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CENTRO UNIVERSITÁRIO SOCIESC DE BLUMENAU

CURSO DE DIREITO

JÚLIA THAYANE REGIS

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E A SUA APLICAÇÃO NOS CRIMES


CONTRA A FAUNA DA LEI Nº 9.605/1998, SOB AS PREMISSAS DO ART. 225 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

BLUMENAU
2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO SOCIESC DE BLUMENAU

CURSO DE DIREITO

JÚLIA THAYANE REGIS

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E A SUA APLICAÇÃO NOS CRIMES


CONTRA A FAUNA DA LEI Nº 9.605/1998, SOB AS PREMISSAS DO ART. 225 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Monografia de Conclusão de Curso,


apresentada para obtenção do grau de
bacharel, no curso de Direito da
UNISOCIESC.

Orientadora: Profa. Mestra Juliana


Perdoncini Correia Hoffmann.

BLUMENAU
2021
JÚLIA THAYANE REGIS

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E A SUA APLICAÇÃO NOS CRIMES


CONTRA A FAUNA DA LEI Nº 9.605/1998, SOB AS PREMISSAS DO ART. 225 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Monografia de Conclusão de Curso,


apresentada para obtenção do grau de
bacharel, no curso de Direito da
UNISOCIESC.

BANCA EXAMINADORA

aprovado em:

Presidente:
Juliana Perdoncini Correia Hoffmann

Membro:
Mayara Pellenz

Membro:
Silvia Helena Arizio
Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da Criação, seja
animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante.

ALBERT SCHWEITZER
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por estar ao meu lado nos momentos
mais desafiadores da minha vida!
Sou grata a minha colega Caroline Vitória de Souza, que me acompanha
nesta jornada tão desafiadora de 5 (cinco) anos, que me apoiou sempre que
necessário, e me auxiliou em todos os momentos.
Estendo meus agradecimentos, ao meu namorado, Alwin Augusto Meister,
que esteve comigo, me apoiando e acompanhando, em diversos momentos, e me
ajudou a realizar este trabalho.
Também agradeço, a todo o corpo letivo do Curso de Direito da Unisociesc,
fundamentais no meu aprendizado, em especial, a minha respeitável orientadora,
Juliana Perdoncini Correia Hoffmann, a quem tive um grande auxílio na preparação
deste trabalho.
Por fim, agradeço à minha família e colegas, que me forneceram
ensinamentos que me guiam e continuarão a guiar minha carreira.
RESUMO

Esta pesquisa, apresenta como tema principal a aplicabilidade do princípio da


insignificância em crimes contra a fauna da lei nº 9.605/1998. Em seu primeiro
momento, examinam-se o meio ambiente, a sua conceituação, previsão legal e
também a evolução histórica, além de discorrer sobre as questões atuais quanto ao
direito ao meio ambiente na contemporaneidade. No segundo momento, discorre-se
sobre o direito à fauna no Brasil, expondo as perspectivas biológicas e sociais, além
de expor a evolução do direito à fauna na seara nacional e internacional. No último
tópico, buscar-se-á examinar o princípio da insignificância e sua (in)aplicabilidade no
direito brasileiro, ademais será exposto às políticas públicas brasileiras, quanto ao
direito à fauna. Na conclusão, será descrito o resultado da pesquisa quanto a
aplicação do princípio da insignificância em casos do direito à fauna, além de expor
a importância da fauna, quanto à sadia qualidade de vida, de modo a efetivar o art.
225 da CF. Em relação ao aspecto metodológico, a pesquisa classifica-se como
analítica, bibliográfica e jurisprudencial.

PALAVRAS-CHAVE: Direito à Fauna. Jurisprudências. Lei 9.605/1998. Princípio da


insignificância.
ABSTRACT

This research presents as its main theme the applicability of the principle of
insignificance in crimes against fauna of Law nº 9.605/1998. In its first moment, it
examines the environment, its conceptualization, legal provision and also the
historical evolution, in addition to discussing current issues regarding the right to the
environment in contemporaneity. In the second moment, the right to fauna in Brazil is
discussed, exposing the biological and social perspectives, in addition to exposing
the evolution of law in the national and international arena. In the last topic, we will
seek to examine the principle of insignificance and its (in)applicability in Brazilian law,
in addition it will be exposed to Brazilian public policies, regarding the right to fauna.
In the conclusion, the result of the research will be described regarding the
application of the principle of insignificance in cases of the right to fauna, in addition
to exposing the importance of fauna, in terms of healthy quality of life, in order to
implement article 225 of the Federal Constitution. Regarding the methodological
aspect, the research is classified as analytical, bibliographical and jurisprudential.

KEYWORDS: Right to Fauna. Jurisprudence. Law 9,605/1998. Principle of


insignificance.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Ego e Eco ……………………………………………………………………... 44


Gráfico 1 - Comparativo do desmatamento na Amazônia Legal – 2017/2018/2019 54
Gráfico 2 - Evolução do quadro de pessoal do IBAMA ……………………………… 55
Gráfico 3 - Evolução da quantidade de autos de infração lavrados por ano ………..55
Gráfico 4 - Autuações do IBAMA entre o ano de 2000 a 2020 ……………………… 56
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. - Artigo
CF - Constituição Federal
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
IBAMA - O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
ISO - Organização Internacional de Normalização
MEC - Ministério da Educação
NBR - Norma Brasileira
ONG - Organização não governamental
PNMA - Política Nacional do Meio Ambiente
SEMA - Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
SPCA - Sociedade para a Prevenção da Crueldade com os Animais
STF - Supremo Tribunal Federal
STJ - Superior Tribunal de Justiça
UNESCO - A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
USP - Universidade de São Paulo
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………….. 11
2 DIREITO AMBIENTAL: DA PURA DISPONIBILIDADE ATÉ A NATUREZA COMO
UM SER SENCIENTE .…………………………………………………………………… 12
2.1. O QUE É MEIO AMBIENTE? ............................................................................. 13
2.1.1. Meio Ambiente Natural .….……………………………………………………… 15
2.1.2. Meio Ambiente Artificial .…..……………………………………………………. 16
2.1.3. Meio Ambiente Cultural .…………..……………………………………………..17
2.1.4. Meio Ambiente Digital .…………………………………………………………...18
2.1.5. Meio Ambiente do Trabalho ……………………………………………………..19
2.2. O DIREITO AO MEIO AMBIENTE E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL
……………………………………………………………………………………………….. 20
2.3. O DIREITO AO MEIO AMBIENTE CONTEMPORÂNEO ……………………….. 24
3. DIREITO AMBIENTAL DA FAUNA: A CONTURBADA RELAÇÃO ENTRE
ANIMAIS RACIONAIS E OS DEMAIS ANIMAIS ……………………………………... 30
3.1. AS PERSPECTIVAS BIOLÓGICAS E SOCIOLÓGICAS DA RELAÇÃO DOS
HUMANOS COM OS DEMAIS ANIMAIS ………………………………………………. 30
3.2 A HISTÓRIA DO DIREITO ANIMAL: DE MÃO DE OBRA AOS DIREITOS
HUMANOS DOS ANIMAIS ………………………………………………………………. 34
3.3. O DIREITO DA FAUNA ………………………………………………………………38
4. APLICABILIDADE JURÍDICA DO DIREITO AMBIENTAL À FAUNA E O
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA …………………………………………………….. 46
4.1. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E SUA (POSSÍVEL) APLICABILIDADE NO
DIREITO AMBIENTAL ……………………………………………………………………. 46
4.2. A POLÍTICA BRASILEIRA NO DIREITO AMBIENTAL ………………………….. 51
4.2.1. Educação Ambiental …………………………………………………………….. 58
4.2.2. Ética Ambiental …………………………………………………………………… 59
4.3. O DIREITO BRASILEIRO E SUAS DECISÕES AMBIENTAIS: PROTEÇÃO OU
DESTRUIÇÃO ……………………………………………………………………………...61
5 CONCLUSÃO …………………………………………………………………………… 69
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………………………………………. 72
10

1 INTRODUÇÃO

O princípio da insignificância na esfera penal, é um meio de garantir o


princípio da ultima ratio, deste modo o direito penal somente será aplicável em casos
em que houver uma grande ofensa jurídica na sociedade, no entanto, como
podemos mensurar uma ofensa jurídica no meio ambiente?
Este trabalho busca, a partir de 3 (três) capítulos, fazer o leitor se questionar
a respeito da importância do meio ambiente, em específico da fauna, na sadia
qualidade de vida, garantindo um direito fundamental do ser humano, que é um meio
ambiente ecologicamente equilibrado. E se o princípio da insignificância é aplicável
no direito à fauna, frente a preservação do meio ambiente, previsto no art. 225 da
Constituição Federal Brasileira.
No primeiro capítulo será exposto, de maneira sucinta, a conceituação do
meio ambiente e sua evolução entre as gerações; o direito ao meio ambiente como
previsão legal, e a sua evolução histórica, tanto no âmbito internacional, quanto no
âmbito nacional, e por último, as questões atuais no direito ao meio ambiente na
idade contemporânea, e suas novas discussões acerca da proteção ambiental.
No segundo momento, tratar-se-á do direito à fauna, dentre as suas
perspectivas biológicas e sociais da relação entre os seres humanos e não
humanos, trazendo a evolução tanto da seara internacional, quanto nacional, e por
último, a proteção jurídica do direito à fauna brasileira.
No último tópico, busca-se examinar o princípio da insignificância e sua
aplicabilidade no direito brasileiro, e sua influência do direito internacional, além das
políticas públicas brasileira, quanto ao direito ambiental e sua subdivisões, da ética e
da educação ambiental, e em último momento, as decisões brasileiras, quanto a
aplicação do princípio da insignificância.
Em relação ao aspecto metodológico, será utilizado o método dedutivo, bem
como analítica a partir de consultas bibliográficas, periódicos nacionais e
estrangeiros, e análise e interpretação jurisprudencial.
11

2 DIREITO AMBIENTAL: DA PURA DISPONIBILIDADE ATÉ A NATUREZA COMO


UM SER SENCIENTE

A percepção do meio ambiente deve ser levada em conta os principais


problemas do nosso contexto atual, pois esses problemas não são entendidos de
forma isolada, mas sim são problemas sistêmicos, deste modo são interligados e
interdependentes (CAPRA, 2006, p. 23). Portanto, a proteção do meio ambiente
deve ser feita de maneira a preservar todos os sistemas de forma conjunta, a fim de
realizar uma vida digna a todos.
Conforme o livro de Capra, a “Teia da Vida”, o qual expõe a existência da
interligação entre os seres vivos, tem-se que os problemas estarão igualmente
interligados, um exemplo a ser retratado é em relação a

[..] escassez dos recursos e a degradação do meio ambiente, combinam-se


com populações em rápida expansão, o que leva ao colapso das
comunidades locais e à violência étnica e tribal que se tornou a
característica mais importante da era pós-guerra fria (CAPRA, 2006, p. 23).

Portanto, a preservação da vida humana deve ser feita de maneira a


preservar o meio ambiente, para que com isso, a vida humana possa prosperar,
conforme preceitua Maria Cecília Girão Veras:

Como falar em conservação da vida e não falar em conservação do meio


ambiente? Meio ambiente é vida, sendo esta pungente, pulsante, a qual dá
vida aos seres humanos. Todos deveriam lembrar a cada dia, em cada
atitude do cotidiano, o quanto dela nos cerca! Assim, valorizando o que há
de mais preciso na vã existência humana, as pessoas vislumbrariam um
futuro mais seguro e saudável para o mundo (VERAS, 2008).

O direito ambiental, podendo ser chamado de Direito do Meio ambiente, ou


ainda, Direito do Ambiente, é uma disciplina jurídica que visa realizar a proteção do
meio ambiente, utilizando de meios instituídos pela CF para a preservação das
presentes e futuras gerações, mas qual o conceito de meio ambiente?
12

2.1 O QUE É MEIO AMBIENTE?

Muitos pensadores, através dos séculos, trouxeram a ideia do que é o meio


ambiente, a importância que esse meio ambiente gera para o ser humano, além da
proteção que deve se dar, pois sem um meio ambiente equilibrado, não há uma vida
humana equilibrada. Nos séculos passados, não havia distinção de meio ambiente e
natureza, então a natureza à que se refere os antigos pensadores, era o conjunto de
todos os sistemas da terra, sendo assim, o que chamamos de meio ambiente
atualmente.
Na filosofia grega, havia-se a concepção da integração do ser humano com o
mundo natural, definindo-se que o ser humano era um microcosmo que é parte do
macrocosmo, abrindo, então, um caminho de equilíbrio entre o ser humano e a
natureza. Aristóteles compartilha da concepção que o ser humano é integrante do
mundo natural e faz parte da natureza, e também que o saber técnico (téchne) ou
instrumental, o qual o ser humano utiliza na natureza, consequentemente no meio
ambiente, deverá ser subordinado à decisão racional e ao saber prudencial
(MARCONDES, 2006, p. 36/37).
Baruch Espinosa, foi um precursor da educação ambiental, em suas obras,
trouxe a ideia de que a natureza é o ser fundante de todos os seres, sendo a
substância que existe no interior de todos eles. Traz a concepção de que todos os
seres são interligados, portanto, não é possível afirmar que o homem está acima do
meio ambiente, mas sim entre ele, constituindo unidades, dependentes umas das
outras (SAWAIA, 2006, p. 82).
Outro importante filósofo e sociólogo do meio ambiente natural é Karl Marx,
em seu livro Manuscritos econômico-filosóficos de 1844, o autor retrata que os seres
humanos e a natureza tem uma relação de reciprocidade, vejamos:

O ser humano vive da natureza significa que a natureza é seu corpo, com o
qual ele precisa estar em processo contínuo para não morrer. Que a vida
física e espiritual do ser humano está associada à natureza não tem outro
sentido do que afirmar que a natureza está associada a si mesma, pois o
ser humano é parte da natureza (ANDRIOLI, pp. 2 apud MARX, 1968: 516).

O pensador Lev Semionovich Vygotsky, em suas obras, determina que o meio


ambiente, em um determinado espaço-tempo histórico, como sendo um lugar
13

definido onde realizam as relações dinâmicas e também as interações das


atividades humanas e da natureza, portanto, as transformações feitas pelas
interações humanas com a natureza iriam constituir o meio ambiente (MOLON,
2006, p. 171/172)
A partir das ideias dos pensadores, é possível chegar a conclusão que sem o
meio ambiente devidamente protegido, não é possível chegar a uma vida humana
com a dignidade necessária, sendo o ser humano totalmente dependente do meio
ambiente, o que gera uma relação de reciprocidade, deste modo, o que ser humano
afetar no meio ambiente, gerará uma consequência ao próprio ser humano.
Após as ideias dos pensadores antigos, quanto à conceituação do meio
ambiente, vejamos a conceituação na atualidade, desta maneira, segundo Marcelo
Abelha Rodrigues, pode o meio ambiente ser conceituado como:

[...] as palavras “meio” e “ambiente” signifiquem o entorno, aquilo que


envolve, o espaço, o recinto, a verdade é que quando os vocábulos se
unem, formando a expressão “meio ambiente”, não vemos aí uma
redundância como sói dizer a maior parte da doutrina, senão porque cuida
de uma entidade nova e autônoma, diferente dos simples conceitos de meio
e de ambiente. O alcance da expressão é mais largo e mais extenso do que
o de simples ambiente.
Portanto, a expressão “meio ambiente”, como se vê na conceituação do
legislador da Lei n. 6.938/81, não retrata apenas a ideia de espaço, de
simples ambiente. Pelo contrário, vai além para significar, ainda, o conjunto
de relações (físicas, químicas e biológicas) entre os fatores vivos (bióticos) e
não vivos (abióticos) ocorrentes nesse ambiente e que são responsáveis
pela manutenção, pelo abrigo e pela regência de todas as formas de vida
existentes nele (RODRIGUES, 2021).

Desta maneira, após a exposição das ideias dos pensadores e do


doutrinador, é importante mencionar a conceituação do meio ambiente no
entendimento legislativo, e a sua consequência jurídica quando há a violação desse
meio.
A lei nº 6.938/1981, em seu art. 3º, inciso I, conceitua o meio ambiente como
“o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL,
1981, art. 3º).
A resolução nº 306/2002 do CONAMA dá o conceito de meio ambiente de
forma concordante com o artigo descrito acima, sendo então um “conjunto de
condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social,
14

cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”
(CONAMA, 2002).
Já a NBR ISO 14001/2015 entende que o meio ambiente é “circunvizinhança
em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, flora,
fauna, seres humanos e suas inter-relações” (ISO 14001, 2015). A ISO 140001/2015
visa a proteção dos sistemas de gestão ambiental, assim, no conceito da ISO, da lei
nº 6.938/1981 e do CONAMA, é possível chegar ao consenso de que o meio
ambiente é um conjunto de vários seres e recursos, que devem viver de maneira
harmônica, de modo a manter o meio ambiente equilibrado.
Conforme a doutrina, o meio ambiente pode ser dividido em meio ambiente
natural, meio ambiente artificial, meio ambiente cultural, meio ambiente digital e meio
ambiente do trabalho.

2.1.1 Meio Ambiente Natural

Segundo Fiorillo, o meio ambiente natural ou físico tem como constituição a


atmosfera, os elementos da biosfera, as águas, o solo, subsolo, a fauna e a flora,
para garantir o equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e meio no qual vivem
(FIORILLO, 2013). Tem como previsão legal no art. 225, § 1º, I, III e VII da
Constituição Federal:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
[...]
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
[...]
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade (BRASIL, 1988, art. 225).
15

De acordo com os autores Ingo Wolfgang Sarlet e Tiago Fensterseifer, o meio


ambiente natural é composto por:

O meio ambiente natural é composto por todos os elementos bióticos


(fauna, flora etc.) e abióticos (ar, terra, água, minerais etc.) 15 que se
encontram originalmente na Natureza, ou seja, independentemente de
qualquer intervenção humana no meio ambiente natural. Por mais que, por
vezes, o ser humano chegue a situações extremas na intervenção que
realiza no meio ambiente natural, a ponto de, por exemplo, desviar o curso
de rios – como se verifica na transposição do Rio São Francisco –, tal
situação não altera a natureza, por si só, dos elementos naturais, que
continuam a integrar a categoria do meio ambiente natural. Outro exemplo
peculiar que, de certa forma, desafia a dicotomia entre o meio ambiente
natural e o meio ambiente humano é a questão da engenharia genética. Se
pensarmos nas façanhas científicas do ser humano no campo da
engenharia genética – por exemplo, na área da clonagem de animais – os
limites para a distinção conceitual que propomos são postos à prova. No
entanto, ainda assim, parece-nos adequada a distinção entre os elementos
naturais e os elementos humanos na conformação do conceito de meio
ambiente, em especial diante do cenário legislativo brasileiro (SARLET,
FENSTERSEIFER, 2021).

Desta maneira, o meio ambiente natural é o conjunto de elementos que são


criados de forma natural, podendo na sua criação não haver intervenção dos seres
humanos.

2.1.2 Meio Ambiente Artificial

O meio ambiente artificial é composto pelos espaços urbanos construídos, no


conjunto de edificações (espaço urbano fechado), e pelos equipamentos públicos
(espaço urbano aberto). Está ligado ao conceito de cidade, deste modo o termo
“urbano”, em latim “urbs ou urbis”, significa cidade e por extensão seus habitantes
(FIORILLO, 2013).
Tem como norma constitucional os art. 225, art. 182 e também o art. 5º, inciso
XXIII, todos da CF:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem- estar de seus habitantes [...] (BRASIL, 1988, art. 182).

Segundo o autor Luís Paulo Sirvinskas, meio ambiente artificial é:


16

[...] meio ambiente artificial é o gênero, cujas espécies são espaços rurais e
urbanos. Cuida-se da ocupação gradativa dos espaços naturais,
transformando-os em espaços urbanos artificiais. Essa construção pelo
homem pode dar-se em espaços abertos ou fechados. Denominam-se
espaço urbano fechado os edifícios, casas, clubes etc. e espaço urbano
aberto as praças, avenidas, ruas etc. A ocupação desses espaços urbanos
pelo homem tornou-se complexa com o grande número de pessoas,
necessitando de regulamentação para disciplinar a aplicação de uma
política pública urbana. [..] Esses espaços urbanos são constituídos por
regiões metropolitanas, aglomerações urbanas ou microrregiões, formadas
por agrupamentos de municípios limítrofes, com a finalidade de integrar a
organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse
comum (SIRVINSKAS, 2018).

Deste modo, o meio ambiente artificial é formado por elementos construídos


pelo homem, diferentemente do meio ambiente natural.

2.1.3 Meio Ambiente Cultural

Tem previsão legal no art. 216 da CF e segundo o autor José Afonso da Silva
(SILVA, p. 3), o meio ambiente cultural “é integrado pelo patrimônio histórico,
artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que embora artificial, em regra, como
obra do homem, difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor
especial” (apud FIORILLO, 2013).

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988, art.
216).

Conforme o autor Luís Paulo Sirvinskas, meio ambiente cultural, é constituído


por:

Trata-se de uma criação humana que se expressa em suas múltiplas facetas


sociais. A cultura, do ponto de vista antropológico, constitui o elemento
17

identificador das sociedades humanas e engloba a língua pela qual o povo se


comunica, transmite suas histórias e externa suas poesias, a forma como
prepara seus alimentos, o modo como se veste e as edificações que lhe
servem de moradia, assim como suas crenças, sua religião, o conhecimento
e o saber fazer as coisas (know-how), seu direito. Os instrumentos de
trabalho, as armas e as técnicas agrícolas fazem parte da cultura de um
povo, bem como suas lendas, adornos e canções, as manifestações
indígenas etc (SIRVINSKAS, 2018).

Sendo assim, o meio ambiente cultural é formado por fatos históricos,


relativos a nossos antecedentes, que geram afetação no contexto atual, sendo
protegido pela CF, de maneira a preservar a nossa história.

2.1.4 Meio Ambiente Digital

O meio ambiente digital é uma parte do meio ambiente cultural, pois é o


processo civilizatório que adapta a sociedade a novas informações, por meio da
cultura da televisão, dos rádios, a internet, os videogames, e as comunicações
através de ligações, moldando assim uma nova vida, trazendo assim uma proteção
a esse novo meio ambiente (FIORILLO, 2013).
Segundo expõe o autor Celso Antonio Pacheco Fiorillo, o meio ambiente
digital é:

O meio ambiente digital, por via de conseqüência, ixa no âmbito de nosso


direito positivo, os deveres, direitos, obrigações e regime de
responsabilidades inerentes à manifestação de pensamento, criação,
expressão e informação realizados pela pessoa humana com a ajuda de
computadores (Art. 220 da Constituição Federal) dentro do pleno exercício
dos direitos culturais assegurados a brasileiros e estrangeiros residentes no
País (Art. 215 e 5.º da CF) orientado pelos princípios fundamentais da
Constituição Federal (Art. 1.º a 4.º da CF). Trata-se indiscutivelmente no
século XXI de um dos mais importantes aspectos do direito ambiental
brasileiro destinado às presentes e futuras gerações (Art. 225 da CF),
verdadeiro objetivo fundamental a ser garantido pela tutela jurídica de nosso
meio ambiente cultural (Art. 3.º da CF) principalmente em face do “abismo
digital” que ainda vivemos no Brasil (FIORILLO, 2014, p. 90/91).

Deste modo o meio ambiente digital é um meio que surgiu com as novas
ferramentas da sociedade, a tecnologia, sendo este um aspecto importante na
proteção do meio ambiente.
18

2.1.5 Meio Ambiente do Trabalho

Segundo Fiorillo, o meio ambiente do trabalho constitui-se por meio do local


onde as pessoas “desempenham suas atividades laborais relacionadas à sua saúde,
sejam remuneradas ou não” (FIORILLO, 2013), o qual deve haver o equilíbrio da
salubridade do meio ambiente, e também, a ausência de qualquer agente que irá
comprometer o físico-psíquico dos trabalhadores. Tem previsão legal no art. 200,
inciso VIII, da CF:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições,


nos termos da lei:
[...]
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho (BRASIL, 1988, art. 200).

Os autores Ingo Wolfgang Sarlet e Tiago Fensterseifer, dispõe que o meio do


trabalho é composto por:

O meio ambiente do trabalho é outra dimensão do meio ambiente humano


(ou social). Em regra, podem ser reconduzidas a tal conceito as condições
ambientais dos locais de trabalho, especialmente em vista de assegurar aos
trabalhadores condições de qualidade, salubridade e segurança ambiental
(SARLET, FENSTERSEIFER, 2021).

Dessa maneira, é necessário frisar que a proteção ao meio ambiente do


trabalho é distinto da proteção do direito do trabalho, sendo que a primeira busca
proteger o meio em que o trabalhador desenvolve suas atividades, e a segunda diz
respeito ao conjunto de normas jurídicas que visam disciplinar as relações entre o
empregado e o empregador.
Além dos meios ambientes citados acima, há também a proteção ao
patrimônio genético, o qual é tutelado pelo art. 225, §1, incisos II e V, vejamos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
[...]
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
19

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,


métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente; (BRASIL, 1988, art. 225).

Assim, a CF visa proteger a vida em todas suas formas, a fim de garantir a


qualidade de vida da pessoa humana, para com isso todos terem a dignidade e
qualidade previstas na CF. Com a conceituação do meio ambiente, é necessário
entrar no campo da evolução da proteção do meio ambiente aplicado no Brasil.

2.2 O DIREITO AO MEIO AMBIENTE E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL

A proteção ao meio ambiente no Brasil, segundo Luís Paulo Sirvinskas


(2018), pode ser divida em 3 (três) períodos. O primeiro período começa com o
descobrimento do Brasil, em 1500 e termina com a vinda da Família Real
Portuguesa em 1808, existem nesse período diversas normas de forma isolada, que
tinha como objetivo a proteção dos recursos naturais que se escasseiam.
Neste período há a regulamentação através de ordenações, sendo dividas em
3 (três), a Ordenações Afonsinas (1446 até 1514), Ordenações Manuelinas (1521
até 1595) e Ordenações Filipinas (1603 até 1916). Nas Ordenações Afonsinas, havia
a proteção das árvores, dos animais e das águas, no Livro V, Título LVIII, havia a
proibição do corte de árvores frutíferas; nas Ordenações Manuelinas, no Livro V,
Título LXXXIII, havia a vedação da caça de determinados animais, como as
perdizes, lebre e coelhos, com a utilização de rede, fios e outros instrumentos que
causem sofrimento na morte desses animais (NAZO, MUKAI, 2001, pp. 119).
Ainda nas Ordenações Manuelinas, no Livro I, Título LXXXIII, proibia-se a
caça de coelhos, ainda determinava que houvesse respeito às crias, em meses
como março, abril e maio, condenando o caçador que descumprisse a lei ao
pagamento de 1 (um) mil reais, ainda haveria a perda dos cães e das armadilhas
que fossem utilizadas na caça. No período das Ordenações Filipinas, no Livro LXXV,
Título LXXXVIII, no parágrafo sétimo, havia a proteção das águas, assim, quem
jogasse material que poluísse a água, ou ainda, que causasse a morte de peixes,
receberia punição de multa (NAZO, MUKAI, 2001, p. 119).
20

As normas criadas no Brasil colônia serviam para proteger a extração de


madeira e minérios dos invasores, pois esses materiais eram exportados para
Portugal, onde eram escassos os recursos, assim, o Brasil servia de fonte de
matéria-prima para Portugal.
As principais normas do período são:

a) Regimento do Pau-Brasil de 1605, que protegia o pau-brasil como


propriedade real, impondo penas severas a quem cortasse árvores dessa
natureza sem licença;
b) Alvará de 1675, que proibia as sesmarias nas terras litorâneas, onde
havia madeiras;
c) Carta Régia de 1797, que protegia as florestas, matas, arvoredos
localizado nas proximidades dos rios, nascentes e encostas, declaradas
propriedades da Coroa; e
d) Regimento de Cortes de Madeiras de 1799, que estabelecia regras para
a derrubada de árvores (SIRVINSKAS, 2018).

A partir do segundo período, que se inicia com vinda da Família Real em


1808 e termina com a criação da lei da Política Nacional do Meio Ambiente em 1981,
era marcado pela exploração desenfreada do meio ambiente, o qual eram
solucionadas pelo Código Civil daquela época, havia a preocupação da conservação
do meio ambiente, mas não da preservação (SIRVINSKAS, 2018).
Conforme o autor Luís Paulo Sirvinskas, no segundo período, têm se a
proteção do meio ambiente:

Com a vinda da Família Real (1808), a proteção ao meio ambiente


intensificou-se, mediante a promessa da libertação do escravo que
denunciasse o contrabando de pau-brasil. Nessa ocasião, várias
providências foram tomadas para a proteção das florestas.
A Constituição de 1824 e o Código Criminal de 1830, na Monarquia,
previam o crime de corte ilegal de árvores e a proteção cultural. Depois,
com a Lei n. 601, de 1850, estabeleceram-se sanções administrativas e
penais para quem derrubasse matas e realizasse queimadas.
Também se protegia o meio ambiente na República, com o advento do
Código Civil de 1916. Posteriormente, foram criados o Código Florestal, o
Código de Águas e o Código de Caça, entre inúmeras outras legislações
infraconstitucionais, disciplinando regras para a proteção do meio ambiente
(SIRVINSKAS, 2018).

A principal lei desse período, chamado de período do Império, era a lei nº


601, promulgada no ano de 1850, conhecida como a “Lei das Terras”, onde havia a
obrigação do registro de todas as terras ocupadas e ainda o impedimento da
aquisição das devolutas, a não ser por compras, no art. 2º, havia a punição pela
21

derrubada de matas e queimadas, responsabilizando o infrator, por meio do


pagamento de multa de 100 (cem) mil réis e ainda a prisão de 2 (dois) a 6 (seis)
meses (NAZO, MUKAI, 2001, p. 120).
A forma de conservação deste período era feita de maneira mais ampla,
protegendo o todo a partir de partes, e também havia a tutela de proteção naquilo
que trazia interesse econômicos, deste modo, as principais normas do período são:

a) Lei n. 601/1850, conhecida por Lei de Terras do Brasil, que disciplinava a


ocupação do solo e estabelecia sanções para atividades predatórias;
b) Decreto n. 8.843/11, que criou a primeira reserva florestal do Brasil, no
Acre;
c) Lei n. 3.071/16 (Código Civil), que estabelecia vários dispositivos de
natureza ecológica, mas de cunho individualista;
d) Decreto n. 16.300/23, que dispunha sobre o Regulamento da Saúde
Pública;
e) Decreto n. 24.114/34, que dispunha sobre o Regulamento de Defesa
Sanitária Vegetal;
f) Decreto n. 23.793/34 (Código Florestal), que dispunha limites ao exercício
do direito de propriedade;
g) Decreto n. 24.643/34 (Código de Águas), que também dispunha sobre a
captação e o uso da água, ainda em vigor;
h) Decreto-lei n. 25/37, que dispõe sobre o Patrimônio Cultural;
i) Decreto-lei n. 794/38, que dispunha sobre o Código de Pesca;
j) Decreto n. 1.985/40, que dispunha sobre o Código de Minas;
k) Decreto n. 2.848/40, que dispõe sobre o Código Penal;
l) Lei n. 4.504/64, que dispunha sobre o Estatuto de Terra;
m) Lei n. 4.771/65 (o antigo Código Florestal), que estabelecia normas
importantes para a proteção das florestas e outros recursos naturais;
n) Lei n. 5.197/67, que dispõe sobre a Proteção à Fauna — antigo Código
de Caça;
o) Decreto-lei n. 221/67, que dispõe sobre o Código de Pesca;
p) Decreto-lei n. 227/67, que dispõe sobre o Código de Mineração;
q) Decreto-lei n. 238/67, que dispunha sobre a Política Nacional de
Saneamento Básico;
r) Decreto-lei n. 303/67, que criou o Conselho Nacional de Controle da
Poluição Ambiental;
s) Decreto n. 5.318/67, que dispunha sobre a Política Nacional de
Saneamento e revogou os Decretos-leis n. 248/67 e 303/67;
t) Lei n. 5.357/67, que estabelecia penalidades para embarcações e
terminais marítimos ou fluviais que lançassem detritos ou óleo em águas
brasileiras;
u) Decreto-lei n. 1.413/75, que dispunha sobre o controle da poluição;
v) Lei n. 6.543/77, que dispõe sobre a responsabilidade civil em casos de
danos provenientes de atividades nucleares; e
w) Lei n. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente
(SIRVINSKAS, 2018).

O terceiro período inicia com a criação da lei da Política Nacional do Meio


Ambiente, em 1981, período que visa proteger de maneira integral o meio ambiente,
utilizando um sistema ecológico integrado, protegendo as partes a partir de um todo.
22

A Constituição promulgada neste período foi a primeira a trazer um tratamento


constitucional direto no tema do meio ambiente. No entendimento de Georgette
Nacarato Nazo e Toshio Mukai, a CF traz em seus artigos a ideia de:

Assim é que o artigo 170 da c.F. contempla, como um dos princípios gerais
da atividade econômica, a defesa do meio ambiente (inc. VI) e no art. 225
concede um direito subjetivo público a todos de terem um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, equiparando-o aos bens de uso comum do
povo, obrigando o Poder Público e a coletividade a defendê-lo e preservá-lo
para a presente e futuras gerações (NAZO, MUKAI, 2001, p. 127/128).

Algumas normas do período:

a) Lei n. 7.347/1985, que dispõe sobre a Ação Civil Pública;


b) Constituição Federal de 1988;
c) Lei n. 8.171/91, que trata da política agrícola;
d) Lei n. 9.605/98, que dispõe sobre sanções penais e administrativas para
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente;
e) Lei n. 9.985/2000, que dispõe sobre as Unidades de Conservação;
f) Lei n. 10.257/2001, que dispõe sobre o Estatuto da Cidade;
g) Lei n. 11.445/2007, que dispõe sobre a Política Nacional de Saneamento
Básico;
h) Lei n. 12.305/2010, que dispõe sobre a Política Nacional dos Resíduos
Sólidos — PNRS;
i) Lei n. 12.651/2012, que dispõe sobre o novo Código Florestal, etc
(SIRVINSKAS, 2018).

A legislação brasileira passou a promulgar leis mais específicas em relação à


proteção ao meio ambiente, nas décadas de 1980 e 1990, colocando com a
legislação instrumentos mais eficazes na proteção e defesa do meio ambiente, além
das legislações, houve um grande aumento de livros e artigos doutrinários, iniciando
também uma grande repercussão das divulgações de diversas decisões judiciais
que eram favoráveis às ações civis públicas impetradas pelo Ministério Público.
Ademais, houve a promulgação da lei nº 7.347/1985 que fortaleceu a defesa do meio
ambiente por meio da criação da ação civil pública (SIRVINSKAS, 2018).
A partir do exposto, é possível perceber que as normas de proteção ambiental
ao longo dos séculos foram ficando cada vez mais específicas, de modo a
resguardar o nosso patrimônio mais importante, o meio ambiente. As normas
brasileiras, conforme citado, visam a proteção do meio ambiente, no entanto, além
delas, existem diversas outras normas e direitos que têm o mesmo objetivo, e que
serão relatados no próximo tópico.
23

2.3 O DIREITO AO MEIO AMBIENTE CONTEMPORÂNEO

A primeira Constituição do Brasil em que houve a inserção da preocupação


ambiental foi a Constituição Federal de 1988, que reconheceu que a proteção
ambiental está intimamente ligada com à proteção da qualidade de vida humana
(SILVA, 2012).
A proteção ambiental deve ser examinada de forma universal, sendo que
catástrofes de uma determinada localidade podem afetar diversos outros locais,
como o caso do rompimento da barragem de Mariana, que além de afetar o distrito
de Bento Rodrigues, onde era localizada a cidade mineira de Mariana, afetou
diversos outros locais. A cidade de Mariana foi a primeira do distrito a receber todo o
impacto do rompimento, causando o soterramento de 82% de todas as edificações,
vejamos:

O rompimento da barragem de fundão gerou uma onda de lama residual tão


devastadora e poluente que, durante sua trajetória até o mar do Espírito
Santo, dizimou o distrito de Bento Rodrigues, ceifou vidas humanas,
soterrou centenas de nascentes, contaminou importantes rios como o
Gualaxo do Norte, do Carmo e Doce, destruiu florestas inteiras que estavam
situadas em Áreas de Preservação Permanente e causou prejuízos sociais
e econômicos de grande amplitude a populações inteiras.
A contaminação da bacia hidrográfica do rio Doce pelos rejeitos elevou
consideravelmente os níveis de turbidez da água, tornando-a imprópria
tanto para o consumo humano como para a agropecuária. O mesmo motivo
fez com que a população de peixes fosse praticamente aniquilada de todos
os cursos d’água que foram atingidos pela lama. Com os danos à ictiofauna,
os pescadores perderam seu principal meio de subsistência. Diversas
localidades que dependiam do turismo também contabilizaram amargos
prejuízos (LOPES, 2016).

Logo, o rompimento da barragem não afetou isoladamente a Cidade de


Mariana, mas sim vários trechos das cidades vizinhas, causando um grande impacto
nas águas, como os rios, córregos, nascentes, entre outros. Portanto, é possível
afirmar que a alteração/destruição de um determinado lugar afeta vários locais,
conforme ensina Cibelle Leandro da Silva Maia e Rodolfo Ferreira Lavor Rodrigues
da Cruz:
24

É relevante salientar que os problemas relacionados ao meio ambiente não


podem ser resolvidos isoladamente, por alguns Estados apenas. As
questões ambientais não possuem fronteiras e interferem em todo o mundo,
de modo que é necessário que as soluções sejam tomadas em conjunto por
todos (MAIA, CRUZ, 2011).

A égide do meio ambiente é feita de maneira que os atos de proteção de um


determinado país afeta de maneira direta todo o contexto mundial, como é o caso da
União Européia que firmou um acordo a fim de reduzir pelo menos 55% das
emissões de gases do efeito estufa até 2030, além de que o bloco tem o objetivo de
atingir a neutralidade de emissões até 2050. Portanto, a União Europeia, que tem
uma área de 4.476.000 km², com essa projeção da diminuição de gases na
atmosfera, irá afetar o contexto mundial em sua totalidade, podendo assim afetar
diretamente o efeito estufa de diversos locais (UNIÃO, 2021).
Com a ideia que o direito ambiental é um direito sem fronteiras, é
imprescindível salientar a existência de tratados e acordos internacionais que
remetem a cooperação visando à proteção do meio ambiente, os acordos/tratados
neste tema podem ser enquadrados no Direito Ambiental Internacional (MAIA,
CRUZ, 2011).
A esfera de proteção internacional do meio ambiente tornou-se necessária
com o grande aumento da degradação ambiental. “Como essa degradação não
possui fronteiras devidamente delimitadas, resolveram-se criar, na esfera
internacional, documentos com a finalidade de combater a poluição transfronteiriça”
(SIRVINSKAS, 2018). Esses documentos surgiram no final do século XX, de
maneira a buscar a efetivação de proteção do meio ambiental nacional por meio de
normas internacionais.
O direito internacional ambiental, de acordo com Mirra (2003), é conceituado
“como sendo o conjunto de regras e princípios que criam obrigações e direitos de
natureza ambiental para os Estados, as organizações intergovernamentais e os
indivíduos” (apud SIRVINSKAS, 2018). Há vários tratados, acordos, convenções,
princípios, entre outros, alguns exemplos são:

a) Convenção da Pesca (1958);


b) Convenção de Ramsar — Proteção das Zonas Úmidas de Importância
Internacional e dos Hábitats das Aves Aquáticas (1971);
c) Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano
realizada em Estocolmo (1972);
25

d) Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e


Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (1973);
e) Convenção das Nações Unidas sobre o Mar — UNCLOS (1982);
f) Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio (1985);
g) Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de
Ozônio (1987);
h) Convenção sobre Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos
Perigosos — Convenção de Basileia (1989);
i) Conferência das Nações Unidas sobre o MeioAmbiente e o
Desenvolvimento — CNUMAD ou Cúpula da Terra realizada no Rio de
Janeiro — ECO-92 (1992);
j) Convenção-Quadro sobre a Mudança do Clima (1992);
k) Convenção sobre Diversidade Biológica — CDB (1992);
l) Diretrizes de Montreal para a Proteção do Meio Ambiente Marinho de
Fontes Provenientes da Terra (1992);
m) Estratégia Global de Abrigo para Todos até o Ano 2000;
n) Protocolo de Kioto (1997);
o) Código de Práticas para o Movimento Internacional Transfronteiriço de
Lixo Radioativo da Agência Internacional de Energia Atômica (1998);
p) outros documentos sobre Educação Ambiental da UNESCO;
q) Cúpula Mundial sobre desenvolvimento sustentável ou Cúpula da Terra
realizada em Johannesburgo — Rio+10 (2002);
r) Conferência de Bali, Indonésia — COP-13 (2007);
s) Conferência de Copenhague, Dinamarca — COP-15 (2009);
t) Conferência de Cancún, México — COP- 16 (2010);
u) Protocolo de Nagoya sobre biodiversidade (2010);
v) Conferência de Durban, África do Sul — COP-17 (2011), etc
(SIRVINSKAS, 2018).

Uma Conferência que foi muito importante na origem do direito ambiental


internacional, foi a Conferência de Estocolmo (Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente Humano), realizada na cidade de Estocolmo, na Suécia, em
1972.
A partir dessa Conferência foram subscritos 26 (vinte e seis) princípios, sendo
que na Declaração de Princípios sobre o Meio Ambiente houve a participação de 113
(cento e treze) países e inúmeras organizações governamentais e não
governamentais, na conferência foi conceituado que o “meio ambiente humano
deveria compreender não só o meio ambiente natural, mas também o meio artificial,
como fundamento do desenvolvimento pleno do ser humano” (SIRVINSKAS, 2018).
Além do conceito do meio ambiente humano, foram expostos diversos temas,
como o desenvolvimento sustentável, a proteção à biodiversidade, combate à
pobreza, a luta contra a poluição, dentre outros temas. Os princípios propostos na
Conferência tiveram grande eficácia no ordenamento jurídico brasileiro, sendo que
estes princípios estão enquadrados no art. 225 da CF (SIRVINSKAS, 2018).
Desta forma, o art. 225 da CF dispõe:
26

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade.
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão
público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados,
por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas
naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo,
não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais,
desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta
Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante
do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei
específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos (BRASIL,
1988, art. 225).

O artigo acima dá o direito aos cidadãos de usufruírem do meio ambiente,


não sendo esse direito de usufruto ilimitado. No entanto, teoricamente não é
possível restringir um direito após dá-lo, mas será possível usufruir do meio
ambiente até acabar? Se houver esse fato, não existirá mais direito a ser limitado:
27

pois não existiria mais meio ambiente suficientemente saudável para servir
de habitat para o ser humano. Não existindo meio ambiente saudável, não
sobreviverá a civilização, consequentemente não há que se falar na
existência de Direito, pois o próprio homem seria extinto sem o habitat
adequado para viver (VERAS, 2008).

O direito de usufruir do meio ambiente deve ser feito de maneira a ser


preservado esse meio, para então ter a fruição total de incomensuráveis formas de
vida do nosso planeta. “Deve ser defendida uma reciprocidade entre direito e dever.
Que um direito de usufruir corresponda a um direito de cuidar“ (VERAS, 2008).
Sendo esse meio um bem difuso e coletivo, o qual necessita de proteção, conforme
disposto no artigo citado acima:

O legislador na aplicação do dever de proteção ao meio ambiente deixou


silente a atribuição do cidadão quanto a sua função na proteção,
especificando no §1º do art. 225 da CF, que incumbe o Poder Público a
preservação, deixando de forma genérica as atribuições da coletividade de
preservar o meio ambiente. No entanto, a influência de milhões de
habitantes no Brasil serve como importante papel em mudanças ambientais.
Uma pessoa, considerada isoladamente, não é capaz de alterar a
configuração de um meio ambiente global, mas, se unida às outras
inúmeras criaturas produtoras de poluição, acarretará um mal cotidiano ao
mundo. [...] O poder degradador que o cidadão possui, que não é notado
nem por ele mesmo, nem pelas autoridades responsáveis pela preservação
ambiental.
É certo que as indústrias, em suas mais diferentes formas, possuem um
potencial de destruição muito maior do que uma pessoa. Entretanto, a
situação atual encontra-se em fase tão crítica, tão delicada, que devem ser
estudados até nos seus “mínimos” detalhes, os fatos aparentemente mais
inofensivos, inseridos que estão na vida diária das pessoas (VERAS, 2008).

Ademais, é possível constatar que a proteção ambiental deve ser levada de


forma primordial, pois sem a existência de um meio ambiente equilibrado não será
possível haver uma sadia qualidade de vida para os seres humanos. No direito
ambiental é possível constatar que existem três visões em relação à posição do
homem no meio ambiente, a visão antropocêntrica, ecocêntrica e biocêntrica, essas
visões trazem a ideia da posição do homem no meio ambiente. No entendimento de
Luis Paulo Sirvinskas, a classificação das visões são:

Antropocentrismo coloca o homem no centro das preocupações ambientais,


ou seja, no centro do universo. Ecocentrismo, ao revés, posiciona o meio
ambiente no centro do universo. Biocentrismo, por sua vez, procura conciliar
as duas posições extremas, colocando o meio ambiente e o homem no
centro do universo. É importante ressaltar que não só o homem é o
28

destinatário da proteção ambiental, mas todas as formas de vida (art. 3o, I,


da Lei n. 6.938/81). Assim, “antropocentrismo e ecocentrismo, passando-se
pelo biocentrismo, são diferentes cosmovisões (SIRVINSKAS, 2018).

A visão impregnada na nossa CF é a antropocêntrica, sendo o direito ao meio


ambiente voltado à satisfação das necessidades humanas, no entanto, não impede
a proteção da vida em todas as formas, conforme o art. 3º da lei n. 6.938/1981, a lei
da Política Nacional do Meio Ambiente, onde traz o conceito do meio ambiente,
sendo exposto a proteção à vida em todas as suas formas (FIORILLO, 2013).
Dessa forma, segundo Fiorillo, a proteção a todas as formas de vida, trazida
pela Política Nacional do Meio Ambiente, não deve ser considerada somente o
homem, e sim que há diversas formas de vida que devem ser tuteladas e protegidas
pelo direito ambiental, mesmo que não esteja vivo, pois é um ser ambiental, “na
medida que possa ser essencial à sadia qualidade de vida de outrem, em face do
que determina o art. 225 da Constituição Federal (bem material ou mesmo imaterial)”
(FIORILLO, 2013).
Portanto, a proteção da vida que não seja humana é tutelada pelo direito
ambiental com base que sua existência afete a garantia da sadia qualidade de vida
do homem, tornando o homem o destinatário de toda e qualquer norma, para a sua
proteção. Sendo que a proteção à fauna brasileira deve ser efetivada de maneira a
preservar o homem, por qual a CF define uma visão antropocêntrica.
29

3 DIREITO AMBIENTAL DA FAUNA: A CONTURBADA RELAÇÃO ENTRE


ANIMAIS RACIONAIS E OS DEMAIS ANIMAIS

A fauna possui diversos conceitos, no entanto, a base da conceituação da


fauna é a conjunção de animais, como ensina Sirvinskas:

A fauna é o conjunto de animais estabelecidos em determinada região.


Quando se fala em fauna, deve-se pensar imediatamente em seu hábitat
que, por sua vez, é o local onde vivem como os abrigos, ninhos, criadouros
naturais etc., integrando, assim, o ecossistema. Ecossistema é o conjunto
de vegetais e animais que interagem entre si ou com outros elementos do
ambiente, dando sustentação à diversidade biológica. Por tal razão é que a
fauna não deve ser analisada isoladamente ou dissociada da flora. Desse
modo, a fauna deve ser preservada, pois integra o meio ambiente previsto
no art. 225, caput, da CF. Os animais têm o mesmo direito que o homem de
viver no planeta Terra. A fauna e a flora estão intimamente ligadas em uma
relação de interação mútua e contínua. Uma não vive sem a outra, fazendo
com que essa interação mantenha a integridade das espécies vegetais e
animais (SIRVINSKAS, 2018).

Portanto, a fauna é analisada como um conjunto, sendo que a sua proteção


deve ser feita a partir de atos feitos no meio ambiente como um todo.

3.1 AS PERSPECTIVAS BIOLÓGICAS E SOCIOLÓGICAS DA RELAÇÃO


DOS HUMANOS COM OS DEMAIS ANIMAIS

A nossa sociedade possui a visão antropocêntrica, sendo o homem no centro,


no entanto, com a nossa realidade, percebemos que, na verdade, deveria ser
utilizada a ideia do biocentrismo, pois o ser humano é dependente dos outros
animais não humanos, além de todo o meio ambiente, deste modo surge a teia
alimentar, com a conjunção de diversos sistemas, uns dependentes dos outros. Essa
dependência traz uma questão importante, a dignidade do animal não humano, que
foi por muitos anos deixado de lado, mas que foi constituída na CF de 1988.
A dignidade da pessoa humana é uma garantia inseparável, sendo que este
titular de direitos deverá ser respeitado pelo Estado:

Um indivíduo, pelo só fato de integrar o gênero humano, já é detentor de


dignidade. Esta é qualidade ou atributo inerente a todos os homens,
decorrente da própria condição humana, que o torna credor de igual
30

consideração e respeito por parte de seus semelhantes (ANDRADE, 2003,


P. 317).

Nesse contexto, a dignidade do animal vincula-se com a proteção dada ao ser


humano, pois é por meio da dignidade dada aos animais, que é possível e
necessário ter um meio ambiente ecologicamente equilibrado. O conceito de
dignidade está ligado ao direito de não sofrimento, no pensamento do Juiz Manoel
Franklin Fonseca Carneiro, os animais possuem direitos que são próprios, sendo
então denominados de 5 (cinco) liberdades:

1) fisiológica – direito de não sentir fome nem sede; 2) saúde – direito de


não sentir dor, de não viver em ambientes insalubres, e de ser livre de
doenças, tendo direito a assistência veterinária; 3) psicológica – direito de
não sofrer medo, angústia e estresse; 4) ambiental - ser mantido em espaço
suficiente para se movimentar e se abrigar; e 5) comportamental - direito de
poder expressar seu comportamento natural, que a natureza lhes ensinou.
Como exemplo dessa liberdade comportamental, os elefantes têm o instinto
de tomar banho de terra e depois de água, para formar uma lama que os
protege do sol e de insetos, e mesmo que sejam mantidos em cativeiro, o
que não deveria acontecer, sentem uma enorme necessidade de manter
esse comportamento. E nem precisa dizer que o comportamento natural de
um pássaro é voar! (CARNEIRO, 2020).

Portanto, a dignidade humana e a dignidade do animal não humano, não


existem um sem o outro, pois para ter dignidade, deverá existir o direito de não
sofrimento, sendo esse direito vinculado aos humanos e aos animais, a única
diferença existente entre eles, é que o ser humano possui de forma mais numerosa
e complexa.
A dignidade dos animais tem previsão legal no art. 225 da CF, §1º, inciso VII
“proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade” (BRASIL, 1988, art. 225).
Seguindo o pensamento do Juiz Manoel Franklin Fonseca Carneiro:

Direitos animais são uma extensão dos direitos humanos, ambos visam
garantir as necessidades primárias de seres que se importam
originariamente com o que lhes ocorre, ambos tratam de seres que são fins
em si mesmos, ambos são respostas à vulnerabilidade dos indivíduos
dependentes entre si. Direitos humanos sem considerar os animais são
incompletos, pois direitos humanos, como afirmou Cavalieri, não são
apenas humanos. Por isso, de acordo com a nossa Constituição, uma tese
sobre direitos animais também é sobre direitos humanos, ela é sobre o
31

mínimo devido a seres vivos que são sujeitos, não objetos; que são alguém,
não algo (CARNEIRO, 2020).

Concluindo assim, que a proteção animal e a dignidade devem ser vistas de


maneira primordial para a preservação do meio ambiente. O art. 225 da CF afirma
que o meio ambiente deve ser protegido para as presentes e futuras gerações, deste
modo se conceitua o Princípio da Solidariedade Intergeracional, pois caracteriza a
ideia de que a proteção deve ser vista de modo a existir um meio ambiente
equilibrado para as futuras gerações.
A preservação para as futuras gerações, segundo a Declaração de Estocolmo
de 1972, é uma preocupação de direito internacional, sendo um dever de
solidariedade entre as gerações. Esse princípio da solidariedade intergeracional
“visa assegurar que as gerações atuais devem garantir os recursos existentes ou
melhorá-los para a manutenção da vida, das gerações que estão por vir”
(ANTUNES, 2018, P. 16).
Em vista disso, um fato que está ocorrendo no nosso mundo, capaz de
causar um grave desequilíbrio ambiental e causar perturbação no princípio da
dignidade da pessoa humana, é o desaparecimento das abelhas. As abelhas são
responsáveis por polinizar 85% das plantações agrícolas destinadas à alimentação
humana, podendo visitar até 7 mil flores em um único dia, no entanto, nas últimas
décadas, as abelhas estão, cada vez mais, sendo ameaçadas de extinção.
Segundo o Núcleo de Extensão da Universidade de São Paulo sobre
alimentação sustentável:

Nos Estado Unidos e na Europa a síndrome do Distúrbio do Colapso das


Colônias (CCD) já foi comprovada, revelando aos EUA a perda de mais da
metade de todas as suas colônias. No Brasil, a CCD ainda não foi
comprovada, mas especialistas já relatam declínio. E os dois fatores que
estão diretamente relacionados a esse declínio são: a diminuição do habitat
natural pela expansão agrícola e o uso excessivo de agrotóxicos. As
abelhas não dependem apenas dos recursos alimentares encontrados nas
plantações, mas também do retorno ao seu habitat natural, protegido para
se abrigarem e construírem seus ninhos (SUSTENTAREA, 2020).

Portanto, a extinção das abelhas afetará de modo expressivo na


sobrevivência humana, pois a alimentação dos seres humanos, em grande parte,
depende da polinização dos alimentos, afetando assim todo o equilíbrio do meio
32

ambiente pelo “simples desaparecimento de um pequeno animal”, que faz tanta


diferença na sobrevivência humana.
Deste modo, a partir das pesquisas feita pela Larissa Duarte Antunes:

[...] o direito ambiental norteado pelo princípio da equidade intergeracional,


este deve ser tutelado para que seja garantido à sociedade atual como
também para ser ofertado para as gerações futuras. Assim, diante da
previsão da extinção desses agentes polinizadores em 30 anos, a atuação
preventiva (tanto do Estado quanto dos cidadãos) deve começar hoje
(ANTUNES, 2018, P. 27).

Além da problemática da extinção das abelhas, existe o efeito dominó da


co-extinção das espécies, começando de baixo para cima em relação à cadeia
alimentar, esse efeito está sendo estudado nos centros de pesquisas na Austrália e
na Itália. Sendo que esses fatos poderão agravar o impacto no aquecimento global
em relação à biodiversidade, podendo ocorrer perdas enormes na biodiversidade,
visto que essa co-extinção se dá pela interferência humana.
Segundo o site Ciência e Clima, o efeito da co-extinção é:

Na cadeia alimentar de um ecossistema, a uma espécie que se alimente de


outra estará vulnerável se esta última se extinguir. A perda de espécies
pode resultar em extinções em cascata, de baixo para cima – daquelas que
constituem a base da cadeia alimentar para aquelas no topo. [...]
Segundo uma das pesquisadoras, as práticas e as políticas de conservação
não devem se limitar às espécies individuais. Elas precisam considerar a
rede de interação das espécies. Quando uma delas se extingue, os
desdobramentos são bem maiores do que riscar o nome de uma lista
(CIÊNCIA E CLIMA, 2018).

Consequentemente, a proteção às espécies devem ser vistas de maneira a


proteger as redes na totalidade, não somente uma parcela das espécies, pois a
extinção de uma determinada espécie desencadeará uma ruptura na rede, causando
um efeito dominó na cadeia alimentar, o que por consequência afetará o meio
ambiente de maneira totalitária, não garantindo o direito entre as gerações de
manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Além das medidas de proteção a fauna descritas acima, deve ser observado
como foi, ao longo dos séculos, as alterações do direito à fauna no nosso mundo,
pois foram realizadas diversas alterações no nosso ordenamento jurídico para ele
estar como está hoje, e isso se deu por diversas modificações nas legislações e nas
doutrinas.
33

3.2 A HISTÓRIA DO DIREITO ANIMAL: DE MÃO DE OBRA AOS DIREITOS


HUMANOS DOS ANIMAIS

A convivência do ser humano com os demais animais origina-se desde os


primórdios da civilização humana, e esse convívio teve como base a hierarquia entre
as espécies, e o ser humano como superior aos demais. Os animais eram utilizados
em diversas utilidades para o ser humano, como para alimentação, tração,
pesquisas e também entretenimento, com isso, a visão antropocêntrica do ser
humano foi se fortalecendo, portanto, deixando de lado a proteção da natureza e dos
animais, e só os utilizando quando beneficiaram o seres humanos.
Desta maneira a legislação ambiental foi se fortalecendo, no entanto a
aplicação da lei, difere-se da legislação positivada. Importante ressaltar a evolução
do pensamento em relação aos direitos dos animais não humanos, começando nas
antigas civilizações até a atualidade.
Na Grécia Antiga, era marcada pelo pensamento místico, onde os direitos se
baseavam nos pensamentos dos deuses que acreditavam que os animais não
teriam senso de justiça, pois segundo eles, Zeus não lhes deu, deste modo, era um
período marcado pela dominação animal.
Na Roma, os animais eram classificados como “coisas”, neste período havia a
divisão somente de pessoas e “coisas”, classificando como um objeto que era direito
patrimonial, e ainda neste período, os animais eram muito utilizados em diversos
locais como entretenimento.
Na Idade Média, existiam duas visões, a visão clerical que dizia que o homem
deveria se distanciar do mundo sensível, sendo ele superior aos outros, e a visão
laica, em que havia atribuição de sentimentos e virtudes aos animais:

Para ilustrar o pensamento desta época podemos citar São Tomás de


Aquino, que defende a perfeição humana, isto é, diferente dos outros seres,
o homem seria o mais semelhante a Deus porque dota de capacidade
intelectual (a razão) (CAMPELO, 2017, P. 15).

No período Renascentista, com as descobertas feitas na Revolução


Científica, houveram alterações nos pensamentos da época, como a quebra do
34

paradigma do antropocentrismo, a partir dos ensinamentos de Nicolau Copérnico,


onde o mesmo, através da sua pesquisa, ensinou que a Terra não seria mais o
centro do universo e nem mesmo da humanidade. No entanto, as mudanças de
pensamentos foram feitas de forma lenta e gradual, porquanto a ideia do
antropocentrismo fundou-se desde o começo da vida humana.
A concepção da ideia de que o ser humano é superior aos animais foi
utilizada ao longo dos séculos. Na Modernidade, com o pensamento de René
Descartes, na sua Teoria Mecanicista, houve uma maior contribuição na exploração
dos animais, pois se afirmava que os animais não possuíam sentimentos, sendo
eles meramente máquinas que se operam no automático.
No entanto, na Teoria Mecanicista:

[..] Descartes não estava apenas se referindo aos animais, mas também se
referia ao homem como uma máquina. Entretanto o fato do animal não ter a
mesma capacidade de se comunicar como o homem, faz com que ele não
tenha como expressar seus pensamentos. Assim, estes agiriam sem
conhecimento, apenas atuavam no automático através do funcionamento de
seus órgãos. Essa teoria, portanto, veio para justificar o sofrimento dos
animais nas diversas experiências que eram feitas na época, como por
exemplo, as vivissecções (CAMPELO, p. 15/16, 2017).

No pensamento dos contratualistas, como Thomas Hobbes, os animais,


independente das espécies, não teriam capacidade de se expressar, porquanto não
se enquadram nas partes de um contrato, podendo então justificar assim o domínio
dos animais.
Outro pensador que relatou sobre a diferença entre os animais e os seres
humanos foi Immanuel Kant, que disseminava que os animais eram desprovidos de
racionalidade, portanto, era possível que eles fossem considerados “coisas”, porém,
ele afirma que os animais podiam sentir, no entanto, a razão somente era destinada
aos seres humanos, pois os animais, por não possuírem razão, não tinham o que os
seres humanos tinham, chamado de obrigação moral.
A partir dos fatos expostos, é possível apurar-se que a sociedade, desde os
início dos tempos, teve como base pensamentos que se utilizavam da inferiorização
e da dominação animal, e com isso a sociedade tornou-se a parte dominante da
natureza, tendo o controle do planeta terra, e não visualizando a natureza como uma
parte essencial da existência da vida humana.
35

No entanto, além dos pensamentos que eram a favor da dominação animal,


existiam os pensadores que eram a favor dos direitos dos animais, um dos primeiros
pensadores a apoiar a causa animal, foi o filósofo Voltaire (François-Marie Arouet),
que condenava os pensamentos que eram opressores em relação do ser humano
com o animal, e criticava o pensamento de René Descartes, dizendo a seguinte
frase: “Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são
máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da
mesma maneira, que não aprendem, nada aperfeiçoam (…)” (PINHEIRO, 2015).
Charles Darwin, também foi um contribuinte para alterar a visão da
superioridade humana, com sua Teoria Evolucionista, que concluiu que todos os
seres, incluindo os seres humanos, fazem parte de uma mesma escala evolutiva,
deste modo, estabelecendo a igualdade entre todos os seres.
Outro filósofo importante para a defesa dos animais foi Tom Regan, no
pensamento do filósofo, os animais possuem direito morais básicos, de modo a
efetivar uma vida digna para eles, e que todos os seres podem sofrer,
consequentemente, deve existir a valorização por igual de todos, na medida que os
seres humanos têm a mesma dor que qualquer animal na terra.
Já Peter Singer, um precursor dos direitos animais, é contrário ao especismo,
e relata que todos os seres vivos e sencientes são capazes de sentir dor, ele
defende que o abatimento dos animais ao consumo humano é algo injustificável.
Singer, a partir do estatuto da moral e do sofrimento, dispõe que os animais são
capazes de sentir e também de exprimir o sofrer, de diversas maneiras, portanto,
deve-se respeitar a dignidade dos animais.
Além dos pensadores, outras formas de proteção aos animais surgiram, ao
longo dos anos, a primeiro que surgiu foi a Society for the Prevention of Cruelty to
Animals — SPCA (Sociedade para a Prevenção da Crueldade com os Animais,
tradução nossa), iniciou em Londres, na Inglaterra, em 1824, após a efetivação na
Inglaterra, na qual foi a precursora da primeira lei de proteção animal no mundo, e
em 1876, ela se expandiu até os Estados Unidos, tendo atualmente diversas dessas
sociedades espalhadas pelo mundo.
Além das sociedades criadas para a proteção dos animais, muitos os países
enquadraram no ordenamento jurídico diversas leis de proteção aos animais, um
exemplo foi em 1933, na Alemanha, quando Hittler governava pelo Partido Nazista,
36

e foi aprovado a “Tierschutzgesetz” (Lei de Proteção Animal, tradução nossa), que


não permitia nenhuma barbaridade contra os animais, indo totalmente contra à
forma de governo de Hittler, com as atrocidades empregada contra os seres
humanos neste período. Mas, após a Segunda Guerra Mundial, com a devastação
produzida pela guerra, e consequentemente com a escassez de mantimentos, as
leis de proteção aos animais foram deixadas de lado.
Ainda, com o aumento populacional no século XX, iniciou-se uma nova era de
consumo de produtos de origem animal, consequentemente, aumentando a
necessidade desses alimentos. Com esse efeito, houve o aumento de produção
desses produtos, saindo da produção de fazendas para as grandes indústrias,
desencadeando uma gigantesca matança de animais, e desta maneira, ocasionando
bilhões de mortes de animais para o consumo humano.
Foi em 1978 que a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura), a partir da grande exploração dos animais,
estabeleceu no plano internacional, a Declaração Universal dos Direitos dos
animais, tendo como principal meta frear as crueldades sofridas pelos animais nos
ordenamentos dos países.
Por diversos séculos, foi-se traçando diversas legislações de modo a garantir
os direitos dos animais, em diversos países, a partir disso, teve consequência nas
legislações brasileiras, no entanto, é importante frisar o histórico brasileiro, dos
direitos dos animais.
A fauna foi um importante fator cultural nas tribos indígenas brasileiras,
diversas eram as espécies que serviam como alimentação, como quase todos os
mamíferos, répteis, anfíbios, insetos, e também seus ovos, além de servirem como
alimentos, os seus dentes, ossos, garras e outras partes, serviram para a fabricação
de instrumentos e ferramentas que eram utilizados para diversos fins.
As aves, além de serem utilizadas na alimentação, eram capturadas do seu
ambiente natural e levadas às aldeias para servirem de fornecedoras de penas para
a ornamentação, e além disso, os índios utilizavam as penas para enfeitar as
flechas, colares, braçadeiras, dentre outros itens.
Como disposto no 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre:

Os índios também amansavam espécimes da fauna silvestre, sem nenhuma


função útil, mas unicamente para diversão doméstica, alegria e curiosidade
37

para os olhos. Esses animais eram mantidos nas aldeias como xerimbabos,
que significa "coisa muito querida", nome dado aos animais silvestres
mantidos como de estimação, pelos índios brasileiros (RENCTAS, 2001, P.
11).

Os principais animais que foram amansados pelos índios eram as araras,


periquitos, papagaios, quatis, veados, jiboias, e muitos outros, sendo que os índios
possuem muito apego a eles, e não os reproduziam, portanto, faziam a
domesticação das espécimes, e não das espécies.
Um dos pontos principais a serem ressaltados é que essas espécies
utilizadas pelos índios, a sua domesticação era feita de maneira a não agredir a
sobrevivência delas, e ainda, no abatimento para alimentação, não se realiza o
abatimento de animais em idade reprodutiva e nem fêmeas grávidas.
Porém, esses hábitos mudaram com a chegada dos exploradores europeus,
iniciou-se, assim, a exploração dos recursos naturais da fauna e da flora brasileira,
de maneira intensa, e os índios eram utilizados como agentes depredadores para a
exploração desses recursos, pois eram eles que sabiam onde estava cada um
desses recursos e a melhor maneira de retirá-los.
A partir disso, criou-se uma maior subsistência com base na criação de
diversos animais, tanto na utilização de lavouras, na pecuária, nos transportes,
dentre outros, começando, então, o Brasil Colonial, e com isso, iniciou-se a maior
necessidade de legislação ambiental, de modo a proteger os animais da fauna
brasileira.

3.3 O DIREITO DA FAUNA

A proteção à fauna começou desde os primórdios, no entanto, foi somente no


ano de 1635, na Irlanda, que a primeira referência de legislação escrita de proteção
aos animais surgiu, em um dos seus artigos havia a proibição de arrancar os pelos
das ovelhas e também de amarrar arados nos cavalos.
No ano de 1641, foi publicado o primeiro código legal que realizava a
proteção aos animais na América, mas especificamente nos Estados Unidos,
baseado no texto do “The Body of Liberties” (O Corpo das Liberdades, tradução
nossa), e em seu art. 92 decretava que “Nenhum homem pode exercer qualquer
38

tirania da crueldade para com qualquer criatura bruta que é normalmente mantida
para seu uso” (PORTAL VATICANO, 2021).
Na República Puritana, entre os anos de 1649 a 1658, foi proibido na
Inglaterra as brigas de galo, cachorros e também as touradas, mas com o retorno de
Charles II ao trono, em 1660, as touradas foram legalizadas por 162 anos, até serem
proibidas novamente em 1822.
A partir do ano de 1822 iniciaram os movimentos de protestos, na Inglaterra,
e no mesmo ano foi promulgada a Lei chamada British Cruelty to Animal Act (A Lei
do Tratamento Cruel dos animais, tradução nossa), com o objetivo principal de
proibir os atos cruéis contra os animais.
Na Alemanha e na Itália, nos anos de 1838 e 1848, respectivamente, foram
promulgadas leis contra a crueldade e maus-tratos dos animais.
No ano de 1911, na Inglaterra, foi promulgada a lei chamada Protection
Animal Act (Lei de Proteção Animal, tradução nossa), a fim de limitar as práticas
humanas de crueldade para com os animais.
A Declaração Universal de Direitos dos Animais, publicada em 1978, foi um
marco importante para a legislação ambiental, no entanto, a Declaração não possui
força normativa e somente serve como fonte material para a normatização interna de
cada país. No Brasil, a declaração serviu como base para a CF, estando disposto os
direitos dos animais.
A declaração é composta pelos 14 artigos a seguir:

Artigo 1º - Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos


direitos à existência.
Artigo 2º [...]
a.Todo o animal tem o direito a ser respeitado.
b.O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais
ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus
conhecimentos ao serviço dos animais
c.Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do
homem.
Artigo 3º [...]
a.Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis.
b.Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto
instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia.
Artigo 4º [...]
a.Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver
livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o
direito de se reproduzir.
b.Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é
contrária a este direito.
Artigo 5º [...]
39

a.Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no


meio ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas
condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie.
b.Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas
pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito.
Artigo 6º [...]
a.Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a
uma duração de vida conforme a sua longevidade natural.
b.O abandono de um animal é um ato cruel e degradante.
Artigo 7º - Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de
duração e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao
repouso.
Artigo 8º [...]
a.A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é
incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência
médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de
experimentação.
b.As técnicas de substituição devem de ser utilizadas e desenvolvidas.
Artigo 9º - Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser
alimentado, alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele
nem ansiedade nem dor.
Artigo 10º [...]
a.Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem.
b.As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são
incompatíveis com a dignidade do animal.
Artigo 11º - Todo o ato que implique a morte de um animal sem necessidade
é um biocídio, isto é um crime contra a vida.
Artigo 12º [...]
a.Todo o ato que implique a morte de grande um número de animais
selvagens é um genocídio, isto é, um crime contra a espécie.
b.A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio.
Artigo 13º [...]
a.O animal morto deve de ser tratado com respeito.
b.As cenas de violência de que os animais são vítimas devem de ser
interditas no cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar
um atentado aos direitos do animal.
Artigo 14º [...]
a.Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem estar
representados a nível governamental.
b.Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do
homem (SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA).

Além da declaração, existem inúmeras convenções de direito internacional


que servem como parâmetro para as legislações internas dos países, como:

● Convenção Internacional para Proteção dos Pássaros (Paris,


18/10/1950);
● Convenção Internacional da Pesca da Baleia (Washington,
2/10/1946);
● Convenção para Conservação sobre Pesca e Conservação dos
Recursos Vivos do Mar (Genebra, 29/4/1958);
● Convenção Internacional para Convenção do Atum no Atlântico (Rio
de Janeiro, 14/5/1966);
● Convenção sobre as Zonas Úmidas de Importância Internacional
para Proteção dos Animais e Pássaros Aquáticos e Terrestres (Ramsar,
2/2/1971);
40

● Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e


Fauna Selvagem em Perigo de Extinção (Washington, 3/3/1973);
● Convenção sobre Conservação dos Recursos Vivos Marinhos
Antárticos (Camberra, em 20/5/1980);
● Convenção sobre Conservação das Espécies Migratórias
Pertencentes à Fauna Selvagem (Bonn, 23/6/1979);
● Convenção sobre a Biodiversidade (Rio de Janeiro, de 5/6/1992)
(FERREIRA, 2018).

Ademais, além de legislações de caráter internacional, o direito à fauna no


Brasil também teve uma grande evolução, causando um aumento na proteção dos
animais, no entanto, muitas vezes, as legislações não são aplicadas de modo
correto, acarretando uma falha no nosso ordenamento jurídico.
No Brasil, os primeiros meios de proteção da Fauna eram as Ordenações dos
Reis (‘vide’ capítulo 2.2), onde havia a proteção da fauna e da flora, no entanto, essa
proteção somente servia para os bens do rei, e não para a preservação ambiental.
Foi no ano de 1886, em São Paulo, que surgiu a primeira lei, que tinha o
intuito de proteger os animais, havendo a aplicação de multa para os condutores de
carroças ou os cocheiros que maltratassem os animais, no entanto, somente teve
eficácia a partir do ano de 1924, com a promulgação de outros decretos e leis que
serviam como complemento para a lei.
Outrossim, no ano de 1916 foi promulgado o Código Civil, no entanto:

O Código Civil brasileiro de 1916 não ofertou progressos significativos para


os animais, uma vez que por influência da legislação romana, eram
considerados coisa de ninguém. Ademais, eram regulamentados nessa
norma, a pesca, a caça e a pecuária (SILVA, 2020, P. 137).

No ano de 1924, foi promulgado o Decreto nº 16.590/1924 que regulamentava


as casas de divertimento públicos, em seus artigos havia a proibição de corrida de
touros, novilhos, de brigas de galo e canários, e qualquer outro lazer que trouxesse
sofrimento aos animais.
No Governo Vargas, entre os anos de 1930 a 1945, no ano de 1934, foi
promulgado o Decreto nº 24.625/1934, o qual instituiu o direito de representação dos
animais em juízo, além de prever as condutas a serem consideradas maus tratos, no
entanto, foi revogado o decreto no governo do Fernando Collor.
Após a Declaração Universal dos Direitos dos Animais em 1978, foi
sancionada a lei nº 9.605/1998 que definiu os crimes ambientais e regulamentou as
41

sanções penais e administrativas provenientes de atividades lesivas aos animais. A


legislação trouxe um novo parâmetro, pois consolidou o tratamento igualitário entre
os animais, não havendo diferenciação entre os animais na fauna silvestre e os
animais domésticos, e também foi a partir dessa lei que o Brasil se tornou um dos
países mais avançados na legislação de proteção ambiental.
A lei nº 9.605/1998 expõe que é crime todo e qualquer dano ou prejuízo
causado à fauna, flora, aos recursos naturais e ao patrimônio cultural, do art. 6º ao
art. 24, delimita sobre a aplicação da pena, definindo as penas aplicadas, às
atenuantes, as agravantes, sobre a reparação ambiental, do valor da multa, da
pericia ambiental, do valor de fixação da reparação de danos.
No art. 25 é exposto sobre os casos de apreensão de produtos e
instrumentos da infração administrativa ou do crime, definindo a destinação de cada
produto e também sobre os animais que foram apreendidos. Nos arts. 26 a 28, é
regulamentada a ação e o processo penal, a ação da lei será a ação penal pública
incondicionada.
A partir do art. 29 ao art. 37, inicia-se o rol dos crimes contra o meio ambiente,
em específico, dos crimes contra a fauna, do arts. 38 ao 53, estão os crimes contra a
flora; nos arts. 54 ao 61, são expostos os crimes de poluição e outros crimes
ambientais, após inicia-se os crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio
cultura, nos arts. 62 ao 65, e os últimos crimes expostos, são os crimes contra a
administração ambiental, do arts. 66 ao 69-A.
A infração ambiental é descrita nos arts. 70 ao 76 da lei, além de descrever
os crimes na seara nacional, nos arts. 77 a 78 são expostos a cooperação
internacional para a preservação do meio ambiente, o qual dispõe que:

Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons


costumes, o Governo brasileiro prestará, no que concerne ao meio
ambiente, a necessária cooperação a outro país, sem qualquer ônus,
quando solicitado para:
I - produção de prova;
II - exame de objetos e lugares;
III - informações sobre pessoas e coisas;
IV - presença temporária da pessoa presa, cujas declarações tenham
relevância para a decisão de uma causa;
V - outras formas de assistência permitidas pela legislação em vigor ou
pelos tratados de que o Brasil seja parte.
§ 1° A solicitação de que trata este artigo será dirigida ao Ministério da
Justiça, que a remeterá, quando necessário, ao órgão judiciário competente
42

para decidir a seu respeito, ou a encaminhará à autoridade capaz de


atendê-la.
§ 2º A solicitação deverá conter:
I - o nome e a qualificação da autoridade solicitante;
II - o objeto e o motivo de sua formulação;
III - a descrição sumária do procedimento em curso no país solicitante;
IV - a especificação da assistência solicitada;
V - a documentação indispensável ao seu esclarecimento, quando for o
caso.
Art. 78. Para a consecução dos fins visados nesta Lei e especialmente para
a reciprocidade da cooperação internacional, deve ser mantido sistema de
comunicações apto a facilitar o intercâmbio rápido e seguro de informações
com órgãos de outros países (BRASIL, 1998, arts. 77 e 78).

A lei trouxe uma uniformização das infrações criminais no direito ambiental,


além de criminalizar pessoas jurídicas, importante mencionar que as condutas que
ignoram as normas ambientais também são considerados crimes ambientais, como
é o caso do crime previsto no art. 60 da lei:

Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer


parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços
potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos
ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e
regulamentares pertinentes:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente (BRASIL, 1998, art. 60).

As penas que são previstas na lei serão aplicadas de acordo com a gravidade
da infração, deste modo, quanto mais reprovável a conduta, maior a pena. A pessoa
jurídica infratora não poderá ter sua liberdade restringida do mesmo modo que uma
pessoa física, no entanto, está sujeita a penalizações, aplicando-se penas de multas
ou restritivas de direitos.
Os crimes contra a fauna (arts. 29 a 37), previstos na lei, são as agressões
que foram cometida contra os animais silvestres, nativos ou em rota migratória, um
exemplo é a pesca, além dos maus-tratos, a realização de experiências dolorosas
ou cruéis em animais. O art. 37 dispõe quando não é crime:

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:


I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua
família;
II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou
destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela
autoridade competente;
IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão
competente (BRASIL, 1998, art. 37).
43

Além das normas citadas acima, foram promulgadas inúmeras outras leis no
ordenamento jurídico brasileiro, como:

Decreto-lei nº 3.688/1941, que trata das Lei das Contravenções Penais;


Lei nº 5.894/1943, que versa sobre o Código de Caça;
Lei Federal nº 5.197/1967, que compõe a Lei de Proteção à Fauna;
Decreto-lei nº 221/1967, que versa sobre o Código da Pesca, que foi
alterado posteriormente pela Lei Federal nº 7.679/1988;
Lei Federal nº 6.638/1979, que versa sobre as normas para vivissecção de
animais, que posteriormente foi revogada pela Lei Federal nº
11.794/2008, que estabelece o procedimento para o uso científico dos
animais;
Lei Federal nº 6.938/1981, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente;
Lei Federal nº 7.173/1983, que regulamenta o funcionamento dos jardins
zoológicos;
Lei Federal nº 9.795/1999, que trata da Política Nacional de Educação
Ambiental; e
Lei Federal nº 9.985/2000, que é a Lei do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SILVA, 2020, p. 138).

Na legislação brasileira, utiliza-se o princípio da precaução para a proteção da


fauna, este princípio disciplina os fatores que poderão acontecer ou que possam
contribuir para futuros danos ambientais, portanto, o princípio sugere uma cautela e
cuidados antecipados para tentar prevenir os possíveis problemas futuros no
ambiente.
O ramo do direito animal vem ganhando cada vez mais força no ordenamento
jurídico, em alguns entendimentos é tratado como uma matéria do direito ambiental,
e outros entendem que é um novo ramo independente. Além disso, o direito animal
está modificando a ideia do antropocentrismo.
Porém, há muitos avanços que deverão ser feitos para a maior proteção dos
animais, livrando-os de práticas cruéis, e não podendo ser classificados como
inferiores aos seres humanos, e para efetivar essas mudanças, deve-se ser
desconstruído a ideia do antropocentrismo enraizado no nosso ordenamento
jurídico.
Essa desconstrução poderá ser feita a partir de novas políticas públicas e
também de novos entendimentos jurisprudências e legislativos, para que com isso a
proteção aos nossos animais possa ser efetiva de maneira a proteger todos ao
nosso redor, como demonstrado na figura abaixo (FIGURA 1), que mostra que nosso
44

ordenamento jurídico deve ser baseado no ECO, não no EGO, que é o


antropocentrismo enraizado.

Figura 1 - Ego e Eco

Fonte: GOMES1

Deste modo, conforme demonstrado na ilustração acima, a proteção ao meio


ambiente, a partir de políticas públicas, legislações, e julgados, deve ser feita de
maneira a proteger o meio ambiente como um todo, incluindo todos os seres vivos
de forma igualitária, não protegendo uns mais que os outros.

1
Disponível em:
<http://obviousmag.org/confidencias/2016/a-desconstrucao-do-antropocentrismo-em-prol-da-ecosofia.
html>. Acesso em: 07 set 2021.
45

4 APLICABILIDADE JURÍDICA DO DIREITO AMBIENTAL À FAUNA E O


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

O direito ambiental à fauna serve como proteção dos animais frente às


intervenções humanas, servindo como meio de proteção contra a extinção das
espécies, neste tópico serão expostos às informações relativas ao princípio da
insignificância e sua aplicabilidade, ou não, aos casos em que ocorreu crime contra
a fauna.

4.1 O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E SUA (POSSÍVEL) APLICABILIDADE NO


DIREITO AMBIENTAL

A origem do princípio da insignificância possui controvérsias, pois existem


duas vertentes relacionada a este tema, uma, na qual sustenta que a origem deste
princípio começou no Direito Romano, em que havia a minima non curat praetor,
onde o pretor não julgava casos de bagatela, no entanto, era aplicado somente em
casos privados, e também era somente por suposição.
A outra vertente nega a origem deste princípio, pelo Direito Romano, pois
somente havia a aplicação em casos de direito privado, desta maneira, o princípio
somente começou a ser aplicado na Europa, com a 1ª Guerra Mundial, sendo
chamado pelos alemães de "criminalidade de bagatela" – “Bagatelledelikte”.
Iniciou-se com a 1ª Guerra Mundial uma onda de crises sociais, a qual, em
conjunto com fatores socioeconômicos, culturais e políticos, trouxeram o
agravamento de pequenos delitos patrimoniais, como o furto de alimento, e em
razão deste crime ser tão comum, e sendo de natureza econômica, foi denominado
como "criminalidade de bagatela".
No entanto, somente em 1964, com os ensinamentos de Claus Roxin, foi
introduzido no Direito penal, o princípio da insignificância, que tem como finalidade a
exclusão de determinadas condutas humanas da sua tipicidade material, bem como,
conforme Zacharyas, tinha:
46

[...] o brocardo minima non curat praetor como regra auxiliar, uma vez que a
mera previsão da adequação social a ser observada pelo legislador, não
bastaria, por si só, para afastar o injusto, sendo, assim, tal princípio
imprescindível para afastar os danos de pequena monta (ZACHARYAS,
2012, p. 247).

Este princípio é norteado por diversos outros princípios, no entanto, 2 (dois)


deles são mais importantes, sendo o princípio da proporcionalidade e da intervenção
mínima. O princípio da proporcionalidade tem como propósito garantir a liberdade
individual frente aos interesses administrativos, deste modo, a pena aplicada deve
ser proporcional à gravidade da infração cometida, assim, quanto mais grave o
delito, mais alta será a pena a ser aplicada.
Já o princípio da intervenção mínima no direito penal é utilizado de maneira a
garantir a proteção do indivíduo frente às sanções penais, do modo que o direito
penal seja utilizado como ultima ratio, deste modo, as sanções somente devem ser
aplicadas, em casos de grandes violações sofridas, em bens jurídicos relevantes, e
de maior gravidade para a sociedade, desta maneira, somente em casos de maior
danosidade social.
À vista disso, é necessário elucidar a conceituação do princípio da
insignificância, chamado também de princípio da bagatela. Este princípio não é
definido pela legislação, somente por doutrinas e jurisprudências.
Segundo os ensinamentos de Gustavo Zunqueira e Patricia Vanzolini, o
princípio da insignificância é:

[...] o princípio da insignificância postula que nem toda agressão merece


reprimenda penal, mas apenas aquela que afetar os bens jurídicos de forma
relevante, apta a justificar a intervenção penal. É a ideia que decorre do
brocardo minimis non curat praetor. [...] Desta forma é compreendido como
um instrumento de interpretação restritiva, fundado na concepção material
do tipo penal, por intermédio do qual é possível alcançar, pela via judicial e
sem macular a segurança jurídica do pensamento sistemático, a proposição
político-criminal da necessidade de descriminalização de condutas que,
embora formalmente típicas, não atinjam de forma relevante os bens
jurídicos protegidos pelo Direito Penal (JUNQUEIRA; VANZOLINI, 2021).

Ainda, segundo Guilherme Nucci, o princípio da insignificância é:

[..] sustenta-se que o direito penal, diante de seu caráter subsidiário,


funcionando como ultima ratio, no sistema punitivo, não se deve ocupar de
bagatelas. Há várias decisões de tribunais pátrios, absolvendo réus por
considerar que ínfimos prejuízos a bens jurídicos não devem ser objeto de
tutela penal, como ocorre nos casos de “importação de mercadoria proibida”
47

(contrabando), tendo por objeto material coisas de insignificante valor,


trazidas por sacoleiros do Paraguai. Outro exemplo é o furto de coisas
insignificantes, tal como o de uma azeitona, exposta à venda em uma
mercearia. Ressalte-se que, no campo dos tóxicos, há polêmica, quanto à
adoção da tese da insignificância: ora a jurisprudência a aceita; ora, rejeita-a
(NUCCI, 2020).

Neste sentido, pode-se conceituar o princípio da insignificância como uma


causa de exclusão de ilicitude em casos que a ação do agente seja de menor ofensa
jurídica, como furtos de pequenas coisas, levando em conta o valor monetário do
bem.
Deste modo, segundo Nucci, para a aplicação do princípio em causas penais,
deve-se observar 3 (três) regras. A primeira, a consideração do valor do bem
jurídico, certificando o efetivo valor do bem, levando em conta o ponto de vista do
agressor, da vítima e da sociedade, são alguns exemplos, conforme ensina Nucci:

Há determinadas coisas, cujo valor é ínfimo sob qualquer perspectiva (ex.:


um clipe subtraído de uma folha de papel não representa ofensa patrimonial
relevante em universo algum). Outros bens têm relevo para a vítima, mas
não para o agressor (ex.: uma peça de louça do banheiro de um barraco
pode ser significativa para o ofendido, embora desprezível para o agressor).
Neste caso, não se aplica o princípio da insignificância. Há bens de relativo
valor para agressor e vítima, mas muito acima da média do poder aquisitivo
da sociedade (ex.: um anel de brilhantes pode ser de pouca monta para
pessoas muito ricas, mas é coisa de imenso valor para a maioria da
sociedade). Não se deve considerar a insignificância (NUCCI, 2020).

Outra regra é a consideração da lesão do bem jurídico na visão global,


quando for realizado a avaliação do bem jurídico violado, deve ser feita de maneira
panorâmica, e não somente concentrada, pois em determinados casos, como um
furto de algum supermercado que é levado diversas mercadorias, ao montante tem
um valor relevante, não podendo ser aplicado o princípio, no entanto, de maneira
concentrada, pode ser aplicado o princípio, se for individualizado a conduta.
Além do mais, deve ser observado o agente infrator do crime, pois o princípio
não pode representar um incentivador do crime, tampouco uma imunidade ao
criminoso. Logo, réus reincidentes, e com vários antecedentes, não podem receber
este benefício, não sendo uma regra, conforme verifica-se da jurisprudência do STF:

Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FURTO


QUALIFICADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
ABRANDAMENTO DO REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA.
VIABILIDADE. 1. A orientação firmada pelo Plenário do SUPREMO
48

TRIBUNAL FEDERAL é no sentido de que a aferição da insignificância


da conduta como requisito negativo da tipicidade, em crimes contra o
patrimônio, envolve um juízo amplo, “que vai além da simples aferição
do resultado material da conduta, abrangendo também a reincidência
ou contumácia do agente, elementos que, embora não determinantes,
devem ser considerados” (HC 123.533, Relator Min. ROBERTO
BARROSO, Tribunal Pleno, DJe de 18/2/2016). 2. Busca-se, desse modo,
evitar que ações típicas de pequena significação passem a ser
consideradas penalmente lícitas e imunes a qualquer espécie de repressão
estatal, perdendo-se de vista as relevantes consequências jurídicas e
sociais desse fato decorrentes. 3. A aplicação do princípio da
insignificância não depende apenas da magnitude do resultado da
conduta. Essa ideia se reforça pelo fato de já haver previsão na
legislação penal da possibilidade de mensuração da gravidade da
ação, o que, embora sem excluir a tipicidade da conduta, pode
desembocar em significativo abrandamento da pena ou até mesmo na
mitigação da persecução penal. 4. Não se mostra possível acatar a tese
de atipicidade material da conduta, pois não há como afastar o elevado
nível de reprovabilidade assentado pelas instâncias antecedentes,
ainda mais considerando o registro do Tribunal local dando conta de
que o paciente é reincidente, o que desautoriza a aplicação do
princípio da insignificância, na linha da jurisprudência desta CORTE. 5.
Quanto ao modo de cumprimento da reprimenda penal, há quadro de
constrangimento ilegal a ser corrigido. A imposição do regime inicial
semiaberto parece colidir com a proporcionalidade na escolha do regime
que melhor se coadune com as circunstâncias da conduta, de modo que o
regime aberto melhor se amolda à espécie. 6. Recurso ordinário provido
para fixar o regime inicial aberto e converter a pena privativa de liberdade
por restritiva de direito, cabendo ao Juízo de origem fixar as condições da
pena substitutiva. (RHC 187677, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a)
p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em
08/09/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-285 DIVULG 02-12-2020
PUBLIC 03-12-2020 - grifo nosso)

A última regra é a consideração particular dos bens jurídicos imateriais que


possuem um valor expressivo social, desta forma, há bens que são penalmente
tutelados, que envolvem os interesses sociais, esses bens não contêm um valor
específico e determinado, como é o caso do meio ambiente, no qual não é possível
auferir, de maneira concreta, seu valor monetário. Há também os casos de
moralidade administrativa, e também de respeito aos mortos, deste modo, na
aplicação do princípio deve-se observar o crime, enquadrando o bem no prisma
social adequado.
Alguns exemplos, conforme ensina Nucci:

Não se quer com isso sustentar a inviabilidade total de aplicação da


insignificância para delitos, cujo bem jurídico é de interesse da sociedade. O
ponto de relevo é dar o devido enfoque a tais infrações penais, tendo
cuidado para aplicar o princípio ora examinado. Ilustrando, um policial, que
receba R$ 10,00 de propina para não cumprir seu dever, permite a
configuração do crime de corrupção passiva, embora se possa dizer que o
49

valor dado ao agente estatal é ínfimo. Nesse caso, pouco importa se a


corrupção se deu por dez reais ou dez mil reais. Afinal, o cerne da infração
penal é a moralidade administrativa. De outra sorte, fisgar um único peixe,
em lago repleto deles, embora proibido, permite a figuração da bagatela,
ainda que se trate de delito ambiental (NUCCI, 2020).

Na seara ambiental, a aplicação deste princípio possui controvérsias na


doutrina, por um lado, uma corrente defende a não aplicação desse princípio em
questões ambientais, visto que toda lesão provocada no meio ambiente é
significante para o desequilíbrio ambiental, podendo provocar uma série de outros
danos ambientais.
Segundo Romeu Thomé, em seu livro Manual de Direito Ambiental, expõe 4
(quatro) motivos da não aplicação do princípio da insignificância em crimes
ambientais:

é incompatível com o cunho preventivo conferido à tutela penal ambiental;


o bem jurídico ambiental é insuscetível, ao menos diretamente, de avaliação
econômica;
a aplicação do princípio da insignificância na seara ambiental afrontaria os
princípios da precaução e prevenção;
não se pode afirmar que exista um dano ambiental irrelevante, pois existem
danos ainda desconhecidos pela própria Ciência (SILVA, 2015).

A segunda corrente afirma que a lei ambiental não deve ser aplicada em
casos de ações chamadas insignificantes, deste modo, sem potencial ofensivo ao
meio ambiente, trazendo o princípio da ultima ratio na tutela ambiental, devendo o
direito penal incidir somente em casos que não possível a aplicação em sanções nas
demais instâncias, como a civil e administrativa. O STF admite a aplicação do
princípio em determinadas causas ambientais, como é demonstrado no julgado
abaixo:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. PENAL CRIME


AMBIENTAL. PESCA EM LOCAL PROIBIDO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. PRECEDENTES. ORDEM CONCEDIDA. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I - Nos termos da
jurisprudência deste Tribunal, a aplicação do princípio da insignificância, de
modo a tornar a ação atípica exige a satisfação de certos requisitos, de
forma concomitante: a conduta minimamente ofensiva, a ausência de
periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e a lesão jurídica inexpressiva. II – Paciente que sequer
estava praticando a pesca e não trazia consigo nenhum peixe ou crustáceo
de qualquer espécie, quanto mais aquelas que se encontravam protegidas
pelo período de defeso. III - “Hipótese excepcional a revelar a ausência do
requisito da justa causa para a abertura da ação penal, especialmente pela
50

mínima ofensividade da conduta do agente, pelo reduzido grau de


reprovabilidade do comportamento e pela inexpressividade da lesão jurídica
provocada” (Inq 3.788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia). Precedente. IV - Agravo
regimental a que se nega provimento. (HC 181235 AgR, Relator(a):
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 29/05/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-161 DIVULG 25-06-2020 PUBLIC
26-06-2020)

Destarte, a aplicação do princípio da insignificância deve ser feita de maneira


cuidadosa, observando-se os critérios acima descritos, de modo a proteger o meio
ambiente. Ademais, no próximo tópico será relatado as políticas brasileiras frente ao
direito ambiental.

4.2 A POLÍTICA BRASILEIRA NO DIREITO AMBIENTAL

O que é uma política pública? A política pública é um processo com diversas


etapas, e que tem como fim resolver um problema público. As políticas públicas
poderão ser divididas em 4 (quatro) tipos. O primeiro tipo são as políticas públicas
distributivas, que tem como principal função a distribuição de serviços, bens ou
quantias para determinada parcela da população, sendo um exemplo o
direcionamento de verbas públicas para áreas que sofrem com enchentes.
O segundo tipo são as políticas públicas redistributivas que tem como função
a redistribuição de bens, serviços e recursos para uma determinada parcela da
população, de modo a retirar o dinheiro do orçamento de todos. Um exemplo tem-se
na educação, onde existe a política de financiamento educacional, em que todos os
municípios e estados injetam dinheiro, entretanto, a repartição será de acordo com
as matrículas, e não conforme a contribuição de cada ente.
O terceiro tipo são as políticas públicas regulatórias, sendo as medidas que
criam regras de padrões de comportamento. Um exemplo são as regulações de
trânsito, que se originou como medida regulatória e depois formou-se lei. O quarto e
último tipo, são as políticas públicas constitutivas, sendo essas políticas que
estabelecem o método de criação das políticas, por quem podem ser criadas, como
podem ser, e quando podem ser criadas. Um exemplo é a distribuição de
responsabilidade entre municípios, estado e o Governo Federal (TODOS PELA
EDUCAÇÃO, 2020).
51

As políticas públicas poderão estar em conjunto ou não com a sociedade civil,


como as ONGs, comunidades, grupos empresariais, entidades internacionais, entre
outras. Em questão ambiental, as políticas públicas são de grande relevância, pois
têm o papel fundamental para a proteção do meio ambiente, em meio aos efeitos
nocivos da intervenção humana no meio ambiente, como é o caso do aquecimento
global, extinção das espécies, exaurimento de recursos naturais, entre outras
intervenções, que acarretam em alterações no meio ambiente.
Servem como instrumentos de desenvolvimento econômico social, e também
como forma de garantia da preservação de recursos para as presentes e futuras
gerações. Na seara internacional, tem grande influência nas políticas públicas
nacionais, é o caso nos compromissos marcados em documentos, como a
Declaração do Rio (Agenda 21), Protocolo de Kyoto, Carta Mundial da Natureza,
entre outras. (SALHEB; PERES NETO; PERES NETO; JðNIOR; BOETTGER;
MONTEIRO; SUPERTI, 2009)
As políticas públicas no Brasil na questão ambiental, historicamente foram
marcadas por uma economia exploratória dos recursos e riquezas naturais, o seu
desenvolvimento foi pautado na produção de produtos primários, como a agricultura,
pecuária, entre outros, e de modo agressivo e predatório e sem a devida consciência
ecológica, desta maneira conforme a pesquisa realizada pelos mestrandos do Curso
de Direito Ambiental e Políticas Públicas da Universidade Federal do Amapá, a
exploração da natureza, teve início:

[...] desde o período colonial com a monocultura da cana de açúcar, depois


a mineração, seguida pelo café, mas, com mais fervor, ficou bastante
marcado durante a ditadura militar, entre os anos 1960 e 1970, em que a
política nacional visava “integrar para não entregar”, numa clara alusão à
necessidade urgente de ocupação dos vazios demográficos da região norte,
o que significava, em outras palavras, ocupar a Amazônia a qualquer custo.
Tal pretensão rendeu uma ampliação sem precedentes nos índices de
devastação da floresta, invadida pela indústria madeireira, agropecuarista,
mineradora, entre outras. Como exemplos nefastos, podemos mencionar o
garimpo de Serra Pelada, no Pará; as minas de ferro de Carajás (também
no Pará); a abertura da rodovia federal transamazônica; derrubada de mata
nativa e queima para plantio de pasto para a ampliação do agronegócio nos
estados do Mato Grosso e Goiás; entre outros (SALHEB; PERES NETO;
PERES NETO; JðNIOR; BOETTGER; MONTEIRO; SUPERTI, 2009, p. 13).

Na década entre 1970 a 1980, com diversos movimentos conservacionistas


internacionais e também com as pressões externas, que objetivavam a preservação
52

do patrimônio natural e também pela maior qualidade de vida, iniciou-se no país a


maior adoção de politicas públicas ambientais, que visavam a proteção e
conservação do meio ambiente, utilizando com isso diversos mecanismos legais,
todos pautados em diretrizes, como é o caso da diretriz de desenvolvimento
sustentável (SALHEB; PERES NETO; PERES NETO; JðNIOR; BOETTGER;
MONTEIRO; SUPERTI, 2009).
Essas diretrizes, foram maior implementadas no Brasil, com o surgimento da
lei nº 6.938/1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), no art.
2º da lei, traz o objetivo da lei e seus princípios:

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a


preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à
vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,
considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas
representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação
da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do
meio ambiente (BRASIL, 1981, art. 2º).

Segundo o Marcelo Abelha Rodrigues, a Política Nacional do Meio ambiente,


trouxe uma nova fase do direito ambiental, com os seguintes aspectos:

● Adotou um novo paradigma ético em relação ao meio ambiente:


colocou em seu eixo central a proteção a todas as formas de vida.
Encampou, pois, um conceito biocêntrico (art. 3º, I).
● Adotou uma visão holística do meio ambiente: o ser humano deixou
de estar ao lado do meio ambiente e passou a estar inserido nele, como
parte integrante, dele não podendo ser dissociado.
● Considerou o meio ambiente um objeto autônomo de tutela jurídica:
deixou este de ser mero apêndice ou simples acessório em benefício
particular do homem, passando a permitir que os bens e componentes
ambientais fossem protegidos independentemente dos benefícios imediatos
que poderiam trazer para o ser humano.
53

● Estabeleceu conceitos gerais: tendo assumido o papel de norma


geral ambiental, suas diretrizes, objetivos, fins e princípios devem ser
mantidos e respeitados, de modo que sirva de parâmetro, verdadeiro piso
legislativo para as demais normas ambientais, seja de caráter nacional,
estadual ou municipal.
● Criou uma verdadeira política ambiental: estabeleceu diretrizes,
objetivos e fins para a proteção ambiental.
● Criou um microssistema de proteção ambiental: contém, em seu
texto, mecanismos de tutela civil, administrativa e penal do meio ambiente
(RODRIGUES, 2021).

Com a inserção dos princípios objetivando a proteção do meio ambiente com


políticas públicas, foi instituído no art. 6º da lei o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA), responsável pela proteção e melhoria da qualidade ambiental. No art. 8º
da lei, foi instituído o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
regulamentada pela Resolução nº 371/2006. Criado pela lei nº 7.735/1989, o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA),
tem sua previsão legal no art. 17 da lei nº 6.938/1981.
Importante frisar nas políticas públicas ambientais, que estas devem ser
conectadas e também coordenadas, deste modo, deve existir uma
complementaridade entre as ações e os objetivos, a fim de garantir a eficácia do art.
225 da CF. As políticas públicas ambientais no Brasil estão caminhando em passos
lentos, no entanto, com novas resoluções e políticas internas e externas, sendo cada
dia mais discutidas, o Brasil poderá futuramente ter políticas que efetivem cada vez
mais a proteção ambiental no Brasil.
O Brasil possui cerca de 60% do território da Amazônia Legal, sendo ele
responsável pela proteção e preservação dela, deste modo, as políticas públicas
nela aplicadas deverão ser eficientes. No entanto, houve aumento do desmatamento
na região, o que indica que as políticas não estão sendo adequadas de maneira
eficaz, e com isso, a pressão de políticas internacionais estão maiores, conforme
demonstra o relatório de gestão do IBAMA do ano de 2019:

Em 2019, a política de preservação do Governo federal executada pelo


Ministério do Meio Ambiente, por meio do Ibama e do ICMBio, foi
questionada internacionalmente, principalmente no que refere à redução do
desmatamento e ao combate dos incêndios nas florestas e no Cerrado,
após ampla divulgação, pela mídia, dos índices de desmatamento na
Amazônia Legal (dados do Inpe) e dos incêndios que ocorreram nos biomas
Amazônia Legal e Cerrado.
Esse cenário dificultou o repasse de recursos advindos da França,
principalmente da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima (UNFCCC)3, para financiar atividades de redução do
54

desmatamento e de reflorestamento. Quando foi aprovado o Acordo de


Paris em 2015, os países desenvolvidos comprometeram-se a mobilizar
US$ 100 bilhões, por ano, em financiamento climático para os países em
desenvolvimento até 2020, compromisso que não vem sendo cumprido
(IBAMA, 2019).

Gráfico 1 - Comparativo do desmatamento na Amazônia Legal – 2017/2018/2019

Fonte: IBAMA2

Além das políticas públicas afetarem todo o contexto internacional de


aplicações de preservação ambiental, a política interna de determinados setores,
afetam todo o contexto de preservação do meio ambiente no Brasil, como é o caso
dos cargos do IBAMA, que conforme a tabela abaixo, demonstra que os cargos
estão cada vez mais escassos e deste modo afeta diretamente na aplicação de
políticas públicas eficazes no ordenamento brasileiro, pois o IBAMA é responsável
pela fiscalização, monitoramento e controle ambiental do meio ambiente brasileiro.

2
Disponível em:
https://www.gov.br/ibama/pt-br/acesso-a-informacao/auditorias/RelatorioGestao_Ibama_2019.pdf.
Acesso em: 11 out. 2021
55

Gráfico 2 - Evolução do quadro de pessoal do IBAMA

Fonte: IBAMA3

De modo conjunto, a falta de efetivos em determinados setores ocasiona a


baixa produtividade, como é demonstrado no gráfico abaixo, da evolução da
quantidade de autos de infração lavrados pelo IBAMA:

Gráfico 3 - Evolução da quantidade de autos de infração lavrados por ano.

IBAMA, 2019, P. 9

As políticas públicas dependem da aplicação de atos do Poder Executivo,


deste modo, conforme o gráfico abaixo, demonstram as autuações do IBAMA ao
longo dos anos e também mostra qual era o chefe do Executivo na período:

3
Disponível em:
https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/wp-content/uploads/2021/09/2020-SEI_IBAMA-7681884-Nota-Tecni
ca-Concurso.pdf. Acesso em: 11 out. 2021.
56

Gráfico 4 - Autuações do IBAMA entre o ano de 2000 a 2020

Fonte: MALI; PINTO, 20204

4
Disponível em:
https://www.poder360.com.br/governo/ibama-aplica-o-menor-numero-de-multas-em-21-anos-m/.
Acesso em: 11 out. 2021.
57

Concluindo que as políticas públicas aplicadas no direito ambiental são


determinantes para a proteção do meio ambiente de modo eficaz, garantindo assim
a aplicação do art. 225 da CF.

4.2.1 Educação Ambiental

A política pública e a educação ambiental são auxiliares entre si, a Educação


Ambiental tem a sua conceituação no art. 1º da lei nº 9.795/1999:

Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos


quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à
sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, art. 1º).

Deste modo, a educação serve como ferramenta do Estado a fim de efetivar


de maneira coletiva a proteção e preservação do meio ambiente, através da
construção de valores sociais da coletividade.
A educação ambiental é um meio transdisciplinar que contribui na
preservação das mais diversas formas de vida, servindo como aparato nos
problemas ambientais. Foi em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente Humano, em Estocolmo, que houve a primeira menção da categoria de
Educação e Meio Ambiente no Âmbito global (PELLENZ, 2015).
Possui previsão no princípio nº 19, da Declaração de Estocolmo:

É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais,


dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida
atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar as
bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta dos
indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua
responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em
toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios de
comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio
ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo
sobre a necessidade de protege-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem
possa desenvolver-se em todos os aspectos (DECLARAÇÃO, 1972).

No Brasil foi efetivada, com a criação da Secretaria Especial do Meio


Ambiente (SEMA), o qual incorporou a Educação Ambiental em 1973. No ano de
58

1984, o CONAMA expediu uma diretriz que regulamenta a educação ambiental no


Brasil, e em 1987, o Ministério da Educação (MEC) aprovou o Parecer nº 226/87
instituindo a Educação Ambiental nos currículos escolares de 1º e 2º graus
(PELLENZ, 2015).
Com a promulgação da CF em 1988, houve uma maior efetividade da
Educação Ambiental no Brasil, pois em seu art. 225, inciso VI, dispõe que:
“promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988, art. 225).
O MEC, em 1991, expediu a portaria nº 678 determinando que todos os níveis
escolares deveriam ter os conteúdos de Educação Ambiental, no entanto, somente
com a lei nº 9.795/1999 que ocorreu a implementação da disciplina obrigatória em
todos os níveis escolares, conforme dispõe o art. 10:

Art. 10. A educação ambiental será desenvolvida como uma prática


educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e
modalidades do ensino formal.
§ 1o A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina
específica no currículo de ensino.
§ 2o Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao
aspecto metodológico da educação ambiental, quando se fizer necessário, é
facultada a criação de disciplina específica.
§ 3o Nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, em todos
os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das
atividades profissionais a serem desenvolvidas (BRASIL, 1999, art. 10).

Deste modo, a Educação Ambiental no Brasil é efetivada a partir de


instituições de ensino, e também a partir de diversos atos governamentais e
não-governamentais, a fim de conscientizar a população acerca da importância do
meio ambiente na nossa qualidade de vida.

4.2.2 Ética Ambiental

A Ética Ambiental é um campo onde há reflexões sobre os fundamentos


éticos das nossas ações na natureza e também na relação com os animais. É um
campo da ética que busca responder questões como: “É melhor proteger um parque
natural do que produzir energia que melhorará a vida de determinadas pessoas?
59

Devemos nos importar se um empreendimento humano provoca a morte de


animais?” (FLORIT, 2016, p. 259).
As respostas para essas questões não podem ser respondidas somente
utilizando de informações fáticas, mas sim em julgamentos de valor, e também com
princípios morais, no entanto, a maioria das respostas se baseiam em justificativas
considerando as necessidades dos seres humanos, utilizando-se da cultura do
antropocentrismo enraizado.
A natureza deve ser vista como algo que possui valor a si mesma, sem a
necessidade de possuir qualquer instrumento destinado aos seres humanos, no
entanto, a natureza não é vista deste modo, nem os animais, mas sim, são
considerados meramente instrumentos dos seres humanos (FLORIT, 2016).
O autor Luciano Félix Florit propõe que a ética Ambiental é:

Entende-se ética como sinônimo de filosofia da moral, isto é, como a


reflexão sistemática sobre os valores morais realizada com o intuito de se
chegar a uma conclusão sobre se uma ação deve ser considerada correta
ou incorreta. Entende-se por moralidades os valores dominantes em grupos
ou sociedades que tendem a ser repassados de geração a geração de
forma indissociável à reprodução de valores culturais e de práticas sociais
rotineiras. Assim, embora muitas vezes o raciocínio ético não nos leve a
colidir com a moralidade dominante, em certas ocasiões ocorre justamente
o contrário, ou seja, o raciocínio ético leva ao questionamento de uma dada
moralidade socialmente estabelecida. Este último é o que acontece com
muitos dos raciocínios elaborados no contexto da ética ambiental em
relação ao antropocentrismo, naturalizado na moralidade dominante, que
concede reconhecimento moral apenas aos seres humanos, legitimando,
como se verá, práticas especistas. As moralidades estão intimamente
relacionadas aos processos de reprodução social e, no que diz respeito à
natureza no contexto da sociedade capitalista, tendem a reconhecer nela
um valor apenas instrumental. A reflexão da ética ambiental analisa
criticamente este entendimento, em muitos casos concluindo que haveria na
natureza algum tipo de valor intrínseco. Ou seja, que deveríamos
reconhecer na natureza valores em si mesma, independente da utilidade
instrumental que esta eventualmente tiver para os humanos. Esta afirmação
não esgota as controvérsias, na medida em que a valoração sempre seria
feita por um sujeito, o que para alguns implicaria em admitir que não
haveria, portanto, valor intrínseco propriamente dito (FLORIT, 2016, p.
259/260).

Destarte, a Ética Ambiental é um campo de reflexão sobre o desenvolvimento


de questões ambientais que tem como foco o meio ambiente, promovendo relações
dos seres humanos na natureza, de maneira respeitosa, de modo a preservar o
meio ambiente, garantindo, assim, um planeta saudável.
60

Peter Singer, em seu livro Ètica Prática, desenvolve questionamentos acerca


da igualdade dos seres humanos e os animais não humanos, definindo que o status
da moral é composta pela capacidade de sentir a dor e o sofrer, de modo diferente
das éticas tradicionais, deste modo trazendo a ideia que os animais têm os mesmos
direitos que os homens, porquanto são seres sencientes.
Na concepção de Singer, acerca da concepção da ética, descarta quatro
instâncias: a primeira que a ética não pode ser caracterizada sendo uma série de
proibições ligada ao sexo; a segunda que não pode ser caracterizada sendo um
sistema que é ideal a grande nobreza na sua teoria, no entanto, inaproveitável na
sua prática.
Na terceira instância, diz-se que a ética não pode ser algo ligado somente ao
contexto religioso, do modo que a ética passa ao largo da religião; a quarta e última,
que a ética não é caracterizada como sendo relativa ou subjetiva, negando deste
modo as perspectivas subjetivistas, relativistas e intuicionistas da ética tradicional.
Deste modo, em seu livro, Singer propõe que a ética deverá ser reescrita a
partir de novas perspectivas morais, além dos conceitos que foram sendo
construídos através dos processos civilizatórios, históricos e também culturais. Com
isso discute e analisa as questões de igualdades a respeito do tratamento que os
humanos dão aos animais, à vista disso, em seu livro Libertação Animal, traz a
reflexão em relação ao sofrimento dos animais não humanos.

Se um ser sofre, não pode haver justificação moral para recusar ter em
conta esse sofrimento. Independentemente da natureza do ser, o princípio
da igualdade exige que ao seu sofrimento seja dada tanta consideração
como ao sofrimento semelhante - na medida em que é possível estabelecer
uma comparação aproximada - de um outro ser qualquer. Se um ser não é
capaz de sentir sofrimento, ou de experimentar alegria, não há nada a ter
em conta. Assim, o limite da senciência (utilizando este termo como uma
forma conveniente, se não estritamente correta, de designar a capacidade
de sofrer e/ou, experimentar alegria) é a única fronteira defensável de
preocupação relativamente aos interesses dos outros. O estabelecimento
deste limite através do recurso a qualquer outra característica, como a
inteligência ou a racionalidade, constituiria uma marcação arbitrária. Por que
não escolher qualquer outra característica, como a cor da pele?
Os racistas violam o princípio da igualdade, atribuindo maior peso aos
interesses dos membros da sua própria raça quando existe um conflito entre
os seus interesses e os interesses daqueles pertencentes a outra raça. Os
sexistas violam o princípio da igualdade ao favorecerem os interesses do
seu próprio sexo. Da mesma forma, os especistas permitem que os
interesses da sua própria espécie dominem os interesses maiores dos
membros das outras espécies. O padrão é, em cada caso, idêntico (PETER,
2010).
61

A partir daí, conclui-se que Peter Singer busca a partir de seus livros
conscientizar a população acerca da igualdade entre os animais não humanos e o
ser humano, deste modo, colocando a ética ambiental em jogo, buscando responder
os questionamentos expostos no início do capítulo, acerca da preservação do meio
ambiente e o papel do ser humano frente a isso.

4.3 O DIREITO BRASILEIRO E SUAS DECISÕES AMBIENTAIS: PROTEÇÃO OU


DESTRUIÇÃO

O princípio da insignificância não possui previsão legal no ordenamento


jurídico brasileiro, somente existem posições doutrinárias e jurisprudências. Muitos
são os juízes que se utilizam deste princípio, no entanto, nos crimes da lei nº
9.605/1998 é muito delicado a sua aplicação, pois não é possível mensurar a
significância pro meio ambiente daquele crime, no entanto, o STF já pacificou o
entendimento de que é possível a aplicação do princípio em casos que houver a
mínima ofensividade da conduta, nenhuma periculosidade social da ação, reduzido
grau de reprovabilidade do comportamento, e também a inexpressividade da lesão
jurídico provocada, conforme colhe-se da jurisprudência abaixo:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO


CRIMINAL COM AGRAVO. CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE. PESCA
EM LOCAL PROIBIDO. 1 KG DE PESCADO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. I - Esta Suprema Corte passou a adotar
critérios objetivos de análise para a aplicação do princípio da insignificância.
Com efeito, devem estar presentes, concomitantemente, os seguintes
vetores: (i) mínima ofensividade da conduta; (ii) nenhuma
periculosidade social da ação; (iii) reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento; e (iv) inexpressividade da lesão jurídica provocada. II
- Ante a irrelevância da conduta praticada pelos agravados e a ausência de
resultado lesivo, a matéria não deve ser resolvida na esfera penal, mas nas
instâncias administrativas. III - Agravo regimental a que se nega provimento.
(ARE 1060007 AgR, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda
Turma, julgado em 03/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-260
DIVULG 28-10-2020 PUBLIC 29-10-2020 - grifo nosso)

Se não houver um desses requisitos para aplicação do princípio, este será


inaplicável, conforme a jurisprudência do STF:
62

EMENTA: Direito penal e processual penal. Agravo regimental em habeas


corpus. Crime ambiental. Princípio da insignificância. Inaplicabilidade.
Ausência de teratologia, abuso de poder ou ilegalidade flagrante.
Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 1. Para além de observar que
o paciente foi condenado no regime aberto, com substituição da pena, não
verifico ilegalidade flagrante ou abuso de poder que autorize a imediata
aplicação do princípio da insignificância penal. Seja porque o paciente já
foi processado criminalmente pelo mesmo tipo de infração pena, seja
pelo grau de reprovabilidade da conduta, praticada “em local de
proteção ambiental com a utilização de petrechos proibidos, no caso, o
arrasto motorizado, tendo em vista o risco que esta conduta
representa para todo o ecossistema aquático, independentemente da
quantidade de espécimes efetivamente apreendidas ou não”.
Precedente. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (HC 187642
AgR, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em
22/09/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-237 DIVULG 25-09-2020
PUBLIC 28-09-2020 - grifo nosso)

O STJ tem o mesmo entendimento sobre a aplicação do princípio da


insignificância, conforme a jurisprudência abaixo:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL.


VENDER, EXPOR A VENDA, EXPORTAR OU ADQUIRIR, GUARDAR, TER
EM CATIVEIRO OU DEPÓSITO, UTILIZAR OU TRANSPORTAR OVOS,
LARVAS OU ESPÉCIMES DA FAUNA SILVESTRE, NATIVA OU EM ROTA
MIGRATÓRIA, BEM COMO PRODUTOS E OBJETOS DELA ORIUNDOS,
PROVENIENTES DE CRIADOUROS NÃO AUTORIZADOS OU SEM A
DEVIDA PERMISSÃO, LICENÇA OU AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE
COMPETENTE. ATIPICIDADE MATERIAL. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. RECURSO DESPROVIDO.
1. A aplicação do princípio da insignificância, causa excludente de
tipicidade material, admitida pela doutrina e pela jurisprudência em
observância aos postulados da fragmentariedade e da intervenção
mínima do Direito Penal, demanda o exame do preenchimento de
certos requisitos objetivos e subjetivos exigidos para o seu
reconhecimento, traduzidos no reduzido valor do bem tutelado e na
favorabilidade das circunstâncias em que foi cometido o fato
criminoso e de suas consequências jurídicas e sociais.
2. Esta Corte admite a aplicação do referido postulado aos crimes
ambientais, desde que a lesão seja irrelevante, a ponto de não afetar
de maneira expressiva o equilíbrio ecológico, hipótese caracterizada
na espécie.
3. Na hipótese, em que o agravante foi flagrado mantendo em cativeiro 4
pássaros da fauna silvestre, das espécimes tico-tico, papa-banana e coleiro,
estão presentes os vetores de conduta minimamente ofensiva, ausência de
periculosidade do agente, reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e lesão jurídica inexpressiva, os quais autorizam a
aplicação do pleiteado princípio da insignificância, haja vista o vasto lastro
probatório constituído nas instâncias ordinárias.
4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 519.696/SC, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 21/11/2019, DJe 28/11/2019 -
grifo nosso)
63

No entanto, para haver a sua aplicação deve ser levado em conta o caso a
caso, pois deve ser auferido todo o contexto do crime, o agente que o cometeu, e
também é relevante a quantidade, conforme demonstrado na jurisprudência abaixo:

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO


ESPECIAL. CRIME AMBIENTAL. COMERCIALIZAÇÃO DE 145 QUILOS
DE PEIXES. ESPÉCIE COM RISCO DE EXTINÇÃO. EXPRESSIVIDADE
DA LESÃO JURÍDICA PROVOCADA. ATIPICIDADE MATERIAL DA
CONDUTA AFASTADA.
1. Predomina nesta Corte entendimento no sentido da possibilidade de
aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais,
devendo ser analisadas as circunstâncias específicas do caso
concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame.
2. Não há falar em inexpressividade da lesão jurídica provocada a
justificar o reconhecimento do caráter bagatelar da conduta, quando
há a apreensão de grande quantidade de peixes apreendidos (145
quilos), além de ser uma espécime em risco de extinção.
3. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1720513/RN, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
21/08/2018, DJe 03/09/2018 - grifo nosso)

No mesmo sentido do STF e do STJ, cita-se os julgados do Tribunal de


Justiça de Santa Catarina, da aplicação do princípio da insignificância em casos que
cumprem os requisitos mencionados acima:

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS (ART. 33, CAPUT, DA LEI


N. 11.343/06). CRIME DE MANUTENÇÃO DE AVE SILVESTRE EM
CATIVEIRO (ART. 29, § 1º, INC. III, DA LEI N. 9.605/98). SENTENÇA
CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA. PRETENSA
DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS PARA O
DELITO DE POSSE DE ENTORPECENTES PARA USO PESSOAL ANTE A
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS ACERCA DA NARCOTRAFICÂNCIA.
INVABILIDADE. RÉU QUE É FLAGRADO, APÓS DILIGÊNCIA POLICIAL
PARA AVERIGUAÇÃO DO COMETIMENTO DE UM OUTRO CRIME,
TENDO EM DEPÓSITO NO INTERIOR DE SUA RESIDÊNCIA 10 (DEZ)
COMPRIMIDOS DE 'ECSTASY' PESANDO 2,8G (DOIS GRAMAS E OITRO
DECIGRAMAS), 04 (QUATRO) PORÇÕES DE MACONHA FRACIONADAS
EM UMA EMBALAGEM PLÁSTICA, COM MASSA BRUTA DE 2,5G (DOIS
GRAMAS E OITO DECIGRAMAS), ALÉM DE INSTRUMENTOS PARA
PESAGEM, FRACIONAMENTO E EMBALAGEM DE DROGAS.
CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO QUE PERMITEM CONCLUIR
A REAL DESTINAÇÃO DOS ENTORPECENTES. DEPOIMENTO DOS
POLICIAIS MILITARES. PALAVRA DO ACUSADO ISOLADA DO
CONTEXTO PROBATÓRIO. ÔNUS DA PROVA. CONDIÇÃO DE USUÁRIO
QUE, POR SI SÓ, NÃO É SUFICIENTE PARA DESCLASSIFICAR A
CONDUTA PARA O CRIME TIPIFICADO NO ART. 28 DA LEI N.
11.343/2006. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
CRIME DE PERIGO ABSTRATO. CONDUTA TÍPICA CARACTERIZADA.
CONDENAÇÃO MANTIDA. CRIME DISPOSTO NO ART. 29, § 1º, INC. III,
DA LEI N. 9.605/98. RECONHECIMENTO DO PRINCÍPIO DA
64

INSIGNIFICÂNCIA. POSSIBILIDADE. APREENSÃO DE UM ÚNICO


EXEMPLAR DA FAUNA SILVESTRE. INEXISTÊNCIA DE MAUS TRATOS.
AVE NÃO AMEAÇADA DE EXTINÇÃO. AUSÊNCIA DE DANO
CONCRETO AO MEIO AMBIENTE. ÍNFIMA LESÃO AO BEM
JURIDICAMENTE TUTELADO. CRIME DE BAGATELA. SENTENÇA
CONDENATÓRIA REFORMADA NO PONTO. READEQUAÇÃO DA
REPRIMENDA. MODIFICAÇÃO DO REGIME PRISIONAL. CONDENADO
QUE FAZ JUS AO REGIME ABERTO (ART. 33, § 2º, "C", DO CÓDIGO
PENAL). SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVAS DE DIREITOS APLICADA DE OFÍCIO. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSC, Apelação Criminal n.
0001174-90.2018.8.24.0027, de Ibirama, rel. Luiz Neri Oliveira de Souza,
Quinta Câmara Criminal, j. 16-01-2020 - grifo nosso).

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME AMBIENTAL. PESCA COM A


UTILIZAÇÃO DE APARELHOS, PETRECHOS, TÉCNICAS E MÉTODOS
NÃO PERMITIDOS (ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DA LEI N.
9.605/98). SENTENÇA ABSOLUTÓRIA À VISTA DA ATIPICIDADE.
INSURGÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DELITO FORMAL.
DESNECESSIDADE DE EFETIVA CAPTURA DE PEIXE, CRUSTÁCEO OU
CONGÊNERE. UTILIZAÇÃO DE REDE E TARRAFA COM MALHA DE
MEDIÇÃO ABAIXO DA PERMITIDA. SITUAÇÃO EM TESE HÁBIL À
CONFIGURAÇÃO DA INFRAÇÃO PENAL. PROVA ANÊMICA ACERCA DE
SUA EFETIVA PRÁTICA. DÚVIDA QUANTO À CARACTERIZAÇÃO DO
SIMPLES PORTE DOS PETRECHOS OU EFETIVO LANÇAMENTO
DESTES À ÁGUA. NENHUM ESPÉCIME DA FAUNA APREENDIDO.
MÍNIMA OFENSIVIDADE AO BEM JURÍDICO TUTELADO. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA.
PRECEDENTES. RECURSO DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Criminal n.
2014.046224-1, de Chapecó, rel. Rodrigo Collaço, Quarta Câmara Criminal,
j. 09-04-2015 - grifo nosso).

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME AMBIENTAL. PESCA EM PERÍODO


PROIBIDO (ART. 34, CAPUT, DA LEI N. 9.605/98) E COM A UTILIZAÇÃO
DE APARELHOS, PETRECHOS, TÉCNICAS E MÉTODOS NÃO
PERMITIDOS (ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DA LEI N. 9.605/98).
SENTENÇA CONDENATÓRIA. INSURGÊNCIA DA DEFESA.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. POSSIBILIDADE.
NENHUMA ESPÉCIE DA FAUNA APREENDIDA NA POSSE DOS RÉUS.
MÍNIMA OFENSIVIDADE AO BEM JURÍDICO TUTELADO. ATIPICIDADE
MATERIAL DA CONDUTA EVIDENCIADA. PRECEDENTES DOS
TRIBUNAIS SUPERIORES E DESTA CORTE. ABSOLVIÇÃO DEVIDA.
RECURSO PROVIDO. EXTENSÃO DOS EFEITOS AO CORRÉU NÃO
RECORRENTE. (TJSC, Apelação Criminal n. 2014.079065-2, de Gaspar,
rel. Rodrigo Collaço, Quarta Câmara Criminal, j. 12-03-2015 - grifo nosso)

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA FAUNA. GUARDA DE


ESPÉCIME DA FAUNA SILVESTRE (ART. 29, § 1º, III, DA LEI 9.605/1998).
POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO (ART. 12
DA LEI N. 10.826/2003). SENTENÇA CONDENATÓRIA QUE ACOLHE
APENAS A PRETENSÃO RELATIVA AO DELITO DE ARMA. RECURSO
DAS PARTES. RECURSO DA ACUSAÇÃO. AFASTAMENTO DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. APREENSÃO DE
ÚNICO EXEMPLAR DA FAUNA SILVESTRE. AUSÊNCIA DE
ELEMENTOS INDICATIVOS SEGUROS DA REITERAÇÃO DELITIVA OU
MESMO DA COMERCIALIZAÇÃO DO PRODUTO APREENDIDO. ÍNFIMA
LESÃO AO BEM JURIDICAMENTE TUTELADO. CRIME DE BAGATELA.
65

AUSÊNCIA DE DANO CONCRETO AO MEIO AMBIENTE.


PRECEDENTES DAS CORTES SUPERIORES. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO DA DEFESA. ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE
PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. RÉU QUE, ALÉM DE POSSUIR DE FORMA
IRREGULAR ARMAS DE FOGO DE USO PERMITIDO, NA PRÓPRIA
RESIDÊNCIA, MANTÉM UMA OFICINA NA QUAL REALIZAVA
CONSERTOS E REGULAGEM DE ARMAS DE FOGO. MATERIALIDADE E
AUTORIA DELITIVAS DEVIDAMENTE DEMONSTRADAS. DEPOIMENTOS
DO CORRÉU, CORROBORADOS PELOS RELATOS DOS POLICIAIS
MILITARES QUE ATUARAM NA DILIGÊNCIA. VERSÃO DO ACUSADO
ISOLADA NOS AUTOS. CONTEXTO PROBATÓRIO ESTREME DE
DÚVIDAS. ADEMAIS, CRIME DE PERIGO ABSTRATO E MERA
CONDUTA, CUJO COMETIMENTO SE DÁ PELAS CONDIÇÕES
PREVISTAS NO DISPOSITIVO LEGAL. RECURSOS CONHECIDOS E
NÃO PROVIDOS. (TJSC, Apelação Criminal n. 0008984-18.2014.8.24.0008,
de Blumenau, rel. Luiz Neri Oliveira de Souza, Quinta Câmara Criminal, j.
11-04-2019 - grifo nosso).

Por sua vez, às jurisprudências do Tribunal de Justiça de Santa Catarina


elencadas abaixo evidenciam a não aplicação do princípio da insignificância nos
casos em comento, pois não cumprem os requisitos necessários, e demonstram um
alto grau de reprovabilidade da conduta do agente infrator:

EMBARGOS INFRINGENTES EM APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME


CONTRA A FAUNA. MANUTENÇÃO DE ANIMAL SILVESTRE EM
CATIVEIRO, SEM PERMISSÃO, AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA DA
AUTORIDADE COMPETENTE (ART. 29, § 1°, III, DA LEI N. 9.605/1998).
SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA. ACÓRDÃO NÃO
UNÂNIME QUE CONFIRMOU A SENTENÇA CONDENATÓRIA. VOTO
VENCIDO QUE RECONHECIA A INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA POR AUSÊNCIA DE OFENSIVIDADE DA CONDUTA E
DESTACAVA A DÚVIDA SOBRE O ELEMENTOS SUBJETIVO DO TIPO.
EXISTÊNCIA NOS AUTOS DE PROVAS SUFICIENTES PARA O JUÍZO
DE CONDENAÇÃO. INAPLICÁVEL A FIGURA DA INSIGNIFICÂNCIA NO
CASO. EMBARGOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS. (TJSC, Embargos
Infringentes e de Nulidade n. 0017851-82.2018.8.24.0000, de Timbó, rel.
Júlio César M. Ferreira de Melo, Primeiro Grupo de Direito Criminal, j.
31-10-2018 - grifo nosso).

APELAÇÃO CRIMINAL. RÉU SOLTO. CRIME CONTRA A FAUNA (ART.


34, PARÁGRAFO ÚNICO, INC. II, DA LEI N. 9.605/1998). SENTENÇA
CONDENATÓRIA. IRRESIGNAÇÃO DA DEFESA ALMEJANDO A
RECONSIDERAÇÃO DO DECISUM OU, SUBSIDIARIAMENTE, A
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. PRETENSÕES NÃO
ACOLHIDAS. MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS DEVIDAMENTE
COMPROVADAS PELAS PROVAS DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL.
PRECEDENTES DESTA CORTE PELO NÃO RECONHECIMENTO DO
INSTITUTO BAGATELAR. MANUTENÇÃO DO DECRETO
CONDENATÓRIO QUE SE IMPÕE. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Criminal n. 0002233-45.2016.8.24.0040,
do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Júlio César Machado Ferreira
de Melo, Terceira Câmara Criminal, j. 16-03-2021 - grifo nosso).
66

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA E


CONTRA O MEIO AMBIENTE. (ART. 12 DA LEI N. 10.826/03 E ART. 29, §
1º, INC. III, DA LEI N. 9.605/98, NA FORMA DO ART. 69 DO CP).
SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DEFENSIVO. PLEITO
ABSOLUTÓRIO QUE SE MOSTRA IMPOSSÍVEL. RECONHECIMENTO DE
ERRO DE PROIBIÇÃO QUE NÃO SE AFIGURA POSSÍVEL.
INVIABILIDADE DE ALEGAR O DESCONHECIMENTO DA LEI.
ALMEJADO RECONHECIMENTO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INVIABILIDADE. INAPLICABILIDADE DO REFERIDO PRINCÍPIO EM
DELITOS PREVISTOS NO ESTATUTO DO DESARMAMENTO E
COMPORTAMENTO EXPRESSIVAMENTE REPROVÁVEL REFERENTE
AO CRIME CONTRA A FAUNA. MANUTENÇÃO DE 5 (CINCO) AVES
SILVESTRES EM CATIVEIRO, ALÉM DE ARSENAL PARA A CAPTURA
DOS ANIMAIS. RECURSO DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Criminal n.
0000348-20.2015.8.24.0011, de Brusque, rel. Alexandre d'Ivanenko, Quarta
Câmara Criminal, j. 23-08-2018 - grifo nosso).

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA A FAUNA. MANUTENÇÃO DE


ANIMAL SILVESTRE EM CATIVEIRO, SEM PERMISSÃO,
AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA DA AUTORIDADE COMPETENTE (ART.
29, § 1°, III, DA LEI N. 9.605/1998). SENTENÇA CONDENATÓRIA.
RECURSO DA DEFESA. PLEITO ABSOLUTÓRIO. IMPOSSIBILIDADE,
NA ESPÉCIE. MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVA COMPROVADAS.
SUBSTRATO PROBATÓRIO APTO A REVELAR QUE O RÉU PRIVOU OS
ANIMAIS DE SEU HABITAT NATURAL, POR LONGO PERÍODO DE
TEMPO, MANTENDO-OS EM CATIVEIRO. VERSÃO DO APELANTE DE
QUE VISAVA PROTEGER E PRESERVAR A ESPÉCIE NÃO
COMPROVADA NOS AUTOS. ALMEJADA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. DESCABIMENTO. MANUTENÇÃO DE 3 (TRÊS)
PACAS EM CATIVEIRO, POR APROXIMADAMENTE 1 (UM) ANO, EM
LOCAL FECHADO E DE DIFÍCIL ACESSO. CONDUTA QUE NÃO PODE
SER CONSIDERADA IRRELEVANTE. GRAVIDADE DA CONDUTA
EVIDENCIADA PELAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO.
CONDENAÇÃO MANTIDA. PEDIDO DE PERDÃO JUDICIAL, NOS
TERMOS DO ART. 29, § 2°, DA LEI N. 9.605/1998. INVIABILIDADE.
BENESSE RESTRITA À SITUAÇÃO DE GUARDA DOMÉSTICA. ANIMAIS
SILVESTRES QUE ERAM MANTIDOS EM CATIVEIRO. AUSÊNCIA DE
PROVA DE QUE ESTAVAM SENDO DOMESTICADOS PELO APELANTE.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. RECONHECIMENTO, DE
OFÍCIO, DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA, NA FORMA
QUALIFICADA, SEM, CONTUDO, ALTERAR A PENA IMPOSTA NA
SENTENÇA. POSSIBILIDADE DA EXECUÇÃO DA PENA, DE ACORDO
COM A ORIENTAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. SENTENÇA
CONDENATÓRIA CONFIRMADA EM SEGUNDA INSTÂNCIA QUE
PERMITE O IMEDIATO CUMPRIMENTO DA REPRIMENDA.
DETERMINAÇÃO DE OFÍCIO. (TJSC, Apelação Criminal n.
0001519-25.2012.8.24.0073, de Timbó, rel. Volnei Celso Tomazini, Segunda
Câmara Criminal, j. 26-06-2018 - grifo nosso).

APELAÇÃO CRIMINAL - POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE


USO PERMITIDO (LEI N. 10.826/03, ART. 12) E MANUTENÇÃO EM
CATIVEIRO DE ESPÉCIMES DA FAUNA SILVESTRE (LEI N. 9.605/98,
ART. 29, § 1º, III) - SENTENÇA CONDENATÓRIA. CRIME DE POSSE DE
ARMA - ALEGADA ATIPICIDADE DA CONDUTA POR AUSÊNCIA DE
LESIVIDADE - IMPROCEDÊNCIA - DELITO DE MERA CONDUTA E DE
PERIGO ABSTRATO - RISCO DE LESIVIDADE PRESUMIDO PELO
PRÓPRIO TIPO PENAL - INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA - ARTEFATO BÉLICO RECEBIDO POR HERANÇA -
67

IRRELEVÂNCIA - VÍNCULO SUBJETIVO COM AS ARMAS


DEMONSTRADO - INFRAÇÃO PENAL CONFIGURADA. DELITO
AMBIENTAL - PRETENSO RECONHECIMENTO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA - IMPOSSIBILIDADE - MANUTENÇÃO DE 6 (SEIS)
AVES SILVESTRES EM CATIVEIRO - EXPRESSIVA REPROVABILIDADE
DO COMPORTAMENTO - PREVALÊNCIA DO BEM JURÍDICO
TUTELADO (MEIO AMBIENTE) - PRECEDENTES - PLEITO DE
CONCESSÃO DE PERDÃO JUDICIAL - DESCABIMENTO - APREENSÃO
DE ARTEFATOS DESTINADOS À CAÇA DE ANIMAIS NA RESIDÊNCIA
DO ACUSADO - CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO QUE NÃO AUTORIZAM A
APLICAÇÃO DA BENESSE - ABSOLVIÇÃO INVIÁVEL - RECURSO
DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Criminal n. 0017295-14.2014.8.24.0035,
de Ituporanga, rel. Salete Silva Sommariva, Segunda Câmara Criminal, j.
16-05-2017 - grifo nosso).

Deste modo, para haver a aplicação do princípio da insignificância (bagatela),


deverá cumprir certos requisitos, no entanto, este princípio deve ser aplicado de com
cautela pois o bem tutelado, meio ambiente, é finito.
O autor Marcelo Abelha ensina sobre a aplicabilidade do princípio nos crimes
ambientais na esfera penal:

Com respeito àqueles que sustentam a incidência irrestrita do princípio da


insignificância, afirmando que a proteção penal só deveria ser convocada a
intervir quando as agressões ao equilíbrio ecológico fossem insustentáveis
ou atingissem um patamar de impacto elevado, falta conhecimento técnico
sobre ecologia, pois, afinal de contas, o que seria lesão ínfima ou impacto
considerável?
Pensamos que uma vez ocorrida a tipicidade formal, o conceito de
lesividade para configuração da tipicidade material deve ser compreendido à
luz das ciências ecológicas.
Ora, por exemplo, a destruição de áreas pequenas, mas de transição e fluxo
gênico, pode ser muito pior do ponto de vista ecológico do que 1 hectare de
floresta plantada e homogênea. Exemplificando, existem árvores que,
sozinhas, servem de pouso e arribação de aves migratórias. O sujeito que
“abre a mata” destruindo o sub-bosque para “limpar” a passagem está
cometendo um crime à autossustentabilidade do ecossistema. Enfim, não é
apenas o tamanho da área que determina o tamanho do impacto.
Não é difícil notar a presença da tutela penal em todas as condutas lesivas
ao meio ambiente como determina o texto constitucional, e não apenas
naquelas em que o legislador infraconstitucional decidir como ultima ratio
para não “banalizar” o direito penal (RODRIGUES, 2021).

Portanto, o direito penal deve ser visto como ultima ratio, entretanto, em
crimes ambientais não é possível auferir a lesividade de um determinado crime no
meio ambiente, pois não conseguimos mensurar o que aquele simples ato
acarretará no nosso meio ambiente, podendo causar ciclos de destruição ambiental.
O direito ao meio ambiente possui um princípio chamado de princípio da
vedação do retrocesso ecológico, o que garante que a proteção ambiental já
68

conquistada não poderá retroagir, deste modo, o legislativo não poderá revogar uma
lei que garanta a proteção ao meio ambiente, sem que haja uma outra lei que
ofereça as garantias de maneira similar.
O princípio do retrocesso garante a proteção dos direitos fundamentais, de
modo a efetivar as garantias básicas da população, garantindo, assim, o que está
previsto no art. 225 da CF:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de


uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988, art. 225).

Destarte, todo o contexto da preservação/proteção do meio ambiente deve


ser vista como uma garantia para as presentes e futuras gerações, de modo que
haja um meio ambiente ecologicamente equilibrado para se viver.
69

5 CONCLUSÃO

O Art. 225 da CF dispõe que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de


uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações (Brasil, 1988, Art. 225).

Deste modo, o direito ao meio ambiente é uma garantia do povo, e este tem o
dever de defendê-lo e preservá-lo em conjunto com o Poder Público. Deste modo,
para haver a efetivação da preservação do meio ambiente para as presentes e
futuras gerações, a coletividade deve praticar atos em consonância com a
preservação do meio ambiente.
E no ordenamento jurídico brasileiro, possui o princípio da insignificância,
mais especificamente na seara penal, servindo como garantia do princípio da ultima
ratio, sendo este o princípio norteador do direito penal, pois o direito penal somente
deverá ser utilizado em casos em que se é possível evitar a ocorrência, ou haver a
punição na medida da lesão provocada pelo agente.
A partir disso, tendo como norte principal a questão da aplicabilidade do
princípio da insignificância nos casos de crimes contra a fauna da lei nº 9605/1998, a
pesquisa iniciou-se com exposição da sistemática da proteção ambiental, pois os
problemas ambientais não possuem limitação de território, mas sim, são problemas
sistêmicos, interligados entre si, de modo que um problema de uma determinada
área poderá afetar o contexto ambiental do mundo.
Após a reflexão dos problemas do meio ambiente, foi discorrido a
conceituação do meio ambiente, e sua alteração ao longo dos séculos, o que foi
visualizado é que a conceituação e proteção do meio ambiente foi se alterando. Em
conjunto com as alterações da conceituação do meio ambiente foi exposto o
histórico do direito ambiental no Brasil, concluindo que o Brasil, ao longo dos anos,
foi adotando diversas leis com a pretensão de preservar o meio ambiente.
Concluindo o primeiro tópico, com as indagações do meio ambiente
contemporâneo, além de expor, a forte influência do direito internacional na proteção
e preservação do meio ambiente dos países, pois o meio ambiente é um direito sem
fronteiras, de modo que as ações de preservação devem ser tomadas por todos.
70

Dando continuidade na pesquisa, foi apresentado no segundo tópico as


questões relativas ao direito a fauna, em específico, discorrido as indagações quanto
às perspectivas biológicas e sociológicas do direito a fauna frente à relação dos
humanos com os animais, visualizando, deste modo, que porquanto a proteção do
meio ambiente caminha-se a legislações mais protetivas.
Além de visualizar que as leis atuais estão cada vez mais protetivas,
discorreu-se sobre a história do direito animal, tanto no contexto mundial, quanto no
contexto Brasileiro, destacando a criação da lei nº 9605/1998, a principal lei que
versa sobre os crimes contra a fauna.
No tópico seguinte, passou-se a discorrer sobre o princípio da insignificância
e sua origem no ordenamento jurídico, além de sua conceituação, e sua
aplicabilidade, ou não, em casos de direito ambiental. Exposto também as políticas
públicas em relação ao direito à fauna, e dados relativos à esta política, expondo de
modo sucinto as alterações do governo e sua efetivação na preservação do meio
ambiente.
Finalizando-se a pesquisa com a exposição de julgados ante os casos de
crimes contra a fauna da lei nº 9605/1998, dos mais variados julgadores, e seus
entendimentos, diante dos casos em que seria possível, ou não, a aplicação do
princípio da insignificância, questionando, deste modo, se o princípio da
insignificância é aplicável nos crimes contra a fauna frente à preservação do meio
ambiente previsto no art. 225 da CF.
A partir da pesquisa e dos julgados expostos, conclui-se que no ordenamento
jurídico brasileiro é possível a aplicabilidade do princípio da insignificância, no
entanto, deve-se cumprir os seguintes requisitos, conforme estabelecido pelo
julgado do STF:

(i) mínima ofensividade da conduta;


(ii) nenhuma periculosidade social da ação;
(iii) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e
(iv) inexpressividade da lesão jurídica provocada. (ARE 1060007 AgR,
Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em
03/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-260 DIVULG 28-10-2020
PUBLIC 29-10-2020)

Todavia, conforme as questões expostas, o meio ambiente é finito, sendo


dever do Poder Público e da coletividade preservar o meio ambiente, utilizando-se
71

de diversos atos, de modo a alcançar a preservação para as presentes e futuras


gerações.
Mas como podemos frear as atrocidades no nosso meio ambiente, garantindo
um meio ambiente ecologicamente equilibrado, se no nosso ordenamento jurídico é
possível a aplicabilidade do princípio da insignificância? Não sendo possível, ainda,
determinar se a retirada de um simples animal poderá desencadear uma ruptura
mínima na cadeia alimentar.
Deste modo, o nosso poder judiciário aplica em diversos casos o princípio
mencionado, no entanto, se houver em uma determinada localidade a retirada por
100 (cem) pessoas, e cada uma retirar 1 (um) peixe de um determinado lago, e
estes cumprem os requisitos legais da aplicação do princípio da insignificância,
como será possível mensurar que nessa localidade não terá um desequilíbrio
ecológico?
Neste sentido, a partir da pesquisa, e com os argumentos expostos, na minha
visão, não poderia existir a aplicação do princípio da insignificância em causas
ambientais, pois com isso demonstra ao agente que este poderá retirar um simples
animal da natureza e sairá impune, não sofrendo as sanções cabíveis, trazendo uma
insegurança jurídica para o ordenamento jurídico brasileiro.
72

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