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V. A.

pretende impugnar o Regulamento de Avaliação da Faculdade de Direito da

Universidade de Lisboa. Propõe, para o efeito, ação contra o Conselho Pedagógico da

Faculdade, órgão responsável pela aprovação do referido Regulamento. Fez bem?

Legitimidade ativa nas ações de impugnação e condenação à emissão


de regulamentos (artigos 73.º e 77.º CPTA):
i. Legitimidade para impugnar normas regulamentares: o tema é regulado no artigo 73.º
CPTA, que identifica as categorias de pessoas e entidades legitimadas a pedir a declaração
da ilegalidade de normas emanadas no exercício da função administrativa, ou, no dizer
da lei, ao abrigo de disposições de Direito Administrativo, e que, para simplificar,
designamos como normas regulamentares: O artigo 73.º, n.º1 CPTA reconhece
legitimidade para pedir a declaração de ilegalidade com força obrigatória geral a quem
alegue ser prejudicado pela aplicação da norma ou poder previsivelmente vir a sê-lo em
momento próximo, ao Ministério Público, a qualquer das pessoas e entidades
mencionadas no artigo 9.º, n.º2 CPTA, para defesa dos valores mencionados nesse
preceito, e aos presidentes de órgãos colegiais, em relação a normas emitidas pelos
respetivos órgãos;
2. Por outro lado, o artigo 73.º, n.º2 CPTA reconhece legitimidade para pedir a declaração
de ilegalidade com efeitos circunscritos ao seu caso a quem seja diretamente lesado ou
possa vir previsivelmente a sê-lo em momento próximo pela aplicação de norma cujos
efeitos se produzam imediatamente, sem dependência de atos concretos de aplicação,
desde que a ação seja proposta com algum do fundamentos previstos no artigo 281.º CRP.
No que concerne á legitimidade passiva cumpre referir que o CPTA atribui, no
entanto, especial atenção às situações em que as ações são propostas contra
entidades públicas.
Neste sentido, estabelece o artigo 10.º, n.º2 CPTA que nos processos intentados contra
entidades públicas, parte demandada é a pessoa coletiva de Direito Público, salvo nos
processos contra o Estado ou as Regiões Autónomas que se reportem à ação ou omissão
de órgão integrados nos respetivos ministérios ou secretarias regionais, em que a parte
demandada é o ministério ou ministérios, ou a secretaria ou secretarias regionais, a cujos
órgãos sejam imputáveis os atos praticados ou sobre cujos órgãos recaia o dever de
praticar os atos jurídicos ou observar os comportamentos pretendidos.
Resulta, pois, deste preceito que, por regra, em todas as ações intentadas contra
entidades públicas, a legitimidade passiva corresponde à pessoa coletiva e não a um
órgão que dela faça parte.
Acrescente-se, entretanto, que o artigo 10.º, n.º4 e o artigo 78.º, n.º3 CPTA, admitem
que, ainda que a legitimidade passiva corresponda à pessoa coletiva pública, ao
Ministério ou à secretaria regional, o autor indique, na petição, o órgão que praticou o ato
impugnado ou aquele perante o qual tinha sido formulada a sua pretensão, considerando-
se, nesse caso, citados através desse órgão a pessoa coletiva ou, no caso do Estado ou das
Regiões Autónomas, o Ministério ou a secretaria regional a que o órgão pertence. Só
existe, portanto, ilegitimidade passiva se for citado um órgão que não pertença à pessoa
coletiva, ao Ministério ou à secretaria regional no qual se integra o órgão ao qual a ação
ou omissão é imputável só, na verdade, nessa hipótese e que, através da citação do órgão
erradamente indicado, não terá sido citada a pessoa coletiva ou, no caso do estado, o
Ministério que cumpria demandar.
Neste sentido atendendo ao caso concreto cumpre referir que A deveria ter intentado
a ação nos termos do artigo 10º nº2 CPTA contra a Universidade pessoa coletiva
pública e não contra o conselho pedagógico, órgão da universidade. No entanto,
segundo o disposto nos artigos 10º nº4 e 78 nº3 CPTA, não se deve considerar a ação
irregularmente proposta dado que através da indicação do órgão da pessoa coletiva,
é possível chegar até esta.

VI. 120 dos “lesados do papel comercial do BES” pretendem impugnar a medida de

resolução adotada pelo BdP em relação ao BES, no dia 3 de agosto de 2014. Não

sabem, no entanto, se o devem fazer individualmente ou se, para o efeito, devem

constituir uma Associação. O que lhes sugeriria?

Legitimidade para defesa de interesses difusos (artigo 9.º, n.º2 CPTA):


O artigo 9.º, n.º2 CPTA, reconhece ao Ministério Público, às autarquias locais, às
associações e fundações defensoras dos interesses em causa e, em geral, a qualquer
pessoa singular, enquanto membro da comunidade, o direito de lançarem mão de todo e
qualquer meio processual, principal ou cautelar, existente no contencioso administrativo,
para defesa dos valores que enuncia. Como resulta do artigo 9.º, n.º3 CPTA, encontramo-
nos, aqui, perante um fenómeno de extensão da legitimidade. Tal como sucede com o
artigo 31.º CPC, e em termos semelhantes, o artigo 9.º, n.º2 CPTA, determina, para os
casos aí previstos, a extensão da legitimidade processual a quem não alegue ser parte
numa relação material que se proponha submeter à apreciação do tribunal. Embora o
preceito não utilize a expressão e se refira a um conjunto de entidades que se estendem
ao Ministério Público e às autarquias locais, ele tem designadamente em vista o exercício,
no âmbito do contencioso administrativo, por parte dos cidadãos no gozo dos seus direitos
civis e políticos (artigo 2.º Lei n.º 83/95), do direito de ação popular para defesa de valores
e bens constitucionalmente protegidos como a saúde pública, o património cultural e os
bens do Estado, das Regiões Autónomas e das autarquias locais, direito que a CRP lhes
reconhece, como um direito fundamental de participação política, no artigo 52.º, n.º3
CRP. Coo adiante se verá, esta não é a única forma mas é uma das formas de ação popular
que são admitidas no contencioso administrativo: uma forma de ação popular que se
define pela defesa daqueles valores constitucionalmente protegidos. O exercício dos
poderes de propositura e intervenção previstos no artigo 9.º, n.º2 CPTA, processa-se,
como refere o preceito, nos termos previstos na lei. A remissão tem em vista a Lei n.º
83/95, 32 agosto, na parte em que essa lei, nos seus artigos 2.º e 3.º, densifica o critério
de legitimidade que apenas se encontra genericamente formulado no CPTA e, depois, nos
artigos 13.º e seguintes, estabelece um conjunto de disposições a aplicar aos processos
intentados por atores populares que sigam termos perante os tribunais administrativos.
i. No plano da legitimidade: tem o alcance de conferir legitimidade ativa para defesa de
interesses difusos a todos os cidadãos no gozo dos seus direitos civis e políticos, às
associações e fundações defensoras dos interesses em causa, desde que preencham os
requisitos mencionados no artigo 3.º Lei n.º 83/95, e às autarquias locais, em relação aos
interesses de que sejam titulares residentes na área da respetiva circunscrição. Daqui
resulta que não se exige a existência de um elemento de conexão, de uma qualquer
situação de apropriação individual do interesse difuso lesado, como critério relevante para
assegurar o exercício do direito de ação popular por qualquer cidadão. Por outro lado, no
que respeita às associações e fundações, infere-se do artigo 3.º, n.º2 Lei n.º 83/95, que a
sua legitimidade ativa neste domínio compreende os bens ou interesses cuja defesa se
inclua expressamente no âmbito das suas atribuições ou dos seus objetivos estatutários,
segundo um princípio de especialidade e de territorialidade. Isto é, o direito de ação
encontra-se circunscrito à área da sua intervenção principal e de acordo com a respetiva
incidência geográfica, que poderá ser de âmbito nacional, regional ou local (artigo 7.º,
n.º3 Lei n.º 35/98, 15 julho).

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