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A FRUGALIDADE NO CONTEXTO DA PANDEMIA DO COVID-19

Juliana Oliveira do Nascimento e Prof. Dr. Augusto Felippe Caramico dos Santos

Administração
FEA PUC-SP
e-mails: julianaoliveira335@gmail.com e afsantos@pucsp.br

Resumo: O presente trabalho teve por objetivo a análise acerca dos impactos da pandemia do COVID-19
na vida financeira dos brasileiros, relacionado a reservas de emergência e investimentos, níveis de
endividamento e também, as taxas de desemprego. Como forma de atribuir mais embasamento a pesquisa,
a análise abordará a forma como as heurísticas impactam no momento de tomada de decisão dos
investidores.

Palavras-chave: Finanças comportamentais. Finanças na pandemia. Comportamento do investidor.


COVID-19.

Classificação das áreas de conhecimento


Grande Área do Conhecimento: 6.00.00.00-7 Ciências Sociais Aplicadas – Sub - Área do Conhecimento:
6.02.00.00-6 Administração

Introdução
A nova cepa do vírus SARS-Cov2, trouxe um cenário caótico para o mundo e consequentemente para
o mercado financeiro. Essas mudanças fizeram com que fosse necessário repensar diversos fatores da
nossa vida como a questão do contato físico, a adaptação dos ambientes escolares para o meio remoto e
também, mais cautela com o quanto poupamos e com a forma com que investimos.
Os brasileiros têm acompanhado cada vez mais apreensivos os desdobramentos das diversas reformas
necessárias ao país para que a economia possa ter avanços significativos e alicerces estruturados para o
futuro da nação (SULAMERICA INVESTIMENTOS, 2020) e com o contexto da pandemia do COVID-
19 não foi diferente.
Ao falar sobre mercado financeiro, é inevitável entrar na pauta do quanto ainda é considerado um tabu
falar sobre dinheiro. Hoje o cenário mudou razoavelmente em decorrência dos influencers financeiros e
também, da democratização ao acesso. Contudo, ainda é uma questão carente na vida dos brasileiros, o
que acaba por contribuir nos altos índices de endividamento. Essas informações são reforçadas pela
Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor realizada em 2022, o Brasil atingiu uma
máxima histórica quando falamos de endividamento e estima se que 77,5% das famílias brasileiras estão
endividadas, tornando se assim o maior percentual em 12 anos.

Objetivos
Identificar se houve mudança nos hábitos de poupança e investimento dos brasileiros referente a
pandemia de COVID-19, considerando fatores como índices de desemprego e endividamento no Brasil.

Metodologia
O presente trabalho foi desenvolvido baseando-se em publicações, listadas nas referências finais, e em
coleta de dados para que se houvesse um resultado fidedigno. Foram realizadas reuniões semanais com o
orientador, com o objetivo de alinhar os objetivos e acompanhar os avanços da pesquisa. Na etapa inicial
do trabalho fez-se um levantamento, baseado nas referências sobre finanças comportamentais, sobre o
momento da economia do país diante das consequências da pandemia do COVID-19, hábitos de consumo
dos brasileiros e índices de endividamento.
O passo seguinte foi o de identificar o quão fiéis os estudos eram com relação ao momento atual da
vida financeira dos indivíduos. Dessa forma, foi desenvolvido um questionário eletrônico para coleta de
informações dos indivíduos de 18 a 61 anos, para que se fosse possível criar um paralelo entre a base
bibliográfica e os dados coletados por meio do formulário. Como método de pesquisa, a opção escolhida
foi a de pesquisa quali-quanti.

Resultados
As consequências da pandemia do COVID-19 foram inúmeras e não sabemos ao certo por quanto
tempo lidaremos com elas. Considerando toda a incerteza desse período, foi de extrema importância

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pensar na questão financeira. Um dos fatores mais preocupantes é a questão do desemprego no Brasil,
pois muitas empresas se viram forçadas a reduzir custos e com isso, houve o desligamento de muitos
funcionários ocasionando a maior alta do desemprego desde 2012, segundo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), totalizando uma taxa média anual de 13,8%.
De acordo com os dados coletados por meio do questionário que corroboram com as pesquisas
realizadas, pode ser concluir que a pandemia trouxe grandes impactos aos hábitos financeiros dos
brasileiros, sendo que das 40 respostas obtidas, 82,1% alegaram sofrer impactos na forma de investir
ocasionadas pela pandemia. 44,1% dos respondentes alegaram que começaram a poupar e investir mais
dinheiro. 11,8% se tornaram investidores moderados, quando há maior aversão ao risco e 29,4%
utilizaram a reserva de emergência que possuíam. Mesmo diante das mudanças causadas pelos impactos
da pandemia, apenas 47,5% possuem reserva de emergência, versus 52,5% que alegaram não possuir essa
reserva.
Um dos maiores responsáveis pelos altos índices de endividamento foi o cartão de crédito. Duas
perguntas relacionadas a este mostraram que 97,5% dos indivíduos possuem cartão e 41% realizaram
parcelamento de fatura, 30,8% realizaram pagamento mínimo e 23,1% realizaram o cancelamento dos
cartões que possuíam. 41% dos participantes alegaram não ter tido impactos relacionados ao pagamento
do cartão.
Relacionado á questão do desemprego, 39,5% dos respondentes alegaram terem mudado de emprego,
10,5% ficaram desempregados e não conseguiram se recolocar no mercado de trabalho e 28,9% ficaram
desempregados, mas conseguiram se recolocar profissionalmente. 7,9% se tornaram autônomos e optaram
por empreender.

Conclusões
A pandemia do COVID-19 trouxe consigo mudanças que ainda não conseguimos mensurar os
impactos e por quanto tempos eles durarão. Os brasileiros se viram com um cenário assustador e de
bastante incerteza referente ao futuro, o que os levou a adotar mudanças relacionadas a sua forma de
investir e poupar, considerando os fatores que ocasionam dificuldades relacionadas a esses hábitos. A
pandemia apenas escancarou um cenário alarmante de desigualdade.
Por meio da presente pesquisa, foi possível estabelecer uma conexão com a bibliografia e reforçar a
questão da defasagem da educação financeira, mesmo com a constante democratização desta por meio
dos youtubers e influencers do tema. Uma forma de amenizar os impactos para as próximas gerações seria
o de tornar a pauta em questão mais presente nas escolas e também, nas conversas familiares com o
objetivo de educar os brasileiros para evitar altos índices de endividamento e ir de encontro a estabilidade
financeira.

Agência de Fomento
Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pela
concessão de bolsa durante o período de desenvolvimento da pesquisa. Essa iniciativa é capaz de mudar
realidades e inclusive, o atual cenário no qual os estudantes ainda veem a pesquisa como algo distante de
suas vivências.
Estendo o agradecimento a minha faculdade, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC
SP, que indiretamente, por meio das aulas ministradas pelos professores contribuíram para minha
formação, para que esta servisse de base para realização deste trabalho.
Por último, mas não menos importante, agradeço ao meu professor orientador, Dr. Augusto Felippe
Caramico dos Santos por toda a paciência, dedicação e atenção dispensadas durante o período que a
pesquisa se deu.

Referências
[1] SulAmérica Investimentos. Cenário Econômico: 2020. Uma breve retrospectiva. Disponível em:
https://www.sulamericainvestimentos.com.br/cenario-economico-2020/. Acesso em: 4 março. 2022.
[2] AVILA, F.; BIANCHI, A. Guia de Economia Comportamental e Experimental. 2 ed. São Paulo:
Editora EC, 2019. EconomiaComportamental.org. Disponível em www.economiacomportamental.org.
Licença: Creative Commons Attribution CC-BY-NC – ND 4.0
[3] B3. B3 divulga estudo sobre os 2 milhões de investidores que entraram na bolsa entre 2019 e 2020. B3
Notícias Investidores. 14 dez. 2020. Disponível em:
http://www.b3.com.br/pt_br/noticias/investidores.htm. Acesso em: 3 mai. 2021.
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[5] KIYOSAKI, R. e LECHTER, S., Pai Rico, Pai Pobre, Alta Books, 5 de setembro de 2005.
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https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101670.pdf. Acesso em: 5 de março 2022.
[7] Como cada geração lida com o dinheiro? Como Investir. Anbima. 22 abr. 2019. Disponível em:
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[8] Análise PEIC/CNC – Maio de 2021. Disponível em: https://static.poder360.com.br/2021/05/analise-
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[9] KAHNEMAN, D.; TVERSKY, A. Prospect Theory: An Analysis of Decision under Risk.
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https://www.uzh.ch/cmsssl/suz/dam/jcr:00000000-64a0-5b1c-0000-00003b7ec704/10.05-kahneman-
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[10] Como o desempenho da economia do Brasil afeta suas finanças. 11/02/2021. Disponível em:
https://www.creditas.com/exponencial/como-o-desempenho-da-economia-afeta-suas-financas/ . Acesso
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[11] Desemprego recua na maioria dos estados na média anual para 2021. 24/02/2022. Disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/33034-
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[12] 72,4% dos brasileiros vivem em famílias com dificuldades para pagar as contas, 19/08/2021.
Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/
31401-72-4-dos-brasileiros-vivem-em-familias-com-dificuldades-para-pagar-as-contas. Acesso em 16 de
setembro de 2021.
[13] 43% dos idosos são os principais responsáveis pelo sustento da casa, revela pesquisa da CNDL/SPC
Brasil. Disponível em: https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas/pesquisa/5514 16/11/2018. Acesso em 01
de março de 2022.
[14] Mortes de idosos por COVID-19 deixa 5 milhões de adultos e crianças sem renda. Disponível em:
https://www.cut.org.br/noticias/mortes-de-idosos-por-covid-19-deixa-5-milhoes-de-adultos-e-criancas-
sem-renda-8dbd. 24/08/2020. Acesso em 01 de março de 2022.
[15] Auxílio Emergencial em tempos de pandemia. Disponível em
https://www.scielo.br/j/se/a/xJ7mwmL7hGx9dPDtthGYM3m/. Acesso em 23 de novembro de 2021.
[16] Famílias que dependiam de idosos mortos pela COVID precisam de auxílio. 25/02/2021. Disponível
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covid-precisam-de-auxilio,70003627337. Acesso em 01 de março de 2022.
[16] LIMA, Murillo. 2003, RAE-eletrônica, Volume 2, Número 1, jan-jun/2003 . Disponível em
https://www.scielo.br/j/raeel/a/4VRqLpgZyFScttVyJGzcB6b/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 05 de jun.
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[17] IBGE. O que é Desemprego? Disponível em https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php.
Acesso em 05 de jun. de 2022.
[18] VELOSO, Fernando. 2020. O cenário econômico pós-pandemia. Disponível em
https://blogdoibre.fgv.br/posts/o-cenario-economico-pos-pandemia. Acesso em 05 de jun, de 2022.
[19] Pandemia muda hábitos de poupança do brasileiro e estimula investimento em produtos financeiros.
Anbima. 27/07/2021. Disponível em: https://www.anbima.com.br/pt_br/noticias/pandemia-muda-habitos-
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[20] Mais brasileiros montaram reserva de emergência durante a pandemia. Weruska Goeking. Valor
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3
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