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Relatório #50 – Ibovespa sobe 6,98% em janeiro: a Bolsa brasileira está

barata?

9 de fevereiro de 2022

Olá, investidor!

Como vai?

Sumário

No relatório de hoje, falarei sobre o desempenho do Ibovespa em janeiro de


2022, abordando os fatores que fizeram com que o principal índice de ações da
B3 fechasse o primeiro mês do ano em alta. Além disso, avaliarei o atual
patamar de preço das ações das companhias listadas na B3 na tentativa de
responder se a Bolsa brasileira está barata.

Boa leitura!

O Ibovespa em janeiro

O Ibovespa surpreendeu positivamente o mercado em janeiro, e avançou


6,98% no período. O índice encerrou o mês com 112.144 pontos, instigando
analistas e investidores a revisarem suas projeções para o mercado brasileiro
de ações em 2022.
Curiosamente, o desempenho das bolsas de valores dos Estados Unidos foi
negativo no mesmo intervalo, diante do receio com a promessa de alta de juros
no país. Para efeito de comparação, o índice norte-americano S&P 500 – que
reúne 500 ações listadas na Nyse e na Nasdaq – recuou 5,26% em janeiro.

Além disso, a alta do Ibovespa no primeiro mês do ano se deu após um


segundo semestre de 2021 turbulento. Em resumo, as ações brasileiras se
desvalorizaram significativamente, e o índice recuou da faixa de 130 mil pontos
para os 100 mil pontos.

Mas, afinal, quais os motivos para essa recuperação do Ibovespa em janeiro?

A importância das commodities

(Fonte: Pixabay)

Empresas do setor de commodities – aquelas que operam na exploração de


matérias-primas e insumos – em especial as gigantes Vale (VALE3) e
Petrobras (PETR4), respondem por uma parcela significativa da carteira teórica
do Ibovespa. Sozinhas, as ações da Vale correspondem atualmente por cerca
de 15% do índice, enquanto os papéis da Petrobras somam cerca de 11% do
IBOV, isso para não falar de outras companhias menores ligadas aos setores
de atuação dessas duas gigantes.
Isso quer dizer que o desempenho dessas companhias exerce uma forte
influência sobre a trajetória do Ibovespa, e quando as ações dessas empresas
se valorizam, elas tendem a puxar a alta do índice. Além disso, essas
empresas são fortemente influenciadas pela cotação das commodities no
mercado internacional, sendo beneficiadas pela alta dos preços desses
produtos.

Ao longo de 2021, com a retomada gradual da atividade econômica ao redor do


planeta, observamos uma explosão nos preços das commodities,
especialmente se tratando do minério de ferro, do petróleo e da proteína
animal.

No decorrer do segundo semestre, entretanto, uma queda abrupta da demanda


por aço na China contribuiu para derrubar o preço do minério de ferro,
enquanto petróleo e proteína animal começaram a dar sinais de recuo. O
mercado começou a tratar esse movimento como um sinal de que o ciclo de
altas das commodities estaria próximo do fim, e ações ligadas a esses setores
começaram a cair de preço.

Mas o cenário mudou

Com a virada do ano se aproximando, essa situação começou a mudar. A


China anunciou que manterá os estímulos à economia, com o objetivo de
contornar a atual crise do setor imobiliário pela qual a nação vem passando e
assegurar o cumprimento das metas de crescimento. Assim, o preço do minério
de ferro voltou a subir, diante da perspectiva de que a China, maior
consumidora do insumo, deve sustentar a alta demanda pelo material.

Além disso, com a variante Ômicron não provocando uma nova onda de
lockdowns e restrições de circulação de pessoas e mercadorias pelo planeta, a
demanda por combustíveis voltou a crescer mais rápido do que o esperado, ao
mesmo passo em que as ações da Opep (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo) para aumentar a produção da commodity não têm
surtido o efeito esperado, o que fez com que os preços do petróleo
disparassem.

Especialistas já projetam que o barril de petróleo tipo Brent deve ultrapassar a


marca dos US$ 100 ainda em 2022, sendo negociado atualmente por cerca de
US$ 90. E muitos apostam que essa alta não deve parar por aí.

Grandes bancos estão baratos?

Outro segmento com peso relevante no Ibovespa é o dos grandes bancos.


Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4) e Santander
(SANB11) são instituições que, frequentemente, figuram entre as melhores
pagadoras de dividendos da Bolsa brasileira. Junto da Caixa Econômica
Federal – que não possui ações listadas na B3 –, elas concentram a maior
parte do mercado de crédito do país.
Porém, ao olharmos para o preço das ações dessas companhias no momento
atual, notamos que ainda há um desconto expressivo em comparação aos
preços de antes da pandemia, algo que não se justifica ao observarmos os
resultados sólidos que os bancos apresentaram mesmo durante o período mais
crítico da crise sanitária.

As ações do Itaú, por exemplo, que eram negociadas a R$ 29,79 no dia 2 de


janeiro de 2020, antes da pandemia, encerraram o último pregão de 2021
cotadas a R$ 20,95.

Essa discrepância de valores se torna ainda mais chamativa quando levamos


em consideração que o Banco Central (BC) iniciou, em março de 2021, um
movimento de elevação da Selic – a taxa básica de juros da economia
brasileira – que saiu de 2% para 10,75% ao ano.

Isso porque esse movimento tende a beneficiar os bancos, uma vez que em
um cenário de Selic mais alta, essas instituições conseguem aumentar o
spread bancário, que é a diferença entre os juros que os bancos pagam
quando seu dinheiro é investido em algum produto oferecido por eles e os juros
cobrados em operações de empréstimo ou financiamento.

Diante desse cenário, as ações dos grandes bancos deram início a um


movimento de recuperação na virada do ano, e acumularam ganhos
expressivos em janeiro. Ainda assim, os preços seguem mais baixos do que
estavam antes da pandemia, o que significa que pode existir espaço para que
essas empresas se valorizem na Bolsa.

Apetite estrangeiro
Outro fator determinante para o bom desempenho do Ibovespa em janeiro foi o
apetite dos investidores estrangeiros por ativos brasileiros. O fluxo de capital
estrangeiro na B3, indicador que revela quanto dinheiro os estrangeiros
investiram ou retiraram da Bolsa brasileira, ficou positivo em R$ 32,49 bilhões
em janeiro.

Isso significa que, na percepção internacional, muitas ações de companhias


brasileiras estão baratas, e os preços baixos compensam os riscos iminentes.
Além disso, com a promessa de alta dos juros nos Estados Unidos e a
perspectiva de um ano mais fraco para os mercados americanos, cresce a
busca por ativos de países emergentes como o Brasil, que oferecem um maior
potencial de retorno, atrelado a maiores riscos.

Todavia, ainda não é certo que o apetite por ativos brasileiros perdurará ao
longo do ano, e o fluxo de capital estrangeiro pode minguar no decorrer do ano,
especialmente durante o período eleitoral, caracterizado pela alta volatilidade
da Bolsa.

Conclusão

O bom começo de ano do Ibovespa sinaliza que os riscos oferecidos pela


agenda política e pelo contexto econômico em 2022 já estavam precificados
nas ações brasileiras no final do ano passado, e revela que surpresas positivas
podem impulsionar o mercado brasileiro de ações ao longo do ano.

Por outro lado, o cenário político turbulento, as projeções de inflação acima da


meta e a delicada situação das contas públicas são fatores que precisam ser
monitorados de perto. Eles fazem com que o risco de se investir no Brasil
pensando no curto prazo seja considerado alto em comparação com mercados
mais maduros, como o americano e o europeu.

Já conhece todas as carteiras LVNT?


Por hoje é isso e até a próxima!

Felipe Bevilacqua.
DISCLAIMER

Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias de Investimos e pelo analista Felipe
Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que
possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de
valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco. Os valores mobiliários,
discutidos neste material, podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de
qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados
ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos
por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento.
A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou
diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são
indicativos de resultados futuros.

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