Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Pró-Reitoria de Graduação
Centro de Educação
Curso de Graduação a Distância de Educação Especial
EDUCAÇÃO E
MOVIMENTO
HUMANO
5º Semestre
1ªEdição, 2005
Elaboração do Conteúdo Direitos Autorais
Profª. Luciana Erina Palma (Direitos Autorais | Núcleo de Inovação e de
Profª. Marcia Gonzalez Feijó Almeida Transferência Técnológica | UFSM)
Professores Pesquisadores (Conteúdistas)
Projeto de Ilustração
Daniela Ana Agnolin (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Acadêmica Colaboradora
Prof. André Krusser Dalmazzo
Desenvolvimento Coordenação
das Normas de Redação Vinícius de Sá Menezes
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk Técnico
Profa. Luciana Pellin Mielniczuk
(Curso de Comunicação Social | Jornalismo) Fotografias da Capa e Miolo
Coordenação (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Profa. Maria Medianeira Padoin Prof. Paulo Eugenio Kuhlmann
Professora Pesquisadora Colaboradora Coordenação
Danúbia Matos
Iuri Lammel Marques Projeto Gráfico, Diagramação
Acadêmicos Colaboradores e Produção Gráfica
(Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Revisão Pedagógica e de Estilo Prof. Volnei Antonio Matté
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk Coordenação
Profa. Eunice Maria Mussoi
Profa. Eliana da Costa Pereira de Menezes Clarissa Felkl Prevedello
Profa. Cleidi Lovatto Pires Técnica
Bruna Lora
Profa. Maria Medianeira Padoin
Borin da Silva
Comissão
Acadêmicos Colaboradores
Revisão Textual Impressão
(Curso de Letras | Português)
Gráfica e Editora Pallotti
Profa. Ceres Helena Ziegler Bevilaqua
Coordenação
Marta Azzolin
Acadêmicas Colaboradoras
Ministério da Educação
Fernando Haddad
Ministro da Educação
UNIDADE A
MOVIMENTO HUMANO 07
1. Conceituações 09
2. Movimento humano e desenvolvimento humano 10
3. O movimento na educação psicomotora 11
UNIDADE B
FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO 13
1. Percepção corporal 15
2. Tônus e descontração muscular 16
3. Equilíbrio e postura 17
4. Lateralização 18
5. Coordenação motora 20
6. Orientação espaço-temporal 22
UNIDADE C
ESQUEMA E IMAGEM CORPORAL E SUAS CONOTAÇÕES 25
1. Desenvolvimento do esquema e da imagem corporal 27
2. Déficit do esquema e da imagem corporal 30
3. Implicações educacionais 33
UNIDADE D
ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA E APLICAÇÕES PRÁTICAS DE ATITUDES
NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 35
1. Levantamento da realidade 36
2. Elaboração e organização de atividades 37
3. Educação pelos movimentos corporais em diferentes atividades 38
REFERÊNCIAS
Referências Bibliográficas 40
Sugestões de Leituras Complementares 40
Sugestões de Filmes 41
4
Apresentação
da Disciplina
EDUCAÇÃO E
MOVIMENTO
HUMANO
5º Semestre
MOVIMENTO
HUMANO
Objetivo da Unidade
Reconhecer as concepções e conceituações do
movimento sob a perspectiva do desenvolvimento
humano, como também sua importância na ação
humana.
7
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Introdução
A primeira infância (idade pré-escolar) é O ser humano nasce com deficiências. Para
considerada por muitos estudiosos a fase mais conseguir sobreviver, necessita de cuidados por
importante na formação do ser humano. Isso, um período de tempo muito maior que os
porque a instituição infantil é um espaço onde animais. Ele necessita ser educado (FREIRE,
se dão as relações éticas e morais que 1983).
permeiam a sociedade. E esta inserção não se
dá apenas por capacidades cognitivas, mas
também pela corporeidade vivenciada. "Há lugares onde habitam os pensamentos?
No corpo estão introjetados a representação Se houver... serão lugares em que nosso
do "ser" no mundo, seus valores, suas normas corpo entenda de muitas relações. Penso
de vida. "Olhar" o corpo no decorrer da unidade nas relações que tecem fios entre pessoas,
"corpo" será entender esse como sentido objetos e símbolos; relações de sentidos.
humano, ou seja, um corpo que senti, pensa e Sim. Através de nossos corpos compreen-
age no mundo, e aprende com este dedores a gente vai se ver, possuídos pelas
(GONÇALVES, 1994). palavras, pelos objetos e pelos símbolos"
(TAVEIRA apud MORAIS, 1986 p. 51).
8
UNIDADE A
1 Conceituações
A visão dicotomizada e fragmentada de corpo/ são resultado de uma totalidade de seu corpo.
mente que tem se visto no cotidiano da vida e, Seu corpo não pode ser secundarizado em
principalmente, na escola, tem levado a beneficio da mente. Corpo e movimento
conseqüências negativas no âmbito do humano não podem ficar cerceados somente
conhecimento do educando e na nossa pela mera repetições de exercícios cognitivos,
sociedade. Com isso, queremos dizer que os motores ou um mero momento de
alunos não podem ser considerados como divertimento.
mentes que vão à escola, esquecendo que eles
9
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
2 Movimento humano e
desenvolvimento humano
Na teoria de Buytendijk (apud TREBELS, 1992), se, com isso, sua relação com o mundo. Sentido,
o movimento humano deve observar os nesse caso, seria a intenção que se dá a uma
seguintes pontos de referência: movimento é ação e significado estaria ligado a função desta
uma ação de um sujeito (ator); movimento é intenção.
uma ação vinculada a uma determinada situação "O movimento humano é um diálogo entre
concreta e movimento é uma ação relacionada homem e mundo" (TREBELS, 1992), sendo
a um sentido/significado. Este autor afirma, assim, o movimento humano é visto de forma
Se-movimenta: Deve também, que o ser humano que "se-movimenta relacional, onde o movimento se constitui nas
ser entendido como o
homem sendo sujeito adquire uma forma de compreensão do mundo relações entre o sujeito e o mundo, onde fatores
de seu movimento,
capaz de sentir, pela ação". Devendo ser visto como um "diálogo internos e externos interagem determinando as
construir e determinar entre homem e o mundo". possibilidades e os limites da ação de
suas ações através da
sua compreensão de Dessa forma, devemos ver o homem que movimento, constituindo uma totalidade que
mundo conforme as
relações que nelas vão se-movimenta como um ser no mundo, rico só pode resultar deste processo dialógico
ocorrendo.
em intencionalidade, intencionalidade que dá estabelecido.
sentido/significado às ações humanas, dando-
10
UNIDADE A
3 O movimento na
educação psicomotora
Segundo Fonseca (1996), a educação Assim, o corpo é psicosomático, psicocognitivo,
psicomotora visa privilegiar a qualidade da psiquiátrico, somato-analítico, psico neurológico
relação afetiva, a mediatização, a e psicoterapêutico.
disponibilidade tônica, a segurança gravitacional Podemos considerar, então, que as crianças,
e o controle postural, à noção do corpo, sua através das funções psicomotoras, mediam com
lateralização e direcionalidade, e a planificação o seu corpo o mundo em que vivem de forma
práxica, enquanto componentes essenciais e harmônica. Portanto, confirmamos a
globais da aprendizagem e do seu ato mental importância do desenvolvimento psicomotor no
concomitante. O corpo e a motricidade são contexto escolar.
abordados como unidade e totalidade do ser.
11
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
12
UNIDADE
DESENVOLVIMENTO
DE HABILIDADES
MOTORAS E
IMPLICAÇÕES
EDUCACIONAIS
Objetivo da Unidade
Conhecer as diferentes funções psicomotomoras e
relacioná-las as práticas educativas durante o
desenvolvimento das habilidades no contexto
escolar.
13
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Introdução
Segundo Negrine (2002), as funções motrizes) e a relacional, de ordem subjetiva
psicomotoras têm enfoques funcionais e (afetividade, sociabilidade, entre outros),
relacionais. No caso funcional, se estabeleceria culminando num cunho educativo.
como o aspecto biológico (competências
14
UNIDADE B
1 Percepção corporal
Entende-se pela consciência do próprio corpo, seja em estado de repouso, seja em estado de
de suas partes, das suas posturas e atitudes, movimento.
Figura B.1: Tomar consciência do corpo passando por todas as partes (cabeça, pés, braços...).
15
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
2 Tônus e
descontração muscular
Tônus é uma tensão ligeira e permanente do o esquema corporal. É um ato motor voluntário
músculo esquelético em repouso. Está intima- que implica em controle do tônus muscular e
mente relacionada às flutuações emocionais, tendo sua base nas primeiras experiências
constituindo um indicador da personalidade. É sensório-motoras.
um dos elementos fundamentais que compõe
3 Equilíbrio e postura
É a capacidade para assumir e sustentar estímulos. Ex.: como me sinto me movendo
qualquer posição do corpo contra a lei da (contração, relaxamento, sensação de prazer ou
gravidade. dor, outros).
- Impressões labirínticas (controle
Fatores que influenciam no labiríntico): perda do controle do labirinto.
equilíbrio:
- Impressões táteis (tato): exercícios de Tipos de equilíbrio:
toque corporal "em objetos, no corpo do -Dinâmico (durante o movimento).
colega". -Estático (em determinada postura).
- Impressões sinestésicas (sensações do -Recuperado (pára uma determinada
corpo): os sentidos do corpo com diferentes postura, depois de uma ação).
As atividades que favorecem o equilíbrio sobre si mesmo, bem como a coordenação das
corporal são, paralelamente, uma educação do ações num controle postural que não se pode
esquema corporal e uma investigação diante desenvolver, organizar e estruturar-se senão
dos objetos. Essas atividades ampliam reflexões através da ação vivida.
17
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
4 Lateralização
Lateralidade: é a predominância de um dos vai determinar se o indivíduo será destro ou
hemisférios cerebrais sobre o outro (ao nível sinistro. Se o hemisfério esquerdo é o
de força e precisão) que, através do cruzamento predominante, o indivíduo é destro e vice-versa.
dos feixes neuromotores em nível do bulbo, A lateralidade se diferencia da direcionalidade.
Figura B.5: Comandar a elevação dos braços esquerdo e direito ou os dois simultaneamente.
19
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
5 Coordenação motora
A coordenação motora é mais ou menos A coordenação dinâmica global envolve
instintiva e ligada ao desenvolvimento físico. movimentos amplos (cabeça, braços, pernas,
Entendida como a união harmoniosa de pés, tornozelos, quadris, etc.) e, desse modo,
movimentos, a coordenação supõe integridade coloca grupos musculares diferentes em ação
do sistema nervoso. simultânea, com vistas à execução de
A coordenação pode ser dividida em: movimentos voluntários mais ou menos
a) Coordenação global ou geral complexos.
Figura B.6: Saltar sobre o primeiro e segundo elástico, depois gire trocando o lado, saltando novamente.
20
UNIDADE B
Figura B.7: Lançar argola para o alto e tentar acertar a mão entre a argola.
6 Orientação
espaço-temporal
Faz parte da orientação adquirida a partir da ou em movimento. Exercícios de organização e
elaboração de percepção de espaço estrutural estruturação espacial: deslocando um objeto no
do mundo exterior, primeiramente em espaço, a criança coloca um objeto ora de
referência a si mesmo (eu referencial), depois frente, ora de atrás, ora a direita, e depois à
a outros objetos ou pessoas, em posição estática esquerda, conforme o comando do professor.
23
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
24
UNIDADE
ESQUEMA E
IMAGEM
CORPORAL E SUAS
CONOTAÇÕES
Objetivo da Unidade
Conceituar e compreender a relação esquema e
imagem corporal.
25
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Introdução
1 Desenvolvimento do
esquema e da imagem corporal
O esquema corporal é uma aquisição lenta e movimento humano na vida de um ser humano.
continua. Começa desde antes do nascimento Uma criança dos 3 aos 7 anos vai
e se desenvolve de forma notável até o terceiro progressivamente adquirindo consciência de si
ano de vida. Depois disso, continua em per- mesmo. É a fase onde termina de afinar sua
manente evolução pelo resto da existência do lateralidade. Já dos 7 aos 11 anos a criança deve
ser humano. Se estrutura sobre a base dos com- ser capaz de representar mentalmente o corpo
ponentes neurológicos em desenvolvimento e em movimento.
maturação onde se ligam fundamentalmente, Segundo Maturana (2004),
as percepções exteroceptivas, proprioceptivas Percepções
A imagem corporal é a figuração do próprio proprioceptivas: vem
e interoceptivas que permitem estabelecer, em dos músculos, tendões,
corpo formada e estruturada na mente do
articulações, informan-
um momento inicial a consciência sobre mesmo indivíduo, ou seja, a maneira pela do os estados de con-
qual o corpo se apresenta para si próprio. É tração e relaxamento.
localização espacial e a capacidade de imaginar
o conjunto de sensações sinestésicas
uma parte do corpo, em uma determinada ação construídas pelos sentidos (audição, visão, Percepções
interoceptivas:
(FONSECA,1996). tato, paladar), oriundos de experiências
apontam estado visceral.
vivenciadas pelo individuo, onde o referido
O esquema do corpo se processa através cria um referencial do seu corpo, para o seu Percepções
de experiências corporais de onde são obtidas corpo e para o outro, sobre o objeto exteroceptivas: atuam
elaborado. sobre a superfície
e percebidas, sentidos que informam a unidade corporal (tato,
cinestesia) informando
do corpo, ou seja, o que podemos chamar de sobre objetos externos.
esquema de nosso corpo. Podemos dizer que A imagem corporal pode ser definida como
a imagem se dá de maneira tridimensional, que a visão do nosso corpo que produzimos em
todo sujeito tem do seu próprio corpo, ou seja, nossa mente (SCHILDER, 1999). A imagem A Imagem Corporal se
desenvolve desde o
o movimento tridimensional (para cima e para corporal é definida como a representação nascimento até a morte,
dentro de uma estrutura
baixo, para frente e para trás, para os lados mental do próprio corpo. complexa e subjetiva,
esquerdos e direitos). Durante os anos pré-escolares a criança sofrendo modificações
que implicam na
Existem três grandes períodos de evolução desenvolve de forma acentuada o seu conceito construção contínua e
reconstrução incessante,
do esquema e imagem corporal: a respeito da imagem corporal. Com um resultante do
processamento de
Um bebê desde o nascimento até os três pensamento e uma linguagem mais abrangente, estímulos.
anos não diferencia o seu corpo do mundo, começa a reconhecer que a aparência das
seu esquema corporal se desenvolve a partir pessoas pode ser mais ou menos desejável e
do contato com outros corpos (mãe).Sua as diferenças de cor ou raça. Ela conhece o
percepção se desenvolve a partir da sua significado das palavras "bonito" e "feio" e
capacidade de locomoção e movimentação reflete sobre a opinião que os outros têm a
diferenciada. Vê-se, portanto, a importância do respeito de sua aparência.
27
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
A criança percebe seu próprio corpo por Quanto maior forem os estímulos e as
meio de todos os sentidos, estando o seu corpo possibilidades de novas experiências do recém
ocupando um espaço no ambiente em função nascido durante toda sua trajetória de vida, mais
do tempo, captando, assim, imagens, completa será a sua formação do esquema
recebendo sons, sentindo cheiros e sabores, dor corporal, principalmente, sob o ponto de vista
e calor, movimentando-se. O corpo é o seu psicomotor. As experiências corporais que
centro, o seu referencial, para si mesma, para determinam a imagem corporal corroboram para
o espaço que ocupa e na relação com o outro. a modelação de um esquema que refletirá na
O esquema corporal se constrói e se elabora adolescência e na vida adulta. Sua forma
no decorrer da evolução da criança, não tem poderá ser lapidada, porém, terá os elementos
nada a ver com a tomada de consciência da construção inicial preservados, apesar das
sucessiva de elementos distintos, os quais, como transformações ocorridas ao longo da vida.
num quebra-cabeça, iriam pouco a pouco se Estas noções que se desenvolvem priori-
encaixar uns aos outros para compor um corpo tariamente durante os primeiros meses de vida
completo a partir de um corpo desmembrado. extra-uterina, mas que se inicia durante a vida
O esquema corporal revela-se gradativamente intra-uterina, vão ocorrendo cada vez mais fáceis
à criança da mesma forma que uma fotografia e inconscientes pela repetição contínua e eficaz
revelada na câmara escura mostra-se pouco a de cada ato em questão, até chegar a automati-
pouco para o observador, tomando contorno, zação da resposta frente ao estímulo específico.
forma e coloração cada vez mais nítidos. A Liga-se sem associações ao estabelecimento
elaboração e o estabelecimento deste esquema dos reflexos em que as percepções sensoriais,
parecem ocorrer relativamente cedo, uma vez sensitivas e proprioceptivas se conjugam para
que a evolução está praticamente terminada gerar a excitação neuronal que, em nível central
por volta dos quatro ou cinco anos. Isto é, ao ou em nível da medula espinal, desencadeiam
lado da construção de um corpo 'objetivo', a motricidade requerida como resposta ao
estruturado e representado como um objeto estímulo percebido ou a uma ação gerada
físico, cujos limites podem ser traçados a conscientemente.
qualquer momento, existe uma experiência Ainda que pareça evidente, é necessário
precoce, global e inconsciente do esquema esclarecer que o esquema corporal se implanta
corporal, que vai pesar muito no e evolui, especial e especificamente, sobre a
desenvolvimento interior da imagem e da maturação do conjunto neuromúsculo-
representação de si mesmo. esquelético o qual se liga ao processo de ereção
A imagem corporal é continua e que leva o neonato através das etapas de
representativa do esquema postural e rastejar, engatinhar e dar os primeiros passos,
acompanha o indivíduo desde o seu nascimento até ao total domínio da marcha e orientação,
até o último suspiro, sofrendo adaptações e as quais é suportado pelo eixo axial que está
transformações globais de acordo com o localizado na coluna vertebral.
momento vivido. A imagem corporal do bebê amadurece aos
28
UNIDADE C
poucos na medida em que ele experimenta o Ela passa então da "imagem do corpo fragmen-
toque, a exploração do espaço, a manipulação tado à compreensão da unidade de seu corpo
e contato com os objetos. A idéia de separação como um todo organizado" (MATARUNA, 2004;
de seu corpo de outros corpos e objetos se dá AJURIAGUERRA, 1987; LE BOULCH, 1992).
gradativamente (LE BOULCH, 1982). Krueger (1990) ressalva a importância da
Krueger (1968) e Piaget (1945) concordam imagem corporal não ser limitada a imagens
que a percepção da existência do corpo próprio, visuais, mas como fruto da absorção de
individual, se dá por volta dos 18 meses. Le experiências vividas. A imagem corporal nunca
Boulch (1982) aponta que Lacan, após Wallon, é estática. Ela muda de ação para ação
enfatiza a grande importância da "fase do (FELDENKRAIS, 1977; SCHILDER, 1999). "De
espelho", quando a criança vê sua imagem início, quando a imagem está sendo estabe-
projetada no espelho, olha por trás do mesmo lecida, sua taxa de mudança é alta; novas formas
[...]. Até então, a imagem de seu corpo de ação que, apenas um dia antes, estavam
encontra-se incompleta, fragmentada. A imagem além da capacidade da criança, são rapidamente
do todo acontece quando ela se vê no espelho. conseguidas" (FELDENKRAIS, 1977, p. 28).
29
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
2 Déficit do esquema
e da imagem corporal
Baseados na unidade B, distinguiremos os e atraso da organização motora (AJURIAGUERRA,
transtornos ocasionados por déficit de imagens 1980).
do corpo durante o desenvolvimento do Exemplos:
esquema corporal. Falta de coordenação, dificuldades em
movimentos utilitários, como vestir, lavar, comer.
Conceituações Afeta a história da criança e pode, por isso,
Praxia - movimento para um fim em andamen- acarretar o isolamento, sentimentos de rejeição,
to, uma seqüência espaço-temporal organizada. provocando uma menor participação de
A elaboração das praxias compreende uma atividades em grupo, dificuldades de comunica-
evolução paralela a do desenvolvimento motor, se e de socializar-se.entre outras.
intelectual e afetivo. A desorganização do movimento é um
As dificuldades escolares dependem da sintoma evidente da falta de sintonia entre as
hierarquia da experiência em que os verdadeiros estruturas sensoriais e perceptivas e as
alicerces estão na organização da lateralidade estruturas simbólicas e conceituais.
e organização das praxias. A dispraxia, a desorganização da imagem do
Apraxia - incapacidade de organizar e corpo, as alterações da lateralização da imagem
planificar um movimento intencional. do corpo e as alterações da lateralidade são os
Dispraxia - relacionada a problemas de primeiros sinais indicativos de uma futura
eficiência motora e perturbação da organização dificuldade escolar.
cerebral. Depende não só dos aspectos Dispraxias de construção - lateralização
neurológicos (esquema corporal, lateralidade, mal definida.
ritmo, grafia, orientação e representação Estabelece:
espacial) como também da própria escola - Dificuldades de cópia de figuras geomé-
(metodologias, relação professor-aluno, etc...). tricas ou de estruturas espaço-temporais.
A dispraxia reflete uma insuficiência do - Dificuldades na imitação de gestos.
desenvolvimento do pensamento espacial, bem - Desorganização conjunta do esquema cor-
como, inclui também uma desorganização global poral e do espaço operativo.
do comportamento, associada à dificuldade de Dispraxias espaciais - desorganização do
utilização e conservação da informação. gesto, do esquema corporal e das relações com
o espaço.
Aspectos clínicos da dispraxia Exemplo:
Dispraxia das realizações motoras - - Perturbação na seqüência elementar dos
problemas do esquema corporal com "déficit" movimentos e na ordenação dos movimentos
30
UNIDADE C
mais complexos, como seguir orientações ou Uma má laterização pode provocar inversões
instruções. e omissões ou confusões que impedem de uma
- Dificuldades de utilização de alto e baixo criança chegar a um nível de leitura desejável.
e de esquerda e direita. Ex.: Troca de letras.
- Dificuldades de se vestir ou em calçar os Disgrafia - É um transtorno específico da
sapatos. escrita: a criança apresenta um nível de escrita
- Não há relação entre partes do corpo e significante inferior ao esperado para sua idade
sua nomeação verbal e o desenho do corpo e curso escolar, e isto influencia negativamente
tornam-se difícil de executar. nas aprendizagens escolares.
Os problemas mais freqüentes que se pode
Transtornos específicos do observar são: inversão de sílabas; omissão de
desenvolvimento letras; escrever letras em espelho; escrita com
Dislexia - Nas crianças com dislexias há uma separações incorretas. Este problema esta A Motricidade Humana
deve dirigir um ensino
grande dificuldade para distinguir as letras ou intimamente ligado à leitura. para crianças reais e
grupo de letras, assim como sua ordem e ritmo Atraso psicomotor - Neste caso destacam- não ideais, que
sentem, que correm,
dentro de uma palavra e/ ou uma frase. se: que fazem barulho,
que são bondosas e
As crianças mostram grande dificuldade para - Dificuldades em todas as áreas psico- amorosas, com
disfunções ou
realizar com sucesso a aprendizagem da leitura, motoras;
"normais". Que
apresentando um nível de leitura - Conseqüências negativas no resultado das pedagogia se dirige a
essas crianças?
significativamente inferior ao esperado para a aprendizagens escolares.
idade ou o curso escolar.
A dislexia afeta o resto de aprendizagens. O Transtornos da
comportamento da criança disléxica será afetado aprendizagem escolar
pelo seu problema de comunicação. Realizar Déficit de atenção com hiperatividade - Este
qualquer tarefa lhe supõe um desperdício de é um transtorno dos mais examinados e
energia. Move-se com insegurança, acha difícil sondados. É mais freqüente em meninos que
de pegar um lápis, ser localizado na frente de em meninas, na maioria dos casos. Aparece
um papel em branco... antes dos 4 anos, freqüentemente só se chega
Causas - Basicamente, giram ao redor dos a detectar quando a criança inicia a fase escolar.
itens listados abaixo: Esse transtorno leva a criança ao fracasso
- Má lateralização. escolar, gerado por transtorno de compor-
- Desorientação espaço-temporal. tamento, que podem ser:
- Problemas de percepção. - Inquietude. Ex.: movimentação de mãos e
- Alterações em sua psicomotricidade pés incessantemente.
(esquema corporal, equilíbrio,...). - Distração, que dificulta a capacidade de
- Transtornos do tipo afetivo. concentração.
Obs.: E não se deve a nenhum defeito - Responde a estímulos antes mesmo que
visual, auditivo ou neurológico. este seja acabado.
31
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
- Interrompe atividades dos outros colegas. muitas vezes, não assimilou os objetivos desta
- Tem dificuldade de centrar a atenção na etapa, isto cria problemas futuros de aprendiza-
informação que está sendo proposta, isto "não gem ainda mais complexos. Ex.: Já tinha
quer dizer que não entenda". dificuldade e recebe uma informação mais
- Muda com freqüência as tarefas, deixando- complexa, não conseguindo assim acompanhar
as inacabadas. o raciocínio sob diferentes áreas do conheci-
- Descuida-se dos materiais e trabalhos mento.
O Transtorno escolares, pois age de forma impulsiva e A depressão infantil, caso de deficiência
Depressivo Infantil é desorganizada. orgânica, podem também atrasar a aprendiza-
um transtorno do
humor capaz de As causas que podem acarretar esse gem. Podemos ter o exemplo de uma criança
comprometer o
desenvolvimento da transtorno, geralmente são associadas a fatores que sempre teve um bom rendimento escolar,
criança ou do
adolescente e interferir
que predispõem, como família desestruturada, e de uma hora para outra se mostra apática,
com seu processo de acontecimentos psicológicos marcados por mal triste, inibida. Estes são sintomas que o
maturidade psicológica
e social. São diferentes estar e que trazem sentimentos negativos a sua professor deve estar sempre atento ao
as manifestações da
depressão infantil e formação. comportamento do aluno. Nestes casos o
dos adultos,
Quando realmente é detectado este professor deve avisar aos responsáveis que
possivelmente devido
ao processo de transtorno, o médico pediatra, se necessário, deverão encaminhar a um especialista em
desenvolvimento que
existem na infância e orienta para um tratamento farmacológico. É psicologia infantil, para que seja tratada de onde
adolescência. http://
gballone.sites.uol.com.br/
bom lembrar que medicação sem terapia acaba provém esse sintoma. Os problemas de
infantil/depinfantil.html ajudando somente por um período de tempo aprendizagem se tornam, então, não o centro
e os sintomas reaparecem. A terapia e a da deficiência, mas sim sintomas de transtorno
farmacologia devem ser utilizadas paralelamen- orgânico muito mais preocupante.
te, informando os pais e professores sobre a
criança e as maneiras de trabalhar em conjunto Repercussões dos déficits
para que haja bons resultados. Geralmente, aparecem como problemas de
atitudes e de rendimento.São eles: atenção;
Transtornos Psicopedagógicos memória, raciocínio verbal, raciocínio abstrato,
Às vezes, as crianças, conseguem terminar o raciocínio numérico. Estes problemas devem-
nível escolar ao qual está submetida, mas, se a falta de atenção e de concentração.
32
UNIDADE C
3 Implicações educacionais
Segundo Papalia (2000), as crianças são familiar. Essas experiências se unem a um
afetadas pelas suas experiências na escola em universo maior, mais amplo a cultura da vida, e Ver mais em:
Influência do
todos os seus aspectos, sejam eles, cognitivos, este conjunto de experiências influenciam o
desempenho escolar.
físicos, emocionais e afetivos, assim como as desempenho escolar. Papalia (2000, p. 268 a
272)
características de vida que trazem de seu âmbito
33
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
34
UNIDADE
ORGANIZAÇÃO
PEDAGÓGICA E
APLICAÇÕES PRÁTICAS DE
ATITUDES NA EDUCAÇÃO
INFANTIL E ANOS INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Objetivo da Unidade
Após o estudo das unidades anteriores, podemos,
agora, possibilitar e concretizar vivências práticas
através do conteúdo trabalhado nesta disciplina.
Para isso, descreveremos alguns passos, exemplos e
procedimentos que ajudaram a construir práticas
educativas para além do aspecto motriz.
35
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
1 Levantamento
da realidade
Investigar e refletir as possibilidades afetivas, - Freqüência dos alunos;
sociais dos alunos, assim como os materiais que - Nível de reprovação;
a escola dispõe para a realização de atividades - Verificar o número alunos especiais na sala;
de movimentos (jogos, brincadeiras, entre - Verificar o histórico da turma;
outros). - Verificar a faixa etária.
2º) Instrumentos de pesquisa:
Identificando a classe - Entrevistas;
1º) Levantamento do rendimento das - Diários de campo;
turmas: - Observações das aulas.
36
UNIDADE D
2 Elaboração e
organização das atividades
As sessões da aula podem ser desenvolvidas Definir uma temática - contextualizar a
através de jogos, treinamentos adaptados e atividade através de jogos ou brincadeiras. Leia mais sobre o
assunto em: Educação
atividades isoladas (SOLER, 2005). Conteúdo a ser trabalhado - conhecimen-
Física Inclusiva na
Jogos recreativos usando diferentes to a ser explorado durante o tempo de aula. Escola: em busca de
uma escola plural.
atividades de movimento são formas de educar Seleção de atividades de movimento - que Reinaldo Soler. Sprint,
2005. O livro se
a criança sobre o aspecto moral. É de suma colaborem a fim de atingir os objetivos do encontra disponível no
importância para o entrosamento das crianças, conteúdo vivenciado. acervo do pólo.
37
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
3 Educação pelos
movimentos corporais
em diferentes atividades
Várias atividades escolares têm como base uma 6. Correr em cima de formas geométricas.
adequada aquisição do esquema corporal, e por 7. Em dupla passar entre as pernas do
conseqüência, uma boa evolução na aquisição companheiro.
da imagem corporal. 8. Quadrupediar.
As atividades devem ser sempre escolhidas 9. Sair do aro e entrar com o corpo dentro
de acordo com o objetivo das habilidades a do aro.
serem vivenciadas. 10. Dance comigo - Está descrita abaixo.
Material: aparelho de som, um boné ou
Diferentes atividades chapéu.
1. Fechar os olhos e imaginar o próprio Disposição: Todos em círculos, dançando ao
corpo, logo após executar um movimento visua- som da música com um boné na mão.
lizando esta imagem. Pensar no que esta atrás, Desenvolvimento: Quando o facilitador
à frente, à direita, à esquerda.Pensar em todo colocar o boné na cabeça de alguém, este sai
o conjunto que rodeia o seu corpo (individual). dançando de um jeito especial para o centro
2. Saltar e transpor obstáculos. do círculo e todos os participantes imitam.
3. Girar no ar para diferentes direções. Passado algum tempo, ele tira o boné de suas
4. Caminhar sobre cordas. cabeças e escolhe outro para prosseguir o jogo.
5. Saltitar entre círculos desenhados no O jogo termina quando todos vivenciarem a
chão. atividade.
38
UNIDADE D
39
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Referências
Referências Bibliográficas FREIRE, Paulo. Educação como prática da
ed. -Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. do futuro. São Paulo: Cortez ; Brasília: UNESCO,2001.
busca de uma escola plural - Rio Janeiro: Sprint, 2005. infantil. Porto Alegre: Prodil,1994.
AJURIAGUERRA, J. Manual de psiquiatria infantil. Construtivas da Psique. São Paulo: Martins Fontes,
Brasil: Masson,198O. 1999.
40
REFERÊNCIAS
Sites
www.sobama.org.br
http://www.efdeportes.com/
41
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
42
A N OTA Ç Õ E S
43
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
44
A N OTA Ç Õ E S
45
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
46
A N OTA Ç Õ E S
47
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
48