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Sumário
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................................4
1.1 PRINCIPIO DA PRIMAZIA DOS DIREITOS HUMANOS...........................................................................5
1.2 INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS......................................................................................................5
1.3 APLICABILIDADE IMEDIATA DOS TRATADOS DE DH...........................................................................6
1.4 HIERARQUIA.....................................................................................................................................7
1.5 DENÚNCIA DOS TRATADOS DE DH...................................................................................................10
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O art. 4º da CRFB/88 dispõe um rol de princípios que o Brasil rege as suas relações
internacionais:
INDEPENDÊNCIA NACIONAL
PRAVALÊNCIA DOS DIREITOS HUMANOS
AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS
NÃO INTERVENÇÃO
IGUALDADE ENTRE OS ESTADOS
DEFESA DA PAZ
SOLUÇÃO PACÍFICA DOS CONFLITOS
REPÚDIO AO TERRORISMO E AO RACISMO
COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS PARA PROGRESSO DA
HUMANIDADE
CONCESSÃO DE ASILO POLÍTICO
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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Art. 7º, Criação de um Tribunal Internacional de DH
ADCT
O art. 4º, II, da CRFB/88 consagra, dentre os princípios que devem orientar o Brasil nas relações
internacionais, o da PRIMAZIA DOS DIREITOS HUMANOS. Esse princípio possui reflexos na ordem interna e
externa.
No âmbito internacional, obriga a política externa brasileira a incluir a promoção da dignidade humana
no mundo como uma de suas prioridades. Exemplos:
b. Submissão do Brasil a alguns dos mais notórios foros internacionais voltados à proteção desses direitos;
No âmbito interno, o princípio da primazia nas relações internacionais gera compromissos internos.
Implica que o Brasil deve incorporar os tratados quanto ao tema ao ordenamento e respeitá-los.
e. Incorporação de tratados;
#DICAPARANÃOERRAR: Os tratados incorporados com rito especial tratam dos direitos da pessoa com
deficiência.
#OLHAOGANCHO: O tratado tem como objetivo assegurar o acesso de obras literárias e artística à pessoa com
deficiência visual ou uma incapacidade de percepção ou de leitura. No capítulo de acesso à informação e à
comunicação do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015), já havia a previsão dessa proteção:
Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e
à comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive em publicações da administração pública ou
financiadas com recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com deficiência o direito de acesso à leitura,
à informação e à comunicação.
§ 1o. Nos editais de compras de livros, inclusive para o abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas
em todos os níveis e modalidades de educação e de bibliotecas públicas, o poder público deverá adotar
cláusulas de impedimento à participação de editoras que não ofertem sua produção também em formatos
acessíveis.
§ 2o. Consideram-se formatos acessíveis os arquivos digitais que possam ser reconhecidos e acessados
por softwares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que vierem a substituí-los, permitindo leitura
com voz sintetizada, ampliação de caracteres, diferentes contrastes e impressão em Braille.
§ 3o . O poder público deve estimular e apoiar a adaptação e a produção de artigos científicos em formato
acessível, inclusive em Libras.
Por fim, salienta-se que, após a entrada em vigor internacional e nacionalmente, é possível que se adotem
algumas medidas no âmbito interno, acarretando uma adaptação na Lei 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais).
De acordo com o art. 5º, §1º, da CRFB/88, as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais
têm aplicação imediata.
#ATENÇÃO: A partir desse dispositivo, parte da doutrina entende que a emissão do Decreto do Presidente da
República, que promulga o tratado e ordena sua publicação, não seria mais necessária para que as normas
internacionais gerem efeitos em território nacional.
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Nesse sentido, Flávia Piovesan afirma que “basta o ato de ratificação (antecedido da assinatura do
tratado e de sua aprovação pelo Poder Legislativo) para que o tratado de direitos humanos tenha aplicabilidade
nos âmbitos internacional e interno”.
1.4 HIERARQUIA
Dentro do Direito Internacional em geral, os Estados têm a obrigação de cumprir os tratados que
concluem, não podendo o Direito Interno fundamentar o inadimplemento dos compromissos internacionais
do ente estatal, nos termos da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (arts. 27 e 46). Com isso, as
normas internacionais de direitos humanos deveriam se revestir de hierarquia supraconstitucional ou, no
mínimo, constitucional. Para Valério Mazzuoli, o art. 5º, §2º, da CF, impõe que as normas que consagrem
direitos humanos façam parte do bloco de constitucionalidade de maneira automática. Não é o que ocorre.
Vejamos:
Com o advento da EC 45/2004, o art. 5º, § 3º, da CF/88 foi acrescentado com a seguinte redação: “Os
tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais”. Essa redação final aprovada do dispositivo gerou ainda diversos
debates, com os seguintes posicionamentos:
a) inconstitucionalidade do novo parágrafo, por ter piorado a hierarquia dos tratados de direitos humanos e,
assim, violado cláusula pétrea;
b) somente alguns tratados internacionais seriam equivalentes à emenda constitucional, a saber, os que
fossem aprovados pelo rito especial recém-criado;
c) o estatuto constitucional se estenderia ao menos aos tratados de direitos humanos aprovados anteriormente,
graças ao instituto da recepção formal;
d) todos os tratados de direitos humanos, incorporados antes ou depois da EC 45, teriam estatuto
constitucional, com base no art. 5º, § 2º, pois todos seriam materialmente constitucionais (Flávia Piovesan); as
consequências do rito especial seriam apenas duas:
2) a inclusão no rol de cláusulas pétreas, uma vez que não poderiam mais ser denunciados e excluídos do
nosso ordenamento.
natureza constitucional (os aprovados pelo rito do art. 5º, §3º) e natureza supralegal (todos os demais)
A introdução do §3º ao art. 5º motivou recente revisão do posicionamento do STF.
Leading case: RE 466.343 (referente a prisão civil do depositário infiel): a maioria de votos dos Ministros
sustentou novo patamar normativo (natureza supralegal) para os tratados internacionais de direitos humanos.
Ficou consagrada a teoria do duplo estatuto dos tratados de direitos humanos:
a) Natureza constitucional se aprovados pelo rito do art. 5º, §3º
b) Natureza supralegal para os demais, quer sejam anteriores ou posteriores à EC 45 e que tenham sido
aprovados pelo rito comum
a) As leis (inclusive as leis complementares) e atos normativos são válidos se forem compatíveis,
simultaneamente, com a Constituição e com os tratados internacionais de direitos humanos incorporados;
b) Os tratados de direitos humanos incorporados pelo rito simples não têm estatuto constitucional, logo não
cabe ao Supremo Tribunal Federal analisar, no âmbito do controle abstrato de constitucionalidade, a
compatibilidade entre leis ou atos normativos e tratado internacional de direitos humanos;
c) Cabe ao STF realizar o chamado controle de convencionalidade nacional das leis em relação aos tratados
recepcionados pelo rito especial previsto no art. 5º, § 3º, da CF/88, que passam a integrar o bloco de
constitucionalidade restrito.
Após essa análise minuciosa da hierarquia dos tratados de direitos humanos no Brasil, cabe ainda
destacar algumas informações trazidas no Curso de Direitos Humanos de André de Carvalho Ramos:
1) O rito especial do art. 5º, § 3º, é facultativo: não se pode exigir que todo e qualquer tratado de direitos
humanos possua o quórum expressivo de 3/5 previsto no art. 5º, § 3º, pois assim dificultaríamos sua aprovação
e teríamos uma situação pior que a anterior à EC 45.
2) O rito especial pode ser requerido pelo Presidente da República, em sua mensagem de encaminhamento do
texto do tratado ao Congresso, ou pelo próprio Congresso. A vontade presidencial de adoção do rito simples
não vincula o Congresso, já que a adoção do rito especial é tema que envolve matéria eminentemente
congressual, cabendo ao Congresso decidir sobre o quórum de aprovação e os dois turnos de votação.
De outro lado, o Congresso pode também rejeitar o pedido inserido na mensagem presidencial e aprovar
o tratado de acordo com o rito simples.
b) Deve existir votação em dois turnos, em cada Casa, com interstício de 5 sessões ordinárias (mesmo rito
da PEC - artigo 202, parágrafo 6º, do RICD).
#ATENÇÃO: O Decreto de Promulgação, entretanto, continua a ser exigido no rito especial. O uso analógico do
rito da emenda constitucional não pode servir para transformar a aprovação do futuro tratado em uma PEC.
#OBS: A existência do Decreto de Promulgação pode ser questionada em relação a todos os tratados (e não
somente em relação aos tratados de direitos humanos), com base na ausência de dispositivo constitucional
que faça menção ao decreto presidencial de incorporação dos tratados (posição minoritária).
A denúncia é ato unilateral pelo qual o Estado se desvincula de um tratado e o retira tanto do conjunto
de seus compromissos internacionais como da sua ordem jurídica.
Mas veja: a partir do momento em que é aberta a possibilidade de que as normas internacionais de
direitos humanos adquiram hierarquia constitucional, tais preceitos passam a constar do rol de direitos
fundamentais consagrados pelo ordenamento constitucional e PASSAM A SER CLÁUSULAS PÉTREAS.
Por outro lado, a vedação da denúncia pode promover o engessamento da ordem jurídica. Por conta
disso, Portela afirma que DEVE SER MANTIDA A POSSIBILIDADE DE O ESTADO BRASILEIRO DENUNCIAR UM
TRATADO DE DIREITOS HUMANOS em apenas uma hipótese: PARA QUE SEJA SUBSTITUÍDO POR OUTRO
TRATADO MAIS AMPLO E MAIS PROTETIVO, de modo a atualizar o universo jurídico de proteção.
Existe uma tendência a que passe a ser exigida a autorização congressual para a denúncia de um
tratado, mas isso ainda está em construção (na Argentina e no Paraguai, isso já é exigido).
A referida autora, porém, distingue os tratados de direitos humanos materialmente constitucionais daqueles
material e formalmente constitucionais, sendo os primeiros suscetíveis de denúncia, por conta das
“peculiaridades do regime de direito internacional público”, e os segundos insuscetíveis de serem
denunciados, restando protegidos pelas normas constitucionais que vedam emendas à Constituição.
(PIOVESAN. 2013)
Portanto, não poderiam os tratados de direitos humanos que foram submetidos ao processo de aprovação
congressual constante do § 3º do artigo 5º da Carta Magna ser denunciados, já que as regras que os
consagram passaram a fazer parte do texto constitucional, contanto ainda com a legitimidade auferida a
partir da submissão a um processo de aprovação mais complexo. (PIOVESAN. 2013)
Valério Mazzuoli também não admite a denúncia de tratados de direitos humanos que passaram a adquirir
status constitucional formal com fulcro no parágrafo 3º do artigo 5º, por conta do fato de estes terem
passado a fazer parte do texto constitucional como emendas constitucionais, passando, portanto, a
serem insuscetíveis de reforma.
*#APROFUNDAMENTO #IMPORTANTE
Inicialmente, lembremos que o STF adota a tese do duplo estatuto dos tratados de Direitos Humanos, ou seja,
estes podem ser supralegais, se aprovados conforme o rito comum, ou ainda, constitucionais, caso aprovados
na forma do art. 5º, §3º, da CF.
A Teoria do Trapézio, defendida por Flávia Piovesan, André de Carvalho Ramos e Cançado Trindade, opõe a
teoria do duplo estatuto e preceitua que todos os tratados internacionais de direitos humanos possuiriam o
status de norma constitucional. Alguns materialmente constitucionais e outros formalmente e materialmente
constitucionais.
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A possibilidade – ou não – de denúncia dos tratados de direitos humanos é alvo de intensa divergência
doutrinária, envolvendo diversos temas relevantes. Vejamos os principais argumentos de cada corrente:
1ª Corrente Encontra fundamento no art. 84, inciso VII, da CF, pois, compete
Em vigor atualmente privativamente ao presidente manter relações com Estados estrangeiros e
acreditar seus representantes diplomáticos. Nesse sentido, como a denúncia é
um ato de relações internacionais, trataria então da competência privativa do
presidente.
*Atualmente tramita no STF a ADI que nº 1625 que trata sobre o tema, onde se julga o Decreto
2.100/1996. Nele, o presidente da República deu publicidade a denúncia à Convenção 158 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT). O último voto foi do Min. Teori Zavascki que posicionou-se a favor da segunda
corrente que preza pelo paralelismo das formas. Até o presente momento, todos os votos convergem no
sentido de que a referida denúncia foi inválida.
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*Assim, é muito provável que o STF venha a mudar o entendimento atual, aplicando a segunda
corrente, ou, entendimento semelhante a esta. Aguardemos o seu pronunciamento final!
*A Corte IDH, da mesma forma que outros órgãos e tribunais internacionais de proteção dos direitos
humanos, não possui meios coercitivos diretos de modo a fazer com que o Estado cumpra as suas decisões,
podendo, no máximo, gerar um constrangimento político para o Estado, mediante a inclusão do seu nome em
parte especial do seu relatório anual à Assembleia-Geral da OEA. Neste sentido, vejamos o art. 65 da CADH:
“A Corte submeterá à consideração da Assembleia Geral da Organização, em cada período ordinário de sessões,
um relatório sobre suas atividades no ano anterior. De maneira especial, e com as recomendações pertinentes,
indicará os casos em que um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças”.
“1. Os Estados Partes na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem
partes.
2. A parte da sentença que determinar indenização compensatória poderá ser executada no país respectivo pelo
processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado”.
Percebe-se que, inicialmente, a Convenção parte do pressuposto de que os Estados que à ela aderiram
(e que se submeteram à jurisdição contenciosa da Corte IDH), devem cumprir, de forma espontânea e sem
maiores embaraços, as decisões contra eles proferidas em caso de violações aos direitos humanos de seus
indivíduos.
Como se sabe, os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos se norteiam pelo princípio
da cooperação. Sobre esse princípio, vejamos a lição de Albuquerque e Barroso: “Com efeito, cabe ao Estado
envidar o máximo de esforços no sentido de cumprir seus compromissos internacionais e, pois, à luz da
Convenção de Viena sobre os Direitos dos Tratados, todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser
cumprido por elas de boa-fé, o que implica conferir efeito razoável e útil à norma internacional ao qual se
vinculou voluntariamente. Desse modo, tendo em conta a adesão de um Estado a determinado Sistema
Internacional de DH, o mesmo detém a obrigação internacional de respeito aos direitos humanos reconhecidos
no tratado, convenção ou em qualquer ato normativo ao qual se vinculou. Nessa linha, o princípio da
cooperação e do diálogo aponta para a atuação do Estado e dos órgãos de direitos humanos, ou seja, ambos
devem atuar de modo harmônico e amigável em prol da efetivação dos direitos humanos, conseguintemente,
posturas beligerantes e contenciosas não são bem recepcionadas na esfera dos Sistemas Internacionais de DH”.
De fato, não se mostra coerente e não se coaduna com o princípio da boa-fé – que rege as relações
entre os Estados-membros e órgãos/tribunais internacionais de direitos humanos – que o Estado,
voluntariamente, manifeste adesão a determinado tratado/convenção, se submeta à jurisdição contenciosa de
determinada Corte – como fez o Brasil em relação à Corte IDH -, mas se furte de cumprir as determinações por
ela impostas.
Por outro lado, a despeito da ausência de previsão, há diversas formas possíveis de concretização de
tais medidas, apesar de que, em um certo ponto, deve-se admitir que algumas delas em algum grau dependerão
de vontade e articulação política interna, como, por exemplo, a edição ou revogação de uma lei, medidas mais
complexas de serem executadas.
Isto em razão da autonomia de que gozam os poderes estatais no ordenamento jurídico brasileiro e,
ainda, do princípio da separação dos poderes. Com efeito, não existe a possibilidade (isto é, um mecanismo de
coerção que possua efetividade) de obrigar o Ministério Público – que possui autonomia funcional em sua
atuação – a oferecer uma denúncia contra determinados agentes. Da mesma forma, não há como efetivamente
obrigar o Poder Legislativo a edição de determinada lei que possua determinado conteúdo.
No que diz respeito às medidas de reparação de natureza pecuniária (indenização no geral), até o
momento, o Brasil tem cumprido espontaneamente as decisões internacionais, razão pela qual a discussão
doutrinária não é tão intensa/aprofundada quanto a este ponto. Em um primeiro momento, o Brasil optou pela
aprovação de lei pelo Congresso Nacional para autorizar o pagamento da indenização à vítima. Neste sentido,
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confiram o teor da Lei nº 10.706/2003, que “Autoriza a União a conceder indenização a José Pereira Ferreira”,
decorrente do acordo de solução amistosa celebrado entre o Brasil e a vítima na CIDH.
Em um segundo momento, ao perceber que a tramitação de uma lei poderia ser bastante lenta e, com
isso, dificultar o cumprimento da decisão internacional, o Brasil passou, a partir de 2004, a prever uma
destinação específica em sua Lei Orçamentária Anual para o pagamento de indenização às vítimas de violação
das obrigações contraídas pela União por meio da adesão a tratados internacionais dos direitos humanos.
Por esta razão, o ideal seria o Brasil alcançar a experiência já colocada em prática por outros países e
adotar uma lei que discipline detalhadamente o procedimento de cumprimento das sentenças internacionais. Já
tramitaram alguns projetos de lei neste sentido no Congresso Nacional. O mais recente é o PL 220/2016, de
autoria do Senador Randolfe Rodrigues, que, em 2017, recebeu um substitutivo do Senador Antônio Anastasia,
que lhe altera apenas para não limitá-lo ao sistema interamericano.
QUESTÃO DE PROVA: A Defensoria Pública do Estado não possui legitimidade para, sozinha, executar
internamente, perante o Poder Judiciário nacional, uma sentença proferida contra o Estado brasileiro pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos. CERTO OU ERRADO?
CERTO. A legitimidade para demandar contra o próprio país em sistemas internacionais de proteção dos direitos
humanos é concorrente entre as Defensorias Públicas, não havendo que se falar em legitimidade exclusiva da
DPU. Contudo, considerando que os Estados-membros não têm personalidade jurídica de direito internacional,
a qual é reservada, no nosso país, à República Federativa do Brasil, representada pela União, entende-se que a
legitimidade para promover a execução de sentenças proferidas contra o Brasil, sendo necessitadas as pessoas
interessadas, deve ser atribuída à DPU, que judicializará a questão perante a Justiça Federal. Nada impede,
porém, que se forme um litisconsórcio ativo entre a Defensoria Pública do Estado que eventualmente tenha
demandado contra o país no sistema internacional e a Defensoria Pública da União.
#APROFUNDAMENTO: Para a Corte IDH não é possível atribuir uma responsabilidade objetiva ao Estado pela
falha da atuação da Defensoria Pública, diante de sua autonomia funcional, sendo necessário avaliar se a
intervenção institucional constituiu uma negligência inescusável ou uma falha manifesta no exercício da
defesa. Só se torna possível avaliar a responsabilidade do Estado por ato praticado pela Defensoria Pública
quando for verificada que em sua atuação a instituição e seus membros: (i) não desenvolvem atividade
probatória mínima; (ii) deixam de apresentar argumentos em favor dos interesses do acusado; (iii) apresentam
falta de conhecimento técnico e jurídico do processo penal; (iv) deixam de interpor recursos para a tutela de
direitos do acusado; (v) apresentam fundamentação inadequada aos recursos interpostos; (vi) abandonam a
defesa.
O tema da responsabilidade do Estado por falhas decorrentes da atuação da Defensoria Pública foi analisado
pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em duas oportunidades. No ano de 2008, a Corte IDH já havia
traçado as primeiras linhas no Caso Chaparro Álvarez e Lapo Íñiguez vs. Equador, sancionando aquele país pela
atuação deficiente da Defensoria Pública no ato de interrogatório do Sr. Lapo Íñiguez. Posteriormente, o tema
foi profundamente debatido no Caso Ruano Torres e outros vs. El Salvador, com sentença publicada em 05 de
outubro de 2015.
Em rápida síntese, José Agapito Ruano Torres teria sido detido no interior de sua residência e na frente de seus
familiares, sofrendo maus-tratos físicos e verbais, pela suposta acusação de estar envolvido em um sequestro e
por ser apontado como a pessoa de apelido "El Chopo”.
O processo de correlação entre o apelido "El Chopo" e a pessoa de Ruano Torres foi o mais rudimentar possível,
por meio de colaboração fornecida por indivíduo que respondia por crimes da mesma natureza, apontando
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características que não correspondiam à exatidão com o perfil de Ruano Torres. Efetuada a prisão de Ruano,
com evidente excesso e maus-tratos na condução da diligência, deu-se início à persecução penal com a
ocorrência de várias nulidades verificadas no procedimento perante a Corte.
Um dos temas centrais da denúncia era exatamente o fato de que os vícios não teriam sido alegados pela defesa
técnica, acarretando a condenação do acusado. Houve também questionamentos a respeito da atuação dos
defensores públicos no caso, os quais deixaram de realizar pronta intervenção no início do processamento da
causa criminal; de formular perguntas e de exigir esclarecimentos sobre a forma de identificação do acusado; e
de interpor recurso contra a decisão de primeiro grau.
Diante de todos os elementos do caso, a Corte IDH reconheceu a violação aos direitos previstos na Convenção,
especialmente a garantia da não tortura, a inobservância da presunção de inocência, o direito ao recurso, a
garantia da liberdade pessoal e o direito à defesa, este último com relação direta à atuação dos defensores.
Ao final do procedimento, foram aplicadas diversas sanções em virtude das violações de direitos humanos,
destacando-se, reparação simbólica por meio da determinação da colocação de uma placa no âmbito da
Defensoria Pública com o nome de Ruano Torres.
A EC 45/2004 incluiu no art. 5º da CF o §4º, que determina que “O Brasil se submete à jurisdição de
Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”.
#ATENÇÃO: o Brasil só se submete aos tribunais internacionais aos quais venha a aderir.
Surge o seguinte problema: o Estatuto de Roma do TPI estabelece atos qualificados como crime, o
que parece se chocar com o princípio constitucional da reserva legal em matéria penal, segundo o qual apenas
lei em sentido estrito, elaborada pelo Parlamento, poderá definir tipos penais. A questão é polêmica e foi
aprofundada em Direito Internacional2.
Em princípio, não é necessário que o pleito de um indivíduo ou ONG junto a um órgão internacional
conte com o patrocínio de um advogado.
Entretanto, nada impede que isso ocorra, dando à vítima de violação de um direito consagrado em
norma internacional maiores possibilidades de êxito em causas apresentadas junto aos órgãos internacionais.
2
Vide caderno de Direito Internacional.
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Nesse sentido, para facilitar o acesso à justiça no plano internacional, a LC 132/2009 alterou a LC
80/04, passando a prever que compete à Defensoria Pública “representar aos sistemas internacionais de
proteção aos direitos humanos, postulando perante seus órgãos”.
Segundo André de Carvalho Ramos, a doutrina brasileira não tratou, com a mesma intensidade, da
incorporação e do estatuto normativo das fontes não convencionais de normas internacionais de direitos
humanos. Conforme já foi visto em Direito Internacional, os Tribunais há muito reconhecem a existência de
costume internacional de proteção de direitos humanos, sendo que a própria Declaração Universal de Direitos
Humanos é um exemplo de diploma normativo que espelha o costume.
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A explicação de ausência de maiores estudos sobre essa temática é a omissão da Constituição
Brasileira, que apenas se preocupou com a incorporação dos tratados internacionais. No entanto, essa omissão
não impediu que o STF aplicasse diretamente e o costume internacional nos processos internos, como se fosse
law of the land.
A grande peculiaridade desse fenômeno da impregnação é que tais normas são aplicadas diretamente
no ordenamento jurídico brasileiro, sem qualquer mediação do Congresso Nacional (ausência de decreto
legislativo) e sem qualquer promulgação por Decreto Executivo do Presidente da República.
Um dos casos paradigmáticos é o litígio entre Síria e Egito, referente à propriedade de imóvel no Rio
de Janeiro, que, antes da transferência da Capital para Brasília, sediava a antiga embaixada comum. Para o STF,
o costume internacional da imunidade absoluta de jurisdição deveria ser aplicado, mesmo contrariando o
preceito da LINDB (art. 12, parágrafo único) e ainda o disposto no art. 89, inciso I, do CPC (correspondente ao
art. 23, I, NCPC). Nesse sentido, foi o julgamento:
Em outro precedente emblemático, o STF decidiu pela supremacia do novo costume internacional da
imunidade de jurisdição relativa e permitiu o trâmite de reclamação trabalhista contra a então existente
República Democrática Alemã.
Há, ainda, exemplos de normas extraconvenconais para assegurar a proteção internacional de direitos
humanos. Nesse sentido, citam-se os seguintes julgados: ADI 3741; HC 81.158-2; HC 82.242/RS; RE 86297, etc.
#CONCLUSÃO: Diante disso, pode-se concluir que o STF dá a impressão de considerar o costume internacional
uma realidade que se impõe ao Estado Brasileiro, não levando em consideração a necessidade de prova da
aquiescência do Brasil.
6 BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE
No texto constitucional, o art. 5º, § 2º, permite, ao dispor sobre os “direitos decorrentes” do regime,
princípios e tratados de direitos humanos, o reconhecimento de um bloco de constitucionalidade amplo,
que alberga os direitos previstos nos tratados internacionais de direitos humanos. Contudo, até a edição da EC
n. 45/2004, o estatuto desses tratados, na visão do STF, era equivalente à mera lei ordinária, como visto acima.
Assim, no máximo, a doutrina e jurisprudência majoritárias reconheciam o valor constitucional apenas às
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normas expressas ou implícitas previstas na Constituição, devendo até mesmo ser levados em consideração
os valores mencionados no preâmbulo.
Com a introdução do art. 5º, § 3º, o STF modificou sua posição, mas ainda situou os tratados
aprovados sem o rito especial do citado parágrafo no patamar da supralegalidade. Restam, então, os tratados
aprovados pelo rito especial do art. 5º, § 3º, como parte integrante de um bloco de constitucionalidade
restrito.
Apesar de sedutora a corrente acima, segundo a doutrina majoritária, resta a aceitação de um bloco
de constitucionalidade restrito, que só abarca os tratados aprovados pelo rito especial do art. 5º, § 3º,
introduzido pela Emenda Constitucional 45/2004.
Logo, todos os demais artigos da Constituição que tratam do princípio da supremacia da norma
constitucional, como, por exemplo, os referentes ao controle difuso e concentrado de constitucionalidade (arts.
102 e 103) devem agora ser lidos como sendo componentes do mecanismo de preservação da supremacia do
bloco de constitucionalidade como um todo e não somente da Constituição.
Os primeiros tratados que foram aprovados de acordo com esse rito foram a Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova
Iorque, em 30 de março de 2007. Além de robusto rol de direitos previsto na Convenção, houve a submissão
brasileira ao sistema de petição das vítimas de violação de direitos previstos ao Comitê sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência, de acordo com o Protocolo Facultativo.
7 CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE
#CUIDADO: André de Carvalho Ramos lembra que nem sempre os resultados do controle de
convencionalidade internacional coincidirão com os do controle nacional. Por exemplo, um Tribunal interno
pode afirmar que determinada norma legal brasileira é compatível com um tratado de direitos humanos; em
seguida, um órgão internacional de direitos humanos, ao analisar a mesma situação, pode chegar à conclusão
de que a referida lei viola o tratado.
Em virtude de tais diferenças, na recente sentença contra o Brasil no Caso Gomes Lund (caso da
“Guerrilha do Araguaia”), na Corte Interamericana de Direitos Humanos, o juiz ad hoc indicado pelo próprio
Brasil, Roberto Caldas, em seu voto concordante em separado, assinalou que “ se aos tribunais supremos
ou aos constitucionais nacionais incumbe o controle de constitucionalidade e a última palavra judicial no âmbito
interno dos Estados, à Corte Interamericana de Direitos Humanos cabe o controle de convencionalidade e a
última palavra quando o tema encerre debate sobre direitos humanos. É o que decorre do reconhecimento
formal da competência jurisdicional da Corte por um Estado, como o fez o Brasil”. Em última análise, pode-se
concluir que o verdadeiro controle de convencionalidade é internacional, por isso, também denominado
controle de convencionalidade autêntico ou definitivo.
*#OUSESABER: Você sabe o que significa “chilling effect” ou “efeito congelante”, "efeito inibidor" ou "efeito
amedrontador"? É a inibição ou desencorajamento do exercício legítimo de direitos legais pela ameaça de
punição pelo próprio ordenamento jurídico. Com efeito, “chilling effect” dos direitos humanos é um fenômeno
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que ocorre quando interessados e vítimas de violações de direitos humanos PRIVAM-SE de buscar os meios de
tutela contra essas violações por RECEIO de sofrer punições ou reprimendas do próprio sistema jurídico de onde
deveriam receber proteção. O “chilling effect” ganha muita repercussão nos dias atuais no Brasil, posto que
muito vem se falando sobre a inconvencionalidade do “crime de desacato à autoridade” por contrariar a
proteção à liberdade de expressão e manifestação do pensamento constante no Pacto de San José da Costa Rica.
Neste caso, nota-se o efeito congelante, pois o desacato acaba por ser um desestímulo à irresignação contra
possíveis abusos de autoridade promovidos por autoridades públicas, o que vai de encontro à própria lógica dos
direitos humanos, que é a de proteção dos indivíduos em relação ao Estado. Nota-se assim o atraso (efeito
inibidor) que gera tal tipificação no ordenamento jurídico brasileiro!
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O crime de desacato previsto no art. 331 do CP não mais subsiste em nosso
ordenamento jurídico por ser incompatível com o artigo 13 do Pacto de San José da Costa Rica. A criminalização
do desacato está na contramão do humanismo, porque ressalta a preponderância do Estado - personificado em
seus agentes - sobre o indivíduo. A existência deste crime em nosso ordenamento jurídico é anacrônica, pois
traduz desigualdade entre funcionários e particulares, o que é inaceitável no Estado Democrático de Direito
preconizado pela CF/88 e pela Convenção Americana de Direitos Humanos. STJ. 5ª Turma. REsp 1.640.084-SP,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 15/12/2016 (Info 596).
*#MUDANÇADEENTENDIMENTO #AJUDAMARCINHO3:
A jurisprudência do STJ acolhe esta tese? O desacato deixou de ser crime no ordenamento jurídico brasileiro
por força do Pacto de San Jose da Costa Rica?
NÃO.
Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela continua a ser crime, conforme
previsto no art. 331 do Código Penal.
STJ. 3ª Seção. HC 379.269/MS, Rel. para acórdão Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 24/05/2017.
A figura penal do desacato não prejudica a liberdade de expressão, pois não impede o cidadão de se manifestar,
“desde que o faça com civilidade e educação”.
A responsabilização penal por desacato existe para inibir excessos e constitui uma salvaguarda para os agentes
públicos, expostos a todo tipo de ofensa no exercício de suas funções.
3
http://www.dizerodireito.com.br/2017/05/desacatar-funcionario-publico-no.html.
25
A exclusão do desacato como tipo penal não traria benefício concreto para o julgamento dos casos de ofensas
dirigidas a agentes públicos. Isso porque com o fim do crime de desacato, as ofensas a agentes públicos
passariam a ser tratadas pelos tribunais como injúria (art. 140 do CP), crime para o qual a lei já prevê um
acréscimo de 1/3 da pena quando a vítima é servidor público (art. 141, II).
Apesar da posição da Comissão Interamericana de Direitos Humanos ser contrária à criminalização do desacato,
a Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgão que efetivamente julga os casos envolvendo indivíduos e
estados, já deixou claro em mais de um julgamento que o Direito Penal pode punir as condutas que
representem excessos no exercício da liberdade de expressão.
Assim, o Poder Judiciário brasileiro deve continuar a repudiar reações arbitrárias eventualmente adotadas por
agentes públicos, punindo pelo crime de abuso de autoridade quem, no exercício de sua função, reagir de modo
autoritário a críticas e opiniões que não constituam excesso intolerável do direito de livre manifestação do
pensamento.
Alguns de vocês podem estar pensando: mas eu li em algum lugar que o STJ havia considerado que o desacato
não é mais crime...
O crime de desacato não mais subsiste em nosso ordenamento jurídico por ser incompatível com o artigo 13 do
Pacto de San José da Costa Rica.
A existência deste crime em nosso ordenamento jurídico é anacrônica, pois traduz desigualdade entre
funcionários e particulares, o que é inaceitável no Estado Democrático de Direito preconizado pela CF/88 e pela
Convenção Americana de Direitos Humanos. STJ. 5ª Turma. REsp 1640084/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado
em 15/12/2016.
Este precedente (a favor da descriminalização) foi da 5ª Turma e o novo acórdão (mantendo o crime) foi
prolatado pela 3ª Seção.
No STJ, existem duas Turmas que julgam normalmente os processos que envolvem matéria criminal: 5ª e 6ª
Turmas. Cada Turma possui 5 Ministros. Determinados processos (ex: embargos de divergência) são julgados
pela 3ª Seção, que é a reunião dos Ministros da 5ª e 6ª Turmas. É também possível que o Ministro Relator
proponha que determinado processo que seria julgado pela Turma seja, em vez disso, apreciado pela Seção. Isso
ocorre normalmente quando o tema é polêmico e se deseja uniformizar o assunto.
26
Foi isso o que aconteceu no caso concreto. Havia uma decisão da 5ª Turma dizendo que desacato não seria
crime. O tema, contudo, ainda não estava pacificado no âmbito do STJ. Diante disso, o Ministro Relator do HC
379.269/MS, que também tratava sobre esse mesmo assunto, decidiu levar o processo para ser apreciado pela
3ª Seção que decidiu em sentido contrário ao precedente da 5ª Turma.
A decisão da 3ª Seção, ou seja, o entendimento de que desacato continua sendo crime (HC 379.269/MS).
Diante da possibilidade dos dois controles acima não serem coincidentes, André de Carvalho Ramos
defende que os controles nacionais e o controle de convencionalidade internacional interajam, permitindo o
diálogo entre o Direito Interno e o Direito Internacional, em especial quanto às interpretações fornecidas pelos
órgãos internacionais cuja jurisdição o Brasil reconheceu.
Esse “Diálogo das Cortes” deve ser realizado internamente, para impedir violações de direitos
humanos oriundas de interpretações nacionais equivocadas dos tratados. Para evitar que o “Diálogo das
Cortes” seja mera peça de retórica judicial, há que se levar em consideração os seguintes parâmetros na
análise de uma decisão judicial nacional, para que se determine a existência de um “Diálogo” efetivo:
2) A menção à existência de caso internacional contra o Brasil sobre o objeto da lide e as consequências
disso reconhecidas pelo Tribunal;
Adverte André de Carvalho Ramos que não é possível obrigar os juízes nacionais ao “Diálogo das
Cortes”, pois isso desnaturaria a independência funcional e o Estado Democrático de Direito. Assim, no caso
de o diálogo inexistir ou ser insuficiente, deve ser aplicada a teoria do duplo controle ou crivo de
direitos humanos, que reconhece a atuação em separado do controle de constitucionalidade (STF e juízos
nacionais) e do controle de convencionalidade internacional (órgãos de direitos humanos do plano
internacional). Os direitos humanos, então, no Brasil possuem uma dupla garantia: o controle de
constitucionalidade nacional e o controle de convencionalidade internacional. Qualquer ato ou norma deve ser
aprovado pelos dois controles, para que sejam respeitados os direitos no Brasil.
Percebe-se que há incompatibilidade nas duas decisões. Como cumprir a decisão da Corte IDH?
Inicialmente, parte-se da seguinte premissa de que não há conflito insolúvel entre as decisões do STF e da Corte
IDH, uma vez que ambos os tribunais têm a grave incumbência de proteger os direitos humanos. Deve-se
adotar, assim, a teoria do duplo controle ou crivo de direitos humanos, que reconhece a atuação em separado
do controle de constitucionalidade (STF e juízos nacionais) e do controle de convencionalidade internacional
(Corte de San José e outros órgãos de direitos humanos do plano internacional).
Com base nessa separação, é possível dirimir o conflito aparente entre uma decisão do STF e da Corte
de San José. Assim, ao mesmo tempo em que se respeita o crivo de constitucionalidade do STF, deve ser
29
incorporado o crivo de convencionalidade da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Todo ato interno
(não importa a natureza ou origem) deve obediência aos dois crivos.
Caso não supere um deles (por violar direitos humanos), deve o Estado envidar todos os esforços para
cessar a conduta ilícita e reparar os danos causados. No caso da ADPF 153, houve o controle de
constitucionalidade. No caso Gomes Lund, houve o controle de convencionalidade. A anistia aos agentes da
ditadura, para subsistir, deveria ter sobrevivido intacta aos dois controles, mas só passou (com votos contrários,
diga-se) por um, o controle de constitucionalidade. Foi destroçada no controle de convencionalidade. Cabe,
agora, aos órgãos internos (Ministério Público, Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário) cum prirem a
sentença internacional
*#OUSESABER: A partir do julgamento do Caso Gomes Lund (Guerrilha do Araguaia), a Corte IDH ratificou
posicionamento jurisprudencial firmado no caso Barrios Alto vs. Peru, segundo o qual são inválidas
(inconvencionais) as leis de anistia que impliquem a impunidade de agentes responsáveis por graves violações
de Direitos Humanos. A Corte chegou à mesma conclusão no que tange a Lei de Anistia brasileira, do final da
década de 1980. Tal julgamento por parte da Corte IDH foi proferido apenas meses após o julgamento da ADPF
153 pelo Supremo Tribunal Federal, o qual resultou na declaração da CONSTITUCIONALIDADE da referida lei.
Não obstante a decisão da Corte IDH ter sido em sentido diametralmente oposto ao do STF, predomina o
entendimento de que as decisões da Corte não funcionam como uma esteira recursal das decisões das Cortes
Constitucionais nacionais, logo, não estaria a decisão do STF “revogada”, tendo, portanto, a decisão da Corte,
em tal aspecto, um caráter muito mais moral, orientador e, principalmente, reparador para as vítimas da
ditadura militar.
A Emenda Constitucional n. 45/2004 introduziu um novo § 5º no art. 109, estabelecendo que, nas
hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito
ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. Simultaneamente, foi
introduzido o novo inciso V-A no art. 109, que determina que compete aos juízes federais julgar “as causas
relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo”.
2) Competência privativa do Superior Tribunal de Justiça, para conhecer e decidir, com recurso ao STF (recurso
extraordinário).
3) Abrangência cível ou criminal dos feitos deslocados, bem como de qualquer espécie de direitos humanos
(abarcando todas as gerações de direitos) desde que se refiram a casos de “graves violações” de tais direitos.
4) permite o deslocamento na fase pré-processual (ex., inquérito policial ou inquérito civil público) ou já na fase
processual.
6) fixa a competência da Justiça Federal e do Ministério Público Federal para atuar no feito deslocado.
#CAIUEMPROVA A FCC considerou correta a seguinte alternativa ao tratar na prova da DPE-BA, em 2016, sobre
essa temática: “Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer
fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.”
A motivação para a criação do IDC foi o Direito Internacional, que não admite que o Estado
justifique o descumprimento de determinada obrigação em nome do respeito a “competências internas
de entes federados”. O Estado Federal é uno para o Direito Internacional e passível de responsabilização,
mesmo quando o fato internacionalmente ilícito seja da atribuição interna de um Estado-membro da Federação.
Esse entendimento é parte integrante do Direito dos Tratados e do Direito Internacional costumeiro. Com isso, o
IDC decorre da internacionalização dos direitos humanos e, em especial, do dever internacional assumido pelo
Estado brasileiro de estabelecer recursos internos eficazes e de duração razoável.
Além do mais, é de competência da União Federal (e não aos entes federados) apresentar a defesa
do Estado brasileiro e tomar as providências para a implementação da deliberação internacional, inclusive
quanto às garantias de não repetição da conduta.
intervenção federal por violação dos direitos da pessoa humana (art. 34, inciso VII, b, da CF/88) e da
autorização prevista na Lei n.10.446/2002 para atuação da Polícia Federal em investigações de
crime de competência estadual, possibilita à União cumprir obrigações internacionais de defesa de
direitos humanos.
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#CONCLUSÃO: O IDC é considerado um instrumento jurídico decorrente do dever internacional do Estado
Brasileiro de estabelecer recursos internos eficazes e de duração razoável para a proteção dos direitos
humanos.
Logo, os três instrumentos para a União cumprir a defesa dos direitos humanos são:
#PERGUNTA: O que se debate no IDC? (i) O direito violado no caso concreto; (ii) A violação da obrigação
internacional assumida pelo Estado brasileiro de prestar adequadamente justiça em prazo razoável.
Assim, além da grave violação a direitos humanos, deve estar evidenciada uma conduta das autoridades
estaduais reveladora de falha proposital ou por negligência, imperícia, imprudência na condução de seus atos,
que vulnerem o direito a ser protegido, ou ainda que revele demora injustificada na investigação ou prestação
jurisdicional, gerando o risco de responsabilização internacional do Brasil, por descumprimento de nossas
obrigações internacionais de direitos humanos.
#CONCLUSÃO: Não basta que ocorra uma “grave violação de direitos humanos”, é necessário que a conduta da
autoridade estadual revele comportamento reprovável que amesquinha as obrigações internacionais de direitos
humanos assumidas pelo Brasil.
Deslocado o feito, a Justiça Federal será definida de acordo com as demais peculiaridades do caso,
observando-se todas as demais regras constitucionais e legais de competência (salvo a que foi superada pela
concessão do deslocamento). Assim, em caso de crime doloso contra a vida, a competência do Tribunal do
Júri Estadual será deslocada para o Tribunal do Júri Federal. Se for caso de foro por prerrogativa de função,
será observado tal foro agora na esfera federal: por exemplo, no caso de federalização de causa originária
perante o Tribunal de Justiça, o competente será o Tribunal Regional Federal da região que abranger o Estado
respectivo.
IDC n. 1 Foi julgado improcedente, mas o STJ reconheceu o pedido e, assim, confirmou a
(Caso Dorothy constitucionalidade do IDC.
Stang). Decidiu-se que o deslocamento de competência exige “demonstração concreta de risco
de descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados
32
pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições
reais do Estado-membro, por suas instituições, em proceder à devida persecução
penal”.
IDC n. 2 Em 2010, o STJ concedeu, por maioria, a primeira federalização de grave violação de
(Caso Manoel direitos humanos.
Mattos) IDC relativo ao homicídio do defensor de direitos humanos Manoel Mattos,
assassinado em janeiro de 2009, após ter incessantemente noticiado a atuação de
grupos de extermínio na fronteira de Pernambuco e Paraíba.
Com a introdução do §5º do art. 109 da CF, houve a propositura de duas Ações Diretas de
Inconstitucionalidade perante o STF, a ADI 3.493 e a ADI 3.486 (ambas relatadas outrora pelo Min. Menezes
Direito e agora pelo Min. Dias Toffoli), promovidas por entidades de classe de magistrados, ainda em curso na
data da revisão final desta obra.
Na visão de seus críticos, a federalização das graves violações de direitos humanos gera
amesquinhamento do pacto federativo, em detrimento ao Poder Judiciário Estadual e ainda violação do
princípio do juiz natural e do devido processo legal.
Além disso, André de Carvalho Ramos a inexistência de ofensas ao devido processo legal e juiz natural
pelo “deslocamento”, uma vez que o próprio texto constitucional original convive com tal instituto. De fato, há a
previsão de “deslocamento de competência” na ocorrência de vício de parcialidade da magistratura: é o caso
do art. 102, I, n, da CF/88, que permite deslocar ao STF processo no qual juízes de determinado tribunal local
sejam alegadamente suspeitos. No mesmo diapasão, no caso de descumprimento de obrigações internacionais
de direitos humanos pelos juízos estaduais, pode o STJ julgar procedente o IDC para deslocar o feito para a
Justiça Federal. Para Ubiratan Cazetta, em excepcional dissertação sobre o IDC, o referido instituto apenas
33
“distribui, por critérios assumidos pelo Texto Constitucional, interpretados pelo STJ, a competência entre as
justiças comum estadual e federal.
Também não merece acolhida a crítica de indefinição da expressão “grave violação de direitos
humanos”. O uso do conceito indeterminado “grave violação de direitos humanos” está sujeito ao crivo do STJ
e, posteriormente, ao do STF na via do recurso extraordinário
Além do crivo judicial, há caso semelhante introduzido pelo Poder Constituinte originário que é a
autorização de intervenção federal por violação dos “direitos da pessoa humana” (art. 34, VII, b, da CF): não se
listou quais seriam esses “direitos da pessoa humana” e nem por isso se alegou que houve ameaça ao
federalismo.
Com isso, neste momento de valorização do Direito Internacional dos Direitos Humanos pelo
STF, devemos valorizar a inovação trazida pelo Poder Constituinte Derivado, que reconheceu a fragilidade
normativa anteriormente existente, na qual atos de entes federados eram apreciados pelas instâncias
internacionais de direitos humanos sem que a União, em seu papel de representante do Estado Federal,
pudesse ter instrumentos para implementar as decisões internacionais ou mesmo para prevenir que o Brasil
fosse condenado internacionalmente.
O novo § 5º do art. 109, então, está em plena sintonia com os comandos de proteção de direitos
humanos da Constituição de 1988 e ainda com a visão dada ao instituto da responsabilidade
internacional dos Estados Federais pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.
#CONCLUSÃO: A reforma constitucional não ofendeu o federalismo: antes permite o equilíbrio, por meio de um
instrumento processual cuja deliberação está nas mãos de tribunal de superposição, o STJ, e ainda
assegura que o Estado Federal possua mecanismos para o correto cumprimento das obrigações
internacionais contraídas.
Art. 1o. Fica aprovado o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3, em consonância com as diretrizes,
objetivos estratégicos e ações programáticas estabelecidos, na forma do Anexo deste Decreto.
Art. 2o. O PNDH-3 será implementado de acordo com os seguintes eixos orientadores e suas respectivas
diretrizes:
PNDH-1:
Tipificação do delito de tortura – cumprimento do mandado de criminalização
Criação do IDC
PNDH-2:
Fixou eixos orientadores para promoção dos DHs no país
Objetivos estratégicos:
O Promoção DHs
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O Monitoramento dos Compromissos Internacionais
O Relatórios aos órgãos de tratado
O Institucionalização do fluxo de informações
O Banco de dados público sobre as recomendações
PNDH-3:
Poder executivo em papel protagonista
Responsabilidade compartilhada: entes, 3 poderes, MP, defensoria.
Comissão nacional da verdade
Lei de acesso à informação
O PNDH-3 tem como diretriz a garantia da igualdade na diversidade, com respeito às diferentes crenças,
liberdade de culto e garantia da laicidade do Estado brasileiro, prevista na Constituição Federal. A ação que
propõe a criação de mecanismos que impeçam a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos
públicos da União visa atender a essa diretriz.
O programa também prevê Planos de Ação a serem construídos a cada dois anos, sendo fixados os recursos
orçamentários, as medidas concretas e os órgãos responsáveis por sua execução.
O PNDH-3 foi precedido pelo PNDH-I, de 1996, que enfatizou os direitos civis e políticos, e pelo PNDH-II, que
incorporou os direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais, em 2002.
Em muitas partes do PNDH-3, é visível a preocupação do Governo brasileiro com a efetivação das
normas consagradas nos tratados de direitos humanos em relação a temas como: proteção das populações
tradicionais e dos povos indígenas; a adoção; o trabalho do aprendiz; os direitos das mulheres; a tortura; a
supressão de normas remanescentes de períodos de exceção que afrontem os compromissos internacionais
sobre Direitos Humanos; o combate à discriminação, ao racismo e à desigualdade, os direitos das crianças.
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10.1 EIXO ORIENTADOR I: INTERAÇÃO DEMOCRÁTICA ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL:
a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da
democracia participativa;
Objetivo estratégico I: Garantia da participação e do controle social das políticas públicas em Direitos Humanos,
em diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais. Ações programáticas:
a) Apoiar, junto ao Poder Legislativo, a instituição do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, dotado de
recursos humanos, materiais e orçamentários para o seu pleno funcionamento, e efetuar seu credenciamento
junto ao Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos como “Instituição
Nacional Brasileira”, como primeiro passo rumo à adoção plena dos “Princípios de Paris”.
b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como instrumento transversal das políticas públicas e de
interação democrática; e
Objetivo estratégico I: Promoção dos Direitos Humanos como princípios orientadores das políticas públicas e
das relações internacionais.
Objetivo estratégico II: Fortalecimento dos instrumentos de interação democrática para a promoção dos
Direitos Humanos.
Objetivo estratégico I: Desenvolvimento de mecanismos de controle social das políticas públicas de Direitos
Humanos, garantindo o monitoramento e a transparência das ações governamentais.
Objetivo estratégico II: Monitoramento dos compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro em
matéria de Direitos Humanos.
Objetivo estratégico II: Afirmação dos princípios da dignidade humana e da equidade como fundamentos do
processo de desenvolvimento nacional.
Objetivo estratégico III: Fortalecimento dos direitos econômicos por meio de políticas públicas de defesa da
concorrência e de proteção do consumidor
c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras
como sujeitos de direitos;
Objetivo estratégico I: Afirmação dos direitos ambientais como Direitos Humanos.
a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma universal, indivisível e interdependente, assegurando a
cidadania plena;
Objetivo estratégico II: Acesso à alimentação adequada por meio de políticas estruturantes.
Objetivo estratégico III: Garantia do acesso à terra e à moradia para a população de baixa renda e grupos sociais
vulnerabilizados.
Objetivo estratégico VI: Garantia do trabalho decente, adequadamente remunerado, exercido em condições de
equidade e segurança.
Objetivo estratégico VIII: Promoção do direito à cultura, lazer e esporte como elementos formadores de
cidadania.
b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes para o seu desenvolvimento integral, de forma
não discriminatória, assegurando seu direito de opinião e participação;
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Objetivo estratégico I: Proteger e garantir os direitos de crianças e adolescentes por meio da consolidação das
diretrizes nacionais do ECA, da Política Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente e da Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU.
Objetivo estratégico II: Consolidar o Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes, com o
fortalecimento do papel dos Conselhos Tutelares e de Direitos.
Objetivo estratégico III: Proteger e defender os direitos de crianças e adolescentes com maior vulnerabilidade.
Objetivo estratégico I: Igualdade e proteção dos direitos das populações negras, historicamente afetadas pela
discriminação e outras formas de intolerância.
Objetivo estratégico II: Garantia aos povos indígenas da manutenção e resgate das condições de reprodução,
assegurando seus modos de vida
Objetivo estratégico III: Garantia dos direitos das mulheres para o estabelecimento das condições necessárias
para sua plena cidadania.
Objetivo estratégico II: Proteção e promoção da diversidade das expressões culturais como Direito Humano.
Objetivo estratégico III: Valorização da pessoa idosa e promoção de sua participação na sociedade.
Objetivo estratégico IV: Promoção e proteção dos direitos das pessoas com deficiência e garantia da
acessibilidade igualitária.
Objetivo estratégico VI: Respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia da laicidade do Estado.
10.4 EIXO ORIENTADOR IV: SEGURANÇA PÚBLICA, ACESSO À JUSTIÇA E COMBATE À VIOLÊNCIA:
Objetivo estratégico III: Promoção dos Direitos Humanos dos profissionais do sistema de segurança pública,
assegurando sua formação continuada e compatível com as atividades que exercem.
b) Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema de segurança pública e justiça criminal;
Objetivo estratégico II: Consolidação de mecanismos de participação popular na elaboração das políticas
públicas de segurança.
Objetivo estratégico III: Produção de prova pericial com celeridade e procedimento padronizado.
Objetivo estratégico V: Redução da violência motivada por diferenças de gênero, raça ou etnia, idade,
orientação sexual e situação de vulnerabilidade.
d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase na erradicação da tortura e na redução da
letalidade policial e carcerária;
Objetivo estratégico III: Consolidação de política nacional visando à erradicação da tortura e de outros
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
Objetivo estratégico IV: Combate às execuções extrajudiciais realizadas por agentes do Estado.
e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de proteção das pessoas ameaçadas;
Objetivo estratégico IV: Garantia de proteção dos defensores dos Direitos Humanos e de suas atividades.
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f) Diretriz 16: Modernização da política de execução penal, priorizando a aplicação de penas e medidas
alternativas à privação de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e
g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a
defesa de direitos;
Objetivo estratégico I: Acesso da população à informação sobre seus direitos e sobre como garanti-los.
Objetivo estratégico II: Garantia do aperfeiçoamento e monitoramento das normas jurídicas para proteção dos
Direitos Humanos.
a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da política nacional de educação em Direitos Humanos
para fortalecer uma cultura de direitos;
Objetivo Estratégico II: Ampliação de mecanismos e produção de materiais pedagógicos e didáticos para
Educação em Direitos Humanos
b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e dos Direitos Humanos nos sistemas de educação
básica, nas instituições de ensino superior e nas instituições formadoras;
Objetivo Estratégico I: Inclusão da temática de Educação e Cultura em Direitos Humanos nas escolas de
educação básica e em outras instituições formadoras.
Objetivo Estratégico II: Inclusão da temática da Educação em Direitos Humanos nos cursos das Instituições de
Ensino Superior.
Objetivo Estratégico I: Inclusão da temática da educação em Direitos Humanos na educação não formal.
Objetivo estratégico II: Resgate da memória por meio da reconstrução da história dos movimentos sociais.
Objetivo Estratégico I: Formação e capacitação continuada dos servidores públicos em Direitos Humanos, em
todas as esferas de governo.
Objetivo Estratégico II: Formação adequada e qualificada dos profissionais do sistema de segurança pública.
e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à informação para consolidação de
uma cultura em Direitos Humanos; e
Objetivo Estratégico I: Promover o respeito aos Direitos Humanos nos meios de comunicação e o cumprimento
de seu papel na promoção da cultura em Direitos Humanos.
a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como Direito Humano da cidadania e dever do
Estado;
Objetivo Estratégico I: Promover a apuração e o esclarecimento público das violações de Direitos Humanos
praticadas no contexto da repressão política ocorrida no Brasil no período fixado pelo art. 8 o do ADCT da
Constituição, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.
c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com promoção do direito à memória e à verdade,
fortalecendo a democracia.
Parágrafo único. A implementação do PNDH-3, além dos responsáveis nele indicados, envolve parcerias com
outros órgãos federais relacionados com os temas tratados nos eixos orientadores e suas diretrizes.
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10.7 OUTROS DISPOSITIVOS
Art. 3o. As metas, prazos e recursos necessários para a implementação do PNDH-3 serão definidos e aprovados
em Planos de Ação de Direitos Humanos bianuais.
Art. 4o. Fica instituído o COMITÊ DE ACOMPANHAMENTO E MONITORAMENTO DO PNDH-3, com a finalidade
de:
I - Promover a articulação entre os órgãos e entidades envolvidos na implementação das suas ações
programáticas;
II - Elaborar os Planos de Ação dos Direitos Humanos;
III - estabelecer indicadores para o acompanhamento, monitoramento e avaliação dos Planos de Ação dos
Direitos Humanos;
IV - Acompanhar a implementação das ações e recomendações; e
V - Elaborar e aprovar seu regimento interno.
§ 2o. O Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República designará os representantes do
Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3.
§ 3o. O Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3 poderá constituir subcomitês temáticos para
a execução de suas atividades, que poderão contar com a participação de representantes de outros órgãos do
Governo Federal.
§ 4o. O Comitê convidará representantes dos demais Poderes, da sociedade civil e dos entes federados para
participarem de suas reuniões e atividades.
Art. 5o. Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os órgãos do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do
Ministério Público, serão convidados a aderir ao PNDH-3.
Conclui-se, portanto, que o PNDH-3 assumiu o interesse do Estado brasileiro e da sociedade civil
organizada na criação de um “Conselho Nacional dos Direitos Humanos” a fim de ser credenciado junto ao Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, como “instituição nacional brasileira”.
Nesse contexto, sobreveio a Lei 12.986/20144, que transformou o Conselho de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana em Conselho Nacional dos Direitos Humanos - CNDH. Este Conselho é um órgão administrativo
(e não jurisdicional) com o intuito de velar sobre o respeito aos direitos humanos, consagrando o federalismo
cooperativo.
Desde 1964, o Brasil já tinha o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Entretanto, a partir
de junho de 2014 passou a denominar-se Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH. O CNDH tem por
finalidade a promoção e a defesa dos direitos humanos, mediante ações preventivas, protetivas, reparadoras e
sancionadoras das condutas e situações de ameaça ou violação desses direitos. O CNDH pode agir de ofício ou
4
#DICA: Dar atenção especial à lei, principalmente por um dos componentes do CNDH ser membro da DPU. Os comentários da lei foram
retirados do seguinte artigo: http://blog.ebeji.com.br/os-reflexos-do-crescimento-do-direito-internacional-dos-direitos-humanos-didh-e-
o-aperfeicoamento-do-conselho-nacional-dos-direitos-humanos-cndh/. Acesso em 23/08/2016.
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mediante provocação, pois a lei diz que a defesa dos direitos humanos pelo CNDH independe de provocação das
pessoas ou das coletividades ofendidas (art. 1º, § 2º).
a) Direitos sob proteção do CNDH: Segundo o art. 2º, § 1º, constituem direitos humanos sob a proteção do
CNDH os direitos e garantias fundamentais, individuais, coletivos ou sociais previstos na Constituição Federal ou
nos tratados e atos internacionais celebrados pela República Federativa do Brasil.
Art. 1º O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana criado pela Lei no 4.319, de 16 de março de 1964,
passa a denominar-se Conselho Nacional dos Direitos Humanos - CNDH, com finalidade, composição,
competência, prerrogativas e estrutura organizacional definidas por esta Lei.
Art. 2o O CNDH tem por finalidade a promoção e a defesa dos direitos humanos, mediante ações preventivas,
protetivas, reparadoras e sancionadoras das condutas e situações de ameaça ou violação desses direitos.
§ 1o Constituem direitos humanos sob a proteção do CNDH os direitos e garantias fundamentais, individuais,
coletivos ou sociais previstos na Constituição Federal ou nos tratados e atos internacionais celebrados pela
República Federativa do Brasil.
§ 2o A defesa dos direitos humanos pelo CNDH independe de provocação das pessoas ou das coletividades
ofendidas.
b) Composição: Uma das grandes conquistas do CNDH é sua nova composição, muito mais plural e com
pessoas/entes/órgãos novo (as), bem diferente da composição anterior prevista na Lei n.º 4.319/1964.
Atualmente, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH é integrado pelos seguintes membros: I –
representantes de órgãos públicos: a) Secretário Especial dos Direitos Humanos; b) Procurador-Geral da
República; c) 2 (dois) Deputados Federais; d) 2 (dois) Senadores; e) 1 (um) de entidade de magistrados; f) 1 (um)
do Ministério das Relações Exteriores; g) 1 (um) do Ministério da Justiça; h) 1 (um) da Polícia Federal; i) 1 (um)
da Defensoria Pública da União; II – representantes da sociedade civil: a) 1 (um) da Ordem dos Advogados do
Brasil, indicado pelo Conselho Federal da entidade; b) 9 (nove) de organizações da sociedade civil de
abrangência nacional e com relevantes atividades relacionadas à defesa dos direitos humanos; c) 1 (um) do
Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União.
Como regra, os representantes dos órgãos públicos serão designados pelos ministros, chefes ou
presidentes das respectivas instituições. Os representantes das organizações da sociedade civil de abrangência
nacional e com relevantes atividades relacionadas à defesa dos direitos humanos, incluindo seus suplentes,
serão eleitos em encontro nacional para um mandato de 2 (dois) anos. Os representantes do Senado Federal e
da Câmara dos Deputados serão designados pelos presidentes das respectivas Casas no início de cada
legislatura, obedecida a paridade entre os partidos de situação e de oposição.
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#LEMBRAR: Com intuito de formar um órgão paritário e plural, ele será composto por órgãos públicos e pessoas
das sociedades civis.
#DPU: Importante destacar que, hoje, a Defensoria Pública da União faz parte do CNDH, pois até meados de
2014, na composição do antigo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, a Defensoria Pública não
estava elencada no rol dos membros.
*#CURIOSIDADE: O Decreto nº 9.400, DE 4 DE JUNHO DE 2018 instituiu o Fórum Nacional de Ouvidores dos
Direitos Humanos, no âmbito do Ministério dos Direitos Humanos.
10.9 REPRESENTANTES
10.9.1 Representantes de órgãos públicos:
b) Procurador-Geral da República;
d) 2 (dois) Senadores;
a) 1 (um) da Ordem dos Advogados do Brasil, indicado pelo Conselho Federal da entidade;
b) 9 (nove) de organizações da sociedade civil de abrangência nacional e com relevantes atividades relacionadas
à defesa dos direitos humanos;
c) 1 (um) do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União.
10.9.3 Competência:
O CNDH é o órgão incumbido de velar pelo efetivo respeito aos direitos humanos por parte dos
poderes públicos, dos serviços de relevância pública e dos particulares, competindo-lhe:
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I – Promover medidas necessárias à prevenção, repressão, sanção e reparação de condutas e situações
contrárias aos direitos humanos, inclusive os previstos em tratados e atos internacionais ratificados no País, e
apurar as respectivas responsabilidades;
II – Fiscalizar a política nacional de direitos humanos, podendo sugerir e recomendar diretrizes para a sua
efetivação;
III – receber representações ou denúncias de condutas ou situações contrárias aos direitos humanos e apurar as
respectivas responsabilidades;
IV – Expedir recomendações a entidades públicas e privadas envolvidas com a proteção dos direitos humanos,
fixando prazo razoável para o seu atendimento ou para justificar a impossibilidade de fazê-lo;
V – Articular-se com órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais encarregados da proteção e
defesa dos direitos humanos;
VI – Manter intercâmbio e cooperação com entidades públicas ou privadas, nacionais ou internacionais, com o
objetivo de dar proteção aos direitos humanos e demais finalidades previstas neste artigo;
VII – acompanhar o desempenho das obrigações relativas à defesa dos direitos humanos resultantes de acordos
internacionais, produzindo relatórios e prestando a colaboração que for necessária ao Ministério das Relações
Exteriores;
VIII – opinar sobre atos normativos, administrativos e legislativos de interesse da política nacional de direitos
humanos e elaborar propostas legislativas e atos normativos relacionados com matéria de sua competência; IX –
realizar estudos e pesquisas sobre direitos humanos e promover ações visando à divulgação da importância do
respeito a esses direitos;
X – Recomendar a inclusão de matéria específica de direitos humanos nos currículos escolares, especialmente
nos cursos de formação das polícias e dos órgãos de defesa do Estado e das instituições democráticas;
XI – dar especial atenção às áreas de maior ocorrência de violações de direitos humanos, podendo nelas
promover a instalação de representações do CNDH pelo tempo que for necessário;
XIV – pronunciar-se, por deliberação expressa da maioria absoluta de seus conselheiros, sobre crimes que
devam ser considerados, por suas características e repercussão, como violações a direitos humanos de
excepcional gravidade, para fins de acompanhamento das providências necessárias à sua apuração, processo e
julgamento.
#CURIOSIDADE: Uma das competências vetadas na lei foi “XIII – declarar sob sua proteção entidades ou pessoas
vítimas de ameaças, perseguições ou atentados aos direitos humanos, indicando as autoridades públicas
responsáveis por torná-la efetiva”. Segundo as razões do veto “A declaração de proteção a pessoas ou entidades
vítimas de ameaças, perseguições ou atentados, sem correspondente mecanismo de sigilo e tutela efetiva,
poderia ter efeito inverso do desejado, colocando os sujeitos da proteção em maior risco. Além disso, a União já
dispõe de outros programas especiais direcionados à proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, como, por
exemplo, o Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas de Morte, o Programa de Proteção de
Defensores de Direitos Humanos e o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte.”.
10.9.4 Prerrogativas:
II – Censura pública;
III – Recomendação de afastamento de cargo, função ou emprego na administração pública direta, indireta ou
fundacional da União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios do responsável por conduta ou
situações contrárias aos direitos humanos;
I – O Plenário;
II – As Comissões;
III – as Subcomissões;
IV – A Secretaria Executiva.
As resoluções do CNDH serão tomadas por deliberação da maioria absoluta dos conselheiros.
(i) O Plenário poderá nomear consultores ad hoc, sem remuneração, com o objetivo de subsidiar tecnicamente
os debates e os estudos temáticos;
(ii) O Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça designará e capacitará delegados, peritos e
agentes para o atendimento das requisições do CNDH, objetivando o necessário apoio às suas ações
institucionais e diligências investigatórias; e
(iii) O exercício da função de conselheiro do CNDH não será remunerado a qualquer título, constituindo serviço
de relevante interesse público.
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11 DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO
DIPLOMA DISPOSITIVO
Constituição Federal Art. 5º, §3º e art. 109, §5º
Decreto 7.037/2009 Integralmente
Lei 12.986/2014 Integralmente
12 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
- Apostila Lordelo
- Foca no Resumo
- Resumo do TRF5
- ALBUQUERQUE, Aline; BARROSO, Aléssia. Curso de Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018.