionamento do fato.

3.1.5 Classificação Doutrinária

A doutrina atribui diversas classificações ao crime de maus tratos, dentre elas pode-se
defini-lo: como próprio, haja vista que exige um vínculo especial entre o sujeito ativo e
passivo, ou seja, o primeiro tem autoridade, guarda ou vigilância sobre o segundo; também
como crime de perigo concreto, pois exige-se sua comprovação; doloso; o tipo penal define os
contornos para que se admita sua ocorrência, logo, de forma vinculante; pode ser comissivo
ou omissivo; bem como pode ser instantâneo ou permanente; monossubjetivo;
plurissubsistente e de ação múltipla ou de conteúdo variado, conforme a quantidade de
condutas praticadas perante a mesma vítima.

3.2 Modalidades

Primeiramente, faz-se mister ressaltar que o crime de maus tratos pode ser classificado
enquanto de ação múltipla ou de conteúdo variado. Desta máxima decorre a possibilidade
deste tipo admitir a forma comissiva ou omissiva.
29

3.2.1 Comissiva e Omissiva

A redação do artigo 136 do Código Penal define a modalidade comissiva nos seguintes
termos ”art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia (...) quer sujeitando-a a
trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: (...) “.
Assim, nota-se que esta modalidade é caracterizada pela prática de determinada conduta.
Em contrapartida, a modalidade omissiva abrange apenas um trecho do artigo aludido
‘’Art. 136 – (...) quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis (...)’’. Tal forma
tem como característica fundamental a abstenção da obrigação de fazer em prol do indivíduo
passivo da relação.

3.2.2 Figuras qualificadas

A pena para o crime de maus tratos é estipulada, no regime dedetenção, pelo período
de dois meses a um ano, ou multa. Contudo, há consequências que culminam no agravamento
da pena e são atribuídas ao agente a título de culpa, conforme o art. 19 do Código Penal.

3.2.2.1 Fato que resulta em lesão corporal de natureza grave

O primeiro parágrafo do art. 136 define a primeira possibilidade de qualificação do


crime de maus tratos: ‘’§1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave.’’ Neste caso,
altera-se o regime da pena para a reclusão, e ela pode durar de um a quatro anos. Neste
diapasão, deve-se considerar que a conduta do agente, para que se enquadre neste tipo, não
pode ser dolosa no sentido de lesionar gravemente a vítima – pois aí se remete a outro tipo, o
129, §1º – mas a exposição a perigo ou a privação de cuidados que culminou na lesão
corporal grave poderia ser prevista pelo agente, mas não era sua intenção.

3.2.2.2 Fato que resulta em morte

Já o segundo parágrafo do art. 136 estipula a segunda possibilidade de se qualificar o


delito de maus tratos: ‘’§2º Se resulta a morte.’’ A pena também tem seu regime modificado
para a reclusão e poderá ser de quatro a doze anos. E a análise é similar ao paragrafo
supracitado no item anterior: por se tratar de qualificação culposa, a morte como
30

consequência das práticas de maus tratos poderia ser prevista pelo agente, mas não era sua
intenção no momento da ação.

3.2.3 Causa que eleva a pena

Através do Estatuto da Criança e do Adolescente, foi acrescentado o parágrafo 3º ao


art. 136 ‘’§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor
de 14 (catorze) anos.’’ Tal medida tem a finalidade de punir mais severamente àqueles que
pratiquem a conduta de maus tratos contra as vítimas menores de 14 anos, mormente a
consideração de sua vulnerabilidade.

3.3 Jurisprudência

Para ilustrar o estudo sobre o crime de maus tratos e com o objetivo de melhor
compreender esta figura típica, a seguir serão apresentadas jurisprudências sobre algumas de
suas espécies.

3.3.1 Maus tratos contra idoso – Art.99 da Lei nº10.741/03

Em 2003 foi implementado o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, que passou a tratar em
seu Art.99 do caso de maus tratos contra vítima de idade igual ou superior a 60 anos. Nota-se
que o dispositivo implementado recentemente, possui a mesma penalidade do art.136, que já
tínhamos trabalhado; isso nos possibilita notar que há uma similitude entre os artigos que se
difere quanto a sua especialidade.
O princípio da especialidade decorre do fato que o Estatuto do Idoso não exige que
exista relação especial entre o idoso (vítima) e o agente, o que é elemento caracterizador dos
maus tratos, podendo, portanto, ser um vizinho, amigo, companheiro o agente. Deste modo, é
possível afirmar que a lei 10.741/03 não exige que o idoso esteja em posição de submissão ao
agente, não sendo necessário que esse assuma tal postura equivoca para os fins de educação,
ensino, tratamento e custodia.
Assim, podemos concluir que se o agente expõe o idoso a perigo de saúde e de vida,
sem atender as motivações pretendidas no artigo 136 do Código Penal e sendo ele pessoa
qualquer do meio social do idoso, aplica-se o art.99, aqui referido. Contudo, se a vítima de
maus tratos tiver idade superior a 60 anos e o agente possuir com ela relação especial,
31

buscando com a sua ação atingir um dado fim- de ensino, educação, tratamento e custódia –
aplica-se o Art.136 do Código penal.
Exemplo de caso em que se aplica o Art.99 do Estatuto do Idoso:

APELAÇÃO CRIME. MAUS-TRATOS CONTRA IDOSO. ART. 99,


CAPUT, DA LEI Nº 10.741/03 (ESTATUDO DO IDOSO). SENTENÇA
CONDENATÓRIA MANTIDA. - Inexistência, na sistemática do JECRIM,
da figura do recurso inominado. Fungibilidade recursal. Conhecimento como
apelação. - Suficientemente comprovada a prática do delito de maus-tratos
pela acusada, que expôs a perigo a integridade física da vítima, idosa, com
diversos problemas de saúde, cega e parcialmente surda, que permanecia
sozinha na residência, tendo acesso apenas a alimentos vencidos, muitos já
em estado de decomposição, negligenciando-lhe os cuidados necessários. -
Comprovada a obrigação da ré para com a vítima, na medida em que a
relação entre ambas iniciou-se apenas em decorrência da dependência da
ofendida, desde o princípio conhecida pela autora do fato, que passou a
perceber a integralidade de seus proventos mensais, comprometendo-se a lhe
dispensar os cuidados necessários. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso
Crime Nº 71004014643, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais,
Relator: Eduardo Ernesto Lucas Almada, Julgado em 17/12/2012)

Segue agora um exemplo em que se pode aplicar o artigo 136 do Código Penal visto
que há relação especial entre vítima e acusado, nesse caso aqueles que restringiam as
condições da vida da idosa eram os próprios familiares, comprovando o vínculo de
dependência.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO


ESPECIFICADO. MEDIDA DE PROTEÇÃO AO IDOSO.
ABRIGAMENTO. IDOSA COM SÉRIOS PROBLEMAS DE SAÚDE.
AGRESSÕES OCORRIDAS. MAUS TRATOS CARACTERIZADOS.
DEVER IMPOSTO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE ZELAR PELO
BEM-ESTAR E VIDA DO IDOSO. APLICAÇÃO DO ESTATUTO DO
IDOSO. Medida de proteção ao idoso ajuizada pelo Ministério Público,
objetivando o abrigamento temporário da idosa, às expensas do Município,
em razão de viver em péssimas condições, sofrendo inclusive maus tratos
por parte de familiares. A protegida possui sérios problemas de saúde,
como paralisia infantil, AVC isquêmico, cardiopatia, depressão, dentre
outras moléstias. Prova nos autos que evidenciam a situação precária em que
se encontra a idosa. O art. 230 da Constituição Federal protege o idoso, a fim
de defender a sua dignidade, garantindo-lhe bem-estar e direito à vida,
impondo um dever à família, à sociedade e ao Estado (lato sensu), de zelar
por ele, não cabendo ao Município se eximir deste dever. AGRAVO DE
INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº
70058821703, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Newton Luís Medeiros Fabrício, Julgado em 28/05/2014)
32

3.3.2 Maus tratos e crime de tortura - Lei nº9.455/97

A Lei nº 9.455/97 em seu art.1º, inciso II, trata do que constitui crime de tortura. Nota-
se, ao fazer a analisa comparada do artigo 136 do CP, que a pena do crime de tortura é
superior à do tal dispositivo. Isso, pois a tortura é ação dolosa que busca causar intenso
sofrimento à vítima, expondo-a a situações extremadas, quando o agente é motivado pela
vontade de fazer a vítima sofrer, ora por sadismo, ora por ódio.
De forma oposta, temos que no crime de maus tratos há apenas o abuso nos meios de
correção e disciplina não havendo, portanto, o dolo e a vontade de fazer a vítima sofrer, por
ódio ou sadismo. Tal perspectiva é consagrada por José Ribeiro Borges:

CRIME. TORTURA E MAUS-TRATOS. DISTINÇÃO. A tortura refere-se


ao flagelo, ao martírio, à maldade, praticados por puro sadismo imotivado ou
na expectativa de extorquir notícia, confissão ou informação qualquer, sem
se ligar a um sentimento de castigo, de reprimenda, por ato que se repute
errôneo, impensado, mal-educado, ao passo que o delito de maus tratos,
diferentemente, diz respeito ao propósito de punir, de castigar para censurar
ou emendar(TJSP, Apelação n. 145.497-3/6).

É, em tais termos, possível concluir que haverá a configuração do crime de maus tratos
quando não houver a caracterização de intenso sofrimento físico ou mental; e nos casos e que
a despeito de verificado o intenso sofrimento físico ou mental da vítima, o agente atua com
animus corrigendi ou disciplinandi, ou seja, objetiva com tal atitude apenas corrigir e
disciplinar e não com a vontade de causar sofrimento físico e mental para a vítima. Assim fica
evidente que, para uma segura distinção entre ambos os delitos, não basta a averiguação do
elemento normativo, mas é imprescindível estudar o elemento volitivo. Pois se a vontade do
agente for corrigir ou disciplinar caracterizado estará o crime de maus tratos, mesmo que tal
ação tenha decorrido de intenso sofrimento (físico e mental).

3.4 Questões Atuais

Inicialmente, faz-se mister definir o conceito de deficiência conforme a Convenção


sobre Direitos da Pessoa com Deficiência, da ONU (Decreto nº 6.949/2009): ‘’são as pessoas
que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com
diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as
demais pessoas.’’ (MAIO; GUGEL, 2009).
33

3.4.1 Maus tratos contra o deficiente – incapaz

No contexto do que foi mencionado acima, partindo de uma análise no âmbito do


Direito Penal, não se pode dizer que a codificação brasileira trata de maneira especial aqueles
que pratiquem maus tratos contra o deficiente.
Contudo, segundo o Jornal Folha de São Paulo, o índice de denúncias de maus tratos
para com a classe dos deficientes tem aumentado desde 2011. Em grande parte, o crime
ocorre em sua maneira omissiva, através da negação dos cuidados necessários aos incapazes,
mas não se excluem os casos em que ocorre de maneira comissiva. Há ainda que se ressaltar
que os casos são mais recorrentes entre crianças e idosos, e que as mulheres, em sua maioria,
também são vítimas de abusos de natureza sexual.

Caracteriza-se o delito de maus tratos através da negligência: quando há a recusa em


fornecer alimentação e medicamentos a esses indivíduos, bem como na falta de cuidados para
com sua higiene. Mas não se pode olvidar dos casos em que ela ocorre de maneira mais
severa: através de agressões, tratamento rude e falta de cuidados pessoais, emprego
desnecessário de restrições, excesso de medicação e reclusão.
Segue abaixo um caso em que se configurou o delito de maus tratos através da
negligência:
34

APELAÇÃO CÍVEL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.


INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA POR DESCUMPRIMENTO DOS
DEVERES INERENTES AO PODER FAMILIAR. NEGLIGÊNCIA E
MAUS TRATOS À FILHA DEFICIENTE, COM RETARDO MENTAL.
DESCUMPRIMENTO CULPOSO DOS DEVERES. CONDENAÇÃO AO
PAGAMENTO DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 249 DO ECA.
APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70040673683, Sétima Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Julgado
em 08/06/2011)

Sendo assim, deve-se considerar que a legislação brasileira ainda se mostra


insuficiente na proteção da classe dos deficientes no que tange a punição daqueles que
pratiquem maus tratos contra eles. É essencial que tal conjuntura seja alterada afim de que a
prática de maus tratos contra o deficiente seja abordada de maneira mais severa, considerando
o grau de sua vulnerabilidade mediante o agente.

3.4.2 Maus tratos no sistema prisional

A privação da liberdade tem como objetivo a punição daqueles indivíduos que


cometem algum delito, porém, tal medida não atua com a finalidade de retribuir o dano
causado, mas sim para conscientizar o agente da magnitude do dano, e posteriormente
possibilitar sua ressocialização após o período de cárcere.
Contudo, é de conhecimento geral a precariedade das penitenciarias brasileiras, da
superlotação, da má-alimentação oferecida, do constante uso de drogas, e muitas vezes da
falta de assistência médica. Enfim, a lesão à dignidade humana é constante.
Neste cenário, é imprescindível salientar que apenas privar a liberdade daqueles
considerados uma ameaça à ordem pública não é suficiente, é necessário atentar-se aos
princípios que atual em prol da dignidade humana, de forma legal, executar a pena,
respeitando os direitos básicos de qualquer indivíduo, seja ele penitenciário ou não.
Atualmente são inúmeros os casos de rebeliões, fugas e crimes ocorrendo dentro dos
presídios, e tal quadro é, em grande parte, resultante das condições degradantes em que estes
indivíduos em cárcere se encontram. Tal conjuntura, é incongruente aos princípios contidos
na Carta Magna de 1988, que reprime toda e qualquer ação contrária aos direitos humanos,
em especial os maus tratos, as torturas, e no caso em questão, as condições desumanas em que
os presos são mantidos.
Na Lei de Execução Penal (lei nº 7.210 de 11/07/1984), mais especificamente em seu
art. 10, temos que a assistência aos presos é dever do Estado, ou seja, é de responsabilidade
35

estatal a garantia da alimentação, vestuário e instalações higiênicas (conforme art. 12). A


assistência à saúde do preso terá um caráter preventivo e curativo, e contará com o
atendimento médico, farmacêutico e odontológico, conforme Art. 14.
Contudo, a realidade é bastante divergente. Os condenados não possuem assistência no
fornecimento de alimentação de qualidade, as instalações são insuficientes – o que culmina na
superlotação – e as condições das dependências sanitárias são deploráveis. As condições de
higiene não só das celas, mas em todos os demais espaços só demonstram o abandono dos
apenados que também não tem assistência médica constante.
Além de todo este quadro que, por si só, configura maus tratos, ainda há a grande
incidência de perturbações psicológicas e de agressões tanto físicas como morais sofridas
pelos condenados, que partem principalmente da própria classe pública, que corrompidos em
um sistema de interesses, tratam estes indivíduos como inferiores. A exemplo disto, temos os
inúmeros casos em que os agentes de polícia e penitenciários são responsáveis por agredir
fisicamente àqueles sob sua responsabilidade, mesmo que indireta e temporariamente.

3.5 Apresentação de casos

Ainda com o intuito de ilustrar o estudo segue uma jurisprudência sobre agressão
física contra filha:

PENAL. MAUS-TRATOS. AGRESSÃO FÍSICA CONTRA FILHA.


ABUSO DO DIREITO DE DISCIPLINAR E CORRIGIR. LESÕES.
EXCESSO. CONDUTA TÍPICA. VEDAÇÃO DA REDUÇÃO DA PENA
ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL. 1. O abuso no exercício do direito dos pais
em corrigir os filhos, verificado pela utilização imoderada e desproporcional
do castigo físico que expõe a perigo a saúde do incapaz, caracteriza crime de
maus-tratos. 2. Se o laudo de exame de corpo de delito identificou mais de
quarenta e cinco equimoses violáceas em diferentes partes do corpo da
menor de 14 anos provocadas por agressão com cinto, merece ser mantida a
sentença que reconheceu a tipicidade da conduta e condenou o acusado
como incurso na pena do art. 136, § 3º, do Código Penal. 3. "Desferir golpes
com cinto ou 'cintadas' em criança não pode ser considerado 'ato socialmente
aceitável' quando realizado pelos pais, inclusive sob o pretexto de correição
tradicional, pois o legislador pátrio optou por proteger a vida e preservar a
incolumidade dos menores, por meio da Constituição Federal (art. 227) e
também por intermédio do Código Penal e de legislação extravagante
(ECA)." (REsp1324976/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, Publicado em
10/04/2013). 4. No julgamento do mérito da repercussão geral no RE
597270/RG, o Supremo Tribunal Federal confirmou o entendimento
consolidado na Súmula 231 do Superior Tribunal de Justiça de que a
"circunstância atenuante genérica não pode conduzir à redução da pena
abaixo do mínimo legal". 5. Recurso conhecido e não provido. 6. Sentença
36

mantida pelos próprios fundamentos, nos termos do artigo 82, § 5º, da Lei
9.099/95. (TJ-DF - APJ: 20130710252798, Relator: EDI MARIA
COUTINHO BIZZI, Data de Julgamento: 03/02/2015, 3ª Turma Recursal
dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Publicação: Publicado no
DJE : 06/02/2015 . Pág.: 310)

4 RIXA

O crime de Rixa vem tipificado no Capítulo IV - Da Rixa da nossa Lei Penal e versa o
seguinte:
Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena – detenção de 15 dias a 2 meses, ou multa.
Parágrafo único. Se ocorrer morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se,
pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.

4.1 Considerações Iniciais

A criminalização da rixa, como crime autônomo, é relativamente recente. Os Códigos


Penais de 1830 e de 1890 não se referiam ao crime de rixa. Já o Código de 1940 introduziu no
Direito brasileiro o delito de rixa, autonomamente, desvinculando-o, deste modo, do
homicídio e da lesão corporal grave. Neste sentido, para que ocorra o crime de rixa não é
necessária a presença de lesão corporal grave ou de homicídio. Porém, se houver a existência
dos elementos citados – lesão corporal de natureza grave ou homicídio – a rixa será
qualificada.
Ao criminalizar a rixa o Código Penal de 1940 tinha o propósito de proteger a vida e a
saúde do indivíduo. Nesta mesma linha, sustenta Bitencourt:

Embora a descrição típica não se refira expressamente à vida ou à saúde do


agente, sua preocupação com esses bens jurídicos está exatamente na
punição da simples participação na rixa, pois o legislador reconhece que
esta possibilita, em tese, a produção de maiores danos à integridade
fisiopsíquica do indivíduo. (BITENCOURT, 2015, p. 322)

Além disso, a própria posição geográfica que esse tipo penal ocupa na codificação
permite a afirmação de que o interesse tutelado pela norma é a incolumidade da pessoa
humana.
O crime de rixa foi criado para prevenir que fique sem punição a situação na qual não
se consegue identificar o autor inicial das agressões. Sendo assim, a simples participação na
37

rixa já implica ato punível. Ademais, é considerado crime comum, uma vez que pode ser
praticado por qualquer pessoa, independentemente da idade ou sexo, e não exige nenhuma
qualidade ou condição especial.

4.2 Sujeitos ativo e passivo

Primeiramente, cumpre dizer que as pessoas que participam da rixa são ao mesmo
tempo sujeitos ativos e passivos, uns em relação aos outros. Rixa é crime que exige a
participação de no mínimo três indivíduos, ainda que qualquer deles seja menor ou sequer seja
identificado. Os participantes da rixa atuam uns contra os outros; daí essa mistura de sujeito
ativo-passivo do mesmo crime: “o rixoso é sujeito ativo da conduta que pratica em relação aos
demais e sujeito passivo das condutas praticadas pelos demais rixosos” (BITENCOURT,
2015, p. 323).
A respeito disso, Luiz Regis Prado afirma que: “como a rixa é delito plurissubjetivo de
condutas contrapostas, que se caracterizam pela reciprocidade das vias de fato, a situação, de
perigo desencadeada demonstra que todos os rixosos são ofensores e ofendidos, isto é,
sujeitos ativos e passivos do delito. Não há que se falar de crime contra si próprio, já que
todos os participantes da rixa se ofendem mutua e desordenadamente, expondo-se ao perigo
gerado pela conduta de todos” (PRADO, 2002, p. 209).
Assim, será considerado participante da rixa qualquer indivíduo que estiver presente
no lugar e no momento da rixa e entrar diretamente na contenda ou prestando auxílio a algum
dos rixosos. Entretanto, vale lembrar que o indivíduo que intervém com o intuito de separar
os rixosos não infringe o tipo penal, visto que lhe falta a vontade consciente de participar do
conflito. Porém, se tal pessoa se exaltar no intuito de apartar os contendores, transforma-se em
participante, devendo responder pelo crime de rixa.

4.3 Tipo objetivo: adequação típica

Rixa é uma briga entre mais de duas pessoas, acompanhada de vias de fato ou
violências recíprocas. “Para caracterizá-la é insuficiente a participação de dois contendores,
pois aquela se caracteriza exatamente por certa confusão na participação dos contendores,
dificultando, em princípio, a identificação da atividade de cada um”20.

20
ARIOSVALDO. Alves de Figueiredo, Comentários ao Código Penal, São Paulo, 1986, v. 2, p. 88.
38

A conduta tipificada é participar de rixa. Tal participação pode ocorrer desde o


começo da contenda ou se iniciar durante a realização do conflito. Não haverá rixa se a
posição dos rixosos for definida. Nesse crime, deve haver a existência de agressões recíprocas
generalizadas. É preciso que exista violência material, gerando lesões corporais ou vias de
fato (violência contra pessoa, que não resulte em lesões corporais), formada por socos, puxões
de cabelo, empurrões etc. “Embora o conflito se apresente, geralmente, num corpo a corpo,
poderá configurar-se, a distância, através de tiros, arremesso de pedras, porretes e quaisquer
outros objetos” 21, visto que não é necessário o contato físico entre os contendores. A simples
troca de ofensas verbais não é suficiente para caracterizar o crime de rixa, é necessário que os
indivíduos “venham as mãos” ou que os contendores se acometam reciprocamente, lançando
objetos ou disparando tiros de arma de fogo. Ressaltando que a rixa simulada não é
considerada crime, pela falta de existência do animus rixandi.

4.4 Tipo subjetivo: adequação típica

O elemento subjetivo do crime de rixa é o dolo, representado pela vontade consciente


dos rixosos de participar desse delito. O agente tem o conhecimento do que é rixa e possui a
vontade de participar do ato. Cumpre dizer que a rixa simulada não é crime, mesmo que essa
simulação resulte em lesão corporal ou na morte de algum indivíduo. Nessa situação, os
rixosos deverão responder por lesões corporais ou homicídio, conforme o caso, na modalidade
culposa. Não existe previsão legal de modalidade culposa de rixa.
Salientando que os rixosos serão punidos pela simples troca de agressões, mesmo que
os contendores saiam sem qualquer ferimento.

4.5 Consumação e tentativa

Consuma-se o crime de rixa com a eclosão das agressões recíprocas, isto é, quando os
contendores iniciam o conflito. “Consuma-se no instante em que o participante entra na rixa
para tomar parte dela voluntariamente” 22. De acordo com o princípio da autonomia – adotado
pelo Código Penal vigente – a rixa é punida em razão do perigo proporcionado pela sua
prática. Nesse sentido, mesmo que o indivíduo desista da contenda antes de esta ter se
encerrado, responderá pelo delito, inclusive pela lesão corporal ou morte que pode ocorrer

21
ANTOLISEI, Francesco. Manuale di Diritto Penale; Parte Speciale, Milano, 1977, p. 100.
22
BITENCOURT, 2015, p. 326.
39

depois da sua retirada. Cumpre dizer que para a consumação da rixa não é necessário que
resulte lesão nos rixosos. Bitencourt (2015) considera praticamente impossível a configuração
da tentativa.
É importante destacar que Rogério Greco possui a mesma orientação de Cezar Roberto
Bitencourt, tratando-se da consumação e da tentativa do crime de rixa. Greco afirma que o
delito se consuma no momento em que as agressões recíprocas se iniciam. Em posição
contrária, Magalhães Noronha sustenta, equivocadamente no nosso entendimento, que o delito
é consumado “no momento e no lugar onde cessou a atividade dos contendores”23.
Rogério Greco, ao defender seu posicionamento, se baseia no art. 4º do Código Penal:
“considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado”.
A existência de tentativa de rixa é controversa entre os autores. A rixa subdivide-se em
ex improviso (quando as agressões recíprocas têm início repentinamente) e ex proposito
(quando é combinada previamente). De acordo com Greco e Bitencourt, é possível que ocorra
tentativa na rixa ex proposito.

4.6 Rixa e Legítima defesa

Para Rogério Greco existem três situações em que é possível a legitima defesa no
crime de rixa:
Na primeira situação, retrata uma rixa em que um dos contendores saca um revólver, e
outro rixoso, sentindo-se ameaçado, se defende legitimamente, resultando na morte daquele
que portava a arma. Nessa hipótese, o indivíduo que provocou a morte de um dos rixosos não
responderá por homicídio, apenas por rixa qualificada juntamente com todos os envolvidos.
Na segunda, apresenta um terceiro que entra na rixa para separar os contendores, é
ferido injustamente, responde a agressão sofrida agindo em legitima defesa contra seu
agressor e provoca a morte dele.
A pessoa que entra na rixa para acabar com ela, separando os envolvidos, não pratica
agressão injusta, e se vem a ser repelido, pode agir em legitima defesa. No entanto, se ocorrer
a morte do seu agressor, todos responderão por rixa qualificada, pois a morte foi
desencadeada pela participação na rixa.

23
NORONHA, Edgard Magalhães. Direito Penal; Parte Especial. 15. ed. São Paulo, Saraiva, 1979, v.2.p. 117.
40

Na terceira situação, relata um terceiro que não participava da contenda e intervém na


rixa em defesa de um dos participantes. Como no caso do indivíduo que percebe que seu
irmão está sendo severamente espancado por um dos rixosos e atua querendo salvá-lo, poderá
ser beneficiado com o raciocínio da legítima defesa de terceiros. Nessa situação, não há crime,
pois de acordo com o item 48 da Exposição de Motivos à Parte Especial do Código Penal, “
(...) a participação na rixa deixará de ser crime se o participante visa apenas separar os
contendores. É claro que também não haverá crime se a intervenção constituir legítima defesa,
própria ou de terceiro”.

4.7 Modalidade comissiva e omissiva

Via de regra, as rixas são comissivas, pois são oriundas de uma conduta positiva dos
envolvidos, pressupondo um comportamento ativo dos contendores.
No entanto, pode-se verificar a modalidade omissiva, que ocorre quando o omitente
possuir um status de garantidor. Tal situação é perceptível em presídios em que o agente
penitenciário não interrompe as rixas que ocorrem com os presos dentro das celas, assistindo
de forma passiva, e por vezes se divertindo com a situação. Nota-se nesse caso, uma conduta
omissiva, pois o agente carcerário é incumbido de preservar a paz e a ordem dentro do
presídio, na medida em que isto é possível. Dessa forma, o agente que detém a qualidade de
garantidor é responsabilizado pelo delito de rixa por omissão.

4.8 Pena, ação penal, competência para julgamento e suspensão condicional do processo

A competência para o julgamento da rixa, seja ela simples ou qualificada, é do Juizado


Especial Criminal, tendo em vista que a pena máxima não ultrapassa a dois anos. Ademais, é
possível aplicar a transação penal e a suspensão condicional do processo. Ressalta-se que a
ação penal é pública incondicionada.
Na rixa simples, será aplicada pena privativa de liberdade (detenção), de quinze dias a
dois meses. Na rixa qualificada, com lesão corporal grave ou homicídio, reclusão de seis
meses a dois anos.

4.9 Destaques

Nos casos de rixa qualificada, a punibilidade é analisada de duas formas:


41

a) Na primeira, em que o contendor ingressa na rixa após ter ocorrido a morte ou a lesão
corporal grave: ele não poderá ser imputado por delito qualificado, tendo em vista que
sua participação não contribuiu para este resultado;
b) Na segunda, em que o contendor sai da rixa antes da ocorrência da morte ou da grave
lesão: é responsável pela modalidade qualificada, pois colaborou direta ou
indiretamente para o agravamento do estado da vítima, gerando tal resultado.

5 CONCLUSÃO

Tendo analisado estas espécies delitivas, observa-se que o Estado tem buscado evoluir
nas últimas décadas, tentando colocar o ser humano no centro do ordenamento, ao lhe atribuir
posição de destaque na tutela que o Direito Penal lhe oferece. É imprescindível o
reconhecimento da importância do princípio da legalidade nesse âmbito do ordenamento, que
garante ao indivíduo, um dos destinatários das normas penais, a segurança sobre conhecer
quais seus direitos e deveres frente aos diversos tipos penais, aos quais suas condutas podem
subsumir.
Entretanto, não se pode deixar de ressaltar que o nosso ordenamento jurídico ainda
deixa muito a desejar e tem sofrido alguns retrocessos recentemente, como o que ocorreu no
julgamento do Habeas Corpus (HC) 126292 pelo STF, que atentou contra o princípio da
presunção de inocência24. Ademais, cabe ressaltar outros dois pontos em que os legisladores
pecaram (no nosso entendimento), um deles diz respeito a não positivação das ações penais
públicas, como sendo incondicionadas à representação, quando se tratar de violência
doméstica contra a mulher e outro diz respeito à falta de tipos penais que façam referência a
crimes de lesões corporais e rixa que motivados por homofobia, por exemplo.
Por fim, vale dizer que os tipos penais aqui abordados, por vezes, são muito
semelhantes e que é necessária muita atenção quando se proceder à análise do caso concreto,
sob pena de se prejudicar o réu, quando da subsunção do fato à norma.

24
Para mais informações: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=310153
42

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