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AUTORES

Fernando Ferreira Camilla Dolle


Estrategista Chefe e Head Head de Renda Fixa no
do Research Research

Jennie Li Caio Megale


Estrategista de Ações Economista Chefe

Marcella Ungaretti Rodrigo Sgavioli


Head de Research ESG Head de Alocação e Fundos

Danniela Eiger Pedro Bruno


Co-head de Equities, Co-head de Equities,
Analista de Varejo Analista de Transportes
e Bens de Capital

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AUTORES

André Vidal Bernardo Guttmann


Analista de Tecnologia, Mídia e
Analista de Óleo, Gás
Telecomunicações
e Materiais Básicos

Herbert Suede Leonardo Alencar


Analista de Agro, Alimentos
Analista de Energia
e Bebidas
e Saneamento

Lucas Laghi Maria Violatti


Analista de Fundos Imobiliários
Analista de Bens de e Fundos Listados
Capital e Transportes

Rafael Barros Renan Manda


Analista do setor financeiro
Analista de Saúde e
Educação

Ygor Altero
Analista de Real Estate

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A maior inflação do mundo desenvolvido nos últimos anos. Uma guerra no Leste Europeu e
choque nas commodities. Cadeias de suprimento prejudicadas por problemas de produção e
escoamento. A chegada do período eleitoral no Brasil. Incertezas não faltam em torno dos
mercados nessa reta final de 2022.

Algumas dúvidas ainda não foram respondidas no cenário global. Como: i) se a alta dos
juros que vimos até agora será suficiente para que a inflação retorne à normalidade e ii) se
estamos a caminho de uma recessão econômica. No Brasil, é preciso monitorar não apenas
as eleições como também o cenário fiscal, enquanto eventuais pressões adicionais aos
gastos podem impactar os próximos anos.

De maneira geral, vemos 3 cenários possíveis se desenrolando no mundo: inflação alta e


persistente; recessão econômica; ou um pouso suave para a economia, em que a inflação
voltaria à normalidade sem uma recessão. Em cada um deles, ativos reais, renda fixa e uma
diversificação bem trabalhada são importantes. Pensando em Bolsa, para quem investe com
um horizonte de longo prazo, entendemos que vale a pena seguir alocado. Historicamente,
em momentos em que o P/L (Preço/Lucro) do Ibovespa se encontrou nos mesmos níveis de
hoje, a Bolsa entregou fortes retornos nas janelas de tempo posteriores.

Mas não existe bola de cristal. Uma frase atribuída a Warren Buffett diz que, nos negócios, o
espelho retrovisor é sempre mais nítido do que o para-brisa. Não há uma resposta clara
sobre as dúvidas colocadas anteriormente, e os movimentos dos ativos são, portanto,
também difíceis de prever.

A mensagem principal que trazemos é que a incerteza gera oportunidades ao investidor. A


volatilidade dos ativos e do cenário econômico traz uma série de deslocamentos de preço, e
quem estiver atento pode se beneficiar de sólidos retornos futuros. Nesse contexto,
trazemos nosso panorama para o cenário econômico, político e de mercado, com análises
macro e micro para cada classe e setor, com o intuito de auxiliar você, investidor, a
direcionar seus investimentos nos próximos 6 a 12 meses.

Não temos a intenção de prever o futuro, mas somos convictos de que a melhor maneira de
lidar com ele é construir uma base forte, partindo de dados, fatos e, claro, de bons
investimentos.

Boa leitura e conte conosco nessa jornada,


Fernando Ferreira & time XP Research

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ÍNDICE

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Pano de fundo global: Aumentam os riscos à atividade econômica

Apesar da recessão técnica nos EUA, sinais de aquecimento da economia permanecem. A


contração do PIB no primeiro semestre de 2022 decorreu principalmente do baixo
dinamismo dos investimentos e gastos do governo, além da desaceleração do consumo
pessoal. Porém, de forma ampla, a economia americana não apresenta características
claras de recessão: o mercado de trabalho segue apertado (taxa de desemprego
historicamente baixa e salários reais em alta), a demanda apresenta solidez e os lucros das
empresas continuam crescendo. Portanto, não prevemos um ciclo recessivo nos EUA.
Esperamos que o PIB cresça 1,6% em 2022 e 1,5% em 2023.

O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, subiu novamente os juros básicos em 0,75
ponto percentual (p.p.) em julho, e levará a taxa de juros americana para o território restritivo
na reunião de setembro, uma vez que sua prioridade declarada é levar a inflação à meta.
Acreditamos que a inflação já tenha atingido o pico, porém os avanços no mercado de
trabalho devem ser responsáveis por mais aperto de juros. O ritmo de alta e a avaliação da
taxa de juros terminal mais apropriada continuarão dependentes de dados econômicos a
serem divulgados. Olhando adiante, vemos espaço para cortes de juros a partir do quarto
trimestre de 2023, na esteira da materialização da desinflação e desaceleração da atividade
econômica.

China continua decepcionando

O PIB chinês cresceu abaixo do esperado no período recente, sugerindo desaceleração


contínua e que a economia demora mais para se recuperar das rígidas medidas de
mobilidade impostas no início do ano. Apesar do estímulo fiscal em curso, acreditamos que
a meta de crescimento de 5,5% dificilmente será alcançada. Esperamos que a atividade
econômica local entre em rota de recuperação a partir do segundo semestre deste ano,
refletindo os esforços do governo. Projetamos crescimento de 3,2% em 2022 e 5,6% em
2023.

Zona do Euro: Riscos elevados

Na Zona do Euro, a atividade econômica começa a dar sinais de que está entrando em rota
de desaceleração e a inflação continua batendo recordes. As perspectivas de médio prazo
são preocupantes, com destaque a incertezas acerca das restrições às importações de gás
da Rússia à medida que o inverno se aproxima, bem como o impacto da política monetária
mais apertada.

América Latina: Perspectivas pioram

Apesar de nossa avaliação de que os ativos latino-americanos continuam baratos, a redução


dos preços das commodities combinada com o aumento da aversão global ao risco
enfraquece apostas de desempenho sólido dos ativos da região em 2022.
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Brasil: Pressão fiscal limita os benefícios da desinflação global

A atividade econômica brasileira segue em trajetória ascendente. Além dos benefícios do


afrouxamento das restrições relacionadas ao coronavírus, o consumo tem sido
impulsionado pela melhoria nas condições do mercado de trabalho, aumento das
transferências de renda do governo para pessoas vulneráveis e uso da “poupança
circunstancial” acumulada durante a pandemia.

Projetamos que o PIB crescerá 2,8% em 2022. A renda disponível às famílias deve continuar
em patamares elevados nos próximos meses. Em nossa opinião, esses impulsos de renda
devem mais do que compensar os efeitos baixistas do aumento das taxas de juros e maior
percepção de risco em relação ao ambiente econômico global e local. Apesar do aperto das
condições financeiras e do enfraquecimento da demanda externa, prevemos elevação de
1,0% para o PIB em 2023.

Do lado fiscal, os resultados de curto prazo continuam positivos, sustentados pelo


expressivo crescimento das receitas atreladas aos lucros corporativos e à folha de
pagamento. Estimamos superávit de R$ 26,6 bilhões para o Governo Central em 2022.
Entretanto, essas receitas devem ser consideradas extraordinárias e não sustentáveis a
longo prazo. Pressões aos gastos do governo também contribuem para piorar nossas
perspectivas para as contas públicas nos próximos anos.

Incorporamos ao nosso cenário que despesas atualmente transitórias se tornarão


permanentes. As discussões políticas recentes indicam a manutenção do valor mais elevado
(R$ 600) do benefício ‘Auxílio Brasil’, com custo fiscal anual estimado em aproximadamente
R$ 59 bilhões. Além disso, reajustes salariais a servidores públicos, o pagamento
(postergado) de precatórios e a criação de novas despesas devem ser incorporados ao
orçamento do próximo ano. Segundo nossas estimativas, o Governo Central apresentará
déficit de 0,9% do PIB em 2023. Reconhecemos que existe um risco adicional de
manutenção das desonerações de tributos sobre combustíveis em 2023, o que poderia
reduzir a arrecadação em até R$ 54 bilhões. Apesar da mudança nas regras, acreditamos na
manutenção de alguma forma de âncora fiscal.

Enquanto isso, projetamos alta de 6,1% para o IPCA de 2022, devido sobretudo às
desonerações tributárias e ao recuo dos preços internacionais dos combustíveis. Por outro
lado, as medidas de estímulo fiscal (aumento da demanda agregada) e a reoneração de
combustíveis (grau de incerteza elevado) pioram as perspectivas para a continuidade do
processo de desinflação em 2023. Tais fatores elevam as pressões sobre os preços de
serviços e bens administrados. Acreditamos que o IPCA exibirá aumento de 5,3% em 2023.
Portanto, a convergência da inflação para a meta (3,25% no próximo ano) será ainda mais
desafiadora.

Maior volatilidade não muda visão para a taxa de câmbio

A taxa de câmbio tem mostrado bastante volatilidade, mas mantemos nossa previsão de
R$/US$ 5,00 ao final de 2022 e R$/US$ 5,30 ao final de 2023. O real está entre as moedas
emergentes que mais desvalorizaram em relação ao dólar nos últimos meses.

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Nosso cenário base considera que o real apresentará alguma valorização até o final do ano
devido a: 1) descompressão dos prêmios de risco após as eleições locais, 2) níveis ainda
relativamente altos de preços de commodities (em que pesem as correções baixistas
recentemente) e 3) sinais mais claros de desinflação (ainda que gradual) na economia global
até o final de 2022. Por outro lado, acreditamos que o real depreciará novamente no próximo
ano em linha com as preocupações com a agenda de consolidação fiscal.

Ciclo de alta da Selic pode ter chegado ao fim

Em relação à política monetária, julgamos que o Banco Central tenha atingido a taxa terminal
da Selic. Após a alta de 0,50 p.p. em agosto, acreditamos que o Copom finalmente entrará no
modo “esperar para ver” que tem sinalizado há algum tempo. Em nosso cenário básico, o
Copom manterá a taxa Selic em 13,75% até meados de 2023. Reconhecemos, porém, que o
Comitê pode optar por ir um pouco mais longe para garantir que a inflação caia nos
próximos trimestres.

Em 2023, projetamos que o BCB reduzirá a taxa Selic para 10%. No entanto, há pouca clareza
sobre qual será o quadro fiscal a partir do próximo ano, como mencionamos anteriormente.

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As atenções dos últimos meses do ano Bolsonaro contará com a máquina do
estão concentradas nas eleições gerais, governo e com a campanha no rádio e TV. A
principalmente nas disputas da Presidência chave parece ser ajustar o foco do discurso
e do Congresso. Na primeira, o cenário é de para a recuperação da economia,
polarização entre o ex-presidente Lula e o coincidente com a demanda do eleitorado.
atual presidente Bolsonaro, com diferença Lula, por sua vez, mantém no foco da
em torno de 10 p.p. no agregado de campanha a comparação econômica do
pesquisas. Corroboram a visão em favor de período atual com seu primeiro mandato, o
um espaço estreito para a 3ª via o fato de que lhe favorece na disputa.
que menos de 10% dos eleitores declaram
rejeitar simultaneamente os dois líderes e de Superada a eleição de outubro, em qualquer
que a intenção de voto espontânea em um dos cenários, o mercado se concentrará
ambos ultrapassa a faixa dos 70%. nos desafios fiscais que se seguirão pela
frente. Ambas as campanhas têm feito
É seguro dizer que as questões econômicas promessas semelhantes que pressionam as
são as mais relevantes para a tomada de contas públicas – caso da manutenção do
decisão dos eleitores: perto de metade dos Auxílio Brasil na casa dos R$ 600 e da
entrevistados aponta que problemas como implementação de uma correção na tabela
poder de compra, desemprego e inflação do imposto de renda de pessoas físicas, o
devem ser os primeiros a serem enfrentados que implicará em renúncia de receitas. Para
pelo próximo presidente. Em 2018, para levar a cabo tais programas, será necessário
comparação, a corrupção ostentava o 1º reformular as nossas âncoras fiscais para
lugar no ranking de preocupações dos permitir os gastos extras exigidos por elas –
brasileiros. discussão que tende a concentrar a atenção
dos mercados no período pós-eleitoral,
Desde janeiro, a diferença entre Lula e como já mencionado. Há ainda questões
Bolsonaro encolheu pela metade. Nesse relevantes sobre a possibilidade de
contexto, é relevante entender se há espaço manutenção das desonerações
para um estreitamento ainda maior na implementadas pelo atual governo,
diferença entre os dois até o dia 2 de principalmente sobre o setor de
outubro, data do primeiro turno. Os combustíveis.
indicadores econômicos recentes sugerem
que sim. Índices de desemprego têm Serão relevantes ainda, para o mercado, as
surpreendido positivamente, as projeções de sinalizações dadas pelo presidente eleito
inflação foram reduzidas de 12% para 6,8% para a composição de suas equipes
depois das desonerações promovidas pelo ministeriais nos setores acompanhados
governo, além de haver expectativa de pelos analistas. De maneira geral, há
injeção de recursos por meio da ampliação expectativa de manutenção da linha da atual
de auxílios promovida via PEC. equipe econômica em caso de vitória de
Bolsonaro, com avanços em marcos
Com esses dados, nosso modelo regulatórios e alguma expectativa de
proprietário de aprovação presidencial indica privatizações. No caso de vitória de Lula, o
uma avaliação positiva do governo em níveis mercado parece antever menos espaço para
consideravelmente superiores aos cerca de a privatização de ativos com regulação
30% registrados nas pesquisas mais menos liberal dos setores.
recentes. Para reverter essa defasagem e
conseguir eliminar parte de sua rejeição,
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Transcorridos dois terços de 2022, se você pudesse voltar ao começo do ano, o que teria
feito de diferente na alocação da sua carteira? Teria feito uma reserva de emergência maior?
Ou quem sabe aumentado a exposição a Multimercados ou Renda Variável brasileira? A
verdade é que nunca é tarde para realizarmos ajustes e rebalanceamentos em nossos
portfólios. Seja por desconforto ou necessidade, de tempos em tempos sugerimos uma
revisão geral na aderência da sua carteira ao que está acontecendo na sua vida, mas
também no mercado.

Primeiro, você deve estar atento a mudanças que acontecem na sua vida pessoal, tais como
aumento ou redução de padrão (custo) de vida, perda de emprego (que acarreta em perda de
receita), nascimento de um filho e o consequente aumento dos custos recorrentes, entre
uma série de outras mudanças que podem acarretar na sua mudança de perfil de risco e
horizonte de investimento.

Por outro lado, o cenário macroeconômico também pode ser um vetor para mudanças,
táticas ou estruturais, em sua carteira, a depender da necessidade de aumentar ou reduzir o
risco, melhorar a diversificação em uma ou mais classes de ativos ou alongar ou reduzir
prazos de investimentos.

É nesse ponto que buscamos, através das carteiras recomendadas, auxiliar o investidor a
traduzir como mudanças, às vezes complexas no cenário, podem repercutir em cada classe
de ativo, para que possamos extrair o melhor de cada uma delas, de forma combinada.
Nesta seção, falamos brevemente das nossas visões por classe de ativos. Nos capítulos
seguintes, entramos em mais detalhes para que você faça as melhores escolhas de acordo
com seu perfil e objetivos.

Renda fixa

Para os meses que ainda virão em 2022, continuamos a sugerir um nível de caixa acima da
média, tanto para uma reserva de emergência como para uma reserva de oportunidades. A
reserva de emergência vai garantir que, se houver uma recessão global mais forte e até
mesmo impactos dessa recessão mais duros na economia brasileira, o investidor esteja
preparado e com liquidez para fazer frente a um cenário mais duro. Já a reserva de
oportunidades, para quem gosta e entende que momentos de quedas e correções
exageradas de preços nos mercados podem representar excelentes pontos de compra de
bons ativos, principalmente com foco no longo prazo. Lembrando que, tipicamente, esses
recursos, tanto da reserva de emergência quanto de oportunidades, devem estar alocados
em renda fixa pós-fixada, que está com retornos bastante atrativos, perto dos 10% nos
últimos 12 meses, e com previsão de ficar próximo de 13 a 14% nos próximos 12 meses.

Nos outros indexadores de renda fixa, prefixado e inflação, que apresentam riscos maiores
que o pós fixado, até aqui foi mais óbvia a predileção por alocação em títulos IPCA+, por
conta não só do aumento da parcela pós fixada (IPCA) desse tipo de investimento, mas
também das taxas prefixadas que foram subindo em grande parte do ano.

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De agora em diante, com uma melhora na perspectiva da inflação corrente e também nas
expectativas futuras, devemos começar a balancear melhor as alocações também em
títulos prefixados que até então vinham com sugestões de alocações mínimas nas carteiras
recomendadas. Não que não gostemos mais de alocações em renda fixa inflação, muito
pelo contrário — em um país como o Brasil, com um histórico inflacionário considerável,
esse tipo de alocação tem sempre um lugar cativo na diversificação de indexadores da
renda fixa.

Multimercados

Quando olhamos para os multimercados, continuamos a ter uma visão construtiva para a
classe, que teve nesses meses de 2022 um dos melhores períodos dos últimos 7 anos,
principalmente quando olhamos para os fundos Macro e Multiestratégia. De qualquer forma,
essa é uma classe cuja alocação costuma ter um papel mais estrutural de diversificação e
redução de riscos, pela sua diversidade de estratégias e mercados em que atua, com
flexibilidade de gerar retornos com menos dependência de uma direção específica dos
mercados, tanto no Brasil quanto fora.

Renda variável brasileira

Já na renda variável brasileira, principalmente quando falamos de ações ou fundos de ações,


vemos alguns riscos (política fiscal internamente e uma recessão global mais dura).
Entretanto, ao longo dos meses temos nos sentido mais confortáveis em sugerir uma maior
exposição em ativos de risco brasileiros, dado o nível atrativo de preços, perspectivas
positivas nos resultados das empresas (micro) e até mesmo por um cenário macro que veio
surpreendendo para melhor ao longo do ano. Ainda mais para o investidor de longo prazo,
com horizonte superior a 4 ou 5 anos, pode ser a oportunidade de entrar ou aumentar a
exposição com o objetivo de elevar o nível de retorno esperado da carteira.

Renda variável global

Na contrapartida, viemos reduzindo bastante a exposição internacional nas carteiras, com


destaque para as posições diminutas em bolsa americana e global em geral.

Isso porque, com a crescente materialização de um cenário de inflação alta e persistente,


tornou-se quase certa a necessidade que os bancos centrais dos EUA e demais países
desenvolvidos terão de subir os juros, para patamares contracionistas, afim de reduzir a
atividade econômica e, consequentemente, o ritmo de alta de preços, causando uma
provável recessão. Isso deverá afetar os resultados das empresas e aumentar o nível de
inadimplência nos meses que virão, além de impactar negativamente o mercado de trabalho.
Portanto, estamos sugerindo alocações em seus menores níveis para renda variável global
e uma parcela modesta em renda fixa global, que tem apresentado retornos esperados mais
atrativos às bolsas globais, quando ajustado ao risco.

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Investimentos alternativos

Em investimentos alternativos, tivemos importantes resultados vindos de commodities no primeiro


semestre, mas que provavelmente não se repetirão nesses próximos meses. Portanto, cada vez
mais temos acreditado na importância de utilizar essa parcela da alocação para posições mais
estruturais de longo prazo, em ativos que são menos líquidos, mas que apresentam retornos
esperados elevados (muitas vezes maiores que a renda variável), e com uma correlação muito baixa
com quase todas as demais classes. Esse tipo de investimento pode ser encontrado nos fundos de
Private Equity, Venture Capital, Special Situations, Infraestrutura, Crédito Estruturado, entre outros.

Classe de ativo Perspectiva


É bom lembrar que, para a parcela de longo
Renda Fixa Pós Positiva
prazo da carteira, não adianta acompanhar
diariamente, principalmente em casos de alta
Renda Fixa Pré Positiva
volatilidade (grandes oscilações).
Renda Fixa Inflação Positiva
Por outro lado, é importante ter em mente que
não existe uma receita única quando o assunto
Renda Fixa Global (hedge) Neutra
é alocação de portfólio. O que a história e os
números mostram é que ter regras claras de
Multimercados Positiva
rebalanceamento podem levar a sua carteira
para um outro patamar. É como fazem
Renda Variável Brasil Positiva
renomados investidores que, para obter
resultados acima da média, mantêm estratégia,
Renda Variável Global (hedge) Negativa
conhecimento e disciplina.
Renda Variável Global (sem hedge) Negativa
Ao invés de correr atrás do “investimento da
Alternativos/Ativos Reais Positiva
vez”, o mais importante é estar diversificado,
buscando sempre não o maior retorno, mas
Alternativos/Commodities Neutra aquele que satisfaz as suas necessidades e
com um risco adequado.
Alternativos/Private Equity & VC Positiva

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Na contramão dos mercados globais, o Brasil iniciou 2022 como uma oportunidade
bastante atrativa para os investidores estrangeiros por conta de uma combinação de: 1)
rotação global do mercado de empresas de crescimento para empresas de valor; 2) forte
exposição a commodities e bancos no mercado brasileiro; e 3) múltiplos de entrada
muito atrativos.

Como resultado, o mercado local começou o ano descolando fortemente dos mercados
globais e chegou a subir quase 40% em dólares até abril. Mas o rali não se sustentou,
pressionado por preocupações globais e domésticas. Grande parte da queda ao longo do
primeiro semestre é explicada pelos temores de recessão econômica, levando à queda
nos preços das commodities que, por sua vez, impactaram mercados mais cíclicos –
caso do Brasil. Somados a isso, pesaram maiores riscos fiscais, com as discussões
sobre mais gastos públicos, à medida que entramos num ciclo eleitoral.

O Brasil continua se descolando dos mercados globais em 2022


Retornos totais em dólares

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Apesar do cenário externo ainda
bastante conturbado, com o mercado
preocupado ora com inflação, ora com
recessão, o Brasil até agora seguiu
segurando um bom desempenho.
Continuamos a ver o Ibovespa como
barato, mostrando um grande desconto
em relação à sua média histórica e em
relação aos mercados de fora.

Atualmente, o Preço/Lucro (P/L) do


Ibovespa negocia com um desconto de
55% em relação ao índice de ações
globais (MSCI All Country World Index),
versus a média histórica de desconto
em 22%, como podemos observar no
gráfico ao lado.

O que esperar para a economia global, e impactos para o Brasil?


Olhando para frente, vemos três possíveis cenários para o mercado, que impactariam de
formas diferentes o desempenho do Brasil:

Cenário 1: Inflação alta e persistente

Esse cenário favorece ativos reais, como as commodities, com investidores globais
buscando proteção contra a alta nos preços. Nesse caso, o Brasil estaria bem posicionado,
pois tanto a economia como a nossa Bolsa são bastante dependentes do rumo dos preços
das commodities e materiais básicos.

Cenário 2: Recessão econômica

Neste cenário, ativos de riscos tendem a passar por uma forte correção, com investidores
buscando ativos de baixo risco. Neste caso, mercados desenvolvidos tendem a ter um
desempenho superior aos mercados emergentes, que em geral apresentam maiores riscos.

Cenário 3: Pouso suave

Chamamos de “pouso suave” o cenário de desaceleração moderada da atividade


econômica global, em que o mercado voltaria a ficar mais otimista. Seria uma situação
favorável para a Bolsa brasileira, pois investidores globais voltariam a ter um maior apetite
para tomar risco.

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Nos próximos meses, os holofotes devem seguir apontados para a inflação, os juros em alta
e os riscos de recessão. Além disso, a volatilidade no preço dos commodities, puxada pelos
temores de recessão, é outro ponto de atenção, principalmente para o Brasil, um país
fortemente impulsionado pela exportação de commodities.

No cenário doméstico, entramos em período eleitoral, o que acentua a volatilidade dos


ativos brasileiros e pode ser um fator determinante para uma menor entrada de fluxos para a
Bolsa. Já a economia do país, depois de um primeiro semestre forte, deve desacelerar,
também pressionada pelo enfraquecimento lá fora e efeitos defasados da política monetária
que entrou em território contracionista ao final de 2021.

O lado positivo é que o mercado brasileiro já está extremamente barato e descontado, em


níveis que não são vistos desde 2008, como mostramos anteriormente. Além disso, as
empresas hoje apresentam risco baixo, ou seja, com baixos níveis de dívida em relação ao
passado, e potencial de bons pagamentos de dividendos.

O nosso time de Estratégia Quantitativa publicou o Guia de Factor Investing, e, com isso,
conseguimos acompanhar o comportamento de ações brasileiras através de fatores.
Através dessa análise, vimos que, recentemente, houve uma recuperação forte de ações de
Crescimento com a quedas nas taxas de juros de longo prazo, como reflexo de expectativas
de inflação menores. A seguir, observamos quais fatores tiveram melhor desempenho por
período. Momentos diferentes favorecem fatores diferentes, e, por isso, é importante montar
carteiras balanceadas dentro dessas estratégias.

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Vemos algumas oportunidades de tomar um pouco mais de risco, mas não achamos que há
muito mais espaço para os juros caírem mais, principalmente com riscos fiscais e políticos
no radar com a proximidade das eleições, como mencionamos anteriormente.

Nossa preferência hoje é para empresas de Qualidade, Risco Baixo, e Valor. Focamos nos
seguintes temas principais:

1. Commodities

Continuamos otimistas com empresas de energia, principalmente no segmento de Petróleo


& Gás. As top picks (principais escolhas para investir) nesse setor são a Petrobras (PETR4) e
3R (RRRP3).

2. Histórias seculares de crescimento

Nesse momento de bastante incerteza macroeconômica, preferimos empresas mais


resilientes, que tenham suas dinâmicas de crescimento menos correlacionadas com o
ambiente Macro, como Assaí (ASAI3) e Grupo Soma (SOMA3).

3. Qualidade a preços razoáveis

Com a Bolsa bastante descontada, há muitas ações negociadas a múltiplos atrativos, mas
focamos naquelas com perspectivas positivas de crescimento. Destacam-se Iguatemi
(IGT11) e Banco do Brasil (BBAS3). Sobre esse último nome, vale pontuar também que
preferimos reduzir um pouco a exposição a empresas estatais seguindo a possibilidade de
um aumento de riscos políticos. Ainda assim, Banco do Brasil (BBAS3) segue sendo a top
pick do setor financeiro.

Saiba mais sobre as principais escolhas por setor nas páginas a seguir e conheça nossas
carteiras recomendadas, atualizadas mensalmente por um time multidisciplinar de ações e
estratégia.

Agronegócios

Apesar de nossas estimativas de margens menores para a safra 2022/23, continuamos


otimistas com os produtores, pois a maior parte da safra foi hedgeada (protegida) com
preços interessantes e as margens devem ficar acima dos níveis históricos, em nossa visão.
Acreditamos que margens menores podem diminuir o ritmo de adoção de tecnologia pelos
agricultores, mas não revertê-lo totalmente, o que deve levar a maiores indicadores de
produtividade e aumentar a lucratividade no longo prazo. Portanto, continuamos muito
positivos e projetamos um forte crescimento nos próximos anos para os players de
tecnologia agrícola e varejistas agrícolas.

Principal Escolha – Açúcar e Álcool: Jalles Machado (JALL3)


Principal Escolha – Grãos: BrasilAgro (AGRO3)

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Alimentos Bebidas

Para as empresas de bens de consumo Estamos muito positivos nos próximos


básicos, esperamos um forte momentum meses para os nomes de bebidas devido a:
nos resultados, devido ao alívio nos preços 1) o alívio nos preços das commodities, que
das commodities, que se traduzirá em se traduzirá em recuperação de margens, em
margens mais altas, em nossa opinião, nossa visão; 2) os preços da cerveja estão
embora o ambiente macroeconômico abaixo da inflação nos últimos 2 anos e,
continue desafiador. Para os frigoríficos, o portanto, vemos espaço para os players
principal fator no resultado será a virada do pressionarem por preços mais altos; 3) a
ciclo do gado nos EUA, afetando Copa do Mundo, que será realizada no verão
negativamente as margens do negócio de e, junto com o auxílio emergencial, deve ser
carne bovina. Para os players de aves e fator-chave para o crescimento do volume,
suínos, preços mais altos, aliados a custos em nossa opinião; e 4) isso tudo ocorre em
mais baixos de ração devem se traduzir em meio a uma contínua recuperação do canal
margens mais altas, em nossa visão, e, por on-trade e aumento de embalagens
isso, reiteramos a nossa preferência por retornáveis (RGB), os quais são mais
players mais diversificados. rentáveis

Principais escolhas —JBS (JBSS3), Camil Principal escolha: AmBev (ABEV3)


(CAML3)
Bens de capital
Bancos
As empresas de bens de capital continuam
O primeiro semestre de 2022 foi bastante impactadas por gargalos relacionados à
positivo para os bancos, culminando com cadeia de suprimentos e escassez de
uma série de revisões para cima dos componentes, embora os sinais de
guidances. Para 2023, mantemos visão normalização comecem a aparecer. Entre as
positiva, apesar de vermos aumento das nossas escolhas, destacamos: 1) WEG pela
preocupações com os níveis de combinação única de alto retorno e
inadimplência. Seguimos monitorando perspectivas promissoras de crescimento,
eventuais intervenções regulatórias, assim com valuation ainda atrativo considerando
como a possibilidade de acirramento da altos spreads de retorno e expectativas de
competição no setor. Entretanto, não crescimento; e 2) Tupy, que esperamos se
esperamos que estes aspectos afetem a beneficiar da redução da escassez de
dinâmica positiva de curto prazo em curso componentes nos próximos trimestres, com
no mercado de crédito. perspectivas positivas em função das
recentes aquisições. Por fim, vemos o
Principal escolha: Banco do Brasil (BBAS3) valuation da Embraer como abaixo do
merecido, sem valor significativo de Eve
implícito no preço atual das ações, e a
recuperação da aviação comercial
representando um momento operacional
positivo para a empresa.

Principais escolhas: WEG (WEGE3), Tupy


(TUPY3), Embraer (EMBR3)

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Construtoras Energia elétrica

Do lado das construtoras de baixa renda Apesar do desempenho acima da média de


vemos uma combinação positiva das grande parte das companhias em 2022,
atualizações do programa Casa Verde continuamos otimistas com as empresas do
Amarela (CVA) e a demanda ainda sólida do setor elétrico. Nesse momento preferimos
segmento, beneficiando as empresas histórias com baixos riscos operacionais,
posicionadas no topo do programa CVA em balanços saudáveis, perspectivas de
2022. Para as empresas de média e alta crescimento claras e risco-retorno
renda temos uma visão neutra, baseada no assimétrico. Dito isso, encontramos
cenário desafiador com taxas de juros oportunidades ainda descontadas no setor
imobiliários mais altas e volatilidade de de geração e distribuição de energia.
demanda devido às eleições.
Principais escolhas: Omega Energia
Principais escolhas: Cury (CURY3), Direcional (MEGA3), Auren (AURE3) e Equatorial
(DIRR3) (EQTL3).

Educação Mineração e Siderurgia

As empresas de ensino superior ainda O setor de mineração vive um momento de


dependem fortemente das captações do 1º incerteza, com 1) uma desorganização da
semestre no presencial, impactadas cadeia mundial de metais, 2) o atual conflito
negativamente por medidas de entre dois países fornecedores importantes,
distanciamento social e incertezas macro 3) preços elevados de combustíveis e
durante a pandemia. No entanto, a energia e 4) dúvidas quanto às expectativas
temporada de captação do 1º semestre de da demanda de produto final, devido à
2022 apresentou números positivos de inflação e piora dos dados econômicos na
volume (e preços mistos), apesar de ainda China. Apesar destes fatores, seguimos
não ter chegado aos níveis de 2019, o que, gostando de Vale. Também gostamos das
em nossa visão, aponta para uma credenciais ESG e do diferencial da
recuperação gradual do segmento. O ensino autoprodução de energia renovável de CBA.
digital, por outro lado, teve um bom
desempenho em termos de volumes ao Principais escolhas: Vale (VALE3), CBA
longo de toda a pandemia, embora os tickets (CBAV3)
estejam em tendência de queda,
impulsionada pela forte concorrência.
Temos uma visão cautelosa em relação ao
setor de educação, considerando os difíceis
cenários micro e macro.

Principal escolha: Cruzeiro do Sul (CSED3)

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Óleo & Gás Saúde

Apesar da recente correção, continuamos Os prestadores de serviços de saúde passaram


otimistas com os preços do petróleo tipo por um período com desempenho operacional
Brent, que ainda se encontra em patamares historicamente fraco, causado principalmente
elevados, dado à dinâmica estrutural de pela pandemia de Covid-19. Além disso, o alto
investimentos no setor nos últimos anos endividamento pressionou o desempenho
somada a questões mais momentâneas, financeiro da maioria das empresas de saúde
como, por exemplo, o conflito entre Rússia e nos últimos trimestres, aumentando os impactos
Ucrânia e a consequente crise energética em no lucro líquido. No entanto, no último trimestre
países europeus. Seguimos otimistas com a pudemos ver algum alívio em ambos os
commodity e com o valuation descontado aspectos, dado que 1) as taxas de ocupação de
das empresas do setor. leitos e número de procedimentos complexos
vêm apresentando melhorias, com a Covid-19
Principais escolhas: Petrobras (PETR4), 3R perdendo relevância; e 2) os juros de longo prazo
(RRRP3) diminuíram, reduzindo o efeito negativo nos
resultados financeiros. Em relação à indústria
Papel e Celulose farmacêutica, as empresas têm apresentado
forte desempenho, tanto em termos de
O setor tem surfado uma tendência mais crescimento quanto em rentabilidade nos
positiva de preços de celulose nos últimos últimos trimestres. Nossa expectativa para o
trimestres, principalmente devido às médio prazo é positiva, com as companhias
crescentes restrições de oferta e gargalos fortalecendo seus portfólios de produtos e
logísticos. Isso proporcionou uma boa extraindo crescimento dos atuais.
margem para as principais empresas do
setor, apesar dos aumentos de custos. Ainda Principal escolha: Blau (BLAU3)
assim, continuamos cautelosos, dada a
preocupação com a dinâmica de custos e, Shoppings e propriedades comerciais
dessa forma, a perenidade estrutural das
margens atuais. Nesse contexto, Esperamos continuar vendo uma forte
recomendamos Klabin, pela resiliência do recuperação do setor de shoppings em 2022,
modelo de negócios diversificado e baseada na combinação entre o desempenho
assimetria do valor nos preços atuais, na resiliente de vendas dos shoppings dominantes
nossa avaliação. do segmento de alta renda e a progressiva
redução de descontos, mantendo níveis
Principal escolha: Klabin (KLBN11) saudáveis de inadimplência líquida e custo de
ocupação, levando a um crescimento robusto
Saneamento das receitas de aluguéis.

Do lado das companhias de saneamento, Principais escolhas: Multiplan (MULT3), Iguatemi


esperamos que o cenário eleitoral ainda seja (IGTI11)
um driver de volatilidade no curto prazo,
especialmente para os players públicos. Do
lado de resíduos sólidos, esperamos um
semestre mais forte, impactado pela venda
de créditos de carbono do ano.

Principal escolha: Orizon (ORVR3)

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Tecnologia

Para o setor de tecnologia, continuamos gostando da exposição às companhias de tech


brasileira na Bolsa, apesar da volatilidade de alguns papeis no curto prazo. Cabe destacar
que as companhias de nossa cobertura (Bemobi, Locaweb, Positivo, Allied, G2D e TOTVS)
possuem dinâmicas e modelos de negócio muito distintos.

Principais escolhas: Bemobi (BMOB3), TOTVS (TOTS3)

Telecomunicações

Temos uma visão positiva para as companhias de telecom de nossa cobertura, tanto ISPs
(Unifique, Brisanet e Desktop), quanto big telcos (TIM e Vivo). Nossa visão positiva é
suportada por uma forte dinâmica de crescimento, além de execução operacional e sólida
rentabilidade.

Principais escolhas: Unifique (FIQE3), TIM (TIMS3)

Transportes

Focamos as nossas recomendações do setor em nomes que acreditamos ter uma


microdinâmica positiva, que deve ajudar a evitar potencial volatilidade em um cenário macro
ainda desafiador. São elas: 1) Vamos, com base em uma forte combinação de posição de
liderança crescente em um mercado ainda inexplorado – isso deve permitir, em nossa
opinião, um desempenho operacional superior, apesar dos desafios macro (aumentando
yields enquanto cresce); e 2) Rumo, onde esperamos que a empresa supere o consenso para
2022 e seu próprio guidance. O 2S22 deve mostrar melhorias significativas na dinâmica do
mercado, permitindo recuperação de yields (preço) e fortes volumes. Esse cenário, a nosso
ver, deve implicar em um momento positivo para a empresa negociar seus contratos para
2023.

Principais escolhas: Vamos (VAMO3), Rumo (RAIL3)

Varejo

Como costumamos falar, dividimos os segmentos do Varejo em 4 subsegmentos, que são:


alimentar; farmácias; consumo discricionário e comércio eletrônico. Para os próximos
meses, seguimos preferindo exposição a nomes mais resilientes e de alta qualidade, com
consistência de execução e liquidez em bolsa, com destaque para os setores de varejo
alimentar e consumo discricionário, sobretudo aqueles nomes que atuam no mercado de
alta renda.

Principas escolhas: Assaí (ASAI3); Grupo Mateus (GMAT3); Grupo Soma (SOMA3), Arezzo
(ARZZ3)

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Conforme nos aproximamos do final do negociado nesse mercado já atingiu um
ano, vemos o tema ESG no centro das recorde de US$ 851 bilhões em 2021, alta de
discussões do mercado, e esperamos que 164% em relação a 2020, segundo dados da
essa tendência persista e acelere ainda Refinitiv. No Brasil, embora ainda existam
mais adiante. Na nossa visão, embora os definições importantes a serem feitas, em
temas ESG sejam de longo prazo, alguns maio, o Governo Federal publicou um
podem surgir com uma força maior. Isso decreto regulamentando este mercado no
posto, neste relatório nós discutimos três país, criando um sistema único de registro
principais temas que devem guiar a agenda (SINARE). Na nossa visão, tal decisão
ESG ao longo dos últimos meses de 2022: evidenciou avanços na definição dos
parâmetros desse mercado, ao mesmo
1. Transição energética tempo em que esperamos ver novos
O mundo precisa de mais energia, ao progressos ao longo do ano. Acreditamos
mesmo tempo em que as mudanças que, quando o assunto é aquecimento
climáticas exigem menores emissões. No global, não existe uma bala de prata,
Brasil, a mensagem dada na Expert XP 2022 entretanto, vemos o mercado de crédito de
foi clara: sendo o país com uma das carbono como uma importante solução
matrizes energéticas mais renováveis do alternativa no combate às mudanças
mundo, o Brasil está bem posicionado para climáticas, com todos os olhos voltados ao
captar recursos financeiros que permitam o potencial do Brasil para estar na vanguarda
desenvolvimento tecnológico necessário desse mercado, o que exigirá a atenção dos
para a transição. Até o meio do ano, vimos investidores e também das empresas.
novas tecnologias e soluções de baixo
carbono surgindo em diferentes áreas, 3. As regulações estão vindo
como por exemplo as baterias de VEs, o Vemos que as mudanças impostas pelas
que vem aumentando a demanda por regulamentações vão ter um papel cada vez
alguns metais verdes necessários para mais importante na condução das empresas
essas tecnologias. Na nossa visão, os às melhores práticas ESG. Na Expert XP
investidores continuarão pressionando que 2022, diversos painéis ESG tiveram a
empresas assumam seu papel na condução regulação como tema central de discussão,
da descarbonização, via investimento em trazendo a importância dos agentes
tecnologias que permitam a transição por reguladores no bom funcionamento do
parte também dos setores com maiores mercado. Durante 2022, já vimos avanços
emissões. importantes e vemos essa agenda
ganhando força no restante do ano, o que
2. Crédito de carbono deve estimular ainda mais o foco ESG por
O crédito de carbono surgiu em 1997 parte de companhias e investidores.
a partir do Protocolo de Quioto¹ e o valor

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A primeira metade de 2022 foi marcada por grandes mudanças: de um sentimento de
otimismo com a reabertura da economia global pós-pandemia, cuja forte recuperação levou
a inflação no mundo às alturas, ao choque nas cadeias de suprimentos com a guerra na
Ucrânia, e a políticas monetárias cada vez mais duras para controlar os preços levando à
possibilidade crescente de uma recessão econômica.

A realidade é que mudamos de regime. Viemos de mais de uma década de inflação


estruturalmente baixa nas principais economias desenvolvidas e, como consequência, juros
mais baixos também. Agora, a inflação persiste em níveis recordes e, portanto, os juros
também devem se manter em patamares mais altos do que nos últimos anos.

O principal fator que deve mexer os mercados para o resto de 2022 é o medo de uma
recessão econômica global. Nesse movimento para desaquecer os preços, a preocupação é
de que os bancos centrais, principalmente o Federal Reserve (Fed), levem a uma derrubada
da maior economia do mundo, em uma forte desaceleração do crescimento.

No ano, o índice de ações globais, medido pelo MSCI ACWI, já acumula queda ao redor de
15%, à medida que a probabilidade de recessão aumenta. O S&P 500, principal índice
americano, já chegou a entrar em bear market e, mesmo com uma recuperação recente, cai
quase 20% em 2022.

Enquanto grande parte das quedas tem sido por compressão de múltiplos, as projeções de
lucros das empresas pelos analistas ainda mostram um certo nível de otimismo. Porém,
historicamente, períodos de recessão são marcados por uma contração nos lucros das
empresas, indicando que, atualmente, os analistas ainda não precificaram uma recessão nos
lucros.

Portanto, enxergamos como principais riscos revisões para baixo nessas estimativas de
lucros das companhias caso uma recessão se materialize, o que, consequentemente, levaria
a mais quedas nos índices de ações globais. Historicamente, o mercado caiu ao redor de
40% em bear markets na média, ou seja, ainda há espaço para cair mais caso uma recessão
aconteça.

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É hora de ficar longe de investimentos internacionais? Pelo contrário

Para investidores de longo prazo, essa correção, na realidade, pode ser uma ótima
oportunidade de entrada.

Fizemos um estudo olhando para o S&P 500 desde 1940 e, em momentos que o índice caiu
entre 15% a 25%, como agora, com o mercado em tendência de queda, o índice apresentou
retornos positivos com as seguintes frequências:

Em outras palavras, em momentos como o atual, o mercado tende a apresentar retornos


positivos em 60% a 70% do tempo em 1 ano, e quase 80% em 2 anos.

Isso significa que, para investidores de longo prazo, uma queda do tamanho que vimos até
agora pode ser um excelente ponto de entrada. Especialmente para investidores que ainda
não têm nenhuma alocação internacional, essa pode ser uma boa hora para começar a
olhar.

Abaixo, confira as nossas visões sobre as principais regiões globais:

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Mas tenha cautela

Apesar da importância de aumentar a exposição em investimentos internacionais


estruturalmente, o cenário global ainda é complexo e a visão é de cautela para o curto a
médio prazo.

Olhando para os setores, assim como para ações brasileiras, a nossa preferência em
alocação internacional é para exposição a ativos de qualidade, focando em empresas com
poder de precificação (ou seja, capacidade de repassar a inflação em seus preços) e
elasticidade da demanda, evitando valuations muito altos.

Mantemos uma visão construtiva de médio a longo prazo para empresas de energia,
especialmente petrolíferas, cujos baixos níveis de investimentos nos últimos anos devem
manter o desequilíbrio entre oferta e demanda como um fenômeno estrutural. Contudo,
riscos de recessão e desaceleração econômica podem seguir causando volatilidade nos
preços das commodities.

Também gostamos de setores de natureza mais defensiva e que pagam bons dividendos,
como telecomunicações ou saúde. Em momentos de elevada incerteza macroeconômica,
como atualmente, investir nesse perfil de companhia pode diminuir o risco e reduzir a
volatilidade dos portfolios.

Setores muito cíclicos, ou seja, sensíveis à atividade econômica, são o que evitaríamos nos
próximos meses. Setores voltados para o consumo, materiais (como os metais) e imobiliário
devem sofrer com a atividade econômica mais fraca daqui para frente, impactados pela
subida nas taxas de juros, perda do poder de compra e demanda mais fraca.

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Desde o começo de 2022, o Banco Central já realizou cinco altas na taxa Selic, que hoje se
encontra em 13,75% ao ano. O que esperávamos diante deste contexto se concretizou: a
demanda por renda fixa se manteve alta, com taxas dos títulos em patamares atraentes.
Apenas como exemplo, uma NTN-B (título público atrelado à inflação) com vencimento em
2035 pagava aos investidores IPCA + 5,2% em janeiro e hoje o rendimento se aproxima de
IPCA + 5,9%.

Atualmente, as expectativas para os juros futuros se encontram acima do que esperávamos


em janeiro, como pode ser visto no gráfico abaixo. Isto é resultado de diversos fatores de
risco que se apresentaram nos últimos meses, em especial a guerra na Ucrânia e a
consequente elevação na inflação global, a busca por seu controle pelos bancos centrais
através da elevação de juros e maiores preocupações fiscais no Brasil, à medida em que nos
aproximamos das Eleições.

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26
A classe de fundos imobiliários (FIIs) tem instrumentos para surfar momentos de inflação e
juros elevados, como o atual, quando o mercado se comporta de maneira mais cautelosa, ou
períodos de maior apetite ao risco. Neste momento, temos visões diferentes para as
diversas classes e segmentos de FIIs, que listamos a seguir.

Fundos de Papel

Os fundos de recebíveis indexados em CDI+ devem se beneficiar do cenário


macroeconômico com a taxa de juros Selic em patamares mais elevados. Consideramos os
fundos de papel uma boa opção de investimento para quem deseja se proteger ou até
mesmo se beneficiar de um cenário com inflação e juros mais elevados, uma vez que a
maioria dos CRIs e das LCIs são emitidos com indexação à inflação ou CDI. O segmento
oferece boa rentabilidade e diversificação. Entendemos que o foco deva se manter em
ativos com portfólio indexado majoritariamente em CDI+ e com CRIs high grade,
principalmente devido à alta de juros e também pela melhor relação risco-retorno.
Entendemos que, mesmo perante um cenário de deflação pontual, nos meses de julho/22 e
agosto/22, a projeção de inflação ao final de 2022 ainda se mantém relativamente acima da
meta, portanto, mesmo com arrefecimento esperado nos dividendos, ainda enxergamos que
fundos indexados em IPCA+ se mantêm atrativos, principalmente para trazer diversificação
na composição da carteira.

Principal escolha: Kinea Rendimentos Imobiliários (KNCR11)

Shopping Centers

O setor de shoppings foi atingido diretamente pela pandemia de COVID-19 ao ser obrigado a
fechar total ou parcialmente suas lojas por prolongados períodos. Com isso, diversos fundos
interromperam ou reduziram significativamente a distribuição de rendimentos. Dado um
cenário macroeconômico desafiador, mantemos nossa preferência em fundos com
portfólios compostos de shoppings dominantes e orientados para alta renda, por se
demonstrarem mais resilientes. Observamos que os indicadores operacionais de alguns
shoppings já se aproximam dos valores observados pré-pandemia. Para o ano de 2022, de
acordo com a Abrasce, é esperada a inauguração de 195 mil m² de área bruta locável de
shoppings, área próxima à que foi entregue em 2019. A demanda por espaços em shoppings
está ligada ao padrão de crescimento no consumo das famílias, e, consequentemente, ao
crescimento populacional e dos níveis de emprego. Por isso, para o longo prazo esperamos
uma expansão moderada dos resultados do setor, em linha com nosso cenário
macroeconômico para o Brasil. Adicionalmente, entendemos que fundos que possuam
shoppings bem localizados, focados na classe A, nos principais centros urbanos, possuem
maior capacidade de geração de renda no curto prazo, além de apresentarem maior
potencial de valorização no longo prazo.

Principal escolha: XP Malls (XPML11)

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Lajes Corporativas
evolução do PIB doméstico ao longo do
período pós choque econômico da
Acreditamos que as alterações e
pandemia e sujeito à volatilidade do cenário
redimensionamentos dos escritórios
macroeconômico. Entendemos que os
relacionados às mudanças provocadas pela
descontos atuais nos preços dos fundos do
pandemia já foram realizadas. Apesar disso,
setor apresentam boas oportunidades para o
nas regiões premium da cidade de São
investidor orientado ao médio e longo prazo,
Paulo, os imóveis de classes A+ e A
que desejam obter ganhos de diversificação
apresentaram resiliência. Observamos que o
com esse tipo de ativo ao mesmo tempo em
mercado de escritórios, para se manter
que obtêm bom potencial de valorização nos
competitivo, aderiu à flexibilização nas
investimentos com a retomada gradual da
condições das locações, criando cenário
atividade econômica.
favorável ao inquilino. A retomada do
segmento está associada à recuperação
Principal escolha: Bresco Logística
econômica, para que então a vacância da
(BRCO11)
cidade reduza e vejamos movimentos
positivos em relação aos preços dos
aluguéis. Adicionalmente, os fundamentos Renda Urbana
de longo prazo são sólidos para essa classe
de ativo. Dito isso, a despeito de um cenário Nossa perspectiva para o segmento varia de
macro desafiador, enxergamos atratividade acordo com o setor econômico com maior
segmento, principalmente fundos com bons peso entre os imóveis do FII. Os FIIs com
ativos e bem localizados. maior foco em imóveis de varejo alimentício
tendem a apresentar menor volatilidade,
Principal escolha: VBI Prime Properties oferecendo relativa proteção aos
(PVBI11) movimentos do ciclo econômico no médio
prazo. Já os FIIs com exposição a imóveis
utilizados no varejo educacional tiveram
Galpões Logísticos
maior volatilidade no período recente, mas
tendem a apresentar comportamento
O segmento apresenta uma perspectiva
também relativamente estável das receitas
relativamente favorável no curto prazo
no médio prazo, porém particularmente
devido à manutenção do crescimento do e-
sujeitos aos movimentos de expansão e
commerce, que desde a pandemia vem
consolidação dos grandes grupos
demandando volume crescente de ativos
educacionais. Os FIIs com grande peso de
logísticos localizados próximos às grandes
imóveis utilizados por outros setores de
regiões metropolitanas. No entanto, como
varejo tendem a se comportar de modo
resposta à nova demanda, a projeção de
similar aos fundos de shoppings, e, assim
entrega de novos estoques cresceu
como naqueles, temos preferência por
substancialmente. Com isso, esperamos um
portfólios compostos por imóveis em
lento retorno a patamares similares aos
regiões de comércio dominantes nas
observados antes da pandemia, e uma
principais cidades.
redução na velocidade de crescimento do
preço médio pedido de aluguel. Portanto, a
Principal escolha: CSHG Renda Urbana
médio prazo esperamos crescimento
(HGRU11)
moderado do segmento, em linha com a

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Hedge funds

A estratégia de investimentos desse tipo de fundo se baseia em trazer maior flexibilidade na


alocação de seu patrimônio líquido, buscando ativos com melhor posicionamento de acordo
com o momento, ou seja, possibilitando ao gestor explorar melhor o ciclo de cada ativo.
Além disso, um bom time de gestão busca retornos adicionais e boa rentabilidade (alfa)
mesmo quando os mercados não estão em alta. Com isso, os retornos desses FIIs tendem a
ter caráter mais acíclico e uma menor correlação com o IFIX, o que faz com que o
investimento nesses fundos traga ganhos de diversificação à carteira do investidor. No
momento macroeconômico atual de juros elevados e de inflação, por exemplo, o gestor tem
maior flexibilidade para aumentar a exposição relativa do fundo aos ativos de renda fixa.
Portanto, acreditamos que os fundos com gestão de qualidade deste segmento apresentem
retornos, em média, superiores aos dos demais segmentos de FIIs, ainda que possam
enfrentar maior volatilidade com o cenário macroeconômico.

Principal escolha: Não temos cobertura

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