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Século IV a.e. Século li a.e.

Década de 1650 Década de 1800


Localizando a mente O Anatomia de Galeno O Dualismo mente-corpo O Frenologia O fisiologista
médico grego Hipócrates médico romano Galeno rejeita filósofo francês René Descartes alemão Franz Joseph Gall
descreve o cérebro como a as concepções erróneas de propõe uma teoria dualista da desenvolve a frenologia,
localização da mente. Aristóteles e atribui funções mente e do corpo, em que os argumentando que os traços de
Aristóteles, mais tarde, descreve mentais ao cérebro. Os médicos movimentos do corpo são personalidade e as capacidades
o cérebro como um órgão e anatomistas aceitam suas controlados por reflexos mentais habitam distintas áreas
resfriador, que dissipa o calor em afirmaçôes sem questionar pelos mecânicos que interagem com do cérebro e podem ser
excesso produzido pelo coração, próximos 14 séculos. uma alma não-física, localizada avaliados medindo-se as
a localização da mente. na glândula pineal do cérebro. dimensões externas do crânio.
Década de 1820 1848 1861 Década de 1920 Década de 1940
Função distribuída Um Patologia do lobo Area de Broca O médico Eqüipotencialidade O Estimulando o cérebro
influente fisiologista francês, frontal Em New Hampshire, o francês Paul Broca apresenta a psicólogo experimental acordado O neurologista
Marie-Jean-Pierre Flourens, operário da ferrovia Phineas primeira atribuição amplamente estadunidense Karl lashley canadense Wilder Penfield
argumenta veementemente Gage é acidentalmente aceita e rigorosamente remove pedaços do córtex de experimenta a corrente elétrica
contra a frenologia, afirmando lobotomizado por um tirante de substanciada de uma função um rato, em uma tentativa de aplicada a diferentes áreas do
que todas as partes do córtex ferro. Mudanças importantes especifica para uma área cortical localizar o traço da memória. Ele cérebro para examinar as
contribuem igualmente para são observadas em sua particular. A "área de Broca• conclui, erroneamente, que funções dessas áreas. Ele,
todas as funções mentais. personalidade e controle dos ainda é reconhecida hoje como grande parte do córtex contribui posteriormente, funda o
impulsos, mas sob outros importante para a fala. igualmente para a maioria das Montreal Neurological lnstitute.
aspectos ele não apresenta funções mentais.
déficits.
120 GAZZANIGA e HEATHERTON

ra a década de 1940, e a paciente estava deitada na mesa de operação,


inteiramente consciente, com uma parte do crânio temporariamente
removida para expor a superfície do seu cérebro. Seu cirurgião no Montreal
Neurological lnstitute, o Dr. Wilder Penfield, tocou o cérebro, delicadamente, com
um pequeno eletrodo e a paciente anunciou que tivera a súbita experiência "de
estar em sua cozinha escutando a voz do filho pequeno, que--ésfava brincando no
pátio. Ela podia ouvir os ruídos da vizinhança, como os carros passando na rua, e
compreendia que isso poderia significar um perigo para ele".
A paciente sofria de epilepsia, a doença debilitante em que as convulsões,
"tempestades" descontroladas de atividade elétrica, começam em alguma parte do
cérebro e se espalham por grande parte dele, freqüentemente provocando
convulsões violentas, no corpo todo, que põem em risco a própria vida. Como
último recurso, ela concordara em fazer uma cirurgia para tentar encontrar e
remover a parte de seu cérebro em que as convulsões começavam.
Penfield estava estimulando eletricamente pontos da superfície de seu cérebro
em uma tentativa de desencadear uma convulsão, para determinar exatamente a
parte do cérebro que deveria ser excisada (Figura 4.1 ). Ele também estava
mapeando as funções de áreas específicas do cérebro para determinar quais
podiam ser removidas sem danificar a capacidade de falar da paciente. A pequena
corrente elétrica interferia na área local de tecido cerebral percorrido, desativando-a
temporariamente. Se a paciente parasse de falar durante uma dessas estimulações,
11 Penfield saberia que aquela área era vital para a fala e não deveria ser removida.
lnteressantemente, a corrente, enquanto desativava a região imediatamente
vizinha ao eletrodo, reativava regiões cerebrais mais distantes que estavam
conectadas a neurônios na área estimulada. O resultado foi um vívido redespertar
de memórias específicas na paciente.
Embora Penfield repetisse essa demonstração muitas vezes, atualmente se
acredita que esses fenômenos de memória específica podem ser resultado dos
transtornos da paciente e não refletem, necessariamente, um cérebro normal.
Entretanto, induções elétricas de experiências, de sensações, de movimentos, de
Como o cérebro possibilita a emoções e, inclusive, de crenças foram reproduzidas inúmeras vezes desde então.
mente?
Esse redespertar físico de eventos mentais demonstra a natureza física da mente.
A função é distribuída por todo o Longe de existir como uma substância incompreensível distinta do mundo físico, a
cérebro ou especializada em
diferentes regiões? mente é parte integrante dele, consistindo na atividade elétrica e química de um de
nossos órgãos corporais: o cérebro.
Cada metade do cérebro possui
as mesmas capacidades?
Existem períodos críticos durante
o desenvolvimento do cérebro?
O capítulo anterior apresentou os fundamentos biológícos do sistema nervoso. Atividades mentais e
O cérebro se reorganiza durante a
aprendizagem, o envelhecimento comportamentos são produzidos por processos biológicos dentro do cérebro, como a ação de células
e o reparo de lesões? nervosas e reações químicas associadas. Este capítulo examina como o cérebro físico possibilita a
mente e o comportamento. Os estudiosos discordaram durante séculos sobre se os processos psicoló-

Década de 1950 1953 Década de 1960 Década de 1980 Década de 1990


Registrando O paciente H. M. Durante a Cérebros secionados O Imagem cerebral A invenção Manipulação genética A
neurónios David Hubel e remoção cirúrgica bilateral de psicobiólogo estadunidense da imagem por PET e IRM biologia molecular atinge a
Torsten Wiesel fazem os seu hipocampo, o Paciente H. M. Roger Sperry e seu aluno funcional permite a visualização maioridade, trazendo poderosos
primeiros registros de neurónios perde toda a capacidade de Michael Gazzaniga realizam do cérebro humano em instrumentos novos, como os
isolados no córtex cerebral, reter novas memórias para pesquisas com pacientes que funcionamento. ratos transgênicos e os
caracterizando as propriedades acontecimentos. Estudado por tiveram seus hemisférios indicadores moleculares de
de resposta dos neurónios no Brenda Milner, H. M. se torna cerebrais desconectados para atividade neuronal, para
córtex visual primário de um um estudo de caso clássico da tratamento da epilepsia. Eles resolver os problemas do
gato, utilizando apresentações neurofisiologia. descobrem que os hemisférios cérebro.
visuais. podem funcionar
independentemente.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 121

GÜ( Um dos pacientes de


Penfield submetidos à estimulação direta
do cérebro. À esquerda: a paciente
imediatamente antes da cirurgia . Um
anestésico local era aplicado no couro
cabeludo; os pacientes de Penfield
permaneciam inteiramente conscientes
durante todo o procedimento. À direita: a
superfície exposta de seu córtex. As
etiquetas com números denotam
localizações eletricamente estimuladas.

;:cos estavam localizados em partes específicas do cérebro ou distribuídos por todo ele. Esse debate
::ominuou por tanto tempo, em parte, porque os pesquisadores não tinham métodos para estudar a
:;.;:i\idade mental no cérebro em funcionamento. A invenção dos métodos de imagem cerebral na
:ecada de 1980 mudou isso de forma rápida e dramática. Desde essa época, houve uma verdadeira
=xplosão de pesquisas, atravessando vários níveis de análise, vinculando áreas cerebrais específicas
.. determinados comportamentos e processos mentais. Este capítulo apresenta o nosso conhecimento
sobre como o cérebro funciona. Partindo de uma visão histórica da função e disfunção cerebral, que
serve como um exemplo excelente de como a ciência psicológica se baseia em princípios cumulati-
--os, nós discutimos as principais estruturas e regiões do cérebro, com ênfase nas funções psicológi-
::as associadas a cada área.

COMO EVOLUÍRAM AS NOSSAS IDÉIAS


o e 'p .,
Há muito tempo se reconheceu que o cérebro tinha certo envolvimento com a mente. Em dife-
rentes locais, como França e Peru, os cientistas encontraram crânios pré-históricos com buracos
~eiras pelo homem no crânio, a estrutura óssea que protege o cérebro. Muitos desses buracos eram
~idência de tratamento curativo e indicavam que o sujeito sobrevivera por um longo período após o
Como o cérebro possibilita a
;>rocedimento. O propósito de tal cirurgia, conhecida como trepanação, é desconhecido, mas ela
mente?
sugere que os povos antigos atribuíam algum significado ao cérebro. Em algumas partes da África e
fo Pacífico, vários grupos mantinham essas práticas, em pleno século XX, para tratamento da epilep-
sia, dores de cabeça e, mais notavelmente, insanidade. Talvez a trepanação pré-histórica também
fosse motivada por noções de uma conexão entre a mente e o cérebro. Nesta seção, examinaremos
como os estudiosos consideraram essa conexão no decorrer dos anos.

A liaação entre mente e cérebro é coqitada há séculos


Nem sempre o cérebro foi reconhecido como a morada da mente. Os egípcios, por exemplo,
\iam o coração como o local onde habitava a alma; eles embalsamavam cuidadosamente o coração
de seus mortos, mas o cérebro eles simplesmente jogavam fora. O coração seria pesado na vida após
a morte para determinar o destino do falecido. Os antigos povos da Índia e da China tinham concep-
ções errôneas semelhantes.
No clima questionador da Grécia, todavia, floresceram algumas idéias alternativas. O médico
Hipócrates (460-377 a.C.) e seus seguidores demonstraram uma visão notavelmente moderna em
seu trabalho coletivo, o Corpus Hippocraticum: '1\lgumas pessoas dizem que o coração é o órgão com
o qual nós pensamos, e que ele sente dor e ansiedade. Mas não é assim. Os homens deveriam saber
que é o cérebro, e só o cérebro, a origem de nossos prazeres, alegrias, riso e lágrimas. Por meio dele,
em especial, nós pensamos, enxergamos, ouvimos e distinguimos o feio do belo, o ruim do bom, o
agradável do desagradável". Notavelmente, as opiniões de Hipócrates decorreram, em parte, de suas
122 GAZZANIGA e HEATHERTON

observações de pacientes com epilepsia. Ele revelou um considerável entendimento da condição


desses pacientes, escrevendo que ela era causada pelo cérebro "quando ele não está normal".
Mas o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) pensava que o coração era a morada da mente. O
cérebro, afirmava ele, tinha a função de resfriar, de irradiar o excesso de calor produzido pelo esfor-
ço mental do coração.
É muito instrutivo o fato de Hipócrates estar muito mais próximo da verdade do que Aristóte-
les. Por toda a história, aqueles que observaram diretamente os resultados das lesões cerebrais foram
muito mais exatos em sua avaliação da natureza da mente do que aqueles que simplesmente pensa-
vam sobre ela. Por exemplo, o médico romano Galeno (130-200 d.C.), tendo servido como cirurgião
dos gladiadores, defendia vigorosamente o papel mental do cérebro. Todavia, ele acreditava que a
mente residia nos bolsões cheios de fluido do meio do cérebro e que controlava o corpo por meio de
energias etéreas. Evidentemente, atribuir mente à atividade do tecido físico era um pulo e tanto. O
filósofo francês René Descartes (1596-1650) assumiu uma postura semelhante, argumentando que
os humanos tinham um corpo físico e um corpo não-físico (como discutimos no Capítulo 1). Ele
acreditava que a glândula pineal era a morada da alma; nós agora sabemos que a glândula pineal
está extremamente envolvida na regulação do ciclo dia/ noite.

Os frenologistas introduziram a pseudociência


da localizacão
A crença de Galeno em uma substância etérea no cérebro, chamada mente, foi dominante nos
séculos que se seguiram. Mas, finalmente, foi sugerido não só que a matéria do cérebro em si conti-
nha a mente como também que a mente poderia não ser uma entidade unificada, sendo composta
por múltiplos componentes, que poderiam estar localizados em diferentes partes do cérebro. Essa
idéia foi proposta, com muito sucesso, por Franz Joseph Gall (1758-1828) e Johann Spurzheim
(1776-1832), os fundadores da frenologia, a prática de avaliar traços da personalidade e capaci-
dades mentais pela medição de saliências do crânio (Figura 4.2).
Aos nove anos de idade, Gall percebeu que um colega de turma com olhos salien-
tes tinha uma memória superior. Gall, mais tarde, explorou com sucesso essa observa-
ção em sua carreira, atribuindo diferentes qualidades a diferentes regiões do córtex
cerebral, a camada convoluta mais externa que cobre o restante do cérebro. Nisso, ele
estava certo. Além disso, ele percebeu corretamente que o córtex está conectado à me-
dula espinal e pode, portanto, controlar o movimento. Mas ele estava errado em duas
coisas. A primeira era a crença de que as características mentais se expressavam na
anatomia externa do crânio. Asegunda foi atribuir características psicológicas extrema-
mente refinadas às diferentes regiões. Gall e Spurzhe1m desenvolveram mapas da su-
perfície do crânio, indicando as localizações de características como "destrutividade",
"ganância" e "veneração".
Devemos notar que o problema referente à frenologia não era tanto as idéias de
seus proponentes serem más, mas sua relutância em submetê-las à verificação experi-
mental. A frenologia finalmente culminou em um charlatanismo absurdo e desenca-
deou uma rejeição bastante merecida, mas igualmente mal-orientada. Marie-Jean-Pier-
re Flourens (1794-1867), um importante cientista francês, liderou o ataque com uma
influente teoria de que todas as partes do córtex contribuíam igualmente para todas as
capacidades mentais, um conceito conhecido como eqüipotencialidade. Seus métodos
eram muito mais científicos do que os de Gall; ele removia sistematicamente partes do
cérebro de animais e observava seu comportamento subseqüente. Entretanto, sua con-
fiança na experimentação com pássaros e anfi.bios o levou a conclusões errôneas. Desde
então, com observação mais sofisticada, utilizando as técnicas que o próprio Flourens
defendia, a idéia dos frenologistas da localização funcional foi aceita como essencial-
mente correta.
GU Um dos mapas frenológicos do Em meio a esse debate, um acidente em uma obra na Nova Inglaterra proporcio-
cérebro, por Johann Spurzheim. Cada região numerada nou um vívido exemplo de prejuízo mental seletivo por lesão cerebral. Esse caso é des-
correspondia a uma característica diferente. crito em "Estudando a mente: Phineas Gage".
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 123

A deficiência na fala possibilitou as primeiras localizações frenologia Um método antigo de


modernas avaliar traços da perso nalidade e
capa ci dades mentais pela medida
de sal iênci as no crân io.
Continuava a controvérsia entre os que defendiam a eqüipotencialidade do cérebro e os freno-
Jogistas que defendiam a localização funcional. Jean-Baptiste Bouillard (1796-1881) foi influencia- acidente vascular
cerebral Lesão cerebral causada
do pelos frenologistas, mas rejeitava sua metodologia medidora de crânios. Baseado em observações po r um vaso sang üíneo b loqueado.
clínicas e em estudos de lesões animais, ele argumentava que os centros da fala e da vocalização
área de Broca A reg ião fronta l
estavam localizados na frente do cérebro. Em um experimento bruto, típico da época, ele perfurou a esqu erda do cé re bro que é crucial
?arte frontal do cérebro de um cão com uma vareta e descobriu que ele recuperou a maioria de suas para a produ ção da linguagem .
capacidades, mas perdeu a capacidade de latir. Em 1848, tendo acumulado o que considerava clara- lei da ação de massa A
mente como uma preponderância de evidências, ele propôs o seguinte desafio: "Eu ofereço 500 proposi ção de Karl Lashley de que o
:Tancos para aquele que me der um exemplo de uma lesão profunda nos lobos anteriores (frontais) có rtex é basicam ente
do cérebro sem uma lesão da fala". Um exemplo foi, de fato, subseqüentemente oferecido, e o di- ind iferen ciado e participa
igualmente da atividade
Jheiro devidamente pago em 1865. psicológica.
Foi nesse clima que se realizou um dos mais famosos estudos de caso da neurologia. Em 1861,
:un tal Monsieur Leborgne, que estava terminal, após décadas de hospitalização, e incapaz de dizer
qualquer coisa além da palavra "tan'', foi internado na ala cirúrgica do respeitado médico Paul Broca
1824-1880) e morreu seis dias depois. Broca examinou o cérebro do paciente e encontrou uma
grande lesão de um acidente vascular cerebral - lesão cerebral causada por um vaso sangüí-
::ieo bloqueado - no lado esquerdo do cérebro, em direção à frente (Figura 4.3). Seu achado foi uma
sensação. Essa região frontal esquerda se tomou conhecida como a área de Broca, e desde então
foi repetidamente confirmada como crucial para a produção da linguagem. Essa foi a primeira das
:ocalizações do século XIX que sobreviveu ao teste do tempo.

Atualmente sabemos Que o cérebro é especializado


Atualmente sabemos que a superfície do cérebro, longe de ser uma estrutura uniforme, é uma
colcha de retalhos de muitas áreas altamente especializadas. Entretanto, em vez de estarem organi-
zadamente divididas em regiões correspondentes a complexos traços de personalidade, como os
:Tenologistas argumentavam, as áreas cerebrais são, na verdade, especializadas para componentes
:iem mais rudimentares da percepção, do comportamento e da vida mental. Uma grande área do A função é distribuída por todo o
cérebro ou especializada em
cérebro é dedicada a diferentes aspectos da visão, por exemplo, e outra, a gerar movimentos rudi- diferentes regiões?
mentares.
Todavia, a noção de que o cérebro, ou pelo menos o córtex cerebral, é uniforme persistiu durante
parte do século XX. Na década de 20, o fisiologista Karl Lashley treinou
ratos para percorrerem labirintos e, depois, removeu sistematicamente
partes de seus cérebros, em uma tentativa de determinar a localização
de suas memórias referentes ao trajeto no labirinto. Para sua decepção,
ele descobriu que os ratos pareciam sair-se pior no labirinto na propor-
ção da quantidade de cérebro removido, independentemente da locali-
zação do tecido removido. Lashley, então, propôs uma "lei da ação
de massa": que diz que o córtex é, basicamente, indiferenciado e par-
ticipa igualmente de todo o pensamento. Ele concluiu que remover pe-
daços do córtex dos ratos simplesmente diminuía o seu poder cerebral.
\1as, atualmente, está bastante claro que uma explicação mais adequa-
da para seus achados é que os ratos eram capazes de percorrer o trajeto
no labirinto por múltiplos meios: os que tinham perdido a visão podiam
fazê-lo utilizando o olfato, por exemplo, e vice-versa. Uma concepção
errônea semelhante está corporificada no mito comum de que nós só
utilizamos uma pequena porcentagem, digamos 10%, de nosso cérebro,
com a implicação de que seríamos mais inteligentes ou mais criativos se
utilizássemos uma parte maior do cérebro, ou de que não seríamos muito O cérebro de Monsieur Leborgne (de "Tan") estudado
diferentes se usássemos menos. Isso está absolutamente errado. Uma por Paul Broca. Broca identificou a área lesionada como crucial para
vez que as regiões cerebrais são altamente especializadas, a atividade produção da fala.
PHINEAS GAGE
Talvez o exemplo histórico mais famoso de lesão cerebral seja o
caso de Phineas Gage. Em 1848, aos 25 anos, Gage era capataz de
uma obra em Vermont, na Rutland and Burlington Railroad. Um
dia, ele deixou cair seu bastão de ferro de socar em uma pedra, o
que fez acender um pouco de pó explosivo. A resultante explosão
fez o bastão de ferro - com mais de um metro de comprimento e
mais de dois centímetros de diâmetro - penetrar em sua
bochecha, atravessar os lobos frontais e sair pelo topo da cabeça
(Figura 4.4). Gage ainda estava consciente ao ser levado
rapidamente para a cidade em uma carroça. Capaz de caminhar,
com ajuda, e subir para seu quarto de hotel, ele comentou
ironicamente com o médico que o atendeu: "Doutor, aqui está um
negócio e tanto para você", e disse que esperava voltar ao
trabalho em poucos dias. De fato, Gage ficou em estupor por duas
semanas. Sua condição depois melhorou regularmente, e ele se
recuperou impressionantemente bem.
Infelizmente, o acidente causou algumas mudanças de
personalidade. Antes considerado por seus empregadores como o
"mais eficiente e capaz" dos operários, o novo Gage não era nada
disso. Como um de seus médicos escreveu mais tarde: "O
equilíbrio, por assim dizer, entre suas faculdades intelectuais e
propensões animais parece estar destruído. Ele é caprichoso,
irreverente, blasfemando às vezes da forma mais grosseira ...
incapaz de se conter ou de seguir conselhos quando isso entra em
conflito com seus desejos ... Uma criança no que se refere à
capacidade intelectual e manifestações, ele tem as paixões animais FG 4.4 Um modelo do crânio de Phineas Gage criado pelo
de um homem vigoroso". Em resumo, Gage "não era mais Gage". computador com o ferro cravado em sua cabeça. A análise do crânio
Incapaz de conseguir de volta seu emprego como mestre de revelou quais as áreas cerebrais que tinham sido danificadas.
obras, Gage passou a se exibir em várias cidades da Nova
Inglaterra e no New York Museum (de propriedade de P. T.
Barnum), trabalhou em um estábulo em New Hampshire e dirigiu
carruagens e cuidou de cavalos no Chile. Depois de 10 anos, sua
saúde começou a declinar, e, em 1860, ele passou a apresentar tecido lesado. Seus prejuízos psicológicos, todavia, foram
convulsões epiléticas e morreu alguns meses mais tarde. finalmente reconhecidos pela comunidade médica como
A recuperação de Gage foi inicialmente usada por oponentes extremamente significativos e forneceram as bases para as
da frenologia para defender a uniformidade do cérebro e a primeiras teorias modernas do papel da parte frontal do cérebro
capacidade do cérebro remanescente de assumir o trabalho do (o córtex pré-frontal) na personalidade e no autocontrole.

em uma área em um momento inadequado seria desastrosa. Além disso, a perda até mesmo de uma
pequena região cerebral provoca a perda da função daquela região. Em certa extensão, nós nos
recuperamos dos danos sofridos pelo cérebro, mas, com maior freqüência, perder uma parte dele
causa déficits, muitos dos quais são óbvios.

Criando imagens da mente Algumas das mais claras visões da distribuição das funções
mentais vêm da criação de imagens do cérebro em funcionamento, o uso da tecnologia para gerar
"mapas" do cérebro humano em ação. Discutiremos algumas variedades dessas tecnologias, cada
uma com suas relativas vantagens.
Aeletroencefalografia, ou EEG, utiliza eletrodos colocados no couro cabeludo para "ouvir"
a atividade elétrica da região cerebral abaixo deles (Figura 4.5). Empregada pela primeira vez em
1929, essa é a técnica mais antiga da criação de imagens. Utilizando vários eletrodos, podemos obter
um mapa bruto da atividade cerebral. Ao obter registros durante o desempenho de diversas tarefas
psicológicas, o pesquisador pode vincular as contribuições relativas de diferentes pontos abaixo do
crânio àquelas tarefas psicológicas. Avantagem real da EEG e de sua "prima", a magnetoencefa-
lografia, ou MEG (que registra campos magnéticos), não é a resolução espacial, mas a resolução
temporal. Explicando: embora seja difícil determinar exatamente de onde vem um evento elétrico, é
muito fácil determinar exatamente quando ele acontece. Portanto, a EEG e a MEG produzem mapas
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 125

de pontos de origem aproximados dos vários sinais elétricos, mas seus momen-
tos relativos são bem-identificados (Figura 4.6). Assim, essas técnicas nos mos-
rram como o cérebro está processando a informação, com base em quais regiões
são ativadas e quando.
Atomografia por emissão de pósitrons, ou PET, foi desenvolvida na
década de 1980. Ela consiste na reconstrução computadorizada da atividade me-
Labólica do cérebro durante o uso de uma substância radioativa inócua injetada na
corrente sangüínea. O sujeito fica deitado em um scanner especial que detecta a
radiação, e é produzido um mapa tridimensional da densidade de radioatividade
dentro do seu cérebro (Figura 4.7). Isso é útil porque, conforme o cérebro realiza
uma tarefa mental, o fluxo de sangue aumenta nas regiões mais ativas, levando a
atais radiação emitida. A quantidade de radioatividade emitida por uma região
corresponde aproximadamente à quantidade de atividade elétrica nos neurônios
:ocais. Ao escanear os sujeitos enquanto eles executam uma atividade psicológica
p. ex., ler em voz alta palavras que aparecem em uma tela), os pesquisadores
obtêm um mapa da atividade metabólica do cérebro durante a tarefa. Todavia,
:.una vez que todo o cérebro está metabolicamente ativo o tempo todo, também
precisam ser feitos registros enquanto os sujeitos realizam uma outra tarefa, es-
;reitamente relacionada (p. ex., dizer palavras que sejam antônimos das palavras
que aparecem na tela). Ao subtrair uma imagem de outra, os experimentadores
obtêm uma "imagem da diferença" de quais regiões do cérebro estão mais ativas
durante a tarefa em questão. Dessa maneira, regiões do cérebro podem ser corre-
iacionadas com atividades mentais específicas.
A imagem por ressonância magnética, ou IRM, é a mais nova e
ü!lvez a mais poderosa das técnicas de criação de imagem. Ela se baseia no fato
de que os núcleos de hidrogénio, também conhecidos como prótons, um compo-
;:iente importante de água e gordura e, portanto, dos humanos, comportam-se FIGURA 4.5 Um sujeito usando o aparato utilizado na EEG .

~
FCS :.
~*
F~1r~/\;Jt FÇ2f\.:'\~ eletroencefalografia (EEG) Um

~~
método para medir a atividade
elétrica do cérebro. Eletrodos
colocados no couro cabeludo
/\ ,1 •
conseguem detectar leves sinais

~ ~
elétricos produzidos pela atividade
neural.
magnetoencefalografia
(MEG) Uma técnica para
T3 :·. T~P7 :./".._ •,
~P8 ~4/''".
:
.. '
./-.·
examinar a atividade neural, que
registra campos magnéticos.
. '
.: .. ... tomografia por emissão de
pósitrons (PET) Um método de
' criação de imagens cerebrais que
avalia a atividade metabólica,
: [3.00 µV -- -- Não-palavras utilizando uma substância
1
- Palavras radioativa injetada na corrente
o1 '
400 800 - Pseudopalavras sangüínea.
imagem por ressonância
magnética (IRM) Um método de
IGURA 4 6 A atividade elétrica em difere ntes pontos da superfície do couro cabeludo de um sujeito imagem cerebral que produz
durante exposição a diferentes estímulos. Um tipo específico de resposta (chamada N350) foi mais imagens de alta qualidade do
'reqüente na loca liza ção T3, no hemisfério temporal esquerdo. Esse efeito ocorreu somente para palavras cérebro.
ou pseudopalavras, mas não para não-palavras (cadeias de consoantes).
126 GAZZANIGA e HEATHERTON

como pequenos magnetos. Na IRM, o examinando deita em um scanner que produz um poderoso
imagem por ressonância
magnética funcional
campo magnético, que não é perigoso, mas faz com que os prótons de seu corpo tendam a se alinhar
(IRMf) Uma t écnica de imagem a ele, exatamente como uma agulha magnetizada vira para apontar o norte. Quando um pulso de
util izada para examinar mudanças ondas de rádio é transmitido, os núcleos de hidrogênio se alinham brevemente em uma orientação
na atividade do cérebro humano diferente. Conforme elas retornam para a direção do scanner de IRM, é liberada energia na forma de
em ação.
ondas de rádio que podem ser captadas por uma antena próxima à cabeça do sujeito. Uma vez que os
núcleos de hidrogênio em gordura e água largam essa energia diferentemente, a pesquisa pode
determinar a localização física dos prótons para di-
ferentes tecidos, o que resulta em uma imagem de
alta resolução do cérebro (Figura 4.8).
As imagens por IRM são extraordinariamente
valiosas para determinar a localização de uma lesão
cerebral, por exemplo, mas podem ser ainda mais
proveitosas quando usadas para criar uma imagem
do cérebro em funcionamento. É isso o que a ima-
gem por ressonância magnética funcional,
ou IRMf, pode fazer. Como o PET, ela faz uso do
fluxo sangüíneo para mapear sua atividade, investi-
gando o sujeito durante o desempenho de diversas
Uma investigação por meio da tomografia por emissão de pósitrons (PET)
tarefas. O ideal é que as tarefas difiram apenas de
do fluxo sangüíneo no cérebro de um sujeito em diferentes condições.
uma maneira, que reflita a função mental particular
em que estamos interessados. As imagens são então
comparadas para examinarmos diferenças no fluxo sangüíneo e, portanto, na atividade cerebral.
Isso produz mapas de resolução relativamente alta da atividade neural, que podem ser superpostos
aos scans anatômicos para esclarecer quais regiões estão ativas durante as diferentes tarefas (Figura
4.9). Todas essas técnicas de imagem cerebral deixam perfeitamente claro que o cérebro não é extre-
mamente uniforme; pelo contrário, regiões cerebrais específicas estão ativas durante diferentes fun-
ções mentais.

A imagem por ressonância magnética (IRM) fornece imagens de excelente qualidade de


cérebros humanos intactos.

Como evoluíram as nossas idéias sobre o cérebro?


Embora o local da mente tenha sido atribu ído a várias partes do corpo, notavelmente o coração, a noção de que o

V
cérebro está de alguma forma envolvido com a mente é bastante antiga . Uma questão que atraiu os primeiros
estudiosos foi se o cérebro agia como um todo na produção da experiência mental, ou se havia uma especialização
de função para diferentes regiões cerebrais. O exame dos resultados das lesões cerebrais foi, historicamente, a
abordagem mais esclarecedora, como no achado de que a área de Broca é importante para a fala . Embora a idéia
da localização da função menta l dentro do sistema nervoso tenha inicialmente atingido um ápice absurdo na
frenologia, o resultante descrédito logo foi superado. A moderna imagem cerebral funcional fornece evidências
convincentes da especialização da função dentro do cérebro.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 127

Mapas de atividade
mostrando mudanças na oxigenação
sangüínea, obtidos por imagens por
ressonância magnética funcional (IRMI)
enquanto o partiopante realizava alguma
tarefa (e subtraídas de outra imagem
"controle"), superpostas a imagens de IRM
de resolução superior tiradas do mesmo
cérebro. Isso permite uma determinação
precisa das áreas cerebrais que estão ativas
durante diferentes atividades mentais.

QUAIS SÃO AS ESTRUTURAS CEREBRAIS


1 7
A melhor maneira de ver o cérebro é como uma coleção de circuitos neuronais interatuantes
que foram acumulando-se e desenvolvendo-se ao longo da evolução humana. Nessa seção, explora-
mos como a mente é adaptativa, que é um dos nossos quatro temas maiores. Os primeiros sistemas
nervosos, provavelmente, eram pouco mais do que algumas células especializadas com capacidade
de sinalização elétrica. Mas, por meio do processo de se adaptar ao ambiente, o cérebro desenvolveu
mecanismos especializados para regular a respiração, a ingestão de alimento, o comportamento
sexual e os fluidos corporais, assim como sistemas sensórios para ajudar na navegação e sensoriais
no reconhecimento de amigos e de inimigos.
Conforme discutimos no Capítulo 3, o sistema nervoso está envolvido em quase todos os aspectos da
manutenção, da regulação e do comportamento de um organismo. Ele é composto de um vasto número de
circuitos cerebrais interatuantes, variando daqueles que controlam as contrações dos inrestinos, aos que
possibilitam que uma criança brinque com um cachorro e aos que permitem que alunos universitários
escolham seus cursos. Tudo isso é orquestrado por partes do cérebro tão diferentes em sua estrutura e
organização quanto os papéis que elas desempenham. Alguns desses papéis permaneceram essencialmen-
te os mesmos ao longo da nossa evolução; os circuitos neurais responsáveis por coisas básicas, como
respirar, mudaram correspondentemente pouco. Mas, embora o sistema nervoso humano tenha uma con-
figuração fundamental que é igual em todos os vertebrados, ele elaborou de forma impressionante as
estruturas responsáveis por nossas enormes capacidades de comunicação e pensamento.
1

128 GAZZANIGA e HEATHERTON

11

A Figura 4.10 mostra algumas das estruturas básicas do sistema nervoso central. A medula
medula espinal Parte do sistema
nervoso central. Uma corda de
espinal, correndo ao longo da coluna vertebral, contém alguns programas básicos de movimento e
tecido neural que corre dentro das caminhos reflexos. Acima da medula espinal e formando o núcleo do cérebro, o tronco cerebral abri-
cavidades das vértebras, desde a ga muitos dos circuitos menos refinados e mais antigos, como a ponte e a medula, que são fundamen-
pélvis até a base do crânio. tais para a nossa sobrevivência. Acoplado à parte traseira do tronco cerebral está o cerebelo, que é
substância cinzenta Um importante para controlar o movimento. O cerebelo, a ponte e a medula constituem o metencéfalo. O
segmento da medula espinal que é topo do tronco cerebral, chamado de mesencéfalo ou cérebro médio, ajuda a integrar as informações
dominada pelos corpos celulares
dos neurônios.
motoras e sensoriais. Acima e cercando o tronco cerebral estão os hemisférios cerebrais, duas metades
do cérebro anterior, ou prosencéfalo, que se comunicam extensivamente com o tronco cerebral e um
substância branca Um segmento
da medula espinal que consiste
com o outro e são responsáveis por muito do que consideramos como nosso self único. O córtex
principalmente em axônios e cerebral, a camada mais externa proeminente e ondulada dos hemisférios, permite as capacidades
revestimentos gordurosos. complexas e discriminadoras de reconhecimento, ação e pensamento, nas quais os seres humanos,
em especial, destacam-se. Abaixo do córtex, os gânglios basais traduzem pensamentos em ação e,
provavelmente, mais pensamentos. Quase todas as informações que chegam ao córtex, vindas dos
sentidos, atravessam no caminho uma estação chamada tálamo, sob a qual está o hipotálamo, um
agrupamento de estruturas vitais para regular impulsos básicos como fome e sede. Finalmente, os
hemisférios cerebrais também abrigam a amígdala e o hipocampo, estruturas importantes para a
emoção e a memória. Falaremos sobre cada uma dessas estruturas.

A medula espinal é capaz de função autônoma


Amedula espinal é uma corda de tecido neural que corre dentro das cavidades das vértebras,
desde a pélvis até a base do crânio (Figura 4.11). Ela é segmentada, com cada segmento marcado por
seu próprio par de nervos espinhais emergindo dos lados da corda e comunicando informações de e
para o restante do corpo. Em um corte transversal, podemos ver que a medula é composta por dois tipos
distintos de tecido: a substância cinzenta, que é dominada pelos corpos celulares dos neurônios, e
a substância branca, que consiste principalmente em axônios e nos revestimentos gordurosos que
os cercam. As substâncias cinzenta e branca são claramente distinguíveis também no cérebro todo. As
informações sensoriais do corpo entram na medula espinal e são transmitidas para o cérebro. Entretan-
to, além de retransmitir informações, a medula espinal é capaz de atuar sozinha.

Reflexo de estiramento Amedula espinal controla um dos comportamentos mais simples, o


reflexo espinal, que é a conversão da sensação em ação por um punhado de neurônios e pelas cone-

, b ro [ Cérebro
Cere
anterior Tálamo
. 'faIo [ .
(Prosencéfalo) 0 1ence ,
H1pota-
lamo

l
Cérebro médio
Tronco (Mesencéfalo)
cerebral Ponte
Medula - - - - - - - - - - - --'-

FIGURA 1 O O sistema nervoso Medula espinal -------------- Cerebelo


central humano.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 129

:Ula xões entre eles. Como exemplo, considere o reflexo de


:o e e.stiramento. Quando batemos com um martelo de borra-
bri- cha no tendão ligado à patela, a perna dá um pequeno
.en- chute reflexo. Esse reflexo está presente em toda a mus-
eé ::ulatura e função esquelética para manter as posições
o das articulações sob cargas variadas. Ele funciona pelo
ões seguinte circuito neuronal bastante simples: todos os mús-
des culos têm receptores de estiramento dentro deles para
sentir mudanças na extensão. Esses receptores são, na
-ex \·erdade, as pontas dendríticas de neurônios receptores
des cujos corpos celulares estão localizados na medula espi-
~{)S,
nal. Estirar o músculo faz com que os neurônios recepto-
i e, :res conectados a ele descarreguem. Os axônios dos neu-
:os :-ônios receptores entram na medula espinal e fazem
:!111 sinapse diretamente com neurônios motores, o que re-
os conduz ao mesmo músculo. Isso fecha a curva: estirar o
~a JJÚsculo faz com que os neurônios receptores descarre-
suem, o que faz que os neurônios motores aumentem
sua descarga, o que contrai o músculo. e - - - Nervos torácicos ----1
T1-T12

Gerador de padrão central A medula espinal


;:iode executar ações bem mais complicadas do que os
-as. reflexos de estiramento. Programas para muitos com-
- r ;ionentes do comportamento estão presentes em seus
:: e circuitos, disponíveis para uso a fim de que as regiões
:s cerebrais superiores atinjam seus objetivos. Esses com-
' e 1onentes estão localizados: em experimentos animais,
,..:e estimular eletricamente o segmento que se projeta para
-5 as patas posteriores pode produzir a extensão das patas 1 - - - - Nervos lombares-----<

b- posteriores, enquanto a estimulação de uma parte mais L1-LS


acima da medula pode mover as patas da frente. Os seg-
mentos se comunicam por meio de longos axônios que
o correm verticalmente através de alguns ou de todos eles,
permitindo o movimento coordenado do corpo inteiro.
Por exemplo, se a medula espinal de um peixe for
desconectada cirurgicamente do restante do cérebro, a
medula espinal isolada ainda capacita o peixe para na-
dar. Ela produz ondas de contrações musculares que se ~---- Nervo coccígeo - - - -
propagam pelo corpo do peixe exatamente como em qual-
quer outro peixe que está nadando. Ele precisa ser indu- A medula espinal está organizada em segmentos, cada um com um
zido a começar, e isso é feito experimentalmente pela par de nervos saindo para o corpo.
aplicação de um neurotransmissor excitatório aos neu-
rônios, mas, depois de começar, ele continua por sua pró-
pria conta. Da mesma forma, a medula espinal de um gato pode mover as pernas em movimentos
coordenados de caminhar, mesmo depois de desconectada do cérebro. Um circuito que, uma vez
ativado, produz um conjunto rítmico e recorrente de movimentos é conhecido como um gerador
de padrão central. Todos os vertebrados, incluindo os humanos, apresentam essa autonomia
espinal. As galinhas sem cabeça que continuam correndo em círculo são um caso clássico.
gerador de padrão central Um
circuito que, uma vez ativado,
O tronco cerebral abriga os programas básicos de produz um conjunto rítmico e
recorrente de movimentos.
sobrevivimcia
tronco cerebral Uma seção da
base do cérebro que abriga os
A medula espinal continua até a base do crânio, tomando-se mais grossa e mais complexa
programas mais básicos de
conforme se transforma no tronco cerebral, que é constituído pelo metencéfalo e pelo mesencéfa- sobrevivência, como respirar, engolir,
lo. Esse é o núcleo neural do organismo, abrigando os programas mais básicos de sobrevivência, vomitar, urinar e ter orgasmo.
como respirar, engolir, vomitar, urinar e ter orgasmo. Uma vez que o tronco cerebral também é
130 GAZZANIGA e HEATHERTON

simplesmente a medula espinal continuada dentro da cabeça, ele realiza para a cabeça funções
formação reticular Uma grande
rede de tecido neural dentro do
semelhantes às que a medula espinal realiza para o restante do corpo. Aqui existe um complemento
t ronco cerebra l envolvida na inteiro de reflexos, análogos aos reflexos espinhais - a ânsia de vômito é um exemplo. Exatamente
excitação comportamental e nos como a medula espinal tem nervos que carregam informações para e da pele e músculos do corpo, o
ciclos de sono-vig ília. tronco cerebral tem nervos que o conectam à pele e aos músculos da cabeça e também aos órgãos
teto Localizado na parte posterior especializados dos sentidos existentes na cabeça, como os olhos e ouvidos. Esses nervos possuem
do mesencéfalo, esta estrutura conglomerados de células distintos e dedicados, dentro do tronco cerebral, que atendem às suas
cerebral ajuda a orientação em
relação a sons ou estímulos em
necessidades.
movimento. O tronco cerebral utiliza os reflexos da medula espinal para produzir comportamentos úteis.
cerebelo Uma grande
Por exemplo, estimular eletricamente uma parte do tronco cerebral pode fazer com que um animal
protuberância convoluta na parte anestesiado (ou um animal cuja medula espinal e tronco cerebral tenham sido desconectados do
posterior do tronco cerebral, que é restante de seu cérebro) comece a caminhar - mais ou menos como a estimulação de Wilder Penfi-
essencial para os movimentos eld de um ponto da superfície do cérebro da sua paciente provocou nela uma lembrança. Aumentar
coordenados e equ ilíbri o.
a freqüência da estimulação faz com que o animal passe da caminhada para o trote, e aumentar mais
ainda, para um galope. Estimular uma outra área fará com que o animal se vire para um lado.

Formação reticular O tronco cerebral também contém redes de neurônios, conhecidos coletiva-
mente como a formação reticular, que se projetam para cima para o córtex cerebral e para os
gânglios basais e que afetam a excitação geral. Aformação reticular também está envolvida na indução
e terminação de diferentes estágios do sono. Aautonomia do tronco cerebral pode ser dramaticamente
ilustrada separando-se totalmente, com um corte, o tronco cerebral de um animal do cérebro acima
dele, incluindo todo o córtex cerebral. Os gatos que recebem esse tratamento ainda podem caminhar e
dirigir ataques a barulhos; se eles se perceberem diante de um alimento, o comerão. Foram relatados
alguns casos de humanos nascidos sem córtex cerebral, e seus comportamentos são extremamente
básicos e reflexos. Tais bebês tendem a não se desenvolver normalmente e a não sobreviver.

Teto No topo do mesencéfalo está o teto (do latim tectum), um centro orientador que recebe infor-
mações dos olhos, ouvidos e pele e faz o animal girar para enfrentar estímulos proeminentes. O teto
contém um mapa topográfico do espaço. Configurações visuais ou ruídos que atraem a atenção, ou um
toque na pele, ativam no mapa do teto o ponto que representa essa direção no espaço, fazendo com que
o torso e o pescoço girem para ela e os olhos a focalizem. O teto move todo o organismo em uma
resposta coordenada, ao comandar os centros de movimento menos importantes - como os centros de
giro e locomoção alhures no tronco cerebral e os circuitos motores dos globos oculares - para que
cumpram suas ordens. Ele é plenamente capaz de realizar sozinho essas tarefas, mas está sujeito a um
controle descendente de regiões superiores, incluindo o córtex cerebral.

Hemisfério
cerebral O cerebelo é essencial para o movimento
direito

O cerebelo (do latim cerebellum) é uma grande protuberância conecta-


da à parte posterior do tronco cerebral (Figura 4.12). Seu tamanho e superfície
convoluta fazem com que ele pareça um cérebro suplementar. Lesões em dife-
rentes partes do cerebelo produzem efeitos muito diferentes. Sua organização
celular, todavia, parece ser idêntica em todo ele. Isso sugere que o cerebelo
realiza operações idênticas em todos os seus inputs, com os diferentes efeitos
resultando das diferenças de origem, e destino, das informações.
O cerebelo é extremamente importante para a função motora adequada.
Lesões nos pequenos núcleos da base provocam inclinação da cabeça, proble-
mas de equilíbrio e perda da compensação regular da posição dos olhos para o
movimento da cabeça. Lesões na crista que corre na parte posterior afetam o
caminhar. Lesões nos lobos que se projetam em cada lado provocam a perda da
coordenação dos membros. O papel mais óbvio do cerebelo é na aprendizagem
Cerebelo motora. Ele parece ser "treinado" pelo restante do sistema nervoso e opera de
modo independente e inconsciente. O cerebelo nos permite andar de bicicleta
sem esforço enquanto pensamos no que comeremos no almoço. Imagens funcio-
FIGURA 4.12 O cerebelo, na parte posterior do tronco nais, todavia, indicam um papel mais amplo para o cerebelo, sugerindo que ele
cerebral, os hemisférios cerebrais e a medula espinal. pode estar envolvido na atividade psicológica "automática".
CIÊNCIA PSICOLÓG ICA 131

1Cões O hipotálamo controla as funções corporais e


lento hipotálamo Uma pequena
e "m 1 c;:nc;; elemen are
est rutura cerebral que é vital para a
ente regula ção da temperatura, da
po, o O hipotálamo é a estrutura reguladora mais importante do cérebro e é indispensável para a emoção, do comportamento sexual
.,ãos sobrevivência do organismo. Ele é responsável por regular as funções vitais - temperatura corporal, e da motivação .
ruem ritmos circadianos, pressão sangüínea e nível de glicose - e, para esses fins, impele o organismo por hemisférios cerebrais A metade
suas meio de impulsos fundamentais como sede, fome, agressão e sensualidade (como será descrito no esquerda e a metade d ireita do
prosencéfalo, conectadas pelo
Capítulo 9) . corpo caloso.
~eis . O hipotálamo é uma das regiões mais vitais do cérebro. Ele recebe input de quase todos os lugares
tmal tálamo A porta de entrada para
e projeta sua influência, direta ou indiretamente, para quase todos os lugares. Por meio de suas proje- o cérebro, que recebe quase todas
- do ções para o restante do cérebro, o hipotálamo induz impulsos motivacionais e os comportamentos para as informações sensoriais antes que
bfi- satisfazê-los. Por meio de suas projeções para a medula espinal, ele governa grande parte das funções elas cheguem ao córtex.
emar dos órgãos internos. Conforme discutido no Capítulo 3, ele controla a glândula pituitária, a "glândula
::iais chefe" do corpo, que, ao liberar hormônios na corrente sangüínea, controla todas as outras glândulas e
governa processos importantes como desenvolvimento, ovulação e lactação (Figura 4.13) .
O hipotálamo governa o desenvolvimento sexual e reprodutivo e o comportamento. Ele é um
~a­ dos únicos lugares no cérebro humano onde existem claras diferenças entre homens e mulheres,
ra os devido a influências hormonais precoces durante o desenvolvimento do sistema nervoso. Ratas fê-
bção Jleas expostas a altos níveis de testosterona ainda dentro do útero desenvolvem uma organização
ente aipotalâmica mais típica dos ratos machos - a chamada masculinizaçãofetal. Diferenças na estrutu-
rima ra hipotalâmica podem influenciar a orientação sexual. Utilizando métodos post mortem, LeVay (1991)
bar e :!escobriu que o hipotálamo anterior tinha apenas a metade do tamanho nos homens homossexuais
ta.dos :e comparados aos heterossexuais. De fato, o tamanho dessa área nos homens homossexuais era
ente ::amparável ao seu tamanho nas mulheres heterossexuais. As implicações desse achado são discuti-
:!as mais completamente no Capítulo 12.

tfor-
1i:eto Os hemisférios cerebrais estão por trás da cognição, da
·um
emória e ac; emocões suoeriores
que
:.rrna Acima e ao redor do torno do tronco cerebral está o imenso prosencéfalo, composto por dois
-de hemisférios cerebrais simétricos.
L que ::.Sse é o local de todos os pensamentos,
~ um ;iercepções detalhadas e consciência ... em
resumo, tudo o que nos toma humanos.
-;()dos os animais têm um prosencéfalo,
::ias nos humanos ele evoluiu para uma
=.strutura relativamente enorme que pos-

~~-
sibilita a nossa cultura e comunicação
complexa. Cada hemisfério é composto
.iCie por um tálamo, umhipocampo, uma amíg-
dlle- dala, gânglios basais e um córtex cerebral
tzcão 'Figura 4.14).
~klo
bws Tálamo Otálamo é o portão de en-
rrada para o prosencéfalo: quase todas
2da. as informações sensoriais precisam pas-
ot>le- sar pelo tálamo antes de atingir o cór-
ara o rex. Aúnica exceção a essa regra é o sen-
am o so de olfato, o mais antigo e fundamental
ia da dos sentidos; ele tem uma rota direta
agem para o córtex, desviando-se do tálamo.
ra de Durante o sono, o tálamo fecha o por-
• eta tão para as sensações que chegam, en-
;JCÍO- quanto o cérebro descansa. O tálamo O hipotálamo e a
le ele parece desempenhar um papel na aten- glândula pituitária, a "glândula-chefe" do
ção também. corpo.
132 GAZZANIGA e HEATHERTON

l
Hipocampo e amígdala Duas estruturas dentro do prosencéfalo são essenciais para a me-
hipocampo Uma estrutura
cerebral importante para a
mória e para as emoções, respectivamente: o hipocampo (do latim hippocampus "cavalo marinho'',
formação de certos tipos de por seu formato distintivo) e a amígdala (do latim amygdala "amêndoa") (Figura 4.14).
memória. Ohipocampo desempenha um papel importante no armazenamento de novas memórias. Ele
amígdala Uma estrut ura cerebral parece fazer isso ao criar novas interconexões com o córtex cerebral a partir de cada nova experiên-
que tem um papel vital para cia vivida. Nós dissemos anteriormente que Karl Lashley não tinha conseguido encontrar a localiza-
aprender a associar fatos no mundo ção do traço de memória removendo partes do córtex cerebral de ratos. Se ele também tivesse lesado
com respostas emoci ona is e para
processar informações emocionais.
suas formações hipocampais, seus resultados teriam sido muito diferentes.
A amígdala, localizada imediatamente em frente ao hipocampo, tem um papel vital para
gânglios basais Um sistema de
estruturas subcorticais que são
aprendermos a associar fatos no mundo com respostas emocionais: um novo alimento com o seu
importantes para a in icia ção do sabor, por exemplo. Para esse fim, suas conexões com o córtex cerebral e o hipotálamo lhe permitem
movimento planejado. suplementar com novas associações os caminhos emocionais mais primitivos. A amígdala, portanto,
córtex cerebral A camada mais permite que o organismo domine respostas instintivas, ao conectar as lembranças que o córtex tem
externa de tecido cerebral, que das coisas com as emoções que elas despertam. A amígdala também intensifica a memória durante
forma a superfície convoluta do momentos de excitação emocional. Uma experiência assustadora pode ficar marcada para sempre
cérebro.
em nossa memória.
lobos occipitais Uma reg ião do A amígdala desempenha um papel especial na resposta aos estímulos que eliciam medo. O
córtex cerebral na parte posteri or
do cérebro que é importante para a
processamento afetivo de estímulos assustadores na amígdala é um circuito resistente, que se desen-
visão. volveu no curso da evolução para proteger os animais do perigo. Finalmente, a amígdala também
córtex visual primário A ma ior
está envolvida na importância emocional das expressões faciais. Estudos utilizando a IRMf descobri-
área no lobo occipital, onde o ram que a amígdala é ativada com força especial em resposta a rostos assustadores.
t álamo projeta a imagem.
Os gânglios basais Os gânglios basais são um sistema de estruturas subcorticais cruciais
para planejar e produzir movimento. Eles recebem input de todo o córtex cerebral e projetam para os
centros motores do tronco cerebral e, via tálamo, de volta para a área de planejamento motor do
córtex. Lesões nos gânglios basais podem produzir sintomas que variam dos tremores e rigidez da
doença de Parkinson aos movimentos espasmódicos incontroláveis da doença de Huntington. Há
evidências de que a lesão também pode prejudicar a aprendizagem de movimentos, porque os gân-
glios basais podem estar envolvidos na aprendizagem de hábitos, como o de automaticamente cui-
dar os carros antes de atravessar a rua. Na verdade, os pacientes com Parkinson têm dificuldade para
aprender tarefas novas que requerem ações rotineiras.
Os gânglios basais também podem desempenhar um papel na produção de ações não-verbais e
na compreensão dos comportamentos não-verbais das outras pessoas (Lieberman, 2000). Os pacien-
tes com lesão nos gânglios basais geralmente têm dificuldade para pro-
duzir expressões faciais emocionais ou para falar de maneira emocio-
Gânglios basais nal. Eles também têm dificuldade para compreender as emoções
Córtex cerebral expressas no rosto dos outros.

Córtex cerebral O córtex cerebral é a camada mais externa


dos hemisférios cerebrais. Nos humanos ela é relativamente enorme -
do tamanho de uma folha de jornal - e convoluta para se ajustar ao
crânio. O córtex suplementa as muitas funções do tronco cerebral, per-
mitindo-nos aprender distinções finas e combinações intricadas de atri-
butos do mundo externo, e permite comportamentos complexos e a ca-
pacidade de pensar antes de agir. Cada hemisfério tem quatro "lobos":
occipital, parietal, temporal e frontal (Figura 4.15). Os dois hemisférios
estão conectados por uma ponte maciça de milhões de axônios, chama-
da corpo caloso .
Olobo occipital é quase exclusivamente dedicado ao sentido da
Amígdala visão. Ele está dividido em múltiplas áreas visuais diferentes, das quais
a maior é, de longe, o córtex visual primário. Esse é o destino maior
das informações visuais. Para o córtex cerebral, tipicamente, a informa-
Hipocampo
ção é topograficamente mapeada, ou representada de uma maneira que
preserva os relacionamentos espaciais: isto é, a imagem visual, retrans-
GU 4.14 Um dos dois hemisférios cerebrais, contendo o mitida do olho através do tálamo, é "projetada" mais ou menos fielmen-
tálamo, a formação hipocampal, a amígdala , os gânglios basais e o córtex te no córtex visual primário. Dois objetos próximos um do outro em
cerebral. uma imagem visual, então, ativarão populações de neurônios que estão
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 133

próximos uns dos outros no córtex visual primário. Essa é outra manei- Sulco central
ra de dizer que neurônios próximos no córtex tendem a ter funções Lobo frontal
similares. Cada hemisfério recebe metade da informação: o hemisfério
.e esquerdo recebe a informação do lado direito do mundo visual, o he- Sulco
parie-
.- misfério direito recebe a que vem do lado esquerdo (Figura 4.16). Cer-
toccipital
1- cando o córtex visual primário está uma colcha de retalhos de áreas
visuais secundárias que processam vários atributos da imagem visual,
tais como sua cor, movimento e formas.
Olobo parietal é parcialmente dedicado ao sentido do tato: ele
contém o córtex somatossensorial (do grego, "sentido corporal") primá-
rio, uma faixa que desce do topo do cérebro para o lado. Mais uma vez,
o trabalho está dividido entre os hemisférios cerebrais esquerdo e di-
reito: o hemisfério direito recebe informações táteis do lado direito do
corpo, e o hemisfério direito recebe informações do lado esquerdo do
corpo. Essa informação também é representada em um mapa topográ- Lobo temporal lncisura Lobo occipital
pré-occipital
fico: os neurônios que respondem a sensações nos dedos estão próxi-
mos dos que respondem a sensações na palma da mão, e assim por G RA 415 Os lobos dos hemisférios cerebrais: parietal, occipital,
diante. O resultado é uma representação distorcida do corpo inteiro temporal e frontal.
[: cobrindo a área somatossensorial primária: o assim chamado homún-
~ulo (do grego "homenzinho"; Figura 4.17) somatossensorial. Ohomún-
culo está distorcido porque as áreas mais sensíveis do corpo, como o rosto e os dedos, têm muito
mais área cortical dedicada a elas. Da mesma forma, no córtex visual primário, o centro do olhar é
representado por uma área cortical muito maior do que as regiões no campo visual periférico.

~I

Campo visual direito

lobos parietais Uma região do


córtex cerebral que f ica em frente
aos lobos occipitais e atrás dos
lobos fronta is, que é importante
Córtex visual primário
para o sentido do tato e para a
configuração espacial de um
F GURA 4.16 O input dos olhos é segregado: a luz que vem do lado esquerdo vai para o hemisfério ambiente.
direito, a que vem do lado direito vai para o hemisfério esquerdo.

ill"
I! :il
134 GAZZANIGA e HEATHERTON

•.-
Ocórtex parietal também é muito importante para perceber a configuração espacial do ambiente
lobos temporais A região ma is
ventral do córtex cerebral, que é
e para se mover nele efetivamente. Para mais detalhes, veja ''.A.travessando os níveis de análise:
importante para processar as Cognição espacial".
informações auditivas e também Os lobos temporais contêm o córtex auditivo primário, uma área de audição análoga
para a memória. aos córtices visual primário e somatossensorial, e áreas auditivas secundárias que processam melhor
córtex auditivo primário A aquilo que escutamos, incluindo, no hemisfério esquerdo, a decodificação de palavras e frases. Os
região do lobo tempo ral envolvida lobos temporais também contêm áreas visuais mais especializadas para reconhecer objetos detalha-
na aud ição.
dos como os rostos. Os lobos temporais são críticos para a memória, contendo a formação hipocam-
lobos frontais A reg ião anteri o r pal e a amígdala, discutidas anteriormente. Foram os lobos temporais que o Dr. Wilder Penfield
do córtex ce rebral envo lvida no
planejamento e no movimento.
estimulou eletricamente para redespertar as experiências passadas de seus pacientes.
Os lobos frontais são essenciais para o planejamento e o movimento. A última porção dos
córtex motor primário A região
do lobo frontal envo lvida no
lobos frontais é o córtex motor primário. Em vez de responder às sensações que vêm do corpo,
movimento. no entanto, os córtices motores primários lhe enviam informações: eles projetam diretamente para a
córtex pré-frontal Uma reg ião
medula espinal, para que mova os músculos do corpo. Assim como nas áreas sensoriais, as responsa-
dos lobos fronta is, especialmente bilidades do córtex motor estão divididas entre as metades do corpo: o hemisfério esquerdo controla
proeminente nos humanos, o braço direito, por exemplo, enquanto o hemisfério direito controla o braço esquerdo. O córtex
importante para a atenção, motor primário também é suplementado por várias áreas motoras auxiliares, responsáveis por movi-
memória de trabalho, tomada de
decisão, comportamento social
mentos mais complexos.
apropriado e perso nalidade. O restante dos lobos frontais, não diretamente responsáveis pelo movimento, é coletivamente
chamado de córtex pré-frontal. O córtex pré-frontal, ocupando cerca de 30% do cérebro nos
humanos, é indispensável para a atividade racional, dirigida. Partes do córtex pré-frontal são respon-
sáveis por dirigir e manter a atenção, mantendo as idéias na mente enquanto as distrações nos
bombardeiam do mundo externo, desenvolvendo planos e os colocando em prática. O córtex pré-
frontal é crítico para interpretar deixas sociais e se comportar de maneira apropriada. As superfícies
ventral e medial do córtex pré-frontal governam muitos comportamentos interpessoais e emocio-
nais. As pessoas com lesões no córtex pré-frontal se distraem facilmente e apresentam comporta-
mentos sociais inadequados, como demonstrar seus impulsos sexuais em situações inapropriadas. É
como se essas pessoas não se dessem conta de que estão sendo avaliadas pelos outros. Nós já conta-
mos o caso de Phineas Gage, o mais famoso paciente com lesão pré-frontal. No início do século XX,
lesar deliberadamente os lobos pré-frontais foi adotado como um meio de tratar pacientes com
doenças mentais.

~
:J
2
OJ
"0 o.
~Joelho

Dedos
dos pés

Gengivas

Córtex somatossensorial

O "homúnculo" somatossensorial. A representação cortical da superfície corporal está


organizada em uma faixa que percorre o lado do cérebro. Áreas conectadas do corpo tendem a ser
representadas no córtex perto uma da outra, e regiões da pele mais sensíveis têm mais área cortical
dedicada a elas.
COGNIÇÃO ESPACIAL
Uma das tarefas mais fundamentais da mente é representar as tanto quanto conseguia enxergar: só do lado direito, é claro. Ela
relações espaciais entre nós mesmos e os objetos que nos rodeiam. continuava girando e comendo frações sucessivamente menores
Ficou claro que essa é uma especialidade do lobo parietal do até se sentir satisfeita.
córtex cerebral. Utilizando diversas técnicas, neurocientistas como Quase não se ouve falar de negligência do lado direito do
Richard Andersen, da CalTech, estão decifrando como o cérebro espaço, incidentalmente, e a heminegligência não foi produzida
lida com o espaço. em experimentos animais. Uma explicação possível para isso é que
O registro elétrico dos neurônios nos cérebros de macacos os ancestrais humanos, assim como os animais não-humanos,
proporcionou valiosos entendimentos. Tipicamente, um macaco é tinham representações completas de ambos os lados do espaço em
treinado para realizar uma tarefa, e depois um minúsculo eletrodo ambos os hemisférios cerebrais. Conforme os humanos evoluíram,
registrador é inserido em seu cérebro, para "ouvir" a atividade os centros da linguagem do hemisfério esquerdo parecem ter
elétrica de neurônios vizinhos enquanto o macaco realiza a tarefa. lotado as áreas espaciais, deixando a representação apenas do
'ª Os resultados, geralmente surpreendentes, indicam o papel de
neurônios isolados nos cálculos necessários para realizar a tarefa.
lado direito do espaço no hemisfério esquerdo, enquanto o
hemisfério direito manteve sua representação de ambos os lados.
Foi descoberto que os neurônios de uma área do lobo parietal só Assim, uma lesão no hemisfério esquerdo ainda deixa a pessoa
descarregam quando um estimulo visual aparece em uma com mapas, enquanto uma lesão no hemisfério direito extingue os
determinada localização do espaço, e mesmo assim só se o macaco únicos mapas existentes do lado esquerdo do espaço.
pretende mover os olhos para focar aquela localização. Da mesma O trabalho com pacientes com acidente vascular também
'orma, descobriu-se que em uma área próxima do lobo parietal há demonstra que a negligência se estende ao mundo interno: os
'leurônios que só respondem a estímulos visuais em certo ponto do neurologistas italianos Eduardo Bisiach e Cláudio Luzzatti pediram a
espaço, mas dessa vez só se o macaco tiver a intenção de alcançar pacientes com "negligência" para fecharem os olhos e se
esse ponto com o braço! O papel crucial evidentemente imaginarem em uma extremidade da Piazza dei Duomo, em Milão,
desempenhado em ambos os casos pela intenção de se mover uma praça pública bastante conhecida por todos eles. Solicitados a
indica que os lobos parietais são críticos para nos permitir navegar descreverem a praça, os pacientes falaram detalhadamente sobre os
suavemente pelo mundo. Tais experimentos nos transmitem um marcos mais importantes, mas só sobre aqueles situados do lado
entendimento detalhado de como o cérebro decompõe esses direito da direção imaginada do seu olhar! Quando solicitados a se
cálculos, informação que não podemos obter simplesmente imaginarem parados na outra extremidade da praça, eles
estudando os humanos. descreveram os marcos que tinham omitido antes. Evidentemente,
:a- As imagens do cérebro em funcionamento nos permitem um perder uma área cortical que processa um certo tipo de informação
exame de alto nível do cérebro inteiro enquanto ele realiza tarefas impede até mesmo a imaginação ou lembrança de tudo o que
espaciais. Isso pode esclarecer a interação entre as regiões aquela área era responsável por processar - uma conclusão a partir
cerebrais. Maurizio Corbetta e seus colegas da Washington do trabalho com pacientes humanos que, certamente, não poderia
University School of Medicine utilizaram imagens de ressonância ter sido atingida por qualquer outro método.
magnética funcional para escanear sujeitos que estavam assistindo Os cientistas modernos que estão estudando questões
à exibição de bolhas coloridas em movimento. Alguns sujeitos complexas como a cognição espacial precisam empregar
tinham de prestar atenção às cores das bolhas; outros, à direção do abordagens experimentais variadas para estudar a mente. Obter
movimento das bolhas; outros, às formas das bolhas. Os resultados evidências da pesquisa animal, de humanos com lesão cerebral e
mostraram que diferentes regiões cerebrais se tornaram ativas das imagens do cérebro em funcionamento são métodos
durante as diferentes condições: os lobos parietais se tornaram importantes para aprendermos como o cérebro possibilita a
mais ativos quando os sujeitos estavam prestando atenção às mente.
'ormas das bolhas, mas não às suas cores ou movimento. Assim, as
magens funcionais revelam que focar um aspecto de um objeto
nibe as regiões cerebrais responsáveis por pensar em seus outros
atributos.
O estudo de pacientes com lesões cerebrais mostra o que pode
acontecer quando alguns dos componentes computacionais da
cognição espacial estão faltando. Um resultado muito comum de
um acidente vascular cerebral ou outra lesão no hemisfério direito
e o que chamamos de heminegligência: o fracasso do paciente em
perceber qualquer coisa em seu lado esquerdo. Se dois objetos
'orem segurados diante dele, ele só vai enxergar o que está do
ado direito. Solicitado a desenhar um objeto simples, ele só
desenhará sua metade direita (Figura 4.18). Olhando-se ao
espelho, esses pacientes só vão se barbear ou colocar maquiagem
do lado direito do rosto, não percebendo o lado esquerdo de jeito
nenhum. Em The man who mistook his wife for a hat (O homem
que tomou sua esposa por um chapéu), o neurologista Oliver Sacks
descreve uma paciente com acidente vascular cerebral que
encontrou uma estratégia para lidar com sua negligência na hora
das refeições. Ainda sentindo fome depois de ter comido apenas a
metade direita do alimento em seu prato, ela simplesmente rotava
sua cadeira de rodas para a direita - rotar para a esquerda era
iteralmente inimaginável - até realizar uma rotação quase
completa e a comida restante aparecer no seu lado direito. Agora FIG 4. Um desenho feito por um paciente com negligência,
'ocalizando o alimento previamente não-percebido, ela comeria omitindo o lado esquerdo da flor.
136 GAZZANIGA e HEATHERTON

Quais são as estruturas cerebrais básicas e suas funções?


As diferentes partes do sistema nervoso têm, todas, papéis essenciais. A medula espinal está envolvida em
movimentos e em reflexos básicos. O tronco cerebral tem funções de sobrevivência, como a respiração e o ritmo
cardíaco. Na parte posterior do tronco cerebral está o cerebelo, um "burro de carga" esquecido que aprende
hábitos rotineiros de movimento e, talvez, de pensamento. O mesencéfalo integra as informações motoras e
sensoriais. Abaixo do córtex, o tálamo funciona como uma estação intermediária, através da qual viajam as
informações sensoriais; o hipocampo regula os sistemas corporais e controla o sistema hormonal; os gãnglios basais
ajudam no planejamento motor e na aprendizagem de hábitos; o hipocampo está envolvido na memória; e a
amígdala influencia os estados emocionais, especialmente o medo. Finalmente, o córtex cerebral é a superfície mais
externa do cérebro, dividida em lobos occipitais, parietais, temporais e frontais. Cada lobo tem funções específicas;
o lobo frontal é essencial para pensamentos de nível superior e para o comportamento social.

COMO SE DIVIDE O C RO'?


Como vimos, estudar os humanos cujo cérebro foi danificado por acidentes ou cirurgicamente
alterado tem sido uma rica fonte de entendimento da mecânica da mente. Muitas dessas cirurgias
foram tentativas de tratar a epilepsia removendo especificamente a parte do cérebro onde começam
as convulsões. Outra estratégia, iniciada na década de 1940 e ainda praticada ocasionalmente hoje
Cada metade do cérebro possui quando todas as outras intervenções falharam, é cortar as conexões dentro do cérebro para tentar
as mesmas capacidades?
isolar o ponto onde se iniciam as convulsões, para que uma convulsão que se inicia lá tenha maior
dificuldade para se propagar por todo o córtex.

Os hemisférios podem ser seoarados


As únicas conexões intracorticais que podem facilmente ser cortadas sem danificar a substância
cinzenta são aquelas que vão de um hemisfério cerebral para o outro, no feixe de fibras maciço
chamado corpo caloso (Figura 4.19). O corpo caloso pode ser cortado apenas parcialmente, pou-
pando-se alguns dos axônios conectores, ou pode ser inteiramente separado. Amaioria desses pacien-
tes, e todos nos quais foram realizadas as primeiras operações e que forneceram os primeiros resul-
tados surpreendentes, tiveram o corpo caloso completamente cortado. Com exceção de algumas
poucas conexões residuais, menos importantes, isso deixa as duas metades do prosencéfalo comple-
tamente isoladas uma da outra e os dois hemisférios conectados apenas com o tronco cerebral;
portanto apenas indiretamente um com o outro. Essa condição é conhecida como cérebro secio-
nado.
Talvez a coisa mais óbvia sobre os pacientes depois de suas operações foi quão normais eles
estavam. Diferentemente dos pacientes após outros tipos de cirurgia cerebral, os pacientes com
cérebros secionados não tiveram nenhum problema maior que tivesse ficado imediatamente aparen-
te. De fato, algumas investigações iniciais sugeriram que a cirurgia não afetara os pacientes de
nenhuma maneira discernível. Eles conseguiam caminhar e falar normalmente, pensar claramente e
interagir socialmente.
Entretanto, o trabalho com animais mostrou que essa talvez não seja a história toda. Um dos
autores (M.S.G.), trabalhando com Roger Sperry, ganhador do prêmio Nobel, realizou uma série de
testes nos primeiros participantes que tiveram seu cérebro secionado. Os resultados foram impressi-
onantes: exatamente como o cérebro ficou dividido em dois, assim também aconteceu com a mente.

corpo caloso Uma fibra de Os hemisférios separados podem ser testados


axônios que transmite informações
entre os dois hemisférios do Você lembra, ainda deste capítulo, que as imagens do lado esquerdo do campo visual vão para
cérebro.
o hemisfério direito e as do lado direito, para o esquerdo. Lembre também que o hemisfério esquerdo
cérebro secionado Uma controla a mão direita e o hemisfério direito controla a mão esquerda. Essas divisões permitem aos
condição em que o corpo caloso é
cirurgicamente cortado e os dois
pesquisadores fornecer informações para, e obter informações de, um hemisfério de cada vez.
hemisférios do cérebro não AFigura 4.20 mostra um experimento típico. O paciente com o cérebro secionado está sentado
diante de uma tela, olhando para um ponto central. Duas imagens são acionadas simultaneamente,
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 137

-.:ma em cada lado do ponto. Uma vez que cada hemisfério só vê os conteúdos do lado Estrutura do
corpo caloso
oposto do campo visual, o hemisfério direito veria a imagem à esquerda, e o hemisfé-
:i.o esquerdo veria a imagem à direita.
Vimos que o hemisfério esquerdo é dominante para a linguagem na maioria das
?ôSOas. Se um paciente com o cérebro secionado, tendo visto rapidamente as duas
::nagens na tela da maneira recém-descrita, for solicitado a relatar o que foi mostrado,
ele dirá que foi mostrada apenas uma figura e descreverá a da direita. Por que isso
acontece? Porque o hemisfério esquerdo, com seu controle sobre a fala, só enxergou a
::gura no lado direito. O hemisfério direito (ou "cérebro direito") mudo, tendo visto a
;lgura da esquerda, é incapaz de articular uma resposta. Podemos mostrar, todavia,
~ue o cérebro direito realmente viu a figura. Se a figura da esquerda era, por exemplo,
:.ima colher, o hemisfério direito poderia facilmente escolher uma colher em meio a
l!Ila coleção de objetos, usando, é claro, a mão esquerda. O hemisfério esquerdo não
:em nenhum conhecimento do que o direito viu. Secionar o cérebro, então, produz
jois meio-cérebros, cada um com suas percepções, pensamentos e consciência inde-
Jendentes! F GURA 4.19 O corpo caloso, um feixe maciço de
milhões de axônios que conectam os dois hemisférios
cerebrais.
Os hemisférios são especializados
:ar Uma exploração mais cuidadosa revela muito mais sobre a divisão de trabalho dentro do cére-
or Jro. Em todos os pacientes estudados, o hemisfério esquerdo foi muito mais competente na lingua-
5em do que o direito, tanto que na maioria dos pacientes o hemisfério direito não tinha nenhuma
::apacidade discernível de linguagem. Em alguns pacientes, contudo, o hemisfério direito tinha uma
::ompreensão rudimentar da linguagem. lnteressantemente, essa capacidade de linguagem do he-
;:;iisfério direito tendia a melhorar nos anos seguintes à operação, presumivelmente conforme o
2.emisfério direito adquiria habilidades de comunicação que eram desnecessárias quando ele estava
:...-ueiramente conectado ao fluente cérebro esquerdo.

.
E5 ~
~
o/
-
if

F GU .20 Um experimento com


um paciente que teve o cérebro secionado.
O hemisfério esquerdo não tem nenhum
conhecimento da imagem que apareceu
rapidamente no lado esquerdo da tela, mas
o hemisfério direito é capaz de apanhar o
objeto certo utilizando a mão esquerda.
138 GAZZANIGA e HEATHERTON

Estímulo do Resposta verbal do O hemisfério direito, entretanto, tem suas próprias competências
hemisfério direito hemisfério esquerdo que complementam as do esquerdo. O cérebro esquerdo geralmente é
inútil no que se refere a relações espaciais. Em um experimento, um
participante com cérebro secionado recebe uma pilha de cubos e o
desenho de um arranjo simples segundo o qual deve arrumar os cubos
- por exemplo, um quadrado. Se o participante estiver usando a mão
direita, controlada pelo hemisfério esquerdo, os cubos são arrumados
com facilidade. Mas, se o cérebro esquerdo estiver fazendo a arruma-
ção, via mão direita, o resultado será uma tentativa sinuosa, incompe-
tente. Durante esse desempenho desolador, a mão esquerda tentará se
meter e ajudar, enquanto o cérebro direito provavelmente observa a
cena frustrado!
Os cérebros secionados nos ajudaram a compreender não só as
especializações dos lados esquerdo e direito como também a organiza-
ção dentro de cada hemisfério. Quando o corpo caloso não foi cortado
em todo o seu comprimento, podemos explorar as contribuições relati-
vas de suas diferentes extremidades para a transferência de diferentes
tipos de informação. AFigura 4.21 mostra a reação de um desses paci-
entes, que tinha suficiente capacidade de linguagem no hemisfério di-
reito para compreender palavras apresentadas brevemente no campo
visual esquerdo. Sua operação foi feita em duas partes, com a metade
posterior do corpo caloso cortada primeiro. Ele foi testado após a pri-
meira operação. Uma vez que o córtex visual ocupa a parte posterior
do cérebro, o corte na metade posterior do corpo caloso impede qual-
quer transferência de informação visual. O cérebro esquerdo, então,
era incapaz de enxergar a palavra "cavaleiro". Fascinantemente, toda-
via, o cérebro esquerdo foi capaz de visualizar o que o cérebro direito
estava pensando! Evidentemente, informações mais "significativas"
poderiam ser transferidas por meio dos axônios na metade frontal do
corpo caloso que conecta as duas metades frontais do cérebro. Um fe-
1 Diferentes tipos de informação são transferidos por nômeno que parece estar relacionado aos talentos verbais do hemisfé-
diferentes partes do corpo caloso. Se a metade posterior for secionada, rio esquerdo é a tendência a construir uma narrativa interna para dar
mas a metade frontal for deixada intacta, o significado é transferido de sentido ao mundo. Esse é o tema de "Utilizando a ciência psicológica:
um hemisfério para o outro, mas a informação visual não. A mente é um intérprete subjetivo".

Como se divide o cérebro?


O corpo caloso une os dois hemisférios cerebrais. Nos pacientes com cérebro secionado, o corpo caloso é cortado
para tratar a epilepsia. As pesquisas sobre os pacientes com cérebro secionado mostram que o hemisfério esquerdo
é dominante para as relações espaciais. Nos pacientes com cérebro secionado, ambos os hemisférios parecem ter
consciência independente. O intérprete do hemisfério esquerdo tenta compreender o mundo que nos cerca.

COMO O CÉR RO MUDA?


Apesar da grande precisão e especificidade de suas conexões, o cérebro é extremamente maleável.
Durante seu desenvolvimento, depois de alguma lesão e por todo o nosso constante fluxo de experiên-
cias, o cérebro está continuamente mudando, uma propriedade conhecida como plasticidade. Deter-
minar a natureza dessas mudanças, e as regras que elas seguem, é aumentar nosso entendimento da
mente e uma conseqüência direta da revolução biológica que está energizando o campo.
Existem períodos críticos durante O cérebro segue um padrão de desenvolvimento previsível, com diferentes estruturas e capaci-
o desenvolvimento do cérebro? dades progredindo em diferentes ritmos e amadurecendo em diferentes pontos da vida. Os répteis
nascem de seus ovos rígidos já prontos; os bebês humanos dormem e continuam crescendo e desen-
A MENTE É UM INTÉRPRETE SUBJETIVO
Jútra dimensão interessante da relação entre os hemisférios
:erebrais é como eles trabalham juntos para reconstruir as nossas
;:,oeriências. Isso pode ser demonstrado perguntando-se a um
-emisfério esquerdo secionado o que ele pensa sobre
::importamentos anteriores que foram produzidos pelo hemisfério
: ·eito. Em um desses experimentos, diferentes imagens são
:·ejetadas simultaneamente para os campos visuais esquerdo e
: •eito, e o paciente deve apontar com ambas as mãos para as
"- ;iuras que parecem mais relacionadas às imagens da tela (Figura
.! 22). Como exemplo, a imagem de uma pata de galinha foi
::•ejetada rapidamente para o hemisfério esquerdo, e a imagem
e uma cena na neve, para o hemisfério direito. Em resposta, o
-emisfério esquerdo dirigiu a mão direita para apontar para a
"-gura da cabeça de uma galinha, e o hemisfério direito apontou a
-ião esquerda para uma pá de tirar neve. O participante foi então
;:iuestionado por que escolhera esses itens. O hemisfério esquerdo
;alante certamente não poderia ter idéia do que o hemisfério
esquerdo vira. Entretanto, o paciente (ou melhor, seu hemisfério
esquerdo) replicou calmamente: "Oh, é simples. A pata da galinha
;az parte da galinha e nós precisamos de uma pá para limpar o
:;;alinheiro". O hemisfério esquerdo, evidentemente, interpretara a
·esposta da mão esquerda de uma maneira consistente com o
:onhecimento do cérebro esquerdo. Essa tendência do hemisfério
esquerdo de construir um mundo que faz sentido é chamada de o
intérprete".
Esse intérprete influencia fortemente a maneira pela qual
.emos e lembramos o mundo. Depois de ver uma série de figuras
:iue formam uma história e solicitados mais tarde a escolher quais,
:ie outro grupo de figuras, eles tinham visto previamente, sujeitos
-ormais tinham uma forte tendência a "reconhecer" falsamente
.:c·guras consistentes com o tema da série original e a rejeitar as
""guras inconsistentes com o tema. O cérebro esquerdo, então,
~en de a "comprimir" suas experiências em uma história compreen-
s vel e reconstrói detalhes lembrados com base nessa história.
O cérebro direito parece simplesmente experienciar o mundo e
embrar as coisas de maneira menos distorcida pela interpretação
-arrativa. Dada a capacidade finita do cérebro, as vantagens da O mecanismo de intérprete do cérebro esquerdo. O
compressão parecem claras. E parece que o cérebro direito pode hemisfério esquerdo tenta explicar o comportamento do hemisfério direito
•erificar as especulações não-garantidas do cérebro esquerdo. com base em informações limitadas .

-:olvendo seus cérebros, ativando e refazendo sua rede neural, de maneiras importantes, por muitos
IDOS. Além disso, as conexões de nosso cérebro são refinadas e ressintonizadas com cada nova expe-
!iência de nossa vida. Apesquisa sobre a plasticidade do cérebro promete revelar muita coisa sobre
a natureza interativa das influências biológicas e psicológicas sobre o nosso comportamento, valen-
do-se da emocionante pesquisa que atravessa todos os níveis de análise.

A interação entre os genes e o meio ambiente


é\ ivr. o céro r
Conforme você leu no Capítulo 2, existem interações complexas entre os genes e o meio ambi-
ente. O desenvolvimento do cérebro segue seqüências determinadas codificadas nos genes: a acui-
dade visual dos bebês se desenvolve antes de sua capacidade de enxergar em estéreo, por exemplo,
e o córtex pré-frontal não está anatomicamente maduro antes do final da adolescência ou início da plasticidade Uma propriedade
do cérebro que permite que ele
idade adulta. Mas, mesmo com essas instruções genéticas meticulosamente especificadas, o ambien- mude em função de experiências,
ée desempenha um papel importante. O comportamento dos próprios genes depende totalmente do drogas ou danos.
ambiente. Diferentes genes são "expressos" em diferentes células, e quais genes são expressos e em
_______
140 GAZZANIGA e HEATHERTON

,,
1

que extensão é determinado pelo meio ambiente. O ambiente não afeta apenas os produtos da ativi-
período crítico Momento em
que certas experiências precisam
dade do nosso DNA; ele afeta a própria atividade do DNA.
ocorrer para que o cérebro se
desenvolva normalmente, tal como Sinais químicos orientam as conexões que estão crescendo No embrião em desen-
a exposição a informações visuais volvimento, novas células recebem sinais de seus arredores, que determinam que tipo de células elas se
durante o período de bebê para o
desenvolvimento normal dos
tomarão. As células liberam sinais químicos entre si que agem diretamente sobre seu material genético,
caminhos visuais do cérebro. para determinar quais dos milhões de instruções contidas no código genético serão executadas.
Se as células de urna parte de um embrião forem cirurgicamente transplantadas para outra
parte, o resultado depende de quão longe chegou o processo de desenvolvimento. Tecidos transplan-
tados precocemente se transformam completamente no tipo apropriado à sua nova localização. Mas,
à medida que o tempo passa, as células se tornam cada vez mais comprometidas com suas identida-
des, de modo que transplantá-las resulta em organismos desfigurados. No caso de tecido neural, as
células transplantadas precocemente assumem a identidade apropriada à sua nova localização, e o
organismo se desenvolve normalmente. Mas as células transplantadas mais tarde desenvolvem co-
nexões corno se não tivessem sido transplantadas: isto é, as células se conectam a áreas que teriam
sido apropriadas se tivessem permanecido em sua antiga localização. Tecidos removidos das áreas
visuais se conectam às partes visuais do tálamo, e assim por diante.
Essa predestinação de conexões das células que tiveram tempo para determinar suas identidades
expõe a natureza pré-programada da rede neural do cérebro. As conexões do cérebro são produzidas
em grande parte pela detecção dos axônios em crescimento das moléculas específicas que lhes dizem
aonde ir e aonde não ir. As amplas pinceladas do cérebro são dadas por essa especificidade química: os
neurônios em urna região estão procurando determinadas substâncias químicas, e os neurônios em
outra as estão produzindo. Os axônios da primeira região buscam ou se afastam regularmente de con-
centrações crescentes ou decrescentes dessas substâncias químicas sinalizadoras - os assim chamados
gradientes químicos. Seguir os gradientes de algumas substâncias químicas orienta os axônios em longas
viagens até suas áreas de destino, ao passo que a concentração de outras substâncias químicas governa
seus padrões de ramificação depois que chegam lá. Esse método estabelece as conexões entre todas as
estruturas cerebrais e induz as conexões específicas entre as áreas do córtex cerebral.

A experiência sintoniza com precisão as conexões neura is Mas essa não é a histó-
ria toda. Mesmo que as conexões mais importantes sejam estabelecidas por gradientes químicos, as
conexões detalhadas são governadas pela experiência. Se os olhos de um gato forem suturados
fechados no nascimento, privando-o do input visual, os mapas em seu córtex visual não vão se desen-
volver apropriadamente: quando as suturas forem removidas semanas mais tarde, o gato estará
cego. Evidentemente, a atividade constante dos caminhos visuais é necessária para refinar o mapa o
suficiente para que ele seja útil. Em geral, essa plasticidade tem períodos críticos, momentos em
que certas experiências precisam ocorrer para que o desenvolvimento prossiga normalmente. Os
gatos adultos submetidos à mesma privação não perderam a visão.
Há alguns anos, descobriu-se que os ratos criados em grupo em ambientes "enriquecidos", com
montes de brinquedos e obstáculos, cresceram com cérebros maiores do que os criados em condições
normais de laboratório (Rosenzweig et ai., 1972). Entretanto, veja quais eram as condições "nor-
mais": essencialmente, caixas desinteressantes com um lugar para dormir no fundo. Talvez, na rea-
lidade, as condições "enriquecidas" fossem simplesmente uma aproximação da vida livre dos ratos,
permitindo um desenvolvimento normal, enquanto a privação mental causada pelo ambiente de
laboratório provocava atrofia nos cérebros não-utilizados dos ratos. Mas isso demonstra, no mínimo,
que o meio ambiente é importante para o desenvolvimento normal.

O cérebro se reorganiza por toda a vida


Embora a plasticidade diminua com a idade, o cérebro mantém a capacidade de refazer sua
rede neural durante toda a vida. Essa é a base da aprendizagem.

Mudanças na força das conexões estão por trás da aprendizagem Com cada
momento da vida, ganhamos novas lembranças: experiências e conhecimentos instantaneamente
adquiridos que podem mais tarde ser recordados e hábitos que se formam gradualmente. Todas
essas formas de memória consistem em mudanças físicas no cérebro.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 141

Hoje é amplamente aceito pelos cientistas psicológicos que essas mudanças são mais prováveis
não na totalidade da rede neural do cérebro, mas simplesmente na força de conexões preexistentes.
Uma possibilidade é que a ação de dois neurônios descarregando ao mesmo tempo reforça a conexão
sináptica entre eles, tomando mais provável que descarreguem juntos no futuro e que, reciproca-
mente, não descarregar ao mesmo tempo tende a enfraquecer a conexão entre dois neurônios. Co- O cérebro refaz sua rede neural
durante a aprendizagem, o
nhecida tecnicamente como aprendizagem de Hebb (discutida no Capítulo 6), essa teoria pode ser envelhecimento e o reparo de
resumida pela frase "Descarregam juntos, criam rede neural juntos" e é consistente com muitas lesões?
evidências experimentais e muitos modelos teóricos. Ela explica tanto como uma experiência fica
-marcada" - um padrão de descarga neuronal apresenta maior probabilidade de ocorrer novamen-
•e, levando-nos a recordar um evento - quanto como os hábitos se tomam arraigados: simplesmen-
te repetir um comportamento faz com que tendamos a executá-lo automaticamente.
Outro método possível de plasticidade é o crescimento de conexões inteiramente novas; isso leva
muito mais tempo, mas parece ser um fator importante na recuperação de lesões. Até muito recente-
:nente, acreditava-se que, de forma única entre os órgãos corporais, o cérebro adulto não produzia
:iovas células. Isso, presumivelmente, para evitar obliterar as conexões estabelecidas em resposta à
experiência. Entretanto, agora foi descoberto que novos neurônios são produzidos no cérebro adulto.
Parece haver uma rotatividade bastante grande no hipocampo. Lembre que as memórias são inicial-
:nente guardadas dentro (ou pelo menos requerem) dessa estrutura, mas são posteriormente transferi-
das para o córtex, com o hipocampo sendo continuamente sobrescrito. Talvez os neurônios perdidos
;:iossam ser substituídos sem perturbações na memória. Novos neurônios também são produzidos no
córtex adulto, mas ainda não sabemos que papel desempenha essa "neurogênese".

Mudanças no uso distorcem os mapas corticais Todos os mapas no córtex cerebral


:nudam em resposta à sua atividade. Lembre o homúnculo (Figura 4.17), em que mais tecido cortical
e dedicado a partes corporais que recebem mais sensação ou são mais utilizadas. Se o dedo de um
macaco for repetidamente estimulado, por exemplo, a representação cortical daquele dedo vai ex-
;iandir-se (Figura 4.23). Entretanto, essa plasticidade aparentemente não acontece se o cérebro não
estiver prestando atenção: distraia o macaco durante a estimulação, e esse efeito não ocorrerá.
A reorganização cortical também pode ter resultados bizarros. As pessoas amputadas sofrem
3-eqüentemente de membros-fantasma, a intensa sensação de que a parte corporal amputada ainda
existe. Alguns membros-fantasma são experienciados como se movendo normalmente, sendo usados
para gesticular em conversas como se realmente existissem, por exemplo, enquanto outros parecem
congelados em uma posição. Infelizmente, os
membros-fantasma são muitas vezes acompa- D3
nhados por sensações de dor, o que pode resul- • Pele treinada
tar do crescimento impróprio dos nervos da dor DS
secionados no coto, com a dor sendo interpreta- • Pele não-treinada
da pelo córtex como vindo do lugar de onde vi-
:iham originalmente aqueles nervos (Figura
.i.24). Isso sugere que o cérebro não se reorgani-
zou em resposta ao ferimento e que a represen-
ração cortical do braço ainda está intacta. Con-
mdo, V. S. Ramachandran, da Universidade da
Califórnia, San Diego, descobriu que algumas
dessas pessoas, quando seus olhos estavam fe -
chados, percebiam um toque na bochecha como
se fosse na mão que faltava! Aparentemente, a
:não está representada perto do rosto no nosso
homúnculo somatossensorial. Seguindo-se à per- D1
da do membro, o córtex não-utilizado do paci-
(a) (b)
ente assumiu, até certo ponto, a função do gru-
po mais próximo, que estava representado na
FIGURA 4.23 Mudanças nas representações corticais de regiões da pele em macacos que
pele do rosto. Tocar no rosto, então, ativava es- foram treinados ou não-treinados para detectar certa estimulação tátil. O treinamento repetido
ses neurônios. De alguma forma, o restante do levou a uma representação aumentada em áreas corticais (conforme mostramos em a). Em b, os
cérebro não acompanhou o ritmo da área soma- círculos preenchidos indicam onde os dedos foram tocados para os dedos treinados (azuis) e não-
mssensorial o suficiente para perceber a nova ta- treinados (verdes). Os círculos mostram as regiões do dedo que se tornaram sensíveis à
refa desses neurônios. estimulação. Uma extensão maior do dedo fica sensível à estimulação após o treinamento.
142 GAZZANIGA e HEATHERTON

.
'
O cérebro pode se recuoerar de lesões
O inverso da reorganização do cérebro em resposta ao super ou
subuso é a sua reorganização em resposta ao dano cerebral. Após uma
lesão no córtex, a substância cinzenta circundante assume a função da
área danificada, com o mapa distorcendo tudo ao seu redor para recu-
perar a capacidade perdida, como as lojas do comércio local lutando
para capturar os fregueses de uma loja que acabou de falir. Parte desse
remapeamento parece ocorrer imediatamente e continuar durante anos.
Essa plasticidade envolve todos os níveis do sistema nervoso, do córtex
até a medula espinal.
Essa reorganização é muito maior nas crianças do que nos adultos,
de acordo com os períodos críticos do desenvolvimento normal. As crian-
ças pequenas que sofrem de epilepsia grave e incontrolável às vezes são
submetidas a uma "hemisferectomia radical": a remoção cirúrgica de um
hemisfério cerebral inteiro. Esse procedimento não é possível em adultos
por causa das inevitáveis e permanentes paralisia e perda de função re-
sultantes. Mas as crianças pequenas acabam recuperando quase comple-
tamente o uso do braço e perna inicialmente paralisados, assim como as
outras funções do hemisfério perdido: elas são, simplesmente, assumidas
pelo hemisfério remanescente. No entanto, mesmo nos adultos, a recupe-
ração da lesão cerebral pode ser extraordinária. Pacientes com acidente
vascular cerebral com um braço paralisado, por exemplo, muitas vezes
recuperam seu uso em poucos meses.
Finalmente, uma das áreas mais emocionantes da atual pesquisa
neurológica é o transplante de células no cérebro para reparar danos.
O remapeamento cortical após uma amputação.
Essa abordagem, utilizando células de tecido fetal humano, está come-
Um cotonete tocando a bochecha do paciente era sentido como
tocando a mão que faltava. çando a ser explorada como um possível tratamento para doenças dege-
nerativas como a de Parkinson e a de Huntington e também para aciden-
tes vasculares cerebrais O desafio significativo é fazer com que as células
que acabaram de ser introduzidas façam as conexões certas e reparem os circuitos danificados. Essas
técnicas estão apenas começando e trazem dilemas éticos óbvios, mas talvez logo se tornem métodos
de tratamento muito importantes.

Como o cérebro muda'?


Embora as conexões neura is sejam intricadas e precisas, elas são maleáveis. O genoma humano é o projeto do
desenvolvimento normal, mas é afetado por fatores ambientais, como lesões ou estimulação/privação sensorial.
Durante o desenvolvimento, após lesões, e por toda a nossa vida de aprendizagem, os circuitos se reformulam e se
atualizam. Muito dessa plasticidade pode requerer que estejamos prestando atenção. Após uma lesão cerebral,
ocorre a reorganização, com uma recupera ção muito maior nas crian ças do que nos adultos.

LUSÃO
O cérebro é um conjunto de estruturas único e notável, que evoluiu coletivamente para contro-
lar o organismo conforme ele tratava das questões de sobrevivência e reprodução. Nos humanos,
essa adaptatividade evolutiva permitiu o desenvolvimento de comunicações, cultura e pensamento
complexos. O nosso conhecimento sobre o cérebro expandiu-se rápida e dramaticamente nas últi-
mas décadas, valendo-se da pesquisa em todos os níveis de análise. Por mais de cem anos, os estudiosos
debateram sobre se os processos psicológicos estavam localizados em partes específicas do cérebro
ou distribuídos por todo ele. Ao longo do caminho, eles também construíram uma formidável base
de conhecimentos e princípios. Foi só na década de 1990, com os resultados dos estudos do diagnós-
tico por imagem, entre outros métodos, que ficou claro que muitos processos mentais estão localiza-
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 143

dos em regiões específicas do cérebro, que funcionam juntas para produzir comportamentos e ativi-
dade mental. A pesquisa sobre o cérebro revela muitos fenômenos fascinantes, como os membros-
ou fantasma, cérebros secionados, e um intérprete no cérebro esquerdo que luta para dar sentido ao
a mundo. Embora ainda reste muito a ser descoberto, os cientistas, utilizando as ferramentas da revo-
t da lução biológica, estão fazendo progressos imensos e acelerando cada vez mais o avanço no entendi-
eru- mento de como os circuitos do cérebro possibilitam a mente.
do
l:sse
LEITURAS ADICION S
Brodal, R (1998). The central nervous system. Oxford, U. K.: Oxford Universiry Press.
Finger, S. (1994). Origins of neuroscience. Oxford, U. K.: Oxford Universiry Press.
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51-

125
los
G291c Gazzaniga, Michael 5.
Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento /
Michael 5. Gazzaniga e Todd F. Heatherton; trad. Maria
Adriana Veríssimo Veronese. - 2. imp. rev. - Porto Alegre:
Artmed, 2005.

ISBN 978-85-363-0432-8

1. Psicologia - Ciência. 1. Heatherton, Todd F. li. Título

CDU 159.9.01/.98

Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto - CRB 10/1023

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