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INTRODUÇÃO AO SERVIÇO SOCIAL

OBJETIVOS

Conhecer o significado social da profissão, de suas instâncias organizativas e de seu


desenvolvimento sócio histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as possibilid ades
de ação contidas na realidade. Apresentar o trabalho do Assistente Social a partir dos difer entes
espaços sócio ocupacionais. Discutir a importância do projeto ético político do Serviço Social.

EMENTA

A constituição e o desenvolvimento da profissão na divisão sócio técnica do trabalho.


Aspectos sócio-históricos do processo de profissionalização do Serviço Social no Brasil e suas
interpretações. Serviço Social na América Latina e no Brasil. Serviço Social e a produção e reprodução
das relações sociais. A natureza do Serviço Social, áreas e campos de atuação profissional. As
perspectivas e demandas contemporâneas para o trabalho do Assistente Social. Elementos
constitutivos do processo de trabalho do Assistente Social na atualidade. O mercado de trabalho no
Brasil e Maranhão. Prerrogativas legais do exercício profissional. Organizações políticas, acadêmicas
e profissionais da categoria.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

CAPÍTULO 1
O SERVIÇO SOCIAL E O ASSISTENTE SOCIAL: Quem somos e o que fazemos?
UNIDADE 1.1 – Serviço Social: Conceitos Introdutórios/ Quem é o Assistente social?
UNIDADE 1.2 – Nova Lógica Curricular

CAPÍTULO 2
A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL
UNIDADE 2.1 – As origens do Serviço Social.
UNIDADE 2.2 – Aspectos Sociais e Históricos do Processo de Profissionalização do Serviço Social e
o Serviço Social no Brasil.

CAPÍTULO 3
ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PROFISSÃO NO BRASIL
UNIDADE 3.1 – O processo de institucionalização e legitimação da profissão.
UNIDADE 3.2 – A formação profissional do Assistente Social e o Serviço Social na
contemporaneidade
6

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 O SERVIÇO SOCIAL E O ASSISTENTE SOCIAL: Quem somos e o que fazemos? .7


UNIDADE 1.1 – Serviço Social: conceitos introdutórios / Quem é o Assistente Social?.................7
UNIDADE 1.2 – Nova Lógica Curricular ............................................................................................9

CAPITULO 2 A GENESE DO SERVIÇO SOCIAL ...............................................................................15


UNIDADE 2.1 As origens do Serviço Social .....................................................................................15
UNIDADE 2.2 Aspectos Sociais e Históricos do Processo de profissionalização do Serviço
Social e o Serviço Social no Brasil ....................................................................................................25

CAPITULO 3 ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PROFISSÃO


NO BRASIL ...........................................................................................................................................37
UNIDADE 3.1 O processo de Institucionalização e legitimação da Profissão ..............................37
UNIDADE 3.2 A formação profissional do Assistente Social e o Serviço Social na
Contemporaneidade ............................................................................................................................41

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................................59
CAPITULO 1 O SERVIÇO SOCIAL E O ASSISTENTE SOCIAL: quem somos e o que fazemos?

UNIDADE 1.1 – Serviço Social: conceitos introdutórios

Nesta Unidade, vamos aprender um pouco sobre o Curso de Serviço Social,


seu surgimento, sua origem e seu objeto de estudo. Também conheceremos
o Assistente Social, profissional do Serviço Social, o que ele faz, com o que
e onde ele trabalha.

Você acabou de ingressar no Curso de Serviço Social e talvez deva estar se perguntando:
O que realmente vou estudar ao longo destes 04 anos de estudo? Com o que e onde irei trabalhar?
Quais atividades irei desenvolver?
O Serviço Social é um curso de nível superior, cuja abordagem investigativa está pautada
as múltiplas expressões da questão social. É uma profissão de caráter social, político, crítico e
interventivo, que se utiliza de instrumental científico multidisciplinar das Ciências Humanas eSociais
para analisar e intervir nas mais diversas expressões da questão social, ou seja, no conjunto de
desigualdade originárias do antagonismo entre a socialização da produção e a apropriaçãoprivada
dos frutos do trabalho.
O Serviço Social tem como objetivo a contribuição para a construção de uma ordem social,
política e econômica pelo menos diferente da atual. Reconhece nos determinantes estruturaise nas
dificuldades da realidade social os limites e as possibilidades do trabalho profissional, rebelando-se
contra os problemas, as injustiças que afetam os desamparados socialmente.
A pessoa que se forma no curso de Serviço Social é denominada de Assistente Social.

Quem é o Assistente Social?

O Assistente Social é um profissional habilitado em Serviço Social (Bacharel), queexerce


seu trabalho de forma remunerada nas organizações públicas e privadas, nas organizações não
governamentais, movimentos sociais etc. Sua atuação se dá nas mais diversas expressões da questão
social que afetam a qualidade de vida da população, em diferentes áreas (criança e adolescente, idoso,
deficientes, habitação, saúde etc.) por meio das políticas sociais públicas e privadas. É um profissional
dotado de formação intelectual e cultural generalista crítica, competente em sua área de desempenho,
com capacidade de inserção criativa e propositiva, no conjunto das relações sociais e no mercado de
trabalho.
Tem uma intervenção privilegiada e investigativa que, através da pesquisa e análise da
realidade social, atua na formulação, execução e avaliação de serviços, programas e políticas sociais
que visam a preservação, defesa e ampliação dos direitos humanos e da justiça social. Tem como
objetivo viabilizar os direitos dos usuários, assegurados por lei. É um profissional comprometido com
os valores e princípios norteadores do Código de Ética do Assistente Social.
De acordo com a Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social (Lei de nº
8662/93), somente podem exercer essa profissão as pessoas que tem diploma em curso de graduação
em Serviço Social, reconhecido e registrado pelo órgão competente que é o Ministério da Educação.
O exercício profissional requer registro prévio nos Conselhos Regionais de ServiçoSocial
(CRESS) que tenham jurisdição sobre a área de atuação do interessado nos termos da lei. A
designação profissional de Assistente Social é privativa dos habilitados em curso de graduação em
Serviço Social, não devendo, em hipótese alguma, ser usado para identificar práticas assistenciais.
Destacamos aqui algumas competências do Assistente Social:
a) Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais.
b) Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos.
c) Encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à
população.
d) Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar
recursos e de fazer uso dos mesmos na defesa de seus direitos.
e) Planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais.
f) Prestar assessoria e consultoria, com relação às matérias relacionadas ao Serviço
Social.
g) Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às
políticas sociais.
h) Realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços
sociais.
Além dessas, existem outras que são atribuições privativas do Assistente Social:
a) Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos,
programas e projetos na área de Serviço Social.
b) Planejar, organizar e administrar programas e projetos de Serviço Social.
c) Assessoria e consultoria em matéria de Serviço Social.
d) Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social.
e) Fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais.
O objetivo precípuo da profissão é efetivar direitos, sua atuação alcança todas as parcelas
da população, mas é a classe mais vulnerável e empobrecida que demanda uma maior atenção do
Assistente Social.
Cada vez mais exige-se que o Assistente Social seja um profissional ético, crítico,
propositivo, competente, instrumentalizado e articulado, com vistas à busca de melhoria de vida da
população, no que concerne à educação, saúde, moradia, assistência social, previdência etc.
A formação profissional deve viabilizar uma capacitação teórico-metodológica e ético-
política, como requisito fundamental para o exercício de atividades técnico-operativas, com vistas à
apreensão crítica dos processos sociais numa perspectiva de totalidade.
Como campos de atuação profissional podem ser citados: equipamentos da rede de
serviços sociais e urbanos das organizações públicas, empresas privadas e organizações não
governamentais como: hospitais, escolas, creches, clínicas, centros de convivência; administrações
municipais, estaduais e federais; serviços de proteção judiciária; conselhos de direitos e de gestão;
movimentos sociais; instâncias de defesa e de representação política.

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

1. O que é o Serviço Social e o que faz?

2. Defina a profissão de Assistente Social.

1.2 Nova Lógica Curricular

A lógica curricular do Curso de Serviço Social está sustentada no tripé dos conhecimentos
constituídos pelos núcleos de fundamentação da formação profissional, quais sejam:
- Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, que compreende um
conjunto de fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos para conhecer o ser social enquanto
totalidade histórica, fornecendo os componentes fundamentais para a compreensão da sociedade
burguesa, em seu movimento contraditório;
- Núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira que remete
à compreensão dessa sociedade, resguardando as características históricas particulares que presidem
a sua formação e desenvolvimento urbano e rural, em suas diversidades regionais e locais.
Compreende ainda a análise do significado do Serviço Social em seu caráter contraditório, no bojo das
relações entre as classes e destas com o Estado, abrangendo as dinâmicas institucionais nas esferas
estatal e privada;
- Núcleo de fundamentos do trabalho profissional que compreende todos os elementos
constitutivos do Serviço Social como uma especialização do trabalho: sua trajetória histórica, teórica,
metodológica e técnica, os componentes éticos que envolvem o exercício profissional, a pesquisa, o
planejamento e a administração em Serviço Social e o estágio supervisionado. Tais elementos estão
articulados por meio de uma análise dos fundamentos do Serviço Social e dos processos de trabalho
em que se insere, desdobrando-se em conteúdos necessários para capacitar os profissionais ao
exercício de suas funções, resguardando as suas competências específicas normatizadas por lei.
Estas disciplinas também se desdobram em outros componentes curriculares como: seminários
temáticos, oficinas/laboratórios e atividades complementares, agregando um conjunto de conhecimentos
indissociáveis para a apreensão da gênese, manifestações e enfrentamento da questão social, eixo fundante
da profissão e articulador dos conteúdos da formação profissional.

Veja abaixo alguns conteúdos que trabalharemos ao longo da nossa trajetória acadêmica:

- Filosofia: Principais correntes filosóficas no século XX (marxismo, neotomismo, neopositivismo,


fenomenologia) e suas influências no Serviço Social.

- Sociologia: Matrizes clássicas do pensamento sociológico (Marx, Weber, Durkheim) tematizando


processos sociais fundamentais: industrialização, modernização, urbanização e seus elementos
constitutivos – classes sociais, movimentos sociais e instituições).

- Ciência Política: Os clássicos da Política (Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau). Análise do Estado
Moderno e sua relação com a sociedade civil. Regimes políticos. Representação, democracia e
cidadania.
- Antropologia: A relação dialética entre o material e o simbólico na construção das identidades sociais
e da subjetividade. Imaginário, representações sociais e expressões culturais dos diferentes segmentos
sociais com ênfase na realidade brasileira e suas particularidades regionais.
- Psicologia: As principais matrizes teóricas de análise das relações entre indivíduo e sociedade.
Teorias da personalidade e dos grupos sociais. A constituição da subjetividade no processo de
produção e reprodução da vida social.
- Formação Sócio-Histórica do Brasil: A herança colonial e a constituição do Estado Nacional.
Emergência e crise na República Velha. Instauração e colapso do Estado Novo. Industrialização.
Urbanização e surgimento de novos sujeitos políticos. Nacionalismo e desenvolvimento e a inserção
dependente no sistema capitalista mundial. A modernização conservadora no pós 64 e seu ocaso no
final da década de 1970. Transição democrática e neoliberalismo.
- Direito e Legislação Social: A instituições de Direito no Brasil. Direitos e garantias fundamentais da
cidadania. A organização do Estado e dos poderes. A Constituição Federal. A legislação social: CLT,
LOAS, ECA, SUS etc. Legislação Profissional.
- Questão Social: A inserção do Brasil na divisão internacional do trabalho. Desigualdades sociais. A
constituição das classes sociais, do Estado e das particularidades regionais. Desenvolvimento desigual
e combinado na agricultura, indústria e serviço. A reprodução da pobreza e da exclusão social nos
contextos rural e urbano. As perspectivas contemporâneas de desenvolvimento e suas implicações
socioambientais.
- Política Social: O público e o privado. As políticas sociais e a constituição da esfera pública.
Formulação e gestão de políticas sociais e a constituição/destinação do fundo público. Análise
comparada de políticas sociais. Transformações no mundo do trabalho e novas formas de regulação
social. Políticas sociais públicas e empresariais. Desenvolvimento do sistema brasileiro de proteção
social. Políticas setoriais e legislação social.
- Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social: O processo de
profissionalização do Serviço Social nas sociedades nacionais enquanto especialização do trabalho.
As fontes teóricas que fundamentam historicamente o Serviço Social e a análise de sua incorporação
nos modos de pensar e atuar da profissão em suas expressões particulares na Europa, na América do
Norte e na América Latina, prioritariamente, no Brasil. O debate contemporâneo do Serviço Social.
- Processos de Trabalho: O Serviço Social como especialização do trabalho coletivo. A inserção do
Assistente Social nos processos de trabalho: questão social, movimentos sociais, políticas sociais,
dinâmica institucional e a formulação de projetos de pesquisa e intervenção. Espaços ocupacionais
do Serviço Social nas esferas pública e privada. O Assistente Social como trabalhador, as estratégias
profissionais, o instrumental técnico-operativo e produto do seu trabalho. Supervisão do trabalho
profissional e estágio.
- Administração e Planejamento em Serviço Social: As teorias organizacionais e os modelos gerenciais
na organização do trabalho e nas políticas sociais. Planejamento e gestão de serviços nas diversas
áreas sociais. Elaboração, coordenação e execução de programas e projetos na área de Serviço Social.
Funções de administração e planejamento em órgãos da administração pública, empresas e
organizações da sociedade civil.
- Pesquisa em Serviço Social: Concepção, elaboração e realização de projetos de pesquisa. A
pesquisa quantitativa e qualitativa e seus procedimentos. Leitura e interpretação de indicadores
socioeconômicos. Estatística aplicada à pesquisa em Serviço Social.
- Ética Profissional: Os fundamentos ontológicos da dimensão ético-moral da vida social e suas
implicações na ética do Serviço Social. A construção do ethosprofissional: valores e implicações no
exercício profissional. Questões éticas contemporâneas e seus fundamentos teórico-filosóficos. O
Código de Ética na história do Serviço Social brasileiro.
- Estágio Supervisionado: é uma atividade curricular obrigatória que se configura a partir da inserção
do aluno no espaço sócio institucional, objetivando capacitá-lo para o exercício profissional, o que
pressupõe supervisão sistemática. Esta supervisão será feita pelo supervisor e pelo profissional do
campo, através da reflexão, acompanhamento e sistematização, com base em planos de estágio
elaborados em conjunto pelas unidades de ensino e organizações que oferecem estágio.
- Trabalho de Conclusão de Curso: é uma exigência curricular para a obtenção do diploma de bacharel
em Serviço Social. Deve ser entendido como um momento de síntese e expressão da totalidade da
formação profissional. É o trabalho no qual o aluno sistematiza o conhecimento resultante das
indagações preferencialmente geradas a partir da experiência de estágio. Esse processo realiza-se
dentro de padrões e exigências metodológicas, acadêmicas e científicas. É elaborado sob a orientação
de um professor e avaliado por banca examinadora.
- Atividades Complementares: É exigida uma carga horária mínima de 120 horas. Dentre as atividades
realizadas podemos destacar: visitas monitoradas, iniciação científica, projeto de extensão, participação
em seminários, publicação de produção científica e outras atividades definidas no projeto pedagógico
do curso.
A carga horária do Curso é de 3.284 horas, com duração média de 04 (quatro) anos. O estágio
supervisionado tem uma carga horária de 500 horas.

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

1. Quais os campos de atuação do Assistente Social?

2. Qual a lei que regulamenta a profissão do Assistente Social?

ATIVIDADE AVALIATIVA

1. Faça um texto dissertativo elencando os motivos que o levaram a fazer o curso de Serviço Social e
o que você espera da profissão.
CAPÍTULO 2 A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL

UNIDADE 2.1 As origens do Serviço Social

A Gênese do Serviço Social pode ser compreendida por diversas interpretações históricas,
desde uma ordem religiosa, filosófica e sociológica até uma leitura crítica, com bases fundamentadas
na perspectiva marxiana. A profissão surge no final do século XIX, em 1898, na cidade de Nova Iorque
(Estados Unidos). Com a ascensão da sociedade burguesa e com o aparecimento de classe sociais, a
burguesia (classe social dominante) necessitava de um profissional que cuidasse da área social e
pudesse assistir a classe proletária. Dessa forma, a classe dominante exerceria certo controle sobre os
proletários. No momento, não existia uma metodologia ou teoria acerca da profissão ou o que era a
mesma.
Sua origem está fincada na assistência prestada aos pobres, por mulheres piedosas,
alguns séculos atrás.
Estevão (2006) afirma que o Serviço Social é fruto da união da cidade com a indústria.
Seu nascimento teve como cenário as inquietudes sociais que surgiram do capitalismo e, como
qualquer bom filho, quis possuir a mãe (a cidade) e se identificar com o pai (a indústria).
E continua:
Na adolescência, negou várias suas origens e hoje pode-se dizer que adquiriu
feições próprias, com contornos definidos na luta pela sobrevivência e,
identificado com seus pais, chegou para ficar. É claro que em sua fase de
maturação, mantém todas as ambiguidades inerentes a uma profissão que,
buscando comprometer-se com a população à qual presta serviços, é também
canal de ligação entre instituições públicas e cidadãos, empregadose patrões.
(ESTEVÃO, 2006, p. 09)

De acordo com Ottoni (1980), o “Serviço Social” como instituição emergiu e se


desenvolveu como fato das civilizações onde viveu, com este ou outro nome, existiu desde que os
homens apareceram sobre a terra. Admitindo ser o Serviço Social – ajuda ou auxílio aos outros – um
fato social, isto é, um modo de fazer constante e geral na amplitude de uma determinada sociedade,
embora tenha uma existência própria, independente das manifestações, define-se por sua generalidade
própria, por sua exterioridade, em relação às consciências individuais.
Na Era da Cristandade, em 313 (d.C.), o imperador Constantino pelo decreto de Milão,
estabelece o Cristianismo como religião oficial. A partir desse marco, a sociedade é unificada
religiosamente numa mesma crença. Vale situar que neste período histórico os males sociais atingiam
enormes proporções e a pobreza e a miséria, tão generalizada era considerada natural. Não se falava
em ciência nesse momento, os problemas sociais eram tratados pela superstição.
O conceito de caridade foi se transformando e todos os homens eram considerados como
irmãos, independente de raça ou nacionalidade, e ser pobre ou doente não constituía castigo de Deus,
mas a consequência da imprevidência individual ou das circunstâncias: a pobreza e a doença eram
consideradas provação, da qual se poderiam haurir grandes merecimentos. Logo, a caridade era
consequência do amor de Deus.
Sempre existiram pessoas que se preocupassem com os pobres, porém a partir do
surgimento da sociedade capitalista, a preocupação com as classes “menos favorecidas” e os
problemas sociais e políticos que esta população poderia criar, tornou-se uma necessidade de defesa
da burguesia recém chegada ao poder.
Estado e Igreja dividem as tarefas: o Estado fica com a imposição da paz política e as
Igrejas (Católica e Protestante) ficam com o aspecto social: a caridade. Durante toda a Idade Média,
a Igreja manteve-se na administração das obras de caridade (mosteiros, hospitais, leprosários,
orfanatos e escolas). Na Inglaterra, as paróquias ocupavam lugar de destaque na ajuda aos pobres.
Nos séculos XIII e XIV, sugiram congregações religiosas dedicadas especialmente a assistência,
auxílios materiais, visitas domiciliares e assistência hospitalar.
Como afirma Estevão, toda a assistência social nessa época era feita de forma não
sistemática, sem qualquer teorização a respeito além de vagas justificativas religiosas e ideológicas.
A assistência “concretizava-se na esmola esporádica, na visita domiciliar, na concessão
de gêneros alimentícios, roupas, calçados, enfim, em bens materiais indispensáveis para minorar o
sofrimento das pessoas necessitadas” (MARTINELLI, 2006, p. 96).
O final do século XV marca o fim da Idade Média, onde o sistema feudal se enfraquece e
os homens, livres das obrigações que os ligavam aos senhores, deslocam-se com mais facilidade para
as cidades, favorecendo assim o desenvolvimento urbano.
Nesse período rompe-se o poder religioso da Igreja Católica, com a Reforma Protestante,
pois se instaura a era da secularização, estabelecida como:

A libertação do homem em primeiro lugar, do controle religioso e depois do


controle metafísico sobre a sua razão e sua linguagem, é o banir das
concepções fechadas do mundo e a ruptura dos mitos sobrenaturais (OTTONI,
1980).

Com esse rompimento surge uma nova concepção da caridade, deixando-a de ser um
meio de santificação para aqueles que a praticava, para ser considerada um dever de solidariedade
natural. É mister ressaltar que alguns filósofos e humanistas atuaram dentro desse espírito social na
época, tais como: Juan Luis Vives (1492-1540) pelos escritos e São Vicente de Paulo (1531-1560) pela
atuação.

No que concerne ao filósofo Vives, o mesmo é conhecido pelo trabalho “da assistência
aos pobres” e que segundo Ottoni (1980) pode ser considerado o primeiro tratado do Serviço Social,
tendo em vista, que em seus escritos expõem sua doutrina sobre as causas da miséria e a necessidade
de união dos homens e da divisão do trabalho, bem como indica os meios de combate à pobreza e o
papel do Estado nessa investida.
É importante ressaltar que Vives acreditava ser insuficiente o trabalho da Igreja, eacionava
o Estado na obra de assistência, tendo este sofrido muita represália na época por tentar enfraquecer o
prestígio da Igreja.
Já o humanista São Vicente de Paulo teve a preocupação em sistematizar a distribuição
dos socorros e organizar a reabilitação dos pedintes com o auxílio caridoso de senhoras da sociedade,
instituindo-se as chamadas “Damas de Caridade”, sendo estas uma espécie de associação em que
cada “Dama” se encarregava de um determinado número de famílias, entretanto, por muito preconceito
da época, por serem mulheres da sociedade criaram muitas dificuldades nas obras.
Em 1633 São Vicente de Paulo e Luisa de Marillac, recrutaram massas camponesas para
se dedicarem ao “Serviço dos Pobres”, sendo este o primeiro passo para a profissionalização do
exercício da caridade, sem retirar o aspecto espiritual tanto de que recebia quanto de quem a dava.
No século XVI, surgem novas concepções políticas dos chamados “Monarcas
Esclarecidos”. A intervenção do Estado no campo da caridade constituía a ideia e atitudes novas,
pois até aquele momento era considerada esfera privada e religiosa.
O Estado começa a se interessar pelo bem estar do povo é impar ressaltar que a
conjuntura vivida não era nada promissora, uma vez que, a mendicância tornara-se abrangente:
mendigos vagando de cidade para cidade, pedindo dormida, comida e roupas, mas nunca trabalho. Era
uma verdadeira profissão.
Diante dos fatos, várias municipalidades tomaram iniciativas como: Pão dos Pobres em
Nuremberg (1522); Aumone Génerale, na cidade de Lyon na França (1534), para a qual se exigia a
contribuição de particulares, conventos, mosteiros e paróquias. Proibiu-se a mendicância.
Em meados do século XIX, o processo de industrialização começa a modificar
completamente a forma de produção familiar e artesanal, passando a mão de obra, no cenário
produtivo, não apenas masculina, mas também feminina e até mesmo infantil. Contudo, o laissez faire
procura cada vez mais lucros, fixando salários abaixo do nível de subsistência, obrigando as famílias
a ocuparem em massa as fábricas, fazendo surgir uma nova classe de pobres – os assalariados.
Da Idade Média até o século XIX “[...] a assistência era encarada como forma de controlar
a pobreza e de ratificar a sujeição daqueles que não detinham posses ou bens materiais” (MARTINELLI,
2006, p. 97).
Na Europa, consolidam-se os princípios de São Vicente de Paulo e de Vives, com a criação
de numerosas fundações religiosas e legais. Neste sentido o século XIX foi considerado como o século
de “organização da assistência social”, principalmente pelas entidades particulares. É nesse momento
que algumas pessoas como Chalmers, na Inglaterra, Ozanam, na França e Von der Heydt, na
Alemanha, praticam uma caridade de caráter assistencial que se constitui em um esboço de técnica e
de forma organizada.

Segundo Estevão:

Mas o que faziam essas pessoas que era diferente da prática caritativa
anterior? Elas dividiram as paróquias em grupos de vizinhança, designaram
um responsável em cada setor para distribuir ajuda material e fazer trabalho
educativo (principalmente dando conselhos).
As conferências São Vicente de Paulo, em 1833, por exemplo, organizam seu
trabalho em torno de visitas e ajudas a domicílio, creches, escolas de
reeducação de delinquentes, cuidados e socorros a refugiados e imigrantes.
O que era feito apenas nas paróquias passa a ser feito por toda a cidade. A
princípio organizada em pequenos bairros, a assistência começou a expandir-
se e procurou conquistar um espaço na cidade inteira. (ESTEVÃO, 2006, p.
13).

Até esse momento a Assistência Social é exercida, em caráter não profissional, como
contribuição voluntária daqueles que possuíam bens para aqueles que eram pobres. Dessa forma, as
atividades dos Assistentes Sociais eram restritas a conhecer as verdadeiras necessidades de cada um,
usar economicamente as esmolas disponíveis, visitar as casas dos pobres e necessitados, estudar
conscienciosamente os pedidos de ajuda e conseguir trabalho para os desempregados, para prevenir
os problemas derivados da pobreza.
Um marco importante para a sistematização da Assistência Social é a fundação da
Sociedade de Organização da Caridade em Londres, em 1869, baseada nos seguintes princípios de
trabalho:

1. Cada caso será objeto de uma pesquisa escrita.


2. Este relatório será entregue a uma comissão que decidirá o que se
deve fazer.
3. Não se dará ajuda temporária, mas metódica e prolongada até que o
indivíduo ou a família voltem às suas condições normais.
4. O assistido será agente de sua própria readaptação, como também
seus parentes, amigos e vizinhos.
5. Será solicitada ajuda às instituições adequadas em favor do assistido.
6. Os assistidos dessas obras receberão instruções gerais e escritas e se
formarão por meio de leituras e estadias práticas.
7. As instituições de caridade enviarão a lista de seus assistidos para formar
um fichário central, com o objetivo de evitar abusos e repetições de
pesquisas.
8. Formar-se-á um repertório de obras de beneficência que permita
organizá-las convenientemente. (ESTEVÃO, 2006, p. 14).

Esta sociedade era resultado da junção entre a Burguesia, a Igreja e o Estado. Tinha por
pretensão alargar a assistência aos mais desfavorecidos, sendo inicialmente praticada por mulheres
da alta burguesia, que posteriormente vieram a se profissionalizar.
Em 1851 na Alemanha, a enfermeira da alta sociedade inglesa, Florence Nigtingale,
juntamente com as diaconisas e irmãs da caridade, inicia as visitas domiciliares com o objetivo de
minimizar os sentimentos físicos e sociais, de pobres doentes, desenvolvendo mais tarde atividades no
âmbito da educação familiar e social com moradores de bairros operários em Londres no ano de 1865.
Logo em seguida, foi criado o Centro de Ação Social, pelo pastor Samuel Barnett e sua
esposa colaboradora, Octávia Hill. Este promovia atividades relacionadas com a saúde e higiene, das
famílias dos operários e dos pobres em geral, de modo a impulsionar a organização da assistência
social em bases científicas e a sua racionalização. Em 1882, Josephine Shaw Lowel, criou a primeira
sede americana da Sociedade, localizada em Nova Iorque. Após 11 anos realizou o primeiro curso de
Formação de Visitadoras Sociais Voluntárias.
Em 1899, na cidade de Amsterdã, funda-se a primeira escola de Serviço Social no mundo
e inicia-se também o processo de secularização da profissão, isto é, para o Serviço Social, as
explicações religiosas do mundo são substituídas por explicações científicas. A Sociologia dará suporte
ao Serviço Social.
Mary Richmond, uma assistente social norte-americana teve a sensibilidade de começar
a pensar e a escrever a respeito do que é o Serviço Social e de como ele deveria ser exercido. Ela
propôs que se criasse uma escola para o ensino da filantropia aplicada, adotando o inquérito como
método de diagnóstico e tratamento social. Mais tarde em Nova Iorque, esta escola acabou por ser
criada, sendo os cursos ministrados por Mary Richmond, com a responsabilidade da Sociedade de
Organização da Caridade para pessoas voluntárias. Estes cursos se estenderam aos Estados Unidos
e à Europa, com o objetivo de formar novos assistentes sociais, sendo criada a primeira escola na
Inglaterra no ano de 1908 e em Paris, duas escolas, uma sob orientação católica e outra sob a
orientação protestante, respectivamente nos anos de 1911 e 1913.
Mary Richmond foi a primeira assistente social a escrever sobre a diferença entre fazer
“assistência social”, ou caridade, ou filantropia, e o Serviço Social propriamente dito. É em seu livro
Caso Social Individual que surgem as primeiras luzes sobre uma prática profissional não ainda
institucionalizada. Para Mary Richmond, “dar ajuda material às pessoas pobres não era Serviço Social,
era apenas um osso do ofício, mas não o próprio ofício” (ESTEVÃO, 2006, p. 19). Para ela, fazer
Serviço Social implicava “trabalhar a personalidade da pessoa e o seu meio social. É claro queo meio
social era a família, a escola, os amigos, o emprego etc.” (IDEM).

Veja o que Estevão nos diz sobre a prática do Assistente Social naquela época:

O que faria um Assistente Social no início deste século se ele fosse sério,
rigoroso e competente?
Em primeiro lugar iria preocupar-se em determinar qual a história individualda
formação da personalidade de seu cliente. Se ele não havia conseguido
desenvolver suas potencialidades, enquanto pessoa e cidadão, era porque a
situação vivida por ele, em seu meio social, não havia permitido um correto e
completo desenvolvimento de sua personalidade.
Esta primeira assistente social acreditava que a personalidade das pessoas
pode, por motivos alheios à sua vontade, dependendo do meio social em que
viva, se atrofiar, não realizando assim tudo de que as pessoas podem ser
capazes quando lhes são dadas as condições necessárias.
Iria também estudar e investigar seriamente o meio social daquela pessoa, por
meio de entrevistas, conversas informais, visitas domiciliares a amigos,
professores, patrões etc. Observando e anotando, fazendo relatórios
minuciosos, obteria um diagnóstico e tentaria descobrir quais as possibilidades
de aquela pessoa vir a desenvolver a sua personalidade e como conseguir a
ajuda do meio social para sua causa.
Era preciso descobrir quais possíveis motivações de seu cliente poderiam
incentivá-lo a querer mudar, a desenvolver-se como gente, descobrir quais
aspectos de sua personalidade deveriam ser reforçados e quais deveriam ser
negados.
Isso feito,era necessário então escolher qual caminho dever-se-ia seguir para
que essa personalidade se desenvolvesse e para que o meio social
contribuísse para isso. Caso o meio social não pudesse mudar, o cliente
mudaria de meio.
Mary Richmond chamou esse procedimento de “as ações”: as ações diretas
sobre a personalidade do cliente e indiretas sobre o meio. (ESTEVÃO, 2006,
p. 19-20).

Essa proposta era chamada de Serviço Social de Casos e exigia tempo e paciência,
extensos relatórios e coleta minuciosa de dados. Mary Richmond mostrou que era possível fazer
muito mais do que caridade, ser rigoroso em termos de procedimento, descobrir técnicas que
possibilitassem o exercício profissional. Mary Richmond deu um estatuto de seriedade à profissão, a
secularizou e, ao mesmo tempo, teve a lucidez de perceber que era necessário dar bases técnicas à
prática sistemática que se exercia, oferecendo formas de trabalhar nas quais todos os assistentes
sociais se reconhecessem.
No final do século XIX (1914) com a primeira guerra a sociedade sofre transformações não
só do ponto tecnológico, como social e político. A família passa a sofrer modificações, passando de
patriarcal para conjugal, mesmo conservando as funções de procriação, educação moral e afetivae de
manutenção. Esta instituição passa a ser considerada a célula básica da sociedade, mas as demais
funções (instrução, assistência, recreação, etc.) foram delegadas à Igreja, à comunidade e/ou Estado.
A intervenção do Estado se dá em dois sentidos: na legislação surgiram em quase todos
os países. Os sistemas de seguros sociais como, por exemplo: a previdência social; na atuação criam-
se serviços assistenciais (França, Alemanha, Inglaterra) ligados a administrações municipais, em
atendimentos a crianças abandonadas, asilos para idosos desamparados, juizado de menores, etc.
No bojo do século XX cria-se outro tipo de instituições – as Entidades Internacionais, que
tinham como objetivo levar o consenso sobre a noção de ajuda, agora denominada de “Serviço Social”.
Em 1922 foi criada a União Católica Internacional de Serviço Social (UCISS) por
Mademoiselle Marie Baers, com sede em Bruxelas, Bélgica, era uma entidade confessional que reunia
escolas católicas de Serviço Social, associações católicas de assistentes sociais e membros
individuais. A finalidade consistia em levar aos trabalhos do Serviço Social a contribuição católica e
do humanismo cristão.
O Papa Pio XII proclama a UCISS, o duplo caráter do Serviço Social, competência e
fidelidade cristã. Em seguida organiza-se a primeira Conferência Internacional de Serviço Social, em
Paris (1928) por iniciativa de René Sand, cuja principal preocupação foi criar um fórum internacional
para os debates dos problemas de bem-estar social. As primeiras conferências focalizavam oscampos
de intervenção do Serviço Social nas áreas da habitação, família, industrialização e comunidade.
Percebe-se que o Serviço Social começa a procurar uma metodologia para atuar nos
campos de sua intervenção social numa abordagem individual, levando muitos assistentes sociais, a
acreditar numa especificidade para o trabalho em cada campo, ou seja, situação-problema e o sistema-
cliente.
É no período entre 1917 e 1922, que Mary Richmond, mostrava que esta abordagem
comportava três fases: Estudo, Diagnóstico e Tratamento. Com esta abordagem foi possível chegar à
conclusão de que variava as situações e os problemas dos clientes e não a maneira de agir do
assistente social. Os instrumentos eram: entrevistas, visitação, encaminhamentos.
Em 1922, Mary Richmond definiu o Serviço Social de Casos como “um processo de
desenvolvimento de personalidade do cliente, através de ajustamentos conscientemente efetuados
do indivíduo e do homem para o seu meio social”. Observa-se aqui que o Serviço Social desenvolve
como técnica serviços práticos e de aconselhamento, para que o cliente pudesse ter a capacidade
psicológica de resolver seus problemas. Algumas décadas depois, aparece um segundo tipo de método
de atuação em Serviço Social: O Serviço Social de Grupo.
A Abordagem Comunitária surgiu na França, quase que no mesmo tempo que a
abordagem individual, como ação social, e nos Estados Unidos, como “organização da comunidade”,
para remediar as disfunções da sociedade. Ambas eram vistas numa perspectiva sociológica de
natureza funcional, pois o entendimento da “organização de comunidade”, no campo do Serviço Social,
é compreendida como um processo de promoção e equilíbrio no que se refere aos recursos e
atendimento das necessidades dos indivíduos.
A Abordagem Grupal aparece bem depois nos Estados Unidos, pois logo no início os
grupos não foram considerados importantes para solucionar problemas. Até 1930, por conseguinte, o
trabalho com grupos se expressava através de programas gerais de várias naturezas, tais como
recreação, cultura física e esportes, que favoreciam a organização de grupos.
O Serviço Social de Grupo era na verdade um processo de Serviço Social que, se
desenvolvia pelas experiências propositadas, visando à capacitação dos indivíduos para melhorarem
o seu relacionamento social e enfrentarem de modo mais afetivo seus problemas pessoais de grupo e
de comunidade. Em 1934, os assistentes sociais começam um trabalho com grupos, dando início
dentro do Serviço Social um movimento que tem por finalidade definir a técnica e os objetivos desse
método de trabalho. Aos poucos esta prática profissional vai sendo aceita como um dos métodos que
o Serviço Social atua.
O desenvolvimento do Serviço Social de Grupo levou a um terceiro método de atuação
profissional: o Serviço Social de Comunidade, onde a concepção de trabalhos com grupos
desenvolveu-se para a ação intergrupos. Como afirma Estevão,

De início, trata-se de um trabalho de organização da comunidade entendido


como “a arte e o processo de desenvolver os recursos potenciais e os talentos
de grupos de indivíduos e dos indivíduos que compõem esses grupos. Depois,
o Serviço Social de Comunidade vai ser concebido como um processo de
adaptação e ajuste de tipo interativo e associativo e mais uma técnica para
conseguir o equilíbrio entre recursos e necessidades. (...) Já não era possível
pensar apenas em organizar a “comunidade”, mas era necessário,
principalmente, promover o seu desenvolvimento com seus próprios recursos
humanos e materiais (evidentemente com uma pequena ajuda do interior). O
trabalho social com comunidade é outro espaço que vai ser conquistado pela
profissão e desenvolvimento de comunidade passa a ser um método de
trabalho privativo do Serviço Social, que produziu efeitos tão bons para os
interesses norteamericanos e para o sistema que até a ONU (Organização das
Nações Unidas) formula propostas de desenvolvimento de
comunidade para os países ditos subdesenvolvidos: é a fórmula mágica que
irá salvar esses países do comunismo, isto é, da barbárie. (ESTEVÃO, 2006,
p. 25 - 26)

Partindo desses pressupostos históricos do surgimento da profissão, percebe-se nessa


leitura que o Serviço Social nasce como profissão imbricada nas concepções religiosas e sociológicas
de natureza funcional. A leitura de Ottoni (1980) sobre a história do Serviço Social se caracteriza bem
a influência tanto da Igreja Católica na formação dos assistentes sociais, quanto à influência
sociológica.
É visível a influência da abordagem sociológica positiva na concepção da autora quando,
por exemplo, caracteriza: caridade, filantropia, ou serviço social como uma ação de grupo. Nota-se que
a concepção de Ottoni é fundamentada numa perspectiva sociológica em Durkhein, por definir a
profissão e a ação do Serviço Social em prática social considerando que, o fato social é inseparável o
ato social.
Vale ressaltar para título de conhecimento desta concepção que a autora organiza seu
pensamento ao estudo do fato “ajuda aos outros” e vê-lo na sua estrutura, isto é, como um todo cuja,
as partes se relacionam entre si, pois descreve as partes, explica as partes (o porquê), compara as
partes, mas não percebe as contradições que existe entre os fatos com os quais as relacionam, ou
melhor, escamoteia as reais contradições na sociedade de classes.

A natureza do Serviço Social

A análise que será retratada neste item tem como base os estudos de Montaño (2009),
que traça um perfil da gênese do Serviço Social e como se constituiu a natureza da profissão. O autor
parte de duas perspectivas contraditórias descritas a seguir:
a) Perspectiva Endogenista1: esta sustenta a origem do Serviço Social na evolução,
organização e profissionalização das formas “anteriores” da ajuda da caridade e da filantropia,vinculada
à intervenção da questão social. Esta concepção tem plena repercussão na atualidade, aparece como
única e oficial interpretação sobre a gênese do Serviço Social, este passa a ser a profissionalização,
organização e sistematização da caridade e da filantropia.
Esta tese não considera o real como o fundamento e a causalidade da gênese
desenvolvimento profissional. Também tem uma clara visão particularista ou focalista, quando vê o
Serviço Social diretamente vinculado às opções particulares.

(...) o surgimento da profissão é visto como uma opção pessoal dos


filantropos em organizarem-se e profissionalizar, com o seja a Igreja, ou o
Estado, pois a explicação de sua gênese é intrínseca ao Serviço Social e
remete sempre a si mesmo. Os “atores”, os “protagonistas” do surgimento e
da evolução do Serviço Social ( o mesmo ocorre com a análise que fazem
da Reconceituação) são, nesta perspectiva, sempre pessoas singulares,
nomes, em definitivo, individualidades. (MONTAÑO, 2009:27)

1
Postura endogenista: a profissão é vista a partir de si mesma.
Essa perspectiva não considera a análise do contesto social, econômico e político como
determinante do processo de criação da profissão, ao contrário, naturaliza a história do serviço social
sem recuperar a sua processualidade, se transformando em etapas de meros cortes formais, ou seja,
separa-se o Serviço Social da sociedade e autonomiza-se o primeiro.
b) Perspectiva Histórico-crítica: surge em oposição à tese anterior, esta compreende
o surgimento da profissão como um produto da síntese dos projetos “político-econômicos que operam
no desenvolvimento histórico, onde se reproduz material e ideologicamente a fração de classe
hegemônica, quando, no contexto do capitalismo na sua idade monopolista, o Estado toma para si as
respostas à ‘questão social’”. (Montaño, 2009:30)
Esta tese define o Serviço Social como uma profissão que desempenha um papel
claramente político, tendo sua função determinada pela posição que o profissional ocupa na divisão
sóciotécnica do trabalho. Assim colocado, o assistente social tem um papel a desempenhar na ordem
social e econômica na prestação de serviços – ele é demandado a participar na reprodução tanto da
força de trabalho, das relações sociais, quanto da ideologia dominante. Essa tese parte de uma visão
totalizante.
Assim, a emergência da profissão deve sua existência à síntese das lutas
sociais que confluem num projeto político-econômico da classe hegemônica
de manutenção do sistema perante a necessidade de legitimá-lo em função
das demandas populares e do aumento da acumulação capitalista (...)
(MONTAÑO, 2009, p. 33-34)

Nesta tese o serviço social tem sua natureza e funcionalidade político-econômicas,


voltadas para a função de legitimação da ordem e aumento da acumulação capitalista. Profissionais
cuja função na sociedade remete fundamentalmente à execução terminal das políticas sócias
segmentadas. Seu campo privilegiado de trabalho é o Estado e sua base de atuação são as políticas
sociais.
É em autores como Iamamoto, Carvalho, Netto e Manrique que podemos
observar uma clara distinção entre a análise dos fundamentos e o sentido
social da gênese profissional – vinculada à estratégia burguesa de
transformar o Estado (e suas políticas sociais) num instrumento de controle
e manutenção do sistema, tanto quanto da luta das classes trabalhadoras em
permear o Estado com suas demandas e reivindicações – e as características
dos primeiros profissionais características esta que, mesmo que tenham sido
transferidas para a profissão e constituídas em particularidades do Serviço
Social, nada dizem a respeito de funcionalidade, sentido e papel social e
legitimidade da profissão. Assim, para eles, não há evolução (de formas
anteriores de ajuda para o Serviço Social “profissionalizado”), e sim criação
de um novo ator, de uma nova profissão, que, no entanto, não se constitui
com uma identidade meramente atribuída, na medida em que os primeiros
profissionais “levam” consigo suas próprias características (sua
subalternidade de gênero, suas formas de prática voluntarista ligadas à
assistência e à filantropia, sua formação confessional, sua origem de classe
etc.), tendo tido um relativo protagonismo na constituição do Serviço Social.
(MONTAÑO, 2009, p. 54)

A Legitimidade dos Assistentes Sociais


Seguindo o roteiro da discussão no item anterior com relação a gênese do Serviço Social,
trabalharemos com duas teses sobre a legitimidade da profissão, ainda orientados pelos estudos de
Montaño (2009):
a) A primeira tese está vinculada a perspectiva endogenista: ela coloca a legitimidade
atrelada a “especificidade” da prática profissional, ou seja, seria como montar uma barreira
interprofissional para cada profissão não invadisse o espaço da outra. Nesta analise entende-se com
específico do Serviço Social a prestação de serviços direcionados aos setores empobrecidos e
carentes da sociedade. Ocorre uma suposta exclusividade dos tradicionais campos de intervenção
profissional, pensa-se, portanto que as refrações da questão social existentes em um dado período
permanecerão as mesmas no futuro. Esta tese desta forma, resulta-se falsa e ilusória.
b) A segunda tese está vinculada a visão de totalidade (histórico-crítica): esta parte
de um Serviço Social legitimado pelo papel que cumpre na e para a ordem burguesa. Sua legitimidade
se forma na função prestada pelo profissional à ordem burguesa (através principalmente do Estado),
através sua participação como executor das políticas sociais.
Nesta perspectiva, o que legitima uma profissão é:
• Dar respostas a determinadas necessidades sociais;
• Existência de instituições e organizações com interesse e capacidade de contratar
esses profissionais
Neste sentido, entre a necessidade social e a demanda profissional do
mercado (ou institucional) deve mediar um processo de conversão, que
transforme necessidades sociais em demandas e reivindicações da
população, e estas em respostas institucionalizadas por parte da sociedade.
Este processo de conversão é histórico, dinâmico. Portanto, só quando esta
conversão de necessidades a respostas assume a forma de políticas e
serviços sociais e assistenciais desenvolvidos fundamentalmente pelo
Estado, socializando a responsabilidade e universalizando o direito à
satisfação da necessidade, é que aparece legitimamente instituída uma
profissão como a de Serviço Social. (MONTAÑO, 2009, p.59)

Assim a legitimidade da profissão apresenta duas dimensões: a dimensão hegemônica e


a dimensão subalterna, que expressam um processo tenso e contraditório, da dinâmica social, de
luta/concessão, que remetem a uma relação diferenciada de classes com o profissional. A dimensão
hegemônica leva à relação assistente social/classe dominante-empregador, remete a funcionalidade
que a profissão tem com o capital e seus representantes (o Estado); e a dimensão subalterna, refere-
se à relação assistente social/usuário, relação quase sempre mediatizada pelo Estado ou outros
organismos oficiais e empresariais. (Montaño, 2009:60-61)
A “questão social” se torna, assim, não apenas o fator “disfuncional” e
ameaçador do “equilíbrio”, levando a classe dominante, mediatizada pelo
Estado e outra organizações, a desenvolver uma estratégia de controle social
por meio das políticas sociais e contratando o assistente social como executor
delas (dimensão hegemônica da legitimidade profissional), mas a “questão
social” se constitui também no motivo pelo qual a população demanda ao
Estado e aceita a intervenção desse profissional para a solução das suas
carências (dimensão subalterna). (MONTAÑO, 2009, p. 62)
A questão social é fonte determinante da demanda do assistente social. O compromisso
ético-profissional deve ser voltado para atender os problemas que afetam as classes dos
trabalhadores, por isso as orientações ideopolíticas devem se voltar para a defesa dos interesses e
direitos das classes trabalhadoras.
O último fundamento para a legitimação do serviço social está na demanda e luta que a
classe trabalhadora faz por serviços sociais e assistenciais, além da conquista de direitos sociais, o
que gera demanda de agentes para elaborar a executar tais serviços.
(...) Assim como o Estado transforma direitos e conquistas populares em
aparentes “concessões” de serviços, também transfigura a verdadeira fonte
e fundamento da demanda por assistentes sociais:toma a demanda por
serviços que parte daqueles direitos e conquistas da população e a mostra
(transfigurando-a) como uma demanda de emprego (requisição de
assistentes sociais) que parte do Estado e organismos da classe
hegemônica. Ao mediar a relação entre as classes, o Estado esconde as lutas
e demandas por serviços e as transforma em atividades estatais autônomas
e neutras. Ao fazer isto, o assistente social percebe-se, ele próprio, como um
mediador entre a população e o Estado, e percebe a origem da sua demanda
profissional não na demanda social (das classes trabalhistas em luta por
direitos), mas na demanda de emprego provinda do Estado. (MONTAÑO,
2009:65)

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

1. Quais são os princípios de trabalho defendidos pela Sociedade de Organização da Caridade, em


Londres?

2. Quem foi a primeira Assistente Social a escrever sobre a diferença entre fazer “Assistência Social”
ou Caridade e Filantropia e o Serviço Social propriamente dito?

UNIDADE 2.2 Aspectos Sociais e Históricos do Processo de Profissionalização do Serviço


Social

O momento histórico pelo qual passava a América Latina quando as escolas de Serviço
Social foram fundadas, influenciaram muito na forma como elas foram constituídas, tensões políticas,
a consolidação do Capitalismo2 nesses países, crise entre as classes sociais, pois com a chegada do
capitalismo surgiu uma nova classe dominante, a burguesia, e em meio a este quadro a Igreja Católica,
sólida e ainda com bastante influência na forma de vida da sociedade, com o poder de manter o domínio
sobre os menos favorecidos, era considerada uma aliada das classes dominantes,e um instrumento
de contenção dos conflitos gerados pela insatisfação das classes trabalhadoras com a nova ordem
vigente.
O Serviço Social foi fundado pela Igreja com o objetivo de conter os conflitos com agentes
propagadores da sua doutrina, agentes de “bondade e solidariedade”. As profissionais eram senhoras
das classes dominantes que se sentiam penalizadas com a situação das pessoas menos favorecidas
e faziam o curso em favor da “compaixão e da caridade”, por isso ficaram conhecidas como “damas da
caridade”.

O Serviço Social na América Latina

A influência inicial do Serviço Social na América Latina foi europeia. A partir de 1940, o
Serviço Social norteamericano exerceu também grande influência na América Latina. Os organismos
internacionais daquela época exerceram forte influência na formação e prática dos assistentes sociais
latino-americanos.
Na América Latina, a Igreja Católica desempenhou um papel de extrema importância, e
a sua significação social e política foi notavelmente acrescida durante o domínio colonial. A Igreja
estava aliada a Oligarquia e desta forma era responsável pela formação dos intelectuais latinos,
segundo suas crenças e filosofia, fortalecendo a classe dos Oligarcas.
A Igreja contava com um discurso doutrinário centralizado que elaborava as diretrizes
gerais de compreensão dos problemas, estabelecendo normas genéricas de compreensão dos
problemas. Os instrumentos mais importantes de expressão desta doutrina eram as Encíclicas Papais,
que representaram modificações na orientação doutrinária e na ação política da IgrejaCatólica. As
encíclicas mais importantes no período em que o Serviço Social transitava para a profissionalização na
América Latina, foram a Rerum Novarum (divulgada por Leão XIII a 15 de maio de 1891) e a
Quadragésimo Anno (divulgada por Pio XI a 15 de maio de 1931).
Falaremos primeiramente da Encíclica Rerum Novarum, que coloca sobre
responsabilidade da Igreja a tarefa de “cuidar” da questão social.
Acrescendo o mal, sobreveio a usura voraz que, repetidamente condenada
pela sentença da Igreja, prossegue disfarçando sua essência sob formas
várias, exercida por homens avaros e ambiciosos. Some-se a isto o fato de
que a produção e o comércio de todas as coisas estão quase inteiramente
em poucas mãos, de modo que uns quantos homens riquíssimos e opulentos
impuseram sobre a multidão inumerável de proletários um jugo que pouco
difere da escravidão. (Rerum Novarum, 1891)

Salienta as formas de exploração da força de trabalho assalariada, que permitiram a


acumulação capitalista. O direito a propriedade é um direito natural que vem da “generosidade divina”.
Com este discurso papal se consagra tanto o direito à propriedade privada quanto o direito à

2
O Capitalismo aqui trabalhado segundo a teoria criada por Karl Marx.
renda da terra, desta forma, a encíclica elude a desigualdade central que remete à exploração do
proletariado.
A Rerum Novarum ao reconhecer que a propriedade privada é um direito divino, também
reconhece que a organização do Estado e da sociedade está sujeita à vontade divina. Com este
discurso a Igreja justifica o combate ao socialismo, difundido que o correto seria “humanizar” a ação
dos proletários, dos capitalistas. “Não haverá nenhuma solução aceitável sem o recurso à religião e à
Igreja”.
Com relação a Quadragesimo Anno:
Aos nossos muito amados Filhos eleitos para tão grande obra
recomendamos...que se entreguem totalmente à educação dos homens que
lhes confiamos e que nesta tarefa verdadeiramente sacerdotal e apostólica
usem oportunamente todos os meios mais eficazes da educação cristã:
ensinar aos jovens, instituir associações cristãs e fundar círculos de estudo.
O caminho que se deve trilhar está traçado pelas atuais circunstâncias.
Como em outras épocas da história da Igreja, temos de enfrentar um mundo
que, em grande parte, retrocedeu quase ao paganismo. Os primeiros e mais
diretos apóstolos dos operários serão os operários mesmos...Buscar com
afã estes apóstolos seculares, tanto operários como patrões, escolhê-los
com prudência, concerne a vós e ao vosso clero. (Quadragesimo Anno,
1931)

A Ação Católica, um dos principais núcleos católicos seguidores das encíclicas,


desempenhou importante papel dirigindo seus esforços para aderir as encíclicas como guia. A
Quadragesimo Anno reconheceu e salientou a importância do trabalho dos intelectuais e dos
profissionais católicos na elaboração da doutrina social da Igreja.(CASTRO, 1987, p. 55)

Não é de surpreender...que sobre a direção e o magistério da Igreja, muitos


homens doutos, eclesiásticos e seculares se consagrassem
empenhadamente no estudo da ciência social e econômica...Deste
modo...surgiu uma verdadeira doutrina social da Igreja, que esses homens
eruditos...cooperantes da Igreja..., estimulam e enriquecem dia a dia com
inesgotável esforço...como claramente o demonstram as tão proveitosas e
celebradas escolas instituídas em universidades católicas, em academias e
seminários...(Quadragesimo Anno, 1931)

Na encíclica o Papa Pio XI apela a Ação Católica para que forme, sob seus princípios, os
assistentes sociais, assim como os demais “cooperantes” da Igreja. A caridade, o messianismo, o
espírito de sacrifício, a disciplina e a renúncia total se tornaram parte constitutivas da doutrina e dos
hábitos que acompanharam o surgimento da profissão sob a perspectiva católica.(CASTRO, 1987:56)
[...]através da Quadragesimo Anno, enfatizou também a recuperação dos
aspectos técnicos para a eficiência do trabalho assistencial, chamando ao
estudo, o que resultou especialmente renovador na América Latina, onde se
fez necessária que a Igreja estimulasse diretamente a criação de centros de
formação superior incumbidos de difundir os conhecimentos requeridos para
superar as limitações técnicas do trabalho artesanal tradicionalmente
voluntária.(CASTRO, 1987, p. 57)

O que significou a passagem de uma prática inspirada em princípios senhoriais para outra
ligada às exigências burguesas. O assistencialismo praticado pela Igreja com estímulo das “grandes
senhoras” da época, adquiriu novas dimensões ao se transformar em profissão. Sendo
necessário um ciclo de treinamento que colocava os estudantes (precedentes das classes burguesas)
em contato com uma formação sistemática e com o conhecimento de algumas disciplinas.
(CASTRO,1987:58)
A Igreja desenvolveu papel decisivo na criação de escolas de Serviço Social em nosso
continente estabelecendo, para que fosse possível, alianças com a classe emergente devido suas
relações com sistema de produção capitalista.
A ideologia da Igreja expressada pelas encíclicas serviu para fortalecer consolidar a
legitimação do capitalismo, esta pregava a conciliação entre as classes, a moralidade e educação
familiar, repúdio aos conflitos e busca por harmonia, que repercutia diretamente no curso das lutas de
classes e na configuração do proletariado como classe.
Segundo Castro (1987), as escolas de Serviço Social foram fundadas em um período, no
continente Latino, em que as relações de produção capitalistas iam, cada vez mais, subsumindo as
formas subsistentes da antiga ordem. No estudo das primeiras escolas de Serviço Social na América
Latina, vamos nos concentrar nas escolas surgidas no Chile e no Peru.
Outra Instituição fundamental para a difusão do Serviço Social na América Latina foi a
UCISS (União Católica Internacional de Serviço Social), criada em Milão (Itália), em 1925, a partir da I
Conferência Internacional, que compreendia o Grupo de Escolas de Serviço Social e as Associações
de Auxiliares Sociais. O propósito desta instituição era enfatizar a necessidade e a eficiência do Serviço
Social dar conhecimento a sua Ação Católica levando ao avanço da profissão, o que significou o
estímulo à criação de escolas de Serviço Social. (Castro, 1987:54)

a) As primeiras escolas chilenas de Serviço Social

É necessário antes de iniciarmos o estudo das escolas chilenas, compreender as relações


estabelecidas no Chile nos anos vinte. Na história chilena, toda a década de vinte está marcada como
um período de séria crise institucional. Nesse período aconteceram mudanças significativas no cenário
político no País, devido ao espaço conquistado pelo movimento operário e popular, influenciados pelas
ideias socialistas e anarco-sindicalistas. Os movimentos lutavam por sistema democrático e pela
elevação das condições de vida dos setores que lutam por um campo de ação para seu
desenvolvimento autônomo e pela institucionalização das suas demandas.
Foi na efervescência social que vivia o país que em 1925, funda-se primeira escola de
Serviço Social, fundada por Alejandro Del Río, esta escola tem uma origem ligada à ação do Estado,
tendo como fator preponderante as reivindicações dos movimentos operários e populares. A intenção
de Del Río era criar uma escola que formasse profissionais destinados a complementar o trabalho dos
médicos.
Em relação às primeiras escolas de Serviço Social – tanto as chilenas quanto
a de outros países – cabe ainda uma observação sobre a suaorigem,
pois na constituição destes centros de estudos colocam-se em jogo duas
estratégias, em muitos casos complementares: de um lado, a iniciativa do
estado...e de outro, a da Igreja católica e seus conexos. No que se refere à
escola fundada por Del Río, a sua origem está mais próxima da esferadas
necessidades de expansão estatal...(CASTRO, 1987, p. 65)
A fundação da primeira escola católica chilena de Serviço Social foi iniciada em 1929 com
o apoio da UCISS, chamada de “Escola Elvira Matte de Cruchaga”. Foi criada para a formação de
agentes sociais adequados às mudanças sofridas pela sociedade chilena, a fim de responder aos
estímulos concretos e práticos que lhe impunham as lutas de classes, assim como estratégia para a
“continentalização” da influência católica na criação de escolas de Serviço Social. A Igreja se via
impelida a situar-se no interior de questão social emergente com a modernização capitalista.

[...] a formação de visitadores sociais católicos, que desenvolvam as suas


atividades à base de uma verdadeira caridade cristã; visitadoras que não só
cuidem do aspecto material dos seus assistidos, mas que se dediquem com
amor a tratar também das suas almas...Baseando-se nestes princípios, a
Escola concebe o Serviço Social mais que como uma simples profissão –
concebe-o como vocação, para a qual são tão necessários os conhecimentos
técnicos como o amor. (CASTRO, 1987, p. 67)

Segundo Castro (1987:69), esta escola representou, além de uma diversificada


possibilidade de ação profissional, também um centro de educação especializado que definiu a sua
fisionomia a partir do Serviço Social católico.

b) A Escola de Serviço Social no Peru

O Peru nos anos vinte também foi marcado por disputas de poder. A ditadura de Augusto
B. Leguía (1919-1930) trouxe mudanças que marcariam para sempre a história do país. Leguía optou
por subordinar-se ao imperialismo norte-americano cedendo o direito a exploração de riquezas minerais
do País, em troca obteve os recursos necessários para sustentar sua administração. Florescendo
desta forma uma burguesia comercial e intermediária que se beneficiou dos fluxos econômicos
estabelecidos pela gestão de Leguía.
Em paralelo a esta realidade, houve também uma reorganização da estrutura de classes
e a emergência de setores populares no cenário político. Com a crise mundial de 1929, a economia
peruana foi severamente afetada, levando a deterioração do regime, com a participação dos
movimentos populares e com uma frente oposicionista das próprias classes dominantes. Em 1930, foi
declarado um golpe militar, que levou o país a constantes conflitos regionalizados. Em 1931 houve
eleições de que participaram os dois partidos do Peru, o APRA e União Revolucionária, no entanto,
essas eleições não trouxeram a estabilidade desejada, ao contrário, intensificaram as manifestações
dos movimentos populares.
Com o objetivo de por fim aos conflitos, em 1933, a Assembleia Constituinte entregou o
poder ao general Oscar R. Benavides, militar de grande prestígio. Em 1936 após uma conturbada
eleição, Benavides se proclamou presidente por mais três anos, e utilizou de força para conter as
manifestações e um possível golpe em seu poder.
Em sua segunda etapa de Governo Benavides começou a perceber que a violência estava
colocando cada vez mais o Peru em uma situação instável e turbulenta. Desta forma percebeu a
necessidade de instituir políticas sociais, para modernizar o Estado e responder a demandas
incontornáveis.
Como uma das medidas de Benavides, fundou-se a escola de Serviço Social do Peru,
em 1937. Ela surge diretamente vinculada ao Ministério da Saúde Pública, Trabalho e Previdência
Social. A ESSP (como ficou conhecida a escola) deveria contribuir com o trabalho naquele Ministério
e em outras instituições que estavam sendo criadas pelo Governo.
No comando da fundação da escola de Serviço Social estava a primeira dama do
Governo, Francisca Benavides. Ela fora auxiliada por colaboradores da Ação Católica, que estavam
bastante interessados na criação da escola. Foi sugerido pela Ação Católica que a UCISS indicasse o
nome mais adequado para a direção da escola. A entidade respondeu de imediato, propondo o nome
de Louise Joerissen, que desempenhou importante papel na fundação da escola de Serviço Social do
Chile. O nome foi de pronto aceito pela primeira dama.
[...] a fundação desta escola se insere na política social estatal conduzida pelo
governo Benavides...o funcionamento da ESSP contava com pleno respaldo
e apoio oficiais, e a escola estava destinada a ser o elemento funcional de
um plano de expansão estatal(...)Na experiência peruana, a conjunção destes
dois elementos – a cooptação pelo Estado e a influência religiosa – é
fundamental para a compreensão da evolução da escola.(CASTRO, 1987, p.
115)

A escola de orientação católica favoreceu para restituir a imagem da classe dominante,


que foi comprometida devido a repressão instaurada no país. A atuação dos assistentes sociais como
portadores do bem, da justiça e do amor ao próximo, colaborava com a melhoria da imagem da classe
dominante e também contribuía para a ampliação do seu domínio.
Nesse primeiro momento da história do Serviço Social, as pioneiras aderiam a profissão
por vocação, pois estas pertenciam a classe dominante e não precisavam da remuneração para
sobreviver. O que segundo Castro (1987), fez que a profissão se transformasse em trabalho
plenamente disponível, que não exigia equivalências entre a atividade realizada e a remuneração
salarial.
A análise da fundação dessas duas escolas na América Latina demonstra a força que a
Igreja Católica teve no início do curso no continente. Essa mesma influência foi fundamental para o
início do curso no Brasil, como veremos no item a seguir.

O Serviço Social no Brasil

Para compreendermos o surgimento do Serviço Social no Brasil é necessário um breve


relato dos acontecimentos e mudanças ocorridas no País nas décadas de 20 e 30, pois estes
influenciaram e até mesmo determinaram a constituição da profissão. Esse período é marcado pela
inserção do Capitalismo Monopolista na sociedade brasileira, cuja dinâmica dentre os principais
aspectos, a construção de uma nova configuração do espaço público-estatal, engendrando, assim,
novos papéis e funções para o Estado.
Para uma melhor compreensão dos fundamentos histórico-sociais para o surgimento do
Serviço Social no Brasil, teremos que fazer um rápido resgate da evolução do capitalismo no Brasil.
Segundo BEHRING (2003), o desenvolvimento do capitalismo no País teve três fases: a primeira é de
eclosão de um mercado capitalista especificamente moderno, até meados de 1860, tratava-se de um
padrão neocolonial de desenvolvimento; a segunda fase é da formação e expansão do capitalismo
competitivo, quando ocorre a fixação das bases para a industrialização, vai da década de 1860 até a
década de 1950; a terceira fase é a fase da irrupção do capitalismo monopolista, marcada pelas
operações comerciais, financeiras e industriais das grandes corporações do país, se acentua nos anos
1950 e adquire caráter estrutural após o Golpe Militar de 1964.
Neste momento do estudo vamos nos ater a segunda fase, na qual houve a constituição
de um mercado capitalista mais consolidado, tratou-se do desenvolvimento de um mercado
competitivo, adaptando a economia brasileira aos dinamismos das economias centrais, mas sem
desencadear possibilidades de autonomia, promovendo o desenvolvimento acelerado, com forte
sustentação do Estado (o que manteve o setor agrário no arcaísmo). Com a diferenciação e aceleração
do capitalismo a dominação imperialista cresceu significando para o mercado internacional a
reciclagem do padrão de desenvolvimento, adaptando-o aos seus interesses. (Behring, 2003:103-104)
Com o desenvolvimento do capitalismo há uma mudança nas relações de trabalho, o
trabalhador que antes era detentor dos meios de produção (enquanto trabalhador rural), passa a ser
trabalhador livre que vende sua força de trabalho, quem detém os meios de produção é a nova classe
burguesa (capitalista). As relações de trabalho passam a ter novo cenário, o meio urbano, que traz
novas demandas para o Estado.
A “questão social”, seu aparecimento, diz respeito diretamente à
generalização do trabalho livre numa sociedade em que a escravidão marca
profundamente seu passado recente. Trabalho livre que se generaliza em
circunstâncias históricas nas quais a separação entre homens e meios de
produção se dá em grande medida fora dos limites da formação econômico-
social brasileira. Sem que se tenha realizado em seu interior a acumulação
(primitiva) que lhe dá origem, característica que marcará profundamente seus
desdobramentos. (IAMAMOTO e CARVALHO, 1998, p. 125)

Destacamos neste quadro a função do Estado, que se encaminha para uma nova
modalidade de intervenção, necessária pela demanda gerada pelo capital, direcionada para garantir os
superlucros dos monopólios, desempenhando, assim, uma multiplicidade de funções. O Estado atua
como um instrumento de organização da economia, operando notadamente como um administrador
dos ciclos de crise. (Netto, 1996, p. 21-22)
O que se quer destacar, nesta linha argumentativa, é que o capitalismo
monopolista, pelas suas dinâmicas e contradições, cria condições tais que o
Estado por ele capturado, ao buscar legitimação política através do jogo
democrático, é permeável a demandas das classes subalternas, que podem
fazer incidir nele seus interesses e suas reivindicações imediatos. E que este
processo é todo ele tensionado, não só pelas exigências da ordem
monopólica, mas pelos conflitos que esta faz dimanar em toda a escala
societária.
É somente nestas condições que as sequelas da “questão social” tornam-
se... objeto de uma intervenção contínua e sistemática por parte do Estado...
No capitalismo dos monopólios, tanto pelas características do novo
ordenamento econômico quanto pela consolidação política do movimento
operário e pelas necessidades de legitimação política do Estado burguês, a
“questão social” como que se internaliza na ordem econômico- política...
(NETTO, 1996, p. 25-26)
Para enfrentar a “questão social” o Estado criou estratégias de intervenção para lidar
com as suas sequelas, que denominou de Políticas Sociais, a sua funcionalidade estava em preservar
e controlar a força de trabalho, assegurando as condições para o desenvolvimento monopolista. As
políticas sociais lidavam de forma fragmentada e parcializada a “questão social”, repartindo-a em
problemas particulares (desemprego, fome, falta de escolas, falta de saúde, entre outros) e desta forma
enfrentadas. Ressalta-se neste ínterim que as políticas sociais foram resultado da mobilização e
organização das classes operárias e que o Estado respondeu com estas estratégias.
Considerando a trajetória histórica do Brasil, alia-se a esse conjunto de fatores a
reorganização da Igreja Católica em prol de um amplo movimento de recristianização da humanidade
e, principalmente, da reafirmação de seus interesses e privilégios, temporariamente abalados com o
advento da República.
Durante a década de 1920 a Igreja Católica tenta recuperar os privilégios perdidos com o
fim do Império, seguindo as orientações de Leão XIII para realizar a recatolização da sociedade,
assumindo, assim a “questão social”. Destaque-se também a limitação da autonomia das burocracias
regionais da hierarquia e a “romanização” do catolicismo brasileiro, atingindo tanto o clero como o
movimento leigo. (IAMAMOTO e CARVALHO, 1996, p. 143).
Segundo Iamamoto e Carvalho (1996), a criação da revista “A Ordem” em 1921 e do
Centro Dom Vital, em 1922, foram o principal aparato de mobilização do laicato, buscaram recrutar a
“aristocracia intelectual” para combater as manifestações que naquele momento eram perigosas para
o domínio da Igreja, como: “o anticlericalismo, o positivismo e o laicismo das instituições republicanas”.
Ao Centro Dom Vital soma-se, ainda em 1922, a Confederação Católica –
com a finalidade de coordenar e centralizar politicamente o apostoladoleigo,
que começa a desenvolver-se por intermédio de pequenas organizações –
formando-se assim o aparato sobre o qual, nesse primeiro período, pensa a
hierarquia reconquistar o terreno que considera ter perdido, e dar outra
dimensão à sua influência social.

A Igreja Católica tratava as manifestações populares como “infames” e exigiam doEstado


uma repressão implacável, como aconteceu em 1924, com a rebelião tenentista. Desta forma, “todas
as manifestações culturais modernistas ou progressistas serão consideradas atentado à moral e aos
costumes, exigindo-se censura e punições”. (Iamamoto e Carvalho, 1996:145).
Com o Movimento de 30 inicia-se um novo período de mobilização do
movimento católico laico. A crise de poder originada da indefinição de um
novo bloco hegemônico, a bipolarização dos setores mais dinâmicos da
pequena-burguesia e a reemergência do proletariado através da retomada,
com maior intensidade, dos movimentos reivindicatórios e de uma nova
estratégia política, criam as condições para que a Igreja seja chamada a
intervir na dinâmica social de forma muito mais ampla. A hierarquia,
explorando a fundo a nova situação conjuntural, quando no período 1931-
1935 mobilização do laicado atingirá seu ponto mais alto, alcançará
consolidar e recuperar seus privilégios, definir e legitimar suas posições na
sociedade civil dentro de uma composição com o novo dominante que
emerge. (IAMAMOTO E CARVALHO, 1996, p. 146-147)
Na década de 30 os historiadores consideram como o início do segundo ciclo de
mobilização do movimento católico laico. A crise de hegemonia entre a classe burguesa e as classes
operárias possibilitará a Igreja um enorme campo de intervenção na sociedade, desempenhando um
importante papel nos momentos mais críticos para tentar manter a estabilidade do novo regime de
Estado.
...Esse período corresponderá, assim, a uma situação de ambigüidade, em
que Igreja e Estado, unidos pela preocupação comum de resguardar e
consolidar a ordem e a disciplina social, se mobilizarão para, a partir de
distintos projetos corporativos, estabelecer mecanismos de influência e
controle a partir das posições da Sociedade Civil que o regime anterior não
fora capaz de preencher. A Igreja se lançará à mobilização da opiniãopública
católica e à reorganização em escala ampliada do movimento católico leigo.
Será também nesse período que a intelectualidade católica formulará um
projeto de cristianização da ordem burguesa, para “reorganizá-la sob o
imperativo ético do comunitarismo cristão”, exorcizando seu conteúdo liberal.
(IAMAMOTO e CARVALHO, 1996, p. 156)

Em 1934 é promulgada a Constituição Federal, na qual constarão as medidas reclamadas


pela Igreja. Esta Constituição, além de formalizar o Catolicismo como religião oficial do Brasil, também
garantirá a institucionalização de alguns de seus princípios ideológicos fundamentais, nos órgãos
Estatais, exercendo a função de controle social e político.
Apesar da Constituição o período de 1934-1935 é marcado por uma forte recessão
econômica (período entre Guerras Mundiais – fortalecimento do fascismo no mundo), devido o auge de
movimentos reivindicatórios do proletariado e pela radicalização política. Há nesse período a criação
do partido político de esquerda, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) e o fortalecimento do sindicalismo
autônomo. O Governo responderá com a decretação da Lei de Segurança Nacional e o aumento da
repressão. A Igreja atua como mobilizadora da direita com uma campanha antipopular e anticomunista,
estreitando desta forma seus laços com o Estado.
Na contramão dessas suas ações políticas e ideológicas, desenvolvia junto com seu
laicato ações de “caridade” para com os pobres, com suas obras assistencialistas buscava a adesão
da classe proletária ao novo sistema, desenvolvendo o espírito comunitário e caritativo catolicismo.
No interior destas obras de caridade da Igreja é que surgirá o Serviço Social no Brasil.

a) Grupos Pioneiros e as primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil

Alguns fatos precisam ser destacados para que compreendamos o surgimento do Serviço
Social no país, como o surgimento de algumas instituições (assistenciais) que foram importantes no
processo de formação profissional, como: Associação das Senhoras Brasileiras (1920), no Rio de
Janeiro; e a Liga das Senhoras Católicas (1923), em São Paulo. Essas instituições fundamentavam
seus atendimentos dentro da perspectiva embrionária de assistência preventiva, do apostolado social,
na tentativa de atenuar determinadas sequelas do desenvolvimento capitalista, principalmente no
atendimento de menores e mulheres.
Destacamos também a fundação da Confederação Católica (1922) precursora da Ação
Católica, que visava centralizar politicamente e dinamizar os primeiros embriões do apostolado laico,
com ações assistenciais e de cunho paternalista.
Será, no entanto, a partir do desenvolvimento do Movimento Laico que essas
iniciativas embrionárias se multiplicarão,compreendidas dentro da Ação
Social Católica. Dentre elas se destacarão as instituições destinadas a
organizar a juventude católica para a ação social junto à classe operária –
Juventude Operária Católica (JOC)... (IAMAMOTO E CARVALHO, 1996, p.
167)

b) O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo

O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS) é considerado como


manifestação original do Serviço Social no Brasil, este centro surge com incentivo e sob o controle da
hierarquia, no ano de 1932. O início do Centro é marcado com o Curso Intensivo de Formação Social
para Moças, promovido pelas Cônegas de Santo Agostinho. Após o fim do curso foi feito um apelo para
a organização de uma ação social com a intenção de atender o bem estar da sociedade. (Iamamoto e
Carvalho, 1996:168)
O objetivo central do CEAS será o de “promover a formação de seusmembros
pelo estudo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua ação nessa
formação doutrinária e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais”,
visando “tornar mais eficiente a atuação das trabalhadoras sociais” e “adotar
uma orientação definida em relação aos problemas a resolver, favorecendo a
coordenação de esforços dispersos nas diferentes atividades e obras de
caráter social”. (IAMAMOTO e CARVALHO, 1996, p. 169)

Foi no campo na ação social que se abriram as portas para a atividade feminina. Aceitando
a idealização das classes dominantes, as quais essas mulheres pertenciam, que teriam a vocação
natural da mulher para as tarefas educativas e caridosas. Um intervenção vista pelasativistas como: “
...a consciência do posto que cabe à mulher na preservação da ordem moral e social e o dever de
tornarem-se aptas para com suas convicções e suas responsabilidades”. (Iamamoto e Carvalho,
1996:172)
Não somente é justificável a ação feminina social como ainda é indispensável
(...)Não tem a mulher na sociedade a missão de educar? Imaginem a
restauração da família sem a cooperação da mulher: a remodelação da
mentalidade, de hábitos e de costumes que irão depois influir na economia e
nas leis do país, tem de ser, toda ela, trabalho da mulher, em qualquer classe
de sociedade” (IAMAMOTO E CARVALHO, 1996, p. 172)

O CEAS orientou suas atividades em direção a formação técnica especializada de


profissionais para atuarem na ação social e a difusão da doutrina social da Igreja, agindo como
dinamizador do apostolado laico através das associações para moças católicas e para a intervenção
junto ao proletariado. No ano de 1933 essas atividades foram intensificadas, como centrais temos:
participação na Liga Eleitoral Católica, realização da primeira Semana de Ação Social, início da
formação de quadros da Juventude Feminina Católica constituída a partir dos Centros Operários e
Círculos de Formação para Moças.
A partir destes esforços, em 1936 é fundada a Escola de Serviço Social de São Paulo, a
primeira do gênero no Brasil, nota-se, neste momento, o surgimento de novas demandas por parte das
instituições estatais, não concentrando mais as ações somente com as demandas geradas das ações
do apostolado.
Algumas iniciativas do Estado comprovam o movimento nesse sentido: a criação, em 1935
do Departamento de Assistência Social do Estado; e a organização, em 1938, da Seção de Assistência
Social, que organizou o método central de intervenção como sendo o Serviço Social de Casos
Individuais.
O Estado...ultrapassa o marco de sua primeira área de intervenção – a
regulamentação do mercado de trabalho e da exploração da Força de
Trabalho – para superintender a gestão da assistência social. Dessa forma
procurará racionalizar a assistência, reforçando e centralizando sua
participação própria e regulando as iniciativas particulares. Estas tenderão a
se tornar cada vez mais dependentes – documentação burocrática,
subvenções etc. – e voltadas para demanda de serviços por parte do Estado,
através de convênios etc. Paralelamente, figuras de destaque saídas das
instituições particulares serão cooptadas para constituir os quadros técnicos
e Conselhos Consultivos das instituições das instituições estatais de
coordenação e execução. (IAMAMOTO E CARVALHO, 1996, p. 175-176)

IMPORTANTE:

A PRIMEIRA ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL FOI FRUTO DO MOVIMENTO


CATÓLICO LAICO, MAS JÁ EXISTIA, POR PARTE DO ESTADO, A EXISTÊNCIA DE UMA
DEMANDA REAL QUE ASSIMILOU A FORMAÇÃO DOUTRINÁRIA.

c) O Serviço Social no Rio de Janeiro

A cidade do Rio de Janeiro por ser o polo industrial mais antigo da região Sudeste, onde
se concentrava a administração federal e os principais aparatos da Igreja Católica, além de concentrar
os centros nervosos da direção da política e econômica. O Rio de Janeiro é a cidade onde mais se
desenvolveu a infraestrutura de serviços básicos, incluindo os serviços assistenciais com intensa
participação do Estado. (Iamamoto e Carvalho, 1996:181)
Em 1936 ocorreu a Primeira Semana de Ação Social do Rio de Janeiro, marco inicial para
a introdução do Serviço Social na capital da república. A iniciativa foi compartilhada entre a hierarquia
e cúpula do movimento laico, o Grupo de Ação Social (GAS). A Semana de Ação Social teve como
principais realizações a Associação Lar Proletário e o Instituto de Educação Familiar e Social.
Na cidade do Rio de Janeiro, a necessidade de formação técnica especializada para a
prática da assistência não é apenas uma necessidade do movimento laico, mas também para o
atendimento das demandas das instituições estatais. Principalmente com a criação do Juízo de
Menores.

...Surgem, cronologicamente, em 1937, o Instituto de Educação Familiar e


Social – composto das Escolas de Serviço Social (Instituto Social) e
Educação Familiar – por iniciativa do Grupo de Ação Social (GAS), em 1938
a Escola Técnica de Serviço Social, por iniciativa do Juízo de Menores e, em
1940, é introduzido o curso de Preparação em Trabalho Social naEscola de
Enfermagem Ana Nery (escola federal). Em 1944, a Escola de Serviço Social,
como desdobramento masculino do Instituto Social. (IAMAMOTO ;
CARVALHO, 1996, p. 181)

A partir de 1940 começam a surgir novas Escolas de Serviço Social nas capitais dos
Estados, no entanto, a existência de Assistentes Sociais diplomados ficou limitado por um longo período
apenas ao Rio de Janeiro e São Paulo.

d) A inserção do Serviço Social no Maranhão:


O Serviço Social no Maranhão surge na década de 1950, o Estado passava por uma grave
crise econômica causada pela aceleração industrial no Brasil, que causou a crise da indústria têxtil no
Estado, devido à precarização técnica das fábricas. Além da migração de famílias nordestinas para o
Maranhão por causa da forte seca que assolava a região. Ressalta-se que o estado tinha sua economia
centrada na agricultura, era um estado majoritariamente rural, a vida urbana ainda era pouco
desenvolvida.
A questão social maranhense a nível urbano, particularmente em São Luís,
era bastante complexa em virtude do crescimento do desemprego
consequente do fechamento das indústrias. O trabalhador urbano
desempregado, sem perspectiva de ocupação, recorria como mecanismo de
sobrevivência, a sua inserção no mercado de atividades residuais como
condição indispensável para assegurar a sua subsistência, compondo um
quadro de pobreza ostensiva que se proliferava em várias áreas da cidade
e, mais frequentemente na periferia urbana...
Enquanto o trabalhador rural, atingido pelo mesmo fator – desativação do
setor industrial – era afastado dessas unidades de produção, tirado do seu
antigo espaço de trabalho e compelido ao nomadismo predatório migrando
para outras áreas de terra livre do estado em novas fronteiras agrícolas... O
trabalhador rural passa a concorrer com outros migrantes maranhenses e
nordestinos... (RODRIGUES, 1991, p. 102)

Essa situação vivida pela população maranhense, segundo as preocupações do Estado,


poderia levar a eclosão de conflitos, em razão do aprofundamento das desigualdades sociais, apesar
de não haver naquele momento uma organização de classes. O Serviço Social, neste cenário, surge
como parte de uma política defensiva, com a intenção de diminuir as possibilidades da eclosão dos
conflitos.
Não podemos esquecer-nos de comentar o papel da Igreja na constituição da Escola de
Serviço Social, esta tinha a necessidade de participar da vida social maranhense, desta forma firmou
uma aliança com o Estado no sentido de reafirmar e obter apoio das forças políticas liberais, unindo
forças para conter as ameaças devido a instabilidade político-econômica vivenciada pelo Maranhão.
Dentro desse contexto estava o enfrentamento a Questão Social.
A primeira escola na capital, São Luís, foi criada em 1950, por iniciativa da Legião
Brasileira de Assistência (LBA) – da Igreja Católica e da própria classe trabalhadora – atendendo uma
orientação da Política Nacional de incentivo a criação de Escolas de Serviço Social. Com a pretensão
de capacitar técnicos especializados para desempenhar atividades assistenciais. A Escola surgiu de
um curso de formação de Auxiliar Social, que fora ministrado pela Assistente Social Rose Alvernaz, em
1948, este curso despertou grande interesse na população, mas ao final do curso apenas 50 alunos se
formaram.
Em 1953 a partir de um decreto, é criada a Escola Maranhense de Serviço Social, que
tinha como orientação a questão rural, entendo o profissional de serviço social como o indicado a agir
sobre as contradições sociais, dentro de uma determinada perspectiva. Considerando que o avanço do
capitalismo atingiu de forma predatória o “homem do campo”.
Dentro dessa perspectiva o Estado, criou condição de maior controle sobre
a questão social, com aprofundamento na questão rural, condição natural
da política implementada, e, em consonância com a Igreja(...)foi criada pela
Lei no 2613 de 23.09.53 a Fundação do Serviço Social Rural(...) Percebe-se,
com essa iniciativa, que o Estado tentava conciliar o inconciliável, garantir o
processo de acumulação capitalista, mantida intocável a estrutura fundiária
e promover a paz social no meio rural(...) (RODRIGUES, 1991, p. 111)

Apesar de concentrar suas orientações na questão rural, no início do curso, no decorrer


da formação profissional, no Maranhão, não constituiu grande ênfase. O Serviço Social deteve-se nas
sequelas das contradições geradas capitalismo, expressas em condições de miséria dos setores
populares, principalmente nas áreas urbanas. Efetivando a intervenção profissional na “ajuda aos
outros,” através de práticas assistenciais, paliativas, desvinculadas dos reais problemas sociais.
(Rodrigues, 1991, p. 115)

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

1. Qual o objetivo das “Encíclicas Papais”?

2. Como se deu o surgimento do Serviço Social no Brasil?


ATIVIDADE AVALIATIVA

1. Faça um comentário sobre o surgimento do Serviço Social no maranhão e aponte os avanços


alcançados pelos profissionais ao longo do tempo, até os dias atuais.

CAPÍTULO 3 ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PROFISSÃO


NO BRASIL

UNIDADE 3.1 O Processo de Institucionalização e Legitimação da Profissão

A institucionalização do Serviço Social esta aliada à progressiva intervenção do Estado


nos processos de regulação social. No Brasil, o processo de institucionalização da profissão através da
utilização, do Serviço Social, como recurso mobilizador pelo Estado e pelo empresariado, e como
suporte da Igreja Católica no enfrentamento e regulação da Questão Social.
O processo de legitimação e institucionalização da profissão se intensifica a partir do final
da década de 1930, quando se instala no Brasil o Estado Novo, que coloca em prática uma política
econômica a serviço da industrialização. Nesse momento político ocorreram várias lutas de classe, a
classe operária não agüentava mais a exploração de sua força de trabalho e a miséria causada pela
evolução das indústrias. O Estado buscando conter os conflitos e manter o seucontrole, reconheceu
alguns direitos dos trabalhadores, a fim de mantê-los sobre a alienação do
capital. Também ampliou os serviços sociais oferecidos pelas instituições estatais (que se
desenvolveram em grandes entidades assistenciais, aliadas as entidades autárquicas e/ou privadas),
estas tinham o objetivo de controle social, aparecendo como agentes de contenção e controle das lutas
sociais.
A profissão de Assistente Social se consolida a partir e no mercado de trabalho que se
abriu com aquelas entidades, aparecendo como uma categoria de assalariados. O Serviço Social se
legitima como profissão no interior da divisão social do trabalho, entendido com o profissional que
domina um corpo de conhecimentos, métodos e técnicas. Esse processo também reflete na formação
nas escolas, estas se tornam especializadas.
Por outro lado, se as pioneiras do Serviço Social tiravam a certeza da
legitimidade de sua intervenção junto aos setores populares do caráter de
missão de apostolado social e de sua origem de classe, agora essa
legitimidade passará a vir de um mandato institucional. Para impor-se e atuar,
o Serviço Social estará englobado e legitimado por um quadro jurídico e
institucional; deixará de ter por base de sua ação de “enquadramento” as
pequenas obras caridosas e assistenciais... A partir dos aspectos materiais
de sua intervenção, da exígua caridade particular das classes dominantes,
para constituir-se numa das engrenagens de execução das políticas sociais
do Estado e corporações empresariais. (IAMAMOTO e CARVALHO, 1996,
p. 310)

Esses novos agentes institucionais terão algumas especificidades, como:


a) Os Assistentes sociais terão uma atuação mais abrangente e pouco definida. Serão
integrados como elementos auxiliares e subsidiários às práticas principais de cada
instituição particular;
b) O Serviço Social tem por clientela principal os segmentos mais carentes da sociedade,
pois a clientela básica das instituições sociais e assistenciais são as classes populares;
c) Temos como uma particularidade do Serviço Social, o fato de sua atenção voltar-se
diretamente para as mulheres e as crianças;
d) O caráter necessário e “racionalizador” das práticas subsidiárias desenvolvidas pelo
Serviço Social derivam, em parte, do conteúdo de classe, que determina as ações das
instituições assistenciais;
e) As principais técnicas de atuação eram: plantão, triagem e encaminhamentos: o
Serviço Social tinha sua atuação voltada para a individualização dos casos, propiciando
soluções paliativas para satisfazer às demandas, mascarando respostas para
problemas insolúveis;
f) Outro aspecto referente à prática do Assistente Social é a pesquisa e classificação:
essa atividade original do Serviço Social se torna burocrática e metódica com a
institucionalização, com a pesquisa dos elementos que compõem o modo de vida e
existência do proletariado. Permite delimitar a população-alvo preferencial para a
execução de programas assistenciais, estabelecendo as bases de uma “patologia
social”. A classificação permite ao Serviço Social qual atitude tomar em sua atuação
com cada grupo identificado.
Processo de renovação do Serviço Social

Para realizar a análise proposta neste item, utilizaremos como norte o estudo feito por
José Paulo Netto (1998), onde faz uma análise do período da Ditadura Militar e o Movimento de
Renovação do Serviço Social no País. Com a Renovação, a profissão não mais seria a mesma, tendo
em vista os inúmeros desdobramentos observados, seja do ponto de vista do exercício e da formação
profissional, seja quanto à organização política da própria categoria. Segundo Netto (1998, p. 115)
(...) No âmbito das suas natureza e funcionalidade constitutivas, alteraram-
se muitas demandas práticas a ele colocadas e a sua inserção nas estruturas
organizacional-institucionais (donde, pois, a alteração das condições do seu
exercício profissional); a reprodução da categoria profissional – a formação
dos seus quadros técnicos – viu-se profundamente redimensionada (bem
como os padrões da sua organização como categoria); e seus referenciais
teórico-culturais e ideológicos sofreramgiros sensíveis (assim como as suas
auto-representações). Este rearranjo global indica que os movimentos
ocorridos neste marco configuram bem mais que a resultante do acúmulo que
a profissão vinha operando desde antes (...)

Segundo Netto (1998), a Ditadura “reforçou e validou” o então chamado Serviço Social
“Tradicional” procurou simultaneamente neutralizar qualquer segmento profissional de caráter mais
combativo, a ditadura promoveu a profissão em dois sentidos centrais: de um lado, ampliando o
mercado empregador em termos nacionais, e de outro, consolidando sua formação profissionalatravés
da incorporação do curso de Serviço Social no nível universitário.
Com relação ao aprofundamento e reorganização do espaço sócio-ocupacional da
profissão, Netto (1998, p. 119-120) coloca:
A criação de um mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais
tem seus mecanismos originais deflagrados em meados dos anos quarenta
(...), no bojo do processo de “desenvolvimento das grandes instituições
sociais” implementadas no ocaso do Estado Novo (...). Nos anos cinqüenta
e na entrada dos sessenta, esse mercado se expande, e não pode haver
dúvidas acerca da conexão desta expansão com o andamento da já vista
industrialização pesada. Trata-se, porém, de um mercado de trabalho
emergente e ainda em processo de consolidação (...) É esse mercado de
trabalho que o desenvolvimento capitalista operado sob o comando dogrande
capital e do Estado autocrático burguês a ele funcional redimensiona e
consolida nacionalmente (...)

O Estado não apenas ampliou o número de entidades empregadoras nas diversaspolíticas


sociais setoriais, mas alterou a forma de execução das mesmas, gerando uma série de
“especializações” em seu interior, incidindo sobre a forma de intervenção cotidiana do Assistente Social.
Observa-se também que a esfera da empresa privada passou a contratar os assistentes sociais com
muito mais frequência, tendo em vista a multiplicação das empresas no contexto do “milagre
econômico”, bem como a crescente necessidade de controle e vigilância da força de trabalho.
Na medida em que se afirma e redimensiona o mercado de trabalho para os assistentes
sociais, impõe à profissão e seus sujeitos um “novo padrão de exigência” para o exercício
profissional, o mercado de trabalho exige um novo perfil do profissional, competente para resolver as
demandas do cotidiano, compreendendo a administração burocrática sem perder, é claro, seus
fundamentos ético-políticos e filosóficos. Tratava-se de reatualizar a herança conservadora presente
na profissão, tornando-a ainda mais funcional às exigências da fase do capitalismo monopolista.
Para que esse novo perfil profissional fosse colocado em prática, o Estado insere o ensino
de Serviço Social no âmbito universitário:
(...) Não é difícil imaginar o impacto que esta inserção no âmbito acadêmico
causou sobre o ensino de Serviço Social: em um breve lapso de tempo, a
formação profissional viu-se penetrada pelas exigências e condicionalismos
decorrentes quer da refuncionalização global da universidade pelo regime
autocrático burguês, quer da sua própria virgindade acadêmica; se se
conectam umas e outros, compreende-se por que esta formação mostrou-
se tão vulnerável aos constrangimentos gerais do ciclo ditatorial. (NETTO,
1998, p. 125)

Com o aumento dos cursos de serviço social, houve a necessidade da contratação de


docentes de outras áreas de conhecimento para compor o curso. Essa aproximação com profissionais
da área de Ciências Sociais, possibilitou a quebra de uma homogeneidade do Serviço Social que
favorecia o conservadorismo no curso. Abrindo o caminho para uma Renovação da profissão. Assim,
além de se instaurar o pluralismo no âmbito da profissão (o que mais à frente será claro com a
aproximação do Serviço Social com a tradição marxista), a Renovação significou,segundo Netto (1998),
um expressivo avanço, pois permitiu a identificação do estatuto teórico como reconhecimento do
assistente social como intelectual.
A Renovação permite aos Assistentes Sociais voltarem-se a pesquisa sobre sua própria
profissão, confrontando concepções e fortalecendo o seu caráter investigativo. Outro ponto que
contribuiu para esse momento foi à nova configuração dos Congressos e Encontros das instâncias
organizativas da profissão.
Netto (1998) destaca em seu estudo, quatro aspectos que sinalizam os pontos mais
importantes do processo de Renovação do Serviço Social:
a) A instauração do pluralismo teórico, ideológico e político no marco profissional,
deslocando uma sólida tradição de monolitismo ideal;
b) A crescente diferenciação das concepções profissionais (natureza, funções, objetivos
e práticas do Serviço Social), derivada do recurso diversificado a matrizes teórico-
metodológicas alternativas, rompendo com o viés de que a profissionalidade implicaria
uma homogeneidade (identidade) de visões e de práticas;
c) A sintonia da polêmica teórico-metodológica profissional com as discussões em curso
no conjunto das ciências sociais, inserindo o Serviço Social na interlocução acadêmica
e cultural contemporânea como protagonista que tenta romper com a subalternidade
(intelectual);
d) A constituição de segmentos de vanguarda, sobretudo, mas não exclusivamente
inseridos na vida acadêmica, voltadas para a investigação e a pesquisa.
Observamos também outro ponto a ser destacado no processo de Renovação e
consequente erosão do Serviço Social “Tradicional”, a participação dos assistentes sociais no
chamado Desenvolvimento de Comunidade. A percepção dos profissionais quanto à sua amplitude
trouxe outros componentes para se pensar a prática e o significado social da profissão: em primeiro
lugar, a intervenção junto ascomunidades exigia do Assistente Social o trato e o conhecimento de
questões de natureza macrossocial; e em segundo lugar, o assistente social passou a integrar equipes
multidisciplinares, e em muitos casos, também a assumir posição de destaque em face da sua
experiência pregressa com grupos ou com demandas sociais de um modo geral.
(...) a renovação do Serviço Social que se processa no marco da autocracia
burguesa mantém uma relação complexa com o quadro anterior da profissão:
erguendo-se sobre o colapso da legitimição das formas profissionais
“tradicionais”, resgata alguns de seus núcleos tanto bloqueia alternativas de
desenvolvimento que estavam embutidas naquele colapso – ao mesmo
tempo em que dinamiza, sobre novo piso, outras tendências emergentes no
processo da crise que converteu em dado explícito (...)(NETTO, 1998, p.
141)

As direções da Renovação do Serviço Social no Brasil


a) Perspectiva Modernizadora (segunda metade dos anos 60): o núcleo central desta
perspectiva é a tematização do Serviço Social como interveniente, dinamizador e
integrador, no processo de desenvolvimento. Ela aceita como dado inquestionável a
ordem sociopolítica derivada de abril e procura dotar a profissão de referências e
instrumentos capazes de responder às demandas que se apresentam nos seuslimites.
No âmbito estrito da profissão, ela se reporta aos seus valores e concepções mais
“tradicionais”, não para superá-los ou negá-los, mas para inseri-los numa moldura
teórica e metodológica menos débil, subordinando-a aos seus vieses “modernos” –
donde, por outro lado, o lastro eclético de que é portadora. Como resultado desta
perspectiva foram elaborados documentos, o mais importante nesse período foi o
documento de Araxá (que se direciona para o rompimento do tradicionalismo
profissional na busca de uma modernização da prática profissional). É na fase de
emergência desta perspectiva que a reflexão brasileira interage inicialmente como os
renovadores latino-americanos;
b) Reatualização do Conservadorismo: recupera-se os componentes mais estratificados
da herança histórica e conservador da profissão, nos domínios da (auto) representação
e da prática, e os repõe sobre uma base teórico-metodológica que se reclama nova,
repudiando, os padrões mais nitidamente vinculados à tradição positivista 3 e às
referências conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz marxista. Essencial e
estruturalmente, esta perspectiva tem uma visão de mundo derivada do pensamento
católico tradicional. Reclama expressamente uma inspiração

3
O método positivista trabalha com as relações aparentes dos fatos, evolui dentro do já contido e busca a
regularidade, as abstrações e as relações invariáveis. É a perspectiva positivista que restringe a visão de teoria ao
âmbito do verificável, da experimentação e da fragmentação.
fenomenológica4, o pólo difusor concentra-se em instituições universitárias concentra-
se do Rio de Janeiro e São Paulo;
c) Intenção de Ruptura: crítica sistemática ao desempenho “tradicional” a aos seus
suportes teóricos, metodológicos e ideológicos do pensamento conservador. Recorre
progressivamente à tradição marxista e revela as dificuldades da sua autocracia
burguesa. A aproximação da vertente marxista no Serviço Social não se dá sem
problemas, e que se caracterizam, pelas abordagens reducionistas dos marxismos de
manual. No entanto, é através deste referencial que a profissão questiona sua prática
institucional e seus objetivos de adaptação social ao mesmo tempo em que seaproxima
dos movimentos sociais.
Em meados de 80, a partir do estudo realizado por Iamamoto, é que a teoria social de
Marx inicia sua efetiva interlocução com a profissão. É no âmbito da adoção do marxismo como
referência analítica, que se torna hegemônica do Serviço Social no Brasil, a abordagem da profissão
componente da organização da sociedade inserida na dinâmica das relações sociais participando do
processo de reprodução dessas relações.

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

1. Como se deu o processo de legitimação e institucionalização da profissão do Assistente Social?

2. Como era a atuação do Assistente Social no período da Ditadura Militar?

UNIDADE 3.2 A formação profissional do Assistente Social

Compreender a formação profissional do Serviço Social é fundamental para complementar


o estudo da profissionalização do Assistente Social. Pois as técnicas e instrumentosde intervenção
utilizados ao longo de sua história no atendimento das demandas postas a profissão,

4
Vertente metodológica que dirige-se ao vivido humano, aos sujeitos em suas vivências, colocando para o Serviço
Social a tarefa de auxiliar na abertura desse sujeito existente, singular em relação aos outros, ao mundo de pessoas.
tem sua construção nos espaços de formação, no interior dos cursos e posteriormente nas
Universidades.
No início do curso no Brasil, as bases que nortearam, tanto a formação como a prática do
profissional, foi a Doutrina da Igreja, as pioneiras do curso ainda não viam sua prática como uma
profissão, mas como uma ação de caridade, como vocação. Nesse período a formação se dava
baseada nas Encíclicas Papais, as disciplinas voltadas para o controle das camadas populares, eram
instrumento de contenção de tensões sociais através da caridade e vocação.
No período da Reconceituação no Brasil que ocorreu no período da Ditadura Militar
(1964 -1985), os profissionais começam a repensar sua prática e as ideologias que a norteiam. Com
a inserção do curso de Serviço Social nas Universidades, temos o contato desta profissão com as
Ciências Sociais e sua ideologias, o que permite ao curso voltar-se, naquele momento de instabilidade
política, para o interior de sua formação para se adequar as novas demandas que surgiam.
Ressalta-se que a formação profissional aqui analisada tem como referencial a preparação
científica dos profissionais para responderem às exigências de um projeto profissional coletivamente
construído e historicamente situado.
(...) Trata-se aqui, de um projeto profissional que, demarcado pelas condições
efetivas que caracterizam o exercício profissional do Assistente Social diante
da divisão social e técnica do trabalho, seja capaz de responder às demandas
atuais e conquistar novas e potenciais alternativas de atuação, expressão de
exigências históricas que se apresentam à profissão pelo desenvolvimento
da sociedade em um contexto conjuntural específico (...) (IAMAMOTO,
2002:163)5

Durante o Movimento de Reconceituação da profissão, com a aproximação às Ciências


Sociais e o surgimento dos cursos de Pós-graduação, os assistentes sociais utilizam-se da pesquisa
para reformular suas formação teórico-metodológica e também analisar a prática profissional para as
novas exigências do mercado de trabalho. Desta forma, a pesquisa passa a ser um dos instrumentos
fundamentais de articulação teoria-prática, no conhecimento da realidade nacional, nos níveis mico e
macroscópico.

Em fins da década de 70 e início da de 80, a formação profissional do


assistente social começa a ser questionada no quadro geral da sociedade
brasileira, com a rearticulação e surgimento de novas forças políticas, em cujo
contexto se destaca o movimento de organização da categoria e o movimento
estudantil. Busca-se, nesse contexto, novas teorias e novasalternativas de
prática, propondo-se um compromisso com as camadaspopulares, o que vem
exigindo um novo projeto de formação profissional. (SILVA, 1995:50)

Iniciou-se, a nível nacional, as discussões entre os docentes e discentes para a construção


de um currículo mínimo, com a coordenação da ABESS (Associação Brasileira de Ensino de Serviço
Social, uma discussão ampla que ocorreu na XIX Convenção Nacional, em Belo Horizonte, em 1977,
quando se decidiu elaborar a proposta do novo currículo que foi aprovada em

5
Essa obra foi escrita em 1982, a referência posta se trata da sexta edição.
1979, na XXI Convenção Nacional, em Natal. A nível da organização dos estudantes, a reflexão quanto
a formação profissional ocorreu através dos Encontros Nacionais de Estudantes de Serviço Social
(ENESS). Em setembro de 1982, o Conselho Federal de Educação aprovou, após longa tramitação, a
proposta de currículo mínimo apresentada pela ABESS, tornando obrigatória a revisão curricular em
todos os cursos. (Silva, 1995, p. 50-51)
Com relação aos cursos de Pós Graduação Strictu Senso no Serviço Social, estes se
organizam no Brasil na década de 70, como uma das primeiras áreas de ensino a responder à Política
Nacional de Modernização das Universidades Brasileiras. Forma que o curso encontrou para investir
na formação científica do corpo de pesquisadores para a construção de conhecimentos com
legitimidade científica.Os cursos de Mestrado iniciam-se em 1971, na Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Dez anos depois, em 1981, inicia-se o Curso de Doutorado em Serviço Social na
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Segundo dados obtidos em 1988, no Brasil, a cada ano,
eram oferecidas 102 vagas nos cursos de mestrado e doutorado. Em 1990 esse número ampliou para
mais 07 vagas oferecidas. Pode-se dizer que neste período houve a consolidação do sistema de pós-
graduação na área de Serviço Social (Rodrigues, 1995:113-114).
a) O Projeto Profissional nos anos 80: os debates que incidiram no interior do curso
sobre o processo formativo, foram fundamentais para criação de um perfil profissional dotado de uma
competência teórico-crítica e técnico-política, que permita, no campo da pesquisa e ação, a construção
de respostas profissionais para as demandas o novo momento do País, o processo de
redemocratização. Nesse período os estudos voltam-se para as necessidades internas da profissão,
como definir suas correntes teóricas e orientadoras de sua prática, como exemplo podemos citar, as
discussões em torno da História, teoria e metodologia no Serviço Social. O que provocou certo
distanciamento do estudo entre o tratamento teórico-sistêmico das matrizes teórico-metodológicas e o
cotidiano da prática profissional. “O dilema metodológico é o de detectar as dimensões de
universalidade, particularidade e singularidade na análise dos fenômenos presentes no contexto da
prática profissional”. ( Iamamoto, 1999:191)
Em primeiro lugar, a necessidade de se atribuir maior rigor e consistência à
apropriação das matrizes teórico-metodológicas incidentes no campo da
formação, especialmente por parte do quadro docente, transitando da mera
reprodução dos conceitos à apreensão da lógica de construção das
explicações da vida social; condições para que possam iluminar as análises
das situações cotidianas enfrentadas pelos assistentes sociais em sua prática
profissional(...) Em segundo lugar, o encaminhamento daqueles dilemas
referentes à prática profissional requer a criteriosa pesquisa acerca das
problemáticas sobre as quais incide o exercício profissional e dos processos
que as produzem, como condição para se preencher aquele campo de
mediações entre as matrizes teórico-metodológicas e a cotidianidade da
prática do assistente social (...) (IAMAMOTO, 1999, p.193-194)

b) O Projeto de formação profissional na contemporaneidade: a partir da década de


90, o Brasil apresenta novas configurações, a expansão do neoliberalismo, que vem atrelado as
privatizações das instituições públicas, e refilantropização, que se caracteriza pela transferência do
Estado para a sociedade civil da responsabilidade para com a “questão social”. De outro lado, temos
o surgimento de novos movimentos sociais, que fortalecem a luta contra as desigualdades
aprofundadas pelo neoliberalismo e por um novo conceito de cidadania. Nesse momento vê-se a
necessidade de uma aproximação da profissão com as condições de vida das classes subalternas e
de suas formas de luta e de organização, as pesquisas voltam-se ao estudo da realidade brasileira,
como fundamento da formação profissional. O novo código de Ética do Serviço Social (1993) reafirma
o projeto profissional comprometido com as classes trabalhadoras e dá outra dimensão ético-política
para a profissão. Nesse processo, tem-se a discussão de uma nova revisão curricular para o Serviço
Social, com a finalidade de adequar o curso ao novo cenário nacional, assim como possibilitar que as
diretrizes do novo código de ética se tornassem norteadores da formação e prática profissional. Este
debate gerou o currículo atual, no qual todos os cursos do Brasil se baseiam.

O Serviço Social na Contemporaneidade

Nos anos 70 observou-se a crise do capitalismo no mundo, para resolver a crise os


capitalistas preconizam as ideias neoliberais, apontando o mercado como esfera reguladora das
relações econômicas, como consequência temos o aprofundamento das desigualdades sociais e a
ampliação do desemprego.
Distinta da cidadania tal como construída nos países europeus, aqui
prevaleceram as relações de favor e de dependência. Essa formação política,
aliada aos “efeitos modernos” do grande capital, tem resultado em um
encolhimento dos espaços públicos e um alargamento dos espaços privados,
em que a classe dominante faz do Estado o seu instrumento econômico
privado por excelência. Ou seja, o discurso neoliberal tem a espantosa
façanha de atribuir título de modernidade ao que há de mais conservador e
atrasado na sociedade brasileira: fazer do interesse privado a medida de
todas as coisas, obstruindo a esfera pública e a dimensão ética da vida social
pela recusa das responsabilidades e obrigações sociais do Estado (...) o que
tem amplas repercussões na luta por direitos e no trabalho cotidiano dos
assistentes sociais. (IAMAMOTO, 2007:141-142)

Observa-se mudanças importantes na relação Estado/Sociedade Civil, ocorre um amplo


processo de privatização de instituições públicas transferindo para a sociedade a “responsabilidade”
com as demandas vindas das camadas menos favorecidas. O Estado fica cada vez mais submetido
aos interesses econômicos e políticos dominantes. Tal processo atinge também a forma como a
sociedade se relaciona, alcançando as formas culturais, a subjetividade, as identidades coletivas,
levando a erosão de projetos de uma sociedade mais igualitária, luta travada pelos movimentos sociais.
Nesse cenário, a “velha questão social” metamorfoseia-se, assumindo novas
roupagens. Ela evidencia hoje a imensa fratura entre o desenvolvimento das
forças produtivas do trabalho social e as relações sociais que o impulsionam.
Fratura esta que vem se traduzindo na banalização da vida humana, na
violência escondida no fetiche do dinheiro e da mistificação do capital ao
impregnar todos os espaços e esferas da vida social [...] Crescem os níveis
de exploração e as desigualdades, assim como, no seu reverso, as
insatisfações e resistências presentes nas lutasdo dia a dia, ainda carente
de maior organicidade e densidade política [...] ( IAMAMOTO, 2007, p. 144-
145)
A questão social tem como mais importantes as seguintes expressões (Iamamoto,

2007:147):
a) O retrocesso no emprego;
b) A distribuição regressiva de renda e ampliação da pobreza;
c) Acentuando as desigualdades nos estratos socioeconômicos, de gênero e localização
geográfica urbana e rural;
d) Queda nos níveis educacionais dos jovens.

As políticas sociais criadas para em tese combater a questão social, passa a ser presidida
pela lógica da privatização seletiva dos serviços sociais, ou seja, a sociedade passa a se
responsabilizar pela aplicação das políticas sociais através de organizações criadas para este fim.
Temos determinado nesse movimento do Estado a tendência de “refilantropização” da assistência
social, surgem conceitos novos no cenário brasileiro, como responsabilidade social, voluntariado, entre
outros, que na realidade desresponsabilizam o Estado no enfrentamento da questão social. O Estado
se torna cada vez mais “mínimo” para a sociedade, como justificativa, o neoliberalismo coloca como
responsável pela crise financeira pela qual passa os gastos sociais.

(...) Atesta que a questão social assume proporções de um desastre social


(...) Por outro lado, as múltiplas manifestações da questão social, sob a órbita
do capital, tornam-se objeto de ações filantrópicas e de benemerência e de
“programas focalizados de combate à pobreza”, que acompanham a mais
ampla privatização da política social pública, cuja implementação passa a
ser delegada a organismos privados da sociedade civil, o chamado “terceiro
setor”. Ao mesmo tempo, expande-se a compra e venda de bens e serviços,
alvo de investimentos empresariais que avançam no campo das políticas
públicas. (IAMAMOTO, 2007:155)

O Assistente Social tem seu campo de intervenção fundamentado nas múltiplas


dimensões da questão social, através das políticas sociais e das organizações da sociedade civil, na
luta por direitos sociais. Torna-se de fundamental importância para o profissional compreender as novas
mediações através das quais se expressa a questão social. A tendência e a “naturalização” da questão
social, transformando suas manifestações em programas assistenciais focalizados de “combate à
pobreza” ou em expressões da violência dos pobres, que tem como resposta a repressão e a
segurança. (IAMAMOTO, 2007:163)
Uma dupla armadilha pode envolver a análise da questão social quando suas
múltiplas e diferenciadas expressões são desvinculadas de sua gênese
comum, desconsiderando os processos sociais contraditórios – na sua
dimensão de totalidade – que se criam e as transformam (...) Corre-se orisco
de cair na pulverização e fragmentação das inúmeras “questões sociais”,
atribuindo unilateralmente aos indivíduos e suas famílias a responsabilidade
pelas dificuldades vividas (...) perdendo-se a dimensão coletiva e o recorte de
classe da questão social, isentando a sociedade de classes da
responsabilidade na produção das desigualdades sociais (...) Outra armadilha
é aprisionar a análise em um discurso genérico, que redunda em uma visão
unívoca e indiferenciada da questão social, prisioneira das análises
estruturais, segmentadas da dinâmica conjuntural e da visão dos sujeitos
sociais. A questão social passa a ser esvaziada de
suas particularidades históricas, perdendo o movimento e a riqueza da vida
(...) (IAMAMOTO, 2007:164)

A prática profissional diante da “nova questão social” fica cada vez mais distante no ideal,
pois com a forma como o Estado vem restringindo cada vez mais os instrumentos de trabalho do
assistente social, centrando a sua intervenção em programas focalistas e excludentes, pois são
voltados para as classes menos favorecidas (pois até chamá-los de pobres é hoje incorreto).

(...) o assistente social, que é chamado a implementar e viabilizar direitos


sociais e os meios de exercê-los, vê-se tolhido em suas ações, que
dependem de recursos, condições e meios de trabalho cada vez mais
escassos para operar as políticas sociais. (IAMAMOTO, 2007:149)

O profissional precisa buscar alternativas para definir a sua atuação focada na defesa
dos direitos sociais, em um momento do capital, em que a precarização do trabalho, cresce devido o
aumento das misérias, reaparecem os trabalhadores sem trabalho, pessoas a margem da sociedade,
que são desqualificadas pela ideologia dominante. As políticas sociais são voltadas para essas
pessoas, mas o profissional não tem em suas mãos condições fazer uma intervenção que realmente
insira essas pessoas na sociedade, é necessário para o neoliberalismo que essa população continue
a margem da sociedade.
Como se pode atestar, o que fundamenta a existência de uma nova questão
social é a negação da existência das classes sociais, a naturalização da
desigualdade social, cujas manifestações são deslocadas para a esfera da
gestão social. A sociedade é isenta de responsabilidades na produção da
questão social, cujas raízes devem ser identificadas nas diferenças das
biografias individuais. (IAMAMOTO, 2007:181)

Trabalho e Serviço Social

Vimos anteriormente que a fundamentação sócio histórica do serviço social,q tem por
base a “questão social”, e que a prática profissional é aqui compreendida como a atividade do
assistente social na relação com o usuário, os empregadores e os demais profissionais. Por ser uma
atividade socialmente determinada, consideram-se também as condições sociais nas quais se realiza.
A prática profissional é apenas um dos elementos constitutivos do processo de trabalho,
para que exista trabalho são necessários os meios de trabalho e a matéria-prima ou objeto sobre a
ação do trabalho. Os meios de trabalho são fornecidos pelas instituições empregadoras, o que o
assistente social tem é a sua força de trabalho que vende em troca de salário. A matéria prima da ação
profissional encontra-se no âmbito da questão social e suas manifestações.
O assistente social firmasse socialmente como um trabalhador assalariado, cuja inserção
no mercado de trabalho passa por uma relação de compra e venda de sua força de trabalho
especializada com as instituições empregadoras. Tem como instrumento básico de trabalho a
“linguagem”, nesse ínterim as atividades desse trabalhador estão intimamente ligadas a sua formação
teórico-metodológica, técnico-profissional e ético-política.

(...) Seu trabalho situa-se predominantemente no campo político-ideológico:


o profissional é requerido para exercer funções de controle social
subalternos sendo seu campo de trabalho atravessado por tensões e
interesses de classes. A possibilidade de redirecionar o sentido de suas
ações para rumos sociais distintos daqueles esperados por seus
empregadores (...) deriva do próprio caráter contraditório das relações sociais
que estruturam a sociedade burguesa. Nelas encontram-se presentes
interesses sociais distintos e antagônicos, que se refratam no terreno
institucional, definindo forças sociopolíticas em luta para construir
hegemonias, definir consensos de classes e estabelecer formas de controle
social a elas vinculadas. (IAMAMOTO, 1998:98)

O Serviço Social traz em sua prática uma herança muito característica. É uma categoria
profissional predominantemente feminina, tradicionalmente de mulheres e para mulheres, além de
carregar uma cultura com fortes marcas confessionais em sua formação histórica. Esses traços podem
estimular o cultivo da uma subalternidade profissional, com desdobramentos de baixa auto- estima dos
profissionais diante de outras especialidades, favorecem o estereótipo de “profissionais de segunda
categoria”. Um profissional pobre e voltado para os pobres, destituído de prestígio. Desta análise
conclui-se: que não há um único processo de trabalho do assistente social, e sim, processos de trabalho
nos quais o serviço social se insere; o processo de trabalho no qual se insere o assistente social não é
organizado por ele e nem é exclusivo do profissional. (Iamamoto, 1998,p. 106-107)
Ainda que dispondo de autonomia ética e técnica no exercício de suas
funções (...), o assistente social é chamado a desempenhar sua profissão em
um processo de trabalho coletivo, organizado dentro de condições sociais
dadas, cujo produto em suas dimensões materiais e sociais, é fruto do
trabalho combinado ou cooperativo, que se forja com o contributo específico
das diversas especializações do trabalho (...) (IAMAMMOTO,1998, p. 107)

O Serviço Social tem o desafio de desmistificar tais visões de sua prática profissional,
libertar-se das ações do passado, como meio de redimensionar e ampliar o espaço profissional que
deve ser ocupado pelo assistente social, em mercado de trabalho altamente competitivo. Exige um
olhar além das atividades rotineiras, para compreender as tendências dos processos sociais e as
mudanças macroscópicas que estão ocorrendo na contemporaneidade, na tentativa de encontrar novas
possibilidades e exigências para o trabalho. É ultrapassar o “mito da indefinição profissional” para definir
seu lugar no processo de trabalho coletivo. (Iamamoto, 1998, p. 110)
O que se pode concluir dessas considerações é que os resultados ouprodutos
dos processos de trabalho em que participam os assistentes sociais situam-
se tanto no campo da reprodução da força de trabalho, da obtenção das
metas de produtividade e rentabilidade das empresas, da viabilização de
direitos e da prestação de serviços públicos de interesse da coletividade, da
educação sociopolíitica, afetando hábitos, modos de pensar,
comportamentos, práticas dos indivíduos sociais em suas múltiplas relações
e dimensões da vida quotidiana na produção e reprodução social, tanto em
seus componentes de reiteração do instituído, como de criação e re-invenção
da vida em sociedade. (IAMAMOTO, 1998, p. 111-112)

Projeto Ético-Político da Profissão

Para a compreensão do Projeto Ético-político da profissão iremos abordar dois itens em


destaque: Projetos societários e Projetos profissionais.
a) Projetos Societários: A ação humana, seja individual, seja coletiva, tendo em sua
base necessidades e interesses, implica sempre um projeto que, em poucas palavras, é uma
antecipação ideal da finalidade que se pretende alcançar, com a invocação dos valores que a
legitimam e a escolha dos meios para lográ-la. Nos interessa nesse estudo, um tipo de projeto coletivo:
os Projetos Societários, projetos que apresentam uma imagem de sociedade a ser construída, que
reclama determinados valores para justificá-la e que privilegiam certos meios (materiais e culturais)
para concretizá-la, seu traço peculiar reside no fato de se constituírem como projetos macroscópicos,
como propostas para o conjunto da sociedade. Em sociedades como a nossa, são necessariamente
projetos de classe, onde há uma dimensão política que envolve relações de poder.
Tem sempre em seu núcleo a marca da classe social a cujos interesses essenciais respondem, os
projetos societários constituem estruturas flexíveis e cambiantes: incorporam novas demandas e
aspirações, transformam-se e se renovam conforme as conjunturas históricas e políticas. No
capitalismo, por razões econômico-sociais e culturais, mesmo num quadro de democracia política, os
projetossocietários que respondem aos interesses das classes trabalhadoras e subalternas
sempredispõem de condições menos favoráveis para enfrentar os projetos das classes proprietárias
epoliticamente dominantes. (NETTO, 1999:2-3)

b) Projetos Profissionais: esses projetos também são enquadrados na categoria de


projetos coletivos. Os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os
valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os
requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o
comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus
serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas
(inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais). Tais projetos
são construídos por um sujeito coletivo – o respectivo corpo (ou categoria) profissional, através de sua
organização, considerando o Serviço Social no Brasil, a organização compreende o conjunto
CFESS/CRESS, a ABEPSS, o ENESSO, os sindicatos e as demais associações profissionais. Para
que ganhe solidez e seja respeitado o projeto profissional tem que estar aliado a um corpo profissional
fortemente organizado. Ressalta-se que o projeto profissional tem uma dimensão política que não pode
ser desconsiderada, mas nem sempre são explicitas. (NETTO, 1999:4-5)
O sujeito coletivo que constrói o projeto profissional constitui um campo heterogêneo, pois
estão presentes projetos individuais e coletivos diversos, constituindo-se em um espaço plural onde
podem surgir projetos profissionais diferentes, todo corpo profissional é um campo de tensões e de
lutas. A afirmação e consolidação de um projeto profissional em seu próprio interior não suprime as
divergências e contradições a elaboração e a afirmação (ou, se quiser, a construção e a consolidação)
de um projeto profissional deve dar-se com a nítida consciência de que o pluralismo é um elemento
factual da vida social e da própria profissão, que deve ser respeitado.
A atenção a essas questões se mostra mais importante quando se leva em
conta a relação dos projetos profissionais com os projetos societários.
Embora seja frequente a sintonia entre o projeto societário hegemônico e o
projeto hegemônico de um determinado corpo profissional, podem ocorrer –
e ocorrem – situações de conflito e mesmo de contradição entre eles. É
possível que, em conjunturas precisas, o projeto societário hegemônico seja
contestado por projetos profissionais que conquistem hegemonia em seus
respectivos corpos (esta possibilidade é tanto maior quando tais corpos se
tornam sensíveis aos interesses das classes trabalhadoras e subalternas e
quanto mais estas classes se afirmem social e politicamente). Tais situações
agudizam, no interior desses corpos profissionais, as diferenças e
divergências entre os diversos segmentos profissionais que os compõem.
(NETTO, 1999, p. 6)

Segundo Netto (1999), o projeto ético-político do Serviço Social, vem romper com o
conservadorismo da profissão a partir da década de 80, quando há a luta pela redemocratização do
Brasil, quando houve a irrupção de demandas democráticas e populares reprimidas por um longo
tempo. A mobilização dos trabalhadores urbanos, com o renascimento combativo da sua organização
sindical; a tomada de consciência dos trabalhadores rurais e a revitalização das suas entidades
representativas; o ingresso, também na cena política, de movimentos de cunho popular e democrático,
a dinâmica da vida cultural, com a reativação do protagonismo de setores intelectuais. O
Conservadorismo profissional se confrontou pela primeira vez com uma conjuntura em que a sua
dominância da atuação do assistente social podia ser contestada.

Como todo universo heterogêneo, o corpo profissional não se comportou de


modo idêntico. Mas as suas vanguardas, na efervescência democrática,
mobilizaram-se ativamente na contestação política – desde o III Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais (1979, conhecido como “o Congresso da
virada”), os segmentos mais dinâmicos do corpo profissional vincularam-se
ao movimento dos trabalhadores e, rompendo com a dominância do
conservadorismo, conseguiram instaurar na profissão o pluralismo político,
que acabou por redimensionar amplamente não só a organização profissional
(dando vida nova, por exemplo, a entidades como a ABESS – depois
renomeada ABEPSS – e, posteriormente, ao CFESS) como, sobretudo,
conseguiram inseri-la, de modo inédito, no marco do movimento dos
trabalhadores brasileiros. (NETTO, 1999, p. 10-11)

As aspirações democráticas e populares, propagadas a partir dos interesses dos


trabalhadores, foram incorporadas e até intensificadas pelas vanguardas do Serviço Social. Pela
primeira vez, no interior do corpo profissional, repercutiam projetos societários distintos daqueles que
respondiam aos interesses das classes e setores dominantes. O Serviço Social, ao longo dos anos 70
e 80, a partir do redimensionamento da formação profissional para adequar a formação às novas
condições postas para o profissional.
(...) entrou na agenda do Serviço Social a questão de redimensionar o ensino
com vistas à formação de um profissional capaz de responder, com eficácia
e competência, às demandas tradicionais e às demandas emergentes na
sociedade brasileira – em suma, a construção de um novo perfil profissional
(...) É neste processo que foram ressignificadas modalidades prático-
interventivastradicionais e emergindo novas áreas e campos de intervenção,
com o que se veioconfigurando, numa dinâmica que está em curso até hoje,
um alargamento da práticaprofissional, crescentemente legitimado seja pela
produção de conhecimentos que a partirdela se elaboram, seja pelo
reconhecimento do exercício profissional por parte dos usuários. (NETTO,
1999, p. 13)
No final dos anos 80 e início dos anos 90 que o projeto ético-político do Serviço Social
no Brasil se configurou em sua estrutura básica, com um caráter aberto, mantendo seus princípios, mas
flexível para incorporar novas questões, novas problemáticas. Este projeto tem em seu núcleo baseado
nos princípios e diretrizes encontrados no Código de Ética profissional:
a) Reconhecimento da liberdade como valor central, concebida historicamente, como
possibilidade de escolha entre alternativas concretas;
b) Defesa intransigente dos direitos humanos e repúdio do arbítrio e dos preconceitos;
c) A dimensão política do projeto se posiciona ao lado da justiça social e da equidade,
na perspectiva da universalização de acesso a bens e serviços relativos às políticas
sociais e programas sociais;
d) Consolidação e ampliação da cidadania, posta como garantia de direitos civis, políticos
e sociais das classes trabalhadoras;
e) Radicalmente democrático, considerando a democratização como socialização da
participação política e socialização dariqueza socialmente produzida;
f) O projeto implica o compromisso com a competência, que só pode ter como base o
aperfeiçoamento intelectual do assistente social.
O Projeto Ético-político ganha sua hegemonia no interior da profissão na década de 90,
essa conquista só se tornou possível devido ao crescente envolvimento de segmentos cada vez
maiores do corpo profissional nos fóruns, nos espaços de discussão e nos eventos profissionais, bem
como a multiplicação e descentralização desses fóruns, espaços e eventos. Também contribuiu para
esse momento, a sintonia das linhas fundamentais deste projeto com tendências significativas do
movimento da sociedade brasileira (do movimento das classes sociais.
Observamos que nesse período de hegemonia do projeto ético-político do Serviço Social,
ocorre também a passagem do capitalismo para uma nova fase, o Neoliberalismo, que levou a
sociedade do mundo todo a uma grande crise. Esta atingiu o Brasil a partir de 95, quando a classe
dominante rapidamente adequou seu projeto societário para se tornar defensor do Neoliberalismo.
Mas, na medida em que, no Brasil, tornam-se visíveis e sensíveis os
resultados do projeto societário inspirado no neoliberalismo – privatização do
Estado, desnacionalização da economia, desemprego, desproteção social,
concentração exponenciada da riqueza etc. -, nesta mesma medida fica claro
que o projeto ético-político do Serviço Social tem futuro. E tem futuro porque
aponta precisamente ao combate (ético, teórico, ideológico, político e
práticosocial) ao neoliberalismo, de modo a preservar e atualizaros valores
que, enquanto projeto profissional, o informam e o tornam solidário ao projeto
de sociedade que interessa à massa da população. (NETTO, 1999, p. 19)

Campos de atuação do Assistente Social no Brasil e no Maranhão

Na gênese do Serviço Social o campo de atuação do profissional era bem limitado,


aparecendo como importantes os esforços das escolas e organizações mantenedoras para a abertura
do campo profissional. As demandas se concentravam em São Paulo no Departamento de Serviço
Social do Estado e em algumas instituições como inspetores de trabalho de mulheres e menores e
Juízo de Menores. Em relação às instituições particulares, havia campo de trabalho em algumas obras
assistenciais e em iniciativas do próprio CEAS, como os Centros Familiares.
Os Assistentes Sociais tinham suas atividades desenvolvidas de forma restrita, emfunção
do campo de atuação limitado nos órgãos públicos como também da incapacidade das instituições
particulares de assistência por não tornarem viável o atendimento do profissional. A intervenção do
Assistente Social tinha naquele momento uma atuação doutrinária e eminentemente assistencial.
Com crescimento do curso os campos de atuação foram ampliando, chegando a sua
inserção nas empresas no início as atividades giravam em torno de serviços exteriores à unidade de
produção e junto as atividades ligadas à legislação do trabalho, atuando principalmente junto às
mulheres e crianças, visitas domiciliares, articulação e encaminhamentos para os serviços da
comunidade e contatos com os movimentos de aperfeiçoamento moral e profissional.
A atuação prática desenvolvida pelos primeiros Assistentes Sociais estará,
assim, voltada essencialmente para a organização da assistência, para a
educação popular, e para a pesquisa social. Seu público preferencialmente
as mulheres e crianças. As visitas domiciliares, os encaminhamentos – de
muito pequeno efeito prático, devido à carência de obras que sustentassem
semelhante técnica – a distribuição de auxílios materiais e a formação moral
e doméstica através de círculos e cursos, serão as atividades mais
frequentemente desenvolvidas pelos primeiros assistentes sociais.
(IAMAMOTO e CARVALHO, 1998, p. 196-197)

A partir do Movimento de Reconceituação, que no Brasil coincidiu como período da


Ditadura Militar, o Serviço Social, como já explicitado anteriormente vive um momento de repensar e
reformular sua formação e sua prática de intervenção. Com o crescimento do curso em todo o Brasil e
com o aprofundamento da questão social, devido ao avanço do capital no País, temos uma ampliação
dos espaços sócio-ocupacionais do assistente social.
O assistente social passa a participar mais ativamente dos movimentos sociais, que
naquele momento lutavam pela redemocratização do Brasil. Mas continuava a ocupar os espaços
oferecidos pelo Estado, como mediador da ideologia dominante. O profissional, nesse período, se
ocupava de sua capacitação para atender as novas demandas que surgiam, com o avanço das
desigualdades e a violência que tomava conta do País.
O principal campo de atuação do assistente social são as políticas sociais, que formuladas
pelo Estado, estão voltadas para a contenção das classes subalternas, com ações focalizadas e
excludentes (não muito diferentes dos dias de hoje). As políticas sociais se apresentam como a solução
pacífica que o Estado encontrou em manter o consenso de classes, e o assistente social se torna o
principal executor daquelas.
A partir da década de 80, com a efervescência da luta pela redemocratização do Brasil, e
o fortalecimento do profissional de Serviço Social enquanto intelectual, observamos novas demandas
para a atuação do assistente social. Até mesmo, pela aceleração do processo capitalista.
Principalmente com a Constituição de 1988, que efetivou os direitos sociais para todos.
Efetivamente, enquanto predominar a forma de entender as políticas sociais
como meros instrumentos de redistribuição da renda (...) que visa atingir o
reequilíbrio social afetado e alterado pela dinâmica do mercado, na medida
em que sejam consideradas apenas como a procura, por parte do Estado,
do bem-estar social das pessoas carentes, e enquanto os serviços e a
assistência social (...) estejam centrados nas áreas vinculadas à reprodução
da força de trabalho (...) intervindo também nos aspectos que põem a
sociedade, o sistema em “xeque” (drogas, alcoolismo, deliquência,
abandono); partindo, portanto, desta concepção de políticas sociais e da
sua real imbricação genética com o Serviço Social, estas áreas de
intervenção passam a ser consideradas direta e invariadamente como os
próprios campos (específicos) de ação da profissão. Poderíamos dizer quase
exclusivamente. E dentro delas, as funções tradicionais de competência do
assistente sócia são congeladas e reproduzidas quase que ritualmente (...)
Desta forma, as áreas tradicionais de intervenção são “naturalizadas”e
permanecem, ao longo da história do Serviço Social, quase que invariáveis:
nem se modificam estes “campos tradicionais”, nem se incorporam novas
demandas sociais, novos objetivos de intervenção profissional. (MONTAÑO,
2009, p. 195)

DESTAQUE:
CAMPOS DE ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO MARANHÃO

O Serviço Social no Maranhão, como já exposto, em relação ao Brasil, teve a inserção


do curso tardiamente (Década de 80), por ser naquele período um Estado atrasado economicamente,
comandado por uma consolidada Oligarquia, que através do atraso mantinha seu podes. A economia
maranhense girava em torno da agricultura, a população, em sua maioria, vivia na zona rural. Desta
forma, no Maranhão o campo de atuação do Assistente Social em suas primeiras décadas de
existência teve como campo de atuação a questão urbana, nos intensos conflitos entre posseiros e
ruralistas.

A miséria em que viviam a população rural, também foi determinante. O Estado e a


Oligarquia, com o apoio da Igreja demandavam do profissional alternativas de contenção da população
para efetivar seu poder no Estado.
Com o processo de industrialização do estado (ressaltasse que ocorreu de forma tardia e
lenta), o campo de atuação da profissão se expandiu para a zona urbana, com demandas similares com
a do Brasil. Mas ainda se concentrava como prioridade a questão rural, pois com a migração de
nordestinos para o interior do Maranhão, os conflitos se intensificaram e se atrelaram as lutas pela
democratização no período da Ditadura Militar.
Atualmente os campos de atuação são determinados principalmente pelas Políticas
Sociais do Estado, principalmente na área da assistência, pois o estado ainda é atrasado
economicamente e detém um dos piores indicadores sociais do País.

Mercado de trabalho do assistente social no Brasil e no Maranhão


O mercado de trabalho do assistente social vem crescendo ao longo dos últimos 10 anos.
Setores que anteriormente não viam a necessidade da contratação do Assistente social, nos dias
atuais, requisitam estes profissionais. O profissional tem maiores ofertas de capacitação, e está aos
poucos ganhando a confiança de setores tanto dos órgãos públicos como privados.
Com a diversidade de cursos de capacitação e pós-graduação, além das novas demandas
que se apresentam ao profissional, o Serviço Social está cada vez mais preparado para atuar em áreas
diversas, podemos citar como exemplo: setores das indústrias; setores do Judiciário que anteriormente
não demandavam o profissional; ONG’s; Previdência Social ( que atualmente criou o cargo de perito
social); além da expansão das políticas de educação, saúde e assistência.
a) Os espaços sócio-ocupacionais na esfera estatal: estas instituições continuam sendo
os maiores empregadores do profissional de serviço social, principalmente na área da assistência,
devido a implantação do SUAS, e consequentemente com a implantação dos Centros de Referência
(CRAS e CREAS) e programas como Bolsa Família. Observamos também um crescimento dademanda
no setor da Saúde, devido ao Programa Saúde da Família (PSF) e os Centros de Apoio Psicossocial
(CAPS), que tem em seu quadro interdisciplinar a obrigatoriedade do assistente social. No setor da
educação, também tem se ampliado os profissionais de serviço social, pois a política atual do MEC
determina a presença desses profissionais nas escolas.
Embora historicamente os assistentes sociais tenham se voltado à
implementação de políticas públicas, como “executores terminais das
políticas sociais” (...), esse perfil vem mudando nos últimos anos e, apesar de
ainda predominante, abrem-se novas alternativas e áreas de trabalho
profissional.
Os assistentes sociais passam a ser requisitados para atuar também na
formulação e avaliação de políticas, bem como no planejamento e na gestão
de programas e projetos sociais, desafiados a exercitarem umaintervenção
cada vez mais crítica e criativa. (RAICHELIS, 2009, p. 388)

O processo de descentralização das políticas sociais, especialmente a municipalização,


exige o desempenho de novas atribuições por parte dos assistentes sociais. Os espaços ocupacionais
se ampliam através de atividades relacionadas à formulação e implantação de conselhos de políticas
públicas, nas áreas de assistência, saúde, educação, criança e adolescente, etc.
Destaca-se nesta análise a frequência com que o profissional de serviço social
desempenha trabalho compartilhado com outros profissionais, são as conhecidas equipes
interdisciplinares, que reuni profissionais de várias áreas e estes precisam em conjunto intervir nas
questões postas.
As condições de trabalho para o assistente social, não são as melhores, com a
minimização do Estado e da descentralização da assistência, as instituições não oferecem todos os
recursos necessários para que a efetividade da intervenção, as deficiências vão das condições dos
espaços de atendimento, como a escassez de material de trabalho. A remuneração não é condizente
com o trabalho, não há valorização profissional, o que faz com que o profissional acumule atividades
para poder ter uma remuneração mais apropriada.
b) Os espaços sócio-ocupacionais em empresas: o processo de reestruturação produtiva
que ocorre no Brasil a partir da década de 90, impulsiona as políticas de recursos humanos
nos seguintes aspectos: crescimento dos investimentos empresariais com a qualificação da força de
trabalho; introdução de técnicas e métodos de gerenciamento participativo, com apelo ao envolvimento
dos trabalhadores; combinação do sistema de benefícios e serviços sociais com as políticas de
incentivo à produtividade do trabalho. Nesse ínterim, o exercício profissional é perpassado por uma
nova racionalidade técnica e ideopolítica, no âmbito de gerenciamento de recursos humanos, que
refuncionaliza o “tradicional” em favor do “moderno”, e conjuga, no campo profissional, “velhas e novas”
demandas.
Com relação às velhas demandas, cabe destacar que o trabalho
desenvolvido pelo Serviço Social nas empresas mantém o seu caráter
“educativo”, voltado para mudanças de hábitos, atitudes e comportamentos
do trabalhador, objetivando sua adequação ao processo de produção. Desse
modo, o profissional continua sendo requisitado para responder às questões
que interferem na produtividade – absenteísmo, insubordinação, acidentes,
alcoolismo etc. –, a intervir sobre os aspectos da vida privada do trabalhador,
que afetam seu desempenho – conflitos familiares, dificuldades financeiras,
doenças etc. – e a executar serviços sociais asseguradores da manutenção
da força de trabalho. (AMARAL e CESAR, 2009, p.419)

Caracteriza-se a intervenção baseada na dimensão pedagógica do assistente social,


buscando mútua colaboração entre empregador e empregado. Apesar de serem demandas
consideradas “tradicionais”, os conteúdos e instrumentos de intervenção são renovados.
Mesmo sem modificar a natureza da ação do Serviço Social, as mudanças na
produção impactaram as exigências feitas ao profissional e as suas
condições de trabalho nas empresas. Este, em larga medida, vem
respondendo às novas requisições, com conhecimentos e habilidades
específicos que, de certo modo, se afastam dos elementos e exigências da
formação generalista, apropriando-se, cada vez mais, de informações
técnicas, e, por muitas vezes acríticas, amparadas em matrizes teóricas de
outras áreas de conhecimento. (AMARAL e CESAR, 2009, p. 424)

Com relação as condições de trabalho, não fogem muito ao quadro mais geral da
economia, muitos desses profissionais são terceirizados, são contratado por projetos e não tem vínculo
empregatício. São várias as formas de contratação, contudo, com relação à remuneração, as empresas
em sua maioria remuneram o profissional de acordo com o trabalho realizado, e oferecem pelo menos
as condições mínimas para realizá-lo.
c) Espaços sócio-ocupacionais em ONG’s: com a minimização do Estado, em relação
às questões sociais, devido a reforma do Estado exigida pelo Neoliberalismo, observa-se a
transferência de considerável parcela de serviços sociais para a sociedade civil. Este deslocamento
provoca o retorno de práticas tradicionais no trato das contradições sociais no verdadeiro processo de
refilantropização da questão social. Ocorre, também, a tendência de privatização nas áreas da saúde,
educação e previdência. Aponta-se para um discurso ideológico da “autonomia”, “solidariedade”,
“parceria” e “democracia”. Mas na verdade o que vem ocorrendo é a despolitização das demandas
sociais. Nesta perspectiva tem-se a definição de Terceiro Setor, considerado sem fins lucrativos e
nãogovernamental.
(...) com a tendência de redução do Estado, tem-se a diminuição do espaço
profissional do assistente social mediante os processos de diminuição das
despesas estatais na órbita da esfera social, acarretando a racionalização
dos gastos sociais com as políticas sociais, com implicações nos postos de
trabalho para o assistente social na esfera pública, com a diminuição de
demandas, sucateamento do aparato organizacional e institucional, a
precarização das condições de trabalho, principalmente em face do perigo da
terceirização.
Quanto ao mercado de trabalho aberto no chamado “terceiro setor”, este está
muito longe de se constituir como canal minimamente expressivo e estável
de absorção de profissionais (...) dado que “apostar nas ONG’scomo saída
profissional é desconhecer os graves riscos de pluriemprego”. De fato, a
inserção dos assistentes sociais nestes espaços sócio-ocupacionais tende
a ser caracterizada pela precariedade das inserções empregatícias,
predominando a flexibilização das relações contratuais, marcada pela
rotatividade de emprego, multiplicidade dos vínculos de trabalho e níveis
salariais reduzidos, jornada de trabalho de tempo parcial (...) (ALENCAR,
2009, p. 458-459)

Com relação ao mercado de trabalho no Maranhão, este não foge a realidade nacional.
Mas apresenta algumas especificidades, como o crescimento do campo de atuação nos municípios
do estado. A procura por profissionais para trabalhar na execução do Bolsa Família e nos Centros de
Referência vem crescendo, no entanto, devido a distancia destes municípios com centro maiores, esses
profissionais são buscados na capital, e o que é oferecido pelas prefeituras como remuneraçãoé pouco
para que o assistente social mude de cidade. Desta forma, fazem-se acordos, entre o profissional e a
prefeitura e aquele fica cerca de dois a três dias no Município, não dando a cobertura necessária.
Outro campo que vem crescendo no Maranhão são as ONG’s que estão se firmando em
nosso estado como, a PLAN do Brasil, SMDH (Sociedade Maranhense de Direitos Humanos) entre
outras. São instituições que remuneram bem os profissionais e que há condições favoráveis de
trabalho, mas normalmente as contratações são por projetos, não havendo segurança para o
profissional.
Podemos ainda destacar a ampliação de cursos de Serviço Social em faculdades
particulares, que até pouco tempo, só havia na UFMA. Esses novos cursos trouxeram maiores
possibilidades para a docência, mas na contramão o estado tem tido dificuldade de absorver a grande
oferta de profissionais. Por isso, os profissionais não podem se contentar com a graduação, a
capacitação nos dias atuais é fundamental para se destacar no mercado de trabalho.

As formas de organização do Assistente Social

O Serviço Social começa a se organizar enquanto categoria profissional durante o


Movimento de Reconceituação no período da Ditadura Militar, quando os profissionais se voltaram para
reformular seus fundamentos teórico-metodológico e político-social.

DESTAQUE:

Assim como no Brasil, o maior empregador do assistente social no Maranhão continua sendo o
Estado. Apesar da precariedade das condições de trabalho e da baixa remuneração.
Neste estudo destacaremos duas formas de organização que foram fundamentais para a
construção da profissão e sua afirmação na sociedade:

a) ABEPSS:

A ABESS foi criada em 1946, então denominada Associação Brasileira de


Escolas de Serviço Social, uma década após a instalação do primeiro curso de Serviço
Social no Brasil, a Escola de Serviço Social da PUC-SP. A sua história foi marcada pela Convenção de
1979, quando assumiu a tarefa de coordenar e articular o projeto de formação profissional,
transformando-se em Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social. Na década de 80 houve a
criação do Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social (CEDEPSS),
que veio atender as novas demandas que surgiram com os cursos de pós-graduação em 1972.
Na segunda metade da década de 90, houve a mudança do nome da ABESS para
ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social), justificada em função da
defesa dos princípios da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e da articulação entre
graduação e pós-graduação, aliada à necessidade da explicitação da natureza científica da entidade,
bem como a urgência da organicidade da pesquisa no seu interior.
Uma marca na trajetória da ABESS/ABEPSS tem sido o processo democrático expresso
na participação intensa dos sujeitos que constroem a formação profissional, com debates enraizados
nas unidades de formação acadêmica, nas regionais e no nível nacional.
Em 1982, é regulamentado o Currículo Mínimo para os cursos de Serviço Social do país,
a partir da proposta discutida desde 1979. Essa nova proposta curricular representou, juntamente com
o Código de Ética de 1986, uma profunda renovação profissional. O currículo mínimo significou, no
âmbito da formação, a afirmação de uma nova direção social hegemônica no seio acadêmico-
profissional, o que se consolidou com a elaboração das Diretrizes Curriculares para o Curso de Serviço
Social, aprovada pela categoria em 1996 e aprimorada pela Comissão de Especialistas em documento
de 1999. A construção das Diretrizes ocorreu após longos debates que envolveu a categoria
profissional, em que foram socializadas experiências significativas, vivenciadas nas diferentes unidades
de formação acadêmica e nas diversas regiões do país, tendo o pluralismo (teórico-metodológico e
político) e o processo democrático se constituído em parâmetros na condução desse processo.
Um desafio permanente da ABEPSS é acompanhar a implantação das Diretrizes
Curriculares. Isso envolve pensar um processo de formação continuada que venha a atingir os docentes
de todas as universidades e/ou faculdades que tenham em seuquadro o curso de graduação em
Serviço Social. Esse acompanhamento vem ocorrendo sistematicamente pelas várias diretorias da
ABEPSS, por meio da realização de oficinas, de visitas às unidades de formação acadêmica, que vêm
sendo realizadas desde a aprovação das Diretrizes.
A ABEPSS realiza encontros regulares da categoria, destaca-se o ENPESS, que o
Encontro de Pesquisadores em Serviço Social e as Assembleias Gerais da ABEPSS.

b) Conjunto CFESS/CRESS:
A criação e funcionamento dos conselhos de profissão no Brasil datam de 1950, com um
caráter basicamente corporativo, com função controladora e burocrática. O Serviço Social foi uma das
primeiras profissões a ter sua lei de regulamentação profissional, data de 1957, a partir da Lei n. 3.252,
que só foi regulamentada, em 1962, pelo Decreto n. 994. Este que decretou em seu artigo sexto a
criação do Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e os Conselhos Regionais de Assistentes
Sociais (CRAS).

Os Conselhos profissionais nos seus primórdios se constituíram como


entidades autoritárias, que não primavam pela aproximação com os
profissionais da categoria respectiva, nem tampouco se constituíram num
espaço coletivo de interlocução. A fiscalização se restringia à exigência da
inscrição do profissional e pagamento do tributo devido. Tais características
também marcaram a origem dos Conselhos no âmbito do Serviço Social.
(CFESS, 2008, p. 162)

A partir do III CBAS (Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais), considerado o


“Congresso da virada”, que ocorreu em 1979 em São Paulo, houve um novo posicionamento da
categoria e das entidades de Serviço Social, de caráter contestador e de expressão do desejo de
transformação da práxis político-profissional do Serviço Social no Brasil. Na esteira desse novo
posicionamento, a partir de 1983, teve um amplo processo de debates conduzido pelo CFESS, visando
à alteração do Código de Ética vigente desde 1975. O novo Código foi aprovado em 1986.
Em 1991, apesar do significativo avanço do Código de 1986, o conjunto CFESS/CRESS
apontava a necessidade da revisão desse instrumento, que considerou e incorporou os pressupostos
históricos, teóricos e políticos da formulação de1986 e avançou na reformulação do Código de Ética
Profissional. O debate foi aberto com os CRESS em vários momentos entre 1991 e 1993, ocorreram
também nos seminários nacionais de ética, encontros de estudantes (ENESS) e no VII CBAS. A Lei de
Regulamentação, desde 1957, já se fazia notar sua defasagem e fragilidade.
Em 1993 com a Lei n. 8.662, se instituiu a nova Lei de Regulamentação da profissão e o
novo Código de Ética, que se encontram vigentes até hoje.

A nova legislação assegurou à fiscalização profissional possibilidades mais


concretas de intervenção, pois define como maior precisão as competências
e atribuições privativas do assistente social. Inova também ao reconhecer
formalmente os encontros nacionais CFESS/CRESS como o fórum máximo
de deliberação da profissão. (CFESS, 2008, p. 164)

Dados do CFESS em 2008, consta que o Brasil conta com aproximadamente 74 mil
profissionais de Serviço Social, que estão atuando nos mais diversos campos sócio-ocupacionais, que
demandam compromisso ético-político, autonomia e defesa dos direitos, das políticas públicas e das
condições necessárias para o exercício profissional.
É nesse contexto que a fiscalização do exercício profissional, como função
precípua do conjunto CFESS/CRESS, deve ser implementada
cotidianamente em sintonia com o projeto profissional construído
democraticamente pela categoria profissional e requer o envolvimento nas
lutas sociais para fortalecer organização política da classe trabalhadora e
contribuir para o enfrentamento das ofensivas conservadoras que
cotidianamente impõem desafios à nossa intervenção profissional, política e
à consolidação do projeto ético-político profissional. (CFESS, 2008, p. 168)

O estudo dessas instituições organizativas é importante para compreendermos como a


luta para a consolidação da profissão. Na história da profissão existem ouras organizações que em
seus momentos foram importantes, como os sindicatos de Serviço Social, que durante movimento pela
redemocratização foi muito importante para o fortalecimento dos assistentes sociais enquanto
categoria, no entanto, na década de 90, com a desmobilização que houve no interior dos movimentos
sociais, a maioria dos sindicatos se extinguiu, ainda existem alguns estados no Brasil que tem seus
sindicatos, como Rio de Janeiro, mas a participação dos assistentes sociais nos sindicatos é
insignificante a nível de organização.
O Serviço Social conta com uma série de Eventos, Encontros e Congressos, onde são
discutidas propostas de aprimoramento profissional e também onde são decididas as bandeiras de luta
da profissão. Como exemplo destes espaços temos: os Encontros de Estudantes de Serviço Social
(ocorrem anualmente) e os Congressos Brasileiros (que ocorrem de quatro em quatro anos).

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

1. Qual a importância da Igreja Católica para o surgimento do Serviço Social?

2. De acordo com NETTO (1999), o que propõe o projeto ético-político do Serviço Social?
ATIVIDADE AVALIATIVA

1. Faça um texto dissertativo comentando como se deu o processo de renovação do Serviço Social:

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

a) Básica

BRASIL, Lei n° 8662 de 07 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá
outras providências.

CASTRO, Manuel Manrique. História do Serviço Social na América Latina. 2ed. São Paulo: Cortez
/CELATS, 2006.

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (org.) Atribuições Privativas do (a) Assistente


Social - em questão. Brasília, 2002.

ESTEVÃO, A.M.R.O que é Serviço Social? São Paulo: Brasiliense, 2005.

b) Complementar

GENTILLI, R. de M.L. A importância do debate sobre a identidade profissional. In: Serviço Social e
Sociedade, n° 53 ano XXXVIII, São Paulo,1997.

IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação


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MARTINELLI, Maria Lucia. Serviço Social: identidade e alienação. 2. ed. Paulo: Cortez, 2000.

RESOLUÇÃO CNE/CES 15, de 13 de março de 2002 – Diretrizes Curriculares para o Curso de


Serviço Social.

SERRA, R.M.M. Crise de mortalidade no Serviço Social: repercussões no mercado profissional.


São Paulo: Cortez, 2000.

VASCONCELOS, A.M. de. A prática do Serviço Social: cotidiano, formação e alternativas na área
da saúde. São Paulo: Cortez,2002.

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