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Diferenças de percepção sobre a Terceira Idade

Para algumas culturas envelhecer é sinal de sabedoria, de ampliação de


conhecimentos pela bagagem de anos de vida, processos de aprendizagem
por estudo formal ou mesmo o aprendido por experiências pessoais. No
entanto, envelhecer em uma sociedade marcada pelo culto à estética e à
beleza, a jovialidade e que exige imagens ideais para se ser cobiçado,
desejado pelas pessoas, o que leva essa necessidade e que é um fenômeno
biológico “inevitável”, em um fenômeno cultural da ordem do “indesejável”.
Mas se partimos para o significado dos termos, identificamos que “envelhecer”
é um processo em que de pessoa para pessoa há variáveis nas mudanças
físicas, comportamentais e sociais pois desenvolvemos ritmos diferentes,
sendo a idade cronológica apenas uma das referências e que podem ou não
afetar o bem-estar do idoso.

Verificando a atual legislação federal do Brasil sobre a inclusão, as


participações do idoso na qualificação das políticas públicas constatamos que
somente nas duas últimas décadas é que identifica-se avanços significativos
graças ao Estatuto do Idoso (2003), documento que aborda questões de
responsabilidade de familiares, de políticas de saúde, das variáveis de
discriminação e violência contra a pessoa com idade igual ou superior a 60
anos, idosos então. Dessa forma, as políticas públicas e a sociedade se
colocam como uma peça chave para a garantia a efetivação desse direito de
existência digna como pressuposto.

As pessoas que se encontram na terceira idade são na maior parte das vezes,
referências de conhecimento, sábias, pois além da experiência profissional os
mais velhos também têm a inteligência emocional, o que pode contribuir
fortemente com os menos experientes ou simplesmente mais jovens. Mas a
desaceleração para quem chega a Terceira Idade não é tão tranquila assim,
seja pela questão da relação orçamentária que decai sensivelmente (redução
orçamentária com a aposentadoria para quem a conquista) ou a depressão e o
desestímulo por estar fora do mercado de trabalho formal ou informal
associado a perda do poder aquisitivo.
Ao nos aproximarmos da hora de se aposentar, se desejamos permanecer
trabalhando no Brasil, é preciso ter muita resiliência. O mercado de trabalho
atual não possui uma política de recursos humanos para reter ou qualificar os
idosos, principalmente o ligado a companhias e empresas privadas, que
estabelecem metas nesse sentido e limitam os processos seletivos para
contratar pessoas mais velhas para funções específicas de relacionamento
com o público, como vendas ou atendimento ao cliente.

De acordo com o estudo “Envelhecimento da Força de Trabalho no Brasil” da


FGV - Fundação Getúlio Vargas , atualmente, aproximadamente 1% dos
cargos nas empresas em nosso país são ocupados por pessoas com mais de
65 anos. Ainda neste estudo, 70% das empresas acreditam que profissionais
na terceira idade são mais caros, 69% não se adaptam bem às mudanças e
63% dos idosos são vistos como acomodados com a proximidade da
aposentadoria.

A manutenção de idosos no mercado de trabalho é algo que ainda precisa ser


valorizada pelos gestores públicos e privados, até pela desoneração dos cofres
públicos. Com a recente Reforma da Previdência no Brasil, homens podem se
aposentar com 65 anos ou mais e mulheres a partir de 62 anos. A necessidade
do tempo mínimo de contribuição também se manteve, sendo exigidos 15 anos
para mulheres e homens que começaram a contribuir antes da reforma da
Previdência, e de 20 anos para homens que iniciaram as contribuições depois
da reforma. Para o setor público, o tempo mínimo de contribuição é de 25 anos.

Cabe aos governos incentivar a empregabilidade através de programas para


que o idoso permaneça no mercado de trabalho, como uma forma de mantê-lo
ativo, regulamentando seus direitos e prorrogando esta jornada profissional,
que pode gerar também a manutenção da saúde física e mental, pois reflete
nas dimensões pessoal, social e financeira. Comparativamente, saindo de
nossa vivência brasileira e acessando a cultura Mexicana, em julho de 2019
durante o 4º Seminário Internacional de Envelhecimento realizado pelo Serviço
Social do Comércio – SESC na cidade de Canoas, Região Metropolitana de
Porto Alegre, o professor pesquisador da Universidade de Guanajuato (México)
e da Universidade de Oxford (Reino Unido), Alejandro Klein em seu estudo
apresentado deu destaque ao novo papel do idoso na sociedade com mais
participação nas tomadas de decisões, citando que: “A idade não pode mais
ser um marcador social do que se pode fazer na vida. Estamos vivendo uma
revolução social e subjetiva que questiona a definição das pessoas mais
velhas”.

O professor mexicano chamou a atenção para a fragilização do termo velho e


salientava: “Até quantos anos poderemos viver, 120, 140? As pessoas estão
vivendo cada vez mais. A terceira idade tem de ser encarada como uma nova
fase de experimentação, não como fim. É uma continuidade”.

Logo, é necessário compreender que a terceira idade atual comporta-se


diferentemente do idoso do passado. E com o aumento da população idosa
tanto no Brasil quanto no México, a seguir será a Terceira Idade que poderá
decidir as eleições que se avizinham aqui e em diversos países.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do ano de 2010,


registraram em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul com um
milhão e meio de habitantes, a existência de 250.000 idosos vivendo nesta
cidade, ou seja 1/6 da população, pode muito bem definir uma eleição
municipal em 2024, pois em 2020 dos cerca de um milhão e cem mil eleitores
aptos a votar, 1/3 não compareceu e 1/3 anulou ou votou em branco. Quem se
habilita a conquistar os votos dos idosos?

Carlos Fernando Simões Filho

Consultor em Políticas Públicas

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