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Envelhecimento populacional: consequências, desafios e oportunidades.

O envelhecimento populacional em geral e em particular em Portugal é um


fenómeno demográfico preocupante e cujos principais responsáveis são por um lado a
quebra de nascimentos registada desde os anos 70 do século XX e por outro lado o
aumento da esperança média de vida. Tal faz com que a pirâmide de idades no nosso pais
sofra alterações deixando de ser uma pirâmide triangular característica de um regime
demográfico “jovem”, para adotar uma estrutura em cuja base é cada vez mais estreita e
o topo mais alargado, face à redução quer da natalidade quer da mortalidade.

Este envelhecimento populacional é mais notório nas regiões e países mais


desenvolvidos, fenómeno cuja a aparição não se deu senão numa época relativamente
próxima da nossa, podendo afirmar-se que o envelhecimento se encontra diretamente
ligado com o próprio desenvolvimento da civilização, sendo um produto cultural.

Para tal basta perceber que entre outros, são responsáveis por esta
tendência, os movimentos de migração da população de zonas mais rurais para as
áreas mais urbanas, fruto da maior gama de oportunidades de trabalho e
diversificação das atividades e serviços que acabaram por resultar também numa
alteração de muitos valores dominantes na vida em sociedade, dando origem a
uma progressiva emancipação da mulher que levou naturalmente a uma redução
da fecundidade e como tal da natalidade, acresce ainda a generalização dos
métodos contracetivos, a divulgação de métodos de planeamento familiar e o os
encargos sociais decorrentes de uma família numerosa. No inicio do século XX
os valores da natalidade rondavam cerca dos 30% ao passo que no inicio do século
XXI os valores rondavam já somente os 10%.

Por outro lado, também a melhor cobertura médico-sanitária nos centros


urbanos por oposição ás condições verificadas na áreas mais rurais fizeram com
que se verificasse um aumento da esperança média de vida sendo que a
mortalidade no inicio do século XX rondava os 20% ao passo que no inicio do
século XXI, situava-se nos 10%.

Sendo a tendência de envelhecimento populacional um dado adquirido, tal


originou alterações na vida em sociedade tal como a conhecemos, tais como:

Uma diminuição “natural” da população fruto do facto de que ainda que


se considere positivo o prolongamento da esperança média de vida, a verdade é
que a vida não deixa de ter um limite, no entanto quanto á natalidade, a sua
redução por oposição a manutenção de níveis de mortalidade faz com que haja
mais mortalidade que natalidade reduzindo-se o número de pessoas, tendência já
verificada nos anos mais recentes.

Uma redução dos níveis de produtividade do país com efeitos diretos na


sua economia, devido essencialmente ao facto de cada vez mais os jovens, já de
si em numero reduzido face ao passado, iniciarem a sua idade ativa bastante mais
tarde que antigamente, fruto de trajetórias escolares mais longas que fazem com
que aquela que era uma tendência de inicio de atividade por volta dos 15 a 18
anos, agora seja adiada até aos 20 a 25 anos. Do outro lado da balança não se
assiste porém a um aumento do período de atividade apesar da maior esperança
média de vida, continuando a ser tendência o fim do período de atividade por volta
dos 65 anos ou até mesmo antes, com reformas antecipadas.

Um maior risco quanto á sustentabilidade do Sistema de Segurança Social


na medida em que em termos práticos o Estado não faz mais do que receber por
um lado de quem se encontra em atividade e entregar por outro lado a quem se
encontra reformado, o que pressupõe um equilíbrio entre ativos e pensionistas
reformados. Quando se verifica uma tendência de envelhecimento populacional,
nos moldes em que se verifica em Portugal o que acontece é que o número de
pessoas em idade ativa é cada vez menor e o número de pessoas reformadas
aumenta, aumentando também fruto do aumento da esperança média de vida, o
número de anos em que se tem que satisfazer as pretensões dos reformados
pensionistas, acrescendo ainda um aumento do valor das reformas, que acaba por
colocar em causa o Sistema de Segurança Social e a sua sustentabilidade.

Por fim, verifica-se um aumento da taxa de dependência das pessoas idosas


em relação à população ativa. Como se sabe a população idosa é um dos grupos
populacionais mais vulneráveis caracterizando-se por um baixo nível de
escolaridade, rendimento, participação social e cívica e maior isolamento social e
físico com condições de saúde mais desfavoráveis. De modo a fazer face a esta
realidade o Estado criou o sistema de Segurança Social, com particular destaque
para a Ação social, que contribuiu com a criação de Lares para idosos, Centros de
Dia, Centros de convívio, apoio domiciliário. No entanto a partir dos anos 80 do
século XX o sistema de Segurança Social começou a revelar-se insuficiente tendo-
se dado oportunidade a iniciativas privadas, nomeadamente por parte das
Instituições Particulares de Solidariedade Social, IPSS, recorrendo-se cada vez
mais á chamada institucionalização da pessoa em idade avançada.

Resta neste sentido, perceber como é que se pode fazer face a esta nova realidade
com que se tem de contar, isto é, o envelhecimento da população é, como já referi, algo
que veio para ficar pelo que por ventura esta alteração na sociedade em que nos
habituámos a viver, não pode vir desacompanhada de uma adaptação a si própria. O
envelhecimento da população traz consigo uma oportunidade para a sociedade e para nós
cidadãos que fazemos parte dela, alterarmos a forma como pensamos e vivemos o nosso
dia a dia por forma a que o impacto, que entretanto se assume somente negativo, deste
envelhecimento, não se faça sentir. O problema deixa assim de ser demográfico e passa
a ser um problema ideológico e filosófico do modo como encaramos o mundo.

Uma primeira ideia, da autoria de Maria João Rosa, prende-se com uma
alteração daquela que é a tradicional conceção do nosso ciclo de vida, composto
essencialmente por uma primeira fase de formação, seguida da fase de produção e por
ultimo da fase de descanso. A autora propõe uma adaptação da sociedade ao
envelhecimento dos seus membros, através de uma redução das assimetrias existentes
entre estas três fases, onde o objetivo é que a primeira e ultima fases perdurem durante
todo o nosso tempo de vida ao passo que a segunda fase teria o seu inicio mais cedo e o
fim naturalmente mais tarde, fruto da maior esperança média de vida. A ideia passaria
num primeiro momento criar um sistema onde o período de tempo de trabalho fosse mais
reduzido, abrindo mais espaço para a fase de lazer e descanso, o que permitiria alargar a
fase de produtividade durante mais tempo, uma vez que os cidadãos não chegariam a
determinada idade com vontade de parar de trabalhar e de descansar, pois poderiam fazê-
lo de forma equilibrada ao longo da sua vida, isto é, reduzia-se o período semanal e diário
de trabalho, dando mais oportunidade ao lazer e descanso para com isso se puder estender
por mais anos a fase de produtividade dos cidadãos de uma sociedade, adaptando-se o seu
modo de vida ao facto de cada vez mais vivermos durante mais tempo.

Uma segunda ideia que precisa de começar a ser adotada tem que ver com
a população imigrante, isto é, hoje em dia o imigrante independentemente do seu
conhecimento encontra-se tradicionalmente relegado para os trabalhos menos desejados
verificando-se um desperdício das suas capacidades e valências, segundo uma ideia de
sociedade que não quer perder a sua identidade cultural nem ver os seus autóctones
substituídos, quando a verdade é que a população imigrante é um fator de relevo no que
diz respeito á demografia e combate á falta de produtividade de um pais, ajudando
também a combater ou a desacelerar o envelhecimento da população uma vez que
também contribui para a percentagem de natalidade do pais, fixando-se os imigrantes em
território nacional e atribuindo-lhes condições para que os mesmos possam aqui criar
família.

Uma terceira e ultima ideia prende-se com a necessidade de nos


adaptarmos ao facto de existir mais população idosa e como tal arranjar alternativas á
referida institucionalização, podendo garantir desta forma um fim de vida em sociedade
mais digno para todos nós. A ideia parte do chamado aging in place que se traduz na
capacidade de continuar a viver em casa e na comunidade ao longo do tempo, isto é, na
criação e manutenção de contextos favoráveis e facilitadores do envelhecimento, que
implica desde logo uma mudança no paradigma das politicas sociais de apoio aos idosos
por forma a permitir que estes permaneçam no seu ambiente familiar e comunitário de
modo independente. A implementação prática deste conceito abrange uma panóplia de
dimensões, física relativa á própria casa e cidade onde se vive, social quanto aos contactos
interpessoais com pessoas idosas, emocional e psicológica ligada aos sentimento de
pertença a um lugar ou comunidade e cultural fruto dos significados e valores associados
ao lugar onde sempre vivemos. São exemplo de medidas promotoras da ideia de aging in
place, entre outras, a criação de serviços de apoio domiciliário, cuidados de saúde
domiciliários, programas de nutrição e serviços de apoio para cuidadores e familiares e
por fim a criação das chamadas cidades amigas das pessoas idosas, isto é, a adaptação das
cidades a nível da participação e inclusão, transportes públicos, programas recreativos e
sociais e participação cívica em casa e no exterior das pessoas idosas. Todas estas
medidas para além de permitirem aos idosos permanecerem nas suas casas e comunidades
o maior tempo possível preservando a sua identidade e bem-estar, permitem ainda do
ponto de vista dos decisores políticos, uma redução de custos, uma vez que, o cuidado
institucional é mais dispendioso do que a prestação de cuidados na comunidade.

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