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CARREIRAS

JURÍDICAS

CARREIRAS JURÍDICAS

DIREITO INTERNACIONAL
CAPÍTULO 4
Assim, os assuntos de Direito Internacional estão distribuídos da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Introdução ao Direito Internacional 


Capítulo 2 – Sujeitos de Direito Internacional 
Capítulo 3 – Prerrogativas e Imunidade de Jurisdição dos Estados e

das Organizações Internacionais

Capítulo 4 (Você está aqui) – Relações Diplomáticas 

Capítulo 5 – Disposições Constitucionais e Atividades do Estrangeiro



no Brasil
Capítulo 6 – Organização Internacional do Trabalho 
Capítulo 7 – Convenções e Recomendações Internacionais do

Trabalho
Capítulo 8 – Normas Internacionais de Proteção da Criança e do

Adolescente
Capítulo 9 – Organização Mundial do Comércio e Concorrência

Internacional
Capítulo 10 – Direito Comunitário. Fontes. União Europeia e Unasul.

Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)
Capítulo 11 – Tratados sobre Direitos Humanos 
Capítulo 12 – Direito Internacional Privado 

1
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Buscando abordar a forma como se concretizam as relações entre os Estados no âmbito


internacional, neste capítulo abordaremos sobre os principais atores em meio à
representatividade diplomática e consular, versando sobre as diferenças entre eles.
O capítulo traz um enfoque para os privilégios e imunidades destes agentes no desempenho
de suas funções e a abrangência destas prerrogativas para a vida privada e família destes
agentes. Sendo assim, recomenda-se atenção, embora seja um assunto um pouco extenso, o
conteúdo é muito bem explorado pelos textos das Convenções de Viena de 1961, assim como
de 1963, portanto, embora recomende-se a leitura de doutrina, para este tema, a lei seca tem
um papel de robustez para o seu estudo.
Portanto, direcione seu foco para a leitura dos principais artigos os quais destacamos sua
importância, pois, embora não tenha sido verificada a cobrança do assunto nas últimas provas,
principalmente, nos últimos 5 anos, é tema de relevância principalmente no que concerne à
possibilidade de ajuizar ação contra um desses agentes, bem como explorar a extensão de seus
privilégios.
Diante da ausência de cobrança, destacamos a possibilidade de eventual cobrança, a
exemplo de questões trazidas neste capítulo dos últimos 10 anos, para as provas de
Magistratura, Procuradoria Federal bem como para Polícia Federal.
Por fim, a lei seca primeiramente, juntamente com a jurisprudência, irão auxiliar o seu estudo
voltado para as normas que regem relações entre os Estados.

2
SUMÁRIO

DIREITO INTERNACIONAL ..................................................................................................................... 5

Capítulo 4 .................................................................................................................................................. 5

11. RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS ............................................................................................................. 5

11.1 Considerações Iniciais .................................................................................................................... 5

11.2. Conceito de Diplomacia ............................................................................................................... 7

12. Conferência das Nações Unidas sobre relações diplomáticas ................................................ 9

13. Definições ......................................................................................................................................... 12

14. Funções da Missão Diplomática .................................................................................................. 14

15. Inviolabilidade da Missão ............................................................................................................. 16

16. Isenção de impostos e taxas pela Missão ................................................................................. 17

17. Inviolabilidade de arquivos e documentos ............................................................................... 20

18. Privilégios e Imunidades ............................................................................................................... 22

18.1. Inviolabilidade pessoal ............................................................................................................... 23

18.2. Inviolabilidade da residência e propriedade ......................................................................... 26

18.3. Imunidade jurisdicional .............................................................................................................. 27

18.3.1. Imunidade penal ....................................................................................................................... 27

18.3.2. Imunidade em matéria cível .................................................................................................. 29

18.4. Imunidade fiscal ....................................................................................................................... 33

18.5. Imunidade de Execução ......................................................................................................... 33

19. Renúncia à imunidade ................................................................................................................... 34

20. Beneficiários de Privilégios e Imunidades................................................................................. 39

21. Os Cônsules e funcionários consulares...................................................................................... 42

21.1. Privilégios e Imunidades consulares ....................................................................................... 44

3
QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 46

QUADRO DE DOUTRINA ...................................................................................................................... 54

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 55

GABARITO ............................................................................................................................................... 74

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................. Error! Bookmark not defined.

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ............................................................ Error! Bookmark not defined.

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 75

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 77

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 88

4
DIREITO INTERNACIONAL

Capítulo 4

Neste capítulo, iremos tratar sobre as relações internacionais entre os países, dando maior
enfoque aos agentes diplomáticos, cuja atividade é regida pela Convenção de Viena de 1961,

assim como dos funcionários consulares, cuja atividade é regulada pela Convenção de Viena de
1963. Veremos os principais privilégios e imunidades que permeiam estes agentes e suas

implicações no contexto brasileiro.

11. RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

11.1 Considerações Iniciais

As relações diplomáticas resgatam a discussão que viemos evoluindo desde o primeiro


capítulo sobre a mudança da dinâmica internacional de coexistência entre os sujeitos para a
cooperação coordenada entre os Estados soberanos. Dessa forma, em meio a essas relações,
surge a diplomacia, na qual se inserem os seus representantes. Mais adiante, trataremos sobre
a busca por um conceito para “relações diplomáticas” objetivando uma delimitação de nosso

estudo. Contudo, para contextualizar, importante se faz explorar o contexto histórico destas
relações, à luz tanto do Direito Internacional, juntamente com o Direito Diplomático, que

caminham juntos para este estudo.

Pois bem, como dissemos, no mundo pós-moderno no qual estamos inseridos, as relações
internacionais, em reação à impossibilidade de submissão à força, passam a viver sob uma

convivência organizada entre os sujeitos. Neste contexto, vivendo os entes soberanos numa
dinâmica de cooperação, inevitavelmente se estará diante de situações que exigem uma relação

direta entre estes sujeitos. Não é rara a utilização do termo “diplomacia” em contextos próximos,

5
inclusive numa conversa, quando alguém precisa fazer as vezes de Suíça e estabelecer um ponto

de diálogo entre duas pessoas que não estão conseguindo se entender. Ou até mesmo, sem
que haja a interferência de um terceiro, no qual duas pessoas precisam decidir sobre uma

relação comercial, tentando conciliar os interesses de ambos e mandam seus gerentes para
reunião. Costumamos dizer que nesse momento, faz-se necessário usar da diplomacia para que

se possa coadunar ideias, interesses ou valores.

A concepção de nosso dia-a-dia não está tão distante do que é estudado tanto pelo Direito
Internacional quanto pelo Direito Diplomático. A diplomacia se insere como um mecanismo

político de solução de controvérsias, em muitos casos, um instrumento justamente para evitar


o surgimento do referido conflito. A diplomacia também se rege pelo fornecimento ou busca

de informações, negocia diretamente quando necessário, por exemplo, tratados de comércio


que possam beneficiar o país que representa ou em nome da manutenção de outra relação que
mantenha com um terceiro Estado interessado na relação comercial em questão.

Lembre-se do que falamos no capítulo anterior, que as relações internacionais são regidas
pela lógica política, diante de um contexto em que se precisa conciliar interesses entre pares,
em respeito à horizontalidade; ou até representar uma posição mais firme sobre determinado

assunto. Um exemplo interessante envolveu a Alemanha no período pós Primeira Guerra em


que o país ficou arrasado. Graças a dois sujeitos chamados Walter Rathenau e Gustav Streseman,

Ministros do Exterior da República de Weimar que conseguiram respectivamente a assinatura


do acordo de Rapalo com a União Soviética, reestabelecendo as relações amistosas entre

Inglaterra e França e posteriormente com a negociação de retirada das tropas francesas,


resultando no ingresso da Alemanha na Liga das Nações, o que proporcionou a recuperação

deste último país. Observe como são estes sujeitos, que muitas vezes não ouvimos falar, que
coordenam circunstância que mudam totalmente o rumo dos Estados.

O caso brasileiro, em meados do século XVI, também ilustra muito bem no que consiste a

diplomacia. O território de nosso país, em sua formação atual, foi consolidado por meio da
diplomacia, assim como a emancipação política do Brasil. Também podemos citar a figura de
Antonio Teles da Silva, português que aqui residia, que representando a diplomacia brasileira à

6
época, atuou diretamente em prol da independência do Brasil, que não se conquistou somente

com um grito às margens do Ipiranga.

11.2. Conceito de Diplomacia

Tratando-se de um fenômeno essencialmente político, sua conceituação suscita algumas


dificuldades, caracterizada por alguns conceitos norteadores, contudo, como todo bom conceito

jurídico, é permeado por divergências. Mas não se confunda, estamos aqui dizendo que o
vocábulo utilizado é recente, não a diplomacia, posto que esta é muito antiga.

A palavra “diploma”, de origem grega, era aplicada para documentos oficiais que eram

dobrados, tendo a “diplomática” evoluído para ser caracterizada como a ciência que estuda
diplomas, quais sejam, esses documentos oficiais dobrados. Remete-se ainda ao documento
oficial, que pelo seu tamanho, era dobrado e declarava a condição oficial daquele que o portava,

uma espécie de identificação de credenciais.

Diplomacia também pode ser utilizada como sinônimo de política exterior, que em muitos
casos, é utilizada fazendo referência ao presidente em exercício, como “política externa de

Trump”. Assim, seria a política adotada por determinado país no âmbito internacional, como seu
modo de proceder, a exemplo da “diplomacia brasileira”. Num outro conceito, se traz a

diplomacia como a ideia de gestão de negócios internacionais, manutenção de relações


exteriores, administração de interesses nacionais, seja de forma pacífica ou hostil. Já Rivier define

a diplomacia como “a arte da representação dos Estados e das negociações.”

Por fim, uma das definições mais aceitáveis na contemporaneidade é a de Accioly, que a
define como “a arte de representar os Estados, uns perante os outros, ou o conjunto de regras

práticas referentes às relações pacíficas e as negociações entre os Estados.” Sendo assim, a


diplomacia age de acordo com a política exterior, guiando-se sempre pelos princípios de Direito

Internacional, buscando alcançar resultados por meios pacíficos em meio ao campo


internacional. Ou seja, visa executar a política exterior do país que representa priorizando os
objetivos nacionais por outros meios alheios à guerra.

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Explorado brevemente o seu conceito, para este capítulo, utilizaremos um dos sentidos do

termo “diplomacia”, que engloba as funções exercidas pelo diplomata, já que vamos abordar as
previsões das Convenções de Viena de 1961, que veio positivar diversas normas costumeiras

quanto à atuação dos representantes diplomáticos e sanar dúvidas que surgiam em situações
práticas de representação em Estados estrangeiros. Posteriormente trataremos sobre as relações

consulares, de forma a abordar também a Convenção de Viena de 1963. Portanto, fique atento
que tudo que falaremos neste primeiro momento apenas se aplica aos funcionários relacionados

com as Missões Diplomáticas. Apenas em tópico próprio discutiremos diretamente sobre os


cônsules.

A responsabilidade quanto às relações internacionais é atribuída ao chefe de Estado, com o

auxílio do Ministro das Relações Exteriores, no entanto, dada a complexidade e a amplitude de


funções a serem administradas, estas relações também repousam num corpo de funcionários

competentemente treinados para tanto, os agentes diplomáticos. O desempenho de suas


funções, dando especial destaque para suas imunidades e privilégios são disciplinados pela
Convenção de Viena de 1961, instrumento que, embora já complete mais de 50 anos, ainda é

o responsável por regular tais relações.1

Nesse contexto de representação estatal, encontram-se três tipos de funcionários, cuja


delimitação é importante de ser explorada. Primeiramente encontramos os embaixadores,

agentes no topo da hierarquia diplomática, os quais a Convenção de Viena intitula de Chefes


da Missão; seguidos pelos ministros plenipotencionários, os quais são detentores de plenos

poderes para negociações internacionais; por último, os representantes diplomáticos.

1
Vide questão 4
8
A Missão Diplomática permanente é definida na redação da Convenção como o

estabelecimento de relações diplomáticas entre os Estados, ressaltando o envio de Missões


permanentes por meio de consentimento mútuo. É caracterizada pelo direito de legação, em

que um Estado (acreditante) envia funcionários para lhe representar em outro Estado. E vale o
destaque de que, sendo feito por meio de consentimento mútuo, pode o Estado acreditante

(aquele que recebe) recusar a entrada de funcionários da missão, pois não é obrigado a
receber em seu território qualquer estrangeiro sem a sua anuência.

Motivo pelo qual, observamos que não há envio de missão, sem que haja relações

diplomáticas entre os Estados em questão. Afinal, não há sentido em enviar representantes de


Estado para um outro Estado se não houver qualquer indicativo da possibilidade de exercício

de representação diplomática. Importante destacar também que em caso de eventual recusa,


não é necessário que se apresente justificativa. Os Estados, antes de efetivar a nomeação de
um agente diplomático, por meio de seus governos, solicitam informações ao governo do Estado

acreditado (ao qual este agente será enviado) sobre a aceitação do referido funcionário. Esta
prática de consulta intitula-se de agrément 2
ou agréation.3 Fique atento ao termo, que

assemelha-se a um acordo, que costuma ser cobrado com esta nomenclatura.4 Assim, pode o
Estado acreditado

A eventual recusa, embora não necessite de motivos para efeitos legais, normalmente é

dada em virtude de algum atrito entre os países, podendo ainda o Estado acreditado se utilizar
do recurso de declaração de persona non grata, visando o não recebimento dos representantes

daquele Estado estrangeiro.

12. Conferência das Nações Unidas sobre relações diplomáticas

Fato que já abordamos, o Direito Internacional, por não possuir um núcleo central do qual
emanam as normas que serão aplicadas, vive constantemente num movimento de busca por

codificação, embora não precise necessariamente de tal formalidade para se impor. Assim,

2
Vide questão 4
3
Vide questão 2
4
Vide questão 6
9
considerando que tais elaborações necessitam da participação dos entes soberanos, é comum

a realização de Conferências, ou eventos internacionais, com a presença das delegações dos


Estados em busca da aprovação de norma que valerá para todos.

Nas relações diplomáticas, a Convenção de Viena de 1961 representa um marco na evolução

da instituição diplomática, codificando matéria cuja aplicação repousava no costume


internacional.

Entre 2 de março e 14 de abril de 1961, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre

Relações e Imunidades Diplomáticas contando com a participação de 81 países, os quais,


deveriam votar o Projeto previamente elaborado pela Comissão de Direito Internacional três

anos antes. Embora o texto trouxesse vários pontos que já eram aplicados devido costume
internacional sobre a matéria, o principal ponto a ser votado pelos Estados era a determinação

das prerrogativas diplomáticas. Sobre a temática, o que se observou de modo geral, foi uma
quase unanimidade na apreciação das mesmas, debruçando-se portanto sobre a abrangência

das imunidades e privilégios, e na determinação de seus beneficiários.

No texto final, foi aprovada a redação que reflete a influência da necessidade funcional

e do caráter representativo dos agentes para que estes gozem de imunidade. Veremos cada
um destes pontos mais à frente. Mas de antemão, preste bem atenção nestes conceitos, pois

versam sobre a necessidade de condições para que os agentes possam de fato representar seus
Estados, assim como, em determinadas situações, será exigido que tal ato esteja relacionado
com as funções desempenhadas pelo agente em questão. Dessa forma, observe que há uma

busca de equilíbrio entre conceder os privilégios e as imunidades para que os Estados

10
Por fim, após deliberações, com poucas alterações em relação ao projeto original, foi

aprovada a Convenção de Viena de 1961, que codifica o Direito Diplomático, importante capítulo
também, obviamente, para o Direito Internacional. Tendo o Brasil participado da Conferência,

inclusive apontando proposições de mudança do texto, promulgou o texto em 1965, com o


Decreto nº 56.435 em 1965, passando assim a adotar as previsões ali presentes.

Observe que em vários momentos, mencionamos a existência e incidência de duas

Convenções de Viena (ambas ratificadas pelo Brasil) as quais versam sobre relações diplomáticas,
contudo, qual a diferença delas e quais são importantes para o nosso estudo? Bem, você já

deve ter entendido que estamos focando bastante na questão dos privilégios e imunidades que
são conferidos aos Estados (capítulo anterior) e aqui aos agentes que representam os Estados

acreditantes.

A importância disto repousa na aplicação, no caso concreto, da lei brasileira, assim como a
necessidade de regulação da presença de um Estado estrangeiro em nosso país, implicando nas

atividades normais da vida desses representantes aqui no Brasil, a exemplo da incidência de


obrigação tributária. São estes pontos que podem ser mais cobrados em prova.

Portanto, ambas as Convenções visam estimular uma relação amistosa entre os países e

garantir que os agentes aqui presentes possam desempenhar suas funções como uma extensão
do Estado acreditante, necessário que a este sejam garantidas as condições necessárias para
uma atuação eficiente, sem contudo, ofender princípios do Estado acreditado.

Dessa forma, é importante que você compreenda que a primeira, Convenção de Viena de
1961 versa sobre as relações diplomáticas, enquanto que a Convenção de Viena de 1963 versa
sobre as relações consulares.5 Assim, o diplomata atua representando seu Estado de origem em

relação à assuntos de Estado; já o cônsul representa o Estado em assuntos de interesses


privados de ordem mais administrativa,6 seja de seus compatriotas que ali se encontram, a

exemplo da tentativa de importação ou exportação de bens. Para nós, essa diferenciação parece
um pouco incomum, posto que no Brasil, assim como em outros países, houve a unificação da

5
Vide questão 4
6
Vide questão 4
11
carreira. No Brasil, as carreiras diplomática e consular têm seu ingresso mediante submissão ao

Curso Preparatório do Instituto Rio Branco. Assim, após concluído tal curso, o agente está apto
a desempenhar ambas as funções.

Como saber então quais os privilégios que estes agentes gozam em sua representação?

Cuidado para não pensar que seria um somatório dos privilégios e imunidades das Convenções.
Para estes casos, a aplicação dependerá da exata função desempenhada.

Como vimos, há uma diferença clara entre a atividade consular e diplomática, em países em

que a carreira é unificada como no Brasil, quando o agente estiver agindo como agente
diplomático, em assuntos de Estado, a este será aplicada a Convenção de Viena de 1961;

enquanto que ao atuar como cônsul, em situações de interesse privado, será abrangido apenas
pela Convenção de Viena de 1963 e de suas respectivas imunidades e prerrogativas.

13. Definições

A Convenção inicia seu texto inovando com algumas definições em busca de delimitação
não apenas dos termos a serem utilizados, mas principalmente para que se deixe bem claro
quem são os beneficiários a que se aplicam os privilégios mencionados no texto. Importante

que façamos alguns destaques.

I) Chefe da Missão: a fórmula apresentada pela Comissão de Direito Internacional bem


simplória define-o como “a pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa
qualidade”7. Este assume suas funções no momento em que entrega suas credenciais
ou quando comunica sua chegada ao Ministério das Relações Exteriores do Estado
acreditado.

A Convenção ainda classifica os Chefes em três classes, quais sejam: os embaixadores


ou núncios; os enviados, ministros ou internúncios; e os encarregados de negócios.
Contudo, ressalta ao fim, que não há distinção entre essas classes, a não ser em

situações de cortesia.

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Vide questão 6
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II) Membros da Missão: inclui tanto o Chefe da Missão, quanto os demais membros da
respectiva Missão. Podendo-se ainda acrescentar que um membro de missão é aquela
pessoa autorizada pelo Estado acreditante a executar funções diplomáticas da Missão.
III) Membros do pessoal da Missão: inclui membros do pessoal diplomático,
administrativo e técnico e ainda o pessoal do serviço da Missão. Em outras palavras,
são os membros da missão, excluindo-se o Chefe da Missão.
IV) Membros do pessoal diplomático: são aqueles membros da Missão que tiverem a
qualidade de diplomata.
V) Agente diplomático: é o Chefe da Missão ou um membro do pessoal diplomático
da missão. Refere-se aos diplomatas, na maioria dos países, funcionários de carreira.
VI) Membros do pessoal administrativo e técnico: são aqueles membros do pessoal da
Missão que estão empregados, por óbvio, no serviço administrativo e técnico da
Missão. Exemplos desses membros são os arquivistas, secretários do embaixador ou
de outros membros da Missão, que são pessoas que lidam com documentos e
informações altamente confidenciais, sendo necessário assim, que também tenha
garantida a inviolabilidade e imunidade de jurisdição penal.
VII) Membros do pessoal de serviço: são aqueles membros do pessoal empregados no
serviço doméstico da Missão. O intuito desta nomenclatura era a de diferenciar estes
do pessoal do administrativo e técnico da Missão.
VIII) “Criado particular”: pessoa que desempenha serviço doméstico de um membro da
missão que não seja empregado do Estado acreditante.8 Aqui é interessante
observar que as definições trazidas pela Convenção apontam para uma semelhança,
na prática entre estes e os membros do pessoal de serviço, posto que ambos
desempenham serviço doméstico. A diferença, contudo, está no contrato de trabalho.
Estes empregados particulares, termo mais adequado, são pagos diretamente pelo
membro do pessoal diplomático, administrativo, técnico ou até do pessoal de serviço,
para quem o serviço é prestado; enquanto que o pessoal de serviço é pago pelo
Estado, sendo destes empregados.

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Vide questão 7
13
IX) Locais da Missão: conceito importante, principalmente para quando formos discutir
sobre a extraterritorialidade. Consiste nos edifícios ou partes dos edifícios, terrenos
anexos, utilizados para as finalidades da Missão, inclusive a residência do Chefe da
Missão.9 Observe que não importa quem seja proprietário do imóvel, requer-se
apenas que neste seja desempenhada atividade ligada à finalidade da Missão. Por
abranger também a residência do Chefe da Missão, é a lógica por traz da não
incidência de impostos de ambos os imóveis

Oriundo da atividade desempenhada pela representação diplomática, é natural que seja

necessária a instalação de novos escritórios em locais diferentes da sede. Normalmente,


costuma-se instalar na capital do Estado acreditado. Contudo, por previsão expressa da

Convenção, é necessário para tanto que haja uma autorização expressa do Estado acreditado

para a sua instalação.

14. Funções da Missão Diplomática

Fruto da interdependência das Estados e do intuito de cooperação entre estes sujeitos, o

que se observa é uma dificuldade de limitação das funções diplomáticas que possam ser
exercidas. A doutrina, contudo, as resume em quatro palavras, oriundas também do texto da

própria Convenção: representação, observação, negociação e proteção. Vejamos.

I) Representar o Estado acreditante perante o Estado acreditado: função mais citada


em nosso estudo, lembramos que a representatividade configura na atividade
essencial da diplomacia, da qual, inclusive, irradiam as demais. O Chefe da Missão
representa o Estado, vale ressaltar e não o Chefe de Estado. O diplomata fala em
nome do Estado, tendo por obrigação elevar o nome de seu Estado ao máximo, se

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Vide questão 3
14
empenhar em prol de manter as melhores relações possíveis, pois suas falhas, assim
como seus erros, refletem no seu Estado. É interessante notar a responsabilidade que
este carrega em todas as suas aparições, declarações e relações no Estado acreditado.
II) Proteger no Estado acreditado os interesses do Estado acreditante e de seus
nacionais dentro dos limites permitidos pelo Direito Internacional: oriunda da
obrigação anterior, esta impõe um limite à atuação da defesa dos interesses de seu
Estado, considerando erros ocorridos no passado que culminaram, por exemplo com
o bombardeamento em 1902 de três cidades venezuelanas por unidades navais da
Alemanha, Grã-Bretanha e Itália em virtude de cobrança de dívidas. Os interesses
mencionados são tanto do respectivo Estado quanto das pessoas e dos bens de seus
nacionais.
Quanto à proteção dos nacionais, estas são exercidas tanto pelas Missões
Diplomáticas quanto pelas Repartições Consulares, visando a proteção em dois
aspectos: contra dano propriamente dito ocasionado ou não pelas autoridades locais;
e quanto à assistência geral, como a facilitação da estada dos cidadãos. Há assim,
uma harmonia entre os poderes exercidos em relação a esse estrangeiro, do Estado
acreditado e do Estado acreditante. Consiste na proteção diplomática, abrangendo
também a representação jurisdicional internacional.
III) Negociar com o Governo do Estado acreditado: também representa uma das
funções mais importantes a ser desempenhada pelo diplomata, exigindo deste certas
qualidades, como emanar responsabilidade com o compromisso em questão, a
persistência, entre outros, sendo, muitas vezes exigido também o devido
conhecimento sobre o tema objeto da negociação. Significa dizer que o representante
diplomático fala em nome do Estado, seja causando boas impressões, ou ruins. É bem
verdade que nem todos conseguem desempenhar bem a função, podendo versar
sobre um tratado, acordo comercial, algum problema que envolve dois Estados, mas
também podendo envolver problemas corriqueiros.
IV) Inteirar-se por todos os meios lícitos das condições existentes, e da evolução dos
acontecimentos no Estado acreditado e informar a esse respeito o Governo do
Estado acreditante: relaciona-se com as funções de observação e de informação
atribuídas ao representante diplomático, devendo este estar atento e informar seu
governo sobre acontecimentos do Estado acreditado, não somente assuntos de

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ordem internacional, mas também sobre matérias nacionais, como políticas adotadas.
Podendo também informar seu governo sobre inovações, projetos que possam ser
reproduzidos em seu país, a exemplo de práticas agrícola, industrial, social, militar,
etc.
V) Promover relações amistosas e desenvolver as relações econômicas, culturais e
científicas entre os Estados acreditante o Estado acreditado: Trata-se de uma
decorrência da função representativa, pois deve o diplomata cultivar um bom
relacionamento entre os Estados envolvidos, de forma que tenha-se um terreno fértil
para um intercâmbio entre os mesmos, seja de ordem turística, social, econômica ou
qualquer outra matéria de cooperação entre os mesmos.

15. Inviolabilidade da Missão

Compreendida por muitos como a regra mais importante entre as prerrogativas


diplomáticas, versa diretamente sobre o exercício da função e dos locais da missão. Assim, os

locais de missão gozam de proteção. Importante ressaltar a diferença, como já trouxemos em


capítulo anterior, deste instituto para a já ultrapassada tese da exterritorialidade.

Como já afirmamos, o local da Missão não representa uma extensão do território do


Estado acreditante, de onde decorreria a hipótese de que neste local não se poderia adentrar.

Há sim a regra, aqui referida, sobre a impossibilidade de se adentrar o local sem autorização
do Chefe de Missão, contudo, esta decorre da inviolabilidade do local da Missão,10 condição

necessária para a eficácia da Missão desempenhada no Estado acreditado. Distingue também


das inviolabilidades pessoais, as quais estudaremos em breve, sendo esta inviolabilidade um

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Vide questão 3
16
atributo do Estado acreditante. Dessa forma, autoridades locais não podem adentrar em locais

da missão sem que haja autorização expressa do Chefe da Missão.

Tal prerrogativa deve ser respeitada não somente pelo Estado acreditado, mas por qualquer
outro Estado. Para ilustrar, vejamos o caso em que os Estados Unidos, em 1999 na capital da
ex-Ioguslávia, numa ação militar de cunho humanitário acabou bombardeando a Embaixada
chinesa no processo. Reconheceu os Estados Unidos a sua responsabilidade pelos danos
causados à Embaixada chinesa, oferecendo reparação por meio de pedido formal de desculpas,
além de uma indenização milionária.
Assim, agentes do Estado acreditado não podem penetrar os locais da Missão sem o
consentimento do Chefe da Missão. Sobre tal tema, já comentamos no capítulo anterior sobre
o cumprimento de um mandado de penhora contra a Embaixada de Portugal. O mesmo caso
serve para ilustrar também que não apenas os locais da Missão, mas também seu mobiliário e
demais bens nele situados, além dos meios de transportes da Missão, não podem ser objeto
de busca, requisição, embargo ou qualquer medida de execução.

16. Isenção de impostos e taxas pela Missão

Partindo do pressuposto que discutimos no capítulo anterior, vamos construir o raciocínio.

Vimos que, em respeito à soberania dos Estados, não pode um Estado ser submetido à jurisdição
de outro, posto que não há hierarquia entre estes. A cobrança de impostos e taxas, direcionada

aos “súditos” de um Estado são fruto de uma relação de superioridade que aquele Estado guarda
em relação aos indivíduos. Sendo assim, é possível a cobrança de taxas e impostos à

representação dos Estados no Estado acreditado?

O título do tópico já denuncia a resposta, mas utilizemos a lógica para a compreensão deste
tema. A Missão diplomática representa o Estado acreditante, sendo assim, submetê-los a essas

obrigações não seria diferente de submeter o Estado à jurisdição estatal. Dessa forma, o Estado
acreditante não deve pagar impostos e taxas cobrados diretamente pelas autoridades

nacionais, regionais ou municipais do Estado acreditado, em conformidade com a Convenção

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de Viena de 1961. Contudo, há algumas circunstâncias para esta isenção que devem ser

pontuadas.

A redação do artigo incumbe ao Estado acreditante a isenção de impostos e taxas sobre


os locais da missão, sejam deles proprietários ou inquilinos. São devidos, no entanto, impostos

e taxas oriundos de serviços específicos que tenham sido prestadas. Excetua a regra da isenção
fiscal, os serviços prestados por empresas particulares, a exemplo de serviços de água e esgoto,

iluminação pública, calçamento e outros de mesma natureza.

Interessante observar que a redação do artigo recebeu um acréscimo quanto ao critério do

imóvel. O projeto inicialmente apresentado requeria, para a concessão da isenção, que o Estado
acreditante fosse deste proprietário, entendendo assim que em caso de ser deste apenas

locatário, sob o imóvel continuaria sendo aplicada a obrigação de pagar impostos e taxas.
Contudo, alguns pontos levantados por Estados durante a deliberação ressaltaram que se

perderia o objetivo, pois os Estados que não adquirem o imóvel para se instalar e acabam por
alugá-lo costumam são os mais pobres. Sendo assim, não aplicar a regra de isenção no caso de
aluguel, faria com que o proprietário do imóvel aumentasse o aluguel visando cobrar tais

impostos, prejudicando o Estado acreditante que ficaria com o ônus do pagamento,


diferentemente dos Estados que tivessem imóvel próprio. Assim, a regra atual abrange o local

da Missão, seja ele de propriedade do Estado acreditante ou ocupado por meio de locação.

A exceção do artigo se refere aos serviços prestados de forma específica, os quais não são
abrangidos pela referia isenção fiscal, visando assim resguardar a contratação do Estado

acreditante com empresas particulares, a exemplo de serviços de água e esgotos. Sobre a


incidência de impostos e a cobrança de taxas, há alguns julgados trazidos ao final deste capítulo
que auxiliam na compreensão. Contudo, em respeito à reciprocidade, caso o serviço seja
prestado por autoridades estatal, regional ou municipal, é comum que o mesmo não seja

18
cobrado, sendo uma prática dos países isentar tal pagamento, desde que a isenção se dê de

forma recíproca.

Ainda ressalta o artigo o que já pontuamos no início, para que não se confunda as isenções
do artigo 23 com aquelas isenções fiscais que são de ordem pessoal, concedidas ao Chefe de

Missão previstas no artigo 34 da mesma norma. O artigo presente versa sobre benesses
concedidas aos Estados. Sendo assim, não haveria, a princípio, que se falar em isenção fiscal

para imóvel adquirido pelo Chefe de Missão, agindo como particular. Neste aspecto, reforça-se
exatamente o que discutimos em capítulo anterior. Lembre-se que a corrente internacional em

relação aos privilégios e imunidades concedidas aos Estados não mais aceita o viés absoluto.
Só há que se falar em isenções (privilégios) quando estes são necessários para a atividade de

presença de Estado estrangeiro em outro Estado.

No Brasil, em virtude de Lei Complementar nº 698 do Distrito Federal, estão as


embaixadas e consulados isentos do pagamento das taxas de águas e esgoto, sob a condição
de que nos respectivos países, também seja o Brasil beneficiado na mesma medida, ou seja, sob

o critério da reciprocidade que mencionamos. A referida benesse se abrange tanto os edifícios


de propriedade do Estado acreditante, quanto a residência do Chefe da Missão.

Fique bem atento para a ressalta feita pela legislação brasileira, que prevê a isenção de

taxas de águas e esgoto desde que os imóveis sejam de propriedade do Estado acreditante.
Assim, ressaltando que a benesse é concedida ao Estado e não à pessoa do Chefe da Missão,

reforçando que eventual imóvel que esteja em seu nome ou de terceiro não receberá o mesmo

tratamento. Lembre-se que as prerrogativas e imunidades têm o limite do exercício da função.

19
17. Inviolabilidade de arquivos e documentos

Considerada por alguns autores, uma disposição desnecessária, posto que possui artigo

próprio, sua importância pode ser levantada no momento de sanar algumas eventuais dúvidas
que outros artigos da mesma Convenção tenham deixado além de ressaltar a independência

da inviolabilidade dos arquivos e documentos.

Já falamos sobre a inviolabilidade da Missão e posteriormente falaremos sobre a


inviolabilidade pessoal do agente diplomático, embora já tenhamos citado em alguns

momentos. É de se pensar, que estas inviolabilidades abrangeriam também os documentos e


arquivos da Missão, até pela redação do artigo quando menciona a inviolabilidade do local da

missão, incluindo seus bens. Poderia-se, a partir desta disposição, abranger por meio da
inviolabilidade de local da Missão e de seus bens, incluir seus arquivos e documentos, já que
normalmente estes estão localizados na Embaixada, no entanto, essa suposição seria insuficiente

para dar a proteção necessária.

Estamos falando de uma inviolabilidade de arquivos e documentos que deve ser entendida
de forma autônoma em relação às demais inviolabilidades e de forma absoluta. Tenha

especial atenção neste aspecto, pois, diferentemente de tantos pontos estudados em nossa área,
este é, de fato, absoluto, sem exceções. Os arquivos e documentos da Missão devem ser

protegidos de qualquer interferência. Sobre o assunto, tratamos também no capítulo anterior,


ao falar sobre imunidade de jurisdição, de um caso em que se discutiu judicialmente sobre a

inviolabilidade dos arquivos e documentos de uma Embaixada.

Na ocasião, consagrou-se, em conformidade com a Convenção de Viena aqui explorada,


que possuem os documentos da Missão inviolabilidade absoluta. Preste especial atenção, pois
pode ser uma casca de banana em prova, supondo-se situações em que se poderia excetuar tal

regra. Outro ponto também que poderia confundir numa prova seria a nomenclatura. Na ocasião

20
da Conferência, quando os Estados discutiam alguns pontos do projeto, debateu-se sobre a

nomenclatura, tentando troca-la por “correspondência”, entendendo que a mesma seria

inviolável. No entanto, esta palavra não confere a necessária proteção legal.

Pensemos em quantos documentos circulam dentro de uma Embaixada, versando sobre os

mais diversos assuntos, sem falar em arquivos como mapas, planejamentos, de produção dos
próprios agentes, que não correspondam a correspondências. Se adotada a nomenclatura
sugerida, de apenas “correspondência” corria-se o risco de dar proteção a apenas alguns

documentos.

Sendo assim, a definição “documentos” abrange não apenas correspondência, mas todos
os arquivos e documentos de uso interno, a exemplo de memorandos e estudos. Abrange o
termo, também, suportes de dados eletrônicos ou digitais da missão, como computadores, CD-
ROM, cartões de memória e outros de mesma natureza. Houve também uma ponderação quanto

à inclusão de “sigilosos”. Se tivesse sido aceita, significaria que apenas os documentos os


arquivos intitulados ou identificados como sigilosos estariam protegidos pela inviolabilidade.

Mas pense no risco que isso poderia ocasionar. Significaria dar margem para que o Estado
acreditado pudesse discutir sobre o conteúdo de determinado documento como sigiloso ou

não para lhe dar acesso ao respectivo. Sendo assim, em regra, entende-se que todos os
documentos da Missão devem ser entendidos como sigilosos.

Discutiu-se também sobre a necessidade de que tais documentos possuíssem “sinais oficiais

visíveis”, quando se debatia sobre o trânsito dos referidos documentos. Porque, pensemos – foi
o que levantaram alguns países como Estados Unidos – quando um destes documentos estiver
sendo deslocado, por exemplo, para outro escritório da embaixada e não estiverem devidamente

identificados. Levantou os Estados Unidos a impossibilidade de aplicar a disposição “em


qualquer lugar em que se encontrem”. Sobre tal ponto, reforçou-se que a inviolabilidade

independe do local em que estejam os documentos, ressaltando inclusive que é de praxe que
os Estados estrangeiros, ao deslocar documentos de Missão, o façam com a devida cautela.

Impor a necessidade de um selo ou certa identificação implicaria em limites à inviolabilidade de


documentos e arquivos, o que foi considerado desnecessário e inoportuno.

21
A última questão discutida refere ao termo “em qualquer momento”, atribuindo à

inviolabilidade a proteção, mesmo diante da extinção ou suspensão da missão. Podendo


acontecer seja em situações de guerra, como casos em que funcionários da missão tenham de

se ausentar e os documentos não mais estejam sob a proteção da missão. Neste ponto que se
ressalta a importância da independência desta inviolabilidade em relação às demais. Como não

decorre da inviolabilidade da Missão, permanecem os documentos e arquivos sob a proteção


da inviolabilidade absoluta.

18. Privilégios e Imunidades

Além dos privilégios concedidos diretamente à Missão, ainda em nome desta, são

concedidos privilégios e imunidades para os indivíduos que integram a missão, a exemplo da


inviolabilidade que se aplica à pessoa do Agente ou à sua residência e bens, por exemplo.

Os privilégios e as imunidades começam a incidir sobre seus beneficiários a partir do

momento em que a pessoa designada entre no território do Estado acreditado para iniciar
as funções oficiais ou, se encontrando em território deste, a partir do momento em que sua

nomeação seja notificada ao Ministério das Relações Exteriores.

Iniciados os trabalhos, com o devido desempenho das atividades diplomáticas, a Missão

pode se encerrar por diversos motivos, visto que estão diretamente vinculadas com as relações
mantidas entre os Estados em questão. Assim pode ocorrer, por exemplo, caso estes entrem em

guerra ou um dos países sofra um golpe de Estado.

Situações assim, embora incomuns, estão suscetíveis de acontecer no mundo


contemporâneo, dando origem ao fim da Missão diplomática e com o envio dos envolvidos de
volta a seu Estado. Com isso, como se dá a situação dos membros da Missão em relação aos
seus privilégios e imunidades? Estão acobertados até que momento?

22
Cientes dos diversos motivos que podem encerrar as relações diplomáticas entre os Estados,

a exemplo da declaração de persona non grata, como ocorreu recentemente no Brasil em relação
à embaixada Venezuelana pelo não reconhecimento do governo Maduro; ainda pode o agente

ser demitido, se aposentar ou até falecer. Diante das várias possibilidades, a Convenção prevê
que, com o encerramento das atividades oficiais, os privilégios e imunidades cessam no

momento em que o beneficiário deixar o país ou depois do fim de prazo que lhe tenha sido
dado para se dirigir ao seu país, desde que o tempo seja razoável. Esse respeito ao tempo de

saída, pelo motivo que for, não é afastado mesmo em situações anormais, como guerra
declarada ou mudança de regime.

Como veremos, os privilégios e imunidades de um agente são estendidos para a sua família,

sendo assim, o respeito a um prazo razoável para retirada aplica-se tanto para o oficial e como
para a sua família. Contudo, diante de falecimento do beneficiário original, ou seja, aquele cuja
função justifica a incidência dos privilégios e imunidades, a família deste continua gozando dos

mesmos, desde que não sejam nacionais do Estado acreditado, até o fim de um prazo razoável
que seja dado para deixar o território do Estado acreditado.

18.1. Inviolabilidade pessoal

Neste tópico, nos voltaremos para as proteções que a Convenção de Viena de 1961 confere
aos agentes diplomáticos. Antes de qualquer coisa, pontuamos para que você retorne e reveja

quem seriam estes indivíduos para que compreenda bem a quem se aplicam tais proteções.
Ressaltando as disposições previstas no artigo 37 da mesma norma internacional que confere

aos membros da família do agente diplomático, as mesmas proteções a ele conferidas.

Consiste num privilégio básico das relações diplomáticas, do qual derivam os outros
privilégios, que trataremos mais à frente. Desde a antiguidade, já era conferido aos enviados de

determinada nação, ostentando um caráter quase sagrado.

Dispõe a Convenção que o agente diplomático é inviolável, não podendo assim ser
submetido a nenhuma forma de detenção ou prisão. Ainda segundo tal dispositivo, aliando-

23
se com a dinâmica que sempre repetimos, o Estado acreditado tem o dever de garantir que

essa inviolabilidade nunca seja desrespeitada, devendo assim, impedir qualquer ofensa à sua
pessoa, liberdade ou dignidade.

Ressalte-se que em caso de legítima defesa, estando o beneficiário da inviolabilidade

correndo riscos desnecessários ou voluntários ou em caso de atos repreensíveis ou de privação


do uso das faculdades mentais, sendo necessário que as autoridades locais adotem medidas de

defesa ou precaução, não há que se falar em ofensa à referida inviolabilidade. A referência à


legítima defesa visa também reiterar, embora tenha sido julgado desnecessário, a proteção do

particular diante da necessidade de se defender de uma agressão provocada por Agente

diplomático.

Assim, temos que a inviolabilidade do agente diplomático visa proteger sua integridade e
dignidade, entre outros pontos, trazendo um aspecto de ação negativa ou abstenção para o

dispositivo, à medida que não se pode agir; e, ao fim, exige que o Estado acreditado adote
medidas adequadas para impedir ofensas à inviolabilidade, atribuindo assim um aspecto de

ação positiva, de exigência de atuação por parte do Estado, além da supramencionada


abstenção.

Se nos limitássemos às disposições da Convenção de Viena, encerraríamos nossas

considerações por aqui. No entanto, lembremos que a Convenção estudada é de 1961, mais de
50 anos atrás, cabendo assim refletir sobre seu impacto no cenário internacional. Sobre este

aspecto específico, quanto à proteção do agente diplomático, cabe pontuar que anos depois, a
regra prevista passou da eficácia, para a insuficiência diante de alguns fatos.

Entre 1968 e 1983, registrou-se 381 assassinatos de diplomatas e 824 feridos em ataques

decorrentes do desempenho de suas funções (dados de 2012). A Embaixada dos Estados Unidos

24
no Teerã foi tomada, o que chegou a ser tratado no filme Argo. Em Bogotá, a Embaixada da

República Dominicana foi tomada com o sequestro de treze embaixadores.

Reflexo dos acontecimentos desta natureza, foram assinados novos documentos

internacionais, visando coibir estas práticas, travando uma “guerra” contra o terrorismo no
mundo, exigindo-se penas adequadas e práticas de prevenção de crimes desta natureza.

Podemos mencionar a Convenção de Nova York sobre a Prevenção e a Punição de Crimes


contra Pessoas Protegidas Internacionalmente, da qual o Brasil aderiu em 1999 e já alcançou

a importante marca de 173 Estados-partes.

Além destes episódios, depois do atentado às Torres Gêmeas em 2001, quando se inicia a
“Guerra ao Terror” liderada pelos Estados Unidos, abre-se espaço para um novo capítulo na

proteção de agentes diplomáticos, principalmente mediante ameaças de terrorismo.

Por fim, na interpretação do dispositivo atualmente, quando menciona “medidas


adequadas”, aquelas ações positivas que falamos anteriormente, entende-se que deve ser lida
diante desse novo contexto, mesmo que posterior à elaboração do dispositivo. Assim, exige-se

que os Estados atuem para a garantia da proteção do agente diplomático de forma adequada,
dentro do contexto de ameaças a esses agentes.

 Neste cenário, podemos citar, a título de exemplo, a tentativa de expulsão de 34


diplomatas venezuelanos aqui do Brasil. A iniciativa foi suspensa pelo ministro Barroso,
posto que a notificação do governo brasileiro foi dada em maio de 2020, considerando
que a logística de retorno à Venezuela não poderia se dar em meio a uma pandemia.
Contudo, o ponto a ser observado aqui nos abre espaço para explicar um termo que
você pode encontrar tanto em questões como em jurisprudência, além de já termos
mencionado neste material, o conceito de persona non grata.

25
Desde 2019, o governo brasileiro, em decorrência do não reconhecimento do governo
Maduro, notificou a representação diplomática da Venezuela a deixar o país. Em maio
de 2020, o ultimato dado pelo Brasil foi “suspenso” pelo STF, como vimos. Contudo, em
setembro do mesmo ano, o Itamaraty comunicou ao corpo diplomático, consular e
administrativo da Venezuela que não eram mais bem-vindos no país, possuindo assim o
status de persona non grata.
 Persona non grata: Direito conferido pela Convenção de Viena de 1961 de notificar um
Estado acreditante de que o Chefe da Missão ou qualquer membro do pessoal
diplomático da Missão é persona non grata, que consiste em não mais receber a pessoa
em questão no território, ou seja, que não é mais bem-vinda. A exemplo de mudança
das circunstâncias, como o governo Maduro, ou diante de uma declaração de diplomata
alemão, por exemplo, que implique em ofensa à imagem brasileira. Para tanto, o Estado
acreditado não precisa justificar sua decisão11, devendo apenas fazer a notificação, como
ocorreu com a Venezuela aqui no Brasil. 12

18.2. Inviolabilidade da residência e propriedade

Quando falamos sobre a inviolabilidade dos locais de Missão, mencionamos também que

esta abrangia a residência do Chefe da Missão. Sendo assim, aqui não apenas reforçamos esse
aspecto, que recebeu dupla proteção pela Convenção, mas também trazendo o artigo 30 do
mesmo texto que inclui a residência dos demais membros do pessoal diplomático da Missão.

Sendo assim, a residência do Chefe da Missão, bem como as residências dos demais
membros do pessoal diplomática da Missão gozam de inviolabilidade. Significa dizer que o
local em que vivem esses sujeitos é protegido, podendo ser este um quarto de hotel, uma casa

ou um apartamento.

Análoga à proteção de documentos que já mencionamos, o dispositivo também confere aos


documentos, correspondência e bens dos referidos sujeitos. Abrangendo assim, aqueles que

se encontrem dentro de sua residência, como documentos e o carro da garagem, ressaltando


que os bens móveis também são invioláveis pelo uso que o agente diplomático o dá, não sendo

11
Vide questão 4
12
Vide questão 5
26
tal proteção decorrente somente da inviolabilidade da residência, mas uma proteção

independente.

Neste aspecto, cabe uma ressalva. O artigo utiliza a expressão “residência particular do agente

diplomático”, que não deve ser interpretada de outra forma diferente de “local em que vive”,
como mencionamos sobre a possibilidade deste ser um quarto de hotel, podendo o mesmo ser

utilizado, por exemplo, para abrigar um perseguido político que lhe peça abrigo.

18.3. Imunidade jurisdicional

Oriundo da necessidade de conceder liberdade aos agentes diplomáticos para o bom

exercício funcional, prevê, a Convenção de Viena, imunidade de jurisdição civil e penal para
esses agentes nos Estados em que estejam acreditados. Devemos analisar cada ponto com
cautela. Neste tópico, dedique especial atenção, pois tem grande potencial de cobrança, já que

versa sobre restrições, na prática à jurisdição brasileira, semelhante ao que discutimos no


capítulo anterior quanto à imunidade dos Estados estrangeiros.

Observe primeiramente a diferença de uso do termo. Até então, falamos em “inviolabilidade”,

seja da Missão, dos locais de Missão, juntamente com a inviolabilidade pessoal do Agente
diplomático. A inviolabilidade direciona-se às autoridades administrativas do Estado, enquanto

que a imunidade aqui discutida empreende restrições diretas ao Judiciário, limitando o alcance
a jurisdição brasileira.

18.3.1. Imunidade penal

A primeira imunidade decorre diretamente da inviolabilidade pessoal do Agente diplomático,


diante da impossibilidade de lhe impor medidas de detenção ou prisão. Assim como a

27
inviolabilidade de documentos e arquivos, esta imunidade é absoluta, não perdendo tal caráter
diante da possibilidade de renúncia à imunidade por parte do Estado acreditante.
Importante destacar que esta imunidade não significa impunidade. Assim como
ressaltamos ao falar de imunidade de jurisdição dos Estados estrangeiros, implica apenas em
dizer que a jurisdição do Estado acreditado não é o local adequado para buscar a
responsabilização.
Este ponto foi especialmente debatido pelos Estados, diante da necessidade de se incluir
onde este agente poderia ser responsabilizado. Tendo estes optado por silenciar e deixar o
dispositivo restrito apenas ao impedimento de submissão do agente à jurisdição do Estado
acreditado, fica a cargo de cada Estado determinar como se dará a responsabilização do agente
diplomático que tenha cometido crime no exterior, o qual não está imune à jurisdição do
Estado acreditante, conforme previsão expressa da Convenção.13
No caso do Brasil, o Código Penal juntamente com o Código de Processo Penal, se ocupam
em prever a submissão do referido crime à jurisdição brasileira já fixando o juízo competente.
Contudo, esta previsão não é uma regra entre demais países. Sendo assim, há autores que a
classificam como soft law, pois a norma, por si só, não é capaz de criar obrigatoriedade legal
de punição do agente diplomático em seu Estado de origem. Entende-se que desta não está
imune, mas não necessariamente pune a referida conduta. Há o que podemos chamar de
obrigação moral dos Estados em harmonizar sua legislação, tal qual o Brasil, em buscar de
garantir que a responsabilização do agente ocorra em algum lugar.
A imunidade, por absoluta, acrescenta que se aplica “quaisquer que sejam os delitos”,
contudo, deve-se fazer a leitura compreendendo que estes delitos referem-se àqueles puníveis
pelo direito interno do Estado acreditado, até por uma questão lógica de alcance de jurisdição.
Pensemos. Não seria sequer possível discutir sobre a aplicação à crimes que já não estejam sob
o alcance da jurisdição brasileira, por exemplo. Assim, a imunidade fica limitada, embora
absoluta, aos crimes de alcance desta mesma jurisdição.

13
Vide questão 11
28
Dentro desta imunidade em matéria penal, é importante refletir sobre os crimes de
competência do Tribunal Penal Internacional, criado pelo Estatuto de Roma, o qual trataremos

em capítulo futuro, mas para elucidar a imunidade do agente é importante pontuar brevemente
sobre este tribunal. Já discutimos sobre normas de jus cogens e a proteção internacional que

lhes é conferida. Sendo assim, seria uma violação ao Direito Internacional permitir imunidade
absoluta a quem quer que seja quando se tratar de normas de jus cogens, visto que estas

possuem status diferenciado no Direito Internacional.

O Estatuto de Roma prevê os crimes que são de competência do Tribunal e reforça,


especificamente em seu artigo 27, § 2º que a qualidade oficial de um sujeito não obsta a

jurisdição do tribunal em relação ao indivíduo. A previsão foi criada buscando impedir que
crimes contra a humanidade e outros de mesma natureza não fiquem impunes em decorrência
de uma proteção estatal conferida a um de seus representantes. Por fim, lembre-se que embora

absoluta, a imunidade do agente não alcança os crimes de competência da Justiça Penal

Internacional.

18.3.2. Imunidade em matéria cível

Quanto à esta imunidade, houve uma preocupação em tentar equilibrar os princípios de


inviolabilidade e da imunidade jurisdicional do agente diplomático com o direito a uma justa

indenização de um terceiro, vítima de imprudência do agente diplomático ou membro de sua


família.

Sendo assim, o dispositivo prevê imunidade civil e administrativa ao agente mesmo que a

situação não tenha qualquer relação com o exercício diplomático, no entanto, prevê três
hipóteses em que tal imunidade não se aplica. Para os casos em que há um prejuízo causado

pelo agente passível de submissão à jurisdição em matéria cível, há um Recomendação anexa à

29
Convenção que afirma que o Estado acreditante deve renunciar à imunidade nestes casos

quando isto for possível sem afetar o exercício das funções da Missão; não sendo possível tal
renúncia, o Estado acreditante deve se empenhar em buscar uma solução amistosa para a

situação.

Observe que embora estejamos tratando de uma norma de Direito Internacional, ainda
estamos em um cenário de articulação política, assim, em nome da manutenção de boas relações

entre os países, deve, primeiramente o representante diplomático obedecer diligentemente o


direito interno do Estado em que se situa, até porque ao iniciar a Missão, este assume o

compromisso de respeito ao direito interno. E, diante de sua ineficácia em cumpri-lo, deve o


Estado acreditante atuar de forma a buscar uma solução satisfatória. Em último caso, pode ainda,

o Estado acreditado se utilizar do recurso de declaração de persona non grata, conceito já


explanado aqui.

Um ponto comum de controvérsias até pela recorrência diz respeito às infrações de trânsito
cometidas por agentes diplomáticos. No Brasil, o CONTRAN, por meio de resolução, passou a

exigir o registro de veículos automotores pertencentes a missões e agentes diplomáticos no


RENAVAM, abrindo assim a possibilidade de aplicação de multas de trânsito, que, não poderão

ser executadas em decorrência da imunidade. No entanto, esta previsão corre o risco de

confundir as imunidades, entre aquelas conferidas ao Estado e ao agente diplomático.

Quanto à imunidade de matéria cível, a Convenção prevê três exceções para a sua aplicação,
vejamos cada uma delas.

a) Uma ação real sobre imóvel situado no território do Estado acreditado, salvo se o
Agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditante para os fins da
Missão:14 Este dispositivo, por ser uma norma internacional, inclui a hipótese em que o

14
Vide questão 1
30
Chefe de Missão adquira um imóvel em virtude da Missão, para tornar esta última
possível. Há alguns Estados que não permitem que Estados estrangeiros adquiram a
propriedade de um imóvel em seu território, sendo assim, necessário se faz que a
propriedade adquirida pelo Chefe da Missão. Assim, quando o Chefe de Missão adquirir
a propriedade em decorrência da necessidade para a Missão, esta exceção não se aplica.
Em virtude da negação repetida, vamos reiterar. Caso o Chefe de Missão adquira a
propriedade de um imóvel para os fins da Missão diplomática, possui o Chefe da
Missão, em relação a este imóvel, imunidade de jurisdição em matéria civil.
No Brasil, diferentemente de outros países, há a possibilidade de que Estados estrangeiros
adquiram imóveis para serem utilizados como sede de representantes diplomáticos ou
de agentes consulares.
Sendo assim, caso o Chefe de Missão adquira imóvel em seu nome e deste decorra
litígio, pode o agente configurar no polo passivo da demanda, desde que não o tenha
adquirido em benefício do Estado estrangeiro para atividade diplomática.
b) Uma ação sucessória na qual o Agente diplomático figure, a título privado e não em
nome do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário :
15
Este ponto é controvertido a depender do Estado em que se esteja discutindo, em
decorrência da compatibilidade com a legislação interna. Pois, em face de um caso
concreto, não poderia um tribunal julgar a demanda caso todas as partes não estejam
submetidas à sua jurisdição.
Portanto, o dispositivo visa solucionar o cenário em que figura o Agente diplomático
como parte na demanda sucessória. Sem a referida exceção, tinham-se que se o Agente
diplomático quiser contestar uma sucessão iniciada em território do Estado acreditado, o
deverá fazer nos termos do artigo 32, que dispõe sobre a iniciativa de uma ação pelo
agente diplomático, ocasião em que se submete voluntariamente à jurisdição do Estado
acreditado.
Em caso contrário, se houvesse contestação da sucessão e o diplomata, por meio do
Estado acreditante, se recusasse a renunciar de sua imunidade, os terceiros envolvidos
não teriam aonde recorrer. Assim, devido à natureza da demanda, observa-se que não

15
Vide questão 7
31
tem qualquer relação com a atividade diplomática, motivo pelo qual a Convenção
expressa a exceção em que não se aplica a imunidade.16
c) Uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo
Agente diplomático, no Estado acreditado, fora de suas funções oficiais: Embora haja
previsão expressa na mesma Convenção (art. 42) de que ao Agente diplomático é vedado
o exercício de outra atividade alheia ao exercício da representação diplomática, pode
vir a ocorrer que o mesmo a desempenhe ou um membro de sua família o faça, causando
assim prejuízo a um terceiro. Neste caso, o Estado acreditado poderá considerar o
diplomata persona non grata, mas isso não resolve a situação do terceiro prejudicado.
Motivo pelo qual este dispositivo prevê a exceção à imunidade de jurisdição em busca
de proteção de terceiro que seja atingido pelo exercício de atividade diferente da
representação diplomática.

18.3.3. Desobrigação de prestar depoimento como testemunha 17

A Convenção, objetivando proteger a inviolabilidade da Missão, do agente e demais que já


citamos, prevê também a impossibilidade de que o Agente diplomático seja obrigado a prestar
depoimento como testemunha. O que não significa que este não possa fazê-lo.
Trata-se daquilo que reiteramos várias vezes. As relações entre os Estados são muito regidas
pela manutenção de boas relações, sendo pautada pela diplomacia, em seu sentido político.
Portanto, caso um agente diplomático tenha sido testemunha de um crime grave, mesmo diante
da ausência de obrigatoriedade, surge uma obrigação moral de prestar tal depoimento. Neste
caso, pode ainda o agente condicionar a forma como deseja fazê-lo, por exemplo, por escrito,
contudo, não está obrigado.18

16
Vide questão 12
17
Vide questão 3
18
Vide questão 1
32
18.4. Imunidade fiscal

A terceira imunidade concedida aos agente diplomáticos é a fiscal, que os desobriga do


pagamento de todos os impostos e taxas. Contudo, prevê juntamente as seguintes exceções:

a) Impostos indiretos que estejam incluídos no preço das mercadorias ou dos serviços;19
b) Impostos e taxas sobre bens imóveis privados, que estejam no território do Estado
acreditado, excetuando-se a hipótese em que o agente o tenha adquirido para os fins
da Missão.
c) Os direitos de sucessão percebidos pelo Estado acreditado;
d) Impostos e taxas sobre rendimentos privados que tenham a sua origem no Estado
acreditado e os impostos sobre o capital, referente a investimentos em empresas
comerciais no Estado acreditado
e) Os impostos e taxas cobrados por serviços específicos prestados (como água, esgoto,
iluminação pública) em países em que estes serviços são prestados por empresas
particulares.
f) Os direitos de registro, de hipoteca, custas judiciais e imposto de selo relativos a bens
imóveis.

Ressaltando que aquilo que têm incidência direta não poderá ser cobrado do agente, mas
as cobranças indiretas, como mercadorias com imposto implícito, incidirão normalmente.

Decorrente da imunidade dos Estados, aquilo que diz respeito a uso oficial ou em função da
Missão estará livre de encargos.

18.5. Imunidade de Execução

A imunidade de execução está intimamente ligada à imunidade civil e suas respectivas


exceções. Considerando que apenas diante desses cenários previstos pelas exceções que

acabamos de discutir, tenha em mente que estamos falando sobre a possibilidade excepcionais
em que se afasta a imunidade.

19
Vide questão 7
33
Primeiramente, a Convenção confere ao Agente diplomático a imunidade contra qualquer

medida de execução, excetuando-se as hipóteses acima destacadas (ação real sobre imóvel
privado; ação sucessória e ação referente ao desempenho de atividade alheia à diplomacia) as

quais não podem afetar a inviolabilidade pessoal do Agente ou de sua residência.

Assim, nas hipóteses em que for possível a submissão do agente diplomático à jurisdição
do Estado acreditado, pode este também sofrer medidas de execução, desde que não atinja

as inviolabilidades que aqui discutimos, que protegem a pessoa do Agente diplomático, sua
integridade e dignidade, assim como a sua residência. Inviolabilidades estas que se

desrespeitadas, atingem o sucesso e eficácia da Missão diplomática.

Significa dizer que o imóvel no qual o Agente diplomático está residindo é protegido pela
inviolabilidade da residência, não podendo ser objeto de medidas executórias. Contudo, caso

haja outros imóveis em nome do Agente diplomático, que, por exemplo, os aluga,
desenvolvendo atividade comercial, estes não são protegidos pela inviolabilidade, podendo

entrar na execução sem impedimentos.

19. Renúncia à imunidade

A Convenção também prevê a hipótese de renúncia à imunidade de jurisdição de seus

Agentes diplomáticos diferente das hipóteses que discutimos acima. As exceções à imunidade
de jurisdição são previsões específicas do artigo 31 da Convenção, que não deve ser

confundida com a hipótese de submissão do Agente diplomático à jurisdição do Estado


acreditante, em caso de renúncia por parte do Estado de origem do Agente.

A norma prevê a possibilidade de renúncia à imunidade do Agente de forma genérica,


sem a necessidade de que se configure uma situação específica como no tópico anterior.
Ressalta-se assim que a intenção por trás da imunidade não é a de beneficiar o indivíduo, mas

34
o Estado acreditante. Dessa forma, tem o Estado acreditante a liberdade de retirá-la quando o

Agente diplomático deixa de agir em nome de seus interesses.

Fique atento para a legitimidade de renúncia da imunidade. O Agente diplomático não


pode, sozinho, renunciar à sua imunidade. Como a mesma foi conferida ao Agente em

decorrência de sua função e compreendendo-se que esta consiste numa imunidade conferida
ao Estado acreditante,20 somente este último21 pode manifestar a renúncia que deve ser feita

de maneira expressa, podendo incidindir quanto à imunidade civil, penal e administrativa.2223

O Caso Lótus, que reforça o que já discutimos em relação aos crimes de competência do
Tribunal Penal Internacional, ocorreu em meados de 2000, quando o Ministro das Relações
Exteriores do Congo, acusado de graves violações ao Direito Internacional Humanitário e de
crimes contra a humanidade, teve sua prisão decretada por um juiz belga. Diante da situação,
o Congo submeteu o caso à Corte Internacional de Justiça, que reconhecendo a imunidade à

jurisdição do agente, reafirmou a proibição de prisão por autoridades de qualquer Estado


estrangeiro, destacando que o mesmo se aplicava mesmo que houvesse a pratica de crime

contra os direitos humanos.

Neste caso, cabe reiterar uma análise que fizemos anteriormente. O caso foi julgado pela
CIJ em fevereiro de 2002, quanto a um acontecimento de 2000. Em julho de 2002, entra em

vigor o Estatuto de Roma, que afeta sensivelmente a possibilidade de uma decisão como esta
ser proferida novamente. Em decorrência da disposição do Estatuto que visa inibir o

cometimento de crimes graves (genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e


crime de agressão) sob o manto protetor de sua qualidade de oficial, não pode mais um agente
diplomático ou membro de missão, assim como chefes de Estado se valer desta condição para

violar direitos humanos – restrito aos crimes de competência do Tribunal Penal Internacional –
diante da impossibilidade de julgamento no país em que cometeu o crime.

20
Vide questão 11
21
Vide questão 1
22
Vide questão 2
23
Vide questão 10
35
A renúncia aqui discutida se limita ao Agente diplomático, com já reiteramos, sendo para
tanto necessária a manifestação expressa do Estado acreditante. Contudo, no que concerne aos

demais membros do pessoal da Missão, em princípio, basta uma manifestação do Chefe da


Missão, que falando em nome de seu governo, tem o poder de renunciar à imunidade em

relação ao seu pessoal. Sendo a manifestação do Chefe da Missão feita em nome do Estado
acreditante24, ressalta-se que o mesmo Estado também pode renunciar à imunidade dos demais

membros do pessoal da Missão, em relação às situações em que esteja desempenhando funções


relacionadas à sua atividade diplomática.

Podemos citar um caso peculiar que ocorreu há mais de um século na Bélgica. O caso
Balmaceda-Waddington em que o filho de um encarregado de negócios chileno assassinou

outro agente diplomático de sua missão em decorrência de uma recusa de casar com a filha do
assassino. Este se refugiou na embaixada, onde as autoridades belgas nada poderiam fazer.

Diante da pressão popular, o Chefe da Missão renunciou à imunidade de jurisdição de seu filho,
que pôde então ser julgado pela justiça local. Em tal caso, a Bélgica ainda consultou, visando
evitar controvérsias, o Estado do Chile em busca de confirmação quanto à renúncia para então

prender o chileno.

Tal caso ilustra a possibilidade de que o Chefe da Missão renuncie a imunidade de jurisdição
de seu pessoal, que por si só já bastaria. Contudo, pode o Estado acreditado ainda consultar o

Estado acreditante antes de tomar medidas cabíveis, visando evitar qualquer desentendimento.

 Quando um agente diplomático ou pessoa que goza de imunidade de jurisdição


inicia uma ação judicial

O artigo ainda traz uma hipótese que merece atenção. Diante do cenário em que um Agente
diplomático ou pessoa que possui imunidade, inicia uma ação judicial, havendo reconvenção

24
Vide questão 11
36
(obviamente, dentro da mesma ação) não poderá mais invocar a imunidade de jurisdição.25 Não

pode o Agente ou o beneficiário se utilizar de suas imunidades para obter vantagens em relação
a terceiros. Consiste naquele equilíbrio que mencionamos no começo desse capítulo, entre

caráter representativo e necessidade funcional.

Observe que o beneficiário, ao dar início à ação, se submete voluntariamente à jurisdição


do Estado acreditado, posição confortável em que se encontra por estar pleiteando

reconhecimento de direito. No entanto, ligada a esta ação principal, se iniciada uma


reconvenção, não pode então o beneficiário de repente invocar a imunidade, pois desta abriu

mão no primeiro momento.2627

Um questionamento pode surgir ao conciliar as disposições do artigo 32, pois afirma que a
renúncia deve ser feita de maneira expressa e depois dispõe sobre a possibilidade de o agente

iniciar uma ação, configurando como autor, no qual não poderia invocar a imunidade diante de
uma reconvenção ligada à ação principal. Pois bem, poderia ser interpretada como uma hipótese

de renúncia tácita, mas cuidado com essa interpretação. Houve uma discussão na elaboração
deste artigo que esclareceu que, o que se presume, na verdade, é que houve uma renúncia
expressa do Estado acreditante no ato de iniciar a ação, sendo esta válida também para a

reconvenção.

Quanto à uma possível incompatibilidade entre as disposições que acabamos de expor,

vejamos o seguinte. Primeiramente, gozam Agentes diplomáticos e demais membros do pessoal


da Missão (incluindo suas respectivas famílias que com estes convivam) de imunidade de

jurisdição civil, penal e administrativa. Vimos os limites e as exceções de cada uma destas.

25
~Vide questão 3
26
Vide questão 1
27
Vide questão 11
37
Sempre partindo-se da lógica de que a imunidade (diferente da inviolabilidade) é concedida ao

Estado acreditante e não há um intuito de benefício pessoal do agente ou demais beneficiários.

Seguindo o mesmo raciocínio, se a imunidade é concedida ao Estado, também na pessoa


de seus representantes, pode o mesmo retirá-la quando achar conveniente, diante da

necessidade no caso prático ou por interesse de manter suas relações com o Estado acreditado.

É o caso da renúncia, que significa uma hipótese genérica de afastamento da imunidade


de jurisdição. Pois bem, reforça ainda o dispositivo que tal renúncia, que deve ser feita pelo

Estado acreditante deve ser feita de maneira expressa. Mesmo que o Agente diplomático inicie
a ação, que pode resultar numa reconvenção ligada à ação principal, se presume que houve

uma renúncia expressa à jurisdição do Estado acredito no momento inicial (ao ingressar em

juízo), estendendo-se assim também à reconvenção.

 Renúncia à imunidade em matéria civil ou administrativa não implica


em renúncia quando às medidas de execução da sentença

Novamente, tenha cuidado para não confundir os institutos. Estamos aqui falando de
renúncia de caráter genérico, mas devemos observá-la em harmonia com as demais hipóteses
já estudadas. Em primeiro plano, assim como na imunidade de jurisdição dos Estados, nas

hipóteses que estudamos, em hipótese de renúncia por parte do Estado estrangeiro na ação
principal, está não atinge a execução, o mesmo se utiliza para a renúncia em relação ao Agente

diplomático.

Caso o Estado acreditante renuncie (renúncia genérica) à imunidade de jurisdição do Agente


diplomático ou demais beneficiários de imunidade, esta não implica numa renúncia automática

para a fase de execução.28 Para tanto, é necessária nova renúncia expressa para a execução. 2930
Rememore que no caso de renúncia genérica, que pode se aplicar a qualquer caso de matéria

penal, administrativa ou civil, pode o beneficiário ser submetido à jurisdição local por expressa

28
Vide questão 11
29
Vide questão 1
30
Vide questão 6
38
vontade do Estado acreditante. Mas, sendo este condenado, para que haja execução, é

necessária nova renúncia expressa por parte do Estado acreditante31 e ainda, lembre-se que há
limites à esta execução com base nas inviolabilidades, tanto do Agente diplomático, quanto da

residência do mesmo.

20. Beneficiários de Privilégios e Imunidades

Obedecendo a ordem das disposições na Convenção, trazemos agora quem serão aqueles

beneficiados pelos privilégios e imunidades. A ordem é proposital, posto que se torna um pouco
mais didático primeiramente estudar quais os respectivos benefícios para então compreender
quem serão seus beneficiários.

A Missão diplomática é formada, pelas pessoas que já vimos, a exemplo do Chefe da Missão,
do pessoal do administrativo, mas o que é interessante de se fazer primeiramente é separar o
pessoal oficial, do não oficial. Tenhamos então que o pessoal oficial é aquele formado por

funcionários designados, por exemplo, chanceleres, conselheiros, intérpretes, entre outros. Já o


pessoal não oficial consiste naqueles que não possuem função pública a exemplo da família

destes funcionários públicos e de secretários particulares.

Assim, os privilégios do Chefe de Estado e do pessoal diplomático estende-se

respectivamente às suas famílias. E conforme vamos mudando de cargo, observamos uma


redução dos privilégios concedidos tanto para o funcionário quanto para a sua respectiva família.

O pessoal administrativo e técnico juntamente com suas famílias têm menos prerrogativas
que o pessoal da Missão e o pessoal de serviço da Missão tem ainda menos prerrogativas que

31
Vide questão 3
39
os últimos citados. E os citados empregados particulares, por sua vez, têm o mínimo de

privilégios.

Embora ainda haja certas discussões sobre quem pode efetivamente ser considerado família,
além de cônjuge e filhos, atualmente se estendem os privilégios para aqueles membros de

família que vivam sob a dependência do beneficiário no exterior e que tenham seu nome
incluído na lista diplomática, em relação ao Chefe de Missão e membros do pessoal da Missão.

Ressalte-se que o pessoal de serviço, custeados pelo Estado acreditante, apenas gozam de

privilégios em relação aos seus atos de ofício, ou seja, aqueles restritos à sua atividade
funcional, não se estendendo para os seus familiares. Vejamos de forma didática a distribuição
dos privilégios e imunidades.

 família de um agente diplomático, assim como o agente em si, goza dos privilégios e
imunidades que vão desde o artigo 29 ao 36, considerando que vivam com este, sob
sua dependência. Interessante notar que a família do agente, para gozar dos respectivos
privilégios e imunidades não pode ser nacional do Estado acreditado. Ou seja, digamos
que uma embaixadora alemã em Missão no Brasil seja casada com um brasileiro. Neste
caso, a embaixadora goza dos respectivos privilégios e imunidades, mas o seu marido
não.
 Membros do pessoal administrativo e técnico, juntamente com suas famílias, gozarão
dos privilégios e imunidades previstos entre os artigos 29 e 35, quais sejam:
inviolabilidade pessoal (contra detenção e prisão); inviolabilidade de residência;
inviolabilidade de documentos, incluindo correspondências, estendendo-se aos seus
bens; imunidade de jurisdição penal, civil e administrativa (ressalvadas as mesmas
hipóteses discutidas anteriormente; também não é obrigado a prestar depoimento como
testemunha, nem está sujeito à medidas de execução; isenção de disposições de seguro
social;32 isenção fiscal; A ressalva específica que é feita para esse pessoal diz respeito à
condição para aplicação dos privilégios e imunidades. É necessário além de não ser
nacional do Estado acreditado nem neste possuir residência permanente 33, quanto às

32
Vide questão 7
33
Vide questão 2
40
imunidades civil e administrativa, estas apenas se aplicam aos atos ligados à função
oficial desempenhada.34
 Membros do pessoal de serviço, novamente, desde que não sejam nacionais do Estado
acreditado nem tenham neste residência permanente, gozarão de isenção de impostos
e taxas sobre salários que recebam do Estado acreditante em relação aos serviços que
lhe presta; além de imunidade quanto aos atos praticados no exercício de suas
funções.
 “Criados” ou empregados particulares, desde que não sejam nacionais do Estado
acreditado nem neste tenham residência permanente, gozam de isenção de impostos e
taxas em cima de seus salários relativos aos serviços prestados. Imunidades e privilégios
que possam vir a ter dependem de reconhecimento do Estado a que está vinculado.
Resguarda o dispositivo, ao Estado acreditado o direito de exercer jurisdição sobre estas
pessoas, desde que não interfira no desempenho de suas funções junto à Missão.

Em respeito ao direito que os Estados têm de impor sua jurisdição aos seus nacionais,
caso beneficiário de imunidade penal tenha cometido um crime punível no país em que se

encontra, tendo este nacionalidade no Estado acreditado, poderá ser julgado por este, não
podendo invocar a imunidade nem para que seja julgado no Estado acreditante.

Ilustrando, observemos uma situação em que um agente diplomático com dupla

nacionalidade brasileira e italiana tenha cometido crime na Itália. Este poderá normalmente ser
julgado na Itália, visto que é nacional deste país, situação em que se afasta a imunidade de

jurisdição.

34
Vide questão 2
41
21. Os Cônsules e funcionários consulares

Diferentemente dos agentes diplomáticos, os cônsules desempenham atividades mais

administrativa. O que não significa dizer que estes não desempenham atividade representativa,
contudo deixam o aspecto político dessa representação para os membros de Missão

Diplomática.

Os consulados, locais de trabalho dos cônsules, consistem em repartições públicas


estabelecidas pelos Estados em portos ou cidades de outros Estados e são responsáveis pela

legalização de documentos, controla-se a política de navegação de portos nacionais, lidam e


fornecem com informações políticas, econômicas, entre outras funções.

Podemos afirmar que os cônsules desempenham uma função de órgão de política

comercial, atuando também em prol da proteção de interesses particulares dos nacionais de


seu Estado. Estamos citando as funções principais, usualmente mais mencionadas, mas a

Convenção de Viena de 1963 enumera as atividades a serem desempenhadas pelos cônsules,


incluindo, por exemplo, a colaboração com tribunais do Estado em que se situa, articulação e
acompanhamento da vida comercial, econômica e cultural do Estado em que se encontra,

entre tantas outras.

Também é esta repartição a responsável pela emissão de passaporte e documentos de


viagem, assim como vistos e documentos especiais, sendo o local em que, por exemplo, caso

você seja furtado no exterior e precisa emitir novo documento, é o local ao qual você deve se
dirigir. Também é o local que você deve procurar caso se veja envolvido com as autoridades

locais de um Estado estrangeiro em que você se situe. Entre várias outras funções que não
incluem um caráter político representativo. Ressalte-se que os locais consulares gozam de

inviolabilidade quanto à sua utilização funcional, gozando, inclusive de imunidade tributária.

 Espécies:
A) Cônsules-gerais
B) Cônsules
C) Vice-cônsules
D) Agentes consulares
42
 Denominação de acordo com a origem:
A) Cônsules de carreira ou enviados: funcionários públicos do Estado que os envia.
Devem ser, obrigatoriamente, nacionais do Estado que envia.
B) Cônsules honorários ou escolhidos: exercem um mandato, sendo apenas
mandatários do Estado que os envia.35 Podem ser ou não nacionais do Estado que
envia, mas precisa manter alguns vínculos com o respectivo Estado.

Uma vez nomeado, o cônsul recebe um documento para se apresentar perante o governo

do Estado para o qual se destina chamado de carta patente ou provisão. Com a apresentação
do documento, o governo do Estado ao qual se destina lhe concede uma autorização, chamada

de exequatur, o declarando apto para o exercício de suas funções36. Esta autorização concede
ao cônsul a investidura para o desempenho de suas funções, sendo o exequatur
imprescindível, ressalvada a hipótese de concessão de autorização provisória especial.

Da mesma forma como discutimos antes, que pode um Estado recusar a presença de um
estrangeiro em seu país, mesmo que seja com uma finalidade oficial, pode o Estado ao qual
será enviado o cônsul recusar a concessão do exequatur, sem que seja necessário justificar tal

ato. Mesmo depois de concedido, estando o cônsul já em território de outro Estado, pode este
cassar a referida autorização, o que implica em declaração do cônsul como persona non grata,

o qual, como já vimos, também não exige qualquer justificativa, implicando apenas num abalo
das relações diplomáticas entre os países.

A Convenção ainda traz, semelhante à Convenção de 1961, alguns conceitos que

denominam os sujeitos envolvidos nas relações consulares, vejamos alguns deles:

a) repartição consular: todo consulado geral, consulado, vice-consulado ou


agência consular;

b) jurisdição consular: o território atribuído a uma repartição consular para o


exercício das funções consulares;

35
Vide questão 13
36
Vide questão 6
43
c) funcionário consular: toda pessoa, inclusive o chefe da repartição consular,
encarregada nesta qualidade do exercício de funções consulares;37

d) empregado consular: toda pessoa empregada nos serviços administrativos ou


técnicos de uma repartição consular;

e) membro do pessoal de serviço: toda pessoa empregada no serviço doméstico


de uma repartição consular;

f) membro da repartição consular: os funcionários consulares empregados


consulares e membros do pessoal de serviço;

g) membro do pessoal privado: a pessoa empregada exclusivamente no serviço


particular de um membro da repartição consular;

h) locais consulares: os edifícios, ou parte dos edifícios, e terrenos anexos, que


qualquer que, seja seu proprietário, sejam utilizados exclusivamente para as
finalidades da repartição consular;

i) arquivos consulares: todos os papéis, documentos, correspondência, livros,


filmes, fitas magnéticas e registros da repartição consular, bem como as cifras e
os códigos, os fichários e os móveis destinados a protegê-los e conservá-los

21.1. Privilégios e Imunidades consulares

Os cônsules gozam de imunidades e privilégios semelhantes aos membros de Missão

Diplomáticas, com algumas diferenças sensíveis, posto que para estes o rol é mais reduzido e
na maioria dos casos, restringe-se às atividades oficiais.38 Adiante-se que quanto aos atos de

vida civil, não goza o cônsul de qualquer privilégio ou imunidade, ou seja, para os atos
particulares, é apenas um cidadão em território estrangeiro.

37
Vide questão 6
38
Vide questão 13
44
Contudo, vejamos as principais diferenças e alguns pontos importantes que costumam ser

mais cobrados em prova, principalmente fazendo um paralelo com os benefícios concedidos


aos membros de Missão Diplomática.

Os cônsules e também os funcionários consulares gozam de inviolabilidade física, que

impede medida de detenção em relação aos atos de ofício.39

Já quanto à imunidade em matéria penal, diferentemente dos agentes diplomáticos, não


há o caráter absoluto, pois está restrita também aos seus atos de ofício.40 Tampouco, tal benesse

se estende aos seus familiares. Assim, caso o cônsul francês, situado na África do Sul agrida uma
pessoa na via pública deixando-a gravemente ferida, não há que se falar invocar imunidade,

pois não estava o cônsul desempenhando qualquer função relacionada à sua atividade, podendo
ser submetido à jurisdição local normalmente. Neste diapasão, pode-se mencionar HC apreciado

pelo STF em que se julgou sobre a falsificação de passaportes por parte de um cônsul situado
aqui no Brasil, tendo-se decidido pelo reconhecimento da imunidade, por ser a emissão deste

documento atos de ofício do oficial. No mesmo sentido, a imunidade em matéria cível se


restringe aos atos de ofício e tão somente a estes.41

Quanto às inviolabilidades, gozam os cônsules e funcionários consulares de inviolabilidade

pessoal e oficial, abrangendo a residência oficial e os arquivos consulares, protegidos contra


busca ou penhora. Gozam ainda de isenção fiscal relativa, isentando-os do pagamento de
impostos pessoais e daqueles que recaiam sobre seus móveis. Já a imunidade domiciliar

abrange somente os serviços consulares e o arquivo. Observe que com isso, não pode o cônsul
conceder asilo no Consulado.

A única imunidade absoluta que aqui podemos mencionar é aquele que abrange os arquivos

e documentos, visto que incluem aqueles diplomáticos, os quais possuem imunidade onde que
quer estejam, como já discutimos. 42

39
Vide questão 13
40
Vide questão 9
41
Vide questão 12
42
Vide questão 8
45
QUADRO SINÓPTICO

CONCEITO DEFINIÇÃO

Pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa


CHEFE DA MISSÃO
qualidade

MEMBROS DAS MISSÃO Chefe da Missão e os membros de pessoal da Missão

MEMBROS DO PESSOAL DA Membros do pessoal diplomático, do pessoal administrativo


MISSÃO e técnico e do pessoal de serviços da Missão

MEMBROS DO PESSOAL Membros do pessoal da Missão que tiverem a qualidade


DIPLOMÁTICO diplomata

Chefe da Missão ou um membro do pessoal diplomático


AGENTE DIPLOMÁTICO
da Missão

MEMBROS DO PESSOAL Membros do pessoal da Missão empregados no serviço


ADMINISTRATIVO E administrativo e técnico da Missão
TÉCNICO

MEMBROS DO PESSOAL DE Membros do pessoal da Missão empregados no serviço


SERVIÇO doméstico da Missão

“CRIADO” OU EMPREGADO Pessoa de serviço doméstico de um membro da Missão


PARTICULAR que não seja empregado do Estado acreditante

Edifícios, ou partes dos edifícios e terrenos anexos, seja


LOCAIS DA MISSÃO quem for o seu proprietário, utilizado para as finalidades da
Missão, inclusive a residência do Chefe da Missão

46
INVIOLABILIDADES E DEFINIÇÃO
IMUNIDADES DA MISSÃO

Abrange os locais da Missão (que inclui a residência do


Chefe da Missão)
LOCAIS DA MISSÃO
Deve ser respeitada por todos os Estados, não somente
pelo Estado acreditado

Não podem ser objeto de busca, requisição, embargo ou


MOBILIÁRIO E BENS
qualquer medida de execução

Isenção fiscal

IMPOSTOS E TAXAS Exeção: taxas relativas a serviços prestados de forma


específica

Inviolabilidade absoluta, que atinge os arquivos e


ARQUIVOS E DOCUMENTOS documentos onde quer que estejam, em qualquer
momento.

PRIVILÉGIOS E DEFINIÇÃO
IMUNIDADES

INVIOLABILIDADE Não pode o agente ser submetido a nenhuma forma de detenção


PESSOAL ou prisão

Abrange o local em que vive o respectivo agente diplomático ou


INVIOLABILIDADE DE
demais membros da missão.
RESIDÊNCIA E
PROPRIEDADE Não pode autoridade do Estado adentrar sem autorização.

Proteção independente da inviolabilidade de residência e


INVIOLABILIDADE DE propriedade aos documentos, bens, mesmo que não estejam
DOCUMENTOS, dentro da respectiva residência.

47
CORRESPONDÊNCIAS E
BENS MÓVEIS

 Penal:
 Absoluta, havendo a possibilidade de renúncia por parte
do Estado acreditante.
 Não implica em imunidade à jurisdição do Estado
acreditante.
 Aplica-se a quaisquer delitos puníveis pelo Estado
acreditado.
 Não alcança crimes de competência do Tribunal Penal
Internacional
 Civil ou administrativa
IMUNIDADE DE  Não se aplica:
JURISDIÇÃO 1- uma ação real sôbre imóvel privado situado no

território do Estado acreditado, salvo se o agente


diplomático o possuir por conta do Estado acreditado
para os fins da missão.
2- uma ação sucessória na qual o agente diplomático

figure, a titulo privado e não em nome do Estado, como


executor testamentário, administrador, herdeiro ou
legatário.
3- uma ação referente a qualquer profissão liberal ou

atividade comercial exercida pelo agente diplomático no


Estado acreditado fora de suas funções oficiais.

DESOBRIGATORIEDADE Não há obrigação legal para o agente diplomático de prestar


DE PRESTAR depoimento como testemunha.
DEPOIMENTO COMO
Pode fazê-lo, caso queira.
TESTEMUNHA

IMUNIDADE FISCAL Isenção de impostos e taxas, nacionais, regionais ou municipais,


sobre os locais da Missão de que sejam proprietários ou inquilinos,

48
excetuados os que representem o pagamento de serviços
específicos que lhes sejam prestados.

Os beneficiários não serão submetidos à medidas executórias, salvo


nas hipóteses de afastamento da imunidade de jurisdição do artigo
IMUNIDADE DE 31.
EXECUÇÃO
Diante do afastamento da imunidade, limita-se a execução pelas
inviolabilidades acima previstas.

RENÚNCIA À IMUNIDADE QUEM PODE RENUNCIAR

PENAL, ADMINISTRATIVA
OU CIVIL

CHEFE DA MISSÃO Renúncia expressa do Estado acreditante

DEMAIS MEMBROS DA Renúncia expressa do Estado acreditante ou do Chefe da


MISSÃO Missão, falando em nome do Estado

BENEFICIÁRIOS DE IMUNIDADES APLICÁVEIS


IMUNIDADES
(DIPLOMÁTICAS)

Artigos 29 a 36
FAMÍLIA DO AGENTE
DIPLOMÁTICO Desde que não sejam nacionais do Estado acreditado e que
vivam com o agente diplomático

PESSOAL DO Previstas nos artigos 29 a 35


ADMINISTRATIVO E
Desde que não sejam nacionais do Estado acreditado
TÉCNICO

49
Imunidades civis e administrativas apenas para atos de
ofício

Imunidade quanto aos atos praticados no exercício de suas


funções

Isenção de Impostos e taxas sobre os salários que


perceberem pelos seus serviços
PESSOAL DE SERVIÇO

Isenção de seguro social

Desde que não sejam nacionais do Estado acreditado nem


nele tenham residência permanente

Isenção de impostos e taxas sobre seus salários

“CRIADOS” OU Privilégios e imunidades apenas na medida reconhecida


EMPREGADOS pelo referido Estado
PARTICULARES
Desde que não sejam nacionais do Estado acreditado nem
nele tenham residência permanente

CONCEITO DEFINIÇÃO

(Convenção de Viena sobre


Relações Consulares)

Todo consulado geral, consulado, vice-consulado ou


REPARTIÇÃO CONSULAR
agência consular

CHEFE DE REPARTICIPAÇÃO Pessoa encarregada de agir nessa qualidade


CONSULAR

50
Toda pessoa, inclusive o chefe da repartição consular,
FUNCIONÁRIO CONSULAR encarregada nesta qualidade do exercício de funções
consulars

Toda pessoa empregada nos serviços administrativos ou


EMPREGADO CONSULAR
técnicos de uma repartição consular

MEMBRO DO PESSOAL DE Toda pessoa empregada no serviço doméstico de uma


SERVIÇO repartição consular

MEMBRO DA REPARTIÇÃO Funcionários consulares empregados consulares e membros


CONSULAR do pessoal de serviço

Funcionários consulares, excetuando-se o Chefe da


MEMBRO DO PESSOAL
repartição consular, empregados consulares e os membros
CONSULAR
do pessoal de serviço

MEMBRO DO PESSOAL Pessoa empregada exclusivamente no serviço particular de


PRIVADO um membro da repartição consular

Edifícios, ou parte dos edifícios, e terrenos anexos, que


LOCAIS CONSULARES qualquer que seja o proprietário, sejam utilizados
exclusivamente para as finalidades da repartição consular

Papeis, documentos, correspondência, livros, filmes, fitas


magnéticas e registros da repartição consular, bem como
ARQUIVOS CONSULARES
as cifras e os códigos, os fichários e móveis destinados a
protege-los e conservá-los

CONCEITO DEFINIÇÃO

Ato de “aceitar” o agente diplomático para exercer as


AGRÉMENT funções oficiais em seu território. Declaração de persona
grata

51
Ato de aceitar, tornar bem-vinda cônsul a ser nomeado
EXEQUATUR
para exercer funções consulares em seu território.

INVIOLABILIDADES E DEFINIÇÃO
IMUNIDADES CONSULARES

Abrange locais utilizados exclusivamente para as


necessidades consulares.

Consentimento do chefe da repartição consular pode ser


INVIOLABILIDADE DOS
presumido em caso de incêndio ou outro sinistro que exija
LOCAIS CONSULARES
medidas de proteção imediata

Abrange móveis, bens e meios de transporte da repartição


consulares, os quais não podem ser objeto de requisição

Abrange os locais consulares e a residência do chefe da


repartição consular de carreira de que for proprietário
ISENÇÃO FISCAL DOS
LOCAIS CONSULARES Isenção de quaisquer impostos e taxas nacionais, regionais
e municipais, excetuadas as taxas cobradas em relação a
serviços prestados de forma específica

INVIOLABILIDADE DOS Sempre invioláveis, onde quer que estejam


ARQUIVOS E DOCUMENTOS
CONSULARES

Direitos e emolumentos que as leis e regulamentos do


Estado acreditante prescrevem para os atos consulares
DIREITOS E EMOLUMENTOS
CONSULARES Somas recebidas a título de direitos e emolumentos e os
recibos correspondentes estarão isentos de quaisquer
impostos e taxas no Estado acreditante.

52
Abrange os funcionários consulares

INVIOLABILIDADE PESSOAL Não poderão ser detidos ou presos preventivamente,


exceto em caso de crime grave e em decorrência de
decisão de autoridade judiciária competente

Abrange os funcionários consulares e os empregados


consulares

Apenas para os atos oficiais

IMUNIDADE DE  Exceções:
JURISDIÇÃO  Contrato que não tenham sido celebrado como
agente do Estado acreditante
 Ação civil proposta por terceiro em decorrência de
dano causado por acidente de veículo, navio ou
aeronave

Funcionários e empregados consulares, juntamente com


suas respectivas famílias

ISENÇÃO FISCAL Isenção de pagamento de quaisquer impostos e taxas,


pessoais ou reais, nacionais, regionais ou municipais.

Exceções: art. 49

RENÚNCIA DEFINIÇÃO

AOS PRIVILÉGIOS E O Estado pode renunciar em relação ao membro de


IMUNIDADES repartição consular

53
QUADRO DE DOUTRINA

CONCEITO IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO EM MATÉRIA CIVIL

POSICIONAMENTO Aplica-se a imunidade, mesmo que a demanda nada tenha


MINORITÁRIO (Ex: Cecil a ver com o exercício diplomático
Hurst)

POSICIONAMENTO Depende de relação com o desempenho de funções


MAJORITÁRIO diplomáticas

(Ex: Accioly, Mazzuoli,


Rezek)

54
QUESTÕES COMENTADAS

 Caro aluno, o assunto deste capítulo não tem sido muito cobrado nos últimos

anos, no entanto, incluímos questões, mesmo que mais antigas para que você

possa praticar.

Questão 1

FCC – 2015 – TRT – 1ª Região– Juiz do Trabalho Substituto

A respeito do agente diplomático, relativamente ao previsto na Convenção de Viena sobre


Relações Diplomáticas, é correto afirmar:

a) O agente diplomático é obrigado a prestar depoimento como testemunha quando se


tratar de ação penal.
b) O agente diplomático poderá renunciar à imunidade de jurisdição.
c) O agente diplomático não gozará de imunidade civil relativamente à ação real sobre
imóvel privado situado no território do Estado acreditado, mesmo nas hipóteses em
que o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditado para os fins da
missão.
d) A renúncia à imunidade de jurisdição, no tocante às ações civis ou administrativas,
não implica renúncia à imunidade quanto às medidas de execução da sentença, para
as quais nova renúncia é necessária.
e) Se um agente diplomático inicia uma ação judicial, ser-lhe-á permitido invocar a
imunidade de jurisdição no tocante a uma reconvenção.

Comentário: A primeira assertiva cria uma possibilidade de obrigatoriedade de prestar


depoimento, por se tratar se uma ação penal. Trazendo uma casca de banana a partir de uma
dúvida sobre eventual exceção à desobrigatoriedade de prestar depoimento por parte do

55
agente. Como vimos, não há tal obrigação. Em caso de ação penal ou de crime grave, o que se

fala é de apenas uma obrigação moral em virtude das relações estabelecidas entre os Estados.
Mas não há qualquer obrigação legal para o agente diplomático, assim, a primeira alternativa é

falsa.

Na segunda alternativa, por sua vez, falsa, versa que tem o agente diplomático o poder de

renunciar à sua imunidade. Contudo, vimos que a imunidade concedidas ao agente é a


expressão da imunidade concedida ao Estado, portanto, o benefício não é pessoal. Sendo assim,

apenas o Estado, em relação ao agente diplomático, pode renunciar à imunidade.

A alternativa “c” expressa exatamente a redação do artigo que prevê a exceção da exceção, por
isso, pode confundir. No entanto, vimos que afasta-se a imunidade em matéria cível se versar
sobre imóvel real. Contudo esse afastamento não se dá, se o imóvel for adquirido em prol da
Missão. Novamente, utilize a lógica para este. Relaciona-se com os casos em que países,

diferentemente do Brasil, não permitem que Estados estrangeiros adquiram imóveis em seu
território. Nesta situação, é necessário que o agente adquira ou alugue o imóvel, sem o qual a

Missão não tem como desempenhar suas atividades. Dessa forma, a alternativa é falsa.

A última alternativa também trata-se de uma exceção à renúncia à imunidade. Quando tratamos

sobre a hipótese em que um agente diplomático não pode abusar da imunidade que recebe. A
reconvenção, por relacionar-se com o mesmo objeto de ação principal iniciada pelo agente, o
qual se submeteu voluntariamente (onde se subentende que houve renúncia por parte do Estado

acreditante) à jurisdição do Estado acreditado, abrange também a reconvenção. Neste, não pode
mais o agente invocar a imunidade de jurisdição.

Por fim, a alternativa “d” coaduna com o que viemos estudando neste capítulo em que a
renúncia à jurisdição válida para a ação principal não incide automaticamente para a fase de

execução. Para tanto, é necessária uma nova renúncia, expressa para a execução. Sendo assim,
a alternativa está correta e consiste na resposta da questão.

56
Questão 2

FCC – 2015 – TRT - 6ª Região – Juiz do Trabalho

Segundo a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas - CVRD, é INCORRETO afirmar que

A) um Estado só pode nomear um Chefe de Missão após assegurar-se do consentimento

do Estado acreditado.
B) os familiares dos membros do pessoal técnico e administrativo da Missão, que com eles

vivam, também gozam de algumas imunidades previstas na CVRD, desde que não sejam
nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residência permanente.
C) os membros do corpo Administrativo e Técnico da Missão têm as mesmas imunidades

perante a jurisdição civil e administrativa do Estado local de que gozam os agentes


diplomáticos.
D) o Estado pode renunciar às suas imunidades e privilégios decorrentes da CVRD.

E) a mala de viagem do diplomata pode ser inspecionada em alguns casos, não sendo

inviolável de forma absoluta.

Comentário: A primeira alternativa refere-se ao ato chamado de agrément, em que o Estado

acreditante consulta o Estado acreditado sobre o funcionário diplomático que deseja enviar,
sendo assim, a alternativa está correta.

Já a segunda alternativa refere-se às imunidades do pessoal técnico administrativo que, como


vimos, gozam de privilégios relacionados ao exercício de sua função, que se estendem para seus

familiares, com a condição de que não sejam nacionais do Estado acreditado, assim, a alternativa
está correta.

A alternativa “D’ refere-se ao que discutimos quanto à titularidade das imunidades e privilégios.
Vimos que estas decorrem da imunidade do Estado acreditado, não havendo assim uma
intenção de benefício pessoal do agente. Dessa forma, cabe ao Estado, caso tenha interesse,

renunciar às imunidades e privilégios previstos da Convenção de Viena. Apenas para fixar, a

57
sigla utilizada na questão refere-se à Convenção de Viena, fazendo a diferenciação com a última

letra. “D” refere-se à Convenção de Viena de 1961, pois a letra intitula “diplomáticas”.

A assertiva “E” traz a hipótese prevista da Convenção de Viena de 1961, em seu artigo 36, o

qual versa sobre a possibilidade da bagagem pessoal do diplomata ser inspecionada. Ressalte-
se que esta consiste numa exceção sob suspeita, “motivos sérios”, de que seu conteúdo

contenha objetivos que não sejam abrangidos pelas isenções conferidas a este agente ou sob
suspeita de presença de algum item cuja importação ou exportação seja proibida no Estado

acreditante. Para a realização da inspeção, é necessário que o agente diplomático ou um


representante autorizado esteja presente. Portanto, a alternativa é verdadeira.

Por fim, a letra “C” iguala as imunidades do corpo administrativo e técnico da missão às
conferidas aos agentes diplomáticos, contudo, vimos que estes últimos possuem o máximo de
privilégios e imunidades, as quais vão diminuindo conforme nos referidos ao restante do pessoal

da missão. O corpo administrativo e técnico possuem uma vinculação para a sua concessão
quanto ao estrito exercício da função, diferenciando-se assim dos agentes diplomáticos. Dessa

forma, esta alternativa está incorreta, sendo assim a resposta da questão.

Questão 3

MPT – 2012 – MPT – Procuradoria do Trabalho

Consoante a Convenção de Viena Sobre Relações Diplomáticas:

I - O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal e de jurisdição civil ou


administrativa, a qual se estende à execução, ressalvadas as hipóteses expressamente previstas
na própria Convenção, nem será obrigado a prestar depoimento como testemunha.

II - A renúncia à imunidade de jurisdição será sempre expressa, porém, se um agente diplomático


inicia uma ação judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição em relação a
uma reconvenção proposta pelo réu, ligada à ação principal.

58
III - A renúncia à imunidade de jurisdição no referente às ações civis e administrativas não
abrange as medidas de execução de sentença, para as quais é necessária nova renúncia.

IV - Os locais da Missão abrangem os edifícios, ou parte dos edifícios e terrenos anexos, seja
quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da Missão, inclusive a residência do
Chefe da Missão, a qual goza da mesma inviolabilidade e proteção que os locais da Missão.

Marque a alternativa CORRETA:

A) todas as assertivas estão corretas;

B) todas as assertivas estão incorretas;

C) apenas as assertivas I, II e III estão corretas;

D) apenas as assertivas II, III e IV estão corretas;

Comentário: A primeira assertiva reflete exatamente o que prevê a Convenção de Viena

de 1961. Os agentes diplomáticos gozam de imunidade penal de forma absoluta e quanto à


imunidade civil ou administrativa, conta com exceções expressas nos artigos seguintes, em que
enumera, por exemplo, a exceção quanto às ações reais de imóveis que não tenham relação

com o desempenho das funções da Missão. Lembre-se sempre daquele raciocínio de que as
imunidades e privilégios são conferidos aos Estados, não em benefício individual dos agentes,

dessa forma, tenta a norma diminuir eventuais prejuízos a terceiros. Sendo assim, a primeira
alternativa está correta, ainda por trazer a desobrigatoriedade de prestar depoimento como

testemunha. Vimos que o agente pode e se vê diante de um dever moral de prestar tal
depoimento, principalmente diante de uma situação grave que tenha testemunhado, contudo,

não há dever legal para tanto.

Já a segunda assertiva, traz também uma exceção prevista pela Convenção.


Primeiramente, versa sobre a imunidade de jurisdição do agente diplomático, o qual só pode

ser renunciada pelo Estado acreditante de maneira expressa, aproveitando a oportunidade para
lembrar que esta não se estende para a execução, a qual exige nova renúncia expressa. No

entanto, seguindo o mesmo raciocínio, não pode o agente se valer da imunidade em benefício

59
próprio. Sendo assim, ao iniciar uma ação nos termos da Convenção é necessária a apresentação

de renúncia expressa para se sujeitar à jurisdição do Estado acreditado. Portanto, uma eventual
reconvenção, dada a sua ligação com o objeto da ação principal é acobertada pela renúncia

anterior. Portanto, não pode o agente invocar a imunidade de jurisdição para reconvenção em
ação que ele tenha iniciado, assim, a assertiva é verdadeira.

A terceira assertiva dialoga com a primeira quando já adiantamos que a renúncia feita de
maneira expressa para o processo de conhecimento não abrange a fase de execução. Para se

sujeitar à execução, deve o Estado acreditante, renunciar à mesma em nome do agente


envolvido. Sendo assim, a alternativa também é verdadeira.

Já a última assertiva descreve o que a lei entende por Local de Missão, praticamente
transcrevendo a definição legal, ressaltando ainda a inviolabilidade da Missão, que abrange seus
locais oficiais, ou seja, a sede da missão, bem como a residência do Chefe da Missão, o qual

necessita da inviolabilidade para o desempenho eficiente de suas funções. Rememore o exemplo


do Chefe de Missão que está num hotel, sendo este o local em que vive, e oferta asilo para

algum eventual refugiado. O quarto do hotel acaba inviolável em virtude da inviolabilidade


conferida à Missão e aos locais desta. Por fim, todas as alternativas estão corretas, resposta letra

“A”

Questão 4

TRT 14R – 2013 – TRT 14ª Região – Juiz do Trabalho

Sobre o Direito Internacional assinale a alternativa INCORRETA:

a) As resoluções do Conselho de Segurança da ONU criam obrigações perante os estados-


membros.

b) As relações internacionais entre os Estados embasaram-se, principalmente, em duas


importantes Convenções: Convenção de Viena sobre relações diplomáticas de 1961, e
Convenção de Viena sobre relações Consulares de 1963.
60
c) Quando um país considera o agente diplomático indicado por outro país para atuar em seu

território como “persona non grata” ele não é obrigado a justificar o motivo.

d) A embaixada é órgão de representação de um governo perante outro, ao passo que o


consulado destina-se à tratar e defender os cidadãos que se encontram no país acreditado.

e) O pedido de “agrément” consiste na autorização que um país requer do outro para a

instalação da sede da Embaixada.

Comentário: Esta questão retoma assuntos de outros capítulos também, ao trazer, na


primeira alternativa sobre as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Como vimos,

quando os Estado ratificam a Carta das Nações e se tornam membro da ONU, estes assumem
compromissos para com a Organização. As resoluções do Conselho de Segurança, até levando-
se em consideração as matérias que por ele são abordadas, criam obrigações para os Estados-

parte da Organização, portanto, a alternativa é verdadeira.

A segunda alternativa apenas resume, de forma correta qual as normas internacionais que

regem a sociedade internacional em termos de representação e articulação entre os Estados.


Como vimos e estudamos, as Convenções de Viena de 1961 quanto às diplomáticas e a

Convenção de Viena de 1963 quando as relações consulares.

A terceira alternativa consiste no ato de consulta do Estado acreditante ao Estado acreditado

quanto à pessoa que visa designar como representante diplomático, ou seja, o agrément, no
qual pode o Estado acreditado recusar a escolha, com base no princípio de quem nenhum
Estado é obrigado a receber um estrangeiro em seu país. Dessa forma, não há necessidade de

apresentar justificação para tanto. O agrément, quando concedido, consiste em declarar a pessoa
em questão como persona grata, ou seja, bem-vinda no Estado acreditante. Assim, a assertiva

está correta.

Já a última alternativa, confunde a definição na alternativa anterior com o acordo para a

instalação de uma Embaixada. Como vimos, o pedido de agrément refere-se a pessoa que
representará o Estado acreditado. Este passo presume a existência de relações diplomáticas

entre os países em questão, o qual já inclui o compromisso em facilitar a instalação de uma


61
sede no país. Sendo assim, agrément refere-se à pessoa a ser enviada, que pode ser substituída

caso o Estado acreditado a declare persona non grata. Não tem, assim, relação com eventual

pedido de instalação de Embaixada, portanto, a alternativa é falsa, sendo a resposta da questão.

Questão 5

CESPE – 2010 – AGU – Procurador Federal

Um diplomata brasileiro, servindo em um Estado estrangeiro, contraiu empréstimo em um banco


oficial desse Estado, a fim de quitar dívidas escolares de seu filho, que com ele reside e dele
depende financeiramente, mas não pagou a dívida.

A partir dessa situação hipotética, julgue os itens seguintes

Em virtude do não pagamento da dívida, o diplomata brasileiro pode ser declarado persona
non grata pelo Estado estrangeiro, desde que seja previamente submetido ao devido processo
legal.

Certo Errado

Comentário: A questão confunde alguns institutos para induzir ao erro. Para responde-
la, basta observar a assertiva que diz que para que o Estado estrangeiro declare o diplomata

persona non grata, é necessário que este seja devidamente submetido ao devido processo legal.
A referida declaração consiste em ato carregado de decisões políticas, em respeito à soberania

dos Estado, assim, basta uma declaração do governo do Estado para que esta seja comunicada
à pessoa ou corpo de pessoas em questão, cuja presença no país não é mais bem-vinda. Não

é necessário apresentar motiva para tanto, sequer submissão à devido processo legal, portanto,

a alternativa é falsa.

Questão 6

TRT 2R – 2014 – TRT – 2ª Região – Juiz do Trabalho

62
No que tange às relações diplomáticas e consulares e tendo em vista os preceitos das
Convenções de Viena de 1961 (Dec. Legislativo 103/64 e Decreto 56.453/65) e de 1962 (Dec.
Legislativo 6/67 e Decreto 61.078/67), observe as proposições abaixo e responda a alternativa
que contenha proposituras corretas:

I. “Chefe de Missão diplomática” é a pessoa encarregada pelo Estado acreditado de agir nessa
qualidade.
II. “Funcionário consular” é toda pessoa, inclusive o chefe de repartição consular, encarregada
nesta qualidade do exercício das funções consulares.
III. O Estado acreditado deverá certificar-se de que a pessoa que pretende nomear como Chefe
de Missão Diplomática perante o Estado acreditante obteve o “exequatur” do referido Estado.
IV. A repartição consular poderá cobrar no território do Estado receptor os direitos e
emolumentos que as leis e os regulamentos do Estado que envia prescreverem para os atos
consulares. As somas recebidas a título de direitos e emolumentos e os recibos correspondentes
não estarão isentos de impostos e taxas do Estado receptor.
V. A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações civis ou administrativas não implica
renúncia à imunidade quanto às medidas de execução da sentença para as quais nova renúncia
é necessária.

Está correta a alternativa:

a) I e II.

b) III e IV.

c) I e IV

d) II e V.

e) III e V

Comentário: A primeira alternativa mistura de forma muito sutil a nomenclatura utilizada


para os Estado envolvidos nas relações diplomáticas. Se o Estado que envia é aquele que nomeia

63
o agente diplomático, então este é o Estado acreditante. Estado acreditado é aquele que recebe

a Missão e, consequentemente, o agente diplomático, sendo assim, a alternativa está falsa.

A segunda alternativa traz exatamente a redação do artigo 1º da Convenção de Viena de

1963 quanto ao funcionário consular, incluindo sim o chefe da repartição.

Na terceira alternativa, observe que há uma mistura dos “aceites” referentes à missão

diplomática e da consular. O ato de consultar sobre a recepção de agente diplomático, no caso,


se o Estado acreditado a considera persona grata, é chamado de agrément; já a consulta em

relação ao cônsul visa receber o exequatur. Assim, a alternativa confunde os dois conceitos,
tornando-se falsa.

A quarta alternativa transcreve a redação do artigo 39 da Convenção de Viena de 1963,

contudo, ao afirmar que os direitos e emolumentos não estão isentos de impostos e taxas,
acaba contradizendo o segundo parágrafo deste dispositivo, tornando a afirmativa falsa.

A última alternativa reflete exatamente a previsão das Convenções quanto às imunidades de


jurisdição. Lembrando que esta sempre é concedida em favor do Estado acreditado, portanto,

o limite das exceções é a de impossibilitar o desempenho da Missão em território estrangeiro.


Sendo assim, caso o Estado acreditante opte por se submeter à jurisdição do Estado acreditado,
sua primeira renúncia não atinge, de forma automática a fase executória. Para tanto, é necessária
outra renúncia, expressa para a execução. Sendo assim, os itens II e V estão corretor e a letra D

é a resposta da questão.

Questão 7

TRT – 2013 – TRT 2ª Região – Juiz do Trabalho

Para efeito da Convenção de Viena, de 1961, sobre Relações Diplomáticas, pode-se dizer.
Apontar a alternativa correta:

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A) Criado particular é a pessoa do serviço doméstico de um Membro da Missão Diplomática,

podendo ser empregado do Estado acreditante.


B) O Estado acreditante e o Chefe de Missão Diplomática estão isentos de todos os impostos

e taxas nacionais, regionais ou municipais, sobre os locais da missão, de que sejam


proprietários ou inquilinos, excetuados os que representem impostos e taxas que incumba
as pessoas por ele contratados para a prestação de serviços.
C) O agente diplomático goza de imunidade de jurisdição civil e administrativa, mesmo em

ação sucessória, em que figure a título privado, como executor testamentário.


D) O agente diplomático estará no tocante aos serviços prestados do Estado acreditante,

isento das disposições sobre seguro social do Estado acreditado, isenção também
aplicável aos criados particulares nacionais do Estado acreditado.
E) O agente diplomático gozará de isenção de impostos e taxas, pessoais ou reais, regionais

ou municipais, diretos e indiretos incluídos no preço dos serviços.

Comentário: A primeira alternativa está falsa pois criado ou empregado particular, como
o próprio nome já adianta presta serviço particular para um membro da missão, assim não

consiste em empregado do Estado, mas sim do respectivo membro da Missão.

A letra “C” ignora as exceções previstas pela Convenção quanto às hipóteses de


afastamento da imunidade de jurisdição civil em relação ao agente diplomático. Este goza de

imunidades em várias situações, contudo em sucessão em que o agente figure como legatário,
herdeiro, administrador ou testamentário não há imunidade à jurisdição.

Já a letra “D” apresenta um erro ao afirmar eu a isenção em relação de seguro social se


aplica ao empregado particular de agente diplomático mesmo que este seja nacional do Estado

acreditado. Lembre-se que na maioria das situações, a exemplo da extensão dos benefícios dos
agentes para seus familiares, exige-se que o mesmo não seja nacional do Estado acredito. Assim

também é neste caso, em que o empregado particular presta serviço exclusivo para o agente
diplomático, não haverá incidência de obrigações relacionadas a seguro social, salvo se este for
nacional do Estado acreditado.

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A última alternativa afirma que a isenção fiscal do agente diplomático inclui também

impostos indiretos. Isso implicaria dizer que nem aqueles impostos embutidos no valor de
mercadorias teria de ser alterado caso um agente diplomático o estivesse adquirindo. Vimos

que a isenção fiscal não atinge impostos indiretos, sendo assim, a alternativa está falsa.

Por fim, a alternativa “b” está de acordo com as previsões da Convenção, quanto às

imunidades e privilégios, incluindo a isenção fiscal e seus respectivos limites, posto que não

inclui a contratação direta para prestação de serviços, sendo assim a resposta da questão.

Questão 8

CESPE – 2013 – Polícia Federal – Delegado de Polícia

Relativo às relações consulares, aos tratados internacionais, ao direito do mar e às cortes


internacionais.

Diferentemente dos arquivos diplomáticos, os arquivos consulares podem ser violados em caso
de fundada suspeita de atentado contra a incolumidade do Estado receptor.

Certo Errado

Comentário: Os documentos, mesmo aqueles de utilização por funcionários consulares


guardam relação com as relações entre os Estados e podem conter informações do Estado
acreditante, assim, possuem imunidade tal qual os documentos e arquivos da Missão

diplomática, o que torna esta assertiva falsa

Questão 9

TRT 15R – 2013 – TRT 15ª Região – Juiz do Trabalho

Pablo, que atua no Brasil como Cônsul de carreira de determinado país, que mantém relações
diplomáticas com o Brasil, foi convidado para um casamento realizado na casa de um empresário
brasileiro. No decorrer da recepção, um garçom derruba, acidentalmente, um copo de vinho em

66
sua camisa. Pablo agride fisicamente o trabalhador, além de proferir-lhe palavras ofensivas, de
conteúdo racista e discriminatório.

Considerando a tipificação da conduta praticada como crime, assinale a alternativa correta:

A) Pablo não poderá ser processado e julgado no Brasil, pois goza de imunidade de

jurisdição;
B) Pablo poderá ser processado e julgado no Brasil, pois sua imunidade de jurisdição só se

aplica quando este se encontra no exercício de suas funções, hipótese não verificada;
C) Pablo poderá ser processado e julgado no Brasil desde que renuncie expressamente à

sua imunidade de jurisdição;


D) Pablo poderá ser processado no Brasil se o estado acreditante renunciar expressamente

à imunidade de jurisdição a ele conferida;


E) Pablo poderá ser processado e julgado no Brasil porque o crime praticado é inafiançável.

Comentário: A questão pode ser respondida como um detalhe bem simples. No enunciado, o
texto refere-se a situação envolvendo cônsul. Assim, relembremos quais as imunidades que este

possui em decorrência da Convenção de Viena de 1963, que por sua vez, confere imunidade
em matéria penal apenas para os atos de ofício, ou seja, que guardem relação direta com a

função desempenhada pelo cônsul. O que observamos no caso em tela, observamos que na
festa e na ocasião da agressão, o cônsul estava ali presente como mero cidadão, sendo assim,

deve ser tratado como tal. Portanto, poderá ser processado e julgado normalmente.

Portanto, vejamos as alternativas. A primeira pode ser eliminada de pronto, pois se opõe

ao que acabamos de dizer, já que neste caso o cônsul não goza de imunidade. A terceira
alternativa exige a renúncia para que possa ser processado e julgado, contudo, não há sequer
imunidade para que se requeira renúncia. A letra “d” exige novamente uma renúncia, mas que

seja feita de forma expressa pelo Estado acreditante. A alternativa tenta induzir ao erro
misturando o conceito com a imunidade de jurisdição do agente diplomático, contudo, estamos

67
aqui falando do cônsul. Já a última alternativa justifica a submissão à jurisdição do Estado

acreditado em decorrência da natureza do crime, no entanto, o afastamento da imunidade se


dá em decorrência da inexistência de relação com a função de funcionário consular. Sendo

assim, a letra “b” está correta pois faz a devia correlação entre o processamento julgamento por

não ter relação com o cargo ocupado, sendo a resposta da questão.

Questão 10

CESPE – 2013 – Polícia Federal – Delegado de Polícia

Somente mediante expressa manifestação pode o agente diplomático renunciar à imunidade


diplomática, porquanto o instituto constitui causa pessoal de exclusão da pena.

Certo Errado

Comentário: A assertiva afirma que o agente diplomático pode renunciar à sua imunidade
diplomática. Discutimos que apenas o Estado pode expressar tal renúncia, de forma expressa,

em relação ao Chefe de Missão. Apenas admite-se que o Chefe da Missão renuncie em relação
à outros membros da Missão posto que fala em nome do Estado, mas no que concerte à própria

imunidade, apenas o Estado acreditante pode fazê-lo, assim a afirmativa é falsa.

Questão 11

TRT 15R – 2011 – TRT 15ª Região – Juiz do Trabalho


A respeito da imunidade de jurisdição, analise as seguintes assertivas, à luz da Convenção
de Viena sobre Relações Diplomáticas,

I- A renúncia à imunidade de jurisdição sobre as ações cíveis ou administrativas deverá ser


sempre expressa e abrange automaticamente a execução de sentença.

68
II- O Estado acreditante não pode renunciar à imunidade de jurisdição de seus agentes
diplomáticos.
III- E facultado ao agente diplomático invocar a imunidade de jurisdição em reconvenção
diretamente ligada à ação principal por ele ajuizada.
IV- A imunidade de jurisdição do agente diplomático no Estado acreditado o isenta da jurisdição
do Estado acreditante.
V- O agente diplomático pode renunciar à sua imunidade de jurisdição.

Agora responda:

A) as assertivas I e Ill estão corretas;

B) as assertivas II e IV estão corretas;

C) apenas a assertiva IV está correta;

D) as assertivas I, II, III e IV, estão corretas;

E) as assertivas I, II, III, IV e V estão incorretas.

Comentário: Quanto à primeira assertiva, vimos que em caso de renúncia à imunidade de


jurisdição civil ou administrativa, esta primeira renúncia não abrange a execução. Para a fase

executória é necessária uma nova renúncia nos mesmos termos da primeira, ou seja, feita de
maneira expressa pelo Estado acreditante especificamente para a execução. Portanto, essa

alternativa é falsa.

Já a segunda assertiva diz que o Estado não pode renunciar a imunidade de seus agentes

diplomáticos. Discutimos que as imunidades conferidas aos agentes, membros da Missão


diplomática, estão direcionadas ao Estado, visando possibilitar que o agente possa desempenhar

as funções de representação do Estado acreditante com eficácia. Sendo assim, as imunidades


não visam um benefício individual, pessoal, mas sim beneficiar o Estado ao qual aquele agente
representa. Sendo assim, o Estado acreditante é aquele que pode renunciar à respectiva

imunidade, portanto a alternativa está falsa. Talvez você pudesse confundir com a possibilidade
do Chefe da Missão renunciar à imunidade em relação aos membros da Missão. Contudo,

69
cuidado com a casca de banana. De fato, o Chefe da Missão pode renunciar para os membros

(não para si mesmo), mas somente o faz porque fala em nome do Estado.

A terceira alternativa dispões sobre hipótese de reconvenção. O agente diplomático, ao

ingressar em juízo, nos termos da Convenção de Viena de 1961, a qual pressupõe que
apresentou inicialmente renúncia à imunidade para então pode se submeter à jurisdição do

Estado acreditado; não pode, na hipótese de uma reconvenção ligada a esta ação principal
invocar a imunidade de jurisdição, ou seja, apenas quando lhe convém. Neste caso, a primeira

renúncia, que o fez se submeter à jurisdição quando inicia a ação abrange também a
reconvenção, fazendo com que a afirmativa seja falsa.

A quarta alternativa versa justamente sobre uma previsão da Convenção de 1961 que visa
coibir a impunidade de eventuais agentes que busquem se valer de sua posição oficial para
cometer ilícitos no Estado em que se encontrem. As imunidades são apenas uma questão de

jurisdição inadequada, contudo, de forma expressa, a convenção afirma que a imunidade no


Estado acreditado não implica em imunidade no Estado acreditante. Sendo assim, o agente, ao

cometer o ilícito, se protegido pela imunidade, visando proteger o desempenho de suas funções
oficiais, poderá e deverá ser julgado pelo Estado ao qual pertence.

Já a última alternativa peca ao afirmar que o agente pode renunciar à própria imunidade.
No entanto, sendo a imunidade concedida aos Estados, na pessoa de seus representantes, cabe
ao mesmo Estado renuncia-la. Quanto aos membros da missão, pode o Chefe da Missão

renunciar, por estar falando em nome do Estado acreditante. No entanto, não há hipótese em
que o membro da missão renuncie da própria imunidade.

Sendo assim, nenhuma das alternativas está correta e a alternativa “E” é a resposta da

questão.

Questão 12

FCC – 2014 – TRT – 24ª Região – Juiz do Trabalho Substituto

70
Com relação aos órgãos das relações entre os Estados e a imunidade de jurisdição dos Estados
é INCORRETO afirmar:

A) No Brasil, não estão abrangidos pela imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro os

bens deste que não estejam afetados à sua representação diplomática e consular,
podendo sobre eles recair medida executória de sentença proferida pela Justiça do
Trabalho.
B) As imunidades dos funcionários de repartições consulares são extensíveis a seu cônjuge

e seus familiares que com ele residam.


C) A imunidade de jurisdição do agente diplomático não se aplica em ações sucessórias nas

quais ele figurar como herdeiro ou legatário.


D) A renúncia, por parte do Estado acreditante, à imunidade de jurisdição do agente

diplomático para o processo de conhecimento não implica a renúncia à imunidade em


relação ao processo de execução de eventual sentença condenatória.
E) A distinção entre atos de império e atos de gestão, de origem consuetudinária, permite

afastar a imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro em reclamação trabalhista movida


no Brasil por funcionário de Missão Diplomática estrangeira aqui contratado, mas não
quando a reclamação é movida contra Organização Intergovernamental.

Comentário: Esta questão mistura o conteúdo de dois capítulos deste material, o que nos ajuda
a praticar. A primeira alternativa versa sobre as hipóteses, fruto de construção jurisprudencial
quanto à execução contra Estado estrangeiro. Vamos recapitular por partes. Primeiramente,

vimos que a exceção, aqui no Brasil, em relação à imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro
consiste em processos de matéria trabalhista, se aplicando, contudo, apenas para a fase de

conhecimento a priori. Depois, fruto de decisão do STF, entendeu-se que era possível executar
tal sentença, desde que isso não afetasse o desempenho das funções do Estado acreditante

aqui no Brasil, o que significa que apenas bens desvinculados desta atividade podem ser objeto
de medidas executórias. Sendo assim, a alternativa está correta por descrever exatamente essas

hipóteses.

71
A terceira alternativa traz uma das exceções previstas pelo artigo 31 da Convenção de 1961, em

que se afasta a imunidade de jurisdição em matéria civil. A letra “D”, de forma correta, trata da
renúncia à imunidade de jurisdição do agente diplomático. Como vimos, eventual renúncia do

Estado acreditante apenas atinge o processo de conhecimento. Para que possam ser aplicadas
medidas executórias contra o agente diplomático, é necessária que haja nova renúncia expressa

específica para a execução.

A última alternativa resgata a imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro, na qual a distinção

fruto de mudanças no cenário internacional, por insatisfação com as situações de abuso da


referida imunidade, passou a distinguir atos de império de atos de gestão, podendo afastar a
imunidade quando se tratar destes últimos. Assim, vimos que a jurisprudência brasileira
incorporou este entendimento em relação a demandas de matéria trabalhista, entendendo-se
que estas consistem em atos de gestão. Contudo, esta imunidade em nenhum momento é

utilizada de maneira automática para organizações internacionais. Aqui no Brasil, apenas a ONU,
por acordo direto com o Brasil e com a internalização da respectiva norma, goza de imunidade

de jurisdição inclusive em matéria trabalhista. Portanto, a alternativa está correta, pois a


imunidade da única organização internacional que goza de imunidade aqui no Brasil não decorre

de norma consuetudinária que distingue atos de império de atos de gestão.

Por fim, a letra “b” afirma que as imunidades de funcionários consulares abrangem seus
familiares, no entanto, vimos que as imunidades dos funcionários consulares está condicionada

ao exercício de sua função. Assim, não há como abranger sua família visto que estes não
desempenham funções oficiais. Sendo assim, a incorreta letra “b”, resposta da questão.

Questão 13

PGR – 2011 – PGR – Procurador da República

OS AGENTES CONSULARES, NO DIREITO CONSULAR CONTEMPORANEO

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a) gozam de imunidade plena, equiparável à dos diplomatas;
b) gozam de imunidade quanto aos atos oficiais, dentro da jurisdição consular;
c) têm que ser recrutados entre agentes da carreira diplomática;

d) não gozam de imunidade pessoal, ainda que exerçam funções consulares em seção

respectiva de missão diplomática.

Comentário: Vimos que há diferenças entre os privilégios e imunidade concedidos aos

agentes consulares, tendo estes um rol mais restrito que os agentes diplomáticos, portanto a
primeira alternativa está falsa.

A terceira alternativa diz que estes precisam ser recrutados apenas entre os agentes de
carreira diplomática. De forma geral, a alternativa está falsa diante da existência de cônsules
honorários, que não necessariamente são funcionários públicos do Estado acreditante.

Já a última alternativa afirma que os agentes consulares não possuem imunidade pessoal,
no entanto, estudamos que estes a possuem apenas para atos de ofício, ou seja, possuem,

mesmo que de forma restrita, o que torna a assertiva falsa.

Já a alternativa “B” traz exatamente o que prevê a Convenção de Viena de 1963,

ressaltando ainda que contradiz a alternativa “D”, ao fazer referência aos atos de ofício. Sendo

assim, esta é a resposta da questão.

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GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - C

Questão 3 – A

Questão 4 - E

Questão 5 - Errado

Questão 6 - D

Questão 7 - B

Questão 8 - Errado

Questão 9 - B

Questão 10 - Errado

Questão 11 - E

Questão 12 - B

Questão 13 - B

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LEGISLAÇÃO COMPILADA

Privilégios e Imunidades de Agentes Diplomáticos

Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de:

 Convenção de Viena de 1961 / Decreto 56.435/65: artigos 29 a 31 e 33 a 39

Versa sobre as proteções pessoas, de residência, além das isenções das quais gozam esses
sujeitos e suas famílias.

Renúncia à Imunidade de jurisdição

Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de:

 Convenção de Viena de 1961 / Decreto 56.435/65: artigo 32

Versa sobre a renúncia à imunidade, como esta deve ser feita e quais as circunstâncias e
implicações que acarretam.

Instalação de escritórios da Missão em locais distintos da Sede

Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de:

 Convenção de Viena de 1961 / Decreto 56.435/65: artigo 12

Dispõe sobre a necessidade de autorização para a instalação de outros escritórios.

Inviolabilidades e Isenções da Missão

Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de:

 Convenção de Viena de 1961 / Decreto 56.435/65: artigos 22 a 28

Dispõe sobre as proteções específicas da Missão, incluindo arquivos e documentos, mala


diplomática, entre outros.

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Proteção especial para agentes diplomáticos

Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de:

 Convenção de Nova York sobre a Prevenção e Punição de Crimes contra pessoas

protegidas internacionalmente / Decreto 3.165/99: artigo 2

Versa sobre os crimes contra agentes diplomáticos e a devida proteção que lhes deve ser
conferida.

Isenção de taxas de serviços prestados de forma específica

Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de:

 Lei Complementar nº 698 do Distrito Federal, artigo 4 D, §9

Trata sobre as isenções especiais concedidas às embaixadas e consulados, relacionadas a


taxas de serviços específicos.

Privilégios e Imunidades de funcionários consulares

Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de:

 Convenção de Viena de 1963 / Decreto nº 31.078/67: artigos 28 a 35 e 39 a 50

Versa sobre as isenções, privilégios e imunidade concedidos aos envolvidos em funções


consulares, destacando-se as imunidades de jurisdição.

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JURISPRUDÊNCIA

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA E COBRANÇA POR SERVIÇOS


ESPECÍFICOS
 RO 138

DIREITO TRIBUTÁRIO E INTERNACIONAL PÚBLICO. COBRANÇA DE TRIBUTO DE ESTADO

ESTRANGEIRO. O Município não pode cobrar IPTU de Estado estrangeiro, embora possa
cobrar taxa de coleta domiciliar de lixo. Encontra-se pacificado na jurisprudência do STJ
o entendimento de que os Estados estrangeiros possuem imunidade tributária e de
jurisdição, segundo os preceitos das Convenções de Viena de 1961 (art. 23) e de 1963

(art. 32), que concedem isenção sobre impostos e taxas, ressalvadas aquelas decorrentes
da prestação de serviços individualizados e específicos que lhes sejam prestados. Assim,
em tese, a Taxa de Coleta Domiciliar de Lixo que decorra da prestação de serviço

específico pode ser cobrada do Estado estrangeiro. Ademais, a Súmula Vinculante 19 do


STF preconiza que "a taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de

coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis


não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal". RO 138-RJ, Rel. Min. Herman

Benjamin, julgado em 25/2/2014.

Comentário: Tratou-se de cobrança de IPTU e de taxa de coleta domiciliar de lixo por parte do
Rio de Janeiro contra a República da Argentina. Na situação, em primeiro grau, o processo foi
extinto sem julgamento de mérito e o Estado estrangeiro não chegou a tomar conhecimento
da demanda. Decidiu-se no sentido da impossibilidade de cobrança de IPTU, em virtude da

imunidade tributária prevista nas Convenções de Viena de 1961 e 1963, entendendo-se assim
que sequer poderia se discutir sobre execução em face deste Estado estrangeiro. Contudo,

ressalta o Ministro que é possível a cobrança por serviço prestado de forma específica, no qual

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consiste a cobrança por taxa de coleta domiciliar de lixo. No entanto, a imunidade executória

apenas pode ser afastada em caso de renúncia expressa do Estado acreditante.

Observe que aqui misturamos algumas partes de nosso estudo. Inicialmente a impossibilidade
de cobrança de impostos, os quais decorrem das imunidades da Missão, seja diplomática ou

consular; as quais são excetuadas em caso de cobrança de serviços específicos.

Portanto, a obrigação de pagar pelas taxas é legal, no entanto, a judicialização em busca de


execução em face do Estado estrangeiro remonta ao estudo do capítulo anterior sobre a

imunidade de execução a qual gozam os Estados estrangeiros. Assim, decidiu-se que o processo
deveria retornar ao plano inicial, para que se oportunizasse à República da Argentina renunciar

à imunidade de execução, caso o queira. Se o fizer, poderá então a execução seguir, havendo
no entanto, o limite em decorrência da imunidade dos bens do Estado estrangeiro, a qual

protege aqueles que tenham relação direta com o desempenho das funções diplomáticas ou
consulares.

PAGAMENTO DE IMPOSTOS E TRIBUTOS


 RO 102

PROCESSUAL CIVIL - RECURSO ORDINÁRIO - EXECUÇÃO FISCAL - ESTADO


ESTRANGEIRO - IPTU E TAXAS DE LIMPEZA E DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA - IMUNIDADE
DE JURISDIÇÃO - CONVENÇÕES DE VIENA, DE 1961 E 1963.

1. As Convenções de Viena, de 1961 e 1963, regulam as questões referentes aos débitos


tributários do Estado estrangeiro, isentando-o do pagamento de impostos e de
tributos devidos em razão da prestação de serviços que não apresentem a característica

da especificidade 2. É indevida a cobrança de taxas de limpeza e de iluminação pública,


porquanto declaradas inconstitucionais pelo STF em razão da ausência de especificidade.

Precedentes. 3. Recurso ordinário não provido.


(RO 102/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/06/2010,

DJe 01/07/2010)

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Comentário: Versou o referido julgado de cobrança de IPTU e taxa de limpeza e iluminação
pública do Estado da Bolívia. Reiterou-se o entendimento do STF e STJ de que há imunidade

em matéria tributária para Estados estrangeiros, sendo assim, a cobrança de IPTU considera-se
indevida. Ainda alegou-se que deveria retornar à primeira instância para oportunizar a renúncia
à imunidade por parte do Estado estrangeiro, contudo, a relatora ressaltou que o Estado em

questão havia sido citado, invocando a imunidade de jurisdição a qual gozava.

Assim, não havia outro caminho, em relação à cobrança de IPTU, que não a extinção sem
resolução de mérito. Em relação à cobrança de taxa de iluminação e de limpeza, em tese, de

acordo com as Convenções de Viena, poderiam ser cobradas, visto que não se tratam de
impostos, no entanto, por entendimento do STF, estas taxas foram declaradas inconstitucionais
em decorrência da ausência de especificidade. Sendo assim, nenhuma das cobranças poderia
prosperar, uma pela imunidade em matéria tributária e a outra pela inconstitucionalidade.

INAPLICABILIDADE DE MEDIDAS EXECUTÓRIAS CONTRA


AGENTE DIPLOMÁTICO SEM RENÚNCIA EXPRESSA
 RHC 87825

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO SIMPLES.


MEDIDA CAUTELAR PENAL DIVERSA DE PRISÃO. CRIME PRATICADO POR INTEGRANTE
DA DIPLOMACIA ESPANHOLA. IMUNIDADE À JURISDIÇÃO EXECUTIVA. PROIBIÇÃO DE
AUSENTAR-SE DO BRASIL SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. AUSÊNCIA DE ADEQUAÇÃO.

ILEGALIDADE PRESENTE. RECURSO PROVIDO. 1. Embora permaneça a jurisdição brasileira


competente para o processo de conhecimento do homicídio imputadamente praticado
por agente diplomático da República Federativa da Espanha, tendo esse país renunciado

à imunidade de jurisdição cognitiva, mas reservando-se a imunidade de execução, não


será o cumprimento de eventual pena da competência brasileira. 2. A cautelar fixada de

proibição de ausentar-se do país sem autorização judicial não é adequada ao temor

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de fuga do acusado, com indicados riscos à instrução e à aplicação da lei penal. 3. Não

há sequer menção de ter o paciente buscado destruir provas ou ameaçado testemunhas,


e seu eventual intento de não comparecer a atos do processo é reserva de autodefesa a

ele plenamente possível - sequer o júri restaria no caso impedido (nova redação do art.
475 CPP da Lei nº 11.689/08). 4. Tampouco é justificável a proteção por magistrado

brasileiro à aplicação da lei penal se por reserva jurisdicional da execução é da Espanha


a competência para o cumprimento de eventual pena criminal imposta. 5. Dado

provimento ao recurso em habeas corpus para tornar sem efeito a cautelar fixada de
proibição de ausentar-se do país sem autorização judicial, sem prejuízo de nova e
fundamentada decisão de necessárias medidas cautelares penais.

(RHC 87.825/ES, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 05/12/2017,
DJe 14/12/2017)

Comentário: Caso bem interessante que nos oportuniza comentar vários pontos.
Primeiramente, tratou-se de acusação de crime de homicídio de diplomata francês, na qual a
vítima foi sua esposa. Já havia sido proferida sentença de pronúncia, uma vez verificada a

materialidade do crime e provas de autoria do crime, o qual imputavam ao diplomata o


homicídio por meio de várias facadas. Diante do fato, O Estado francês renuncia à imunidade

de jurisdição de seu agente diplomático, fazendo a ressalva em seu ato, embora desnecessário,
que esta renúncia não se aplicava para medidas de execução, para a qual nova renúncia seria
necessária. Significa que o agente diplomático pode aqui ser processado e julgado, contudo a

eventual execução de pena não poderia ser aplicada.

Assim, foi aplicada medida cautelar de proibição de se ausentar do país, visando coibir que o
agente, o qual goza de livre circulação em vários países em decorrência de sua condição oficial

poderia obstar o curso do processo. Ressaltou-se ainda a existência de acordo entre Brasil e
Espanha, o qual desobrigava a extradição de nacional. Assim, o Habeas Corpus discutia a

aplicação da referida cautelar, se possível, diante da comprovação das hipóteses legais diante
da imunidade executória da qual ainda gozava o agente, visto que não houve renúncia expressa
da França neste sentido.

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Assim, debate-se sobre a imunidade de jurisdição a qual gozam os agentes diplomáticos, que,
como ocorreu neste caso concreto, foi renunciada pelo Estado acreditante. Na decisão que

impõe a medida cautelar de retenção de passaporte e impedimento de que o acusado se


ausente do Estado acreditado, justificou o juízo haver risco de que não houvesse possibilidade
de aplicação da lei penal em virtude de eventual condenação.

Ou seja, havia o temor de que, uma vez condenado pelo homicídio, não se pudesse lhe aplicar
a sentença condenatória. No entanto, como bem ressaltamos, a não ser que haja renúncia por
parte do Estado acreditante, não pode o agente diplomático ser submetido às medidas

executórias em virtude de sua inviolabilidade pessoal. Sendo assim, a decisão retira a aplicação
da medida cautelar, entendendo ser esta descabida diante da impossibilidade de aplicação de
medidas executórias.

RENÚNCIA DE IMUNIDADE À JURISDIÇÃO DE CÔNSULES


 HC 149.481

HABEAS CORPUS. DESCAMINHO E FALSIDADE IDEOLÓGICA. DELITOS SUPOSTAMENTE

PRATICADOS PELO CÔNSUL-GERAL DE EL SALVADOR. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO.


CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE RELAÇÕES CONSULARES DE 1963. RENÚNCIA PELO

ESTADO ESTRANGEIRO. PROCEDIMENTO REGULAR. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO


ILEGAL. 1. Tendo o paciente, na condição de Cônsul-Geral de El Salvador, praticado
supostamente os delitos de falsidade ideológica e descaminho no exercício de suas

funções, o artigo 43 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963 lhe


assegura a imunidade à jurisdição brasileira. 2. No entanto, é possível que o Estado

estrangeiro renuncie a imunidade de jurisdição de qualquer membro da repartição


consular, nos termos do artigo 45 da referida Convenção. 3. Instado a se manifestar, o

Estado de El Salvador, no exercício de sua soberania, retirou os privilégios e imunidades


do paciente, não havendo, portanto, qualquer óbice ao prosseguimento da ação penal.

4. A imunidade de jurisdição não se verifica de plano, isto é, não se aplica de forma


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automática, notadamente pelo fato de que há a possibilidade de renúncia pelo Estado

estrangeiro. Deste modo, não era o caso de se impedir de pronto a persecução penal
contra o paciente, mas sim, de indagar o Estado de El Salvador acerca do interesse em

se submeter ou não à jurisdição brasileira, conforme se deu na espécie. 5. Habeas corpus


denegado.

(HC 149.481/DF, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO

DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em 19/10/2010, DJe 16/11/2010)

Comentário: Um caso também curioso e interessante de se analisar. Observemos os fatos


relatados na denúncia. Em apertada síntese afirma que o aqui paciente importou um automóvel
Mercedes-Benz, o qual alegou que seria para o desempenho de suas funções consulares, ocasião
que isenta o pagamento dos referidos impostos relativos ao bem. No entanto, a investigação

motivada pela presença do referido veículo em um estacionamento de shopping em uma cidade


localizada em estado diverso do local onde se desempenhava as funções consulares, mostrou

que a compra inicial revelava uma intenção de obtenção de lucro por parte do cônsul, no ato
de revenda, que beneficiava pessoas de uma determinada família da região.

Para concretizar as compras, que fraudavam o caminho do veículo e seu futuro destinatário,
foram forjados documentos para atestar a legalidade da compra.

Sendo assim, a acusação contra o cônsul de El Salvador versava principalmente sobre a


falsificação dos respectivos documentos.

Assim, deu-se prosseguimento à investigação, com posterior apresentação da denúncia, na qual

se consultou o Estado de El Salvador, oportunizando a renúncia à imunidade, a qual foi aderida


pelo Estado em questão.

Alega o paciente que a imunidade de jurisdição não seria automática, sendo necessário invoca-

la por meio de consulta ao Estado acreditante para então dar prosseguimento ou não à
persecução penal, motivo pelo qual alega serem todos os atos anteriores à consulta ao Estado
acreditante nulos em decorrência da condição oficial do cônsul. Ou seja, alega que a referida
renúncia à imunidade de jurisdição seria requisito para o recebimento da denúncia, tentando se
utilizar da cronologia para se isentar da persecução penal

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Contudo, como bem ilustra a relatoria do caso, não se tratava de impedir a investigação ou
persecução penal de forma imediata apenas pela condição de cônsul, mas sim de consulta o

Estado de El Salvador se esta quer se submeter à jurisdição brasileira. Ainda mais no caso de
imunidade conferida aos cônsules, que apenas a possuem quando relacionados a atos de ofício.

REPRESENTAÇÃO DIPLOMÁTICA E CONSULAR


 EDcl no RO 40

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO DE


REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. ESTADO ESTRANGEIRO.

REPRESENTAÇÃO EM JUÍZO. REPRESENTANTE CONSULAR. ILEGITIMIDADE. OMISSÃO.


OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA. Consoante dispõe o artigo 535 do Código de Processo

Civil, destinam-se os embargos de declaração a expungir do julgado eventuais omissão,


obscuridade ou contradição, não se caracterizando via própria à rediscussão do mérito

da causa. Embargos rejeitados.

(EDcl no RO 40/PR, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em


15/02/2005, DJ 14/03/2005, p. 315)

Comentário: Uma situação peculiar em que alega o embargante que houve “confusão” inicial
quanto a quem se pretendia configurar no polo passivo da demanda. Uma ação de danos morais
e materiais, que objetivava responsabilizar o Estado de Portugal, que contudo, acabou colocando

o cônsul deste mesmo Estado como polo passivo. Alega ainda o embargante que deveria ter
sido direcionado ao representante diplomático, sendo este o responsável por representar o

Estado estrangeiro numa situação como esta, portanto requer que seja oportunizado emenda à
inicial para tal redirecionamento. A decisão final não acolheu os argumentos acima, tendo

entendido que o embargante estava apenas manifestando sua insatisfação com a decisão inicial,
a qual não motivava a interposição de recurso. Apenas um caso para observar a diferença entra

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL JÚNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2008.

CANÇADO, Trindade, Antônio Augusto. Princípios do direito internacional contemporâneo –


2. ed. rev. atual. – Brasília: FUNAG, 2017.

CASELLA, Paulo Borba; Hildebrando Accioly e G. E. do Nascimento e Silva. Manual de direito


internacional público.— 20. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012.

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9. ed. rev., atual. e
ampl. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.

PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. 9ª ed. Salvador:
Juspodivm, 2017.

REZEK, Francisco. Direito internacional público – Curso Elementar. 17ª ed. São Paulo: Saraiva,
2018.

SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas, 2002.

SILVA, G. E. do Nascimento; CASELLA, Paulo Borba; NETO, Olavo de Oliveira Bittencourt. Direito
Internacional Diplomático: Convenção de Viena sobre as relações diplomáticas na teoria e
na prática. 4ª ed. Revista atualizada e ampliada - São Paulo: Saraiva, 2012.

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