Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Estatuto Editorial
Conselho Científico
Preço e Assinatura
Venda
avulso…………………………………………………………………………………200.00mt
Assinatura anual ............………………………………………………250.00mt /inclui o IVA
Revista electrónica numa primeira fase
Sede da Redacção
Propriedade e editor
Faculdade de Educação e Psicologia
Universidade Pedagógica de Maputo, Moçambique
Directora
Bendita Donaciano Lopes (Universidade Pedagógica de Maputo, Moçambique)
Editor
Eduardo Humbane (Universidade Pedagógica de Maputo, Moçambique)
Directores Adjuntos
Adriano Fanissela Niquice (Universidade Pedagógica de Maputo, Moçambique), Daniel
Daniel Nivagara (Universidade Pedagógica de Maputo, Moçambique), Leandro S. Almeida
(Universidade do Minho, Portugal), Manuel J. de Morais (UniSave, Moçambique), Sérgio
Terreiro de Magalhães (Universidade Católica Portuguesa-FACIS/Braga, Portugal)
3
Conselho Editorial
Grafismo
Diovargildio Chaúque
E-mail: psiedu.fep@gmail.com
Página na Internet: www.up.ac.mz
Depósito legal: 66.9999
DISP.REGº/GABINFO-DEC/2013
Apoio:
Índice Pág.
Editorial …………………………………………………………………...……………………..……..6
1. Aprendizagem em tempo de COVID – 19: Sacrifício ou exclusão dos alunos das EPC’s
de Mepaula e Mitange no distrito da Maganja da Costa
Jovenil P. Custelo …….………………………………...…………………….………..8
Machambisso…………………………………………………………………………………162
10. Prática docente: estratégias de ensino-aprendizagem dos alunos em classes iniciais nas
escolas públicas em Moçambique
Silva Jacob Alage…………..…………………………………..………………….…177
15. Medidas Políticas de Continuação das Aulas depois do Encerramento das Escolas por
COVID-19 em Moçambique
Orlando Daniel Chemane …………………………………………………….…..…243
Editorial
A pandemia de COVID-19 grassa sobre o mundo global. Ela infectou a escala planetária cerca
de 65 milhões de pessoas e originou a morte de um milhão e quinhentas mil pessoas. Como se
percebe, trata-se de uma doença grave, com impactos devastadores na saúde das pessoas, no
funcionamento das instituições públicas, no sector produtivo, na segurança dos países, etc.
Moçambique, tal como os outros países, como forma de travar o crescente alastramento da
doença teve tomar medidas drásticas, entre as quais a limitação de direitos fundamentais dos
cidadãos, mormente a restrição de seus movimentos, a suspensão das aulas em todo o sistema
nacional de educação, a instauração de serviços mínimos em instituições públicas e privadas, a
interdição de aglomerações em eventos religiosos, de entre entendimento, entre outros.
Entretanto, por mais paradoxal que pareça, os tempos de crise sempre abrem boas
possibilidades de reflexão. Por isso, o cenário trazido pela pandemia do Covid-19, pelo mundo
fora, tem suscitado reflexões mais diversas, por exemplo sobre as questões fundamentais do ser
humano, como o sentido da vida, a sua finitude, o seu destino, entre outras. Têm sido
questionadas as conquistas da humanidade nos domínios tecnológicos, político e ético. O
Covid-19, realmente, abriu antigos e contemporâneos debates sobre a globalização, a
solidariedade, a cooperação, o neoliberalismo, etc.
Trata-se, portanto, de uma edição temática, que tem a pandemia da Covid-19 em pano de fundo.
Ira encontrar aqui, estimado leitor, textos com pendor mais reflexivo ou teórico, outros
suportados por pesquisa empírica ou de campo e outros ainda que descrevem experiencias.
Igualmente, os trabalhos estão enquadrados numa rica variedade de eixos, desde aqueles virados
para questões de planificação curricular e/ou pedagógica, da qualidade de ensino, do uso de
tecnologias educativas, da viabilidade de realização estágios e práticas pedagógicas e da
7
aprendizagem dos grupos vulneráveis. As crises vem e vão, o importante é aprendermos com
elas para que em próximas crises, que certamente virão, estejamos melhor preparados para lhes
fazer frente. Boa leitura!
Eduardo Humbane
(Editor)
Aprendizagem em tempo de COVID – 19: Sacrifício ou exclusão dos alunos das EPC’s
de Mepaula e Mitange no distrito da Maganja da Costa?
Jovenil P. Custelo1
Resumo
O artigo analisa a aprendizagem em tempo de COVID – 19: sacrifício ou exclusão dos alunos
das EPCs de Mepaula e Mitange no distrito da Maganja da Costa? Para a materialização desta
análise foi necessário usar a pesquisa qualitativa assegurada pela entrevista dos professores,
pais e encarregados de educação, e por fim os alunos das escolas em alusão. Nesta pesquisa
apuramos que o ensino através de programas televisivos como, tele - escola, e aquisição de
fichas de exercícios nas escolas não ajuda para as famílias vulneráveis, pois falta lhes condições
financeiras e materiais para assegurar o processo, dai que este modelo didáctico – pedagógico
cria exclusão dos alunos das escolas primarias e completas de Mepaula e Mitange e consequente
sacrifício aos pais que lutam dia pós dia para ver os seus filhos a aprender através de modelos
adoptados para o ensino no período da COVID-19 em Moçambique.
Palavras – Chave: Aprendizagem, COVID-19, Maganja da Costa.
Abstract
The article analyzes COVID - 19 time learning: sacrifice or exclusion of students from Mepaula
and Mitange EPCs in the district of Maganja da Costa? For the materialization of this analysis
it was necessary to use the qualitative research assured with the interview to the teachers,
parents and guardians of the schools in reference and finally to the students. In this research,
we found that teaching via exercise sheets, tele-school does not work for vulnerable families,
as they lack the financial and material conditions to ensure the process, which is why this
didactic - pedagogical model creates exclusion for primary and complete school students.
Mepaula and Mitange and consequent sacrifice to parents who struggle day after day to see
their children learn the subjects taught via the teaching models adopted during the COVID-19
period in Mozambique.
1
Mestre em Sociologia do Desenvolvimento pela Universidade Rovuma, Pós -graduado em Administração Pública
pela UCM. Docente da Academia Militar “Marechal Samora Machel”.
9
Introdução
O artigo intitulado “aprendizagem em tempo de COVID – 19: sacrifício ou exclusão dos alunos
das EPCs de Mepaula e Mitange no distrito da Maganja da Costa”, pretende trazer uma
discussão sobre como as classes vulneráveis estão seguindo as novas modalidades de ensino
adoptadas pelo Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano, logo após a COVID –19
assolar o território moçambicano.
Portanto, paralisar as aulas não foi a medida estática para a aprendizagem durante a COVID -
19, mas que o processo de ensino aprendizagem seria neste contexto assegurados através de
programas de telescola, emissão de fichas de exercícios, como forma de manter o decurso
normal das aulas. Estas fichas são levantadas pelos pais 3 (três) encarregados de educação.
2
Gina Guibunda, durante a entrevista, foi mais longe ao dizer que, durante o período de suspensão das aulas, os
alunos devem continuar em processo de ensino e aprendizagem. O sector neste momento esta a elaborar manuais
que tem objectivo de reforçar aprendizagem e prevenir as medidas da Corona vírus na comunidade académica
(Rádio Moçambique, 25 de Março 2020, 18:34)
espaço virtual para que as crianças continuem a receber aulas (Rádio Moçambique, 25 de Março
de 2020).
Mas no entanto, para a obtenção destas fichas os pais de encarregados de educação para ter
acesso as estas fichas devem possuir no mínimo 150.00mt (cento e cinquenta meticais), ou seja
as fichas são fornecidas á aqueles que possuir capacidades de reproduzir a partir de cópias.
Embora que a COVID-19 seja uma pandemia que surpreendeu a todas nações, pois não houve
preparação exequível para tal, as medidas segundo as quais tomadas pelo MEDH para o
processo de ensino e aprendizagem, podem não ajudar a população da periferia, com baixa
renda económica. Portanto diante deste cenário, o autor deste artigo, pretende discutir possíveis
alternativas de aprendizagem no período da COVID-19, partindo da seguinte indagação: As
modalidades de ensino - aprendizagem adoptadas pelo Ministério de Educação e
Desenvolvimento Humano em tempo de COVID – 19 não serão como forma de exclusão dos
alunos das EPC’s de Mepaula e Mitange, e consequente sacrifício?
3
Tal como no resto do país e da província, a maior parte desta população (91,9 %) dedica-se a actividades do
sector primário, nomeadamente agricultura, silvicultura e pesca (MCAA, 2012)
4
Contudo, apenas 0,9% dos agregados familiares deste distrito beneficiam directamente desta fonte de energia. O
baixo número de agregados familiares a beneficiarem de energia eléctrica é também observado na província e a
nível nacional, visto que apenas 3,6% e 10,1% dos agregados familiares beneficiam deste recurso (MCAA, 2012)
11
Outrossim, discussão de natureza similar tem dominado vários campos académicos, sobretudo,
se as medidas de aprendizagem adoptadas ajudariam a população moçambicana, e quiçá aquela
que está na base da vulnerabilidade.
Referencial teórico
Nesta parte do trabalho vamos discutir aspectos ligados com os modelos de aprendizagem em
tempo de crise, sem fugir aqueles que foram encontrados pelo governo moçambicano para o
ensino – aprendizagem no período da COVID-19.
Modalidades de ensino
As modalidades de ensino que serão referenciados, dizem respeito sobre as matrizes educativas
que o ensino moçambicano obedece sem fugir da realidade social dos alunos. Portanto, vamos
descrever de como o ensino moçambicano está sendo administrado no campo prático.
Nos últimos anos, o sector da Educação tem registado grandes progressos, particularmente, no
concernente ao aumento da oferta da educação. Mais crianças ingressaram anualmente nas
escolas, mais crianças progrediram anualmente de um nível para outro (PEE 2012 – 2016).
Embora haja essa progressão permanecem grandes desafios no sector da educação, sobretudo
quanto à capacidade de proporcionar o ensino inclusivo, bem como na melhoria da qualidade
da educação, virada para um melhor desempenho dos alunos em todos os níveis de ensino em
termos do seu aproveitamento e desenvolvimento de competências requeridas.
As EPC’s de Mepaula e Mitange, estão enquadradas neste sistema educativo, onde o ensino não
olha sobre a condição social e económica do aluno, mas sim, garante que as crianças tenham
uma educação abonada pelo governo de Moçambique.
A gestão local do sistema de Educação é feita pelas direcções provinciais e distritais, desde a
abertura de escolas primárias até à colocação e movimentação de professores. Neste contexto,
fica claro que são as direcções locais que podem garantir o ensino na sua totalidade, a partir da
distribuição de material escolar (livros, giz, quadros, etc) até a afectação de docentes às escolas.
5
Lei nº 6/92, publicada no BR nº 19 (1ª série), 6 de Maio, 1992.
13
ensino a distância, ou seja no ensino à distância, onde as aulas são ministradas através de tele-
escola e emissão de fichas de exercício que são levantados pelos alunos ou pais e encarregados
de educação.
A fragilidade das bases teóricas do ensino a distancia, é vista como consequência do esforço
prático de implantar projectos numa lógica de empresa. E, ela, pressupõe a combinação de
tecnologias convencionais e modernas que possibilitam o estudo individual ou em grupo nos
locais de trabalho ou fora por meios de métodos de orientação e tutória à distância, contando
com actividades presenciais específicas como reuniões do grupo para estudo (Keegan 1991;
Landim, 1997).
Porém, os moldes de ensino à distância adoptados pelo governo moçambicano que se baseia na
tele - escola e fichas de exercícios práticos, não se adequam à realidade das escolas de Mepaula
e Mitange.
Metodologia
Para a realização do estudo, foi usada a abordagem qualitativa na modalidade de estudo de caso,
que consistiu em análise, descrição e explicação das medidas de aprendizagem adoptadas pelo
ministério de educação e desenvolvimento humano em tempo de COVID – 19 são exequíveis
para os alunos das EPC’s de Mepaula e Mitange no distrito da Maganja da Costa.
O método qualitativo, pode ser definido e aplicável ao estudo da história, das relações, das
representações, das crenças, das percepções e das opiniões, que são produtos das interpretações
que os indivíduos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefactos, sentem e pensam
segundo (Minayo, 1993). Não obstante para a compreensão da exequibilidade das modalidades
de aprendizagem adoptadas pelo governo à população da periferia de Maganja da Costa, no
caso de Mepaula e Mitange que, quase, tudo lhes falta menos comida, foram entrevistadas e
seus resultados foram agrupados da seguinte maneira:
A escolha deste grupo alvo justifica – se pelo facto de serem as pessoas que estão directamente
ligadas com o processo de aprendizagem na base de fichas praticas e tele - escola nas referidas
escolas. Isso permitiu ao autor, colher informações credíveis sobre como a aprendizagem
acontece no terreno, apartir disto tirar proveito das dificuldades encaradas.
Os dados colhidos, foram analisados na base de codificação dos sujeitos, onde aos pais serão
ilustrado em P1, P2, P3…Pn, para os professores estão representados em D1, D2, D3…Dn e
por fim aos alunos está ilustrada em A1, A2, A3, …An. Isto para salvaguardar a integridade
dos visados da entrevista.
O distrito da Maganja da Costa tem como limites no extremo Este da Província da Zambézia e
ocupa uma superfície de 7644 Km2. O seu território estende-se entre os paralelos 16º4 13 e
17º31 44 na Latitude Sul e entre os meridianos 37º4 38 e 38º 1 na Longitude Este. A agricultura
é a principal actividade económica do Distrito da Maganja da Costa absorvendo mais de 75%
da população economicamente activa e constitui a base de subsistência da população (Plano
Estratégico de Desenvolvimento Distrital, 2006 -2010).
Embora haja redes de telefonia móvel, a população ainda carece de uso destas redes, devido ao
levado grau de pobreza que lhes caracteriza. Como vimos acima, é uma população composta
na sua maioria por agricultores de subsistência, dai que, o grau de aquisição de telefones móveis
deixa aquem de desejar, ou seja, se a pessoa possui celular, pode não ser compatível ao uso de
redes sociais. Facto que pode ser verificável no depoimento seguinte: não trabalho, apenas faço
machamba para conseguir alimentar a família (P3).
Portanto, com as dificuldades impostas pela COVID-19, coloca mais em causa a população
dependente da agricultura familiar, pois, muita das vezes nem o excedente de produção tem
sido suficiente para assegurar as despesas familiares. É neste contexto que o grau de
vulnerabilidade pode estar acentuado devido a condição sócio – económica da população.
Após a pandemia da coronavírus ter afectado o território moçambicano, o governo sob gestão
do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, decretou que as aulas estariam a ser
leccionadas sob modelo de tele-escola e emissão de fichas de exercícios. Estas fichas, os
estudantes e pais encarregados de educação devem levantar e posterior assegurarem a resolução
dos mesmos pelos alunos em casa, para, em seguida, fazerem a entrega à escola.
Este modelo de ensino, assemelha – se ao Ensino à Distância. Portanto, este modelo equiparado
ao ensino a distância traz suas desvantagens. Pois, o ensino à distância pressupõe a combinação
de tecnologias convencionais e modernas, que possibilitam o estudo individual ou em grupo,
nos locais de trabalho ou forma, por meio de métodos de orientação e tutória à distância,
contando com actividades presenciais específicas, como reuniões de grupo de avaliação
(Landim, 1997).
Outrossim, fica cristalino que o ensino à distância é mais viável para populações com uma renda
económica robusta, porque dos condicionamentos que o ensino em si exige, deixa à penúria
quem não dispõem dos recursos financeiros ou mesmo para população residente nas localidades
REVISTA MOÇAMBICANA DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO - PsiEdu DEZEMBRO DE 2020, VOL. 1, Nº 2
16
Os meus filhos não estão a estudar, por causa dessa doença de coronavírus, os professores não
aparecem na escola (…) (P2).
Como estudar? Se aulas já pararam. Quem quer estudar tem que ir na escola tirar copia as
fichas de exercício, se você não tem dinheiro, fica assim mesmo (…) (P5);
Não tenho dinheiro para tirar cópias dos exercícios (…) (P7).
Neste contexto, as fichas de exercícios práticos só servem para os alunos que os pais possuem
nível de escolaridade meio avançado, visto que segundo o apelo do MINEDH estas fichas
devem ser resolvidas sob acompanhamento dos pais encarregados de educação.
Numa população onde a taxa de analfabetismo é elevada, estando nos 87,1% segundo MAE
(2005), adoptar o ensino por meio de fichas de exercício prático é um acto de sacrifício aos
alunos e aos pais e encarregados de educação por não possuir requisitos para o
acompanhamento.
A televisão e Rádio
Dai que o uso destas ferramentas no processo de ensino e aprendizagem pode contribuir de
forma significativa para fazer face ao período da COVID -19. Outrossim, a rádio e a televisão
podem assegurar o processo de ensino sem pôr em causa as regras recomendadas pelo MISAU
sobre o distanciamento social nas nossas actividades, como forma de prevenir a pandemia de
coronavírus. Portanto, tendo em conta as condições financeiras da população de Mepaula e
Mitange a rádio e a televisão podem contribuir para a exclusão dos alunos visto que estes
objectos tecnológicos para o seu funcionamento precisam da corrente eléctrica ou mesmo
mecanismo que geram energia para funcionamento de electrónicos.
Numa população onde a rede eléctrica é de difícil acesso, falar deste meios como garantia para
o processo de ensino e aprendizagem é uma farsa, pois, para além das dificuldades económicas
que a população enfrenta, a garantia para o funcionamento dos mesmos é quase inexistente
devido a falta de energia. O que podemos provar nestes depoimentos:
Televisor esta caro, tive que vender meus bens para ver meus
filhos a estudar (…), EU não estudei e não posso privar os meus
filhos de estudar (…) (P2);
Portanto, é chegado o momento que as medidas tomadas pelo governo sobre o ensino no período
da COVID-19 não são benéficas para a população de Mepaula e Mitange na Maganja da Costa,
embora seja da vontade, mas olhando pelo nível de vulnerabilidade, as aulas através de
programas televisivos e rádios submetem a exclusão e sacrifício da população. Mais adiante,
este facto, pode estar a facultar o desenvolvimento de sentimento de exclusão na aprendizagem,
tendo em consideração que os alunos de famílias humildes com dificuldades de alcançar
informações a partir da rádio. Ainda mais, tanto a televisão como a rádio não meios propícios
para as populações daquelas localidades, porque falar destes meios (rádio, televisão), pode
constituir novidade que, ao em vez de aprender conduzem as crianças aos programas que nada
dizem sobre matérias escolares.
Embora o governo de Moçambique tinha sido encontrado em contra pé, sobre as medidas
tomadas no processo de ensino e aprendizagem, deveria optar pelas seguintes linhas de
orientação do ensino, olhando pela realidade sócio – económica de alguns pais e encarregados
de educação:
Produzir livros com exercícios práticos de acesso gratuito como forma de garantir a
aprendizagem;
Embora a televisão seja um forte meio de aprendizagem, deveria se potenciar pela
projecção de filmes de aulas já exibidas pela televisão nas zonas onde não há acesso da
corrente eléctrica como Mepaula e Mitange;
A aprendizagem através da rádio ou televisão fosse apenas nas regiões onde estes meios
de comunicação são possíveis de usar.
19
Considerações finais
O que facilmente nos enganamos quando fomos ao terreno, é de alta vulnerabilidade que assola
a nossa população sobre tudo nos recursos financeiros esta criando exclusão do processo de
ensino e aprendizagem dos alunos das EPC’s de Mepaula e Mitange. Para além disto, os pais
com pouco poder económico, as aulas através de modelos escolhidos pelo Ministério de
Educação e Desenvolvimento Humano são uma espécie de sacrifício para manter os seus filhos
a estudarem.
Referências Bibliográficas
Preti, O. (1996). Educação a distância: uma pratica educativa mediadora e mediatizada. In:
Preti, O. Educação a distância: inicio e indícios de um percurso. Cuiaba, NEAD/I
21
Adilson Muthambe6
Resumo
Nesta pesquisa de natureza teórica, procurou-se identificar as implicações do COVID-19 na
inclusão social através das considerações da teoria bioecológica proposta por Urie
Bronfenbrenner (1917-2005). Tendo em consideração que este modelo teórico analisa em
simultâneo os processos proximais, aspectos pessoais, o contexto e o tempo de forma dinâmica
a partir de um nível micro ao nível macro, torna-se pertinente elaborar explicações sobre como
é que as atitudes e as decisões individuais podem ter implicações na família, comunidade, no
país, continente e no mundo e vice-versa. Foi possível constatar que a problemática da
pandemia COVID-19 associada as precárias condições de vida nos países subdesenvolvidos, a
fragilidade da economia e a crise política, comprometeu a inclusão social e colocou em risco a
vida das pessoas levando a última instância a morte. Embora haja enorme diversidade cultural,
associada ao histórico de famílias alargadas e coesão grupal, o cenário actual vai exigir que no
futuro sejam feitas mudanças atitudinais nas interações sociais a vários níveis, o que é
desafiante para a inclusão social.
Abstract
In this research of a theoretical nature, we sought to identify the implications of COVID-19 for
social inclusion through the considerations of the bioecological theory proposed by Urie
Bronfenbrenner (1917-2005). Bearing in mind that this theoretical model simultaneously
analyzes proximal processes, personal aspects, context and time dynamically from a micro level
to a macro level, it becomes pertinent to elaborate explanations on how attitudes and decisions
individual can have implications for family, community, country, continent and the world and
vice versa. It was possible to verify that problem of the pandemic COVID-19 associated with
the precarious living conditions in underdeveloped countries, the fragility of the economy and
the political crisis, compromised social inclusion and put people`s lives at risk, ultimately
leading to death. Although there is enormous cultural diversity, associated with the history of
extended families and group cohesion, the current scenario will require that in the future,
attitudinal changes are made in social interactions at various levels, which is challenging for
social inclusion
Keywords: Bioecological model; COVID-19; Proximal processes.
6
Mestre em Psicologia Educacional. Doutorando em Psicologia, IPS-UFBA. Docente da UP-Maputo
Introdução
O presente trabalho foi realizado com apoio do Programa de Estudantes-Convênio de Pós-
Graduação-PECPG, da CAPES - Brasil e teve como foco o contexto da COVID-19. As
implicações desta doença causada pelo vírus Sars-Cov-2, podem ser explicadas a partir de
várias áreas de conhecimento tais como, ciências biológicas, ciências sociais e da psicologia.
Neste artigo tentamos analisar as implicações da COVID-19 na inclusão social apartir da
psicologia, especificamente a Psicologia do Desenvolvimento (PD) que se preocupa em estudar
o processo de desenvolvimento das pessoas, suas mudanças desde o nascimento até a morte.
Dentre os vários modelos teóricos da PD, apoiamo-nos na teoria bioecológica de Urie
Bronfenbrenner (1917-2005) que explica o desenvolvimento humano em perspectiva
multidimensional enfatizando a relação entre o sujeito e o ambiente, abarcando
simultaneamente aspectos biológicos, psicológicos e sociais, ou seja, biopsicossociais.
Fazendo uma breve descrição do surgimento e evolução desta doença, importa inferir que ela
surgiu no mês de Dezembro de 2019 em Wuhan, província de Hubei na China alastrando-se
para outros países asiáticos, europeus, americanos e africanos. Do ponto de vista de
classificação, a organização mundial da saúde (OMS), categorizou primeiramente a COVID-
19, como uma emergência mundial de saúde pública e de seguida passou a designar de
pandemia (MISAU, 2020).
As informações sobre a rápida expansão da COVID-19, espalharam-se pelo mundo, facto que
causou nas pessoas bastante ansiedade, agitação, depressão e preocupação sobre a necessidade
de mudança de hábitos de convivência. E com base na proposição de Valsiner (2011), de que
o pré-requisito para qualquer sistema reflexivo sobre a natureza e sobre nós próprios é entender
23
a cultura na forma de uma semiosfera onde objectos e eventos significativos nos circundam e
se tornam refletidos em nossas mentes, ou seja a ecologia dos sistemas culturais. Por essa razão
optamos analisar as implicações da COVID-19 na inclusão social.
Outro motivo para a realização da pesquisa, foi a premissa de que, os métodos de prevenção da
COVID-19 propostos pela OMS (2020), estão centrados nas regras de higiene individual e
colectiva e apresentarem uma estrutura caracterizada por seis níveis, sendo ontosistema,
microssistema, mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema, a semelhança dos
níveis de análise propostos pelo modelo bioecológico de Urie Bronfenbrenner (1917-2005).
Esta situação quando transferida para casos de isolamento social, como por exemplo o lema
“fica em casa” adoptada por todos países do mundo, pode ser considerada de um lado, como
ideial e sugestiva e de outro lado, quando cumprida na integra sem gestão diversificada das
dinâmicas de vida, das actividades e mudanças de ambientes ela pode ter consequências como
cansaço, depressão, desânimo, estafa, exaustão, sentimentos de auto-exclusão e que em última
instância agrava a saúde mental das pessoas e pode levar a morte.
pensador com outro cenário multicultural e de novas práticas desde a escola, hábitos e costumes,
amigos e o contacto com Vygostsky (1896-1934) que formulou uma teoria do desenvolvimento
cognitivo baseada em vínculos entre factores socio-históricos refletidos em processos
educacionais como a interação entre pais e filhos, (Sheehy, 2013).
Outro psicólogo o qual Brofenbrenner adoptou as ideias foi Kurt Lewim (1890-1947) percursor
da teoria de campo que se preocupava em explicar os eventos dentro do tempo de vida de uma
pessoa e todas influencias que agem sobre ela em um dado momento, (Sheehy,2013; Benetti,
Vieira, Crepaldi, Schneider, 2013).
De acordo com Aristóteles (384-322 a.C) apud em Palmer (2005), para compreendermos uma
teoria é necessário analisá-la tendo em consideração três elementos, a teoria do conhecimento
ou tese, aprendizagem e a pessoa. Ao submetermos a teoria bioecológica a esses critérios,
identificamos a seguinte situação: Quanto a tese, o desenvolvimento humano é o resultado de
uma construção social e histórica, o ambiente (organismos, fenómenos naturais, cultura e
sociedade) influencia os indivíduos e é por ele influenciado. No que concerne a aprendizagem,
a teoria bioecologica, estabelece que a criança aprende numa relação dialética com o
psicológico e o meio social, e nenhum fenómeno pode ser compreendido isoladamente, sem a
conexão com os demais fenómenos que o cercam.
Com base neste aspecto o autor define o Homem/pessoa como um ser biopsicossocial, que se
desenvolve nas relações proximais e dialoga com o seu contexto social. Em termos de origem
ontológica, esta teoria se caracteriza pelo facto ser do tipo materialista-dialética e tem como
25
Tal como foi exposto no tópico anterior, a proposta teórica de Urie Brofennbrenner (1917-
2005), defende que não é possível compreender os sujeitos sem antes compreender o que as
relações socias e o ambiente significam para ele (Bronfenbrenner, 1994 & Koller 2005). Para
explicar este aspecto o Psicólogo organizou a teoria em seis fases, sendo ontossistema,
microssistema, mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema envolvendo quatro
elementos sendo processos proximais, pessoa, contexto e tempo que justificam o modelo PPCT.
A quinta fase macrossistema é definido através de padrões culturais gerais (crenças hábitos e
costumes, sistema económico etc) determinantes para o comportamento das pessoas. Por último
a sexta fase cronossistema é referente ao tempo ao longo do desenvolvimento da pessoa e
destaca as variações, ou seja, instabilidade ou mudanças.
Portanto o esquema tradicional da teoria bioecológica clarifica que os conteúdos em cada fase
de desenvolvimento são determinantes para o comportamento e atitudes do sujeito. Com base
neste pressuposto e nas vivências da actualidade, podemos considerar que a pandemia do
COVID-19, tornou-se o conteúdo principal nas mídias e nos diferentes campos da ciência, bem
A título de exemplo, podemos verificar que o facto dos critérios estabelecidos para a inclusão
das crianças com deficiência na escola regular terem sido colocados em vigor em diferentes
países do mundo no período anterior a pandemia do COVID-19, e para além de investimento
em recursos matérias, esses critérios requerem a filosofia de trabalho conjunto e participativo
de uma equipa multiprofissional composta por educadores especializados, médicos, psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas e outros o que é desafiante.
Outro aspecto que dificulta a inclusão social e a visão de conjunto no âmbito da prevenção da
COVID-19 são as influências negativas, os conteúdos e informações falsas, designadas de fake
news divulgadas através de mídias, redes sociais (tecnologias de informação e comunicação)
que condicionam o bem-estar das pessoas pois podem leva-lás a um estágio de obsessão ou
perturbação em termos de ideias fixas e em situações que podem comprometer as orientações
dadas pelas entidades de saúde de diferentes países do mundo, alastrando cada vez mais a
doença.
Alguns estudos desenvolvidos no Brasil, um dos países mais afectados pela COVID-19 no
mundo, apontam algumas informações consideradas fake news tais como: i. O COVID foi
criado no laboratório; ii. é uma farsa; iii. é uma estratégia política; iv. É uma teoria conspiratória;
v. é charlatismo religioso; vi. E associado a estás informações está o surgimento de métodos
caseiros para prevenir o contágio e para curar a doença. Este conjunto de informações mobiliza
a fase ontossistémica o que vai influenciar os diferentes microssistemas e posteriormente as
fases mesossitémica, exossistémica e macrossistémica num determinado período de tempo. E
coloca o país numa situação de agitação e controvérsia (excludente) facto que favorece o
alastramento da doença e desafia a discussão da criminalização de fake news.
27
Os dados sobre a situação do Panamá, revelam que o COVID-19 está se multiplicando nas
comunidades (indígenas) e nos bairros mais povoados da capital do País. Dentre os factores da
rápida multiplicação do COVID -19, está a estratégia adoptada para o isolamento social a qual
separava os dias em que homens e mulheres podem sair de casa. As mulheres podem sair as
segundas, quartas e sextas-feiras, os homens podem sair as terças-feiras, quintas-feiras e sábado.
Associado a este facto entre as causas do aumento da COVID-19 destacam-se as formas de
diagnóstico e medidas de triagem para detectar novas infecções e o número de testes realizados
por semana.
Para responder esta situação o Estado de Panamá (no nível macrossistémico) adoptou a
estratégia de isolamento social obrigatório e saídas limitadas de casa por dia e por sexo. Embora
esta medida adequa-se ao modelo bioecológico, particularmente nas fases ontossistema,
preocupação pelas actividades específicas de homens e mulheres, microssistema preocupação
com as lotações nos hospitais, escolas, etc., e cronossistema referente ao tempo ou a
preocupação com os dias de semana e o horário para sair de casa e para regressar a casa, ela foi
bastante questionada e não foi cumprida na íntegra.
Para o caso de Moçambique, que vive um cenário de desigualdades socias, problemas internos
caracterizado por conflito armado nas regiões centro e norte do país, e que a nível
macrossistémico tenta avançar algumas medidas como é o caso da reabertura das instituições
públicas (escolas, universidades e outras), o Estado deve ter mais caultela pois as decisões
tomadas a nível macrossistémico no contexto da prevenção da COVID -19 tem implicações na
inclusão social e podem ser prejudicais para a camada mais baixa, a semelhança de Panamá.
Diante desta situação mundial da pandemia da COVID-19, associada aos ideais de Jean-Jacques
Rousseau (1712- 1778) ao considerar que em nenhum momento deve-se violar os ideais
pessoais contra os poderes do Estado e as pressões da sociedade (Rousseau, 2017). Deste modo
torna-se difícil identificar um lugar idílico no mundo, porque vive-se o momento do “apogeu”
na diversidade de opiniões acerca do mesmo tema. Deste modo retomamos a situação idêntica
a do Brasil, referente ao impacto das fake news, do comprometimento das orientações e medidas
tomadas pelas entidades de saúde (Estado), bem como a falta de harmonia entre os ideias
pessoais e os poderes do Estado.
decisões tomadas a nível macrossistémico ou global. Por exemplo as sugestões da OMS (2020)
no contexto da prevenção da COVID-19 tem implicações diferentes no comportamento e nas
atitudes das pessoas. Com base na proposta de Confúcio (551-479) apud Palmer (2005), pode-
se destacar dois grupos, sendo um grupo de “individuos correctos” e outro de “indivíduos
incorretos”.
Em todos países do mundo por exemplo é possível encontrar “indivíduos correctos”, aqueles
que mesmo com a omissão das regras as tarefas são realizadas tal como foi previsto e anunciado
e “indivíduos incorretos” aqueles que, ainda que regras sejam emitidas não as obedecem
apresentando um padrão de comportamento de risco. Diante deste quadro, identificamos uma
barreira para a inclusão social que poderá ser superada com a minimização das diferenças entre
os ideias pessoais e o poder do Estado.
De outro lado, a COVID-19 teve implicações significativas na ciência, ou seja, nas formas de
realização e ou produção científica, na qualidade das interações sociais, no funcionamento das
escolas, dos hospitais, instituições públicas, das empresas e outras.
No que concerne as implicações no domínio da ciência importa referir que Kuhn (1996) aborda
a questão da ciência normal e ciência revolucionário e valoriza o contexto histórico, social e
psicológico da descoberta. Considera que o momento de crise é ideal para o surgimento de
novas formas de explicação da realidade “visão do mundo” ou métodos e meios pelos quais as
ciências devem recorrer para progredir.
Este facto é comprovado na análise tridimensional de Valsiner (2011) quando considerou que
a pessoa é pertencente à cultura, vice-versa e que a cultura pertence a relação entre a pessoa e
o ambiente. Trata-se de não delimitar fronteiras mas, de destacar a pertinência da subjectividade
na compreensão do sujeito e da marginalização do papel da cultura como um factor nos
processos psicológicos.
Com base nos pressupostos da Psicologia Cultural, podemos considerar que as orientações e
medidas da OMS (2020) para a prevenção da COVID- 19, não tem enquadramento em todos
os contextos culturais, e que a inclusão social é notável a partir do nível pessoal e de padrões
culturais gerais de uma nação.
Para Brofenbrenner apud Benetti, Vieira, Crepaldi, Schneider, (2013), os processos proximais
são considerados motores do desenvolvimento, referem-se as interações recíprocas, gradativa
entre o sujeito e as pessoas, objetos e símbolos presentes no seu ambiente imediato que ocorrem
regularmente em longos períodos de tempo. Com base nesta formulação e nas medidas e
orientações da OMS apud MISAU (2020) tais como, evitar contacto pessoal, lavar as mãos,
usar as máscaras e o álcool gel, pode-se afirmar que a interação social está comprometida,
consequentemente a inclusão social está longe do nível desejado. Registra-se dificuldades no
diálogo entre o sujeito e demais membros da família, entre o microssistema família e
microssistema escola, entre o microssistema família e microssistema hospital (local de trabalho)
e a falta de harmonia entre os diferentes microssistemas e o macrossistema.
O início deste ano surpreendeu a todo mundo, o cenário de isolamento social e de quarentena
domiciliar obrigatória como forma de prevenção do COVID-19, teve implicações no modo de
vida e na mudança de hábitos. Foi possível evidenciar uma diversidade de situações em
diferentes países do mundo. Muitas pessoas morreram, algumas encontram-se nos hospitais e
centros específicos lutando pela vida, outros encontram-se assustados e “fechados” em casa,
outros encontram-se nas ruas alegando que nada têm para sustentar as suas famílias e por essa
razão buscam algo para sobreviver nestes dias.
Na fase inicial desse artigo foi proposto três perguntas: Como é que a interação entre os
diferentes microssistemas podem reduzir a propagação do vírus Sars-Cov-2 e garantir a inclusão
social e bem-estar das crianças, jovens, adultos, velhos e idosos? Foi notório de um lado que,
as relações positivas entre os diferentes microssistemas favorecem a socialização primária e
secundária, reduzem a propagação do vírus Sars-Cov-2 e garantem a inclusão social e bem-
estar das crianças, jovens, adultos, velhos e idosos. De outro lado, constamos que devido a
Pandemia do COVID-19 a interação social entre os diferentes microssistemas está
comprometida, consequentemente a inclusão social está longe do nível desejado.
No que concerne a segunda questão, qual é a influência das redes sociais, mídias e as
tecnologias de informação e comunicação (TICs) na prevenção do COVID-19? Constatamos a
partir do exemplo do Brasil que as redes sociais apesar de constituírem um meio de difusão de
informação importante através do qual empresas, escolas, universidades, Ministérios,
shoppings e igrejas recorrem para garantir o seu funcionamento, autêntica “sociedade da
Cibernética”, elas influenciam negativamente na prevenção do COVID-19 devido aos
conteúdos e informações falsas, designadas de fake news.
Para finalizar, em relação a última questão, que implicações e decisões tomadas a nível
macrossistemico há na prevenção da COVID-19? Através dos exemplos de Panamá onde a
pandemia da COVID-19 tende a multiplicar-se nas comunidades (indígenas) e nos bairros mais
povoados da capital do País devido as estratégias de prevenção e decisões tomadas a nível
macrossistémico como o estabelecimento de dias de semana e o horário para homens e mulheres
saírem de casa e para regressar a casa, bem como a aprovação para a realização semanal de
diagnóstico e medidas de triagem para detectar novas infecções.
31
Referências
Benetti, I. C.; Vieira, M. L.; Crepaldi,M. A.; Schneider, D. R.. (2013). Fundamentos da teoria
bioecológica de Urie Bronfenbrenner. Pensando Psicología, 9 (16), 89-99.
Bronfenbrenner, U e Ceci, S. J. (1994). Nature-Nature Reconceptualized in Developmental
Perspective: A Bioecological Model. Psychological Review, 101 (4), 568-586.
Koller, S.H. (2005). Ecologia do Desenvolvimento Humano Pesquisa e intervenções no Brasil,
Casa do Psicólogo. 2 (1) (51-65).
Kuhn, T. S. (1996). The Structure of Scientific Revolutions. 3 ed., Chicago and London: The
University of Chicago Press. Cap. II. O Caminho para a Ciência Normal.
Ministério da Saúde (MISAU), Direção Nacional de Saúde Pública (2020). Manuel de
Prevenção COVID-19. Maputo
Palmer, J. A.. (2005). 50 Grandes Educadores. 1ª Ed. Editora Contextos. São Paulo.
Rousseau, J. J. (2017). A Origem da Desigualdade entre os Homens: Grandes Ideias.Tradução
de Eduardo Brandão. 1ª Ed. Peguin & Classics Companhia das Letras. São Paulo.
Sheehy, N. (2013). 50 Grandes Psicólogos: Suas ideias, suas influências. Tradução Mauro de
campos Silva, 2ª Ed. Editora Contextos. São Paulo.
Valsiner, J. (2011). A Cultura na Mente e na Sociedade. Fundamentos de uma Psicologia
Cultural. Tradução de Maria C.D.P. Lyra.
Resumo
O presente artigo científico, discute sobre a cidadania no ensino: Um instrumento de
participação do estudante na vida pública no Pós Covid-19. O objectivo do presente artigo é de
analisar a cidadania fiscal como um instrumento para o despertar da consciência ao cidadão
para a necessidade de dar o seu contributo para o desenvolvimento da nação. Para a sua
realização, recorreu-se ao método da revisão bibliográfica e estudo documental. No mesmo foi
possível concluir que os efeitos da pandemia de Covid-19 revelam – se de grandes proporções
para a administração pública moçambicana, com maior enfoque nas áreas de educação,
economia e saúde. Em contraponto, há a necessidade imperiosa, e que deve ser seguida, em
reconhecimento ao Estado democrático instituído no país, a exigência do cumprimento do dever
fundamental de pagar imposto por parte do contribuinte. Actualmente, as receitas arrecadadas
não são suficientes para a satisfação das necessidades do país e são sinónimo da necessidade de
desenvolvimento de comportamentos de cidadania, em particular da cidadania fiscal. É também
abordada a componente educação para a cidadania, revendo as normas legais que norteiam a
sua implementação bem como o papel que as instituições de ensino superior podem
desempenhar na promoção da cidadania. Para a concepção do artigo foram realizadas pesquisas,
com base em levantamento bibliográfico.
Abstract
This scientific article discusses citizenship in teaching: An instrument for student participation
in public life in Post Covid-19. The purpose of this article is to analyze fiscal citizenship as an
instrument to raise awareness among citizens about the need to contribute to the development
of the nation. For its realization, the method of bibliographic review and documentary study
was used. It was also possible to conclude that the effects of the Covid-19 pandemic are proving
to be of great proportions for the Mozambican public administration, with a greater focus on
the areas of, education, economy and health. On the other hand, there is an imperative need,
which must be followed, in recognition of the democratic State established in the country, the
requirement of the taxpayer to fulfill the fundamental duty to pay taxes. Currently, the receipts
7
Doutorando em Psicologia Educacional na Universidade Pedagógica e Técnico Superior Tributário
(miquinhochambe@yahoo.com.br )
8
Professora de Psicologia na Universidade do Minho
9
Niquice Professor e Presidente da Escola Doutoral de Educação e Currículo na Universidade Pedagógica
33
collected are not sufficient to satisfy the country's needs and are synonymous with the need to
develop citizenship behaviors, in particular fiscal citizenship. It also addresses the education
for citizenship component, reviewing the legal norms that guide its implementation as well as
the role that higher education institutions can play in promoting citizenship. For the conception
of the article, researches were carried out, based on a bibliographic survey.
Introdução
O panorama da gestão pública após o Covid – 19 será complexo, isto porque a pandemia do
Coronavirus provocou várias situações de colapso na esfera económica, social e política.
Contudo, o contexto de um Estado democrático requer a efectivação do dever fundamental de
pagar imposto, que tem a ver com a manifestação do espírito de cidadania através do
cumprimento dos deveres e obrigações para com o Estado.
É perante esse dilema de como garantir o cumprimento do dever fundamental de pagar imposto
perante uma situação prática problemática, que surge a necessidade de abordar a questão da
cidadania, sendo um mecanismo de demonstração da democracia participativa que estimula a
participação do cidadão na esfera pública. O objectivo do presente artigo é de analisar a
cidadania fiscal como um instrumento para o despertar da consciência ao cidadão sobre a
necessidade de dar o seu contributo para o desenvolvimento da nação.
Nesse sentido, será abordada a evolução do conceito de cidadania, olhando para os diferentes
períodos da sua construção, na óptica de diferentes pensadores. De seguida é apresentada a
questão da cidadania fiscal na perspectiva do desenvolvimento da consciência ética por parte
de toda a sociedade.
Por último, será discutida a componente “educação para a cidadania”, revendo as normas legais
que norteiam a sua implementação bem como o papel que as instituições de ensino superior
desempenham na promoção da cidadania. De salientar que, para a elaboração do artigo, a
pesquisa desenvolvida foi bibliográfica, revelando-se um estudo de importância vital, visto que
abrange a sociedade de um modo global.
Para perceber a natureza dos direitos e deveres que são inerentes ao homem numa determinada
sociedade, é importante a concepção de cidadania e, acima de tudo, pelo modo como este
fenómeno impacta no desenvolvimento sócio cultural, político e económico de um país.
Encontra-se inserido nas leis, apontando normas na esfera educacional, quer no contexto escolar
ou não escolar, dando justificação aos objectivos pretendidos, assim como, nos discursos dos
profissionais de educação nos diferentes níveis. Trata-se de um conceito que deve merecer
especial atenção por parte de todos, pois segundo diz o autor, há uma necessidade de conhecer
e reflectir sobre este conceito, para verificar que tipo de directriz dá aos processos educacionais.
A concepção de cidadania segue um percurso histórico que encontra seu desenvolvimento
embrionário na Grécia e Roma, conforme de seguida irá se explicar de forma detalhada
(Ferreira, 2004 p.3):
É por conseguinte, neste momento que, através da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, se inicia aqui o processo de reconhecimento do homem comum como cidadão, cujos
direitos civis são garantidos por lei.
35
Na verdade, este posicionamento é confirmado por (Reis et all, 1999 p.33), “ao expor que foi
em 1791, que a Assembleia Nacional Francesa aprovou a Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão, composta por 17 artigos, onde se afirma que os homens têm todos a mesma
dignidade”. Sem dúvida que, esta declaração pela relevância conquistada através da promoção
da valorização do homem, que deixou de ser um homem comum e passou a ser considerado
cidadão, impulsionou a discussão e debate sobre a cidadania ao nível dos países.
Uma outra abordagem sobre o conceito de cidadania, é desenvolvida por Marshall, onde
apresenta a ideia de “cidadania partindo do conjunto de três elementos de natureza normativa,
que são a parte civil, a parte política e a parte social”. Conforme explica (Feitoza, 2020 p.3), “a
evolução dos direitos humanos na perspectiva de Marshall, decorreu ao longo dos séculos
XVIII, XIX e XX, em três distintas categorias” conforme se descreve de seguida:
Actualmente, numa perspectiva mais moderna ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à
propriedade, à igualdade perante a lei.
Quer isto dizer, que para (Pinsky, 2003 p.9). é ter direitos civis,
participar no destino da sociedade, através da votação, ter
direitos políticos, ter direitos sociais, que são aqueles que
asseguram a participação do cidadão na riqueza colectiva.
Incluímos aqui o direito à educação, ao trabalho, ao salário
justo, à saúde, a uma velhice tranquila
Para (Teixeira, 2019 p.11) “a cidadania é a condição de todo o cidadão, que estando inserido
em uma sociedade, pode participar de sua política e gozar dos direitos civis provenientes da
mesma”.
Este pressuposto pode ajudar-nos a perceber porque até hoje no seio das sociedades
encontramos vários conflitos, apesar da existência de um grande acervo no que diz respeito à
legislação construída e progressivamente alterada ou ajustada de acordo com os diferentes
contextos.
Podemos assim, definir a cidadania como sendo uma acção ou prática educativa voltada para o
entendimento da realidade sócio cultural e dos direitos envolvendo as responsabilidades nos
níveis pessoal e colectivo e a declaração do princípio da participação na vida pública da nação.
A cidadania fiscal significa, ter ou ganhar consciência ética sobre a importância dos impostos
no processo de construção da nação por parte de todos os intervenientes. Inclui-se aqui o
cidadão, o agente económico, o empresário e o governo na qualidade de membro regulador.
Entretanto muitos estabelecimentos de ensino no país não têm internet; Muitos estudantes (a
maioria) não têm acesso ao computador e outros meios tecnológicos; Muitos professores não
possuem nenhuma formação sobre TIC’s, o que torna difícil a concretização do processo de
ensino e aprendizagem usando tais recursos; As escolas existentes no país albergam muitos
estudantes por turma devido à falta de escolas/salas de aula suficientes; O país não possui um
sistema de transporte desenvolvido para garantir o cumprimento das regras no que respeita à
lotação e distanciamento social; A partir destes fenómenos adversos aqui narrados fica
evidenciado que o período pós pandemia vai exigir por parte de cada cidadão/estudante
universitário uma reflexão séria à volta da imperiosa e inadiável participação na vida pública
da nação, quer como disseminadores da importância do tributo, como contribuintes activos,
como fiscalizadores das acções do Estado bem como, na valorização e preservação do
património público.
Nesse sentido, torna-se evidente e lógico considerar que ainda não se faz sentir o espírito de
cidadania fiscal por parte do cidadão/estudante do ensino superior, o que de certa forma
influencia na formação de atitudes e comportamentos negativos sobre o pagamento dos
impostos, facto que favorece a promoção de desequilíbrios e distorções no sistema fiscal
moçambicano.
No caso do presente estudo, a educação fiscal deve ser um instrumento que incide sobre a
educação ética e cidadã como ferramenta de relevância estratégica para promover a consciência
do cidadão/estudante universitário, uma vez que a ausência destas, propicia a manifestação de
comportamentos desajustados com as normas e leis fiscais em vigor no país. Esta, deve servir
para impulsionar a reduzida ou falta (se for o caso) da educação e cidadania fiscal no seio dos
estudantes. Por fim, a educação fiscal deve ajudar aos estudantes universitários, a elevar o
espírito de gestão participativa, de solidariedade, de justiça e de equidade, como forma de
mitigar os factores que concorrem para atitudes e comportamentos negativos como por
exemplo, a evasão fiscal, o contrabando, o descaminho, o suborno, a sonegação e outros males.
Portanto, o propósito deve ser a construção duma universidade cidadã, atenta à dinâmica da
sociedade em que está ou se encontra inserida além das paredes ou limites da sua acção
REVISTA MOÇAMBICANA DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO - PsiEdu DEZEMBRO DE 2020, VOL. 1, Nº 2
40
pedagógica, devendo saber também, com que público lida, como deve fazer para elevar a sua
auto-estima, reprimir ou acabar com as exclusões sociais e dessa maneira impulsionar ou
estender as oportunidades de inclusão à todos os membros da sociedade.
Depois desta reflexão, parece estarem criadas as condições para uma melhor compreensão da
complexidade dos factores que desempenham papel fundamental nos processos de formação
para a cidadania. Deste modo, no ponto que se segue discute-se o papel da educação para a
constituição da cidadania no seio do educando.
Na actual visão global do mundo sobre a cidadania, os docentes devem, através da sua acção
pedagógica fazer com que o estudante universitário seja consciencializado e pense e perceba
que deve assumir-se como um dos principais agentes da mudança da sociedade onde se encontra
inserido através da promoção da justiça, da equidade, solidariedade, do respeito pelas
leis/normas instituídas, do sentido patriótico e outros aspectos de natureza cidadã, e não ser um
mero espectador e “consumidor passivo” daquilo que é dado.
sentenciar que o sistema educativo não teria em vista, em primeiro lugar, o desenvolvimento
do indivíduo, mas seria um meio de, a sociedade, proceder a integração dele nas suas
estruturas”.
De acordo com (Luzuriaga, 1967 p.1), “a educação é entendida como a influência intencional
e sistemática sobre o ser juvenil, com o propósito de formá-lo e desenvolvê-lo”. Significa
também a acção genérica ampla, de uma sociedade sobre as gerações jovens, com o fim de
conservar e transmitir a existência colectiva. Através destas diferentes perspectivas teóricas de
conceituação da educação, é possível perceber que neles se evidenciam os aspectos
relacionados com o desenvolvimento e integração do Homem. Daí que, fica desde já
demonstrado que a educação é um elemento indispensável da cultura das sociedades pois, é
através da educação que é realizada a aquisição e transmissão da mesma. E, é nesta cultura, em
constante mudança, onde encontramos os costumes, os valores, as crenças e os saberes que
caracterizam a sociedade.
Ademais, o processo educativo, de modo particular, o referente aos direitos do homem, favorece
a construção da cidadania e pode ser vital na comunicação entre diferentes segmentos. É na
área da educação que se começa com a formação da consciência dos sujeitos, na perspectiva de
construir crenças e valores moldados no respeito ao ser semelhante e na materialização dos
direitos consagrados, requerendo isso, um combate enérgico, global e permanente. Face ao
referenciado, e considerando a abordagem da cidadania activa, o conceito de cidadania deverá
implicar uma série de actividades a executar dentro do ambiente escolar ou de formação,
independentemente da faixa etária dos indivíduos, visando muni-los de capacidades para
poderem enfrentar os desafios do presente e do futuro das nações.
A educação para a cidadania no contexto escolar e sobretudo nas universidades, devido à sua
abrangência e relevância para a formação integral do estudante, pode promover, segundo
explicam (Henriques et al, 1999 p.11), “a participação responsável dos cidadãos na vida pública
do país, quer a partir dos processos de representação política, quer do empenhamento nas
instituições da sociedade civil, e compromisso nos princípios fundamentais da democracia”.
REVISTA MOÇAMBICANA DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO - PsiEdu DEZEMBRO DE 2020, VOL. 1, Nº 2
42
Deste modo, esta indicação transcorre da base legal – Lei nº 6/92 de 6 de Maio - que suporta o
Sistema Nacional Educativo (SNE) moçambicano em cujo teor é prevista a formação cívica do
estudante.
A autora esclarece que a cidadania numa sociedade plural implica o exercício da diferença e da
reciprocidade, a consciência de deveres e direitos, aquisição de qualidades relacionais e de
comunicação positiva e a rejeição de desigualdades, de preconceitos e de racismos.
Pomar et al, 2013 p.41, sustentam que com a globalização económica, as desigualdades sociais
crescem de dia para dia ameaçando direitos humanos fundamentais.
Por isso, o papel dos intervenientes no processo educativo deve ser o de promover, difundir e
partilhar os conhecimentos acerca da administração pública, de forma particular, a tributação,
a alocação dos recursos e o devido controle dos gastos públicos, noções indispensáveis para a
consciência da cidadania.
organizações da sociedade civil, etc., como forma de promover a sua disseminação em prol da
mudança social através do pagamento do imposto, do pedido do recibo dos pagamentos
efectuados e do distanciamento dos actos ilícitos, em prol do bem-estar global.
Uma vez abordada a cidadania como uma condição de todo o cidadão e por via disso,
compreendido o pagamento do imposto como um dever fundamental, e tendo em atenção o
facto de, os deveres fundamentais serem considerados deveres para com a comunidade, e que
devem ser exercidos pelos cidadãos na qualidade de contribuintes através do cumprimento das
obrigações ético – morais estabelecidas, fica lançado desde já, o desafio de, no Pós Covid 19,
todos contribuirmos à medida da nossa capacidade contributiva, para o desenvolvimento do
nosso país, rumo ao fim das desigualdades e diferenças no acesso às oportunidades.
5. Conclusão
O contexto no período pós – pandemia da covid – 19 será desafiador, uma vez que, se por um
lado, teremos problemas sociais, económicos, políticos e outros, a requererem solução
adequada e nalguns casos pontual. Noutros casos, teremos o exercício do poder público, por
meio do sistema fiscal, que deverá agir em conformidade com os ditames da lei, exigindo o
cumprimento do dever fundamental de pagar imposto, ainda que este exercício não surte os
efeitos desejados em termos de volume de receita arrecadada, pois são poucos os contribuintes
que pagam o imposto no país.
Deste modo, o estudo em pauta buscou elucidar e chamar a atenção para a consciencialização
permanente do cidadão/estudante sobre a necessidade de contribuir na medida da sua
capacidade contributiva para o melhoramento ou criação de condições de vida adequadas para
todos os segmentos e extractos sociais da sociedade.
45
Necessidade ainda mais premente quando situações como, a actual pandemia da covid-19,
deixou a nu, todas as dificuldades/insuficiências que os sectores – chave do país enfrentam,
como por exemplo, o sector da educação. A educação para a cidadania, e em particular a
cidadania fiscal, é um dos processos que pode ser utilizado na formação de atitudes e
comportamentos dos cidadãos, que em último se expressará pelo pagamento de impostos.
Para uma reflexão e compreensão sobre o tema, foram abordados aspectos como a educação, a
educação fiscal, a educação para a cidadania e foi observado como um dever fundamental do
cidadão, o pagamento de imposto. Por isso, no pós covid-19, as instituições de ensino e
sobretudo as universidades são chamadas a consciencializar sobre a importância social do
tributo, promovendo e incutindo o espírito de cidadania a todos os estudantes em particular e a
todos membros da sociedade, em geral, em busca incessante do melhoramento da qualidade de
vida, de modo global.
Referências Bibliográficas
Resumo
O presente artigo é resultado de reflexões sobre a implementação de estágio pedagógico e
técnico-profissional nos cursos de Licenciatura em ensino Básico e Ciências Ambientais
respectivamente na Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo) no período de COVD-
19. Assim, falar de supervisão pedagógica num contexto de formação inicial implica repensar
nas práticas implementadas na UP com a finalidade de estimular e desenvolver competências,
atitudes autónomas, participativas e colaborativas dos futuros professores e técnicos de outras
áreas. Este tema enquadra-se no eixo “Que didácticas, dinâmicas do ensino, avaliação e outras,
em contexto de crise e como recurso a plataformas tecnológicas? A fundamentação teórica
baseou-se nos saberes dos teóricos como Pimenta & Lima (2011), Tczani (2011), Medeiros
(2012) e outros. A partir de uma abordagem qualitativa fez-se análise de dados obtidos, através
do questionário aplicado aos estudantes do 4o ano do curso de Licenciatura em ensino Básico e
os estudantes do curso de Licenciatura em Ciências de Ambientais. O estudo permitiu concluir
que os estagiários avaliam positivamente a sua experiências de realizar o estágio
profissionalizante no período de COVI-19 apesar dos desafios que este processo impôs como a
falta de internet, falta de transporte para o local de estágio devido a limitação do número de
passageiros, falta de infraestruturas tecnológicas nas instituições, falta de capacitação para o
uso das plataformas recomendadas, problemas de comunicação com os encarregados de
educação e falta de recursos para providenciar o acesso as plataformas. Também, consideram
condições necessárias para a realização de estágio a disponibilização de kits de equipamento e
material de higiene e segurança, uso de recursos tecnológicos para a supervisão das actividades
de estágio, capacitação de todos os intervenientes no uso de plataformas de forma que certas
actividades possam ser desenvolvidas em casa para evitar as deslocações diárias.
.
Palavras-chave: Estágio profissionalizante, Tecnologias educacionais, supervisor, Tutor
10
Doutorada em Educação/Currículo pela Faculdade de Ciências da Educação e Psicologia, docente da Faculdade
de Ciências Naturais e Matemática na Universidade Pedagógica de Maputo e pesquisadora do CEPE.
11
Licenciado em Ciências de Educação, Mestrando em Desenvolvimento curricular na Faculdade de Educação na
UEM, docente da Faculdade de Ciências da Educação e Psicologia na Universidade Pedagógica de Maputo
89
1. Introdução
A realização de estágio profissionalizante na formação de professores e de outros técnicos é
fundamental para garantir a qualidade dos graduados, pois é o momento em que os formandos
têm a oportunidade de vivenciar a situação real da sua futura profissão.
Nesta perspectiva, o estágio é realizado nas escolas e nas instituições parceiras, garantindo
o aprimoramento de conhecimentos técnicos e científicos, a observação e a interação com os
funcionários que actuam em diferentes sectores. De salientar que, no processo de estágio são
envolvidos vários intervenientes a destacar, o supervisor que é docente da UP-Maputo a quem
lhe é atribuído um grupo de estudantes; um ponto focal que é representante das instituições
parceiras que viabiliza os contactos com os representantes da UP, visando a busca de soluções
para os diferentes problemas que podem ocorrer ao longo da vigência do acordo de parceria;
um tutor que é professor da escola ou formador do Instituto de Formação de professores ou
ainda o agente empresarial/técnico Profissional que acompanha, apoia e orienta o formando e,
por último o estagiário que é o discente da UP que realiza o estágio pedagógico ou técnico
profissional (UP, 2018b).
Para Motta & Silva (2012) o desafio da educação é evitar que haja ofício sem saberes e
saberes sem ofício, isto é, deve-se garantir uma articulação entre os saberes e o ofício em todos
os cursos. Neste contexto, o estágio contribui para que o formando se integre na sociedade, por
meio de uma adaptação a sua futura profissão.
O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC´s) como recurso indispensável
para o processo de ensino-aprendizagem (PEA) estava eminentemente relacionada a
implementação dos currículos na modalidade a distância. Contudo, com o advento da pandemia
de COVID-19, estes recursos foram expandidos também para a modalidade presencial, dado
que através do decreto presidencial no 11/2020 de 30 de Março determinou-se que as
instituições de ensino deveriam encerrar e adoptar estratégias que permitissem a continuação
das actividades lectivas com os estudantes fora das instituições, garantindo desta maneira o
PEA.
No caso dos estagiários do curso de Licenciatura em Ensino Básico havia sido acordado
que a supervisão seria presencial e iniciariam com o estágio logo depois de se apresentarem nas
escolas. No entanto, o estado de emergência decretado pelo presidente da república implicou a
reconstrução de estratégias onde os estagiários consideraram haver condições para
desenvolverem as suas actividades dado que os alunos ficariam em casa, mas os professores
das escolas continuariam a trabalhar no sentido de providenciar o material de aprendizagem.
Na sequência, os estagiários do curso de Licenciatura em Ciências Ambientais que estavam
a realizar as suas actividades em instituições parceiras também continuaram a desenvolver as
suas actividades, respeitando as medidas de prevenção anunciadas pelo Ministério da Saúde e
a Organização Mundial da Saúde (OMS). Neste sentido, a supervisão das actividades do estágio
continuou a ser feita, através de plataformas identificadas pela instituição (plataforma Moodle,
emails, watsapp, Google Classroom, Zoom, etc). Para além destas ferramentas, foi usado o
sistema de mensagens (sms) e chamada de voz para a comunicação com os estagiários, o que
nos tempos quem correm, não constitui problema porque a construção do conhecimento dá-se
através de múltiplas possibilidades.
Assim, o presente artigo pretende trazer algumas experiências de realização de estágio no
período de COVID-19 com recurso as TIC´s como forma de incentivar os demais estagiários e
supervisores da UP-Maputo, contribuindo para a melhoria de qualidade de ensino. A pergunta
que orienta esta pesquisa é: até que ponto as TIC´s podem possibilitar a realização de
estágio no período de COVID-19?
2. Objectivos
2.1. Geral
Reflectir sobre a organização e implementação dos estágios profissionalizantes com
recurso às TIC´s na UP-Maputo.
2.2.Específicos
Caracterizar as percepções dos estudantes sobre os desafios da realização do estágio no
período de COVID-19;
Identificar as dificuldades dos estagiários face ao uso das TIC´s;
Propor estratégias de supervisão do estágio, com recurso às TIC´s, no período de
COVID-19;
91
3. Questões científicas
Quais são as percepções dos estudantes sobre a realização do estágio no período de
COVID-19;
Que dificuldades os estagiários enfrentam no uso das TIC´s;
Que estratégias podem ser adoptadas pelos supervisores no período de COVID-19.
4. Fundamentação teórica
Para Barreiro & Gebran (2006), o estágio traz uma serie de benefícios para os
formandos, entre os quais: possibilita a aplicação prática dos conhecimentos teóricos obtidos
na formação; facilita e antecipa a autodefinição face à futura profissão; reduz o impacto da
passagem da vida estudantil para a profissional, possibilitando a identificação das dificuldades
e busca da forma de aprimoramento; proporciona uma comunicação eficaz, através dos
relatórios que elaboram, além de incentivar o exercício do senso crítico e estímulo a criatividade
e proporciona a atitude responsável como respeito, disciplina, assiduidade, pontualidade a ética
profissional, etc.
pois a inserção das TIC´s nas práticas pedagógicas não deve ser visto como modismo, mas
como um instrumento capaz de incrementar e enriquecer o PEA.
Um estudo realizado por Leite et al (2011) com um grupo de estagiários revelou, através de
um questionário, que os recursos tecnológicos mais utilizados no estágio foram computadores,
vídeos e aparelhos de som apesar de existir um conjunto de recursos desde data show, softwares
educativos, Televisão, jogos educativos, email, etc. Para esta autora, o computador é um recurso
didáctico que possibilita não só a transmissão, mas também a construção de conhecimentos,
tornando-se uma importante ferramenta que facilita a comunicação e permite juntar a escrita, a
fala com rapidez, flexibilidade e interação.
Na mesma perspectiva, Gomes (2008) refere que, o vídeo quando bem explorado torna-se
uma importante ferramenta para a construção do conhecimento, visto que contempla a
linguagem audiovisual, promove a aprendizagem e auxilia na comunicação do conhecimento.
Este autor acrescenta que, o vídeo deve ser utilizado para suscitar discussões, debates,
enriquecer conteúdos, incentivar a produção audiovisual, introduzir novo conteúdo, estimular
a curiosidade, entre outros.
5. Metodologia de trabalho
Má
10%
25%
15% Boa
MBoa
50% Excelente
“Avalio a experiência de realização do estágio como boa, pois pude ver in-loco, como é feita a
avaliação do impacto ambiental, o plano de lavra, porém o tempo não foi suficiente para
adquirir mais conhecimentos práticos devido a pandemia de COVID-19” (ELCA1); “A
realização do estágio no período de COVID-19 foi muito complicado isto porque, não foi
possível desenvolver certas actividades em todos sectores em conjunto devido ao
distanciamento social e a rotatividade dos funcionários”(LCA2); “Foi complicado porque só
pelo facto de estar com receios pela forma de contágio da doença e da circulação diária, possível
contacto cada funcionário e tinha que me adaptar a nova postura devido a doença que deixou a
todos em estado de alerta” (LCA3); “Eu avalio a minha experiência de realização do estágio
como muito boa, apesar da pandemia de COVID – 19, e eu considero as dificuldades como
desafios, e vejo mais oportunidades para aprender” (LCA5); “Boa, mas tive um contacto muito
curto com os alunos para apoiar nas suas aprendizagens”. (LEB2); “Foi uma experiência visto
que depois do decreto presidencial tivemos que elaborar as fichas de actividades de
aprendizagem que iam servir como guião para os nossos alunos” (LEB3); “Pude adquirir
experiência de organização de ensino em condições adversas como as da pandemia do COVID-
19” (LEB6); “Como resultado da pandemia de COVID-19, o estágio teve uma característica
diferente do normal, sobretudo na segunda fase, a de leccionação de aulas onde participei na
elaboração de fichas de actividades de aprendizagem a serem enviadas para os alunos através
do encarregados da educaçao que na semana seguinte recebíamos dos mesmos para a
correcção” (LEB9).
Deste modo, as afirmações dos inquiridos encontram sustento nos argumentos do Aguiar
(2006) ao salientar que, o desafio da escola contemporânea é aprender a lidar com a tecnologia
e transformá-la em aliada da educação. No entanto, muitos docentes não buscam a mudança
para a sua prática educacional, mantendo as características tradicionais talvez pelo facto de não
saberem quais os recursos tecnológicos a aplicar e/ou por falta qualificações para a utilização
de tais tecnologias em suas práticas bem como pela ausência dos mesmos no contexto
educacional (Medeiros, 2012).
Plataformas usadas
20
10
0
Watsapp Email Plataforma Moodle
De acordo com os dados obtidos, os inquiridos afirmaram que usaram whatsapp (90%),
email (70%) e plataforma Moodle (65%). Estes resultados evidenciam a necessidade de se
alocar mais recursos as instituições de ensino, pois nesta fase da pandemia a inserção das TIC´s
nas práticas e estágios profissionalizantes não deve ser visto como modismo, mas como uma
estratégia que poderá garantir a realização das actividades práticas na UP-Maputo.
Modalidades de supervisão
30
20
10
0
Presencial A distância
Relativamente a esta questão, constata-se que todos os inquiridos afirmaram que tiveram
supervisão na modalidade presencial e à distância. Essa situação deveu-se pelo facto do
primeiro estado de emergência ter sido decretado no mês de Março, isto é, na fase inicial do
estágio onde os mesmos estabeleciam os primeiros contactos com os seus supervisores no
contexto da pré-observação. Nesta fase, os estagiários são preparados em seminários sobre as
actividades a desenvolver no estágio, incluindo as estratégias metodológicas e tecnológicas de
trabalho de campo nas fases seguintes (observação e pós-observação), tal como recomenda
DUARTE et al., (2008) ao afirmar que é tarefa do supervisor, entre outras, acompanhar os
estagiários em todas as tarefas relativas a esta actividade curricular.
99
12. Na sua opinião, a supervisão que recebeu permitiu atingir os objectivos do estágio?
10
0
Sim Não
No que tange ao alcance dos objectivos do estágio, a maioria (85%), afirmou que
alcançou os obejctivos. As opiniões dos inquiridos são ilustradas pelas seguintes descrições:
“Alcancei porque a estratégia de supervisão com auxílio de plataformas adoptadas serviu para
ultrapassar todas as dúvidas que ia encontrando ao longo do estágio” (LEB6); “Apesar o
distanciamento social imposto por causa do COVID-19 houve no decorrer do estágio
preocupação por parte dos supervisores de manter o contacto, seja por meio da plataforma ou
pelo grupo do watsapp. Em caso de dúvida ou qualquer inquietação também estávamos
autorizados a efetuarmos chamadas telefónicas para os supervisores” (LEB9); “Permitiu sim,
porém em algum momento senti a falta de uma supervisão presencial, pois esta permite uma
interacção mais “realística” do ponto de vista de dúvidas, torna-se mais fácil perceber assim
como expor a dúvida” (LCA1); “Sim, atingiu os objectivos do estágio porque cada duvida que
necessitasse de esclarecimento, a supervisora esclarecia claramente a dúvida” (LCA2); “Sim
Porque através da explicação e manuais orientadas pela supervisora nas primeiras semanas do
semestre ajudou-me bastante na elaboração do relatório como também na identificação do
problema ambiental no local de estágio”(LCA7); “Não porque o tempo não foi suficiente”
(LCA6).
Da análise desse conjunto de afirmações verifica-se que os inquiridos reconhecem que
apesar da situação da pandemia que obrigou a mudança de estratégias na implementação do
estágio os objectivos foram alcançados, pois Pimenta & Lima (2011) afirmam que o estágio
proporciona ao formando a participação de actividades em situação real facto que contribui para
o aperfeiçoamento técnico, cultural, científico e relacionamento humano que permite também
o feedback entre a universidade e os empregadores.
14. Em sua opinião, que condições são necessárias para a implementação de estágio no
período de COVID-19?
Em relação as condições necessárias para implementação do estágio no período de
COVID-19 todos os inquiridos apresentam opiniões similares ao afirmarem que é fundamental
a capacitação sobre o uso dos recursos tecnológicos dos intervenientes do estágio, além da
implementação das medidas de prevenção já divulgadas pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) e o ministério de saúde. A descrição acerca das condições de implementação do estágio
fica bem caracterizada pelos seguintes depoimentos:
“As condições são imprevisíveis, dado às regras impostas pelos serviços sanitário. Onde agente
apenas tem que obedecer o estipulado. Todavia, o mais importante que se cumpra com as regras
sanitário para preservar a vida” (LCA4); “Para a implementação de estágio no período de
COVID-19, são necessárias equipamentos de higiene e proteção do estagiário e direito de
transporte para a sua locomoção” (LCA5); “Estágio a distância com o uso de algumas
plataformas existentes” (LCA6); “Bom, dever-se-ia implementar o uso dos recursos
tecnológicos sob monitoramento de supervisores de modo a avaliar a eficácia dos mesmos e
desse modo evitar o contacto pessoal e a propagação do Vírus” (LEB2); “É preciso que se
101
disponham Kits de higiene pessoal como mascara e desinfetantes” (LEB5); “Uso racional de
tecnologias de comunicação e informação, uso de plataformas como aplicativo ZOOM para o
contacto e interacção” (LEB10); “Para a implementação do estágio no período do COVID-19,
é necessário que se invista nas plataformas do Ensino a distância. Os alunos devem dispor de
meios de comunicação que permitam comunicar-se com os professores via vídeo chamada; os
estagiários devem ter condições para manter comunicação com os alunos durante o processo de
resolução de fichas de leitura” (LEB12).
As afirmações dos inquiridos encontram o sustento nos dizeres do Tczani (2011) ao
referir que, as TIC´s permitem a reorganização didáctica, pedagógica, curricular, pois a
facilidade de acesso às informações disponibilizados pelas tecnologias proporciona uma nova
forma de ensinar e aprender.
16.1 Conclusões
16.2. Sugestões
Bibliografia
KUMAR, R. Research methodology: a step-by-step guide for beginners. 3.ed. Londres, Sage,
2011.
PIMENTA, S.G. & LIMA, M. S. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2011
Resumo
O processo de ensino-aprendizagem em tempos de Covid-19 tem sido um dilema no nosso país,
principalmente nos aspectos metodológicos adoptados pelas nossas instituições de ensino.
Estas, precisam encontrar novos processos metodológicos para se adequarem ao actual cenário
imposto pelo Covid-19. O objectivo deste trabalho é de verificar se os procedimentos
metodológicos adoptados ao longo do tempo antes do Covid-19, onde habitualmente as turmas
numerosas eram consideradas normais, serão os mesmos a serem adoptados no período do
Covid-19 onde vigoram decretos que impõem uma redução significativa dos alunos em cada
turma. Dai que, igualmente, este artigo aborda algumas flexibilidades metodológico-didácticas
a serem implementadas por forma adequar ao cenário que for a vigorar a imposição do decreto
restritivo. Pois, se em outros países os professores estão habituados a gerir turmas com uma
média de 25 alunos, a mesma experiência não pode ser partilhada pela maioria dos professores
em Moçambique, em particular os afectos a Escola Secundária Mateus Sansão Mutemba.
Ademais, foram também sugeridos procedimentos metodológicos-didáticos a serem
implementados por forma a não contrariar o distanciamento social imposto pelo decreto, como
por exemplo uso de audiovisuais, descarte em grande parte dos métodos comunicativos em
detrimento do expositivo. A metodologia de pesquisa foi bibliográfica aliada a pesquisa de
campo baseada em experiências didácticas dos pesquisadores. De referir que os dados serão
analisados qualitativamente. A pesquisa não apresenta resultados acabados, podendo desta
forma abrir espaço para a continuidade, enquanto o processo das novas regras estiver em vigor.
Abstract
The teaching-learning process in Covid-19 times has been a dilemma in our country, mainly in
the methodological aspects adopted by our educational institutions. They need to find new
methodological processes to adapt to the current scenario imposed by Covid-19. The objective
12
Mestre em Comunicação para o Desenvolvimento, Universidade Católica de Moçambique - Instituto de
Educação à Distância. Mail: manuelapery81@gmail.com
13
Mestre em Línguas, Literaturas e Cultura Universidade Licungo – Quelimane-. Mail:
vanessa.jamal@hotmail.com
14
Mestre em Administração e Gestão Educacional, Escola Secundaria Sansão Mutemba . Mail:
nel.moda@hotmal.com
105
of this work is to verify if the methodological procedures adopted over time before Covid-19,
where numerous classes were usually considered normal, will be the same to be adopted during
the Covid-19 period where decrees are in force that impose a reduction significant number of
students in each class. Hence, this article also addresses some methodological-didactic
flexibilities to be implemented in order to adapt to the scenario that will impose the restrictive
decree. For if, in other countries, teachers are used to managing classes with an average of 25
students, the same experience cannot be shared by most teachers in Mozambique, in particular
those assigned to the Mateus Sansão Mutemba Secondary School. In addition, methodological-
didactic procedures were also suggested to be implemented so as not to contradict the social
distance imposed by the decree, such as the use of audiovisuals, discard in large part the
communicative methods in detriment of the expository. The research methodology was
bibliographic combined with field research based on the didactic experiences of the researchers.
It should be noted that the data will be analyzed qualitatively. The research does not present
finished results, thus being able to open space for continuity, while the new rules process is in
effect.
Keywords: Teaching-learning, methodologies, teachers, students, Covid-19.
1. Contextualização do estudo
Para o reinício das aulas presenciais, as escolas, universidades e outras instituições de ensino
têm a obrigação de garantir as condições de higiene necessárias para reduzir a possibilidade e
risco de contágio. Todavia, não se tem colocado a reflexão sobre as novas metodologias de
ensino ou pelo menos a sua flexibilidade, com a excepção de reajuste dos programas temáticos
apenas. Aqui reside a preocupação e relevância em desenvolver esta pesquisa com vista a
propor abordagens metodológicas.
Em tempos de Covid-19, os desafios surgem para todos e em todos lugares do mundo inteiro.
Infelizmente, trata-se duma situação a ser enfrentada com padrões diferentes, segundo a
107
A avaliar o rácio professor-aluno em Moçambique com mais de 60 alunos por turma, chegando
em alguns casos a atingir 120 alunos por turma, coloca o país a redistribuir o efectivo dos alunos
por turma para respeitar o distanciamento social, e isto vai directamente implicar ajuste de salas
de aulas e requisição ou contratação urgente de mais professores.
É frequente o uso dos substantivos “ensino” e “aprendizagem” para fazer referência aos
processos “ensinar” e “aprender”. Raramente fica claro que as palavras referem-se a um
“processo” e não a “coisas estáticas” ou fixas. Nem sequer pode ser dito que correspondam a
dois processos independentes ou separados. (Kubo & Botome: 2001).
Nesse sentido, é melhor usar verbos para referir- se a esse processo, fundamentalmente
constituído por uma interação entre dois organismos (pelo menos no caso de “ensinar”, uma
vez que é possível “aprender” sem um professor). Mas as perguntas importantes permanecem.
O que é ensinar? O que é aprender? Como se relacionam esses dois processos?
O aspecto a considerar, é que as expressões “ensinar” e “aprender” são dois verbos que se
referem, respectivamente, ao que faz um professor e ao que acontece com o aluno como
resultado da decorrência desse fazer do professor. (op.cit)
Neste contexto, essa visão leva-nos a uma atitude socio-construtivista no ensino onde o
professor é agente do conhecimento agindo activamente leva o aluno ao objecto de forma
contextualizada.
O processo de ensino e aprendizagem tem como mediação o professor e aluno tendo como
objectivo a construção do conhecimento que são partes constituintes deste processo. O processo
de elaboração é mútuo, professor e aluno agem activamente dentro da construção do ensino, o
aluno não é um quadro branco, as vivências de suas geografias devem fazer parte constituinte
desse processo. A metodologia em geografia deve ter como base a junção teoria e prática, é a
partir desse processo construtivista que é dada a sua importância para analisar o entendimento
do meio, é nessa concepção que a vivência ganha uma importância junto com os conteúdos
institucionalizados. Nesse sentido, ensinar é a relação entre o que um professor faz e a
aprendizagem de um aluno.
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a
sua construção” (Freire, 1996, p. 21). Freire acredita que durante a prática educativa o docente
não deve se limitar ao ensinamento dos conteúdos que são previstos e importantes, mas sim,
ensinar a pensar, pois “pensar é não estarmos demasiado certos de nossas certezas”. (Freire,
1996, p. 28). Se para Freire, ensinar não se limita em ‘transmitir’, fica evidente a necessidade
de criatividade educativa do professor, no sentido de trazer inovações ao processo, sobretudo
neste tempo de Covid-19. A possibilidade de elaborar mais exercícios para os alunos,
preocupar-se com cada um deles e dar seguimento personalizado na sala de aulas. Esta
possibilidade numa turma com mais de 100 alunos não era praticável. Nisto, pode-se afirmar
que apesar do infortúnio do Covid-19, a pandemia irá positivamente colocar os professores a
experimentar de forma audaz novas metodologias e criar mais aproximação ao aluno como
‘indivíduo’ com características únicas e diferentes doutros.
O pensar de maneira adequada permite aos discentes se colocarem como sujeitos históricos
activos. Neste sentido, o ensino deve partir dos conhecimentos existentes e daqueles que serão
109
apresentados no futuro, os saberes do senso comum e a capacidade criadora de cada um, diante
de sua particularidade, em um aprendizado mútuo entre os sujeitos com objectivo de adquirir e
instigar o conhecimento de forma autônoma e prazerosa.
No que tange a aprendizagem, considera-se como sendo aquela que transforma, ou seja, tem
que ser transformadora, com diversos saberes reconstruídos entre educadores e educandos,
torna-os deste modo sujeitos autónomos, emancipados, questionadores, inacabados. Para Freire
(1996, p. 26) “no processo de aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais
sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador igualmente
sujeito do processo”. Com isso, a aprendizagem de Freire é como prática de liberdade contrária
a uma prática de dominação e imposição.
Portanto, pode-se de uma forma resumida dizer que o ensino – aprendizagem para Freire
significa a possibilidade de abrir espaço ao educando de aprender de forma crítica, criando as
suas teorias conforme o mundo que o rodeia para que este seja o real sujeito da construção e
reconstrução do saber ensinado.
Diante da pandemia Covid-19 que assola o mundo inteiro, como inicialmente nos referimos o
governo moçambicano tem se desdobrado na criação de estratégias de modo a conter a
propagação rápida da mesma. Dentre as medidas anunciadas pelo governo, consta a suspensão
das aulas em todos os estabelecimentos públicos e privados, desde o ensino pré escolar ao
universitário. Perante a medida de encerramento das aulas, o MEDH foi desafiado a criar
estratégias, de modo a garantir a continuidade das aulas através de outros mecanismos ou
REVISTA MOÇAMBICANA DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO - PsiEdu DEZEMBRO DE 2020, VOL. 1, Nº 2
110
plataformas, a citar: fichas de exercícios, telescola (TV), watsapp, google classroom, redes
sociais e rádios comunitárias. Todavia, estudos moçambicanos, mostram que os pais e/ou
encarregados tem muitas dificuldades em fazer o acompanhamento dos alunos. Importa
questionar sobre a falta de abrangência das metodologias que o MEDH têm ao seu dispor nesse
momento, uma vez que a maior parte dos alunos moçambicanos não dispõem de condições para
o acesso as mesmas. Contudo, são as que se impõe no momento como incialmente nos
referimos.
Diferentemente duma pandemia que necessita duma prescrição médica, o processo de ensino-
aprendizagem tem que ver com experiências, características dos alunos, condições atmosféricas
e físicas do ambiente educativo, idade, nível, conteúdos e seus objectivos. Nem a Escola Mateus
Sansão Mutemba, nem o próprio Sistema Nacional de Educação pode impor tais metodologias,
elas nascem e se desenvolvem com a experiência e aperfeiçoam-se com a produtividade
avaliativa. Por isso, mesmo que a educação venha ao longo dos tempos, sendo alvo de intensos
debates e discussões difícil é chegar-se a um consenso, pois a realidade moçambicana é
particular, sem nos esquecermos que o sistema de ensino e suas metodologias não são estáticas.
Eles assumem uma dinâmica circunstancial.
111
Sabe-se que cada autor, pedagogo, em seu momento histórico, compreendeu o processo de
ensino e de aprendizagem de maneira própria. Assim, cada nova teoria procura substituir as
anteriores, porém incorporando em si os elementos das mesmas. Em Moçambique as escolas e
suas características requerem metodologias e suas articulações diferentes de outros âmbito,
todavia, mantendo sempre a essencial de ensinar a pensar e não construir uma caixa de
ressonância nas novas gerações.
Seria mais sensato que o professor da Escola Secundária Mateus Sansão Mutemba, numa
situação em que os alunos tiveram uma longa pausa nas actividades lectivas devido o Covid-
19, promovesse com os conteúdos reajustados, o acto mais profundo de ajudar o aluno a pensar,
tendo sempre em conta a suas experiências e curiosidades, considerando igualmente o tempo
lectivo diário e semanal de acordo com o calendário estabelecido. Ajudar o aluno a se
empenhar, desviando-se da preguiça e para tal, é crucial a organização das actividades por nível
e características dos alunos, pois há os que dedicaram-se muito durante a suspensão das aulas
e outros muito menos ou quase nunca. Devera ser estabelecido um equilíbrio. Dewey (1953,
p.36) vê no aluno o sujeito que nestas circunstâncias devera, com auxílio do professor “cultivar
o espírito de curiosidade, preservá-lo de desaparecer pelo abuso, de livrá-lo da fossilização da
rotina, e de que o ensino dogmático e a aplicação constante a coisas mesquinhas não a
dissipem.”
O aluno deveria ser reforçado a cada tarefa e imediatamente a ela, conferindo o acerto ou erro
da resposta dada. Em relação à disposição das salas, os alunos poderiam ser agrupados em
classes, mas cada um prosseguiria em seu próprio nível. As tarefas e ou exercícios devem ser
Não há dúvidas que a pedagogia contemporânea, também a que Moçambique implementa, foi
influenciada por Skinner, especialmente na perspectiva tecnicista, estando presente na prática
docente de muitos professores no final dos anos 60 e início dos anos 70. À luz desses princípios,
o trabalho didático foi remodelado, dando ênfase a novos recursos e instrumentos de ensino.
Passou-se a ter maior rigor na planificação diária, quinzenal e trimestral tanto em relação à
forma como aos objectivos e metas; a produção de livros didáticos foi estimulada; a utilização
crescente de recursos áudio-visuais; a preponderância na avaliação quantitativa, dentre outros
aspectos ganhou destaque nas escolas, tudo para que se garantisse um controle do processo de
ensino e da aprendizagem com total eficácia e eficiência.
Apesar da grande influência da perspectiva tecnicista, seus princípios foram criticados por
vários educadores em razão da forma mecanicista e técnica atribuída ao trabalho didático. A
partir dessas e outras críticas, novos movimentos educacionais e educadores trazem para a
educação outras propostas e olhares ao processo ensino e aprendizagem.
3. Considerações Finais
O reinício das aulas presenciais tem sido alvo de críticas em todos quadrantes sociais. Todavia,
todos reconhecem a vitalidade deste processo na vida dos alunos. Se dum lado busca-se
assegurar medidas de higiene nas escolas e universidades, através de disponibilidade de água
canalizada nas escolas de Moçambique, doutro lado para os professores exige-se elevada
reflexão para o acto técnico-executivo em si na sala de aulas. Percebe-se com clareza neste
artigo que as metodologias comunicativas na sala de aulas, que são tidas como bastante eficazes
no processo, sobretudo na aprendizagem da língua, terão que ser de menor opção para os
professores. Actividades de melhoria da fala, como por exemplo pequenas peças teatrais,
113
simulações e roleplays deverão ser evitados como forma de reduzir a exposição dos alunos ao
entrarem em contacto físico. As aulas de educação física, por exemplo, poderão ser incentivadas
para mais tempo lectivo, mas em espaços abertos e com actividades ou jogos que não requerem
apertos, toques, etc., como o jogo de basquetebol. O método expositivo-explicativo, que ao
longo dos anos vinha sendo substituído seu maior espaço com actividades de elaboração
conjunta, infelizmente terá que tomar seu papel com maior relevância, e neste caso voltaremos
a criar, infelizmente o ensino com mais centralidade no professor.
O presente artigo procurou trazer a reflexão e mostrar que existem alternativas e metodologias
que podem garantir sim um ensino de qualidade, em soluções que ajudam a driblar a crise
mesmo diante de tantos obstáculos. Os professores compartilham de várias inseguranças. Em
relação às questões mais técnicas, como por exemplo, dar a aula online, gravar vídeos em
televisão, preparar materiais que possam ser compartilhados com os alunos, entre outros.
4. Referências bibliográficas
DEWEY, John. Como pensamos. 2ª Ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1953.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
KUBO, Olga Mitsue & Botome, Sílvio Paulo. (2001). Ensino – Aprendizagem: uma interação
entre dois processos comportamentais. Disponivel em
https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/3321/2665. Acesso em 13 de Julo de 2020.
PIMENTA, Selma Garrido. (1996 a 1999) A pesquisa em didática -. In: CANDAU, Vera Maria.
SKINNER, Burhus Frederic. (1978). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins
Fontes.
(Org). (2001). Didática, currículo e saberes escolares. (2. ed.). Rio de Janeiro: DP&A
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
A Lei do Ensino Superior, Lei 27/2009, de 29 de Setembro, que regula a actividade deste
subsistema de ensino, define universidades como “instituições que dispõem de capacidade
humana e material para o ensino, investigação científica e extensão em vários domínios do
conhecimento. As funções de todas as universidades contemplam (1) formação do capital
humano, através do pilar de ensino, (2) produção científica, através do pilar da pesquisa, (3)
desenvolvimento comunitário, através do pilar da extensão. A extensão universitária é
apresentada, no Plano Estratégico da Universidade Zambeze 2017-2021, como a função da
universidade que compreende as áreas de integração com a sociedade em geral, e com a
comunidade envolvente em particular.
15
Doutorado em Química, Universidade Zambeze. E-mail: pedro.massingajunior@uzambeze.ac.mz.
REVISTA MOÇAMBICANA DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO - PsiEdu DEZEMBRO DE 2020, VOL. 1, Nº 2
116
controvérsia. Langa (2020) reflecte sobre a relação entre o poder, a ciência e o papel das
universidades, e procura “ilustrar que a excessiva mão interventiva do governo na vida da
universidade, em particular a pública, e a concepção popular e instrumentalista da ciência, pode
ser uma combinação perniciosa e perpetuar a miséria da universidade como instituição capaz
de produzir conhecimento…”
Para este autor, a noção de ciência, mesmo concebida na sua versão mais aplicada de resolução
de problemas da sociedade, não obedece a urgência de expedientes políticos imediatistas. “O
tempo da ciência não é igual ao tempo da (urgência) política” (LANGA, 2020). Na sua reflexão,
o autor referiu-se às invenções da ciência que resolveram preocupações da sociedade, como a
tuberculose, para enfatizar a importância “de programas de investigação, de investimento
intelectual e financeiro avultado”, e da subordinação destes ao tempo da ciência e não da
política (LANGA, 2020). O autor entende que a capacidade de uma universidade fazer seja o
que for de forma significante para a sociedade, é directamente proporcional a sua autonomia de
decidir o que, quando e como fazer, sem receber orientações (ordens) do poder (LANGA,
2020).
Langa (2020) parece estar em sintonia com Botomé, citado por Calderón (2004) como tendo
afirmado existir confusão entre “funções” e “actividades” da universidade, ou seja, o ensino, a
pesquisa e a extensão são actividades e não “funções” da universidade! A função da
universidade, sua espinha dorsal, é somente a produção e disponibilização do conhecimento.
Para Botomé, esta é a função essencial que deve orientar as actividades da universidade, pelo
que esta deve somente atender as demandas que se enquadrem nessa função (CALDERÓN,
2004). Este último autor discorda, e alerta que limitar a função da universidade à produção e
disponibilização do conhecimento é colocar, à universidade, uma camisa-de-força,
impossibilitando-a de responder aos desafios da universidade contemporânea, e tornando-a
cada vez mais distante dos cidadãos que a financiam e que dela precisam, nomeadamente a
sociedade. Nesta perspectiva, o desenvolvimento natural da universidade estará comprometido,
pois a universidade continuará sendo uma “torre de marfim”, instituição anacrónica, desfasada
no tempo (CALDERÓN, 2004).
A aplicação destas medidas, no contexto moçambicano, tem sido um grande desafio. Em outros
países em desenvolvimento, medidas de quarentena não foram eficazes em 2009, no surto da
gripe H1N1, e em 2014, na epidemia da Ébola (DEL RIO e MALANI, 2020). Por sua vez, o
uso de máscaras em aglomerados não teve aderência superior a 50%, em estudos conduzidos
por Maclntyre et al. (2009) e Elachola et al. (2014). Em Moçambique, sectores da sociedade
em geral, e da universidade em particular, desafiam esta última para assumir a concepção
popular e instrumentalista da ciência, assente na ideia de resolução de problemas da sociedade,
e promover medidas adicionais ou alternativas tendentes a prevenção e combate à pandemia
COVID-19.
A demanda por uma participação plena da universidade fora da academia, tanto nas
comunidades marginalizadas como nas empresariais não é nova. McCowan e Schendel (2015)
afirmam que preocupações sobre o impacto do ensino superior são comuns a muitos países,
devido a pressão sobre os orçamentos públicos, e a necessidade de justificar a alocação de
dinheiro dos contribuintes, por um lado, e por outro, devido as elevadas expectativas colocadas
sobre a universidade para resolver desafios contemporâneos complexos e urgentes, incluindo o
REVISTA MOÇAMBICANA DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO - PsiEdu DEZEMBRO DE 2020, VOL. 1, Nº 2
118
aquecimento global e epidemias emergentes. Para estes autores, nos países pobres do hemisfério
sul, não é surpreendente a maior pressão para a universidade demonstrar o impacto, pois os
fundos públicos são mais escassos e os desafios da sociedade são demasiados (MCCOWAN e
SCHENDEL, 2015).
No PEES 2012-2020 reclama-se a falta tradição da maior parte das IES em tirar proveito das
oportunidades que diversos clientes, incluindo o governo, colocam no mercado para a prestação
de serviços e, admite-se a falta de motivação para competir com empresas privadas de
consultoria e serviços, mesmo quando as IES’s ofereçam melhor relação custo/qualidade.
O MEO (Tabela 1) é genérico, coloca os valores totais nas respectivas rúbricas, sem subdivisão
conforme as funções estatutárias de docência, investigação e extensão universitária. No MEO,
16
e-Sistafe: plataforma informática do Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE)
REVISTA MOÇAMBICANA DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO - PsiEdu DEZEMBRO DE 2020, VOL. 1, Nº 2
120
as prioridades de cada IPES não são visíveis nem claras para todas as partes interessadas: quais
das funções estatutárias, docência, investigação ou extensão, são realizadas ou priorizadas pelas
IPES’s? Assim, parece difícil comprovar a obsolescência da concepção da universidade como
instituição monolítica, com perfil único. Porém, examinando as leis que aprovam o Orçamento
do Estado em cada ano, pode-se acompanhar a evolução do orçamento alocado às IPES’s. Com
base nesses orçamentos anuais, dificilmente as IPES’s conseguiriam atender plenamente a
diversidade e complexidade das demandas e expectativas procedentes dos diversos sectores da
universidade e da sociedade, cujos interesses são opostos, eventualmente. Assim, especula-se
que as universidades moçambicanas têm perfis diferentes, optam por missões específicas, e
atendem algumas demandas plenamente e outras não.
partir das demandas dos diversos sectores da sociedade. Assim, a universidade continua a ser
conduzida por factores endógenos, mas também passou a orientar-se por factores exógenos.
Parte da universidade é pautada pelo carácter pragmático e utilitário em relação às demandas
externas, redefinindo sua missão em função da sociedade e do mercado. Esta universidade
renova-se continuamente, oxigenando sua função e existência (CALDERÓN, 2004).
Langa (2020), ao defender que a capacidade da universidade fazer seja o que for de forma
significante para a sociedade é directamente proporcional a sua autonomia de decidir o que,
quando e como fazer, parece não reconhecer a universidade como um corpo de professores e
estudantes com interesses e expectativas eventualmente opostos, cuja autonomia permite uma
diversidade de frentes de actuação, e diversifica os perfis da universidade, criando a
“multiversidade” - universidades com perfis diferentes, que priorizam missões específicas,
atendem plenamente algumas demandas internas e/ou externas, mas não todas, de acordo com
a sua autonomia.
Cumpre concordar com Calderón (2004), o qual alerta que limitar a função da universidade à
produção e disponibilização do conhecimento é colocá-la uma camisa-de-força,
impossibilitando-a de responder aos desafios da universidade contemporânea, e tornando-a
cada vez mais distante dos cidadãos que a financiam e que dela precisam, nomeadamente a
sociedade e o mercado. Nesta perspectiva, o desenvolvimento natural da universidade estará
comprometido, pois a universidade continuará sendo uma “torre de marfim”, instituição
conservadora, desfasada no tempo (CALDERÓN, 2004).
Em Moçambique, evidências apontam para maior procura pelo ensino do que pela pesquisa e
pela extensão. Por isso, não parece legítimo reclamar que a essência da universidade nacional
é pesquisar, e de acordo com o tempo da ciência. Sustentar que a função principal da
universidade é a pesquisa somente bloqueia a existência de mercado diversificado em termos
de instituições, produtos e serviços universitários (CALDERÓN, 2004).
Importa esclarecer que até início do século 20, a maioria das universidades britânicas
adoptavam o modelo humboldtiano, que incentivava os estudantes a buscar ideias originais,
através de pesquisa (CLARK17 apud MCCOWAN e SCHENDEL, 2015), enquanto as
universidades nas respectivas colónias incentivavam formação em habilidades e conhecimentos
específicos para trabalhar dentro da burocracia colonial (AJAYI18 et al. apud MCCOWAN e
SCHENDEL, 2015).
17
Clark, B. (Ed.). The Research Foundations of Graduate Education: Germany, Britain, France, United States,
Japan. Berkeley: University of California Press, 1993.
18
Ajayi, J.; Goma, L.; Johnson, G. The African experience with higher education. Accra: Association of African
Universities in association with James Currey and Ohio University Press, 1996.
Considerando este leque de vantagens, parece surpreendente que a propriedade intelectual não
seja explorada efectivamente pelas IES´s e pelos agentes económicos nacionais. Mundialmente,
é reconhecido o estímulo e impacto que a utilização do sistema de propriedade intelectual
fomenta no desenvolvimento tecnológico, económico e social.
A universidade mercantil é caracterizada por Calderón (2004) como uma instituição que
preconiza flexibilidade, variedade e diversidade. Trata-se de uma universidade-empresa
orientada ao atendimento de demandas da sociedade e do mercado, conforme a sua autonomia.
É um modelo de entidade universitária prestadora de serviços na área da educação e do
conhecimento, que molda, define e renova permanentemente suas actividades, tendo como eixo
a função de capacitar os recursos humanos necessários para o desenvolvimento da sociedade e
do mercado. A universidade mercantil não descarta actividades complementares como a
pesquisa pura ou aplicada, assessorias e consultorias; sua existência depende da demanda intra-
e extra-institucional, da missão e da visão de cada IES, dos nichos de mercado
institucionalmente definidos e da viabilidade financeira de cada projecto. A universidade
mercantil é flexível e não se fecha em modelos únicos e rígidos, podendo assumir formas
variadas, como dedicar-se prioritariamente ao ensino, ou à pós-graduação e pesquisa, ou
especializar-se em uma área de conhecimento, não preservando a universalidade de campo
(ciências sociais, ciências naturais, etc). Nos limites da Lei e outros instrumentos reguladores
do ensino superior e das politicas e estratégias de desenvolvimento nacional, a universidade
mercantil conjuga sua autonomia e missão institucional, com a demanda e a viabilidade
financeira para desenvolver cursos e programas, actividades de iniciação científica, projectos e
programas de pesquisa e/ou de extensão, etc. (CALDERÓN, 2004).
O Manual de Avaliação Externa de Cursos e/ou Programas, editado pelo CNAQ, apresenta 9
Indicadores principais de qualidade, contemplando 36 padrões e 229 critérios de verificação. O
Indicador 1 é referente a missão e objectivos gerais da Unidade Orgânica, e contempla 2 padrões
de qualidade e 16 critérios de verificação. O padrão 1.1 estabelece que a Unidade Orgânica que
ministra o curso avaliado deve ter a missão claramente expressa, ser relevante, ser divulgada e
estar relacionada com as estratégias de desenvolvimento institucional e do sector socio-
económico do País. Isto reforça a necessidade da universidade responder as demandas e
expectativas contemporâneas, não se distanciando da sociedade e do mercado que a financiam
e que dela precisam, particularmente neste período de emergência da COVID-19.
REFERÊNCIAS
Aprova-o-Regulamento-de-Licenciamento-e-Funcionamento-das-IES-e-revoga-o-
Decreto-48-2010-de-11-de-Novembro. Acesso em: 05 Junho 2020.
RESUMO
O presente estudo faz uma abordagem das experiências vivenciadas no processo de ensino-
aprendizagem por estudantes do ensino superior em Moçambique com o objectivo de aferir as
condições sob as quais os estudantes tiveram aulas durante a vigência do Decreto de Estado de
Emergência imposto pela pandemia da COVID – 19 e reflectir sobre a qualidade de ensino neste
período. Trata-se de um estudo de natureza quantitativa, no qual a obtenção de dados foi a partir
da administração de um formulário electrónico, com recurso ao google form, distribuído
segundo uma amostragem autogerada e a análise foi feita com auxílio de aplicativos estatísticos
Excel 16 e HBM SPSS 26. Os resultados indicam que a qualidade de ensino não foi das melhores
no período em análise, motivada por: uso de plataformas não adequadas para um ensino online;
incumprimento de actividades curriculares planificadas; inadequação de materiais fornecidos
aos alunos para aprendizagem no modelo e-learning; falta de meios ou o não domínio dos
mesmos para aceder adequadamente às matérias e as plataformas de ensino, o que de maneira
significativa contribuiu para a insatisfação dos estudantes com o processo de ensino-
aprendizagem no período em análise.
Palavras – chave: vivências, pandemia, ensino superior, qualidade.
ABSTRACT
The present study approaches the experiences lived in the teaching-learning process by students
of higher education in Mozambique with the aim of assessing the conditions under which
students had classes during the term of the State of Emergency Decree imposed by the pandemic
of COVID - 19 and reflect on the quality of teaching in this period. This is a quantitative study,
in which data was obtained from the administration of an electronic form, using the google
form, distributed according to a self-generated sample and the analysis was performed with the
aid of statistical applications Excel 16 and HBM SPSS 26. The results indicate that the quality
of teaching was not the best in the period under analysis, motivated by: use of platforms not
suitable for online teaching; non-compliance with planned curricular activities; inadequacy of
materials provided to students for learning in the e-learning model; lack of means or lack of
mastery of them to properly access the subjects and teaching platforms, which significantly
contributed to students' dissatisfaction with the teaching-learning process in the period under
analysis.
Keywords: experiences, pandemic, higher education, quality.
19
Mestre em Estatística. Docente na Universidade Púnguè. Mail: chitatapercio@gmail.com
20
Doutorando em Ensino, Filosofia e História de Ciências (UFBA). Docente na Universidade Púnguè. Mail:
daanhampinga@gmail.com
REVISTA MOÇAMBICANA DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO - PsiEdu DEZEMBRO DE 2020, VOL. 1, Nº 2
130
0. INTRODUÇÃO
Em Moçambique, após a constatação do alto risco de importação da doença para o país, como
consequência da evolução da doença nos países vizinhos (África do Sul, Zimbabwe, Zâmbia e
Malawi), o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, anunciou no dia 20 de Março, dentre
outras medidas de prevenção, o encerramento de todas instituições de ensino em todos os níveis,
o cancelamento de actividades desportivas, a limitação de participantes em eventos e a limitação
da circulação de pessoas. Com o evoluir da situação, no dia 30 de Março, através do decreto n.º
12/2020 de 2 de Abril, o Presidente da República declarou Estado de Emergência por um
período de 30 dias, com efeitos imediatos, o qual viria a ser prorrogado por mais 30 dias, a 30
de Abril de 2020.
Contudo, por consequência da adopção das tecnologias para o ensino, algumas questões surgem
e merecem análise do ponto de vista do cumprimento dos programas de estudo e garantia de
qualidade. Por exemplo:
Com o cancelamento das aulas presenciais muitos estudantes, como forma de evitar
gastos desnecessários, regressaram para as suas zonas (províncias, distritos, localidades)
de origem que por vezes não têm acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação
(TICs), nem às redes de telefonia móvel. Com isto questiona-se: como é que estudantes
nesta situação estão a ter aulas?
O uso de TICs ou do ensino-aprendizagem online requere existência e familiarização
com ferramentas adequadas, mas que devido ao carácter brusco da mudança de um
regime para outro, numa situação em que o ensino era conduzido numa modalidade
(presencial) diferente da actual. Quais plataformas são usadas? São acessíveis a todos
os estudantes? Há facilidades para o seu uso? São adequadas para um processo ensino-
aprendizagem formal? Existe única plataforma adoptada pela Instituição de Ensino
Superior (IES) para evitar que os alunos emigrem de plataforma a outra, dependendo do
tempo e disciplina, desperdiçando tempo em aprendizado no manuseio das plataformas?
A adopção da nova forma de estar e da nova modalidade de ensino trazem experiências
diversificadas e por consequência disso, sentimentos. O que os alunos pensam a respeito
do seu nível de aprendizagem neste período?
cancelamento de aulas presencias, abrangendo o ensino superior, o que fez com que o o
Ministério de Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional (MCTESTP)
tivesse que emitir instruções sobre o decurso das aulas nas IES e estas, por sua vez,
implementaram tecnologias de ensino à distância como forma de garantir a observância das
medidas decretadas.
Após o anúncio das medidas de contenção, pelo Presidente da República, no dia 21 de Março,
o MCTESTP emitiu o Ofício n.º 169/MCTESTP/GM/393/2020, no qual anunciava as medidas
de prevenção da pandemia nas IES. Segundo o Ofício, de entre outras actividades, “as IES
deveriam elaborar planos de recuperação das aulas e monitorar a sua execução e; conceber
planos para ocupação dos estudantes com recurso às TICs”.
O Ofício do MCTESTP seguia a orientação presidencial que viria a ser reforçada pelo Artigo
13 do Decreto n.º 12/2020 de 2 de Abril.
Seguindo estas orientações as IES adoptaram tecnologias ao alcance delas, dos seus docentes e
dos seus estudantes para garantir a continuidade da actividade lectiva, fundamentada pelo facto
da necessidade de se cumprir com os planos programáticos e o calendário académico. Algumas
das ferramentas adoptadas para este acto de ensino foram as que se podem usar pela internet
(online), designadamente: Plataformas de ensino à distância habituais das IES (como é o caso
da Moodle, por exemplo); Google Classroom; E-mail; WhatsApp e; Outras. Entretanto, nem
todas estas ferramentas foram concebidas como ambientes de aprendizagem.
Um estudo feito por Mulema, Luís e Injage o qual teve como grupo alvo os estudantes das IES
na Província da Zambézia mostra dificuldades apresentadas por estudantes, inerentes ao
decurso das aulas. Segundo estes autores,
A qualidade de ensino é um elemento que gera controvérsia em relação aos seus indicadores.
Uns avaliam a qualidade a partir de resultados pedagógicos quantitativos, uns avaliam partindo
das facilidades e condições de aprendizagem e outros avaliam tendo em consideração os
resultados de todo o processo de formação/aprendizagem – a capacidade do saber fazer. A
seguir apresentam-se alguns aspectos inerentes ao conceito “qualidade de ensino/educação”, na
óptica de alguns autores. Assim,
O Ensino à Distância é “uma modalidade de ensino cujo objetivo é fornecer uma educação
aberta e permanente através da superação das distâncias entre docentes e alunos via situações
não convencionais” (Costa, 2016, p. 23).
135
Em relação à esta modalidade de ensino, acrescenta-se os factores que podem afectar a sua
qualidade, que são, segundo Mercado (2017),
Assim, “o êxito na Ensino à Distância depende de programas bem definidos, material didático
adequado, professores capacitados e comprometidos, e mais os meios apropriados para facilitar
a interatividade, respeitando a realidade dos alunos a serem atendidos” (Mercado, 2017).
2. METODOLOGIA
2.1. Classificação da pesquisa
A pesquisa levada a cabo é, quanto a sua abordagem, quantitativa por privilegiar testes e
técnicas estatísticas para análise de dados, quanto aos objectivos, é descritiva, pois, procura
caracterizar o ensino no período da vigência do estado emergência ocasionado pela pandemia
do COVID-19 a partir das experiências vivenciadas pelos estudantes das IES Moçambicanas e
quanto aos procedimentos é uma pesquisa de levantamento, por privilegiar um estudo por
amostragem do qual a produção de dados foi mediante a aplicação de um questionário.
O grupo alvo foram todos os estudantes das IES em Moçambique mas que devido às questões
de acessibilidade e tendo em conta o mecanismo de administração do questionário
(disponibilizado online, durante uma semana) foi usada uma técnica de amostragem não
probabilística autogerada ou bola de neve, como classificada por Malhotra (2011) que,
caracteriza-a como um procedimento que constitui a amostra partindo de um grupo de
inqueridos que por sua vez e sucessivamente, vão indicando outros. Neste sentido, o
questionário foi partilhado aos estudantes através de diferentes plataformas de comunicação
digital tal como WhatsApp, Messenger, etc., de onde foram obtidos 770 inqueridos.
que os inqueridos não preenchessem mais do que uma vez o formulário, uma vez que não eram
recolhidos dados sobre a sua identidade para efeitos de controlo, por necessidade de garantia
do seu anonimato, para responder ao formulário, os inqueridos tinham que acessá-lo através de
uma conta Google que limitava o número de respostas a uma, por inquerido.
Para análise de dados usamos técnicas quantitativas. Fizemos uma análise quantitativa dos
dados usando procedimentos descritivos (gráficos unidimensionais, gráficos bidimensionais e
intervalos de confiança para as médias) para identificar as ferramentas mais usadas e os níveis
de satisfação.
3. RESULTADOS
3.1. Caracterização dos inqueridos
O estudo abrangeu 770 inqueridos, dos quais 243 (32%) são do sexo feminino e 527 (68%) são
do sexo masculino. Os inqueridos estão distribuídos pelas 11 províncias do país, estando 3
(0.4%) em Cabo Delgado, 25 (3.2%) em Gaza, 68 (8.8%) em Inhambane, 135 (17.5%) em
Manica, 89 (11.6%) em Maputo Cidade, 49 (6.4%) em Maputo Província, 29 (3.8%) em
Nampula, 4 (0.5%) em Niassa, 71 (9.2%) em Sofala, 246 (31.9%) em Tete e 51 (6.6%) na
Zambézia. Estes inqueridos são maioritariamente da Universidade Púnguè - UniPúnguè (348 -
45%) e da Universidade Eduardo Mondlane - UEM (103 - 14%). Outras universidades que
tiveram participantes em número considerável são as seguintes:
Públicas
Privadas
As idades dos inqueridos variam dos 17 aos 49 anos de idade, estando grande número na faixa
dos 22 aos 26 anos (35.7%), seguindo – se a faixa dos 17 aos 22 (28.2%). Dos inqueridos 58%
estão inscritos no Regime Laboral, 24% no Regime Pós-Laboral e 18 na Modalidade de Ensino
à Distância e abrangem estudantes do 1º ao 6º ano (24.2% do 1º, 23.8% do 2º, 18.7% do 3º,
21.7% do 4º, 10.6% do 5º e 1% do 6º ano).
Em relação aos aparelhos usados (vide a Figura 1), 92% dos inquiridos apontaram estar a usar
Celular ou o Tablet para terem acesso aos materiais referentes às aulas e segue-se o
Computador, com uma frequência de 38%. Poucos estudantes disseram estar a recorrer à
material impresso ou a não usar nada. Contudo, estes dados revelam existência de estudantes
que não tiveram, devidamente, as aulas durante esta época porque o meio maioritariamente
usado pelos que as tiveram não se adequa para aulas de determinadas matérias/disciplinas.
As redes mais usadas para se ter acesso aos dados que permitem a interacção online e baixar
materiais electrónicos (Figura 2), são maioritariamente a Vodacom (quase 75% disseram usar
esta rede) e a Movitel (quase 59% disseram usar esta rede). A Tmcel, as conexões Wi-Fi e
Outras são redes pouco usadas entre os inqueridos.
A Figura 4 mostra que, geralmente os estudantes acedem as aulas todos os dias (o 4 significa
4 ou mais dias). Entretanto, uma percentagem considerável mostra que nem todos os dias tem
acesso às aulas, sendo mais preocupante o caso dos que dizem que em nenhuma ocasião têm
aulas, numa clara mensagem de não abrangência das aulas devido a vários factores.
Intervalo de
confiança de 95%
Médi Erro Erro
Satisfação N para média Mín Máx
a Desvio Erro
Limite Limite
inferior superior
Qualidade da 770 2.49 1.183 .043 2.41 2.57 1 5
Internet
Tipo de material 770 2.81 1.213 .044 2.73 2.90 1 5
Qualidade do 770 2.45 1.163 .042 2.37 2.53 1 5
ensino
Custo de dados 770 1.97 1.050 .038 1.90 2.05 1 5
Comunicação 770 2.52 1.211 .044 2.44 2.61 1 5
Plataformas 770 2.67 1.276 .046 2.58 2.76 1 5
Domínio dos 770 2.69 1.248 .045 2.60 2.78 1 5
Docentes
Nível de 770 2.45 1.206 .043 2.37 2.54 1 5
prendizagem
Acesso ao 770 2.66 1.295 .047 2.57 2.75 1 5
material
Frequência do 770 2.66 1.256 .045 2.57 2.75 1 5
material
Total 770 2.54 1.231 .014 2.51 2.57 1 5
0
De forma geral, é possível perceber que todas as IES prosseguiram com actividades lectivas
durante o período em análise, usando meios electrónicos online e, portanto, seguindo as
orientações do Presidente da República e do MCTESTP. Entretanto, devido ao carácter
repentino dos factos, as IES tiveram que, sem preparo ou estudos, encontrar estratégias ao seu
alcance. Por exemplo, a plataforma mais usada para a interacção docente-estudantes durante o
período foi o WhatsApp, que, provavelmente, era mais familiar entre os estudantes mas que,
por sua natureza, não é um meio suficientemente adequado para a mediação do processo de
ensino e aprendizagem. Aliás, existem outras ferramentas que em termos de peso e requisitos
para a sua instalação nos aparelhos celulares poderiam substituir o WhatsApp mas que, a
ausência de preparação, não possibilitou a sua exploração. Portanto, faltou a planificação, que
segundo Mercado (2017), guiaria o sucesso.
A distribuição das percentagens sobre as plataformas usadas evidencia que muitos estudantes
usa(ram) mais do que uma plataforma. Isto é uma clara mensagem da ausência da definição de
um meio estratégico de interação que evitaria que os docentes, ao seu belo prazer, de acordo
com o que lhes era confortável, introduzissem plataformas de sua preferência e domínio nas
suas disciplinas. Este factor, de certo modo, pode provocar frustação aos alunos devido à
necessidade de investimento em tempo para assimilação do manuseio das inúmeras plataformas
usadas simultaneamente sem a devida planificação institucional, exigindo do estudante uma
(re)adaptação desorganizada, o que de certo modo pode ter influenciado ou propiciado a algum
tipo de bloqueio da aprendizagem segundo (Papert, 2008).
Algumas disciplinas de ciências exactas, por sua natureza possuem conteúdos que dificilmente
podem ser abordados a partir do telefone, exigindo o computador como um aparelho mais
adequado para suportar todas as funcionalidades e aplicativos exigidos. Podemos imaginar a
frustração que poderá ter sido vivida por aquele estudante que só interage a partir do Celular!
Por experiência dos autores, a rede de internet, particularmente provida pelas operadores de
telefonia móvel é muito fraca, chegando a não permitir o acesso à documentos de menor peso,
uma situação que é mais agravada nas regiões do interior (distantes dos centros urbanos) de
onde vem e se encontra grande parte dos estudantes das IES. Obviamente que interacções em
143
vídeo que são necessárias na modalidade online não foram das melhores, dada a precária
qualidade de fornecimento de dados moveis em alguns operadores e o custo elevado para
obtenção.
Estas reflexões são fundamentadas pela satisfação (ou seja, insatisfação) dos alunos em relação
à todos os aspectos didácticos, levantados na presente pesquisa.
Portanto, os resultados obtidos em relação aos custos de internet, meios e plataformas usadas
não fogem dos resultados obtidos por Mulema, Luís e Injage (2020).
4. CONCLUSÃO
O objectivo deste estudo era aferir as condições sob as quais os estudantes têm aulas durante a
vigência do Decreto de Estado de Emergência imposto pela pandemia da COVID – 19 e refletir
sobre a qualidade de ensino neste período, tendo em perspectivas as condições e satisfação dos
estudantes. A recolha de dados do estudo foi feita com recurso à um formulário partilhado pela
internet e teve uma participação de 770 estudantes de IES de quase todo o país, com destaque
para a UniPúnguè e a UEM.
O estudo adoptou uma abordagem quantitativa e os dados foram analisados através de gráficos
de distribuição de frequências e estimativas de médias com que conseguiu-se apurar os meios
e materiais usados para ter acesso às aulas, assim como o nível de satisfação dos alunos com
os processos didáctico-pedagógicos durante a vigência do Estado de Emergência Imposto pela
COVID-19.
Sobre as ilações, avançamos que existe uma necessidade de planificação de processo típicos
para responder a esta ocasião ou próximas que tenha em conta a disponibilidade os recursos
tecnológicos, financeiros e humanos, que tenha em conta a qualidade da internet de que
dispomos. Existe uma necessidade de preparação (capacitação) do corpo docente e discente no
uso de ferramentas tecnológicas. Existe uma necessidade de capacitação do corpo docente para
a produção de materiais e dosificação de conteúdos de forma adequada para o ensino na
modalidade à distância e on-line.
Uma constatação não necessariamente curiosa neste estudo é o facto de que a modalidade mais
afetada pela migração brusca ao ensino on-line é a do ensino regular (regimes laboral e Pós-
Laboral). Trata-se de uma modalidade em que a prática de ensino era tomada apenas pelo
contato físico professor-aluno e em sala de aulas, e que perante esta situação, ficou bastante
afetada. Face a isso, entendemos que existe também uma necessidade de que o ensino superior
em Moçambique paute por uma prática de ensino orientado de forma mista, isto é, conciliando
a presença em sala de aulas com o uso de plataformas de ensino on-line devidamente
identificadas e estudadas pelos técnico-científicos institucionais ou associados.
REFERÊNCIAS
Costa, Inês Teresa Lyra Gaspar da. Metodologia do ensino a distância. UFBA, Salvador,
2016;
Resumo
A qualidade de ensino é determinante para que um país atinja bons resultados económicos, mas
em contra partida, a condição socioeconômica pode influencia na qualidade de ensino.
Pretende-se com este artigo, analisar a qualidade de ensino em Moçambique em tempos de
crise do COVID -19, olhando mais para o ensino básico. Moçambique com uma economia
dependente da ajuda externa para realizar 40% dos programas essenciais conducentes ao
desenvolvimento, não tem recursos suficientes para construir escolas, para matricular todas as
crianças em idade escolar, muito menos contratar professores suficientes, fora de outras
condições necessárias para que o ensino tenha a qualidade desejada. Para materializar o
objectivo desta pesquisa, recorreu-se a uma abordagem qualitativa, que consistiu na revisão da
literatura, análise de discurso, observação participativa e inquérito, com recurso aos medias.
As condições criadas para o sector da educação ainda são irrisórias para a demanda. Falta um
pouco de tudo, por isso, a pandemia veio piorar o que já não estava bem. As evidencias nos
levam à confirmação de que a qualidade de ensino piorou com a crise provocada pelo COVID-
19.
Abstract
The quality of education is crucial for a country to achieve good economic results, but in
contrast, the socioeconomic condition can influence the quality of education. The aim of this
article is to analyze the quality of education in Mozambique in times of crisis of COVID -19,
looking more at basic education. Mozambique with an economy dependent on foreign aid to
carry out 40% of the essential programs conducive to development, does not have sufficient
resources to build schools, to enroll all school-age children, let alone hire enough teachers,
outside of other conditions necessary for teaching has the desired quality. To materialize the
objective of this research, a qualitative approach was used, which consisted of literature review,
discourse analysis, participatory observation and inquiry, using the media. The conditions
created for the education sector are still insignificant for demand. A little bit of everything is
missing, so the pandemic has worsened what was no longer okay. The evidence leads us to
confirm that the quality of teaching has worsened with the crisis caused by COVID-19.
21
Doutor em Ciência Política. Funcionário do Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano de
Moçambique.
147
Introdução
O ano de 2020 é atípico, por conta da pandemia mundial, Covid 19 que atingiu todos os Cantos
do mundo em menos tempo. Provocou mortos, afectou o sistema financeiro, a economia,
paralisou as escolas, fabricas, e criou desemprego.
Como pensar num ensino de qualidade com escolas fechadas e com parte de direitos suspensos
por conta do estado de emergência. O lema neste período é ficar em casa, como medida de
evitar a contaminação pelo vírus Sars-cov-2 que provoca a doença de Covid 19. Foi um desafio
aceite, analisar a qualidade de ensino em tempos de crise do Covid 19. Até que ponto o Covid-
19 afetou a qualidade de ensino em Moçambique?
O artigo analisa a qualidade de ensino em tempos de crise do Covid 19, com maior enfoque
para o ensino básico, pela importância, número de alunos e o nível de abrangência. Este nível
é o mais vulnerável se olhar para a dimensão geográfica do país, necessidades para atender
todas as crianças com idade escolar. Apesar dos esforços do governo em proporcionar escolas
para todos, em 2007 existia 63,6% de crianças de 6 anos e 41% das crianças de 7 anos fora da
escola (INE, 2017). Em 2017 houve aumento de crianças fora da escola: 73% para crianças de
6 anos e 65,6 para crianças de 7 anos (Ibidem). O melhor era ter todos na escola para depois
questionar sobre a qualidade de ensino. Mas quando temos metade ou mais fora da rede escolar,
difícil é o exercício de avaliar.
A pesquisa parte de uma hipótese de trabalho segundo a qual a qualidade de ensino baixou por
conta do Covid-19. Para materializar o objectivo da pesquisa recorreu-se a uma abordagem
qualitativa que consistiu na revisão bibliografia, observação participativa, experiência de 20
anos de docência, inquérito sobre o tema.
O artigo é constituído por três partes, a primeira parte que é antecedida por uma introdução,
apresenta elementos sobre o COVID – 19, formas de transmissão e de protecção do Covid-19.
A segunda parte desenvolve a qualidade de ensino e, a terceira e última parte, debate a questão
da qualidade de ensino em tempos da crise provocada pelo CODID 19, depois as notas
conclusiva e por fim, a Referência bibliografia.
148
1. Coronavírus, sars-cov-2/covid-19.
A doença actualmente designada por COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, um novo
coronavírus que faz parte da família de vírus que causam infecções respiratórias, foi notificada
à Organização Mundial de Saúde (OMS) a 31 de Dezembro de 2019, com início na cidade de
Wuhan, Hubei, China, e propagou-se para cerca de 210 países. O vírus SARS-CoV-2 causou
até o presente momento, 07 de Julho de 2020, cerca 11.797.213 infecções, 543.595 mortes por
COVID-19 em todo o mundo (OMS, 2020; GM- MISAU, 2020).
Moçambique regista no mesmo peíodo, 07 de Julho, 1012 casos confirmados, 277 recuperados
e apenas 6 mortes, permanecendo no grupo dos países menos infectados pela pandemia.
Contudo, os dados tende a aumentar na ordem dos 26 infectados por dia. Esse crescimento
preocupa o Governo e a sociedade no geral e, como forma de mitigar os efeitos da pandemia,
o Governo prorrogou o estado de emergência pela terceira vez no país. A tabela abaixo resume
os dados actualizados da Covid 19 em países mais críticos incluindo dados totais do Mundo.
Tabela 1. Resumo dos dados sobre Covid 19, até 07/07/2020
O alerta nacional inicial foi oficialmente tornada pública no dia 14 de Março de 2020, pela
realização da primeira Comunicação do Presidente da República dando o ponto de situação e
anunciando um pacote de medidas para prevenir a pandemia.
espirrando.
Evite abraços, beijos e apertos de mãos. Adote um comportamento amigável sem
Não compartilhe objetos de uso pessoal, como talheres, toalhas, pratos e copos.
Evite circulação desnecessária nas ruas, estádios, teatros, shoppings, shows, cinemas e
residência.
Para Assane 2014, a organização do ensino por ciclos de aprendizagem, o novo paradigma de
avaliação, a introdução de disciplinas como, ofícios, empreendedorismo, faz com que o
individuo desenvolva capacidades de saber fazer (ASSANE, 2014).
Os problemas levantados pelo Niquice se assemelham aos dos autores já arrolados. Para a
maioria a nota dominante é sem sombras de dúvida a qualidade de ensino. Qualidade essa que
conforme veremos mais adiante, depende da combinação de vários factores.
Bastos e Duarte 2016, ao explorarem caminhos que permitam melhorar a qualidade do Ensino,
os autores concluíram que não basta garantir apenas o acesso físico, é preciso fazer com que o
aluno tenha acesso ao conhecimento, sendo para o efeito fundamental melhorar a formação
contínua do corpo docente, as condições das escolas, a supervisão pedagógica e a participação
dos pais e encarregados de educação (BASTOS & DUARTE, 2016, pp. 36 – 41).
Quanto à questão da qualidade, os autores consideram que sem o domínio dos instrumentos
básicos tais como leitura, escrita e a realização de operações simples como somar, subtrair,
dividir e multiplicar, nas classes iniciais, dificilmente os alunos podem integralmente ter acesso
ao conhecimento em classes posteriores (Ibidem).
Saar 2016 é da opinião que o papel de uma Didáctica específica, tendo em conta a formação
de professores com qualidade, que possam contribuir para o alcance sustentável do objectivo
de uma educação para todos, coloca-se como algo actual e a ser discutido (SAAR, 2016, pp.
227- 231).
Para Mate 2013, há falta de paralelismo entre este subsistema de ensino e o subsistema de
Formação de Professores Primários, porque para ensinar a ler, escrever e operar cálculos
matemáticos exige do professor uma didáctica específica, a qual não teve ao longo da sua
formação como professor.
Para Salimo e Gouveia 2017, as Instituições do Ensino Superior (IES) devem produzir um
Plano de Introdução das TIC’s que seja parte integrante das estratégias e da programação geral
da IES22.
Para Rupia e Lopes 2018, as Instituições do Ensino Superior (IES) ainda estão longe de se
direccionar com vista a responder ao conjunto de necessidades que a qualidade impõe. No
entanto, os mesmos autores defendem que, por tratar-se de um processo que suscita a
mobilização de recursos e tempo, as relações interinstitucionais afiguram-se cruciais (RUPIA;
LOPES, 2018).
Por forma a melhorar a qualidade dos cursos, a autoavaliação deve ser parte constante das
actividades do curso, recomendam os autores. A prática permanente de autoavaliação dos
cursos, a organização de evidências do que se vai fazendo no quotidiano e o apoio directo do
CNAQ, está a trazer segurança e renovar as instituições com práticas cada vez mais
actualizadas (Ibidem).
Para Dourado, Oliveira e Santos 2007, no que tange aos termos de Qualidade da Educação é
importante pensar-se na medida das dimensões extrínsecas (extra-escolares) e intrínsecas
(intraescolares). 23
22
Dispensa a construção de muitos e largos espaços físicos, para além da redução de custos, permite a preservação
ambiental. Não existem, teoricamente, limites geográficos para inscrever novos alunos (permite que a
universidade seja mais abrangente, inclusiva e que os alunos se mantenham o seu ambiente familiar). Abre novas
oportunidades de formação a grupos alvos normalmente impossibilitados por motivos de trabalho, distância, etc.
23
Estas medidas são fundamentais para a definição e compreensão teórico-conceitual e para análise da situação
escolar que devem ser entendidas de maneira articulada.
153
Estes quatro níveis formam um único pacote de requisitos necessários para que o ensino tenha
a qualidade deseja segundo os autores. A realidade do país, nos leva à reflexão sobre a maneira
como é conduzido o processo de ensino. Assiste-se a proliferação de estabelecimentos de
ensino em todo o território nacional, principalmente as escolas privadas. Essa proliferação, visa
por um lado massificar e pelo outro tirar o máximo proveito pessoal, isto é, ganhar dinheiro,
lucro, sem no entanto, olhar para a qualidade. Temos universidades a leccionarem em garagens
de carros, sem as mínimas condições exigidas para o efeito.
O professor deve ter condições dignas da sua profissão, desde o salário, progressão na carreira
e outros benefícios que lhe possam conferir dignidade. O que de certa forma, pode concorrer
154
para acabar com o professor turbo, aquele que dá aulas em muitas escolas e não tem tempo
para planificar, muito menos fazer trabalhos de pesquisa.
O aluno deve se sentir a vontade, como se ainda estivesse em casa. Todas as acções
desenvolvidas até aqui, visa proporcionar conforto, segurança e bem estar do aluno. O contrário
do que foi analisado aqui, terá como consequência o baixo aproveitamento, abandono e
sabotagem.
O ensino exige contacto físico, interacção, troca de experiência, debate, trabalho conjunto, mas
em contra partida o COVID 19 tem uma exigência diferente: afastamento, distanciamento
social, isolamento total, menos contacto e permanência no mesmo lugar para não espalhar o
vírus. Uma autêntica contradição que uma impede a outra. Este será o dilema do sector da
educação daqui a meses ou anos. Para isso a solução seria aulas online, a distância, mas
também, as condições existente não ajudam. Os dados da tabela 2, confirmam a fragilidade do
país, caso queira apostar no ensino a distância.
A massificação do ensino ainda é uma prioridade do executivo, mesmo que essa expansão não
seja acompanhada do factor qualidade numa primeira fase, ela é necessária porque ainda temos
39% da população analfabeta (INE, 2017). A rede escolar segundo dados mais recente do censo
populacional, não consegue absorver todas as crianças com idade escola. Um total de 34,2%
das crianças de 6-17 anos de idade não tiveram acesso à escola em 2007 e em 2017, o número
aumento para 38,6% de crianças fora da escola (INE, 2017). É um caso preocupante, por que
o mais óbvio seria uma ligeira redução, mas estranhamente o número cresceu, mesmo com a
melhoria de certos indicadores, como energia elétrica, água potável, número de salas de aulas
construídas. As crianças de 6 e 7 anos têm taxas mais elevadas, 73 e 55,6% respectivamente,
fora da escola.
155
A situação tende a piorar quando o assunto é o acesso a computador com um total de 3,9% em
2007 e apenas 4,4% da população em 2017. Os homens com mais acesso 5,8% em relação as
mulheres com apenas 3,1% ambos em 2017, conforme a tabela abaixo.
Os moçambicanos tem mais acesso ao telemóvel, 24% em 2007 e 26,4% em 2017, mas têm
uma das pior taxa de acesso a internet do mundo, total 2,1 em 2007 e 6,6 em 2017. Os homens
com mais acesso em relação as mulheres 2,2 e 2,1 em 2007 e em 2017, os homem com 8,1 %
e 5,3 para as mulheres. A tabela abaixo apresenta de forma mais detalhada o resumo dos dados
do censo 2017.
A tabela acima oferece dados maís actuais da população, o que de per si, constitui uma mais
valia, na medida em que vai servir de base para análise da qualidade de ensino em tempos da
crise do covid 19.
Os dados acima, poem em questão a qualidade de ensino no país. Como podemos falar de
qualidade de ensino com 73% de crianças de 6 anos de idade fora da escola em pleno século
XXI. O desafio ainda é enorme, abranger todas as crianças em idade escolar, implica um
investimento mais avultado na expansão do ensino. Uma expansão que deve ser acompanha de
outros elementos como: edifícios condignos, saneamento do meio, corpo docente bem formado
etc. A UNESCO alerta para o possível aumento do abandono escolar como consequência do
encerramento dos estabelecimentos de ensino 24 (UNESCO, 2020).
Fechar temporariamente as escolas, além de proteger crianças e jovens, reduz as chances de
que eles se tornem vetores do vírus para sua família e comunidade, sobretudo para os idosos e
demais grupos de risco (Ibidem).
Outras desigualdades devem ser também consideradas, como o nível socioeconômico dos pais,
diferenças significativas de conectividade entre as regiões brasileiras e entre os meios rural e
urbano. Esta assimetria também pode ser observada entre escolas privadas e públicas.
A expansão do ensino a distância exige planeamento para evitar uma exacerbação das
desigualdades de aprendizagem dentro e entre as redes de educação. Uma transição repentina
para ensino a distância sem considerar a capacidade das escolas em administrar aulas de
qualidade e a dos alunos em ter a estrutura e o apoio necessários para absorver este material
tende a reforçar as já elevadas desigualdades de aprendizado no país.
24
Pode ser difícil levar alguns jovens a regressar à escola e permanecer no sistema quando as escolas reabrirem.
Esse efeito foi observado em cidades como Filadélfia, onde os professores da University of Pennsylvania
Steimberg y MacDonald documentam num artigo na Economics of Education Review que, além dos efeitos
académicos, o encerramento dos estabelecimentos de ensino afeta o comportamento dos alunos, aumentando as
ausências não justificadas, o que, a longo prazo, acreditamos que afetará o abandono escolar, especialmente entre
as camadas mais desfavorecidas (UNESCO, 2020).
157
4. Resultado do questionário.
Questionário online, que foi respondido por 49 pessoas de diversos estratos sociais. O número
dos inquiridos apesar de não ser representativo, o seu resultado não deixa margens de dúvidas
sobre a percepção dos actores quanto ao tema em análise.
Na questão como avalia as medidas tomadas pelo executivo face à prevenção de covid-19.
Dos 49 inquiridos 25 que corresponde a 51% responderam que são razoáveis. 15 que
corresponde a 30,6% disseram que as medidas são boas e 7 que correspondem a 14,3%
afirmam que são negativas.
Quando adicionar o número dos que consideram (mau 18 e péssimo 8) a qualidade de ensino
em tempos de crise do Covid-19, temos a soma de 27 inquiridos que corresponde a 53,0% dos
que reconhecem que o ensino não tem a qualidade desejada.
5. Notas conclusivas
Se for consensual que a qualidade de ensino deve ser vista de forma multidimensional e
abrangente conforme defendem Dourado, Oliveira e Santos 2007 e Terezinha Rios 2010, ainda
temos um longo caminho a percorrer para atingir os níveis desejados. A qualidade não depende
simplesmente da massificação do ensino, do aumento do salário, da disponibilidade de
infraestruturas, mas de mais factores como: ambiente socieoeconómico, política
governamental, estabilidade regional, condição social dos pais, que também dita a condição do
aluno. A escola como espaço de aprendizagem deve reunir todas as condições necessária para
uma boa aprendizagem, desde o espaço de diversão, desporto, bibliotecas equipadas. Para além
disso, temos o lado do professor, que tem um papel importante, por isso, a formação adequada,
condições de trabalho, progressão na carreira entre outros incentivos: salário compatível com
as funções. Para conferir a qualidade o aluno não fica de fora, porque todas as condições criadas
são em prol do aluno, por isso deve ter salas em condições, sanitários, água potável para o
consumo e higienização completa.
As nossas instituições de ensino não tem essas condições, talvez daqui a 100 anos teremos o
mínimo necessário para se pensar numa boa qualidade de ensino. Estas dificuldades são
anteriores ao surto do Covid-19. Com a pandemia a situação agravou-se, ou seja, a qualidade
de ensino tende a piorar com a crise provocada pelo Covid-19. Mais ainda, com a descoberta
recente da possível contaminação do vírus SARS-CoV-2 pelo ar (OMS, Julho, 2020), e o
retorna às aulas no dia 27/07 do ano em curso, pode deitar abaixo todo o esforço já empreendido
até esta fase. Se procedermos desta maneira, está eminente uma contaminação em massa.
As evidências mostram que a retoma das aulas no mês de Julho, mesmo com aumento de casos
é uma decisão precipitada, que pode trazer consequências amargas para o país.
Não foi possível um aprofundamento que seria necessário para um tema desta natureza, pela
força das circunstâncias que a própria pandemia nos condiciona. A limitação da circulação e o
distanciamento obrigatório não favorecem a pesquisa. Mas pode servir de base para estudos
futuros, por isso a pesquisa vai continuar enquanto durar a pandemia.
Como recomendação as aulas em todos os subsistemas de ensino devem ser adiadas até se ter
o controlo da situação; maior investimento em todo o processo de ensino; mais coordenação,
comunicação e intercâmbio entre os envolvidos (alunos, professores, encarregados de
educação, governo, sociedade civil, empresários e parceiros); Intensificar as acções de
sensibilização para que todas as pessoas adiram as medidas de segurança, garantido o rigor e a
combinação entre as diferentes medidas; implementar medidas mais rigorosas de modo a
reduzir aglomerações, evitando o risco de contaminação das pessoas; traçar medidas para
proteger os grupos vulneráveis, como por exemplo doentes autoimunes, doentes crónicos,
idosos, entre outros.
6. Referências bibliográficas
em Moçambique: Políticas, Práticas e Qualidade. Editora Educar UP, Maputo, 2016, pp. 36-
41;
MINED. Plano Curricular do Ensino Básico: Objectivos, Políticas, Estrutura, Planos de
Estudo e Estratégias de Implementação. Moçambique, 2003;
NIQUICE, Adriano. Formação de professores do Ensino Básico: reflectindo sobre modelos,
questionando as práticas de profissionalização: IN DUARTE, Stela Mithá e DIAS, Hildizina
Norberto (Org.). Ensino Básico em Moçambique: Políticas, Práticas e Qualidade. Editora
Educar UP, Maputo, 2016, pp. 214-222;
RIOS, Terezinha A. Compreender e ensinar: Por uma docência da melhor qualidade. 8. Ed.
São Paulo: Cortez, 2010;
SAAR, Hans Ernst. Pedagogia e Didáctica do Ensino Básico - Desafios para a Universidade
Pedagógica: IN DUARTE, Stela Mithá e DIAS, Hildizina Norberto (Org.). Ensino Básico em
Moçambique: Políticas, Práticas e Qualidade. Editora Educar UP, Maputo, 2016, pp. 227 –
231;
SALIMO, Gabriel I; GOUVEIA, Luís Borges. Contributos para o ensino superior em
moçambique: os desafios da era digital. 8º Congresso Luso-Moçambicano de Engenharia.
Faculdade de Engenharia, 4-8 Setembro, Maputo, 2017. Encontrado no endereço:
https://paginas.fe.up.pt/clme/2017/Proceedings/data/papers/6953.pdf, acessado aos
07/07/2020
RUPIA, Bento Júnior; LOPES, Bendita Donaciano. Os desafios da avaliação externa na
melhoria da qualidade do ensino superior em moçambique. 8ª Conferência Forges “O Papel
da Garantia da Qualidade na Gestão do Ensino Superior: Desafios, Desenvolvimentos
eTendências” Instituto Politécnico de Lisboa, Portugal: 28, 29 e 30 de Novembro de 2018.
Encontrado no endereço: https://www.aforges.org/wp-content/uploads/2019/06/4-os-desafios-
da-avalia%c3%87%c3%83o-externa-na-melhoria-da-qualidade-do-ensino-superior-em-
mo%c3%87ambique.pdf, acessado no dia 07/07/20;
DOURADO, Luiz Fernandes; OLIVEIRA, João Ferreira de; SANTOS, Catarina de Almeida.
A qualidade da educação: conceitos e definições. Série Documental: Textos para Discussão,
Brasília (DF), v. 24, n. 22, p.5-34, 2007;
https://educacao22.blogspot.com/2013/04/normal-0-false-false-false-en-us-x-none.html,
acessado aos 06/07/2020;
https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#o-que-e-covid, acessado no dia 06/07/2020;
161
Resumo: Na actual situação em que o país vive, devido a pandemia da COVID-19, onde às
Universidades estão baseadas numa mediação Pedagógica baseada em Tecnologias fazendo
com que os estudantes a se adaptar às mudanças rápidas surge a necessidade de estudar sobre
material instrucional adaptados ao ensino à distância (EaD) em tempos de COVID-19. Com
este tema os autores pretendem responder à seguinte questão: como se adaptar a essas
mudanças que as Universidades estão adotando para a mediação, como adquirir novos
conhecimentos, novas ideias, como adaptar o que antes era tomando por certo para continuar
participando da sociedade produtiva dentro desse novo contexto; Quais são os materiais
instrucionais adaptados ao EaD em tempos de COVID-19? O presente trabalho tem como
objectivo apresentar contribuições de auxílio para elaboração de material instrucional adaptado
ao EaD em tempos de COVID-19. Especificamente pretende-se fazer o levantamento de
material instrucional usado antes do COVID-19; descrever o estágio de materiais adaptados
pela instituição para dar resposta em tempos de COVID-19 e analisar a eficácia do contributo
dos materiais adaptados em tempos de pandemia. Trata-se de um estudo de caso, no qual
adoptamos abordagem qualitativa com o paradigma interpretativo. Para a recolha de dados
recorremos à análise documental e de conteúdo. Os materiais instrucionais produzidos para dar
resposta COVID-19, em sua estrutura constatou-se problemas das regras gramaticais,
limitações contextuais e linguagem empregue não permite o diálogo entre o estudante e o
material. O estudo concluiu que o material instrucional adaptado ao EaD em tempos de
COVID-19 fez com que o professor revisse a sua postura na criação instrucional, pois existem
diferenças entre o material que ele está acostumado a criar e o material a ser usado via internet;
contribuiu no aumento da usabilidade das plataformas digitais o que culminou com melhoria
da qualidade do processo de EaD pois facilita a manipulação de material e consequentemente
o aprendizado do estudante.
25
Universidade Católica de Moçambique-Instituto de Educação à Distância. Mail: amalequeta@ucm.ac.mz
26
Universidade Católica de Moçambique-Instituto de Educação à Distância. Mail: mmpery@ucm.ac.mz
27
Universidade Católica de Moçambique-Instituto de Educação à Distância. Mail:omachambissa@ucm.ac.mz
163
Abstract: In the current situation in which the country lives, due to the pandemic of COVID-
19, where Universities are based on Pedagogical mediation based on Technologies making
students adapt to rapid changes, there is a need to study on instructional material adapted to
teaching distance learning in times of COVID-19. With this theme, the authors intend to answer
the following question: how to adapt to these changes that Universities are adopting for
mediation, how to acquire new knowledge, new ideas, how to adapt what was previously taken
for granted to continue participating in the productive society within this new context; What
are the instructional materials adapted to distance education in COVID-19 times? The present
work aims to present contributions of aid for the elaboration of instructional material adapted
to Distance Education in times of COVID-19. Specifically, it is intended to survey instructional
material used before COVID-19; describe the stage of materials adapted by the institution to
respond in times of COVID-19 and analyze the effectiveness of the contribution of materials
adapted in times of pandemic. It is a case study, in which we adopt a qualitative approach with
the interpretive paradigm. For data collection we use documentary and content analysis. The
instructional materials produced to answer COVID-19, in its structure, problems were found
in grammatical rules, contextual limitations and the language used does not allow the dialogue
between the student and the material. The study concluded that the instructional material
adapted to distance education in times of COVID-19 made the teacher review his posture in
instructional creation, as there are differences between the material he is used to creating and
the material to be used via the internet; contributed to increasing the usability of digital
platforms which culminated in improving the quality of the EaD process as it facilitates the
manipulation of material and consequently the student's learning.
1. Introdução
Para a concretização dos três elementos fundamentais é necessário repensar sobre as formas de
uso dessas tecnologias disponíveis, criando novas formas de ensinar. Para efeito, as instituições
devem atender-se à complexidade do processo de produção de material online, pois o Ensino à
Distância é um tipo de ensino que visa fornecer oportunidades para um grupo de indivíduos
que têm dificuldades de aceder ao ensino presencial. Assim sendo, a formação em ensino à
distância é indispensável, pois, possibilita aos tutores perceber e reconverter competências e
conhecimento no sentido de melhorarem o seu papel na área em que actuam, potenciando,
assim, a utilização de ferramentas adequadas para o processo de ensino-aprendizagem. Na
utilização destas ferramentas, segundo Malequeta (2016, p. 27-39), o tutor deve ser bastante
criterioso, pois, normalmente, as ferramentas pedagógicas freeware, disponíveis em sites e
portais voltados ao ensino, ainda seguem o paradigma da instrução assistida por computador,
disfarçadas com a utilização de novas tecnologias de hipermédia (som, imagem e animações).
Neste âmbito, a EaD é facilitada pelas novas tecnologias que auxiliam, com rapidez e
flexibilidade, a expansão dos caminhos da aprendizagem. Com a popularização da internet e a
grande quantidade de informações publicadas online, surgiu a necessidade de agrupar esses
dados num espaço único, de modo a facilitar a procura de conteúdo por parte dos utilizadores,
surgindo então, o conceito de portal.
2. Referencial teórico
Ao longo dos tempos, o ensino à distância se efectuava “por correspondência”, isto é, consistia
no envio, por meio do correio Postal, dos mesmos textos usados no ensino presencial. Com a
evolução das ciências e da tecnologia vem contribuindo para a construção de material
165
instrucional para ensino à distância com características próprias, específicas para o aprendizado
independente da orientação presencial de um professor. Outra grande revolução foi a
diversificação da via de comunicação com o estudante, que passa a utilizar meios elétricos e
eletrónicos, tais como o rádio, televisão, o vídeo, CD-ROM e a rede Internet, exigindo assim,
que o material instrucional se adapte às novas formas de mediação.
Para Zerpa (2005), considera material instrucional como sendo aquele material facilitadora da
aprendizagem e disponíveis para uso no PEA por parte dos estudantes.
Dessa maneira, pode-se afirmar que o material instrucional é aquele instrumento que pode
desenvolver uma aprendizagem autónoma e automática para o indivíduo, assim, envolve uma
série de cuidados, principalmente no ensino, que precisa para um resultado satisfatórios,
motivar o aprendente em uma temática.
Para mesmo autor os referenciais de produção estão ligados ao uso de elementos visuais,
navegação, interação e interactividade e os aspectos organizacionais do conteúdo.
Consequentemente, o uso desses parâmetros torna-se possível construir um storyboard28 do
material para sua aplicação e avaliação no ambiente (Behar, 2009)
Na perspectiva de Orbolato (2005), frisa que os elementos de um modelo pedagógico para EaD
trazem uma estrutura calcada sobre um determinado paradigma e em consonância com uma ou
mais teorias educacionais a serem utilizadas como eixo norteador da aprendizagem
28
Storyboard são elementos gráficos que incluem ilustrações ou imagens organizadas em sequência com intuito
de pré-visualizar (filme, animação e elementos interativos). No ensino online, o uso de storyboard pode favorecer
o diálogo do conteudista com a equipa de design instrucional, pois é possível obter a recomendação e organização
do material pretendido, facilitando assim, a avaliação do processo.
167
Como pode-se compreender, o processo de elaboração de material instrucional para EaD, deve
ter em conta com as características do curso, da modalidade e deve-se criar condições para o
desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes. Também deve-se utilizar técnicas
instrucionais de organização, seleção e categorização de informações para que o material tenha
juntamente os conteúdos específicos, possibilidades para considerar a estrutura e linguagem
adequada e dialógica. Neste contexto, os recursos tecnológicos e o ambiente virtual de
aprendizagem utilizados, podem fornecer aos estudantes condições de criar interação e
aproximação dos temas abordados, construído uma aprendizagem significativa.
Segundo Guarezi & Matos (2009) salienta que a linguagem dialógica em textos deve
apresentar-se de forma criativa, textos de reconstrução imaginativa da realidade ou em forma
de redação formal, que significa apresentar o texto de forma expositiva.
Para o autor, independentemente da forma escolhida, escrever para pessoas que estudam a
distância exige uma redação essencialmente didáctica, isto é uma necessidade de dialogar com
os leitores por intermédio do texto. Para isso, precisa primar por uma aprendizagem activa, ou
168
seja, aquela em que o estudante se envolve activamente no processo educacional (Guarezi &
Matos, 2009)
Contudo, o material instrucional “bem feito” permite conscientizar o estudante de que, mais
relevante do que o volume de informações, que resultará em cabeça cheia, é aprender a elaborar
e a usar as informações acumuladas, o que exige desenvolvimento de operações mentais que
favorecem a auto-aprendizagem, assim como a formação do cidadão independente, sujeito
reflexivo, capaz de raciocínio crítico e criativo.
3. Metodologia
alcance dos objectivos traçados, optou-se por uma pesquisa bibliográfica tomando como
referência as literaturas apresentadas que fundamentam sobre material instrucional adaptado
ao ensino à distância.
O estudo optou pela técnica de análise de conteúdo, uma vez que este auxilia na interpretação
dos resultados e/ou resultados recolhidos a partir da análise documental, compreensão dos
factos observados e o estabelecimento de relações entre os factos observados e o
estabelecimento de relações entre os factos estudados (Aires, 2015)
4. Resultados e Discussão
Tem a sua sede na Beira e o processo de ensino e aprendizagem ocorre nos centros de recursos,
nomeadamente: Beira, Gorongosa, Chimoio, Tete, Quelimane, Milange, Gurúè, Nampula,
Cuamba, Pemba, Mocímboa da Praia, Marromeu, Búzi, Muanza e Maputo.
ter em conta os três componentes interrelacionados, que na visão de Lagarto (2009, p.11) pode-
se “considerar que a aprendizagem se faz com a conjugação equilibrada das três componentes”
que são tutoria, o conteúdo e a tecnologia.
O Modelo pedagógico online é mediado por computador. Neste modelo tecnologia é tida como
o veículo para a produção e disseminação dos objectos de aprendizagem e para a interacção
tridirecional (estudante-tutor-conteúdo) e entre os estudantes, pelo que está sempre presente
em qualquer uma das hipóteses, sendo muito ou pouco explorada dependendo das
necessidades. Através da plataforma moodle os estudantes interagem com o tutor servindo-se
de várias ferramentas como o fórum, chat e vídeo aulas, e não requer o contacto presencial
entre o tutor e os estudantes ou entre os estudantes.
Por seu turno, o modelo paperbased usa material impresso e para a interação tutor-estudante
abrem-se sessões presenciais, geralmente duas por ano, nas quais os estudantes deslocam-se
dos seus pontos de residência aos Centros de Recursos para o contacto face-face com o tutor e
com os colegas. Igual exercício repete-se para a realização dos exames. De recordar que a maior
parte dos estudantes da modalidade à distância na UCM são oriundos de zonas recônditas onde
não é possível frequentar um curso presencial, pelo que para a participação em sessões
presenciais requer grandes deslocações.
Face as restrições impostas pelo decreto presidencial que anuncia reforço das medidas de
prevenção do COVID-19, dos quais consta a suspensão de aulas em todos estabelecimento
públicos privados, desde o ensino pré-escolar ate ao superior, e ainda a redução de 300 para 50
o número máximo de pessoas nos eventos de caracter social, salvo actividades de interesse
estreitamente publico.
Em resposta a situação imposta pela COVI-19, o IED teve que se reinventar e adaptar o seu
modelo de ensino, não se trata de migração automática do modelo paperbased ao online, mas
sim da criação de material instrucional adaptado ao EaD que se adequam a realidade dos
tempos impostos pela COVID-19.
Para Zerpa (2005), considera material instrucional como sendo aquele material facilitador da
aprendizagem e disponível para uso no PEA por parte dos estudantes. Todavia o material
171
disponível no modelo paperbased não é compatível com a realidade imposta pela COVID-19,
isto motivou em repensar em novos materiais e em novas estratégias e esta não é uma simples
actividade.
Behar (2009) recomenda que para esta reinvenção de material instrucional é fundamental ter
em conta os seguintes aspetos:
Porém atendendo que na sua maioria faz o uso das redes sociais Whatsapp, Facebook,
Instagram… houve a necessidade de se criar material institucional adequado. Na perspectiva
de Zaverde (2015) o material instrucional são conteúdos significativos, apresenta proposições
instigadoras que permitem estimular o exercício de operações de pensamento, que incluem
desde a observação sistemática, até o uso da lógica, da educação, da indução, da análise, da
síntese e do julgamento.
172
Neste contexto foram criados grupos de disciplinas onde os Coordenadores dos Centros de
Recursos com a colaboração dos Delegados de Disciplinas instaram aos tutores a enviar guias
tutorias, resumos da matéria, slides e trabalhos de campo.
Com este material, o estudante desenvolve a sua autoaprendizagem e esta é a base fundamental
de um material instrucional adequado, levar o estudante a ser autodidata, a uma
autoaprendizagem. Segundo Guarezi & Matos (2009) para isso, precisa primar por uma
aprendizagem activa, ou seja, aquela em que o estudante se envolve activamente no processo
educacional.
Com o auxílio dos grupos de disciplinas criados nas redes sociais, os estudantes interagem
tanto com os tutores assim como com os colegas expondo dúvidas ou partilhando experiências.
Para Recuero (2009) rede social é gente interagindo socialmente. É um conjunto de pessoas,
conectadas a uma estrutura de rede. Cada nó da rede representa um indivíduo e suas conexões,
os laços sociais que compõem os grupos. Esses laços são ampliados e alterados a cada novo
indivíduo que conhecemos e interagimos.
Segundo Silva e Serafin (2016), temos que educar os estudantes a usarem bem essas
ferramentas com critérios e responsabilidade. Mesmo que essas redes não tenham sido criadas
para fins educacionais, os professores já reconhecem o potencial delas para o ensino.
O uso pedagógico das redes oferece aos estudantes a possibilidade de poder esclarecer suas
dúvidas à EaD, promovendo ainda, o estudo em grupo com estudantes separados
geograficamente, permitindo-lhes a discussão de temas do mesmo interesse. Mediante esta
tecnologia, o estudante sairá de seu isolamento, enriquecendo seu conhecimento de forma
individual ou em grupo. Pode fazer perguntas, manifestar ideias e opiniões, fazer uma leitura
de modo mais global, assumir a palavra, conforme ideias e pensamentos e, definitivamente, na
aula são ficara mais confinado a quatro paredes. Isso que dizer que o uso desta tecnologia
poderá criar uma dinâmica pedagógica interativa, que se inserida num projecto pedagogico
173
solido, sem duvida, contribuirá e no e muito para a domação moderno dos estudantes (Gracia,
2000, p. 5).
Deste modo em tempos de Covid-19 as redes sociais têm sido ferramentas indispensáveis para
operacionalização da aprendizagem de novos materiais instrucionais criados à luz do Estado
de emergência imposto pelo decreto.
Com o uso de guias tutoriais, resumos, slides e trabalhos de campo a aprendizagem passa a ser
centrada no estudante, o tutor e o estudante envolvem-se ambos como sujeitos e agentes da
construção do conhecimento numa aventura colectiva, conduz a uma busca sistemática do
conhecimento, através de metodologia dialéctica: síncrese, análise e síntese, pois o estudante
por si só é obrigado a organizar o seu horário de estudo, pesquisar material auxiliar a
aprendizagem e construir os seus próprios apontamentos, fichas de leitura ou portfolios por
meio análise, síntese e resumos.
Esta metodologia leva os estudantes a actuarem mobilizados pelos estímulos do meio, resolvem
problemas, exercícios e formulam conceitos. Neste contexto de aprendizagem a ênfase está na
capacidade de construir, integrar conhecimentos e processá-los, dando-lhes significado. De
referir que o estudante somente aprende quando ele próprio elabora o seu conhecimento.
Apesar do ensino ser à distância, os estudantes ainda dão ênfase às situações de sala de aula,
sessões tutoriais, onde são instruídos, “ensinados” pelo tutor. Na concepção de alguns
estudantes os conteúdos e as informações devem ser adquiridos e os modelos imitados. Estes
estudantes ainda dão primazia ao tutor em detrimento do conteúdo, para eles a expressão oral
do professor tem um lugar proeminente, cabendo a eles a memorização e a reprodução deste
conteúdo verbalizado; o tutor é o centro do processo, ele é o agente activo, enquanto o estudante
deve ouvir passivamente.
174
Como é óbvio, para este grupo de estudantes a implementação desta nova metodologia de
estudo imposta pela COVID-19 constitui uma barreia, um entrave a aprendizagem.
5. Conclusão
Desde que a pandemia do COVID-19 se instalou no mundo, cerca de 1.5 milhões de estudantes
ficaram fora da escola em mais de 160 países, segundo relatório do Banco mundial. Alguns
países adotaram o encerramento total de escola. Aqui em Moçambique, pelo decreto
presidencial que anuncia reforço das medidas de prevenção do COVID-19, as aulas foram
suspensão em todos estabelecimento públicos privados, desde o ensino pré-escolar até ao
superior adaptando do modelo presencial em modelo a distância. Para o sucesso da educação à
distância depende de vários factores, entre eles encontram-se as etapas da elaboração do
conteúdo: a planificação, aplicação, execução e avaliação.
O material instrucional adaptado ao EaD em tempos de COVID-19 fez com que o professor
revisse a sua postura na criação instrucional, pois existem diferenças entre o material que ele
está acostumado a criar e o material a ser usado via internet; contribuiu no aumento da
usabilidade das plataformas digitais o que culminou com melhoria da qualidade do processo
de EaD, pois facilita a manipulação de material e consequentemente o aprendizado do
estudante. Ainda é importante referir que a integração das equipas durante a produção do
conteúdo favorece para que o material possa reunir elementos pedagógicos e instrucionais a
favor de uma aprendizagem significativa.
A nível do IED os conteúdos produzidos para dar resposta COVID-19, em sua estrutura
constatou-se problemas das regras gramaticais e limitações contextuais, pois é um grande
desafio na modalidade à distância a produção de material instrucional.
Apesar das limitações apresentadas nos materiais do IED, o material instrucional favoreceu
para que o conteúdo desenvolvido pelo professor pudesse ser contextualizado e estruturado de
forma dialógica, criando assim um discurso pedagógico, impulsionando uma relação entre o
estudante e o ambiente virtual de aprendizagem, ou seja, algo próximo à relação estudante e
tutor/professor no modelo presencial.
175
6. Referências Bibliográficas
Campina Grande: EDUEPB, (2016) pp. 67-98. ISBN 978-85-7879-326-5. Available from
SciELO Books. Disponível em http://books.scielo.org.
Silva, F. S., and Serafim, ML. Redes sociais no processo de ensino e aprendizagem: com a
palavra o adolescente. In: SOUSA, RP., et al., orgs. Teorias e práticas em tecnologias
educacionais [online].
Zapata-Ros, M. (2015). El diseño instruccional de los MOOC y el de los nuevos cursos abiertos
personalizados. RED, Revista de Educación a Distancia, (45). Disponível em:
http://revistas.um.es/red/article/download/238661/181351
Resumo
Neste estudo de caráter teórico tentamos trazer uma reflexão sobre a actuação dos docentes nas
classes iniciais e delinear estratégias que estimulem os alunos para a participação activa em
aulas nas classes iniciais nas escolas públicas no contexto da COVID-19. Com o cancelamento
das aulas durante o primeiro semestre 2020, em cumprimento dos decreto presidencial n o
11/2020 sobre o estado de emergência devido a pandemia da COVID-19, pode-se cmprometer
o desempenho e a motivação dos alunos, pois, este cenário alterou por completo as formas de
ensino e aprendizagem. Adoptar estratégias para estimular a motivação e aprendizagem dos
alunos no periodo pos-pandemia é desafio das das fmalias, do MINEDH e das escolas com
principal destaque para a prática docente. Com base na revisão bibliográfica e análise
documental embasada na Psicologia histórico cultural de Vygotsky (1896-1934) e do
interacionismo simbólico na visão de Sampaio e Santos (2011), foi possível constatar nas notas
finais que devido a diversidade cultural e as desegualidades sócio-económicas das familias,
consequentemente do aluno a prática docente torna-se complexa e desafiadora.
Palavras-chave: Prática docente; Estratégias de aprendizagem; Estimulação dos alunos;
COVID-19.
Abstract
In this theoretical study we try to bring a reflection on the performance of teachers in the initial
classes and to outline strategies that encourage students to actively participate in class in the
initial classes in public schools in the context of COVID-19. With the cancellation of classes
during the first semester 2020, in compliance with Presidential Decree No. 11/2020 on the state
of emergency due to the COVID-19 pandemic, students' performance and motivation can be
compromised, as this scenario has changed completely the forms of teaching and learning.
Adopting strategies to stimulate students' motivation and learning in the post-pandemic period
is a challenge for the families, the MINEDH and the schools with the main emphasis on
29
Doutorando em Psicologia, Universidade Federal da Bahia- UFBA, Mestre em Psicologia Educacional-
Universidade Pedagógica. Docente do Ensino Primário, afeto no Distrito da Matola
178
teaching practice. Based on the bibliographic review and documentary analysis based on
Vygotsky's historical cultural psychology (1896-1934) and symbolic interactionism in the view
of Sampaio and Santos (2011), it was possible to verify in the final notes that due to cultural
diversity and socio-inequalities families, consequently the teaching practice becomes complex
and challenging for the student.
Keywrds: Teaching practice; Learning strategies; Stimulation of students; COVID-19.
1. Introdução
O homem por natureza é um ser social, e vive numa sociedade com dinâmicas de
desenvolvimento, pertencendo ao mundo histórico-social e pela incorporação desse mundo em
si mesmo, processo este para o qual concorre a educação. Este processo, podemos considerar
universal, contudo não podemos descartar as questões culturais que exercem um factor muito
importante na educação, mas também dentro da universalidade deste processo, há diferenças
notáveis entre os países no que se refere as prioridades no sector educacional, na política de
formação de professores, na organização das escolas e do processo de ensino. Nesta senda,
Antunes (2008), considera que a escola como uma instituição gerada pelas necessidades
produzidas por sociedades que, por sua complexidade crescente, demandavam formação tendo
em conta as necessidades específica de seus membros.
Na base deste pressuposto, podemos considerar que a escola está vinculada ao estado e é
concebida como instância social responsável pela tarefa de socialização dos conhecimentos
produzidos pela humanidade ao longo de sua história, criando condições para que todos possam
ascender do senso comum aos saberes fundamentados, através do processo de letramento que
começa formalmente para o caso de Moçambique, quando a criança completa seis anos de
idade (Lei 18/2018).
Após a reforma do sistema nacional de educação (SNE) Lei 18/2018 o ensino geral em
Moçambique foi estruturado em dois grupos, sendo seis classes para o ensino primário,
subdividido em dois cíclos, primeiro ciclo 1ª à 3ª classes, segundo ciclo 4ª à 6ª classe e o ensino
secundário, também dividido em dois ciclos, sendo o primeiro cíclo 7ª à 9ª classe e o segundo
179
ciclo da 10ª à 12ª classe. Na perspectiva deste trabalho entendemos as classes inicias como
sendo aquelas que fazem parte do primeiro ciclo e inclui 1ª, 2ª e 3ª classes do ensino primário.
Tratando de uma reflexão teórica sobre a prática docente no ciclo onde o grupo alvo frequenta
a escola pela primeira vez, optamos por formular algumas questões orientadoras tais como:
Como ocorre a prática docente nas classes iniciais? Que métodos e estratégias o professor
utiliza para conduzir a aprendizagem dos alunos? Que estratégia o professor implementa para
ganhar a confiança dos alunos? Qual é a atitude do professor face diversidade de alunos nas
classes iniciais nas escolas públicas? Com o objetivo de compreender a prática e estratégias
dos docentes na estimulação dos alunos nas classes iniciais.
As classes iniciais, que se relaciona com a entrada no ensino primário, no ensino público é
caracteriza-se por apresentar elevado número de alunos, em alguns casos com turmas a
funcionar ao ar livre (sala sombra) devido a escassez de salas convencionais.
Nesta situação a prática docente que é o trabalho do professor é desafiador, porque antes da
nova realidade do COVID-19, já considerava-se problema o facto de não ter salas suficientes
e com a nova crise causada pela pandemia, isso veio a agudizar o problema. Como referia
Confúcio (551-479 A.C) apud Palmer, (2005) os alunos devem ser motivados e activos, e eles
devem tomar suas iniciativas no aprendizado.
Para Vygotsky (1896-1934) citado em Rego (2001) as características tipicamente humanas não
estão presentes desde o nascimento do individuo, elas resultam da interação dialética do
homem e seu meio sócio-cultural. Sendo assim é muito importante que os atores educacionais
estejam em harmonia nas suas atividades, encontrando o entrosamento com o interacionismo
simbólico, uma vezque o interacionismo simbólico debruça sobre a concretude das relações
interindividuais, concebendo a realidade como aquilo que se objetiva a partir das relações que
se produzem no interior dos grupos e das instituições, fazendo um ponto de convergência com
a etnometodologia que considera os indivíduos como autores que vivenciam e modificam a
realidade ao seu redor, através de suas interações diárias nesse contexto (Sampaio, 2011).
De um modo geral, os professores que atuam no ensino básico, possuem a formação básica do
magistério, que corresponde a 10ª classe do ensino geral e um ano de formação em metodologia
de ensino, isto é, o candidato à professor deve possuir no mínimo 10ª Classe de escolaridade,
do SNE, delineado especificamente para 1ª a 6ª classe, ter como período de formação um ano,
terminado esse período, entende-se estar preparado para lecionar seus valores e sua visão de
mundo são os melhores e os únicos legítimos para os seus futuros alunos (Agibo, 2015).
A prática docente nas classes iniciais, é muito desafiadora, exigindo do professor uma expertise
para desenvolver as tarefas, pois a maioria dos alunos encontra-se pela primeira vez no
ambiente educacional formal, contudo, é comum que eles estranhem a nova realidade que estão
sendo apresentados, cabendo à escola, mediado pelo professor, a tarefa de acolhimento e
inserção dos alunos num novo mundo até então desconhecido pelos mesmos.
As responsabilidades do professor com o seu trabalho, em sala de aula são várias, e fora da sala
é também confrontado com uma série de exigências de ordens administrativa/ pedagógica,
como por exemplo, chegar ao final do programa dentro do prazo previsto; suprir as dificuldades
de aprendizagem dos alunos; escolher recursos didáticos adequados à apresentação do
conteúdo; elaborar tipos de atividades e formas de avaliação dos alunos e encontrar estratégias
apropriadas ao desenvolvimento do conteúdo assim como à consecução dos objetivos
propostos para um determinado período na classe (Chakur, 1995).
Para Coelho e Pisoni (2012), escola só se torna importante a partir do momento que dentro dela
o ensino é sistematizado com atividades diferenciadas e o aluno aprende a ler, escrever e obtém
domínio de cálculos, o professor deve estar atento ao aluno, valorizar seus conhecimentos
prévios, trabalhar a partir deles, estimular as potencialidades dando a possibilidade de este
aluno superar suas capacidades. Para que o professor possa fazer um bom trabalho ele precisa
conhecer seu aluno, respeitando opiniões desenvolvendo diálogo criando situações onde o
aluno possa expor aquilo que sabe.
Trabalhar com as classes iniciais exigem criatividade ao professor para evitar que a aula caia
numa monotonia, para tal é necessário um planejamento variado das suas tarefas para tornar as
aulas mais interessantes, inovando os seus métodos. O seu papel é de fornecer situações
perturbadoras, que se constituam em desafios para o aluno, de modo não só a ativar suas
estruturas cognitivas, mas também a desestabilizá-las, provocando o conflito cognitivo
necessário à sua reorganização em novo patamar, entendendo que existe vários caminhos para
se chegar ao mesmo resultado, tornando a aula interessante e cooperativa entre ambos (Chakur,
1995).
182
É importante lembrar que estamos perante alunos que geralmente apresentam todo tipo de
dificuldades, desde a forma como se segura o lápis para escrever, a posição do caderno, para
não falar do desconhecimento do alfabeto, acarretando ao professor estratégias e recursos
didáticos redobrado, escolha de melhores caminhos na persecução dos objetivos e, ao mesmo
tempo, os mais adequados à apresentação dos conteúdos do programa aos alunos (Chakur,
1995).
Estes elementos, quando considerarmos os desafios impostos pelo novo coronavirus, coloca os
intervenientes do processo em grande risco, porque o professor deve ensinar exemplificando
como é que o aluno deve segurar o lápis, a posição do caderno, sem saber qual é a situação do
aluno, expondo assim a sua saúde e a dos alunos. Deve respeitar o rácio, isto é, estabelecer um
número de alunos que não seja muito grande e redobrar mais esforço em relação a material
didáctico permitindo que cada aluno tenho o seu material de trabalho para conduzir o processo
de ensino e aprendizagem.
1.3 Que métodos e estratégias o professor utiliza para processo de ensino -aprendizagem
do aluno?
Tomando em consideração que os alunos nas classes iniciais, ainda não desenvolveram a
abstração, a acção do professor deve incidir em actividades de aprendizagem através de objetos
físicos, que seria o ponto de partida do processo ensino e da aprendizagem. O professor deverá
utilizar, de início, objetos reais e, só com o andar do tempo, depois de terem memorizado,
poderá passar para imagens e signos convencionais; partir da acção à formalização, aos poucos
substituindo o concreto pelas operações dedutivas sobre enunciados verbais, considerando que
o conhecimento é sempre transformação e, como tal, um processo operativo que utiliza, na
maioria das vezes, instrumentos figurativos a título de meios (Chakur, 1995).
No uso da estratégia de aula expositiva e dialogada, o professor explica o conteúdo por meio
de exposição, contudo, deve garantir a participação ativa dos alunos por meio de
questionamentos e estimulando-os a discutir a respeito do tema da aula, o professor pode
convidar os alunos a falar da experiência que tenham vivenciado. No que concerne às
atividades ou aulas práticas, esta estratégia permite que os alunos visitem as vivências do dia-
a-dia e sobre os fenômenos conhecidos.
Neste nível de ensino, geralmente, o aluno não sabe ler, não conhece os símbolos (letras,
números e sinais), é tarefa do professor introduzir o aluno nesse novo mundo, o que de certa
forma é desafiador. Para realizar com sucesso, o ideal seria o uso de métodos que visam
garantir, coletivamente, uma base comum de conhecimento, através dos métodos de ensino
aplicados a grupos (Rangel, 2005). É uma actividade que realiza-se basicamente, por meio de
exposição do professor, leituras orientadas de textos em estudos em aula, projecções ou
ilustrações, diálogo breve com o aluno para explorar a experiência, portanto, todas as ações
devem ocorrer de forma cooperativa e com acompanhamento do professor estimulando a
participação do aluno no processo de aprendizagem.
184
Para a leitura de textos, visto que eles não dominam o conhecimento das letras e ou palavras
ainda, é recomendável o uso do quadro, cartazes ilustrativos com a informação que o professor
pretende partilhar aos alunos, em diversas práticas desse tipo, os alunos se mantêm envolvidos
e mobilizados em relação ao conteúdo recriados nessas dinâmicas, levando-os a falar, indagar,
ouvir o professor e os colegas com atenção (Rangel, 2005).
Para uma boa harmonia e confiança, é necessário que o professor crie um ambiente social que
favorece a aproximação, a interação e o diálogo com os seus alunos. Como considera Chakur
(1995) que, na abordagem dos conteúdos dados prontos e sua atomização, deve-se considerar
a livre organização feita pelo aluno, tendo em conta as relações que favorecem a compreensão
dos conteúdos embasado no respeito mútuo e na cooperação dos atores.
1.3 Que estratégia o professor implementa para conquistar a confiança dos alunos?
A escola, fora de ser um espaço físico projetado para educar crianças e adolescentes, também
é espaço onde se estabelece relações humanas. O professor é o actor que lhe é delegado a tarefa
de conduzir o processo de ensino-aprendizagem, a ele por vezes não são observados os
elementos relacionados a questão da motivação e estimulação para a tarefa que exerce, dentre
vários, Oliveira e Alves (2005) destacam a questão salarial; a estrutura do ensino, determinada
pelo modelo de escola da legislação contemporânea; as condições de trabalho, como espaços
físicos e materiais didáticos, que impossibilitam um ensino de melhor qualidade e que tem a
sua repercussão nos seus alunos.
Para o cumprimento das actividades escolares, é preciso conceber a escola enquanto espaço
para o processo de desenvolvimento humano e também, considerar como um ambiente de inter-
relacionamento humano e que traz, com o conhecimento, aspectos formadores da identidade
dos indivíduos envolvidos e possíveis de intervenção (Oliveira e Alves, 2005).
O aluno de certa forma pode depositar a confiança no professor quando trazer para a aula
aspectos relacionados com as vivencias dele, isto é, o conteúdo científico a ser transmitido aos
186
alunos não deve ser descontextualizado de sua vida (Oliveira e Alves, 2005), o que fará sentido
para sua estadia na escola e servira de motivação para continuar a confiar no professor.
Nas classes iniciais, o professor serve de espelho para os seus alunos, acreditando em tudo que
ele fala e ensina. Cria-se um vínculo, ou seja, entre aluno e professor há um jogo de expectativas
relacionadas ao desempenho, como se existisse um consenso sobre os comportamentos que se
espera de um aluno e de um professor, entendendo-se que parte da relação professor-aluno é
determinada socialmente dentro do diálogo que realizam na sala de aula em ambiente de
ensino-aprendizagem escolar (Oliveira e Alves, 2005).
Como nos referimos acima, o estímulo é algo externo que também impulsiona o indivíduo em
determinada direção, fazendo-o agir, atua junto com a motivação. No processo educativo,
pode-se pensar no professor como fonte de estímulo aos alunos, e seu desafio é de criar ações
concretas que incentivem os alunos a buscar e a realizar a assimilação e aprendizagem de forma
ativa. Os efeitos imediatos da motivação do aluno consistem em ele se envolver activamente
nas tarefas pertinentes ao processo de aprendizagem (Oliveira e Alves, 2005). Pois configura-
se papel do professor o processo de estimulação e manutenção do interesse do aluno pela
escola, através de diferentes recursos que favoreçam o interesse dele pela escola.
Tem sido comum ouvir o discurso relacionado ao contexto escolar, direciona o pensamento
para aspectos características pessoais dos alunos, falando dos problemas de aprendizagem, tais
como, não conseguem ler e/ou escrever, contar e/ou realizar cálculo básico. Por outro lado,
atitudes que têm origem na falta de recursos materiais e de condições de trabalho, acúmulo de
exigências que levam à sobrecarga (Oliveira e Alves, 2005). Discrepância entre a formação
metodológica assimilada durante o período de formação, esses elementos incidem diretamente
sobre a acção docente, gerando tensões em sua prática cotidiana dando descredito e falta de
confiança na sala de aula.
Para desenvolver a confiança dos alunos, é preciso que o professor faça a avaliação de si mesmo
na maneira de agir e atuar dentro da sala de aula; conhecer os seus alunos, os seus interesses
fora da sala de aula e elogiá-los com sinceridade mesmo diante de posturas consideradas
simples e valorizar todas as respostas dos alunos; criar um ambiente acolhedor de modo que os
alunos se sintam a vontade e seguro na sala; falar sobre alguma experiência pessoal sobre o
tema ou de algo que está acontecendo com os alunos; impor a disciplina sem ameaçar os alunos;
187
tratar alunos com o respeito com que gostaria de ser tratado, oferecendo apoio, e ouvindo suas
preocupações, estes aspectos trarão a confiança e amizade.
1.4 Qual é a atitude do professor face diversidade de alunos nas classes iniciais nas escolas
públicas?
O professor precisa ter consciência de que a cultura está presentes nos mais variados grupos
sociais, tendo em vista que, cada grupo social carrega consigo valores, costumes, crenças, entre
outros que são transmitidos de geração em geração aos membros da família e ou do grupo.
Nessa ordem, respeitar a diversidade cultural, e acolher essa diversidade em sala de aula é uma
tarefa complexa e muitas vezes desafiante para o professor, tendo em vista que, os manuais de
188
ensino dão primazia a cultura homogênea, uma cultura que discrimina e inferioriza o diferente,
algo que se faz sentir nas escolas moçambicanas. No entanto, Barbosa, Campos, Valentim
(2011) acreditam que, a relação professor-aluno com cordialidade é fundamental para o
desenvolvimento integral e para o engajamento na aprendizagem.
Em relação a prática docente nas classes iniciais, esta é uma atividade desafiadora por
considerar que os alunos são provenientes de famílias com hábitos e cultura diferentes e a
maioria chega na escola sem conhecer a língua de ensino; tarefa de acolhimento e inserção dos
petizes num mundo novo da vida e garantir condições de permanência de todos os alunos na
escola, transformá-los e possibilitar-lhes condições efetivas de escolarização (Antunes, 2008).
Fora de desenvolver o ambiente propício para tornar a aula interessante e cooperativa entre
ambos.
189
Em relação aos métodos e estratégias para estimular a aprendizagem, a ação do professor deve
estar no sentido de atividade sobre objetos físicos, a ação do aluno seria o ponto de partida do
ensino e da aprendizagem; privilegiando aula expositiva e dialogada, estudo de caso, aulas
lídicas, grupo de verbalização e de observação e tempestade cerebral, Rangel (2005), introduzir
o aluno nesse novo mundo, criando um ambiente social que que favorece a aproximação, a
interação e o diálogo com os seus alunos, privilegiando o trabalho em equipe.
No que concerne a estratégia para estimular e ganhar a confiança dos alunos, concluímos que
é preciso conceber escola enquanto espaço para o processo de desenvolvimento, considerar
ambiente de inter-relacionamento humano; a confiança na sala de aula se desenvolve num
contexto sócio-histórico e o professor serve de espelho/modelo para os seus alunos.
Por fim, em relação a atitude do professor face diversidade de alunos nas classes iniciais nas
escolas públicas, concluímos que professor precisa ter consciência de que a cultura está
presente nos mais variados grupos sociais e a escola encontra se dentro de sociedade
diversificada, com raízes étnicas e culturais diferentes; vale lembrar Barbosa, Campos,
Valentim (2011) afirmando que a relação professor-aluno com cordialidade é fundamental para
o desenvolvimento integral e para o engajamento na aprendizagem. O currículo escolar possui
um caráter hegemônico e monocultural, embora tenha espaço para incluir o currículo local, este
não é exequível devido a falta de material para a sua implementação eficaz e respeitando a
diversidade cultural além dos problemas sócio-linguistico que os alunos apresentam.
As questões culturais, sócio-económicas das famílias que recai sobre os alunos e com a
pandemia de COVID-19, tornam a prática docente mais desafiadora. E requere mais reflexão
e elaboração de novas estratégias para responder as novas exigências que a pandemia impõe.
1.6 Referências
Barbosa, A. J. G., Campos, R. A., Valentim, T. A., (2011). A diversidade em sala de aula e a
relação professor-aluno. Campinas, Revista: Estudos de Psicologia (pp. 453-461).
Chakur, C. R. L., (1995). Fundamentos da prática docente: por uma pedagogia ativa. Rebeirão
Preto. Paideia.
Coelho, L., Pisoni, S. (2012). Vygotsky: sua teoria e a influência na educação. Revista e-ped
FACOS/CNEC Osório.
Morais, L. M., Velanga, C. T., (2017). Diversidade cultural na escola: desafios para a prática
docente. Revista: RECH, Ano 1, Vol. I, p. 299-321.
NARDIN, M. H., SORDI, R. O., (2008). Aprendizagem da atenção: uma abertura à invenção.
Revista Iberoamericana de Educación. Recuperado de
https://rieoei.org/historico/deloslectores/2559Sordiv2.pdf
Oliveira, C. B. E. & Alves, P. B., (2005). Ensino fundamental: papel do professor, motivação
e estimulação no contexto escolar (PP. 227-238). Brasilia: Editora Paidéia.
Rangel, M. (2005). Métodos de ensino para a dinamização das aulas. 2ª Edição: Papirus
Editora.
Rego, T. C., (2001). Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 12. ed.
Petrópolis: Vozes.
Resumo
Este artigo procura desencadear uma reflexão em torno do uso das plataformas digitais no
processo de ensino/aprendizagem na Universidade Púnguè por conta da pandemia de COVID-
19, apontando, naturalmente, os contornos do impacto dessa modalidade de ensino. Em termos
metodológicos, o estudo foi concebido tendo em conta uma pesquisa exploratória e
bibliográfica, materializada por meio de aplicação de um questionário dirigido a 1349
estudantes dos cursos de licenciatura da instituição. O resultado do estudo feito permite-nos
concluir que a maior parte dos estudantes apresenta algum cepticismo quanto ao papel das
plataformas digitais para a sua aprendizagem, pelo que se sugere o aprimoramento desta
modalidade de ensino e consequente preparação tanto dos estudantes como dos professores em
matérias de prática pedagógica usando ferramentas tecnológicas.
1. Introdução
Diante do novo quadro que a COVID-19 impôs não só a Moçambique bem como ao
mundo todo, as ferramentas tecnológicas foram convocadas para a superação do modelo
tradicional de ensino e garantir a continuidade das actividades lectivas nas instituições de
ensino, sobretudo no ciclo superior. No entanto, tendo a Universidade Púnguè, com sede na
cidade de Chimoio, decidido por seguir a orientação de prossecução de aulas através de
plataformas virtuais, o presente estudo procura avaliar o impacto do uso dessas plataformas na
aprendizagem dos estudantes.
Face ao cenário acima aludido e com o intuito de melhor analisar o efeito da plataforma
digital no contexto educativo, administrou-se um inquérito a 1349 estudantes, cerca de 23% da
população estudantil da instituição, sendo 65% do sexo masculino e os restantes 35% do sexo
30
Universidade Púnguè, Moçambique
193
Este tema tem interessado a muitos pesquisadores com veia para a educação inclusiva
e qualidade do ensino à distância. A título de exemplo, Vianna & Ferreira (2018), dissertando
sobre o uso das plataformas digitais na educação, avançam que “a introdução de novas
tecnologias, tais como o ambiente virtual de aprendizagem ou a educação on-line podem
colaborar para minimizar as desigualdades de oportunidades escolares” e, consequentemente,
“significar a melhoria da qualidade da educação a distância (EaD) ou mesmo da educação
presencial”.
Em Moçambique, com o advento da COVID-19, as práticas lectivas sofreram um grande
revés, tendo sido identificada a tecnologia como a melhor alternativa para a área da educação.
Aliás, como se sabe, o impacto do desenvolvimento tecnológico também se reflecte no
ensino/aprendizagem, pois representa “uma realidade que se impõe na sociedade e na escola,
exigindo que a última integre no processo educacional as novas tecnologias” (Santos, 2005).
A ideia de uma sala de aula com os alunos sentados acompanhando o que o professor
diz passou a não condizer mais com a realidade imposta pela paralisação de aulas presenciais
por conta da pandemia de COVID-19. Em consequência, as plataformas digitais foram a saída
mais viável para assegurar a continuidade das actividades lectivas, já que “as novas
194
Tecnologias digitais estão cada dia mais presentes em nosso quotidiano e nos trazem muitas
influências” (Silva, Prates & Ribeiro, 2016).
Assim, com base na importância que as novas tecnologias têm hoje para a prática
pedagógica, os desafios são muitos e vão desde a própria concepção de educação, passando
pela formação/preparação dos professores e estudantes e desembocam na implementação de
políticas públicas que possam garantir o acesso destas ferramentas com vista a que de facto as
plataformas digitais possam auxiliar no processo de ensino/aprendizagem.
Para Giddens (2008), da mesma forma que a imprensa e a cultura de leitura do livro
contribuíram para a ascensão da educação moderna, as novas tecnologias da informação (TI),
no mundo contemporâneo, podem contribuir para transformar o currículo vigente nas
instituições de ensino, uma vez que “ao envolver-se no mundo virtual, o docente poderá exercer
com maior eficiência a mediação entre objectivos, conteúdos e metodologias necessárias para
estimular no aluno o processo de autoformação continuada” (Vianna & Ferreira, 2018).
Enfim, diante do novo quadro que os avanços tecnológicos têm acarretado para a
sociedade e a prática pedagógica, impõe-se cada vez mais uma reflexão sobre os impactos da
tecnologia na prática pedagógica já que as dinâmicas das relações sociais exigem, de certo
modo, que a escola integre no processo educacional as novas tecnologias, pelo que “é preciso
que os professores estejam preparados para o uso da tecnologia no ambiente escolar e conhecer,
na medida do possível, as diferentes plataformas existentes e o que elas podem oferecer de
melhoria para as condições de ensino e aprendizagem” (Medeiros & Medeiros, 2020).
pós-laboral e à distância), sendo que 51,3% dos estudantes (3.112) estão na Extensão de Tete
e os restantes 48,7% (2952) na Sede.
Depois desta contextualização, seguem informações relativas ao processo de
ensino/aprendizagem usando as plataformas digitais de forma a discorrermos com a devida
propriedade sobre as condições com as quais os estudantes estão a interagir com os seus
docentes, focalizando assim, entre outros aspectos, os recursos usados, acessibilidade à
internet, qualidade da internet, qualidade das aulas online e relação pedagógica
docente/estudantes em tempos de COVID-19.
O gráfico 1, que apresenta dados ligados à pergunta sobre o uso de um modelo de ensino
similar ao actual em ocasiões anteriores mostra de forma clara que os estudantes dos regimes
laboral e pós-laboral (modalidade presencial) afirmam ser a primeira vez que têm aulas numa
modalidade online, contrariamente aos estudantes da modalidade de ensino à distância que, na
sua maioria, afirmaram que já vinham trabalhando neste modelo de ensino.
100%
90%
94%
91%
80%
70%
79%
71%
60%
50%
40%
30%
20%
29%
21%
9%
6%
10%
0%
Laboral Pós-laboral EaD Total
Regime/Modalidade de Ensino
Sim Não
locais diferentes dos próximos das cidades e que em muitos casos faltam serviços básicos como
o acesso à electricidade, TICs e internet, maior número de estudantes ficou privado de aceder
às plataformas digitais para acompanhar as aulas. Em consequência, muitos se viram na
situação de ter que recorrer a casas de parentes ou outros locais para fazer face a esta situação
periclitante, como bem demonstra o gráfico que a seguir se apresenta.
90%
80% 67%
66%
70%
49%
60%
50%
35%
40%
21%
30%
18%
16%
14%
11%
10%
20%
3%
2%
10%
1%
1%
0%
0%
Casa própria Casa dos Casa arrendada Total
pais/parentes
Onde habitualmente reside?
85%
84%
90%
70%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
15%
10%
10%
20%
7%
6%
6%
4%
4%
4%
3%
3%
2%
1%
1%
1%
10%
0%
0%
Próprio Parente Amigo/Colega Total
A quem pertence o dispositivo que usa para acompanhar as aulas usando plataformas digitais?
37.80%
39.90%
50.00%
32.30%
32.00%
26.20%
26.00%
24.60%
40.00%
22.10%
18.90%
18.60%
17.10%
16.20%
15.10%
14.40%
14.40%
30.00%
12.80%
11.20%
8.50%
6.80%
20.00%
5.30%
10.00%
0.00%
Laboral Pós-laboral EaD Total
Regime/Modalidade de Ensino
Muito insatisfeito Insatisfeito Não satisfeito nem insatisfeito Satisfeito Muito satisfeito
31.60%
32.00%
31.00%
40.00%
27.90%
26.40%
25.60%
35.00%
24.20%
30.00%
20.00%
17.80%
15.80%
15.60%
25.00%
14.80%
14.10%
13.70%
12.50%
11.70%
11.20%
20.00%
10.10%
7.50%
15.00%
10.00%
5.00%
0.00%
Laboral Pós-laboral EaD Total
Regime/Modalidade de Ensino
Muito insatisfeito Insatisfeito Não satisfeito nem insatisfeito Satisfeito Muito satisfeito
200
35.90%
40.00%
31.70%
31.40%
35.00%
27.10%
25.50%
25.30%
23.30%
23.10%
30.00%
25.00%
16.70%
15.80%
14.50%
14.40%
13.80%
13.70%
13.50%
12.40%
20.00%
9.00%
15.00%
7.80%
7.80%
10.00%
5.00%
0.00%
Laboral Pós-laboral EaD Total
Regime/Modalidade de Ensino
Muito insatisfeito Insatisfeito Não satisfeito nem insatisfeito Satisfeito Muito satisfeito
201
Considerações finais
Nesta etapa do trabalho cumpre-nos deixar ficar as nossas ilações sobre a análise que
encetamos, as quais consideramos identificarem-se com o desiderato inicialmente definido.
Assim, com este estudo foi possível depreender que os estudantes apresentam alto nível de
insatisfação no concernente ao processo de ensino/aprendizagem em período de COVID-19,
destacando-se as questões inerentes à falta de meios adequados para aceder a aulas virtuais, à
falta de clareza e sequência lógica nas actividades orientadas pelos docentes e, acima de tudo,
o despreparo tanto dos docentes como dos estudantes para lidarem com a modalidade de ensino
à distância usando as TICs.
Portanto, com base no que foi constatado ao longo do trabalho, afigura-se importante
uma auscultação aos diversos actores da prática pedagógica para melhor definição e actuação
em aulas virtuais usando as plataformas digitais. Outrossim, face à fraca literacia digital dos
directos intervenientes para lidarem com a modalidade de ensino à distância usando as
plataformas digitais, é de todo interessante uma capacitação aos docentes e estudantes no uso
das diversas plataformas de aprendizagem.
Referências bibliográficas
GIDDENS, A. (2008). Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Retrieved from
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3114970/mod_resource/content/1/Anthony_Gi
ddens_Sociologia.pdf
MEDEIROS, M., & MEDEIROS, A. (2020). Educação e Tecnologia: Explorando o Universo
das Plataformas Digitais e Startups na Área da Educação. In V Congresso Nacional de
Educação. São Paulo: www.conedu.com.br. Retrieved from
https://docplayer.com.br/180392217-Educacao-e-tecnologia-explorando-o-universo-das-
plataformas-digitais-e-startups-na-area-da-educacao.html
SANTOS, I. de S. (2005). As novas Tecnologias na Educação e Seus Reflexos na Escola e no
Mundo do Trabalho. In II Jornada Internacional de Politicas Publicas (pp. 1–7). São
Luís, Brasil. Retrieved from https://docplayer.com.br/144319-As-novas-tecnologias-na-
educacao-e-seus-reflexos-na-escola-e-no-mundo-do-trabalho.html
SILVA, I. D. C. S., Prates, T. D. S., & Ribeiro, L. F. S. (2016). As Novas Tecnologias e
aprendizagem: desafios enfrentados pelo professor na sala de aula. Revista Em Debate
(UFSC), 16(15), 107. https://doi.org/10.5007/1980-3532.2016n15p107
VIANNA, J. A., & FERREIRA, T. A. D. (2018). Plataforma Digital de Educação: A Percepção
dos Professores. E-Mosaicos, 7(14), 104–120. https://doi.org/10.12957/e-
mosaicos.2018.27928
202
Abstract
This article has the title, Pandemic of COVID-19: reflecting on the Pedagogical Internship in
the preparation of basic education teachers at the Pedagogical University of Maputo-
Mozambique. It aims to analyze the pedagogical internship in the basic education course and
explain the implications of the remote activities adopted under COVID-19 in the preparation
of teachers. Based on a quali-quanti approach, the study included twenty-four research subjects
who answered a questionnaire. The results point to the need to adjust the strategies for
supervising the internship, as well as the restructuring of the objectives taking into account that
the basic education course is mostly attended by professors. It was concluded that the internship
carried out during the Pandemic of COVID-19, did not allow the development of knowledge
and knowledge to initiate teaching, with the need to prolong activities as soon as the face-to-
face classes are returned.
31
Doutorando em Educação: FaE/UFMG-Brasil; Mestrado em Desenho de Sistemas da Educação; Docente da
UPM
32
Mestrado em Desenho de Sistemas da educação; Docente da UPM; Director do Curso de Graduação em Ensino
Básico;
33
Doutor em Educação e Docente da FaE/UFMG-Brasil
203
Foi com base nesse desafio do enfrentamento de um novo cenário pedagógico sem o devido
preparo que emergiu a seguinte questão: Como os estudantes finalistas do curso de licenciatura
em Ensino Básico se adaptaram para a continuidade do estágio pedagógico nas escolas?
Com a entrada em vigor em 2010 do novo ciclo de currículos o Curso de LEB passou a ter um
total de 240 créditos35 distribuídos em área de concentração maior (Major) de 180 créditos e
outra de concentração menor (Minor) de 60 créditos. Esse modelo curricular é inspirado no
sistema europeu (Universidade de Bolonha), embora não na sua plenitude. Contudo, a partir
desse ano, o curso de LEB à semelhança dos demais da universidade passou por essa
metamorfose tendo, introduzido o sistema de habilitações curriculares. Isto é, o curso passa a
ter um bloco de disciplinas específicas do curso que, constituem o major constituído por 180
créditos e uma área de menor concentração de 60 créditos, o minor. As matérias curriculares
de major são cursadas no curso e as de minor36 são cursadas de forma “livre” em outros cursos.
34 É a nova designação dessa unidade orgânica que entrou em vigor em 2020 no âmbito da reforma Universitária. Essa unidade orgân ica já designou-se por Faculdade de
Ciências Pedagógicas (FCP) e mais recentemente a última nomeclatura foi de Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia (FACEP)
35Nos modelos curriculares antecedentes o curso funcionava no regime disciplinar e sem acumulação de créditos acadêmicos.
O perfil dos estudantes é heterogêneo, sendo que a maioria já exerce a profissão docente e uma
pouca minoria está na condição de formação inicial. Reconhecendo que o curso é uma ponte
de desenvolvimento profissional (formação contínua) para muitos professores de educação
básica em Moçambique, tem-se envidado esforços no sentido de garantir que seu corpo docente
seja preferencialmente constituído por especialistas no ensino primário moçambicano. Nesse
prisma, destaca-se que a visão do curso assenta sobre uma preparação do professor progressista
(HAMMERNESS et al, 2019; IMBERNÓN, 2016 e GATTI, 2015) e que saiba transformar
situações específicas de trabalho em cenários de auto-aprendizagem e desenvolvimento
profissional de modo a oferecer uma educação de qualidade. Para tanto, Hammerness et al
(2019, p. 306-307), defendem a ideia de uma formação que proporcione a construção de
conhecimentos, habilidade e atitudes, contudo, mais do que isso apontam a necessidade de que
“os candidatos à formação de professores precisam de estar preparados para a aprendizagem
ao longo da vida”. Para esses autores:
Em alinhamento com Hammerness et al (2019), o curso de LEB possui uma estrutura curricular
que possibilita o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos específicos para leccionar
no ensino primário em Moçambique.
daquilo que aprendem com a própria experiência como estudantes” (HAMMERNESS et al,
2019), o que significa que devem desenvolver a competência reflexiva (SCHÖN, 1995;
GÓMEZ, 1995), nesse intuito o professor porque é o “homem da situação” é pertinente que
tenha um preparo no domínio das imprevisões e incompletudes do PEA à partir de contexto de
aprendizagem vivenciados desde a sua formação tanto como estudante e agora como formando
a professor.
Os mesmos autores defendem ainda que na ausência de condições de trabalho real nas escolas
as práticas pedagógicas I, podem ser realizadas por meio do uso de vídeos com gravações de
207
aulas. Porém, havendo espaço para sua realização, o estudante pode trabalhar em oficinas
pedagógicas, laboratórios de ensino, estações ou espaços de aprendizagem que poderão ser
criados na universidade ou na própria escola.
O estágio pedagógico, decorre no oitavo período e, o estudante deve estar sob a supervisão do
professor da universidade na escola de estágio, a fazer regência e intervenção através da
orientação de pequenos projectos pedagógicos. Segundo Dias et all (2010:20), com essa
unidade curricular pretende-se que o estudante, desenvolva as seguintes competências:
Vários estudos (SMITH, 2018; GATTI, et. al. 2015; IMBERNÓN, 2013, 2000; ALTET, 2000
SHULMAN, 1987) retratam as peripécias da formação e profissão docente desde a concepção
curricular, aspectos a considerar no ensino da docência, os saberes docentes essenciais, assim
como a relevância dos saberes práticos na construção da profissionalidade profissional.
Portanto, o estágio como etapa de exercitação de conhecimentos sobre a docência proporciona
a supressão de ignorâncias e conduz aos estagiários a implantarem os alicerces sobre a docência
(MIALARET, 1981).
Portanto, sendo o estágio pedagógico a etapa de iniciação à docência faz jus que a psicoesfera
e a tecnoesfera estejam em condições adequadas para que a actividade ocorra em condições
necessárias. O conhecimento que se tem sobre as exigências que são feitas aos professores,
justifica a necessidade de afirmar-se o estágio pedagógico como uma etapa imprescindível e
basilar na preparação docente.
No contexto da construção da qualidade na formação docente Nóvoa (2009) refere ser relevante
retomar a discussão sobre premissas das características do que é “bom professor”. Nesse
sentido, a realização do estágio pedagógico deve ser entendido como um dos momentos
cruciais na implantação da ideia de uma profissionalidade imponente, contrariamente à
subversões e ou aproximações desprestigiantes que camufulam a profissão docente como uma
falsa profissão. Vários estudos (PERRENOUD, 2000; 2002; GARCIA, 1999; ZEICHNER,
1993), defendem que a construção de saberes e conhecimentos profissionais devem estar
209
intimamente ligados ao exercício profissional docente pelo que, o estágio pedagógico é um dos
momentos fundamentais para a implantação desse princípio.
Porém, há que dar ênfase e direccionar apoio necessário para a transformação da formação tal
como descreve Nivagara et al, (2016) sobre o funcionamento das Zonas de Influência
Pedagógica (ZIP), como núcleos preponderantes de apoio pedagógico para a formação docente,
dentro da perspectiva de uma formação inovadora baseada nas premissas do “professor
pesquisador” (ANDRÉ, 2016). Daí a necessidade da requalificação dos estágios conforme
defende Lüdke (2015, p. 172). Nesse diapasão, Silva (2015, p. 192) ressalta que, a falta de
acompanhamento integral dos formandos pelos seus docentes ocasiona, a aproximação do
estágio com o trabalho produtivo e suscita ainda o problema da exploração do estagiário.
37Segundo a Organização, pandemia, é a disseminação mundial de uma nova doença e o termo passa a ser usado quando uma epidemia, surto que afeta uma região, se espalha
por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa (https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1763-o-que-e-uma-pandemia acesso
04/08/2020)
210
Reconhecendo que o momento actual (2020) passou a exigir soluções inovadoras por forma a
dar continuidade da “vida” e sem prejuízo aos ganhos alcançados até ao momento em que o
mundo “parou”, procuramos analisar as possibilidades existentes para a validação das
aprendizagens desenvolvidas pelos estagiários durante o processo de Estágio Pedagógico
presencial e remoto.
Realizamos o presente estudo que teve como amostra vinte e quatro estudantes sendo dez
homens e catorze mulheres. Constatou-se que todos inquiridos são professores em exercício
com uma experiência profissional acima de seis anos conforme ilustra o gráfico a seguir:
Um dos rituais para a realização do estágio pedagógico tem a ver com a preparação e
organização do processo. Procurou-se saber se os estagiários teriam tido esse ritual e os
resultados indicam que 91.6% afirmaram ter tido uma preparação para o processo. Como se
sabe, é tarefa dos supervisores da universidade “planificar as actividades das práticas do estágio
profissional (PEP) e contactar as Escolas Integradas para a planificação das actividades das
PEP” (DIAS et al, 2010, p. 42). Em conformidade com as restrições impostas pela Pandemia
da COVID-19, o estágio, foi realizado em várias modalidades, sendo a actividade presencial a
que notabilizou-se predominante. Embora as actividades lectivas tenham sido suspensas nas
escolas após o decreto presidencial sobre o estado de emergência (23/março), cerca de 54.1%
dos estudantes conseguiu realizar algumas actividades presenciais e 37.5% realizou actividades
de forma híbrida (presencialmente e à distância). O gráfico abaixo ilustra o tipo de actividades
desenvolvidas pelos estagiários:
38Desenvolvimento de eficiência no ensino pela aquisição, experiência e descoberta de novos conhecimentos e saberes (BRANSFORD et al, 2019, p. 42)
212
A leitura dos dados permite inferir que houve déficit na realização das tarefas que
consubstanciam ao desenvolvimento da práxis pedagógica pois, no estágio espera-se que o
estagiário desenvolva entre outras habilidades a “dodiscência” (FREIRE, 2018). Conforme nos
referimos anteriormente, os inquiridos já possuem uma certa “amálgama” de “saberes da
prática” como corolário da sua experiência profissional.
13
11
Conforme ilustra o gráfico, apenas onze inquiridos que corresponde a cerca de 45.8%
afirmaram ter usado recursos tecnológicos. Porém, uma percentagem significativa (54.1%) dos
inquiridos declinou a responder à questão sobre uso de recursos tecnológicos. Esse cenário,
pode sinalizar que essa franja dos inquiridos poderá estar a residir em bairros sem a rede
elétrica, e por conseguinte desprivilegiados do usufruto dos recursos tecnológicos pela ausência
da electricidade nos seus bairros ou encaram dificuldades de acesso à internet. Baseado nessa
percentagem (54.1%) dos que abstiveram-se a responder acerca do uso dos recursos
tecnológicos, podemos deduzir que as actividades do estágio não foram desenvolvidas por
todos estudantes.
No que concerne à supervisão do estágio, constatou-se o seguinte cenário de acordo com o
gráfico a seguir:
Na questão ilustrada pelo gráfico acima nossa pretensão foi de aferir as modalidades adotadas
pelos supervisores de estágio no acompanhamento do estudante durante. Os dados revelam que
dos vinte e quatro sujeitos da pesquisa, treze tiveram supervisão à distância, três tiveram
supervisão presencial e cinco não responderam. Nesta acepção, encontramos uma
desarticulação entre a modalidades de realização do estágio e as modalidades de
acompanhamento pois, era suposto que os dados numéricos no que concerne à modalidade de
realização e supervisão do estágio por tratar-se de actividades síncronas e realizadas no período
em que foi decretado o estado de emergência nacional. Portanto, essa discrepância permite-nos
214
afirmar que a realização do estágio assim como o acompanhamento não foram eficazes para
além de que denunciam ter havido muitas dificuldades de na sua execução pelo fato da maioria
(54.1%) dos estagiários não ter usado os suportes tecnológicos para interação com seus
supervisores. Segundo Silva (2015, p. 192) a falta de acompanhamento integral dos formandos
pelos seus docentes ocasiona, a aproximação do estágio com o trabalho produtivo e suscita
ainda o problema da exploração do estagiário. Por conseguinte, essa falta de supervisão do
estagiário conduz à subversão dos princípios da actividade de estágio assim como da realização
dos objectivos previstos pois, se o estagiário for sujeito à condição de exploração do trabalho
produtivo isso significa que, ele irá necessariamente focar apenas na leccionação, deixando de
lado as demais actividades previstas.
Quanto ao alcance dos objectivos do estágio, o gráfico número cinco abaixo, mostra a situação
do alcance dos objectivos do estágio pelos estagiários.
Gráfico no 5: Alcance dos objectivos do Estágio Pedagógico pelos estagiários
19
2 2
Conforme ilustram os dados, dezanove estagiários afirmaram ter alcançado com sucesso os
objectivos do estágio pedagógico. Porém, as actividades realizadas, os condicionalismos
impostos em decorrência da Pandemia da COVID-19 e o tempo da sua duração não
possibilitariam com que os objectivos fossem alcançados. A maior probabilidade é dos
objectivos não terem sido alcançados conforme sinalizaram os dois estagiários que assinalaram
que não-os alcançaram. Analisando as alegações dos que afirmam ter alcançado com sucesso
os objectivos do estágio apresentam as seguintes premissas:
215
Conclusões
Referências bibliográficas
Resumo
O presente artigo cujo tema é Aprendizagem Significativa em Tempos de Pandemia do
COVID-19, foi elaborado a partir de pesquisas bibliográficas, com o objectivo analisar como
é que ocorre a aprendizagem significativa em tempos de pandemia do COVID-19. Partindo do
pressuposto de que o mundo enfrenta desafios em vários domínios para se erguer dos efeitos
causados por esta pandemia e que Moçambique, faz parte da lista dos países afectados em
especial no campo educacional torna-se pertinente indagar esta temática. Com a suspensão das
aulas e o encerramento de instituições em todo o país para garantir o distanciamento social e
promover aulas remotas, mais de oito milhões de alunos foram afectadas. Os pressupostos da
teoria psicológica de aprendizagem significativa de David P. Ausubel (1918-2008) evidenciam
a pertinência do conhecimento prévio dos aluno e da ancoragem para acessar novos
conhecimentos. Para a sociedade sem condições tecnológicas para o ensino-aprendizagem, o
cenário torna-se complexo.
Abstract
The present article, whose theme is COVID-19 Meaningful Learning in Pandemic Times, was
elaborated from bibliographic research, with the aim of analyzing how significant learning
occurs in times of the COVID-19 pandemic. Based on the assumption that the world faces
challenges in several areas in order to rise from the effects caused by this pandemic and that
Mozambique is part of the list of countries affected especially in the educational field, it is
pertinent to inquire about this topic. With the suspension of classes and the closure of
institutions across the country to ensure social distance and promote remote classes, more than
eight million students were affected. The assumptions of the psychological theory of significant
learning by David P. Ausubel (1918-2008) show the relevance of the students' prior knowledge
39
Licenciado em Psicologia Educacional, pela Universidade Pedagógica de Maputo (UPM), com Habilitação em
Intervenção em Desenvolvimento Humano e Aprendizagem, no ano 2019. Mail: mucauquefernando@gmail.com
40
Licenciado em Psicologia Educacional, pela Universidade Pedagógica de Maputo (UPM),com Habilitação em
Educação e Assistência Social, no ano 2018. Mail:chagualasilvano@gmail.com
41
Licenciado em Psicologia Educacional, pela Universidade Pedagógica de Maputo (UPM), com Habilitação em
Intervenção em Desenvolvimento Humano e Aprendizagem, no ano 2020. Mail: anibalsoquicojunior@gmail.com
220
and the anchoring to access new knowledge. For society without technological conditions for
teaching and learning, the scenario becomes complex.
Keywords: Meaningful learning, COVID-19 pandemic.
1. Introdução
Dentro deste cenário, que acontece numa conjuntura de Estado de Emergência, foram
anunciadas diversas medidas para prevenir a propagação da pandemia, desde a restrição de
circulação e aglomerações de mais de 10 pessoas devendo manter o distanciamento de pelo
menos 1,5 metros entre as pessoas; proibição de eventos; enceramento de todas as escolas e
instituições de ensino; quarentena obrigatória monitorada pelos agentes de saúde em pelo
menos 15 (quinze) dias, aos indivíduos recém chegados do exterior do país ou de locais
considerados como focos de transmissão; desinfecção das mãos através de álcool em gel;
42
MISAU- Ministério da Saúde - Plano de Preparação e Resposta ao Surto do COVID-19, 2020
43
OMS- Organização Mundial da Saúde
44
SNE- Sistema Nacional de Ensino
45
PEA- Processo de Ensino-Aprendizagem
221
lavagem frequente das mãos usando agua e sabão ou outros detergentes de higiene corporal
bem como o uso da mascara de protecção em locais de aglomeração populacional.
Entretanto, através deste artigo, pretende-se reflectir acerca dos actuais padrões de
ensino adoptados pelas escolas, face a pandemia do COVID-19. Permitiu-nos analisar também
as condições tecnológicas que as escolas dispõem para o decurso das aulas a distância e as
disposições necessárias para que haja uma aprendizagem significativa.
46
MEPT- Movimento de Educação Para Todos.
222
Diante da situação da pandemia do COVID-19, para manter o decurso das aulas, são
usadas plataformas como a televisão, a rádio, a internet e fichas de exercícios de apoio e devem
ser monitorizadas pelos pais e ou encarregados de educação, que segundo as autoridades de
educação são um sucesso, mas não se sabe o certo se os alunos estão a acompanhar ou não as
aulas.
Dados do UNICEF47 revelam que a maioria das crianças em Moçambique não tem
acesso aos canais de informação básicos, o que torna a transição para o ensino à distância
extremamente difícil: 74 por cento das crianças vivem sem electricidade e apenas 2 por cento
têm acesso à Internet, 35 porcento à rádio e 22 por cento à televisão. No entanto, o acesso à
informação é ainda mais limitado para as crianças das zonas rurais.
Todavia, pesquisas publicadas pelo Jornal Txopela48 revelam que nos últimos anos os
pais/encarregados de educação têm muita dificuldade em fazer acompanhamento dos
educandos. Entretanto, o acesso ao ensino é direito público subjectivo e o não oferecimento
pelo poder público, ou sua oferta insuficiente e irregular, poderá acarretar responsabilidade da
autoridade competente.
Desta feita, quanto mais tempo as escolas estiverem fechadas, maior será a perda de
tempo de aprendizagem e maiores serão as hipóteses das crianças, não regressarem à sala de
aula quando as escolas reabrirem e com suspensão escolar prolongada terá também efeitos
sobre aqueles que regressam à escola, e poderá resultar na repetição do ano escolar e na
deterioração do aproveitamento escolar. O impacto negativo nas oportunidades e nos resultados
da aprendizagem terá repercussões ao longo da vida futura das crianças, afectando a sua
capacidade de gerar rendimentos bem como a sua participação na sociedade, (Unicef, 2020)
Diante desta situação, importa referir que a aprendizagem significativa ocorre por
meio de processos: explorando, fracassando, tentando, corrigindo, obtendo dados, elaborando
conjecturas, testando-as, construindo explicações, que são resultados de inferências,
comparando, fazendo analogias e reflectindo. Uma nova experiência é comparada com outras
hipóteses são criadas verificadas, confrontadas, explicadas, outras expectativas são criadas e
assim por diante.
47
UNICEF- Fundo das nações Unidas para a Infância.
48
https://www.jornaltxopela.com/2020/05/educacao-em-mocambique-nos-tempos-de-covid-19-uma-
reflexao-centrada-nas-escolas-rurais/
223
De acordo com (Pelizzari; Kriegl, Baron; Finck, & Dorocinski, 2002), para haver
aprendizagem significativa são necessárias duas condições. Em primeiro lugar, o aluno precisa
ter uma disposição para aprender: se o indivíduo quiser memorizar o conteúdo arbitrária e
literalmente, então a aprendizagem será mecânica.
Deste modo, podemos ter uma aprendizagem significativa quando decorrer num local
minimamente equipado (onde se usam recursos tradicionais tais como: carteiras; giz; quadro;
material do aluno: livros/cadernos e canetas/lápis), espaços inclusivos a aprendizagem que
devem, ajustar-se às necessidades de cada criança, em vez de cada criança se adaptar aos
224
Em relação aos processos de ensinar e aprender, essas dificuldades são ainda mais
evidentes, uma vez que a acção pedagógica se dá baseada numa visão fragmentada do
conhecimento e sem relação com a experiência do aprendiz, desprovida, assim, de significado,
por parte dos envolvidos no acto educacional.
Assim, outro factor está relacionado com aprendizagem significativa, tem a ver com
estruturas arquitectónicas adequadas que facilitam a criação de um campo psicológico à
indivíduos que as recebem, bem como a construção de espaços recreativos na escola para o
desenvolvido psicomotor e acima de tudo, a criação de condições de interacção professor-
aluno, onde se poderá transformar significados lógicos de determinado assunto/conteúdo
potencialmente significativo, em significados psicológicos e em conhecimento construído e
estruturado.
49
NEE- Necessidades Educativas Especiais
225
de vulnerabilidade (alunos com deficiência, com doenças crónicas, doenças respiratórias, entre
outras).
Diante da situação, o MINEDH50 elaborou um plano de acção para dar resposta ao
COVID-19 e para dar continuidade ao ano lectivo 2020, através de modalidades de ensino à
distância e preparação de cenários e condições para o retorno às aulas.
De acordo com o Jornal Txopela “[…] os professores, em grupos pequenos, tem ido à
escola elaborar textos de apoio, assim como fichas de exercícios e os pais e encarregados de
educação são contactados para irem buscar e depois fazerem com os seus filhos.”
Diante desta situação, torna difícil a aquisição de aprendizagem significativa bem como
para o professor fazer o controlo e acompanhamento dos alunos na compreensão das matérias
atribuídas, pois nem todos pais/encarregados de educação tem a capacidade reflexiva dos
conteúdos das “fichas”, bem como a situação financeira para a aquisição/reprodução do
material preparado para os alunos, pois em algumas situações tem sido feita a comercialização
do mesmo, facto que concorre significativamente para exclusão ao invés da inclusão escolar.
50
Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano.
226
A este propósito cabe lembrar que a Declaração de Salamanca insta aos diferentes
países e respectivos governos a considerar o facto de que:
1.2.Considerações Finais
torna-se evidente que deve ser implementadas medidas extremas para evitar a propagação da
infecção pela pandemia.
No entanto, as crianças com deficiência bem como as crianças que vivem em meios
sócio-económicos desfavorecidos demonstram-se altamente vulneráveis à transmissão directa
do COVID-19 devido às suas limitações e que sejam asseguradas as necessárias condições para
aquisição do material de apoio aos estudos de todos alunos, como forma de promover a inclusão
escolar e aprendizagem significativa.
1.3.Referências Bibliográficas
Eduardo HUMBANE 51
Resumo
O ano de 2020 está a ser marcado pela crise sanitária global, provocada pelo coronavírus. A
crise perturbou o funcionamento dos países, incluindo na área de educação. No caso de
Moçambique as aulas presenciais foram suspensas e, em substituição, se emigrou para o ensino
online. No texto, apresentamos uma reflexão, a partir da nossa experiencia pessoal enquanto
professor universitário, sobre as vicissitudes porque o processo das aulas online passa, o que
nos leva a ideia de que podemos ter passado de uma universidade em crise, dada a desigualdade
social que caracteriza os seus estudantes, à uma universidade injusta, uma vez que o ensino
online veio agravar a situação daqueles que já se encontravam em desvantagem.
Abstract
The year 2020 is being marked by the global health crisis, caused by the corona virus. The
crisis has disrupted the functioning of countries, including in the area of education. In the case
of Mozambique, face-to-face classes were suspended and, instead, emigrated to online
education. In the text, we present a reflection, based on our personal experience as a professor,
about the vicissitudes because the process of online classes passes, which leads us to the idea
that we may have passed from a university in crisis, given the inequality social that
characterizes its students, an unjust university, since online education has aggravated the
situation that were already at a disadvantage.
51
Professor de sociologia de educação, na UP-Maputo. Doutor em sociologia de Educação, graduado em ciências
de Educacao. Mail: Humb.academia@gmail.com
230
Introdução
O ano de 2020 está a ser atípico. É um ano em que a pandemia do Covid-19 acabou por
determinar novos processos, em praticamente em todas as áreas de actividade, incluindo a
educação. Nas linhas que se seguem pretendo reflectir, de forma livre, sem a pretensão de
escrever um artigo científico digno desse nome, a partir da minha experiência como professor,
na UPM, sobre como tem sido este ano lectivo, marcado pela emigração ao ensino online.
Aviso, nesta cogitação irei fazer transparecer o que mais me tocou no plano pessoal, ao nível
mesmo de emoções.
Na reflexão irei sugerir que, por um lado, a Covid-19 parecer ter posto em evidência a
existência, antes do seu surgimento, de desigualdades no seio dos estudantes bem como de
fragilidades estruturais na universidade e, por outro, a pandemia exacerbou essas
desigualdades, o que nos pode a levar a ideia de que com a ela evoluímos de uma universidade
em crise para uma universidade injusta.
1. Contextualização
O ano de 2020 foi (e está) a ser duramente marcado pelo Covid-19, vírus associado a uma
doença respiratória, que pode desenvolver quadros graves, originando a morte. E trata-se de
uma pandemia que praticamente grassa sobre o mundo global, tendo já ultrapassado a barreira
de 22 milhões de infetados e de mais 680 mil mortes52. Moçambique, parte do mundo,
evidentemente que não é alheio a este quadro, no país já foram já infetadas quase 3 mil pessoas
tendo havido 19 óbitos53
A pandemia, contra a qual ainda não há vacina e nem tratamentos específicos, tem um efeito
desestabilizador tremendo. Por isso, a ela está associada uma profunda perturbação em
praticamente todas as dimensões da vida social, desde o político ao económico, passando pelos
sectores sociais. A pandemia do Covid-19, por conseguinte, constitui um verdadeiro desafio
para os governos e para as sociedades, qualquer que seja o seu nível de desenvolvimento. Assim
52
Fonte: Universidade Johns Hopkins, citado pela https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51718755
(acesso 19/08/2020)
53
Fonte: https://covid19.ins.gov.mz/ (acesso 19.08.20)
231
é porque os países, por um lado, tiveram que pôr em prática todo um conjunto de medidas
preventivas para travar o alastramento da doença e, por outro lado, para promover o
funcionamento dos diversos sectores, mesmo considerando as enormes perturbações advindas
com a pandemia.
No caso de Moçambique, no esforço do país para fazer faze aos desafios originados pela
pandemia, foi aprovado no mês de marco de 2020 o Decreto Presidencial n.º 11/2020, que
determina o estado de emergência. O decreto, no seu artigo 03, sobre limitação de direitos,
liberdades e garantias, postula:
Este quadro legal, sem nenhuma espécie de aviso prévio, encontrou desprevenidos todos os
actores que intervém no ensino, desde gestores, professores, estudantes e suas respetivas
famílias. Gerou-se uma situação de dúvida e incertezas sobre como prosseguir, sobre como ir
para frente.
54
O Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano usou a mesma abordagem para o ensino geral,
sobretudo para o nível secundário.
232
Assim, nas instituições de ensino superior (IEs) assiste-se a apropriação e reprodução deste
discurso e, consequentemente, surge toda uma dinâmica com vista a que efetivamente o
processo de ensino e aprendizagem (PEA) passe a efectivar-se a partir do recurso as TICs,
muma base online /ou à distancia.
Entretanto esta opção não é feita sem controvérsia e inquietações na sociedade em geral e em
círculos mais restritos. Por exemplo da UNESCO 55 vê grandes preocupações o recurso ao
ensino online. De acordo com a organização, a crise de saúde causada pela COVID-19 resultou
no fechamento de escolas e universidades, afectando mais de 90% dos estudantes do mundo
inteiro. Todavia, para a diretora-geral da UNESCO, Audrey AZOULAY, “o ensino à distância
online não pode ser a única solução, pois ela tende a exacerbar as desigualdades já existentes,
que são parcialmente niveladas nos ambientes escolares” 56. No mesmo diapasão encontra-se
55
Unesco é a sigla para Organização (ou agência) das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Ela tem
com o objetivo contribuir para a paz e segurança no mundo, através da educação, da ciência, da cultura e das
comunicações
56
Fonte: https://nacoesunidas.org/comissao-futuros-da-educacao-recomenda-planejamento-para-reduzir-
desigualdades-apos-covid-19/
233
Estas apreensões fazem eco no nosso contexto. De facto, o quadro com que as universidades
se viram submersas, as aulas online à distância, pensamos, veio pôr a descoberto, as
fragilidades já existentes. Primeiro ficou denotada a ausência de uma cultura do uso das TICs
nos processos pedagógicos. Estes, efectivamente, (antes da pandemia) continuavam
grandemente a decorrer a partir da interação física, em sala de aula 58. As actividades
independes, normalmente pesquisas que os estudantes fazem, são apresentadas em sala de aula.
De forma geral, portanto, não se assistia ao uso massivo e consequente das TICs pelos
professores, como um recurso para viabilizar o PEA.
Em suma, em termos de uso de recursos tecnológicos para potenciar o ensino, somos uma
universidade ainda bastante conservadora. Me parece, dois tipos de razoes explicam a
“resistência” de parte da classe docente em abraçar o ensino baseado nas TICs. Uns resistem
por razões de ordem “ideológica” e outros por razões de ordem prática. Os primeiros são
cépticos a um ensino, online ou não, à distância. Para eles, o PEA sem a riqueza da interação
57
Entrevista em https://www.publico.pt/2020/06/19/impar/entrevista/ensino-distancia-veio-exacerbar-
desigualdades-existentes-1921245. Acesso em 13 de Agosto de 2020.
58
Entretanto importa clarificar que no caso da UPM existem alguns (poucos) cursos que são oferecidos na
modalidade EaD e, evidentemente que os professores que actuam nesses cursos e os alunos neles inscritos
possuem cultura e habilidades de uso dos artefactos inerentes ao EaD.
234
humana em presença não funciona, mais ainda, desconfiam que a crescente opção pelo Ensino
a Distancia (EaD) se enquadra na lógica neoliberal de menor investimento em áreas sociais,
incluindo a educação. Em relação as razões práticas, há professores com dificuldade em
aprenderem de novo, sobretudo quando está em causa aprenderem novos saberes profissionais,
que passam por manuseio de artefactos tecnológicos, que não deixam de ter a sua
complexidade.
Segundo, e relacionado com o ponto anterior, ficou quanto a nós demonstrada a ausência de
uma estrutura tecnológica nas universidades, suficientemente robusta, para suportar o uso das
tecnologias já referidas, no PEA. As universidades de forma geral não dispõem de salas de
aulas virtuais funcionais. Não dispõem de internet de boa qualidade e aberta à todos, em todos
os cantos dos seus campi. Não estão disponíveis salas de informática/laboratórios suficientes
onde, necessitando, os estudantes possam ter acesso a um computador com internet, com
qualidade aceitável.
Mas há mais. Uma pandemia com as características da Covid 19 necessariamente gera quadros
psicológicos complicados. Assim é porque a mudança repentina e drástica de rotinas pessoais
e colectivas, o termos que lidar com um vírus que literalmente “paira no ar”, o sermos
fustigados diariamente com notícias de mortes e doentes, sintomáticos ou não, próximos ou
distantes, gera stress, angustia, medo, etc.
Entretanto juntou-se a este quadro mais geral outros elementos stressores, mais internos ao
sistema educacional. Veja-se que estudantes inscritos para estudarem no regime regular, diurno
ou nocturno, se viram impelidos a emigrarem para o ensino online59. O mesmo é válido para
docentes, cujos contratos são para actuarem em aulas presenciais mas, igualmente, tiveram que
emigrar o ensino online. E veja-se que parte deles sem know-how suficiente para o efeito 60.
59
Há no nosso país uma discussão jurídica muito intensa sobre se não configura ilegalidade a emigração não
negociada de uma modalidade para outra. A discussão fica ainda mais acesa quando se trata de alunos do regime
pós-laboral, que pagam mensalidades. Defendem certos círculos, eles pagaram um produto, mas se lhes está a
oferecer outro. Veja-se que particularmente no que tange ao Ensino Secundário, há muitos casos nos tribunais
sobre esta matérias.
60
Felizmente várias universidades muita rapidamente deram capacitações aos seus docentes para que estivessem
à altura do desafio de ministrar aulas a partir das plataformas digitais de ensino.
235
Entretanto o que realmente parece ter elevado o stress das comunidades académicas foi que
este processo ocorreu num quadro de emergência, ou seja, embora no plano teórico se possa
argumentar que era possível fazer um processo mais dialogado ou negociado, o quadro de
emergência derivada de uma crise sanitária não abria muitas possibilidades para o efeito. Era
preciso encontrar saídas. Ir para frente!
A universidade, já sugerimos, tem que ser vista como parte de um todo, da sociedade. Os
estudantes vêm da sociedade. Uma sociedade com níveis consideráveis de pobreza, portanto
caracterizada por forte desigualdade social, naturalmente vai gerar estudantes com dificuldades
económicas e sociais. A emigração que teve que ser feita para o online passou a exigir recursos
aos estudantes, como internet ou “megas” 61, smartphones, computador, etc. meios de que parte
consideram deles está desprovida dada a sua condição socioeconómica 62.
Mas não é só a posse dos meios que conta. A familiaridade e a consequente habilidade no
manuseio de recursos como smatphones, computador, Internet, salas virtuais, etc. são
fundamentais. Observamos, claramente, estudantes numa situação de desvantagem competitiva
por comparação a outros pares seus, mais à vontade com estes artefactos.
61
Houve um certo esforço, bastante meritório do governo moçambicano em negociar com algumas operadoras
que oferecem estes serviços, mas, mesmo assim os custos continuam a ter grande impactos nos usuários.
62
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (www.ine.gov.mz), em Moçambique, em termos globais,
têm celular 30.8% dos homens e 22.4% das mulheres. Têm acesso a internet 8.1% dos homens e 5.3% das
mulheres. Têm computador 5.8% dos homens e 3.1% das mulheres. E apenas 22% das residências tem energia
elétrica.
236
Tumbo refere ser utópica a ideia de uma emigração do modelo de aulas presencial para o online,
actualmente em Moçambique, devido ao que designou de variáveis com forte constrangimento,
como a (não) posse de dispositivos de informática e das telecomunicações, a (falta de) literacia
digital necessária para operar com os artefactos da cultura digital, aos custos dos
esquipamentos, a (fraca) potência e o (baixo) índice de penetração da Internet.
As inquietações vindas dos círculos sociais e académicos com esta emigração, parecem fazer
sentido no caso de Moçambique. Efectivamente os elementos discutidos acima, parecem
sugerir que realmente a pandemia não só desvelou as desigualdades sociais na educação, que
o ensino presencial de alguma forma nivela, como sobretudo pode ter contribuído para a
exacerbação dessas mesmas desigualdades.
Em boa verdade percebemos que, por um lado, as aulas online foram excludentes e por outro,
em termos de qualidade de ensino, ao que tudo indica, os resultados são modestos. Primeiro,
sobre a exclusão, percebemos que muitos estudantes oriundos da classe popular não possuem
63
Entrevista em: https://www.potiguarnoticias.com.br/noticias/46242/desafios-da-educacao-a-distancia-e-e-
learning-em-mocambique-um-sonho-possivel. Acesso em 09 de Agosto de 2020.
237
Agravou este quadro o facto de que numa economia com as características da nossa, o sector
informal representa uma fonte fundamental na obtenção de renda. Entretanto, com a pandemia
(restrição de contacto social) este sector foi dos mais afectados, o que reduziu ainda mais a
parca renda dos estudantes suas famílias.
O whatsApp, curiosamente foi uma das plataformas mais usados nos processos pedagógicos 64.
E trata-se de uma plataforma privada não concebida para o ensino. Entretanto a combinação de
fatores como a falta de cultura de uso de plataformas digitais de ensino, a falta de salas virtuais
funcionais, a rapidez com que se teve que passar ao ensino online e num cenário de emergência,
etc. fez com que em termos práticos, dada a sua relativa massificação, o whatsApp
efectivamente emergisse como a plataforma salvadora, que realmente acabou garantido a
comunicação entre os estudantes e professores.
64
Levantamentos feitos na UPM mostram que a esmagadora maioria de turmas usou o WhatsApp, nalguns casos
combinado com o email, para garantir o PEA. Plataformas como moodle, Google classrom, zoom, etc. foram
usadas mas de forma bastante reduzida.
238
de forma geral, pelas universidades, ainda corre o primeiro semestre. Só posteriormente poderá
ser feita uma avaliação com carácter mais conclusiva a respeito da qualidade de aprendizagem.
No parágrafo anterior colocamos aspas no termo aulas. Tal não é por acaso. Neste processo
sempre houve uma certa ambiguidade sobre o que era suposto realmente ocorrer nas
plataformas. Veja-se que no oficio nr. 169MCTESTP/GM2020 as IEs são orientadas a
“Conceber um plano de actividade para ocupação de estudantes (…), com recurso a TICs (e-
mail, WhatsApp, Skype, Google classroom e outras plataformas digitais). A própria Ministra
de Educação numa intervenção no parlamento, causando algum espanto em vários círculos,
explicitou que “as aulas transmitidas pelos canais de rádio e televisão e outras plataformas
identificadas, servem apenas para ocupar os estudantes e consolidar os conhecimentos
adquiridos antes do encerramento das escoas”65
Num contexto ambíguo como este e considerando que os professores perceberam tanto as suas
dificuldades como as dos seus estudantes, eles tiveram que significar estas aulas ou actividades
pedagógicas. Uns as entenderam como “aulas normais”, consequentemente, procuraram seguir
à risca os seus planos analíticos anteriormente elaborados e, inclusivamente, introduziram
matéria nova, avaliaram e classificaram estudantes.
De uma coisa, entretanto, penso, pelo menos, foi possível perceber: as “aulas” nos WhatsApp
não geraram entusiamo. Não trouxeram uma dinâmica pedagógica e académica notável. Pelo
65
Noticia em https://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Imprensa/Noticias/Aulas-e-fichas-pelas-plataformas-
digitais-nao-sao-abrangentes-e-nao-serao-alvo-de-avaliacao-Ministra-da-Educacao. Acesso a 01 de agosto de
2020.
239
Será que que este quadro da pandemia que levou as universidades a uma emigração em direcção
a um ensino online, nos fez sair de uma universidade em crise à universidade injusta?
Terminaremos este relato de experiência tentando, ainda que de forma introdutória, responder
a esta questão.
Vamos suportar a nossa reflexão num sociólogo francês contemporâneo, François Dubet, que
escreveu um conhecido ensaio denominado “O que é uma escola justa?”. Trata-se de um texto
pensado a partir da realidade escolar francesa, contudo, mesmo assim, pensamos, que o mesmo
possui valor analítico para a reflexão que nos propomos fazer.
Falar sobre o que é “justo” ou que é a “justiça”, suscita clamorosos e intermináveis debates.
Assim é porque cada um de nós percebe estes termos a partir dos seus pertencimentos teóricos,
ideológicos, religiosos etc. Não por acaso, o próprio Dubet alerta que “o desejo de justiça
escolar é indiscutível, mas a definição do que seria uma escola Justa é das mais complexas, ou
mesmo das mais ambíguas, pois podemos definir justiça de diferentes maneiras”. Dubet (2004,
p. 540)
Mas, seja como for, discutir sobre justiça na escola é relevante e assim é porque
Portanto, no autor percebemos que o ideal com o qual os sistemas educativos contemporâneos
trabalham é que na escola ocorre uma competição meritocrática, quer dizer, qualquer aluno em
240
função do seu trabalho e suas qualidades pessoais tem garantido o sucesso. Portanto, a sua
origem social, isto é se originário de uma família rica ou pobre, se de “sangue azul” ou não,
não conta, não determina sucesso.
Bem pelo contrário, nos encontramos numa sociedade capitalista que necessariamente gera
desigualdade social e esta se faz sentir no espaço escolar. Em Dubet (2004) portanto,
compreendemos que se do ponto de vista do acesso, se pode realmente falar de igualdade e
justiça, o mesmo já é questionável no que tange a possibilidade igual, para todos, de
permanência e de sucesso escolar.
Nos parece, vimos um processo semelhante a este nas nossas universidades. Com efeito, a
universidade pública no nosso país, é fortemente demandadas por estudantes das classes média
baixa e da classe popular. Estes estudantes, na sua maioria, mesmo antes da pandemia já
estavam numa situação de crise, já tinham dificuldades económicas, que certamente
prejudicavam a sua performance académica, dada, entre outras, a dificuldade no pagamento de
propinas/mensalidades, de transporte de e para a universidade, na aquisição de livros, nas
fotocópias, na compra de refeições, pouco tempo para se dedicar aos estudos uma vez que têm
que obter renda ou para si ou para comparticipar no orçamento familiar, etc.
Com a pandemia o “fardo ficou ainda mais pesado”, eles passaram a ter que ser portadores de
smartphones66 ou computadores e a terem que ter disponibilidade de internet ou “megas”, como
comummente se diz, como condição para participar nas aulas nas plataformas. Em relação a
internet não importa apenas possuir “megas”, é importante residir numa região em que o seu
sinal tem qualidade aceitável, o que nem sempre é o caso, sobretudo nas zonas periurbanas e
suburbanas.
Interessante a expressão que Dubet usa para descrever alunos que fracassam, “vencidos”.
Vimos realmente altos níveis de frustração em alguns estudantes motivados que, por falta de
meios para participarem das aulas com uma certa estabilidade, tiveram que resignar. Foram
realmente vencidos pelas circunstâncias.
Portanto, a ideia de que todos alunos tiveram as mesmas possibilidades de sucesso nas aulas
online, nas plataformas, parece de difícil sustentação. Como sugere a UNESCO, o ensino
online tende a exacerbar as desigualdades já existentes, que o ambiente escolar até parcialmente
nivela. Realmente, estes estudantes, embora oriúndos de classes populares, sonharam
frequentar um curso superior com sucesso, mas com a pandemia, por causa da sua condição
socioeconómica, viram seus sonhos perturbados. Provavelmente, de forma temporária
66
Grande parte de estudantes usa celulares de baixa gama, vulgarmente designados de “bombinhas”.
242
conquanto a pandemia dê tréguas. Mas nada é garantido. Hoje já se diz que a pandemia veio
para ficar, que vamos embarcar num novo normal que em termos de educação vai se expressar
num ensino híbrido…
Terminamos a nossa reflexão com uma questão, que nos parece pertinente: havia alternativa
ao ensino online? Penso que a esta questão tem que necessariamente se ligar outra: a haver o
imperativo de abraçar novas abordagens de ensino, devido, no caso, a uma crise sanitária, o
ónus teria que ir para o estudante? Pensamos que não. Até para fazer valer o ideal de
meritocracia que caracteriza as instituições escolares nas sociedades democráticas modernas,
em que nos encontramos, como pontuou Dubet (2004). Uma escola em que é apenas o trabalho
e as qualidades do estudante que garantem o seu sucesso, é uma utopia. Mas uma utopia
necessária. Uma utopia a perseguir. Uma utopia a defender!
Referencias bibliográficas
DUBET, François. O que é uma escola justa? Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 123, p. 539-555,
set./dez. 2004
Medidas Políticas de Continuação das Aulas depois do Encerramento das Escolas por
COVID-19 em Moçambique
Resumo
A pandemia da COVID-19 que afecta o mundo, registou o seu primeiro caso em Moçambique
no dia 22 de Março; no dia 23 entraram em vigor medidas de prevenção contra a doença que
incluíram o encerramento das escolas desde a educação infantil até a universidade. Logo a
seguir algumas vozes alertaram que as medidas eram, em geral, impróprias para África uma
vez que a maioria da população sobrevive através da busca de sustento diário no mercado
informal e, em relação a educação, boa parte das crianças ficaria de fora do ensino a distância
por falta de meios tecnológicos e não só de aprendizagem. Moçambique tem uma política da
educação que protege uma educação de qualidade para todos e a sua constituição salvaguarda
que todas as decisões públicas ou privadas devem observar o maior interesse da criança. O
presente artigo pretende compreender as medidas políticas tomadas através da circular nº3 do
Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano e argumentar, através do estudo
documental e da revisão bibliográfica, que as mesmas são um risco de perpetuação das
desigualdades por falta de clareza política, realismo, abertura e diferenciação.
Abstract
The COVID-19 pandemic that affects the world, registered its first case in Mozambique on
March 22; on the 23rd, preventive measures against disease entered into force, including the
closure of schools from early childhood education to university. Soon after, some voices
warned that the measures were, in general, inappropriate for Africa since the majority of the
population survives through the search for daily livelihood in the informal market and, in
relation to education, part of the children would be left out of education for lack of
technological means and not only of learning. Mozambique has an education policy that
protects quality education for all and its constitution safeguards that all public or private
decisions must be in the best interest of the child. This article intends to understand the political
measures taken through circular no. 3 of the Ministry of Education and Human Development
and to argue, through documentary study and bibliographic review, that they are a risk of
perpetuation of inequalities due to lack of political clarity, realism, openness and
differentiation.
67
Doutor em Educação. Docente da Universidade Pedagógica de Maputo. Mail: orlandochemane@gmail.com
244
Introdução
Segundo os dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO), a pandemia da COVID-19 afectou no mundo 1,5 biliões de estudantes e 63
milhões de professores (UNESCO). Em Moçambique este retirou da escola cerca de 8,5
milhões de alunos e cerca de 14,500 escolas foram encerradas.
A circular nº3 do MINEDH que regula a continuação das aulas durante o período de
emergência em Moçambique levanta a preocupação de exclusão de uma parte das crianças
dado o país ter ainda um nível elevado de população vulnerável, mesmo possuindo uma política
e lei da educação democrática e ter compromissos internacionais que defendem a oportunidade
e qualidade de educação para todos.
Analisar esta política nos parece importante pois Moçambique é um país propenso a
desastres naturais e enfrenta actualmente, no extremo norte do país, uma violência armado com
características terroristas, que produz cada dia mais refugiados, o que nos leva a pensar que
esta pode ser uma experiência da qual o país pode tirar lições sobre como planificar uma
educação em situações de emergência. Durante a nossa revisão de literatura sobre a COVID-
19, não encontramos experiências africanas sobre o ensino durante o período de encerramento
das escolas e mais concretamente sobre a política de continuação de aulas durante a
emergência. A seguir procuramos ver o que significa medidas de continuação das aulas.
Antes de falarmos das medidas tomadas pelo MINEDH de Moçambique, talvez seja
importante escrevermos brevemente sobre o que é a COVID-19. Esta é uma doença cujo vírus
(SAS-Cov-2) tem a sua origem no mercado de mariscos de Wuhan, China, mas resta ainda
confirmar o animal específico que levou o SAS-Cov-2 a aquele lugar (Adhikare, Meng, Mao
& Wang, 2020). Os doentes costumam apresentar sintomas como febres, tosse, fadiga,
pneumonia, dor de cabeça, diarreia, hemoptise, dispneia ou dificuldades de respirar. Os
métodos de prevenção são o uso de máscaras, higiene das mãos, distanciamento social,
detecção de casos, rastreamento de contacto e quarentena. Nenhum tratamento antiviral provou
eficácia (Adhikire et al, 2020).
As medidas políticas tomadas pelo MINEDH para a continuação das aulas durante o
período de emergência por causa da COVID-19, constam da circular nº3 cujo o título remete
mais para a prevenção da COVID-19 em geral do que para a orientação do processo de ensino
e aprendizagem: Medidas de Prevenção contra COVID-19 para as Instituições públicas e
246
privadas de ensino geral, formação de professores, centros internatos e lares e salas de estudo.
Para compreender o seu real alcance é preciso ir para o interior do texto em que está claramente
escrito o seguinte: “no espírito das medidas [anunciadas pelo governo], o encerramento das
escolas e instituições de formação de professores não deve significar interrupção do processo
de ensino e aprendizagem.”68 (MINEDH, 2020a).
Na verdade o que se pode compreender depois de se ler bem o documento é que ele se
destinava a regulação das aulas a distância do ensino primário, secundário e formação de
professores, como uma componente da prevenção. O ensino levado a cabo depois do
encerramento das escolas devido a pandemia da COVID-19, costuma ser chamado de remoto
(Tomazinho, 2020) basicamente por não reunir os requisitos de ensino a distância, apesar de
não ser presencial (Idem). Mas para efeitos deste artigo nós consideraremos indiferentemente
ensino a distância ou remoto.
Com a pandemia da COVID-19 ficou, mais uma vez, clara a forte dependência de
África em relação aos países do Norte: Os governos africanos, logo que a 11 de Março, a
Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou a COVID-19 uma pandemia e os países do
Norte registavam muitos casos, e tomavam medidas de confinamento, África fez o mesmo o
que levou ao fechamento de países inteiros ignorando que suas populações não são capazes de
viver numa situação de confinamento.
O artigo que saiu da Imperial College (Walker, Whithaker, Watson et al, 2020), a 26 de
Março, apontando para cenários catastróficos no mundo e em países subdesenvolvidos devido
a COVID-19, parece que foi, em parte, o responsável pelo reforço do medo em relação as
consequências desta doença em África dada a repercussão que teve na imprensa africana, e,
por volta dessas datas terem se arraigadas as convicções de isolacionismos nos governantes e
no povo africanos, embora se tenha vindo a saber que esse trabalho de pretensões científicas
não tinha passado por revisão de pares (Macamo, 2020).
Mesmo em meio ao pânico, alguns cientistas sociais africanos como o sociólogo Elísio
Macamo (2020), posicionaram-se contra o confinamento em África que incluia o encerramento
68
Note-se que o documento não inclui as universidades
247
das escolas. O argumento de Macamo foi de que África não tem condições para ficar confinada
pois a maioria das pessoas neste continente é pobre e busca o seu sustento no dia-a-dia no
mercado informal. O mesmo cientista sinalizava ainda para o perigo de Moçambique, em
particular, destruir o seu fraco tecido económico ou, o que era pior, enfraquecer a estrutura
familiar que é para onde recorre a maioria dos moçambicanos quando está doente e não o
hospital que o governo declarava pretender proteger como faziam os europeus (Macamo,
2020).
Com efeito, o encerramento das escolas não é um assunto pacífico pois, por exemplo, a
comparação dos casos testados positivos de coronavírus, em crianças em idade escolar, entre a
Suécia e a Finlândia, em que o primeiro não encerrou as escolas e o segundo o fez, demonstrou
que não existe diferença significativa no número de casos positivos diagnosticados nos dois
países (Carlson, 2020).
Para Armitage e Nellums (2020) o encerramento das escolas pela COVID-19 está longe
de ser convincente. Eles levantam várias razões de entre as quais, como que o fecho das escolas
impedem as aprendizagens e agravam as desigualdades. Para os autores, o acesso a educação
através das tecnologias é bastante desigual e os programas subsidiados de alimentação,
vacinações são essenciais para cuidados infantis, especialmente para as comunidades
marginalizadas.
Logo nos primeiros meses da pandemia, os estudos indicavam que as crianças tinham
níveis menores de contaminação por SARS-Cov-2, mas hoje as pesquisas sustentam que elas
podem ser contaminadas na mesma proporção que os adultos e que os menores quando
248
Sugere-se que a planificação seja feita de forma coordenada com outros sectores,
parceiros humanitários e de desenvolvimento. Segundo a UNESCO (2020) as medidas tomadas
pelo governo poderiam estar alinhadas com as prioridades nacionais, ao nível central e local,
de modo a garantir-se a sustentabilidade (UNESCO, 2020). A planificação em tempos de
emergência deve ser participativa em que todos os actores escolares e os interessados pela
educação estão envolvidos. Deve se igualmente fazer uma avaliação constante da situação e
devidos ajustes.
Basicamente a circular têm quatro medidas. A primeira foi para os pais, a segunda para
as direcções das escolas e das instituições de formação de professores, a terceira para as Salas
de Estudo e a última destinada a todos os actores escolares e instituições de formação de
professores. As duas últimas são de ordem suplementar e por isso não nos debruçaremos delas.
A medida para pais e/ou encarregados da educação tinha três alíneas que passaremos a
apresentar pela ordem em que foram expostas:
251
a) A alínea a), orientava aos pais e/ou encarregados da educação, nas palavras do
documento, a “assegurar que os seus filhos e/ou educandos permaneçam encasa e
apliquem as medidas de prevenção anunciadas oficialmente”.
Uma vez que os filhos e/ou educandos estariam em casa, os pais deveriam manter a
supervisão para que os filhos ou educandos não saíssem de casa e cumprissem assim as medidas
de confinamento social.
Neste ponto é preciso realçar-se que em Moçambique temos uma taxa de analfabetismo
de 39%, dos quais 49,4% são mulheres. Desse número de mulheres analfabetas, 62,4%, vive
nas zonas rurais. Acresce-se a isso o facto de que em Moçambique existe um número
considerável de famílias que são chefiadas por mulheres. Então, se os alunos têm que ser
apoiados pelos pais existe o perigo de exclusão dos filhos de pais analfabetos sobretudo os
monoparentais e/ou chefiados por mulheres.
252
Geralmente sugere-se, que as estratégias a serem elaboradas pelos governos que deem
primazia aos conhecimentos sobre a doença, a sua prevenção e o apoio psicológico ou
psicossocial aos estudantes (UNESCO, 2020; ZHANG et al, 2020).
O segundo ponto do documento do MINEDH, era dirigido aos directores das escolas e
dos institutos de formação dos professores. Este ponto, por sinal o mais importante na
estratégia, tinha quatro alíneas que orientavam para a “garantia” do que se segue:
et al, 2020). Ou seja, diria o governo chinês, o ensino seria para o crescimento dos alunos
(Idem).
Deve se notar que as fichas e o material de apoio seriam elaborados em grupos, o que
permitirá colaboração entre os professores, troca de ideias para a concretização desse material
que é novo no ensino, para alunos que estariam distantes dos seus professores.
Não há menção a forma como serão elaboradas as fichas e o material de apoio, se como
material normal ou como material instrucional de ensino a distância. A estratégia orienta para
que haja cuidado com os alunos com necessidades educativas especiais (NEE), o que é
consistente com a lei do Sistema Nacional da Educação (lei 18/2018). Mencionam-se esses
alunos (com NEE), mas a circular não se refere as crianças vulneráveis, sobre como estas
seriam tratadas ou, por outra ainda, como seria contornada a situação deste grupo?
O uso de fichas e material de apoio apontam para uma estratégia que não envolve
nenhuma tecnologia o que é muito importante pois em Moçambique, segundo a UNICEF
(2020), só 2% das crianças têm acesso a internet. Temos ainda que, segundo o recenseamento
geral da população de 2017, só 4,4% da população têm acesso ao computador e 22,2% a energia
elétrica (Instituto Nacional de Estatística, 2019).
Nesta alínea vemos como as escolas fariam chegar os materiais de aprendizagem aos
alunos. A estratégia não refere como estará acautelado o facto de que o papel pode ser veículo
de transmissão do SAS-Cov-2 e manteve-se em silencia ainda em relação ao distanciamento
físico.
O Conselho da Escola é indicado como o órgão que pode apoiar na entrega dos materiais
aos alunos. Mas sabe-se que este órgão superior da escola tem deficiências no seu
funcionamento.
254
Os pais e/ou encarregados da educação seriam chave para o levantamento dos materiais
de aprendizagem nas escolas. Isto foi um dilema porque as escolas não tinham como reunir-se
com os pais pois já vigoravam as medidas do governo que incluíam o distanciamento físico e
a proibição de reunir mais de 20 pessoas. Por outro lado, alguns pais e/ou encarregados da
educação são do grupo de risco.
A rádio comunitária é o meio mais popular conseguido pelo MINEDH para veicular o
ensino durante esta pandemia. Consta que em Moçambique existem 140 rádios comunitárias,
embora não cubram totalmente o país. A rádio é o meio de informação de 75% da população
moçambicana segundo as Nações Unidas (ONU News).
Por fim, o documento remete para os meios locais o que é bastante positivo pois aqui
há a abertura para que as escolas e as comunidades, de acordo com a sua realidade, possam
encontrar formas eficazes de encaminhar os materiais de aprendizagem aos estudantes.
A seguir falamos muito brevemente do que foi feito.
3. Discussão e conclusão
Nosso problema baseava-se no facto de que a estratégia do ministério poderia não ser
inclusiva apesar de termos uma Constituição democrática, uma política da educação e sermos
signatários de compromissos internacionais que protegem uma educação de qualidade para
todos. Analisamos, com base na pesquisa documental e da revisão bibliográfica, numa
perspectiva da pedagogia do oprimido e tendo em conta as experiências internacionais e as
“dicas” da UNESCO (2020) sobre as estratégias de ensino a distância com o fechamento das
escolas, a circular nº3 do MINEDH, o que nos permitiu ter uma ideia do que eram as
orientações políticas para o ensino durante a pandemia da COVID-19 em Moçambique.
Dessa análise, um dos resultados que poderíamos apontar para este estudo seria que as
medidas para a continuação das aulas durante a pandemia da COVID-19 poderão ter o potencial
de manter ou aprofundar as desigualdades sociais ao ter pautado por um discurso, de certo
modo, desligado da situação real que devia acudir. Como diria Paulo Freire (2014), a linguagem
de pretensa neutralidade concorre para a reprodução da situação de opressão, ao não tomar
claramente a posição a favor dos desfavorecidos.
Outro achado é que a estratégia não foi realista aliás, como aconteceu com toda a
actuação do governo no enfrentamento da COVID-19 (Macamo, 2020). Na altura em que ela
saiu, Moçambique só tinha um caso e os dados disponíveis apontavam que as crianças eram
menos infectadas pelo SAS-COv-2, embora as pesquisas hoje afirmem o contrário
nomeadamente que os menores se infectam com a mesma probabilidade que os adultos
(Panovska-Griffiths et al, 2020). Outrossim, as crianças são geralmente assintomáticas, mas
ainda não está claro se sendo assintomáticas transmitem a doença da mesma maneira
(Panovska-Griffiths et al, 2020).
Quanto as limitações, este estudo, embora tenha estabelecido a sua fronteira como
reflexão geral teórica, é sensível as suas dificuldades empíricas para sustentar algumas
afirmações.
A lição que podemos tirar das medidas do MINEDH, é que as situações difíceis e
complexas apelam a respostas ousadas tanto do ponto de vista intelectual como político e
devem ser pensadas e resolvidas em colectivo.
humanitárias, deve pensar numa planificação que tenha em conta uma educação em tempos de
crises.
Referências
Adhikari, S. P., Meng, S., Wu, Y., Mao, Y., Ye, R., Wang, O. (2020). Epidemiology, causes,
clinical manifestation and diagnosis, prevention and control of coronavirus disease (COVID-
19) during the early outbreak period: a scoping review. Infect Dis Poverty 9, 29 (2020).
https://doi.org/10.1186/s40249-020-00646-x (acessado a 10 de Agosto de 2020)
Armitage, R. e Nellums, L. (2020). Considering inequalities in the school closure response to
COVID-19. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-
109X(20)30116-9/fulltext (acessado a 17/08/2020)
Calson, J. Covid-19 in schoolchildren A comparison between Finland and Sweden. Disponível
em: https://www.folkhalsomyndigheten.se/pubicerat-material/publikationsarkiv/c/covid-19-
inschoolchildren/ (acessado a 17/08/ 2020)
Boletim oficial. Lei 18/2018. Maputo. 2018
Freire, P. (2014). Pedagogia do Oprimido. 57ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Ferreira, A. (2010). Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa/ Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira; coordenação da edição Marina Baird Ferreira. 8ª ed. Curitiba: Positivo
Instituto Nacional de Estatística (2019). IV Recenseamento geral da População e Habitação
2017. Maputo: Instituto Nacional de Estatística
Macamo, E. (2020). O que queria dizer. Basileia. 30 de Abril de 2020. Facebook. Elísio
Macamo. Disponível em:
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=3415476761813469&id=100000535355788
Ministário da Educação. (2016). Plano Estratégico da Educação 2012-2016. Maputo: MINED
MINEDH (2020a). Circular nº03/GM/MINED/2020. Medidas de Prevenção contra COVID-
19 para as Instituições públicas e privadas de ensino geral, formação de professores, centros
internatos e lares e salas de estudo. Maputo
_________________(2020b). Aulas através da rádio e televisão:
http://www.mined.gov.mz/Pages/Comentarios.aspx?listName=NoticiasMined&newsId=366
ONU News. (2020). Continuidade da aprendizagem em meio à crise do COVID-19 em
Moçambique. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2020/05/1713862
Ӧzer, M. (2020). Educational Policy Actions by the Ministry of National Education in the times
of COVID-19 .
https://www.meb.gov.tr/meb_iys_dosyalar/2020_05/01152722_MEBMakale.pdf
259
Panovska-Griffiths, J., Kerr, C. C., Stuart, R. M., Mistry, D., Klein, D. J., Viner, R. M. &
Bonell, C. (2020). Determining the optimal strategy for reopening schools, the impact of test
and trace interventions, and the risk of occurrence of a second COVID-19 epidemic wave in
the UK: a modelling study. Disponível em: https://services.aap.org/en/pages/2019-novel-
coronavirus-covid-19-infections/clinical-guidance/covid-19-planning-considerations-return-
to-in-person-education-in-schools/ (Acessado a 17/08/2020)
Tomazinho, O. (2020). Ensino remoto Emergencial: A oportunidade da escola Criar,
Experimentar, Inovar e se Reinventar. https://medium.com/@paulotomazinho/ensino-remoto-
emergencial-a-oportunidade-da-escola-criar-experimentar-inovar-e-se-reinventar-
6667ba55dacc
Resumo
Abstract
The Teaching and Learning Process (PEA), two sides that contribute to the student's
(in) academic success. Teaching and Learning become challenges in a time of confinement as
they are a process of change and adaptation to a new reality of teaching and learning through
online and distance between teacher and student. The Teaching and Learning Process, being a
support relationship between the accumulated experience of the teacher and the accumulated
experience of the student, happening at a distance, lacks a dynamic support of contents that
generate a meaningful and responsible learning for the student. The research aims to bring up,
in the long term, experiences of teaching and learning at a distance and online as challenges to
overcome so that the quality of teaching is improved and offered in viable conditions for all
69
Doutora em Ciências da Educação, na Especialidade de Psicologia da Educação, pela Universidade do Minho
(Portugal). Mail: benditadonaciano@yahoo.com.br
70
Mestrando em Psicologia Educacional pela Universidade Rovuma, Extensão de Montepuez (Moçambique)
261
students. The study, in this initial phase, deals with bibliographic-exploratory research because
it describes the role relationship between teacher and student in the theories of Vygotsky and
Ausubel, regarding teaching and learning. The choice of these theorists is fundamental because
it gives us bases on how the teacher and the student must relate to develop effective teaching
and learning even though they are online and at a distance.
Introdução
Uma das funções principais do docente num processo de ensino e sobretudo ensino
centrado no estudante é criar condições para que o estudante consiga encontrar-se e adaptar-se
a novas formas de ser e estar na Universidade, e daí garantir um sucesso académico
predeterminado desde que iniciou o ano lectivo de 2020. Mas, estando em tempo de Pandemia
com distanciamento e outras formas para evitar a infecção do coronavírus a relação destes
intervenientes está sendo feita à distância. Sabemos que Ensino à Distância (EaD) é
estruturado, atento às características individuais e peculiares de quem aprendem e exige uma
variedade de canais de comunicação entre os dois intervenientes (docente e estudante) do PEA.
Para reflectir sobre esse desafio, faremos a apresentação deste artigo a partir do
desenvolvimento histórico sobre o PEA numa relação de interdependência entre professor e
aluno e, no caso de Ensino Superior, na relação entre docente e discente (estudante). Embora
não seja científico considerar que o COVID-19 trouxe uma nova ordem mundial, os factos
evidenciam que duma ou doutra maneira ela trouxe sim uma nova ordem global no concernente
ao “estancamento” de poluição através do trabalho das fábricas, aviões, navios, carros, entre
outros meios que enfermam a vida humana e animal.
262
A questão que não se cala é o que tem a ver isto tudo com o tema em estudo? A reflexão a cima
tem a ver com o tema em estudo porque o PEA implica relações não só entre culturas que se
manifestam no docente e nos estudantes em sala de aula mas sobretudo condições favoráveis
para que esta relação aconteça. Nem todos os estudantes conseguem aprender via online e/ou
à distância como se está a exigir. Terão todos os estudantes, computador, smartphone? Ou se
tem, há com dições para conexão à internet? A resposta é não.
Ora, uma das competências que se exigem no ensino superior, por exemplo, é aprender
a aprender construindo conhecimentos e criando espaço apropriado para desenvolver
habilidades sociais, atitudes, convicções e valores concernentes ao saber ser e estar na
aprendizagem do ensino superior.
preparação remota foi-se fazendo ao longo do processo, para os que tiveram logo de imediato
materiais/canais de comunicação para o ensino e a aprendizagem.
Embora os mesmos autores (idem, 2019) citando Soares et al. (2014:49) defendam que
Esta realidade não está a aconteceu pois nem todos os docentes, e/ou estudantes têm
conhecimentos e capacidades para lidar com ensino online e à distância. Olhando ainda para
as abordagens dos autores a cima estamos em crer que, de facto, um dos desafios que tem
merecido especial preocupação pelos agentes e intervenientes de instituições de ensino superior
tem a ver com as vivências de adaptação, resolução de expectativas e qualidade de
aprendizagem dos estudantes, sem descurar dos seus comportamentos de estudo e
aprendizagem do dia-a-dia (Donaciano, 2011; Lopes, 2017).
Enquadramento teórico
1.1.Porquê Vygotsky?
conhecimento, partindo daquilo que eles já sabem, levando-os a interagir com os colegas em
processos de aprendizagem cooperativa na sala de aulas (Marques, 2007: 3).
que o circunda, no caso a sala de aula. Nesta perspectiva, segundo Neves e Damiani (2006)
citando Freitas (2000), defendem que:
1.2.Porquê Ausubel?
Ausubel faleceu no dia 09 de Julho de 2008, com noventa anos de idade. As obras
importante que deixou foram: Psicologia de Aprendizagem Significativa Verbal (1963) e
Psicologia da Educação: Uma perspectiva Cognitiva (1968). Na teoria de Ausubel, a
aprendizagem é significativa quando um novo conteúdo é agregado às estruturas do
conhecimento do estudante, oferecendo-lhe um significado, baseado no seu conhecimento
anterior ou melhor o conhecimento prévio, fazendo com que o estudante se torne um sujeito
activo e participante do seu processo de aprendizagem.
“despeja” uma grande quantidade de informações, geralmente tendo como base única o
programa temático, que servirão a curto prazo e descartadas após o teste, não chegando a
modificar nada no quotidiano do estudante.
Como diz Moreira (2010) o ser humano aprende de maneira significativa se tiver
conhecimentos prévios adequados para isso e se quiser aprender. A aprendizagem
significativa só acontece quando o ensino é centrado no aluno, no qual o aluno é activo, aprende
a interpretar, a negociar significados com o professor e os colegas, aprende a criticar e receber
crítica.
Metodologia
2. Notas finais
Embora não tivéssemos tido tempo para a recolha de experiências de aprendizagem online e à
distância de estudantes num estudo hipotético, trazemos depoimentos de alguns deles sobre
suas dificuldades em manter o ritmo em tempo de pandemia:
Estudante 1 – A aprendizagem autónoma não tem sido muito eficaz. Não é fácil estudar
de casa tendo que se dividir entre afazeres domésticos e o celular, o acesso a internet,
e porque alguns conteúdos não são viáveis de ser explicados de forma virtual os
estudantes e os docentes não estão preparados para esta nova realidade.
Estudante 2 – A aprendizagem individual, pelo menos para mim não está fácil… Há
muita sobrecarga, vários trabalhos praticamente em simultâneo, sem contar com a
qualidade da rede da internet que não ajuda. Esforçamo-nos para estudar mas estando
em casa não é fácil. Alguns dos n ossos não compreendem que não estamos de férias.
Existem vários distrações em casa enquanto tentamos nos concentrar.
Estudante 3 – Para mim, em particular, não tem sido fácil estudar em casa e a internet
só complica tudo. Na verdade tem sido um desafio muito complicado. Além do m ais
temos tido várias tarefas ao mesmo tempo.
monetários para sustentar a internet, 99,9% dos colegas da turma e das outras turmas
e instituições académicas, não com seguem ter acesso a internet grátis, daí que é do n
osso bolso que se deve sustentar a internet. Por mim, as aulas online criam um desgaste
físico e emocional que deve estar ligado a questão da sobrecarga.
“As respostas que os Estados estão a dar à crise variam de Estado para
Estado, mas nenhum pode disfarçar a sua incapacidade, a sua falta de
previsibilidade em relação a emergências que têm vindo a ser anunciadas
como de ocorrência próxima e muito provável. Estou certo de que nos
próximos tempos esta pandemia nos dará mais lições e de que o fará
sempre de forma cruel. Se seremos capazes de aprender é por agora uma
questão em aberto” (p. 28)
Penso deixar em aberto também a questão sobre o que aprendemos com a pandemia no
concernente ao PEA online e à distância e quais serão os comportamentos aceitáveis no “novo
normal” das in situações do ensino superior em Moçambique.
270
Referências Bibliográficas
NEVES, Rita de Araújo & DAMIANI, Magna Floriana (2006). Vygotsky e as Teorias de
Aprendizagem. Disponível em http://repositorio.furg.br/handle/1/3453.
VIEIRA-SANTOS, Joene; DEL PRETTE, Almir; DEL PRETTE, Zilda A. P. & ALMEIDA.
Leandro S. (2019). Relação Professor-estudante na educação superior Suporte social e
habilidades sociais. In Revista de estúdios e investigación en psicologia y educación, ISSN-e
2386-7418, Vol. 6, nº.1.