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A saúde do idoso e o mercado de trabalho

É notório pontuar que os processos de urbanização, os avanços da medicina e a utilização de


métodos contraceptivos fizeram com que, a partir dos anos de 1960, o Brasil passasse a lidar com
uma redução na taxa de fecundidade. Dessa forma, a expectativa de vida do país passou a ser mais
favorável e, como consequência, o envelhecimento da população brasileira se tornou mais evidente.
A partir do momento em que o indivíduo atinge os 60 anos de idade, é visível que o seu
corpo já não se encontra nas mesmas condições em que se encontrava há 3 ou 4 décadas passadas.
“De acordo com pesquisas anteriores promovidas pelo Ministério da Saúde, 25,1% dos idosos tem
diabetes, 18,7% são obesos, 57,1% tem hipertensão e 66,8% tem excesso de peso. Também são
responsáveis por mais de 70% das mortes do país.” (PENIDO, 2018, Oline). Sendo assim, com o
aumento do número de idosos que compõem parte da comunidade do Brasil, é nítido que as
assistências e os cuidados para com estes cidadãos precisam ser intensificados, pois é nessa fase em
que eles se encontram em situações financeiras, físicas e psicológicas mais vulneráveis. Entretanto,
para garantir que os mais velhos tenham acesso à uma boa qualidade de vida e, assim, permitir que
os mesmos conseguiam viver por mais tempo, os cuidados com a saúde, em especial, não são
conquistados por meio de métodos que facilite as experiências dos idosos.
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantida mediante políticas sociais e
econômicas que visam à redução do risco de doença e de outros agravos e possibilitando o acesso
universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação" (BRASIL, 1988,
Art.196). Dessa maneira, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para proporcionar os serviços
de saúde para todos os brasileiros, sem qualquer distinção. Contudo, sustentar um sistema de saúde
universal para um país como o Brasil é um desafio bem complexo, por conta da sua vasta extensão
territorial.
Para se ter uma noção, conforme Morsch (2021), aproximadamente 70% dos brasileiros
recorrem aos serviços públicos, fornecidos pelo SUS, para realizar diversos tratamentos médicos, e
este número está se tornando mais crescente, visto que uma onda de doenças está atingindo não só o
Brasil como também vários outros países. Todavia, há cerca de 5 fatores que justificam a razão do
SUS não conseguir atingir a sua plenitude: (1) Escassez de verba; (2) Erros na gestão de insumos;
(3) Dificuldades em distribuir médicos em todo o país; (4) Demora no atendimento médico,
geralmente causado pela superlotação dos hospitais públicos e (5) Falta de leitos que atendem toda
população.
Por conta desse Sistema Único de Saúde apresentar diversos problemas internos, os planos
de saúde privados vão se mostrando mais presentes na sociedade brasileira, principalmente entre a
parcela idosa. Porém, a busca por essa saúde suplementar não é fácil, já que para conseguir fechar
um contrato com determinado plano, é preciso ter me mente que será necessário pagar uma quantia
consideravelmente alta.

Varella (2014, p.12) relata que:

Quem depende do serviço público não se conforma com as dificuldades que encontra e
sonha com um plano de assistência privado, para ter um atendimento melhor. Os que
contratam um plano de saúde, porém, continuam reclamando, pois acham que apesar
de pagar pelo serviço não são atendidos como gostariam.
Geralmente, os principais fatores que contribuem para que os planos suplementares possuem
valores exorbitantes são os tipos de reajustes que eles enfrentam. Tendo em vista que estes planos
possuem um preço elevado, o grupo da terceira idade é o que mais sofre em relação a esse quesito.
Na pesquisa de Anderson (1998), aproximadamente 35% dos indivíduos que se encontravam na
faixa entre 60 e 69 anos de idade possuíam uma renda de até meio salário mínimo, enquanto aqueles
que possuíam mais de 80 anos, a taxa chegou bem próxima dos 50%. Nesse sentido, percebe-se que
as condições financeiras deste grupo não são as melhores. Segundo Camargo (2020), no Estado de
São Paulo, por exemplo, cerca de 64% dos idosos já conseguiriam sua aposentadoria. Dentre esse
número, 95% auxiliam na renda familiar ao mesmo tempo em que 68% chefiam a própria família.
Além dos idosos terem que lidar com os gastos em alimentação, higiene pessoal, contas do
lar, transportes, entre outros, eles ainda precisam destinar uma parte da renda própria para os custos
na saúde, que é primordial nessa fase da vida. Nesse caso, os sêniores que “optam” por buscar
atendimento médico nos planos privados, uma vez que eles não encontram um suporte eficiente ou
até mesmo básico no SUS, precisam administrar suas finanças para o pagamento dessas
mensalidades, que, como foi retratado, possuem valores “salgados”. Acrescenta-se que os mais
velhos necessitam da compra dos medicamentos que são capazes de ajudá-los na cura de
enfermidades.
Na maioria dos casos, os remédios que são vendidos nas farmácias também possuem preços
elevados, e isso ocorre devido ao processo de desenvolvimento de determinado medicamento e a
sua carga de tributação, esta última pode apresentar valores diferentes. De acordo com Mancini
(2021, Oline) “‘Quando falamos em ‘menor preço’, levamos em consideração o preço sem imposto.
Ao chegar no Brasil, são colocados os impostos, o que aumenta em, mais ou menos, 42% o preço
do produto. Por isso, pode acontecer dele ficar mais caro aqui, que no exterior.’”. Por conta das
quantias absurdas cobradas sob esses remédios, muitos dos idosos deixam de comprar estes
produtos por não terem condições financeiras para este ato. Como consequência, muitos escolhem
destinar seu dinheiro às áreas que, para eles, são prioridades no momento. Assim sendo, a saúde
acaba sendo passada para segundo plano.
Existe uma contradição no fato de que quando os idosos mais precisam dos serviços de
saúde, é o momento em que enfrentam mais obstáculos em ter um acesso a eles. As razões para essa
problemática estão concentradas na imensa lista de despesas somada com a renda baixa.

Como afirma Anderson (1998, p.10):

No Brasil, como pode ser constatado, a pobreza é uma característica da velhice. Os


dados da PNSN mostraram que os idosos eram mais pobres quando comparados aos
adultos de 40 a 59 anos de idade e, entre si, os idosos "mais idosos" eram mais pobres
do que "os idosos mais jovens" […]. O fato é que, na maioria das vezes, há perda de
rendimentos por ocasião da aposentadoria, que aliada à dificuldade de se conseguir
atividade remunerada nesta fase, torna a vida do idoso uma dura realidade a ser
enfrentada quotidianamente.

Conforme o texto acima, a autora deixa claro que, além de existir certa desigualdade
financiaria entre os idosos e os não-idosos, há também um desequilíbrio de renda dentro do grupo
da terceira idade. Entretanto, é válido destacar que, mesmo com essa diferença, a renda dos idosos
não é suficiente para suprir todas as demandas que eles necessitam, visto que, em muitos casos, os
mesmos precisam custear vários gastos financeiros de modo independente. Consequentemente, mais
dificuldades monetárias vão surgindo a esta parcela da comunidade e esse fator se direciona à
construção do cenário da pobreza. Para contornar os problemas financeiros, parte dos sêniores
passam a ingressar no mercado de trabalho para conseguir outra fonte de verba que contribua na
renda dos mesmos e, assim, amenizar os desafios que eles enfrentam financeiramente.
Nessa perspectiva, o Estatuto do Idoso aborda sobre a ingressão do grupo da terceira idade
no mercado de trabalho. “O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas
suas condições físicas, intelectuais e psíquicas.”(BRASIL, 2003, Art.26).
Acrescenta-se que o documento ressalta sobre questões referentes a idade limite:

Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a


discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos,
ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir. Parágrafo único. O primeiro
critério de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de
idade mais elevada (BRASIL, 2003).

Dessa forma, é notório que os mais velhos possuem o direito de exercer uma profissão
dentro do corpo social da mesma maneira em que as outras faixas etárias também exercem.
Com o passar do tempo, o mercado trabalhista vem reconhecendo uma certa importância das
experiências e os conhecimentos da terceira idade. Porém, mesmo que algumas corporações
empresariais ainda são contrárias a essa nova implementação no trabalho, o ritmo demonstra que,
nos anos posteriores, os idosos terão uma maior autonomia e credibilidade. “Em 2012, a
porcentagem de idosos ativos era de 5,9%. Em 2018, o índice aumentou para 7,2%, segundo o
IBGE, o que representa 7,5 milhões de idosos atuando como força de trabalho”(SÓLIDES, 2021,
Online). Assim, os dados provam que estes sêniores estão capacitados a trabalhar com
responsabilidade.
Mesmo que muitos cidadãos que estão acima dos 60 anos se veem “obrigados” a encontrar
algum emprego, já que o valor da aposentadoria é insuficiente, existem também aqueles que só
estão nesse processo porque buscam se permanecer produtivo e ocupar o tempo ocioso. Neste
último caso, o idoso não quer se sentir “preso” dentro da sua própria casa, e nisso ele também cria
um sentimento de que ainda é capaz de prestar o seu serviço público. Paralelamente, o trabalho o
ajuda a manter uma qualidade de vida ativa tanto física quanto mental.
Muito se escuta sobre o termo “Geração Z”, uma expressão que foi criada junto com a
popularização da Internet e que serve para designar um grupo de pessoas de nasceram a partir do
ano de 1995. Atualmente, as empresas estão apostando na formação de equipes de trabalho que
sejam compostas por membros de variadas gerações. Mesmo que a “Geração Z” e a geração mais
madura apresentem diversas contrariedades e “conflitos”, é improvável dizer que ambas não se
completam, pois, de uma maneira espontânea ou não, acaba ocorrendo uma troca de conhecimentos
e esse ato gera mais benefícios ao desempenho da empresa.
Houve alguns avanços na legislação brasileira no quesito de proteção às pessoas idosas.
Contudo, mesmo que a terceira idade tenha uma presença maior no trabalho, comparado às décadas
anteriores, ainda existe o estigma etário que, infelizmente, traz dificuldades em fazer com que os
idosos permaneçam no mercado de trabalho.
De acordo com o G1(2020), no período da pandemia do Coronavírus, a Maturi, uma
plataforma de se destina para a formação da capacitação do público acima dos 50 anos de idade,
efetuou uma pesquisa que aponta que dentre os 4 mil entrevistados, aproximadamente 39,2%
consideram que o termo “grupo de risco”, perante esta enfermidade, contribuiu para o aumento do
preconceito etário para com esses profissionais.
Quando o assunto é a busca por oportunidades de emprego, o preconceito se torna um dos
maiores obstáculos de quem já está entrando na velhice e, a forma como ele se expande, pode ser
preocupante. Todavia, para Litvak “Uma visão errônea que muitos empregadores possuem é de que
os maduros não são digitais. Pelo contrário, percebemos uma participação muito ativa deles em
nossos cursos e eventos online, além da familiaridade com as ferramentas tecnológicas” (G1, 2020,
Online).
Com o intuito de identificar as dificuldades que as pessoas mais velhas enfrentam, a Infojobs
(2020) realizou uma pesquisa com mais de 4.500 profissionais para debater sobre os empecilhos
que os mais experientes lidam. Os participantes com mais de 40 anos (61%) relatam que os seus
desafios são encontrar corporações que contratem idosos. Já os 78%, dizem que o mercado de
trabalho é desigual por não oferecer as mesmas chances. Além do mais, nota-se que, na pesquisa,
cerca de 70,4% dos entrevistados acabaram citando assuntos relacionados ao ageísmo. Logo, é
prudente dizer que a desinformação é uma das principais causas para o preconceito, já que, na atual
sociedade, o “velho” é sinônimo de fragilidade.
Apesar dessa descriminação contra os idosos continuar existindo na comunidade, grande
parte dos idosos não deixam que este comentários abalem suas escolhas profissionais. Os dados da
NUBE (2022) comprovam isto.

Levando em consideração os índices apresentados no infográfico, é necessário pontuar que a


taxa de indivíduos que constituem a sociedade brasileira está aumentando. Além do mais, diante das
dificuldades financeiras que surgem nessa idade, principalmente na área da saúde, é perceptível que
a ingressão da terceira idade no mercado trabalhista será bastante expressiva para os próximos anos,
ou seja, muitos terão uma vida economicamente ativa no auge da velhice.

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