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Universidade Federal de Santa Maria

Pró-Reitoria de Graduação
Centro de Educação
Curso de Graduação a Distância de Educação Especial

FUNDAMENTOS
HISTÓRICOS,
FILOSÓFICOS E
SOCIOLÓGICOS
DA EDUCAÇÃO II
2º Semestre

1ªEdição, 2005
Elaboração do Conteúdo Direitos Autorais
Prof. Hugo Antonio Fontana (Direitos Autorais | Núcleo de Inovação e de
Professor Pesquisador (Conteudista) Transferência Técnológica | UFSM)

Tatiane Rosa de Moraes Projeto de Ilustração


Acadêmica Colaboradora (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Prof. André Krusser Dalmazzo
Desenvolvimento Coordenação
das Normas de Redação
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk Paulo César Cipolatt de Oliveira
Profa. Luciana Pellin Mielniczuk Técnico
(Curso de Comunicação Social | Jornalismo) André Schmitt da Silva Mello
Coordenação Bruno da Veiga Thurner
Profa. Maria Medianeira Padoin Guilherme Escosteguy
Professora Pesquisadora Colaboradora Rodrigo Oliveira de Oliveira
Danúbia Matos Acadêmicos Colaboradores
Iuri Lammel Marques
Acadêmicos Colaboradores Projeto Gráfico, Diagramação
e Produção Gráfica
Revisão Pedagógica e de Estilo (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk Prof. Volnei Antonio Matté
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Revisão Textual
(Curso de Letras | Português) Impressão
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Coordenação
Angelise Fagundes da Silva
Marta Azzolin
Acadêmicas Colaboradoras

* o texto produzido é de inteira responsabilidade do(s) autor(es).

F679f Fontana, Hugo Antonio


Fundamentos históricos, filosóficos e sociológicos da educação II : 2º semestre /
[elaboração do conteúdo Prof. Hugo Antonio Fontana, Tatiane Rosa de Moraes ;
revisão pedagógica e de estilo Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk... [et al.]].- 1. ed. - Santa
Maria, Universidade Federal de Santa Maria, Pró-Reitoria de Graduação, Centro de
Educação, Curso de Graduação a Distância em Educação Especial, 2006.
64 p. : il. ; 30 cm.

1. Educação 2. Ensino 3. História 4. Filosofia 5. Sociologia I. Moraes, Tatiane Rosa


de II. Siluk, Ana Cláudia Pavão III. Universidade Federal de Santa Maria. Pró-Reitoria de
Graduação. Centro de Educação. Curso de Graduação a Distância de Educação Especial.
IV. Título.

CDU: 37.01

Ficha catalográfica elaborada por


Maristela Eckhardt CRB-10/737
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Presidente da República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministério da Educação
Tarso Genro
Ministro da Educação

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Pró-Reitor de Planejamento Coordenadora Pedagógica e de Oferta

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Profa. Maria Medianeira Padoin Profa. Vera Lúcia Marostega


Coordenadora de Planejamento Acadêmico Coordenadora da Produção do Material do Curso
e de Educação a Distância

Prof. Alberi Vargas Coordenação Acadêmica do Projeto de


Pró-Reitor de Administração Produção do Material Didático - Edital MEC/
SEED 001/2004
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Prof. Jorge Luiz da Cunha
Diretor do Centro de Educação Odone Denardin
Coordenador/Gestor Financeiro do Projeto
Prof. João Manoel Espinã Rossés
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Humanas Lígia Motta Reis
Assessora Técnica
Prof. Edemur Casanova
Diretor do Centro de Artes e Letras Genivaldo Gonçalves Pinto
Apoio Técnico

Prof. Luiz Antônio dos Santos Neto


Coordenador da Equipe Multidisciplinar de Apoio
Sumário
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 05

UNIDADE A
UNIDADE A- AS RELAÇÕES ESCOLA-SOCIEDADE NO
CONTEXTO HISTÓRICO EDUCACIONAL DO SÉCULO XX NO BRASIL 07
1. Grandes linhas da sociologia e da filosofia da educação 09
2. Situação da escola, do ensino e da
formação de professores: avanços e rupturas 20

UNIDADE B
INTERFACES ENTRE OS SABERES SOCIOLÓGICOS, FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS
DA EDUCAÇÃO NO ESPAÇO DA ESCOLA E DA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES 23
1. Contribuições das Ciências da Educação e da Filosofia
da Educação à formação de professores 25
2. Contribuições das Ciências da Educação e da Filosofia da
Educação para compreender melhor a escola 26

UNIDADE C
ESCOLA CONTEMPORÂNEA E NOVOS
MODELOS DE FORMAÇÃO: POSSIBILIDADES E DESAFIOS 31
1. Sociedade contemporânea: características 33
2. Escola-conhecimento-docência 36

REFERÊNCIAS
Referências 45
Sugestões para pesquisa na Internet 47
Outros sites interessantes 48

4
Apresentação
da Disciplina
FUNDAMENTOS
HISTÓRICOS,
FILOSÓFICOS E
SOCIOLÓGICOS DA
EDUCAÇÃO II
2º Semestre

Esta disciplina organiza-se com leituras e


atividades. Para o desenvolvimento das atividades
são imprescindíveis a leitura e o estudo do conteúdo
(inclusive as leituras complementares indicadas); a
elaboração de sínteses e resenhas quando
necessário; a participação qualitativa nas atividades
desenvolvidas no ambiente virtual.
Ao término dessa disciplina, o aluno deverá
ser capaz de compreender as relações entre escola e
sociedade no contexto histórico-educacional
brasileiro do século XX. Reconhecer as análises
consagradas na literatura educacional, propostas pela
Filosofia e pela Sociologia da educação. Perceber com
clareza a vinculação da história na formação docente
e o conjunto de transformações sofridas pela escola
e pelas concepções de educação, bem como fazer os
possíveis vínculos entre a escola contemporânea e as
novas exigências de formação.

Esta disciplina será desenvolvida com uma carga horária


de sessenta (60) horas/aula.
5
6
UNIDADE

A
AS RELAÇÕES
ESCOLA-SOCIEDADE
NO CONTEXTO HISTÓRICO
EDUCACIONAL DO
SÉCULO XX NO BRASIL

Objetivo da Unidade
A partir da compreensão das grandes linhas teóricas da
sociologia e da filosofia, pretendemos proporcionar ao
aluno um entendimento acerca das relações escola-
sociedade e de que modo a formação de professores
está vinculada à inserção da escola dentro de um
amplo contexto (histórico, político e econômico).

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
Quando entendemos a cultura como resultado texto histórico educacional, que começa formal-
do trabalho humano que transforma a natureza mente no século XVI, com a chegada dos portu-
e o próprio homem, podemos dimensionar a gueses, variou significativamente em maior ou
importância da ação humana. Esta, quando menor grau nas nossas diferentes regiões.
transformadora, nunca é solitária. Ao nos
relacionarmos com os outros homens para
produzir a nossa existência, estamos desenvol-
vendo comportamentos ou condutas sociais em
direção aos interesses e necessidades do grupo
social a que pertencemos. Ou seja, o chamado
processo de socialização apenas inicia através
da ação exercida pelos outros (a comunidade)
sobre nós.
Se o ser do homem se faz mediado pela
cultura, cabe perguntar: existe uma cultura
brasileira? Ou talvez o mais adequado fosse
perguntarmos acerca das "culturas" brasileiras?
Essas questões podem ter sentido quando
pensamos nas diversidades regionais de nosso
país ou, até mesmo, de nosso próprio Estado.
A cultura litorânea é a mesma daquela do
interior? Quais as afinidades culturais entre o
gaúcho que mora no pampa e aquele que mora
no aglomerado urbano da serra? Ou ainda: é
lícito considerarmos a cultura de um país, de
Rodrigo Oliveira de Oliveira

um estado ou de uma região "superior" à outra?


Essas questões são uma pequena mostra das
dificuldades que encontramos ao fazermos a
relação escola-sociedade no Brasil. Nosso con- Figura A.1: Relações Escola-Sociedade

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UNIDADE A

1 Grandes linhas da
sociologia e da
filosofia da educação
Na disciplina de Fundamentos Históricos, para a Sociologia e nos determos nas teorias
Filosóficos e Sociológicos da Educação I, de seus autores clássicos, vamos lembrar alguns
discutimos alguns aspectos básicos da filosofia de seus aspectos históricos. Desde a
e da educação. Vinculamos a filosofia da Antiguidade, passando pela Idade Média, o
educação a uma reflexão radical, rigorosa e de homem lançava questões a respeito da
conjunto sobre os problemas que a realidade sociedade em que vivia. Como as justificativas
educacional apresenta (SAVIANI, 1991, p. 27). das classes dominantes acabavam (ou acabam)
Ora, ao admitirmos isso como válido, estamos sempre prevalecendo, muitas pessoas eram
inserindo aí também uma reflexão sobre a convencidas, por exemplo, que tinham de
sociedade em que se desenvolve a educação, trabalhar duramente para sobreviver enquanto
objeto de nossa análise. Caberá à sociologia da outros caçavam ou se divertiam, porque já
educação reconstruir sistematicamente as haviam nascido para realizar aquelas atividades
relações existentes entre as ações que objetivam de trabalho. Até a vontade divina servia para
educar e as estruturas sociais. No contexto explicar as desigualdades sociais.
brasileiro - no qual continua predominante o Esse tipo de explicação foi socialmente
modelo da escola dual (uma escola para os ricos aceito até o século XVIII, quando na Europa
outra para os pobres) - esse "pensar sociológico aconteceram rupturas que propiciaram o
sobre a educação" se torna particularmente surgimento da sociologia. Quando o inglês Isaac
importante. Newton (1642-1727) formulou a sua conhecida
Assim, se podemos dizer que a natureza lei da gravitação universal, explicando a posição
humana não é algo que nos é "dado" mas algo e o movimento de todos os corpos do universo,
que precisamos "construir", as compreensões levou os filósofos que pensavam sobre a
filosófica e sociológica sobre a educação se realidade social a se interrogarem: se era
tornam fundamentais para nosso trabalho de possível explicar cientificamente o universo, por
educar. Trabalho educativo entendido como que não explicar da mesma maneira a sociedade
"ato de produzir, direta e intencionalmente, em na qual estavam inseridos? Para tanto, bastava
cada indivíduo singular, a humanidade que é que conseguissem formular leis que a
produzida histórica e coletivamente pelo explicassem. Havia, sem dúvida, um otimismo
conjunto dos homens" (SAVIANI, 1991, p. 21). que delineava o nascimento da futura "ciência
Antes mesmo de buscarmos um conceito da sociedade".

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

A revolução da física dava o modelo para sociologia, para ter estatuto de ciência,
Socialismo: É um uma futura ciência da sociedade. A
termo que se originou
consciência das desigualdades, da miséria e precisava adotar os métodos usados pelas
na Inglaterra, no século
XIX para designar o da opressão apontava para a necessidade ciências naturais e com isso tentar descobrir as
oposto de de uma reorganização da sociedade. Os
individualismo. As homens daquela época achavam que a crítica
leis do desenvolvimento social. Essa idéia de
idéias socialistas da realidade social existente deveria ser que o estudo científico da sociedade era
aparecem
acompanhada de uma sugestão de melhoria
primeiramente com os condição necessária para que fossem
chamados socialistas
e que a solução deveria estar embasada no
utópicos (Saint-Simon, conhecimento científico da sociedade. solucionados os problemas sociais, ou seja, para
Fourier, Proudhon e Quanto mais isso acontecesse, maiores
Owen), os quais
que houvesse o progresso social, claro, ganhou
seriam as chances de que a sociedade
procuram alternativas pretendida garantisse a felicidade humana. rapidamente muitos adeptos. Pensadores
para a superação das
É nesse contexto histórico que nasce a contribuíram para que a reflexão sociológica
injustiças sociais
decorrentes da sociologia (FERREIRA, 1993, p. 17).
implantação do sistema tomasse corpo. Alguns, como Marx, Durkheim
capitalista de produção. e Weber, tornaram-se clássicos.
Uma crítica que sofrem
é que, embora tenham Ora, não é difícil imaginarmos que junto com
percebido o
antagonismo de essa revolução científica ocorrem grandes O que pensavam da
classes, não
compreenderam bem
transformações políticas e econômicas na sociedade (e da educação)
as formas de Europa. É no mesmo século da Revolução Marx, Durkheim e Weber?
emancipação
recorrendo a meios Industrial que se intensificam as críticas à forma Karl Marx (1818-1883) achava que a sociedade
ingênuos e
paternalistas. Marx e opressora como se comportavam os monarcas só poderia ser concebida como um todo
Engels, ao
absolutistas. Não à toa que os filósofos do formado pela economia, pela política e pelas
estabelecerem as
bases do socialismo Iluminismo acreditavam que os homens, por idéias (cultura). Mesmo conectadas entre elas,
científico, o fazem
objetivando a nascerem livres e iguais, podiam se tornar a economia, quando bem compreendida, seria
compreensão das
formas de emancipação
melhores, desde que as instituições sociais se a chave para o entendimento da própria
e a superação daquilo constituíssem de tal modo que lhes garantissem sociedade ou, como queria Marx, das mudanças
que entendiam como a
"exploração do a liberdade e a igualdade. As chamadas sociais. O motor das mudanças sociais seria a
homem pelo homem"
quando se referiam ao revoluções burguesas, tanto na Europa quanto luta entre as classes. Ao criticar a sociedade
capitalismo.
na América do Norte, representavam os capitalista, baseada na exploração do homem
interesses de uma classe que exigia uma radical pelo homem, Marx propunha sua destruição e
transformação da sociedade. A Inglaterra, país a construção do socialismo, uma sociedade sem
com os dois pés já então fincados na explorados nem exploradores.
A teoria política e Modernidade, abriga no seu seio o grande Para Marx, não existia "educação" em geral.
econômica de Locke
surgiu no século XVII teórico do liberalismo (John Locke) e funda o Conforme o conteúdo de classe ao qual estiver
exprimindo os anseios parlamento como poder regulador do, até exposta, a educação pode ser para a alienação
da burguesia. Defende
os direitos da iniciativa então, ilimitado poder real. ou para a emancipação.
privada, restringindo as
atribuições do Estado e Todavia, é na França, cuja revolução (1789) Entretanto, quem realizou pela primeira vez
opondo-se com vigor
ao absolutismo.
é a vitória política da burguesia, que nasce uma pesquisa tipicamente sociológica foi Émile
aquele a quem tradicionalmente se atribui o Durkheim (1858-1917). Sua visão era de que
papel de fundador da sociologia: Auguste Comte a sociedade era algo externo e exercia uma
(1798-1857). Sua proposta é de que a grande pressão sobre o indivíduo. Na base da
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UNIDADE A

Para se ter uma dimensão do grau de


crítica que fazia às sociedades industriais que
racionalização de nossa sociedade, basta ver
nasciam, dizia que a ordem social se mantém como a educação está crescentemente
quando as pessoas respeitam e aceitam as submetida às mais variadas formas de
planejamento. Decide-se antecipadamente
normas impostas. A ausência das normas levaria que tipo de aluno se quer criar, que

Paulo César Cipolatt de Oliveira


a sociedade ao caos, pois os indivíduos se conteúdos e que cidadão se espera que a
criança se torne, planeja-se o currículo, os
sentiriam desorientados. Segundo ele, isso teria conteúdos e as atividades que melhor
se agravado nas sociedades modernas que contribuirão para a obtenção do produto
desejado. Qualquer atividade que não
acabaram com a importância da Igreja sem, ao contribua para a realização do objetivo "Não é a consciência
menos, conseguir fundar uma outra instituição pretendido será descartada como inútil dos homens que
(FERREIRA, 1993, p. 19). determina o seu ser,
que fosse a base de uma moral aceita por todos. mas, ao contrário, é o
seu ser social que
Ao mesmo tempo, esse processo geraria um determina sua
individualismo excessivo que contribuiria para consciência" Karl Marx

aumentar a instabilidade social causando a


infelicidade das pessoas.
A educação, para Durkheim, é fundamental-
Paulo César Cipolatt de Oliveira

mente o processo através do qual aprendemos


a ser membros da sociedade; logo, educação é
socialização.
Já Weber (1864-1920) coloca a questão Figura A.2: Weber
do poder como base para o entendimento de
uma sociedade. Ao contrário de Marx, que Para Weber, a educação não é mais a
criticava a irracionalidade da sociedade preparação para que o membro do todo
capitalista, dizia que o ponto fraco dessa orgânico aprenda sua parte no comportamento
sociedade era exatamente a sua excessiva harmônico do organismo social, como queria Para saber sobre
Weber, acesse:
racionalização. O que significa isso? Para ele, Durkheim. Também não é vista como
http://www.antropos
uma das características das sociedades possibilidade de emancipação com base na moderno.com/
biografias/Weber.html
modernas é a de que para tudo se estabelece ruptura com a alienação, conforme propunha http://www.admbrasil.
com.br/tex_max.htm
fins que se quer atingir, ao mesmo tempo em Marx. A educação passa a ser, na medida em http://www.mundo
que se determinam os meios mais eficazes para que a sociedade se racionaliza, historicamente, ciencia.com.br/
sociologia/weber.htm
tal. Quando as atividades humanas devem ser um fator de estratificação social, de obtenção http://www.suigeneris.
pro.br/literatura_
submetidas a um planejamento prévio, isso de honras, de ofertas justas (nem sempre), de weber.htm
pode implicar, segundo Weber, uma restrição poder e de dinheiro.
da liberdade, ou seja, os indivíduos podem estar
fadados a desempenhar apenas as atividades
mais eficazes para que os fins desejados sejam
atendidos. Na educação, isso pode se tornar
especialmente problemático.

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

O processo educacional A escola sob a aparência de neutralidade


transcorrido no século XX dissimularia uma autêntica violência simbólica.
Sobre o processo educacional transcorrido no Esta, por não ser explícita, muitas vezes, não é
século XX, podemos lembrar três contribuições percebida. Através da violência simbólica, as
importantes para a sociologia da educação: as pessoas (no caso, os alunos) são levados a
de Pierre Bourdieu, de Antônio Gramsci e de pensar e agir de uma forma imposta, sem se
Karl Mannheim. darem conta de que são coagidos. A escola se
A primeira, do francês Bourdieu, retoma o constituiria para esses autores num instrumento
ponto de vista de Durkheim e o mistura a outras de violência simbólica, à medida que reproduz
vertentes intelectuais com o objetivo de os privilégios existentes na sociedade
demonstrar o quanto pesava o "sistema" sobre beneficiando aqueles já socialmente
as práticas educacionais. A segunda, do italiano favorecidos. Portanto, ao invés de promover a
Gramsci que, partindo do marxismo, nos auxilia democratização e possibilitar a ascensão social,
a pensar as características da luta pelo poder a escola se limita a reafirmar em seu interior
nas sociedades contemporâneas e também o os privilégios existentes.
quanto está a educação relacionada com essas Os autores se referem ao habitus de classe
lutas. Por último, o sociólogo húngaro, que a escola tende a confirmar. O que seria
Mannheim, retoma a análise weberiana, esse habitus? Os habitus são inculcados desde
propondo um modelo educacional que diga a infância, começando pela família e
respeito às diferentes pedagogias identificadas posteriormente passando pela escola. Como a
por Weber. escola tende a reproduzir os hábitos das famílias
O sociólogo francês Pierre Bourdieu, privilegiadas, as crianças das classes
juntamente com seu conterrâneo Jean-Claude desfavorecidas quase sempre ficam
Passeron (escreveram juntos Os herdeiros, de desambientadas, perplexos mesmos, diante da
1964 e a sua obra mais conhecida A descontinuidade entre o ambiente familiar e o
Paulo César Cipolatt de Oliveira

reprodução, de 1970), desenvolveram uma ambiente escolar. No entanto, logo são


rigorosa crítica à instituição escolar. Através de cooptadas.
uma arguta análise do fenômeno escolar a partir Bourdieu e Passeron se valem de dados
Pierre Bourdieu, assim dos condicionamentos sociais, eles concluem empíricos relativos ao sistema francês de ensino
como outros teóricos
franceses nas décadas
pela total dependência da escola em relação à de sua época, nos quais demonstram que o que
de 60 e 70, alertou sociedade na qual está inserida. valem são as condições da origem da classe
que, ao invés de
democratizar, a escola Ao defenderem que a escola, por não ser social a que pertence o estudante. Elas que
reproduz as diferenças
sociais, perpetuando o uma ilha, está inserida num contexto social e, determinarão as probabilidades do aluno ter
status quo. Dessa
portanto, o sistema social marca êxito na passagem ao nível escolar seguinte,
maneira, é uma
instituição necessariamente os indivíduos submetidos à bem como o tipo de escola que terá acesso
discriminadora e
repressiva. educação, eles desfazem a ilusão da autonomia (de melhor ou pior qualidade).
do sistema escolar.

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UNIDADE A

Tal condição se reproduz, do ensino básico


capitalismo europeu do seu tempo.
ao médio e ao superior e determina também,
no final das contas, "a condição de classe de Quando ele desenvolve o conceito de
chegada" deste aluno, isto é, o tipo de hegemonia, explica de maneira original como
habitus que adquiriu, o "capital cultural" ao
qual teve acesso e, em especial, a posição uma classe hegemônica exerce a dominação
de hierarquia econômica e social a que coercitiva. Todavia, quando seus intelectuais
chegou (RODRIGUES, 2002, p. 87).
elaboram um sistema convincente de idéias,
essa classe pode exercer também a dominação
Diante disso, cabe a pergunta: será pelo consenso, pela persuasão, ou seja,
irreversível a reprodução das estruturas conquista a adesão da classe dominada. Tal
dominantes? Vejamos como Gramsci e classe então, assume a visão de mundo da
Mannheim refletem sobre essa questão. classe dominante, pensa e tenta viver como
ela. Isso impede qualquer rebelião eficaz contra
Gramsci a dominação. A escola burguesa, além de formar
seus quadros intelectuais, não se constrange em
cooptar as melhores cabeças das classes
populares, as quais acabam aderindo aos seus
valores. Por essa razão, Gramsci defende a
necessidade dos intelectuais das classes
populares continuarem organicamente
Guilherme Escosteguy

vinculados à sua classe. Dessa forma poderiam


elaborar, crítica e coerentemente, a experiência
Figura A.3: Gramsci proletária com a classe dominada, tendo seus
próprios intelectuais orgânicos. Em outras
Antonio Gramsci (1891-1937), mesmo sem ter palavras, cabe ao intelectual orgânico
publicado um livro sequer durante sua vida, foi desenvolver a concepção daquilo que Gramsci
um dos mais importantes teóricos italianos. chamava de contra-hegemonia (da classe
Preso sob a ditadura de Mussolini durante burguesa dominante).
onze anos, condição em que ficou até sua A escola é o espaço onde o intelectual é
morte, escreveu muitos cadernos manuscritos, formado. Isso faz com que Gramsci analise o
em que criticou o marxismo oficial que sistema escolar italiano de seu tempo. Constata
petrificava a teoria, impedindo, na sua ótica, a então que, de um lado existe uma escola que
prática revolucionária. Posteriormente dá uma formação clássica aos seus alunos,
conhecidos como Cadernos do cárcere, seus desenvolvendo neles uma cultura geral,
escritos são, sem dúvida, até hoje, uma destinada, segundo o próprio Gramsci, a dar a
referência importante para a reflexão filosófica, cada um "o poder fundamental de pensar e de
sociológica e mesmo política. Gramsci consegue saber se orientar na vida" (1985, p. 66). De
atualizar o pensamento marxista de forma a outro lado, existiam várias escolas voltadas para
torná-lo instrumento poderoso de análise do a formação profissional ou mesmo baseadas na
13
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

necessidade de operacionalizar os conteúdos os ideais democráticos. Para ele, o


Quanto às grandes científicos (as escolas técnicas). conhecimento sociológico poderia ser um fator
linhas filosóficas da
educação num período Ao observar o elitismo e a exclusão das impeditivo das arbitrariedades, impedindo, por
recente, elas podem classes trabalhadoras de uma formação de exemplo, que os jovens servissem de massa de
muito bem ser
pensadas a partir das qualidade, Gramsci propôs uma escola unitária manobra na mão de governantes. As classes não
significativas rupturas
que aconteceram na que superasse as dicotomias entre trabalho educadas e não-informadas significariam, na sua
teoria educacional
entre os séculos XIX e
intelectual e trabalho manual, ou entre cultura ótica, um perigo bem maior para a manutenção
XX. No seu livro erudita e cultura popular e que se orientasse da ordem democrática do que as classes com
Filosofia da educação, o
professor Paulo para uma democratização concreta do saber e uma orientação consciente e expectativas
Ghiraldelli defende que
essas rupturas podem da cultura. Com isso, através do ponto de vista razoáveis.
ser compreendidas
marxista, ele está propondo uma superação da
através dos
pensamentos de escola reprodutora das estruturas sociais. Até
Herbart, Dewey e
Freire. Você encontrará hoje, os fundamentos da teoria progressista
também boas
referências sobre
podem ser a ele tributados e é também inegável A partir da retomada da leitura acerca das
esses autores no livro sua influência sobre a pedagogia. idéias básicas de Durkheim (Bourdieu),
"História da Educação"
de Maria Lúcia de Marx (Gramsci) e Weber (Mannheim), faça
Arruda Aranha. Esses
exemplares fazem Mannheim uma "defesa consistente" de uma delas,
parte da biblioteca do
No cenário do século XX, a sociologia ganha num pequeno texto de até 30 linhas e
seu Pólo. Com o
objetivo de ampliar sua amplo terreno nos campos científico e disponibilize no ambiente virtual conforme
compreensão vamos
destacar algumas idéias acadêmico e aumenta seu interesse pela orientações do professor.
desses autores.
educação. Mannheim é um dos principais
autores que expressam essa tendência. Para
ele, a educação não modela o homem em A sociologia é ...
abstrato, mas sim, um homem dentro de uma Uma ciência que, como outras Ciências
determinada sociedade. Dessa maneira, só Humanas, afirmou-se no século XIX, na tentativa
podemos entender adequadamente a de explicar a sociedade que surgiu com o
educação se a consideramos como uma das desenvolvimento do capitalismo, muitas vezes
técnicas para influir na conduta humana e como servindo para justificar esse sistema econômico,
meio de controle social. social e político.
Numa primeira vista, seu pensamento pode Sua contribuição é, portanto, fundamental
parecer "engessar" a educação como mais um para a compreensão dessa sociedade. A
elemento de controle social. Entretanto, quando Sociologia, contudo, não se resume a um bloco
contextualizamos a Europa de seu tempo único de explicação da realidade. Dependendo
(especialmente nos anos 30 e 40), com a da posição que assumem na análise da
democracia sendo fustigada pelo nazismo, pelo sociedade, os pensadores da Sociologia diferem
fascismo ou mesmo pelo comunismo, podemos quanto ao papel que atribuem à educação, à
compreender porque ele via na educação uma cultura e à própria sociedade, possibilitando
"técnica social" que seria capaz de recuperar análises distintas da escola.
14
UNIDADE B

Émile Durkheim buscou caracterizar o fato


social como fenômeno coletivo e valorizou a [...] cada sociedade, considerada em
interpretação histórica. Para ele, os indivíduos momento determinado de seu
são o produto de forças sociais complexas e desenvolvimento, possui um sistema de

Paulo César Cipolatt de Oliveira


não podem ser entendidos fora do contexto educação que se impõe aos indivíduos de
social em que vivem. Formulou o termo modo geralmente irresistível. É uma ilusão
"consciência coletiva" - que difere totalmente acreditar que podemos educar nossos filhos
das consciências individuais que a formam - para como queremos. Há costumes com relação
Durkheim acreditava
descrever o caráter de uma sociedade particular. aos quais somos obrigados a nos conformar; que a sociedade seria
mais beneficiada pelo
Durkheim criou os conceitos de normal e se os desrespeitamos muito gravemente, processo educativo.
Para ele, "a educação é
patológico para interpretar os fatos sociais e as eles se vingarão em nossos filhos. Estes, uma socialização da
relações de causalidade, bem como para uma vez adultos, não estarão em estado jovem geração pela
geração adulta" e
construir uma utilidade normativa para a de viver no meio de seus contemporâneos, quanto mais eficiente
for o processo, melhor
Sociologia. com os quais não encontrarão harmonia. será o desenvolvimen-
to da comunidade em
Segundo ele, se pudéssemos distinguir Que eles tenham sido educados segundo que a escola esteja
objetivamente entre o fato social normal e o idéias passadistas ou futuristas, não importa; inserida.

patológico, a Sociologia poderia servir para num caso como noutro, não são de seu
orientar a ação prática sem perder o seu caráter tempo e, por conseqüência, não estarão em
científico. Sempre considerando que a condições de vida normal. Há, pois, a cada
sociedade é grande geradora de idéias e valores, momento, um tipo regulador de educação
Durkheim entende que normalidade social é do qual não podemos separar sem vivas
aquilo que é obrigatório ao indivíduo e superior resistências, e que restringem as veleidades
a ele; são regras que devem ser seguidas. dos dissidentes [...].

Leia o excerto a seguir, retirado do texto


"A educação como processo socializador:
função homogeneizadora e função
diferenciadora" ( DURKHEIM, Émile.
Educação e sociologia. São Paulo :
Melhoramentos, 1965) e aponte qual a
relação que Durkheim estabelece entre
educação e sociedade, disponibilizando a
atividade na biblioteca virtual conforme
orientações do professor.

15
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Fatos sociais, segundo Durkheim, são as escolhas. O grau de coerção dos fatos
maneiras coletivas de agir, sentir e pensar sociais se torna evidente pelas sanções a
em uma dada sociedade e são anteriores e que o indivíduo está sujeito quando contra
exteriores à existência do indivíduo. Essas elas tenta se rebelar. As sanções podem ser
maneiras podem ser fixas ou não, pois os legais ou espontâneas. Legais são as sanções
fatos sociais apresentam diferentes graus prescritas pela sociedade, sob a forma de
de consolidação, que se referem à leis, nas quais se identificam a infração e a
incorporação das maneiras de agir que vão penalidade subseqüente. Espontâneas são
construindo as maneiras de ser. as que decorrem de uma conduta não
O fato social caracteriza-se por se impor ao adaptada à estrutura do grupo ou da
indivíduo, independentemente de sua sociedade a qual o indivíduo pertence.
vontade ou adesão consciente; e distingue- A educação desempenha uma importante
se das formas individuais que toma, ao se tarefa nessa conformação dos indivíduos à
difundir. Assim, podemos dizer que coerção, sociedade em que vivem, a ponto de, após
generalidade e exterioridade são as três algum tempo, as regras estarem internaliza-
características fundamentais do fato social. das e transformadas em hábitos. Na sua
Já coerção social, conforme o autor, é a obra, (que podemos considerar clássica) As
força que os fatos exercem sobre os regras do método sociológico (2005),
indivíduos, levando-os a conformarem-se às Durkheim define fato social e esquematiza
regras da sociedade em que vivem, a trama metodológica com a qual estudou
independentemente de suas vontades e os fenômenos sociais.

Mais sociólogos e filósofos... sociedade como um sistema com estrutura e


funções. Considerou, ainda, que as sociedades
Herbert Spencer representam um certo nível de evolução social.
Herbert Spencer, filósofo e sociólogo inglês, O surgimento de novas estruturas e, em
nasceu em 1820 e faleceu em 1903. Foi conseqüência, de novas funções vai
responsável, com Darwin, pela divulgação e diferenciando as estruturas da sociedade.
aceitação da teoria da evolução (embora essa Através da evolução, as sociedades
teoria seja atribuída a Darwin), difundindo a desenvolvem estruturas especializadas (por
idéia de sobrevivência do mais apto. Para exemplo, o governo) para representar funções
Spencer, a teoria da evolução aplica-se também especializadas (por exemplo, coordenar o
às condições de evolução social. A noção de sistema). Quanto mais diferenciado em suas
organismo, própria da biologia, serviria de base estruturas, mais avançado será o grau de
para o entendimento da esfera social. Spencer evolução de uma sociedade.
viu o organismo como modelo para explicar a
16
UNIDADE A

Fernando de Azevedo Esses aparelhos têm, portanto, a função de


disseminar uma determinada ideologia - a da
classe que detém o poder - a fim de assegurar
a essa classe a sua permanência no poder.
Louis Althusser (1918 - 1990), filósofo
marxista francês, desenvolveu uma
Paulo César Cipolatt de Oliveira

interpretação original do pensamento de Marx


na perspectiva estruturalista, combatendo o
humanismo marxista e o marxismo-leninismo.
Figura A.4: Fernando de Azevedo Buscou, assim, desenvolver a teoria marxista a
partir do conceito de ciência empregado por
Fernando de Azevedo (1894 - 1974), mineiro Marx. Althusser, entretanto, considerava a
de São Gonçalo de Sapucaí, foi um dos ciência não apenas como fenômeno de
fundadores da Associação Brasileira de Educação superestrutura, mas como produção de
(1924) e um dos signatários do Manifesto dos conhecimento. Chegou, inclusive, a propor uma
Pioneiros da Educação Nova (1932). Participou teoria do processo de produção do
de importantes movimentos educacionais, conhecimento. Assim, o materialismo dialético
desde o das Conferências de Educação (1922) de Marx se caracterizaria como teoria filosófica,
até o de fundação da Universidade de São Paulo, e Althusser procurou investigar o papel político
da qual foi um dos planejadores. Foi secretário dessa teoria.
da Educação do Estado (1945) e da Prefeitura
de São Paulo (1961).
Segundo sua concepção, as idéias que O pensamento marxista desenvolveu-se a
circulam numa sociedade são condicionadas partir de uma crítica da filosofia tradicional
pelos modos de produção e, como a classe que que, segundo ele, mantinha as análises no
dispõe dos meios de produção controla também campo das idéias e não atingia a origem
os meios de produção e divulgação de das questões políticas, econômicas e sociais.
Ideologia: conjunto de
conhecimento, são as idéias dessa classe Marx entendia que esta origem estava na idéias que refletem a
dominante que são internalizadas pelas demais base material da sociedade, em sua visão de mundo de um
determinado grupo
classes, sob a forma de ideologia. estrutura econômica e nas relações de social, cuja construção
mescla diferentes
produção que esta mantém. Portanto, seria interesses,
Louis Althusser necessário analisar o capitalismo a fim de preconceitos, leituras
sobre a sociedade,
Na interpretação de Althusser, a ideologia revelar sua natureza de dominação e sendo que seus
mecanismos de
atravessa as práticas sociais, que são sempre exploração do proletariado. Em seus estudos inserção social, como o
discurso, agem como
orientadas por "rituais" definidos pelas sobre o modo capitalista de produção, Marx elementos de
instituições nas quais se realizam - escola, igreja, elaborou os conceitos de acumulação, dominação de um
grupo sobre outro.
polícia, imprensa [...] - que constituem o que o excedente, mais-valia, luta de classes,
autor denomina de "aparelhos ideológicos".
17
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

materialismo histórico e materialismo Vejamos, a seguir, algumas posições de Louis


Mais-valia: quando
Marx critica o modo dialético, entre outros. Diferenciou-se dos Althusser sobre "aparelhos ideológicos". Para
capitalista de produção,
ao fazer a análise do teóricos denominados "socialistas utópicos", tanto, leia o fragmento a seguir do capítulo 1 -
trabalho assalariado, ele
cria o conceito de
seus antecessores, ao buscar formular os "Os aparelhos ideológicos do Estado" - da obra
mais-valia que consiste princípios de uma prática política voltada de Louis Althusser intitulada Aparelhos
no valor que o
operário cria para além para o processo revolucionário. Este era, ideológicos do estado: notas sobre aparelhos
do valor de sua força
de trabalho. Quem se em sua opinião, a estratégia para a ideológicos de Estado. Rio de Janeiro : Graal,
apropria desse valor é
destruição da sociedade capitalista e para 1987.
o dono do capital. Qual
o seu argumento para a construção do socialismo e da sociedade
justificar tal afirmação?
Marx mostra que a sem classes.
relação de contrato
livre de trabalho é
mera aparência pois,
na verdade, o
desenvolvimento do
capitalismo supõe a
exploração do trabalho
do operário. O
Não se confundem com o aparelho (repressivo) de Estado. exigência implica, podemos, desde já, considerar como
capitalista contrata o
operário para trabalhar Lembremos que, na teoria marxista, o Aparelho de Estado (AE) Aparelhos Ideológicos de Estado as instituições seguintes (a
durante um certo
período de horas a fim compreende o Governo, a Administração, o Exército, a Polícia, ordem pela qual as enunciamos não tem qualquer significado
de alcançar
determinada produção. os Tribunais, as Prisões etc., que constituem aquilo a que particular):
Todavia ocorre que o
chamaremos a partir de agora Aparelho Repressivo de Estado. · o AIE religioso (o sistema das diferentes igrejas);
trabalhador estando
disponível todo o Repressivo indica que o Aparelho de Estado em questão · o AIE escolar (o sistema das diferentes escolas públicas e
tempo, acaba
produzindo mais do "funciona pela violência" - pelo menos no limite (porque a particulares);
que o projetado
repressão, por exemplo, administrativa pode revestir formas · o AIE familiar;
inicialmente. Isto é, a
força de trabalho pode não físicas). · o AIE jurídico;
criar um valor superior.
Esta parte do trabalho Designamos por Aparelhos Ideológicos de Estado um certo · o AIE político (o sistema político de que fazem parte os
excedente não é paga
ao operário. Na número de realidades que se apresentam ao observador diferentes partidos);
realidade ela serve
imediato sob a forma de instituições distintas especializadas. · o AIE sindical;
para aumentar cada vez
mais o capital, segundo Propomos uma lista empírica dessas realidades que, é claro, · o AIE da informação (imprensa, rádio, televisão etc.);
Marx.
necessitará ser examinada pormenorizadamente, posta à prova, · o AIE cultural (Letras, Belas-artes, desportos etc.).

retificada e reelaborada. Com todas as reservas que esta

18
UNIDADE A

Assim como Althusser, outros autores


(FREITAG, NOSELLA, CUNHA, apenas para citar
alguns brasileiros) compartilham essa forma de Comente as idéias de Althusser sobre as
compreender a relação existente entre escola relações entre escola e sociedade (texto
e sociedade. Quer dizer, há um grupo de de no máximo 30 linhas) e disponibilize
sociólogos para os quais, fundamentalmente, a no ambiente virtual conforme orientações
sociedade é um todo segmentado, constituído do professor da disciplina.
por diferentes grupos lutando por interesses
antagônicos, como um sistema de forças em
desequilíbrio e conflito, no qual a Educação tem
a função de estabelecer e manter a dominação
de determinada classe social sobre as demais.
Embora tenham esses pressupostos comuns,
as diferentes visões que integram essa forma
de compreender a relação existente entre a
escola e sociedade estão longe de serem
homogêneas.

19
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

2 Situação da escola, do ensino e


da formação de professores:
avanços e rupturas
Qual o papel que a escola Os fins educativos propostos pela sociedade,
desempenha hoje em nosso país? portanto, tendem a ser os mesmos da classe
Podemos dizer que à escola é atribuída a tarefa dominante. Dessa forma, compreender algumas
de realizar junto às novas gerações os ideais da teorias fundantes da sociologia e da filosofia
educação propostos pela sociedade. da educação, bem como a situação escolar
Entretanto, a educação, como sabemos, é brasileira, pode nos propiciar uma visão crítica
um processo anterior e muito mais amplo que e transformadora de nosso próprio fazer
aquele desenvolvido pela escola, pois ela pedagógico.
acontece em todas as instâncias sociais (família,
religião, trabalho, etc.) de forma clara ou difusa,
com os objetivos de transmitir a essas novas Falar em situação da escola é
gerações idéias, crenças, valores, modelos de falar em formação de professores
trabalho, saber comum, o modo de vida de Acredito que falarmos em situação da escola,
cada grupo ou sociedade, enfim, a maneira do ensino é já falarmos na formação de
peculiar que cada um entende e materializa professores ou nos problemas que aí estão
seu cotidiano. imbricados. Quando pensamos sobre a realidade
A partir disso, é viável dizer que a educação brasileira, podemos dizer que, antes da década
é um processo social que se molda em uma de 70, pouco se pesquisava e se escrevia sobre
concepção particular do mundo que vai a formação de professores. É essa década que
determinar, por sua vez, os fins a serem caracteriza o "treinamento do técnico em
atingidos pela própria educação. Esses fins educação".
dependem da época histórica e das idéias Especialmente na primeira metade dos anos
coletivas dominantes. No século passado, nosso 70, com a influência direta da psicologia
país sofreu grandes modificações, entre elas, comportamental e da tecnologia educacional,
sua crescente urbanização. A demanda da a maior parte dos estudos privilegiava a
educação ocorre em função desse processo, dimensão técnica do processo de formação do
como uma das exigências da "cidade". O professor e do especialista em educação. Como
aglomerado urbano, onde a divisão de classes organizador dos componentes do processo
parece ser mais visível, evidencia a tendência ensino-aprendizagem (os planos deveriam ser
de que a classe dominante tente impor sua rigorosamente organizados a fim de garantirem
maneira de compreender e organizar o mundo. o sucesso dos resultados), a grande preocupação
20
UNIDADE A

na formação do professor era sua instrumentali- nossos dias.


zação técnica. Como podemos observar, o papel do
No entanto, na segunda metade da mesma professor é bem mais complexo do que a mera
década, é iniciado um movimento que rejeita tarefa de transmitir o conhecimento produzido.
esse enfoque técnico e funcionalista. Através O professor, durante sua formação inicial ou
da influência de estudos de caráter filosófico e continuada, precisa compreender o próprio
sociológico, a educação passa a ser considerada processo de construção e produção do
como uma prática social vinculada aos sistemas conhecimento escolar, entender as diferenças
político e econômico vigentes. Logo, a prática e semelhanças dos processos de produção do
dos professores deixa de ser considerada neutra saber científico e do saber escolar, saber a
e passa a se constituir em uma possibilidade história da ciência e a história do ensino da
de prática transformadora. ciência com a qual trabalha e em que pontos
Será, no entanto, nos anos 80, que esse elas se relacionam.
movimento de rejeição à visão da educação e Essas modificações na concepção da
formação de professores ganha maior força. formação de professores parecem refletir
Com a crítica de cunho marxista (implantada diferentes formas de conceber o trabalho
especialmente através dos cursos de pós- docente na escola ao longo do tempo. De mero
graduação que começam a se expandir), a transmissor de conhecimentos, "neutro",
tecnologia educacional passou a ser duramente preocupado com seu aprimoramento técnico,
questionada. Os anos 80 se caracterizaram, em o professor passa a ser visto como agente
contraposição à década anterior, pela "formação político, compromissado com a transformação
do educador". Vários autores (Gadotti, Arroyo, social da maioria da população. Sem perder de
Cunha, Cury, Nosella, Saviani, Mello) fazem vista isso tudo, todavia, talvez, menos ingênua
abrangentes análises desse quadro quase nunca e ideologicamente, privilegia-se, na
"verde" da educação brasileira. contemporaneidade, a visão do professor como
Já, nos anos 90, as mudanças que profissional reflexivo cuja atividade está aliada
aconteceram no cenário mundial, na década à pesquisa.
anterior, repercutiram no pensamento
educacional e nas pesquisas e estudos sobre
formação de professores. Essa década pode ser
caracterizada como aquela da "formação do Elabore uma síntese da unidade a qual
professor pesquisador", ou seja, destaca-se a deverá ser enviada ao professor via
importância da formação do profissional ambiente virtual, conforme orientações
reflexivo, que pensa-na-ação, cuja atividade disponíveis.
profissional está vinculada à atividade de
pesquisa. Tal tendência, parece se estender até

21
22
B
UNIDADE

INTERFACES ENTRE OS
SABERES SOCIOLÓGICOS,
FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS
DA EDUCAÇÃO NO ESPAÇO
DA ESCOLA E DA FORMAÇÃO
INICIAL DE PROFESSORES
Objetivo da Unidade
Verificar a inserção dos saberes históricos, filosóficos
e sociológicos da educação na formação de
professores e no espaço escolar.

23
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
André Schmitt da Silva Mello

Figura B.1: Sala de aula tradicinal

apenas na face política da emancipação,


Parece que todos aqueles que se dedicam a
como se trabalhar/produzir não fosse a outra
estudar a educação concordam ser ela metade (DEMO, 1993, pp.260 - 261).
imprescindível para a mudança e a inovação
necessárias ao próprio desenvolvimento do país. Acreditamos que essas posições rígidas
Uma pergunta, no entanto, têm feito essas tomam corpo, muitas vezes, através de uma
mesmas pessoas: por que, apesar disso, a visão distorcida e/ou precária tanto na
educação tende a se cristalizar como um lugar formação de professores quanto (e por
do conservadorismo e do atraso? conseqüência até) no espaço escolar, das bases
O professor Pedro Demo, no seu livro que fundamentam a educação.
Desafios modernos da educação, refere que A expressão "aprender a aprender" tem sido
essa "fossilização" acontece em praticamente usada quase como uma frase mágica a resolver
todos os níveis de ensino e aponta dois grandes todos os problemas relativos ao processo de
equívocos praticados por educadores ditos educação. Entretanto, ela apenas terá contorno
críticos que estariam profundamente real se e somente se "soubermos pensar". Este
preocupados com a formação da cidadania: é o fundamento do sujeito social não apenas
consciente como também apto a enfrentar a
[...] permanecer na didática ensino/
realidade do trabalho.
aprendizagem, como se conhecimento fosse
transmissão apenas; encerrar educação
24
UNIDADE B

1 Contribuições das Ciências


da Educação e da Filosofia
da Educação à formação
de professores
Um primeiro problema relacionado a esse Claro, esse é um problema ainda sem
assunto é: existe mesmo ciências da educação? respostas, talvez nunca com respostas acabadas.
Ou, as ciências da educação seriam tão somente No entanto, se queremos um professor reflexivo
ciências sociais e humanas aplicadas à educação? que tem a sua formação orientada para a
Ou, ainda, existiria uma única ciência da pesquisa, precisamos refletir sobre as
educação: a pedagogia tal qual propõe, por contribuições das Ciências da Educação e da
exemplo, Saviani? Filosofia da Educação, não apenas para a
formação de professores, como também para
[...] a compreensão da natureza da educação
a compreensão do espaço onde eles atuam.
enquanto um trabalho não-material cujo
produto não se separa do ato de produção Entendemos que as Ciências da Educação e a
nos permite situar a especificidade da Filosofia da Educação estão imbricadas a ambos
educação como referida aos conhecimentos,
idéias, conceitos, valores, atitudes, hábitos, (formação e espaço), por isso, através do texto
símbolos sob o aspecto de elementos do professor Paulo Ghiraldelli chamado "A
necessários à formação da humanidade em
cada indivíduo singular, na forma de uma formação de professores", que pode ser
segunda natureza, que se produz, deliberada encontrado no endereço a seguir, sugerimos a
e intencionalmente, através de relações
pedagógicas historicamente determinadas ponte entre eles.
que se travam entre os homens. A partir daí http://www.ghiraldelli.pro.br/
se abre também a perspectiva da
especificidade dos estudos pedagógicos
(ciência da educação) que, diferentemente
das ciências da natureza (preocupadas com
a identificação dos fenômenos naturais) e
das ciências humanas (preocupadas com a Responda à seguinte questão (no mínimo
identificação dos fenômenos culturais),
em 300 caracteres) : como as Ciências
preocupa-se com a identificação dos
elementos naturais e culturais necessários à da Educação e a Filosofia da Educação
constituição da humanidade em cada ser podem estar relacionadas na formação de
humano e à descoberta das formas
adequadas ao atingimento desse objetivo professores?
(SAVIANI, 1994, pp. 29 -30). A atividade deverá ser enviada conforme
orientações disponíveis no ambiente virtual.

25
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

2 Contribuições das Ciências da


Educação e da Filosofia da
Educação para compreender
melhor a escola
Para uma possível compreensão fundamentais da formação do professor.
da relação entre as ciências da Primeiro as teorias e depois a prática, eis a fala
Para a compreensão educação, a filosofia da mais comum. No entanto, cabe perguntar se
dessa subunidade, nos
valemos do texto da educação e a prática educativa metodologia exclui teoria e se a ação é
professora Elizete
Tomazetti. Neste, entre Profª. Elisete M.Tomazetti desprovida de idéias e concepções que a
outros aspectos, a
professora nos mostra
norteiam e a justificam?
como a imbricação Ao fazer-se a pergunta pelas contribuições que Gostaria, pois, de problematizar uma
entre teoria e prática é
uma necessidade na as disciplinas denominadas de fundamentos da concepção recorrente em nosso meio de que
educação.
educação oferecem à ação docente, à pratica na prática a teoria é outra, mas que, na verdade,
profissional dos futuros professores, percebe- quer dizer que a teoria é quase que inútil, de
se latente a idéia, a pressuposição, de uma certa nada serve no momento da ação. Ou seja, a
fragilidade e dúvida. Poder-se-ia perguntar da concepção aplicacionista e linear da relação
seguinte forma, então: "Será mesmo que há teoria e prática.
contribuição dessas disciplinas?", "qual é As teorias sociológicas e psicológicas da
mesmo a relação que se estabelece entre teoria educação são aplicáveis à prática de sala de
e prática/", ou "qual a utilidade da disciplina aula? Para que estudar filosofia e história da
Filosofia da Educação para a prática do educação se a docência será com crianças,
professor?". relativa à infância ou com portadores de
Nosso modelo de formação inicial de necessidades educativas especiais?
professores em nível superior e, ainda, de Se partirmos da compreensão praticista de
professores do curso de magistério mantém as que todo o conhecimento deva ser aplicado a
disciplinas de sociologia, psicologia, história e situações específicas de sala de aula, ou se
filosofia da educação em seus currículos, nos entendermos que as teorias devam possibilitar
semestres iniciais do curso. Ao final, estão as o surgimento de tecnologias educacionais,
disciplinas relacionadas às metodologias e às certamente ficamos presos a uma visão
práticas, possibilitando a presença e a reducionista e estreita da relação teoria e
intervenção dos alunos no espaço escolar. A prática.
constatação feita é de que as teorias ficaram O conhecimento produzido pelas ciências
esquecidas e sem utilidade em momentos da educação e os conhecimentos da tradição
26
UNIDADE B

filosófica possibilitam que o professor pense a entender que esta prática é múltipla, ou seja,
sua ação - defina seus objetivos, organize seu como diz Sacristán (1995), há:
plano, trace suas estratégias e, mais, saiba dar 1- Práticas institucionais = relacionadas com
as razões destas escolhas. As teorias auxiliam a o funcionamento do sistema escolar e
compreensão das situações para uma ação configuradas pela sua carreira
competente. O professor, como o médico e o 2- Práticas organizativas= relacionadas com
engenheiro, dizia Anísio Teixeira, tem que agir o funcionamento da escola e configuradas pela
em situações particulares, retomando de forma sua organização: a forma de trabalho conjunto
própria os conhecimentos acumulados ao longo dos professores, a divisão do tempo e do espaço
de sua formação. Ele deve conseguir mobilizar escolar, a articulação dos saberes e das discipli-
os conhecimentos adquiridos, deve ser capaz nas, os critérios de organização das turmas.
de acioná-los para resolver e decidir aquilo que 3- Práticas didáticas= trata-se da acepção
a prática está a solicitar. mais imediata da prática, a qual, no entanto,
Quanto à Filosofia, sua potencialidade para não pode apreender-se sem uma referência às
a formação do professor dá-se na leitura crítica outras práticas, que lhe servem de
e analítica do discurso educacional e das enquadramento e de suporte. O conceito mais
próprias teorias educacionais, mas também na imediato de prática remete-nos para as
abertura para a crítica, para a dúvida, para a atividades docentes realizadas num contexto de
negação do estabelecido, do legitimado no comunicação interpessoal; este conteúdo da
campo educacional, na escola, na sociedade. prática tem sido veiculado pela investigação
Pela leitura dos clássicos filósofos, abre-se a educacional dominante e traduz uma redução
possibilidade de compreender de forma crítica dos professores ao papel de técnicos que
a realidade, o que certamente constitui uma desenvolvem um currículo preparado noutros
condição fundamental do ser professor. A espaços.
superação do senso comum, da opinião, da Para compreendermos como se estabelece
experiência cega representa a contribuição para a relação entre aqueles conhecimentos que
uma prática reflexiva e competente que pode apreendemos durante a formação inicial e ação
ser dada pela filosofia da educação. profissional, a denominada prática, é necessário
A formação inicial constitui-se em uma termos uma visão mais complexa dessa prática
formação sistemática e profissional, que habilita como já sugerido. Tomando como referência a
o futuro professor a exercer sua ação prática didática, a docência, precisamos definir
profissional, ou exercer práticas escolares. O o que entendemos por ensino, o que configura
espaço da escola é regido por normas coletivas o ato de ensinar. Vamos utilizar a partir de Tom
e regulações institucionais. Não podemos, (apud SACRISTÁN, 1995) quatro definições de
portanto, pensar em um professor autônomo ensino.
diante da complexidade política, cultural, 1- Ensino como ofício composto de saberes
institucional que é a escola. Quando falamos práticos adquiridos pela experiência (para
em prática docente, não podemos deixar de ensinar basta a experiência).
27
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

2- Ensino como uma derivação do conheci- vidade individual de quem o realiza (concepção
mento, isto é, como a aplicação de uma ciência não cientificista radical, professor como artista).
(concepção cientificista, início do século, mas 4- Ensino como um empenhamento moral,
ainda hoje é muito presente). sublinhando a dimensão ética da atividade
3- Ensino como uma arte que exprime criati- docente.
Paulo César Cipolatt de Oliveira

Figura B.2: O que é ensino?

Para Anísio Teixeira, [...]como a medicina, a menos complexas"( BRANDÃO, 1997,p. 77).
educação (docência) é uma arte. E arte é algo A docência exige o conhecimento das
muito mais complexo e muito mais completo ciências da educação, mas em nenhum
que uma ciência [...]. Trata-se de levar a momento Anísio entendia que esta importância
educação para o campo das grandes artes já se dava pelo fornecimento de regras ao
científicas - como a engenharia e a medicina - professor em ação (concepção cientificista,
e de dar aos seus métodos, processos e aplicacionista). Conhecer os resultados das
materiais a segurança inteligente, a eficácia ciências da educação tinha o sentido de
controlada e a capacidade de progresso já possibilitar ao professor "rever e reconstruir
asseguradas às suas predecessoras relativamente com mais inteligência e com maior segurança,
28
UNIDADE B

as atuais regras de arte, criar, se possível, professor deve tomar decisões, resolver
outras..." (TEIXEIRA, 1977, p. 130). Da mesma problemas, organizar a classe, enfim, defronta-
forma que o médico, o professor desenvolveria se com situações antes não pensadas, e das
uma arte clínica, capaz de se apoiar nas ciências quais não pode fugir. Precisa agir na urgência
e nas condições específicas de atuação, ser que o momento impõe. Nesse sentido, o
capaz de recriar os subsídios oferecidos pelas professor mobiliza diferentes saberes
ciências. A arte-clínica seria uma retradução provenientes de sua formação e de sua prática,
permanente dos conhecimentos científicos às realiza uma alquimia complexa a partir de seu
situações práticas particulares. reservatório de saberes e conhecimentos, mas
Anísio Teixeira, juntamente com Fernando também de seus valores, de suas intenções,
de Azevedo, foi um dos grandes responsáveis de suas finalidades. Por isso, diz Gauthier, o
pela introdução das ciências da educação, como professor pode ser considerado um agente
disciplinas, nos cursos normais e nos primeiros prudente, do sentido aristotélico de phronesis
cursos de formação de professores dentro das - prudência, sabedoria prática. Exercer a
universidades brasileiras na década de trinta do sabedoria prática é agir conforme valores,
século 20. finalidades que são éticas, pois, para Aristóteles,
Seguindo também posição contrária à a sabedoria prática é sempre conforme a razão.
concepção aplicacionista da relação teoria- A prudência dirige a ação, a ação de ensinar.
prática, Clermont Gauthier (1988, p. 32) afirma: Essas idéias têm o sentido de potencializar
"Nenhuma conclusão das pesquisas científicas uma compreensão daquilo que no discurso
pode ser convertida em regra imediata da arte acadêmico é muito freqüente:
de educar; a contribuição da ciência para a - Somente no estágio é que nos deparamos
educação pode ser apenas indireta". Os com os problemas da prática e aí não
conhecimentos das ciências da educação conseguimos aplicar o que aprendemos. O que
contribuem com instrumentos intelectuais, fazemos com a teoria aprendida? Parece que
conceitos, para que o professor direcione suas ela não se vincula à ação profissional.
observações, afine sua percepção, modifique - Um curso de formação de professores não
suas concepções e guie suas interpretações. Os vai dar conta de prever todos os dilemas e
dados fornecidos pelas ciências da educação problemas que o futuro professor irá encontrar.
têm um valor argumentativo e não absoluto. E aqui volta a idéia da sala de aula como um
Fazem parte dos "vetores mentais" do professor espaço complexo de interações e reações, o
e servem para modificar seus argumentos espaço da alteridade. É o professor que terá
práticos. Desta forma, podemos inferir que o que decidir, observar, interpretar e agir segundo
professor é um "ator racional", que exerce sua seus valores, seus objetivos, seus conhecimentos
ação em uma sala de aula que não pode ser armazenados no seu reservatório. Nesse
considerado um ambiente simples, mas momento, ele lança mão de conhecimentos
complexo. É o espaço da diversidade de etnias, que lhe ajudam a compreender e a agir. É o
de gênero, de classes, cultura, etc, onde o processo de retradução - arte clínica.
29
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

- Quanto mais essa formação tiver sido explicitados.


rigorosa, houver colocado o aluno em contato - Em tempos que muito se fala em professor
com a tradição, com as teorias das ciências da pesquisador e professor reflexivo, o contato com
educação, quanto mais esse aluno tiver lido e, a filosofia do ponto de vista do conteúdo e do
a partir dessas leituras, procurado compreender trato com os textos filosóficos pode ser um
a educação, a escola, a sala de aula, mais "laboratório" para a constituição deste professor.
seguro ele estará no momento de agir - Para finalizar, como definimos aquilo que
solitariamente diante de uma turma de 30 é útil ou inútil para nossa profissão? Que saberes
alunos. e conhecimentos servem ou não, se na verdade
- Outra questão importante refere-se às somos nós sujeitos, professores que costuramos,
potencialidades de vivências de situações misturamos e mobilizamos conforme aquilo que
escolares no contexto da formação inicial. Nossa acreditamos e projetamos?
tradição em curso de formação de professores
tem excluído a dimensão prática em detrimento Referências
da dimensão teórica, que já me referi. Primeiro BRANDÃO, Zaia. Conversas com Pós-
a teoria, depois a prática, pressupondo-se que Graduandos. São Paulo : UNESP, 1997.
a teoria possa ser aplicada na prática. Hoje o GAUTHIER, Clermont et. All.. Por uma teoria
modelo curricular sugere a prática como eixo, da Pedagogia. Ijuí/RS: UNIJUÍ Editora, 1998.
ao longo de todo o curso. Com isso, supomos SACRISTRAN, J.G. Consciência e ação sobre
antecipar os problemas que seriam percebidos a prática como libertação profissional dos
somente no estágio, para o curso como um professores. In: NÓVOA, António (org.).
todo. Essa concepção é importante e relevante, Profissão Professor. 2ª ed. , Porto/Portugal: Porto
mas não pode anular a importância da teoria Editora, 1995.
no seu aspecto geral, de potencializadora do
pensamento crítico emancipador.
Por último, gostaríamos de referir a filosofia
da educação, uma disciplina que, por essência,
busca a compreensão crítica dos fatos
educacionais e do discurso educacional. Nesse Você deverá elaborar uma síntese dessa
sentido, o contato com a tradição filosófica, com unidade, utilizando-se dos textos de apoio.
os textos dos clássicos, a sua leitura cuidadosa Essa atividade será enviada ao professor
e crítica dá ao futuro professor a possibilidade orientador conforme o cronograma pré-
do exercício de reflexão, de questionamento estabelecido, disponível no ambiente
do senso comum, das práticas e discursos virtual.
ultrapassados, com argumentos e razão

30
C
UNIDADE

ESCOLA
CONTEMPORÂNEA E
NOVOS MODELOS
DE FORMAÇÃO:
POSSIBILIDADES E
DESAFIOS
Objetivo da Unidade
Verificar como os processos de mudanças sociais,
políticas e econômicas interferem na educação
escolar; qual a teoria educacional que temos como
solo e por que a temos.

31
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
Podemos dizer que, a partir dos anos 80, a capitalismo) da natureza como uma "presa" a
educação (e a pedagogia) é "atravessada por ser dominada e explorada. A ecologia acabou
um feixe de novas emergências, novas deixando traços marcantes na reflexão
exigências e novas fórmulas educativas, novos pedagógica, colocando em destaque novos
sujeitos dos processos formativos/educativos e modelos antropológicos e culturais; mesmo que
novas orientações político-culturais" (Cambi, talvez ainda não com a intensidade desejável.
1999, p. 638). O mesmo autor alinha o A intercultura diz respeito ao crescimento
feminismo, a ecologia e intercultura como os das etnias presentes nos países desenvolvidos
novos "sujeitos" da educação. Vejamos como e aos problemas multiculturais advindos dessa
isso ocorre historicamente. presença. Talvez este ainda não seja um
Os movimentos feministas (não necessaria- problema muito visível em nosso país. O
mente com esse nome) começaram no século mesmo autor, Cambi, associa a intercultura, o
XIX e se destinavam ao resgate social da mulher problema surgido nos últimos anos como
associado a sua afirmação política (o direito ao problema social e pedagógico: aquele da
voto, à instrução, ao trabalho e também a terceira idade. Trata-se aqui (e este também é
questão da maternidade). Com isso, é colocado um problema pedagógico) de se dar um sentido
sob suspeita o modelo tradicional de educação totalmente diferente daquele que a velhice
vinculado apenas ao modelo masculino e tinha até então, agora afirmando-se como uma
machista. De lá para cá, não sem equívocos, idade socialmente ativa.
esse movimento em marcha tem obrigado a Diante disso, é inegável a necessidade de
pedagogia a repensar-se de forma radical, "tanto novos paradigmas na formação do professor. O
no seu aparato teórico quanto na sua tradição saber pedagógico, é provável, nunca esteve
histórica, como também nas suas práxis diante de tão grandes desafios. Por isso ele se
educativas e escolares" (Cambi, 1999, p. 639). reexamina, revendo sua própria identidade, se
O problema ecológico está ligado à reconstruindo, sem perder de vista o seu
crescente e descontrolada industrialização que aspecto mais genuíno: o de paradigma de
se origina na visão moderna (inícios do desenvolvimento humano.

32
UNIDADE C

1 Sociedade contemporânea:
características
Parece ser quase um lugar comum que os particulares somados que estavam represen-
debates sobre educação necessitam ser tados no mercado para a consecução dos
situados no contexto de processos de interesses coletivos. A relação entre a
reestruturação que fazem parte desse mundo quantidade e a qualidade dos bens oferecidos
dito globalizado. Para que entendamos melhor e o desejo e a capacidade de comprá-los,
as características da sociedade contemporânea, determinariam os preços das mercadorias e o
ou as características do conflito social e político valor dos salários. O Estado, nessa concepção,
contemporâneo entre os sujeitos sociais, mesmo sem jamais imiscuir-se nos assuntos do
propomos um rápido "mergulho" histórico- mercado, seria a instituição que garantiria os
sociológico. contratos privados da economia e a liberdade
Vamos voltar a percorrer - mesmo que das relações de troca. Mas, como sabemos, a
pontualmente, alguns aspectos do pensamento história e os críticos da economia e da política
sociológico que nos auxiliarão para que capitalistas (Karl Marx, o mais conhecido deles),
conheçamos o caráter contemporâneo da mostraram que essa imagem não coincidia
sociedade atual (capitalista). necessariamente com a realidade social
Marx e Durkheim viveram no tempo que consolidada sob a égide do capital e nem
podemos chamar de começo da idade adulta tampouco com o próprio funcionamento da
do capitalismo. Era o tempo do livre mercado, economia capitalista.
do liberalismo econômico, do chamado laissez- O capitalismo sofre uma série de crises que
faire. A Revolução Industrial tanto quanto a culminam com a conhecida quebra da Bolsa
reorientação teórica que aconteceu através do de Valores de Nova Iorque, em 1929. Na realida-
desenvolvimento da política econômica de, ficou demonstrado na prática que o mercado
burguesa (com Adam Smith e David Ricardo), não se auto-ajustava, equilibrando oferta e
não apenas moldaram um novo mundo, como procura, sem contar aquilo que os cartéis já
uma nova visão de mundo para nós ocidentais haviam feito de estragos no "livre mercado".
de forma particular. As características da nova fase do capitalismo
O mercado (espaço de compra e venda de daí oriunda, serão descritas nas obras socioló-
mercadorias e trabalho) passou a ser concebido gicas e econômicas de Weber. O pretenso
como uma espécie de caldeirão impessoal, equilíbrio entre Estado, empresa capitalista e
onde cada um contribuía com sua parte e, mercado foi rompido pela hipertrofia de
posteriormente, ficava com a parte da riqueza algumas empresas, as quais acabaram impondo
social que lhe caberia. Essa "mão invisível", na seus interesses ao mercado, com, muitas vezes,
concepção de Smith, guiaria os interesses o olhar complacente do Estado.
33
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Após a queda da bolsa nova-iorquina, eleva substancialmente o preço do barril no


inspirada nas idéias do economista inglês John mercado internacional e desequilibra os preços
Keynes, foram efetivados pelo governo norte- em vários setores econômicos, fazendo subir a
americano de Roosevelt, mecanismos de inflação mesmo nos países capitalistas
intervenção do Estado com vistas a regular a desenvolvidos. Com isso, e também devido a
economia e controlar as "irracionalidades" do outros problemas, a arrecadação de impostos
mercado. cai substancialmente nesses países e o Estado
Com o final da Segunda Guerra Mundial, o vai se afastando de seus compromissos sociais
capitalismo vive um novo ciclo. As reconstruções anteriormente assumidos. Afinal, não há como
da Europa e Japão, através de investimentos fornecer saúde, educação e outras políticas de
ianques, com o Plano Marshal; a produção e bem-estar sem os recursos correspondentes.
consumo de massas; as novas técnicas de Qual o modo, então, de sair da crise? Os
organização do trabalho e da produção fabril setores políticos mais conservadores passaram
(conhecidas pelo nome genérico de "fordismo") a vender como tábua de salvação uma versão
e a regulação da economia através do estado ultra-radical das idéias liberais (especialmente
(o "keynesianismo"), são alguns de seus através do economista austríaco Ludwig Von
componentes. Há, então, uma expansão Hayek que as vinha defendendo desde os anos
econômica, encontrando nas décadas de 1950- 40). Nela, eles pregavam que apenas cortando
60 seu período de maior prosperidade, quando benefícios sociais que oneravam em demasia
atinge escala mundial. Começam a surgir os o Estado, fazendo-o emitir mais moeda e
movimentos operários e novos movimentos gerando exponencialmente inflação, haveria
sociais que se empenham em garantir os direitos solução para a crise. Seria necessário um
sociais. "ajuste" da economia, o qual deveria se basear
Nos chamados países capitalistas-centrais, as no equilíbrio entre receitas e gastos do Estado.
políticas de garantia e proteção ao trabalhador, Para tal, o Estado não assumiria mais tantas
seguridade social, educação e saúde públicas funções econômicas e então surgiria a
gratuitas se tornam realidade. Por conta desse necessidade de privatização de empresas
momento, chamado de capitalismo organizado, controladas pelo Estado. Ao mesmo tempo, o
quando o Estado assume um papel central no Estado não deveria intervir nem sobre as
controle e distribuição de lucros das empresas empresas nem sobre o mercado, haveria,
e na regulação do mercado, se configura o portanto, um processo de "desregulamentação"
Welfare State, ou seja, um "Estado de bem- da economia. Esse conjunto de idéias, que
estar social". Em contrapartida, União Soviética propõe dar ao mercado primazia sobre o Estado,
e China se estruturam como os principais ficou conhecido como neoliberalismo e se
representantes do bloco dos países socialistas. implantou no chamado primeiro mundo com
No entanto, há uma nova crise do as vitórias conservadoras de Margareth Tatcher
capitalismo mundial na década de 70, (1979) na Inglaterra e de Ronald Reagan
especialmente com a crise do petróleo que (1980) nos Estados Unidos.
34
UNIDADE C

Mesmo com a apregoada "morte das entre aqueles que se vinculam ao Estado de
ideologias" (e até das utopias), aqueles atores bem-estar social, pretendendo preservar suas
sociais que, organizadamente, lutaram pelo características básicas e aqueles que apostam
Estado de bem-estar não desapareceram de na liberdade de mercado, pretendendo aliviar
uma hora para outra e, portanto, não aceitaram o peso do Estado com a desregulamentação da
de forma passiva o "desmonte" do Estado. economia, uma de suas principais
Parece que a sociedade atual tem, no conflito características.

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2 Escola-conhecimento-docência
Já nos referimos anteriormente sobre nosso erudita versus cultura popular e outras tantas.
entendimento de que a escola não é tão Como fica, então, a atuação docente? Quais
somente transmissora do saber acumulado em são os saberes profissionais (competências,
uma determinada sociedade como também, e habilidades, conhecimentos, etc.) que as/os
principalmente deveria ser, local de professoras/professores utilizam efetivamente
reconstrução/desconstrução desse saber. em seu trabalho diário? O que é mesmo
Diante disso, a escola não poderia estar à parte conhecimento no contexto atual? (tentamos
do mundo da produção. Ela deveria se constituir discutir alguns pontos deste problema no nosso
no momento em que essa produção fosse artigo em anexo sobre a questão do
colocada em questão. Como local de fácil conhecimento).
acesso a todos que a desejassem, a escola seria Quando falamos em docência e conheci-
uma avalista do exercício democrático. mento, não podemos deixar de lembrar da
Entretanto, basta estudarmos minimamente própria formação cultural brasileira. Ao olharmos
a História da Educação para que constatemos nossos momentos históricos decisivos, observa-
uma história de exclusão, de não acesso da mos que - via de regra - eles ocorreram sem a
maioria, ao saber. Mesmo com o jogo ideológico participação popular. Quase invariavelmente
da camuflagem, não podemos perder de vista partiram de decisões unilaterais de governos
que a escola ainda é dualista como já nos autoritários e/ou de classes dominantes. Hoje,
referimos anteriormente. Sem a escola unitária esse quadro parece agravar-se, como nos
- em que todos são preparados para o trabalho, recorda Paviani:
sem significar com isso formar mão de obra
Hoje juntamente com o espírito paternalista,
para o mercado - não há como superar os
convivemos com a dependência econômica,
impasses da escola segregadora. com a grande concentração de renda
atrelada ao capital estrangeiro, com uma
Cabe à escola dar um saber para o trabalho estrutura que marginaliza e expulsa o homem
e também um saber sobre o trabalho. Saber do próprio meio. A população politicamente
desinformada enfrenta dificuldades no
sobre o trabalho significa discutir os
fundamentos do trabalho, explicitar as formas processo de identificação cultural, processo
pelas quais o homem, neste momento este que deve ser instaurado pela educação
(PAVIANI, 1990, p. 26).
concreto, transforma o mundo em que vive
[...] (ARANHA, 2002, p.224).

As teorias educacionais admitidas nas


A mesma autora lembra que dessa forma escolas, no entanto, nem sempre levam em
seria possível a superação de dicotomias que conta a realidade brasileira. Existem, claro,
têm contribuído para acentuar as desigualdades esforços notáveis na tentativa de adequar
e deformações: ciência versus produção, traba- teorias desenvolvidas em outros países para
lho manual versus trabalho intelectual, cultura nossa realidade, mas todos eles foram ou serão
36
UNIDADE C

inúteis se não levarem em conta que, pensar compartilham dentro de uma determinada
uma teoria educacional implica, ao mesmo sociedade (portanto, dentro de uma
tempo, pensarmos um determinado projeto de determinada cultura e de um determinado
sociedade e uma determinada concepção de tempo histórico). Nesse sentido, não há técnica
homem. Sem essas condições, qualquer que pedagógica neutra pois ela é construída e
seja a teoria, de pouco servirá como guia para utilizada a partir de valores e normas.
uma reflexão crítica de nossa docência . Quanto às "técnicas" aplicadas à educação,
O sociólogo brasileiro Florestan Fernandes Florestan (1985) não as entendia simplesmente
(1985) via a educação como um elemento da como recursos formais utilizados na transmissão
vida social responsável pela organização da de conteúdos, mas sim a própria pedagogia,
experiência dos indivíduos na vida cotidiana, compreendida em suas dimensões filosófica e
pelo desenvolvimento de sua personalidade e sociológica. Dessa maneira, a pedagogia pode
também pela garantia de sobrevivência das ser vista como teoria crítica da educação, isto
coletividades humanas. é, da ação do homem ao transmitir ou modificar
Para ele, as chamadas práticas educacionais, a herança cultural. Com isso, insere-se como
ou seja, as ações que empreendemos com a imprescindível à nossa práxis (entendida como
finalidade de educar, estão diretamente união dialética entre teoria e prática) pedagógica
vinculadas às técnicas aplicadas, com as normas tanto o conhecimento básico filosófico quanto
vigentes e com os valores que os indivíduos o sociológico.
Bruno da Veiga Thurner

Figura C.1: O que é conhecimento?


37
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que, ao nos determos na análise do primeiro,


poderemos ter boas condições de entendermos
Faça uma pesquisa na Unidade V - mais amplamente o segundo.
"Concepções de educação" do livro À escola, normalmente, é atribuída a tarefa
Filosofia da Educação de Maria L. de A. de transmissão do conhecimento. A tradicional
Aranha (Moderna, 1996) que está aula parece não ser outra coisa senão isso. Às
disponível nos Pólos e opte por uma delas vezes, nem é isso. Então, a preocupação é com
(escola tradicional, escola nova, escola o produto do conhecimento, descuidando-se,
tecnicista, etc), justificando a sua opção em quase sempre, das questões relativas às
um texto de no mínimo 3 e no máximo 5 maneiras através das quais é construído esse
laudas. conhecimento (o saber).
Disponibilize-a virtualmente de acordo com Compreendemos essa tendência. Se num
orientações do seu professor. primeiro momento a nossa relação com o
mundo é não reflexiva (não questionamos, por
exemplo, sobre a maneira pela qual nós
aceitamos determinada crença), mesmo quando
No artigo a seguir, analisamos a questão da temos possibilidade de acessar formas mais
comunicação e do conhecimento, uma relação sofisticadas de conhecimento, como a ciência,
nem sempre bem "digerida" por nós. Foi escrito parece persistir a idéia do produto acabado. Não
para apresentação e publicação no I Seminário há a preocupação com sua origem (gênese).
de Epistemologia e Teoria da Eucação ( I Não há suspeita acerca de sua precariedade.
EPISTED), desenvolvido na Universidade Quando nos detemos no primeiro caminho
Estadual de Campinas (UNICAMP), São Paulo, (aquele da investigação das relações entre o
dias 6 e 7 de dezembro de 2005. sujeito que conhece e o objeto conhecido)
estamos ancorando numa questão básica da
Prática pedagógica e Modernidade: por primeira vez na história
comunicação: O problema conhecida do homem, é colocada em questão
do conhecimento a realidade do mundo e nossa capacidade em
Hugo Antonio Fontana conhecê-la. Constitui-se a teoria do
A palavra conhecimento (o ato de conhecer) conhecimento, uma parte da filosofia que se
pode nos sugerir pelo menos dois caminhos: o dedicará a examinar o ato de conhecer. Afinal,
primeiro, como uma relação que se estabelece após tantos erros, se fazia necessário um
entre o sujeito cognoscente e o objeto caminho (método) que investigasse qual é a
conhecido; o segundo, poderá nos levar ao origem do conhecimento e que nos permite
produto (resultante do ato de conhecer). Nesse reconhecer algo como verdadeiro.
caso, ao chamado saber adquirido ou A reflexão filosófica é marcada, partir daí,
acumulado pelos homens. Mesmo considerando pelas indagações do racionalismo e do
que os dois caminhos são importantes, penso empirismo.
38
UNIDADE C

O racionalista Descartes (1596-1650) nos e Leibniz), XIX (Hegel e Marx) e do século XX


diz que o princípio do conhecimento não está (através especialmente da fenomenologia de
na realidade do mundo, mas sim na Husserl) se ocuparam de uma compreensão
subjetividade, é no sujeito que devemos buscar mais elaborada do problema com o objetivo
os critérios para que estabeleçamos se algo é de superar a dicotomia sujeito-objeto na
verdadeiro. Suas idéias claras e distintas já se questão do conhecimento. Não é possível aqui
encontram no espírito como instrumentos de especificar os exercícios teóricos de cada um,
fundamentação para apreensão de outras por isso, a grosso modo, podemos dizer que
verdades. Ao virem da razão, não dependem esses pensadores têm em comum, além do
das idéias que "vêm de fora" (aquelas formadas aspecto de considerarem insatisfatórias as
pelos sentidos ou pela imaginação). Portanto, posições do empirismo e do racionalismo,
não estão sujeitas ao erro. O racionalismo valerem-se de uma concepção mais dinâmica
(associado a outros conceitos como apriorismo, de verdade e de buscarem estabelecer uma
subjetivismo, idealismo, inatismo), diante dos relação mais intrínseca entre sujeito e objeto.
pólos sujeito-objeto, claro, prioriza o primeiro. Nesse aspecto, é exemplar o caso da
O empirista Locke (1632-1704), ao criticar fenomenologia. Seu postulado básico é a noção
Descartes, diz que não há idéias inatas, existe de intencionalidade. Então, quando dizemos
sim uma alma em branco (tábula rasa), onde que a consciência é intencional, estamos
não existem inscrições. Dessa maneira, o dizendo, contrariando os inatistas, que não
conhecimento só é possível através da existe pura consciência, separada do mundo,
experiência (empeiría) sensível. Logo, não mas, como querem, classicamente, os
apenas os sentidos não enganam como são fenomenólogos, toda a consciência é
fontes do conhecimento.Se Descartes enfatiza consciência de alguma coisa, pois ela tende ao
o papel do sujeito, Locke, por sua vez, destaca mundo. Os empiristas também são alvo de
o papel do objeto. objeção: os fenomenólogos afirmam que não
Porém as teorias cartesianas e lockeanas a existe objeto em si, pois todo o objeto existe
respeito do conhecimento se demonstraram em função de um sujeito, "para um sujeito"
insuficientes diante da tamanha complexidade que lhe dá significado.
do ato cognitivo. Por exemplo: como explicar a Logo, a relação entre sujeito e objeto perde
mudança das idéias no tempo e espaço? (pois seu caráter dicotômico assim como o conferiam
se elas são inatas devem ser independentes o racionalismo e o empirismo. O grego é claro
do tempo e, por conseguinte, permanentes); no seu conceito de fenômeno como "aquilo
da mesma forma, se a experiência sensível é a que aparece". Ora, então, o objeto do
fonte do conhecimento, é possível transformar conhecimento é aquilo que aparece, é aquilo
as sensações individuais (portanto particulares que se apresenta para uma consciência. A
e subjetivas) em conhecimento universal? consciência desvela o objeto progressivamente
Diante dessas dificuldades, concepções através das mais variadas perspectivas. Por essa
distintas de pensadores dos séculos XVIII (Kant razão o conhecimento é um processo
39
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

inconcluso, em permanente construção. epistemológicos pretendem superar as ditas


No século XIX, Comte (1798-1857) funda tendências aprioristas (como a racionalista) e
o seu positivismo como herdeiro da tendência empiristas, são aquelas conhecidas como
empirista. Ao recusar as explicações teológicas interacionistas e construtivistas. Muitos de seus
e metafísicas (consideradas por ele como representantes (Piaget, Paulo Freire, Gramsci,
explicações nanicas de compreensão de Vygotsky, entre outros) alternam
mundo), coloca como ponto mais alto da fundamentação ora fenomenológica, ora
maturidade do espírito humano aquilo que marxista.
corresponde ao que chamou de estado positivo. A dicotomização dos pólos sujeito-objeto se
Os fatos só se explicariam através da observação pretende superada. Na abordagem interacionis-
e da experimentação que estabeleceriam as ta, como o próprio nome sugere, o conhecimen-
relações entre os fenômenos através das leis. to é concebido como resultado da ação que se
Para o chamado conhecimento científico, passa entre o sujeito e o objeto, não estando,
as outras formas de abordagem de mundo, tais portanto, nem no sujeito nem tampouco no
quais a religião e a filosofia, não são objeto, mas na interação entre ambos. Porém,
conhecimento, pois, não são ciência. Como os dois pólos não são negados pura e
sabemos, o positivismo e o empirismo que simplesmente, visto que em toda superação
caracterizarão a tendência naturalista, a qual conservam-se, de certa forma, as qualidades de
marca extraordinariamente o início da um e de outro. O interacionismo, portanto,
constituição do método das ciências humanas valoriza o objeto, o mundo, o professor, o
(sociologia e psicologia), no final do século XIX conhecimento também como fruto de um
e início do século XX. Durkheim, o alemão esforço acumulado pela humanidade, mas
Wundt, o russo Pavlov, o americano Watson, valoriza também o aluno, como sujeito, com
como também Skinner, permearam suas sua experiência de vida e sua capacidade
propostas sociológicas e psicológicas com construtora do conhecimento.
pressupostos positivistas e empiristas. Creio não incorrer em uma demasia ao
Como podemos observar, a fenomenologia constatar que ainda estamos presos a uma
se contrapõe ao positivismo à medida que não maneira de pensar tradicional e, talvez por isso
percebe o mundo como um dado bruto que mesmo, não levemos em conta na nossa prática
não tem significado. Não nos encontramos pedagógica algumas das questões colocadas -
simplesmente diante de fatos ou de coisas. O mesmo que pontualmente - nesta rápida
mundo é sempre algo para uma consciência. explanação. Isso se torna especialmente
Há uma rede de significações que envolvem problemático quando vivemos a pleno a
os objetos percebidos.Herdeira de seus "sociedade da informação", na qual a escola
pressupostos é a psicologia da forma (a Gestalt). passa a ser um lugar quase prescrito.
Para que não nos estendamos em demasia, Claro que estamos em sociedades da
podemos dizer que, de forma geral, as teorias informação, em que, na pedagogia, o tecnicismo
pedagógicas, cujos pressupostos parece ter assumido uma cara mais ágil, até
40
UNIDADE C

sob o ponto de vista físico da teoria da pelo meio", traduzido pelo gaúcho Juremir
informação. Basta pensarmos as tecnologias Machado da Silva: "Qual é o conhecimento que
digitais (DVD, televisão digital, etc.), que são perdemos na informação? Qual é a sabedoria
aplicações da teoria da informação. Todavia a que perdemos no conhecimento?" Aqui,
informação, mesmo no sentido jornalístico da sabedoria entendida como a capacidade de
palavra, não é conhecimento, pois este resulta incorporarmos e integrarmos conhecimentos à
da organização da informação. Ora, na vida cotidiana. A escola ou, se me permitem,
atualidade, ao mesmo tempo em que temos nossas práticas pedagógicas, podem ser lugares
excesso de informação, possuímos carência de ainda privilegiados na discussão e compreensão
organização, logo, insuficiência de conhecimen- desse problema.
to. Parece mesmo que quanto mais desenvolvi-
dos são os meios de comunicação menor é o
grau de compreensão entre as pessoas. A
compreensão, vale ressaltar, não está ligada à Elabore uma síntese da unidade (máximo
materialidade da comunicação, mas ao social, três laudas) a qual deverá ser enviada via
ao político, ao existencial. ambiente virtual conforme orientações do
Nesse sentido, acreditamos que seja seu professor.
importante recuperar as perguntas feitas por
Edgar Morim, no seu artigo "A comunicação

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Textos Complementares da
disciplina de Fundamentos
Históricos, Filosóficos e
Sociológicos da Educação II

Paulo César Cipolatt de Oliveira


Os textos a seguir são complementos a qualquer uma das

unidades da disciplina, uma vez que tratam de questões as Figura C.2: Jean-Paul Sartre
quais não podemos perder de vista e que exigem o nosso

permanente cuidado. No primeiro deles, "Sou condenado a Segundo Jean-Paul Sartre, o líder dos
ser livre" são destacadas algumas idéias do pensador filósofos existencialistas contemporâneos, a
existencialista contemporâneo Sartre. No segundo, resposta é sim. Isso é bom, mas só em parte.
transcrevemos a conclusão que Durkeheim faz na sua clássica Sartre diz que ser humano é ser completamente
obra As regras do método sociológico em sua defesa da livre, para sempre ter o poder da escolha. Mas
especificidade da sociologia como ciência. Espero que suas a única coisa que não podemos escolher é
leituras contribuam para instigá-los a novas buscas. renunciar à escolha, ou citando o paradoxo de
Sartre: "Estou condenado a ser livre". Escolher
Estou condenado a ser livre não agir é ainda uma escolha. Esse é o dilema
Quando alguém lhe relembra que "esse é um existencial.
país livre", você sabe o que isso significa. Você A filosofia de Sartre sobre a liberdade deriva
é geralmente livre para fazer o que quiser (isso de seus estudos sobre fenomenologia, a filosofia
é chamado de liberdade "positiva"), e está da consciência pura. A seu ver, o que distingue
geralmente livre de ser perseguido por suas a consciência é que ela tanto pertence ao
idéias (liberdade "negativa"). Tal verdade mundo como não pertence ao mundo. Quando
positiva envolve escolhas; liberdade negativa, refletimos sobre como pensamos, quando nos
conseqüências. tornamos autoconscientes, tratamos nosso
Essas duas liberdades gêmeas são realmente pensamento como se ele fosse um objeto no
maravilhosas e temos sorte de tê-las. Mas a mundo. Dizer "eu fiquei confuso com esta
palavra importante aqui é sorte. Se amanhã, explicação" é transcender nosso próprio
numa eventualidade improvável, um ditador pensamento e refletir sobre ele. Mas o mundo,
viesse a tomar o poder, nossas preciosas da forma como o conhecemos, é apenas uma
liberdades poderiam ser abolidas em um reunião de todos os tais objetos
segundo. Que restaria? Existe algum tipo "transcendentes": coisas que percebemos e
essencial de liberdade que jamais possa ser sobre as quais pensamos.
tirada de nós? Ao mesmo tempo, a consciência não é do
mundo. Quando sonhamos, somos desligados
de qualquer sentido externo. Quando
42
UNIDADE C

imaginamos - por exemplo, quando fantasiamos escolhas, ou de nossos esforços fracassados, em


sobre ganhar na loteria saímos do presente (o uma infância infeliz, na opressão cultural, na
mundo como ele é) e projetamos um futuro classe social, no preconceito, ou na sociedade
melhor (o mundo como ele não é), como esse em geral. Sartre não negaria que infâncias
futuro não é real, ele é não-existente: ele é o infelizes e preconceitos existem e são ruins,
nada. mas ele rotulou de "má fé" a recusa em assumir
De acordo com Sartre, toda ação surge desse nossas livres escolhas para interpretar e
nada. Se você estivesse sempre diretamente responder aos fatos da vida.
sintonizado ao presente, incapaz de escapar
dele, você não só não poderia imaginar como Conclusão (da obra Regras
também não poderia agir. O presente é apenas do Método Sociológico)
o que é e, a menos que você considere como Em síntese, as características deste método são
as coisas poderiam ser diferentes, não existe as que se seguem. Em primeiro lugar,
motivo para se fazer nada. independe de qualquer filosofia. Por ter nascido
A famosa "náusea" de Sartre surge da nas grandes doutrinas filosóficas, a sociologia
absoluta liberdade de escolha, a consciência de conservou o hábito de se apoiar num sistema
que você é sempre capaz de qualquer ato qualquer, do qual se acha, assim, solidária. Foi
possível. Por exemplo, pode acontecer que em por esse motivo sucessivamente positivista,
um dado momento você escolha se matar; e evolucionista, espiritualista, quando deveria se
esse pensamento - que abre um abismo contentar em ser apenas positivista.
profundo no eu - gera ansiedade e náusea, [...] Além disso, a própria filosofia tem todo
(como você tem a possibilidade de fazer isso, o interesse na emancipação da sociologia, pois,
você tem medo de vir a fazer isso). Estar enquanto o sociólogo não despojar suficiente-
"condenado a ser livre" significa que somos os mente o filósofo, apenas considera as coisas
únicos responsáveis por gerar, a partir de cada sociais pelo seu lado mais geral, ou seja, o lado
situação, nosso próprio "mundo", responsáveis em que mais se assemelham às outras coisas
pela escolha de nossas próprias metas, de do universo. Ora, se a sociologia assim conce-
nossos métodos de alcançá-las, de nossas bida pode servir para ilustrar com fatos curiosos
respostas à ansiedade da escolha. Talvez você uma filosofia, não pode enriquecê-la com novas
escolha se matar; ou talvez, pelo menos, você perspectivas, pois nada assinala de novo no
opte por continuar fazendo suas opções. objeto que estuda. [...] Desse modo, à medida
Muitas pessoas, no entanto, recusam-se a que se for especializando, a sociologia fornecerá
encarar esses fatos, porque não podem suportar materiais mais originais à reflexão filosófica.
a idéia de que são responsáveis pelo seu [...] Em segundo lugar, nosso método é
mundo. Como já disseram muitos analistas de objetivo. É totalmente dominado pela idéia de
nossa época, nós preferimos nos ver mais como que os fatos sociais são coisas e devem ser
vítimas do que como adultos responsáveis. tratados como tais. Tal princípio encontra-se,
Colocamos a culpa de nossas péssimas sem dúvida, sob uma forma um pouco diferente,
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na base das doutrinas de Comte e de Spencer. possível, situando no meio social interno o motor
[...] Porém ao considerarmos os fatos sociais da evolução coletiva. A sociologia não é,
como coisas, consideramo-los como coisas portanto, o anexo de qualquer outra ciência; é
sociais. ela própria uma ciência distinta e autônoma, e
A terceira característica do nosso método é a noção da especificidade da realidade social é
ser exclusivamente sociológico. [...] Mostramos de tal modo necessária ao sociólogo que só
que um fato social só pode ser explicado por uma cultura especialmente sociológica pode
outro fato social e, simultaneamente, prepará-lo para a compreensão dos fatos
mostramos como esse tipo de explicação é sociais[...].

44
REFERÊNCIAS

Referências
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filosofia.

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Este site é um guia que indica sites de filosofia na

_____ . Pedagogia histórico-crítica. Primeiras internet.


aproximações. 7ª ed. Campinas-SP: Autores
Associados, 2000. http://geocities.yahoo.com.br/discursus/

DISCURSUS é um site virtual voltado aos interessados


TOMAZZETTI, Elizete M. Para uma possível na discussão livre e inteligente dos temas relacionados
compreensão da relação entre as ciências da à filosofia. O objetivo é apoiar a pesquisa e a

educação, a filosofia da educação e a prática educativa. divulgação de idéias.


[s.l.:s.a.][200-].
www.dpa.com.br
TOURAINE, Alan. Iguais e diferentes. Poderemos Site da editora DP&A. Você poderá conferir nessa

viver juntos? Lisboa: Instituto Piaget, 1998. home page importantes obras de autores nacionais e
estrangeiros. Cadastrando-se no site você receberá, via
VIEIRA PINTO, Álvaro. Ciência e Existência. e-mail, informativos com os lançamentos de livros nas

Problemas filosóficos da Pesquisa Científica. 3ª ed. Rio suas áreas de preferência.


de janeiro: Paz e Terra, 1985.
http://www.scielo.org/index.php?lang=pt ou

http://www.scielo.br/scielo.php/script_sci_home/
Sugestões para lng_pt/nrm_iso
pesquisa na Internet Esta é a home page do site SciELO Brasil.

O objetivo desse site é implementar uma biblioteca


http://www.carpediemfilosofia.cjb.net/ eletrônica que possa proporcionar um amplo acesso a
Página oficial do Grupo Carpe Diem Filosofia - coleções de periódicos como um todo, aos fascículos

Mococa/SP. de cada título de periódico, assim como aos textos


Esta página foi feita para quem deseja saber um pouco completos dos artigos. O acesso aos títulos dos
mais sobre a Filosofia Ocidental. periódicos e aos artigos pode ser feito através de

índices e de formulários de busca.

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

www.filosofia.pro.br Tais cursos podem ser específicos, sobre um tema, ou

O Portal Brasileiro da Filosofia é a continuação de podem ser gerais e introdutórios, podem ser para
trabalhos desenvolvidos pelo grupo que originou o pessoas com formação em filosofia ou para leigos. Os
Centro de Estudos em Filosofia Americana (CEFA). cursos são compostos por turmas, segundo o pedido

O Portal Brasileiro da Filosofia, desse modo, tem como dos interessados.


principal objetivo a democratização da filosofia, a
melhoria dos cursos de pedagogia e a publicação de http://www.geocities.com/Athens/4539/

novas coleções na área. Site Filosofia e idéias Interfilosofia. Este site visa
divulgar com leveza e seriedade idéias e pensamentos
http://www.inep.gov.br filosóficos que fizeram e fazem a diferença na cultura

Site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e ocidental.


Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira).
http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_

http://bve.cibec.inep.gov.br/default.asp principal
A Biblioteca Virtual de Educação (BVE), desenvolvida A Wikipédia é uma enciclopédia livre e gratuita, feita
pelo Inep, é uma ferramenta de pesquisa de sítios por pessoas como você em quase 80 idiomas. Esta é

educacionais, do Brasil e do exterior. É voltada a a versão em língua portuguesa, falada em Angola,


pesquisadores, estudiosos, professores, universitários, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique,
pós-graduandos e alunos de todas as séries escolares. Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e por
diversas pessoas em todo o mundo. O seu conteúdo

http://bve.cibec.inep.gov.br/ac_rap.asp?cat=176& pode ser modificado e distribuído livremente.


nome= Filosofia%20da%20Educação
O site relata os quatros pilares da educação ao longo

de toda vida. Baseia-se em: aprender a conhecer, Outros sites interessantes:


aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a
ser. Mostra que a educação deve transmitir, de fato, de http://www.filosofiavirtual.cjb.net/

forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber- http://www.geocities.com/amarilla11/


fazer evolutivos, adaptados à civilização cognitiva, pois principal1.html
são as bases das competências do futuro. http://www.cris.bigardi.nom.br/filosofia/

http://bnd.bn.pt/
http://www.cefa.org.br/ http://www.mundodosfilosofos.com.br/
O CEFA é uma instituição brasileira de pesquisa e http://www.filosofia.pro.br/

ensino em filosofia e áreas afins, como a pedagogia, a caminhos_da_filosofia.htm


história, política, literatura, sociologia, antropologia, http://www.filosofia.pro.br/
teologia etc. Trata-se de uma instituição que trabalha rafael_sanzio_filosofia.htm

com o pensamento de filósofos e scholars das três http://www.filosofia.pro.br/pedagogia.htm


Américas, vivos ou já falecidos. http://www.filosofia.pro.br/filosofia.htm
O CEFA organiza e ministra cursos virtuais em filosofia. http://www.filosofia.pro.br/metodos.htm
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REFERÊNCIAS

http://www.filosofia.pro.br/pedagogia.htm

http://www.filosofia.pro.br/professor.htm
http://www.geocities.com/Athens/4539/socrates/
a_caverna.htm

http://www.geocities.com/Athens/4539/
humanismo.htm

Observação final
Os sites sugeridos poderão ser consultados sempre
que necessário, a critério de cada aluna(o).

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REFERÊNCIAS

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