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CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

LIANA MARIA SANTIAGO DE SÁ

SOCIALIZAÇÃO NA VELHICE –VIVÊNCIAS E PERCEPÇÕES DOS IDOSOS


PARTICIPANTES DO GRUPO DE CONVIVÊNCIA “AMANHECER FELIZ”-
NÚCLEO JOSÉ WALTER

Fortaleza–CE
Janeiro,2019
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 00
.

1 CONTEXTUALIZANDO O ENVELHECIMENTO..........................................00
1.1 Conceito de velhice e idoso.......................................................................... 00
1.2 O idoso hoje no Brasil................................................................................... 00
1.3 A família e o idoso........................................................................................ 00
1.4 O papel do idoso na sociedade e as implicações do envelhecimento.......... 00
1.5 As limitações da velhice e as implicações socioculturais............................. 00
1.6 A dignidade do idoso.................................................................................... 00
1.7 A marginalização do idoso............................................................................ 00
1.8 O envelhecimento, as mudanças do corpo e da mente e a intervenção
multiprofissional.................................................................................................. 00
1 CONTEXTALIZANDO O ENVELHECIMENTO

A sociedade sempre discutiu a questão do envelhecimento humano. Através dos


tempos e em diferentes culturas, o processo em si é objeto de estudos e reflexões.
Nas sociedades primitivas, os velhos eram objetos de veneração. Os jovens a eles
recorriam em busca de seus conselhos, eram respeitados e lhes confiavam
negócios. Na antiga China, o filósofo Confúcio pregava que todos os elementos de
uma família deveriam obedecer os mais velhos.

Em geral, as sociedades da antigüidade, consideravam o estado de velhice


dignificante e adotavam como sábio aquele que atingia essa etapa. Passou s ser
importante o papel de ancião, época terminal da vida, que aos que nela
ingressavam era reservado um papel de intensa atuação nos destinos políticos dos
grupos sociais e na tomada de decisões importantes.

No século XVIII, o idoso era tido como patrimônio e não encargo.

Com a evolução e progressão em andamento e, fruto da revolução industrial, ocorre


uma inversão de valores, em vez da sabedoria, passa-se a julgar o homem pela
sua capacidade de produção -muito mais próxima do jovem – e, ao idoso começa a
restar um lugar de exclusão e marginalização.

A humanidade atualmente é marcada pela qualificação do potencial da juventude


em detrimento da velhice estabelecida por improdutividade e decadência.

O fato de ainda não existir a integração de grupos etários mais jovens com os mais
velhos, tem a participação de ambos os lados, em que associa-se a rejeição do
idoso ao próprio envelhecimento, os valores que norteiam as gerações mais novas
e a insistência dos mais velhos em manter e impor valores culturais do passado.

A integração do homem, nesta etapa de vida, deve equilibrar atividade e isolamento


com atendimento às suas necessidades sociais no nível que promovam uma nova
visão sobre a velhice e um novo espaço criado pela sociedade.
O envelhecimento social nos aponta um percurso a percorrer na adaptação do
idoso como meio social e passa por analisarmos com muito cuidado e zelo a perda
de seu papel funcional-profissional e papel referente à família – função de
responsabilidade.

As perdas desses papéis conduzem à inadaptações que levam ao isolamento


social.

O processo de envelhecimento começa assim que nascemos. Uma vez fora da


barriga da mãe biológica, o indivíduo começa a receber e acumular informações
que vão coordenar a vida em sociedade para a qual ele será educado. O corpo, por
sua vez, passa por transformações que potencializam as atividades laborais,
afetivas e recreativas, dada a superação da fragilidade do organismo infanto-juvenil.

O envelhecimento é festejado na medida em que proporciona benesses ao


indivíduo, como maior resistência e vigor físico, repertórios que reduzem a
exposição a situações desvantajosas (e, portanto, colaboram para um cotidiano de
maior liberdade) e experiências censuradas aos infantes, notadamente as de ordem
moral/sexual. A sensação de velhice ocorre quando o nível de benefícios a partir do
envelhecimento atinge seu nível máximo e adquire trajetória decrescente, até o fim
da vida.

A ciência admite que o envelhecimento ainda é um fenômeno enigmático: ele


não ocorre em tempo cronológico determinado e varia de acordo com as
individualidades de cada um, principalmente cognitivas. Segundo Serro Azul,
Carvalho Filho e Décourt (1981, p.1) em Clínica do Individuo Idoso: “A maior
expectativa de vida, pela melhoria de condições médicas-sanitárias e
socioeconômicas, leva ao constante aumento do número de pessoas acima de 60
anos”. A necessidade de conviver com idosos é um fato relativamente novo na
sociedade brasileira. Antes, nem tantas pessoas conseguiam envelhecer, por
questões socioeconômicas relacionadas à qualidade de vida e ao acesso a serviços
de saúde, como bem relatou o autor o envelhecimento é um realidade relativamente
nova.

Ademais, cumpre esclarecer que a proteção dos direitos humanos é um dos


fundamentos basilares da Constituição Federal de 1988. Dessa forma, levando em
consideração o estado de vulnerabilidade em que se enquadra o idoso, se faz
necessário uma maior proteção como forma de garantir uma compensação pelas
perdas e limitações por que estes passam ao envelhecer.

Neste capítulo, pretende-se examinar o conceito de idoso, bem como, a


realidade social em que ele se insere, levando em consideração a inversão da
pirâmide etária, que demonstra o envelhecimento da população deste país.
Posteriormente, analisar-se-á as primeiras ações brasileiras de proteção ao idoso,
fazendo um passeio pelos seus direitos, liberdades e garantias.

1.1 Conceito de velhice e idoso

O vocábulo idoso tem dois elementos: idade mais o sufixo oso, que significa
“abundância ou qualificação acentuada”. “Idoso”, deste modo, pode denotar: cheio
de idade, abundante em idade etc. (VILAS BOAS, 2014, p.72).

Idoso, segundo o dicionário, é sinônimo de velho, ancião, antigo, vetusto.


Todos esses conceitos, no entanto, não se traduzem apenas cronologicamente.
Configuram-se em uma situação na qual a pessoa adulta envelhecida já não tem
anseios produtivos. Segundo definição de Mucida (2006, p.76):

A velhice é tomada apenas como conceito negativo (ruptura


brutal) – mesmo que não o seja a idade cronológica, pode-se
chegar à idade avançada sem vivenciar a velhice. Entra-se na
velhice quando se perde o desejo.

Assim, alguém pode atingir o requisito básico para a classificação de “idoso”


(somar 60 anos de vida, no caso brasileiro) sem entender-se assim ou realizar
atividades tidas como próprias de idosos, como tricotar ou jogar bingo (em tempo:
muitos “jovens” fazem isso). É preciso, portanto, compreender que ser idoso é,
principalmente, um estado mental antes de uma condição física ou de um registro
cronológico.

Para compreender o conceito de idoso na esfera jurídica, adotou-se o critério


biológico-cronológico, ou seja, para a caracterização da pessoa idosa, utilizasse a
idade. Desta forma, primariamente com a Lei 8.842/94, definiu-se, em seu art. 2º,
que “Considera-se idoso, para os efeitos desta lei, a pessoa maior de sessenta
anos de idade”. Deste conceito, compreende-se que poderia ser entendido como
idoso toda e qualquer a pessoa portadora de 61 anos ou mais. No entanto, com a
Lei 10.741/03, ampliou o conceito para considerar idosa a “pessoa com idade igual
ou superior a 60 anos”, ou seja, agora sendo aquelas a partir de 60 anos. A
importância dessa informação se assenta nos direitos às políticas públicas voltadas
à terceira idade.

Dito isso, necessário se faz levar em consideração outros fatores de ordem


psíquica e social que também precisam ser observados. Assim, sabe-se que as
pessoas divergem-se umas das outras de acordo com vários critérios, como nível
de escolaridade, gênero, condições financeiras e até mesmo em razão do ambiente
social em que estão inseridos. Desta forma, para o perfeito entendimento do
conceito de “envelhecer” ou “ser idoso”, deverão ser considerados todos esses
fatores.

Corroborando com o dito anteriormente, afirmam Souza e Coimbra Júnior


(2009, p.04) que: “na contemporaneidade, o envelhecimento não é mais encarado
como algo pertencente apenas ao universo biológico, mas também é compreendido
como uma junção de elementos sociais e biológicos.” Isto é, além do fator idade,
propriamente dito, deverão ser analisados diversos outros fatores, inclusive, sociais.

Para Mesquita e Portela (2004, p. 83), “os aspectos biológico, psicológico e


social que atingem o ser humano na plenitude de sua existência, modificam sua
relação com o tempo, com o mundo e com sua própria história”.

Ou seja, entender o envelhecer, e, atualmente, rechaçado o uso da palavra


“velho” para falar em “idosos”, seria perfeitamente entendido pelo conceito de
Pérola Melissa Braga (2005, p. 42), citando Bobbio, ao afirmar “que a velhice pode
ser compreendida sob três parâmetros: a cronológica, a burocrática e a psicológica
ou subjetiva”. Assim:

A velhice cronológica é meramente formal. Estipula-se um


patamar (uma idade) e todos que o alcançarem são
considerados idosos, independentemente de suas características
pessoais. A velhice burocrática corresponde àquela idade que
gera direitos a benefícios, como a aposentadoria por idade ou
passe livre em ônibus urbanos. A velhice psicológica, ou
subjetiva, é a mais complexa já que não pressupõe parâmetros
objetivos. Depende do tempo que cada indivíduo leva para
sentir-se velho. (BOBBIO, 1998 apud BRAGA, 2005, p.42).

Ora, apesar de o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003,


ter disciplinado a caracterização da velhice de acordo com a idade, precisa-se
entender que este conceito se assim entendido, poderá ser arbitrário e não
corresponder com a realidade vivida.

No entanto, mesmo diante de inúmeras formas de conceituar a pessoa idosa,


apesar de acreditar que devam ser considerados os critérios plurais para seu
correto entendimento, e não apenas com relação à idade, neste trabalho, adota-se
o critério jurídico biológico-cronológico, considerando, pois, idoso, como aquele que
tenha a partir de 60 anos de idade.

A velhice, segundo Ariza Maria Rocha (2012, p.72) “tem uma dimensão
existencial, que modifica a relação da pessoa com o tempo, gerando mudanças em
suas relações com o mundo e com sua própria história”. Sendo assim, a velhice
deve ser entendida como uma fase da vida do indivíduo na qual, em decorrência da
avançada idade, ocorrem modificações de ordem biológica e social, que interferem
nas relações dos idosos com o seu contexto social.

O processo de envelhecimento é um fenômeno vivo e natural, sendo


inafastável e vivenciado por todos os indivíduos dia após dia. Entretanto, não há
uma maneira única de envelhecer cabendo há cada pessoa determinar seu próprio
modo, até mesmo porque ao longo da vida cada indivíduo apresenta uma
construção unificada, que confere sentido ao seu passado, ao seu presente e à
representação do seu futuro. Deste modo, o envelhecimento constitui um processo
de determinantes não apenas biológicas, mas, sobretudo, uma composição múltipla
de elementos socioculturais. Sob esse prisma, esclarece Jaenete Liasch Martins de
Sá (2002, p. 1119):

Idoso é um ser de seu espaço e de seu tempo. É o resultado do


seu processo de desenvolvimento, do seu curso de vida. É a
expressão das relações e interdependências. Faz parte de uma
consciência coletiva, a qual introjeta em seu pensar e em seu
agir.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu em 2002 o critério


cronológico como sendo o basilar para a caracterização do conceito de idoso,
entretanto a idade a ser adotada como referência depende do desenvolvimento do
país em questão. Sendo assim, nos países desenvolvidos é considerado idoso o
indivíduo a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, enquanto que nos países em
desenvolvimento a idade base para ser considerado como idosos é a partir dos 60
(sessenta) anos.

Muito embora, o legislador brasileiro tenha optado pelo critério cronológico ele
não é o único que pode vir a ser estabelecido, uma vez existir, basicamente, mais
dois critérios, quais sejam: o psicológico e o econômico-social. O aspecto
psicológico exige que seja feita uma análise de cada caso particular, para
determinar se trata-se de pessoa idosa ou não, já o aspecto econômico-social tem
como fundamental olhar as condições financeiras da pessoa, pois considera que o
pobre necessita de maior proteção.

Dessa forma, quando o legislador adota, única e exclusivamente, o critério


cronológico como sendo o norteador da definição de idoso, ele pode acabar por não
representar a verdadeira realidade da sociedade brasileira, pois deixa de levar em
consideração aspectos importantes de ordem psíquica e social, que deveriam ser
observados, posto que, os indivíduos são diferentes entre si.

1.2 O idoso hoje no Brasil

No Brasil a questão do idoso, durante muito tempo não teve prioridade, pois,
suas políticas não tinham um olhar voltado para os direitos do idoso. Mas com o
passar do tempo isso foi mudando, e o pensamento tanto dos políticos como da
sociedade acompanharam as transformações sociais.

A realidade brasileira em que este idoso está inserido encontra-se no curso de


uma transição demográfica que deve se expressar de forma ainda mais intensa nos
próximos anos, em virtude da inversão da pirâmide demográfica. Sendo assim, no
lugar do jovem que se posta na base da pirâmide, passará a ser a pessoa idosa a
tomar tal lugar, daí, como nunca, esse seguimento precisa ser notado e tutelado
adequadamente.

Dessa forma, o Brasil que durante muitas décadas foi considerado um país
jovem, vem experimentando, nos últimos anos, um processo de envelhecimento da
população brasileira. Conforme o Relatório Mundial de Saúde e Envelhecimento, o
número de pessoas com mais de sessenta anos no país deverá crescer de forma
mais rápida do que a média internacional, pois enquanto a quantidade de idosos vai
duplicar no mundo até o ano de 2050, ela quase triplicará no Brasil.

Se por um lado o envelhecimento da população é visto como uma das maiores


conquistas de uma sociedade, contribuindo para o aumento do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), haja vista a expectativa de vida ser um dos três
fatores determinantes para o seu cálculo, por outro lado trás muitas preocupações,
uma vez que esse crescimento populacional demanda novas estratégias que
possam fazer frente às necessidades dos idosos.

O descaso chega a ser ainda mais grave em um País como o Brasil, onde sua
população de idosos cresce cada vez mais. Segundo a última divulgação do IBGE
em relação à população idosa no País, os brasileiros com mais de 60 (sessenta)
anos chegarão à faixa de 14.536.029 (quatorze milhões quinhentos e trinta e seis
mil e vinte nove) com uma previsão para 2030 de ser o Brasil um dos países com
maior número de idosos (NANÔ, 2014).

Após a Constituição Federal de 1988, os direitos fundamentais dos idosos


passaram a ser mais respeitados. O poder público viu que era necessário cuidar
das pessoas que já haviam ajudado tanto para o crescimento do País. Com isso, o
número de idosos passou a aumentar, principalmente com a diminuição da
mortalidade e o aumento da expectativa de vida.

Em 2003 a criação da Lei nº 10.741, que foi nomeada como Estatuto do Idoso,
trouxe consigo uma revolução jurisdicional, pois defendia tão somente os idosos,
que até então eram discriminados por não ter uma lei própria para defender seus
direitos. Após a promulgação da lei a terceira idade ficou mais protegida, e se
sentiu com mais coragem para reivindicar pelos direitos que lhe eram devidos.

Vale também lembrar a atuação do Ministério da Justiça que através do


Programa Nacional de Direitos Humanos, busca a elaboração de políticas públicas
mais efetivas para que o idoso se sinta mais protegido, como também se tem o
Ministério da Previdência e da Assistência Social que determina em seu bojo o
programa de atenção à pessoa idosa.

O Ministério da Saúde tem um importante trabalho para a melhoria da


qualidade de vida dos idosos, como a campanha de vacinação, que abrange todo o
Brasil (DINIZ, 2011).

O idoso passou realmente a ter direito ao respeito e a dignidade e a sociedade


não pode mais fechar os olhos para todos os problemas sofridos por esses
cidadãos. Não apenas o idoso pode exigir seus direitos, mas todos que são
conscientes e que sabem também que um dia irão envelhecer.

Com a melhoria da saúde e o desenvolvimento da tecnologia, ficou


comprovado que é cada vez menor o número de idosos com deficiências físicas e
mentais, sendo cada vez mais capazes de viver sozinhos até a morte. Mas ainda é
grande o número de idosos que convivem com a família ou em instituições e, em
sua grande maioria, precisando de auxilio para as necessidades básicas do dia a
dia (DINIZ, 2011).

O Idoso também mudou muito a sua mentalidade com o passar das décadas,
pois antes achavam que quando velhos eram descartáveis e não tinham direito a
nada. Hoje passaram a fazer parte do mercado de trabalho produzindo e pagando
impostos, daí nada mais razoável do que o reconhecimento por parte das
autoridades e da sociedade onde vivem. (MARTINEZ, 2005).

Hoje em dia em busca de uma aposentadoria tranquila, reivindicam por


melhores condições na saúde, lazer, alimentação e uma moradia digna. Para que
após anos de trabalho possam ter o direito de envelhecer dignamente, com a
sensação de dever cumprido para com a família, a sociedade e o Estado.

Com isso as políticas públicas tentam acompanhar o ritmo com que os idosos
mudam, e buscam criar novas leis para que eles não tenham seus direitos violados,
por pessoas ignorantes que acham que os idosos não servem mais para nada
(DINIZ, 2011).

Não obstante, o problema mais persistente diz respeito aos maus-tratos


sofridos pelos idosos. Muito frequentemente ocasionado pelos familiares, quando
não, pelos cuidadores nos abrigos onde são levados para morar. Este é um assunto
delicado e que precisa de bastante atenção por parte das autoridades competentes.
(FALEIROS, 2007).

Atualmente observa-se com mais frequência à divulgação de campanhas de


conscientização de como devem ser tratadas essas pessoas que às vezes são tão
frágeis, tendo essas campanhas como alvo as famílias que cuidam de pessoas
idosas e instituições que se dedicam ao cuidado desses cidadãos em situação de
abandono.

Diante do exposto, constata-se que com o aumento frequente da população


idosa na sociedade e do constante processo de envelhecimento da mesma, não é
mais possível o Estado ficar inerte diante de tais fatos.
1.3 A família e o idoso

O art.3º do Estatuto do Idoso impõe à família, ao Estado e à sociedade a


“efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao
esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária” do idoso. Nesse sentido, obrigam-se primeiramente os familiares dos
idosos a serem os responsáveis pela sua segurança e sobrevivência. Caso seja
impossível este amparo familiar, o Estado proverá através das políticas públicas
implantadas em proteção dos idosos, como reza o art.14º da Lei 10.741/03. “Se o
idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o seu
sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência
social”.

A maioria dos idosos que vive em asilos foi levada pelos próprios parentes, que
alegam falta de tempo ou dificuldade de apoiar o tratamento de doenças. Boa parte
deles esconde o real motivo dessa internação: o egoísmo e o desprezo às vontades
da pessoa idosa.

De forma geral, asilos e hospitais psiquiátricos cumpriram o


papel de retirar do meio os indivíduos indesejados, excluindo e
segregando todo aquele que, de alguma forma, ameaçasse a
integridade física e/ ou moral da sociedade. (FOUCAULT, apud
PAPÁLEO NETO, 2000, p. 29).

O abandono moral praticado contra a pessoa idosa pela família é um tipo de


violência psicológica grave. Assim como os pais devem cuidar dos filhos na infância
– como reza o art. 229 da CF/88 – os filhos devem acolher seus pais na velhice. O
art. 230 da CF/88 incumbe à família o dever de amparar seus idosos.

É recorrente o caso de idosos que vivem sob os cuidados de profissionais que


só realizam as tarefas indispensáveis, como auxiliar o idoso no banho, na
alimentação e nos cuidados médicos. Esses profissionais, os cuidadores, têm
afetividade restrita em relação ao idoso (primordialmente profissional), o que
restringe a interatividade entre ambos. Com isso, o idoso passa a conviver com
alguém alheio às suas emoções íntimas e, assim, estas acabam resguardadas sem
projeção exterior, o que lhe confere, em muitos casos, a solidão acentuada.
(BUENO, 2011, online).

Há familiares que vão além do abandono afetivo, negando aos idosos, também,
o amparo material de que precisam. Nesse caso, o idoso hipossuficiente recebe
subsídio do Estado. A Lei nº 8.824/94 atribui ao poder público o dever de dar
assistência às necessidades básicas do idoso, supridas com o valor de um salário
mínimo, conforme dita o art. 203, inciso V da CF/88:

A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem
por objetivos:
[...] V – A garantia de um salário mínimo de benefício mensal á
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Há idosos, no entanto, que são provedores de si e de seus familiares, e até


nesses casos eles podem sofrer violências. Como por exemplo, não conseguir
expressar sua vontade livre de fazer suas escolhas e de como administrar seus
bens e seus proventos, por proibição de seus familiares. A Organização Mundial de
Saúde (OMS) entende “uma ação única ou repetida, ou ainda a ausência de uma
ação devida, que causa sofrimento ou angústia, que ocorre em uma relação em que
haja expectativa de confiança” como maus-tratos e negligência (SOUSA; FREITAS;
QUEIROZ, 2007, p. 269).

O princípio da afetividade “é corolário do respeito à dignidade da pessoa


humana, como norteador das relações familiares e da solidariedade familiar”
(DINIZ, 2011. p.38). O afeto é muito importante no âmbito familiar: é em nossos
lares que nos sentimos seguros e amados. Atualmente, este sentimento parece
estar desaparecendo nas famílias. Aos poucos, os parentes vão se distanciando.

1.4 O papel do idoso na sociedade e as implicações do envelhecimento


Os idosos têm um papel essencial na sociedade que vai além da sua
experiência de vida. No decorrer dos anos, o instituto do “envelhecer” passou por
diversas alterações, caracterizando-se, de maneira bem diversa, ao longo da
história, variando-se, pois, em cada sociedade, em cada grupo de indivíduos.

Os idosos, desde os tempos mais remotos, ocuparam papéis importantes na


sociedade. Maria das Candeias Carvalho Feijó e Suzana da A. Rocha Medeiros
(2011, p.14), fazem, em seu artigo A sociedade histórica dos velhos e a conquista
de direitos de cidadania uma breve narração histórica sobre a função do idoso na
sociedade.

Afirmam, as autoras já citadas, que na Grécia Antiga, a cidade-estado Esparta,


em torno do séc. 9 a.C., mantinha um conselho de 30 anciãos, a Gerúsia, que
possuía funções administrativa (supervisão), legislativa (elaboração de projetos de
lei) e judiciária (tribunal superior).

Nos povos orientais, como hebreus, chineses, japoneses, a cultura e os


costumes sempre deram importância ao papel do idoso na sociedade. Ainda hoje
nas cidades da Índia existe o conselho municipal, chamado panchayati, espécie de
sistema político, composto por cinco indivíduos, sendo, frequentemente, os mais
velhos, portanto, portadores de maior sapiência, responsáveis por zelar pela
comunidade. (FALEIROS, 2007).

Para Braciali (2009, p. 27), o entendimento de velhice e suas consequências


para o homem, podem ser compreendidos como:

Todo organismo multicelular passa por transformações


fisiológicas com o passar do tempo que costumam ser divididas
em três fases: a fase de crescimento e desenvolvimento, a fase
reprodutiva e a senescência, ou envelhecimento. Em biologia, o
processo de senescência é o processo natural de
envelhecimento ou o conjunto de fenômenos associados a este
processo. Este conceito se opõe à senilidade, também
denominado envelhecimento patológico, que é entendido como
danos à saúde, associados com o tempo, porém causados por
doenças ou maus hábitos de saúde. Assim, pode-se considerar o
envelhecimento como uma fase de continuação da vida,
começando esta com a concepção, terminando com a morte.

No Brasil, os idosos ainda são, em diversos casos, o centro econômico,


responsáveis pelo sustento da família, ou seja, em vários casos, são eles que
sustentam a casa em que vivem ou contribuem de forma significativa para a
manutenção da família. Sobre isso, declara Nassif (2013, p. 01):

Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio),


foi constatado que as pessoas com mais de 60 anos arcam com,
pelo menos, metade da despesa familiar em 53% dos domicílios
brasileiros. E esses percentuais vão se elevando na medida em
que os idosos sejam de classes mais modestas, tornando-se
primordiais no sustento da família. Ainda, segundo a pesquisa,
81% se declararam independentes para as tarefas cotidianas e
64%, que costumam viajar. Ou seja, todos são consumidores
ativos.

No entanto, apesar de comprovado caráter essencial na sociedade brasileira, a


realidade vivenciada por eles é de desrespeito e humilhação, pois, muito se fala em
direitos do idoso, no entanto, a prática desses direitos é bem diferente.

Portanto, envelhecer no século XXI é dividir um misto de medos e conquistas;


de anseios e de transformações, que apesar de ser a realidade para a maioria das
pessoas, não é dada a atenção necessária, necessitando ser alvo de cuidados
especiais. (CARVALHO; ANDRADE, 2000).

As mudanças, sejam elas físicas ou psicológicas, são inerentes ao envelhecer.


No entanto, para isso, é essencial o amparo da sociedade para promover a vida
digna a essas pessoas. Essas alterações na estrutura etária, além de mudanças
individuais trarão impactos importantes para o desenvolvimento econômico no país.
Em relação ao papel do idoso na sociedade, mostra-se que, ao tornar-se
“velho”, o indivíduo para de ser percebido como investimento e consumo e passa a
ser considerado como aumento de custos sociais para o Estado. (AGUSTINI,
2003).

Da mesma forma, como consequências do envelhecimento da população, além


da falta de jovens no mercado de trabalho e a elevação dos custos de mão de obra,
traria também transtornos quanto aos gastos com a previdência social, em razão da
aposentadoria. Somando-se a isso, aumentariam também os gastos com a saúde,
em razão da condição de vulnerabilidade do idoso e necessidades especiais de
auxílio médico-hospitalar. (WOLFF, 2009).

1.5 As limitações da velhice e as implicações socioculturais

Para um melhor entendimento acerca do envelhecimento e do corpo


envelhecido, a visão holística da Gestalt-terapia dá conta de entender esse
processo, pois compreende o homem como um todo integrado, corpo, mente,
emoções, consciência e ambiente. Essa visão aponta também para uma
compreensão do homem enquanto parte de uma totalidade mais ampla e complexa,
que representa o contexto no qual ele se encontra inserido. Considerando o homem
enquanto um ser de relações, focaliza o vínculo que o indivíduo estabelece com o
seu meio social e natural.

Além dos limites impostos pelo envelhecimento fisiológico, o idoso enfrenta


uma sociedade não estruturada e não organizada para prestigiá-lo e valorizá-lo, e
embora o estatuto do idoso prescreva e tenha possibilitado mudanças nas práticas
socioculturais pertinentes a velhice, como o acesso a educação, atividades físicas,
troca de informações através da mídia, reinserção no mercado consumidor e
reconhecimento do seu lugar na estrutura familiar e social, a realidade é bem
distante da ideal.

No cenário atual, as mudanças nas relações entre pessoas, categorias, grupos


e classes sociais alcançam toda a sociedade, a pessoa idosa é igualmente afetada,
notadamente na forma como ela é compreendida, seja, em aspectos físicos,
psíquicos e em fatores socioculturais que envolvem o envelhecer.

Embora o envelhecimento seja um processo que apresenta


novas possibilidades, ele é também acompanhado por vários
desafios desconhecidos. À medida que as pessoas envelhecem
enfrentam uma combinação de problemas físicos, emocionais e
materiais difíceis de solucionar. Uma das principais
preocupações das pessoas idosas é conseguir independência,
liberdade de movimento e habilidade para participar
integralmente do mundo social. (GIDDENS, 2005, p.146).

Sobre as transformações ocorridas na vida dos idosos, Zimerman (2000),


afirma que o envelhecimento traz modificações no status do idoso e também, nos
relacionamentos com outras pessoas, em razão de: crise de identidade, mudanças
de papeis, aposentadoria, perdas diversas e diminuição de contatos sociais.

É importante ressaltar que nossa sociedade ao mesmo tempo em que atribui


um novo papel para o idoso, ainda o vê com alguns preconceitos, por exemplo, os
que giram em torno da cultura da beleza, juventude e independência. Assim,
sabemos que muitas vezes são excluídos do convívio social por serem rotulados de
feios, incapazes e improdutivos, gerando um aumento da institucionalização. Esses
idosos que são excluídos e conduzidos a esta situação de sujeitos
institucionalizados, são privados de partilhar dos prazeres e autonomia do mundo
atual, que lhes são apresentados pela mídia.

Trazendo outra perspectiva, Nery (2001), chama atenção para as


caracterizações de mudanças evolutivas como ganhos e perdas, mocidade e
velhice, que são questões relativas a critérios subjetivos que envolvem anseios e
valores, e consequentemente variam segundo o contexto sociocultural. Em nossa
sociedade em virtude das suas limitações, a velhice apresenta mais perdas que
ganhos, em face das mudanças físicas, fragilidade do corpo, problemas de saúde,
cansaço, etc.
Se compararmos o corpo envelhecido com o corpo jovem, fisicamente iremos
encontrar muitas limitações para o corpo envelhecido; mas o idoso traz consigo
outros significados, como saberes e experiências vividas nas dificuldades
enfrentadas, nas emoções e sentimentos presentes nas conquistas pessoal,
profissional e familiar, que se apresentam como vantagens para este corpo que
está enrugado e por vezes, fragilizado.

São esses novos significados que quando não reconhecidos e valorizados,


causam impacto emocional negativo ao idoso, sendo muitas vezes exercido pela
influência do ambiente desfavorável onde o mesmo se encontra, pois convivendo
em um espaço com pouca liberdade e autonomia restrita, não é fácil aceitar essa
condição de vida.

Conforme o Conselho Federal de Psicologia (2008), os idosos precisam de


redes de relações sociais para se sentirem mais amados, valorizados e cuidados. É
preciso empreender em uma boa qualidade de vida para esse sujeito, a começar
pelo respeito a sua individualidade e subjetividade.

Quando essas relações sociais são reduzidas, como acontece no caso dos
idosos, esse cuidado deve ser cultivado para que a autoestima seja fortalecida.
Conforme Voli (1998 apud ROCHA, 2012, p. 83), a baixa deste sentimento impede
o indivíduo de relacionar-se, isto ocorre pelo fato da autoestima ser uma
“característica que se desenvolve socialmente, ainda que no interior de cada um”.

Assim, poderíamos dizer que a autoestima elevada aumenta a chance de


termos mais idosos motivados para enfrentar suas limitações, as dificuldades do
isolamento, favorecendo a criação de possibilidades para explicitarem seus valores
e serem reconhecidos.

1.6 A dignidade do idoso

A dignidade da pessoa idosa é um direito assegurado pelo o Estado


Democrático de Direito, pela Constituição Federal Brasileira quando se refere à
dignidade da pessoa humana no artigo 1º, inciso III, artigo 230 e pelas as leis
específicas como a política nacional de proteção ao idoso à lei nº 8.842 de 04 de
Janeiro de 1994 e o Estatuto da pessoa idosa na lei nº 10.741 de 1º de outubro de
2003, leis que busca resguardar o direito do idoso. O Estado busca dar garantias
constitucionais para que o idoso tenha seus direitos como qualquer outro cidadão
do País, evitando desse modo à discriminação social e garantindo o tratamento
igualitário aos seus semelhantes.

Recebendo um tratamento de acordo com a sua condição física, psíquica e


social, haja vista que é importante ressaltar que o idoso tem direito fundamental a
dignidade, deixando de ser uma orientação simplesmente principiológica baseada
num humanitarismo e passando ser considerado um direito individual, pois o Estado
tem a obrigação oferecer estruturas dando apoio institucional às famílias e à pessoa
idosa para que ela possa cuidar da sua vida. Assim como menciona o Estatuto do
Idoso:

Art.10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à


pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa
humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais,
garantidos na Constituição e nas leis.
§3º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-a
salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante,
vexatório ou constrangedor.

No que concerne à família está claro no artigo 229 da Constituição Federal


Brasileira que os filhos têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice zelando
por sua carência ou enfermidade. As pessoas precisam ter consciência que os
idosos possuem direitos fundamentais bem como respeito à convivência familiar e
comunitária. O idoso brasileiro diferente de outras partes do mundo ainda é pouco
valorizado no que tange as suas necessidades básicas, ainda falta atenção dos
filhos e melhores condições de vida de uma forma geral.

Em muitas famílias o idoso é visto como um problema, um ser que não traz
resultado e sim transtorno em seus lares, não importando a contribuição de longos
anos de trabalho, seja na família ou na sociedade. Não é valorizado por suas
características pessoais, não reconhecem que o idoso ainda tem muito a contribuir
para a sua própria família e sociedade. É preciso uma mudança de mentalidade
para que um dia o idoso possa ser visto como um ser que venha agregar valores à
família e não ser visto como um objeto parado em seu lar, pois é preciso que a
mudança de mentalidade comece no cenário familiar, sendo sempre um assunto
recorrente entre as famílias para que o idoso seja valorizado e tenha uma vida
digna.

Existe um projeto de lei nº 4.294/2008 que acrescenta ao artigo 3º do Estatuto


do Idoso, que prevê indenização ao idoso quando for abandonado por sua família.
Sendo uma indenização por dano moral em razão do abandono afetivo nas
relações paterno-filiais, o artigo do projeto visa introduzir ao Estatuto do Idoso o
artigo 1.632 do Código Civil.

Até porque as pessoas precisam entender que envelhecer é um processo


natural da vida e não um fim, não pode o idoso ficar condenado sempre à rejeição
pelo simples fato da idade avançada ter chegado, pelo funcionamento do corpo não
ser mais o mesmo, por não possuir a mesma dicção de quando era jovem ou pela
memória não ser mais tão boa. Afinal saber envelhecer é saber ser idoso na sua
plenitude, é reconhecer os próprios limites que a vida impõe e tirar dela o lado bom,
é ter nítida sensação de renascer todos os dias.

O relacionamento entre os idosos não é devidamente valorizado


e trabalho. A maioria das instituições deixa esse aspecto ao
encargo de voluntários, nem sempre capacitados para tal. Muitas
vezes, isso resulta no oferecimento de serviços, nem
sistematizados, com escassa e/ou quase nula participação do
idoso na gênese e na organização das atividades. A falta de
preparo específico para dar atendimento à população idosa e a
carência de profissionais capacitados e especializados limitam a
superação da tensão existente. Falta uma visão mais integradora
do envelhecimento e da velhice. (CORTELLETTI; BONHO;
HERÉDIA, 2004, p.121).
Saber que viver a velhice não é viver no passado recordando os melhores
momentos e os piores momentos da vida. E sim aprender algo novo, descobrindo
contextos mais amplos, exercitar a vida pelo aprendizado que ela oferece,
interagindo com outro, pois tudo isso significa envelhecer bem. Haja vista que a
velhice não é variável fixa, ela é construída culturalmente.

Enfim, respeitar e trabalhar para a dignidade do idoso é construir um futuro


mais consciente e uma maturidade de uma sociedade organizada e digna.
Buscando a interação do novo e da experiência juntos para uma sociedade sem
discriminação e sim com respeito surgindo desse modo futuras gerações com
mudança de mentalidade.

1.7 A marginalização do idoso

Na atualidade, percebe-se um significativo desprestígio ou até mesmo


marginalização dos idosos. Indicador que demonstra a qualidade de vida em um
país, o aumento da longevidade sadicamente se tornou um fardo aos olhos do
Poder Público.

Essa marginalização dos mais velhos é consequência de pensamentos, de


discriminações internalizadas e evidentes na sociedade. Tal segregação é
decorrência também de elementos sociais e econômicos que desenvolvem senso
de inquietação e debilidade, postergando os idosos a um plano secundário na
sociedade e na família.

Para Beauvoir (1990 apud PIRES et al) existe uma dificuldade na cultura
moderna em abordar a questão do idoso. Refere-se a um preconceito que a
sociedade prefere esquecer, por trazer inquietudes aos sentimentos mais internos.
Dessa forma, é vivida uma contradição entre a procura de longevidade cada vez
maior e um aumento da marginalização e a redução da vida útil do idoso.

Percebe-se que, de um lado há a ciência buscando a realização do desejo da


imortalidade. Porém, em contrapartida, a economia evidencia o idoso como uma
classe inútil, reduzindo-o a uma mera condição de consumidor de produtos que
garantem longevidade.
Rocha (2012, p. 392) afirma que o processo de envelhecimento da sociedade
de um país, modifica totalmente as ações práticas de políticas públicas sociais que
devem ser adotadas, como pode-se observar a diante: “Observa-se que a questão
específica do idoso não é abordada com o mesmo cuidado que é dispensado aos
demais grupos vulneráveis estudados por não se reconhecer neles efetivos sujeitos
ativos participativos.”

Para Godinho (2007 apud MENUZZI e PIAIA, 2008, p. 11), “embora o idoso
não sela sinônimo de incapacidade ou deficiência, é inegável que a idade avançada
provoca limitações físicas e psíquicas relevantes”.

Oliveira et al (2009) também demonstram que dentre os mais diversos fatores


discriminantes, os principais estão ligadas à idade avançada. Sem esquecer dos
problemas biológicos que provocam limitações físicas e, algumas vezes, mentais,
com isso, os idosos sofrem discriminações e preconceitos, frequentemente. Os
projetos socioeconômicos não suprem suas necessidades essenciais; o mercado
de trabalho os ignora.

Deste modo, o mínimo a se fazer é a realização de políticas, de cunho social, a


fim de levar em consideração os elementos mencionados acima, para facilitar o
acesso do idoso a uma condição de justiça.

1.8 O envelhecimento, as mudanças do corpo e da mente e a intervenção


multiprofissional

Com o aumento da expectativa de vida tem havido um crescimento acelerado


da população idosa. Para o saber psicológico, trata-se de um campo que avança
considerando outras variáveis que não apenas a idade. O envelhecimento para o
idoso é invariavelmente uma fase de mudanças do corpo e da mente além de ser
marcado por perdas das pessoas queridas que podem desencadear as doenças
físicas e psíquicas. Diante disso, o acompanhamento psicológico durante esse
processo é de extrema importância, porém é permeado por grandes dificuldades.

É um tema de construto multidimensional, cujo elemento cognitivo é construído


sob um sistema de crenças e visão de mundo. São trajetórias individuais e
socioculturais que perpassam o conteúdo deste trabalho e que são guias para o
enfoque das preocupações existenciais. Nessa fase da vida são evidenciados os
traumas em séries, daquilo que foi chamado de “Neurose do envelhecimento”. O
primeiro é o trauma relacionado à perda dos pais reais que lança a pessoa ao
confronto antecipado com a sua própria morte. Isso gera desânimo. O segundo se
refere ao tempo que se esgota – constatação do definitivo. O terceiro, à diminuição
da potência. O quarto trauma, a evidência de que os protagonistas são outros. A
passagem dos filhos para o lugar antes ocupado por eles (JERUZALINSKY, 1996
apud SANTOS; GERLACH; DRÜGG, 2015).

O quinto trauma é aquele em que os idosos já não podem fazer grandes planos
pois, tomam consciência de que não lhes resta mais muito tempo de vida. O sexto,
refere-se à perda dos pares, daquela pessoa que seguiu durante a vida com o
idoso. O sétimo trauma ocorre com a degradação do corpo e o sujeito se vê numa
nova imagem. O oitavo e último trauma, o idoso se percebe em diálogo com a
morte sabendo que ela vai lhe acontecer um dia (JERUZALINSKY, 1996 apud
SANTOS; GERLACH; DRÜGG, 2015).

A OMS (Organização Mundial de Saúde, 2005) define saúde como “um estado
de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença
ou enfermidade”. Durante o envelhecimento, este conceito se refere não só aos
aspectos físicos, mas também os aspectos sociais e emocionais, que são
indicadores de qualidade de vida e determinantes do bem estar físico, funcional,
psicológico, psíquico e social da pessoa idosa.

Não se trata apenas de prevenir o aparecimento de doenças. É neste sentido,


que a OMS (2005) propôs o conceito de envelhecimento ativo, como o processo de
otimização de oportunidades para a saúde, participação e segurança, no sentido de
aumentar a qualidade de vida durante o envelhecimento. A qualidade de vida, o
bem-estar, a manutenção das qualidades mentais está diretamente relacionada
com a atividade social, o convívio, o sentir- se integrado e útil na família e na
comunidade (CARVALHO, DIAS, 2011).
No entanto, a qualidade de vida dos idosos deve ser vista como um construto
de caráter sociocultural, não é um atributo do indivíduo biológico, psicológico ou
social, mas resulta na qualidade da interação entre pessoas que vivem dentro do
mesmo contexto de uma sociedade em mudanças (NERI, 1993).

O período da velhice é o momento em que o corpo, de um modo


completamente real, cobra toda a sua presença. Se antes o sujeito se queixava do
enredo imaginário de seus fracassos amorosos, dos limites da fortuna, ou da falta
de reconhecimento, na velhice, as razões para se queixar tornam-se
completamente reais (SANTOS; GERLACH; DRÜGG, 2015).

As mudanças do corpo e da mente em algum momento tornam-se impossíveis


de resistir. É chegado o tempo em que vão se esgotando para o idoso, todos os
recursos defensivos que ele dispõe (SANTOS; GERLACH; DRÜGG, 2015).

Tornam-se reais também as doenças psíquicas. A depressão em idosos é uma


delas e está associada ao luto, as perdas ao longo da vida, a preocupação com
filhos e netos, dificuldades de memória, que dão condições ao aparecimento de
outras doenças associadas a ela. É uma das doenças que atingem frequentemente
os idosos, potencializando a probabilidade do desenvolvimento de incapacidade
funcional, assim como para a qualidade de vida (SANTOS; GERLACH; DRÜGG,
2015).

Nesse contexto, as políticas públicas devem ser efetivas e envolver setores


distintos, como a saúde, a economia, o mercado de trabalho, a seguridade social e
a educação. A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa vem reafirmar que a
Atenção Primária deverá ser o meio de inserção inicial do idoso nos serviços de
saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) (ANDRADE; FILHA; DIAS; SILVA;
COSTA; MENDES, 2010).

Segundo os fundamentos de algumas pesquisas esse afastamento social e o


declínio das interações sociais, são consequências do envelhecimento. Os autores
apontam as diferenças das relações sociais na fase da juventude e na velhice
(CARSTENSEN, 1991 apud RIVERO; PRADO; VIEIRA; RIVERO, 2013).
A interação organismo e ambiente é a base de toda investigação biológica,
sociológica e psicológica. Segundo a Gestalt-terapia é a fronteira de contato, onde
a experiência tem lugar (PERLS; HEFFERLINE; GOODMAN, 1997).

Como análise gestáltica, a terapia consiste em analisar a estrutura interna e a


maneira como o que é novidade está sendo experienciado. “Trabalhando a unidade
e a desunidade dessa estrutura da experiência aqui e agora, é possível refazer as
relações dinâmicas da figura e fundo até que o contato se intensifique e o
comportamento se energize” (PERLS; HEFFERLINE; GOODMAN, 1997, p.46).

Restaurado o diálogo, a interação pode ser confirmada. O fato de ser ouvido


com atenção, ajuda a estabelecer uma relação de confiança. A partir desse ponto, o
terapeuta pode se voltar para a realidade existencial. Para além de sensações
subjetivas e intrapsíquicas, existe um mundo real habitado, por pessoas reais, pelas
quais somos responsáveis (JULIANO, 2010).

O drama de muitos idosos que se perdem em suas referências é que ninguém


mais fala com eles. É preciso propiciar aos idosos as intervenções assistenciais e
psicológicas necessárias, nos âmbitos da prevenção e da recuperação.

As demandas da população idosa hoje abrem um grande espaço de atuação e


intervenção multiprofissional, do assistente social, do médico, do fisioterapeuta, do
psicólogo etc., e se apresentam como um dos grandes desafios ao profissional
engajado nessa área. Para contribuir no estabelecimento das condições que
favorecem o envelhecimento com boa qualidade de vida, tais intervenções são
imprescindíveis, ou quando investigam sobre o processo de envelhecimento e os
fatores que nele intervêm, ou no desenvolvimento de uma prática preventiva em
articulações multidisciplinares (MELO; VALERO; MENEZES, 2013).

As alterações e os transtornos psicossociais e os transtornos são importantes


demandas que afetam incondicionalmente o bem-estar psicológico desta população
que ainda se encontra envolvida com os contextos de vulnerabilidade social e
desigualdade. As intervenções psicológicas são relevantes durante o processo de
envelhecer e necessárias para a prevenção e recuperação deste processo em que
o corpo cobrará de forma real toda a sua presença. Na prevenção, sendo
desenvolvida em articulações multidisciplinares (NERI, 2013).

Os aspectos psicossociais comuns na velhice são a solidão, o isolamento


social (violência contra os idosos) a alienação e proveniente destas, a depressão.
Esta está associada à própria idade, ao luto e às perdas ao longo da vida, às
preocupações com filhos e netos, à dependência e apoio da família que muitas
vezes, não têm tempo para acompanhá-los de perto. São aspectos negativos que
provocam um mau humor típico dessa situação e que interfere na qualidade de vida
do idoso (SANTOS; GERLACH; DRÜGG, 2015).

Ligadas à violência contra os idosos estão, o abandono, bem como a


negligência e os maus tratos físicos e psicológicos. É importante considerar que a
ausência de convívio social causa severos efeitos negativos na capacidade
cognitiva geral, além de depressão e estresse (BRAZ; DEL PRETTE, 2011 apud
CARNEIRO & FALCONE, 2016), o que indica que a deterioração da saúde pode
ser causada também pela redução da qualidade das relações sociais (RAMOS,
2002 apud CARNEIRO; FALCONE, 2016).

O treino de habilidades sociais, no campo das relações sociais é, portanto, uma


das formas em que os multiprofissionais que se dedicam ao atendimento de idosos
podem contribuir para o bem-estar mental e qualidade de vida na terceira idade
(NERI, 2004 apud CARNEIRO; FALCONE, 2016).

Assim como, através das intervenções educativas grupais, o assistente social e


o psicólogo poderão planejar e executar atividades que promovam uma reflexão
sobre o processo de envelhecimento, qualidade de vida e sobre a valorização da
própria vida. Através das atividades lúdicas ele promoverá essa conscientização
sobre a percepção da valorização do outro, além de desenvolver temas que
poderão suscitar aprendizagens de práticas antiestresse (TAVARES; DIAS;
MUNARI, 2012).

A tecnologia oferece as condições e a oportunidade para a promoção de


estimulação mental e bem-estar, colocando o idoso em contato com parentes, filhos
distantes ou ausentes, amigos, em contato com a música, com a arte, reduzindo o
isolamento e auxiliando na busca de sua identidade como cidadão do mundo
(NERI, 2013).

São contribuições biopsicossociais que a inclusão digital através do uso das


tecnologias proporciona, à medida que, oportuniza essa interação e um maior
engajamento social do idoso voltado para as políticas públicas de inclusão no
mundo da informação. Aprendendo a manusear estas ferramentas, o idoso
desenvolve sentimentos de pertencimento e de inserção social (GOMES; AMARAL,
2012).

As dinâmicas e as rodas de conversa, são citadas pelos autores pesquisados


como possibilidades de intervenção em grupo com idosos já que, promovem
aprendizados e reflexões sobre temas relacionados à própria vida, permitindo à
expressão de emoções e apreensão de novas informações e contatos com
assuntos de interesse pessoal. São ações aprendidas que inserem o idoso
novamente no meio social, promove a interação entre os participantes e como
efeitos sociais, favorece a percepção de que os problemas particulares não são
únicos, consequentemente, lhe proporciona uma melhor qualidade de vida
(GOMES; AMARAL, 2012).

Os comportamentos sociais que se estabelecem pela qualidade das relações


que levam à realização pessoal, também são aqueles que promovem a
manutenção ou melhora da autoestima. (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2011apud
SHIMBA; FALCONE, 2016).

A formação de grupo focal, a temática da tecnologia, as dinâmicas e rodas de


conversa têm sido estudos de pesquisas que comprovam que os aspectos
psicossociais negativos nos idosos podem ser reduzidos e contribuir para retirá-lo
do isolamento e da depressão (MELO; VALERO; MENEZES, 2013).

A música e a arteterapia, são outras formas de intervenção com idosos que


promovem relaxamento e bem-estar, contribuindo no restabelecimento das
doenças, melhoria da saúde, minimizando o sofrimento e favorecendo o
estabelecimento de laços afetivos, o que pode reverter de forma positiva a sua
autoestima (REIS, 2014).

A arteterapia é uma área de atuação que utiliza recursos artísticos com


finalidade terapêutica. Sua essência é a criação estética e a elaboração artística em
prol da saúde, além de ser base de comunicação entre o terapeuta e o idoso
(CARVALHO, 1995 apud REIS, 2014).

Além do contexto clínico, o campo de atuação da arteterapia tem se ampliado,


abrangendo outros contextos como o comunitário e hospitais dentre outras, onde
uma grande diversidade de temas pode ser tratada pela equipe de intervenção
gerontológica, desde traumas e conflitos emocionais, além dos vários aspectos das
relações interpessoais no grupo ou temas referentes às relações familiares. Temas
estes, que são experienciados como eventos, estando o idoso pessoal e
emocionalmente envolvido no aqui-e-agora como protagonista do acontecimento
em curso (REIS, 2014).

Se o objetivo desse estudo consiste em fazer uma análise da socialização na


terceira idade, com enfoque no processo de envelhecimento e o impacto positivo na
qualidade de vida dos idosos institucionalizados fazendo uma abordagem da
possibilidade de intervenção na saúde e no seu bem-estar; após a apresentação
dos resultados da busca por obras relacionadas a essa área, o que se segue são
as discussões dos temas sobre a problemática apresentada, que são propostas de
saúde, de manutenção das qualidades psíquicas e mentais ao idoso e que
consequentemente, estão relacionadas ao aumento de sua qualidade de vida e
bem-estar.

No artigo “Psicologia do Envelhecimento” de Santos Gerlach e Drügg (2015),


os autores apresentam os diversos traumas pelos quais o idoso passa nessa fase
da vida. São traumas relacionados a perdas, ao tempo que se esgota, dentre
outros. Os traumas, segundo a psicanálise, são experiências que extrapolam o
psiquismo, são indizíveis, e não transmitidos e que deixam suas marcas. A OMS
(Organização das Nações Unidas) define saúde como “um estado de completo
bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou
enfermidade”.

O artigo de Carvalho e Dias (2011), no entanto, aponta para a manutenção das


qualidades mentais associadas às atividades sociais ao bem-estar e a qualidade de
vida. A Psicologia do Envelhecimento ao especificar essa fase da vida aos traumas
vividos pelo idoso se depara também com outros estudos em que o envelhecimento
é visto como um processo com propostas de oportunidades para a saúde ou estado
de completo bem estar, no sentido de aumentar a qualidade de vida do idoso.

Tendo em vista que este tema e o fator de longevidade estão associados às


atividades sociais, o que se percebe no enfoque de Anita J. Neri é que ela é
também um construto cultural, de interação entre pessoas do mesmo contexto.

A Psicologia do Envelhecimento procura investigar as alterações reais desse


meio, que são as doenças psíquicas, sendo a mais comum, a depressão associada
ao luto, às dificuldades de memória e às preocupações com filhos e netos. São
estudos complementares avaliados por Santos, Gerlach e Drügg (2015). Para
esses autores, as doenças psíquicas funcionam como consequências do declínio
das interações sociais.

Tais alterações que estão associadas à idade, típicas da velhice, são


estudadas pela Psicologia do Envelhecimento. O envelhecimento, é um processo
dinâmico, progressivo que ocorre ao longo de toda a vida (lifespan), ligados
intimamente a fatores genético-biológicos e sociais (NERI, 2006).

No entanto, a velhice traz outras habilidades diretamente influenciadas pelas


experiências vividas, ou seja, a capacidade de resiliência, que são as respostas e
os desafios dessa fase da vida marcados pelas perdas inevitáveis (REIS, 2017).

As atividades educativas grupais são estratégias importantes e formas de


intervenção dos profissionais que podem contribuir como ação terapêutica e como o
processo de inclusão e melhoria de vida do idoso (TAVARES; DIAS; MUNARI,
2010)
Através desses grupos a intervenção multiprofissional se faz presente pelo uso
da tecnologia, promovendo paralelamente, a inclusão digital. O manuseio dessas
ferramentas e o apoio psicossocial trazem grandes benefícios e inserção social a
esse idoso, promovendo-lhe uma maior qualidade de vida (GOMES; AMARAL,
2012).

A inclusão digital também está relacionada à melhora da autoestima.


(CARNEIRO; FALCONE, 2016). Reconhecidamente, a música e a arteterapia são
valorizadas como intervenção multiprofissional e como recursos indispensáveis
aplicados aos idosos com esta funcionalidade. (REIS, 2017).

O propósito da Gestalt-terapia são as vivências expressas e onde a experiência


tem lugar em contato com o ambiente. São esses perfis que perpassam a
metodologia do psicodrama relacionado à psicoterapia. Como intervenção
psicológica, o Psicodrama age na estrutura das relações humanas em que se
propicia a saúde, as mudanças de atitude, percepções de fenômenos, sendo
utilizado com excelentes resultados na promoção da espontaneidade e criatividade.
(BARBOSA; RODRIGUES, 2016).

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