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FORMAÇÃO HUMANA:
práticas de enfrentamento
em tempos de crise
Maria Vilani Cosme de Carvalho
Eliana de Sousa Alencar Marques
Francisco Antonio Machado Araujo
Organização
EDUCAÇÃO E
FORMAÇÃO HUMANA:
práticas de enfrentamento
em tempos de crise
2020
Reitor
Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes
Vice-Reitora
Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira
Superintendente de Comunicação
Profª. Drª. Jacqueline Lima Dourado
1ª edição: 2020
Revisão
Francisco Antonio Machado Araujo
Editoração
Francisco Antonio Machado Araujo
Diagramação
Wellington Silva
Capa
Mediação Acadêmica
Editor
Ricardo Alaggio Ribeiro
19 módulos
Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR2)
E-book.
ISBN: 978-65-86171-10-5
CDD: 370.7
Bibliotecária Responsável:
Nayla Kedma de Carvalho Santos CRB 3ª Região/1188
DOI: 10.29327/521046
Link de acesso: https://doi.org/10.29327/521046
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 7
Maria Vilani Cosme de Carvalho
A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO
CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR: 163
IMPLICAÇÕES NA PRÁTICA DOCENTE
Joelson de Sousa Morais
Maria Noraneide Rodrigues do Nascimento
Francisca Eudeilane da Silva Pereira
R
ecorremos ao pensamento de Paulo Freire para
justificar a relevância da discussão sobre o
tema “Educação e formação humana: práticas
de enfrentamento em tempos de crise” e reafirmar, com esse
autor, nosso compromisso ético e político com a vida humana,
conforme produzimos conhecimento sobre a humanidade
que se constitui nas práticas educativas que são desenvolvidas
nos diferentes contextos educativos. Assim, colocar o tema
APRESENTAÇÃO 7
educação e formação humana no centro da discussão, nos dias
atuais, é reconhecer que precisamos continuar a busca sobre
quem somos, mas, sobretudo, reconhecer que somos sujeitos
da nossa própria história, a história dos homens como seres
no e com o mundo; é colocar no centro do debate não apenas
o problema da humanização, mas também da desumanização
como realidade histórica; é pensar, sentir e agir considerando
“[...] humanização e desumanização, dentro da história, num
contexto real, concreto, objetivo, são possibilidades dos homens
como seres inconclusos e conscientes de sua inconclusão.”
(FREIRE, 2005, p. 32).
Os textos que compõem os capítulos desta coletânea
avivam o debate humanização versus desumanização produzida
na sociedade capitalista, tendo como recorte o contexto das
práticas educativas, porque são produtos das discussões
realizadas nas Mesas Temáticas do I Encontro de Pesquisa
em Educação e Formação Humana (EDUFOH). Vale ressaltar
que esse evento científico, ao adotar como objetivo geral “[...]
aprofundar a discussão científica sobre as determinações que o
contexto histórico, cultural e econômico imprimem à formação
de educadores e educandos, e, por conseguinte, às atividades
desses sujeitos na realidade objetiva, em especial, no contexto
educacional [...]”, elege como foco da discussão as pesquisas
realizadas na interlocução da tríade educação, formação
humana e processos educativos, concentradas no tema
“Educação e formação humana: práticas de enfrentamento em
tempos de crise”. Para nós, pesquisadores da área da educação,
discutir essa temática significa promover condições para que
educadores e educandos se apropriem de conhecimentos que
possam orientar a compreensão de que o desenvolvimento
de uma sociedade justa e igualitária só poderá se realizar por
meio de práticas de formação humana que contribuam para a
APRESENTAÇÃO 9
educação; e o quarto traz relatos de pesquisa empírica, de
revisão de literatura e de experiência na docência.
Para introduzir a discussão sobre a temática do primeiro
eixo, as autoras do capítulo “Educação, formação humana e
processos educativos: caminhos da pesquisa em educação”,
tendo como mediação a atividade de pesquisa em educação,
especialmente a escolar, objetivam demarcar que esse é o
processo de produção histórica e coletiva da humanidade, e
colocam em evidência o compromisso ético-político que o
educador deve ter na defesa e na garantia de que todos os homens
e todas as mulheres desenvolvam suas singularidades, tendo
como norte a apropriação e a objetivação de toda a produção
histórica, social e cultural da humanidade. Para tanto, recorrem
aos fundamentos teórico-metodológicos do Materialismo
Histórico Dialético, da Psicologia Histórico-Cultural e da
Pedagogia Histórico-Crítica, visto que esses dão condições ao
pesquisador de apreender a essência dos processos educativos,
em especial, do ser professor, o que significa apreender ao
máximo os nexos e as relações que constituem seu pensar, sentir
e agir. Os leitores irão acompanhar, ao longo do texto, que a
ideia central defendida pelas autoras, neste capítulo, faz coro
à proposição de Paulo Freire de que “Ninguém educa ninguém,
ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo”. (FREIRE, 2005, p. 78).
O segundo eixo temático é composto por dois capítulos
que tratam da extemporaneidade das políticas públicas
brasileiras voltadas para a educação. Neles, as autoras recorrem
aos fundamentos teórico-metodológicos do Materialismo
Histórico Dialético para defender a necessidade de compreender
e até mesmo de transformar radicalmente a sociedade em que
vivemos, para que a educação possa, de fato, cumprir a sua
tarefa de mediar o processo de humanização.
APRESENTAÇÃO 11
e disseminação dessa lógica perversa, o sistema educacional
passa a preparar o aluno com base nas competências e nas
habilidades exigidas pelo mercado de trabalho em crise. A
discussão sobre a relação educação e formação humana
perpassa todo o texto, mas vai ficando mais evidente quando
elas explicam que, se na proposta de educação neoliberal
não há espaço para desenvolvimento do pensamento crítico,
então, não há possibilidade de desenvolvimento humano, isto
é, do indivíduo elevar sua relação com o gênero humano. Ao
contrário, com o caráter perverso dessas políticas educacionais,
o que temos é um processo de desumanização, o qual está
expresso de diferentes formas pelas autoras quando destacam,
por exemplo, a precarização do trabalho, o aprofundamento
da pobreza material e espiritual de gerações, a expropriação da
condição de acesso ao conhecimento científico e o adoecimento
físico e psíquico de professores. A defesa das autoras é de que,
no modelo de sociedade que vivemos, “[...] a educação e demais
necessidades da humanidade somente serão superadas com a
superação do trabalho explorado pelo trabalho emancipado,
o que não é possível em nenhum tipo de sociedade de classes”.
(vide este capítulo). Isto implica na necessidade de transformar
radicalmente a sociedade em que vivemos para garantir a
educação humana.
Estudar profundamente a estrutura e a organização
da sociedade capitalista e lutar pela sua transformação são
caminhos apontados pelas autoras dos capítulos 2 e 3 para o
desenvolvimento de práticas de enfrentamento ao processo de
desumanização que estamos vivendo nesse tempo de crise. Em
defesa dessas práticas, isto é, das práticas que rompem com
a lógica do capital e façam avançar em direção a educação
que vá além do capital, concordamos com as autoras quando
recorrem a Mészáros (2008, p. 76) para explicar que a tarefa
APRESENTAÇÃO 13
da relação educação e formação humana na medida em que
“[...] proporciona momentos de problematização sobre a
desconstrução de estereótipos que estão fixos nos corpos,
mentes e afetos de ‘mulheres’ e ‘homens’ (heterossexuais,
homossexuais, bissexuais, transexuais, dentre outros)”. (vide o
capítulo deste livro).
Ao tecer consideraçoes sobre as “Práticas de pesquisa
em educação: discutindo método e metodologia”, a autora do
quinto capítulo desenvolve vários argumentos para evidenciar
ao leitor que a produção de conhecimentos científicos na
área de educação está em constante movimento e revela-
se interligada às cadeias e aos processos sociais e, por isso,
tem mobilizado pesquisadores para a produção de métodos
especiais que possibilitem produzir conhecimentos na área
da educação com potencial transformador das práticas
sociais. Em defesa das possibilidades que temos de negar as
tradições dominantes de fazer pesquisa em educação, que são
fundamentadas na lógica formal e no método positivo, e de
realizar pesquisas críticas, a autora discute o valor heurístico
daquelas fundamentadas no Materialismo Histórico Dialético
para argumentar que a história da produção do conhecimento
é devir e, por isso, defende: “A mobilização de pesquisadores na
área de educação para a produção de métodos especiais que
partem da vida que se vive e propõem condições de reflexão,
compreensão, interpretação e transformação dos problemas
do homem e do mundo contemporâneo é a possibilidade de
reelaboração desta história” (vide este capítulo), a história da
produção do conhecimento da humanidade.
Com a argumentação desenvolvida nestes dois capítulos,
o leitor compreende que a produção de novas possibilidades
nas pesquisas em educação passa necessariamente pelas
proposições teórico-metodológicas que articulem método
e metodologia, o que exige, do pesquisador, romper com a
APRESENTAÇÃO 15
se apropriarem dessas ideias, os leitores vão entendendo as
relações educação e formação humana, porque os Memoriais
de Formação, ao se constituírem em dispositivo metodológico
de pesquisa e de avaliação da aprendizagem de alunos do
ensino superior, são também dispositivos de formação e (auto)
formação. Esse potencial formativo dos memoriais se revela na
medida em que, no processo narrativo da história de vida, vai
criando possibilidades de reflexão das experiências e vivências
de formação e de prática docente. Para os autores, de modo
geral, “[...] não se trata apenas de um dispositivo de avaliação,
porque o Memorial de Formação ultrapassa essa perspectiva, se
tornando mesmo um dispositivo de reflexão, compreensão
e entendimentos outros, fundamentais na formação e
articulações com os vários níveis de subjetividade, e por meio
dos processos que os façam refletir num futuro bem próximo,
ao se encaminharem para o desenvolvimento profissional,
gerando possibilidades transformadoras e emancipatórias”.
(vide este capítulo).
O sétimo capítulo, Ensino e pesquisa na graduação
e na pós-graduação: experiências no campo da Psicologia
Sócio-Histórica, contempla discussão sobre três experiências
de ensino e de pesquisa em nível de graduação e de pós-
graduação. Tendo por fundamento teórico a Psicologia Sócio-
Histórica, os autores explicam que compreendem a realidade
– no caso, a atividade de ensino e de pesquisa – como um
fenômeno multideterminado por uma dimensão que é social e
histórica. Como as três experiências são formativas, pois tratam
de atividade de ensino-aprendizagem, a relação educação e
formação humana vai sendo discutida quando é evidenciado
que a atividade de pesquisa gera desenvolvimento humano.
Essa situação é ilustrada pela experiência de fazer mestrado,
viver a iniciação científica e elaborar o trabalho de conclusão de
curso, visto que oportuniza discussões teóricas e metodológicas
APRESENTAÇÃO 17
da teoria de Vygotsky para compreendermos a atuação do
psicólogo no contexto educativo. Em síntese, nesses três relatos,
os leitores irão encontrar evidências empíricas que destacam
o potencial da Psicologia Sócio-Histórica na explicação da
formação humana, sobretudo em relação à constituição de
profissionais capazes de compreender criticamente a escola,
os alunos e os processos educativos em curso como atividades
humanas mediadas por múltiplas determinações.
As autoras do nono capítulo, “Formação docente e
os desafios postos pela prática do professor”, ao abordar
questões determinantes e determinadas pelos processos de
formação de professores para atuar na Educação Infantil e
na Educação Superior, discutem, em três relatos de pesquisa,
a formação dos professores dos referidos níveis de ensino
diante das demandas emergentes na prática que desenvolvem,
contribuindo, assim, com a discussão da relação educação e
formação humana. O primeiro relato, “Formação docente:
necessidades formativas dos professores da educação infantil”,
é produto de uma revisão de literatura que, ao objetivar analisar
os processos formativos de professoras da Educação Infantil,
evidencia o caráter mediador desses processos na produção
de condições favoráveis ao desenvolvimento de uma prática
pedagógica humanizadora. O segundo relato, “Diálogos entre
formação docente e prática pedagógica: reflexões sobre a
disciplina Psicologia da Educação”, contempla os resultados
de uma pesquisa empírica que objetivou analisar o processo de
apropriação dos conceitos ensinados na disciplina Psicologia
da Educação e a objetivação desses na prática pedagógica de
professoras da Educação Infantil. Os resultados dessa pesquisa
evidenciam que as significações produzidas sobre os conceitos
dessa disciplina na prática pedagógica orientaram as ações das
professoras, de modo totalizante, considerando, sobretudo,
as possibilidades para realização da práxis. O terceiro relato,
APRESENTAÇÃO 19
Assim, os relatos de pesquisa e de experiência docente
desse quarto eixo são apresentados como possibilidades
de conhecimentos que podem fundamentar práticas de
enfrentamento à desumanização gestada pelo sistema
capitalista. Dentre essas práticas, são destacadas as relativas
às ações de ensino, de pesquisa, de orientação de trabalhos
acadêmicos, da atuação do psicólogo.
De modo genérico, com a leitura dos 10 capítulos desta
coletânea, os leitores poderão se apropriar de conhecimentos
que lhes possibilitarão refletir diferentes questões relativas
à educação, à escola, ao sistema de ensino, à formação e à
prática docente, bem como às condições objetivas e subjetivas
a partir das quais os profissionais da educação desenvolvem
suas práticas educativas no sistema escolar que temos. A ideia
é de que, com o conhecimento apresentado neste livro, o leitor
se inquiete por saber mais e desperte para novas possibilidades
de fazer o conhecimento avançar.
Para finalizar, cabe esclarecermos que, ao trazermos
à tona a discussão sobre a temática educação e formação
humana, temos consciência de que esses dois conceitos
podem ser compreendidos como sinônimos de humanização,
o que se configura, evidentemente, como pleonasmo, mas um
pleonasmo intencional. Isso porque nossa intenção foi, na
verdade, de reforçar o debate sobre as condições concretas nas
quais a educação escolar está se processando, conforme explica
Saviani (2012, p. 126): “[...] não como formação do homem,
mas como sua deformação”. Mas como a desumanização não
é vocação histórica dos homens, há possibilidades concretas
de desenvolvermos práticas de enfrentamento e estas vão
em direção ao que Freire (2005, p. 32) denomina de luta
pela desumanização, esclarecendo, com ele, que a luta pela
emancipação das pessoas como seres para si “[...] é possível
porque a desumanização, mesmo que seja um fato concreto
Referências
APRESENTAÇÃO 21
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2005.
Introdução
I
niciar a discussão sobre a relação educação, formação
humana e processos educativos como mediação da
atividade de pesquisa em educação, especialmente a
escolar, com essa assertiva que Marx e Engels produziram em
suas reflexões acerca da VI tese sobre Feuerbach, tem a intenção
de, não apenas demarcar que esse é o processo de produção
histórica e coletiva da humanidade, mas também que temos
um compromisso ético-político: a defesa e a garantia de que
Bruna de S.
Cruz.
Fonte: Dados do Currículo Lattes das professoras que orientaram os
trabalhos.
À guisa de síntese
Referências
A
dmitindo o pressuposto de que são necessárias
práticas de enfrentamento em tempos de crise,
estamos assumindo a compreensão de que
existe uma crise na sociedade capitalista, e que no seio dessa
sociedade há efeitos diferenciados sobre as classes que a
constituem, como ocorre no Brasil, e em nível mundial. Essa
afirmação está referenciada na concepção de Marx, acerca da
necessidade de se superar a universalidade abstrata e tratar
de apreender a realidade concreta constituída de múltiplas
determinações, como ele indica ao tratar do conceito de
população, na Contribuição à Crítica da Economia Política
(Marx, 1977, p.228-229). Nesse excerto, Marx ressalta:
Referências
Introdução
A
nosso ver, não é difícil perceber o alinhamento
existente entre as reformas nas áreas sociais,
operadas pelo Estado brasileiro e os interesses
do capital nacional e internacional. No campo educacional
esse alinhamento pode ser constatado na relação existente
entre a Lei nº 13. 415/2017, o documento denominado Base
Nacional Curricular Comum para o Ensino Médio e a Emenda
Constitucional (EC) nº 95/2016, conforme apresentado no
decorrer do texto.
Em uma breve análise relativa ao que preceitua a LDB
nº 9.394/1996 sobre o Ensino Médio, antes e após a Lei nº
Considerações finais
Referências
E
ste texto apresenta a Teoria Feminista Pós-
colonial e descolonial como uma alternativa
teórico-metodológica para as pesquisas na área
da educação. Apresenta, ainda, os possíveis encontros dessa
Teoria com a Teoria das Representações Sociais, cuja objetivo
principal é compreender os principais fundamentos das RS que
temos na atualidade sobre as relações de gênero.
Teoria Matriz
Moscovici -1961
Teoria das
Representações
Sociais
Abordagem Estrutural
Abordagem Processual
Jean-Claude Abric
Denise Jodelet
Universidade Aix de
EHESS - Paris Provence - Paris
Algumas considerações
Referências
Introdução
A
produção de conhecimentos científicos na área
de educação está em constante movimento e
revela-se interligada às cadeias e aos processos
sociais, movimento que não é linear, tampouco circular, é
espiralar e contraditório. Esse processo, portanto, não é estável,
está constantemente se manifestando e se transformando,
deixando registros históricos e teóricos. Os registros (o lógico)
Conclusão
Referências
Introdução
O
presente texto, é fruto de uma pesquisa
qualitativa que foi realizada com três acadêmicos
do curso de Licenciatura em Pedagogia, em uma
instituição da rede privada de ensino de Caxias-MA, entre os
anos de 2017 e 2018.
Trata-se de um estudo que focaliza os Memoriais de Formação
como recurso metodológico avaliativo e formativo no ensino
superior, os quais foram produzidos por acadêmicos do curso
de Pedagogia, e tomado como uma das notas no processo de
avaliação da aprendizagem dos mesmos.
Os dispositivos metodológicos utilizados, foi observação
e Memorial de Formação, dos pesquisados, durante as disciplinas
Referências
E
ste artigo se propõe a discutir sobre três experiências
de ensino e de pesquisa em nível de graduação e
de pós-graduação que vêm sendo desenvolvidas
por professores integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas
em Educação e Subjetividade da Faculdade de Educação da
Universidade do Estado do Rio do Norte UERN, especificamente
no Curso de Pedagogia e no Curso de Mestrado em Educação,
tendo a Psicologia Sócio-Histórica como base epistemológica.
A relevância deste trabalho pauta-se na perspectiva
de articular ensino e pesquisa em nível de graduação e
pós-graduação tendo como eixo um referencial teórico-
metodológico que compreende a realidade – no caso, a atividade
Considerações Finais
Referências
Introdução
O
presente trabalho parte do interesse em
compartilhar experiências de pesquisa e atuação
na área da Psicologia Escolar e Educacional
desenvolvidas com base nos pressupostos da Psicologia
Sócio-Histórica. Nesse aspecto, reunimos reflexões advindas
das experiências profissionais das autoras que possuem
como foco a pesquisa qualitativa no âmbito da formação de
professores, dos processos de aprendizagem mediados pelas
tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) que
têm lugar no ensino superior e na atuação do psicólogo no
contexto educativo, especialmente a Educação Infantil. Dessa
198 Ana Gabriela Nunes Fernandes • Algeless Milka Pereira Meireles da Silva
a seguinte questão de pesquisa: como vêm acontecendo o
processo de objetivação dos conceitos apropriados na disciplina
Psicologia da Educação na prática pedagógica de professores
da Educação Infantil? Neste estudo, defendemos a tese de
a prática pedagógica de professoras da Educação Infantil
quando mediadas pelo processo de apropriação e objetivação
de conceitos da disciplina de Psicologia da Educação, com
potencial crítico-reflexivo sobre a realidade histórico-social,
tem possibilidade de se transformar em práxis. O objetivo
geral proposto é: Investigar o processo de apropriação e
objetivação de conceitos da disciplina Psicologia da Educação
que medeiam a prática pedagógica de professores da Educação
Infantil e as possibilidades de transformação em práxis. Para
isto, apresentamos como aporte teórico a Psicologia Sócio-
Histórica, destacando categorias como consciência e atividade,
sentidos e significados, pois o sujeito se constitui nas relações
com o meio, sendo ele síntese dessas múltiplas determinações.
Nosso intento nessa pesquisa foi o de eleger a disciplina
Psicologia da Educação como campo de compreensão do
processo de apropriação de conceitos na formação docente
e de objetivação dos mesmos na prática pedagógica, por
considerá-los aspectos imprescindíveis a serem investigados
para entender as possibilidades de realização da práxis. Esta
pesquisa contribui, portanto, para a ampliação do debate sobre
a formação docente e pode ser relevante como contribuição
a elaboração de novos processos de formação docente, que
possibilitem mudança nas significações sobre a prática, a
fim de não naturalizar as relações, e, com isso, considerar
as mediações existentes nos processos de apropriação de
conceitos e objetivação nas práticas educativas.
200 Ana Gabriela Nunes Fernandes • Algeless Milka Pereira Meireles da Silva
A partir da análise da atividade mediada se pode observar
que o êxito dos processos de ensino e aprendizagem dependem
de una série de fatores que vão mais além da simples presença de
dispositivos eletrônicos (AKKERMAN; VAN EIJCK, 2013; COLL;
MAURI; ONRUBIA, 2008; ERSTAD ET AL., 2016; LUCKIN,
2010; RAJALA ET AL., 2016).
Em relação aos processos educativos levados a cabo em
contextos formais, a potencialidade das TDIC para transformar
os processos de ensino e aprendizagem dependem do desenho
tecnopedagógico, ou seja, das características das ferramentas
utilizadas e da maneira como estão integradas às práticas
pedagógicas, tendo em vista o alcance dos objetivos educacionais
(COLL; MAURI; ONRUBIA, 2008). Assim, acrescentamos que
a relação entre os diversos elementos da atividade não se dá de
maneira linear, não estabelecendo entre si relação de causa e
efeito, mas constitui uma relação dialética, sendo demarcada
pela ideia de coconstrução e complementariedade.
No âmbito da discussão sobre o contexto sociocultural
e da atividade mediada como importantes construtos teóricos
da Psicologia Sócio-Histórica, mencionamos a interação social
como aspecto chave para os processos de aprendizagem e
desenvolvimento, a qual é mediada por artefatos culturais,
especialmente a linguagem. Nesse momento, destacamos
o papel das TDIC como artefatos culturais que não apenas
ampliam os processos comunicativos através de ferramentas
para comunicação instantânea, mas que, sobretudo integram
diversos sistemas semióticos melhorando a capacidade de
expressão de ideias e estados internos, potencializando,
portanto, a função da linguagem como mediadora das
interações sociais.
A importância destes e outros construtos teóricos da
Psicologia Sócio-Histórica é reafirmada por meio da discussão a
202 Ana Gabriela Nunes Fernandes • Algeless Milka Pereira Meireles da Silva
por estudos da Psicologia do Desenvolvimento e da
Aprendizagem, além de mediar às relações que se engendram
entre crianças, educadores, familiares e demais componentes
da instituição.
Nessa direção, nosso relato se refere a experiência
de uma das autoras da mesa, desenvolvida em 12 anos de
atuação na Educação Infantil de uma escola da rede privada
de Teresina como Psicóloga Escolar e Educacional, em que foi
possível elencar diferentes vivências em que o fazer profissional
foi potencializado pela aproximação com a Psicologia sócio-
histórica e especialmente as produções de Vygotsky.
Na oportunidade, recordamos que a prática do Psicólogo
Escolar Educacional (PEE) perpassa por uma variedade de
saberes e de intervenções cujo cerne é o desenvolvimento global
e saudável de toda a comunidade escolar. Dessa maneira, a
atuação do PEE não é dirigida exclusivamente ao contexto de
ensino-aprendizagem, mas também se volta ao contexto de
inserção social, cultural e política de todos os sujeitos deste
espaço.
Consideramos relevante apontar que a perspectiva
vigotskiana para a Educação, e mais especificamente, para a
Psicologia Escolar e Educacional refere-se na sua apreciação
sobre a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, em
que defende o posicionamento de que o desenvolvimento é
tracionado pela aprendizagem. Dessa maneira, a pedagogia
criaria processos de aprendizagem capazes de conduzir o
desenvolvimento, até mesmo em aspectos em que ainda
não estão plenamente formados, mas que se encontram na
emergência de se instaurar; a esta condição Vigotski delimitaria
o que define como zona de desenvolvimento proximal ou
iminente (PRESTES,2010; VIGOTSKI, 2009/1998).
Outro ponto seria o que Vigotski postula sobre o ensino de
crianças normais e também de crianças com desenvolvimento
Metodologia
204 Ana Gabriela Nunes Fernandes • Algeless Milka Pereira Meireles da Silva
compreensão da atividade desenvolvidas por elas. A análise das
entrevistas foi realizada com base nos Núcleos de Significação.
Os núcleos constituídos possibilitaram análise dos motivos para
escolha e permanência na docência; as relações entre formação
docente e prática pedagógica constituídas pelas professoras e
o movimento de apropriação e objetivação dos conteúdos da
Psicologia da Educação.
No que confere aos dados sobre a aprendizagem de
estudantes mediadas pelas TDIC, as reflexões apresentadas
no presente trabalho partem de dados coletados junto a
24 estudantes universitários por meio de entrevistas em
profundidade sobre suas experiências subjetivas de aprendizagem
mediadas pelas TDIC. As entrevistas foram conduzidas por
meio de videoconferência, utilizando o software Skype, com
áudio gravado através do software Apowersoft. Os dados foram
analisados e categorizados com o apoio do software Atlas.Ti.
as reflexões que constam no presente trabalho não abordam
os dados da pesquisa em sua totalidade (SILVA, 2017), tendo
em vista que nos interessa, nesse momento, apenas parte dos
resultados gerais em que se reúnem elementos das construções
narrativas das experiências que evidenciam os papéis exercidos
pelo contexto sociocultural, a atividade mediada por artefatos
e a interação social.
Em relação às contribuições de Vygotsky no fazer do
psicólogo educacional e escolar, as reflexões estão pautados
em relatos da experiência da autora, em que foi possível alinhar
os dados produzidos com a abordagem qualitativa. A escolha
pela abordagem qualitativa, ocorreu em razão de, assim como
Esteban (2010), compreendermos esta abordagem em sua
potencialidade para a compreensão em profundidade dos
fenômenos educativos e sociais bem como das transformações
inerentes às práticas e cenários socioeducativos.
206 Ana Gabriela Nunes Fernandes • Algeless Milka Pereira Meireles da Silva
modo particular, sair do imediato, ao constatarem inicialmente
a distância entre formação e prática e, gradualmente,
produzirem as relações entre essas e, com isso, negam os
sentidos produzidos em um primeiro momento sobre essa
relação e produzem novos modos de entender esse processo,
que, por sua vez, orientam a relação estabelecida entre conceitos
apropriados e as objetivações na prática. Elas avançam da
aparência em relação às significações sobre a relação teoria e
prática e chegam à essência na elaboração de sentidos sobre
como o processo formativo pode contribuir com a prática. É
importante ressaltarmos na análise das práticas das professoras
que estas começam a ter essa consciência acerca da relação
teoria e prática ainda no início da carreira, o que pode sugerir
um desenvolvimento da prática de modo mais consciente e
comprometido com o potencial de transformação dos sujeitos,
mediado pelas ações da docência na Educação infantil.
No que diz respeito ao estudo conduzido acerca da
aprendizagem mediada pelas TDIC, as construções narrativas
das experiências de estudantes universitários evidenciam
os papéis exercidos pelo contexto sociocultural, a atividade
mediada por artefatos e a interação social.
Em relação ao contexto sociocultural, podemos observar
uma diversidade de contextos em que se dão as experiências
subjetivas de aprendizagem e, nesse âmbito, dois aspectos
chamam particularmente a atenção. O primeiro diz respeito ao
fato de que nos contextos formais de educação mencionados
pelos estudantes (em geral, a escola ou a universidade)
ocorrem aprendizagens relevantes das mais diversas ordens,
não necessariamente sobre conteúdos acadêmicos. O segundo
refere-se ao fato de que os estudantes também relatam outros
contextos de atividade, especialmente os mediados pelas TDIC,
para aprender conteúdos acadêmicos, como grupos de estudo
com amigos, entornos virtuais de aprendizagem, entre outros.
208 Ana Gabriela Nunes Fernandes • Algeless Milka Pereira Meireles da Silva
narrar suas experiências, que historicamente, têm sido pouco
abordadas nos estudos conduzidos no âmbito da psicologia da
educação.
Do ponto de vista da atuação profissional do psicólogo
no contexto educacional, nossa apreciação pauta-se no
entendimento de Vygotsky acerca do desenvolvimento,
enquanto processo dialético, que conta sim com a passagem
de um estágio a outro, em que ocorrem transformações
revolucionárias. Para ele, períodos estáveis se alternam,
a outros períodos, entendidos como de crise, apontados
como pontos críticos e de viragem no desenvolvimento. O
compartilhar desta visão de desenvolvimento proposta por
Vygotsky, ocorre pelo notório diferencial do pensamento deste
em relação a outras perspectivas teóricas em Psicologia que
postulam sobre a ocorrência de mudanças de um estágio para
outro, mas compreendem o desenvolvimento de modo rígido
e fragmentado. Nesse sentido, a utilização deste referencial
possibilita ao PEE intervenções que respeitam o desenvolvimento
integral dos educandos.
A literatura especializada aponta a importância da
inserção do Psicólogo Escolar e Educacional na Educação
Infantil, sublinhando que trabalho deste, encontra-se permeado
por questões relacionadas ao desenvolvimento integral da
criança, abrangendo as distintas dimensões em que este ocorre
como por exemplo, a cognitiva, a afetiva e motora e social
(VOKOY; PEDROZA, 2005; CFP,2013). Certamente, pelo que
vivenciamos, este referencial teórico dá suporte satisfatório a
atuação deste psicólogo em um espaço tão complexo como a
Educação Infantil assim como em outros níveis da Educação
Básica.
Referências
210 Ana Gabriela Nunes Fernandes • Algeless Milka Pereira Meireles da Silva
communities. British Educational Research Journal, 39(1),
60-72, 2013.
212 Ana Gabriela Nunes Fernandes • Algeless Milka Pereira Meireles da Silva
GÓMEZ, D. A. D.; SILVA, A. M. P. M. Enseñar y aprender en el
marco de la nueva ecología del aprendizaje: la influencia de las
TIC en las prácticas docentes. In: NEGREIROS, F.; BACELAR,
A.; SILVA, A. M. P. M. (Orgs.) Educação e sociedade:
construtos histórico-culturais (182-196). Teresina: EDUFPI,
2016, p. 243-259.
214 Ana Gabriela Nunes Fernandes • Algeless Milka Pereira Meireles da Silva
FORMAÇÃO DOCENTE E OS
DESAFIOS POSTOS PELA PRÁTICA
DO PROFESSOR
A
educação é ação intencional, consciente e com
função social, visando que os indivíduos se
apropriem do conjunto da produção humana que
medeia sua relação com o meio. As diferenças residem no nível de
exigência da educação escolarizada para os diferentes membros
de dada sociedade quando sua constituição é alicerçada na
desigualdade social, implicando numa educação para ricos e
noutra educação para pobres. E, como a função é social, isso
gera contradição que cria conflitos e engendra movimentos de
luta em prol de que todos os indivíduos, independente de classe
social, tenham uma educação humanizadora e emancipatória.
Referências
E
ste artigo discute as práticas de ensino considerando
as dimensões pedagógicas, didáticas e científicas,
tendo como perspectiva sua atuação na educação
básica e suas necessidades formativas. Os estudos trazem
para a discussão a Didática, o Estágio Supervisionado e os
fundamentos teóricos e metodológicos fundamentais na
interpretação das práticas de ensino tendo como princípio
a criticidade. A relevância do trabalho é por permitir uma
visão comparativa e específica da experiência de formação da
Universidade do Brasil e de Portugal.
Referências
ORGANIZAÇÃO
258
AUTORE(A)S
260
de habilidades; ensino de História; dimensão subjetiva da
realidade; aprendizagem e desenvolvimento humano. Correio
Eletrônico: tonhabm@yahoo.com.br
262
de Avaliação (CPA) do Centro Universitário de Ciências e
Tecnologia do Maranhão (UNIFACEMA). E-mail: eudeilane@
gmail.com
264
Psicologia (Psicologia Social) pela Universidade Federal da
Paraíba (1986) e doutorado em Sciences de Leducation -
Université de Paris V (Sorbonne) (1997). Pós-doutorado em
Psicologia da Educação na Université Paul Valéry - Montpellier
3 (2016-2017). Atua nos Programas de Pós-graduação em
Educação e no de Educação Matemática e Tecnológica. Foi
diretora do Centro de Educação de 2000 a 2003. No período
de novembro de 2003 a novembro de 2007 assumiu o cargo de
Pró-reitora para Assuntos Acadêmicos da UFPE e de fevereiro
de 2008 a janeiro de 2011 foi Presidente da COVEST/COPSET,
Comissão de Vestibular e Processos Seletivos da UFPE-UFRPE.
Tem experiência nas áreas de Psicologia e de Educação com
ênfase em Educação Matemática, atuando principalmente nos
seguintes temas: formação de professor, representações sociais
e processos de ensino-aprendizagem, de maneira particular na
área de matemática.
266
professora assistente da Universidade Estadual do Maranhão.
Tem experiência na área de Educação, com ênfase em
Educação Infantil, atuando principalmente nos seguintes
temas: infância, criança, educação infantil, aprendizagem,
educação e prática pedagógica. Endereço: CV: http://lattes.
cnpq.br/0599843301988368.