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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................... 12
CAPÍTULO I - O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES NO BRASIL: BREVE HISTORICIDADE ..................... 16
1.1 O RECONHECIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA SOCIEDADE
................................................................................................................... 16
1.1.1 As Santas Casas de Misericórdia no Brasil........................................... 19
1.1.2 O Código de Menores e um outro olhar para a criança e o adolescente
................................................................................................................... 22
1.2 O CENÁRIO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS A PARTIR DA DÉCADA DE 80 ......
................................................................................................................... 25
1.2.1 Estatuto da Criança e de Adolescente – Sujeitos de direitos .............. 26
1.2.2 As políticas públicas na Assistência ..................................................... 40
CAPÍTULO II - LOCALIZAÇÃO DO ESPAÇO DE ACOLHIMENTO ........ 42
2.1 TERCEIRO SETOR E A ‘NOVA’ FILANTROPIA ....................................... 42
2.2 PARTICIPAÇÃO DO ESTADO NAS PRÁTICAS DE ACOLHIMENTO ...... 51
CAPÍTULO III - ABORDAGEM SOBRE A REDE DE ABRIGOS DE
SALVADOR / BA....................................................................................... 56
3.1 METODOLOGIA ........................................................................................ 58
3.2 TRADUÇÕES DAS INFORMAÇÕES: CRITÉRIOS DE ANÁLISES........... 60
3.3 ENTENDIMENTO DAS VARIÁVEIS: ANÁLISE E DISCUSSÃO................ 68
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 74
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 77
ANEXO A – Roteiro para inspeção periódica dos Serviços de acolhimento
institucional para crianças e adolescentes ........................................... 81
ANEXO B – Roteiro para inspeção anual dos Serviços de acolhimento
institucional para crianças e adolescentes ........................................... 87
ANEXO C – Banco de Dados Abrigos 2015 ........................................... 97
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INTRODUÇÃO

Acolher crianças e adolescentes cujos direitos foram violados ou sequer foram


assegurados pela família ou pelo poder público, requer um trabalho estruturado de
modo a contribuir para o desenvolvimento desses sujeitos, ainda que em caráter
temporário, através de um espaço que estimule a formação da identidade de cada
usuário inserido, viabilize o acesso à saúde e educação pública, a convivência
comunitária e familiar, quando possível. A eficácia do acolhimento requer, ainda, a
articulação com a rede de serviços assistenciais de que dispõe os municípios.

A fim de sistematizar esses propósitos defendidos pela Lei Orgânica de


Assistência Social (LOAS), Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e reiterados
nas normativas do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA) e na Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais,
do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), o Ministério Público passou a
inspecionar os serviços de acolhimento institucional do território brasileiro, o que
levou aos gestores dessas entidades a reformular os serviços prestados, bem como
estados e municípios afiançarem o funcionamento de seus mecanismos de
assistência.

Na oportunidade de conhecer o funcionamento do acolhimento institucional de


crianças e adolescentes, levantou-se a seguinte problemática que resultou na
presente pesquisa: Quais fatores impossibilitam a efetivação do reordenamento das
instituições de acolhimento, proposto pelo Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (CONANDA), no município de Salvador / BA?

Inicialmente, pressupõe-se que: o reordenamento representará um paradigma


para se analisar a situação de crianças e adolescentes institucionalizados, ao
considerar que a estrutura social tem se caracterizado pelo descaso do Estado em
viabilizar a concretização de políticas públicas direcionadas a esse público, por meio
da Secretaria de Assistência Social, e tem identificado um caráter padronizador e,
ainda, conservador nas práticas de acolhimento institucional, defendidos em tais
políticas.

Partindo da experiência de estágio no Ministério Público do Estado da Bahia


(MPBA), especificamente no Serviço de Apoio Psicossocial (SAPS) – pertencente ao
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núcleo do Centro de Apoio Operacional da Criança e do Adolescente (CAOCA) –


diante das diversas atividades pertinentes ao setor e das Promotoria de Justiça da
Infância e Juventude, a qual tem como uma das atribuições realizar inspeções
periódicas e anuais nas instituições de acolhimento institucional de crianças e
adolescentes do município de Salvador / BA e regiões metropolitanas. A referida
atividade é realizada pela equipe técnica do SAPS onde através do estágio, da
oportunidade de acessar os dados referentes ao quantitativo e qualitativo dessas
entidades e de acompanhar quatro dessas inspeções no ano de 2015, emerge a
possibilidade em analisar a condição da rede de acolhimento institucional do
município e os obstáculos que têm se apresentado e inviabilizado a implementação
do reordenamento nessas instituições de acolhimento de crianças e
adolescentes, divulgado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA) e ressaltadas pela Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais, do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), em 2009,
por meio de uma cartilha de orientações para os atores que participam da execução
e administração desses serviços.

A intervenção pública nas questões voltadas para crianças e adolescentes, no


que concerne às ações de proteção e cuidado, no município de Salvador, apresenta-
se de modo restrito ao atendimento de usuários sob tutela do Estado ou em situação
de conflito com a lei, por meio de medidas de internação – e se deu por meio da
construção e aprovação do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(SINASE) em 2006, como um importante instrumento de defesa do caráter
educacional na medida socioeducativa brasileira, como propõe o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA - Lei n° 8.069, de 13 de Julho de1990).

Ao considerar, também, que os serviços de acolhimento institucional na


modalidade de abrigos são exercidos pelo Terceiro Setor, cujas práticas ganharam
espaço e legitimidade a partir da criação do Certificado de Entidades de Fins
Filantrópicos, em 1993, e das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIPs), em 1999, esta última regulamentada pela Lei nº 9.790 (23 de março de
1999), representadas pelas Organizações Não Governamentais (ONGs) e outras
entidades de caráter filantrópico; torna-se necessário identificar os
agentes responsáveis pelo não cumprimento das orientações estabelecidas pelo
CONANDA e reafirmadas pelo CNAS, e realizar uma análise reflexiva dos fatores
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que encarecem, ainda hoje, os serviços prestados para esse público. Considera
como marco, a formulação das Orientações Técnicas para Acolhimento,
do CONANDA, e da Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, do CNAS,
onde foi construído um conjunto de orientações e normativas que garantem o
acolhimento adequado de crianças e adolescentes em instituições de acolhimento,
que atende, deste modo, as determinações do ECA.

Todavia, mesmo com comprovações da eficácia das orientações técnicas em


instituições de outros municípios (e estados), os abrigos e instituições deste cunho,
em Salvador, ainda não conseguiram se adequar às normas, o que encarece o
trabalho prestado devido à sobrecarga (fruto do grande contingente de usuários
atendidos em algumas instituições e ausência de recursos materiais e humanos, em
outras). Há, ainda, outro fator a ser analisado nesse contexto que gira em torno do
possível paradigma que se criará para analisar a situação de crianças e
adolescentes, instigados pelo reordenamento alvitrado pela cartilha do CONANDA e,
por conseguinte, pela Tipificação Nacional do CNAS.

Assim, a proposta do presente estudo consiste em analisar os


dados das inspeções, coletados pelo Ministério Público do Estado da Bahia –
Comarca de Salvador –, nas instituições de acolhimento de crianças e adolescentes
de Salvador / BA e, a partir desta, dar visibilidade à questão e aos sujeitos nela
envolvidos, além de subsidiar à sociedade civil no debate acerca do tema proposto.
Para tanto, foi necessário traçar a abordagem no recorte da pesquisa de modo
apresentar as políticas públicas voltadas para a atenção das demandas da criança e
do adolescente; verificar os dados sobre as instituições de acolhimento, de
Salvador, no que tange os aspectos que visam atender as determinações do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e das orientações trazidas na cartilha
do CONANDA (2009), e reafirmadas na Tipificação Nacional, do CNAS (2009); e por
fim, refletir acerca da realidade das instituições de acolhimento de crianças e
adolescentes no município de Salvador.

Com essas considerações, a pesquisa foi estruturada em três capítulos. No


primeiro capítulo é realizado um resgate histórico e sucinto sobre a realidade das
crianças e adolescentes na sociedade ocidental desde o período feudal até as
formas mais democráticas de estrutura social e política. É resgatado, também, o
percurso das políticas públicas brasileiras até se constituírem no ECA e nos
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diferentes planos e normas que surgiram e vigoram até hoje. As referências


utilizadas foram AIRÈS (1978), SANTOS (2015), CALDEIRA, 2011), FREITAS
(2003), BORRIONE E CHAVES (2004), COIMBRA et. al. (2002), BRASIL (1990),
BRASIL (2004), BRASIL (2009), entre outros.

O segundo aborda o terceiro setor e a transformação condicionada por essa


atividade na concepção de sociedade civil, no modelo econômico vigente. Finaliza
com a localização dos serviços públicos que compõem a rede assistencial e suas
respectivas funções para garantia do funcionamento das instituições de acolhimento.

O terceiro capítulo apresenta inicialmente a metodologia utilizada para


estruturação do trabalho. O campo de atuação sociojurídico também é pontuado
nesse capítulo, por integrar a atuação do serviço social nos espaços do MP e dos
serviços de acolhimento institucional –, bem como pauta a atividade desenvolvida no
SAPS, ainda que a abordagem da atuação do serviço social não seja a proposta
deste estudo.

Nele também é apresentado a análise do banco de dados do MPBA de


maneira explicativa quanto às categorias utilizadas para expor nos gráficos e
explicá-las. As fontes de base foram provenientes do banco de dados do SAPS –
CAOCA (2015) (ANEXO C), da cartilha do CNMP (2013) e da publicação do MDS
(2009).

Encerra com a discussão do tema, expondo, primeiramente, os resultados


obtidos e posteriormente as correlações com o que está documentado no ECA
(1990) e na cartilha do CONANDA (2009), e o que permitiu substanciar as respostas
para os entraves encontrados na rede socioassistencial para que assuma o controle
da execução e gestão eficaz de todos os serviços ofertados, e não apenas na
aplicação de inspeções nas instituições de acolhimento e exigências aos gestores
das mesmas. As contribuições de RAICHELIS (2000) substanciam as ideias trazidas
nesse capítulo.
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CAPÍTULO I - O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E


ADOLESCENTES NO BRASIL: BREVE HISTORICIDADE

A historicidade brasileira aponta transformações do que se tinha como modelo


de acolhimento de crianças desde seu surgimento com as práticas religiosas – como
um típico modelo importado da Europa –, perpassa as atividades desenvolvidas por
organizações de cunho filantrópico e sua configuração contemporânea como
competência do estado (SANTOS, 2015).

A proposta desse capítulo é resgatar a história da criança e do adolescente –


em específico na cultura ocidental – de modo a fazer conhecer as definições
atribuídas a esses sujeitos e o reflexo nas práticas de acolhimento direcionadas para
esse público, na condição de vulnerabilidade social que se desenhou na sociedade
brasileira.

A história vem revelar aspectos de concepção da sociedade, em diferentes


períodos temporais, que lidos isoladamente, impossibilitam a compreensão do
cenário que desencadearam a criação das políticas públicas e o público a que são
destinadas. Assim, ao buscar sustentação no método marxista histórico-dialético
procurou-se trazer a história e correlacioná-la com o desenho contemporâneo, as
contradições e similaridades que permeiam o acolhimento institucional, de modo a
dar suporte à discussão em torno do reordenamento e seus entraves.

1.1 O RECONHECIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA SOCIEDADE

A compreensão para a necessidade de proteger e salvaguardar as crianças e


adolescentes no quadro de vulnerabilidade social ocorreu de modo lento ao longo da
história mundial e, em particular, do Brasil. No processo de “adultização”, na
passagem pelo descaso total, até um cuidado superficial disfarçado por uma
preocupação com a proliferação da miséria e da criminalidade dos “desajustados”,
as crianças e adolescentes foram penalizadas e historicamente lesadas por políticas
frágeis de um Estado Mínimo de direitos.
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As definições a respeito das fases da infância e da adolescência começaram a


surgir nas sociedades europeias e sofreram diversas alterações ao longo dos
séculos, com a existência de variações e aproximações em diferentes países.

Os primeiros documentos que retratam a utilização de termos que referenciam


crianças e adolescentes eram de ordem literária e remontam a Idade Média, quando
as especificações partiam de variações de estágios quantitativos, mas, muito
diferentes das que se configuram hoje. Tem-se como exemplo as divisões de idades
contadas a partir do número de planetas, em que denominava de infância a idade da
criança até os sete anos, caracterizada como a fase em que os dentes se plantam.
Nesta, a pessoa ainda não desenvolveu completamente a fala pela ausência e
inconstância dos dentes, daí o nome ser originário da palavra enfant, que significa
‘não falante’ (AIRÈS, 1978).

A adolescência, por sua vez, se configurava a terceira idade e se iniciava após


a pueritia – que terminava aos quatorze anos – e findava aos vinte e um anos de
idade para alguns, aos vinte e oito anos e até aos trinta e cinco anos para outros; e
era assim definida por ser uma fase em que as pessoas já estavam aptas para se
reproduzirem e, ainda, por ser um período de maior desenvolvimento físico humano
(AIRÈS, 1978).

Registros datados do século XII demonstram que havia um grande índice de


mortalidade infantil, decorrente das precárias condições de higiene e saúde em
algumas cidades europeias. As mortes eram menosprezadas ou completamente
ignoradas pelas sociedades do período, por se tratarem de crianças, consideradas
pequenos animais, facilmente substituíveis (HEYWOOD apud CALDEIRA, 2011).

Resgatando representações de crianças em artes plásticas e literatura, Airés


(1978) demonstra que até meados do século XVIII, a criança era percebida como
adulto em miniatura, a ela instituído comportamentos e vestimentas semelhantes
aos de adulto. A criança era o adulto imperfeito (CALDEIRA, 2011). Airès (1978)
considera que os primeiros povos a retratarem a infância e a puberdade de modo
mais fidedigno foram os gregos, que pintavam anjos (crianças e adolescentes) com
feições realistas, permitindo, assim, uma concepção diversificada a respeito desses
sujeitos.
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Airès (1978) explana que, no século XVII, não havia preocupação com
particularidades biológicas no uso da terminologia infância, tal como a que colocava
a criança e o adolescente em polos distintos. Havia atribuição à dependência que a
figura da criança e do adolescente tinha em relação aos pais e aos senhores feudais
e em outros arrolamentos senhoriais, para definir sujeitos de classe ou profissões
que mantinham a subordinação (como eram enxergados os lacaios, os soldados e
os garçons). Assim, a infância perdurava até o momento em que a pessoa
permanecia dependente de outra.

A classe burguesa que se instaurava, no entanto, começou a incorporar o


conceito de infância de que se teve conhecimento nas sociedades modernas. Na
mesma época, houve enfraquecimento do uso de termos como “jovem criança”,
substituído por “criança pequena” ou “criancinha” (AIRÈS, 1978, p. 32).

No período que correspondeu aos séculos XV, XVI e XVII, despertou-se a


preocupação com a inserção da criança na vida adulta, mas, para que isso
ocorresse, se fazia necessário um período de preparação em que o sujeito
aprenderia sobre a dinâmica da sociedade em que seria inserido: leis, linguagem e
símbolos, hierarquias e padrões; e é com essa finalidade que surgem as escolas,
fundadas nos moldes eclesiásticos (HEYWOOD apud CALDEIRA, 2011).

Em se tratando da adolescência, Airès (1978) relata que a figura da


modernidade surgiu com a obra do alemão Wagner, que retratava o adolescente
como um conjunto de diferentes características esperadas por essa parcela da
sociedade, como: a espontaneidade, a inocência temporária, a força física, a
vitalidade e a alegria, vislumbrando no adolescente um herói do século XX, assim
considerado como século da adolescência. Tais ideias foram difundidas para outros
países europeus, com estímulo a centralidade do adolescente como criador de
novos valores, que permitiriam reestabelecer a sociedade considerada velha
(AIRÈS, 1978).

Como elucubra Airès (1978), percebe-se que, ao longo da história, cada


período traz uma faixa do desenvolvimento humano como privilegiado: a juventude
era enaltecida no século XVII, a infância no século XIX e a adolescência no século
XX. A infância e a adolescência representam criações da modernidade e da
contemporaneidade (AIRÈS, 1978); oriundas da construção cultural, muito embora,
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não tivessem espaço e nem notoriedade pelos adultos, não eram escutadas ou
percebidas. Nem falavam e nem eram assunto entre os adultos (FREITAS, 2003).
No Brasil, incorporou-se tal concepção no processo de colonização.

1.1.1 As Santas Casas de Misericórdia no Brasil

Pesquisadores afirmam ter existido certa dificuldade no século XIX em estudar


a criança, que levou o período correspondente à segunda metade do século XVIII e
o último senso de 1872, considerado parcialmente estático pela impossibilidade de
comparação de dados considerados fundamentais para a análise, por seus números
desiguais, devido à carência de “estudos de demografia histórica” (FREITAS, 2003,
p. 20).

Na sua significação, a criança partia do sentido da que era criada por aqueles
que lhe geraram, por esse motivo, denominados de “crias” da casa, de
responsabilidade da família consanguínea ou da vizinhança os seus cuidados
(FREITAS, 2003).

No século XIX, o infanticídio e o abandono de crianças eram praticados por


negros, índios e brancos em determinadas conjunturas, que contrariava, em
contrapartida, a concepções relacionadas ao aumento do contingente populacional
nas cidades; da desigual repartição de bens e serviços entre as classes sociais, e
dos limites que se colocaram entre elas (FREITAS, 2003).

Freitas (2003) localiza o aparecimento da roda dos expostos, que data do


século XII, juntamente com o surgimento das confrarias de caridade na Itália e na
Idade Média, com fundamento no “espírito de sociedades de socorros mútuos, para
realização de Obras de Misericórdia” (FREITAS, 2003, p.56). As primeiras
formações de atividades de caráter de acolhimento no Brasil são datadas do período
colonial (séculos XVIII e XIX), com a roda dos expostos como maior
representatividade, instaladas nas Santas Casas de Misericórdia.

Santos (2015) explica que, o termo designa um artefato giratório de madeira,


situado em hospitais, onde as crianças eram colocadas e, ao ser girado,
transportada para o interior das instituições, sem que fosse revelada a identidade. A
particularidade contribuiu para certas práticas criminosas, como a de mulheres que
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colocavam seus próprios filhos na roda para depois amamentá-los e prestar


cuidados, recebendo o subsídio em dinheiro dispensado; ou situações de escolhas
de crianças “pardas” com o propósito de depois vendê-las como escravas. Havia,
ainda, casos de óbito das crianças que eram ocultados pelas amas para que não
deixassem de receber o dinheiro pelo cuidado (BORRIONE e CHAVES, 2004).

As Casas desenhavam seus objetivos de modo a não ferir a visão de mundo,


de caridade e de família, pregados pelo catolicismo na época, assim, desejava-se
impedir a exclusão social que se alimentava através da construção do vulnerável
como o marginal, o causador das ações criminosas e da prostituição. Mais adiante,
veriam a necessidade de, também, garantir o controle sobre eles, educar, disciplinar
e corrigir, a fim de que compusessem civis benfeitores a sociedade (BORRIONE e
CHAVES, 2004).

De acordo com a autora (Santos, 2015), por mais de um século (1726 – 1950),
a roda dos expostos foi uma das poucas instituições com incumbência da proteção à
criança em situação de abandono no Brasil, perdurando por três extensos regimes; e
que, segundo Viegas (apud SANTOS, 2015, p.4), diante dos problemas financeiros,
as acusações de violações e desvios de verbas, e outros, essa instituição passou a
ter o controle direcionado ao Governo, que realizou duas modificações na “atuação
da Roda dos Expostos” (SANTOS, 2015, p. 4): a primeira dizia respeito a uma maior
exigência na escolha das amas-de-leite, com o propósito de diminuir o índice de
mortalidade das crianças, que acreditavam ser proveniente da ausência de higiene e
de informação dessas mulheres. Sobre a mortalidade das crianças nesse período,
Freitas (2003) pontua:

A mortalidade dos expostos, assistidos pelas rodas, pelas câmaras


ou criados em famílias substitutas, sempre foi mais elevada de todos
os segmentos sociais do Brasil, em todos os tempo (FREITAS, 2003,
p.55).

A outra modificação estava na permissividade do abandono, garantido pelo


desconhecimento de quem entregava as crianças nas Santas Casas, o que
acarretou no aumento dessa populacional desamparada (SANTOS, 2015).
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Em meados do século XIX, o fim da roda dos expostos foi inevitável. Os


avanços das situações sanitárias das famílias e da vida da população, como um
todo; bem como o nascimento dos orfanatos e das clínicas pediátricas, que
passaram a atender ao interesse das comunidades pobres para desprezar suas
crianças, graças a sua funcionalidade, representaram causas relevantes para
fenecimento da roda e, juntamente com ela, as Santas Casas. No entanto, o maior
determinante foi a transformação na mentalidade da população da época, que
passou a relacionar essas instituições ao marco da história colonial e a concepção
preconceituosa como originária da inferioridade da raça negra no cenário da crise da
escravidão (BORRIONE e CHAVES, 2004).

A partir de 1875 nasceram os jardins de infância, a priori como alternativa para


assistir a criança desamparada, posteriormente passaram a atender, também na
educação de crianças das famílias da elite; em seguida, apareceram as creches e as
escolas maternais, que constituíram as novas entidades de assistência à criança. As
escolas maternais buscaram, por meio da introdução de uma filosofia educacional
seguida pelos jardins de infância, educar as crianças da classe proletária e àquelas
abandonadas sem haver, porquanto, diferenciação rígida entre as instituições e nem
quanto à terminologia, conforme preocupações assistencialistas e médicas-
sanitárias (BORRIONE e CHAVES, 2004).

A dissolução da roda dos expostos e das Santas Casas como instituições de


acolhimento de crianças desvalidas se deu em 1950, mesmo após as tentativas de
manter o pouco prestígio recuperado ao utilizar o leite em pó na alimentação das
crianças recém-nascidas e extinguir o sistema de amas externas, assemelhando-se
às práticas dos novos modelos de instituições de assistência à infância (BORRIONE
e CHAVES, 2004).

No Brasil, a partir da Constituição de 1988, atribuiu-se à criança a condição de


cidadã detentora de direitos a serem assegurados por lei. Gomes e Filho (2013)
explicam que entre o fim do século XIX e início do século XX não se tinha como
propósito educar as crianças de faixa etária de zero a seis anos E, estando já
condicionado, a partir dos sete anos a criança negra começava a trabalhar e as
crianças brancas iniciavam os estudos (GOMES e FILHO, 2013).
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Ponderando a necessidade de proteger a criança desamparada e com ensejo


de reverter a prática de infrações por adolescentes – que começava a se desenhar
como nova expressão da “questão social”, e preocupava a sociedade – a categoria
jurista apoiou os empenhos para eliminar as rodas no território brasileiro. O
propósito estava firmado, também, em teorias evolucionistas, representadas por
eugenistas que divulgavam os ideais do aperfeiçoamento da raça humana
(FREITAS, 2003).

Esse cenário é que fomenta a necessidade do Governo se posicionar com o


propósito de controlar a parcela de marginalizados na sociedade que ameaçava uma
minoria da população dos cidadãos de bem.

1.1.2 O Código de Menores e um outro olhar para a criança e o adolescente

Fomentando estreitar as relações entre os países membros da Sociedade das


Nações, criaram-se diversos tratados internacionais no Pós-Primeira Guerra
Mundial, mereceu destaque a Declaração dos Direitos da Criança, promulgada na
Conferência de Genebra, em 1921, que influenciou a formulação do Código de
Menores, em 1927 (FREITAS, 2003).

O Código de Menores (ou Código de Mello Mattos), por meio do Decreto n°


17.943-A, estabelecia e proibia o trabalho infantil até os 12 anos de idade;
assegurava a impunidade até os 14 anos. Estabelecia, ainda, a possibilidade de
internação em instituições características para crianças entre os 14 até os 18 anos,
e determinava atribuição de penalidade comum por delitos cometidos, para jovens
acima dos 18 anos.

Os estabelecimentos responsáveis pelas crianças de 14 a 18 anos teriam seus


funcionários (agentes) e usuários tornados objetos de atenção de psicólogos,
juristas, pedagogos e médicos; ao problematizar diversas questões, como da
responsabilidade pelo trabalho – incumbido ao Estado, à sociedade ou a Igreja –,
em que concordavam. Entretanto, divergiam quanto a algumas delas, mas havia, ao
menos, duas questões de concordância unânime, que era de que a demanda do
menor abandonado era, também, uma demanda para sua institucionalização; e que
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as pessoas mais adequadas para exercerem o papel de agentes nesses


estabelecimentos de internação seriam as mulheres (FREITAS, 2003).

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e, em poucos anos depois, o início da


Guerra Fria, a divisão planetária em linhas imaginárias que separaram as nações
que apoiavam o comunismo daquelas que aderiram ao capitalismo, tornou-se mais
evidente pela necessidade de supremacia que um modelo econômico impunha
sobre o outro. Países que tinham suas economias dependentes dos EUA estavam
pressionados a adotarem medidas para evitar e/ou exterminar qualquer ideologia em
seus territórios que ameaçassem o status quo ou que os colocassem em qualquer
tipo de perigo (COIMBRA; et.al., 2002).

No Brasil, o Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), investiu largamente


na industrialização. Os sucessores, no entanto, contrariaram a lógica imposta, ao
manter relações comerciais e diplomáticas com o maior número de países possíveis
e desenvolver reformas de desenvolvimento para o país, direcionadas as classes
populares; configurando-se em ameaças para o capital estrangeiro, suscitando a
eclosão do golpe militar em 1964 (COIMBRA; et.al., 2002).

As práticas e ideais difundidos pela Escola Superior de Guerra (ESG) – criada


em 1949 –, no período do regime militar brasileiro, repercutirm na formação da
hegemonia política do país. A necessidade de se garantir a instauração e
consolidação do modelo capitalista em oposição às ameaças do comunismo,
considerado “inimigo interno”, faz com que a lógica de “alcançar o bem comum da
Nação” (COIMBRA; et.al., 2002, p. 177), por meio do controle de todos os
segmentos sociais, influencie o desenvolvimento da subjetividade brasileira, ao
passo que conclamavam que toda sociedade contribuísse para a doutrina. Pessoas
controlavam e fiscalizavam umas as outras, quer seja na vida cotidiana ou na
profissional, com o objetivo de combater o inimigo que se materializava em todo e
qualquer sujeito que não se ajustava aos modelos difundidos pela ordem
estabelecida (COIMBRA; et. al., 2002).

Seguindo essa linha, as políticas adotadas para crianças e adolescentes


abandonados prezavam pela segurança como bem maior; assim, foi criada, em
1964, a Fundação Nacional do Bem-Estar do menor (FUNABEM) – aprovada pela
Lei n° 4.513 –, que tinha como objetivo refletir sobre a situação do “menor” no Brasil
24

desenvolvendo o que se definiu como Política Nacional de Bem-Estar do Menor


(PNBEM), cujas ideias pautavam-se nos conceitos eugenistas e higienistas, bem
como no conceito de que os jovens em situação de abandono representavam
ameaças à segurança nacional e à ordem social, pela possibilidade de se tornarem
criminosos. Com isso, como esclarece Coimbra et.al. (2002), a FUNABEM ficou
encarregada de controlar a “situação dos “menores” abandonados e delinquentes”
(COIMBRA; et.al., 2002, p. 179).

Mesmo com a difusão dos seus princípios pelo território brasileiro, a PNBEM
provocou maior distanciamento do público atendido em relação aos princípios de
proteção e resgate dos “menores” que divulgava. Apresentaram práticas que
estavam em conformidade com o padrão burguês de classe média – em definir o
“menor” como um jovem com desvio de comportamento frente a uma sociedade
normal –, o que resultou em discussões que levaram a reformulação do Código de
Menores, em 1979. Mas, pouco alterou o modo de enxergar a criança e adolescente
abandonado e nem de atuar com base nas necessidades dos mesmos. Em
contrariedade: a nova concepção tratou o comportamento do “menor” como uma
patologia social que ameaçava o bom funcionamento da sociedade e precisava ser
isolada da convivência familiar e comunitária, por meio da inserção em instituições
especializadas. Compreendia que o “menor” era fruto da exclusão social –
considerada um distúrbio patológico (COIMBRA; et. al., 2002) (BAPTISTA, 2006).

Embora tenha representado um pontapé para uma mudança na postura dos


governantes a respeito do acolhimento de crianças “abandonadas e delinquentes”
(BAPTISTA, 2006) – a começar pelo abandono dos termos de teor preconceituosos.
Ainda, por repensarem a necessidade de criação de políticas públicas direcionadas
a esses jovens, a reformulação do Código foi adotada apenas como meio de
responder as pressões de organizações de Direitos Humanos, diante das denúncias
das violações cometidas no período da Ditadura Militar; que alimentou o seguimento
político do governo Geisel, com a “distensão lenta e segura” (COIMBRA; et.al., 2002,
p. 180).

Por esse motivo, funcionou, apenas, como camuflagem para a real situação
dos jovens em situação de vulnerabilidade social. Essas fragilidades foram
percebidas por grupos minoritários de lutas sociais que e medidas foram adotadas
pelo próprio governo, que passou a ter na infância e juventude uma expectativa de
25

difusores dos ideais dos moldes da forma de governo que se instaurava, por serem
uma significativa parcela em desenvolvimento.

1.2 O CENÁRIO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS A PARTIR DA DÉCADA DE 80

As ações adotadas pelo Governo Brasileiro, com vistas a reverter o quadro de


descaso para com a infância e a juventude, pautaram-se nas determinações das
conferências da Organização das Nações Unidas (ONU), na organização da Frente
Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente por Organizações
Não-Governamentais (ONGs) e na Constituição Federal de 1988 (05 de Outubro de
1988). Os textos formulados a partir dessas últimas, especificamente ao
procedimento de acolhimento institucional de crianças e adolescentes, foram
inseridos dentro da política de assistência social, assim, como responsabilidade do
Estado, mas, ainda se mantém nas práticas filantrópicas e outras iniciativas da
sociedade civil.

Destarte, as decisões adotadas pelo poder público para responder às


demandas das crianças e adolescentes a partir da década de 80 representaram uma
ruptura com políticas e práticas restritas ao atendimento em situações que tivessem
fugido do controle social, tidas como de anormalidade. Isso fica claro se comparados
elementos simples como as terminologias utilizadas, desde o surgimento das
instituições de acolhimento até o próprio Código de Mello Mattos, para referenciar as
crianças e adolescentes ao tratá-los como “menores abandonados, delinquentes,
vadios, mendigos, expostos e, na última atualização do Código, irregulares”
(BRASIL, 1927, Art. 26 ao 30). O tratamento dado a tais questões era reduzido e
focado na culpabilização das famílias “sem estrutura” e passíveis de resolução
apenas por meio da inserção em instituições de acolhimento (OLIVEIRA, 2007).

Somente a partir da promulgação da Constituição de 1988 e reafirmação com o


Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990), a função de assegurar os
direitos da criança e do adolescente foi transferida para o público e, também, para a
sociedade civil. O ECA traz consigo outro elemento relevante que permitiu assegurar
o cumprimento das leis e políticas destinadas a proteção das crianças e
adolescentes brasileiros, que foi a definição do Sistema de Garantia de Direitos
26

(SGD) e atribuição de seus órgãos e entidades constituintes, a exemplos tem-se: o


Tribunal de Justiça, o Ministério Público, os Conselhos dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA e CMDCA), os Conselhos Tutelares e as próprias
instituições de acolhimento de crianças e adolescentes (OLIVEIRA, 2007).

1.2.1 Estatuto da Criança e de Adolescente – Sujeitos de direitos

O surgimento da República fomentou a tentativa de revalorização da infância


como figura próspera para a nação, como herdeira do regime que se instaurava.
Mas foram precisas denúncias da condição de abandono e violência que sofriam as
crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e a formação de grupos em
defesa dos direitos dos mesmos, para que fossem adotadas medidas de
enfrentamento dessa realidade (DELL’AGLIO e SIQUEIRA, 2006; SANTOS, 2015).

O ponto de partida foi na década de 70, por meio da indicação do ano de 1979
como o “Ano Internacional da Criança”. Posterior, no ano de 1986 ocorreu o
encontro de um número significativo de ONGs que buscaram debater questões
relacionadas à criança e ao adolescente, constituíram, assim, a Frente Nacional de
Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990).

Esses episódios, associados a mobilizações da sociedade civil brasileira que


resultaram em cláusulas assegurando direitos à criança e ao adolescente já na
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227; e que estimulou a instauração de
associações e o diálogo entre elas acerca dos direitos da criança, e culminou em
1990, na construção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n° 8.069,
de 13 de Julho de 1990 (DELL’AGLIO e SIQUEIRA, 2006; SANTOS, 2015).

Até a elaboração do ECA, o conceito de criança que vigorava era o definido


pela Convenção sobre os Direitos da Criança – aprovada em 1989 pela Assembleia
Geral das Nações Unidas – ONU –, em que criança era toda pessoa com idade
inferior a dezoito anos; o ECA, no entanto, fragmenta o conceito de criança, de
modo que esta passa se restringir a pessoa com no máximo doze anos incompletos,
entre doze e dezoito anos de idade passa a ser considerado um adolescente
(GOMES e FILHO, 2013). Essa consideração brevemente será alterada com a
27

redução de maior idade penal para os 16 anos, que está tramitando no Senado no
cenário atual.

O ECA (Lei n° 8.069, de 13 de Julho de 1990), seguindo a Constituição de


1988, representou um marco para a formação da concepção da infância e da
juventude no país, propiciado pelo período do seu surgimento, que se configurava
pelo intuito de garantir o acesso de crianças e adolescentes aos direitos sociais,
econômicos e civis, por meio da reabertura democrática; além de destacar a reflexão
pautada no modelo de atenção e proteção integral para a criança e o adolescente
enquanto sujeitos de direitos, portanto, o ECA inaugura uma compreensão da
importância de defender e assegurar diretos às crianças e adolescentes de modo
universal e não apenas de exercer controle e coerção sobre os mesmos (OLIVEIRA
e MILNITSKY-SAPIRO, 2007, p.3-4). O artigo 7° do Estatuto (BRASIL, 1990) ratifica
esse propósito:

Art. 7° A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e a


saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que
permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em
condições dignas de existência (ECA, 1990. Título II Dos Direitos
Fundamentais, Cap. I Do Direito à Vida e à Saúde, p. 9).

Dentre as prerrogativas que almejam a proteção a criança e ao adolescente,


encontram-se no ECA (1990), no capítulo I do artigo 98, sobre as medidas de
proteção, a obrigatoriedade de sua execução quando há transgressão dos direitos
da criança e do adolescente conforme disposto no Estatuto, seja “I - por ação ou
omissão da sociedade ou do Estado; II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou
responsável; III – em razão de sua conduta.” (ECA, 1990, p.57).

A determinação sobre as instituições de acolhimento e o que devem atender a


critérios para se alcançar o fim proposto e desejável, são evidenciadas nos artigos
91 e 92 que explanam sobre as entidades de atendimento:

Art. 91 - § 1° Será negado o registro à entidade que:


a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas de
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
28

b) não apresente plano de trabalho compatível com os princípios


desta Lei;
c) esteja irregularmente constituída;
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas;
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e deliberações
relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas pelos
Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os
níveis (BRASIL, 1990. Livro II – Parte Especial, Cap. II Das
Entidades de Atendimento, Seção I Disposições Gerais, p. 45).

Art. 92 As entidades que desenvolvam programas de acolhimento


familiar ou institucional deverão adotar os seguintes princípios:
I - preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração
familiar;
II - integração em família substituta, quando esgotados os recursos
de manutenção na família natural ou extensa.
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos;
IV - desenvolvimento de atividades em regime de co-educação;
V - não-desmembramento de grupos de irmãos;
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras
entidades de crianças e adolescentes abrigados;
VII - participação na vida da comunidade local;
VIII - preparação gradativa para o desligamento;
IX - participação de pessoas da comunidade no processo educativo.
[...]
§ 2° Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas de
acolhimento familiar ou institucional remeterão à autoridade
judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado
acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua
família, para fins da reavaliação prevista no §1º do art. 19 desta Lei.
[...]
§ 4º Salvo determinação em contrário da autoridade judiciária
competente, as entidades que desenvolvem programas de
acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do
Conselho Tutelar e dos órgãos de assistência social, estimularão o
contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, em
cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.
§ 5º As entidades que desenvolvem programas de acolhimento
familiar ou institucional somente poderão receber recursos públicos
se comprovado o atendimento dos princípios, exigências e
finalidades desta Lei (ECA, 1990. Livro II – Parte Especial, Cap. II
Das Entidades de Atendimento, Seção I Disposições Gerais, p. 46-
47).

A preocupação em prover meios de assistir pessoas e famílias em situação de


vulnerabilidade ou violação de direitos, é ratificada em 1993 com a aprovação da Lei
8.742 – a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Esta situa a assistência social
como Política da Seguridade, sem necessidade de contribuição e a caracteriza como
de obrigação do Estado e um direito do cidadão, com o intento de assegurar os
29

mínimos sociais por meio de práticas associadas da sociedade civil e da instância


pública (LOAS, 1993).

A LOAS (BRASIL, 1993) estabelece as finalidades da Assistência Social, e


cabe destacar no artigo 2, as alíneas a, b, c e d do inciso I, que elucidam a proposta
de proteção de modo a minimizar perdas e prevenir casos de riscos, em prol de
garantia da vida para famílias, adolescentes e crianças, crianças e adolescentes em
situação de vulnerabilidade social; a integração de portadores de deficiência a vida
profissional e ao convívio com a sociedade; e com vistas a garantir o acesso ao
trabalho. Os incisos II e III do mesmo artigo explanam a necessidade de atenção
quanto à prestação dos serviços socioassistenciais – que a própria lei define no
artigo 23, seção III, como ações permanentes que objetivem a qualidade de vida da
sociedade e, através do atendimento das necessidades fundamentais, práticas que
estejam condizentes com as determinações da própria LOAS -, em que versam
sobre a relevância de avaliar a territorialidade das famílias a que se destinam os
serviços, a fim de averiguar índices de vulnerabilidade e riscos ao desenvolvimento
dos indivíduos, bem como assegurar a execução dos direitos, para que se possa
propor ações mais eficazes (LOAS, 1993).

A LOAS elucida, ainda, nos parágrafos de 1 a 3, em seu 3° artigo, as definições


e características de entidades que podem ser classificadas ou não como de
assistência social e o modo como suas atividades se configurarão. Assim, aparelhos
e instituições de assistência social são aqueles cujas atividades assistem ou
auxiliam os sujeitos a quem a LOAS se destina ou outras leis que operem em
assegurar direitos ao civil. Essas instituições devem ser, em seu provimento, sem
fins lucrativos e podem ser classificadas como de atendimento, de assessoramento
ou de defesa e garantia dos direitos, como está disposto:

§ 1o São de atendimento aquelas entidades que, de forma


continuada, permanente e planejada, prestam serviços, executam
programas ou projetos e concedem benefícios de prestação social
básica ou especial, dirigidos às famílias e indivíduos em situações de
vulnerabilidade ou risco social e pessoal, nos termos desta Lei, e
respeitadas as deliberações do Conselho Nacional de Assistência
Social (CNAS), de que tratam os incisos I e II do art. 18.
§ 2o São de assessoramento aquelas que, de forma continuada,
permanente e planejada, prestam serviços e executam programas ou
projetos voltados prioritariamente para o fortalecimento dos
30

movimentos sociais e das organizações de usuários, formação e


capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de
assistência social, nos termos desta Lei, e respeitadas as
deliberações do CNAS, de que tratam os incisos I e II do art. 18.
§ 3o São de defesa e garantia de direitos aquelas que, de forma
continuada, permanente e planejada, prestam serviços e executam
programas e projetos voltados prioritariamente para a defesa e
efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos
direitos, promoção da cidadania, enfrentamento das desigualdades
sociais, articulação com órgãos públicos de defesa de direitos,
dirigidos ao público da política de assistência social, nos termos
desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS, de que tratam os
incisos I e II do art. 18. (LOAS, 1993, Cap. I – Das definições e
objetivos. Art.3°).

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) nasce como instrumento de


organização e gestão das práticas de assistência social – com sua eficácia
reconhecida em 2011 por meio da Lei 12.435 -, com o propósito de proteger a
família, desde a maternidade até a terceira idade, e toma como referência o espaço
territorial. Portanto, o SUAS incorpora, também, a atenção à criança e ao
adolescente dentro da assistência. A LOAS (1993), no 3° parágrafo do artigo 6°,
atribui ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) a
responsabilidade de coordenar a Política Nacional de Assistência Social (PNAS). No
mesmo artigo, ela classifica os tipos de proteção na Assistência Social como Básica
ou Especial, com destaque para um dos pontos comuns em ambas que é a
preocupação com o restabelecimento e o fortalecimento de vínculos familiares
(LOAS, 1993).

O acolhimento institucional1 de crianças e adolescentes está, então, inserido,


na PNAS (2004), como modalidade da proteção social especial, porque prevê o
atendimento em casos particulares:

1
A utilização do termo “Acolhimento institucional” passa a ser utilizado a partir da divulgação
da Cartilha de Orientações Técnicas – amplamente mencionada neste trabalho – do
CNAS/CONANDA (2009), em substituição do termo “Abrigamento”, considerado obsoleto e
pejorativo por remeter às práticas comuns as antigas instituições de acolhimento como as
Santas Casas, os orfanatos e asilos. No entanto, o termo “abrigo” ainda é encontrado em
muitas bibliografias por permitir a distinção entre a modalidade de acolhimento do tipo Casa-
Lar.
31

A proteção social especial é a modalidade de atendimento


assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em
situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono,
maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de
substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas,
situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras (BRASIL,
2004. Cap. 2 Política Pública de Assistência Social – Assistência
Social e as Proteções Afiançadas: Proteção Social Especial, p.35).

Assim, as configurações atribuídas às instituições de acolhimento a partir do


Estatuto, representaram a antecipação do fim das instituições de acolhimento
permanente ou asilar, do tipo orfanato; por meio da defesa do acolhimento como
medida provisória e o fomento a convivência familiar e comunitária. Por esse motivo,
as crianças e adolescentes institucionalizados passam a incluir a lista de adoção
somente quando são esgotadas as possibilidades de reinserção a família de origem
ou quando não são obtidas informações sobre essas famílias e nem histórico de
vínculos (família extensa) (ECA, 1990, art. 101, §1° e §9°) (SECRETARIA DE
DIREITOS HUMANOS, 2010).

Segundo OLIVEIRA et.al. (2007), pensar o abrigo a partir do ECA (1990)


requer considerar sua real função dentro do modelo econômico e societário, onde o
Estado tem se posicionado de modo ausente com a garantia dos direitos sociais,
não constituindo exceção aqueles dispensados as crianças e adolescentes,
estimulando o modelo de transitoriedade tão combatido, ao sustentar como uma das
fortes justificativas as referências “as práticas do passado, nas quais a
institucionalização massificada era indubitavelmente nociva.” (OLIVEIRA e
MILNITSKY-SAPIRO, 2007, p.12). Santos (2015), igualmente é favorável ao
considerar que a institucionalização poderá ocasionar consequências negativas
como implicações na formação física e psicológica da criança ou adolescente
(SANTOS, 2015).

Santos (2015) destaca que, a partir das prerrogativas do Estatuto da Criança e


do Adolescente (ECA, 1990), há uma valorização da convivência familiar e
comunitária para o desenvolvimento da criança ou adolescente, desconsiderando a
prática arbitrária de acolhimento. No capítulo III dos Direitos Fundamentais,
esclarece um dos artigos:
32

Art. 22 Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação


dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a
obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais
(BRASIL, 1990. Título II Dos Direitos Fundamentais, Cap. III Do
Direito à Convivência Familiar e Comunitária, Seção I Disposições
Gerais, p. 12-13).

A necessidade de se olhar para família como uma instituição viável para a


formação da criança e do adolescente enquanto cidadão novamente é defendido na
PNAS, de 2004:

A realidade brasileira nos mostra que existem famílias com as mais


diversas situações socioeconômicas que induzem à violação dos
direitos de seus membros [...] As dificuldades em cumprir com
funções de proteção básica, socialização e mediação, fragilizam,
também, a identidade do grupo familiar, tornando mais vulneráveis
seus vínculos simbólicos e afetivos. A vida dessas famílias não é
regida apenas pela pressão dos fatores socioeconômicos e
necessidade de sobrevivência. Elas precisam ser compreendidas em
seu contexto cultural, inclusive ao se tratar da análise das origens e
dos resultados de sua situação de risco e de suas dificuldades de
auto-organização e de participação social (BRASIL, 2004. Cap. 2
Política Pública de Assistência Social – Assistência Social e as
Proteções Afiançadas: Proteção Social Especial, p.34-35).

A Norma Operacional Básica do SUAS, sancionada em 2005 e atualizada em


2012, representou um marco para a sistematização dos serviços de acolhimento
institucional e os demais serviços que compõem a rede assistencial nas
modalidades básica e de média e alta complexidade por trazer o detalhamento das
especificidades de cada atividade do atendimento básico e especial, com
determinação de recursos e de suas entidades financiadoras (União, Estado ou
Municípios) e ainda por delimitar funções e sistemas organizacionais para cada
serviço, com vistas a garantir sua plena eficácia dentro do que prevê a política de
assistência (NOB/SUAS, 2012).

Dando continuidade as decisões voltadas à organização dos serviços de


acolhimento, a criação, pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS), em 2006, da Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do
SUAS vem caracterizar a formação e distribuição de profissionais por serviços que
33

estão previstos na LOAS, na PNAS e na NOB/SUAS. Nela o quantitativo de


profissionais, sua formação acadêmica, a distribuição e a carga horária de trabalho
nas instituições, bem como em que deve se pautar a atuação desses recursos
humanos está definida e detalhada. Sua criação influenciou nos documentos que
surgiram posteriormente (NOB-RH/SUAS, 2006).

As irregularidades nos serviços de instituições de acolhimento de crianças e


jovens condicionou o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e o Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) a tomarem medidas
que viabilizassem a continuidade do serviço, assegurando a qualidade e os direitos
das crianças e adolescentes. Nesse cenário é que se constrói, em 2009, a cartilha
das Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes.
Tais orientações estão em conformidade com as legislações que asseguram os
direitos da criança, a saber: o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Plano
Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, a Política Nacional de Assistência
Social e o Projeto de Diretrizes das Nações Unidas sobre Emprego e Condições
Adequadas de Cuidado Alternativos com Crianças; e faz a ressalva que, a adoção
de tais medidas devem estar de acordo com a configuração de cada localidade,
mas, priorizando a qualidade dos serviços (CNAS/CONANDA, 2009).

As Orientações Técnicas corroboram que atendimentos em unidades de


acolhimento como abrigos institucionais, famílias acolhedoras, casas-lares e
repúblicas, deverão ser viabilizados de modo a garantir os direitos da criança e do
adolescente quanto à proteção integral e fomentar ações que incentivem o retorno à
família biológica ou substituta; e, somente em casos de impossibilidade, convívio
com a família de origem pelas vias legais (CNAS/CONANDA, 2009).

Defendem que as instituições que prestam serviços de acolhimento devem se


organizar com o propósito de acolher as necessidades das crianças e adolescentes
atendidos, respeitando as particularidades de cada um, no que diz respeito à faixa
etária; condicionantes de acolhimento; situações e vínculos familiares; condições
socioculturais; estado de desenvolvimento e emocional; se portador de deficiência
ou necessidade especial; avaliação de necessidade de permanência no
acolhimento; usuários com histórico de vivência na rua; de dependência de bebida
alcoólica e/ou substâncias psicoativas; entre outros (CNAS/CONANDA, 2009).
34

Rogam, ainda, que as estratégias visando à criação e aperfeiçoamento de


ações direcionadas as crianças e adolescentes devem estar sob a responsabilidade
do órgão gestor da Política de Assistência Social e agentes do Sistema de Garantia
de Direitos e da rede local (CNAS/CONANDA, 2009, p.66), que devem se atentar as
particularidades que cada região e localidade requerem; para isso, faz-se presente
atividades de avaliação com o objetivo de identificar a existência ou inexistência do
serviço e da procura por ele, bem como, dos tipos que melhor atendem as
necessidades dos usuários a que se destinam, considerado indispensável à
existência de serviços para diferentes categorias em cidades com maior contingente
populacional (CNAS/CONANDA, 2009).

O financiamento destinado às ações e práticas de acolhimento seguem as


determinações do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, conforme dispõe na
Portaria N° 440/2005 do MDS, cuja responsabilização para tal efetivação é por meio
do Piso de Alta Complexidade I (PAC I), garantido por meio da preservação da
capacidade de atendimento. Salienta que as instituições de acolhimento existentes
devem, em processo gradativo, se adequar as orientações em questão a fim de
cumprir as determinações; que constitui requisito obrigatório para a criação de novos
serviços de acolhimento (CNAS/CONANDA, 2009).

As Orientações Técnicas definem o abrigo como uma instituição que presta


serviço de acolhimento para crianças e adolescentes distanciados da família, de
caráter provisório, constituindo medida de proteção como estabelece o artigo 101 do
ECA; em situações de ocorrência de abandono por familiares ou responsáveis, ou
quando estes não dispõem de condições para cuidar e proteger; até quando houver
possibilidade de retorno à família de origem ou substituta. Assim, a situação
financeira não se caracteriza mais como condição para retirar a criança do meio
familiar (CNAS/CONANDA, 2009).

Esclarecem que, a qualidade dos serviços oferecidos deve priorizar a


dignidade; garantir a realização do atendimento diferenciado, estimular a
proximidade com os familiares e a população local, entre outros. Além disso, a
instituição deve apresentar características de uma residência comum, que tornaria
desnecessária a colocação de placas informando o nome e a natureza do local; e
devem fazer uso dos mecanismos e dos serviços locais (CNAS/CONANDA, 2009).
35

Como concorda Santos (2015), as orientações pontuam as novas perspectivas


para os abrigos, levando em consideração as determinações do Estatuto (1990),
onde orienta a criação de instituições onde se atenda um número menor de
usuários, em espaços físicos menores e com incentivo aos vínculos familiar e
comunitário. A respeito dos usuários atendidos, as orientações recomendam que, no
geral, seja de “crianças e adolescentes de 0 a 18 anos sob medida protetiva de
abrigo” (CNAS/CONANDA, 2009, p. 67), como está previsto no artigo 101 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (CNAS/CONANDA, 2009).

Quanto aos aspectos físicos, detalham o que foi exposto no parágrafo 2,


devem se aproximar de estruturas de uma residência, sem placas e não serem
utilizadas nomenclaturas que desencadeiem estigmas ou depreciação as crianças e
adolescentes. Quanto aos recursos humanos, deve-se criar uma rotina diária com
horários e turnos fixos de atividades dos cuidadores e educadores, bem como das
atividades desenvolvidas, a fim de fomentar a criação de vínculos e uma
regularidade nas práticas do cuidado pelo usuário (CNAS/CONANDA, 2009).

Considerando a formação de uma equipe mínima de multiprofissionais, deve


ser constituída por: “coordenador, equipe técnica, educador/cuidador e auxiliar de
educador/cuidador” (CNAS/CONANDA, 2009, p. 69), seguindo as especificidades
dispostas no quadro 1:

Quadro 1: Parâmetros de funcionamento – Equipe profissional


Coordenador
Perfil
Formação Mínima: Nível superior e experiência em função congênere
Experiência na área e amplo conhecimento da rede de proteção à infância e juventude,
de políticas públicas e da rede de serviços da cidade e região
Quantidade
1 profissional para cada serviço
Principais Atividades Desenvolvidas
Gestão da entidade
Elaboração, em conjunto com a equipe técnica e demais colaboradores, do projeto
político-pedagógico do serviço
Organização da seleção e contratação de pessoal e supervisão dos trabalhos
desenvolvidos
Articulação com a rede de serviços
Articulação com o Sistema de Garantia de Direitos (CNAS/CONANDA, 2009, p. 69)
Equipe Técnica
Perfil
Formação Mínima: Nível superior
Experiência no atendimento a crianças, adolescentes e famílias em situação de risco
36

Quantidade
2 profissionais para atendimento a até 20 crianças e adolescentes
Carga horária mínima indicada: 30 horas semanais
Principais Atividades Desenvolvidas85
Elaboração, em conjunto com o/a coordenador (a) e demais colaboradores, do Projeto
Político Pedagógico do serviço;
Acompanhamento psicossocial dos usuários e suas respectivas famílias, com vistas à
reintegração familiar;
Apoio na seleção dos cuidadores/educadores e demais funcionários;
Capacitação e acompanhamento dos cuidadores/educadores e demais funcionários;
Apoio e acompanhamento do trabalho desenvolvido pelos educadores/cuidadores;
Encaminhamento, discussão e planejamento conjunto com outros atores da rede de
serviços e do SGD das intervenções necessárias ao acompanhamento das crianças e
adolescentes e suas famílias;
Organização das informações das crianças e adolescentes e respectivas famílias, na
forma de prontuário individual;
Elaboração, encaminhamento e discussão com a autoridade judiciária e Ministério
Público de relatórios semestrais sobre a situação de cada criança e adolescente
apontando: i. possibilidades de reintegração familiar; ii. Necessidade de aplicação de novas
medidas; ou, iii. Quando esgotados os recursos de manutenção na família de origem, a
necessidade de encaminhamento para adoção;
Preparação da criança / adolescente para o desligamento (em parceria com o (a)
cuidador (a) /educadora (a) de referência);
Mediação, em parceria com o educador/cuidador de referência, do processo de
aproximação e fortalecimento ou construção do vínculo com a família de origem ou adotiva,
quando for o caso. (CNAS/CONANDA, 2009, p. 69-70)
Educador/cuidador
Perfil
Formação Mínima: Nível médio e capacitação específica
Desejável experiência em atendimento a crianças e adolescentes
Quantidade
1 profissional para até 10 usuários, por turno
A quantidade de profissionais deverá ser aumentada quando houver usuários que
demandem atenção específica (com deficiência, com necessidades específicas de saúde
ou idade inferior a um ano). Para tanto, deverá ser adotada a seguinte relação:
a) 1 cuidador para cada 8 usuários, quando houver 1 usuário com demandas específicas
b) 1 cuidador para cada 6 usuários, quando houver 2 ou mais usuários com demandas
específicas
Principais Atividades Desenvolvidas
Cuidados básicos com alimentação, higiene e proteção;
Organização do ambiente (espaço físico e atividades adequadas ao grau de
desenvolvimento de cada criança ou adolescente);
Auxílio à criança e ao adolescente para lidar com sua história de vida, fortalecimento da
auto-estima e construção da identidade;
Organização de fotografias e registros individuais sobre o desenvolvimento de cada
criança e/ou adolescente, de modo a preservar sua história de vida;
Acompanhamento nos serviços de saúde, escola e outros serviços requeridos no
cotidiano. Quando se mostrar necessário e pertinente, um profissional de nível superior
deverá também participar deste acompanhamento;
Apoio na preparação da criança ou adolescente para o desligamento, sendo para tanto
orientado e supervisionado por um profissional de nível superior. (CNAS/CONANDA, 2009,
p. 70-71)
Auxiliar de educador/cuidador
Perfil
Auxiliar de Educador/cuidador
37

Formação mínima: Nível fundamental e capacitação específica


Desejável experiência em atendimento a crianças e adolescentes
Quantidade
1 profissional para até 10 usuários, por turno
Para preservar seu caráter de proteção e tendo em vista o fato de acolher em um mesmo
ambiente crianças e adolescentes com os mais diferentes históricos, faixa etária e sexo,
faz-se necessário que o abrigo mantenha uma equipe noturna acordada e atenta à
movimentação
A quantidade de profissionais deverá ser aumentada quando houver usuários que
demandem atenção específica, adotando-se a mesma relação do educador/cuidador
Principais Atividades Desenvolvidas
apoio às funções do cuidador
cuidados com a moradia (organização e limpeza do ambiente e preparação dos
alimentos, dentre outros) (CNAS/CONANDA, 2009, p. 71)
FONTE: CNAS/CONANDA, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes.
Brasília, 2009. Cap. III, 4Parâmetros de Funcionamento, p. 69-71.

Quanto aos aspectos físicos, as orientações têm como parâmetros de infraestrutura


e espaços mínimos aconselhados segundo as disposições seguintes, nos quadros 2
e 3, com ressalva para a necessidade de salvaguardar a privacidade, a segurança,
os arranjos familiares, o gênero e a orientação sexual, a religião, e a acessibilidade
dos usuários nesses espaços:

Quadro 2: Parâmetros de funcionamento – Espaço físico


Cômodo - Características
Quartos
Cada quarto deverá ter dimensão suficiente para acomodar as camas / berços / beliches
dos usuários e para a guarda dos pertences pessoais de cada criança e adolescente de
forma individualizada (armários, guarda-roupa, etc.).
Nº recomendado de crianças/adolescentes por quarto: até 4 por quarto,
excepcionalmente, até 6 por quarto, quando esta for a única alternativa para manter o
serviço em residência inserida na comunidade.
Metragem sugerida: 2,25 m² para cada ocupante. Caso o ambiente de estudos seja
organizado no próprio quarto, a dimensão dos mesmos deverá ser aumentada para 3,25 m²
para cada ocupante.
Sala de Estar ou similar
Com espaço suficiente para acomodar o número de usuários atendido pelo equipamento
e os cuidadores/educadores.
Metragem sugerida: 1,00 m² para cada ocupante. Ex: Abrigo para 15 crianças /
adolescentes e 2 cuidadores/educadores: 17,0 m²
Abrigo para 20 crianças / adolescentes e 2 cuidadores/educadores: 22,0 m²
Sala de jantar / copa
Com espaço suficiente para acomodar o número de usuários atendido pelo equipamento
e os cuidadores/educadores.
Pode tratar-se de um cômodo independente, ou estar anexado a outro cômodo (p. ex. à
sala de estar ou à cozinha)
Metragem sugerida: 1,00 m² para cada ocupante.
38

Ambiente para Estudo


Poderá haver espaço específico para esta finalidade ou, ainda, ser organizado em outros
ambientes (quarto, copa) por meio de espaço suficiente e mobiliário adequado, quando o
número de usuários não inviabilizar a realização de atividade de estudo/leitura.
Banheiro
Deve haver 1 lavatório, 1 vaso sanitário e 1 chuveiro para até 6 (seis) crianças e
adolescentes
1 lavatório, 1 vaso sanitário e um chuveiro para os funcionários
Pelo menos um dos banheiros deverá ser adaptado a pessoas com deficiência.
Cozinha
Com espaço suficiente para acomodar utensílios e mobiliário para preparar alimentos
para o número de usuários atendidos pelo equipamento e os cuidadores/educadores.
(CNAS/CONANDA, 2009, p. 72)
FONTE: CNAS/CONANDA, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes.
Brasília, 2009. Cap. III, 4Parâmetros de Funcionamento, p. 72.

Quadro 3: Parâmetros de funcionamento – Espaço físico


Cômodo - Características
Área de Serviço
Com espaço suficiente para acomodar utensílios e mobiliário para guardar equipamentos,
objetos e produtos de limpeza e propiciar o cuidado com a higiene do abrigo, com a roupa
de cama, mesa, banho e pessoal para o número de usuários atendido pelo equipamento.
Área externa (Varanda, quintal, jardim, etc)
Espaços que possibilitem o convívio e brincadeiras, evitando-se, todavia, a instalação de
equipamentos que estejam fora do padrão sócio-econômico da realidade de origem dos
usuários, tais como piscinas, saunas, dentre outros, de forma a não dificultar a reintegração
familiar dos mesmos.
Deve-se priorizar a utilização dos equipamentos públicos ou comunitários de lazer,
esporte e cultura, proporcionando um maior convívio comunitário e incentivando a
socialização dos usuários.
Os abrigos que já tiverem em sua infra-estrutura espaços como quadra poliesportiva,
piscinas, praças, etc, deverão, gradativamente, possibilitar o uso dos mesmos também
pelas crianças e adolescentes da comunidade local, de modo a favorecer o convívio
comunitário, observando-se, nesses casos, a preservação da privacidade e da segurança
do espaço de moradia do abrigo.
Sala para equipe técnica
Com espaço e mobiliário suficiente para desenvolvimento de atividades de natureza
técnica (elaboração de relatórios, atendimento, reuniões, etc)
Recomenda-se que este espaço funcione em localização específica para a área
administrativa / técnica da instituição, separada da área de moradia das crianças e
adolescentes.
Sala de coordenação / atividades administrativas
Com espaço e mobiliário suficiente para desenvolvimento de atividades administrativas
(área contábil / financeira, documental, logística, etc.).
Deve ter área reservada para guarda de prontuários das crianças e adolescentes, em
condições de segurança e sigilo.
Recomenda-se que este espaço funcione em localização específica para a área
administrativa / técnica da instituição, separada da área de moradia das crianças e
adolescentes.
Sala / espaço para reuniões
Com espaço e mobiliário suficiente para a realização de reuniões de equipe e de
atividades grupais com as famílias de origem.
39

Observações:
Toda infra-estrutura do abrigo institucional deverá oferecer acessibilidade para o
atendimento de pessoas com deficiências.
Deverá ser disponibilizado meio de transporte que possibilite a realização de visitas
domiciliares e reuniões com os demais atores do Sistema de Garantia de Direitos e da
Rede de Serviços, na razão de um veículo para cada 20 crianças ou adolescentes
acolhidos.” (CNAS/CONANDA, 2009, p. 73)
FONTE: CNAS/CONANDA, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes.
Brasília, 2009. Cap. III, 4Parâmetros de Funcionamento, p. 73.

O CNAS ratificou, em novembro do mesmo ano, as especificidades não apenas


dos serviços de acolhimento, mas de todos os serviços da Assistência Social, por
meio da Resolução n° 109 que regulamenta a Tipificação de Serviços
Socioassistenciais. O documento é resultado da síntese das disposições contidas
nas leis e resoluções anteriormente mencionadas, sobre a proteção social básica e a
especial, de média e alta complexidade, nesta última onde está contido o
acolhimento institucional; além da pertinência da VI Conferência Nacional de
Assistência Social (CNAS, 2009).

A Resolução n° 23, do CNAS, representa mais um elemento legal direcionado


à responsabilização dos municípios e do Distrito Federal para com os serviços de
acolhimento institucional, pois seu conteúdo determina os níveis de distribuição
financeira para a manutenção e extensão dos serviços, desde que mantidos dentro
do que foi assegurado nos documentos anteriores (CNAS, 2013).

Faz-se necessário concordar com Santos (2015), quando compreende que a


intenção da cartilha com as orientações para o acolhimento institucional de crianças
– bem como dos demais dispositivos legais implementados –, nada mais pretende
do que: defender a necessidade de enxergar os abrigos com um novo olhar, a fim de
encará-los como um “espaço de socialização e de desenvolvimento”, ainda que
temporário (SANTOS, 2015, p. 5).

Dentro desse cenário de reformulação das políticas, carece mencionar o


percurso da assistência e suas adaptações no cenário político e econômico, com
vistas a compreender a realocação das instituições de acolhimento no espaço de
intervenção do governo no âmbito da Assistência Social.
40

1.2.2 As políticas públicas na Assistência

O caminho para a reorganização da Assistência Social contou com


mobilizações de categorias que compunham as entidades representativas da
sociedade civil, a saber: deficientes, adolescentes, idosos e crianças. Além desses,
participaram, também, trabalhadores que atuavam com usuários, outras categorias e
entidades que apoiavam a causa (STEIN, 1999).

Stein (1999), destaca a participação das entidades de Serviço Social, tanto nas
mobilizações quanto na criação de espaços para fomentar discussões e debates. O
que se buscou, a princípio, foi conter o conceito da assistência social dentro das
políticas públicas.

Mesmo representando avanços na forma como define e pauta as


particularidades, a LOAS apresenta algumas questões sem explicações a respeito
da divisão de responsabilidades entre as esferas do estado, municípios e União; e
ainda, sobre a relação entre o Estado e a sociedade civil (STEIN, 1999).

Stein (1999) considera que, a inconstância no documento da LOAS resulta na


pluralidade de considerações para o termo “assistência social” (STEIN, 1999, p.25),
existindo um histórico de conceitos errôneos (STEIN, 1999).

A autora se utiliza das ideias de Pereira (1996) para apontar a principal


imprecisão na definição do termo “assistência social” que, muitas vezes, é trazido
apenas de modo superficial e com considerações para seu significado como
repositora de carências deixadas pela desigualdade social ou por direcionar suas
ações como de única responsabilidade do Estado. Destaca que é necessário, ao
analisar qualquer política, considerar seu caráter antagônico, ou seja, os conflitos
que permeiam as necessidades alicerçadas pela assistência social versus as
imposições do modelo capitalista em prol de manter seu lucro (STEIN, 1999).

Assim, os conflitos se materializam na simultaneidade dos interesses do capital


e da assistência social, cada um com explicações que sustentam suas práticas, quer
seja, no primeiro, pela lógica de produção em busca da lucratividade econômica;
quer seja pelo viés da justiça social, no segundo; ambos dentro do mesmo modo de
produção capitalista (STEIN, 1999). Stein (1999) afirma, ainda, a existência de
critérios que pautam esses princípios, que são a solidariedade e a cooperação; e por
41

meio da exploração e da competição. Dessa maneira, os limites entre eles se


estabelecem pelo conflito existente, de modo que um não anularia o outro e nem um
se reduziria ao outro (STEIN, 1999).

Desse modo, o Estatuto enquanto principal política para a criança e o


adolescente, inaugura a garantia de direitos de defesa que, até então, só eram
assegurados a adultos. Ao certificar o que defende como “sujeito de direito”, o
Estatuto garante aos adolescentes o adequado processo legal e o direito de defesa,
o que não ocorreu com o Código de Menores, pois restringia a defesa dos jovens
aos curadores de menores. Esse marco está evidenciado nos artigos 110 e 111 do
Estatuto, que institui a não privação da liberdade a qualquer adolescente sem a
devida instauração de procedimentos judiciais (SECRETARIA DE DIREITOS
HUMANOS, 2010).

Além de criar atores com vistas a contribuir para a efetivação dos direitos, bem
como órgãos direcionados ao atendimento exclusivo das demandas de crianças e
adolescentes – o Conselho Tutelar e o Juizado da Infância e Juventude, por
exemplo –, o Estatuto modifica o espaço de atuação de alguns instrumentos e
entidades como o Ministério Público (MP), que possui a função significativa de
garantir o cumprimento da lei (e de políticas e programas surgidos a partir dela)
através da fiscalização / inspeção, como interventor ou causador (SECRETARIA DE
DIREITOS HUMANOS, 2010).

Dentro da lógica do Sistema de Garantia de Direitos (SGD), os órgãos que


compõem os eixos terão que estar articulados de modo que, ao haver mobilidade
política e funcional, o cumprimento das ações e medidas em defesa dos direitos
sejam executados por um mesmo órgão, em fragilidade do outro, sem limitar ao eixo
que cada um pertence. Nesse âmbito, o Conselho Tutelar, mesmo por estar no eixo
de Proteção e Defesa do Sistema de Garantia dos Direitos, não tem seu exercício
limitado ao mesmo; teria, também, a incumbência de cuidar do cumprimento
adequado das políticas públicas em defesa dos direitos da criança e do adolescente
(SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS, 2010).
42

CAPÍTULO II - LOCALIZAÇÃO DO ESPAÇO DE ACOLHIMENTO

Abordar o Terceiro Setor como um fenômeno cunhado na ideologia neoliberal


requer ponderar sua origem como conceito ideológico, permeado por atonias e
interesses diversos (MONTAÑO, 2010). Se considerado como oriundo da filantropia,
as terminologias para os campos da Seguridade Social, por exemplo, adotadas pela
Constituição (1988), foram as mais diversas: beneficentes de assistência social na
Assistência Social, passando como filantrópicas sem fins lucrativos na saúde, até as
entidades não governamentais nas abrangências acerca de idosos, família, criança
e adolescente, segundo o artigo 227, parágrafo primeiro do texto constitucional
(ESCORSIM, 2008).
Compreendê- lo com concisão, em sua gênese, auxilia na localização das
instituições de acolhimento de crianças e adolescentes dentro do cenário
contemporâneo do capitalismo refeito em suas crises.

A seguir, o capítulo propõe uma descrição sucinta acerca do conceito de


terceiro setor e as características no mesmos que permitiram incluir os serviços
prestados por instituições de acolhimento. Ainda, pontuo a relevância possibilitada
pela promulgação da lei que regulamenta as Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público (OSCIP), a manutenção do viés filantrópico das atividades de
acolhimento.

2.1 TERCEIRO SETOR E A ‘NOVA’ FILANTROPIA

O surgimento da filantropia no Brasil se deu no início do século XX, e como um


mecanismo responsável por ordenar a assistência com base nas reclamações
sociais, econômicas, morais e políticas, que se desenhavam no período; isso
porque, a filantropia, enquanto elemento, havia nascido como exemplar da
assistência, sustentada pelo caráter científico, com o propósito de “substituir o
modelo de caridade” (FREITAS, 2003, p.78).

Faleiros (2011) pontua os fundamentos liberais de Thomas Chalmers utilizados


na criação da Charity Society Organization, no fim do século XX, que se baseiam na
responsabilização dos sujeitos por suas condições de precariedade, por sua
43

pobreza. Estes deveriam, quando não conseguissem se reestruturar, buscar auxílio


na sua rede de sociabilidade, tais como seus familiares e vizinhos. A intervenção do
organismo estatal só ocorreria se não houvessem mais alternativas e como uma
espécie de auxílio (FALEIROS, 2011).

A culpabilização dos sujeitos por sua condição de pobreza, ainda que uma
prática antiga que pautou por muitos anos o ausentamento do Estado para com a
responsabilidade social, marcada pela acentuação das expressões da “questão
social” materializada na exclusão, se naturalizou como justificativa para as práticas
caritativas de viés religioso, representando a nítida manutenção da transferência de
responsabilidade do Poder público para a sociedade.

Com o propósito de enquadrar os desempregados, considerados “preguiçosos”


(FALEIROS, 2011, p. 118), ao sistema liberal, os que se encontravam em
vulnerabilidade eram mandados/despachados a uma espécie de cárcere chamado
“Work House” (FALEIROS, 2011, p. 118), onde se viam submetidos a dificuldades
para conduzir a vida normal (FALEIROS, 2011).

Faleiros (2011), traz a perspectiva liberal individualista do percussor desse


ideal econômico que é Adam Smith, ao destacar a valorização que Smith atribuía ao
trabalho individual, como um mecanismo eficaz de aquisição de fortuna e uma
vivência alicerçada no bem-estar. A execução eficaz de atividades laborais por meio
do uso da inteligência e das aptidões de cada sujeito. Ressalva que, da mesma
maneira, a atuação do serviço social nesses espaços se centra na condução da
adaptação das pessoas as situações que se apresentavam na sociedade, de modo
a viabilizar o bom aproveitamento dessas no meio social.

A mudança no posicionamento do Estado em relação à parcela marginalizada


da sociedade deu-se pela atribuição de uma ocupação a essas pessoas,
assemelhando-se a perspectiva de “salvação” através do trabalho, resgatando uma
característica peculiar da herança protestante no neoliberalismo. Nesse cenário, o
serviço social exerceu sua prática alicerçada a manutenção do status quo do capital,
por meio do estímulo a ação doutrinária e de enquadramento do sujeito, com vistas
a retirá-lo da situação de vulnerabilidade – que incomodava as classe dominante – e
inseri-lo no meio social por meio da persuasão ao trabalho.
44

Nesse contexto, é válido mencionar a atuação dos profissionais de Serviço


Social que, de acordo com Faleiros (2011), interessaram-se por analisar a pessoa
em seu ambiente social, no entanto, mantinham um propósito de diagnosticar o
espaço social e tratar o indivíduo para se adequar a esse espaço. Com base em
Richmond, Faleiros (2011) reafirma que, para manter a concepção de sociedade da
burguesia, o que vigorava era um ideal de harmonia nas relações sociais, ainda que
estratificada pelo critério de exclusão do poder aquisitivo, restringindo a conduta dos
sujeitos (FALEIROS, 2011).

Assim, sob a ótica do capital, cumpria-se o papel de ajustamento dos excluídos


por meio da inserção dos mesmos no meio laboral, mas atentava-se a necessidade
de estabelecer o espaço que cabia a classe burguesa e aquele no qual os demais
poderiam transitar. Desse modo, a desigualdade para com a classe pobre foi
disfarçada por meio de ação parcial de inclusão, visto que a inserção na classe
trabalhadora não garantiu aos excluídos usufruírem dos mesmos direitos,
estagnando-os na linha de pobreza da classe proletária.

Segundo Faleiros (2011), a prática liberal filantrópica que se desenhava era


fruto das intenções de estudos empíricos – que Mills (1976, apud FALEIROS 2011)
denomina de “empirismo liberal” – que trouxe os conceitos de ajustamento e
desajustamento. A prática liberal filantrópica consideraria o desajustamento à
sociedade instituída o seu problema. Essa concepção trazia consigo propósitos de
modificar as adversidades individuais da classe proletária em questões para as
“coletividades burguesas” (FALEIROS, 2011, p.119).

A nova concepção para a invisibilidade da classe trabalhadora representou a


retirada da parcela da minoria burguesa da zona de conforto, incumbindo-a a se
organizar com o propósito de fomentar o desenvolvimento individual do sujeito
proletário, desconsiderando o espaço social no qual este estava inserido e suas
particularidades. Tal forma de compreensão pode ter representado uma lacuna para
que fosse nutrido um interesse implícito de enfraquecer o proletariado e criar uma
disputa de interesses individuais dentro da própria classe.

Tal “modelo de prática” (FALEIROS, 2011, p.120), como elucida Faleiros


(2011), denota uma noção idealizada da sociedade, como aquela que tem seu foco
no ser humano e viabiliza o desenvolvimento individual de todos (FALEIROS, 2011).
45

Faleiros (2011) destaca ainda, a contradição dessa compreensão de sociedade, em


que se configura como tal, pelo estímulo ao distanciamento do indivíduo em relação
à sociedade (FALEIROS, 2011).

A partir das novas conjunturas criadas pelas transformações na sociedade do


capital, surgiram as primeiras entidades classificadas com a terminologia de “terceiro
setor”, pautadas em interesses da burguesia e no distanciamento do Estado como
provedor dos direitos sociais, em sua adequação a garantia do Mínimo Social2 à
sociedade civil.

Em seu conceito ideológico, o “Terceiro Setor” tem sua gênese na nação


estadunidense, por volta de 1978 – com John D. Rockefeller III – e é trazido para o
Brasil através da Fundação Roberto Marinho. A noção de Terceiro Setor estaria
fortemente relacionada a interesses de classe, pensados a partir da necessidade da
alta burguesia, explicada, também, por seus difusores: intelectuais do capital.

O Terceiro Setor nada mais seria do que uma das esferas que constituiria a
divisão do social, representado pela sociedade civil; as duas esferas restantes
seriam o Estado, considerado o primeiro setor e o mercado, por conseguinte, o
segundo setor; como se não houvesse interferência ou correlação de nenhum deles
entre si, reduzida cada esfera ao seu presumível ator social (MONTAÑO, 2010).

Compreender por esse ponto de vista abriu uma lacuna para o Estado
permanecer contrário às questões sociais referentes à parcela pobre da população,
que foi apadrinhada pelo novo setor administrado por civis, cuja proteção e cuidado
se deram de maneira arbitrária, com práticas permeadas de fundamentos religiosos,
por vezes estigmatizadores.

Existem questões permeadas pela dualidade no que se refere à compreensão


teórica do terceiro setor. Uma delas está relacionada à “transferência” para o terceiro

2
A definição de Mínimo Social pode ser aqui considerada com base no Artigo 1° da LOAS,
que define a Assistência Social a partir “do provimento dos mínimos sociais por meio de um
conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o
atendimento às necessidades básicas” (BRASIL. Lei 8 742 de 1993). Mas, sua gênese está
na concepção do princípio de Mínimo existencial ou Social, de Rawls (apud MOURA, 2006),
em que “seria garantido ao homem um conjunto mínimo de condições materiais para sua
existência, vez que é diferente a situação sócio-econômica de cada cidadão” (RAWLS,
1993, p.166) (FONTE: www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3038/Teoria-do-Minimo-
Existencial-e-os-direitos-de-criancas-e-adolescentes).
46

setor, para o que deveria ser o primeiro setor, visto que, alguns teóricos entendem
que, a responsabilização da sociedade civil, atribuída em um setor específico do
social, surge como uma alternativa (a única, talvez) para o “ausentamento” do
Estado e do mercado, a entidade pública e a privada, respectivamente. Dessa
forma, a esfera que compõe o Terceiro Setor, a dos civis, seria àquela produtora de
suas instituições, ou seja, das demais esferas sociais – o próprio Estado e mercado,
entre outras; o que criou uma debilidade na definição da sociedade civil como
terceiro setor, quando na verdade, historicamente, ela deveria compor o primeiro,
como criador de todos os outros (MONTAÑO, 2010).

Essa ideia de atribuir a sociedade o papel de terceiro setor, estaria, então,


ligada a necessidade do Estado de 'criar um setor' para atender as demandas que
este e o mercado, não conseguiria e o outro não desejaria responder; como se, até
então, a função da sociedade estivesse imperceptível dentro da dinâmica da
coletividade, ou ainda, como se essa não tivesse função alguma, sendo
imprescindível atribuir-lhe (MONTAÑO, 2010).

Deste modo, incumbiu-se a sociedade civil a função de representante e


zeladora dos vitimados pela exclusão e a extrema pobreza, corporificada nas
diferentes formas (pessoas o em situação de rua; crianças, adolescentes e adultos
com dependência alcoólica ou de outras substâncias psicoativas (SPAs); mulheres,
idosos ou pessoas com deficiência vítimas de violência doméstica; crianças e
adolescentes autores de infrações penais ou com envolvimento no tráfico de drogas;
crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica e/ou em situação de
abandono), com a justificativa para a necessária “participação civil” conclamada na
carta constitucional e outras leis que se seguiram a partir da referida.

Ora, se o exercício da cidadania e a suposta participação se constituía a partir


da livre condução dos deveres e direitos garantidos por meio de votos dos
representantes no Governo e a autorização aos mesmos para a condução da esfera
pública e administração dos bens da nação, criou-se uma contradição a partir da
responsabilização, quase que exclusiva, da sociedade pela parcela da população
desassistida em políticas públicas pelo Estado, ainda que se mantivesse a
porcentagem de impostos pagas por trabalhadores com vistas a garantir os mínimos
sociais a essas pessoas.
47

A segunda questão se refere à composição do terceiro setor, em termos de


instituições e órgãos. Isso porque, quando considerado o período do seu
surgimento, o terceiro setor estaria vinculado à definição de filantropia; a
comprovação estaria no terceiro encontro de nações para abordagem do terceiro
setor, ocorrido no Brasil em 1996 (quando foi inserido o conceito no país), que foi
pensado – e denominado – como uma continuidade dos dois primeiros encontros de
filantropia, organizados na Espanha e no México. Mas, apenas no quarto encontro
ficaram definidas as características que compunham as entidades do terceiro setor,
elas seriam: “privadas, não governamentais, sem fins lucrativos, autogovernadas, de
associação voluntária” (ACOTTO E MANZUR apud MONTANÕ, 2010, p. 55).

No entanto, são divergentes as opiniões dos autores que discorrem a respeito


do tema, sobre que tipos de instituições poderiam se encaixar nas
características/nos critérios estabelecidos no Encontro; por isso, há autores que
atribuem às instituições formais o caráter de terceiro setor; outros ratificam que são
pertencentes às ações informais, individuais, com esta finalidade; há os que são
contrários quanto à inserção das organizações empresariais; e outras, ainda, que,
na realidade, o setor poderia ser composto por ações fruto de mobilizações
sindicais, “movimentos políticos insurgentes e seitas” (MONTAÑO, 2010, p. 55), com
possibilidade de estarem ou não inseridas. A discrepância gira em torno da
impossibilidade de se inserir tais tipos de instituições nos ditos primeiro e segundo
setores (Estado e mercado), restando ao terceiro setor à incumbência de abarcar
entidades com amplas especificidades (MONTAÑO, 2010).

As classificações dicotomizadas por um conceito tão amplo de características


e, ao mesmo tempo, tão restrito quanto aos atores que desempenham as atividades,
coloca o Terceiro Setor, a grosso modo, como uma esfera de poucos (ou de
ninguém) e para todos, se considerada que a pobreza atinge uma escala elevada no
desenvolvimento de países como o Brasil, ditos em desenvolvimento e a entidades
do setor em tela são pertencentes e/ou mantidas por pessoas de maior poder
aquisitivo na divisão de classe. Contradições nesses conceitos são refletidas por
criações descompromissadas ou “mal intencionadas” de instituições com a referida
classificação, mas, com propósitos diversos e conflituosos entre si.

Um terceiro ponto de fragilidade, levantado por Montaño (2010), toca as


contradições que permeiam as abrangências de entidades que são abarcadas pelo
48

terceiro setor – perpassando, também, a segunda debilidade –, no que se refere a


possível “integração”, em uma mesma categoria, de instituições/organizações com
atividades semelhantes e/ou que se aproximam, mas, com finalidades, ideais, locais
e significações sociais amplos, antagônicos e conflituosos (MONTAÑO, 2010).

A última fragilidade diz respeito às especificidades dessas entidades de serem


autogovernadas, não lucrativas, e não governamentais; o que não caracterizam,
segundo alguns difusores desse conceito do terceiro setor, a generalidade das
mesmas (MONTAÑO, 2010).

Para Montaño (2010), há uma fuga da não governamentabilidade, se


considerados os financiamentos, parcerias, contratações em regime de
terceirização, ou outra forma de dispensa de recursos a que as organizações não
governamentais (ONGs) se condicionam para manterem seu funcionamento. Ao
permitirem qualquer um desses meios de intervenção financeira do Estado, essas
entidades perdem sua autonomia, ao submeterem-se aos critérios de elegibilidade e
governabilidade (estatal). Para isso, o Estado realiza a seleção das entidades que
poderão receber o apoio financeiro, consideram como principal critério a
desvinculação das organizações com algum tipo de posicionamento contrário a
lógica do capital e ao imperialismo ou de caráter revolucionário. Assim, em termos
de “autogovernamentabilidade” (MONTAÑO, 2010, p. 57), a efetivação nessas
organizações é questionável por estarem integradas com a política governamental
(MONTAÑO, 2010).

São muitas as contraditoriedades nas características em torno do conceito do


Terceiro Setor, no entanto, a conclusão que se tem é que tais contradições
conflituosas, ainda assim, não inviabilizam que algumas ou outras instituições
possam integrar o seu complexo de entidades, estejam elas totalmente ou
parcialmente financiadas por esferas do serviço público ou manterem-se apenas por
meio de doações privadas ou da sociedade; com ou sem finalidade lucrativa; ou
ainda para atender ou contrariar os interesses do capital.

A respeito da não-lucratividade, Montaño (2010) exemplifica, por meio da


abrangência das entidades que compõem as organizações sem fins lucrativos
(OSFL), como as fundações de empresas privadas, e demonstra como há um sutil
interesse financeiro nas práticas assistenciais das mesmas. Ainda que utilizem
49

meios de encobrir com a difusão de seus “produtos diferenciados” ou suas iniciativas


e projetos sociais. Há, também, o escancarar do intuito lucrativo de algumas ONGs,
que são criadas e dirigidas por pessoas “bem relacionadas” (MONTAÑO, 2010, p.
58). Elas recebem os recursos do Estado e fazem o repasse de modo que a maior
parte seja direcionada como seu próprio salário. Tais práticas encarecem e
inviabilizam as ações por insuficiência de recursos, que acabam desviados por
gestores; o que evidencia um claro interesse lucrativo (MONTAÑO, 2010).

Essas fragilidades que permeiam o conceito e a constituição do “terceiro setor”


demonstram o distanciamento entre a “realidade social” (MONTAÑO, 2010, p. 58) e
um conceito alicerçado no plano ideal, de modo a atender, apenas, formalidades e
ler a realidade pela ótica da manifestação, do fato, o que resulta, assim, em
múltiplas interpretações (MONTAÑO, 2010).

Ao situar o cenário político e econômico vigente que contribuiu para as


primeiras legislações, que culminaram, posteriormente, na regulamentação da lei
das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) em 1999,
Berardi (2011) retoma as questões trazidas por Montaño, ao destacar que a atenção
direcionada a constituição de um espaço onde a sociedade civil protagonizasse as
decisões com o suporte (autorização) do Governo através da execução de
atividades públicas, mas, não estatais, surge como um incentivo à participação da
sociedade civil do processo de criação, execução, controle e avaliação de políticas
públicas (BERARDI, 2011).

A Lei das Organizações Sociais (OSs) (Lei 9 637, de 1998) ofereceu suporte à
efetivação de um interesse característico da economia capitalista com vistas a
reduzir a intervenção do Estado nas questões políticas e de produção, como
justificativa para o foco na garantia do aumento da produção de bens e serviços, a
fim de controlar a dívida externa e a inflação, enquanto que a execução das políticas
públicas mínimas a assegurar os direitos dos civis deveria ficar a cargo da
sociedade, com financiamento de entidades privadas, como meio de minimizar os
efeitos do mercado sobre as problemáticas sociais.

A Lei de número 9 790 (a OSCIP), em contrapartida, defendeu a divisão das


atividades destinadas à sociedade por meio da “gestão participativa”, onde o Estado
coparticiparia de todo o processo que resultaria na concretização das políticas
50

públicas, entretanto, o percurso para a materialização dos serviços, o financiamento


e a fiscalização ficariam a cargo, também, do setor privado e da sociedade civil
(BERARDI, 2011).

Berardi (2011) destaca que a lei possibilitou uma responsabilização de


entidades jurídicas de caráter privado (mas sem fins lucrativos) com a contribuição
para garantia de direitos por meio de uma atuação em parceria com o Governo.
Berardi (2011) destaca, ainda, que no caso das entidades membros/participantes da
OSCIP, a oferta e execução dos serviços públicos ficaram sob a responsabilidade de
“Organizações Não-Governamentais (ONGs), cooperativas e associações da
sociedade civil de modo geral, através de parcerias” (BERARDI, 2011, p.9). A lei da
OSCIP estabelece em seu artigo 3°, quais desígnios as instituições devem abarcar
para serem caracterizadas como Civis de Interesse Público, com destaque para os
incisos:

Art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer


caso, o princípio da universalização dos serviços, no respectivo
âmbito de atuação das Organizações, somente será conferida às
pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos
objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
I - promoção da assistência social;
[...] VII - promoção do voluntariado; (BRASIL, 1999. Capítulo I Da
Qualificação como Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público. p. 2-3)

Nesse contexto, a maior parcela das instituições de acolhimento de crianças e


adolescentes documentadas no território brasileiro são classificadas como entidades
do Terceiro Setor, de cunho filantrópico, pautadas em atividades de base caritativa
e, muitas delas, de viés religioso. Suas atividades, a priori pontuais, sem nenhum
projeto padronizado ou política de funcionamento e restritas as ações voluntárias, as
doações de civis e aos próprios intentos de quem as geriam; passaram a integrar as
políticas de acolhimento da esfera pública, com financiamento mediante
apresentação de projeto institucional de conduta, funcionamento, deveres e limites
no atendimento (o projeto político pedagógico), bem como, reformulação de algumas
práticas, maior cuidado com doações recebidas, administração de medicamentos e
valorização da vinculação educacional, com articulação com as escolas, com
51

perspectivas de desenvolver a autonomia dos usuários ou, ao menos, desenvolver


suas habilidades para o convívio em sociedade.

No entanto, é de conhecimento o descumprimento das prerrogativas do ECA e


do CONANDA por muitas instituições – inclusive àquelas da rede municipal –, no
tratamento dispensado as crianças e adolescentes, na regularização da situação
escolar desses, na formação do corpo profissional atuante e quanto a estrutura
física. O cumprimento das leis se dá, no geral, por receio de possíveis punições
legais, e não pela sensibilização a partir da construção de um conceito crítico a
respeito das instituições de acolhimento de crianças e adolescentes e seu papel
social.

2.2 PARTICIPAÇÃO DO ESTADO NAS PRÁTICAS DE ACOLHIMENTO

Embora a neutralidade e a não participação do Estado na execução de


políticas sociais tenha sido naturalizada dentro do regime econômico vigente – o que
resultou na intervenção de entidades privadas e iniciativas de grupos da sociedade
civil que passaram a assumir o papel de implementadoras das práticas de
assistência social –, cabe ressaltar a intervenção pública na criação, manutenção e
suporte de algumas das entidades de acolhimento institucional de crianças e
adolescentes, garantidas mediante exigências da sociedade civil.

Nesse âmbito, antes de identificar as instituições públicas e filantrópicas que


oferecem esse serviço, faz-se necessário conhecer a função de entidades Federais,
Estaduais e Municipais envolvidas com as normatizações dos mesmos dentro das
políticas para a infância e juventude.

Na obra “A História do Ministério Público do Estado da Bahia” (BAHIA,


MINSTÉRIO PÚBLICO, 2009), o desígnio do Ministério Público é descrito como de
um instrumento do Estado com viés transformador da realidade social, por estar à
frente da edificação de uma sociedade pautada na equidade, na inclusão, justiça e
na solidariedade, constituída por sujeitos conscientes, dispostos a exercerem sua
cidadania com plenitude, tanto no cumprimento de suas obrigações como na luta por
seus direitos (MINSTÉRIO PÚBLICO, 2009).
52

Por pautar-se em ideais voltados à garantia dos direitos cidadãos e seu


exercício por meio do aparelho público, o MP se firma como instituição
representativa dos interesses da sociedade civil diante dos organismos públicos
responsáveis pela oferta de serviços básicos à sobrevivência no meio social.

O MP do estado da Bahia é uma instituição cuja incumbência está relacionada


ao cumprimento de leis e análise daqueles que as transgridem, assim a competência
de fiscalizar a atuação de órgãos destinados à prestação de serviços de caráter
público instituídos por lei à população, seja de conveniência individual ou coletiva.
Cabe, também, ao Ministério inspecionar e exercer ações propositivas objetivando a
garantia dos direitos constitucionais (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2009).

Destarte, o MP representa um olheiro dos interesses da sociedade mediante a


garantia do funcionamento e cumprimento legal de instituições de natureza não
privadas, que prestam serviços à população. Convém a ele, ainda, manter a
aplicabilidade dos direitos constitucionais por meio do desempenho de suas funções.

O MP tem, por característica principal, garantida pela Constituição de 1988 e


pela Lei Complementar n º 11, 18/01/1996, a autonomia em questões “financeira,
administrativa e funcional” (BRASIL, 1996), não estando, assim, em relação de
dependência a nenhuma das três esferas do poder.

As bases do MP brasileiro se constituíram por volta do ano de 1609 fortemente


influenciadas pelos modelos francês e português, constituindo-se, a princípio,
vinculado ao Poder Judiciário, mas, independente do poder estatal. Essa
constatação se deu a partir do primeiro documento relacionado ao órgão, registrados
na Bahia, deliberado por Felipe III da Espanha: o Ato de 1609, fundando o Tribunal
da Relação da Bahia e deliberando os cargos e as atribuições destes. Registros
apontam Afonso Garcia Tinoco como o primeiro Promotor de Justiça do Tribunal da
Relação da Bahia e, por consequência de ser primeira capital, do Brasil. A sanção
da Lei do Ventre Livre atribuiu ao promotor de justiça a função de “protetor dos
fracos e indefesos”, designado ao mesmo guardar para que os filhos de escravas
fossem devidamente registrados conforme as leis da época (MINISTÉRIO PÚBLICO,
2009).

Atualmente, o MP tem estrita relação com o Estado, atende os interesses


deste, mas sem vinculação com o Judiciário. Mesmo com autonomia e como
53

deliberador de suas atividades, o MP apresenta, em sua composição profissional,


um regime muito hierarquizado e retrógrado, que institui e mantém privilégios aos
Promotores de Justiça e Procuradores, em oposição à subordinação das atividades
dos servidores aos primeiros; que revela uma materialização cabal do não exercício
de equidade dentro do próprio órgão.

As “instâncias deliberativas do SUAS” (BRASIL, 1993, Art.16), de fomento da


sociedade civil e do governo, dividem os encargos da execução das políticas de
Assistência Social com cada esfera da gestão, em conselhos. Estes mencionados,
na LOAS estão descritos como: “I - o Conselho Nacional de Assistência Social; II -
os Conselhos Estaduais de Assistência Social; III - o Conselho de Assistência Social
do Distrito Federal; e IV - os Conselhos Municipais de Assistência Social” (BRASIL,
1993, Art.16). O funcionamento desses conselhos fica a cargo do aparelho
controlador da assistência, incumbido de assegurar os meios materiais e humanos
para o funcionamento dos demais (BRASIL, 1993).

A fragilidade desses aparelhos existe, ainda que a descentralização na gestão


tenha possibilitado avanços na formulação de políticas de assistência. Podem ser
encontradas na distribuição dos recursos, marcada pelo desvio de verbas e/ou a má
distribuição; e pela insuficiente fiscalização das funções desempenhas nesses
órgãos, perpetuando execuções deficientes.

Quanto à responsabilidade da esfera estadual, compete distribuir recursos para


manutenção dos benefícios assistenciais, servir para a execução da assistência em
situação emergencial, oferecer os serviços da assistência com despesas ou carência
que necessitem de práticas descentralizadas, aperfeiçoar a administração, os
programas e serviços por meio do cofinanciamento, incentivar e amparar as
entidades municipais na disponibilização dos serviços de assistência social, todos
em vinculação com os municípios. Pertence ainda aos Estados,
acompanhar/inspecionar e avaliar a política de assistência social e garantir o
desenvolvimento desta nos municípios, através do assessoramento (BRASIL, 1993).

Embora reconhecida à relevância da intervenção dos estados na gestão e


execução das políticas públicas, nota-se ainda, entraves nesse exercício, um deles
causado pela lentidão nas tramitações burocráticas – quando são necessárias
adoção de medidas emergenciais com dispêndio de verbas para custeio de
54

despesas, a exemplo de usuários dependentes das Centrais Estaduais de


Transplantes – repercutindo em serviços encarecidos e, por vezes, de resultantes
insuficientes; alimentando uma cadeia fragilizada de serviços públicos pensados
para longo prazo.

A representação municipal está vinculada ao Conselho Municipal de


Assistência Social (CMAS), que é responsável, dentro das questões de acolhimento
institucional, por registrar as entidades que prestam serviços socioassistenciais
como organizações de assistência social, para que, após regularizadas e vinculadas
ao SUAS, obtenham convênios, parcerias e contratos com o poder público, e até
financiamento total do Estado. Ainda sobre o CMAS, a LOAS (BRASIL, 1993)
dispõe:

Art. 9º O funcionamento das entidades e organizações de assistência


social depende de prévia inscrição no respectivo Conselho Municipal
de Assistência Social, ou no Conselho de Assistência Social do
Distrito Federal, conforme o caso.
§ 1º A regulamentação desta lei definirá os critérios de inscrição e
funcionamento das entidades com atuação em mais de um município
no mesmo Estado, ou em mais de um Estado ou Distrito Federal.
§ 2º Cabe ao Conselho Municipal de Assistência Social e ao
Conselho de Assistência Social do Distrito Federal a fiscalização das
entidades referidas no caput na forma prevista em lei ou
regulamento.
§ 3º (Revogado pela Lei nº 12.101, de 2009)
§ 4º As entidades e organizações de assistência social podem, para
defesa de seus direitos referentes à inscrição e ao funcionamento,
recorrer aos Conselhos Nacional, Estaduais, Municipais e do Distrito
Federal.
Art. 10. A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal
podem celebrar convênios com entidades e organizações de
assistência social, em conformidade com os Planos aprovados pelos
respectivos Conselhos.
Art. 11. As ações das três esferas de governo na área de assistência
social realizam-se de forma articulada, cabendo a coordenação e as
normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos
programas, em suas respectivas esferas, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios. (BRASIL, 1993).

O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de


Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) representam os aparelhos
estatais, com atuações municipais e locais, de execução das políticas de assistência
nas modalidades de proteção social básica e especial, respectivamente. Suas
55

definições como centros de atendimentos pessoal e/ou familiar, em locais de


vulnerabilidade social; a garantia do espaço físico de que irão dispor para prestar os
atendimentos; bem como as instâncias superiores responsáveis pela fiscalização de
seu funcionamento são atribuídas desde a LOAS, descritas em seu artigo
6°(BRASIL, 1993).

Como demais entidades construídas dentro de um modelo de políticas públicas


de gestão descentralizada e participativa, o Cras e Creas, também têm suas
atribuições, formação humana e atendimento limitados por questões geográfico-
espaciais e de índice populacional, no intuito de, ao atender pequenos grupos,
garantir um trabalho eficaz na promoção e/ou prevenção de ações de fortalecimento
dos vínculos familiares e na comunidade, evitando fragilidades e rupturas.

Muito embora as instituições do Terceiro Setor sejam as que melhor


representam a execução das políticas de proteção a crianças e adolescentes em
instituições de acolhimento, a interferência do poder público por meio do
financiamento e/ou através da articulação dessas entidades como a rede
assistencial se faz necessária, a fim de que se garanta ações eficazes e a longo
prazo, dentro do que preconiza o ECA.
56

CAPÍTULO III - ABORDAGEM SOBRE A REDE DE ABRIGOS DE SALVADOR /


BA

Este trabalho é do tipo bibliográfico, quanto ao nível de pesquisa ele é


explicativo e de caráter qualitativo. Foi utilizada a análise documental como
instrumento de coleta de dados; além de se valer do método histórico como de
procedimento. O referencial teórico utilizado foi o dialético, que possibilitou atender
os interesses da abordagem dessa pesquisa.

A coleta dados se deu a partir do documento produzido pela equipe técnica


atuante no Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA). Constituída por
profissionais de três diferentes áreas – Pedagogia, Psicologia e Serviço Social – e
com trabalho de desenvolvimento multiprofissional, a experiência de estágio marcou
o interesse pelo estudo em questão.

Assim, conhecer como a atuação do Serviço Social se delineou em um órgão


como o MP – classificado nas ciências sociais como um espaço de atuação
sociojurídico – faz-se necessário para melhor compreender a contribuição da
inserção da profissão em um aparelho público fiscalizador da lei. É válido pontuar
que a proposta não é aprofundar abordagem no trabalho do Assistente Social.

A utilização do termo “sociojurídico” no Serviço Social é recente, com o


primeiro fomento para seu uso nos eventos e discussões da categoria, datando do
ano de 2003 – no 32° Encontro Nacional CFESS-CRESS, em Salvador / BA. A
identificação dessa necessidade se deu a partir da inserção, desde a gênese e
atuação do Serviço Social aliada à categoria jurídica, com conquistas de novos
espaços e ganho de corporificações na materialização do trabalho, como a criação
de novos instrumentos técnicos (CFESS, 2014).

O que permitiu (ou fundamentou) a apropriação da terminologia, e mais


fortemente, da definição e caracterização das demandas tidas como jurídicas para o
social foi, na verdade, a concepção equivocada que se atribuiu às especificidades do
atendimento da área do direito/jurídico em instituições como os Tribunais de Justiça,
as Defensorias Públicas, os Ministérios Públicos (MPs) e outros. Isso porque, o que
está incluído como de atividade jurídica é, em sua origem, social, diferenciando-se
pela dimensão que passa a ocupar na dinâmica da sociedade, por requerer dos
aparelhos de controle, medidas de contenção para atender os interesses de
57

(pequena) parcela da sociedade detentora de poder (CFESS, 2014). Assim, o


jurídico intervém no social quando, dentro deste, requer alguma espécie de controle
e/ou vigilância por parte do mecanismo Estatal. Se analisados historicamente, a
prática, já existente, ganhou apenas novos espaços – ou melhor, espaços mais
abrangentes – de execução, mantida a sua população-alvo: a porcentagem pobre e
desassistida da sociedade.

Se, a priori, o exercício estava voltado às penitenciárias/prisões e unidades de


acolhimento ao 'menor', passaram a assistir instituições onde essa parcela
marginalizada começava a se concentrar, antes de adquirirem a “máscara” de
criminosos ou a “veste” de invisíveis, a saber: instituições vinculadas à saúde
pública, as redes de proteção e assistência social a idosos, deficientes, crianças e
adolescentes e, mais recentemente, a grupos vitimados por violências domésticas e
urbanas, ou aos diversos tipos de assédios (moral, sexual e verbal), como as
mulheres e a comunidade LGBTT. O CFESS (2014), em sua publicação O Trabalho
do Assistente Social no Sociojurídico: subsídios para reflexão substancia essa
compreensão ao exemplificar:

O Eca, o Sinase, o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa


do Direito de Crianças e Adolescentes à convivência Familiar e
Comunitária, as Orientações Técnicas: serviços de acolhimento para
crianças e adolescentes são alguns documentos orientadores da
política de proteção integral de crianças e adolescentes, que
estabelecem a relação entre o Executivo e o Judiciário. Entretanto,
em que pese ocorrer uma relação quase direta entre sistema de
justiça/Poder Judiciário e questões relacionadas à criança e ao/à
adolescente, outros segmentos requerem o cumprimento de
normativas e de políticas protetivas, como: políticas públicas de
juventude; Plano Nacional de Políticas para Mulheres; Lei Maria da
Penha; Estatuto do Idoso; Política Nacional da Pessoa com
Deficiência, Plano Viver Sem Limite; Política Nacional para a
População em Situação de Rua (CFESS 2014, p.89).

Sob tais aspectos, as particularidades do trabalho no sociojurídico se


apresentarão tanto no papel de fiscalizador da lei exercido pelo MP, como no
cumprimento das determinações contidas no ECA, na Tipificação de Serviços
Socioassistenciais e demais leis que reafirmam os direitos de crianças e
adolescentes, por parte das instituições de acolhimento (CFESS, 2014).
58

Neste último, o CFESS (2014) destaca alguns entraves para a atuação que
envolvem não apenas a dinâmica da própria atividade e a busca constante com o
cumprimento das determinações legais, mas também, na articulação com aparelhos
da rede de assistência, dificuldades de dialogar os saberes e alternativas com vistas
a assegurar a qualidade dos serviços prestados, com órgãos do Tribunal de Justiça,
Varas de Infância e o MP – que foi o referencial utilizado para desenvolver esse
trabalho.

3.1 METODOLOGIA

A presente pesquisa foi realizada em duas etapas, a primeira por meio de


investigações com embasamento em livros, artigos e dissertações coletadas em
sites de base de dados acadêmica, selecionados por atenderem aos critérios de
delimitação da temática abordada, a saber: acolhimento institucional de crianças e
adolescentes; políticas públicas direcionadas para crianças e adolescentes
institucionalizados; direcionamentos das Orientações Técnicas para Acolhimento, do
CNAS/CONANDA (2009) e as determinações do ECA, por serem instrumentos que
sustentam o objeto de estudo nomeado. Essa primeira etapa da pesquisa é
bibliográfica, pois, segundo Gil (2008), foi elaborada a partir de materiais já
existentes, composto por artigos científicos e livros. A valoração deste tipo de estudo
está em proporcionar ao pesquisador abarcar um grande número de fatos amplos, e
tem muita eficácia quando se tratam de estudos cujos problemas de pesquisa
demandam dados dispersos geograficamente (GIL, 2008).

A segunda etapa é constituída de pesquisa documental que, como afirma Gil


(2008), é aquela proveniente de fontes que não foram analisadas criteriosamente ou
que podem ser alteradas ao longo da pesquisa. Ela foi realizada por meio da
utilização de tabelas e planilhas eletrônicas do banco de dados produzido pela
equipe técnica (ANEXO C), caracterizando-se como fontes documentais
secundárias, por já terem recebido alguma análise prévia (GIL, 2008).

Essa pesquisa é de natureza qualitativa, por não haver um propósito de mera


descrição dos dados, mas, também, de originar possíveis explicações; e por atribuir
um papel relevante à interpretação dos fenômenos (GIL, 2008).
59

O referido estudo foi iniciado em 2015.1 e se estendeu pelo período de nove


meses. Teve como base a experiência de estágio extracurricular no Ministério
Público do Estado da Bahia (MP – BA), localizado na Avenida Joana Angélica, nº
1312 – Térreo – Anexo – Nazaré, Salvador / Bahia – CEP: 40050-001. Ao considerar
a função da instituição estatal frente a entidades como os abrigos, que é o de
fiscalização do funcionamento dos mesmos dentro dos requisitos estabelecidos pelo
ECA e pela Tipificação Nacional, do MDS (de 2009), por meio de duas inspeções
semestrais e uma anual, de responsabilidade dos profissionais do SAPS, unidade
integrante do CAOCA e da 3° Promotoria da Infância e Juventude. Foram realizadas
análises dos dados obtidos por esses profissionais de modo conjunto,
correspondente a primeira inspeção semestral, com o aporte instrumental do
questionário do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Ao objetivar realizar um estudo por meio da identificação das instituições de


acolhimento para crianças e adolescentes da capital baiana, coletar particularidades
dessas instituições na realidade de Salvador / BA e analisar as dificuldades
enfrentadas pelas mesmas com o reordenamento. Ainda, com o propósito de
publicizar esses documentos e as informações coletadas de modo a dar visibilidade
à fragilidade da rede socioassistencial e, assim, municiar a sociedade civil para
discussões críticas; quanto ao nível de pesquisa, este estudo é caracterizado como
explicativo, por centrar-se na identificação dos elementos que originam ou
influenciam na ocorrência dos fenômenos; encontra-se, assim, com maior
aproximação da realidade, à medida que tenta explicar a razão das coisas (GIL,
2008).

Pela necessidade de se resgatar a historicidade da criança e do adolescente e


do acolhimento institucional no Brasil e suas configurações, na tentativa de
compreender o que contribuiu para a permanência ou as mudanças de políticas e/ou
posicionamentos de gestores e do Estado; o método de procedimento desta
pesquisa é histórico por, como afirma Lakatos e Marconi (2003), dedicar-se a busca
de episódios, “processos e instituições do passado” (LAKATOS E MARCONI, 2003
p.106) a fim de averiguar a repercussão nas formações sociais contemporâneas, por
se apoiar nas retomadas aos momentos de sua gênese e de transformações
(LAKATOS E MARCONI, 2003).
60

Como explana Lakatos e Marconi (2003), quanto à abordagem, o método dessa


pesquisa é dialético por perceber o mundo como um acervo de processos; uma
noção de que os acontecimentos precisam ser avaliados como objetos em
movimento, inacabados, e estarem em constantes modificações, consiste, assim, o
seu fim o início de um novo processo e assim sucessivamente (LAKATOS E
MARCONI, 2003). Este método viabiliza analogias entre as diferentes concepções
acerca da problemática das instituições de acolhimento de Salvador / BA e
alternativas de enfrentamento frente aos impasses identificados, consideradas as
realidades sociais distintas no cenário brasileiro e dentro das constantes oscilações
nas configurações econômicas e sociais do país (LAKATOS E MARCONI, 2003).

3.2 TRADUÇÕES DAS INFORMAÇÕES: CRITÉRIOS DE ANÁLISES

Os dados aqui demonstrados correspondem ao levantamento realizado pela


equipe técnica que atua junto às Promotorias de Justiça da Infância e Juventude do
Ministério Público, na comarca de Salvador / BA. O arquivo recebeu a última
atualização em vinte e seis de maio de 2015, às 10h 05min e seu conteúdo
corresponde ao período do primeiro semestre de 2015, assim, com abrangência até
a primeira inspeção semestral. A equipe técnica compõe o SAPS, que integra o
CAOCA. Este último está relacionado diretamente ao Procurador-Geral de Justiça e
tem por desígnio instigar, agrupar e fomentar a comunicação entre os órgãos do MP
que desempenham ações direcionadas a criança e ao adolescente.

O CAOCA foi instaurado e reformulado pelo Ato Normativo nº 018, de 05 de


outubro de 2011, e sua administração está organizada da seguinte forma:

I. Coordenação; II. Unidade de Apoio Técnico e Administrativo; III.


Unidade de Estudos e Projetos; IV. Serviço de Apoio Psicossocial; V.
Núcleo de Apoio para Implantação, Estruturação e Fortalecimento
dos Conselhos de Direitos, Tutelares e Fundos Municipais dos
Direitos da Criança e do Adolescente – NAIC (MINISTÉRIO
PÚBLICO, 2014).

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)


reconheceu, por meio de informações obtidas por gestores municipais e estaduais
61

da Assistência Social, correspondente ao período entre março e abril de 2009, a


existência de, aproximadamente, 2,4 mil abrigos em todo o território brasileiro. Os
abrigos, comunicados por cerca de um mil municípios, designavam seus serviços a
crianças e adolescentes que haviam sido afastados do convívio familiar por medida
de proteção ou que foram vítimas de abandono (BRASIL, MDS, 2009).

As instituições de acolhimento de crianças e adolescentes somam, atualmente,


um quantitativo de 2 247 verificadas (de um total de 2 598 de acordo com o MDS),
entre abrigos e casas-lares. Esse levantamento é de posse do Ministério Público,
com base nas inspeções realizadas até o período de março de 2013, que apontam,
ainda, o contingente de 29 321 crianças e adolescentes assistidos por essas
entidades, e de uma capacidade total para acolhimento de 45 569 usuários
(CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2013).

Segundo os dados do CNMP (2013), a região Nordeste conta com 228


unidades de acolhimento e um somatório de 5 459 vagas. Nesse universo, a Bahia é
responsável por 51 dessas unidades e conta com 1 232 vagas para o acolhimento,
na modalidade de abrigo, e assisti um público de 490 crianças e adolescentes;
enquanto que as casas-lares contam com uma capacidade para 183 usuários, com
atendimento de 147, como demonstra o Gráfico 1(CONSELHO NACIONAL DO
MINISTÉRIO PÚBLICO, 2013).
62

Gráfico 1: Distribuição da capacidade total de unidades de acolhimento institucional (abrigo


e casa-lar), entre os estados da região Nordeste, em 2013, e quantitativo de usuários
atendidos por modalidade no estado da Bahia.

183

106 162
40 1232 10
61 222
732 108 798 0 Casas-lares
542 397
290 182 218 176 Abrigos

1232

Capacidade Total
490 Usuários atendidos

183 147

Abrigo
Casa-lar
FONTE: CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2013, p. 21 e 24.

A cidade de Salvador / Ba possui atualmente 17 abrigos para crianças e


adolescentes e 3 casas-lares. Esses dados (ANEXO C), se comparados aos
recentemente obtidos, demonstram uma pequena variação, resultado do fechamento
de dois dos abrigos, no ano de 2015. Dezessete das instituições visitadas dispõe de
capacidade para atender um número significativo de crianças e adolescentes –
ainda que contrariem as orientações da cartilha do CONANDA (2009) com o
acolhimento de muitos usuários –, entretanto, os dados mostram que 3 dos abrigos
e 2 das casas-lares atendem um contingente de usuários maior do que suas
capacidades. A explicação está na prevalência de alguns usuários nas instituições,
mesmo após terem atingido a maior idade, devido à inexistência, ausência ou perda
dos vínculos familiares; a fragilidade dos mecanismos da rede assistencial, que não
disponibilizam meios do usuário alcançar sua independência financeira; ou, ainda,
63

pelas particularidades de alguns, na condição de portadores de deficiências físicas,


mentais e/ou sensoriais, que impedem a autonomia dos mesmos (SAPS – MPBA,
2015). As informações a respeito do número de crianças e adolescentes atendidos
nessas instituições estão expostas no Gráfico 2, a seguir.

Gráfico 2: Unidades de acolhimento com atendimentos realizados e capacidade total,


Salvador / BA 2015.

Ajuda Social a Criança 40


6
ACOPAMEC – Mata Escura 50
28
RECRIAR 16
10
Luz do Amanhã 40
25
CAASAH 20
17
OAF 36
Elcy Freire 20 36 Capacidade de atendimento
5
Lar da Criança 25 Crianças e adolescentes
18
Lar Vida 74 atendidos
20 61
Unidade Boca do Rio 9
Lar Pérolas de Cristo 120
84
ICAJ 15
9
Lar Fonte da Fraternidade 10
11
Benedita Camurugi 20
28
Núcleo Espírita Campo da Paz 20
6
27
Nova Semente 22
Franco Gilbert 8 20
Unidade Pituaçu 20
14
Eunice Weaver 6 20
Unidade Dois de Julho 12
11

FONTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA. Serviço de Apoio Psicossocial


(SAPS). Salvador / BA, 2015.

Quanto à distribuição dos usuários por sexo, o levantamento do MPBA (2015),


durante o ano de 2015, revelou que o município de Salvador / BA separa o público
de crianças e adolescentes que atendem. Isso é evidenciado pela conduta das
instituições que selecionam seus usuários por especificidades como faixa etária,
sexo, se portador de deficiência, entre outros. Dessa forma, a rede ocupa 20% dos
serviços de acolhimento ofertados aos usuários do sexo masculino, enquanto que
para o acolhimento de pessoas do sexo feminino essa oferta não ultrapassa 5%. As
instituições de acolhimento para ambos os sexos ainda oferecem uma parcela maior
de serviços no município, que corresponde a 75% dos mesmos (SAPS – MPBA,
2015). O Gráfico 3 a seguir resume essas constatações.
64

Gráfico 3: Oferta de acolhimento institucional em Salvador / BA, 1° semestre de 2015.

75%
20% Ambos
Masculino
5%
Feminino

FONTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA. Serviço de Apoio Psicossocial


(SAPS). Salvador / BA, 2015.

A faixa etária é outro quesito que apresenta algumas variações nas unidades
de acolhimento institucional. As casas-lares atendem um maior número de
adolescentes meninas entre 12 a 15 anos e acolhem mais meninos na faixa de 0 a 5
anos de idade. Os abrigos, por sua vez, recebem uma parcela maior de meninas
com idades de 6 a 11 anos de idade e meninos entre 12 a 15 anos (SAPS – MPBA,
2015). O Gráfico 4 evidencia esses dados identificados.

Gráfico 4: Crianças e adolescentes atendidos em instituições de acolhimento, por sexo e


faixa etária em Salvador / BA, 2015.

15 F: 16-18 anos
45 F: 12-15 anos F: 16-18 anos
12 F: 12-15 anos
66 F: 6-11 anos
16 F: 6-11 anos
36 F: 0-5 anos 9 F: 0-5 anos
Abrigo 42
M: 16-18 anos 11 M: 16-18 anos
48 Casa-Lar 0
M: 12-15 anos M: 12-15 anos
45 1
M: 6-11 anos 6 M: 6-11 anos
36 M: 0-5 anos
M: 0-5 anos 10

FONTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA. Serviço de Apoio Psicossocial


(SAPS). Salvador / BA, 2015.
65

As condutas das instituições pela escolha do público atendido estão


relacionadas às especificidades identificadas nas crianças e adolescentes acolhidos.
Chegou a uma classificação que separa a inserção dos usuários devido vivência nas
ruas, dependência química, ameaça de morte, gravidez na adolescência, com filhos
na adolescência, doenças infectocontagiosas3, transtorno mental e/ou devido algum
tipo de deficiência4 (deficiência física, mental e/ou sensorial). No município de
Salvador / BA é possível, ainda, encontrar acolhimento institucional para crianças e
adolescentes cujos pais se encontram detidos em regime de privação de liberdade
(SAPS – MPBA, 2015), muito embora o cenário atual comprove que os genitores de
grande parte dos usuários dessa instituição não estão em cumprimento de regime
de privação de liberdade (presidiários). O gráfico 5 distribui essas demandas de
atendimentos nos abrigos e casas-lares:

3
O Ministério da Saúde, em seu documento Conceito e Definições em saúde (1997)
opta por utilizar o termo “doença transmissível” no lugar de doença infectocontagiosa para
definir a doença causada por um agente infeccioso ou suas toxinas e contraída através da
transmissão desse agente, ou seus produtos, do reservatório ao hospedeiro suscetível,
diretamente de uma pessoa ou animal infectado ou, indiretamente, por meio de um
hospedeiro intermediário, de natureza vegetal ou animal, de um vetor ou do meio ambiente
inanimado. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0117conceitos.pdf>.
4
Segundo o Decreto n° 3.298, de 20 de novembro de 1999, em seu artigo 3° do
capítulo I, deficiência é toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica,
fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do
padrão considerado normal para o ser humano. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3298.htm>.
66

Gráfico 5: Classificação de crianças e adolescentes acolhidos com especificidades, em


Salvador / BA, 2015.
63
49

27
22 18 22
11 12
7 6
2

FONTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA. Serviço de Apoio Psicossocial


(SAPS). Salvador / BA, 2015.

A natureza institucional é um ponto destacado na publicação do CNMP de


2013, por esclarecer que a participação de entidades privadas na prestação dos
serviços de acolhimento excede a oferta pública. As naturezas das instituições de
acolhimento do Brasil são, em sua maioria, não governamentais, a região Nordeste
apresenta o maior percentual de entidades privadas – 84,8% - em relação a 15,2%
de serviços públicos dessa categoria, se comparado às demais regiões do país,
ocupando o primeiro lugar dentre as regiões com maior quantitativo de instituições
privadas. A atuação dessas organizações representa o interesse do Estado em
transferir a responsabilidade dos serviços de acolhimento institucional para o
Terceiro Setor, ao levar em consideração, também, que mais da metade delas são
certificadas dentro da assistência social como beneficentes (CONSELHO
NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2013).

As especificidades no município de Salvador / BA, sustentam as características


da região Nordeste por apresentar muitos de seus serviços de acolhimento
executados por organizações de viés religioso (católico, evangélico ou espírita), o
que tem mantido aberto o espaço para atividades voluntárias, ainda fundadas na
perspectiva da caridade – como demonstra o Gráfico 6. Junto ao voluntariado vem a
precarização dos serviços prestados, devido à ausência de profissionais que seriam
necessários para compor um corpo técnico multidisciplinar, de modo a tentar atender
as demandas das crianças e dos adolescentes atendidos. Isso fica compreensível
67

ao verificar os dados que contabilizam que 70% das instituições não apresentam
uma formação de equipe técnica ou ela é parcial, ou seja, incompleta; desse
percentual, 60% delas têm as atividades executadas por voluntários. Entretanto, a
relevância do trabalho voluntário não deve ser ignorada, visto ser notória sua
eficácia em 50% das entidades que possuem equipe técnica completa (SAPS –
MPBA, 2015).

Gráfico 6: Instituições que possuem e que não possuem profissionais de caráter voluntário,
Salvador / BA, 2015.

Instituições que não possuem


7 trabalhadores voluntários

13 Instituições com atuação do


voluntariado

FONTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA. Serviço de Apoio


Psicossocial (SAPS). Salvador / BA, 2015.

Outro ponto relevante na identificação dessas instituições está no que diz


respeito ao tempo de permanência dos usuários. A disparidade do que ocorre na
realidade das instituições de acolhimento com o que é estabelecido pelo ECA é
preocupante e expõe mais uma das falhas do aparelho público na garantia dos
direitos das crianças e adolescentes atendidos. Isso, porque, de acordo com o artigo
19, do capítulo III do Estatuto, que vem tratar do direito à convivência familiar e
comunitária, em seus parágrafos 1° e 2° elucidam que, a condição de cada criança e
adolescente acolhido deve ser reavaliada a cada seis meses por entidade do poder
judiciário, através de relatório expedido pela instituição de acolhimento, incumbido o
judiciário de avaliar necessidade de retorno à família de origem ou inserção em
família substituta; e ainda que a criança ou adolescente só poderá permanecer na
68

instituição após dois anos se tiverem sido esgotadas as possibilidades de reinserção


familiar e se atendem o maior interesse do mesmo (BRASIL, 1990).

Esse desacordo com o ECA se desenhou nas particularidades de Salvador /


BA em que, 50% das instituições de acolhimento (abrigos e casas-lares) ainda
mantêm usuários acima dos 18 anos de idades, e que estes chegam a representar
até 80% do percentual de usuários, se comparado as crianças e adolescentes
acolhidos.

3.3 ENTENDIMENTO DAS VARIÁVEIS: ANÁLISE E DISCUSSÃO

Abrir espaço para uma análise do reordenamento das instituições de


acolhimento à cartilha de orientações técnicas do CNAS/CONANDA (2009), requer
considerar o papel ocupado ou não pelo mediador do debate, na rede de serviços
destinados a garantia dos direitos da criança e do adolescente. Assim, realizar esse
estudo a partir da referência do Ministério Público traz um olhar que, talvez, não seja
o mais abrangente, mas, que tem o propósito de fomentar novas discussões em
torno do tema.

Em uma de suas publicações (Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes –


20 anos do Estatuto, de 2010), a Secretaria dos Direitos Humanos (2010) ressalta a
relevância da atuação do MP em defesa da garantia dos direitos da criança e do
adolescente, por meio da busca pela efetivação do “ordenamento institucional”
(SECRETARIA DOS DIREITOS HUMANOS, 2010, p.69) através do oferecimento de
políticas públicas do modo como estão estabelecidas no ECA. Considera que há
uma mudança no modo como as políticas públicas são encaradas, pois, por meio do
exercício das práticas do MP, elas saem do trato assistencialista para uma
concepção de direito de cumprimento obrigatório do Estado, e de atribuição do
próprio MP o alcance por parte dos usuários (SECRETARIA DOS DIREITOS
HUMANOS, 2010).

Considerados todos os levantamentos bibliográficos, as modificações, na visão


da sociedade brasileira, do que se tinha sobre a criança e o adolescente foram de
extrema importância para o tratamento informal (familiar, em comunidade) e,
posteriormente, legal dado a elas. Isso é evidenciado na história através das
69

terminologias criadas e alteradas para se distinguir a infância da adolescência, e


estas duas da fase adulta; até a classificação que se estabeleceu com o ECA, em
1990, em ser considerada criança toda pessoa que possua idade até doze anos
incompletos e adolescente aquela que possuir dos doze anos completos até os
dezoito, com extensão até os vinte e um anos de idade, em alguns casos
particulares (BRASIL, 1990).

O descaso com o cuidado e a própria vida da criança ao nascer, a passagem


por períodos históricos marcados pelo tratamento como adultos em aspectos de
vestimentas e educação, bem como a inserção precoce como mães e pais de família
ao adentrarem na adolescência; até a compreensão da infância e adolescência
como períodos importantes para o desenvolvimento físico e intelectual do adulto que
se almejava, denotam a clara passagem de um estado de invisibilidade para o de
um olhar dos sujeitos como precursores do futuro próspero a partir do modelo de
governo republicano.

Concomitante a essas significações sociais e conceituais, as políticas públicas


brasileiras de atenção e proteção às crianças e adolescentes se desenharam a partir
de demandas específicas de cunho moral, com o a criação da roda dos expostos e o
surgimento das Santas Casas de Misericórdia como primeiros espaços de
acolhimento de crianças abandonadas ou órfãos, com objetivo religioso de manter o
conceito de família e dos bons costumes da época e como prática de caridade; e
mais adiante como medida de controle e encobrimento das crianças e adolescentes
em situação de vulnerabilidade, assumidas pelo poder público, por meio da criação
dos orfanatos, asilos e creches, além das escolas, das Febens (hoje, Fundações
Casa) e dos abrigos (atualmente denominadas instituições de acolhimento).

Essas instituições demonstram a evolução de um Estado sem nenhuma


garantia legal de direitos para esses usuários, para a formulação de um instrumento
voltado mais para o domínio e a imposição de deveres, que foi o Código de
Menores, até as conquistas gradativas desses direitos, que resultaram na sanção do
ECA em 1990. Mesmo após a determinação, por lei, de diversos direitos a serem
assegurados a criança e ao adolescente em condição de acolhimento institucional, o
que fica evidente é o não cumprimento de muitos deles e que práticas
conservadoras, tanto das instituições que prestam serviços de acolhimento como
70

das que compõem a rede assistencial e fiscalizadora, não foram totalmente


superadas, perpetuando-se e adquirindo novas roupagens.

Quanto aos dados analisados e expostos nos gráficos, corroboram com as


informações apreendidas na literatura por permitirem algumas generalizações nas
instituições de acolhimento nas modalidades de abrigo e casa-lar, a saber: ainda
persistem o número de instituições que atendem um público acima de sua
capacidade total e que, em muitos casos, ocorrem pela prevalência das crianças e
adolescentes nas instituições mesmo após terem atingido os dezoito anos de idade,
devido a impossibilidade de adoção ou inserção em família acolhedora (muitos por
ingressarem com idade acima dos sete anos – o que representa um entrave para a
adoção), devido a deficiência dos programas da rede de assistência social que não
preparam todos os jovens para o ingresso no mercado de trabalho e posterior
obtenção de autonomia, pela ausência do que seria a “continuidade” do serviço de
acolhimento por meio das repúblicas, ou ainda, pelas especificidades apresentadas
por alguns usuários como deficiências física, mental e/ou sensorial, doenças
infectocontagiosas, que acabam por inviabilizar a autonomia – para alguns – ou
requererem uma atenção maior em casos de adoção.

Outro elemento que contribui para o atendimento acima da capacidade está,


também, relacionado às especificidades atendidas por algumas instituições e
recusadas por outras, uma vez que, chega-se a conclusão que existem vagas para o
atendimento de mais usuários, se considerada toda rede de abrigos e casas-lares de
Salvador / BA, entretanto, as instituições têm escolhido seu público de atendimento,
o que tem resultado na sobrecarga de algumas delas e disponibilidade em outras.

As análises explanam que, quanto ao público atendido, obtiveram-se


conquistas, pois, há prevalência de instituições que atendem ambos os sexos, o que
asseguram as orientações elucidadas na cartilha de Orientações Técnicas, do
CNAS/CONANDA (2009), ainda que o público feminino represente a maior parcela
sexual atendida.

A formação técnica dos profissionais que atuam nos serviços de acolhimento


ainda constitui uma preocupação, visto que, não atendem as determinações da
cartilha, com a formação da equipe composta por profissionais na maioria
voluntários – o que retira a obrigatoriedade do cumprimento de carga horária de
71

trabalho – e em número insuficiente, que compromete a qualidade do serviço


prestado, por possuírem uma demanda de atendimento maior que seus recursos
humanos. A formação profissional desses funcionários é outro fator que necessita
ser problematizado e cumprido, pois tem acarretado nos desvios de funções de
modo arbitrário ou a atuação com ausências no corpo técnico.

As práticas conservadoras que permanecem na atuação das instituições


prestadoras do serviço, das entidades fiscalizadoras e das esferas administradoras
dos recursos destinados às instituições de acolhimento, se apresentam de diferentes
maneiras e constituem alguns dos fatores que implicam no não reordenamento
como está proposto pelo CNAS/CONANDA.

Nas instituições de acolhimento, identifica-se, por parte dos profissionais, a


prevalência da concepção da prática com os usuários como uma ação caritativa,
resultado da forte influência do viés constitutivo dessas entidades: de religiões
católicas, evangélicas ou espíritas. Compreender sob esse aspecto dá margens para
outra questão implicante, que se trata do olhar construído sobre a criança e/ou
adolescente acolhido, tratado com estigmas de “coitado”, “perigoso”, “sem limites”,
entre outros, oriundos do próprio ingresso desses sujeitos nas instituições, o que
leva a construção e incorporação nas instituições, de normas de identidade, como
requisito para a participação da vida em sociedade. Ainda consideram necessário
controlar e padronizar o corpo e a não adequação a essas normas pode gerar nessa
criança ou adolescente uma crise de identidade, e sua posterior deterioração, em
prol de uma socialmente construída para inserção (GOFFMAN, 1963).

A conservação nas práticas por parte das entidades fiscalizadoras está


presente na reprodução de discursos com propósito de manter relações de poder
(FOUCAULT, 2012). A crítica que se engendra está relacionada à postura do MP na
realização das inspeções nas instituições de acolhimento, com destaque para
promotores de justiça da infância e juventude, que alimentam os tratamentos
hierárquicos para com os demais profissionais da rede, e se utilizam de discursos de
culpabilização dos profissionais e/ou coordenadores das instituições de acolhimento,
como únicos responsáveis pelo bom funcionamento do serviço, e desconsideram o
problema da fragilidade da rede assistencial e de que o trabalho realizado nesses
locais deveria ser unicamente de obrigação do Estado, que se ausenta. Onde
deveria ser realizado um trabalho de articulação com a rede e uma fiscalização do
72

MP a outros órgãos envolvidos (CTs, Cras, Creas e SMS), cria-se um jogo de


transferência de responsabilidade pela necessidade de culpabilização de um órgão
ou um gestor, pela ineficiência e/ou fragilidade dos serviços de acolhimento
institucional.

Outro fator que tem destaque é como tem se corporificado as instituições de


acolhimento, pois, como entidades do Terceiro Setor, de formação da sociedade civil
e exercício de atribuições do público e financiamento, por vezes, deste, criou-se uma
lacuna duvidosa a cerca de qual interesse essas instituições tem se preocupado em
atender. A dúvida suscita refletir com base na relevância da “democratização dos
processos decisórios” (RAICHELIS, 2000, p. 5) em torno das políticas públicas. Isso
porque, dentro de um espaço de exercício democrático, instituições cuja
incumbência está caracterizada/categorizada como da e para a sociedade civil, mas,
passíveis de financiamento público ou privado, deliberar modelos de administração
que atendam o que estabelece as políticas para criança e adolescente e
preferências, torna-se um impasse, no que perpassa a atribuição de quem é
responsável por exercê-la (RAICHELIS, 2000).

Se de competência do Estado tendem a tornar-se mínimas no cumprimento


dos direitos civis, dependentes do capital; ao serem atribuídas unicamente à
sociedade civil, destoam o que vem preconizado no ECA e demais instrumentos
legais direcionados à garantia dos direitos da criança e do adolescente, quando
parcelas de impostos são convertidos em verbas públicas para serviços destinados,
também, a esse público (serviços de saúde, educação, empregabilidade, outros). Tal
concepção para o Estado contraria o que Raichelis defende como “publicização”
dentro do cenário das políticas públicas, visto que, as instituições de colhimento, ao
se encaixarem como organizações no espaço da esfera pública não-estatal,
distanciam-se do atendimento aos interesses da sociedade civil, pois passam a
ocupar um papel intermediário entre público e privado (RAICHELIS, 2000, p. 5-7).

Requer relembrar que esses serviços são respostas a demandas sociais que o
poder público não respondeu e que sua condução é passível das possibilidades de
cada instituição. No entanto, responsabilizar-se por semelhante trabalho, requer
dessas instituições uma atenção mínima aos direitos humanos e as políticas
destinadas a infância e juventude, a fim de assegurar ao menos legibilidade ao
73

trabalho, do contrário, os serviços ficam fadados a perpetuações de práticas


segregadoras, excludentes e desumanas.
74

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Identificar as instituições de acolhimento de crianças e adolescentes do


município de Salvador / BA, ponderar a relevância da função social desempenhada
por essas unidades e refletir os entraves, possibilidades e impactos do
reordenamento dessas instituições, conforme orientações dos órgãos deliberativos
nacionais da Assistência Social e dos direitos da criança e do adolescente, foi a
proposta deste estudo. Debruçar-se sobre os dados quantitativos das instituições de
acolhimento de Salvador permitiu traçar o perfil das unidades do município, por meio
da correlação com as informações compiladas pelo CNMP – especialmente da
região Nordeste e do estado baiano –, bem como das orientações trazidas na
cartilha de orientações do CNAS / CONANDA, visto ser este último o documento
legal que deve pautar as práticas dessas entidades.

Assim, as instituições de acolhimento de crianças e adolescentes são, em


pequena parcela, “superocupadas”, devido prevalência de usuários mesmo após
alcançarem a maior idade ou por atenderem um público portador de necessidades
especiais ou de doenças infectocontagiosas, o que representa um obstáculo para
possíveis adoções. Sua população é composta em sua maioria por meninas, com
prevalência de crianças nos abrigos e adolescentes nas casas-lares. As
especificidades constituem elemento importante na constatação da grande
disponibilidade de vagas nas instituições, visto que, ainda que a maioria atenda as
determinações da cartilha com oferta no atendimento para ambos os sexos em suas
unidades, existem aquelas que se recusam a atenderem usuários com demandas
diferenciadas, como doenças. Tal postura resulta nessa “superocupação”, no desvio
de funções e na insuficiência de profissionais para o atendimento das crianças e
adolescentes.

Acerca das especificidades, traçar o perfil das instituições permitiu classificar a


condição social e de ‘saúde’ na qual as crianças e adolescentes atendidos se
encontram: em situação de rua e portadores de doença mental, este último em maior
número. O fato instiga criticar o quão invisível e doente a população soteropolitana
se encontra atualmente, exclusa de direitos básicos e quase completamente
esquecida pelos governantes. Instiga vislumbrar o possível futuro que as crianças e
adolescentes com doenças mentais ou outras tantas terão num estado tão ausente,
75

que enfraquece constantemente seus aparelhos de execução de políticas públicas


(a exemplo os Centros de Atenção Psicossociais – CAPS encontram-se em
completo abandono e sem recursos financeiros e materiais) ou que simplesmente
ignora a grande mazela social herdade da desigualdade racial histórica e mantida
pela camuflagem de uma era globalizada de oportunidades e igualdade.

O olhar dos dirigentes e funcionários das instituições para os usuários reflete


no tratamento destinado aos mesmos e se materializa sutilmente no modo como é
construído (ou não) o projeto político e pedagógico de cada unidade, no rompimento
ou manutenção de práticas com viés caritativo e/ou em posturas e discursos
discriminatórios, opressores e negativos. Seus frutos são a distorção na construção
da identidade de cada criança e adolescente atendido. Trazer tal constatação não
tem propósito de culpabilizar o corpo administrativo e os recursos humanos dessas
unidades, mas, fomentar a reflexão sobre a responsabilidade atribuída, quase que
unicamente, a essas entidades de acolher e garantir os direitos dessas crianças e
adolescentes marcados pelo abandono; refletir a postura dos organismos
fiscalizadores e deliberativos dessas políticas; repensar que papel desempenhamos
enquanto sociedade civil e como nossa intervenção pode ser transformadora;
requer, mais fortemente, avaliar o quão ausente tem se mostrado os governantes
em dar espaços, estimular, garantir e manter a construção e execução das políticas
públicas destinadas a população trabalhadora e pobre.

A pesquisa em questão trouxe à tona questões constantemente debatidas no


campo das políticas públicas e do acolhimento institucional, mas, documentá-las
numa construção científica e a partir de dados de um órgão fiscalizador serviu para
ratificar o distanciamento existente entre as leis e seu cumprimento, a permanência
do descaso do Estado para com a massa da população. Cabe alertar à sociedade
civil que, ainda que não seja de sua obrigação arcar com o a criação e manutenção
de instituições com esse caráter, é de responsabilidade de todos exigir de quem tem
o papel de cumprir na totalidade com as leis destinadas a garantir direitos a criança
e ao adolescente: o governo. Mas, sem o posicionamento da sociedade de modo a
fazer saber aos governantes de que se tem conhecimento das irregularidades e do
ausentamento do Estado na efetivação das coisas públicas, não ocorrerão
mudanças ou, caso ocorram, ficarão passíveis de interpretações e práticas
equivocadas e sua perpetuação. Faz-se necessário, assim, que o Estado assuma
76

seu papel, de modo que os recursos (financeiros, materiais e humanos), a


construção das políticas, sua execução e fiscalização sejam atribuídos aos seus
responsáveis – sejam as próprias instituições de acolhimento; os Conselhos
Tutelares, os Cras e Creas; o CMDCA, o CECA ou o CONANDA; o MPBA ou as
Varas da Infância e da Juventude – dentro da esfera pública.

Entendendo que as transformações históricas que permearam a infância no


mundo e no Brasil influenciaram fortemente nos conceitos e paradigmas que se
delinearam na estrutura social contemporânea; fica clara a importância de analisar
as configurações atuais, com a compreensão de que, pensar alternativas dentro do
reordenamento proposto, bem como em políticas públicas voltadas para um ‘público’
tão frágil diante de uma expressão da questão social como a exclusão, é tarefa difícil
e que requer mobilização das diferentes instâncias da sociedade brasileira: Estado,
sociedade civil e seus desdobramentos, na tentativa de vislumbrar um presente mais
digno e menos desigual para as crianças e os adolescentes vulneráveis da capital
baiana.
77

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GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6° ed. São Paulo:
Atlas Editora, 2008.

GOMES, Eliseudo Salvino; FILHO, José Costa. Historicidade da Infância no


Brasil. In: El Futuro Del Pasado. N°4. Salamanca: 2013, pp. 255- 276. Disponível
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LAKATOS, Eva Maria.; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de


metodologia científica. 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003.

MONTAÑO, Carlos. Terceiro setor e questão social: crítica ao padrão emergente


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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
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OLIVEIRA, Rita C. S. (Coord. pela AASPTJ/SP). Quero voltar para casa: o


trabalho em rede e a garantia do direito à convivência familiar e comunitária
para crianças e adolescentes que vivem em abrigo. 2° ed. São Paulo: AASPTJ –
SP, 2007.
80

RAICHELIS, Raquel. Democratizar a Gestão das Políticas Sociais – Um Desafio


a Ser Enfrentado pela Sociedade Civil. Política Social. Módulo 3. Capacitação em
Serviço Social e Política Social. Programa de Capacitação Continuada para
Assistentes Sociais. Brasília, CFESS, ABEPSS, CEAD/NED-UNB, 2000.

SANTOS, Ana Maria Augusta dos. Acolhimento institucional de crianças e


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Assistentes Sociais. Disponível em: < http://www.cress-
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SECRETARIA DOS DIREITOS HUMANOS (BRASIL). Direitos humanos de


crianças e adolescentes – 20 anos do Estatuto. Brasília, 2010. 249 p.
Apresentação: Paulo de Tarso Vannuchi e Carmen Silveira de Oliveira.
81

ANEXO A – Roteiro para inspeção periódica dos Serviços de acolhimento


institucional para crianças e adolescentes

ANEXO I
ROTEIRO PARA INSPEÇÃO PERÍODICA1 DOS SERVIÇOS DE
ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Data: ____ / ____ / ______
Modalidade: (___) Acolhimento Institucional (___) Casa Lar
1 - DADOS GERAIS
1.1. Nome da Entidade de Acolhimento/Casa Lar:
________________________________________________
1.2. Endereço:
______________________________________________________________________________
1.3. Município: __________________________
1.4. Estado: ____________________________
1.5. Telefone/Fax: _______________________
1.6. Coordenador(a)/Gerente:
_________________________________________________________________
1.7. Instituição Mantenedora:
_________________________________________________________________
1.8. Site/E-mail:
____________________________________________________________________________
1.9. Visita realizada por:
______________________________________________________________________
1.10. Atendido(a) por:
_________________________________________________________________________
2 - POPULAÇÃO ATENDIDA2
2.1. Capacidade
Total:________________________________________________________________________
2.2. Número de crianças ou adolescentes atendidos atualmente no serviço:
____________________________
2.3. Sexo: (___) Feminino (___) Masculino (___) Ambos os sexos
2.4. Faixa Etária Atendida:
Faixa etária Masculino Feminino Total
0a5
6 a 11
12 a 15
16 a 18
Total
2.5. Prevalência no atendimento a grupos de irmãos: (___) Sim (___) Não
2.6. Há crianças ou adolescentes atendidos com as seguintes especificidades? Em caso afirmativo,
informe a quantidade:
82

(___) Deficiência Mental Quantidade: _____


(___) Deficiência Sensorial (visão/audição) Quantidade: _____
(___) Deficiência Física Quantidade: _____
(___) Adolescentes com filhos Quantidade: _____
(___) Transtorno Mental Quantidade: _____
(___) Dependência Química Quantidade: _____
(___) Doenças Infecto-Contagiosas Quantidade: _____
(___) Situação de Rua Quantidade: _____
(___) Ameaçados de Morte Quantidade: _____
(___) Adolescentes Grávidas Quantidade: _____
2.7. Há crianças ou adolescentes acolhidos cujas famílias residam em outros municípios?
(___) Sim (___) Não
2.7.1. Em caso positivo, quantos? ____
2.8. Desde a última inspeção realizada pelo Ministério Público, quantas crianças ou adolescentes
retornaram para a sua família de origem (incluindo nuclear e extensa)? _________________
2.9. Desde a última inspeção realizada pelo Ministério Público, quantas crianças ou adolescentes
desta entidade de acolhimento foram colocadas em família substituta (que não sejam família nuclear ou
extensa)? ______________________________________
2.9.1. Desse total, quantas crianças ou adolescentes estão em processo de adoção?
________________
2.10. Há crianças ou adolescentes acolhidos sem a respectiva Guia de Acolhimento ( Art. 101, § 3º,
lei 8.069/90)?
(___) Sim (___) Não
2.10.1. Em caso afirmativo, por quais os
motivos?__________________________________________________________________________________
__________________
3 – PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO3
Organização de registros sobre a história de vida e desenvolvimento de cada criança e adolescente
3.1. Há o desmembramento de grupos de crianças ou adolescentes com vínculos de parentesco?
(___) Sim (___) Não
3.1.1. Em caso afirmativo, assinale os principais motivos:
(___) Separação decorrente de faixa etária definida pela instituição
(___) Decisão judicial
(___) Entendimento da equipe técnica
(___) Outros ______________________
3.1.2. Em caso negativo, há o fortalecimento de sua vinculação afetiva?
(___) Sim (___) Não
3.2. No ato do acolhimento, a autoridade judicial encaminha para a entidade a Guia de Acolhimento
e os documentos da criança ou adolescente?4
(___) Sim (___) Não (___) Apenas em alguns casos
3.3. O serviço de acolhimento possui prontuários individualizados e atualizados de cada criança ou
adolescente?
(___) Sim (___) Não
3.4. Constam nos prontuários individuais?
(___) Documentos pessoais (certidão de nascimento, RG, CPF, Carteira Profissional etc).
(___) Documentos da área da saúde e educação (cartão de vacinação, histórico médico, exames, receitas
de medicação etc).
(___) Fotos
(___) Plano Individual de Atendimento (PIA)
(___) Relatórios de Acompanhamento
(___) Outros: ____________________________________________________________________________
83

3.5. O serviço de acolhimento remete à autoridade judiciária, no máximo a cada 06 (seis) meses,
relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e de sua família
para fins de reavaliação da situação familiar?
(___) Sim (___) Não
Plano Individual de Atendimento (PIA)
3.6. O PIA é elaborado imediatamente após o acolhimento da criança e do adolescente?
(___) Sim (___) Não
3.7. Constam no PIA:
(___) os resultados da avaliação interdisciplinar (motivos que levaram ao abrigamento, configuração e
dinâmica familiar, condições socioeconômicas, rede de relacionamentos etc).
(___) os compromissos assumidos pelos pais ou responsável.
(___) a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e
seus pais ou responsável, com vista à reintegração familiar.
(___) as providências a serem adotadas para sua colocação em família substituta, sob direta supervisão da autoridade judiciária, caso a reintegração familiar seja
vedada por determinação judicial

Atendimento individualizado e personalizado


3.8. Existem condições adequadas de higiene, segurança e habitabilidade?
(___) Sim (___) Não
3.9. As crianças e os adolescentes têm acesso a vestuário, produtos de higiene e brinquedos
individuais?
(___) Sim (___) Não
3.10. As crianças e os adolescentes podem escolher os seus objetos pessoais?
(___) Sim (___) Não
3.11. Há uma rotina para as crianças e os adolescentes atendidos, considerando as atividades diárias
e os profissionais que as atendem?
(___) Sim (___) Não
3.12. A construção da rotina é elaborada junto com as crianças e os adolescentes, salvaguardadas
idades e condições pessoais?
(___) Sim (___) Não
3.13. Há discussão das regras e dos limites de convivência com as crianças e os adolescentes?
(___) Sim (___) Não
3.14. Os adolescentes auxiliam nos cuidados com o espaço físico, na organização de seus pertences e
recebem aprendizagens do espaço doméstico?
(___) Sim (___) Não
3.15. São realizados grupos, rodas de conversa, assembleias para a discussão da rotina do serviço?
(___) Sim (___) Não
3.16. São realizados grupos, rodas de conversa, assembleias para a discussão de assuntos pertinentes
a cada faixa etária?
(___) Sim (___) Não
3.17. São respeitados os interesses e os anseios das crianças e dos adolescentes e ouvidas suas
famílias sobre a inserção em atividades?
(___) Sim (___) Não
3.18. As crianças e os adolescentes são assistidos na realização das atividades escolares (dentro e
fora do serviço de acolhimento)?
(___) Sim (___) Não
3.19. As crianças e os adolescentes podem frequentar cultos religiosos de acordo com as suas
crenças?
(___) Sim (___) Não
CASA LAR 5

3.20. No caso de Casa Lar, qual a frequência de substituição dos cuidadores?


(___) Menos de 6 meses
84

(___) De 6 meses a 1 ano


(___) De 1 a 2 anos
(___) Não há substituição
3.21. Há comunicação entre as equipes na troca do turno?
(___) Sim (___) Não
3.22. O serviço de acolhimento mantém uma equipe noturna?
(___) Sim (___) Não
Relação do serviço com a família de origem (nuclear ou extensa)
3.23. A implementação de uma sistemática de acompanhamento das famílias é iniciada
imediatamente após o acolhimento?
(___) Sim (___) Não
3.24. As famílias são informadas do seu direito a questionar o afastamento e requerer, junto à Justiça,
por intermédio de advogado nomeado ou Defensor Público, a reintegração da criança ou adolescente?
(___) Sim (___) Não
3.25. São firmados acordos entre o serviço de acolhimento, a equipe de supervisão e apoio aos
serviços de acolhimento - ligada ao órgão gestor da Assistência Social – a equipe técnica do Poder
Judiciário e os demais serviços da rede das diversas políticas públicas, incluindo os não-governamentais,
a fim de promover a articulação das ações de acompanhamento à família, além de reuniões periódicas
para discussão e acompanhamento dos casos?
(___) Sim (___) Não
3.26. Há flexibilidade nos horários de visitas?
(___) Sim (___) Não
3.27. Há incentivo:
(___) Aos contatos telefônicos com as famílias.
(___) À troca de correspondências.
(___) À participação dos familiares no acompanhamento da saúde e vida escolar das crianças ou
adolescentes.
(___) Saída das crianças e adolescentes para finais de semana com os familiares.
(___) Visita da criança e do adolescente à família.
(___) Participação da família na organização e comemoração de aniversários e outras datas
comemorativas, sempre que possível, realizadas no domicílio da família.
(___) Realização de atividades recreativas e culturais com as famílias, crianças, adolescentes e
profissionais do serviço.
(___) Outros _______________________________
3.28. Há crianças e adolescentes sem receber visitas dos pais e/ou responsável por período superior a
2 meses (art. 5º, Resolução Nº 71 de 15 de junho de 2011)?
(___) Sim (___) Não
3.28.1. Em caso positivo, quantas? __________
3.29. Desde a última inspeção realizada pelo Ministério Público, qual foi o número de crianças e
adolescentes que retornaram às suas famílias de origem (incluindo nuclear e extensa)?
______________________
Preservação e fortalecimento da convivência comunitária
3.30. Todas as crianças ou adolescentes frequentam creches, escolas, serviços de convivência e
fortalecimento de vínculos, pós-escola?
(___) Sim (___) Não
3.31. Os adolescentes frequentam atividades de iniciação ao mundo do trabalho e de
profissionalização?
(___) Sim (___) Não
3.32. O serviço possui voluntários?
(___) Sim (___) Não
Fortalecimento da autonomia da criança, do adolescente e do jovem
3.33. As crianças e os adolescentes têm a sua opinião considerada nas decisões tomadas?
85

(___) Sim (___) Não


3.34. As crianças e os adolescentes têm acesso a informações sobre sua história de vida, situação
familiar e motivos de acolhimento?
(___) Sim (___) Não
3.35. Os adolescentes possuem autonomia para saídas com os amigos ou participação em atividades
desenvolvidas na comunidade?6
(___) Sim (___) Não
Desligamento Gradativo
3.36. São realizadas atividades com as crianças, os adolescentes e com os profissionais da entidade
de acolhimento como forma de preparação do desligamento?
(___) Sim (___) Não
3.37. É fortalecida a autonomia de adolescentes que não possuem perspectivas de reintegração
familiar?
(___) Sim (___) Não
3.37.1. Em caso afirmativo, especifique as ações:
(___) Avaliação das condições sociais e psicológicas para o desligamento.
(___) Encaminhamento para repúblicas jovens.
(___) Encaminhamento para programas oficiais ou comunitários de auxílio (ex: programas de
transferência de renda, bolsa aluguel etc).
(___) Promoção de vínculos com parentes/amigos para que possam apoiar o adolescente.
(___) Outros.
_____________________________________________________________________________
3.38. Desde a última inspeção realizada pelo Ministério Público, quantos adolescentes foram
desligados por terem completado a maioridade?__________
4 – OBSERVAÇÕES DO PROMOTOR DE JUSTIÇA

5 - PARECER TÉCNICO

1 Segundo o art. 1º da Resolução nº 71 de 15 de junho de 2011, a inspeção poderá ser trimestral, quadrimestral ou semestral, de acordo com os
critérios populacionais do IBGE.
2 Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília-DF, Junho/2009:


- Número máximo de usuários por equipamento: Acolhimento Institucional – 20 / Casa Lar – 10 (págs. 69 e 76)
- O Acolhimento Institucional e a Casa-Lar devem acolher crianças e adolescentes de 0 a 18 anos de ambos os sexos (págs. 68 e 75).
86

- Devem ser evitadas especializações e atendimentos exclusivos - tais como adotar faixas etárias muito estreitas, direcionar o atendimento
apenas a determinado sexo, atender exclusivamente ou não atender crianças e adolescentes com deficiência ou que vivam com HIV/AIDS. A atenção
especializada, quando necessária, deverá ser assegurada por meio da articulação com a rede de serviços, a qual poderá contribuir, inclusive, para
capacitação específica dos cuidadores (págs. 69 e 75).
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 12.010/2009
Art. 92, princípio V - Não desmembramento de grupos de irmãos.
3 Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:


O Projeto Político-Pedagógico (PPP) “deve orientar a proposta de funcionamento do serviço como um todo, tanto no que se refere ao seu
funcionamento interno, quanto seu relacionamento com a rede local, as famílias e a comunidade. Sua elaboração é uma tarefa que deve ser realizada
coletivamente, de modo a envolver toda a equipe do serviço, as crianças, adolescentes e suas famílias. Após a elaboração, o Projeto deve ser
implantado, sendo avaliado e aprimorado a partir da prática do dia a dia” (pág. 50).
4 Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 12.010/2009

Art. 101 § 3º Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento
institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará,
dentre outros:
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;
II - o endereço de residência dos pais ou o responsável, com pontos de referência;
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.
5 O preenchimento do item 3.20 refere-se exclusivamente à inspeção de Casa Lar.

6 Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:


“(...)Não devem ser impostas restrições injustificáveis à liberdade e conduta, em comparação com crianças e adolescentes da mesma idade e
comunidade. Tais restrições devem ser condizentes com o grau de desenvolvimento e capacidade da criança e do adolescente e restritas apenas
àquelas necessárias para viabilizar sua segurança e proteção” (pág. 60).
87

ANEXO B – Roteiro para inspeção anual dos Serviços de acolhimento


institucional para crianças e adolescentes

ANEXO III
ROTEIRO PARA INSPEÇÃO ANUAL DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO
INSTITUCIONAL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Data: ____ / ____ / ______
Modalidade: (___) Acolhimento Institucional (___) Casa Lar
1 - DADOS GERAIS
3.1. Nome da Entidade de Acolhimento/Casa
Lar:________________________________________________
2. Endereço:_________________________________________________________________________
____
3. Município: __________________________________
4. Estado: _____________________________________
5. Telefone/Fax:________________________________
6. Coordenador(a)/Gerente:____________________________________________________________
__
7. Instituição
Mantenedora:__________________________________________________________________
8. Site/E-
mail______________________________________________________________________________
9. Registro CMDCA: Nº _______________________________Validade:
__________________________
10. Registro CMAS: Nº _______________________________ Validade:
__________________________
11. Laudo do Corpo de Bombeiros: Nº _____________________
Validade:___________________________
12. Laudo da Vigilância Sanitária: Nº _____________________
Validade:___________________________
13. Tipo de orientação religiosa da Instituição: (___) Católica (___) Evangélica (___) Espírita
(___) Ecumênica (___) Não possui (___) Outra: __________________________________________
14. Visita realizada por:
______________________________________________________________________
15. Atendido(a) por:
_________________________________________________________________________
2 - POPULAÇÃO ATENDIDA1
2.1. Capacidade
Total:________________________________________________________________________
2.2. Número de crianças ou adolescentes atendidos atualmente no serviço:
____________________________
2.3. Sexo: (___) Feminino (___) Masculino (___) Ambos os sexos
2.4. Faixa Etária Atendida:
Faixa etária Masculino Feminino Total
88

0a5
6 a 11
12 a 15
16 a 18
Total
2.5. Prevalência no atendimento a grupos de irmãos: (___) Sim (___) Não
2.6. Há crianças ou adolescentes atendidos com as seguintes especificidades? Em caso afirmativo,
informe a quantidade:
(___) Deficiência Mental Quantidade: _____
(___) Deficiência Sensorial (visão/audição) Quantidade: _____
(___) Deficiência Física Quantidade: _____
(___) Adolescentes com filhos Quantidade: _____
(___) Transtorno Mental Quantidade: _____
(___) Dependência Química Quantidade: _____
(___) Doenças Infecto-Contagiosas Quantidade: _____
(___) Situação de Rua Quantidade: _____
(___) Ameaçados de Morte Quantidade: _____
(___) Adolescentes Grávidas Quantidade: _____
2.7. Há crianças ou adolescentes acolhidos cujas famílias residam em outros municípios?
(___) Sim (___) Não
2.7.1. Em caso positivo, quantos? (__)
2.8. Principais órgãos que realizam encaminhamentos à Instituição 2:
(___) Conselho Tutelar
(___) Ministério Público
(___) Secretaria Municipal de Assistência Social
(___) Outros Órgãos Públicos. Especificar:________
(___) Cidadão
2.9. Quais os principais motivos para o acolhimento? 3
(___) Abandono pelos pais ou responsáveis
(___) Pais ou responsáveis dependentes químicos/alcoolistas
(___) Ausência dos pais ou responsáveis por doença
(___) Pais ou responsáveis portadores de deficiência
(___) Ausência dos pais ou responsáveis por prisão
(___) Pais ou responsáveis com transtorno mental (problemas psiquiátricos/psicológicos)
(___) Carência de recursos materiais da família/responsável
(___) Pais ou responsáveis sem condições para cuidar de adolescente gestante
(___) Órfão (morte dos pais ou responsáveis)
(___) Pais ou responsáveis sem condições para cuidar de criança/adolescente com questões de saúde
específica
(___) Violência doméstica
(___) Submetido a exploração sexual (prostituição, pornografia)
(___) Negligência
(___) Submetido a exploração no trabalho, tráfico e/ou mendicância
(___) Abuso sexual praticado pelos pais ou responsáveis
(___) Vivência de rua
(___) Outros: _____________________________________________
2.10. No último ano, quantas crianças ou adolescentes retornaram para a sua família de origem
(incluindo nuclear e extensa)?
___________________________________________________________________
89

2.11. No último ano, quantas crianças ou adolescentes desta entidade de acolhimento foram
colocadas em família substituta (que não sejam família nuclear ou extensa)?
______________________________________
2.11.1. Desse total, quantas crianças ou adolescentes estão em processo de adoção?
________________
2.12. Qual é o período médio de acolhimento na Instituição?
(___) Até 3 meses
(___) De 4 a 6 meses
(___) De 7 meses a 1 ano
(___) de 1 a 2 anos
(___) Acima de 2 anos
2.13. Há crianças ou adolescentes acolhidos sem a respectiva Guia de Acolhimento (Art. 101, § 3º,
lei 8.069/90)?
(___) Sim (___) Não
2.13.1. Em caso afirmativo, por quais os
motivos?__________________________________________________________________________________
__________________
3 - INSTALAÇÕES FÍSICAS4
3.1. Qual a situação do imóvel? (___) Próprio (___) Alugado (___) Cedido
3.2. Há identificação externa da Instituição? (___) Sim (___) Não
3.3. Está localizado em área residencial e de fácil acesso via transporte público? (___) Sim (___)
Não
3.4. Há disponibilidade de equipamentos da assistência social e saúde nas proximidades da
entidade?
(___) Sim (___) Não
3.4.1. Em caso positivo, assinale quais:
(___) CRAS
(___) CREAS
(___) Posto de saúde
(___) CAPSi
(___) CAPSad
(___) Hospitais
3.5. Existe adaptação física para acesso aos deficientes? (___) Sim (___) Não
3.6. Existe ambiente acolhedor, com aspecto semelhante ao de uma residência? (___) Sim
(___) Não
3.7. Existem condições adequadas de higiene, segurança e habitabilidade? (___) Sim (___)
Não
4 – PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO5
Organização de registros sobre a história de vida e desenvolvimento de cada criança e adolescente
3.1. Há o desmembramento de grupos de crianças ou adolescentes com vínculos de parentesco?
(___) Sim (___) Não
3.1.1. Em caso afirmativo, assinale os principais motivos:
(___) Separação decorrente de faixa etária definida pela instituição
(___) Decisão judicial
(___) Entendimento da equipe técnica
(___) Outros ______________________
3.1.2. Em caso negativo, há o fortalecimento de sua vinculação afetiva?
(___) Sim (___) Não
3.2. No ato do acolhimento, a autoridade judicial encaminha para a entidade a Guia de Acolhimento
e os documentos da criança ou adolescente? 6
(___) Sim (___) Não (___) Apenas em alguns casos
90

3.3. O serviço de acolhimento possui prontuários individualizados e atualizados de cada criança ou


adolescente?
(___) Sim (___) Não
3.4. Constam nos prontuários individuais?
(___) Documentos pessoais (certidão de nascimento, RG, CPF, Carteira Profissional etc).
(___) Documentos da área da saúde e educação (cartão de vacinação, histórico médico, exames, receitas
de medicação etc).
(___) Fotos
(___) Plano Individual de Atendimento (PIA)
(___) Relatórios de Acompanhamento
(___) Outros: ____________________________________________________________________________
3.5. O serviço de acolhimento remete à autoridade judiciária, no máximo a cada 06 (seis) meses,
relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e de sua família
para fins de reavaliação da situação familiar?
(___) Sim (___) Não
Plano Individual de Atendimento (PIA)
3.6. O PIA é elaborado imediatamente após o acolhimento da criança e do adolescente?
(___) Sim (___) Não
3.7. A elaboração do PIA é realizada em parceria com o Conselho Tutelar e, sempre que possível, com
a equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude?
(___) Sim (___) Não
3.39. Há a contribuição para a elaboração do PIA pela equipe responsável pela supervisão dos serviços
de acolhimento (ligada ao órgão gestor da Assistência Social)?
(___) Sim (___) Não
3.40. Constam no PIA:
(___) os resultados da avaliação interdisciplinar (motivos que levaram ao abrigamento, configuração e
dinâmica familiar, condições socioeconômicas, rede de relacionamentos etc).
(___) os compromissos assumidos pelos pais ou responsável.
(___) a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e
seus pais ou responsável, com vista à reintegração familiar.
(___) as providências a serem adotadas para sua colocação em família substituta, sob direta supervisão
da autoridade judiciária, caso a reintegração familiar seja vedada por determinação judicial.
Atendimento individualizado e personalizado
3.41. As crianças e os adolescentes têm acesso a vestuário, produtos de higiene e brinquedos
individuais?
(___) Sim (___) Não
3.42. As crianças e os adolescentes podem escolher os seus objetos pessoais?
(___) Sim (___) Não
3.43. Existem locais individuais para a guarda de roupas e objetos pessoais?
(___) Sim (___) Não
3.44. Existem banheiros com portas/box/divisórias que garantam a privacidade?
(___) Sim (___) Não
3.45. Há uma rotina para as crianças e os adolescentes atendidos, considerando as atividades diárias
e os profissionais que as atendem?
(___) Sim (___) Não
3.46. A construção da rotina é elaborada junto com as crianças e os adolescentes, salvaguardadas
idades e condições pessoais?
(___) Sim (___) Não
3.47. Há discussão das regras e dos limites de convivência com as crianças e os adolescentes?
(___) Sim (___) Não
91

3.48. Os adolescentes auxiliam nos cuidados com o espaço físico, na organização de seus pertences e
recebem aprendizagens do espaço doméstico?
(___) Sim (___) Não
3.49. São realizados grupos, rodas de conversa, assembleias para a discussão da rotina do serviço?
(___) Sim (___) Não
3.50. São realizados grupos, rodas de conversa, assembleias para a discussão de assuntos pertinentes
a cada faixa etária?
(___) Sim (___) Não
3.51. São respeitados os interesses e os anseios das crianças e dos adolescentes e ouvidas suas
famílias sobre a inserção em atividades?
(___) Sim (___) Não
3.52. As crianças e os adolescentes são assistidos na realização das atividades escolares (dentro e
fora do serviço de acolhimento)?
(___) Sim (___) Não
3.53. As crianças e os adolescentes podem frequentar cultos religiosos de acordo com as suas
crenças?
(___) Sim (___) Não
3.54. A atenção especializada quando necessária é assegurada por meio da articulação com a rede de
serviços?
(___) Sim (___) Não
3.55. Quais os serviços utilizados?
(___) CRAS (___) CREAS (___) Posto de saúde
(___) CAPS (___) CAPSi (___) CAPSad

Definição do papel e valorização dos educadores/cuidadores


3.56. Para a seleção dos profissionais que atuarão no serviço de acolhimento ocorre processo seletivo
através de ampla divulgação, avaliação de documentação mínima e avaliação psicológica e social?
(___) Sim (___) Não
3.57. Os profissionais do serviço passaram por alguma capacitação introdutória?
(___) Sim (___) Não
3.58. A capacitação é realizada periodicamente?
(___) Sim (___) Não
3.59. O serviço recebe supervisão técnica do CREAS?
(___) Sim (___) Não
3.60. O número mínimo de profissionais e a carga horária são condizentes com o definido no
documento Orientações Técnicas: serviços de acolhimento? 7
(___) Sim (___) Não
CASA LAR 8

3.61. No caso de Casa Lar, a coordenação e a equipe técnica especializada estão sediadas na casa?
(___) Sim (___) Não
3.62. No caso de Casa Lar, o educador/cuidador residente tem períodos livres diários e um esquema
de folgas semanais que possibilite sua participação em atividades outras que não as da casa, além de
férias anuais fora do ambiente da Casa Lar?
(___) Sim (___) Não
3.63. No caso de Casa Lar, qual a frequência de substituição dos cuidadores?
(___) Menos de 6 meses
(___) De 6 meses a 1 ano
(___) De 1 a 2 anos
(___) Não há substituição
3.64. No caso de Casa Lar, qual o critério de divisão das crianças e dos adolescentes?
(___) Faixa etária
92

(___) Grupo familiar


(___) Outros _______________________________________________________________________________
3.65. São realizados estudos de caso com a participação da equipe técnica e dos
educadores/cuidadores para a discussão do trabalho realizado e das dificuldades vivenciadas?
(___) Sim (___) Não
3.66. Há comunicação entre as equipes na troca do turno?
(___) Sim (___) Não
3.67. O serviço de acolhimento mantém uma equipe noturna?
(___) Sim (___) Não
3.68. O serviço de acolhimento possui estagiários?
(___) Sim (___) Não
3.68.1. Em caso afirmativo, quais as áreas de atuação?
(___) Assistência Social
(___) Psicologia
(___) Pedagogia
(___) Outros _________________________
Relação do serviço com a família de origem (nuclear ou extensa)
3.69. A implementação de uma sistemática de acompanhamento das famílias é iniciada
imediatamente após o acolhimento?
(___) Sim (___) Não
3.70. As famílias são informadas do seu direito a questionar o afastamento e requerer, junto à Justiça,
por intermédio de advogado nomeado ou Defensor Público, a reintegração da criança ou adolescente?
(___) Sim (___) Não
3.71. Quais técnicas são utilizadas no acompanhamento às famílias?
(___) Estudo de caso
(___) Entrevista individual e familiar
(___) Grupo com famílias
(___) Grupo multifamiliar
(___) Visita domiciliar
(___) Orientação individual, grupal e familiar
(___) Encaminhamento e acompanhamento de integrantes da família à rede local
(___) Busca sistemática pela família de origem (nuclear ou extensa) das crianças/adolescentes
atendidos.
(___) Utilização de serviços de identificação/localização da família de origem (nuclear ou extensa).
(___) Apoio financeiro.
(___) Apoio material (cesta básica, medicamentos etc.).
(___) Encaminhamento para serviços, programas, projetos e benefícios da política de assistência social.
(___) Encaminhamento para serviços de saúde.
(___) Encaminhamento para programas de qualificação profissional, emprego, geração de renda.
(___) Encaminhamento para programas habitacionais.
(___) Encaminhamento para programas da política de educação.
(___) Outros. ____________________________________________
3.72. As famílias são acompanhadas pelo CRAS/CREAS?
(___) Sim (___) Não
3.73. São firmados acordos entre o serviço de acolhimento, a equipe de supervisão e apoio aos
serviços de acolhimento - ligada ao órgão gestor da Assistência Social – a equipe técnica do Poder
Judiciário e os demais serviços da rede das diversas políticas públicas, incluindo os não-governamentais,
a fim de promover a articulação das ações de acompanhamento à família, além de reuniões periódicas
para discussão e acompanhamento dos casos?
(___) Sim (___) Não
93

3.74. Há flexibilidade nos horários de visitas?


(___) Sim (___) Não
3.75. Há incentivo:
(___) Aos contatos telefônicos com as famílias.
(___) À troca de correspondências.
(___) À participação dos familiares no acompanhamento da saúde e vida escolar das crianças ou
adolescentes.
(___) Saída das crianças e adolescentes para finais de semana com os familiares.
(___) Visita da criança e do adolescente à família.
(___) Participação da família na organização e comemoração de aniversários e outras datas
comemorativas, sempre que possível, realizadas no domicílio da família.
(___) Realização de atividades recreativas e culturais com as famílias, crianças, adolescentes e
profissionais do serviço.
(___) Outros _______________________________
3.76. Há crianças e adolescentes sem receber visitas dos pais e/ou responsável por período superior a
2 meses (art. 5º, Resolução Nº 71/11)?
(___) Sim (___) Não
3.76.1. Em caso positivo, quantas? __________
Preservação e fortalecimento da convivência comunitária
3.77. O acolhimento ocorre no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável?
(___) Sim (___) Não
3.78. As crianças e os adolescentes frequentam a mesma escola em que estudavam antes do
acolhimento?
(___) Sim (___) Não
3.79. As crianças e adolescentes continuam frequentando as atividades que realizavam antes do
acolhimento (atividades esportivas, culturais, religiosas entre outras)?
(___) Sim (___) Não
3.80. Todas as crianças ou adolescentes frequentam creches, escolas, serviços de convivência e
fortalecimento de vínculos, pós-escola?
(___) Sim (___) Não
3.81. Os adolescentes frequentam atividades de iniciação ao mundo do trabalho e de
profissionalização?
(___) Sim (___) Não
3.82. A instituição assegura a frequência em atividades culturais, esportivas e de lazer,
preferencialmente nos serviços existentes na comunidade, efetivando a participação na vida da
comunidade local?
(___) Sim (___) Não
3.83. Há a oferta de atendimentos médicos e odontológicos dentro do serviço de acolhimento?
(___) Sim (___) Não
3.84. O serviço possui voluntários?
(___) Sim (___) Não
3.85. Mantém Programa de Apadrinhamento Afetivo?
(___) Sim (___) Não
Fortalecimento da autonomia da criança, do adolescente e do jovem
3.86. As crianças e os adolescentes têm a sua opinião considerada nas decisões tomadas?
(___) Sim (___) Não
3.87. As crianças e os adolescentes têm acesso a informações sobre sua história de vida, situação
familiar e motivos de acolhimento?
(___) Sim (___) Não
3.88. Os adolescentes possuem autonomia para saídas com os amigos ou participação em atividades
desenvolvidas na comunidade?9
94

(___) Sim (___) Não

Desligamento Gradativo
3.89. São realizadas atividades com as crianças, os adolescentes e com os profissionais da entidade
de acolhimento como forma de preparação do desligamento?
(___) Sim (___) Não
3.90. É fortalecida a autonomia de adolescentes que não possuem perspectivas de reintegração
familiar?
(___) Sim (___) Não
3.90.1. Em caso afirmativo, especifique as ações:
(___) Avaliação das condições sociais e psicológicas para o desligamento.
(___) Encaminhamento para repúblicas jovens.
(___) Encaminhamento para programas oficiais ou comunitários de auxílio (ex: programas de
transferência de renda, bolsa aluguel etc).
(___) Promoção de vínculos com parentes/amigos para que possam apoiar o adolescente.
(___) Outros.
_____________________________________________________________________________
3.91. No último ano, quantos adolescentes foram desligados por terem completado a
maioridade?__________
3.92. Há programa de apoio e acompanhamento dos egressos da instituição por pelo menos 6
meses?
(___) Sim (___) Não
3.92.1. Em caso afirmativo, especifique as ações:
(___) Acompanhamento psicossocial
(___) Visitas domiciliares
(___) Apoio financeiro
(___) Apoio material (cesta básica, medicamentos, etc)
(___) Auxílio na busca de trabalho/renda
(___) Reuniões, grupos de discussão/apoio
(___) Outros.
____________________________________________________________________________
5 - FONTES DE FINANCIAMENTO
5.1. A Instituição recebe recursos públicos? (___) Sim (___) Não
5.1.1. Em caso afirmativo, de qual esfera? (___) Municipal (___) Estadual
(___) Federal
5.2. A Instituição recebe recursos privados? (___) Sim (___) Não
5.3. A Instituição conta com recursos próprios? (___) Sim (___) Não
6 – OBSERVAÇÕES DO PROMOTOR DE JUSTIÇA
95

7 - PARECER TÉCNICO

1Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília-DF, Junho/2009:


- Número máximo de usuários por equipamento: Acolhimento Institucional – 20 / Casa Lar – 10 (págs. 69 e 76)
- O Acolhimento Institucional e a Casa-Lar devem acolher crianças e adolescentes de 0 a 18 anos de ambos os sexos (págs. 68 e 75).
- Devem ser evitadas especializações e atendimentos exclusivos - tais como adotar faixas etárias muito estreitas, direcionar o atendimento
apenas a determinado sexo, atender exclusivamente ou não atender crianças e adolescentes com deficiência ou que vivam com HIV/AIDS. A atenção
especializada, quando necessária, deverá ser assegurada por meio da articulação com a rede de serviços, a qual poderá contribuir, inclusive, para
capacitação específica dos cuidadores (págs. 69 e 75).
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 12.010/2009
Art. 92, princípio V - Não desmembramento de grupos de irmãos.
2 Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 12.010/2009

Art. 93 - As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência, acolher
crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da
Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.
Art. 101 § 2º Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a
que alude o art.130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e
importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se
garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Art. 136 – parágrafo único - Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar,
comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para
a orientação, o apoio e a promoção social da família. (NR)
3Referência: SILVA, Enid Rocha Andrade da (Coord.). O direito à convivência familiar e comunitária: os abrigos para crianças e adolescentes no Brasil.

Brasília: IPEA/CONANDA. 2004.


4Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:


A entidade de acolhimento institucional e a Casa Lar deverão estar localizados em áreas residenciais. “Deverão manter aspectos
semelhantes ao de uma residência, seguindo o padrão arquitetônico das demais residências da comunidade na qual estiver inserida. Não devem ser
instaladas placas indicativas da natureza institucional do equipamento, também devendo ser evitadas nomenclaturas que remetam a aspectos
negativos, estigmatizando e despotencializando os usuários” (págs. 69 e 77).
5Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:


O Projeto Político-Pedagógico (PPP) “deve orientar a proposta de funcionamento do serviço como um todo, tanto no que se refere ao seu
funcionamento interno, quanto seu relacionamento com a rede local, as famílias e a comunidade. Sua elaboração é uma tarefa que deve ser realizada
coletivamente, de modo a envolver toda a equipe do serviço, as crianças, adolescentes e suas famílias. Após a elaboração, o Projeto deve ser
implantado, sendo avaliado e aprimorado a partir da prática do dia a dia” (pág. 50).
6 Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 12.010/2009

Art. 101 § 3º Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento
institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará,
dentre outros:
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;
II - o endereço de residência dos pais ou o responsável, com pontos de referência;
96

III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;


IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.
7Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:


Equipe Profissional Mínima – Abrigo Institucional (pág. 69):
01 coordenador. 02 profissionais (equipe técnica). 01 educador/cuidador para até 10 usuários, por turno. 01 auxiliar de educador/cuidador
para até 10 usuários por turno. A quantidade de educador/cuidador e auxiliar de educador/cuidador deverá ser aumentada quando houver usuários
que demandem atenção específica (com deficiência, com necessidades específicas de saúde ou idade inferior a um ano).
Equipe Profissional Mínima – Casa Lar (pág. 77):
01 coordenador. 02 profissionais (equipe técnica) – ambos para o atendimento a até 20 crianças e adolescentes em até 03 casas-lares. 01
educador/cuidador residente para até 10 usuários. 01 auxiliar de educador/cuidador residente para até 10 usuários, por turno.
8O preenchimento dos itens 4.30, 4.31, 4.32 e 4.33 refere-se exclusivamente à inspeção de Casa Lar.
9Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:


“(...)Não devem ser impostas restrições injustificáveis à liberdade e conduta, em comparação com crianças e adolescentes da mesma idade e
comunidade. Tais restrições devem ser condizentes com o grau de desenvolvimento e capacidade da criança e do adolescente e restritas apenas
àquelas necessárias para viabilizar sua segurança e proteção” (pág. 60).
97

ANEXO C – Banco de Dados Abrigos 2015

Preserva Retornos Acolhido Desligamento


Capacidade Nº Faixa Grupo Outro no Em processo de Equipe sem por Acima
ABRIGO DATA Modalidade Total C/A SEXO Etária Irmãos Município período Adoções adoção/Destituição Técnica Guia Voluntários maioridade de 18
Ajuda Social a
1 Criança 12/03/15 AI 40 5 AMBOS 03-12 SIM NÃO 1 0 1 PARCIAL NÃO SIM 0 1
ACOPAMEC –
2 Mata Escura 15/04/15 CL 50 28 FEMININO 11-18 NÃO 4 13 0 0 PARCIAL SIM NÃO 7 1
3 RECRIAR 23/03/15 AI 16 11 MASCULINO 07-13 NÃO NÃO 3 0 1 SIM SIM SIM 0 1
4 Luz do Amanhã 19/03/15 AI 40 25 AMBOS 02-07 NÃO 9 9 0 0 SIM SIM SIM 0 0
5 CAASAH 23/03/15 AI 20 13 AMBOS 0-18 NÃO 1 2 3 2 NÃO SIM SIM 0 4
6 OAF 10/03/15 CL 36 34 AMBOS 0-18 SIM 10 0 0 3 PARCIAL SIM NÃO 0 1
7 Elcy Freire 13/04/15 AI 20 5 AMBOS 16-18 NÃO 1 0 0 1 SIM SIM NÃO 1 8
8 Lar da Criança 12/03/15 AI 25 17 AMBOS 0-06 SIM 1 3 4 4 NÃO NÃO SIM 0 1
9 Lar Vida 11/03/15 AI 74 61 AMBOS 0-18 NÃO NÃO 0 0 0 PARCIAL SIM SIM 0 49
Unidade Boca do
10 Rio 24/03/15 AI 20 9 MASCULINO 12-18 NÃO 2 2 0 0 SIM NÃO NÃO 0 0
Lar Pérolas de
11 Cristo 07/04/15 AI 120 84 AMBOS 0-18 SIM 14 48 23 20 PARCIAL NÃO SIM 0 4
12 ICAJ 12/03/15 AI 15 9 MASCULINO 11-14 NÃO 2 0 0 0 SIM SIM SIM 2 4
Lar Fonte da
13 Fraternidade 01/04/15 CL 10 3 AMBOS 6-18 NÃO 1 0 0 0 NÃO SIM SIM 0 8
Benedita
14 Camurugi 10/03/15 AI 20 28 AMBOS 0-10 SIM 4 5 1 4 PARCIAL SIM SIM 0 0
Núcleo Espírita
15 Campo da Paz 31/03/15 AI 20 6 AMBOS 0-15 NÃO 1 1 1 0 NÃO SIM SIM 0 0
16 Nova Semente 17/03/15 AI 27 22 AMBOS 0-18 SIM 4 3 0 0 NÃO SIM SIM 1 0
17 Franco Gilbert 31/03/15 AI 20 8 MASCULINO 10-14 SIM 1 2 0 0 NÃO NÃO SIM 0 0
18 Unidade Pituaçu 24/03/15 AI 20 12 AMBOS 12-18 SIM 3 2 0 0 SIM SIM NÃO 1 2
19 Eunice Weaver 31/03/15 AI 20 6 AMBOS 0-15 SIM NÃO 8 0 0 NÃO SIM NÃO 0 0
Unidade Dois de
20 Julho 10/03/15 AI 12 11 AMBOS 12-18 SIM 1 3 0 1 PARCIAL SIM NÃO 3 0
625 397 84
98

TOTAL IDADE X SEXO

Faixa
Etária Masculino Feminino Total

0a5 47 48 95

06 a 11 51 75 126

12 a 15 49 61 110

16 a 18 41 #VALOR! #VALOR!

Acima de
18 2 2 4

Total 190 #VALOR! #VALOR!

CASA DE SANTA MARIA CAASAH

Faixa
Etária Masculino Feminino Total Faixa Etária Masculino Feminino Total

0a5 1 1 2 0a5 0 2 2

06 a 11 0 06 a 11 3 2 5

12 a 15 0 12 a 15 3 1 4

16 a 18 0 16 a 18 2 0 2

Acima de
18 0 Acima de 18 2 2 4

Total 1 1 2 Total 10 7 17

LUZ DO AMANHA AJUDA SOCIAL A CRIANÇA

Faixa
Etária Masculino Feminino Total Faixa Etária Masculino Feminino Total

0a5 7 1 8 0a5 2 0 2

06 a 11 10 7 17 06 a 11 3 0 3

12 a 15 0 0 12 a 15 0 0 0

16 a 18 0 0 16 a 18 0 0 0

Acima de
18 Acima de 18 0 0 1

Total 17 8 25 Total 5 0 6
99

ACOPAMEC- MATA ESCURA ELCY FREIRE

Faixa
Etária Masculino Feminino Total Faixa Etária Masculino Feminino Total

0a5 0 2 2 0a5 0 0 0

06 a 11 0 4 4 06 a 11 0 0 0

12 a 15 0 13 13 12 a 15 0 0 0

16 a 18 0 9 9 16 a 18 4 1 5

Acima de
18 1 Acima de 18 8

Total 0 28 29 Total 4 1 13

OAF RECRIAR

Faixa
Etária Masculino Feminino Total Faixa Etária Masculino Feminino Total

0a5 10 9 19 0a5 0 0 0

06 a 11 6 4 10 06 a 11 4 0 4

12 a 15 1 3 4 12 a 15 5 0 5

16 a 18 1 1 16 a 18 2 0 2

Acima de
18 1 Acima de 18 1

Total 17 17 35 Total 11 0 12

LAR DA CRIANÇA LAR VIDA

Faixa
Etária Masculino Feminino Total Faixa Etária Masculino Feminino Total

0a5 5 6 11 0a5 4 2 6

06 a 11 1 4 5 06 a 11 5 19 24

12 a 15 0 1 1 12 a 15 8 11 19

16 a 18 0 0 16 a 18 8 4 12

Acima de
18 1 Acima de 18 49

Total 6 11 18 Total 25 36 110


100

UNIDADE BOCA DO RIO LAR PÉROLAS DE CRISTO

Faixa
Etária Masculino Feminino Total Faixa Etária Masculino Feminino Total

0a5 0 0 0 0a5 4 11 15

06 a 11 0 0 0 06 a 11 9 20 29

12 a 15 1 0 1 12 a 15 9 16 25

16 a 18 8 0 8 16 a 18 12 3 15

Acima de
18 0 Acima de 18 4

Total 9 0 9 Total 34 50 88

ICAJ LAR FONTE DA FRATERNIDADE

Faixa
Etária Masculino Feminino Total Faixa Etária Masculino Feminino Total

0a5 0 0 0 0a5 0 0 0

06 a 11 0 0 0 06 a 11 0 1 1

12 a 15 7 0 7 12 a 15 0 0 0

16 a 18 2 0 2 16 a 18 0 2 2

Acima de
18 4 Acima de 18 8

Total 9 0 13 Total 0 3 11

BENEDITA CAMURUGI NUCLEO ESPÍRITA CAMPO DA PAZ

Faixa
Etária Masculino Feminino Total Faixa Etária Masculino Feminino Total

0a5 8 8 16 0a5 3 2 5

06 a 11 2 7 9 06 a 11 0 0 0

12 a 15 0 2 2 12 a 15 0 1 1

16 a 18 0 1 1 16 a 18 0 0 0

Acima de
18 0 Acima de 18 0

Total 10 18 28 Total 3 3 6
101

NOVA SEMENTE FRANCO GILBERT

Faixa
Etária Masculino Feminino Total Faixa Etária Masculino Feminino Total

0a5 3 4 7 0a5 0 0 0

06 a 11 2 6 8 06 a 11 3 0 3

12 a 15 1 5 6 12 a 15 5 0 5

16 a 18 1 1 16 a 18 0 0 0

Acima de
18 0 Acima de 18 0 0 0

Total 6 16 22 Total 8 0 8

UNIDADE PITUAÇU UNIDADE 2 DE JULHO

Faixa
Etária Masculino Feminino Total Faixa Etária Masculino Feminino Total

0a5 0 0 0 0a5 0 0 0

06 a 11 0 0 0 06 a 11 0 0 0

12 a 15 6 3 9 12 a 15 2 4 6

16 a 18 1 2 3 16 a 18 2 3 5

Acima de
18 2 Acima de 18 0

Total 7 5 14 Total 4 7 11

EUNICE WEAVER

Faixa
Etária Masculino Feminino Total

0a5 0 0 0

06 a 11 3 1 4

12 a 15 1 1 2

16 a 18 0 0 0

Acima de
18 0

Total 4 2 6
102

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 TOT
1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 AL
4
Deficiência Mental 0 2 0 1 3 0 1 2 1 0 4 0 2 0 4 0 0 0 0 1 61
Deficiência
Sensorial
(visão/audição) 0 0 2 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 6
1
Deficiência Física 0 0 2 0 0 0 0 0 6 0 0 0 2 0 5 0 0 0 0 0 25
Adolescentes com
filhos 0 2 0 0 0 0 0 0 1 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7
Transtorno Mental 0 1 0 0 3 2 1 0 0 0 4 0 0 0 1 0 0 0 0 0 12
Dependência
Química 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 11
Doenças Infecto- 1
Contagiosas 0 0 7 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 18
1 1
Situação de Rua 1 3 0 0 0 0 0 0 0 0 9 0 0 4 0 0 2 6 3 1 49
Ameaçados de 1
Morte 0 1 0 6 0 0 2 0 0 6 1 0 0 0 0 0 1 1 0 0 28
Adolescentes
Grávidas 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2
Pais ou
responsáveis 2
detidos 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 22
TOTAL 104

1 Ajuda Social a
Criança
2 ACOPAMEC-
Águas Claras
3 CAASAH
4 Luz do Amanhã
5 Elcy Freire
6 OAF
7 RECRIAR
8 Lar da Criança
9 Lar Vida
10 Unidade Boca do
Rio
11 Lar Pérolas de
Cristo
12 ICAJ
13 Lar Fonte da
Fraternidade
14 Benedita
Camurigi
15 Núcleo Espírita
Campo da Paz
16 Nova Semente
17 Franco Gilbert
18 Unidade Pituaçu
19 Eunice Weaver
20 Dois de Julho
103

Doc. Doc.
ABRIGO Prontuário Pessoais Saúde Fotos PIA adequado? Relatórios PPP

1 Ajuda Social a Criança NÃO SIM SIM SIM NÃO NÃO NÃO

2 ACOPAMEC- Mata escura SIM NÃO NÃO SIM NÃO SIM NÃO

3 CAASAH SIM SIM SIM SIM NÃO SIM NÃO

4 Luz do Amanhã SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM

5 Elcy Freire SIM SIM SIM SIM NÃO SIM NÃO

6 OAF SIM SIM SIM SIM NÃO NÃO SIM

7 RECRIAR SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM

8 Lar da Criança SIM SIM SIM SIM NÃO SIM NÃO

9 Lar Vida SIM SIM SIM NÃO NÃO NÃO NÃO

10 Unidade Boca do Rio SIM SIM SIM NÃO NÃO NÃO NÃO

11 Lar Pérolas de Cristo SIM SIM NÃO SIM SIM SIM NÃO

12 ICAJ NÃO SIM SIM SIM SIM NÃO SIM

13 Lar Fonte da Fraternidade SIM SIM SIM NÃO NÃO NÃO NÃO

14 Benedita Camurugi NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO SIM SIM

15 Núcleo Espírita Campo da Paz SIM SIM SIM NÃO NÃO NÃO NÃO

16 Nova Semente SIM SIM SIM NÃO SIM NÃO SIM


104

17 Franco Gilbert SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM

18 Unidade Pituaçu SIM SIM NÃO NÃO NÃO SIM NÃO

19 Eunice Weaver SIM SIM SIM NÃO NÃO SIM NÃO

20 2 de Julho NÃO NÃO SIM SIM NÃO NÃO NÃO


105

Tem trabalho
sistematizado
Sem visita a mais de 2 com
Abrigo meses Famílias?
1 Ajuda Social a Criança 6 NÃO
2 ACOPAMEC- Mata escura 5 SIM
3 CAASAH 12 SIM
4 Luz do Amanhã 6 SIM
5 Elcy Freire 3 SIM
6 OAF 20 SIM
7 RECRIAR 2 SIM
8 Lar da Criança 11 SIM
9 Lar Vida 58 NÃO
10 Unidade Boca do Rio 2 SIM
11 Lar Pérolas de Cristo 48 SIM
12 ICAJ 2 SIM
13 Lar Fonte da Fraternidade 3 NÃO
14 Benedita Camurugi 19 SIM
Núcleo Espírita Campo da
15 Paz 5 NÃO
16 Nova Semente 9 SIM
17 Franco Gilbert SIM SIM
18 Unidade Pituaçu 5 SIM
19 Eunice Weaver 1 NÃO
20 Dois de Julho 4 NÃO

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