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OAB

EXAME DE ORDEM

DIREITO
PENAL
Capítulo 08
CAPÍTULOS

Capítulo 1– Noções gerais do direito penal. Funções do direito


penal. Ciência do direito penal. Categorias do Direito Penal. Fontes
do Direito Penal. Evolução histórica do Direito penal. Escolas penais. 
História do Direito Penal Brasileiro. Velocidades do Direito Penal.
Princípios do direito penal. Lei penal.
Capítulo 2 – Teoria geral do crime. Noções introdutórias. Fato típico.

Teoria do tipo. Crime doloso. Crime culposo. Crime preterdoloso.
Capítulo 3 – Erro de tipo. Iter criminis. 
Capítulo 4 – Ilicitude. 
Capítulo 5 – Culpabilidade. Concurso de pessoas. 

Capítulo 6 - Das penas. Penas privativas de liberdade. Penas


restritivas de direitos. Pena de multa. Aplicação da pena. Suspensão

condicional da pena. Livramento condicional. Efeitos da condenação.
Reabilitação criminal. Medidas de segurança.
Capítulo 7 – Concurso de crimes. 

Capítulo 8 (você está aqui!) – Extinção da punibilidade 

Capítulo 9 – Homicídio. Infanticídio. Aborto. Lesão Corporal. Dos



Crimes contra a Honra
Capítulo 10 – Dos crimes contra a dignidade sexual 
Capítulo 11 – Furto. Roubo. Extorsão. Estelionato. Receptação.

Disposições gerais dos crimes contra o patrimônio
Capítulo 12 – Dos crimes contra a administração pública. Dos crimes
praticados por funcionário público contra a administração em geral.

Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração
em geral. Dos crimes contra a administração da justiça

1
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Olá, Futuro Advogado!

A apostila de número 08 do nosso curso de Direito Penal tratará sobre Extinção da Punibilidade,

matéria que é extremamente cobrada no Exame de ordem! De acordo com a nossa equipe de
inteligência, esse assunto esteve presente impressionante 6 VEZES nos últimos 3 anos! Não

precisamos falar que o estudo desse conteúdo é primordial, não é?

Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta
é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei

e entendimentos jurisprudenciais, e sempre em companhia de alguma doutrina à sua escolha.

E o mais importante, responda questões! A resolução de questões é a chave para a aprovação!

Vamos juntos!

2
SUMÁRIO

DIREITO PENAL ........................................................................................................................................ 6

Capítulo 8 .................................................................................................................................................. 6

8. Extinção da Punibilidade. Prescrição ............................................................................................ 6

8.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 6

8.2 O art. 107 do Código Penal ............................................................................................................................. 6

8.3 Momento de ocorrência: antes ou depois do trânsito em julgado da condenação .............. 8

8.4 Efeitos ......................................................................................................................................................................... 9

8.4.1 Pretensão punitiva ................................................................................................................................................ 9

8.4.2 Pretensão executória ........................................................................................................................................... 9

8.5 Crimes acessórios, complexos e conexos ................................................................................................... 9

8.6 MORTE DO AGENTE (INCISO I) ................................................................................................................... 10

8.6.1 Previsão legal e fundamentos ...................................................................................................................... 10

8.6.2 Alcance.................................................................................................................................................................... 11

8.6.3 Causa personalíssima ....................................................................................................................................... 11

8.6.4 Prova da morte do agente ............................................................................................................................ 11

8.7 ANISTIA, GRAÇA E INDULTO (INCISO II) ................................................................................................. 12

8.7.1 Anistia...................................................................................................................................................................... 12

8.7.2 Graça........................................................................................................................................................................ 14

8.7.3 Indulto ..................................................................................................................................................................... 15

8.8 ABOLITIO CRIMINIS (INCISO III) .................................................................................................................. 17

8.9 PRESCRIÇÃO, DECADÊNCIA E PEREMPÇÃO (INCISO IV) .................................................................. 18

8.9.1 Prescrição............................................................................................................................................................... 18

8.9.2 Decadência............................................................................................................................................................ 18

3
8.9.3 Perempção ............................................................................................................................................................ 19

8.10 RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA OU PERDÃO ACEITO NOS CRIMES DE AÇÃO


PRIVADA (INCISO V)...................................................................................................................................................... 21

8.10.1 Renúncia ao direito de queixa ..................................................................................................................... 21

8.10.2 Perdão do ofendido.......................................................................................................................................... 22

8.11 RETRATAÇÃO DO AGENTE, NOS CASOS EM QUE A LEI A ADMITE (INCISO VI) .................. 23

8.12 PERDÃO JUDICIAL (INCISO IX) ..................................................................................................................... 24

8.12.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 24

8.12.2 Natureza jurídica ................................................................................................................................................ 24

8.12.3 Aplicabilidade....................................................................................................................................................... 25

8.12.4 Incomunicabilidade ........................................................................................................................................... 25

8.12.5 Natureza jurídica da sentença concessiva do perdão judicial ....................................................... 25

8.12.6 Distinção entre perdão judicial e escusas absolutórias .................................................................... 25

8.12.7 Distinção entre perdão judicial e perdão do ofendido ..................................................................... 26

8.13 PRESCRIÇÃO ......................................................................................................................................................... 26

8.13.1 Introdução ............................................................................................................................................................. 26

8.13.2 Conceito ................................................................................................................................................................. 26

8.13.3 Natureza jurídica ................................................................................................................................................ 27

8.13.4 Alocação ................................................................................................................................................................. 27

8.13.5 Fundamentos ....................................................................................................................................................... 27

8.13.6 Imprescritibilidade penal................................................................................................................................. 28

8.13.7 Diferenças entre prescrição e decadência............................................................................................... 29

8.13.8 Espécies de prescrição ..................................................................................................................................... 30

8.13.9 Prescrição da pena privativa de liberdade .............................................................................................. 31

8.13.10 Prescrição das penas restritivas de direitos ................................................................................... 47

4
8.13.11 Prescrição no concurso de crimes ...................................................................................................... 48

8.13.12 Prescrição da pena de multa ................................................................................................................ 48

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 50

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 56

GABARITO ............................................................................................................................................... 64

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 65

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 66

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 67

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 68

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 70

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DIREITO PENAL

Capítulo 8

8. Extinção da Punibilidade. Prescrição

8.1 Introdução

A punibilidade é a consequência do crime, não seu elemento. Dessa forma, praticada uma
contravenção penal ou um crime, nasce automaticamente a punibilidade, consubstanciada na
possibilidade jurídica do Estado impor uma sanção penal ao responsável. O direito de punir (ius

puniendi) deve ser compreendido sob um tríplice aspecto: direito, dever e poder.

Em regra, a extinção da punibilidade não exclui a infração penal, a qual permanece intacta
com a superveniência de causa extintiva, desaparecendo, tão somente, o poder do Estado de

punir. Em hipóteses excepcionais, é possível que a extinção da punibilidade elimine a própria


infração penal, como é o caso da Abolitio criminis e da anistia, tendo em vista que seus efeitos

possuem força para rescindir inclusive eventual sentença penal condenatória.

Portanto, a abolitio criminis funciona como causa superveniente de extinção da tipicidade,


pois a nova lei torna atípico o fato até então incriminado. De seu turno, a anistia, por ficção

legal e por força de sua eficácia retroativa, provoca a atipicidade temporária do fato cometido
pelo agente, resultando na exclusão da infração penal.

8.2 O art. 107 do Código Penal

A doutrina entende que a rol do Art. 107 do Código Penal é exemplificativo, tendo em
vista que possui algumas causas de extinção da punibilidade, não excluindo as diversas causas
encontradas no próprio Código Penal e na legislação especial.

6
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

I - pela morte do agente;

II - pela anistia, graça ou indulto;

III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de


ação privada;

VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;

VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

São exemplos de causas da extinção da punibilidade encontradas fora do Art. 107 do


Código Penal:

 Lei 9.099/95 – Art. 89: suspensão condicional do processo. Cumpridas todas as


condições durante o período de prova, sem revogação do benefício, está extinta
a punibilidade;
 Art. 312, §3º, Código Penal: reparação do dano no peculato culposo;
 Lei 10.684/2002 – Art. 9º, §2º: pagamento do tributo;
 Escusas absolutórias (CP, arts. 181 e 348, § 2.º);
 Anulação do primeiro casamento em crime de bigamia (CP, art. 235, § 2.º);

Admitem-se ainda, no Direito Brasileiro, as causas supralegais (não previstas em lei) de


extinção da punibilidade, a exemplo daquela contida na Súmula 554 do Supremo Tribunal
Federal:

7
Súmula n.º 554, STF. O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos,

após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

8.3 Momento de ocorrência: antes ou depois do trânsito em

julgado da condenação

As causas de extinção da punibilidade podem alcançar tanto a pretensão punitiva quanto

a pretensão executória, conforme ocorram antes ou depois do trânsito em julgado da sentença


penal condenatória. A pretensão punitiva é interesse do Estado em aplicar a sanção penal:

surge com a prática da infração penal. Já a pretensão executória é o interesse do Estado em


exigir o cumprimento de uma sanção penal já imposta: nasce com o trânsito em julgado da
condenação (após o trânsito em julgado da condenação para ambas as partes).

São causas extintivas da punibilidade que atingem somente a pretensão punitiva, uma
vez que ocorrem antes do trânsito em julgado: decadência, perempção, renúncia do direito
de queixa, perdão aceito, retratação do agente e perdão judicial.

Por outro lado, duas outras causas atingem apenas a pretensão executória: indulto e a
graça. Além disso, o sursis e o livramento condicional, previstos fora do art. 107 do Código
Penal, afetam exclusivamente a pretensão executória, em face do término do período de prova

sem revogação.

Por fim, existem causas de extinção da punibilidade que podem direcionar-se tanto contra
a pretensão punitiva como contra a pretensão executória, dependendo do momento em que

ocorrerem, isto é, antes ou depois da condenação definitiva: morte do agente, a anistia, a


abolitio criminis e a prescrição.

8
8.4 Efeitos1

8.4.1 Pretensão punitiva

As causas de extinção da punibilidade que atingem a pretensão punitiva eliminam todos


os efeitos penais de eventual sentença condenatória já proferida. Assim, a sentença não irá
gerar reincidência, nem maus antecedentes, bem como a obrigação de reparar o dado. 2

8.4.2 Pretensão executória

As causas extintivas que afetam a pretensão executória, salvo nas hipóteses de abolitio

criminis e anistia, apagam unicamente o efeito principal da condenação, é dizer, a pena.


Subsistem os efeitos secundários da sentença condenatória: pressuposto da reincidência e

constituição de título executivo judicial no campo civil.

8.5 Crimes acessórios, complexos e conexos

Conforme o art. 108 do Código Penal:

Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento

constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos


crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto

aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.

CRIMES ACESSÓRIOS (DE CRIMES CRIMES CONEXOS


FUSÃO ou COMPLEXOS
PARASITÁRIOS)

1
Questão 02

2
Questão 06
9
Conceitos É aquele cuja existência É aquele que resulta É o praticado para
depende da prática da união de dois ou assegurar a execução,
anterior de outro crime, mais crimes. a ocultação, a
chamado de principal. impunidade ou a
vantagem de outro
crime.

Exemplos Receptação Roubo = furto + Homicídio de uma


Lavagem de Capitais lesão corporal ou testemunha para
furto + ameaça, manter em pune um
estupro.

Modo de A extinção da punibilidade não se estende ao É analisado de forma


outro crime. Por exemplo, a extinção da separada para cada
extinção da
punibilidade do furto não se estende ao crime de crime. Assim, a
punibilidade receptação. extinção da
punibilidade para um
não impede que a
pena do outro seja
agravada pela
conexão.

8.6 MORTE DO AGENTE (INCISO I)

8.6.1 Previsão legal e fundamentos

Está disposto no art. 107, I, do CP, vejamos:

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

I - pela morte do agente;

Possui dois fundamentos: (1) o princípio da personalidade da pena: a pena não pode

passar da pessoa do condenado; (2) o brocardo de justiça pelo qual a morte tudo apaga (mors
omnia solvit).

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8.6.2 Alcance

Essa regra alcança todas as espécies de penas (privativa de liberdade, restritiva de


direitos e multa), além dos efeitos penais da sentença condenatória. Excepcionam-se, porém,

por expressa disposição constitucional, a obrigação de reparar o dano, até os limites das forças
da herança, e a decretação do perdimento de bens.

Ora, se a morte do agente ocorrer após o trânsito em julgado da condenação, subsistem

os efeitos secundários extrapenais, autorizando a execução da sentença penal no juízo cível


contra os seus herdeiros.

A palavra “agente” abrange o responsável pela infração penal a qualquer momento da

persecução penal, pode ser o suspeito (está sendo investigado), o indiciado (delegado fez o
indiciamento), o acusado (MP ofereceu a denúncia), o querelado (queixa-crime), o réu (juiz

recebe a denúncia ou a queixa-crime), o condenado (após a sentença), o reeducando (quando


cumpre a pena).

8.6.3 Causa personalíssima

A extinção da punibilidade pela morte de um dos agentes não se comunica aos demais
agentes envolvidos na prática do crime.

8.6.4 Prova da morte do agente

O art. 62 do Código de Processo Penal é claro ao exigir seja a prova da morte efetuada

exclusivamente com a certidão de óbito.

Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de


óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade.

Tratando-se de extinção da punibilidade por meio de certidão de óbito falsa há duas

correntes:

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 1.ª posição: o réu pode ser processado somente pelo crime de falso, pois o
ordenamento jurídico brasileiro não contempla a revisão criminal pro societate. É a
posição dominante em sede doutrinária; e
 2.ª posição: poderá haver revogação da decisão judicial, pois a declaração com falso
fundamento não faria coisa julgada em sentido estrito. Em verdade, trata-se de
decisão judicial inexistente, inidônea a produzir os efeitos inerentes à autoridade da
coisa julgada. É a posição do Supremo Tribunal Federal e também do Superior
Tribunal de Justiça.

8.7 ANISTIA, GRAÇA E INDULTO (INCISO II)

Anistia, graça e indulto são formas de clemência soberana emanadas de órgãos alheios
ao poder judiciário, que dispensam, em determinadas hipóteses, a total ou parcial incidência da

lei penal. Concretizam a renúncia do Estado ao direito de punir. A anistia é concedida pelo
Poder Legislativo, já a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Executivo.

Contudo, para ocorrer à extinção da punibilidade exige-se decisão judicial. Essas causas

extintivas da punibilidade têm lugar em crimes de ação penal pública (incondicionada e


condicionada) e de ação penal privada. De fato, nesses últimos o Estado transferiu ao particular
unicamente a titularidade para iniciativa da ação penal, mantendo sob seu controle o direito de

punir.

8.7.1 Anistia

CONCEITO E CONSIDERAÇÕES INICIAIS

É a exclusão, por lei ordinária, dotada de efeitos retroativos de um ou mais fatos

criminosos do raio de incidência do Direito Penal. A clemência estatal é concedida por lei
ordinária editada pelo Congresso Nacional. A competência da União para concessão de anistia

abrange somente as infrações penais.

Perceba que tanto a anistia quanto a abolitio criminis são reguladas por lei ordinária. Por
isso, afirma-se que são as causas extintivas da punibilidade mais fortes de todas, as quais

excluem a própria tipicidade do fato.


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Destaca-se que, em regra, a anistia dirige-se aos crimes políticos (anistia especial). Por

fim, a anistia é destinada a fatos e não a pessoas, embora possam ser impostas condições
específicas ao réu ou condenado (anistia condicionada).

Uma vez concedida a anistia, o juiz, de ofício, a requerimento do interessado ou do

Ministério Público, por proposta da autoridade administrativa ou do Conselho Penitenciário,


declarará extinta a punibilidade (LEP, art. 187).

ESPÉCIES

A anistia divide-se em própria e imprópria. Pode ser também condicionada ou

incondicionada; e ainda, em geral ou parcial.

ANISTIA

PRÓPRIA É concedida antes da condenação definitiva.

IMPRÓPRIA É concedida após o trânsito em julgado da condenação.

INCONDICIONADA É aquela que não impõe nenhuma condição para ser aceita.
Logo, o beneficiário não pode recusá-la.

CONDICIONADA Impõe alguma condição. Portanto pode ser recusada pelo


destinatário.

GERAL (ABSOLUTA) É aquela concedida em termos gerais.

PARCIAL É aquela que faz distinção entre crimes ou pessoas.

(RELATIVA)

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EFEITOS

A anistia possui eficácia ex tunc, alcançando fatos passados. Além disso, apaga todos os

efeitos da sentença penal conferida. Permanecem íntegros, entretanto, os efeitos civis da


sentença condenatória, que, por esse motivo, subsiste como título executivo judicial no campo
civil.

CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS

A anistia é vedada em crimes hediondos e equiparados, em face da regra contida no art.

5.º, XLIII, da Constituição Federal: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e

os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os


que, podendo evitá-los, se omitirem”.

8.7.2 Graça

CONCEITO E CONSIDERAÇÕES INICIAIS

É também denominada, inclusive pela Lei de Execução Penal, de indulto individual. A

graça atinge somente a pretensão executória, ou seja, manifesta-se após o trânsito em julgado
da condenação.

Tem por objeto crimes comum, com sentença condenatória transitada em julgado,

visando o benefício de pessoa determinada por meio da extinção ou comutação da pena


imposta.

Em regra, depende de provocação da parte interessada. De fato, o indulto individual

poderá ser provocado por petição do condenado, por iniciativa do Ministério Público, do
Conselho Penitenciário, ou da autoridade administrativa (LEP, art. 188).

É ato concedido por decreto do Presidente da República. É um ato privativo (pode ser
delegado aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da República ou ao Advogado Geral da
União) e discricionário.

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EFEITOS

Alcança apenas o cumprimento da pena, na forma realçada pelo decreto presidencial,

restando íntegros os efeitos penais secundários e também os efeitos de natureza civil.

ESPÉCIES

A graça divide-se em plena e parcial:

GRAÇA

PLENA (TOTAL) Concede a extinção total da pena (causa de extinção da


punibilidade).

PARCIAL Concede apenas a comutação da pena. Ou seja, sua diminuição ou


substituição por outra.

Em regra, a graça não pode ser recusada, salvo quando proposta comutação de pena

(CPP, art. 739) ou submetida a condições para sua concessão. Assim, uma vez concedida a graça
ou indulto individual, e anexada aos autos cópia do decreto, o juiz declarará extinta a
punibilidade ou ajustará a execução aos termos do decreto, em caso de comutação da pena.

CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS

É incompatível com os crimes hediondos e equiparados. A Constituição Federal, em seu

art. 5.º, XLIII, considera insuscetíveis de graça a prática de tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os crimes definidos como hediondos.

8.7.3 Indulto

CONCEITO E CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Também chamado de indulto coletivo, ou propriamente dito, é a modalidade de


clemência concedida espontaneamente pelo Presidente da República (ato privativo) a todo o
grupo de condenados que preencherem os requisitos apontados pelo decreto.
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Em regra, a concessão de indulto só será possível após o trânsito em julgado da

condenação. O STF, excepcionalmente, já admitiu o indulto antes do trânsito em julgado da


condenação (HC 87.301).

O indulto leva em consideração a duração da pena aplicada, bem como o preenchimento

de determinados requisitos subjetivos (exemplo: primariedade) e objetivos (exemplo:


cumprimento de parte da pena).

ESPÉCIES

O indulto divide-se em total e parcial. Pode ser também condicionado ou incondicionado.

INDULTO

Total Há a extinção da pena. Extinguem-se as sanções penais mencionadas


no decreto presidencial, subsistindo os demais efeitos, penais ou
extrapenais, não abarcados pelo benefício.

Parcial Há somente comutação da pena. Na comutação de penas não se


pode falar propriamente em extinção da punibilidade, mas somente
em transformação da pena em outra de menor gravidade.

Incondicionado É aquela que não impõe nenhuma condição para ser aceita. Logo, o
beneficiário não pode recusá-la.

Condicionado Impõe uma ou mais condições. Portanto pode ser recusado pelo
destinatário.

CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS

A Constituição Federal não trouxe expressamente a vedação de concessão do indulto aos


crimes hediondos e equiparados, muito embora a lei de crimes hediondos e a lei de drogas
tenham trazido. Nesse contexto, surgiram dois posicionamentos acerca da proibição legal:

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 1.ª posição: a regra é inconstitucional, por abranger hipótese não prevista no texto
constitucional; e
 2.ª posição: a regra é constitucional, pois a graça seria gênero do qual o indulto é
espécie. É a atual posição do Supremo Tribunal Federal.

PRÁTICA DE FALTA GRAVE

O cometimento de falta grave não interrompe automaticamente o prazo para o

deferimento do indulto ou da comutação de pena. A concessão do indulto e da comutação é


regulada por requisitos previstos no decreto presidencial pelo qual foram instituídos.

Dessa forma, a prática de falta disciplinar de natureza grave, em regra, não interfere no

lapso necessário à concessão de indulto e comutação da pena, salvo se o requisito for


expressamente previsto no decreto presidencial.

Súmula n.º 535, STJ. A prática de falta grave NÃO interrompe o prazo para fim

de comutação de pena ou indulto.

8.8 ABOLITIO CRIMINIS (INCISO III)

Encontra previsão legal no art. 2.º, caput, do Código Penal, é quando a nova lei que exclui
do âmbito do Direito Penal um fato até então considerado criminoso. Tem natureza jurídica de
causa de extinção da punibilidade.

Não serve como pressuposto da reincidência, nem configura maus antecedentes. Alcança
a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Permanecem, entretanto, os efeitos
civis de eventual condenação, isto é, a obrigação de reparar o dano provocado pela infração

penal e a constituição de título executivo judicial.

Por fim, o juízo competente para aplicar a abolitio criminis será sempre o órgão do Poder
Judiciário em que a ação penal estiver em trâmite.

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8.9 PRESCRIÇÃO, DECADÊNCIA E PEREMPÇÃO (INCISO IV)

8.9.1 Prescrição

A prescrição será analisada em tópico específico, ao final do capítulo.

8.9.2 Decadência

A decadência é a perda do direito de queixa ou de representação em face da inércia de

seu titular durante o prazo legalmente previsto. Há a consumação do termo prefixado pela lei,
para o oferecimento da queixa (nas ações penais privadas) ou representação (nas ações penais

públicas condicionadas).3

Salvo disposição legal em contrário, o prazo é de 6 (seis) meses, independentemente do


número de dias de cada mês, contados do dia em que o ofendido veio a saber quem é o autor

do crime, ou, no caso de ação penal privada subsidiária da pública, do dia em que se esgota o
prazo para oferecimento da denúncia (CP, art. 103).

É prazo preclusivo e improrrogável, não se submetendo à incidência de quaisquer causas

de interrupção e suspensão.

No caso de crime continuado, o prazo decadencial é contado separadamente para cada


delito parcelar. Já o crime habitual, tal prazo deve ser computado a partir do último fato

praticado pelo agente.

Por fim, há diferenças entre a decadência e a prescrição, conforme veremos na tabela a


seguir:

DECADÊNCIA PRESCRIÇÃO
Só ocorre depois da propositura da ação. Pode ocorrer antes ou durante a ação penal,
ou até mesmo após o trânsito em julgado
da condenação.

3
Questão 04
18
Ocorre só na ação penal privada e na ação Ocorre em qualquer espécie de ação penal.
penal pública condicionada à representação.
Extingue o direito de queixa ou de Extingue o direito de punir.
representação, e consequentemente, o
direito de punir.
É improrrogável, não se suspende nem se É improrrogável, mas pode ser suspensa ou
interrompe. interrompida.

8.9.3 Perempção4

É a perda do direito de ação, que acarreta na extinção da punibilidade, provocada pela

inércia processual do querelante. É uma sanção processual imposta ao querelante inerte ou


negligente. Desdobramento lógico do princípio da disponibilidade da ação privada.

Não é aplicável na ação penal privada subsidiária da pública, tendo em vista que nessa

hipótese o Ministério Público dará andamento à ação na hipótese de omissão ou desídia do


querelante.

As causas de perempção foram previstas no art. 60 do Código de Processo Penal:

Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-

se-á perempta a ação penal:

I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do


processo durante 30 dias seguidos;

II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não

comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60


(sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o

disposto no art. 36;

4
Questão 01
19
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a

qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular


o pedido de condenação nas alegações finais;

IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar

sucessor.

Na primeira hipótese, é necessária a regular intimação do querelante para o ato


processual. Se ainda assim não se manifestar no prazo legal de 30 dias, será declarada a extinção

da punibilidade pela perempção.

Já na segunda hipótese, no caso de morte, o direito de prosseguir na ação passará ao


cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (CPP, art. 31). No caso de interdição, ao curador.

O inciso III do art. 60 prevê a ocorrência de perempção quando o querelante: a) deixar


de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo; e b) nas alegações finais,
deixar de formular pedido de condenação.

A presença do querelante deve ser necessária para a prática do ato processual. Assim,
não se faz obrigatório o seu comparecimento na audiência preliminar, tanto por ser ato anterior
ao recebimento ou rejeição da queixa-crime, quanto pelo fato de se tratar de mera faculdade

conferida às partes.

No que tange a falta de pedido de condenação nas alegações finais, esse fenômeno não
tem lugar na ação penal pública, pois o magistrado pode proferir sentença condenatória mesmo
com pedido de absolvição do Ministério Público. Não é preciso que o querelante manifeste
expressamente o pedido de condenação, bastando que dos seus termos possa extrair-se esse

propósito.

Ainda, a ação penal é considerada perempta quando o querelante (pessoa jurídica) se


extinguir sem deixar sucessor. Havendo sucessor, a ação procede-se na forma prevista no Art.

60, III, do CPP, exigindo-se habilitação no prazo legal para prosseguimento da lide, sob pena de
perempção.

20
Por último, a ação penal pode ser considerada perempta com a morte do querelante na

ação penal privada personalíssima. O único exemplo vigente é possível no crime tipificado pelo
art. 236 do Código Penal (induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento).

8.10 RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA OU PERDÃO ACEITO

NOS CRIMES DE AÇÃO PRIVADA (INCISO V)

8.10.1 Renúncia ao direito de queixa

A renúncia é o ato unilateral pelo qual o ofendido (ou seu representante legal) desiste

do direito de promover a persecução penal, extinguindo, assim, a punibilidade do agente.

A renúncia pode ocorrer na ação penal exclusivamente privada, mas não na subsidiária
da pública, pois se o ofendido deixar de oferecer queixa o Ministério Público poderá iniciar a

ação penal enquanto não extinta a punibilidade do agente, pela prescrição ou por qualquer
outra causa.

Constará em declaração assinada pelo ofendido, representante legal ou procurador com

poderes especiais. Todavia, a renúncia poderá ser tácita, isto é quando resulta da prática de ato
incompatível com a vontade de exercê-lo, que admitirá todos os meios de prova.

Ora, não acarreta em renúncia tácita, todavia, o fato de receber o ofendido a

indenização do dano causado pelo crime.

Com relação as competência dos Juizados Especiais, nos crimes de iniciativa privada e
pública condicionada à representação, à representação, o acordo entre ofensor e ofendido,

homologado em juízo, acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.

Ainda, conforme previsão no art. 49 do Código de Processo Penal, “a renúncia ao exercício


do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá”. Para o STF,

o oferecimento de queixa-crime, na ação penal privada, somente contra um ou alguns dos


supostos autores ou partícipes da prática delituosa, com exclusão dos demais envolvidos,

21
configura hipótese de violação ao princípio da indivisibilidade, implicando, por isso mesmo, em

renúncia tácita.

Por fim, a renúncia apenas pode ser exercida antes do oferecimento da queixa. No caso
de morte da vítima, o direito de oferecer queixa passará ao cônjuge, ascendente, descendente

ou irmão (CADI). E a renúncia por parte de um dos colegitimados não impedirá o exercício da
ação penal privada pelos outros.

8.10.2 Perdão do ofendido

O perdão é o ato pelo qual o querelante ou seu representante legal desiste de prosseguir
com andamento do processo, já em curso, desculpando o ofensor pela prática do crime e

consequentemente extinguindo sua punibilidade. Somente constitui-se em causa de extinção da


punibilidade nos crimes que se apuram exclusivamente por ação penal privada.

Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede

mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação.

Pode ocorrer a qualquer momento, depois do início da ação penal privada, até o trânsito
em julgado da sentença condenatória.

Art. 106, § 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a


sentença condenatória.

Conforme o Art. 106 do Código Penal:

Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito:

I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita;

II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros;

III - se o querelado o recusa, não produz efeito.

O perdão pode ser tácito, isto é, aquele que resulta da prática de ato incompatível com
a vontade de prosseguir na ação (CP, art. 106, § 1.º) e admitirá todos os meios de prova.

22
Art. 106, § 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com

a vontade de prosseguir na ação.

É ato bilateral, dependendo da aceitação do querelado. O perdão concedido a um dos


querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.

O querelado será intimado a dizer, dentro de 03 dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo,
ser cientificado de que o seu silêncio importará em anuência.

RENÚNCIA PERDÃO DO OFENDIDO


Decorrente do princípio da OPORTUNIDADE Decorrente do princípio da
DISPONIBILIDADE.

Ato unilateral Ato bilateral

Extraprocessual Extra ou processual.

Excepcionalmente é cabível em Ação Pública Exclusivo de ação penal privada.


(Juizados)

Obsta a formação do processo Pressupõe processo.

Concessão expressa ou tácita Concessão expressa ou tácita.

8.11 RETRATAÇÃO DO AGENTE, NOS CASOS EM QUE A LEI A ADMITE

(INCISO VI)

É desdizer-se, é assumir que errou. Fundamenta-se no arrependimento do autor do fato.


É possível apenas nos casos expressamente previsto em lei. São hipóteses legais:

 Calúnia (art. 143)


 Difamação (art. 143)

23
 Falso testemunho (art. 342, §2º)
 Falsa perícia (art. 342, §2º)

É o que ocorre, exemplificativamente, quando o querelado, antes da sentença, se retrata

cabalmente da calúnia ou da difamação (CP, art. 143). De igual modo, o Código Penal admite a
retratação no art. 342, § 2.º, segundo o qual o fato deixa de ser punível se, antes da sentença

no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

Art. 143. O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia


ou da difamação, fica isento de pena.

Art. 342, § 2º. O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em

que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

Por fim, a retratação é ATO UNILATERAL, dispensando a concordância da vítima. No


entanto, nada impede que a vítima procure ressarcimento na esfera cível.

8.12 PERDÃO JUDICIAL (INCISO IX)

8.12.1 Conceito

É ato exclusivo de membro do Poder Judiciário que, na sentença, deixa de aplicar a


pena ao réu, em face da presença de requisitos legalmente exigidos. Somente pode ser
concedido nos casos expressamente previstos em lei.

Ato que concede o perdão possui natureza de sentença, até porque apura se os requisitos
estão presentes.

8.12.2 Natureza jurídica

É causa de extinção da punibilidade, constituindo um direito subjetivo do réu. Portanto,


o juiz possui discricionariedade para avaliar a presença dos requisitos do perdão judicial, mas

estando presentes não pode deixar de aplicar, sendo a aplicação obrigatória.

24
8.12.3 Aplicabilidade

Em regra, o perdão judicial é aplicável aos crimes culposos. Todavia, há incidência a


crimes dolosos, dependendo apenas da vontade do legislador, como ocorre com a injúria, o

benefício da colaboração premiada previsto na Lei de Organizações Criminosas.

8.12.4 Incomunicabilidade

O perdão judicial tem natureza subjetiva ou pessoal, por isso não se comunica no caso
de concurso de pessoas. Assim, a extinção da punibilidade só irá ocorrer para quem efetivamente

merecer o perdão judicial.

8.12.5 Natureza jurídica da sentença concessiva do perdão judicial

A sentença concessiva de perdão judicial não é condenatória, eis que não existe

condenação sem pena. Também não se trata de uma sentença absolutória, já que quem é
absolvido não precisa ser perdoado.

Desta forma, nos termos da Súmula 18 do STJ, pode-se afirmar que a sentença que

concede o perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade. Em suma, o juiz não


condena e nem absolve, reconhece a existência de uma causa extintiva da punibilidade e a

declara.

8.12.6 Distinção entre perdão judicial e escusas absolutórias

Em ambos, o fato é típico e ilícito, e o agente possui culpabilidade. O perdão judicial

possui natureza subjetiva, por isso só pode ser concedido na sentença ou no acordão. Assim, é
necessária a instrução criminal para apurar os seus requisitos. Já as escusas absolutórias,

possuem natureza objetiva, por isso impedem a persecução penal.

25
8.12.7 Distinção entre perdão judicial e perdão do ofendido

PERDÃO JUDICIAL PERDÃO DO OFENDIDO


Concedido pelo Poder Judiciário Concedido pela vítima

Crimes de ação pública ou privada Crimes de ação privada

Unilateral (não precisa de aceitação). Bilateral (querelado precisa aceitar).

8.13 PRESCRIÇÃO

8.13.1 Introdução

O Estado é o titular exclusivo do direito de punir, mesmo nos crimes de ação penal
privada, em que há a transferência do direito à persecução penal. Esse direito tem natureza
abstrata, podendo ser exercido sobre todas as pessoas.

O direito de punir, todavia, é limitado. Encontra as seguintes barreiras:

 Limite material – princípio da reserva legal (crime e pena devem estar previsto em
lei), princípio da insignificância, princípio da lesividade;
 Limite formal – devido processo legal, contraditório, ampla defesa, vedação de provas
ilícitas;
 Limite temporal – prescrição.

8.13.2 Conceito

Prescrição é a perda da pretensão punitiva ou da pretensão executória em face da inércia


do Estado durante determinado tempo legalmente previsto.

Pretensão punitiva é o interesse do Estado de aplicar a pena a quem violou a lei penal.

Já a pretensão executória é o interesse do Estado no cumprimento da pena, fazer com que uma
pena já aplicada seja efetivamente cumprida.

26
8.13.3 Natureza jurídica

Prevista no art. 107, IV, 1.ª figura, do Código Penal, a prescrição é causa de extinção da
punibilidade. Ressalta-se que a prescrição não apaga o crime, mas sim retira do Estado o direito

de punir.

8.13.4 Alocação

A prescrição, embora produza diversos efeitos no processo penal, é matéria inerente ao


Direito Penal, pois, quando ocorre, extingue o direito de punir de titularidade do Estado.

O cômputo de seu prazo segue a regra do Art. 10 do Código Penal, incluindo o dia do

começo e excluindo o dia do final, contando-se os dias, os meses e os anos pelo calendário
comum.

Além disso, os prazos prescricionais são improrrogáveis, mas admitem causas

suspensivas (art. 116 do CP) e causas interruptivas (art. 117 do CP).

Por fim, destaca-se que a prescrição é matéria preliminar (deve ser examinada pelo juiz
antes do enfretamento do mérito) e de ordem pública (pode e deve ser reconhecida pelo juiz,

inclusive de ofício, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição), nos termos do art. 61
do CPP. Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade,

deverá declará-lo de ofício.

8.13.5 Fundamentos

São fundamentos da prescrição:

 Segurança jurídica ao responsável pela infração penal: o estado possui prazos para
punir o agente, não sendo justa nem correta a imposição ou a execução de uma
sanção penal muito tempo depois da prática do crime ou da contravenção penal.
 Luta contra a ineficiência do Estado: os órgãos estatais responsáveis pela apuração,
processo e julgamento de infrações penais devem atuar com zelo e celeridade, em
obediência à eficiência dos entes públicos.

27
 Impertinência da sanção penal: conforme Beccaria (Dos Delitos e das Penas), para
combater a criminalidade é preciso punir de forma justa, séria e rápida. A sanção
penal aplicada muito após a prática do crime é inadequada, a pena perde suas
finalidades (prevenção geral, prevenção especial), tornando-se um mero instrumento
de ataque do Estado contra o cidadão.

8.13.6 Imprescritibilidade penal

Atualmente, a regra geral consiste na aplicação da prescrição a todas as modalidades de


infrações penais, inclusive aos crimes hediondos.

A Constituição Federal, todavia, em sentindo contrário, por vedar qualquer espécie de


prisão perpétua (art. 5.º, XLVII, “b”), determina a imprescritibilidade de dois grupos de crimes
que, a propósito, não são os mais graves em nosso Direito Penal:

 Racismo (art. 5.º, XLII), regulamentado pela Lei 7.716/1989;9 e


 Ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático (art. 5.º, XLIV), disciplinados pela Lei 7.170/1983 – Lei de Segurança
Nacional.

Prevalece em seara doutrinária o entendimento de que a legislação ordinária não pode


criar outras hipóteses de imprescritibilidade penal.

A partir do momento em que o Poder Originário permitiu apenas essas duas exceções
acima, afirmou implicitamente que as penas de todas as demais infrações penais prescrevem,
sendo a prescrição elevada à categoria de direito fundamental do ser humano.

Por tal razão, o STJ firmou o entendimento que no caso de citação por edital e

consequente aplicação do Art. 366 do CPP, não se admite a suspensão da prescrição por tempo
indefinido, o que poderia configurar uma situação de imprescritibilidade.

Ao contrário, o processo penal deve permanecer suspenso pelo prazo máximo em


abstrato relativo ao crime, na forma do art. 109 do Código Penal. Superado esse prazo, retoma-
se o trâmite da prescrição, calculado pelo máximo da pena em abstrato legalmente previsto.

28
Súmula n.º 415, STJ. O período de suspensão do prazo prescricional é regulado

pelo máximo da pena cominada.

Entretanto, o STF já decidiu que a Constituição Federal não veda seja indeterminado o
prazo de suspensão da prescrição, uma vez que não se constitui em hipótese de

imprescritibilidade e a retomada do curso da prescrição fica apenas condicionada a evento


futuro e incerto.

Cumpre também observar o teor do art. 29 do Decreto 4.388/2002 – responsável pela

promulgação no Brasil do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional: “Os crimes de


competência do Tribunal não prescrevem”.

Por fim, conforme já decidido pelo o STF, as penas dos crimes contra a humanidade

submetem-se ao instituto da prescrição, pois não há norma no direito pátrio impondo a


imprescritibilidade penal em tais delitos.

8.13.7 Diferenças entre prescrição e decadência

Prescrição e decadência são causas extintivas da punibilidade, previstas no art. 107, IV, do

CP, que ocorrem em razão da inércia do titular de um direito, durante determinado prazo
previsto em lei. A prescrição e a decadência diferenciam-se em três pontos:

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA

ADMISSIBILIDADE Admitida em qualquer crime, Admitida apenas nos crimes de


salvo naqueles que a CF ação penal privada e ação penal
classifica como imprescritíveis. pública condicionada à
representação.

TEMPO Pode ocorrem a qualquer Só pode ocorrer antes da ação


tempo, ou seja, antes, durante penal.
ou após a ação penal.

29
DIREITO Atinge diretamente o direito Atinge diretamente o direito de
de punir. ação e indiretamente o direito de
punir.

8.13.8 Espécies de prescrição

A prescrição divide-se em dois grandes grupos: prescrição da pretensão punitiva e


prescrição da pretensão executória. Já a prescrição da pretensão punitiva divide-se em

propriamente dita, prescrição retroativa e prescrição intercorrente/superveniente.

As principais diferenças entre PPP e PPE são:

PRESCRIÇÃO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO


PRETENSÃO PUNITIVA EXECUTÓRIA

Não há trânsito em julgado da Há trânsito em julgado para


Trânsito em
condenação para AMBAS as ambas as partes.
julgado partes (acusação e defesa).
Obs.: na retroativa e na
intercorrente há trânsito em
julgado para acusação, mas não
para a defesa.
Apaga todos os efeitos de Apaga somente o evento principal
Efeitos
eventual sentença condenatória da condenação: A PENA. Todos
já proferida. dos demais efeitos permanecem
intactos.

Depende do estágio da Juízo da execução.


Competência
persecução penal.

30
8.13.9 Prescrição da pena privativa de liberdade

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA PROPRIAMENTE DITA OU

PRESCRIÇÃO DA AÇÃO PENAL

 Dispositivo legal

Está disciplinada pelo art. 109, caput, do Código Penal: “A prescrição, antes de transitar
em julgado a sentença final, [...], regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada

ao crime...”.

 Cálculo

O cálculo é feito com base na pena em abstrato, tendo em vista que a prescrição retira

do Estado o poder de punir, sendo necessário conceder todas as possibilidades de exercer o


seu direito. Assim, ao menos em tese, a pena pode chegar ao máximo legal.

O Código Penal estabeleceu um critério lógico e objetivo. A prescrição da ação penal é

calculada com base no máximo da pena privativa de liberdade abstratamente cominada ao


crime. Utiliza-se a quantidade máxima prevista no preceito secundário do tipo penal,

enquadrando-a em algum dos incisos do art. 109 do Código Penal, com os quais podemos
formar uma tabela:

PENA MÁXIMA EM ABSTRATO PRAZO PRESCRICIONAL

Inferior a 1 anos 3 anos


Igual ou superior a 1 anos, até 2 anos 4 anos
Superior a 02 anos até 4 anos 8 anos
Superior a 4 anos até 8 anos 12 anos
Superior a 8 anos até 12 anos 16 anos
Superior a 12 anos 20 anos

31
O maior prazo prescricional do Código Penal é de 20 anos. Já o menor prazo, previsto

no Código Penal, para pena privativa de liberdade é de 3 anos.

Anote-se, porém, que subsiste o prazo prescricional de 2 (dois) anos em três hipóteses:
(a) para a pena de multa, quando for a única cominada ou aplicada (CP, art. 114, I); e (b) para

o crime tipificado no art. 28, caput, da Lei 11.343/2006 (porte de droga para consumo pessoal),
nos termos do art. 30 da Lei de Drogas; e (c) no art. 125, VII, Código Penal Militar (Decreto-lei

1.001/1969), quando o máximo da pena privativa de liberdade é inferior a 1 (um) ano.

O art. 115 do Código Penal determina a redução dos prazos prescricionais quando o
agente for menor de 21 anos ao tempo do crime e maior de 70 anos na data da sentença. Será

aplicado para TODAS as modalidades de prescrição.

Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso


era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença,

maior de 70 (setenta) anos.5

Com relação a senilidade, imagine a seguinte situação: “A” aos 69 anos na data da
sentença condenatória, obviamente não terá redução. Contudo, a defesa recorre e na data do

acórdão confirmatório da condenação o réu está com 71 anos, será aplicada a condenação?

O STF sempre entendeu que não seria aplicada a redução, uma vez que a idade de 70
anos devia ser verificada na data da primeira decisão condenatória. Contudo, na Ação Penal (AP)

516 entendeu que bastava que o réu seja maior de 70 anos na data do trânsito em julgado da
condenação.

Destaca-se que o Professor Cleber Masson afirma que seria qualquer recurso interposto

pelo réu, já o Professor Márcio Cavalcante na explicação do julgado da AP 516 (Info 731) salienta
que seria apenas no caso de embargos de declaração.

Por fim, embora o Estatuto do Idoso adote um critério etário, isto é a pessoa com 60

anos ou mais deve ser considerada idosa, firmou-se o entendimento que a redução pela metade
continua valendo apenas para o maior de 70 anos, eis que os fundamentos do Estatuto (proteção

5
Questão 03
32
da hipossuficiência) e da redação são totalmente diversos (fragilidade da pessoa para cumprir a

pena).

 Termo inicial

Em regra, a prescrição começa a fluir a partir do momento em que o crime foi consumado,
nos termos do art. 111, I do CP. Assim, pode-se afirmar que o CP, para fins de prescrição, adota
a teoria do resultado, no que tange ao inciso I. Os demais incisos, são exceções a teria do

resultado.

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a


correr:

I - do dia em que o crime se consumou;

Em regra, a fluência do prazo prescricional da pretensão punitiva a partir da data em que


o crime se consumou. Nos crimes materiais, inicia-se com a produção do resultado naturalístico,

enquanto nos crimes formais e nos de mera conduta opera-se a partir da prática da conduta
criminosa.

II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;

III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;

Nesses delitos, enquanto não encerrada a permanência, é dizer, enquanto não cessada a

consumação, não se inicia o trâmite do prazo prescricional.

IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do


registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido.

V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos

neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18


(dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.

 Causas interruptivas

33
São as causas aptas a zerar o prazo prescricional, ou seja, desprezam todos os prazos

prescricionais que haviam ocorrido até a causa interruptiva. As hipóteses de interrupção da


prescrição da pretensão punitiva foram definidas pelo art. 117, I a IV, do Código Penal:

Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:

I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;

II - pela pronúncia;

III - pela decisão confirmatória da pronúncia;

IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;

Os incisos V e VI do art. 117 do Código Penal referem-se à interrupção da prescrição da


pretensão executória.

V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;

VI - pela reincidência

Destaca-se o rol do art. 117 do CP é taxativo, uma vez que a interrupção da prescrição é
prejudicial ao réu. Não cabe analogia para criação de outras hipóteses. A seguir veremos cada

uma das causas interruptivas.

1. Recebimento da denúncia ou queixa

O curso da prescrição da pretensão punitiva é interrompido pelo recebimento da inicial


acusatória, e não pelo seu oferecimento por parte do Ministério Público ou do querelante. Esse

recebimento pode ainda ocorrer em 2.º grau de jurisdição, conforme a Súmula n.º 709 do STF:

Súmula n.º 709 do STF. Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o
acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo,

pelo recebimento dela.

34
A denúncia ou a queixa recebida por juízo absolutamente incompetente não interrompe

a prescrição. Por sua vez, o recebimento da denúncia ou da queixa por juízo relativamente
incompetente interrompe a prescrição.

Nos casos em que o despacho de recebimento for anulado, posteriormente, não poderá

ser utilizado como marco para interrupção da prescrição.

Por fim, o recebimento do aditamento (correção na denúncia ou na queixa a fim de incluir


novo crime ou novo agente) interrompe a prescrição somente no tocante ao novo crime ou ao

novo réu objeto do aditamento.

2. Pronúncia

Trata-se de decisão interlocutória mista não terminativa, tendo em vista que encerra a
primeira fase dos crimes de competência do júri. A prescrição considera-se interrompida com a

publicação da decisão de pronúncia, se:

 Proferida em audiência, já será considerada publicada;


 Proferida por escrito, quando o juiz entrega os autos ao escrivão.

Apenas a pronúncia interrompe a prescrição, as demais decisões que podem ser lançadas
na primeira fase do júri (impronuncia, desclassificação e absolvição sumária) não interrompem
a prescrição.

Destaca-se que se a desclassificação ocorrer no plenário do júri, a pronúncia da primeira


fase continuará valendo como causa interruptiva da PPP, nos termos da Súmula 191 do STJ.

Súmula n.º 191, STJ. A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que

o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime.

3. Decisão confirmatória da pronúncia

Exclusiva dos crimes de competência do tribunal do júri, e ocorre quando o réu foi
pronunciado, e contra essa decisão a defesa interpôs recurso em sentido estrito, com
fundamento no art. 581, IV, do Código de Processo Penal, ao qual foi negado provimento.

35
Opera-se a interrupção na data de sessão de julgamento do recurso pelo Tribunal

competente, e não na data da publicação do acórdão.

4. Publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis

No caso da sentença condenatória, a interrupção se opera com sua publicação, isto é,


com sua entrega em mãos do escrivão, que lavrará nos autos o respectivo termo, registrando-

a em livro especialmente destinado a esse fim.

Já o acórdão condenatório, a interrupção se dá com a sessão de julgamento pelo Tribunal


competente, seja em grau de recurso da acusação, seja nas hipóteses de sua competência

originária.

O acórdão proferido nas ações penais de competência originária do Supremo Tribunal


Federal (CF, art. 102, I, b e c), nas hipóteses em que não comporta mais nenhum recurso, não

interrompe a prescrição, pois é irrecorrível.

 Comunicabilidade das causas interruptivas da prescrição da pretensão


punitiva

Conforme o art. 117, § 1.º, do Código Penal:

§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da


prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos
crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais
a interrupção relativa a qualquer deles.

Podem-se extrair duas regras distintas desse dispositivo: comunicabilidade no concurso


de pessoas e comunicabilidade nos crimes conexos que sejam objeto do mesmo processo.

 No concurso de pessoas:

A interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime.

A palavra "autores" engloba tanto coautores como partícipes do crime. Cleber Masson

traz o seguinte exemplo para facilitar o entendimento: “A” e “B” são regularmente processados

36
pelo crime de roubo. Aquele é condenado, e este, absolvido. O Ministério Público interpõe

recurso de apelação, objetivando a reforma da sentença somente em relação a “B”, para


condená-lo. Pela regra do art. 117, § 1.º, 1.ª parte, do Código Penal, o Tribunal deverá considerar

a prescrição interrompida para “B”, diante da sentença condenatória recorrível proferida contra
“A”.

 No concurso de crimes

Crimes conexos são aqueles que possuem alguma ligação entre si. Quando tais crimes
forem objeto do mesmo processo, diga-se, da mesma ação penal, ou seja, forem imputados ao

réu na mesma denúncia ou na mesma queixa-crime, a interrupção relativa a qualquer deles


estende os seus efeitos aos demais.

Destaca-se que somente poderá ser possível a comunicabilidade quando os crimes forem

conexos e objeto do mesmo processo.

 Causas impeditivas

As causas impeditivas da prescrição estão disciplinadas pelo Art. 116 do Código Penal.
Importa dizer que esse artigo sofreu alteração pela Lei n.º 13.964/2019 (Pacote Anticrime).

Antes do Pacote anticrime, havia apenas duas hipóteses impeditivas. Após, passamos a

ter quatro causas impeditivas de prescrição. Veremos através da seguinte tabela.

Redação Anterior Redação dada pelo Pacote Anticrime


Art. 116 - Antes de passar em julgado a Art. 116 - Antes de passar em julgado a
sentença final, a prescrição não corre: sentença final, a prescrição não corre:

I - enquanto não resolvida, em outro I - enquanto não resolvida, em outro


processo, questão de que dependa o processo, questão de que dependa o
reconhecimento da existência do crime; reconhecimento da existência do crime;

37
II - enquanto o agente cumpre pena no II - enquanto o agente cumpre pena no
estrangeiro; exterior; (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)

III - na pendência de embargos de


declaração ou de recursos aos Tribunais
Superiores, quando inadmissíveis; e
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).
IV - enquanto não cumprido ou não
rescindido o acordo de não persecução
penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019);

Salienta-se que a mesma causa poderá ser impeditiva ou suspensiva, a depender do


momento em que ocorrer. Analisemos cada uma das hipóteses indicadas pelo Código Penal.

Inciso I – Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa

o reconhecimento da existência do crime.

Trata-se da questão prejudicial ainda não resolvida em outro processo. Questão


prejudicial é a que influencia na tipicidade da conduta, isto é, solução é fundamental para a

existência do crime e, consequentemente, para o julgamento do mérito da ação penal.

As questões prejudiciais estão previstas nos arts. 92 (relativas ao estado civil das pessoas)
e 93 (relativas a questões diversas) do Código de Processo Penal.

No CPP, o juiz criminal pode resolver todas as questões prejudiciais, salvo as relativas ao
estado civil das pessoas que somente podem ser resolvidas pelo juízo civil.

Inciso II – Enquanto o agente cumpre pena no exterior (Redação dada pelo

pacote Anticrime).

38
A alteração trazida no inciso II, pelo pacote anticrime, nada mais é que uma modificação

da redação, trocando “no estrangeiro” para “no exterior”. Como podemos ver, houve apenas
uma mudança terminológica na redação.

Continuará não correndo o prazo prescricional enquanto o agente não for extraditado e

cumprir pena no exterior. O legislador manteve essa situação, vez que o cumprimento da pena
no exterior possa ser maior que o prazo prescricional, podendo ensejar a perda do direito de

punir do Estado.

Inciso III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos

Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e

No inciso III, temos uma novidade que é a impossibilidade do prazo prescricional correr
durante o processamento e julgamento dos Embargos de Declaração.

O jurista Fábio Roque Araújo, no dia 01.01.2020, trouxe várias explicações acerca das

mudanças introduzidas pelo Pacote Anticrime. O legislador pretende evitar aquela situação
corriqueira em que o sujeito uma vez condenado no STF, opõe embargos de declaração. Quando

são inadmitidos, o sujeito continua a opor os embargos sucessivamente, na tentativa de


procrastinar ao máximo, para obter uma prescrição.

Da mesma forma ocorrerá quando houver recursos aos tribunais superiores, casos eles

sejam inadmissíveis. Quando houver a interposição de recurso especial ou extraordinário, se


forem julgados inadmissíveis, o tempo do processamento será desconsiderado para efeitos da
prescrição.

Essa mudança tem o condão de impedir que atitudes procrastinatórias levem o feito a
prescrição. Assim, se houver a interposição do mesmo recurso, nos tribunais superiores, e esses
recursos forem inadmissíveis, o sujeito não poderá se beneficiar de eventual prescrição que

ocorrer nesse período.

39
Inciso IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não
persecução penal.

O pacote anticrime veio para institucionalizar o acordo de não persecução penal. Esse

acordo já existia em um ato do CNMP. Mas a grande crítica era justamente ele não ter previsão
em lei.

Assim, enquanto o sujeito não cumprir ou rescindir o acordo de não persecução penal,

não haverá o computo da prescrição. Faz sentido, visto que o acordo de não persecução penal
tem o intuito de evitar uma ação penal caso o investigado cumpra as condições e não aguardar
uma prescrição.

 Causas impeditivas e suspensivas da prescrição da pretensão punitiva


previstas fora do Código Penal

A previsão de causas impeditivas e suspensivas da prescrição da pretensão punitiva não

se restringe ao Código Penal, podendo ser encontradas nos seguintes diplomas legais:

I. Art. 366 do CPP

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir

advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional,


podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas

urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no


art. 312.

II. Art. 89 da Lei 9.099/95

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um
ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,

poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o
acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro

40
crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional

da pena (art. 77 do Código Penal).

III. Art. 53, §5º da CF

Art. 53, § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o


mandato.

PRESCRIÇÃO SUPERVENIENTE, INTERCORRENTE OU SUBSEQUENTE

 Conceito

É a modalidade de prescrição da pretensão punitiva (não há trânsito em julgado para

ambas as partes) que se verifica entre a publicação da sentença condenatória recorrível e seu
trânsito em julgado para a defesa.

É superveniente, pois calculada da sentença condenatória recorrível para frente. É

intercorrente porque ocorre após a sentença condenatória recorrível, mas antes do trânsito em
julgado da condenação para a defesa.

 Cálculo

É calculada com base na pena concreta. Nos termos da Súmula 146 do Supremo Tribunal
Federal: “A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na sentença, quando não

há recurso da acusação”.

 Termo inicial

A prescrição intercorrente começa a fluir com a publicação da sentença condenatória


recorrível, embora condicionada ao trânsito em julgado para a acusação.

 Momento adequado para o seu reconhecimento

A prescrição superveniente não pode ser decretada na própria sentença condenatória, em


face da ausência do trânsito em julgado para a acusação, ou do não provimento do seu recurso.

41
Depois do trânsito em julgado para a acusação, seja com o decurso in albis do prazo

recursal, seja com o não provimento do seu recurso pelo Tribunal, há duas posições acerca do
momento adequado para o seu reconhecimento:

1. Pode ser reconhecida exclusivamente pelo Tribunal, pois o magistrado de 1.ª instância,
ao proferir a sentença, esgota a sua atividade jurisdicional.
2. Pode ser decretada em 1.º grau de jurisdição, por se tratar de matéria de ordem
pública, a qual pode ser reconhecida de ofício a qualquer tempo (CPP, art. 61, caput).
É o entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
 Redução da pena imposta pela sentença e pendência de recurso da acusação

Na hipótese em que a pena imposta pela sentença de 1.ª instância for reduzida pelo

Tribunal, a prescrição superveniente (entre a sentença e o acórdão) deve ser calculada com base
na pena aplicada pela sentença condenatória, teor da regra prevista no art. 110, § 1.º, do Código

Penal.6

PRESCRIÇÃO RETROATIVA

 Cálculo

De acordo com Cleber Masson, a prescrição retroativa, espécie da prescrição da pretensão


punitiva (não há trânsito em julgado da condenação para ambas as partes), é calculada pela

pena concreta, ou seja, pela pena aplicada na sentença condenatória.

É o que se extrai do art. 110, § 1.º, do Código Penal, e também da Súmula 146 do
Supremo Tribunal Federal:

Súmula n.º 146, STF. A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada

na sentença, quando não há recurso da acusação.

Entretanto, depende do trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação


no tocante à pena imposta, seja pela não interposição do recurso cabível no prazo legal,

seja pelo fato de ter sido improvido seu recurso.

6
Questão 05
42
 Termo inicial

A prescrição retroativa começa a correr a partir da publicação da sentença ou acórdão


condenatório, desde que, é evidente, haja transitado em julgado para a acusação ou ao seu

recurso tenha sido negado provimento.

Justifica-se seu nome, “retroativa”, pelo fato de ser contada da sentença ou acórdão
condenatórios para trás. É calculada da sentença condenatória para trás. Desta forma, no campo

dos crimes em geral, a prescrição retroativa pode ocorrer entre a publicação da sentença ou
acórdão condenatórios e o recebimento da denúncia ou queixa.

(RDQ) (SCR) (TJA)

Recebimento da denúncia/queixa Sentença condenatória recorrível Trânsito em julgado para acusação

 Momento adequado para o seu reconhecimento

A prescrição retroativa jamais pode ser reconhecida na própria sentença condenatória,


em face da ausência de um pressuposto fundamental: o trânsito em julgado para a acusação
ou o não provimento do seu recurso.

A competência para o reconhecimento da prescrição retroativa será:

1ª Corrente – apenas o tribunal pode declarar, tendo em vista que ao proferir a

sentença o juiz esgota sua atividade jurisdicional, tornando-se um mero despachante


do Tribunal. Posição conservadora, tende a desaparecer.

2ª Corrente – juiz ou tribunal. Fundamenta-se na celeridade e a economia processual,

bem como no art. 61 do CPP, a prescrição é causa extintiva da punibilidade, podendo


ser reconhecida a qualquer tempo e grau de jurisdição, inclusive de ofício.

43
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA OU PRESCRIÇÃO DA
CONDENAÇÃO

 Conceito

A pretensão executória é o interesse e o dever de o Estado fazer com que uma pena, já
aplicada, seja efetivamente cumprida. Desta forma, a prescrição da pretensão executória é a

omissão do Estado no cumprimento da pena. Aqui, é necessário o trânsito em julgado para


ambas as partes: acusação e defesa.

 Forma de contagem

É calculada com base na pena em concreto. Assim, enquadra-se a pena aplicada no art.
109 do CP. É o que consta da Súmula 604 do Supremo Tribunal Federal:

Súmula nº 604, STF. A prescrição pela pena em concreto é somente da

pretensão executória da pena privativa de liberdade.

Ocorrendo a reincidência, devidamente reconhecida na sentença ou no acórdão, o prazo


prescricional aumenta-se de um terço. Esse aumento é aplicável exclusivamente à prescrição da

pretensão executória. A propósito, estabelece a Súmula 220 do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula n.º 220, STJ. A reincidência não influi no prazo da prescrição da


pretensão punitiva.

Também se aplica o art. 115 do CP, o qual prevê a redução pela metade para os menores

de 21 anos, na data do fato, e para os maiores de 70 anos, na data da sentença.

Por fim, o art. 113 do CP prevê que no caso de fuga ou evasão do condenado a prescrição
será regulada pelo resto da pena que falta a ser cumprida. Consagra-se, aqui, o entendimento

de que pena cumprida é pena extinta.

Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento


condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena.

 Termo inicial

44
O art. 112 do CP disciplina o termo inicial:

Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr:

I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação,


ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;

II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da

interrupção deva computar-se na pena.

Esse dispositivo consagra três critérios:

1.º critério: Do dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a


acusação. De fato, a prescrição da pretensão executória depende do trânsito em

julgado para ambas as partes, mas, a partir do momento em que isso ocorre, seu
termo inicial retroage ao trânsito em julgado para a acusação. É o que se infere do

art. 112, I, 1.ª parte, do Código Penal.

2.º critério: Do dia da revogação da suspensão condicional da pena ou do


livramento condicional. Com a revogação do sursis ou do livramento condicional, o

juiz determina a prisão do condenado. A partir de então, o Estado tem um prazo,


legalmente previsto, para executar a pena imposta.

3.º critério: Do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da

interrupção deva computar-se na pena. Esse critério, previsto no art. 112, II, do
Código Penal, abrange as seguintes situações:

 Fuga do condenado, no regime fechado ou semiaberto, abandono do regime


aberto, ou descumprimento das penas restritivas de direitos.
 Superveniência de doença mental.

 Causas interruptivas

As causas de interrupção da prescrição da pretensão executória estão previstas no art.


117, V e VI, do Código Penal:

45
Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:

[...]

V – pelo início ou continuação do cumprimento da pena;

VI – pela reincidência.

Há três causas interruptivas, a seguir veremos cada uma delas.

 Início do cumprimento da pena: Ao ser preso e iniciar o cumprimento da pena, zera


a contagem do prazo da prescrição da pretensão executória.
 Continuação do cumprimento da pena: O agente estava cumprindo a pena, foge, a
prescrição volta a correr com base no restante da pena. Ao ser capturado, irá continuar
o cumprimento da pena, interrompendo a prescrição da pretensão executória.

 Reincidência: Como visto acima, a reincidência anterior à condenação aumenta de


um terço o prazo da prescrição da pretensão executória. Já a reincidência que
interrompe a prescrição da pretensão executória é aquela posterior à condenação.

Reincidência
Anterior à condenação: aumenta em 1/3.
Posterior à condenação: Interrompe a prescrição da pretensão executória

 Incomunicabilidade das causas interruptivas da prescrição da pretensão executória

O art. 107, §1º do CP prevê a incomunicabilidade das causas de interrupção da PPE para
o concurso de pessoas e para o concurso de crimes.

46
Art. 107, § 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção

da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos


crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais

a interrupção relativa a qualquer deles.

 Causa impeditiva da prescrição da pretensão executória

Prevista no parágrafo único do art. 116 do CP:

Art. 116, Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença


condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está
preso por outro motivo.

O fato de o agente estar preso por outro crime torna impossível que o Estado execute a
pena. Visa impedir que as penas pequenas fiquem impunes quando o condenado está
cumprindo uma pena longa.

PRESCRIÇÃO VIRTUAL, PROJETADA, ANTECIPADA, PROGNOSTICAL OU

RETROATIVA EM PERSPECTIVA

Trata-se de construção doutrinária e jurisprudencial. Decreta-se a extinção da punibilidade

com fundamento na perspectiva de que, mesmo na hipótese de eventual condenação,


inevitavelmente ocorrerá a prescrição retroativa.

Entretanto, o STJ editou súmula proibindo a prescrição virtual, observe:

Súmula n.º 438, STJ. É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição

da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente


da existência ou sorte do processo penal.

8.13.10 Prescrição das penas restritivas de direitos

Conforme o parágrafo único do art. 109 do Código Penal: “Aplicam-se às penas restritivas
de direitos os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade”.

47
No tocante à prescrição da pretensão executória de pena restritiva de direitos

descumprida pelo condenado, o prazo é calculado de acordo com o tempo faltante da pena
alternativa aplicada em substituição à pena privativa de liberdade.

8.13.11 Prescrição no concurso de crimes

Conforme dispõe o art. 119 do Código Penal: “No caso de concurso de crimes, a extinção
da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente”. Esse dispositivo é aplicável ao

concurso material, ao concurso formal e ao crime continuado.

Em relação ao concurso material, o Código Penal acolheu o sistema do cúmulo material,


é dizer, somam-se as penas de todos os crimes. A prescrição deve ser analisada sobre a pena

de cada um dos delitos, isoladamente, e não sobre a pena final, resultante da soma das
reprimendas cabíveis a cada um dos crimes.

Esse raciocínio igualmente se aplica ao concurso formal impróprio, ou imperfeito (CP, art.

70, caput, in fine), pois nele as penas dos diversos crimes também devem ser somadas.

Já no que diz respeito ao concurso formal próprio, ou perfeito, e também ao crime


continuado, adotou-se o sistema da exasperação. Para o cálculo da prescrição, o juiz há de

considerar somente a pena inicial, isto é, a pena derivada de um dos crimes, sem o aumento
decorrente do concurso formal próprio ou da continuidade delitiva.

Nesse sentindo, a Súmula 497 do STF que, embora se refira ao crime continuado, vale

para o crime formal, pois utiliza o sistema da exasperação.

Súmula n.º 497, STF. Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-
se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente

da continuação.

8.13.12 Prescrição da pena de multa

O art. 114 do CP regula a prescrição da pena de multa, observe:

48
Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá:

I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada;

II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade,


quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou

cumulativamente aplicada.

O art. 114 do CP é aplicado apenas para os casos de prescrição da pretensão punitiva da


pena de multa, em que não há o trânsito em julgado para ambas as partes. Tratando-se de

prescrição da pretensão executória, quando a multa já transitou em julgado e não foi paga,
deve-se usar o art. 51 do CP, caracterizando uma dívida de valor. Portanto, prescreve em cinco
anos.

Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será


considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa
à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas

interruptivas e suspensivas da prescrição.

49
QUADRO SINÓTICO

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
A punibilidade é a consequência do crime, não seu elemento.
Dessa forma, praticada uma contravenção penal ou um crime,
Introdução nasce automaticamente a punibilidade, consubstanciada na
possibilidade jurídica do Estado impor uma sanção penal ao
responsável.
A pretensão punitiva é interesse do Estado em aplicar a
sanção penal: surge com a prática da infração penal. Já a
Momento de pretensão executória é o interesse do Estado em exigir o
cumprimento de uma sanção penal já imposta: nasce com o
ocorrência
trânsito em julgado da condenação (após o trânsito em
julgado da condenação para ambas as partes).
Pretensão punitiva: As causas de extinção da punibilidade
que atingem a pretensão punitiva eliminam todos os efeitos
penais de eventual sentença condenatória já proferida. Assim,
a sentença não irá gerar reincidência, nem maus antecedentes,
bem como a obrigação de reparar o dado.
Efeitos
Pretensão executória: As causas extintivas que afetam a
pretensão executória, salvo nas hipóteses de abolitio criminis
e anistia, apagam unicamente o efeito principal da
condenação, é dizer, a pena. Subsistem os efeitos secundários
da sentença condenatória: pressuposto da reincidência e
constituição de título executivo judicial no campo civil.
I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato
Causas de como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
extinção da V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão

punibilidade aceito, nos crimes de ação privada;


VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a
admite;
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

50
A extinção da punibilidade pela morte de um dos agentes não
se comunica aos demais agentes envolvidos na prática do
crime.
Morte do
O art. 62 do Código de Processo Penal é claro ao exigir seja
agente
a prova da morte efetuada exclusivamente com a certidão de
óbito.

Anistia, graça e indulto são formas de clemência soberana


emanadas de órgãos alheios ao poder judiciário, que
dispensam, em determinadas hipóteses, a total ou parcial
incidência da lei penal. Concretizam a renúncia do Estado ao
direito de punir. A anistia é concedida pelo Poder Legislativo,
já a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Executivo.
Anistia: É a exclusão, por lei ordinária, dotada de efeitos
retroativos de um ou mais fatos criminosos do raio de
incidência do Direito Penal. A clemência estatal é concedida
por lei ordinária editada pelo Congresso Nacional. A
Anistia, graça ou competência da União para concessão de anistia abrange
somente as infrações penais.
indulto
Graça: É também denominada, inclusive pela Lei de Execução
Penal, de indulto individual. A graça atinge somente a
pretensão executória, ou seja, manifesta-se após o trânsito em
julgado da condenação.
Indulto: Também chamado de indulto coletivo, ou
propriamente dito, é a modalidade de clemência concedida
espontaneamente pelo Presidente da República (ato privativo)
a todo o grupo de condenados que preencherem os requisitos
apontados pelo decreto.

Encontra previsão legal no art. 2.º, caput, do Código Penal, é


Retroatividade quando a nova lei que exclui do âmbito do Direito Penal um
fato até então considerado criminoso. Tem natureza jurídica
de lei que não de causa de extinção da punibilidade.
mais considera
Não serve como pressuposto da reincidência, nem configura
o fato como maus antecedentes. Alcança a execução e os efeitos penais da

criminoso sentença condenatória. Permanecem, entretanto, os efeitos


civis de eventual condenação, isto é, a obrigação de reparar o

51
dano provocado pela infração penal e a constituição de título
executivo judicial.

A decadência é a perda do direito de queixa ou de


representação em face da inércia de seu titular durante o
prazo legalmente previsto. Há a consumação do termo
prefixado pela lei, para o oferecimento da queixa (nas ações
Decadência ou penais privadas) ou representação (nas ações penais públicas
condicionadas).
perempção
Perempção é a perda do direito de ação, que acarreta na
extinção da punibilidade, provocada pela inércia processual
do querelante. É uma sanção processual imposta ao
querelante inerte ou negligente. Desdobramento lógico do
princípio da disponibilidade da ação privada.
A renúncia é o ato unilateral pelo qual o ofendido (ou seu
Renúncia do
representante legal) desiste do direito de promover a
direito de persecução penal, extinguindo, assim, a punibilidade do
agente.
queixa ou pelo O perdão é o ato pelo qual o querelante ou seu representante

perdão aceito, legal desiste de prosseguir com andamento do processo, já


em curso, desculpando o ofensor pela prática do crime e
nos crimes de consequentemente extinguindo sua punibilidade. É ato
bilateral, dependendo da aceitação do querelado.
ação privada.

PRESCRIÇÃO
Prescrição é a perda da pretensão punitiva ou da pretensão
executória em face da inércia do Estado durante determinado
Conceito tempo legalmente previsto.

Prevista no art. 107, IV, 1.ª figura, do Código Penal, a

Natureza prescrição é causa de extinção da punibilidade. Ressalta-se


que a prescrição não apaga o crime, mas sim retira do Estado
jurídica o direito de punir.

Prescrição da pretensão punitiva: divide-se em propriamente


Espécies dita, prescrição retroativa e prescrição

52
intercorrente/superveniente. Não há trânsito em julgado da
condenação para AMBAS as partes (acusação e defesa). Na a
retroativa e na intercorrente há trânsito em julgado para
acusação, mas não para a defesa.
Apaga todos os efeitos de eventual sentença condenatória já
proferida.
A competência depende do estágio da persecução penal.

Prescrição da pretensão executória: Há trânsito em julgado


para ambas as partes. Apaga somente o evento principal da
condenação: A PENA. Todos dos demais efeitos permanecem
intactos.
A competência é do Juízo da execução.

Está disciplinada pelo art. 109, caput, do Código Penal: “A


Prescrição da
prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, [...],
pretensão regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade
cominada ao crime...”.
punitiva
propriamente
dita ou
prescrição da
ação penal
É a modalidade de prescrição da pretensão punitiva (não há
trânsito em julgado para ambas as partes) que se verifica entre

Prescrição a publicação da sentença condenatória recorrível e seu


trânsito em julgado para a defesa.
superveniente,
É superveniente, pois calculada da sentença condenatória
intercorrente ou
recorrível para frente. É intercorrente porque ocorre após a
subsequente sentença condenatória recorrível, mas antes do trânsito em
julgado da condenação para a defesa.

A prescrição retroativa, espécie da prescrição da pretensão


Prescrição
punitiva (não há trânsito em julgado da condenação para
retroativa
53
ambas as partes), é calculada pela pena concreta, ou seja, pela
pena aplicada na sentença condenatória.

A pretensão executória é o interesse e o dever de o Estado


Prescrição da
fazer com que uma pena, já aplicada, seja efetivamente
pretensão cumprida. Desta forma, a prescrição da pretensão executória
é a omissão do Estado no cumprimento da pena. Aqui, é
executória ou necessário o trânsito em julgado para ambas as partes:

prescrição da acusação e defesa.

condenação
Trata-se de construção doutrinária e jurisprudencial. Decreta-
Prescrição
se a extinção da punibilidade com fundamento na perspectiva
virtual, de que, mesmo na hipótese de eventual condenação,
inevitavelmente ocorrerá a prescrição retroativa.
projetada,
antecipada,
prognostical ou
retroativa em
perspectiva
Conforme o parágrafo único do art. 109 do Código Penal:
Prescrição das
“Aplicam-se às penas restritivas de direitos os mesmos prazos
penas restritivas previstos para as privativas de liberdade”.

de direitos
Conforme dispõe o art. 119 do Código Penal: “No caso de
Prescrição no concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre
a pena de cada um, isoladamente”. Esse dispositivo é aplicável
concurso de ao concurso material, ao concurso formal e ao crime

crimes continuado.

O art. 114 do CP regula a prescrição da pena de multa,

Prescrição da observe:
Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá:
pena de multa I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou
aplicada;

54
II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena
privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou
cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.

55
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) João, por força de divergência ideológica, publicou,

em 03 de fevereiro de 2019, artigo ofensivo à honra de Mário, dizendo que este, quando no
exercício de função pública na Prefeitura do município de São Caetano, desviou verba da

educação em benefício de empresa de familiares.


Mário, inconformado com a falsa notícia, apresentou queixa-crime em face de João, sendo a
inicial recebida em 02 de maio de 2019. Após observância do procedimento adequado, o juiz

designou data para a realização da audiência de instrução e julgamento, sendo as partes


regularmente intimadas. No dia da audiência, apenas o querelado João e sua defesa técnica

compareceram.
Diante da ausência injustificada do querelante, poderá a defesa de João requerer ao juiz o

reconhecimento
A) da decadência, que é causa de extinção da punibilidade.

B) do perdão do ofendido, que é causa de extinção da punibilidade.


C) do perdão judicial, que é causa de exclusão da culpabilidade.
D) da perempção, que é causa de extinção da punibilidade.

Comentário:

A ausência injustificada do querelante a qualquer ato do processo a que deva estar presente

configura perempção da ação penal. Consequentemente, a punibilidade do querelado é extinta.


(Art. 60, III, CPP c/c art. 107, IV, CP).

Questão 2
56
(XXVI EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Jorge foi condenado, definitivamente, pela prática de

determinado crime, e se encontrava em cumprimento dessa pena. Ao mesmo tempo, João


respondia a uma ação penal pela prática de crime idêntico ao cometido por Jorge. Durante o

cumprimento da pena por Jorge e da submissão ao processo por João, foi publicada e entrou
em vigência uma lei que deixou de considerar as condutas dos dois como criminosas. Ao

tomarem conhecimento da vigência da lei nova, João e Jorge o procuram, como advogado, para
a adoção das medidas cabíveis.

Com base nas informações narradas, como advogado de João e de Jorge, você deverá esclarecer
que
A) não poderá buscar a extinção da punibilidade de Jorge em razão de a sentença condenatória

já ter transitado em julgado, mas poderá buscar a de João, que continuará sendo considerado
primário e de bons antecedentes.

B) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos civis e
penais da condenação de Jorge, inclusive não podendo ser considerada para fins de reincidência

ou maus antecedentes.
C) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos penais

da condenação de Jorge, mas não os extrapenais.


D) não poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, tendo em vista que os fatos foram
praticados anteriormente à edição da lei.

Comentário:

Questão de fácil entendimento, mas que pode gerar engano quanto aos efeitos penais e

extrapenais. Portanto, necessária a leitura do art. 2º do CP, in verbis:

"Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em

virtude dela a execução e os efeitos PENAIS da sentença condenatória".

57
Veja que a lei dispõe que somente os efeitos PENAIS serão cessados, não diz, portanto, sobre

os efeitos extrapenais.

Questão 3

(XXIV EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) No dia 28 de agosto de 2011, após uma discussão no

trabalho quando todos comemoravam os 20 anos de João, este desfere uma facada no braço
de Paulo, que fica revoltado e liga para a Polícia, sendo João preso em flagrante pela prática do

injusto de homicídio tentado, obtendo liberdade provisória logo em seguida. O laudo de exame
de delito constatou a existência de lesão leve.

A denúncia foi oferecida em 23 de agosto de 2013 e recebida pelo juiz em 28 de agosto de


2013. Finda a primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri, ocasião em que a vítima
compareceu, confirmou os fatos, inclusive dizendo acreditar que a intenção do agente era
efetivamente matá-la, e demonstrou todo seu inconformismo com a conduta do réu, João foi
pronunciado, sendo a decisão publicada em 23 de agosto de 2015, não havendo impugnação

pelas partes.
Submetido a julgamento em sessão plenária em 18 de julho de 2017, os jurados afastaram a

intenção de matar, ocorrendo em sentença, então, a desclassificação para o crime de lesão


corporal simples, que tem a pena máxima prevista de 01 ano, sendo certo que o Código Penal

prevê que a pena de 01 a 02 anos prescreve em 04 anos.


Na ocasião, você, como advogado(a) de João, considerando apenas as informações narradas,

deverá requerer que seja declarada a extinção da punibilidade pela


A) decadência, por ausência de representação da vítima.
B) prescrição da pretensão punitiva, porque já foi ultrapassado o prazo prescricional entre a

data do fato e a do recebimento da denúncia.


C) prescrição da pretensão punitiva, porque já foi ultrapassado o prazo prescricional entre a

data do oferecimento da denúncia e a da publicação da decisão de pronúncia.


D) prescrição da pretensão punitiva, porque entre a data do recebimento da denúncia e a do

julgamento pelo júri decorreu o prazo prescricional.

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Comentário:

Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao

tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70
(setenta) anos. METADE DO PRAZO - SENDO DOIS ANOS.

Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no §
1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada

ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).


I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;

IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não
excede a dois; 4 ANOS POR TER SIDO UM

VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.

Questão 4

(XXIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Silva foi vítima de um crime de ameaça por meio de
uma ligação telefônica realizada em 02 de janeiro de 2016. Buscando identificar o autor, já que

nenhum membro de sua família tinha tal informação, requereu, de imediato, junto à companhia
telefônica, o número de origem da ligação, vindo a descobrir, no dia 03 de julho de 2016, que

a linha utilizada era de propriedade do ex-namorado de sua filha, Carlos, razão pela qual foi até
a residência deste, onde houve a confissão da prática do crime.

Quando ia ao Ministério Público, na companhia de Marta, sua esposa, para oferecer


representação, Silva sofreu um infarto e veio a falecer. Marta, no dia seguinte, afirmou oralmente,

59
perante o Promotor de Justiça, que tinha interesse em representar em face do autor do fato,

assim como seu falecido marido.


Diante do apelo de sua filha, Marta retorna ao Ministério Público no dia 06 de julho de 2016 e

diz que não mais tem interesse na representação. Ainda assim, considerando que a ação penal
é pública condicionada, o Promotor de Justiça ofereceu denúncia, no dia 07 de julho de 2016,

em face de Carlos, pela prática do crime de ameaça.


Considerando a situação narrada, o(a) advogado(a) de Carlos, em resposta à acusação, deverá

alegar que

A) ocorreu decadência, pois se passaram mais de 6 meses desde a data dos fatos.

B) a representação não foi válida, pois não foi realizada pelo ofendido.
C) ocorreu retratação válida do direito de representação.

D) a representação não foi válida, pois foi realizada oralmente.

Comentário:

Nesse caso, a representação, em si, foi válida, eis que realizada por legitimado (cônjuge do

falecido), bem como realizada dentro do prazo de seis meses a contar da data em que a vítima
teve ciência da autoria do fato.
A retratação da representação também ocorreu de forma válida, eis que se deu antes do

oferecimento da denúncia (art. 25 do CPP), motivo pelo qual o MP não poderia ter denunciado
o infrator

Questão 5

(XXII EXAME DE ORDEM – FGV- 2017) No dia 15 de abril de 2011, João, nascido em 18 de

maio de 1991, foi preso em flagrante pela prática do crime de furto simples, sendo, em seguida,
concedida liberdade provisória. A denúncia somente foi oferecida e recebida em 18 de abril de

2014, ocasião em que o juiz designou o dia 18 de junho de 2014 para a realização da audiência

60
especial de suspensão condicional do processo oferecida pelo Ministério Público. A proposta foi

aceita pelo acusado e pela defesa técnica, iniciando-se o período de prova naquele mesmo dia.
Três meses depois, não tendo o acusado cumprido as condições estabelecidas, a suspensão foi

revogada, o que ocorreu em decisão datada de 03 de outubro de 2014.


Ao final da fase instrutória, a pretensão punitiva foi acolhida, sendo aplicada ao acusado a pena

de 01 ano de reclusão em regime aberto, substituída por restritiva de direitos. A sentença


condenatória foi publicada em 19 de maio de 2016, tendo transitado em julgado para a

acusação.
Intimado da decisão respectiva, João procura você, na condição de advogado(a), para saber
sobre eventual prescrição, pois tomou conhecimento de que a pena de 01 ano, em tese,

prescreve em 04 anos, mas que, no caso concreto, por força da menoridade relativa, deve o
prazo ser reduzido de metade.

Diante desse quadro, você, como advogado(a), deverá esclarecer que

A) ocorreu a prescrição da pretensão punitiva entre a data do fato e a do recebimento da


denúncia.

B) ocorreu a prescrição da pretensão punitiva entre a data do recebimento da denúncia e a da


publicação da sentença condenatória.
C) ocorreu a prescrição da pretensão executória entre a data do recebimento da denúncia e a

da publicação da sentença condenatória.


D) não há que se falar em prescrição, no caso apresentado.

Comentário:

Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se


pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam

de um terço, se o condenado é reincidente.

§ 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a


acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo,

61
em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.

(Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).

Questão 6

(XX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) No dia 29/04/2011, Júlia, jovem de apenas 20 anos de

idade, praticou um crime de lesão corporal leve (pena: de 03 meses a 01 ano) em face de sua
rival na disputa pelo amor de Thiago. A representação foi devidamente ofertada pela vítima
dentro do prazo de 06 meses, contudo a denúncia somente foi oferecida em 25/04/2014. Em

29/04/2014 foi recebida a denúncia em face de Júlia, pois não houve composição civil, transação

penal ou suspensão condicional do processo.

Nesta hipótese,

A) poderá ser requerido pelo advogado de Júlia o reconhecimento da prescrição pela pena ideal,

pois entre a data dos fatos e o recebimento da denúncia foram ultrapassados mais de 03 anos.

B) deverá, caso aplicada ao final do processo a pena mínima prevista em lei, ser reconhecida a
prescrição da pretensão punitiva retroativa, pois entre a data dos fatos e o recebimento da

denúncia foram ultrapassados mais de 03 anos.

C) não foram ultrapassados 03 anos entre a data dos fatos e do recebimento da denúncia, pois

o prazo prescricional tem natureza essencialmente processual e não material.

D) deverá ser reconhecida, de imediato, a prescrição da pretensão punitiva pela pena em

abstrato.

Comentário:

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Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o

do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade [no caso, um
ano] cominada ao crime, verificando-se:

V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a

dois;
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:

I - do dia em que o crime se consumou; [29/04/2011]


Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo

do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.
[portanto, o prazo de prescrição é de dois anos]

Crime cometido no dia 29/04/2011. No dia 29/04/2013 já se encontrava prescrito, smj (art. 10,
CP)

Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:


I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; [que ocorreu no dia 29/04/2014]

O crime já estava prescrito quando do recebimento da denúncia.

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GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - C

Questão 3 - B

Questão 4 - C

Questão 5 - D

Questão 6 - D

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QUESTÃO DESAFIO

Em que consiste a chamada “prescrição em perspectiva”? Esta


modalidade de prescrição é aceita no ordenamento jurídico
brasileiro?

Responda em até 5 linhas

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GABARITO QUESTÃO DESAFIO

É a análise de possível pena para o réu caso condenado. Não se admite a prescrição em

perspectiva.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Análise de possível pena para o réu caso condenado

Segundo Márcio André Lopes: “A prescrição virtual ocorre quando o juiz, verificando que já se
passaram muitos anos desde o dia em que o prazo prescricional começou ou voltou a correr,

entende que mesmo que o inquérito ou processo continue, ele não terá utilidade porque muito
provavelmente haverá a prescrição pela pena em concreto. Para isso, o juiz analisa a possível

pena que aplicaria para o réu se ele fosse condenado e, a partir daí, examina se, entre os marcos
interruptivos presentes no processo, já se passaram mais anos do que o permitido pela lei”.

 Não se admite a prescrição em perspectiva

A prescrição virtual é também chamada de prescrição “em perspectiva”, “por prognose”,

“projetada” ou “antecipada”. O STF e o STJ afirmam que é inadmissível a prescrição virtual por
dois motivos principais: a) em virtude da ausência de previsão legal; b) porque representaria

uma afronta ao princípio da presunção de não-culpabilidade.O STJ tem, inclusive, um enunciado


proibindo expressamente a prática, sendo este a Súmula 438: “É inadmissível a extinção da

punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética,


independentemente da existência ou sorte do processo penal”. (STF. 1ª Turma. Inq 3574

AgR/MT)

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LEGISLAÇÃO COMPILADA

Da extinção da punibilidade

 Código Penal: Art. 107 ao 120.

Prescrição

 Súmula n.º 497, STF.

Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando
o acréscimo decorrente da continuação.

 Súmula n.º 146, STF.

A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na sentença, quando não há recurso da acusação.

 Súmula n.º 438, STJ.

É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena
hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.

 Súmula n.º 191, STJ.

A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime.

Perdão Judicial

 Súmula n.º 18, STJ.

A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito
condenatório.

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JURISPRUDÊNCIA

 HC 316.110/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 25/06/2019,
DJe 01/07/2019

O termo “sentença” contido no art. 115 do Código Penal se refere à primeira decisão condenatória, seja a do juiz
singular ou a proferida pelo Tribunal, não se operando a redução do prazo prescricional quando a sentença
condenatória é confirmada em sede de apelação.

Comentário: O termo "sentença", mencionado no art. 115 do CP, deve ser entendido como "primeira decisão
condenatória, seja sentença ou acórdão proferido em apelação”.

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1º ao 120). 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2015.

Estefam, André: Direito penal esquematizado: parte geral / André Estefam e Victor Eduardo Rios Gonçalves;
coordenador Pedro Lenza. – 5. ed. – São Paulo: Saraiva, 2016. – (Coleção esquematizado).

Masson, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019.

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