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ECONOMIA COMPORTAMENTAL:
Análise da plataforma IFood mercado de delivery de
alimentação no Brasil, com proposta de intervenção
apoiadas na economia comportamental.
Juliana Nakahara
Lucas Duarte Kelly
Lucca Girardi
Roberto Gonzaga
Orientação:
Prof. Alexandre Gaino
São Paulo
2022/2
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RESUMO
Palavras Chaves:
Consumo, Economia Comportamental, IFood
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Sumário
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1. Apresentação do Projeto
1.1 IFood e o Mercado de Delivery de Alimentos no Brasil
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O IFood, além de marca pioneira, também apresentou ser a mais consultada pelo
Google nos últimos anos. Segundo a própria empresa, em dados divulgados em 2019 a
empresa pré-pandemia já apresentava um crescimento de 116% no número de pedidos
recebidos em comparação ao ano de 2018. O que é possível visualizar a
perpendicularidade dos dados apresentados e o comportamento das linhas no gráfico
acima. “O aumento de pedidos em 116% nesse período, na plataforma, consolida um
modelo de negócio que impactam positivamente a todo o ecossistema, incluindo
restaurantes, que conseguem crescer até 50% nos primeiros meses quando entram no
aplicativo, com a impulsão ao empreendedorismo e geração de emprego e renda”, disse
Diego Barreto, CFO do IFood.
A pandemia da COVID-19, com o seu isolamento social certamente foi uma
interferência macro ambiental que impulsionou as demandas por comidas via
aplicativos de delivery, mas como consequência também aumentou o número de
reclamações por consumidores para as plataformas. Um levantamento realizado pelo
site Reclame Aqui, um dos principais no mais a centralizar os pedidos de reclamações
dos consumidores no Brasil, reportou que em especial o IFood saltou de 13,7 mil
reclamações para 18,6 mil representando um aumento superior a 35%. A empresa se
posicionou alegando que o aumento de reclamações foi influenciado pelo número de
entrada de novos entregadores na plataforma. Em defesa a empresa em uma nota oficial
relatou que: "Na comparação entre 2019 e 2020, a IFood melhorou seu Índice de
Solução em 4,3%, de 83% no ano passado para 86,6% este ano. Nos últimos meses, as
reclamações têm sido respondidas de forma mais rápida e assertiva, passando de uma
média de 40 horas para as atuais pouco mais de 24 horas, entre abertura e solução dos
casos".
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racionais. Ou seja, esses modelos continuariam a ser úteis como um ponto de partida
para interpretações mais realistas (THALER, 2015). Consoante a essa visão,
Franceschinhi (2012) aponta que uma proposta que busca uma aliança entre a busca do
entendimento do comportamento humano e a economia, não se configura como um
rompimento com a teoria econômica racional, mas sim, objetiva novas interpretações
para “aumentar o poder explicativo dos modelos”.
Como reflexo da falta de aparatos da economia tradicional em lidar com a
multiplicidade inerente do ser humano, impossibilitando-a de atender as necessidades
do mercado, surge a necessidade de modelos baseados não mais no homoeconomicus
(Econs), mas sim, no homem parcial, imprevisível, e dotado de diversas e complexas
emoções (ROCHA & ROCHA, 2011). A partir daí, surge a economia comportamental,
contrapondo esse “deficit”, com um campo de estudos que visa explicar o
comportamento do indivíduo em situações de cunho econômico, se utilizando para isso
de um aporte da psicologia (PAIVA, 2013).
Para Franceschini (2012), “a Economia Comportamental é uma ciência-ponte
que interliga a Psicologia às Ciências Econômicas. Grande parte de suas investigações
estão voltadas a explorar temas de interesse da comunidade de economistas, utilizando-
se para isso conhecimentos produzidos por psicólogos “.
Para as propostas de intervenção que descreveremos a seguir, usaremos vieses
e heurísticas amparados pela Economia Comportamental de forma a otimizar os
resultados esperados. É pertinente situar, que vieses e heurísticas são atalhos mentais e
erros sistemáticos que podem conduzir pessoas a agirem de forma automática, e com
isso resultar em tomadas de decisões irracionais (TVERSKY & KAHNEMAN, 1974).
As ações serão baseadas, principalmente, nos vieses de princípio de escassez e efeito
manada e na heurística do afeto.
Um dos conceitos em que serão baseadas nossas ações será o nudge. Também
conhecido como uma espécie de “empurrão”, ele faz parte de uma teoria de incentivo
em que o ser humano pode ser levado a tomar determinada decisões com base em
pequenas mudanças de contexto (THALER; SUNSTEIN, 2009). Essas mudanças
ocorrem na forma de apresentação das opções já existentes - nesse caso, não há alteração
nas escolhas oferecidas. Os nudges são importantes principalmente quando a tomada de
decisão é mais difícil e menos frequente ao usuário, e que não apresenta efeitos
imediatos como um investimento financeiro a longo prazo.
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Um exemplo na prática da atuação dos nudges é descrito por Thaler e Sunstein
em “Nudges: Como tomar melhores decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade” (2009),
em que a mudança na posição dos alimentos no refeitório de escolas de uma cidade
aumentou ou diminuiu o consumo de vários alimentos de maneira expressiva:
Como veremos, detalhes mínimos e que pareçam ser insignificantes podem gerar
grandes impactos no comportamento das pessoas. Uma boa regra geral é partir do
pressuposto que “tudo é importante”. Em muitos casos, se esses detalhes são tão
poderosos é porque atraem a atenção dos usuários para determinado ponto. (THALER;
SUNSTEIN, 2009, p. 12)
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filas mais longas, mesmo sem ouvir avaliações de quem já frequentou este ou outros
locais.
Por fim, temos a Heurística do Afeto que é um atalho mental para facilitar a
tomada de decisão, fazendo com que nossas escolhas não sejam puramente racionais,
mas influenciadas por emoções que se manifestam de modo automático e inconsciente.
Ao mesmo tempo em que ela permite decisões mais rápidas e com menor gasto de
energia, principalmente em tomadas de decisão com grandes quantidades de
informação, ela pode levar à uma distorção na maneira de pensar e, consequentemente,
escolhas menos otimizadas.
De acordo com essa heurística, quando algo nos provoca emoções positivas,
tendemos a superestimar seu benefício e a subestimar, ou até mesmo ignorar, seu custo
ou risco. Por exemplo, uma pessoa que gosta de carne vermelha tende a avaliar o
benefício de ir a uma churrascaria como alto em relação ao seu preço e aos riscos
associados, principalmente se as potenciais consequências estiverem no futuro.
Podemos observar esse comportamento de forma muito presente também em
comunidades de fãs, onde determinados itens e serviços vão para o âmbito da
experiência, muitas vezes com valores que aparentam ser injustificáveis ou até mesmo
absurdos para quem não participa do grupo. De acordo com Schultz (2016), a pesquisa
em neurociência define amplamente recompensas como quaisquer resultados positivos
ou prazerosos que estamos motivados a obter e pelos quais trabalharemos
Da mesma forma, uma associação negativa com determinada coisa faz a balança
entre custos e benefícios pender mais para o lado dos custos, ainda que não haja razão
para tanto. O problema é que esse julgamento é feito tão rapidamente pela nossa mente
que nem sequer nos damos conta do quão tendencioso ele pode ser.
Como vimos (item 1.2 deste material), com a pandemia houve um aumento
significativo das reclamações por parte dos consumidores, e oriundas de problemas com
o tempo de entrega e também quando o consumidor recebe seu pedido danificado por
conta do trajeto ruim. Somado a isso a baixa remuneração, trânsito constante os
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entregadores dessas plataformas veem-se desmotivados. Eles trabalham arduamente
entregando comida de moto, bicicleta, atravessando a cidade com jornadas extensas e
exaustivas. Considera-se também a pressão pela produtividade das entregas, que
também é fruto de acidentes de trânsito e multas, passivo este que fica exclusivamente
nas mãos dos entregadores.
É compreensivo entender que por outro lado, se o consumidor que fez o seu
pedido o recebe em atraso, ou danificado ele logo se sentirá ainda mais desmotivado,
para oferecer ao entregador qualquer tipo de bonificação pelo atendimento, e o pior,
poderá ainda o qualificar negativamente pela política de "estrelas", o que contribuirá
(quando somadas vezes) na exclusão de um entregador da plataforma.
Como consequência disso há uma negativa influência na qualidade das entregas,
atendimento e que interferem na boa experiência do consumidor. O que muitos clientes
também não sabem, é que muitos entregadores estão ali em um grande " campo de
guerra" diariamente em busca de uma melhoria na sua qualidade de vida.
Em uma nova campanha do IFood intitulada como: " Campanha Muito Mais
Que Um Pedido", traz profissionais relatando o modo como a renda obtida através da
plataforma tem mudado suas vidas. Em um dos conteúdos a entregadora Jennifer depõe
que: “Já fui entregadora do iFood. Na época eu estava desempregada, então tirava meu
sustento dali [das entregas]. Trabalhando como entregador (a), conseguimos alugar um
lugar e sair da casa da minha sogra. Eu considero isso como uma conquista, sabe?”
Como podemos usar a economia comportamental como base para propor
intervenções que melhorem o sistema de entregas para os três eixos: IFood,
Entregadores (as) e Consumidores
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batalha desses entregadores nas ruas. Uma vez feito isso, o app seleciona o entregador
e diz por exemplo: “Marcos vai te atender, ele sonha em colocar sua filha na faculdade”,
vamos ajudá-lo? Selecione uma quantia em reais para gorjeta e aproxime o Marcos do
seu sonho. O cliente é provocado emocionalmente por inputs positivos, da taxa zero,
como sonho do entregador que o atenderá, e com a confiança que terá uma entrega de
qualidade. O cliente que selecionar será pontuado em uma espécie de score da gentileza,
e saberá o quanto cada um tem ajudado os entregadores que lhes tem atendido.
Além disso, Marcos receberá a gorjeta com mais frequência, logo poderá
trabalhar ainda mais engajado por entender que sua meta estará ainda mais próxima.
Aqui aplica-se o conceito de recompensa tratado na neurociência do consumo, como
parte da economia comportamental. Para se manter constante com as gorjetas, o Marcos
precisará ser sempre pontual, e organizar os alimentos de forma cada vez mais cautelosa.
Estimular que os entregadores das plataformas possam trabalhar com mais zelo
e cuidado, na medida em que os consumidores também integram uma cadeia de
gentileza, através das gorjetas. Estas por sua vez, com o importante papel de gerar nos
entregadores inputs positivos, para melhoria contínua do seu trabalho e de suas vidas.
Tendo isso como base, a rede de delivery IFood, fortalecerá seus steakholders, fazendo
com que tenha uma marca que seja possível resistir ao futuro.
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logística das plataformas de delivery, surgimento de dark kitchens e aumento do preço
de alimentos tornam a vida dos donos dos restaurantes, principalmente de pequeno e
médio porte, cada vez mais complicada.
As falhas na logística das plataformas incluem desde o rankeamento dos
restaurantes na hora da busca do consumidor, cupons que causam prejuízos ao
consumidor, promoções (por exemplo, compre 2 pague 1), restrições na zona de entrega,
entre outros. Esse tipo de ocorrência não apenas atrapalha o dia-a-dia dos donos de
restaurantes, como também dificulta seus ganhos, sobrevivência no negócio, e relação
com as plataformas de delivery.
Já as dark kitchens, conhecidas como “cozinhas fantasmas", se concentram
principalmente na cidade de São Paulo a partir da época da pandemia, servem
exclusivamente ao delivery em salões fechados, muitas vezes somente a uma única
plataforma de delivery. Muitas delas são criadas a partir de uma inteligência artificial
que identifica a demanda por determinado restaurante numa região, que então é vendida
pela própria plataforma. Além da concorrência com os restaurantes tradicionais, uma
vez que as dark kitchens possibilitam uma cobrança menor por seus produtos por
estarem localizadas em locais pouco especializados e sem local de alimentação próprio,
elas causam problemas com os moradores locais com problemas de barulho, limpeza e
odores ao longo do dia.
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(2) A partir da data de lançamento do selo, uma "muda de planta" será dada ao
usuário na primeira compra acima de R$35,00 em um restaurante com o selo de PME.
Ela ficará visível numa espécie de floresta virtual vinculada à conta. A cada nova
compra num restaurante pequeno, a planta vai crescendo até atingir a fase de uma
"planta adulta" - disponível depois de 15 compras. Depois disso, ela vale um cupom de
R$15,00 na próxima compra num restaurante de pequeno porte e pode iniciar o cultivo
de uma nova planta, sem a necessidade de utilização do cupom. Se preferir, o
consumidor também poderá optar por continuar aumentando o nível de suas plantas para
conseguir melhores vantagens. Será possível compartilhar a foto de sua "floresta" nas
redes sociais.
(3) Mensagem de agradecimento por apoiar pequenos restaurantes, podendo ser
personalizada pelo dono; função exclusiva para restaurantes da categoria
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aliados no marketing do seu produto (COSTA, 2020). Pela ótica da economia
comportamental, essa perspectiva é validada pela prova social, termo cunhado pelo
psicólogo Robert Cialdini em seu livro: “Influence”. A prova social fala justamente da
tendência que as pessoas têm de validar seu comportamento baseado na indicação dos
outros (CIALDINI, 1987). Nessa lógica, os cupons são direcionados para clientes
considerados “possíveis influenciadores”.
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Esse contexto está bastante associado ao que Freud fala sobre psicologia das massas
(FREUD, 2013).
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que: "O ser humano possui limitações, e a racionalidade pode ser
entendida como limitada, considerando-se que a mente humana é incapaz de unir apenas a uma
decisão o conhecimento, o valor e o comportamento que são relevantes (FRANKLIN;
KENSKI; POPADIUK, 2011), logo os consumidores que realizam o seu pedido por meio de
plataformas digitais como o IFood, podem ser melhor orientados durante o processo de tomada
de decisão. As propostas descritas neste projeto, trazem conceitos como: nudges, viés do afeto,
efeito manada, prova social e outros, como componentes que maximizam a condição de se criar
uma marca resistente ao futuro. Um consumidor influenciado pelo efeito manada, no momento
em que é impactado pela campanha das gorjetas (gentileza, gera gentileza), possui uma forte
tendência de se sentir parte de uma causa, pois, ao associar o ato de fazer um pedido de comida
com o sentimento de ajudar o próximo, cria uma nova experiência de consumo. Isso é um ponto
que fortalece a marca, e a sua comunidade, e nesse sentido o uso do nudge tem um poder maior
do que apenas "empurrãozinho", mas sim, o de transformar a vida de pessoas e pequenos
negócios de forma efetiva e duradoura.
As ações propostas e também demais modelos feitos Ifood são justificadas através de
diferentes conceitos trabalhados na economia comportamental. Os cupons de desconto, (que a
bastante tempo são disponibilizados) possuem um padrão em que o valor a ser descontado está
explicitamente mencionado no mesmo, como “20%OFF” ou "ECONOMIZE10”. Nesses
exemplos já poderíamos falar que o viés de disponibilidade está sendo fortemente trabalhado,
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de forma rápida e objetiva. Já as intervenções dispostas nesse projeto trabalham fortemente a
parte emocional dos agentes envolvidos, uma vez que mudam o nome desses de tais cupons
inclinando-os para mensagens que ativem empatia, compaixão, êxtase e outras emoções que
geram valor para sociedade e para as pessoas.
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4. Referências
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HUANG, E.; SHENG-WEI, L.; YA-CHU Fan. MS-QUAL: Mobile service
quality measurement. Electronic Commerce Research and Applications. p. 126-142,
2015
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VIEIRA, Bárbara Muniz. Dark kitchens: como funcionam os galpões com
dezenas de cozinhas para delivery. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-
paulo/noticia/2022/06/03/dark-kitchens-como-funcionam-os-galpoes-com-dezenas-de-
cozinhas-para-delivery.ghtml> Acesso em: 18 de Nov de 2022.
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