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Sebenta Constitucional II DNB

Direito Constitucional II (Universidade de Lisboa)

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Sebenta Constitucional II – 2015/2016 DNB

Introdução – HISTÓRIA CONSTITUCIONAL PORTUGUESA ............................................................... 4


Período pré-liberal (anterior a 1820) .......................................................................................... 4
Era Constitucional (posterior a 1820) ......................................................................................... 5
CONSTITUIÇÃO: Histórica, Escrita, Real ....................................................................................... 6
Normatividade limitada ........................................................................................................... 7
Permeabilidade factual das Constituições escritas ................................................................. 7
Recepções, Interregnos e Estrutura das Constituições Escritas ...................................................... 9
Constituição de 1822 ............................................................................................................... 10
Carta Constitucional 1826 ....................................................................................................... 11
Constituição de 1838 ............................................................................................................... 12
Constituição de 1911 ............................................................................................................... 12
Constituição de 1933 ............................................................................................................... 13
Constituição de 1976 ............................................................................................................... 14
Génese, Aprovação e Transformações CRP 1976 ...................................................................... 16
Génese Atribulada ................................................................................................................... 16
Aprovação ............................................................................................................................... 17
Transformações....................................................................................................................... 18
Síntese do Constitucionalismo...................................................................................................... 20
Constituição Portuguesa não datada ........................................................................................ 21
Projeção Externa do Constitucionalismo Português ................................................................. 21
PADRÕES ESTRUTURANTES DA CRP 1976 ..................................................................................... 23
Sentido e Âmbito da fórmula fundamental do “Estado de Direito Democrático” ................... 23
Princípio do Estado de Direito ...................................................................................................... 25
Elementos Formais do Princípio do Estado de Direito ............................................................. 25
Elementos Materiais do Princípio do Estado de Direito .......................................................... 26
Dignidade da Pessoa Humana .............................................................................................. 26
Igualdade ............................................................................................................................. 27
Proibição do Excesso = Proporcionalidade ........................................................................... 28
Segurança Jurídica e Proteção da Confiança......................................................................... 29
Elementos materiais como normas de ação e controlo ........................................................ 29
Princípio Democrático .................................................................................................................. 29
Democracia Representativa...................................................................................................... 31
Democracia Semidireta ............................................................................................................ 32
Democracia Participativa .......................................................................................................... 32
Princípio da Socialidade ............................................................................................................. 33

Regência: JOSÉ MELO ALEXANDRINO

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Princípio do Estado Unitário Descentralizado ........................................................................... 34


Regulação da Organização do Poder Político ................................................................................ 37
Princípios Materiais da Regulação do Poder Político ............................................................... 37
1. Princípio da Pluralidade de Vinculações Institucionais ...................................................... 38
2. Princípio da auto-organização Interna .............................................................................. 38
3. Princípio da Imodificabilidade da Competência ................................................................ 38
PRESIDENTE DA REPÚBLICA.......................................................................................................... 40
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA....................................................................................................... 44
GOVERNO .................................................................................................................................... 47
TRIBUNAIS................................................................................................................................... 50
Sistema de Governo CRP 1976 ..................................................................................................... 52
Matriz Originária ...................................................................................................................... 52
Após revisão 1982 ................................................................................................................... 53
Radicalização doutrinária......................................................................................................... 53
SEMIPRESIDENCIALISMO ...................................................................................................... 53
CONSTRUÇÕES ALTERNATIVAS ............................................................................................. 53
MELO ALEXANDRINO............................................................................................................ 55
Introdução à Teoria dos ATOS LEGISLATIVOS ............................................................................... 56
Conceito de Lei......................................................................................................................... 56
Reserva .................................................................................................................................... 57
Força de Lei .............................................................................................................................. 58
Sistema de Atos Legislativos CRP 1976 ...................................................................................... 59
Distribuição de Competência Legislativa na CRP .................................................................. 59
Primado da Assembleia da República? .................................................................................. 60
Desenvolvimento das Leis de Base ........................................................................................ 61
LEIS REFORÇADAS ....................................................................................................................... 63
Leis Reforçadas pelo Procedimento ........................................................................................ 64
1. Leis Orgânicas ................................................................................................................. 64
2. Leis (ou disposições de lei) aprovadas por maioria de 2/3 ........................................... 65
Leis Reforçadas pela Parametricidade Material...................................................................... 65
1. Leis de Base ..................................................................................................................... 65
2. Leis de Autorização ......................................................................................................... 66
3. Leis de Enquadramento .................................................................................................. 66
Leis Duplamente Reforçadas ................................................................................................... 67
1. Estatutos Político-Administrativos................................................................................. 67
2. Lei das grandes opções dos planos nacionais ................................................................ 67

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3. Lei do Orçamento de Estado .......................................................................................... 67


4. Lei-quadro das Reprivatizações ..................................................................................... 68
Atividade Legislativa da Assembleia da República ........................................................................ 69
Tipo e Esferas da Competência da AR ..................................................................................... 69
Procedimento Legislativo Parlamentar .................................................................................... 70
Autorizações Legislativas ......................................................................................................... 72
Atividade Legislativa do Governo ................................................................................................. 74
Tipos de Competência Legislativa ............................................................................................ 75
Procedimento Legislativo do Governo..................................................................................... 76
Atividade Legislativa das Regiões Autónomas............................................................................... 76
Tipos de Competência Legislativa (art. 232º/1) ....................................................................... 77
INCONSTITUCIONALIDADE ......................................................................................................... 79
Mecanismo da Fiscalização da Constitucionalidade ............................................................. 79
Tipos de Inconstitucionalidade ............................................................................................... 79
Valores Negativos do ato inconstitucional.............................................................................. 81
Sanções.................................................................................................................................... 81
Sistema Português de Controlo da Constitucionalidade e Legalidade ..................................... 81
Processos de Fiscalização Abstrata ............................................................................................... 84
Fiscalização Preventiva (art. 278º e 279º) ............................................................................... 84
Fiscalização Sucessiva (art. 281º e 282º) ................................................................................. 84
Fiscalização por Omissão (art. 283º)........................................................................................ 85
Processo de Fiscalização Concreta ............................................................................................... 86
Recursos de Constitucionalidade ............................................................................................. 86
Tramitação Processual ............................................................................................................. 87
Efeitos da Decisão.................................................................................................................... 87

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Introdução – HISTÓRIA CONSTITUCIONAL PORTUGUESA


A Constituição não se reduz a um texto1 – esse é apenas a parte visível da Constituição, cujas
fontes também são o Costume e as Interpretações.
Na história constitucional atende-se não só a essas fontes mas às estruturas, instituições e
normas constitucionais realmente efetivadas.

Período pré-liberal (anterior a 1820)


A Constituição história começa no século XII com a formação da nacionalidade.

Principais momentos políticos: 8. Regimento do Reino para resolver


1. Fundação de Portugal (1128-1179) problema de sucessão (Martim de
2. Curia de Coimbra (1211) com edificação do Albuquerque considera como primeira
Estado por Afonso II Constituição)
3. Deposição de Sancho II 9. Inquisição a partir de D. João III
4. Cortes de Leiria com representantes dos 10. Sucessão do cardeal D. Henrique e as cortes
conselhos (do povo) em 1254 de Tomar (tendo Filipe I se comprometido a
5. Tratado de Alcanises de definição de respeitar o Direito Português)
fronteiras (D. Dinis em 1297) 11. Restauração da independência
6. Sucessão de D. Fernando e a solução 12. Deposição de Afonso VI
jurídica de João das Regras nas cortes de 13. Novo código e discussão pela constituição
Coimbra (poder pertence ao Rei por (1778)
intermédio do povo) 14. Deslocação da família real para o Brasil em
7. Expansão ultramarina (Conquista de Ceuta consequência das invasões francesas
em 1415) 15. Súplica pela Constituição

Normas que enformavam a Constituição histórica e material:


1. Leis fundamentais da convenção expressa ou tácita entre o povo e o príncipe – Actas
das Cortes de Lamego – garantiam os direitos invioláveis.
• Pascoal Melo Freire – direito do povo não ver essas leis alteradas, direito de
súplica, direito de ver a propriedade respeitada, fundamento constitucional do
poder municipal
• Leis escritas ou consuetudinárias
2. Paulo Otero – algumas influenciaram de forma brutal a Constituição histórica e até a de
1976
• Limitação do poder dos governantes
• Rigidificação do processo de modificação
• Existência de matérias reservadas (ou dependentes das Cortes)
• Centralidade da vida política pelo poder executivo

A partir de 1780 a discussão que revela as linhas do Constitucionalismo das revoluções2 já estava
presente.

1
Constituição como ordem aberta, ordem-quadro e como sistema de valores, princípios, regras e
procedimentos.
2
Igualdade dos indivíduos como postulado – deixam de ser entendidos como parte de grupos e/ou classes
diferentes; Não se parte das realidades existentes da sociedade mas de um estado de natureza;
Proclamação dos direitos naturais como direitos morais (direitos do homem)

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Era Constitucional (posterior a 1820)


≠ Constitucionalismo3 -> sobrepõe-se o das origens, revoluções e liberal

1. Constitucionalismo Liberal
Início com a Revolução Liberal de 1820 e término com golpe de Estado de 28 de Maio de 1926
1º. Fase da instauração do liberalismo (3 primeiras constituições)
2º. Fase da estabilização do sistema
3º. Fase da crise da monarquia constitucional
4º. Fase da I República (4ª constituição)
Estado liberal4 de Direito no sentido da democratização (sem sufrágio universal e com
predomínio da burguesia); sistema de governo parlamentar; sistema de partidos desde o Estado
sem partidos e de partido dominante até ao multipartidarismo e bipartidarismo.

2. Constitucionalismo Antiliberal
Início em 1926 com Ditadura Militar e até ao golpe de Estado de 25 de Abril de 1974
1º. Fase da Ditadura Militar
2º. Fase da vigência da Constituição de 1933 (revista 5 vezes)
Estado intervencionista (deixa de ser guarda noturno) e com regime político autoritário; sistema
de governo autoritário e de poderes no chanceler; sistema de partido dominante.

3. Constitucionalismo para-democrático e Democrático


Início em 1974 até aos nossos dias
1º. Fase pós-revolucionária de interregno constitucional
2º. Fase vigência CRP 1976 originária
3º. Fase consolidação da democracia constitucional (1982 - …)
Estado intervencionista como social de Direito com regime político democrático; sistema de
governo misto; sistema de partidos de multipartidarismo imperfeito (e estável há vários anos).

Constituições5:
• Constituição de 1822 (23 de Setembro)
o Vigência teórica de 8 meses e prática durante a ditadura de Passos Manuel
(1836 e 1838)
o Poder Constituinte6: democrática – aprovação por Assembleia Constituinte
tendo o Rei sido obrigado a aceitar e jurar

3
(Fioravanti) movimento de pensamento orientado a prosseguir finalidades políticas concretas – traduz-
se na limitação dos poderes públicos e na afirmação de esferas de autonomia normativamente garantidas.
2 lados: Limite é destinado a proteger aqueles que compõe o todo da comunidade e o outro lado destina-
se ao prosseguimento do interesse comum (construção unidade).
4
Limitado e organizado juridicamente, garantindo direitos fundamentais, governos representativos e
diferença entre titularidade do poder político (povo) e exercício do mesmo (governantes); Burguesia
dominante: liberdade económica e segurança de propriedade – separação entre sociedade e Estado,
intervenção mínima do Estado (guarda noturno), regulação pelo Direito.
5
As Constituições feitas no verão são as mais radicais e as de primavera são mais moderadas
6
Poder Constituinte: faculdade de um povo, no exercício da sua autoridade suprema, dar a si próprio uma
Constituição.

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• Carta Constitucional de 1826 (29 de Abril)


o Três vigências – 1826 a 1828, 1834 a 1836, 1842 a 1910
o Poder Constituinte: outorgada (provém de um ato unilateral de um órgão soberano) –
redigida por D. Pedro IV num exercício monocrático do poder constituinte
• Constituição 1838 (4 de Abril)
o Vigência entre 1838 e 1842 (com golpe de Estado)
o Poder Constituinte: pactícia (compromisso entre dois princípios de legitimidade) –
Assembleia Constituinte que recebe a sanção da Rainha
• Constituição de 1911 (21 de Agosto)
o Vigência de 14 anos (exceto entre 1917 e 1918 em que vigorou a lei sidonista)
o Poder Constituinte: Assembleia Constituinte de concentração de poderes num
partido único (influenciado por Afonso Costa)
• Constituição de 1933 (11 de Abril)
o Vigência de 41 anos
o Poder Constituinte: autoritário – Governo e submetida a plebiscito popular
• Constituição de 1976 (2 de Abril)
o Vigência de 40 anos
o Poder Constituinte: democrático – Assembleia Constituinte por sufrágio
universal e direto

CONSTITUIÇÃO: Histórica, Escrita, Real


Constituição Histórica
Remonta desde a ideia platónica da Constituição dos Antepassados.
Essencialmente consuetudinária, não decretada nem formalizada e define-se pelo conteúdo
das normas.
Constituição Material – o que importa é o conteúdo das normas (dispensa os textos, atravessa
os textos constitucionais)
• Conjunto de valores, princípios e instituições fundamentais que apresentem
continuidade jurídica efetiva no ordenamento jurídico concreto –
independentemente dos textos e das próprias vicissitudes constitucionais.
Vai para além de uma constituição específica e mantém os valores. Ex: rigidez, preponderância
do poder executivo.
Está ligada à alma da Constituição.

Constituição Escrita
Essencialmente documental, ato com autor e data, define-se pela forma e força.
Constituição Formal – conjunto de normas jurídicas decretadas através de um processo
específico, dotadas de uma força superior e integradas num documento qualificado de
Constituição ou lei constitucional.

Constituição Real
Envolve todas as fontes relevantes, escritas e não escritas, revela-se na prática, vê para além
das normas e define-se pela sua efetividade.

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• Conjunto das normas da Constituição que são efetivamente aplicadas – ação dos
poderes públicos e garantia dos direitos.

A Constituição histórica atravessa Constituição escrita, a Constituição real prevalece, também


sem a destruir, sobre a Constituição escrita.

Normatividade limitada
Comprova-se esta limitação atendendo ao número e extensão de revisões constitucionais bem
como todas as vicissitudes.
Certas Constituições praticamente não vigoraram ou aquelas aprovadas por uma única força
política tiveram vigência anormal e atribulada (ex: 1911).
Em certas ocasiões entrou em vigor uma nova Constituição sem sequer se substituírem os
titulares dos cargos.
➢ Mistificação (Collaço) e ficções do Constitucionalismo português (Lucena).

Permeabilidade factual das Constituições escritas


Carta Constitucional 1826: Paulo Otero
i. Rei possuía centralidade do sistema de governo e era o titular do poder moderador e do
poder executivo
➢ Encargo de formar o ministério era do Presidente do Ministério que era o
intermédio do rei e funcionários
ii. Cortes concentravam o poder legislativo
➢ Governo carecia da confiança política das Cortes e passou a existir uma vertente
parlamentar
iii. Responsabilidade política dos ministros junto das cortes.
➢ Executivo passou a exercer poderes legislativos, quebrando a competência
exclusiva das Cortes

Constituição de 1911: Magalhães Collaço


i. Parlamento com executivo do poder legislativo
➢ Regime de decretos com força de lei
ii. Constituição assenta na supremacia do Parlamento
➢ Parlamento em tudo se intromete e nada faz
iii. Presidente da República era apenas tolerado
➢ Parlamento ausente, PR obrigado a destacar-se e a receber o poder de
dissolução

Constituição de 1933: Paulo Otero


i. PR era o centro de toda a organização política
➢ Presidente do Conselho era o centro do sistema governativo
ii. Presidente do Conselho era escolhido e nomeado pelo PR
➢ O PR é que era escolhido e nomeado pelo Presidente do Conselho
iii. Governo tem competência legislativa autorizada
➢ Governo era um órgão legislativo normal

Constituição de 1976: Paulo Otero


i. Primado legislativo da AR

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➢ Era o oposto
ii. Subordinação política do Governo ao Parlamento
➢ Era o oposto
iii. Flexibilidade do estatuto funcional do PR
➢ Estatuto do PR ainda hoje é um enigma

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Recepções, Interregnos e Estrutura das Constituições Escritas


O Constitucionalismo Português foi um “fenómeno de desnacionalização” (Fernando Pessoa) –
recorria-se a soluções Constitucionais estrangeiras que se aplicavam em Portugal7.
• Portugueses são sensíveis a novidades e são permeáveis aos ventos do
constitucionalismo moderno.
• Por outro lado, apesar da aparência de mudança, tendem a manter tudo como está
(ostinatismo) – o que origina a impressionante continuidade no Constitucionalismo português

Recepções
Em relação às fontes de cada Constituição
➢ Fontes Diretas: influências visíveis declaradas e textuais, assumidas e reconhecidas.
➢ Fontes Mediatas: influências de certo modo ainda visíveis mas não declaradas ou
textuais.
➢ Fontes Profundas: influências invisíveis, não declaradas que se encontram ao nível
estrutural, sendo reveladas pela análise histórica

Todas as Constituições revelam uma abertura ao exterior – influência variável e relativa;


recolhem uma influência direta ou profunda da Constituição ou Constituições anteriores;
continuidade textual e estrutural (em sentido histórico e não para explicar dogmaticamente
cada solução)8; existência de ligações ao período pré-liberal; grandes esferas de influência –
francesa, britânica (1836), norte-americana (1911), alemã (a partir de 1933).

Interregno Constitucional
Período de tempo que medeia entre a rutura ou cessação de vigência de uma Constituição escrita
e a adoção de uma nova Constituição escrita – períodos sem Constituição.
Nestes períodos de rutura, as matérias de dignidade constitucional foram reguladas de muitas
distintas maneiras.
• 1823 – 1826: Regresso às leis fundamentais da Monarquia
• 1828 – 1834: D. Miguel proclama-se Rei pelos três “Estados do Reino” que aboliram a
Carta Constitucional e regressaram ao regime absoluto – guerra civil entre liberais e
absolutistas
• 1836 – 1838: vigência teórica da CRP 1822, vivendo-se em regime ditatorial (Passos
Manuel)
• 1910 – 1911: normas dispersas decretadas pelo Governo provisório – Decretos com
força de lei de Afonso Costa9
• 1926 – 1933: parcialmente em vigor a CRP 1911, mas com decretos com força de lei
aprovados em regime de Ditadura Militar pelo Governo
• 1974 – 1976: 35 leis constitucionais, tendo a Lei 3/74 procedido à recepção material de
normas da CRP 1933 compatíveis com o programa do MFA

7
O que é verdadeiramente português: inovação dos interregnos + constituição histórica + herança
período pré-liberal. Ex: Governo é o principal legislador -> explicado pela Constituição histórica e pelo
período pré-liberal (pendor absolutista) + herança dos interregnos
8
Há quem fale em várias edições atualizadas da mesma Constituição
9
Salvaguardados pela CRP seguinte; o mesmo fez Salazar quanto à ditadura militar mas com uma cláusula
de os poder revogar

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1. Interregnos marcados por uma forte turbulência social e política – existindo períodos de
ditadura (de facto ou de Direito) com ofensas à separação de poderes e à garantia dos direitos
individuais.
2. Períodos em que o poder político – especialmente o exercício da função legislativa – estava
concentrado nas mãos do executivo.
3. Períodos nefastamente criativos – ditando as novidades que haviam de ser incorporadas na
nova CRP (inversão da ordem natural das coisas, dos poderes e das fontes)

Padrões Estruturantes das Constituições Escritas


Constituição de 1822
Constituição fundada num poder constituinte, decretado por um ato formal superior e donde
resulta um estatuto fundamental decretado ex-novo.
Contexto: resultado da revolução liberal 1820 – D. João VI estava no Brasil enquanto Portugal
sofria com as invasões francesas, o que gerava descontentamento. Quando termina a guerra, os
Ingleses assumem a gestão do reino – há um desejo de limitação do seu poder. Veio manter a
forma de Estado como o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Inspiração:
o Fontes Diretas – Constituição Francesa 1791 e Constituição Espanhola (de Cádis) 1812
o Fontes Mediatas – Constituição Francesa 1795
o Fontes Profundas – tradição pré-liberal
Vigência e Interregnos:
o 1822 – 1823, com o início de guerra dada a revolta absolutista
o 1836 – 1838, com a revolta e insatisfação da Carta Constitucional (até à elaboração de
uma CRP seguinte)
Organização política: Estado Liberal de Direito de Monarquia Constitucional (Rei limitado pela
Constituição)
o Separação de poderes – separação rígida de poderes (tripartição kantiana), sem freios
nem contrapesos (art. 30º).
▪ Poder Executivo: Rei (nomeia e demite secretários de Estado) – não podia
dissolver as Cortes, podia vetar suspensivamente (e isso ser ultrapassado)
▪ Poder Legislativo: Cortes – Parlamento unicameral eleito de 2 em 2 anos –
exterminou-se a representação do Clero e Nobreza nas cortes por si só (art. 32º;
94º)
▪ Poder Judicial: Juízes
o Regime político – autoritário
o Sistema de governo – sistema de separação rígida
o Sistema de partidos – sem partidos
Voto: censitário – homens, maiores de 25, não criados, não frades, com certa renda superior
Direitos Fundamentais: soberania nacional (art. 26º), garantia dos direitos individuais (art.1º) –
igualdade perante a lei; direito propriedade (influência burguesa); liberdade expressão;
proibição de tortura e penas injustas; acesso a cargos públicos.
Revisão: passados 4 anos e por aprovação de 2/3 – aprovada numa legislatura e implementada
na seguinte.
Fiscalização da Constitucionalidade: política, por via das Cortes

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Carta Constitucional 1826


Constituição fundada num poder constituinte como fenómeno de autolimitação do poder
absoluto do Rei. Esforço de conciliação das instituições liberais (origem francesa) e a tradição
nacional.
Contexto: D. Pedro I do Brasil é aclamado Rei de Portugal como D. Pedro IV, decidindo oferecer
a Constituição numa síntese de posições absolutistas e liberais (mais conservadora que a
anterior)
Inspiração:
o Fontes Diretas – Carta Constitucional Brasileira 1824, Constituição 1822, projeto de
Constituição 1823
o Fontes Mediatas – Carta Constitucional Francesa 1814
o Fontes Profundas – tradição pré-liberal e constitucionalismo britânico
Vigência e Interregnos:
o 1826 – 1828, D. Miguel ganha força e impede a sua vigência
o 1834 – 1836, após reinstauração da monarquia constitucional
o 1842 – 1910, com golpe de Estado de Costa Cabral até I República
o Total de 72 anos com revisões e atos adicionais
Organização política: Estado Liberal de Direito de Monarquia (art. 4º) Constitucional
o Separação de poderes (art. 10º e 11º) – soberania no Rei e na Nação: revalidação do papel
político do Rei introdução do poder moderador10 (art. 71º)
▪ Poder Executivo: Rei – chefe supremo da nação (art. 75º), titular do poder
executivo exercido por ministros; sanciona leis (veto não pode ser superado);
nomeia Câmara dos Pares; pode dissolver as cortes e suspender magistrados
• Na prática surgiu, ao lado do Rei, o Governo
▪ Poder Legislativo: Cortes – Parlamento bicameral
• Câmara Deputados: eleitos indiretamente 4 em 4 anos
• Câmara dos Pares: nomeados pelo rei
▪ Poder Judicial: Tribunais
o Regime político – autoritário
o Sistema de governo – sistema parlamentar orleanista (dupla responsabilidade do
Governo perante Rei e cortes)
o Sistema de partidos – entre 1851 e 1891, MRS: bipartidarismo artificial rotativista
seguido de multipartidarismo perfeito (1891 a 1910)
Voto: eleições indiretas (terminam em 1852) – elegem Eleitores de Província que elegem os
deputados; censitário.
Direitos Fundamentais: mantém os de 1822 e acrescenta: liberdade religiosa, de trabalhar,
instrução primária gratuita, socorros públicos (art. 145º/29)
Revisão: passados 4 anos e proposta por 1/3 dos deputados – aprovada numa legislatura e
implementada na seguinte.
Fiscalização da Constitucionalidade: órgãos políticos.

10
Influência do constitucionalismo britânico e proposta de Benjamin Constant

11

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Constituição de 1838
Constituição que sintetiza as anteriores conciliando princípio monárquico e o da soberania
nacional, carácter pactício.
Contexto: luta entre fações liberais (uma mais conservadora que defende Carta Constitucional
1826 e outra mais liberal que defende Constituição 1822). Com a Revolução de Setembro de
1836 volta-se à Constituição de 1822 enquanto se espera pela elaboração desta nova.
Inspiração:
o Fontes Diretas – Constituição 1822 e Carta Constitucional 1826
o Fontes Mediatas – Constituição francesa 1830, belga 1831 e espanhola 1837
o Fontes Profundas – as mesmas das anteriores
Vigência e Interregnos:
o 1838 – 1842, com golpe de Estado de Costa Cabral (reinstaurou a Carta 1826)
Organização política: Estado Liberal de Direito de Monarquia Constitucional
o Separação de poderes (art. 34º e 35º) – tripartição dos poderes mas não tão rígida: fim
do poder moderador como reação a 1826
▪ Poder Executivo: Rei (art. 80º) – pode dissolver a Câmara dos Deputados;
sanciona leis (o veto não pode ser superado)
▪ Poder Legislativo: Cortes – Parlamento bicameral eleito 3 em 3 anos
• Câmara dos Senadores e Câmara dos Deputados – eleitos por sufrágio
direto (art. 71º)
▪ Poder Judicial: Tribunais
o Regime político – autoritário
o Sistema de governo – sistema parlamentar orleanista
o Sistema de partidos – sem partidos
Voto: sufrágio direto; censitário (capacidade eleitoral ativa > 25 anos; capacidade eleitoral
passiva > 35 anos)
Direitos Fundamentais: os anteriores; liberdade associação e reunião (art. 14º), direito
resistência (art. 25º)
Revisão: sem limite temporal – aprovada por ambas as câmaras numa legislatura e
implementada na seguinte.
Fiscalização da Constitucionalidade11: política, por via das Cortes

Constituição de 1911
Constituição fundada numa forma Republicana de governo e separação das Igrejas do Estado.
Contexto: Insatisfação pela má situação económica; decadência do sistema monárquico e
descrédito; problema do mapa cor-de-rosa e ultimato britânico; regicídio e subida ao trono dum
rei impreparado; implantação da República.
Inspiração:
o Fontes Diretas – Constituição Brasileira 1891, e da III República Francesa
o Fontes Mediatas – Constituição EUA, Federal Suiça 1848
o Fontes Profundas – anteriores Constituições

11
Sendo que esta já existia desde 1803 nos EUA com o caso Madison vs. Mardbury

12

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Vigência e Interregnos:
o 1911 – 1926, com golpe de Estado e Ditadura Militar.
▪ Interregno de 1917 – 1918: Ditadura Sidónio Pais
Organização política: Estado Liberal de Direito
o O Presidente da República tinha poucos poderes (reação à monarquia) e valorizava-se a
componente parlamentar. O Congresso elegia o PR (4 em 4 anos) que não tinha poder
de veto nem dissolução, podendo ser destituído por 2/3 do Congresso (art. 46º)
o Separação de poderes – relativa concentração de poderes no Parlamento
▪ Poder Executivo: Governo – formado por ministros nomeados pelo PR (que por
sua vez escolhiam o Presidente do Ministério)
▪ Poder Legislativo: Congresso – Parlamento bicameral (art. 7º)
• Câmara dos Deputados (3 em 3 anos)
• Senado (6 em 6 anos)
▪ Poder Judicial: Tribunais
o Regime político – autoritário: I República e Sidonismo
o Sistema de governo – sistema parlamentar de Assembleia; entre 1917 – 1918 foi um
sistema de governo autoritário e corporativo presidencialista; tentou voltar-se ao inicial
com a criação do Conselho Parlamentar
o Sistema de partidos – sistema de partido hegemónico
Voto: censitário – ainda não se inclui mulheres nem analfabetos
Direitos Fundamentais: os anteriores + cláusula aberta de direitos fundamentais (art. 4º); ensino
laico, primário obrigatório e gratuito; proibição pena de morte (introduzida brevemente como
penas militares na I Guerra)
Revisão: 10 anos após a última revisão; permitia revisão ao fim de 5 proposta por 2/3
Fiscalização da Constitucionalidade: fiscalização política e jurisdicional (art. 63º) – Fiscalização
Difusa, não num órgão específico mas em vários12

Constituição de 1933
Constituição semântica, pautada pela restrição e negação dos direitos liberdades e garantias e
um Estado Corporativo e forte (arts. 5º e 6º) – forma autoritária de exercício do poder constituinte
fundada numa opção antiliberal, antiparlamentar e autoritária.
Contexto: Ditadura Militar de Gomes da Costa (a quem Salazar sucede) numa reação face à I
República; só se faz a Constituição em 1933 após a morte de D. Manuel II (Salazar era um
bocadinho monárquico). Submetida a plebiscito popular em que a abstenção e os votos em
branco contavam como a favor.
Inspiração:
o Fontes Diretas – Constituição 1911 (JOMI e Canotilho: já era autoritária e não democrática; aplicada
por reação), alemã de Weimar 1919, prática ditadura militar
o Fontes Mediatas – Constituição imperial alemã 1871, italiana alterada pelo fascismo,
Espanhola 1931 (Paulo Otero)
o Fontes Profundas – tradição pré-liberal, constituições e experiência sidonista

12
Semelhante à atualidade que é difusa (vários tribunais) e concentrada (TC)

13

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Vigência e Interregnos:
o 1933 – 1974, com golpe militar 25 de Abril. 10 Revisões Constitucionais
Organização política: Estado antiliberal, intervencionista e autoritário conservador
o Prática mais autoritária que o texto Constitucional13. O Presidente da República era
formalmente o chefe de Estado.
▪ Eleito de 7 em 7 anos e a partir de 1959 passou a ser nomeado por membros da
Assembleia Nacional e Câmara Corporativa
▪ Tinha muitos poderes formais mas na prática não os exercia
o Separação de poderes – concentração de poderes no Presidente do Conselho, ainda
que formalmente até 1959 se fale em concentração de poderes no Chefe de Estado – a
separação de poderes foi sendo comprimida
o Assembleia Nacional funciona apenas durante 3 meses e legisla, fiscaliza a CRP e etc.
▪ Poder Executivo: Presidente Conselho Ministros (lidera Governo – valorização
do executivo e desvalorização da componente parlamentar por reação a 1911)
▪ Poder Legislativo: competência legislativa genérica no governo (formalmente
desde 1945)
• Assembleia Nacional – competência legislativa das bases gerais das
matérias.
• Câmara Corporativa – representantes de interesses sociais,
corporativos e etc. dando pareceres nos processos legislativos.
▪ Poder Judicial: Tribunais
o Regime político – autoritário: Estado Novo
o Sistema de governo – sistema autoritário de concentração de poderes no Presidente do
Conselho
o Sistema de partidos – Proibidos os partidos políticos: partido único União Nacional
(tecnicamente pode-se dizer que era um Estado sem partidos)
Voto: formalmente sufrágio direto, maiores de 21 e mulheres com curso especial
Direitos Fundamentais: vida; proteção da família; educação e cultura – os das Constituições
anteriores mas com cláusulas de salvaguarda que os limitam para impedir a “perversão social”,
garantir os “bons costumes” e “interesses da sociedade e da moral”
Revisão: de 10 em 10 anos; extraordinariamente podia ser de 5 em 5 por deliberação de 2/3; PR
pode determiná-la a qualquer momento
Fiscalização da Constitucionalidade: pelos tribunais (na prática nunca existiu)

Constituição de 1976
Constituição compósita, pós-revolucionária, prolixa, democrática e socialista
Contexto: reação a mais de 40 anos de ditadura e ausência de liberdades; reação a regime
isolacionista; reação à Guerra Colonial com a revolução militar; Constituição feita por uma
Assembleia Constituinte eleita
Inspiração:

13
A CRP foi lida de forma autoritária, mas podia ter sido lida e aplicada de outra forma – dava
possibilidade, enquanto texto, de ter sido diferente: dependia como o poder, na prática, aplicava a CRP

14

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o Fontes Diretas – Plataformas de Acordo Constitucional, leis constitucionais


revolucionárias (Paulo Otero)
o Fontes Mediatas – Constituições italiana, alemã, francesa, peruana, turca, jugoslava,
escandinavas, alemã federal e checoslovaca.
o Fontes Profundas – anteriores constituições (especialmente 1933)
Vigência e Interregnos:
o 1976 – 2016, 7 revisões (82, 89, 92, 97, 01, 04, 05)
Organização política: Estado social e democrático de Direito (órgãos de soberania art. 110º)
o PR, eleito por sufrágio universal tem amplos poderes de regulação política e preside ao
Conselho da Revolução (que tinha múltiplos poderes). Promulga diplomas; nomeia
ministros; dissolve a AR; demite governo e o veto político pode ser ultrapassado14
o Separação de poderes – interdependência de poderes (art. 111º)
▪ Poder Executivo: Governo (cujo programa é votado na AR) e outras entidades
administrativa.
▪ Poder Legislativo: AR (lei) tem preponderância se bem que o Governo (decreto-
lei) também o pode fazer
▪ Poder Judicial: Tribunais
o Regime político – democrático
o Sistema de governo – (condicionado pelas Plataformas de Acordo) 1974 – 1976: sistema
de governo que evolui no sentido autoritário militar; 1976 – 1982:
semipresidencialismo; 1982 - … : híbrido e flexível (sendo Semipresidencial)
o Sistema de partidos – 1974 – 1976: multipartidarismo condicionado; 1976 - … :
multipartidarismo imperfeito
Voto: sufrágio universal direto para maiores de 18 anos e sem restrições – estabelecido no tempo
de interregno para a Constituinte
Direitos Fundamentais: longo e extenso elenco na CRP – divididas em Direitos, Liberdades e
Garantias e Direitos Económicos Sociais e Culturais
Revisão: possível de 5 em 5 anos. Podendo propor-se revisão extraordinária por 4/5, sendo
aprovado por 2/3. Rígida devido às maiorias qualificadas.
Fiscalização da Constitucionalidade: difusa nos tribunais; concentrada num TC (podendo ser
preventiva – antes da promulgação, pedida pelo PR, evita que norma constitucional entre em
vigor, devolve ao órgão e se for AR pode ser superado por 2/3; por omissão – CRP prevê
elaboração da lei mas ela não o é, dever de legislar; sucessiva abstrata – depois da promulgação
e já entrou no ordenamento jurídico, pedido pelo PR e relativa às normas em gerais; e sucessiva
concreta – depois da promulgação e já entrou no ordenamento jurídico, relativa às decisões dos
tribunais, ligado à fiscalização difusa e a norma não vigora apenas para aquele caso e não par
futuros, ao fim de 3 casos instaura-se a abstrata -> art 281º/3)

14
O veto jurídico, que vem na sequência da fiscalização da Constitucionalidade pelo TC, o PR tem apenas
que o devolver para o órgão que o aprovou.

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Génese, Aprovação e Transformações CRP 1976


Em 25 de Abril de 1974 um golpe de Estado derrubou o Estado Novo. O Programa do Movimento
das Forças Armadas levou a situação política para uma revolução15 com diversas ruturas e
conflitos de legalidade.

Génese Atribulada
• Forma democrática de exercício do poder constituinte – condicionado pelo movimento
revolucionário.
• Turbulência social e política – típica dos interregnos
• Início do Constitucionalismo para-democrático e democrático

Grandes fases de revolução no período de interregno


1º. 25 de Abril – 28 de Setembro: legitimidade do poder revolucionário do MFA
➢ Legitimidade da ideia de Direito Inicial proclamada pelo Programa do MFA –
entra rapidamente em crise
2º. 28 de Setembro – 11 de Março: emergência do processo revolucionário num sentido
socializante e reforço do poder militar
3º. 11 de Março – 25 de Novembro: ditadura do Conselho da Revolução e declarado conflito
com a legitimidade da Assembleia Constituinte
➢ Legitimidade revolucionária marxizante do Conselho da Revolução
➢ Legitimidade eleitoral das eleições para a Assembleia Constituinte
Conflito e confronto aberto durante o período da elaboração da
Constituição

JOMI
A. Turbulência dos anos entre a revolução e a Constituição
B. Celebração de duas Plataformas de Acordo Constitucional – a que os
partidos tiveram de se submeter com a condicionante do socialismo
imposta pelo MFA ao definir pontos importantes da CRP
C. Pluralismo partidário com diversos projetos

4º. Fase final: reequilíbrio da legitimidade eleitoral que levaria à 2ª plataforma de Acordo
Constitucional

Como funcionou o país no interregno?


Foram aprovadas 35 leis constitucionais – ocupavam-se principalmente da descolonização – e
a CRP de 1933 estava transitoriamente em vigor naquilo que não contrariasse os princípios
expressos pelo Programa do MFA.
i. Lei nº 3/74 de 14 de Maio: ideia de Direito do programa do MFA configura uma pré-
constituição estabelecendo o sistema de órgãos de soberania (Junta de Salvação
Nacional, PR, Conselho de Estado, Governo provisório e Tribunais) e definindo normas
relativas aos direitos fundamentais e fiscalização da constitucionalidade.

15
Novo fundamento de validade material da ordem jurídica – não se observam as regras antes
estabelecidas

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ii. Lei nº 5/75 de 14 de Março: na 3ª fase revolucionária, num sentido marxizante, rompe
com a pré-constituição e redefine o sistema de órgãos de soberania (concentrando no
Conselho da Revolução os poderes da Junta de Salvação Nacional e do Conselho de
Estado)
iii. Lei nº 8/75 de 25 de Julho: ainda hoje ressalvada no art. 292º ofendendo os postulados
do Estado de Direito (no aspeto da proibição da incriminação retroativa)

Aprovação
A 25 de Abril de 1975 há eleições para a Assembleia Constituinte16 – que só foram garantidas
em 13 de Abril após os partidos assinarem uma Plataforma de Acordo Constitucional imposta
pelo Conselho da Revolução
➢ Impunha uma doutrina que os partidos tinham que incorporar – “via original para o
Socialismo Português”, sendo que todos se tinham que referir a tal
➢ Definia os termos do futuro sistema de governo – com um PR militar, Conselho da
Revolução, segunda câmara militar e um Governo sujeito a dupla responsabilidade

Após 25 de Novembro – Renegociação da Plataforma de Acordo Constitucional


➢ Final dos trabalhos da Assembleia Constituinte – não se conseguia alterar muito pois a
maior parte do trabalho já tinha sido feito (durante o período conturbado do interregno)
o Constituição feita em revolução sobre o acontecimento – estando assim
limitada nas suas opções em matéria do poder político e da fiscalização da
constitucionalidade, exprimindo contradições e ambiguidades que
atravessaram o seu anómalo processo de gestação

Nascimento de uma Constituição Problemática


Conflito de legitimidades – a democrática das eleições e a da imposição constitucional de uma
doutrina política. A CRP também tinha 2 pais
• Defrauda a primeira função (de integração) de exprimir a unidade da comunidade
política em torno de um conjunto de valores e princípios
• Não exprimia um consenso fundamental mas apenas um agregado de acordos
parcelares alcançados por distintas forças políticas
o As partes da CRP foram aprovadas parcelarmente – soma das partes aprovadas
por diferentes maiorias

Constituição dividida
➢ 2 almas (em que uma eventualmente mandaria na outra: democrática e liberal;
autoritária e socialista
o Sobreposição de tendências (Manuel de Lucena), convício de contrários (Braga
de Macedo), contradições internas (Paulo Otero)
o Constituição compósita – representando um compromisso por adição sem
conseguir alcançar síntese unificadora

16
PS 38%; PPD 26,4%; PCP 12,5%; CDS 7,7%; MDP/CDE 4,5%; UDP 1%

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Transformações
Como a Constituição se curou das maleitas de nascença
Sofreu o embate da realidade constitucional – exigiu mais do que uma revisão constitucional
através de mecanismos de adaptação do texto à realidade.
1. Acordos parciais e transitórios de 1975 a 1989, só então alcançando-se um consenso
funcional (Lawrence Graham)
a. CRP em 1989 dispôs sobre situações que a prática constitucional já previa
2. As respostas foram dadas pela prática constitucional (MRS e PO)

7 Revisões Constitucionais – mais de 700 artigos alterados17


1ª Fase da “questão constitucional” (1976 a 1989)
2ª Fase da superação da “questão constitucional” (1989 a 1997)
3ª Fase da “questão política” das revisões (1997 a 2011)
4ª Fase da aparente superação do revisionismo constitucional (2011 - …)

Conteúdo
• 1982: desmilitarização do sistema político, afirmação do princípio do Estado de Direito
o Chegada da democracia representativa (sem entorses ou enclaves autoritários)
e do tempo dos Direitos e do constitucionalismo da democracia constitucional
o Criação do Tribunal Constitucional (em substituição do Conselho da revolução e
Comissão Constitucional)
o Superação do caráter problemático da CRP 1976 (iniciativa, forma e conteúdo)
exprimindo um dos mais amplos consensos da história constitucional
• 1989: redirecionou o regime económico (abolindo a irreversibilidade das
nacionalizações) e aperfeiçoou juridicamente o texto constitucional
o Acomodou a reorientação europeia de Portugal de 1986
▪ Certificação do desuso radical das normas da Constituição económica
▪ Adesão às Comunidades Económicas Europeias (acontecimento mais
determinante de todas as transformações constitucionais)
▪ Ultrapassagem da CRP pelo sistema político da UE
▪ PO – nova identidade Constitucional
❖ Empenhamento na construção e aprofundamento da UE
❖ Perda de competência dos órgãos de soberania sobre certas
matérias
❖ Limitação de garantias constitucionais pelo Direito da UE
❖ Prática reiterada de interpretação e aplicação da CRP
Económica em conformidade com o Direito da UE
❖ Revisão constitucional como instrumento harmónico de
vinculações políticas assumidas no âmbito da UE com o texto
da Constituição
• 1992: constitucionalização das soluções do Tratado de Maastricht
• 1997: reforço dos direitos fundamentais, flexibilização de diversas estruturas
constitucionais

17
Melo Alex: O que prova que não estava bem à partida

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• 2001: ratificação do estatuto do Tribunal Penal Internacional – restringindo certos


direitos, liberdades e garantias
• 2004: aprofundamento das autonomias regionais
• 2005: referendo a tratados europeus de aprofundamento

Melo Alex: ausência de veneração particular pela CRP, por parte dos partidos aponta que um
consenso constitucional há-de ter de ser induzido pela confluência do procedimento, da
natureza da discussão e do decurso do tempo.
Até agora não se reforçou o consenso constitucional, nem diminuíram as vozes daqueles
que entendem que a CRP precisa de ser alterada e até reformada.

Para além das revisões, que mais transformou a CRP


A. Abandono do marxismo pelo PS em 1979
B. Estabilidade política valorizada (por maiorias absolutas) desde 1987 – modificando o
sistema de governo com o ascendente do Primeiro-Ministro
C. Mudança de 2015 com os partidos mais à esquerda a ascenderem ao poder através de
acordos

Constituição Transfigurada?
➢ Luís Barbosa Rodrigues: há mesmo uma nova constituição desde 1982
➢ Lucas Pires: com 2 almas na constituição prognosticou-se a morte de uma delas
➢ JOMI, Canotilho: ainda é a mesma
➢ Paulo Otero: mudança na fisionomia originárias da CRP gerando uma transfiguração
identificativa da CRP 1976
o Decurso do tempo e de normatividade não oficial subversiva
o Peso da herança histórica do Estado Novo
o Intervenção dos partidos políticos
o Integração europeia e seu aprofundamento
o Erosão do domínio reservado ao Estado e constitucionalismo transnacional

o Melo Alex: A Constituição, além da parte visível tem a parte invisível que a liga
às raízes históricas, estrutura e praxis constitucional.
o É uma rede de princípios em tensão, não sendo uma lei vulgar mas sim uma
ordem aberta e ordem-quadro
▪ Houve mudanças profundas na CRP, deslocando princípios
fundamentais mas a CRP é essencialmente a mesma pois não cortou
com o melhor do legado da Constituição histórica – sendo o cimento
da ordem constitucional como a dignidade da pessoa humana, primado
dos direitos, liberdades e garantias e o da democracia representativa
▪ Embora objeto de transformação a essência mantêm-se

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Síntese do Constitucionalismo
Constitucionalismo Português é pautado por:
Divergência de fundo – continuidade vs. ruturas
• É possível identificar uma continuidade em todo o constitucionalismo e até para além
dele.
o Ruy e Martim de Albuquerque: permanência de certas linhas de força de uma
tradição que sobrevive às diversas Constituições
• Constitucionalismo nasce através de um corte abrupto com o passado e avança por
ruturas sistemáticas.
o Gomes Canotilho: código binário continuidade/descontinuidade,
predominando as ruturas e as descontinuidades

Melo Alex: Formalmente há ruturas, materialmente há continuidade.


• Sobretudo há uma continuidade. Até em 1976 se quis mudar tudo mas muito foi
mantido – sendo que a prática que vai além do texto constitucional também releva para
esta ideia de continuidade

Divergência metodológica – predomínio dos textos constitucionais vs. fatores de origem externa
e interna
• Ênfase na distinção entre fatores jurídicos e os fatores culturais, socioeconómicos e
políticos, sendo que todos eles estão presentes no constitucionalismo português
o Marcelo Rebelo de Sousa: muito relevante as interações dos fatores jurídicos e
extrajurídicos, que são em maior número.

Melo Alex: Fatores extrajurídicos pesam mais que os textos constitucionais


• Ex: Constituição 1933 – primazia teórica do PR mas na prática era o Presidente do
Conselho de Ministros
O Constitucionalismo português caracteriza-se pela superfície (os textos) e pela profundidade
(pressupostos, raízes, influências, elementos estruturantes, prática)
i. Elementos pré-liberais – preponderância do Governo, tendência para a
desnacionalização (havendo marcas de influência de matrizes francesa, britânica, norte-
americana e mais recentemente alemã)
ii. Mitificação da Constituição escrita ao entrar na “era constitucional” – nominalismo
constitucional que predomina
iii. Continuidade de textos, estruturas, instituições e práticas – estando a Constituição
sempre próxima da que a precedeu (bem como dessa experiência política)
a. Há novidades e elementos reativos mas tendo em conta uma continuidade e
incorporação
iv. Interregnos constitucionais – perfil marcante e constitutivo de “ditaduras criativas”
v. Relevância do costume e da prática para determinar a Constituição real – falta de
correspondência entre os textos e a realidade Constitucional
vi. Dificuldade em estabelecer-se um consenso fundamental
vii. Intranquilidade dos textos – 6 constituições e 25 revisões constitucionais

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O constitucionalismo português evolui por transformações progressivas, a coberto de ruturas


parciais de diverso tipo, revelando significativas constantes, quer positivas quer negativas, e
uma marcada capacidade de adaptação.
Resulta da interação de três correntes complementares.
1º. Continuidade: autoritarismo, mitificação e nominalismo, insuficiências estruturais e
institucionais
2º. Reação: despotismo e incúria, descrédito do anterior e nova onda mais radical e etc.
3º. Novidade: que se assumem e consolidam para o futuro – governo representativa,
pluralidade de órgãos políticos, igualdade perante a lei, garantia de direitos, fiscalização (1911),
intervenção do Estado (1933), princípio democrático

Constituição Portuguesa não datada


A Constituição de 1976 recebeu da Constituição Histórica portuguesa uma parte significativa dos
seus princípios, estruturas, regras e instituições.
A Constituição portuguesa entende-se por:
• Texto da Constituição escrita em vigor
• Pertinentes raízes históricas, estruturas e influências recebidas
• Constituição real efetivamente aplicada – sem desconsiderar os elementos relevantes
que decorrem da prática constitucional

Explica de forma abrangente o fenómeno cultural do Constitucionalismo português,


percebendo que as grandes transformações não coincidem com os momentos constituintes
propriamente ditos18. As realidades novas são assimiladas19 pelos textos subsequentes ao
identificar-se o melhor do legado20 de cada uma das etapas, havendo uma proximidade e
profundas inspirações na Constituição anterior.
A Constituição Portuguesa não serve, no entanto, tecnicamente na dogmática jurídica
quanto a respostas concretas.

Projeção Externa do Constitucionalismo Português


Paulo Otero: Identidade Relacional da Constituição – por influência, contágio ou plágio –
receberam soluções normativas de outras constituições.
• A Constituição de 1976 também exportou soluções normativas
o Contágio: Constituição espanhola de 1978
o Plágio: Constituição de S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Timor-Leste, Guiné-
Bissau
Melo Alex: perspetiva mais ampla em que se deve perscrutar não só os textos mas também a
“matéria escura”, partindo para influências diretas e influências profundas
• Apenas Cabo Verde teve essa influência direta e profunda – quer ao nível dos textos
quer ao nível político

18
Ex: aparelho burocrático do Estado (1842); Código Civil (1867); abertura doutrinária (1970); expressão
da legitimidade eleitoral (1975); entrada na CEE (1986)
19
Ex: Igualdade perante a lei (1822); direito aos socorros públicos (1826); fiscalização da
Constitucionalidade (1911)
20
Aspiração de mudança (1822); compromisso com a realidade (1826); técnica jurídica (1838); concisão
do texto (1911); tranquilidade na elaboração (1933); resiliência, abertura e sensibilidade (1976)

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Matriz Constitucional de Língua Portuguesa?


Melo Alexandrino: Não há uma matriz lusófona pois a Constituição não se resume ao texto,
nem o Constitucionalismo se resume ao poder constituinte – tem que se atender à prática (e a
maior parte das Constituições dos países lusófonos têm caráter nominal e semântico).
Pressupõe-se também a existência de um movimento de ideias visando a garantia da liberdade
e racionalização do poder político (em muitos países não há correspondência entre os fins
proclamados nos textos constitucionais e os pressupostos culturais, éticos, económicos,
políticos e sociais). A esse movimento tem que se segui uma prática política (muitos países
puseram logo as Constituições em vigor sem estas etapas – exceto Cabo verde que não adotou
logo uma Constituição, teve movimento de ideias e hoje é o país mais democrático).

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PADRÕES ESTRUTURANTES DA CRP 1976


Os princípios constitucionais são muito vastos e abstratos – concretizados por outros princípios
constitucionais especificados por uma multiplicidade de regras constitucionais e legais -> “Efeito
de Cascata” (Maria Lúcia Amaral).

Sentido e Âmbito da fórmula fundamental do “Estado de Direito Democrático”


Princípio como nascente originária sendo progressivamente concretizado por outros princípios
até desaguarem nas regras.
➢ Por serem realidades originárias não têm um conteúdo jurídico autónomo21.

Artigo 2º da CRP: “a República portuguesa é um Estado de Direito Democrático baseado


na soberania popular, no pluralismo de expressão e na garantia de efetivação dos
direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes,
visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da
democracia participativa”
➢ Na versão originária da CRP o princípio constava apenas no preâmbulo – alterado pela
revisão de 1982 em que se alterou a epígrafe (“Estado democrático e transição para o
socialismo”) e positivou o princípio22.

Raízes – prof. Afonso Queiró em 1956 – quis evitar-se a expressão “Estado social” porque tal era
conotado com o Estado Novo.
➢ As demais dimensões do princípio do Estado de Direito democrático já incorporavam a
Constituição portuguesa ora desde a entrada na era Constitucional ora desde a CRP de
1933

Desenvolvimento Constitucional
➢ Por via das Revisões Constitucionais em que se alterou o artigo (1982 e 1997),
acrescentando novos conteúdos e dando novas funções quanto à transferência de
poderes soberanos e de vinculação do Estado ao Direito Europeu
o Pode ceder soberania sem sacrificar o princípio.
o Não há primado da UE sobre os princípios fundamentais do Estado de Direito
Democrático (art.7º, nº6; art. 8º, nº4)
➢ Desenvolvimento jurisprudencial que dele extraiu novos princípios e regras – como o da
proporcionalidade, proteção da confiança, garantia do mínimo de existência condigna
➢ Elaboração Doutrinária

Estamos perante um Macro ou Superconceito Constitucional


Confluência de Estado de Direito e democracia com um conteúdo vastíssimo e o restante
sistema da Constituição decorre dele.
• Maria Lúcia Amaral: Direta ou indiretamente depara-se com formas de concretização e
de explicitação deste conceito – “coração” da Constituição
• Paulo Otero = Melo Alex: Expressão síntese de todo o sistema da Constituição, da
orientação teleológica última da CRP com respetivos pressupostos e meios de
concretização – conceito-chave

21
Tão vagos e amplos que não são aplicados diretamente – o TC usa excessivamente estes princípios
amplos
22
E no art. 9º, alínea b). Surge também nos arts 7º, n6; 8º, n4

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Características
• Caráter primário – primeira decisão que o poder constituinte toma de extensão muito
ampla
• Caráter complexo/compreensivo – permite resumir todo o sistema da Constituição23
numa macrocefalia em que todo o conteúdo normativo é consumido pelas realidades
que o integram

Funções
• Função enunciativa – expressa uma síntese de todo o sistema da Constituição
• Função normogenética – fonte de outras normas constitucionais
• Função instrumental – parâmetro orientador e hermenêutico
• Função de limite e de parâmetro da vinculação válida de Portugal no âmbito da UE

Elementos Fundamentais na Fórmula


• Melo Alex: três grandes componentes – Estado de Direito; democracia (pluralismo);
Estado social (do bem estar ou da socialidade)
o Nível de base – dignidade da pessoa humana, reconhecimento e garantia dos
direitos e liberdades fundamentais
o Nível teleológico – ideia de democracia económica, social e cultural
o Nível metodológico – princípio da democracia participativa
• MRS: autonomiza o princípio do Estado social relativamente ao princípio do Estado de
Direito Democrático
• Maria Lúcia Amaral: o estado social não tem lugar neste princípio, apenas se fala num
Estado de Direito socialmente empenhado

Tensão interna entre democracia e Estado de Direito


• Estar na CRP 1976 prova que não há incompatibilidade – vivem todos debaixo do mesmo
teto, exprimindo no seu conjunto a grande síntese constitucional
• Os princípios constitucionais vivem em situação de tensão e entre eles existem
contradições
• Dificuldade e respeito pela demarcação do que pertence ao plano da CRP e à margem
do legislador
o Deve se dar preferência às opções do legislador – goza devido ao princípio
democrático de um crédito de confiança
o TC ao intervir sucessivamente dá pouca margem de manobra ao legislador. Ex:
decidir como inconstitucional a convergência de pensões – pode ser
politicamente errado mas não inconstitucional

23
Sendo tão vasto não pode ser violado autonomamente – violar-se-ia toda a CRP
➔ Não tem operatividade jurídica autónoma

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Princípio do Estado de Direito


A sede das suas raízes mais antigas encontra-se na Magna Carta mas tem origem no
Constitucionalismo das Revoluções.
Tratado por Kant ao longo do séc. XIX – resumia-se essencialmente ao princípio da legalidade da
administração e ao princípio da independência do poder judicial, tendo um conteúdo mais
restrito do que aquele que lhe é dado hoje.
➔ “Estado limitado e organizado juridicamente com vista à garantia dos direitos
fundamentais dos cidadãos”

No Constitucionalismo da Democracia Constitucional a ideia alargou-se e carregou-se de um


sentido material ainda aberto a uma pluralidade de concretizações.
➔ Klaus Stern: significa que o poder do Estado só pode ser exercido com fundamento na
Constituição, e em leis que formal ou materialmente com ela sejam conformes, e com
o fim de garantir a dignidade da pessoa humana, a liberdade, a justiça e a segurança.
➔ Significado essencial: submissão e sujeição do poder do Estado a princípios e regras
jurídicas (primado do Direito) e a vinculação da atuação do Estado ao prosseguimento
de um conjunto de fins: a garantia da dignidade da pessoa humana, a liberdade, a
justiça e a segurança (dimensão material do conceito)

Elementos Formais do Princípio do Estado de Direito


1. Princípio da Separação e Interdependência de Poderes – art. 2º e art. 111º
Distribuição das diferentes funções estaduais por diferentes instituições com meios de controlo
recíproco entre elas com o intuito da vigilância e corresponsabilização.
➢ Separação não rígida
➢ Mas há um reduto de áreas em que não pode intervir

2. Princípio da Constitucionalidade
A validade das leis e dos demais atos do Estado, das regiões autónomas, do poder local e de
quaisquer outras entidades públicas depende da sua conformidade com a Constituição (art. 3º/3)
➢ Sendo lei fundamental, todos os poderes constituídos lhe devem obediência.
Especialmente o legislador (referência à constitucionalidade das leis)
➢ Controlo normativo da CRP pelo Tribunal Constitucional que se estende a um conjunto
de leis para-constitucionais também muito relevantes

3. Princípio da Legalidade da Administração


Subordinação dos órgãos e agentes administrativos à CRP e à lei – respeitando os interesses
legalmente protegidos dos cidadãos.
➢ Princípio da prossecução do interesse público, da justiça, igualdade, proporcionalidade
e boa-fé (art. 266º)
➢ Princípio da prevalência da lei que assina a sua superioridade relativamente a quaisquer
atos de administração
➢ Reserva de lei – tratamento de certas matérias como restrições aos DLG só pode ser
feito por lei, proibindo-se ao poder executivo e à administração qualquer interferência

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4. Independência dos Tribunais – art. 203º


Tribunais apenas sujeitos ao Direito – a que a CRP chama lei. Os tribunais são instrumentos
indispensáveis contra o arbítrio ou a prepotência da parte de qualquer poder do Estado.
➢ Defende-se os Tribunais de ingerências, pressões ou instruções dos demais poderes do
Estado.
➢ Gozam da autonomia na interpretação do Direito (art. 216º)

5. Tutela Jurisprudencial Efetiva – art. 20º


Existência de mecanismos de controlo da conformidade jurídica das atuações do poder político,
quer por lesão objetiva da sua juridicidade, quer quando esteja em causa lesão ou afetação de
direitos.
➢ Existência de tribunais, ação e meio processual adequado
➢ Acesso aos tribunais e processo equitativo
➢ Decisão em prazo razoável e garantia das execuções das decisões tomadas
5.1 Conjunto de Mecanismos de Garantia
Como a fiscalização da constitucionalidade das normas, controlo da legalidade da atuação da
administração pública, responsabilidade civil do Estado e das demais entidades públicas,
responsabilidade criminal dos titulares de cargos políticos e mecanismos de exceção
(resistência, desobediência e insurreição)

Elementos Materiais do Princípio do Estado de Direito


O bem de todos era o objetivo para a “construção de uma sociedade livre, justa e solidária”

Concretiza-se no art. 1º da CRP: “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade


da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade
livre justa e solidária”
➢ República: não como forma Republicana mas como Nação – comunidade política.
o Evita-se a palavra como reação à CRP 1933
➢ Compromisso solene em edificar o sistema com base na dignidade da pessoa humana e
na vontade popular
o E com o empenho na realização da justiça, liberdade e solidariedade
➢ Paulo Otero: primariamente vem a comunidade de pessoas, a sociedade – primado da
pessoa e da sociedade (art. 1º) e só depois vem o Estado (art. 2º)

Dignidade da Pessoa Humana


Entrou no mundo do Direito após 2ª Guerra Mundial deixando de ser uma realidade
extrajurídica.
ORIGENS:
1. Teoria da Dádiva/Dote – estóicos e Kant – dignidade humana é uma essência, um valor
absoluto com qualidade inata que é concedida ao indivíduo pelo Criador ou pela
natureza
2. Teoria da Prestação – Confúcio e Luhman – dignidade humana é uma prestação
individual (algo que cada indivíduo tem de realizar, pois só o homem pode estabelecer
o que ele é – dignidade humana é construída pelo homem que se trabalha a si próprio
para o ser)

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3. Teoria do Conhecimento – Hasso Hofman – reconhece-se a humanidade uns nos outros:


categoria da co-humanidade protegendo a solidariedade entre próximos.
4. Plano Constitucional -> Constituição Francesa 1946

POSITIVAÇÃO: art. 1º da CRP

CONCEITO: referência da representação do valor do ser humano – referência que a pessoa tem
de si e como se consegue realizar

CONTEÚDO: conceito filosoficamente dependente e com uma grandeza cultural sujeita a


diversas compreensões.
➢ A fórmula Kantiana dá uma orientação mas não define o conceito (sobreposição
indevida do filosófico ao jurídico)
➢ Melo Alex: não é dado diretamente pela fórmula mas sim no seu “efeito cascata” de
princípios, subprincípios e regras – não tem conteúdo jurídico autónomo. Ex: impede
mudar de religião, ofende a dignidade da pessoa humana mas o que viola é a integridade
moral
FUNÇÕES: base do sistema constitucional como alicerce da CRP
➢ Função simbólica, instrumental (de interpretação e integração) e de proteção.

Reis Novais – “Dignidade da Pessoa Crítica Melo Alexandrino a JRN


Humana” • Ser princípio supremo ofende o
• Princípio supremo e de texto pois do art. 1º decorrem dois
vinculatividade absoluta princípios supremos
• Conteúdo próprio como • Nenhuma fonte sustenta a sua tese
integridade e igualdade • Falácia da Hiper-integração
• 2 dimensões: objetiva (valor) e • Confunde conteúdo com funções
subjetiva (proteção) • Tipos de violações segundo uma
o Dimensão mais importante conceção própria e não com a do
é a da proteção constituinte
• Recupera de Kant os elementos • Dimensão mais importante é a
essenciais objetiva – essencialmente é um
valor
o Não é necessário mais
preceitos para assegurar o
Direito e proteger os
cidadãos pois a CRP já tem
muitos

Igualdade
ORIGENS: Ética e filosofia, chegando ao constitucionalismo por Hobbes
➢ Conceção dos indivíduos como iguais, tanto no estado de natureza como no posterior
estado de sociedade
➢ Igualdade de todos perante a lei -> constitucionalismo das revoluções
➢ Tem sido enriquecido com a igual participação política

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POSITIVAÇÃO: entra na Constituição histórica em 1822 e tem hoje sede no art. 13º da CRP 1976
➢ É transversal a toda a CRP – atravessa todas as matérias constitucionais a começar pela
ideia de dignidade da pessoa humana
CONCEITO: ligado à ideia de justiça – conceito multidimensional, comparativa e racional
(pressupõe sempre uma comparação)
➢ Apresenta-se na CRP como um dever do Estado e como uma presunção – da ideia de
que um tratamento igual será justo
➢ Exige um fundamento sempre que o Estado queira introduzir uma diferenciação de
tratamento
CONTEÚDO: segundo o TC abrange três dimensões – proibição do arbítrio; proibição da
discriminação (ilegitimidade de diferenciação com base em critérios subjetivos); obrigação de
diferenciação (tratar igual o que é igual, tratar diferente o que é diferente)
➢ Igualdade como “prevalência da lei” – igualdade na aplicação da lei. Dirigido ao
julgador.
➢ Igualdade “perante a lei” – justificação suficiente para o tratamento desigual das
situações e inadmissibilidade de tratamentos diferenciados. Dirigido ao legislador.
➢ Igualdade “através da lei” – visa a realização da igualdade material para corrigir os
abusos da liberdade individual. Dirigido ao legislador.
FUNÇÕES: TC fala em valor supremo.
➢ Melo Alex: princípio estruturante e critério de interpretação – exigência de fundamento
racional para as diferenciações de tratamento, desenvolvendo funções heurísticas,
instrumentais, promotoras e de controlo.

Proibição do Excesso = Proporcionalidade


Ideia que as atuações do Estado, para serem conformes ao Direito, têm de obedecer a uma
medida ajustada de justiça, equilíbrio e ponderação.

ORIGENS: Magna Carta de 1215 em que os impostos não podiam exceder os limites do razoável
– desenvolvido depois da 2ª Guerra Mundial como exportação da Ciência Jurídica alemã

POSITIVAÇAO: sede no princípio do Estado de Direito (art. 2º)

CONCEITO: Atuações do Estado devem obedecer a uma justa medida, sob pena de serem
arbitrárias e de extravasarem dos limites dos Direito.
➢ Tem como equivalente a proibição do défice (deveres positivos de proteção e promoção)
– abaixo da justa medida de intervenção do Estado haverá ilicitude por violação da
proibição do défice.
CONTEÚDO: decompõe-se em diversas vertentes
➢ Adequação (idoneidade) – medidas a adotar pelo Estado devem ser aptas e idóneas
para realizar o fim prosseguido.
➢ Necessidade (indispensabilidade) – deve recorrer-se ao meio menos restritivo possível
para atingir o fim.
➢ Proporcionalidade em sentido estrito (da ponderação da justa medida) – visa o
equilíbrio na relação entre a gravidade do sacrifício imposto e a importância do fim
visado, ponderando vantagens e desvantagens.
FUNÇÕES: diretiva e racionalizadora da ação do Estado; proteção e controlo relativamente à
generalidade das atuações estatais.

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Segurança Jurídica e Proteção da Confiança


Que se assume como uns dos fins do Estado.

ORIGEM: Magna Carta e Estado Liberal de Direito

POSITIVAÇÃO: Dezenas de preceitos que se referem à segurança; a segurança jurídica (art.


282º/4) e a proteção da confiança (art. 2º)

CONCEITO: ideia de subordinação do Estado à observância do Direito – Acórdão TC 3/2016


Declaração de Maria Lúcia Amaral
➢ Clareza, precisão e transparência no respeito pelos direitos, expetativas e interesses
dignos de proteção jurídica.
➢ Estado deve atuar para com os cidadãos de modo a que seja confiável – não decretando
normas retroativas, não alterando bruscamente a ordem jurídica, não afetando sem fundamento
as expetativas legítimas das pessoas quanto à continuidade de certo regime jurídico.
CONTEÚDO: Paulo Mota Pinto
➢ Excecional – depende de pressupostos específicos
➢ Princípio Formal – requer uma ponderação em concreto
➢ Confronto entre as expetativas atendíveis e o interesse público
➢ Confronto avaliado com as exigências da proporcionalidade em sentido estrito
FUNÇÕES: proteção subjetiva e função de controlo das atuações estatais; a segurança permite
a modelação dos efeitos das decisões de inconstitucionalidade do TC

Elementos materiais como normas de ação e controlo


Forsthoff, Gomes Canotilho: é diferente a vinculação de um órgão que atua (legislador) da
vinculação de um órgão que controla (TC), uma vez que há uma parcela das normas em que o
controlo está necessariamente afastado, daí a necessidade de distingui, por exemplo, a
igualdade como norma de ação ou de controlo.

Princípio Democrático
Para se implantar, a democracia requer um terreno devidamente preparado.
As sementes da democracia começaram a ser plantadas em 1822 mas só produziram frutos
verdadeiros a partir de 1976/82
➔ Pressupostos da Democracia – pressupostos da Constituição que são um conjunto de
fatores externos.
Principais fatores políticos:
o Dirigentes eleitos pelos cidadãos
o Eleições livres, frequentes e justas
o Liberdade de expressão
o Fontes alternativas de informação sem estarem sob controlo do governo ou
outro grupo político
o Autonomia de associação
o Cidadania inclusiva
O terreno fértil onde democracia germina pauta-se por sociedades abertas, complexas
e minimamente estruturadas em torno dos valores e da prática do constitucionalismo.
Opções da CRP
• Vontade popular como valor de base da comunidade e do sistema constitucional (art.
1º) – onde o poder político encontra o seu fundamento e a sua legitimidade.

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• Soberania popular e pluralismo de expressão e organização política democráticas –


elementos do Estado de Direito Democrático com compromisso da democracia política
• Distinção entre titularidade da soberania – pertencente ao povo – e formas
constitucionais do seu exercício – povo exerce poder político através do sufrágio
universal
• Democracia representativa, democracia semidirecta (art. 10º/1) e democracia
participativa
• Regra geral da eleição por sufrágio direto, secreto e periódico na designação dos
titulares dos órgãos eletivos da soberania
• Pluralismo – sistema de representação proporcional; incorporação constitucional dos
partidos que concorrem para a organização e expressão da vontade popular (articulação
entre Estado e sociedade) bem como o estatuto da oposição; mecanismo de proteção
de minorias.
• Responsabilidade política dos governantes perante o povo – espaço público de livre
debate; prestação de contas pelo exercício do mandato; sancionamento da condução
irregular; responsabilidade dos órgãos executivos perante os órgãos representativos
• Relação circular – interdependência entre direitos fundamentais e princípio
democrático

Conceito de Democracia
Problemáticos e abusivamente mal utilizados – caráter multiforme e multidimensional
➢ Conceção moderna de igualdade de todos os cidadãos: igual direito à participação
política.
o Fórmula de Lincoln – governo do povo, pelo povo e para o povo (hoje no art. 2º
da Constituição Francesa)
o Fórmula de Popper – sistema em que os governantes podem ser afastados do
poder sem violência
▪ Bobbio – sistema em que os conflitos são resolvidos sem recorrer à
violência
o Habermas – auto-organização política da sociedade através da discussão e da
deliberação
➢ Plano constitucional-positivo: surge como um valor (art. 1º), no qual a comunidade se
reconhece, como fundamento do poder político (art. 2º) e como forma política que
define os termos da relação entre governantes e governados – princípio constitucional
complexo como um conjunto de princípios, procedimentos e regras.
o JOMI – forma de governo em que o poder é atribuído ao povo, à totalidade dos cidadãos
e em que é exercido de harmonia com a vontade expressa pelo povo, nos termos
constitucionalmente prescritos.
o Melo Alex – segundo lado do constitucionalismo – forma de organização e
racionalização da titularidade e do exercício do poder político numa
comunidade humana.

SOBERANIA POPULAR
Art. 3º, nº1: “a soberania una e indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as normas
previstas na Constituição”
➢ Povo – conjunto ou reunião de todos os portugueses em condições de igualdade

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Pressuposto de igualdade absoluta dos cidadãos no domínio da participação política.


Distinção entre titularidade da soberania (povo) e formas constitucionais do seu exercício.

Soberania popular ≠ Soberania nacional?


Maria Lúcia Amaral: sim
• O conceito de soberania popular expressa o imperativo de todos os cidadãos tratados
de modo igual
Melo Alex: não
• Expressão “soberania nacional” deriva da Revolução Francesa em que o povo era apenas
uma classe
o Conceito evoluiu ao longo do tempo em função das estruturas políticas e sociais
• Constituição Francesa 1958 utiliza-se soberania nacional no sentido de soberania
popular

LEGITIMAÇÃO DEMOCRÁTICA
O poder político exercido pelos governantes assenta na legitimação da vontade popular.
➢ Esse poder é dado pelo povo.
Legitimados para agir como representantes do povo, ao qual prestam contas.
➢ Governantes são autorizados pelo povo.
o 1º Grau: escolha direta (PR e Deputados)
o 2º Grau: escolha indireta (PM e Ministros)

Órgãos investidos no exercício do poder através da REGRA DA MAIORIA


Fundamento desta regra: expediente técnico, pragmático e segundo uma prova quantitativa,
torna possível chegar a uma decisão.
Adequação estrutural entre a regra da maioria e o princípio da liberdade subjacente à
democracia – deixando-se atravessar pelos mais diversos princípios estruturantes (como a
igualdade e a liberdade) – consequência organizatória da dignidade da pessoa humana.

Limites:
• Não há verdades absolutas nem decisões finais em democracia – natureza da maioria,
que não detém o monopólio da verdade
• Há casos em que exige-se consensos mais alargados (maiorias agravadas) – onde se
permite formulação de votos de vencidos dando voz às minorias
• Regras e princípios como barreiras contra as decisões da maioria – no conteúdo
irrestringível dos direitos fundamentais (regra básica do Estado de Direito) – “trunfos
contra as maiorias”

Democracia Representativa
Mais relevante no Estado de Direito Democrático na CRP 1976 – sufrágio universal24 (art. 10º e
117º) e pluralismo partidário (art. 2º e 51º).

Referência permanente ao povo do poder político dos órgãos representativos


Excluir que os representantes deslizem para uma posição de soberania
Poder governativo democraticamente corrigido e contrapesado

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Onde cada cidadão tem um voto

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Satisfeitas estas condições:


• Órgãos autorizados a agir em nome do povo e para o povo
• Órgão estruturado como uma unidade política de ação

Sentido Formal – autorização que os órgãos obtêm do povo, dos cidadãos.


Sentido Material – materializam-se os interesses em harmonia com a autorização – ação dos
órgãos de governo se configura de tal forma que os indivíduos e os cidadãos no seu conjunto (o
povo) podem reconhecer-se nessa ação.

Representação como processo dialético e interativo que produz uma determinada ação dos
representantes que deve responder a exigências específicas no que se refere ao seu conteúdo.
➔ Processo que deve realizar-se, mas não excluindo que se possa não realizar.

Democracia Semidireta
Sistema de Referendo (art. 115º) e de Iniciativa Popular (art. 167º/1 e 2).

Referendo – CRP não nutre simpatia, por reação ao plebiscito de 1933


• Incide sobre questões políticas de relevante interesse nacional, cuja decisão caiba
normalmente à AR ou ao Governo
• Ato livre que compete ao PR mediante proposta da AR ou do Governo – 75 mil cidadãos
podem dirigir à AR
• Há conjunto de matérias excluídas do âmbito do referendo – como alterações à CRP,
matérias da competência política ou da reserva absoluta de competência legislativa da
AR
• Propostas submetidas obrigatoriamente à fiscalização preventiva da sua
constitucionalidade e legalidade
• Eficácia vinculativa – número de votantes superior a metade dos eleitores inscritos
Só há referendo obrigatório na CRP para a criação de regiões administrativas (art. 256º/1)

Iniciativa Popular
Procedimento democrático pela Lei nº 17/2003 permitindo que um certo número de eleitores
para dar início a um processo legislativo – mínimo 35 mil.
Há matérias excluídas do âmbito da iniciativa.

Democracia Participativa
A CRP 1976, a nível metodológico, um elemento do Estado de Direito Democrático é o
aprofundamento da democracia participativa – assegurando e incentivando a participação
democrática (art. 9º) e direta (art. 109º).

Reforço e complemento da democracia representativa – envolvimento mais intenso dos


cidadãos do que aquele que se traduz no periódico exercício do direito de voto, pressupondo
ativação ou produção de inputs por parte dos cidadãos a título individual ou coletivo, na
gestão da informação, no debate, no processo de decisão e na avaliação das decisões tomadas
pelos órgãos e instituições.
Ex: discussão pública de planos e regulamentos administrativos são afloramentos dessa
realidade do texto constitucional.

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Outras Funções
O princípio democrático desenvolve-se ainda num conjunto de outras dimensões e funções.
1. Estado Constitucional de Partidos – centralidade dos partidos políticos como elementos
indispensáveis à expressão da vontade popular. Participam nos órgãos baseados no
sufrágio tendo um monopólio de direito na representação política. Exercem o direito de
oposição democrática e são ouvidos previamente à dissolução da AR, bem como à
nomeação do PM. Dispõe de um conjunto de poderes e direitos estabelecidos pela
Constituição e pela lei.
2. Sistema Eleitoral – optou-se pelo Sistema de Representação Proporcional manifestando
a preferência pelo multipartidarismo e pela representação fiel da sociedade; existência
de círculos plurinominais; desde 1997 admite que a lei possa configurar o sistema
eleitoral em novos moldes com três tipos de círculos: nacional, plurinominal e
uninominal (art. 149º)
3. Problema da desobediência coletiva e insurreição revolucionária
4. Limites do Pluralismo – como a tolerância pelos intolerantes. A CRP não permite
fascismo (art. 46º/4)
5. Projeção quanto à concretização dos direitos económicos, sociais e culturais são
remetidas para a margem de conformação do legislador

Princípio da Socialidade
Estado social, de bem-estar, é concretizado no princípio do Estado de Direito Democrático.
Não há o conceito de Estado Social por reação à CRP 1933 – onde estava positivado
• Mas não tinha suporte: o Estado Social pressupõe condições prévias de Estado de Direito
e Democracia.
• Passível de ser concretizado por diversas formas.

Fala-se que hoje se vive uma segunda vida do Estado social sem as ilusões do equilíbrio entre
capitalismo e proteção social, do crescimento económico robusto e do pleno emprego.
A questão hoje é a da sustentabilidade do Estado Social – que com a integração europeia, o
legislador tem menos margem de manobra.

ORIGEM: formulado por Hegel, conflui de três fontes


1. Tradição e reconhecimento dos “socorros públicos” na Carta Constitucional de 1826 e
mantidos nas Constituições seguintes
2. Previsão da vinculação do Estado à realização do bem-estar social na CRP 1933
3. Princípio socialista inscrito na versão originária CRP 1976

FUNDAMENTO: norma de base na Dignidade da Pessoa Humana (que não tem conteúdo jurídico
mas cujas funções são matrizes para outras normas) articulada com o princípio da solidariedade
e exigências de igualdade material
• Vem da Constituição histórica, remontando ao art. 6º/3 CRP1933 – ligação entre
dignidade da pessoa humana e bem-estar
• Texto e estrutura CRP; praxis política do legislador e jurisprudência do TC (que diz que
DPH é princípio supremo e usa-o apenas em relação ao bem estar)
• Orientação doutrinária em que a Dignidade da Pessoa Humana encerra uma exigência
imediata das condições e dos meios necessários à garantia da própria existência da

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pessoa e este princípio desempenha o seu principal papel junto dos direitos sociais
(JRN)

SIGNIFICADO:
• Estado está constitucionalmente obrigado à promoção da igualdade real e à realização
da justiça social
• Tem que responder à desigualdade social assegurando um conjunto de necessidades
coletivas e condições mínimas de existência às pessoas distribuindo riqueza
• Assume uma responsabilidade pelas pessoas mais desfavorecidas da sociedade

Isto não significa que o Estado tem que desenvolver todas as tarefas para a realização do bem-
estar e atendendo ao princípio da solidariedade (dever de responsabilidade recíproca),
subsidiariedade (só deve intervir quando não se realiza eficazmente) e cooperação, estas
podem ser desenvolvidas pelos privados.

POSITIVAÇÃO: não há referências expressas


• Gene no princípio socialista
• Deduzido do art.2º ao considerar o nível teleológico do Estado de Direito
o Consequência ou extensão do princípio democrático (Canotilho/Moreira);
o CRP deu espaço à edificação de um projeto de futura democracia económica,
social e cultural, pensado pelo legislador constituinte, cuja concretização efetiva
depende da vontade do povo português e das condições reais existentes (Melo
Alexandrino)
• Art. 9º, alínea d); art. 81º, alíneas a) e b)
• Catálogo de direitos e deveres económicos, sociais e culturais
o Reconhecido carácter sobredimensionado com matérias que deviam de ser
deixadas ao legislador ordinário – surgem como um traço de
constitucionalização simbólica
o Catálogo vasto sujeito a um esvaziamento do seu conteúdo jurídico
▪ Devido às opções tomadas pelos Governos
▪ TC nunca os invocou – baseia as suas decisões em princípios
▪ Acórdão 509/2002 reconheceu um direito a um mínimo de existência
condigna – despromoção das normas de direitos fundamentais sociais
consagrados na CRP, aparentemente convertidos à garantia do mínimo
de existência condigna.
o Positivação constitucional não significa nada se a prática não corresponder –
diminuto grau de realização
▪ Alemanha e Suécia não os têm positivados mas garantem-nos muito
mais.

Princípio do Estado Unitário Descentralizado


Forma de Estado na CRP 1976 é a de Estado Unitário Periférico e Descentralizado com
prevalência do Direito do Estado (art. 228º/2)

A propósito da repartição do poder político do território em que se apresenta como um Estado


Unitário Descentralizado, realidade que se deixa atravessar
• Separação vertical de poderes
• Pluralismo – comunidades políticas distintas

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• Princípio democrático
• Princípio da liberdade (Baptista Machado)

Elevado a limite material de revisão (art. 288º, alínea a) significa que:


➢ Apenas uma única Constituição
➢ Único poder soberano
➢ Único sistema de órgãos de soberania para todo o território nacional
o Exclusão do fracionamento ou da federalização dos mesmos

Corolários:
1. Conjunto de interesses gerais da comunidade como um todo cuja realização compete
em exclusivo ao Estado (reserva de poderes a favor do Estado). Ex: função jurisdicional,
segurança externa, reserva da competência da AR
2. Articulação entre unidade do Estado e segurança jurídica – cláusula de supletividade
do Direito do Estado: assegura sempre a existência de um direito aplicável em matéria
de competências de entidades infra-estaduais (art. 228º/2)

Esta estrutura é limitada e demarcada por outras realidades normativas (art.6º/1): princípio
autonomia política regional, princípio da subsidiariedade, princípio da autonomia local, princípio
da descentralização democrática da administração pública.

DESCENTRALIZAÇÃO
Forma de repartição de atribuições e competências por pessoas jurídicas públicas distintas do
Estado, através do qual se exprime a organização pluralista do poder político.
A. Descentralização político-administrativa – transferência ou repartição de poderes
políticos, legislativos e administrativos do Estado – Açores e Madeira
B. Descentralização administrativa – transferência de atribuições pertencentes à função
administrativa
i. Em sentido estrito: descentralização em pessoas jurídicas autónomas –
autarquias locais, universidades públicas, associações públicas
ii. Devolução de poderes: descentralização em pessoas jurídicas integradas na
Administração indireta do Estado

EUROPEIZAÇÃO
Nos termos autorizados na CRP desde 1992, permitindo partilha e exercício comum de poderes
soberanos “necessários à construção e aprofundamento da UE” – respeitando o princípio da
subsidiariedade e os do Estado de Direito democrático.
• Unidade da soberania indivisível e residente no povo (art. 3º/1) impede que Portugal
se torne membro de uma eventual federação europeia ou que a transferência de
poderes seja definitiva e irrevogável
o A competência das competências ainda se encontra no Estado soberano (como
o TC alemão esclareceu num acórdão)

A UE surge como uma estrutura confederal não excluindo a hipótese do Estado recuperar a
plenitude dos poderes soberanos optando pelo abandono da UE (art. 50º/1)
• Estado delegou poderes soberanos a favor da UE autolimitando a sua soberania com a
“cláusula de empenhamento”

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o Existe também cláusula geral de transferência ou delegação de poderes


o Cláusula de limitação da soberania do Estado
o Cláusula geral implícita da prevalência do Direito da UE
o Proibição de retrocesso unilateral no processo de construção da UE antes de
uma revisão constitucional

SUBSIDARIEDADE
Art. 6º/1 e 7º/6
Limitação da esfera dos poderes públicos ao que não possa ser adequadamente deixado à
sociedade e com a limitação da intervenção pública aos casos em que a mesma seja mais
racional e eficiente.
• Só se deve transferir na medida que as instituições as realizem melhor
• Critério de repartição de poderes entre o Estado e os demais entes infra-estaduais,
preferindo-se a esfera de poder mais próxima das pessoas e dotada de maior
racionalidade e eficácia

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Regulação da Organização do Poder Político


Poder Político (Marcello Caetano): faculdade exercida por um povo de, por autoridade própria
(não recebida de outro poder), instituir órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele
criem e imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coação.
• Soberano – autoridade originária e subordinante
• Demais poderes políticos – o poder político, em sentido amplo, tem várias camadas

A Constituição cria órgãos e define as suas atribuições e competências, bem como estabelece
os princípios estruturantes da respetiva organização e funcionamento. Mas nem toda a
regulação está na CRP
➢ Ordem jurídica fundamental do Estado – ordem-quando incompleta com uma constante
articulação entre a CRP e a lei
➢ Algumas das múltiplas camadas não são objeto de normas constitucionais
➢ Há uma multiplicidade de fontes de Direito constitucional: primárias (lei, costume,
“interpretações”) e secundárias (convenções e jurisprudência)

Camadas e Sede de Regulação


Soberania: poder político supremo nas mãos da comunidade e cidadãos. Titular deste poder
originário (constituinte) e soberano é o povo (conjunto de cidadãos da comunidade) – art. 1º,
2º, 3º, 10º/1, 108º CRP
Poder de Revisão Constitucional: exercido em nome do povo pela AR, regulado na CRP escrita
o que comprova a diferença face ao poder constituinte – art. 284º a 289º CRP
Poderes Políticos Soberanos: exercidos em nome do povo pelos órgãos de soberania, pelos
órgãos e instituições da UE (delegação constitucional), pelo povo (referendo) – alguns costumes,
convenções e complementos de leis ordinárias e orgânicas, regimentos e parâmetros éticos +
art. 108º a 224º CRP
Poderes Políticos dos entes públicos infraestaduais: órgãos não soberanos – autonomia política
regional e local cujo poder é exercido em nome das comunidades territoriais.
Regulação regiões autónomas – art. 6º, 225º a 234º - complementada com os estatutos
das regiões autónomas sendo “a mais reforçada das leis reforçadas”
Poder Local – art. 6º, 235º a 265º, 291º e 294º - havendo costume constitucional em
que surgiu o presidente da câmara
Poder Político social difuso: exercido pelos partidos políticos, associações, empresas,
comunicação social e opinião pública – pouco regulado na CRP: art. 10º/1, 38º, 39º/1, 40º, 51º,
55º, 56º, 86º ou 114º
Poder Político dos cidadãos: exercido pelas competências inerentes à participação política (livre
exercício de liberdade de expressão e reunião), manifestação dos mecanismos da democracia
participativa – direitos fundamentais (+ usos + convenções constitucionais + DIP + Direito UE)

Princípios Materiais da Regulação do Poder Político


Paulo Otero: identifica 8 princípios respeitantes aos titulares, 3 sobre as fontes reguladoras da
organização do poder político (princípio da não exclusividade da configuração formal, princípio da não
exclusividade das fontes normativas formais e princípio da não exclusividade das fontes jurídico-políticas reguladoras)
e 10 princípios de regulação constitucional em matéria do poder político.

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1. Princípio da Pluralidade de Vinculações Institucionais


Deriva da interdependência de poderes que exige uma convivência e pluralidade em diferentes
graus de relacionamento das estruturas decisórias.
i. Solidariedade: relação de confiança e responsabilidade mútua (“um por todos e todos
por um” – têm que assumir todas as decisões tomadas pelo órgão mesmo que delas não
concordem) – membros do Governo (art. 189º)
• Exprime a sintonia política de certos órgãos
• Violação envolve dever de demissão
ii. Cooperação Institucional: existência de poderes intercruzados envolvendo diferentes
órgãos num esforço de viabilização ou colaboração (um operar conjunto ou um não
gerar de obstáculos) – relação PR e Governo
• Competências de exercício partilhado para assegurar o regular funcionamento
das instituições (ex: proíbe o amuo, corte de relações ou bullying entre órgãos)
• Pode provocar a demissão do governo (art. 195º/2)
iii. Respeito Institucional: dever de convivência democrática e de civilidade com apelo a
regras do trato social concorrendo com limitações do estatuto especial de certos
titulares
• Vinculação permanente de que nenhum órgão se pode dirigir a outro com
menor respeito
• Efeitos no plano da ética política ou normas de trato social

2. Princípio da auto-organização Interna


Todos os órgãos do poder político têm o poder inerente de decretar normas que disciplinam o
regime da sua organização e funcionamento.
➢ Funda-se no pluralismo dos centros de poder e na exigência de racionalização e
organização do poder

• AR aprova o seu regimento (art. 175º/a)


• Governo competência legislativa exclusiva para o seu funcionamento e regimento do
conselho de ministros
• Conselho de Estado elabora o seu regimento (art. 144º/1)
• Assembleias legislativas regionais aprovam o seu regimento (art. 232º/3)

3. Princípio da Imodificabilidade da Competência


Art. 110º/2 + art. 111º/2
➢ Na prática só se aplica ao PR cujas competências só podem ser alteradas por força de
uma revisão constitucional;
o Alcance do princípio apenas para o PR
➢ Quanto aos outros órgãos a competência pode ser alterada por lei

Tem de se reportar a uma norma constitucional.


➢ Quer ela a defina exclusivamente ou quase exclusivamente
➢ Quer remeta para a lei
➢ Quer CRP se limite a definir órgão com poderes para a definição da competência

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Valor relativo (Acórdão 403/2009 TC) nenhum outro órgão para além do PR tem os seus
poderes unicamente definidos na CRP – a própria CRP autoriza a lei a intervir no sentido da
ampliação desses poderes.
Flexibilização a situações de delegações de poder e substituição.

Regime da Competência: nenhuma competência atribuída pela CRP pode ser modificada por lei;
nenhuma competência pode ser modificada apenas pela vontade do órgão a que está confiada;
nenhuma competência é modificável pela intervenção de um terceiro órgão que interfira nesses
poderes.

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PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Sempre existiu, na Constituição portuguesa a figura arbitral de um Chefe de Estado, titular de
poderes efetivos (apesar de o Executivo estar sempre entregue a outro)
• A partir da era constitucional, o PR é chefe de estado, “reina mas não governa”25

A partir de 1982: PR deixou de presidir ao Conselho da Revolução e o Governo deixou de estar


politicamente responsável perante o PR (que o podia demitir) – herdou os poderes de
moderação do Conselho da Revolução, de garantir o “regular funcionamento das instituições
democráticas.
• Em torno do PR questiona-se se a revisão de 1982 lhe aumentou poderes (JOMI) ou
diminuiu (Melo Alex).

Caracterização
Único órgão de soberania cuja competência se encontra exclusivamente definida na CRP.
➢ Mais os poderes implícitos deduzidos dos poderes ou funções constitucionalmente
expressos (Comandante Supremo das Forças Armadas cujos poderes podem ser
definidos por lei)
Art. 120º e 127º/3

Função
O PR tem um conjunto de atuações típicas e funcionalmente orientadas.
1. Função de Representação – órgão de soberania unitário com legitimidade
democrática que representa a comunidade nacional como um todo: função clássica de
integração e unidade atribuídas ao Chefe de Estado.
i. Representação da comunidade nacional – sempre uma ideia inclusiva de todos
os portugueses, incluindo os residentes no estrangeiro (art. 121º/1)
ii. Corporiza a unidade do Estado e a independência nacional (art. 120º) – poder
de declarar guerra, fazer paz, dissolução Assembleias
iii. Comandante Supremo das Forças Armadas – impede que estas sejam
instrumentalizadas por grupos políticos e aproveitados comandos militares em
crises.
iv. Indulto e comutação de penas (art. 134º/f)
v. Confere condecorações (art. 134º/i)
vi. Representação externa da comunidade nacional – poderes de natureza
protocolar, relações internacionais, movimento diplomático e vinculação
internacional do Estado Português (art. 135º)
vii. Exteriorização do pensamento político
2. Função de Garantia – é o garante político da CRP, em virtude do seu juramento na
tomada de posse (art. 127º/3)
i. Desencadeia fiscalização da legalidade e Constitucionalidade (art. 134º/g e h)
ii. Veto político (art. 136º)
iii. Acompanhamento da atividade do Governo
iv. Pronúncia sobre todas as emergências graves da República (art. 134º/e) e
declaração do Estado de sítio ou emergência
v. Condicionamento da nomeação do PM, demissão do Governo e dissolução AR

25
Interrupção no período sidonista que não deixou raízes.

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Poder Moderador: funções de polícia, árbitro e bombeiro do sistema26 (Canotilho/Moreira)


➢ Fiscaliza AR e Governo
➢ Arbitra e diminui conflitos
➢ Resolve crises no funcionamento institucional
3. Função de Conformação Política – ao Governo cabe a condução política do país mas
devido à interdependência de poderes (art. 111º) tem que estar em constante
articulação com o PR e a AR. Esferas de conformação política que não a governamental
– dimensões de definição e controlo.
i. Poder de nomeação e demissão do Governo
ii. Poder de dissolução da AR e ALRA
iii. Poder de convocar referendos
iv. Poder de promulgação e veto de atos legislativos regulamentares + atos finais
de vinculação do Estado
v. Possibilidade de presidir Conselho de Ministros
vi. Presidência do Conselho de Estado e do Conselho Superior da Defesa Nacional
vii. Poder de convocação extraordinária da AR
viii. Poder residual de indicação de substituto do PM
ix. Poder de exteriorização do pensamento político através de mensagens

Órgão de Soberania autónomo, dotado de legitimidade democrática direta e de autoridade


própria.

Estatuto
1. Eleito por sufrágio universal direto e secreto – art. 121º
2. Elegíveis cidadãos portugueses de origem maiores de 35 anos – art. 122º + inelegibilidades
art. 123º/ e art. 130º/3
3. Eleito por maioria absoluta dos votos validamente expressos (não se consideram brancos
nem nulos) – art. 126º/1 – podendo haver segunda volta no prazo de 21 dias – art. 126º/2
4. Mandato de 5 anos – art. 128º/127
5. Não pode ser destituído a não ser que seja condenado por crimes no exercício das suas
funções – impeachment art. 130º/3; crimes fora do exercício das suas funções só responde após
o termo do mandato
6. Irresponsabilidade política – não responde perante nenhum órgão, apenas sujeito a
responsabilidade política difusa (opinião pública)
7. Pode renunciar ao mandato – art. 131º
8. Impedimento temporário: substituído interinamente pelo Presidente AR ou pelo seu
substituto – art. 132º: suspendem imediatamente mandato de deputado e exerce apenas uma
parcela dos poderes do PR (congelamento de alguns poderes e outros dependentes de audição
do Conselho de Estado)
9. Direitos no relacionamento com o Governo: devida consideração, pronúncia, contacto
direto, informação, sugestão, opinião, imposição de condições
10. Deveres no relacionamento com o Governo: acompanhamento e vigilância, conselho,
distanciamento, não ingerência pública nas atividades próprias do governo

26
Schmitt era contra o TC e diz que o PR devia de ter tais funções
27
Podendo ser prolongado ou antecipado devido a várias situações

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Competência
PR detém um vasto conjunto de poderes se bem que muitos deles condicionados à autorização,
proposta ou audição de outros órgãos.
➢ Art. 133º - competência quanto a outros órgãos
➢ Art. 134º - competência para a prática de atos próprios
➢ Art. 135º - competência nas relações internacionais

Canotilho/Moreira: poderes próprios (que pode praticar pessoalmente) e poderes partilhados


(referenda ministerial); poderes de direção política, controlo e exteriorização política.
Ativos e negativos (poderes de estatuir e impedir)
Distinguem entre poderes numa situação de normalidade ou em situações de crise – em
que os poderes presidenciais são ampliados e exercidos na maior plenitude (Reserva da
República)
JOMI: sucessivos grupos de competências em função do respetivo âmbito material – umas num
plano maior liberdade e discricionariedade.
Paulo Otero: grau de liberdade, de vinculação ou de condicionamento no exercício dos poderes
e daí emergindo competências de exercício vinculado, condicionado e livre.
Reis Novais: peso relativo dos poderes – dramáticos e fracos

Referenda Ministerial
Exigência de assinatura por parte do PM e dos Ministros competentes em razão de matéria
relativamente a um conjunto de atos presidenciais – art. 140º/1
➢ Regra é a ausência da referenda (Valle) e dela ficando isenta alguns poderes importantes
o Só existe nos atos que pressuponham um envolvimento necessário do Governo
– confirmação ou atestado governamental (Valle)

Há atos de referenda livre e outros de referenda obrigatória (JOMI); obrigatória sob pena de
inversão radical dos podes (Reis Novais)
➢ Na prática nunca foi recusada
➢ Acórdão 309/94 – instrumento limitado, puramente “notarial” e certificatório da
qualificação dos atos presidenciais.

Melo Alex: ato essencialmente certificatório e como um poder de exercício vinculado cuja recusa
ilegítima do Governo pode ser encarada como uma quebra da devida cooperação institucional
e do regular funcionamento das instituições (art. 195º/2)

Promulgação
Ato eminentemente político do PR que atesta e declara que um determinado diploma foi
elaborado por um determinado órgão constitucional para valer como lei, decreto-lei ou decreto
regulamentar.
➢ Conhecimento qualificado dum ato do PR
➢ Qualificação do ato como de certo tipo
➢ Correspondente declaração solene
Poder de controlo. PR não tem de concordar integralmente, os aspetos positivos apenas têm
que superar os negativos.
Pode ser:

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Livre – regra geral do art. 136º/1 e 4


Obrigatória – caso das leis de revisão constitucional, decretos confirmados em sede de veto
político e de decisões aprovadas por referendos
Vedada – art. 278º/4 e 7 e 279º/1 e 2

Prazo promulgar: 20 dias (art. 136º/1) | Prazo pedir fiscalização: 8 dias (art. 278º/1)

Veto
Poder político de impedimento de produção de efeitos jurídicos de certos atos, no uso de um
direito de controlo prévio do mérito ou da oportunidade do ato em causa.
Veto Liminar – discordância absoluta | Veto Construtiva – discordância parcial (Blanco Morais)

Se o diploma tiver vindo da AR o veto é suspensivo – pedido de reapreciação com mensagem


fundamentada.
➢ AR pode desistir do diploma, confirmar ou reformular
Se o diploma tiver vindo do Governo28 o veto é absoluto – comunicado por escrito ao Governo
➢ Se pretender seguir com a proposta pode transformar o conteúdo do decreto em lei e
submeter à AR.
➢ Fenómeno de devoluções informais para reapreciação dos diplomas – prática pouco
transparente e duvidosa restaurando poder de sanção de 1976.
➢ Retirada de diplomas é admissível sem intromissões institucionais.

28
Aprovado em Conselho de Ministros, assinado pelo PM e Ministros – PR tem 40 dias para promulgar ou
vetar

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ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Origem remota nas Cortes da era pré-liberal: Parlamento unicameral, designado por sufrágio
universal, órgão autónomo e permanente perante o qual o Governo é politicamente
responsável. Representa os portugueses dentro e fora do território.
Relação com os outros órgãos:
• PR dispõe do poder de dissolução – interdependência sem prejuízo de se reconhecer
maior intensidade dos poderes do PR sobre a AR
• Responsabilidade política do governo face à AR – embora num cenário de maioria
absoluta o Parlamento é uma instância de ratificação pois é dominado pelos partidos do
governo.

Funções
1. Função Representativa (art. 147º) – torna presente a variedade de interesses e
aspirações da sociedade na pluralidade de visões e conceções do bem comum, “fórum
de debate” de diferentes interesses e visões da sociedade
➢ Parlamento é a base da formação do Governo: espelha os resultados eleitorais,
que condiciona as nomeações do PR
2. Função de Revisão Constitucional (art. 161º/a, 284º, 286º) – inicia-se e conclui-se na
AR numa competência que lhe está inteiramente reservada de modificação expressa de
alcance geral e abstrato, da constituição escrita.
3. Função de Programação, Definição e Controlo Político (art. 115º/1, 161º, 163º, 192º,
193º, 194º) – esfera de direção política num exercício muito diversificado dos poderes
políticos.
➢ Apreciar programa de Governo
➢ Aprovar lei de grandes opções e Orçamento de Estado
➢ Aprovar estatutos político-administrativos e conceder autorizações legislativas às
regiões autónomas
➢ Conceder autorizações (ao PR e ao Governo)
➢ Aprovar tratados e convenções internacionais
➢ Apresentar propostas referendo
➢ Promover processo de acusação ao PR
➢ Votar moções de confiança e censura ao Governo

4. Função Legislativa (art. 161º, 164º, 165º, 168º/6, 293º) – primado do Parlamento e
reservas de competência legislativa absoluta e/ou relativa. Supervisiona/aprecia as
competências legislativas do Governo (art. 169º)
5. Função Fiscalizadora – desde inquéritos parlamentares, perguntas a outros órgãos,
pedidos de fiscalização da constitucionalidade (art. 278º e 281º/2/f)
6. Função Eletiva (art. 239º/3 e 163º/g + h) – eleger membros de outros órgãos conforme
os artigos.
7. Função de Acompanhamento (art. 163º/1/f + i) – acompanhar a participação de
Portugal no processo de construção da UE bem como o envolvimento de forças militares
e de segurança no estrangeiro.

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Designação dos Deputados


• Candidaturas apresentadas por partidos políticos, mas podem ser não-militantes
admitindo independentes (art. 151º/1)
• Círculos plurinominais29 correspondentes aos distritos e regiões autónomas, bem como
fora do território nacional (2 círculos)
• Número de deputados a eleger é proporcional ao número de eleitores em cada círculo
(art. 149º/2)
• Sistema de representação proporcional pelo método de Hondt
• Proibição da cláusula-barreira que exige percentagem mínima de votos (art. 152º/1)

Mandato Parlamentar
• 4 anos = legislatura (art. 171º)
o Pode não durar os 4 anos com a dissolução da AR pelo PR, embora haja limites
(art. 172º/1)
• Livres de renunciar ao mandato (art. 160º/2) ou poder perdê-lo (art. 160º/1)
o Substituição regulada pela lei eleitoral (art. 153º/2) – regra de substituição pelo
primeiro candidato não eleito na lista submetida a sufrágio
• Mandato bivalente – o mandato é conferido ao partido e embora seja materialmente
representativo, há uma fungibilidade de dependência partidária
• Imunidades e garantias (art. 157º e 158º) – não respondem civil nem criminalmente por
tudo o que digam na AR. Evita pressões de grupos de interesse e garante a liberdade.

Organização
AR é um órgão colegial com uma pluralidade de outros órgãos30 e estruturas reguladas pela CRP
(art. 175º) e pelo Regimento da AR.

Plenário: titular da “competência das competências” por onde passam os atos mais relevantes
das funções desempenhadas pela AR.
➢ Competência residual em matéria política e instância de recurso de decisões tomadas
por outras estruturas da AR
➢ Há um conjunto de deliberações em plenário que estão sujeitas a maiorias agravadas
o Absoluta – art. 136º/2, 168º/5, 192º/4, 195º/1/f, 296º/1
o 2/3 presentes – art. 174º/2
o 2/3 presentes, desde que superior à maioria absoluta – art. 136º/3, 163º/h
o 2/3 em efetividade de funções – art. 130º/2, 286º/1
o 4/5 em efetividade de funções – art. 284º/2

Presidente AR: substituto do PR


➢ Eleito por maioria absoluta
➢ Direção e coordenação dos trabalhos parlamentares
➢ Presidência da mesa
➢ Integração no Conselho de Estado
➢ Representação externa da AR
➢ Controlo constitucionalidade

29
Podendo, desde 1997 existir círculos uninominais ou círculo nacional – art. 149º/1
30
Desde órgãos e serviços administrativos que constituem estruturas parlamentares secundárias:
conferências de líderes, conferências de presidentes das comissões parlamentares, delegações da AR

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➢ Legitimidade processual de fiscalização sucessiva abstrata da constitucionalidade (art.


281º/2-b)
➢ Direção dos serviços da AR
➢ Não deixa de ser um deputado e, como tal, vota.

Mesa da AR: coadjuvam o Presidente da AR (art. 175º/b) com 4 vice-presidentes, 4 secretários


e 4 vice-secretários.

Comissões: art. 178º/1 – comissões previstas no Regimento e comissões eventuais, respeitam o


princípio do pluralismo e da representatividade (art. 178º/2 e 6), podendo os membros do
Governo serem chamados a comparecer (art. 177º/3)
Comissão Permanente: substitui o plenário quando AR não está em funcionamento (art. 179º/1)

Grupos Parlamentares: art. 180º, materialmente são estruturas parlamentares de base


associativa31 com a ação parlamentar regulada por normas jurídico-públicas. Função de
mediação entre os partidos políticos dinamizando, articulando e controlando todo o fluxo da
atividade parlamentar. A doutrina diverge:
➢ Órgãos dos partidos políticos
➢ Órgãos do Parlamento
➢ Órgãos do Parlamento e dos partidos

Funcionamento
Órgão de funcionamento permanente durante os 4 anos (salvo dissolução), com 4 sessões
legislativas (cada ano eleitoral = 1 sessão legislativa) – art. 171º/1 + 174º/1
➢ Início a 15 de Setembro e termina a 15 de Junho (art. 174º/5)
o Início com a primeira reunião da AR após eleições
o Termina com a primeira reunião da AR após eleições (art. 153º + 173º)

Competência
As competências classificam-se de acordo com:
A. Forma dos Atos (art. 166º)32 – Aprovação da lei constitucional, lei orgânica, lei, moção,
resolução
B. Natureza dos Atos – competências normativas; competências políticas (dimensões da
função política do Estado); competências administrativas (atos relativos à organização
e funcionamento administrativos internos da instituição parlamentar)

Há uma competência legislativa (genérica, absoluta ou relativa) e de fiscalização (inserida na


função de fiscalização – perguntas, interpelações e debates; comissões de inquérito; exame de
petições; votação moções de censura; audição de candidatos)
• Objeto da fiscalização: atos do Governo e da Administração Pública + Regiões
autónomas (estando excluídos os atos do PR e dos Tribunais)
• Efeitos da fiscalização: participação criminal ao MP, suscitação de inconstitucionalidade
ou ilegalidade, apresentação moção de censura (art. 194º/1)

31
Associações de direito público sem personalidade jurídica
32
Sem prejuízo de faltar a forma autónoma do Regimento (art. 175º/d)

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GOVERNO
A consagração formal do Governo ocorre pela primeira vez na CRP 1933 mas a sua presença na
história constitucional portuguesa é muito anterior (embora sem ser órgão autónomo – prática
que nasceu à sombra da Carta Constitucional 1826).
Hoje temos um eixo da vida política no Governo com uma preponderância do Executivo vinda
do legado histórico (e da CRP 1933) desvalorizando-se o Parlamento também por uma série de
fatores extra-jurídicos.

Caracterização
Art. 182º CRP – órgão de condução da política geral do país
• Autónomo: depende da confiança política da AR e é responsável perante PR mas é
plenamente autónomo na função se governar – reserva de intervenção decisória
própria e uma ampla esfera de ação.
o Respeita princípios de interdependência entre os órgãos de soberania e não há
vinculações a esses órgãos
• Tripla natureza de órgão político, legislativo e administrativo (Canotilho): a função
governativa tem um complexo de funções legislativas, regulamentares, planificadoras,
administrativas e militares, de natureza económica, social, financeira e cultural dirigidas
à individualização e graduação dos fins constitucionalmente estabelecidos
o Função de Condução Política geral do país – programação e execução de
orientações e opções políticas da comunidade – elaboração do programa de
Governo com as principais orientações políticas e medidas a adotar ou a propor
nos diversos domínios da atividade governamental (art. 188º) e a sua execução.
Proposta do Orçamento de Estado. Reformas legislativas. Intervenção política
de negociação de decisões na UE e políticas setoriais. Cooperação e articulação
com os poderes infraestaduais. Também há uma delimitação negativa sobre o
que o Governo não deve fazer – nas esferas de decisão que não lhe competem.
o Função Legislativa – amplo poder legislativo (PO: “canonização do Decreto-lei
como fonte normal e mais frequente”), singularidade inédita no Direito
comparado.
o Função de órgão superior da Administração Pública – posição cimeira e
principal órgão da Administração Pública; ampla reserva de competência
administrativa; justificação de todas as intervenções legislativas expropriadas
de poderes administrativos do Governo a favor das autoridades independentes
ou condicionadoras da sua margem de decisão administrativas; responde
perante a AR na medida da extensão dos seus poderes; pluralidade de
administrações públicas que pressupõe distintos poderes e relações do Governo
(direção, superintendência, tutela)
• Órgão Complexo: constituído por vários órgãos e princípios estruturantes
o Princípio da Colegialidade – nas decisões políticas importantes do Conselho de
Ministros (aprovação decretos-lei, definição de linhas políticas governamentais
e etc.) há um princípio da solidariedade: vinculação dos membros do Governo
às deliberações tomadas em Conselho de Ministros (art. 189º); responsabilidade
solidária para com o Parlamento não sendo individualmente responsabilizado
cada ministro e não há possibilidade de moção de censura para um ministro.

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o Proeminência do PM – posição hierárquica de primazia (expressa a unidade


funcional) e tem funções específicas de gestão do Governo, direção e chefia
bem como múltiplas competências constitucionais próprias.
o Repartição de Competências – os Ministros dispõe de um domínio material
incluído no âmbito da atividade geral do Governo e executam a política definida
para os seus ministérios (art. 201º/2/a)

Composição
Art. 183º + lei orgânica aprovada por cada Governo em funções: DL 251-A de 2015.
• Podem haver órgãos singulares, colegiais, de existência obrigatória ou facultativa.
o Obrigatória: Conselho de Ministros, Ministros e PM
o Facultativa: os demais
• Conselho de Ministros (art. 184º) é presidido pelo PM (podendo ser excecionalmente
pelo PR, art. 133º/i)
o Competência – art. 200º: doutrina discute se pode haver modelo de
concentração de poderes no Conselho de Ministros.
▪ Melo Alex: princípio da competência e da adequação funcional devem
levar a restrições a esse entendimento
• Ministros têm departamento governamental e executam as linhas gerais da política
governamental assegurando as relações de caráter geral entre o Governo e os demais
órgãos do Estado, no âmbito dos respetivos ministérios (art. 201º/2)
• Secretários de Estado estão na dependência de um ministro e dispõe de competências
delegadas.

Formação do Governo
Art. 187º
• PR usa poderes de conformação política atendendo a um juízo feito acerca dos
“resultados eleitorais”
o Não é um ato inteiramente livre pois não pode deixar de se ter em conta a
composição da AR (Governo deve ser encontrado no quadro do sistema
partidário parlamentar)
o Não é nomeado, necessariamente, o líder do partido mais votado
o PR pode condicionar as nomeações à aceitação de certas condições ou
compromissos políticos
o PR pode recusar a nomear algum dos ministros
• Ato formal de nomeação é precedido da indigitação – para que este possa procurar
uma solução governativa e esboçar logo as primeiras linhas; pois a partir da
nomeação só tem 10 dias para apresentar programa de Governo à AR (art. 192º)
• Governo está em gestão até a AR conferir legitimidade política acedendo aí à
plenitude de funções
o Pode haver uma rejeição do programa de Governo ou voto de confiança
(art. 192º/3 e 4)

Cessação de Funções
1. Por intervenção da AR: aprovação por maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções de uma moção de rejeição do programa de governo, moção de censura ou maioria
simples da não aprovação de moção de confiança (art. 195º)

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2. Demissão do Governo ao PR: a aceitação expressa não pode levar muito tempo, atendendo
ao princípio da renunciabilidade dos cargos públicos.
3. Demissão do Governo pelo PR: art. 195º/2 a partir da revisão de 1982
➢ Mudança da natureza do Governo com o PR, que ficou mais limitado
➢ Art. 195º/2 é uma “mentira piedosa” (André Gonçalves Pereira) esvaziada de sentido
➢ A prática prefere a dissolução da AR
➢ Manifestação da responsabilidade política institucional limitada
➢ Conceito de “regular funcionamento das instituições” de difícil preenchimento
valorativo
4. Causas Objetivas ou Involuntárias: morte PM, nova legislatura (art. 195º) e a condenação do
PM (art. 117º/3)

Funcionamento
Através de cada um dos seus membros (individual) e através do Conselho de Ministros (colegial)

Competências
Competência Política, Legislativa e Administrativa: art. 197º, 198º e 199º
i. Competências de cada órgão: art. 200º - Conselho de Ministros; art. 201º - PM e
Ministros
ii. Legislativa reservada, concorrencial, autorizada e complementar
iii. 3 subfunções, art. 199º: garantir execução das leis (c + f); assegurar funcionamento
Administração Pública (a + b + d + e); promover satisfação necessidades coletivas (g)

Estatutos Especiais
Quando o Governo tem a sua margem de decisão com uma amplitude limitada.
1. Governos de Gestão – art. 185º/5: Situação de sem programa apreciado e Situação de
Governo demitido. Prática de atos estritamente necessários.
➢ Não pode executar o seu programa
➢ Não pode exercer competências em matéria política
➢ Caducam propostas de lei e referendo (art. 167º); não podem apresentar novas
propostas; caducam autorizações legislativas (art. 165º/5)
➢ Dever de concertação com o PR e/ou Governo anterior
2. Governos Demissionários – ainda não formalizaram a demissão mas já estão
politicamente enfraquecidos.
3. Governos em funções com AR dissolvida – semelhante, analogicamente ao Governo de
Gestão (perante a lacuna, analogia do art. 234º/2)

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TRIBUNAIS
Órgãos de soberania a que compete administrar a justiça em nome do povo e assegurar a defesa
dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade
democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados. Art. 202º/1 + 202º/2 CRP

1. Nem todos os tribunais são órgãos de soberania – apenas os Estaduais.


2. Decisões dos tribunais são imputáveis ao povo.
3. Funções gerais no art. 202º/2
• Asseguram a paz jurídica (art. 204º) – não podem aplicar leis inconstitucionais

Juízes
Titulares de órgãos de soberania com poder de iurisdictio e legitimidade fundada na vinculação
à CRP e às leis no respeito dos deveres estatutários dos cargos.
➢ Princípio da exclusividade da função de julgar – órgão independente apenas sujeito à
CRP e à lei33 (art. 203º)
➢ Gozam de garantias excecionais que decorrem da independência dos tribunais –
independência, inamovilidade, imparcialidade e irresponsabilidade (art. 222º/5)

Categoria de Tribunais
Art. 209º/1

Tribunal Constitucional
Criado na revisão constitucional de 1982 (herdeiro de funções do Conselho da Revolução).
Tem lugar à parte no sistema constitucional.
• Título próprio – art. 221º a 224º CRP – órgão institucional e funcionalmente autónomo
(art. 221º)
• Art. 209º/1 refere-se aos tribunais “além do Tribunal Constitucional”
• Art. 210º/1 e 212º/1 CRP: “Sem prejuízo da competência própria do Tribunal
Constitucional”
• Regulação constitucional da composição competência e estatuto
• Poder de conformação política (art. 282º/4)

Composição (art. 222º): 13 juízes


➢ 10 eleitos pela AR (por 2/3 dos deputados)
➢ 3 cooptados pelos juízes eleitos

33
JOMI: lei = Direito
Melo Alex: relembra que a proposta de colocar-se “lei e Direito” foi chumbada…

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o 6 escolhidos de juízes
o 7 escolhidos de juristas

Mandato de 9 anos.
Legitimação democrática indireta tendo a competência de especificamente administrar a justiça
em matérias de natureza jurídico-constitucional.
➢ Principal guardião da CRP – tem a última palavra quanto à constitucionalidade das
normas

Tem ainda funções certificativas e outra no âmbito do processo eleitoral e referendário e do


contencioso partidário.

Competências pelo art. 223º e completadas com a Lei da organização, funcionamento e


processo do TC (Lei nº28/82 com sucessivas alterações).

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Sistema de Governo CRP 1976


Há uma distinção entre o que um sistema de governo34 é (a sua definição) e como funciona
(padrão de funcionamento).
➔ Definição: dada pela ordem Constitucional – tendo em conta a CRP real e não só a
escrita.
➔ Funcionamento: dado por fatores de ordem conjuntural da perspetiva política (efeitos
extra-jurídicos como a personalidade do próprio pesidente).

Matriz Originária
Fase inicial (1976-1982)
• Marcada pela 2ª Plataforma de Acordo Constitucional
• Propensão para o parlamentarismo35 (reação a 1933)
• Conveniências de ocasião favoráveis ao pendor presidencial

Semipresidencialismo (maioria da doutrina36) em 1976


Características principais:
MRS (1979) JOMI (2014)
➢ PM nomeado pelo PR “tendo em ➢ 4 órgãos de soberania: PR tem
conta resultados eleitorais” poderes sobre funcionamento de
➢ Governo responde politicamente outros órgãos (os seus atos
perante AR condicionados apenas pelo
➢ PR eleito por sufrágio universal, Conselho da Revolução)
direto e secreto ➢ Referenda ministerial de certos
➢ Governo responde politicamente atos do PR
perante PR ➢ Primado da função legislativa na AR
➢ Poderes PR são amplos – destaque ➢ Governo na condução política,
poder de dissolução, promulgação podendo PR presidir conselho de
e vet ministros
➢ Destaque do papel político do PR ➢ Eleição direta PR
➢ Mandato presidencial ≠ legislatura
➢ AR sujeita a dissolução pelo PR
➢ Governo formado pelo PR “tendo
em conta resultados eleitorais”
➢ Governo politicamente responsável
perante AR e PR

Imitação do Sistema de Governo Francês – apelidado recentemente por Maurice Duverger como
semipresidencial.

34
Forma como se estruturam os órgãos do poder político soberano do Estado - modo de relacionamento
no exercício da função política.
35
Governo é formado a partir da composição do Parlamento, que apenas depende da confiança do
Parlamento e é politicamente responsável perante este
36
Vs. Canotilho/Moreira: parlamentarismo racionalizado; Marcello Caetano: ditadura do Conselho da
Revolução

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Após revisão 1982


2ª fase intermédia (1982-2006)
• Autores identificam mudança de natureza do sistema: André Gonçalves Pereira, Cristina
Queiroz e Paulo Otero – começam a aparecer vozes contra o semipresidencialismo
(doutrina ainda maioritária)

Radicalização doutrinária
3ª fase mais recente
• Orientação para o semipresidencialismo
• Maioritariamente começam a surgir construções alternativas

SEMIPRESIDENCIALISMO
Apesar da maleabilidade e das metamorfoses que foi sofrendo tem adesão de autores que
identificam características da componente parlamentar e da componente presidencial – JOMI,
MRS, Blanco de Morais, Bacelar Gouveia, Reis Novais.

A. Traços estruturais do semipresidencialismo (Blanco de Morais)


1. Eleição PR por sufrágio universal – instrumento de reforço da sua legitimidade política
2. Diarquia institucional entre PR e PM – acentua que o PR não chefia nem direta nem
formalmente o poder executivo
3. Dupla responsabilidade do Governo, perante AR (responsabilidade política) e PR
(responsabilidade institucional)
4. Livre dissolução da AR pelo PR – competência moderadora do Chefe de Estado

B. Traços estruturais do semipresidencialismo (Jorge Reis Novais)


Dispensa quer a diarquia no executivo quer a dupla responsabilidade política do Governo.
1. PR com legitimidade democrática para exercer poderes políticos significativos37
2. Responsabilidade política do Governo perante AR
Complexidade de fatores extra-jurídicos que enformam diferentes “padrões de funcionamento
típicos” – podendo encontrar-se diferentes modalidades deste sistema muito variadas.

C. Traços estruturais do semipresidencialismo (doutrina estrangeira)


Existência de um poder autónomo de liderança política do PR de tal modo que o sistema se
apresente com uma autoridade dual e bifronte.

CONSTRUÇÕES ALTERNATIVAS
Muitos se juntaram a Gomes Canotilho e Vital Moreira na recusa do semipresidencialismo
resultando em posições muito diversificadas.
Barbosa Rodrigues – Sistema Governamental Primo-Ministerial
André Gonçalves Pereira – Sistema Parlamentar Racionalizado
• Reforço da componente parlamentar em 1982
• Capacidade de controlo do Governo pelo PR com poder de demissão do Governo (art.
195º/2) é uma “mentira piedosa” – sem conteúdo útil

37
Outubro 2015: JRN disse que no período em que PR não pode dissolver AR o sistema deixa de ser
semipresidencial -> o que não pode ser pois a sua definição é estável

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Cristina Queiroz – Sistema Parlamentar Reforçado


• Falha a presença de “2 motores” para que pudesse ser semipresidencial
• PR não partilha com o Governo o exercício da função governamental –
governamentalismo português único
o Prevalece o motor do Governo numa racionalização do parlamentarismo

Gomes Canotilho e Vital Moreira – Sistema Misto Parlamentar-Presidencial


• Elementos vindos de 1933 conservam elementos de parlamentarismo racionalizado e
traços do semipresidencialismo
• Sistema apresenta-se parlamentar – distante do sistema do governo
“semipresidencialista-presidencialista” francês
• Lógica eleitoral diferente – representação proporcional matem equilíbrio partidário
mesmo que haja alternância do PR
• Eleições legislativas providenciam Governo responsável (de condução política);
Eleições presidenciais providenciam um cidadão que representa a República.

Paulo Otero – Parlamentar racionalizado na “Constituição oficial” e de Presidencialismo do


Primeiro-Ministro na “Constituição não-oficial”
• Semipresidencialismo não é cientificamente correto – não é sistema de governo
autónomo capaz de agrupar conjunto de experiências constitucionais
• França: eixo da vida política é o PR, PM e AR secundários; Portugal: eixo da vida política
é o Governo, atendendo à AR e liderado pelo PM
• França: PR tem poderes autónomos de decisão e definição da condução política e
preside ao conselho de ministros; Portugal: PM dirige política geral do Governo para
condução da política geral do país.
• PR francês tem todas as vantagens do PM britânico e do PR americano sem as
desvantagens; em Portugal o PR reina mas não governa – síntese do poder moderador
do rei e do chefe de estado numa república parlamentar.

Reforço do ceticismo do Semipresidencialismo:


i. Semipresidencialismo é definido por diferentes características por diferentes autores
(não há um uso suficientemente partilhado de uma ideia de semipresidencialismo)
ii. Duverger admitiu que o semipresidencialismo não é uma nova síntese e sim uma
sucessão de fases presidenciais e parlamentares. Reduziu também o número de
experiências constitucionais que se reconduzem ao semipresidencialismo – dada a
indevida generalização da experiência da V República francesa
iii. Variabilidade de características na distribuição de poderes e modo de funcionamento –
não contribui para a consistência
iv. Em França o sistema de governo é ambivalente – 2 padrões de funcionamento muito
distintos que não se reconduzem a um único sistema de governo
v. Tendência para a parlamentarização de todos os demais sistemas.

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MELO ALEXANDRINO
Irrelevância da qualificação nominal do sistema.
Atende a certos traços do funcionamento do sistema de governo:
• PR nunca foi chefe de partido e • PR guarda distância em relação ao
quando eleito, dissolve-se a maioria Governo
que o elegeu • Tendência para a
• Não foram os partidos, por si só que governamentalização
fizeram eleger PRs • Estabilidade governativa desde
• Nenhum Governo se formou ou 1987
subsistiu sem ser como emanação • Partidos apresentam “candidatos a
da expressão da situação PM”
parlamentar • 2004 – demissão PM não envolve
• PR quase sempre nomeou PM o dissolução do Parlamento
líder do partido com mais votos • Integração europeia reforça
• Nenhum Governo minoritário teve posição do Governo
o seu programa rejeitado na AR • JOMI: costume constitucional de
(exceção: Outubro 2015) completa separação entre PR e
• Nenhum Governo caiu por ato livre Governo
do PR

Sistema de Governo: sistema de base parlamentar, inserido nos sistemas mistos, onde
quem governa é sempre o Governo
➢ Base parlamentar – preponderância, no texto e na prática, das características próprias
do parlamentarismo
➢ Inserção nos sistemas mistos – recusa da integração num sistema típico e num sistema
misto: variedade aberta desvalorizando a designação
➢ Governo pelo PM – poderes relevantes do PR em Portugal e elasticidade no sistema de
governo, mas, é sempre o Governo que governa não havendo lugar à ambivalência
francesa nem a uma autoridade bifronte do executivo – cuja condução está
constitucionalmente remetida para o Governo, ainda que sob a fiscalização e controlo
político da AR e do PR38

38
Discorda de Pedro Sanchéz, pois os papéis nunca se invertem.

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Introdução à Teoria dos ATOS LEGISLATIVOS


Conceito de Lei
Em primeiro lugar importa esclarecer o sentido e o conteúdo do conceito de Lei.

1. Aristóteles, conceito material de lei – expressão do justo e do racional, dirigida à realização do


bem comum.
2. Hobbes, conceito de autoridade de lei – é o comando do soberano
1a. Locke, Rosseau, Kant, Hegel, regressam ao conceito material
2ª. A partir da segunda metade do séc. XX, regresso a Hobbes – lei é todo e qualquer ato do
poder político estadual que revestir a forma de lei39

A partir da CRP
Lei utilizada em 4 diferentes aceções:
i. Sentido de norma jurídica (art. 13º/1 e 203º)
ii. Sentido de ato legislativo do Parlamento (art. 112º/1, 134º/b, 136º/1, 149º/1, 161º/c,
166º/3, 278º/1)
iii. Sentido de ato legislativo em qualquer forma (art. 112º/5)
iv. Sentido de lei do Parlamento e decreto-lei do Governo (art. 112º/6)

Para se entender o conceito de lei há diversas disposições úteis mais não inequívocas
• Art. 3º/3 – Princípio da constitucionalidade das leis
• Art. 18º/3 – Leis que restringem DLG têm que ter caráter geral e abstrato
• Art. 76º/2 e 241º - Reconhece autonomia estatutária a órgãos infraestaduais
• Leis que definem bases gerais
• Matérias reservadas à competência da AR ou do Governo
• Art. 202º/2 – Define função jurisdicional

Doutrina
Corrente Substancialista: os valores do Estado de Direito (como o postulado da proibição do
arbítrio) implicam que as leis têm que ter caráter geral e abstrato e só é válida, em princípio, se
assumir as características da generalidade e abstração. (JOMI + Pereira Coutinho)
Corrente Formalista: lei é todo e qualquer ato do poder político a que se atribui essa forma
qualquer que seja o seu conteúdo. Plano material vazio e aberto (Canotilho + MRS)
Aceção Estrutural (Blanco de Morais): exclui uma aceção puramente formal e lei é todo o
critério de decisão produzido e revelado sob a forma de lei pelos órgãos titulares da função

39
Regulamento ≠ Lei
Lei – norma geral e abstrata inovadora (mas também pode ter atos individuais e concretos; ex: concessão da tv pública
à RTP) e ato da função legislativa
Regulamento – ato normativo da função administrativa. Normas gerais e abstratas que se destinam a executar e
aplicar leis. Também podem ser atos administrativos desde que não contrários à lei.
Mesmo em matérias reservadas à AR, pode haver um regulamento desde que apenas venha aplicar a lei e não venha
trazer matérias inovadoras que a alteres.
➔ Impostos são, por excelência, matéria de lei ou decreto-lei (herdado da Constituição histórica e do princípio
do “no taxation without representation”).
➔ Há muitos aspetos da montagem dos impostos que podem ser definidos por regulamento pois pertencem à
função administrativa (datas e etc.)

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legislativa e que exprime supremacia sobre os demais atos normativos não políticos, interno
infra-constitucional.

Jurisprudência Constitucional
Adere à corrente formalista e tem vindo a corrigir expressamente a posição substancialista.
➢ Acórdão 26/85; 80/86; 168/88 – é lei independente do conteúdo

Melo Alexandrino
Os atos legislativos definem-se essencialmente pela sua forma – para haver lei é irrelevante o
conteúdo e define-se pela forma e pelo órgão competente para a sua emissão.
Em princípio define-se pela forma e pelo procedimento mas não pode ter qualquer
conteúdo pois há limites.

Limites ao poder de intervenção da lei


Teses substancialistas confundem o problema da delimitação constitucional de lei (“condições
de existência da lei” – legislador constituinte já resolveu vinculando a função legislativa a
parâmetros materiais superiores) com as condições de validade da lei – as leis podem existir mas
o que está em causa é a sua validade
➢ Lei é um ato vinculado à CRP, que tem um primado, pelo que a função legislativa está
vinculada ao respeito e à realização das normas constitucionais40.

i. Lei ordinária não pode alterar normas constitucionais nem pode intervir nos domínios
materiais da função jurisdicional.
ii. Limites materiais: dimensões do princípio do Estado de Direito (proibição do arbítrio,
proibição do excesso, proteção da confiança) e respeito pelos DLG
iii. Limites que decorrem da separação de poderes: normas constitucionais atributivas de
competência política e que configuram “reservas especiais de administração”
iv. Limites que relevam na forma dos atos: podendo haver reserva de ato administrativo

Apesar da lei se definir pela sua forma (relacionado com a existência da lei), a lei não
pode validamente dispor sobre as matérias que entender, sempre que encontre uma
norma constitucional que se lhe oponha seja um parâmetro material ou qualquer outro.
A lei não pode, então, esvaziar o conteúdo da autonomia privada41 (Acórdão 374/2004)

Reserva
Conceito que significa uma pertença exclusiva: no sentido de caber unicamente a um ato,
função ou órgão decidir ou ocupar-se de determinada matéria.

Reserva de Constituição
Matérias cuja regulação compete apenas à CRP excluindo quaisquer outras formas.

40
A função jurisdicional existe justamente para assegurar que existe um controlo.
41
Não podendo haver uma lei que dispusesse que as famílias tinham que rezar antes das refeições; não
poderia revogar regulamento da FDL; não pode dar orientações de conduta ao Governo ou definir como
este dirige os serviços; TC proibiu o ato legislativo como substituição do ato administrativo

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➢ Núcleo indisponível do Estado de Direito Democrático, forma de Estado, repartição do


poder, conteúdo DLG, competência e funcionamento dos órgãos de soberania.

Reserva de Lei
Relações entre a função legislativa e a função administrativa – conjunto de matérias que devem
necessariamente ser reguladas por lei
➢ Não podem ser reguladas por normas jurídicas inferiores à lei
➢ Precedência de lei em relação a qualquer atuação administrativa
➢ Leis suficientemente precisas – regulação de forma pormenorizada e com densidade

Dimensão Negativa: matérias reservadas à lei não podem ser reguladas por outras fontes
Dimensão Positiva: matérias reservadas à lei têm regime jurídico estabelecido (com certeza,
precisão e densidade) por ela

Fundamento Democrático: submissão da função administrativa à vontade popular (expressa na


legitimação democrática do Parlamento)
Fundamento Garantístico: assegurar a previsibilidade e mensurabilidade das atuações públicas
– saber com o que se pode contar

Reservas Específicas de Lei


Matérias reservadas a certas formas42 específicas ou categorias.
• Conteúdo: reserva de lei geral e abstrata (art. 18º/3); reserva de lei de conteúdo geral
(leis de base que se destinam a ser desenvolvidas); reserva de lei de conteúdo não
retroativo (art. 29º/2 e 103º/3)
• Órgão: reserva absoluta de competência da AR; reserva relativa de competência da AR;
reserva exclusiva do Governo; reservas exclusivas de competências das regiões
autónomas (art. 227º/1/l, n, p)
• Natureza do Ato: reserva de lei comum (definida por exclusão); reserva de lei reforçada
pelo procedimento (como as leis orgânicas); reserva de leis reforçadas pela
parametricidade material (leis de autorização e leis de base)

Força de Lei
Atributo, qualidade ou capacidade da lei. Suscetibilidade da lei poder revogar e condicionar
outros atos, sem que por eles possa ser revogada ou condicionada.
• Força ativa – capacidade de inovação do ato legislativo revogando, derrogando ou
modificando outras fontes.
o Podem ser atos que não sendo leis têm esta força: declarações de
inconstitucionalidade com força obrigatória geral (ato com força afim de lei)
• Força passiva – capacidade de resistir à revogação ou derrogação.
o Quanto maior, mais resistência à alteração: podem necessitar de uma maioria
qualificada ou outro procedimento agravado.

42
Várias espécies de atos legislativos admitidos no ordenamento: leis, decretos-lei, decretos legislativos
regionais (art. 112º/1)

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Sistema de Atos Legislativos CRP 1976


Compete à CRP assumir a função de “norma das normas” em matérias de produção normativa
definindo a ordem jurídica e estabelecendo as relações entre as diferentes formas de lei e
proceder à distribuição do poder legislativo entre os vários órgãos.

Princípio da Tipicidade das formas de lei


Art. 112º/1 – são atos legislativos as leis da AR, decretos-lei do Governo e decretos-legislativos
regionais das Assembleias Legislativas regionais
➢ Articulação entre competência, procedimento e título – Blanco de Morais: “títulos
específicos de lei, decreto-lei e decreto-legislativo regional assinam atos legislativos cuja
formação resulta de um procedimento próprio ou específico para a sua produção, o qual
é, por seu turno, pressuposto pela competência atribuída a um determinado órgão
constitucional.”
➢ Concretizado no art. 112º/5/1º parte (+ reserva da Constituição) de que nenhum ato
legislativo pode criar outras formas de lei
o Art. 112º/5/2ª parte – ato legislativo só pode ser afetado por outro ato
legislativo
▪ Blanco: há várias derrogações pela CRP (art. 204º)
▪ Melo Alex: não são derrogações do preceito, são casos em que a lei é
suspensa

Princípio da fixação da competência legislativa pela CRP de atos submetidos a cuidadoso e


articulado regime – revestindo a forma de lei (independentemente do seu conteúdo).
Caráter taxativo das formas de lei – 3 formas específicas.

Princípio da Paridade Hierárquica – art. 112º/2


Possibilidade de, nas leis de matéria concorrencial e no respeito de relações de subordinação,
leis e DL interpretam-se suspendem-se e revogam-se mutuamente.
➢ Há certos atos que têm uma subordinação específica pelo que a norma pode ter alcance
menor
➢ Há atos legislativos subordinados a leis da AR (como leis de autorização ou leis de bases)
– dotadas de Parametricidade: primariedade ou hierarquia material (parâmetros que
devem ser respeitados por outros atos legislativos, sob pena de serem ilegais)

Leis Comuns vs. Leis Reforçadas – art. 112º/3


CRP adota conceito misto (compósito) de leis de valor reforçado: leis orgânicas (art. 166º/2),
leis que carecem de maioria de 2/3 (art. 168º/6); leis que por força da CRP sejam pressuposto
normativo necessário a outras leis (leis de autorização, de base e de enquadramento); leis que
por força da CRP por outras devam ser respeitadas (estatutos político-administrativos das
Regiões Autónomas)
➢ As demais são leis comuns
➢ Critério de distinção: leis reforçadas são parâmetro de controlo da validade de outras
leis, paralelo ao controlo da constitucionalidade.

Distribuição de Competência Legislativa na CRP


Os órgãos legislativos são a AR, Governo e ALR.

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Razão da distribuição de competências


Dada que é idêntica a fonte de legitimidade dos 3 órgãos (Jaime Valle), detêm poderes de
direção política que permitem a individualização dos fins e escolha dos meios na prossecução
das tarefas.
• Melo Alex: legitimidade do Governo não é idêntica à das Assembleias – não se equipara
a função representativa cuja máxima extensão é o Parlamento
• Base da legitimação para o Governo legislar é por razões de colegialidade, tecnicidade
e eficiência – com responsabilidade perante o PR
• AR tem o controlo final da produção legislativa por parte do Governo (art. 169º/1)
• Poderes regionais são requeridos pela forma de Estado e pelo princípio democrático

Princípios que distribuem a competência


1. Princípio geral é o da paridade hierárquico-normativa entre lei e decreto-lei (Paulo
Otero) – idêntica legitimidade democrática
2. Primado do Parlamento43 – AR é órgão legislativo por excelência: Ar tem competência
legislativa geral (exceto art. 198º/2); matérias mais sensíveis ou importantes estão
reservadas à AR; AR tem última palavra face aos DL
Melo Alexandrino: defende primado do Parlamento pois AR pode legislar sobre todas as
matérias salvo as reservadas a outro órgão (exceção de caráter residual) – caso expressamente
enunciado na CRP
➢ Art. 161º/c que não é idêntica ao do art. 198º/1/a pois este define-se pela negativa
➢ Art. 169º - veto resolutivo da AR face a DL
Um dos princípios estruturantes do Estado de Direito Democrático é a diferenciação clara da
competência numa reação a 1933, contra um Estado autoritário que podia legislar sobre todas
as matérias.
Competência das Assembleias Legislativas Regionais rege-se pelo princípio da taxatividade do
poder legislativo das Regiões Autónomas.
• Esfera concorrencial paralela com princípio de especialidade face às leis da AR e apenas
a estas se reconhece legitimidade e poder de aprovar leis de bases – Governo não pode
interferir nas escolhas políticas feitas para valer em âmbito regional (aqui, atendendo
ao art. 38º/4 do estatuto político-administrativo também a AR está limitada)

Primado da Assembleia da República?


1. Não
Setor doutrinário que afirma, apesar da CRP escrita afirmar esse primado, que ao longo das
décadas se desenvolveu uma “normatividade marginal desvalorizadora do papel e da função do
parlamento” tendo o primado legislativo transitado das mãos do Parlamento para as mãos do
Executivo (Paulo Otero).
• Herança do Estado Novo posiciona secundariamente o papel legislativo da AR
• Governo goza de competência legislativa normal – principal órgão produtor de atos
legislativos e dinamizador da competência legislativa parlamentar
• Nas autorizações legislativas verifica-se que é o conteúdo prévio do DL que vai
determinar o sentido (sim ou não) da lei de autorização, operando assim uma inversão

43
Como a AR é eleita por sufrágio universal direto legitima que a AR tenha mais importância na larga
maioria de certas matérias (importantes) segundo os art. 164º (não pode haver sequer decreto-lei) e art.
165º (pode haver DL se a AR autorizar à luz do art. 161º, alínea d)

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• Cenários de maioria absoluta retira qualquer significado à reserva da competência


legislativa da AR com uma completa instrumentalização pelo Governo
• Neutralização do sentido e função do instituto de apreciação parlamentar dos DL (art.
169º)
• Número de atos do Governo é muito superior aos da AR e as principais reformas
legislativas têm sido feitas sob forma de DL
Críticas:
• Não pode ser questionado o reconhecimento do primado da AR no desempenho da
função legislativa que deve ser elevado a parâmetro de orientação para o intérprete.
• Herança deve ser repudiada – com o confronto com a ordem constitucional democrática
• CRP não se reduz ao texto, sim, mas há limites à relevância prática e dos fatores extra-
jurídicos, a começar pela distinção entre facto e norma.

2. Sim
Setor doutrinário que afirma o primado do parlamento.
• Regra geral que AR pode legislar sobre todas as matérias não reservadas a outros órgãos
(art. 161º/c)
• Amplitude da reserva absoluta e relativa da competência legislativa parlamentar
• Reserva do Parlamento em todas as leis reforçadas
• Reserva relativa – AR pode conceder ou recusar autorização mas também definir o
sentido e a extensão da autorização (art. 165º/2)
• Leis de bases – subordinação dos DL e dos DLR a todas as leis de bases (art. 112º/2),
mesmo as decretadas fora da reserva de competência da AR
• AR tem poder de ter a última palavra na apreciação dos DL
• Prazo de promulgação de leis ser 20 dias e DL 40 dias
• Veto presidencial suspensivo das leis e absoluto dos DL
• Cortesia institucional de o Governo não legislar sobre matérias pendentes na AR

Desenvolvimento das Leis de Base44


Querela doutrinária sobre o art. 198º/1/c: compete ao Governo “fazer decretos-lei de
desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais dos regimes jurídicos contidos em leis que
a eles se circunscrevam”
i. Conceção Tradicional – não há reserva de desenvolvimento de leis de bases a favor do
Governo (JOMI)
ii. Conceção Limitativa – compreensão no âmbito da alínea a) (Canotilho/Moreira)
iii. Conceção Ampliativa – competência legislativa do Governo é alargada e pode intervir
nas matérias de reserva absoluta da AR, bastando que este emane leis de base e a partir
daí o Governo pode intervir sempre legislativamente (Manuel Afonos Vaz)
iv. Blanco de Morais, Paulo Otero – Governo tem competência legislativa reservada no
desenvolvimento de leis de base, em todas as matérias (reservadas ou não); expropria
o Parlamento do desenvolvimento de leis de base, limitando-o à emanação
v. Luís Pereira Coutinho, MRS, Melo Alexandrino – próximo do tradicional – Governo está
vinculado a desenvolver leis da AR sob a forma de DL, mas está vedado o recurso à
competência regulamentar consagrando-se uma reserva intra-orgânica de competência
a favor do Governo-legislador em vez do Governo-administrador

44
Leis de base traçam o regime geral sob o qual assenta certo regime jurídico que depois é desenvolvido

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o Melhor se coaduna com o princípio geral da competência legislativa da AR, com


a intenção constituinte e com as traves-mestras das regras constitucionais sobre
a fixação da competência, sem deixar de dar um sentido útil ao preceito.

Caso prático
Num caso prático de um ato legislativo olha-se: 164º -> 165º -> 198º/2 -> 112º/2 (conclui-se)
➢ Açores ou Madeira: outro artigo, para saber se poderia haver decreto legislativo regional – art.
232º fala da competência exclusiva e o art. 227º dá esse poder às regiões autónomas cuja
competência legislativa reporta-se mais às alíneas a), b) e c).
➢ Caso prático com decreto legislativo regional: Art. 164º + art. 165º -> art. 198º/2 -> ver estatutos
das regiões autónomas (se é matéria regional; Madeira, art. 40º; Açores, art. ) -> se está nos
estatutos então aplica-se o art. 227º/1

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LEIS REFORÇADAS
Expressão introduzida na revisão constitucional de 1989 e são atos legislativos dotados de uma
“força específica de lei” tendo um fenómeno de relação com outros atos legislativos com
importantes implicações.

Origem: doutrina italiana trazida por Gomes Canotilho em 1979 se bem que algumas das
categorias de leis de valor reforçado já estavam presentes na história constitucional portuguesa.

Positivação: desde a revisão de 1997 estão no art. 112º/3 – e com as mudanças de 2004 o elenco
das leis de valor reforçado tem crescido exponencialmente com consequências negativas
(Blanco de Morais)

Funções: cada subespécie serve para algo específico – em tese, parece servir para identificar um
conjunto de atos legislativos que deveriam constituir um parâmetro normativo da fiscalização
da legalidade de outras leis: bloco de legalidade qualificada que assegura um controlo de
validade paralelo ao controlo da constitucionalidade45.

Desde 1997 que o art. 112º/3 reúne os vários critérios que se entrecruzam na qualificação duma
lei de valor reforçado. É impossível esboçar um conceito dogmático unitário de lei de valor
reforçado – há uma fratura radical na doutrina.
• Critério Material/ Hierárquico (Paulo Otero e JOMI): são leis de valor reforçado aquelas
cujo conteúdo deve ser respeitado por outras – função de pressuposto ou de padrão
de conformidade de outras leis.
o As leis reforçadas pelo procedimento são uma mera categoria formal despida
de qualquer relevância operativa
o JOMI: diferenciação de funções e proeminência não hierárquica mas que
confere específica força formal associada à função material
▪ Elenco heteróclito de leis reforçadas em que estão ausentes as leis
orgânicas e as reforçadas pelo procedimento.
o Paulo Otero: mecanismo análogo da lei reforçada face à lei = lei face ao
regulamento – relações de prevalência normativa de certas leis.
▪ 5 grupos de leis de valor reforçado em que não são todas igualmente
reforçadas: estatutos político-administrativos estão em primeiro lugar
sendo “as mais reforçadas das leis reforçadas”; reforçadas pelo
procedimento estão em último lugar sendo “leis reforçadas
imperfeitas”.
• Critério Formal/ Procedimental (Blanco de Morais): são leis de valor reforçado, em
sentido próprio, aquelas que são dotadas de procedimento agravado, por força da
Constituição.
o Devem o seu caráter a elementos orgânico-formais (plano da estrutura)
o Expressão exclusiva do poder parlamentar (plano institucional)
o Atos densos e completos (regime operativo) – leis definidas pelo seu conteúdo
são reforçadas em sentido impróprio e podem ser incompletas (como as de base
que carecem de desenvolvimento)

45
O que permite ao TC declarar ilegalidade de atos por violarem as leis reforçadas

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o Maior essencialidade política e relacionadas diretamente com o funcionamento


do sistema político (teleologia)
• Melo Alexandrino: o ponto de partida para o conceito é o texto constitucional e os
dados que dele se extraem – Constituição tem conceito compósito de lei de valor
reforçado
o Não se excluem as leis orgânicas nem as leis aprovadas por dois terços – elas
resultam de uma direta qualificação constitucional, além de corresponderem à
aplicação do primeiro critério do art. 112º/3
o Uma corrente valoriza a dimensão jurídica (subjacente à função de
parametricidade material)
▪ Aproxima-se aos cânones gerais da hierarquia normativa – controlo da
legalidade das leis subordinadas
o Outra corrente valoriza a dimensão política (subjacente à maior força passiva
das leis)
▪ Aproxima-se ao Direito Comparado e postula uma indiferença face a um
controlo de legalidade (que no entanto a CRP prescreve46)

Conceito Compósito de Lei Reforçada


Art. 112º/3 – são leis reforçadas: leis orgânicas (art. 166º/2); leis que carecem aprovação de 2/3
(art. 168º/6); leis que são pressuposto normativo de outras (leis de bases); leis que por outras
devam ser respeitadas (art. 165º/3)

Três critérios para determinar uma lei de valor reforçado:


1. Procedimento Agravado – leis orgânicas e as aprovadas por 2/3
2. Função de Pressuposto Normativo – leis de base, leis de autorização e leis de
enquadramento
3. Leis que por outras devam ser respeitadas – critério da parametricidade material –
estatutos político-administrativos, lei do Orçamento de Estado e etc.

Blanco de Morais reconduz a dois critérios:


1. Procedimento Agravado – inserem-se na reserva do Parlamento tendo maior rigidez e
força passiva
2. Pressuposto necessário/Parâmetro material de outras leis – devendo por essas outras
leis ser respeitadas

Subcategorias de leis reforçadas – Blanco de Morais


Leis Reforçadas pelo Procedimento
São da reserva do Parlamento e exigem maiorias qualificadas para a sua aprovação e
preenchem determinadas finalidades políticas – proteção das minorias, reforço do Parlamento
na relação com o Governo, estabilização de regimes jurídicos mais sensíveis do ponto de vista
político-constitucional.

1. Leis Orgânicas
12 Leis enumeradas no art. 166º/2 – leis orgânicas e reforçadas

46
Controlo da Legalidade – único traço que une as várias subcategorias de leis reforçadas.

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• Leis completas – devem esgotar o tratamento da matéria sobre que incidem, não
podendo delegar ou reenviar para leis não orgânicas nada que corresponda ao respetivo
âmbito material – reserva de densificação total
• Matérias variadas
• Princípio da Tipicidade – não há outras leis orgânicas fora das do elenco do art. 166º/2
• Regime – particularidades aplicáveis a algumas espécies (pelo art. 168º/2; 226º/4 e
255º)
Especialidades
i. Título próprio de “lei orgânica” (art. 166º2) – beneficiando de numeração exclusiva (nos
termos da lei do formulário de diplomas)
ii. Votadas na especialidade no Plenário (art. 168º/4) exceto l), q), t) do art. 164º
iii. Aprovadas por maioria absoluta dos deputados em atividade (art. 168º/5)
iv. Superação do veto político por 2/3 (art. 136º/3)
v. Fiscalização preventiva pode ser pedida pelo PM, 1/5 dos Deputados (art. 278º/4) – PR
impedido de promulgar sem que decorra prazo de 8 dias, promulgação vedade (art.
278º/7)
➢ Protege governos minoritários e minorias políticas

2. Leis (ou disposições de lei) aprovadas por maioria de 2/3


Art. 168º/6
i. a), b) e c) – leis autónomas; demais alíneas são disposições inseridas em leis de diversa
natureza
ii. CRP não distingue em que votações se exige maioria logo parte-se do princípio que a
maioria é requerida nas 3 votações47
iii. Em caso de veto político e como a CRP nada diz sobre a superação: ou não há veto (por
falta de previsão); ou pelo princípio da adequação funcional e com argumento de
maioria a superação tem o regime de maioria do 136º/3 (Melo Alex)

Leis Reforçadas pela Parametricidade Material


Leis que têm a capacidade de vincularem o conteúdo de outras leis.

1. Leis de Base
Acórdão 14/84: leis que definem opções político-legislativas fundamentais de certo regime
jurídico: fixa conjunto de princípio carecidos de posterior desenvolvimento (legislação
complementar a elas subordinada – 2ª parte art. 112º/2)
➔ Linhas orientadoras que devem obrigatoriamente ser seguidas pela legislação de
desenvolvimento – vinculação específica
➔ Supremacia das leis de bases sobre os DL de desenvolvimento: matérias reservadas à
AR como fora delas

Competência de aprovar: AR; Governo; Assembleias Legislativas Regionais


➢ Neste caso serão verdadeiras leis reforçadas ou apenas leis que autolimitam e
racionalizam a produção normativa dos órgãos de que provêm?

47
Hesitações na doutrina. Melo Alex: “o que o legislador não distingue, nós não devemos distinguir”

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➢ Melo Alex: Não. Apenas as leis de bases da AR (e as do Governo mediante autorização)


se devem ter por leis de valor reforçado pela sua parametricidade material.
i. Art. 112º/2 subordina DL às bases gerais dos regimes jurídicos – só há bases
gerais no âmbito de competência da AR
ii. Art. 227º/1/c permite às Regiões Autónomas desenvolvimentos dos regimes da
lei
iii. Art. 198º/3 impõe que DL desenvolvimento invoquem expressamente a lei de
bases
iv. Gomes Canotilho: intenção de assegurar a intervenção legislativa primária da
AR permitindo ao Governo legislar sobre a mesma matéria uma vez fixadas as
bases gerais através de lei do Parlamento
v. Estrutura CRP após revisão de 1982 introduziu supremacia das leis de bases da
AR sobre os DL do Governo (restringindo poderes legislativos ao Governo)
▪ Contradição estrutural que consentiu uma anómala capacidade
legislativa ao Governo

Art. 198º/1/c não confere ao Governo reserva de competência de desenvolvimento das leis
de bases.

Sobre as leis de base:


A. Desenvolvimento tem de ser feito necessariamente por ato legislativo (exclui-se
regulamento administrativo)
B. Governo e ALRA não podem invadir ou inovar matéria de leis de bases reservada à AR
nem a contrariar
C. AR pode legislar sobre todas as matérias e não tem de invocar as leis de base e pode
desenvolvê-las
D. Governo pode, teoricamente, revogar uma lei de bases da área concorrencial mas há
custos políticos
E. Leis de bases da área concorrencial têm valor reforçado enfraquecido (Blanco de Morais)
F. Revogação duma lei de bases não determina a caducidade da legislação de
desenvolvimento (Acórdão 493/2005)
G. Sem autoqualificação não é claro saber se estamos perante lei de bases
H. Leis de base da AR podem ser instrumento de prevalência (originária ou superveniente)
do Direito do Estado relativamente aos decretos legislativos regionais; instrumento de
supremacia da AR sobre o Governo
I. Alteração de uma lei de bases implica ilegalidade superveniente da legislação
complementar colidente

2. Leis de Autorização
3. Leis de Enquadramento
Atos legislativos de existência necessária – pressupostos e parâmetros normativos dos
ulteriores atos legislativos de execução e concretização.
i. Lei de Enquadramento Orçamental (art. 106º/1)
ii. Lei sobre criação, modificação e extinção das autarquias locais (art. 164º/n; 236º/4)
iii. Lei-quadro de adaptação do sistema fiscal nacional às especificidades regionais (art.
227º/1/i)
iv. Lei da criação de regiões administrativas (art. 255º)
v. Lei-quadro das reprivatizações (art. 293º)

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Leis da reserva da AR têm densidade variável, mas, superior à das leis de bases – devem cumprir
a função específica que lhes foi constitucionalmente atribuída.
As que venham fora da competência exclusiva da AR não serão reforçadas.

Leis constitucionalmente necessárias e que geram inconstitucionalidade por omissão –


concretizam-se nos moldes diretamente requeridos pela CRP.

Leis Duplamente Reforçadas


Cumula-se o critério do procedimento agravado (pela maioria ou pela existência de reserva de
iniciativa) com o critério da parametricidade material.

1. Estatutos Político-Administrativos
Leis reforçadas pelo procedimento – reserva da iniciativa pelas ALRA (quem elabora o projeto do
estatuto, art. 226º/1)
Aprovados por maioria simples, algumas disposições exigem 2/3 (art. 168º/6/f)
Leis dotadas de parametricidade material – reforçadas pelo conteúdo sendo que há uma
vinculação genérica em que os estatutos devem ser respeitados por quaisquer leis (art.
280º/2/b,c; art. 281º/1/c,d)

Leis de valor reforçado de existência necessária.


Supraordenação do seu valor paramétrico geral – há uma previsão constitucional dum controlo
de legalidade a que estão sujeitas as normas de atos legislativos que não se encontrem em
conformidade com os estatutos regionais.

Estatutos Político-Administrativos das Regiões Autónomas:


i. Leis hierarquicamente superiores às demais (doutrina e jurisprudência constitucional)
ii. Função de lei básica da Região Autónoma – expressão mais elevada da autonomia
política regional (natureza quase-constitucional: Acórdão 187/2012)
iii. Reserva de Estatuto – definem atribuições e competências regionais (art. 227º/1) e
concretizam outras matérias respeitando o disposto na CRP
iv. Norma do estatuto que não diga respeito ao objeto do estatuto não tem dignidade nem
o valor jurídico dos próprios estatutos – não têm valor reforçado e podem ser reforçadas
por outras leis.

2. Lei das grandes opções dos planos nacionais


Procedimento agravado – existência de iniciativa reservada ao Governo (art. 161º/g)
Parametricidade material – reconhecem nível mínimo de parametricidade material, na medida
que as leis orçamentais se devem com elas harmonizar (art. 105º/2)

3. Lei do Orçamento de Estado


Das leis mais complexas e relevantes do Estado – é também uma específica lei de
enquadramento (art. 106º/1)
Deve ser harmonizada com as diretrizes da lei das grandes opções podendo estar a elas
vinculadas ou ao Direito Europeu.

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Procedimento agravado – reserva de iniciativa governamental (art. 161º/g) e correspondente


rigidez (apenas pode ser alterado por iniciativa do Governo)
Parametricidade material – limites ao poder da AR na edição de leis que no ano económico
pretendam aumentar a despesa ou reduzir a receita (norma-travão, art. 167º/2 e 3)

4. Lei-quadro das Reprivatizações


Art. 293º
Procedimento agravado – aprovação por maioria absoluta dos Deputados (art. 293º/1)
Parametricidade material – lei de enquadramento que estabelece e concretiza os princípios a
que devem de obedecer aos DL

_____
Único traço de união entre as várias subcategorias de leis reforçadas na CRP 1976 é o de que
todas constituem um padrão de fiscalização da legalidade de outras leis – paralelo ao controlo
da constitucionalidade.
➢ Verdadeira duplicação do sistema de fiscalização – idênticos os sujeitos com
legitimidade ativa, idênticas regras – aplica-se o regime da fiscalização sucessiva.
Três problemas do controlo da legalidade:
A. Controlo não se justifica para leis reforçadas pelo procedimento
B. TC desvaloriza o instituto e através da teoria da “consumpção dos vícios” se uma lei for
simultaneamente inconstitucional e ilegal prevalece o vício mais grave (a
inconstitucionalidade), não se tomando sequer conhecimento da ilegalidade
C. Questão de se é mecanismo útil ou dispensável na construção dogmática do conceito
de lei reforçada

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Atividade Legislativa da Assembleia da República


Reserva do Parlamento
Ideia da reserva do Parlamento prende-se com a existência de matérias cuja regulação
compete em exclusivo à AR.
Forma como a reserva do Parlamento foi configurada na CRP 1976 quanto ao exercício da função
legislativa:
• Art. 112º/2 – reserva à AR, em princípio, a decretação de leis de bases, dotadas de
supremacia material face aos DL de desenvolvimento
• Art. 112º/3 – reserva à AR, em princípio, a decretação de leis de valor reforçado
• Art. 164º - reserva à AR certas matérias sem possibilidade de delegação -> a que se
acrescem os art. 161º/b, d, e, f, g, h; art. 168º/6/a, b, c; art. 255º; art. 256º; art. 293º)
• Art. 165º/1 – reserva à AR a possibilidade de conceder ao Governo autorizações
legislativas
• Art. 165º/2 – reserva à AR a autoridade para definir sentido e expressão das leis de
autorização
• Art. 169º e 227º/4 – prerrogativa do controlo político final da competência legislativa
do Governo (salvo as da competência exclusiva) e competência legislativa autoriza das
ALRA
Primado da AR cujo TC reconhece em vários acórdãos e que deve ser um parâmetro de
orientação para o intérprete.

Tipo e Esferas da Competência da AR


1. Competência Legislativa Genérica – art. 161º/c
Compete à AR fazer leis sobre todas as matérias, salvo as reservadas pela CRP ao Governo.
Devemos considerar igualmente excluídas as competências reservadas às ALRA,
Governo Regional (art. 231º/6) e as competências regulamentares (das autarquias
locais, universidades e etc. – administração autónoma)

2. Competência Legislativa de Reserva Absoluta – art. 164º


Matérias de maior essencialidade política e que estão excluídas da intervenção de outros
órgãos legislativos. Neste artigo e noutros:
• Aprovação dos estatutos político-administrativos das regiões autónomas (art. 161º/b)
• Aprovação das leis de autorização legislativa (art. 161º/d, e)
• Concessão de amnistias e perdões genéricos (art. 161º/f)
• Aprovação das leis das grandes opções dos planos nacionais (art. 161º/g, 1ª parte)
• Aprovação do Orçamento de Estado (art. 161º/g, 2ª parte)
• Autorização ao Governo para contrair e conceder empréstimos e realizar operações de
crédito (art. 161º/h)
• Aprovação das leis do art. 168º/6/a, b, c
• Aprovação da lei de criação de regiões administrativas (art. 255º)
• Aprovação das leis de instituições em concreto de cada uma das regiões administrativas
(art. 256º/1)
• Aprovação da lei-quadro de adaptação do sistema tributário nacional às especialidades
regionais (art. 227º/1/i)
• Aprovação da lei-quadro das reprivatizações (art. 293º)

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3. Competência Legislativa de Reserva Relativa – art. 165º


Se a AR nada fizer (não emitir autorizações), só a AR tem o poder de legislar sobre essas matérias.
Mas pode delegar ao Governo e em parte às ALRA.

Normas de Reserva
As reservas de competência legislativa nem sempre têm o mesmo alcance
I. Reserva abrange e esgota toda a matéria legislativa (reserva de densificação total)
como sucede na generalidade das alíneas dos art. 164º e 165º/1 começando com a) e b)
a. Acórdão 3/89: Nível mais exigente com toda a regulamentação reservada à AR
II. Reserva abrange o regime geral – podendo os demais órgãos legislativos legislar sobre
regimes especiais, ainda que de forma não incompatível com os princípios traçados no
regime geral – art. 164º/r; art. 165º/1/d, e, h
a. Acórdão 3/89: Nível intermédio em que a reserva se limita a regime comum
III. Definição de bases ou bases gerais do regime jurídico – Parlamento aprova opções
políticas fundamentais que são posteriormente desenvolvidas – art. 164º/d, i; art.
165º/1/f, g, n, t, u, z.
a. Acórdão 3/89: Nível menos exigente em que a competência da AR é apenas para
as bases

Procedimento Legislativo Parlamentar


Esquema juridicamente regulado e organizado de atos e formalidades com vista à produção de
um resultado legislativo: produção e revelação de uma lei.
• Múltiplas especificidades de elementos políticos interagindo com a sociedade civil
• Possibilidade de interferência do TC (fiscalização preventiva)
• Referendo político

Art. 167º e 168º CRP


+ art. 118º e ss. do Regimento da AR48
➔ Distingue do Processo Legislativo Comum do Processo Legislativo Especial (como o que
leva à aprovação dos estatutos político-administrativos)
➔ Envolve 5 fases

1. Fase de Iniciativa
Momento em que se põe em marcha o procedimento legislativo – apresentação de proposta
ou projeto de lei por parte de qualquer um dos sujeitos com tal poder funcional – art. 167º/1
➢ Iniciativa ≠ Competência: iniciativa é desencadear o procedimento; competência é poder
decretar a lei
o Nada impede que o Governo apresente iniciativas legislativas em matérias da
reserva absoluta ou relativa do Parlamento, pois não interfere no poder de
decretar a lei, somente desencadeia o procedimento através do qual o órgão
competente (AR) pode vir eventualmente a aprovar uma lei

48
Violação ao regimento acarreta ilegalidade e não inconstitucionalidade (só seria inconstitucionalidade
se ofendesse normas constitucionais)

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Proveniência: interna = projeto de lei (deputados ou grupos parlamentares); externa =


propostas de lei (Governo, ALRA; cidadãos e etc.)
Momento: originária (abertura do procedimento legislativo); superveniente (apresentação de
propostas de alteração ou textos de substituição – art. 154º do RAR)
Âmbito: genérica (pode incidir sobre qualquer matéria); específica (como ALRA que só têm
iniciativa face a matérias que digam respeito às regiões autónomas)
Titularidade: a iniciativa originária pode ser concorrencial (diversos sujeitos podem desencadear
o procedimento); reservada (poder funcional conferido a um órgão)

Limites à iniciativa: norma-travão do art. 167º/2


Pode sofrer vicissitudes49 no seu procedimento:
• Definitivamente rejeitada não pode ser renovada na mesma sessão legislativa (art.
167º/4)
• Se não for aprovada até ao final da sessão legislativa transita para a seguinte (art.
167º/5)
• Podem cancelar e retirar a iniciativa até à votação na generalidade (art. 122º/1 RAR)
• Com uma nova legislatura ou a iniciativa caducar tem de ser renovada
o Caduca com o termo da legislatura (art. 167º/5)
o Propostas de lei do Governo caducam com a sua demissão (art. 167º/6)50
o Propostas de lei das ALRA caducam com o termo das legislaturas, salvo se já
tiverem sido aprovadas na generalidade (art. 167º/7)

2. Fase de Instrução
Comissões especializadas da AR vão recolher e preparar dados e elementos – emitem
pareceres, informações e pronúncias analisando a oportunidade do conteúdo da iniciativa
legislativa.
➢ Para os pareceres (art. 135º RAR) podem fazer audições e consultas – obrigatórias em
sede de procedimento legislativo quando determinadas pela CRP, DIP, DUE ou lei de
valor reforçado (Blanco de Morais)

3. Fase Constitutiva
Coração do procedimento – Parlamento exprime a sua vontade de decretação de um ato
legislativo, determinando o respetivo conteúdo e efeitos. AR quer o ato, e no final passa a
chamar-se DECRETO.
1º. Momento: discussão e votação na Generalidade – debate sobre princípios, sistema,
texto apresentado e interesse em avançar com a matéria ou não.
a. Maioria simples em Plenário.
2º. Momento: discussão e votação na Especialidade – debate sobre cada artigo, número e
alínea (teor de cada disposição do projeto ou proposta).
a. Norma de costume contra constitutionem em que a votação na especialidade
por maioria simples é em comissão (art. 150º RAR) sendo obrigatória em
plenário as do art. 168º/4, 5 parte final, 651.

49
Que podem levar a Inconstitucionalidades Formais
50
Mas podem aprovar DL enquanto Governo de gestão (art. 186º/5)
51
Art. 168º/6 – maioria de 2/3 superior à maioria absoluta em qualquer das votações (Gomes Canotilho)

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i. Delimitação territorial das regiões administrativas – maioria absoluta


(art. 255º -> art. 168º/5)
3º. Momento: votação final global – ato conclusivo do procedimento em sede parlamentar
carecendo da redação final (a cargo da comissão competente) e publicação no Diário da
República
a. Maioria simples em Plenário.
i. Leis orgânicas – maioria absoluta (art. 168º/5)
ii. Delimitação territorial das regiões administrativas – maioria absoluta
(art. 255º -> art. 168º/5)
iii. Lei-quadro das reprivatizações – maioria absoluta (art. 293º/1)

4. Fase de Controlo de Mérito


Decreto aprovado pela AR é enviado ao PR para promulgar ou vetar (art. 136º).
PR aprecia o mérito político e a conformidade constitucional (podendo recorrer à fiscalização)
Após isto há um ato de natureza certificatória – referenda pelo Governo (costume de
ser o PM)
Atos indispensáveis à existência do ato (art. 137º e 140º)

Fiscalização preventiva deve ou não preceder o veto político?


Sim.
➢ Texto favorece tal resposta
➢ Evita-se o efeito de arrastamento do TC para a querela política

Podem ser usadas razões jurídicas para veto político?


Não.
➢ Pode invocar razões de mau Direito ou violação de lei de valor reforçado (pois em
relação a isso não está aberto o recurso à fiscalização preventiva)

Autorizações Legislativas
AR pode conceder autorizações legislativas ao Governo (art. 165º/1) e às ALRA (art- 227º/1/b)
– delega poderes por pedido.

Destinatários: Governo em plenitude de funções; ALRA


Natureza: delegação de poderes num plano constitucional de divisão e interdependência de
poderes – afirmação da supremacia da AR, no exercício da função legislativa
➢ Leis reforçadas pela parametricidade material subordinando DL às respetivas leis de
autorização (art. 112º/2) – exigindo que ela defina expressamente o sentido vinculativo
para o futuro DL
➢ Caráter incompleto
➢ Condicionam intervenção legislativa de outros órgãos

Regime das Autorizações Legislativas: art. 165º/2


Garantia do respeito pelo princípio da separação e interdependência de poderes limitando a
discricionariedade do Governo com conjunto de limites previamente definidos e passíveis de
controlo.
i. Objeto da lei de autorização – matérias sobre as quais pode incidir o diploma autorizado

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ii. Sentido – conjunto de princípios orientadores, diretrizes ou fins a prosseguir pelo DL


autorizado (parâmetros materiais subordinantes do conteúdo)
iii. Extensão – delimitação do objeto (especificando a parte da matéria sobre a qual pode
incidir a autorização), como do programa legislativo a estabelecer (delimitando balizas
às soluções legislativas) e até mesmo da previsibilidade das soluções
iv. Duração da lei de autorização – período determinado de tempo dentro do qual o
diploma autorizado pode ser emitido
v. Efeitos de promulgação TC tende a considerar a data da aprovação em Conselho de
Ministros

Se na lei de autorização não forem referidos estes elementos – inconstitucionalidade material,


por desvio de poder (art. 111º/2) e do mesmo vício padecem os DL autorizados, a título
consequencial.
Infração dos elementos pelo DL:
Sentido – ilegalidade (não respeita parâmetros da lei subordinante a que estava
vinculado pelo art. 112º/2)
Objeto, extensão, duração – inconstitucionalidade orgânica (DL exorbita da matéria para
que tinha recebido competência ou do lapso de tempo durante o qual o órgão era
competente)
Se o DL (necessariamente tem que revestir essa forma de ato legislativo) não invocar
expressamente a lei de autorização (art. 198º/3) há inconstitucionalidade formal.

Leis de Autorização cessam:


A. Utilização – só podem ser usadas uma vez (art. 165º/3), princípio da irrepetibilidade –
só mediante nova autorização pode ser modificado
B. Caducidade – no decurso do prazo fixado, termo da legislatura, dissolução AR, demissão
Governo (art. 165º/4) sem prejuízo das regras face a autorizações legislativas
orçamentais (art. 165º(5)
C. Revogação – AR pode avocar os poderes a si e revogar a lei de autorização antes da sua
utilização

Prática parlamentar: tornou-se habitual o Governo fazer acompanhar o pedido de autorização


legislativa de um anteprojeto de decreto-lei a autorizar52.

Apreciação53 Parlamentar de atos legislativos


Primado do Parlamento – permite à AR ter a última palavra
• Desvalorização do mecanismo – força do funcionamento do sistema de Governo
(maiorias absolutas e etc.); magnitude da tarefa face à avalanche de DL; perda da
prioridade regimental que a figura já conheceu.

Sujeitos: todos os DL (art. 169º/1) salvo os da competência exclusiva – AR com função política
de controlo + art. 227º/4

52
Sendo isso apenas obrigatório para as ALRA (art. 227º/2)
53
Ratificação (até revisão de 1982) – Melo Alex preferia pois não mostrava que o Governo era um
legislador normal

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Finalidade: levar à cessação de vigência ou alteração dos diplomas (art. 169º/1); nos
autorizados pode ser a suspensão de vigência (art. 169º/2) – diplomas regionais só cessação (Rui
Medeiros)
Nunca pode ser para sanar eventuais inconstitucionalidades orgânicas do diploma.
Procedimento: requerimento de 10 deputados nos 30 dias à publicação do ato (art. 169º/1);
votação por maioria simples; caduca se revogado pelo órgão que o aprovou.
Forma dos atos: cessação de vigência – resolução (ato deixa de vigorar do dia da publicação da
resolução art. 169º/4 – AR deve especificar se há repristinação das normas revogadas pelo
diploma em causa art. 195º RAR); alteração – lei (art. 169º/5).

Atividade Legislativa do Governo


Os amplos poderes legislativos do Governo português é situação inédita e anómala (ainda que
parte da doutrina não o reconheça).
Blanco de Morais: aceita primado da AR mas o Governo tem centralidade legislativa – concessão
de poder legislativo normal ao executivo havendo um primado de facto do Governo.
História Constitucional: primeira fase de competência exclusiva do Parlamente, permissão de
autorizações legislativas, Dl em caso de urgência e necessidade, competência legislativa normal.
Prática Constitucional: nos interregnos constitucionais houve um monopólio legislativo total do
Executivo; consolidou-se, no constitucionalismo monárquico, os decretos ditatoriais (atos com
força de lei aprovados pelo executivo e depois ratificados pelas Cortes – bill de indemnidade); I
República abundaram decretos com força de lei.
Atitude da Doutrina: consideram normal (Paulo Otero, Blanco de Morais); vozes críticas que
tendem a privilegiar o primado de iure da competência legislativa da AR (MRS; JOMI, Melo Alex)
• TC tem uma posição intermédia mais próxima da afirmação do primado do Parlamento

Explicação:
1. Herança da CRP 1933
2. JOMI: difícil enraizamento da instituição parlamentar na cultura cívica
3. PO: herança da ditadura militar + postura pré-liberal enraizada e com uma
impermeabilidade às conceções político-filosóficas liberais; CRP 1933 instalou uma
contradição estrutural na vertente parlamentar da CRP 1976

Melo Alex (próximo de PO): toda a história constitucional portuguesa é atravessada por
essa constante de perfil autoritário em que reside a preponderância efetiva do órgão do
poder executivo – herança da Constituição histórica, que nem foi posta em causa pela
Assembleia Constituinte
➢ Qualificação: não é algo politicamente natural nem deve ser sufragada a tese
da “canonização”54 do DL – nem jurídica, institucional, politica ou culturalmente
deve ser considerado normal o acervo de poderes atribuídos e exercidos pelo
Governo
o Anomalia na sobrevivência de elementos antiliberais incompatíveis
com o Estado constitucional de Direito Democrático

54
Melo Alex: “não se deve fazer reverência a este novo Santo”

74

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o Se isto acontece, há funcionamento desequilibrado do sistema de


Governo com a persistente menorização do Parlamento
➢ Orientação: primado do Parlamento e não no (alegado) princípio da paridade
entre Lei e Decreto-Lei

Tipos de Competência Legislativa


1. Competência Legislativa Reservada (ou Exclusiva)
Matéria da sua própria organização e funcionamento (art. 198º/2) + art. 183º/3 (Melo
Alexandrino tende a excluir)
• Linha Minimalista: organização do Governo com a “lei orgânica do Governo”
• Corrente Maximalista: lei orgânica do Governo + leis orgânicas dos ministérios + normas
referentes à organização e funcionamento do Governo através do Conselho de Ministros
Melo Alex: posição intermédia. Reserva quanto à estruturação essencial do Governo, que integra
regras do funcionamento do Conselho de Ministros, o que não obsta a incursões secundárias da
AR face à organização de ministérios.

Art. 198º/2 – reserva de decreto-lei obrigando a que esse ato legislativo se revista dessa forma.
Em paralelo à Regimento do Conselho de Ministros aprovado sob a forma de resolução (art.
200º/1/g) – aspetos essenciais da organização e funcionamento de um órgão colegial terão, por
força da CRP, sede legislativa.

Veto absoluto – natureza absolutíssima pois o Governo não pode transformar esses DL em
propostas de lei para a AR pois há reserva de DL.

2. Competência Legislativa Concorrencial


Partilha de ampla esfera legislativa com a AR (art. 198º/1/a) – de acordo com o princípio da
paridade da lei e do DL (art. 112º/2).
➢ Em Portugal é possível 2 órgãos legislar a todo o tempo sobre as mesmas matérias e um
ato legislativo (lei ou DL) pode revogar o outro.
Mas não há um poder de legislar sobre todas as matérias.
• Âmbito de incidência da competência concorrencial do Governo não é comparável à da
AR (que dispõe de 67 domínios reservados e o Governo tem 1)
• Apenas AR pode produzir leis de bases de caráter subordinante heterónomo (face ao
Governo e ALRA) na esfera concorrencial
• Governo pode revogar leis de bases da AR mas não o deve fazer – custos políticos e
controlo do art. 169º
• Impossibilidade de renovar DL vetado pelo PR
• Atividade legislativa do Governo sujeito a duplo controlo de mérito, absoluto em
qualquer dos casos
• Pela prática Constitucional, Governo deve abster-se de legislar sobre determinada
matéria em apreciação na AR

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3. Competência Legislativa Autorizada


Art. 198º/1/b
➢ Condicionado ao pressuposto normativo de existência de uma prévia lei de autorização
da AR, revogável a todo o tempo onde se define objeto, sentido e etc.
➢ Emitido o DL, Governo está impedido de o revogar ou modificar sem nova lei de
autorização da AR
o Governo não poderia dispensar nova lei de autorização num caso de
inconstitucionalidade alegando o princípio do autocontrolo da validade.

4. Competência Legislativa Complementar (ou de Desenvolvimento)


Art. 198º/1/c – independentemente da polémica doutrinária em torno do desenvolvimento das
leis de base.
• Não há reserva legislativa a favor do Governo
• Condicionado a prévia existência de lei de bases e à invocação dessa lei de bases
• DL passíveis de serem submetidos à apreciação parlamentar que os podem alterar ou
fazer cessar.
Ponto de vista formal: desenvolvimento das leis de bases é por ato legislativo que as invoque
expressamente (art. 198º/3)

Procedimento Legislativo do Governo


Impõe que DL sejam aprovados em Conselho de Ministros: exigência de colegialidade (art.
200º/1/d e 201º/3).
➢ São as mesmas fases do procedimento legislativo.

Atividade Legislativa das Regiões Autónomas


Contexto de repartição do poder legislativo entre o Estado e as regiões.

Direito Comparado: é comum uma instabilidade normativa, divergência doutrinária e tendência


jurisprudencial centralista.

História: Portugal tem contexto plurilegislativo vindo do Direito colonial; revisões


constitucionais em que há um progressivo alargamento do poder legislativo regional (pretensão
do reforço da competência legislativa), seguido de incerteza e divergência doutrinária e
sistemática de orientação restritiva e centralista pelo TC

Há hoje um desaproveitamento das inovações da CRP face às regiões autónomas.

Modelo que resulta da revisão de 2004 (art. 112º/4):


• Remissão para os estatutos político-administrativos da lista de matérias sobre as quais
pode incidir o poder legislativo regional
• Requisitos para o poder legislativo regional
o Âmbito regional
o Taxatividade das matérias – princípio geral nos arts. 112º/2, 3, 4 e 8; 227º, 228º
e 231º/1
o Respeito pelas reservas de competência

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• Prevalência das leis estatuais reduzida a estatutos e outras dotadas de parametricidade


material
• Alargamento da esfera de competência legislativa autorizado com a transposição de
atos legislativos da UE
• Núcleo residual de competências exclusivas (art. 227º/) sujeitas, em geral, a lei de
enquadramento prévia

Tipos de Competência Legislativa (art. 232º/1)


1. Competência Legislativa Reservada (ou Exclusiva)
Art. 227º/1 + art. 231º/1
Em geral, condicionadas a leis estaduais de enquadramento.
Há matérias em que apenas as regiões autónomas podem legislar:
• Poder tributário próprio (art. 227º/1/i/1ª parte)
• Adaptação do sistema fiscal (art. 227º/1/i/2ª parte)
• Criação e extinção das autarquias locais (art. 227º/1/l)
• Elevação de a vila ou cidade (art. 227º/1/n)
• Aprovação do plano de desenvolvimento económico da região (art. 227º/1/p/2ª parte)
Competências exclusivas que são limites aos órgãos de soberania (não estando englobadas no
art. 161º/c) – não as podem invadir sob pena de inconstitucionalidade orgânica.

2. Competência Legislativa Comum (ou Primária)


Art. 112º/4 + 227º/1/a + 228º/1 + 112º/8 + 227º/1/x
Transposição de atos legislativos da UE; Poder de legislar no âmbito de matérias dos estatutos
político-administrativos não reservados a órgãos de soberania:
• Requisitos de âmbito regional – geográfico (território da região) e material (realidades,
bens e interesses com especialidade regional – não têm relevo imediato para todos os
cidadãos do Estado.
• Requisitos da tipicidade das matérias – exigência que a matéria a regular esteja
enunciada nos estatutos político-administrativos.
• Requisito do respeito pela reserva de competência dos órgãos de soberania – pressupõe
a não invasão das matérias legislativas enunciadas nos artigos da competência
reservada de outros órgãos.
Esfera concorrencial que pode ser editada por leis do Estado e por leis regionais.
Dupla regulação em que prevalece a lei regional, na ausência de legislação regional própria,
aplica-se supletivamente a legislação estadual (supletividade do Direito do Estado).
Há também prevalência do Direito do Estado (dotado de parametricidade material) pois as leis
regionais estão vinculadas aos estatutos político-administrativos bem como às demais leis
reforçadas pela parametricidade material.

3. Competência Legislativa Autorizada


Art. 227º/1/b - a que se aplica o disposto no art. 165º/2 e 3
➢ Há a exigência específica de serem acompanhados do anteprojeto – art. 227º/2.
AR pode revogar ou alterar a lei de autorização – embora haja doutrina que, em nome do
princípio da autonomia regional, entende que AR não pode aleterar o decreto legislativo
regional autorizado (Blanco de Morais)

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4. Competência Legislativa Complementar


Art. 227º/1/c – a começar pelas leis de bases da reserva absoluta e relativa da AR
Relevam as leis de bases da área concorrencial?
Interpretação favorável à autonomia política regional – ideia de pluralismo inerente ao Estado
de Direito Democrático (art. 2º) e critério auxiliar de subsidiariedade (art. 6º/1) – regiões
autónomas estão vinculadas às leis de bases da AR mas não às do Governo (exceto os de
matérias do 165º/1).
• DL na área concorrencial não vinculam regiões autónomas – confirmado pelo acórdão
136/2016
• Leis de base na forma de DL não prevalecem sobre as decisões ALRA – que apenas estão
vinculadas pelas leis de bases da AR
o JOMI: art. 227º/1/q, integra o poder de definir atos ilícitos de mera ordenação
social e respetivas sanções.
o Blanco de Morais: integra aí a concretização das leis de enquadramento
o Melo Alex: não há apoio direto no texto para tal nem são exigidas pelo sistema
da CRP, bastando que as ALRA não editem regras incompatíveis com o
correspondente regime geral nem com as correspondentes leis de
enquadramento.
• Mesmas considerações que a competência legislativa complementar do Governo

Ato análogo nos decretos legislativos regionais à promulgação é a assinatura do Representante


da República (art. 233º).

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INCONSTITUCIONALIDADE
A garantida da Constituição não se esgota no mecanismo de controlo da constitucionalidade.
Blanco de Morais envolve também:
• Rigidez constitucional
• Revisão constitucional
• Regulação dos estados de exceção
• Controlos inorgânicos
• Proibição de organizações contrárias à CRP
• “Desobediência civil)

Mecanismo da Fiscalização da Constitucionalidade


Inconstitucionalidade – exprime uma relação entre um ato e a Constituição.
➔ Relação direta de desconformidade de um ato do poder político com uma norma
constitucional a que se encontra submetido.
o Contradiz diretamente uma norma da CRP
▪ Pode ser uma regra ou um princípio, expressa ou implícita, produzida
por lei constitucional, costume ou interpretações
o Só há inconstitucionalidade em atos de poder político do Estado – pois pertence
à CRP organizar juridicamente as formas de atuação do Estado e visa organizar
o poder político.55
▪ Pode ser uma ação (comportamento positivo) ou omissão

Se ofender outra lei (de autorização, de bases) estamos perante uma Ilegalidade, ou
Inconstitucionalidade indireta (Blanco de Morais).

Os atos políticos estão subordinados ao princípio da constitucionalidade (art. 3º/3) – e a


desconformidade do ato à CRP acarreta efeitos jurídicos
➢ Mais graves: inexistência
➢ Menos graves: irregularidade

Pelo art. 277º/1, fiscalização não abrange todos os atos do poder político (TC não aprecia atos
políticos e só há inconstitucionalidade por atos legislativos)
➢ Apenas os atos da função de revisão constitucional e das funções primárias do Estado,
com destaque para a legislativa, estão submetidos à fiscalização jurisdicional da
constitucionalidade.

Tipos de Inconstitucionalidade
A inconstitucionalidade pode ter as mais diversas feições pelo que se aprecia sob 6 critérios.
1. Modo da Ofensa: por ação – prática de um ato que ofende a CRP, assumindo caráter
mais grave e relevante; por omissão – resulta da inércia quando se deixa de praticar um
ato a que se estava constitucionalmente obrigado (ocorre quando o legislador não
aprove medidas legislativas necessárias para dar exequibilidade a normas
constitucionais não exequíveis por si mesmas – art. 283º/1. TC dá apenas conhecimento
aos órgãos e não há inconstitucionalidade de omissões)

55
Só excecionalmente se poderá falar de inconstitucionalidade de atuações de sujeitos privados.

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2. Natureza do Vício56:
a. Inconstitucionalidade Material – colisão do conteúdo do ato do poder político
com o conteúdo de uma norma constitucional. Contraria-se uma disposição da
CRP.
i. Violação textual de uma norma
ii. Violação de uma norma implícita
iii. Desvio de poder legislativo (contradição entre a finalidade prosseguida
pelo ato e os fins da norma constitucional, ex: leis de autorização
legislativa que não definam objeto, sentido e etc, pois passam cheque
em branco ao Governo e ofendem também princípio da separação de
poderes)
b. Inconstitucionalidade Formal – violação de normas constitucionais
respeitantes à produção ou revelação de um ato do poder político.
i. Vícios no Procedimento (não cumprimento de regras constitucionais
que regulam a marcha ou os demais requisitos para a produção do ato)
ii. Vícios na Revelação do Ato (ato produzido não apresenta o título
jurídico que lhe deveria corresponder)
iii. Vícios no Excesso de Forma (ato sujeito a procedimento mais exigente
ou título mais solene do que deveria ser)
c. Inconstitucionalidade Orgânica – vício que se traduz na violação de uma regra
de competência (pressuposto subjetivo-objetivado do ato)
i. Carência absoluta de fundamento constitucional para a ação do Estado.
Ex: rezar antes do almoço
ii. Usurpação de funções do Estado (ou de poderes)
iii. Invasão da competência alheia (orgânica stricto sensu)
Melo Alex: discorda de JOMI quando se diz que a material tem prioridade sobre as
outras. Argumentos a favor do equilíbrio e importância dos vícios (incindibilidade dos
elementos do Estado constitucional) – art. 277º/2 só atribui inexistência a vícios
orgânicos e formais (e não a materiais)

3. Extensão: Total – desconformidade afeta o ato do poder político em toda a sua extensão
(orgânicas e formais); Parcial – desconformidade afeta apenas parte do ato, da norma,
do período de vigência da norma (no caso de aumento de despesas no ano económico
em curso, acórdão 297/86) (materiais)
4. Momento da concretização do vício: Originário – ato político ofende desde o início certa
norma constitucional em vigor (art. 282º/1); Superveniente – ato político passa a ser
desconforme após surgimento de nova norma constitucional (por revisão, costume ou
interpretação – revela-se vícios materiais em virtude da passagem do tempo)
a. Inconstitucionalidade Deslizante – alteração progressiva da realidade material
regulada pela norma
5. Vigência das normas: Presente – inconstitucionalidade é perante norma constitucional
ou ato do poder político em vigor; Pretérita – inconstitucionalidade ocorre perante
norma constitucional ou ato do poder político que já não está em vigor (fenómeno mais

56
Vício = desconformidade específica do ato do poder político que respeite a qualquer dos seus
pressupostos ou elementos.

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restritivo, JOMI; ou ampliativo, Galvão Teles), o que interessa é a continuação da


produção de efeitos.
6. Imediatividade: Direta – desconformidade resulta do confronto do ato com a CRP;
Consequente – desconformidade resulta da dependência do ato relativamente a outro
inconstitucional (ex: DL autorizado aprovado no seguimento de lei de autorização
inconstitucional)

Valores Negativos do ato inconstitucional


Depreciação mais ou menos intensa, sofrida por um ato desconforme com a CRP, suscetível de
obstar à produção dos efeitos jurídicos que lhe corresponderiam.
➔ Consequência da inconstitucionalidade traduz-se numa desvalorização

Equaciona-se com o ordenamento jurídico em causa e da valoração que cada Constituição fizer
do sistema de fiscalização, tendo em contra critérios de proporcionalidade, gravidade da
conduta e a revelação da função sistemática das normas violadas.

Identificação dos desvalores:


• Inexistência – mais grave – raro, reservado para vícios formais e orgânicos
particularmente graves. Pode haver casos de inexistência por natureza: falta de quórum,
falta de ratificação e etc. Consequência é a não produção de efeitos jurídicos.
• Irregularidade – menos grave – não afeta a existência do ato, não afeta a validade do
ato, não afeta a produção de efeitos jurídicos, não tem sanção. MRS: desvalor excecional
que só existe para casos expressamente definidos na CRP (art. 277º/2), JOMI: há outros
casos como assinatura fora do praxo; Blanco de Morais (= Melo Alex): há outros casos
de irregularidade além do 277º/2 mas com base em alguns critérios.
• Atos que não sejam inexistentes ou irregulares estão feridos de nulidade: desvalor-regra
do ato normativo inconstitucional é invalidade, fenómeno que não deixa de estar
presente na fiscalização concreta.

Sanções
Tipo concreto de reação assumida pelo ordenamento jurídico contra os atos inconstitucionais –
resposta aos desvalores
• Inexistência corresponde sanção de inexistência
• Invalidade corresponde, na fiscalização sucessiva abstrata, a nulidade típica e na
concreta a ineficácia
• Irregularidade não tem sanção

Sistema Português de Controlo da Constitucionalidade e Legalidade


Olhando ao Direito Comparado, além dos sistemas desprovidos de fiscalização da
constitucionalidade, como no Reino Unido em que vigora supremacia do Parlamento, há 3
modelos:
1. Fiscalização política – França: a cargo do Parlamento foi o sistema habitual na Europa e
também em Portugal no constitucionalismo liberal

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2. Fiscalização judicial difusa – EUA: por costume constitucional é conferido a todos os


tribunais o poder de apreciar a aplicação de leis inconstitucionais (cá é no art. 204º).
Difusa e concreta, pois, os efeitos da decisão cingem-se ao caso em apreciação.
Incidental como apreciação da constitucionalidade por incidente no processo e não
como a questão principal nele discutida.
3. Modelo concentrado – Áustria sob inspiração de Kelsen

História constitucional portuguesa:


i. 1822 a 1911 – fiscalização política pelas Cortes
ii. 1911 a 1933 – fiscalização judicial difusa (art. 63º CRP 1911): influência Brasil que foi
influenciada pelos EUA
iii. 1933 a 1982 – sistema misto (difusa e concentrado; órgãos jurisdicionais – concreta – e
políticos – abstrata): raiz no interregno e na 2ª plataforma de Acordo Constitucional
iv. 1982 – Sistema misto com preponderância para o TC: aproximação progressiva dos dois
principais modelos de fiscalização.

Elementos caracterizadores:
O sistema misto e complexo português é caracterizado pelos seguintes traços fundamentais:
• Combina controlo da constitucionalidade das normas com o controlo da legalidade de
leis (respeito por leis reforçadas)
• Inteiramente jurisdicionalizado – tribunais e TC
• Fiscalização concreta (204º e 280º), abstrata preventiva (278º e 279º), abstrata
sucessiva (281º e 282º) e por omissão (283º)
• Centralidade do TC – última instância de decisão no processo de fiscalização concreta e
único órgão competente no processo fiscalização abstrata
• Predomínio do controlo exercido sobre normas – únicas exceções: controlo preventivo
referendos, interpretações implícitas de um tribunal (criação jurisprudencial = “quase-
amparo”)
• Regime do desvalor do ato inconstitucional
o Singular poder de todos os tribunais poderem recusar aplicar normas
inconstitucionais (art. 204º)
o Obrigatoriedade das normas inconstitucionais – até decisão judicial contrária
sem prejuízo ao direito de resistência (art. 21º)
o Possibilidade de impugnação a todo o tempo das normas inconstitucionais (art.
281º)
o Insanabildade da invalidade das normas inconstitucionais por qualquer
mecanismo
o Efeitos retroativos nas declarações de inconstitucionalidade com força
obrigatória geral (art. 282º/1)
o Repristinação da norma anterior à norma declarada inconstitucional (art.
282º/1)
o Ressalva dos casos julgados (art. 282º/3)
o Possibilidade de modulação dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade,
quando tal for exigido por equidade ou interesse público (art. 282º/4)

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Deficiências no modelo
Deficiências apontadas em 4 planos.
i. Dispensabilidade da fiscalização da legalidade – que pode ser suprimido sem perda
de racionalidade ou efetividade do sistema
ii. Crítica ao art. 279º/2 – desvio ao primado da CRP, princípio da segurança jurídica
e ofende princípio da constitucionalidade. Permite a introdução no ordenamento
de normas sobre as quais recaiu um juízo de inconstitucionalidade.
iii. Desequilíbrio na configuração do sistema na sua irracionalidade deficitária para a
proteção dos direitos fundamentais (Reis Novais)
a. Irracionalidade no acesso irrestrito à fiscalização concreta – abuso e prejuízo
para o bom funcionamento do sistema de justiça (natureza desigualitária
dado os custos de acesso aos Tribunais)
b. Irracionalidade no alargado conceito de norma da fiscalização concreta
c. Irracionalidade na insensibilidade do modelo à violação dos direitos
fundamentais
d. Défice no facto de só apreciar constitucionalidade de normas
e. Défice por não ter poderes para apreciar violações de direitos fundamentais
quando estas não resultem de atos normativos.
iv. Necessidade de instituição de um mecanismo jurisdicional específico contra
violações de direitos fundamentais.

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Processos de Fiscalização Abstrata


Corresponde a uma faculdade e não um dever (excepto a fiscalização da constitucionalidade e
legalidade de referendos)
Art. 224º/1 – TC decide em plenário

Fiscalização Preventiva (art. 278º e 279º)


NATUREZA: controlo prévio sendo possível “barrar” o caminho a futuros atos inconstitucionais
(Blanco de Morais) – evita-se a vigência de normas grosseiramente inconstitucionais.
É um subprocedimento dentro do procedimento legislativo.
OBJETO: normas imperfeitas ou pré-normas de ato legislativo ou convenção internacional
LEGITIMIDADE: desencadeada pelo PR ou Representante da República (no caso de decretos-
legislativos regionais); PM e 1/5 dos deputados no caso do art. 278º/4 sendo essa promulgação
vedada pelo art. 278º/7
EFEITOS DA DECISÃO:
• TC não se pronuncia pela Inconstitucionalidade – pode ser promulgada ou vetada
• TC pronuncia-se pela inconstitucionalidade – diploma deve ser vetado e devolvido ao
órgão que o tiver aprovado (art. 279º/1) – veto jurídico
o Órgãos podem expurgar a inconstitucionalidade e reformular o diploma
o AR pode confirmar o diploma (art. 279º/2)
▪ PR não está vinculado a promulgar – o árbitro deve decidir
▪ Não se estende, ao contrário do que o TC já entendeu no acórdão
151/93, às ALRA – pois é um conflito esgrimido entre um órgão de
soberania e outro sem soberania

Fiscalização Sucessiva (art. 281º e 282º)


NATUREZA: finalidade essencial de eliminar normas jurídicas já publicadas que sejam julgadas
inconstitucionais ou ilegais, bem como efeitos que as mesmas hajam produzido no passado.
Há uma reposição integral do princípio da constitucionalidade
OBJETO: quaisquer normas jurídico-públicas – atos legislativos apenas (bem como a
legalidade). Não diz respeito a privados
LEGITIMIDADE: (art. 281º/2) os particulares não têm acesso direto ao TC; as primeiras 5 alíneas
têm poder de iniciativa geral ao passo que a g) é condicionada a certas normas e a certos
fundamentos; Provedor de Justiça e Procurador-Geral da República pautam-se por ponderação
jurídica (os outros pode ser por oportunidade política)
EFEITOS DA DECISÃO:
• Com força obrigatória geral – declara-se a nulidade e a norma é removida da ordem
jurídica juntamente com os efeitos por ela produzidos
• Eficácia retroativa (ex tunc)
• Repristinam-se as normas que tenham sido revogadas
• Não atinge os casos julgados57 - excepto se for sobre matéria sancionatória e forem de
conteúdo mais favorável ao arguido

57
Retroatividade quase extrema

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• Os efeitos podem ser fixados com um alcance mais restrito pelo TC (sentenças
limitativas), introduzindo limites à retroatividade, repristinação ou ressalva de outros
efeitos.

Fiscalização por Omissão (art. 283º)


Quando faltam medidas legislativas necessárias para tornar exequíveis normas
constitucionais.
Perdurando por algum empo e havendo deveres específicos de legislar.

LEGITIMIDADE: suscitada pelo PR e pelo Provedor de Justiça – e por outros, condicionadamente


(art. 283º/1)

EFEITO DA DECISÃO: comunicação que dá conhecimento do facto ao órgão legislativo


competente
• Ato desprovido de sanção
• Embora comportamento omissivo assume natureza ilícita

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Processo de Fiscalização Concreta


Quando num processo judicial se levanta um problema de constitucionalidade da norma
aplicável na resolução do caso.

O ponto de partida do sistema é o art. 204º, em que os Tribunais não podem aplicar normas
inconstitucionais, e o ponto de chegada é o art. 280º, em que se recorre ao TC caso uma questão
de constitucionalidade tenha sido suscitada no julgamento.

Traços essenciais:
• Todos os tribunais portugueses têm competência para apreciar e decidir uma questão
de constitucionalidade
• É sempre possível recurso para o TC, que tem a última palavra – controlo difuso na base
mas concentrado no topo
• Pode ser levantada oficiosamente pelo juiz ou por qualquer das partes, sendo um direito
fundamental
• Incidente de um processo onde se discute uma causa principal – ninguém se dirige a um
tribunal propondo uma ação cujo objeto central seja pedir a inconstitucionalidade
• Resolução da questão da constitucionalidade é condição prévia para o julgamento
principal. Se for declarada inconstitucional o processo terá de ser decidido com base
noutra norma
• Conceito funcional de norma
• Parâmetro de controlo pode ser CRP ou leis de valor reforçado e art. 70º/1/i da Lei do
Tribunal Constitucional
• Não se julga por omissão

Recursos de Constitucionalidade
Recurso que tem por objeto a questão da constitucionalidade da norma aplicada pela decisão
recorrida ou a que a decisão recorrida recusou aplicação.
Tipos de recursos:
1º. Recursos de decisões positivas – recursos de decisões que recusem a aplicação de certa
norma com fundamento em inconstitucionalidade ou ilegalidade
2º. Recursos de decisões negativas – recursos de decisões que apliquem norma cuja
inconstitucionalidade ou ilegalidade tenha sido suscitada durante o processo
3º. Recursos de decisões que apliquem norma anteriormente julgada inconstitucional ou
ilegal pelo TC; em fiscalização concreta ou em fiscalização preventiva e sucessiva
abstrata (acórdão 528/96)

Maioria das decisões são do 2º tipo – facultativos e com regime processual mais dificultado.
➢ Requisito de que tenha existido aplicação efetiva de uma norma cuja
constitucionalidade foi levantada
➢ Recorrente suscitou a questão durante o processo e de forma processualmente
adequada
o Art. 72º/2 Lei Tribunal Constitucional – a questão tem que ser suscitada antes
de se esgotar o poder jurisdicional.
o Há um conjunto de situações que se admite a dispensa do ónus da suscitação
da questão
o Há exigências específicas quanto à interposição

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➢ Decisão recorrida constituiu caso julgado no processo principal (pressupõe o


esgotamento dos recursos ordinários)
➢ Recurso tem que possuir mínimo de viabilidade

Os recursos de 1º e 3º tipo são em geral obrigatórios para o Ministério Público e têm um regime
mais favorável.

Tramitação Processual
• O objeto de recurso para o TC é a constitucionalidade ou ilegalidade de uma norma
(art. 280º/6)
• Prazo de 10 dias
• Além dos casos obrigatórios para o MP, só tem legitimidade para recorrer a parte
vencida na decisão do tribunal a quo
• Requerimento apresenta-se junto do tribunal a quo
• A reclamação é feita para o TC

Efeitos da Decisão
O TC pode manter a decisão recorrida ou pode ordenar ao tribunal que profira nova decisão.
Impede-se que a questão seja novamente levantada no processo.

Se TC der provimento ao recurso, baixa ao tribunal recorrido


• Norma não inconstitucional – deve a norma ser aplicada
• Norma inconstitucional – tribunal a quo deve abster-se de aplicar a norma
• Norma é inconstitucional devido a certa interpretação – aplica-se no processo com a
interpretação que lhe for dada pelo TC
Se o tribunal a quo não respeitar a decisão é admitido um recurso autónomo para o TC.

A decisão tem eficácia inter partes e é obrigatória no âmbito do processo em questão.


Efeitos indiretos:
i. Constitui fundamento autónomo de recurso, no caso dum tribunal vir posteriormente
a aplicar essa norma. Recurso de 3º tipo obrigatório para MP (art. 280º/5)
ii. Se a norma tiver sido julgada inconstitucional ou ilegal em 3 casos concretos, pode-se
desencadear um processo de declaração da inconstitucionalidade com força
obrigatória geral pelo TC (art. 281º/3). Por iniciativa de qualquer dos seus juízes ou do
MP (processo de generalização ou repetição do julgado)

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