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Desenvolvimento Afectivo-Relacional
do Idoso
Cristina Vaz
Diana Parrado
Graça Oliveira
Karina Marinho
Coimbra 2010
Desenvolvimento Afectivo-Relacional do Idoso
Introdução
O envelhecimento é um tema cada vez mais actual e central da nossa sociedade.
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Em Portugal, entre 1960 e 2001, o fenómeno do envelhecimento demográfico
sucedeu-se por um aumento de 140 % da população idosa. A proporção da população
idosa, que representava 8,0% do total da população em 1960, mais do que duplicou em
quatro décadas, passando para 16,4% em 2001, enquanto o índice de envelhecimento
registou um aumento visível de 27,3% em 1960 para 102,2 % em 2001, ou seja, existem
hoje em Portugal mais idosos do que crianças (INE, 2002).
Segundo estimativas do Conselho da Europa, a população portuguesa terá menos
um milhão de pessoas em 2050 e estará ainda mais envelhecida, com 2,5 % de idosos
com 65 ou mais anos para cada jovem com menos de 15 anos.
Envelhecer é um processo natural, uma realidade com a qual todos nós mais
cedo ou mais tarde nos deparamos. É um processo fisiológico que não está associado à
idade cronológica. É nesta perspectiva que se deve encarar o envelhecimento, no sentido
de atenuar as 891dificuldades que a ele estão associadas , e desta forma, encontrar e
promover mais momentos de descontracção para que esta fase da vida possa ser uma
realidade plena, saudável e com qualidade.
Este trabalho pretende dar a conhecer na sua globalidade o conceito de
desenvolvimento afectivo-relacional do idoso, tendo como aspectos indissociáveis os
conceitos de idoso, velhice, envelhecimento, entre outros temas abordados.
1. Conceito de idoso
Socialmente, considera-se idoso a pessoa com mais de 65 anos. Nesta idade já damos
conta do declínio a nível fisiológico. Assim o idoso vê-se necessariamente dependente.
Esta fase pode estar ligada à etapa sénior da vida. No entanto, a idade não é
forçosamente sinónimo de incapacidade.
Os idosos são capazes de aprender sempre, tal como os mais jovens, somente de forma
diferente. Tal como os mais jovens, os idosos também são capazes de dar resposta aos avanços
3.º Ano de Animação Socioeducativa
da sociedade e da tecnologia. Eles são uma fonte de sabedoria e transmitem às gerações mais
jovens a riqueza das experiências vividas. Transmitem cultura, valores, e costumes mais
significativos.
Velhice
“Velhice representa a fase da vida em que as capacidades e resistências físicas vão
gradualmente diminuindo.( o autor?)
A velhice é definida como “uma categoria cuja delimitação resulta do estado (variável) 3
das relações de força entre as classes e das relações entre gerações, isto é, da distribuição do
poder e dos privilégios entre as classes e gerações” (REMI LENIOR)
A questão do surgimento da terceira idade, categorização que é socialmente considerado
“velho”, é o resultado de um processo de construção da representação da velhice encarada como
um problema social. Ou seja, ser “velho” representa ser diminuído, carenciado, alguém que
precisa da nossa solidariedade, da nossa ajuda.
Envelhecimento
“Podem ser vários os processos que conduzem ao envelhecimento de uma
sociedade, aqui definido numa perspectiva demográfica: pela redução, no tempo, do
número de nascimentos, pelo aumento relativo do úmero dos idosos, pela saída em
massa de pessoas jovens e adultas não idosas.” (Dicionário de Sociologia, 2003)
“Nos países desenvolvidos tem-se verificado um constante envelhecimento
demográfico desde os anos 60 do século XX, motivado, em simultâneo, por um
decréscimo das taxas de fecundidade e por um alongamento do tempo de vida das
respectivas populações.”
Individual: Demográfico:
Maior longevidade dos Aumento da proporção das
indivíduos; pessoas idosas na população
Aumento da esperança media total
de vida
ENVELHECIMENTO
(Dicionário de Sociologia, 2003)
Sabemos que, talvez mais do que em qualquer outra etapa, a idade adulta está
social e culturalmente marcada (saída de casa, casamento, autonomia económica, etc.).
O processo de envelhecimento não difere, substancialmente, do da maturidade. Em
ambos ocorre, ou pode ocorrer, o verdadeiro desenvolvimento em direcção à plenitude
da existência.
Inúmeras teorias tentam explicar o desenvolvimento da personalidade na
velhice. As primeiras pesquisas mostraram que a personalidade se tornava mais rígida
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com o envelhecimento e que se desenvolvia muito pouco na velhice. Estudos
posteriores, surgidos a partir da década de 70, sugeriram que ocorreria uma estabilidade
dos traços de personalidade ao longo da vida adulta e da velhice. Desta forma, a
personalidade não se tornaria mais rígida, mas permaneceria da mesma forma que
sempre fora desde a vida adulta.
Teorias actuais de personalidade entendem o desenvolvimento humano como
um processo multidimensional e multidireccional, composto pela ocorrência conjunta de
ganhos, perdas e estabilidades. De acordo com este modelo, as pessoas possuem
potenciais para a mudança e para a manutenção e recuperação da adaptação perante
eventos limitadores e facilitadores do processo de desenvolvimento normal durante toda
a vida. Assim, na velhice, os traços de personalidade seriam modificáveis,
principalmente porque nessa fase de vida as pessoas têm maior probabilidade de serem
confrontadas com eventos de vida stressantes que requerem adaptação. Embora muitos
indivíduos possam manter a personalidade estável sob circunstâncias de vida normais,
infere-se que, diante de situações mais complexas, a personalidade mudaria para se
adaptar às transformações da vida.
pessoas fazem dos acontecimentos geradores de stress, está na origem das diferentes
percepções desses acontecimentos e das diferentes estratégias utilizadas para a sua
resolução.
Estas estratégias podem-se focar no problema ou na emoção. Quando focadas no
problema visam alterar a situação ou problema que está a provocar desajustes.
Predomina quando o indivíduo vê uma hipótese de mudar a situação causadora de
tenção. Quando focadas na emoção, pretende regular emoções desajustadas associadas
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ou resultantes de acontecimentos geradores de tensão. È uma resposta emocional que
procura atenuar o impacto físico dessa tensão. Dentro desta estratégia pode-se desviar a
atenção, desistir ou negar a existência de determinado problema.
Nos idosos o impacto da reforma, da viuvez, do declínio da saúde ou da perda do
poder económico é sempre interpretado de uma forma subjectiva dependendo do
significado que cada pessoa lhe atribui.
Para Lazarus é fundamental identificar as variáveis individuais que
proporcionam as respostas adaptativas favoráveis ou desfavoráveis em vários domínios
(auto-conceito, saúde, funcionamento social) para se poderem desencadear respostas e
serviços de apoio.
Para o mesmo autor, segundo alguns estudos, adultos mais velhos enfrentam os
problemas mais focados pela emoção do que os mais jovens. Com a idade as estratégias
tornam-se mais flexíveis, o que pode assim explicar o facto destes serem mais felizes.
Com a idade os comportamentos tendem a ser mais reflectidos tenta-se extrair
sempre alguma lição. Cai-se crescendo e aprendendo.
todos precisamos de nos sentir vivos. A igreja representa assim um forte apoio social
para o idoso.
pessoas idosas. E essas pessoas não procuram apenas o complemento de reforma, mas
também o bem-estar de se sentir útil e activo por mais tempo.
A velhice é um processo íntimo, natural e inevitável, onde ocorrem mudanças
significativas de natureza física, psicológica e social. Essas alterações são encaradas de
formas diferentes pelas pessoas, e aquelas que optam por se manter em actividade,
evitam, na maioria das vezes, um quadro de depressão que é frequente para quem se
depara, de uma hora para outra, com um tempo livre que ela não teve durante toda a
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vida e ao qual não está habituada. São inúmeros os benefícios de qualquer actividade,
como conduzir um carro, praticar desporto, fazer ioga, andar de bicicleta, pintar, cantar,
dançar, viajar ou participar de clubes e serviços voluntários ou políticos. O idoso
necessita de estar em movimento nessa fase da vida, e o objectivo a ser perseguido é a
quebra dos diversos mitos que nossa sociedade impõe ao idoso: improdutividade;
ausência de compromisso na vida; deterioração da inteligência; falta de espaço
profissional para o idoso; fim da vida sexual.”
momento tentam reviver um pouco os seus hábitos anteriores à reforma. Outros há, que
encaram esta fase como propicia para fazer as suas viagens de sonho (quando a sua
reforma ou pecúlio o permite). No entanto, na nossa sociedade estamos a verificar que
quando chega a hora da reforma, os nossos idosos estão na sua maioria sem grandes
faculdades para se sentirem “activos”. A sua saúde impede que realizem as suas
actividades do dia-a-dia e nem pensam em alternativas. As políticas sociais não estão
viradas para a questão da reforma, estão sim para as questões económicas. Por outro
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lado, sabemos que as sociedades sofreram alterações que envolvem toda a família, a
dependência dos filhos é maior quer a nível económico quer habitacional. Estamos a
regressar à constituição de agregados familiares alargados, pais, filhos, netos coabitam o
mesmo espaço e economicamente dependentes. A reforma é baixa, o seu contributo para
a gestão do lar é menor, e consequentemente chega, nalguns casos, o maior síndrome do
reformado: “Não sou útil, sou um peso, já não ganho para o que gasto”. Quando os
idosos vivem sós e estão numa situação de independência, são por excelência “um porto
de abrigo”, filhos, netos, sobrinhos recorrem á sua ajuda e fazem-nos sentir úteis, com
capacidade de ajudar e vontade de viver.
Quantas vezes se ouve dizer: “Ando muito ocupado(a), tenho que ir buscar
os netos,..ajudo os meus filhos.não tenho tempo para fazer o que quero…”
A questão de viver só ou com a família, é uma situação que não pode ser vista só
como um problema social, mas sim como um problema familiar. As famílias têm de
apoiar os seus idosos e criar condições para os tratarem com a dignidade que merecem.
A sociedade tem de estar atenta, amanhã também vai ser idosa, também vai ser
reformada e os filhos ou família não vão ter tempo para eles, pois o mercado de trabalho
não o permite...
decisões pessoais. Tudo isto pode levar à perda de amor-próprio, dependência excessiva
e nalguns casos, perda de interesse pelo mundo exterior. Poderemos ter em conta que a
solidão é uma experiência excessivamente penosa para o idoso. Conceitos como os de
família ou de amizade são ignorados ou minimizados, ficando os idosos entregues a si
mesmos, sentindo-se sós e muitas das vezes com graves problemas de saúde. Os idosos
queixam-se frequentemente de solidão, quando o tipo de relações que têm é reduzido e
pouco satisfatório - mais ainda quando perdem o cônjuge. Coloca-se então, a eterna
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questão: O que será melhor? Viver na solidão e isolamento, ou ter uma relação
harmoniosa com outros indivíduos, com quem se partilhem interesses, ânimos e
desânimos que acabam por “substituir” muitas vezes e com vantagens, as relações de
dependência pais – filhos?
Apesar de tudo, na sociedade actual, estamos convictos de que os serviços
institucionais, cada vez mais humanizados e desenvolvendo práticas de dignidade
Humana, são um recurso importante para a população idosa, tendo em conta a sua perda
de autonomia e o seu estado de saúde geral.
Sabemos que a Institucionalização deverá ser um acto voluntário, deverá ser o
idoso a decidir se o quer, para onde, no entanto também sabemos que casos existem em
que estes direitos não existem, ou se é institucionalizado porque são necessários
cuidados de saúde que não se prestam em casa, não tem o idoso mais ninguém de
família que se sinta responsável por ele ou simplesmente a família não assume as suas
responsabilidades e abandona o idoso.
Esta história que apresentamos seguidamente relata um pouco a visão das
sociedades relativamente á pessoa idosa.”:
“Em tempos idos, em alguns países da Europa Oriental, havia um costume onde
a partir de uma determinada idade os filhos adultos levavam os pais para um lugar longe
de casa e os abandonavam à sua própria sorte para esperar a morte. A razão que
originou tal costume era que os pais, já idosos e doentes, seriam um estorvo para os
jovens que tinham de lutar por sua sobrevivência. Um dia, um filho chegou junto ao pai
e levou-o embora. Ao chegarem ao lugar em que deveria ser abandonado, o pai abriu
sua arca de madeira carcomida pelo tempo, e de lá tirou um bastão de ferro e um manto
de lã de carneiro e os entregou ao filho. Estranhando os inusitados presentes, o filho
perguntou ao pai do que se tratava, ao que o pai respondeu: “o bastão é para quando tu
fores velho como eu, e teu filho te vier trazer para ficares abandonado, tu o uses para
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manter afastados os animais que virão te acossar. E o manto, para que não sofras tanto
frio até a hora da tua morte”. O filho, ao reflectir sobre a situação, tomou o pai pelo
braço e conduziu-o de volta para morrer em casa.” (Por Wilson Meiler – dom, 12 de
Abril de 2009 • 885 Visualizações). Há que pensar na problemática da
institucionalização, como e porquê. De quem é a vontade?
Um dos efeitos positivos exercidos pelas família na saúde dos idosos, está
relacionado com o facto de eles se sentirem apoiados, o que leva ao seu bem estar
psicológico. No entanto se algumas famílias ainda conseguem tratar dos seus idosos,
principalmente os que têm um período longo de vida, outras há que devido à vida
profissional, ou à sua deslocalização, não conseguem prestar o apoio necessário e dar
resposta às suas necessidades, levando a que muitos dos idosos, sintam a partir de uma
certa altura que se estão a tornar num fardo para os seus familiares, baixando a auto-
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estima, e por sua vez aos desequilíbrios psicológicos.
felizes no casamento agora do que quando eram mais jovens. Os importantes benefícios
do casamento podem ajudar casais mais velhos a enfrentar os altos e baixos da terceira
idade.
4.1.7 As Amizades
As amizades têm um papel essencial na manutenção da qualidade de vida dos
idosos, ajudando-os a manter a saúde física e mental, ensinando-os a lidar com o stress
provocado por várias situações.
Se na idade jovem as amizades são importantes, na velhice a importância é
muito maior. A maioria das pessoas tem amigos íntimos, levando a que se sintam mais
saudáveis e felizes. Para os idosos as amizades são valorizadas, sendo importante
sentirem que são desejados, apesar das transformações físicas que vão sofrendo durante
esse ciclo de vida.
Como nos diz a teoria da selectividade, os idosos tendem a passar mais tempo
com as pessoas que consideram importantes na sua vida, como por exemplo, os seus
filhos e netos.
Os pais não querem ser um fardo para os seus filhos.
Conclusão
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Bibliografia