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CERS CARREIRA

JURÍDICA
BOOK

CARREIRAS JURÍDICAS

CAPÍTULO 5
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada

no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

1
Assim, os assuntos de Direito Penal estão distribuídos da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Noções Gerais de Direito Penal 


Capítulo 2 – Tipicidade Penal. Tipicidade Conglobante. 

Capítulo 3 – Princípios aplicáveis ao Direito Penal. 

Capítulo 4 – Da aplicação da lei penal. 

Capítulo 5 (você está aqui) – Tomo IV – Culpabilidade 

Capítulo 6 – Iter Criminis 

Capítulo 7 – Do Concurso de Pessoas 

Capítulo 8 – Das Medidas de Segurança 

Capítulo 09 – Ação Penal 


Capítulo 10 – Das Penas 

Capítulo 11 – Da Extinção da Punibilidade 


Capítulo 12 – Dos Crimes contra a vida 
Capítulo 13 – Lesões Corporais 
Capítulo 14 – Da periclitação da vida e da saúde 
Capítulo 15 – Rixa 
Capítulo 16 – Dos crimes contra a honra 
Capítulo 17 – Dos crimes contra a liberdade individual. Dos crimes

contra a liberdade pessoal.
Capítulo 18 – Dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio. 
Capítulo 19 – Dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência 
Capítulo 20 – Dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos 
Capítulo 21 – Dos crimes contra o patrimônio 
Capítulo 22 – Dos crimes contra a propriedade intelectual 
Capítulo 23 – Dos crimes contra a organização do trabalho 
Capítulo 24 – Dos crimes contra o sentimento religioso e contra o

respeito aos mortos
2
Capítulo 25 – Dos crimes contra a dignidade sexual 
Capítulo 26 – Dos crimes contra a família 
Capítulo 27 – Dos crimes contra a incolumidade pública 
Capítulo 28 – Dos crimes contra a paz pública 
Capítulo 29 – Dos crimes contra a fé pública

Capítulo 30 – Dos crimes contra a administração Pública

3
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Neste capítulo, iremos tratar do tema Culpabilidade. Trata-se de tema doutrinário e


composto por legislação, que merece grande atenção. É importante sempre estudar o tema
relacionando com a lei seca.

O aluno vai perceber que o assunto tem grande incidência em provas objetivas e
subjetivas de Carreiras Jurídicas, tais como: Promotor de Justiça, Juiz Substituto, Procuradoria,

Delegado, Defensor Público e Juiz Federal.

4
SUMÁRIO

DIREITO PENAL ........................................................................................................................................ 7

Capítulo 5 .................................................................................................................................................. 7

5. Culpabilidade ..................................................................................................................................... 7

5.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 7

5.2 Conceito .................................................................................................................................................................... 8

5.3 Evolução do conceito de culpabilidade ...................................................................................................... 8

5.3.1 Teoria psicológica ................................................................................................................................................. 8

5.3.2 Teoria normativa ou psicológico-normativa ............................................................................................. 8

5.3.3 Teoria normativa pura......................................................................................................................................... 9

5.4 Coculpabilidade .................................................................................................................................................. 10

5.4.1 Coculpabilidade às avessas............................................................................................................................ 11

5.5 Culpabilidade formal e culpabilidade material ..................................................................................... 11

5.6 Graus de culpabilidade .................................................................................................................................... 12

5.7 Dirimentes ............................................................................................................................................................. 12

5.8 Imputabilidade penal........................................................................................................................................ 13

5.8.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 13

5.8.2 Momento para constatação da imputabilidade ................................................................................... 14

5.8.3 Sistemas ou critérios para identificação da inimputabilidade ........................................................ 15

5.8.4 Causas de inimputabilidade .......................................................................................................................... 15

5.9 Potencial consciência da ilicitude ............................................................................................................... 30

5.9.1 Introdução ............................................................................................................................................................. 30

5.9.2 Erro de proibição ............................................................................................................................................... 31


5
5.10 Exigibilidade de conduta diversa ................................................................................................................ 34

5.10.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 34

5.10.2 Coação moral irresistível ................................................................................................................................. 34

5.10.3 Obediência hierárquica .................................................................................................................................... 36

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 38

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 42

GABARITO ............................................................................................................................................... 53

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 54

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 55

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 57

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 58

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 60

6
DIREITO PENAL

Capítulo 5

Neste capítulo, iremos tratar do tema Culpabilidade. Trata-se de assunto recorrente em


provas de Carreiras Jurídicas, que merece grande atenção.

8. Culpabilidade

8.1 Introdução

Para uma concepção clássica da conduta, dolo e culpa se alojam no interior da

culpabilidade. Na tentativa de evitar a responsabilidade penal objetiva, a culpabilidade é


elemento do crime. Dessa forma, o conceito analítico do crime é necessariamente tripartido:

Fato típico e ilícito, praticado por agente culpável.

Para os finalistas, dolo e a culpa estão no interior da conduta (Culpabilidade vazia). O


crime pode ser definido como:

 Conceito tripartido: fato típico e ilícito, praticado por agente culpável, sendo a
culpabilidade elemento do crime; ou
 Conceito bipartido: fato típico e ilícito: a culpabilidade não integra o crime, mas
funciona como pressuposto para aplicação da pena.

Apenas para a teoria finalista da conduta o conceito analítico de crime pode ser tripartido
ou bipartido. Para os seguidores do sistema clássico ou causal, o crime deve ser analisado,

obrigatoriamente, em um conceito tripartido, sob pena de configuração da responsabilidade


penal objetiva.

7
8.2 Conceito

A culpabilidade é um juízo de reprovabilidade1 (de censura) sobre a formação e a


manifestação de vontade do agente, pelo qual se conclui se o sujeito envolvido na prática de

uma infração penal deve ou não suportar uma pena.

8.3 Evolução do conceito de culpabilidade

8.3.1 Teoria psicológica

Teoria idealizada por Franz von Liszt e Ernst von Beling. O pressuposto fundamental da

culpabilidade é a imputabilidade, compreendida como a capacidade do ser humano de


entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Essa

teoria defende que a culpabilidade é um vínculo psicológico entre o agente imputável e o


fato típico ilícito. Esse vínculo pode ser representado tanto pelo dolo como pela culpa.

Salim e Azevedo complementam que a culpabilidade, nessa perspectiva, é vista como um

nexo psíquico entre o agente e o fato criminoso. O dolo e a culpa são espécies da culpabilidade
e não seus elementos. A imputabilidade é tratada como pressuposto da culpabilidade.

Essa teoria somente é aplicável no campo da teoria clássica da conduta, em que o dolo
e a culpa integram a culpabilidade.

8.3.2 Teoria normativa ou psicológico-normativa

Idealizada por Reinhart Frank, o conceito de culpabilidade passa a ser composta por três

elementos: imputabilidade, dolo ou culpa e exigibilidade de conduta diversa. A imputabilidade


deixa de ser pressuposto da culpabilidade, para funcionar como seu elemento.

Dessa forma, para essa teoria, somente é culpável o agente maior de 18 anos de idade e

mentalmente sadio (imputabilidade) que age com dolo ou com culpa e que, no caso concreto,

1
Vide questão 5 do material
8
podia comportar-se em conformidade com o Direito, é dizer, praticou o crime quando tinha a

faculdade de agir licitamente.

8.3.3 Teoria normativa pura

Essa teoria surge com o finalismo penal de Hans Welzel. Assim, a adoção da teoria
normativa pura da culpabilidade somente é possível em um sistema finalista.

Os elementos psicológicos (dolo e culpa) que existiam nas teorias psicológica e

psicológico-normativa da culpabilidade, foram transferidos pelo finalismo penal para o fato


típico, alojando-se no interior da conduta.

Ora, a culpabilidade passa a ser um simples juízo de reprovabilidade que incide sobre o
responsável pela prática de um fato típico e ilícito. O dolo passa a ser natural, no fato típico, ou
seja, sem a consciência da ilicitude (culpabilidade).

Dessa forma, Salim e Azevedo aduzem que a consciência da ilicitude (antes elemento do
dolo), passa a figurar como elemento da culpabilidade, ao lado da imputabilidade e da

exigibilidade de conduta diversa (a culpabilidade, dessa forma, fica composta apenas de


elementos normativos). Não é necessário que o agente tenha a real e atual consciência da

ilicitude, bastando a possibilidade de conhecê-la (potencial consciência da ilicitude).2

A teoria normativa pura da culpabilidade subdivide-se em outras duas, a saber:

1. Extremada, extrema ou estrita;

2. Limitada. A estrutura da culpabilidade é idêntica em ambas, ou seja, seus elementos


são a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta

diversa.

2
SALIM, Alexandre. AZEVEDO, Marcelo André de. Coleção Sinopses para Concursos – Direito Penal – Vol 1 – 2021, p. 305.
Salvador: Juspodivm.
9
A distinção entre elas está no tratamento dispensado às descriminantes putativas. Nas

descriminantes putativas, o agente, incidindo em erro, supõe situação fática ou jurídica que, se
existisse, tornaria sua ação legítima.

Para teoria normativa pura, extremada, extrema ou estrita: as descriminantes putativas

sempre caracterizam erro de proibição.

Já para a teoria normativa pura limitada, as descriminantes putativas podem


caracterizar erro de proibição ou erro de tipo, a depender das peculiaridades do caso concreto.

Segundo a teoria limitada da culpabilidade, adotada pelo Código Penal, se o erro do agente
recair sobre uma situação fática, tratar-se-á de erro de tipo permissivo, e se disser respeito aos

limites ou existência de uma causa de justificação, tratar-se-á de erro de proibição3. Resumindo:

 Erro sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação: erro de tipo


permissivo.
 Erro sobre a existência ou limites de uma causa de justificação: erro de proibição.

A partir da reforma da parte geral, o Código Penal, adotou a Teoria Normativa Pura
em sua vertente limitada.

8.4 Coculpabilidade

Desenvolvida por Zaffaroni.

As desigualdades sociais faz com que a personalidade do agente seja moldada em


consonância com as oportunidades oferecidas a cada indivíduo para orientar-se ou não em

sintonia com o ordenamento jurídico.

Esses autores defendem que essa carga de valores sociais negativos deve ser considerada,
em prol do réu, como atenuante inominada, tendo em vista que parcela de responsabilidade

social é do Estado pela não inserção social, devendo, portanto, suportar o ônus do
comportamento desviante do padrão normativo.

3
Vide questão 10 do material
10
Todavia, o STJ não tem admitido à aplicação da teoria da coculpabilidade, pois usa

discursos sociais para estimular a pratica do crime.

8.4.1 Coculpabilidade às avessas

É uma criação brasileira, não citada por Zaffaroni. Suas perspectivas são:

 Identificação crítica da seletividade do sistema penal e à incriminação da própria


vulnerabilidade: o Direito Penal direciona seu arsenal punitivo contra os indivíduos
mais frágeis, normalmente excluídos da vida em sociedade e das atividades do Estado.
Por esta razão, estas pessoas se tornam as protagonistas da aplicação da lei penal.
 Reprovação penal mais severa no tocante aos crimes praticados por pessoas
dotadas de elevado poder econômico, que abusam desta vantagem para a execução
de delitos (tributários, econômicos, financeiros, contra a Administração Pública etc.),
em regra prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo livre trânsito nas redes
de controle político e econômico.

8.5 Culpabilidade formal e culpabilidade material

A culpabilidade formal é aquela definida em abstrato, que serve ao legislador na edição


da lei para cominar os limites máximos e mínimos de pena atribuída a determinada infração

penal. Trata-se do juízo de reprovabilidade realizado em relação ao provável autor de um fato


típico e ilícito, se presentes os elementos da culpabilidade, no momento em que o legislador

incrimina uma conduta.

A culpabilidade material é estabelecida no caso concreto, dirigida a um agente culpável


que cometeu um fato típico e ilícito, para a fixação da pena pelo juiz. Este viés da culpabilidade

está positivado no artigo 59, caput, do Código Penal, que permite considerar “graus de
culpabilidade” do agente, análise que influenciará na pena concretamente aplicada.

11
8.6 Graus de culpabilidade

Constitui-se em circunstância judicial, destinada à dosimetria da pena em compasso com


as regras estatuídas pelo art. 59, caput, do Código Penal. Influem, portanto, na quantidade da

pena a ser concretamente aplicada.

8.7 Dirimentes

São assim chamadas as causas de exclusão da culpabilidade. A culpabilidade é composta


por três elementos, quais sejam:

 Imputabilidade
 Potencial consciência da ilicitude
 Inexigibilidade de conduta diversa.

É importante termos cuidado para não confundir as dirimentes. Os três elementos

possuem dirimentes legais, e visando facilitar a compreensão do aluno, traremos, logo após a
explicação, uma tabela:

EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE
Menoridade
Doença mental
Imputabilidade
Desenvolvimento mental incompleto
Embriaguez acidental completa
Potencial consciência da ilicitude Erro de proibição (ou escusável)
Coação moral irresistível
Inexigibilidade de conduta diversa.
Obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal.

12
8.8 Imputabilidade penal

8.8.1 Conceito

O Código Penal não definiu a culpabilidade. Apenas se limitou a trazer os casos de


inimputabilidade penal: art. 26, caput, art. 27 e art. 28, § 1.º. Com base nisso se pode definir a
imputabilidade como a capacidade mental de entender o caráter ilícito do fato de querer

(autodeterminação) o seu resultado.

Dessa forma, Salim e Azevedo definem a imputabilidade penal como atribuição de

capacidade para o agente ser responsabilizado criminalmente. O agente é considerado


imputável quando, ao tempo da conduta, for capaz de entender, mesmo que não inteiramente,
o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, e tenha

completado 18 anos.

Importante trazer aqui uma diferenciação que Petrocelli faz entre capacidade penal e
imputabilidade. A capacidade penal é o conjunto das condições exigidas para que um sujeito

possa tornar-se titular de direitos ou obrigações no campo de Direito Penal. Ela se difere da
imputabilidade, pois a capacidade penal é anterior ao crime, consistindo num conjunto de

condições para ser titular de direitos e obrigações penais, enquanto que a imputabilidade é
contemporânea ao crime, sendo a capacidade de entender e querer a infração penal.

Essa diferenciação entre capacidade penal e imputabilidade foi cobrada na prova do MPE-

BA, em 2018.

(Banca: Fundação CEFETBAHIA - 2018 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto - Prova


Anulada) A noção de capacidade penal é absoluta e se refere à própria posição da pessoa

13
perante o ordenamento jurídico-penal e, aplicável a qualquer relação hipotética que possa

existir. (CORRETA).

(Banca: Fundação CEFETBAHIA - 2018 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto - Prova


Anulada) A capacidade penal e a imputabilidade são pressupostos ou requisitos fundamentais

do juízo de culpabilidade, mas não se distinguem. (ERRADA).

A imputabilidade penal depende de dois elementos:

 Intelectivo: capacidade de entender o caráter ilícito do fato.


 Volitivo: é o domínio da vontade, isto é, a capacidade de determinar-se de acordo
com esse entendimento.

Esses elementos devem estar simultaneamente presentes. A falta de um deles torna o

sujeito inimputável.

O Brasil, no tocante à imputabilidade penal, adotou um critério cronológico. Toda pessoa,


a partir do início do dia em que completa 18 anos de idade, presume-se imputável.

8.8.2 Momento para constatação da imputabilidade

Conforme o Art. 26 caput, do Código Penal, a imputabilidade deve ser analisada ao tempo
da ação ou da omissão. Considera-se, portanto, a prática da conduta. As alterações posteriores

são irrelevantes.

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação

ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato


ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Esta imposição constitui-se em desdobramento lógico da teoria da atividade, adotada

pelo art. 4.º do Código Penal no tocante ao tempo do crime.


14
Todavia, a superveniência de doença mental não altera esse quadro. O réu deve ser

tratado como imputável, limitando-se a nova causa a suspender o processo, até o seu
restabelecimento. É o que dispõe o art. 152, caput, do Código de Processo Penal.

Art. 152. Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o

processo continuará suspenso até que o acusado se restabeleça, observado


o § 2º do art. 149.

8.8.3 Sistemas ou critérios para identificação da inimputabilidade

Considera-se imputável todo ser humano ao completar 18 anos. Todavia, essa presunção
é relativa (iuris tantum), admitindo prova em contrário. São três os critérios (sistemas) para

aferição da inimputabilidade:

 Biológico: Para alguém ser inimputável, basta uma causa mental deficiente. Apresentando
qualquer causa de deficiência mental a pessoa será considera inimputável.
 Psicológico: Basta que a pessoa apresente uma alteração de comportamento no
momento da conduta para ser inimputável.
 Biopsicológico: É a fusão dos sistemas anteriores. Entende que para alguém ser
inimputável é necessário que possua uma enfermidade mental que altera o seu
comportamento, no momento da conduta. Em regra, o Brasil adota o sistema
biopsicológico (art. 26, caput, do CP).

Todavia, excepcionalmente foi adotado o sistema biológico no tocante a menoridade

(CF, art. 228, e CP, art. 27), bem como o sistema psicológico, em relação à embriaguez
completa proveniente de caso fortuito ou força maior (CP, art. 28, § 1.º).

8.8.4 Causas de inimputabilidade

O Código Penal apresenta como causas de inimputabilidade:

 Menoridade (art. 27);


 Doença mental (art. 26, caput);
 Desenvolvimento mental incompleto (arts. 26, caput, e 27);

15
 Desenvolvimento mental retardado (art. 26, caput); e
 Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, § 1.º).

 MENORIDADE

 Menor de 18 anos de idade e a emancipação civil

Em relação à menoridade, adota-se o sistema biológico. A presunção de


inimputabilidade é absoluta (iuris et de iure), decorrente do art. 228 da Constituição Federal e

do art. 27 do Código Penal, e não admite prova em sentido contrário.

Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos,


sujeitos às normas da legislação especial.

Art. 27, CP - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis,


ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.4

A prova da menoridade deve ser feita por qualquer documento hábil, conforme:

Súmula n.º 74, STJ: Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade

do réu requer prova por documento hábil.

A emancipação civil do menor de 18 anos não alterada em nada a inimputabilidade penal.


Desta forma, o menor de 18 anos é capaz para o Direito Civil, mas inimputável para o Direito

Penal.

 Crimes permanentes e superveniência da maioridade penal

Nos casos de crime permanentes, aqueles em que a consumação se prolonga no tempo,


por vontade do agente, mesmo que o início tenha ocorrido quando o agente era menor,

sobrevindo à maioridade, ainda na permanência do crime, será considerado imputável. Ora, o


agente poderá ser responsabilizado criminalmente pelos atos praticados após o início da sua
imputabilidade penal.

4
Vide questão 1 do material
16
Entretanto, se o adolescente praticou um ato infracional equiparado a delito de natureza

instantânea, a superveniência da maioridade não autoriza sua responsabilização na esfera penal.


Admite-se, nesse caso, a imposição de medida socioeducativa pela justiça especializada,

conforme o entendimento da Súmula n.º 605 do STJ.

Súmula n.º 605 do STJ. A superveniência da maioridade penal não interfere na


apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em

curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos.

 Menoridade penal e crimes militares

Salienta-se que o Código Penal Militar, em seu art. 50 prevê a imputabilidade para os
maiores de 16 anos em determinadas situações, mas tal previsão não foi recepcionada pela

Constituição Federal.

Art. 50. O menor de dezoito anos é inimputável, salvo se, já tendo completado
dezesseis anos, revela suficiente desenvolvimento psíquico para entender o caráter

ilícito do fato e determinar-se de acordo com este entendimento. Neste caso, a pena
aplicável é diminuída de um terço até a metade.

 INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL

A expressão doença mental deve ser interpretada em sentido amplo, englobando os

problemas patológicos e os de origem toxicológica, doenças congénitas (o agente nasceu com


ela) ou adquiridas, permanentes ou transitórias.

Basta que esteja presente no momento da conduta e que suprimam do ser humano a

capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse


entendimento.

Importante mencionar que, o doente mental permanente que pratica a conduta durante

um intervalo de lucidez deve ser tratado como imputável. Trata-se de um reflexo do sistema
biopsicológico. Conclui-se, pois, que os doentes mentais, durante os intervalos de lucidez, são

penalmente imputáveis.
17
 INIMPUTABILIDADE POR DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO E RETARDADO

Adota-se o sistema biopsicológico.

O desenvolvimento penal incompleto abrange os menores de 18 anos e os indígenas.

Aqui a pessoa completou 18 anos, mas ainda não atingiu a plena capacidade mental para fins
penais. Cita-se, como exemplo, os indígenas.

Todavia, nem sempre os índios serão inimputáveis. Tal situação vai depender do grau de

assimilação dos valores sociais, a ser revelado pelo exame pericial. Assim, dependendo da
conclusão da perícia, o indígena pode ser:

 IMPUTÁVEL: se integrado à vida em sociedade;


 SEMI-IMPUTÁVEL: no caso de estar dividido entre o convívio na tribo e na
sociedade; e
 INIMPUTÁVEL: quando completamente incapaz de viver em sociedade,
desconhecendo as regras que lhe são inerentes.

Por outro lado, no desenvolvimento mental retardado o agente ainda não possui plena
capacidade, devido a uma lentidão, isto é, não se mostrando em sintonia com os demais

indivíduos que possuem sua idade cronológica. Exemplo, surdo-mudo, se ao tempo da ação ou
da omissão era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se

de acordo com esse entendimento. Concluímos, dessa forma, que surdo-mudo não é
automaticamente inimputável.

Por fim, a análise, nos dois casos acima, vai depender do caso concreto. Será realizada

perícia que determinará se o agente é imputável, semi-imputável ou inimputável.

PERÍCIA MÉDICA

O Direito Penal brasileiro acolheu o sistema biopsicológico para verificação da


inimputabilidade, salvo no tocante aos menores de 18 anos (critério biológico).

Neste contexto, a perícia médica funciona como um meio legal de prova da

inimputabilidade, imprescindível, que sequer pode ser substituído pela inspeção judicial, pois
18
o julgador não possui conhecimentos médicos para identificar deficiências na saúde psíquica do

réu.

Embora seja é obrigatória, o juiz não fica vinculado aos peritos, conforme dispõe o Art.
182 do CPP: “O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou

em parte”. Assim, caso o Juiz não concorde com o laudo, cabe a ele rejeitar a conclusão técnica,
ordenando em seguida a realização de novo exame pericial.

Em relação ao incidente de insanidade mental, destacamos alguns pontos pertinentes.

Tramita em autos apartados (CPP, art. 153); suspende o processo (CPP, art. 149, § 2.º), mas não
suspende a prescrição. Pode ser instaurado de ofício pelo juiz ou mediante provocação de uma

das partes, inclusivo do próprio réu.

O juiz não é obrigado a instaurar o incidente, quando provocado, deve haver uma
suspeita, uma dúvida fundada a respeito da higidez mental do acusado, em face da presença

de indícios plausíveis de que, ao tempo do fato, era incapaz de entender o caráter ilícito da
conduta ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

EFEITOS DA INIMPUTABILIDADE

Os inimputáveis submetem-se à justiça penal, com exceção dos menores de 18 anos que

se sujeitam à legislação especial (CF, art. 228): Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Os inimputáveis serão processados e julgados como qualquer outra pessoa, mas não

podem ser condenados, tendo em vista que sem culpabilidade não se aplica a lei penal. Segundo
código penal, não cometem crimes, mas atos infracionais análogos.5 Eles, embora demonstrado

o envolvimento em um fato típico e ilícito, são absolvidos.

Trata-se da chamada sentença de absolvição imprópria, pois o réu é absolvido, mas


contra ele é aplicada uma medida de segurança, na forma definida pelo art. 386, parágrafo

único, III, do Código de Processo Penal.

5
Vide questão 3 do material
19
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que

reconheça:

Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz:

III - aplicará medida de segurança, se cabível.

SEMI-IMPUTABILIDADE

Prevista no art. 26, parágrafo único:

Art. 26, Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente,

em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental


incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito

do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.6

Assim como na inimputabilidade, nesse ponto o Código Penal também acolheu o sistema
biopsicológico. Aqui, o réu deve ser condenado, mas, a penas será obrigatoriamente reduzida.

A imputabilidade diminuída (ou semi-imputabilidade) constitui-se em causa obrigatória

de diminuição da pena, que deve ser diminuída de um a dois terços. A diminuição é obrigatória,
reservando-se ao juiz discricionariedade unicamente em relação ao seu percentual, dentro dos

limites legais. O montante da redução, maior ou menor, há de levar em conta o grau de


diminuição da capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.

De acordo com Salim e Azevedo:

Por outro lado, o Código Penal, seguindo o sistema vicariante ou unitário, prevê a hipótese
de substituição da pena por medida de segurança para o semi-imputável. Nos termos do
art. 98, ocorrendo a semi-imputabilidade, e necessitando o condenado de especial
tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação,
ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 a 3 anos. O Código Penal aboliu o

6
Vide questão 7 do material
20
sistema duplo binário, que possibilitava a aplicação cumulativa e sucessiva de pena e
medida de segurança ao semi-imputável.7

Com relação aos efeitos da semi-imputabilidade, há a possibilidade de um especial


tratamento curativo, isto é, se o exame pericial recomendar, e havendo concordância do

magistrado, a pena pode ser substituída por medida de segurança, nos moldes do art. 98 do
Código Penal.

A sentença do semi-inimputável é sempre condenatória. Há três momentos distintos:

 Sentença condenatória.
 Diminuição da pena de 1/3 a 2/3, de acordo com o grau de afetação do agente.
Obs.: a diminuição é obrigatória, a discricionariedade do juiz está no quantum de
diminuição.
 Substituição, caso seja necessário, da pena diminuída por medida de segurança.

Conclui-se, por fim, que o semi-imputável cumpre pena diminuída ou medida de


segurança. O Código Penal adotou o sistema vicariante ou unitário, pelo qual o réu somente

cumpre uma das sanções penais, as quais, é importante repetir, não são cumuláveis.

CAUSAS QUE NÃO EXCLUEM A IMPUTABILIDADE

1. Emoção e paixão

O Código Penal dispõe, em seu art. 28, I, que a emoção ou a paixão não excluem a
imputabilidade penal.

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:8

I - a emoção ou a paixão;

Utilizou-se, pois, de um critério legal, ao estatuir taxativamente que tais estados de ânimo
não elidem o apontado elemento da culpabilidade.

7
SALIM, Alexandre. AZEVEDO, Marcelo André de. Coleção Sinopses para concursos. Direito Penal Vol. 1 – 2021, p. 311. Salvador:
juspodivm.
8
Vide questão 2 do material
21
Emoção e paixão são perturbações da psique humana. O autor Cleber Masson traz a

distinção:

 Emoção é o estado afetivo que acarreta na perturbação transitória do equilíbrio psíquico,

tal como na ira, medo, alegria, cólera, ansiedade, prazer erótico, surpresa e vergonha.
 Paixão é a emoção mais intensa, ou seja, a perturbação duradoura do equilíbrio psíquico.

Dela são exemplos, entre outros, o amor, a inveja, a avareza, o ciúme, a vingança, o ódio,
o fanatismo e a ambição.

A diferença entre a emoção e a paixão reside, fundamentalmente, na duração.

EMOÇÃO PAIXÃO
É transitória, a exemplo do medo, da É duradoura, a exemplo do amor, da inveja,
alegria, da ansiedade. da avareza, do fanatismo.
Em regra, não são causas de imputabilidade penal.

Emoção e paixão patológicas

Devem ser tratadas como doenças mentais. Portanto, enquanto doenças mentais, podem

excluir a imputabilidade, com base no art. 26 do CP. Assim, ainda que em regra a emoção e a
paixão não excluam a imputabilidade penal, o Código Penal permite duas exceções a essa regra:

 Coação moral irresistível, em face da inexigibilidade de conduta diversa,


 Estado patológico, no qual se constituem autênticas formas de doença mental.

Logo, se comprovada pericialmente, que a emoção ou paixão configura um estado


patológico, a situação encontrará respaldo no art. 26, caput (inimputabilidade), ou em seu

parágrafo único (imputabilidade restrita ou semi-imputabilidade).

2. Embriaguez

 Conceito

22
É a intoxicação aguda produzida no corpo humano pelo álcool ou por substância de

efeitos análogos, apta a provocar a exclusão da capacidade de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

O Código Penal, aqui, mais uma vez, se vale da interpretação analógica, trazendo uma

forma casuística (álcool) seguida de uma forma genérica (substâncias de efeitos análogos).
Assim, pode-se afirmar que o álcool embriaga, mas outras substâncias (ainda que não previstas

na Portaria do Ministério da Saúde) também são aptas a embriagar o agente, tais como, o éter,
a morfina, o clorofórmio.

 Denominação

Prevista no art. 28, II do CP, chamada de embriaguez aguda, simples ou fisiológica.

Caracteriza-se pelo exagero no consumo do álcool. Não é apta para excluir a imputabilidade.

Art. 28, II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos


análogos.

 Embriaguez crônica ou patológica, ou alcoolismo crônico

É a embriaguez que compromete total ou parcialmente a imputabilidade penal, e

caracteriza-se pela desproporcional intensidade ou duração dos efeitos inerentes à intoxicação


alcoólica. Equiparada às doenças mentais. Portanto, pode excluir a imputabilidade penal com

base no art. 26 do CP.

 Períodos, fases ou etapas da embriaguez

São reconhecidas três fases da embriaguez:

1.ª fase – Eufórica: o agente fica desinibido, falante, extrovertido. as funções


intelectuais mostram-se excitadas e o indivíduo particularmente eufórico. É conhecida

como “fase do macaco”.

23
2.ª fase – Agitada: o agente fica nervoso, voz pastosa, andar cambaleante. Alteram-

se as funções intelectuais, o juízo crítico, a atenção e a memória. Os propósitos são


desordenados ou absurdos. É a chamada de “fase do leão”.

Na fase eufórica e na fase agitada o ébrio pode praticar crimes comissivos ou omissivos.

O estado comatoso pode até se tornar irreversível, com a morte do ébrio, o que pode ser
facilitado com a exposição ao frio.

3.ª fase – Comatosa (“do coma”): o sono se instala progressivamente, até que o

ébrio entre em como profundo. Conhecida como a “fase do porco”. Na fase comatosa
pode praticar apenas crimes omissivos próprios ou impróprios.

 Espécies de embriaguez

 Quanto à intensidade

o Completa, total, ou plena: atingiu a segunda ou terceira fase.


o Incompleta, parcial, ou semiplena: atingiu apenas a primeira fase.

 Quanto à origem

o Voluntária (intencional): o agente quer se embriagar, mas não


quer cometer nenhum crime.

o Culposa: o agente não quer se embriagar, mas por exagero no


consumo do álcool, todavia, acaba embriagado.

Essas duas espécies de embriaguez (voluntária e culposa) não excluem a imputabilidade


penal (CP, art. 28, II), sejam completas ou incompletas.

Preordenada ou dolosa: o agente quer se embriagar a fim de cometer um crime.


Igualmente, não exclui a imputabilidade penal e funciona como uma agravante
genérica.

24
Fortuita ou Acidental: é a embriaguez que resulta de caso fortuito ou força maior.
No caso fortuito, o indivíduo não percebe ser atingido pelo álcool ou substância
de efeitos análogos, ou desconhece uma condição fisiológica que o torna
submisso às consequências da ingestão do álcool. Exemplo: o agente faz
tratamento com algum tipo de remédio, o qual potencializa os efeitos do álcool.
Na força maior, o sujeito é obrigado a beber, ou então, por questões profissionais,
necessita permanecer em recinto cercado pelo álcool ou substância de efeitos
análogos.

A embriaguez acidental ou fortuita, se completa, capaz de ao tempo da conduta tornar


o agente inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de

acordo com esse entendimento, exclui a imputabilidade penal (CP, art. 28, § 1.º).

Art. 28, § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente
de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente

incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse


entendimento.

A embriaguez acidental ou fortuita incompleta, isto é, aquela que ao tempo da conduta

retira do agente parte da capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se


de acordo com esse entendimento, autoriza a diminuição da pena de 1 (um) a 2/3 (dois terços).
Equivale, portanto, à semi-imputabilidade (CP, art. 28, § 2.º).

Art. 28, § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por
embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da
ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de

determinar-se de acordo com esse entendimento.

 Embriaguez acidental completa e medida de segurança

Nada obstante acarrete ao agente a isenção da pena, nos mesmos moldes da


inimputabilidade penal, a embriaguez acidental ou fortuita, e completa, não autoriza a aplicação

25
de medida de segurança, o sujeito é imputável, e não inimputável; não é portador de doença

mental, nem apresenta desenvolvimento mental incompleto ou retardado.

 Prova da embriaguez e o Código de Trânsito Brasileiro

Admite-se qualquer meio de prova, os principais são:

Exame laboratorial: revela a quantidade de álcool no sangue de alguém. O agente


não é obrigado a produzir prova contra si mesmo.

Exame clínico: análise pessoal do agente (hálito, forma de andar, de falar).

Prova testemunhal.

Dirigir sob a influência de álcool ou de outra substância psicoativa constitui infração de


trânsito gravíssima, sujeita a multa e suspensão do direito de dirigir por 12 meses, sem prejuízo

da medida de recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo, a teor das


regras contidas nos arts. 165 e 276 da Lei 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro.

Conforme o Art. 277 do CTB,

Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que

for alvo de fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia
ou outro procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada

pelo Contran, permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa


que determine dependência.

§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012).

§ 2º A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada mediante

imagem, vídeo, constatação de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo


Contran, alteração da capacidade psicomotora ou produção de quaisquer outras

provas em direito admitidas.

26
§ 3º Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art.

165-A deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos


procedimentos previstos no caput deste artigo.

Portanto, ao motorista abordado pela autoridade pública é facultado recusar-se ao exame

de sangue ou ao teste do etilômetro (“bafômetro”), nada obstante seu estado de embriaguez


possa ser aferido por outros meios de prova. Todavia, essa recusa importará em consequências

jurídicas.

Art. 165-A. Recusar-se a ser submetidos a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que permita certificar influência de álcool ou outra substância

psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277:

Infração – gravíssima;

Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses;

Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do

veículo, observado o disposto no § 4º do art. 270.

Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput em caso de


reincidência no período de até 12 (doze) meses

Há quem defenda, contudo, a não aceitação desta regra, tendo em vista que o motorista

seria obrigado a produzir prova contra si mesmo, uma vez que serão provocados reflexos na
seara criminal, relativamente ao delito tipificado pelo art. 306 da Lei 9.503/1997 – Código de

Trânsito Brasileiro:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão
da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se

obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

27
§ 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído pela Lei nº

12.760, de 2012):

I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou


igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou (Incluído

pela Lei nº 12.760, de 2012)

II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade


psicomotora; (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de


alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou
outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.

(Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) ;

§ 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia


ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

(Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) ;

§ 4º Poderá ser empregado qualquer aparelho homologado pelo Instituto


Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO - para se determinar

o previsto no caput. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019).

Antes das Leis 12.760/2012 e 12.971/2014, e agora com a inovação da Lei nº 13.840, de
2019, a constatação do delito dependia de prova pericial (exame de sangue) ou método
equivalente (etilômetro ou teste em aparelho de ar alveolar, popularmente conhecido como
“bafômetro”).

Em síntese, o motorista não está obrigado a submeter-se à perícia, o que não afasta a

conclusão pela alteração da sua capacidade psicomotora, diante do consumo do álcool ou de


outra substância psicoativa que determine dependência. Mas, se o agente de trânsito concluir,

com base em sinais diversos, pela embriaguez do condutor, a este será assegurado o direito de
passar pela perícia, com a finalidade de comprovar a integridade da sua capacidade psicomotora

no âmbito penal.
28
Ademais, a culpabilidade (em seu sentido amplo) é aferida no momento em que o agente

ingere a substância e não no momento do crime. Registre-se que a culpabilidade aqui foi tratada
no sentido de responsabilidade subjetiva (análise de dolo e culpa, embora sejam estes aspectos

da conduta típica), bem como no sentido de responsabilidade pessoal (culpabilidade tratada


como elemento do crime ou pressuposto da pena). (Salim e Azevedo)

 A teoria da actio libera in causa

Conhecida como teoria da ação livre em sua causa. Fundamenta-se no princípio segundo

o qual “a causa da causa também é a causa do que foi causado”. Foi criada para solucionar os
crimes praticados em estado de embriaguez preordenada, em que o agente se embriaga com

o intuito de cometer um crime.

Essa teoria responde a seguinte indagação: Qual o momento adequado para aferir a
imputabilidade penal na embriaguez? Despreza-se o tempo em que o crime foi praticado. A

imputabilidade do agente é analisada em período anterior à embriaguez, já que o agente,


antes de beber, já possuía o dolo do crime.

São os casos em que alguém, no estado de não imputabilidade, é causador, por ação ou

omissão, de algum resultado punível, tendo se colocado naquele estado, ou propositadamente,


com a intenção de produzir o evento lesivo, ou sem essa intenção, mas tendo previsto a
possibilidade do resultado, ou, ainda, quando a podia ou devia prever.

Por outro lado, na embriaguez voluntária (não quer praticar nenhum crime, mas quer
embriagar-se) e na embriaguez culposa (não quer se embriagar, mas acaba embriagado pela
sua imperícia) o agente não possui dolo de praticar o crime. Mas, mesmo assim, não são causas

de exclusão da imputabilidade, pois o Código Penal adotou a Teoria da Actio Libera in Causa.

Surge assim a crítica no sentido de que o Código Penal teria consagrado a

responsabilidade objetiva. Existem, porém, na doutrina posições conflitantes acerca da


caracterização ou não da responsabilidade penal objetiva no tocante à incidência da teoria da
actio libera in causa na embriaguez voluntária e na embriaguez culposa.

29
Paulo José da Costa Júnior, critica veementemente o acolhimento da teoria da actio libera

in causa para as situações de embriaguez voluntária ou culposa. Já Nélson Hungria defende a


adoção da teoria da actio libera in causa.

Por fim, vale destacar que, no tocante à embriaguez acidental ou fortuita, não se aplica a

teoria da “actio libera in causa”, porque o indivíduo não tinha a opção de ingerir ou não o álcool
ou substância de efeitos análogos.

8.9 Potencial consciência da ilicitude

8.9.1 Introdução

O sistema clássico e Neoclássico alocava o dolo (que era normativo) na culpabilidade, e


considerava a consciência da ilicitude como integrante do dolo, que era normativo.

Com o finalismo, o dolo e a culpa migraram para a conduta (fato típico), a consciência

da ilicitude permaneceu na culpabilidade e passou a ser potencial.

A potencial consciência da ilicitude é o segundo elemento da culpabilidade. Para ser analisada,


obrigatoriamente, o agente deve ser imputável. É afastada pelo erro de proibição escusável.

Se o agente atua ou se omite sem ter a consciência da ilicitude do fato, surge o erro de
proibição. Apesar de o agente possuir a consciência e vontade de praticar o fato, não possui a
consciência da ilicitude desse fato. Não se trata de conhecer ou não os mandamentos ou

proibições da esfera penal, mas sim o que é certo ou errado. Exemplo: mulher pratica aborto
(de forma consciente e voluntária) sem ter conhecimento de ser o aborto proibido (erro sobre

a norma proibitiva “não abortarás” ou “é proibido abortar”).9

9
SALIM, Alexandre. AZEVEDO. Marcelo André de. Coleção Sinopses para Concursos. Direito Penal, Vol 1. 2021, p. 315. Salvador:
Juspodivm
30
8.9.2 Erro de proibição

No direito romano, falava-se em erro de direito para se referir à ignorância ou a falsa


interpretação da lei. Com a reforma do Código Penal, o erro de direito passou a ser disciplinado

por erro de proibição.

O erro de proibição foi disciplinado pelo art. 21, caput, do Código Penal, que o chama
de “erro sobre a ilicitude do fato”. A sua natureza jurídica é variada, tanto pode funcionar como

causa de exclusão da culpabilidade, quanto, quando escusável, ou como causa de diminuição


da pena, quando inescusável.

Conceito de erro de proibição

Segundo Salim e Azevedo, o erro de proibição recai sobre a consciência da ilicitude do


fato praticado. Aqui o agente tem consciência e vontade de praticar o fato, mas não possui a
consciência da ilicitude desse fato. Não se trata de conhecer ou não as leis penais, mas sim o

que é certo ou errado segundo as normas do ordenamento jurídico.10

Assim, a simples omissão, ou mesmo conivência do Poder Público no que diz respeito ao
combate da criminalidade não autoriza o reconhecimento do erro de proibição.

Efeitos: escusável e inescusável

Anteriormente, o erro de direito era considerado como uma mera atenuante genérica.
Hoje, porém, o erro de proibição relaciona-se com a culpabilidade, podendo ou não excluí-la,

se for escusável ou inescusável.

Erro de proibição escusável, inevitável ou invencível: o sujeito, ainda que no caso concreto
tivesse se esforçado, não poderia evitá-lo. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade, em face da

ausência de um dos seus elementos, a potencial consciência da ilicitude.

10
SALIM, Alexandre. AZEVEDO. Marcelo André de. Coleção Sinopses para Concursos. Direito Penal, Vol 1. 2021, p. 341. Salvador:
Juspodivm
31
Erro de proibição inescusável, evitável ou vencível: aquele que poderia ser evitado se

houvesse o emprego de diligências normais. Subsiste a culpabilidade, mas a pena deve ser
diminuída de um sexto a um terço, em face da menor censurabilidade da conduta.

Art. 21, Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite
sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter
ou atingir essa consciência.

Nesse caso, o grau de reprovabilidade do comportamento do agente é o vetor para a

maior ou menor diminuição. E, embora o art. 21, caput, disponha que o juiz “poderá” diminuir
a pena, a redução é obrigatória, pois não se pode reconhecer a menor censurabilidade e não

diminuir a sanção.

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se


inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.11

O critério para decidir se o erro de proibição é escusável ou inescusável é o perfil

subjetivo do agente, e não a figura do homem médio.

Espécies de erro de proibição: direto, indireto e mandamental

O erro de proibição pode ser direto, indireto e mandamental:

 Erro de proibição direto: o agente desconhece o conteúdo de uma lei penal


proibitiva, ou, se o conhece, interpreta-o de forma equivocada.
 Erro de proibição indireto, também chamado de descriminante putativa por erro de
proibição, o agente conhece o caráter ilícito do fato, mas, no caso concreto, acredita
erroneamente estar presente uma causa de exclusão da ilicitude, ou se equivoca
quanto aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude efetivamente presente. O
erro de proibição indireto incide em erro sobre uma das causas de justificação, qual

11
Vide questão 9 do material
32
seja, art. 23 do Código Penal: Estado de necessidade; legítima defesa; estrito
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.12
 Erro de proibição mandamental: o agente, envolvido em uma situação de perigo a
determinado bem jurídico, erroneamente acredita estar autorizado a livrar-se do dever
de agir para impedir o resultado, nas hipóteses previstas no art. 13, § 2.º, do Código
Penal.

Em todas essas modalidades incidem os efeitos previstos no art. 21, caput, do Código

Penal: se inevitável o erro de proibição, isenta de pena; se evitável, autoriza a sua diminuição
de um sexto a um terço.

Erro de proibição e crime putativo por erro de proibição

No erro de proibição o sujeito age acreditando na licitude do seu comportamento,


quando na verdade pratica uma infração penal, por não compreender o caráter ilícito do fato.

Já no crime putativo por erro de proibição, delito de alucinação ou crime de loucura, o

agente atua acreditando que seu comportamento constitui crime ou contravenção penal, mas,
na realidade, é penalmente irrelevante.

Diferença entre erro de tipo e erro de proibição

No erro de tipo, o sujeito desconhece a situação fática que o cerca, não constatando em

sua conduta a presença das elementares de um tipo penal. O erro de tipo, escusável ou
inescusável, exclui o dolo. Mas, se inescusável, subsiste a punição por crime culposo, se previsto
em lei.

No erro de proibição o sujeito conhece perfeitamente a situação fática em que se


encontra, mas desconhece a ilicitude do seu comportamento. Se escusável, exclui culpabilidade;
se inescusável, subsiste o crime, e também a culpabilidade, incidindo uma causa de diminuição

da pena, de um sexto a um terço.

12
Vide questão 8 do material
33
8.10 Exigibilidade de conduta diversa

8.10.1 Conceito

A exigibilidade de conduta diversa sustenta que a culpabilidade só estará presente


quando o agente praticar o fato típico e ilícito em uma situação de normalidade, isto é, quando
lhe era exigível uma conduta diversa. Consiste na expectativa da sociedade acerca da prática de

uma conduta diversa daquela que foi deliberadamente adotada pelo autor de um fato típico e
ilícito.

Nos termos do art. 22 do CP, “Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita
obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor
da coação ou da ordem”. Assim, em situações anormais, como na coação moral irresistível e na

obediência hierárquica, é inexigível conduta diversa, hipótese em que não haverá a culpabilidade.

São excludentes de exigibilidade de conduta diversa: coação moral irresistível e obediência


hierárquica.

8.10.2 Coação moral irresistível

Estabelece o art. 22 do Código Penal: “Se o fato é cometido sob coação irresistível [...], só
é punível o autor da coação”.

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a


ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da

coação ou da ordem.

A coação irresistível pode ser de duas espécies:

 Física (vis absoluta) – o coagido é fisicamente/corporalmente controlado pelo


coator. É causa de exclusão da própria conduta, tornando o fato atípico.13
 Moral (vis relativa) – o coagido é ameaçado/intimidado pelo coator. O fato é típico
e ilícito, mas exclui a culpabilidade pela falta de exigibilidade de conduta diversa.

13
Vide questão 6 do material
34
Embora mencione somente “coação irresistível”, refere-se exclusivamente à coação moral
irresistível. A coação moral irresistível depende dos seguintes requisitos:

 Ameaça do coator, ou seja, promessa de mal grave e iminente, o qual o coagido não é
obrigado a suportar. Exemplo: o coator ameaça está com uma arma na cabeça do filho
do gerente do banco, ameaçando apertar o gatilho caso o cofre não seja aberto.
 Inevitabilidade do perigo na posição em que se encontra o coagido: se o perigo puder
por outro meio ser evitado, seja pela atuação do próprio coagido, seja pela força policial,
não há falar na dirimente.
 Caráter irresistível da ameaça: além de grave, o mal prometido deve ser irresistível.
 Presença de ao menos três pessoas envolvidas: coator, o coagido e a vítima do crime
por este praticado.

Exclui a culpabilidade do coagido. Somente o coator responde pelo crime, o coagido


fica isento de pena. É caso de autoria mediada, o coator se vale do coagido (pessoa sem

culpabilidade) para executar o crime. Não há concurso de pessoas entre coator em coagido,
visto que não há vínculo subjetivo (vontade livre de concorrer para o crime) entre eles e que

não são todos culpáveis.

Se a coação moral for resistível, ambos irão responder pelo crime em concurso de pessoas.
Para o coator haverá a incidência de uma agravante genérica (art. 62, II, do CP) e para o coagido

a incidência de uma atenuante genérica (art. 65, III, c do CP).

Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que

II - coage ou induz outrem à execução material do crime;

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

III - ter o agente

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem


de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato
injusto da vítima;

35
Por fim, cumpre distinguir o Temor reverencial da coação moral irresistível. O temor

reverencial é o fundado receio de decepcionar pessoa a quem se deve elevado respeito. Não se
equipara à coação moral irresistível. Consequentemente, não exclui a culpabilidade. Destaca-se

que no Direito Civil o temos reverencial não é apto anular negócio jurídico.

8.10.3 Obediência hierárquica

Está prevista no art. 22 do CP, observe:

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a


ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da
coação ou da ordem.

É a excludente da culpabilidade, fundada na inexigibilidade de conduta diversa, que se


verifica quando o funcionário público subalterno pratica um fato típico e ilícito no estrito
cumprimento de ordem não manifestamente ilegal, emitida pelo seu superior hierárquico.

Essa regra se fundamenta em dois pilares: a) Impossibilidade do funcionário público


subalterno de conhecer a ilegalidade da ordem; b) Inexigibilidade de conduta diversa

A caracterização da dirimente em apreço depende da verificação dos seguintes requisitos

(cumulativos):

 Ordem não manifestamente ilegal: É a ordem ilegal, mas de aparente legalidade. Se


a ordem for legal, não há crime, seja por parte do superior hierárquico, seja por parte
do subalterno.
 Ordem emanada de autoridade competente: o mandamento emana de funcionário
público legalmente competente para fazê-lo.
 Relação de direito público: A obediência hierárquica decorre de um poder
hierárquico, consequência do Poder da Administração Pública.
 Envolvimento mínimo de três pessoas: Superior hierárquico, funcionário público
subalterno e a vítima do crime.
 Cumprimento estrito da ordem: O subalterno cumpre a ordem nos exatos termos
em que foi proferida.

36
Por fim, a ordem do superior hierárquico pode ser:

 LEGAL – não há crime para ninguém. O superior hierárquico e o subalterno agem em


estrito cumprimento de dever legal (causa de exclusão da ilicitude).
 NÃO MANIFESTAMENTE ILEGAL – é a ordem ilegal, mas de aparente legalidade.
Nesta hipótese, haverá a exclusão da culpabilidade para o subalterno, apenas o
superior hierárquico responderá pelo crime. Não há concurso de pessoas entre eles.
 MANIFESTAMENTE ILEGAL - trata-se de ordem explicitamente ilegal. Aqui, haverá
concursos de pessoas, ambos irão responder pelo crime. O superior hierárquico
responde pelo crime com uma agravante genérica (art. 62, III, do CP) e o subalterno
com a atenuante genérica do art. 65, II, c, do CP.

37
QUADRO SINÓPTICO

CULPABILIDADE
A culpabilidade é um juízo de reprovabilidade (de censura) sobre
a formação e a manifestação de vontade do agente, pelo qual se
CONCEITO
conclui se o sujeito envolvido na prática de uma infração penal
deve ou não suportar uma pena.
Teoria psicológica: idealizada por Franz von Liszt e Ernst von
Beling, culpabilidade é um vínculo psicológico entre o agente
imputável e o fato típico ilícito.
Teoria normativa ou psicológico-normativa: Idealizada por
Reinhart Frank, o conceito de culpabilidade passa a ser composta
por três elementos: imputabilidade, dolo ou culpa e exigibilidade
de conduta diversa. A imputabilidade deixa de ser pressuposto da
EVOLUÇÃO DO culpabilidade, para funcionar como seu elemento.
CONCEITO DE Teoria normativa pura: divide-se em: 1. Extremada, extrema ou
CULPABILIDADE estrita; 2. Limitada. Para teoria normativa pura, extremada, extrema
ou estrita: as descriminantes putativas sempre caracterizam erro
de proibição.
Já para a teoria normativa pura limitada, as descriminantes
putativas podem caracterizar erro de proibição ou erro de tipo, a
depender das peculiaridades do caso concreto. A partir da reforma
da parte geral, o Código Penal, adotou a Teoria Normativa Pura
em sua vertente limitada.
Desenvolvida por Zaffaroni. Defende que essa carga de valores
sociais negativos deve ser considerada, em prol do réu, como
atenuante inominada. STJ não tem admitido.
COCULPABILIDADE
Coculpabilidade às avessas: fundamenta-se na reprovação penal
mais severa no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas
de elevado poder econômico

38
São assim chamadas as causas de exclusão da culpabilidade. A
culpabilidade é composta por três elementos, quais sejam:
DIRIMENTES
Imputabilidade; Potencial consciência da ilicitude; e Inexigibilidade
de conduta diversa.

IMPUTABILIDADE
Capacidade mental de entender o caráter ilícito do fato de querer
CONCEITO (autodeterminação) o seu resultado.

Biológico: Para alguém ser inimputável, basta uma causa mental


deficiente.
Psicológico: Basta que a pessoa apresente uma alteração de
comportamento no momento da conduta para ser inimputável.
SISTEMAS OU
Biopsicológico: Basta que a pessoa apresente uma alteração de
CRITÉRIOS PARA
comportamento no momento da conduta para ser inimputável. Em
IDENTIFICAÇÃO DA
regra, o Brasil adota o sistema biopsicológico (art. 26, caput, do
INIMPUTABILIDADE
CP). Todavia, excepcionalmente foi adotado o sistema biológico
no tocante a menoridade (CF, art. 228, e CP, art. 27), bem como o
sistema psicológico, em relação à embriaguez completa
proveniente de caso fortuito ou força maior (CP, art. 28, § 1.º).
Menoridade: São penalmente inimputáveis os menores de dezoito
anos, sujeitos às normas da legislação especial. A emancipação
civil do menor de 18 anos não alterada em nada a
inimputabilidade penal.
Inimputabilidade por doença mental: A doença mental deve
estar presente no momento da conduta e que suprima do ser
humano a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de
CAUSAS DE
determinar-se de acordo com esse entendimento.
INIMPUTABILIDADE
Inimputabilidade por desenvolvimento mental incompleto e
retardado: O desenvolvimento penal incompleto abrange os
menores de 18 anos e os indígenas. Por outro lado, no
desenvolvimento mental retardado o agente ainda não possui
plena capacidade, devido a uma lentidão, isto é, não se mostrando
em sintonia com os demais indivíduos que possuem sua idade
cronológica.

39
Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força
maior: se completa, capaz de ao tempo da conduta tornar o
agente inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determina-se de acordo com esse entendimento, exclui a
imputabilidade penal.
A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
SEMI- mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de
IMPUTABILIDADE entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento. É causa obrigatória de diminuição da
pena.
CAUSAS NÃO Emoção e paixão.
EXCLUDENTES DA A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de
IMPUTABILIDADE efeitos análogos.

POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE


A potencial consciência da ilicitude é o segundo elemento da
DEFINIÇÃO
culpabilidade. É afastada pelo erro de proibição escusável.
A falsa percepção do agente acerca do caráter ilícito do fato típico
por ele praticado, de acordo com um juízo profano, isto é, possível
ERRO DE PROIBIÇÃO
de ser alcançado mediante um procedimento de simples esforço
de sua consciência.
Erro de proibição escusável, inevitável ou invencível: o sujeito,
ainda que no caso concreto tivesse se esforçado, não poderia
ERRO DE PROIBIÇÃO: evitá-lo. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade.
EFEITOS Erro de proibição inescusável, evitável ou vencível: aquele que
poderia ser evitado se houvesse o emprego de diligências normais.
Subsiste a culpabilidade.
Erro de proibição direto: o agente desconhece o conteúdo de
uma lei penal proibitiva, ou, se o conhece, interpreta-o de forma
equivocada.
ERRO DE PROIBIÇÃO:
Erro de proibição indireto, também chamado de descriminante
ESPÉCIES
putativa por erro de proibição, o agente conhece o caráter ilícito
do fato, mas, no caso concreto, acredita erroneamente estar
presente uma causa de exclusão da ilicitude.

40
Erro de proibição mandamental: o agente, envolvido em uma
situação de perigo a determinado bem jurídico, erroneamente
acredita estar autorizado a livrar-se do dever de agir para impedir
o resultado.
EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA
É o elemento da culpabilidade, que sustenta que a culpabilidade
só estará presente quando o agente praticar o fato típico e ilícito
CONCEITO
em uma situação de normalidade, isto é, quando lhe era exigível
uma conduta diversa.
Coação moral irresistível: o coagido é ameaçado/intimidado pelo
coator. O fato é típico e ilícito, mas exclui a culpabilidade pela falta
de exigibilidade de conduta diversa.
EXCLUDENTES DE
Obediência hierárquica: É a excludente da culpabilidade, fundada
EXIGIBILIDADE DE
na inexigibilidade de conduta diversa, que se verifica quando o
CONDUTA DIVERSA
funcionário público subalterno pratica um fato típico e ilícito no
estrito cumprimento de ordem não manifestamente ilegal, emitida
pelo seu superior hierárquico.

41
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Banca: GUALIMP - 2020 - Prefeitura de Conceição de Macabu - RJ - Guarda Municipal) São


penalmente inimputáveis os menores de:

A) Dezessete anos, sujeitos às medidas previstas na Lei.


B) Dezoito anos, sujeitos às medidas previstas na Lei.
C) Dezesseis anos, sujeitos às medidas previstas na Lei.
D) Vinte e um anos, sujeitos às medidas previstas na Lei.

Comentário:

A) Errada. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos


às normas estabelecidas na legislação especial.

B) Correta. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos

às normas estabelecidas na legislação especial.

C) Errada. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos


às normas estabelecidas na legislação especial.

D) Errada. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos

às normas estabelecidas na legislação especial.

Questão 2

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Auxiliar Judiciário) A respeito da imputabilidade


penal, julgue os itens a seguir.

42
I Os maiores de dezesseis anos de idade que ainda não tiverem alcançado a maioridade são

considerados relativamente incapazes no que tange à responsabilidade criminal.


II Emoção ou paixão não são causas de exclusão a imputabilidade penal.

III A embriaguez culposa anterior à prática de crime é causa de diminuição de pena, mas não
torna o agente inimputável.

IV O deficiente mental inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato é inimputável.

Estão certos apenas os itens

A) I e II.

B) I e III.
C) II e IV.

D) I, III e IV.
E) II, III e IV.

Comentário:

I - Errada. Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas


estabelecidas na legislação especial.

II - Correta. Não excluem a imputabilidade penal: i - a emoção ou a paixão;

III - Errada. Não excluem a imputabilidade penal: II - a embriaguez, voluntária ou culposa,


pelo álcool ou substância de efeitos análogos.

§ 2º - A pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3, se o agente, por embriaguez, proveniente

de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

43
IV - Correta. É isento de pena o agente que, era, por doença mental ou desenvolvimento

mental incompleto ou retardado ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz


de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

entendimento.

Questão 3

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - PRF - Policial Rodoviário Federal - Curso de Formação
- 1ª Prova) Mateus, de quatorze anos de idade, filho de Leandro, policial rodoviário federal,
sofria bullying na escola. Um dia, aproveitando-se de um descuido de seu pai, Mateus pegou a
arma de fogo, que estava em cima da mesa, e a levou para a escola, com intuito de vingar-se
de Pedro, um de seus colegas de sala. Ao chegar à aula, o adolescente ameaçou dar um tiro
em Pedro, caso ele não parasse de perturbá-lo. Em seguida, efetuou um disparo fatal. De
imediato, a diretora da escola chamou a polícia militar. Mateus empreendeu fuga ao escutar a
sirene da viatura. Os policiais militares, então, iniciaram uma perseguição, alcançando Mateus
duas quadras depois da escola, prendendo-o em flagrante.
A respeito dessa situação hipotética, julgue o item que se segue.

Os policiais militares agiram de forma errada porque Mateus era inimputável, sujeito passivo da
situação e não deveria ter sido preso em flagrante delito.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Correta. Os menores são inimputáveis, segundo código penal, logo não cometem crimes,

mas Atos Infracionais Análogos. A terminologia correta não é Flagrante delito adolescente
é apreendido. Os procedimentos são distintos. Enquanto os adultos são processados
segundo as regras dos códigos Penal e Processual Penal, para os adolescentes valem as
normas previstas no ECA, que baseia-se na ideia de que o menor tem direito a proteção,

44
especialmente se comete infração, para que possa tornar-se, mais tarde, um cidadão capaz

de se fazer respeitar e de respeitar o direito dos outros. Por isso, para cada tipo de infração,
o estatuto prevê uma medida de proteção que deve incluir, conforme cada caso,

atendimento psicológico, pedagógico e social.

Questão 4

(Banca: TJ-AP - 2019 - Estagiário - Direito) Após a morte da mãe, Aline recebeu, durante um
ano, a pensão previdenciária daquela, depositada mensalmente em sua conta bancária, em
virtude de ser procuradora da primeira. Descoberto o fato, Aline foi denunciada por apropriação
indébita. Se a sentença concluir que a acusada (em razão de sua incultura, pouca vivência, etc.)
não tinha percepção da ilicitude de sua conduta, estará reconhecendo:

A) Erro de proibição;

B) Erro sobre o objeto;


C) Erro sobre elemento do tipo, que exclui o dolo;
D) Descriminante putativa.

Comentário:

A) Correta. Erro de proibição: Erro quanto à ilicitude o agente comete o fato achando que

sua conduta não é proibida. (Erro de proibição direto "em razão de sua incultura, pouca
vivência" não tinha potencial consciência da ilicitude)

B) Errada. Erro sobre o objeto: Incide em erro sobre a coisa. O agente pretende subtrair

uma valiosa obra de arte. Entra à noite na residência mas acaba furtando um quadro de
pequeno valor, por confundir com a obra pretendida.

C) Errada. Erro sobre elemento do tipo, que exclui o dolo: falsa percepção da realidade -
Art. 20 CP.

45
D) Errada. Descriminante putativa: O agente incide no erro acreditando que está presente

uma situação que, se de fato existisse, tornaria sua ação legitima.

Questão 5

(Banca: TJ-AP - 2019 - Estagiário -Direito) Em relação à estrutura analítica do crime, o juízo
da culpabilidade avalia:

A) As condições pessoais da vítima;


B) A prática da conduta;

C) A existência do injusto penal;


D) A reprovabilidade da conduta.

Comentário:

A) Errada. Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta


típica e ilícita praticada pelo agente” (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral.

Vol.1, p. 379). Em outras palavras, culpabilidade é o juízo de reprovação de determinada


conduta, assim, não basta que a ação seja típica e ilícita, é necessário que também haja

uma reprovabilidade em relação aquele comportamento.

B) Errada. Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta


típica e ilícita praticada pelo agente” (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral.

Vol.1, p. 379). Em outras palavras, culpabilidade é o juízo de reprovação de determinada


conduta, assim, não basta que a ação seja típica e ilícita, é necessário que também haja
uma reprovabilidade em relação aquele comportamento.

C) Errada. Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta


típica e ilícita praticada pelo agente” (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral.
Vol.1, p. 379). Em outras palavras, culpabilidade é o juízo de reprovação de determinada

46
conduta, assim, não basta que a ação seja típica e ilícita, é necessário que também haja

uma reprovabilidade em relação aquele comportamento.

D) Correta. Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta


típica e ilícita praticada pelo agente” (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral.

Vol.1, p. 379). Em outras palavras, culpabilidade é o juízo de reprovação de determinada


conduta, assim, não basta que a ação seja típica e ilícita, é necessário que também haja

uma reprovabilidade em relação aquele comportamento.

Questão 6

(Banca: MPE-GO - 2019 - Promotor de Justiça - Reaplicação) Sobre a culpabilidade, marque


a alternativa incorreta:

A) Nas hipóteses de coação física ou moral irresistíveis há fato típico, mas é excluída a
culpabilidade. Só é punível o autor da coação, sendo a pena agravada. A coação moral irresistível
constitui um exemplo de autoria mediata. No caso de coação moral resistível, ambos (coator e

coacto) respondem pelo crime, porém o coator tem a pena aumentada e o coagido deve ser
beneficiado com atenuante da sanção penal. A coação moral resistível não é exemplo de autoria

mediata.
B) A obediência hierárquica, como dirimente ou eximente, só tem valor nas relações de direito

público. Não pode ser invocada, portanto, nos casos de obediência religiosa ou familiar.
C) Pela teoria da coculpabilidade, adotada por Zaffaroni e Pierangeli, quando a sociedade é

desorganizada, discriminatória e excludente, ou mesmo marginalizadora, ou seja, quando ela


cria condições sociais que reduzem o âmbito de determinação e liberdade do agente, ela
também contribui para o delito. Assim, haveria coculpabilidade entre o autor da infração e a

própria sociedade, devendo o juiz reduzir a pena a ser imposta ao acusado.


D) A coculpabilidade às avessas, segundo ensina a doutrina, pode envolver a reprovação penal

mais severa quanto aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado poder econômico e
que abusam dessa vantagem no cometimento de delitos em regra prevalecendo-se das

facilidades proporcionadas pelo livre trânsito nos centros de controle político e econômico.
47
Comentário:

A) Errada. A coação pode se dar de forma física ou moral. Quando a coação irresistível é
moral, afasta-se a culpabilidade; quando a coação irresistível é física, afasta-se a tipicidade.

B) Correta. A obediência hierárquica, como dirimente ou eximente, só tem valor nas

relações de direito público. Não pode ser invocada, portanto, nos casos de obediência
religiosa ou familiar.

C) Correta. Pela teoria da coculpabilidade, adotada por Zaffaroni e Pierangeli, quando a

sociedade é desorganizada, discriminatória e excludente, ou mesmo marginalizadora, ou


seja, quando ela cria condições sociais que reduzem o âmbito de determinação e liberdade

do agente, ela também contribui para o delito. Assim, haveria coculpabilidade entre o autor
da infração e a própria sociedade, devendo o juiz reduzir a pena a ser imposta ao acusado.

D) Correta. A coculpabilidade às avessas, segundo ensina a doutrina, pode envolver a

reprovação penal mais severa quanto aos crimes praticados por pessoas dotadas de
elevado poder econômico e que abusam dessa vantagem no cometimento de delitos em
regra prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo livre trânsito nos centros de

controle político e econômico.

Questão 7

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-AM - Analista Judiciário - Direito) Pedro, com vinte e
dois anos de idade, e Paulo, com vinte anos de idade, foram denunciados pela prática de furto
contra Ana. A defesa de Pedro alegou inimputabilidade. Paulo confessou o crime, tendo
afirmado que escolhera a vítima porque, além de idosa, ela era sua tia.

Com relação a essa situação hipotética, julgue o item subsecutivo, a respeito de imputabilidade
penal, crimes contra o patrimônio, punibilidade e causas de extinção e aplicação de pena.

48
Se, em virtude de perturbação de saúde mental, Pedro não for inteiramente capaz de entender
o caráter ilícito do seu ato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, a pena
imposta a ele poderá ser reduzida.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Correta. Quando se fala "não era inteiramente capaz" - O agente é considerado semi-

imputável, podendo assim ter sua pena diminuída de 1/3 a 2/3. Quando se fala "era
inteiramente incapaz" - O agente é considerado inimputável, sendo assim isento da pena.

Questão 8

(Banca: CONSULPLAN - 2019 - TJ-MG - Titular de Serviços de Notas e de Registros -


Provimento) Quanto à teoria do erro em Direito Penal, assinale a opção correta.

A) O erro de proibição indireto incide sobre causas de justificação.

B) O erro de subsunção constitui hipótese de erro de tipo essencial.

C) A aberratio criminis e a aberratio ictus constituem hipóteses de erro de proibição indireto.

D) O erro de tipo permissivo possui consequência de erro de tipo essencial, quando plenamente

justificado pelas circunstâncias.

Comentário:

49
A) Correta. O erro de proibição indireto incide em erro sobre uma das causas de

justificação, qual seja, art. 23 do Código Penal: Estado de necessidade; legítima defesa;
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

B) Errada. Erro de subsunção não é nem erro de tipo e nem de proibição. Erro de subsunção

é uma ignorância quanto a um conceito jurídico. Ex.: Jurado que subornando jurado, ao
ser presa alega não saber que o jurado é funcionário público. Não é erro de tipo e nem

de proibição. Conceito trazido pela doutrina, sem previsão legal. (Rogério Sanches).

C) Errada. A aberratio criminis e a aberratio ictus constituem hipóteses de erro de tipo


acidental.

D) Errada. O erro de tipo permissivo (isento de pena, art. 20, § 1º, CP) não possui a mesma

consequência de erro de tipo essencial (exclui o dolo, art. 20, caput, CP).

Questão 9

(Banca: CIEE Órgão: DPU Prova: CIEE - 2019 - DPU) Assinale a alternativa correta:

A) O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta

de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

B) Se o fato é cometido sob coação resistível, só é punível o autor da coação.

C) Se o fato é cometido em estrita obediência à ordem, ainda que manifestamente ilegal, de


superior hierárquico, só é punível o autor da ordem.

D) O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado isenta de pena.

Comentário:

A) Correta. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se


inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
50
B) Errada. Somente é punível o autor da coação se o fato é cometido sob coação irresistível.

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem,


não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da

ordem.

C) Errada. Só seria punível o autor da ordem caso a ordem NÃO fosse manifestamente
ilegal.

D) Errada. Nesse caso, o agente responde como se tivesse atingido a vítima à qual visava

atingir, ainda que tenha atingido outra. Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos
meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge

pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se
ao disposto no § 3o do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa

que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Questão 10

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público) Considerando o Código Penal
brasileiro, julgue o item a seguir, com relação à aplicação da lei penal, à teoria de delito e ao
tratamento conferido ao erro.

Para a teoria limitada da culpabilidade, o erro de agente que recaia sobre pressupostos fáticos
de uma causa de justificação configura erro de tipo permissivo.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

51
Correta. Segundo a teoria limitada da culpabilidade, adotada pelo Código Penal, se o erro

do agente recair sobre uma situação fática, tratar-se-á de erro de tipo permissivo, e se
disser respeito aos limites ou existência de uma causa de justificação, tratar-se-á de erro

de proibição. Para a teoria extremada tudo é erro de proibição.

52
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - C

Questão 3 - CORRETA

Questão 4 - A

Questão 5 - D

Questão 6 - C

Questão 7 - CORRETA

Questão 8 - A

Questão 9 - A

Questão 10 - CORRETA

53
QUESTÃO DESAFIO

Qual tese de defesa pode ser apresentada para excluir a imputabilidade penal de José, o

qual praticou determinada infração penal, após ter sido amarrado e injetado em sua veia
quantidade suficiente de álcool que o deixou completamente embriagado?

Máximo de 5 linhas

54
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

José deverá ter excluída a sua imputabilidade penal tendo em vista a sua embriaguez
completa acidental ou fortuita, a qual tornou o agente inteiramente incapaz de

compreender o caráter ilícito do ato praticado.

 Imputabilidade penal. Excludente.

A imputabilidade penal é um dos elementos da culpabilidade, a qual depende de dois elementos


para compor a sua constituição: a) intelectivo (integridade biopsíquica, perfeita saúde mental
que permite ao indivíduo o entendimento do caráter ilícito do fato); b) volitivo (domínio da

vontade, ou seja, o agente controla e comanda seus impulsos relativos à compreensão do


caráter ilícito do fato, determinando-se de acordo com esse entendimento). (MASSON, Cleber;

Direito Penal - Parte Geral; 13 ed.; Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019, p. 375)

Conforme o artigo 26, caput, do Código Penal: a imputabilidade deve ser analisada ao tempo

da ação ou da omissão.

O Código Penal apresenta como causas de inimputabilidade a menoridade (comprovado,

conforme o teor da Súmula 74 do STJ, por documento hábil), doença mental, desenvolvimento
mental incompleto ou retardado e a embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força

maior.

 Embriaguez completa. Acidental ou Fortuita.

A embriaguez consiste na intoxicação aguda produzida no corpo humano pelo álcool ou


substância de efeitos análogos, apta a provocar a exclusão da capacidade de entender o caráter

ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (MASSON, Cleber; Direito
Penal - Parte Geral; 13 ed.; Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019, p. 387)

55
Quanto à origem, a embriaguez pode ser classificada como: voluntária, culposa, preordenada

ou acidental. Destaca-se que apenas a acidental completa tem o condão de excluir a


imputabilidade.

Acidental ou fortuita é a embriaguez que resulta de caso fortuito ou força maior. No caso
fortuito, o indivíduo não percebe ser atingido pelo álcool ou substância de efeitos análogos ou

desconhece uma condição fisiológica que o torna submisso às consequências da ingestão do


álcool. Na força maior, o sujeito é obrigado a beber, ou então, por questões profissionais,

necessita permanecer em recinto cercado pelo álcool ou substância de efeitos


análogos. (MASSON, Cleber; Direito Penal - Parte Geral; 13 ed.; Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: Método, 2019, p. 389).

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME DE AMEAÇA NO


ÂMBITO DAS RELAÇÕES DOMÉSTICAS. PLEITO ABSOLUTÓRIO. NECESSIDADE DE

REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA


7/STJ. AGRAVO IMPROVIDO.

1. Concluindo as instâncias de origem, com base no contexto


probatório existente nos autos, especialmente as declarações

prestadas pela vítima e demais testemunhas em ambas as fases do processo, acerca da


autoria e materialidade assestadas ao agravante pela prática do crime de ameaça no âmbito
das relações domésticas, a pretensão de absolvição na via especial esbarra no óbice

intransponível da Súmula n. 7/STJ. 2. Para a caracterização do delito previsto no art. 147 do


Código Penal, que possui natureza jurídica de delito formal, é suficiente a

ocorrência do temor na vítima de que a ameaça proferida em seu desfavor venha a se


concretizar. 3. Dada a adoção da teoria da actio libera in causa pelo Código Penal, somente

a embriaguez completa, decorrente de caso fortuito ou força maior que reduza ou anule a
capacidade de discernimento do agente quanto ao caráter ilícito de sua conduta, é causa de

redução ou exclusão da responsabilidade penal nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 28 do


Diploma Repressor. 4. Agravo regimental improvido. (STJ: AgRg no AREsp 1247201 / DF)

56
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Inimputáveis

 Art. 26, do Código Penal.


 Art. 26, Parágrafo único, do Código Penal.

Menores de dezoito anos

 Art. 27, do Código Penal

 Súmula n.º 74, STJ.

Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil.

Emoção e paixão

 Art. 28, do Código Penal


 Art. 28, I, do Código Penal

Embriaguez

 Art. 28, II, do Código Penal

Inimputabilidade

 Art. 28, §1.º, do Código Penal

Semi-Imputável

 Art. 28, §2.º, do Código Penal

57
JURISPRUDÊNCIA

COCULPABILIDADE

 STJ. 5ª Turma. HC 411.243/PE, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 07/12/2017.

É possível, a depender do caso concreto, que o juiz reconheça a teoria da coculpabilidade como sendo uma
atenuante genérica prevista no art. 66 do Código Penal.

Comentário: O STJ já reconheceu a possibilidade de reconhecimento da coculpabilidade como


atenuante genérica.

58
MAPA MENTAL

59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SALIM, Alexandre. AZEVEDO. Marcelo André de. Coleção Sinopses para Concursos. Direito Penal, Vol 1. 2021.
Salvador: Juspodivm

Masson, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 14. ed. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020.

60

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