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Universidade Federal de Santa Maria

Pró-Reitoria de Graduação
Centro de Educação
Curso de Graduação a Distância de Educação Especial

METODOLOGIA
DO ENSINO
DA LÍNGUA
PORTUGUESA II
5º Semestre

1ªEdição, 2005
Elaboração do Conteúdo Direitos Autorais
Profª. Ana Cláudia Pavão Siluk (Direitos Autorais | Núcleo de Inovação e de
Profa. Jane Dalla Corte Monari Transferência Técnológica | UFSM)
Professoras Pesquisadoras (Conteudistas)
Projeto de Ilustração
Marta Azzolin (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Acadêmica Colaboradora
Prof. André Krusser Dalmazzo
Desenvolvimento Coordenação
das Normas de Redação Paulo César Cipolatt de Oliveira
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk Técnico
Profa. Luciana Pellin Mielniczuk
(Curso de Comunicação Social | Jornalismo) Fotografia da Capa
Coordenação Fotografias retiradas do
Profa. Maria Medianeira Padoin Banco de Imagens STOCK.XCHNG
Professora Pesquisadora Colaboradora
Danúbia Matos
Iuri Lammel Marques Projeto Gráfico, Diagramação
Acadêmicos Colaboradores e Produção Gráfica
(Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Revisão Pedagógica e de Estilo Prof. Volnei Antonio Matté
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk Coordenação
Profa. Cleidi Lovatto Pires Clarissa Felkl Prevedello
Profa. Eliana da Costa Pereira de Menezes Técnica
Profa. Eunice Maria Mussoi Bruna Lora
Comissão Borin da Silva
Acadêmicos Colaboradores
Revisão Textual
(Curso de Letras | Português) Impressão
Profa. Ceres Helena Ziegler Bevilaqua Gráfica e Editora Pallotti
Coordenação
Marta Azzolin
Acadêmica Colaboradora

* o texto produzido é de inteira responsabilidade do(s) autor(es).

S585m Siluk, Ana Cláudia Pavão


Metodologia do ensino da língua portuguesa II : 5º semestre / [elaboração do
conteúdo profa. Ana Cláudia Pavão Siluk, profa. Jane Dalla Corte Monari, Marta
Azzolin ; revisão pedagógica e de estilo profa. Ana Cláudia Pavão Siluk... [et al.]].- 1.
ed. - Santa Maria, Universidade Federal de Santa Maria, Pró-Reitoria de Graduação,
Centro de Educação, Curso de Graduação a Distância de Educação Especial, 2005.
48 p. : il. ; 30 cm.

1. Língua portuguesa 2. Ensino 3. Lingüísticat 4. Texto 5. Produção textual 6.


Leitura I. Monari, Jane Dalla Corte II. Azolin, Marta III. Universidade Federal de Santa
Maria. Pró-Reitoria de Graduação.
Centro de Educação. Curso de Graduação a Distância de
Educação Especial. IV. Título.

CDU: 806.90:37

Ficha catalográfica elaborada por


Maristela Eckhardt CRB-10/737
Biblioteca Central - UFSM
Presidente da República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministério da Educação
Fernando Haddad
Ministro da Educação

Prof. Ronaldo Mota


Secretário de Educação a Distância

Profa. Cláudia Pereira Dutra


Secretária de Educação Especial

Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Paulo Jorge Sarkis Coordenação da Graduação


Reitor a Distância em Educação Especial

Prof. Clóvis Silva Lima Prof. José Luiz Padilha Damilano


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Pró-Reitor de Planejamento Coordenadora Pedagógica e de Oferta

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Pró-Reitor de Graduação Coordenadora dos Pólos e Tutoria

Profa. Maria Medianeira Padoin Profa. Vera Lúcia Marostega


Coordenadora de Planejamento Acadêmico Coordenadora da Produção do Material do Curso
e de Educação a Distância

Prof. Alberi Vargas Coordenação Acadêmica do Projeto de


Pró-Reitor de Administração Produção do Material Didático - Edital MEC/
SEED 001/2004
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Diretor do CPD Profa. Maria Medianeira Padoin
Coordenadora
Profa. Maria Alcione Munhoz
Diretora do Centro de Educação Odone Denardin
Coordenador/Gestor Financeiro do Projeto
Prof. João Manoel Espinã Rossés
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Humanas Lígia Motta Reis
Assessora Técnica
Prof. Edemur Casanova
Diretor do Centro de Artes e Letras Genivaldo Gonçalves Pinto
Apoio Técnico

Prof. Luiz Antônio dos Santos Neto


Coordenador da Equipe Multidisciplinar de Apoio
Sumário
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 05

UNIDADE A
A PRÁTICA DE LEITURA DE TEXTOS: POSTURAS FRENTE AO TEXTO 07
1. Posturas frente ao texto 09

UNIDADE B
A PRÁTICA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS: TIPOLOGIA TEXTUAL 13
1. Texto literário 15
2. Texto jornalístico 17
3. Texto de informação científica 19
4. Texto instrucional 22
5. Textos epistolares 24
6. Texto humorístico 25
7. Texto publicitário 27

UNIDADE C
A PRÁTICA DA ANÁLISE LINGÜÍSTICA 29
1. A estrutura do texto 31
2. Morfo-sintaxe 37
3. Fonética e Fonologia 44

REFERÊNCIAS
Referências Bibliográficas 47

4
Apresentação
da Disciplina
METODOLOGIA
DO ENSINO
DA LÍNGUA
PORTUGUESA II
5º Semestre

A disciplina de Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa II


dá continuidade aos estudos realizados no semestre passado. Porém,
de modo mais dinâmico, pois propõe um trabalho mais voltado ao
estudo do texto e suas implicações na sala de aula. Traz, em um
primeiro momento, as práticas de leitura que revelam as intenções do
leitor e determinam sua postura diante do texto escolhido. Em
seguida, apresenta, além da prática de leitura propriamente dita, a
produção textual, caracterizando os diversos tipos de texto que
podem ser produzidos e, por fim, aborda a prática da análise
lingüística.
Compreendemos que é função da escola ensinar seus alunos a
realizar uma leitura crítica, em que eles sejam capazes de atribuir
sentido ao que lêem, distinguir contextos, funções, estilos, intenções,
argumentos, pontos de vista etc., para que se tornem leitores mais
competentes nas diferentes situações comunicativas, capazes de
compreender o mundo ao seu redor e agir de maneira crítica e
reflexiva.
Assim, para construir essas competências é preciso perseguir os
aspectos que dão sentido à presença dos alunos na escola e ao seu
aprendizado. Pois, à medida que se vive em um meio sobre o qual se
pode agir, discutir, decidir, realizar, avaliar junto com os outros, que
são criadas as condições mais favoráveis ao aprendizado.
Esta disciplina será desenvolvida com uma carga horária
de quarenta e cinco (45) horas/aula.
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6
UNIDADE

A PRÁTICA DE
LEITURA DE
TEXTOS: POSTURAS
FRENTE AO TEXTO

Objetivos da Unidade
- analisar criticamente a prática de leitura de textos nas
séries iniciais do ensino fundamental;
- reconhecer as diferentes posturas do leitor frente ao
texto.

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
Sabendo que o professor precisa fazer com que trabalho de leitura e escrita envolve um contato
a vida em sala de aula proporcione aos alunos com uma grande diversidade de gêneros, o
situações de leitura simultaneamente efetivas ensino de estratégias de compreensão leitora
e muito diversificadas, ajudando-os a interrogar e práticas de planejamento e revisão textual.
o escrito, procurando sentido, levantando Dessa maneira, estaremos formando leitores e
hipóteses a partir de indícios e verificando-as; escritores mais autônomos e competentes,
sabendo também que o professor precisa ajudar capazes de aprender a partir de textos, não im-
os alunos a elucidar suas próprias estratégias portando seu gênero, estrutura ou grau de difi-
de leitura, atribuindo uma função social ao ato culdade, comunicando-se de maneira mais eficaz.
de ler e escrever, ou seja, contex-tualizando Porém, essa visão que hoje temos da prática
essas atividades de forma que os alunos de leitura é bastante recente. Até então, havia
encontrem um motivo real e significativo para o ensino tradicional da língua materna, que pode
realizá-las, é que propomos essa unidade de ser caracterizado por seu feitio predominante-
estudo. Nela, o aluno vai compreender o que mente normativo e conceitual. Dizia respeito a
leva o leitor a buscar um texto e como se um tratamento privilegiado da forma que se
posiciona diante dele para que, em seguida, o faz visível na atenção especial dedicada à
professor possa compreender e atuar como ortografia, à produção e à sintaxe.
mediador dentro da sala de aula. Na década de 70 e sobretudo a partir dos
Em um trabalho com a leitura e a escrita é anos 80, a hegemonia dessa concepção formalista
preciso levar em conta alguns pressupostos bási- passou a ser contestada com o surgimento de
cos para desenvolver esses atos de forma com- teorias inspiradas no sociointeracionismo, na teoria
petente. Para isso, nenhuma tarefa deve ser da enunciação e do discurso e na lingüística do texto.
iniciada sem que se encontrem motivos para Segundo essas teorias, a prática lingüística
ela, ou seja, sem que esteja claro o seu sentido. seria uma forma de interação de sujeitos, e o
O aluno tem de saber o que deve fazer, isto é, texto, o resultado dessa interação. Assim, além
conhecer os objetivos que se pretende alcançar das formas lingüísticas, passam a ser estudadas,
Revise no caderno de com sua atuação. com interesse crescente, as relações entre essas
Metodologia do Ensino
Os objetivos dos leitores/escritores em formas e seu contexto de uso, suas condições
da Língua Portuguesa I
para recordar essas relação aos textos podem ser variados e estão de produção e o processo mental de todos
teorias.
relacionados com a diversidade de textos a que esses elementos pelos sujeitos falantes. Desse
tiverem acesso. A escolha feita pelos alunos modo, o ensino da linguagem - antes conceitual
parte, em um primeiro momento, de uma res- e normativo - passa a ser centrado no uso e no
posta a uma necessidade pessoal. De acordo com funcionamento da língua enquanto sistema
o seu objetivo é que serão lidos ou escritos os textos. simbólico, situado em um contexto
Para desenvolver essas competências, um sóciohistórico determinado.
8
UNIDADE A

1 Posturas frente ao texto


Quando se propõe a uma prática de leitura, o
leitor estabelece uma relação com o texto Busca de informação
posicionando-se de acordo com o propósito que
o levou a essa prática. Segundo Geraldi (1999), Nessa prática, o leitor tem o objetivo de recolher
cada uma dessas possíveis posturas diante do do texto - de jornais, revistas, livros científicos
texto pode-se denominar: e até mesmo literários - uma informação que
1. Busca de informação; venha suprir sua necessidade. Lê-se para buscar
2. Estudo do texto; informação, para investigar, para descobrir o
3. Texto-pretexto; avesso do que transparece.
4. Fruição do texto.

Figura A.1: A busca por informação

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Ele pode ter um roteiro previamente


elaborado ou não. Isso quer dizer que, de
acordo com Geraldi (1999), o texto é lido para
responder perguntas estabelecidas previamente,
ou apenas para verificar quais informações estão
contidas nele. Segundo o autor, ainda é possível
constatar mais duas funções desse modo de
leitura, isto é, extrair informações superficiais
ou de níveis mais profundos do texto. Um apro-
fundamento corresponde a arrolar elementos
que não dependem apenas da leitura, mas da
relação que o leitor estabelece com outros
textos e com seu conhecimento de mundo.
Figura A.2: O estudo do texto

Estudo do texto
Texto-pretexto
Trata-se de uma prática muito comum e, de
acordo com Geraldi (1999), a mais utilizada O texto-pretexto é aquele que é usado como
em sala de aula. Faz com que o leitor posicione- pretexto para uma outra atividade. Isso significa
se como um pesquisador que explora e dizer que o professor - ou o próprio aluno -
identifica o ponto de vista, a tese defendida, pode utilizar um texto apresentado como um
os argumentos apresentados em favor dessa motivo para desencadear um outro exercício.
tese, os contra-argumentos, e a coerência entre Escrever uma carta, por exemplo, a fim de de-
eles. Vale lembrar que a prática de leitura estudo senvolver o processo argumentativo, ou fazer
do texto não se aplica apenas a textos uma dramatização de um texto estudado em
dissertativos, mas também a narrativas quando aula, uma ilustração, produção de outros textos,
A fim de complementar se faz análise de personagem, espaço, tempo, enfim, uma multiplicidade de novas atividades
seus estudos
recomendamos a etc. Trata-se de um estudo detalhado e o leitor que podem ser criadas a partir de um texto-
leitura do texto de Lívia decidirá o nível a que pretende chegar, sabendo chave.
Suassuna: "A leitura
extraclasse: que pode assumir uma postura crítica e criativa
necessidade e
possibilidades", na sua função de receptor/leitor do discurso.
disponível no
endereço: http://
Lê-se para discordar e contra-argumentar.
www.proext.ufpe.br/
cadernos/educacao/
leitura.htm

10
UNIDADE A

Figura A.3: O texto como pretexto de outra atividade

para o sucesso de qualquer esforço honesto


Fruição do texto de "incentivo à leitura."
Na fruição do texto, o leitor lê por paixão,
Essa prática de leitura, de acordo com Geraldi por sede, por prazer, por necessidade pessoal
(1999, p. 98), é a menos comum no âmbito e intelectual, por deleite, para dialogar a
escolar. Trata-se do "ler por ler, gratuitamente." distância com aquele que respondeu É importante lembrar
que há diversas formas
Segundo ele, "o que define esse tipo de antecipadamente às suas interrogações, de acessibilidade para
interlocução é o "desinteresse pelo controle do inquietações e dúvidas, para reafirmar propósitos a leitura que são
oferecidas aos alunos
resultado." Significa ler por prazer, e crenças ou, ainda, para guardar esperanças, com necessidades
educacionais especiais.
simplesmente pelo gosto da leitura, sem para rir, para emocionar-se, para tranqüilizar-se, Para lembrar, reveja o
Livro Didático da
cobranças e sem pressões. Diz ainda, que é para encontrar afinidade com o desejo do outro, disciplina de
necessário "recuperar na escola e trazer para para chamar o sono e atrair belos sonhos, para Informática na
Educação.
dentro dela o que dela se exclui por princípio - passar o tempo e relaxar os nervos, dentre
o prazer." Trata o texto como "o ponto básico outras coisas.
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Leia o capítulo:
"Políticas de leitura
acessível", o qual
aborda a questão da
acessibilidade do livro
e os formatos
disponíveis para
atender às
necessidades de
pessoas cegas e de
baixa visão. Este
capítulo faz parte da
obra publicada em
2006, pela Fundação
Biblioteca Nacional,
intitulada "Linhas de
ação para a política
nacional do livro".
Disponível em: http://
www.vivaleitura.com.br/
pnll/images/
diretrizes_v5.pdf

Figura A.4: O prazer pela leitura

A partir do estudo dos quatro tipos de


posturas frente ao texto, elabore uma
atividade que valorize as posturas
apresentadas e que considere a realidade
dos alunos com necessidades educacionais
especiais. Disponibilize sua produção no
ambiente virtual, de acordo com
orientações do professor da disciplina.

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UNIDADE

A PRÁTICA DE
LEITURA E PRODUÇÃO
DE TEXTOS:
TIPOLOGIA TEXTUAL

Objetivos da Unidade
Ao fim dessa unidade esperamos que o aluno seja
capaz de:
- reconhecer a diversidade da produção textual;
- produzir textos de acordo com a tipologia
esperada.

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
Tendo em vista que o processo de ensino e texto conhecidos e que podem ser trabalhados
aprendizagem tem preconizado a leitura de em sala de aula, para estimular e melhorar a
textos que estejam diretamente ligados ao nível qualidade do ensino.
pragmático do aluno, a fim de que seja melhor Assim, esta unidade apresenta o texto
aproveitada a aprendizagem, faz-se necessário literário, jornalístico, científico, instrucional,
que compreendamos os diferentes tipos de epistolares, humorístico e publicitário.

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UNIDADE B

1 Texto literário
A produção literária de texto preconiza o sentido contribuindo para o entrelaçamento da trama
estético, plurissignificativo e de intenso e estabelecendo entre essas ações uma relação
dinamismo do texto, possibilitando a criação de de causa. No conto, as descrições são mais
novas relações de sentido. Tem como base o limitadas, já que se trata de uma narrativa curta.
predomínio da função poética da linguagem. A A novela, de modo semelhante ao conto, é
produção de um texto literário implica a um texto literário, porém tem um número maior
valorização da forma, a reflexão sobre o real, a de complicações, pode ser mais extensa e pode
reconstrução da linguagem, a plurissignificação ter maior número de descrições que
- que procura não deixar nada explícito para enriquecem a construção dos personagens. Aqui
que o leitor participe da construção do sentido as ações secundárias podem se sobressair e
- e a intangibilidade da organização lingüística, alcançar lugar de destaque de modo que
muitas vezes transgredindo as regras a fim de possam também ser convertidas em novas
dar vazão à imaginação e fantasia do autor. narrativas.
Isso nada mais é do que um cuidado especial A obra teatral é produzida para ser
com a forma, visando a exploração de recursos representada e é em cena que ela atinge o seu
que o sistema lingüístico oferece, nos planos propósito. Constitui-se de diálogos ou não, pois
fônico, prosódico, léxico, morfo-sintático e podem ser utilizados monólogos.
semântico. Para o ensino e aprendizado de Língua
Portuguesa, os textos literários são materiais
muito ricos, pois não se limitam a aspectos
estruturais da língua. Tais textos também
Pesquise o significado da expressão em difundem a cultura de um povo, favorecem o
destaque que se encontra na seguinte frase: desenvolvimento de uma visão crítica nos
" visando a exploração de recursos que o alunos devido a elementos característicos da
sistema lingüístico oferece, nos planos literatura, como a subjetividade e a
fônico, prosódico, léxico, morfo-sintático ambigüidade, que estimulam discussões e
e semântico. permitem diversas interpretações para o texto.
Aguarde orientações do professor da Portanto, são fundamentais por proporcionarem
disciplina para disponibilizar o material no uma gama de alternativas de trabalho ao
ambiente virtual. professor e despertarem o interesse dos alunos
pela cultura, enquanto desenvolvem
naturalmente a compreensão leitora, a
Pode-se destacar o conto, a novela, a obra produção oral e escrita.
teatral e o poema. O primeiro é uma narrativa É importante ressaltar que um texto não se
curta que possui ações centrais e periféricas, resume à soma das palavras que o compõem.
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Deve-se valorizar a tipologia de cada texto e discursivas - para que as idéias do texto sejam
suas especificidades, as experiências pessoais compreendidas pelos aprendizes. A leitura,
dos alunos e seus conhecimentos de mundo portanto, constitui-se de um processo interativo
associados a sua bagagem lingüística - como ente o autor, o mundo e o aluno.
léxico, regras gramaticais, particularidades

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UNIDADE B

2 Texto jornalístico
Nos textos jornalísticos, predomina a função escreve, pode utilizar-se de expressões que
informativa da linguagem, ou seja, eles abordam manifestem sua incerteza, como: parece, não
os fatos atuais mais relevantes. Tratam dos mais está descartado que. É bom que a notícia
variados temas em diferentes partes do mundo responda as seguintes perguntas: Quê? Quem?
e, porque têm caráter de relatar a atualidade, Como? Quando? Por quê e Para quem?
possuem uma vida efêmera, duram o tempo
da informação, naquela data. Podem ser - os artigos de opinião -
reunidos em diferentes grupos que trazem Diferente da notícia, um artigo de opinião busca
notícias nacionais, internacionais, locais, sociais, argumentar, expor uma idéia acerca de um fato.
econômicas, culturais, esportivas, bem como Para isso, vale-se de comentários, avaliações,
espetáculos e entretenimento. muitas vezes de acusações claras, ironias,
As seções mais comuns aos textos jornalísti- insinuações, digressões, apelações à
cos são: sensibilidade. Trata-se da posição ideológica do
autor, que o leitor não pode deixar de
- as notícias - compreender, a fim de que se tenha uma boa
São, segundo Kaufman e Rodrigues (1995, interpretação daquilo que o emissor pretende
p.26) "unidades informativas completas", pois comunicar.
contêm os dados necessários para que o leitor
compreenda a informação. Isso quer dizer que - reportagem -
você não precisa ler outro texto para A reportagem está inserida no texto jornalístico
compreender uma notícia; ela traz a informação e procura informar sobre determinado tema
pronta e completa a fim de inteirar o leitor do baseando-se no testemunho de uma figura-
ocorrido. Muitas vezes, uma notícia inicia do chave. Inicia com uma breve apresentação
mais geral e vai para o mais específico, isso se dessa figura e, com perguntas breves e concisas,
pode chamar de técnica da "pirâmide invertida". passa-se a divulgar o ponto de vista do
A notícia pode ser dividida em três partes entrevistado.
facilmente identificáveis: o título - que sintetiza
o tema central e procura atrair o leitor - a - entrevista -
introdução - bem sucinta - e o desenvolvimento. Aborda um tema atual, já que se trata de um
Uma notícia é redigida em terceira pessoa e o texto jornalístico, e, diferente da reportagem,
redator precisa manter-se à margem daquilo não se limita a um jogo de pergunta/resposta
que escreve a fim de que não venha influenciar breves dentro de uma trama conversacional,
o leitor. Além de ser objetiva, a notícia deve mas permite comentários e descrições sobre o
ser centrada na veracidade dos fatos. Caso o entrevistado, podendo ser feita transcrição de
jornalista não consiga comprovar aquilo que apenas algumas partes do diálogo.
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Para revisar esse


conteúdo, você pode
pesquisar no Livro
didático da disciplina
Produção midiática para
a educação, do
primeiro semestre.

Figura B.1: O texto jornalístico

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UNIDADE B

3 Texto de informação científica


O texto de informação científica possui algumas A nota enciclopédica diferencia-se da
características peculiares, pois existem alguns definição porque é mais ampla e mais expansiva,
princípios que são indispensáveis à redação trazendo comentários, descrições, temas
científica. Eles podem ser resumidos em quatro derivados. Procura, não apenas definir, mas
pontos fundamentais: clareza, precisão, também informar de forma concisa e precisa,
comunicabilidade e consistência. Um texto é preconizando, desse modo, o caráter do discurso
claro quando não deixa margem a científico.
interpretações diferentes daquela que o autor Ainda falando do texto de informação
quer comunicar e quando vai ao ponto sem científica, é possível trazer como exemplo o
rodeios. Uma linguagem muito rebuscada que relato de experimentos. Esse tipo de texto é
utiliza termos desnecessários desvia a atenção elaborado, como o próprio nome já diz, para
de quem lê e pode confundir trazendo descrever uma experiência. Em um primeiro
ambigüidade. Nos vocábulos utilizados em momento, o autor tem uma dúvida acerca de
textos de informação científica, em geral não algo. Cria então condições para simular a
se pode ver multiplicidade de significado e, situação que pretende estudar e, através da
quando isso acontece, são atribuídas definições observação, extrai suas conclusões, as quais
para especificar o que se quer dizer. serão relatadas detalhadamente na forma de
Como exemplos de textos de informação texto científico.
científica tem-se a definição, a nota Para finalizar os exemplos, será apontada a
enciclopédica, o relato de experimentos e a monografia, tipo de texto de informação
monografia. científica que privilegia a análise e a crítica. A
A definição expande o significado de um monografia exige uma seleção rigorosa e uma
termo, determina de forma clara e precisa as organização coerente dos dados que são
características gerais ou que diferenciam o escolhidos pelo autor em diferentes fontes.
objeto/termo a que se refere. É o caso das Segundo Kaufman e Rodrigues (1995, p.32),
definições incluídas nos dicionários, que é necessário que seja determinado o tema no
apresentam os traços essenciais para estabelecer primeiro parágrafo para que o leitor possa
diferença entre um termo e outro, ou entre o contribuir com seus conhecimentos prévios e
mesmo termo em diferentes situações. antecipar as informações que espera encontrar,
Exemplo: jornal - definição: do Lat. Diurnale formulando hipóteses e criando expectativas
s. m., salário; paga de cada dia de trabalho; jorna; que guiarão sua leitura. Após a escolha do tema,
relação quotidiana dos acontecimentos; o autor irá buscar fontes que tratem do mesmo
publicação periódica que relata acontecimentos assunto, selecionará aquelas que melhor lhe
considerados dignos e evidência e divulgação, parecerem e fará resumos dessas obras, os quais
em um ou diversos domínios; gazeta diária servirão de fundamento para sua análise ou
19
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

crítica. Ele tem de tomar o cuidado de citar as em um discurso direto os dois pontos indicam
fontes nas Referências Bibliográficas, seguindo onde iniciam as palavras do autor e as aspas
as normas para a apresentação da bibliografia. confirmam esse início e indicam o final,
Para tecer o texto da monografia, o autor precisa portanto, é necessário seu uso.
utilizar a intertextualidade, que consiste em
incorporar textos de outros autores naquele que Discurso indireto
se está produzindo. Isso pode ser feito através Nesse tipo de discurso, também se relata o que
do discurso direto ou indireto. o outro disse, porém em vez de escrever tal e
qual, usando aspas e dois pontos, ajusta-se a
Discurso direto citação ao corpo do texto utilizando conectores.
É aquele que é incorporado ao texto sem Então, a mesma citação utilizada no discurso
modificação alguma, por exemplo, Manuel direto anteriormente fica dessa forma quando
Bonfim diz: "De modo geral, os defeitos da utilizamos o indireto: Manuel Bonfim disse que,
linguagem só se corrigem na reforma do de modo geral, os defeitos da linguagem só
pensamento." Não se pode esquecer de que se corrigem na reforma do pensamento.

Figura B.2: Tipos de discurso

A monografia ainda pode simplesmente (1995, p.33), "justificar uma opinião ou validar
apresentar diferentes pontos de vista sobre um uma hipótese" e, então, é necessário que as
assunto, de acordo com o critério estabelecido fontes sejam confiáveis e que haja consistência
pelo autor e nesse caso são comuns os verbos e coerência entre os argumentos, os fatos e a
dizer, expressar, declarar, afirmar, opinar, etc., conclusão.
já que se vai trabalhar com intertexto. Pode
também, conforme Kaufman e Rodrigues
20
UNIDADE B

A biografia Relato histórico


Ttrata-se da narração da vida de alguém feita É uma narração de fatos que aconteceram no
por outra(s) pessoa(s) e chama-se de passado, primando pela linguagem objetiva e
autobiografia, quando o autor conta sua própria fazendo com que os fatos falem por si a fim de
vida. Na biografia, os dados são ordenados dar o efeito de realidade ao relato. Nesse tipo
cronologicamente e é necessário que estejam de texto, os conteúdos podem ser confrontados
presentes os recursos lingüísticos que asseguram com outras fontes para comprovar a veracidade
a conectividade temporal, por exemplo o uso do que o autor apresenta. No relato histórico,
de depois, primeiro, em seguida, etc. e o narrador é que seleciona os fatos que vai
proposições temporais, ou seja, orações narrar e assim sua marca fica na narrativa, por
subordinadas adverbiais temporais, como: mais impessoal que pretenda ser.
Quando você foi embora, fiquei muito triste.

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4 Texto instrucional
Os textos instrucionais são aqueles que nos dão a parafina num lugar frio e compare a cor.
instruções, passo a passo, para a realização de 3. Unte a fôrma com a vaselina para a
alguma atividade, por exemplo, a montagem parafina não grudar. Coloque a vela no meio.
de algum objeto, a execução de um jogo, uma Se a vela for maior do que a fôrma, com uma
receita, etc. Ainda se enquadram aqui os faca corte as laterais com cuidado de não cortar
regulamentos, estatutos, contratos, instruções. o pavio junto. É importante que a vela seja
Por isso, por indicar pistas ao leitor, todos, menor que a fôrma.
independente de sua complexidade, 4. Preencha os espaços restantes com o
compartilham da função apelativa que é gelo.
centrada no receptor. 5. Pegue a parafina quente e ponha na
Ex.: Como fazer vela com gelo fôrma. Deixe por alguns minutos até o gelo
derreter.
Passo a passo: 6. Depois disso, desenforme em cima de
1. Separe o material necessário: uma bacia com água.
- 1 quilo de parafina em lentilha (já tem a Atenção: cuidado com a parafina, sempre a
estearina); derreta em fogo baixo e fique em ambiente
- 1 vela piloto 7 dias (é para fixar melhor, ventilado. Se começar a fazer fumaça, desligue
dependendo da fôrma, serve vela normal, desde o fogo, pois quer dizer que ela está quente
que seja da mesma cor da parafina); demais.
- Vaselina líquida; Fonte: Revista Boa Idéia, n° 452, 2005.
- Cubos de gelo (no formato que desejar,
pode ser gelo picado); Como você pode perceber, o texto
- Fôrma para vela de 10 ou 15 cm (o instrucional dá orientações precisas para a
importante é que caiba a vela dentro e seja produção da vela com gelo. Observe que a
fechada no fundo); receita é dividida em dois momentos. No
- Corantes na cor da vela de 7 dias (Caso primeiro, há uma lista dos elementos que serão
não queira tingir, escolha uma vela de 7 dias utilizados na produção da vela e no outro são
branca); desenvolvidas as instruções para a realização
- Panela esmaltada; de certas ações (corte as laterais com cuidado
- Essência (se quiser); de não cortar o pavio junto). O texto dialoga
2. Na panela esmaltada, derreta a parafina diretamente com o leitor, indicando as direções
em fogo baixo. Coloque o corante (se a vela ideais de suas ações a fim de obter o melhor
não for branca), algumas gotas de essência e resultado.
reserve. Para saber se a cor está de acordo com A presença de verbos no imperativo (derreta,
a vela de 7 dias, após colocar o corante pingue ponha, unte, coloque, corte, preencha, pegue,
22
UNIDADE B

deixe, desenforme, compare, pingue) e uma desde o mais complexo manual de instruções
chamada de atenção, ratificam a função até as dicas de montagem de um simples
apelativa da linguagem, demonstrada na brinquedo encontram-se classificados nesse
preocupação do autor com o receptor. Assim, tipo de texto.

Figura B.3: O texto como instrução

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5 Textos epistolares
São textos que procuram estabelecer relações solicitação.
por escrito com alguém que está ausente, trata- A carta é uma forma de relatar não apenas
se dos textos em forma de epístolas (cartas). fatos noticiosos, mas também sentimentais.
Aquele que envia denomina-se REMETENTE e Pode ser narrativa ou argumentativa e, através
o que recebe DESTINATÁRIO. O destinatário dela, o emissor pretende informar, falar de si
pode ser um amigo, parente, o gerente de uma ou inquirir informações do receptor,
Para saber mais sobre empresa, o diretor de uma escola, um conselho estabelecendo vínculos e/ou relacionamentos
como escrever cartas
formais, indicamos a
editorial, etc. Os textos epistolares têm uma (cartas amistosas nas quais há cumplicidade
seguinte bibliografia: estrutura específica, apresentando cabeçalho, entre ambas as partes num estilo mais informal
KASPARY, A . J.
Redação oficial: no qual encontra-se o local e a data da e linguagem mais subjetiva).
normas e modelos. 14.
ed. Porto Alegre : Edita, produção do texto, os dados do destinatário e A solicitação é direcionada a um receptor
1998.
a forma de tratamento utilizada para estabelecer que, nessa situação comunicativa, está
MARTINS, E. Manual
de redação e estilo. 3. o contato. Em seguida, tem-se o corpo da representando uma autoridade e possui algo
ed. ver. e ampl. São
Paulo : O Estado de mensagem, encerrando com a despedida do de valor para o emissor - um emprego, por
São Paulo, 1997.
MEDEIROS, J. B.
remetente. É bom lembrar que é o grau de exemplo. Aqui é utilizado o estilo mais formal
Correspondência: familiaridade no relacionamento entre emissor com fórmulas de cortesia que são padrão para
técnicas de
comunicação criativa. e receptor que designa a forma de tratamento esse tipo de situação. Podem ser redigidas em
12. ed. São Paulo :
Atlas, 1997 empregada em um texto epistolar (formal ou primeira ou terceira pessoa.
informal). Pode-se destacar a carta e a

24
UNIDADE B

6 Texto humorístico
Sua função principal é provocar o riso através Um dos mais conhecidos textos
de recursos que deformem personagens ou humorísticos são as piadas. Geralmente, elas
alterem a ordem natural dos acontecimentos, versam sobre temas socialmente controversos,
pois sintetizam, com bastante freqüência, uma onde é possível constatar manifestações
visão dos problemas sociais ou pessoais e culturais e ideológicas. A maioria delas veiculam
podem ser de mais fácil compreensão por o discurso dominante e são sobre: sexo, política,
interlocutores menos inteirados das situações racismo, loucura, morte, instituições (escola,
que esses textos representam. casamento, igreja, línguas, etc). Alguns teóricos
Caracterizam-se pela economia narrativa, afirmam que o papel do lingüista é explicar, não
com frases muito curtas, ambigüidade, poucos o porquê do humor, mas como acontece o
personagens, construídos com poucos traços, humor, ou seja, os lingüistas trabalham onde os
muitas vezes exagerados. Recorrem à linguagem outros se divertem, analisando e descrevendo
verbal e não-verbal e a símbolos icônicos para os fenômenos lingüísticos, envolvidos no
expressar sensações, ações e emoções. processo de criação e interpretação do texto
De acordo com Kaufman e Rodrigues (1995, que provoca o riso.
p.39), entre os textos humorísticos, podem-se Assim, é importante que o professor trabalhe
destacar as histórias em quadrinhos cômicas e também com esse gênero em sala de aula,
as historietas de humor. Na composição dos como uma das possibilidades de estudar a
personagens e na construção das histórias, o variação lingüística, que é um fenômeno
autor parte do jogo interacional entre os apaixonante, rico e, sobretudo, rendoso no que
personagens para produzir o humor e denunciar diz respeito a dados lingüísticos. Com a variação
ou criticar atuações ou comportamentos de podemos detectar problemas ligados ao
elementos da sociedade. Dessa forma, e preconceito e à discriminação, facilmente
construindo uma relação entre o esperado e o observáveis através da pronúncia, do léxico, e
não-esperado em termos de modelo social no da construção sintática, principalmente. A
jogo interativo entre os personagens, o autor dialetologia mostra que esses fenômenos
de tiras de quadrinhos proporciona a quebra podem ocorrer no nível espacial (Variação
na expectativa, que gera a graça e leva à crítica Geográfica), mostrando as diferentes classes
que pretende alcançar. Pode-se perceber então sociais (Variação Social), trabalhando com faixas
que é o desvio, lingüístico ou visual, que quebra de idades diferentes (Variação de Idade),
as expectativas de leitura, conferindo ao texto estabelecendo diferenças entre a fala da mulher
o seu caráter humorístico. e do homem (Variação de Sexo), entre outras
tantas.

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Figura B.4: O texto humorístico

A pronúncia diferente - Nível Fonológico - demonstrar que sua "diferença" social,


entre o urbano e o caipira (variação geográfica geralmente demonstrada pela linguagem que
e/ou social) estabelece o "gatilho" da piada: usa (padrão/não padrão), é superada pela sua
interpretar palavras de formas diferenciadas. esperteza, sua sabedoria.
Logo, "firme" não é o que poderia parecer óbvio Esses textos são ótimos para trabalhar em
(legal), mas uma variante de "filme", existente sala de aula, pois os alunos aprendem de forma
na fala dos caipiras, ou de pessoas sem divertida e diferente.
escolaridade. No caso do caipira é relevante

26
UNIDADE B

7 Texto publicitário
O texto publicitário é construído em função do cartazes, folhetos, outdoors, etc., de forma
ouvinte ou do leitor, e informam sobre algo narrativa, argumentativa, descritiva ou
que se vende com a intenção de criar no conversacional, através de imagens apenas ou
receptor o desejo, a necessidade de comprar. não, o que, no primeiro caso, amplia o sentido
Para que a propaganda possa melhor persuadir do texto.
o público, ela é geralmente formada por um Exemplo de texto publicitário: propaganda
texto cuidadosamente selecionado em seus publicada no jornal Zero Hora em março de
componentes lingüísticos e, na maioria das 2006.
vezes, em seus componentes visuais. Palavra e
imagem são fundamentais para a prática
persuasiva desse tipo de texto em que até o
verbal se faz imagem. Os atos discursivos
procuram não só informar, como também
modificar comportamentos. O sujeito
comunicante constrói assim sua mensagem
através de "estratégias" discursivas, o que
equivale dizer, baseando-se em Charaudeau
(1983), que comunicar é usar estratégias e
interpretar é saber reconhecê-las. Dessa forma,
além de uma competência lingüística, o sujeito
interpretante deve possuir uma competência
semântico-discursiva que lhe permite
depreender o sentido que emana de fatores
lingüísticos e extra lingüísticos.
O texto publicitário pode se apresentar como
anúncio que aparece em jornais, revistas,

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Dicas para melhorar Questões para você responder acerca dessa Considerando os alunos com necessidades
suas aulas:
- Use jogos educativos publicidade (lembre-se de que esse é um educacionais especiais, como você
nas suas aulas.
- Desenvolva atividades
exemplo que você pode utilizar em sala de elaboraria atividades que possam ser usadas
lúdicas com seus aula): como exercício em sala de aula,
alunos.
- Procure introduzir 1. Qual é a estratégia discursiva usada para envolvendo cada um dos tipos de textos
cada novo conteúdo de
forma diferente. chamar a atenção do leitor nessa estudados. Disponibilize no ambiente virtual
- Mude a disposição
propaganda? de acordo com orientações do professor
das cadeiras e mesas
na sala de aula. 2. Quais são os dois sentidos da pergunta da disciplina.
- Faça os alunos
participarem das aulas. "Sabia que nós ajudamos você a trocar as
- Troque de ambiente
e dê aula no pátio da
fraldas do seu bebê?"
escola, por exemplo. 3. Em que passagem do texto você
- Explore cartazes,
vídeos, filmes. compreende a "troca" no sentido que o
- Traga jornais e
revistas para a sala de autor quer colocar?
aula.
- Aproveite todo o
4. Qual a contribuição que a figura do bebê
ambiente escolar. traz à mensagem?
- Crie aulas diferentes
e divertidas. Disponibilize suas respostas no ambiente
- Elabore situações
problemas para os virtual, conforme orientações recebidas do
seus alunos professor.
resolverem.
- Busque auxílio nos
meios de comunicação.
- Troque experiências
com os colegas.
- Valorize as opiniões
de seus alunos.
- Peça sugestões aos
seus alunos quando for
preparar suas aulas.
- Faça trabalhos em
pequenos grupos ou
grupos sucessivos.
- Solicite uma avaliação
das suas aulas aos
seus alunos.
- Incentive e estimule a
aprendizagem dos seus
alunos.
- Deixe transparecer
que você acredita e
valoriza o seu trabalho.
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28
UNIDADE

A PRÁTICA DA
ANÁLISE
LINGÜÍSTICA

Objetivos da Unidade
- Oferecer subsídios teóricos e práticos para que se
possa realizar uma análise lingüística, adequada à
realidade dos alunos;
- re-conhecer a estrutura do texto, considerando
aspectos morfo-sintáticos e de fonética e fonologia.

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Introdução
A prática da análise lingüística é uma das prática da análise lingüística, considerando as
atividades mais presentes na sala de aula de partes que compõem a estrutura de um texto,
língua Portuguesa, isto porque toda e qualquer ou seja, introdução, desenvolvimento e
análise realizada, passa por um dos itens que a conclusão; aspectos morfo-sintáticos, que visa
compõem, ou seja, a estrutura textual, morfo- o ensino e desenvolvimento, no aluno, das
sintaxe e fonética e fonologia. É claro, que cada habilidades de compreensão, reflexão e
análise deve ser realizada levando-se em conta construção, e não o estabelecimento de
o nível de aprendizagem e aprofundamento que barreiras para seu desenvolvimento intelectual;
se queira proporcionar ao aluno. e fonética e fonologia, as quais estudam o
Portanto, nessa unidade, será estudada a mesmo objeto: a fala humana.

30
UNIDADE C

1 A estrutura do texto
O texto é composto basicamente de três partes: deles deve ser discutido em um parágrafo,
Introdução, desenvolvimento e conclusão. apenas em um, que deve ter introdução, e
A introdução deve conter a idéia principal a desenvolvimento.
ser desenvolvida, é a abertura do texto, por isso, Serafini (1998) apresenta as principais
considerada fundamental. Deve ser clara e características que devem estar presentes no
chamar a atenção para dois itens básicos: os desenvolvimento de um parágrafo: a afirmação,
objetivos do texto e o plano de que apresenta a idéia principal do parágrafo;
desenvolvimento. Contém a proposição do que contém os dados que apóiam a afirmação
tema, seus limites, o ângulo de análise e a e a garantia, que constitui a ligação entre a
hipótese ou a tese a ser defendida. afirmação e mostra a importância da informação
para apoiar a asserção. A autora dá o seguinte
Introdução exemplo: "Totó certamente pensa que estamos
A introdução deve apresentar a idéia principal loucos porque paramos o carro em pleno
a ser desenvolvida, é a abertura do texto, por campo. Corre e late agitadamente como se
isso, considerada importante. Deve ser clara e perguntasse se há algo errado"(SERAFINI, 1998,
chamar a atenção para dois itens básicos: os p. 57) .
objetivos do texto e o plano de Analisando este parágrafo, o modelo citado,
desenvolvimento. Deverá apresentar o tema, tem-se:
seus limites, o ângulo de análise e a hipótese Afirmação: Totó pensa que estamos loucos.
ou a tese a ser defendida. Atua como o roteiro Informação: corre e late agitadamente.
do texto, com recursos que despertem a sua Garantia: como se perguntasse se há algo
atenção. de errado.
Deve-se levar em conta a importância da
Desenvolvimento garantia para convencer o leitor sobre a
Esta parte do texto desenvolve idéias, conceitos afirmação, e persuadi-lo da veracidade da tese
e argumentos oriundos na introdução, e devem e relacionar as idéias de forma que o leitor não
ser apresentados de forma organizada. A se perca no desenvolver da sua historia.
exposição de elementos é que vai dar base à A ligação entre os parágrafos do desenvolvi-
idéia do texto e pode vir especificada através mento também deve ser considerada, a fim de
dos pormenores, da ilustração, da causa e da que não transformem o texto em uma
conseqüência, das definições, dos dados seqüência de parágrafos desconexos. Deve
estatísticos, da cronologia, da interrogação e da haver uma seqüência, onde um parágrafo
citação. No desenvolvimento, é onde se antecipa o que será dito no próximo parágrafo
discutem os argumentos que constituem a tese ou o resumo do que foi dito no parágrafo
a ser defendida. Recomenda-se que cada um anterior, preparando ou retomando, acrescen-
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tando aquilo que já foi dito, o que se vai dizer. entretanto, todavia, ao contrário, ao invés de,
Para que o aluno seja capaz de fazer este elo ainda que, por outro lado, etc.
de ligação entre um parágrafo e outro, são - Reafirmação ou resumo: em outras
necessários conhecimentos lingüísticos que palavras, em resumo, de fato, etc.
marcam, que estabelecem as relações de - Ligação espacial: ao lado, sobre, sob à
sentido no texto. esquerda, no meio, no fundo, etc.
Serafini (1998) apresenta uma relação de - Semelhança e ênfase: do esmo modo,
ligações lógicas e suas expressões de transição: igualmente, dessa forma, etc.
- Conseqüência, causa e efeito: portanto, - Adição: e, depois, além disso, também em
então, por isso, desse modo, etc. adição, etc.
- Exemplificação: por exemplo, isto é, como, - Conclusão: portanto, assim enfim, em
etc. resumo, concluindo, etc.
- Contraste e concessão: mas, porém,

Figura C.1: Os conectivos

Conclusão
Na conclusão retoma-se a idéia principal, que confirmação da hipótese ou da tese, acrescida
deve aparecer de forma convincente, uma vez da argumentação básica empregada no
que já foi fundamental durante o desenvolvimento. E um resumo do que foi dito
desenvolvimento do texto. De modo sintético, no desenvolvimento e expondo uma avaliação
concluí-se o objetivo proposto na introdução, a final sobre o assunto discursivo.
32
UNIDADE C

Figura C.2: Introdução, Desenvolvimento


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apreensão do texto em sua globalidade;


2. Leitura interpretativa - que visa à
descontextualização e recontextualização,
desenvolvendo:
2.1. Relações textuais
2.1.1. levantamento das idéias e argumen-
tos que o autor utiliza para defender sua posição;
2.1.2. levantamento dos operadores
lingüísticos da argumentação (nexos lingüísticos,
tempos e modos verbais, pronomes, advér-
bios,..) seleção vocabular, expressões lexicais,
repetições ou supressões, com vistas a perceber
a construção do texto, por meio das seqüências
que o estruturam.
2.1.3. explicitação dos implícitos no texto -
levantamento dos subentendidos, pressupostos
e inferências.
Figura C.3: Conclusão 2.2. Relações contextuais- determinação da
situação de produção e da situação sócio-
Sugestões de atividades política-econômica, do contexto histórico-
com textos dissertativos cultural e suas relações com o texto.
As sugestões de atividades práticas aqui 2.3. Relações intertextuais- relações esta-
apresentadas podem ser tomadas como roteiro, belecidas com outros textos e propiciadas pelo
constituindo um subsídio para o professor. contexto.
3. Leitura crítica - Visa em um processo de
Leitura síntese, estabelecer conclusões acerca da
Ao apresentar a leitura de textos dissertativos intencionalidade do texto. Isto permite ao leitor
que servem como suporte para a produção posicionar-se criticamente, tornando-o capaz de
textual, seguem-se alguns passos que servirão concordar, discordar, apresentar sugestões,
como sugestões para a realização da produção completando seu ciclo de leitura.
escrita: Os passos apresentados podem ser melhor
1. Leitura compreensiva - que visa à visualizados por meio da figura a seguir:

34
UNIDADE C

Figura C.4: Caminho metodológico - AHLERT (2000, p.29)

Sugestões de atividades de produção: 5- Contextualização, que é a fase de


1- Delimitação do tema, a partir dos produção do texto, vista sob o enfoque da forma
diferentes assuntos que foram objetos de (precisão e adequação vocabular, seleção de
produção de leitura e que concorreram para a operadores lingüísticos de argumentação,
constituição do referencial de idéias; estruturação frasal, clareza, correção e concisão)
2- Definição do posicionamento do aluno e do conteúdo (discursivo, análise, questiona-
frente ao tema; mento de idéias e postura crítica).
3- Levantamento e seleção de idéias e 6- Análise da produção textual, testando a
argumentos pertinentes para sustentá-los organização de idéias, a coerência dos
4- Organização dessas idéias em um argumentos e a coesão dos recursos formais
esquema, que se constitui no plano de texto a utilizados.
ser produzido;

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Figura C.5: Caminho metodológico 2 - AHLERT (2000, p .32)

36
UNIDADE C

2 Morfo-sintaxe
Desde o início da década de 80, quando foi de o desenvolvimento intelectual deles.
fato constatada a falência do sistema de ensino
de Língua Portuguesa na escola, o qual visava Aspectos gramaticais
primordialmente ao ensino da Gramática como De acordo com os PCNs (1999, p. 61), "é no A morfologia é a parte
da gramática que
um fim em si mesmo, tem-se buscado outras interior da situação de produção de texto,
estuda a palavra,
maneiras de formulação do conteúdo enquanto o escritor monitora a própria escrita quanto a sua estrutura
e formação, suas
programático dessa disciplina nas escolas de para assegurar sua adequação, coerência, coesão flexões e sua
classificação.
ensino Fundamental e Médio. e correção, que ganham utilidade os Sintaxe se ocupa do
A não funcionalidade do método tradicional conhecimentos sobre os aspectos gramaticais." modo como as palavras
são combinadas para
de ensino, no qual o professor de Língua Isso significa dizer que a gramática só tem uma compor sentenças.

Portuguesa colocava-se como aquele que função quando utilizada dentro de textos e da
dominava o conhecimento acerca do uso da escrita do aluno. Então por que se ensina
língua, revelou a necessidade da busca de novas separado? Com base naquela informação,
perspectivas pedagógicas. Isso porque a forma buscando resposta para essa pergunta e crendo
como se vinha ensinando foi, em grande parte, que o fato de que saber classes gramaticais e
responsável pelo surgimento da aversão, por analise sintática, não significa ser capaz de
parte do aluno, não só ao estudo e à leitura, construir bons textos, propõe-se um novo
mas também à própria Língua Portuguesa. Isso modelo de aprendizagem.
também contribuiu para a ineficiência do Nesse novo modelo, as terminologias são
ensino como um todo, pois as habilidades de menos cobradas no primeiro ciclo escolar. Elas
leitura e de escrita são pressupostos básicos são deixadas para o momento em que a criança
para o desenvolvimento da reflexão nas demais já está com um poder de abstração maior. Dessa
disciplinas curriculares. forma, procura-se ensinar o aluno a utilizar os
Há também que se considerar o preconceito conhecimentos que possui, pois são fontes de
lingüístico, que fez com que dialetos de menos conteúdos a serem trabalhados para ampliar o
prestígio fossem tratados como "errados", e o nível intelectual da criança. Assim, o trabalho
fato de desconsiderar a bagagem não só com a gramática propriamente dita, em termos
lingüística como cultural do aluno, promoveu morfológicos e sintáticos será abordado no
uma ruptura entre a escola e a realidade. momento em que o professor julgar necessário
Baseado nisso, essa parte da Unidade III tem e poderá ser elaborado a partir das produções
como objetivo apontar meios de ensinar a escritas dos alunos. O critério de importância
estrutura morfossintática da Língua Portuguesa. dos aspectos identificados como problemáticos
Esse ensino visa ao desenvolvimento, no aluno, - que precisam, portanto, ser ensinados em
das habilidades de compreensão, reflexão e primeira mão - deve ser composto pela
construção, e não a estabelecer barreiras para combinação de dois fatores: por um lado, o que
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pode contribuir para maior adequação e conhecimento. Em todos os tipos de texto, você
legibilidade dos textos e, por outro, a poderá ensinar as questões morfo-sintáticas. O
capacidade dos alunos em cada momento. grande desafio é que você tenha criatividade e
Para isso, é muito importante que o conhecimento teórico para tal. O professor
professor realmente conheça o nível intelectual deve conhecer/saber a gramática da Língua
de seus alunos, pois é a partir desse nível que Portuguesa, porém deve ensiná-la em doses
ele vai determinar os conteúdos que devem homeopáticas, e ninguém melhor do que você
ser trabalhados. Também é imprescindível que saberá o momento certo de aplicá-las. Lembre-
você professor tenha conhecimento vasto se de que seus alunos serão o reflexo daquilo
daquilo que está ensinando, pois, dessa forma, que você é.
poderá utilizar vários meios de transmitir esse

Breve bibliografia para


melhorar seus
conhecimentos em
morfologia e sintaxe:
CUNHA, Celso. CINTRA,
Lindley. Nova
Gramática do
Português
Contemporâneo. 3 ed.
Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001.
NEVES, Maria Helena
de Moura. Gramática
na Escola. São Paulo: Figura C.6: Diferenças lingüísticas regionais
Contexto, 1991.
BECHARA, Evanildo.
Moderna Gramática
Em relação à terminologia característica dos Para saber o que deve ou não ser ensinado, de
Portuguesa. São Paulo:
Nacional, 1980. termos gramaticais, é preciso considerar que, acordo com o PCN (1999), o professor deverá
LUFT, Celso Pedro.
Moderna Gramática embora seja necessária em momentos de ficar atento e abordar apenas os termos que
Brasileira. Rio de
Janeiro: Globo, 1981.
análise lingüística, não se deve sobrecarregar tenham realmente utilidade, a fim de trabalhar
os alunos com um palavreado sem função que os conteúdos e facilitar a comunicação nas
tradicionalmente tem sido ensinado, pois para atividades de reflexão sobre a língua, excluindo-
as crianças não há um fundamento lógico em se tudo o que for desnecessário, pois costuma
saber qual é o sujeito ou objeto numa oração. apenas confundir os alunos.

38
UNIDADE C

Na sala de aula
Por exemplo, torna-se necessário saber, nas O trabalho em sala de aula deve ser organizado
séries iniciais, o que é "proparoxítona", no de modo a garantir, segundo o PCN (1999,
fim de um processo em que os alunos, sob p.69), progressivamente, que os alunos sejam
orientação do professor, analisam e capazes de compreender o sentido nas
estabelecem regularidades na acentuação mensagens, sabendo atribuir significado e
de palavras e chegam à regra de que são identificando elementos relevantes segundo os
sempre acentuadas as palavras em que a propósitos e intenções do autor; lendo textos
sílaba tônica é a antepenúltima. Também dos gêneros previstos para esse período
é possível ensinar concordância sem educacional, combinando estratégias de
necessariamente falar em sujeito ou em decifração com estratégias de seleção,
verbo. (FONTE: Parâmetros Curriculares antecipação, inferência e verificação; utilizando
Nacionais, 1999, p.61). a linguagem oral eficientemente, sabendo
Entretanto, você deve tomar cuidado para adequá-la a intenções e situações comunicativas
não generalizar ou confundir essa orientação. que requeiram conversar num grupo, expressar
Ninguém está dizendo que NÃO é para sentimentos e opiniões, defender pontos de
ensinar fonética, morfologia ou sintaxe, mas vista, relatar acontecimentos e defender temas
apenas que elas precisam ser apresentadas estudados; participando de diferentes situações
à medida que se tornarem necessárias para de comunicação oral, acolhendo e
a reflexão sobre a língua e, para isso, considerando as opiniões alheias e respeitando
somente o professor saberá o momento os diferentes modos de falar; ainda produzindo
certo. textos escritos coesos e coerentes,
Em síntese: o professor precisa partir do considerando o leitor e o objeto da mensagem,
que os alunos já sabem acerca do que ele começando a identificar o gênero e o suporte
pretende ensinar para sanar as dificuldades que melhor atendem à intenção comunicativa;
apresentadas e melhorar, dessa forma, a escrevendo textos dos gêneros previstos para
capacidade de uso da língua. Com isso, as o ciclo, utilizando a escrita alfabética e
crianças irão se aprimorando preocupando-se com a forma ortográfica;
progressivamente e estarão, em considerando a necessidade das várias versões
determinado ponto, aptas a tomar conta de que a produção do texto escrito requer e
sua linguagem, fazendo a si mesmas as empenhando-se em produzi-las com ajuda do
correções necessárias. professor.
Lembre-se que você pode/deve trabalhar a
partir de textos dos alunos e de outros gêneros
que abordaremos mais adiante. Lembre-se
também de que não precisa ficar limitado em
levar textos de cartilha aos seus alunos. Eles
precisam conhecer e começar a encarar
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desafios intelectuais. Não os considere - quadrinhos, textos de jornais, revistas e


incapazes de compreender, mas crianças que suplementos infantis: títulos, lides, notícias,
estão em processo de construção de classificados, etc.; - são textos humorísticos e
conhecimento e precisam, para isso, entrar em de busca de informação que podem ser
contato com os mais diversos tipos de texto. O utilizados para ensinar a consultar fontes de
professor precisa lê-los demonstrando diferentes tipos (jornais, revistas);
entonação e ajudá-los a compreender nesse - anúncios, slogans, cartazes, folhetos - são
primeiro momento, apontando regras básicas textos publicitários que fazem parte do dia-a-
para a formação das palavras, frases, orações, dia da criança e como tais buscam persuadir o
períodos. Entretanto, chegará o tempo em que leitor. Textos publicitários são ótimas fontes para
eles farão a leitura do próprio ponto de vista e desenvolver a leitura crítica;
reconhecerão as normas que regem a Língua. - canções, poemas, quadrinhas, adivinhas,
Nunca se esqueça de que você está ensinado trava-línguas, piadas - são textos que divertem
a aprender e aprendendo a ensinar (em todos enquanto ensinam. O professor precisa estar
os momentos). atento e promover momentos de descontração
Para cumprir a tarefa de forma a alcançar dentro de sua aula, almejando com isso um
esses objetivos, você poderá usar gêneros melhor aprendizado para seus alunos;
adequados para o trabalho com a linguagem - contos (de fadas, de assombração, etc.),
escrita, alguns dos quais são apontados abaixo: mitos e lendas populares, folhetos de cordel,
- receitas, instruções de uso, listas - esse fábulas - são textos literários que estimulam o
tipo de texto chama-se texto instrucional e é gosto pela leitura e imprescindíveis dentro da
chamado assim porque dá instruções passo a organização do professor. Eles ampliam a visão
passo para executar uma tarefa. É excelente para do mundo e inserem o leitor na cultura letrada,
trabalhar verbos no imperativo e ensinar a estimulando o desejo de outras leituras e
criança a ordenar idéias; possibilitando a vivência de emoções, o
- textos impressos em embalagens, rótulos, exercício da fantasia e da imaginação; nesse
calendários; tópico é possível também apontar os textos
- cartas, bilhetes, postais, cartões (de teatrais que estimulam a criatividade,
aniversário, de Natal, etc.), convites, diários proporcionam momentos de descontração e
(pessoais, da classe, de viagem, etc.) - é o tipo colaboram para desinibir o aluno.
de trabalho indicado para desenvolver a - relatos históricos, textos de enciclopédia,
argumentação, descrição, narração, alem do que verbetes de dicionário, textos expositivos de
favorece a interação. É a partir desses textos diferentes fontes (fascículos, revistas, livros de
que o professor irá, depois de perceber as consulta, didáticos, etc.) - também de extrema
dificuldades da criança, ensinar questões importância, pois levam a criança ao mundo da
gramaticais; objetividade. Ao mundo da informação.

40
UNIDADE C

Figura C.7: Diferentes generos

Para exemplificar e propor algumas fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
atividades, estão os textos abaixo. E quando finalmente conseguiu falar,
tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
A função da arte Me ajuda a olhar!
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços.
Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Porto Alegre, L&PM, 2000.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas O Menino das meias vermelhas
altas, esperando. Todos os dias ele ia para o colégio com meias
Quando o menino e o pai enfim alcançaram vermelhas. Era um garoto triste, procurava
aquelas alturas de areia, depois de muito estudar muito, mas na hora do recreio ficava
caminhar, o mar estava na frente de seus afastado dos colegas, como se estivesse
olhos... E foi tanta a imensidão do mar, e tanto procurando alguma coisa.
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Os outros guris zombavam dele, implicavam relação entre os dois textos. Em ambos, é
com as meias vermelhas que ele usava. Um perfeitamente possível trabalhar a morfo-
dia, perguntaram por que o menino das meias sintaxe, veja:
vermelhas só usava meias vermelhas. - É possível fazer com que a criança descubra
Ele contou com simplicidade: "No ano e construa seu próprio vocabulário utilizando
passado, quando fiz aniversário, minha mãe me dicionário ou outras fontes escritas que
levou ao circo. Botou em mim essas meias resolvam dúvidas ortográficas.
vermelhas. Eu reclamei, comecei a chorar, disse - Poderá ser feita também, em termos
que todo mundo ia zombar de mim por causa gramaticais, a divisão do texto em frases por
das meias vermelhas. Mas ela disse que se me meio de recursos do sistema de pontuação:
perdesse, bastaria olhar para o chão e quando maiúscula inicial e ponto final (exclamação,
visse um menino de meias vermelhas saberia interrogação e reticências); e reunião das frases
que o filho era dela." em parágrafos;
Os garotos retrucaram: "Você não está num - Ainda, o professor poderá, dependendo do
circo! Por que não tira essas meias vermelhas e nível de conhecimento dos alunos, separar os
joga fora?" Mas o menino das meias vermelhas períodos, as orações e trabalhar os termos
explicou: "É que a minha mãe abandonou a nos- essenciais, integrantes e acessórios destas; a
sa casa e foi embora. Por isso eu continuo usan- colocação pronominal, etc;
do essas meias vermelhas. Quando ela passar - Há como trabalhar a morfologia no texto
por mim vai me encontrar e me levará com ela." explicando a diferença na classificação dos
Na morfologia, as Carlos Heitor Cony nomes (concretos/abstratos, simples/
palavras são agrupadas
Texto disponível em: http://lci.upf.tche.br/ compostos), gênero, grau, etc., os verbos
em classes que são
chamadas classe de ~46027/menino_das_meias_vermelhas.htm (modo, tempo), preposições, artigos e assim
palavras ou classes
gramaticais. São dez as Acesso em 24/01/06 por diante;
classes gramaticais:
Substantivo, Artigo,
Adjetivo, Numeral, O texto de Galeano é, embora pequeno,
Pronome, Verbo,
Advérbio, Preposição, bastante rico em conteúdo. Dentre as Termos essenciais da oração - Sujeito e
Conjunção e
Interjeição. possibilidades de leitura que você pode Predicado
encontrar, pode-se assinalar o ponto de vista Termos integrantes da oração -
da criança comparado ao ponto de vista de um Complementos verbais
adulto em relação ao mundo. A partir desse Complemento Nominal
texto é possível levantar uma discussão em Agente da passiva
Para melhorar seus torno desse tópico, fazendo com que as crianças Termos acessórios da oração - Adjunto
conhecimentos em
sintaxe, consulte: tragam exemplos pessoais. adnominal
SACCONI, Luiz Antonio.
Nossa gramática O menino das meias vermelhas traz uma Adjunto adverbial
teoria e prática. São
Paulo: Atual, 1999.
outra abordagem. Pode-se, dentre outras Aposto
leituras que você pode imaginar, trabalhar a Vocativo
questão familiar, o abandono e ainda fazer uma
42
UNIDADE C

- Pode-se ainda ensinar a diferença, no texto, - O professor poderá sugerir ao aluno que
entre discurso direto e indireto e entre os turnos construa um texto maior compondo os diálogos
do diálogo, utilizando travessão e dois pontos, entre os personagens. A partir da produção do
ou aspas. aluno, serão identificadas as carências
gramaticais, que poderão ser sanadas pelo
professor.

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

3 Fonética e Fonologia
A fonética e a fonologia têm o mesmo objeto portanto, aqui, destacar apenas uma breve
Fonética: "ciência que de estudo: a fala humana. Embora muitos descrição de fonética e fonologia a fim de
apresenta os métodos autores tratem Fonética e Fonologia como áreas informar profissionais para o ensino de Língua
para descrição,
classificação e de estudos distintas, não é fácil traçar a linha Portuguesa a alunos com necessidades
transcrição dos sons da
fala, principalmente divisória que separa essas duas áreas do especiais.
aqueles sons utilizados
na linguagem humana."
conhecimento. Em virtude disso, em nosso
trabalho vamos considerar Fonética e Fonologia Onde são produzidos os sons da fala?
como uma área única, preservando o nome Sabe-se que o corpo humano não possui um
Fonética por ser mais disseminado entre os órgão que funcione especificamente para
estudiosos da área. produzir os sons da fala. Também, segundo
Esse estudo não se aprofundará sobre as Bentes e Mussalin (2004, p.107), "os lingüístas
pesquisas de fonética e fonologia, pois o não sabem ao certo onde fica o centro
objetivo deste não é formar profissionais da processador da linguagem, mas,
língua, mas conhecedores da Língua Portuguesa tradicionalmente, atribui-se ao cérebro ou à
a fim de que seja estabelecida a metodologia alma." Desse modo, constatou-se que era
do ensino desta. Entende-se que é necessário necessário identificar os órgãos envolvidos na
primeiro conhecer aquilo com que se vai produção da fala e a esse conjunto de sistemas
trabalhar para aplicá-lo em seguida. Importa, denominou-se APARELHO FONADOR.

Figura C8: Aparelho Fonador


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UNIDADE C

Os órgãos do corpo humano envolvidos na articulatório pela posição das cavidades


fala foram divididos em três grupos que são o supralaríngeas. As primeiras, não encontram
sistema respiratório, o sistema fonatório e o obstrução na cavidade bucal, o que acontece
sistema articulatório. Assim, o aparelho Fonador com as consoantes. Isso significa dizer que para
pode ser identificado pelas seguintes partes: pronunciar uma vogal os lábios não se fecham,
1. pulmões, brônquios e traquéia - são exatamente o oposto do que acontece com as
órgãos respiratórios que fornecem a corrente consoantes.
de ar necessária para a fonação; Ainda, no que se refere à classificação,
2. laringe - nela se localizam as cordas quanto à função silábica pode-se observar que,
vocais, responsáveis pela energia sonora em Língua Portuguesa as vogais são sempre o
utilizada na fala; centro da sílaba, enquanto que as consoantes
3. cavidades supralaríngeas - nessa cavidade são periféricas e só aprecem na sílaba junto a
encontram-se a faringe, a boca e as fossas uma vogal. Há ainda as semivogais que se situam
nasais. Elas funcionam como uma espécie de entre as vogais e as consoantes. As semivogais
caixa de ressonância que juntamente com a são o /i/ e o /u/ quando formam sílaba com
língua compõem o aparelho fonador. uma vogal, por exemplo, viu, rua,rei, vário.

Funcionamento do Aparelho Fonador Encontros Vocálicos


A seguir, uma rápida descrição do funciona- Ditongos
mento do Aparelho Fonador: o ar expelido pelos É o encontro de vogal + semivogal, ou de
pulmões invade a traquéia e chega à laringe semivogal + vogal na mesma sílaba. Podem ser
onde encontra o primeiro obstáculo ao crescentes ou decrescentes / orais ou nasais.
atravessar a glote, pois o fluxo de ar pode São decrescentes quando a vogal vem em Glote: abertura em
encontrá-la aberta ou fechada. Se fechada, o primeiro lugar, por exemplo, pai, céu, vai. São forma de pequena
língua, existente na
ar força a passagem através das cordas vocais crescentes quando a semivogal antecede a laringe, entre as bordas
livres das cordas vocais
esticadas. Estas vibram, produzindo o som. Se vogal: séria, viela, rédea. Os ditongos são orais inferiores. HOLANDA,
Aurélio Buarque de.
aberta a glote, as cordas vocais estarão relaxadas quando o som ressoa na boca: sei, herói, viu, Novo Aurélio
e não haverá vibração na laringe. Essa articulação meu, e nasais quando o ar sai pelas fossas Dicionário da Língua
Portuguesa Século XXI.
é denominada surda. (/b/ sonoro /p/ surdo). nasais: mãe, cãibra, bem, orações. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1999.
Depois de passar pela laringe, o ar pode sair
pelo canal bucal (que vai produzir os sons orais) Tritongos
ou pelo canal nasal (sons nasais). É o encontro de uma semivogal + vogal +
semivogal na mesma sílaba. Também
classificam-se em orais - Uruguai, enxagüei - e
Classificação dos sons lingüísticos nasais - saguão, enxáguam.
Os sons lingüísticos classificam-se em vogais,
consoantes e semivogais. As vogais diferenciam-
se das consoantes do ponto de vista
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Hiatos Classificação das palavras


É o encontro de duas vogais que ficam em quanto ao acento tônico
sílabas diferentes: aí, baú, raiz. As palavras com mais de uma sílaba, conforme
a tonicidade, classificam-se em:
Encontros Consonantais Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última
É o agrupamento de consoantes na mesma - coração, São Tomé, etc.
sílaba: bloco, cravo, sopro, gnomo. Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a
penúltima - cadeira, linha, régua, etc.
Dígrafos Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a
São grupos de letras que representam apenas antepenúltima - ibérica, América, etc.
um som. Os dígrafos são: ch, lh, rr, ss, gu e qu Os monossílabos podem ser tônicos ou
(antes de e e i), sc, sc, xc (florescer, desça, átonos:
exceder), am, na, em, em, im, in, om, on, um, Tônicos: são autônomos, emitidos fortemen-
um (tampa, lindo, tonto). Observe que esses te, como se fossem sílabas tônicas. Ex.: ré, teu,
dígrafos servem para representar as vogais lá, etc.
nasais. Átonos: apóiam-se em outras palavras, pois
não são autônomos, são emitidos fracamente,
Sílaba como se fossem sílabas átonas. São palavras
Na página da SEESP/ São os segmentos fônicos em que são dividias sem sentido quando estão isoladas: artigos,
MEC você encontra a
as palavras. Para cada sílaba existirá uma vogal. pronomes oblíquos, preposições, junções de
publicação: Ensino de
Língua Portuguesa para Caso existam duas vogais há a necessidade de preposições e artigos, conjunções, pronome
Surdos, caminhos para
a prática pedagógica. separá-las, ocasionando assim o hiato, que já relativo que. Ex.: o, lhe, nem, etc.
Nessa obra, as autoras
apresentam
estudamos.
contribuições para a
formação do professor
no ensino de Classificação das palavras
português para alunos
surdos. quanto ao número de sílabas A partir dos textos disponibilizados no
Monossílabas: quando formada de uma ambiente virtual, verifique o objetivo e
única sílaba (pé, mão, eu). como você poderá propor aos alunos com
Dissílaba: quando formada de duas sílabas necessidades especiais, a análise lingüística,
(o-lho, liv-ro, na-da). considerando aspectos de estrutura textual,
Trissílaba: quando formada de três sílabas morfo-sintaxe e fonética e fonologia. As
(cri-an-ça, a-ber-to). orientações para a realização dessa
Polissílaba: quando constituída de três ou atividade, serão disponibilizadas pelo
mais sílabas (u-ni-ver-si-tá-rio, bor-bo-le-ta). professor da disciplina.

46
REFERÊNCIAS

Referências
Referências Bibliográficas

AHLERT, Ivane. Produção Textual: a entrada do texto GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto
dissertativo em sala de aula. Monografia de Alegre, L&PM, 2000.

Especialização. Cruz Alta: Universidade de Cruz Alta,


2000. GERALDI, J.W. O texto na sala de aula: leitura e
produção. Campinas, Casvel, ASSOESTE, 1984.

BENTES, Anna C. e MUSSALIN, Fernanda. Introdução


à lingüística: domínios e fronteiras. 2 vol. São Paulo: HOLANDA, Aurélio Buarque de. Novo Aurélio
Cortez, 2000. Dicionário da Língua Portuguesa Século XXI. Rio

de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.


BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Média e Tecnológica. Parâmetros KAUFMAN, A. M.; RODRIGUES, M. E. Escola, leitura e

curriculares nacionais: ensino médio. Brasília: MEC/ produção de textos. Porto Alegre: Artes Médicas,
SEMTEC, 1999. 4v. 1995.

CHARAUDEAU, Patrick. Langage et discours. REVISTA BOA IDEIA. Como fazer vela com gelo. Nº

élémentes de sémiolinguistique (théorie et pratique) . 452, 2005.


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SERAFINI, Maria Teresa. Como escrever textos. Trad.

CONY, Carlos Heitor. O Menino das meias de Maria Augusta Bastos de Mattos, 5ª. ed. São Paulo,
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lci.upf.tche.br/~46027/

menino_das_meias_vermelhas.htm Acesso em 23/ SUASSUNA, Lívia. A leitura extraclasse: necessidade


12/05. e possibilidades. Disponível online em: http://
www.proext.ufpe.br/cadernos/educacao/leitura.htm

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Linhas de ação Acesso em 22/10/05.


para a política nacional do livro. Fundação
Nacional do Livro. Rio de Janeiro : Edições Biblioteca ZERO HORA. Sabia que nós ajudamos você a

Nacional, 2006. trocar as fraldas do seu bebê? Porto Alegre: 24 de


março, 2006.

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