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TRIBUNAIS

ANALISTA JUDICIÁRIO

CAPÍTULO 13
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Noções Gerais de Direito Penal 


Capítulo 2 – Tipicidade Penal. Tipicidade Conglobante. 

Capítulo 3 – Princípios aplicáveis ao Direito Penal. 

Capítulo 4 – Da aplicação da lei penal. 


Capítulo 5 – Tomo I - Teoria Geral do Crime. Tomo II - Fato típico.

Tomo III - Ilicitude. Tomo IV - Culpabilidade.

Capítulo 6 – Iter Criminis 

Capítulo 7 – Do Concurso de Pessoas 

Capítulo 8 – Das Medidas de Segurança 

Capítulo 9 – Ação Penal 


Capítulo 10 – Das Penas 

Capítulo 11 – Da Extinção da Punibilidade 


Capítulo 12 –Dos Crimes contra a vida 

Capítulo 13 (você está aqui) – Lesões Corporais 

Capítulo 14 – Da periclitação da vida e da saúde 


Capítulo 15 – Rixa 
Capítulo 16 – Dos crimes contra a honra 
Capítulo 17 – Dos crimes contra a liberdade individual. Dos crimes

contra a liberdade pessoal.
Capítulo 18 – Dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio. 
Capítulo 19 – Dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência.

Dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos
Capítulo 20 – Dos crimes contra o patrimônio 
Capítulo 21 – Dos crimes contra a propriedade intelectual 
Capítulo 22 – Dos crimes contra a organização do trabalho 
Capítulo 23 – Dos crimes contra o sentimento religioso e contra o

respeito aos mortos

1
Capítulo 24 – Dos crimes contra a dignidade sexual 
Capítulo 25 – Dos crimes contra a família 
Capítulo 26 – Dos crimes contra a incolumidade pública 
Capítulo 27 – Dos crimes contra a paz pública 
Capítulo 28 – Dos crimes contra a fé pública

Capítulo 29 – Dos crimes contra a administração Pública

2
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Neste capítulo, iremos tratar do tema Lesões Corporais. Trata-se de tema extremamente
recorrente, que merece grande atenção. É importante sempre estudar o tema relacionando com
a lei seca, jurisprudência e súmulas.

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SUMÁRIO

DIREITO PENAL ........................................................................................................................................ 6

Capítulo 13 ................................................................................................................................................ 6

13. Lesões Corporais ............................................................................................................................... 6

13.1 Conceito .................................................................................................................................................................... 6

13.2 Conduta ..................................................................................................................................................................... 6

13.3 Objetividade jurídica e Objeto material ...................................................................................................... 7

13.4 Sujeito ativo e sujeito passivo ......................................................................................................................... 8

13.5 Elemento subjetivo ............................................................................................................................................... 8

13.6 Tentativa e consumação .................................................................................................................................... 8

13.7 Autolesão .................................................................................................................................................................. 8

13.8 Princípio da insignificância ou criminalidade de bagatela.................................................................. 8

13.9 Lesão dolosa leve (Art. 129, caput); .............................................................................................................. 9

13.10 Lesão corporal dolosa grave (art. 129, §1º) ............................................................................................... 9

13.11 Lesões corporais gravíssimas: Art. 129, § 2.º ......................................................................................... 12

13.12 Lesão corporal seguida de morte: Art. 129, § 3.º ................................................................................ 16

13.13 Lesão corporal dolosa privilegiada: causa de diminuição de pena (art. 129, § 4.º) ............. 17

13.14 Lesões corporais leves e substituição da pena: § 5.º ......................................................................... 17

13.15 Aumento de pena na lesão corporal dolosa: § 7.º ............................................................................. 18

13.16 Lesão corporal culposa (art. 129, §6º)....................................................................................................... 18

13.17 Lesão corporal culposa e perdão judicial: § 8.º .................................................................................... 19

13.18 Lesão corporal e violência doméstica: § 9.º ........................................................................................... 19

13.19 Pessoa portadora de deficiência e aumento de pena na lesão corporal leve com
violência doméstica: § 11º .......................................................................................................................................... 21

4
13.20 Causa de aumento de pena nas lesões graves, gravíssimas e seguidas de morte: § 10º. 21

13.21 Lesão corporal contra integrantes dos órgãos de segurança pública: § 12º .......................... 22

13.22 Ação Penal no Crime de Lesão Corporal ................................................................................................ 22

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 24

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 27

GABARITO ............................................................................................................................................... 37

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 38

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 39

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 41

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 42

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 45

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DIREITO PENAL

Capítulo 13

Neste capítulo, iremos tratar do tema Lesões Corporais. Trata-se de assunto recorrente em
provas de Carreiras Jurídicas, que merece grande atenção.

13. Lesões Corporais

13.1 Conceito

Lesão corporal é a ofensa humana direcionada à integridade corporal ou à saúde de outra

pessoa. Depende da produção de algum dano no corpo da vítima, interno ou externo, mas
independe da produção de dores ou a irradiação de sangue do organismo do ofendido.

Encontra-se previsto no art. 129 do Código Penal. O art. 129 do CP tutela a incolumidade

pessoal do indivíduo, protegendo sua tríplice saúde, ou seja, saúde física, saúde fisiológica
(correto funcionamento do organismo) e a saúde mental.

Assim, por exemplo, o agente que provoca um desmaio na vítima pode responder por

lesão corporal, tendo em vista que violou sua saúde fisiológica. O mesmo ocorre com o agente
que provoca depressão, já que viola a saúde mental da vítima.

13.2 Conduta

A conduta está consubstanciada em ofender a integridade física ou a saúde (fisiológica


ou mental) de outrem. Trata-se de delito de execução livre, podendo ser praticado por ação ou

omissão (imprópria), por meio de violência física (soco) ou moral (susto).

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Configura-se o crime não só com a criação pelo agente de ofensa à incolumidade da

vítima, mas também com o agravamento de uma enfermidade já existente.

Importante destacar que a dor, bem como o sangramento, são consequências


dispensáveis para a consumação do delito, podendo ser consideradas pelo juiz na fixação da

pena. Além disso, a pluralidade de ferimentos, no mesmo contexto fático, não desnatura a
unidade do crime, podendo ser considerada na fixação da pena-base.

Observe como o tema foi cobrado na prova de PCMG/2018: "O agente que provoca, de

forma dolosa, várias lesões corporais, de natureza grave e gravíssima, contra a mesma vítima,
em um mesmo contexto fático, irá responder por crime continuado. Errado! O Agente irá

responder por crime único".

Por outro lado, quanto ao o corte de cabelo contra a vontade da vítima configurar ou
não lesão corporal. Existem 03 correntes:

1ªC: Pode configurar lesão corporal, mas é indispensável que a ação provoque uma

alteração desfavorável no aspecto exterior do indivíduo.

2ªC: Não configura lesão corporal, mas pode configurar injúria real.

3ªC: Pode configurar lesão corporal ou injúria real, dependendo do dolo do agente.

Por fim, conforme entendimento doutrinário contemporâneo, a integridade da vítima é

um bem relativamente disponível. Portanto, tratando-se de lesão corporal leve e que não
contrarie a moral e os bons costumes, o consentimento do ofendido poderá excluir o crime.

13.3 Objetividade jurídica e Objeto material

O objeto jurídico é a proteção da integridade física, bem como a saúde fisiológica (correto
funcionamento do organismo) e a saúde mental do indivíduo. Já o objeto material, é a pessoa

humana que suporta a conduta criminosa.

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13.4 Sujeito ativo e sujeito passivo

Trata-se de um Crime comum, podendo qualquer pessoa ser sujeito ativo. O sujeito
passivo pode ser qualquer pessoa, mas, em alguns casos, o tipo penal exige uma situação

diferenciada em relação à vítima, como é o caso da lesão corporal grave ou gravíssima em que
a vítima deve ser mulher grávida para possibilitar a aceleração do parto ou o aborto.

13.5 Elemento subjetivo

Em geral é o dolo, direto ou eventual, conhecido como animus laedendi ou animus

nocendi.

13.6 Tentativa e consumação

A tentativa é possível em todas as modalidades de lesão corporal dolosa. Mas é incabível

na lesão culposa e na lesão corporal seguida de morte, pois a involuntariedade do resultado


naturalístico que envolve a culpa é incompatível com o conatus.

Cuida-se de crime material ou causal e de dano: consuma-se com a efetiva lesão à

integridade corporal ou à saúde da vítima.

13.7 Autolesão

Em regra, a autolesão não é crime, em razão do princípio da alteridade. Entretanto, pode

caracterizar crime autônomo quando violar outro bem jurídico, é o que ocorre no crime de
fraude para recebimento do valor de seguro.

13.8 Princípio da insignificância ou criminalidade de


bagatela

É possível sua incidência na lesão corporal dolosa de natureza leve e na lesão corporal
culposa (CP, art. 129, caput, e § 6.º), quando a conduta acarreta em ofensa ínfima à integridade
corporal ou à saúde da pessoa humana. O STF já admitiu no âmbito da Justiça Militar.

8
13.9 Lesão dolosa leve (Art. 129, caput);

O art. 129, caput, do Código Penal prevê a lesão corporal dolosa leve:

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja ação penal pública depende
de representação (Lei 9.099/95, art. 88). Cabe suspensão condicional do processo e transação.

Faz-se prova da materialidade do fato delituoso com o exame de corpo de delito, mas

para o oferecimento da denúncia é suficiente o boletim médico ou prova equivalente. Entretanto,


para a condenação, entretanto, exige-se a perícia, sob pena de nulidade.

A ação penal é pública condicionada à representação. As demais espécies de lesões

corporais dolosas são crimes de ação penal pública incondicionada, inclusive no caso da Lei
Maria da Penha.

Súmula n.º 542, STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal

resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

13.10 Lesão corporal dolosa grave (art. 129, §1º)

É uma forma qualificada, e encontra-se prevista no § 1.º do art. 129 do Código Penal:

§ 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias1;

II - perigo de vida;

III - debilidade permanente de membro, sentido ou função2;

IV - aceleração de parto3:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

1
Vide questão 8 do material
2
Vide questão 4 do material
3
Vide questões 6 e 10 do material
9
A pena, em qualquer das hipóteses, é de reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. Cuida-se,

portanto, de infração penal de médio potencial ofensivo.

É possível a coexistência de diversas formas de lesão corporal grave. Nesses casos, estará
configurado um único crime.

Considera-se lesão grave aquela que resulta em:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias;

Ocupação habitual corresponde a qualquer atividade corporal rotineira, não

necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa, devendo ser lícita, ainda que imoral.
É suficiente tratar-se de ocupação concreta, pouco importando se lucrativa ou não.

Pode atingir pessoas que não fazem parte da população economicamente ativa, ex:

crianças, débeis mentais, idosos, etc.

Vergonha de sair de casa ou humilhação devido à agressão sofrida NÃO qualifica,


devendo ser um impedimento real e não meramente subjetivo.

São exigidos, pois, dois exames periciais, conforme o Art. 168, do Código de Processo

Penal: um exame inicial, realizado logo após o crime, que se destina a constatar a existência das
lesões, e um exame complementar, efetuado logo que decorra o prazo de 30 (trinta) dias,

contado da data do crime, que serve para comprovar a duração da incapacidade das ocupações
habituais em razão dos ferimentos provocados pela conduta criminosa.

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto,
proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou
judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado,
ou de seu defensor.

§ 1º No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim


de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.

§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do
Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do
crime.

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§ 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

Esse prazo é penal, até porque presente no próprio tipo. Logo, se inclui na contagem o

dia da ocorrência do crime.

II - Perigo de vida

Trata-se da probabilidade séria, concreta e imediata do êxito letal, devidamente

comprovado por perícia. Não se presume, comprovando-se por meio de perícia.

Apenas admite a forma PRETERDOLOSA, dolo na lesão e culpa no perigo de vida. Se o


sujeito assume o risco de causar perigo de vida à vítima, trata-se de tentativa de homicídio.

III- Debilidade permanente de membro, sentido ou função

Debilidade é a diminuição ou o enfraquecimento da capacidade funcional, de forma

permanente, duradoura e de recuperação incerta.

Membros são os braços, pernas, mãos e pés. Sentidos são os mecanismos pelos quais a
pessoa humana constata o mundo à sua volta. São cinco: visão, audição, tato, olfato e paladar.

Função é a atividade inerente a um órgão ou aparelho do corpo humano. Destacam-se, entre


outras, as funções secretora, respiratória, circulatória etc.

Tratando-se de órgãos duplos (ex: rins, olhos), a perda de um deles caracteriza lesão

grave pela debilidade permanente, enquanto a perda de ambos configura lesão gravíssima pela
perda ou inutilização.

A perda de um ou mais dentes pode ou não caracterizar lesão corporal grave,

dependendo da comprovação pericial acerca da debilidade ou não da função mastigatória, e,


indiretamente, também da função digestiva. O STJ, em 2017, decidiu que a lesão corporal que

provoca na vítima a perda de dois dentes tem natureza grave (art. 129, § 1º, III, do CP), e não
gravíssima (art. 129, § 2º, IV, do CP).

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IV - Aceleração de parto

Aceleração de parto é a antecipação do parto, o parto prematuro, que ocorre quando o

feto nasce antes do período normal estipulado pela medicina, em decorrência da lesão corporal
produzida na gestante. Exige-se o conhecimento, pelo sujeito, da gravidez da vítima. Caso ignore
a situação, o agente deve responder somente por lesão corporal leve.

Entretanto, se em consequência da lesão corporal praticada contra a gestante, o feto for


expulso morto do ventre materno, o crime será de lesão corporal gravíssima em razão do aborto.

13.11 Lesões corporais gravíssimas: Art. 129, § 2.º

As lesões corporais gravíssimas estão definidas pelo art. 129, § 2.º, do Código Penal. A
pena, em qualquer caso, é de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.

§ 2° Se resulta:

I - Incapacidade permanente para o trabalho4;

II - enfermidade incurável5;

III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;

IV - deformidade permanente6;

V - aborto:

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

É possível a ocorrência simultânea de duas ou mais modalidades de lesão corporal

gravíssima, mas irá configurar crime único.

Considera-se lesão gravíssima aquela que resulta em:

4
Vide questão 9 do material
5
Vide questão 3 do material
6
Vide questão 1 do material
12
I - Incapacidade permanente para o trabalho;

Incapacidade permanente compreende toda e qualquer incapacidade longa e duradoura,

isto é, que não permita fixar seu limite temporal. Não se exige que seja irreversível ou perpetua,
deve ser duradoura, no tempo e sem previsão de cessação.

Não se trata mais de ocupações habituais, mas de trabalho remunerado. Prevalece que

para incidir essa qualificadora, o sujeito deve ficar incapacitado para todo o tipo de trabalho, e
não apenas para aquele realizado antes do fato.

II - enfermidade incurável;

Trata-se de um processo patológico em curso que afeta a saúde em geral, para o qual
não existe cura na medicina. Deve ser provada por exame pericial.

Considera-se incurável a enfermidade que somente pode ser enfrentada por

procedimento cirúrgico complexo ou mediante tratamentos experimentais ou penosos, pois a


vítima não pode ser obrigada a enfrentar tais situações.

A qualificadora não se aplica quando há tratamento ou cirurgia simples para solucionar

o problema e a vítima se recusa injustificadamente a adotá-lo.

Admite-se que a enfermidade incurável possa resultar tanto do comportamento culposo


quanto doloso do agente.

Não há consenso na doutrina acerca da transmissão do vírus da AIDS configurar

homicídio, lesão corporal gravíssima em razão de enfermidade incurável ou até mesmo o crime
de perigo de contágio venéreo.

Para Cleber Masson “A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), doença fatal e

incurável, não é moléstia venérea, uma vez que pode ser transmitida por formas diversas da
relação sexual e dos atos libidinosos. Se um portador do vírus HIV, consciente da letalidade da

moléstia, efetua intencionalmente com terceira pessoa ato libidinoso que transmite a doença,
matando-a, responde por homicídio doloso consumado. E, se a vítima não falecer, a ele deve

ser imputado o crime de homicídio tentado. Não há falar no crime de perigo de contágio
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venéreo (CP, art. 130), uma vez que o dolo do agente dirige-se à morte da vítima. É a nossa

posição”.

O autor, todavia, traz o entendimento do Supremo Tribunal Federal: “não comete


homicídio (consumado ou tentado) o sujeito que, tendo ciência da doença (AIDS) e,

deliberadamente, oculta-a de seus parceiros, mantém relações sexuais sem preservativo. A Corte,
todavia, limita-se a afastar o crime doloso contra a vida, sem concluir acerca da tipicidade do

delito efetivamente cometido (perigo de contágio venéreo ou lesão corporal gravíssima pela
enfermidade incurável)”.

Ano: 2018 Banca: FUNDATEC Órgão: DPE-SC Prova: FUNDATEC - 2018 - DPE-SC - Analista
Técnico. IV. Pode-se asseverar que se o agente ativo, portador de HIV – AIDS, tem por
intenção transmitir a sua doença a outrem, poderá responder pelo delito de perigo de
contágio de moléstia grave, se o seu dolo se dirigir tão somente à transmissão da doença;
poderá responder pelo delito de homicídio ou de tentativa de homicídio, se o seu dolo se
dirigir para além da transmissão da doença à morte da vítima; ou, ainda, poderá responder
por lesão corporal de natureza gravíssima, se seu dolo se dirigir à produção de ofensa à
integridade física ou saúde da vítima, com o resultado enfermidade incurável, ou, ainda,
por lesão corporal seguida de morte, acaso essa ocorra, mas o dolo do agente abranja
apenas a intenção de lesionar a vítima.

III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;

Perda é a destruição ou privação de membro, sentido ou função. Existem duas hipóteses

de perda de membro: Amputação (feita por médico em procedimento cirúrgico) ou mutilação


(realizada pelo agressor, culposa ou dolosamente, na execução do crime).

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Inutilização é a falta de aptidão do órgão para desempenhar sua função específica. Frisa-

se que a perda de parte do movimento de um membro (braço ou perna, mão ou pé) caracteriza
lesão grave pela debilidade, ao passo que a perda de todo o movimento tipifica lesão corporal

gravíssima pela inutilização.

Para configurar lesão corporal gravíssima, na hipótese de órgãos duplos, os dois órgãos
precisam ser prejudicados, caracterizando perda ou inutilização. Exemplo: surdez nos dois

ouvidos.

Por fim, a cirurgia de esterilização e de mudança de sexo não provoca a inutilização da


função reprodutora, e não configuram lesão corporal gravíssima, assim como não configura as

intervenções médicas ou cirúrgicas em geral (com finalidade curativa, reparadora etc.), eis que
há ausência do dolo de lesionar a integridade corporal ou a saúde do paciente. Não há crime

por parte do médico que efetua essa cirurgia.

IV - deformidade permanente;

Alteração duradoura de parte do corpo. Permanente e visível, em qualquer parte do corpo,

trazendo uma impressão desagradável ou vexatória para a vítima. Deve haver um dano estético
irreparável, visível. Exemplo: Jogar ácido no rosto da pessoa.

Doutrina e jurisprudência majoritárias, entretanto, consagram o entendimento de que essa

qualificadora é intimamente relacionada a questões estéticas. A correção da deformidade com


o emprego de prótese ou ocultação da deformidade pelos cabelos ou por aparelhos, tais como
óculos escuros, não afasta essa qualificadora.

Caso a deformidade permanente seja corrigida por cirurgia estética, subsiste a


qualificadora?

 1ª corrente: sim, pois a deformidade deixou de existir.


 2ª corrente: não, porque a qualificadora deve ser analisada no momento do crime, em
compasso com a teoria da atividade.

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Doutrinariamente, a 1ª corrente parece ser a majoritária. Todavia, é preciso ter cuidado

com o tipo de pergunta feito na hora da prova, eis que o STJ, no Informativo n.º 562, decidiu
contrariamente.

V - aborto

A interrupção da gravidez com a consequente morte do feto deve ter sido provocada

culposamente, uma vez que se trata de crime preterdoloso. Do contrário (dolo de abortamento),
o agente responde pelo crime de aborto.

É obrigatório o conhecimento do sujeito acerca da gravidez da vítima. Se o agente

ignorava a gravidez da ofendida, a hipótese é de erro de tipo, com exclusão do dolo e,


consequentemente, da qualificadora.

Quadro comparativo:

Lesão corporal grave Lesão corporal gravíssima


I - Incapacidade para as ocupações habituais, I - Incapacidade permanente para o trabalho;
por mais de trinta dias;
II - perigo de vida; II - enfermidade incurável;
III - debilidade permanente de membro, III perda ou inutilização do membro, sentido
sentido ou função; ou função;
- IV - deformidade permanente;
IV - aceleração de parto: V - aborto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos. Pena - reclusão, de um a cinco anos.
Ação penal pública incondicionada

13.12 Lesão corporal seguida de morte: Art. 129, § 3.º

Estabelece o art. 129, § 3.º, do Código Penal:

§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado,


nem assumiu o risco de produzi-lo:

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Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Trata-se de um crime preterdoloso. Não há que se falar em dolo de matar. A morte, aqui,
é sempre culposa.

Caso fortuito ou força maior não permitem imputar o resultado morte ao agente.
Responde apenas por lesão.

Tratando-se de figura híbrida (misto de dolo e de culpa), esse crime não admite tentativa.

13.13 Lesão corporal dolosa privilegiada: causa de


diminuição de pena (art. 129, § 4.º)

O art. 129, §4º prevê uma causa especial de diminuição de pena aplicável unicamente no

tocante às lesões dolosas. Não é cabível na lesão corporal culposa.

§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima,
o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

13.14 Lesões corporais leves e substituição da pena: § 5.º

O §5º, por sua vez, prevê a possibilidade de substituição da pena, in verbis:

§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela
de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:

I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;

II - se as lesões são recíprocas7.

A substituição aplica-se exclusivamente à lesão corporal LEVE, e mesmo assim somente

se a lesão for privilegiada ou se tratar-se de lesão recíproca.

7
Vide questão 2 do material
17
Lesões recíprocas são as que ocorrem quando duas pessoas injustamente se agridem.

Não se confunde com a legítima defesa, pois, se a vítima ferir o ofensor apenas para se defender,
não cometerá crime nenhum.

13.15 Aumento de pena na lesão corporal dolosa: § 7.º

Prevista no Art. 129, §7º, do Código Penal:

§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do
art. 121 deste Código.

Na hipótese de lesão corporal dolosa, qualquer que seja sua modalidade (leve, grave,
gravíssima ou seguida de morte), a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado

contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou então se for praticado
por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de

extermínio.

13.16 Lesão corporal culposa (art. 129, §6º)8

A lesão corporal culposa está prevista no Art. 129, §6º, do Código Penal, e assim dispõe:

§ 6° Se a lesão é culposa:

Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja ação penal pública depende
de representação (Lei 9.099/95, art. 89). Cabe suspensão condicional do processo e transação.

Importante dizer que a Lei nº 13.546/2017, alterou o Código de Trânsito Brasileiro. O art.
303 do CTB trata sobre o crime de lesão corporal culposa no trânsito. A Lei nº 13.546/2017
acrescenta uma nova qualificadora no § 2º com a seguinte redação:

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas -
detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão
ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

8
Vide questão 5 do material
18
§ 1º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses
do § 1º do art. 302. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.546, de 2017).

§ 2º A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem prejuízo das
outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com capacidade
psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa
que determine dependência, e se do crime resultar lesão corporal de natureza grave ou
gravíssima. (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017).

Dessa forma, passaram a existir no ordenamento jurídico brasileiro dois crimes de lesões

corporais culposas: a previsão do art. 129, §6º, CP, abrangendo todos os casos de forma residual;
e a previsão do art. 303 do CTB, aplicação exclusiva para os acidentes de trânsito viário em que

o autor do crime esteja na direção de veículo automotor.

13.17 Lesão corporal culposa e perdão judicial: § 8.º

O art. 129, § 8.º, do Código Penal determina a incidência do perdão judicial ao crime de

lesão corporal culposa.

§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.

Os requisitos são os mesmos do homicídio. O juiz pode deixar de aplicar a pena quando
as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal
se torne desnecessária.

13.18 Lesão corporal e violência doméstica: § 9.º

O § 9º traz uma qualificadora aplicável na hipótese de lesão corporal leve. Com a pena

majorada, o delito em análise deixa de ser de menor potencial ofensivo.

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou


companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

19
Não teria sentido punir uma lesão grave, gravíssima ou seguida de morte com pena de

detenção, em limites inferiores àqueles previstos nos §§ 1.º, 2.º e 3.º do art. 129 do Código
Penal. Se a lesão corporal for grave, gravíssima ou seguida de morte, incidirá sobre as penas

respectivas o aumento de 1/3 imposto pelo § 10 do art. 129 do Código Penal.

A ação penal será incondicionada quando praticado crime de lesão corporal leve (e
também a lesão corporal culposa) no âmbito da violência doméstica ou familiar contra a mulher.

Súmula n.º 542, STJ. A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência
doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

É preciso atentar para o art. 16 da Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha, o qual permite
a retratação da representação perante a autoridade judicial. Todavia, somente será possível a

retratação nos crimes de ação penal pública condicionada, praticado com violência doméstica
ou familiar contra a mulher (exemplo: crime de ameaça – CP, art. 147), e nesse rol não se inclui

a lesão corporal.

O crime de lesão corporal com violência doméstica pode ser praticado nas seguintes
situações (formas de violência):

 Contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro: Exige-se prova


documental da relação de parentesco ou do vínculo matrimonial. O parentesco pode ser
civil ou natural.
 Com quem conviva ou tenha convivido: É um grupo autônomo de vítimas, de forma
que não se exige dos familiares a coabitação com o agente.
 Prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade: Esse terceiro grupo de vítimas se refere às Visitas, hóspedes, empregados
domésticos etc.

20
13.19 Pessoa portadora de deficiência e aumento de pena na
lesão corporal leve com violência doméstica: § 11º

Esta causa de aumento aplica-se exclusivamente ao § 9º, que contempla a lesão leve. Não
incide, portanto, se a lesão é grave, gravíssima ou seguida de morte.

§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime


for cometido contra pessoa portadora de deficiência.

Se o deficiente for vítima de lesão grave em ambiente doméstico e familiar, somente se


aplica a majorante do §10º.

13.20 Causa de aumento de pena nas lesões graves,


gravíssimas e seguidas de morte: § 10º

Note-se que a lesão leve praticada nas situações descritas no § 9º consubstancia uma

qualificadora, ao passo que a lesão grave, gravíssima ou seguida de morte cometida nas mesmas
hipóteses dá ensejo a uma causa de aumento de pena.

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas
no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).

Como exemplo, o art. 129, §1º (lesão grave), que tem pena prevista de 01 a 05 anos, terá
a pena majorada de 1/3, se o crime for cometido em ambiente doméstico ou familiar. O mesmo

ocorrendo com os §§2º (lesão gravíssima - pena de 02 a 08) e 3º (lesão seguida de morte -
pena 04 a 12).

Consequência da majoração de 1/3 nesses crimes:

 §1º: 01 a 05 anos - Não mais admite suspensão condicional do processo.


 §2º: 02 a 08 anos - Não mais admite a ‘sursis’ comum ou especial.
 §3º: 04 a 12 anos - Não mais admite regime inicial aberto.

21
13.21 Lesão corporal contra integrantes dos órgãos de
segurança pública: § 12º

Nova causa de aumento de pena da lesão dolosa, em qualquer modalidade, leve, grave,
gravíssima ou seguida de morte:

§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena
é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015).

Cuida-se de causa de aumento da pena, a ser utilizada pelo magistrado na terceira e

derradeira etapa da dosimetria da pena privativa de liberdade, e aplicável exclusivamente à lesão


corporal dolosa, em qualquer das suas modalidades (leve, grave, gravíssima ou seguida de

morte).

13.22 Ação Penal no Crime de Lesão Corporal

Em regra, a pena do crime de lesão corporal é perseguida mediante ação penal pública

incondicionada. Excepcionalmente, porém, no caso da lesão dolosa de natureza leve (art. 129,
caput, do Código Penal) e culposa (§ 6º), o oferecimento da ação penal dependerá de

representação da vítima ou de seu representante legal (art. 88 da Lei 9.099/95).

Faz-se importante mencionar que, qualquer lesão corporal, mesmo que leve ou culposa,
praticada contra mulher no âmbito das relações domésticas é crime de ação penal

incondicionada, ou seja, o Ministério Público pode dar início à ação penal sem necessidade de
representação da vítima.

"(...) Conforme decidiu o c. STF, na ADI 4424, o crime de lesão corporal em contexto de
violência doméstica é de ação pública incondicionada, que independe da vontade da
vítima para a persecução penal... Não é outro o entendimento do e. STJ, que, inclusive,
editou a súmula n. 542: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada”. No mesmo sentido, decidiu

22
o Tribunal que “(...) As lesões corporais praticadas no âmbito doméstico constituem crime
de ação pública incondicionada, pouco importando a vontade da vítima ou a reconciliação
do casal, ante a imperatividade da Lei Maria da Penha na salvaguarda do interesse maior
da integridade física e psíquica da mulher. (...)” (Acórdão 1008237, 20161510001855APR,
Relator: Des. Jesuino Rissato, 3ª Turma Criminal, data de julgamento: 30/3/2017, publicado
no DJE: 7/4/2017. Pág.: 154/168). Daí por que não se aplica o disposto no art. 16 da L.
11.340/06 quanto ao crime de lesão corporal". (grifamos) Acórdão 1236068,
00027001220168070003, Relator: JAIR SOARES, 2ª Turma Criminal, data de julgamento:
5/3/2020, publicado no DJe: 18/3/2020.

Corroborando esse entendimento, a jurisprudência em teses n.º 11 do STJ, referente a


violência doméstica e familiar contra mulher, entende que:

11) O crime de lesão corporal, ainda que leve ou culposo, praticado contra a mulher no
âmbito das relações domésticas e familiares, deve ser processado mediante ação penal
pública incondicionada.

Por fim, esse entendimento foi consolidado através da Súmula n.º 542 do STJ:

Súmula n.º542, STJ. A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

23
QUADRO SINÓPTICO

LESÃO CORPORAL
Lesão corporal é a ofensa humana direcionada à integridade
corporal ou à saúde de outra pessoa. Depende da produção de
CONCEITO algum dano no corpo da vítima, interno ou externo, mas
independe da produção de dores ou a irradiação de sangue do
organismo do ofendido.
Em regra, a autolesão não é crime, em razão do princípio da
alteridade. Entretanto, pode caracterizar crime autônomo quando
AUTOLESÃO
violar outro bem jurídico é o que ocorre no crime de fraude para
recebimento do valor de seguro.
É possível sua incidência na lesão corporal dolosa de natureza
PRINCÍPIO DA
leve e na lesão corporal culposa (CP, art. 129, caput, e § 6.º),
INSIGNIFICÂNCIA OU
quando a conduta acarreta em ofensa ínfima à integridade
CRIMINALIDADE DE
corporal ou à saúde da pessoa humana. O STF já admitiu no
BAGATELA
âmbito da Justiça Militar.
Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja ação
LESÃO DOLOSA LEVE
penal pública depende de representação (Lei 9.099/95, art. 88).
(ART. 129, CAPUT);
Cabe suspensão condicional do processo e transação.
É uma forma qualificada, e encontra-se prevista no § 1.º do art.
129 do Código Penal:
LESÃO CORPORAL § 1º Se resulta:
DOLOSA GRAVE (ART. I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias;
129, §1º) II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
LESÕES CORPORAIS As lesões corporais gravíssimas estão definidas pelo art. 129, §
GRAVÍSSIMAS: ART. 129, 2.º, do Código Penal. A pena, em qualquer caso, é de reclusão,
§ 2.º de 2 (dois) a 8 (oito) anos.

24
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Trata-se de um crime preterdoloso. Não há que se falar em dolo
LESÃO CORPORAL
de matar. A morte, aqui, é sempre culposa. Caso fortuito ou força
SEGUIDA DE MORTE:
maior não permitem imputar o resultado morte ao agente.
ART. 129, § 3.º
Responde apenas por lesão.
LESÃO CORPORAL O art. 129, §4º prevê uma causa especial de diminuição de pena
DOLOSA PRIVILEGIADA: aplicável unicamente no tocante às lesões dolosas, caso o agente
CAUSA DE DIMINUIÇÃO comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou
DE PENA (ART. 129, § moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
4.º) injusta provocação da vítima.
LESÕES CORPORAIS A substituição aplica-se exclusivamente à lesão corporal LEVE, e
LEVES E SUBSTITUIÇÃO mesmo assim somente se a lesão for privilegiada ou se tratar-se
DA PENA: § 5.º de lesão recíproca.
Na hipótese de lesão corporal dolosa, qualquer que seja sua
modalidade (leve, grave, gravíssima ou seguida de morte), a pena
AUMENTO DE PENA NA
é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra
LESÃO CORPORAL
pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos,
DOLOSA: § 7.º
ou então se for praticado por milícia privada, sob o pretexto de
prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
LESÃO CORPORAL Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja ação
CULPOSA (ART. 129, penal pública depende de representação (Lei 9.099/95, art. 89).
§6º) Cabe suspensão condicional do processo e transação.
Os requisitos são os mesmos do homicídio. O juiz pode deixar
LESÃO CORPORAL de aplicar a pena quando as consequências da infração atingirem
CULPOSA E PERDÃO o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
JUDICIAL: § 8.º desnecessária.

25
LESÃO CORPORAL E O § 9º traz uma qualificadora aplicável na hipótese de lesão
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: corporal leve. Com a pena majorada, o delito em análise deixa de
§ 9.º ser de menor potencial ofensivo.
PESSOA PORTADORA DE Esta causa de aumento aplica-se exclusivamente ao § 9º, que
DEFICIÊNCIA E contempla a lesão leve. Não incide, portanto, se a lesão é grave,
AUMENTO DE PENA NA gravíssima ou seguida de morte. § 11. Na hipótese do § 9º deste
LESÃO CORPORAL LEVE artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for
COM VIOLÊNCIA cometido contra pessoa portadora de deficiência.
DOMÉSTICA: § 11º
CAUSA DE AUMENTO Note-se que a lesão leve praticada nas situações descritas no §
DE PENA NAS LESÕES 9º consubstancia uma qualificadora, ao passo que a lesão grave,
GRAVES, GRAVÍSSIMAS gravíssima ou seguida de morte cometida nas mesmas hipóteses
E SEGUIDAS DE MORTE: dá ensejo a uma causa de aumento de pena.
§ 10º
LESÃO CORPORAL Nova causa de aumento de pena da lesão dolosa, em qualquer
CONTRA INTEGRANTES modalidade, leve, grave, gravíssima ou seguida de morte.
DOS ÓRGÃOS DE
SEGURANÇA PÚBLICA: §
12º

26
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Banca: FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto) De acordo com o Artigo
129 do Código Penal Brasileiro, trata-se de lesão corporal de natureza gravíssima:

A) Aceleração de parto.
B) Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
C) Deformidade permanente.
D) Perigo de vida.

Comentário:

A) Errada. Conforme o Art. 129, §1.º, IV, do Código Penal, a aceleração de parto é lesão
corporal de natureza grave.

B) Errada. Conforme o Art. 129, §1.º, III, do Código Penal, a debilidade permanente de

membro, sentido ou função é lesão corporal de natureza grave.

C) Correta. Conforme o Art. 129, §2.º, IV, do Código Penal, a deformidade permanente é
lesão corporal de natureza gravíssima.

D) Errada. Conforme o Art. 129, §1.º, II, do Código Penal, o perigo de vida é lesão corporal

de natureza grave.

Questão 2

(Banca: FCC - 2016 - DPE-BA - Defensor Público) Sobre os crimes contra a pessoa,

A) o comportamento da vítima é incapaz de influenciar a pena no crime de lesão corporal.


27
B) o princípio da insignificância não se aplica ao crime de lesão corporal, pois sua desclassificação

incide na contravenção de vias de fato.


C) a ofensa à saúde de outrem, por ser crime de perigo, não depende da produção do resultado

para a configuração da tipicidade.


D) a lesão corporal culposa na direção de veículo automotor impede a substituição da pena

privativa de liberdade por pena restritiva de direitos.


E) a prática de lesão corporal leve em situação de lesões recíprocas pode ensejar a substituição

da pena de detenção pela de multa.

Comentário:

A) Errada. Comportamento da vítima é circunstância que deve ser considerada pelo

julgador para fins de fixação da pena base na ocasião da prolação da sentença juntamente
com outras circunstâncias, nos termos do artigo 59 do Código Penal. Vale dizer: em casos

de crime contra pessoa, se o comportamento da vítima de alguma forma contribui com a


lesão do bem jurídico, o juiz deve levar em conta para amenizar o quantum a ser aplicado
na pena base. No que toca ao crime de homicídio, a injusta provocação da vítima, somada

aos demais elementos estabelecidos no § 1º do artigo 121 do Código Penal, configura o


delito de homicídio privilegiado, que enseja a diminuição da pena (causa de diminuição de

pena). Esse fenômeno se repete em relação ao crime de lesão corporal nos termos do §
4º, do artigo 129, do Código Penal. Sendo assim, a assertiva contida neste item está

incorreta.

B) Errada. Há entendimento tanto na doutrina quanto na jurisprudência de que o princípio


da insignificância se aplica aos crimes de lesão corporal leve. Seria insignificante, embora

se subsuma a tipo penal do artigo 129 do Código Penal, um levíssimo arranhão que não
afeta a tipicidade material para ser considerado lesão corporal. Neste sentido já se

manifestou o STF:

28
“Acidente de Trânsito. Lesão Corporal. Inexpressividade da Lesão. Princípio da

Insignificância. Crime Não Configurado. Se a lesão corporal (pequena equimose) decorrente


de acidente de trânsito é de absoluta insignificância, como resulta dos elementos dos autos

- e outra prova não seria possível fazer-se tempos depois -, há de impedir-se que se
instaure ação penal (...)." (STF; HC 66869/PR; Segunda Turma; Relator Ministro Aldir

Passarinho). Sendo assim, a assertiva contida neste item está errada.

C) Errada. A conduta de ofender a saúde de outrem é tipificada como crime de lesão


corporal no artigo 129 do Código Penal. Com efeito, não se trata de crime de perigo, mas

de resultado e não prescinde, por via de consequência, da ocorrência da efetiva lesão para
a sua configuração. Logo, a assertiva contida neste item está errada.

D) Errada. Não há vedação legal à substituição da pena privativa de liberdade por restritivas

de direito, no caso de crime de lesão corporal na direção de veículo automotor, desde que
estejam presentes os requisitos previsto no artigo 44 do Código Penal, que trata da matéria.

E) Correta. A substituição da pena de detenção pela de multa, no caso de prática de lesão

corporal quando há lesões corporais recíprocas, é possível desde que estejam presentes as
circunstâncias previstas no inciso II, § 5º, do artigo 129 do Código Penal. A assertiva contida

neste item está correta.

Questão 3

(Banca: UFMT - 2016 - DPE-MT - Defensor Público) A lesão corporal se enquadra nas
hipóteses expressas no art. 129, § 2º do Código Penal, doutrinariamente denominada gravíssima,
se ocorrer

A) aceleração de parto.
B) enfermidade incurável.
C) incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias.
D) debilidade permanente de membro, sentido ou função.
E) perigo de vida.
29
Comentário:

A) Errada. Conforme o Art. 129, §1.º, IV, do Código Penal, a aceleração de parto é lesão
corporal de natureza grave.

B) Correta. Conforme o Art. 129, §2.º, II, do Código Penal, a enfermidade incurável é lesão

corporal gravíssima.

C) Errada. Conforme o Art. 129, §1.º, I, do Código Penal, a incapacidade para as ocupações
habituais, por mais de trinta dias é lesão corporal de natureza grave.

D) Errada. Conforme o Art. 129, §1.º, III, do Código Penal, a debilidade permanente de

membro, sentido ou função, por mais de trinta dias é lesão corporal de natureza grave.

E) Errada. Conforme o Art. 129, §1.º, II, do Código Penal, o perigo de vida é lesão corporal
de natureza grave.

Questão 4

(Banca: Quadrix - 2019 - CRO-AM - Assistente Administrativo Fiscal) Conforme o Código


Penal, julgue o item.

É considerada como lesão de natureza média a que resultar em debilidade permanente de


membro, sentido ou função.

( ) Certo
( ) Errado

Comentário:

30
Errada. Não existem a modalidade MÉDIA, apenas leve, grave e gravíssima. Conforme o

Art. 129, §1.º, III, do Código Penal, a debilidade permanente de membro, sentido ou função,
por mais de trinta dias é lesão corporal de natureza grave.

Questão 5

(Banca: Quadrix - 2018 - CRO-PB - Fiscal) Acerca do Direito Penal aplicado à prática
odontológica, julgue o item que se segue.

O crime de lesão corporal, assim como a maioria dos crimes previstos no Código Penal brasileiro,
somente admite a modalidade dolosa.

( ) Certo
( ) Errado

Comentário:

Errada. O Código Penal admite também a modalidade culposa. A lesão corporal na

modalidade culposa está prevista no §6° do art. 129, e é praticada quando há violação a
um dever objetivo de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia).

Questão 6

(Banca: FCC - 2018 - Prefeitura de Caruaru - PE - Procurador do Município) Lesão corporal


de natureza grave é aquela da qual resulta

A) deformidade permanente.
B) incapacidade permanente para o trabalho.
C) violência doméstica.
D) feminicídio.

31
E) aceleração de parto.

Comentário:

A) Errada. Conforme o Art. 129, §2.º, IV, do Código Penal, a deformidade permanente é

lesão corporal de natureza gravíssima.

B) Errada. Conforme o Art. 129, §2.º, I, do Código Penal, a Incapacidade permanente para
o trabalho é lesão corporal de natureza gravíssima.

C) Errada. A violência doméstica qualifica a lesão leve e serve como causa de aumento de

pena pra greve, gravíssima e com resultado morte.

D) Errada. Não há tal previsão. O termo feminicídio trata-se do homicídio qualificado contra
mulher pela simples razão de menosprezo ou discriminação à condição de ser mulher.

E) Correta. Conforme o Art. 129, §1.º, IV, do Código Penal, a aceleração de parto é lesão

corporal de natureza grave.

Questão 7

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2018 - PC-MA - Perito Criminal) Mário, ao envolver-se em uma
briga, lesionou Júlio. Nessa situação hipotética, Mário responderá por lesão corporal de natureza
grave se tiver

A) provocado em Júlio debilidade permanente de função, como, por exemplo, a redução da


capacidade mastigatória pela perda dentária.
B) ofendido a integridade corporal de Júlio, causando-lhe diversas escoriações no corpo.
C) causado a morte de Júlio, ainda que em circunstâncias que evidenciem que Mário não queria
matá-lo.
D) causado a morte de Júlio em circunstâncias que evidenciem que Mário assumiu o risco de
produzir o resultado.

32
E) provocado a incapacitação de Júlio para ocupações habituais, como, por exemplo, o trabalho
e o estudo, por quinze dias.

Comentário:

A) Correta. A redução da capacidade mastigatória pela perda dentária é considerada Lesão


Corporal de Natureza Grave, enquadrada no Art. 129, §1.º, III, do Código Penal.

B) Errada. Enquadra-se no Art. 129, caput, ofender a integridade corporal ou a saúde de

outrem.

C) Errada. Conforme o Art. 129, § 3º, do Código Penal, trata-se de lesão corporal seguida
de morte.

D) Errada. Conforme o Art. 121, §4º, do Código Penal, trata-se de Homicídio doloso.

E) Errada. Apenas seria lesão corporal de natureza grave se a incapacidade fosse por mais

de trinta dias.

Questão 8

(Banca: FEPESE - 2017 - PC-SC - Escrivão de Polícia Civil) De acordo com o Código Penal, a
incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias, caracteriza o crime de:

A) lesão corporal simples.


B) lesão corporal leve.
C) lesão corporal grave.
D) lesão corporal gravíssima.
E) lesão corporal seguida de morte.

Comentário:

33
A) Errada. De acordo com o Art. 129, §1.º, I, do Código Penal, a incapacidade para as

ocupações habituais, por mais de trinta dias é lesão corporal de natureza grave.

B) Errada. De acordo com o Art. 129, §1.º, I, do Código Penal, a incapacidade para as
ocupações habituais, por mais de trinta dias é lesão corporal de natureza grave.

C) Correta. De acordo com o Art. 129, §1.º, I, do Código Penal, a incapacidade para as
ocupações habituais, por mais de trinta dias é lesão corporal de natureza grave.

D) Errada. De acordo com o Art. 129, §1.º, I, do Código Penal, a incapacidade para as

ocupações habituais, por mais de trinta dias é lesão corporal de natureza grave.

E) Errada. De acordo com o Art. 129, §1.º, I, do Código Penal, a incapacidade para as
ocupações habituais, por mais de trinta dias é lesão corporal de natureza grave.

Questão 9

(Banca: FUNCAB - 2016 - PC-PA - Papiloscopista) Considerando apenas as informações


existentes nas alternativas, assinale aquela que caracteriza crime de lesão corporal gravíssima
(art. 129, § 2º, do CP).

A) Provocar dolosamente a perda de audição em um dos ouvidos da vítima.


B) Agredir a vítima com intenção de interromper sua gravidez mediante aborto, o que
efetivamente ocorre.
C) Lesionar a vítima dolosamente, causando-lhe por culpa incapacidade permanente para o
trabalho.
D) Transmitir a vítima, intencionaImente, enfermidade grave, mas curável.
E) Queimar culposamente significativa parte do corpo da vítima, de modo a causar-lhe
deformidade permanente.

Comentário:

34
A) Errada. O inciso III do §2º faz alusão sobre a perda ou inutilização do membro, sentido

ou função, logo, apenas 1 dos 2 ouvidos foram inutilizados, mantendo o sentido da


audição. O que houve foi a debilidade do membro, o agente responderá pelo inciso III do

§1º.

B) Errada. Se a intenção do agente é provocar o aborto, configura-se crime de aborto


provocado por terceiro, por outro lado, se a lesão corporal resulta em aceleração do parto

ou aborto, o agente responde pelo Art.129.

C) Correta. Lesionar uma pessoa dolosamente lhe causando incapacidade permanente para
o trabalho é hipótese arrolada no art. 129, parágrafo 2º, como lesão corporal gravíssima.

D) Errada. O art.129, §2º, II, do Código Penal trata sobre a "enfermidade incurável".

E) Errada. Se é culposa, automaticamente não responde pelo §2º do Art. 129 do Código
Penal, e sim pelo §6º.

Questão 10

(Banca: VUNESP - 2015 - PC-CE - Inspetor de Polícia Civil de 1a Classe) É um resultado que
caracteriza o crime de lesão corporal de natureza grave, cuja pena é de reclusão de um a cinco
anos:

A) incapacidade para as ocupações habituais, por mais de dez dias.


B) incapacidade para as ocupações habituais, por mais de vinte dias.
C) debilidade temporária de membro, sentido ou função
D) incapacidade para as ocupações habituais, por mais de quinze dias.
E) aceleração de parto.

Comentário:

35
A) Errada. A incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias configura

lesão corporal grave.

B) Errada. A incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias configura
lesão corporal grave.

C) Errada. A debilidade permanente de membro, sentido ou função configura lesão corporal


grave.

D) Errada. A incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias configura

lesão corporal grave.

E) Correta. Conforme o inciso IV, § 1º do Artigo 129, do Código Penal, a aceleração de


parto configura lesão corporal grave.

36
GABARITO

Questão 1 - C

Questão 2 - E

Questão 3 - B

Questão 4 - ERRADA

Questão 5 - ERRADA

Questão 6 - E

Questão 7 - A

Questão 8 - C

Questão 9 - C

Questão 10 - E

37
QUESTÃO DESAFIO

Carlos ao encontrar seus desafetos na rua, Pablo e Maria, decide ofender a integridade

corporal de ambos. Em decorrência da gravidade das lesões praticadas, Pablo produz


impotência generandi e Maria que estava grávida, mas Carlos não sabia, tem um aborto
que causa a morte de seu feto. Como enquadrar a conduta praticada por Carlos?

Máximo de 5 linhas

38
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

Quanto à Pablo, Carlos deverá responder pela lesão corporal gravíssima diante da

inutilização de função. Já quanto à Maria, Carlos não pode ser responsabilizado pelo aborto
pois, como não tinha ciência da gravidez, haveria a incidência da responsabilidade penal
objetiva.

 Lesão corporal gravíssima. Inutilização de função.

Quanto às hipóteses de lesão corporal de natureza gravíssima, destaca-se a " perda ou

inutilização de membro, sentido ou função. (art. 129, §2º, III).

É circunstância mais grave do que a do parágrafo anterior (lesão corporal de natureza grave),

não mais se falando em debilidade, mais sim em perda (amputação ou mutilação)


ou inutilização (membro, sentido ou função inoperante, isto é, sem qualquer capacidade de

exercer suas atividades próprias). É também gravíssima a lesão que produz a impotência
generandi (em um e outro sexo) ou a coeundi. (CUNHA, Rogério Sanches; Manual de Direito

Penal: parte especial; 11 ed. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 123).

Quanto ao tema, vale destacar importante decisão do STJ, segundo a qual a perda de dois
dentes seria lesão de natureza grave, e não gravíssima:

RECURSO ESPECIAL. LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA. PERDA DE DENTES. DEBILIDADE


PERMANENTE. DESCLASSIFICAÇÃO. LESÃO CORPORAL GRAVE. PENA-BASE. CIRCUNSTÂNCIAS

DESFAVORÁVEIS. MÍNIMO LEGAL. INVIÁVEL. RECURSO PROVIDO. PRESCRIÇÃO. EXTINÇÃO DA


PUNIBILIDADE. 1. A deformidade permanente prevista no art. 129, § 2º, IV, do Código Penal é,

segundo a doutrina, aquela irreparável, indelével. Assim, a perda de dois dentes, muito embora
possa reduzir a capacidade funcional da mastigação, não enseja a deformidade permanente

prevista no referido tipo penal, mas sim, a debilidade permanente de membro, sentido ou
função, prevista no art. 129, § 1º, III, do Código Penal. 2. Inviável a fixação da pena-base no
mínimo legal, diante das circunstâncias do delito - modo brutal de execução (mesmo depois de

derrubar a vítima, "continuou a acelerar o veículo que conduzia arrastando a moto e o piloto
39
desta" - fl. 85) - e das consequências do crime - "extenso e certamente doloroso tratamento [...]

com a realização de quatro intervenções cirúrgicas". 3. Fixada a pena privativa de liberdade do


recorrente em 1 ano e 4 meses de reclusão, cujo prazo prescricional é de 4 anos, e transcorridos

mais de 4 anos entre o fato (22/12/2008) - época em que era permitido ter por termo inicial
data anterior à do recebimento da denúncia ou da queixa - e o recebimento da denúncia

(12/12/2008), o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva na modalidade


superveniente é a medida que se impõe. 4. Recurso provido. Reconhecida a prescrição da

pretensão punitiva. (REsp 1620158/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 13/09/2016, DJe 20/09/2016).

 Não ciência gravidez. Aborto. Responsabilidade Objetiva.

A hipótese de lesão corporal de natureza gravíssima relacionada ao aborto, por sua vez, pune

a lesão a título de dolo e o abortamento (interrupção da gravidez) a título de culpa (crime


preterdoloso ou preterintencional).

É indispensável que o agente tenha conhecimento da gravidez da vítima (ou que sua ignorância
tenha sido inescusável), jamais querendo ou aceitando o resultado mais grave, caso em que

haveria o abortamento criminoso (art. 125, CP). (CUNHA, Rogério Sanches; Manual de Direito
Penal: parte especial; 11 ed. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 125).

Em outros termos:

Prevalece o entendimento de que a interrupção da gravidez, com a consequente morte do feto,


deve ter sido provocada culposamente, uma vez que se trata de crime preterdoloso. Assim

sendo, se a morte do feto foi proposital, o sujeito deve responder por dois crimes: lesão corporal
leve (ou grave ou gravíssima, se presente alguma outra qualificadora), em concurso formal

impróprio ou imperfeito com aborto sem o consentimento da gestante (CP, art. 125). (BRASIL,
1940). É obrigatório o conhecimento do sujeito acerca da gravidez da vítima, pois em caso

contrário estaria configurada a responsabilidade penal objetiva. Se o agente ignorava a gravidez


da ofendida, a hipótese é de erro de tipo, com exclusão do dolo e, consequentemente, da
qualificadora. (http://revistas.unifenas.br/index.php/BIC/article/viewFile/187/143).

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LEGISLAÇÃO COMPILADA

LESÃO CORPORAL

 Código Penal: Art. 129.

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JURISPRUDÊNCIA

LESÃO CORPORAL CONTRA IRMÃO CONFIGURA O § 9º DO ART. 129 DO CP

NÃO IMPORTANDO ONDE A AGRESSÃO TENHA OCORRIDO

 STJ. 5ª Turma. RHC 50026-PA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 3/8/2017 (Info
609).

Não é inepta a denúncia que se fundamenta no art. 129, § 9º, do CP – lesão corporal leve –, qualificada pela
violência doméstica, tão somente em razão de o crime não ter ocorrido no ambiente familiar. Ex: João agrediu
fisicamente seu irmão na sede da empresa onde trabalham, causando-lhe lesão corporal leve. O agente deverá
responder pelo art. 129, § 9º do CP. Sendo a lesão corporal praticada contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, deverá incidir a qualificadora do § 9º não importando onde a agressão tenha ocorrido.

Comentário: A ideia do legislador ao incluir o § 9º ao art. 129 do CP foi a de ter coibir a


violência nas relações domésticas independentemente de a vítima ser mulher ou homem. Assim,

não há irregularidade em aplicar a qualificadora de violência doméstica às lesões corporais


contra homem.

Mas, por favor, não confunda: a Lei Maria da Penha, seus institutos e regras, não se aplicam

quando a vítima for homem. A Lei Maria da Penha somente se aplica para vítimas mulheres.

• Qualificadora do § 9º do art. 129 do CP: pode ser aplicado quando a vítima for mulher ou
homem;

• Lei Maria da Penha: somente pode ser aplicada quando a vítima for mulher.

Ex: filho empurrou seu pai que, com a queda, sofreu lesões corporais leves. Em tese, esse filho
praticou o delito do art. 129, § 9º, do CP. Apesar disso, não se aplicará a Lei Maria da Penha
neste caso porque a vítima é homem.

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PERDA DE DOIS DENTES CONFIGURA LESÃO GRAVE (E NÃO GRAVÍSSIMA)

 STJ. 6ª Turma. REsp 1620158-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/9/2016 (Info 590).

A lesão corporal que provoca na vítima a perda de dois dentes tem natureza grave (art. 129, § 1º, III, do CP), e não
gravíssima (art. 129, § 2º, IV, do CP). A perda de dois dentes pode até gerar uma debilidade permanente (§ 1º, III),
ou seja, uma dificuldade maior da mastigação, mas não configura deformidade permanente (§ 2º, IV). § 1º Se
resulta: III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; § 2º Se resulta: IV - deformidade permanente.

Comentário: É importante diferenciar a debilidade permanente a deformidade permanente. A


deformidade permanente prevista no art. 129, § 2º, IV, do CP é aquela irreparável, indelével. A
perda da dentição pode implicar redução da capacidade mastigatória e até, eventualmente,

dano estético. No entanto, não se pode considerar que se trate de algo tão grave a ponto de
se dizer que se trata de uma pessoa "deformada". Desse modo, a perda dos dois dentes pode

até gerar uma debilidade permanente, ou seja, uma dificuldade maior da mastigação, mas não
configura deformidade permanente. A debilidade permanente é hipótese apenas de lesão
corporal grave (§ 1º, III).9

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Vide questão 7 do material
43
MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1º ao 120). 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2015.

Masson, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019.

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