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Impacto da pandemia no mercado de ações do brasil

Impactos na bolsa de valores global e brasileira na pandemia

Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou


que o novo Coronavírus (COVID-19) era uma Emergência de Saúde Pública de
Importância Internacional. Pouco tempo depois, em 11 de março, a OMS oficialmente
declarou que a COVID-19 estava classificada como uma pandemia (OPAS, 2020). A
crise sanitária provocada pela pandemia se iniciou com notícias de um problema
sanitário iniciado em dezembro de 2019, em Wuhan, capital da província Hubei na
China, acarretado por um vírus identificado como SARS-CoV-2, que rapidamente se
alastrou por mais de 180 países ocasionando uma alta mortalidade e incertezas nas
economias nacionais (SALLES, 2021).
Desde então, a economia mundial tem sido significativamente afetada pela
pandemia de Covid-19. No contexto do equilíbrio entre a gestão da crise sanitária e a
mitigação dos seus efeitos econômicos observou-se uma forte queda da atividade
econômica, sem paralelo histórico nas últimas décadas. As medidas adotadas para a
combater a pandemia, provocaram, quer o encerramento (ainda que temporário) de
unidades de negócio consideradas não essenciais, quer a restrição da mobilidade dos
cidadãos, resultando numa queda acentuada da atividade econômica, com repercussões
significativas a nível global (MELLO et al., 2020).
Inicialmente, houve a parada repentina de indústrias que foram obrigadas a
parar, atendendo às orientações de isolamento social, o que elevou para 20% o nível de
ociosidade do setor (FIA, 2020). Segundo Faria (2020) os setores da economia mais
atingidos no primeiro momento foram o transporte e aviação, devido à restrição nas
fronteiras. Com as medidas de isolamento social, ou contenção da interação humana
para diminuição do contágio da doença, os setores que sentiram mais os efeitos da crise
foram o de comércio e o de serviços.
A desaceleração da economia mundial ocasionada por sucessivos impactos
negativos reais com a redução dos fluxos produtivos, de comércio internacional e de
consumo tornaram-se reais com as medidas de isolamento social levando a incertezas no
mercado financeiro, notadamente o mercado de ações, títulos e commodities. Deve-se
destacar que o investimento e financiamento da produção nas economias
acontece por intermédio do mercado financeiro, em particular, do mercado de capitais.
Assim, os projetos produtivos que propiciam a infraestrutura necessária para o
desenvolvimento das economias e manutenção de empregos e do crescimento da renda
têm no mercado de capitais a fonte de recursos para investimentos e financiamentos. Por
isso, dentre os importantes indicadores avançados da economia está a performance do
mercado de capitais (SALLES, 2021).
A bolsa de valores é uma peça importante do mercado de capitais onde se
negociam ações de sociedades de capital aberto e outros títulos de valores mobiliários
(MARCA; ANTUNES, 2017). O Índice Bovespa é o mais importante indicador do
desempenho médio das cotações das ações negociadas na B3 - Brasil, Bolsa, Balcão.
Para se ter um indicador que represente de forma fiel e eficiente o comportamento do
mercado, foi criado o Ibovespa. Trata-se da formação de uma suposta carteira de
investimentos que, ao final de 2008, era composta de 66 ações retratando a
movimentação dos principais papéis negociados na B3, representando não só o
comportamento médio dos preços, mas também o perfil das negociações - do mercado à
vista - observadas nos pregões (SENHORAS, 2021).
Na primeira semana de março de 2020, a Bolsa de Valores de São Paulo parou 4
(quatro) vezes em 4 (quatro) dias consecutivos (LATIF, 2020). A partir da metade do
mês de março de 2020, os Bancos Centrais tiveram que tomar muitas iniciativas para
não derrubar o mercado financeiro, o que aliviou um pouco as quedas bruscas das
bolsas mundiais. Mesmo assim, o mercado brasileiro teve o pior fechamento, em mais
de 20 anos, com uma queda mensal acumulada de 29,9% e de 36,86% no trimestre
(ARAÚJO; SANTOS, 2020).
O cenário preocupante da Covid-19 gerou uma crise sistêmica no mercado de
ações, expandindo-se pelas Bolsas de Valores no mundo todo, causando baixas
generalizadas em proporções preocupantes. Os mercados acionários também foram
afetados e entraram em colapso em março de 2020, sendo que grande parte dos índices
de ações no mundo registrou recorde na queda de apenas um dia. A Ibovespa, em
fevereiro de 2020, viu seu índice chegar a 60 (sessenta) mil pontos, metade do que foi
observado em todo mês de janeiro do mesmo ano. O Índice Dow Jones (DJIA) registrou
a pior queda de todos os tempos em um dia (2.977 pontos em 16 de março de 2020). E
várias companhias bem-sucedidas viram seus valores de ações caírem mais de 80% em
poucos dias. As bolsas alemãs caíram -33%, do Reino Unido -37%, da Polônia -38% e
do Brasil caiu 48% (FERNANDES, 2020). Os mercados asiáticos caíram
acentuadamente e o índice S&P 500 caiu 7,60%, enquanto o mercado italiano caiu
11,17% (2.323,98 pontos).
Também no mês de março de 2020 foi realizado um corte expressivo na taxa
básica de juros do Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos), o que
chamou atenção de economistas do mundo todo, alertando que a crise seria ainda mais
longa e grave. Além dos Estados Unidos da América (EUA), em instituições financeiras
do Canadá, Inglaterra, Japão e Suíça, dentre outros países, foram anunciadas ações
coordenadas com o intuito de regular a quantidade de dólares em circulação no mercado
mundial (FIA, 2020). As quebras de estrutura verificadas designadamente em março de
2020, têm sido apelidadas como a queda mais rápida nos mercados de ações globais na
história financeira e o crash mais devastador desde a queda de Wall Street em 1929
(NGWAKWE, 2020; ŞENOL; ZEREN, 2020).
O investimento em ações é considerado pela literatura como um investimento
em renda variável (ASSAF NETO, 2018). Neste sentido, não há garantias de retornos
quando da alocação dos recursos e o retorno depende do comportamento do mercado.
Portanto, a depender do setor empresarial, os impactos causados pela covid-19 poderão
ter efeitos diversos, podendo ser positivo, ou negativo. O estudo de Costa, Pereira e
Lima (2020) buscou analisar o impacto da covid-19 nos setores de higiene e limpeza,
setores que estão diretamente ligadas à saúde pública. Os resultados evidenciaram um
cenário positivo de rentabilidade para esses setores, pois os relatórios das empresas
demonstraram uma evolução na receita liquida neste período, causada pelo aumento das
vendas dos itens como álcool, sabonetes etc.
Segundo o Estadão (2020), a mesma pandemia de Covid-19 que teve efeitos
dramáticos sobre os preços das companhias aéreas, dos bancos e da Petrobrás na Bolsa é
a responsável por quase dobrar o valor de mercado da B2W, estender as valorizações
de Marfrig (segunda maior empresa de carnes bovinas do mundo) e Minerva (frigorifico
Especialista em exportações de carne bovina). Empresas do e-commerce como
Magazine Luiza também aumentaram seu valor de mercado no 1º trimestre de 2020,
com alta de 104,84%. A Via Varejo (VVAR3), dona das marcas Ponto Frio e Casas
Bahia, também conseguiu reverter os prejuízos registrados em 2019 e teve alta anual de
40,52% em suas ações. A Weg (WEGE3), empresa exportadora de bens industriais,
também registrou amplos ganhos neste ano. Em apenas 12 meses, as ações da Weg
subiram 114,32% na Bolsa de Valores. Com a expansão no setor de vendas on-line, a
procura por embalagens cresceu exponencialmente. E as ações da Klabin subiram
46,76% em 1 ano. A Suzano seguiu o mesmo rumo, com alta de 46,35% na B3. A bolsa
de valores B3 também foi um dos destaques, pois desde o fim de 2019, o número de
pessoas cadastradas na Bolsa de Valores quase dobrou. O resultado se deve à mínima
histórica da taxa de juros, que estipulada a 2% ao ano, tornou os investimentos em renda
fixa pouco rentáveis. Como reflexo, a renda variável se popularizou entre os que
buscavam ativos com retornos mais atraentes e as ações da B3 se valorizaram 40,19%
em 2020.
Dada a fragilidade do setor privado, o Estado terá um papel decisivo na
retomada da atividade econômica, seja como investidor direto, seja como indutor ou
financiador do investimento. Ao mesmo tempo, como de praxe em momentos pós-crise,
veremos uma enorme pressão dos mercados financeiros acerca da dinâmica do
endividamento dos Estados pressionando as curvas de juros dos títulos de longo prazo
para cima, clamando continuamente por cortes de gastos e redução da participação
estatal na economia. O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda aos Bancos
Centrais estimular a demanda e a confiança ao garantir liquidez, crédito e condições
financeiras. Na mesma tônica, o Banco Mundial recomenda que países em
desenvolvimento ampliem gastos com saúde, fortaleçam as redes de proteção social
com transferência de renda, apoiem o setor privado com crédito no curto prazo, isenções
fiscais ou subsídios, além de atuar para suavizar movimentos do mercado financeiro
(Banco Mundial, 2020).
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. 14ª edição. São Paulo: Editora Atlas
S.A, 2018.

ARAUJO, Rita de Cassia; SANTOS, Silvia Lima Oliveira dos. O impacto no mercado
financeiro brasileiro diante de uma pandemia: reflexões sobre o COVID-19 e a
economia. Anais do Encontro Nacional de Pós-Graduação – IX ENPG, v.4, 2020, p.
141-145. UNISANTA – Universidade Santa Cecília. ISSN: 2594-6153.

COSTA, Laura Brandão; PEREIRA, Iasmim Fonseca; DE LIMA, Janaína Aparecida.


Reflexos da Pandemia da Covid-19 nos Indicadores Econômico-financeiros de
Empresas do Setor de Produtos de Higiene e Limpeza Listadas na B3. 10°
Congresso UFSC de Controladoria e Finanças, Santa Catarina, 2020

ESTADÃO. Coronavírus: as 10 empresas mais beneficiadas pela pandemia.


Fabrizio Gueratto. Disponível em: < https://einvestidor.estadao.com.br/colunas/fabrizio-
gueratto/as-acoes-mais-beneficiadas-pelo-coronavirus>. Acesso em: 03 nov. 2021.

FARIA, W. A pandemia econômica. Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF.


Disponível em: https://www2.ufjf.br/noticias/2020/04/02/a-pandemia-economica/
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FUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO – FIA. Mercado financeiro e o


Coronavírus: histórico, impactos e projeções. Disponível em:
https://fia.com.br/blog/mercado-financeiro-e-o-coronavirus Acesso em: 02 out. 2021.

LATIF, Z. Entrevista à Poder360, jornalista Valquíria Homero em 12 de março de


2020. Disponível: https://www.poder360.com.br/economia/cenario-economico-ja-era-
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MELLO, Guilherme; OLIVEIRA, Ana Luíza Matos de; GUIDOLIN, Ana Paula;
CASO, Camila de; DAVID, Grazielle; NASCIMENTO, Julio Cesar; GONÇALVES,
Ricardo; SEIXAS, Tiago. A Coronacrise: natureza, impactos e medidas de
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MARCA, Edyvan Cezar; ANTUNES, Acilon Gonçalves. Mercado de ações e análise


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ŞENOL, Z., & ZEREN, F. (2020). Coronavirus (COVID-19) and Stock Markets: The
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Social and Economics.

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