Você está na página 1de 51

inSights Econômicos

# 10 – Dezembro de 2022

Mudança de Rota

1
Sumário

Recalculando... .................................................................................................................................................... 3
IPCA de Dezembro ............................................................................................................................................... 5
Analisando uma companhia além do óbvio ........................................................................................................ 7
O que os vendedores de sustos escondem de você............................................................................................ 9
7 vantagens poderosas para identificar em uma empresa ............................................................................... 13
Pressão sobre o preço do petróleo segue ......................................................................................................... 16
A sangria silenciosa segue ................................................................................................................................. 17
Mais Buffett, menos emoção ............................................................................................................................ 18
Agressividade histórica na alta de juros dos EUA.............................................................................................. 19
China .................................................................................................................................................................. 21
Pessimismo: o efeito da nossa bolha das redes sociais .................................................................................... 25
Tá todo mundo “perdendo” dinheiro, e faz parte ............................................................................................ 27
Compre ao som dos canhões, venda ao som dos violinos ................................................................................ 28
O governo jogando contra... o próprio governo ............................................................................................... 30
A maldição de um BNDES engrandecido ........................................................................................................... 31
Oportunidades no mercado: como elas (possivelmente) surgem .................................................................... 36
15 dicas de um dos maiores investidores da história ....................................................................................... 39
O gringo sabe de algo ou nós que acabamos nos emocionando demais? ........................................................ 42
Se você investia antes... por que não investe agora? ....................................................................................... 44
Não tente acertar o tempo do mercado ........................................................................................................... 47
Desinflação à vista, mas agora a narrativa é outra ........................................................................................... 48
Bitcoin: o maior gatilho para a virada de ciclo .................................................................................................. 49

2
Recalculando...

Como esperado, 2023 será de fato um ano agitado até que o cenário se desenhe e fique totalmente
claro para podermos analisar, com brusca mudança de direção e de expectativas.

O mês de dezembro foi mais um mês repleto de turbulências. Passamos pela transição para um novo
governo e alguns discursos entre falas de nomes poderosos que ditam as cartas da gestão do país
não foram nem um pouco animadoras. De um lado, o Chefe de Estado segue com seu menosprezo
sobre o mercado, criando a falsa imagem de que é o mercado que depende do Estado, e não o oposto
(lembrando que quem sustenta o Estado é a população e o dinheiro do mercado financiando a
dívida), do outro, diversos nomes importantes do governo, entre eles até mesmo alguns ministros,
tentam apagar o fogo dizendo que a responsabilidade fiscal irá ocorrer.

Sendo sinceros, ninguém ainda sabe absolutamente nada sobre como será o ano.

Brasil é Brasil, desde que o preço da tonelada do minério de ferro siga acima de US$ 90 e o preço do
Brent siga acima de US$ 70 o barril e as commodities agrícolas sigam em alta, é bem provável que
performemos bem, afinal, é isso que fazemos ao mundo, exportamos suas maiores necessidades.

Se o novo governo fizer o mínimo para ter uma responsabilidade fiscal que não afugente investidores
do país e eleve a inflação pelo mercado de câmbio e de juros, podemos ir muito bem, mas como já
falamos, política é pura nebulosidade e não da para dizer de fato o que irá ocorrer enquanto as
medidas não forem tomadas. Por agora, o que ocorreu é cristalino, basta ver o mercado de juros,
com a SELIC para os próximos anos disparando e atingindo os quase 14% para 2026, que até três
meses atrás a expectativa era de algo na ordem de 10%.

No relatório de dezembro buscamos ilustrar essa mudança de expectativas com a transição de


governos completamente opostos, enquanto seguimos com o pé no chão destacando todas as
oportunidades que existem no mercado atualmente, porque independente da gestão presidencial
ou da crise, sempre haverá oportunidade no mercado. Sempre haverá uma forma de você ganhar
dinheiro ou se proteger, e é esse nosso principal trabalho aqui, mostrar oportunidades e dados que
te ajudem a tomar as melhores decisões.

Não se deixe levar pelo pessimismo excessivo ou pela bolha que se cria por conta de leitura excessiva
de notícias ou contato com pessoas que se emocionam diariamente com política. Isso contamina
suas decisões – inclusive fizemos um texto falando sobre isso com alguns números para embasar.
Enfim, vamos lá.

3
Lembrando: absolutamente nenhuma análise que realizamos tem caráter de recomendação. Nós estamos
completamente aptos a recomendar quaisquer ativos, mas não o fazemos – nossa intenção é educar e
conceder ao leitor uma ideia de como realizar uma leitura de resultados, somente. Análises de decisões
demandam mais tempo e aprofundamento em diversos pontos que vão bem além da leitura do resultado de
um trimestre da companhia. Use esse material como forma de espelhar sua metodologia de análise, e não
como fator de tomada de decisão do que fazer com o seu dinheiro.

Boa leitura!

4
IPCA de Dezembro

Acima das expectativas, longe de completamente resolvido, e sinal negativo no curto prazo para os
ativos de risco do nosso país. Em dezembro o IPCA veio na ordem de 0,62%, enquanto o esperado
pelo mercado era algo em torno de 0,45%. O número não foi completamente ruim e dividiu a leitura
do mercado, dado o fato de que a difusão (o quanto os números estão subindo de forma coletiva) e
a inflação de serviços veio menor, mas alguns fatores devem ser pontuados.

Fonte: IBGE

Em novembro, o IPCA veio com sua alta resumida em praticamente dois grupos apenas, assim como
foi em novembro: o grupo de saúde e cuidados pessoais, que representou 0,21pp dos 0,62pp do
índice, e o grupo de alimentação e bebidas, que é um grupo importante e um dos mais sensíveis em
termos sociais. Em relação aos demais grupos, a alta foi pequena, praticamente causando efeito
irrelevante ao índice, com os transportes merecendo destaque, passando pelo mês de dezembro de
forma quase que lateralizada.

Fonte: IBGE

Pela ótica de maior variação, o efeito fica mais claro. A alta em saúde e cuidados pessoais foi de 1,60%
e a maior do mês, impactada principalmente pelo preço dos perfumes (+9,02%), de artigos de
maquiagem (+5,42%) e dos planos de saúde (+1,20%) que refletem os ajustes mensais de custos de
planos do ano. Em vestuário, as roupas femininas tiveram a maior alta (+2,10%), as roupas masculinas
a segunda maior alta (+1,55%) e então as roupas infantis (+1,46%). O último que merece menção é o
subgrupo de Alimentação e bebidas, que subiu 0,66% puxado pelo tomate (+14,17%), feijão-carioca

5
(+7,37%), cebola (+4,56%) e arroz (+3,77%), ou seja, tudo aquilo que mais constitui a cesta de
consumo do brasileiro.

Esses dados passam uma mensagem bem clara: a inflação ainda não está resolvida.

O ano de 2023 será um ano e tanto porque há um novo governo entrando e sua campanha eleitoral
girou em torno de uma só palavra: gastos. Por mais que exista parte da mídia e das pessoas que
romantizam gastos dizendo que investimento não deve ser considerado despesa e coisa do tipo, a
realidade é o que ela é, e não é na base do choro ou do grito que ela mudará.

Com mais investimento (gasto) público, o risco do aumento inflacionário é elevado por conta do
desequilíbrio das contas públicas. O desafio do novo governo será conseguir honrar todas suas
promessas enquanto mantém a inflação domada, o que já vimos nos últimos dois anos que é algo
longe de ser simples, sendo ela influenciada principalmente pelo mercado, que determina a taxa de
juros longa e o câmbio do país. Se isso não for sabido pela nova gestão e considerado com o devido
carinho necessário, podemos passar por mais uma alta inflacionária e a SELIC pode seguir seu
patamar elevado por mais tempo ou até mesmo o Banco Central do Brasil pode reavaliar e disparar
mais alguma alta (mesmo que simbólica, de 0,25pp, por exemplo) para sinalizar ao governo sua
postura independente e que não irá medir esforços para resguardar o valor da moeda brasileira. Essa
queda de braço entre o Banco Central e o governo pode existir, e caso ocorra, é mais turbulência
para o mercado e mais punição para a economia doméstica. O Governo e o Banco Central devem
trabalhar em conjunto, com uma analogia facilitando a compreensão: de nada adianta o governo
pisar no acelerador em termos de gastos pressionando ainda mais a inflação com política
expansionistas, enquanto do outro lado o Banco Central puxa o freio de mão para tentar conter o
problema. O carro não sai do lugar dessa forma – e você sabe bem o que é o carro nessa situação.

Com isso, como citamos no início do texto, artigos de risco tendem a sofrer mais, dada a SELIC por
mais tempo. Por um lado é positivo, afinal, são ativos descontados por mais tempo no mercado, mas
por outro, empresas alavancadas que pagam suas dívidas indexadas ao CDI e empresas que
dependem muito de juros (vide consumo e incorporação) sofrem por mais tempo.

Daqui um mês esperamos escrever esse capítulo do relatório dizendo que a chance de tudo isso que
citamos acima é baixa, e que haverá uma harmonia na condução das política econômicas do país e
do juros. A questão é que nem sempre as coisas ocorrem como o esperado.

6
Analisando uma companhia além do óbvio

Se te perguntássemos o que a Amazon faz, o que você responderia? Provavelmente a primeira coisa
que viria a sua cabeça, caso você não seja do setor de tecnologia e não esteja acostumado com
serviços de cloud e afins, seria a sua venda de livros ou seu enorme e-commerce que honra o rótulo
“a loja de tudo”, literalmente vendendo tudo o imaginamos, certo?

E se te dissessemos que a Amazon é uma empresa de tecnologia e é isso que a sustenta?

Fonte: GeekWire

O gráfico acima evidencia bem o ponto que citamos, ele se refere ao lucro operacional da Amazon
desde o primeiro quarter (trimestre) de 2014.

As barras em azul mostram o lucro operacional da Amazon de forma consolidada, isso é, quanto a
Amazon deu de lucro por trimestre. Perceba como o lucro operacional sempre vem alto, e embora
caindo nos últimos trimestres por conta da compressão de margem que a inflação causou, ainda
assim há um lucro expressivo.

A linha bege se refere ao lucro operacional da Amazon sem seus serviços da AWS. Em resumo, a AWS
é a “Amazon Web Services”, a plataforma de serviços tecnológicos em nuvem da Amazon. Perceba
como desde o terceiro trimestre de 2021 desconsiderando seu lucro com as operações da AWS, a
Amazon está operando no negativo, ou seja, tendo bilhões de dólares de prejuízo.

7
Claro que não se retira o lucro do operacional da AWS e esse é apenas um exercício de análise, mas
aqui valem dois pontos importantes, e é justamente por isso que analisar esses números
isoladamente podem ensinar tanto.

(I) A Amazon não é de fato uma varejista: sim, grande parte da sua receita vem do varejo, da
venda de livros, do seu gigante e-commerce e tudo mais, mas o seu braço tecnológico é
de extrema importância para a companhia e não é exagero dizer que a Amazon é uma
empresa de tecnologia. Analisando a companhia de forma minuciosa, você entende de
fato o que faz ela ganhar dinheiro e seus principais riscos.

(II) Como empresas conseguem mascarar alguns riscos e tirar vantagens do mercado: se você
analisou o gráfico com maior atenção, percebeu que foi em 2021 que sua operação de
varejo começou a operar no vermelho, não por coincidência, foi o ano que a inflação dos
EUA começou a desandar completamente, atingindo a máxima histórica dos últimos 40
anos. Foi nesse cenário que a Amazon viu uma oportunidade: a oportunidade de reduzir
seu lucro operacional, utilizar a AWS para sustentar as operações da companhia e vender
seus produtos no varejo por preços mais baixos absorvendo parte da inflação que ela
estava sofrendo na venda de seus produtos. Sabe quando você vê algum produto bem
baratinho na Amazon? Aí está um dos motivos: não é benevolência do Jeff Bezos nem
mágica, é apenas ela segurando o preço dos produtos, tomando prejuízo na operação de
varejo e enfraquecendo seus concorrentes que não conseguem fazer o mesmo.

O Walmart não tem um braço tecnológico altamente rentável para fazer o que a Amazon está
fazendo, na verdade, quase nenhuma varejista tem. Quando sofrem de inflação, essas companhias
precisam repassar boa parte para seus consumidores, caso contrário o operacional fica insustentável.

Repassando esses preços, seus produtos ficam mais caros, enquanto no concorrente (a Amazon)
continuam mais baratos, e aí vem uma das vantagens que ela tem, absorvendo a clientela de seus
concorrentes que não gozam das mesmas vantagens operacionais.

Além disso, o gráfico passa uma mensagem boa para quem gosta de analisar empresas e investir
em ações: somente destrinchando seus números que você descobre o que uma companhia
realmente faz. A maior parte das pessoas tem completa convicção de que a Amazon é uma varejista
(e não é exagero de nossa parte – pergunte para qualquer pessoa o que ela acha que a Amazon faz
e você verá a resposta), sendo que hoje a companhia é a maior prestadora de serviços em nuvem
do planeta.

Não é só a Amazon que possui essa característica, muita gente, por exemplo, não sabe que a WEG
apesar de vender motores, tem uma parte considerável de sua receita vindo da venda de itens de
GTD (geração, transmissão e distribuição de energia) além de ser um dos players que mais se

8
beneficiam dessa transição energética, vendendo painés solares, postos de carregamento de carros
elétricos e afins.

Acredite, saber de fato o que a empresa faz e como ela ganha dinheiro é uma vantagem expressiva,
são poucos os investidores que realmente analisam as companhias nos detalhes e esse tipo de fator
é o que aumenta a segurança e confiança na hora de tomar decisões.

O que os vendedores de sustos escondem de você

Fonte: Economatica

A bolsa brasileira deu mais retorno que a bolsa americana nos últimos 55 anos.

Mesmo com todas as crises, a destruição de valor dos últimos 10 anos e a desvalorização da nossa
moeda entre 2010 e 2022, a bolsa brasileira deu mais retorno que a bolsa americana, e já chegou a
dar mais do que o dobro de retorno.

Sabendo da emoção que as pessoas tem ao tratar sobre esse assunto, já deixamos esclarecido de
antemão que a intenção presente não é minimizar os riscos ou apontar qualquer característica

9
isolada de julgamento sobre alguma gestão presidencial. A intenção é mostrar qual é a dinâmica da
nossa bolsa de valores e como essa história de fim do Brasil ou receios sobre crises são bem comuns,
e caso você não se conforme logo com todo esse cenário de terrorismo que as entidades midiáticas
fazem questão de reforçar, a cada quatro anos, em cada eleição presidencial, você flertará com a
venda dos seus ativos e nunca dará a real chance para sua carteira de investimentos rentabilizar e
atingir o prestígio da valorização do longo prazo. Lembra de tudo aquilo que você leu em livros do
Buffett, Lynch, Marks, Siegel entre outros investidores de longo prazo defendendo investimentos de
décadas? Pois então, estamos no momento mais complicado, o momento de incerteza, risco e baixa
de mercado, esse é o desafio de carregar investimentos por anos, afinal, se vivêssemos sempre em
ritmo de bull market, seria fácil demais.

O gráfico acima se refere ao índice IBOV dolarizado desde 1968 em base 100. Foi escolhida essa data
pois foi em 1968 que o índice da nossa bolsa foi criado – época em que havia no Brasil mais de 20
bolsas de valores operando em diversos estados diferentes.

Ao longo desses 55 anos, o Brasil passou não por uma nem duas crises, mas diversas. Citaremos as
principais.

Na década de 60 houve uma crise interna forte por conta do alto endividamento que o país entrou
no período da ditadura militar afundando completamente a balança de pagamentos, com o cenário
externo incerto e agravado por conta da guerra do Vietnã.

Na década de 70 houve uma crise externa forte por conta do fim do padrão-ouro (praticamente um
calote dos EUA no mundo) e logo em seguida as crises do petróleo, que elevaram o preço do barril
de petróleo em mais de 200% por conta do embargo que os países da OPEP deram aos EUA. Junto, a
guerra do Vietnã ainda se desenrolava, junto da guerra do Yom Kipur e a guerra entre o Irã e o Iraque.

Na década de 80, houve uma crise interna forte, resultado do hiperendividamento do país na época
da ditadura militar que acabou levando o Brasil ao seu período conhecido como a “década perdida”
por conta da estagnação econômica, resultando no início de uma hiperinflação sem precedentes que
obrigaria o país a trocar sua moeda diversas vezes. Vale aqui pontuar algo interessante: o Brasil tinha
uma dívida externa colossal nessa época e esse foi um dos principais fatores da instabilidade da
dívida. Dívida externa não se rola – ou você paga ou você quebra, e é justamente o que ocorreu com
o país. É por isso que tanto se fala dos benefícios de se ter uma dívida interna. No cenário externo, a
guerra entre e o Irã e o Iraque ainda acontecendo junto de crise nos EUA.

Na década de 90 houve crise externa e interna forte. Inicialmente uma crise se desenrolou no México,
com o país declarando a moratória de sua dívida, causando um temor generalizado sobre os países
emergentes, o que desencadeou uma fuga de investidores de todos esses países, sendo o Brasil uma
das vítimas. Logo depois, mais uma crise, quando o Banco Central Brasileiro decidiu abandonar o
sistema de bandas cambiais e deixar o câmbio flutuante. Junto de tudo isso, uma bolha se formava

10
no mercado americano e o Brasil passou metade da década com uma hiperinflação que chegou a ser
registrada como uma das maiores do planeta.

Nos anos 2000, houve a segunda maior crise financeira já registrada na história, sendo que alguns
ousam dizer que foi a maior. Em 2008 a bolha imobiliária americana estourou, e não era uma bolha
qualquer, na verdade, a bolha era tão grande que dois dos bancos mais seguros e tradicionais do país
quebraram, gerando uma onda de desconfiança nos agentes econômicos e o medo de que o sistema
financeiro global iria colapsar – e não é exagero. Um efeito dominó de calote de dívida poderia
ocorrer, obrigando que o Banco Central Americano entrasse em ação e resolvesse a situação. Apesar
do papel de herói, vale sempre destacar que um dos motivos dessa bolha foi o próprio Banco Central
Americano, que estimulou a economia até onde não dava mais, criando crédito sujo e plantando
artificialidade no país por anos. Esse cenário de terror causou uma desaceleração também na
economia brasileira, além, obviamente, de uma forte crise nos países desenvolvidos.

Em 2014, outra crise, agora interna. Com o governo da época adotando medidas populistas e de
estímulo insustentável na economia brasileira desde 2010, a economia do país já não era mais
sustentável com tanta artificialidade e em 2014 a bomba explodiu. O país teve sua pior crise
econômica já registrada e junto desencadeou uma crise política, piorando ainda mais a relação de
confiança dos investidores com o país.

Em 2020, a última crise, agora global. Com a pandemia do coronavírus, países foram fechados,
medidas econômicas nunca antes praticadas passaram a ser adotadas em larga escala, trilhões e
trilhões de dólares foram impressos pelos países para estimular suas economias, cadeias logísticas
foram quebradas gerando gargalos e durante um longo período a economia global foi tirada da
tomada. Um episódio que ainda será objeto de estudo por muitos anos e hoje, quase em 2023, ainda
há efeitos dessa crise que podem ser identificados com grande facilidade. Como agravante, em
fevereiro de 2022 a Rússia atacou a Ucrânia, iniciando uma guerra que culminaria em sanções
inimagináveis ao país, que hoje é uma potência energética, causando instabilidade no mercado de
fertilizantes, petróleo, trigo entre outros que são vitais para o funcionamento econômico global. Há
também fortes incertezas sobre a China, com alguns citando possível desaceleração que agrava ainda
mais o cenário.

Ou seja, a paz completa não existe.

Talvez seja mórbido dizer isso, mas se você investe no mercado de renda variável, sempre haverá
algo para te tirar a paz que será reciclado nos noticiários até que você se canse de ler. O investidor
que ama os jornais, nunca terá paz. Nunca. Na história, nunca tivemos um período de calmaria sem
qualquer fator de preocupação porque isso simplesmente não existe. É assim que funciona a
economia: com incertezas a todo momento.

11
Mesmo com todo esse cenário de incerteza, guerras, crise e afins, a bolsa brasileira triunfou. Mesmo
com hiperinflação, impeachments, trocas de moedas, corrupção, turbulência política e afins, a bolsa
brasileira triunfou.

De 1968 até hoje, a bolsa brasileira multiplicou seu valor em mais de 300 vezes, sendo que no ápice
de sua valorização, em 2008, chegou a mais de 700 vezes. Desde 2008 o país tem passado por crises
e crises, como mencionamos acima no texto, começando pela crise do Subprime, entrando na crise
de 2014 e então, quando nos aproximamos de uma melhora, chegou a pandemia, causando um
efeito avassalador não somente no Brasil, mas no mundo.

Em meio a todas essas turbulências, presidentes vem e vão, crises vem e vão e o dólar sobe e desce,
mas boas empresas seguem existindo. No período hiperinflacionário, empresas boas continuaram
sustentando a economia interna e prestando seus serviços para fora, e face a insustentabilidade da
moeda nacional, adotava-se o dólar. Empresas se adaptaram, cresceram e enriqueceram seus
acionistas. Empresas são ativos reais, que negociam ativos reais e repassam inflação e ao longo de
todos esses anos, é por isso que a bolsa sempre segue seu caminho para cima, porque é disso que
ela é formada, de empresas.

O investidor que investe em empresas de alta qualidade pode sofrer no curto prazo com as
chacoalhadas mais fortes do mercado, mas é questão de ser minimamente racional e inteligente
aqui: quando a crise realmente aperta, quem é que sobrevive? Exatamente: as grandes empresas.
Não é a fintech minúscula que vive no prejuízo, é o Itaú gigante com sua carteira trilionária e seus
quase 100 anos de história. Não é a empresa minúscula do varejo de vestuário com margem
apertada, é a Renner gigante com suas milhares de lojas e seus quase 60 anos de história. Não é a
empresa minúscula do varejo farmacêutico com margem apertada, é a Raia Drogasil com sua
operação digital que atende todo território nacional e suas mais de 2.000 lojas operantes. Não
estamos falando que gigantes não quebram, mas que são as com maior probabilidade de triunfar.

Se você quer se proteger, você precisa investir em boas empresas. São elas que atravessam as crises,
são elas que fazem a economia girar e são elas que vão absorver o mercado destruído dos negócios
menores que acabam desaparecendo.

Empresas crescem e se adaptam. Crises vem e vão. Empresas ficam.

Toda essa turbulência que você vê hoje, ocorre a cada quatro anos. Em 2026 você estará
novamente em um ambiente de pressão por conta de política. Certamente você verá que grande
parte das empresas valorizaram, afinal, são essas empresas as responsáveis por sustentar a
economia, e novamente você verá as mesmas histórias de fim do Brasil, com alguns investidores
mais preocupados em espalhar o terror do que aproveitar as oportunidades que tanto falavam ao
ler os livros do Warren Buffett. Ler não é suficiente. Praticar o que leu é o que conta.

12
Como recomendação de leitura para esse tema, o novo livro do Barsi é uma boa pedida – uma
narrativa que trata sobre o investimento na bolsa de valores desde a época do início desse gráfico. A
cada quatro anos vão tentar te convencer de que a bolsa brasileira vai acabar, e você tem duas
opções: acreditar equivocadamente que isso é verdade e contrariar todos os dados, ou aproveitar as
oportunidades.

7 vantagens poderosas para identificar em uma empresa

Fonte: https://www.castlesandmanorhouses.com/photos.htm

Esse é um assunto que o Buffett adora. Sempre que aborda sobre sua filosofia de investimentos, o
lendário investidor cita os “moats”. Esses moats nada mais são do que barreiras de entrada para
novas companhias em determinado segmento, e o termo é inspirado na arquitetura de castelo, com
seus gigantes fossos que os protegem – logo, empresas que possuem moats significam empresas que
possuem obstáculos de entrada que dificultam a vida de seus concorrentes.

No texto abaixo citaremos 7 típicas barreiras de entradas que podem beneficiar uma empresa e gerar
mais segurança para o investidor. Barreiras de entradas que proporcionam maiores chances de boa
rentabilidade para as empresas. Junto, exemplificaremos com algumas empresas brasileiras.

1. Necessidade alta de capital: setores e segmentos onde abrir uma companhia demanda
investimentos elevados. Uma poderosa barreira de entrada. São poucos que realmente aceitam
tomar o risco de começar um negócio contratando dívida e investindo milhões (ou até bilhões) de
reais. Além disso, esse tipo de movimento depende muito da conjuntura econômica, que determina

13
a taxa de juros e pode complicar ainda mais a alavancagem necessária. Uma empresa que possui essa
vantagem aqui no Brasil é a WEG. Boa parte das companhias do setor industrial (em especial alguns
segmentos) contemplam.

2. Canais de distribuição: algo que tem se popularizado cada vez mais, é o sistema de
marketplace. O marketplace nada mais é do que um ambiente onde diversas lojas se reúnem e
vendem seus produtos. O que nem todos sabem é que esses market places são criados por algumas
companhias em específico. Uma vez que esse ambiente de compra e venda de produtos se
populariza, passa a se tornar uma grande vantagem para a companhia, visto que o efeito de rede
(lojistas anunciam porque sabem que é o lugar onde há mais pessoas e pessoas vão direto para o
lugar porque sabem que é onde há mais lojistas) fortalece esse canal. Aqui daremos dois exemplos.
O primeiro, de certo, o Mercado Livre: não é necessário dizer que seu efeito de rede no canal de
distribuição virou uma potência. Hoje a companhia é uma das maiores da América Latina e
dificilmente imaginamos algum substituto. O segundo, a Raia Drogasil, sim, uma farmacêutica. A Raia
Drogasil tem investido cada vez mais em sua operação de market place e hoje é o maior market place
farmacêutico do país, além de ser a maior farmácia digital, também. Sua operação de market place
é tão grande que grande parte de seus concorrentes utilizam.

3. Escala: esse ponto se refere basicamente ao tamanho da companhia. Companhias gigantes


têm vantagens igualmente gigantes. Quando uma empresa é grande demais e consegue escalar o
seu tamanho para novas regiões ou mercados, ela se beneficia das suas operações já bem
estruturadas para competir. Um exemplo fácil seria a Ambev. Hoje a companhia tem quase 60% do
mercado de cerveja nacional em suas mãos e gera bilhões e bilhões de reais de lucro anualmente.
Esse porte permite que ela já entre com força nos segmentos derivados (sucos e outras bebidas) e
invista forte em novas inciativas, vide o Zé Delivery, que pouca gente nota que é da Ambev. Além
disso, outra vantagem é que quando se é gigante, a companhia consegue operar com margens
menores. A Ambev consegue fazer mais promoções, vender seus produtos por preços menores e
conquistar mais clientes por meio do preço dos produtos, coisa que empresas menores não podem
por conta das margens mais apertadas. O mesmo se aplica para bancos e quaisquer outras
companhias com escalas colossais. Quanto maior, mais vantagens.

4. Regulamentação: esse ponto é o mais puro retrato do Brasil. Acredite, a alta


regulamentação e a burocracia são vantagens na maioria das vezes. O fato de uma empresa precisar
de centenas de licenças, pedidos formais, trâmites jurídicos entre outros pontos altamente
burocráticos para operar, é considerado um moat. Uma empresa que ilustra isso aqui no Brasil é a
Sanepar. A empresa funciona por meio de contratos que duram décadas, está em um setor
completamente controlado e regulado. Mesmo com o marco do saneamento facilitando a entrada
das companhias no setor, a burocracia ainda é forte e são poucos os players que optam por entrar
num mercado tão problemático em termos jurídicos. Quanto mais “chato” for em termos
burocráticos, mais segura está a companhia.

14
5. Propriedade intelectual: patentes. Basicamente. Propriedade intelectual se refere as
vantagens que uma companhia tem em relação a exclusividade de seus produtos. É um ponto bem
específico, e a melhor definição aqui é em relação as farmacêuticas. São poucas as companhias
brasileiras que se encaixam aqui, mas a Blau Farmacêutica ou a Hypera são bons exemplos.

6. Diferenciação de produtos: marca forte. Quando se fala em marca forte, não é difícil de
pensar em companhias que se associam a isso, sendo a principal, a Apple. As pessoas não dizem que
tem um celular, elas dizem que tem um “iPhone”. É basicamente por essa linha. Empresas que
possuem marcas fortes conseguem se beneficiar da preferência dos consumidores, veja, certamente
você conhece alguém que ao ir ao mercado, sempre opta pela mesma marca de alimentos, mesmo
que o preço suba um pouco, e talvez até mesmo você seja essa pessoa. É sobre isso que estamos
falando aqui. A M Dias Branco, a Camil e a Renner são bons exemplos disso aqui no Brasil, sendo que
a Renner apesar de não ser uma marca propriamente dita, é quase sempre a preferida para a compra
de roupas com bom custo-benefício em shoppings. Marca forte, concorrência enfraquecida.

7. Custos de mudança: esse ponto é meio controverso, mas realista. Sabe quando você se
torna cliente de um produto ou uma companhia, está tão acostumado e enraizado a ela e só de
pensar em mudar te dá preguiça porque você sabe que daria um trabalho gigante? É sobre isso que
estamos falando. Geralmente clientes de bancos e empresas de telecomunicação estão nesse grupo.
A maior parte da clientela liga somente para o preço, sendo que a preguiça e os custos para mudar
de serviço acabam desestimulando a mudança. Alguém que usa a Vivo, por exemplo, e quer mudar
para a Claro, pode se sentir desincentivado ao saber que terá que ir a alguma agência da companhia,
assinar papéis, fazer portabilidade... e o cenário é ainda pior quando se trata de mudança de internet
fixa com visita de clientes, agendamento e afins. Bancos também gozam desse benefício: clientes
com décadas de uso, com seus cartões, investimentos já na instituição e afins, ficam completamente
desestimulados ao pensar em todo o trabalho que terão. O custo da mudança pode ser alto, e não
falamos necessariamente do custo financeiro.

Busque sempre companhias que possuem algum tipo de moat. São essas as com alta probabilidade
de se estabelerecem como líderes de um segmento e as que realmente atravessam as crises.

15
Pressão sobre o preço do petróleo segue

No relatório do mês de novembro, fechamos dizendo que sob nosso ponto de vista, não há tanta
esperança para o preço de um petróleo tão baixo por tanto tempo, a não ser que ocorra alguma
mudança drástica no cenário chinês ou uma desacelerção econômica nos países desenvolvidos bem
mais intensa do que o esperado. Abaixo, mais um gráfico para corroborar com esse ponto citado.

Fonte: Ninepoint, Kepler

O gráfico acima se refere ao estoque de barris de petróleo em escala global.

Basicamente, desde o íncio do ano passado esses estoques estão cada vez menores, com um
movimento nunca antes visto em escala global, com um esforço conjuntos dos países liberando suas
reservas para conter a alta de preço do barril e frear a inflação que até o meio desse ano se mostrou
extremamente problemática nos países do mundo desenvolvido.

A questão é: o principal motivo dessa alta do barril de petróleo tem sido as sanções a Rússia, e em
algum momento o uso das reservas terá de parar – é insustentável.

Resta saber até que ponto essas reservas serão utilizadas e se uma possível retomada econômica da
China em nível intenso pressionará o preço mesmo com essa medida emergencial.

16
A sangria silenciosa segue

Que os EUA hoje passam por forte incerteza econômica, a maioria das pessoas que estão por dentro
das notícias econômicas já sabem, o que ainda é desconhecido, é como está o mercado de trabalho
que mais aqueceu nos últimos dois anos.

Fonte: Statista

Desde junho desse ano, a quantidade de empresas do segmento de tecnologia tem pisado forte no
acelerador para realizar demissões, seguindo exatamente o plano que o Federal Reserve tem
praticado, buscando desacelerar o crescimento econômico para frear a inflação do país.

Desde janeiro já foram 986 companhias realizando 152 mil demissões, sendo que os quatro primeiros
meses do anos praticamente não sofreram desse efeito.

Isso tem acontecido principalmente por conta de dois motivos: (I) o crescimento do juros americano,
que saiu da ordem de 0% para 4,5% atualmente o que força as empresas de tecnologia que viviam
de dívidas e alavancagem a realizar demissões em massa (sabe aquelas empresas tech que só geram
prejuízos e estavam há anos sem conseguir a sustentabilidade de seus produtos?), e (II) a própria
desaceleração estrutural do setor de tecnologia, que inegavelmente cresceu em ritmos obscenos
durante a pandemia por conta do uso forçado de alguns serviços. Um exemplo fácil desse ponto seria
o Zoom – sem a possibilidade de realizar reuniões presenciais ou aulas em universidades em próprio
ambiente físico, milhões de pessoas começaram a utilizar o software, causando um crescimento
exponencial e explosivo da empresa, forçando contratações para praticar a expansão do negócio.
Não foi só o Zoom que passou por esse movimento, mas centenas de companhias do setor de
tecnologia.

17
Esses dados vão de ideia justamente ao que o Federal Reserve busca: é impossível desacelerar a
inflação se a economia continuar fortemente aquecida. Por mais tenebroso que seja dizer isso, o
Banco Central deseja que ocorram demissões para que o consumo caia e a inflação siga – é uma das
dores do crescimento artificial que foi promovido nos últimos anos com todos os trilhões de dólares
que o próprio Banco Central imprimiu.

O problema é que essa onda de demissões pode gerar uma contaminação, ora, como citamos, já são
quase 1.000 companhias com mais de 150 mil demissões somente no setor de tecnologia. Imagine
agora se todos os agentes econômicos passarem a agir de forma mais receosa, reduzindo gastos,
aumentando demissões e o impacto da desaceleração ser ainda maior? Esse é o risco que essas ondas
de demissões podem causar – a contaminação nas expectativas.

Os números suportam bem a ideia que passamos no último relatório (e se você não leu ainda, leia o
quanto antes) sobre a intensidade da desaceleração que pode ocorrer nos EUA. As expectativas
mudam rápido, e como já sabemos, o mercado trata sobre expectativas.

Siga os seus aportes no mercado acionário sempre priorizando companhias lucrativas e que se
sustentam, e caso você esteja empolgado com a atual faixa de preço das ações, lembre-se que tudo
que está barato pode ficar ainda mais. Você se protege nesse tipo de situação sempre aportando,
mas lembrando que não deve se emocionar e realizar 100% dos seus aportes em um só momento.

Aporte consistentemente e mensalmente, já temos uma boa margem de segurança na maior parte
dos ativos, mas a chance de uma margem maior existe. Dollar cost averaging.

Mais Buffett, menos emoção

Investir pro longo prazo não é fácil, já falamos diversas vezes que o maior desafio é justamente
atravessar as crises e suportar o cenário devastado onde diariamente somos bombardeados por
notícias negativas. Que tal ter uma ótica sobre os investimentos do Buffet nesse aspecto?

18
A tabela acima apresenta as empresas que o Warren Buffett tem há mais tempo em sua carteira de
investimentos. Como você pode ver, a mais antiga é a Coca-Cola, comprada há 35 anos, em 1987.

Se você parar para pensar, durante diversos períodos, todas essas empresas passaram anos caindo
ou com as ações de lado, sem dar sequer 1% de valorização – e quando falamos anos, em alguns
momentos chega a ser até mesmo década. A própria Coca-Cola serve de exemplo: entre 1998 e 2012
a ação andou de lado. E assim foi com a maioria das companhias durante esse período, de crise
econômica nos EUA após estouro da bolha da internet.

Aí fica o grande questionamento: o que te faz pensar que em 3 anos você conseguirá ver as suas
ações valorizando e te enriquecendo? O mercado acontece em ciclos: nos ciclos de baixa as ações
afundam e desafiam seu psicológico, com milhares de notícias surgindo e te fazendo achar que você
está tomando as piores decisões possíveis, criando aquele viés para a renda fixa. Nos ciclos de alta
as ações multiplicam seu valor e você, que talvez tenha decidido ir completamente para a renda fixa
na crise, passe a se punir, se perguntando todos os dias porque não aproveitou algumas
oportunidades e teve paciência até que o mercado se ajustasse.

O grande ponto é: o mercado roda em ciclos e se você espera enriquecer em 3 anos investindo em
ações, desista – não vai acontecer, ninguém passa por isso. Todos os vencedores aguentaram as
dores do longo prazo e desafiaram o próprio psicológico se atendo mais aos fundamentos das
companhias do que às notícias que se alimentam do seu pânico.

Agressividade histórica na alta de juros dos EUA

Um gráfico complementar ao que citamos acima.

Fonte: Statista, FRED

19
A atual alta de juros que o FED está realizando nos EUA é a mais agressiva da história do país.

Em apenas 8 meses a taxa de juros foi elevada de um patamar de 0% para os atuais 4,5%, sendo que
os membros do comitê que decidem o ritmo da alta de juros já deixaram bem claro que a meta é de
5% e que não hesitarão em elevar ainda mais a taxa sse a inflação apresentar qualquer evidência de
descontrole.

Alguns que olham esse movimento, acabam achando exagero as narrativas que são utilizadas, muitos
questionam a razão de tanto alarde com uma taxa de 4,5% enquanto alguns países, como o Brasil
mesmo, estão mais próximos dos 15% e ninguém se importa tanto.

A questão é que quem dita o ritmo da economia global é os EUA. Hoje o país, sozinho, representa
quase 60% de todo o mercado acionário do planeta, o dólar representa quase 70% das transações
financeiras do globo e é a principal reserva financeira do mundo.

Quando os EUA eleva sua taxa de juros, ele não está somente secando a liquidez do seu país, mas
praticamente do mundo inteiro, pressionando todo o ritmo da economia global.

Em um cenário onde os EUA estão com uma taxa de juros de 0%, as empresas, geralmente gigantes
globais, conseguem se alavancar e expandir seus negócios aquecendo não só a economia do país,
mas também a economia de países a qual estão penetrando. Além disso, o dinheiro dos investidores
que constituem o mercado é direcionado para investimentos de maior risco, geralmente fora do país,
também.

Em um cenário onde os EUA estão com uma taxa de juros de 7%, as empresas, geralmente gigantes
globais, reduzem seus planos de expansão, contraem seus investimentos, a economia tanto dos EUA
quanto dos países a qual essas empresas realizam as operações passam a desaquecer e os
investidores em vez de investirem em ativos de maior risco e financiar negócios mais ambiciosos,
tendem a investir o dinheiro em títulos da dívida americana, que agora estão pagando uma taxa mais
alta e com o menor risco do planeta.

De forma resumida, a taxa de juros americana é um dreno de dinheiro global.

Quanto mais rápido ela sobe e mais alta ela fica, mais o dinheiro do mundo é sugado e maior é a
desaceleração da economia global. O que estamos presenciando hoje é algo que nunca ocorreu antes
e ressalta o risco que mencionamos no texto acima, de um receio por parte dos agentes econômicos
causando um efeito dominó em demissões e contração de atividade econômica.

Lembrando, novamente, que o FED já deixou claro que não hesitará em elevar a taxa de juros
independente da necessidade, o que é bem cômico – hoje eles estão exercendo esforços inéditos

20
para destruir um monstro que eles mesmo criaram. E adivinha quem é que sofre as consequências
de todas essas medidas irresponsáveis? Pois é – certamente não é o comitê que toma a decisão.

Nos mercado emergente o cenário é um pouco diferente. A Arábia Saudita destoa com sua economia
completamente pautada em petróleo com dados fortíssimos no ano, enquanto o Brasil e a Índia
também são as duas estrelas do grupo com dados fortíssimos todos os meses graças ao boom das
commodities que estamos vivendo atualmente. A China, que também vale ser mencionada, está em
um morde e assopra há tempos por conta da política de COVID Zero que o país instaurou, as vezes
fechando províncias inteiras por alguns dias e punindo completamente esses números.

A perspectiva sombria do FMI vem desse dado e conversa com o que citamos no texto sobre a bolsa
americana barata. Há sim ativos com preços excelentes para quem investe para o longo prazo, mas
isso não significa que não há mais espaço para cair, pois se o mundo realmente entrar em uma
recessão como a maior parte dos indicadores apontam (e de certa forma os governos pretendem que
isso ocorra pois é o modo fácil de frear a inflação que tem batido tanto em suas economias), os ativos
de risco podem sofrer ainda mais.

Ficarão mais baratos, mas bateremos nessa tecla por um bom tempo: nada é tão barato que não
possa ficar mais. Você não precisa acertar o fundo nem investir no melhor momento possível, tempo
no mercado sempre supera acertar o tempo do mercado, e você deve aproveitar as oportunidades
com parcimônia. Não abrace a ideia de que só porque o mercado já caiu 20%, não há mais espaço
para cair, porque isso é mentira, errado e puro viés de ancoragem.

Sempre há espaço para cair mais – a única verdade é que quanto mais cai, menos espaço tem, mas
espaço sempre há, então poupe-se de frustrações e compreenda que estar barato é algo
completamente diferente de não poder mais desvalorizar.

China

Um compilado de dados da economia chinesa sobre o mês de novembro de 2022 não poderia faltar.

Hoje o país é um dos principais agentes protagonizando a retomada da atividade econômica global.

Há alguns meses o Partido Comunista Chinês (leia-se principalmente por decisão do Xi Jinping)
determinou que o país tivesse zera tolerência em relação a casos de COVID-19, estabelecendo assim
sua política de COVID Zero. A política é bem controversa e uma verdadeira trava na economia do
país, em alguns momentos com províncias inteiras sendo completamente trancadas por conta de
poucos casos identificados. Tanto não deu certo a estratégia, que hoje a China passa por uma de suas

21
piores ondas desde o início da pandemia. E isso tem causado forte impacto econômico que
mostraremos abaixo com alguns gráficos.

Fonte: Pictet Asset, CEIC

Esses dois primeiros gráficos se referem ao consumo do país, ou seja, o quanto o varejo está
aquecido. Os gráficos estão em base 100 tomando como referência o mês de dezembro de 2019.

Pela ótica da venda do varejo (gráfico da esquerda), hoje as vendas estão 5% abaixo do registrado
antes da pandemia, sendo que no pior momento registrado, em 2020, esse número ficou 24% abaixo.

Pela ótica da venda de carros (gráfico da direita), hoje as vendas estão 10% abaixo do registrado
antes da pandemia, sendo que no pior momento registrado, em 2020, esse número ficou 66% abaixo.

Fonte: Pictet Asset, CEIC

22
O gráfico acima se refere a produção industral do país, também em base 100, tomando como
referência o mês de dezembro de 2019.

Os números referentes a produção industrial da China são de extrema importância principalmente


pelo papel que ela desempenha na economia global. Você já deve ter ouvido aquela frase que diz
que “a China é a fábrica do mundo”, certo? É por aí. Um problema nesse indicador significa um
problema não só na China, mas para o mundo inteiro. Boa parte dos gargalos que o mundo
atravessou nos últimos 3 anos vieram daqui. Hoje essa produção está 12% acima do registrado em
2019, mas com a problemática de uma volatilidade que não deveria existir, justamente refletindo a
política de COVID Zero que o Partido Comunista Chinês tem praticado.

Fonte: Pictet Asset, CEIC

E os dois últimos gráficos ilustram um pouco sobre outro mercado vital para a China: o mercado
imobiliário.

Assim como o mercado de consumo, o mercado imobiliário chinês está passando por um momento
de desaceleração forte, sendo que o de construção é o mais afetado, na mínima desde 2009, como
mostra o primeiro gráfico a esquerda. O gráfico a direita se refere ao nível do espaço de vendas.

Ou seja, atualmente todos os indicadores chineses de maior grau de importância estão apresentando
algum tipo de problema de sustentação ou maior volatilidade

Isso pode criar duas conjunturas possíveis, que é justamente o que tem gerado maior incerteza no
mercado por serem completos opostos que levam a economia global para caminhos bem distintos.

23
De forma resumida, os dois cenários possíveis: (I) a China segue com a sua política de COVID Zero e
a economia global segue pressionada. Pressionada porque essa política causa uma queda de
demanda forte no país e uma contração econômica de curso forçado que impacta o mundo inteiro
indiretamente. O próprio mercado de petróleo hoje é um dos que está em nível bem abaixo do que
era projetado há um tempo por conta da China – com o país travado, a demanda por petróleo caiu
violentamente. O cenário (II) é o oposto: reconhecendo o quão problemática é a política atual, a
China terminará com sua política de COVID Zero e estimulará a economia da forma que sabe,
causando uma explosão de demanda no mercado, impulsionando a economia global e fazendo
alguns preços dispararem, como o do próprio petróleo.

O cenário (II) não é impossível e bem provável, principalmente pelo fato de que a atual política de
COVID Zero está causando a fúria da população de forma jamais vista. Sim, há o fato de que a China
é um país ditatorial e o controle populacional é uma opção, a questão é que não estamos mais em
1980 e tudo que ocorre pode ser registrado, além do fato de que a população com todo o seu
tamanho é o maior medo do Partido Comunista Chinês em termos de risco ao poder – não é como
se um partido com 80 milhões de cabeças fosse suportar a pressão de uma população de 1.3 bilhão
de pessoas.

Outro ponto de extrema importância de menção é o quanto isso impacta o Brasil.

Uma desaceleração chinesa bate com força no Brasil principalmente por conta da menor demanda
por commodities – ferro, petróleo, agro, etc. A China é nossa maior parceira comercial. Se ela compra
menos, significa que haverá menos dinheiro entrando aqui no Brasil, o que significa deterioração das
contas públicas e pressão sobre o câmbio e a inflação. O oposto é verdadeiro: uma abertura da
economia chinesa e estímulos por lá causariam um efeito de aquecimento da demanda por
commodities e o Brasil se beneficiaria, assim como foi entre 2002 e 2008, com a venda de
commodities a todo vapor, contas públicas indo bem, câmbio valorizado e nossa economia crescendo
forte.

24
Abaixo, você verá uma tabela das principais companhias expostas a China.

Fonte: Bloomberg

A tabela acima ilustra o quanto cada uma das companhias acima tem de seu faturamento
dependente da China, ou seja, a CSN Mineração é a mais dependente, com 81% da sua receita vindo
da China. Uma desaceleração mais violenta da economia chinesa tende a prejudicar essas
companhias, da mesma forma que uma forte retomada irá potencializar o lucro.

De qualquer forma, a China há de encontrar um equilíbrio, e esse equilíbrio só será atingido mediante
a normalização do país e o abandono da política sem sentido que está sendo seguida atualmente.

Pessimismo: o efeito da nossa bolha das redes sociais

Desde o final de outubro (ou começo de novembro?), com o resultado das eleições, quem é do
mercado ou está mais antenado às notícias dessa área, certamente percebeu um pessimismo
crescente e galopante. E não foi à toa: há motivos de sobra para isso, desde as falas do Lula sobre o
novo governo que remetem sua gestão a uma possível gestão de “Dilma 3” com irresponsabilidade
fiscal até as nomeações dos ministérias de seu novo governo, em especial o ministro da fazenda, que
foi convocado o Fernando Haddad, ao BNDEs que foi convocado Mercadante.

Poderíamos passar quase uma hora aqui citando mais fatores que tem levado os investidores a ter
uma postura mais pessimista sobre o futuro, e não estamos tratando aqui sobre especulação, mas
apenas movimentos baseados em anúncios e notícias recentes que foram confirmadas. A questão é:
sob a ótica dos investimentos realizados pelo setor privado, todo esse pessimismo é colocado em
xeque, nos fazendo refletir se realmente há sentido e o quão enviesado estamos em nossas bolhas
de redes sociais ou áreas de profissão.

25
Fonte: Banco Inter

O gráfico acima se refere a quantidade de investimentos privados diretos realizados no país em


termos acumulados. Desde março de 2022 esse número tem subido, e mesmo com o resultado
eleitoral, que tem causado tanta incerteza no mercado e em diversos agentes econômicos tanto por
conta de boatos e planos do novo governo, os investimentos continuam acelerando, saindo da ordem
de US$ 70 bilhões em setembro desse ano para aproximadamente US$ 77 bilhões em novembro,
representando 4,2% do PIB.

Esse número tem relevância e deve ser considerado. Ainda que haja tanta incerteza e receios sobre
o cenário econômico nacional a partir do ano que vem, não é como se esses investidores e
empresários com seus bilhões de dólares fossem investir no país sem qualquer estudo, projeção ou
planejamento sobre o cenário.

O mercado de capitais é um gigantesco termômetro e deve ser levado em conta, mas não se pode
ignorar o fato de que há muita especulação sobre os números e que no curto prazo essas expectativas
acabam não refletindo nada além de um jogo de compra e venda baseado em boatos.

Repensar o quanto vivemos em nossas bolhas é obrigação recorrente do investidor para evitar vieses
em suas decisões.

26
Tá todo mundo “perdendo” dinheiro, e faz parte

Tempos de crise e baixa do mercado faz o investidor mais novo no mercado se desesperar, vendo
seu patrimônio derretendo lentamente, e o desespero fica ainda maior quando o investidor usa o
seu tempo livre para monitorar as últimas notícias sobre mercado e política. O cérebro entra em uma
espiral de sentimento negativo onde o sentimento de medo e a vontade de vender tudo toma conta,
é por isso que batemos tanto na tecla para que o investidor novato evite ler notícias e ignore
completamente todo o “chororô” dos noticiários, reforçando sempre que boa parte dos jornalistas
se alimentam do terror de seus leitores.

Trazemos os dados abaixos para você se acalmar e ver como todo esse balanço mais intenso do
mercado faz parte do jogo.

Fonte: Flávio Aragão, 051 Capital

A tabela acima se refere a rentabilidade dos fundos exlusivos e do CDI em cada janela de tempo,
respectivamente.

Antes de mais nada, vamos te explicar o que são fundos exclusivos.

Fundos exclusivos nada mais são do que fundos com um único cotista, ou seja, quando um investidor
pessoa física se torna tão grande (geralmente R$ 10 milhões + de patrimônio) ele opta pelo uso de
um fundo de investimento exclusivo para “driblar” a tributação. A vantagem vem pelo fato de que
fundos não pagam IR sobre a venda de ativos, sendo que os impostos vem por outro sistema, ou seja,
enquanto o investidor pessoa física paga 15% sobre os lucros, um cotista de fundo exclusivo pode
realizar a venda do ativo sem pagar essa alíquota. Não, o fundo não passa ileso sem pagar nada, mas
isso é assunto para outro momento. O que você deve saber é: quem tem muita grana abre um fundo
para investir. Sabe quando dizem que o Barsi é o maior investidor pessoa física da bolsa de valores?

Pois então: ele de fato é, mas existem investidores bem maiores do que ele, a diferença é que o Barsi,
por alguma razão, não opta por utilizar um fundo, ele é de fato pessoa física, enquanto investidores
grandes são PJ, ou seja, abrem um fundo e operam como fundo via fundo exclusivo.

Feito isso, você já entendeu o que são fundos exclusivos. Agora vamos explicar a tabela.

Os dados foram levantados por um monitoramento de fundos exclusivos de bancos e family offices.

27
Como você pode reparar, em absolutamente todas as janelas auferidas os fundos estão perdendo
para o CDI.

Esse dado é interessante por diversos motivos, sendo dois principais: (I) mostra como investidores
multimilionários e que vivem do mercado também passam por esses momentos de “perda” de
dinheiro (e aqui vai as aspas pois não é perda necessariamente, mas apenas uma performance menor
que a do CDI e mesmo que fosse uma rentabilidade negativa, não seria algo preocupante), (II) como
é difícil conseguir superar o CDI em alguns períodos.

Para colher os frutos do longo prazo, é necessário atravessar o inferno do curto e médio prazo, isto
é, o período de turbulência, medo e incerteza quando a renda fixa está rendendo valores obscenos,
quando redatores mal intencionados tentam te vender o fim do mundo e todos a sua volta te julgam
por tomar risco e investir na bolsa de valores.

É assim que os grandes investidores fazem dinheiro. Inclusive a Dynamo, gigante lendária e
tradicional dos fundos de investimentos do país, também está passando por um período de péssima
rentabilidade, mostrando como alguns momentos são desafiadores.

A nossa mensagem aqui é uma só: te lembrar que ficar no negativo ou rentabilizar menos que o CDI
é completamente normal em alguns momentos. Faz parte. A renda variável varia não só para cima,
mas também para baixo. É assim que o jogo funciona. Por meses (ou até mesmo anos) a bolsa cai ou
anda de lado, até que em um bull market as ações multiplicam seu preço mais rápido do que você
pode acompanhar.

Não queira ser o cara que se apaixona desmedidamente pela renda fixa a ponto de deixar passar o
período de melhores oportunidades de acúmulo. Diversifique. Aproveite e invista nas melhores
opções para o longo prazo.

Nada do que está ocorrendo hoje é novo e você definitivamente não está sozinho.

Compre ao som dos canhões, venda ao som dos violinos

Se você tem mais de 6 meses de mercado, provavelmente já ouviu essa frase – e não uma vez, mas
dezenas, talvez centenas de vezes.

É uma frase bem simples, mas que diz muito: compre ao som dos canhões, ou seja, quando o cenário
estiver um terror, com todos assustados e a incerteza predominar, e venda ao som dos violinos, ou
seja, quando tudo estiver muito bem, apaziguado, com grande calmaria e um céu de brigadeiro.

28
Com exceção de que somos completamente contrários a essa ideia de vender quando está tudo bem,
a primeira parte da frase é a nossa preferida: compre ao som dos canhões. E é isso que o gráfico
abaixo ilustra.

Fonte: Morgan Stanley

Acima temos dados sobre a confiança do consumidor nos EUA desde 1971.

A linha cinza se refere a confiança em percentual, enquanto os pontos em azul são as mínimas e
máximas acompanhadas da informação da rentabilidade do S&P500 (bolsa americana) nos próximos
12 meses.

Perceba como os próximos 12 meses seguidos das mínimas nesse indicador costumam apresentar
uma excelente rentabilidade da bolsa. E isso tem explicação.

Basicamente, quando a confiança do consumidor está afundada, significa que o mercado também
está completamente pessimista e ninguém está “pagando para ver” se as coisas vão melhorar. É
aquele momento em que os agentes econômicos evitam tomar risco e o preço dos ativos afunda, ou
seja, a exata ilustração do “compre ao som dos canhões” que citamos mais acima.

Quando o mercado está excessivamente confiante e tudo está indo muito bem, significa que as ações
provavelmente estarão já precificadas e projetando o melhor – e ironicamente, esse costuma ser o
pior momento de compra, quando tudo está tão bem.

29
Compre ao som dos canhões, mas não precisa vender ao som dos violinos. Lembre-se apenas que a
história se repete, década após decada, talvez não de forma exata, mas sempre rimando.

O melhor momento é aquele que todos julgam ser o mais incerto, afinal, é aí que poucos tem
coragem de comprar e a maioria se acovarda, e daí surgem as maiores oportunidades. Tome a
iniciativa.

O governo jogando contra... o próprio governo

A Petrobras virou alvo de fortes críticas por parte da futura gestão do país, e de fortes especulações
por parte do mercado.

De um lado, as críticas do governo são em virtude do lucro que a estatal tem hoje em dia: os
desenvolvimentistas são completamente avessos a ideia de que uma empresa de capital aberto deve
dar tanto lucro negociando um produto de tamanha importância (gasolina) para a população.
Segundo alguns, a melhor opção seria que a empresa reduzisse sua margem de lucro, reduzisse os
dividendos e utilizasse seu resultado para reinvestir nas operações, principalmente em campos de
refino de petróleo, o que é algo bem questionável.

Do outro lado, o mercado interpreta isso de forma extremamente negativa, o que é óbvio, e
pressiona o preço das ações da Petrobras para baixo. Ora, com um governo que abertamente e de
forma bem clara diz que irá mudar a política de investimento da empresa em detrimento dos
acionistas, não é de se esperar outra coisa.

O lado da moeda que pouca gente enxerga é: o quanto o Estado já perdeu de dinheiro potencial com
essa desvalorização das ações, ou melhor, o quanto ele poderia ganhar, caso ajustasse o discurso e
fosse menos incisivo e radical, mostrando pouca simpatia com o mercado. Vamos falar sobre isso
agora.

Fonte: Bloomberg

A tabela acima se refere a dois momentos da Petrobras: o momento de sua máxima de valor de
mercado em 2022, e o momento atual, final de dezembro de 2022.

30
Considerando a participação que o Estado tem na companhia (36,6% das ações via Governo Federal
+ BNDES), na máxima registrada no ano, o Estado tinha sob posse quase R$ 200 bilhões em ações da
Petrobras. Comparado ao valor de mercado atual na data desse texto, um valor de R$ 305 bilhões, a
participação do Estado é de R$ 111 bilhões.

Comparando o valor de mercado da máxima para o valor atual, significa que o Estado teve uma perda
de R$ 79 bilhões em termos de valorização das ações, o que implica em uma variação percentual de
-41,5%.

Talvez você esteja se perguntando: “mas qual o problema nisso? É só desvalorização das ações, o
Estado não perdeu, de fato”. Isso é uma conclusão equivocada.

Existem dois pontos. (I) o Estado poderia realizar a venda das ações da companhia para levantar caixa
e realizar investimentos ou até mesmo arcar com programas assistencialistas – esse valor perdido,
para se ter ideia, seria suficiente para arcar com quase 2 anos de bolsa família no valor de R$ 600 por
beneficiado, e (II) a queda do valor das ações implica em aumento de risco para o Estado e perda
para a própria companhia, visto que essa desvalorização sinaliza menor lucratividade da empresa,
menor credibilidade de crédito e afins.

Aí entra o título do texto: é o governo jogando contra o próprio governo.

Até que ponto vale o discurso desenvolvimentista e toda essa incisividade em demonstrar as
promessas eleitorais, se na prática todas essas ações acabam gerando um ambiente ainda mais
desafiador para o próprio governo atuar em 2023?

Quase R$ 80 bilhões já viraram fumaça ao mesmo tempo que a maior e mais poderosa companhia
do país teve seu quadro de confiança abalado. Isso pode parecer pouco, mas nunca é demais lembrar:
em 2014 a dívida da Petrobras chegou a causar risco para a sustentabilidade da dívida brasileira. A
Petrobras é uma poderosa porta de entrada para o investidor externo – se essa porta se fecha,
dificilmente alguma conseguirá ser aberta para compensar a perda.

A maldição de um BNDES engrandecido

Outro ponto que virou pauta de discussão econômica nas últimas semanas foi a nomeação do BNDES
e seu uso de agora em diante sob nova gestão política.

O BNDES é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, seu objetivo nada mais é do que
fomentar e financiar investimentos de longo prazo em todas as esferas da economia brasileira.
Simplificando, o BNDES concede crédito e a empresa utiliza para investir.

31
A princípio, a ideia é boa e válida – nem sempre o setor privado deseja investir em algumas áreas,
seja por questão de retorno que não é tão atrativo, seja pelo risco que é muito elevado ou
simplesmente pelo momento que demanda taxas mais altas e a relação devedor para credor se torna
insustentável. A questão é quando o uso do BNDES sai de controle e começa a distorcer
completamente a economia do país, em especial, o mercado de capitais.

Neste texto, aprensetaremos uma série de gráficos que mostra como o uso errado do BNDES pode
ser um problema gigante não só para as empresas, mas para o país como um todo.

Fonte: Anbima, J.P. Morgan

Este gráfico acima se refere a quantidade de dinheiro captado pelos títulos de renda fixa em bilhões
de reais excluindo os CRIs. Ou seja: CDBs, LCIs, LCAs, CRAs, debêntures e afins – o gráfico é a soma
de todo esse dinheiro contratado de 2007 até 2022.

Perceba como desde 2017 esse número vem crescendo forte, com uma captação cada vez maior,
saindo de R$ 92 bilhões em 2016 para R$ 395 bilhões em 2021 e R$ 380 bilhões em 2022. O ano de
2020 teve uma forte queda pelo fator óbvio da pandemia: com a economia sendo tirada da tomada,
foi normal e esperado uma redução na captação de crédito por conta da incerteza sobre o cenário
econômico. A normalização veio em 2021 e 2022.

32
Fonte: Anbima, J.P. Morgan, BNDES

O gráfico acima se refere a captação anual de crédito via títulos privados (linha verde) e via BNDES
(linha cinza), é basicamente o outro gráfico comparado aos números do BNDES.

Perceba como desde 2016 o crédito privado acelerou forte, enquanto o BNDES praticamente
lateralizou. Em outras palavras, isso significa que todo o dinheiro público que era utilizado para
fomentar investimentos no país, foi substituido pelo setor privado! O gráfico abaixo ilustra isso ainda
melhor.

Fonte: Anbima, J.P. Morgan, BNDES

33
Acima está a relação entre a quantidade de captação via setor privado e via BNDES. Enquanto em
2016 essa relação era de 1x (ou seja, o dinheiro captado pelo setor privado equivalia a uma vez o
dinheiro captado via BNDES), hoje esse valor está em algo em torno de 6x, a captação via setor
privado é seis vezes maior que a captação via setor público. E isso é excelente.

Significa que a maior parte da captação está vindo do próprio setor privado, com investidores, como
nós, financiando empresas via títulos de crédito, sendo remunerados por isso e sustentando os
investimentos dessas companhias. Ao mesmo tempo, significa também que o setor público está
dispendendo menos capital para isso e podendo dar foco para outras coisas. Além disso, o setor
privado tem maior capacitação para sustentar esse segmento por conta da maior racionalidade, veja,
investidores quando realizam seus investimentos costumam fazer análises mais minuciosas em
termos de risco e retorno, o que cria um mercado mais eficiente. Não estamos defendendo a ideia
de que o setor privado é perfeito – longe disso, muito investidor comete asneiras e aloca o dinheiro
de forma completamente equivocada, mas no mercado privado essa gestão de recurso vem de
milhões de agentes econômicos com bilhões de reais onde todos os dias eles acordam buscando as
melhores opções de risco e retorno. Como falamos, é a própria população fomentando o próprio
setor privado.

Esses dois números apontam problemas por terem maior inadimplência. Veja, se trata de linha de
crédito sem direcionamento, crédito sem garantia, de menor qualidade, a linha de crédito que o
banco está mais suscetível a perder por conta de calotes. Na relação de risco e retorno, para o banco,
acaba compensando, afinal, é daí que vem aquelas taxas de quase 500% de crédto no rotativo do
cartão ou empréstimos com taxas de 3% ao mês, mas o risco é justamente a inadimplência, o banco
não conseguir reaver o dinheiro emprestado. E é o que o terceiro gráfico explica.

Fonte: Anbima, J.P. Morgan, BNDES

34
No gráfico acima, a ilustração disso: a linha azul é o balanço de dinheiro captado via debêntures em
bilhões de reais pela B3 (setor privado), enquanto a linha cinza é o balanço do BNDES.

Debêntures, em termo simplificado, são empréstimos que as empresas pegam com investidores,
nada além disso. Desde que o BNDES reduziu sua participação, a emissão de debêntures disparou e
o mercado de capitais se fortaleceu.

E aqui chegamos ao ponto que queremos no texto: o risco que uma gestão errada do BNDES pode
causar.

Você deve se lembrar que entre 2014 e 2016 o Brasil passou por uma crise violentíssima, a pior dos
últimos 100 anos (sim, bem pior do que a crise que passamos na pandemia). A crise não ocorreu do
dia para a noite, na verdade, ela começou lá para 2010, com o governo da época estimulando a
economia a todo custo (e equivocadamente, desrespeitando os ciclos) dando crédito barato para
esquentar a economia, elevar o consumo e potencializar o PIB.

Nessa época o BNDES era usado a torto e a direita dando cada vez mais crédito para todo tipo de
entidade privada, que em sua grande maioria, se aproveitada de taxas mais baixas que eram
concedidas pelo banco muitas vezes para aplicar o dinheiro na renda fixa, que estava com taxas bem
altas na época. Isso virou motivo de escândalo um tempo depois, mas ilustra bem como o crédito
artificial do governo pode ser problemático.

Ao mesmo tempo que se armava uma bomba relógio de crédito mal concedido, o mercado de capitais
atrofiava, afinal, todo o canal de crédito do país estava centralizado no BNDES, utilizando os recursos
públicos e o dinheiro do contribuinte de forma completamente equivocada e sem o mínimo de
responsabilidade. Ninguém recorria ao mercado de capitais e o principal motor de relação de
crescimento do setor privado entre o mercado e os investidores estava pressionado por um
“concorrente” que tem dinheiro infinito.

É por isso que o mau uso do BNDES preocupa. A princípio, o problema pode parecer pequeno, mas é
um efeito em cascata: o mercado de capitais vai sendo pressionado, começa a ficar cada vez menor
uma vez que o setor público toma o protagonismo, os investidores tem menos opções de
investimento e menor potencial de retorno, as empresas tem menos espaço para pedir crédito via
B3, as empresas pequenas ficam ainda menos propensas ao recorrer ao mercado de capitais visto
que o desinteresse dos investidores passa a ser cada vez menor...

A bolsa de valores é uma força propulsora da economia. Ora, imagine que você é um empresário e
deseja expandir seu negócio: não há forma melhor do que você captar dinheiro realizando um IPO,
diluindo risco e expondo ao mundo a sua empresa, que passa a aparecer na B3 como se a mesma
fosse uma vitrine do capitalismo.

35
Não em vão vemos países tão desenvolvidos com mercados de capitais tão fortes: o Estado importa,
não estamos reduzindo sua importância aqui, é obvio que o BNDES tem importância em especial com
empresas menores, que estão longe de ter capacidade de realizar um IPO ou captar dinheiro privado
via debêntures, mas o seu uso equivocado acaba contaminando principalmente as gigantes,
responsáveis por ditar o ritmo da bolsa do país e criando um mercado de capitais completamente
distorcido.

Se você ver o BNDES se agigantando nos próximos meses, acenda o sinal amarelo – saiba que uma
bomba relógio semelhante a de 2010 pode estar em pleno desenvolvimento.

Oportunidades no mercado: como elas (possivelmente) surgem

O ano de 2022 tem sido péssimo para o mercado americano. Depois de quase uma década inteira de
bonança, o índice da bolsa (S&P500) caminha para ter uma das piores performances de toda a sua
história, com uma queda de mais de 20% no ano. Qualquer pessoa que fosse questionada sobre isso
em 2021 certamente não adivinharia um movimento do tipo – e quem adivinhou, torcemos muito
para que tenha ficado vendido no índice.

Quando pegamos a rentabilidade das maiores empresas do índice, a situação fica ainda pior, e mostra
como o buraco é bem mais embaixo. A Apple caiu 25%, a Microsoft caiu 29%, a Alphabet (Google)
caiu 40%, a Amazon caiu 50% e a Tesla caiu 65%. Neste texto, falaremos sobre a Amazon e como o
mercado abre oportunidades aos investidores mais pacientes nesses momentos mais turbulentos.

Fonte: Google

No gráfico acima consta o preço da ação da Amazon entre o primeiro pregão do ano de 2022 até o
último pregão de quando este texto era escrito (24/12/2022).

36
Como mencionamos mais acima, desde o começo do ano a gigante do varejo e do setor de tecnologia
em nuvem perdeu metade do seu valor de mercado, isso é, saiu de US$ 1.7 trilhão para os atuais US$
850 bilhões ou algo próximo. O motivo é simples: a Amazon está sofrendo de duas formas diferentes
lá nos EUA, sendo (I) a inflação reduziu suas margens violentamente, sendo que a empresa decidiu
segurar o preço dos produtos para ganhar mais mercado em vez de repassar a alta para os
consumidores – ou seja, ela arcando com o custo, e (II) aumento de juros nos EUA para desacelerar
a economia tendendo a uma redução de consumo que pode afetar a empresa, além do sempre falado
aumento de custo de alavancagem, que apesar do juros lá nos EUA ser de fato bem mais baixo, as
empresas gigantes tem dívidas centibilionárias (no caso da Amazon, é de US$ 128 bilhões) e uma
empresa com margem mais apertada tende a sofrer mais com isso (lembrando que margem de varejo
é baixa, no caso da Amazon, a cada US$ 100 de faturamento, apenas US$ 4 vira lucro).

Agora, vamos ao que interessa: como oportunidades podem surgir no mercado.

O preço da ação da Amazon hoje é o mesmo preço que estava a ação em dezembro de 2018. Vamos
ver como a empresa mudou de lá para cá.

Para fim de comparação, pegamos os dados de 2021, visto que 2022 ainda não fechou e o quarto
trimestre é de extrema importância para o setor devido as datas festivas.

Em três anos, entre 2018 e 2021 (dezembro a dezembro), a Amazon elevou seu patrimônio em 221%
(de US$ 43 bilhões para US$ 138 bilhões), dobrou sua receita líquida (de US$ 232 bilhões para US$
470 bilhões), aumentou seu resultado operacional em 164% (de US$ 28 bilhões para US$ 74 bilhões),
o lucro cresceu 230%, (de US$ 10 bilhões para US$ 33 bilhões) e o market share do e-commerce nos
EUA cresceu 11 pontos percentuais, de 40% para 51%.

Nesse meio tempo, cotação da ação da Amazon subiu, desceu, subiu, desceu, bateu quase US$ 160,
sendo que hoje, com todo esse crescimento entregue, voltou ao mesmo patamar de 2018, como
mostramos na tabela.

Não utilizamos os dados de 2022 pelo motivo citado no texto: seria injusto comparar os dados sem
o fechamento do último trimestre, que costuma ser o mais forte para o varejo, mas é necessário

37
pontuar também que 2021 foi um ano atípico e mais forte em resultados por conta da bonança
econômica global com tanto dinheiro impresso pelos bancos centrais.

Face a isso, você pode optar por duas óticas distintas, que dependem da sua análise e do seu
conhecimento sobre a companhia e o segmento:

(I) Todo esse crescimento da Amazon nos últimos anos não se repetirá, sendo que há até o
risco dela diminuir, ou seja, o preço da ação está correto e refletindo perfeitamente o
futuro da companhia.
(II) Todo esse crescimento da Amazon nos últimos anos refletiu em crescimento forte da
companhia, ganho de participação no mercado e ela atravessará essa turbulência, saindo
mais forte e em breve retornando ao mesmo patamar que esteve em 2021.

Nessas horas, é sempre válido lembrar que o mercado opera os ativos com um perfil mais de curto
prazo, isso é, diferente dos investidores de longo prazo que pensam em décadas, o preço de tela dos
ativos costuma refletir a companhia em um período de tempo mais limitado, considerando a curva
de juros, a taxa livre de risco e custo de oportunidade, fazendo com que ativos desvalorizem face a
problemas temporários.

Esse não é um texto de recomendação de compra das ações da Amazon, longe disso: é apenas um
estudo de caso para mostrar como o preço de uma ação pode retornar a patamares passados mesmo
que o crescimento entre os períodos comparados seja extremamente forte. No caso da Amazon,
como você viu, ela se tornou a segunda maior varejista do planeta na área do e-commerce, a maior
empresa do segmento de computação em nuvem e o preço da ação derreteu pela metade, refletindo
temores sobre a incerteza do ativo nos próximos trimestres.

E assim surgem as oportunidades – esse mesmo racional se aplica a qualquer ativo do mercado,
lembrando sempre que cabe ao investidor a análise para reconhecer os riscos do negócio.

38
15 dicas de um dos maiores investidores da história

Se você pensou no Warren Buffett, se enganou. Apesar do Oráculo de Omaha ser um investidor
gigante, histórico e memorável, as 15 dicas que passaremos aqui foram extraídas de obras e ensaios
de outro investidor: Benjamin Graham.

Ben Graham é considerado o pai do investimento em valor e foi ninguém menos do que o mentor e
professor do Buffett. Foi ele que revolucionou o investimento na bolsa de valores e deu início a
carreira do velhinho centibilionário que tanto conhecemos.

Sabe aquele livro “O Investidor Inteligente”, super aclamado? Pois é – é de autoria do Graham.
Abaixo, passaremos 15 ideias breves que o gigante passou ao longo de sua história, seja por obras,
ensaios ou entrevistas.

1. Controle suas emoções: para obter sucesso nos investimentos, você não precisa de um QI
elevado ou reinventar a roda. O que você precisa é controlar as suas emoções e ter uma boa
estratégia que te permita tomar decisões inteligentes, o que significa não especular.

2. Disciplina e coragem: a rentabilidade dos seus investimentos no curto prazo pouco importa.
Tenha disciplina para seguir com sua estratégia e coragem para não ser influenciado pelo
humor de outros investidores, principalmente em tempos de pessimismo excessivo e de
profetas do apocalipse tomando conta dos ambientes de debate.

3. Seja um contrarian: um contrarian é alguém que costuma adotar uma posição contrária ao
consenso. Em sua obra “O Investidor Inteligente”, Graham aborda muito sobre vender para
os otimistas e comprar dos pessimistas. É mais o menos nessa linha: quando todos estão
pessimistas, significa que as oportunidades estão com as melhores margens de segurança.

39
4. Tenha um plano: não interessa se você está batendo o mercado ou não – o que interessa é
você ter um plano, metas e focar em atingi-las. Saber aonde você quer chegar, no caso, ou
você jamais saberá o que fazer.

5. Mercados de baixa são oportunidade: seguindo a linha sobre o que citamos sobre ser
contrarian, quanto maior o medo do mercado, mais oportunidade há para você. Essa é a
magia do mercado acionário, nesses momentos de aversão a risco é justamente o momento
que ele apresenta maior segurança por conta dos preços das ações extremamente afundados
e margens de segurança maiores. As vezes basta um único bear market bem aproveitado para
mudar completamente seu patamar financeiro.

6. Você é um investidor: invista, não especule. Comprar uma ação é como se você estivesse
comprando uma parte de uma empresa para você, isso é, você está se tornando um dono de
um negócio. Por que raios você especularia ou compraria algo que não deseja ter ou gerir?

7. Dessa vez NÃO É diferente: a caixa alta é proposital. Em todo bull market há alguém dizendo
um “dessa vez é diferente”. Não, não é. Você se lembra do boom de 2020 no setor tech e de
cripto, com tanta gente falando que dessa vez era diferente. Não foi. Essa frase, para se ter
ideia, é comentada pelo Graham na década de 40, isso mostra como esse papinho não é novo.

8. Foco nos fundamentos: não seja um analista de cotação. No longo prazo, o preço da ação
segue o lucro e o desempenho da companhia e só isso interessa. O preço da ação não importa
desde que a empresa tenha premissas sólidas e bons números. Inevitavelmente a ação irá
valorizar, e as vezes ela dobra de preço mais rápido do que você espera.

9. Você também é a chave: investir trata muito sobre números e contabilidade, mas
principalmente sobre psicologia e controle emocional. Foque em você, esqueça a
rentabilidade dos outros e não transforme sua jornada em uma competição com outra pessoa
– esse é o caminho para sucumbir e tomar decisões erradas. Siga seu plano.

10. Use o Sr. Mercado ao seu favor: no livro “O Investidor Inteligente”, Graham faz uma analogia
simples e breve sobre o Sr. Mercado – se você ainda não conhece, pesquise no Google agora
mesmo e leia. O Sr. Mercado é um eufórico-depressivo e você pode usar isso ao seu valor,
sempre se beneficiando de sua volatilidade.

11. Sossegue: o patrimônio é como um sabonete, quanto mais você mexe, menor ele costuma
ficar. O motivo? Taxas, impostos e operações que dão errado. Apenas invista e deixe o tempo
fazer o seu trabalho, te remunerando com dividendos, bonificações e afins. Patrimônio se
acumula, não se gira.

40
12. Custos importam: evite pagar taxas e afins. Não faz sentido você pagar uma corretagem de
5% sobre o valor da ordem se hoje existe corretora cobrando R$ 4,00 ou até mesmo zero.
Outras taxas também devem ser consideradas.

13. Tenha uma boa tese de investimento: saiba porque você está comprando ou vendendo um
ativo. Nunca invista em uma ação somente porque o preço vai subir, nem venda somente
porque o preço vai cair. Apenas invista quando você compreender o real valor do negócio por
trás da ação e tiver segurança para entender completamente como a companhia funciona em
crises.

14. Não pague caro: aqui não falamos sobre necessariamente método de fluxo de caixa
descontado, planilhas de valuation com precisão de números decimais e afins, mas
simplesmente o óbvio. Sabe aquela ação que você viu valendo 500 vezes o lucro e que tem
que crescer 50% por ano por 10 anos para justificar o atual preço? Então, pode ter certeza
que é cilada. Se a ação está com um preço mirando um cenário perfeito e um céu de
brigadeiro, provavelmente em algum momento seu preço vai derreter por conta de um
simples fator dando errado. Não pague exageradamente caro. Tudo tem limite. Não é um
apelo a comprar tudo a preço exato com precisão de centavos, mas o contrário, uma chamada
a atenção para não ser enganado.

15. Tenha paciência: sucesso nos investimentos é sobre tempo, paciência e disciplina. O simples
funciona e sempre funciona. Você não vai enriquecer nem multiplicar seu patrimônio em dois
anos. Não é em vão que os maiores investidores e mais ricos são todos carecas ou possuem
cabelos brancos. O que importa é o tempo, o longo prazo e continuar no mercado nesse meio
tempo, isso é, sobreviver. Não é necessário entregar rentabilidades estratosféricas, mas ter
seu patrimônio valorizando sempre, mesmo que pouco, com o seu trabalho permitindo
aportes recorrentes. O jogo se define basicamente nisso: paciência.

Não espere nada de curto prazo no mercado, nada. Nada além de volatilidade e provavelmente
frustrações – pois é isso que resume a vida de um investidor, a frustração. Ele nunca está plenamente
satisfeito.

Se compra e logo depois cai, a frustração resulta da impressão de uma má decisão porque investiu
em algo errado.

Se compra e logo depois sobe, a frustração resulta da impressão de uma má decisão porque investiu
em algo certo e poderia ter investido mais do que o pouco que o percentual de alocação permitiu.

Foque no que você controla, lembre-se que o resultado não necessariamente reflete se uma decisão
é boa ou não e eventualmente retorne a esse texto para ler essas 15 “regras” de Graham. É uma linha
direta de ideias tiradas diretamente do racional que construiu o Warren Buffett.

41
Foco nos fundamentos.

O gringo sabe de algo ou nós que acabamos nos emocionando demais?

Em um breve texto mais acima abordamos sobre o quanto o investimento direto no país tem crescido
em 2022. A intenção do material não foi de forma alguma minimizar os riscos ou pintar um cenário
no Brasil fazendo uma alusão a Suíça ou algo assim – a intenção somente chamar atenção para aquela
bolha que vivemos, aquela intensa sensação de negatividade por imersão que nos afundamos e
acabamos nem percebendo.

Como os números mostraram, os investimentos seguem crescendo, e ninguém investe em um país


com uma expectativa negativa. Lógica simples.

Nesse ponto de percepção e bolha sobre negatividade demasiada, o gringo tem ampla vantagem
sobre o investidor local.

Longe das redes sociais brasileiras, dos residentes que possuem opiniões políticas mais incisivas, dos
vídeos que circulam no WhatsApp diariamente amplificando e pressionando nossos sentimentos e
dos principais jornais do país que fazem questão de destruir a cabeça do leitor com narrativas
preocupantes e hostis em troca de alguns cliques, o investidor estrangeiro, quase sempre, tem uma
visão mais apurada sobre o cenário, conseguindo se salvar daquele viés e daquele sentimento de
tristeza, aflição e preocupação que o brasileiro costuma ter.

É isso que explicaremos agora.

42
O gráfico acima é o fluxo da B3 no ano de 2022, datado entre o dia 29/12/21 até o dia 24/12/22,
podemos dizer que é praticamente os dados do ano inteiro.

Os números estão em bilhões de reais, para simplificar a explicação, vamos considerar apenas a linha
vermelha, que representa os investidores estrangeiros e a linha verde que representa o investidores
institucionais locais (fundos de investimento).

Perceba como ao longo de 2022, enquanto o investidor estrangeiro foi tomando posições cada vez
maiores no mercado brasileiro, o investidor pessoa física local (aqui vale uma explicação, que apesar
da linha verde se referir aos fundos de investimentos, esse dinheiro nada mais é do que o dinheiro
de pessoas físicas que investem em fundos, então pode-se dizer que esse dinheiro é de investidor
pessoa física) vem diminuindo cada vez mais sua posição, vendendo suas ações e indo para a renda
fixa.

É basicamente o caminho inverso que o investidor inteligente deve tomar: face aos preços das ações
deprimidos e em queda, o correto seria que o investidor aumentasse ainda mais sua posição nos
fundos de investimento a qual é cotista, mas não, o investidor está justamente resgatando o dinheiro
do fundo e o gringo, que está na ponta contrária, está comprando tudo. É por isso que é um gráfico
de fluxo: se alguém está comprando, alguém tem que vender, e nesse cenário, quem está comprando
é o investidor estrangeiro, enquanto quem está vendendo é o investidor brasileiro, na baixa, no pior

43
momento possível, com os preços lá em baixo, com muitas ações nas mínimas até mesmo com preços
piores do que o registrado no pior momento da pandemia.

Aí cabe a reflexão: historicamente o investidor estrangeiro sempre se posiciona antes no mercado e


consegue lucrar mais. Sempre. Ele sempre compra antes do mercado subir e vende tudo para o
investidor local na alta antes do mercado cair. Foi assim com o último bull market, de 2019, com
investidor brasileiro pagando 500 vezes o lucro em algumas ações, enquanto o investidor estrangeiro
vendia tudo para ele. O movimento agora é inverso.

O investidor estrangeiro está comprando tudo o que o investidor local está vendendo por preços
baixíssimos. E quando o mercado virar, lá estará o investidor local, vendo a SELIC cair, tomando a
decisão de alocar o seu dinheiro em renda variável na hora errada, comprando do gringo e praticando
o algoritmo da pobreza, seguindo os ciclos de forma errada, perdendo dinheiro.

Mais uma vez: não é um texto dizendo que o país viverá um céu de brigadeiro, mas é o que acontece
no Brasil desde sempre. É o que acontece na nossa bolsa há 60 anos, com hiperinflação, corrupção,
impeachment, governo de esquerda, governo de direita, trocas recorrentes de moedas e afins, com
os investidores pacientes ganhando dinheiro a rodo compreendendo que algumas empresas são
simplesmente resistentes a cenários caóticos e sempre ganham dinheiro, enquanto alguns
investidores se emocionam e a cada 4 anos, toda vez que ocorre uma eleição, vendem tudo, param
de aportar e deixam as oportunidades passarem, achando que o mundo acabará, como sempre.

A história não se repete, mas rima. E quem está no mercado a mais tempo sempre tenta alertar sobre
isso e faz um apelo para aproveitar os momentos de oportunidade, mas quem quer ouvir, afinal?

Alguns preferem se acorvardar e tomam a decisão certa tarde demais.

Se você investia antes... por que não investe agora?

Se você tem um pouco mais de tempo de mercado, deve se lembrar de 2019, um ano de pura euforia,
com a bolsa disparando, o mercado ficando extremamente animado com os indicadores econômicos
do Brasil e apostando forte em um crescimento acelerado nos próximos anos... até que veio a
pandemia e jogou o país em um buraco por todo 2020, com a recuperação sendo atingida de fato
somente em ao longo de 2022.

O mercado de fundos imobiliários ilustra bem essa euforia.

Com a febre do crescimento desse tipo de ativo entre os investidores, diversos fundos passaram a
negociar por preços elevados, mirando um crescimento que não ocorreu, e muitos investidores

44
entraram nesse barco. Alguns segmentos chegaram a valer até 30% mais do que o patrimônio de
tela, enquanto outros, quase 50%. Sim, seria como você vender o seu imóvel por um valor 50% maior
do que o que ele realmente vale. A tabela abaixo deixa mais claro.

Fonte: Dica de Hoje

No fechamento de 2019, alguns segmentos de FIIs estavam negociando por até 1,45x (ou seja, 45%
mais) do que o P/VPA (preço sobre valor do patrimônio). Hoje o cenário mudou.

Atualmente todos os segmentos estão negociando abaixo do patrimônio. Todos. Com destaque para
o setor de lajes corporativas, que está negociando em um valor de apenas 67% do seu patrimônio
(seria como comprar seu imóvel valendo apenas 67% do que ele realmente vale), o mercado hoje
passa por um agravado período de incerteza tanto por fator interno (política) quanto por fator
externo (economia global com risco de recessão, em especial EUA e China).

Agora, a grande pergunta que levou o título desse texto é: se você estava comprando em 2019
pagando tão caro e acima do patrimônio, por que hoje, com os fundos com os preços tão deprimidos
você hesita tanto em investir? Hoje o mercado está disponibilizando justamente a oportunidade que
você tanto desejava em 2019. É claro que o custo é justamente esse: você investir em um momento
de incerteza, mas sejamos sinceros, quantas vezes o país já passou por todos esses momentos de
incerteza que você está vendo agora? Ele ocorre literalmente de quatro em quatro anos, em cada
período eleitoral, com os mesmos fantasmas causando os mesmos receios nos investidores.

E não acaba por aí.

Fonte: Dica de Hoje

45
A tabela acima traz o dividend yield de cada segmento.

Como você vê, alguns segmentos tiveram o yield dobrado ou mais. Reflexo de pura incerteza do
mercado, as cotas ficam com o preço deprimido e a remuneração vai às alturas.

Se você estava investindo em 2019, por que você não investe agora, com o mercado te
disponibilizando oportunidades expressivamente melhores?

Com uma melhora do cenário sobre as taxas de juros longas e uma normalização do preço das cotas,
pense para qual patamar seu yield e sua rentabilidade irá. É isso que os grandes investidores fazem.

Barsi, Luiz Alves Pais de Barros, Lírio Parisotto... Todos investem principalmente nesses momentos
onde os ativos ficam com preços deprimidos. É claro que incomoda todo esse cenário político
conturbado, mas como dissemos, isso acontece a cada 4 anos. Imagine esses gigantes do mercado
que cá estão negociando e investindo há mais de 5 décadas. Você já parou pra pensar pelo tanto que
eles já passaram? Quantas vezes disseram a eles que o Brasil iria acabar? Quantas vezes alguém deu
risada porque eles investiam em bolsa enquanto o CDI estava nas alturas?

Todos estão aí, com seus bilhões de reais. Passaram pelo inferno algumas vezes, mas no final das
contas eles sabem que não passa de um rápido passeio, e que em algum momento, por conta da
ciclicidade, tudo vai normalizar.

E perguntamos novamente: se você investia em 2019, com tudo tão caro e remuneração tão baixa
sobre os ativos... por que não investe hoje, se as oportunidades estão ainda melhores?

Ler 30 livros do Buffett não basta – é necessário praticar. Nos EUA não é diferente – lá existe o mesmo
tipo de briga entre direita e esquerda, os mesmos receios, os mesmos medos... e é isso que todo
grande investidor tenta passar para seus leitores, que o maior desafio do longo prazo é justamente
atravessar esses momentos, aproveitando cada oportunidades.

As vezes basta um, apenas um mercado de baixa para você conseguir mudar completamente seu
patamar financeiro. Um mercado de baixa bem aproveitado que na virada do ciclo multiplicará seu
patrimônio de forma que você mude completamente a sua vida.

Cabe a você aproveitar isso, mas como dissemos, somente ler os livros do Buffett não basta – é
necessário também praticar.

46
Não tente acertar o tempo do mercado

Com um desejo quase que incontrolável, todo investidor novo no mercado tenta prever qual será o
movimento da bolsa. Acha que a economia vai mal? Vai lá e vende. Acha que a economia vai bem?
Vai lá e compra. E o gráfico abaixo mostra porque isso pode ser uma ideia bem estúpida que gera
grandes prejuízos ao investidor.

Fonte: Morgan Stanley

A linha azul escuro é o desempenho do índice S&P500 (bolsa americana) enquanto a linha azul mais
claro é a produção industrial dos EUA, um forte proxy para identificar a tendência do PIB.

Como a própria imagem mostra, o mercado costuma atingir seu pico 7 meses antes de uma recessão
econômica, enquanto costuma iniciar sua recuperação seis meses antes de uma recessão.

Olhando no retrovisor, obviamente fica simples de digerir essa informação: sabemos quando foi a
recessão e quando foi o topo do mercado, mas pegue como exemplo o atual momento: você teria
coragem de vender tudo o que você tem achando que uma recessão se aproxima mesmo com o sobe
e desce do mercado e do PIB?

É completamente impossível prever esses movimentos. As vezes o PIB desacelera durante um


trimestre, mas logo volta a subir novamente. O mesmo ocorre com o mercado. E o investidor que se
emociona e tenta encontrar o momento exato de compra e venda de ativos no mercado, acaba
ficando de fora porque é impossível prever esses movimentos.

47
Coloque na cabeça de uma vez por todas: o mercado acionário e a economia não se alinham. É por
isso que os investidores de longo prazo são os que possuem as melhores rentabilidades: eles não
perdem tempo e muito menos dinheiro tentando prever movimentos do mercado porque sabem
bem que é o tipo de coisa impossível de prever por depender de milhares de fatores diferentes. Um
único movimento do Banco Central do Japão, por exemplo, pode mudar completamente o curso do
mercado acionário americano. Basta uma canetada do Bank of Japan e nada mais.

Não tente prever o mercado. Você não vai conseguir.

Desinflação à vista, mas agora a narrativa é outra

Se você tem boa memória, deve se lembrar que ao longo de 2021 e 2022 inteiro uma das maiores (se
não a maior) preocupação, era a inflação, não só no Brasil, mas no mundo inteiro.

Com a pandemia já em vias de término, os maiores inimigos da prosperidade global giravam em torno
de um pilar central: o descontrole inflacionário. Além da impressão violenta de dinheiro realizada
pelos Bancos Centrais, a cadeia logística estava empacada por conta dos isolamentos que estavam
sendo realizados (e ainda estão em alguns lugares) para conter a disseminação da COVID-19. Desde
abril, os números tem melhorado nesse aspecto.

Fonte: Logistics Managers Index

No gráfico acima, há 3 linhas: a preta, que se refere aos custos de armazenamento, a rosa, que se
refere aos custos de transporte, e a amarela, que é um consolidado de outros custos envolvidos em
operações logísticas.

48
Como citamos, desde abril (um pouco antes, na verdade) os custos logísticos globais estão caindo.

Ainda há muito para ser feito para que os preços retornem aos patamares históricos, mas a queda
principalmente de custo de transporte já resulta em uma desinflação importante, o que abre um
espaço mais confortável para os Bancos Centrais agirem sem a necessidade de tanta inteisidade no
uso dos instrumentos de política monetária.

E aí surge outra narrativa – que é o ponto do texto.

Essa queda de custos também sinaliza menor demanda, o que abre espaço para a discussão sobre a
recessão que tanto falam. É por isso que o investidor deve evitar se emocionar ao ler cenários. Não
estamos dizendo que você não deva se informar, certamente deve, inclusive esse é o nosso objetivo
por meio desse relatório, mas o nosso ponto é que invariavelmente, sempre haverá algum motivo
para que você se preocupe. Sempre.

Até 2019 os temores globais apontavam para uma desaceleração dos EUA, o que era normal, visto
que o país já vinha de um ritmo forte de expansão e crescimento há quase uma década. Então chegou
a pandemia em 2020, a preocupação virou o rumo que os países tomariam, visto que a economia
global estava sendo tirada da tomada. Resolveu-se com estímulos econômicos. Em 2021 e 2022,
então, os temores eram sobre a inflação, que passou a se tornar um risco menor e advinhe... as
atenções viraram para o risco de uma recessão agora em 2023! Consegue perceber?

O mercado sempre terá alguma preocupação.

Bitcoin: o maior gatilho para a virada de ciclo

Dificilmente você ouve falar sobre bitcoin ou criptomoedas hoje em dia. Bem diferente do cenário
que vivemos em 2021, com toda aquela euforia sobre jogos NFTs, .pngs de macacos valendo milhões,
criptomoedas que alguns juravam que destruiriam o sistema bancário global e coisas do tipo, hoje o
assunto esfriou completamente. Poucos falam sobre, poucos se importam com isso e praticamente
só se vê o assunto sendo tratado nas mídias mais especializadas.

Desde a máxima registrada em novembro de 2021, a queda do Bitcoin já é de quase 75% - e isso
levanta a preocupação dos novos investidores, que sem muita experiência sobre esses ciclos desse
mercado mais volátil, começam a ficar mais céticos. Explicaremos a razão de acreditarmos que o
próximo gatilho para a virada desse mercado é o juros americano.

49
Fonte: XP Research, Bloomberg

O gráfico acima se refere a correlação do bitcoin com o índice da Nasdaq, isso é, o índice das
empresas de tecnologia dos EUA.

Perceba como desde 2020 esse número tem crescido forte, passando por uma queda em 2021, mas
retornando aos patamares históricos em 2022, com uma correlação de mais de 60% atualmente.

Esse gráfico se alinha com o que sempre dissemos por aqui: após a popularização do bitcoin (e do
mercado cripto em si), com a entrada de dinheiro dos grandes investidores, institucionais e afins, as
criptomoedas passaram a ser tratadas como ativos de risco – nada além disso.

Ativos de risco são suscetíveis e influenciados pela variação da taxa de juros americana – ora, se a
taxa sobe (que é o que estava ocorrendo lá atualmente), o preço dos ativos de risco cai para se ajustar
ao novo patamar de prêmio de risco. Não em vão a correlação do bitcoin com o índice da Nasdaq
está tão alto – em palavras mais simples, o bitcoin virou brinquedo de investidor do mercado formal
assim como são as ações de tecnologia.

E como sabemos que ações tech são completamente dependentes do patamar da taxa de juros do
país, é bem provável que o próximo gatilho de retomada do mercado de cripto seja o juros
americano. Em algum de nossos relatórios passados, já citamos isso: com a entrada de tantos
investidores novos, intitucionais e do mercado formal no mercado cripto, era bem provável que a
correlação com o mercado formal crescesse, que foi justamente o que ocorreu.

50
Ou seja, não tenha muita fé em uma retomada forte do mercado de cripto (leia-se superando
máximas) antes da estabilização da taxa de juros nos EUA, que até o momento, aponta que deve
atingir um patamar máximo somente esse ano, a depender da reunião dos membros do FED.

Se quiser ter melhor posição sobre as criptos, preste atenção nisso.

Vinícius Salvador
Head de Economia &
Co-Founder
51

Você também pode gostar