[Journal Name][IJHAF/ IJREH/ IJCMP/ IJMPD/ IJCGM/ IJEBM/ IJFAF]
https://dx.doi.org/10.22161/[IJHAF/ IJREH/ IJCMP/ IJMPD/ IJCGM/ IJEBM/ IJFAF]
Análise da Magazine Luiza nos cenários antes,
durante e pós pandemia utilizando o método de
Valuation por Múltiplos
Ian Romeiro Soares Alves, Lucas Ferreira Stanquevitchus, Marcos Campos Mancebo,
Patrick Lobo Padula, Quetsia da Silva Perez
1
Departamento de Engenharia Química, Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo
Estrada Municipal do Campinho S/N CEP: 12602-810, Lorena, Brasil
Email: ____________________
Abstract— As consequências que a pandemia gerou desde o
ano de 2020 até este primeiro trimestre de 2022 foram diversas,
mas uma análise do mercado de varejo na sociedade
brasileira apresenta grande crescimento, chegando acima
do PIB do país no ano de 2021, nos fazendo querer
entender o seu significado. Utilizando o processo de
valuation por múltiplos para analisar uma das maiores
empresas de varejo no Brasil, a Magazine Luiza, em
cenários de antes, durante e pós pandemia.
Keywords—Varejo. Pandemia. Valuation. Múltiplos.
Magazine Luiza.
I. INTRODUÇÃO
É sabido a importância do varejo para a economia não
só nacional, mas também internacional. Além de ser um
canal muito importante de distribuição de produtos,
conquistou um papel marcante no crescimento do PIB
brasileiro, gerando grandes volumes de empregos e
ocasionando, assim, uma grande movimentação no
mercado consumidor nacional. Sendo assim, as atividades
do comércio varejista são de vital importância para a
economia de um país, sendo cada vez mais reconhecidas
e destacadas no Brasil.
Se compararmos o varejo nacional introduzido na
economia, sua importância está pautada no contexto da
geração de empregos no país. Em 2020, o Brasil teve um
saldo positivo total de 142 mil vagas em toda a economia
brasileira, mantendo saldo positivo pelo terceiro ano
consecutivo, apesar da pandemia de Covid-19 , segundo o
CAGED. Ainda nesse sentido, é importante salientar que
aproximadamente 36,2% das vendas no varejo nacional
vem do segmento de hiper, supermercados e alimentos.
Os dados são do ranking Ibevar (Instituto Brasileiro de
Executivos de Varejo de Mercado de Consumo). Em
segundo lugar está o segmento de veículos, motos e
peças, com 26,9%, e em terceiro o setor de material de
construção, com 8,6%. Assim, é fácil entender o motivo
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de Carrefour, Pão de Açúcar e Magalu serem os maiores
varejistas do Brasil.
Relacionado-os com o comércio varejista internacional,
que movimenta dezenas de trilhões de dólares
anualmente, é importante pontuar que, atualmente, o
respectivo setor vem sendo impulsionado pelo
e-commerce (comércio por qualquer meio eletrônico),
m-commerce (vendas feitas por meio de smartphones) e
s-commerce (vendas por meio de redes sociais), muito por
conta do advento das redes sociais e das novas
ferramentas de comércio eletrônico. Com o crescimento
do mercado de varejo global, há também uma mudança na
ordem dos principais países do setor. A China e os
Estados Unidos continuam figurando como os principais
países dominantes no setor, enquanto Índia, Japão, Rússia
e até mesmo o Brasil também representam grandes
varejistas internacionais.
É fato que a crise ocasionada pela pandemia do
coronavírus atingiu todas as esferas econômicas
nacionais, mas o que impressiona é que, segundo a
Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC, 2021)
em seu estudo sobre “O Papel do Varejo na Economia
Brasileira”, o varejo brasileiro continua crescendo acima
do PIB, mesmo com a crise gerada pela pandemia. Ainda
nesse viés, é importante analisar a transformação digital
dos negócios ocasionada pela pandemia, onde muitos
varejistas passaram a vender pela internet ou aumentaram
os investimentos nessa área. Segundo o eMarketer,
empresa de pesquisa de mercado baseada em assinatura
que fornece percepções e tendências relacionadas a
marketing digital, mídia e comércio, o e-commerce
registrou um crescimento de 27,6% em todo o mundo
durante 2020.
Citando especificamente as grandes empresas varejistas
nacionais, é explícito que o varejo vem de fato se
consolidando, estimulado pelo crescimento do varejo
online, pela acelerada transformação digital das empresas,
do comportamento dos clientes na pandemia e por
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práticas mais modernas de gestão das maiores empresas
do setor. Além de melhora operacional, houve
continuidade no crescimento do comércio eletrônico e no
desenvolvimento de iniciativas de integração de canais e
modelos de negócio omnichannel (tendência do varejo
que se baseia na convergência de todos os canais
utilizados por uma empresa). Em relação a novas
tecnologias, avança a capacidade de interagir com clientes
por meio da mobilidade nas lojas, enquanto a
comunicação e o relacionamento com os clientes se
tornam mais precisos e customizados (SBVC, 2021).
Um dos grandes destaques no cenário do varejo
nacional é a Magazine Luiza: empresa que antes, durante
e no atual contexto pós pandemia teve grande oscilação
na cotação das suas ações, entrada e saída de investidores
nacionais e internacionais, matérias e reportagens a
respeito. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é analisar
a performance da Magazine Luiza antes, durante e após a
pandemia através do método de Valuation por múltiplos,
correlacionando os resultados com a cotação se sua ação
na bolsa.
II. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. O conceito de varejo
O varejo é um segmento de mercado que está em
profundas transformações, onde as estratégias de vendas
contam significativamente para um maior impacto sobre o
público-alvo e consequentemente, nas vendas.
Tomando como base a literatura e pelas definições das
associações mundiais sobre varejo, a Sociedade Brasileira
de Varejo e Consumo (SBVC) define o varejo como toda
atividade econômica da venda de um bem ou um serviço
para o consumidor final, ou seja, uma transação entre um
CNPJ e um CPF.
Toda relevância e importância que o varejo apresentou
nos últimos tempos, principalmente a partir do começo da
década passada, promoveu estudos e novas definições
para um conceito que está cada vez mais em pauta para
grandes empresas e para o comércio como um todo. Para
Kotler (2012, pág. 482), “o varejo inclui todas as
atividades relativas à venda de bens e serviços
diretamente ao consumidor final, para uso pessoal”. Já
Fig. 1. Ciclos de evolução e transformação estrutural brasileiro
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Richter (1954) define o varejo como “o processo de
compra de produtos em quantidade relativamente grande
dos produtores atacadistas e outros fornecedores e
posterior venda em quantidades menores ao consumidor
final”. Outra definição relevante é a de Spohn (1977) :
“uma atividade comercial responsável por providenciar
mercadorias e serviços desejados pelos consumidores”.
Diante de vastos conceitos relacionados ao mesmo
referencial, o conceito de varejo também pode ser
trabalhado de uma forma diferenciada se tomarmos como
base nosso país e o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). O IBGE segmenta os dados do varejo
de uma forma um pouco diferente:
1. Varejo Restrito (bens de consumo, menos
automóveis e materiais de construção);
2. Varejo Ampliado (todos os bens de consumo,
incluindo automóveis e materiais de construção);
3. Serviços em geral.
Essa, no entanto, não é a segmentação padrão utilizada
em outros países, dificultando a comparação de dados e
estatísticas. A segmentação mais utilizada para se referir
ao varejo internacional é a seguinte: varejo de bens,
varejo de veículos e combustíveis, e varejo de serviços.
2.2. O varejo em retrospectiva
Apesar do conceito de varejo entrar em pauta nas
questões empresariais a partir do final do século XX, é
possível estudar a evolução do mesmo a partir de ciclos
que marcaram os períodos a seguir. De acordo com
Alberto Serrentino (2016), o varejo brasileiro evoluiu em
ciclos de evolução e transformação estrutural,
apresentados na Figura 1. A cada ciclo, o desempenho do
setor, o ambiente econômico, as mudanças
sociodemográficas e o mercado de crédito geraram a
entrada de operadores internacionais, a incorporação de
novas tecnologias e o desenvolvimento das relações com
o mercado de investimentos. Com isso, ocorreram
transformações estruturais no varejo e aumento de
competição, levando as empresas a desenvolverem novas
competências e amadurecer para enfrentar os desafios de
cada ciclo.
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Fonte: SERRENTINO, 2016.
2.3. Magazine Luiza: referência no varejo
Tomando como base grandes centros de pesquisas
varejistas, o levantamento do Instituto Brasileiro de
Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar)
coloca Magazine Luiza, Carrefour, Natura, McDonald 's e
Lojas Americanas na lista das 120 Maiores Varejistas do
Brasil. Os estabelecimentos são classificados no estudo
por ordem de eficiência em unidades presenciais.
Fundado em 1957 em Franca, interior de São Paulo,
pelo casal Luiza Trajano Donato e Pelegrino José Donato,
a Magalu segue entre as maiores empresas varejistas
nacionais, dominando ramos comerciais e premiada em
iniciativas de e-commerce mais dominante no universo
digital do Brasil, com destaque em experiência de
compra, tecnologia e empreendedor digital.
Os cinco pilares que sustentam o ciclo de negócios do
Magalu são : novas categorias, Superapp, entrega mais
rápida, o Magalu ao seu Serviço (ou Magalu as a Service)
e a Fintech. O desafio dos mais de 40.000 colaboradores
da empresa é fortalecer esses pilares para que o
ecossistema digital funcione de forma plena. Assim como
das nossas empresas parceiras: Netshoes, Zattini, LogBee,
Época Cosméticos, Estante Virtual, Consórcio Magalu,
entre outras. Hoje, o Magalu opera em 1477 lojas físicas,
distribuídas por mais de 830 cidades, de 21 estados, e
vêm rapidamente se transformando em centros avançados
de distribuição dos produtos da empresa e de sellers,
vendidos online.
2.4. A relação do cenário macroeconômico
brasileiro entre 2019 e 2021 e o e-commerce
do Magazine Luiza
Analisando-se o ano de 2019, vê-se que o cenário
brasileiro econômico apresentava segundo o Cadastro
Geral de Empregos e Desemprego (Caged), taxa de
desemprego com 11%, informalidade com 40% e
desalento (pessoas que deixaram de procurar emprego)
acima de 4%, o saldo de empregos, com quase 650 mil
vagas, foi o melhor em 6 anos. Em relação à confiança do
consumidor, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou
que esta iniciou o ano alta e com otimismo entre
investidores e consumidores, mas já em maio atingiu seu
ponto mais baixo devido à ausência de sinais da retomada
do emprego e da renda. Segundo o relatório Focus, do
Banco Central, era esperado que o PIB fechasse o ano
com cerca de 2,5%, porém, já em agosto, o mesmo
apontou uma estimativa de alta de apenas 0,8%. Em
relação ao dólar, a previsão do boletim Focus era que o
ano se encerrasse com ele a R$3,80, porém, segundo o
Valor Data ele terminou acima de R$4.
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Dado este cenário, pode-se observar melhor a situação
externa com que o Magazine Luiza se deparava. Segundo
o relatório financeiro do 3.º trimestre de 2019 do Magalu,
as vendas totais, (lojas físicas, e-commerce tradicional e
marketplace) cresceram 46,9%, reflexo do aumento de
96% no e-commerce total e 19% nas lojas físicas, tendo o
e-commerce um crescimento individual de 54,1%. Nesse
ínterim, o e-commerce representou 48,3% das vendas
totais. No e-commerce tradicional, as vendas chegaram a
evoluir 66,3% e o marketplace contribui com R$853,7
milhões, crescendo 300,3% e representando 26,0% do
e-commerce total.
Já em 2020, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) registrou-se que o PIB teve o pior
resultado desde 1996, projeções pessimistas previam uma
queda de quase 10%, já o boletim Focus previa uma
queda de 2,3%. Em dezembro, os dados do IBGE e Banco
Central mostraram que a queda foi de 4,4%, não sendo
pior devido ao Auxílio Emergencial oferecido pelo
governo. Em relação ao comércio, também segundo o
IBGE, houve uma queda de 6,1% em relação a novembro
de 2019; com o varejo tendo uma desaceleração constante
desde maio até outubro e em dezembro atingindo uma
queda. Registrou-se uma desaceleração do comércio
exterior; queda de 6% no setor de serviços, em que se
observou o início da queda em março, com o setor quase
paralisado (início do lockdown), intensificação em abril e
início e melhora pouco expressiva com o relaxamento das
medidas de restrição. Em relação ao desemprego, houve
um aumento grande; segundo as projeções do FMI
esperava-se uma taxa de 10,8%, mas os dados do IBGE
2020 mostraram um aumento saindo de 11,2% em janeiro
e chegando a 14,6% em setembro; o desalento deste ano
bateu recordes, chegando a 8,9 milhões em setembro. No
que se refere ao dólar, os bancos estimaram que ele
chegaria a R$4,09 no fim do ano, entretanto, segundo os
dados do Banco Central e Valor data, o maior valor foi
registrado em outubro a R$5,74 e fechou-se o ano com
ele a R$5,04. Já a inflação, era esperada, segundo o
boletim Focus, que chegasse a 3,60%, mas os dados do
IBGE e do Banco Central mostraram que ela encerrou o
ano a 4,31%. Para o IGP-M, inflação do aluguel, era
estimado que aumentasse em 4,24% no fim de 2020,
porém, dados do FGV e Banco Central indicaram o
encerramento do ano com o aumento alarmante de
24,52%.
Apesar deste cenário pouco promissor, o e-commerce do
Magazine Luiza cresceu e se destacou, em resposta ao
fechamento do varejo físico. Conforme o desempenho
financeiro realizado pelo Magalu no segundo trimestre de
2020 , as vendas totais, as quais incluem: lojas físicas,
e-commerce tradicional e marketplace, cresceram 49,1%,
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o que refletiu o aumento de 181,9% de vendas por
e-commerce e da queda de 45,1% nas lojas físicas. Tal
fato ocorreu quando apenas 36% das lojas físicas estavam
abertas, já na metade do ano esse número subiu para 64%,
levando a empresa a ter um aumento de 85% das vendas e
a liderar seu setor naquele trimestre. Ilustrando o
comparativo entre o aumento do e-commerce formal
brasileiro e do e-commerce do Magazine Luiza, vê-se que
enquanto o primeiro cresceu 70,4%, o segundo cresceu
2,6x mais, assumindo assim, a liderança do e-commerce
formal.
Em 2021, temos como expoente a alta dos preços dos
combustíveis, que segundo o Índice de Preços Ticket Log
(IPTL), registrou um aumento de 51%, indo de R$ 4,22
em novembro de 2020 para R$ 6,90 em 2021 e o aumento
do preço do gás que segundo a Fundação Getúlio Vargas
(FGV) passou de R$100 a R$140. O dólar neste ano,
segundo o último pregão de dezembro, fechou a R$ 5,57,
com uma valorização de 7,47% em relação ao real.
Segundo o IBGE, nesse ano, 7 milhões de pessoas
entraram em ocupações de baixa qualidade, o que gerou
uma queda de 10% na renda média do brasileiro; a taxa
de desemprego caiu de 14,9% no primeiro trimestre para
12,1% no trimestre que se encerrou em outubro. Segundo
o Banco Central, o PIB recuou -0,4% no segundo e -0,1%
no terceiro trimestre do ano, tendo um crescimento de
1,3% ao final do ano.
De acordo com uma entrevista dada pelo atual CEO do
Magazine Luiza, Frederico Trajano, à revista Exame, em
2021 as vendas totais da empresa cresceram 63%,
atingindo 12,5 bilhões de reais, dos quais 70% era
proveniente do e-commerce. Tais resultados foram
extremamente positivos , visto que em média apenas 25%
das lojas estavam abertas. Todo esse cenário levou ao
aumento de 114,4% no e-commerce total e de 3,7% nas
lojas físicas. (Exame, 2021). Conforme o relatório de
desempenho do Magazine Luiza, nos dois anos de
pandemia as vendas do Marketplace quadruplicaram e
chegaram a R$13 bilhões, tendo um crescimento de 69%
em relação a 2020 e R$40 bilhões de vendas no
e-commerce, um aumento de 39% comparado a 2020.
Foram mais de 200 milhões de itens vendidos online,
mais de 45 milhões de usuários ativos mensais e mais de
450 milhões de acessos ao site e no aplicativo em
dezembro de 2021. Por fim, em 2022, também de acordo
o relatório de desempenho do Magalu, a vendas do
Marketplace superaram o faturamento das lojas físicas.
2.5. Valuation por Múltiplos
No processo de avaliação de uma companhia pode-se
aplicar diversos métodos, esses que variam de acordo
com as informações disponíveis sobre determinada
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companhia que podem apresentar restrições relevantes
sobre a quantidade e qualidade das informações
disponíveis. Esse processo é então caracterizado como
Valuation, nele é visto métodos utilizados por analistas
financeiros como fluxo de caixa descontado (discounted
cash flow ou DFC) e a avaliação por múltiplos (JANOTI,
2022).
Para realizar o valuation da empresa Magazine Luiza,
foi escolhida a técnica de valuation por múltiplos por
fatores de praticidades e por ser mais condizente com o
objetivo do trabalho por fatores de comparação. A técnica
de valuation por múltiplos consiste em comparar os dois
principais múltiplos com empresas do mesmo setor, com
atuações semelhantes.
Os dois principais indicadores de múltiplos são o P/E
(Price / Earnings), em português P/L (Preço sobre Lucro)
e EV/EBITDA (Enterprise Value / Earnings Before
Interests, Tax, Depreciation and Amortization) em
português VE/LAJIDA (Valor da Empresa/ Lucro Antes
de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização). O
motivo para escolha desses dois indicadores é com base
em um estudo realizado por Liu, Nissim e Thomas
(2002), que mostra esses indicadores sendo os melhores
por apresentarem estimativas mais precisas e menos
enviesadas. O estudo identificou também que o múltiplo
EBITDA apresenta uma melhor performance em
comparação ao múltiplo EBIT (Earnings Before Interests
and Taxes) em português LAJIR (Lucro Antes de Juros e
Imposto de Renda).
As fórmulas para os cálculos são para o P/L e o
EV/EBITDA, respectivamente:
𝑃
=
𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜
𝐿 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜/𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑎çõ𝑒𝑠 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠
e
𝐸𝑉 (𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑒 𝑎çõ𝑒𝑠 × 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑎çõ𝑒𝑠) + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 − 𝐶𝑎𝑖𝑥𝑎
𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴
= 𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴
III. MATERIAL E MÉTODOS
Já tendo os indicadores definidos, precisa-se definir
quais empresas servirão de comparação do mesmo setor.
De acordo com Bhojraj, Lee e Ng (2003), uma
abordagem que incorpora, na seleção dos comparáveis,
fatores específicos a companhia, setor e país, tende a
reduzir de forma relevante os problemas de variações na
contabilidade e diferenças nos riscos entre companhias de
diferentes países. Nossa empresa base é a Magazine Luiza
que está presente em lojas físicas e-commerce com
vendas principalmente de eletrodomésticos e móveis para
mobiliar. Empresas listadas na bolsa de valores brasileira
(B3) do mesmo setor de atuação que se enquadram são
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Lojas Americanas (AMER3) e Via Varejo (VIIA3) que é cartão Luiza e cartão Magalu (Magazine Luiza). Seu
a dona de lojas como Casas Bahia e Ponto Frio. marketplace conta com mais de 200 mil sellers que são
Todas as empresas listadas na bolsa de valores são pequenos varejistas de todas as regiões do Brasil, e mais
obrigadas a divulgar trimestralmente seus resultados de 64 milhões de itens (Magazine Luiza).
financeiros, e tem-se acesso em seus respectivos sites de As vendas totais de Magazine Luiza atingiram
relação com o investidor. Além disso, a CVM (Comissão aproximadamente R$ 14 bilhões no primeiro trimestre de
de Valores Mobiliários) possui todas as informações das 2022 sendo que 72% das suas vendas são feitas online. A
empresas, visto que ela é a reguladora do mercado de empresa tem um importante papel a frente da
ações. Com isso, é possível obter todas as informações digitalização do varejo brasileiro, e vem buscando
necessárias para realizar as contas. diversificação das suas receitas: desde 2020, vem
Para a conta do P/L, é utilizado o preço do fechamento adquirindo outras empresas como Netshoes, Kabum,
do mercado (preço da última negociação realizada no dia) Zatiini, Jovem nerd, entre outras, com o objetivo de criar
e o Lucro Líquido por ação reportado no demonstrativo um amplo ecossistema de negócios. Apesar disso, no
do resultado do exercício (DRE) da empresa passado recente as ações da Magazine Luiza vem
(disponibilizado no site de relação com os investidores). despencando, como pode-se ver na Figura 2:
Já para a conta do EV/EBITDA, o cálculo do Enterprise
Value (EV) ou Valor da Empresa, precisa-se do número de Fig. 2. Preços históricos MGLU3.
ações em circulação, preço de fechamento da ação,
somando com as dívidas fornecidas pelo DRE e
subtraindo o caixa disponível também encontrado no
DRE, o EV é uma métrica utilizada para entender o
quanto custaria comprar todos os ativos da companhia. O
EBITDA é retirado dos últimos 12 meses no DRE, que
significa o resultado operacional da empresa.
Após calculado os múltiplos para cada empresa, basta
compará-los entre si. O P/L significa em quanto tempo a
empresa irá repagar o investimento feito mantendo o
lucro dos últimos 12 meses constantes. Por exemplo, um
P/L de 15, significa que em 15 anos, o preço que o
investidor paga na ação, será revertido em lucro em 15
Fonte:Yahoo Finance, Autoria Própria
anos.
Para o EV/EBITDA, ele nos mostra o potencial da
É possível notar nas Figuras 3 e 4 que os dois principais
empresa em gerar caixa, e suas vantagens em relação ao
concorrentes da Magazine Luiza no mercado
P/L é que pode-se aumentar o grau de comparação com
apresentaram uma tendência parecida:
empresas de estrutura de capital diferentes, com empresas
de outros países, pois por não levar em consideração os
Fig. 3. Preços históricos AMER3.
impostos. Por outro lado, uma desvantagem é que se a
empresa estiver alavancada, esse indicador não será tão
preciso.

IV. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Conhecida popularmente por Magalu, fundada em 1950,
a Magazine Luiza se tornou ao longo do tempo uma das
principais lojas de varejo de eletrodomésticos e móveis do
país. A empresa conta com 1477 lojas físicas em 21
estados brasileiros e 270 centros de distribuição, além de
um sistema logístico competente e integrado, que no final
de março de 2022 75% de todos os produtos vendidos e
entregues pelo ecossistema magalu chegaram ao seu
destino final em até 48 horas (Magazine Luiza). Fonte: Yahoo Finance, Autoria Própria
Além disso, a empresa conta com 37 milhões de clientes
ativos e 7,3 milhões de cartões de crédito com a Marca

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Fig. 4. Preços históricos VIIA3. Fig. 6. P/E histórico AMER3.

Fonte: Yahoo Finance, Autoria Própria Fonte: Americanas, Status Invest, CVM, Yahoo Finance,
Autoria Própria
Em 2019, a Magalu começou a apresentar bons
resultados e interrompeu esse bom momento no segundo Fig. 7. P/E histórico VIIA3.
trimestre de 2020 com o início da pandemia, com prejuízo
de aproximadamente 64 mln. Porém se recuperou
rapidamente e nos trimestres seguintes o resultados foi
revertido em lucros crescentes e a cotação da ação
começou a subir até mesmo de forma exagerada, levando
o P/E da empresa a mais de 400x, isso significa que se a
Magalu distribuísse todo o seu lucro ao seus acionistas
demoraria mais de 400 anos para receberem o seu
dinheiro de volta, assim é possível notar o caso descrito
na Figura 5.

Fig. 5. P/E histórico MGLU3.

Fonte: Americanas, Status Invest, CVM, Yahoo Finance,

Autoria Própria

Em 2020, o mercado estava muito empolgado com os

resultados de Magalu e somado a bela história, a bela
narrativa da empresa acabou atraindo inúmeros
investidores nacionais e internacionais. Muitos se
perguntavam: qual será a próxima magalu? Porém, esses
investidores não estavam preparados para uma empresa
cíclica: no primeiro trimestre de 2021, o cenário de
Magalu começou a mudar, como o início do ciclo de alta
da taxa básica de juros no país, a Selic. O fato é que as
Fonte: Americanas, Status Invest, CVM, Yahoo Finance,
empresas do setor de varejo são cíclicas porque suas
Autoria Própria
vendas aumentam ou diminuem de acordo com os ciclos
da economia, e no momento de um ciclo de alta de taxa
Novamente, um movimento similar ocorreu com seus
de juros, há um impacto negativo no resultado das
principais concorrentes diretos, Americanas, cujo ticker
varejistas, porque além da diminuição do consumo, as
da ação na bolsa brasileira é AMER3, e Via S.A, cujo
despesas financeiras que são juros pagos pelos
ticker é o VIIA3. Pode-se ver nos seguintes gráficos o
empréstimos feitos por essas empresas aumentam
histórico de P/E para essas duas empresas apresentados
exponencialmente. Na Figura 8, pode-se notar como as
nas Figuras 6 e 7:
três empresas mencionadas tem o desempenho de suas

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ações prejudicados no passado recente se comparados ao
Ibovespa:
Fig. 8. Variação das ações MGLU3, AMER3 e VIIA3, dez
2018=100.
Fonte: Yahoo Finance, Autoria Própria
Comparado ao primeiro trimestre de 2021, as despesas
no primeiro trimestre de 2022 foram mais que o dobro: as
despesas financeiras pularam de R$ 170,3 milhões para
R$ 422,1 milhões com a alta da Selic de 2% para 11,75%,
o que fez a empresa apresentar um prejuízo líquido no
primeiro trimestre de 2022 de R$ 98,8 milhões (CVM,
Magazine Luiza).
No curto prazo, as ações da MGLU3 não devem subir.
Porém, no médio prazo, entre 1 e 2 anos, quando houver
um maior controle sobre a inflação, e consequentemente
da taxa Selic, a taxa de juros básica do país, as varejistas
devem começar a melhorar o seu resultado e as cotações
voltam a subir.
Avaliando-se pela perspectiva de valuation por múltiplos.
A Magazine Luiza é a empresa com as ações mais “caras”
se comparada a Americanas e Via, como mostrado na
Figura 9.
Fig. 9. Comparação P/E histórico MGLU3, AMER3 e
VIIA3
Fonte: Via Varejo, Status Invest, CVM, Yahoo Finance,
Autoria Própria
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O P/E de MGLU3 está atualmente em 103.5 vezes, isso
quer dizer que se a empresa distribuísse todo o seu lucro
aos acionistas, demoraria mais de 103 anos para os
acionistas receberem o seu dinheiro de volta. Americanas
está com o papel mais barato, portanto na ótica do P/E
seria uma melhor oportunidade de investimento. Por
apresentar um resultado negativo, o P/E de Via é
inconclusivo para o trimestre.
Além disso, Magalu está encontrando dificuldades com
suas margens: sua margem líquida está em 0,48%. Ná
prática, isso quer dizer que a cada R$100 que entra na
receita da empresa apenas 48 centavos vira lucro líquido.
Essa margem líquida apertada, deixa o cenário muito
desafiador em qualquer momento de crise.
O EV/EBITDA da Magazine Luiza está em 24.26 vezes,
o que nos mostra que se a empresa resolvesse fechar o seu
capital hoje demoraria 25 anos para devolver o dinheiro
aos acionistas e pagar os credores utilizando o seu caixa
operacional. Novamente, sob a ótica do múltiplo de
EV/EBITDA Magazine Luiza é a empresa mais cara se
comparada aos seus concorrentes diretos: Via apresenta
um múltiplo de 17.04 vezes e Americanas de 8.03 vezes.
Por esse viés, novamente Americanas seria a melhor
oportunidade de investimento entre as três empresas, dado
os dados apresentados na Figura 10.
Fig. 10. Comparação EV/EBITDA histórico MGLU3,
AMER3 e VIIA3
Fonte: Via Varejo, Status Invest, CVM, Yahoo Finance,
Autoria Própria
Nas Tabelas 1 e 2, tem-se um resumo da comparação
dos múltiplos P/E e EV/EBITDA respectivamente para
essas três empresas:
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[Journal Name][IJHAF/ IJREH/ IJCMP/ IJMPD/ IJCGM/ IJEBM/ IJFAF]
https://dx.doi.org/10.22161/[IJHAF/ IJREH/ IJCMP/ IJMPD/ IJCGM/ IJEBM/ IJFAF]
Tabela 1. P/E históricos para MGLU3, AMER3 e VIIA3
Fonte: Magazine Luiza, Americanas, Via S.A, Status
Invest, CVM, Yahoo Finance, Autoria Própria
Tabela 2. EV/EBITDA históricos para MGLU3, AMER3 e
VIIA3
Fonte: Magazine Luiza, Americanas, Via S.A, Status
Invest, CVM, Yahoo Finance, Autoria Própria
V. CONCLUSÃO
No atual contexto macroeconômico, empresas de setores
não cíclicos e perenes são geralmente melhores
investimentos, pois são setores essenciais para a
sociedade, como energia, bancos, seguradoras,
saneamento e telecomunicações. Boas empresas de
setores perenes costumam ter uma boa margem, o que
traz mais segurança nos momentos de crise,
endividamento saudável e consequentemente um bom
retorno para o seu acionista. No entanto, analisando as
oportunidades dentro do setor de varejo, a análise dos
múltiplos P/E e EV/EBITDA indica que os papéis de
Magazine Luiza estão caros no momento e foram
duramente afetados pela pandemia, e que a melhor
oportunidade no setor atualmente é AMER3. Concluindo
a análise da Magazine Luiza nos três cenários, isto é,
antes, durante e após a pandemia, tem-se que antes da
pandemia a empresa apresentava múltiplos mais baixos, e
também um menor preço da ação, durante a pandemia as
suas ações e seus múltiplos tiveram um “boom” e agora,
no contexto pós pandemia, seu papel se encontra quase na
mínima histórica porém com múltiplos P/E e
EV/EBITDA ainda muito altos, indicando que no
momento a empresa não é a melhor oportunidade de
investimento em seu setor.
www.aipublications.com
[Vol-3, Issue-3, May-Jun 2019]
ISSN: XXXX-XXXX
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