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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em
Finanças e Controladoria – 2022
Resumo
Introdução
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Finanças e Controladoria – 2022
O setor de serviços, o qual fazem parte os bancos, foi o mais impactado negativamente
(-4,5%), porém o subsetor atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados
apresentou surpreendente crescimento de 4% (IBGE, 2020). Essa pujança do subsetor
financeiro, no entanto, não se deu de maneira homogênea. Enquanto o mercado de capitais
se mostrou aquecido, quase dobrando a quantidade de pessoas físicas na bolsa (B3, 2020),
os maiores bancos apresentaram retração no lucro líquido, retorno sobre o patrimônio líquido
[ROE], entre outros indicadores de rentabilidade.
Apesar de ser um evento recente, na literatura já se encontram alguns estudos
recentes analisando o impacto da pandemia sobre o setor bancário sob diferentes
perspectivas. Elnahass et al. (2021) avaliaram a estabilidade do setor de maneira global
através da análise dos resultados trimestrais de 1090 bancos de 116 países. Os produtos de
seu estudo forneceram evidências empíricas que a pandemia teve impactos negativos tanto
sobre o desempenho financeiro quanto sobre a estabilidade do setor bancário como um todo.
No primeiro semestre de 2020 as médias do retorno sobre o ativo [ROA] e do retorno sobre o
patrimônio líquido [ROE] observados reduziram de 1,548% e 9,455% para 0,357% e 2,711%
respectivamente. Além da redução de eficiente, o autor também observou uma redução do
valor de capitalização de mercado das companhias refletidos pela redução do preço sobre
valor patrimonial das ações [P/VPA]. Elnahass et al. (2021) concluíram também que os
resultados foram consistentes para diversas regiões geográficas e para instituições de
diversos portes, tempo de existência e níveis de risco.
A crise também pressionou o caixa das instituições financeiras. Li et al. (2020) em seu
estudo observaram que em março de 2020 os bancos americanos sofreram um dos maiores
choques de liquidez já registrados, com muitas grandes empresas retirando fundos em escala
massiva. A maior parte da demanda por liquidez concentrou-se nos maiores bancos. No
entanto, ao contrário de 2008, as instituições foram mais capazes de atender a demanda
devido a uma maior robustez de capital pré-crise do que em 2008 e as injeções de capital do
Federal Reserve. No Brasil também houveram medidas de injeção de liquidez por parte da
autoridade monetária, como por exemplo a redução das taxas dos depósitos compulsórios
através da Circular nº 3.993 e da Resolução nº 21 do BCB (Ministério da Economia - Banco
Central do Brasil, 2020a, b).
Do ponto de vista social, as atividades normais das pessoas, dentre elas o atendimento
tradicional feito de maneira presencial em agências e correspondentes bancários, foram
impactadas pelas ações de isolamento e/ou quarentena para conter o avanço do vírus (Xavier,
2020). A intensidade dos efeitos das restrições na circulação de pessoas no Brasil puderam
ser evidenciados pelos mais diversos proxies, como queda do consumo de energia elétrica
(Mello Delgado et al., 2021), redução da poluição do ar (Dantas et al., 2020), etc.
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Material e Métodos
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valores publicados. Os resultados publicados pelas empresas foram obtidos através de seus
sites institucionais de relação com investidores.
O uso de indicadores econômico-financeiros é uma das técnicas mais utilizadas para
a análise de demonstrações financeira. O seu estudo permite ao administrador interno ou
analista externo realizar um estudo do desempenho de uma empresa em um determinado
período. Ao analisar os dados passados pode-se avaliar o impacto que eventos e decisões
tiveram sobre a empresa, bem como realizar diagnósticos e tirar conclusões. Os indicadores
também podem servir de embasamento para previsões do desempenho futuro da companhia
(Assaf Neto, 2014).
Na plataforma Economática® os indicadores foram segmentados em 4 grupos sendo
eles: indicadores de mercado, indicadores de estrutura de capital, indicadores de liquidez e
indicadores de rentabilidade. Neste estudo foram utilizados os indicadores de mercado, de
estrutura de capital e de rentabilidade. Os indicadores de liquidez não foram utilizados por
indisponibilidade de dados na plataforma Economática®. Essa indisponibilidade se deu por
causa de alterações nas regras do Banco Central para declaração dos balanços patrimoniais
dos bancos brasileiros. A partir de março de 2020 as contas começaram a ser informadas por
liquidez, não discriminando mais o ativo circulante ou realizável a longo prazo,
impossibilitando o cálculo de alguns indicadores.
Para os indicadores de mercado foram utilizados os valores referentes ao último dia
útil do ano. Para os indicadores que utilizam contas da demonstração de resultado do
exercício foram utilizados os valores referentes ao último trimestre do ano anualizados. Para
todos os indicadores foram utilizados os resultados consolidados quando disponíveis.
Os indicadores de mercado, também chamados de indicadores de análise de ações
levam em consideração o valor de mercado das ações de uma empresa. O valor que o
mercado atribui para a empresa é, entre outros fatores, reflexo do desempenho da companhia
e das perspectivas futuras da mesma. Este grupo de indicadores é muito utilizado por
analistas e acionistas (Assaf Neto, 2014). Os indicadores de mercado utilizados neste estudo
foram o índice preço/lucro (eq. (1)), preço/valor patrimonial (eq. (2)) e o valor de mercado da
companhia (eq. (3)).
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onde P/VP : é a razão preço valor patrimonial por ação; fonte: Economática® (2021).
onde VM: é o valor de mercado da empresa; para empresas com mais de uma classe de
ações a fórmula realiza o somatório do produto da quantidade de ações de determinada classe
e suas respectivas cotações; fonte: Economática® (2021).
Quanto aos indicadores de estrutura de capital, estes são empregados para avaliar a
composição de capital da empresa, ou seja, como ela é financiada (Assaf Neto, 2014). Neste
estudo foram utilizados a razão exigível total/ ativos totais (eq. (4)) e a razão exigível total/
patrimônio líquido (eq. (5)).
onde, AT: é o ativo total ; e PL: é o patrimônio líquido; fonte: Economática® (2021).
onde, AT: é o ativo total ; e PL: é o patrimônio líquido; fonte: Economática® (2021).
RBIF
Margem Bruta (%)= *100 (6)
RIF
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LL +PAM
Margem Líquida (%)= *100 (7)
RIF
onde, LL: é o lucro líquido ; PAM: é a participação dos acionistas minoritários; e RIF: é a
receita de intermediação financeira; fonte: Economática® (2021).
LL + PAM
ROA (%)= *100 (8)
AT
onde, ROA: é o ‘return on assets’ ; LL: é o lucro líquido; PAM: é a participação dos acionistas
minoritários; e AT: é o ativo total; fonte: Economática® (2021).
LL + PAM
ROE pat médio (%)= *100
(PLi +PAMi +PLf +PAMf ) (9)
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onde, ROE: é o ‘return on equity’ ; LL: é o lucro líquido; PAM: é a participação dos acionistas
minoritários; e PL: é o patrimônio líquido; i: refere-se ao período inicial; e f: refere-se ao
período final; fonte: Economática® (2021).
De posse de todos os indicadores, prosseguiu-se para a aplicação de métodos
estatísticos a fim de avaliar a significância das variações ocorridas entre os dados de 2019 e
2020. O ‘software’ utilizado para os cálculos foi o SPSS® versão 25. Primeiramente foi
realizada uma análise descritiva dos dados, onde foram calculados média, mediana, pontos
de mínimo, máximo e desvio padrão para cada indicador.
Após isto, a fim de determinar qual o teste mais adequado a ser utilizado, foi necessário
avaliar se as amostras apresentavam comportamento de distribuição normal ou não. Um teste
de Shapiro-Wilk com nível de significância [α] de 5% foi então aplicado sob as diferenças entre
os indicadores de 2019 e 2020 para avaliar a normalidade das distribuições.
Para os indicadores que apresentaram comportamento normal foi então aplicado um
teste t de Student para amostras pareadas. Para os que não apresentaram comportamento
de distribuição normal foi aplicado o teste de Wilcoxon. A hipótese testada foi que a pandemia
teve efeito sobre o resultado das empresas, impacto esse a ser avaliado através da variação
entre as médias de 2019 e de 2020. A hipótese nula, por sua vez, foi a de que a pandemia
não teve impacto estatístico relevante sobre os indicadores analisados. Os procedimentos
dos testes serão explicados em mais detalhes na seção Resultados e Discussão.
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Resultados e Discussão
Quanto a Margem Bruta (Tabela 2), no ano de 2019 a menor foi a do BB com 25,21%,
enquanto o Inter apresentou a maior com 54,56%. No ano de 2020 a margem mínima foi do
Itaú com 14,87% e a máxima novamente foi do Inter com 61,88%. Quanto a variação, 6
bancos apresentaram redução e 4 apresentaram aumento da Margem Bruta entre 2019 e
2020. No período a maior redução foi de 17,39 pontos percentuais do Santander e o maior
aumento foi de 11,89 do BNB.
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Quanto a Margem Líquida (Tabela 3), em 2019 o Bradesco apresentou a maior com
39,82%, enquanto o Pan teve a menor com 6,30%. Em 2020 novamente o Bradesco
apresentou a maior margem com 31,54%, enquanto o Inter apresentou a menor com 0,60%.
No período analisado, 9 bancos tiveram variação negativa e apenas 1, o Pan, apresentou
variação positiva. A variação positiva do Pan foi de apenas 0,53 pontos percentuais e este
partiu de uma margem pequena em 2019. Mesmo com crescimento, a margem de 6,83% do
Pan ainda foi a segunda menor margem observada em 2020. A maior variação negativa foi
do BTG com -11,09.
Quanto ao ROA (Tabela 4), o maior observado em 2019 foi do BNB com 2,96%,
enquanto o menor foi do Inter com 0,81%. Em 2020 novamente o menor foi o do Inter com
0,03% e o maior foi do Pan com 1,70%. No período analisado, 9 bancos tiveram variação
negativa e apenas 1, o Pan, apresentou variação positiva com um aumento de 0,13. A maior
variação negativa foi do BNB com -1,31.
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Quanto ao ROE pat. médio, em 2019 o maior foi do BNB com 36,15%, enquanto o
menor foi o do Inter com 5,18%. Em 2020, o menor ROE foi do Inter com o 0,20% e o maior
do Santander com 17,95%. No período analisado, 9 bancos apresentaram variação negativa
e apenas 1, o Pan, apresentou variação positiva de 1,36 pontos percentuais. A maior variação
negativa foi do BNB com -18,57.
Ao analisar os indicadores de rentabilidade em conjunto observou-se que, com
exceção da Margem Bruta, que apresentou resultados mistos, o restante apontou uma clara
redução da lucratividade dos bancos em 2020 em relação a 2019. Os dados de ROA, ROE
demonstraram que a rentabilidade em relação aos ativos e ao patrimônio líquido sofreu
redução frente aos valores do ano anterior. A única exceção, o Pan, havia apresentado
resultados modestos no quarto trimestre de 2019, dentre outros motivos em função de
provisões para crédito de liquidação [PCLD] extraordinárias realizadas no período.
Apesar de apontaram para uma mesma direção, os dados mostraram que a
intensidade das reduções de rentabilidade se deu de maneira diferente entre os bancos.
Como diferentes espécies de um mesmo gênero, as instituições bancárias possuem muitas
semelhanças, mas também algumas diferenças entre si. No grupo estudado há bancos com
diferentes perfis de composição de carteira de crédito, alguns como o Banrisul com carteiras
mais conservadoras concentradas em crédito consignado e outras com perfil mais arrojado
com o Itaú. Também há diferentes tipos de estrutura física, alguns bancos como Bradesco,
BB, Santander e Itaú com milhares de agências, outros como o BMG com poucas agências
próprias, mas com forte presença física sob a forma de correspondentes e outros como o Inter
com enfoque totalmente digital. Há também diferenças quanto a maturidade do negócio,
alguns bancos já consolidados e outros em fase de crescimento.
As diferenças na estrutura do modelo de negócios combinados com decisões
operacionais ajudam a explicar o motivo do impacto não ter se dado de forma uniforme em
todos os bancos. Pode-se citar a quantificação do nível adequado de PCLD. O Bradesco, por
exemplo, com um aumento modesto de PCLD acabou registrando um dos maiores lucros
contábeis. Alguns outros temas recorrentemente citados nas publicações dos resultados que
podem ter contribuído em maior ou menor grau para a redução da rentabilidade foram,
aumento da inadimplência, despesas com equipamentos para trabalho remoto, fechamento
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temporário de agências, etc. Por outro os relatórios também apontaram mudanças positivas
causadas pela pandemia, como o aumento do número de usuários e transações por meio dos
canais digitais.
Quanto as margens, dentre as possíveis explicações para o diferente comportamento
entre a Margem Bruta e a Margem Líquida, pode-se citar o aumento da tributação causado
por alterações na legislação e variações de outras receitas e despesas operacionais não
englobadas no resultado bruto da intermediação financeira, denominador da fórmula
empregada para a margem bruta. Estas variações afetam o lucro líquido, e por consequência
a margem líquida, porém não afetam a margem bruta.
No tocante a tributação, a mudança se deu pela Emenda Constitucional nº 103 de
2019 (Brasil, 2019), que em seu artigo 32 majorou em 5 pontos percentuais a alíquota de
CSLL, devida pelas instituições financeiras, indo de 15 para 20%. Essa mudança, no entanto,
não foi acarretada pela pandemia, uma vez que a Emenda Constitucional foi publicada em
2019 antes mesmo do início dos casos de covid. O enfrentamento à covid posteriormente viria
a ser justificativa para um outro aumento de CSLL na Medida Provisória 1034/21 (Brasil 2021),
porém este seria posterior ao período analisado neste estudo.
A respeito dos indicadores de estrutura de capital, os resultados obtidos na plataforma
Economática® para os indicadores Exigível/Ativos e Exigível/PL são apresentados
respectivamente na Tabela 6 e Tabela 7. Quanto a razão Exigível/Ativos (Tabela 6), em 2019
a máxima observada foi do BB com 92,61%. As mínimas foram apresentadas pelo Inter com
78,04% e 83,07% para 2019 e 2020 respectivamente. A máxima para 2020 foi do Itaú com
93,01%. Com exceção do BNB que apresentou redução de 0,73 pontos percentuais, todos os
outros bancos apresentaram variação positiva no período analisado. A variação máxima
sendo do Inter com 5,03.
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Quanto a razão Exigível/PL (Tabela 7), em 2019 a máxima foi do BB com 1253,31%.
As mínimas de 2019 e 2020 foram do Inter com 355,45% e 490,83% respectivamente. Para
2020 a máxima foi do Itaú com 1330,26%. Com exceção do BNB que apresentou variação
negativa de 78,69 pontos percentuais, o restante dos bancos apresentou variação positiva,
sendo a máxima do BMG com 214,50%.
Diante dos resultados apresentados para os índices de estrutura de capital, verificou-
se que os níveis de endividamento dos bancos aumentaram de 2019 a 2020. O exigível
aumentou, tanto em relação aos ativos, quanto em relação ao patrimônio líquido das
instituições. Durante o período analisado, no contexto regulatório houveram diversas medidas
do Banco Central do Brasil e do Conselho Monetário Nacional que alteraram as exigências de
capital e a maneira como os bancos se financiam.
Uma das medidas do Banco Central do Brasil para diminuir os impactos do Covid-19
foi a redução temporária na alíquota dos depósitos compulsórios sobre recursos a prazo.
Visando dar maior liquidez para a economia a Circular nº 3.993, de 23 de março de 2020
reduziu as alíquotas de 25% para 17% (Ministério da Economia - Banco Central do Brasil,
2020a). Esta medida permitiu com que recursos que estavam parados nos depósitos
compulsórios fossem liberados para que as instituições pudessem emprega-los em crédito.
Além da alteração dos depósitos compulsórios outras duas importantes alterações
regulatórias que ocorreram em 2020 em função da pandemia foram a Resolução nº 4.785, de
23 de março de 2020 e Resolução nº 4.795, de 2 de abril de 2020 (Ministério da Economia -
Banco Central do Brasil, 2020c, d). A primeira foi responsável por para autorizar a captação
de Depósitos a Prazo com Garantia Especial [DPGE] sem cessão fiduciária em favor do Fundo
Garantidor de Créditos [FGC], e a segunda autorizou o BCB a conceder operações de
empréstimo por meio de Linha Temporária Especial de Liquidez para aquisição de Letra
Financeira com garantia em ativos financeiros ou valores mobiliários (LTEL-LFG). Ambas
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facilitaram a captação de recursos por parte das instituições financeiras, visando manter, ou
ampliar, a concessão de crédito.
A respeito dos indicadores de mercado, os resultados obtidos na plataforma
Economática® para os indicadores Valor de Mercado, P/L e P/VP são apresentados
respectivamente na Tabela 8, Tabela 9 e Tabela 10. Diferentemente dos anteriores, estes
levam em conta não apenas contas da DRE, mas também a cotação das ações conforme
descrito anteriormente nas fórmulas.
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descontados que seus pares privados, chegaram em alguns casos a atingir preço por ação
abaixo do valor patrimonial por ação (P/VP abaixo de 1).
Nas Tabela 11 e Tabela 12 são apresentados os sumários de estatísticas descritivas
dos indicadores anteriormente apresentados.
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com nível de confiança de 95%. Segundo Fávero e Belfiore (2017) esse teste é indicado para
quando se deseja verificar a diferença de médias extraídas de uma mesma população antes
e depois de um evento. Foram utilizadas as hipóteses nulas e alternativa descritas por Fávero
e Belfiore (2017) para um teste t bilateral:
H0: μd = 0, μd = μantes - μdepois
H1: μd ≠ 0
Ou seja, a hipótese nula estabelece que não houve diferença entre os indicadores de
2019 e os de 2020, a hipótese alternativa estabelece que houve diferença entre eles.
Os resultados das estatísticas dos testes e das correspondentes significância são
apresentados na Tabela 14. Uma vez que o nível confiança utilizado foi de 95%, a hipótese
nula foi rejeitada para os casos em que o nível de significância calculado foi inferior a 5%.
Este foi o caso para todos os indicadores com exceção da Margem Bruta, que apresentou
significância de 35,2%. A rejeição da hipótese para os indicadores Margem Líquida, ROA,
ROE pat. médio e Exigível/PL implica em dizer que as diferenças observadas entre as médias
de 2019 e 2020 foram significativamente diferentes. Este resultado vem de encontro ao
comportamento observado anteriormente, onde as variações da margem bruta apresentaram-
se divididas entre positivas e negativas enquanto as variações dos outros indicadores
apresentaram resultados quase unanimemente negativas.
Os resultados de significância para Margem Líquida, ROA e ROE pat. médio foram
respectivamente 0,001, 0,000 e 0,006. Todos apresentaram um α muito próximo de zero,
apontando para quase 100% confiança nas diferenças observadas. Estes resultados são
concordantes com os vistos anteriormente na estatística descritiva, onde foram observadas
reduções nos mínimos, máximos, médias e medianas para estes indicadores. Os bancos
analisados apresentaram uma redução inequívoca em sua capacidade de gerar retornos
financeiros positivos no período analisado.
Para os indicadores que não apresentaram normalidade em um ou ambos os anos,
Exigível/Ativos, P/L, P/VP e Valor de Mercado foi necessário aplicar um teste não paramétrico.
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Os testes não paramétricos, apesar de não serem tão robustos como os paramétricos, têm
como vantagens não depender de parâmetros populacionais e amostrais, não necessitar
distribuições normais e não serem afetados por valores extremos (Bruni, 2012).
Neste estudo foi utilizado um teste de Wilcoxon bicaudal para amostras emparelhadas
com nível de confiança de 95%. O teste de Wilcoxon é uma evolução mais poderosa do teste
de sinais e leva em consideração a magnitude e direção das diferenças (Bruni, 2012). Foram
utilizadas as hipóteses nulas e alternativa descritas por Bruni (2012) para um teste de
Wilcoxon bilateral:
H0: μd = 0
H1: μd ≠ 0
Onde a hipótese nula considera que não há diferença entre os grupos e a hipótese
alternativa considera que há diferença entre os grupos. Os resultados das estatísticas dos
testes e das correspondentes significância são apresentados na Tabela 15. Para todos os
indicadores de mercado (P/L, P/VP e Valor de Mercado) a hipótese nula não foi rejeitada,
implicando que a diferença observada entre 2019 e 2020 não foram significativamente
diferentes.
Por outro lado, o resultado do teste de Wilcoxon para a razão Exigível/Ativos, com uma
significância de 0,017, rejeitou a hipótese nula. Em conjunto com o resultado do teste t, que
também rejeitou a hipótese nula para Exigível/PL, indicam que as variações observadas para
a estrutura de capital entre 2019 e 2020 foram significativas. Estes resultados corroboram os
da estatística descritiva, onde foram observados aumentos para os valores mínimos,
máximos, médias e medianas de 2019 para 2020. Os bancos encerraram o ano de 2020 com
uma estrutura mais dependente de capital de terceiros do que em 2019 antes da pandemia.
Considerações Finais
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foram utilizados dados de 10 bancos com ações listadas na B3, para os quais foram
calculados os indicadores Margem Bruta, Margem Líquida, ROA, ROE pat. médio,
Exigível/Ativos, Exigível/PL, P/L, P/VP e Valor de Mercado. A significância estatística das
variações observadas entre 2019 e 2020 foram avaliadas através do uso de testes de Shapiro-
Wilk, testes t e testes de Wilcoxon.
O objetivo proposto no trabalho foi atingido. Através do uso de indicadores financeiros
e testes estatísticos foi possível avaliar de forma quantitativa o impacto da pandemia nos
resultados dos bancos brasileiros. Com exceção da Margem Bruta, todos os indicadores de
rentabilidade e estrutura de capital apresentaram reduções significativas no período
analisado. Por outro lado, os indicadores de valor de mercado não apresentaram variações
significativas. Conclui-se que os eventos de 2020 acarretaram em uma menor lucratividade e
um maior grau de alavancagem para as instituições bancárias.
Esta pesquisa teve como limitações o horizonte temporal avaliado e a quantidade de
instituições analisadas. Sugere-se para trabalhos futuros replicar o cálculo dos indicadores
para os anos subsequentes, uma vez que a pandemia se estendeu durante todo o ano de
2021 e parte de 2022. Avaliar mais empresas, inclusive as não listadas em bolsa como os
bancos cooperados, pode também trazer novas perspectivas sobre a questão.
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