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EXAME DE ORDEM
DIREITO
PENAL
Capítulo 04
CAPÍTULOS
1
SOBRE ESTE CAPÍTULO
A apostila de número 04 do nosso curso de Direito Penal tratará sobre A Ilicitude, matéria que
é cobrada no Exame de ordem! De acordo com a nossa equipe de inteligência, esse assunto
esteve presente 4 VEZES nos últimos 3 anos, sendo assim considerado um assunto de alta
relevância!
Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta
é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei
Adicionamos também questões de outros concursos públicos para que você possa praticar e
assimilar ainda mais o conteúdo visto nesta apostila, ok? 😉
Vamos juntos!
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SUMÁRIO
Capítulo 4 .................................................................................................................................................. 6
4. Ilicitude ............................................................................................................................................... 6
4.7.1 Aplicabilidade....................................................................................................................................................... 11
3
4.8.6 Causa de diminuição da pena ...................................................................................................................... 17
4.12 Excesso.................................................................................................................................................................... 33
GABARITO ............................................................................................................................................... 51
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 56
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DIREITO PENAL
Capítulo 4
4. Ilicitude
4.1 Conceito
comportamento, capaz de lesar ou de expor a lesão o bem jurídico tutelado. Apenas a ilicitude
material é que permite a criação das causas supralegais de exclusão da ilicitude.
4.3 Terminologia
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A justificativa reside no fato de que: “a infração penal (crime e contravenção penal)
constitui-se em um fato jurídico, já que a sua ocorrência provoca efeitos no campo jurídico.
Logo, é incoerente imaginar que um crime (fato jurídico) seja revestido de antijuridicidade. A
contradição é óbvia: um fato jurídico seria, ao mesmo tempo, antijurídico. Por tal razão, mais
acertado falar-se em ilícito e em ilicitude, em vez de antijurídico e antijuridicidade”.
Ilicitude genérica encontra-se fora do tipo penal incriminador. O fato típico, unicamente
considerado, já está em contradição com o ordenamento jurídico, ou seja, no crime de
Na ilicitude específica, está situada no interior do tipo penal, que contem em sua
estrutura algum elemento ligado à ilicitude do fato. Por exemplo, o crime de violação de
correspondência (art. 151 do CP).
Essa divisão se relaciona intimamente com o caráter fragmentário do Direito Penal, tendo
em vista que o Direito Penal não se interessa por toda ilicitude. Apenas as ilicitudes mais
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4.6 Causas de exclusão da ilicitude
4.6.1 Introdução
A doutrina brasileira acolhe a Teoria Indiciária da Tipicidade, em que todo fato típico se
presume ilícito, isto é, o comportamento humano previsto em lei como crime ou contravenção
penal, presume-se o seu caráter ilícito.
Todavia, essa presunção é relativa, tendo em vista que um fato típico pode ser lícito,
desde que o seu autor demonstre ter agido acobertado por uma causa de exclusão da ilicitude.
4.6.2 Nomenclatura
Causa de justificação;
Justificantes
Descriminantes
Tipos penais permissivos
Eximentes
A palavra “dirimente” nada tem a ver com a área da ilicitude. Em verdade, significa causa
de exclusão da culpabilidade.
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Causas genéricas, ou gerais, são as previstas na Parte Geral do Código Penal e que se
Estado de necessidade;
Legitima defesa;
Estrito cumprimento do dever legal
Exercício regular de direito.
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa
legislação especial), com aplicação unicamente a determinados crimes, ou seja, somente àqueles
delitos a que expressamente se referem. Exemplo:
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III – (Vetado);
IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.
Para a primeira corrente, aderida por José Frederico Marques e E. Magalhães Noronha,
o direito positivo não exige a presença do requisito subjetivo.
Já para uma segunda corrente, capitaneada por Heleno Cláudio Fragoso, Júlio Fabbrini
Mirabete, Francisco de Assis Toledo e Damásio E. de Jesus, afirma que o
reconhecimento de uma causa de exclusão da ilicitude reclama o conhecimento da
situação justificante pelo agente.
São três as teorias que buscam fundamentar o consentimento do ofendido como causa
supralegal de exclusão da ilicitude: a) Ausência de interesse; b) Renúncia à proteção do Direito
Penal; e a c) Ponderação de valores.
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A teoria da ponderação de valores é a teoria mais aceita no direito comparado. Pra ela,
previsto como uma causa de exclusão da ilicitude, mas foi excluído por reputar um dispositivo
deste naipe “evidentemente supérfluo”. Por isso, acabou sendo aceito como supralegal de
exclusão da ilicitude.
4.7.1 Aplicabilidade
a) crimes contra o patrimônio; b) crimes contra a honra; c) crimes contra a liberdade individual.
Além disso, o consentimento do ofendido somente pode afastar a ilicitude nos delitos
em que o titular do bem jurídico tutelado pela lei penal é uma pessoa, física ou jurídica. Não
4.7.2 Requisitos
Deve ser expresso, não importando sua forma (oral ou por escrito, solene ou não).
Todavia, tem se admitido o consentimento presumido (ou ficto), ou seja, nas
hipóteses em que se possa, com razoabilidade, concluir que o agente atuou
supondo que o titular do bem jurídico teria consentido se conhecesse as
circunstâncias em que a conduta foi praticada.
Deve ser livre, não pode ser fruto de coação ou fraude.
Deve estar de acordo com a moral e os bons costumes.
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O consentimento deve ser anterior a consumação do delito. A anuência posterior
à consumação do crime não afasta a ilicitude.
O ofendido precisa ser pessoa capaz.
Por fim, importante mencionar que há certos crimes em que o tipo penal reclama o
dissenso da vítima. Por exemplo, no estupro o núcleo é constranger (fazer algo contra a sua
vontade), caso a vítima concorde não há crime, seu consentimento exclui a tipicidade.
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
exigir-se. 2
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar
o perigo.
4.8.2 Conceito
de perigo, caracterizada pelo conflito de interesses lícitos, ou seja, uma colisão entre bens
jurídicos pertencentes a pessoas diversas, que se soluciona com a autorização conferida pelo
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Questão 05
2
Vide questão 7 do material
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4.8.3 Natureza jurídica
O art. 23, I, do Código Penal deixa claro tratar-se de causa de exclusão da ilicitude. A
doutrina discute, contudo, acerca da essência do estado de necessidade: direito ou faculdade.
do bem jurídico em colisão, uma vez que um deles não está obrigado a suportar a ação alheia.
4.8.4 Teorias
Teoria unitária: foi à teoria adotada pelo Código Penal.3 Sustenta que o estado
de necessidade somente pode ser admitido como causa excludente da ilicitude,
desde que o bem jurídico sacrificado seja de igual valor ou de valor inferior ao
bem jurídico preservado. Essa teoria admite somente o estado de necessidade
justificante (excludente da ilicitude), quando o bem jurídico sacrificado apresenta
valor igual ou inferior ao bem jurídico preservado. Se, contudo, o bem jurídico
sacrificado reveste-se de valor superior ao bem jurídico preservado, não se
caracteriza o estado de necessidade (há crime), admitindo-se a redução da pena,
de um a dois terços.
Teoria diferenciadora: Adotada pelo Código Penal Militar. Diferencia o estado
de necessidade justificante (excludente da ilicitude) do estado de necessidade
exculpante (excludente da culpabilidade).
Estado de necessidade justificante: há o sacrifício de bem jurídico de valor igual
ou inferior ao do bem jurídico preservado.
Estado de necessidade exculpante: o bem jurídico sacrificado for de valor superior
ao do bem jurídico protegido. Não se caracteriza a excludente da ilicitude, e sim
uma causa de exclusão da culpabilidade, em face da inexigibilidade de conduta
diversa.
3
Vide questão 6 do material
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Teoria da equidade: prega a manutenção da ilicitude e da culpabilidade.
Teoria da escola positiva: pugna também pela manutenção da ilicitude.
4.8.5 Requisitos
Os requisitos estão no caput e no §1º do art. 24, de forma cumulativa. Podem-se dividir
os requisitos em dois grupos: situação de necessidade e fato necessitado.
Situação de necessidade
PERIGO ATUAL
Perigo é a probabilidade de dano ao bem jurídico, não sendo necessária a efetiva lesão,
basta que seja possível o dano. O perigo poderá ser causado pela natureza, por seres irracionais
(animal) ou por uma atividade humana.
Além disso, deve ser efetivo ou real, ou seja, a sua existência deve ter sido comprovada
no caso concreto.
O Código Penal exige seja o perigo atual: deve estar ocorrendo no momento em que o
fato é praticado. Sua presença é imprescindível.
Indaga-se o perigo iminente (aquele que está prestes a ocorrer) caracteriza o estado de
necessidade? Embora o Código Penal tenha silenciado a respeito, a doutrina majoritária entende
que o perigo iminente se equipara ao perigo atual, por isso autoriza o estado de necessidade,
excluindo o crime.
Rogério Sanches, diversamente de Cleber Masson, afirma que a maioria da doutrina entende
que não haverá estado de necessidade quando o perigo for iminente, uma vez que o CP
não previu tal hipótese (página 252 – Manual de Direito Penal – parte geral)
E, por fim, quanto ao perigo futuro (aquele que irá ocorrer) e perigo passado (aquele que
Quem, voluntariamente, cria uma situação de perigo não pode enfocar o estado de
necessidade. A discussão reside na expansão da palavra “voluntariamente”, qual seria seu
alcance, se abrange apenas o perigo provocado dolosamente, ou também o perigo provocado
a título de culpa.
Destaca-se que quando o perigo for provocado dolosamente pelo agente, obviamente,
não caberá estado de necessidade. Em relação ao perigo provocado de forma culposa,
Magalhães Noronha, Francisco de Assis Toledo, José Frederico Marques e Nélson Hungria,
doutrina amplamente majoritária, sustenta que não caberá estado de necessidade, tendo em
vista que no crime culposo, praticado nos casos de imprudência, a negligência e a imperícia
derivam da conduta voluntária do autor.
Todo e qualquer bem jurídico, próprio ou de terceiro, quando enfrentar um perigo capaz
de configurar o estado de necessidade. Exemplo: vida, do patrimônio, da dignidade sexual.
jurídico. Assim, por exemplo, um preso não pode matar o carcereiro para defender a sua
liberdade.
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Ademais, a proteção de bem jurídico de terceiro não exige uma relação de parentesco
ou intimidade, pois a eximente se funda na solidariedade que deve reinar entre os indivíduos
em geral. Destarte, é possível o estado de necessidade para a defesa de bens jurídicos
Nos termos do art. 24, § 1.º, do Código Penal, aquele que tem o dever legal de evitar o
perigo não pode invocar estado de necessidade.
Para uma primeira corrente, a expressão deve ser interpretada restritivamente. Portanto, “dever
legal” abrange somente o dever decorrente da lei em sentido amplo (lei, medida provisória,
decreto, regulamento, portaria, etc.).
Uma segunda corrente, por sua vez, afirma que a expressão há de ser interpretada
extensivamente, compreendendo, além do dever legal, qualquer espécie de dever jurídico, tal
como o dever contratual. É a posição mais acertada para Cleber Masson.
Fato necessitado
Satisfeitos aos requisitos acima relacionados, restando configurada a situação de
necessidade, o agente pode praticar a conduta lesiva a outro bem jurídico (fato necessitado).
Esse fato, contudo, deve obedecer a dois outros requisitos: inevitabilidade do perigo por outro
modo e proporcionalidade.
O fato necessitado deve ser absolutamente imprescindível para evitar a lesão ao bem
jurídico. Havendo qualquer outra forma de preservar o bem jurídico, não se pode sacrificar bem
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Chamado de commodus discessus (saída mais cômoda), o estado de necessidade
apresenta nítido caráter subsidiário: quando possível à fuga, por ela deve optar o agente, que
também deve sempre proporcionar a qualquer bem jurídico o menor dano possível.
PROPORCIONALIDADE
quando o agente, visando proteger bem jurídico próprio ou de terceiro, sacrifica outro bem
jurídico de maior valor.
Art. 24, § 2.º, do Código Penal. Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
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PROPORCIONALIDADE
ESTADO DE
Teorias BEM PROTEGIDO BEM SACRIFICADO
NECESSIDADE
Valor igual ou maior Valor menor ou igual Justificante
Teoria
Diferenciadora
Valor menor Valor maior Exculpante
Agressivo: o agente sacrifica bem jurídico pertencente a terceiro inocente (aquele que
não causou a situação de perigo). É lícito no Direito Penal e lícito no Direito Civil. No
entanto, o agente terá de reparar o dano causado ao terceiro, podendo entrar com ação
regressiva contra o causador do perigo.
Defensivo: o agente sacrifica um bem jurídico pertencente ao causador do perigo. Não
há, aqui, a obrigação de indenizar os prejuízos causados.
Real: a situação de perigo efetivamente existe, e dela o agente tem conhecimento. Exclui
a ilicitude.
Putativo: não existe a situação de necessidade, mas o autor do fato pensa que os
requisitos legais estão presentes. O agente, por erro, isto é, falsa percepção da realidade
que o cerca, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria sua ação legítima. Trata-se
de descriminante putativa, mantendo a ilicitude.
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4.8.8 Estado de necessidade recíproco
necessidade. Não há crime para ninguém, todos são acobertados pela excludente de ilicitude.
O estado de necessidade possui natureza objetiva, por isso se comunica para todos os
envolvidos na prática do fato típico. Desta forma, excluindo o crime ou a contravenção penal
em relação a algum dos envolvidos, o estado de necessidade se comunica a todos os coautores
do fato necessitado.
profissional habilitado.
acidente ou erro no uso dos meios de execução, atinge pessoa ou objeto diverso do desejado,
com o propósito de afastar a situação de perigo a bem jurídico próprio ou de terceiros.
4.9.1 Introdução
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Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
Os requisitos da legítima defesa são cumulativos: (1) agressão injusta; (2) atual ou
iminente; (3) contra direito próprio ou alheio; (4) reação com os meios necessários; e (5) uso
moderado dos meios necessários.
AGRESSÃO INJUSTA
Agressão é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, que lesa ou expõe a
perigo de lesão um bem ou interesse consagrado pelo ordenamento jurídico. Trata-se de
atividade exclusiva do ser humano. Portanto, só haverá legítima defesa contra condutas de
seres humanos (quando causada por animal será estado de necessidade).
como nos casos em que são ordenados, por alguém, ao ataque de determinada pessoa.
Funcionam como verdadeiras armas, autorizando a legítima defesa. Exemplo: “Mévio” determina
4
Vide Questão 02
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ao seu cão bravio o ataque contra “Tício”. Esse último poderá matar o animal, acobertado pela
legítima defesa.
A agressão, ainda, pode emanar de um inimputável. O fato é típico e ilícito, mas não é
culpável. Entretanto, é pacífico na doutrina, que a condição de inimputável do agressor, se
conhecida do agredido, impõe a este maior diligência no evitar, e maior moderação no repelir
o ataque. Assim, não haveria desonra na fuga, e a esta, se possível e capaz de afastar a agressão,
Por fim, a agressão deve ser injusta, contrária ao Direito. Pode ser dolosa ou culposa. É
aquela em que o ser humano não está obrigado a suportar.
Seu cabimento não se exige análise milimétrica, devendo ser analisado de modo flexível.
Deve ser feita no caso concreto, considerando-se quais os objetos o agente possuía para repelir
a injusta agressão.
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Ao contrário do que ocorre no estado de necessidade, a possibilidade de fuga ou o
socorro pela autoridade pública não impedem a legítima defesa. Não se impõe o commodus
discessus, ou seja, que o agente utilize uma saída menos lesiva para repelir a agressão injusta.
do agredido com aquele que, em situação semelhante, seria adotado por um ser humano de
inteligência e prudência comuns à maioria da sociedade.
Além disso, deve fazer um juízo de ponderação, analisando, no caso concreto, a natureza
Por fim, o bem jurídico preservado deve ser de valor igual ou superior ao sacrificado, sob
pena de configurar excesso. Assim, não se pode invocar legítima defesa aquele que mata uma
pessoa pelo simples fato de ter sido por ela ofendido verbalmente.
Na edição extra do Diário Oficial da União (DOU) do dia 24 de dezembro de 2019, foi
publicada a Lei n.º 13.964/2019, antigo PL 10.372/2018 — Pacote Anticrime —, sancionada pelo
O jurista Fábio Roque Araújo, no dia 25.10.2019, trouxe várias explicações acerca das
mudanças introduzidas pelo Pacote Anticrime. Nesse momento, iremos analisar a novidade
trazida por essa lei no que tange a legítima defesa.
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Primeiramente, cumpre analisar as mudanças de cunho penal com base na ideia de
retroatividade da lei. Então, a lei penal não irá retroagir, salvo se for para beneficiar o réu.
Naquilo que beneficiar o réu, irá retroagir e alcançar os fatos pretéritos. Do contrário, o que for
Art. 25, Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,
Essa não foi uma alteração tão substancial, tendo em vista que isso já era considerado
legítima defesa. O legislador apenas veio explicitar uma hipótese que já era considerada como
tal. Por exemplo: há uma pessoa mantida refém, e um atirador de elite dar um tiro no
sequestrador para salvaguardar a vida da vítima.
Isso já era considerado legítima defesa. Isso não era, ao contrário do que muitos
imaginam, estrito cumprimento de dever legal. Ora, não existe um dever legal de matar. Aliás,
até existe um deve jurídico de matar, nas hipóteses de pena de morte em caso de guerra
declarada. Fora isso, não existe outra hipótese de dever legal de matar.
Assim, um atirador que atira para salvaguardar a vida da vítima que está sendo mantida
refém, não está acobertado pelo estrito cumprimento do dever legal, mas sim, da legítima
defesa. A despeito de eventuais polêmicas ainda subsistentes na doutrina, mas isso já era
largamente aceito em sede doutrinaria.
Dessa forma, é notório que esse parágrafo único acrescentado por essa lei, tem como
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4.9.5 Legítima defesa e vingança
tendo em vista que a vontade do agente não é de se defender (falta o elemento subjetivo), mas
sim de se vingar.
Todavia, nada impede que o agente aproveite de um momento de legítima defesa para
se vingar do agressor, desde que objetivamente não exceda os requisitos da necessidade. Nesse
caso, a vingança não exclui a legítima defesa, pois presentes os elementos objetivos e subjetivos.
Exemplo: “Mévio”, com o desejo antigo de matar “Tício”, em razão de brigas pretéritas, aproveita-
se do ataque injustificado de seu desafeto para eliminar a sua vida.
O desafio, o duelo, o convite para a luta excluem a legítima defesa. Cada agente irá
responder pelos atos que praticou.
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Real: é a espécie de legítima defesa em que se encontram todos os requisitos
previstos no art. 25 do Código Penal. Exclui a ilicitude do fato (CP, art. 23, II).
Putativa ou imaginária: É aquela em que o agente acredita que estão presentes
os requisitos do art. 25 do CP. Por erro, supõe uma situação de legítima defesa,
que na verdade não existe. É hipótese de descriminante putativa.
Subjetiva ou excessiva: É aquela que o agente por erro escusável (aceitável,
justificável) ultrapassa os limites da legítima defesa. Também conhecida como
excesso acidental.
Não existe legítima defesa presumida, deve ser provada no caso concreto.
É admissível a legítima defesa contra multidão, pois esse instituto reclama tão somente
uma agressão injusta, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, emanada de seres humanos,
pouco importando sejam eles individualizados ou não.
É possível a legítima defesa contra pessoa jurídica, uma vez que esta exterioriza a sua
vontade por meio da conduta de seres humanos, permitindo a prática de agressões injustas.
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4.9.10 Legítima defesa e aberratio ictus
Aberratio ictus é o erro na execução, a exemplo do agente que por erro de pontaria
atinge pessoa diversa da desejada. A legítima defesa é compatível com a aberratio ictus.
diferenciam-se claramente.
irracionais ou mesmo de um ser humano, mas, para dele se safar, o agente sacrifica bem jurídico
pertencente a quem não provocou a situação de perigo. No estado de necessidade defensivo o
Natureza jurídica
Causa excludente da ilicitude
Finalidade
Afastar perigo a bem jurídico próprio ou de terceiros.
Previsão legal
Art. 25 do CP Art. 24 do CP
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Fruto de uma agressão injusta pela natureza, por seres
(atividade exclusiva do ser humano). irracionais ou por atividade
humana.
contra bem jurídico próprio ou alheio. Exemplo: “Mévio” corre atrás de “Tício” com uma faca,
com o intuito de mata-lo. “Tício” está sem nenhum objeto para se defender, avistando uma
viatura da polícia com uma arma no banco do carona. Imediatamente, furta a arma e continua
correndo por mais 500m. Com a proximidade de “Mévio”, “Tício” acaba disparando. Perceba que
ADMISSIBILIDADE: são casos em que a legítima defesa “convive” com outras excludentes.
agressão injusta. Desta forma, é perfeitamente possível que o agente atua em legítima defesa
contra um sujeito que está agindo em legítima defesa putativa. Exemplo: “A” caminha em área
perigosa. De repente, visualiza “B” colocando a mão no interior de sua blusa, e, acreditando que
seria assaltado, “A” saca uma arma de fogo para matar “B”. Este último, entretanto, que iria
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apenas pegar um cigarro, consegue se esquivar dos tiros, e, em seguida, mata “A” para se
defender.
acreditam, erroneamente, que um irá praticar contra o outro uma agressão injusta, quando na
verdade o ataque ilícito não existe. Exemplo: “A” e “B”, colocam as mãos nos bolsos ao mesmo
tempo, e, em razão disso, partem um para cima do outro, lutando até o momento em que
desmaiam. Depois, descobrem que e “A” iria oferecer a “B” um cigarro, enquanto "B" iria lhe
ultrapassa os limites da legítima defesa. Daí ser também chamada de excesso acidental. No
momento em que se configura o excesso, a outra pessoa – que de agressor passou a ser
agredido –, pode agir em legítima defesa real, uma vez que foi praticada contra ele uma agressão
injusta.
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Legítima defesa real contra outra excludente real
Mesmo fundamento acima.
É causa de exclusão da ilicitude, e sua previsão está no Art. 23, III, 1.ª parte, do Código
Penal: “Não há crime quando o agente pratica o fato em estrito cumprimento de dever legal”.
4.10.2 Conceito
O Código Penal não definiu o que seria estrito cumprimento do dever legal,
4.10.3 Fundamento
Há, em verdade, o dever legal de agir. É o caso, por exemplo, da busca domiciliar em que
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Ora, o dever legal pode também originar-se de atos administrativos, desde que de
caráter geral, pois, se tiverem caráter específico, o agente não estará agindo sob o manto da
excludente do estrito cumprimento de dever legal, mas sim protegido pela obediência
nada impede que a excludente beneficie o particular quando ele atua em estrito cumprimento
do dever legal. Assim, não há crime de falso testemunho na conduta do advogado que se recusa
a depor sobre fatos que tomou conhecimento no exercício da sua função, acobertados pelo
sigilo profissional.
A excludente é incompatível com os crimes culposos, pois a lei não obriga ninguém,
funcionário público ou não, a ser imprudente, negligente ou imperito.
Exemplo: bombeiro que dirige a viatura em excesso de velocidade para salvar uma pessoa
queimada em incêndio, e em razão disso atropela alguém, matando-o, não responde pelo
homicídio culposo na direção de veículo automotor, em face da exclusão do crime pelo estado
de necessidade de terceiro.
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4.10.8 Comunicabilidade da excludente da ilicitude
O estrito cumprimento do dever legal possui natureza objetiva, assim se comunica com
os demais, na hipótese de concurso de pessoas.
4.11.1 Introdução
É uma causa legal e genérica de exclusão da ilicitude. Está previsto no art. 23, III, parte
final, do Código Penal: “Não há crime quando o agente pratica o fato no exercício regular de
direito”.
deve obedecer aos limites legais, não admitindo excesso ou abuso. Esse excesso ou abuso
ocasiona, além do afastamento da excludente, a utilização da legítima defesa por parte do
prejudicado pelo exercício irregular e abusivo do direito. Além disso, pode ocorrer até mesmo
a prática de um crime.
4.11.3 Costumes
ilicitude, deve estar previsto em lei. Assim, a prática de um fato típico, albergada por um
costume, constitui crime.
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4.11.4 Lesões em atividades esportivas
provisões internas, configura exercício regular de direito, afastando a ilicitude do caso concreto.
Do contrário, se o fato típico cometido pelo agente resultar da violação das regras
esportivas, notadamente por ultrapassar seus limites, o excesso implicará na responsabilidade
No caso de cirurgia para salvar o paciente de iminente risco de vida, estará o médico
resguardado tanto pelo exercício regular de direito como pelo estado de necessidade,
No caso das pessoas que se filiam à religião “testemunha de Jeová”, legítima a atuação
do médico que, independentemente de autorização judicial, efetua a transfusão de sangue para
salvar a vida do paciente, ainda que sem a sua autorização (se consciente e plenamente capaz)
ou contra a vontade de seus familiares (se inconsciente ou incapaz). Com efeito, o direito à vida
deve sobrepor-se às posições religiosas.
4.11.6 Ofendículos
familiar e da inviolabilidade domiciliar. Exemplo: cerca elétrica, cacos de vidro no muro, pregos
no muro.
Devem ser visíveis: funcionam como meio de advertência, e não como forma oculta para
são ocultos, por isso, em regra, caracterizam o excesso. O agente deverá responder pelo excesso
seja doloso seja culposo.
4.12 Excesso
4.12.1 Introdução
As excludentes de ilicitude possuem limites impostos pela lei, os quais dever ser
observados pelo agente. Quando, porém, o agente ultrapassar esses limites na prática do fato
típico, haverá excesso, seja no tocante à situação de necessidade, à agressão repelida, ao dever
Art. 23, parágrafo único: O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo,
responderá pelo excesso doloso ou culposo.
Estado de necessidade, o excesso recai na expressão “nem podia de outro modo evitar
” (CP, art. 24): age com excesso aquele que, para afastar a situação de perigo, utiliza
meios dispensáveis e sacrifica bem jurídico alheio.
Legítima defesa, o excesso se consubstancia no emprego de meios desnecessários para
repelir a injusta agressão, atual ou iminente, ou, quando necessários, os emprega
imoderadamente.
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Estrito cumprimento do dever legal, o excesso resulta da não observância, pelo agente,
dos limites determinados pela lei.
Exercício regular de direito: o excesso decorre do exercício abusivo do direito
consagrado pelo ordenamento jurídico.
4.12.2 Conceito
causa de justificação. Desse modo, pode-se afirmar que para haver excesso haverá, antes, uma
causa que exclui a ilicitude do agente.
4.12.3 Espécies
34
QUADRO SINÓTICO
ILICITUDE
É a contrariedade entre o fato típico praticado por
alguém e o ordenamento jurídico, capaz de lesionar ou
Conceito
expor a perigo de lesão os bens jurídicos penalmente
tutelados.
A ilicitude formal é a relação de contrariedade entre o
fato e o direito.
Formas de ilicitude A ilicitude material é o conteúdo antissocial (injusto) do
comportamento, capaz de lesar ou de expor a lesão o
bem jurídico tutelado
Utilizar os termos ilicitude e antijuridicidade como
Terminologia
sinônimos não é correto.
Ilicitude genérica encontra-se fora do tipo penal
incriminador.
Ilicitude genérica e
Ilicitude específica, está situada no interior do tipo
ilicitude específica penal, que contem em sua estrutura algum elemento
ligado à ilicitude do fato.
Ligada ao caráter fragmentário do Direito Penal.
Ilicitude penal e
Apenas as ilicitudes mais graves interessam ao Direito
ilicitude extrapenal Penal.
Também são chamadas de: Causa de justificação;
Justificantes; Descriminantes; Tipos penais permissivos;
Eximentes.
O Código Penal possui em sua íntegra causas genéricas
e específicas de exclusão da ilicitude.
Causas genéricas, ou gerais, são as previstas na Parte
Causas de exclusão
Geral do Código Penal e que se aplicam a qualquer
da ilicitude espécie de infração penal: Estado de necessidade;
Legitima defesa; Estrito cumprimento do dever legal e
Exercício regular de direito.
Causas específicas, ou especiais, previstas na Parte
Especial do Código Penal (e na legislação especial), com
aplicação unicamente a determinados crimes, como
35
exemplo: Art. 128 do CP – hipóteses de aborto
permitido; Art. 37 da Lei 9.605/98 – modalidade
específica de estado de necessidade.
ESTADO DE NECESSIDADE
É a causa de exclusão da ilicitude que depende de uma
situação de perigo, caracterizada pelo conflito de interesses
lícitos, ou seja, uma colisão entre bens jurídicos pertencentes
Conceito
a pessoas diversas, que se soluciona com a autorização
conferida pelo ordenamento jurídico para o sacrifício de um
deles para a preservação do outro.
É pacífico que o estado de necessidade é um direito subjetivo
Natureza jurídica
do réu e, ao mesmo tempo uma faculdade.
A Teoria unitária foi à adotada pelo Código Penal. Sustenta
que o estado de necessidade somente pode ser admitido
como causa excludente da ilicitude, desde que o bem jurídico
Teoria
sacrificado seja de igual valor ou de valor inferior ao bem
jurídico preservado. Essa teoria admite somente o estado de
necessidade justificante (excludente da ilicitude).
Os requisitos estão no caput e no §1º do art. 24, de forma
Requisitos
cumulativa. Podem-se dividir os requisitos em dois grupos:
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situação de necessidade (perigo atual, perigo não provocado
voluntariamente pelo agente ameaça ao direito próprio ou
alheio, ausência do dever legal de enfrentar o perigo) e fato
necessitado (inevitabilidade do perigo por outro modo,
proporcionalidade).
Espécies de preservado.
estado de
Quanto à origem da situação de perigo
necessidade Agressivo: o agente sacrifica bem jurídico pertencente
a terceiro inocente.
Defensivo: o agente sacrifica um bem jurídico
pertencente ao causador do perigo.
LEGÍTIMA DEFESA
Trata-se da causa de justificação consistente em repelir
injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou
Conceito
alheio, usando moderadamente dos meios necessários.
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Houve a inclusão do Parágrafo único no Art. 25, CP:
Art. 25, Parágrafo único. Observados os requisitos
previstos no caput deste artigo, considera-se também
Legítima defesa e
em legítima defesa o agente de segurança pública que
pacote anticrime repele agressão ou risco de agressão à vítima mantida
refém durante a prática de crimes. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019).
Quanto à forma de reação
Agressiva, ou ativa: a reação contra a agressão injusta
configura um fato previsto em lei como infração penal.
Defensiva, ou passiva: aquele que reage limita-se a
impedir os atos agressivos, sem praticar um fato típico.
legítima defesa
Quanto ao aspecto subjetivo de quem se defende
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agressão, atual ou iminente, a direito seu agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem. ou de outrem.
Parágrafo único. Observados os
requisitos do caput deste artigo,
considera-se também em legítima
defesa o agente de segurança pública
que repele agressão ou risco de
agressão a vítima mantida refém
durante a prática de crimes.
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Predomina o entendimento de que o direito, cujo
exercício regular autoriza a exclusão da ilicitude, deve
Costumes
estar previsto em lei. Assim, a prática de um fato
típico, albergada por um costume, constitui crime.
O fato típico decorrente da realização de um esporte,
desde que respeitadas às regras regulamentares
Lesões em emanadas de associações legalmente constituídas e
EXCESSO
As excludentes de ilicitude possuem limites impostos
pela lei, os quais dever ser observados pelo agente.
Quando, porém, o agente ultrapassar esses limites na
Introdução
prática do fato típico, haverá excesso, seja no tocante
à situação de necessidade, à agressão repelida, ao
dever legal, ou, ainda, ao exercício do direito.
Art. 23, parágrafo único: O agente, em qualquer das
Previsão hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso
ou culposo.
É a desnecessária intensificação de um fato típico
Conceito
inicialmente amparado por uma causa de justificação.
Doloso, ou consciente: é o excesso voluntário e
Espécies
proposital.
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Culposo, ou inconsciente: é o excesso resultante de
imprudência, negligência ou imperícia.
Acidental, ou fortuito: se origina de eventos
imprevisíveis e inevitáveis, que escapam do controle da
vontade humana. É excesso penalmente irrelevante.
Exculpante: é o excesso decorrente da profunda
alteração de ânimo do agente, isto é, medo ou susto
provocado pela situação em que se encontra.
Intensivo ou próprio: ocorre quando ainda estão
presentes os requisitos da excludente da ilicitude.
Excesso extensivo ou impróprio: ao contrário, é
aquele em que não estão mais presentes os
pressupostos das causas de exclusão da ilicitude.
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QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(XXXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2020) Yuri foi denunciado pela suposta prática de crime de
estupro qualificado em razão da idade da vítima, porque teria praticado conjunção carnal contra
a vontade de Luana, de 15 anos, mediante emprego de grave ameaça. No curso da instrução,
Luana mudou sua versão e afirmou que, na realidade, havia consentido na prática do ato sexual,
sendo a informação confirmada por Yuri em seu interrogatório.
Considerando apenas as informações expostas, no momento de apresentar alegações finais, a
defesa técnica de Yuri deverá pugnar por sua absolvição, sob o fundamento de que o
consentimento da suposta ofendida, na hipótese, funciona como
Comentário:
O tipo penal do crime de Estupro, existe justamente para punir o agente que obriga a vítima a
praticar relação sexual com o agente. Se a pessoa, maior de 14 anos, quiser praticar relação
sexual com alguém, não existe o crime do art. 213. Outrossim, não trata-se de estupro de
vulnerável (art. 217-A), no qual o entendimento é que se a pessoa, mesmo querendo a conjunção
carnal ou outro ato libidinoso, for menor de 14 anos, o estupro resta consumado. Na presente
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Questão 2
(XXX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) Enquanto assistia a um jogo de futebol em um bar,
Francisco começou a provocar Raul, dizendo que seu clube, que perdia a partida, seria rebaixado.
Inconformado com a indevida provocação, Raul, que estava acompanhado de um cachorro de
grande porte, atiça o animal a atacar Francisco, o que efetivamente acontece. Na tentativa de
se defender, Francisco desfere uma facada no cachorro de Raul, o qual vem a falecer. O fato foi
levado à autoridade policial, que instaurou inquérito para apuração.
Francisco, então, contrata você, na condição de advogado(a), para patrocinar seus interesses.
Considerando os fatos narrados, com relação à conduta praticada por Francisco, você, como
Comentário:
Art. 25 do CP.
A legitima defesa somente pode ser alegada contra agressão de um ser humano e, no caso
Questão 3
(XXV EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Laura, nascida em 21 de fevereiro de 2000, é inimiga
declarada de Lívia, nascida em 14 de dezembro de 1999, sendo que o principal motivo da
rivalidade está no fato de que Lívia tem interesse no namorado de Laura.
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Durante uma festa, em 19 de fevereiro de 2018, Laura vem a saber que Lívia anunciou para
todos que tentaria manter relações sexuais com o referido namorado. Soube, ainda, que Lívia
disse que, na semana seguinte, iria desferir um tapa no rosto de Laura, na frente de seus colegas,
como forma de humilhá-la.
Diante disso, para evitar que as ameaças de Lívia se concretizassem, Laura, durante a festa,
desfere facadas no peito de Lívia, mas terceiros intervêm e encaminham Lívia diretamente para
o hospital. Dois dias depois, Lívia vem a falecer em virtude dos golpes sofridos.
Descobertos os fatos, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Laura pela prática do
crime de homicídio qualificado.
A) inimputabilidade da agente.
B) legítima defesa.
C) inexigibilidade de conduta diversa.
D) atenuante da menoridade relativa.
Comentário:
Laura nasceu no dia 21/02/2000, portanto ainda era menor de 18 anos ao tempo do fato
Questão 4
(XX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) Miguel, com 27 anos de idade, pratica conjunção carnal
com Maria, jovem saudável com 16 anos de idade, na residência desta, que consente com o
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ato. Na mesma data e também na mesma residência, a irmã de Maria, de nome Marta, com 18
anos, permite que seu namorado Alexandre quebre todos os porta-retratos que estão com as
fotos de seu ex-namorado.
O Ministério Público ofereceu denúncia em face de Miguel pelo crime de estupro. Marta, após
o fim da relação, ofereceu queixa pela prática de dano por Alexandre.
Os réus contrataram o mesmo advogado, que deverá alegar que não foram praticados crimes,
pois, em relação às condutas de Miguel e Alexandre, respectivamente, estamos diante de
Comentário:
Para que haja ilicitude em uma conduta típica, independentemente do seu elemento
subjetivo, é necessário que inexistam causas justificantes.
A causa supralegal não está prevista em lei, entretanto, ao considerarmos que o consentimento
exclui a ilicitude do fato ao tratar de interesse jurídico livremente disponível e justificável,
destarte, afirmar-se-á que não é punível a ofensa, bem como quem coloca em perigo de lesão
determinado direito de que se tenha consentimento da pessoa que dele possa legalmente dispor
Tal consentimento, do ofendido, como causa supralegal (acima da lei) encontra embasamento
resolutivo na doutrina, abrangendo o resultado pretendido ou assumido em certos casos
concretos. Neste ponto, o nexo ou a tipicidade, somente é adquirido após permissão do titular
Questão 5
(XVI EXAME DE ORDEM – 2015 - FGV) Carlos e seu filho de dez anos caminhavam por uma
rua com pouco movimento e bastante escura, já de madrugada, quando são surpreendidos com
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a vinda de um cão pitbull na direção deles. Quando o animal iniciou o ataque contra a criança,
Carlos, que estava armado e tinha autorização para assim se encontrar, efetuou um disparo na
direção do cão, que não foi atingido, ricocheteando a bala em uma pedra e acabando por
atingir o dono do animal, Leandro, que chegava correndo em sua busca, pois notou que ele
fugira clandestinamente da casa. A vítima atingida veio a falecer, ficando constatado que Carlos
não teria outro modo de agir para evitar o ataque do cão contra o seu filho, não sendo sua
conduta tachada de descuidada.
Diante desse quadro, assinale a opção que apresenta situação jurídica de Carlos.
A) Carlos atuou em legítima defesa de seu filho, devendo responder, porém, pela morte de
Leandro.
B) Carlos atuou em estado de necessidade defensivo, devendo responder, porém, pela morte
de Leandro.
C) Carlos atuou em estado de necessidade e não deve responder pela morte de Leandro.
D) Carlos atuou em estado de necessidade putativo, razão pela qual não deve responder pela
morte de Leandro.
Comentário:
pra salvar de perigo atual direito próprio ou de terceiro, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não
era razoável exigir-se. Se há dois bens e perigo, o Estado permite que seja sacrificado um deles
pois, diante do caso concreto, a tutela penal não pode salvaguardar a ambos.
Questão 6
(Banca: VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto) Quanto à exclusão de ilicitude,
é correto afirmar que
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A) no excesso de legítima defesa involuntário, derivado de erro de tipo escusável, o agente
D) o excesso culposo decorrente de erro sobre os limites da causa de justificação não é punível
a título de dolo ou culpa.
Comentário:
no uso do meio para repelir a agressão. Se for evitável (inescusável) o erro, responde a
título de culpa (excesso culposo). Entretanto, se for inevitável (escusável), afasta-se a culpa,
ESTADO DE NECESSIDADE AGRESSIVO → a conduta lesiva recai sobre direito de quem não
c) TEORIA UNITÁRIA (adotada pelo CP) → estado de necessidade sempre será causa de
exclusão da ilicitude (estado de necessidade justificante). O art. 24 do CP não considera
no uso do meio para repelir a agressão. Se for evitável (inescusável) o erro, responde a
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título de culpa (excesso culposo). Entretanto, se for inevitável (escusável), afasta-se a culpa,
Questão 7
(Banca: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Perito Oficial Criminal) O agente que pratica o
fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se, age
A) Legítima defesa.
B) Estado de necessidade.
C) Estrito cumprimento de dever legal.
Comentário:
CP, Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito
próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
Questão 8
(Banca: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Assistente Social) Uma conduta ilícita é contrária
ao direito. Porém pode haver conduta típica que não seja ilícita, aparecendo às chamadas
excludentes de ilicitude. Sobre esse assunto, assinale a alternativa correta.
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A) Somente não será considerado crime quando o agente pratica o fato em estado de
E) São requisitos legais do estado de necessidade: perigo atual; ameaça a direito próprio ou
alheio; situação não causada voluntariamente pelo sujeito; inexistência de dever legal de
enfrentar o perigo.
Comentário:
b) Além das tipificadas em Lei, ainda temos uma excludente de ilicitude supra legal:
c) O enunciado trata da CONCEPÇÃO OBJETIVA, que reza não exigir o direito positivo a
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e) CP, art. 24: Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito
próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo.
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GABARITO
Questão 1 – ALTERNATIVA C
Questão 2 – ALTERNATIVA B
Questão 3 – ALTERNATIVA A
Questão 4 – ALTERNATIVA C
Questão 5 – ALTERNATIVA C
Questão 6 – ALTERNATIVA C
Questão 7 – ALTERNATIVA B
Questão 8 – ALTERNATIVA E
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QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
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GABARITO QUESTÃO DESAFIO
todo fato penalmente ilícito também é, necessariamente, típico”. Há autores que diferenciam a
ilicitude formal e a ilicitude material. Com efeito, a primeira seria o confronto entre o fato e a
lei penal, enquanto o derradeiro seria a contradição entre o fato praticado e a própria finalidade
do Direito Penal, que é justamente proteger os bens jurídicos mais caros ao ser humano.
Prevalece o conceito unitário da ilicitude, que consiste na contradição entre o fato praticado e
a norma penal, com a efetiva lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico penalmente tutelado.
consentimento do ofendido.
Segundo Masson, “prevalece na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que as causas
de exclusão da ilicitude não se limitam às hipóteses previstas em lei, se estendendo também
àquelas que necessariamente resultam do direito em vigor e das suas fontes. […] E como essas
eximentes não fundamentam nem agravam o poder punitivo estatal – operando exatamente em
sentido contrário -, a criação de causas supralegais não ofende o princípio da reserva legal,
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inseparável do direito penal moderno”. Como é cediço, a doutrina majoritária têm aceitado de
(c) moral, não deixando de contrariar os bons costumes; (d) prévio e (e) ofendido plenamente
capaz.
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LEGISLAÇÃO COMPILADA
Exclusão de ilicitude
Excesso punível
Estado de necessidade
Legítima defesa
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JURISPRUDÊNCIA
Assunto eminentemente doutrinário. As questões são feitas com base na doutrina e letra
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MAPA MENTAL
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1º ao 120). 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2015.
Estefam, André: Direito penal esquematizado: parte geral / André Estefam e Victor Eduardo Rios Gonçalves;
coordenador Pedro Lenza. – 5. ed. – São Paulo: Saraiva, 2016. – (Coleção esquematizado).
Masson, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019.
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