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OBJETIVOS
EMENTA
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
CAPÍTULO 1
O SERVIÇO SOCIAL E O ASSISTENTE SOCIAL: Quem somos e o que fazemos?
UNIDADE 1.1 – Serviço Social: Conceitos Introdutórios/ Quem é o Assistente social?
UNIDADE 1.2 – Nova Lógica Curricular
CAPÍTULO 2
A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL
UNIDADE 2.1 – As origens do Serviço Social.
UNIDADE 2.2 – Aspectos Sociais e Históricos do Processo de Profissionalização do Serviço Social e
o Serviço Social no Brasil.
CAPÍTULO 3
ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PROFISSÃO NO BRASIL
UNIDADE 3.1 – O processo de institucionalização e legitimação da profissão.
UNIDADE 3.2 – A formação profissional do Assistente Social e o Serviço Social na
contemporaneidade
6
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................................59
CAPITULO 1 O SERVIÇO SOCIAL E O ASSISTENTE SOCIAL: quem somos e o que fazemos?
Você acabou de ingressar no Curso de Serviço Social e talvez deva estar se perguntando:
O que realmente vou estudar ao longo destes 04 anos de estudo? Com o que e onde irei trabalhar?
Quais atividades irei desenvolver?
O Serviço Social é um curso de nível superior, cuja abordagem investigativa está pautada
as múltiplas expressões da questão social. É uma profissão de caráter social, político, crítico e
interventivo, que se utiliza de instrumental científico multidisciplinar das Ciências Humanas eSociais
para analisar e intervir nas mais diversas expressões da questão social, ou seja, no conjunto de
desigualdade originárias do antagonismo entre a socialização da produção e a apropriaçãoprivada
dos frutos do trabalho.
O Serviço Social tem como objetivo a contribuição para a construção de uma ordem social,
política e econômica pelo menos diferente da atual. Reconhece nos determinantes estruturaise nas
dificuldades da realidade social os limites e as possibilidades do trabalho profissional, rebelando-se
contra os problemas, as injustiças que afetam os desamparados socialmente.
A pessoa que se forma no curso de Serviço Social é denominada de Assistente Social.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
A lógica curricular do Curso de Serviço Social está sustentada no tripé dos conhecimentos
constituídos pelos núcleos de fundamentação da formação profissional, quais sejam:
- Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, que compreende um
conjunto de fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos para conhecer o ser social enquanto
totalidade histórica, fornecendo os componentes fundamentais para a compreensão da sociedade
burguesa, em seu movimento contraditório;
- Núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira que remete
à compreensão dessa sociedade, resguardando as características históricas particulares que presidem
a sua formação e desenvolvimento urbano e rural, em suas diversidades regionais e locais.
Compreende ainda a análise do significado do Serviço Social em seu caráter contraditório, no bojo das
relações entre as classes e destas com o Estado, abrangendo as dinâmicas institucionais nas esferas
estatal e privada;
- Núcleo de fundamentos do trabalho profissional que compreende todos os elementos
constitutivos do Serviço Social como uma especialização do trabalho: sua trajetória histórica, teórica,
metodológica e técnica, os componentes éticos que envolvem o exercício profissional, a pesquisa, o
planejamento e a administração em Serviço Social e o estágio supervisionado. Tais elementos estão
articulados por meio de uma análise dos fundamentos do Serviço Social e dos processos de trabalho
em que se insere, desdobrando-se em conteúdos necessários para capacitar os profissionais ao
exercício de suas funções, resguardando as suas competências específicas normatizadas por lei.
Estas disciplinas também se desdobram em outros componentes curriculares como: seminários
temáticos, oficinas/laboratórios e atividades complementares, agregando um conjunto de conhecimentos
indissociáveis para a apreensão da gênese, manifestações e enfrentamento da questão social, eixo fundante
da profissão e articulador dos conteúdos da formação profissional.
Veja abaixo alguns conteúdos que trabalharemos ao longo da nossa trajetória acadêmica:
- Ciência Política: Os clássicos da Política (Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau). Análise do Estado
Moderno e sua relação com a sociedade civil. Regimes políticos. Representação, democracia e
cidadania.
- Antropologia: A relação dialética entre o material e o simbólico na construção das identidades sociais
e da subjetividade. Imaginário, representações sociais e expressões culturais dos diferentes segmentos
sociais com ênfase na realidade brasileira e suas particularidades regionais.
- Psicologia: As principais matrizes teóricas de análise das relações entre indivíduo e sociedade.
Teorias da personalidade e dos grupos sociais. A constituição da subjetividade no processo de
produção e reprodução da vida social.
- Formação Sócio-Histórica do Brasil: A herança colonial e a constituição do Estado Nacional.
Emergência e crise na República Velha. Instauração e colapso do Estado Novo. Industrialização.
Urbanização e surgimento de novos sujeitos políticos. Nacionalismo e desenvolvimento e a inserção
dependente no sistema capitalista mundial. A modernização conservadora no pós 64 e seu ocaso no
final da década de 1970. Transição democrática e neoliberalismo.
- Direito e Legislação Social: A instituições de Direito no Brasil. Direitos e garantias fundamentais da
cidadania. A organização do Estado e dos poderes. A Constituição Federal. A legislação social: CLT,
LOAS, ECA, SUS etc. Legislação Profissional.
- Questão Social: A inserção do Brasil na divisão internacional do trabalho. Desigualdades sociais. A
constituição das classes sociais, do Estado e das particularidades regionais. Desenvolvimento desigual
e combinado na agricultura, indústria e serviço. A reprodução da pobreza e da exclusão social nos
contextos rural e urbano. As perspectivas contemporâneas de desenvolvimento e suas implicações
socioambientais.
- Política Social: O público e o privado. As políticas sociais e a constituição da esfera pública.
Formulação e gestão de políticas sociais e a constituição/destinação do fundo público. Análise
comparada de políticas sociais. Transformações no mundo do trabalho e novas formas de regulação
social. Políticas sociais públicas e empresariais. Desenvolvimento do sistema brasileiro de proteção
social. Políticas setoriais e legislação social.
- Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social: O processo de
profissionalização do Serviço Social nas sociedades nacionais enquanto especialização do trabalho.
As fontes teóricas que fundamentam historicamente o Serviço Social e a análise de sua incorporação
nos modos de pensar e atuar da profissão em suas expressões particulares na Europa, na América do
Norte e na América Latina, prioritariamente, no Brasil. O debate contemporâneo do Serviço Social.
- Processos de Trabalho: O Serviço Social como especialização do trabalho coletivo. A inserção do
Assistente Social nos processos de trabalho: questão social, movimentos sociais, políticas sociais,
dinâmica institucional e a formulação de projetos de pesquisa e intervenção. Espaços ocupacionais
do Serviço Social nas esferas pública e privada. O Assistente Social como trabalhador, as estratégias
profissionais, o instrumental técnico-operativo e produto do seu trabalho. Supervisão do trabalho
profissional e estágio.
- Administração e Planejamento em Serviço Social: As teorias organizacionais e os modelos gerenciais
na organização do trabalho e nas políticas sociais. Planejamento e gestão de serviços nas diversas
áreas sociais. Elaboração, coordenação e execução de programas e projetos na área de Serviço Social.
Funções de administração e planejamento em órgãos da administração pública, empresas e
organizações da sociedade civil.
- Pesquisa em Serviço Social: Concepção, elaboração e realização de projetos de pesquisa. A
pesquisa quantitativa e qualitativa e seus procedimentos. Leitura e interpretação de indicadores
socioeconômicos. Estatística aplicada à pesquisa em Serviço Social.
- Ética Profissional: Os fundamentos ontológicos da dimensão ético-moral da vida social e suas
implicações na ética do Serviço Social. A construção do ethosprofissional: valores e implicações no
exercício profissional. Questões éticas contemporâneas e seus fundamentos teórico-filosóficos. O
Código de Ética na história do Serviço Social brasileiro.
- Estágio Supervisionado: é uma atividade curricular obrigatória que se configura a partir da inserção
do aluno no espaço sócio institucional, objetivando capacitá-lo para o exercício profissional, o que
pressupõe supervisão sistemática. Esta supervisão será feita pelo supervisor e pelo profissional do
campo, através da reflexão, acompanhamento e sistematização, com base em planos de estágio
elaborados em conjunto pelas unidades de ensino e organizações que oferecem estágio.
- Trabalho de Conclusão de Curso: é uma exigência curricular para a obtenção do diploma de bacharel
em Serviço Social. Deve ser entendido como um momento de síntese e expressão da totalidade da
formação profissional. É o trabalho no qual o aluno sistematiza o conhecimento resultante das
indagações preferencialmente geradas a partir da experiência de estágio. Esse processo realiza-se
dentro de padrões e exigências metodológicas, acadêmicas e científicas. É elaborado sob a orientação
de um professor e avaliado por banca examinadora.
- Atividades Complementares: É exigida uma carga horária mínima de 120 horas. Dentre as atividades
realizadas podemos destacar: visitas monitoradas, iniciação científica, projeto de extensão, participação
em seminários, publicação de produção científica e outras atividades definidas no projeto pedagógico
do curso.
A carga horária do Curso é de 3.284 horas, com duração média de 04 (quatro) anos. O estágio
supervisionado tem uma carga horária de 500 horas.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
ATIVIDADE AVALIATIVA
1. Faça um texto dissertativo elencando os motivos que o levaram a fazer o curso de Serviço Social e
o que você espera da profissão.
CAPÍTULO 2 A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL
A Gênese do Serviço Social pode ser compreendida por diversas interpretações históricas,
desde uma ordem religiosa, filosófica e sociológica até uma leitura crítica, com bases fundamentadas
na perspectiva marxiana. A profissão surge no final do século XIX, em 1898, na cidade de Nova Iorque
(Estados Unidos). Com a ascensão da sociedade burguesa e com o aparecimento de classe sociais, a
burguesia (classe social dominante) necessitava de um profissional que cuidasse da área social e
pudesse assistir a classe proletária. Dessa forma, a classe dominante exerceria certo controle sobre os
proletários. No momento, não existia uma metodologia ou teoria acerca da profissão ou o que era a
mesma.
Sua origem está fincada na assistência prestada aos pobres, por mulheres piedosas,
alguns séculos atrás.
Estevão (2006) afirma que o Serviço Social é fruto da união da cidade com a indústria.
Seu nascimento teve como cenário as inquietudes sociais que surgiram do capitalismo e, como
qualquer bom filho, quis possuir a mãe (a cidade) e se identificar com o pai (a indústria).
E continua:
Na adolescência, negou várias suas origens e hoje pode-se dizer que adquiriu
feições próprias, com contornos definidos na luta pela sobrevivência e,
identificado com seus pais, chegou para ficar. É claro que em sua fase de
maturação, mantém todas as ambiguidades inerentes a uma profissão que,
buscando comprometer-se com a população à qual presta serviços, é também
canal de ligação entre instituições públicas e cidadãos, empregadose patrões.
(ESTEVÃO, 2006, p. 09)
Com esse rompimento surge uma nova concepção da caridade, deixando-a de ser um
meio de santificação para aqueles que a praticava, para ser considerada um dever de solidariedade
natural. É mister ressaltar que alguns filósofos e humanistas atuaram dentro desse espírito social na
época, tais como: Juan Luis Vives (1492-1540) pelos escritos e São Vicente de Paulo (1531-1560) pela
atuação.
No que concerne ao filósofo Vives, o mesmo é conhecido pelo trabalho “da assistência
aos pobres” e que segundo Ottoni (1980) pode ser considerado o primeiro tratado do Serviço Social,
tendo em vista, que em seus escritos expõem sua doutrina sobre as causas da miséria e a necessidade
de união dos homens e da divisão do trabalho, bem como indica os meios de combate à pobreza e o
papel do Estado nessa investida.
É importante ressaltar que Vives acreditava ser insuficiente o trabalho da Igreja, eacionava
o Estado na obra de assistência, tendo este sofrido muita represália na época por tentar enfraquecer o
prestígio da Igreja.
Já o humanista São Vicente de Paulo teve a preocupação em sistematizar a distribuição
dos socorros e organizar a reabilitação dos pedintes com o auxílio caridoso de senhoras da sociedade,
instituindo-se as chamadas “Damas de Caridade”, sendo estas uma espécie de associação em que
cada “Dama” se encarregava de um determinado número de famílias, entretanto, por muito preconceito
da época, por serem mulheres da sociedade criaram muitas dificuldades nas obras.
Em 1633 São Vicente de Paulo e Luisa de Marillac, recrutaram massas camponesas para
se dedicarem ao “Serviço dos Pobres”, sendo este o primeiro passo para a profissionalização do
exercício da caridade, sem retirar o aspecto espiritual tanto de que recebia quanto de quem a dava.
No século XVI, surgem novas concepções políticas dos chamados “Monarcas
Esclarecidos”. A intervenção do Estado no campo da caridade constituía a ideia e atitudes novas,
pois até aquele momento era considerada esfera privada e religiosa.
O Estado começa a se interessar pelo bem estar do povo é impar ressaltar que a
conjuntura vivida não era nada promissora, uma vez que, a mendicância tornara-se abrangente:
mendigos vagando de cidade para cidade, pedindo dormida, comida e roupas, mas nunca trabalho. Era
uma verdadeira profissão.
Diante dos fatos, várias municipalidades tomaram iniciativas como: Pão dos Pobres em
Nuremberg (1522); Aumone Génerale, na cidade de Lyon na França (1534), para a qual se exigia a
contribuição de particulares, conventos, mosteiros e paróquias. Proibiu-se a mendicância.
Em meados do século XIX, o processo de industrialização começa a modificar
completamente a forma de produção familiar e artesanal, passando a mão de obra, no cenário
produtivo, não apenas masculina, mas também feminina e até mesmo infantil. Contudo, o laissez faire
procura cada vez mais lucros, fixando salários abaixo do nível de subsistência, obrigando as famílias
a ocuparem em massa as fábricas, fazendo surgir uma nova classe de pobres – os assalariados.
Da Idade Média até o século XIX “[...] a assistência era encarada como forma de controlar
a pobreza e de ratificar a sujeição daqueles que não detinham posses ou bens materiais” (MARTINELLI,
2006, p. 97).
Na Europa, consolidam-se os princípios de São Vicente de Paulo e de Vives, com a criação
de numerosas fundações religiosas e legais. Neste sentido o século XIX foi considerado como o século
de “organização da assistência social”, principalmente pelas entidades particulares. É nesse momento
que algumas pessoas como Chalmers, na Inglaterra, Ozanam, na França e Von der Heydt, na
Alemanha, praticam uma caridade de caráter assistencial que se constitui em um esboço de técnica e
de forma organizada.
Segundo Estevão:
Mas o que faziam essas pessoas que era diferente da prática caritativa
anterior? Elas dividiram as paróquias em grupos de vizinhança, designaram
um responsável em cada setor para distribuir ajuda material e fazer trabalho
educativo (principalmente dando conselhos).
As conferências São Vicente de Paulo, em 1833, por exemplo, organizam seu
trabalho em torno de visitas e ajudas a domicílio, creches, escolas de
reeducação de delinquentes, cuidados e socorros a refugiados e imigrantes.
O que era feito apenas nas paróquias passa a ser feito por toda a cidade. A
princípio organizada em pequenos bairros, a assistência começou a expandir-
se e procurou conquistar um espaço na cidade inteira. (ESTEVÃO, 2006, p.
13).
Até esse momento a Assistência Social é exercida, em caráter não profissional, como
contribuição voluntária daqueles que possuíam bens para aqueles que eram pobres. Dessa forma, as
atividades dos Assistentes Sociais eram restritas a conhecer as verdadeiras necessidades de cada um,
usar economicamente as esmolas disponíveis, visitar as casas dos pobres e necessitados, estudar
conscienciosamente os pedidos de ajuda e conseguir trabalho para os desempregados, para prevenir
os problemas derivados da pobreza.
Um marco importante para a sistematização da Assistência Social é a fundação da
Sociedade de Organização da Caridade em Londres, em 1869, baseada nos seguintes princípios de
trabalho:
Esta sociedade era resultado da junção entre a Burguesia, a Igreja e o Estado. Tinha por
pretensão alargar a assistência aos mais desfavorecidos, sendo inicialmente praticada por mulheres
da alta burguesia, que posteriormente vieram a se profissionalizar.
Em 1851 na Alemanha, a enfermeira da alta sociedade inglesa, Florence Nigtingale,
juntamente com as diaconisas e irmãs da caridade, inicia as visitas domiciliares com o objetivo de
minimizar os sentimentos físicos e sociais, de pobres doentes, desenvolvendo mais tarde atividades no
âmbito da educação familiar e social com moradores de bairros operários em Londres no ano de 1865.
Logo em seguida, foi criado o Centro de Ação Social, pelo pastor Samuel Barnett e sua
esposa colaboradora, Octávia Hill. Este promovia atividades relacionadas com a saúde e higiene, das
famílias dos operários e dos pobres em geral, de modo a impulsionar a organização da assistência
social em bases científicas e a sua racionalização. Em 1882, Josephine Shaw Lowel, criou a primeira
sede americana da Sociedade, localizada em Nova Iorque. Após 11 anos realizou o primeiro curso de
Formação de Visitadoras Sociais Voluntárias.
Em 1899, na cidade de Amsterdã, funda-se a primeira escola de Serviço Social no mundo
e inicia-se também o processo de secularização da profissão, isto é, para o Serviço Social, as
explicações religiosas do mundo são substituídas por explicações científicas. A Sociologia dará suporte
ao Serviço Social.
Mary Richmond, uma assistente social norte-americana teve a sensibilidade de começar
a pensar e a escrever a respeito do que é o Serviço Social e de como ele deveria ser exercido. Ela
propôs que se criasse uma escola para o ensino da filantropia aplicada, adotando o inquérito como
método de diagnóstico e tratamento social. Mais tarde em Nova Iorque, esta escola acabou por ser
criada, sendo os cursos ministrados por Mary Richmond, com a responsabilidade da Sociedade de
Organização da Caridade para pessoas voluntárias. Estes cursos se estenderam aos Estados Unidos
e à Europa, com o objetivo de formar novos assistentes sociais, sendo criada a primeira escola na
Inglaterra no ano de 1908 e em Paris, duas escolas, uma sob orientação católica e outra sob a
orientação protestante, respectivamente nos anos de 1911 e 1913.
Mary Richmond foi a primeira assistente social a escrever sobre a diferença entre fazer
“assistência social”, ou caridade, ou filantropia, e o Serviço Social propriamente dito. É em seu livro
Caso Social Individual que surgem as primeiras luzes sobre uma prática profissional não ainda
institucionalizada. Para Mary Richmond, “dar ajuda material às pessoas pobres não era Serviço Social,
era apenas um osso do ofício, mas não o próprio ofício” (ESTEVÃO, 2006, p. 19). Para ela, fazer
Serviço Social implicava “trabalhar a personalidade da pessoa e o seu meio social. É claro queo meio
social era a família, a escola, os amigos, o emprego etc.” (IDEM).
Veja o que Estevão nos diz sobre a prática do Assistente Social naquela época:
O que faria um Assistente Social no início deste século se ele fosse sério,
rigoroso e competente?
Em primeiro lugar iria preocupar-se em determinar qual a história individualda
formação da personalidade de seu cliente. Se ele não havia conseguido
desenvolver suas potencialidades, enquanto pessoa e cidadão, era porque a
situação vivida por ele, em seu meio social, não havia permitido um correto e
completo desenvolvimento de sua personalidade.
Esta primeira assistente social acreditava que a personalidade das pessoas
pode, por motivos alheios à sua vontade, dependendo do meio social em que
viva, se atrofiar, não realizando assim tudo de que as pessoas podem ser
capazes quando lhes são dadas as condições necessárias.
Iria também estudar e investigar seriamente o meio social daquela pessoa, por
meio de entrevistas, conversas informais, visitas domiciliares a amigos,
professores, patrões etc. Observando e anotando, fazendo relatórios
minuciosos, obteria um diagnóstico e tentaria descobrir quais as possibilidades
de aquela pessoa vir a desenvolver a sua personalidade e como conseguir a
ajuda do meio social para sua causa.
Era preciso descobrir quais possíveis motivações de seu cliente poderiam
incentivá-lo a querer mudar, a desenvolver-se como gente, descobrir quais
aspectos de sua personalidade deveriam ser reforçados e quais deveriam ser
negados.
Isso feito,era necessário então escolher qual caminho dever-se-ia seguir para
que essa personalidade se desenvolvesse e para que o meio social
contribuísse para isso. Caso o meio social não pudesse mudar, o cliente
mudaria de meio.
Mary Richmond chamou esse procedimento de “as ações”: as ações diretas
sobre a personalidade do cliente e indiretas sobre o meio. (ESTEVÃO, 2006,
p. 19-20).
Essa proposta era chamada de Serviço Social de Casos e exigia tempo e paciência,
extensos relatórios e coleta minuciosa de dados. Mary Richmond mostrou que era possível fazer
muito mais do que caridade, ser rigoroso em termos de procedimento, descobrir técnicas que
possibilitassem o exercício profissional. Mary Richmond deu um estatuto de seriedade à profissão, a
secularizou e, ao mesmo tempo, teve a lucidez de perceber que era necessário dar bases técnicas à
prática sistemática que se exercia, oferecendo formas de trabalhar nas quais todos os assistentes
sociais se reconhecessem.
No final do século XIX (1914) com a primeira guerra a sociedade sofre transformações não
só do ponto tecnológico, como social e político. A família passa a sofrer modificações, passando de
patriarcal para conjugal, mesmo conservando as funções de procriação, educação moral e afetivae de
manutenção. Esta instituição passa a ser considerada a célula básica da sociedade, mas as demais
funções (instrução, assistência, recreação, etc.) foram delegadas à Igreja, à comunidade e/ou Estado.
A intervenção do Estado se dá em dois sentidos: na legislação surgiram em quase todos
os países. Os sistemas de seguros sociais como, por exemplo: a previdência social; na atuação criam-
se serviços assistenciais (França, Alemanha, Inglaterra) ligados a administrações municipais, em
atendimentos a crianças abandonadas, asilos para idosos desamparados, juizado de menores, etc.
No bojo do século XX cria-se outro tipo de instituições – as Entidades Internacionais, que
tinham como objetivo levar o consenso sobre a noção de ajuda, agora denominada de “Serviço Social”.
Em 1922 foi criada a União Católica Internacional de Serviço Social (UCISS) por
Mademoiselle Marie Baers, com sede em Bruxelas, Bélgica, era uma entidade confessional que reunia
escolas católicas de Serviço Social, associações católicas de assistentes sociais e membros
individuais. A finalidade consistia em levar aos trabalhos do Serviço Social a contribuição católica e
do humanismo cristão.
O Papa Pio XII proclama a UCISS, o duplo caráter do Serviço Social, competência e
fidelidade cristã. Em seguida organiza-se a primeira Conferência Internacional de Serviço Social, em
Paris (1928) por iniciativa de René Sand, cuja principal preocupação foi criar um fórum internacional
para os debates dos problemas de bem-estar social. As primeiras conferências focalizavam oscampos
de intervenção do Serviço Social nas áreas da habitação, família, industrialização e comunidade.
Percebe-se que o Serviço Social começa a procurar uma metodologia para atuar nos
campos de sua intervenção social numa abordagem individual, levando muitos assistentes sociais, a
acreditar numa especificidade para o trabalho em cada campo, ou seja, situação-problema e o sistema-
cliente.
É no período entre 1917 e 1922, que Mary Richmond, mostrava que esta abordagem
comportava três fases: Estudo, Diagnóstico e Tratamento. Com esta abordagem foi possível chegar à
conclusão de que variava as situações e os problemas dos clientes e não a maneira de agir do
assistente social. Os instrumentos eram: entrevistas, visitação, encaminhamentos.
Em 1922, Mary Richmond definiu o Serviço Social de Casos como “um processo de
desenvolvimento de personalidade do cliente, através de ajustamentos conscientemente efetuados
do indivíduo e do homem para o seu meio social”. Observa-se aqui que o Serviço Social desenvolve
como técnica serviços práticos e de aconselhamento, para que o cliente pudesse ter a capacidade
psicológica de resolver seus problemas. Algumas décadas depois, aparece um segundo tipo de método
de atuação em Serviço Social: O Serviço Social de Grupo.
A Abordagem Comunitária surgiu na França, quase que no mesmo tempo que a
abordagem individual, como ação social, e nos Estados Unidos, como “organização da comunidade”,
para remediar as disfunções da sociedade. Ambas eram vistas numa perspectiva sociológica de
natureza funcional, pois o entendimento da “organização de comunidade”, no campo do Serviço Social,
é compreendida como um processo de promoção e equilíbrio no que se refere aos recursos e
atendimento das necessidades dos indivíduos.
A Abordagem Grupal aparece bem depois nos Estados Unidos, pois logo no início os
grupos não foram considerados importantes para solucionar problemas. Até 1930, por conseguinte, o
trabalho com grupos se expressava através de programas gerais de várias naturezas, tais como
recreação, cultura física e esportes, que favoreciam a organização de grupos.
O Serviço Social de Grupo era na verdade um processo de Serviço Social que, se
desenvolvia pelas experiências propositadas, visando à capacitação dos indivíduos para melhorarem
o seu relacionamento social e enfrentarem de modo mais afetivo seus problemas pessoais de grupo e
de comunidade. Em 1934, os assistentes sociais começam um trabalho com grupos, dando início
dentro do Serviço Social um movimento que tem por finalidade definir a técnica e os objetivos desse
método de trabalho. Aos poucos esta prática profissional vai sendo aceita como um dos métodos que
o Serviço Social atua.
O desenvolvimento do Serviço Social de Grupo levou a um terceiro método de atuação
profissional: o Serviço Social de Comunidade, onde a concepção de trabalhos com grupos
desenvolveu-se para a ação intergrupos. Como afirma Estevão,
A análise que será retratada neste item tem como base os estudos de Montaño (2009),
que traça um perfil da gênese do Serviço Social e como se constituiu a natureza da profissão. O autor
parte de duas perspectivas contraditórias descritas a seguir:
a) Perspectiva Endogenista1: esta sustenta a origem do Serviço Social na evolução,
organização e profissionalização das formas “anteriores” da ajuda da caridade e da filantropia,vinculada
à intervenção da questão social. Esta concepção tem plena repercussão na atualidade, aparece como
única e oficial interpretação sobre a gênese do Serviço Social, este passa a ser a profissionalização,
organização e sistematização da caridade e da filantropia.
Esta tese não considera o real como o fundamento e a causalidade da gênese
desenvolvimento profissional. Também tem uma clara visão particularista ou focalista, quando vê o
Serviço Social diretamente vinculado às opções particulares.
1
Postura endogenista: a profissão é vista a partir de si mesma.
Essa perspectiva não considera a análise do contesto social, econômico e político como
determinante do processo de criação da profissão, ao contrário, naturaliza a história do serviço social
sem recuperar a sua processualidade, se transformando em etapas de meros cortes formais, ou seja,
separa-se o Serviço Social da sociedade e autonomiza-se o primeiro.
b) Perspectiva Histórico-crítica: surge em oposição à tese anterior, esta compreende
o surgimento da profissão como um produto da síntese dos projetos “político-econômicos que operam
no desenvolvimento histórico, onde se reproduz material e ideologicamente a fração de classe
hegemônica, quando, no contexto do capitalismo na sua idade monopolista, o Estado toma para si as
respostas à ‘questão social’”. (Montaño, 2009:30)
Esta tese define o Serviço Social como uma profissão que desempenha um papel
claramente político, tendo sua função determinada pela posição que o profissional ocupa na divisão
sóciotécnica do trabalho. Assim colocado, o assistente social tem um papel a desempenhar na ordem
social e econômica na prestação de serviços – ele é demandado a participar na reprodução tanto da
força de trabalho, das relações sociais, quanto da ideologia dominante. Essa tese parte de uma visão
totalizante.
Assim, a emergência da profissão deve sua existência à síntese das lutas
sociais que confluem num projeto político-econômico da classe hegemônica
de manutenção do sistema perante a necessidade de legitimá-lo em função
das demandas populares e do aumento da acumulação capitalista (...)
(MONTAÑO, 2009, p. 33-34)
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
2. Quem foi a primeira Assistente Social a escrever sobre a diferença entre fazer “Assistência Social”
ou Caridade e Filantropia e o Serviço Social propriamente dito?
O momento histórico pelo qual passava a América Latina quando as escolas de Serviço
Social foram fundadas, influenciaram muito na forma como elas foram constituídas, tensões políticas,
a consolidação do Capitalismo2 nesses países, crise entre as classes sociais, pois com a chegada do
capitalismo surgiu uma nova classe dominante, a burguesia, e em meio a este quadro a Igreja Católica,
sólida e ainda com bastante influência na forma de vida da sociedade, com o poder de manter o domínio
sobre os menos favorecidos, era considerada uma aliada das classes dominantes,e um instrumento
de contenção dos conflitos gerados pela insatisfação das classes trabalhadoras com a nova ordem
vigente.
O Serviço Social foi fundado pela Igreja com o objetivo de conter os conflitos com agentes
propagadores da sua doutrina, agentes de “bondade e solidariedade”. As profissionais eram senhoras
das classes dominantes que se sentiam penalizadas com a situação das pessoas menos favorecidas
e faziam o curso em favor da “compaixão e da caridade”, por isso ficaram conhecidas como “damas da
caridade”.
A influência inicial do Serviço Social na América Latina foi europeia. A partir de 1940, o
Serviço Social norteamericano exerceu também grande influência na América Latina. Os organismos
internacionais daquela época exerceram forte influência na formação e prática dos assistentes sociais
latino-americanos.
Na América Latina, a Igreja Católica desempenhou um papel de extrema importância, e
a sua significação social e política foi notavelmente acrescida durante o domínio colonial. A Igreja
estava aliada a Oligarquia e desta forma era responsável pela formação dos intelectuais latinos,
segundo suas crenças e filosofia, fortalecendo a classe dos Oligarcas.
A Igreja contava com um discurso doutrinário centralizado que elaborava as diretrizes
gerais de compreensão dos problemas, estabelecendo normas genéricas de compreensão dos
problemas. Os instrumentos mais importantes de expressão desta doutrina eram as Encíclicas Papais,
que representaram modificações na orientação doutrinária e na ação política da IgrejaCatólica. As
encíclicas mais importantes no período em que o Serviço Social transitava para a profissionalização na
América Latina, foram a Rerum Novarum (divulgada por Leão XIII a 15 de maio de 1891) e a
Quadragésimo Anno (divulgada por Pio XI a 15 de maio de 1931).
Falaremos primeiramente da Encíclica Rerum Novarum, que coloca sobre
responsabilidade da Igreja a tarefa de “cuidar” da questão social.
Acrescendo o mal, sobreveio a usura voraz que, repetidamente condenada
pela sentença da Igreja, prossegue disfarçando sua essência sob formas
várias, exercida por homens avaros e ambiciosos. Some-se a isto o fato de
que a produção e o comércio de todas as coisas estão quase inteiramente
em poucas mãos, de modo que uns quantos homens riquíssimos e opulentos
impuseram sobre a multidão inumerável de proletários um jugo que pouco
difere da escravidão. (Rerum Novarum, 1891)
2
O Capitalismo aqui trabalhado segundo a teoria criada por Karl Marx.
renda da terra, desta forma, a encíclica elude a desigualdade central que remete à exploração do
proletariado.
A Rerum Novarum ao reconhecer que a propriedade privada é um direito divino, também
reconhece que a organização do Estado e da sociedade está sujeita à vontade divina. Com este
discurso a Igreja justifica o combate ao socialismo, difundido que o correto seria “humanizar” a ação
dos proletários, dos capitalistas. “Não haverá nenhuma solução aceitável sem o recurso à religião e à
Igreja”.
Com relação a Quadragesimo Anno:
Aos nossos muito amados Filhos eleitos para tão grande obra
recomendamos...que se entreguem totalmente à educação dos homens que
lhes confiamos e que nesta tarefa verdadeiramente sacerdotal e apostólica
usem oportunamente todos os meios mais eficazes da educação cristã:
ensinar aos jovens, instituir associações cristãs e fundar círculos de estudo.
O caminho que se deve trilhar está traçado pelas atuais circunstâncias.
Como em outras épocas da história da Igreja, temos de enfrentar um mundo
que, em grande parte, retrocedeu quase ao paganismo. Os primeiros e mais
diretos apóstolos dos operários serão os operários mesmos...Buscar com
afã estes apóstolos seculares, tanto operários como patrões, escolhê-los
com prudência, concerne a vós e ao vosso clero. (Quadragesimo Anno,
1931)
Na encíclica o Papa Pio XI apela a Ação Católica para que forme, sob seus princípios, os
assistentes sociais, assim como os demais “cooperantes” da Igreja. A caridade, o messianismo, o
espírito de sacrifício, a disciplina e a renúncia total se tornaram parte constitutivas da doutrina e dos
hábitos que acompanharam o surgimento da profissão sob a perspectiva católica.(CASTRO, 1987:56)
[...]através da Quadragesimo Anno, enfatizou também a recuperação dos
aspectos técnicos para a eficiência do trabalho assistencial, chamando ao
estudo, o que resultou especialmente renovador na América Latina, onde se
fez necessária que a Igreja estimulasse diretamente a criação de centros de
formação superior incumbidos de difundir os conhecimentos requeridos para
superar as limitações técnicas do trabalho artesanal tradicionalmente
voluntária.(CASTRO, 1987, p. 57)
O que significou a passagem de uma prática inspirada em princípios senhoriais para outra
ligada às exigências burguesas. O assistencialismo praticado pela Igreja com estímulo das “grandes
senhoras” da época, adquiriu novas dimensões ao se transformar em profissão. Sendo
necessário um ciclo de treinamento que colocava os estudantes (precedentes das classes burguesas)
em contato com uma formação sistemática e com o conhecimento de algumas disciplinas.
(CASTRO,1987:58)
A Igreja desenvolveu papel decisivo na criação de escolas de Serviço Social em nosso
continente estabelecendo, para que fosse possível, alianças com a classe emergente devido suas
relações com sistema de produção capitalista.
A ideologia da Igreja expressada pelas encíclicas serviu para fortalecer consolidar a
legitimação do capitalismo, esta pregava a conciliação entre as classes, a moralidade e educação
familiar, repúdio aos conflitos e busca por harmonia, que repercutia diretamente no curso das lutas de
classes e na configuração do proletariado como classe.
Segundo Castro (1987), as escolas de Serviço Social foram fundadas em um período, no
continente Latino, em que as relações de produção capitalistas iam, cada vez mais, subsumindo as
formas subsistentes da antiga ordem. No estudo das primeiras escolas de Serviço Social na América
Latina, vamos nos concentrar nas escolas surgidas no Chile e no Peru.
Outra Instituição fundamental para a difusão do Serviço Social na América Latina foi a
UCISS (União Católica Internacional de Serviço Social), criada em Milão (Itália), em 1925, a partir da I
Conferência Internacional, que compreendia o Grupo de Escolas de Serviço Social e as Associações
de Auxiliares Sociais. O propósito desta instituição era enfatizar a necessidade e a eficiência do Serviço
Social dar conhecimento a sua Ação Católica levando ao avanço da profissão, o que significou o
estímulo à criação de escolas de Serviço Social. (Castro, 1987:54)
O Peru nos anos vinte também foi marcado por disputas de poder. A ditadura de Augusto
B. Leguía (1919-1930) trouxe mudanças que marcariam para sempre a história do país. Leguía optou
por subordinar-se ao imperialismo norte-americano cedendo o direito a exploração de riquezas minerais
do País, em troca obteve os recursos necessários para sustentar sua administração. Florescendo
desta forma uma burguesia comercial e intermediária que se beneficiou dos fluxos econômicos
estabelecidos pela gestão de Leguía.
Em paralelo a esta realidade, houve também uma reorganização da estrutura de classes
e a emergência de setores populares no cenário político. Com a crise mundial de 1929, a economia
peruana foi severamente afetada, levando a deterioração do regime, com a participação dos
movimentos populares e com uma frente oposicionista das próprias classes dominantes. Em 1930, foi
declarado um golpe militar, que levou o país a constantes conflitos regionalizados. Em 1931 houve
eleições de que participaram os dois partidos do Peru, o APRA e União Revolucionária, no entanto,
essas eleições não trouxeram a estabilidade desejada, ao contrário, intensificaram as manifestações
dos movimentos populares.
Com o objetivo de por fim aos conflitos, em 1933, a Assembleia Constituinte entregou o
poder ao general Oscar R. Benavides, militar de grande prestígio. Em 1936 após uma conturbada
eleição, Benavides se proclamou presidente por mais três anos, e utilizou de força para conter as
manifestações e um possível golpe em seu poder.
Em sua segunda etapa de Governo Benavides começou a perceber que a violência estava
colocando cada vez mais o Peru em uma situação instável e turbulenta. Desta forma percebeu a
necessidade de instituir políticas sociais, para modernizar o Estado e responder a demandas
incontornáveis.
Como uma das medidas de Benavides, fundou-se a escola de Serviço Social do Peru,
em 1937. Ela surge diretamente vinculada ao Ministério da Saúde Pública, Trabalho e Previdência
Social. A ESSP (como ficou conhecida a escola) deveria contribuir com o trabalho naquele Ministério
e em outras instituições que estavam sendo criadas pelo Governo.
No comando da fundação da escola de Serviço Social estava a primeira dama do
Governo, Francisca Benavides. Ela fora auxiliada por colaboradores da Ação Católica, que estavam
bastante interessados na criação da escola. Foi sugerido pela Ação Católica que a UCISS indicasse o
nome mais adequado para a direção da escola. A entidade respondeu de imediato, propondo o nome
de Louise Joerissen, que desempenhou importante papel na fundação da escola de Serviço Social do
Chile. O nome foi de pronto aceito pela primeira dama.
[...] a fundação desta escola se insere na política social estatal conduzida pelo
governo Benavides...o funcionamento da ESSP contava com pleno respaldo
e apoio oficiais, e a escola estava destinada a ser o elemento funcional de
um plano de expansão estatal(...)Na experiência peruana, a conjunção destes
dois elementos – a cooptação pelo Estado e a influência religiosa – é
fundamental para a compreensão da evolução da escola.(CASTRO, 1987, p.
115)
Destacamos neste quadro a função do Estado, que se encaminha para uma nova
modalidade de intervenção, necessária pela demanda gerada pelo capital, direcionada para garantir os
superlucros dos monopólios, desempenhando, assim, uma multiplicidade de funções. O Estado atua
como um instrumento de organização da economia, operando notadamente como um administrador
dos ciclos de crise. (Netto, 1996, p. 21-22)
O que se quer destacar, nesta linha argumentativa, é que o capitalismo
monopolista, pelas suas dinâmicas e contradições, cria condições tais que o
Estado por ele capturado, ao buscar legitimação política através do jogo
democrático, é permeável a demandas das classes subalternas, que podem
fazer incidir nele seus interesses e suas reivindicações imediatos. E que este
processo é todo ele tensionado, não só pelas exigências da ordem
monopólica, mas pelos conflitos que esta faz dimanar em toda a escala
societária.
É somente nestas condições que as sequelas da “questão social” tornam-
se... objeto de uma intervenção contínua e sistemática por parte do Estado...
No capitalismo dos monopólios, tanto pelas características do novo
ordenamento econômico quanto pela consolidação política do movimento
operário e pelas necessidades de legitimação política do Estado burguês, a
“questão social” como que se internaliza na ordem econômico- política...
(NETTO, 1996, p. 25-26)
Para enfrentar a “questão social” o Estado criou estratégias de intervenção para lidar
com as suas sequelas, que denominou de Políticas Sociais, a sua funcionalidade estava em preservar
e controlar a força de trabalho, assegurando as condições para o desenvolvimento monopolista. As
políticas sociais lidavam de forma fragmentada e parcializada a “questão social”, repartindo-a em
problemas particulares (desemprego, fome, falta de escolas, falta de saúde, entre outros) e desta forma
enfrentadas. Ressalta-se neste ínterim que as políticas sociais foram resultado da mobilização e
organização das classes operárias e que o Estado respondeu com estas estratégias.
Considerando a trajetória histórica do Brasil, alia-se a esse conjunto de fatores a
reorganização da Igreja Católica em prol de um amplo movimento de recristianização da humanidade
e, principalmente, da reafirmação de seus interesses e privilégios, temporariamente abalados com o
advento da República.
Durante a década de 1920 a Igreja Católica tenta recuperar os privilégios perdidos com o
fim do Império, seguindo as orientações de Leão XIII para realizar a recatolização da sociedade,
assumindo, assim a “questão social”. Destaque-se também a limitação da autonomia das burocracias
regionais da hierarquia e a “romanização” do catolicismo brasileiro, atingindo tanto o clero como o
movimento leigo. (IAMAMOTO e CARVALHO, 1996, p. 143).
Segundo Iamamoto e Carvalho (1996), a criação da revista “A Ordem” em 1921 e do
Centro Dom Vital, em 1922, foram o principal aparato de mobilização do laicato, buscaram recrutar a
“aristocracia intelectual” para combater as manifestações que naquele momento eram perigosas para
o domínio da Igreja, como: “o anticlericalismo, o positivismo e o laicismo das instituições republicanas”.
Ao Centro Dom Vital soma-se, ainda em 1922, a Confederação Católica –
com a finalidade de coordenar e centralizar politicamente o apostoladoleigo,
que começa a desenvolver-se por intermédio de pequenas organizações –
formando-se assim o aparato sobre o qual, nesse primeiro período, pensa a
hierarquia reconquistar o terreno que considera ter perdido, e dar outra
dimensão à sua influência social.
Alguns fatos precisam ser destacados para que compreendamos o surgimento do Serviço
Social no país, como o surgimento de algumas instituições (assistenciais) que foram importantes no
processo de formação profissional, como: Associação das Senhoras Brasileiras (1920), no Rio de
Janeiro; e a Liga das Senhoras Católicas (1923), em São Paulo. Essas instituições fundamentavam
seus atendimentos dentro da perspectiva embrionária de assistência preventiva, do apostolado social,
na tentativa de atenuar determinadas sequelas do desenvolvimento capitalista, principalmente no
atendimento de menores e mulheres.
Destacamos também a fundação da Confederação Católica (1922) precursora da Ação
Católica, que visava centralizar politicamente e dinamizar os primeiros embriões do apostolado laico,
com ações assistenciais e de cunho paternalista.
Será, no entanto, a partir do desenvolvimento do Movimento Laico que essas
iniciativas embrionárias se multiplicarão,compreendidas dentro da Ação
Social Católica. Dentre elas se destacarão as instituições destinadas a
organizar a juventude católica para a ação social junto à classe operária –
Juventude Operária Católica (JOC)... (IAMAMOTO E CARVALHO, 1996, p.
167)
Foi no campo na ação social que se abriram as portas para a atividade feminina. Aceitando
a idealização das classes dominantes, as quais essas mulheres pertenciam, que teriam a vocação
natural da mulher para as tarefas educativas e caridosas. Um intervenção vista pelasativistas como: “
...a consciência do posto que cabe à mulher na preservação da ordem moral e social e o dever de
tornarem-se aptas para com suas convicções e suas responsabilidades”. (Iamamoto e Carvalho,
1996:172)
Não somente é justificável a ação feminina social como ainda é indispensável
(...)Não tem a mulher na sociedade a missão de educar? Imaginem a
restauração da família sem a cooperação da mulher: a remodelação da
mentalidade, de hábitos e de costumes que irão depois influir na economia e
nas leis do país, tem de ser, toda ela, trabalho da mulher, em qualquer classe
de sociedade” (IAMAMOTO E CARVALHO, 1996, p. 172)
IMPORTANTE:
A cidade do Rio de Janeiro por ser o polo industrial mais antigo da região Sudeste, onde
se concentrava a administração federal e os principais aparatos da Igreja Católica, além de concentrar
os centros nervosos da direção da política e econômica. O Rio de Janeiro é a cidade onde mais se
desenvolveu a infraestrutura de serviços básicos, incluindo os serviços assistenciais com intensa
participação do Estado. (Iamamoto e Carvalho, 1996:181)
Em 1936 ocorreu a Primeira Semana de Ação Social do Rio de Janeiro, marco inicial para
a introdução do Serviço Social na capital da república. A iniciativa foi compartilhada entre a hierarquia
e cúpula do movimento laico, o Grupo de Ação Social (GAS). A Semana de Ação Social teve como
principais realizações a Associação Lar Proletário e o Instituto de Educação Familiar e Social.
Na cidade do Rio de Janeiro, a necessidade de formação técnica especializada para a
prática da assistência não é apenas uma necessidade do movimento laico, mas também para o
atendimento das demandas das instituições estatais. Principalmente com a criação do Juízo de
Menores.
A partir de 1940 começam a surgir novas Escolas de Serviço Social nas capitais dos
Estados, no entanto, a existência de Assistentes Sociais diplomados ficou limitado por um longo período
apenas ao Rio de Janeiro e São Paulo.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
Para realizar a análise proposta neste item, utilizaremos como norte o estudo feito por
José Paulo Netto (1998), onde faz uma análise do período da Ditadura Militar e o Movimento de
Renovação do Serviço Social no País. Com a Renovação, a profissão não mais seria a mesma, tendo
em vista os inúmeros desdobramentos observados, seja do ponto de vista do exercício e da formação
profissional, seja quanto à organização política da própria categoria. Segundo Netto (1998, p. 115)
(...) No âmbito das suas natureza e funcionalidade constitutivas, alteraram-
se muitas demandas práticas a ele colocadas e a sua inserção nas estruturas
organizacional-institucionais (donde, pois, a alteração das condições do seu
exercício profissional); a reprodução da categoria profissional – a formação
dos seus quadros técnicos – viu-se profundamente redimensionada (bem
como os padrões da sua organização como categoria); e seus referenciais
teórico-culturais e ideológicos sofreramgiros sensíveis (assim como as suas
auto-representações). Este rearranjo global indica que os movimentos
ocorridos neste marco configuram bem mais que a resultante do acúmulo que
a profissão vinha operando desde antes (...)
Segundo Netto (1998), a Ditadura “reforçou e validou” o então chamado Serviço Social
“Tradicional” procurou simultaneamente neutralizar qualquer segmento profissional de caráter mais
combativo, a ditadura promoveu a profissão em dois sentidos centrais: de um lado, ampliando o
mercado empregador em termos nacionais, e de outro, consolidando sua formação profissionalatravés
da incorporação do curso de Serviço Social no nível universitário.
Com relação ao aprofundamento e reorganização do espaço sócio-ocupacional da
profissão, Netto (1998, p. 119-120) coloca:
A criação de um mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais
tem seus mecanismos originais deflagrados em meados dos anos quarenta
(...), no bojo do processo de “desenvolvimento das grandes instituições
sociais” implementadas no ocaso do Estado Novo (...). Nos anos cinqüenta
e na entrada dos sessenta, esse mercado se expande, e não pode haver
dúvidas acerca da conexão desta expansão com o andamento da já vista
industrialização pesada. Trata-se, porém, de um mercado de trabalho
emergente e ainda em processo de consolidação (...) É esse mercado de
trabalho que o desenvolvimento capitalista operado sob o comando dogrande
capital e do Estado autocrático burguês a ele funcional redimensiona e
consolida nacionalmente (...)
3
O método positivista trabalha com as relações aparentes dos fatos, evolui dentro do já contido e busca a
regularidade, as abstrações e as relações invariáveis. É a perspectiva positivista que restringe a visão de teoria ao
âmbito do verificável, da experimentação e da fragmentação.
fenomenológica4, o pólo difusor concentra-se em instituições universitárias concentra-
se do Rio de Janeiro e São Paulo;
c) Intenção de Ruptura: crítica sistemática ao desempenho “tradicional” a aos seus
suportes teóricos, metodológicos e ideológicos do pensamento conservador. Recorre
progressivamente à tradição marxista e revela as dificuldades da sua autocracia
burguesa. A aproximação da vertente marxista no Serviço Social não se dá sem
problemas, e que se caracterizam, pelas abordagens reducionistas dos marxismos de
manual. No entanto, é através deste referencial que a profissão questiona sua prática
institucional e seus objetivos de adaptação social ao mesmo tempo em que seaproxima
dos movimentos sociais.
Em meados de 80, a partir do estudo realizado por Iamamoto, é que a teoria social de
Marx inicia sua efetiva interlocução com a profissão. É no âmbito da adoção do marxismo como
referência analítica, que se torna hegemônica do Serviço Social no Brasil, a abordagem da profissão
componente da organização da sociedade inserida na dinâmica das relações sociais participando do
processo de reprodução dessas relações.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
4
Vertente metodológica que dirige-se ao vivido humano, aos sujeitos em suas vivências, colocando para o Serviço
Social a tarefa de auxiliar na abertura desse sujeito existente, singular em relação aos outros, ao mundo de pessoas.
tem sua construção nos espaços de formação, no interior dos cursos e posteriormente nas
Universidades.
No início do curso no Brasil, as bases que nortearam, tanto a formação como a prática do
profissional, foi a Doutrina da Igreja, as pioneiras do curso ainda não viam sua prática como uma
profissão, mas como uma ação de caridade, como vocação. Nesse período a formação se dava
baseada nas Encíclicas Papais, as disciplinas voltadas para o controle das camadas populares, eram
instrumento de contenção de tensões sociais através da caridade e vocação.
No período da Reconceituação no Brasil que ocorreu no período da Ditadura Militar
(1964 -1985), os profissionais começam a repensar sua prática e as ideologias que a norteiam. Com
a inserção do curso de Serviço Social nas Universidades, temos o contato desta profissão com as
Ciências Sociais e sua ideologias, o que permite ao curso voltar-se, naquele momento de instabilidade
política, para o interior de sua formação para se adequar as novas demandas que surgiam.
Ressalta-se que a formação profissional aqui analisada tem como referencial a preparação
científica dos profissionais para responderem às exigências de um projeto profissional coletivamente
construído e historicamente situado.
(...) Trata-se aqui, de um projeto profissional que, demarcado pelas condições
efetivas que caracterizam o exercício profissional do Assistente Social diante
da divisão social e técnica do trabalho, seja capaz de responder às demandas
atuais e conquistar novas e potenciais alternativas de atuação, expressão de
exigências históricas que se apresentam à profissão pelo desenvolvimento
da sociedade em um contexto conjuntural específico (...) (IAMAMOTO,
2002:163)5
5
Essa obra foi escrita em 1982, a referência posta se trata da sexta edição.
1979, na XXI Convenção Nacional, em Natal. A nível da organização dos estudantes, a reflexão quanto
a formação profissional ocorreu através dos Encontros Nacionais de Estudantes de Serviço Social
(ENESS). Em setembro de 1982, o Conselho Federal de Educação aprovou, após longa tramitação, a
proposta de currículo mínimo apresentada pela ABESS, tornando obrigatória a revisão curricular em
todos os cursos. (Silva, 1995, p. 50-51)
Com relação aos cursos de Pós Graduação Strictu Senso no Serviço Social, estes se
organizam no Brasil na década de 70, como uma das primeiras áreas de ensino a responder à Política
Nacional de Modernização das Universidades Brasileiras. Forma que o curso encontrou para investir
na formação científica do corpo de pesquisadores para a construção de conhecimentos com
legitimidade científica.Os cursos de Mestrado iniciam-se em 1971, na Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Dez anos depois, em 1981, inicia-se o Curso de Doutorado em Serviço Social na
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Segundo dados obtidos em 1988, no Brasil, a cada ano,
eram oferecidas 102 vagas nos cursos de mestrado e doutorado. Em 1990 esse número ampliou para
mais 07 vagas oferecidas. Pode-se dizer que neste período houve a consolidação do sistema de pós-
graduação na área de Serviço Social (Rodrigues, 1995:113-114).
a) O Projeto Profissional nos anos 80: os debates que incidiram no interior do curso
sobre o processo formativo, foram fundamentais para criação de um perfil profissional dotado de uma
competência teórico-crítica e técnico-política, que permita, no campo da pesquisa e ação, a construção
de respostas profissionais para as demandas o novo momento do País, o processo de
redemocratização. Nesse período os estudos voltam-se para as necessidades internas da profissão,
como definir suas correntes teóricas e orientadoras de sua prática, como exemplo podemos citar, as
discussões em torno da História, teoria e metodologia no Serviço Social. O que provocou certo
distanciamento do estudo entre o tratamento teórico-sistêmico das matrizes teórico-metodológicas e o
cotidiano da prática profissional. “O dilema metodológico é o de detectar as dimensões de
universalidade, particularidade e singularidade na análise dos fenômenos presentes no contexto da
prática profissional”. ( Iamamoto, 1999:191)
Em primeiro lugar, a necessidade de se atribuir maior rigor e consistência à
apropriação das matrizes teórico-metodológicas incidentes no campo da
formação, especialmente por parte do quadro docente, transitando da mera
reprodução dos conceitos à apreensão da lógica de construção das
explicações da vida social; condições para que possam iluminar as análises
das situações cotidianas enfrentadas pelos assistentes sociais em sua prática
profissional(...) Em segundo lugar, o encaminhamento daqueles dilemas
referentes à prática profissional requer a criteriosa pesquisa acerca das
problemáticas sobre as quais incide o exercício profissional e dos processos
que as produzem, como condição para se preencher aquele campo de
mediações entre as matrizes teórico-metodológicas e a cotidianidade da
prática do assistente social (...) (IAMAMOTO, 1999, p.193-194)
2007:147):
a) O retrocesso no emprego;
b) A distribuição regressiva de renda e ampliação da pobreza;
c) Acentuando as desigualdades nos estratos socioeconômicos, de gênero e localização
geográfica urbana e rural;
d) Queda nos níveis educacionais dos jovens.
As políticas sociais criadas para em tese combater a questão social, passa a ser presidida
pela lógica da privatização seletiva dos serviços sociais, ou seja, a sociedade passa a se
responsabilizar pela aplicação das políticas sociais através de organizações criadas para este fim.
Temos determinado nesse movimento do Estado a tendência de “refilantropização” da assistência
social, surgem conceitos novos no cenário brasileiro, como responsabilidade social, voluntariado, entre
outros, que na realidade desresponsabilizam o Estado no enfrentamento da questão social. O Estado
se torna cada vez mais “mínimo” para a sociedade, como justificativa, o neoliberalismo coloca como
responsável pela crise financeira pela qual passa os gastos sociais.
A prática profissional diante da “nova questão social” fica cada vez mais distante no ideal,
pois com a forma como o Estado vem restringindo cada vez mais os instrumentos de trabalho do
assistente social, centrando a sua intervenção em programas focalistas e excludentes, pois são
voltados para as classes menos favorecidas (pois até chamá-los de pobres é hoje incorreto).
O profissional precisa buscar alternativas para definir a sua atuação focada na defesa
dos direitos sociais, em um momento do capital, em que a precarização do trabalho, cresce devido o
aumento das misérias, reaparecem os trabalhadores sem trabalho, pessoas a margem da sociedade,
que são desqualificadas pela ideologia dominante. As políticas sociais são voltadas para essas
pessoas, mas o profissional não tem em suas mãos condições fazer uma intervenção que realmente
insira essas pessoas na sociedade, é necessário para o neoliberalismo que essa população continue
a margem da sociedade.
Como se pode atestar, o que fundamenta a existência de uma nova questão
social é a negação da existência das classes sociais, a naturalização da
desigualdade social, cujas manifestações são deslocadas para a esfera da
gestão social. A sociedade é isenta de responsabilidades na produção da
questão social, cujas raízes devem ser identificadas nas diferenças das
biografias individuais. (IAMAMOTO, 2007:181)
Vimos anteriormente que a fundamentação sócio histórica do serviço social,q tem por
base a “questão social”, e que a prática profissional é aqui compreendida como a atividade do
assistente social na relação com o usuário, os empregadores e os demais profissionais. Por ser uma
atividade socialmente determinada, consideram-se também as condições sociais nas quais se realiza.
A prática profissional é apenas um dos elementos constitutivos do processo de trabalho,
para que exista trabalho são necessários os meios de trabalho e a matéria-prima ou objeto sobre a
ação do trabalho. Os meios de trabalho são fornecidos pelas instituições empregadoras, o que o
assistente social tem é a sua força de trabalho que vende em troca de salário. A matéria prima da ação
profissional encontra-se no âmbito da questão social e suas manifestações.
O assistente social firmasse socialmente como um trabalhador assalariado, cuja inserção
no mercado de trabalho passa por uma relação de compra e venda de sua força de trabalho
especializada com as instituições empregadoras. Tem como instrumento básico de trabalho a
“linguagem”, nesse ínterim as atividades desse trabalhador estão intimamente ligadas a sua formação
teórico-metodológica, técnico-profissional e ético-política.
O Serviço Social traz em sua prática uma herança muito característica. É uma categoria
profissional predominantemente feminina, tradicionalmente de mulheres e para mulheres, além de
carregar uma cultura com fortes marcas confessionais em sua formação histórica. Esses traços podem
estimular o cultivo da uma subalternidade profissional, com desdobramentos de baixa auto- estima dos
profissionais diante de outras especialidades, favorecem o estereótipo de “profissionais de segunda
categoria”. Um profissional pobre e voltado para os pobres, destituído de prestígio. Desta análise
conclui-se: que não há um único processo de trabalho do assistente social, e sim, processos de trabalho
nos quais o serviço social se insere; o processo de trabalho no qual se insere o assistente social não é
organizado por ele e nem é exclusivo do profissional. (Iamamoto, 1998,p. 106-107)
Ainda que dispondo de autonomia ética e técnica no exercício de suas
funções (...), o assistente social é chamado a desempenhar sua profissão em
um processo de trabalho coletivo, organizado dentro de condições sociais
dadas, cujo produto em suas dimensões materiais e sociais, é fruto do
trabalho combinado ou cooperativo, que se forja com o contributo específico
das diversas especializações do trabalho (...) (IAMAMMOTO,1998, p. 107)
O Serviço Social tem o desafio de desmistificar tais visões de sua prática profissional,
libertar-se das ações do passado, como meio de redimensionar e ampliar o espaço profissional que
deve ser ocupado pelo assistente social, em mercado de trabalho altamente competitivo. Exige um
olhar além das atividades rotineiras, para compreender as tendências dos processos sociais e as
mudanças macroscópicas que estão ocorrendo na contemporaneidade, na tentativa de encontrar novas
possibilidades e exigências para o trabalho. É ultrapassar o “mito da indefinição profissional” para definir
seu lugar no processo de trabalho coletivo. (Iamamoto, 1998, p. 110)
O que se pode concluir dessas considerações é que os resultados ouprodutos
dos processos de trabalho em que participam os assistentes sociais situam-
se tanto no campo da reprodução da força de trabalho, da obtenção das
metas de produtividade e rentabilidade das empresas, da viabilização de
direitos e da prestação de serviços públicos de interesse da coletividade, da
educação sociopolíitica, afetando hábitos, modos de pensar,
comportamentos, práticas dos indivíduos sociais em suas múltiplas relações
e dimensões da vida quotidiana na produção e reprodução social, tanto em
seus componentes de reiteração do instituído, como de criação e re-invenção
da vida em sociedade. (IAMAMOTO, 1998, p. 111-112)
Segundo Netto (1999), o projeto ético-político do Serviço Social, vem romper com o
conservadorismo da profissão a partir da década de 80, quando há a luta pela redemocratização do
Brasil, quando houve a irrupção de demandas democráticas e populares reprimidas por um longo
tempo. A mobilização dos trabalhadores urbanos, com o renascimento combativo da sua organização
sindical; a tomada de consciência dos trabalhadores rurais e a revitalização das suas entidades
representativas; o ingresso, também na cena política, de movimentos de cunho popular e democrático,
a dinâmica da vida cultural, com a reativação do protagonismo de setores intelectuais. O
Conservadorismo profissional se confrontou pela primeira vez com uma conjuntura em que a sua
dominância da atuação do assistente social podia ser contestada.
DESTAQUE:
CAMPOS DE ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO MARANHÃO
Com relação as condições de trabalho, não fogem muito ao quadro mais geral da
economia, muitos desses profissionais são terceirizados, são contratado por projetos e não tem vínculo
empregatício. São várias as formas de contratação, contudo, com relação à remuneração, as empresas
em sua maioria remuneram o profissional de acordo com o trabalho realizado, e oferecem pelo menos
as condições mínimas para realizá-lo.
c) Espaços sócio-ocupacionais em ONG’s: com a minimização do Estado, em relação
às questões sociais, devido a reforma do Estado exigida pelo Neoliberalismo, observa-se a
transferência de considerável parcela de serviços sociais para a sociedade civil. Este deslocamento
provoca o retorno de práticas tradicionais no trato das contradições sociais no verdadeiro processo de
refilantropização da questão social. Ocorre, também, a tendência de privatização nas áreas da saúde,
educação e previdência. Aponta-se para um discurso ideológico da “autonomia”, “solidariedade”,
“parceria” e “democracia”. Mas na verdade o que vem ocorrendo é a despolitização das demandas
sociais. Nesta perspectiva tem-se a definição de Terceiro Setor, considerado sem fins lucrativos e
nãogovernamental.
(...) com a tendência de redução do Estado, tem-se a diminuição do espaço
profissional do assistente social mediante os processos de diminuição das
despesas estatais na órbita da esfera social, acarretando a racionalização
dos gastos sociais com as políticas sociais, com implicações nos postos de
trabalho para o assistente social na esfera pública, com a diminuição de
demandas, sucateamento do aparato organizacional e institucional, a
precarização das condições de trabalho, principalmente em face do perigo da
terceirização.
Quanto ao mercado de trabalho aberto no chamado “terceiro setor”, este está
muito longe de se constituir como canal minimamente expressivo e estável
de absorção de profissionais (...) dado que “apostar nas ONG’scomo saída
profissional é desconhecer os graves riscos de pluriemprego”. De fato, a
inserção dos assistentes sociais nestes espaços sócio-ocupacionais tende
a ser caracterizada pela precariedade das inserções empregatícias,
predominando a flexibilização das relações contratuais, marcada pela
rotatividade de emprego, multiplicidade dos vínculos de trabalho e níveis
salariais reduzidos, jornada de trabalho de tempo parcial (...) (ALENCAR,
2009, p. 458-459)
Com relação ao mercado de trabalho no Maranhão, este não foge a realidade nacional.
Mas apresenta algumas especificidades, como o crescimento do campo de atuação nos municípios
do estado. A procura por profissionais para trabalhar na execução do Bolsa Família e nos Centros de
Referência vem crescendo, no entanto, devido a distancia destes municípios com centro maiores, esses
profissionais são buscados na capital, e o que é oferecido pelas prefeituras como remuneraçãoé pouco
para que o assistente social mude de cidade. Desta forma, fazem-se acordos, entre o profissional e a
prefeitura e aquele fica cerca de dois a três dias no Município, não dando a cobertura necessária.
Outro campo que vem crescendo no Maranhão são as ONG’s que estão se firmando em
nosso estado como, a PLAN do Brasil, SMDH (Sociedade Maranhense de Direitos Humanos) entre
outras. São instituições que remuneram bem os profissionais e que há condições favoráveis de
trabalho, mas normalmente as contratações são por projetos, não havendo segurança para o
profissional.
Podemos ainda destacar a ampliação de cursos de Serviço Social em faculdades
particulares, que até pouco tempo, só havia na UFMA. Esses novos cursos trouxeram maiores
possibilidades para a docência, mas na contramão o estado tem tido dificuldade de absorver a grande
oferta de profissionais. Por isso, os profissionais não podem se contentar com a graduação, a
capacitação nos dias atuais é fundamental para se destacar no mercado de trabalho.
DESTAQUE:
Assim como no Brasil, o maior empregador do assistente social no Maranhão continua sendo o
Estado. Apesar da precariedade das condições de trabalho e da baixa remuneração.
Neste estudo destacaremos duas formas de organização que foram fundamentais para a
construção da profissão e sua afirmação na sociedade:
a) ABEPSS:
b) Conjunto CFESS/CRESS:
A criação e funcionamento dos conselhos de profissão no Brasil datam de 1950, com um
caráter basicamente corporativo, com função controladora e burocrática. O Serviço Social foi uma das
primeiras profissões a ter sua lei de regulamentação profissional, data de 1957, a partir da Lei n. 3.252,
que só foi regulamentada, em 1962, pelo Decreto n. 994. Este que decretou em seu artigo sexto a
criação do Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e os Conselhos Regionais de Assistentes
Sociais (CRAS).
Dados do CFESS em 2008, consta que o Brasil conta com aproximadamente 74 mil
profissionais de Serviço Social, que estão atuando nos mais diversos campos sócio-ocupacionais, que
demandam compromisso ético-político, autonomia e defesa dos direitos, das políticas públicas e das
condições necessárias para o exercício profissional.
É nesse contexto que a fiscalização do exercício profissional, como função
precípua do conjunto CFESS/CRESS, deve ser implementada
cotidianamente em sintonia com o projeto profissional construído
democraticamente pela categoria profissional e requer o envolvimento nas
lutas sociais para fortalecer organização política da classe trabalhadora e
contribuir para o enfrentamento das ofensivas conservadoras que
cotidianamente impõem desafios à nossa intervenção profissional, política e
à consolidação do projeto ético-político profissional. (CFESS, 2008, p. 168)
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
2. De acordo com NETTO (1999), o que propõe o projeto ético-político do Serviço Social?
ATIVIDADE AVALIATIVA
1. Faça um texto dissertativo comentando como se deu o processo de renovação do Serviço Social:
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a) Básica
BRASIL, Lei n° 8662 de 07 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá
outras providências.
CASTRO, Manuel Manrique. História do Serviço Social na América Latina. 2ed. São Paulo: Cortez
/CELATS, 2006.
b) Complementar
GENTILLI, R. de M.L. A importância do debate sobre a identidade profissional. In: Serviço Social e
Sociedade, n° 53 ano XXXVIII, São Paulo,1997.
MARTINELLI, Maria Lucia. Serviço Social: identidade e alienação. 2. ed. Paulo: Cortez, 2000.
VASCONCELOS, A.M. de. A prática do Serviço Social: cotidiano, formação e alternativas na área
da saúde. São Paulo: Cortez,2002.