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JUSTIÇA INTERNACIONAL
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JOÃO MARTINHO MARQUES
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De acordo com o plano das Lições de Maria Rangel de Mesquita, AAFDL, 2010
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https://pca-cpa.org/wp-content/uploads/sites/175/2016/01/1899-Convention-for-the-Pacific-
Settlement-of-International-Disputes.pdf
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Título II (arts. 2.º a 8.º)
4
Título IV (arts. 15.º a 57.º)
5
Título IV, Capítulo II (arts. 20.º a 29.º)
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, “Arbitration is recognized by the Signatory Powers as the most effective, and at the same time the most
equitable, means of settling disputes which diplomacy has failed to settle”
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https://pca-cpa.org/wp-content/uploads/sites/175/2016/01/1907-Convention-for-the-Pacific-
Settlement-of-International-Disputes.pdf
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O Pacto da Sociedade das Nações consagrou, assim, ainda que de forma subtil dois
princípios essenciais relativos à resolução de diferendos:
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https://treaties.un.org/doc/source/covenant.pdf
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http://www.icj-cij.org/en/pcij-series-d
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Durante o período que mediou entre a criação da SDN e o termo da Segunda Guerra
Mundial, é de notar um Ato Geral sobre Resolução Pacífica de Conflitos Internacionais
assinado em Genebra em 1928. O presente ato previa no caso de insucesso dos meios
diplomáticos na resolução de disputas, três formas principais de resolução:
Não obstante o princípio da resolução pacífica de diferendos ter sido objeto, até à
criação da ONU, de diversas fontes de direito internacional, é com a instituição da ONU
que o princípio se traduz, inequivocamente, numa obrigação jurídica ou dever dos
Estados membros, enquanto corolário da proibição do recurso à força nas relações
internacionais, passando a carta da ONU a consagrar a obrigação de resolução pacifica
de diferendos.
A Carta da Organização das Nações Unidas10 é, pois, hoje a principal fonte de direito
internacional que consagra os princípios aplicáveis à resolução de diferendos na Ordem
Jurídica Internacional. No seu (art. 2.º, 3), prevê expressamente que «os membros da
Organização deverão resolver as suas controvérsias internacionais por meios pacíficos,
de modo a que a segurança e a paz internacionais não sejam ameaçadas»
10
http://dag.un.org/bitstream/handle/11176/387353/PORTUGUESE-1976.pdf?sequence=1&isAllowed=y
(CONU em Português publicada UN)
11
É do entendimento da Professora Rangel de MESQUITA a existência de dois princípios, o princípio da
resolução pacífica de diferendos e o princípio da livre escolha dos meios de resolução pacífica de
diferendos. No entanto é de salientar que na doutrina existem autores que defendem também a
existência de outros princípios aplicáveis à resolução pacífica de diferendos, tais como o dever de agir de
boa-fé e de aceitar a solução do conflito e de a executar de boa-fé, entendimento de Jorge MIRANDA,
Curso de Direito Internacional Público, p. 261.
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http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/2625(XXV)
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http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/37/10
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Aprovada pela resolução da AG 37/10 de 15 de Novembro de 1982
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Resolução da AG 44/23
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Carta da Organização de Estados Americanos (COEA), https://www.oas.org/dil/port/tratados_A-
41_Carta_da_Organiza%C3%A7%C3%A3o_dos_Estados_Americanos.pdf
17
http://www.oas.org/es/sla/ddi/tratados_multilaterales_interamericanos_A-
42_soluciones_pacificas_pacto_bogota.asp
18
http://www.achpr.org/files/instruments/au-constitutive-act/au_act_2000_eng.pdf
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«peaceful resolution of conflicts among Member States of the Union through such appropriate means
as may be decided upon by the Assembly; prohibition of the use of force or threat to use force among
Member States of the Union;»
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1.1.1- Conclusões
O artigo 33.º, nº1 da CONU, inserido no seu capítulo IV dedicado à «Solução pacifica de
controvérsias» é a principal fonte de DI universal que contém um elenco desenvolvido
– ainda que não exaustivo – dos meios pacíficos de resolução de controvérsias: a
negociação, o inquérito, a mediação, a conciliação, a arbitragem, a via judicial, o
recurso a organizações ou acordos regionais. O âmbito de aplicação do artigo prende-
se com o dever de resolução de controvérsias internacionais por meios pacíficos de
modo a que a paz e a segurança internacionais não sejam colocados em causa. O elenco
de meios pacíficos de resolução de diferendos constante da CONU e retomado, em
especial, na Declaração de Manila aprovada pela AG da ONU – que acrescenta ao elenco
os bons ofícios.
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Paradigma do TIJ no seio da ONU
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Assiste-se por isso, a partir da segunda metade do seculo XX, a um fenómeno, que se
mantem no seculo XXI, de proliferação de meios judiciais de resolução de diferendos –
sob a forma de instituições jurisdicionais internacionais ou órgãos jurisdicionais de
organizações internacionais – quer à escala universal ou regional. Evolui-se para
sistemas de Justiça Internacional universais especializados por domínios ou áreas de
direito internacional como sucede por exemplo, com o Direito Internacional do Mar e
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Rangel de Mesquita cita AMERASINGHE,22 autor que refere em primeiro lugar que a
palavra jurisdição comporta uma pluralidade de sentidos, desde logo a autoridade para
a declaração do direito ou de uma situação jurídica. O termo jurisdição internacional
pode ser tomado num duplo sentido: em sentido material – jurisdictio (autoridade ou
competência para declarar o direito, para a resolução de um diferendo através de uma
decisão obrigatória para as partes e pela aplicação do direito internacional23 ); e em
sentido orgânico, enquanto sinonimo de tribunal internacional. Este último enquanto
meio jurisdicional permanente de resolução de diferendos internacionais, implica a
verificação de um conjunto de requisitos principais. A doutrina aponta designadamente
os seguintes: a existência de uma decisão, obrigatória para as partes, através da
aplicação de regras de processo contraditório que garantam igualdade das partes e o
direito de defesa.
22
AMERASINGHE, Chittharanjan, Jurisdiction of Specific International Tribunals, pág. 7 e ss.
“Embora, como observado, a "jurisdição" possa abranger muitos aspetos da atividade judicial, haveria
concordância de que, quando um tribunal abordar questões de jurisdição (matters of jurisdiciton) em
sentido básico, pode ter que decidir:
(i) Decidir se tem autoridade para proceder ao inquérito e resolver a disputa pronunciando-se sobre
qualquer aspeto da mesma, isto é, a competência da competência “Kompetenz-Kompetenz”;
(ii) Se foi legalmente constituído;
(iii) Se existem determinadas deficiências, expressas ou inerentes, na submissão do litígio à luz dos
instrumentos constitutivos que impedem de examinar o caso ainda mais com o objetivo de resolver a
disputa ou qualquer parte judicialmente, ou seja, decidir se tem competência ou é incompetente
(competência no caso concreto);
(iv) mesmo que não existam deficiências no litígio, se existem outros obstáculos ao seu procedimento
judiciário para resolver que se relacionam com a admissibilidade do litígio (recevabilité);
(v) se ele pode exercer o poder de agir em relação a aspetos importantes da jurisdição incidental, a saber,
lidar com intervenções e ordenar medidas provisórias (questões incidentais).
Ao examinar a "jurisdição" dos tribunais específicos selecionados, são estas cinco áreas de atuação que
serão particularmente mantidas em mente. Também pode ser observado o fato de que, no que diz respeito
a um tribunal particular ou a um grupo de tribunais, apenas algumas dessas áreas possam ser tidas em
conta.”
23
SANTULLI identifica três elementos essenciais da jurisdição, à luz de um critério funcional: diferendo,
aplicação do direito e carater obrigatório.
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24
RANGEL DE MESQUITA, independência que se concretiza pela irrelevância da vontade nas partes na
composição do tribunal e na designação dos seus membros, bem como na organização e funcionamento,
pág 92
25
Caso do CS das Nações Unidas no caso específico de criação de tribunais internacionais penais para a
ex-Jugoslávia e para o Ruanda, instituídos por ato daquele órgão. Ob.cit pág.92.
26
DIEZ DE VELASCO, Las organizaciones Internacionales, pág. 431. Uma jurisdição que apenas irá julgar
casos específicos que perduram em determinada altura no tempo e que finda após o seu julgamento não
faria sentido ser acompanhada da criação de uma organização internacional, diferentemente o TPI que
terá como objetivo perdurar no tempo caber-lhe-á a criação de regras específicas.
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a nível universal, TPI27 e o TIDM, ao nível regional o TEDH. Podem chamar-se também a
estes tribunais: «tribunais especializados de âmbito universal28».
27
Excecionalmente, DIEZ DE VELASCO, qualifica o TPI simultaneamente como Organização Internacional
de âmbito universal e «primeira jurisdição internacional de carater permanente» e qualifica o TEDH
como «órgão jurisdicional de carater permanente».
28
DIEZ DE VELASCO, relativamente ao TIDM
29
DIEZ DE VELASCO, pág. 43
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A distinção entre justiça internacional geral e Justiça Internacional especial assenta num
critério material, ou seja, relativo ao âmbito material abrangido na jurisdição de cada
tribunal internacional que integra cada sistema de Justiça Internacional. Esta tipologia
visa essencialmente distinguir a Justiça Internacional de âmbito genérico, ou não
especializada em razão da matéria, e que, por isso pode apreciar a priori um diferendo
relativo a qualquer área do Direito Internacional, da Justiça especializada em razão da
matéria ou jurisdição internacional de competência restrita ratione materiae: que
apenas pode apreciar diferendos num dado domínio material do Direito Internacional.
Por sei turno, a distinção entre Justiça internacional universal (ou quase-universal) e
Justiça Internacional Regional funda-se num critério geográfico ou espacial, em especial
na perspetiva dos sujeitos de Direito Internacional que estiveram na sua génese e dos
sujeitos de Direito Internacional. Esta tipologia visa basicamente distinguir sistemas de
Justiça Internacional cuja génese e funcionamento estão envolvidos sujeitos de Direito
Internacional à escala mundial, isto é tendencialmente todos os sujeitos, os Estados, e
que se destinam a resolver diferendos entre os Estados no sistema em cuja génese estão
envolvidos.
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6.2 Sequência
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É o caso, ao nível universal, da criação do TIJ, do sistema de controvérsias da OMC ou do TPI; e ao
nível regional, do sistema assente no TEDH ou no sistema instituído no âmbito da UA ou da
Comunidade Andina.
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Tribunais Penais
T.E para a Serra Leoa
Ad Hoc
Multilaterais Bilaterais
ONU, Administração
do território Kosovo
e Timor Leste
Generalidade dos
sistemas de Justiça
Internacional
Universal e Regional
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Em rigor, qualquer das formas indicadas, enquanto categorias diversas de fontes de DI,
empregues para a criação de Sistemas de Justiça Internacional – ou de Justiça
Internacionalizada, assentam, em última análise, na soberania estadual. Em alguns casos
diretamente, na medida em que o ato Institutivo do sistema é uma manifestação
imediata da vontade do Estado (1) e (2). Noutros casos indiretamente, em primeiro ou
segundo grau, na medida em que o ato Institutivo implica sempre uma previa
manifestação de vontade estadual na criação da OI e na definição do principio da
especialidade e da competência de atribuição dos respetivos órgãos, ambos expressos
no ato Institutivo da OI. Por isso, a instituição de tribunais internacionais afigura-se em
última analise uma expressão, direta ou indireta, da soberania estadual.
31
Cfr. Capítulo II, § 4, 4.2
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Jurisdição Internacional em
sentido orgânico ou Tribunal
Internacional
Dupla natureza
Secundário Regional
Universal
Ad Hoc
Permanente
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Até à entrada em vigor do Tratado de Lisboa (2007) a jurisdição do TJUE comportava uma
componente de jurisdição obrigatória e uma componente especial de jurisdição facultativa no âmbito
do terceiro pilar da EU e relativa ao processo das questões prejudiciais (35.º, n.ºs 2 e 3, do TUE na
versão anterior à entrada em vigor do Tratado de Lisboa) – esta componente desapareceu com as
alterações introduzidas pelo TL ao TUE e ao TFUE. Note-se todavia que a jurisdição obrigatória do
TJUE não se estende a todos os domínios materiais abrangidos nas atribuições da União – dado que a
competência do TJUE não existe, com uma exceção, no domínio da Política Externa e de Segurança
comum (PESC), artigos 24.º, nº1, par. 2, do TUE e 275.º TFUE.
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Competência
Competência
meramente
Anulatória
declarativa
Competência
Sancionatória de plena
jurisdição
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7.13. O processo
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JURISPRUDÊNCIA
Antecedentes e fatos
b) De acordo com o artigo V, 1), c), da Convenção, a atividade baleeira comercial envolvendo operações
pelágicas ou a partir de estações terrestres está proibida na região designada como santuário do oceano
do Sul. Este santuário abrange as águas do hemisfério sul a sul da seguinte linha: iniciando-se (…..)
33
Jurisprudência Resumida do Tribunal Internacional de Justiça, pág. 348-351.
34
International Convention for the Regulation of Whaling (Convenção internacional para a
regulamentação da caça à baleia): https://dre.pt/application/dir/pdf1s/2002/05/102A00/41934225.pdf
35
https://iwc.int/home
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Dentro da IWC, o anúncio da JARPA II recebeu um forte protesto com as Resoluções adotadas pela
Comissão em 2005 e 2007, solicitando ao Japão que reveja o programa de pesquisa para que seja realizado
por meio de pesquisas não-letais, o que significa suspender os métodos letais do programa. Ao longo da
conduta japonesa de JARPA e JARPA II, a Austrália levantou persistentemente as suas objeções ao
programa de caça à licença especial do Japão dentro da CBI, em discussões bilaterais com o Japão e com
as declarações públicas dos Ministros do governo. Em 28 de maio de 2010, o governo Australiano
anunciou sua intenção de iniciar ações judiciais contra o Japão e, em 31 de maio, instaurou esses
processos.
Decisão36
(para. 61) “O Tribunal considera que o Artigo VIII dá discrição a um Estado Parte no ICRW para rejeitar o
pedido de uma autorização especial ou especificar as condições em que uma licença será concedida. No
entanto, se a matança, a tomada e o tratamento de baleias de acordo com uma licença especial solicitada
é para fins de pesquisa científica não pode depender simplesmente da perceção desse Estado.”
O tribunal declarou que o Japão violou a convenção, ao não cumprir a moratória sobre a caça à baleia
comercial, ao permitir o uso de navios-fábrica para processar baleias e ao caçar baleias-comuns no
Santuário das Baleias do Oceano Austral, e que tinha de revogar ou não prorrogar as licenças atribuídas o
quadro do Programa JARPA II e abster-se de atribuir quaisquer novas licenças no âmbito do programa.
O artigo 36.º do ETIJ, estabelece a competência genérica do TIJ. É de salientar que ser parte no estatuto
não é sinonimo de aceitar a jurisdição do TIJ.
Artigo 36.º
1. A competência do Tribunal (*) abrange todas as questões que as partes lhe submetam, bem como todos
os assuntos especialmente previstos na Carta das Nações Unidas ou em tratados e convenções em vigor.
2. Os Estados partes do presente Estatuto poderão, em qualquer momento, declarar que reconhecem
como obrigatória ipso facto e sem acordo especial, em relação a qualquer outro Estado que aceite a
mesma obrigação, a jurisdição do Tribunal em todas as controvérsias jurídicas que tenham por objeto:
36
http://www.icj-cij.org/files/case-related/148/148-20140331-JUD-01-00-EN.pdf
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1. Cláusula Compromissória;
Para quê: (Competência
2. Compromisso; em razão da matéria)
Reservas Tempo
4. Fórum Prorogatum37
Pessoas
No caso o Japão constitui reservas em relação à matéria do litígio, assim, o Japão apenas considera
competente para julgar a controvérsia do ITLOS. Casos em que pode haver sobreposição nos meios
aplicáveis, TIJ v. ITLOS. A solução passará pelo Princípio da livre escolha de meios de solução. Não sendo
possível a solução haverá que recorrer à arbitragem.
5 Fev. 1930 - Declaração de Aceitação da Jurisdição do TIJ pelo Estado Indiano, para questões que surjam
após esta data; Portugal vem fundar o seu direito de passagem em tratados do século XVIII;
Logo, a Índia vem concluir que o caso não cabe na jurisdição do TIJ, dado que a disputa deve ser
considerada anterior a 5 Fev. 1930.
Distinção entre a fonte do direito invocado (que pode ser anterior à declaração de aceitação da jurisdição
do TIJ) e a data em que se dão os factos que levam à controvérsia; Esta última data é que relevante.
De todo o modo, ainda que o tribunal viesse a considerar que Portugal tem razão, os efeitos desse juízo
não seriam retractivos. Isto é, reportar-se-ão sempre apenas aos factos ocorridos em 1954.
Ocupação Britânica
37
É o nome que se dá a situações em que determinadas atitudes de um Estado demandado são
encaradas pelo Tribunal Internacional de Justiça como uma aceitação tácita das suas competências.
38
Jurisprudência Resumida do Tribunal Internacional de Justiça, pág. 113-116
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Independência da Índia
Tribunal
Se a intenção do Marajá tivesse sido, desde logo, a transferência de soberania, não era necessário que
viesse dizer, a posteriori, o óbvio, isto é, que na soberania concedida aos portugueses se inclui a
autoridade para pôr fim a eventuais rebeliões.
Em suma, durante o Período dos Marajás não se pode dizer que os Portugueses fossem titulares de um
direito de passagem para o exercício de soberania.
Ocupação Britânica
Ingleses aceitam tacitamente a situação (não reclamam, mas também não há qualquer acordo entre
Ingleses e Portugueses);
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Assim, o tribunal vem concluir que “no que toca a pessoas (civis), mercadorias e bens em
geral, existiu durante o período Britânico e Pós-Britânico uma constante e uniforme prática de
permissão de passagem entre Damão e os enclaves, prática essa que se estendeu por mais de
um século, não sendo afetada pela alteração de regimes políticos, sendo certo que tal prática
era encarada como lei por ambas as partes, dando, portanto, origem a um direito de
passagem e à respetiva obrigação de deixar passar”
Tribunal
Portugal concordou em que o seu direito de passagem sempre seria objeto de regulação (em boa fé) pelo
Estado Indiano. Dada a situação anormal de tensão naquele momento, a decisão de recusa de passagem
cabia na margem de regulamentação.
Introdução
A Alemanha invoca a violação da sua imunidade de jurisdição, pela Itália ao julgar o Estado
alemão nos seus tribunais internos.
No caso Alemanha v. Itália, por exemplo, a Itália desrespeita a soberania alemã com o pretexto
de defender os Direitos Humanos. A Alemanha, por sua vez, zela pela sua imunidade de
jurisdição. O Tribunal Internacional de Justiça determinará qual princípio que deverá
prevalecer neste caso.
Outra crítica reiterada na petição são medidas restritivas aplicadas em um território de
40
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propriedade alemã, Villa Vigoni, usado para fins não comerciais e de intercâmbio cultural entre
os dois países, desrespeitando, assim, duplamente a imunidade jurisdicional alemã, ao submeter
a Alemanha a um tribunal italiano e ao aplicar as medidas restritivas sobre propriedade alemã.
Intervenção da Grécia
Na petição apresentada, a Grécia alega que sua intenção é intervir somente nos aspetos
procedimentais relativos aos julgamentos feitos em seu território, reforçados pela
jurisprudência italiana. Segundo a Grécia, nenhuma das partes do caso levou em consideração
as implicações deste para terceiros Estados, advogando o princípio de segurança jurídica (CIJ,
2011a, p.5).
A Convenção das Nações Unidas sobre as Imunidades Jurisdicionais dos Estados e dos Seus Bens,
de 2004, pode ser vista como um avanço na positivação do princípio em questão, elencando os
atos cobertos pela imunidade, bem como a definição precisa de Estado e de seus
desdobramentos que devem gozar do princípio (SHAW, 2008, pp.708-9).
39
SHAW, M. N. International Law. 6ª Edição. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.
40
CAPLAN, L. M. State Immunity, Human Rights, and Jus Cogens: A Critique of the Normative Hierarchy
Theory. The American Journal of International Law, vol. 97, nº 4, pp. 741-781. Out., 2003.
41
LAUTERPACHT, H. The problem of jurisdictional immunities of foreign States. British
Yearbook of International Law, vol. 28, p. 220-272. 1951.
41
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Atos de caráter privado (acta jure gestionis), e atos de governo (acta jure imperii) do Estado,
consagrada pela jurisprudência dos tribunais belgas e italianos que passaram a negar a
imunidade em casos de acta jure gestionis. (SHAW, 2008) – distinção que é pilar da doutrina
restritiva (BRÖHMER, 1997) ou relativa da imunidade de jurisdição.
Tais normas são denominadas normas de jus cogens. Jus Cogens é um conceito complicado, que
ainda desperta inúmeras dúvidas, e que já foi muito estudado. Porém, em linhas gerais,
significaria um conjunto de normas, dentro do Direito Internacional, que “seriam imperativas
em razão de seu conteúdo mais relevante, mais essencial, (...) que se impõem a todos os Estados,
independente da oposição destes” (NASSER, 2005, p. 163), conforme artigo 53 da Convenção de
Viena sobre o Direito dos Tratados (1969).
Há também aqueles que consideram as normas de jus cogens como normas de ordem pública,
por serem ”inderrogáveis pela vontade de Estados contratantes, mas a esta noção de ordem
pública internacional faltariam maior clareza e definição” (Ibid., p. 169).
3. Instrumentos internacionais
Por mais que haja instrumentos positivados responsáveis pela regulação do direito da
imunidade jurisdicional do Estado, a dificuldade de universalização do princípio reside no fato
de ele ainda se encontrar maioritariamente inserido no campo do direito consuetudinário, e das
suas principais fontes. (BRÖHMER, 1997, p. 138; FOX, 2004, p. 100).
Pode-se dizer que um dos primeiros instrumentos internacionais a lidar com a imunidade estatal
foi a Convenção de Bruxelas de 1926 (BRÖHMER, 1997, p.121); entretanto, o marco mais
significativo veio com a Convenção Europeia sobre a Imunidade dos Estados (ECSI, na sigla
original em inglês) de 1976. Esta Convenção foi responsável por iniciar a codificação, ainda cedo,
do direito da imunidade estatal, uma época em que a doutrina restrita ainda era contestada –
alguns de seus signatários, por exemplo, ainda aderiam à doutrina absoluta (BRÖHMER, 1997,
p. 119; FOX, 2004, p.94). Desse modo, pode-se dizer que uma das maiores contribuições da ECSI
foi influenciar os Estados a desenvolver a teoria restritiva da imunidade (FOX, 2004, p.99).
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Questões:
3. Caso não houvesse qualquer suspensão dos atos por parte dos Italianos. Alemanha podia
recorrer ao Conselho de Segurança (possivelmente resultaria em sanção económica);
1. Os fatos
Primeiro, a Irlanda queria obter do Reino Unido todas as informações disponíveis sobre
as descargas radioativas da central, invocando o artigo 9.º da Convenção para a Proteção
do Meio Marinho do Atlântico Nordeste ("OSPAR" CONVENTION FOR THE PROTECTION
OF THE MARINE ENVIRONMENT OF THE NORTH-EAST ATLANTIC). O n.º 2 do artigo 9.º
da “OSPAR” exige que as partes contratantes disponibilizem informações "sobre o
estado da sua área marítima, sobre atividades ou medidas que sobre ela interfiram ou
possam afetá-la".
Segundo, a Irlanda convicta que as descargas da Mox Plant contaminavam as suas águas
e, portanto, constituíam uma violação da Convenção sobre o Direito do Mar da ONU
43
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No entanto, deve notar-se que esta disputa entre a Irlanda e o Reino Unido, envolve
dois Estados membros da CE. Assim, também o direito da CE (necessariamente em
matéria ambiental e ao tratado EURATOM) reclamará a sua aplicação. O artigo 292.º do
Tratado CE, que prevê que todos os litígios entre os Estados-Membros da CE que
envolvem o direito comunitário devem ser apresentados exclusivamente em sede do
TJCE (Tribunal de Justiça da União Europeia).
Por outras palavras, este litígio levantou a potencial sobreposição de jurisdição entre os
dois tribunais arbitrais e o TJCE. A controvérsia, foi resolvida em primeiro no que se
refere à disputa da UNCLOS antes do TJCE.
Em substância, o tribunal arbitral “OSPAR” decidiu que o Reino Unido, não violou a
Convenção OSPAR ao não divulgar as informações solicitadas pela Irlanda.
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Uma vez que as partes não designaram, um determinado foro, a disputa teve
que ser submetida a um procedimento de arbitragem de acordo com o Artigo 287.º n.º5
da UNCLOS.
45
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acordo com o Anexo VII, o tribunal arbitral tivesse competência para decidir sobre o
mérito do caso.
Não tendo havido qualquer diligência nesse sentido, a Comissão Europeia (apoiada pelo
Reino Unido) iniciou um processo de infração nos termos do artigo 226 contra a Irlanda
por violação do artigo 292.º CE e da disposição idêntica do Tratado EURATOM. A
Comissão argumentou que a Irlanda tinha instaurado o processo contra o Reino Unido,
sem ter devidamente em conta o facto de a CE ser parte da UNCLOS.
Assim, desta forma, o caso Mox Plant, pelo menos no que diz respeito aos
procedimentos da UNCLOS, chegou ao Tribunal de Justiça em última instância - contra
as intenções iniciais dos Estados membros envolvidos na disputa.
Neste contexto, o TJUE reafirmou que os acordos mistos têm o mesmo estatuto na
ordem jurídica comunitária que os acordos celebrados pelas Estados membros por si só.
46
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Com base nisso, o TJUE examinou se a CE tinha exercido a sua competência no domínio
de intervenção (poluição marítima) que está no centro da disputa entre a Irlanda e o
Reino Unido.
Como consequência disso, um acordo internacional como a UNCLOS não pode afetar a
jurisdição exclusiva do TJE relativamente à resolução de litígios entre os Estados-
Membros relativos à interpretação e aplicação da lei Comunitária.
Por conseguinte, a Irlanda foi impedida com base nos artigos 292. ° e 220. ° CE de
interpor o litígio perante o tribunal arbitral da UNCLOS. Com efeito, o Tribunal de Justiça
chegou a afirmar que "[...] a instituição e a prossecução de um processo perante o
tribunal arbitral [...] envolvem um risco manifesto de que o ordenamento jurisdicional
previsto nos Tratados, consequentemente, a autonomia do sistema jurídico comunitário
seja afetado negativamente ".
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2. Análise
O caso Mox Plant foi o primeiro caso que destacou os potenciais problemas
associados à jurisdição exclusiva do TJUE e a uma proliferação de tribunais
internacionais.
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