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Escola Superior de Educação de Coimbra

Curso Superior de Animação Socioeducativa


2009/2010

Desenvolvimento Afectivo-Relacional
do Idoso

Cristina Vaz
Diana Parrado
Graça Oliveira
Karina Marinho

Coimbra 2010
Desenvolvimento Afectivo-Relacional do Idoso

Psicologia Ecológica e Desenvolvimento Humano

Psicologia Ecológica e do Desenvolvimento Humano

Introdução
O envelhecimento é um tema cada vez mais actual e central da nossa sociedade.
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Em Portugal, entre 1960 e 2001, o fenómeno do envelhecimento demográfico
sucedeu-se por um aumento de 140 % da população idosa. A proporção da população
idosa, que representava 8,0% do total da população em 1960, mais do que duplicou em
quatro décadas, passando para 16,4% em 2001, enquanto o índice de envelhecimento
registou um aumento visível de 27,3% em 1960 para 102,2 % em 2001, ou seja, existem
hoje em Portugal mais idosos do que crianças (INE, 2002).
Segundo estimativas do Conselho da Europa, a população portuguesa terá menos
um milhão de pessoas em 2050 e estará ainda mais envelhecida, com 2,5 % de idosos
com 65 ou mais anos para cada jovem com menos de 15 anos.
Envelhecer é um processo natural, uma realidade com a qual todos nós mais
cedo ou mais tarde nos deparamos. É um processo fisiológico que não está associado à
idade cronológica. É nesta perspectiva que se deve encarar o envelhecimento, no sentido
de atenuar as 891dificuldades que a ele estão associadas , e desta forma, encontrar e
promover mais momentos de descontracção para que esta fase da vida possa ser uma
realidade plena, saudável e com qualidade.
Este trabalho pretende dar a conhecer na sua globalidade o conceito de
desenvolvimento afectivo-relacional do idoso, tendo como aspectos indissociáveis os
conceitos de idoso, velhice, envelhecimento, entre outros temas abordados.

1. Conceito de idoso
Socialmente, considera-se idoso a pessoa com mais de 65 anos. Nesta idade já damos
conta do declínio a nível fisiológico. Assim o idoso vê-se necessariamente dependente.
Esta fase pode estar ligada à etapa sénior da vida. No entanto, a idade não é
forçosamente sinónimo de incapacidade.
Os idosos são capazes de aprender sempre, tal como os mais jovens, somente de forma
diferente. Tal como os mais jovens, os idosos também são capazes de dar resposta aos avanços
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da sociedade e da tecnologia. Eles são uma fonte de sabedoria e transmitem às gerações mais
jovens a riqueza das experiências vividas. Transmitem cultura, valores, e costumes mais
significativos.

Velhice
“Velhice representa a fase da vida em que as capacidades e resistências físicas vão
gradualmente diminuindo.( o autor?)
A velhice é definida como “uma categoria cuja delimitação resulta do estado (variável) 3
das relações de força entre as classes e das relações entre gerações, isto é, da distribuição do
poder e dos privilégios entre as classes e gerações” (REMI LENIOR)
A questão do surgimento da terceira idade, categorização que é socialmente considerado
“velho”, é o resultado de um processo de construção da representação da velhice encarada como
um problema social. Ou seja, ser “velho” representa ser diminuído, carenciado, alguém que
precisa da nossa solidariedade, da nossa ajuda.

Envelhecimento
“Podem ser vários os processos que conduzem ao envelhecimento de uma
sociedade, aqui definido numa perspectiva demográfica: pela redução, no tempo, do
número de nascimentos, pelo aumento relativo do úmero dos idosos, pela saída em
massa de pessoas jovens e adultas não idosas.” (Dicionário de Sociologia, 2003)
“Nos países desenvolvidos tem-se verificado um constante envelhecimento
demográfico desde os anos 60 do século XX, motivado, em simultâneo, por um
decréscimo das taxas de fecundidade e por um alongamento do tempo de vida das
respectivas populações.”

Individual: Demográfico:
Maior longevidade dos Aumento da proporção das
indivíduos; pessoas idosas na população
Aumento da esperança media total
de vida

ENVELHECIMENTO
(Dicionário de Sociologia, 2003)

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Em algumas sociedades tradicionais, as gerações mais velhas permaneciam


integradas nos sistemas económicos e sociais de produção, até ao fim dos seus dias.
Com o passar do tempo, as dificuldades começam gradualmente a surgir e vão-se
atenuando as responsabilidades e incumbências à medida que diminuem as suas
capacidades físicas. (FERNANDES, 1997)
Desde a revolução industrial até meados do século XX, a velhice encontrava-se
associado à sua incapacidade para trabalhar e por conseguinte à pobreza. Os velhos de
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classes sociais mais favorecidas eram apoiados na esfera doméstica, enquanto os outros
estavam a mercê das instituições de beneficência. Deste modo, não existia a velhice
como categoria social autónoma nem um a intervenção pública que tinha como
prioridade a velhice, ou seja, estamos perante o que Guillemard (GUILLEMARD cit in
VELOSO, 2004) designou de velhice invisível. Com a cada vez maior sistematização do
sistema de reforma o estatuto da velhice foi-se alterando, e esta deixou a sua indefinição
anterior passando agora para uma velhice identificada e que já possuía intervenções
especificas destinadas a esta categoria social. (VELOSO, 2004)
“Numa sociedade com constantes processos de mudança, (…), o saber
acumulado das pessoas mais velhas deixou, com frequência, de parecer aos mais novos
uma reserva valiosa de sabedoria, mas algo apenas desactualizado.” (GIDDENS,2002)

2. Teoria e pesquisa sobre Desenvolvimento Psicossocial


Segundo algumas teorias, a personalidade do idoso não se altera na chegada da
velhice. Considera-se uma etapa de desenvolvimento com tarefas específicas. É uma
fase da vida em que se tem consciência do tempo, e o quanto este pode ser escasso.
Aproveita-se para reflectir nas acções do passado, no que ficou, ou não, por fazer. Em
que se pode criar um projecto que garante a passagem da sua experiência para filhos,
netos ou bisnetos. Ou simplesmente em que se tenta aproveitar ao máximo o tempo
livre, fazendo o que mais se gosta ou o que não se teve oportunidade de fazer enquanto
jovem.
A personalidade não é alheia, portanto, o seu próprio desenvolvimento: ela nasce
enquanto se faz, se aprende e se desenvolve.

2.1. Estabilidade dos traços de personalidade

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Sabemos que, talvez mais do que em qualquer outra etapa, a idade adulta está
social e culturalmente marcada (saída de casa, casamento, autonomia económica, etc.).
O processo de envelhecimento não difere, substancialmente, do da maturidade. Em
ambos ocorre, ou pode ocorrer, o verdadeiro desenvolvimento em direcção à plenitude
da existência.
Inúmeras teorias tentam explicar o desenvolvimento da personalidade na
velhice. As primeiras pesquisas mostraram que a personalidade se tornava mais rígida
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com o envelhecimento e que se desenvolvia muito pouco na velhice. Estudos
posteriores, surgidos a partir da década de 70, sugeriram que ocorreria uma estabilidade
dos traços de personalidade ao longo da vida adulta e da velhice. Desta forma, a
personalidade não se tornaria mais rígida, mas permaneceria da mesma forma que
sempre fora desde a vida adulta.
Teorias actuais de personalidade entendem o desenvolvimento humano como
um processo multidimensional e multidireccional, composto pela ocorrência conjunta de
ganhos, perdas e estabilidades. De acordo com este modelo, as pessoas possuem
potenciais para a mudança e para a manutenção e recuperação da adaptação perante
eventos limitadores e facilitadores do processo de desenvolvimento normal durante toda
a vida. Assim, na velhice, os traços de personalidade seriam modificáveis,
principalmente porque nessa fase de vida as pessoas têm maior probabilidade de serem
confrontadas com eventos de vida stressantes que requerem adaptação. Embora muitos
indivíduos possam manter a personalidade estável sob circunstâncias de vida normais,
infere-se que, diante de situações mais complexas, a personalidade mudaria para se
adaptar às transformações da vida.

2.2. Questões e tarefas normativas


As mudanças e transformações na vida adulta acontecem de uma forma mais
pausada, a um ritmo mais lento do que na infância ou na adolescência. No entanto, no
decorrer da idade adulta, o crescimento, segundo algumas teorias, vai depender da
realização de algumas tarefas psicológicas.

2.2.1. Erik Erikon: Integridade Versus desespero


Para este autor, a realização desta idade centra-se na integridade. É na última
idade do desenvolvimento psicossocial, baseando-se num olhar retrospectivo, onde, com
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o aproximar do final da vida, sentimos necessidade de avaliar o que dela fizemos,


revendo escolhas, opções, realizações e fracassos. A integridade indica que o indivíduo
considera positivo o seu percurso vital, com base nos resultados das sete crises
anteriores e toma consciência que a sua vida teve sentido, dando o seu melhor de acordo
com as circunstâncias e as suas próprias capacidades. Assim, aceita a sua morte como
outra “etapa”, como algo inevitável, com grande serenidade, pois viveu a vida como
tinha de ser vivida.
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Se, pelo contrário, a avaliação da vida é negativa, se o sentimento predominante
é que não aproveitámos o nosso tempo, não se concebeu nada e o maior desejo é
retroceder de voltar a ter essa oportunidade de refazer opções e escolhas, ao se
aperceber que é demasiado tarde, que a mesma porta não se abre duas vezes, instala-se o
desgosto, a angustia, a frustração, o pânico da morte.
A sabedoria é então o resultado desta última fase, em que a percepção, é que
efectivamente não se viveu em vão.

2.2.2. George Vaillant: Factores na saúde emocional


Este autor realizou alguns estudos e pesquisas sobre a adaptação saudável ao
envelhecimento. Para ele, uma para uma boa adaptação emocional passa pela criação de
“mecanismos de adaptação maduros”, ou seja, enfrentar os problemas sem sentimentos
de culpa ou mágoas. Assim, negativamente, contribuem factores como problemas na
infância, má condição física, depressão e alcoolismo.

2.3. Comportamento adaptativo


A velhice traz consigo muitas alterações. Não só a saúde física não é a mesmo,
como a perda de familiares e amigos, uma remuneração inferior do que quando eram
profissionalmente activos, contribui para o seu desgaste e tensão.
O comportamento adaptativo prevê precisamente a redução desta tensão nesta
idade, através de algumas abordagens, estratégias: Modelo de avaliação cognitiva e
religião.

2.3.1. Modelo de avaliação cognitiva


A avaliação cognitiva (Lazarus e Folkman, 1984) refere-se ao modo como o
indivíduo interpreta o significado de uma dada situação para o seu bem-estar. O que as
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pessoas fazem dos acontecimentos geradores de stress, está na origem das diferentes
percepções desses acontecimentos e das diferentes estratégias utilizadas para a sua
resolução.
Estas estratégias podem-se focar no problema ou na emoção. Quando focadas no
problema visam alterar a situação ou problema que está a provocar desajustes.
Predomina quando o indivíduo vê uma hipótese de mudar a situação causadora de
tenção. Quando focadas na emoção, pretende regular emoções desajustadas associadas
7
ou resultantes de acontecimentos geradores de tensão. È uma resposta emocional que
procura atenuar o impacto físico dessa tensão. Dentro desta estratégia pode-se desviar a
atenção, desistir ou negar a existência de determinado problema.
Nos idosos o impacto da reforma, da viuvez, do declínio da saúde ou da perda do
poder económico é sempre interpretado de uma forma subjectiva dependendo do
significado que cada pessoa lhe atribui.
Para Lazarus é fundamental identificar as variáveis individuais que
proporcionam as respostas adaptativas favoráveis ou desfavoráveis em vários domínios
(auto-conceito, saúde, funcionamento social) para se poderem desencadear respostas e
serviços de apoio.
Para o mesmo autor, segundo alguns estudos, adultos mais velhos enfrentam os
problemas mais focados pela emoção do que os mais jovens. Com a idade as estratégias
tornam-se mais flexíveis, o que pode assim explicar o facto destes serem mais felizes.
Com a idade os comportamentos tendem a ser mais reflectidos tenta-se extrair
sempre alguma lição. Cai-se crescendo e aprendendo.

2.3.2. Religião e Bem-estar emocional na velhice


Com o avançar da idade e a noção da aproximação da morte, as pessoas idosas
tendem a encontrar na sua fé, na sua igreja, no seu Deus um certo conforto.
O idoso, se continuar integrado na sociedade e em actividades sociais pode
ultrapassar várias “lutas” psicológicas, e mesmo físicas, com que se depara. Sendo a
igreja também um espaço social, pode desempenhar um papel importante nesta
socialização e integração do idoso, fazendo-o sentir-se útil.
Sendo esta uma fase particularmente reflexiva, o idoso tenta encontrar em
“Deus” algum auxílio para elevar a sua auto-estima e integrar-se num mundo onde
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todos precisamos de nos sentir vivos. A igreja representa assim um forte apoio social
para o idoso.

2.4. Modelos de envelhecimento “Bem sucedido ou” Ideal”


Caracterizar "envelhecimento activo” tem sido uma tarefa complicada para
diversos pesquisadores, dividindo-se opiniões. Alguns concentram-se em critérios mais
ao nível físico (por exemplo, o funcionamento cardiovascular) e outros mais a nível
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psicológico (êxito pessoal ou profissional). Enquanto para uns o bem-estar é essencial
para um envelhecimento bem sucedido (Strawbridge, Wallhagen e Cohen, 2002), para
outros, passa por prevenção (Bowling e Dieppe, 2005) ou ainda a capacidade de
aceitação da mudança psicológica e física inerente à idade (Phelan et al., 2004).
O envelhecimento bem sucedido pode depender, em grande parte, de
particularidades individuais ou mesmo diferenças culturais. No entanto, podem também
contribuir vários factores, tais como: satisfação com a vida, longevidade, ausência de
incapacidade, domínio/crescimento, participação social activa e adaptação positiva. A
posição perante a vida, as suas relações e actividades sociais têm um forte impacto no
modo em como o idoso encara a velhice.

2.4.1. Teoria do “Desengajamento” e Teoria da Actividade


Segundo esta teoria (Cumming e Henry, 1961), o envelhecimento adequado
pressupõe o abandono progressivo de actividades como o trabalho, sendo substituído
por actividades de lazer. Para os autores, nesta etapa da vida existe uma quebra, um
desvinculo recíproco entre a sociedade e o indivíduo. Tendo em conta o declínio físico e
psicológico, a diminuição dos papéis sociais é inevitável. Papéis esses que a própria
sociedade deixa de “oferecer” ao idoso. Portanto, o envolvimento social torna-se
praticamente nulo, centrando a sua preocupação em si próprios. Para David Gutmann
(1974, 1977,1992) hoje em dia esta teoria é vista como a mudança de papéis activos que
a meia-idade detém para papéis mais calmos e de reflexão.
A Teoria da Actividade evidencia precisamente o quanto o idoso
necessita de continuar activo. O desenvolvimento de actividades e interacções sociais
está proporcionalmente ligado ao nível satisfação e auto-estima que se dizem positivos
para um envelhecimento bem sucedido. Estas actividades são necessárias para a
qualidade de vida. Não propriamente actividades rentáveis, mas que causem prazerem,
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desenvolvimento intelectual e social. As amizades ajudam a colmatar algumas perdas e


evitam a solidão. O pressuposto desta teoria vai de encontro à satisfação de viver em
função da sua própria imagem positiva, que pode resultar do alcance de objectivos
pessoais e interacções sociais.
Analisando as duas teorias, ambas perspectivam a velhice como uma
etapa de perdas: sociais, de papéis específicos, sejam na família ou no trabalho, de redes
sociais. No entanto as suas estratégias são bem diferentes. Entre pesquisadores as
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opiniões dividem-se, pois nem um afastamento da vida social e de determinados papéis
garante que se possam sentir de algum modo insatisfeito, nem as interacções sociais
ocasionam sempre satisfação. Tudo dependerá do sujeito e do que o levará a actuar.
Pode existir sim um afastamento por perda de determinados papéis, mas também para
reestruturação de outros. Portanto, a actividade pode funcionar para muitos idosos, mas
o “desengajamento” pode ser mais apropriado para outros.

2.4.2. Teoria da Continuidade


A teoria da continuidade (Robert Atchley, 1989) transmite-nos que não é
necessário existir uma ruptura com o passado. Nesta perspectiva, a ideia que prevalece
não é tanto a questão dos níveis de actividade social, defendidos pela Teoria da
actividade, mas a continuidade do estilo de vida e das características da personalidade
que a pessoa manteve ao longo da sua vida. Pessoas bastante activas, ao chegarem à
reforma, sentem necessidade, e fá-las mais felizes, se ocuparem os seus dias com
actividades, mesmo que de lazer, semelhantes às que tinham. Tudo irá depender da
evolução e dinamismo do indivíduo. Estas actividades poderão afastá-los de instituições
e mantê-los na comunidade. Acrescenta também, que os antecedentes familiares na
educação inicial são grandes impulsionadores da aprendizagem ao longo da vida.
Esta pode ser uma forma de conseguirem viver da forma mais autónoma
possível.

2.4.3. Optimização selectiva com compensação


Sabemos que à medida que se envelhece as capacidades sofrem um declínio. A
optimização selectiva é precisamente a selecção e adaptação das suas actividades às
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suas prioridades e capacidades. Assim, tendo essa consciência, a pessoa selecciona


objectivos pessoais nos quais deseja continuar a envolver-se seja no que fixou como
prioridades, seja em função das suas capacidades e motivações seja em função do
próprio ambiente. Nestes objectivos, a pessoa procura optimizar as suas capacidades,
colocando em acção aquelas que se revelam mais importantes sob o ponto de vista
adaptativo e que lhe permitem manter a harmonia entre os seus objectivos, interesses e
desejos e as acções concretas que realiza. Finalmente compensa as suas perdas sobre
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algumas áreas recorrendo a mecanismos compensatórios internos (de natureza
comportamental, psicológica, ou externos (de natureza cultural).
Em relação ao que é efectivamente um envelhecimento bem sucedido, não há
propriamente um consenso. Sabemos sim que varia de pessoa para pessoa, de cultura
para cultura. A forma como se aproveitam os últimos anos da vida depende dos desejos
de cada um.

3. Questões Sociais relacionadas com o envelhecimento


Até muito recentemente falar da velhice nas sociedades industrializadas era
delinear um quadro dramático de perda de status social dos velhos; a industrialização
teria destruído a segurança económica e as relações estreitas entre as gerações na
família, que vigoravam nas sociedades tradicionais. Dessa perspectiva, em que os
velhos se transformam num “peso” para a família e para o Estado, opõe-se uma, A da
“Idade de Ouro” em que eles, dada sua sabedoria e experiência, eram membros
respeitados na família e na comunidade. O empobrecimento, a perda de papéis sociais e
os preconceitos marcam a velhice nas sociedades modernas, que abandonam os velhos a
uma existência sem significado. À procura de um modelo teórico de envelhecimento
bem sucedido, Baltes (1991) sugere que o curso do desenvolvimento apresenta uma
variabilidade individual, existindo diferenças entre o envelhecimento normal, óptimo e
patológico. Durante o envelhecimento fica resguardado o potencial de desenvolvimento;
os prejuízos deste período podem ser minimizados pela activação das capacidades de
reserva para o desenvolvimento, as perdas cognitivas podem ser compensadas por
ganhos no domínio da inteligência prática. Com o envelhecimento, o equilíbrio entre
ganhos e perdas torna-se menos positivo; os mecanismos de auto-regulação da
personalidade mantêm-se intactos em idade avançada. O envelhecimento bem sucedido
é visto como um processo geral de adaptação. Depreende-se, então, que com a crescente
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limitação imposta pela natureza biológica e no intuito de aumentar suas potencialidades


no idoso consiste em seleccionar metas e objectivos mais importantes, optimizando
recursos e compensando perdas. Hábitos de vida, condições de residência, emprego e
saúde interferem na qualidade de vida e geram um perfil diferenciado de
envelhecimento. A motivação, a educação e a cultura favorecem os processos
cognitivos, motores, sensoriais e intelectuais. Ocorre, também, nesta fase de
desenvolvimento humano a diminuição do potencial biológico e consequentemente o
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aumento da necessidade de utilização dos recursos psicológicos, sociais e materiais
oferecidos pela cultura, para compensar tais perdas (Baltes, 1997). Embora o
envelhecimento seja acompanhado de uma série de adversidades, a pior delas é, sem
dúvida o “desengajamento” social. Ser idoso, na nossa sociedade é sobreviver sem
projecto e submeter-se às burocracias das instituições. É preciso que o indivíduo tenha
projectos que não envelheçam, é preciso sedimentar uma cultura positiva da velhice
“com interesses, trabalhos, responsabilidades que tornem sua sobrevivência digna”
(Bosi, 1994, p. 81). Neste sentido, a teoria de ciclo de vida enfatiza a importância da
selecção de prioridades de vida para uma regulação efectiva dos processos
desenvolvimentais. Essas prioridades e os investimentos pessoais não são arbitrários,
pois envolvem concepções subjectivas de curso de vida e reflectem tarefas evolutivas
que as pessoas desempenham (Baltes, 1998). Segundo Neri (1991), as preferências
individuais, as expectativas quanto ao futuro, as realizações e as metas são indicativas
das tarefas evolutivas. O indivíduo deve desempenhar certas tarefas evolutivas, para se
desenvolver adequadamente. Tais tarefas são enfrentadas de maneira diferente, devido
aos diferentes valores, maturação física, expectativas sociais, oportunidades,
preferências, competências e recursos (Baltes & Silveberg, 1995). Recorrendo à teoria
de Erikson (1950), encontram-se dois conceitos:
 geratividade como tarefa evolutiva de adultos;
 Integridade do ego como tarefa evolutiva específica do idoso;
Geratividade significa contribuir para gerações futuras por meio da produção,
não só de aspectos materiais, mas também do cuidado e da manutenção de outros seres.
Integridade do ego é a adaptação a triunfos e desilusões inerentes à condição de criador
de outros seres humanos e gerador de produtos e ideias. É ter, em suma, dignidade,
sabedoria, aceitação do modo de vida. Para alcançar a integridade do “ego” é importante
que o idoso possa fazer uma revisão da sua vida para lhe imprimir sentido e reorganizar
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criativa e positivamente a sua personalidade (Stevens-Long, 1979). Neste sentido, as


tarefas evolutivas da velhice são formas de organização da vida que possibilitam, até, a
aceitação da morte (Fitch, 1985). Um ambiente agressivo, assuntos familiares não
resolvidos, ausência de cuidadores adequados podem dificultar este processo.
No envelhecimento, os principais factores de influência da sociedade sobre o
indivíduo, são a resposta social ao declínio biológico, o afastamento do trabalho, a
mudança da identidade social, a desvalorização social da velhice e a falta de definição
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sociocultural de actividades em que o idoso possa perceber-se útil e assim alcançar
reconhecimento social. A vida do idoso é, portanto, dominada por um alto nível de
“stresse”, devido às expectativas e obrigações formalizadas.

3.1 Reforma /Trabalho na Terceira Idade


Actualmente vivemos num período de transição entre a modernidade e a pós
modernidade, no que diz respeito à compreensão do curso da vida e ás fronteiras entre
as idades, onde observamos uma maior flexibilidade e variedade entre as faixas etárias,
implicando em diversidades de hábitos e estilos de vida. Quanto às pessoas mais velhas,
diferentes padrões ou modelos de velhice e envelhecimento convivem simultaneamente
na sociedade, prevalecendo o pensamento de que a idade não é um indicador de normas
de comportamento e estilos de vida, bem como as doenças físicas e o declínio mental
deixam de ser característica desta faixa etária visto que podem agredir pessoas das mais
diversas idades. Desta forma, assistimos nas sociedades pós-modernas a
descronologização geral do curso da vida. Até à umas décadas atrás, a reforma era uma
condição desejada por todos os trabalhadores. Ainda hoje, associamos a palavra
“reformado” à ociosidade e à imagem daqueles velhinhos de boné a jogar cartas nos
“largos” ou nos clubes das suas terras, a cultivar os seus pedaços de terra e alimentar os
seus animais que mais tarde seriam o seu sustento. Actualmente, a concepção de
reforma está bem diferente, e ao invés de ser desejada, chega a ser temida por alguns.
Afinal, como adaptar-se a uma vida de ociosidade depois de anos de trabalho?
Para algumas pessoas, o fim da vida profissional não é problema. Alguns descobrem
antes mesmo da reforma, actividades que preenchem o tempo livre, como o artesanato.
Mas para outros, acostumados à correria do dia-a-dia de uma empresa, a ideia de ficar
parado assusta bastante. Por esse motivo, alguns estabelecimentos oferecem vagas para

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pessoas idosas. E essas pessoas não procuram apenas o complemento de reforma, mas
também o bem-estar de se sentir útil e activo por mais tempo.
A velhice é um processo íntimo, natural e inevitável, onde ocorrem mudanças
significativas de natureza física, psicológica e social. Essas alterações são encaradas de
formas diferentes pelas pessoas, e aquelas que optam por se manter em actividade,
evitam, na maioria das vezes, um quadro de depressão que é frequente para quem se
depara, de uma hora para outra, com um tempo livre que ela não teve durante toda a
13
vida e ao qual não está habituada. São inúmeros os benefícios de qualquer actividade,
como conduzir um carro, praticar desporto, fazer ioga, andar de bicicleta, pintar, cantar,
dançar, viajar ou participar de clubes e serviços voluntários ou políticos. O idoso
necessita de estar em movimento nessa fase da vida, e o objectivo a ser perseguido é a
quebra dos diversos mitos que nossa sociedade impõe ao idoso: improdutividade;
ausência de compromisso na vida; deterioração da inteligência; falta de espaço
profissional para o idoso; fim da vida sexual.”

3.2 Pós Reforma. Como Viver? Com a Família? Só?


Na visão de Nahas (2001), a qualidade de vida é a condição humana
resultante de um conjunto de parâmetros individuais e socio-ambientais, que pode
ou não ser modificado, caracterizando as condições em que vive o ser humano.

Geralmente o empregado mais antigo é respeitado no seu ambiente de trabalho, e


quando chega à reforma, enfrenta o preconceito da sociedade pelo facto de ele ser um
cidadão da terceira idade. Esse facto, muitas vezes leva a pessoa a se reciclar e
requalificar para voltar ao activo, e daí surge um profissional inovador e que interessa
muito ao mercado de trabalho. Um trabalhador reformado ao serviço de uma empresa é
um benefício para a mesma ao nível de impostos e de conhecimentos. Estudos
científicos recentes, comprovam que com o passar do tempo, a inteligência não sofre
qualquer tipo de perda, pois ela tem relação com factores próprios, como a educação, o
padrão de vida, a vitalidade física, mental e emocional. A saúde desses factores depende
muito de como a pessoa encara a vida e se prepara para a chegada da “melhor idade”.
Muitos idosos preparam a sua reforma com o regresso à sua terra natal e a partir desse
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momento tentam reviver um pouco os seus hábitos anteriores à reforma. Outros há, que
encaram esta fase como propicia para fazer as suas viagens de sonho (quando a sua
reforma ou pecúlio o permite). No entanto, na nossa sociedade estamos a verificar que
quando chega a hora da reforma, os nossos idosos estão na sua maioria sem grandes
faculdades para se sentirem “activos”. A sua saúde impede que realizem as suas
actividades do dia-a-dia e nem pensam em alternativas. As políticas sociais não estão
viradas para a questão da reforma, estão sim para as questões económicas. Por outro
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lado, sabemos que as sociedades sofreram alterações que envolvem toda a família, a
dependência dos filhos é maior quer a nível económico quer habitacional. Estamos a
regressar à constituição de agregados familiares alargados, pais, filhos, netos coabitam o
mesmo espaço e economicamente dependentes. A reforma é baixa, o seu contributo para
a gestão do lar é menor, e consequentemente chega, nalguns casos, o maior síndrome do
reformado: “Não sou útil, sou um peso, já não ganho para o que gasto”. Quando os
idosos vivem sós e estão numa situação de independência, são por excelência “um porto
de abrigo”, filhos, netos, sobrinhos recorrem á sua ajuda e fazem-nos sentir úteis, com
capacidade de ajudar e vontade de viver.
Quantas vezes se ouve dizer: “Ando muito ocupado(a), tenho que ir buscar
os netos,..ajudo os meus filhos.não tenho tempo para fazer o que quero…”
A questão de viver só ou com a família, é uma situação que não pode ser vista só
como um problema social, mas sim como um problema familiar. As famílias têm de
apoiar os seus idosos e criar condições para os tratarem com a dignidade que merecem.
A sociedade tem de estar atenta, amanhã também vai ser idosa, também vai ser
reformada e os filhos ou família não vão ter tempo para eles, pois o mercado de trabalho
não o permite...

3.3 Uma Solução: Institucionalização


A pessoa idosa vê-se frequentemente confrontada com problemas de facetas
múltiplas, que afectam em graus diferentes a sua autonomia funcional e as capacidades
do meio para as superar. Na medida que as incapacidades físicas e psicológicas da
pessoa idosa aumentam e as capacidades do meio ambiente diminuem, torna-se
necessário encarar como viável a hipótese de internamento numa instituição
Sabemos que a Institucionalização tem os seus riscos e perigos, podendo causar
regressão e desintegração social, falta de privacidade, perda de responsabilidade por
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decisões pessoais. Tudo isto pode levar à perda de amor-próprio, dependência excessiva
e nalguns casos, perda de interesse pelo mundo exterior. Poderemos ter em conta que a
solidão é uma experiência excessivamente penosa para o idoso. Conceitos como os de
família ou de amizade são ignorados ou minimizados, ficando os idosos entregues a si
mesmos, sentindo-se sós e muitas das vezes com graves problemas de saúde. Os idosos
queixam-se frequentemente de solidão, quando o tipo de relações que têm é reduzido e
pouco satisfatório - mais ainda quando perdem o cônjuge. Coloca-se então, a eterna
15
questão: O que será melhor? Viver na solidão e isolamento, ou ter uma relação
harmoniosa com outros indivíduos, com quem se partilhem interesses, ânimos e
desânimos que acabam por “substituir” muitas vezes e com vantagens, as relações de
dependência pais – filhos?
Apesar de tudo, na sociedade actual, estamos convictos de que os serviços
institucionais, cada vez mais humanizados e desenvolvendo práticas de dignidade
Humana, são um recurso importante para a população idosa, tendo em conta a sua perda
de autonomia e o seu estado de saúde geral.
Sabemos que a Institucionalização deverá ser um acto voluntário, deverá ser o
idoso a decidir se o quer, para onde, no entanto também sabemos que casos existem em
que estes direitos não existem, ou se é institucionalizado porque são necessários
cuidados de saúde que não se prestam em casa, não tem o idoso mais ninguém de
família que se sinta responsável por ele ou simplesmente a família não assume as suas
responsabilidades e abandona o idoso.
Esta história que apresentamos seguidamente relata um pouco a visão das
sociedades relativamente á pessoa idosa.”:
“Em tempos idos, em alguns países da Europa Oriental, havia um costume onde
a partir de uma determinada idade os filhos adultos levavam os pais para um lugar longe
de casa e os abandonavam à sua própria sorte para esperar a morte. A razão que
originou tal costume era que os pais, já idosos e doentes, seriam um estorvo para os
jovens que tinham de lutar por sua sobrevivência. Um dia, um filho chegou junto ao pai
e levou-o embora. Ao chegarem ao lugar em que deveria ser abandonado, o pai abriu
sua arca de madeira carcomida pelo tempo, e de lá tirou um bastão de ferro e um manto
de lã de carneiro e os entregou ao filho. Estranhando os inusitados presentes, o filho
perguntou ao pai do que se tratava, ao que o pai respondeu: “o bastão é para quando tu
fores velho como eu, e teu filho te vier trazer para ficares abandonado, tu o uses para
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manter afastados os animais que virão te acossar. E o manto, para que não sofras tanto
frio até a hora da tua morte”. O filho, ao reflectir sobre a situação, tomou o pai pelo
braço e conduziu-o de volta para morrer em casa.” (Por Wilson Meiler – dom, 12 de
Abril de 2009 • 885 Visualizações). Há que pensar na problemática da
institucionalização, como e porquê. De quem é a vontade?

3.4 Amor, Sexo na Terceira Idade


16
Será que existe amor na terceira idade? Uma paixão arrasadora é possível? E
praticar sexo, é permitido? A resposta é sim para todas as perguntas. Pode e deve. A
pessoa envelhece mas, enquanto viver e tiver saúde, tudo é permitido. Velho é apenas
uma pessoa que adquiriu muita experiência ao longo da vida. Nada é diminuído, muito
menos a vontade de viver desapareceu. Continua em plena actividade enquanto tiver
vontade. Além disso o homem é um ser essencialmente social. Não consegue sobreviver
sem companhia. Procurar um parceiro é natural.
Namorar faz bem em todas as idades, mas na terceira idade é melhor ainda, por
inúmeros motivos. É tão difundido o tabu de que amor e sexo é só para os jovens, que
as pessoas, mesmo os casais, acabam por se convencer disso. O resultado é que, à
medida que o tempo vai passando, começam a usar a sua idade avançada para justificar
o tédio, suas doenças e dificuldades nos relacionamentos afectivos e sexuais: a mulher
deixa de lubrificar e o acto sexual torna-se desconfortável ou doloroso, enquanto o
homem começa a perder ou não conseguir manter a erecção. Vão perdendo o interesse
na vida sexual e ambos culpam a idade por isso. No entanto, quando o idoso se
apaixona, tudo muda: o corpo responde imediatamente à estimulação da paixão,
reagindo naturalmente: a mulher volta a excitar-se, lubrificando abundantemente e o
homem depara-se com um desejo constante e o retorno de suas erecções. Quando nos
deparamos com idosos numa fase de paixão, sentimos que estes recuperaram a sua
adolescência: são protagonistas de uma história, produzem um relato muito parecido,
sempre permeado de muita alegria e vitalidade: “Nunca amei assim antes”, “Hoje eu
sinto-me mais bonita(o) do que antes”, “Rejuvenesci tudo de novo”, “Pareço um
adolescente de tão apaixonado que estou”, “Nunca imaginei que pudesse ser tão bom”,
“Não entendo como é possível ser tão feliz nessa idade”, “Pensei que nunca mais fosse
voltar a amar”, “Se eu tivesse encontrado há mais tempo, sei que não teria ficado
doente, não teria tido nada daqueles problemas de saúde.”. Namorar, amar; ter novas
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experiências na terceira idade é bom em todos os sentidos: revigora, revitaliza,


embeleza, motiva, envaidece, aumenta a auto-estima e o desejo de cuidar-se para o
outro; rejuvenesce e deixa a vida cor-de-rosa como na adolescência, só que com licença,
autonomia e consciência, livre das preocupações e medos de então.

4. Relacionamentos Pessoais na Terceira Idade


Este tema tem sido objecto de vários estudos para analisar a importância que as
17
relações sociais têm, que ajudem as pessoas a lidar com as vicissitudes do processo de
envelhecer.
Diversos autores definem o homem como entidade social, fundamentando-se no
modo como as pessoas estabelecem vínculos entre si, ou seja, pelas relações de suporte
mútuo. Ao conjunto destas relações que se vão mantendo durante a vida, podemos
denominar de redes afectivas e sociais. Estas redes poderão ter um papel preponderante
nas alterações que vão surgindo na terceira idade.

4.1 Contacto Social


Quando falamos dos relacionamentos pessoais na terceira idade, falamos não só
das relações familiares, mas também das relações com os amigos de longa data, todos
em conjunto vão dando algum sentido à vida da maior parte dos adultos de idade
avançada.
Para a maioria destes adultos o ponto mais alto do contacto social desenvolve-se
durante a sua vida profissional, a rede social é mais alargada, alterando-se quando
iniciam uma nova fase da sua vida, ou seja, a reforma.
À medida que as pessoas vão envelhecendo os contactos sociais vão alterando,
os círculos sociais mais externos e menos íntimos, formados por colegas de trabalho e
eventuais amigos, dão lugar, a círculos internos mais estáveis e mais íntimos, ou seja,
amigos íntimos e familiares, com os quais podem contar para apoio social constante,
contribuindo para o seu bem estar.
Esta alteração faz com que as redes sociais se tornem mais restritas, com a idade,
as pessoas tornam-se emocionalmente mais selectivas, preferindo manter relações
qualitativamente significativas, os contactos sociais são avaliados, procurados ou
evitados, com base na sua qualidade afectiva, o que vai de encontro à teoria da
selectividade socioemocional.
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4.1.1 Relacionamento e Saúde


Como já referimos, o processo de envelhecimento é uma fase do
desenvolvimento humano onde ocorrem muitas alterações, quer ao nível da saúde, bem
como ao nível de perdas, variando de acordo com a cultura, contexto social, político,
económico e as experiências individuais ao longo da vida.
Todos estes factores tem um grande impacto na vida dos indivíduos, que podem
explicar em parte o que acontece com as relações sociais na velhice. Para alguns idosos,
18
as perdas e os problemas de saúde, principalmente as incapacidades físicas, a falta de
autonomia, a situação económica, leva ao afastamento das redes sociais, o que por vezes
é sinónimo de solidão e isolamento. Para outros, o objectivo é a qualidade de vida e o
bem-estar. Para que isso aconteça, é essencial a conjugação de vários factores: os
hábitos de vida, a actividade física, as condições físicas e ambientais e os
relacionamentos sociais e familiares.
Os relacionamentos sociais e familiares podem ter um papel essencial para
manter a qualidade de vida dos idosos, ajudando-os a manter a saúde física e mental,
ensinando-os a lidar com o stress, provocado por várias situações, como perdas de
familiares e amigos, ou a alteração da situação económica, etc., e sobretudo fazer com
que eles se sintam amados, o que faz com que a sua auto-estima seja elevada.

4.1.2 O Papel da Família e dos Amigos


As alterações que surgem nesta fase do ciclo de vida, tais como incapacidades,
ou viuvez, entre outras, podem constituir nos idosos desequilíbrios existenciais, ou seja,
para a pessoa mais velha, estes acontecimentos podem deteriorar o seu estado físico e
psíquico, tão importante no seu dia a dia.
Assim, a vida em grupo pode ser um factor favorável para ajudar as pessoas a
libertarem-se dos conflitos psicológicos específicos da velhice, bem como a
encontrarem um equilíbrio correspondente à sua idade e à situação em que se
encontram. É necessário que o idoso mantenha os seus laços afectivos e patrimoniais, a
casa, para cada idoso adquire um grande significado psicológico, um sentimento de auto
– estima, positivo uma vez que o idoso, ao manter-se na sua casa, demonstra aos outros
que ainda mantém a sua autonomia e independência, mas para além disso o núcleo
familiar, vizinhos e amigos, são considerados peças fundamentais, que o protegem
contra as transformações que vão ocorrendo.
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Um dos efeitos positivos exercidos pelas família na saúde dos idosos, está
relacionado com o facto de eles se sentirem apoiados, o que leva ao seu bem estar
psicológico. No entanto se algumas famílias ainda conseguem tratar dos seus idosos,
principalmente os que têm um período longo de vida, outras há que devido à vida
profissional, ou à sua deslocalização, não conseguem prestar o apoio necessário e dar
resposta às suas necessidades, levando a que muitos dos idosos, sintam a partir de uma
certa altura que se estão a tornar num fardo para os seus familiares, baixando a auto-
19
estima, e por sua vez aos desequilíbrios psicológicos.

4.1.3 Casamento de Longa Duração


Os relacionamentos íntimos são um ponto importante da vida adulta. A
qualidade desses relacionamentos reflecte-se na saúde física, mental, mas também na
vida profissional de homens e mulheres. Os casamentos de longa duração de um modo
geral estão associados à satisfação conjugal. Essa satisfação é considerada por alguns
autores como um fenómeno complexo onde interferem diversas variáveis como:
características de personalidade, valores, atitudes e necessidades, sexo, momento do
ciclo da vida familiar, presença de filhos, nível de escolaridade, nível socioeconómico,
nível cultural, etc.
O casamento transforma-se ao longo do ciclo de vida familiar e assim, o nível de
satisfação também varia com o decorrer dos anos de convívio. Quando um casal se
mantém junto por muito tempo não significa que tenha um bom relacionamento. Vários
estudos sobre os casamentos de longa duração, revelam que pode haver casamentos
estáveis e pouco satisfatórios, que se vão mantendo por várias razões: um ou ambos os
cônjuges são contra o divórcio por razões pessoais ou pela religião, pelo medo da
mudança e da solidão, pelo património que construíram ao longo dos anos, e porque
perante a opinião pública é melhor estar casado e ter uma família, do que ser divorciado.
Por outro lado, as relações estáveis e satisfatórias são aquelas que resistem a
todas as contrariedades. A confiança entre os cônjuges, o compromisso com o outro, a
apreciação, o amor e respeito mútuo, a comunicação aberta e honesta, são as bases de
um relacionamento conjugal estável. Esta estabilidade faz com que os idosos,
encontrem solução para as transformações que ocorrem durante esse período de vida,
que tenham muito mais facilidade na resolução de conflitos, que sintam prazer em estar
juntos, e de se divertir. Muitos dos casais que continuam juntos, dizem que são mais
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felizes no casamento agora do que quando eram mais jovens. Os importantes benefícios
do casamento podem ajudar casais mais velhos a enfrentar os altos e baixos da terceira
idade.

4.1.4 Divórcio e Segundo Casamento


O divórcio na terceira idade é raro. De um modo geral, quando um casal se quer
divorciar não deixa chegar a essa idade para o fazer, no entanto ainda se encontra uma
20
pequena percentagem que se divorcia durante este ciclo e volta a casar.
Se nos casais jovens a percentagem de divórcio por vezes é elevada, já não
podemos dizer o mesmo da terceira idade, pois para as pessoas mais velhas é muito
difícil enfrentar essa situação, estando mesmo provado que as pessoas divorciadas na
terceira idade tornam-se menos satisfeitos com as amizades e actividades de lazer, do
que as que estão casadas. Nesse contexto, há nesta fase da vida idosos que não
conseguem lidar com esse problema e procuram casar novamente. Para eles, um novo
casamento vem trazer um novo ânimo, sentem-se mais confiantes, não se sentem
sozinhos, sabem que se estiverem doentes têm alguém ao seu lado que trate deles, não
necessitando do auxílio da comunidade.

4.1.5 Vida de Solteiro


A vida de solteiro é uma das opções que alguns jovens vão escolhendo, uns por
razões pessoais, para outros a situação profissional está em primeiro lugar e outros que
se vão acomodando a essa situação com medo de perderem a liberdade e não quererem
partilhar o seu espaço com ninguém.
Assim, as pessoas mais velhas que nunca se casaram, ao contrário das pessoas
viúvas ou divorciadas, preferem uma vida de solteiro não se sentindo solitárias. Os
estudos revelam que nestes casos as mulheres que nunca casaram e sem filhos
classificaram três tipos de papéis ou relacionamentos como muito importantes: laços
com parentes de sangue, como irmãos e tios; laços de substituição aos pais com pessoas
mais jovens; amizades da mesma geração e do mesmo sexo. Estes relacionamentos, pela
sua importância, fazem com que os solteiros na terceira idade se sintam apoiados não
vendo a necessidade de se casarem. Para estas pessoas, habituadas a viver sozinhas,
tendo o seu espaço, a sua independência é muito difícil alterarem esta situação.
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4.1.6 Relacionamentos Homossexuais


A discussão sobre os relacionamentos homossexuais só aconteceu há poucos
anos, apesar desse tipo de relacionamentos sempre existir.
O facto dos idosos de hoje crescerem numa época em que a homossexualidade
era considerada uma perversão, impedia que eles vivessem com quem queriam e como
queriam. Por tal facto, muitos desses idosos durante anos esconderam a sua orientação
21
sexual, devido a vários factores: pressão social, medo de enfrentar os seus familiares e
amigos e de serem discriminados no emprego.
Mas apesar de todos estes preconceitos, os relacionamentos homossexuais na
terceira idade são considerados fortes, solidários e diversos. Em muitos casos a rede de
amigos ou os grupos de apoio foram substituindo as famílias. Muitos dos gays e lésbicas
que alcançaram uma identidade social confortável estão melhor preparados par lidar
com o envelhecimento.
Segundo algumas pesquisas viver abertamente como homossexual pode
melhorar a saúde mental, a satisfação com a vida, a auto-aceitação e o auto-respeito,
contribuindo assim para o bem-estar na terceira idade.

4.1.7 As Amizades
As amizades têm um papel essencial na manutenção da qualidade de vida dos
idosos, ajudando-os a manter a saúde física e mental, ensinando-os a lidar com o stress
provocado por várias situações.
Se na idade jovem as amizades são importantes, na velhice a importância é
muito maior. A maioria das pessoas tem amigos íntimos, levando a que se sintam mais
saudáveis e felizes. Para os idosos as amizades são valorizadas, sendo importante
sentirem que são desejados, apesar das transformações físicas que vão sofrendo durante
esse ciclo de vida.

5. Laços de Parentesco não-conjugais


5.1 Relacionamento dos idosos com os filhos, ou a sua ausência
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Como nos diz a teoria da selectividade, os idosos tendem a passar mais tempo
com as pessoas que consideram importantes na sua vida, como por exemplo, os seus
filhos e netos.
Os pais não querem ser um fardo para os seus filhos.

5.2 Relacionamento com irmãos


Os irmãos têm um papel fundamental durante a velhice. Criam uma importante
22
rede de apoio entre eles, apoiando-se como amigos, oferecendo companheirismo e apoio
emocional.
A prontidão dos irmãos em ajudar é uma fonte de conforto e de segurança nesta
faixa etária. Entre irmãos, tende-se a partilham-se memórias passadas (da infância,
adolescência, …), ajudando a recapitular vária fases da vida e a colocar o significado
dos relacionamentos familiares em perspectiva.
Os irmãos tem um papel activo na manutenção do bem-estar e dos
relacionamentos familiares, isto acontece talvez por existir expressividade emocional. A
rivalidade que já se iniciou antes da velhice tende a diminuir, chegando mesmo a
resolver conflitos anteriores.
A morte de um irmão pode ser compreendida como uma etapa normativa deste
estádio da vida mas, mesmo assim, os sobreviventes podem sofrer intensamente e
ficarem solitários/deprimidos. A perda de um irmão é sempre a perda de alguém muito
importante na nossa vida, é a perda de alguém que sempre nos apoiou nos momentos
difíceis, sempre esteve lá os momentos de glória.

5.3 Tornar-se bisavô


À medida que os netos crescem, os bisnetos vão nascendo e os avós
passam a ter um papel de bisavó. Ambos têm um papel fundamental no processo
educacional. São uma grande fonte de sabedoria e de companheirismo, um laço com o
passado e um símbolo de continuidade da vida familiar. Estão envolvidos na derradeira
função generativa: expressar o desejo humano de transcender a mortalidade investindo
na educação dos seus frutos.
Os bisavôs tendem a ter um papel mais passivo, relacionado com os avós, na
vida de uma criança. Isto acontece devido à idade, ao declínio da saúde e ao
desmembramento das famílias.
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Conclusão
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Bibliografia

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 Baltes, P.B. (1995). Prefácio. Em A.L. Neri, (Org.). Psicologia do


Envelhecimento: Temas selecionados na perspectiva de curso de vida (pp. 9-12).
Campinas: Papirus.
 BRÊTAS, A.C.P. Envelhecimento e trabalho. In: OLIVEIRA, E.M.;
SCAVONE, L, org.
 Papalia, Diane E. (et al.)(2006). Desenvolvimento Humano.
(pp.705-736) Porto alegre:artmed;
24
 Trabalho, saúde e gênero na era da globalização. Goiânia, AB Editora,
1997. p.61-67

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