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PARTE 8 VIDA ADULTA TARDIA

capítulo
Desenvolvimento
17 Físico e Cognitivo
na Vida Adulta
Tardia

Pontos principais
A velhice hoje
DESENVOLVIMENTO
FÍSICO
Longevidade e
envelhecimento Dave and Les Jacobs/Blend Images LLC
Mudanças físicas
Saúde física e mental
Você sabia que...
DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO
Estima-se que em 2040 a população
Aspectos do desenvolvimento de pessoas com 65 anos ou mais no
cognitivo
mundo inteiro será de 1,6 bilhão?

Objetivos de Em muitas partes do mundo, a faixa


aprendizagem etária que cresce mais rápido é a de
pessoas com 80 anos ou mais?
Discutir as causas e o
impacto do envelhecimento
da população.
Caracterizar a longevidade e Cérebros mais velhos podem gerar
discutir as teorias biológicas
do envelhecimento. novas células nervosas – algo que
Descrever as mudanças
antes era considerado impossível?
físicas na vida adulta tardia.
Neste capítulo, verificamos as
Identificar fatores que tendências demográficas da população
influenciam a saúde e o bem-
estar na vida adulta tardia. idosa hoje. Vemos o aumento crescente
Descrever o funcionamento da longevidade e da qualidade de vida
cognitivo dos idosos. na vida adulta tardia e as causas do
envelhecimento biológico. Examinamos
as alterações físicas e a saúde. Depois,
voltamos a atenção para o
desenvolvimento cognitivo: alterações
na inteligência e na memória, o
surgimento da sabedoria e a influência
da educação contínua na terceira idade.

A s rugas devem apenas indicar onde


estiveram os sorrisos.
—Mark Twain (1835–1910)

A velhice hoje
No Japão, a velhice é um símbolo de status. Lá, geralmente, quando os
viajantes se registram em hotéis, eles dizem a idade para assegurar que
receberão a deferência apropriada. Em muitas outras culturas, ao
contrário, envelhecer é visto como indesejável. Na pesquisa, os
estereótipos mais consistentes a respeito dos idosos são que, embora de
um modo geral sejam vistos como afetuosos e carinhosos, eles são
incompetentes e de baixo status (Cuddy, Norton, & Fiske, 2005; Cary &
Chasteen, 2015). Esses estereótipos inconscientes sobre envelhecimento,
internalizados na juventude e reforçados durante décadas por atitudes da
sociedade, podem ter se tornado autoestereótipos, que inconscientemente
afetam as expectativas dos idosos em relação ao seu comportamento e
que frequentemente atuam como profecias autorrealizáveis (Levy, 2003).

Quais são os estereótipos sobre idosos que


você tem visto na mídia e no cotidiano?

Hoje, os esforços para combater o idadismo – preconceito ou


discriminação com base na idade – estão em pleno crescimento, graças à
visibilidade cada vez maior de idosos ativos e saudáveis. Relatos sobre
idosos que atingem idades avançadas aparecem com frequência na mídia.
Na televisão, os idosos são cada vez menos retratados como pessoas
decrépitas e desamparadas, e mais como indivíduos equilibrados,
respeitados e sábios, ou astutos, mudança que pode ser importante na
redução dos estereótipos negativos sobre eles (Bodner, 2009).

idadismo
Preconceito ou discriminação contra uma
pessoa (geralmente o idoso) baseado na
idade.

Precisamos olhar para além das imagens distorcidas da idade, para a


sua realidade verdadeira e multifacetada. Qual é o perfil da população
idosa atual?
O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO
A população global está envelhecendo. Em 2015, 617 milhões de pessoas
no mundo tinham 65 anos ou mais, e até 2050, projeta-se uma população
total dessa faixa etária de 1,6 bilhão (He, Goodkind, & Kowal, 2016).
Para 2020, estimava-se que houvesse mais pessoas com 60 anos ou mais
no planeta do que crianças com menos de 5 anos; em 2050, a maioria
delas morará em países de baixa e média renda e não nos países de alta
renda onde essa transição demográfica começou (World Health
Organization, 2018i). O envelhecimento da população é resultado de
declínio na fertilidade acompanhado de crescimento econômico, melhor
nutrição, estilos de vida mais saudáveis, melhor controle de doenças
infecciosas, melhorias no acesso a água e saneamento básico e avanços
na ciência, tecnologia e medicina (He et al., 2016).
A crescente visibilidade de adultos mais velhos ativos e saudáveis
como a atriz Diana Rigg está mudando a percepção da velhice.
Aos 75 anos, ela interpretou a brilhante e ferina Lady Oleanna
Tyrell no popular programa de TV Game of Thrones .
HBO/Kobal/Shutterstock

Os países variam com relação à idade das suas populações (ver Figura
17.1). Por exemplo, no Japão, 26,6% da população tinha 65 anos ou mais
em 2015, e projeta-se que o número alcançará 40,1% até 2050. A
população de 65 anos ou mais do Qatar, por outro lado, era de apenas
0,9% em 2015, com crescimento projetado para 22,1% até 2050. Muitas
das populações mais idosas se encontram na Europa e na América do
Norte (Federal Interagency Forum on Aging-Related Statistics, 2019).
Em muitas partes do mundo, a faixa etária que cresce mais rápido é a de
pessoas com 80 anos ou mais. Projeta-se que a população mundial com
mais de 80 anos irá quase triplicar entre 2015 e 2050, de 126,5 milhões
para 446,6 milhões. Por outro lado, a taxa de aumento prevista para
adultos com 65 anos ou mais é de cerca de 1,5 vez os números atuais, e
prevê-se uma mudança percentual quase estável para pessoas com menos
de 20 anos (He et al., 2016). Diferentes países atendem as necessidades
crescentes do envelhecimento das suas populações com diversos níveis
de sucesso (ver Seção Janela para o Mundo).

FIGURA 17.1
Porcentagem da população com 65 anos ou mais: 2015 e 2050.
Projeta- se que a população com 65 anos ou mais crescerá
rapidamente nas próximas décadas. O crescimento será maior em
grande parte dos países em desenvolvimento.
Fonte: He, W., D. Goodkind e P. Kowal. International Population Reports. P95/16-1, An
Aging World: 2015. US Census Bureau, ed. Washington, DC: US Government Publishing
Office, 2016.

Nos Estados Unidos, o envelhecimento da população se deve às altas


taxas de natalidade e de imigração no começo e meados do século XX e a
uma tendência para famílias menores, o que tem reduzido o número
relativo de grupos mais jovens. O envelhecimento dos baby-boomers – a
geração nascida após a Segunda Guerra Mundial – é um fator
significativo (Administration on Aging, 2010). Desde 1900, a proporção
de norte-americanos com ou acima de 65 anos mais do que triplicou, de
4,1 para 15,2% em 2016. Os primeiros baby-boomers completaram 65
anos em 2011, e cerca de 21,7% dos norte-americanos provavelmente
terá 65 anos ou mais em 2040. Até 2060, as projeções populacionais
sugerem que os Estados Unidos terão 98,2 milhões de adultos com 65
anos ou mais. Também espera-se que a população com 85 anos ou mais
cresça, atingindo aproximadamente 14,6 milhões em 2040 – um aumento
de 129% em relação a 2016 (Administration for Community Living,
2018).
As populações de minorias étnicas e raciais nos Estados Unidos são,
em geral, mais jovens do que a população branca, mas a diversidade
étnica dos idosos está aumentando ainda assim. Em 2016, 23% dos norte-
americanos com 65 anos ou mais eram membros de grupos minoritários;
em 2060, serão 45%. Os afro-americanos representam o maior grupo
(9%), seguidos pelos asiáticos ou ilhéus do Pacífico (4%), nativos
americanos (0,5%), nativos do Havaí/ilhéus do Pacífico (0,1%) e adultos
multirraciais (0,7%). Os hispânicos, que podem ser de qualquer raça, são
aproximadamente 8% da população. A projeção é de que a população
hispânica idosa crescerá mais rapidamente, para quase 22% em 2060
(Administration for Community Living, 2018; Federal Interagency
Forum on Aging-Related Statistics, 2016).
O CUIDADO DE IDOSOS AO
REDOR DO MUNDO

À medida que o mundo envelhece, os países


precisam se ajustar às suas transições demográficas e às
novas necessidades das suas populações. Uma
necessidade urgente diz respeito ao cuidado de idosos.
Tanto o número de pessoas com direito a programas de
apoio aos idosos quanto o período durante o qual essas
pessoas precisam de auxílio estão aumentando.
O índice Global Age Watch classifica os países com base
em como os seus idosos estão se saindo. O índice mede
quatro aspectos do bem-estar dos idosos: segurança
financeira, estado de saúde, capacidade e ambiente
capacitador (aspectos que ajudam os idosos a cuidarem de
si mesmos de forma independente). Em 2015, os dados
estavam disponíveis e foram usados para classificar 96 dos
195 países do mundo. Suíça (1), Noruega (2) e Suécia (3)
ficaram no topo da lista, enquanto Afeganistão (96), Malawi
(95) e Moçambique (94) ocuparam as últimas posições. Na
América do Norte, os Estados Unidos ficaram em 9o, o
Canadá em 5o e o México em 33o. A maioria dos países
europeus está na primeira metade, sendo que os 20 piores
eram quase todos países da África, do Oriente Médio e do
Sudeste Asiático (HelpAge International Staff, 2015).
A primeira colocação ficou com a Suíça, onde um quarto
da população tem mais de 60 anos, devido aos seus muitos
programas de promoção da saúde, capacidade e atividade
para a população mais velha, assim como o seguro saúde
universal e os planos de pensão para todos os cidadãos.
Quase um terço da população japonesa tem mais de 60
anos; na oitava posição do ranking, o Japão é considerado
um dos países mais velhos e mais saudáveis do mundo. Os
japoneses implementaram políticas abrangentes para os
idosos, incluindo planos de pensão e de saúde universais
(HelpAge International Staff, 2015).
Tanto a Índia (71) quanto a China (52) têm muitos idosos
e grandes disparidades na qualidade dos serviços de saúde.
Na Índia, 80% dos idosos moram nas zonas rurais, 40%
vivem abaixo da linha da pobreza e não há um plano de
pensão ou de seguridade social oficial para os idosos. Na
China, os idosos estão em situação um pouco melhor em
relação à saúde física e mental. As discrepâncias são piores
em ambos os países para indivíduos com mais de 75 anos
(HelpAge International Staff, 2015).
Malawi e Moçambique têm pouquíssimos programas para
idosos. Os dois países estão nas piores posições em
segurança financeira e, por causa disso, 95% dos idosos
ainda trabalham. Não há programas de pensão universais e
o acesso à saúde é limitadíssimo. Em ambos os países, as
doenças crônicas são extremamente comuns. O abuso de
idosos – financeiro, físico e sexual – é comum. Muitas
pessoas idosas informam que se sentem inseguras e
desvalorizadas (HelpAge International Staff, 2015).
A desigualdade na saúde, renda, educação e
oportunidades é evidente entre os países mais ricos e os
mais pobres. Nos países de mais alta renda, praticamente
todas as pessoas com mais de 65 anos recebem alguma
forma de pensão e serviços de saúde. Nos países de baixa
e média renda, cerca de 25% recebem uma pensão ou
serviços de saúde de qualidade. Ainda há muito trabalho
pela frente no sentido de equalizar o cuidado de idosos no
mundo todo.
Em países com orçamentos
limitados, qual deve ser a
prioridade dos idosos nas
considerações sobre o
financiamento de serviços
sociais? Eles são tão, mais
ou menos importantes do
que as outras faixas
etárias? Por quê?

DO IDOSO JOVEM AO IDOSO MAIS VELHO


O impacto econômico de uma população que está envelhecendo depende
da proporção de pessoas saudáveis e fisicamente capazes dessa
população. Nesse sentido, a tendência é encorajadora. Hoje sabemos que
muitos problemas que antes eram considerados resultado da idade são
consequência de doenças ou de fatores do estilo de vida.
O envelhecimento primário é um processo gradual e inevitável de
deterioração física que começa cedo na vida e continua ao longo dos
anos, independentemente do que as pessoas façam para evitá-lo. Nessa
visão, o envelhecimento é uma consequência inevitável de ficar velho. O
envelhecimento secundário resulta de doenças, abusos e maus hábitos,
fatores que em geral podem ser controlados (J. C. Horn & Meer, 1987).
Essas duas filosofias do envelhecimento podem ser comparadas ao
conhecido debate natureza-experiência. O envelhecimento primário é um
processo da natureza, governado pela biologia. O envelhecimento
secundário é resultado do ambiente, ou seja, dos traumas ambientais que
se acumulam ao longo da vida. Como sempre, a verdade está em algum
ponto entre os dois extremos e ambos os fatores são importantes.

envelhecimento primário
Processo gradual inevitável de deterioração
física ao longo da vida.
envelhecimento secundário
Processo de envelhecimento que resulta de
doenças, abusos e maus hábitos físicos e que
pode muitas vezes ser evitado.
atividades da vida diária (AVDs)
Atividades essenciais que são a base da
sobrevivência, como alimentar-se, vestir-se,
banhar-se e realizar tarefas domésticas.
idade funcional
Medida da capacidade de uma pessoa de
funcionar efetivamente em seu ambiente físico
e social em comparação com outras da
mesma idade cronológica.
gerontologia
Estudo dos idosos e dos processos de
envelhecimento.
geriatria
Área da medicina relacionada aos processos
de envelhecimento e aos problemas de saúde
que surgem com a velhice.

Hoje em dia, os cientistas sociais especialistas em envelhecimento


referem-se a três grupos de adultos mais velhos: o “idoso jovem”, o
“idoso idoso” e o “idoso mais velho”. Esses termos representam
construções sociais, de modo semelhante ao que acontece com o conceito
de adolescência. Cronologicamente, os idosos jovens são pessoas entre
65 e 74 anos, que em geral são ativas, animadas e vigorosas. Os idosos
idosos, pessoas entre 75 e 84 anos, e os idosos mais velhos, pessoas de 85
anos em diante, estão mais propensos a uma condição de fragilidade e
doença, e têm dificuldade em administrar as atividades da vida diária
(AVDs). Consequentemente, o idoso mais velho consome uma
quantidade desproporcional de recursos como pensões ou custos de
assistência médica, tendo em vista o tamanho da população de idosos
mais velhos (Kinsella & He, 2009).
Uma classificação mais significativa é a idade funcional: a capacidade
de uma pessoa interagir em um ambiente físico e social em comparação
com outros da mesma idade cronológica. Por exemplo, uma pessoa de 90
anos que está com boa saúde pode ser funcionalmente mais jovem do que
uma de 75 que esteja sofrendo os efeitos da demência.
O uso desses termos e distinções de idade nasceu das necessidades de
pesquisa e de serviço. A gerontologia é o estudo dos idosos e dos
processos de envelhecimento. Os gerontologistas estão interessados nas
diferenças entre os idosos porque estas podem influenciar os resultados.
Da mesma forma, os pesquisadores e praticantes da geriatria, o ramo da
medicina que trata do envelhecimento, preocupam-se com as diferenças
entre os idosos. Entender as diferenças entre eles chama a atenção para a
necessidade de serviços de apoio que pessoas em faixas etárias como a
dos idosos mais velhos podem precisar. Por exemplo, alguns membros
desse grupo sobreviveram às suas economias e não podem pagar pelos
próprios cuidados.

verificador
você é capaz de...
Discutir as causas e o impacto do envelhecimento da
população?
Indicar dois critérios usados para identificar a diferença entre
idosos jovens, idosos idosos e idosos mais velhos?
Diferenciar envelhecimento primário de envelhecimento
secundário?

DESENVOLVIMENTO FÍSICO
Longevidade e envelhecimento
Expectativa de vida é a idade máxima que uma pessoa nascida em um
determinado período e lugar provavelmente viverá, considerando-se a
idade atual e a saúde dessa pessoa. A expectativa de vida baseia-se na
média de longevidade, ou quanto tempo vivem os membros de uma
população. Ganhos em expectativa de vida refletem declínio nas taxas de
mortalidade (a proporção de uma população ou de certos grupos de idade
que morre em um dado ano). O tempo de vida humano é o período mais
longo que os membros de nossa espécie podem viver. O tempo de vida
mais longo documentado até hoje é o de Jeanne Clement, uma francesa
que morreu aos 122 anos de idade.

expectativa de vida
Idade máxima que uma pessoa em uma
determinada coorte provavelmente viverá
(dada a sua idade atual e condições de
saúde), com base na média de longevidade de
uma população.
longevidade
Duração da vida de um indivíduo.
tempo de vida
O período mais longo que os membros de
uma espécie podem viver.

A expectativa de vida não reflete a idade


média em que alguém morre. Ela inclui mortes
ao longo do ciclo de vida. Portanto, uma baixa
expectativa de vida geralmente significa uma
alta taxa de mortalidade infantil, que puxa o
número para baixo.

TENDÊNCIAS E FATORES NA EXPECTATIVA DE VIDA


Espera-se que um bebê nascido nos Estados Unidos em 2016 viva até os
78,6 anos, aproximadamente 30 anos a mais do que um bebê nascido em
1900, e mais de quatro vezes mais do que no início da história da
humanidade (National Center for Health Statistics, 2018; Wilmoth, 2000;
Figura 17.2). Boa parte desse aumento pode ser atribuída à influência dos
antibióticos, programas de vacinação e melhorias nas práticas sanitárias.
As taxas de expectativa de vida começaram, então, a ser mais afetadas
pelas mortes causadas por doenças crônicas, como câncer e doenças
cardíacas, e apesar de continuarem a aumentar em meados do século XX,
a mudança foi menos drástica. Mais recentemente, a expectativa de vida
nos Estados Unidos sofreu uma ligeira queda, em parte devido ao
aumento da taxa de mortalidade por overdoses não intencionais (National
Center for Health Statistics, 2018). Mundialmente, projeta-se que a
expectativa de vida continuará a aumentar nos países industrializados,
ainda que os ganhos previstos sejam relativamente baixos nos Estados
Unidos (Kontis et al., 2017).
FIGURA 17.2
Mudanças na expectativa de vida da antiguidade aos tempos
modernos.
Fonte: Adaptada de Katchadourian, 1987; dados de 2011 referentes aos Estados Unidos e
ao mundo do Banco Mundial, s/d, e WHO, s/d, respectivamente.

Diferenças de gênero Em praticamente todo o mundo, as mulheres


vivem mais tempo e apresentam taxas de mortalidade mais baixas em
todas as idades do que os homens. Aos 65 anos, há aproximadamente
80,3 homens para cada 100 mulheres; aos 85, há apenas 50 homens para
cada 100 mulheres; e aos 100, há 4 mulheres para cada 1 homem (He et
al., 2016). A distância entre os gêneros é maior em nações
industrializadas onde a renda é mais alta e a mortalidade feminina
diminuiu acentuadamente com as melhorias na assistência pré-natal e
obstetrícia (Kinsella & He, 2009). Na verdade, os modelos preveem que a
probabilidade da expectativa de vida feminina superar os 90 anos até
2030 é de mais de 50% (Kontis et al., 2017). A vida mais longa das
mulheres também tem sido atribuída à sua tendência maior de tomar
conta de si próprias e de buscar cuidados médicos, ao nível mais alto de
apoio social que recebem e à elevação de seu nível socioeconômico nas
últimas décadas. Além disso, os homens tendem a fumar e a beber mais,
e também estão mais expostos a toxinas perigosas (Kinsella & He, 2009).
Nos Estados Unidos, a distância entre os gêneros aumentou para 7,8
anos no final da década de 1970, principalmente porque mais homens
estavam morrendo de doenças relacionadas ao tabagismo (doenças
cardíacas e câncer de pulmão) e menos mulheres morriam no parto.
Desde então, a diferença diminuiu para 5 anos (National Center for
Health Statistics, 2018). A disparidade de gênero nos Estados Unidos
reflete os índices mundiais. Aos 65 anos, há cerca de 79,6 homens para
cada 100 mulheres. Essa disparidade aumenta com a idade; aos 85 anos,
há 52 homens para cada 100 mulheres (Federal Interagency Forum on
Aging-Related Statistics, 2016).
Diferenças regionais e raciais/étnicas A expectativa de vida global
era de 72 anos em 2016. Entretanto, a diferença nas expectativas de vida
entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento é enorme. Em
Serra Leoa, país africano, um homem nascido em 2016 podia esperar
viver 52,5 anos, comparado a 87,1 anos para uma mulher nascida no
Japão (World Health Organization, 2018i). As melhorias mais drásticas
em expectativa de vida entre 2000 e 2015 ocorreram na África, onde
melhorias na sobrevivência infantil e no tratamento da malária e do HIV
aumentaram a expectativa de vida em 9,4 anos (World Health
Organization, 2016b).

TABELA 17.1 Expectativa de vida em anos para…


Ao nascer
Homens hispânicos 79,3
Mulheres hispânicas 84,3
Homens brancos 76,3
Mulheres brancas 81,0
Homens afro-americanos 71,9
Mulheres afro-americanas 78,1
Fonte: Arias, E. e J. Xu. “United States life tables, 2015.” National Vital Statistics Reports
67, no. 7 (2018): 1-64.

Nos Estados Unidos existem grandes disparidades raciais e étnicas no


que diz respeito à expectativa de vida (ver Tabela 17.1). Em média, os
norte-americanos brancos vivem 3,7 anos mais (78,5) do que os afro-
americanos (74,8). Os afro-americanos, principalmente os homens, são
mais vulneráveis a doenças e morte desde a primeira infância até a vida
adulta intermediária do que os norte-americanos brancos. Causa certa
surpresa que norte-americanos hispânicos tenham a expectativa de vida
mais elevada (80,3 anos). As razões para essa diferença ainda não são
claras, mas podem estar relacionadas a questões de estilo de vida ou
efeitos de migração (p. ex., aqueles que migram para os Estados Unidos
tendem a ser mais saudáveis) (Arias, 2010).
A renda e a geografia também afetam a expectativa de vida. O alto
nível socioeconômico está associado com um aumento na expectativa de
vida, sendo que a disparidade na expectativa de vida entre as faixas de
renda aumentou durante a última década. Além disso, a expectativa de
vida é menor no sul dos Estados Unidos. É provável que essas diferenças
regionais estejam relacionadas a comportamentos de saúde, incluindo
tabagismo, obesidade e exercícios físicos, e não ao acesso diferenciado a
serviços de saúde (Chetty et al., 2016).
Uma nova forma de olhar para a expectativa de vida é em termos do
número de anos que uma pessoa pode esperar viver com boa saúde, livre
de incapacidades. Em nível global, a expectativa de vida saudável (EVS)
é de 62 anos para os homens e 64,8 anos para as mulheres. Nos Estados
Unidos, estima-se que a EVS seja de 68,5 anos (World Health
Organization, 2018j).
verificador
você é capaz de...
Distinguir entre expectativa de vida, longevidade e tempo de
vida?
Resumir tendências na expectativa de vida, incluindo
diferenças de gênero, regionais e étnicas?

POR QUE AS PESSOAS ENVELHECEM


À medida que envelhecemos, podemos sentir os efeitos de diversas
doenças ou condições crônicas. Esse processo é chamado de senescência,
o declínio no funcionamento físico associado ao envelhecimento. Por que
a senescência ocorre? Por que envelhecemos? A maioria das teorias do
envelhecimento biológico pode ser classificada em uma de duas
categorias (resumidas na Tabela 17.2): teorias de programação genética
e taxas variáveis.

senescência
Período da vida marcado por declínios no
funcionamento físico, normalmente associados
à idade; começa em idades diferentes para
pessoas diferentes.
teorias de programação genética
Teorias que explicam o envelhecimento
biológico como resultado de uma programação
geneticamente determinada.

TABELA 17.2 Teorias sobre o envelhecimento biológico


Teorias de taxas
Teorias de programação genética variáveis
Teoria da Senescência Programada. Teoria do Desgaste
Envelhecer é o resultado de uma Normal. Células e
ativação e desativação contínua de tecidos têm partes
certos genes. Senescência é o tempo vitais que se
em que os déficits associados ao desgastam.
resultado da idade ficam evidentes.
Teoria Endócrina. Relógios biológicos Teoria dos Radicais
atuam por meio de hormônios para Livres. Danos
controlar o ritmo do envelhecimento. acumulados de
radicais de oxigênio
causam paradas no
funcionamento de
células e órgãos.
Teoria Imunológica. Um declínio Teoria da Taxa de Vida.
programado em funções do sistema Quanto maior a taxa
imunológico leva a uma crescente de metabolismo de um
vulnerabilidade com predisposição para organismo, menor é o
doenças infecciosas e, portanto, para o seu tempo de vida.
envelhecimento e morte.
Teoria Evolucionista. O envelhecimento Teoria da
é um traço criado pela evolução; assim, Autoimunidade. O
os genes que promovem a reprodução sistema imunológico
são selecionados a taxas maiores do torna-se confuso e
que os genes que prolongam a vida. ataca suas próprias
células corporais.
Fonte: Adaptada de NIH/NIA (1993, 2).

Teorias de programação genética O envelhecimento é um processo


biológico inevitável? As teorias de programação genética propõem que
o corpo da pessoa envelhece de acordo com instruções inatas ao código
genético e que o envelhecimento é uma parte normal do
desenvolvimento.
Estudos sobre gêmeos constataram que as diferenças genéticas são
responsáveis por aproximadamente um quarto da variância no tempo de
vida adulto humano. As influências genéticas sobre o envelhecimento
parecem se fortalecer com o tempo, especialmente após os 60 anos
(Willcox et al., 2008; Finkel, Gerritsen, Reynolds, Dahl, & Pedersen,
2014). Com a exceção de algumas disfunções genéticas raras, “o” gene
do envelhecimento não existe. Na verdade, o envelhecimento de um
indivíduo típico envolve muitas variantes gênicas, cada uma das quais
tem efeitos pequenos.
O envelhecimento também pode ser influenciado pelo “desligamento”
de genes específicos, após o qual ocorrem perdas relativas à idade (p. ex.,
declínios na visão, audição e controle motor). Esse processo, descrito
pelo termo geral epigênese, envolve a ativação e desativação de
“marcadores” (ou instruções) moleculares. Mudanças epigenéticas não
envolvem mudanças no código genético em si, e sim no modo como os
genes são expressos. O acúmulo de mudanças epigenéticas é
parcialmente responsável pelo envelhecimento (Kim et al., 2018;
D’Aquila, Rose, Bellizzi, & Passarino, 2013; Sierra, Fernández, & Fraga,
2015). Como as mudanças epigenéticas são dinâmicas e modificáveis por
influências ambientais, intervenções positivas podem combater os efeitos
do envelhecimento (Field et al., 2018). Por exemplo, mudanças na
alimentação e no estilo de vida podem alterar a nossa expressão
epigenética e desacelerar a taxa de declínio (Pal & Tyler, 2016).
Outro processo celular envolve os telômeros, os fragmentos repetitivos
de DNA nas extremidades dos cromossomos. Cada vez que uma célula se
divide e replica seu código genético, os telômeros ficam mais curtos.
Alguns teóricos defendem que as células somente podem se dividir um
determinado número de vezes, e que ficam sem telômeros depois disso.
Leonard Hayflick (1974) descobriu que células humanas se dividem no
laboratório não mais do que 50 vezes, número hoje chamado de limite de
Hayflick. Hayflick (1981) argumentou que as células passam pelo
mesmo processo tanto no corpo quanto na cultura de laboratório. Depois
que as células não podem mais se replicar, o corpo perde a capacidade de
reparar tecidos danificados e, assim, começa a envelhecer.

limite de Hayflick
Limite geneticamente controlado, proposto por
Hayflick, sobre o número de vezes que as
células podem se dividir em membros de uma
espécie.

A favor dessa teoria, as pesquisas mostram que os telômeros ficam


mais curtos com a idade e que a taxa de encurtamento telomérico está
relacionada à taxa de envelhecimento (Honig et al., 2015; Shammas,
2011). Telômeros mais curtos resultam no envelhecimento acelerado e
risco de morte precoce e estão associados com maior risco de câncer,
acidente vascular cerebral (AVC), diabetes, demência, doença pulmonar
obstrutiva crônica e doenças da pele (Chilton, O’Brien, & Charchar,
2017). A taxa de alterações no telômero é influenciada geneticamente e
interage com influências ambientais de forma complexa ao longo do
ciclo de vida (Honig et al., 2015; Dugdale & Richardson, 2018). Fatores
ambientais sabidamente associados com doença e mortalidade, incluindo
estresse, tabagismo, consumo de álcool e inatividade física, podem afetar
a taxa de encurtamento telomérico (Puterman, Lin, Krauss, Blackburn, &
Epel, 2015; Shalev et al., 2013; Latifovic, Peacock, Massey, & King,
2016; Astuti, Wardhana, Watkins, & Wulaningsih, 2017; Li et al., 2018;
Arsenis, You, Ogawa, Tinsley, & Zuo, 2017).
O estilo de vida ativo desta japonesa contribuiu para sua vida longa
e saudável e para uma expectativa de vida longeva e saudável em
seu país.
Digital Vision/PunchStock

De acordo com a teoria endócrina, o relógio biológico age através dos


genes que controlam as mudanças hormonais. Perda da força muscular,
acúmulo de gordura e atrofia dos órgãos podem estar relacionados a
declínios na atividade hormonal (Lamberts, van den Beld, & van der
Lely, 1997). Por exemplo, mutações nos genes que codificam os
hormônios envolvidos na regulação do açúcar no sangue foram ligados,
em outras espécies, à maior ou menor longevidade, e é provável que
tenham funcionamento semelhante nos seres humanos (Van Heemst,
2010). A teoria imunológica propõe um processo semelhante; certos
genes podem causar problemas no sistema imunológico (Holliday, 2004),
o que vai resultar em maior suscetibilidade a doenças, infecções e câncer
(Fulop, Witkowski, Pawelec, Alan, & Larbi, 2014).
Segundo a teoria evolucionista do envelhecimento, a adequação
reprodutiva é a principal meta da seleção natural. Assim, a seleção
natural age com mais vigor sobre os indivíduos jovens, que têm diante de
si muitos anos de reprodução potencial. Se um traço que favorece a
reprodução nos jovens está presente, este se disseminará entre a
população, mesmo que os efeitos sejam prejudiciais para o indivíduo
mais tarde na vida (Hamilton, 1966; Baltes, 1997). Além disso, a seleção
natural resulta na alocação de recursos energéticos para proteger e
preservar o corpo até a reprodução, mas não necessariamente depois
disso. Após o fim da reprodução, a integridade molecular das células e
dos sistemas corporais acaba por se deteriorar além da capacidade do
corpo de repará-los (Hayflick, 2004). Essa deterioração ocorre porque
não há pressão seletiva para impedi-la após os genes terem sido passados
para a próxima geração.
Teorias de taxas variáveis Por que um idoso sofre de artrite, saúde
ruim e declínios nas capacidades de percepção e outro permanece ativo e
engajado? Por que algumas pessoas envelhecem mais rápida ou
lentamente do que as outras? De acordo com as teorias de taxas
variáveis, o envelhecimento é o resultado de processos randômicos que
variam de pessoa para pessoa. Elas também são chamadas de teorias dos
erros, pois esses processos envolvem danos resultantes de erros
aleatórios, ou agressões ambientais, nos sistemas biológicos.

teorias de taxas variáveis


Teorias que explicam o envelhecimento
biológico como resultado de processos que
envolvem danos a sistemas biológicos e que
variam entre as pessoas.

Uma dessas teorias, a teoria do desgaste normal, afirma que o corpo


envelhece como resultado do acúmulo de danos ao sistema no nível
molecular. Assim como as peças de um carro usado, as partes do corpo
acabam por se desgastar (Jin, 2010). Alguns teóricos defendem que,
apesar de a ideia parecer casar com o senso comum, não há um motivo
fundamental para os corpos não poderem se regenerar continuamente,
como fazem na juventude (Mitteldorf, 2010).
Outra teoria sobre o envelhecimento, chamada de teoria dos radicais
livres, propõe que o envelhecimento é o resultado da formação de
radicais livres, um subproduto dos processos metabólicos (Harman,
1956; 1972). Os radicais livres são moléculas com elétrons
desemparelhados. Isso os torna altamente reativos, pois elas buscam
emparelhar seus elétrons e “roubam” os elétrons de átomos vizinhos.
Com o tempo, o processo pode danificar as membranas celulares,
estruturas e proteínas, gorduras, carboidratos e até o DNA. Além disso,
os danos provocados pelos radicais livres se acumulam com a idade e
têm sido associados com doença cardiovascular, câncer, doenças
inflamatórias como a artrite, doenças cardíacas, distúrbios neurológicos
como o mal de Parkinson e de Alzheimer, úlceras gástricas e muitas
outras (Lobo, Patil, Phatak, & Chandra, 2010).

radicais livres
Moléculas ou átomos instáveis e altamente
reativos, formados durante o metabolismo,
que podem causar danos físicos internos.

A teoria dos radicais livres foi expandida para formar a teoria


mitocondrial do envelhecimento. As mitocôndrias, organismos
minúsculos que geram energia química para as células e tecidos,
desempenham um papel importante na sobrevivência das células em
condições de estresse e no fornecimento de energia ao corpo. Contudo,
quando geram energia, as mitocôndrias também criam radicais livres.
Estes, por sua vez, podem afetar negativamente os tecidos ao redor,
incluindo o próprio DNA mitocondrial. Isso leva à liberação de ainda
mais radicais livres, a mais danos e ao processo de envelhecimento
(Harman, 2006; 1992; Ziegler, Wiley, & Velarde, 2015).
Apesar de potencialmente nocivos, os radicais livres também podem
ter um papel de sinalização ao ajudar a regular os genes necessários para
o crescimento e a diferenciação das células (Wojcik, Burzynska--
Pedziwiatr, & Wozniak, 2010; Schieber & Chandel, 2014). Alguns
pesquisadores defendem que o seu papel no processo de envelhecimento
tem sido exagerado (Gladyshev, 2014).
A francesa Jeanne Calment foi a pessoa com a vida mais longa
confirmada, vivendo um total de 122 anos e 164 dias.
Pascal Parrot/Sygma/Getty Images

A teoria da taxa de vida postula que há um equilíbrio entre


metabolismo, ou uso de energia, e ciclo de vida. Quanto mais rápido o
metabolismo do corpo, menor é o seu tempo de vida, e vice-versa (Pearl,
1928). Assim, por exemplo, a teoria prevê que um beija-flor teria vida
mais curta do que uma preguiça. A teoria é útil para a descrição de
alguns fenômenos, como quando comparamos os animais grandes com os
pequenos em geral, mas não descreve muitos aspectos do
envelhecimento. Por exemplo, a previsão seria que os exercícios físicos,
que aumentam a atividade metabólica, encurtariam a vida. Na realidade,
eles têm o efeito contrário (Hulbert, Pamplona, Buffenstein, & Buttemer,
2007).
As teorias de taxas variáveis e de programação genética têm
implicações práticas. Se os humanos estão programados para envelhecer
em uma determinada proporção (ou taxa), pouco podem fazer para
retardar o processo. Se, por outro lado, envelhecer é variável, então as
práticas de estilo de vida podem influenciá-lo.
Além do mais, alguns pesquisadores sugeriram que, em vez de se
preocupar em como estender o tempo de vida humano, faz mais sentido
considerar como podemos melhorar a saúde humana enquanto
envelhecemos (Partridge, 2010). Ainda assim, o interesse por prolongar o
ciclo de vida continua. Os fatores ambientais controlados e o estilo de
vida podem interagir com os fatores genéticos para determinar por
quanto tempo uma pessoa viverá e em quais condições.

POR QUANTO TEMPO A VIDA PODE SER


PROLONGADA?
A maioria das pessoas entende que mais indivíduos chegam aos 40 do
que aos 60 e que mais chegam aos 60 do que aos 80. Em termos
estatísticos, o conceito é chamado de curva de sobrevivência. A curva
representa a porcentagem de pessoas ou animais vivos em diversas
idades. Com relação aos seres humanos, a curva atual termina em torno
dos 100 anos, o que significa que pouquíssimas pessoas sobrevivem além
desse marco.

curva de sobrevivência
Curva em um gráfico que mostra a
porcentagem de pessoas ou animais vivos em
diversas idades.

Mas o tempo de vida pode ser prolongado? Cientistas têm prolongado


o tempo de vida saudável de minhocas, moscas-das-frutas e
camundongos por meio de pequenas mutações genéticas (Ishii et al.,
1998; Kolata, 1999; Lin, Seroude, & Benzer, 1998; Parkes et al., 1998;
Pennisi, 1998). Em seres humanos, naturalmente, o controle genético de
um processo biológico pode ser muito mais complexo. Visto que nenhum
processo ou gene simples parece ser responsável pelo envelhecimento e
pelo fim da vida, é menos provável que encontremos soluções genéticas
rápidas para o envelhecimento humano (Holliday, 2004). Além disso, as
técnicas que se mostram promissoras em espécies de vida curta podem
não se aplicar a humanos.

pesquisa em ação
OS IDOSOS MAIS VELHOS

Algumas pessoas terão vidas muito mais longas do que a


expectativa média de 78,6 anos dos norte-americanos (Xu,
Murphy, Kochanek, Bastian, & Arias, 2018). As pesquisas
cada vez mais conseguem identificar os fatores que
mantêm os “idosos mais velhos” vivos, muitas vezes por
décadas a mais do que os seus pares.
Quase ninguém chega a uma idade avançada sem
problemas de saúde, mas uma característica compartilhada
por esses idosos é a resiliência contra as doenças. Seus
corpos estão sujeitos a processos de envelhecimento
prolongados e a riscos de doença muito maiores do que os
dos jovens, além de terem maior propensão a serem frágeis
ou dependentes (Sole-Auro & Crimmins, 2013).
A genética parece ser importante e pode explicar cerca de
25% da variação na longevidade humana (Passarino, De
Rango, & Montesanto, 2016). Acredita-se que os
centenários e os supercentenários possuam genes que
garantem longevidade, os quais parecem compensar danos
moleculares, perda de função e declínio cognitivo
relacionados com a idade (Arai et al., 2014; Arai, 2017). A
descoberta de variantes genéticas que levam à longevidade
pode oferecer pistas para nos ajudar, mas é uma pesquisa
difícil de realizar, dado o número muito pequeno de
indivíduos disponíveis para conduzi-la (Santos-Lozano et al.,
2016).
Fatores de estilo de vida provavelmente também são
influências críticas para a longevidade e para o
envelhecimento bem-sucedido. Os exercícios físicos
provavelmente são o fator de estilo de vida mais importante
de todos. Os exercícios são claramente benéficos do ponto
de vista físico, pois, por exemplo, reduzem o risco de
obesidade e de doença cardiovascular. Entretanto, talvez
eles sejam ainda mais importantes com relação à
manutenção das habilidades cognitivas. A metanálise
recente de Blondell e colaboradores (2014) examinou o
impacto longitudinal da atividade física no declínio cognitivo
e revelou que a atividade física está associada com uma
redução de longo prazo de 18% no risco de demência. O
exercício físico está ligado ao maior consumo de oxigênio e
fluxo sanguíneo cerebral, o que pode explicar por que ajuda
a preservar a saúde cerebral e o desempenho cognitivo
(Blondell et al., 2014).
O envelhecimento bem-sucedido tem muito a ver com
fatores psicossociais. Cho, Martin e Poon (2015) destacam
o papel do afeto positivo, que está ligado a interações
sociais. Todas as pessoas se beneficiam de interações
sociais, mas aquelas com maior escolaridade e melhor
função cognitiva eram capazes de participar de interações
sociais mais frequentes e intensas, o que, por sua vez,
contribuía para níveis mais elevados de afeto positivo. O
contato com a família, especialmente quando essas
interações são positivas, pode ajudar a combater os
sintomas depressivos e promover o bem-estar (Fuller-
Iglesias, Webster, & Antonucci, 2015).

Você já conheceu alguém


que viveu mais de 100
anos? Em caso afirmativo,
a que essa pessoa atribuía
sua longevidade?

Os otimistas, entretanto, apontam para dados que mostram aumentos


contínuos em longevidade. Nos Estados Unidos, o número de centenários
aumentou de cerca de 50.000 pessoas em 2000 para aproximadamente
82.000 em 2016 (Xu, 2016; Administration for Community Living,
2018). Os dados mostram que, apesar da presença de dinâmicas
diferentes em países diferentes, o aumento da longevidade não é raro
(World Health Organization, 2019g). É interessante notar que as taxas de
mortalidade de fato diminuíram depois dos 100 (Coles, 2004). As pessoas
com 110 anos não têm maior probabilidade de morrer em determinado
ano do que aquelas com 80 (Vaupel et al., 1998). Em outras palavras,
pessoas suficientemente resistentes para chegar a uma determinada idade
provavelmente viverão ainda mais tempo (Administration on Aging,
2016).
Quando examinamos as pessoas que chegam a idades muito avançadas,
a morbidade (estar em estado de doença) parece estar comprimida. Em
outras palavras, essas pessoas estão chegando à velhice em relativamente
boa saúde. Quando começam a se deteriorar, no entanto, o processo é
bastante rápido. Assim, embora a taxa geral de envelhecimento
permaneça inalterada, o processo de envelhecimento em si parece ter
sido adiado, provavelmente devido à boa saúde (Andersen, Sebastiani,
Dworkis, Feldman, & Perls, 2012). Tendo em vista esses achados, a
questão passa a ser se podemos postergar o envelhecimento ainda mais,
atrasá-lo até uma idade ainda mais avançada e, assim, aumentar o ciclo
de vida. Esse é o chamado mistério da longevidade (Vaupel, 2010).
A pergunta ainda não foi respondida, mas ela levanta algumas questões
importantes. Ela sugere que prolongar o ciclo de vida saudável, um
objetivo com valor intrínseco, pode aumentar a expectativa de vida. Ela
também sugere que a área mais frutífera para intervenções na
longevidade deveria focalizar o estilo de vida saudável e a redução de
riscos (Fries, Bruce, & Chakravarty, 2011). É possível que essa
abordagem tenha benefícios econômicos. A compressão da morbidade
pode levar a vidas mais longas ao mesmo tempo que reduz os custos
médicos devido à compressão dos problemas de saúde no final do ciclo
de vida (Cutler, Ghosh, & Landrum, 2013).
Uma linha de pesquisa – inspirada nas teorias da taxa de vida que
consideram o uso de energia como um fator crucial determinante do
envelhecimento – é a de restrição dietética. Descobriu-se que uma
drástica redução de calorias prolonga muito a vida em minhocas, peixes e
macacos – na verdade, em quase todas as espécies animais testadas
(Colman et al., 2014; Heilbronn & Ravussin, 2003). Uma análise crítica
abrangendo 15 anos de pesquisa sugere que a restrição calórica pode ter
efeitos benéficos sobre o envelhecimento humano e a expectativa de vida
(Fontana & Klein, 2007). Macacos sob restrição calórica também
apresentam menos casos de atrofia cerebral que por vezes acompanha o
envelhecimento (Colman et al., 2009), um achado com consequências
para a saúde cerebral.
Se você pudesse viver o quanto quisesse,
quanto tempo escolheria viver? Quais os
fatores que afetariam sua resposta?

A Sociedade de Restrição Calórica (The Calorie Restriction Society)


pratica a restrição calórica voluntária, evitando alimentos
industrializados ricos em carboidratos refinados e óleos parcialmente
hidrogenados. Em comparação com grupos-controle com dieta
caracteristicamente ocidental, os membros da sociedade mostraram uma
baixa porcentagem de gordura corporal e redução na incidência de
diabetes, câncer e doenças relacionadas à idade. Além disso, um estudo
demonstrou que, ao menos no curto prazo, uma intervenção de restrição
calórica de 25% promovia mudanças positivas em marcadores relativos
ao risco de doença e ao envelhecimento em seres humanos. Não se sabe o
quanto isso seria eficaz no longo prazo. Além disso, é interessante notar
que o estudo foi composto de participantes altamente motivados, mas a
taxa de abandono ainda foi de 18% no grupo de intervenção, além dos
participantes adicionais que abandonaram o estudo por motivos médicos
(Ravussin et al., 2015).

Pessoas que, quando jovens, mantinham


estereótipos negativos sobre os idosos
estavam mais propensas a ter problemas
cardíacos mais tarde.
Levy et al., 2009
Visto que uma dieta de baixas calorias exige muita disciplina e não é
realista para a maioria das pessoas, há um interesse cada vez maior em
desenvolver medicamentos que mimetizem os efeitos da restrição
calórica (Fontana, Klein, & Holloszy, 2010). O jejum intermitente, no
qual os alimentos são ingeridos apenas durante algumas horas do dia,
parece promissor. As pesquisas sugerem que ele pode exercer um efeito
semelhante ao da restrição calórica nos processos metabólicos (Martin,
Mattson, & Maudsley, 2006), além de ser mais fácil de manter. No
entanto, uma abordagem mais geral e holística, com medicamentos
utilizados antes do advento de doenças relacionadas à idade, poderá ser
mais promissora em estender a vida dos humanos (Partridge, 2010).

verificador
você é capaz de...
Comparar dois tipos de teorias de envelhecimento biológico e
discutir suas implicações e evidências?
Discutir as descobertas feitas em pesquisas sobre extensão
da vida e suas limitações em seres humanos?

Mudanças físicas
Algumas mudanças físicas normalmente associadas ao envelhecimento
são óbvias para um observador casual. A pele mais velha tende a se
tornar mais pálida e menos elástica, e conforme a gordura e os músculos
atrofiam, a pele fica enrugada. São comuns varizes nas pernas. O cabelo
fica mais fino, grisalho e depois branco, e os pelos do corpo tornam-se
mais ralos.
Adultos mais velhos diminuem um pouco de tamanho em razão da
atrofia dos discos entre as vértebras da coluna. Além disso, a composição
química das alterações ósseas traz um risco maior de fraturas. Mudanças
menos visíveis, mas igualmente importantes, afetam os órgãos internos e
o organismo em geral, o cérebro e o funcionamento sexual, motor e
sensorial.
MUDANÇAS ORGÂNICAS E SISTÊMICAS
As mudanças no funcionamento orgânico e sistêmico são altamente
variáveis. Alguns organismos declinam rapidamente, outros quase nada
(Figura 17.3). No entanto, ocorrem declínios típicos relacionados à idade
na maioria das pessoas. Os pulmões, por exemplo, se tornam menos
eficazes devido a reduções de volume, atrofia dos músculos envolvidos
com a respiração e reduções na capacidade dos cílios (estruturas
parecidas com pelos que removem o muco e a sujeira dos pulmões) de
funcionar com eficácia (Lowery, Brubaker, Kuhlmann, & Kovacs, 2013).
Apesar de ocorrerem declínios relacionados à idade normativos no
funcionamento do sistema imunológico, o estresse pode exacerbar o
processo, o que faz com que os idosos sejam mais suscetíveis a infecções
respiratórias (Kiecolt-Glaser & Glaser, 2001). A saúde cardíaca também
é prejudicada. Os idosos estão mais propensos a sofrer de arritmia
(frequência cardíaca irregular), as paredes do músculo cardíaco podem se
espessar e as válvulas que controlam o fluxo de sangue que entra e sai do
coração podem não se abrir mais completamente. Essas alterações
cardíacas levam a deficiências na capacidade de bombear sangue e,
assim, diminuem o condicionamento cardiovascular (Lee, Huang, &
Shen, 2011). O estresse crônico em adultos mais velhos também está
relacionado à inflamação crônica de baixa intensidade, o que os torna
mais vulneráveis a doenças (Bauer, Jeckel, & Luz, 2009; Heffner, 2011).
Os problemas de deglutição, refluxo gástrico, indigestão, síndrome do
intestino irritável, constipação e absorção reduzida dos nutrientes
tornam-se mais comuns com a idade (Grassi et al., 2011). Isso aumenta o
risco de desnutrição para os idosos (Harris, Davies, Ward, e Haboudi,
2008), especialmente se têm doenças crônicas ou se dependem de
terceiros para auxílio com as suas atividades diárias (Ülger et al., 2010;
Saka, Kaya, Ozturk, Erten, & Karan, 2010).
FIGURA 17.3
Declínio no funcionamento de órgãos.
As diferenças na eficiência funcional dos vários sistemas do corpo
são mínimas na idade adulta jovem, mas aumentam na velhice.
Fonte: Katchadourian, 1987.

A capacidade de reserva é uma capacidade extra que ajuda os


organismos a funcionar até seus limites em tempos de estresse. Com a
idade, os níveis de reserva tendem a cair e muitas pessoas idosas não
podem responder às demandas físicas extras tão bem como antes. Por
exemplo, uma pessoa que costumava ser capaz de limpar a neve de toda a
entrada da garagem com facilidade pode ficar exausta após limpar apenas
uma pequena parte dela.
O ENVELHECIMENTO DO CÉREBRO
À medida que envelhecem, as pessoas sofrem declínios na capacidade do
cérebro de processar informações rapidamente, no funcionamento
executivo e na memória episódica (Fjell & Walhovd, 2010; Hughes,
Agrigoroaei, Jeon, Bruzzese, & Lachman, 2018). As mudanças que
ocorrem com o envelhecimento do cérebro de pessoas saudáveis e
normais geralmente são sutis e fazem pouca diferença em seu
funcionamento. Isso ocorre porque o cérebro retém um nível
significativo de plasticidade e pode reorganizar os circuitos neurais e
contornar o problema de modo a compensar os efeitos do envelhecimento
(Cabeza et al., 2018; Park & Gutchess, 2006). Assim, os declínios
observados no cérebro em processo de envelhecimento não são tão
graves. Por exemplo, há alterações relacionadas à idade na conectividade
funcional, os modos como diferentes áreas do cérebro se coordenam
umas com as outras durante uma tarefa. Em geral, os estudos de imagem
revelaram conectividade funcional reduzida durante as tarefas. No
entanto, essa situação é compensada pela maior ativação difusa (mais
áreas do cérebro são usadas para completar tarefas). Isso vale
particularmente quando as tarefas são desafiadoras (Sala-Llonch,
Bartrés-Faz, & Junqué, 2015; Geerligs, Renken, Saliasi, Maurits, &
Lorist, 2014).

capacidade de reserva
Capacidade dos sistemas e órgãos de
acrescentar de 4 a 10 vezes mais energia do
que o normal em situação de estresse agudo;
também chamada de reserva orgânica.

verificador
você é capaz de...
Resumir as alterações e variações comuns no
funcionamento sistêmico que ocorrem na velhice?
Algumas áreas do cérebro se tornam mais ativas com a idade para
compensar. Por exemplo, há aumentos na atividade pré-frontal (associada
com tarefas controladas e que envolvem esforço) com a idade (Eyler,
Sherzai, Kaup, & Jeste, 2011; Park & Reuter-Lorenz, 2009). O resultado
é uma mudança na direção da “cognição semantizada” nos idosos. Em
outras palavras, os adultos mais velhos utilizam suas enormes reservas
de conhecimento para fortalecer estrategicamente suas capacidades
reduzidas de processamento, o que lhes permite compensar com uma
tomada de decisões mais lenta, ainda que muitas vezes melhor (Spreng &
Turner, no prelo).
Na vida adulta tardia, o cérebro aos poucos diminui de volume e de
peso, especialmente nas regiões frontal e temporal (Fjell & Walhovd,
2010; Lockhart & DeCarli, 2014). O hipocampo, a sede da memória,
também encolhe (Raz, Ghisletta, Rodrigue, Kennedy, & Lindenberger,
2010). Também há uma redução na espessura cortical (Lemaitre et al.,
2012). Esse encolhimento gradual antes foi atribuído à perda de
neurônios (células nervosas). No entanto, a maioria dos pesquisadores
agora concorda que – exceto em certas áreas específicas do cérebro,
como o cerebelo, que coordena a atividade sensorial e motora – a perda
neuronal não é substancial e não afeta a cognição (Burke & Barnes, 2006;
Finch & Zelinski, 2005). Quando aumenta o ritmo dessas mudanças no
cérebro, declínios cognitivos são cada vez mais prováveis (Carlson et al.,
2008).
Outra mudança característica é a diminuição na quantidade, ou
densidade, do neurotransmissor dopamina devido à perda de sinapses
(conexões neuronais). Os receptores de dopamina são importantes na
medida em que ajudam a regular a atenção (Park & Reuter-Lorenz,
2009). Esse declínio geralmente resulta em um tempo de resposta mais
lento.
Já aos 50, a bainha de mielina, que permite a rápida transmissão dos
impulsos neuronais entre regiões do cérebro, começa a diminuir
(Natrajan et al., 2015; Hinman & Abraham, 2007). Essa deterioração da
mielina do cérebro, ou substância branca, está associada ao declínio
cognitivo e motor (Andrews-Hanna et al., 2007; Finch & Zelinski, 2005).
Exames pós-morte do tecido cerebral constataram danos significativos
ao DNA em certos genes que afetam a aprendizagem e a memória na
maioria das pessoas muito velhas e algumas de meia-idade (Lu et al.,
2004). Essas mudanças estão associadas com doenças neurodegenerativas
e demência (Madabhushi, Pan, & Tsai, 2014). Embora adultos com mais
de 90 anos tenham uma probabilidade mais de 25 vezes maior de
desenvolver demência do que adultos entre 65 e 69 anos (Brayne, 2007),
essa deterioração não é inevitável.
Nem todas as mudanças no cérebro são destrutivas. Os pesquisadores
descobriram que cérebros mais velhos podem criar novas células
nervosas a partir de células-tronco – algo considerado impossível no
passado. Evidências de divisão celular foram encontradas no hipocampo,
uma região do cérebro envolvida na aprendizagem e na memória (Seib &
Martin-Villalba, 2015; Chaker et al., 2016). Parece provável que, em
seres humanos, a atividade física combinada aos desafios cognitivos
possa promover o crescimento de novas células (Kempermann, 2015; Di
Benedetto, Mueller, Wenger, Duezel, & Pawelec, 2017). Além disso, os
idosos que mantêm um senso de propósito no final da vida preservam um
volume maior de substância cinzenta no córtex insular do que os adultos
sem essa orientação (Ryff, Heller, Schaefer, Van Reekum, & Davidson,
2016). Esse tipo de achado destaca a plasticidade e a possibilidade de
mudanças positivas no cérebro em processo de envelhecimento, mesmo
em idades bastante avançadas.

verificador
você é capaz de...
Identificar várias alterações no cérebro relacionadas à idade
e seus efeitos nas funções cognitivas e sociais?

FUNÇÕES SENSORIAIS E PSICOMOTORAS


Diferenças individuais nas funções sensório-motoras aumentam com a
idade. Algumas pessoas mais idosas declinam rapidamente; outras
percebem suas habilidades virtualmente inalteradas. Problemas auditivos
e visuais podem privá-las de relacionamentos sociais e de independência,
e problemas motores podem limitar atividades diárias.
Na degeneração macular relacionada à idade, a principal causa de
comprometimento visual em adultos mais velhos, o centro da
retina gradualmente perde a capacidade de distinguir detalhes.
Nestas fotos, à esquerda temos uma imagem como é vista por
uma pessoa com visão normal, e à direita a mesma imagem como
é vista por uma pessoa com degeneração macular.
Fonte: National Eye Institute, National Institutes of Health.

Visão e audição Olhos mais velhos precisam de mais luz para ver, são
mais sensíveis ao brilho e podem ter problemas para localizar e ler
sinais. Assim, dirigir veículos pode tornar-se perigoso, especialmente à
noite. Adultos mais velhos podem ter dificuldade com a percepção de
profundidade ou de cor, ou com atividades diárias como ler, costurar,
fazer compras e cozinhar (Desai et al., 2001).
Perdas na sensibilidade de contraste visual podem ocasionar
dificuldades para ler letras muito pequenas ou impressos muito claros
(Owsley, 2011). Problemas de visão também podem causar acidentes e
quedas (Lord, Smith, & Menant, 2010). Muitos adultos mais velhos em
residências comunitárias relatam dificuldade para tomar banho, vestir-se
e andar pela casa, em parte porque estão visualmente debilitados (Desai,
Pratt, Lentzner, & Robinson, 2001; Kempen, Ballemans, Ranchor, van
Rens, & Zijlstra, 2012).
Pessoas com perdas visuais moderadas geralmente podem ser ajudadas
por lentes corretivas ou mudanças no ambiente. Apenas 2,3% dos adultos
norte-americanos de 40 a 49 anos de idade têm algum comprometimento
visual, mas aos 80 anos, 50% dos adultos (hoje, cerca de 1,61 milhão de
pessoas) precisam de óculos para enxergar bem. As mulheres têm
probabilidade cerca de um terço maior de ter um compromentimento
visual do que os homens (Varma et al., 2016). Globalmente, estima-se
que 1,3 bilhão de pessoas sofra de alguma forma de comprometimento
visual (World Health Organization, 2018k).
A catarata, área turva ou opaca no cristalino dos olhos, é comum em
adultos mais velhos e, por fim, causa visão embaçada (Iroku-Malize &
Kirsch, 2016). Cerca de 26 milhões de norte-americanos são afetados
pela catarata atualmente (Wittenborn & Rein, 2014); em nível mundial,
94 milhões de pessoas têm compromentimentos visuais e 20 milhões são
cegas por causa da catarata (Lee & Afshari, 2017; Pascolini & Mariotti,
2012). A cirurgia de remoção de catarata é uma das operações mais
comuns entre norte-americanos idosos e quase sempre é bem-sucedida. A
cirurgia de catarata está associada com uma redução de até 60% no risco
de mortalidade (Tseng et al., 2017; Tseng, Yu, Lum, & Coleman, 2016).
Supostamente, a redução do risco de mortalidade é consequência de
diversos fatores relacionados à visão, como maior facilidade e precisão
no uso de medicamentos, maior probabilidade de permanecer fisicamente
ativo e menor risco de acidentes.

catarata
Áreas turvas ou opacas no cristalino dos olhos
que causam visão embaçada.

A principal causa de comprometimento visual nos idosos é a


degeneração macular relacionada à idade. A mácula é um pequeno
ponto no centro da retina que nos ajuda a manter os objetos diretamente
na nossa linha de visão em foco. Na forma mais comum de degeneração
macular, as células retinais dessa área degeneram-se com o tempo, e o
centro da retina gradualmente perde a capacidade de distinguir detalhes
com clareza. Atividades como ler e dirigir tornam-se extremamente
problemáticas, pois a área exata que a pessoa focaliza fica embaçada. Em
alguns casos, tratamentos como suplementos de zinco e antioxidantes e
medicamentos que bloqueiam o crescimento de vasos sanguíneos
anormais sob a retina podem evitar perdas futuras de visão, mas não têm
como reverter perdas que já ocorreram. Para indivíduos com degeneração
grave, pode ser utilizada a implantação de um “telescópio” minúsculo
que amplia e focaliza o conteúdo central da retina em outras áreas ainda
saudáveis dela (Foundation Fighting Blindness, 2017).

degeneração macular relacionada à idade


Condição em que o centro da retina perde
gradualmente a sua habilidade de discernir
detalhes refinados. É a principal causa de
comprometimento visual irreversível em
adultos idosos.

O glaucoma é um dano irreversível ao nervo óptico causado pelo


aumento da pressão nos olhos. O glaucoma pode ser tratado com colírios,
comprimidos ou cirurgia. O tratamento precoce pode reduzir a pressão
elevada nos olhos e retardar a doença. No entanto, mesmo com
tratamento, 10% das pessoas que têm glaucoma acabarão ficando cegas.
Nos Estados Unidos, cerca de 120.000 pessoas são cegas por causa do
glaucoma (Glaucoma Research Foundation, 2017). O glaucoma é a maior
causa de cegueira no mundo; em 2013, aproximadamente 64,3 milhões
de pessoas eram afetadas pelo glaucoma (Tham et al., 2014).

glaucoma
Dano irreversível ao nervo óptico causado pelo
aumento da pressão nos olhos.

Mundialmente, cerca de 466 milhões de adultos sofrem de perda de


audição incapacitante – uma perda permanente no ouvido em melhor
estado de mais de 40 decibéis (World Health Organization, 2019d). Nos
Estados Unidos, cerca de 37,5 milhões de adultos sofrem de alguma
forma de perda de audição (Blackwell, Lucas, & Clarke, 2014).
As deficiências auditivas aumentam com a idade. Cerca de 17% dos
adultos de 45 a 64 anos têm dificuldade para escutar. Dos 65 aos 74 anos,
a proporção afetada aumenta para 30%, depois para 45,7% a partir dos 75
anos (Centers for Disease Control, 2017l). Os homens têm
aproximadamente o dobro da probabilidade de sofrer de uma deficiência
auditiva, e os brancos têm probabilidade maior do que as pessoas de
outras etnias (National Institute on Deafness and Other Communication
Disorders, 2016). Aparelhos auditivos podem ajudar, mas são caros e
podem amplificar os ruídos de fundo, junto com os sons que a pessoa
quer ouvir. Apenas 1 em cada 3 adultos com 70 anos ou mais que se
beneficiariam do uso de aparelhos auditivos os utiliza (National Institute
on Deafness and Other Communication Disorders, 2016).
Mudanças no projeto do ambiente, assim como luzes mais fortes para
leitura, a opção de legenda nos aparelhos de televisão e amplificadores
embutidos no telefone podem ajudar muitos adultos mais velhos com
limitações sensoriais.
Força, resistência, equilíbrio e tempo de reação Em geral, o
envelhecimento produz diversas mudanças relativas às habilidades
físicas, incluindo aumento da gordura corporal e perdas de força
muscular, capacidade aeróbica, flexibilidade e agilidade. Via de regra, a
perda de força é maior nos membros superiores. A perda de força média
dos idosos é de aproximadamente 1 a 2% ao ano, uma taxa que tende a
aumentar após os 75 anos na ausência de atividades físicas. A
flexibilidade também diminui, ainda que menos para as mulheres do que
para os homens. Os declínios estão relacionados com a idade assim como
com a diminuição nas atividades físicas (Milanovic´ et al., 2013).
Essas mudanças físicas contribuem para as quedas (Trombetti et al.,
2016), que são a causa mais comum das fraturas e que se tornam cada
vez mais frequentes com a idade (National Center for Injury Prevention
and Control, 2013). Dos 65 aos 74 anos, a taxa de fraturas é de cerca de 9
por 1.000 adultos. Com 85 anos ou mais, a taxa de fraturas atinge 51 por
1.000 adultos (Levant, Chari, & DeFrances, 2015). Muitas quedas podem
ser evitadas eliminando os perigos domésticos mais comuns (Tabela
17.3). Além disso, algumas mudanças físicas da idade que contribuem
para as quedas podem ser revertidas ou desaceleradas. Uma análise
recente mostrou que, para os idosos, as intervenções com exercícios
utilizando exercícios de componentes múltiplos, musculação, treino de
equilíbrio e treinamento de resistência reduziam o risco de quedas e
melhoravam o equilíbrio, resistência e facilidade para caminhar (Cadore,
Rodríguez-Mañas, Sinclair, & Izquiredo, 2013).

TABELA 17.3 Lista de verificação para evitar quedas em casa


Escadas, Sem impedimentos
corredores e Boa iluminação, principalmente no topo das
passagens escadas
Interruptores de luz no topo e na base das
escadas
Corrimões bem fixados em ambos os lados e ao
longo de toda a escada
Tapetes bem colados e sem rasgos; faixas de
textura áspera e abrasiva para assegurar apoio
para os pés
Banheiros Barras de metal devidamente posicionadas dentro
e fora de banheiras e chuveiros e perto dos
vasos sanitários
Capachos não escorregadios, faixas abrasivas, ou
carpetes em todas as superfícies que possam
ficar úmidas
Luzes noturnas
Quartos Telefones e luzes noturnas ou interruptores
próximos da cama
Todas as Fios elétricos e fios de telefone fora do caminho
áreas da Tapetes e carpetes bem presos ao chão
residência Sem pregos expostos ou frisos soltos na soleira
da porta
Mobília e outros objetos em lugares conhecidos e
fora do caminho; bordas das mesas
arredondadas ou acolchoadas
Sofás e cadeiras de altura apropriada para sentar
e levantar com facilidade
Fonte: Adaptada de NIA, 1993.

A Organização Mundial da Saúde (World Health Organization, 2019e)


definiu a promoção da capacidade funcional como uma prioridade, e as
tendências globais mostram um interesse crescente no treinamento
funcional (Thompson, 2016). O treinamento em adequação funcional se
refere a exercícios ou atividades que melhoram as atividades diárias.
Apesar de ter consequências para todas as idades, esse tipo de
treinamento provavelmente é mais relevante para os idosos, que podem
ter dificuldade crescente para realizar as atividades da vida diária
necessárias para a independência. Os níveis de adequação funcional
diminuem com a idade, acompanhados pela atividade física de forma
bidirecional (Milanovic et al., 2013). Em outras palavras, tornar-se
menos fisicamente ativo ao longo do tempo resulta em declínios na
adequação funcional, que por sua vez levam a reduções nas atividades
físicas, pois os movimentos ficam mais difíceis de executar.

adequação funcional
A capacidade de realizar as atividades físicas
da vida cotidiana.

Os programas de intervenção que usam treinos de resistência nos


idosos mostram que é possível aumentar a força muscular, mas os dados
sobre como aumentos simples na força se transferem para os
movimentos cotidianos são limitados. Pesquisas mostram que
intervenções de treinamento de força podem ajudar os idosos ativos a
melhorarem o equilíbrio e a mobilidade (Copeland, Good, & Dogra,
2018). Contudo, as intervenções de adequação funcional que imitam
especificamente as ações desejadas apresentam mais sucesso prático. Por
exemplo, em vez de usar a leg press sentado, o idoso poderia ser
instruído a realizar o exercício com o pedido de que se sentasse e se
erguesse de uma cadeira usando um colete com pesos. Uma metanálise
de 13 estudos sobre programas de intervenção de adequação funcional
mostrou que eles foram efetivos no aumento do desempenho na vida
cotidiana e que foram mais eficazes do que focalizar apenas a força
muscular (Liu, Shiroy, Jones, & Clark, 2014).
Parte do motivo para esses ganhos é que o principal fator nos adultos
idosos é provavelmente uma adaptação, induzida por treinamento, na
habilidade do cérebro para coordenar a atividade motora e cerebral (Voss
et al., 2010; Barry & Carson, 2004). Por exemplo, o uso do aspirador de
pó exige força muscular nos braços e nas pernas, equilíbrio dinâmico,
controle da amplitude dos movimentos, habilidades motoras gerais e
finas e coordenação de todos os movimentos (Liu et al., 2014). Assim, a
adequação funcional é tanto física quanto cognitiva.
Atualmente, uma ampla literatura científica documenta os efeitos
positivos dos exercícios físicos sobre a cognição. Os exercícios
melhoram a saúde cognitiva dos adultos com doenças crônicas, impedem
declínios cognitivos em adultos saudáveis e parecem ter esse efeito
independentemente de quando e de qual tipo específico de exercício é
realizado (Northey, Cherbuin, Pumpa, Smee, & Rattray, 2018; Cai, Li,
Hua, Liu, & Chen, 2017; Gomes-Osman et al., 2018; Bherer, Erickson, &
Liu-Ambrose, 2013).
O SONO
Pessoas idosas tendem a dormir menos e sonhar menos do que antes.
Suas horas de sono profundo são mais restritas e eles podem acordar
mais facilmente e mais cedo pela manhã (Pace-Schott & Spencer, 2014).
Em certa medida, essa mudança é motivada por alterações normativas
nos ritmos circadianos (diários). Entretanto, a suposição de que
distúrbios do sono são normais no idoso pode ser perigosa (Mattis &
Sehgal, 2016). O sono de baixa qualidade ou a insônia crônica
contribuem para depressão, transtornos neurodegenerativos como a
demência e declínios cognitivos (Baglioni et al., 2011; Lee et al., 2013;
Miyata et al., 2013). Sono em excesso ou falta de sono estão associados a
um risco maior de mortalidade (Gangwisch et al., 2008; Chen, Su, &
Chou, 2013).
O American College of Physicians (ACP) recomenda que a primeira
linha de defesa contra a insônia e os distúrbios do sono seja o uso de
terapia cognitivo-comportamental (Qaseem, Kansagara, Forciea, Cooke,
& Denberg, 2016). Essa forma de terapia inclui instruções de, por
exemplo, ficar na cama somente quando estiver dormindo, levantar no
mesmo horário todas as manhãs e aprender sobre falsas crenças em
relação às necessidades de sono. Esse tipo de terapia produz melhorias,
com ou sem tratamento medicamentoso (Lovato, Lack, Wright, &
Kennaway, 2014; Reynolds, Buysse, & Kupfer, 1999). Contudo, se isso
não for eficaz, o ACP recomenda que o uso de medicamentos de curto
prazo seja considerado. Os medicamentos mais prescritos incluem
benzodiazepínicos (p. ex., triazolam, lorazepam), hipnóticos não
benzodiazepínicos (p. ex., zolpidem) e suvorexanto, um medicamento
que funciona por meio da alteração da sinalização dos
neurotransmissores que regulam o sono.

FUNÇÕES SEXUAIS
Ao contrário do que afirmam os estereótipos, um número significativo de
adultos permanece sexualmente ativo na velhice. Em uma pesquisa
nacional, 38,9% dos homens norte-americanos de 75 a 85 anos e 16,8%
das mulheres declararam ser sexualmente ativos (Lindau & Gavrilova,
2010). Os homens mantêm mais desejo sexual, mas tanto homens quanto
mulheres informam um declínio no desejo sexual com a idade
(Aggarwal, 2013), sendo que as mulheres relatam um declínio maior em
atividade sexual (Lee, Nazroo, O’Connor, Blake, & Pendleton, 2016). O
idadismo e os estereótipos sobre os idosos podem influenciar
negativamente o desejo sexual (Heywood et al., 2017), mas coortes mais
recentes informam uma atitude mais positiva em relação à sexualidade
na velhice, maior satisfação com as suas vidas sexuais, menos disfunção
sexual e maiores índices de atividade sexual do que as coortes anteriores
(DeLamater, 2012).
O sexo na vida adulta tardia é diferente do que era antes. Geralmente,
os homens levam mais tempo para ter uma ereção e ejacular, podem
precisar de estímulo manual, podem vivenciar intervalos mais longos
entre as ereções ou podem ter dificuldade para obter uma ereção. As
mulheres informam mais dificuldades para ficarem excitadas e atingir o
orgasmo, intumescimento dos seios e outros sinais de excitação sexual
menos intensos do que antes, e podem ter problemas com a lubrificação
(Lee et al., 2016; Lindau et al., 2007). Problemas de saúde costumam
afetar mais a vida sexual das mulheres do que a dos homens, mas saúde
mental precária e insatisfação com o relacionamento estão associadas à
disfunção sexual tanto nos homens quanto nas mulheres (Laumann, Das,
& Waite, 2008).
Familiares e cuidadores devem considerar as necessidades sexuais dos
idosos. A satisfação com a vida, o bom funcionamento da cognição e o
bem-estar psicológico estão profundamente relacionados com o interesse
pelo sexo (Trudel, Villeneuve, Anderson, & Pillon, 2008). Entretanto, os
preditores mais consistentes são as condições de saúde e a presença de
um parceiro (Schick et al., 2010; DeLamater, 2012). Os médicos devem
evitar prescrever medicamentos que interfiram no funcionamento sexual
se houver alternativas disponíveis e, quando o medicamento tiver de ser
ingerido, o paciente deve ser alertado sobre seus efeitos. Como raramente
usam preservativos (Schick et al., 2010), é preciso conversar com os
idosos sexualmente ativos sobre saúde sexual e infecções sexualmente
transmissíveis.
verificador
você é capaz de...
Descrever alterações características nas funções sensório-
motoras, na necessidade de sono e dizer como elas podem
afetar o dia a dia?
Resumir as mudanças que ocorrem nas funções sexuais e
as possibilidades de atividade sexual na velhice?

Saúde física e mental


O aumento da expectativa de vida está fazendo surgir questões prementes
sobre a relação entre longevidade e saúde, tanto física quanto mental.
Como adultos mais velhos e saudáveis podem, hoje em dia, livrar-se dos
declínios na saúde?

CONDIÇÕES DE SAÚDE
Uma saúde precária não é consequência inevitável do envelhecimento.
Em torno de 78% dos norte-americanos adultos com 65 anos ou mais
consideram que têm saúde entre boa e excelente (Federal Interagency
Forum on Aging-Related Statistics, 2016). Assim como acontece antes na
vida, a pobreza está intimamente relacionada à saúde precária e ao acesso
e uso limitado de assistência médica (National Center for Health
Statistics, 2018b). Por exemplo, a pobreza está relacionada a uma maior
incidência de artrite, diabetes, pressão alta, doença cardíaca, depressão e
AVCs nos idosos (Menec, Shooshtari, Nowicki, & Fournier, 2010). Os
adultos que vivem na pobreza são menos propensos a engajar-se em
comportamentos saudáveis, tais como atividades físicas no lazer, evitar o
tabagismo e manter um peso apropriado (Schoenborn & Heyman, 2009).
A exposição a palavras que evocam
estereótipos de idosos leva pessoas jovens a
caminharem mais lentamente. Como esses
estereótipos afetam alguém que é idoso?
Bargh, Chen, & Burrows, 1996

DOENÇAS CRÔNICAS E INCAPACIDADES


Mais de 2 em cada 3 norte-americanos sofrem de múltiplas condições
crônicas. Indivíduos que sofrem de condições de saúde crônicas tendem a
ter qualidade de vida pior e correm risco de incapacidade e morte (Gill &
Moore, 2013).
Doenças crônicas comuns Em 2016, as seis principais causas de
morte na velhice nos Estados Unidos (doenças cardíacas, câncer, doenças
crônicas do sistema respiratório, AVC, mal de Alzheimer e diabetes)
eram doenças crônicas (Federal Interagency Forum on Aging-Related
Statistics, 2016). Mais de dois terços dos custos da saúde envolvem o
manejo de doenças crônicas (Gill & Moore, 2013). No mundo todo, as
principais causas de morte aos 50 anos ou mais são as doenças cardíacas,
cânceres, diabetes, doenças do sangue e do sistema endócrino, doenças
crônicas do pulmão e doenças hepáticas. Com 70 anos ou mais, a
demência torna-se a quarta principal causa de morte (Ritchie & Roser,
2018).
Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas com estilos de vida mais
saudáveis. Se os norte-americanos parassem de fumar, tivessem uma
dieta mais saudável e praticassem mais atividades físicas, as estimativas
são de que aproximadamente 35% das mortes poderiam ser evitadas
entre os idosos (Centers for Disease Control & Merck Company
Foundation, 2007). Espera-se, nas próximas duas décadas, um acentuado
crescimento na demanda por serviços de assistência médica por parte
dessa população (Centers for Disease Control, 2013d).
A mortalidade causada pelo diabetes diminuiu recentemente, mas
ainda é a sexta maior. Aproximadamente 23% dos homens e 19% das
mulheres informam terem sido diagnosticados com diabetes nos Estados
Unidos. A hipertensão afeta cerca de 55% dos homens e 58% das
mulheres (Federal Interagency Forum on Aging-Related Statistics, 2016).
A hipertensão, que pode afetar o fluxo sanguíneo no cérebro, está
relacionada a declínios na atenção, aprendizagem, memória, funções
executivas, habilidades psicomotoras e habilidades espaciais, perceptivas
e visuais, sendo um fator de risco para AVC. A Tabela 17.4 traz uma lista
de sinais de alerta para AVC. Além da hipertensão e do diabetes, as
doenças crônicas mais comuns são artrite (43% dos homens e 54% das
mulheres), doenças cardíacas (35% dos homens e 25% das mulheres) e
câncer (26% dos homens e 21% das mulheres) (Federal Interagency
Forum on Aging-Related Statistics, 2016).

TABELA 17.4 Sinais de alerta para AVC


As iniciais dos quatro sinais de alerta para AVC formam a palavra
em inglês FAST
Paresia facial (Face): Um lado do rosto está caído ou sem
sensibilidade? Peça que a pessoa sorria e veja se o seu sorriso
é assimétrico.
Fraqueza nos braços (Arms): Um braço está fraco ou sem
sensibilidade? Peça que a pessoa erga ambos os braços. Um
dos braços pende para baixo?
Dificuldade para falar (Speech): A fala está lenta? Peça que a
pessoa repita uma frase simples.
Hora de ligar para o 192 (Time): Se alguém apresentar qualquer
um desses sintomas, ligue para o 192 para que a pessoa seja
levada ao hospital imediatamente.
Fonte: American Heart Association, 2013.
As doenças crônicas variam no que diz respeito à raça/etnia. Por
exemplo, em 2013–2014, 71% dos negros idosos tinham hipertensão, em
comparação com 54% dos brancos e hispânicos. Idosos negros e
hispânicos eram bem mais propensos do que idosos brancos a ter
diabetes – ambos 32%, comparados a 18% em idosos brancos (Federal
Interagency Forum on Aging-Related Statistics, 2016).

Você consegue sentar-se de pernas cruzadas


no chão e então erguer-se sem usar as mãos
para se apoiar? É o chamado teste sentar-
levantar e, em adultos mais velhos, tal
capacidade está associada com risco de
mortalidade reduzido.
de Brito et al., 2014

Incapacidades e limitação de atividades Nos Estados Unidos, a


proporção de adultos mais velhos com incapacidades físicas crônicas ou
com limitação de atividades tem diminuído desde o final da década de
1990 (Federal Interagency Forum on Aging-Related Statistics, 2016). No
entanto, a proporção de pessoas com dificuldades em atividades
funcionais aumenta acentuadamente com a idade. Cerca de 34% das
pessoas com 65 a 74 anos têm comprometimentos funcionais,
comparadas com 48% daquelas com 75 a 84 anos e 74% daquelas com 85
anos ou mais (Federal Interagency Forum on Aging-Related Statistics,
2016).
Entretanto, na presença de estados crônicos e perda da capacidade de
reserva, mesmo um pequeno dano ou doença pode ter sérias
repercussões. Em um estudo sobre adultos mais velhos hospitalizados
após uma queda, esses adultos estavam mais propensos a morrer ou a ser
encaminhados para uma casa de repouso do que adultos admitidos em
hospitais por motivos não relacionados a quedas (Aitken, Burmeister,
Lang, Chaboyer, & Richmond, 2010).

verificador
você é capaz de...
Resumir a condição de saúde de adultos mais velhos e
identificar doenças crônicas comuns na velhice?

INFLUÊNCIAS DO ESTILO DE VIDA NA SAÚDE E NA


LONGEVIDADE
As chances de permanecer saudável e fisicamente capaz em geral
dependem das opções de estilo de vida, principalmente em relação ao
tabagismo e à prática de exercícios.

O exercício ajuda essas mulheres a viver por mais tempo e com


mais saúde, e o aspecto social das suas atividades compartilhadas
ajuda a mantê-las mentalmente saudáveis.
Ariel Skelley/Digital Vision/Getty Images

Atividade física A prática constante de exercícios físicos pode evitar


muitas mudanças físicas associadas ao envelhecimento normal. O
exercício regular pode fortalecer o coração e os pulmões e diminuir o
estresse. Pode proteger contra hipertensão, endurecimento das artérias,
doenças cardíacas, osteoporose e diabetes. Ajuda a manter a velocidade,
a força e a resistência. Reduz a chance de lesões ao fortalecer os
músculos e articulações e deixá-los mais flexíveis, ajudando a prevenir
ou aliviar dores lombares e sintomas de artrite. Pode permitir que
pessoas com doenças pulmonares ou que sofrem de artrite permaneçam
independentes, e pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de limitações
na mobilidade. Além disso, pode melhorar o estado de alerta mental e o
desempenho cognitivo, aliviar a ansiedade e a depressão moderada, e
promover sentimentos de controle e bem-estar (Bauman, Merom, Bull,
Buchner, & Fiatarone Singh, 2016; Wilson, Ellison, & Cable, 2016;
Stubbs et al., 2017; Colberg et al., 2016; Cartee, Hepple, Bamman, &
Zierath, 2016).
A inatividade contribui para as doenças cardíacas, diabetes, câncer de
colo do útero e pressão alta. Ela pode levar à obesidade, que afeta o
sistema circulatório, os rins e o metabolismo do açúcar. Contribui para os
distúrbios degenerativos e tende a encurtar a vida. Uma análise de muitos
estudos constatou que a atividade aeróbica de intensidade moderada foi
bastante benéfica para o bem-estar (Netz, Wu, Becker, & Tenenbaum,
2005). Infelizmente, muitos idosos não fazem nem isso. As
recomendações atuais são de um mínimo de 150 minutos de atividade
aeróbica moderada durante a semana, ou um pouco mais de 20 minutos
por dia. Exercícios adicionais são ideais, mas qualquer coisa é melhor do
que nada (Centers for Disease Control, 2014b). Vinte e oito por cento dos
adultos com 50 anos ou mais sem doenças crônicas são fisicamente
inativos. Além disso, os adultos que sofrem de doenças crônicas têm
probabilidade 30% menor de serem fisicamente ativos (Centers for
Disease Control, 2016f).
Nutrição Quase 80% dos norte-americanos de 71 anos ou mais não
cumprem os critérios para uma alimentação saudável, especialmente pelo
consumo excessivo de calorias vazias (Krebs-Smith, Guenther, Subar,
Kirkpatrick, & Dodd, 2010). Em geral, as mulheres mais velhas (em
comparação com os homens) e as pessoas de nível econômico mais
elevado consomem uma dieta mais saudável. (Ervin, 2008; Wang et al.,
2014).

Você pratica exercícios físicos com


regularidade? Quantas pessoas idosas você
conhece que fazem isso? Que tipo de
atividade física você espera manter à medida
que for envelhecendo?

A nutrição é uma parte importante na suscetibilidade a doenças


crônicas como aterosclerose, doenças cardíacas e diabetes, assim como
nas limitações de atividades e nas limitações funcionais. A gordura
corporal excessiva, especialmente advinda de uma dieta com bastante
álcool e carnes vermelhas e industrializadas, tem sido associada a vários
tipos de câncer (World Cancer Research Fund, 2007). Entretanto, embora
o ganho de peso não seja saudável para adultos mais velhos, a perda de
peso também não é. A perda excessiva de peso pode resultar em fraqueza
muscular e fragilidade geral, e pode ser tão debilitante para adultos mais
velhos quanto o ganho de peso (Schlenker, 2010).
Uma dieta saudável pode reduzir os riscos de obesidade, pressão alta e
colesterol alto (Federal Interagency Forum on Aging-Related Statistics,
2016). Descobriu-se que uma dieta mediterrânea (rica em azeite de oliva,
grãos integrais, vegetais e nozes) reduz o risco de doenças
cardiovasculares (Esposito et al., 2004) e – em combinação com
atividades físicas, uso moderado de bebidas alcoólicas e abstenção de
cigarro – diminui em quase dois terços a mortalidade por todas as causas
em 10 anos entre europeus saudáveis de 70 a 90 anos (Rosamund et al.,
2008). Comer frutas e vegetais – principalmente aqueles ricos em
vitamina C, frutas e sucos cítricos, hortaliças, brócolis, repolho, couve-
flor e couve-de-bruxelas – diminui o risco de câncer e doenças cardíacas
(Takachi, 2007). No geral, uma alimentação saudável está associada com
maior qualidade de vida nos idosos (Govindaraju, Sahle, McCaffrey,
McNeil, & Owen, 2018).
A doença periodontal é uma inflamação crônica das gengivas causada
por placas bacterianas que pode resultar em sensibilidade e sangramento
gengival e, por fim, perda de dentes. Embora mais idosos norte-
americanos mantenham seus dentes naturais do que nunca, 16% dos
adultos de 65 a 74 anos e 31% dos adultos de 75 anos ou mais perderam
todos os dentes (Federal Interagency Forum on Aging-Related Statistics,
2016). Os idosos com menos de 20 dentes podem sofrer de desnutrição
devido à maior dificuldade de mastigar adequadamente os alimentos
(Hassan et al., 2017). Pesquisas também relacionam a doença periodontal
com declínios cognitivos e doença cardiovascular (Kaye et al., 2010;
Blaizot, Vergnes, Nuwwareh, Amar, & Sixou, 2009). Alguns sugerem que
pode prejudicar a regulação do açúcar no sangue também (Zadik, Bechor,
Galor, & Levin, 2010).

verificador
você é capaz de...
Apresentar evidências da importância dos exercícios e da
nutrição para a saúde e a longevidade?

PROBLEMAS COMPORTAMENTAIS E MENTAIS


Apenas 6,3% dos norte-americanos com 75 anos ou mais relatam
perturbações mentais frequentes (Centers for Disease Control and
Prevention, 2013d). Entretanto, estima-se que 20% dos moradores das
casas de repouso sofram de algum problema mental ou comportamental,
e que apenas 3% deles busquem ajuda profissional (American
Psychological Association, 2019). Por que tamanha disparidade?
A principal razão para os idosos não procurarem ajuda é a dificuldade
de acessar os serviços de apoio necessários (Mackenzie, Scott, Mather, &
Sareen, 2008). Há uma escassez de profissionais devidamente treinados
na área de saúde mental que possa atender os idosos, e essa escassez
provavelmente aumentará na mesma proporção que a estimativa de
aumento da população mais velha. Em 1970, cerca de 4 milhões de
idosos sofriam de problemas comportamentais e mentais. Projeta-se que
esse número atinja 15 milhões em 2030 (American Psychological
Association, 2019).

A terapia assistida por animais faz diminuir os


sintomas depressivos e melhora as funções
cognitivas dos idosos.
Moretti et al., 2010

Depressão Os índices de sintomatologia depressiva informada


permaneceram relativamente estáveis desde o final da década de 1990.
Em 2016, 10% dos homens idosos e 18% das mulheres idosas relataram
sintomas de depressão clínica (Federal Interagency Forum on Aging-
Related Statistics, 2016). Estima-se que a hereditariedade represente
37% do risco de depressão maior; contudo, as influências genéticas
parecem ser mais importantes nas mulheres do que nos homens (Mullins
& Lewis, 2017; Kendler, Gatz, Gardner, & Pedersen, 2006).
A vulnerabilidade parece resultar da influência de múltiplos genes
interagindo com fatores ambientais. Por exemplo, um fator de risco para
depressão na vida adulta identificado de forma consistente, que mais do
que dobra o risco, é a negligência ou abuso na infância (Mandelli,
Petrelli, & Serretti, 2015). Fatores especiais de risco na vida adulta tardia
incluem doenças crônicas ou incapacidade, declínio cognitivo e divórcio,
separação ou viuvez (Harvard Medical School, 2003; Mueller et al.,
2004). A depressão tem um papel mais difuso no estado funcional
mental, na invalidez e na qualidade de vida do que enfermidades físicas
como diabetes ou artrite (Noël et al., 2004).
A depressão pode ser tratada com antidepressivos, psicoterapia, ou
ambos, e os antidepressivos parecem funcionar tão bem quanto o fazem
para os mais jovens (Blazer, 2009). Exercícios regulares podem reduzir
sintomas de depressão leve ou moderada (Stanton & Reaburn, 2014;
Dunn, Trivedi, Kampert, Clark, & Chambliss, 2005), ainda que isso não
seja verdade para idosos muito frágeis (Underwood et al., 2013).
Demência Rose, 69 anos, está ficando cada vez mais esquecida. Sua
memória para eventos distantes continua firme e detalhada, mas ela se
repete bastante e muitas vezes fica parada na cozinha sem saber o que foi
fazer lá. Sempre responsável no passado, ela está com múltiplas contas
atrasadas e se perdeu voltando do mercado na semana passada. É
provável que Rose esteja sofrendo os efeitos da demência.
A demência é o termo geral para o declínio comportamental e
cognitivo de causas fisiológicas capaz de interferir nas atividades diárias.
O declínio cognitivo torna-se cada vez mais comum com a idade
avançada, afetando 11% dos homens e 13% das mulheres de 75 a 84 anos
nos Estados Unidos, e 24% dos homens e 30% das mulheres com 85 anos
ou mais (Federal Interagency Forum on Aging-Related Statistics, 2016).
Em nível mundial, há cerca de 50 milhões de pessoas com demência e
aproximadamente 10 milhões de novos casos todos os anos (World
Health Organization, 2017).

demência
Deterioração no funcionamento
comportamental e cognitivo em razão de
causas fisiológicas.

Embora existam cerca de 50 causas de demência de origem conhecida,


na grande maioria dos casos (dois terços aproximadamente) a causa é o
mal de Alzheimer, uma doença progressiva e degenerativa que ocorre no
cérebro (Hamza et al., 2011). O mal de Parkinson, a segunda doença
mais comum e que envolve uma degeneração neurológica progressiva, é
caracterizado por tremores, rigidez, movimentos lentos e postura
instável. Embora as estimativas variem radicalmente, aos 60 anos, um
pouco menos de 1% da população é afetado. Aos 80, a proporção dos
indivíduos afetados aumenta para um pouco menos de 2%, com a
proporção dos homens afetados aumentando com a idade (Pringsheim,
Jette, Frolkis, & Steeves, 2014). Essas duas doenças, e mais a demência
por múltiplos infartos, que é causada por uma série de pequenos AVCs,
são responsáveis pelo menos por 8 de cada 10 casos de demência, todos
irreversíveis.

mal de Alzheimer
Distúrbio cerebral, progressivo, irreversível e
degenerativo, caracterizado por deterioração
cognitiva e perda do controle das funções
corporais, e que leva à morte.
mal de Parkinson
Distúrbio neurológico degenerativo,
progressivo e irreversível, caracterizado por
tremores, rigidez, movimentos lentos e postura
instável.

A demência não é inevitável. Diversos fatores protegem as pessoas de


desenvolver demência. Determinados traços de personalidade,
especialmente a conscienciosidade e o neuroticismo, parecem conferir
proteção (Low, Harrison, & Lackersteen, 2013). As características
cognitivas e a educação também são protetoras (Xu et al., 2016; Sharp &
Gatz, 2011), assim como um emprego que desafia o indivíduo (Smart,
Gow, & Deary, 2014; Seidler et al., 2004) e o bilinguismo, mesmo entre
os analfabetos (Bialystok, Craik, & Freeman, 2007; Alladi et al., 2013).
Essencialmente, uma mente ativa permanece saudável por mais tempo.
Continuar engajado com os outros pode ser benéfico, mas os resultados
não são claros. Alguns estudos, particularmente aqueles que analisam
adultos de diferentes idades, mostram reduções no risco de demência
com a interação social e o engajamento. Outros, especialmente as
pesquisas longitudinais, indicam que as redes sociais têm pouco efeito
sobre a demência (Baumgart et al., 2015; Marioni et al., 2015).
A diminuição da capacidade cognitiva é mais provável nas pessoas
com saúde ruim, principalmente aquelas que têm ou tiveram AVC ou
diabetes (Tilvis et al., 2004). A falta de atividade física regular aumenta
o risco de demência posterior (Baumgart et al., 2015), e instituir um
programa de exercícios físicos, mesmo em idades avançadas, poderia
ajudar a reverter alguns dos primeiros sinais de deficiência cognitiva em
adultos saudáveis (Lautenschlager et al., 2008). Na verdade, muitos dos
fatores de risco para demência podem ser modificados. Estima-se que
35% dos casos de demência poderiam ser prevenidos com a alteração de
uma série de fatores de risco, incluindo educação, perda de audição,
obesidade e hipertensão, depressão, tabagismo, inatividade física,
diabetes e isolamento social (Yaffe, 2018).

Como nossa população de animais de


estimação também está vivendo por mais
tempo, a demência igualmente ocorre em cães
e é conhecida como síndrome da disfunção
cognitiva canina. Os sinais comuns dessa
disfunção incluem acidentes em casa, andar
em círculos ou fixar o olhar no vazio, além de
alterações no apetite e nos ritmos circadianos.

Mal de Alzheimer O mal de Alzheimer (MA) é uma das mais comuns e


mais temidas doenças terminais entre as pessoas idosas. Gradualmente,
rouba dos pacientes a inteligência, a consciência e até mesmo a
habilidade de controlar as funções de seu corpo, e por fim os mata. A
doença afetava mais de 50 milhões de pessoas em 2018, e acredita-se que
esse número vá mais do que triplicar até 2050, quando atingirá 152
milhões (Patterson, 2018).
verificador
você é capaz de...
Dizer por que a depressão na velhice pode ser mais comum
do que geralmente se percebe?
Citar as três principais causas de demência em adultos mais
velhos?

O mal de Alzheimer é a sexta principal causa de morte nos Estados


Unidos, e estima-se que 5,8 milhões de pessoas vivam com MA, cerca de
200.000 das quais têm menos de 65 anos e podem ter uma forma de
início precoce da doença. Quase dois terços dos indivíduos afetados são
mulheres. Os afro-americanos mais velhos têm aproximadamente o
dobro do risco, e os hispânicos têm uma vez e meia o risco de
desenvolver MA ou outras deficiências cognitivas do que os adultos
brancos não hispânicos (Alzheimer’s Association, 2019).
Sintomas Os sintomas clássicos do mal de Alzheimer são diminuição da
capacidade de memória, deterioração da linguagem e deficiências no
processamento espacial e visual. O sintoma precoce mais evidente é a
incapacidade de lembrar acontecimentos recentes ou absorver novas
informações. Uma pessoa pode repetir as perguntas que acabaram de ser
respondidas ou deixar uma tarefa do dia a dia inacabada. Esses sinais
precoces podem não ser considerados porque parecem esquecimentos ou
podem ser interpretados como sinais de envelhecimento normal.
As mudanças de personalidade – por exemplo, rigidez, apatia,
egocentrismo e diminuição da capacidade de se controlar
emocionalmente – tendem a ocorrer no começo do desenvolvimento da
doença (Balsis, Carpenter, & Storandt, 2005). Há indicações de que essas
mudanças de personalidade podem ser úteis em prever quais os adultos
que poderiam correr o risco de desenvolver demência (Pocnet, Rossier,
Antonietti, & von Gunten, 2013). Outros sintomas também surgem:
irritabilidade, ansiedade, depressão e, mais tarde, ilusões, delírios e
pensamentos desordenados. Memória de longo prazo, julgamento,
concentração, orientação e fala, tudo isso é afetado, e os pacientes
apresentam problemas ao lidar com as atividades básicas do cotidiano.
No final, eles não conseguem usar a linguagem, não reconhecem os
membros da família, não comem sem ajuda, não controlam o intestino e
a bexiga e perdem a capacidade de andar. O óbito vem de oito a dez anos
após o aparecimento dos sintomas (Cummings, 2004). (A Tabela 17.5
compara sinais precoces do mal de Alzheimer com lapsos mentais
normais.)

TABELA 17.5 Mal de Alzheimer versus comportamento normal


Comportamento
Sintomas da doença normal
Esquecimento permanente dos Esquecimento
acontecimentos recentes; repetir as temporário das
mesmas perguntas coisas
Incapacidade de executar tarefas Incapacidade de
rotineiras com muitas etapas, como executar algumas
preparar e servir uma refeição tarefas desafiadoras
Esquecer palavras simples Esquecer palavras
complexas e
incomuns
Perder-se em seu próprio quarteirão Perder-se em uma
Esquecer o que significam os números cidade estranha
em um talão de cheques e o que fazer Cometer erros ao
com eles conferir um talão de
cheques
Colocar as coisas em lugares Guardar objetos do dia
inapropriados (p. ex., um relógio de a dia em lugar errado
pulso em um aquário)
Rápidas e dramáticas oscilações de Mudanças ocasionais
humor e mudanças de personalidade de humor
Causas e fatores de risco O acúmulo de uma proteína anormal
denominada peptídeo beta-amiloide parece ser o principal culpado pelo
desenvolvimento do mal de Alzheimer (Sadigh-Eteghad et al., 2015;
Selkoe & Hardy, 2016). O cérebro de uma pessoa com MA contém
volumes excessivos de emaranhados neurofibrilares (massas retorcidas
de neurônios mortos) e grandes massas cerosas de placa amiloide
(tecido não funcional formado pela beta-amiloide nos espaços entre os
neurônios). Como essas placas são insolúveis, o cérebro não consegue se
livrar delas. Elas podem se tornar densas, espalhar-se e destruir os
neurônios vizinhos, bloquear a sinalização entre as células ou ativar
respostas inflamatórias.

emaranhados neurofibrilares
Massas retorcidas de fibras de proteína
encontradas nos cérebros das pessoas com
mal de Alzheimer.
placa amiloide
Massas cerosas de tecido insolúvel
encontradas nos cérebros de pessoas com
mal de Alzheimer.

Há evidências de que outro mecanismo por trás da progressão da


doença neurodegenerativa seja a desagregação da mielina, a substância
gordurosa que recobre os axônios e permite que os impulsos nervosos se
movam mais rapidamente. A mielina oferece aos nossos cérebros parte
da sua grande complexidade, mas também nos torna vulneráveis a
doenças neurodegenerativas na velhice, especialmente nas áreas do
cérebro com desenvolvimento tardio (Bartzokis, Lu, & Mintz, 2007;
Wang et al., 2018). Nessa teoria, a doença neurodegenerativa é o
resultado dos esforços do cérebro para consertar a mielina desagregada, o
que leva a emaranhados neurofibrilares e placas amiloides. Essas
substâncias podem danificar os neurônios diretamente, como descrito
antes, mas o cérebro também é afetado pela mielina comprometida
(Papuc´ & Rejdak, 2018; Amlien & Fjell, 2014). Quando as tentativas de
reparar a mielina são bem-sucedidas, o avanço da doença é lento. Quando
o processo não dá certo, no entanto, a doença neurodegenerativa progride
(Bartzokis, 2011).
A batalha de Esther Lipman Rosenthal contra o mal de Alzheimer é
evidente em sua arte. Durante os estágios inicial e intermediário de
sua doença, ela pintou, aos 55 anos, o quadro no alto, que mostra
seu marido jogando golfe; e, aos 75 anos, o quadro abaixo, em
que ele está esquiando.
Fotos: cortesia de Linda Goldman.

O mal de Alzheimer é influenciado pela genética. Algumas variantes


raras causadas por mutações dominantes, que ocorrem em menos de 1%
dos casos, estão associadas com a demência de início precoce (Hsu et al.,
2018). Contudo, a maior parte dos casos de demência envolve efeitos
multifatoriais, em que diversas variantes genéticas elevam os riscos dos
seus portadores. Quanto mais variantes um indivíduo tem e mais fatores
de risco ambientais se acumulam durante a vida, maior a probabilidade
deste de desenvolver o MA. Modificações epigenéticas que determinam
se um gene específico é ativado são importantes (Lord & Cruchaga,
2014).
Por exemplo, descobriu-se que uma variante do gene APOE contribui
para a suscetibilidade ao MA de início precoce e tardio (Van
Cauwenberghe, Van Broeckhoven, & Sleegers, 2015; Gatz, 2007). O sexo
modifica essa associação; o gene coloca as mulheres em mais risco do
que os homens (Altmann, Tian, Henderson, & Greicius, 2014).
Constatou-se que uma variante de outro gene chamado SORL1 estimula a
formação de placas amiloides (Reitz et al., 2011; Meng et al., 2007).
Outra variante gênica envolvida na produção de precursores amiloides, a
catepsina D, também aumenta moderadamente o risco (Schuur et al.,
2011). No entanto, acredita-se que os genes identificados explicam não
mais que metade dos casos de MA. Além disso, novos genes estão sendo
identificados continuamente (Lambert et al., 2013). Uma metanálise
recente de mais de 450.000 pessoas identificou 29 novos lócus gênicos de
risco comuns em pessoas com MA (Jansen et al., 2019).
Embora vários fatores relativos ao estilo de vida tenham sido
estudados no que diz respeito a seu impacto potencial sobre o MA, os
resultados são dúbios e é difícil tirar conclusões. Entretanto, alguns
fatores ligados ao estilo de vida, como dieta e atividade física, foram
relacionados ao problema. Alimentos ricos em vitamina E, D e B12,
ácidos graxos ômega-3, antioxidantes e gorduras insaturadas
desidrogenadas (como nozes, sementes, peixe e ovos) podem proteger
contra o MA, enquanto alimentos com alto teor de gorduras saturadas e
trans-saturadas, como carnes vermelhas, manteiga e sorvete, podem ser
prejudiciais. Verduras, legumes, frutas e grãos integrais devem ser a base
da alimentação, e os exercícios físicos incorporados à rotina (Cao et al.,
2016; Barnard et al., 2014; Morris, 2004). Os fumantes correm risco
maior de ter MA (Saito, Diaz, Chung, & McMurtray, 2017; Durazzo,
Mattsson, Weiner, & Alzheimer’s Disease Neuroimaging Initiative,
2014). Além disso, a depressão, a pressão alta, a obesidade e a
inatividade física também aumentam o risco (Deckers et al., 2015;
Bellou et al., 2017). Originalmente, acreditava-se que medicamentos
anti-inflamatórios não esteroides, como a aspirina e o ibuprofeno,
reduziriam o risco de MA (Vlad, Miller, Kowall, & Felson, 2008), mas
estudos controlados randomizados não encontraram uma associação
(Wang et al., 2015).
A escolarização e atividades cognitivamente estimulantes têm sido
associadas à redução do risco da doença (Sattler, Toro, Schönknecht, &
Schröder, 2012; Wilson, Scherr, Schneider, Tang, & Bennet, 2007). O
efeito protetor pode não se dever à escolarização em si, mas ao fato de
que as pessoas com mais escolaridade tendem a ser mais ativas (Wilson
& Bennet, 2003). A atividade cognitiva pode formar reserva cognitiva e,
assim, postergar o início da demência (Stern, 2012). A reserva cognitiva,
assim como a reserva orgânica, pode permitir que um cérebro em
deterioração continue funcionando em condições de estresse, até certo
ponto, sem mostrar sinais de comprometimento.

reserva cognitiva
Fundo hipotético de energia que pode
possibilitar ao cérebro deteriorado continuar
funcionando normalmente.

Embora a declaração do NIH Consensus Development (Daviglus et al.,


2010) tenha afirmado que conclusões seguras sobre modificações no
estilo de vida não são possíveis, uma publicação recente da Alzheimer’s
Association (Baumgart et al., 2015) defende que as evidências são
suficientes para que ofereçamos algumas diretrizes gerais. As atividades
físicas regulares e o manejo de fatores de risco cardiovascular (diabetes,
obesidade, hipertensão e tabagismo), alimentação saudável e manter-se
cognitivamente ativo durante toda a vida são todos fatores que oferecem
vantagens protetoras.
Diagnóstico e previsão O MA geralmente é diagnosticado por meio de
avaliações médicas. Prepara-se um histórico médico do paciente,
incluindo exame do estado mental, exame físico e neurológico e
possivelmente exames de sangue e de imagem, para eliminar explicações
alternativas (Alzheimer’s Association, 2019). Até relativamente pouco
tempo atrás, no entanto, o único modo definitivo de diagnosticar o MA
era a análise do cérebro afetado após a morte. Os esforços atuais se
concentram em diagnosticar a doença no início do processo, quando os
sinais de déficits cognitivos são leves.
Estes escaneamentos PET (tomografia por emissão de pósitron)
mostram redução significativa no metabolismo da glicose cerebral
e atividade reduzida (à esquerda) em um paciente com mal de
Alzheimer em comparação com os níveis de atividade observados
em um cérebro normal (à direita).
ISM/Centre Jean Perrin/Medical Images

A neuroimagem está se tornando uma ferramenta cada vez mais útil e


parece muito promissora para propósitos diagnósticos futuros. A
identificação do MA antes de aparecerem os sintomas tem várias
consequências importantes, desde a avaliação daqueles indivíduos com
risco de desenvolver demência até o monitoramento de intervenções e
tratamento medicamentoso para que as pessoas afetadas tenham tempo
de se planejar para o futuro. Diversas organizações, incluindo a
Preventive Services Task Force Recommendation Services dos Estados
Unidos, a Sociedade de Medicina Nuclear e Imagem Molecular, a
Alzheimer’s Association Imaging Taskforce e a Federação Europeia de
Sociedades de Neurologia, publicaram diretrizes sobre o uso e as
aplicações das técnicas de imagem para estudo e diagnóstico. Todas
concordam que o imageamento do cérebro ainda não é suficiente para o
diagnóstico, mas que é muito promissor (Moyer, 2014; Johnson et al.,
2013; Filippi et al., 2012). Um espaço particularmente promissor envolve
o uso de métodos de aprendizado de máquina. Atualmente, algoritmos de
computador se tornaram proficientes na tarefa de diferenciar cérebros
saudáveis daqueles que sofrem dos efeitos da demência, mas ainda não
conseguem diferenciar entre os tipos de demência (Ahmed et al., 2019;
Pellegrini et al., 2018).
Outra abordagem diagnóstica concentra-se em encontrar
biomarcadores – indicadores mensuráveis de um processo biológico – de
modo a diagnosticar as manifestações iniciais da doença. Atualmente,
três biomarcadores estão fortemente associados com o risco de
demência: proteínas tau, placas amiloides e neurofilamentos de cadeia
leve (NFLs – neurofilament light chains). As proteínas tau ajudam a
levar materiais aos neurônios, mas formam emaranhados neurofibrilares
nos pacientes com MA. A proteína amiloide está presente em todo o
corpo, mas no MA resulta em placas de acúmulo adesivo. A NFL é uma
proteína liberada quando a mielina fica emaranhada. Os pesquisadores
usam a tecnologia para detectar todas as três substâncias no líquido
cefalorraquidiano de pessoas com MA (Olsson et al., 2016;
Georganopoulou et al., 2005). É importante observar que os testes de
biomarcadores também são promissores como forma de eliminar o MA
em indivíduos que apresentam comprometimentos (Molinuevo et al.,
2014).
Apesar da identificação de vários genes associados ao MA (Kim et al.,
2014), até agora os testes genéticos tiveram um papel limitado na
previsão e no diagnóstico. Ainda assim, podem ser úteis em combinação
com testes cognitivos, escaneamentos do cérebro e evidência clínica dos
sintomas. Há evidências de que as pessoas alteram seu comportamento
em relação à saúde se lhes disserem que possuem genes que os tornam
vulneráveis à demência (Chao et al., 2008). Tal informação, portanto,
algum dia poderá fazer parte do método com o qual os profissionais de
saúde indicam ou anunciam o risco para indivíduos. Os perfis genéticos
também podem oferecer uma maneira de prever quais medicamentos
serão mais eficazes para cada indivíduo (Roses et al., 2014).
Tratamento Embora não se tenha descoberto a cura, o diagnóstico e o
tratamento precoces podem reduzir a progressão do mal de Alzheimer e
melhorar a qualidade de vida. Atualmente, a Food and Drug
Administration aprovou quatro medicamentos que diminuem o ritmo de
progressão do mal de Alzheimer por tempo limitado, sem, porém, detê-lo
(Alzheimer’s Association, 2019). Um medicamento é a memantina
(comercialmente conhecida como Namenda). O uso da memantina é bem
tolerado e pesquisas demonstram que ela melhora a cognição e o
comportamento e permite que as pessoas possam realizar as atividades
da vida diária com eficácia, apesar de o efeito geral ser pequeno (Kishi et
al., 2017; Matsunaga, Kishi, & Iwata, 2015).
Outra abordagem experimental envolvia a imunoterapia (Solomon &
Frenkel, 2010). Nessa abordagem, foi desenvolvida uma “vacina” que
treinava o sistema imunológico para atacar as placas amiloides. Os
primeiros testes tiveram algum sucesso, mas foram interrompidos porque
alguns pacientes desenvolveram meningoencefalite, ou edema dos
tecidos cerebrais, e outros não apresentaram mudanças (Panza,
Logroscino, Imbimbo, & Solfrizzi, 2014).
Na ausência da cura, o manejo da doença é crítico. Pesquisas anteriores
indicavam que as intervenções com treinamento cognitivo resultavam em
ganhos tanto na área cognitiva quanto comportamental (Sitzer, Twamley,
& Jeste, 2006). Pesquisas mais atuais sugerem que os ganhos podem ser
mais modestos. Metanálises recentes mostram que embora as
intervenções cognitivas possam resultar em pequenos ganhos cognitivos,
os benefícios em geral não são clinicamente significativos e há poucas
melhorias no funcionamento cotidiano (Kallio, Öhman, Kautiainen,
Hietanen, & Pitkälä, 2017; Huntley, Gould, Liu, Smith, & Howard, 2015).
Além disso, apesar de melhorar o desempenho dos idosos saudáveis, não
há muitas evidências de que o treinamento cognitivo retarde os declínios
cognitivos ou a demência (Butler et al., 2018).
Contudo, os sintomas comportamentais podem ser manejados. Terapias
comportamentais podem reduzir a degeneração, melhorar a comunicação
e reduzir o comportamento disruptivo. Medicamentos podem aliviar a
agitação e a depressão, além de ajudar os pacientes a dormirem. Nutrição
apropriada e ingestão de líquidos, juntamente com exercícios,
fisioterapia e controle de outros estados clínicos são importantes, e a
cooperação entre o médico e o cuidador é essencial (Alzheimer's
Association, 2019).

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você é capaz de...
Resumir o que se conhece sobre ocorrência, sintomas,
causas, fatores de risco, diagnóstico e tratamento do mal de
Alzheimer?

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Aspectos do desenvolvimento cognitivo
A velhice “acrescenta conforme tira”, de acordo com o poeta William
Carlos Williams em um de seus três livros de poesia que produziu entre
seu primeiro AVC aos 68 anos e sua morte aos 79. De acordo com a
sugestão dada pela abordagem evolutiva do ciclo de vida de Baltes, a
idade traz ganhos e perdas. Primeiro vamos analisar a inteligência e as
habilidades gerais de processamento, depois a memória, e então a
sabedoria, que é popularmente associada com a idade mais avançada.

INTELIGÊNCIA E HABILIDADES DE
PROCESSAMENTO
Será que a inteligência diminui na vida adulta tardia? A resposta depende
de quais habilidades estejam sendo medidas, e como. Algumas
habilidades, como a velocidade de processamento mental e o raciocínio
abstrato, podem declinar com a idade, mas outras tendem a melhorar ao
longo da maior parte da vida adulta. Embora mudanças nas habilidades
de processamento possam refletir uma degeneração neurológica, existe
uma grande variação individual, que sugere que o declínio das funções
não é inevitável e pode ser prevenido.
Medindo a inteligência de adultos idosos Para medirem a
inteligência de adultos mais velhos, os pesquisadores geralmente usam a
Escala Wechsler de Inteligência Adulta (WAIS, na sigla em inglês). A
WAIS é uma medida padronizada que permite a avaliação do
funcionamento intelectual de um indivíduo em diferentes idades. O
número de pontos nos subtestes da WAIS revela um QI verbal, um QI de
execução e um QI total. Adultos idosos tendem a não ter um desempenho
tão bom na WAIS quanto os adultos mais jovens, mas a diferença ocorre
principalmente na velocidade de processamento e no desempenho não
verbal. Nos cinco subtestes da escala de execução (como identificar a
parte que falta de uma figura e resolver um labirinto), os resultados
diminuem com a idade; mas nos seis testes da escala verbal –
particularmente os testes de vocabulário, informação e compreensão – os
resultados sofrem uma queda muito leve (Figura 17.4). Isso é chamado
de padrão clássico de envelhecimento (Botwinick, 1984). Essa
disparidade etária no desempenho, especialmente para a velocidade de
processamento, é menor nas coortes mais recentes (Miller, Myers, Prinzi,
& Mittenberg, 2009). A variabilidade nas pontuações – ou seja, algumas
pessoas têm pontuações maiores do que as outras – aumenta com a idade,
especialmente em áreas nas quais os declínios médios são mais evidentes
(Wisdom, Mignogna, & Collins, 2012).

Os efeitos do envelhecimento não são todos


ruins. À medida que envelhecemos, estamos
mais propensos a prestar atenção e processar
faces positivas e felizes do que faces
negativas, uma tendência que pode ter
implicações para a forma como lidamos com
os problemas da vida real.
Mather & Carstenson, 2003

Escala Wechsler de Inteligência Adulta


(WAIS, na sigla em inglês)
Teste de inteligência para adultos que
apresenta pontuação de execução e verbal,
assim como uma pontuação combinada.
Esse padrão provavelmente é consequência da desaceleração muscular
e neurológica. Para tarefas que não envolvem velocidade, os declínios
são menos prováveis. Por exemplo, os itens verbais mantidos com a
idade são baseados no conhecimento e não exigem que a pessoa que se
submete ao teste descubra ou faça algo novo. O desempenho das tarefas
envolve o processamento de novas informações e exige habilidade
motora e velocidade perceptual.

FIGURA 17.4
Padrão clássico de envelhecimento na versão revisada da Escala
Wechsler de Inteligência Adulta (WAIS-R).
Pontuações nos subtestes de execução declinam bem mais
rapidamente do que pontuações nos subtestes verbais.
Fonte: Botwinick, 1984.

O Estudo Longitudinal de Seattle: use ou perca Em certos


sentidos, podemos imaginar a mente como um músculo. Ela também
responde ao uso e também se deteriora quando não se engaja com o
mundo ao nosso redor. Essa dinâmica “use ou perca” é ilustrada pelas
pesquisas do Estudo Longitudinal de Inteligência Adulta de Seattle. Os
pesquisadores mediram as seis principais habilidades mentais:
significados verbais, fluência verbal, números (habilidade
computacional), orientação espacial, raciocínio indutivo e velocidade
perceptual. Coerente com outros estudos, a velocidade perceptual tendeu
a declinar mais cedo e mais rapidamente. O declínio cognitivo em outros
aspectos foi mais lento e mais variável. Pouquíssimas pessoas sofreram
declínios em todas as habilidades, e muitas melhoraram em algumas. A
maioria dos adultos idosos saudáveis apresenta apenas pequenas perdas
até o final dos 60 ou 70 anos. Somente aos 80 é que começam a
apresentar desempenho abaixo da média dos adultos mais jovens e,
mesmo assim, declínios em habilidades verbais e raciocínio são bem
modestos (Schaie & Willis, 2010; Schaie, 2005).
A característica mais surpreendente das pesquisas de Seattle é a
tremenda variação entre os indivíduos. Alguns participantes mostraram
declínios aos 40 anos, mas alguns poucos se mantiveram em
funcionamento pleno até com idade muito avançada. Os mais propensos
a apresentar declínios foram os homens com baixos níveis educacionais,
que estavam insatisfeitos com suas realizações na vida e exibiam um
decréscimo significativo em flexibilidade de personalidade. Algumas
variáveis relacionadas à saúde também foram importantes, especialmente
hipertensão e diabetes. Participantes envolvidos em trabalhos
cognitivamente complexos e que gozavam de boa saúde tenderam a
manter suas habilidades por mais tempo. Envolver-se em atividades que
desafiam as habilidades cognitivas promove a retenção ou crescimento
dessas habilidades e, conforme mencionamos antes, parece proteger da
demência (Schaie & Willis, 2010; Willis & Schaie, 2005; Lindwall et al.,
2012).
Descobertas feitas por estudos longitudinais sugerem que o
treinamento cognitivo pode capacitar adultos mais velhos não só a
recuperar a competência perdida, mas até mesmo a superar suas
realizações anteriores (Schaie & Willis, 1996). No estudo de Seattle,
participantes que se submeteram a uma intervenção cujo foco era treiná-
los em habilidades com o raciocínio mostraram menor probabilidade de
desenvolver demência sete anos após o treinamento (Blaskewicz, Boron,
Willis, & Shaie, 2007).
A deterioração cognitiva, portanto, muitas vezes poderá estar
relacionada ao desuso. Assim como muitos atletas podem contar com
reservas físicas à medida que envelhecem, idosos que recorrem ao
treinamento, à prática e obtêm apoio social parecem poder utilizar as
reservas mentais.

Quais são os meios para manter um alto nível


de atividade intelectual na velhice? Você acha
que precisa desenvolver novos interesses, ou
mais amplos, à medida que for envelhecendo?

Solucionando problemas do cotidiano O objetivo da inteligência,


naturalmente, não é ficar fazendo testes, mas sim lidar com os desafios
da vida diária. Em muitos estudos, a qualidade das decisões práticas
(como que carro comprar ou como comparar apólices de seguro) tem
apenas uma relação modesta, se tiver alguma, com o desempenho de
tarefas como as dos testes de inteligência (Blanchard-Fields, 2007) e, em
geral, não tem qualquer relação com a idade (Meyer et al., 1995). Da
mesma forma, muitas pesquisas sobre a solução de problemas diários
(como o que fazer com a inundação do andar inferior da casa) não
encontraram nenhum declínio precoce, como em geral é encontrado em
avaliações de inteligência fluida, e algumas pesquisas constataram nítida
melhora (Blanchard-Fields, Stein, & Watson, 2004; Mienaltwoski, 2011),
especialmente quando os contextos avaliados são aqueles com que os
idosos estão familiarizados (Aristico, Orom, Cervone, Krauss, &
Houston, 2010).
As diferenças de idade são menos importantes em estudos que se
concentram em problemas interpessoais – por exemplo, como lidar com
uma mãe jovem que insiste em mostrar para sua sogra, mais velha e mais
experiente, como segurar o bebê – do que em relação a problemas
instrumentais – por exemplo, como devolver mercadoria com defeito
(Thornton & Dumke, 2005). Adultos mais velhos possuem repertórios de
estratégias mais extensos para aplicar em situações interpessoais do que
adultos mais jovens, e é mais provável que aqueles escolham uma
estratégia altamente eficaz do que estes (Fingerman & Charles, 2010).

verificador
você é capaz de...
Comparar o padrão clássico de envelhecimento na WAIS
com aquele do Estudo Longitudinal de Seattle em relação às
alterações cognitivas na velhice?
Citar evidências da plasticidade das habilidades cognitivas
na vida adulta tardia?
Discutir a relação entre solução de problemas práticos (do
cotidiano) e idade?

Alterações nas habilidades de processamento Em muitos adultos


mais velhos, uma diminuição geral na atividade do sistema nervoso
central contribui acentuadamente para perdas de eficiência do
processamento de informação e alterações nas habilidades cognitivas. A
velocidade de processamento, uma das primeiras habilidades a declinar,
está relacionada à condição de saúde, equilíbrio e marcha, e ao
desempenho de atividades do dia a dia, como procurar números de
telefone e conferir o troco (Ball, Edwards, & Ross, 2007; Bezdicek,
Stepankova, Novakova, & Kopecek, 2016).
Além disso, os adultos idosos tendem a ter mais dificuldade para
deslocar a atenção de uma tarefa para outra (Bucur & Madden, 2010).
Essas constatações podem ajudar a explicar por que muitos adultos mais
velhos têm dificuldade para dirigir, algo que requer rápidos
deslocamentos de atenção e processamento (Duley & Adams, 2013;
Bialystok, Craik, Klein, & Viswanathan, 2004). O treinamento pode
melhorar o desempenho dos idosos. Foi demonstrado que a participação
nesses programas estende o período até os idosos serem forçados a parar
de dirigir, lhes dá mais tempo para completar as atividades da vida diária
de forma eficaz e independente até uma idade mais avançada e reduz os
sintomas de depressão (Edwards, Delahunt, & Mahncke, 2009; Wolinsky
et al., 2015).
Embora ocorram declínios relacionados à idade nas habilidades de
processamento, não é inevitável que adultos mais velhos apresentem
declínios em suas atividades diárias. Muitos adultos mais velhos fazem
compensações naturalmente. Por exemplo, eles utilizam seu vasto
repertório de conhecimento para compensar declínios que possam
ocorrer (Peters, Hess, Västfjäall, & Auman, 2007). Geralmente, adultos
mais velhos tendem a se sair melhor em tarefas que dependem de hábitos
arraigados e conhecimento (Bialystok et al., 2004). É provável que
adultos mais velhos estejam usando circuitos neurais alternativos,
embora complementares, para as tarefas mais difíceis, e talvez as
intervenções cognitivas estejam exercendo sua influência reestruturando
as vias utilizadas para realizar essas tarefas (Park & Reuter-Lorenz,
2009).
Habilidades cognitivas e mortalidade A inteligência psicométrica
talvez seja um indicador de quanto tempo e em quais condições os
adultos viverão. Em um estudo longitudinal, pessoas com pontuações
altas em inteligência quando eram crianças tinham menor probabilidade
de sofrer de problemas de saúde ou ter condições de saúde crônicas aos
50 anos (Wraw, Dearly, Gale, & Der, 2015). Outras pesquisas
longitudinais mostram que a alta inteligência na infância estava
associada com um menor risco de mortalidade aos 79 anos (C ˇ ukic´,
Brett, Calvin, Batty, & Deary, 2017). O desempenho cognitivo também
está ligado à saúde física na vida adulta. Por exemplo, os idosos
fisicamente frágeis correm maior risco de diminuição da capacidade
cognitiva (Robertson, Savva, & Kenny, 2013), e as pessoas que ficaram
seriamente doentes muitas vezes apresentam esse tipo de diminuição até
um ano após a sua recuperação (Pandharipande et al., 2013).
Mais recentemente, os pesquisadores começaram a se perguntar se a
relação entre inteligência e mortalidade não seria um artefato causado
por fatores de confusão metodológica nas pesquisas. Por exemplo, os
estudos que incluem a adversidade na infância nos seus modelos têm
menos probabilidade de encontrar uma relação entre inteligência e
mortalidade (Kilgour, Starr, & Whalley, 2010). É possível que o nível
socioeconômico (NSE) também seja importante. Alguns estudos
descobriram que o NSE não parece atenuar a relação entre inteligência e
saúde (Der, Batty, & Deary, 2009). Contudo, quando o NSE adulto é
incluído nos modelos, a força da relação entre saúde e inteligência
diminui (Calvin et al., 2010). Outra interpretação é que, já que muitas
doenças, como diabetes e hipertensão, podem levar tanto a declínios
cognitivos prematuros quanto à morte prematura, dados que mostram
uma ligação entre os dois podem refletir a ação da doença e não uma
associação entre QI e mortalidade (Batty, Deary, & Gottfredson, 2007).

verificador
você é capaz de...
Discutir as descobertas sobre a diminuição na velocidade do
processamento neural e sua relação com o declínio
cognitivo?
Discutir a relação de inteligência com saúde e mortalidade?

MEMÓRIA E ENVELHECIMENTO
A falha de memória geralmente é considerada um sinal de
envelhecimento. A perda de memória é a principal preocupação relatada
por idosos norte-americanos (National Council on the Aging, 2002). Um
pouco menos de 19% dos adultos com 65 anos ou mais sofrem
diminuição da capacidade cognitiva sem demência (Langa et al., 2017).
Memória de curto prazo Pesquisadores avaliam a memória de curto
prazo pedindo que a pessoa repita uma sequência de números, seja na
ordem em que lhe é apresentada (série direta de dígitos) ou na ordem
inversa (série inversa de dígitos). A habilidade para memorizar a série
direta de dígitos se mantém com a idade avançada (Craik & Jennings,
1992; Poon, 1985; Wingfield & Stine, 1989), ao contrário do
desempenho na habilidade de memorizar a série inversa de dígitos (Craik
& Jennings, 1992; Lovelace, 1990). Por quê? Uma razão pode envolver a
diferenciação entre memória sensorial e de trabalho. A memória
sensorial envolve o breve armazenamento de informações sensoriais. Por
exemplo, quando vê o rastro deixado por um fogo de artifício, o que você
está enxergando é os traços deixados pela sua memória sensorial. A
memória de trabalho envolve o armazenamento de curto prazo de
informações que estão sendo ativamente processadas, como quando você
calcula a gorjeta do garçom de cabeça. Alguns teóricos defendem que a
repetição direta exige apenas a memória sensorial, que preserva a sua
eficiência por toda a vida. Entretanto, a repetição inversa exige a
manipulação da informação na memória de trabalho, cuja capacidade
diminui gradualmente com a idade (Hale et al., 2011).

memória sensorial
Armazenamento temporário, breve, inicial das
informações sensoriais.
memória de trabalho
Armazenamento de curto prazo das
informações que estão sendo ativamente
processadas.

Um fator-chave no desempenho da memória é a complexidade da


tarefa (Park & Reuter-Lorenz, 2009). Tarefas que exigem somente
ensaio, ou repetição, mostram muito pouco declínio. Tarefas que exigem
reorganização ou elaboração mostram maior queda (Emery, Heaven,
Paxton, & Braver, 2008). Se lhe solicitam que reorganize verbalmente
uma série de itens (como “esparadrapo, elefante, jornal”) por ordem de
tamanho (“esparadrapo, jornal, elefante”), você deve relembrar seu
conhecimento anterior sobre esparadrapos, jornais e elefantes (Cherry &
Park, 1993). Um esforço mental maior é necessário para manter essa
informação adicional na mente, usando mais do que a capacidade
limitada da memória de trabalho.
Memória de longo prazo Pesquisadores do processamento de
informação dividem a memória de longo prazo em três grandes sistemas:
memória episódica, memória semântica e memória de procedimento.
Você se lembra do que comeu no café da manhã hoje? Tais informações
são armazenadas na memória episódica, o sistema de memória de longo
prazo mais provável de se degenerar com a idade (Tromp, Dufour,
Lithfous, Pebayle, & Després, 2015). A memória episódica está ligada a
acontecimentos específicos; você recupera um item ao reconstruir a
experiência original em sua mente. Os adultos mais velhos têm menor
capacidade do que as pessoas jovens de fazer isso, talvez porque eles se
concentrem menos no contexto (onde algo aconteceu, quem estava lá) e
confiem mais no ponto principal do que nos detalhes (Dodson &
Schacter, 2002). Por causa disso, possuem menos conexões para
estimular a memória (Lovelace, 1990). Além disso, as pessoas idosas
têm muitas experiências semelhantes que tendem a se fundir. Quando
pessoas idosas percebem um acontecimento como sendo importante,
podem se lembrar dele quase tão bem quanto as mais jovens (Geraci,
McDaniel, Manzano, & Roediger, 2009).

memória episódica
Memória de longo prazo de experiências ou
acontecimentos específicos, ligados a tempo e
lugar.
Andar de bicicleta requer memória de procedimento. Uma vez
aprendidas, as habilidades procedurais podem ser ativadas sem
esforço consciente, mesmo após um longo período de desuso.
Granger Wootz/Brand X Pictures/Blend Images/Getty Images

Alguns tipos de memória de longo prazo permanecem vigorosos à


medida que envelhecemos. A memória semântica é composta de
significados, fatos e conceitos acumulados ao longo de toda uma vida de
aprendizagem. A memória semântica apresenta pouco declínio com a
idade, embora possa ser difícil recuperar informações altamente
específicas ou usadas com pouca frequência (Luo & Craik, 2008). De
fato, alguns aspectos da memória semântica, como o vocabulário e o
conhecimento de regras de linguagem, podem até aumentar com a idade
(Camp, 1989).
Outro sistema de memória de longo prazo que permanece
relativamente inalterado é a memória de procedimento. A memória de
procedimento inclui habilidades motoras (como andar de bicicleta) e
hábitos (como voltar sempre por uma determinada rua) que, uma vez
aprendidos, não envolvem muito esforço consciente. Se alguma vez já
planejou passar no mercado a caminho de casa e acabou estacionando na
própria garagem sem se dar conta do seu lapso, você vivenciou a
automaticidade que é característica da memória de procedimento. Ela é
pouco afetada pela idade (Fleischman, Wilson, Gabriele, Bienias, &
Bennett, 2004).
memória semântica
Memória de longo prazo de conhecimento
prático factual, de linguagem e de costumes
sociais.
memória de procedimento
Memória de longo prazo de habilidades
motoras, costumes e formas de fazer as
coisas, que em geral podem ser relembradas
sem esforço consciente; algumas vezes
chamada de memória implícita.

Fala e memória: efeitos do envelhecimento À medida que


envelhecem, as pessoas muitas vezes começam a ter pequenas
dificuldades com a linguagem. No entanto, essas experiências geralmente
não se devem a problemas relativos à linguagem em si, sendo, na
verdade, o resultado de problemas para acessar e recuperar informações
da memória. Os processos de linguagem fundamentais permanecem
relativamente inalterados com a idade (Shafto & Tyler, 2014). Como
consequência, elas são consideradas problemas de memória, não de
linguagem. Por exemplo, já lhe aconteceu de não se lembrar de uma
palavra que você conhecia perfeitamente bem? Este é o chamado
fenômeno na-ponta-da-língua (TOT – tip-of-the-tongue), que ocorre entre
pessoas de todas as idades, mas se torna mais comum na vida adulta
tardia (Burke & Shafto, 2004). Presume-se que o fenômeno TOT seja o
resultado de uma falha na memória de trabalho (Schwartz, 2008). Outros
problemas em recuperação verbal incluem erros ao nomear imagens de
objetos em voz alta, referências mais ambíguas e lapsos na fala do dia a
dia, mais uso de não fluências (como “hã” e “hum”) na fala e a tendência
a cometer erros de ortografia em palavras (como companhia) grafadas
diferentemente do modo como soam (Burke & Shafto, 2004). Os adultos
idosos também podem apresentar declínios na complexidade da
gramática usada na fala (Kemper, Thompson, & Marquix, 2001).
Por que alguns sistemas de memória declinam? Como explicar a
perda de memória em idosos? Pesquisadores têm apresentado diversas
hipóteses. Uma das abordagens concentra-se nas estruturas biológicas
que fazem a memória funcionar. Outra abordagem trata dos problemas
com os três passos exigidos para processar informação na memória:
codificação, armazenamento e recuperação.
Alteração neurológica Diferentes sistemas de memória dependem de
diferentes estruturas cerebrais. Assim, um distúrbio que danifica uma
determinada estrutura do cérebro pode prejudicar o tipo de memória a ela
associado. Por exemplo, o mal de Alzheimer perturba a memória de
trabalho (localizada no córtex pré-frontal à frente dos lobos frontais),
bem como as memórias semântica e episódica (localizadas nos lobos
frontal e temporal); o mal de Parkinson afeta a memória de
procedimento, localizada no cerebelo, nos gânglios basais e em outras
áreas (Budson & Price, 2005).
As principais estruturas envolvidas no processamento e
armazenamento da memória normal incluem os lobos frontais e o
hipocampo. Os lobos frontais são ativos em codificar e recuperar
memórias episódicas. A disfunção nessas áreas pode causar falsas
memórias – “lembrar-se” de eventos que nunca ocorreram. Mais
especificamente, as alterações no córtex pré-frontal e nos lobos mediais
temporais parecem ser as maiores responsáveis (Devitt & Schacter,
2016).
O hipocampo, uma pequena estrutura localizada bem no centro do lobo
temporal, parece ser fundamental para a capacidade de armazenar novas
informações na memória episódica e tem importância geral para os
processos de memória. As pesquisas com adultos com mais de 70 anos
mostram que uma melhor memória está associada com o maior volume
do hipocampo. Em um estudo, os adultos com 75 anos ou mais que se
saíam bem nos testes de memória tinham maior volume do hipocampo
(Dekhtyar et al., 2017; O’Shea, Cohen, Porges, Nissim, & Woods, 2016).
O cérebro geralmente compensa declínios relacionados à velhice em
regiões especializadas solicitando ajuda de outras regiões. Os adultos
jovens são mais propensos a usar áreas localizadas do cérebro ao resolver
tarefas desafiadoras, enquanto os idosos tendem a ter ativação mais
difusa e utilizam mais áreas do cérebro, ou áreas diferentes, como
mecanismos para compensação dos declínios (Sala-Llonch, Bartrés-Faz,
& Junqué, 2015). A capacidade do cérebro de se reorganizar pode ajudar
a explicar por que os sintomas do mal de Alzheimer geralmente só
aparecem quando a doença já está bem avançada e quando regiões do
cérebro antes não afetadas, que haviam assumido as funções das regiões
deficientes, perdem sua própria capacidade de funcionamento. Quando os
sinais dos danos tornam-se evidentes, a doença provavelmente já existe
há décadas.

A memória pode ser melhorada com uma


simples técnica – pronunciar as palavras em
voz alta, ou apenas mover os lábios sem emitir
som.
McLeod, Gopie, Hourihan, Neary, & Ozubko, 2010

Como exemplo de uma consequência


frequente no mundo real, adultos clinicamente
frágeis estão mais propensos a ter problemas
com a memória, e assim estão menos
propensos a tomar seus medicamentos.
Insel, Morrow, Brewer, & Figueredo, 2006

Problemas de codificação, armazenamento e recuperação A


memória episódica é particularmente vulnerável aos efeitos do
envelhecimento; efeitos que são agravados à medida que as tarefas da
memória tornam-se mais complexas ou exigentes (Cansino, 2009).
Adultos mais idosos parecem ter mais dificuldade em codificar novas
memórias episódicas, provavelmente por causa das dificuldades em
formar e mais tarde recordar um episódio coerente e coeso (Naveh-
Benjamin, Brav, & Levy, 2007). Eles tendem a ser menos eficientes e
precisos do que os adultos mais jovens no uso de estratégias para facilitar
a recordação – por exemplo, organizando o material alfabeticamente ou
criando associações mentais (Craik & Byrd, 1982). A maior parte dos
estudos descobriu que adultos mais velhos e mais jovens são igualmente
informados no que se refere a estratégias de codificação efetiva
(Salthouse, 1991). Algumas pesquisas descobriram que, para os idosos, o
treinamento em estratégias de memória resulta em menos declínios
relacionados à idade e que, quanto maior o número de estratégias
ensinadas, maior o efeito sobre a memória (Gross et al., 2012; Naveh-
Benjamin, Brav, & Levy, 2007). Entretanto, outros pesquisadores
defendem que os ganhos de memória são limitados, não são
generalizados para tarefas além daquelas nas quais os participantes
treinaram e não resultam em melhorias no desempenho de memória geral
(Bellander et al., 2017).
Outra hipótese é que o material armazenado pode deteriorar-se a ponto
de a recuperação tornar-se difícil ou impossível. Algumas pesquisas
sugerem que um pequeno aumento na “falha de armazenamento” pode
ocorrer com a idade (Lustig & Flegal, 2008). Entretanto, vestígios de
memórias deterioradas podem permanecer, e talvez seja possível
reconstruí-los, ou pelo menos reaprender o material rapidamente (Camp
& McKitrick, 1989; Chafetz, 1992). Aparentemente, as memórias que
contêm um componente emocional são mais resistentes aos efeitos da
deterioração (Kensinger, 2009). Por exemplo, estudos constataram que
adultos mais velhos são motivados a preservar memórias que tenham um
significado emocional positivo para eles (Reed, Chan, & Mikels, 2014;
Carstensen & Mikels, 2005). Assim, os fatores emocionais precisam ser
considerados no estudo das alterações da memória na velhice.
Devemos ter em mente que a maior parte da pesquisa em codificação,
armazenamento e recuperação tem sido feita em laboratório e que os
resultados podem não se aplicar ao mundo real (Kempe, Kalicinski, &
Memmert, 2015). Por exemplo, em estudos com diários, os adultos
idosos estavam mais propensos a relatar falhas de memória em dias
estressantes, o que sugere a relevância do estresse (Neupert, Almeida,
Mroczek, & Spiro, 2006). Mais um exemplo: as falhas de memória dos
adultos no cotidiano muitas vezes incluem falhas de memória
prospectiva. A memória prospectiva envolve lembrar de fazer algo no
futuro, como lembrar de ligar para um amigo mais tarde. A memória
prospectiva declina com a idade e representa um problema significativo
para muitos idosos. Contudo, as pesquisas nessa área são incompletas e
não esclarecem os processos centrais que regem as falhas (Kliegel et al.,
2016).

verificador
você é capaz de...
Identificar dois aspectos da memória que tendem a declinar
com a idade e dar razões para esse declínio?
Discutir as alterações neurológicas relacionadas à memória?
Explicar como problemas de codificação, armazenamento e
recuperação podem afetar a memória na vida adulta tardia e
discutir como os fatores emocionais podem afetar a
memória?

SABEDORIA
A sabedoria já foi definida como “amplitude excepcional e profundo
conhecimento sobre as condições de vida e assuntos humanos e
julgamento reflexivo sobre a aplicação desse conhecimento”. Talvez
envolva insight e consciência da natureza paradoxal e incerta da
realidade e leve à transcendência, afastamento da preocupação consigo
mesmo (Kramer, 2003, p. 132). Em outras palavras, sabedoria é a
capacidade de navegar pelas complicações da vida. Envolve entender
como as pessoas trabalham e como cumprem suas metas. De acordo com
os psicólogos, as pessoas sábias também estão à vontade com a incerteza
e entendem que pessoas diferentes têm pontos de vista diferentes e que,
às vezes, não há uma única resposta certa.
A pesquisa mais extensa sobre sabedoria como habilidade cognitiva foi
feita pelo já falecido Paul Baltes e colaboradores. Em uma série de
estudos, Baltes e seus associados do Instituto Max Planck, em Berlim,
pediram a adultos de várias idades e ocupações que pensassem em voz
alta sobre dilemas hipotéticos. As respostas foram classificadas de
acordo com sua demonstração de um amplo conhecimento factual e de
procedimentos sobre a condição humana e sobre as estratégias para lidar
com os problemas da vida. Outros critérios foram a consciência de que o
contexto circunstancial pode influir nos problemas, de que os problemas
tendem a apresentar múltiplas interpretações e soluções, e de que as
escolhas das soluções dependem de valores, objetivos e prioridades
individuais (Baltes & Staudinger, 2000; Pasupathi, Staudinger, & Baltes,
2001).
A sabedoria não é necessariamente uma propriedade da velhice – ou de
qualquer idade. Ao contrário, parece ser um fenômeno complexo e um
tanto raro que mostra relativa estabilidade ou ligeiro crescimento em
determinados indivíduos (Staudinger & Baltes, 1996; Staudinger, Smith,
& Baltes, 1992). Diversos fatores, incluindo personalidade, experiência
de vida e tendências à autorreflexão (Westrate & Glück, 2017; Wink &
Staudinger, 2016; Shedlock & Cornelius, 2003), afetam a propensão a ser
sábio.

Pense na pessoa mais sábia que você


conhece. Quais dos critérios de sabedoria
mencionados neste capítulo, se houver algum,
parecem descrever essa pessoa? Se nenhum
deles servir, como você definiria e mediria a
sabedoria?

A pesquisa sobre funcionamento físico, cognição e envelhecimento é


mais estimulante do que se pode imaginar. Adultos mais velhos tendem a
fazer o máximo com suas habilidades, explorando ganhos em uma área
para compensar declínios em outra. A pesquisa destaca as diversas vias
do desenvolvimento físico e cognitivo entre os indivíduos. Também
aponta para a importância do bem-estar emocional na vida adulta tardia.

verificador
você é capaz de...
Comparar várias abordagens ao estudo da sabedoria?
Discutir as descobertas de Baltes sobre a sabedoria?

resumo e palavras-chave
A velhice hoje
Esforços para combater o idadismo estão tendo progresso
graças à visibilidade de um número cada vez maior de
adultos idosos saudáveis e ativos.
A proporção de pessoas idosas entre populações de todo o
mundo é maior do que antes e acredita-se que continuará
crescendo. Pessoas acima dos 80 são o grupo de idade que
cresce mais rápido.
Embora os efeitos do envelhecimento primário talvez
escapem ao controle das pessoas, é possível evitar os
efeitos do envelhecimento secundário.
Especialistas no estudo do envelhecimento algumas vezes se
referem às pessoas da faixa entre 65 e 74 anos como idosos
jovens, aos de 75 ou mais como idosos idosos, e aos acima
de 85 anos como idosos mais velhos. Entretanto, esses
termos talvez sejam mais úteis quando usados para se
referirem à idade funcional.
idadismo (497)
envelhecimento primário (500)
envelhecimento secundário (500)
atividades da vida diária (AVDs) (500)
idade funcional (500)
gerontologia (500)
geriatria (500)

DESENVOLVIMENTO FÍSICO
Longevidade e envelhecimento
A expectativa de vida aumentou sensivelmente. Quanto mais
as pessoas vivem, mais querem viver.
Em geral, a expectativa de vida é maior em países
desenvolvidos do que nos países em desenvolvimento, entre
hispânicos e norte-americanos brancos do que entre afro-
americanos, e entre as mulheres quando comparadas com
os homens.
Ganhos recentes na expectativa de vida surgiram em grande
parte para reduzir as taxas de mortalidade por doenças que
afetam as pessoas mais idosas. Futuros grandes progressos
na expectativa de vida talvez dependam dos cientistas
aprenderem a modificar os processos básicos do
envelhecimento.
As teorias do envelhecimento biológico abrangem duas
categorias: teorias de programação genética e de taxas
variáveis, ou teorias dos erros.
A pesquisa sobre prolongamento do tempo de vida por meio
da manipulação genética ou restrição calórica tem desafiado
a ideia de limite biológico para o ciclo de vida.
expectativa de vida (500)
longevidade (500)
tempo de vida (500)
senescência (502)
teorias de programação genética (502)
limite de Hayflick (503)
teorias de taxas variáveis (503)
radicais livres (504)
curvas de sobrevivência (504)

Mudanças físicas
Mudanças nos órgãos e sistemas são altamente variáveis. A
maioria dos sistemas corporais continua a funcionar muito
bem, mas a capacidade de reserva declina.
Embora o cérebro mude com a idade, as mudanças em geral
são modestas. Envolvem perda de volume e peso e uma
diminuição na velocidade das respostas. Entretanto, o
cérebro pode gerar novos neurônios, mudar o modo como
processa informações e construir novas conexões na velhice.
Problemas visuais e auditivos talvez interfiram na vida diária,
mas em geral podem ser corrigidos. Danos irreversíveis
podem resultar de glaucoma ou degeneração macular
relacionada à idade. Perdas de paladar e olfato podem levar
à má nutrição. O treinamento pode melhorar o tempo de
reação, equilíbrio e força muscular. Adultos idosos tendem a
ser suscetíveis a acidentes e quedas.
Pessoas mais velhas tendem a dormir menos e a sonhar
menos que antes, mas a insônia crônica pode ser uma
indicação de depressão.
Muitos adultos mais velhos permanecem sexualmente ativos.
capacidade de reserva (507)
catarata (509)
degeneração macular relacionada à idade (509)
glaucoma (509)
adequação funcional (510)

Saúde física e mental


A maior parte dos idosos é razoavelmente saudável,
principalmente se seguem um estilo de vida saudável. Muitos
apresentam problemas crônicos, mas estes em geral não
limitam muito suas atividades ou interferem na vida diária.
Exercício e dieta têm influência importante na saúde. A perda
de dentes pode afetar seriamente a nutrição.
A maior parte dos idosos apresenta boa saúde mental.
Depressão, alcoolismo e muitos outros problemas podem ser
revertidos com tratamento; alguns poucos, como o mal de
Alzheimer, são irreversíveis.
O mal de Alzheimer torna-se mais frequente com a idade. É
altamente hereditário, mas dieta, exercício e outros fatores
do estilo de vida podem fazer uma grande diferença. A
atividade cognitiva pode ser protegida construindo-se uma
reserva cognitiva que possibilite ao cérebro funcionar em
condições de estresse. Terapias comportamentais e
medicamentosas podem diminuir a velocidade da
deterioração. A redução da capacidade cognitiva pode ser
um sinal precoce da doença; os pesquisadores estão
desenvolvendo instrumentos para diagnóstico precoce.
demência (515)
mal de Alzheimer (515)
mal de Parkinson (515)
emaranhados neurofibrilares (516)
placa amiloide (516)
reserva cognitiva (518)

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Aspectos do desenvolvimento cognitivo
Adultos mais velhos têm um desempenho melhor na parte
verbal da Escala Wechsler de Inteligência Adulta.
O Estudo Longitudinal de Seattle descobriu que o
funcionamento cognitivo na vida adulta tardia é altamente
variável. Poucas pessoas declinam em todas ou na maior
parte das áreas, e muitas melhoram em algumas. A hipótese
do engajamento procura explicar as diferenças.
Adultos mais velhos resolvem problemas práticos com mais
eficácia se estes tiverem relevância emocional para eles.
Uma diminuição generalizada no funcionamento do sistema
nervoso central pode afetar a velocidade do processamento
de informação.
A inteligência pode ser um preditor de longevidade.
As memórias sensorial, semântica e de procedimento
parecem tão eficientes nos adultos idosos quanto em adultos
mais jovens. A capacidade da memória de trabalho e da
memória episódica geralmente é menos eficiente.
Adultos mais velhos têm mais problemas em recuperar
palavras oralmente e em soletrar do que adultos jovens. A
complexidade gramatical e o conteúdo da fala declinam.
Alterações neurológicas e problemas de codificação,
armazenamento e recuperação podem ser responsáveis por
grande parte do declínio da memória funcional em adultos
idosos. Entretanto, o cérebro pode compensar alguns
declínios relacionados à idade.
De acordo com os estudos de Baltes, a sabedoria não está
relacionada à idade.
Escala Wechsler de Inteligência Adulta (520)
memória sensorial (522)
memória de trabalho (522)
memória episódica (522)
memória semântica (523)
memória de procedimento (523)

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