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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em

Finanças e Controladoria – 2022

Resultados dos bancos brasileiros durante a pandemia de COVID-19

Eduardo Sganzerla Ferreira¹*; Lumila Souza Girioli Camargo2


1Banco do Brasil. Agente comercial. SAUN QD 5 LT B – Asa Norte; 70040-912 Brasília, DF, Brasil
2 Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz. Contadora. Mestre em Controladoria e Contabilidade. Doutora
em Administração. Rua Alexandre Herculano, 120, T6 - Bairro Vila Monteiro; 13418-445 Piracicaba, SP, Brasil
*autor correspondente: eduardo.sganzerla.ferreira@gmail.com

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Resultados dos bancos brasileiros durante a pandemia de COVID-19

Resumo

A pandemia de COVID-19 e seus desdobramentos causaram impactos negativos para


economia mundial. Diversos setores foram impactados negativamente, porém em diferentes
intensidades. O sistema financeiro, responsável por intermediar relações entre agentes
econômicos superavitários e agentes deficitários, e mais especificamente o setor bancário
também sofreram os impactos da crise. O objetivo deste trabalho foi analisar o impacto da
pandemia de COVID-19 sobre os resultados dos bancos brasileiros com ações listadas na
B3. Para isso foram utilizados indicadores financeiros de rentabilidade, de estrutura de capital
e de valor de mercado para as empresas amostradas para os anos de 2019 e 2020. Os
indicadores avaliados foram: Margem Bruta, Margem Líquida, ROA, ROE pat. médio,
Exigível/Ativo Total, Exigível/Patrimônio Líquido, Preço/Lucro, Preço/Valor Patrimonial e Valor
de Mercado. A coleta dos dados foi realizada através da Economática® e de relatórios
publicados pelas empresas em suas páginas de relação com investidor. Para avaliar a
significância estatística dos resultados obtidos foram realizados testes de hipótese utilizando
o ‘software’ SPSS®. Para os indicadores que apresentaram comportamento normal foram
utilizados testes t para amostras pareadas com 95% de confiança. Para os indicadores que
não mostraram normalidade foram utilizados testes de Wilcoxon. Observou-se que os eventos
de 2020 acarretaram em uma significativa redução na lucratividade e um maior grau de
alavancagem para as instituições bancárias. Os indicadores de valor de mercado, no entanto,
não apresentaram diferenças estatisticamente significativas.
Palavras-chave: indicadores; rentabilidade; estrutura de capital; valor de mercado.

Introdução

A pandemia global de COVID-19, fator marcante do ano de 2020, teve impactos


negativos relevantes, não apenas do ponto de vista humanitário, mas também sob o aspecto
econômico. Segundo o World Bank (2021), apesar de ter sido menos severa do que o
inicialmente estimado no início da pandemia, a retração sofrida pela economia global em 2020
foi de cerca de 4,3% em relação a 2019.
De maneira geral todos os países foram impactados negativamente pelos efeitos da
pandemia, porém alguns de maneira mais intensa que outros. As economias desenvolvidas
sofreram retração média de 5,4%, enquanto nas economias emergentes e em
desenvolvimento a retração foi um pouco menos severa, 2,6%. Dentro do grupo das
economias emergentes também houveram diferenças regionais. A região do leste asiático e
pacífico, puxada pela China, apresentou crescimento de 0,9%. A América Latina, por outro
lado, apresentou o pior resultado dentre todos, com retração estimada de 6,9% (World Bank,
2021).
O Brasil apresentou resultado próximo a média global. Apesar do desempenho positivo
do setor primário (+2,0%), o Produto Interno Bruto [PIB] brasileiro apresentou retração de
4,1% em relação ao ano anterior. Quanto ao PIB per capta, a retração foi ainda maior, 4,8%
em relação ao ano de 2019 (IBGE, 2020).

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O setor de serviços, o qual fazem parte os bancos, foi o mais impactado negativamente
(-4,5%), porém o subsetor atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados
apresentou surpreendente crescimento de 4% (IBGE, 2020). Essa pujança do subsetor
financeiro, no entanto, não se deu de maneira homogênea. Enquanto o mercado de capitais
se mostrou aquecido, quase dobrando a quantidade de pessoas físicas na bolsa (B3, 2020),
os maiores bancos apresentaram retração no lucro líquido, retorno sobre o patrimônio líquido
[ROE], entre outros indicadores de rentabilidade.
Apesar de ser um evento recente, na literatura já se encontram alguns estudos
recentes analisando o impacto da pandemia sobre o setor bancário sob diferentes
perspectivas. Elnahass et al. (2021) avaliaram a estabilidade do setor de maneira global
através da análise dos resultados trimestrais de 1090 bancos de 116 países. Os produtos de
seu estudo forneceram evidências empíricas que a pandemia teve impactos negativos tanto
sobre o desempenho financeiro quanto sobre a estabilidade do setor bancário como um todo.
No primeiro semestre de 2020 as médias do retorno sobre o ativo [ROA] e do retorno sobre o
patrimônio líquido [ROE] observados reduziram de 1,548% e 9,455% para 0,357% e 2,711%
respectivamente. Além da redução de eficiente, o autor também observou uma redução do
valor de capitalização de mercado das companhias refletidos pela redução do preço sobre
valor patrimonial das ações [P/VPA]. Elnahass et al. (2021) concluíram também que os
resultados foram consistentes para diversas regiões geográficas e para instituições de
diversos portes, tempo de existência e níveis de risco.
A crise também pressionou o caixa das instituições financeiras. Li et al. (2020) em seu
estudo observaram que em março de 2020 os bancos americanos sofreram um dos maiores
choques de liquidez já registrados, com muitas grandes empresas retirando fundos em escala
massiva. A maior parte da demanda por liquidez concentrou-se nos maiores bancos. No
entanto, ao contrário de 2008, as instituições foram mais capazes de atender a demanda
devido a uma maior robustez de capital pré-crise do que em 2008 e as injeções de capital do
Federal Reserve. No Brasil também houveram medidas de injeção de liquidez por parte da
autoridade monetária, como por exemplo a redução das taxas dos depósitos compulsórios
através da Circular nº 3.993 e da Resolução nº 21 do BCB (Ministério da Economia - Banco
Central do Brasil, 2020a, b).
Do ponto de vista social, as atividades normais das pessoas, dentre elas o atendimento
tradicional feito de maneira presencial em agências e correspondentes bancários, foram
impactadas pelas ações de isolamento e/ou quarentena para conter o avanço do vírus (Xavier,
2020). A intensidade dos efeitos das restrições na circulação de pessoas no Brasil puderam
ser evidenciados pelos mais diversos proxies, como queda do consumo de energia elétrica
(Mello Delgado et al., 2021), redução da poluição do ar (Dantas et al., 2020), etc.

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Os bancos vêm investindo mais em tecnologia e a digitalização dos serviços vem


ganhando cada vez mais espaço. Somente no ano de 2019 foram investidos mais de 8,6
bilhões de reais em software, hardware e telecomunicações, crescimento de 48% em relação
ao ano de 2018. Em 2019 os meios digitais já correspondiam a 86% das transações não
financeiras e 25% das transações financeiras em volume. A tendência de crescimento dos
meios digitais é notória, porém em 2019, apesar de seguir em declínio, o atendimento
presencial ainda correspondia a 38% das transações com movimentação financeira em
volume (Deloitte, 2020).
Diante do exposto acima, é possível constatar que a pandemia foi um evento de
grandes proporções econômicas e com impacto sobre a sociedade e a dinâmica dos serviços
bancários. O presente trabalho justifica-se pela necessidade de compreender melhor os reais
efeitos da pandemia sobre os bancos brasileiros.
O objetivo geral deste trabalho foi analisar qual impacto a pandemia de COVID-19 e
as subsequentes medidas de enfrentamento tiveram sobre os resultados dos bancos com
ações listadas na B3.

Material e Métodos

Quanto a classificação da pesquisa, segundo Raupp e Beuren (2003) as tipologias de


pesquisa aplicáveis à contabilidade podem ser agrupadas em três categorias: quanto aos
objetivos, quanto aos procedimentos e quanto à abordagem do problema. Em relação ao
objetivo, o presente trabalho classifica-se como uma pesquisa descritiva. De acordo com Gil
(1999), pesquisa descritiva é aquela que busca descrever as características de uma
determinada população ou evento. Neste estudo buscou-se descrever o comportamento de
uma determinada população, os bancos com ações listadas na B3, durante um evento, a
pandemia de COVID-19.
Quanto ao procedimento, foi realizada uma pesquisa documental. Diferentemente da
pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental utiliza-se de documentos e materiais que ainda
não receberam um tratamento analítico prévio (Beuren, 2003). Os documentos utilizados
foram neste estudo os resultados trimestrais e anuais publicados pelas companhias alvos do
estudo, bem como o histórico de cotação de suas respectivas ações na bolsa. Quanto a
abordagem do problema, foi utilizada uma tipologia quantitativa. Tipologia quantitativa é
aquela que faz uso de instrumentos estatísticos na coleta e no tratamento dos dados (Raupp
e Beuren, 2003). O processo de coleta dos dados e os métodos estatísticos empregados são
explicados em mais detalhes a seguir.

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A população alvo deste estudo foram as empresas listadas na bolsa e classificadas


pela própria B3 como pertencentes do segmento bancos, do subsetor intermediários
financeiros, setor financeiro. Desse grupo foram desconsideradas as empresas que
realizaram a abertura do capital na bolsa a partir de 2020, uma vez que não haveriam dados
para os indicadores de mercado das mesmas. Também foram desconsideradas as empresas
cujo valor de mercado era maior ou igual a R$ 5 bilhões.
Nos casos em que haviam duas ou mais ações referentes a uma empresa e uma
holding controladora da empresa foi dada preferência para a ação da empresa em si. Para o
cálculo dos indicadores de mercado das empresas que possuíam mais de uma classe de
ações foi dada preferência para as ações ordinárias. Nos casos em que a ação ordinária não
era negociada foi então utilizada a ação preferencial. Após a aplicação desses filtros restaram
10 empresas, sendo elas Itaú Unibanco holding S.A [Itau], Banco Bradesco S.A. [Bradesco],
Banco Santander (Brasil) S.A. [Santander], Banco do Brasil S.A. [BB], Banco BTG Pactual
S.A. [BTG], Banco Pan [Pan], Banco Inter S.A. [Inter], Banco do estado do Rio Grande do Sul
[Banrisul], Banco do Nordeste do Brasil S.A. [BNB] e Banco BMG S.A. [BMG]. Deste grupo, 7
são empresas privadas e 3 são controlados por entes públicos. As razões sociais, os
segmentos de listagem e o tipo de controlador de cada banco são listados na Tabela 1.

Tabela 1. Ticker utilizado, segmento de listagem e tipo de controlador


‘Ticker’ Segmento de
Razão social Controlador
utilizado listagem
Itaú Unibanco holding S.A. ITUB3 N1 Privado
Bco Bradesco S.A. BBDC3 N1 Privado
Bco Santander (Brasil) S.A. SANB3 Tradicional Privado
Bco Brasil S.A. BBAS3 Novo Mercado Público
Bco BTG Pactual S.A. BPAC3 N2 Privado
Bco Pan S.A. BPAN4 N1 Privado
Banco Inter S.A. BIDI3 N2 Privado
Bco estado do Rio Grande do Sul S.A. BRSR3 N1 Público
Bco Nordeste do Brasil S.A. BNBR3 Tradicional Público
Banco BMG S.A. BMG4 N1 Privado
Fonte: Dados originais de pesquisa

Quanto a coleta, os dados das empresas foram obtidos diretamente através de


consulta aos resultados publicados pelas mesmas em seus sites de relação com o investidor
e através da plataforma Economática®. Além de facilitar a coleta dos dados a plataforma
utilizada também calcula automaticamente uma série de indicadores econômico-financeiros
para as empresas avaliadas. Apesar dessa facilidade, os resultados publicados pelas
empresas também foram úteis pois fornecem interpretações e notas explicativas para os

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valores publicados. Os resultados publicados pelas empresas foram obtidos através de seus
sites institucionais de relação com investidores.
O uso de indicadores econômico-financeiros é uma das técnicas mais utilizadas para
a análise de demonstrações financeira. O seu estudo permite ao administrador interno ou
analista externo realizar um estudo do desempenho de uma empresa em um determinado
período. Ao analisar os dados passados pode-se avaliar o impacto que eventos e decisões
tiveram sobre a empresa, bem como realizar diagnósticos e tirar conclusões. Os indicadores
também podem servir de embasamento para previsões do desempenho futuro da companhia
(Assaf Neto, 2014).
Na plataforma Economática® os indicadores foram segmentados em 4 grupos sendo
eles: indicadores de mercado, indicadores de estrutura de capital, indicadores de liquidez e
indicadores de rentabilidade. Neste estudo foram utilizados os indicadores de mercado, de
estrutura de capital e de rentabilidade. Os indicadores de liquidez não foram utilizados por
indisponibilidade de dados na plataforma Economática®. Essa indisponibilidade se deu por
causa de alterações nas regras do Banco Central para declaração dos balanços patrimoniais
dos bancos brasileiros. A partir de março de 2020 as contas começaram a ser informadas por
liquidez, não discriminando mais o ativo circulante ou realizável a longo prazo,
impossibilitando o cálculo de alguns indicadores.
Para os indicadores de mercado foram utilizados os valores referentes ao último dia
útil do ano. Para os indicadores que utilizam contas da demonstração de resultado do
exercício foram utilizados os valores referentes ao último trimestre do ano anualizados. Para
todos os indicadores foram utilizados os resultados consolidados quando disponíveis.
Os indicadores de mercado, também chamados de indicadores de análise de ações
levam em consideração o valor de mercado das ações de uma empresa. O valor que o
mercado atribui para a empresa é, entre outros fatores, reflexo do desempenho da companhia
e das perspectivas futuras da mesma. Este grupo de indicadores é muito utilizado por
analistas e acionistas (Assaf Neto, 2014). Os indicadores de mercado utilizados neste estudo
foram o índice preço/lucro (eq. (1)), preço/valor patrimonial (eq. (2)) e o valor de mercado da
companhia (eq. (3)).

P Cotação não ajustada para proventos


= (1)
L Lucro líquido (por ação)
onde P/L : é a razão preço lucro por ação; fonte: Economática® (2021).

P Cotação não ajustada para proventos


= (2)
VP Patrimônio líquido (por ação)

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onde P/VP : é a razão preço valor patrimonial por ação; fonte: Economática® (2021).

VM =Total de ações 'outstanding' *Cotação não ajustada por proventos (3)

onde VM: é o valor de mercado da empresa; para empresas com mais de uma classe de
ações a fórmula realiza o somatório do produto da quantidade de ações de determinada classe
e suas respectivas cotações; fonte: Economática® (2021).

Quanto aos indicadores de estrutura de capital, estes são empregados para avaliar a
composição de capital da empresa, ou seja, como ela é financiada (Assaf Neto, 2014). Neste
estudo foram utilizados a razão exigível total/ ativos totais (eq. (4)) e a razão exigível total/
patrimônio líquido (eq. (5)).

Exigível total AT – PL – Participação Acionistas minoritários


% = *100 (4)
Ativos totais AT

onde, AT: é o ativo total ; e PL: é o patrimônio líquido; fonte: Economática® (2021).

Exigível total AT – PL – Participação acionistas minoritários


% = *100 (5)
Patrimônio Líquido PL + participação acionistas minoritários

onde, AT: é o ativo total ; e PL: é o patrimônio líquido; fonte: Economática® (2021).

Quanto aos indicadores de rentabilidade, eles avaliam os resultados da empresa em


relação a parâmetros como ativo total, patrimônio líquido, entre outros, visando revelar a
dimensão dos resultados auferidos. Ao avaliar a dimensão do lucro líquido relativo a estes
parâmetros é possível interpretar se o resultado foi condizendo com o potencial econômico
da empresa (Assaf Neto, 2014). Neste estudo foram utilizados os seguintes indicadores
rentabilidade (eq. (8-12))

RBIF
Margem Bruta (%)= *100 (6)
RIF

onde, RBIF: é o resultado bruto da intermediação financeira; e RIF: é a receita da


intermediação financeira; fonte: Economática® (2021).

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LL +PAM
Margem Líquida (%)= *100 (7)
RIF

onde, LL: é o lucro líquido ; PAM: é a participação dos acionistas minoritários; e RIF: é a
receita de intermediação financeira; fonte: Economática® (2021).

LL + PAM
ROA (%)= *100 (8)
AT

onde, ROA: é o ‘return on assets’ ; LL: é o lucro líquido; PAM: é a participação dos acionistas
minoritários; e AT: é o ativo total; fonte: Economática® (2021).

LL + PAM
ROE pat médio (%)= *100
(PLi +PAMi +PLf +PAMf ) (9)
2

onde, ROE: é o ‘return on equity’ ; LL: é o lucro líquido; PAM: é a participação dos acionistas
minoritários; e PL: é o patrimônio líquido; i: refere-se ao período inicial; e f: refere-se ao
período final; fonte: Economática® (2021).
De posse de todos os indicadores, prosseguiu-se para a aplicação de métodos
estatísticos a fim de avaliar a significância das variações ocorridas entre os dados de 2019 e
2020. O ‘software’ utilizado para os cálculos foi o SPSS® versão 25. Primeiramente foi
realizada uma análise descritiva dos dados, onde foram calculados média, mediana, pontos
de mínimo, máximo e desvio padrão para cada indicador.
Após isto, a fim de determinar qual o teste mais adequado a ser utilizado, foi necessário
avaliar se as amostras apresentavam comportamento de distribuição normal ou não. Um teste
de Shapiro-Wilk com nível de significância [α] de 5% foi então aplicado sob as diferenças entre
os indicadores de 2019 e 2020 para avaliar a normalidade das distribuições.
Para os indicadores que apresentaram comportamento normal foi então aplicado um
teste t de Student para amostras pareadas. Para os que não apresentaram comportamento
de distribuição normal foi aplicado o teste de Wilcoxon. A hipótese testada foi que a pandemia
teve efeito sobre o resultado das empresas, impacto esse a ser avaliado através da variação
entre as médias de 2019 e de 2020. A hipótese nula, por sua vez, foi a de que a pandemia
não teve impacto estatístico relevante sobre os indicadores analisados. Os procedimentos
dos testes serão explicados em mais detalhes na seção Resultados e Discussão.

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Resultados e Discussão

Os resultados obtidos na plataforma Economática® para os indicadores Margem Bruta,


Margem Líquida, ROA e ROE pat. médio são apresentados respectivamente na Tabela 2,
Tabela 3 e Tabela 4. Estes indicadores permitem analisar a rentabilidade das empresas
através de diferentes óticas, em relação a receita, em relação aos ativos e em relação ao
patrimônio líquido.

Tabela 2. Margem Bruta (%) para os anos 2019 e 2020


Margem bruta (%)
Empresa
2019 2020 Δ
ITAÚ 32,26 14,87 -17,39
BRADESCO 39,82 31,54 -8,28
SANTANDER 37,44 19,49 -17,96
BB 25,21 24,34 -0,86
BTG 39,45 28,91 -10,54
PAN 53,76 61,86 8,10
INTER 54,56 57,77 3,21
BANRISUL 47,57 45,68 -1,88
BNB 45,68 57,57 11,89
BMG 52,09 54,22 2,13
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Quanto a Margem Bruta (Tabela 2), no ano de 2019 a menor foi a do BB com 25,21%,
enquanto o Inter apresentou a maior com 54,56%. No ano de 2020 a margem mínima foi do
Itaú com 14,87% e a máxima novamente foi do Inter com 61,88%. Quanto a variação, 6
bancos apresentaram redução e 4 apresentaram aumento da Margem Bruta entre 2019 e
2020. No período a maior redução foi de 17,39 pontos percentuais do Santander e o maior
aumento foi de 11,89 do BNB.

Tabela 3. Margem Líquida (%) para os anos 2019 e 2020


Margem Líquida (%)
Empresa
2019 2020 Δ
ITAÚ 18,21 12,15 -6,05
BRADESCO 39,82 31,54 -8,28
SANTANDER 17,61 12,48 -5,13
BB 17,06 16,77 -0,29
BTG 31,86 20,77 -11,09
PAN 6,30 6,83 0,53
INTER 9,59 0,60 -8,99
BANRISUL 14,77 8,84 -5,93
BNB 31,63 25,83 -5,81
BMG 10,38 7,84 -2,54
Fonte: Resultados originais de pesquisa

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Quanto a Margem Líquida (Tabela 3), em 2019 o Bradesco apresentou a maior com
39,82%, enquanto o Pan teve a menor com 6,30%. Em 2020 novamente o Bradesco
apresentou a maior margem com 31,54%, enquanto o Inter apresentou a menor com 0,60%.
No período analisado, 9 bancos tiveram variação negativa e apenas 1, o Pan, apresentou
variação positiva. A variação positiva do Pan foi de apenas 0,53 pontos percentuais e este
partiu de uma margem pequena em 2019. Mesmo com crescimento, a margem de 6,83% do
Pan ainda foi a segunda menor margem observada em 2020. A maior variação negativa foi
do BTG com -11,09.

Tabela 4. ROA (%) para os anos 2019 e 2020


ROA (%)
Empresa
2019 2020 Δ
ITAÚ 1,54 0,79 -0,76
BRADESCO 1,67 1,05 -0,62
SANTANDER 1,70 1,36 -0,34
BB 1,41 0,83 -0,58
BTG 2,35 1,59 -0,76
PAN 1,57 1,70 0,13
INTER 0,81 0,03 -0,79
BANRISUL 1,65 0,79 -0,86
BNB 2,96 1,65 -1,31
BMG 1,94 1,17 -0,78
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Quanto ao ROA (Tabela 4), o maior observado em 2019 foi do BNB com 2,96%,
enquanto o menor foi do Inter com 0,81%. Em 2020 novamente o menor foi o do Inter com
0,03% e o maior foi do Pan com 1,70%. No período analisado, 9 bancos tiveram variação
negativa e apenas 1, o Pan, apresentou variação positiva com um aumento de 0,13. A maior
variação negativa foi do BNB com -1,31.

Tabela 5. ROE pat. médio (%) para os anos 2019 e 2020


(continua)
ROE pat. médio (%)
Empresa
2019 2020 Δ
ITAÚ 18,71 11,47 -7,24
BRADESCO 17,75 12,01 -5,74
SANTANDER 21,00 17,95 -3,06
BB 19,58 12,12 -7,46
BTG 18,95 15,89 -3,06
PAN 11,44 12,80 1,36
INTER 5,18 0,20 -4,98
BANRISUL 17,85 9,02 -8,83

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Tabela 5. ROE pat. médio (%) para os anos 2019 e 2020


(conclusão)
ROE pat. médio (%)
Empresa
2019 2020 Δ
BNB 36,15 17,57 -18,57
BMG 11,02 8,07 -2,95
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Quanto ao ROE pat. médio, em 2019 o maior foi do BNB com 36,15%, enquanto o
menor foi o do Inter com 5,18%. Em 2020, o menor ROE foi do Inter com o 0,20% e o maior
do Santander com 17,95%. No período analisado, 9 bancos apresentaram variação negativa
e apenas 1, o Pan, apresentou variação positiva de 1,36 pontos percentuais. A maior variação
negativa foi do BNB com -18,57.
Ao analisar os indicadores de rentabilidade em conjunto observou-se que, com
exceção da Margem Bruta, que apresentou resultados mistos, o restante apontou uma clara
redução da lucratividade dos bancos em 2020 em relação a 2019. Os dados de ROA, ROE
demonstraram que a rentabilidade em relação aos ativos e ao patrimônio líquido sofreu
redução frente aos valores do ano anterior. A única exceção, o Pan, havia apresentado
resultados modestos no quarto trimestre de 2019, dentre outros motivos em função de
provisões para crédito de liquidação [PCLD] extraordinárias realizadas no período.
Apesar de apontaram para uma mesma direção, os dados mostraram que a
intensidade das reduções de rentabilidade se deu de maneira diferente entre os bancos.
Como diferentes espécies de um mesmo gênero, as instituições bancárias possuem muitas
semelhanças, mas também algumas diferenças entre si. No grupo estudado há bancos com
diferentes perfis de composição de carteira de crédito, alguns como o Banrisul com carteiras
mais conservadoras concentradas em crédito consignado e outras com perfil mais arrojado
com o Itaú. Também há diferentes tipos de estrutura física, alguns bancos como Bradesco,
BB, Santander e Itaú com milhares de agências, outros como o BMG com poucas agências
próprias, mas com forte presença física sob a forma de correspondentes e outros como o Inter
com enfoque totalmente digital. Há também diferenças quanto a maturidade do negócio,
alguns bancos já consolidados e outros em fase de crescimento.
As diferenças na estrutura do modelo de negócios combinados com decisões
operacionais ajudam a explicar o motivo do impacto não ter se dado de forma uniforme em
todos os bancos. Pode-se citar a quantificação do nível adequado de PCLD. O Bradesco, por
exemplo, com um aumento modesto de PCLD acabou registrando um dos maiores lucros
contábeis. Alguns outros temas recorrentemente citados nas publicações dos resultados que
podem ter contribuído em maior ou menor grau para a redução da rentabilidade foram,
aumento da inadimplência, despesas com equipamentos para trabalho remoto, fechamento

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temporário de agências, etc. Por outro os relatórios também apontaram mudanças positivas
causadas pela pandemia, como o aumento do número de usuários e transações por meio dos
canais digitais.
Quanto as margens, dentre as possíveis explicações para o diferente comportamento
entre a Margem Bruta e a Margem Líquida, pode-se citar o aumento da tributação causado
por alterações na legislação e variações de outras receitas e despesas operacionais não
englobadas no resultado bruto da intermediação financeira, denominador da fórmula
empregada para a margem bruta. Estas variações afetam o lucro líquido, e por consequência
a margem líquida, porém não afetam a margem bruta.
No tocante a tributação, a mudança se deu pela Emenda Constitucional nº 103 de
2019 (Brasil, 2019), que em seu artigo 32 majorou em 5 pontos percentuais a alíquota de
CSLL, devida pelas instituições financeiras, indo de 15 para 20%. Essa mudança, no entanto,
não foi acarretada pela pandemia, uma vez que a Emenda Constitucional foi publicada em
2019 antes mesmo do início dos casos de covid. O enfrentamento à covid posteriormente viria
a ser justificativa para um outro aumento de CSLL na Medida Provisória 1034/21 (Brasil 2021),
porém este seria posterior ao período analisado neste estudo.
A respeito dos indicadores de estrutura de capital, os resultados obtidos na plataforma
Economática® para os indicadores Exigível/Ativos e Exigível/PL são apresentados
respectivamente na Tabela 6 e Tabela 7. Quanto a razão Exigível/Ativos (Tabela 6), em 2019
a máxima observada foi do BB com 92,61%. As mínimas foram apresentadas pelo Inter com
78,04% e 83,07% para 2019 e 2020 respectivamente. A máxima para 2020 foi do Itaú com
93,01%. Com exceção do BNB que apresentou redução de 0,73 pontos percentuais, todos os
outros bancos apresentaram variação positiva no período analisado. A variação máxima
sendo do Inter com 5,03.

Tabela 6. Exigível/Ativos (%) para os anos 2019 e 2020


Exigível/Ativos (%)
Empresa
2019 2020 Δ
ITAÚ 91,78 93,01 1,22
BRADESCO 90,11 90,92 0,81
SANTANDER 91,67 92,01 0,34
BB 92,61 92,64 0,03
BTG 86,78 88,92 2,15
PAN 84,98 86,20 1,22
INTER 78,04 83,07 5,03
BANRISUL 90,44 90,91 0,47
BNB 90,74 90,02 -0,73
BMG 78,70 85,38 6,68
Fonte: Resultados originais de pesquisa

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em
Finanças e Controladoria – 2022

Tabela 7. Exigível/PL (%) para os anos 2019 e 2020


Exigível/PL (%)
Empresa
2019 2020 Δ
ITAÚ 1117,18 1330,26 213,09
BRADESCO 911,00 1001,40 90,40
SANTANDER 1099,89 1151,13 51,24
BB 1253,31 1259,11 5,79
BTG 656,18 802,92 146,73
PAN 565,79 624,48 58,69
INTER 355,45 490,83 135,38
BANRISUL 946,26 1000,17 53,91
BNB 980,27 901,59 -78,69
BMG 369,40 583,90 214,50
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Quanto a razão Exigível/PL (Tabela 7), em 2019 a máxima foi do BB com 1253,31%.
As mínimas de 2019 e 2020 foram do Inter com 355,45% e 490,83% respectivamente. Para
2020 a máxima foi do Itaú com 1330,26%. Com exceção do BNB que apresentou variação
negativa de 78,69 pontos percentuais, o restante dos bancos apresentou variação positiva,
sendo a máxima do BMG com 214,50%.
Diante dos resultados apresentados para os índices de estrutura de capital, verificou-
se que os níveis de endividamento dos bancos aumentaram de 2019 a 2020. O exigível
aumentou, tanto em relação aos ativos, quanto em relação ao patrimônio líquido das
instituições. Durante o período analisado, no contexto regulatório houveram diversas medidas
do Banco Central do Brasil e do Conselho Monetário Nacional que alteraram as exigências de
capital e a maneira como os bancos se financiam.
Uma das medidas do Banco Central do Brasil para diminuir os impactos do Covid-19
foi a redução temporária na alíquota dos depósitos compulsórios sobre recursos a prazo.
Visando dar maior liquidez para a economia a Circular nº 3.993, de 23 de março de 2020
reduziu as alíquotas de 25% para 17% (Ministério da Economia - Banco Central do Brasil,
2020a). Esta medida permitiu com que recursos que estavam parados nos depósitos
compulsórios fossem liberados para que as instituições pudessem emprega-los em crédito.
Além da alteração dos depósitos compulsórios outras duas importantes alterações
regulatórias que ocorreram em 2020 em função da pandemia foram a Resolução nº 4.785, de
23 de março de 2020 e Resolução nº 4.795, de 2 de abril de 2020 (Ministério da Economia -
Banco Central do Brasil, 2020c, d). A primeira foi responsável por para autorizar a captação
de Depósitos a Prazo com Garantia Especial [DPGE] sem cessão fiduciária em favor do Fundo
Garantidor de Créditos [FGC], e a segunda autorizou o BCB a conceder operações de
empréstimo por meio de Linha Temporária Especial de Liquidez para aquisição de Letra
Financeira com garantia em ativos financeiros ou valores mobiliários (LTEL-LFG). Ambas

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em
Finanças e Controladoria – 2022

facilitaram a captação de recursos por parte das instituições financeiras, visando manter, ou
ampliar, a concessão de crédito.
A respeito dos indicadores de mercado, os resultados obtidos na plataforma
Economática® para os indicadores Valor de Mercado, P/L e P/VP são apresentados
respectivamente na Tabela 8, Tabela 9 e Tabela 10. Diferentemente dos anteriores, estes
levam em conta não apenas contas da DRE, mas também a cotação das ações conforme
descrito anteriormente nas fórmulas.

Tabela 8. Valor de Mercado (MM R$) para os anos 2019 e 2020


Valor de Mercado (MM R$)
Empresa
2019 2020 Δ
ITAÚ 336277.12 290294.41 -45982.71
BRADESCO 282075.11 226778.47 -55296.64
SANTANDER 182954.26 168302.15 -14652.11
BB 150587.59 110705.78 -39881.82
BTG 90296.46 105092.86 14796.39
PAN 12103.14 11484.18 -618.96
INTER 10750.47 25056.67 14306.19
BANRISUL 9135.62 6176.02 -2959.60
BNB 8204.38 6564.20 -1640.19
BMG 5907.83 3662.51 -2245.33
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Quanto ao Valor de Mercado (Tabela 8), foram observadas 8 variações negativas e 2


positivas. Em meio a um cenário de maior percepção de risco por parte dos investidores,
apenas BTG e Inter apresentaram aumento no preço de suas ações.

Tabela 9. P/L para os anos 2019 e 2020


P/L
Empresa
2019 2020 Δ
ITAÚ 11.73 14.41 2.68
BRADESCO 12.12 12.92 0.80
SANTANDER 13.41 12.00 -1.41
BB 8.10 8.72 0.61
BTG 27.37 30.58 3.21
PAN 23.46 17.48 -5.98
INTER 117.85 -3317.00 -3434.85
BANRISUL 7.00 8.81 1.81
BNB 4.72 6.44 1.72
BMG 13.83 11.20 -2.63
Fonte: Resultados originais de pesquisa

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em
Finanças e Controladoria – 2022

O maior crescimento registrado foi do Inter, que apresentou valorização de 133,08%,


mais do que dobrando seu valor em relação a 2019. Um dos possíveis motivos para este
comportamento anômalo é que, por ser um banco digital e uma empresa de crescimento, o
mercado avaliou o seu valor de maneira diferente dos outros bancos tradicionais já
consolidados. O BTG de maneira análoga, com um crescimento de 16,39%, também difere
dos demais, com uma forte presença digital e atuação muito focada em investimentos.

Tabela 10. P/VP para os anos 2019 e 2020


P/VP
Empresa
2019 2020 Δ
ITAÚ 2.36 2.00 -0.37
BRADESCO 2.05 1.49 -0.56
SANTANDER 2.72 2.05 -0.68
BB 1.41 0.89 -0.52
BTG 4.89 4.64 -0.25
PAN 2.46 2.16 -0.30
INTER 4.77 7.60 2.83
BANRISUL 1.21 0.77 -0.44
BNB 1.51 1.06 -0.45
BMG 1.47 0.89 -0.58
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Os resultados das razões P/L (Tabela 9) e P/VP (Tabela 10) apresentaram


comportamentos distintos. Enquanto o primeiro apresentou 6 variações positivas e 4
negativas, o segundo apresentou comportamento mais homogêneo com 9 variações
negativas e apenas 1 positiva, do Inter. Ambos os indicadores utilizam o preço por ação no
denominador, o qual, como visto pelo Valor de Mercado, com exceção de Inter e BTG, reduziu-
se no período. O diferente comportamento pode ser explicado pelos denominadores.
Enquanto o lucro por ação diminuiu, acompanhando o movimento do preço por ação, os
valores patrimoniais se mostraram menos elásticos. Essa redução da lucratividade dos
bancos pode ser observada também nos indicadores de rentabilidade apresentados
anteriormente.
O Inter novamente se comportou de maneira diferente dos demais variando de um P/L
de 117,9 em 2019 para -3317,0 em 2020. A sua razão preço/lucro, que já era bem superior à
média do setor, foi para um valor ainda mais destoante dos demais. Durante o período,
enquanto os outros apresentaram redução do lucro e redução do preço por ação, o Inter
apresentou redução do lucro, o qual se converteu em prejuízo, e aumento do preço por ação.
O valor patrimonial, por outro lado, não foi tão afetado e combinado com a queda do
lucro por ação fez com que a maioria dos bancos fossem negociados abaixo da média
histórica de P/VP. Os bancos públicos, que em geral costumam apresentar preços mais

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em
Finanças e Controladoria – 2022

descontados que seus pares privados, chegaram em alguns casos a atingir preço por ação
abaixo do valor patrimonial por ação (P/VP abaixo de 1).
Nas Tabela 11 e Tabela 12 são apresentados os sumários de estatísticas descritivas
dos indicadores anteriormente apresentados.

Tabela 11. Estatística Descritiva 2019


Indicador Mínimo Máximo Média Mediana Desvio Padrão
Margem Bruta (%) 25,21 54,56 42,78 42,75 9,69
Margem Líquida (%) 6,30 39,82 19,72 17,34 11,06
ROA (%) 0,81 2,96 1,76 1,66 0,57
ROE pat, médio (%) 5,18 36,15 17,76 18,28 8,15
Exigível/Ativos (%) 78,04 92,61 87,59 90,28 5,39
Exigível/PL (%) 355,45 1253,31 825,47 928,63 318,74
P/L (%) 4,70 117,90 23,96 12,75 33,75
P/VP (%) 1,20 4,90 2,49 2,20 1,34
Valor de Mercado (MM R$) 5907,83 336277,12 108829,19 51199,80 124258,15
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Observou-se que para todos os indicadores de rentabilidade e de estrutura de capital


houve redução dos valores das médias e medianas de 2019 para 2020.

Tabela 12. Estatística Descritiva 2020


Indicador Mínimo Máximo Média Mediana Desvio Padrão
Margem Bruta (%) 14,87 61,86 39,62 38,61 17,72
Margem Líquida (%) 0,60 31,54 14,37 12,32 9,43
ROA (%) 0,03 1,70 1,09 1,11 0,51
ROE pat, médio (%) 0,20 17,95 11,71 12,06 5,22
Exigível/Ativos (%) 83,08 93,01 89,31 90,46 3,36
Exigível/PL (%) 490,83 1330,26 914,58 950,88 288,29
P/L (%) -3317,00 30,60 -319,45 11,60 1053,25
P/VP (%) 0,80 7,60 2,36 1,75 2,15
Valor de Mercado (MM R$) 3662,51 290294,41 95411,73 65074,77 103893,97
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Para saber se as diferenças observadas nos indicadores foram significativas ou não


foi necessário submeter os resultados a um teste de hipótese. Segundo Fávero e Belfiore
(2017) teste de hipótese é um procedimento utilizado a fim de avaliar a veracidade ou
falsidade de uma hipótese. De acordo com Bruni (2012), para realizar um teste de hipóteses
deve-se analisar a situação e a alegação estabelecida formulando-se duas hipóteses, a
hipótese nula (H0) e a hipótese alternativa (H1).
Para a escolha do teste de hipóteses adequado à aplicação, no entanto, primeiro se
fez necessário avaliar a normalidade da distribuição dos dados. Essa avaliação foi realizada

16
Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em
Finanças e Controladoria – 2022

utilizando um teste de Shapiro-Wilk bicaudal com nível de confiança de 95%. O teste de


Shapiro-Wilk é um teste de aderência, que busca comparar a distribuição de frequências
cumulativa observada com a distribuição normal. O teste Shapiro-Wilk é alternativa ao teste
de normalidade Kolmogorov-Smirnov para quando não se possui uma grande quantidade
amostral, uma vez que o último é indicado apenas para quando se possui ao menos 30
amostras (n>30) (Fávero e Belfiore, 2017)
Foram utilizadas as hipóteses nula e alternativa descritas por Fávero e Belfiore (2017):
H0: a amostra provém de uma população com distribuição N (μ,σ)
H1: a amostra não provém de uma população com distribuição N (μ,σ)
Os resultados das estatísticas dos testes e das correspondentes significância são
apresentados na Tabela 13. Uma vez que o nível confiança utilizado foi de 95%, a hipótese
nula foi rejeitada para os casos em que o nível de significância calculado foi inferior a 5%.
Este foi o caso de Exigível/Ativos (2019), P/L (2019), P/L (2020), P/VP (2019), P/VP (2020) e
Valor de Mercado 2019. Ou seja, estes indicadores não apresentam normalidade em suas
distribuições.

Tabela 13. Teste Shapiro-Wilk


Estatística do Significância
Indicador Decisão
teste (bicaudal)
Margem Bruta (2019) 0.947 0.628 Não rejeitar a hipótese nula
Margem Bruta (2020) 0.897 0.201 Não rejeitar a hipótese nula
Margem Líquida (2019) 0.904 0.243 Não rejeitar a hipótese nula
Margem Líquida (2020) 0.962 0.809 Não rejeitar a hipótese nula
ROA (2019) 0.917 0.330 Não rejeitar a hipótese nula
ROA (2020) 0.921 0.369 Não rejeitar a hipótese nula
ROE pat. médio (2019) 0.883 0.142 Não rejeitar a hipótese nula
ROE pat. médio (2020) 0.911 0.290 Não rejeitar a hipótese nula
Exigível/Ativos (2019) 0.815 0.022 Rejeitar a hipótese nula
Exigível/Ativos (2020) 0.907 0.263 Não rejeitar a hipótese nula
Exigível/PL (2019) 0.919 0.351 Não rejeitar a hipótese nula
Exigível/PL (2020) 0.954 0.721 Não rejeitar a hipótese nula
P/L (2019) 0.553 0.000 Rejeitar a hipótese nula
P/L (2020) 0.372 0.000 Rejeitar a hipótese nula
P/VP (2019) 0.814 0.022 Rejeitar a hipótese nula
P/VP (2020) 0.731 0.002 Rejeitar a hipótese nula
Valor de Mercado (2019) 0.818 0.024 Rejeitar a hipótese nula
Valor de Mercado (2020) 0.848 0.056 Não rejeitar a hipótese nula
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Para os indicadores que apresentaram normalidade em ambos os anos (Margem


Bruta, Margem Líquida, ROE pat. médio, ROA e Exigível/PL) foi possível aplicar um teste
paramétrico. O teste utilizado foi o teste t de Student bicaudal para amostras emparelhadas

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em
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com nível de confiança de 95%. Segundo Fávero e Belfiore (2017) esse teste é indicado para
quando se deseja verificar a diferença de médias extraídas de uma mesma população antes
e depois de um evento. Foram utilizadas as hipóteses nulas e alternativa descritas por Fávero
e Belfiore (2017) para um teste t bilateral:
H0: μd = 0, μd = μantes - μdepois
H1: μd ≠ 0
Ou seja, a hipótese nula estabelece que não houve diferença entre os indicadores de
2019 e os de 2020, a hipótese alternativa estabelece que houve diferença entre eles.
Os resultados das estatísticas dos testes e das correspondentes significância são
apresentados na Tabela 14. Uma vez que o nível confiança utilizado foi de 95%, a hipótese
nula foi rejeitada para os casos em que o nível de significância calculado foi inferior a 5%.
Este foi o caso para todos os indicadores com exceção da Margem Bruta, que apresentou
significância de 35,2%. A rejeição da hipótese para os indicadores Margem Líquida, ROA,
ROE pat. médio e Exigível/PL implica em dizer que as diferenças observadas entre as médias
de 2019 e 2020 foram significativamente diferentes. Este resultado vem de encontro ao
comportamento observado anteriormente, onde as variações da margem bruta apresentaram-
se divididas entre positivas e negativas enquanto as variações dos outros indicadores
apresentaram resultados quase unanimemente negativas.

Tabela 14. Teste t


Significância
Indicador t Decisão
(bicaudal)
Margem bruta 0,982 0,352 Não rejeitar a hipótese nula
Margem líquida 4,565 0,001 Rejeitar a hipótese nula
ROA 5,663 0,000 Rejeitar a hipótese nula
ROE pat. médio 3,620 0,006 Rejeitar a hipótese nula
Exigível/PL -3,081 0,013 Rejeitar a hipótese nula
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Os resultados de significância para Margem Líquida, ROA e ROE pat. médio foram
respectivamente 0,001, 0,000 e 0,006. Todos apresentaram um α muito próximo de zero,
apontando para quase 100% confiança nas diferenças observadas. Estes resultados são
concordantes com os vistos anteriormente na estatística descritiva, onde foram observadas
reduções nos mínimos, máximos, médias e medianas para estes indicadores. Os bancos
analisados apresentaram uma redução inequívoca em sua capacidade de gerar retornos
financeiros positivos no período analisado.
Para os indicadores que não apresentaram normalidade em um ou ambos os anos,
Exigível/Ativos, P/L, P/VP e Valor de Mercado foi necessário aplicar um teste não paramétrico.

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em
Finanças e Controladoria – 2022

Os testes não paramétricos, apesar de não serem tão robustos como os paramétricos, têm
como vantagens não depender de parâmetros populacionais e amostrais, não necessitar
distribuições normais e não serem afetados por valores extremos (Bruni, 2012).
Neste estudo foi utilizado um teste de Wilcoxon bicaudal para amostras emparelhadas
com nível de confiança de 95%. O teste de Wilcoxon é uma evolução mais poderosa do teste
de sinais e leva em consideração a magnitude e direção das diferenças (Bruni, 2012). Foram
utilizadas as hipóteses nulas e alternativa descritas por Bruni (2012) para um teste de
Wilcoxon bilateral:
H0: μd = 0
H1: μd ≠ 0
Onde a hipótese nula considera que não há diferença entre os grupos e a hipótese
alternativa considera que há diferença entre os grupos. Os resultados das estatísticas dos
testes e das correspondentes significância são apresentados na Tabela 15. Para todos os
indicadores de mercado (P/L, P/VP e Valor de Mercado) a hipótese nula não foi rejeitada,
implicando que a diferença observada entre 2019 e 2020 não foram significativamente
diferentes.

Tabela 15. Teste de Wilcoxon


Significância
Indicador Estatística do teste Decisão
(bicaudal)
Exigível/Ativos 2,395 0,017 Rejeitar a hipótese nula
P/L -0,051 0,959 Não rejeitar a hipótese nula
P/VP -1,791 0,073 Não rejeitar a hipótese nula
Valor de mercado -1,580 0,114 Não rejeitar a hipótese nula
Fonte: Resultados originais de pesquisa

Por outro lado, o resultado do teste de Wilcoxon para a razão Exigível/Ativos, com uma
significância de 0,017, rejeitou a hipótese nula. Em conjunto com o resultado do teste t, que
também rejeitou a hipótese nula para Exigível/PL, indicam que as variações observadas para
a estrutura de capital entre 2019 e 2020 foram significativas. Estes resultados corroboram os
da estatística descritiva, onde foram observados aumentos para os valores mínimos,
máximos, médias e medianas de 2019 para 2020. Os bancos encerraram o ano de 2020 com
uma estrutura mais dependente de capital de terceiros do que em 2019 antes da pandemia.

Considerações Finais

Este trabalho buscou analisar qual impacto a pandemia de COVID-19 e as


subsequentes medidas de enfrentamento tiveram sobre os resultados dos bancos. Para isto

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em
Finanças e Controladoria – 2022

foram utilizados dados de 10 bancos com ações listadas na B3, para os quais foram
calculados os indicadores Margem Bruta, Margem Líquida, ROA, ROE pat. médio,
Exigível/Ativos, Exigível/PL, P/L, P/VP e Valor de Mercado. A significância estatística das
variações observadas entre 2019 e 2020 foram avaliadas através do uso de testes de Shapiro-
Wilk, testes t e testes de Wilcoxon.
O objetivo proposto no trabalho foi atingido. Através do uso de indicadores financeiros
e testes estatísticos foi possível avaliar de forma quantitativa o impacto da pandemia nos
resultados dos bancos brasileiros. Com exceção da Margem Bruta, todos os indicadores de
rentabilidade e estrutura de capital apresentaram reduções significativas no período
analisado. Por outro lado, os indicadores de valor de mercado não apresentaram variações
significativas. Conclui-se que os eventos de 2020 acarretaram em uma menor lucratividade e
um maior grau de alavancagem para as instituições bancárias.
Esta pesquisa teve como limitações o horizonte temporal avaliado e a quantidade de
instituições analisadas. Sugere-se para trabalhos futuros replicar o cálculo dos indicadores
para os anos subsequentes, uma vez que a pandemia se estendeu durante todo o ano de
2021 e parte de 2022. Avaliar mais empresas, inclusive as não listadas em bolsa como os
bancos cooperados, pode também trazer novas perspectivas sobre a questão.

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