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UNIVERSIDADE METROPOLITANA

Núcleo de Educação a Distância


DE SANTOS
SEMESTRE 4

CIÊNCIAS SOCIAIS 1
UNIVERSIDADE METROPOLITANA
Núcleo de Educação a Distância
DE SANTOS
Créditos e Copyright

HARDAGH, Claudia.

Metodologia e Prática do Ensino da


Sociologia I. Claudia Hardagh. Santos: Núcleo de
Educação a Distância da UNIMES, 2015. 120p. (Material
didático. Curso de ciências sociais).

Modo de acesso: www.unimes.br

1. Ensino a distância. 2. Ciências Sociais. 3.


Ensino de sociologia.

CDD 300

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Núcleo de Educação a Distância
DE SANTOS
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PLANO DE ENSINO

CURSO: Licenciatura em Ciências Sociais


COMPONENTE CURRICULAR: Metodologia do Ensino de Sociologia I.
SEMESTRE: 4º
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas

EMENTA:

Reflexão sobre a atividade de ensino e o processo de aprendizagem. Analisar o


currículo para a disciplina de Sociologia no Ensino Médio e apresentar alternativas.
Estudar e pesquisar os recursos didáticos para a prática do professor e a elaboração
de projetos interdisciplinares. Estudo do contexto da sociologia como disciplina do
currículo escolar e dos parâmetros curriculares nacionais. Reflexão da relação entre
sociologia e educação e da relação entre ciências humanas e tecnologias.
Discussão da sociedade como laboratório da sociologia e da apropriação do
conhecimento para a formação de professores. Os sociólogos contemporâneos e o
nascimento da sociologia no Brasil. A obrigatoriedade da sociologia no ensino médio
e as novas perspectivas epistemológicas para o ensino de Sociologia. Pesquisa e
projeto na escola. Reflexão dos conceitos e sua relação com a prática. Concepção
teórico-metodológica da aprendizagem e do processo de construção do
conhecimento. Reflexão para uma educação problematizadora e crítica. As várias
formas de linguagem e o uso de diferentes documentos como material didático.

OBJETIVO GERAL:

Discutir o ensino de sociologia na educação básica e suas potencialidades didáticas.


Apresentar a relação entre sociologia e educação. Discutir a prática do ensino de
sociologia na educação básica.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Unidade I - A história da Sociologia como disciplina do Ensino Médio.


Objetivos da Unidade

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Apresentar as contribuições da disciplina Sociologia e seu papel no sistema
educacional; Conhecer os principais Referenciais Curriculares; Refletir sobre
conceitos importantes na Educação.

Unidade II - A formação do professor.


Objetivos da Unidade
Refletir sobre o sociólogo-professor; Discutir sobre o papel e a formação do
Professor.

Unidade III - Novas perspectivas para o ensino de Sociologia


Objetivos da Unidade
Apresentar concepções pedagógicas contemporâneas: o novo papel do professor;
Debater sobre a importância da Sociologia no Ensino Médio.

Unidade IV - Novas formas de pensar a educação.


Objetivos da Unidade
Propor uma prática transdisciplinar; Refletir sobre como construir outras formas de
conhecimento e sobre como lidar com os (novos) saberes.

Unidade V - A formação do leitor crítico.


Objetivos da Unidade
Refletir sobre a Educação e a Práxis; Apresentar a Aprendizagem Significativa,
Propor a formação de um aluno-leitor-crítico.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
UNIDADE I: A história da Sociologia como disciplina do Ensino Médio.
UNIDADE II: A formação do professor.
UNIDADE III: Novas perspectivas para o ensino de Sociologia
UNIDADE IV: Novas formas de pensar a educação.
UNIDADE V: A formação do leitor crítico

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Bibliografia Básica

BAUMAN, Zygmunt. Aprendendo a Pensar com a Sociologia. Rio de Janeiro,


Jorge Zahar editores, 2010.

RAMALHO, José Rodorval. Sociologia no Ensino Médio. Petrópolis, Vozes, 2012

FREIRE, Paulo. Política e Educação: ensaios. São Paulo, Cortez, 2001.

Bibliografia Complementar

FAZENDA, Ivani (org). Didática e Interdisciplinaridade. Campinas, Papirus,


1998.

COSTA, Cristina. Sociologia - introdução à ciência da sociedade. São Paulo,


Moderna, 1997.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade


e cultura. Vol 1. Rio de Janeiro, Paz e terra, 1999.

DONDIS, A. Donis. Sintaxte da linguagem visual. São Paulo, Martins Fontes,


1991.

SANCHO, J. Para uma tecnologia educacional. Porto Alegre, Artmed, 1998.

METODOLOGIA:

A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio
de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e
atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de
textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas,
envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo
ensino/aprendizagem.

AVALIAÇÃO:

A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e


apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como
forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte
teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos
específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial,
de acordo com a Portaria de Avaliação vigente.

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Sumário

Aula 1_Contexto da sociologia como disciplina do currículo escolar ......................................... 8


Aula 2_ Sociologia e Novo Paradigma da Educação .................................................................10
Aula 3_ Os Parâmetros Curriculares Nacionais ..........................................................................13
Aula 4_ Sociologia e Educação ....................................................................................................17
Aula 5_ A Tecnologia e as Ciências Humanas. ..........................................................................19
Aula 6_ A Sociologia no Ensino Médio ........................................................................................21
Aula 7_ Apropriação do Conhecimento e a Reforma do Ensino Médio ....................................24
Resumo Unidade I .........................................................................................................................27
Aula 8_Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor..................................................28
Aula 9_ Formação de Professores ...............................................................................................30
Aula 10_ A sociedade o laboratório da sociologia ......................................................................32
Resumo Unidade II ........................................................................................................................34
Aula 11_ Os sociólogos contemporâneos e o nascimento da sociologia no Brasil .................35
Aula 12_ Sociologia: obrigatoriedade no Ensino Médio .............................................................37
Aula 13_ As novas perspectivas epistemológicas para o ensino de Sociologia ......................39
Aula 14_ Concepção globalizante ................................................................................................41
Aula 15_ A pesquisa na Escola ....................................................................................................43
Aula 16_ Pesquisa e projeto na escola ........................................................................................47
Resumo Unidade III .......................................................................................................................50
Aula 17_ Refletindo os conceitos para relacionar com a prática ...............................................51
Aula 18_ É possível uma prática transdisciplinar? ......................................................................57
Aula 19_ Pressupostos teórico-metodológicos: concepção de aprendizagem ........................60
Aula 20_ Método: o processo de construção do conhecimento ................................................64
Resumo Unidade IV .......................................................................................................................71
Aula 21_ A práxis coletiva e o indivíduo ......................................................................................72
Aula 22_ Aprendizagem significativa ...........................................................................................73
Aula 23_ A importância dos conceitos básicos da sociologia para formação do aluno crítico
.........................................................................................................................................................75

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Aula 24_ A formação do leitor crítico e a visão sociológica .......................................................77
Resumo Unidade V ........................................................................................................................79
Aula 25_ Fundamentação teórica para o uso dos diversos recursos midiáticos .....................80
Aula 26_ O cinema na sala de aula..............................................................................................84
Aula 27_ O uso de fotografia na sala de aula .............................................................................86
Aula 28_ As novas mídias na educação ......................................................................................89
Aula 29_ Os gêneros de linguagem .............................................................................................95
Aula 30_ Imagens ..........................................................................................................................97
Aula 31_ A Sociologia e a Nova Arte – a Arte Efêmera .............................................................99
Resumo - Unidade VI...................................................................................................................103

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Aula 1_Contexto da sociologia como disciplina do currículo escolar

Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos na prática social
de que tomamos parte.(Paulo Freire. Política e Educação.)

Temos de ter claro que no estudo das Ciências Sociais, a formação acadêmica do
pesquisador-sociólogo vai em direção à do professor de sociologia, mas temos alguns
atenuantes que diferem as duas formações.

Defendemos que o professor é um pesquisador de sua prática, como praticou Paulo


Freire, e independente da disciplina ministrada tem um papel político importante para
a transformação da sociedade e reconstrução de valores e identidade de nosso povo.

A Disciplina de Prática de Ensino trata da aplicação dos conhecimentos apreendidos


nas disciplinas da área educacional como; psicologia, didática e sociologia refletidos
à luz da metodologia dos processos de ensino e aprendizagem das Ciências Sociais.
Vamos refletir sobre a nossa ação como professores na sala de aula do Ensino Médio,
isso concretamente se refere a elaboração de projetos e o uso de recursos didáticos
como livros, textos, jornais, revistas, filmes, computador e obras de arte.

Para podermos desenvolver um método de ação pedagógica temos que ter claro qual
a concepção pedagógica e o projeto político pedagógico em que a escola está
inserida.

Como educadores e agentes políticos é fundamental sabermos qual o nosso objetivo


e qual o método de ensino que usaremos com nossos alunos na elaboração de nossas
aulas.

Os conceitos de psicologia e didática devem ser refletidos num exercício de


interdisciplinaridade. Nesse momento são muito importantes para podermos escolher
o caminho como educadores e traçar o design das aulas elaboradas.

Primeiro vamos conhecer um pouco dos Parâmetros Curriculares Nacionais para


entender como o Estado pensou sobre a disciplina de Sociologia para o Ensino Médio.

Levantamos alguns problemas para motivar a reflexão sobre a legislação educacional.

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 Como a Sociologia foi inserida como disciplina do currículo?
 Por que ela nunca foi uma disciplina permanente no currículo?
 De que forma o Estado se apropriou de seus saberes?
 Como fica o currículo oculto no material didático de Sociologia?

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Aula 2_ Sociologia e Novo Paradigma da Educação

Temos como marco histórico para as mudanças nas ciências sociais no Brasil os anos
1930 e 1940, marcados pela fundação da Universidade de São Paulo, a vinda de
pesquisadores estrangeiros e pelas obras que quebraram paradigmas como as de
Sergio Buarque de Holanda, Gilberto Freire, Caio Prado Junior e Fernando de
Azevedo.

As pesquisas em antropologia, política e sociologia cresceram e se afirmaram até


1964, ano do Golpe Militar. Nomes como Florestan Fernandes, Otavio Ianni, Fernando
Henrique Cardoso, foram exilados e dedicaram os anos de exílio a pesquisa em outros
países.

Nesse momento as ciências humanas na educação passaram a ter a função de


glorificar os fatos e construir heróis, reordenar as relações sociais impostas pela elite
e de legitimar o poder “democrático” amparado na defesa dos direitos da família e
propriedade e contra os danos causados pelos comunistas que avançavam rumo ao
poder.

Percebe-se nesse momento a hegemonia do pensamento positivista em contrapondo


ao materialismo dialético, os pressupostos teóricos do marxismo, que encontraram
espaço na década de 1950.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 5692 de 1971, que como ato concreto
limitou qualquer possibilidade de avançar à teoria crítica, criou as disciplinas
“Educação Moral e Cívica” e “Estudos Sociais” em substituição de História e
Geografia; e “Organização Social e Política Brasileira”, OSPB como ficou conhecida,
substituiu a Sociologia, a Política e o Direito.

Essas diretrizes curriculares que perduraram por mais de 20 anos causaram estragos
enormes na formação humanística de várias gerações.

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Ainda temos resquícios desse período no inconsciente coletivo das gerações que
passaram por esta formação e que hoje, adultos, pais e formadores de opinião
reproduzem o discurso oficial da época e tratam essas disciplinas como “perda de
tempo”, “perfumaria” e dispensáveis.

O currículo das escolas também revela essa posição proposta pela LDB, pois há um
número maior de horas que se dispensa para as Ciências Exatas e Biológicas em
relação às Ciências Humanas.

É fato o desprestígio das ciências humanas no contexto escolar e mesmo as


universidades que optaram por ter em seu currículo um núcleo básico voltado a
formação humanística são criticadas por alguns cientistas e principalmente pelos
alunos que vêem estas disciplinas como perda de tempo.

Isso se deve não somente pelas políticas públicas ou pela herança cultural dos
chamados “anos de chumbo”, mas também pelos próprios professores das disciplinas
de ciências humanas que ficaram centrados em pesquisas acadêmicas e ao ensino
superior e deixaram as questões pedagógicas de lado.
Temos um paradoxo que está agora sendo discutido. O banimento das ciências
humanas no ensino fez com que as universidades e grande parte dos intelectuais
vissem as questões pedagógicas como algo menor no meio acadêmico e da pesquisa.

Discutir estratégias de ensino, problemas de aprendizagem, métodos, concepções


pedagógicas são assuntos distantes da formação dos profissionais dessa área.

Neste momento passamos por uma reconstrução da identidade desse professor como
educador e preocupado com as questões da psicologia da educação e didática.

O começo desta nova etapa ocorre com a valorização das políticas públicas na
educação e no estudo da legislação que a rege.

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Na próxima aula começaremos pelos PCNs, Parâmetros Curriculares Nacionais, da
área de ciências humanas.

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Aula 3_ Os Parâmetros Curriculares Nacionais

Atualmente os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino Médio elaborados


entre 1995 e 1998 valorizam os saberes da chamada área de humanidades:

O momento, hoje, porém, é o de se estruturar um currículo em que o


estudo das ciências e o das humanidades sejam complementares e
não excludentes. Busca-se, com isso, uma síntese entre humanismo,
ciência e tecnologia, que implique a superação do paradigma
positivista, referindo-se à ciência, à cultura e à história. Destituído de
neutralidade diante da cultura, o discurso científico revela-se enquanto
representação sobre o real, sem se confundir com ele. (p. 7)
Também coloca como desafios atuais a superação dos ditames impostos pela
ditadura:

De um lado, os desafios postos por uma sociedade tecnológica, cujos


aspectos mais diretamente observáveis se modificam rapidamente,
confirmando a percepção que Daniel Halévy tivera já no século
passado a respeito da “aceleração da história”. De outro, a necessária
superação dos “anos de chumbo” da história recente do País, com
todas as suas consequências nefastas para o convívio social e, em
especial, para a educação. Eis as novas responsabilidades que as
Ciências Humanas assumem hoje frente à sociedade brasileira e aos
estudantes do nível médio. (p. 8)

As diretrizes curriculares explicitam suas intenções pedagógicas no documento com


relação à missão das ciências humanas no currículo do Ensino Médio, com isso se
faz urgente para formação do professor ler, refletir e analisar as propostas e as
questões ideológicas que estão claras e ocultas nestas diretrizes. Esse é um exercício
concreto para o sociólogo: levantar as intenções políticas de construção da identidade
do jovem via processo educacional, jovem esse que estará sendo formado para o
mundo do trabalho e para o exercício da cidadania.

Abaixo estão às competências atribuídas às ciências humanas e que devem ser


desenvolvidas durante o Ensino Médio. Foram retiradas dos PCNs em sua íntegra.

As competências abaixo serão lidas e discutidas no fórum. Solicito uma leitura crítica
do documento para que todos se posicionem com relação às nossas atribuições como
educador que estão relacionadas às questões das políticas públicas:

Vamos para a nossa leitura:

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 Compreender os elementos cognitivos, afetivos, sociais e culturais que constituem
a identidade própria e a dos outros; p.11

 Compreender a sociedade, sua gênese e transformação, e os múltiplos fatores


que nela intervêm, como produtos da ação humana; a si mesmo como agente
social; e aos processos sociais como orientadores da dinâmica dos diferentes
grupos de indivíduos. p. 13

 Compreender o desenvolvimento da sociedade como processo de ocupação de


espaços físicos e as relações da vida humana com a paisagem, em seus
desdobramentos político-sociais, culturais, econômicos e humanos. p. 13

 Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e


econômicas, associando-as às práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos
princípios que regulam a convivência em sociedade, aos direitos e deveres da
cidadania, à justiça e à distribuição dos benefícios econômicos. p. 14

 Traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade, a economia, as práticas


sociais e culturais em condutas de indagação, análise, problematização e
protagonismo diante de situações novas, problemas ou questões da vida pessoal,
social, política, econômica e cultural. p. 14

 Entender os princípios das tecnologias associadas ao conhecimento do indivíduo,


da sociedade e da cultura, entre as quais as de planejamento, organização, gestão
e trabalho de equipe, e associá-los aos problemas que se propõem resolver. p. 15

 Entender o impacto das tecnologias associadas às Ciências Humanas sobre sua


vida pessoal, os processos de produção, o desenvolvimento do conhecimento e a
vida social. p. 15

 Entender a importância das tecnologias contemporâneas de comunicação e


informação para planejamento, gestão, organização e fortalecimento do trabalho
de equipe. p. 16

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 Aplicar as tecnologias das Ciências Humanas e Sociais na escola, no trabalho e
em outros contextos relevantes para sua vida. p. 16

Ainda os PCNs do Ensino Médio explicam os tipos de competências e sua


importância.

Procuramos agrupar as competências básicas e específicas da área,


que foram acima descritas, com base em três grandes campos de
competências de caráter geral que se aplicam às três áreas da
organização curricular do Ensino Médio, compreendidas a partir de
sua essência enquanto campos de conhecimento. O objetivo desse
rearranjo é auxiliar as equipes escolares na tarefa de construir uma
proposta curricular de caráter efetivamente interdisciplinar, cruzando
os diversos conhecimentos específicos. Assim, temos competências
ligadas a representação e comunicação, investigação e compreensão
e contextualização sócio-cultural.

As competências de representação e comunicação apontam as linguagens como


instrumentos de produção de sentido e, ainda, de acesso ao próprio conhecimento,
sua organização e sistematização.

As competências de investigação e compreensão apontam os conhecimentos


científicos, seus diferentes procedimentos, métodos e conceitos, como instrumentos
de intervenção no real e de solução de problemas.

As competências de contextualização sócio- cultural apontam a relação da sociedade


e da cultura, em sua diversidade, na constituição do significado para os diferentes
saberes. p. 17-8

A leitura dos PCN pode ser feita no site


MEC. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/cienciah.pdf acesso em 30 out. 2007.

A nossa aula procurou mostrar a importância das políticas públicas para a nossa ação
como professores. Precisamos refletir que o projeto político pedagógico, o tipo de
formação que temos está relacionado às políticas e se não nos apropriarmos de
suas intenções ideológicas, não teremos como formar o nosso aluno com um perfil
crítico e consciente de sua realidade.

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Aula 4_ Sociologia e Educação

Formar educadores, tendo como foco professores da disciplina de Sociologia exige


de nós estreitarmos a ligação entre Sociologia e Educação, fazendo com que isso se
torne uma reflexão natural e necessária.

A educação é uma área presente na sociedade humana, pois a construção da


identidade cultural e a perpetuação da cultura ocorrem nas sociedades modernas via
educação. Essa educação pode ser assistemática ou sistemática.

A primeira ocorre de forma natural, pela convivência entre os membros da sociedade,


ou seja, não há um local determinado, hora e nem uma pessoa responsável para isso.
Essa forma de educar é comum nas sociedades mais afastadas ou chamadas de
sociedades simples, onde a educação não foi formalizada como uma instituição. Por
outro lado, nestas sociedades é a comunidade e a família que se encarregam de
educar as crianças e os jovens, perpetuando a cultura.

Nas sociedades complexas a escola é a responsável pela educação formal ou


sistemática que é institucionalizada pelo Estado, através das normas e da legislação.
A família, os meios de comunicação e a comunidade influenciam na educação e na
escola.

É a educação que possibilita a transmissão da cultura do grupo para o indivíduo, a


escola é o espaço de sociabilização e socialização dos hábitos, regras de
comportamento do grupo.

Essa educação pode ser apenas reprodutora da cultura da elite que tenta
homogeneizar a sociedade ou pode respeitar a pluralidade cultural e a características
individuais.

A escola é uma instituição organizada para transmitir às crianças a herança cultural


da sociedade, ela é definida como grupo social e formada por indivíduos com objetivos
comuns.

As concepções pedagógicas desenvolvidas e adotadas pelas escolas revelam a


posição ideológica de cada instituição, do Estado e em alguns casos da comunidade.

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Fica claro isso ao analisarmos o material didático, o sistema de avaliação, normas
disciplinares e organização curricular, por isso o estudo das políticas públicas é
fundamental para entendermos a intenção do Estado com relação à formação dos
jovens, pode significar a perpetuação ou não de uma ideologia.

Atualmente discuti-se muito sobre a formação da escola na sociedade atual. Alguns


estudiosos defendem o fim da escola, como Seymour Papert, e está sendo comum na
Europa e nos Estados Unidos as famílias solicitarem à justiça o direito de educar seus
filhos em casa.

A organização escolar é reflexo da sociedade na qual estamos inseridos. A sociedade


mudou drasticamente com a democratização política, a organização social, as
transformações tecnológicas e culturais, isso é visível para todos. Os intelectuais que
defendem o fim da escola partem desta reflexão para argumentar a falência do ensino
e da escola para o século XXI, caso ela não mude sua concepção de ensino e
aprendizagem. Isso significa repensar o currículo, calendário, gestão, papel do
professor, didática e inclusive a política pública que rege quase tudo na educação.

Pensar nestes problemas na perspectiva sociológica exige um conhecimento profundo


de questões como multiculturalismo, equidade social e democratização das escolas
para que possamos contribuir com mudanças no interior da escola e tenhamos uma
postura mais crítica com relação às determinações do Estado via programas
educacionais.

Indico a leitura do texto “Escola não motiva e perde alunos”, que mostra como os
jovens estão desistindo de estudar por problemas como repetência e qualidade baixa
da educação, mas o principal é a constatação de que os estudantes não gostam da
escola.

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Aula 5_ A Tecnologia e as Ciências Humanas.

Em um mundo globalizado, em que culturas e processos políticos e


econômicos parecem fugir ao controle e ao alcance, a construção de
identidades solidamente alicerçadas em conhecimentos originados
nas Ciências Humanas e na Filosofia constitui condição imprescindível
ao prosseguimento da vida social, evitando-se os riscos da
fragmentação ou da perda de referências existenciais, responsável por
variadas formas de reação violentas e destrutivas. (PCNs, p. 13)

Os referenciais curriculares de Ciências Humanas colocam desde seu título a


tecnologia como eixo para se pensar o contexto atual e a atuação do homem numa
sociedade multicultural, socialmente e culturalmente desigual. Temos que levantar
questões para entender esta ligação entre tecnologia e o currículo de ciências
humanas.

Como a tecnologia pode nos ajudar a entender o mundo?

Como os jovens, que estamos ajudando a formar, podem usar a tecnologia


como recurso de informação e formação crítica?

Temos como missão na Sociologia a compreensão da sociedade, sua gênese e


transformação, e os múltiplos fatores que nela intervêm como produtos da ação
humana; a si mesmo como agente social; e aos processos sociais como orientadores
da dinâmica dos diferentes grupos de indivíduos.

Com a última revolução tecnológica, informática, o mundo passa por uma mudança
em seu modo de produção e isso implica em mudanças mais amplas, pois a sociedade
da informação e do conhecimento, como é denominada a sociedade atual, sugere,
pela sua denominação, que o “produto” desta nova sociedade não se fabrica mais nas
linhas de montagem da fábrica, mas sim através do intelecto do homem e de suas
habilidades.

O uso da tecnologia na educação está atrelado às ciências da humanidade, mas não


nos referimos ao uso de tecnologia pelo simples manusear do computador ou navegar
na Internet, e sim com relação a sua influência na formação de um cidadão inserido

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no mundo da cibercultura que sabe buscar, manusear e avaliar as informações
expostas em abundancia em nosso dia a dia.

Alguns programas vindos das Secretarias Estaduais, Municipais e do governo Federal


tentam dinamizar e expandir o uso do computador nas escolas. Com essa ideia
chegam os cursos de formação de professores e gestores, as salas de informática os
projetos voltados para a inserção das Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação (TDIC) dentro das escolas.

Um ótimo exercício para essa aula é concretizar uma educação construtivista e você
aluno manusear o computador e pesquisar os programas do MEC e da Secretaria de
seu estado com relação a este tema: Tecnologia educacional. O site do MEC já mostra
um programa do computador por 1 dólar que é liderado pelo MIT com a coordenação
do Prof. Nicholas Negro ponte.

Não deixe de ler o texto de Elio Gaspari que analisa o programa do MEC para
instalação de computadores nas escolas. Está disponível em nosso ambiente virtual
de aprendizagem.

Com estas informações você terá subsídios para analisar os referenciais curriculares
e as ações governamentais com relação a inserção da tecnologia nas escolas.

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Aula 6_ A Sociologia no Ensino Médio

“O conhecimento sociológico espirala dentro e fora do universo da


vida social, reconstruindo tanto esse universo como a si mesmo como
uma parte integral deste processo.” Anthony Giddens.

Durante a elaboração da LDB e PCNs, deu-se início a discussão para a inclusão de


Sociologia como disciplina nos currículos do Ensino Médio, dada a sua importância
na formação da cidadania e a permanência de Filosofia que trata de questões
epistemológicas importantes para o despertar do aluno para a pesquisa.

Em 2006 foi aprovada a obrigatoriedade de Sociologia e Filosofia como integrantes


do currículo escolar. Os Estados terão um ano para se adequar a nova diretriz.

Essa determinação ampliará as vagas para professores desta área e proporcionará


uma mudança nos cursos de graduação de Ciências Sociais e Filosofia que terão de
adequar-se a esta nova demanda de trabalho.

Devido aos cursos de Sociologia não promoverem a formação para este tipo de
atividade, teremos que enfrentar algumas questões que dificultam a implantação das
disciplinas nas escolas como questões pedagógicas relacionadas ao domínio dos
conceitos básicos das ciências sociais e dos conceitos da própria reforma curricular
tais como, tecnologia, competência e habilidade, interdisciplinaridade,
contextualização, trabalho e projetos. Geralmente os cursos não dão importância as
questões de políticas educacionais e nem didática, por isso a formação precária para
atuar no Ensino Médio.

Será necessária a promoção dos cursos de atualização e reestruturação do currículo


da licenciatura em Ciências Sociais em virtude da Reforma do Ensino Médio. Em
segundo lugar, a universidade pode incentivar estudos e pesquisas, em nível de
graduação e pós-graduação sobre o próprio ensino de Sociologia.

As Diretrizes Curriculares Nacionais, os PCNs para o Ensino Médio (MEC,1999, p.85)


propõem que a Sociologia, em conjunto com a Ciência Política e a Antropologia,
permita ao educando desenvolver as seguintes competências e habilidades, como:

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Representação e comunicação

 Identificar, analisar e comparar os diferentes discursos sobre a realidade: as


explicações das Ciências Sociais, amparadas nos vários paradigmas teóricos, e
as do senso comum.
 Produzir novos discursos sobre as diferentes realidades sociais, a partir das
observações e reflexões realizadas.
 Investigação e compreensão
 Construir instrumentos para uma melhor compreensão da vida cotidiana,
ampliando a “visão de mundo” e o “horizonte de expectativas”, nas relações
interpessoais com os vários grupos sociais.
 Construir uma visão mais crítica da indústria cultural e dos meios de comunicação
de massa, avaliando o papel ideológico do “marketing” enquanto estratégia de
persuasão do consumidor e do próprio eleitor.
 Compreender e valorizar as diferentes manifestações culturais de etnias e
segmentos sociais, agindo de modo a preservar o direito à diversidade, enquanto
princípio estético, político e ético que supera conflitos e tensões do mundo atual.

Contextualização sócio-cultural

 Compreender as transformações no mundo do trabalho e o novo perfil de


qualificação exigida, gerados por mudanças na ordem econômica.
 Construir a identidade social e política, de modo a viabilizar o exercício da
cidadania plena, no contexto do Estado de Direito, atuando para que haja,
efetivamente, uma reciprocidade de direitos e deveres entre o poder público e o
cidadão e também entre os diferentes grupos.
 O objetivo ao centrar em competências é desenvolver no aluno seu interesse em:
investigar, identificar, descrever, classificar e interpretar/ explicar os fatos
relacionados à vida social, e assim, capacitá-lo para que possa decodificar a
complexidade da realidade social.

A proposta, portanto, ao enfatizar a formação de competências, aponta para a


superação de uma certa tradição escolar na transmissão dos conteúdos das ciências.
Tais conteúdos deixam de ser fins para se tornarem meios de formação do educando.

CIÊNCIAS SOCIAIS 22
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O grande problema que se coloca é com relação ao método que se utiliza nas
universidades e este proposto para ensino médio. Como será colocada em prática
todas essas mudanças de concepção pedagógica pelos sociólogos educadores?

Precisamos estar atentos para as abordagens que serão dadas, pelos professores,
aos conceitos e teorias da sociologia trabalhada por jovens de 15 aos 18 anos.

A maioria dos professores desenvolve suas atividades com base na convicção


epistemológica de que o conhecimento escolar é constituído estritamente pelos
conteúdos acumulados e sistematizados pelas ciências e essas são passadas como
verdades absolutas e acabadas. Nessa perspectiva, os professores são detentores
deste conhecimento pronto e acabado e será transmitido aos desprovidos do saber
científico, os alunos.

Essa concepção epistemológica tem implicações éticas visto que o detentor dos
conteúdos científicos, também, é posto como detentor da verdade e, portanto da
capacidade de decidir e julgar soberanamente sobre todas as questões pedagógicas:
horários, enturmação, aprovação e reprovação dos alunos, etc.

O método cientificista descrito choca com todas as propostas construtivistas e socio-


interacionistas, pois são excludentes e se aproxima da educação bancária tão
criticada por Paulo Freire.

Enfim, na perspectiva cientificista, a ênfase não é na forma como a Sociologia se


constrói, mas sim, no que a Sociologia construiu, ou seja, a Sociologia feita. Em
outras palavras, a preocupação não está centrada no processo de produção
sociológica, mas sim, no resultado dessa produção.

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Aula 7_ Apropriação do Conhecimento e a Reforma do Ensino Médio

Vamos ver nesta aula tendo como apoio o texto de Moacir Gadotti como as
transformações no mundo do trabalho e na forma de produção e apropriação do
conhecimento transformaram também a forma de produção do conhecimento
sociológico e a educação.

Tais mudanças decorrem da chamada terceira revolução técnico-industrial, na qual, o


conhecimento tem um lugar central nos processos de desenvolvimento econômico,
organização do trabalho e das relações sociais.

A seguir, serão estudadas essas mudanças e suas implicações para educação e para
a Sociologia com base nas contribuições de Gibbons, Giddens, Castells e outros.

As mudanças advindas desta revolução se revelam nas inserções feitas na reforma


educacional da década de 1990, como a preocupação da legislação do Ensino Médio
em preparar o jovem para o mundo do trabalho, competitivo, tecnológico e fundado
em uma nova ordem econômica amparada no liberalismo.

Para Castells em seu livro “A sociedade em rede” (1999, p.34), as sociedades têm
sua organização e dinâmica estruturadas por relações historicamente determinadas
de poder, experiência e produção. Com base em categorias marxistas, Castells define
produção como um processo, no qual, os homens transformam a matéria (natureza,
a natureza modificada pelo homem, a natureza produzida pelo homem e a própria
natureza humana) em um produto, em parte consumido e em parte acumulado para
investimentos determinados socialmente. A relação entre os homens e a natureza
envolve o uso de meios de produção com base em energia, conhecimentos e
informação. Para o autor, a tecnologia é justamente, a forma específica dessa relação.

Esta mudança não está centrada somente na produção de conhecimento, mas sim,
na aplicação do conhecimento para a geração de novos conhecimentos e dispositivos
de processamento e comunicação de informações, em um ciclo de realimentação
cumulativo entre inovação e seu uso que se tornou o elemento dinamizador da
produtividade do modo de produção capitalista. Dessa forma, a informação tornou-se
o produto principal do processo produtivo.

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Conforme Castells, as tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas
a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usuários e criadores
tornam-se a mesma pessoa. Segue-se uma relação muito próxima entre os processos
sociais de criação e manipulação de símbolos (a cultura e a sociedade) e a capacidade
de produzir e distribuir bens e serviços (as forças produtivas). Tais mudanças trazem
uma nova relação entre o homem e máquinas visto que

[...] pela primeira vez na história, a mente humana é uma força direta
de produção, não apenas um elemento decisivo no sistema produtivo
[...] Assim, os computadores, sistemas de comunicação, decodificação
e programação genética são todos amplificadores e extensões da
mente humana. O que pensamos e como pensamos é expresso em
bens, serviços, produção material e intelectual, sejam alimentos,
moradia, sistemas de transporte, saúde e educação. (1999, p.51)

Sendo assim o conhecimento está em constante ressignificação e transformação, isso


mostra que a informação e as tecnologias de informação são modificadas em função
dos novos conhecimentos que são gerados no processo de sua utilização.

Neste contexto histórico que a Sociologia é inserida novamente no currículo do Ensino


Médio, em um contexto de educação com ênfase na competitividade, no qual, essa
ciência, em conjunto com Antropologia e Política, deve contribuir com suas
tecnologias para que o educando desenvolva competências e habilidades
relacionadas por exemplo, aos processos de gestão e planejamento do trabalho.

Há, então, uma concepção epistemológica bastante definida acerca do conhecimento


sociológico que deve ser trabalhado na educação básica média: a Sociologia como
tecnologia. A seguir, essa concepção será analisada e criticada, a partir da visão de
Giddens sobre o papel da Sociologia, no contexto das sociedades contemporâneas
marcadas pela alta reflexividade do conhecimento.

Para Giddens, a Sociologia tem um papel central nesse processo de reflexão e análise
da sociedade moderna. Um exemplo dessa amplitude dado pelo autor é a forma como
as estatísticas utilizadas pelas Ciências Sociais refletem sobre o cotidiano das
pessoas. Somos influenciados pelos índices de violência de uma determinada região,
ou pelas taxas de consumo de drogas dos jovens, acidentes de rodovias, enfim
traçamos determinadas estratégias para a nossa vida levando em conta

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conhecimentos sociológicos divulgados que podem mudar nosso cotidiano e repensar
trajetórias futuras.

A Sociologia junto à tecnologia como foi colocada nos referenciais curriculares vêm
nos dar subsídios para que as tecnologias não sejam reduzidas à concepção em que
tecnologia tenha apenas a dimensão material, pois isso encobre as relações entre
saber e poder, tanto no âmbito das políticas econômicas e sociais como no âmbito do
cotidiano das pessoas no trabalho, na escola, no hospital, etc.

A justificativa para inserção das tecnologias na área de Ciências Humanas, os


PCNEM apontam que a essa área cabe:

Construir a reflexão sobre as relações entre a tecnologia e totalidade


cultural, redimensionando tanto a produção quanto à vivência
cotidiana dos homens. Inclui-se aqui o papel da tecnologia nos
processos econômicos e sociais e os impactos causados pelas
tecnologias sobre os homens, a exemplo do tempo fugido ou
eternamente presente, em decorrência da aceleração do fluxo de
informações. (1999, p.23)

Esperamos que a sociologia dê fundamentos para os alunos poderem tecer críticas a


algumas formas de pensar que tendem ideologicamente a analisar questões como
desemprego partindo dos problemas individuais do trabalhador, como má formação,
falta de habilidades, e outros que ignoram os problemas vindos da política econômica
local e global.

Temos que fazer uma leitura crítica da legislação e dos referenciais para não
desviarmos nossa ação como educadores voltados a formar indivíduos críticos,
criativos, felizes e inquietos diante do quadro atual, da globalização, do avanço
tecnológico e da desigualdade.

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Resumo Unidade I

A Unidade nos faz refletir na trajetória histórica da sociologia como disciplina do


currículo escolar e a sua obrigatoriedade no Ensino Médio.

Para entender seu papel no sistema educacional e como ela pode contribuir para a
formação do jovem do século XXI, analisamos os referenciais curriculares, ou seja,
procuramos analisar como a sociologia é vista dentro da política pública.

Esta Unidade é a base para podermos nos apropriar de conceitos importantes da


educação e ficarmos atentos a nossa prática, método em sala de aula.

Referências Bibliográficas

FAZENDA, Ivani (org). Didática e Interdisciplinaridade: Campinas, Papirus, 1998.

FERNANDES, Florestan. 1975. “O ensino da Sociologia na escola secundária


brasileira”. In: A Sociologia no Brasil. Petrópolis: Vozes. Originalmente publicado
nos Anais do I Congresso Brasileiro de Sociologia, 21-27 de Junho de 1954, em
São Paulo.

FREIRE, Paulo. Política e Educação: ensaios. São Paulo, Ed. Cortez, 2001.

FREITAS, Maria Teresa de Assunção. Vygotsky & Bakhtin – Psicologia e Educação:


Um intertexto. São Paulo: Ática, 1996.

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Aula 8_Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor

O título desta aula foi inspirado e uma entrevista que François Dubet realizou para a
Revista Brasileira de Educação em 1997.

Ao ler a entrevista com o prof. Dubet e sua experiência como professor em uma escola
de periferia da França não conseguimos distinguir as diferenças dos problemas
enfrentados por ele e a realidade das nossas escolas brasileiras, neste momento
conseguimos entender concretamente o que é globalização.

Seguindo este caminho é esta a proposta feita como metodologia das aulas de Prática
de Ensino, refletir sobre uma realidade tendo como referência teórica à sociologia.

Vocês perceberão que durante as aulas estarei convidando a todos para fazerem esse
exercício de relacionar teoria e prática.

Solicito a atenção para o começo da entrevista quando o pesquisador explica os


motivos que o levaram a fazer esta experiência como professor de ensino básico, a
necessidade que sentiu de se aproximar da realidade que ele sempre estudou e
pesquisou, mas que não tinha vivido concretamente. Ele começou a sentir que a
experiência daria a credibilidade, para os professores, de poder ser um sociólogo
pesquisador da adolescência marginalizada da França.

Os problemas educacionais parecem minimizados quando nos afastamos do


ambiente escolar. Uma coisa é fazer pesquisa sobre juventude, escola, etc. dentro da
universidade a outra é imergir no mundo que estamos pesquisando.

Apesar do autor criticar sua própria ação com relação a experiência feita como
professor de ensino básico, ele transparece que se surpreendeu com os problemas
enfrentados pelos professores e a situação da educação.

Este texto nos remete ao artigo que lemos em aula anterior sobre o adolescente que
não se sente motivado a ir para escola e por isso a evasão aumenta.

O contexto é diferente, França e Brasil, com situações análogas. O quadro confirma


como a visão sistêmica para entendermos o contexto de um problema é importante,

CIÊNCIAS SOCIAIS 28
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não conseguimos mais analisar a educação dentro de uma visão somente local, o
problema é global.

Crítica de Dubet ao programa que deve ser cumprido é real para nós. Idealizamos um
aluno, uma escola, uma comunidade e elaboramos o plano de aula sem saber com
quem vamos interagir. Os objetivos lançados e os conteúdos que os professores
colocam como ideal para a formação do aluno, não foi pensado para um aluno real.

Com isso as frustrações de ambos é intensa, o aluno não deseja estudar o proposto,
as vezes se coloca com mal aluno e indisciplinado e o professor acusa os alunos de
desinteressados e irresponsáveis, por não conseguirem atingir os objetivos propostos.

O sociólogo ao contar suas amarguras na sala de aula, implicitamente nos dá pistas


das habilidades que ele não tinha para fazer um bom trabalho. Ao ler, você pode ir
listando estes pontos. As iniciativas e atitudes que ele tomou para conseguir disciplina
na sala de aula e a forma de avaliação usada.

Um dos problemas apontados é com relação a quantidade e qualidade, tempo coletivo


e tempo individual. É comum lermos nas escolas, planos de curso e de aula belíssimos
com textos ótimos que nunca serão lidos e assimilados pelos alunos, por um pequeno
problema tempo. O professor indica a bibliografia e não leva em conta que seu público
é jovem, seus conhecimentos prévios não estão todos relacionados ao assunto, a
linguagem do texto não é adequada, e outras características negativas. Não podemos
deixar de fazê-los ler, escrever, discutir, mas tudo isso deve ter momento de reflexão
e avaliação para sabermos se o caminho escolhido é o melhor.

A experiência vivida pelo sociólogo Dubet é interessante para ilustrar a complexidade


da profissão e a responsabilidade política e social que o educador tem nas mãos.

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Aula 9_ Formação de Professores

O tema desta unidade tem sido foco de muita polêmica nos últimos anos no meio
educacional, tanto para pesquisadores como para os professores que atuam em sala
de aula. As secretarias de educação e o MEC têm investido em programas de
formação de professores, pois este seria o ponto nevrálgico para alguns problemas
da baixa qualidade do ensino em nosso país.

Com as mudanças tecnológicas, políticas e culturais que ocorreram desde o marco


histórico da Queda do Muro de Berlim, o paradigma educacional, instrucionista para
construcionista ou construtivista, exigem do profissional de educação uma nova
concepção de educação e isso representa repensar, resignificar a sua prática
pedagógica.

As pesquisas mostram que educar para a maioria dos nossos professores


corresponde a duas ideias centrais (embora nem sempre associadas): ensinar, no
sentido de transmitir informação e conhecimentos escolares disciplinares, e socializar,
no sentido de inculcar normas de conduta de “bom comportamento” no trato com os
adultos. Este grupo corresponde aos profissionais que têm menor formação teórico-
pedagógica, de uma definição de educação que está muito próxima da sua prática,
isto é, uma pedagogia obrigatória, centrada no ensino do currículo formal, e uma
pedagogia implícita sobre as normas e regras escolares, que só são explicitadas para
disciplinar os “desadaptados”.

Temos ai uma ótima problemática para a Sociologia analisar, pois se partirmos da


ideia que a Sociologia e Antropologia colaboram na formação de identidade cultural,
ao assumirmos esta posição frente à educação estaremos contribuindo para a
formação de jovens cordatos e acríticos ao sistema em que estão inseridos.

Por outro lado, nem tudo está perdido, há um outro grupo de professores, este
minoritário, especialmente composto por aqueles que tem maior formação teórico-
pedagógica, expressa a ideia de que educar visa “desenvolver as potencialidades
psicológicas de qualquer indivíduo indo ao encontro dos desejos e necessidades que
as crianças expressam”. No entanto, neste grupo enfrenta um conflito sério, possuem

CIÊNCIAS SOCIAIS 30
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formação teórica, mas não consegue, na maior parte das vezes, colocar em prática
suas ideias e teorias. Com isso, o desenvolvimento psicológico do indivíduo é
reduzido ao domínio de conhecimentos-conteúdos, valorizando uma estratégia de
aprendizagem mais em profundidade, mais compreensiva e menos mecanizada, mas
sempre, ainda, centrada no professor, transformando a necessidade de atender aos
desejos das crianças como se tratasse somente de cultivar na sala de aula um sistema
de papeis menos posicional e mais pessoal, mais atento e mais compreensivo.
Lembra da última aula? “Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor?”

Um outro grupo de professores é formado por profissionais mais engajados em


movimentos pedagógicos ou profissionais, que são mais específicos no que é que
entendem o compromisso com a educação como uma ação mais complexa que vai
além da sala de aula e dos muros da escola.

Estes procuram enfatizar em sua ação pedagógica competências como:


responsabilidade, autonomia, cooperação e trabalho de equipe, inter ajuda, etc. Sobre
o modo de operacionalizarem estas ideias, manifestam algum conhecimento e
segurança, quando descrevem estratégias e processos pedagógicos mais ativos e
menos centrados no professor, potencialmente estimuladores daquelas
competências. Assume o seu papel de mediador no processo de aprendizagem e por
isso desenvolvem a autonomia, a criatividade dos alunos. Este grupo se apropriou das
tecnologias que estão a disposição nas escolas e as utilizam com sintonia à
concepção pedagógica construtivista.

Gostaria que na Unidade III ao estudar as concepções educacionais da sociologia


como– Concepção Globalizante – volte para esta unidade e façam relação entre os
conceitos.

CIÊNCIAS SOCIAIS 31
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Aula 10_ A sociedade o laboratório da sociologia

“É preciso enxergar as nuances da rede social com óculos mais


precisos. É preciso transformar o bruto do aprendizado em
sensibilidade e capacidade analítica”. (Gabriel Cohn)

A definição de Gabriel Cohn pretende mostrar a importância do olhar sociológico sobre


o nosso cotidiano. Desenvolver a sensibilidade e criticidade do olhar para cada ponto
de nossa sociedade é tarefa do sociólogo. Lógico que não temos a pretensão de
formar no Ensino Médio sociólogos, mas temos que ter como um dos objetivos
despertar o olhar sociológico para entender a realidade que nos cerca, para isso é
preciso se apropriar dos conceitos básicos de sociologia.

Fazer esse movimento com os alunos de usar o dia a dia deles, de sua comunidade,
de sua cidade, país e mundo como laboratório para analisar e refletir as teorias
sociológicas é um passo para a aprendizagem significativa.

Trazer o fato social para dentro da sala de aula e partir de um determinado recorte
analisá-lo é um processo interessante de trabalho.

Para isso, temos que trazer para os alunos os conceitos básicos da disciplina, dar um
salto do senso comum e passar para o conhecimento sistematizado.

Podemos começar dando nome aos fenômenos sociais visíveis para os alunos, ou
seja, apresentamos o fato e coletivamente analisamos e procuramos na teoria a
nomenclatura adequada. Nessa prática o que importa é que o fato social tenha
relação com as preocupações dos alunos e que as informações não sejam oferecidas
prontas, mas que eles construam suas definições, com texto próprio.

Comecemos pela definição de fato social, como podemos mostrar a abrangência


deste conceito e como ele está presente no cotidiano de todos nós?

Podemos começar por Durkheim em sua obra “As Regras do Método Sociológico”.
Fazer uma adaptação do texto e utilizar imagens que representam o mundo desses
jovens com uma questão para provocar uma relação com acontecimentos em seu dia
a dia.

CIÊNCIAS SOCIAIS 32
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A prática do professor não tem apenas um modelo a ser seguido, o que pretendemos
é mostrar a importância da teoria sociológica nas aulas, mas voltada a contribuir para
o aluno entender e propor soluções aos problemas que enfrentamos.

Mostrar qual é o objeto da sociologia – o homem e a relação deste com seus grupos
e entre os grupos.

O recorte feito para o estudo não pode estar solto com relação às disciplinas do
currículo. Não podemos esquecer que temos uma proposta transdisciplinar de
trabalho e o plano de aula acompanha os projetos e temas do grupo.

Dentre os quatro princípios propostos para uma educação para o século XXI –
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser –
destaca-se o aprender a conhecer, base que qualifica o fazer, o conviver e o ser e, é
síntese de uma educação que prepara o indivíduo e a sociedade para os desafios
futuros, em um mundo em constante e acelerada transformação.

O Ensino Médio, enquanto etapa final da Educação Básica, deve


conter os elementos indispensáveis ao exercício da cidadania e não
apenas no sentido político de uma cidadania formal, mas também na
perspectiva de uma cidadania social, extensiva às relações de
trabalho, dentre outras relações sociais. (PCN)

As ciências sociais darão repertório para os alunos no processo de aprendizagem e


na apropriação dos conceitos bá-sicos. Ter o conhecimento dos processos sociais
para compreender o humano, como sujeito autônomo para escrever a sua história
e de seu grupo social, mas também deve se perceber como sujeito envolto por uma
trama social formada por outras subjetividades. Assim os fatos econômicos, políticos
e culturais não estão isolados da ação humana e podem se contrapor a vontade de
outros agentes sociais e esse movimento também é sistematizado pela sociologia.

CIÊNCIAS SOCIAIS 33
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Resumo Unidade II

Terminamos a Unidade II sobre a formação de professores tema atual na educação


em todos os níveis para pesquisa acadêmica e como política pública e investimento
de órgãos mundiais e ONGs.

O número de livros publicados sobre este assunto nos últimos anos denuncia a
realidade sobre a formação dos professores que se encerrava com o curso de
graduação e atualmente não se concebe mais, para nenhum profissional, a falta de
continuidade na formação.

O termo mais utilizado é formação ao longo da vida, ou seja, não temos um final na
formação e isso é uma exigência da “sociedade de informação” e do conhecimento
que a cada dia é produzido e veiculado.

Referências Bibliográficas

FAZENDA, Ivani (org). Didática e Interdisciplinaridade: Campinas, Papirus, 1998.


FERNANDES, Florestan. 1975. “O ensino da Sociologia na escola secundária
brasileira”. In: A Sociologia no Brasil. Petrópolis: Vozes. Originalmente publicado
nos Anais do I Congresso Brasileiro de Sociologia,21-27 de Junho de 1954, em
São Paulo.
FREIRE, Paulo. Política e Educação: ensaios. São Paulo, Ed. Cortez, 2001.
FREITAS, Maria Teresa de Assunção. Vygotsky & Bakhtin – Psicologia e Educação:
Um intertexto. São Paulo: Ática, 1996.

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Aula 11_ Os sociólogos contemporâneos e o nascimento da sociologia no Brasil

A sociologia contemporânea segue vários modelos, que passam dos clássicos,


releitura deste e métodos de investigação com objetivo de aplicação social.

A preocupação com a cientificidade é uma marca do século e os acontecimentos


políticos como - Primeira e Segunda Guerra Mundial, as ditaduras na América Latina,
Revolução Russa e Cubana são fatos que interferiram nos métodos de análise
sociológica.

Os países clássicos por sua produção científica como França e Alemanha sofreram
crises e abriram espaço para o reconhecimento dos cientistas norte-americanos. A
guerra fria que dividia o mundo em dois blocos também causava discussões entre os
sociólogos como mostra este texto de Alain Touraine de 1950, Ser sociólogo:

O grupinho dos sociólogos ficava à margem da universidade. Ser


sociólogo era e ainda é menos decente do que ser historiador, filósofo
ou latinista. Éramos marginais ou atípicos. Maucorps, que morreu
muito jovem, era um oficial da marinha, ex-aluno de escola naval, e
provavelmente um dos únicos a ter passado para a França Livre.
Chambart de Lauwe vinha da etnologia, mas também da RAF. Morin
correra grandes riscos e levara uma vida errante durante a guerra. Nós
não éramos apenas marginais com relação à vida universitária, mas
também com relação ao esquema comunista que nos cercava. Não
discutíamos com os intelectuais comunistas daquela época; eu
pessoalmente nunca o fiz. Mas os sociólogos eram acusados de ser
agentes da burguesia, pois seu pensamento livre ameaçava o domínio
autoritário do PC. (Touraine, 1977)

A preocupação em contextualizar as correntes sociológicas e as produções científicas


se faz pertinente para podermos entender como a sociologia chegou nas escolas e
passou a ser reconhecida como base para reflexão de outras disciplinas do currículo.

Por exemplo, na década de 1920, na França a tendência durkheimiana toma conta


das produções e aborda muitos temas como a educação e pedagogia. Essa
tendência, após a Segunda Guerra Mundial, foi questionada e durante 20 anos a
sociologia sofreu um desgaste grande até a década de 1950.

A pesquisa educacional, tanto no plano teórico como metodológico, têm suas bases
na sociologia e as contribuições de sociólogos como Edgar Morin, Pierre Levy e outros

CIÊNCIAS SOCIAIS 35
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continuam importantes para se traçar os rumos da educação atual e fazer uma análise
das perspectivas e tendências do futuro da educação.

Sobre a sociologia contemporânea brasileira pode ser aprofundada com a leitura de


Florestan Fernandes no livro a natureza sociológica da Sociologia. Com o golpe de
1937 de Vargas o Brasil entrava na fase de modernização do capitalista e precisava
de pesquisadores e professores de sociologia para estudar cientificamente esse novo
momento e legitimizar os novos acontecimentos.

A primeira turma de sociólogos que saiu da Escola Livre de Sociologia e Política, de


orientação norte-americana e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de
orientação francesa.

Neste momento não se pensava em sociologia como uma disciplina escolar, as


pesquisas e profissionais dedicavam-se à carreira Acadêmica, em órgãos do governo
e institutos de pesquisa.

Os intelectuais brasileiros sociólogos atuais são conceituados internacionalmente


como é caso de Florestan Fernandes, Otavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso.

A Sociologia incorporada ao currículo do Ensino Médio abre mais um campo de


atuação profissional e de pesquisa, pois os professores que atuam neste setor podem
desenvolver pesquisas acadêmicas na área de educação sobre o ensino de
Sociologia.

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Aula 12_ Sociologia: obrigatoriedade no Ensino Médio

A Sociologia como disciplina obrigatória foi uma vitória para os educadores críticos,
mas ao mesmo tempo podemos lamentar que somente uma medida mais drástica faz
com que essa ciência seja valorizada.

Um dos objetivos é proporcionar ao aluno instrumentos de análise dos aspectos do


homem e sua relação com a sociedade, a partir de temas relativos às transformações
culturais, econômicas, políticas e sociais contemporâneas. Oferecer condições de
desenvolvimento de reflexão crítica e formação humanista. Contribuir para um agir
profissional ético e cidadão no mundo globalizado. Promover atitude investigativa e
autônoma diante da sociedade do conhecimento.

Os professores terão que apresentar os principais conceitos e problemas da


Sociologia para a compreensão do mundo atual. Estimula a reflexão sobre o processo
de organização do trabalho e produção do conhecimento frente aos desafios
contemporâneos. Promover a percepção e análise das transformações econômicas,
políticas, sociais, culturais e tecnológicas. Demonstrar a contemporaneidade dos
clássicos enfatizando as conexões entre trabalho e conhecimento.

As modificações ocorridas no mundo do trabalho, referentes a muitas questões


atualmente colocadas no panorama mundial, como a globalização, a produção flexível
e as novas demandas do mercado de trabalho, exigem adequação do perfil
profissional impactando diretamente na formação educacional do jovem. A Sociologia
pode contribuir para esta formação com seu repertório e conceitos específicos, pois
se considera que a Sociologia, em particular, conjuntamente com a Filosofia poderá
contribuir para uma visão humanista e cidadã dos alunos, além de expandir a
compreensão sobre a realidade na qual estamos inseridos.

Conforme Sanderson Dias Bragança afirma na Revista Espaço acadêmico, ornar


obrigatório o ensino de Sociologia e de Filosofia no ensino médio, é tão importante
quanto sua legitimação por parte da sociedade, outro desafio que gradativamente vem
sendo superado. Mais do que ornamentações pedagógicas, ou meros limbos
curriculares, a docência destas disciplinas vem para contribuir de modo específico e

CIÊNCIAS SOCIAIS 37
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peculiar junto às demais disciplinas para construção de uma sociedade reflexiva,
investigadora de seu meio, e capaz de problematizar sua própria realidade. Decerto
não só é possível, embora não simples, mas imprescindível, apresentar aos
educandos esse “modo de pensar, de sentir e de agir”. Não se trata de querer formar
sociólogos no ensino médio, muito menos no fundamental. No entanto o que se tenta
não é nada impossível ou utópico, pois a Sociologia e/ou a Filosofia não têm a
pretensão de ser (como acreditava Mário de Andrade, entre outros pensadores em
meados da década de 1920/30) “a arte de salvar rapidamente o Brasil”.

As intenções não são tão ambiciosas, ou absurdas. Busca-se somente, empregando


seus conceitos e métodos apenas facilitar e possibilitar ao educando, que ele consiga
despertar em si mesmo um novo foco de seu próprio meio, e daí exercitar o início de
um pensamento crítico e/ou reflexivo que o leve a perceber antes em alguns
importantes detalhes, fatos ou frases, as contradições, as desigualdades, a realidade
a sua volta e que assim ele possa se perceber em seu grupo, como parte deste grupo,
se individuar, se compreender e compreender as diferenças, busca-se não mais que
favorecer a cidadania, a tolerância, a coesão e o desenvolvimento social.

A história de amanhã que se tenta escrever hoje, é a de uma comunidade coesa, de


uma sociedade que compreende suas diferenças, que é capaz de problematizar seu
meio, que luta por seus ideais próprios de progresso, pela cidadania, e contra a
intolerância, o individualismo e o etnocentrismo. A Sociologia e a Filosofia vêm com o
modesto, porém probo intuito de trabalhar junto às demais disciplinas para o
desenvolvimento do educando, e da comunidade. Para alcançar o que se almeja não
há truques, e nem se desdobrará por encanto. A luta prossegue, e a cidadania
agradece.

CIÊNCIAS SOCIAIS 38
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Aula 13_ As novas perspectivas epistemológicas para o ensino de Sociologia

Concepção espontaneísta

Em contraposição a concepção cientificista e tendo como justificativa a valorização do


conhecimento prévio, alguns professores pesquisadores passaram a desenvolver
atividades pedagógicas, nas quais, o centro do processo não é o professor, mas o
aluno. Enfatizaram a sua ação nos temas e nas problemáticas do cotidiano do aluno.

Passamos para um extremo que faz parte do processo de mudança, negamos a


concepção anterior e adotamos uma ação contrária. Não podemos deixar de lado o
conhecimento científico em que a Sociologia foi construída e legitimada como ciência.
Podemos trabalhar com temas transversais, mas não abandonar os conteúdos
científicos sociológicos básicos, pois é por isso que lutamos para que a Sociologia se
tornasse disciplina do currículo.

Como são os alunos os portadores do conhecimento, cabe a eles definirem as normas


de organização da sala de aula, os princípios de convivência social, os temas que
serão estudados, os métodos de avaliação e os ritmos de aprendizagem.

As temáticas são escolhidas basicamente em duas fontes. Uma primeira fonte é o


cotidiano dos alunos e suas problemáticas: uso de drogas, gravidez na adolescência,
relações familiares, violência, etc. Outra fonte é constituída pelas temáticas hoje em
discussão na Antropologia e na Sociologia que interessam aos alunos: diferenças de
gênero e orientação sexual, diversidade cultural, diferenças raciais, religiosidade, etc.

Os alunos utilizam como material de pesquisa dessas temáticas principalmente:


jornais, revistas e vídeos. Secundariamente realizam entrevistas e pesquisam em
livros e artigos científicos das Ciências Sociais. As informações coletadas são
expostas em seminários e feiras.

Ressalta-se que na visão espontaneísta, o ensino de Sociologia enfatiza a pesquisa


e assim, ainda que precariamente, procura possibilitar ao aluno a apropriação do
instrumental metodológico desenvolvido nas Ciências Sociais. Todavia, trata-se de
uma apropriação totalmente descontextualizada visto que não propicia ao educando

CIÊNCIAS SOCIAIS 39
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um estudo dos princípios filosóficos e sociológicos que fundamentaram a elaboração
dos instrumentos de pesquisa.

A pesquisa é feita sem a preocupação de investigar o tema tendo como ponto de


reflexão cientistas, sociólogos e conceitos específicos que exercitem o pensar
sociológico, com isso os alunos ao lerem as informações sobre gravidez na
adolescência, não remete essas informações a questões de ordem sociológica como
a relação entre religião e não uso de anticoncepcionais, a análise do meio social e
cultural em que as jovens estão inseridas, e outras problemáticas que podem se
levantadas.

Essa concepção é um avanço no método pedagógico, no entanto podemos ampliar


as competências desenvolvidas pelos alunos. Neste método o aluno, desenvolve
pesquisa e já consegue ter autonomia na busca de informações e linkar o
conhecimento formal com as questões do cotidiano. Ele ainda não consegue fazer
isso com relação as princípios sociológicos e as questões e informações ligadas ao
tema de pesquisa e as questões do cotidiano.

Por isso nesta disciplina defendemos o uso dos clássicos e seus conceitos básicos no
Ensino Médio, espera-se que o aluno consiga usar estes conceitos e entender
problemas atuais sobre a luz destas teorias.

A metodologia para o ensino e aprendizagem é uma questão complexa e ainda precisa


de muita discussão e estudo. A polêmica é muito grande entre pesquisadores, até
pelas poucas pesquisas sobre a prática de sociologia e a reflexão dos professores
sobre a sua própria prática.

Vamos com a próxima aula continuar estudando estes métodos que levam em conta
as exigências da geração e a legislação.

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Aula 14_ Concepção globalizante

Articular o conteúdo científico e as necessidades dos alunos num mesmo processo


pedagógico e com esse movimento ocorre o processo de aprendizagem e construção
do conhecimento escolar é uma prática globalizante que envolve o trabalho com
projeto.

Não podemos descartar o conhecimento científico, ele não é fruto do acaso, mas sim,
da própria ação do homem no processo de transformação de sua realidade. Nem tão
pouco há como negar os interesses e proposições dos alunos, pois, sem eles,
desaparece a possibilidade de uma escola atraente e criativa.

Os projetos são desenvolvidos a partir de questões significativas para a turma que


podem ser sugeridas pelos alunos, pelos professores ou pela própria conjuntura
social. As questões postas no projeto geram necessidades que farão com que os
alunos se defrontem com os conhecimentos científicos como instrumentos culturais
para entendimento da realidade e não como conceitos abstratos desprovidos de
significação.

No desenvolvimento do projeto, temos atividades realizadas pelos alunos como,


entrevistas, pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo e atividades organizadas pelo
professor, como por exemplo, a organização de módulos de aprendizagem com a
função de aprofundar e sistematizar alguns conteúdos relevantes para o projeto.

No processo de síntese, alunos e professores sistematizam os conceitos, valores,


competências e procedimentos desenvolvidos, identificam questões novas passíveis
de serem abordadas em novos projetos, avaliam o processo e fazem
encaminhamentos.

O trabalho com projetos, no ensino de Sociologia, enfrenta dentre outras, duas


dificuldades. A primeira relacionada à participação dos professores de outras
disciplinas. Geralmente, os projetos geram necessidades de aprendizagem que
demandam uma resposta interdisciplinar, todavia, vivemos ainda, no ensino médio,
em um ambiente disciplinar e compartimentalizado.

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A outra dificuldade está relacionada à utilização dos conteúdos da Sociologia. Os
conteúdos trabalhados no processo de instrumentalização estão fundamentalmente
relacionados aos conceitos e teorias sociológicas. Assim, os alunos não utilizam os
instrumentos metodológicos fornecidos pelas Ciências Sociais que contribuiriam tanto
no momento de planejamento, como no momento de pesquisa em si. Como
consequência, os alunos, em muitos trabalhos, tratam as questões de forma
superficial e os dados de forma assistemática.

Enfim a consolidação do trabalho com projetos em Sociologia requer uma ampliação


do entendimento do que seja conteúdo sociológico.

O texto sugerido como aprofundamento desta aula é de Moacir Gadotti, ele analisa as
mudanças sociais, culturais e econômicas e faz uma relação com a mudança de
paradigma na educação. Este texto será também usado na próxima aula e
está disponível no nosso ambiente virtual de aprendizagem.

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Aula 15_ A pesquisa na Escola

Com o ambiente de estudo interativo percebe-se também a mudança de


comportamento disciplinar dos alunos e a ampliação do espaço da sala de aula. Se o
aluno não está aprendendo porque a atividade é mecânica e desprovida de
significado, resta-lhe a alienação passiva ou a rebeldia, que é vista como indisciplina.
O modelo fordista, de linha de produção reproduzido até hoje em sala de aula, alunos
sentados perfilados, passivos, de prontidão, não atende mais aos jovens desse
século.

Pesquisa pedagógica¹ demonstra que grande parte do tempo da aula


é usado pelo professor para articular “estratégias de sobrevivência”
(artifícios que o professor recorre para tentar dar conta da tarefa
educativa: chamar a atenção de alunos, dar “sermão” na classe,
elogiar a turma para ver se os “ganha” para o trabalho, fazer trabalho
de grupo para “ocupar” os alunos e poder “respirar” um pouco, pedir
para prestar atenção, ameaçar, gritar, pedir silêncio, etc.), ao invés de
estar interagindo construtivamente com o conhecimento e com os
alunos (Vasconcellos, 2002, p. 27).

No ambiente interativo, o tempo de aprendizagem também era estabelecido pelo


aluno e não somente pelo professor que elaborou a aula com determinado conteúdo
para ser transmitido e aprendido naquele dia. Ocorrem constantemente casos de
alunos que pareciam ter entendido um assunto durante a explicação, mas durante a
elaboração do seu texto, ao representar as ideias pela escrita, percebiam que tinham
dúvidas relacionadas com conceitos, tempo histórico ou relação de fatos. O momento
de produção constituiu-se como o momento da reflexão e depuração das informações
recebidas, por isso os questionamentos apareciam com maior intensidade e
profundidade.

A concepção sócio-histórica da aprendizagem de Vygotsky defende que esse


processo é em espiral gradual e ascendente e as competências de cada um afloram
em tempos diferentes. Como afirma Morin:

a complexidade humana não poderia ser compreendida dissociada


dos elementos que a constituem: todo desenvolvimento
verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das
autonomias individuais, das participações comunitárias e do
sentimento de pertencer à espécie humana (2000, p. 88).

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Nos PCNs isso é demonstrado da seguinte forma:

Por sua natureza própria, as Ciências Humanas e a Filosofia


constituem um campo privilegiado para a discussão dessas questões.
Mas, não se deve perder de vista que a cidadania não deve ser
encarada, no Ensino Médio, apenas como um conceito abstrato, mas
como uma vivência que perpassa todos os aspectos da vida em
sociedade. Daí, que a preparação para o exercício da cidadania não
se esgota no aprendizado de conhecimentos de História, Sociologia,
Política ou Filosofia. Antes, está presente nos usos sociais das
diferentes linguagens e na compreensão e apropriação dos
significados e resultados dos conhecimentos de natureza científica.

Atualmente com o acesso mais fácil das Tecnologias Digitais de Informação e


Comunicação (TDIC) a facilidade de informação nas outras mídias, a educação é
forçada a rever seu papel.

Os problemas levantados até o momento do paradigma cartesiano e educação


bancária, são agravados com as TDIC, pois se escola ficar na mera transmissão de
informação, o aluno não terá motivação nenhuma de assistir aula.

Propor pesquisa escolar sem problematizar e elaborar um projeto com cronograma e


todos os passos que uma pesquisa exige, o aluno continuará fazendo o movimento
de clicar CTRL+C, CTRL+V e CTRL+P e seu trabalho escolar estará pronto para ser
entregue ao professor.

Criticar o aluno por fazer isso é comum e já não faz mais qualquer efeito, é necessário
perguntarmos: Porque o aluno faz isso? Será que faríamos diferente?

Tenho algumas hipóteses:

1. É o meio mais fácil;

2. O aluno não sabe fazer pesquisa e nunca ninguém ensinou;

3. O professor solicitou uma pesquisa sobre “A Escravidão brasileira”, ou seja, 400


anos de história do Brasil, alguns volumes de livro ele simplesmente copiou o que já
estava feito;

4. A pesquisa está descolada do interesse do aluno, distante de sua realidade;

5. O professor também não sabe fazer pesquisa;

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Bem essas hipóteses já foram foco de dissertações e teses, temos alguns livros que
abordam esses empecilhos no desenvolvimento da pesquisa escolar.

O que fazer diante disso?

Algumas escolas tomaram providências sérias, impediram os alunos de entregar


trabalhos impressos e passaram a fazer manuscritos.

O que os alunos ganharam com isso em sua aprendizagem?

Provavelmente nada, mas devem ter treinado caligrafia e ganharam alguns músculos
nos braços.

Temos um problema e precisamos resolver. Como usar as mídias a nosso favor no


ensino possibilitando uma aprendizagem mais prazerosa?

Podemos começar pela elaboração de um projeto de pesquisa que a partir de um


tema envolva vários professores.

Projeto com tema, foco e o aluno refletirá sobre o tema e levantará a sua problemática
a ser investigada. Não será mais sobre a escravidão no Brasil, mas sim uma
problemática sobre o tema. O aluno será orientado em sua investigação e perceberá
que o texto impresso que ele entregava era apenas o começo de uma investigação,
ou seja, levantamento bibliográfico e teria, com isso material para leitura.

Para fazer pesquisa todos precisam de orientação, desde a delimitação do foco, a


bibliografia, o contexto, enfim deixamos de ser professores transmissores de
conhecimentos prontos para sermos orientadores, mediadores. Com essa proposta
algumas escolas já adotaram o fim das séries, da sala de aula, com horário
determinado para começar e terminar a aula. Todos são pesquisadores, alunos e
professores, e estes orientam os alunos. Apresentamos dois sites de escolas que
possuem uma proposta pedagógica diferenciada.

Sites

http://www.lumiar.org.br/

http://www.eb1-ponte-n1.rcts.pt/

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¹ M. B. OTT, Desempenho do professor, In ETGES, Norberto. Avanço progressivo nas
escolas de 1º grau do Estado de Santa Catarina: balanço e perspectivas. 1983.
(Relatório de pesquisa).

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Aula 16_ Pesquisa e projeto na escola

Projectus, em latim significa jato lançado para frente. A ideia implícita na origem da
palavra projeto já mostra o significado presente para nós de algo que olhamos para
frente, algo a ser executado, feito ou realizado.

O projeto é inerente ao ser humano, ele projeta suas intenções antes de realizá-las.
Para realizar um projeto partimos de um conjunto de ações que são traçadas,
pensadas de tal forma que a margem de erro seja pequena e não impeça a realização
dos objetivos propostos no projeto.

Segundo Almeida, “projeto não é um plano ou roteiro passo-a-passo nem um conjunto


de atividades que o professor propõe para os alunos realizarem ao longo de certo
período de tempo para no final apresentar um trabalho”. Para Freire & Prado “basea
se em delinear um percurso possível que pode levar a outros, não imaginados a priori”
(FREIRE & PRADO, 1999, p.113).

Se o projeto está presente em nossa vida porque a proposta de trabalhar com projeto
pode trazer inovações na escola? Fazer um projeto escolar não seria uma prática já
estabelecida?

Para levar um projeto na escola, a princípio propomos a utopia de romper com o


paradigma presente e projetar o diferente para o futuro.

Primeiro ao pensarmos em um projeto para a disciplina que ministramos, temos que


ter em mente a articulação com os saberes específicos com os de outras disciplinas.
Ter sintonia com o projeto político pedagógico (PPP), pois somente assim
envolveremos coordenação, direção (equipe gestora) e a comunidade. Ter os pais
como colaboradores é muito importante, com isso teremos ao nosso lado a família
para acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos.

As considerações levantadas no parágrafo acima tecem as intenções de um projeto


coletivo, quer dizer que ele não pertence ao professor, nem ao aluno e nem aos
gestores, ele é coletivo e colaborativo, conceitos que dão todo o alicerce para a
construção de projetos escolares.

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O projeto exige que trabalhemos com temas que podem partir de uma disciplina, como
eixo, ou de um tema emergente. Temos que tomar cuidado neste momento para não
sermos manipulados por temas que a mídia coloca e que são puro modismo e estão
descolados da necessidade e realidade do aluno.

Para escolha do tema é fundamental que seja relevante para os alunos e importante
para a sua formação. O tema pode partir dos alunos ou dos professores desde que o
interesse fique evidente por parte dos alunos. Se ficarmos somente na escolha dos
alunos corremos o risco de que eles não proponham temas de assuntos que eles não
conhecem ou que seja complexo, neste momento cabe ao professor mostrar a
relevância do trabalho e seduzi-los a se apaixonarem pelo tema.

Para Maraninchi o professor precisa desenhar os procedimentos que o conduzirão


neste processo. Os procedimentos estão relacionados com os objetivos levantados
pelo coletivo e são ações como “manejar, usar, construir, aplicar, observar,
experimentar, elaborar, simular, demonstrar, planejar, compor, avaliar, representar,
[...]” ¹

Para Almeida “fazer da aula um projeto significa comprometer-se e criar condições


para mobilizar os alunos a desenvolverem ações que permitam planejar, negociar,
colaborar, criar estratégias, resolver problemas, desenvolver um conjunto integrado
de atividades, aprender, etc.” (ALMEIDA, 2002, p.57)

O projeto de aula pretende ir além das atividades disciplinares, o projeto precisa


problematizar provocar e desafiar os alunos a buscar respostas, conceitos e soluções
usando seus conhecimentos prévios e senso comum, de forma criativa e colaborativa.
O processo de construção do conhecimento no desenvolvimento do projeto
potencializa a troca, o trabalho em equipe e a tolerância, assim como ressignifica o
erro pessoal e dos outros como parte da aprendizagem.

Nesta forma de trabalho pedagógico o professor se coloca no novo paradigma, deixa


de ser o centro e passa a ser mediador usando suas competências para ajudar o aluno
a desenvolver também suas competências com autonomia e criatividade.

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Desta forma podemos afirmar que a avaliação é formativa, pois todo o processo é
avaliado, mas o professor precisa deixar claro os objetivos da avaliação, qual é a sua
intenção ao desenvolver uma atividade. O aluno precisa saber como e porque está
sendo avaliado.

Indicamos a leitura do texto Sanderson Dias como apoio: “Sociologia e Filosofia no


Ensino Médio: Mais de Cem Anos de Luta”.

¹ Encontrado no site: http:\\eaprender.ig.com.br

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Resumo Unidade III

A unidade exige a reflexão sobre as concepções pedagógicas atuais e uma discussão


sobre a legislação educacional brasileira. Procuramos dar subsídios com o
aprofundamento dos estudos na área da educação para que a atuação do professor
de sociologia possa inovar a prática em sala de aula e ressignifique, o modelo de
educação tradicional, em que a aula está centrada no professor e passe a vê-lo como
mediador no processo de aprendizagem dos alunos.

A luta da inclusão da Sociologia no currículo escolar mostra como as políticas públicas


desenham o quadro educacional de acordo com seus objetivos políticos e culturais.

Interferir no projeto pedagógico da escola é parte da missão do professor que torna-


se parte da construção da escola e não um professor fechado em sua classe sem
participar do contexto no qual está inserido.

Referências Bibliográficas

MACHADO, Nilson José. Epistemologia e Didática: as concepções de


conhecimento e inteligência e a prática docente. São Paulo: Cortez, 1995.
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens -
entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999.
SACRISTÁN, J. G. e Pérez Gómez, A. I. Compreender o ensino. 4 ed. Porto Alegre:
Artmed, 1998.
SAMPAIO, Maria M. F. Um gosto amargo de escola: relações entre currículo, ensino
e fracasso escolar. São Paulo: EDUC/FAPESP, 1998.
WISKE, Martha S. (org.). La enseñanza para la comprensión: vinculación entre la
investigación y la práctica. Barcelona: Piadós Educador, 1998.

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Aula 17_ Refletindo os conceitos para relacionar com a prática

O professor não passa, no fundo, de um aluno avesso. Os alunos vão


e vêm; a sua aprendizagem tem um ponto de partida e outro de
chegada. Com o professor, tudo é diferente. Permanecemos em
aprendizagem contínua. (...) O professor nunca acaba de aprender e
quando acaba de pensar que já domina um assunto, descobre que
deveria começar de novo. (Florestan Fernandes. A natureza
sociológica da sociologia)

O tema de estudo proposto não pode ser pensado de forma isolada e esse exercício
que proponho para você é um dos objetivos para se concretizar a transversalidade e
interdisciplinaridade que vem sendo implantada de forma tímida na educação em nível
mundial.

Os pilares propostos pela UNESCO e os documentos dos principais intelectuais que


pensam nas orientações educacionais para o mundo, como Jacques Dellors e Edgar
Morin, têm como eixo para seus pensamentos estes dois conceitos complexos e tão
banalizados nos últimos anos na educação.

Eu o convido a pensar como a sociologia pode possibilitar ou potencializar a


transversalidade do currículo que, por herança positivista, é ainda fragmentado,
despedaçado como as aulas, os horários escolares, a grade curricular oficial e, o mais
preocupante, pela postura do professor que não consegue repensar sua prática para
o coletivo.

Os PCNs, em alguns momentos, tendem a valorizar essa tendência mundial da


educação, deixando a organização do currículo mais flexível e ampliando a autonomia
das escolas para essa organização.

É preciso ver que as mudanças propostas pela LDB de 1996 e pelos


PCNs implicam um profundo reordenamento político-pedagógico. O
que significa a construção e implantação de um projeto pedagógico
(organização curricular, orientação metodológica, organização
administrativa, recursos etc.) que se paute efetivamente pelos
seguintes princípios: Flexibilidade, Autonomia, Identidade,
Diversidade, Interdisciplinaridade e Contextualização. Fundamentado
nestes princípios, o objetivo do Ensino Médio está expresso no vínculo
dessa etapa da educação escolar “com o mundo do trabalho e a
prática social”. A orientação é para dirigirmos nossos programas,

CIÊNCIAS SOCIAIS 51
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atividades, projetos e currículos para a “preparação básica para o
trabalho” e para o “exercício da cidadania”, que seriam os dois grandes
eixos norteadores que definem o novo sentido para o antigo 2º grau.
Essas orientações estariam norteadas pelos quatro pilares da
educação como propõe a UNESCO e reinterpretados pela reforma
educacional brasileira: o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o
aprender a conviver e o aprender a ser. (PCNs,1996)

O trabalho das disciplinas do currículo realizado na perspectiva “trans” e


interdisciplinar transforma e põe em cheque a forma tradicional de educação. As
disciplinas estanques, a aula feita individualmente, sem troca com o outro, não é uma
ação possível para viabilizar essa proposta.

Os temas transversais foram estipulados pelo MEC na LDB e estão atrelados aos
PCNs. São temas que atravessam em todos os sentidos a realidade brasileira e, por
serem amplos, podem caminhar por muitos atalhos. São cinco temas:ética,
pluralidade cultural, saúde, orientação sexual e meio ambiente.

Estes temas são pontos de partida para desencadear discussões sobre problemas
éticos, por exemplo, até o problema do desvio de verba na saúde, como o caso das
compras de ambulâncias por várias prefeituras. Isso faz com que as competências de
cada professor em sua disciplina se ampliem, pois a responsabilidade de desenvolver
o olhar social e político do aluno não é apenas do professor de ciências humanas,
assim como a questão do letramento não deve ser apenas responsabilidade do
professor de Língua Portuguesa.

Para garantir a aplicação desta nova forma de ver o conhecimento, o professor precisa
receber uma formação que também seja inter e transdisciplinar, a transformação de
sua prática disciplinar para uma visão sistêmica e coletiva.

Morin aponta sete diretivas (complementares e interdependentes)


para a reforma do ensino: 1) o princípio sistêmico ou organizacional, o
qual ligaria o conhecimento das partes ao conhecimento do todo,
opondo-se à concepção reducionista por meio da visão sistêmica; 2)
o princípio "hologrâmico", que trata da posição global de que tanto a
parte se inscreve no todo quanto o inverso também se verifica; 3) o
princípio do circuito retroativo, referindo-=se à teoria introduzida por
Norbet Wiener (1954), a qual se opõe ao princípio da causalidade
linear em face da existência de processos auto-reguladores através

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dos quais os efeitos também atuam sobre as causas; 4) o princípio do
circuito recursivo, entendido como um sistema no qual produtos e
efeitos devem ser percebidos simultaneamente como produtores e
causadores daquilo que os produz; 5) o princípio da
autonomia/dependência (auto -organização), que trata os seres vivos
como seres inerentemente auto-organizadores que desprendem e
demandam energia, sendo por conseguinte inseparáveis do meio em
que vivem (Navarro, 2004); 6) o princípio dialógico, que remete à
fórmula de Heráclito, concebendo uma relação dialética da existência
na relação constante e indissociável entre ordem, desordem e
organização; 7) o princípio da reintrodução do conhecimento em todo
conhecimento, o qual viria apontar todo conhecimento como sendo
uma reconstrução de outros conhecimentos, tendo como diferencial a
cultura e a época em que é produzido. (MORIN, Edgar. A cabeça
bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento, 2000).

de trabalho não é simples e não depende de um professor ou do corpo docente. É


uma mudança coletiva que envolve a gestão e comunidade escolar.

Antes de passarmos para outra aula na qual entraremos em contato com práticas
pedagógicas que adotaram esse novo olhar educacional, vamos aprofundar os nossos
conhecimentos nestes dois conceitos tão verbalizados e pouco estudados pelos
educadores: inter e transdisciplinaridade.

A transversalidade pode ser pensada de várias formas. Primeiro, independente de


qualquer caminho a ser seguido, é importante o professor repensar a composição
curricular de sua disciplina, por exemplo, a Sociologia geralmente dividida em Clássica
e Contemporânea não terá mais essa fragmentação, pois o importante são os
conceitos aplicados ao tema escolhido. Transitar pelos clássicos e contemporâneos,
ao mesmo tempo, é fundamental para o aluno perceber as mudanças e permanências
ocorridas no conhecimento da disciplina. Essa ideia reforça a concepção de ciência e
conhecimento em construção e contesta a verdade científica pregada pelo paradigma
cartesiano e positivista.

Dentre todas as informações aqui veiculadas é preciso refletir essas questões e


entender que não basta transmitir conteúdo e conceitos descontextualizados e
estanques, o professor passa a ter objetivos mais amplos em sua disciplina e sempre
preocupado em trazer a disciplina para o dia-a-dia do aluno.

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Dentre os quatro princípios propostos para uma educação para o
século XXI – aprender a conhecer aprender a fazer, aprender a
conviver e aprender a ser – destaca-se o aprender a conhecer, base
que qualifica o fazer, o conviver e o ser e síntese de uma educação
que prepara o indivíduo e a sociedade para os desafios futuros, em
um mundo em constante e acelerada transformação. (PCNs)

Podemos levantar alguns métodos de trabalho direcionados à visão transdisciplinar:

Site

http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/r42004.pdf acesso em 06 nov. 2007

1. Interdisiciplinaridade:

A palavra (não o conceito propriamente dito) é usada a todo o momento no meio


escolar e por isso se vulgarizou e perdeu seu sentido científico. Para estudar
Interdisciplinaridade indico algumas leituras, pois são indispensáveis, de Edgar Morin,
Ivani Fazenda e Hilton Jupiassu. Sem conhecer pelo menos estes autores seguiremos
na vulgarização e na afirmação do paradigma cartesiano de conhecimento.

Antes de entrarmos no método interdisciplinar, vamos refletir a partir de uma frase de


Prigogine que pode mostrar em pequena escala a idéia de transdiciplinaridade:

Estamos apenas no início da aventura. Assistimos à emergência de


uma ciência que não é mais limitada a instituições simplificadas,
idealizadas, mas nos põe diante da complexidade do mundo real, de
uma ciência que permite à criatividade humana viver como a
expressão singular de um traço fundamental comum a todos os níveis
da natureza. (PRIGOGINE, 1996).

O primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, realizado em Portugal em


1994, formalizou o conceito de transdisciplinaridade como “a abordagem científica,
cultural, espiritual e social dizendo respeito ao que está entre as disciplinas e além de
toda disciplina”. (Manifesto Transdisciplinar)

Sites

http://nicol.club.fr/ciret/bulletin/b12/b12c8por.htm acesso em 06 nov. 2007

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O método interdisciplinar não se opõe à transdisciplinaridade, mas é conceito
científico e uma prática escolar que possibilita a transdisciplinaridade. Ela parte da
disciplina para efetivar a interação entre os saberes. Por isso, em uma ação inter é
preciso, no mínimo, duas disciplinas que consigam dialogar e interagir.

As finalidades da interdisciplinaridade estão em constituir uma integração dos


conceitos e saberes científicos e relacionar os saberes científicos com saberes úteis,
ou seja, às questões sociais contemporâneas e aos anseios da sociedade. É preciso
ter cuidado com alguns devaneios que impedem as duas visões, epistemológica e
prática, de dialogar para efetivar a ação interdisciplinar.

Na prática escolar essas finalidades serão explicitadas tendo como referência Yves
Lenoir.

Para ele, temos que chegar às ligações e complementaridade das matérias escolares,
tendo como referência o aprendiz e sua relação com o conhecimento. Partimos do
conhecimento disciplinar e a integração dos mesmos, sempre ligando teoria e prática.
A finalidade é a apropriação dos conhecimentos com produtos cognitivos dos alunos.

O trabalho escolar interdisciplinar vem sendo discutido e pesquisado intensamente


nas Universidades e algumas práticas interessantes foram realizadas em escolas.
Temos algumas barreiras não superadas, pois, como a “inter” supõe partir das
disciplinas, há dificuldade por parte dos professores em superar as barreiras dos
saberes fragmentos e muitos projetos mostram uma colagem de conceitos das
diversas disciplinas e não uma quebra da visão tradicional de currículo.

O entrave mostrado acima nos faz perceber a importância da didática para qualquer
tipo de prática escolar e do papel do professor como agente transformador.

A finalidade real é instrumentalizar o professor de meios, recursos e reflexão para que


o aluno possa aprender além do conteúdo e passe a refletir de forma crítica sua
realidade e nesse processo incorpore valores para que, com sua ação como cidadão,
minimize os problemas sociais, políticos e culturais de nosso país.

Com essa nova forma de pensar a educação acreditamos que o jovem terá
instrumentos para fazer uma leitura de mundo diferenciada, com menos preconceito,
com mais ética e solidariedade. Por isso, desde o começo de nosso curso, temos

CIÊNCIAS SOCIAIS 55
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enfatizado na ação e compromisso político do educador em todas as suas ações
profissionais.

É preciso ter cuidado com algumas interpretações equivocadas sobre essa proposta,
como:

1. abandono das disciplinas;


2. desprezo pelo conteúdo;
3. laissez faire do currículo;
4. self service dos saberes;
5. fast food do conhecimento.

A distorção é proposital para desqualificar e emperrar as mudanças. A proposta não


é oposta aos saberes clássicos, mas sim mudar a sua forma de ensinar e refleti-los
na educação.

É um grande desafio e não é uma prática fácil, temos que estudar refletir e discutir
muito sobre como podemos viabilizar este tipo de ação na escola. Não é um trabalho
individual e nem solitário, precisamos mobilizar o coletivo e sensibilizar aqueles com
uma postura resistente que o mundo e os jovens mudaram, por isso nossa forma de
ensinar precisa ser ressignificada.

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Aula 18_ É possível uma prática transdisciplinar?

A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e


resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso
total da inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da
curiosidade, a faculdade expandida e a mais viva durante a infância e
a adolescência, que com frequência a instrução extingue e que, ao
contrário, se trata de estimular ou, caso esteja adormecida, de
despertar. (MORIN, Edgar. in Os sete saberes necessários à
educação do futuro. Unesco, 2000)

Na travessia para um novo milênio, vivemos um tempo de expectativas, de


perplexidade, de crise de concepções e paradigmas. É um momento novo e rico de
possibilidades.

Como a sociologia pode contribuir para a formação do jovem do novo milênio?

Para Moacir Gadotti algumas categorias como:


“reprodução”, “mudança”, “trabalho”, “práxis”, “determinação”, “contradição”,
“necessidade” e “possibilidade” aparecem frequentemente na literatura pedagógica e
a contemporânea, sinalizando já uma perspectiva da educação, a perspectiva
da pedagogia da práxis. Essas categorias, também “filosóficas”. tornaram-se
clássicas na explicação do fenômeno da educação. Podemos e devemos estudá-las.
Elas não podem ser negadas, pois ajudarão muito na leitura do mundo da educação
atual. Elas não podem ser negadas, mas também podemos nos ocupar mais
especificamente de outras ao pensar sobre a educação do futuro. Eis algumas delas,
a título de exemplo.

1ª) Cidadania. Há alguns novos conceitos para cidadania, o questionamento da


limitação desta ação no mundo globalizado, o conceito de multidão de Antonio Negri...
Enfim temos muito a estudar e refletir sobre cidadania na visão sociológica.

2ª) Planetaridade. A Terra é um “novo paradigma”. Que implicações tem essa visão
de mundo sobre a educação? O que seria uma ecopedagogia e uma ecoformação?

3ª) Sustentabilidade. Esse tema deverá dominar muitos debates educativos das
próximas décadas. O que estamos estudando nas escolas? Não estaremos

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construindo uma ciência e uma cultura que servem para a degradação/deterioração
do planeta?

A ideia de desenvolvimento sustentável surge como resultado de uma série de


questões que estavam ocorrendo na década de 1970, entre as quais o
Ecodesenvolvimento e a Ecologia. Além dessas questões não devemos nos esquecer
daquelas que nasceram nos anos 1980 e também foram decisivas para a construção
dessa ideia.

Como precursor desse diálogo entre o homem e a natureza, bem como entre a
natureza e o homem, podemos destacar Edgar Morin (1997), crítico do modelo
cartesiano, que defende a ideia de que o homem ainda não conseguiu alcançar um
paradigma que o integre aos seus mais diversos aspectos, inibindo a separação que
faz do homem um ser biológico, físico, cultural, enfim, um ser com muitos aspectos
separados.

4ª) Virtualidade. A informática associada à telefonia nos inseriu definitivamente na


era da informação.

Quais as consequências para a educação, para a escola, para a formação do


professor e para a aprendizagem?

Analisar o computador tendo como referência a visão marxista, conceituá-lo como


modo de produção, entender o conceito de alienação pelas novas mídias.

5ª) Globalização. O processo da globalização está mudando a política, a economia,


a cultura, a história, e, portanto, também a educação.

É fundamental estudar com profundidade este processo, pois o termo é muito usado
e fica seu entendimento na superficialidade; entender as metamorfoses do mundo do
trabalho, as novas tecnologias, provocando uma nova divisão do trabalho, a
hegemonia cultural e as reações das Nações dominadas; contextualizar o jovem neste
processo e podemos usar este conceito até como eixo de projetos com alunos que
integrem as disciplinas.

6ª) Transdisciplinaridade. Embora com significados distintos, certas categorias


como transculturalidade, transversalidade, multiculturalidade e outras como

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complexidade e holismo também indicam uma nova tendência na educação que será
preciso analisar.

7ª) Dialogicidade, dialeticidade. Não podemos negar a atualidade de certas


categorias freireanas e marxistas, a validade de uma pedagogia dialógica ou da
práxis. A análise dessas categorias, a identificação da sua presença na pedagogia
contemporânea, pode constituir-se, sem dúvida, num grande programa a ser
desenvolvido hoje em torno das “perspectivas atuais da educação” no Brasil que
devemos levar em conta na formação do professor de Sociologia.

Para Morin (1997), a questão homem-natureza extrapola as questões territoriais, pois


é uma questão que deveria ser posta como mundial.

Ao falar dos pares sujeito/objeto, indivíduo/sociedade e homem/natureza, Morin


(1997) afirma que esses pares são autônomos, ao mesmo tempo em que são
dependentes, não havendo, dessa forma, uma relação de dualismo. Isso é uma crítica
aberta ao paradigma cartesiano, à ciência que assume uma proposta disjuntiva. Morin
(1997) vai sugerir uma síntese, buscando superar a ideia de que as partes superam o
todo e de que o todo supera as partes. Visando dar continuidade às suas críticas ao
modelo clássico, Morin (1997) demonstra a ideia de meta desenvolvimento como a
ideia de desenvolvimento que critica o modelo clássico (crescimento ilimitado,
tecnologia...). Esse modelo proposto por Morin (1997) substitui a máquina pela
organização, pela ideia de tecnologia e ecologia. É uma tecnologia baseada na
regulação e não na destruição como no modelo clássico.

Esse novo paradigma não terá de fazer parte de uma nova disciplina ou conteúdo. Ele
estará presente transversalmente na Sociologia, Filosofia, História, ou seja, presente
na visão de educação e de formação de um jovem com uma nova visão de mundo e
perspectiva de atuação como cidadão.

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Aula 19_ Pressupostos teórico-metodológicos: concepção de aprendizagem

Toda proposta educacional deve deixar clara a concepção de aprendizagem na qual


está baseada, visto que isso refletirá em todo o nosso curso. Optamos pelo
socioconstrutivismo, que tem Vygotsky como principal representante, e o provoco a,
durante nossa disciplina, avaliar os pontos em que essa concepção foi aplicada e
explicitada.

O posicionamento epistemológico aqui escolhido tem suas razões históricas e está


embasado nas principais vertentes teóricas dos processos de aprendizagem.
Contextualizar a nossa opção é importante para entendermos como as teorias da
aprendizagem são fundamentais para chegarmos ao conhecimento que será
produzido, ou não, pelos alunos.

Vamos começar pelo Comportamentalismo (ou Behaviorismo), que tem base nas
investigações de Pavlov e Skinner. Proposta muito criticada atualmente por não
promover ao aluno a autonomia e a busca de conhecimentos, já que centra no
professor o saber e o aluno é apenas uma “tabula rasa” que recebe “passivamente” a
informação. Tal método foi denominado por Paulo Freire como “educação bancária”:
o professor deposita a informação e o aluno a reproduz para o professor resgatar
quando achar necessário.

Para o Construtivismo (cognitivismo) de Piaget, o professor deixa de ser um mero


transmissor de conhecimentos e passa a ser um facilitador de aprendizagem. O aluno
também assume outro papel: deve ter uma postura ativa frente ao ensino. Ou seja, o
aluno, apenas tendo o professor como mediador ou facilitador, por si só e em contato
direto com seu objeto de estudo, deve construir o seu próprio conhecimento.

Piaget enfatiza o processo de maturação cognitiva do indivíduo, e esse processo é o


responsável por sua capacidade de aprendizagem. Quando estudamos o
construtivismo levantamos as etapas de desenvolvimento por idade e, por isso, iguais
para todas as pessoas. Essa concepção não relaciona o processo de aprendizagem
de cada indivíduo com o ambiente cultural do aluno. Caso aprendizagem não se
concretize, o diagnóstico é: o aluno não está maduro, ou seja, pronto para isso. O

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professor não faz uma reflexão de sua prática, não se autoavalia e continua agindo
da mesma forma.

Essa proposta representou um avanço para o trabalho realizado em sala de aula, até
hoje muito utilizada como slogan para escolas e propostas educacionais, mas foi mal
analisada, pouco estudada e, por isso, colocada em prática de maneira equivocada
por muitas escolas.

Ocorreu um avanço, apesar de todos os problemas, pois passamos a dar importância


à interação entre professor, aluno e objeto de aprendizagem. O aluno deixava de ser
um observador e passava a ser agente de sua aprendizagem.

Vamos pensar como a sociologia está presente na proposta de Vygotsky ² ?

É importante ler, ainda que brevemente, a biografia do autor e começar fazer os links
com tudo o que já vimos até o momento.

O Sócio-construtivismo ³ não mostra apenas o desenvolvimento cognitivo como algo


pessoal, mas também acrescenta e valoriza o ambiente social em que o indivíduo está
inserido como fator fundamental para sua aprendizagem. Assim, a interação do aluno
com seu meio e com seus colegas passa a ser considerada essencial, pois se percebe
que é a partir da observação dos pares mais desenvolvidos e dos erros apontados e
cometidos pelos outros que se pode ir construindo o conhecimento.

Com essa teoria passamos a valorizar a aprendizagem coletiva em que grupos de


estudo com alunos de diferentes níveis de aprendizagem trocam seus avanços e
dificuldades. Passamos a olhar cada aluno de forma diferenciada, porque cada um
tem sua história e construção cultural.

Como consequência da aplicação dessa teoria no ambiente escolar, temos a


formação de um sujeito autônomo cuja aprendizagem é construída gradativamente
em um ambiente histórico e, fundamentalmente, social.

Com essa breve explicação você conseguiu perceber a importância da sociologia no


processo de aprendizagem e como epistemologia para fundamentar a proposta
pedagógica?

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Vamos agora relacionar o campo de ação das ciências sociais e a teoria do
conhecimento.

O objeto de estudo das ciências sociais é o Homem em interação social.


Consequentemente, os resultados dessa interação são: linguagem, religião, filosofia,
ciência, tecnologia, ética e os aspectos culturais. Ao estudar o Homem sociocultural,
a sociologia dá a sua contribuição para entendermos pedagogicamente os tipos de
linguagem e recursos que devemos usar para que o conhecimento científico seja
trabalhado em sala de aula.

Entender o Homem histórico com o qual estamos interagindo na escola é a primeira


preocupação do educador, a partir dessa contextualização em que podemos escolher
de onde vamos partir para chegar a uma aprendizagem significativa, levando
em consideração os conhecimentos prévios dos alunos e as diferentes formas de
comunicação que podemos usar (meios/recursos didáticos mediadores da
aprendizagem).

Para haver aprendizagem significativa são necessárias duas condições. Em primeiro


lugar, o aluno precisa ter uma disposição para aprender: se o indivíduo quiser
memorizar o conteúdo arbitrária e literalmente, então a aprendizagem será mecânica.
Em segundo lugar, o conteúdo escolar a ser aprendido tem de ser potencialmente
significativo, ou seja, ele precisa ser lógico e psicologicamente significativo: o
significado lógico depende somente da natureza do conteúdo e o significado
psicológico é uma experiência que cada indivíduo tem. Cada aprendiz faz uma
filtragem dos conteúdos que têm significado ou não para si próprio.

Com esse duplo marco de referência, as proposições de Ausubel par tem da


consideração de que os indivíduos apresentam uma organização cognitiva interna
baseada em conhecimentos de caráter conceitual, sendo que a sua complexidade
depende muito mais das relações que esses conceitos estabelecem em si do que o
número de conceitos presentes. Entende-se que essas relações têm um caráter
hierárquico, de maneira que a estrutura cognitiva é compreendida, fundamentalmente,
como uma rede de conceitos organizados de modo hierárquico de acordo com o grau
de abstração e de generalização.

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A partir dessa especificação, a aprendizagem escolar passa a caracterizar-se
globalmente como a assimilação a essa rede de determinados corpos de
conhecimentos conceituais, selecionados socialmente como relevantes e organizados
nas áreas de conhecimento.

Na próxima aula vamos ver como o método de ensino pode facilitar a aprendizagem,
ou seja, a construção do conhecimento.

http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/lev-vygotsky-teorico-
423354.shtml

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Aula 20_ Método: o processo de construção do conhecimento

Algumas referências metodológicas são importantes para vocês se situarem no


assunto desta aula.

Na aula anterior deixamos claro que seguiremos a linha sócio-histórica de Vygotsky,


mas, desde o começo de nossa disciplina, citações de Paulo Freire e conceitos
referentes a seu método norteiam as reflexões. Com isso, proponho que pensemos
em nossas aulas levantando problemas e propondo pesquisas.

Isso pode parecer simples, mas vamos juntando as partes para formar o todo de
nossas informações (visão sistêmica). Temos uma orientação curricular oficial para
colocarmos em prática a transdisciplinaridade. Isso nos estimula a trabalhar em
conjunto com outros professores (disciplinas). Mostramos que a concepção
socioconstrutivista coloca o aluno na posição de investigador ativo de seu
conhecimento e agora unimos pesquisa e problematização a tudo isso.

Desejamos romper com algumas heranças da educação bancária centrada no


professor, na memorização de informações, no aluno com atitude passiva e
transmissão de conhecimento que será reproduzido. Para que esse desafio seja
alcançado, temos de propor uma nova metodologia e a proposta inicial é trabalhar
com projetos de pesquisa e resolução de problemas.

Para concretizar esta proposta temos de nos desvincular de alguns vícios da


educação:

1. plano de ensino acabado e fechado;

2. priorizar a quantidade de conteúdos e não se preocupar com a aprendizagem


desses;

3. não dialogar com os envolvidos (alunos) para levantar suas preferências e desejos;

4. não valorizar os conceitos e conteúdos disciplinares;

5. avaliar homogeneamente os alunos;

Qual a mudança de atitude frente às velhas práticas?

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Vamos pensar sobre a sociedade atual, ou seja, a sociedade do conhecimento. Qual
o tipo de homem que ela precisa? Quais habilidades precisam ser desenvolvidas?
Essas são algumas questões que podemos nos fazer e cobrar como educadores.
Como resolver?

A preocupação com qualidade educacional estava reduzida aos


aspectos quantitativos, “maior quantidade de créditos”, “mais
professores”, “mais informática”. Mascara-se, com isso, a dificuldade-
chave que revela o fracasso de todas as reformas sucessivas do
ensino: não se pode reformar a instituição sem ter previamente
reformado os espíritos e as mentes, mas não se pode reformá-los se
as instituições não forem previamente reformadas (MORIN, 2000, p.
73).

O erro é visto como parte da elaboração e construção de pesquisa, não como


constatação de que o aluno não aprendeu e por isso será punido com nota baixa sem
ter oportunidade de refazer e trabalhar em cima de seu erro, que se torna fonte de
avaliação e auto-avaliação nos processos cognitivos. Papert apontou isso observando
crianças em ambiente informatizado,

As crianças das escolas me permitiram observar seu progresso:


aprendem a desenvolver e verificar suas próprias idéias, a equivocar-
se sem frustração, a avaliar os erros de uma maneira que lhes permite
aproximar-se passo a passo da meta proposta. Observam de imediato
as contradições entre o que tentam fazer e o que realmente sucede, e
o erro se transforma em uma fonte de compreensão, tanto para o
processo de aprendizagem como para a resolução de um problema
(PAPERT, 1987, p. 8).

Essa perspectiva socioconstrutivista de trabalhar com o erro faz parte da prática do


professor que oferece oportunidades para que os alunos desenvolvam seus próprios
mecanismos de construção num ambiente onde a criatividade e o rigor possa
caminhar em paralelo.

Essa prática desperta para a possibilidade de trabalhar com projetos inter-


disciplinares de pesquisa voltados para a interação das disciplinas,

a interdisciplinaridade pode facilitar a superação da dicotomia


pesquisa teórica versus pesquisa prática, pois nas atividades

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interdisciplinares não será possível separar o conhecimento teórico do
conhecimento prático, tendo em vista a reciprocidade e a
interdependência entre ambos. Essas dimensões incluem o diálogo
com a realidade e integram o mesmo processo (MORAES, 1997, p.
183).

Se, para Vygotsky (1984, p. 65), o único bom ensino é aquele que se adianta ao
desenvolvimento dos alunos, explica-se o fato de ignorar que o conhecimento prévio
de nossos alunos seria perder a oportunidade de dar um salto qualitativo na promoção
de um novo ensino que adquire sentido apenas quando voltado à promoção da
aprendizagem significativa dos alunos.

Se o objetivo principal da escola é a aprendizagem, precisamos valorizar a didática e


o ensino para que nossos alunos possam aprender a construir o conhecimento.
Entendendo a aprendizagem numa perspectiva sócio-histórica, na visão de Vygotsky,
a aprendizagem ocorre na interação com outros, mediada por ferramentas histórico-
culturais significativas para o sujeito que interage. A escola precisa se apropriar das
ferramentas como as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), que tem
significado para os alunos, porque a linguagem foi construída no contexto histórico ao
qual eles pertencem e pode facilitar a comunicação entre professores e alunos, entre
alunos e o mundo.

A transformação da educação tradicional para a ecologização ¹ dos diversos campos


do saber é um árduo trabalho de educadores jardineiros como metaforiza Rubem
Alves em suas crônicas sobre educação. Com o cultivo diário de sementes, o
professor fertiliza a consciência crítica dos alunos que passam a olhar para a escola
como um dos elementos fundamentais para sua formação, como uma construção de
valores que transformem a ordem vigente, com a participação de todos na releitura e
reescrita da história com suas marcas de inconformismo que mostram o quanto a
escola provoca a reflexão e coloca o aluno na cena como construtor de conhecimento.
Assim, os alunos podem propor mudanças, criticar e denunciar a desigualdade entre
os homens, a destruição do ecossistema e rejeitar a imposição de valores culturais
demasiadamente materialistas e valorizar o espiritual, a harmonia, o poético e o ético.
Esse professor semeador é desestabilizador e provocador, incomoda com suas
inquietações e dúvidas, domina o conteúdo de sua disciplina e está aberto a fazer

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conexões, cria condições para que os alunos construam suas próprias redes de
conhecimentos, busca a integração com seus pares, mas tem seus pés fincados em
sua disciplina para, a partir daí, desenvolver uma prática interdisciplinar.

Um de nossos desafios como educadores está em descobrir formas de sermos cada


dia mais semeadores, para colaborar e participar na construção de um novo
paradigma que sustente as novas práticas pedagógicas e a reconstrução da escola
para que esta possa atender às exigências de seu tempo.

A geração nascida dentro dos valores da sociedade da informação não aceita com
facilidade nossos argumentos e as consequências são nossas velhas conhecidas:
chamamos de evasão, indisciplina, repetência e falta de motivação.

O tempo parou na educação e formaram-se dois mundos paralelos: o escolar e a


sociedade real. O primeiro sofrendo com todos os problemas que essa realidade traz
e assumindo sempre uma posição de vítima e contraventor, como se a escola não
fizesse parte da infra-estrutura social e econômica. Como vítima não assume culpas,
a escola (professores e especialistas) vê os problemas de aprendizagem, psicológicos
e comportamentais presentes no cotidiano de seus espaços como se fosse culpa
somente dos outros (família, alunos, meios de comunicação) e por isso não muda,
não procura alternativas em conjunto com a sociedade para solucionar os problemas.

Essa visão reducionista nos revela o determinismo do paradigma cartesiano no qual


o mundo está fragmentado. As partes são vítimas das outras partes que não assumem
seu papel social e político. Freire escreve que uma das tarefas mais importantes da
prática educativo-crítica é propiciar condições para que educandos e professores
possam se assumir “como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante,
transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de
amar” (FREIRE, 1996, p. 46).

Com o olhar reduzido da escola para o contexto social, político, cultural, econômico e
emocional que a cerca, a escola reflete em sua estrutura esse pensamento restrito
que se mostra na forma de grade curricular, disciplinas estanques, escola feia ou com
fachada de empresa ou shopping, profissionais desestimulados pela falta de

CIÊNCIAS SOCIAIS 67
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perspectiva, professores e alunos agindo individualmente sem perceber que a escola
precisa da ação coletiva de todos os envolvidos.

Os grandes problemas humanos desaparecem em benefício dos problemas técnicos


e particulares. A incapacidade de organizar o saber disperso e compartimentado
conduz à atrofia da disposição mental natural de contextualizar e de globalizar
(MORIN, 2000, p. 21).

A incapacidade, citada por Morin, o saber compartimentado e a visão reducionista dos


problemas que são globais apenas espelham o pensamento de indivíduos formados
dentro de um sistema incapaz de ver o mundo em sua complexidade. A mudança só
ocorre se passarmos a refletir primeiro em nossa mudança interior. Por isso, a
formação e as propostas pedagógicas vindas autoritariamente de cima para baixo não
funcionam.

Assim, não poderia deixar de defender a mudança de paradigma como uma ação
coletiva, mas primeiro como uma disposição interior. Como o próprio Morin afirma,
“trata-se de um trabalho que deve ser empreendido pelo universo docente, o que
comporta evidentemente a formação de fora dores e auto educação dos educadores”
(MORIN, 2000, p. 74).

A mudança para Morin e Freire é global no universo escolar, como mostra também
Imbernón, que defende a formação de professores transcendendo o ensino ou como
mera atualização pedagógica e científica, ou seja, formar professores na mudança
para mudança.

O contexto em que trabalha o magistério tornou-se complexo e


diversificado. Hoje, o profissional da educação já não é só o
transmissor de conhecimento comum, distante do aluno. A profissão
exerce outras funções: motivação, luta contra a exclusão social,
participação, animação de grupos, relações com estruturas sociais,
com a comunidade. . . E é claro que tudo isso requer uma nova
formação: inicial e permanente (IMBERNÓN, 2000, p. 14).

Nós sofremos, por algumas décadas, com equívocos quanto à formação profissional
docente. Passa despercebida pelo professor a dicotomia entre teoria e prática; não
notamos que esse corte reafirma a nossa incapacidade de sermos reconhecidos

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profissionalmente como intelectuais e não apenas executores de planos arquitetados
por “outros” profissionais “mais” capacitados para esse tipo de trabalho. Essa linha de
formação tradicional acentuava o hábito de o professor se desvincular da preparação
de sua aula, de estratégias de aprendizagem e do estudo de teorias psicopedagógicas
necessárias para sua ação pedagógica. Os manuais anexados aos livros didáticos
com “receitas” passo a passo de como dar aula distanciam ainda mais os professores
do mundo em que seus alunos vivem e de suas necessidades reais. Massifica-se o
ensino usando-se “receitas” para todos e se avaliam os resultados com exames
nacionais ou estaduais sem levar em conta a realidade de cada região, escola e aluno.

O educador se enxerga mais como trabalhador braçal, que age com instinto e
experiência, preocupado com o fazer da sua aula e não como pesquisador capaz de
teorizar, refletir e criar novas práticas. Colocamos nossas ações práticas e não
refletimos sobre ela para depois buscar os novos caminhos na teoria. Não seria
exagero dizer que o professor assume, com essa postura, o perfil de intelectual
orgânico , ou seja, reprodutor da ordem vigente, deixando de lado aquilo que lhe é
mais caro em sua profissão: o papel de instigador de sonhos, de projetos e formador
de consciência crítica.

O homem precisa ter consciência de si próprio como indivíduo e como classe, para o
bem e para o mal, para a transformação e para a conservação da sociedade. Mas
precisa ter consciência. E essa consciência se adquire através da educação.
(FERNANDES, 1991, p. 30-31)

A responsabilidade política da educação foi esquecida, dando lugar para a educação


reprodutora de saberes e verdades. Essa postura é apenas a reprodução fiel da
formação que recebemos, com a apresentação de projetos prontos para serem
aplicados sem qualquer reflexão e políticas pedagógicas impostas sem participação
efetiva dos professores em sua construção. A autonomia, a reflexão sobre a ação e a
discussão crítica do contexto que nos cerca ficavam longe dos cursos de formação de
professores e de suas práticas.

Esperamos que a nova geração de professores repense esse estereótipo do


professor, construído intencionalmente, e se auto-valorize como profissional e assuma
seu compromisso sociopolítico.

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¹ Para Nardi (1999 apud ALMEIDA, 2002, p. 16), o conceito de ecologia da informação
traz o sentido de diversidade, evolução contínua e localidade, que favorece
compreender o movimento dos ambientes virtuais de aprendizagem nos quais
atividades humanas, recursos e múltiplas mídias ajustam-se um em relação ao outro
e co-evoluem nesses ambientes. M. E. Almeida: Tecnologia de informação e
comunicação na escola: novos horizontes na produção escrita (mimeografado).

² Intelectual orgânico: termo usado por Gramsci, mas que Florestan Fernandes utiliza
para analisar o educador como intelectual que reproduz e reforça a ordem vigente.

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Resumo Unidade IV

A unidade aprofundou conceitos importantes na área educacional e na sociologia.


Procuramos mostrar como a educação tradicional não atende às necessidades da
sociedade contemporânea e acenamos para novas formas de pensar e atuar na
educação; apresentamos a possibilidade de trabalharmos na transversalidade com as
disciplinas, dialogando e construindo juntas um conhecimento complexo, no qual os
saberes não são hierarquizados e estanques.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, M. E. Tecnologia de informação e comunicação na escola: novos


horizontes na produção escrita (mimeografado). 2002.
FAZENDA, Ivani (org). Didática e Interdisciplinaridade. Campinas: Papirus, 1998.
FERNANDES, Florestan. O ensino da Sociologia na escola secundária brasileira. In: A
Sociologia no Brasil. Petrópolis: Vozes. 1975. Originalmente publicado nos Anais do
I Congresso Brasileiro de Sociologia, 21-27 de Junho de 1954, em São Paulo.
FREIRE, Paulo. Política e Educação: ensaios. São Paulo: Cortez, 2001.
FREITAS, Maria Teresa de Assunção. Vygotsky & Bakhtin – Psicologia
e Educação: Um intertexto. São Paulo: Ática, 1996.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma. Repensar o pensamento.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
PRIGOGINE, Ilya. O Fim das Certezas. Tempo, caos e as leis da natureza. São
Paulo: Edusp, 1996.

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Aula 21_ A práxis coletiva e o indivíduo

A relação entre indivíduo e sociedade, como objeto da sociologia, definiu o indivíduo


como ser histórico em contraponto ao que a ordem burguesa estabelecia como
individualismo.

Os cientistas sociais que romperam com esta visão cartesiana passaram a explicar as
ações individuais como uma conduta coletiva e a entender como a práxis coletiva pode
determinar o comportamento de diferentes grupos sociais.

A sociologia, dependendo da linha teórica, analisa o indivíduo como ativo para as


escolhas de suas ações sociais. Outros caminham para a importância da sociedade e
das instituições e outros, ainda, para a relação entre o indivíduo e a sociedade.

Alertar os alunos sobre o fato de que as linhas de análise são diversas e muitas vezes
divergentes é importante para que eles tenham uma visão crítica ao ler qualquer
gênero de linguagem e para começarem a desenvolver a sua metodologia de análise.

Indicamos dois textos jornalísticos com temáticas diferentes: “preconceito” e “Internet”.


Como podemos analisar sociologicamente a ação individual preconceituosa como
reflexo de uma conduta coletiva?

Conforme os PCNs especificam, “os conhecimentos de Antropologia e Sociologia


contribuem igualmente para a construção da identidade social e, sem negar os
conflitos, a convivência pacífica”.

Trazer o problema racial, o multiculturalismo, o excesso de informação da Internet


como temas para discussão é colocar em prática questões de ordem antropológica e
sociológica emergentes e presentes no cotidiano dos jovens.

Estes artigos são o apoio para a discussão acerca dos dois temas colocados. Eles
estão disponíveis no nosso ambiente virtual de aprendizagem.

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Aula 22_ Aprendizagem significativa

Em aula anterior já usamos o conceito de aprendizagem significativa. Agora vamos


aprofundar os estudos dos princípios da aprendizagem significativa voltados aos
conceitos de sociologia.

O psicólogo espanhol Mario Carretero (2003), em entrevista a respeito da


aprendizagem significativa, responde:

Ela acontece quando o estudante sente, com a própria vivência


intelectual, o que está aprendendo, por exemplo. Ele precisa ter a
oportunidade de mesclar teoria e prática. Saber o conceito de
densidade, por exemplo, é essencial, assim como compreender de
que maneira essa ideia é aplicada para transportar objetos por barco
de um lado a outro do planeta. Em situações como essa o conceito
funciona como ferramenta. E, assim como manejar os conhecimentos
com eficácia, com capacidade de resolver problemas. Mas importante
é aplicar o conhecimento.

A prática foi posta de lado de forma equivocada. “Sem ela a aprendizagem não se
consolida.”

Quando Carretero faz referência à vivência intelectual, atribuímos a esse conceito o


conhecimento prévio do aluno. Isso dá a ele condições para atribuir significados às
palavras.

A linguagem veicula significados estáveis, mutáveis e construídos socialmente. Com


isso, os conceitos são construídos e reconstruídos. O ponto de partida de um
conhecimento, de um conteúdo ou disciplina, é conhecer sua linguagem. Por isso,
aprender um conteúdo de maneira significativa é entender sua linguagem.

Aprendizagem significativa se opõe à aprendizagem mecânica. Nesta última os


conceitos são memorizados sem reflexão, sem relação com o conteúdo prévio, e, por
isso, os conceitos não são utilizados na resolução dos problemas, ou seja, o
conhecimento não é aplicado.

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Os conceitos, a linguagem usada em determinadas disciplinas, como sociologia, são
colocados de forma desarticulada e descontextualizada.

Assim, os alunos não atribuem significado para “fato social”, “coerção”, “meios-de-
produção”, “alienação”, e outros conceitos presentes no dia-a-dia de todos, mas que
a linguagem científica, sem ser ressignificada para aluno, não tem qualquer sentido
em sua vida.

Em nosso ambiente virtual de aprendizagem está disponível um texto de apoio que


aprofunda a questão da cidadania como objetivo máximo da educação e como esta
formação está relacionada a produção do conhecimento e a ação prática do
aluno utilizando os conceitos e o conhecimento produzido.

Procure pensar, durante a leitura, sobre como o professor de sociologia pode, na


interação com seus alunos, colocar em prática essa concepção.

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Aula 23_ A importância dos conceitos básicos da sociologia para formação do
aluno crítico

Não podemos dissociar conceitos básicos de sociologia dos cientistas clássicos, pois
estes conceitos nasceram das pesquisas que eles desenvolveram num
determinado momento histórico.

Estes conceitos e linhas de pensamento servem de base para reflexão e pesquisas


sociológicas nos nossos dias.

Quando nos remetemos ao conceito de fato social, imediatamente relacionamos este


conceito a Durkheim, pois, para ele, “fato social” é:

Toda a maneira de agir ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo


uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma sociedade
dada, apresentando uma existência própria, independente das
manifestações individuais que possa ter (DURKHEIM, 1972, p.11).

Entende-se fato social, na visão durkeimiana, a faculdade de coagir, de vir de fora e


de ter validade para todos os membros da sociedade. Com isso, a coerção social seria
o influxo exercido sobre os indivíduos, ou seja, a aceitação das regras sociais
independente da vontade e opção pessoal.

Anterior a Durkheim, o método dialético de Karl Marx sofreu forte influência hegeliana
e isso fez com que seu pensamento rompesse com o método positivista.

Uma frase de Marx ilustra esse antagonismo dos dois métodos: “até então os filósofos
sempre tinham tentado interpretar o mundo em vez de tentar modificá-lo”. O
pensamento de Marx, voltado à crítica ao capitalismo, propõe a revolução como ação
para o fim do sistema capitalista.

Ele parte das condições materiais e não espirituais como determinantes para o
pensamento e consciência de classe. O conceito de materialismo histórico recusa a
visão positivista da determinação mecânica, mas enfatiza a luta de classes como o
motor das transformações sociais. As contradições do sistema capitalista e a
organização do proletariado levariam à transição para o comunismo, ou seja, o fim da
propriedade privada dos meios de produção.

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O fim da propriedade privada dos meios de produção significa o fim da alienação,
outro conceito marxista importante para entendermos, pois, quando o trabalhador é
obrigado a vender sua força de trabalho para o dono dos meios de produção
(burguês), torna-se alienado do trabalho que realiza, do que produz. A alienação do
trabalhador assalariado leva ao fim da consciência coletiva do trabalho social e de sua
consciência de classe.

Estes e outros conceitos marxistas contribuíram para a ruptura do paradigma


positivista e abriram a possibilidade de estudar a sociedade em sua totalidade e na
relação das partes, além de contextualizar o estudo da sociedade em seu tempo.

Após as contribuições de Marx, outros cientistas contemporâneos fizeram uma


releitura destes conceitos, como a sociologia francesa, os estrutura-listas e a Escola
de Frankfurt.

Ainda sobre os conceitos básicos necessários para a aprendizagem de alunos do


Ensino Médio e tendo como objetivo a educação crítica, não podemos deixar de citar
mais um clássico: Max Weber.

Sua herança filosófica kantiana e hegeliana e sua ligação a princípios políticos liberais
e parlamentaristas fez com que suas idéias se distanciassem do marxismo e do
positivismo.

Enquanto Durkheim parte do fato social e Marx do materialismo histórico dialético,


Weber parte da análise do indivíduo para entender os sistemas sociais.

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Aula 24_ A formação do leitor crítico e a visão sociológica

Lutero teme que a proliferação da letra impressa se volte contra a Verdade do livro,
propiciando uma leitura superficial. (DEBRAY, 1994)

A formação do cidadão crítico está em todos os documentos sobre educação como


meta a ser alcançada. Isso está claro nos PCNs de ciências humanas, como é citado
abaixo:

Mas não se deve perder de vista que a cidadania não deve ser
encarada, no Ensino Médio, apenas como um conceito abstrato, mas
como uma vivência que perpassa todos os aspectos da vida em
sociedade. Daí, que a preparação para o exercício da cidadania não
se esgota no aprendizado de conhecimentos de História, Sociologia,
Política ou Filosofia. Antes, está presente nos usos sociais das
diferentes linguagens e na compreensão e apropriação dos
significados e resultados dos conhecimentos de natureza científica.

O estudo sobre o uso de diferentes linguagens foi realizado em aulas anteriores e


ainda procuraremos nos estender, daqui em diante, pois é importante fazer a conexão
entre o letramento das diversas linguagens e a formação do cidadão.

Como um homem pode exercer sua cidadania plena, no século XXI, sem desenvolver
as habilidades necessárias de leitura e escrita? Acesso à informação significa ter a
informação e decodificá-la, é ter em mãos os instrumentos necessários para lutar por
seus direitos e atuar politicamente em todas as esferas do poder.

Paulo Freire evidência a importância do ato de estudar, de ler, e atribui aos


professores a responsabilidade de motivar os alunos nesse processo de sedução para
os estudos e por uma leitura aprofundada, crítica, não somente dos textos, mas
também da sociedade na qual estamos inseridos.

Os conceitos específicos de sociologia, como mostramos anteriormente ao


estudarmos os clássicos, não podem ser abandonados e ignorados na escola;
precisam ser incorporados e ressignificados para o aluno poder entender que toda
teoria foi refletida tendo um contexto histórico como problemática.

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A escola não pode deixar de aprofundar os estudos sobre a ciência, porque os alunos
não têm o hábito da leitura e não possuem repertório e vocabulário para entender um
artigo de jornal. Cabe aos professores de todas as disciplinas do currículo essa tarefa
e a forma. A didática usada interferirá na motivação para as atividades propostas.

Vamos para a leitura do texto clássico que Paulo Freire escreveu em seu exílio no
Chile e que é atual e pertinente para a realidade escolar do século XXI.

Neste texto Freire mostra a importância do estudar como um ato que exige desgaste,
como um esforço que pede do leitor o exercício da reflexão, da depuração, da
profundidade e do mergulho para o entender, analisar, relacionar as novas
informações com seus conhecimentos prévios, com o senso comum e, assim,
construir novos conhecimentos que serão armazenados e novamente utilizados neste
processo, que é a aprendizagem. Todo este exercício não é passivo, pelo contrário,
carece de um movimento cognitivo intenso para recriar e reescrever o escrito.

Podemos relacionar este texto com os artigos que lemos na unidade I, tratando da
evasão escolar e do sonho do adolescente. A acomodação e a falta de sonho fazem
com que o sujeito se aliene e viva à parte de seu mundo. O ato de estudar tira o sujeito
desta passividade e faz com que sinta a sua importância para o mundo. É neste
sentido que Freire valoriza a leitura e o estudo.

Vamos fazer a leitura do texto (disponível no ambiente virtual de aprendizagem) e


desenvolver o exercício para refletir como o pensamento de Freire pode auxiliar no
ensino de sociologia.

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Resumo Unidade V

O estudo da educação no Brasil é sinônimo de Paulo Freire, pois o método


desenvolvido por ele está centrado nas questões sociológicas que se tornaram o mote
para a mudança no processo de alfabetização de adultos.

O professor como agente político e crítico, defendido por Freire, remete a Gramsci e
ao conceito de intelectual orgânico.

A preocupação com uma educação libertadora, crítica com relação à opressão e


submissão das camadas populares, foi uma luta dele e de sociólogos como Florestan
Fernandes e Otavio Ianni. Por isso, torna-se quase “obrigatório” o estudo das obras
de Paulo Freire na formação de educadores.

Nesta unidade o texto sobre o ato de estudar aponta para um objetivo, que é ajudar
na formação do leitor crítico, atualmente denominado por Lucia Santaella de leitor
imersivo, pois possui habilidades para a leitura de diversos gêneros de linguagem,
principalmente o texto multimidiático.

A educação precisa ser problematizadora e crítica para formar leitores críticos e com
competência para ler o mundo, como sempre colocou Paulo Freire.

Referências Bibliográficas

FREIRE, Paulo. Política e Educação: ensaios. São Paulo: Ed. Cortez, 2001.
FREITAS, Maria Teresa de Assunção. Vygotsky & Bakhtin – Psicologia
e Educação: Um intertexto. São Paulo: Ática, 1996.
FRIGOTTO, G. Educação e formação humana: ajuste neoconservador e alternativa
democrática. In: GENTIL e SILVA (Org.) Neoliberalismo, qualidade total e
educação. Petrópolis: Vozes, 1994.
GIDDENS, A. Consequências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.
Science: www.ise.ac.uk/Giddens.meet.htm , 1999.
NOVA ESCOLA. Entrevista concedida por Mario Carreteiro. São Paulo: Ed. Abril,
jun./jul, 2003.

CIÊNCIAS SOCIAIS 79
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Aula 25_ Fundamentação teórica para o uso dos diversos recursos midiáticos

Escrever sobre o uso das mídias em ambiente escolar nesse momento, em que a
sociedade já discute cibercultura, hipermídia e Educação a Distância, é um desafio.
Pode parecer um tema fora do contexto, porém, o que vamos perceber ao conviver
com professores e gestores é que ainda há muita dificuldade em otimizar o uso dos
recursos midiáticos existentes nas escolas.

Por isso, essa unidade é de fundamental importância para os futuros educadores


pensarem em como poderão se apropriar e utilizar alguns recursos, em suas aulas,
voltados para a aprendizagem dos alunos. Com isso, mostro que não são apenas
recursos lúdicos e atrativos; na escola eles passam a ser um mediador para a
aprendizagem.

A proposta aqui defendida não é apenas a utilização dos recursos multi-midiáticos,


mas como podemos incorporar na prática do professor esses meios como recursos
pedagógicos que estão presentes no cotidiano dos alunos e que se fazem
fundamentais na escola. Na perspectiva sócio-histórica utilizada por Vygotsky os
recursos podem nos oferecer subsídios para entender esse ato social, a
“comunicação”, e a importância da linguagem utilizada na mediação para que o
pensamento possa se desenvolver e as informações veiculadas pelas mídias se
transformem em conhecimento.

Assim, o primeiro ponto importante a se considerar é a mediação que ocorre por meio
de instrumentos técnicos e por sistemas de signos que caracterizam as relações
sociais e objetivas do homem com outros homens e do homem com o mundo natural
e cultural no qual está inserido. A importância desse conceito está em compreender
que é pela mediação dos instrumentos que acontece a produção material e científica,
e a mediação dos sistemas de signos permitem o avanço do homem, ao possibilitar,
por meio da linguagem, a produção e a apropriação da cultura. É nesta interação que
o homem modifica o meio e modifica a si mesmo.

Ao considerar o homem como ser histórico e social e que sua aprendizagem somente
se desenvolve com a mediação do outro, podemos nos remeter à escola em que as

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relações entre professores, entre alunos, entre professores e alunos, entre toda a
comunidade escolar, além da própria comunidade na qual a escola está inserida, e os
instrumentos e linguagem que permeiam estas inter-relações, é que se torna
importante repensarmos o processo de ensino e aprendizagem e a importância do
papel do professor neste contexto de interações.

O que vamos discutir não é apenas essa utilização, mas como podemos incorporar
na prática do professor esses meios, que em latim significa media e foi adaptada como
Mídia para o português.

As competências do professor se ampliam, pois ele se torna pesquisador de sua


prática, na medida em que ele precisa a todo o momento se informar, estudar e avaliar
as novas mídias que emergem a cada momento. A sala de aula passa a ser um
espaço para dúvidas, leituras, observações, trabalhos em grupos, poesias, músicas,
vídeos e computadores, Internet e etc.

Não podemos resumir esses recursos apenas em vídeo, música, filmagem e foto,
como vem ocorrendo em várias escolas, públicas e privadas. Estamos hoje na era da
interatividade em que o computador, as enciclopédias multimídias, os museus virtuais
e jogos em três dimensões fazem parte do lazer de boa parte dos jovens e por isso a
escola precisa se inserir neste contexto, na vida cotidiana destes alunos, propiciando
vivências que façam interface com sua vida social e cultural, possibilitando o
desenvolvimento deste aluno como cidadão de um mundo que se tornou tecnológico.

Levar essas questões para dentro das escolas é emergencial, pois temos um potencial
tecnológico nas mãos e não conseguimos sistematizar sua utilização no cotidiano do
professor. Os nossos alunos já têm incorporado culturalmente a linguagem do rádio,
TV, vídeo clip, Internet, hipertexto, do game, cabe a nós mostrar para eles as
possibilidades de uso educativo que esses meios têm. Usar um blog para comentar a
“balada” é algo que eles fazem frequentemente, mas fazer uma discussão sobre a
Globalização no blog é algo novo para eles.

A complexidade questiona os saberes fragmentados e propõe a sua religação. O


caminho escolhido para esta pesquisa foi a articulação das características
hipertextuais ¹ (Lévy) e do pensamento complexo (Morin).

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Quando penso em “complexidade”, imagino um sistema em que todas as coisas e
pessoas sejam especiais, reconhecidas e respeitadas em suas singularidades em um
ambiente de conservação e potencialização de energia. Por outro lado, penso também
no ruído e nas possibilidades de desorganizações e reorganizações do sistema. Esse
é nosso velho conflito entre a unidade do todo e a liberdade das partes. Pensamos,
pensamos, pensamos, mas ainda vivemos na brecha dos opostos entre os quais
oscilamos: entre a ética da convicção e a da responsabilidade (Weber); entre o espírito
anarquista e a prudência das reformas; entre o todo-nas-partes e as-partes-no-todo.
Ensinar a pensar, logo, é dar o exemplo de como se equilibrar na corda bamba
(MORIN, 2000, p. 147).

Torna-se necessário deixar claro que não acreditamos que a mediação feita com
recursos da mídia ou hipermídia são, sozinhos, responsáveis pela aprendizagem do
aluno. Essa é a nossa preocupação em nossos estudos, pois percebemos que o
modelo instrucionista de informação reproduzida pelo professor e pelo aluno sem ter
como objetivo o desenvolvimento da autonomia e emancipação do aluno ainda se faz
presente no uso das TICs em salas de aula. A proposta é pesquisar modos de usar
todas as novas linguagens construídas culturalmente no contexto histórico de nossos
alunos, dentro de uma proposta construcionista, na qual as pessoas constroem
ativamente o seu conhecimento, articulam os processos de pensamento aprimorando-
os. O aprendizado é influenciado pelo ambiente e vice-versa, e, ainda, na crença de
que o homem é inconcluso, inacabado, e por isso se constrói no dia-a-dia, nas
relações com os outros homens, num mundo tecnológico.

A mediação de recursos midiáticos planejada para a aprendizagem na escola precisa


ser desenhada, porque esses recursos não foram criados para desenvolver a
criticidade, reflexão e autonomia. Cabe ao educador pensar nessas
possibilidades, compreendendo:

[...] de que forma as TICs ² contribuem para o aperfeiçoamento do


processo de ensino aprendizagem representa uma oportunidade de
redescobrir a natureza ímpar, insubstituível e altamente criativa da
educação no processo de desenvolvimento humano e
social. (FILATRO, 2004).

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² Texto de: Moran, José Manuel - O Uso das Novas Tecnologias da Informação e da
Comunicação na EAD - uma leitura crítica dos meios. Disponível em:
<http://portal.mec.gov. br/seed/arquivos/pdf/T6%20TextoMoran.pdf > acesso em: 08
nov. 2007.

¹ As características são: Metamorfose, heterogeneidade, topologia, exterioridade,


multiplicidade de encaixes e das escalas.

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Aula 26_ O cinema na sala de aula

O uso de filme em sala de aula é comum nas escolas em todos os graus; desde a
Educação Infantil até a Universidade os professores utilizam esse recurso em suas
aulas.

O problema levantado aqui é: como isso ocorre? Qual o objetivo? Qual o


conhecimento que está ali sendo trabalhado?

Infelizmente nem sempre há um plano de aula para o uso desta mídia, e, por isso, fica
em descrédito tanto para alunos como para os pais.

É comum ouvir dos alunos: “Hoje o professor não deu aula, foi legal, ele passou filme.”
Triste realidade em que o aluno tem como concepção de aula a sala de aula, professor
falando, lousa e giz.

O cinema e a fotografia (veremos posteriormente) revolucionaram a arte no século


XIX. Sua imagem, linguagem e acessibilidade trouxeram para a humanidade nova
tecnologia que mudou o conceito de tempo, espaço, estética e arte.

Tudo isso pode ser explorado em sala de aula, desde a questão estética,
comunicacional e na sociologia, principalmente, como o cinema é utilizado como
propagadora da ideologia hegemônica: os estúdios de Hollywood ou os trens de Stálin
na revolução Russa e Chinesa, enfim, como a arte cinematográfica pode agregar
valores estabelecidos ou questioná-los.

Moran (1999) nos explica os motivos de o filme ser uma linguagem significativa para
todos:

A linguagem audiovisual desenvolve múltiplas atitudes perceptivas:


solicita constantemente a imaginação e reinveste a afetividade com
um papel de mediação primordial no mundo, enquanto que a
linguagem escrita desenvolve mais o rigor, a organização, a abstração
e a análise lógica.

Os cuidados mostrados na preparação da exibição, durante e posteriormente, não são


um exagero, pois são passos fundamentais para que este recurso passado na escola
seja entendido em sua essência pelos alunos.

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Utilizar documentário, filme, fazer filmagem para registro de memória, para
desenvolver a criatividade dos alunos e alfabetizá-los em outras formas de
comunicação são formas das mais variadas, nas quais a câmera, o vídeo e o DVD
podem ser explorados didaticamente.

Para entender um pouco a importância do cinema para a educação vamos ler o texto
de José Manuel Moran sobre este assunto. O texto está disponível no ambiente virtual
de aprendizagem ou, se preferir, você pode acessar o site:

http://www.eca.usp.br/prof/moran/vidsal.htm acesso em 08 nov. 2007.

No texto, Moran afirma que a prática do uso de filme em sala de aula exige um método,
plano e preparação.

Para quem gostou do assunto indico um site que pode ser usado nas aulas:

http://www.mnemocine.com.br/cinema/histindex.htm

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Aula 27_ O uso de fotografia na sala de aula

Esta aula tem por objetivo abrir o olhar para a imagem como linguagem, a imagem
entre linguagens; imagem como produção social do olhar; a imagem pictórica na
imagem fotográfica; as práticas do olhar - fotografia e cinema; videografia e infografia -
em torno do virtual; a educação dos sentidos - pedagogia da imagem; a imagem na
pedagogia - possibilidades e limites de seu uso.

Por que trabalhar com fotografia? Imagem?

Quais as habilidades desenvolvidas utilizando este material?

A presença pedagógica da imagem educando os sentidos é histórica. Todavia, a


escola permanece entre o fascínio, o receio e a paralisia. Mais do que práticas apenas
voluntaristas em sua crítica ou recurso, urge discutirmos seu estatuto, seu campo,
suas metodologias, de forma a permitir à escola intervir concretamente nas práticas
sociais que autorizam ao olhar significar a imagem, identificando e dialogando com os
atores sociais que teimam em ocultar-se. Colocar na legislação que o aluno deve
desenvolver a sensibilidade artística e estética nos impulsiona a encontrar meios para
concretizar com ações essas premissas.

Não temos, nos cursos de pedagogia ou formação de professores, disciplinas que


preparem o educador para trabalhar nesse sentido.

Ao fim do século XX, quando a sociedade planetária constitui-se como videosfera e o


homem é saturado de informações videoclipadas, como negar a urgência de
refletirmos sobre os caminhos que a escola deve trilhar contra a imagem e com a
imagem?

Quantos de nós vêem? Para dizê-lo de modo ostensivo, todos, menos


os cegos. Como estudar o que já conhecemos: a resposta a essa a
pergunta encontra-se numa definição de alfabetismo visual como algo
além do simples enxergar, como algo além da simples criação de
mensagens visuais. O alfabetismo visual implica a compreensão e
meios de ver e compartilhar o significado a um certo nível de
universalidade. (DONDIS, 1991, p.227)

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A alfabetização visual é necessária num mundo em que os códigos, signos e imagens
estão em todos os lugares e trazem mensagens que precisam ser lidas de forma
crítica. A foto jornalística revela, muitas vezes, mais do que o texto escrito. Em
determinados momentos históricos, em que o texto não foi aprovado pelos órgãos de
censura, a foto conseguia ser divulgada e contradizia o texto revisado pelo censor ao
mostrar a verdade impedida de ser mostrada.

[...] as fotografias que acompanham as reportagens não são


meramente ilustrativas, são narrativas que clamam pela eficácia do
convencimento (ESSUS e GRINBERG, 1994 apud ZANIRATO, 2004,
p. 5).

Podemos fazer uma leitura sociológica das fotos e imagens que circulam em revistas,
outdoors, livros, jornais e exposição. Levantar categorias históricas, permanências e
mudanças, categorias sociológicas – fato social, entender a importância da mulher ou
da criança em uma determinada época ou lugar.

As imagens visuais não têm o mesmo estatuto do texto escrito, mas é necessário
observá-las como um diferente, como um interlocutor privilegiado do texto escrito,
compartilhado no texto cultural, com suas especificidades materiais e formais e na
história própria.

O maior representante brasileiro da foto jornalística de caráter político e denunciativo


é Sebastião Salgado. No site http://www.terra.com.br/sebastiaosalgado/ acesso em
08 nov. 2007, temos fotos que podem ser analisadas em sala de aula e que mostram
realidades de vários lugares do mundo.

Um outro site com fotos premiadas no mundo oferece uma dimensão artística e
estética para analisar essa forma de linguagem:

http://fotografosdomundo.weblog.com.pt/arquivo/2004_02.html#063171 acesso em
08 nov. 2007.

Proponho a leitura de dois textos:

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1.Imagem fotográfica e temporalidade social de Marcelo H. Leite
http:// www.studium.iar.unicamp.br/18/04.html acesso em 08 nov. 2007.

 2. Fotografia e educação como formadora de leitores críticos da imagem midiática


de Ana Maria Schultze. http://www.studium.iar.unicamp. br/18/01.html acesso 08
nov. 2007.

O texto 2 mostra que, mesmo em escolas carentes, podemos fazer trabalhos com
novas tecnologias; o texto 1 aponta para a máquina digital que é usada a todo o
momento pelos jovens com celular, e a geração do século XXI que tem a necessidade
de fotografar todas as situações e publicar em seus blogs, orkut, fotolog para uma
comunicação entre as redes sociovirtuais.

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Aula 28_ As novas mídias na educação

A única finalidade aceitável das atividades humanas é a produção de


uma subjetividade auto- enriquecendo de modo contínuo sua relação
com o mundo. Félix Guattari, Caosmose

O uso das novas mídias como instrumento pedagógico faz parte de uma proposta
maior de mudança de paradigma educacional, ou seja, uma educação construcionista
que se apropria da produção cultural para a melhoria da qualidade da aprendizagem
tendo como objetivo final a construção e comunicação do conhecimento.

Tendo a tecnologia como centro de nossa pesquisa é preciso definir que ela seja
tratada não só como ferramenta, mas como modo de produção que gera novas
relações produtivas e novas formas de cultura.

As novas mídias usam a tecnologia computacional para a distribuição e exposição na


Internet de sites, multimídias computacional, os jogos de computadores, os CD-ROM
e o DVD e por isso todos têm algo em comum e podem ser colocados dentro da
mesma categoria teórica, objetos culturais.

As novas mídias podem ser entendidas como um “MIX” de antigas convenções


culturais de representação e novas mídias representadas pelo virtual, com
comunicação em rede em tempo real e controle em tempo real, ou seja, são as mídias
anteriormente acumuladas usadas de novas maneiras.

Isso explica a preocupação do uso dessas novas mídias na educação se tomarmos


como perspectiva o construtivismo sócio-interacionista. A fundamentação partirá da
corrente interacionista - a Teoria Sócio-histórica de Vygotsky parte do pressuposto de
que a interação (social) provoca mudanças recíprocas (indivíduo e meio) e que, dessa
interação entre fatores externos através das trocas do sujeito com o outro e com o
objeto social, originam-se as funções mentais superiores, ou seja, o papel do meio
social não é ativador, mas formador das funções psicológicas, uma vez que, variando
o ambiente social, varia o desenvolvimento do indivíduo que forma e transforma suas
características.

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Temos pesquisas que mostram a não apropriação das velhas mídias (gravador, rádio,
TV) pelos professores e agora temos as novas mídias que começam a ser usadas da
mesma forma, apenas substituindo recursos velhos sem repensar a concepção
pedagógica e as transformações que podem ser causadas na aprendizagem e na
necessidade de seu uso para a formação do leitor imersivo ¹ . Por isso, essas novas
mídias não são usadas na maior parte dos espaços ocupados pela educação.

A sociedade da informação mudou as formas de comunicação que agora ocorrem em


rede e em tempo real. A capacidade de interagir ou controlar dados remotamente
localizados em tempo real e de controlar várias tecnologias, a comunicação telefônica,
a Internet, as interligações financeiras e o controle industrial não chegaram às escolas
que podem também usar esses recursos de forma interativa e trabalhar com as
informações e conhecimentos disponibilizados na rede.

A intenção não é apenas ajudar na formação do leitor imersivo que sabe navegar e
usar o espaço como leitor. O espaço virtual oferece possibilidade para a ação de
autores que deixam suas reflexões na Internet. O espaço virtual é democrático,
ou seja, é um espaço para o exercício da ética e da solidariedade, e a escol pode usá-
los em projetos que visam à qualidade de vida, parceria com a comunidade, enfim, a
prática da cidadania. “Formar escritores implica atribuir à escrita o significado de
registrar, compreender e interferir na história pessoal e na transformação do mundo”
(ALMEIDA, 2001, p. 10).

As características das ovas mídias exteriorizam alguns pontos em que a educação


precisa ser repensada: flexibilidade e abertura (mobilidade dos centros e
multiplicidade de encaixes), desordem (encaixe das escalas), não linearidade
(exterioridade, topologia), elasticidade (heterogeneidade e metamorfose)
potencializam o desenvolvimento de habilidades que estão interiorizadas no aluno,
como autonomia, criatividade, autoria e colaboração. Se pensarmos que a educação
tradicional tem como alicerce a aprendizagem mecânica e reprodutora de
informações, o uso desses recursos de forma consciente pode propiciar mudanças
sérias na prática do professor e fazê-lo repensar suas ações.

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Essa forma de interagir num espaço com topologia diversificada, em constante
mutação, caracterizado pela heterogeneidade da linguagem e novas formas de avaliar
e manipular dados exige um novo tipo de professor e aluno, de educação e de leitor.

O diálogo com as velhas e novas mídias pressupõe que esse leitor tenha saberes
acumulados - conhecimento prévio (aula de aprendizagem significativa) e esteja
preparado para a leitura das velhas mídias, mas também um leitor com sensibilidade
sensória, motora e cognitiva para ler o texto digital construído numa lógica que rompe
com a seqüência cartesiana e linear, passando a exigir do leitor novas formas de
interação e fazendo com que ele se torne um experimentador de caminhos e de cliks
através dos links. Esse leitor imersivo em formação está na universidade e na escola
na figura do aluno e do professor, sendo que o primeiro faz parte da geração que tem
habilidades para interagir com a linguagem do texto computacional e o professor
precisa se apropriar da cibercultura para dialogar com a geração “Net” que lê de forma
não linear, clicando para escolher seu caminho de leitura e para fazer relações daquilo
que é significativo para ele.

O hipertexto ou as multimídias interativas adaptam-se particularmente


aos usos educativos. É bem conhecido o papel fundamental do
envolvimento pessoal do aluno no processo de aprendizagem. Quanto
mais ativamente a pessoa participar da aquisição de um
conhecimento, mais ela irá integrar e reter aquilo que aprender (LÉVY,
1993, p. 40).

O paradigma da Internet não é o mesmo da radiodifusão e da publicação impressa. A


internet tem velocidade e acesso diferente, gera novas situações e maneiras de
compreender situações conhecidas abrindo novas possibilidades para os artistas e
novas responsabilidades que a tornam um espaço social e cultural. A Internet depende
do banco de dados para lhe dar o caráter híbrido das mídias; pode ser pensada como
espaço de publicação e troca com milhões de pessoas simultaneamente em qualquer
lugar do mundo em que as pessoas tenham acesso.

Para Castells (2001, p. 57) “os sistemas tecnológicos se produzem socialmente e a


produção social vem determinada pela cultura. Internet não constitui uma exceção à
regra”. Tomarei esse conceito para a Internet por pensar que a cultura “é uma
construção coletiva que transcende as preferências individuais e influem nas

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atividades das pessoas pertencentes a uma dita cultura, e, neste caso, aos
usuários/produtores de Internet” (ibid, 2001, p.58).

O conceito de Internet como produção social coletiva aponta para a necessidade de a


educação se apropriar dos produtos culturais advindos dela, pois, sendo uma
construção coletiva, revela o contexto histórico-social atual, e, junto com isso, as
linguagens e ferramentas mediadoras para uma aprendizagem significativa . Segundo
Vygotsky, criamos instrumentos e sistemas de signos para transformar, entender e
comunicar nossas experiências, compartilhar o conhecimento produzido. Essa
comunicação também se transforma, expande e se aprofunda juntamente com a
eficiência desses instrumentos de comunicação desenvolvidos e pelo tipo de
linguagem usada. É nessa linha de reflexão que as novas mídias se inserem e se
tornam fundamentais no espaço escolar, porque potencializam a produção de
conhecimento e a comunicação entre as comunidades.

A integração das dimensões cognitiva e afetiva, estudadas por Vygotsky para


entender a importância dos instrumentos e signos mediadores na aprendizagem,
coloca as novas mídias como ferramentas histórico culturais significativas para o
sujeito que interage.

O uso das novas mídias, como orkut, blog, fotolog, MSN, grupos virtuais e sites como
ferramentas pedagógicas, potencializa a relação afetiva professor aluno, criando um
vínculo de confiança e cumplicidade, pois o aluno se sente amparado, auxiliado e
orientado em tempo real. Esses sentimentos refletem no melhor desempenho e
motivação para com a disciplina ministrada por esse professor. Essa é uma
constatação feita nessa pesquisa e “vai na contramão” das previsões apocalípticas de
que a Internet afastaria as pessoas e acentuaria mais o individualismo. Ao
vivenciarmos essa aproximação com os alunos e ex-alunos procuramos entender a
definição de máquinas sociais (acoplamento homem-máquina) de Deleuze e Guattari,
definidas como “constructos que conduzem socialmente o comportamento (...) e tem
como tarefa codificar os fluxos coletivos, codificando sistema de desejo globalmente”
(ARAUJO, 2005, p.151-153). Esse acoplamento codifica e conduz o desejo como
energia de produção e o desejo passa por uma necessidade de quem está nesse

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fluxo, por isso a importância de o professor mostrar o desejo de aproximar,
compartilhar, criar e democratizar conhecimento ao usar a tecnologia.

Uma das experiências que mostram isso é o uso de blog para a discussão de temas
diversificados com os alunos. Várias escolas utilizam este espaço de interação como
apoio ao presencial. Como a sua estrutura se remete ao diário usamos esse conceito
para colocar as atividades por aula que serão desenvolvidas, como texto, exercícios
e temas para discussão. Os blogs são uma transformação da Web, pois já podem ser
considerados uma nova mídia dentro da web. Não podem ser desprezados pela
educação, porque já foram incorporados pela mídia jornalística, pelos governos, por
políticos para fazer campanha, artistas, ONGs e dentro de sites para algum tipo de
discussão.

Muitas escolas e universidades já fazem uso dessa ferramenta, mas o termo


blogosfera ainda não foi concretizado, porque esses blogs não estão interligados
apesar de estarem na mesma esfera de interesse e de público. Já é um avanço ao
pesquisar e encontrar em sites de busca blogs produzidos por alunos e cuja
preocupação seja com o conhecimento acadêmico.

Outra nova mídia que explodiu no Brasil, o orkut, também já está tendo inúmeros fins
que vão além do encontro de amigos em comunidades. Hoje o orkut é utilizado para
achar profissionais de determinadas áreas, para avaliar esse profissionais em
processo de seleção para cargos, para comércio e também como espaço voltado para
a educação. Na análise feita até o momento não conseguimos levantar características
que podem colocar o orkut nos critérios exigidos para um espaço de aprendizagem,
mas podemos usá-lo como fórum de discussão e encontro de outros personagens que
não são os da escola, mas que possuem interesses afins com o que está sendo
discutido. Isso prova mais uma vez que o espaço geográfico da escola ultrapassa
seus muros.

Procurar novas formas de ensinar, motivar e envolver o aluno nessa beleza que é o
conhecimento torna-se a alma do profissional da educação. Analisar a escola em sua
dimensão política traz uma carga de responsabilidade grande para o educador
progressista que vai além da transmissão de informação e procura a formação de um
jovem crítico, responsável com sua realidade e ativo diante da necessidade de

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transformações. Para isso ele deverá saber ler, selecionar, refletir e avaliar as
informações disponíveis nos ambientes multimidiáticos.

Quando o conhecimento se torna um elemento-chave de


transformação social, a própria importância da educação muda
qualitativamente. Deixa de ser um complemento e adquire uma nova
centralidade no processo. (DOWBOR, 2001, p.24).

O novo paradigma que se abre centrado na sociedade do conhecimento exige novas


práticas e um educador ousado com olhar de pesquisador que esteja avaliando
constantemente sua prática, pois a velocidade da mudança tecnológica deve
ser acompanhada pelo repensar da ação educativa.

¹ Leitor imersivo é o leitor implodido, cuja subjetividade mescla na hipersubjetividade


de infinitos textos num grande caleidoscópio tridimensional onde cada novo nó e nexo
pode conter uma outra grande rede numa outra dimensão. (SANTAELLA, 2004, p.33)

² O conceito de aprendizagem significativa aqui usado foi uma reflexão nas teorias de
Ausubel e Vygotsky. Aprendizagem significativa envolve três conceitos: significado,
interação e conhecimento.

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Aula 29_ Os gêneros de linguagem

O trabalho com os gêneros de linguagem oferece novas abordagens e perspectivas


para os temas sociológicos.

a. Gênero Oral: (Ex. história oral)

A Interação pessoal: entrevista, relato; a Imprensa: entrevista, reportagens,


depoimentos; os textos publicitários: propagandas, gingles; a divulgação científica:
debates, aula; os textos literários e de entretenimento: relato de experiências vividas,
reprodução de narrativas, causos, piadas, recitação de parlendas, trava-língua ou
poemas, peças de teatro, filmes, canções populares. Todos apresentam
possibilidades para o trabalho em sala de aula.

b. Gêneros de textos escritos:

Instrucionais: receitas; epistolares: cartas, convites, e-mail; textos de imprensa:


reportagens, artigos, carta ao leitor e do leitor, charges, crônicas, editoriais,
entrevistas; textos publicitários: slogans, anúncios, propagandas, panfletos; textos de
divulgação científica: didáticos, hipertexto, biografia, autobiografia, relatos históricos,
tabelas e gráficos. Também apresentam formas de textos diferenciadas para o
trabalho docente.

c. Literários e de entretenimento: diários pessoais, diários de viagem, crônicas,


lendas, cordel, etc.

Roteiro para atividades com gênero escrito:

 identificar o gênero;
 contexto da obra e biografia do autor;
 temas transversais que podem ser explorados;
 outras áreas envolvidas na atividade;
 palavras-chave (específicas da área do professor);
 problemas levantados sobre o tema;
 conhecimentos prévios necessários para os alunos refletirem os problemas
levantados;

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 habilidades desenvolvidas;
 indicação de outros gêneros de linguagem;
 analisar pontos positivos e negativos do gênero e da atividade;

Como trabalhar com este gênero na aula de sociologia?

É importante perceber a importância do planejamento para qualquer tipo de atividade,


um roteiro para professor e aluno não se perderem durante a atividade, além de
delimitar o objetivo e estabelecer a problemática trabalhada em cada gênero. Espera-
se que o professor faça a pesquisa da obra que será usada tendo um eixo temático
como foco, de preferência transversal, interdisciplinar.

O primeiro passo é mostrar a necessidade de contextualizar a obra e o autor. O aluno


precisa estar atento ao momento histórico no qual a obra foi escrita e a origem do
pensamento do autor. Essa prática deve ser aplicada para qualquer gênero, pois
valoriza as disciplinas que integram o currículo, como história, geografia e língua
portuguesa, assim como desperta no aluno o valor da autoria e da linha ideológica de
qualquer tipo de obra.

No caso que sugerimos os autores são sociólogos e podemos focar nosso olhar neste
ponto, ou seja, como um sociólogo usa os seus saberes para produzir um texto não
acadêmico. Podemos destacar palavras-chave que identificam conceitos específicos
das ciências sociais.

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Aula 30_ Imagens

A leitura de imagens exige algumas habilidades específicas.

Temos exemplos de imagens com uma temática comum, mas retratadas de forma
diferente. Isso exige do leitor um olhar também diferenciado e uma sensibilidade para
captar as permanências e mudanças do espaço a ser analisado: a cidade.

Para esta análise precisamos saber quais são os conhecimentos prévios dos alunos
em geografia e em história para que eles possam fazer uso dos conceitos de
sociologia.

As fotografias devem oferecer identificação de datas e local para que o aluno


contextualize as transformações ou permanências do espaço urbano e quais os
fatores que influenciaram na urbanização, na relação do homem com o homem, com
a natureza e com a tecnologia; perceber as diferenças entre as imagens com relação
a material, produção, objetivo do artista ou fotógrafo - seja no ângulo utilizado, nas
cores em destaque, na perspectiva de escala, na ocupação do espaço, na paisagem
urbana e suas especificidades – é de fundamental importância para a compreensão
da imagem. O levantamento destes dados precisa, antes de tudo, de planejamento do
professor para formulação dos objetivos da atividade.

Não podemos usar apenas um gênero, uma linguagem, pois a compreensão leitora
não ocorre desenvolvendo apenas uma habilidade de leitura.

O jovem do século XXI nasceu em uma sociedade que exige o letramento de todos
os gêneros de linguagem, pois estes estão presentes em nosso cotidiano em
outdoors, no computador, nas revistas e nos meios de comunicação em geral.

Letrar para o mundo é o objetivo geral desse trabalho com gêneros de linguagem e
que, deixemos bem claro, não é apenas tarefa do professor de língua portuguesa,
mas de todas as disciplinas do currículo.

Permanências e mudanças – cidade

Ex: São Paulo

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A Avenida Paulista do início do século XX (acima), com os casarões dos barões do


café de São Paulo e as árvores ao longo de toda sua extensão e (abaixo) a moderna
avenida que se tornou o maior centro empresarial do país.

Abaixo o quadro São Paulo, 1924 pintado por Tarsila do Amaral.

Imagens:

http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=177 Acesso em 19 nov.


2007.

Trabalhar com imagens da cidade de diferentes períodos e autores é importante para


apresentar e formar no aluno uma compreensão de processo histórico de
transformação social do espaço urbano e seu impacto nos habitantes da cidade

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Aula 31_ A Sociologia e a Nova Arte – a Arte Efêmera

Nas aulas anteriores estudamos os gêneros de linguagem que vão desde a literatura
até o hipertexto e multimídia.

Educar, letrar os alunos para todas as formas de linguagem é competência de todos


os professores, pois cada um, com sua especialidade, pode contribuir para um tipo de
análise e múltiplos olhares.

Nesta aula vamos entender as mudanças ocorridas na arte contemporânea brasileira


tendo como base os fatos históricos mundiais representativos em cada fase.

O conceito efêmero está sendo muito utilizado para se referir à cultura, manifestações
políticas e artísticas da pós-modernidade. Sociólogos, como Gilles Lipovetsky e
Sevchenko, possuem obras sobre Moda e Cultura que se aprofundam nesse tema do
efêmero.

O quadro abaixo foi retirado do site e apresenta alguns conceitos e os principais


acontecimentos sociopolíticos e culturais ocorridos no Brasil e no mundo nas décadas
de 1960 e 1970.

Essa proposta como apoio do site pode ser usada na preparação de aulas ou como
uma ferramenta de apoio para atividades em sala de aula.

Com o objetivo de facilitar a compreensão dos conceitos referenciais da produção


artística do período, apresentamos uma seleção de “obras” consideradas exemplares.
Ao professor abre-se a possibilidade de selecionar outros conceitos e obras em função
dos objetivos de seu próprio projeto.

Contexto histórico Conceitos Artistas e obras

Inserções em Circuitos
Guerra Fria: o mundo Ideológicos — Projeto
Arte e Política
polarizado em dois blocos Coca-Cola, Cildo Meireles
(EUAx URSS) Imperialismo (1970);

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Zero Dólar, Cildo
• Implantação de norte-americano;
Meireles (1978-84);
Regimes Ditatoriais
Sociedade de Consumo;
Militares na América - Napalm, Luiz
Latina (anos 1960 e 1970); Socialismo x Capitalismo; Alphonsus (1970)

• Guerra do Vietnã
Terceiro Mundo e Livro de Carne,
(1961 - 1975); Subdesenvolvimento; Artur Barrio (1979);

Zero Cruzeiro, Cildo


Meireles
• Revolução Cultural
Chinesa (1966); (1974-78);

• Protestos Estudantis
por todo o Mundo (1968);

• Fim da Primavera de
Praga (1968);

Contexto Histórico Conceitos Artistas e Obras

Golpe e Implantação
Arte e Política A Imagem da Violência,
do Regime Militar no
Brasil (1964-1985) Autoritarismo e Militarismo; Antonio Manuel (1968);

Repressão Outra Vez - Eis


• Greve Geral e Criação o Saldo, Antonio Manuel
da CGT (1962); Censura; (1968);

• Greve de 700 mil


operários em São Paulo Repressão, Violência e A Prisão, Claudio Tozzi
(1963); Tortura; (1968);

• Ditadura Militar: O Sermão da Montanha:


Suspensão dos Direitos Crítica à ordem Fiat Lux, Cildo
Políticos (1964); e Resistência. Meireles (1973-79);

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Dizer — Corpo Extranho,
• Extinção dos
Partidos; Políticos (1965) Pedro Escosteguy (1965);

Sem Censura, Antonio


• Lei da Imprensa (1967); Manuel (1968)

 Intensificação das
manifestações
Sem Saída, Antonio
Estaduais (1968); Henrique Amaral (1967)

 Ato Institucional nº 5
O Último Vôo da Liberdade,
(1968)
Wesley Duke Lee (1964)

 Guerrilha do Araguaia
A Prisão, Claudio Tozzi
(1970);
(1968)

Tiradentes: Totem
Monumento aos Presos
 Morte de Vladimir
Políticos, Cildo Meireles
Herzog (1975);
(1970);

O Sermão da Montanha:
Fiat Lux, Cildo Meireles
(1973-1979):

Desvio para o Vermelho,


Cildo Meireles (1967/1984);

Trouxas Ensanguentadas,
Artur Barrio (1970)

Lute, Carlos Zilio (1967);

II Salão de Verão MAM,


 Anistia (1979)
Umberto Costa Barros
(1970).

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A música, as artes plásticas, a poesia e outras formas de linguagem artística, em
alguns momentos da história, foram as únicas formas de expressão e denúncia que
não somente os artistas tinham para se expressar, mas eram a voz de toda a
população crítica às autoridades.

A responsabilidade é educar os jovens para serem leitores imersivos e preparados


para ler o mundo dos símbolos e das imagens, mas com conteúdo e habilidades
suficientes para poder traçar um quadro de relações entre artista, contexto histórico e
mensagem da obra.

¹ Adaptado do site Itaú Cultural: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclope-


dia_ic/index.cfm?

CFID=3707789&CFTOKEN=48928955 acesso em 19 nov. 2007.

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Resumo - Unidade VI

O objetivo da unidade VI é mostrar muitas ideias para colocar em prática as aulas de


sociologia, usando os gêneros de linguagem.

Procuramos, de forma sintética, mostrar como podemos criar novas formas de


mediação para que a aprendizagem do aluno seja mais efetiva e agradável. Estudar
sociologia não precisa ser uma ação pesada, sem sentido, pois podemos, com a
preparação das aulas, fazer um levantamento de fontes diversas para dinamizar as
nossas aulas e atingir nosso objetivo principal, que são a aprendizagem e a produção
do conhecimento.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Maria Elizabeth de. Proinfo. Informática e Formação e Professores. Vol.


1. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Brasília, 2000.

BAIRON, Sergio. Multimídia. São Paulo: Global, 1995.

BERGER, John et al. Modos de ver. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

BOTKIN, J. Aprender a ser. Barcelona: CEAC, 1974.

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