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Esqueça (com cuidado) o pessimismo: privatização da Eletrobras pode

destravar imenso valor

A pauta de maior importância no mercado financeiro brasileiro dessa


semana foi a privatização da Eletrobras, concluída nesta quinta-feira (10). A
empresa do setor elétrico, que é a maior da América Latina, teve um
aumento de capital na ordem de R$ 30 bilhões, resultando em uma das
maiores da história do nosso mercado de capitais.

Fundada na década de 1960, a Eletrobras é a maior empresa de geração e


transmissão de energia elétrica do país, possuindo um terço da potência
total brasileira e metade do total de linhas de transmissão. A Eletrobras
também participa da expansão da malha de sistema elétrico, de programas
voltados para a eficiência energética, incentivo a fontes alternativas de
energia e universalização do acesso à eletricidade.

No entanto, a companhia esteve sob desconfiança ao longo de história, visto


que as ingerências de um estado empresário resultaram em absurdos de
governança como uso da empresa como cabide de empregos via indicação,
numa clara demonstração de interferência política, e o exagero de
burocracias características de companhias administradas pelo establishment
político. Esses fatores contribuíram de forma acentuada para sua redução da
capacidade de investimento ao longo das últimas décadas.

Sob uma perspectiva otimista — que é a adotada por este autor — a


privatização da Eletrobras poderá resultar em aumento de eficiência da
companhia, permitindo uma maior geração de valor direta ao acionista; no
fim de interferências políticas e burocracias non-sense; na melhora de suas
práticas de governança e na percepção do mercado destas e numa maior
competitividade ante concorrentes nacionais e internacionais.
Por fim, vale fazer um breve alerta, especialmente aos investidores de
primeira viagem que utilizaram seu saldo no FGTS para investir em ações da
companhia: a renda variável “vareia”. Volatilidade, seja para cima ou para
baixo, não necessariamente significa que você (ou a empresa) ficou rico ou
foi à falência.

Sabemos que no Brasil há pouca educação financeira, resultando uma


porcentagem ínfima de pessoas que possuem uma reserva de emergência
consolidada, característica basilar segundo a maioria dos analistas e
planejadores financeiros para quem desejasse entrar na Eletrobras. Após o
lock-up obrigatório de 12 meses, especialmente com o futuro do cenário
macroeconômico que se desenha, poderá ocorrer algo como uma corrida
bancária que poderá afetar de forma direta o valor da empresa na bolsa de
valores, especialmente em situações como hoje, que as ações ELET3 caem
quase 5% durante a produção deste artigo.

Tiago Paiva é jornalista de economia e investimentos, tendo atuações na Arazul


Capital e ACT Ápice Investimentos.

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