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Ponto de vista

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Hip hoppers:
os manos na cultura

João Lindolfo Filho

Revista Brasileira de Psicanálise João Lindolfo Filho é sociólogo,


volume 49, n. 3, p. 153-171 · 2015 mestre em Psicologia Social e
doutor em Antropologia Urbana na
Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP) e na Universidade
de Lisboa, tendo apresentado
Resumo trabalhos na Universidade de
Coimbra (2004/2014) e também na
Laços tribais destruídos por sequestro, incursão oceânica
Sorbonne, em Paris (2015). Músico,
compulsória e trabalho escravo sob coerção. Novas cantor, compositor. Idealizador das
irmandades de resistência e luta se formam quotidianamente bandas Negão e Banguela de Batom
a partir, principalmente, dos traços culturais comuns e dos (reggae, funk, blues). Atualmente,
ideais de liberdade, igualdade, fraternidade e felicidade, é pós-doutorando em Antropologia
Urbana com o tema Tribos urbanas
também para os filhos da África. Ideais que se espalham
blacks: São Paulo, Lisboa e Paris e os
e se reinventam de maneira virótica pelo planeta em griots do terceiro milênio. Foi diretor
reinterpretações e interações com outras culturas e etnias, musical do programa Axé Se Liga,
desde os primeiros diálogos transatlânticos até a atualidade. Brasil, veiculado pela tv Bandeirantes
Transformando, paulatinamente, a paisagem sociocultural em 1998, idealizado pelo prof. dr.
Hélio Santos. Também é o idealizador
mundial, tornando-a menos desigual, mais livre, consciente,
e apresentador do programa Cabeça
fraterna, colorida, musical e alegre, apesar dos obstáculos de Nego (www.cidadafm.com.br), aos
que se lhes apresentam. sábados, às 14h.
Palavras-chave
diáspora; resistência; identidades; juventude das periferias
das metrópoles; produções culturais; sociabilidades;
genocídio.

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1. Invasão, sequestro de irmãos, esforços de intelectuais de várias partes


exploração e resistência cultural do planeta passaram a ser organizados
numa obra financiada pela UNESCO. Trata-
se da História geral da África (Ki-Zerbo,

O século XV presenciou nações euro-


peias adentrarem o continente africano,
1981/2010), que recupera e torna conhecida
uma enorme parte da real história que não
foi contada, e que questiona sobremaneira
onde, conforme se sabe atualmente, se deu aquela até então difundida. Os audazes
o surgimento do homem original. Com o artistas, manos das periferias, de maneira
poder da pólvora de origem chinesa, preva- semelhante aos ancestrais griots,2 têm con-
lecendo-se das rivalidades tribais históricas tado e cantado essa outra perspectiva há três
entre os grupos étnicos autóctones, desen- décadas. Ainda bem! Mas por que a Histó-
volveram a prática de armar algumas tribos ria demorou tanto para trazer à luz a rea-
para subjugar outras, que teriam seus mem- lidade da diáspora africana? Seguramente,
bros sequestrados e vendidos como escravos podemos encontrar parte da resposta em
nas Américas. Ao mesmo passo, ocorria a Paulo Freire (1984), quando afirma que
sistemática depreciação das culturas que seria uma atitude muito ingênua esperar
havia na África, quando não se negava a que as classes dominantes desenvolvessem
existência delas. uma forma de educação que permitisse às
Na abordagem oficialmente propagada, classes dominadas perceberem as injustiças
a história da África teria início com a che- sociais de maneira crítica.
gada do europeu. Já o conceito afrocên- Com efeito, em conformidade com a
trico, desenvolvido nos Estados Unidos, História, um fato que sucedeu à invasão e
por influência do movimento de pan- ao sequestro foi o loteamento do continente
africanismo,1 a partir da década de 1950, africano entre as nações mais poderosas, e,
responde a esta questão colocando o papel talvez propositalmente, sem respeito algum
do negro africano no centro da História e pelas fronteiras étnicas e culturais, o que
de culturas humanas pregressas, anteriores propiciaria a promoção de políticas de divi-
à invasão e sequestro pelos europeus. Desse dir para melhor dominar.
modo, a Europa é retirada do centro da rea- Situações de guerra sempre pauta-
lidade africana, recuperando-se a ideia de ram, ao longo dos séculos, o quotidiano
como teria sido a trajetória do continente do continente africano, pois os domina-
africano caso ele tivesse sido autônomo e dores europeus promoviam o acirramento
não explorado à exaustão, inclusive em de rivalidades étnicas existentes, talvez
vidas e almas, conforme ocorreu. anteriores a sua chegada, para tirar pro-
A afrocentricidade promove a oportuni- veito. Valeram-se delas, por exemplo, nas
dade de reconstrução histórica na perspec-
tiva do negro africano como protagonista.
Somente nas últimas décadas é que os

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operações de captura de indivíduos para diuturnamente, na forma de música, batu-


serem escravizados. O quadro se agrava ques, cultos religiosos abertos ou disfarça-
quando, em determinados territórios, como dos, bem como outras manifestações.
estratégia de dominação, fomentam-se A partir de então, a paisagem cultu-
guerras étnicas, como no caso recente de ral de qualquer ponto do planeta jamais
Ruanda, na década de 1990, em que forças seria a mesma, sendo transformada, per-
europeias priorizaram e armaram a etnia passada pelo crivo da cultura negra, que
dos hutus para se confrontar com a etnia dos historicamente funcionou como elemento
tutsis. Da mesma forma, houve várias de sustentação e de resistência à violência
outras aterradoras práticas que não vêm ao que lhe infligiam os seus algozes, desde
caso para esta abordagem sucinta acerca da o sequestro na África até os locais para os
resistência étnico-cultural nas metrópoles. quais foram conduzidos.
O que mais nos interessa neste texto é Para Pierre Verger,
referir que a diáspora africana, que espa-
lhou o negro pelo mundo para ser explo- a presença das culturas africanas no Novo
rado na condição de escravo, muito embora Mundo é uma consequência do tráfico de
carregasse uma inexorável capacidade de escravos. Escravos estes que foram trazidos
destruição de vidas e almas, acabou tam- para os diferentes países das Américas e das
bém, como consequência, por disseminar Antilhas, provenientes de regiões da África
a cultura africana. Ocorre que os africanos, escalonada de maneira descontínua, ao
espalhados pelas Américas, levaram con- longo da costa ocidental, entre Senegâmbia
sigo a visão de mundo, a forma de relação e Angola. Provenientes, também, da costa
com o cosmo, a ginga, a música e a cultura oriental de Moçambique e da ilha de São
que constavam em sua bagagem. Lourenço, nome dado nessa época a Mada-
Condenados, coercitivamente, à condi- gascar. Disso resultou, no Novo Mundo,
ção de escravos, foram submetidos a situa- uma multidão de cativos que não falavam
ções extremamente degradantes, nesta a mesma língua, possuindo hábitos de vida
prática que foi uma das mais aterradoras diferentes e religiões distintas. Em comum,
selvagerias cometidas contra seres huma- nada tinham, senão a infelicidade de esta-
nos, que eram coagidos quotidianamente rem, todos eles, reduzidos à escravidão,
a cruéis abusos, sob ameaça de castigos, longe das suas terras de origem. (1997, p. 13)
açoites, tortura física, mental e/ou morte.
E mesmo em meio às atrocidades vivencia- Embora a dominação priorizasse jun-
das, ou como consequência delas, a cultura tar apenas pessoas de etnias e, portanto, de
desses escravos se constituiu em substrato dialetos diferentes para dificultar a comu-
para resistência e luta, e portanto exercitada nicação entre elas nos espaços para onde
seriam levadas, ocorreu invariavelmente
que, em suas interações, além de aprende-
rem os idiomas locais, a partir destes ainda

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criavam outros dialetos para se comunica- de seus povos, peregrinando pelas aldeias,
rem entre si, sem que os proprietários de levando notícias e memórias, quer faladas,
escravos pudessem compreendê-los e fla- quer cantadas, e as influências desta figura
grá-los em suas atividades, com vistas às ancestral podem ser percebidas em todas as
possibilidades de resistência. Trata-se do formas culturais e musicais de origem afri-
creole, falado ainda hoje por afrodescen- cana, que por seu turno têm potencial de
dentes e em diversos países. agregar audiências, simpatizantes e formar
Quanto à alfabetização, é importante fri- seguidores. (2004, p. 131)
sar que os norte-africanos já seriam letra-
dos e de tradição islâmica; portanto, liam A partir da condição de cativeiro, movi-
o Alcorão. Ainda, na África, arqueólogos mentos de resistência e lutas por liberta-
encontraram traços de uma civilização ção sempre pautaram o quotidiano desses
mais antiga, os adrinka, na qual já existia filhos da África, que concomitantemente,
uma escrita icônica chamada sankofa, tão conforme o mencionado, desde que, arran-
importante quanto a egípcia. Em confor- cados de suas terras, foram disseminando
midade com Larkin (1994), trata-se de ide- as suas culturas, foram também influen-
ogramas de uma escrita antiga que torna ciando, por assim dizer, as culturas locais
evidente ter surgido na África a prática da e sendo influenciados por elas com a inter-
escrita, apesar de tal fato nunca ter sido secção ocasionada pela travessia atlântica.
mencionado, a não ser nas últimas déca- Os movimentos abolicionistas foram se
das, ao mesmo tempo que a ciência passou avolumando e tiveram desdobramentos
a admitir que o homem original tenha sur- culturais, sociais, políticos, econômicos
gido na África, assim como as sociabilida- e revolucionários diferentes em cada um
des e interações humanas. dos países escravistas. É o caso do Haiti,
Conforme afirma Lindolfo, onde se presenciou uma revolução negra
vitoriosa contra o jugo europeu. Nos Esta-
alguns tornavam-se analfabetos apenas nas dos Unidos, ocorreu a Guerra de Secessão,
línguas dos países para os quais eram con- na qual o norte desenvolvido enfrentou o
duzidos e, como lhes era negada a alfabeti- sul, que era ainda rural, para lograr a extin-
zação, retomavam a tradição oral, existente ção do sistema de produção escravista. Em
mesmo nas culturas letradas, como a árabe. outros espaços, a libertação veio paulati-
Entretanto, aqui não se originou apenas namente, sendo conquistada com lutas,
em virtude da ausência de cultura letrada, recuos e avanços.
mas principalmente do hábito de reunir o O sonho da abolição da escravatura foi
grupo em torno do narrador, como modo pouco a pouco se tornando realidade nas
de divertir e apreciar a habilidade de con- Américas, ainda que o Brasil tenha insistido
tar histórias. O narrar, em muitas culturas,
permanece por meio da tradição dos griots,
responsáveis por narrar a história e a cultura

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em mantê-la, até ser o último país a assumi- Ou seja, em vez de integrar o negro na
la, em 13 maio de 1888, com a assinatura da sociedade, continuou-se a discriminá-lo
Lei Áurea, mas também com protagonismo étnica, racial, social, econômica e cultu-
imprescindível dos quilombos e de Zumbi ralmente ao longo das décadas posteriores,
dos Palmares, que é cultuado, atualmente, até a contemporaneidade.
como um grande herói da causa afro-brasi- No Brasil, recém-saído da condição de
leira pela libertação da escravatura. força de trabalho do sistema de produção
A escravidão trouxe como saldo para as escravista, o negro não teve a oportunidade
Américas a paisagem social, econômica e de, em pé de igualdade com o branco imi-
cultural transformada sobremaneira pela grante, integrar-se no sistema de produção
presença, trabalho e crescente participa- assalariado que se instalava. O contingente
ção e resistência cultural do negro, e muito explorado no sistema escravista foi, a priori,
embora os preconceitos, historicamente, excluído e julgado incompetente para as
insistam em perdurar, em contrapartida vagas de trabalho assalariado, enquanto as
há resistência quotidiana. vagas disponíveis eram ocupadas por imi-
grantes. Como torna evidente o professor
Clóvis Moura (1988), o negro foi integrado
2. Interações dos irmãos de forma marginal, isto é, empurrado para
nas metrópoles os piores setores da economia, em que a
extração de mais-valia se explicitava de
Com base no conceito de que nada é mais forma mais exacerbada. Este pensador nos
concreto do que a História, e referindo- coloca, ainda, diante da relação intrínseca
nos aos Estados Unidos e ao Brasil como que existe entre racismo e capitalismo. No
exemplos para este item, por meio de emblemático Santos (2001), no Brasil, o
uma análise de história comparativa, tem- negro vive um “Eterno 14 de maio”.
se como evidente que tanto a Guerra de Essa situação de subalternidade acabou
Secessão3 nos Estados Unidos quanto as por constituir, nesses países, uma questão
leis que restringiram a escravidão local – que recebeu até então diversas formas de
Sexagenários, Ventre Livre e Lei Áurea de tratamento. No Brasil, mesmo depois dos
1888 – no Brasil, a proibição do tráfico de emancipacionistas, imigrantistas e aboli-
negros africanos imposta pela Inglaterra cionistas, insistia-se numa superioridade
a Portugal e a abolição da escravatura em da raça branca sobre a negra, como enfa-
colônias inglesas no Caribe, em 1838, não tiza Oliveira Viana em seus escritos (por
lograram garantir a integração do negro volta de 1920 e 1930). Contrapondo-se a
em nível satisfatório à vida social desses essa teoria, porém não com tanta veemên-
países. cia, os estudos de Gilberto Freyre (1961)
apontavam que a solução para as desigual-
dades entre brancos e negros seria o amal-
gamento cultural e racial da sociedade para

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a eliminação do racismo, o que serviu de para corresponder aos novos padrões e ideais
base para a posterior ideologia da democra- de homem, criados pelo advento do trabalho
cia racial,4 por um lado, e para a relativi- livre, do regime republicano e do capita-
zação do racialismo científico,5 por outro.6 lismo. Em certas situações histórico-sociais,
Somente na década de 1950 é que come- como parece suceder com a cidade de São
çou a surgir a concepção baseada na teoria Paulo na época considerada, essa responsa-
de classes sociais desenvolvida por Flores- bilidade tornou-se ainda mais penosa e difí-
tan Fernandes e Octavio Ianni. Esses cien- cil, dadas as possibilidades que poderiam ser
tistas trazem à luz o fato de que a questão realmente aproveitadas em sentido constru-
do negro no contexto dessa sociedade pro- tivo pelo negro. (Fernandes, 1978, p. 20)
vém da exploração e dominação entre gru-
pos sociais, ou seja, a constatação de uma Gozando desse status extremamente
desigualdade fundada no preconceito racial. diferenciado que lhe fora reservado e estra-
E, conforme visto, apesar de a abolição da tegicamente organizado, acompanhado em
escravatura alterar o modo de produção para seu quotidiano pelo senso comum gerado,
mão de obra assalariada, ocorreu que, com de modo mais específico, pelas teorias que
receio de que o Brasil pudesse se tornar um justificam a escravidão, o negro no Brasil
país negro, as autoridades optaram por abrir seguiu uma trajetória de exploração muito
as fronteiras para imigrações europeias. superior à imposta pelo sistema de produ-
Florestan Fernandes argumenta que, ção capitalista. Não tinha a possibilidade
na passagem do sistema escravista para a de vender essa força de trabalho barata
industrialização, os negros, abandonados à nem qualquer perspectiva de vida e mobi-
própria sorte, foram considerados inaptos e lidade social.
descartados, sem reparações, enquanto os Nas metrópoles em que a presença
postos de trabalho assalariado utilizavam, negra é marcante, a maioria deles per-
cada vez mais a mão de obra de imigran- manece no limite das condições de vida
tes europeus. precária. Embora o processo estaduni-
dense de mobilidade social para negros
Como não se manifestou nenhuma impul- tenha se apresentado menos lento do que
são coletiva que induzisse os brancos a dis- outros, basta ver como ainda hoje se vive
cernir a necessidade, a legitimidade e a no Bronx, em Nova Iorque; nos bairros de
urgência de reparações sociais para proteger lata de Kingston, na Jamaica; ou nas peri-
o negro (como pessoa e como grupo) nessa ferias paulistanas. O negro continua a viver
fase de transição, viver na cidade pressupu- em habitações precárias; em todas as situa-
nha, para ele, condenar-se a uma existência ções, foi empurrado para as periferias do
ambígua e marginal. Em suma, a sociedade processo produtivo e levado a ir ocupando
brasileira largou o negro ao seu próprio des-
tino, deitando sobre seus ombros a responsa-
bilidade de reeducar-se e de transformar-se

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as regiões mais afastadas das metrópoles. Foi somente a partir da alteração da Lei de
As gerações posteriores desse contingente Diretrizes e Bases, 10.639, em 2003, que se
sobrevivem a duras penas, entregues a um tornou obrigatório o ensino de história e
quotidiano de miséria, discriminação e cultura africana e afro-brasileira em todas
exploração até a contemporaneidade. as escolas de ensino fundamental e médio,
Com efeito, a inserção do negro nas com vistas ao reconhecimento das contri-
sociedades ocidentais se deu sempre de buições das etnias para a formação cultural
forma a lhe garantir um caráter de subal- da sociedade brasileira e da chamada raça
ternidade socioeconômica, confirmando a brasilis. A partir de então, os educandos têm
discriminação racial como um dos aspectos a oportunidade de acesso à História que não
fundamentais do sistema capitalista de pro- foi contada e que nos conduziu ao presente
dução. Mas, em contrapartida, o decorrer momento da questão racial, cabendo à obra
dos anos e a resistência cultural às situações História geral da África, mencionada ante-
estabelecidas foram dando conta de trans- riormente, editada por Joseph Ki-Zerbo,
formações nas relações sociais dos negros uma substanciosa parcela das informações
nos diversos espaços do mundo para os necessárias para o intento.
quais foram levados. Isso porque nunca
deixaram de resistir por meio de sua cul-
tura, que, posteriormente, veio a se tornar 3. Emancipações por minuto,
traço marcante nas grandes metrópoles do os manos e as tribos urbanas
mundo, chegando em alguns países, como
no Brasil, a se configurar em traço de iden- Nesta panorâmica que nos conduz ao
tidade nacional. breve, criativo e singular século XX, para
Isto traz à luz o fato de que, embora complementar os aspectos históricos abor-
a dominação se pretendesse monolítica, dados sobre a trajetória dos irmãos e das
o negro, por sua resistência em meio às culturas negras pelo mundo, tornam-se
transformações sociais e econômicas, aca- imprescindíveis considerações sobre afro-
bou paulatinamente, também mediante descendência, juventude, sociabilidades,
sua cultura, por lograr superação. Desse interações e, principalmente, música, dis-
modo, garantiu cada vez mais sua inser- seminação e identidades culturais urbanas
ção, ainda que desigual, por intermédio de contemporâneas, que é onde se encontram
movimentos de resgate de identidade, afir- os manos na cultura, audazes protagonis-
mação e conquista de cidadania. tas, herdeiros diretos de toda a saga descrita
No Brasil, é bastante recente o gradativo nos tópicos anteriores.
reconhecimento do papel civilizatório que o Libertando-se gradativamente das amar-
africano realizou na construção desta nação. ras, ao redor do mundo, a começar pelas
Américas, o negro vem cultivando semen-
tes das culturas musicais de matrizes afri-
canas, propiciando fusões com gêneros

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locais, diversas criações e, principalmente, 1980, data da oficialização da indepen-


recriações de gêneros musicais que trans- dência da Rodésia, foi um momento que
formariam de maneira definitiva o uni- ficou gravado no legado do artista militante
verso musical e cultural de enorme parte Bob Marley: nesse dia, ele fez um concerto
do planeta, ao mesmo tempo que, pau- naquele solo africano, no qual interpretou
latinamente, agregariam simpatizantes e a canção antes citada, causando enorme
entusiastas de sua cultura e sua luta. Por comoção. Na ocasião, houve vinte e uma
exemplo, o gênero reggae, em diversas oca- salvas de canhão. Inclusive, conforme
siões, demonstra ser combativo e decisivo especulações, Bob Marley também teria
em sua expressão. auxiliado nas negociações de armas para
Foram momentos marcantes dessa saga as tropas rebeldes desta guerra contra os
dos filhos da África aqueles em que foram ingleses, numa perspectiva de África para
às lutas pela descolonização do continente os africanos, alusão máxima das aborda-
africano, lutas que, muitas vezes, traziam gens pan-africanista e afrocêntrica. Nesta
em sua dinâmica alguns componentes de mesma época, Marley escreveu “Redemp-
contornos culturais e/ou musicais. Por tion song” (1980), em alusão à paz universal
exemplo, nas batalhas pela libertação e inspirada nos discursos pan-africanistas
da Rodésia do jugo inglês, os combaten- de Marcus Garvey:
tes encontravam na música reggae “Zim­
babwe” (1979), do maior astro pop do Velhos piratas, sim, eles me roubaram
Terceiro Mundo, Bob Marley, inspiração Me venderam para navios mercantes
para os confrontos de guerra. A música se Minutos depois de eles terem me tirado
tornou o hino dessa conquista, e a letra diz: Do poço sem fundo
Mas minha mão foi fortalecida
Todo homem tem o direito de decidir seu Pela mão do Todo-Poderoso
próprio destino Nós avançamos nessa geração
E nesse julgamento não há parcialidade Triunfantemente
Então, armas em mãos, com o exército
Vamos lutar esta pequena luta Você não vai me ajudar a cantar
Porque esta é a única forma de superarmos Estas canções de liberdade?
nossos poucos problemas Pois, tudo que eu sempre tenho:
Irmãos, vocês estão tão certos Canções de redenção
Nós vamos lutar Canções de redenção
Nós vamos ter que lutar pelos nossos direitos Libertem-se da escravidão mental
Ninguém além de nós mesmos
A trégua ocorreu somente em 1980, pode libertar nossas mentes
momento no qual a ONU e a Grã-Breta-
nha reconheceram a independência da
Rodésia (Zimbábue). O dia 18 de abril de

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Não tenha medo da energia Rosa Parks, Martin Luther King e o próprio
atômica Malcolm X. Vale lembrar que a música
Porque nenhum deles pode parar “Negro é lindo” (1971), de Jorge Ben, foi
o tempo inspirada no mais importante movimento
Até quando vão matar nossos dessa época, o Black Power, assim como
profetas “Tributo a Martin Luther King” (1967), de
Enquanto nós permanecemos de Wilson Simonal, o mesmo ocorrendo com
lado, olhando? músicas de Billie Holiday e outros.
Alguns dizem que isso faz parte
Nós temos que cumprir o Livro Negro é lindo
Você não vai me ajudar a cantar
Estas canções de liberdade? Negro é lindo
Pois, tudo que eu sempre tenho: Negro é amor
Canções de redenção Negro é amigo
Canções de redenção Negro também é
Canções de redenção Filho de Deus
Negro também é
Afinal, o movimento pan-africanista – Filho de Deus
nascido na Jamaica, entre as décadas de Eu só quero que
1920 e 1930, com a participação do jamai- Deus me ajude
cano Marcus Garvey, e que migrou para A ver meu filho
os Estados Unidos – tinha, curiosamente, Nascer e crescer
o pai de Malcolm X como um dos ativis- E ser um campeão
tas, motivo pelo qual foi assassinado pela Sem prejudicar
Ku Klux Klan. É justamente no pan-africa- Ninguém porque
nismo que se encontram as bases da men- Negro é lindo
cionada perspectiva afrocêntrica gestada Negro é amor
em meados da década de 50 nos EUA – Negro é amigo
abordagens para as quais o gênero musical Negro também é
reggae acabou por se tornar a trilha sonora. Filho de Deus
Outro momento decisivo, entre mui- Negro também é
tos, para os afrodescendentes pelo mundo, Filho Deus
foram as lutas que os negros estaduniden- Preto velho tem
ses empreenderam, em meados da década Tanta canjira
de 1950 e, principalmente, na de 1960, Que todo o povo
pelos direitos civis, nas quais se destacam De Angola
Que todo o povo
De Angola
Mandou preto velho chamar

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Eu quero ver substrato para o resgate de sua história e


Preto velho dizer virtuosas conquistas.
Eu quero ver Estudos de Lindolfo dão conta de que
Preto velho cantar e dizer sempre foi, e ainda é, imensa a produção
Negro é lindo cultural e musical dos afrodescendentes,
Negro é amor inclusive alusiva a esses marcantes episó-
Negro é amigo dios e seus heroicos protagonistas. Desta
Negro também é feita, inevitavelmente, as metrópoles pre-
Filho de Deus senciam o surgimento e a solidificação
Negro também é de um traço cultural que tende cada vez
Filho de Deus mais a se amalgamar com outras culturas, a
transformar, a se recriar e se difundir, agre-
gando mais e mais entusiastas, indepen-
Tributo a Martin Luther King dentemente da condição étnica, de forma
que, gradualmente, grande parte da pro-
Sim, sou um negro de cor dução musical do Ocidente vai sendo, ine-
Meu irmão de minha cor xoravelmente, influenciada pelo crivo das
O que te peço é luta, sim, produções musicais de matrizes africanas.
luta mais, que a luta está no fim Há muito de cultura africana na música
contemporânea e, em conformidade com
Cada negro que for, mais um negro virá o observável, o número de adeptos desses
Para lutar com sangue ou não gêneros marcadamente afro-originários não
Com uma canção também se luta, irmão para de aumentar. Por exemplo, o blues, o
Ouvir minha voz, oh yeah, lutar por nós jazz, o rock, o samba e o reggae têm atin-
gido enorme espaço nas mentes e corações,
Luta negra demais entre outros gêneros de menor alcance
é lutar pela paz devido às limitações midiáticas, mas não
Luta negra demais menos interessantes e/ou importantes –
para sermos iguais gêneros esses que se constituem ora em
moedas, ora em matrizes para recriações
Essas manifestações de resistência, per- de outros gêneros musicais.
sistência, lutas e vitórias têm seus pilares São diversos e numerosos os gêneros
profundamente enraizados em aspectos afro-originários e, dentre os afro-ameri-
culturais que tornam muito presente uma canos, podemos destacar o candombe
sensação de pertencimento, que funciona do Uruguai e o merengue da República
como elemento de sustentação mental, Dominicana, bastante popular em Porto
física e espiritual para os artífices envol-
vidos, os quais têm encontrado nessas cul-
turas que remetem a uma África mítica o

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Rico, Haiti, Venezuela e Colômbia. Tais David Byrne (que pertencia ao grupo inglês
gêneros foram trazidos pelos escravos da Talking Heads), tornou-se axé-music. Aliás,
África Austral, Angola. O calipso de Tri- axé em nagô é “poder de realização”.
nidad e Tobago era tocado em galões que, Atualmente, a axé-music se espalha
anteriormente, continham óleo combus- pelos Estados Unidos e pela Europa na voz
tível. E há ainda o mambo, a rumba, o de Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Clau-
maxixe, a salsa, o bolero, o blues, o samba, dia Leitte, Carlinhos Brown, Olodum, Ilê
assim como as várias fusões. Aiyê, Timbalada, entre outros artistas e
O blues, oriundo dos lamentos nas grupos que exportam alegria de Carnaval
colheitas de algodão, em fusão com a e contam com muita receptividade. Este
música tradicional jamaicana originou o gênero tem o seu clímax no Carnaval da
reggae. Já o jazz, também derivado do blues, Bahia, que agrega multidões de muitos
originou o rock and roll, que se difundiu estados do Brasil e de diversos países.
pelo planeta. E o jazz se junta ao samba, Há também o funk carioca que, no iní-
que por sua vez proveio dos toques de can- cio, descrevia a realidade das comunidades
domblé dos terreiros de culto, das lavouras do Rio de Janeiro e chegou a ser proibido.
de cana e café do Brasil, originando a bossa No entanto, sobreviveu sob o sugestivo
nova, que se tornou mundialmente conhe- codinome de funk proibidão, comerciali-
cida, transformando sobremaneira a histó- zado clandestinamente nas barracas de CDs
ria da música, entre outras fusões, criações da zona sul do Rio, e hoje, com seu tom
e recriações da música popular brasileira. satírico, altamente sexualizado e voltado
Com efeito, os gêneros musicais produzi- ao luxo, se tornou um importante gênero
dos no Brasil têm logrado respeito nas metró- da música brasileira, movimentando mui-
poles do mundo. O samba, nascido com tos dividendos.
conteúdo realista e de reflexão social, foi A música caipira, que outrora fora discri-
proibido na década de 1920, criminalizado minada nas grandes metrópoles brasileiras,
pelo código penal de então. Hoje, se tornou originou a música sertaneja universitária,
distintivo de identidade nacional e tem sua detentora de um imenso mercado, notada-
apoteose em forma de enredo no Carnaval mente cada vez mais juvenil.
de São Paulo e no do Rio de Janeiro, consi- Embora com menor expressão, há tam-
derado o maior espetáculo da Terra. bém o forró, que se transformou em forró
O samba-reggae ijexá era a marginal universitário. E a música rap,7 enquanto
fusão do samba com o reggae jamaicano uma das formas de expressão do movi-
que teve expressão nos blocos afros Ilê Aiyê mento hip hop,8 tornou-se um capítulo à
e Olodum, e por meio de Margareth Mene- parte, por singularidades que engendra.
zes, artista posteriormente descoberta por Todos esses gêneros musicais, de origem
afro-brasileira, após um período de mar-
ginalização e/ou proibição, acabaram
sendo abordados pela chamada indústria

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cultural, que, em sua inexorável ânsia por tratar-se, mesmo, de movimento social, de
dividendos, imprimiu a sua capacidade movimento cultural de juventude ou de
de domesticação de conteúdos, visando ambos? Ou poderiam, ainda, alargando
à maior aceitação pelo público e, conse- o conceito de Michel Maffesoli (1988),
quentemente, um significativo alcance do serem denominados de Tribos Urbanas
“produto”. Blacks? Ou apenas, como neste texto estou
Assim foi com o samba, que se tornou denominando, manos na cultura?
pagode; o samba-reggae ijexá, que se trans-
formou em axé-music; a música caipira,
que se modificou para sertanejo univer- 4. Manos blacks, multicores, cultura das
sitário; o forró, agora forro universitário; periferias das metrópoles e certas
o funk carioca, com as versões charme e incógnitas
ostentação, entre outros. Conforme já men-
cionado, o samba era outrora proibido e Em conformidade com Michel Maffesoli,
hoje é traço de identidade nacional. Com na obra Les Temps de Tribus (1988), as tri-
o rap, por sua vez, que já foi discriminado, bos urbanas se constituem em microgru-
a situação é um tanto diferente e tem origi- pos de sociabilidades que se originam em
nado um fenômeno ao qual primamos por meio à massificação e ao individualismo
nos referir: este gênero musical, que tem que marcam as sociedades pós-modernas.
sido produzido e vivenciado pelos manos Na sua perspectiva, à medida que o sistema
na cultura das periferias das metrópoles de produção capitalista produz a massifica-
pelo mundo, no Brasil e na França, tem ção, e esta origina ambientes de solidão em
resistido às investidas da indústria cultural meio a multidões, a juventude tem cami-
e garantido grande parte de seu conteúdo nhado na direção contrária, ao se orga-
contestatório.9 Na atualidade, os jovens nizar nos mencionados microgrupos de
afrodescendentes das metrópoles do globo sociabilidades, pautados por ligações esté-
têm se agrupado em torno de uma cultura ticas, éticas e pessoais, compartilhamento
vivenciada nas periferias dessas metrópoles, de ideologias e sentimentos quanto a um
formando um movimento social que vem assunto, com regras e rituais a serem segui-
capitaneando uma releitura das histórias, dos local e globalmente pelos diversos agru-
culturas e do quotidiano dos afrodescen- pamentos juvenis.
dentes no planeta, influindo sobremaneira Esse primoroso trabalho de Maffesoli
nos rumos dessas culturas. instiga a observar, com severa acuidade,
A cultura hip hop, que carrega em seu a juventude na paisagem urbana mun-
bojo enorme parcela dos aspectos cultu- dial, notando não somente suas diferen-
rais, políticos e sociais a que o presente ças e semelhanças, mas também seus
texto vem se referindo até aqui, tem agre-
gado mais e mais jovens de diferentes
etnias. Aproveitamos para indagar: poderia

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movimentos e direções, procedimento assim, disseminar seus efeitos. Conforme


que nos foi paulatinamente aguçando a ilustra David T. Wellman,
curiosidade analítica ao oferecer, invaria-
velmente, uma brisa fresca de novidades e quando os brancos querem manter um sta-
indagações sobre declínio das individuali- tus quo que os beneficia em detrimento dos
dades, aumento das sociabilidades, avan- negros, recusando mudanças institucionais
ços, recuos, alcances e limites das propostas que poderiam modificar a situação, eles não
desses microgrupos nas sociedades multi- adiantam argumentos racistas. [Da mesma
étnicas contemporâneas, conforme o são. forma] ninguém milita na França em favor
Considerando as inquietações que nos da discriminação das mulheres na vida polí-
surgiram desses diversos aspectos abor- tica, mas todos os indicadores mostram que
dados, e apoiando-nos nas releituras que seu acesso às responsabilidades ou à repre-
efetuamos da obra do autor, é que acaba- sentação política é singularmente desigual,
mos tentados a propor o alargamento do inscrito no funcionamento das instituições
conceito de Maffesoli para abrigar tribos apesar das declarações igualitárias de todos
urbanas blacks, que teriam como partíci- os atores políticos ou institucionais. (Wie-
pes os manos hip hoppers, os sambistas, viorka 2007, p. 31)
os funkers, entre outros grupos. Pois, se a
massificação imposta no quotidiano pelo E ainda há o racismo “inocente”,10 con-
sistema propicia a solidão nas metrópo- ceito que venho desenvolvendo e discutindo
les, tornaram-se inevitáveis as indagações com outras vítimas das situações descritas.
sobre juventude negra e a solidão experi- Por outro lado, observa-se também que,
mentada pelos jovens que, por terem sua atualmente, a população de quase todas as
participação social condicionada à situação metrópoles do mundo tem seu quotidiano
de subalternidade nas metrópoles mun- perpassado por manifestações culturais que
diais, são historicamente expostos a discri- sofreram influências do crivo das culturas
minações, preconceitos e humilhações, de matrizes africanas, a exemplo dos gêne-
tanto pelas populações quanto pelo poder ros musicais acima mencionados, além de
público. Este, dentro do possível, resiste indumentárias, danças, comportamento
ao máximo às possibilidades de introdução etc. Já os jovens das periferias das metró-
de políticas de promoção do negro e de poles têm apresentado uma crescente iden-
mitigação dos efeitos nocivos do racismo tificação cultural, prioritariamente, com a
nessas sociedades – principalmente do pior cultura hip hop, ao mesmo tempo que a
de todos, o racismo institucionalizado, que produzem e, por meio dela, em muitos
atua de maneira indireta. Os preconceitos casos, chegam a alcançar independência
podem estar ausentes dos discursos e, ainda financeira.
Esses audazes artífices, com base na cul-
tura apreendida, da história do negro no
mundo, das agruras quotidianas, histori-

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camente sofridas e/ou presenciadas, estão da chamada cultura de rua. No decorrer


produzindo a cultura e a crítica jovem das décadas, adquiriu status de fenômeno
contemporânea das periferias das metró- urbano mundial e, passando a contar com
poles, que lhes têm servido de base identi- a simpatia de considerável parcela dos
tária, e alcançado espaços significativos no jovens, foi conquistando, nas metrópoles,
mainstream. Por exemplo: John Galliano, melhoria de status cultural para os negros.
quando estilista da Maison Dior, promo- Diante da proliferação do estado de mise-
veu uma coleção inspirada em streetwear, rabilidade no mundo e da derrocada das
levando para a alta costura insights colhi- grandes utopias, o rap tem trazido para o
dos da indumentária casual e quotidiana cenário mundial, por meio da mídia que o
da chamada cultura de rua e dos manos. hostiliza e que ao mesmo tempo o forta-
Contudo, percebe-se que essas mani- lece, os questionamentos de parcelas das
festações juvenis não podem mesmo ser sociedades que vêm alcançando a vez e a
entendidas sem referência ao quadro voz que lhes foram historicamente nega-
mais amplo das lutas sociais, em especial, das. Particularmente interessante é que,
às referidas lutas pelos direitos civis dos atualmente, o gênero rap pode ser ouvido
negros norte-americanos. Tais demandas em português, inglês, francês, espanhol,
que, muitas vezes, terminavam em con- japonês, italiano, alemão, russo, polonês,
frontos abertos e violentos na década de árabe etc. como expressão de desprivilegia-
1960, deram rumo e uma bandeira para os dos, independentemente da etnia.
movimentos negros das épocas posteriores. Musicalmente, as filiações não são
Essa vinculação, para os manos, é direta: menos interessantes, apesar de indisso-
Malcolm X e Martin Luther King são refe- ciáveis do contexto social. O gênero rap
rências constantes no universo negro, tanto deriva do reggae, nascido na Jamaica – que
estadunidense quanto de outros países, migrou para Londres e foi recepcionado
em especial na França, que figura como pela juventude, a qual, à época, também
segundo país em que a produção de cul- professava uma crítica social. De lá seguiu
tura hip hop tem expressiva projeção e para os Estados Unidos da América e daí,
visibilidade, e com seu conteúdo contes- por meio da mídia, para o mundo.
tatório mais preservado, assim como no Importa acrescentar que o universo
terceiro, o Brasil, sendo que os EUA são o simbólico dos afrodescendentes, con-
primeiro – em quantidade de hits e expor- forme mencionado anteriormente, sem-
tação, e dividendos. pre foi considerado pelos dominantes
O hip hop, parece-nos, segue parale- como cultura menor, mas, de uma forma
lamente à evolução desses movimentos. ou de outra, inseriu-se na cultura hegemô-
Surgiu originariamente negro no iní- nica, ainda que de início como tribalismo,
cio da década de 1970, no Bronx, bairro
de Nova Iorque, e se proliferou por este
mundo que se globaliza como expressão

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primitivismo, superstição, feitiçaria. Entre- sonoridade que influenciou, inclusive, o


tanto, tem conseguido, mediante reelabo- comportamento de outros jovens, indepen-
rações de sua música, recuperar o que foi dentemente de sua raça e classe. O que se
mantido oculto ou incompleto na cultura, observa é que, cada vez mais, essa aceita-
e esta tem funcionado como mecanismo ção e adesão são auxiliadas pelo processo
de integração ou inclusão dos negros, tanto de globalização, que possibilita que mani-
no âmbito local quanto no global. festações locais sejam conhecidas além das
A revolução das comunicações e a indús- fronteiras regionais ou nacionais. Segundo
tria cultural, com a consequente diminuição Renato Ortiz,
dos ciclos de produção e consumo de pro-
dutos, favoreceram a divulgação da música na virada do século, percebemos que os
das minorias (a exemplo da cidade de São homens encontram-se interligados, inde-
Paulo, por meio de rádios comunitárias) pendentemente de suas vontades. Somos
e o incremento da renda das populações todos cidadãos do mundo, mas não no
marginalizadas que concorreram para fazer antigo sentido, de cosmopolita, de viagem.
vigorar o caráter musical do movimento hip Cidadãos mundiais, mesmo quando não
hop. Os manos, propagadores dessa cultura nos deslocamos, o que significa dizer que
(por meio de aparatos que no início eram, o mundo chegou até nós, penetrou nosso
em parte, por eles desenvolvidos para dar quotidiano. Curioso. Uma reflexão sobre
conta de possibilidades outras, criadas por globalização, pela sua amplitude, sugere à
eles próprios),11 trazem à luz uma música primeira vista que ela se afaste das particu-
que carrega em si a metáfora da superação laridades. Pois se o global envolve “tudo”, as
da discriminação imposta. especificidades se encontrariam perdidas na
De origem humilde, inteligência inquieta, totalidade. Ocorre justamente o contrário: a
eles são, conforme resultados de análise pre- mundialização da cultura se revela através
liminar que venho desenvolvendo, críticos do quotidiano. (1994, p. 8)
dos questionáveis currículos escolares for-
mais. Por isso, alguns complementam sua Este é o quadro que origina os manos.
informação para o exercício da cidadania A cultura se mundializa num fenômeno
em espaços extraescolares12 e difundem sua que não vai do local ao global, mas que
crítica de maneira criativa. Constroem, por transcende esse aspecto: é local e global ao
assim dizer, juntamente com os outros vér- mesmo tempo. A simultaneidade, favore-
tices da cultura hip hop, o discurso de opo- cida pela televisão, pelo cinema, pela inter-
sição da juventude no mundo atual. net, torna dispensável o caráter de adesão
Esses gêneros musicais acabaram por ideológica dos novos adeptos do hip hop.
determinar uma estética corporal e de É facilmente perceptível que os discur-
sos de ativistas políticos, como os de Mar-
cus Garvey, Luther King, Malcolm X e

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Louis Farrakhan13 não tiveram tanta circu- de informações sobre o histórico das lutas
lação quanto os hits desses gêneros musi- pelos direitos que os negros empreendem
cais contestadores. O artista, parece-nos, pelo mundo, de estratégias de sobrevivên-
ocupa posição destacada em relação às cia e enfrentamento ao controle social que
questões sociais porque veicula mensa- lhes é imposto, resultando em produções
gens que passam simultaneamente pela culturais que, por isso, se configuram em
razão e pela emoção, de tal modo que as veículos de identidades pan-africanistas
produções artísticas que propagam mensa- e afrocentradas que lhes permitem tanto
gens políticas costumam ser, muitas vezes, ampliar o debate no tecido social como
mais rapidamente compreendidas e incor- ainda alcançar respeito, atenção e divul-
poradas pelos grupos aos quais se dirigem gação de suas prerrogativas nas metrópoles.
do que os discursos intelectuais a respeito Ainda que surgidos por volta dos anos
dos mesmos temas. de 1970, os manos na cultura, como objeto
A equação que origina estes artífices é de reflexão, exigem esta perspectiva histó-
a seguinte: a cultura desde sempre fun- rica de alguns séculos que foi abordada.
cionou como ferramenta de resistência Conforme já referido, se por um lado os
às adversidades às quais os negros foram problemas sociais dos negros nas socie-
acometidos desde o sequestro em África e dades de hoje tiveram origem no regime
a diáspora. Também a juventude, histori- escravocrata – que, mesmo após sua extin-
camente, se apresenta como mola propul- ção, desencadeou um modo de discrimi-
sora de transformações sociais, observáveis nação racial e manteve o negro oprimido
nos movimentos culturais de juventude – em favor da maior solidez do status quo
rock, beat, hippie, Maio de 68, Primavera das sociedades patriarcais e de classes – os
de Praga, punk e hip hop –, que invariavel- manos na cultura carregam em si o ethos
mente trazem para a ordem do dia discus- da figura ancestral do griot.
sões até então desprezadas. É desta feita Como griots do terceiro milênio, repre-
que cultura negra, jovem, afro-originária sentam a metáfora do sobrepujamento da
e contestação nos conduzem a este ponto. condição de subcidadão que lhes é imposta
Atualmente, conforme insistente- e vêm logrando, paulatinamente, um maior
mente referido, jovens de todas as partes exercício de influência no mainstream, em
do mundo têm seu quotidiano perpassado que os anteriormente mencionados Zumbi,
pelo crivo da cultura de matrizes africanas. Malcolm X e outros líderes são resgata-
Uns menos, outros mais. Já no caso dos dos como heróis da causa. Mas isto não se
manos na cultura, os hip hoppers, indepen- aprende nas escolas formais, e sim nas pos-
dentemente da etnia, configuram-se num ses, onde esses jovens têm se informado e
caso à parte. se formado para prosseguir no seu intento
A ancoragem que, parece-nos, muitos
têm a uma “África mítica” serve-lhes de
plataforma para as trocas de experiências,

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de questionar, conscientizar e mobilizar a comprovada pela ciência, a humana. Para o


juventude para reflexões que se fazem cada horror daqueles que sofrem de negrofobia.
vez mais necessárias. Por exemplo, não é
curioso que, para a construção das pirâmi-
des egípcias, 3.500 anos antes de Cristo, seja,
em tese, necessário o conhecimento do teo- Notas
rema que o matemático Pitágoras “inven-
1 Movimento cultural, político e filosófico que, a par-
taria” somente 3.000 anos depois (ele teria tir do século XX, propôs, entre outras questões, a
vivido entre 570 e 497 a.C.)? Atualmente, unidade política de toda a África, como também o
reagrupamento das diferentes etnias, divididas por
já sabemos, por comprovação científica, imposições dos colonizadores. Deu origem ao con-
que o homem original nasceu na África. ceito de afrocentrismo, e ambos foram perspectivas
Assim sendo, não seria motivo de surpresa bastante presentes nas guerras de descolonização
dos países africanos. Entre os artífices e entusiastas:
se, daqui a alguns anos, os cientistas des- Edward Du Bois, Marcus Garvey e, no Brasil, Abdias
cobrissem ser a África o berço nascedouro, do Nascimento.
2 Griots é o nome dado aos contadores e/ou cantadores
também, da escrita, da moeda e da filosofia, das histórias das etnias africanas. Peregrinavam pelas
entre outras, e não a Grécia, como aprende- aldeias comunicando e compartilhando memórias.
mos e ensinamos. São comparáveis aos aedos e rapsodos que apresen-
tavam-se na Ágora na Grécia, conforme se aprende
Os irmãos em cultura que têm cons- na escola. Homero seria um exemplo e a Ilíada e
truído e difundido o discurso de oposição a Odisseia, os registros de memórias, consideradas
parte da história da humanidade. Somente na recente
da juventude das metrópoles do mundo obra citada, História geral da África, é que os relatos
vêm tratando de culturas de matrizes afri- dos griots, africanos vêm sendo considerados como
canas, que, portanto, não passam ainda história.
3 A Guerra de Secessão visava ao fim da escravatura
pelos cânones acadêmicos. Por conse- no sul dos Estados Unidos da América e à união das
guinte, torna-se inevitável indagar: teriam províncias (estados) sob uma mesma lei. O norte não
era escravocrata e propiciava melhores condições de
os manos, na atualidade, a capacidade de, vida para a população negra. Com o final da escra-
por meio dessas culturas, influenciar positi- vidão no sul, parte dessa população emigra para o
vamente nas construções de identidades de norte, insere-se no sistema produtivo mais avançado,
ascende à educação e forma as primeiras lideranças
irmãos brancos, negros, indígenas, asiáti- pelos direitos civis de negros americanos, o que vai
cos, entre outros, e nas trajetórias de alguns repercutir por mais de um século, até o movimento e
a assinatura da Lei dos Direitos Civis em todo o país.
jovens fadados a um destino funesto? E 4 A perspectiva da democracia racial propagava a ideia
alterariam a percepção deles sobre as rela- de que, no Brasil, brancos e negros viviam em abso-
ções sociais e sua possibilidade de crítica luta harmonia – discurso que escondia as desigual-
dades, preconceitos e incongruências vivenciados
e ação quotidiana? diuturnamente pelo negro brasileiro.
Um panorama desta monta conduziria 5 Derivado das teorias bioantropológicas que estigma-
tizam o negro como delinquente.
inexoravelmente para o fomento de culturas 6 As releituras de Gilberto Freyre feitas atualmente não
de paz entre todos os irmãos da única raça deixam de criticar sua retórica das diferenças entre o
branco patriarcalista e o negro escravizado, porém
tem sido considerado mérito desse autor retirar parte
do impacto de um racismo extremado, do qual Oli-
veira Viana, por exemplo, é representante destacado.

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7 Gênero musical que se configura em ritmo e poe- que, em determinados momentos, desavisadamente
sia sobre uma base musical, cujas letras são decla- aflora, surpreendendo o próprio indivíduo que o pra-
madas dentro de compassos musicais e geralmente tica, que de imediato tenta corrigir. Para citar um
têm conteúdos contestatórios ou denunciadores das exemplo recente, entre inúmeros: o supermercado
condições sociais. Pão de Açúcar, de São Paulo, colocou como propa-
8 A cultura hip hop compõe-se basicamente de três vér- ganda de sua panificação a escultura, em tamanho
tices: o rap (música), o break (dança) e o grafite (dese- natural, de um menino negro carregando um enorme
nhos feitos pelos muros e paredes das metrópoles), cesto de pão e com grilhões nos tornozelos. Assim
mas também se apresenta em outros campos – Spike que foram notificados, imediatamente o retiraram. E
Lee, cineasta afro-americano, afirma que ele não seria “inocente” com aspas no sentido atribuído por Pais
quem é se não fosse a cultura hip hop, ou seja, consi- (1999), quando o autor explica a utilização de aspas
dera sua obra cinematográfica como sendo hip hop. como um recurso metodológico para se referir “não
Há também a prática de DJ como vértice. ao que se lê, mas ao que permite a leitura” (pp. 14-15).
9 Nos Estados Unidos, quando do surgimento do rap 11 Atualmente a Technics, empresa de produtos eletrô-
com o grupo Public Enemy, entre outros, afirma-se nicos, tem desenvolvido equipamentos específicos
que foi formulado um dossiê pela CIA ou pelo FBI para DJs.
intitulado O rap e a segurança nacional. Imagina-se 12 Diante de uma escola que não é cidadã, alguns des-
que, dessa feita, a indústria cultural teria se encar- ses jovens acabam por se organizar em espaços físicos
regado da amenização dos conteúdos deste gênero que denominam de posses, onde trocam não somente
musical nos EUA. formações como também informações sobre músicas,
10 O racismo “inocente” trata do racismo inconsciente, ícones, entre outros.
que subsiste como semente não germinada, diante 13 São líderes que representam a luta dos negros pelos
da norma do preconceito de ser preconceituoso, e direitos humanos no mundo.

Hip hoppers: los hermanos en la cultura Hip hoppers: “bros” (brothers) in culture

Lazos tribales destruidos por el secuestro, la Tribal bonds were destroyed by kidnapping,
incursión oceánica obligatoria y el trabajo esclavo compulsory oceanic raid, and forced, slave labor.
bajo coerción. Nuevas hermandades de resistencia New brotherhoods of resistance and fight are formed
y lucha se forman cotidianamente, a partir, every day especially from common cultural traces
principalmente, de los rasgos culturales comunes and ideals of freedom, equality, fraternity, and
y de los ideales de libertad, igualdad, fraternidad happiness; it also happens for the children of Africa.
y felicidad, también para los hijos de África. These ideals have spread and reinvented themselves
Ideas que se difunden y se reinventan de manera virally across the planet, in reinterpretations and
viral por el planeta, en nuevas interpretaciones e interactions with other cultures and ethnicities,
interacciones con otras culturas y etnias, desde los since the first transatlantic dialogues. Little by little,
primeros diálogos transatlánticos hasta la actualidad. world social and cultural scenery has been changed,
Transformando, paulatinamente, el paisaje becoming less unequal and freer, friendlier, happier,
sociocultural mundial, tornándolo menos desigual, more conscious, more colourful, and more musical,
más libre, consistente, fraterno, colorido, musical y despite the obstacles they face.
alegre, a pesar de los obstáculos que se les presentan. Keywords: diaspora; resistance; identities; suburban
Palabras clave: diáspora; resistencia; identidades; ghetto youth (youth in the outlying ghettos of a
juventud de las periferias de las metrópolis; metropolis); cultural productions; sociabilities;
producciones culturales; sociabilidades; genocidio. genocide.

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Hip hoppers: os manos na cultura 171
João Lindolfo Filho

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[Recebido em 26.08.2015, aceito em 09.09.2015] João Lindolfo Filho


jlindolfo@hotmail.com

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