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Jaqueline Quincozes da Silva Kegler;

Caio Pigatto Motta;


Julia Cecchin Grillo Lesonier;
Gustavo Modena;
(orgs.)

ENSINAR
PESQUISAR

& TRANSFOrMAR
educação tutorial em comunicação
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Departamento de Ciências da Comunicação

Reitor Paulo Afonso Burmann

Vice-reitor Luciano Schuch

Diretor do CCSH Mauri Leodir Löbner

Chefe do Departamento de
Rodrigo Stéfani Correa
Ciências da Comunicação

FACOS-UFSM

Diretora Editorial Ada Cristina Machado da Silveira


Editora Executiva Mauri Leodir Löbner

Comissão Editorial Ada Cristina Machado da Silveira (UFSM)


Eduardo Andrés Vizer (UBA)
Eugênia Maria Mariano da Rocha Barichello (UFSM)
Flavi Ferreira Lisbôa Filho (UFSM)
Maria Ivete Trevisan Fossá (UFSM)
Marina Poggi (UNQ)

Conselho Técnico Administrativo Aline Roes Dalmolin (UFSM) Leandro Stevens (UFSM) Liliane Dutra
Brignol (UFSM) Sandra Depexe (UFSM)

Organizadoras e organizadores
Jaqueline Quincozes da Silva Kegler
Caio Pigatto Motta
Julia Cecchin Grillo Lesonier
Gustavo Modena

Pesquisar, ensinar e transformar: educação tutorial em

comunicação

Programa de Educação Tutorial da Comunicação Social

Universidade Federal de Santa Maria - RS - Brasil

Dedicamos este livro às cidadãs e aos cidadãos que valorizam e

defendem a educação pública.


FACOS - UFSM

2020
Título: Pesquisar, ensinar e transformar:

educação tutorial em comunicação

Este livro foi desenvolvido por bolsistas e não bolsistas integrantes do

Programa de Educação Tutorial da Comunicação Social - UFSM,

vinculado ao Ministério da Educação - Secretaria de Educação

Superior.

Capa: Gustavo Modena

Projeto gráfico e diagramação: Gustavo Modena

Revisão: Gustavo Nuh e Samara Wobeto

Revisão externa: Bruno Kegler

ISBN: 978-65-5773-016-4 (livro digital)


ISBN: 978-65-5773-017-1 (papel)

P474 Pesquisar, ensinar e transformar : educação tutorial em


comunicação / organizadoras e organizadores Jaqueline
Quincozes da Silva Kegler ... [et al.]. – Santa Maria, RS : FACOS-UFSM,
2020.
131 p. : Il. ; 21 cm

“Programa de Educação Tutorial da Comunicação Social -


Universidade Federal de Santa Maria - RS - Brasil”

1. Comunicação social – Ensino 2. Comunicação social – Pesquisa e


extensão I. Kegler, Jaqueline Quincozes da Silva

CDU 316.77

Ficha catalográfica elaborada por Alenir Goularte CRB-10/990 Biblioteca


Central - UFSM

CONTEÚDO
COMUNICAÇÃO E ACESSIBILIDADE: PROMOÇÃO E INTERSEC ÇÃO DA

PESQUISA, DO ENSINO E DA EXTENSÃO 15

EDUCONEXÃO: POR UMA EDUCAÇÃO E UMA COMUNICAÇÃO

TRANSFORMADORAS 31

PROJETO DE COMUNICAÇÃO PARA O CIRCULAÇÃO: CAMPA NHA E

MOBILIZAÇÃO PARA A DOAÇÃO DE SANGUE 49

PET AJUDA: PESQUISAR PARA APRENDER E ENSINAR 58

INTEGRA: PETCOM E UFSM EM BUSCA DA REDUÇÃO DA EVASÃO 69

DIZ AÍ PET: EXTENSÃO E PLANEJAMENTO DE COMUNICAÇÃO PARA AS

REDES SOCIAIS 80

PETCOM TV: AUDIOVISUAL EXTENSIONISTA NAS REDES SO CIAIS 88

ECOLÂNDIA: OUÇA O MUNDO ONDE A GENTE VIVE 98

EU VOU ALÉM: CAMPANHA COMO ESTRATÉGIA PARA SELE ÇÃO,

INTEGRAÇÃO E PERTENCIMENTO AO PET DA COMUNI CAÇÃO SOCIAL

114

Apresentação

A atuação acadêmica para formação de pessoas e

profissionais ocorre em verbo pre sente. Entre pesquisar, en

sinar e transformar se estabelece o movimento do Programa de

Educação Tutorial dos Cursos de Comunicação Social da

Universidade Federal de Santa Maria, nosso PETCOM/UFSM.


Trata-se de um agir sem fronteiras, em que o conhecimento é

construído de forma compartilhada entre discentes e docentes

dos Cursos de Comunicação Social Jornalismo, Relações Pú

blicas e Publicidade e Propaganda e com a comunidade. Entre os

eixos de extensão, pesquisa e ensino, são pla nejadas, executadas

e avaliadas as ações anuais. Neste livro, relatamos algumas das

iniciativas, com uma proposta de lin guagem que prima menos

pela especificidade da ciência ou da área técnica e mais pela

busca do diálogo interdisciplinar e da transformação social.

Os capítulos contam com minha orientação e colabo

ração, como co-autora e docente - tutora do grupo, mas são,

primordialmente, de escolha, iniciativa e organização dos

petianos e das petianas, bolsistas e não bolsistas, alguns(a) já

egressos(as). Nossa atuação, atende a proposta de estímulo à

autonomia no processo de ensino e aprendizagem a partir da

pluralidade de experiências, da reflexão crítica, com percep ção e

respeito às dinâmicas individuais e com o compromisso coletivo

e social.

Nessa perspectiva colaborativa e de integração com o

meio em que atuamos, Diovana Vieira dos Santos e Samara

Leticia Wobeto com Comunicação e Acessibilidade: promo ção

e intersecção da Pesquisa, do Ensino e da Extensão, ex plicam

que a tríade universitária - ensino, pesquisa e extensão,

essencial às instituições de ensino superior públicas, tende a


impulsionar a transformação social quando tematiza e aciona

em práticas institucionais e sociais, temas de relevante inte resse

público, como a acessibilidade.

Assim como a intersecção necessária com a aces

sibilidade, a comunicação é transversal à educação, espe

cialmente em um cenário midiatizado em que as mídias e

tecnologias condicionam nossa forma de vida, como define

Muniz Sodré (2002).

Em EduConexão: por uma educação e uma comuni

cação transformadoras, Anna Christina Montanet Pimenta e

Franciéli Barcellos de Moraes apresentam a extensão como um

dos pilares fundantes da universidade pública, ao apontar que a

relação entre os conhecimentos universitários e a educa ção

escolar contribui para a diversificar conteúdos, extrapolar o

currículo formal e gerar mudanças sociais de caráter eman

cipatório, em um exercício de formação cidadã.

A extensão em comunicação pode incidir em variadas

áreas do conhecimento, como a saúde pública. No capítulo três

Projeto Circulação: comunicação para envolver a comunida de

na doação de sangue. Stephanie Kern Bonilla e Yasmin da Cruz

de Matos apresentam a colaboração da nossa área para a o

projeto coordenado pelo grupo PET da Enfermagem, com apoio

de vários grupos da UFSM e que objetiva conscientizar e


envolver tanto a comunidade acadêmica quanto a socieda

de na temática da doação de sangue e plaquetas. O PETCOM é

responsável por desenvolver e executar o Planejamento de

Comunicação, desde a criação de campanhas, gerenciamento de

mídias sociais, gestão de eventos para o projeto Circulação.

O PETCom se integra e colabora com ações que pro

movem a universidade pública e as suas ações. Nesse senti-

do, no capítulo quatro PET Ajuda: pesquisar para aprender e

ensinar, Keithy Oliveira e Leonardo Stangherlin apresentam o

projeto de ensino dirigido a outros grupos do Programa de

Educação Tutorial, com finalidade de capacitar seus integran

tes, pertencentes a diferentes áreas do conhecimento, sobre

noções básicas de comunicação e relacionamento com a co

munidade através das mídias.

Com a mesma perspectiva de atuação colaborativa,

Bárbara Pazzatto Brandão, Julia Cecchin Grillo Lesonier e Pedro

Amaral relatam a atuação do grupo em projeto ins titucional, no

capítulo Integra: PETCom e UFSM em busca da redução da

evasão. O PETCOM elaborou a identidade visual do Projeto

Institucional Integra, desenvolvido pela Pró-Reitoria de

Graduação da UFSM, com o apoio do Centro de Processamento

de Dados, Pró-Reitoria de Planejamento e Grupos PET da

UFSM.
No capítulo seis, é apresentado por Caio Pigatto Motta, Eduardo

Moura, Letícia Ribeiro de Oliveira e o pro jeto Diz Aí PET:

extensão e planejamento de comunicação para as redes sociais,

que, entre ações de ensino e exten são, proporciona a prática do

gerenciamento das redes so ciais (Facebook e Instagram) do

programa; a execução e a

avaliação de plano de comunicação, pensando nos públicos,

diagnósticos, slogans, entre outras categorias que competem ao

tema. Dessa forma, ocorre a produção de conteúdo e sua

disponibilização pública, na forma de divulgação científica e

também comunicação institucional.

No capítulo sete, PETCom TV: ensino e extensão em

audiovisual nas redes sociais, Caio Pigatto Motta e Viktória

Bulsing Powarchuk relatam o projeto inicialmente embasado

nos preceitos de TV Universitária, que objetiva a produção de

conteúdos nos moldes do videojornalismo e divulgação de

audiovisuais sobre o ensino, a pesquisa e a extensão da UFSM e

do PET para a sociedade. É uma espaço de experi mentação de

teorias aprendidas em sala de aula e comple

mentação da formação curricular.

O projeto de extensão Ecolândia: ouça o mundo onde a

gente vive é relatado no capítulo oito por Paola Jung, Lucas

Reinehr e pela Professora Juliana Petermann, tutora do PET


Comunicação Social entre 2021 e 2018. Este projeto cumpre

importante papel no desenvolvimento da extensão universi

tária, pois envolve a comunidade e constrói informação de

forma participativa, com transmissão semanal na Rádio Ca raí,

veículo de comunicação comunitária localizado na zona sul de

Santa Maria (RS).

Por fim, no capítulo nove, EU VOU ALÉM: campanha

como estratégia para seleção, integração e pertencimento ao

PET da Comunicação Social, Gustavo Modena e Pedro Ama ral

retratam a concepção estratégica adotada para aproxima ção,

integração e estabelecimento de vínculo entre os(as) inte grantes

do grupo. Como propõe o lema, uma vez petiano(a) sempre

petiano (a), essa iniciativa visa o vínculo com o merca do de

trabalho através do retorno intelectual, emocional que

nossos(as) egressos(as) podem proporcionar à universidade

pública e ao Programa, ao participarem, agora como profissio

nais, da programação anual, estimulando os acadêmicos com

seu exemplo e suas histórias de vida.

Boa leitura!

Profª Jaqueline Quincozes da Silva Kegler

Tutora do Programa de Educação Tutorial - Comunicação Social

Universidade Federal de Santa Maria


CAPÍTULO 01

COMUNICAÇÃO E ACESSIBILIDADE:

PROMOÇÃO E INTERSECÇÃO

DA PESQUISA, DO ENSINO E DA EXTENSÃO

Diovana Vieira dos Santos

Samara Leticia Wobeto

Jaqueline Quincozes da Silva Kegler

Resumo: A tríade universitária - ensino, pesquisa e extensão, es


sencial às instituições de ensino superior públicas é ferramenta
para a transformação social. É fundamental perceber a interação
entre as partes da tríade e de que modo cada uma delas cumpre
seu papel na formação do e da estudante. Dentro do Programa
de Educação Tutorial da Comunicação Social (PETCom), o tripé
é desenvolvido e pensado de forma conjunta, leva-se em conta
os interesses de pesquisa individuais e do coletivo, as lacunas e
as demandas dos cursos de graduação aos quais o PETCom se
vincula, bem como as demandas sociais da atividade e da co
munidade em que a universidade se insere. Assim possibilita a
prática extensionista, a partilha e a construção de conhecimento.

Palavras-chave: comunicação; acessibilidade; ensino; pes


quisa; extensão.
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Introdução
O Programa de Educação Tutorial da Comunicação

Social tem por objetivo promover uma formação ampla e de

qualidade acadêmica, de forma que as atividades de ensino e

pesquisa colaborem para os valores de cidadania, consciência e

contrapartida social, contribuam diretamente para o desem

penho dos cursos de graduação de Comunicação Social da

UFSM, bem como para a transformação social. As atividades de

ensino e pesquisa fazem parte da tríade, que junto à exten

são, formam a base da educação universitária pública. De acordo

com a Constituição Federal de 1988, no arti go 207, “as

universidades gozam de autonomia didático-cien tífica,

administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e

obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino,

pesquisa e extensão” (BRASIL, 1988). O ensino é o processo de

construção do saber, com apropriação do conhecimento his

toricamente produzido pela humanidade. Refere-se à prática

em que o aluno desenvolve o seu conhecimento por meio de

atividades de monitoria, por exemplo. A pesquisa é o processo

de materialização do saber a partir da produção de novos co

nhecimentos. Os projetos de pesquisa têm por missão aprimo-

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E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O
rar o conhecimento recém-adquirido do aluno ou aluna que,

orientado por um professor ou professora, desenvolverá um

projeto. Já a extensão pode ser entendida como processo edu

cativo, cultural e/ou científico de intervenção nos processos

sociais e identificação de problemas da sociedade. A extensão

consiste em construir conhecimento de forma integrada às co

munidades e suas demandas. Desta forma, são desenvolvidas

atividades subsidiadas pela instituição e órgãos de fomento, em

outros locais, como escolas e/ou bairros.

O Programa de Educação Tutorial (PET), possui res

ponsabilidades definidas no Manual de Orientações Básicas

(MOB), que tem a finalidade de guiar o funcionamento, além de

garantir a unidade nacional pelo Ministério da Educação

(MEC). Segundo o MOB, a organização dos grupos PET se dá

por meio de um ou mais cursos de graduação reunidos por si

milaridade, mediante a constituição de grupos de estudantes

dos cursos em questão, sob a orientação de um(a) professor(a)

tutor(a). A metodologia é pensada anualmente, visto que em

dezembro define-se o planejamento de trabalho a ser enviado

ao MEC para, se aprovado, executar e avaliar no ano seguinte.

O planejamento no PET da Comunicação Social é fei to

de forma colaborativa, coordenado pela docente tutora, e


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P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

participam do processo todos os petianos e petianas, bolsistas e

não bolsistas, sendo todos corresponsáveis pela execução do

que for planejado. Assim, origina-se o plano anual de ati

vidades e projetos com os respectivos responsáveis, crono

grama, descrição de como e quando elas serão realizadas e

como serão avaliadas.

Para exemplificar a intersecção proposta entre os ei xos,

utilizaremos neste capítulo o caso do tema “Comunica ção e

Acessibilidade”. Em 2019, o planejamento previu para o

segundo semestre do ano, uma atividade de ensino sobre

comunicação e acessibilidade, a qual foi antecedida de experi

ências em pesquisa e extensão, a fim de prepará-la. Como ex

tensão, o PET Comunicação Social participou da organização do

I Encontro Gaúcho de Grupos PETs (PETchê), que aconte ceu na

UFSM em março de 2019. Um dos aspectos abordados no

evento, bem como estratégias de organização adotadas, foram

as formas de garantir a acessibilidade, tanto do pon to de vista

de questões físicas, quanto comunicacionais. Por isso, realizou-

se reunião com o Núcleo de Acessibilidade da UFSM a fim de

entender sobre acessibilidades e as formas de garanti-las. Antes

do evento, ainda, integrantes das comissões organizadoras

realizaram capacitação oferecida pelo Núcleo de Acessibilidade


da UFSM.

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E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Posterior a isso, integrantes do PET Comunicação So cial

estudaram a acessibilidade dentro da comunicação. Ain da, o

grupo preocupou-se em pesquisar o tema e, aos poucos,

começar a incorporar em suas práticas. Em junho de 2019, duas

petianas fizeram o Curso Básico de Audiodescrição, pro movido

pelo Núcleo de Acessibilidade e, em outubro, uma petiana

participou do Curso Intermediário de Audiodescrição com a

pesquisadora e audiodescritora Lívia Motta, promovi do pela

organização do Festival Internacional de Cinema Es tudantil -

Cinest. Diante do exposto, entende-se que a integra ção entre

ensino, pesquisa e extensão pode promover bases mais

consistentes para transformar práticas e culturas, visto que

possibilitam uma construção reflexiva.

Acessibilidade e comunicação social

A Lei nº 13.409, de 28 de dezembro de 2016, garante a

inserção do sistema de cotas para ingresso no Universidades de

Ensino Superior (BRASIL, 2016). As cotas também contem plam

vagas para pessoas com deficiência. Por meio da obri

gatoriedade delas nas seleções para ingresso, a discussão em


torno da acessibilidade começa a permear as instâncias uni

versitárias de forma mais efetiva.

A acessibilidade é dividida em seis dimensões: arqui-

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tetônica, comunicacional, metodológica, instrumental, pro

gramática e atitudinal (SASSAKI, 2009). Dentro dos cursos de

comunicação e dos projetos da área, dentre eles o PET Comu

nicação Social, é essencial que a acessibilidade seja garantida,

uma vez que a formação dos comunicólogos e comunicólogas

permeia a garantia da acessibilidade nos diferentes meios de

atuação. Napolitano et al (2016, p. 128), define a acessibilida de

como a “possibilidade e condição de alcance, percepção,

entendimento e interação para a utilização, em igualdade de

oportunidades, por qualquer indivíduo em quaisquer circuns

tâncias, independente de suas particularidades”. Portanto, a

acessibilidade comunicacional é a garantia de que todo e

qualquer indivíduo consiga se comunicar, rece ber e produzir

informações de forma plena e autônoma, o que confere o

princípio de isonomia garantido pela Lei de Cotas (BRASIL,

2016). O Estatuto da Pessoa com Deficiência “busca assegurar e

promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e

liberdades fundamentais por pessoas com defi ciência, visando à


sua inclusão social e cidadania” (BRASIL, 2015). Sassaki (2009)

ressalta que as tecnologias assistivas, tec nologias digitais e

tecnologias de informação e comunicação devem perpassar

todas as dimensões da acessibilidade.

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E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Atividades de pesquisa em comunicação

e acessibilidade

A importância de identificar as lacunas de formação da

graduação se dá também pela possibilidade de reconhe cer quais

campos da comunicação necessitam de aperfeiçoa mento e

estudos. É possível que, a partir disso, integrantes do PETCom

desenvolvam suas pesquisas individuais. A mesma desenvolve-

se a partir de inquietações pessoais. Como exem plo, o estudo da

relação entre música e comunicação, de pro duções audiovisuais

sobre autismo, da construção de perso nagens gordas em

novelas, entre outros temas são objeto de estudos. Da mesma

forma, entendemos a pesquisa coletiva como o fruto de

necessidades de melhoria dentro do grupo.

Atualmente, o PETCom desenvolve pesquisas sobre

acessibilidade, a fim de tornarmos nossas atividades de en sino e

extensão espaços mais acessíveis. De acordo com o Re latório da

Organização das Nações Unidas (ONU, 2011), por mais que a


acessibilidade não seja contemplada em sua tota lidade, a lei

garante que o acesso a informação é para todos e todas. No

Brasil, a Constituição Federal de 1988 garante esse princípio. O

acesso à informação por meio de uma comunica ção acessível é

essencial no processo de construção da demo-

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cracia, e esse princípio é uma das garantias da comunicação

pública (DUARTE, 2007). Da mesma forma, intenta-se que a

comunicação seja acessível e que, com esse processo, a forma ção

de profissionais que saibam comunicar para todos e todas

seja contemplada (SIQUEIRA E SOUZA, 2016). A pesquisa em

acessibilidade surgiu de uma deman da na organização do

PETchê. A edição ocorreu em março de 2019 na UFSM,

organizada pelos grupos PETs da UFSM, den tre os quais o PET

Comunicação Social possuía integrantes na Comissão Geral, da

Comissão de Comunicação e Comissão de Acessibilidade. Nas

duas últimas, duas integrantes do PE TCom eram líderes. O

intuito da presença da última comis são era garantir que o

evento fosse o mais acessível possível. Para isso, foi necessário

um extenso trabalho de pesquisa que envolveu desde o saber da

acessibilidade física (presença de rampas, elevadores, banheiros

adaptados, entre outros) a par tir de Sassaki (2009); Napolitano


et al (2016); e BRASIL (2010); até a acessibilidade

comunicacional, ou seja, como tornar acessível o site, mídias

sociais e o próprio cerimonial do even to, por meio de Graciola

(2014), Schirmer (2008), Napolitano et al (2016), Tangarife

(2007), Pimenta e Pimenta (2018), Sassaki (2005) e Alves et al

(2009).

Durante o pré-evento, realizamos uma extensa pes-

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E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

quisa bibliográfica, além de formação por meio de capacitação

com o Núcleo de Acessibilidade da UFSM e capacitação inter na

para os petianos e petianas que iriam participar do evento como

staffs. A partir dessa formação inicial, pôde-se adaptar a

acessibilidade às mídias digitais, site e demais meios de co

municação do evento. No Facebook, como ilustramos através da

figura 1, contamos com a descrição de todas as imagens

postadas a fim de que pessoas cegas e com baixa visão conse

guissem compreender todas as informações pertinentes. Isso se

dá pelo fato de que essa pessoa, ao fazer o uso de leitores de tela

para acessar a internet, vai ter acesso à informação escrita mas

não às informações presentes em imagens, pois o leitor de tela

vai ler o código da imagem e não a imagem em si (BRASIL,

2009). Dessa forma, a descrição das mesmas se faz necessária.


Figura 1. Post do evento PETchê com descrição de imagem A partir disso,

percebemos que o próprio PETCom não possuía as questões de

acessibilidade inseridas em seu dia a dia. Essa percepção

possibilitou a compreensão da lacu na na nossa formação

enquanto comunicólogos e comunicólo gas. A grade curricular

dos cursos de comunicação não con-

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P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

templa disciplinas obrigatórias que ensinem acessibilidade

comunicacional. A disciplina de Libras consta como optativa

nos cursos de Relações Públicas e Produção Editorial, no en

tanto, não se tem conhecimento de que a mesma foi ofertada

nos últimos anos. Assim sendo, ampliou-se o espaço para dis

cussão da acessibilidade dentro do PETCom e dos cursos que se

insere. Inicialmente, o debate foi feito por meio de oficinas e

capacitação internas, além da tentativa de implementação

dentro das atividades de ensino e extensão. Um dos pontos

levantados a partir disso foi o insatisfatório estudo e aplicação

da acessibilidade não somente na formação e comunicação, mas

dentro da própria estrutura física dos prédios e demais

caminhos da universidade. Por ser um tema amplo e ainda


pouco discutido culturalmente, a acessibilidade torna-se um

desafio em sua implementação.

No grupo, algumas pesquisas individuais foram de

senvolvidas sobre o assunto. Uma delas é a produção de um

projeto experimental sobre autismo como Trabalho de Con

clusão de Curso (TCC). Outra pesquisa aborda a acessibilida de

na comunicação pública, em práticas e estratégias de ins

tituições públicas. E, por último, a relação da comunicação,

acessibilidade e recursos assistivos e a presença dos mesmos

nos veículos jornalísticos de mídia.

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E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Atividades de ensino desenvolvida sobre

comunicação e acessibilidade

Quanto ao que concerne às atividades de ensino, no dia 27 de

agosto de 2019 foi realizada uma atividade sobre Acessi bilidade

Comunicacional (figura 2), ministrada por duas petia nas que

estudam o assunto em suas pesquisas individuais.


Figura 2 - Atividade de Ensino sobre Acessibilidade

Comunicacional, agosto/2019.

Além da partilha do conhecimento em um contexto em que os

próprios cursos de Comunicação Social não pos suem disciplinas

curriculares obrigatórias sobre o tema, o ob jetivo principal da

atividade era levantar o questionamento e a reflexão sobre a

ausência destas práticas e a função das mes mas. Na atividade,

houve o lançamento de uma cartilha sobre acessibilidade

comunicacional, produzida por cinco estudan tes do 6º semestre

de Jornalismo em parceria com o PETCom.

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P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Atividades de extensão desenvolvidas sobre

comunicação e acessibilidade

A aplicação do tripé universitário completa-se quando a

pesquisa e o ensino convertem-se em atividade extensionis ta, e

simultaneamente, quando a extensão passa a qualificar o

percursos de pesquisa e ensino, pois indica mais claramente as

demandas sociais.. Em maio, o PETCom esteve presente na

programação da Semana da Câmara 2019 (figura 3).


Figura 3 - Atividade de Extensão: Mini Curso Acessibilidade em Eventos e
Redes Sociais, maio/2019

A Semana de Câmara é um evento anual promovido pelo

Poder Legislativo Municipal, que aborda temas variados e é

aberto à população. Nesta edição, teve como tema a acessi

bilidade e convidou o grupo PETCom para relatar a experiên cia

sobre o tema. Duas petianas ministraram o “Minicurso de

Acessibilidade em Eventos e Redes Sociais” à comunidade

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E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

presente, o que configura-se uma forma de retorno da pes quisa

à sociedade e associação com instituições locais para promoção

de temas de interesse público e ampla relevância para a

sociedade.

Considerações finais

O tripé universitário: pesquisa, ensino e extensão, pode parecer

constituído por três aspectos muito distintos, en tretanto, nas

práticas do PET, percebe-se que há, além de diá logo entre as


partes, o que oportuniza a reflexão sobre o papel do Programa

de Educação Tutorial dentro de uma Instituição de Ensino

Superior, a indissociabilidade entre elas, as quais se

retroalimentam e requalificam qualificam constantemente.

As atividades de pesquisa, sejam elas individuais ou coletivas,

embasam ou estimulam as atividades de ensino e, muitas vezes,

essa intersecção resulta em atividades de ex tensão. O papel do

PET enquanto agente transformador das rotinas e práticas nos

cursos de comunicação social e na so ciedade em geral está

justamente na produção e partilha do conhecimento, ao

dialogar e refletir sobre nossa realidade e as lacunas da mesma.

A tentativa de implementar novas práticas torna-se essencial

para o diálogo com os e as estudantes de graduação. Por meio

disso, entendemos que o ato de “plantar

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P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

uma sementinha” na formação destes e destas estudantes pos

sibilita ampliar o senso crítico dos mesmos e uma percepção

diferenciada do entorno social, político e cultural.


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E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

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Relatório. 2011.
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/acao/pessoas-com- -
deficiencia/>. Acesso em: 18 out.2019.
30
CAPÍTULO 2

EDUCONEXÃO: POR UMA EDUCAÇÃO E UMA

COMUNICAÇÃO TRANSFORMADORAS

Anna Christina Montanet Pimenta

Franciéli Barcellos de Moraes

Jaqueline Quincozes da Silva Kegler

Resumo: A extensão é um dos pilares fundantes da universida


de pública. Ao relacionar os conhecimentos universitários com a
educação escolar, é possível contribuir na diversificação de con
teúdos, extrapolar o currículo formal e auxiliar em ações de cará
ter emancipador, em um exercício constante de formação cida
dã. É nesse contexto que o PETCom da UFSM elabora o projeto
EduConexão, que alia o conhecimento das áreas da comunicação
social às demandas de ensino médio de escolas públicas de San
ta Maria/RS, a partir de oficinas que explanem e geram debates
acerca de produção comunicacional e mídia. Busca-se que as e
os estudantes envolvidos no projeto compreendam as técnicas e
teorias relacionadas à comunicação, mas, mais do que isso, se
jam agentes na construção de um saber dialógico, valorizando a
UFSM e vislumbrando o ingresso no ensino superior público.

Palavras-chave: extensão universitária; cidadania; escola;

educomunicação.

P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R
Introdução

A extensão é um dos pilares indissociáveis da univer

sidade pública, que, junto ao ensino e à pesquisa, formam o

tripé consagrado pela Constituição Federal de 1988, no artigo

2071. Reativo à expansão de conhecimentos, ao diálogo com a

sociedade e à construção coletiva de novos saberes, a extensão é

o pilar máximo do ensino superior.

Há, no campo teórico e de aplicação, uma dispersão

sobre o que seria o conceito de extensão. Então, a experiência

fundamenta-se na teoria de Paulo Freire, que em seu livro Ex

tensão e comunicação? (1975), opõe o conceito de “extensão da

cultura” ao de “comunicação sobre cultura”. Para ele, o

primeiro é “invasor”, enquanto o segundo promove a cons

cientização: “o conhecimento não se estende do que se julga

sabedor até aqueles que se julgam não saberem; o conheci mento

se constitui nas relações homem-mundo, relações de

transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica des tas

relações” (apud GADOTTI, 2017, p. 5).

1“As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão

financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino,


pesquisa e extensão”.

32
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

É nesse contexto que surge o projeto de extensão Edu

Conexão, que tem como objetivo a construção coletiva de sa

beres, entre estudantes da universidade e do ensino médio,

acerca da educação para as linguagens e tecnologias midiáti cas

do contexto contemporâneo. Estas linguagens e tecnolo gias

incidem nos processos políticos, sociais e culturais de to das as

comunidades, visto que condicionam relacionamentos, opiniões

e projetos de desenvolvimento, sejam institucionais ou de

nações.

O Projeto EduConexão

Compreendemos o EduConexão como um projeto dia

lógico entre participantes e suas realidades, que potencializa a

construção de uma universidade mais popular e que estimula a

autonomia dos jovens e o reconhecimento dos seus papéis como

co-responsáveis pela construção coletiva de conheci mento e de

uma sociedade transformadora.

O contexto da educação escolar, para o qual o projeto é

dirigido, constitui-se o ambiente em que os e as estudantes

passam por inúmeras descobertas e, muitas vezes, possuem o

primeiro contato com debates sociais. A compreensão da mí

dia e seus impactos na sociedade é fundamental para que cada


33
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

estudante possa atuar de forma consciente e cidadã, e possa

“construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer

com os outros homens relações de reciprocidade, fazer a cul tura

e a história [...]” (FREIRE, 1980, p. 39). Nesse sentido, o

EduConexão tem o objetivo de contribuir para uma “educação

que liberte, que não adapte, domestique ou subjugue” (FREI RE,

2006, p. 45)

A partir desta perspectiva, ao considerar a impor tância

da união entre Universidade e escolas, o Programa de Educação

Tutorial da Comunicação Social (PETCom) da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM), elabora o pro jeto EduConexão,

que visa debater os saberes e práticas da comunicação dentro de

escolas públicas do ensino médio, como modo de contribuir

com o próprio ensino formal e com a formação cidadã dos

estudantes envolvidos, sejam eles os da escola parceira ou dos

petianos e petianas extensionistas. Por meio do projeto, é

atendida a finalidade de “estimular o conhecimento dos

problemas do mundo presente, em particu lar os nacionais e

regionais, prestar serviços especializados à comunidade e

estabelecer com esta uma relação de reciproci dade”,

compreendida na Lei N. 9.394 das Diretrizes e Bases da


Educação Nacional.

34
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

O projeto busca, assim, atender a demanda social de construir

uma interação entre a mídia e seus sujeitos na so ciedade, ao

considerar que a educação para mídia não se faz apenas com

leitura crítica ou uso operacional dos meios, pois é preciso

“aprender a escrever com as mídias (...) objetivan do a interação

dos sujeitos com as mídias e promovendo o conhecimento

criativo e também crítico de suas linguagens” (FANTIN, apud

DELIBERADOR E COSTA, 2011, p. 94).

Utilizamos a noção de educomunicação para desen volver o

projeto, uma vez que acreditamos que a alfabetização midiática,

de forma dialógica, pode gerar novos sentidos e contribuir para

uma formação escolar mais crítica. Assim, não trata-se de

educar para a comunicação, mas pela educação. Ismar Soares,

que desde os anos 1980 estuda esta prática das áreas de

intervenção, atribui o seguinte sentido ao conceito:

[...] conjunto das ações inerentes ao planejamento e


avaliação de processos, programas e produtos de
comunicação implementados com intencionalidade
educativa, destinado a criar e fortalecer ecossistemas
comunicativos abertos, criativos, sob a perspectiva da
gestão compartilhada e democrática dos recursos da
informação (SOARES, 2008, p. 43-4).

Este conceito está menos focado em aspectos tecno

lógicos e mais intimamente identificado com a prática da ci-

35
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

dadania, da expressividade e da participação, para que as

escolas se voltem “mais para a sensibilidade humana que para

uma racionalidade abstrata e distante” (SOARES, 2000, p. 17).

Busca-se que as e os estudantes envolvidos possam extrapolar a

fronteira de meros consumidores de informa

ções e passem à condição de produtores de conhecimento e de

cultura, como uma capacidade que mobilize outras com

petências transversais.

A estratégia adotada para estabelecimento de pro cessos

dialógicos de construção de conhecimento e extensão

universitária foi desenvolver encontros presenciais, denomi

nados de oficinas, com temáticas aplicadas como: Fake News;

Representação versus Representatividade; Gerenciamento de

Mídias Digitais; Direção de Arte; Gestão de Eventos; e Desini

bição e Oratória. Como metodologia constitui-se a exposição de

elementos teóricos e empíricos sobre a temática, seguida de

debate e dinâmica de aplicação das técnicas ligadas à mí dia e à

comunicação. A escolha deste método se deve por ex plorar


potenciais críticos e criativos que estimulem habilida des para a

consumo das mídias e seus conteúdos.

As temáticas ministradas são decididas previamente,

junto à direção, às professoras e aos professores parceiros, de

36
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

acordo com os conteúdos de domínio do grupo petiano, e que

forem considerados mais relevantes para as turmas. As oficinas

podem acontecer em um dia, em uma maratona de atividades

simultâneas; em uma semana, com encontros di

ários; ou em um mês, com encontros semanais, a depender dos

horários que a escola tem a dispor e da organização dos

petianos e petianas. Em relação à infraestrutura, poderão ser

utilizadas apresentações de slides, mas a oralidade é a forma

essencial de desenvolvimento das oficinas, para que o projeto

possa acontecer independente da falta de recursos financeiros

e/ou tecnológicos da escola. Buscamos oficinas participativas,

com exposição seguida de discussões e proposição de ativi

dades que estimulem a prática dos conteúdos abordados.

Este projeto almeja desenvolver conhecimentos da

comunicação social em escolas públicas de ensino médio da

cidade de Santa Maria, de maneira que seja possível com


partilhar, de forma democrática e participativa, as temáticas

propostas para que esse conhecimento construído impacte

positivamente na vida profissional, pessoal e social de todas e

todos envolvidos. O projeto também espera semear o inte resse

pelo ingresso no ensino superior.

37
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

O Processo Educonexão

Para a execução do projeto foi necessária uma série de etapas,

que passaram pelo estudo do conceito de educo municação,

reuniões de discussão de método para aplicação, escolha de

temas a serem ofertados como oficinas para as po tenciais

escolas parceiras, até a construção de um nome para o projeto.

Mas delimitamos, neste capítulo, a descrever a intera ção com a

Instituição Estadual de Educação Olavo Bilac, esco la com a qual

construímos a primeira edição do EduConexão.

Para testarmos a metodologia decidiu-se por fazer um

“processo-piloto”, o que dependeria da existência e interesse de

uma escola parceira, que aceitasse o desafio e estabelecesse um

compromisso de construção coletiva da iniciativa. A de

finição da instituição se deu de forma aleatória, a partir de

contatos no ambiente universitário. Assim, chegamos ao I.E.E.


Olavo Bilac, que possuía uma demanda de ensino na área de

humanidades, o que seria adequado às oficinas ministradas

pelos petianos e petianas.

As demandas foram alinhadas e estabeleceu-se o con tato mais

direto com um professor representante do Institu to, responsável

pela ação conjunta. Foram diversas tratativas, pelas mídias

digitais e por encontros presenciais nas depen-

38
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

dências da escola, para organização das oficinas e integração

dos objetivos do projeto EduConexão com o projeto “Bilac

Conectado”, iniciativa já existente no Instituto, apresentada pelo

professor responsável, que objetivava demonstrar que o uso

adequado da Internet pode contribuir no processo de en

sino. Então, estabeleceu-se que seria uma manhã de oficinas que

abordassem a Internet, a mídia e a educação, alcançando todos

os anos do ensino médio e totalizando dez (10) ofici nas/turmas

simultâneas, com estudantes agrupados pelo in teresse nas

temáticas.

Após este dia, a proposta foi levada para deliberação

final ao grupo do PETCom, uma vez que seria necessária a

participação de todos os membros como ministrantes das ofi

cinas para dar conta do número de turmas presentes no dia das


atividades. A proposta foi aprovada por unanimidade, o que

demonstra o grande interesse e empenho dos estudantes

universitários em integrar-se com a comunidade. Além dos

petianos regulares, foram convidados egressos para ministrar

oficinas, o que resultou em duas participações especiais. De

finiu-se as oficinas e seus responsáveis passando para a fase de

pesquisa e ensino, na produção de conteúdo e metodologia para

cada uma das temáticas.

39
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Ao todo foram quatro reuniões nas dependências da

escola, com professores para definição de infraestrutura e com

as e os estudantes líderes de turma para divulgação da ação. Os

estudantes do ensino médio foram receptivos e se mostra

ram engajados na atividade, o que estimulou os petianos e as

petianas ainda mais na organização do acontecimento. Para

divulgar o EduConexão foram realizadas al gumas estratégias,

como a criação e lançamento da marca do projeto (figura 1),

elaborada pelo petiano Pedro Amaral de Oliveira, que levou em

consideração a identidade visu al já consolidada do PETCom,

como forma de associação e reforço do coletivo.


Figura 1: Logotipo EduConexão. Pedro Amaral (2019)

40
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Além da marca houve uma calendarização de posts nas mí dias

digitais sobre cada tema das oficinas, reuniões presen ciais com

professores e líderes de turma, inserção do projeto em outras

ações do grupo, como seleção dos novos integran tes, elaboração

de material gráfico (marca páginas, crachás para identificação

de oficineiros, placas de identificação das salas/oficina e cartas

de agradecimento personalizadas para

professores, coordenação e direção do Instituto). No dia 10 de

setembro de 2019, no turno da manhã, ocorreu a primeira

edição do EduConexão, no Instituto Es tadual de Educação

Olavo Bilac. Conforme acordado ante riormente, foram

realizadas as seguintes oficinas: Fotogra fia; Gerenciamento de

Mídias Digitais; Direção de Arte; Fake News; Gestão de

Eventos; e Desinibição e Oratória. As ofi cinas foram ministradas

para cinco turmas de 1º ano, três turmas de 2º ano e duas


turmas de 3º ano. Juntas, as turmas totalizaram mais de 200

estudantes.

No dia das atividades, inicialmente houve uma abertu ra com

exposições do professor representante do Instituto, da

professora tutora do PETCom e de duas estudantes petianas

que apresentaram respectivamente a importância da UFSM e do

EduConexão (figuras 2 e 3). Após, as e os estudantes foram

direcionados para as oficinas, como ilustra a figura 4.

41
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Figuras 2 e 3: Apresentação da UFSM e do EduConexão. Ins

tituto de Educação Olavo Bilac 10/09/2019.

Figura 4: Oficina de Direção de Arte. Educonexão, 2019.


Figura 5: PETCom e Professores(as) do Instituto Olavo Bilac,
Santa Maria/RS. 10/09/2019.

42
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Após a finalização das oficinas, o grupo PETCom foi

convidado pelos professores do Instituto para um lanche co

letivo, onde foi realizada uma autoavaliação do projeto. Em

geral, foi destacado o entusiasmo com que as e os estudantes do

Instituto Olavo Bilac recepcionaram as oficinas das quais

participaram, o que indica de forma qualitativa o êxito e o

estímulo à continuidade do projeto.

Os resultados do Educonexão

O projeto, como já mencionado, envolve duas grandes

áreas do conhecimento, educação e comunicação. A aliança

entre elas é profícua para a construção de conhecimentos, por

meio de aspectos teóricos e técnicos que auxiliam na formação


cidadã de sujeitos que saibam ler a mídia de forma mais crí

tica e reflexiva, e, ao mesmo tempo, produzir conteúdo para

suas mídias sociais de forma consciente e responsável. Educar

para a mídia é garantir que a população não apenas leia, ouça e

assista o que é ofertado por ela, mas que possa escolher e

analisar os conteúdos propostos, além de estimulá-la e capa

citá-la para que seja também produtoras num cenário em que

emissão e recepção já não são polos estagnados.

43
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Para que pudéssemos avaliar se os objetivos propos tos

com o EduConexão foram cumpridos e como as oficinas foram

lidas, enviamos cinco perguntas abertas para represen tantes do

Instituto. O questionário poderia ser respondido da forma com

a qual se sentissem mais confortáveis. As pergun tas tinham por

objetivo saber como avaliavam o projeto, os oficineiros e as

oficineiras, a integração entre escola e univer sidade e as

temáticas trabalhadas. Algumas das respostas são apresentadas

abaixo:

“Estou sem palavras para expressar meu pen

samento de tamanha interação e afinidade entre os

alunos da escola com os oficineiros do EduConexão.


[...] acho que ficou um gostinho de quero mais. O

impacto foi o esperado porque o projeto se encaixou

bem dentro do nosso Bilac Conectado “ (RESPON

DENTE 1)

“Achei ótima a ideia de trazerem estudantes

da universidade pra fazer as oficinas, gostei muito da

proposta e a maioria dos meus colegas gostaram. As

vezes é bom aprender saindo da rotina, e com as

oficinas aprendemos coisas diferentes e depois pra

ticamos. [...] Foi como uma troca de conhecimento,

44
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

assim como o pessoal das oficinas nos ensinou muita

coisa, a gente também. Como eles já passaram pela

escola eles entenderam a gente muito bem, sabiam

como era pra todos ficar nas oficinas aprendendo

coisas diferentes” (RESPONDENTE 2).

[...] os estudantes depositaram uma expecta

tiva nas oficinas e os ministrantes superaram essas,

com abordagens e linguagens diferentes das que es

tamos acostumados na sala de aula e também valo

rizaram as nossas participações, opiniões e dúvidas


[...] também estiveram dispostos em explicar o proje to

e superar as dúvidas sobre a Universidade pública

que os estudantes do Instituto levaram para as ofici

nas (RESPONDENTE 3)

Estas respostas reforçam que o projeto trata da capaci dade de

educar para aquilo que está além do currículo escolar,

contribuir na diversificação de conteúdos e atender demandas

que não conseguem ser sanadas pelo modelo de ensino tradi

cional. A Universidade qualifica a escola e a escola qualifica a

Universidade. A última resposta nos leva a considerar que sim,

o projeto cumpre seu objetivo de valorizar e divulgar as

45
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

instituições de ensino superior pública - como a UFSM, pe rante

a sociedade e criar uma aliança entre a universidade e escola,

como forma de aproximar os jovens secundaristas da aspiração

de ingressar no ensino superior.

Para além das respostas de estudantes, a repercussão

das oficinas nas mídias tradicionais da cidade e região também

reforçam o argumento de divulgação e valorização de projetos

da Universidade enquanto instituição pública, gratuita e de

qualidade, que oferece retorno à sociedade. A ação realiza


da e os resultados alcançados pelo projeto foram divulgados no

site do Diário de Santa Maria, principal jornal de alcance

regional, no site da UFSM e, ainda, pelo portal do Centro de

Ciências Sociais e Humanas (CCSH) da Universidade.

Figura 7: Repercussão EduConexão. Diário de Santa Maria.


12/09/2019.

46
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Pelo exposto, comprova-se que o projeto cumpre os

objetivos da atividade de extensão, ao partilhar, com o público

externo, os conhecimentos adquiridos a partir dos processos de

ensino e pesquisa desenvolvidos dentro da Universidade.

Portanto, possui potencial para gerar impacto e transformação

na sociedade, aliando construção de conhecimento e desenvol

vimento da cidadania entre extensionistas petianos e petianas e

estudantes do ensino secundário de Santa Maria/RS.


47
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

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derativa do Brasil. Capítulo III - da educação, da cultura e do
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BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº. 9.394, de 20 de de


zembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na
cional. Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm> . Acesso em: 2
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DELIBERADOR, Luzia e LOPES, Mariana. Mídia Educação e a


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FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da liberta ção


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FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? 2. ed. Rio de Ja


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FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. 13ª ed. Rio de Janei ro:


Paz e Terra, 2006.

GADOTTI, Moacir. Extensão Universitária: para quê?. [S.l:


s.n.], 2017.

SOARES, Ismar. Quando o educador do ano é um educomu


nicador: o papel da USP na legitimação do conceito. Comu
nicação & Educação, ano XIII, n.3, 2008.

SOARES, Ismar. Educomunicação: um campo de mediações.


Revista Comunicação & Educação. São Paulo: CCA/Moderna,
ano 7, p.12-24, set-dez, 2000.

48
CAPÍTULO 3

PROJETO DE COMUNICAÇÃO PARA O

CIRCULAÇÃO: CAMPANHA E MOBILIZAÇÃO PARA

A DOAÇÃO DE SANGUE

Stephanie Kern Bonilla

Yasmin da Cruz de Matos

Jaqueline Quincozes da Silva Kegler

Resumo: O Projeto Circulação é desenvolvido pelos grupos PET


da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com a coorde
nação geral do PET Enfermagem e, em parceria com o Hemo
centro Regional de Santa Maria (HEMOSM). O objetivo é cons
cientizar e envolver a comunidade acadêmica acerca da doação
de sangue, plaquetas, medula óssea, com isso, salientar a impor
tância da doação efetiva e a manutenção dos estoques de
sangue. Diante deste desafio, o PET Comunicação Social é
responsável por desenvolver e executar o Planejamento de
Comunicação, o que contempla desde a criação de novas
campanhas, gerencia mento de mídias sociais, gestão de eventos,
gestão de crises e assessoria de imprensa. Percebemos que
iniciativas da área de saúde pública podem contar com a área
da comunicação para o alcance dos seus objetivos,
especialmente no que tange a mobili zação da população.

Palavras-chave: doação de sangue; Circulação;


comunicação; extensão.
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Introdução

A doação de sangue é extremamente necessária ao le

varmos em conta que, apesar do avanço da ciência e da medi

cina, até hoje não há substituto para o sangue humano. Deste

modo, quando uma pessoa precisa de uma transfusão sanguí

nea, ela só pode contar com a solidariedade e a disposição de

outras pessoas doadoras. Segundo o site do Ministério da Saúde

(2019), a doação de sangue é um gesto solidário com o fim de

salvar a vida de pessoas que se submetem a tratamen tos e

intervenções médicas de grande porte e complexidade, como

transfusões, transplantes, procedimentos oncológicos e

cirurgias. Portanto, o objetivo de uma ação solidária de doa ção

é trazer um suporte para manter os estoques de sangue

abastecidos, e não apenas em datas específicas de campanhas

ou quando algum conhecido do doador necessitar. Assim, o

objetivo é ajudar na conscientização de que a doação de san gue

deve se tornar um hábito anual.

O Projeto de Comunicação para o Circulação O

Circulação é um projeto de extensão, e, por essa ca racterística,

visa beneficiar a comunidade. Essa ação pode se dar por meio

da troca de saberes, o que nos torna facilitado-


50
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

res em assuntos que são considerados tabus e de difícil com

preensão. Paulo Freire, em seu livro Extensão e comunicação?

(1975), opõe o conceito de “extensão da cultura” ao de “comu

nicação sobre cultura”, este último com vistas a promover a

conscientização. Assim, o Circulação visa conscientizar sobre a

importância da doação de sangue, medula óssea e plaquetas, e,

para além disso, fornecer o espaço para que ocorra o cadas tro

de doador ou doadora de medula óssea e de sangue. Para que

esse projeto se concretize é necessário o envolvimento do

Hemocentro Regional de Santa Maria e de onze grupos PET da

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM): PET Agro nomia,

PET Biologia, PET Ciências da Computação, PET Ci ências

Sociais Aplicadas, PET Comunicação Social, PET Enfer magem,

PET Engenharia Civil, PET Engenharia Elétrica, PET Sistemas

de Informação, PET Matemática e PET Odontologia.

Durante este processo, para se tornar um doador, exis tem

muitas restrições, e na ocasião da ação, é importante que essas

informações sejam nítidas a todas e todos interessados em

colaborar, para que não haja demora e eliminações na tria gem.

Como comunicólogos e comunicólogas, é de nossa alçada

ressaltar estas informações e dados na mídia social do projeto e


no evento da ação, para que o candidato ou a candidata a

51
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

doar já esteja informada(o) sobre as exceções e cuidados. Par

tindo do pressuposto que, segundo Margarida Kunsch (2003, p.

90), a comunicação organizacional deve constituir-se num setor

estratégico, agregando valores e facilitando, por meio das

relações públicas, os processos interativos e as mediações, ou

seja, tornar comum as experiências, reconhecendo as dife renças,

ligando- se à formação de opinião pública, é importan te

desenvolvermos aliados com outras áreas.

Além disso o Planejamento da Comunicação deve ser

desenvolvido com minúcia, pois abarca todos os processos de

gestão do evento, criação e desenvolvimento da campanha,

gestão de crise, integração com a mídia e desenvolvimento de

conteúdo. O PET Comunicação desenvolve essas funções no

pré, durante e pós evento, a fim de dar continuidade no in

formar, indicar e orientar mais voluntários a se unir à causa.

Sendo assim, a fim de exemplificar o nosso papel enquanto

PETCom na ação, usaremos como exemplo a campanha “A arte

de salvar vidas” (2018), ilustrada na figura 1.

Essa campanha surgiu com o intuito de unir o fazer

artístico com a ação de doar sangue, ao tornar o doador ou a


doadora um(a) artista pela realização da ação voluntária. A fim

de aplicar o conceito, as peças gráficas criadas foram mes-

52
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

cladas a partir de uma visão dinâmica/jovial com os aspectos da

pintura. Nas mídias sociais foram informadas as exigências para

realizar a doação de sangue; da mesma forma, constavam

informações sobre quando, onde e quais horários disponíveis

para as pessoas participarem da ação.

Figura 1. Capa do Facebook com o slogan


da Campanha de 2018.

A partir da compreensão de que o foco da campa nha

estava no conceito artístico, para interligar a ação a algo mais

interativo, aliamos, no dia da ação, intervenções artísticas, que

pudessem estimular as pessoas a estar e per manecer no local e

também participar como doadoras e ar tistas ao mesmo tempo.

Sendo assim, fez-se parceria com cantores locais, os quais foram

recebidos no hall de dois Restaurantes Universi tários do

campus sede da UFSM, para que, durante o período do almoço,


se apresentassem ao público presente. Além dis-

53
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

so, dentro dos Restaurantes Universitários, foram distribu ídos

cards com o slogan da campanha nas mesa de almoço; estes

lembravam às e aos usuários, durante o almoço, sobre a ação

que estava ocorrendo durante o dia. Além disso, foi fei ta uma

parceria com o Centro de Artes e Letras (CAL), para

participação de estudantes do Curso de Dança, para interpre

tarem junto às músicas tocadas, e do Curso de e de Artes Vi

suais, que criariam no papel, através de desenhos e pinturas, a

importância da doação.

Ademais, foi utilizado um cartaz com o desenho de

uma bolsa de sangue em branco, que era preenchida conforme

os voluntários tivessem feito a doação, por meio da assinatura

de seus nomes em caneta vermelha. No final da ação, a “bolsa

de sangue” estava cheia de assinaturas daqueles e daquelas que

se voluntariaram para salvar vidas. Além disso, existiam

banners informativos, folhetos, pesquisa sobre o processo de

doação e toda uma infraestrutura que foi organizada conjun

tamente entre os onze grupos PET, sendo cada um destes res

ponsável de acordo com as suas respectivas habilidades.


Figura 2. Cartaz assinado pelos doadores na campanha
“A Arte de Salvar Vidas”.

54
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Em conclusão, com a soma de todas essas ações, foi

possível superar a média de bolsas adquiridas em todas as

edições, atingindo o número de 86 bolsas de sangue durante um

período de seis horas. Isto enfatiza a importância de um

trabalho cada vez mais integrado e que valorize o papel da

comunicação na formação de campanha de saúde pública, di

vulgação e organização do evento. Dessa forma, percebemos

que o projeto Circulação possui diversos aspectos positivos, em

destaque o papel que cumpre junto à sociedade, que, ao receber

a média de 694 bolsas de sangue ao longo da sua exis

tência, possibilitou que quase três mil pessoas tivessem conta to

com o ato de doar sangue.

Além disso, como acadêmicos e acadêmicas, conse guimos

colocar em prática os diversos conhecimentos que aprendemos

na trajetória universitária, o que contribui para que, ao exercer


nossas futuras profissões, estejamos atentas e atentos aos

dilemas sociais, não somente enquanto comunicó logas e

comunicólogos, mas como cidadãs e cidadãos. Portan to, torna-

se imprescindível que o Programa de Educação Tu torial

continue existindo e oportunizando projetos como esse, para

que a sociedade se beneficie cada vez mais com ações que sejam

relevantes e transformadoras da sua realidade. Ações

55
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

como a do Circulação fomentam não só o ato de doar, mas

também o processo de conscientização de diversas pessoas que

ainda possuem dúvidas e preconceitos sobre a transfu são de

sangue, e que, por conta disso, não se voluntariam. Em especial,

a importância da aplicação das estratégias e téc nicas da

comunicação mostra-se ainda mais pertinente, pois, por meio

do bom uso destas ações, chegamos a um maior número de

pessoas, gerando engajamento e, assim, partici pação nas ações.


56
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Referências bibliográficas:

BLOG DA SAÚDE. Doação de sangue como incentivador de


vida. Acessado em: 20 de outubro. 2019. Disponível em:
http://www.blog.saude.gov.br/.

KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Planejamento de Rela


ções Públicas na Comunicação Integrada. Vol. 2. São Paulo:
Summus Editorial, 2003. p. 90.

MINHA VIDA. Doação de sangue: requisitos , cuidados e


onde doar. Acessado em: 01 de novembro. 2019. Disponí vel
em : https://www.minhavida.com.br/saude/tudo-sobre/ 18656-
doacao-de-sangue.

SAUDE.GOV. Doação de sangue. Acessado em: 19 de outu bro.


2019. Disponível em: http://www.saude.gov.br/saude-de-
-a-z/doacao-de-sangue.

UFSM. Projeto Circulação. COGO, Silvana (Coord.). Número


do projeto 049172. Disponível em <https://portal.ufsm.br/pro
jetos/publico/projetos/view.html?idProjeto=60461>
57
CAPÍTULO 4

PET AJUDA: PESQUISAR PARA

APRENDER E ENSINAR

Keithy Oliveira

Leonardo Stangherlin

Jaqueline Quincozes da Silva Kegler

Resumo: O PET Ajuda é um projeto de ensino voltado a outros

grupos do Programa de Educação Tutorial e que tem a finali

dade de capacitar seus integrantes, pertencentes a diferentes

áreas do conhecimento, sobre noções básicas de comunicação.

Através da elaboração e aplicação de oficinas durante o ano

letivo, conseguimos trabalhar com os três Cursos que perten

cem ao grupo PET Comunicação Social: Publicidade e Propa

ganda, Relações Públicas e Jornalismo, o que torna o projeto

interdisciplinar. Por meio de oficinas, auxiliamos os demais

grupos PETs nas áreas de Mídias Sociais, Direção de Arte, Fo

tografia, Gestão de Evento, entre outras, o que agrega as pro

duções desses grupos.

Palavras chave: ensino; oficinas; comunicação;

transdisciplinaridade.
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O
Introdução

O Projeto ‘’PET Ajuda’’ surgiu em 2017 como um

programa de ensino voltado aos outros grupos do Programa de

Educação Tutorial da Universidade Federal de Santa Ma ria,

com a finalidade de capacitar seus integrantes em noções

básicas de comunicação. O projeto nasceu após uma obser vação

dos produtos comunicacionais dos outros grupos PETs da

instituição, assim vista uma oportunidade de potenciali zá-los a

partir do compartilhamento do conhecimento técni co do

PETCom nas áreas de Relações Públicas, Jornalismo e

Publicidade e Propaganda. Através de oficinas, também ca

pacitamos os integrantes do nosso grupo PET a ocuparem a

posição de educadores, corroborando com um dos objetivos do

Programa, o ensino.

Acreditamos que, por mais que trate-se de uma ativi dade de

ensino, o projeto colabora também com os resultados de

atividades extensionistas destes grupos, já que, assim como

afirma Torquato (1986, p. 17), “a comunicação, que, enquanto

processo, transfere simbolicamente ideias entre interlocuto res, é

capaz de, pelo simples fato de existir, gerar influências”. Sendo

assim, ao facilitar uma comunicação efetiva, o projeto pode

ajudar os petianos e as petianas na extensão de seus co

nhecimentos à comunidade externa, o que exige que pesqui sem

previamente e organizem o conteúdo para o ensino.


59
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

O PET Ajuda na Prática

A realização das oficinas do projeto se dá durante o ano

letivo, preferencialmente distribuídas uma a cada mês.

Atualmente contamos com seis oficinas: Oficina de Mídias

Digitais, Oficina de Direção de Arte para Iniciantes, Ofici

na de Gestão de Eventos, Oficina de Linguagem Jornalística,

Oficina de Fotografia e Oficina de Desinibição e Oratória. A

adição de novas oficinas se dá por meio de observação das

necessidades dos outros grupos e interesses que surgem no

decorrer do ano.

Para a elaboração e aplicação das oficinas, são criadas duplas

responsáveis por cada assunto. Os integrantes da du pla são

responsáveis por pesquisar e selecionar o melhor con teúdo a ser

abordado no dia da oficina. A oficina leva em conta preparo,

pesquisa, aprendizado sobre a temática, avaliação de

experiências anteriores, entendimento das características do

público, além de decisões didáticas acerca do tempo disponí vel

para sua realização. As atividades acontecem por meio de

seminários sobre o tema, seguido de uma parte prática. Além

disso, as oficinas do PET Ajuda são uma ótima oportunidade


para que petianos e petianas compreendam e se aperfeiçoem

60
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

em temas, conteúdos e práticas das três áreas (Jornalismo, Pu

blicidade e Propaganda e Relações Públicas). As oficinas são

abertas para toda a comunidade acadêmica e divulgadas em

nossa página no Facebook e nosso perfil no Instagram. A

Oficina de Mídias Digitais tem como foco o uso e

comportamento nas mídias sociais, em especial nas platafor mas

Facebook e Instagram, visto que essas são as mais usadas entre

os grupos PETs. Realiza-se um apanhado da importân cia dessas

mídias, o que se deve ou não fazer nelas, os horários em que as

publicações geram mais engajamento, qual a me lhor linguagem

para utilizar e como usá-la para gerar engaja mento, entre outros

tópicos. Alinhado a isso, são apresentados alguns programas de

edição de fácil uso que podem ser úteis para a criação de

conteúdo, além de modelos de planejamento para uma melhor

organização. Espera-se que, com esta ativi dade, os petianos e as

petianas adquiram uma noção básica do comportamento que

deve ser adotado nas mídias sociais, bem como o uso de sites e

ferramentas que ajudem nessa prática. A Oficina de Direção de

Arte para Iniciantes tem como objetivo o ensino da criação e

montagem de peças para as mí dias sociais e demais trabalhos


gráficos que os grupos PETs possam precisar. Destaca-se a

atenção aos critérios estéticos

61
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

e comunicacionais que devem ser levados em conta na pro

dução destas peças. Com essa atividade, espera-se que os

grupos adquiram uma noção básica da criação de uma peça

gráfica, os tamanhos que cada mídia social comporta, assim

como os programas mais recomendados para ajudar na ela

boração desse tipo de conteúdo.

A Oficina de Gestão de Eventos leva em consideração o fato de

que os grupos PET realizam uma série de eventos ao longo do

ano e tem como objetivo auxiliar na organiza ção desses (no pré,

durante e pós evento). Espera-se que as e os participantes

adquiram uma noção básica de como pensar, executar e avaliar

a organização de um evento.

A Oficina de Linguagem Jornalística é voltada para o

aperfeiçoamento da redação de artes gráficas, publicações para

páginas e matérias em sites e jornais. O resultado espera do da

atividade é que o público presente adquira uma noção básica

referente à uma boa redação nas criações de conteúdo em

qualquer plataforma.

A Oficina de Fotografia apresenta alguns fundamen tos


principais da fotografia, desde questões técnicas do uso de

equipamentos (discussão de velocidade de obturador, aber tura

do diafragma, ISO, etc) até questões mais estéticas, como

62
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

abordagem das composições e dicas práticas. O objetivo da

atividade é potencializar a divulgação imagética das produ ções

dos grupos.

A Oficina de Desinibição e Oratória discute a im

portância da comunicação e dá dicas de como se expressar

melhor, ao indicar formas mais eficazes de manter uma boa

comunicação em momentos como apresentações de trabalho,

seminários, entrevistas e diálogos cotidianos. A metodologia é

composta por exposição do conteúdo e dinâmicas interativas

durante a oficina. Espera-se, com a atividade, auxiliar os pe

tianos e petianas em suas interações rotineiras.

Resultados do PET Ajuda

De uma forma sintética, no que tange ao campo da

comunicação, o exercício da exposição da imagem corpora tiva,

vivenciado pelos Grupos PET da UFSM, pode ser des crito como

um exercício de comunicação institucional, já que, segundo

Kunsch (2003, p. 164), “a comunicação institucional está


intrinsecamente ligada aos aspectos corporativos ins titucionais

que explicitam o lado público das organizações, constrói uma

personalidade [..], e tem como proposta básica a influência na

sociedade [...]”. Por essa perspectiva, pode-se

63
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

considerar que as oficinas são capazes de respaldar as ações de

comunicação vivenciadas por outros grupos PET da UFSM, já

que suas demandas precisam de visibilidade.

A título de exemplo, as oficinas foram capazes de

orientar a reformulação da marca usada pelo PET Enferma gem

da UFSM (Figura 1).

Figura 1. Logo do Programa de Educação


Tutorial - Enfermagem

Outra constatação é que as tecnologias contemporâ neas estão


sempre em mutação. Sob a mesma ótica, pode-se concluir que a

comunicação tangencia este caminho, tendo em vista que

atualmente os maiores índices de acesso à in formação se dão

através das tecnologias digitais. De acordo

64
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

com Kunsch (2003, p. 127), “todas essas novas configurações do

ambiente social global vão exigir das organizações novas

posturas, necessitando elas de um planejamento mais apu rado

da [...] comunicação para se relacionar com os públi cos, a

opinião pública e a sociedade em geral”. Entendemos que

estender o conhecimento a respeito dessas tecnologias e da

comunicação potencializa o relacionamento dos gru pos PETs

com seus públicos, tornando as oficinas eficazes perante este

objetivo.

Com o sucesso das oficinas, resolvemos estender o

projeto para fora na Universidade Federal de Santa Maria,

possibilitando que outros grupos PETs também tivessem a

oportunidade dessa troca de conhecimentos. Tendo isso em

vista, ministramos uma Oficina de Gerenciamento de Mídias

Digitais em Natal – Rio Grande do Norte, no XXIV ENAPET,


que ocorreu de 14 a 19 de julho de 2019. Por meio dela, con

seguimos trocar experiências com outros grupos PETs de di

versas Universidades Públicas do Brasil e auxiliá-los em suas

demandas sobre o assunto. A Figura 2 registra esse momento.

65
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Figura 2. Oficina de Gerenciamento de Mídias Digitais.


XXIV ENAPET, Natal/RN, 2019.

A respeito da transdisciplinaridade das oficinas,

compreendemos que desenvolver atividades integradas fa cilita

a discussão de assuntos e a troca de conhecimento en tre as

partes. A realização desse projeto de ensino foi capaz de

fomentar a popularização da noção linguística, estética, gráfica


e demais benefícios do uso da comunicação para a veiculação

da imagem que se objetiva passar. É importante ressaltar, que,

gradativamente, a relevância das atividades do campo da

comunicação toma força, já que os fluxos comu nicacionais estão

em mudança.

66
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Considerações Finais

Com a realização das oficinas e a avaliação dos resul

tados, como análise de público, percebemos que houve inte resse

por parte da comunidade acadêmica dos próprios cur sos de

comunicação e de pessoas externas aos grupos do PET

da UFSM. Entendemos, assim, que esta é uma demanda que

extrapola as expectativas de necessidades, atingindo públicos

que antes não eram esperados. Relacionado à aderência dos

outros grupos PETs nas atividades, houve interesse e parti

cipação nas oficinas, possibilitando o alcance os objetivos da

iniciativa. Registramos a expectativa futura de que o projeto

possa continuar em expansão de horizontes, possibilitando

parcerias com outros grupos e públicos acadêmicos, para que

estes possam expor suas ações de modo a contribuir com a

geração de conhecimento multidisciplinar.


67
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Referências bibliográficas

KUNSCH, M. M. Krohling. Planejamento de Relações Públi cas


na Comunicação Integrada. 5ª ed. São Paulo: Summus, 2003.

REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Comunicação em


presarial/comunicação institucional: conceitos estratégias,
sistemas, estrutura, planejamento e técnicas. São Paulo:
Summus, 1986.

68
CAPÍTULO 5

INTEGRA: PETCOM E UFSM EM BUSCA DA

REDUÇÃO DA EVASÃO

Bárbara Pazzatto Brandão


Julia Cecchin Grillo Lesonier
Pedro Amaral Oliveira
Jaqueline Quincozes da Silva Kegler

Resumo: O Projeto institucional INTEGRA é desenvolvido pela


Pró-Reitoria de Graduação da UFSM, com o apoio do Centro de
Processamento de Dados, Pró-Reitoria de Planejamento e Gru
pos PET da UFSM. O projeto tem como objetivo identificar as
causas da evasão e retenção de alunos e otimizar esforços para a
redução desses índices. O Programa de Educação Tutorial de Co
municação Social (PETCom) apoiou no processo de mobilização
dos públicos e na definição da identidade visual do projeto insti
tucional, ou seja, através de ações de ensino e pesquisa. Busca-se
o estimular os dezenove grupos do PET da instituição para que
se articulem aos Núcleos Docente Estruturante e Coordenações
dos seus cursos, identifiquem as razões da evasão e promovam
ações conjuntas que possam qualificar o ensino público e inte
grar de forma mais eficaz o discente no curso e na Universidade.

Palavras chave: comunicação; ensino superior; evasão;

identidade visual; Projeto Integra.

P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Introdução
No segundo semestre de 2018, o PET Comunicação Social da

UFSM foi convidado para participar do projeto ins titucional

através da criação de uma identidade visual e nome para a

iniciativa. O projeto2 visa reduzir os índices de evasão e de

retenção dos e das discentes dos cursos técnicos e de gra duação

da Universidade. A meta estabelecida pelo plano de gestão

institucional tem como prazo o ano de 2021.

O projeto, até então com o nome informal de “Proje to

Evasão”, já estava em andamento na Pró-Reitoria de Gra duação

(PROGRAD), mas, devido à sua complexidade de atuação,

porque reduzir a evasão requer o envolvimento de diversos

setores, incluindo unidades acadêmicas, setores ad ministrativos

e outras áreas convergentes como Tecnologias (TI), apoio

Pedagógico e Planejamento, o PET Comunicação Social integrou

o projeto.

Em síntese, a iniciativa institucional prevê o desenvol vimento

de um aplicativo a ser disponibilizado para coorde nadores de

curso com informações sobre a vivência acadêmica dos

discentes de graduação, com objetivo de reduzir a evasão e

estimular a permanência dos estudantes na UFSM. Estima

2 Informações sobre o Projeto Integra disponíveis em: https://www.ufsm.br/orgaos -


suplementares/cpd/ufsm-integra/

70
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O
-se que o projeto alcance a coleta de dados quantitativos, a se

rem disponibilizados neste aplicativo e plataforma de indica

dores para acompanhamento e avaliação pelos gestores, bem

como, como apoio no planejamento de decisões estratégicas na

área de comunicação, para relacionamento com os alunos e

alunas da instituição.

Para esse desafio interdisciplinar, a comunicação tor na-se

imprescindível tanto para o reconhecimento da proposta

através da sua identidade quanto para a mobilização de gru pos

e setores na execução de ações que identifiquem e reduzam as

causas da evasão. Definiu-se, assim, que o PETCom poderia, na

forma de ações de pesquisa e ensino, contemplar temas e

técnicas de comunicação que colaborassem com o Projeto.

As primeiras ações foram: planejar ações de comuni

cação anuais em apoio ao Projeto: criação de nome e marca,

cronograma de divulgação aos PETs da UFSM, divulgação aos

setores da UFSM, como Coordenações de Cursos e Núcleos

Docentes Estruturantes (NDEs) dos cursos de graduação da

UFSM. Ressalta-se que a comunicação é uma área estratégica de

assessoramento, ou seja, o Projeto Integra é institucional e

gerido pela PROGRAD, contando com o apoio do PETCom em

suas ações de comunicação.


71
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Metodologia para a atuação em

comunicação no Integra
A partir do entendimento da importância da mobili zação dos

grupos PET da UFSM para auxiliarem no alcance das metas

definidas no plano de gestão da UFSM relativas aos dados de

taxa de conclusão de curso, torna-se fundamen tal a construção

de um planejamento de comunicação para esse projeto.

Segundo Costa e Talarico (1996, p. 213), o plano de comunicação

é “o conjunto de estudos, análises e esta belecimentos de

objetivos que devem ser atingidos através das ações de

comunicação”. Para a construção do plano de comunicação,

seguiu-se as seguintes etapas: o entendimento da temática, o

entendimento sobre a espiral do conhecimen to, a compreensão

das ferramentas, a construção do Briefing, o estudo das marcas

da UFSM, o brainstorm, a pesquisa de opinião e a apresentação

da marca e planejamento.

A primeira etapa foi o entendimento da temática

“evasão” a partir da leitura da dissertação3 e artigos4 indica dos

por servidores envolvidos no projeto. A segunda ocorreu a

partir do entendimento sobre a espiral do conhecimento, citada

na dissertação de Flores (2017), na qual:

3 https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/13652/DIS_PPGEP_2017_FLO
RES_EVANDRO.pdf?sequence=1&isAllowed=y
4 https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/135910

72
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

A espiral do conhecimento inicia-se através da

troca de experiências entre os indivíduos (sociali

zação), que são por sua vez, formalizadas através da

criação de conceitos e modelos (externalização),

transformando o conhecimento tácito em explíci to.

[...] o conhecimento formalizado é acessado e

combinado possibilitando a geração de novos co

nhecimentos (combinação), que por sua vez são

aprendidos pelos indivíduos, momento em que o

conhecimento explícito se transforma em tácito (in

ternalização) (FLORES, 2017, p. 33).

Posteriormente, esse estudo auxiliou no processo de criação da

marca do projeto. A terceira etapa foi a compreen são acerca das

ferramentas (softwares) utilizados para a cria ção do aplicativo e

quais os processos que indicam os poten ciais alunos evasores.

Para isso realizou-se uma reunião para levantamento de dados.

O briefing, conjunto de informações coletadas para o

desenvolvimento de um plano, do projeto foi a quarta etapa,

este foi elaborado por uma discente do curso de Relações

Públicas e um discente de Publicidade e Propaganda com a


orientação da tutora do PETCom.

73
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

Previsto no plano de comunicação, criamos uma iden tidade

visual para o projeto. Segundo Teixeira, Silva e Bona (2012, p.

4), a identidade visual consiste no “fator responsável por

materializar a sua identidade, sendo, portanto, um ponto de

importância estratégica para o sucesso da comunicação”.

Para isso, na quinta etapa exigiu um breve estudo so bre

a história, elementos e símbolos identitários da UFSM.

Realizamos também uma pesquisa e uma análise de marcas já

existentes em todos os âmbitos e delimitamos para insti tuições

de ensino, até o mapeamento de todas as marcas que a UFSM

possui. Nesta pesquisa buscamos inspirações para o design da

marca. Na sexta etapa realizamos um brainstorm para o nome

do projeto e a criação do logotipo. Além disso, fez-se uma

pesquisa de opinião, em que de forma aleatória apresentamos a

imagem para pessoas que estivessem na Uni versidade, na

intenção de analisar qual a percepção delas so bre a imagem

(figura 02), e se esta estaria alinhada ao conceito da

Universidade. Este processo foi realizado a fim de observar o

que as pessoas constataram ao ver a imagem, se havíamos

conseguido construir uma marca que representasse a Institui ção

e que gerasse um sentimento de pertencimento, um proje to de


todos nós.

A última etapa desse projeto consistiu na apresenta ção

do material para o Reitor, vice-Reitor e as Pró-Reitorias

74
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

envolvidas. Essa apresentação foi feita por meio de um au

diovisual5 de cerca de um minuto de duração. É importante

ressaltar que a marca foi elaborada pelo PET Comunicação

Social e o planejamento das ações de comunicação também

estão sendo elaboradas pelo mesmo, mas que este projeto será

executado com os demais grupos PETs, PROGRAD e a Pró -

Reitoria de Planejamento.

Resultados e Discussão
A partir das informações levantadas ao longo das

etapas 4, 5 e 6, criou-se a concepção da identidade visual do

projeto. Para a criação do nome, utilizou-se o método co nhecido

como brainstorm6, que, segundo Airey (2010, p.9), consiste em

um simples processo de associação de palavras relacionadas a

um termo central. A partir do entendimento de que o termo

“evasão” possui uma conotação negativa, es tabeleceu-se

“acolhimento” como seu antônimo criativo, e, a partir desse,

construiu-se um painel semântico com o objeti vo de gerar

insights7.
Com base no conceito de que todos os esforços da Universi dade

no combate à evasão devem ser pensados de forma a

5 Disponível em: <https://www.ufsm.br/orgaos-suplementares/cpd/ufsm-inte gra/>

6 Tempestade mental (tradução do inglês). 7 Iluminação; compreensão súbita


(tradução do inglês).

75
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

integrar o ou a discente ao ambiente da Instituição, de forma

que ele ou ela sinta-se acolhido pela comunidade acadêmica e

pela UFSM, optou-se pelo termo “integração” como norteador

do processo criativo. Assim, nasceu o nome “UFSM Integra”.

Figura 02: Marca do Projeto Integra da UFSM (Amaral, 2019).

Sabendo que a tipografia é de fundamental importân cia para a

comunicação da imagem de uma marca, buscou-se uma fonte

que despertasse os sentimentos de receptividade e

sensibilidade. Depois de vários testes, chegou-se à fonte Polly

Rounded, uma versão mais soft da fonte Polly, sem serifa.

A escolha da combinação cromática para o logotipo se

deu a partir do estudo das cores-símbolo da UFSM: o azul (cor

primária) e o amarelo (cor secundária). Optou-se por tra balhar


com esses tons como forma de fortalecer o caráter ins titucional

do projeto.

Por fim, para a criação do símbolo, empregou-se o

método defendido por Airey (2010) que consiste em primeiro

esboçar a marca no papel e depois trabalhá-la no computador.

76
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Com base no conceito de integração, buscou-se representar

através do desenho a ideia de acolhimento, como se a univer

sidade oferecesse um abraço. Através de formas geométricas, o

símbolo faz alusão a uma pessoa sendo acalentada por outra.

Figura 03: Símbolo do logotipo representando um abraço.


UFSM Integra.

Da mesma forma, o símbolo representa o ciclo da per


manência de uma pessoa como aluna da universidade, que
chega na instituição, amadurece e, enfim, floresce, gerando
frutos para a sociedade. O círculo amarelo representa o sol, e a
figura azul representa uma planta.
Essas ações se justificam pois reconhecemos que a

comunicação pode ser estratégica e contribuir efetivamen-

77
P E S Q U IS A R , E N S IN A R E T R A N S F O R M A R

te para os objetivos institucionais, sendo assim instrumento de

transformação. Desafios como estes são identificadas nos

princípios do Programa de Educação Tutorial, interligando

ensino, pesquisa e extensão e contribuindo recursivamente para

o aprimoramento dos cursos de graduação, especialmen

te, nas áreas ligadas aos grupos PET da UFSM. Além disso,

percebe-se a importância desse projeto devido ao fato deste

contribuir para a permanência de uma universidade pública,

gratuita e de qualidade.

Demonstra que investimentos se fazem necessários para

que o ingresso, a avaliação de desempenho e também a

permanência das e dos estudantes sejam prioritários e amplia

dos, para que, de fato, a evasão reduza e consequentemente os

investimentos para com as e os estudantes sejam efetivos em

retorno social, uma vez que ele deixa de ser um aluno(a)

desistente e se torna um(a) profissional preparado(a) para o

mercado de trabalho ou para o âmbito da pesquisa.

Consideramos importante a manutenção da parceria,


pois, além de servir como experiência escola para os futuros

profissionais da comunicação, a sua atuação tem sido funda

mental para a externalização do projeto entre as equipes e

revela o potencial dos grupos PET como agentes transforma

dores da instituição e da sociedade, cumprindo seu papel de

para o aprimoramento da graduação.

78
E D U C A Ç Ã O T U TO R IA L E M C O M U N IC A Ç Ã O

Referências bibliográficas

AIREY, David. Design de logotipo que todos amam. Rio de


Janeiro: Editora Alta Books, 2010.

COSTA, Antônio R. e TALARICO, Edison de Gomes. Marke


ting promocional: descobrindo os segredos do mercado. São
Paulo: Atlas, 2006.

FLORES, E. G. Modelo de gestão do conhecimento para


acompanhamento de tendência à evasão em cursos de gra
duação presencial. Dissertação (Mestrado em engenharia de
produção) - UFSM. Rio Grande do Sul.2017.

KANTORSKI, G. Z.; FLORES, E. G.; HOFFMANN, I. L.; SCH


MITT, J. A.; BARBOSA, F. P. Predição da evasão em cursos de
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TEIXEIRA, Felipe Colvara; SILVA, RDO; BONA, R. J. O pro


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CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICA
ÇÃO DA REGIÃO SUL. 2012.
TYBUSCH, Jerônimo. ADAIME, Martha. Projeto de redução da
Evasão e Retenção. UFSM, 2018.

79
CAPÍTULO 6

DIZ AÍ PET: EXTENSÃO E PLANEJAMENTO DE

COMUNICAÇÃO PARA AS REDES SOCIAIS

Caio Pigatto Motta


Eduardo Moura
Letícia Ribeiro de Oliveira
Jaqueline Quincozes da Silva Kegler

Resumo: Ao reconhecer em análogia o Programa de Educação


Tutorial da Comunicação Social (PETCOM) da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) como uma organização, o Diz
Aí PET visa estabelecer um vínculo do grupo com os públicos
internos e externos à UFSM . Para isso, o projeto extensionista
desenvolve um plano de comunicação, pensando nos públicos,
slogans e produzindo o diagnóstico entre outras categorias que
competem ao tema destinado às redes sociais do grupo PET. O
projeto auxilia os e as integrantes no aprimoramento das
técnicas comunicacionais aprendidas em sala de aula, nas
atividades que envolvem o uso das redes sociais e na formação
de profissionais para o mercado trabalho, como também o
conhecimento acerca da produção de conteúdo destinada de
forma estratégica aos di ferentes públicos de uma organização.

Palavras-chave: extensão; planejamento de comunicação;


redes sociais.

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