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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INTRODUÇÃO À ECONOMIA
NATALI BENVENUTI DE ABREU

ESTUDO DOS EFEITOS DA PANDEMIA NA ECONOMIA


BRASILEIRA E PERSPECTIVAS

Janeiro de 2022
PARTE A – DIAGNÓSTICO

1. Introdução

A pandemia de COVID-19 no Brasil teve seus primeiros casos confirmados em março


de 2020. Causou a morte de mais de 620 mil pessoas e infectou mais de 22, 5 milhões.
Seus impactos foram agressivos em todos os setores da sociedade, e deixou
consequências na economia brasileira. No início de 2021, houveram as primeiras
vacinações contra o vírus. Por um lado, houve um aumento da esperança nacional, e por
outro, um fortalecimento do conturbado movimento antivacina. Atualmente, cerca de
75,78% da população brasileira tomou a 1° dose da vacina. Algumas medidas de
isolamento social já foram flexibilizadas, e a abertura dos comércios retomada. Apesar
da “melhora” em relação ao ano anterior, o futuro econômico do Brasil ainda é incerto,
já que está sujeito às consequências de crises políticas e ao surgimento de novas variantes
do vírus, como é o caso da variante Ômicron, que desde de novembro de 2021 tem gerado
números elevados de contaminação.

Este trabalho tem por objetivo analisar, através dos indicadores econômicos e do
comportamento das cadeias produtivas brasileiras, os impactos da economia brasileira e
trazer perspectivas futuras de recuperação da mesma.

2. Indicadores da Economia

Indicadores econômicos são dados estatísticos que descrevem quantitativamente a


situação econômica de um país. A partir deles, é possível fazer projeções e estabelecer
planos de ação futuros. Alguns dos principais indicadores econômicos que serão
avaliados neste trabalho são: taxa de desemprego, exportações e importações, PIB e
inflação.

2.1 Taxa de Desemprego

Uma das maiores consequências da pandemia na economia brasileira foi o aumento


na taxa de desemprego. No primeiro trimestre de 2021, a taxa bateu o recorde de 14,7%,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, só foi
registrado aumento no número de ocupados dos setores públicos e familiar. Já o número
de empregados com carteira assinada, empregados sem carteira assinada, trabalhador
doméstico, empregador e trabalhadores por “conta própria” sofreu queda em relação ao
ano anterior. Cabe destacar também que somente o setor da agropecuária apresentou
aumento no número de ocupados, com 329 mil novos empregados. Já nos meses de junho,
julho e agosto de 2021, taxa de desemprego caiu para 13,2%, sendo que o número de
pessoas “por conta própria” o que mais cresceu dentre o número de ocupados. Apesar do
aumento no número de pessoas ocupadas, houve uma queda do rendimento médio real do
trabalhador fechado em R$2.489.

2.2 Exportações e Importações

No ano de 2020, as exportações caíram em 6,1% e as importações em 9,7% em relação


à 2019. No somatório, o Brasil teve um superávit de US$ 50,9 bilhões, valor maior que o
ano anterior. Isto significa que o saldo da balança comercial brasileira foi positivo, uma
vez que o total em exportação foi maior que o total gasto em importações. No final de
2021, o quadro de superávit manteve-se com um valor ainda maior que em 2020, de US$
61 bilhões.

2.3 Produto Interno Bruto (PIB)

O PIB, produto interno bruto, segundo o IBGE é a soma de todos os bens e serviços
finais produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente em um ano. É calculado na
moeda do país. A pandemia teve um impacto forte sobre o PIB. No ano de 2020, o PIB
teve uma queda de 4,1% em relação ao ano de 2019. Somente houve crescimento no setor
agropecuário. A indústria recuou 3,5% e setor de serviços, 4,5%. O consumo familiar
também caiu em 5.5%.

Já em 2021, no primeiro trimestre houve um avanço de 1,2% em relação ao trimestre


anterior. Contudo, no 2° trimestre, o PIB recuou em 0,1%. A Figura abaixo, elaborada
em 01/09/2021 pelo portal de notícias G1 e baseada nos dados do IBGE, mostra a
variação do PIB trimestral brasileiro desde 2017. Pela figura, é possível perceber que
recuperação econômica observada a partir do 2° trimestre de 2020, recuou no 2° trimestre
de 2021.
Figura 1: Variação Trimestral do PIB. (Fonte: g1. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/09/01/pib-do-brasil-recua-01percent-
no-2o-trimestre.ghtml)

O 2° trimestre de 2021 também foi marcado por uma queda de -2,8 % da


agropecuária, -0,2% na indústria e um crescimento de 0,7% no setor de serviços, enquanto
o consumo das famílias ficou estagnado.

2.4 Inflação

A inflação é o aumento dos preços de produtos e serviços. É calculada através dos


índices de preços, também chamados de índices de inflação. O IBGE produz dois índices
de preços, o IPCA e o INPC. Ambos medem a variação de preços de uma cesta de
produtos e serviços consumida pela população. Porém, o IPCA (considerado o oficial
pelo governo federal) engloba uma parcela maior da população. Ele aponta a variação do
custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 e 40 salários mínimos Já o INPC
verifica a variação do custo de vida médio apenas de famílias com renda mensal de 1 a 5
salários mínimos.
Em 2020, a inflação (IPCA) foi de 4,52%. Sendo o setor de alimentos e bebidas com
a maior alta de 14,09%, com destaque para o óleo de soja, arroz, carnes e frutas. Em junho
de 2021, a inflação acumulada foi de 8,99%. Os brasileiros sentiram fortemente no bolso
o aumento dos preços dos produtos. Algumas causas apontadas para o aumento foram:
alta do dólar, valorização global do petróleo e seca, que levou a uma quebra de safras no
campo e ao aumento dos preços de energia.

3. Cadeias Produtivas Brasileiras

Cadeias produtivas são um conjunto de operações que levam a produção de uma


determinada mercadoria. São também chamadas de cadeias de valor, pois a capacidade
de agregar valor numa dada mercadoria é bastante extensa. Dentre as principais cadeias
produtivas brasileiras encontra-se a agropecuária/agronegócio e commodities minerais,
ou seja, é notável que o setor primário é predominante.

Tomando-se como exemplo o setor agropecuário que compreende carne bovina, carne
de porco, óleo de soja, trigo, açúcar, milho, café, arroz, dentre outros, o Banco Central
calculou uma alta correspondente a 24,20% no período de pandemia compreendido entre
maio de 2020 e maio de 2021. Se considerarmos o agronegócio como um todo que
compreende produção dentro das fazendas, serviços, indústria e insumos, houve um
crescimento de 24,3% em 2020.

No período de maio/2020 – maio/2021, o setor de Metais teve um crescimento de


+3,93%, enquanto o setor de Energia de +2,16%. O segmento dos metais engloba:
alumínio, minério de ferro, cobre, estanho, zinco, chumbo e níquel. Já o segmento de
Energia inclui os preços de gás natural, carvão e petróleo.

4. Sistema de Saúde Brasileiro

O sistema de saúde brasileiro foi bastante afetado pela pandemia. No ano de 2020,
muitos estados vivenciaram situações de superlotação dos hospitais, falta de materiais e
equipamentos como respiradores. Além disso, muitos profissionais da área de saúde
morreram durante o enfrentamento da Covid-19, os que não se contaminaram passaram
por longas jornadas exaustivas de trabalho. A situação crítica do sistema de saúde não é
consequência somente de uma pandemia ocasionada por um vírus até então desconhecido,
mas também de falta de investimento na saúde, fraca fiscalização e falta de preparo
governamental para lidar em situações de crises.

Segundo o Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 Fiocruz do dia 16 de


março de 2021, 25 das 27 capitais brasileiras estavam com taxas de ocupação de leitos de
UTI Covid-19 para adultos iguais ou superiores a 80%, sendo 19 delas superiores a 90%.
Porto Velho (100%), Rio Branco (100%), Manaus (80%), Macapá (96%), Palmas (98%),
São Luís (87%), Teresina (98%), Fortaleza (94%), Natal (95%), João Pessoa (93%),
Recife (84%), Maceió (86%), Aracajú (90%), Salvador (87%), Belo Horizonte (93%),
Vitória (95%), Rio de Janeiro (90%), São Paulo (91%), Curitiba (98%), Florianópolis
(98%), Porto Alegre (103%), Campo Grande (88%), Cuiabá (100%), Goiânia (96%) e
Brasília (97%).

Com a vacinação, a taxa de ocupação dos leitos melhorou significativamente. No mês


de agosto, pela primeira vez em 2021, nenhum estado teve um percentual de leitos
ocupado maior que 80%. Contudo, no final de 2021 e início de 2022 a taxa de ocupação
dos leitos voltou a crescer devido a variante Ômicron que tem maior velocidade de
contaminação.
PARTE B – PERSPECTIVAS FUTURAS

5. Processo de Recuperação da Economia

O processo de recuperação da economia brasileira trata-se de uma retomada da


economia ao patamar registrado antes da pandemia de Covid-19. Em 2021, a recuperação
da economia mostrou-se como uma curva em V. A recuperação em V acontece quando
acontece um declínio repentino na economia, com uma rápida mudança no cenário.
Contudo, após essa queda, a recuperação ocorre uma alta na mesma intensidade.

Essa curva em V pode ser observada no PIB, uma vez que após uma queda brusca no
PIB, houve também um crescimento acentuado entre o 3º trimestre de 2020 e o 1°
trimestre de 2021.

Em setembro de 2021, o Banco Central (BC) estimou um crescimento da economia


brasileira em 4,7% para o ano de 2021, e uma projeção menor para 2022. Segundo o BC,
os indicadores econômicos sugerem um crescimento da atividade doméstica importante
na recuperação da economia. Ademais, de acordo com o BC as perspectivas para
agropecuária e indústria extrativa, em ambiente de preços internacionais de commodities
ainda elevados, também são positivas. Entretanto, deve-se destacar que existem fatores
que limitam o ritmo da recuperação no segundo semestre de 2021, e no ano de 2022.
Dentre eles: falta de insumos e produtos, o que afeta negativamente a atividade/consumo
e alta dos juros.

6. Processo de integração do Brasil as economias mundiais

Em 2020, o Brasil ficou na décima segunda posição no ranking das maiores


economias do mundo, de acordo com o levantamento da Austin Rating. A projeção para
2021, era que o país caísse uma posição. A economia brasileira ainda é muito dependente
de investimentos externos. A instabilidade econômica e a elevada restrição fiscal, são
alguns dos fatores que dificultam investimentos internos, e consequentemente atrapalham
a competitividade do mercado frente a países mais desenvolvidos.

O Brasil na economia mundial, destaca-se pela elevada exportação de commodities


(setor primário). Recentemente, houve uma alta da exportação, e dos preços de
commodities no mercado mundial, o que beneficiou no crescimento do país para
amortizar as perdas recorrentes da pandemia.

7. Processo de recuperação do emprego e da diminuição do gap de renda na


população

Apesar da melhora em alguns indicadores econômicos, a situação econômica


brasileira é preocupante, sobretudo no que diz respeito ao desemprego e inflação. A taxa
de desemprego no trimestre julho/agosto/ setembro de 2021 foi de 12,6%. Apesar de ser
menor que os trimestres anteriores pandêmicos a taxa ainda é elevada. É importante
pontuar que mesmo com a queda do desemprego, o rendimento real dos brasileiros
diminuiu. O rendimento médio real habitual do trabalhador (descontada a inflação) foi de
em R$ 2.459, 4% menor em relação ao trimestre anterior. O número de trabalhadores,
subocupados, informais e por conta própria aumentou significativamente. Porém, o poder
de consumou diminui muito. A população economicamente mais vulnerável foi a parcela
que mais sofreu com o desemprego, aumento dos preços dos alimentos, do gás de cozinha
e das contas de energia elétrica. Portanto, nesse contexto, auxílios governamentais, como
o auxílio emergencial tornaram-se de fundamental importância para minimizar os
impactos da pandemia, embora ainda não sejam suficientes.
Referências Bibliográficas

CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Disponível em:


https://www.cnabrasil.org.br
IBGE – Instituto Brasileiro De Geografia e Estatística. Disponível em: https://pim-
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IPEA - INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Disponível em:


https://www.ipea.gov.br
GOVERNO FEDERAL. Disponível em: gov.br

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1o-trimestre-diz-ibge.ghtml

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ainda atinge 13,7 milhões, aponta IBGE. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/10/27/desemprego-fica-em-132percent-
em-agosto-aponta-ibge.ghtml

LIS, Laís; Balança comercial fecha 2020 com superávit de US$ 50,9 bilhões, maior
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https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/01/04/balanca-comercial-fecha-2020-com-
superavit-de-us-509-bilhoes.ghtml

SANT'ANA, Jéssica; RACANICCI, Jamile; Balança comercial fecha 2021 com


superávit de US$ 61 bilhões, diz Ministério da Economia Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/10/27/desemprego-fica-em-132percent-
em-agosto-aponta-ibge.ghtml

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Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/03/03/pib-do-brasil-
despenca-41percent-em-2020.ghtml
ALVARENGA, Darlan; SILVEIRA, Daniel. PIB do Brasil recua 0,1% no 2º trimestre,
e recuperação perde fôlego Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/09/01/pib-do-brasil-recua-01percent-no-
2o-trimestre.ghtml
ALVARENGA, Darlan; SILVEIRA, Daniel. IPCA: inflação oficial fecha 2020 em
4,52%, maior alta desde 2016 Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/01/12/ipca-inflacao-oficial-fecha-2020-em-
452percent.ghtml

BASILIO, Patrícia; O retorno da inflação em 2021: veja como a alta de preços afetou
a economia e o bolso dos brasileiros Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/12/23/o-retorno-da-inflacao-em-2021-veja-
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PEDROSO, Maria Thereza, A epidemia do coronavírus e as cadeias produtivas de


hortaliças. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-
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Índice de Commodities do Banco Central sobe 1,10% em maio ante abril; 2021.
Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/indice-de-commodities-do-banco-
central-sobe-110-em-maio-ante-abril/

Agronegócio cresce 24,3% em 2020 e responde por mais de um quarto do PIB do


Brasil, diz CNA, Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2021/03/11/agronegocio-cresce-
243percent-em-2020-e-responde-por-mais-de-um-quarto-do-pib-do-brasil-diz-cna-
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Boletim Observatório Covid-19. Disponível em:


https://agencia.fiocruz.br/sites/agencia.fiocruz.br/files/u34/boletim_extraordinario_2021
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LISBOA, Vinícius; Ocupação de leitos de UTI covid-19 não passa de 80% em


nenhum estado; 2021. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-08/ocupacao-de-leitos-de-uti-covid-
19-nao-passa-de-80-em-nenhum-estado

MARTELLO, Alexandro; BC sobe para 4,7% estimativa de alta do PIB em 2021 e


prevê desaceleração no próximo ano Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/09/30/bc-sobe-para-47percent-estimativa-
de-alta-do-pib-em-2021-e-preve-desaceleracao-no-proximo-ano.ghtml

ALVARENGA, Darlan; SILVEIRA, Daniel. Desemprego cai para 12,6% no 3º


trimestre, mas ainda atinge 13,5 milhões, aponta IBGE. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/11/30/desemprego-fica-em-126percent-no-
3o-trimestre-aponta-ibge.ghtml

ROCHA, Flávio. PIB em V, e com espaço para crescer. 2021. Disponível em


https://forbes.com.br/colunas/2021/07/flavio-rocha-pib-em-v-e-com-espaco-para-
crescer/

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