Você está na página 1de 4

Aprendizagem na Terceira Idade: visão psicopedagógicai

Júlia Eugênia Gonçalves/2020

Terceira Idade
A ideia que a sociedade possui a respeito dos idosos, deve ser analisada abrindo
espaço para reflexões a respeito deste grupo que também é denominado por
terceira idade, em referência às fases da infância e maturidade, nas quais, via
de regra, a aprendizagem tem um lugar de destaque.
O que é ser idoso? Pela lei, é ter mais de 60 anos de idade, estar enquadrado
numa legislação própria, o Estatuto do Idoso, que surgiu com o objetivo de
protege-los e garantir seus direitos. Porém, essa definição é muito simples e o
ser humano muito complexo para este enquadre.
Em termos quantitativos, a população brasileira, segundo o censo 2010, tem
mais de 3.000.000 de idosos acima de 70 anos1 e a estimativa é que tenhamos
mais idosos do que jovens para 2060. O que contribuiu para o aumento da
população idosa foi o desenvolvimento científico e tecnológico, as condições
socioeconômicas e culturais, as medidas sanitárias, as políticas públicas de
saúde, que colaboraram para a melhoria da qualidade e o aumento da
expectativa de vida da população. Com isso, atingiu-se um progressivo
envelhecimento populacional nos diferentes países e um número cada vez maior
de pessoas passam a sobreviver até 70, 80, 90 anos. Urge, então, que se dê
atenção a este grupo de pessoas, considerando suas expectativas de vida, suas
possibilidades e seus anseios de realização pessoal.
O uso do conceito de 3a. Idade, ao invés de idoso ou velho, já assinala entre nós
uma modificação latente na maneira social e cultural de definir tal papel. Trata-
se agora de uma faixa etária. A de número três na escala ordinal cronológica. A
conotação pejorativa não se mostra tão evidente quando como se diz velho, com
determinada entonação desdenhosa.

É preciso mudar o enfoque sobre o idoso, considerado como alguém que é velho,
descartável, que não serve para nada. Como um sistema vivo, o ser humano é
sujeito ao desgaste físico. O envelhecimento não é velhice, mas um processo
irreversível iniciado ao nascimento e encerrado com a morte do ser. Fazem parte
do envelhecimento os processos de transformação do organismo ocorridos após
a maturação sexual. O envelhecimento é acompanhado por alterações na
aparência, no comportamento, na experiência e nos papéis sociais.

1
Fonte: file:///C:/Users/PC/Downloads/popula%C3%A7%C3%A3o-residente-
por-idade-2010.pdf
O que se tem como elemento de análise, hoje em dia, é a diferença entre
senescência e senilidade.

• Senescência é o processo de envelhecimento que ocorre sem


deterioração da mente e a pessoa se mantém ativa e produtiva. No
envelhecimento saudável, apesar de existirem mudanças tais como a
perda de musculatura, enrugamento da pele, branqueamento dos
cabelos, perda de funções sensoriais, como a visão e audição, assim
como a diminuição na velocidade de processamento das informações, o
esperado é que a mente permaneça apta à aprendizagem, mantendo-se
capaz de se adaptar aos estímulos;

• Senilidade é o envelhecimento patológico, quando instalam-se


demências que afetam a produtividade e a vida social do indivíduo, pois
são acompanhadas por perda de memória, o que é uma ameaça para a
própria identidade, quando a pessoa já apresenta mais vulnerabilidade
física e maior risco de comprometimento da autonomia, necessitando de
cuidados especializados constantes.

A Psicopedagogia

Hoje não há mais dúvidas em relação à necessidade de continuidade do


processo de aprendizagem durante toda a vida humana, como uma maneira de
se evitar e ou postergar o envelhecimento senil. A Psicopedagogia tem
demonstrado que processos de aprendizagem são mantenedores da vida e, por
isso, são considerados processos vitais e se apresenta como uma alternativa
para o atendimento à terceira idade, seja em grupos ou mesmo em espaços
terapêuticos individuais.

Esta área de conhecimento e de atuação é voltada para o processo de


aprendizagem humano. Seu objeto de estudo é o ser cognoscente, ou seja, o
sujeito que se dirige para a realidade e dela retira um saber. Vista no âmbito de
um sistema complexo e inerente à condição humana, a aprendizagem não é
estudada pela Psicopedagogia no espaço restrito da escola, ou num
determinado momento da vida, posto que ocorre em todos os lugares, durante
todo o tempo da existência.

O olhar psicopedagógico para o estágio do desenvolvimento do idoso tem sido


valorizado atualmente em função do aumento populacional e das possibilidades
no mercado de trabalho, o que implica em aprendizagem para este grupo de
pessoas, as quais estão ingressando em cursos técnicos e superiores, para o
atendimento desta demanda.
As condições psicológicas da aprendizagem estão relacionadas à motivação do
sujeito, ou seja, à forma pela qual ele se mobiliza e se direciona para a vida. A
motivação é um processo interno e se constitui na resposta pessoal de cada ser
humano diante da realidade. Pode ser extrínseca, quando baseada em
recompensas externas tais como um salário, uma bolsa de estudos, um prêmio
de qualquer natureza, ou intrínseca, quando é o desejo de aprender, de se auto
superar, de fazer aquilo que deseja, que movimenta o sujeito. A família e a
sociedade em geral podem contribuir para que a pessoa se mantenha motivada
intrinsecamente para aprender e trabalhar, quando investem em seu potencial,
dão crédito às suas escolhas, abrem espaços colaborativos nos quais esse
grupo possa se expressar e colocar a serviço do outro suas habilidades e
experiências.

Na criança, a motivação é geralmente garantida pela curiosidade, que a


disponibiliza intrinsecamente para a ação. No adolescente e no adulto, a
motivação extrínseca cumpre um papel preponderante, tendo em vista objetivos
a serem alcançados, tais como ingresso na Universidade ou no mercado de
trabalho, que são valorizados socialmente. No idoso a motivação intrínseca é
muito pequena porque, geralmente, nesta fase da vida o ser humano se fixa mais
no passado do que no presente e no futuro enxerga a morte. Por isso o trabalho
psicopedagógico é tão relevante nesta faixa etária, pois a aprendizagem pode
manter a motivação extrínseca, já que, sem motivação o ser humano não vive.
Deepak Chopra2 (1999) defende a tese de que envelhecimento e doença são
associações estabelecidas no mundo ocidental a partir da modernidade e que
não existem dados científicos que as comprovem.
A ideia mais relevante de Chopra (1999) para a Psicopedagogia é a de que
envelhecimento e morte são vivenciados da maneira como foram aprendidos.
Isso significa que componentes aprendidos são tão importantes como os
biológicos no processo de envelhecimento e formam um padrão pessoal que
define como uma pessoa irá envelhecer. Esta posição epistemológica sobre a
aprendizagem no processo de envelhecimento humano abre um enorme campo
de atuação psicopedagógica na terceira idade.

O idoso depende da organização social na qual vive para a garantia de sua


dignidade e direitos. Mas depende também de cada um de nós mudarmos os
paradigmas sobre a maturidade e a velhice em nosso meio, contribuindo para
que se amplie a compreensão de que o ser humano, independentemente de sua
idade cronológica, é um ser aprendente, um ser de mudança, um ser criativo e
adaptativo, capaz de superar-se e de surpreender-se consigo mesmo e com
seus semelhantes.

2
Médico de nacionalidade indiana, radicado nos EEUU.
Esta postura permitirá que idosos se beneficiem do trabalho psicopedagógico
em termos do diagnóstico de sua situação de aprendizagem, assim como da
intervenção psicopedagógica dirigida para a otimização deste processo ou da
superação de dificuldades que nele possam ocorrer.

Referências:

CHOPRA, D. Corpo sem idade, mente sem fronteira: a alternativa quântica para o
envelhecimento. São Paulo: Rocco,1999.

GONÇALVES, J. Psicopedagogia para Adultos e Idosos: diagnóstico e intervenção.


Rio de Janeiro: Wak, 2020.

i
Publicado em https://sinapsys.news/?s=Júlia+Eugênia em 02/10/2020

Você também pode gostar