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EBOOK

Planejamento Da
Aposentadoria
sumário
Longevidade: mudança demográfica, expectativa
de sobrevida, tábua biométrica 03

Os desafios de planejar o longo prazo 09

Os desafios de quantificar o longo prazo 15

Composição de renda futura 22

Previdência social 29

Reforma da previdência 35

Previdência complementar 41

Previdência complementar aberta 49

Tributação de produtos de previdência 57

Tendências da longevidade 64
1 LONGEVIDADE: MUDANÇA
DEMOGRÁFICA, EXPECTATIVA DE
SOBREVIDA, TÁBUA BIOMÉTRICA

É comum observarmos que muitos indivíduos enfrentam dificuldades ao


abordar o tema do planejamento da aposentadoria: reconhecem sua
importância, porém frequentemente adiam a ação concreta. Diante desse cenário,
a função do planejador financeiro torna-se ainda mais crucial, pois é ele quem deve
elucidar as razões subjacentes, os objetivos a serem alcançados e o caminho a ser
percorrido no processo. Afinal, fornecer clareza acerca do “porquê”, “para quê” e
“como” deste processo não apenas simplifica a compreensão, mas também torna
evidentes os benefícios advindos do efetivo planejamento da aposentadoria.

Historicamente, o conceito de aposentadoria remetia à ideia de cessar


o trabalho mediante a garantia de renda vitalícia. No entanto, a realidade
contemporânea mostra que uma parcela expressiva dos aposentados permanece
ativa economicamente. Isso ocorre porque os montantes dos benefícios
previdenciários frequentemente se mostram insuficientes, exigindo que os
indivíduos mantenham sua participação no mercado laboral para sustentar o
padrão de vida e as despesas.

O desafio é empreender um processo reflexivo criterioso. A despeito de


a maioria compreender a importância do planejamento da aposentadoria, sua
execução se revela árdua e demanda comprometimento para traçar um panorama
abrangente e a disciplina necessária para manter a trajetória a longo prazo. Muitos,
porém, entram em conflito com essa empreitada, adiando-a indefinidamente ou
até mesmo abandonando-a no meio do percurso.

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Nesse contexto, é imperativo considerar as particularidades que marcam
o Brasil e o mundo ao planejar a aposentadoria. Um aspecto notável é a inversão
da pirâmide populacional, na qual o aumento da longevidade resulta em uma
expectativa de vida maior. Entretanto, tal fenômeno desencadeia problemas
econômicos significativos, ao passo que a redução na taxa de natalidade limita o
apoio familiar na velhice, culminando em potenciais impactos socioeconômicos e
pessoais no futuro.

Fonte: Projeções IPEA

A aposentadoria pelo INSS se distancia e os valores tendem a diminuir.


Em uma era de crescente complexidade, é ainda mais vital explicar aos clientes a
relevância desse tema no planejamento de longo prazo. Esse planejamento visa
construir uma reserva financeira que garanta qualidade de vida e independência
financeira, ou possivelmente deixar um legado para a família ou sociedade.

Esse empreendimento pode ser alcançado por meio de uma avaliação do


estilo de vida, a revisão de hábitos, a disposição para mudanças, o estabelecimento
de metas de longo prazo, a avaliação das reservas necessárias e a definição de
metas orçamentárias, com os ajustes apropriados ao longo do caminho.

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Longevidade

A definição de longevidade é a de que a vida terá uma duração maior que


a considerada comum, e diversas abordagens podem ser adotadas para medir
o fenômeno do envelhecimento populacional. O gráfico a seguir (Credit Suisse,
2017) ilustra o período que cada país levará para que a população idosa (com 65
anos ou mais) dobre sua proporção relativa de 7% para 14% da população total.

Desse contexto emerge de forma evidente o fato de que o Brasil envelheceu


antes de alcançar um nível substancial de enriquecimento. Somos uma das nações
onde a taxa de envelhecimento populacional já atingiu proporções consideráveis.
Os idosos brasileiros, com idade igual ou superior a 65 anos, devem duplicar sua
representatividade para 14% até 2031, ampliando-a novamente para 28% até 2062.
Essa perspectiva realça que o Brasil, mesmo não tendo resolvido de maneira
abrangente questões essenciais de uma sociedade jovem, como saneamento
básico e educação primária, enfrentará os desafios próprios de uma sociedade
com uma população majoritariamente idosa.

Enquanto celebramos os benefícios de uma vida mais longa, é imperativo


ponderar sobre como sustentar esse prolongamento de nossa existência. Dessa
reflexão, emergem duas faces da moeda da longevidade. De um lado, desfrutar de
uma vida estendida é algo extremamente positivo; por outro lado, isso demanda
uma preparação financeira minuciosa para a fase pós-trabalho. Essa perspectiva

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deve ser enfatizada para que qualquer cliente, ao longo de sua jornada de vida,
reflita e planeje ativamente para a futura sustentabilidade financeira.

“Você sabia?” ”

As Projeções da População do Brasil e das Unidades da Federação


são elaboradas com base nas informações sobre as componentes
da dinâmica demográfica, oriundas dos censos demográficos, das
pesquisas domiciliares por amostragem e dos registros administrativos
de nascimentos e óbitos investigados pelo IBGE.

Dadas as transformações ocorridas na dinâmica populacional,


as projeções são monitoradas continuamente e passam por revisões
periódicas, tanto para a incorporação de novas informações, quando
são detectadas alterações nas hipóteses previstas para as componentes,
quanto para a atualização de sua metodologia de cálculo, estando esses
aprimoramentos devidamente explicitados nos respectivos relatórios
metodológicos.

Fonte: IBGE. Projeções da população, 2021.

Leia
População por faixa etária

Um dos conceitos de extrema relevância a ser considerado conforme


diferentes faixas etárias é o fato de que a probabilidade de alcançar a velhice
é considerável, porém, a maneira como essa etapa se desenrolará permanece
incerta. A vida não segue uma trajetória linear; o envelhecimento humano varia
substancialmente de indivíduo para indivíduo. Na maioria das circunstâncias, a
incerteza quanto a essa evolução é inegável, o que ressalta a importância vital
de acumular recursos para fazer frente às mudanças nos padrões de despesas na
fase avançada da vida. Afinal, essa preparação é fundamental para preservar a
qualidade de vida diante das inevitáveis flutuações.

As projeções do IBGE corroboram essa perspectiva. De acordo com essas


projeções, até 2060, a parcela da população com mais de 65 anos alcançará
aproximadamente 25% do total no Brasil. Notavelmente, essa faixa etária
corresponde às pessoas que, em geral, possuem menor renda. Esse dado assume
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grande relevância, uma vez que tende a impactar a relação de dependência em
relação àqueles que estão no mercado de trabalho e geram renda.

“Saiba Mais”

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou


projeções populacionais, no período de 2010 a 2100, com o objetivo de
auxiliar nas análises de cenários macroeconômicos e previdenciários de
longo prazo para o Brasil. O levantamento considera cenários distintos
para a realidade populacional do país dentro de um horizonte de 90 anos
e, em todos eles, é evidente o processo de envelhecimento populacional, o
que indica que, independentemente das hipóteses adotadas, a mudança
da estrutura etária no país é inevitável.

Em 2010, a população brasileira era composta por 194,7 milhões


de pessoas e, em um cenário mais rígido, há expectativa de que haja, em
2100, apenas 156,4 milhões de pessoas no país. A proporção de idosos,
que em 2010 era de 7,3%, pode chegar a 40,3% em 2100; enquanto o
percentual de jovens (com menos de 15 anos) pode cair de 24,7% para
9%.

O estudo aponta que o processo de envelhecimento etário irá


se refletir no comportamento de alguns indicadores, como as razões de
dependência, que correspondem à razão de pessoas abaixo de 15 anos
ou acima de 65 anos, em relação à população em idade de trabalhar (15-
64 anos).

A taxa de fecundidade total (TFT) corresponde ao número médio


de filhos que uma mulher tem ao longo do seu período reprodutivo. As
hipóteses apontadas na análise são as seguintes: no cenário IBGE/Ipea,
o nível de fecundidade do país continuará diminuindo, mas de maneira
menos acentuada e tendendo à estabilização. Entre 2020 e 2100, é
esperado que a TFT diminua de 1,76 filho por mulher para 1,61, alcançando
seu nível mais baixo na história de fecundidade do país. No cenário ONU,
há possibilidade de um novo cenário com a postergação ostensiva dos
nascimentos e baixa recuperação da fecundidade adiada. Neste caso,
entre 2020 e 2100, a fecundidade declinará mais acentuadamente,
chegando a 1,27 filho por mulher, e com estrutura etária ainda mais
envelhecida.

7
Fonte: Ipea. Projeções indicam aceleração do envelhecimento
dos brasileiros até 2100, 2021.

Leia
BIBLIOGRAFIA:

IPEA. Situação Social Brasileira, 2011. Disponível


em: https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_
situacaosocial.pdf Acesso em: 05 de jan. de 2022.

IPEA. Projeções indicam aceleração do envelhecimento dos brasileiros até 2100,


2021. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-
noticias/noticias/10716-projecoes-indicam-aceleracao-do-envelhecimento-dos-
brasileiros-ate-2100 Acesso em: 03 de jan. de 2022.

PORTAL DO ENVELHECIMENTO. As diferentes velocidades do envelhecimento


populacional, 2017. Disponível em: https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/
as-diferentes-velocidades-do-envelhecimento-populacional/ Acesso em: 04 de
jan. de 2022.

CREDIT SUISSE. Supertrends, 2017. Disponível em: https://www.credit-suisse.


com/media/assets/microsite/docs/investment-outlook/booklet-supertrends-en.
pdf Acesso em: 05 de jan. de 2022.

IBGE. Projeções da população, 2021. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/


estatisticas/sociais/populacao/9109-projecao-da-populacao.html?=&t=o-que-e
Acesso em: 06 de jan. de 2022.

SOUZA, Almir. Planejamento financeiro pessoal e gestão do patrimônio:


fundamentos e práticas, Ed Manole, 2ª edição, 2018.

MASSAFERRO, Denise, BERNHOEFT, Renato, Longevidade: os Desafios e as


Oportunidades de Se Reinventar, Ed. Évora, 2016.
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2 OS DESAFIOS DE PLANEJAR
PARA O LONGO PRAZO

E nfrentar o desafio do planejamento da aposentadoria é intrinsecamen-


te confrontar a perspectiva do longo prazo. Como exatamente se esta-
belece um plano para um horizonte temporal tão distante? Por que isso se revela
uma tarefa tão espinhosa? Por um lado, somos envolvidos pela incerteza que o
futuro traz; por outro, buscamos ardentemente segurança e solidez. Diante de
momentos incertos, o planejamento financeiro emerge como um sistema de se-
gurança que nos auxilia a navegar por esses momentos com chances de sucesso,
ou ao menos reduzindo o desconforto.

Os clientes, naturalmente, anseiam por que o planejador financeiro traga


à mesa um conjunto de estratégias e metas que iluminem o caminho de longo
prazo. Essa orientação não substitui a visão de curto e médio prazo, mas confere
ao futuro uma concepção equilibrada que o cliente possa considerar ao moldar
sua trajetória. É ao se preparar para as eventualidades que um plano financeiro
eficaz ganha forma, permitindo a gestão das metas imediatas enquanto se avança
em direção ao porvir.

A urgência crescente com que esse tema tem sido debatido decorre da
velocidade vertiginosa das mudanças, as quais refletem a crescente complexidade
do mundo e, por consequência, de nossas vidas. Os acontecimentos desenrolam-
se com volatilidade cada vez maior, sob a égide da incerteza e da complexidade
- uma característica que ganhou o acrônimo “Mundo VUCA”. No epicentro desse
cenário, os planejadores financeiros têm a missão de orientar os clientes na busca
por seus objetivos.

No âmbito desse contexto, emerge a indagação sobre as expectativas que


a sociedade deposita em nós. Que tipo de profissionais, e por que não dizer, que
tipo de seres humanos deveríamos ser? Em meio à tempestade de volatilidade,
que respostas devemos buscar? O que essas incertezas tão profundas revelam
sobre o presente? Que complexidades aguardam nesse futuro incerto e ambíguo?
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As respostas a essas ponderações profundas não podem ser redutíveis a fórmulas
simples ou únicas. O que sabemos com certeza hoje é que estamos imersos em
um contínuo processo de microevoluções.

“Você sabia?” ”

Antes de mais nada, na área da administração, o que é muvuca?


A grafia correta é “Mu-VUCA” e trata-se de uma abreviação de várias
palavras que são usadas há algum tempo pelo exército americano.
Segundo o administrador Marcelo Elias, eles adotaram esse termo para
explicar o mundo de hoje. “Eles dizem que o mundo é VUCA (em inglês)
ou VICA (em português). O mundo muda em velocidade muito acelerada
e com destino incerto, proporcionando várias respostas para uma mesma
questão”, explica.

O mundo VUCA (Mu-VUCA) é, portanto,


o acrônimo, em inglês de volatility (volatilidade)
, uncertainty (incerteza), complexity (complexidade)
e ambiguity (ambiguidade). O exército passou o termo para lidar com
diversas situações e contextos de guerra, principalmente, após os
atentados terroristas de 2001.

Leia

Após a exploração do conceito de “Mundo VUCA”, surge um contraponto


intrigante proposto pelo escritor e futurista Bob Johansen, um membro do Institute
of the Future no Vale do Silício. Johansen delineou um modelo de liderança que
engendra novas competências, dando origem ao “Mundo VUCA Prime” (ou “VECA”
em português): Visão, Entendimento, Clareza e Agilidade.

• Visão (Vision): Cada desafio que se apresenta pode ser visto como
uma oportunidade transformadora, através do filtro das informações,
abrindo caminhos para novas oportunidades.

• Entendimento (Understanding): As incertezas são convertidas em


entendimentos, com o objetivo de ampliar as soluções de problemas. A
busca por entendimento é conduzida pelo conhecimento das variáveis,
transformando o desconhecido em domínio.

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• Clareza (Clarity): A busca por clareza, transparência e objetividade
permeia todas as ações, fornecendo o alicerce para a elaboração de
estratégias e decisões claras, fundamentais para a direção traçada.

Fonte Figura: Universidade da Mudança

• Agilidade (Agility): A agilidade é essencial para o desenvolvimento das


decisões mais eficientes, fomentando a colaboração sobre a competição.
O foco está em alcançar resultados significativos de maneira mais
cooperativa.

Nesse contexto, os planejadores financeiros têm a possibilidade de


introduzir os princípios do “Mundo VUCA” e os contrapontos oferecidos pelo
“VUCA Prime” no planejamento financeiro de seus clientes. Isso ocorre por meio
da aplicação das competências definidas pelo FPSB (Financial Planning Standards
Board): coleta, análise, priorização do cliente e síntese.

Ao combinar as diretrizes do “Mundo VUCA Prime” com as competências


da atividade de planejamento financeiro, o profissional almeja oferecer um
arcabouço sólido e adaptativo para seus clientes em um mundo caracterizado
por mudanças contínuas e complexidade crescente.

Amarras de Segurança

Vivemos em um mundo repleto de incertezas, e dentro desse contexto, a


compreensão do ciclo de vida das pessoas torna-se fundamental no planejamento
financeiro. Esse entendimento nos permite traçar trajetórias de longo prazo,
englobando a geração de renda, a acumulação de recursos e o desfrute dos
frutos do esforço empreendido ao longo das fases produtivas e não produtivas
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da vida, sob uma perspectiva financeira. Tudo isso enquanto consideramos que a
expectativa de vida tem aumentado significativamente.

No âmago do processo de planejamento financeiro para a aposentadoria


reside o desejo de nos mantermos fiéis a nós mesmos. Diante desse mundo incerto,
o acúmulo de recursos destinados a sustentar nossas vidas quando deixarmos
o mercado de trabalho é de suma importância. Para alcançar esse objetivo,
devemos construir uma rede de segurança que nos leve, na pós-aposentadoria,
a uma posição de estabilidade financeira que seja sustentável tanto no presente
quanto no futuro.

E as amarras que auxiliam o cliente neste processo são:

• Capacidade de poupança;

• Reserva de emergência;

• Evitar o endividamento, em especial na fase madura;

• Investir de maneira adequada ao perfil de Investidor, objetivo e fase de


vida;

• Proteger dos riscos patrimoniais e pessoais;

• Eficiência tributária;

• Proteger o impacto na renda e patrimônio em caso de divórcio (regime


de casamento) e sucessão;

• Reserva financeira e renda para a longevidade.

“Exemplo”

Vamos considerar uma situação hipotética na qual você está


elaborando um planejamento de aposentadoria para um cliente e, enquanto
o processo está em andamento, ele toma a decisão de se divorciar, o que
implica na divisão dos bens do casal.

Nesse contexto, é essencial que você esteja preparado para


oferecer apoio ao cliente, de modo a enfrentar os desafios decorrentes
dessa situação. O divórcio pode ter implicações significativas nos planos e
metas financeiras do cliente, abrangendo tanto objetivos de curto, médio
e longo prazo.

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Diante dessa reviravolta, você se verá diante da tarefa crucial de
reavaliar o planejamento de aposentadoria, considerando não somente os
novos objetivos que emergem a partir da mudança de vida, mas também
as consequências financeiras dessa reconfiguração.

Compartilhando o processo com o cliente

Para colocar em prática os planos de ação, é crucial envolver o cliente no


processo, visto que muitos enfrentam dificuldades em compreender a natureza
incerta do mundo. No âmbito do planejamento financeiro, o entendimento do ciclo
de vida das pessoas desempenha um papel fundamental para decifrar a trajetória
de longo prazo, englobando a geração de renda, a acumulação de recursos e o
usufruto dos esforços investidos ao longo das fases produtivas e não produtivas
da vida. Isso ganha ainda mais relevância à luz do aumento da expectativa de vida.

A transição de uma fase de acumulação de renda para um período de


“desacumulação” é uma noção especulativa e abstrata, porém é imperativo
buscar racionalizá-la para que as pessoas possam começar a trabalhar com
cenários tangíveis. Como é que o cliente visualiza o seu futuro? Será que já
contemplou sua vida após cessar a geração de renda proveniente do trabalho?
Será que fez essas questões de forma clara e aprofundada consigo mesmo?

Nesse contexto, assume considerável importância que o planejador


financeiro adote uma abordagem de escuta ativa, empregando empatia e
evitando julgamentos. Isso implica em colocar questões abertas e investigativas,
validando constantemente as informações com o cliente. Dessa forma,
estabelece-se confiança e cooperação, permitindo uma compreensão mais
profunda da vida e das expectativas do cliente. Essa compreensão detalhada
se torna essencial para embasar projeções numéricas precisas e direcionadas.

A essência é possuir uma mente aberta, livre de preconceitos, para captar


e compreender as opiniões, preocupações, limitações, oportunidades, objetivos e
necessidades dos clientes. Através dessa abordagem, o planejador financeiro constrói
uma relação que vai além das planilhas e números, possibilitando uma orientação mais
eficaz e alinhada aos desejos do cliente. O foco no futuro é então cultivado ao lançar
bases sólidas no presente, e isso ocorre por meio de uma interação genuína e atenta.

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BIBLIOGRAFIA:

CFA. Saiba por que o mundo é volátil, incerto, complexo e ambíguo,


2020. Disponível em: https://cfa.org.br/saiba-por-que-o-mundo-e-volatil-incerto-
complexo-e-ambiguo/ Acesso em: 06 de janeiro. de 2022.

PLANEJAR, Perfil de Competências, 2021. Disponível em: https://planejar.org.br/


wp-content/uploads/2021/03/perfil-de-competencias-1.pdf Acesso em: 06 de
janeiro. de 2022.

DON, Gilman. Outsmarting VUCA: Achieving Success in a Volatile, Uncertain,


Complex, & Ambiguous World. Advantage Media Group. 2017

MASSAFERRO, Denise, BERNHOEFT, Renato, Longevidade: os Desafios e as


Oportunidades de Se Reinventar, Ed. Évora. 2016.

ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta. Técnicas para aprimorar


relacionamentos pessoais e profissionais. 3. ed. São Paulo: Ágora, 2006

14
3 OS DESAFIOS DE QUANTIFICAR
O LONGO PRAZO

A questão da longevidade sempre ocupou a mente humana, embora


essa preocupação pareça mais acentuada nos tempos atuais. Para
conduzir as análises necessárias a longo prazo, é fundamental compreendermos
os desafios de forma quantitativa, isto é, traduzi-los em números com base no
ciclo de vida, o que sustenta nossa noção de longevidade.
Nesse contexto, destacamos a teoria do ciclo de vida desenvolvida no
início da década de 1950 por Franco Modigliani e seu aluno Richard Brumberg.
Eles formularam uma teoria de gastos fundamentada na ideia de que as pessoas
tomam decisões inteligentes sobre seus níveis de consumo em diferentes idades,
limitados unicamente pelos recursos disponíveis ao longo de suas vidas. Essa
teoria pressupõe que, em geral, as pessoas seguem um padrão mais ou menos
definido de acumulação de riqueza ao longo do tempo.

A abordagem desse modelo pode ser resumida da seguinte forma:

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• Fase Inicial (área vermelha): A renda é insuficiente e o indivíduo contrai
dívidas para sustentar seu consumo.

• Fase de Poupança (área azul): Durante a fase economicamente


produtiva, o indivíduo começa a poupar.

• Fase de Aposentadoria (área vermelha): Após se aposentar, ele utiliza


o patrimônio acumulado durante a fase produtiva para sustentar seu
consumo.

Ao construírem e esgotarem seus ativos, os trabalhadores podem


planejar sua aposentadoria, ajustando seus padrões de consumo conforme suas
necessidades em diferentes idades, independentemente de suas rendas. Essa
teoria simples gera previsões importantes e não intuitivas para a economia como
um todo, tais como a dependência da poupança nacional em relação à taxa de
crescimento da renda nacional e a relação entre a riqueza econômica e a duração
do período de aposentadoria.

Refletindo sobre o desenvolvimento típico da vida, partimos do início,


quando as pessoas entram no mercado de trabalho por volta dos 20 anos, iniciando
suas carreiras com renda baixa e quase nenhuma poupança. A fase seguinte, por
volta dos 30 anos, é crucial, pois é quando os ganhos aceleram e os salários
atingem seus níveis mais altos. Nesse período, ocorre a maior acumulação de
capital e a demanda por ativos financeiros de longo prazo é mais intensa.

“Você sabia?” ”

Existe um exemplo emblemático, que mostra como o planejamento


da aposentadoria é importante. É o caso do mais famoso playboy
brasileiro, Jorginho Guinle. Filho de uma das famílias mais ricas do final
do império e que multiplicou os ganhos no começo do século passado
ao investir em projetos modernizantes, como portos, bancos e hotelaria.

Morreu em 2004, aos 88 anos, e nos últimos anos, quando a fortuna


acabou, vivia de favor no Copacabana Palace, recebia aposentadoria de
1.588 reais e era amparado pelos amigos.

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“Nunca me passou pela cabeça que viveria tanto. Achei que fosse
morrer com uns 75 e estou com 87. Calculei mal e gastei tudo antes da
hora. Hoje vivo com uma aposentadoria de 1 588 reais e almoço de favor
no Copacabana Palace.”

Fonte: Veja, 3 de dezembro de 2003 – ANO 36 – Nº 48 – Edição


1831 – Veja Essa/ Por Júlio Cesar de Barros – Pág.: 40/41)

Capacidade financeira para a Aposentadoria

A determinação da capacidade financeira necessária para a aposentadoria


envolve a avaliação do fluxo financeiro trazido ao valor presente, considerando a
data mais distante possível, com projeções que podem se estender por até 100
anos. O propósito desse cálculo é estabelecer, por meio de renda e patrimônio,
uma capacidade que permita suprir as necessidades financeiras e manter o padrão
de vida após a fase em que a renda proveniente do trabalho não é mais recorrente.
Isso requer um equilíbrio entre a vida futura e os recursos acumulados.

No contexto do planejamento financeiro, o foco central não reside no


consumo, como delineado no fluxo proposto por Modigliani, mas sim na capacidade
de poupança que um indivíduo gera ao longo de sua vida. Isso ocorre porque as
pessoas abordam o consumo de maneira diversa e muitas vezes não mantêm uma
poupança constante, nem necessariamente acumulam recursos até o ponto em
que não possam mais gerar renda suficiente para cobrir suas despesas.

Para traçar uma linha de vida e conduzir um estudo de longevidade e


planejamento de aposentadoria, é viável apresentar uma série de questões ao
cliente, permitindo a realização de projeções por meio de análises qualitativas:

1. Qual é a idade almejada para encerrar a atividade profissional?

2. Como você visualiza sua aposentadoria?

3. Qual padrão de vida você deseja na aposentadoria?

4. Quais eventos futuros não recorrentes são desejados, previstos ou


necessários?

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5. Qual renda futura será necessária ou desejada para enfrentar os
compromissos vindouros?

6. Como está sendo planejado o orçamento para o futuro?

7. Quais rendas recorrentes são esperadas? Isso inclui aposentadoria


pública (INSS) e outras rendas mensais?

Agora, para calcular de forma quantitativa o patrimônio necessário na


ocasião da aposentadoria, será crucial:

1. Definir os parâmetros de inflação e taxas de juros a serem aplicados nos


períodos analisados.

2. Identificar os eventos ao longo da linha de vida que terão impacto nas


receitas e despesas.

3. Calcular o valor presente do fluxo de receitas e despesas desde a data


da aposentadoria até o fim da longevidade estimada (normalmente,
uma idade padrão de 100 anos).

4. Comparar o patrimônio projetado na data da aposentadoria com o


patrimônio necessário.

5. Caso necessário, ajustar os valores das receitas (aumentando) e


despesas (reduzindo) até a aposentadoria, de forma que o patrimônio
projetado alcance o montante necessário.

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Se a capacidade financeira não for suficiente para manter o padrão de vida
após o fim da renda proveniente do trabalho, será preciso calcular:

1. A poupança necessária até a aposentadoria.

2. A renda possível após a aposentadoria.

Se houver um déficit, pode ser necessário considerar adiar a data de


aposentadoria. Isso envolverá a avaliação da poupança necessária durante os anos
de atividade profissional para atingir o patrimônio necessário na aposentadoria e
determinar a renda futura possível considerando o patrimônio projetado abaixo
do necessário.

Após todos os ajustes no nível de poupança e data de aposentadoria,


se ainda houver um déficit entre o patrimônio projetado e o necessário, pode
ser necessário realizar mudanças no estilo de vida para preservar ao máximo o
patrimônio ao longo do tempo.

“Saiba Mais”

No dia 17 de maio, às 19h, foi realizado a PEC especial de 21 anos


Planejar: “Os desafios do planejamento para a longevidade”.

Viver mais será uma grande oportunidade para a humanidade.


Mas também será um enorme desafio. Apenas 1% dos aposentados no
Brasil têm condições de viver somente com seus próprios recursos. Os
demais precisam da ajuda da família, precisam continuar trabalhando ou
vivem de programas sociais.

Mais do que envelhecer, é preciso entender como vamos


envelhecer, o que faremos com esses anos a mais e como cuidaremos
para que eles possam ter a melhor qualidade possível, para o corpo,
mente e para o bolso. E é sobre isso que conversamos nesta palestra
– Longevidade Financeira. E já fica a pergunta: O que você quer ser
quando envelhecer?

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Fonte: YOUTUBE. Os desafios no planejamento para a longevidade,
2021.

assista

“Exemplo”

1º Passo - Organizar o Orçamento de Despesas Correntes Atual;

2º Passo - A partir do Orçamento de Despesas Correntes Atual,


projetar o Orçamento Futuro excluindo as despesas que possam não existir
mais na ocasião da aposentadoria (como educação dos filhos) e incluindo
as que possam acontecer a partir dessa data (como Seguro Saúde que
fosse pago pelo empregador);

3º Passo - Incluir eventos não correntes que farão parte do


Orçamento Projetado ao longo da aposentadoria como aumento de
despesa de saúde, apoio na velhice (como cuidadores – default 85 anos)
apoio a familiares (como os pais), viagens anuais, troca periódica de carro;

20
4º Passo - Estimar receitas futuras recorrentes, Benefícios do INSS
– aposentadoria e/ou pensão, Renda Vitalícia de Previdências Fechadas
ou Abertas, Rendas Temporárias de Previdências Fechadas ou Abertas.

BIBLIOGRAFIA:

Ando, Albert, and. Franco Modigliani, 1963, “The ‘life-cycle’ hypothesis of saving:
aggregate implications and tests, “American Economic Review, 53(1), 55–84.

INVESTOPEDIA, Life-Cycle Consumption Theory Visualized, 2021. Disponível em:


https://www.investopedia.com/terms/l/life-cycle-hypothesis.asp Acesso em: 07
de jan. de 2022.

YOUTUBE. Os desafios no planejamento para a longevidade, 2021. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=0XUFrjG7qiE Acesso em: 07 de jan. de 2022.

MASSAFERRO, Denise, BERNHOEFT, Renato, Longevidade: os Desafios e as


Oportunidades de Se Reinventar, Ed. Évora, 2016.

SOUZA, Almir. Planejamento financeiro pessoal e gestão do patrimônio:


fundamentos e práticas, Ed Manole, 2ª edição, 2018.

SENEK, Simon. Comece pelo porquê: Como grandes líderes inspiram pessoas e
equipes a agir, Ed Sextante, Edição padrão, 2018.

GOLDEMBERG, Gilda. Perguntas Poderosas 1. Ed – Rio de Janeiro – RJ: Publicação


Independente/ Casa do Escritor, 2019.

21
4 COMPOSIÇÃO DE RENDA FUTURA

A concepção em torno da aposentadoria está passando por transfor-


mações significativas. Com o aumento da expectativa de vida e a re-
dução do número de filhos por família, é necessário reconsiderar a abordagem
convencional. As pessoas estão sendo levadas a trabalhar por períodos mais lon-
gos, não somente por motivos financeiros, mas também devido à sensação de
realização e contribuição contínua.

No contexto das projeções de longevidade, é imperativo examinar uma


gama de fontes de renda para a fase pós-aposentadoria. Devemos avaliar
minuciosamente como a estrutura de renda de um indivíduo será formada. Isso
inclui a acumulação de patrimônio ao longo da vida e a possibilidade de contar
com benefícios do sistema previdenciário público (como o INSS) e/ou planos de
previdência privada.

Durante a fase de aproveitamento, as despesas pessoais e familiares são


suportadas pelas rendas que foram “planejadas” durante a carreira ativa. Isso
abrange tanto a aposentadoria pública pelo INSS quanto outras fontes de renda,
como planos de previdência privada, fundos de pensão corporativos, VGBL e
PGBL. Além disso, os rendimentos e resgates do patrimônio construído ao longo
da vida profissional também desempenham um papel fundamental.

O ciclo de vida financeiro, conforme discutido, engloba a fase de renda e


construção patrimonial, que abrange o início da vida adulta, quando as atividades
remuneradas começam, até a maturidade, que abrange aproximadamente de 40
a 50 anos. Após esse período, a riqueza acumulada é direcionada para a fase
seguinte da vida.

No planejamento financeiro, a diversificação das fontes de renda é crucial.


Isso pode incluir:

22
• Aposentadoria pública (INSS)

• Aposentadoria privada

• Previdência fechada (fundos de pensão)

• Previdência aberta (VGBL, PGBL e produtos similares)

• Rendimentos provenientes de investimentos (aluguéis, dividendos,


juros etc.)

• Venda de ativos

• Continuação do trabalho remunerado

Com a atual discussão sobre a Previdência e reformas nesse sistema, muitos


indivíduos questionam a utilidade de contribuir para o INSS. Alguns acreditam que
os rendimentos de investimentos podem sustentar as despesas na aposentadoria
e manter o patrimônio. Entretanto, é importante ressaltar que a contribuição para
o INSS é obrigatória para aqueles em atividade remunerada, e seus benefícios são
vitalícios.

Quando analisamos o valor presente dos pagamentos mensais, fica evidente


que a continuação das contribuições é vantajosa. A maioria das pessoas teria
dificuldade em economizar um montante equivalente e, frequentemente, planos
de previdência privada não oferecem renda vitalícia. A renda desses planos cessa
quando os fundos são exauridos, o que não ocorre com a previdência pública.

Fonte: IBGE-PNAD 1996: in NERI, CARVALHO, NASCIMENTO: Ciclo da Vida e


Motivações Financeiras: IPEA, 1999.

23
Trazendo uma figura de estudo do IBGE sobre o ciclo de vida e renda revela
que, se negligenciarmos o planejamento a longo prazo para a aposentadoria,
podemos seguir uma trajetória de declínio no poder de compra e insuficiência
de renda patrimonial. Contudo, adotando uma abordagem de gerenciamento
financeiro ao longo do tempo, que combina ativos e fluxos de renda, a trajetória
tende a ser mais estável, abrangendo renda do trabalho, benefícios do INSS e
rendimentos de investimentos.

O risco de não ter renda suficiente ou esgotar o patrimônio, particularmente


em fases avançadas da vida, é a possibilidade de depender financeiramente de
familiares e amigos, o que pode acarretar consequências emocionais e perda de
autonomia. Manter-se empregado nesse estágio exige aprendizado contínuo para
se adaptar às mudanças rápidas e constantes do mercado de trabalho, atualização
técnica e habilidades interpessoais, além de manter uma rede de contatos ativa.

“Você sabia?” ”

No artigo “A revolução dos idosos: como será o novo choque de


gerações”, escrito por Renato Bernhoeft, você poderá conferir as novas
temáticas que estão no entorno do envelhecimento atual. Um assunto
que anteriormente era tratado de forma muito pontual, hoje se torna um
desafio para as mais diversas esferas sociais, pois o aumento de idosos
no Brasil e no mundo requer um planejamento que substancialmente
gerará impacto sobre a economia, nas políticas públicas, nos programas
de saúde, etc.

Fonte: PORTAL DO ENVELHECIMENTO. A revolução dos idosos:


como será o novo choque de gerações, 2014.

Leia

Impacto dos Custos e Rentabilização de Patrimônio

Em relação à expectativa de qualidade de vida aos 60 anos, a OMS


(Organização Mundial da Saúde) prevê que até 2050, cerca de um quinto da
população mundial terá 60 anos ou mais. É importante reconhecer que viver
mais não implica não envelhecer, mas sim passar mais tempo na fase idosa em
comparação com gerações anteriores. No entanto, essa extensão da longevidade

24
traz consigo diversos efeitos que exercem influência sobre a estabilidade financeira
das pessoas nessa etapa da vida. Alguns desses efeitos abrangem:

• Divórcios e separações, que têm um impacto direto no patrimônio e no


orçamento;

• Viuvez, que pode acarretar questões financeiras ligadas à partilha de


bens com filhos, além da possibilidade de iniciar novos relacionamentos;

• Doações e adiantamento de herança para os filhos;

• O retorno de filhos adultos à casa dos pais após terem saído;

• A escassez de cuidadores familiares para idosos que necessitam de


assistência;

• A saúde, que se torna um fator crucial.

Além disso, é importante mencionar que as mulheres frequentemente


enfrentam desafios adicionais, tais como:

• Uma expectativa de vida cerca de cinco anos maior em comparação


aos homens;

• A tendência de deixar o mercado de trabalho para assumir papéis de


cuidadoras (filhos e idosos);

• A necessidade de considerar os custos associados a pausas na carreira


e à interrupção da geração de renda e acumulação de patrimônio ao
planejar a longevidade.

Para atenuar e gerenciar esses impactos, um objetivo a ser perseguido


ao longo do ciclo de vida é rentabilizar o patrimônio, criando a capacidade
de poupança, formando reservas, alocando recursos de forma estratégica e
protegendo o patrimônio tanto para a longevidade das pessoas quanto para a
longevidade financeira.

A aspiração de muitos, ou quase todos, é aproveitar os rendimentos e


preservar o patrimônio. No entanto, essa meta é frequentemente desafiadora de
alcançar, devido ao montante substancial necessário para sustentá-la. A busca
pela rentabilidade deve estar alinhada ao perfil e à fase de vida de cada indivíduo,
de modo que, na fase de usufruto, seja possível manter a liquidez e lidar com
eventuais perdas.

25
Dependendo das projeções efetuadas, é possível desenvolver uma
estratégia para antecipar a venda de propriedades imobiliárias. Além de avaliar os
riscos associados à alocação de recursos, é crucial considerar os riscos inerentes
à dinâmica familiar e buscar proteções adequadas.

Em muitos casos, os compromissos financeiros decorrentes de riscos


não mitigados podem desequilibrar o planejamento voltado para a longevidade,
ameaçando a sustentabilidade a longo prazo. Em fases mais maduras da vida,
os riscos relacionados à saúde ganham relevância, especialmente os custos
relacionados a internações e tratamentos de doenças crônicas. Nesse contexto, é
prudente adquirir coberturas de seguros antes de atingir idades mais avançadas,
a fim de evitar encargos financeiros significativos.

Para calcular o patrimônio necessário para a perpetuação financeira, os


planejadores financeiros devem considerar a renda anual desejada e dividir esse
valor pela taxa de juros real. Esse cálculo deve ser aplicado tanto na fase de
acumulação quanto na fase de usufruto, levando em conta também fatores como
a inflação, especialmente ao abordar questões de longevidade.

“Importante!”

Neste momento, é essencial apresentar algumas ideias


e questionamentos que você, como planejador financeiro, deve
explorar para auxiliar seu cliente na reflexão e no planejamento de sua
aposentadoria:

1. Realizar um acompanhamento detalhado do orçamento para


preservar o patrimônio adquirido.

2. Proativamente reorganizar o orçamento em preparação para


a nova fase de vida, reconhecendo os ajustes necessários.

3. Conscientizar-se de que benefícios corporativos, como


planos de saúde, se tornarão despesas regulares após a
aposentadoria.

4. Refletir sobre a relação com o dinheiro e adotar atitudes


comportamentais que promovam uma gestão financeira
eficaz.

5. Demonstrar flexibilidade em relação a possíveis adaptações,


especialmente no que diz respeito ao padrão de vida.

26
6. Encarar positivamente a exploração de novos cenários para
um padrão de vida e estilo de vida renovados.

7. Considerar quem será o responsável por tomar decisões caso


surjam problemas que afetem a capacidade de decisão.

8. Refletir sobre o local desejado para viver durante a idade


avançada.

9. Avaliar o impacto em situações em que, devido ao falecimento


do cônjuge, herdeiros tenham direito ao patrimônio acumulado
pelo casal até então.

“Saiba Mais”

“Quando é que a gente vai morrer? Essa é a pergunta que ninguém


gostaria de responder. Mas encará-la nos ajuda a planejar como é que
a gente vai viver. A boa notícia é que a expectativa de vida cresce no
Brasil.

Neste Café Filosófico, Alexandre Kalache, médico e estudioso da


velhice, fala sobre a revolução da longevidade e como ela transforma o
nosso jeito de ver e planejar a vida.

Fonte: YOUTUBE. A Revolução Da Longevidade, 2019.

assista

27
BIBLIOGRAFIA:

SOUZA, Almir. Planejamento financeiro pessoal e gestão do patrimônio:


fundamentos e práticas, Ed Manole, 2ª edição, 2018.

SCHIRRMACHER, Frank. A Revolução dos Idosos. Rio de Janeiro, Editora Campus/


Elsevier, 2005.

PORTAL DO ENVELHECIMENTO. A revolução dos idosos: como será o novo


choque de gerações, 2014. Disponível em: https://www.portaldoenvelhecimento.
com.br/revolucao-dos-idosos-como-sera-o-novo-choque-de-geracoes/ Acesso
em: 08 de jan. de 2021.

MASSAFERRO, Denise, BERNHOEFT, Renato, Longevidade: os Desafios e as


Oportunidades de Se Reinventar, Ed. Évora. 2016.

IBGE-PNAD 1996: in NERI, CARVALHO, NASCIMENTO: Ciclo da Vida e Motivações


Financeiras: IPEA, 1999.

YOUTUBE. A Revolução Da Longevidade, 2019. Disponível em: https://www.


youtube.com/watch?v=_5N8V1lPIGg Acesso em: 08 de jan. de 2021.

28
5 PREVIDÊNCIA SOCIAL

Q uando abordamos a questão da previdência social - um tópico de


relevância primordial para a preparação da aposentadoria e a gestão
da longevidade - temos a tendência de imaginar que sempre houve uma prote-
ção abrangente desse tipo na sociedade, mas essa realidade nem sempre existiu.
No Brasil, seu desenvolvimento teve início a partir de transformações estruturais
significativas que o país atravessou no início do século passado. Antes dessas
transformações, observaram-se iniciativas incipientes, datando desde a época do
império.

A concretização da previdência social no Brasil derivou das circunstâncias


históricas. Foi somente nas três primeiras décadas do século XX que o governo
efetivamente começou a estabelecer uma estrutura de proteção social, que
posteriormente evoluiria para o sistema de seguridade e previdência. Esse período
coincidiu com uma fase em que o Brasil ainda era predominantemente agrário
em sua potencialidade econômica. As mudanças estruturais se desenvolveram
em resposta ao contexto econômico, político e social do país, englobando a
decadência do ciclo do café, agravada de forma decisiva pela crise de 1929, além
do aumento progressivo da industrialização e urbanização.

A trajetória teve início com a introdução da legislação proposta pelo


deputado paulista Eloy Chaves, manifestada através do Decreto 4.682 em 24 de
janeiro de 1923. Essa medida levou à criação das CAPs (Caixas de Aposentadorias
e Pensões) no setor ferroviário. Nesse novo sistema, cada empresa ferroviária
tornou-se obrigada a estabelecer uma CAP, e a legislação determinava quatro
benefícios fundamentais: assistência médica em caso de doença, acesso a
medicamentos a preços especiais, pensão por morte e aposentadoria.

A cronologia dos marcos principais relacionados à previdência social é


apresentada na tabela a seguir:

29
Lei Eloy Chaves – cria as CAPs -Caixas de
1923
Aposentadorias e Pensões.

Anos 20 e 30 Ampliação das CAPs para empresas de outros ramos.

Criação dos IAPs – Institutos de Aposentadorias e


Pensões para categorias
1933
profissionais inteiras, como bancários, comerciários e
industriários.

Unificação de regras CAPs e do IAPs que foram


alcançados pela LOPS -Lei
Anos 60
Orgânica da Previdência Social que unificou os
benefícios e forma de custeio.

Criação do INPS – Instituto Nacional de


Previdência Social que unificou os
1966
IAPs e CAPs.

Lei 6.036, de 01/05/54, criou o Ministério da


Previdência e Assistência
Anos 70
Social (desmembrando o Min. do Trabalho e
da Previdência).

Instituídas as coberturas para trabalhadores


rurais (FUNRUAL – nov/71),

Anos 70 trabalhadores domésticos e os que


trabalham por conta própria.

Criados benefícios assistenciais para idosos.

Constituição de 1988 – definiu o sistema de seguridade


1988
social.

Criação do INSS – Instituto Nacional de Seguro Social,


com a fusão do
1990
INPS com o IAPAS.

O atual panorama do sistema previdenciário no Brasil engloba três regimes


distintos:

30
• Regime Geral de Previdência Social (RGPS)

• Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)

• Regime de Previdência Complementar, composto por Entidades Abertas


(EAPC) e Entidades Fechadas (EFPC).

Fonte: Ministério da Economia

A partir de 2012, diversos órgãos promoveram modificações nas regras


dos RPPS, estabelecendo limites para os valores das aposentadorias atrelados ao
teto do INSS e introduzindo planos de previdência complementar privada com
adesão opcional por parte dos servidores. A reforma da previdência realizada em
novembro de 2019 obrigou todos os entes com RPPS a implementar previdências
complementares de natureza voluntária para seus servidores, fixando o teto do
INSS como o limite de benefício a ser pago pelo RPPS.

O INSS foi fundado em junho de 1990, mediante a fusão do INPS (Instituto


Nacional da Previdência Social) com o IAPAS (Instituto de Administração Financeira
da Previdência e Assistência Social).

“Você sabia?” ”

A lei Eloy Chaves não veio por benevolência. Foi em resposta às


greves nas estradas de ferro que o poder público instituiu o direito à
aposentadoria. Esperava-se, assim, aplacar a insatisfação dos ferroviários.

31
Se agora quem consegue paralisar o Brasil são os caminhoneiros,
na Primeira República esse poder era dos ferroviários. O país dependia
das estradas de ferro. Em 1923, as pessoas e as mercadorias (incluindo o
café, base da economia nacional) viajavam em trem e navio. Não havia
ônibus nem caminhão, e carro era para poucos. As raras estradas eram
de terra.

Fonte: Agência Senado. Primeira lei da Previdência, de 1923,


permitia aposentadoria aos 50 anos, 2019.

Leia
Contribuições e Benefícios

O Teto do INSS serve como referência para estabelecer o valor máximo


tanto das contribuições quanto dos benefícios concedidos pelo INSS. Os reajustes
acima do piso do INSS são determinados pela variação do INPC e, anualmente, o
teto é atualizado com base na variação do ano anterior do INPC, que é o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor calculado pelo IBGE.

Conforme definido pelo IBGE, o INPC é um indicador que visa ajustar o


poder de compra dos salários, medindo as mudanças nos preços da cesta de
consumo das famílias assalariadas com menor rendimento. Atualmente, o grupo-
alvo do INPC inclui famílias com rendimentos entre 1 e 5 salários-mínimos, cujo
membro de referência é um assalariado. Essas famílias residem nas áreas urbanas
das regiões abrangidas pelo SNIPC, que compreendem as regiões metropolitanas
de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São
Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia,
Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.

Os contribuintes obrigatórios do INSS incluem empregados com registro


em carteira, empregados domésticos, contribuintes individuais como autônomos,
prestadores de serviços eventuais e sem vínculo empregatício, trabalhadores
avulsos e segurados especiais, como trabalhadores rurais, pescadores artesanais
e indígenas. Os benefícios abrangem aposentadoria por idade, invalidez ou
incapacidade, exigindo um período de carência de 12 meses de contribuição, além
de auxílios por acidente, doença e reclusão, salário-maternidade, salário-família e
pensão por morte, cuja carência é de 18 meses.

As contribuições e benefícios são calculados com base em duas referências:


32
• Mínimo: Valor do Salário-Mínimo Nacional

• Máximo: Valor do Teto Previdenciário/INSS

O salário-mínimo nacional é utilizado para estabelecer o valor mínimo


tanto das contribuições quanto dos benefícios pagos pelo INSS. A partir de 2020,
sua correção tem sido baseada na variação do INPC do ano anterior.

Entre 2007 e 2019, o ajuste do salário-mínimo era calculado somando-se


a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores com a variação
do INPC do ano anterior.

“Importante!”

• A participação e a contribuição mensal nos Regimes Públicos


de Previdência - sejam eles RPPS ou RGPS - são obrigatórias
para todos aqueles que estão envolvidos em atividades
remuneradas.

• Para aqueles empregados com carteira de trabalho, a


contribuição mensal é automaticamente deduzida de seus
salários.

• Os trabalhadores autônomos, por sua vez, são responsáveis


por se registrar e realizar o pagamento da contribuição mensal
utilizando a GRU - Guia de Recolhimento da União (a partir de
outubro de 2021, a GRU substituiu a GPS - Guia da Previdência
Social. Em algumas situações, a GPS ainda poderá ser aceita
até 30/06/22).

• O prazo para efetuar o pagamento é até o dia 15 do mês


subsequente ao mês de competência.

• No caso do RGPP/INSS, é permitida a adesão por indivíduos


que não estejam envolvidos em atividades remuneradas, mas
desejem contribuir para o INSS. Essa contribuição possui
natureza voluntária.

• Para aderir, é necessário realizar a inscrição e efetuar o


pagamento da contribuição mensal por meio da GRU - Guia
de Recolhimento da União.

33
BIBLIOGRAFIA:

ARAUJO, Raquel. Política de Seguridade Social: Previdência Social, (Ed. Contentus)


- Biblioteca Galícia.

SOUZA, Almir. Planejamento financeiro pessoal e gestão do patrimônio:


fundamentos e práticas, Ed Manole, 2ª edição, 2018.

CAMARA DOS DEPUTADOS. Constituição de 1934, https://www2.camara.


leg.br/legin/fed/consti/1930-1939/constituicao-1934-16-julho-1934-365196-
publicacaooriginal-1-pl.html Acesso em 10 de jan. de 2021.

AGÊNCIA SENADO. Primeira lei da Previdência, de 1923, permitia aposentadoria


aos 50 anos, 2019. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/
arquivo-s/primeira-lei-da-previdencia-de-1923-permitia-aposentadoria-aos-50-
anos Acesso em 10 de jan. de 2021.

INSS. Meu INSS, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/inss/pt-br/canais_


atendimento/saiba-tudo-sobre-o-meu-inss/meu-inss Acesso em 10 de jan. de
2021.

DIEESE. Previdência Social brasileira: concepção constitucional e tentativas de


desconstrução, 2006. Disponível em: https://www.dieese.org.br/notatecnica/2007/
notatec51Previdencia.pdf Acesso em 10 de jan. de 2021.

INSS. Breve histórico, 2017. Disponível em: https://www.gov.br/inss/pt-br/acesso-


a-informacao/institucional/breve-historico Acesso em 10 de jan. de 2021.

34
6 REFORMA DA PREVIDÊNCIA

A presentamos agora as reformas da previdência que vêm ocorrendo,


já que, além da reforma mais recente em 2019, mudanças têm sido
implementadas por meio de medidas que buscam aprimorar o sistema ao longo
dos anos.

O fator mais crucial por trás dessas reformas foi o desafio imposto pelo
regime financeiro de repartição simples, no qual a previdência social brasileira
opera. Nesse sistema, os contribuintes ativos financiam as aposentadorias dos
inativos. A movimentação de recursos ocorre entre as gerações, criando um pacto
intergeracional - diferentemente do regime de capitalização, presente em planos
de previdência privada, onde as contribuições são acumuladas e rendem ao longo
do tempo, o regime previdenciário vigente se baseia na circulação dos recursos,
com os benefícios dos aposentados dependentes dos ativos. Em alguns países, um
regime híbrido é adotado, combinando elementos de repartição e capitalização,
onde parte dos recursos é mantida em caixa e outra parte é investida para render
renda futura.

Devido à natureza vitalícia do sistema e ao piso de salário-mínimo, surgiu


um déficit. Até cerca da década de 70, o sistema era superavitário, mas atualmente
enfrenta um déficit devido à diminuição da população empregada formalmente,
com muitos trabalhadores na economia informal sem contribuir. Isso gera um
impacto e desequilíbrio consideráveis.

Se o déficit persistir, é provável que ocorra uma redução nos benefícios.


Isso se deve à crescente dependência dos idosos em relação à população
economicamente ativa (PEA). Individualmente, os cidadãos precisarão se
preparar para uma sustentação financeira ao longo do tempo, visto que a taxa de
reposição de renda tende a diminuir. Essa tendência ocorre devido à ampliação
da disparidade entre os valores das aposentadorias e a renda durante a vida
economicamente ativa.

35
Nesse contexto, nosso papel como planejadores financeiros é alertar as
pessoas sobre a importância de se prepararem adequadamente para garantir a
reposição de renda. Além de possivelmente receberem benefícios de menor valor,
os indivíduos também poderão precisar trabalhar por mais tempo.

Para um melhor entendimento histórico, apresentamos na tabela abaixo a


linha do tempo dos principais marcos referentes às reformas da previdência:

1988 Constituição de 1988 definiu o sistema de seguridade social;

Criação do INSS – Instituto Nacional de Seguro Social, com a


1990
fusão do INPS com o IAPAS;

1991 EC nº20 altera o caput do Art. 201 de 15/12/1988;

EC Nº 20 § 7º - Estabelece o tempo de contribuição


1998
Lei 9.876/99 crias o Fator Previdenciário;

2015 Lei nº 13.183/15 – Regra de Pontos 85/95;

2019 Emenda Constitucional nº 103, de 2019.

Um dos eventos centrais nessa linha do tempo foi a criação do fator


previdenciário, que reduziu os benefícios dos contribuintes que se aposentassem
antes da idade mínima (60 anos para mulheres e 65 anos para homens), uma vez
que quanto mais jovem o indivíduo se aposenta, maior o redutor aplicado sobre o
valor do benefício previdenciário.

Fórmula do fator previdenciário

f = fator previdenciário

Tc = tempo de contribuição até o momento da aposentadoria

36
Es = esperança de sobrevida no momento

Id = idade no momento da aposentadoria

a = alíquota de contribuição com valor fixo de 0,31 (constante, que


corresponde a 20% das contribuições patronais, mais até 11% das contribuições
do empregado).

O ano de 2019 foi marcado por outro evento de grande importância, a


Emenda Constitucional nº 103, que estabeleceu que os trabalhadores urbanos
poderiam se aposentar a partir dos 62 anos (mulheres) e 65 anos (homens),
com um tempo mínimo de contribuição de 15 anos para mulheres e 20 anos para
homens que ainda não entraram no mercado de trabalho. A aposentadoria apenas
por tempo de contribuição foi eliminada.

“Você sabia?” ”

Os sistemas previdenciários nos países desenvolvidos precisam


ser reformados devido ao envelhecimento da população e à multiplicação
de empregos atípicos, ou seja, independentes ou em regime de meio
período, afirma a Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) em relatório divulgado nesta quarta-feira.

Em 1980, havia duas pessoas com mais de 65 anos para cada


dez empregados ativos; atualmente existem três para cada dez ativos
e haverá seis para cada dez em 2060, aponta a OCDE. É por isso que a
organização pede que os Estados continuem fazendo reformas em seus
sistemas para garantir que sejam viáveis em longo prazo.

“É compreensível que alguns países desejem amenizar as


medidas impopulares introduzidas em um contexto de crise”, disse
Hervé Boulhol, economista da OCDE especializado em aposentadorias e
envelhecimento demográfico.

Fonte: Revista Exame. OCDE recomenda que países reformem


previdências pensando em envelhecimento 2019.

Leia

37
Regras de Aposentadoria e Transição

Na regra atual, a média aritmética simples dos salários de contribuição


correspondentes a 100% (cem por cento) do período contributivo, desde a
competência julho de 1994 ou desde o início da contribuição, se posterior àquela
competência.

Tempo Mínimo de
MULHERES Benefício
Contribuição p/ atingir 100%

60% do média de todos


Benefício Base 15 anos (mínimo)
os salários de contribuição

2% por ano adicional de


Benefício Contribuição além dos 15
20 anos (adicionais)
Adicional anos de contribuição
mínima

Tempo Mínimo de
HOMENS Benefício
Contribuição p/ atingir 100%

60% do média de todos os


Benefício Base 20 anos (mínimo)
salários de contribuição

2% por ano adicional de


Benefício contribuição além dos 20
20 anos (adicionais)
Adicional anos de
contribuição mínima

No que diz respeito à pensão por morte, houve mudanças em algumas


regras que demandam avaliação, consideração e informação aos clientes. Por
exemplo, se o segurado já estava aposentado no momento de falecer, a pensão por
morte, após a reforma, corresponderá a 50% do valor da aposentadoria, acrescido
de 10% por cada dependente. Caso o segurado não fosse aposentado, a média de
todos os salários desde 1994 é calculada, e 2% por ano de contribuição além dos
20 anos mínimos são adicionados, entre outras normas.

Adicionalmente, foram implementadas cinco regras de transição para


proteger aqueles que estavam próximos de se aposentar, garantindo a preservação
das regras anteriores para aposentadoria e pensão aos segurados que já haviam
adquirido esses direitos.

A escolha da regra a adotar é responsabilidade do segurado, e essa decisão


deve ser embasada na análise da vantagem oferecida por cada opção. Qualquer
que seja a escolha, inclusive para aqueles que já tinham o direito de requerer a
aposentadoria, o cálculo do benefício será regido pela nova fórmula - a média das
contribuições realizadas durante 100% do período.
38
Consequentemente, os impactos econômicos da reforma devem ser
observados a longo prazo em uma sociedade que envelhece rapidamente. Para
os indivíduos, a necessidade de planejamento para garantir a sustentabilidade
financeira ao longo da vida se torna ainda mais crucial diante dessas mudanças.

“Saiba Mais”

“Quais são regras de transição da aposentadoria por tempo de


contribuição e da aposentadoria por idade para aqueles que já eram
filiados ao RGPS antes da entrada em vigor da EC n° 103/2019.”

Fonte: Youtube, Meu INSS. Nova Previdência: Regras de transição


da Aposentadoria por Tempo de Contribuição e por Idade, 2020,

assista
BIBLIOGRAFIA:

ARAUJO, Raquel. Política de Seguridade Social: Previdência Social, (Ed. Contentus)


- Biblioteca Galícia.

SOUZA, Almir. Planejamento financeiro pessoal e gestão do patrimônio:


fundamentos e práticas, Ed Manole, 2ª edição, 2018.

BANCO MUNDIAL. Notas de políticas públicas - Por um ajuste justo com


crescimento compartilhado, 2018. Disponível em: https://www.worldbank.org/pt/
country/brazil/brief/brazil-policy-notes#reformadaprevidencia123 Acesso em: 11
de jan. de 2022.

MIGALHAS. Previdência Social já sofreu seis alterações desde a Constituição de 88,


2018. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/290850/previdencia-
social-ja-sofreu-seis-alteracoes-desde-a-constituicao-de-88 Acesso em: 11 de jan.
de 2022.

39
MINISTERIO DO TRABALHO E PREVIDENCIA. Aplicação da Emenda Constitucional
nº 103 de 2019 aos RPPS, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-
previdencia/pt-br/assuntos/previdencia-no-servico-publico/legislacao-dos-rpps/
aplicacao-da-emenda-constitucional-no-103-de-2019-aos-rpps Acesso em: 11 de
jan. de 2022.

REVISTA EXAME. OCDE recomenda que países reformem previdências pensando


em envelhecimento 2019. Disponível em: https://exame.com/economia/ocde-
recomenda-que-paises-reformem-previdencias-pensando-em-envelhecimento/
Acesso em: 12 de jan. de 2022.

YOUTUBE, Meu INSS. Nova Previdência: Regras de transição da Aposentadoria por


Tempo de Contribuição e por Idade, 2020, Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=1wQs0ceQv_g&t=9s Acesso em: 12 de jan. de 2022.

40
7 PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

J á abordamos anteriormente a previdência pública, e agora vamos


adentrar o universo das previdências privadas, que se dividem em
duas categorias: abertas e fechadas. Como planejadores financeiros, é nossa
responsabilidade discutir a previdência ao longo da trajetória de vida do indivíduo
e durante sua aposentadoria. É essencial transmitir ao cliente a importância de
complementar a renda, visto que essa é definitivamente uma das estratégias
a serem consideradas. Além disso, devemos explorar outras opções, como o
mercado financeiro, investimentos em capitais, imóveis, empreendedorismo, a
continuidade no mercado de trabalho e a formação de uma rede de apoio.

Após anos de vida ativa, é possível que recebamos um benefício oficial


ou público. Contudo, dependendo do nível de renda antes da aposentadoria,
esse benefício pode não ser suficiente para manter o padrão de vida desejado e
ainda cobrir novos gastos decorrentes de imprevistos e envelhecimento. Nesse
contexto, a previdência complementar surge como uma alternativa para garantir
renda durante a aposentadoria, além dos benefícios públicos. Ela representa uma
forma de poupança, independentemente da faixa salarial.

A análise dos dados do IBGE, realizada em 2019, revelou o rendimento


médio salarial da população em idade ativa no Brasil, convertido em número de
salários-mínimos e comparado ao teto do INSS em 2019, que foi de 5.839 reais.

Conforme a faixa de renda, o descompasso em relação ao valor da


aposentadoria aumenta. Mesmo no caso de recebimento do teto, é importante
destacar que muitas vezes não será suficiente para sustentar o padrão de vida
desejado durante este período. Isso realça a importância de todos fazerem uma
poupança durante a vida ativa, sem presumir que conseguirão viver de acordo
com esse padrão somente com o benefício público.

41
% das Pessoas Mais de
Mais de 70% Mais de 80% Mais de 95% Mais de 99%
por Faixa 90%
até 80% Até 90% Até 99% Até 100%
Rendimento Até 95%

Rendimento
Médio Mensal R$ 2.329 R$ 3.422 R$ 5.429 R$ 10.313 R$ 28.659
Real

Equivalência
em nº de 2,33 SM 3,43 SM 5,44 SM 10,33 SM 28,71 SM
Salário-mínimo

Equivalência
em 39,9% 58,6% 93% 176,6% 491,3%
% do Teto

Fonte: IBGE com adaptação da Professora Ângela Nunes

Nem todos mantêm o hábito de se prepararem para a vida no longo


prazo. Por isso, tanto a previdência privada como a complementar auxiliam no
acúmulo gradual de recursos durante a um período de contribuição, para quando
se aposentar, iniciar o período de recebimento.

“Você sabia?” ”

Alguns marcos históricos da previdência complementar:

Até 1977:  Alguns fundos de pensão pioneiros - PREVI / BB (1904),


PETROS (1970).

Lei nº 6.435/77: Primeira lei sobre previdência complementar


- Foco na Entidade e fez a classificação das entidades em abertas e
fechadas.

1988: Previsão constitucional da previdência privada.

Lei Complementar nº 108/2001: Dispõe sobre a relação entre a


União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, suas autarquias,
fundações, sociedades de economia mista e outras entidades públicas e
suas respectivas entidades fechadas de previdência complementar, e dá
outras providências.

Lei Complementar nº 109/2001: Aprimoramento normativo sobre


o Regime de Previdência Complementar com intuito de:

42
• Formular a política de previdência complementar, com o
objetivo de compatibilizá-la com o desenvolvimento social
econômico do País;

• Determinar padrões mínimos de segurança, para preservar a


liquidez, a solvência e o equilíbrio dos planos;

• Fiscalizar e aplicar penalidades;

• Assegurar a transparência dos planos em favor dos


participantes e assistidos, e proteger seus interesses.

Decreto-Lei nº 4942/2003: Regulamenta o processo


administrativo para apuração de responsabilidade por infração à
legislação no âmbito do regime de previdência complementar, operado
por Entidades Fechadas de Previdência Complementar.

Fonte: Capecesp. Marcos legais da Previdência Complementar no


Brasil, 2019.

Leia

A estrutura normativa e regulatória das previdências complementares


está dentro do sistema financeiro nacional, que possui dois órgãos normativos:
o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), que é regulado pela SUSEP, e
o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC), que é regulado pela
PREVIC.

Fonte: Banco Central


43
Previdências Aberta e Fechada

A previdência privada é uma opção facultativa que opera sob o regime de


capitalização, o que significa que durante o período de acumulação, os indivíduos
fazem contribuições para formar um montante que proporcionará renda na
aposentadoria.

Existem dois segmentos principais: previdência aberta e previdência fechada


(também conhecida como fundos de pensão). Cada um possui características
distintas. As modalidades dos planos de benefícios dentro desses segmentos são:

• Benefício Definido (BD): Nesse plano, o valor da contribuição e do


benefício é estabelecido no momento da contratação, com uma
fórmula de cálculo definida em regulamento. O custeio é determinado
atuarialmente para garantir a concessão e a manutenção do benefício.
No ato da contratação do plano, o indivíduo conhece o valor que
receberá na aposentadoria e o valor da contribuição, sendo a variação
do valor da contribuição ao longo do tempo o que permite atingir o
valor pré-determinado. Esse tipo de plano é mutualista, ou seja, baseia-
se na solidariedade entre os participantes, e seu equilíbrio atuarial é
crucial.

• Contribuição Definida (CD): Nesse plano, os benefícios programados se


baseiam no saldo acumulado na conta do participante. As contribuições
são determinadas pelo próprio participante e pelo patrocinador
conforme as regras do plano. No momento da contratação do plano, a
contribuição é acordada, e o montante a ser recebido varia com base
nesse valor, no tempo de contribuição e na rentabilidade.

• Contribuição Variável (CV): Esse plano combina características de CD


(contas individuais) na fase de acumulação ou atividade e características
de BD (rendas vitalícias) na fase de inatividade. Ele também pode
oferecer benefícios definidos para eventos de risco não previsíveis,
como morte, invalidez, doença ou reclusão.

Os planos de benefícios deverão prever os seguintes institutos:

• BPD (Benefício Proporcional Diferido ou vesting): Concedido quando


ocorre o encerramento do vínculo empregatício com o patrocinador
ou o vínculo associativo com o instituidor antes da obtenção do direito
pleno ao benefício. A opção pelo BPD não impede a posterior escolha
por portabilidade ou resgate.

44
• Portabilidade: Permite que o participante transfira os recursos
financeiros correspondentes ao seu direito acumulado para outro plano
de benefícios previdenciários operado por entidade de previdência
complementar ou por sociedade seguradora autorizada a operar
o plano. A portabilidade não é permitida caso não haja cessação do
vínculo empregatício do participante com o patrocinador.

• Resgate: Possibilita o resgate da totalidade das contribuições feitas


ao plano pelo participante, descontadas as parcelas do custeio
administrativo, de acordo com a regulamentação.

• Autopatrocínio: Permite ao participante manter sua contribuição e a do


patrocinador caso haja perda parcial ou total da remuneração recebida,
garantindo benefícios correspondentes a essa remuneração ou a outros
definidos nas normas regulamentares. A escolha pelo autopatrocínio
não impede a opção futura por BPD, portabilidade ou resgate. As
contribuições decorrentes do autopatrocínio são sempre consideradas
como contribuições do participante.

Ao discutir os tipos de previdência, a modalidade fechada refere-se a planos


contratados exclusivamente por empresas para seus colaboradores (associados).
Esses planos podem ser administrados por uma sociedade civil ou uma fundação
sem fins lucrativos. Além disso, é comum que as empresas sejam coparticipantes
das contribuições, o que significa que uma porcentagem do valor investido pelo
funcionário também é aplicada pela empresa, aumentando assim o montante.
Esses planos costumam ser oferecidos como benefícios adicionais, semelhantes a
planos de saúde, vale refeição, seguro de vida, entre outros.

Nos planos de previdência fechada, há estatutos que estabelecem as


principais diretrizes a serem seguidas. Isso inclui decisões colegiadas, participação
democrática e representação de quatro partes nos colegiados, transparência em
todas as decisões, administração profissional do patrimônio e controle interno
dos atos praticados pela diretoria administrativa.

Além disso, existem regras contratuais estabelecidas em regulamentos


que abrangem diversos aspectos. Isso inclui os benefícios oferecidos aos
participantes, condições de elegibilidade (como idade mínima), regras de carência,
critérios para ingresso e saída do plano, bases e métodos de cálculo, formas de
pagamento e atualização dos benefícios, datas de pagamento, institutos como o
benefício proporcional diferido, portabilidade, resgate e autopatrocínio, fontes de
financiamento dos benefícios, datas para repasse das contribuições e cláusulas de
penalização em caso de atraso.
45
Dentro desse plano, é adotada a modalidade de contribuição definida,
onde o empregado escolhe o percentual a ser descontado de sua contribuição
mensal dentro de um intervalo estabelecido no plano, por exemplo, entre 1% e
10%.

As condições básicas para receber o benefício na aposentadoria incluem


ter atingido a idade mínima estipulada e ter cumprido o prazo mínimo de vínculo
com a empresa. O montante base para o benefício é calculado como 100% do
saldo acumulado na conta do participante, acrescido do saldo da Conta da
Patrocinadora, conforme definido no Plano (VESTING) - o direito a resgatar o
saldo investido mesmo após o desligamento da empresa.

As opções de recebimento do benefício incluem o resgate de até 25% da


reserva à vista, sendo o restante do saldo disponível para recebimento nas opções
abaixo:

• Renda mensal Fixa: O valor em reais é determinado pelo Participante


dentro de uma faixa percentual permitida do saldo em reais, por
exemplo, de 0,10% a 1,5% do saldo em reais;

• Renda Mensal Variável: Calculada dentro da faixa percentual permitida


do saldo em cotas, por exemplo, de 0,10% a 1,5% do saldo em cotas;

• Renda Mensal por Período Definido: Parcelas mensais fixas em número


de cotas por um período definido pelo Participante, como entre 5 e 15
anos;

• Conta do Participante: O empregado tem direito ao saldo da Conta


Participante em qualquer situação;

• Conta Patrocinadora: Depende das regras do Plano (VESTING).

As regras de vesting e portabilidade têm um período de carência de 3


anos.

Os planos abertos de previdência, por sua vez, são acessíveis a qualquer


pessoa física ou jurídica, sem a necessidade de um vínculo profissional específico.
Essas pessoas podem procurar uma instituição financeira para estabelecer um
plano de previdência aberto mais adequado às suas necessidades, optando entre
as modalidades de PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) ou VGBL (Vida
Gerador de Benefício Livre). No contexto dos planos abertos, as contribuições
são efetuadas pelo contratante, concedendo-lhe maior autonomia para negociar
os termos do contrato, bem como as taxas envolvidas.

46
A distinção entre previdência aberta e fechada está centrada em questões
como o público-alvo, quem realiza as contribuições e com quais instituições as
ofertas são vinculadas. Tanto a previdência aberta quanto a fechada permitem
a portabilidade dos valores acumulados para outros planos, possibilitando aos
indivíduos migrar de um plano para outro de acordo com suas preferências ou
necessidades.

“Saiba Mais”

VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres) e PGBL (Plano Gerador


de Benefícios Livres) são planos por sobrevivência (de seguro de
pessoas e de previdência complementar aberta, respectivamente) que,
após um período de acumulação de recursos (período de diferimento),
proporcionam aos investidores (segurados e participantes) uma renda
mensal - que poderá ser vitalícia ou por período determinado - ou
um pagamento único. O primeiro (VGBL) é classificado como seguro
de pessoa, enquanto o segundo (PGBL) é um plano de previdência
complementar.

A principal diferença entre os dois reside no tratamento


tributário dispensado a um e outro. Em ambos os casos, o imposto de
renda incide apenas no momento do resgate ou recebimento da renda.
Entretanto, enquanto no VGBL o imposto de renda incide apenas sobre
os rendimentos, no PGBL o imposto incide sobre o valor total a ser
resgatado ou recebido sob a forma de renda.

No caso do PGBL, os participantes que utilizam o modelo


completo de declaração de ajuste anual do I.R.P.F podem deduzir as
contribuições do respectivo exercício, no limite máximo de 12% de sua
renda bruta anual. Os prêmios/contribuições pagos a planos VGBL
não podem ser deduzidos na declaração de ajuste anual do I.R.P.F e,
portanto, este tipo de plano seria mais adequado aos consumidores que
utilizam o modelo simplificado de declaração de ajuste anual do I.R.P.F,
ou aos que já ultrapassaram o limite de 12% da renda bruta anual para
efeito de dedução dos prêmios e ainda desejam contratar um plano de
acumulação para complementação de renda.

Fonte: Susep. Qual a diferença entre o VGBL e o PGBL?, 2019.

Leia 47
BIBLIOGRAFIA:

ARAUJO, Raquel. Política de Seguridade Social: Previdência Social, (Ed. Contentus)


- Biblioteca Galícia.

SOUZA, Almir. Planejamento financeiro pessoal e gestão do patrimônio:


fundamentos e práticas, Ed Manole, 2ª edição, 2018.

Ministério do Trabalho e Previdência, O que é Previdência Complementar, 2020.


Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/assuntos/
previdencia-complementar/mais-informacoes/o-que-previdncia-complementar
Acesso em 11 de jan. de 2022.

CAPECESP. Marcos legais da Previdência Complementar no Brasil, 2019. Disponível


em: https://www.capesesp.com.br/web/pep/previdencia-complementar Acesso
em 11 de jan. de 2022.

BANCO CENTRAL, Entenda o papel detalhado de cada segmento no quadro


abaixo, 2021 Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/sfn
Acesso em 11 de jan. de 2022.

SUSEP, Orientações ao consumidor - PGBL/VGBL, 2021. Disponível em: http://


www.susep.gov.br/setores-susep/seger/coate/orientacoes-ao-consumidor-pgbl-
vgbl/copy_of_orientacoes-ao-consumidor-para-a-contratacao-ou-portabilidade-
de-plano-pgbl Acesso em 12 de jan. de 2022.

48
8PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR ABERTA

E ntrando ainda mais pelo caminho da previdência complementar aber-


ta, focando na parte de produtos, temos o artigo 36 da lei complemen-
tar 109 que diz: “As entidades abertas são constituídas unicamente sob a forma
de sociedade anônima e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios
de caráter previdenciário, concedidos em forma de renda continuada ou paga-
mento único, acessíveis a quais pessoas físicas. “Essas entidades são constituídas
na forma de sociedade anônima com fins lucrativos.

Os planos de previdência podem ser de duas naturezas, PGBL ou VGBL,


feitas individualmente, ou por meio de um plano coletivo com a mesma natureza
de produto. Um fator importante é que as sociedades seguradoras, especialmente
as que lidam com vida, foram autorizadas a operar planos de benefícios de
caráter previdenciário. A implantação do plano é sempre via contrato, diferente
da previdência pública, a previdência complementar sempre tem um caráter
contratual.

Na previdência fechada temos quatro institutos obrigatórios, que são os


benefícios proporcionais diferidos, alto patrocínio, portabilidade e resgate. Nas
abertas você só tem portabilidade e resgate. Inclusive a portabilidade pode
ser de um valor parcial ou total, de planos abertos para plano de benefício de
entidade fechada. Lembrando que portabilidade não é resgate, por isso, é uma
saída legal utilizada por quem quer mudar para um plano melhor e mais viável,
de uma instituição para outra, sem a tributação do imposto de renda. Os resgates
também podem ser parciais ou totais, considerando os prazos de carência.

49
“Exemplo”

Considerando o cenário em que o seu cliente manifeste interesse


em realizar um resgate parcial de 15% de um plano de previdência
complementar aberta mantido junto a uma instituição, é fundamental
fornecer orientações específicas. É imprescindível que ele esteja consciente
dos prazos de carência caso pretenda efetuar uma portabilidade ou um
resgate, levando em consideração os seguintes intervalos temporais:

• O resgate total varia de 60 dias a 60 meses;

• Os resgates parciais possuem um período que varia entre 60


dias e 6 meses.

É importante enfatizar que o cliente deve ponderar se o valor que


ele pretende resgatar nesse momento atende às suas necessidades, visto
que uma vez efetuado o resgate, ele não terá acesso a uma nova parcela
financeira em um período de pelo menos 60 dias. Por essa razão, essa
opção não é indicada para ser utilizada como reserva de emergência ou
para metas de médio e longo prazo.

O saldo da previdência é a provisão matemática de benefícios a conceder.


Enquanto eu estiver acumulando recursos, estou aportando, fazendo contribuições,
ou seja, estou no meu período de acumulação. Esses aportes são investidos em
um fundo de investimento especialmente designado para esse tipo de produto.
É importante notar que esse fundo não garante um rendimento fixo, mas sim
a rentabilidade obtida ao longo do tempo, que depende das performances do
próprio fundo.

PGBL E VGBL

As duas modalidades de previdência mais comuns no Brasil atualmente


são:

50
Fonte: Icatu

• PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) – Trata-se de um plano que


tem como propósito fornecer uma renda por sobrevivência ao próprio
participante, podendo ser em forma de renda mensal ou pagamento
único. O imposto de renda é aplicado no momento do resgate ou
quando é convertido em renda. No caso do PGBL, para o cálculo do
imposto, são considerados tanto o valor dos aportes, incluindo todas
as contribuições realizadas, quanto o montante dos rendimentos do
fundo. Existe também a possibilidade de um benefício fiscal legal para
aqueles que optam pela declaração completa, permitindo deduzir até
12% da renda tributável na seção de pagamentos efetuados do sistema
de declaração de imposto de renda.

• VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) é um seguro que oferece


cobertura por sobrevivência. O principal objetivo desse plano é
proporcionar uma indenização que pode ser recebida de maneira mensal
ou através de um pagamento único. O valor do benefício também será
calculado com base no saldo acumulado. Uma diferença fundamental
em relação ao PGBL é que o imposto de renda incide apenas sobre os
rendimentos gerados e não sobre o montante total investido somado
aos rendimentos. Além disso, o VGBL não contempla o benefício fiscal
de desconto na declaração de imposto de renda, como ocorre com o
PGBL.

51
“Saiba Mais”

Há algumas condições, contudo, que devem ser observadas


atentamente, principalmente, se o maior propósito na hora de fazer
um plano for o benefício fiscal. As contribuições para as entidades de
previdência privada devem seguir os requisitos abaixo:

1. A declaração deve ser feita no formulário completo.

2. A dedução das contribuições fica limitada a 12% do total dos


rendimentos, considerados como base de cálculo do imposto
sobre a renda, devido na declaração.

3. Para ter direito à dedução, o declarante também deve


recolher, ao menos, a contribuição mínima para o INSS ou
para o regime próprio de previdência social dos servidores da
União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos municípios. As
exceções à regra são os beneficiários de aposentadoria ou de
pensão concedida pelo INSS ou ainda pelo regime próprio de
previdência.

4. As contribuições para planos de previdência complementar,


cujo titular ou quotista seja dependente do declarante, também
podem ser deduzidas do IR. O contribuinte, entretanto, deve
recolher, ao mesmo tempo, para a previdência social oficial
ou, quando for o caso, para o regime próprio dos servidores
titulares de cargo efetivo da União, dos estados, do Distrito
Federal ou dos municípios, desde que seja, ao menos, a
contribuição mínima.

Na hipótese de o dependente ter mais de 16 anos, a dedução fica


condicionada também ao recolhimento, em nome do dependente, de,
ao menos, a contribuição mínima para a previdência social oficial ou,
quando for o caso, para regime próprio dos servidores titulares de cargo
efetivo da União, dos estados, do Distrito Federal ou dos municípios.

Fonte: Icatu. Saiba como obter benefício fiscal com a previdência


privada, 2017.

Leia
52
Em comum, tanto o PGBL quanto o VGBL têm a capacidade de alocar as
reservas em Fundos de Investimento Especiais (FIEs) de natureza similar. Ambos
oferecem as mesmas modalidades de benefícios de renda e permitem a escolha
entre os Regimes Tributários - regressivo e progressivo. Além disso, ambos são
instrumentos relevantes para a sucessão patrimonial.

Antes da legislação referente ao PGBL e VGBL, existiam outros produtos de


previdência que possuíam características diferenciadas e benefícios vantajosos. É
importante estar familiarizado com esses produtos, pois é possível que surjam
clientes que ainda possuam essas modalidades. Nesse contexto, é fundamental
ter cautela ao considerar a portabilidade, realizando uma pesquisa detalhada e
conversando diretamente com o cliente.

Alguns exemplos desses produtos anteriores incluem:

• Retorno Garantido – Taxa de 6% ao ano acima do Índice Geral de Preços


do Mercado (IGP-M), proporcionando segurança aos investimentos.

• Excedente Financeiro – Um produto que visa oferecer benefícios acima


das metas atuariais, proporcionando uma rentabilidade extra.

• Tábuas Atuariais - AT 49 ou AT 83 – Tábuas utilizadas para calcular


a expectativa de vida dos segurados, influenciando diretamente nos
valores dos benefícios.

• Benefício de Renda Vitalícia – Modalidade que proporciona ao segurado


uma renda vitalícia após a aposentadoria.

• Correção do Benefício com IGP-M – O benefício a ser pago é corrigido


pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M).

Expectativa de vida AT-1949 AT-1983 AT-2000

Ao nascer 72,68 78,45 79,57

Aos 60 17,98 22,12 23,14

Aos 65 14,51 18,13 19,05

53
Expectativa de vida aos 40 anos

Tábua AT-2000 BR-EMS Diferença

Mulheres 78 anos 86 anos 8 anos

Homens 74 anos 80 anos 6 anos

Além disso, é válido mencionar o Fundo de Aposentadoria Programada


Individual (FAPI), um produto que não está mais disponível para comercialização,
mas ainda existe em alguns casos. Importante ressaltar que o FAPI é, na verdade,
um fundo de investimento, não um produto de previdência convencional. Ele
visa formar uma poupança específica, mas não proporciona o benefício de renda
futura. Assim como no caso do PGBL, o FAPI também pode contar com benefícios
fiscais semelhantes em termos de dedução de imposto de renda.

“Você sabia?” ”

“O participante contratará, por meio da proposta de inscrição,


uma das seguintes coberturas, conforme disposto no regulamento do
plano, dentre outras que possam ser oferecidas:

Pagamento único; Renda Mensal Vitalícia; Renda mensal


temporária; Renda mensal com prazo mínimo garantido; Renda mensal
vitalícia reversível ao beneficiário indicado; Renda mensal vitalícia
reversível ao cônjuge com continuidade aos menores; Renda mensal por
prazo certo.

Fonte: Susep. Tipos de Benefícios/ Rendas, 2020.

Leia
Documentação para análise

Através da documentação e folheto informativo fornecidos pelas


instituições, é possível obter uma análise abrangente sobre os detalhes do produto
de previdência do seu cliente. O regulamento atualizado do plano deve ser
disponibilizado com antecedência à contratação, sendo obrigatoriamente enviado
ao participante no momento da inscrição como parte integrante da proposta.
54
A SUSEP disponibiliza uma ferramenta de consulta chamada “Consulta
Pública dos Produtos SUSEP”, onde você pode pesquisar os regulamentos e
documentações específicas dos produtos de previdência por meio do número do
processo correspondente.

A proposta de inscrição deve conter informações vitais, como a denominação


e CNPJ da entidade, o número do processo de aprovação do plano pela SUSEP,
a denominação, CNPJ e taxa de administração do(s) Fundo(s) de Investimento
Especial (FIE) relacionado(s) ao plano, percentual ou valor de carregamento e a
forma como é aplicado, data prevista para concessão do benefício e a modalidade
de renda contratada, além dos períodos de carência.

A taxa de administração é aplicada de forma semelhante à de um fundo de


investimento convencional, remunerando a gestão do fundo. O Administrador do
FIE é encarregado da cobrança da taxa, que é provisionada diariamente com base
em 252 dias úteis e é calculada sobre o patrimônio do FIE.

O regulamento do fundo pode ser consultado no site da CVM, que


disponibiliza os dados institucionais e de desempenho, nos quais são apresentados
os recursos investidos pela Entidade Aberta de Previdência Complementar (EAPC)
durante o período de diferimento.

A taxa de carregamento, atualmente pouco comum no mercado, pode


ser cobrada antecipadamente no momento do aporte, ou postecipadamente
no caso de resgate ou portabilidade (calculada sobre o valor do aporte original,
excluindo rendimentos). Essa taxa visa cobrir as despesas administrativas e de
corretagem (despesa de comercialização) associadas ao plano de previdência
privada. Para planos de contribuição variável, o limite de cobrança é de 10% da
contribuição, enquanto para planos de benefício definido, a taxa máxima é de
30% da contribuição.

As carências são estabelecidas para solicitações de resgate ou portabilidade.


No caso de resgate total, o período mínimo é de 60 dias após a contratação, e
o máximo é de 24 meses. Para resgates parciais, o intervalo é entre 60 dias e 6
meses. Já para portabilidades, o prazo é de 60 dias a partir da contratação.

Durante a fase de pagamento dos benefícios em planos PGBL e VGBL,


existe a garantia de atualização monetária através de um índice de preço e taxa
de juros que varia de 0% a 6% ao ano. O regulamento do plano indica o índice de
atualização anual do benefício e a taxa de juros utilizados na fase de concessão
dos benefícios.

55
Ao término do período de diferimento, o benefício de renda é calculado
considerando os seguintes parâmetros: provisão matemática acumulada, tábua
biométrica utilizada (AT 1949, AT 1983, AT 2000 ou BR-EMS), idade do participante
e taxa de juros.

BIBLIOGRAFIA:

ARAUJO, Raquel. Política de Seguridade Social: Previdência Social, (Ed. Contentus)


- Biblioteca Galícia.

SOUZA, Almir. Planejamento financeiro pessoal e gestão do patrimônio:


fundamentos e práticas, Ed Manole, 2ª edição, 2018.

ICATU. Saiba como obter benefício fiscal com a previdência privada, 2017.
Disponível em: https://blog.icatuseguros.com.br/previdencia-privada/saiba-
como-obter-beneficio-fiscal-com-a-previdencia-privada/ Acesso em 18 de jan.
de 2022.

SUSEP. Tipos de Benefícios/ Rendas, 2020. Disponível em: http://www.susep.gov.br/


menu/informacoes-ao-publico/planos-e-produtos/previdencia-complementar-
aberta Acesso em 18 de jan. de 2022.

SUSEP. Consulta pública de produtos- SUSEP, 2021. Disponível em: http://www.


susep.gov.br/menu/consulta-de-produtos-1 Acesso em 18 de jan. de 2022.

GOV. Lei Complementar Nº 109, DE 29 DE MAIO DE 2001, 2001. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp109.htm Acesso em 19 de jan. de
2022.

56
9 TRIBUTAÇÃO DE PRODUTOS
DE PREVIDÊNCIA

O s principais tipos de produtos de previdência (PGBL e VGBL) são


planos de sobrevivência que, após um período de acumulação de
recursos (conhecido como período de diferimento), oferecem a possibilidade de
uma renda mensal, a qual pode ser vitalícia, por um período determinado ou ainda
um pagamento único.
O PGBL, que corresponde ao Plano de Previdência Complementar, tem
como finalidade prover uma renda por sobrevivência ao próprio participante.
Em contrapartida, o VGBL, representando o Seguro de Vida com cobertura por
sobrevivência, abrange o período de diferimento acordado pelo segurado.

De acordo com o artigo 69 da Lei Complementar 109, as contribuições


destinadas ao custeio dos planos de benefícios previdenciários em entidades
de previdência complementar podem ser deduzidas para fins de incidência do
imposto sobre a renda, observando-se os limites e condições estipulados pela
legislação.

Em relação ao PGBL, que se configura como um plano de previdência


complementar, as contribuições para o plano são passíveis de dedução do
imposto de renda. Essa dedução pode ser realizada até o limite de 12% da renda
bruta tributável, aplicável na modalidade de declaração completa. No entanto,
é importante destacar que isso não equivale a uma isenção tributária, mas sim
a um adiamento do pagamento do imposto até o momento do resgate ou do
recebimento do benefício.

São considerados tributáveis os rendimentos obtidos por meio do


trabalho assalariado, remunerações decorrentes do exercício de empregos,
cargos e funções, bem como proventos e vantagens, como salários, ordenados,
vencimentos, pensões, soldos, gratificações, subsídios e honorários.

No caso do VGBL, que se trata de um seguro, as contribuições não são


passíveis de dedução no Imposto de Renda. Em ambos os casos, seja no PGBL ou

57
no VGBL, o imposto de renda incide no momento do resgate ou do recebimento
da renda, não havendo a aplicação do mecanismo de come-cotas semestral.

A base tributável do PGBL corresponde ao valor total aplicado (somando


aportes e rendimentos), enquanto no VGBL apenas os rendimentos são
considerados.

Há duas modalidades de Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda:

• Declaração Completa: Nessa opção, despesas comprovadas, como


gastos com saúde, educação, dependentes e pensão alimentícia, podem
ser abatidas do imposto a pagar.

• Declaração Simplificada: Essa modalidade oferece um desconto padrão


de 20% sobre o valor do imposto a pagar, com um limite, que em 2021
era de R$ 16.754,34.

“Exemplo”

IR com PGBL IR sem PGBL

Renda Anual
200.000 200.000
Tributável

12% de
contribuição 24.000 0
PGBL

Base de Cálculo
176.000 200.000
do IR

Base X Alíquota
48.400 55.000
27,5%

Parcela a
10.432,32 10.432,32
Deduzir

Imposto devido 37.967,68 44.567,68

Tabela de IRRF de 04/2015 a 01/2022 – Diferença R$ 6.600,00

58
Base Anual de
Alíquota Parcela a deduzir
Cálculo R$

Até 22.847,72 200.000 200.000

De 22.847,77 até
24.000 0
33.919,80

De 33.919,81 até
176.000 200.000
45.012,60

De 45.012,61 até
48.400 55.000
55.976,16

Acima de
27,5% 10.432,32
55.976,16

Pela regra prevista no inciso VI do artigo 4o da Lei 9.250, 1995,


dos 65 anos em diante a faixa de isenção do IR é dobrada para os
rendimentos provenientes de aposentadoria e pensão, transferência
para a reserva remunerada ou reforma, pagos pela Previdência Social da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por qualquer
pessoa jurídica de direito público interno ou por entidade de previdência
complementar.

Existem duas opções de regime tributário que os clientes podem escolher


no momento da contratação dos planos de previdência: o progressivo e o
regressivo.

O regime padrão ao contratar um plano de previdência é o progressivo.


É importante ressaltar que, se o cliente não fizer uma escolha explícita,
automaticamente o regime progressivo será aplicado. No entanto, é possível
solicitar a mudança do regime progressivo para o regressivo. Vale mencionar que,
uma vez que o cliente opte pelo regime regressivo, não é permitido reverter essa
decisão, de acordo com a Lei nº 11.053, de 29/12/2004, que entrou em vigor a
partir de 01/01/2005.

No regime regressivo, existem duas possibilidades de tributação:

59
• Método PEPS (Primeiro que Entra, Primeiro que Sai): Nesse método, o
resgate ou o pagamento da renda é calculado com base nos depósitos
mais antigos. A tributação é realizada começando pelas contribuições
mais antigas até as mais recentes, ou seja, as alíquotas mais baixas são
aplicadas primeiro. Isso se aplica às rendas de prazo certo ou percentual
certo.

• Método PMP (Prazo Médio Ponderado): Nesse método, o resgate


ou o pagamento da renda leva em consideração a média de tempo
das contribuições. O prazo médio de acumulação varia conforme
o valor investido e o momento de cada contribuição. Nesse caso, a
tributação pode não seguir as alíquotas mais baixas, uma vez que a
média encontrada pode estar abaixo do prazo necessário para as taxas
mínimas de imposto de renda. Isso é especialmente aplicável à renda
vitalícia (renda atuarial).

PRAZO ALÍQUOTA

Até 2 anos 35 %

De 2 a 4 anos 30%

De 4 a 6 anos 25%

De 6 a 8 anos 20%

De 8 anos a 10 anos 15%

Acima de 10 anos 10%

No caso de falecimento do participante da previdência que utiliza o


desconto tributário regressivo, o valor máximo que poderá ser descontado dos
beneficiários é de 25% de imposto de renda.

Alocação das Reservas Técnicas e Suitability

A reserva técnica é o montante acumulado nas instituições com a


finalidade de investir em títulos e valores mobiliários (como títulos públicos ou
fundos) ou imóveis, variando conforme o plano. Essa reserva técnica é empregada
em benefício do participante da previdência complementar e assegura a futura
obrigação de pagamento do benefício.

60
Devido aos prazos de investimento normalmente extensos nos planos
de previdência complementar, a reserva técnica é uma ferramenta fundamental,
através da qual fundos de pensão e outras instituições garantem o resgate futuro.

A resolução 4.444 estabelece normas para a aplicação dos recursos das


reservas técnicas em previdências complementares abertas, descrevendo as
modalidades de alocação em renda fixa, renda variável, imóveis, variação cambial
e outros ativos, assim como seus limites.

EAPP Limite % Limite %


Resolução 4.444 Participante não Participante
Modalidade qualificado Qualificado

Renda Fixa 100% 100%

Renda Variável 70% 100%

Imóveis 20% 40%

Variação Cambial 20% 40%

Outros 20% 40%

EFPP
Limite %
Resolução 4.661 Modalidade

Renda Fixa 100%

Renda Variável 70%

Estruturado 20%

Imóveis 20%

Op. Participantes 15%

Exterior 10%

Para os recursos garantidores dos planos geridos por entidades fechadas


de previdência complementar, a resolução 4.661 estabelece modalidades de
aplicação em renda fixa, renda variável, estruturado, imobiliário, operações com
participantes e modalidades no exterior, com respectivos limites de alocação.

61
Após explorar todas as opções de ativos, que tanto os fundos fechados
quanto os fundos abertos PGBL e VGBL podem alocar, os planejadores devem
adotar o conceito de Suitability. Esse conceito envolve avaliar e harmonizar o
perfil do indivíduo que contrata o plano com o perfil do produto, seguindo as
diretrizes abaixo:

1. Identificar o perfil do investidor para determinar as características ideais


do plano escolhido.

2. Avaliar se a estratégia e o modo como o fundo aporta recursos estão


alinhados com o perfil do investidor, que pode ser conservador,
moderado ou arrojado.

3. Analisar o histórico do gestor dos fundos de previdência.

4. Examinar o desempenho do fundo em diferentes contextos de mercado


e verificar a correlação do retorno do fundo com a classe de ativos à
qual está relacionado.

5. Cautelosamente avaliar o “perfil do investidor” (objetivos, idade,


horizonte temporal, aversão a riscos) e o “perfil do plano de previdência”
para recomendar o produto mais apropriado.

BIBLIOGRAFIA:

ARAUJO, Raquel. Política de Seguridade Social: Previdência Social, (Ed. Contentus)-


Biblioteca Galícia.

SOUZA, Almir. Planejamento financeiro pessoal e gestão do patrimônio:


fundamentos e práticas, Ed Manole, 2ª edição, 2018.

YOUTUBE. Tributação regressiva pelo método PMP, 2011. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=HJ60QoXfs7c Acesso em 19 de jan. de 2022.

GOV. Lei Complementar Nº 109, DE 29 DE MAIO DE 2001, 2001. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp109.htm Acesso em 19 de jan. de
2022.

62
GOV. LEI Nº 11.053, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2004., 2041. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l11053.htm Acesso em
19 de jan. de 2022.

YOUTUBE. Regime de Tributação Regressiva pelo Método PEPS, 2015. Disponível


em: https://www.youtube.com/watch?v=_z_A27EGHPU Acesso em 19 de jan. de
2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução nº 4.444, de 13 de novembro de 2015,


2015. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/htms/normativ/Resolucao4444.
pdf?r=1 Acesso em 20 de jan. de 2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução CMN n° 4.661 de 25/5/2018,


2018. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/
exibenormativo?tipo=Resolu%C3%A7%C3%A3o&numero=4661 Acesso em 20 de
jan. de 2022.

Anbima. ANBIMA lança nova classificação para fundos de previdência, 2019.


Disponível em: https://www.anbima.com.br/en_us/imprensa/anbima-lanca-nova-
classificacao-para-fundos-de-previdencia.htm Acesso em 20 de jan. de 2022.

63
10 TENDÊNCIAS DA LONGEVIDADE
As tendências em curso vão afetar nossa vida e a de nossos clientes. O
mundo está mudando rapidamente e é preciso compreender esse processo para
abordarmos adequadamente o planejamento da longevidade. Quanto mais inte-
grados e atentos a essas mudanças, mais eficientes seremos em nosso trabalho.

O Brasil já não é mais considerado um país jovem devido ao aumento da


expectativa de vida, queda na taxa de natalidade, término do bônus demográfico
e envelhecimento da população.

“Você sabia?” ”

O jornal Folha de São Paulo (FSP), em manchete estampada


com destaque na edição de 09 de fevereiro de 2020, disse que o
“Envelhecimento do Brasil já compromete o crescimento” e que o país
“já vive um ônus demográfico”. A matéria foi realizada com base em um
estudo do IBRE (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV.

64
De fato, com base nas novas projeções da população brasileira,
divulgadas pelo IBGE, no dia 25 de julho de 2018, os economistas do IBRE
consideram que o bônus demográfico brasileiro terminou em 2018, pois,
neste ano, a população em idade ativa (PIA) parou de crescer em ritmo
mais veloz do que a população total. Isto é, a população potencialmente
ativa (PIA) continua crescendo no país, mas a proporção de pessoas em
idade ativa não vai aumentar a partir de 2018.

Fonte: Outas Palavras. Como o Brasil desperdiça seu bônus


demográfico, 2020.

Leia

A jornada que devemos seguir em direção a essa nova fase de envelheci-


mento ativo, tanto para nós quanto para nossos clientes, abrange diversas ideias
que promovem um estilo de vida mais saudável e sustentável. Os princípios fun-
damentais para essa nova trajetória incluem a busca por boa saúde, educação
contínua, conexões confiáveis para evitar o isolamento, vida social ativa, equilíbrio
mental, condições físicas que garantam autonomia, espiritualidade e harmonia
entre saúde física, emocional e financeira.

Nesse cenário de envelhecimento ativo, as aposentadorias serão adiadas e


as pessoas continuarão ativas, engajadas em novos trabalhos, empreendimentos,
atividades voluntárias, busca por oportunidades, autodescoberta e aprendizado
contínuo. Simplificar o modo de viver também será uma tendência, envolvendo
iniciativas como compartilhamento de espaços, como é o caso de comunidades e
condomínios que promovem a colaboração entre moradores (cohousing).

Uma reflexão essencial para essa nova fase de envelhecimento, tanto para
você quanto para seus clientes, envolve traçar a linha de vida pessoal e conside-
rar as aspirações para o futuro. Isso inclui identificar interesses, desejos, valores,
crenças e objetivos que orientarão essa etapa da vida.

As ferramentas indispensáveis para manter um estilo de vida mais sau-


dável e sustentável abrangem a manutenção de redes de contatos, atualização
constante, desenvolvimento de competências, prática da escuta ativa e abertura
para interações com as gerações mais jovens.
65
“Saiba Mais”

Nesta entrevista, Walter


Alves conversa com Denise
Mazzaferro sobre os efeitos da
longevidade na atualidade. Um bate-
papo descontraído e ao mesmo
tempo muito esclarecedor!

Fonte: Maturi. Os efeitos da longevidade na atualidade, 2019.

assista
Os Desafios e o Mercado da Longevidade

O envelhecimento da população acarreta mudanças econômicas


significativas, impactando tanto os sistemas de previdência social e serviços
de saúde, como também gerando oportunidades no mercado da longevidade.
Muitos indivíduos optam por continuar trabalhando devido à preferência por não
interromper sua atividade profissional, enquanto outros enfrentam a necessidade
de manter-se ativos por questões financeiras.

Muitos já consideram essa transição como uma “nova revolução industrial”,


sobretudo nos países mais desenvolvidos, em razão da capacidade financeira da
população madura. Em 2013, a França foi pioneira ao implementar uma política
governamental que integrou ministérios das áreas social e econômica para lidar
com o envelhecimento da população.

De 2014 a 2019, a União Europeia investiu cerca de 2 bilhões de euros em


pesquisas relacionadas à economia da longevidade, por meio do programa de
financiamento Horizon, principal projeto de pesquisa envolvendo os 28 países do
bloco.

Pela primeira vez na história, a humanidade enfrentará uma era prateada,


onde a velhice representará o período mais longo da vida. Isso torna esse mercado
amplo, trazendo consigo desafios e oportunidades. Importante ressaltar que o
impacto econômico será acentuado pela desigualdade social que caracteriza o
Brasil.

66
A organização mundial sem fins lucrativos Aging 2.0, fundada nos EUA em
2012, apoia inovadores no mercado da longevidade e construiu uma rede de apoio
para fomentar o empreendedorismo nesse segmento em expansão. A Aging 2.0
enfatiza que os desafios desse mercado incluem o engajamento, propósito, saúde
financeira, mobilidade, novas oportunidades de trabalho, o crescimento no mer-
cado de cuidadores e estratégias para prevenir fraudes financeiras, bem como
questões relacionadas à sucessão.

No contexto da empregabilidade, os planejadores financeiros podem esti-


mular discussões com seus clientes maduros sobre as vantagens da experiência
adquirida, autogestão e comprometimento. Esses indivíduos são mais bem pre-
parados pela vivência, possuem repertório diversificado e se destacam em:

• Meta Skills – habilidades de adaptação sob pressão, como improvisação;

• Soft Skills – habilidades comportamentais desenvolvidas ao longo da


vida, incluindo autoconhecimento.

É essencial que esses indivíduos mantenham-se atualizados em:

• Hard Skills – competências técnicas.

Empresas estão começando a se ajustar gradualmente à pirâmide etária


em suas contratações, buscando diversidade etária e valorizando a “inclusão ge-
racional”. Essa perspectiva mais estratégica em relação aos profissionais maduros
considera sua maior preparação em Soft Skills – habilidades comportamentais,
fundamentais e não treináveis. Esses profissionais também trazem consigo maior
preparo emocional, autoconhecimento, pensamento crítico, resiliência e habilida-
des interpessoais para negociação, empatia e adaptação.

“Assista”

A diretora e roteirista Nancy Meyers apresenta UM SENHOR


ESTAGIÁRIO, comédia estrelada por Robert De Niro e Anne Hathaway,
que traz muitas reflexões importantes e relevantes para o futuro e carreira
para os idosos.

67
Fonte: Youtube. Um Senhor
Estagiário. Trailer Oficial 1, 2015.

assista
BIBLIOGRAFIA:

ANTUNES, Arnaldo. Envelhecer, 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/


watch?v=HFgi79BbrxI Acesso em: 20 de jan. de 2022.

MASSAFERRO, Denise, BERNHOEFT, Renato, Longevidade: os Desafios e as


Oportunidades de Se Reinventar, Ed. Évora, 2016.

YOUTUBE. Os desafios no planejamento para a longevidade, 2021. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=0XUFrjG7qiE Acesso em: 07 de jan. de 2022.

SOUZA, Almir. Planejamento financeiro pessoal e gestão do patrimônio:


fundamentos e práticas, Ed Manole, 2ª edição, 2018.

OUTRAS PALAVRAS. Como o Brasil desperdiça seu bônus demográfico,


2020. Disponível em: https://outraspalavras.net/outrasmidias/como-o-brasil-
desperdica-seu-bonus-demografico/ Acesso em: 20 de jan. de 2022.

MATURI. Os efeitos da longevidade na atualidade, 2019. Disponível em: https://


www.maturi.com.br/tendencias-e-futuro/o-trabalho-no-futuro-episodio-1/
Acesso em: 20 de jan. de 2022.

YOUTUBE. Um Senhor Estagiário. Trailer Oficial 1, 2015. Disponível em: https://


www.youtube.com/watch?v=jHG8TaEBhKI Acesso em: 20 de jan. de 2022.
68

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