Você está na página 1de 8

Macro Quinzenal – 15/09/2022

Cenário Americano
A nível global, a cautela sobre os rumos da economia americana segue fazendo preço
nos ativos negociados em bolsa, além de níveis de oscilação sobre as curvas de juros e
Bonds e Títulos Soberanos que buscam calibrar as expectativas do mercado quanto: (i)
ao pico da inflação americana, (ii) se o FED será capaz se frear a inflação sem
necessitar colocar a economia em recessão, e, (iii) ritmo dos próximos ajustes nas
taxas de juros.
Os dados reportados durante essa semana apresentaram a persistência inflacionária
atingindo 8.3% na base anual, acima das projeções consensuais do mercado em 8.1%,
que causaram uma reviravolta no mercado, fazendo com que as bolsas globais
reagissem negativamente a esses dados. Havia expectativa de que as quedas na
cotação do Petróleo, que causaram alívio no preço dos combustíveis, contribuísse para
uma queda de 0,1%, mas o dado veio positivo em 0,1%. Do lado dos itens que mais
contribuíram para a alta, estão os alimentos (Food and Beverages), atingindo alta de
11.4% em 12 meses.
Com essa surpresa, o consenso para o próximo ajuste que ocorrerá nos dias 21 e 22 de
setembro, passou de um ajuste entre 50 e 75bps para 75 e 100bps, o que pode seguir
pesando sobre o mercado. Segundo os dirigentes do FED, um aumento de 75bps seria
o mínimo requerido para seguir buscando equilibrar a economia americana.
O principal desafio está no equilíbrio entre o pacing nos ajustes dos juros, que deve
atingir o patamar de 4.00% até dezembro, segundo a expectativa do FED, e a retração
do PIB americano.

20,000,000.0
19,806,300.0
19,800,000.0 19,727,918.0
19,699,500.0
19,600,000.0
19,478,893.0
19,400,000.0 19,368,300.0

19,200,000.0
19,055,655.0
19,000,000.0

18,800,000.0

18,600,000.0
Real GDP

Q12021 Q22021 Q32021 Q42021 Q12022 Q22022

Fonte: S&P IQ Pro | Inside Research 1


Fonte: FRED | Inside Research 1

Cenário Brasileiro
A economia brasileira, ao contrário da americana, tem apresentado sinais positivos
sobre o avanço inflacionário, trazendo a expectativa do final do ciclo de ajustes de
juros, sendo ancorado na região de 13.75%, enquanto as projeções para PIB brasileiro
ao final de 2022, deva ultrapassar os 2%, conforme consenso de mercado. Dada a
existência de níveis de inflação mais altos no país, o ciclo de aperto monetário se
iniciou antes dos países desenvolvidos.
1,040,000.0 1,036,064.2

1,030,000.0 1,024,858.1
1,020,000.0

1,010,000.0
1,002,591.2
1,000,000.0

990,000.0

980,000.0

970,000.0
GDP - Real (USD)
2021Q1
2021Q2 2021Q3 2021Q4 2022Q1 2022Q2 2022Q3

A bolsa brasileira segue refletindo ao ambiente de temor pela economia americana,


porém com momentos de descolamento, com a entrada de capital estrangeiro alocado
em empresas de diversos setores, cujos níveis de Valuation seguem apresentando
desconto histórico frente a expectativa de crescimento nos próximos trimestres,
embasada pelos bons resultados apresentados recentemente na temporada de
resultados mais recente.

A medida em que os ajustes do FED vão ocorrendo, monitoramos o volume de capital


estrangeiro no país, já que com níveis mais elevados de juros americanos, a opção por
alocação de capital nos Bonds Americanos tende a aquecer o movimento de entrada
de recursos nos EUA, dado que são considerados ativos livres de risco.
Os impactos de tal movimentação de recursos, pode, inclusive, pressionar a moeda
brasileira contra o dólar americano, por isso, entendemos que seria natural a
depreciação adicional do real à medida que esse movimento ocorrer. A cotação do
PTAX gira na região de R$5,18 a 5,20 por USD.
P/E Ibovespa e Setores
Uma das principais métricas para entender o momento atravessado pela bolsa,
inclusive para comparação entre pares, está no indicador de Preço sobre Lucro (P/E).
Ao longo dos últimos anos, com o início do ciclo de baixa de juros, as principais
empresas brasileiras atualmente, diminuíram consideravelmente os níveis de
alavancagem financeira, quanto se beneficiaram do cenário de juros historicamente
baixos para rolagem de dívidas e linhas de financiamento, tornando estruturalmente o
mercado muito mais saudável e aquecido para captação de recursos via mercado de
capitais.
Reflexo dessa movimentação foram os resultados apresentados pelas empresas
brasileiras nos períodos da pandemia e pós pandemia, com o mercado aquecido
reportando níveis de Lucro por Ação ao longo dos trimestres, crescentes, e de maneira
sustentável. O nível do indicador segue bem abaixo de 1 Desvio-Padrão, no mesmo
patamar do mercado em 2016, pré-impeachment, com um cenário econômico interno
bem diferente do vivido atualmente.
Em suma, a bolsa brasileira segue descontada, no entanto, dados os pesos
desproporcionais por setor, vamos detalhar o indicador.

Fonte: Economática | Inside Research 1


IFNC – Financeiro
O P/E do índice Financeiro, que engloba bancos, seguradoras e empresas financeiras em geral,
apresenta níveis médios históricos. Consideramos que o ciclo de aperto monetário beneficiou
fortemente o setor, ampliando os níveis de Margem de Lucro Líquida e por Cliente das
empresas.

IMAT – Índice de Materiais Básicos


O índice de materiais básicos é composto por empresas ligadas, principalmente, a
setores de commodities, portanto, possui alta sensibilidade á ciclos econômicos, o que
agrega, naturalmente, maior volatilidade. As empresas do setor vêm reportando
resultados robustos, com níveis de margem de lucratividade altos, assim como os
indicadores de qualidade operacional devem seguir ao longo do segundo semestre.
O Ibovespa, de maneira geral, possui alta concentração no setor de commodities e
financeiro, sendo influenciado nos resultados por esses dois setores, o que torna a
comparação somente do índice cheio, poluída e não permite a captura de
oportunidades em setores com peso menor.
IMOB – Índice Imobiliário
O índice que mede o setor imobiliário, cuja composição está com as construtoras e
consultorias do setor, apresenta forte pressão diante de todo o ciclo de alta de juros dada a
sensibilidade ao avanço da inflação, que causou elevação de custos aos materiais básicos que
são utilizados na construção civil, causando queda robusta mesmo nas empresas de maior
qualidade, tornando o setor fortemente pressionado. Observando, no entanto, o indicador
P/E, entendemos que o setor negocia atualmente em cima do nível médio dos últimos dez
anos.
ICON – Índice de Consumo (Varejo)
O índice abarca as empresas de varejo, que, assim como construção civil, estão
fortemente pressionadas diante do atual ciclo de altas de juros e impacto inflacionário.
Entendemos ainda, que nem todas as empresas do índice possuem características para
esse cenário, sendo excelentes escolhas para os portfólios de ações, principalmente as
empresas que apresentam maior resiliência aos efeitos inflacionários dos últimos
meses. Entendemos que as empresas que possuem exposição a clientes alta renda têm
conseguido maior êxito ao longo dos últimos meses.
O momento do setor, medido pelo indicador estudado, apresenta elevado nível de
desconto, sendo negociado a 10,1x, com a média em 17x.
Ibovespa x S&P
Dado o atual nível de desconto do Ibovespa, entendemos que alguns setores
apresentam grandes oportunidades, com empresas de alta qualidade e que tendem a
seguir performando no segundo semestre. O Ibov apresenta alta de 4.7% frente a
queda de 17.45% do S&P 500, reflexo da questão entre inflação, juros e recessão
abordada nos primeiros parágrafos.

Em conclusão, entendemos o atual momento atravessado como desafiador, especialmente


pelo cenário econômico atravessado nos EUA e Zona do Euro, ambos fortemente impactados
pela inflação crescente nos últimos meses, e que deve seguir trazendo cautela para os
mercados globais. No entanto, enxergamos a bolsa brasileira apresentando boas
oportunidades de alocação de capital, do ponto de vista fundamentalista.

Você também pode gostar