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A partir de 1780 a discussão que revela as linhas do Constitucionalismo das revoluções2 já estava
presente.
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Constituição como ordem aberta, ordem-quadro e como sistema de valores, princípios, regras e
procedimentos.
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Igualdade dos indivíduos como postulado – deixam de ser entendidos como parte de grupos e/ou classes
diferentes; Não se parte das realidades existentes da sociedade mas de um estado de natureza;
Proclamação dos direitos naturais como direitos morais (direitos do homem)
1. Constitucionalismo Liberal
Início com a Revolução Liberal de 1820 e término com golpe de Estado de 28 de Maio de 1926
1º. Fase da instauração do liberalismo (3 primeiras constituições)
2º. Fase da estabilização do sistema
3º. Fase da crise da monarquia constitucional
4º. Fase da I República (4ª constituição)
Estado liberal4 de Direito no sentido da democratização (sem sufrágio universal e com
predomínio da burguesia); sistema de governo parlamentar; sistema de partidos desde o Estado
sem partidos e de partido dominante até ao multipartidarismo e bipartidarismo.
2. Constitucionalismo Antiliberal
Início em 1926 com Ditadura Militar e até ao golpe de Estado de 25 de Abril de 1974
1º. Fase da Ditadura Militar
2º. Fase da vigência da Constituição de 1933 (revista 5 vezes)
Estado intervencionista (deixa de ser guarda noturno) e com regime político autoritário; sistema
de governo autoritário e de poderes no chanceler; sistema de partido dominante.
Constituições5:
• Constituição de 1822 (23 de Setembro)
o Vigência teórica de 8 meses e prática durante a ditadura de Passos Manuel
(1836 e 1838)
o Poder Constituinte6: democrática – aprovação por Assembleia Constituinte
tendo o Rei sido obrigado a aceitar e jurar
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(Fioravanti) movimento de pensamento orientado a prosseguir finalidades políticas concretas – traduz-
se na limitação dos poderes públicos e na afirmação de esferas de autonomia normativamente garantidas.
2 lados: Limite é destinado a proteger aqueles que compõe o todo da comunidade e o outro lado destina-
se ao prosseguimento do interesse comum (construção unidade).
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Limitado e organizado juridicamente, garantindo direitos fundamentais, governos representativos e
diferença entre titularidade do poder político (povo) e exercício do mesmo (governantes); Burguesia
dominante: liberdade económica e segurança de propriedade – separação entre sociedade e Estado,
intervenção mínima do Estado (guarda noturno), regulação pelo Direito.
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As Constituições feitas no verão são as mais radicais e as de primavera são mais moderadas
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Poder Constituinte: faculdade de um povo, no exercício da sua autoridade suprema, dar a si próprio uma
Constituição.
Constituição Escrita
Essencialmente documental, ato com autor e data, define-se pela forma e força.
Constituição Formal – conjunto de normas jurídicas decretadas através de um processo
específico, dotadas de uma força superior e integradas num documento qualificado de
Constituição ou lei constitucional.
Constituição Real
Envolve todas as fontes relevantes, escritas e não escritas, revela-se na prática, vê para além
das normas e define-se pela sua efetividade.
• Conjunto das normas da Constituição que são efetivamente aplicadas – ação dos
poderes públicos e garantia dos direitos.
Normatividade limitada
Comprova-se esta limitação atendendo ao número e extensão de revisões constitucionais bem
como todas as vicissitudes.
Certas Constituições praticamente não vigoraram ou aquelas aprovadas por uma única força
política tiveram vigência anormal e atribulada (ex: 1911).
Em certas ocasiões entrou em vigor uma nova Constituição sem sequer se substituírem os
titulares dos cargos.
➢ Mistificação (Collaço) e ficções do Constitucionalismo português (Lucena).
➢ Era o oposto
ii. Subordinação política do Governo ao Parlamento
➢ Era o oposto
iii. Flexibilidade do estatuto funcional do PR
➢ Estatuto do PR ainda hoje é um enigma
Recepções
Em relação às fontes de cada Constituição
➢ Fontes Diretas: influências visíveis declaradas e textuais, assumidas e reconhecidas.
➢ Fontes Mediatas: influências de certo modo ainda visíveis mas não declaradas ou
textuais.
➢ Fontes Profundas: influências invisíveis, não declaradas que se encontram ao nível
estrutural, sendo reveladas pela análise histórica
Interregno Constitucional
Período de tempo que medeia entre a rutura ou cessação de vigência de uma Constituição escrita
e a adoção de uma nova Constituição escrita – períodos sem Constituição.
Nestes períodos de rutura, as matérias de dignidade constitucional foram reguladas de muitas
distintas maneiras.
• 1823 – 1826: Regresso às leis fundamentais da Monarquia
• 1828 – 1834: D. Miguel proclama-se Rei pelos três “Estados do Reino” que aboliram a
Carta Constitucional e regressaram ao regime absoluto – guerra civil entre liberais e
absolutistas
• 1836 – 1838: vigência teórica da CRP 1822, vivendo-se em regime ditatorial (Passos
Manuel)
• 1910 – 1911: normas dispersas decretadas pelo Governo provisório – Decretos com
força de lei de Afonso Costa9
• 1926 – 1933: parcialmente em vigor a CRP 1911, mas com decretos com força de lei
aprovados em regime de Ditadura Militar pelo Governo
• 1974 – 1976: 35 leis constitucionais, tendo a Lei 3/74 procedido à recepção material de
normas da CRP 1933 compatíveis com o programa do MFA
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O que é verdadeiramente português: inovação dos interregnos + constituição histórica + herança
período pré-liberal. Ex: Governo é o principal legislador -> explicado pela Constituição histórica e pelo
período pré-liberal (pendor absolutista) + herança dos interregnos
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Há quem fale em várias edições atualizadas da mesma Constituição
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Salvaguardados pela CRP seguinte; o mesmo fez Salazar quanto à ditadura militar mas com uma cláusula
de os poder revogar
1. Interregnos marcados por uma forte turbulência social e política – existindo períodos de
ditadura (de facto ou de Direito) com ofensas à separação de poderes e à garantia dos direitos
individuais.
2. Períodos em que o poder político – especialmente o exercício da função legislativa – estava
concentrado nas mãos do executivo.
3. Períodos nefastamente criativos – ditando as novidades que haviam de ser incorporadas na
nova CRP (inversão da ordem natural das coisas, dos poderes e das fontes)
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Influência do constitucionalismo britânico e proposta de Benjamin Constant
11
Constituição de 1838
Constituição que sintetiza as anteriores conciliando princípio monárquico e o da soberania
nacional, carácter pactício.
Contexto: luta entre fações liberais (uma mais conservadora que defende Carta Constitucional
1826 e outra mais liberal que defende Constituição 1822). Com a Revolução de Setembro de
1836 volta-se à Constituição de 1822 enquanto se espera pela elaboração desta nova.
Inspiração:
o Fontes Diretas – Constituição 1822 e Carta Constitucional 1826
o Fontes Mediatas – Constituição francesa 1830, belga 1831 e espanhola 1837
o Fontes Profundas – as mesmas das anteriores
Vigência e Interregnos:
o 1838 – 1842, com golpe de Estado de Costa Cabral (reinstaurou a Carta 1826)
Organização política: Estado Liberal de Direito de Monarquia Constitucional
o Separação de poderes (art. 34º e 35º) – tripartição dos poderes mas não tão rígida: fim
do poder moderador como reação a 1826
▪ Poder Executivo: Rei (art. 80º) – pode dissolver a Câmara dos Deputados;
sanciona leis (o veto não pode ser superado)
▪ Poder Legislativo: Cortes – Parlamento bicameral eleito 3 em 3 anos
• Câmara dos Senadores e Câmara dos Deputados – eleitos por sufrágio
direto (art. 71º)
▪ Poder Judicial: Tribunais
o Regime político – autoritário
o Sistema de governo – sistema parlamentar orleanista
o Sistema de partidos – sem partidos
Voto: sufrágio direto; censitário (capacidade eleitoral ativa > 25 anos; capacidade eleitoral
passiva > 35 anos)
Direitos Fundamentais: os anteriores; liberdade associação e reunião (art. 14º), direito
resistência (art. 25º)
Revisão: sem limite temporal – aprovada por ambas as câmaras numa legislatura e
implementada na seguinte.
Fiscalização da Constitucionalidade11: política, por via das Cortes
Constituição de 1911
Constituição fundada numa forma Republicana de governo e separação das Igrejas do Estado.
Contexto: Insatisfação pela má situação económica; decadência do sistema monárquico e
descrédito; problema do mapa cor-de-rosa e ultimato britânico; regicídio e subida ao trono dum
rei impreparado; implantação da República.
Inspiração:
o Fontes Diretas – Constituição Brasileira 1891, e da III República Francesa
o Fontes Mediatas – Constituição EUA, Federal Suiça 1848
o Fontes Profundas – anteriores Constituições
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Sendo que esta já existia desde 1803 nos EUA com o caso Madison vs. Mardbury
12
Vigência e Interregnos:
o 1911 – 1926, com golpe de Estado e Ditadura Militar.
▪ Interregno de 1917 – 1918: Ditadura Sidónio Pais
Organização política: Estado Liberal de Direito
o O Presidente da República tinha poucos poderes (reação à monarquia) e valorizava-se a
componente parlamentar. O Congresso elegia o PR (4 em 4 anos) que não tinha poder
de veto nem dissolução, podendo ser destituído por 2/3 do Congresso (art. 46º)
o Separação de poderes – relativa concentração de poderes no Parlamento
▪ Poder Executivo: Governo – formado por ministros nomeados pelo PR (que por
sua vez escolhiam o Presidente do Ministério)
▪ Poder Legislativo: Congresso – Parlamento bicameral (art. 7º)
• Câmara dos Deputados (3 em 3 anos)
• Senado (6 em 6 anos)
▪ Poder Judicial: Tribunais
o Regime político – autoritário: I República e Sidonismo
o Sistema de governo – sistema parlamentar de Assembleia; entre 1917 – 1918 foi um
sistema de governo autoritário e corporativo presidencialista; tentou voltar-se ao inicial
com a criação do Conselho Parlamentar
o Sistema de partidos – sistema de partido hegemónico
Voto: censitário – ainda não se inclui mulheres nem analfabetos
Direitos Fundamentais: os anteriores + cláusula aberta de direitos fundamentais (art. 4º); ensino
laico, primário obrigatório e gratuito; proibição pena de morte (introduzida brevemente como
penas militares na I Guerra)
Revisão: 10 anos após a última revisão; permitia revisão ao fim de 5 proposta por 2/3
Fiscalização da Constitucionalidade: fiscalização política e jurisdicional (art. 63º) – Fiscalização
Difusa, não num órgão específico mas em vários12
Constituição de 1933
Constituição semântica, pautada pela restrição e negação dos direitos liberdades e garantias e
um Estado Corporativo e forte (arts. 5º e 6º) – forma autoritária de exercício do poder constituinte
fundada numa opção antiliberal, antiparlamentar e autoritária.
Contexto: Ditadura Militar de Gomes da Costa (a quem Salazar sucede) numa reação face à I
República; só se faz a Constituição em 1933 após a morte de D. Manuel II (Salazar era um
bocadinho monárquico). Submetida a plebiscito popular em que a abstenção e os votos em
branco contavam como a favor.
Inspiração:
o Fontes Diretas – Constituição 1911 (JOMI e Canotilho: já era autoritária e não democrática; aplicada
por reação), alemã de Weimar 1919, prática ditadura militar
o Fontes Mediatas – Constituição imperial alemã 1871, italiana alterada pelo fascismo,
Espanhola 1931 (Paulo Otero)
o Fontes Profundas – tradição pré-liberal, constituições e experiência sidonista
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Semelhante à atualidade que é difusa (vários tribunais) e concentrada (TC)
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Vigência e Interregnos:
o 1933 – 1974, com golpe militar 25 de Abril. 10 Revisões Constitucionais
Organização política: Estado antiliberal, intervencionista e autoritário conservador
o Prática mais autoritária que o texto Constitucional13. O Presidente da República era
formalmente o chefe de Estado.
▪ Eleito de 7 em 7 anos e a partir de 1959 passou a ser nomeado por membros da
Assembleia Nacional e Câmara Corporativa
▪ Tinha muitos poderes formais mas na prática não os exercia
o Separação de poderes – concentração de poderes no Presidente do Conselho, ainda
que formalmente até 1959 se fale em concentração de poderes no Chefe de Estado – a
separação de poderes foi sendo comprimida
o Assembleia Nacional funciona apenas durante 3 meses e legisla, fiscaliza a CRP e etc.
▪ Poder Executivo: Presidente Conselho Ministros (lidera Governo – valorização
do executivo e desvalorização da componente parlamentar por reação a 1911)
▪ Poder Legislativo: competência legislativa genérica no governo (formalmente
desde 1945)
• Assembleia Nacional – competência legislativa das bases gerais das
matérias.
• Câmara Corporativa – representantes de interesses sociais,
corporativos e etc. dando pareceres nos processos legislativos.
▪ Poder Judicial: Tribunais
o Regime político – autoritário: Estado Novo
o Sistema de governo – sistema autoritário de concentração de poderes no Presidente do
Conselho
o Sistema de partidos – Proibidos os partidos políticos: partido único União Nacional
(tecnicamente pode-se dizer que era um Estado sem partidos)
Voto: formalmente sufrágio direto, maiores de 21 e mulheres com curso especial
Direitos Fundamentais: vida; proteção da família; educação e cultura – os das Constituições
anteriores mas com cláusulas de salvaguarda que os limitam para impedir a “perversão social”,
garantir os “bons costumes” e “interesses da sociedade e da moral”
Revisão: de 10 em 10 anos; extraordinariamente podia ser de 5 em 5 por deliberação de 2/3; PR
pode determiná-la a qualquer momento
Fiscalização da Constitucionalidade: pelos tribunais (na prática nunca existiu)
Constituição de 1976
Constituição compósita, pós-revolucionária, prolixa, democrática e socialista
Contexto: reação a mais de 40 anos de ditadura e ausência de liberdades; reação a regime
isolacionista; reação à Guerra Colonial com a revolução militar; Constituição feita por uma
Assembleia Constituinte eleita
Inspiração:
13
A CRP foi lida de forma autoritária, mas podia ter sido lida e aplicada de outra forma – dava
possibilidade, enquanto texto, de ter sido diferente: dependia como o poder, na prática, aplicava a CRP
14
14
O veto jurídico, que vem na sequência da fiscalização da Constitucionalidade pelo TC, o PR tem apenas
que o devolver para o órgão que o aprovou.
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Génese Atribulada
• Forma democrática de exercício do poder constituinte – condicionado pelo movimento
revolucionário.
• Turbulência social e política – típica dos interregnos
• Início do Constitucionalismo para-democrático e democrático
JOMI
A. Turbulência dos anos entre a revolução e a Constituição
B. Celebração de duas Plataformas de Acordo Constitucional – a que os
partidos tiveram de se submeter com a condicionante do socialismo
imposta pelo MFA ao definir pontos importantes da CRP
C. Pluralismo partidário com diversos projetos
4º. Fase final: reequilíbrio da legitimidade eleitoral que levaria à 2ª plataforma de Acordo
Constitucional
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Novo fundamento de validade material da ordem jurídica – não se observam as regras antes
estabelecidas
16
ii. Lei nº 5/75 de 14 de Março: na 3ª fase revolucionária, num sentido marxizante, rompe
com a pré-constituição e redefine o sistema de órgãos de soberania (concentrando no
Conselho da Revolução os poderes da Junta de Salvação Nacional e do Conselho de
Estado)
iii. Lei nº 8/75 de 25 de Julho: ainda hoje ressalvada no art. 292º ofendendo os postulados
do Estado de Direito (no aspeto da proibição da incriminação retroativa)
Aprovação
A 25 de Abril de 1975 há eleições para a Assembleia Constituinte16 – que só foram garantidas
em 13 de Abril após os partidos assinarem uma Plataforma de Acordo Constitucional imposta
pelo Conselho da Revolução
➢ Impunha uma doutrina que os partidos tinham que incorporar – “via original para o
Socialismo Português”, sendo que todos se tinham que referir a tal
➢ Definia os termos do futuro sistema de governo – com um PR militar, Conselho da
Revolução, segunda câmara militar e um Governo sujeito a dupla responsabilidade
Constituição dividida
➢ 2 almas (em que uma eventualmente mandaria na outra: democrática e liberal;
autoritária e socialista
o Sobreposição de tendências (Manuel de Lucena), convício de contrários (Braga
de Macedo), contradições internas (Paulo Otero)
o Constituição compósita – representando um compromisso por adição sem
conseguir alcançar síntese unificadora
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PS 38%; PPD 26,4%; PCP 12,5%; CDS 7,7%; MDP/CDE 4,5%; UDP 1%
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Transformações
Como a Constituição se curou das maleitas de nascença
Sofreu o embate da realidade constitucional – exigiu mais do que uma revisão constitucional
através de mecanismos de adaptação do texto à realidade.
1. Acordos parciais e transitórios de 1975 a 1989, só então alcançando-se um consenso
funcional (Lawrence Graham)
a. CRP em 1989 dispôs sobre situações que a prática constitucional já previa
2. As respostas foram dadas pela prática constitucional (MRS e PO)
Conteúdo
• 1982: desmilitarização do sistema político, afirmação do princípio do Estado de Direito
o Chegada da democracia representativa (sem entorses ou enclaves autoritários)
e do tempo dos Direitos e do constitucionalismo da democracia constitucional
o Criação do Tribunal Constitucional (em substituição do Conselho da revolução e
Comissão Constitucional)
o Superação do caráter problemático da CRP 1976 (iniciativa, forma e conteúdo)
exprimindo um dos mais amplos consensos da história constitucional
• 1989: redirecionou o regime económico (abolindo a irreversibilidade das
nacionalizações) e aperfeiçoou juridicamente o texto constitucional
o Acomodou a reorientação europeia de Portugal de 1986
▪ Certificação do desuso radical das normas da Constituição económica
▪ Adesão às Comunidades Económicas Europeias (acontecimento mais
determinante de todas as transformações constitucionais)
▪ Ultrapassagem da CRP pelo sistema político da UE
▪ PO – nova identidade Constitucional
❖ Empenhamento na construção e aprofundamento da UE
❖ Perda de competência dos órgãos de soberania sobre certas
matérias
❖ Limitação de garantias constitucionais pelo Direito da UE
❖ Prática reiterada de interpretação e aplicação da CRP
Económica em conformidade com o Direito da UE
❖ Revisão constitucional como instrumento harmónico de
vinculações políticas assumidas no âmbito da UE com o texto
da Constituição
• 1992: constitucionalização das soluções do Tratado de Maastricht
• 1997: reforço dos direitos fundamentais, flexibilização de diversas estruturas
constitucionais
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Melo Alex: O que prova que não estava bem à partida
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Melo Alex: ausência de veneração particular pela CRP, por parte dos partidos aponta que um
consenso constitucional há-de ter de ser induzido pela confluência do procedimento, da
natureza da discussão e do decurso do tempo.
Até agora não se reforçou o consenso constitucional, nem diminuíram as vozes daqueles
que entendem que a CRP precisa de ser alterada e até reformada.
Constituição Transfigurada?
➢ Luís Barbosa Rodrigues: há mesmo uma nova constituição desde 1982
➢ Lucas Pires: com 2 almas na constituição prognosticou-se a morte de uma delas
➢ JOMI, Canotilho: ainda é a mesma
➢ Paulo Otero: mudança na fisionomia originárias da CRP gerando uma transfiguração
identificativa da CRP 1976
o Decurso do tempo e de normatividade não oficial subversiva
o Peso da herança histórica do Estado Novo
o Intervenção dos partidos políticos
o Integração europeia e seu aprofundamento
o Erosão do domínio reservado ao Estado e constitucionalismo transnacional
o Melo Alex: A Constituição, além da parte visível tem a parte invisível que a liga
às raízes históricas, estrutura e praxis constitucional.
o É uma rede de princípios em tensão, não sendo uma lei vulgar mas sim uma
ordem aberta e ordem-quadro
▪ Houve mudanças profundas na CRP, deslocando princípios
fundamentais mas a CRP é essencialmente a mesma pois não cortou
com o melhor do legado da Constituição histórica – sendo o cimento
da ordem constitucional como a dignidade da pessoa humana, primado
dos direitos, liberdades e garantias e o da democracia representativa
▪ Embora objeto de transformação a essência mantêm-se
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Síntese do Constitucionalismo
Constitucionalismo Português é pautado por:
Divergência de fundo – continuidade vs. ruturas
• É possível identificar uma continuidade em todo o constitucionalismo e até para além
dele.
o Ruy e Martim de Albuquerque: permanência de certas linhas de força de uma
tradição que sobrevive às diversas Constituições
• Constitucionalismo nasce através de um corte abrupto com o passado e avança por
ruturas sistemáticas.
o Gomes Canotilho: código binário continuidade/descontinuidade,
predominando as ruturas e as descontinuidades
Divergência metodológica – predomínio dos textos constitucionais vs. fatores de origem externa
e interna
• Ênfase na distinção entre fatores jurídicos e os fatores culturais, socioeconómicos e
políticos, sendo que todos eles estão presentes no constitucionalismo português
o Marcelo Rebelo de Sousa: muito relevante as interações dos fatores jurídicos e
extrajurídicos, que são em maior número.
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Ex: aparelho burocrático do Estado (1842); Código Civil (1867); abertura doutrinária (1970); expressão
da legitimidade eleitoral (1975); entrada na CEE (1986)
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Ex: Igualdade perante a lei (1822); direito aos socorros públicos (1826); fiscalização da
Constitucionalidade (1911)
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Aspiração de mudança (1822); compromisso com a realidade (1826); técnica jurídica (1838); concisão
do texto (1911); tranquilidade na elaboração (1933); resiliência, abertura e sensibilidade (1976)
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Raízes – prof. Afonso Queiró em 1956 – quis evitar-se a expressão “Estado social” porque tal era
conotado com o Estado Novo.
➢ As demais dimensões do princípio do Estado de Direito democrático já incorporavam a
Constituição portuguesa ora desde a entrada na era Constitucional ora desde a CRP de
1933
Desenvolvimento Constitucional
➢ Por via das Revisões Constitucionais em que se alterou o artigo (1982 e 1997),
acrescentando novos conteúdos e dando novas funções quanto à transferência de
poderes soberanos e de vinculação do Estado ao Direito Europeu
o Pode ceder soberania sem sacrificar o princípio.
o Não há primado da UE sobre os princípios fundamentais do Estado de Direito
Democrático (art.7º, nº6; art. 8º, nº4)
➢ Desenvolvimento jurisprudencial que dele extraiu novos princípios e regras – como o da
proporcionalidade, proteção da confiança, garantia do mínimo de existência condigna
➢ Elaboração Doutrinária
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Tão vagos e amplos que não são aplicados diretamente – o TC usa excessivamente estes princípios
amplos
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E no art. 9º, alínea b). Surge também nos arts 7º, n6; 8º, n4
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Características
• Caráter primário – primeira decisão que o poder constituinte toma de extensão muito
ampla
• Caráter complexo/compreensivo – permite resumir todo o sistema da Constituição23
numa macrocefalia em que todo o conteúdo normativo é consumido pelas realidades
que o integram
Funções
• Função enunciativa – expressa uma síntese de todo o sistema da Constituição
• Função normogenética – fonte de outras normas constitucionais
• Função instrumental – parâmetro orientador e hermenêutico
• Função de limite e de parâmetro da vinculação válida de Portugal no âmbito da UE
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Sendo tão vasto não pode ser violado autonomamente – violar-se-ia toda a CRP
➔ Não tem operatividade jurídica autónoma
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2. Princípio da Constitucionalidade
A validade das leis e dos demais atos do Estado, das regiões autónomas, do poder local e de
quaisquer outras entidades públicas depende da sua conformidade com a Constituição (art. 3º/3)
➢ Sendo lei fundamental, todos os poderes constituídos lhe devem obediência.
Especialmente o legislador (referência à constitucionalidade das leis)
➢ Controlo normativo da CRP pelo Tribunal Constitucional que se estende a um conjunto
de leis para-constitucionais também muito relevantes
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CONCEITO: referência da representação do valor do ser humano – referência que a pessoa tem
de si e como se consegue realizar
Igualdade
ORIGENS: Ética e filosofia, chegando ao constitucionalismo por Hobbes
➢ Conceção dos indivíduos como iguais, tanto no estado de natureza como no posterior
estado de sociedade
➢ Igualdade de todos perante a lei -> constitucionalismo das revoluções
➢ Tem sido enriquecido com a igual participação política
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POSITIVAÇÃO: entra na Constituição histórica em 1822 e tem hoje sede no art. 13º da CRP 1976
➢ É transversal a toda a CRP – atravessa todas as matérias constitucionais a começar pela
ideia de dignidade da pessoa humana
CONCEITO: ligado à ideia de justiça – conceito multidimensional, comparativa e racional
(pressupõe sempre uma comparação)
➢ Apresenta-se na CRP como um dever do Estado e como uma presunção – da ideia de
que um tratamento igual será justo
➢ Exige um fundamento sempre que o Estado queira introduzir uma diferenciação de
tratamento
CONTEÚDO: segundo o TC abrange três dimensões – proibição do arbítrio; proibição da
discriminação (ilegitimidade de diferenciação com base em critérios subjetivos); obrigação de
diferenciação (tratar igual o que é igual, tratar diferente o que é diferente)
➢ Igualdade como “prevalência da lei” – igualdade na aplicação da lei. Dirigido ao
julgador.
➢ Igualdade “perante a lei” – justificação suficiente para o tratamento desigual das
situações e inadmissibilidade de tratamentos diferenciados. Dirigido ao legislador.
➢ Igualdade “através da lei” – visa a realização da igualdade material para corrigir os
abusos da liberdade individual. Dirigido ao legislador.
FUNÇÕES: TC fala em valor supremo.
➢ Melo Alex: princípio estruturante e critério de interpretação – exigência de fundamento
racional para as diferenciações de tratamento, desenvolvendo funções heurísticas,
instrumentais, promotoras e de controlo.
ORIGENS: Magna Carta de 1215 em que os impostos não podiam exceder os limites do razoável
– desenvolvido depois da 2ª Guerra Mundial como exportação da Ciência Jurídica alemã
CONCEITO: Atuações do Estado devem obedecer a uma justa medida, sob pena de serem
arbitrárias e de extravasarem dos limites dos Direito.
➢ Tem como equivalente a proibição do défice (deveres positivos de proteção e promoção)
– abaixo da justa medida de intervenção do Estado haverá ilicitude por violação da
proibição do défice.
CONTEÚDO: decompõe-se em diversas vertentes
➢ Adequação (idoneidade) – medidas a adotar pelo Estado devem ser aptas e idóneas
para realizar o fim prosseguido.
➢ Necessidade (indispensabilidade) – deve recorrer-se ao meio menos restritivo possível
para atingir o fim.
➢ Proporcionalidade em sentido estrito (da ponderação da justa medida) – visa o
equilíbrio na relação entre a gravidade do sacrifício imposto e a importância do fim
visado, ponderando vantagens e desvantagens.
FUNÇÕES: diretiva e racionalizadora da ação do Estado; proteção e controlo relativamente à
generalidade das atuações estatais.
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Princípio Democrático
Para se implantar, a democracia requer um terreno devidamente preparado.
As sementes da democracia começaram a ser plantadas em 1822 mas só produziram frutos
verdadeiros a partir de 1976/82
➔ Pressupostos da Democracia – pressupostos da Constituição que são um conjunto de
fatores externos.
Principais fatores políticos:
o Dirigentes eleitos pelos cidadãos
o Eleições livres, frequentes e justas
o Liberdade de expressão
o Fontes alternativas de informação sem estarem sob controlo do governo ou
outro grupo político
o Autonomia de associação
o Cidadania inclusiva
O terreno fértil onde democracia germina pauta-se por sociedades abertas, complexas
e minimamente estruturadas em torno dos valores e da prática do constitucionalismo.
Opções da CRP
• Vontade popular como valor de base da comunidade e do sistema constitucional (art.
1º) – onde o poder político encontra o seu fundamento e a sua legitimidade.
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Conceito de Democracia
Problemáticos e abusivamente mal utilizados – caráter multiforme e multidimensional
➢ Conceção moderna de igualdade de todos os cidadãos: igual direito à participação
política.
o Fórmula de Lincoln – governo do povo, pelo povo e para o povo (hoje no art. 2º
da Constituição Francesa)
o Fórmula de Popper – sistema em que os governantes podem ser afastados do
poder sem violência
▪ Bobbio – sistema em que os conflitos são resolvidos sem recorrer à
violência
o Habermas – auto-organização política da sociedade através da discussão e da
deliberação
➢ Plano constitucional-positivo: surge como um valor (art. 1º), no qual a comunidade se
reconhece, como fundamento do poder político (art. 2º) e como forma política que
define os termos da relação entre governantes e governados – princípio constitucional
complexo como um conjunto de princípios, procedimentos e regras.
o JOMI – forma de governo em que o poder é atribuído ao povo, à totalidade dos cidadãos
e em que é exercido de harmonia com a vontade expressa pelo povo, nos termos
constitucionalmente prescritos.
o Melo Alex – segundo lado do constitucionalismo – forma de organização e
racionalização da titularidade e do exercício do poder político numa
comunidade humana.
SOBERANIA POPULAR
Art. 3º, nº1: “a soberania una e indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as normas
previstas na Constituição”
➢ Povo – conjunto ou reunião de todos os portugueses em condições de igualdade
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LEGITIMAÇÃO DEMOCRÁTICA
O poder político exercido pelos governantes assenta na legitimação da vontade popular.
➢ Esse poder é dado pelo povo.
Legitimados para agir como representantes do povo, ao qual prestam contas.
➢ Governantes são autorizados pelo povo.
o 1º Grau: escolha direta (PR e Deputados)
o 2º Grau: escolha indireta (PM e Ministros)
Limites:
• Não há verdades absolutas nem decisões finais em democracia – natureza da maioria,
que não detém o monopólio da verdade
• Há casos em que exige-se consensos mais alargados (maiorias agravadas) – onde se
permite formulação de votos de vencidos dando voz às minorias
• Regras e princípios como barreiras contra as decisões da maioria – no conteúdo
irrestringível dos direitos fundamentais (regra básica do Estado de Direito) – “trunfos
contra as maiorias”
Democracia Representativa
Mais relevante no Estado de Direito Democrático na CRP 1976 – sufrágio universal24 (art. 10º e
117º) e pluralismo partidário (art. 2º e 51º).
24
Onde cada cidadão tem um voto
31
Representação como processo dialético e interativo que produz uma determinada ação dos
representantes que deve responder a exigências específicas no que se refere ao seu conteúdo.
➔ Processo que deve realizar-se, mas não excluindo que se possa não realizar.
Democracia Semidireta
Sistema de Referendo (art. 115º) e de Iniciativa Popular (art. 167º/1 e 2).
Iniciativa Popular
Procedimento democrático pela Lei nº 17/2003 permitindo que um certo número de eleitores
para dar início a um processo legislativo – mínimo 35 mil.
Há matérias excluídas do âmbito da iniciativa.
Democracia Participativa
A CRP 1976, a nível metodológico, um elemento do Estado de Direito Democrático é o
aprofundamento da democracia participativa – assegurando e incentivando a participação
democrática (art. 9º) e direta (art. 109º).
32
Outras Funções
O princípio democrático desenvolve-se ainda num conjunto de outras dimensões e funções.
1. Estado Constitucional de Partidos – centralidade dos partidos políticos como elementos
indispensáveis à expressão da vontade popular. Participam nos órgãos baseados no
sufrágio tendo um monopólio de direito na representação política. Exercem o direito de
oposição democrática e são ouvidos previamente à dissolução da AR, bem como à
nomeação do PM. Dispõe de um conjunto de poderes e direitos estabelecidos pela
Constituição e pela lei.
2. Sistema Eleitoral – optou-se pelo Sistema de Representação Proporcional manifestando
a preferência pelo multipartidarismo e pela representação fiel da sociedade; existência
de círculos plurinominais; desde 1997 admite que a lei possa configurar o sistema
eleitoral em novos moldes com três tipos de círculos: nacional, plurinominal e
uninominal (art. 149º)
3. Problema da desobediência coletiva e insurreição revolucionária
4. Limites do Pluralismo – como a tolerância pelos intolerantes. A CRP não permite
fascismo (art. 46º/4)
5. Projeção quanto à concretização dos direitos económicos, sociais e culturais são
remetidas para a margem de conformação do legislador
Princípio da Socialidade
Estado social, de bem-estar, é concretizado no princípio do Estado de Direito Democrático.
Não há o conceito de Estado Social por reação à CRP 1933 – onde estava positivado
• Mas não tinha suporte: o Estado Social pressupõe condições prévias de Estado de Direito
e Democracia.
• Passível de ser concretizado por diversas formas.
Fala-se que hoje se vive uma segunda vida do Estado social sem as ilusões do equilíbrio entre
capitalismo e proteção social, do crescimento económico robusto e do pleno emprego.
A questão hoje é a da sustentabilidade do Estado Social – que com a integração europeia, o
legislador tem menos margem de manobra.
FUNDAMENTO: norma de base na Dignidade da Pessoa Humana (que não tem conteúdo jurídico
mas cujas funções são matrizes para outras normas) articulada com o princípio da solidariedade
e exigências de igualdade material
• Vem da Constituição histórica, remontando ao art. 6º/3 CRP1933 – ligação entre
dignidade da pessoa humana e bem-estar
• Texto e estrutura CRP; praxis política do legislador e jurisprudência do TC (que diz que
DPH é princípio supremo e usa-o apenas em relação ao bem estar)
• Orientação doutrinária em que a Dignidade da Pessoa Humana encerra uma exigência
imediata das condições e dos meios necessários à garantia da própria existência da
33
pessoa e este princípio desempenha o seu principal papel junto dos direitos sociais
(JRN)
SIGNIFICADO:
• Estado está constitucionalmente obrigado à promoção da igualdade real e à realização
da justiça social
• Tem que responder à desigualdade social assegurando um conjunto de necessidades
coletivas e condições mínimas de existência às pessoas distribuindo riqueza
• Assume uma responsabilidade pelas pessoas mais desfavorecidas da sociedade
Isto não significa que o Estado tem que desenvolver todas as tarefas para a realização do bem-
estar e atendendo ao princípio da solidariedade (dever de responsabilidade recíproca),
subsidiariedade (só deve intervir quando não se realiza eficazmente) e cooperação, estas
podem ser desenvolvidas pelos privados.
34
• Princípio democrático
• Princípio da liberdade (Baptista Machado)
Corolários:
1. Conjunto de interesses gerais da comunidade como um todo cuja realização compete
em exclusivo ao Estado (reserva de poderes a favor do Estado). Ex: função jurisdicional,
segurança externa, reserva da competência da AR
2. Articulação entre unidade do Estado e segurança jurídica – cláusula de supletividade
do Direito do Estado: assegura sempre a existência de um direito aplicável em matéria
de competências de entidades infra-estaduais (art. 228º/2)
Esta estrutura é limitada e demarcada por outras realidades normativas (art.6º/1): princípio
autonomia política regional, princípio da subsidiariedade, princípio da autonomia local, princípio
da descentralização democrática da administração pública.
DESCENTRALIZAÇÃO
Forma de repartição de atribuições e competências por pessoas jurídicas públicas distintas do
Estado, através do qual se exprime a organização pluralista do poder político.
A. Descentralização político-administrativa – transferência ou repartição de poderes
políticos, legislativos e administrativos do Estado – Açores e Madeira
B. Descentralização administrativa – transferência de atribuições pertencentes à função
administrativa
i. Em sentido estrito: descentralização em pessoas jurídicas autónomas –
autarquias locais, universidades públicas, associações públicas
ii. Devolução de poderes: descentralização em pessoas jurídicas integradas na
Administração indireta do Estado
EUROPEIZAÇÃO
Nos termos autorizados na CRP desde 1992, permitindo partilha e exercício comum de poderes
soberanos “necessários à construção e aprofundamento da UE” – respeitando o princípio da
subsidiariedade e os do Estado de Direito democrático.
• Unidade da soberania indivisível e residente no povo (art. 3º/1) impede que Portugal
se torne membro de uma eventual federação europeia ou que a transferência de
poderes seja definitiva e irrevogável
o A competência das competências ainda se encontra no Estado soberano (como
o TC alemão esclareceu num acórdão)
A UE surge como uma estrutura confederal não excluindo a hipótese do Estado recuperar a
plenitude dos poderes soberanos optando pelo abandono da UE (art. 50º/1)
• Estado delegou poderes soberanos a favor da UE autolimitando a sua soberania com a
“cláusula de empenhamento”
35
SUBSIDARIEDADE
Art. 6º/1 e 7º/6
Limitação da esfera dos poderes públicos ao que não possa ser adequadamente deixado à
sociedade e com a limitação da intervenção pública aos casos em que a mesma seja mais
racional e eficiente.
• Só se deve transferir na medida que as instituições as realizem melhor
• Critério de repartição de poderes entre o Estado e os demais entes infra-estaduais,
preferindo-se a esfera de poder mais próxima das pessoas e dotada de maior
racionalidade e eficácia
36
A Constituição cria órgãos e define as suas atribuições e competências, bem como estabelece
os princípios estruturantes da respetiva organização e funcionamento. Mas nem toda a
regulação está na CRP
➢ Ordem jurídica fundamental do Estado – ordem-quando incompleta com uma constante
articulação entre a CRP e a lei
➢ Algumas das múltiplas camadas não são objeto de normas constitucionais
➢ Há uma multiplicidade de fontes de Direito constitucional: primárias (lei, costume,
“interpretações”) e secundárias (convenções e jurisprudência)
37
38
Valor relativo (Acórdão 403/2009 TC) nenhum outro órgão para além do PR tem os seus
poderes unicamente definidos na CRP – a própria CRP autoriza a lei a intervir no sentido da
ampliação desses poderes.
Flexibilização a situações de delegações de poder e substituição.
Regime da Competência: nenhuma competência atribuída pela CRP pode ser modificada por lei;
nenhuma competência pode ser modificada apenas pela vontade do órgão a que está confiada;
nenhuma competência é modificável pela intervenção de um terceiro órgão que interfira nesses
poderes.
39
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Sempre existiu, na Constituição portuguesa a figura arbitral de um Chefe de Estado, titular de
poderes efetivos (apesar de o Executivo estar sempre entregue a outro)
• A partir da era constitucional, o PR é chefe de estado, “reina mas não governa”25
Caracterização
Único órgão de soberania cuja competência se encontra exclusivamente definida na CRP.
➢ Mais os poderes implícitos deduzidos dos poderes ou funções constitucionalmente
expressos (Comandante Supremo das Forças Armadas cujos poderes podem ser
definidos por lei)
Art. 120º e 127º/3
Função
O PR tem um conjunto de atuações típicas e funcionalmente orientadas.
1. Função de Representação – órgão de soberania unitário com legitimidade
democrática que representa a comunidade nacional como um todo: função clássica de
integração e unidade atribuídas ao Chefe de Estado.
i. Representação da comunidade nacional – sempre uma ideia inclusiva de todos
os portugueses, incluindo os residentes no estrangeiro (art. 121º/1)
ii. Corporiza a unidade do Estado e a independência nacional (art. 120º) – poder
de declarar guerra, fazer paz, dissolução Assembleias
iii. Comandante Supremo das Forças Armadas – impede que estas sejam
instrumentalizadas por grupos políticos e aproveitados comandos militares em
crises.
iv. Indulto e comutação de penas (art. 134º/f)
v. Confere condecorações (art. 134º/i)
vi. Representação externa da comunidade nacional – poderes de natureza
protocolar, relações internacionais, movimento diplomático e vinculação
internacional do Estado Português (art. 135º)
vii. Exteriorização do pensamento político
2. Função de Garantia – é o garante político da CRP, em virtude do seu juramento na
tomada de posse (art. 127º/3)
i. Desencadeia fiscalização da legalidade e Constitucionalidade (art. 134º/g e h)
ii. Veto político (art. 136º)
iii. Acompanhamento da atividade do Governo
iv. Pronúncia sobre todas as emergências graves da República (art. 134º/e) e
declaração do Estado de sítio ou emergência
v. Condicionamento da nomeação do PM, demissão do Governo e dissolução AR
25
Interrupção no período sidonista que não deixou raízes.
40
Estatuto
1. Eleito por sufrágio universal direto e secreto – art. 121º
2. Elegíveis cidadãos portugueses de origem maiores de 35 anos – art. 122º + inelegibilidades
art. 123º/ e art. 130º/3
3. Eleito por maioria absoluta dos votos validamente expressos (não se consideram brancos
nem nulos) – art. 126º/1 – podendo haver segunda volta no prazo de 21 dias – art. 126º/2
4. Mandato de 5 anos – art. 128º/127
5. Não pode ser destituído a não ser que seja condenado por crimes no exercício das suas
funções – impeachment art. 130º/3; crimes fora do exercício das suas funções só responde após
o termo do mandato
6. Irresponsabilidade política – não responde perante nenhum órgão, apenas sujeito a
responsabilidade política difusa (opinião pública)
7. Pode renunciar ao mandato – art. 131º
8. Impedimento temporário: substituído interinamente pelo Presidente AR ou pelo seu
substituto – art. 132º: suspendem imediatamente mandato de deputado e exerce apenas uma
parcela dos poderes do PR (congelamento de alguns poderes e outros dependentes de audição
do Conselho de Estado)
9. Direitos no relacionamento com o Governo: devida consideração, pronúncia, contacto
direto, informação, sugestão, opinião, imposição de condições
10. Deveres no relacionamento com o Governo: acompanhamento e vigilância, conselho,
distanciamento, não ingerência pública nas atividades próprias do governo
26
Schmitt era contra o TC e diz que o PR devia de ter tais funções
27
Podendo ser prolongado ou antecipado devido a várias situações
41
Competência
PR detém um vasto conjunto de poderes se bem que muitos deles condicionados à autorização,
proposta ou audição de outros órgãos.
➢ Art. 133º - competência quanto a outros órgãos
➢ Art. 134º - competência para a prática de atos próprios
➢ Art. 135º - competência nas relações internacionais
Referenda Ministerial
Exigência de assinatura por parte do PM e dos Ministros competentes em razão de matéria
relativamente a um conjunto de atos presidenciais – art. 140º/1
➢ Regra é a ausência da referenda (Valle) e dela ficando isenta alguns poderes importantes
o Só existe nos atos que pressuponham um envolvimento necessário do Governo
– confirmação ou atestado governamental (Valle)
Há atos de referenda livre e outros de referenda obrigatória (JOMI); obrigatória sob pena de
inversão radical dos podes (Reis Novais)
➢ Na prática nunca foi recusada
➢ Acórdão 309/94 – instrumento limitado, puramente “notarial” e certificatório da
qualificação dos atos presidenciais.
Melo Alex: ato essencialmente certificatório e como um poder de exercício vinculado cuja recusa
ilegítima do Governo pode ser encarada como uma quebra da devida cooperação institucional
e do regular funcionamento das instituições (art. 195º/2)
Promulgação
Ato eminentemente político do PR que atesta e declara que um determinado diploma foi
elaborado por um determinado órgão constitucional para valer como lei, decreto-lei ou decreto
regulamentar.
➢ Conhecimento qualificado dum ato do PR
➢ Qualificação do ato como de certo tipo
➢ Correspondente declaração solene
Poder de controlo. PR não tem de concordar integralmente, os aspetos positivos apenas têm
que superar os negativos.
Pode ser:
42
Prazo promulgar: 20 dias (art. 136º/1) | Prazo pedir fiscalização: 8 dias (art. 278º/1)
Veto
Poder político de impedimento de produção de efeitos jurídicos de certos atos, no uso de um
direito de controlo prévio do mérito ou da oportunidade do ato em causa.
Veto Liminar – discordância absoluta | Veto Construtiva – discordância parcial (Blanco Morais)
28
Aprovado em Conselho de Ministros, assinado pelo PM e Ministros – PR tem 40 dias para promulgar ou
vetar
43
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Origem remota nas Cortes da era pré-liberal: Parlamento unicameral, designado por sufrágio
universal, órgão autónomo e permanente perante o qual o Governo é politicamente
responsável. Representa os portugueses dentro e fora do território.
Relação com os outros órgãos:
• PR dispõe do poder de dissolução – interdependência sem prejuízo de se reconhecer
maior intensidade dos poderes do PR sobre a AR
• Responsabilidade política do governo face à AR – embora num cenário de maioria
absoluta o Parlamento é uma instância de ratificação pois é dominado pelos partidos do
governo.
Funções
1. Função Representativa (art. 147º) – torna presente a variedade de interesses e
aspirações da sociedade na pluralidade de visões e conceções do bem comum, “fórum
de debate” de diferentes interesses e visões da sociedade
➢ Parlamento é a base da formação do Governo: espelha os resultados eleitorais,
que condiciona as nomeações do PR
2. Função de Revisão Constitucional (art. 161º/a, 284º, 286º) – inicia-se e conclui-se na
AR numa competência que lhe está inteiramente reservada de modificação expressa de
alcance geral e abstrato, da constituição escrita.
3. Função de Programação, Definição e Controlo Político (art. 115º/1, 161º, 163º, 192º,
193º, 194º) – esfera de direção política num exercício muito diversificado dos poderes
políticos.
➢ Apreciar programa de Governo
➢ Aprovar lei de grandes opções e Orçamento de Estado
➢ Aprovar estatutos político-administrativos e conceder autorizações legislativas às
regiões autónomas
➢ Conceder autorizações (ao PR e ao Governo)
➢ Aprovar tratados e convenções internacionais
➢ Apresentar propostas referendo
➢ Promover processo de acusação ao PR
➢ Votar moções de confiança e censura ao Governo
4. Função Legislativa (art. 161º, 164º, 165º, 168º/6, 293º) – primado do Parlamento e
reservas de competência legislativa absoluta e/ou relativa. Supervisiona/aprecia as
competências legislativas do Governo (art. 169º)
5. Função Fiscalizadora – desde inquéritos parlamentares, perguntas a outros órgãos,
pedidos de fiscalização da constitucionalidade (art. 278º e 281º/2/f)
6. Função Eletiva (art. 239º/3 e 163º/g + h) – eleger membros de outros órgãos conforme
os artigos.
7. Função de Acompanhamento (art. 163º/1/f + i) – acompanhar a participação de
Portugal no processo de construção da UE bem como o envolvimento de forças militares
e de segurança no estrangeiro.
44
Mandato Parlamentar
• 4 anos = legislatura (art. 171º)
o Pode não durar os 4 anos com a dissolução da AR pelo PR, embora haja limites
(art. 172º/1)
• Livres de renunciar ao mandato (art. 160º/2) ou poder perdê-lo (art. 160º/1)
o Substituição regulada pela lei eleitoral (art. 153º/2) – regra de substituição pelo
primeiro candidato não eleito na lista submetida a sufrágio
• Mandato bivalente – o mandato é conferido ao partido e embora seja materialmente
representativo, há uma fungibilidade de dependência partidária
• Imunidades e garantias (art. 157º e 158º) – não respondem civil nem criminalmente por
tudo o que digam na AR. Evita pressões de grupos de interesse e garante a liberdade.
Organização
AR é um órgão colegial com uma pluralidade de outros órgãos30 e estruturas reguladas pela CRP
(art. 175º) e pelo Regimento da AR.
Plenário: titular da “competência das competências” por onde passam os atos mais relevantes
das funções desempenhadas pela AR.
➢ Competência residual em matéria política e instância de recurso de decisões tomadas
por outras estruturas da AR
➢ Há um conjunto de deliberações em plenário que estão sujeitas a maiorias agravadas
o Absoluta – art. 136º/2, 168º/5, 192º/4, 195º/1/f, 296º/1
o 2/3 presentes – art. 174º/2
o 2/3 presentes, desde que superior à maioria absoluta – art. 136º/3, 163º/h
o 2/3 em efetividade de funções – art. 130º/2, 286º/1
o 4/5 em efetividade de funções – art. 284º/2
29
Podendo, desde 1997 existir círculos uninominais ou círculo nacional – art. 149º/1
30
Desde órgãos e serviços administrativos que constituem estruturas parlamentares secundárias:
conferências de líderes, conferências de presidentes das comissões parlamentares, delegações da AR
45
Funcionamento
Órgão de funcionamento permanente durante os 4 anos (salvo dissolução), com 4 sessões
legislativas (cada ano eleitoral = 1 sessão legislativa) – art. 171º/1 + 174º/1
➢ Início a 15 de Setembro e termina a 15 de Junho (art. 174º/5)
o Início com a primeira reunião da AR após eleições
o Termina com a primeira reunião da AR após eleições (art. 153º + 173º)
Competência
As competências classificam-se de acordo com:
A. Forma dos Atos (art. 166º)32 – Aprovação da lei constitucional, lei orgânica, lei, moção,
resolução
B. Natureza dos Atos – competências normativas; competências políticas (dimensões da
função política do Estado); competências administrativas (atos relativos à organização
e funcionamento administrativos internos da instituição parlamentar)
31
Associações de direito público sem personalidade jurídica
32
Sem prejuízo de faltar a forma autónoma do Regimento (art. 175º/d)
46
GOVERNO
A consagração formal do Governo ocorre pela primeira vez na CRP 1933 mas a sua presença na
história constitucional portuguesa é muito anterior (embora sem ser órgão autónomo – prática
que nasceu à sombra da Carta Constitucional 1826).
Hoje temos um eixo da vida política no Governo com uma preponderância do Executivo vinda
do legado histórico (e da CRP 1933) desvalorizando-se o Parlamento também por uma série de
fatores extra-jurídicos.
Caracterização
Art. 182º CRP – órgão de condução da política geral do país
• Autónomo: depende da confiança política da AR e é responsável perante PR mas é
plenamente autónomo na função se governar – reserva de intervenção decisória
própria e uma ampla esfera de ação.
o Respeita princípios de interdependência entre os órgãos de soberania e não há
vinculações a esses órgãos
• Tripla natureza de órgão político, legislativo e administrativo (Canotilho): a função
governativa tem um complexo de funções legislativas, regulamentares, planificadoras,
administrativas e militares, de natureza económica, social, financeira e cultural dirigidas
à individualização e graduação dos fins constitucionalmente estabelecidos
o Função de Condução Política geral do país – programação e execução de
orientações e opções políticas da comunidade – elaboração do programa de
Governo com as principais orientações políticas e medidas a adotar ou a propor
nos diversos domínios da atividade governamental (art. 188º) e a sua execução.
Proposta do Orçamento de Estado. Reformas legislativas. Intervenção política
de negociação de decisões na UE e políticas setoriais. Cooperação e articulação
com os poderes infraestaduais. Também há uma delimitação negativa sobre o
que o Governo não deve fazer – nas esferas de decisão que não lhe competem.
o Função Legislativa – amplo poder legislativo (PO: “canonização do Decreto-lei
como fonte normal e mais frequente”), singularidade inédita no Direito
comparado.
o Função de órgão superior da Administração Pública – posição cimeira e
principal órgão da Administração Pública; ampla reserva de competência
administrativa; justificação de todas as intervenções legislativas expropriadas
de poderes administrativos do Governo a favor das autoridades independentes
ou condicionadoras da sua margem de decisão administrativas; responde
perante a AR na medida da extensão dos seus poderes; pluralidade de
administrações públicas que pressupõe distintos poderes e relações do Governo
(direção, superintendência, tutela)
• Órgão Complexo: constituído por vários órgãos e princípios estruturantes
o Princípio da Colegialidade – nas decisões políticas importantes do Conselho de
Ministros (aprovação decretos-lei, definição de linhas políticas governamentais
e etc.) há um princípio da solidariedade: vinculação dos membros do Governo
às deliberações tomadas em Conselho de Ministros (art. 189º); responsabilidade
solidária para com o Parlamento não sendo individualmente responsabilizado
cada ministro e não há possibilidade de moção de censura para um ministro.
47
Composição
Art. 183º + lei orgânica aprovada por cada Governo em funções: DL 251-A de 2015.
• Podem haver órgãos singulares, colegiais, de existência obrigatória ou facultativa.
o Obrigatória: Conselho de Ministros, Ministros e PM
o Facultativa: os demais
• Conselho de Ministros (art. 184º) é presidido pelo PM (podendo ser excecionalmente
pelo PR, art. 133º/i)
o Competência – art. 200º: doutrina discute se pode haver modelo de
concentração de poderes no Conselho de Ministros.
▪ Melo Alex: princípio da competência e da adequação funcional devem
levar a restrições a esse entendimento
• Ministros têm departamento governamental e executam as linhas gerais da política
governamental assegurando as relações de caráter geral entre o Governo e os demais
órgãos do Estado, no âmbito dos respetivos ministérios (art. 201º/2)
• Secretários de Estado estão na dependência de um ministro e dispõe de competências
delegadas.
Formação do Governo
Art. 187º
• PR usa poderes de conformação política atendendo a um juízo feito acerca dos
“resultados eleitorais”
o Não é um ato inteiramente livre pois não pode deixar de se ter em conta a
composição da AR (Governo deve ser encontrado no quadro do sistema
partidário parlamentar)
o Não é nomeado, necessariamente, o líder do partido mais votado
o PR pode condicionar as nomeações à aceitação de certas condições ou
compromissos políticos
o PR pode recusar a nomear algum dos ministros
• Ato formal de nomeação é precedido da indigitação – para que este possa procurar
uma solução governativa e esboçar logo as primeiras linhas; pois a partir da
nomeação só tem 10 dias para apresentar programa de Governo à AR (art. 192º)
• Governo está em gestão até a AR conferir legitimidade política acedendo aí à
plenitude de funções
o Pode haver uma rejeição do programa de Governo ou voto de confiança
(art. 192º/3 e 4)
Cessação de Funções
1. Por intervenção da AR: aprovação por maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções de uma moção de rejeição do programa de governo, moção de censura ou maioria
simples da não aprovação de moção de confiança (art. 195º)
48
2. Demissão do Governo ao PR: a aceitação expressa não pode levar muito tempo, atendendo
ao princípio da renunciabilidade dos cargos públicos.
3. Demissão do Governo pelo PR: art. 195º/2 a partir da revisão de 1982
➢ Mudança da natureza do Governo com o PR, que ficou mais limitado
➢ Art. 195º/2 é uma “mentira piedosa” (André Gonçalves Pereira) esvaziada de sentido
➢ A prática prefere a dissolução da AR
➢ Manifestação da responsabilidade política institucional limitada
➢ Conceito de “regular funcionamento das instituições” de difícil preenchimento
valorativo
4. Causas Objetivas ou Involuntárias: morte PM, nova legislatura (art. 195º) e a condenação do
PM (art. 117º/3)
Funcionamento
Através de cada um dos seus membros (individual) e através do Conselho de Ministros (colegial)
Competências
Competência Política, Legislativa e Administrativa: art. 197º, 198º e 199º
i. Competências de cada órgão: art. 200º - Conselho de Ministros; art. 201º - PM e
Ministros
ii. Legislativa reservada, concorrencial, autorizada e complementar
iii. 3 subfunções, art. 199º: garantir execução das leis (c + f); assegurar funcionamento
Administração Pública (a + b + d + e); promover satisfação necessidades coletivas (g)
Estatutos Especiais
Quando o Governo tem a sua margem de decisão com uma amplitude limitada.
1. Governos de Gestão – art. 185º/5: Situação de sem programa apreciado e Situação de
Governo demitido. Prática de atos estritamente necessários.
➢ Não pode executar o seu programa
➢ Não pode exercer competências em matéria política
➢ Caducam propostas de lei e referendo (art. 167º); não podem apresentar novas
propostas; caducam autorizações legislativas (art. 165º/5)
➢ Dever de concertação com o PR e/ou Governo anterior
2. Governos Demissionários – ainda não formalizaram a demissão mas já estão
politicamente enfraquecidos.
3. Governos em funções com AR dissolvida – semelhante, analogicamente ao Governo de
Gestão (perante a lacuna, analogia do art. 234º/2)
49
TRIBUNAIS
Órgãos de soberania a que compete administrar a justiça em nome do povo e assegurar a defesa
dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade
democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados. Art. 202º/1 + 202º/2 CRP
Juízes
Titulares de órgãos de soberania com poder de iurisdictio e legitimidade fundada na vinculação
à CRP e às leis no respeito dos deveres estatutários dos cargos.
➢ Princípio da exclusividade da função de julgar – órgão independente apenas sujeito à
CRP e à lei33 (art. 203º)
➢ Gozam de garantias excecionais que decorrem da independência dos tribunais –
independência, inamovilidade, imparcialidade e irresponsabilidade (art. 222º/5)
Categoria de Tribunais
Art. 209º/1
Tribunal Constitucional
Criado na revisão constitucional de 1982 (herdeiro de funções do Conselho da Revolução).
Tem lugar à parte no sistema constitucional.
• Título próprio – art. 221º a 224º CRP – órgão institucional e funcionalmente autónomo
(art. 221º)
• Art. 209º/1 refere-se aos tribunais “além do Tribunal Constitucional”
• Art. 210º/1 e 212º/1 CRP: “Sem prejuízo da competência própria do Tribunal
Constitucional”
• Regulação constitucional da composição competência e estatuto
• Poder de conformação política (art. 282º/4)
33
JOMI: lei = Direito
Melo Alex: relembra que a proposta de colocar-se “lei e Direito” foi chumbada…
50
o 6 escolhidos de juízes
o 7 escolhidos de juristas
Mandato de 9 anos.
Legitimação democrática indireta tendo a competência de especificamente administrar a justiça
em matérias de natureza jurídico-constitucional.
➢ Principal guardião da CRP – tem a última palavra quanto à constitucionalidade das
normas
51
Matriz Originária
Fase inicial (1976-1982)
• Marcada pela 2ª Plataforma de Acordo Constitucional
• Propensão para o parlamentarismo35 (reação a 1933)
• Conveniências de ocasião favoráveis ao pendor presidencial
Imitação do Sistema de Governo Francês – apelidado recentemente por Maurice Duverger como
semipresidencial.
34
Forma como se estruturam os órgãos do poder político soberano do Estado - modo de relacionamento
no exercício da função política.
35
Governo é formado a partir da composição do Parlamento, que apenas depende da confiança do
Parlamento e é politicamente responsável perante este
36
Vs. Canotilho/Moreira: parlamentarismo racionalizado; Marcello Caetano: ditadura do Conselho da
Revolução
52
Radicalização doutrinária
3ª fase mais recente
• Orientação para o semipresidencialismo
• Maioritariamente começam a surgir construções alternativas
SEMIPRESIDENCIALISMO
Apesar da maleabilidade e das metamorfoses que foi sofrendo tem adesão de autores que
identificam características da componente parlamentar e da componente presidencial – JOMI,
MRS, Blanco de Morais, Bacelar Gouveia, Reis Novais.
CONSTRUÇÕES ALTERNATIVAS
Muitos se juntaram a Gomes Canotilho e Vital Moreira na recusa do semipresidencialismo
resultando em posições muito diversificadas.
Barbosa Rodrigues – Sistema Governamental Primo-Ministerial
André Gonçalves Pereira – Sistema Parlamentar Racionalizado
• Reforço da componente parlamentar em 1982
• Capacidade de controlo do Governo pelo PR com poder de demissão do Governo (art.
195º/2) é uma “mentira piedosa” – sem conteúdo útil
37
Outubro 2015: JRN disse que no período em que PR não pode dissolver AR o sistema deixa de ser
semipresidencial -> o que não pode ser pois a sua definição é estável
53
54
MELO ALEXANDRINO
Irrelevância da qualificação nominal do sistema.
Atende a certos traços do funcionamento do sistema de governo:
• PR nunca foi chefe de partido e • PR guarda distância em relação ao
quando eleito, dissolve-se a maioria Governo
que o elegeu • Tendência para a
• Não foram os partidos, por si só que governamentalização
fizeram eleger PRs • Estabilidade governativa desde
• Nenhum Governo se formou ou 1987
subsistiu sem ser como emanação • Partidos apresentam “candidatos a
da expressão da situação PM”
parlamentar • 2004 – demissão PM não envolve
• PR quase sempre nomeou PM o dissolução do Parlamento
líder do partido com mais votos • Integração europeia reforça
• Nenhum Governo minoritário teve posição do Governo
o seu programa rejeitado na AR • JOMI: costume constitucional de
(exceção: Outubro 2015) completa separação entre PR e
• Nenhum Governo caiu por ato livre Governo
do PR
Sistema de Governo: sistema de base parlamentar, inserido nos sistemas mistos, onde
quem governa é sempre o Governo
➢ Base parlamentar – preponderância, no texto e na prática, das características próprias
do parlamentarismo
➢ Inserção nos sistemas mistos – recusa da integração num sistema típico e num sistema
misto: variedade aberta desvalorizando a designação
➢ Governo pelo PM – poderes relevantes do PR em Portugal e elasticidade no sistema de
governo, mas, é sempre o Governo que governa não havendo lugar à ambivalência
francesa nem a uma autoridade bifronte do executivo – cuja condução está
constitucionalmente remetida para o Governo, ainda que sob a fiscalização e controlo
político da AR e do PR38
38
Discorda de Pedro Sanchéz, pois os papéis nunca se invertem.
55
A partir da CRP
Lei utilizada em 4 diferentes aceções:
i. Sentido de norma jurídica (art. 13º/1 e 203º)
ii. Sentido de ato legislativo do Parlamento (art. 112º/1, 134º/b, 136º/1, 149º/1, 161º/c,
166º/3, 278º/1)
iii. Sentido de ato legislativo em qualquer forma (art. 112º/5)
iv. Sentido de lei do Parlamento e decreto-lei do Governo (art. 112º/6)
Para se entender o conceito de lei há diversas disposições úteis mais não inequívocas
• Art. 3º/3 – Princípio da constitucionalidade das leis
• Art. 18º/3 – Leis que restringem DLG têm que ter caráter geral e abstrato
• Art. 76º/2 e 241º - Reconhece autonomia estatutária a órgãos infraestaduais
• Leis que definem bases gerais
• Matérias reservadas à competência da AR ou do Governo
• Art. 202º/2 – Define função jurisdicional
Doutrina
Corrente Substancialista: os valores do Estado de Direito (como o postulado da proibição do
arbítrio) implicam que as leis têm que ter caráter geral e abstrato e só é válida, em princípio, se
assumir as características da generalidade e abstração. (JOMI + Pereira Coutinho)
Corrente Formalista: lei é todo e qualquer ato do poder político a que se atribui essa forma
qualquer que seja o seu conteúdo. Plano material vazio e aberto (Canotilho + MRS)
Aceção Estrutural (Blanco de Morais): exclui uma aceção puramente formal e lei é todo o
critério de decisão produzido e revelado sob a forma de lei pelos órgãos titulares da função
39
Regulamento ≠ Lei
Lei – norma geral e abstrata inovadora (mas também pode ter atos individuais e concretos; ex: concessão da tv pública
à RTP) e ato da função legislativa
Regulamento – ato normativo da função administrativa. Normas gerais e abstratas que se destinam a executar e
aplicar leis. Também podem ser atos administrativos desde que não contrários à lei.
Mesmo em matérias reservadas à AR, pode haver um regulamento desde que apenas venha aplicar a lei e não venha
trazer matérias inovadoras que a alteres.
➔ Impostos são, por excelência, matéria de lei ou decreto-lei (herdado da Constituição histórica e do princípio
do “no taxation without representation”).
➔ Há muitos aspetos da montagem dos impostos que podem ser definidos por regulamento pois pertencem à
função administrativa (datas e etc.)
56
legislativa e que exprime supremacia sobre os demais atos normativos não políticos, interno
infra-constitucional.
Jurisprudência Constitucional
Adere à corrente formalista e tem vindo a corrigir expressamente a posição substancialista.
➢ Acórdão 26/85; 80/86; 168/88 – é lei independente do conteúdo
Melo Alexandrino
Os atos legislativos definem-se essencialmente pela sua forma – para haver lei é irrelevante o
conteúdo e define-se pela forma e pelo órgão competente para a sua emissão.
Em princípio define-se pela forma e pelo procedimento mas não pode ter qualquer
conteúdo pois há limites.
i. Lei ordinária não pode alterar normas constitucionais nem pode intervir nos domínios
materiais da função jurisdicional.
ii. Limites materiais: dimensões do princípio do Estado de Direito (proibição do arbítrio,
proibição do excesso, proteção da confiança) e respeito pelos DLG
iii. Limites que decorrem da separação de poderes: normas constitucionais atributivas de
competência política e que configuram “reservas especiais de administração”
iv. Limites que relevam na forma dos atos: podendo haver reserva de ato administrativo
Apesar da lei se definir pela sua forma (relacionado com a existência da lei), a lei não
pode validamente dispor sobre as matérias que entender, sempre que encontre uma
norma constitucional que se lhe oponha seja um parâmetro material ou qualquer outro.
A lei não pode, então, esvaziar o conteúdo da autonomia privada41 (Acórdão 374/2004)
Reserva
Conceito que significa uma pertença exclusiva: no sentido de caber unicamente a um ato,
função ou órgão decidir ou ocupar-se de determinada matéria.
Reserva de Constituição
Matérias cuja regulação compete apenas à CRP excluindo quaisquer outras formas.
40
A função jurisdicional existe justamente para assegurar que existe um controlo.
41
Não podendo haver uma lei que dispusesse que as famílias tinham que rezar antes das refeições; não
poderia revogar regulamento da FDL; não pode dar orientações de conduta ao Governo ou definir como
este dirige os serviços; TC proibiu o ato legislativo como substituição do ato administrativo
57
Reserva de Lei
Relações entre a função legislativa e a função administrativa – conjunto de matérias que devem
necessariamente ser reguladas por lei
➢ Não podem ser reguladas por normas jurídicas inferiores à lei
➢ Precedência de lei em relação a qualquer atuação administrativa
➢ Leis suficientemente precisas – regulação de forma pormenorizada e com densidade
Dimensão Negativa: matérias reservadas à lei não podem ser reguladas por outras fontes
Dimensão Positiva: matérias reservadas à lei têm regime jurídico estabelecido (com certeza,
precisão e densidade) por ela
Força de Lei
Atributo, qualidade ou capacidade da lei. Suscetibilidade da lei poder revogar e condicionar
outros atos, sem que por eles possa ser revogada ou condicionada.
• Força ativa – capacidade de inovação do ato legislativo revogando, derrogando ou
modificando outras fontes.
o Podem ser atos que não sendo leis têm esta força: declarações de
inconstitucionalidade com força obrigatória geral (ato com força afim de lei)
• Força passiva – capacidade de resistir à revogação ou derrogação.
o Quanto maior, mais resistência à alteração: podem necessitar de uma maioria
qualificada ou outro procedimento agravado.
42
Várias espécies de atos legislativos admitidos no ordenamento: leis, decretos-lei, decretos legislativos
regionais (art. 112º/1)
58
59
43
Como a AR é eleita por sufrágio universal direto legitima que a AR tenha mais importância na larga
maioria de certas matérias (importantes) segundo os art. 164º (não pode haver sequer decreto-lei) e art.
165º (pode haver DL se a AR autorizar à luz do art. 161º, alínea d)
60
2. Sim
Setor doutrinário que afirma o primado do parlamento.
• Regra geral que AR pode legislar sobre todas as matérias não reservadas a outros órgãos
(art. 161º/c)
• Amplitude da reserva absoluta e relativa da competência legislativa parlamentar
• Reserva do Parlamento em todas as leis reforçadas
• Reserva relativa – AR pode conceder ou recusar autorização mas também definir o
sentido e a extensão da autorização (art. 165º/2)
• Leis de bases – subordinação dos DL e dos DLR a todas as leis de bases (art. 112º/2),
mesmo as decretadas fora da reserva de competência da AR
• AR tem poder de ter a última palavra na apreciação dos DL
• Prazo de promulgação de leis ser 20 dias e DL 40 dias
• Veto presidencial suspensivo das leis e absoluto dos DL
• Cortesia institucional de o Governo não legislar sobre matérias pendentes na AR
44
Leis de base traçam o regime geral sob o qual assenta certo regime jurídico que depois é desenvolvido
61
Caso prático
Num caso prático de um ato legislativo olha-se: 164º -> 165º -> 198º/2 -> 112º/2 (conclui-se)
➢ Açores ou Madeira: outro artigo, para saber se poderia haver decreto legislativo regional – art.
232º fala da competência exclusiva e o art. 227º dá esse poder às regiões autónomas cuja
competência legislativa reporta-se mais às alíneas a), b) e c).
➢ Caso prático com decreto legislativo regional: Art. 164º + art. 165º -> art. 198º/2 -> ver estatutos
das regiões autónomas (se é matéria regional; Madeira, art. 40º; Açores, art. ) -> se está nos
estatutos então aplica-se o art. 227º/1
62
LEIS REFORÇADAS
Expressão introduzida na revisão constitucional de 1989 e são atos legislativos dotados de uma
“força específica de lei” tendo um fenómeno de relação com outros atos legislativos com
importantes implicações.
Origem: doutrina italiana trazida por Gomes Canotilho em 1979 se bem que algumas das
categorias de leis de valor reforçado já estavam presentes na história constitucional portuguesa.
Positivação: desde a revisão de 1997 estão no art. 112º/3 – e com as mudanças de 2004 o elenco
das leis de valor reforçado tem crescido exponencialmente com consequências negativas
(Blanco de Morais)
Funções: cada subespécie serve para algo específico – em tese, parece servir para identificar um
conjunto de atos legislativos que deveriam constituir um parâmetro normativo da fiscalização
da legalidade de outras leis: bloco de legalidade qualificada que assegura um controlo de
validade paralelo ao controlo da constitucionalidade45.
Desde 1997 que o art. 112º/3 reúne os vários critérios que se entrecruzam na qualificação duma
lei de valor reforçado. É impossível esboçar um conceito dogmático unitário de lei de valor
reforçado – há uma fratura radical na doutrina.
• Critério Material/ Hierárquico (Paulo Otero e JOMI): são leis de valor reforçado aquelas
cujo conteúdo deve ser respeitado por outras – função de pressuposto ou de padrão
de conformidade de outras leis.
o As leis reforçadas pelo procedimento são uma mera categoria formal despida
de qualquer relevância operativa
o JOMI: diferenciação de funções e proeminência não hierárquica mas que
confere específica força formal associada à função material
▪ Elenco heteróclito de leis reforçadas em que estão ausentes as leis
orgânicas e as reforçadas pelo procedimento.
o Paulo Otero: mecanismo análogo da lei reforçada face à lei = lei face ao
regulamento – relações de prevalência normativa de certas leis.
▪ 5 grupos de leis de valor reforçado em que não são todas igualmente
reforçadas: estatutos político-administrativos estão em primeiro lugar
sendo “as mais reforçadas das leis reforçadas”; reforçadas pelo
procedimento estão em último lugar sendo “leis reforçadas
imperfeitas”.
• Critério Formal/ Procedimental (Blanco de Morais): são leis de valor reforçado, em
sentido próprio, aquelas que são dotadas de procedimento agravado, por força da
Constituição.
o Devem o seu caráter a elementos orgânico-formais (plano da estrutura)
o Expressão exclusiva do poder parlamentar (plano institucional)
o Atos densos e completos (regime operativo) – leis definidas pelo seu conteúdo
são reforçadas em sentido impróprio e podem ser incompletas (como as de base
que carecem de desenvolvimento)
45
O que permite ao TC declarar ilegalidade de atos por violarem as leis reforçadas
63
1. Leis Orgânicas
12 Leis enumeradas no art. 166º/2 – leis orgânicas e reforçadas
46
Controlo da Legalidade – único traço que une as várias subcategorias de leis reforçadas.
64
• Leis completas – devem esgotar o tratamento da matéria sobre que incidem, não
podendo delegar ou reenviar para leis não orgânicas nada que corresponda ao respetivo
âmbito material – reserva de densificação total
• Matérias variadas
• Princípio da Tipicidade – não há outras leis orgânicas fora das do elenco do art. 166º/2
• Regime – particularidades aplicáveis a algumas espécies (pelo art. 168º/2; 226º/4 e
255º)
Especialidades
i. Título próprio de “lei orgânica” (art. 166º2) – beneficiando de numeração exclusiva (nos
termos da lei do formulário de diplomas)
ii. Votadas na especialidade no Plenário (art. 168º/4) exceto l), q), t) do art. 164º
iii. Aprovadas por maioria absoluta dos deputados em atividade (art. 168º/5)
iv. Superação do veto político por 2/3 (art. 136º/3)
v. Fiscalização preventiva pode ser pedida pelo PM, 1/5 dos Deputados (art. 278º/4) – PR
impedido de promulgar sem que decorra prazo de 8 dias, promulgação vedade (art.
278º/7)
➢ Protege governos minoritários e minorias políticas
1. Leis de Base
Acórdão 14/84: leis que definem opções político-legislativas fundamentais de certo regime
jurídico: fixa conjunto de princípio carecidos de posterior desenvolvimento (legislação
complementar a elas subordinada – 2ª parte art. 112º/2)
➔ Linhas orientadoras que devem obrigatoriamente ser seguidas pela legislação de
desenvolvimento – vinculação específica
➔ Supremacia das leis de bases sobre os DL de desenvolvimento: matérias reservadas à
AR como fora delas
47
Hesitações na doutrina. Melo Alex: “o que o legislador não distingue, nós não devemos distinguir”
65
Art. 198º/1/c não confere ao Governo reserva de competência de desenvolvimento das leis
de bases.
2. Leis de Autorização
3. Leis de Enquadramento
Atos legislativos de existência necessária – pressupostos e parâmetros normativos dos
ulteriores atos legislativos de execução e concretização.
i. Lei de Enquadramento Orçamental (art. 106º/1)
ii. Lei sobre criação, modificação e extinção das autarquias locais (art. 164º/n; 236º/4)
iii. Lei-quadro de adaptação do sistema fiscal nacional às especificidades regionais (art.
227º/1/i)
iv. Lei da criação de regiões administrativas (art. 255º)
v. Lei-quadro das reprivatizações (art. 293º)
66
Leis da reserva da AR têm densidade variável, mas, superior à das leis de bases – devem cumprir
a função específica que lhes foi constitucionalmente atribuída.
As que venham fora da competência exclusiva da AR não serão reforçadas.
1. Estatutos Político-Administrativos
Leis reforçadas pelo procedimento – reserva da iniciativa pelas ALRA (quem elabora o projeto do
estatuto, art. 226º/1)
Aprovados por maioria simples, algumas disposições exigem 2/3 (art. 168º/6/f)
Leis dotadas de parametricidade material – reforçadas pelo conteúdo sendo que há uma
vinculação genérica em que os estatutos devem ser respeitados por quaisquer leis (art.
280º/2/b,c; art. 281º/1/c,d)
67
_____
Único traço de união entre as várias subcategorias de leis reforçadas na CRP 1976 é o de que
todas constituem um padrão de fiscalização da legalidade de outras leis – paralelo ao controlo
da constitucionalidade.
➢ Verdadeira duplicação do sistema de fiscalização – idênticos os sujeitos com
legitimidade ativa, idênticas regras – aplica-se o regime da fiscalização sucessiva.
Três problemas do controlo da legalidade:
A. Controlo não se justifica para leis reforçadas pelo procedimento
B. TC desvaloriza o instituto e através da teoria da “consumpção dos vícios” se uma lei for
simultaneamente inconstitucional e ilegal prevalece o vício mais grave (a
inconstitucionalidade), não se tomando sequer conhecimento da ilegalidade
C. Questão de se é mecanismo útil ou dispensável na construção dogmática do conceito
de lei reforçada
68
69
Normas de Reserva
As reservas de competência legislativa nem sempre têm o mesmo alcance
I. Reserva abrange e esgota toda a matéria legislativa (reserva de densificação total)
como sucede na generalidade das alíneas dos art. 164º e 165º/1 começando com a) e b)
a. Acórdão 3/89: Nível mais exigente com toda a regulamentação reservada à AR
II. Reserva abrange o regime geral – podendo os demais órgãos legislativos legislar sobre
regimes especiais, ainda que de forma não incompatível com os princípios traçados no
regime geral – art. 164º/r; art. 165º/1/d, e, h
a. Acórdão 3/89: Nível intermédio em que a reserva se limita a regime comum
III. Definição de bases ou bases gerais do regime jurídico – Parlamento aprova opções
políticas fundamentais que são posteriormente desenvolvidas – art. 164º/d, i; art.
165º/1/f, g, n, t, u, z.
a. Acórdão 3/89: Nível menos exigente em que a competência da AR é apenas para
as bases
1. Fase de Iniciativa
Momento em que se põe em marcha o procedimento legislativo – apresentação de proposta
ou projeto de lei por parte de qualquer um dos sujeitos com tal poder funcional – art. 167º/1
➢ Iniciativa ≠ Competência: iniciativa é desencadear o procedimento; competência é poder
decretar a lei
o Nada impede que o Governo apresente iniciativas legislativas em matérias da
reserva absoluta ou relativa do Parlamento, pois não interfere no poder de
decretar a lei, somente desencadeia o procedimento através do qual o órgão
competente (AR) pode vir eventualmente a aprovar uma lei
48
Violação ao regimento acarreta ilegalidade e não inconstitucionalidade (só seria inconstitucionalidade
se ofendesse normas constitucionais)
70
2. Fase de Instrução
Comissões especializadas da AR vão recolher e preparar dados e elementos – emitem
pareceres, informações e pronúncias analisando a oportunidade do conteúdo da iniciativa
legislativa.
➢ Para os pareceres (art. 135º RAR) podem fazer audições e consultas – obrigatórias em
sede de procedimento legislativo quando determinadas pela CRP, DIP, DUE ou lei de
valor reforçado (Blanco de Morais)
3. Fase Constitutiva
Coração do procedimento – Parlamento exprime a sua vontade de decretação de um ato
legislativo, determinando o respetivo conteúdo e efeitos. AR quer o ato, e no final passa a
chamar-se DECRETO.
1º. Momento: discussão e votação na Generalidade – debate sobre princípios, sistema,
texto apresentado e interesse em avançar com a matéria ou não.
a. Maioria simples em Plenário.
2º. Momento: discussão e votação na Especialidade – debate sobre cada artigo, número e
alínea (teor de cada disposição do projeto ou proposta).
a. Norma de costume contra constitutionem em que a votação na especialidade
por maioria simples é em comissão (art. 150º RAR) sendo obrigatória em
plenário as do art. 168º/4, 5 parte final, 651.
49
Que podem levar a Inconstitucionalidades Formais
50
Mas podem aprovar DL enquanto Governo de gestão (art. 186º/5)
51
Art. 168º/6 – maioria de 2/3 superior à maioria absoluta em qualquer das votações (Gomes Canotilho)
71
Autorizações Legislativas
AR pode conceder autorizações legislativas ao Governo (art. 165º/1) e às ALRA (art- 227º/1/b)
– delega poderes por pedido.
72
Sujeitos: todos os DL (art. 169º/1) salvo os da competência exclusiva – AR com função política
de controlo + art. 227º/4
52
Sendo isso apenas obrigatório para as ALRA (art. 227º/2)
53
Ratificação (até revisão de 1982) – Melo Alex preferia pois não mostrava que o Governo era um
legislador normal
73
Finalidade: levar à cessação de vigência ou alteração dos diplomas (art. 169º/1); nos
autorizados pode ser a suspensão de vigência (art. 169º/2) – diplomas regionais só cessação (Rui
Medeiros)
Nunca pode ser para sanar eventuais inconstitucionalidades orgânicas do diploma.
Procedimento: requerimento de 10 deputados nos 30 dias à publicação do ato (art. 169º/1);
votação por maioria simples; caduca se revogado pelo órgão que o aprovou.
Forma dos atos: cessação de vigência – resolução (ato deixa de vigorar do dia da publicação da
resolução art. 169º/4 – AR deve especificar se há repristinação das normas revogadas pelo
diploma em causa art. 195º RAR); alteração – lei (art. 169º/5).
Explicação:
1. Herança da CRP 1933
2. JOMI: difícil enraizamento da instituição parlamentar na cultura cívica
3. PO: herança da ditadura militar + postura pré-liberal enraizada e com uma
impermeabilidade às conceções político-filosóficas liberais; CRP 1933 instalou uma
contradição estrutural na vertente parlamentar da CRP 1976
Melo Alex (próximo de PO): toda a história constitucional portuguesa é atravessada por
essa constante de perfil autoritário em que reside a preponderância efetiva do órgão do
poder executivo – herança da Constituição histórica, que nem foi posta em causa pela
Assembleia Constituinte
➢ Qualificação: não é algo politicamente natural nem deve ser sufragada a tese
da “canonização”54 do DL – nem jurídica, institucional, politica ou culturalmente
deve ser considerado normal o acervo de poderes atribuídos e exercidos pelo
Governo
o Anomalia na sobrevivência de elementos antiliberais incompatíveis
com o Estado constitucional de Direito Democrático
54
Melo Alex: “não se deve fazer reverência a este novo Santo”
74
Art. 198º/2 – reserva de decreto-lei obrigando a que esse ato legislativo se revista dessa forma.
Em paralelo à Regimento do Conselho de Ministros aprovado sob a forma de resolução (art.
200º/1/g) – aspetos essenciais da organização e funcionamento de um órgão colegial terão, por
força da CRP, sede legislativa.
Veto absoluto – natureza absolutíssima pois o Governo não pode transformar esses DL em
propostas de lei para a AR pois há reserva de DL.
75
76
77
78
INCONSTITUCIONALIDADE
A garantida da Constituição não se esgota no mecanismo de controlo da constitucionalidade.
Blanco de Morais envolve também:
• Rigidez constitucional
• Revisão constitucional
• Regulação dos estados de exceção
• Controlos inorgânicos
• Proibição de organizações contrárias à CRP
• “Desobediência civil)
Se ofender outra lei (de autorização, de bases) estamos perante uma Ilegalidade, ou
Inconstitucionalidade indireta (Blanco de Morais).
Pelo art. 277º/1, fiscalização não abrange todos os atos do poder político (TC não aprecia atos
políticos e só há inconstitucionalidade por atos legislativos)
➢ Apenas os atos da função de revisão constitucional e das funções primárias do Estado,
com destaque para a legislativa, estão submetidos à fiscalização jurisdicional da
constitucionalidade.
Tipos de Inconstitucionalidade
A inconstitucionalidade pode ter as mais diversas feições pelo que se aprecia sob 6 critérios.
1. Modo da Ofensa: por ação – prática de um ato que ofende a CRP, assumindo caráter
mais grave e relevante; por omissão – resulta da inércia quando se deixa de praticar um
ato a que se estava constitucionalmente obrigado (ocorre quando o legislador não
aprove medidas legislativas necessárias para dar exequibilidade a normas
constitucionais não exequíveis por si mesmas – art. 283º/1. TC dá apenas conhecimento
aos órgãos e não há inconstitucionalidade de omissões)
55
Só excecionalmente se poderá falar de inconstitucionalidade de atuações de sujeitos privados.
79
2. Natureza do Vício56:
a. Inconstitucionalidade Material – colisão do conteúdo do ato do poder político
com o conteúdo de uma norma constitucional. Contraria-se uma disposição da
CRP.
i. Violação textual de uma norma
ii. Violação de uma norma implícita
iii. Desvio de poder legislativo (contradição entre a finalidade prosseguida
pelo ato e os fins da norma constitucional, ex: leis de autorização
legislativa que não definam objeto, sentido e etc, pois passam cheque
em branco ao Governo e ofendem também princípio da separação de
poderes)
b. Inconstitucionalidade Formal – violação de normas constitucionais
respeitantes à produção ou revelação de um ato do poder político.
i. Vícios no Procedimento (não cumprimento de regras constitucionais
que regulam a marcha ou os demais requisitos para a produção do ato)
ii. Vícios na Revelação do Ato (ato produzido não apresenta o título
jurídico que lhe deveria corresponder)
iii. Vícios no Excesso de Forma (ato sujeito a procedimento mais exigente
ou título mais solene do que deveria ser)
c. Inconstitucionalidade Orgânica – vício que se traduz na violação de uma regra
de competência (pressuposto subjetivo-objetivado do ato)
i. Carência absoluta de fundamento constitucional para a ação do Estado.
Ex: rezar antes do almoço
ii. Usurpação de funções do Estado (ou de poderes)
iii. Invasão da competência alheia (orgânica stricto sensu)
Melo Alex: discorda de JOMI quando se diz que a material tem prioridade sobre as
outras. Argumentos a favor do equilíbrio e importância dos vícios (incindibilidade dos
elementos do Estado constitucional) – art. 277º/2 só atribui inexistência a vícios
orgânicos e formais (e não a materiais)
3. Extensão: Total – desconformidade afeta o ato do poder político em toda a sua extensão
(orgânicas e formais); Parcial – desconformidade afeta apenas parte do ato, da norma,
do período de vigência da norma (no caso de aumento de despesas no ano económico
em curso, acórdão 297/86) (materiais)
4. Momento da concretização do vício: Originário – ato político ofende desde o início certa
norma constitucional em vigor (art. 282º/1); Superveniente – ato político passa a ser
desconforme após surgimento de nova norma constitucional (por revisão, costume ou
interpretação – revela-se vícios materiais em virtude da passagem do tempo)
a. Inconstitucionalidade Deslizante – alteração progressiva da realidade material
regulada pela norma
5. Vigência das normas: Presente – inconstitucionalidade é perante norma constitucional
ou ato do poder político em vigor; Pretérita – inconstitucionalidade ocorre perante
norma constitucional ou ato do poder político que já não está em vigor (fenómeno mais
56
Vício = desconformidade específica do ato do poder político que respeite a qualquer dos seus
pressupostos ou elementos.
80
Equaciona-se com o ordenamento jurídico em causa e da valoração que cada Constituição fizer
do sistema de fiscalização, tendo em contra critérios de proporcionalidade, gravidade da
conduta e a revelação da função sistemática das normas violadas.
Sanções
Tipo concreto de reação assumida pelo ordenamento jurídico contra os atos inconstitucionais –
resposta aos desvalores
• Inexistência corresponde sanção de inexistência
• Invalidade corresponde, na fiscalização sucessiva abstrata, a nulidade típica e na
concreta a ineficácia
• Irregularidade não tem sanção
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Elementos caracterizadores:
O sistema misto e complexo português é caracterizado pelos seguintes traços fundamentais:
• Combina controlo da constitucionalidade das normas com o controlo da legalidade de
leis (respeito por leis reforçadas)
• Inteiramente jurisdicionalizado – tribunais e TC
• Fiscalização concreta (204º e 280º), abstrata preventiva (278º e 279º), abstrata
sucessiva (281º e 282º) e por omissão (283º)
• Centralidade do TC – última instância de decisão no processo de fiscalização concreta e
único órgão competente no processo fiscalização abstrata
• Predomínio do controlo exercido sobre normas – únicas exceções: controlo preventivo
referendos, interpretações implícitas de um tribunal (criação jurisprudencial = “quase-
amparo”)
• Regime do desvalor do ato inconstitucional
o Singular poder de todos os tribunais poderem recusar aplicar normas
inconstitucionais (art. 204º)
o Obrigatoriedade das normas inconstitucionais – até decisão judicial contrária
sem prejuízo ao direito de resistência (art. 21º)
o Possibilidade de impugnação a todo o tempo das normas inconstitucionais (art.
281º)
o Insanabildade da invalidade das normas inconstitucionais por qualquer
mecanismo
o Efeitos retroativos nas declarações de inconstitucionalidade com força
obrigatória geral (art. 282º/1)
o Repristinação da norma anterior à norma declarada inconstitucional (art.
282º/1)
o Ressalva dos casos julgados (art. 282º/3)
o Possibilidade de modulação dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade,
quando tal for exigido por equidade ou interesse público (art. 282º/4)
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Deficiências no modelo
Deficiências apontadas em 4 planos.
i. Dispensabilidade da fiscalização da legalidade – que pode ser suprimido sem perda
de racionalidade ou efetividade do sistema
ii. Crítica ao art. 279º/2 – desvio ao primado da CRP, princípio da segurança jurídica
e ofende princípio da constitucionalidade. Permite a introdução no ordenamento
de normas sobre as quais recaiu um juízo de inconstitucionalidade.
iii. Desequilíbrio na configuração do sistema na sua irracionalidade deficitária para a
proteção dos direitos fundamentais (Reis Novais)
a. Irracionalidade no acesso irrestrito à fiscalização concreta – abuso e prejuízo
para o bom funcionamento do sistema de justiça (natureza desigualitária
dado os custos de acesso aos Tribunais)
b. Irracionalidade no alargado conceito de norma da fiscalização concreta
c. Irracionalidade na insensibilidade do modelo à violação dos direitos
fundamentais
d. Défice no facto de só apreciar constitucionalidade de normas
e. Défice por não ter poderes para apreciar violações de direitos fundamentais
quando estas não resultem de atos normativos.
iv. Necessidade de instituição de um mecanismo jurisdicional específico contra
violações de direitos fundamentais.
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Retroatividade quase extrema
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• Os efeitos podem ser fixados com um alcance mais restrito pelo TC (sentenças
limitativas), introduzindo limites à retroatividade, repristinação ou ressalva de outros
efeitos.
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O ponto de partida do sistema é o art. 204º, em que os Tribunais não podem aplicar normas
inconstitucionais, e o ponto de chegada é o art. 280º, em que se recorre ao TC caso uma questão
de constitucionalidade tenha sido suscitada no julgamento.
Traços essenciais:
• Todos os tribunais portugueses têm competência para apreciar e decidir uma questão
de constitucionalidade
• É sempre possível recurso para o TC, que tem a última palavra – controlo difuso na base
mas concentrado no topo
• Pode ser levantada oficiosamente pelo juiz ou por qualquer das partes, sendo um direito
fundamental
• Incidente de um processo onde se discute uma causa principal – ninguém se dirige a um
tribunal propondo uma ação cujo objeto central seja pedir a inconstitucionalidade
• Resolução da questão da constitucionalidade é condição prévia para o julgamento
principal. Se for declarada inconstitucional o processo terá de ser decidido com base
noutra norma
• Conceito funcional de norma
• Parâmetro de controlo pode ser CRP ou leis de valor reforçado e art. 70º/1/i da Lei do
Tribunal Constitucional
• Não se julga por omissão
Recursos de Constitucionalidade
Recurso que tem por objeto a questão da constitucionalidade da norma aplicada pela decisão
recorrida ou a que a decisão recorrida recusou aplicação.
Tipos de recursos:
1º. Recursos de decisões positivas – recursos de decisões que recusem a aplicação de certa
norma com fundamento em inconstitucionalidade ou ilegalidade
2º. Recursos de decisões negativas – recursos de decisões que apliquem norma cuja
inconstitucionalidade ou ilegalidade tenha sido suscitada durante o processo
3º. Recursos de decisões que apliquem norma anteriormente julgada inconstitucional ou
ilegal pelo TC; em fiscalização concreta ou em fiscalização preventiva e sucessiva
abstrata (acórdão 528/96)
Maioria das decisões são do 2º tipo – facultativos e com regime processual mais dificultado.
➢ Requisito de que tenha existido aplicação efetiva de uma norma cuja
constitucionalidade foi levantada
➢ Recorrente suscitou a questão durante o processo e de forma processualmente
adequada
o Art. 72º/2 Lei Tribunal Constitucional – a questão tem que ser suscitada antes
de se esgotar o poder jurisdicional.
o Há um conjunto de situações que se admite a dispensa do ónus da suscitação
da questão
o Há exigências específicas quanto à interposição
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Os recursos de 1º e 3º tipo são em geral obrigatórios para o Ministério Público e têm um regime
mais favorável.
Tramitação Processual
• O objeto de recurso para o TC é a constitucionalidade ou ilegalidade de uma norma
(art. 280º/6)
• Prazo de 10 dias
• Além dos casos obrigatórios para o MP, só tem legitimidade para recorrer a parte
vencida na decisão do tribunal a quo
• Requerimento apresenta-se junto do tribunal a quo
• A reclamação é feita para o TC
Efeitos da Decisão
O TC pode manter a decisão recorrida ou pode ordenar ao tribunal que profira nova decisão.
Impede-se que a questão seja novamente levantada no processo.
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