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;:cos estavam localizados em partes específicas do cérebro ou distribuídos por todo ele. Esse debate
::ominuou por tanto tempo, em parte, porque os pesquisadores não tinham métodos para estudar a
:;.;:i\idade mental no cérebro em funcionamento. A invenção dos métodos de imagem cerebral na
:ecada de 1980 mudou isso de forma rápida e dramática. Desde essa época, houve uma verdadeira
=xplosão de pesquisas, atravessando vários níveis de análise, vinculando áreas cerebrais específicas
.. determinados comportamentos e processos mentais. Este capítulo apresenta o nosso conhecimento
sobre como o cérebro funciona. Partindo de uma visão histórica da função e disfunção cerebral, que
serve como um exemplo excelente de como a ciência psicológica se baseia em princípios cumulati-
--os, nós discutimos as principais estruturas e regiões do cérebro, com ênfase nas funções psicológi-
::as associadas a cada área.
em uma área em um momento inadequado seria desastrosa. Além disso, a perda até mesmo de uma
pequena região cerebral provoca a perda da função daquela região. Em certa extensão, nós nos
recuperamos dos danos sofridos pelo cérebro, mas, com maior freqüência, perder uma parte dele
causa déficits, muitos dos quais são óbvios.
Criando imagens da mente Algumas das mais claras visões da distribuição das funções
mentais vêm da criação de imagens do cérebro em funcionamento, o uso da tecnologia para gerar
"mapas" do cérebro humano em ação. Discutiremos algumas variedades dessas tecnologias, cada
uma com suas relativas vantagens.
Aeletroencefalografia, ou EEG, utiliza eletrodos colocados no couro cabeludo para "ouvir"
a atividade elétrica da região cerebral abaixo deles (Figura 4.5). Empregada pela primeira vez em
1929, essa é a técnica mais antiga da criação de imagens. Utilizando vários eletrodos, podemos obter
um mapa bruto da atividade cerebral. Ao obter registros durante o desempenho de diversas tarefas
psicológicas, o pesquisador pode vincular as contribuições relativas de diferentes pontos abaixo do
crânio àquelas tarefas psicológicas. Avantagem real da EEG e de sua "prima", a magnetoencefa-
lografia, ou MEG (que registra campos magnéticos), não é a resolução espacial, mas a resolução
temporal. Explicando: embora seja difícil determinar exatamente de onde vem um evento elétrico, é
muito fácil determinar exatamente quando ele acontece. Portanto, a EEG e a MEG produzem mapas
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 125
de pontos de origem aproximados dos vários sinais elétricos, mas seus momen-
tos relativos são bem-identificados (Figura 4.6). Assim, essas técnicas nos mos-
rram como o cérebro está processando a informação, com base em quais regiões
são ativadas e quando.
Atomografia por emissão de pósitrons, ou PET, foi desenvolvida na
década de 1980. Ela consiste na reconstrução computadorizada da atividade me-
Labólica do cérebro durante o uso de uma substância radioativa inócua injetada na
corrente sangüínea. O sujeito fica deitado em um scanner especial que detecta a
radiação, e é produzido um mapa tridimensional da densidade de radioatividade
dentro do seu cérebro (Figura 4.7). Isso é útil porque, conforme o cérebro realiza
uma tarefa mental, o fluxo de sangue aumenta nas regiões mais ativas, levando a
atais radiação emitida. A quantidade de radioatividade emitida por uma região
corresponde aproximadamente à quantidade de atividade elétrica nos neurônios
:ocais. Ao escanear os sujeitos enquanto eles executam uma atividade psicológica
p. ex., ler em voz alta palavras que aparecem em uma tela), os pesquisadores
obtêm um mapa da atividade metabólica do cérebro durante a tarefa. Todavia,
:.una vez que todo o cérebro está metabolicamente ativo o tempo todo, também
precisam ser feitos registros enquanto os sujeitos realizam uma outra tarefa, es-
;reitamente relacionada (p. ex., dizer palavras que sejam antônimos das palavras
que aparecem na tela). Ao subtrair uma imagem de outra, os experimentadores
obtêm uma "imagem da diferença" de quais regiões do cérebro estão mais ativas
durante a tarefa em questão. Dessa maneira, regiões do cérebro podem ser corre-
iacionadas com atividades mentais específicas.
A imagem por ressonância magnética, ou IRM, é a mais nova e
ü!lvez a mais poderosa das técnicas de criação de imagem. Ela se baseia no fato
de que os núcleos de hidrogénio, também conhecidos como prótons, um compo-
;:iente importante de água e gordura e, portanto, dos humanos, comportam-se FIGURA 4.5 Um sujeito usando o aparato utilizado na EEG .
~
FCS :.
~*
F~1r~/\;Jt FÇ2f\.:'\~ eletroencefalografia (EEG) Um
~~
método para medir a atividade
elétrica do cérebro. Eletrodos
colocados no couro cabeludo
/\ ,1 •
conseguem detectar leves sinais
~ ~
elétricos produzidos pela atividade
neural.
magnetoencefalografia
(MEG) Uma técnica para
T3 :·. T~P7 :./".._ •,
~P8 ~4/''".
:
.. '
./-.·
examinar a atividade neural, que
registra campos magnéticos.
. '
.: .. ... tomografia por emissão de
pósitrons (PET) Um método de
' criação de imagens cerebrais que
avalia a atividade metabólica,
: [3.00 µV -- -- Não-palavras utilizando uma substância
1
- Palavras radioativa injetada na corrente
o1 '
400 800 - Pseudopalavras sangüínea.
imagem por ressonância
magnética (IRM) Um método de
IGURA 4 6 A atividade elétrica em difere ntes pontos da superfície do couro cabeludo de um sujeito imagem cerebral que produz
durante exposição a diferentes estímulos. Um tipo específico de resposta (chamada N350) foi mais imagens de alta qualidade do
'reqüente na loca liza ção T3, no hemisfério temporal esquerdo. Esse efeito ocorreu somente para palavras cérebro.
ou pseudopalavras, mas não para não-palavras (cadeias de consoantes).
126 GAZZANIGA e HEATHERTON
como pequenos magnetos. Na IRM, o examinando deita em um scanner que produz um poderoso
imagem por ressonância
magnética funcional
campo magnético, que não é perigoso, mas faz com que os prótons de seu corpo tendam a se alinhar
(IRMf) Uma t écnica de imagem a ele, exatamente como uma agulha magnetizada vira para apontar o norte. Quando um pulso de
util izada para examinar mudanças ondas de rádio é transmitido, os núcleos de hidrogênio se alinham brevemente em uma orientação
na atividade do cérebro humano diferente. Conforme elas retornam para a direção do scanner de IRM, é liberada energia na forma de
em ação.
ondas de rádio que podem ser captadas por uma antena próxima à cabeça do sujeito. Uma vez que os
núcleos de hidrogênio em gordura e água largam essa energia diferentemente, a pesquisa pode
determinar a localização física dos prótons para di-
ferentes tecidos, o que resulta em uma imagem de
alta resolução do cérebro (Figura 4.8).
As imagens por IRM são extraordinariamente
valiosas para determinar a localização de uma lesão
cerebral, por exemplo, mas podem ser ainda mais
proveitosas quando usadas para criar uma imagem
do cérebro em funcionamento. É isso o que a ima-
gem por ressonância magnética funcional,
ou IRMf, pode fazer. Como o PET, ela faz uso do
fluxo sangüíneo para mapear sua atividade, investi-
gando o sujeito durante o desempenho de diversas
Uma investigação por meio da tomografia por emissão de pósitrons (PET)
tarefas. O ideal é que as tarefas difiram apenas de
do fluxo sangüíneo no cérebro de um sujeito em diferentes condições.
uma maneira, que reflita a função mental particular
em que estamos interessados. As imagens são então
comparadas para examinarmos diferenças no fluxo sangüíneo e, portanto, na atividade cerebral.
Isso produz mapas de resolução relativamente alta da atividade neural, que podem ser superpostos
aos scans anatômicos para esclarecer quais regiões estão ativas durante as diferentes tarefas (Figura
4.9). Todas essas técnicas de imagem cerebral deixam perfeitamente claro que o cérebro não é extre-
mamente uniforme; pelo contrário, regiões cerebrais específicas estão ativas durante diferentes fun-
ções mentais.
V
cérebro está de alguma forma envolvido com a mente é bastante antiga . Uma questão que atraiu os primeiros
estudiosos foi se o cérebro agia como um todo na produção da experiência mental, ou se havia uma especialização
de função para diferentes regiões cerebrais. O exame dos resultados das lesões cerebrais foi, historicamente, a
abordagem mais esclarecedora, como no achado de que a área de Broca é importante para a fala . Embora a idéia
da localização da função menta l dentro do sistema nervoso tenha inicialmente atingido um ápice absurdo na
frenologia, o resultante descrédito logo foi superado. A moderna imagem cerebral funcional fornece evidências
convincentes da especialização da função dentro do cérebro.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 127
Mapas de atividade
mostrando mudanças na oxigenação
sangüínea, obtidos por imagens por
ressonância magnética funcional (IRMI)
enquanto o partiopante realizava alguma
tarefa (e subtraídas de outra imagem
"controle"), superpostas a imagens de IRM
de resolução superior tiradas do mesmo
cérebro. Isso permite uma determinação
precisa das áreas cerebrais que estão ativas
durante diferentes atividades mentais.
11
A Figura 4.10 mostra algumas das estruturas básicas do sistema nervoso central. A medula
medula espinal Parte do sistema
nervoso central. Uma corda de
espinal, correndo ao longo da coluna vertebral, contém alguns programas básicos de movimento e
tecido neural que corre dentro das caminhos reflexos. Acima da medula espinal e formando o núcleo do cérebro, o tronco cerebral abri-
cavidades das vértebras, desde a ga muitos dos circuitos menos refinados e mais antigos, como a ponte e a medula, que são fundamen-
pélvis até a base do crânio. tais para a nossa sobrevivência. Acoplado à parte traseira do tronco cerebral está o cerebelo, que é
substância cinzenta Um importante para controlar o movimento. O cerebelo, a ponte e a medula constituem o metencéfalo. O
segmento da medula espinal que é topo do tronco cerebral, chamado de mesencéfalo ou cérebro médio, ajuda a integrar as informações
dominada pelos corpos celulares
dos neurônios.
motoras e sensoriais. Acima e cercando o tronco cerebral estão os hemisférios cerebrais, duas metades
do cérebro anterior, ou prosencéfalo, que se comunicam extensivamente com o tronco cerebral e um
substância branca Um segmento
da medula espinal que consiste
com o outro e são responsáveis por muito do que consideramos como nosso self único. O córtex
principalmente em axônios e cerebral, a camada mais externa proeminente e ondulada dos hemisférios, permite as capacidades
revestimentos gordurosos. complexas e discriminadoras de reconhecimento, ação e pensamento, nas quais os seres humanos,
em especial, destacam-se. Abaixo do córtex, os gânglios basais traduzem pensamentos em ação e,
provavelmente, mais pensamentos. Quase todas as informações que chegam ao córtex, vindas dos
sentidos, atravessam no caminho uma estação chamada tálamo, sob a qual está o hipotálamo, um
agrupamento de estruturas vitais para regular impulsos básicos como fome e sede. Finalmente, os
hemisférios cerebrais também abrigam a amígdala e o hipocampo, estruturas importantes para a
emoção e a memória. Falaremos sobre cada uma dessas estruturas.
, b ro [ Cérebro
Cere
anterior Tálamo
. 'faIo [ .
(Prosencéfalo) 0 1ence ,
H1pota-
lamo
l
Cérebro médio
Tronco (Mesencéfalo)
cerebral Ponte
Medula - - - - - - - - - - - --'-
simplesmente a medula espinal continuada dentro da cabeça, ele realiza para a cabeça funções
formação reticular Uma grande
rede de tecido neural dentro do
semelhantes às que a medula espinal realiza para o restante do corpo. Aqui existe um complemento
t ronco cerebra l envolvida na inteiro de reflexos, análogos aos reflexos espinhais - a ânsia de vômito é um exemplo. Exatamente
excitação comportamental e nos como a medula espinal tem nervos que carregam informações para e da pele e músculos do corpo, o
ciclos de sono-vig ília. tronco cerebral tem nervos que o conectam à pele e aos músculos da cabeça e também aos órgãos
teto Localizado na parte posterior especializados dos sentidos existentes na cabeça, como os olhos e ouvidos. Esses nervos possuem
do mesencéfalo, esta estrutura conglomerados de células distintos e dedicados, dentro do tronco cerebral, que atendem às suas
cerebral ajuda a orientação em
relação a sons ou estímulos em
necessidades.
movimento. O tronco cerebral utiliza os reflexos da medula espinal para produzir comportamentos úteis.
cerebelo Uma grande
Por exemplo, estimular eletricamente uma parte do tronco cerebral pode fazer com que um animal
protuberância convoluta na parte anestesiado (ou um animal cuja medula espinal e tronco cerebral tenham sido desconectados do
posterior do tronco cerebral, que é restante de seu cérebro) comece a caminhar - mais ou menos como a estimulação de Wilder Penfi-
essencial para os movimentos eld de um ponto da superfície do cérebro da sua paciente provocou nela uma lembrança. Aumentar
coordenados e equ ilíbri o.
a freqüência da estimulação faz com que o animal passe da caminhada para o trote, e aumentar mais
ainda, para um galope. Estimular uma outra área fará com que o animal se vire para um lado.
Formação reticular O tronco cerebral também contém redes de neurônios, conhecidos coletiva-
mente como a formação reticular, que se projetam para cima para o córtex cerebral e para os
gânglios basais e que afetam a excitação geral. Aformação reticular também está envolvida na indução
e terminação de diferentes estágios do sono. Aautonomia do tronco cerebral pode ser dramaticamente
ilustrada separando-se totalmente, com um corte, o tronco cerebral de um animal do cérebro acima
dele, incluindo todo o córtex cerebral. Os gatos que recebem esse tratamento ainda podem caminhar e
dirigir ataques a barulhos; se eles se perceberem diante de um alimento, o comerão. Foram relatados
alguns casos de humanos nascidos sem córtex cerebral, e seus comportamentos são extremamente
básicos e reflexos. Tais bebês tendem a não se desenvolver normalmente e a não sobreviver.
Teto No topo do mesencéfalo está o teto (do latim tectum), um centro orientador que recebe infor-
mações dos olhos, ouvidos e pele e faz o animal girar para enfrentar estímulos proeminentes. O teto
contém um mapa topográfico do espaço. Configurações visuais ou ruídos que atraem a atenção, ou um
toque na pele, ativam no mapa do teto o ponto que representa essa direção no espaço, fazendo com que
o torso e o pescoço girem para ela e os olhos a focalizem. O teto move todo o organismo em uma
resposta coordenada, ao comandar os centros de movimento menos importantes - como os centros de
giro e locomoção alhures no tronco cerebral e os circuitos motores dos globos oculares - para que
cumpram suas ordens. Ele é plenamente capaz de realizar sozinho essas tarefas, mas está sujeito a um
controle descendente de regiões superiores, incluindo o córtex cerebral.
Hemisfério
cerebral O cerebelo é essencial para o movimento
direito
tfor-
1i:eto Os hemisférios cerebrais estão por trás da cognição, da
·um
emória e ac; emocões suoeriores
que
:.rrna Acima e ao redor do torno do tronco cerebral está o imenso prosencéfalo, composto por dois
-de hemisférios cerebrais simétricos.
L que ::.Sse é o local de todos os pensamentos,
~ um ;iercepções detalhadas e consciência ... em
resumo, tudo o que nos toma humanos.
-;()dos os animais têm um prosencéfalo,
::ias nos humanos ele evoluiu para uma
=.strutura relativamente enorme que pos-
~~-
sibilita a nossa cultura e comunicação
complexa. Cada hemisfério é composto
.iCie por um tálamo, umhipocampo, uma amíg-
dlle- dala, gânglios basais e um córtex cerebral
tzcão 'Figura 4.14).
~klo
bws Tálamo Otálamo é o portão de en-
rrada para o prosencéfalo: quase todas
2da. as informações sensoriais precisam pas-
ot>le- sar pelo tálamo antes de atingir o cór-
ara o rex. Aúnica exceção a essa regra é o sen-
am o so de olfato, o mais antigo e fundamental
ia da dos sentidos; ele tem uma rota direta
agem para o córtex, desviando-se do tálamo.
ra de Durante o sono, o tálamo fecha o por-
• eta tão para as sensações que chegam, en-
;JCÍO- quanto o cérebro descansa. O tálamo O hipotálamo e a
le ele parece desempenhar um papel na aten- glândula pituitária, a "glândula-chefe" do
ção também. corpo.
132 GAZZANIGA e HEATHERTON
l
Hipocampo e amígdala Duas estruturas dentro do prosencéfalo são essenciais para a me-
hipocampo Uma estrutura
cerebral importante para a
mória e para as emoções, respectivamente: o hipocampo (do latim hippocampus "cavalo marinho'',
formação de certos tipos de por seu formato distintivo) e a amígdala (do latim amygdala "amêndoa") (Figura 4.14).
memória. Ohipocampo desempenha um papel importante no armazenamento de novas memórias. Ele
amígdala Uma estrut ura cerebral parece fazer isso ao criar novas interconexões com o córtex cerebral a partir de cada nova experiên-
que tem um papel vital para cia vivida. Nós dissemos anteriormente que Karl Lashley não tinha conseguido encontrar a localiza-
aprender a associar fatos no mundo ção do traço de memória removendo partes do córtex cerebral de ratos. Se ele também tivesse lesado
com respostas emoci ona is e para
processar informações emocionais.
suas formações hipocampais, seus resultados teriam sido muito diferentes.
A amígdala, localizada imediatamente em frente ao hipocampo, tem um papel vital para
gânglios basais Um sistema de
estruturas subcorticais que são
aprendermos a associar fatos no mundo com respostas emocionais: um novo alimento com o seu
importantes para a in icia ção do sabor, por exemplo. Para esse fim, suas conexões com o córtex cerebral e o hipotálamo lhe permitem
movimento planejado. suplementar com novas associações os caminhos emocionais mais primitivos. A amígdala, portanto,
córtex cerebral A camada mais permite que o organismo domine respostas instintivas, ao conectar as lembranças que o córtex tem
externa de tecido cerebral, que das coisas com as emoções que elas despertam. A amígdala também intensifica a memória durante
forma a superfície convoluta do momentos de excitação emocional. Uma experiência assustadora pode ficar marcada para sempre
cérebro.
em nossa memória.
lobos occipitais Uma reg ião do A amígdala desempenha um papel especial na resposta aos estímulos que eliciam medo. O
córtex cerebral na parte posteri or
do cérebro que é importante para a
processamento afetivo de estímulos assustadores na amígdala é um circuito resistente, que se desen-
visão. volveu no curso da evolução para proteger os animais do perigo. Finalmente, a amígdala também
córtex visual primário A ma ior
está envolvida na importância emocional das expressões faciais. Estudos utilizando a IRMf descobri-
área no lobo occipital, onde o ram que a amígdala é ativada com força especial em resposta a rostos assustadores.
t álamo projeta a imagem.
Os gânglios basais Os gânglios basais são um sistema de estruturas subcorticais cruciais
para planejar e produzir movimento. Eles recebem input de todo o córtex cerebral e projetam para os
centros motores do tronco cerebral e, via tálamo, de volta para a área de planejamento motor do
córtex. Lesões nos gânglios basais podem produzir sintomas que variam dos tremores e rigidez da
doença de Parkinson aos movimentos espasmódicos incontroláveis da doença de Huntington. Há
evidências de que a lesão também pode prejudicar a aprendizagem de movimentos, porque os gân-
glios basais podem estar envolvidos na aprendizagem de hábitos, como o de automaticamente cui-
dar os carros antes de atravessar a rua. Na verdade, os pacientes com Parkinson têm dificuldade para
aprender tarefas novas que requerem ações rotineiras.
Os gânglios basais também podem desempenhar um papel na produção de ações não-verbais e
na compreensão dos comportamentos não-verbais das outras pessoas (Lieberman, 2000). Os pacien-
tes com lesão nos gânglios basais geralmente têm dificuldade para pro-
duzir expressões faciais emocionais ou para falar de maneira emocio-
Gânglios basais nal. Eles também têm dificuldade para compreender as emoções
Córtex cerebral expressas no rosto dos outros.
próximos uns dos outros no córtex visual primário. Essa é outra manei- Sulco central
ra de dizer que neurônios próximos no córtex tendem a ter funções Lobo frontal
similares. Cada hemisfério recebe metade da informação: o hemisfério
.e esquerdo recebe a informação do lado direito do mundo visual, o he- Sulco
parie-
.- misfério direito recebe a que vem do lado esquerdo (Figura 4.16). Cer-
toccipital
1- cando o córtex visual primário está uma colcha de retalhos de áreas
visuais secundárias que processam vários atributos da imagem visual,
tais como sua cor, movimento e formas.
Olobo parietal é parcialmente dedicado ao sentido do tato: ele
contém o córtex somatossensorial (do grego, "sentido corporal") primá-
rio, uma faixa que desce do topo do cérebro para o lado. Mais uma vez,
o trabalho está dividido entre os hemisférios cerebrais esquerdo e di-
reito: o hemisfério direito recebe informações táteis do lado direito do
corpo, e o hemisfério direito recebe informações do lado esquerdo do
corpo. Essa informação também é representada em um mapa topográ- Lobo temporal lncisura Lobo occipital
pré-occipital
fico: os neurônios que respondem a sensações nos dedos estão próxi-
mos dos que respondem a sensações na palma da mão, e assim por G RA 415 Os lobos dos hemisférios cerebrais: parietal, occipital,
diante. O resultado é uma representação distorcida do corpo inteiro temporal e frontal.
[: cobrindo a área somatossensorial primária: o assim chamado homún-
~ulo (do grego "homenzinho"; Figura 4.17) somatossensorial. Ohomún-
culo está distorcido porque as áreas mais sensíveis do corpo, como o rosto e os dedos, têm muito
mais área cortical dedicada a elas. Da mesma forma, no córtex visual primário, o centro do olhar é
representado por uma área cortical muito maior do que as regiões no campo visual periférico.
~I
ill"
I! :il
134 GAZZANIGA e HEATHERTON
•.-
Ocórtex parietal também é muito importante para perceber a configuração espacial do ambiente
lobos temporais A região ma is
ventral do córtex cerebral, que é
e para se mover nele efetivamente. Para mais detalhes, veja ''.A.travessando os níveis de análise:
importante para processar as Cognição espacial".
informações auditivas e também Os lobos temporais contêm o córtex auditivo primário, uma área de audição análoga
para a memória. aos córtices visual primário e somatossensorial, e áreas auditivas secundárias que processam melhor
córtex auditivo primário A aquilo que escutamos, incluindo, no hemisfério esquerdo, a decodificação de palavras e frases. Os
região do lobo tempo ral envolvida lobos temporais também contêm áreas visuais mais especializadas para reconhecer objetos detalha-
na aud ição.
dos como os rostos. Os lobos temporais são críticos para a memória, contendo a formação hipocam-
lobos frontais A reg ião anteri o r pal e a amígdala, discutidas anteriormente. Foram os lobos temporais que o Dr. Wilder Penfield
do córtex ce rebral envo lvida no
planejamento e no movimento.
estimulou eletricamente para redespertar as experiências passadas de seus pacientes.
Os lobos frontais são essenciais para o planejamento e o movimento. A última porção dos
córtex motor primário A região
do lobo frontal envo lvida no
lobos frontais é o córtex motor primário. Em vez de responder às sensações que vêm do corpo,
movimento. no entanto, os córtices motores primários lhe enviam informações: eles projetam diretamente para a
córtex pré-frontal Uma reg ião
medula espinal, para que mova os músculos do corpo. Assim como nas áreas sensoriais, as responsa-
dos lobos fronta is, especialmente bilidades do córtex motor estão divididas entre as metades do corpo: o hemisfério esquerdo controla
proeminente nos humanos, o braço direito, por exemplo, enquanto o hemisfério direito controla o braço esquerdo. O córtex
importante para a atenção, motor primário também é suplementado por várias áreas motoras auxiliares, responsáveis por movi-
memória de trabalho, tomada de
decisão, comportamento social
mentos mais complexos.
apropriado e perso nalidade. O restante dos lobos frontais, não diretamente responsáveis pelo movimento, é coletivamente
chamado de córtex pré-frontal. O córtex pré-frontal, ocupando cerca de 30% do cérebro nos
humanos, é indispensável para a atividade racional, dirigida. Partes do córtex pré-frontal são respon-
sáveis por dirigir e manter a atenção, mantendo as idéias na mente enquanto as distrações nos
bombardeiam do mundo externo, desenvolvendo planos e os colocando em prática. O córtex pré-
frontal é crítico para interpretar deixas sociais e se comportar de maneira apropriada. As superfícies
ventral e medial do córtex pré-frontal governam muitos comportamentos interpessoais e emocio-
nais. As pessoas com lesões no córtex pré-frontal se distraem facilmente e apresentam comporta-
mentos sociais inadequados, como demonstrar seus impulsos sexuais em situações inapropriadas. É
como se essas pessoas não se dessem conta de que estão sendo avaliadas pelos outros. Nós já conta-
mos o caso de Phineas Gage, o mais famoso paciente com lesão pré-frontal. No início do século XX,
lesar deliberadamente os lobos pré-frontais foi adotado como um meio de tratar pacientes com
doenças mentais.
~
:J
2
OJ
"0 o.
~Joelho
Dedos
dos pés
Gengivas
Córtex somatossensorial
-.:ma em cada lado do ponto. Uma vez que cada hemisfério só vê os conteúdos do lado Estrutura do
corpo caloso
oposto do campo visual, o hemisfério direito veria a imagem à esquerda, e o hemisfé-
:i.o esquerdo veria a imagem à direita.
Vimos que o hemisfério esquerdo é dominante para a linguagem na maioria das
?ôSOas. Se um paciente com o cérebro secionado, tendo visto rapidamente as duas
::nagens na tela da maneira recém-descrita, for solicitado a relatar o que foi mostrado,
ele dirá que foi mostrada apenas uma figura e descreverá a da direita. Por que isso
acontece? Porque o hemisfério esquerdo, com seu controle sobre a fala, só enxergou a
::gura no lado direito. O hemisfério direito (ou "cérebro direito") mudo, tendo visto a
;lgura da esquerda, é incapaz de articular uma resposta. Podemos mostrar, todavia,
~ue o cérebro direito realmente viu a figura. Se a figura da esquerda era, por exemplo,
:.ima colher, o hemisfério direito poderia facilmente escolher uma colher em meio a
l!Ila coleção de objetos, usando, é claro, a mão esquerda. O hemisfério esquerdo não
:em nenhum conhecimento do que o direito viu. Secionar o cérebro, então, produz
jois meio-cérebros, cada um com suas percepções, pensamentos e consciência inde-
Jendentes! F GURA 4.19 O corpo caloso, um feixe maciço de
milhões de axônios que conectam os dois hemisférios
cerebrais.
Os hemisférios são especializados
:ar Uma exploração mais cuidadosa revela muito mais sobre a divisão de trabalho dentro do cére-
or Jro. Em todos os pacientes estudados, o hemisfério esquerdo foi muito mais competente na lingua-
5em do que o direito, tanto que na maioria dos pacientes o hemisfério direito não tinha nenhuma
::apacidade discernível de linguagem. Em alguns pacientes, contudo, o hemisfério direito tinha uma
::ompreensão rudimentar da linguagem. lnteressantemente, essa capacidade de linguagem do he-
;:;iisfério direito tendia a melhorar nos anos seguintes à operação, presumivelmente conforme o
2.emisfério direito adquiria habilidades de comunicação que eram desnecessárias quando ele estava
:...-ueiramente conectado ao fluente cérebro esquerdo.
.
E5 ~
~
o/
-
if
Estímulo do Resposta verbal do O hemisfério direito, entretanto, tem suas próprias competências
hemisfério direito hemisfério esquerdo que complementam as do esquerdo. O cérebro esquerdo geralmente é
inútil no que se refere a relações espaciais. Em um experimento, um
participante com cérebro secionado recebe uma pilha de cubos e o
desenho de um arranjo simples segundo o qual deve arrumar os cubos
- por exemplo, um quadrado. Se o participante estiver usando a mão
direita, controlada pelo hemisfério esquerdo, os cubos são arrumados
com facilidade. Mas, se o cérebro esquerdo estiver fazendo a arruma-
ção, via mão direita, o resultado será uma tentativa sinuosa, incompe-
tente. Durante esse desempenho desolador, a mão esquerda tentará se
meter e ajudar, enquanto o cérebro direito provavelmente observa a
cena frustrado!
Os cérebros secionados nos ajudaram a compreender não só as
especializações dos lados esquerdo e direito como também a organiza-
ção dentro de cada hemisfério. Quando o corpo caloso não foi cortado
em todo o seu comprimento, podemos explorar as contribuições relati-
vas de suas diferentes extremidades para a transferência de diferentes
tipos de informação. AFigura 4.21 mostra a reação de um desses paci-
entes, que tinha suficiente capacidade de linguagem no hemisfério di-
reito para compreender palavras apresentadas brevemente no campo
visual esquerdo. Sua operação foi feita em duas partes, com a metade
posterior do corpo caloso cortada primeiro. Ele foi testado após a pri-
meira operação. Uma vez que o córtex visual ocupa a parte posterior
do cérebro, o corte na metade posterior do corpo caloso impede qual-
quer transferência de informação visual. O cérebro esquerdo, então,
era incapaz de enxergar a palavra "cavaleiro". Fascinantemente, toda-
via, o cérebro esquerdo foi capaz de visualizar o que o cérebro direito
estava pensando! Evidentemente, informações mais "significativas"
poderiam ser transferidas por meio dos axônios na metade frontal do
corpo caloso que conecta as duas metades frontais do cérebro. Um fe-
1 Diferentes tipos de informação são transferidos por nômeno que parece estar relacionado aos talentos verbais do hemisfé-
diferentes partes do corpo caloso. Se a metade posterior for secionada, rio esquerdo é a tendência a construir uma narrativa interna para dar
mas a metade frontal for deixada intacta, o significado é transferido de sentido ao mundo. Esse é o tema de "Utilizando a ciência psicológica:
um hemisfério para o outro, mas a informação visual não. A mente é um intérprete subjetivo".
-:olvendo seus cérebros, ativando e refazendo sua rede neural, de maneiras importantes, por muitos
IDOS. Além disso, as conexões de nosso cérebro são refinadas e ressintonizadas com cada nova expe-
!iência de nossa vida. Apesquisa sobre a plasticidade do cérebro promete revelar muita coisa sobre
a natureza interativa das influências biológicas e psicológicas sobre o nosso comportamento, valen-
do-se da emocionante pesquisa que atravessa todos os níveis de análise.
,,
1
que extensão é determinado pelo meio ambiente. O ambiente não afeta apenas os produtos da ativi-
período crítico Momento em
que certas experiências precisam
dade do nosso DNA; ele afeta a própria atividade do DNA.
ocorrer para que o cérebro se
desenvolva normalmente, tal como Sinais químicos orientam as conexões que estão crescendo No embrião em desen-
a exposição a informações visuais volvimento, novas células recebem sinais de seus arredores, que determinam que tipo de células elas se
durante o período de bebê para o
desenvolvimento normal dos
tomarão. As células liberam sinais químicos entre si que agem diretamente sobre seu material genético,
caminhos visuais do cérebro. para determinar quais dos milhões de instruções contidas no código genético serão executadas.
Se as células de urna parte de um embrião forem cirurgicamente transplantadas para outra
parte, o resultado depende de quão longe chegou o processo de desenvolvimento. Tecidos transplan-
tados precocemente se transformam completamente no tipo apropriado à sua nova localização. Mas,
à medida que o tempo passa, as células se tornam cada vez mais comprometidas com suas identida-
des, de modo que transplantá-las resulta em organismos desfigurados. No caso de tecido neural, as
células transplantadas precocemente assumem a identidade apropriada à sua nova localização, e o
organismo se desenvolve normalmente. Mas as células transplantadas mais tarde desenvolvem co-
nexões corno se não tivessem sido transplantadas: isto é, as células se conectam a áreas que teriam
sido apropriadas se tivessem permanecido em sua antiga localização. Tecidos removidos das áreas
visuais se conectam às partes visuais do tálamo, e assim por diante.
Essa predestinação de conexões das células que tiveram tempo para determinar suas identidades
expõe a natureza pré-programada da rede neural do cérebro. As conexões do cérebro são produzidas
em grande parte pela detecção dos axônios em crescimento das moléculas específicas que lhes dizem
aonde ir e aonde não ir. As amplas pinceladas do cérebro são dadas por essa especificidade química: os
neurônios em urna região estão procurando determinadas substâncias químicas, e os neurônios em
outra as estão produzindo. Os axônios da primeira região buscam ou se afastam regularmente de con-
centrações crescentes ou decrescentes dessas substâncias químicas sinalizadoras - os assim chamados
gradientes químicos. Seguir os gradientes de algumas substâncias químicas orienta os axônios em longas
viagens até suas áreas de destino, ao passo que a concentração de outras substâncias químicas governa
seus padrões de ramificação depois que chegam lá. Esse método estabelece as conexões entre todas as
estruturas cerebrais e induz as conexões específicas entre as áreas do córtex cerebral.
A experiência sintoniza com precisão as conexões neura is Mas essa não é a histó-
ria toda. Mesmo que as conexões mais importantes sejam estabelecidas por gradientes químicos, as
conexões detalhadas são governadas pela experiência. Se os olhos de um gato forem suturados
fechados no nascimento, privando-o do input visual, os mapas em seu córtex visual não vão se desen-
volver apropriadamente: quando as suturas forem removidas semanas mais tarde, o gato estará
cego. Evidentemente, a atividade constante dos caminhos visuais é necessária para refinar o mapa o
suficiente para que ele seja útil. Em geral, essa plasticidade tem períodos críticos, momentos em
que certas experiências precisam ocorrer para que o desenvolvimento prossiga normalmente. Os
gatos adultos submetidos à mesma privação não perderam a visão.
Há alguns anos, descobriu-se que os ratos criados em grupo em ambientes "enriquecidos", com
montes de brinquedos e obstáculos, cresceram com cérebros maiores do que os criados em condições
normais de laboratório (Rosenzweig et ai., 1972). Entretanto, veja quais eram as condições "nor-
mais": essencialmente, caixas desinteressantes com um lugar para dormir no fundo. Talvez, na rea-
lidade, as condições "enriquecidas" fossem simplesmente uma aproximação da vida livre dos ratos,
permitindo um desenvolvimento normal, enquanto a privação mental causada pelo ambiente de
laboratório provocava atrofia nos cérebros não-utilizados dos ratos. Mas isso demonstra, no mínimo,
que o meio ambiente é importante para o desenvolvimento normal.
Mudanças na força das conexões estão por trás da aprendizagem Com cada
momento da vida, ganhamos novas lembranças: experiências e conhecimentos instantaneamente
adquiridos que podem mais tarde ser recordados e hábitos que se formam gradualmente. Todas
essas formas de memória consistem em mudanças físicas no cérebro.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 141
Hoje é amplamente aceito pelos cientistas psicológicos que essas mudanças são mais prováveis
não na totalidade da rede neural do cérebro, mas simplesmente na força de conexões preexistentes.
Uma possibilidade é que a ação de dois neurônios descarregando ao mesmo tempo reforça a conexão
sináptica entre eles, tomando mais provável que descarreguem juntos no futuro e que, reciproca-
mente, não descarregar ao mesmo tempo tende a enfraquecer a conexão entre dois neurônios. Co- O cérebro refaz sua rede neural
durante a aprendizagem, o
nhecida tecnicamente como aprendizagem de Hebb (discutida no Capítulo 6), essa teoria pode ser envelhecimento e o reparo de
resumida pela frase "Descarregam juntos, criam rede neural juntos" e é consistente com muitas lesões?
evidências experimentais e muitos modelos teóricos. Ela explica tanto como uma experiência fica
-marcada" - um padrão de descarga neuronal apresenta maior probabilidade de ocorrer novamen-
•e, levando-nos a recordar um evento - quanto como os hábitos se tomam arraigados: simplesmen-
te repetir um comportamento faz com que tendamos a executá-lo automaticamente.
Outro método possível de plasticidade é o crescimento de conexões inteiramente novas; isso leva
muito mais tempo, mas parece ser um fator importante na recuperação de lesões. Até muito recente-
:nente, acreditava-se que, de forma única entre os órgãos corporais, o cérebro adulto não produzia
:iovas células. Isso, presumivelmente, para evitar obliterar as conexões estabelecidas em resposta à
experiência. Entretanto, agora foi descoberto que novos neurônios são produzidos no cérebro adulto.
Parece haver uma rotatividade bastante grande no hipocampo. Lembre que as memórias são inicial-
:nente guardadas dentro (ou pelo menos requerem) dessa estrutura, mas são posteriormente transferi-
das para o córtex, com o hipocampo sendo continuamente sobrescrito. Talvez os neurônios perdidos
;:iossam ser substituídos sem perturbações na memória. Novos neurônios também são produzidos no
córtex adulto, mas ainda não sabemos que papel desempenha essa "neurogênese".
.
'
O cérebro pode se recuoerar de lesões
O inverso da reorganização do cérebro em resposta ao super ou
subuso é a sua reorganização em resposta ao dano cerebral. Após uma
lesão no córtex, a substância cinzenta circundante assume a função da
área danificada, com o mapa distorcendo tudo ao seu redor para recu-
perar a capacidade perdida, como as lojas do comércio local lutando
para capturar os fregueses de uma loja que acabou de falir. Parte desse
remapeamento parece ocorrer imediatamente e continuar durante anos.
Essa plasticidade envolve todos os níveis do sistema nervoso, do córtex
até a medula espinal.
Essa reorganização é muito maior nas crianças do que nos adultos,
de acordo com os períodos críticos do desenvolvimento normal. As crian-
ças pequenas que sofrem de epilepsia grave e incontrolável às vezes são
submetidas a uma "hemisferectomia radical": a remoção cirúrgica de um
hemisfério cerebral inteiro. Esse procedimento não é possível em adultos
por causa das inevitáveis e permanentes paralisia e perda de função re-
sultantes. Mas as crianças pequenas acabam recuperando quase comple-
tamente o uso do braço e perna inicialmente paralisados, assim como as
outras funções do hemisfério perdido: elas são, simplesmente, assumidas
pelo hemisfério remanescente. No entanto, mesmo nos adultos, a recupe-
ração da lesão cerebral pode ser extraordinária. Pacientes com acidente
vascular cerebral com um braço paralisado, por exemplo, muitas vezes
recuperam seu uso em poucos meses.
Finalmente, uma das áreas mais emocionantes da atual pesquisa
neurológica é o transplante de células no cérebro para reparar danos.
O remapeamento cortical após uma amputação.
Essa abordagem, utilizando células de tecido fetal humano, está come-
Um cotonete tocando a bochecha do paciente era sentido como
tocando a mão que faltava. çando a ser explorada como um possível tratamento para doenças dege-
nerativas como a de Parkinson e a de Huntington e também para aciden-
tes vasculares cerebrais O desafio significativo é fazer com que as células
que acabaram de ser introduzidas façam as conexões certas e reparem os circuitos danificados. Essas
técnicas estão apenas começando e trazem dilemas éticos óbvios, mas talvez logo se tornem métodos
de tratamento muito importantes.
LUSÃO
O cérebro é um conjunto de estruturas único e notável, que evoluiu coletivamente para contro-
lar o organismo conforme ele tratava das questões de sobrevivência e reprodução. Nos humanos,
essa adaptatividade evolutiva permitiu o desenvolvimento de comunicações, cultura e pensamento
complexos. O nosso conhecimento sobre o cérebro expandiu-se rápida e dramaticamente nas últi-
mas décadas, valendo-se da pesquisa em todos os níveis de análise. Por mais de cem anos, os estudiosos
debateram sobre se os processos psicológicos estavam localizados em partes específicas do cérebro
ou distribuídos por todo ele. Ao longo do caminho, eles também construíram uma formidável base
de conhecimentos e princípios. Foi só na década de 1990, com os resultados dos estudos do diagnós-
tico por imagem, entre outros métodos, que ficou claro que muitos processos mentais estão localiza-
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 143
dos em regiões específicas do cérebro, que funcionam juntas para produzir comportamentos e ativi-
dade mental. A pesquisa sobre o cérebro revela muitos fenômenos fascinantes, como os membros-
ou fantasma, cérebros secionados, e um intérprete no cérebro esquerdo que luta para dar sentido ao
a mundo. Embora ainda reste muito a ser descoberto, os cientistas, utilizando as ferramentas da revo-
t da lução biológica, estão fazendo progressos imensos e acelerando cada vez mais o avanço no entendi-
eru- mento de como os circuitos do cérebro possibilitam a mente.
do
l:sse
LEITURAS ADICION S
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