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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

CAMPUS CURITIBA
ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO SOCIOAMBIENTAL

WALESKA MENDES CARDOSO

ESTUDO ANALÍTICO DO CRIME DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL

CURITIBA
2010
2

WALESKA MENDES CARDOSO

ESTUDO ANALÍTICO DO CRIME DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em


Direito Socioambiental, da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de
Especialista.
Orientadora: Profª. Danielle Tetü Rodrigues.

CURITIBA
2010
3

WALESKA MENDES CARDOSO

ESTUDO ANALÍTICO DO CRIME DE EXPERIMENTAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Direito Socioambiental, da Pontifícia


Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista.

_______________________________________
Profª.Danielle Tetü Rodrigues.
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
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RESUMO

A presente monografia pretende estudar o delito de experimentação animal, tipificado do artigo


32, §1°, da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/98). Os manuais de Direito Ambiental dedicam
escassas linhas para tratar sobre tema. As obras específicas que comentam a Lei 9.605/98 pouco
falam acerca dos crimes do artigo 32, sobretudo do crime de vivissecção. Diante da importância e
atualidade do assunto e de sua discussão incipiente, traça-se um panorama sobre a evolução
doutrinária a respeito do tipo penal em estudo, quais os pontos controvertidos na doutrina e o
entendimento dos juristas pátrios. Ainda, na primeira etapa, são trabalhadas as concepções
antropocêntrica e biocêntrica que servem de diretrizes para a interpretação do Direito Ambiental
e Animal. No segundo capítulo, faz-se a análise do crime de experimentação animal e de todos os
seus elementos constitutivos, adotando-se a posição que parece ser a mais adequada aos fins
propostos pela Constituição Federal e pela Lei Penal Ambiental. Durante a análise do tipo penal,
são individualizados os sujeitos ativo e passivo do injusto, o bem jurídico tutelado pela norma, as
hipóteses de incidência da lei penal, as discriminantes e as excludentes de culpabilidade. Ainda,
demonstra-se a existência de técnicas substitutivas ao modelo animal, utilizadas por instituições e
cientistas brasileiros, que constituem condição para a incidência do injusto. Por fim, faz-se a
contraposição do crime em estudo com as leis existentes que também tratam da matéria e tenta-se
interpretá-las de modo a conciliar sua aplicação no ordenamento jurídico, sem ferir o preceito
constitucional de proteção animal e vedação a tratamentos cruéis.

Palavras-Chaves: Lei dos Crimes Ambientais; Técnicas Alternativas; Crime de Experimentação


Animal.
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SINTESI

La presente monografia vuole studiare il delitto di esperimentazione animale, sancito nell’articolo


32, prima comma, della Legge dei Reati Ambientale (Legge 9.605/98). I manualle di Diritto
Ambientale dedicono scarse linee per trattare sul’argomento. Le opere specifiche che
commentano la Legge 9.605/98 pocco parlano circa dei crimine dell’articolo 32, sopratutto del
reato di vivisezione. Dinanze la rilevanza e attualità dell’argomento e sua incipiente discussione,
si disegna un panorama su l’evoluzione dottrinària rispetto del tipo penale in studio, qualli sono i
punti controversi e le comprensioni dei giuristi patrii. Ancora, nel primo passo, si lavorano con le
prospettive antropocentrica e biocentrica che sono utilizzati come linee per interpretare il Diritto
Ambientale e Animale. Nel secondo capìtolo, si fa una analise del crimine di esperimentazione
animale e di tutti i suoi elementi costitutivi, addotandose la posizione que pare essere la più
adeguata ai fini proposti per la Costituizione Federale e per la Legge Penale Ambientale. Durante
la analise del tipo criminale, sono individualizato i soggetti ativo e passivo del ingiùsto,
l’interesse legalmente protetto per la regola, gli ipotesi di incidenza della legge penale, le
discriminanti e le escludenti di colpevolezza. Ancora, si dimostrano l’esistenza delle tecniche
sustitutive al modello animale, utilizzate da istituizioni e cientiste brasiliani, che costituiscono
condizioni di incidenza dell’ingiusto. Infine, si contrappone il reato in Studio ai leggi esistente
che anche trattano delle materie e si prova interpretarle di modo a conciliare le loro applicazione
nell’ordinamento giuridico, senza offendere il precetto costituzionale di protezione animale e di
divieto ai trattamento crudèli.

Parole Chiave: Legge dei Reati Ambientali; Tecniche Alternativi; Reato di Esperimentazione
Animale.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 7
1. EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL NO BRASIL: EVOLUÇÃO LEGISLATIVA E
DOUTRINÁRIA. ......................................................................................................................... 10
1.1 DESENVOLVIMENTO DA PROTEÇÃO ANIMAL NO DIREITO BRASILEIRO ........... 11
1.2 TRATAMENTO DOUTRINÁRIO ATUAL SOBRE O CRIME DE EXPERIMENTAÇÃO
ANIMAL: BREVES CONSIDERAÇÕES .................................................................................... 15
1.2.1 Do Antropocentrismo ao Biocentrismo, as concepções que informam o Direito
Ambiental ..................................................................................................................................... 17
1.2.1.1 Da visão antropocêntrica ................................................................................................ 18
1.2.1.2 Da concepção biocêntrica ................................................................................................ 21
2. ESTUDO DO TIPO PENAL AMBIENTAL DO ARTIGO 32, §1°, DA LEI
9.605/98. ........................................................................................................................................ 26
2.1 TIPICIDADE ........................................................................................................................... 26
2.1.1 Elementos objetivos do tipo do artigo 32, §1°, da Lei 9605/98 ....................................... 27
2.1.1.1 Bem jurídico tutelado e objeto material do crime ........................................................ 27
2.1.1.2 Tipo subjetivo: os sujeitos do crime de experimentação animal ................................. 29
2.1.1.3 Tipo objetivo .................................................................................................................... 32
2.1.2 Elementos normativos do injusto ambiental .................................................................... 33
2.1.3 Elemento subjetivo do tipo penal ambiental .................................................................... 37
2.1.4 Existência de técnicas alternativas como condição para tipificar a experimentação
animal ........................................................................................................................................... 38
2.2 ILICITUDE E SUAS EXCLUDENTES ................................................................................. 40
2.3 CULPABILIDADE ................................................................................................................. 42
2.4 FORMA MAJORADA DO CRIME DE VIVISSECÇÃO ..................................................... 44
2.5 CRIME DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL E OUTRAS LEGISLAÇÕES ....................... 44
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 49
7

INTRODUÇÃO

O Direito Animal vem chamando atenção de diversos setores da comunidade brasileira e


mundial. Há diversas legislações para proteger animais e seu hábitat.
Com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, a proteção animal ganhou
importância no ordenamento jurídico brasileiro. Os animais foram “promovidos” a bens
coletivos, de interesse difuso, direito de titularidade indefinida.
A partir deste marco, todas as regras existentes, para continuar a viger, devem adequar-se
aos princípios da Carta Magna, assim como as novas legislações devem ser criadas de acordo
com a ordem constitucional.
Em que pese a numerosa legislação ambiental existente, diversos seres vivos são vítimas
das mais variadas formas de crueldade. Todos os dias, animais são torturados, maltratados,
abandonados, capturados, explorados, mortos, dentre tantas outras práticas abusivas.
Um dos atos mais cruéis perpetrados contra os animais durante a história da humanidade é
a vivissecção.
Aristóteles, seguido por São Tomás de Aquino, justificaram a exploração dos animais
pelos homens como natural, sendo normal usá-los de qualquer forma, porque o homem seria um
ente superior por ser dotado de razão e linguagem.
O racionalismo de Descartes terminou por separar completamente o homem da natureza.
Para o referido filósofo, os animais eram seres autômatos, incapazes de sentir dor ou prazer,
semelhantes às máquinas criadas pelo homem, entretanto mais complexas porque criadas por
Deus. Considera-se que os experimentos com animais são legitimados, até hoje, por tal
pensamento cartesiano.
Todavia, com a evolução da ciência, descobriu-se que os animais são seres sencientes,
com constituição física e biológica semelhantes às dos seres humanos. Tal evidência pôs em
cheque o pensamento de Descartes, quanto ao caráter autômato dos animais e iniciou-se uma
onda de questionamentos acerca da ética na vivissecção.
A partir de então, diversas técnicas de pesquisa e experimentos foram desenvolvidas sem
a utilização dos animais. Isso se deu, também, por meio das novas tecnologias e avanços
científicos.
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Os experimentos em animais vivos agora são considerados, por muitos, cruéis e


desnecessários. Inúmeras legislações no mundo estão exigindo o fim da utilização de animais em
laboratórios, criminalizando tais experimentos.
É o caso do Brasil, ao tipificar a conduta de realizar experiência dolorosa e cruel e
animais, quando houver técnicas alternativas. Todavia, em que pese a existência de tal norma, a
regra nos laboratórios e nas instituições de ensino no país é a utilização de animais.
Neste sentido, surgiu o problema enfrentado nesta monografia: havendo técnicas
alternativas, já utilizadas por uma instituição dentro do país, todas as outras entidades que
utilizam o modelo animal incorrem em crime ambiental?
A resposta para tal questionamento é resultado de um estudo iniciado em 2008, na
Graduação do Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria, realizado por mim, sob
orientação do Professor Doutor em Direito Luiz Ernani Bonesso de Araujo, que culminou na
monografia intitulada “A tutela jurídica dos animais e a quebra do paradigma antropocêntrico.”
A presente monografia é um corte daquele estudo amplo e tem por escopo analisar
especificamente o crime de experimentação animal, estabelecido na Lei 9.605/98, de forma
minuciosa.
O método de abordagem desta monografia é o dialético argumentativo, trazendo os
entendimentos atuais acerca do injusto de experimentação animal e as concepções filosóficas que
fundamentam a interpretação das normas de direito animal. Ainda, a partir de um estudo analítico
do crime de vivissecção, trazem-se elementos para explicar e aplicar o aludido dispositivo legal,
de forma a se coadunar com a ordem constitucional.
Para materializar o estudo monográfico, fez-se uma divisão em dois capítulos, No
primeiro, explicitam-se os entendimentos dos doutrinadores brasileiros acerca do delito de
experimentação animal. Em seguida, a partir de trechos da monografia “A tutela jurídica dos
animais e a quebra do paradigma antropocêntrico”, de minha autoria, conceituam-se em breves
linhas as concepções antropocêntrica e biocêntrica, formas de interpretar a ordem moral e
jurídica, atualmente informada pelo antropocentrismo.
No segundo capítulo, faz-se o estudo de todos os elementos do tipo penal ambiental
consubstanciado no artigo 32, §1°, da Lei 9.605/98, a fim de estabelecer uma noção básica de
aplicação do injusto penal, para possibilitar que a lei seja efetiva e corretamente empregada pelos
juristas brasileiros
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Durante todo o trabalho, reforça-se a idéia de que o crime de experimentação animal deve
ser interpretado de acordo com a Constituição Federal e, nos termos da Lei dos Crimes
Ambientais, deve-se abolir o uso de animais em experimentos, na medida em que mais técnicas
substitutivas sejam criadas.
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1. EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL NO BRASIL: EVOLUÇÃO LEGISLATIVA E


DOUTRINÁRIA.

Com a constitucionalização da tutela ambiental, em 1988, os temas proteção ambiental e


animal passaram a ser discutidos com maior intensidade, dando-se-lhes a importância devida.
A partir de 1998, com a promulgação da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9605/98), a
proteção da fauna ganhou maior relevo. A crueldade contra os animais passou a ser crime, punido
com detenção e multa.
A prática de experimentação dolorosa e cruel em animal vivo (também conhecida como
vivissecção) foi igualmente criminalizada, ressalvados os casos em que inexistam recursos
alternativos.
Segundo LEVAI e RALL (2007)

Pelo que se depreende do novo texto legal, as pesquisas científicas ou didáticas ficaram
agora condicionadas à inexistência dos chamados "recursos alternativos", caso contrário
o cientista poderá responder a processo-crime. Entende-se por alternativo todo método
ou procedimento capaz de substituir o uso de animais em pesquisas. Considerando que
as técnicas alternativas à experimentação animal já existem - dentro e fora do País -
dependendo seu desenvolvimento e execução apenas da boa vontade dos pesquisadores,
aqueles que realizarem experimentos dolorosos ou cruéis em animais vivos estão sujeitos
às penas da lei.

A realização de vivisseção, a partir do diploma legal referido, passou a ser restringida,


devendo ser utilizada apenas quando não houver recursos e técnicas substitutivas ao uso do
modelo animal. Entretanto esta exceção não tem sido interpretada de acordo com os princípios do
direito ambiental, sendo frequentemente causa de impunidade e inaplicabilidade da lei
incriminadora, relegando os animais à total desproteção.
Deste modo questiona-se se a partir do crime de experimentação animal, consubstanciado
no artigo 32 §1°, da Lei 9605/98, é possível afirmar que havendo técnica alternativa, todas as
instituições de ensino e pesquisa que atualmente utilizam-se do modelo animal na ciência
incidem em tal tipo penal.
O delito em testilha merece um estudo aprofundado para que possa ser devidamente
aplicado, evitando-se a ineficácia da norma e a impunidade dos infratores. Assim, imperativa a
realização de análise pormenorizada do delito em tela e de suas especificidades, a fim de
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identificar os casos em que há a ocorrência de crime ambiental.

1.1 DESENVOLVIMENTO DA PROTEÇÃO ANIMAL NO DIREITO BRASILEIRO

Dentro do conceito de meio ambiente estão englobadas “todas as formas de vida” e, neste
aspecto, estão sob proteção do Direito Ambiental, inclusive sob o manto constitucional, os
animais.
Assim dispõe o inciso VII do primeiro parágrafo do artigo 225 da Constituição Federal:

Artigo 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
(negritou-se)
§1º - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Público:
[...] omissis
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à
crueldade.

O meio ambiente em sua totalidade é objeto de proteção do Direito Ambiental, ora como
macro-bem, unitário e complexo, ora como micro-bem, individualmente tutelado. Neste contexto,
protege-se a fauna, a fim de garantir o equilíbrio ecológico mencionado no artigo 225 da Carta
Política.
A proteção dada aos animais, incorporada na Constituição Federal carrega o sentido de (i)
evitar a extinção das espécies; (ii) coibir práticas que coloquem em risco a função ecológica da
fauna; e (iii) garantir que os animais não sejam submetidos à crueldade.
Note-se que estas são garantias constitucionais, que visam a proteger os animais de forma
direta (e não reflexa como em outras normas). Seguindo-se este raciocínio, protegendo as
espécies, evitando tratamentos cruéis, está-se garantindo a vida e a integridade dos animais. Deste
modo, a sadia qualidade de vida não se restringe apenas à espécie humana.
Ora, qual o benefício imediato para o homem (ou o reflexo imediato na sadia qualidade de
vida deste), ao proteger-se os animais? Não seria mais sensato considerar tal tutela como um
direito (sim, um direito do animal) a ser protegido, ou a não ser vilipendiado?
Evitar tal raciocínio e continuar a defender a aplicação do direito apenas em benefício do
homem pode criar alguns “monstros” no mundo dos fatos.
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Veja-se o exemplo dado por Fiorillo (2005, p. 17):

A crueldade é um termo jurídico indeterminado, reclamando ao intérprete o


preenchimento de seu conteúdo. Para tanto, cumpre ao aplicador da norma questionar se
a prática é necessária e socialmente consentida. (...)
O artigo 225 da CF busca estabelecer, no mundo do dever-ser, um meio ambiente
ecologicamente equilibrado para a sadia qualidade de vida. Isso significa que a crueldade
deriva de um não aproveitamento do animal para fins de manutenção da própria sadia
qualidade de vida. Dessa forma, o que não se pode permitir é, por exemplo, que se abata
um animal destinado ao consumo humano por um método que, comprovadamente, seja
mais doloroso para ele. Interessante verificar que, por motivos biológicos, chegou-se à
conclusão de que, quanto mais o animal sofre antes de ser abatido, maior será sua
liberação de toxinas e hormônios, que, impregnados em sua carne, provocarão danos à
saúde. Aludido fato, em última análise, retrata a presença da visão antropocêntrica no
direito ambiental, porquanto não se submete o animal à crueldade em razão de ele ser
titular de direito, mas sim porque essa vedação busca proporcionar ao homem uma vida
com mais qualidade.

Esta constatação absurda de que não se pode submeter o animal à crueldade apenas
porque trará prejuízos à saúde humana é uma falácia. Se fosse possível conceber esta afirmação
como verdadeira, muitas das legislações existentes, a exemplo da Lei Arouca (Lei 11.794/08)
seriam dispensáveis.
Veja-se o teor de alguns dos artigos da referida norma, in verbis:

§ 5º Experimentos que possam causar dor ou angústia desenvolver-se-ão sob sedação,


analgesia ou anestesia adequadas.
§ 6º Experimentos cujo objetivo seja o estudo dos processos relacionados à dor e à
angústia exigem autorização específica da CEUA, em obediência a normas estabelecidas
pelo CONCEA.
§ 7º É vedado o uso de bloqueadores neuromusculares ou de relaxantes musculares em
substituição a substâncias sedativas, analgésicas ou anestésicas.
§ 8º É vedada a reutilização do mesmo animal depois de alcançado o objetivo principal
do projeto de pesquisa. (sem grifos no original)

Ora, se for considerada importante a utilização de animais para experimentação 1, com a

_______________
1
Importante ressaltar que a autora não compartilha desse entendimento, já que considera o uso de animais em
experimentos totalmente dispensável, mormente porque há diversas tecnologias disponíveis para substituir os testes
em animais e que chegam a resultados muito mais confiáveis em relação aos obtidos a vivissecção, porquanto estes
últimos necessitam ser revalidados com testes em humanos. Podem ser citados como exemplos de técnicas
científicas alternativas ao uso de animais em experimentos a toxicologia, a análise em culturas celulares humanas,
programas de computador, modelos em materiais de plástico ou silicone que se assemelham à consistência do corpo
humano, aulas de visualização de vídeos e simuladores de computador, dentre tantas outras formas de estudo que
prescindem do uso de animais, cada vez mais ultrapassado nos países desenvolvidos da Europa. A Itália pode ser
lembrada como uma das nações em que cientistas se opõem à utilização de animais em experimentos, ressaltando
que os métodos alternativos são muitos mais confiáveis do que os tradicionais. Já em 1995, professores de medicina
enfatizavam que a pesquisa científica biomédica tende sufocar a prática da experimentação animal. “È dunque
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justificativa de aprimoramento científico e descoberta de novos medicamentos, não haveria, na


lógica antropocêntrica, razão para proibir experimentos cruéis, ou exigir-se que, se
indispensáveis, devam ser realizados sob o efeito de analgesia.
Desta forma, resta inequívoco o interesse em proteger a integridade física e psicológica do
animal, pelo fato de ele ser sujeito de uma vida, um ser senciente, passível de sofrimento – o qual
se quer evitar.
Por isto, a assertiva do referido autor, de que somente coíbem-se os maus-tratos aos
animais pelos danos que estes atos cruéis podem trazer ao ser humano, é argumento frágil e
facilmente rebatido, evidenciando o seu caráter falacioso.
Existem diversas leis que intentam a proteção dos animais, proibindo atos de crueldade, a
fim de garantir sua saúde física e mental. Essas leis visam a garantir o fim da exploração, dos
maus-tratos e das exposições de animais a situações degradantes. Caso não houvesse preocupação
com o bem-estar destes animais, não haveria a promulgação de tais normas, já que, pela ótica
antropocêntrica, os animais devem ser protegidos apenas para proteger interesses humanos.
No âmbito nacional, a vigente Constituição Federal, com o objetivo de efetivar o
exercício ao meio ambiente sadio, estabeleceu uma série de incumbências ao Poder Público,
concatenadas no artigo 225, §1°, incisos I a VII.
Os animais são protegidos independentemente de serem ou não da fauna brasileira. Este
arrimo deve embasar a legislação vigente, de forma que todas as situações jurídicas devem-se
adequar aos princípios constitucionais.
O movimento de proteção animal mobilizou-se em torno da inclusão da tutela animal na
Constituição Federal e tal idéia foi abarcada pela redação do art. 225, sobre o meio ambiente. O
Capítulo VI da CF/88 trata da proteção ambiental, de forma bem inovadora ao ressaltar que

l’uomo la vera cavia, e l’animale è un alibi per permettere di passare alla sperimentazione umana. È dunque
impossibile vedere uma base scintifica nella sperimentazione animale, mentre purtroppo necessàrio riconoscere che
la logica dell’animale-macchina ha fatto perdere di vista le relazioni che intercorrono tra ambiente, natura e
organismi, valutando solo le singole parti e ignorando la complessità della realtà nel suo insieme. [...] Comunque,
ogni farmaco alla fine deve essere sperimentato sull’uomo: oggi la sperimentazione animale, come ho già detto, è
solo um alibi per fare sperimentazione umana.” (Gianni Tamino, 1995, disponível em
<http://www.antivivisezione.it/sperimentazione_approf009.htm>).
“É, então, o homem a verdadeira cobaia, e o animal é um álibi a permitir passar à experimentação humana. É, assim,
impossível de ver uma base científica na experimentação animal, enquanto infelizmente necessário reconhecer que a
lógica do animal-máquina fez perder de vista as relações que ocorrem entre ambiente, natureza e organismos,
valorando apenas as partes singulares e ignorando a complexidade da realidade no seu conjunto. [...] De qualquer
forma, cada fármaco, ao fim, deve ser experimentado no homem: hoje a experimentação animal, como já disse, é
apenas um álibi para fazer experimentação humana.” (tradução livre da autora).
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“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida”.
Na legislação ordinária, o maior destaque foi dado à Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605
de 1998) que criminalizou a experimentação em animais vivos, quando houver técnicas
substitutivas.
Tal dispositivo assim está positivado: “Art. 32, §1° Incorre nas mesmas penas quem
realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos,
quando existirem recursos alternativos.”
Desta forma, se uma Universidade, em qualquer cidade do país, utilizar técnica que
prescinda do uso de animais, todas as outras instituições deveriam implementá-la também, sob
pena de incorrer em crime contra a fauna, capitulado no artigo 32, §1º, da Lei dos Crimes
Ambientais.
Assim, a Lei Arouca (Lei 11.794/08)2 deve ter, cada vez mais, sua eficácia limitada, de
modo que quanto mais técnicas substitutivas forem criadas e utilizadas (de forma obrigatória),
menos experimentos serão realizados, a não ser de forma antijurídica.
Como exemplo, pode-se destacar o curso de medicina da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul – UFRGS, que desde o segundo semestre letivo de 2007 extinguiu o uso de
animais vivos nas aulas de cirurgia e outros procedimentos. Atualmente utiliza simuladores
plásticos com sangue artificial. No laboratório, os alunos utilizam braços e pedaços de pele falsos
para aprender a suturar e fazer incisões, além de um torso, onde fazem punções e colhem sangue
(artificial).
Também são realizadas práticas mais complexas, como suturas dos intestinos grosso e
delgado em um material que simula os órgãos a ponto de a mucosa e a textura serem semelhantes
às do corpo.
Desta maneira, sendo desnecessário o uso de animais nas classes de medicina da UFRGS,
não há razão para utilizar animais nos outros cursos de medicina do país. Assim, a vivissecção
nas aulas de cirurgia ou em outros estudos deve ser abolido, sob pena de as Universidades do
Brasil incorrerem em crime ambiental.
No entanto, não é essa a aplicação dada ao artigo aludido, pela maioria da doutrina pátria.
_______________
2
Para Adede y Castro (2006, p. 191) “as leis federais e estaduais, que permitem a vivissecção, são inconstitucionais.
(...) a inconstitucionalidade se revela no fato de que a Constituição Federal proíbe qualquer prática de ato que
implique crueldade contra animais.”
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1.2 TRATAMENTO DOUTRINÁRIO ATUAL SOBRE O CRIME DE EXPERIMENTAÇÃO


ANIMAL: BREVES CONSIDERAÇÕES

A doutrina é bastante conservadora quando trata do tema direito dos animais. Para Luís
Paulo Sirvankas (1998) o tipo penal do artigo 32 restringe-se apenas aos animais silvestres, sendo
aplicável para os animais domésticos (cães, gatos, cavalos, vacas, galos etc.) o artigo 64 da Lei
das Contravenções Penais (p. 54).
Segundo o referido autor, as agravantes dos §§1° e 2° são questões delicadas ao passo que
podem constranger um professor ou cientista ao processo penal. Tal previsão poderia ser
considerada um exagero ao passo que há inclusive criações de animais para serem utilizados em
experiências e dissecações a fim de ensinar a “arte da Medicina” (ibidem).
Para Vladimir P. de Freitas e Gilberto P. de Freitas (2006) o aludido injusto penal visa a

reprimir os atentados contra os animais. O ser humano deve respeitar os demais seres da
natureza e evitar-lhes o sofrimento desnecessário. A crueldade avilta o homem e faz
sofrer, desnecessariamente, o animal. O objetivo da norma é buscar que tais fatos não se
tornem rotineiros e tacitamente admitidos pela sociedade. (p. 110)

Os referidos doutrinadores referem, com propriedade, que o artigo protege não apenas os
animais silvestres, mas também os domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos (idem, p.
110), assim como a maioria da doutrina ambiental pátria, v.g. Costa Neto e outros (2001, p. 208);
Adede y Castro (2004, p. 142); Fiorillo (2007, p. 122).
Quanto à prática de experimentos os autores não consideram o experimento em si um
crime, já que o reputam necessário para a evolução humana. Entendem que há crime apenas
“quando o animal estiver vivo e a dor for incompatível ou desnecessária à pesquisa”. Ainda,
consideram como “recursos alternativos as variadas formas de anestesia que evitam a dor”.
(FREITAS e FREITAS, op. cit., p. 113/4).
Para Capez (2002, p 73 apud ADEDE Y CASTRO, 2004, p. 143) o crime se consuma
com a submissão de animais por atos dolorosos e cruéis, “a uma série de operações, por exemplo,
observações, avaliações, provas, ensaios em condições determinadas, tendo em vista um
resultado determinado”.
Conforme ensinamentos de Costa Neto e outros (2001, p. 215) o tipo penal realiza-se
16

quando o animal é objeto de experimento doloroso. Os autores criticam o fato de a norma não
estabelecer critérios para criminalização da conduta e permitir que qualquer ato, a priori, seja
considerado delituoso. Censuram ainda a inacessibilidade de métodos alternativos que, quando
inexistentes, excluem a tipicidade do fato, referindo que o injusto penal não pode ser interpretado
com vistas a atrasar a educação ou a pesquisa. Igualmente, aludem à incerteza contida no
dispositivo legal referente ao método alternativo. Indagam se tal recurso deve ser ou não capaz de
atingir os mesmos objetivos da experiência realizada em animal vivo.
Adede y Castro menciona a Lei Federal 6.638/79 (hoje revogada pela Lei 11.794/08) que
regulamenta o uso de animais em experimentos e exige uma série de normas de conduta e
autorizações para tais procedimentos. Refere que a autorização para experiências em animais
vivos, “quando não existam outras alternativas para descobertas de doenças e/ ou produção de
medicamentos humanos ou veterinários, coloca em cheque dois interesses juridicamente
relevantes: o do homem e o dos animais.” Para o autor, na falta de alternativas sempre deve-se
optar pelo interesse humano (2004, p. 145).
Se hoje a lei condiciona a vivisseção à inexistência de métodos substitutivos, isso
significa – no entendimento dos biólogos Greif e Tréz (2000, p. 137) – que, ao menos no plano
teórico, essa prática foi abolida no Brasil. Afinal, técnicas alternativas ao uso do animal em
laboratórios já existem dentro e fora do País. Entretanto, a comunidade científica insiste em
legitimar seu método cruel de pesquisa por intermédio de protocolos internos e de pretensas
Comissões de Ética.

A própria normatização do COBEA - Colégio Brasileiro de Experimentação Animal -


parte de um princípio tendencioso, que informa ser imprescindível o uso de animais em
pesquisas. Nessas condições, o controle e a fiscalização da atividade experimental
acabam se tornando, em termos práticos, medidas dissimuladas e inócuas. (LEVAI e
RALL, 2007)

Todas estas questões merecem ser analisadas, de maneira a possibilitar uma interpretação
da norma de acordo com os princípios do Direito Ambiental. Sem tais discussões doutrinárias,
corre-se o risco da inaplicabilidade do dispositivo ou de sua aplicação discricionária. Isso pode
acarretar a inefetividade da regra penal e a consequente disseminação de condutas indesejadas e
coibidas ou ainda a insegurança jurídica, efeitos não colimados pelo Direito.
Outra discussão interessante dá-se acerca do objeto material do crime e seu sujeito
17

passivo. A doutrina majoritária entende que o bem jurídico tutelado pela norma penal ambiental é
o animal, a fauna. Considera como sujeitos passivos a União (em decorrência do artigo1° da Lei
5.197/67)3 e a coletividade (titular do direito difuso ambiente ecologicamente equilibrado) 4.
Entretanto, há dissidentes5 que consideram igualmente como sujeito passivo o animal e o objeto
material do crime a vida do animal e sua integridade física e psíquica.
Tais entendimentos advêm de matrizes filosóficas distintas – a antropocêntrica e a
biocêntrica. No primeiro caso, entende-se que os animais não podem ser sujeitos de direito, mas
apenas objeto material da norma. No segundo posicionamento, o sistema reconhece que os
animais possuem direitos inerentes a serem garantidos e os considera como sujeito passivo do
crime.
O motivo da já referida cautela doutrinária é a visão antropocêntrica que permeia o
pensamento dos juristas pátrios. Segundo Freitas e Freitas (op. cit., p. 51) a discussão sobre qual
matriz deve ser adotada ainda é incipiente, mas a Constituição Federal abarca as duas posições:

(...) no art. 225, caput, dirige-se ao homem, mas no §1°, inciso VII, do mesmo
dispositivo, refere-se a animais. Na Lei 9.605/98 dá-se o mesmo: no art. 32 protege os
animais dos maus-tratos; já no art. 37, inciso I, opta pelo homem, ao considerar como
não sendo criminoso o abate de animal para saciar a fome do agente ou de sua família.

Há, todavia, autores que vêm interpretando as leis de proteção animal de forma coerente
com os anseios constitucionais. São exemplos: o promotor de justiça Laerte Fernando Levai, o
advogado Daniel Braga, a advogada Edna Cardozo, a mestre Danielle Tetü Rodrigues.
Parte-se, desta feita, para a elucidação das matrizes filosóficas que são utilizadas pelos
juristas brasileiros, para interpretar as leis de proteção ambiental e animal.

1.2.1 Do Antropocentrismo ao Biocentrismo, as concepções que informam o Direito


Ambiental

Em que pese à preocupação dispensada ao meio ambiente, este somente tem relevância
para o Direito, atualmente, na medida em que sua degradação é prejudicial ao ser humano. A
_______________
3
Posição adotada por Sirvankas (1998, p. 54).
4
A doutrina moderna considera a coletividade como sujeito passivo dos crimes ambientais. Para Freitas e Freitas
(2006, p. 110) a União somente será sujeito passivo quando os animais envolvidos forem oriundos da fauna silvestre.
5
Para Prinz (2007, p. 55) com o advento da Lei 9.605/98, os animais tornaram-se sujeitos passivos do crime.
18

Natureza não é protegida por um direito em si mesmo considerado. É, ao contrário, protegida


porque a própria existência humana resta ameaçada caso não se desenvolva uma consciência de
conservação do meio ambiente.
Isso se deve à concepção antropocêntrica que prevalece na doutrina do Direito Ambiental.
Para esta corrente, o homem relaciona-se com a natureza através da idéia de dominação e o meio
ambiente é considerado um bem apropriável pelo homem que o pode usar da forma que bem lhe
aprouver. A natureza jurídica do meio ambiente, e a forma como o Direito o protege atualmente,
é a de objeto de direitos.
Cabe aqui conceituar brevemente o antropocentrismo, a fim de comprovar que esta
concepção é inadequada para a proteção dos direitos dos animais. Nesse viés, apresenta-se a
solução apontada pelo biocentrismo, visão que considera a vida como centro das preocupações e
que parece mais apropriada à consecução do objetivo maior do Direito Ambiental.

1.2.1.1 Da visão antropocêntrica

O antropocentrismo, bem como o biocentrismo, são formas de visualizar a relação que o


homem tem com o meio em que vive.
O termo “antropocêntrico” é definido pela língua portuguesa (FERREIRA, 1997, p.134)
como “aquele que considera o homem como o centro ou a medida do Universo”; ou ainda, “diz-
se principalmente das ingênuas doutrinas finalísticas que admitem que todas as coisas foram
criadas por Deus para propiciar a vida humana”.
Diante de toda a discussão e tentativa de melhoria das condições ambientais, pouca coisa
foi conquistada. Isso porque as diretivas existentes estão eivadas do ideal antropocêntrico, que
considera o ambiente como um meio para o homem conseguir seus fins e aquelas normas que
protegem o animal e o ambiente por um direito reconhecido deles próprios são interpretadas pela
ótica antropocêntrica, impedindo a aplicação desejável da legislação.
Muitos doutrinadores inferem que não há como mudar essa concepção e deslocar o
homem do centro para outra posição na tutela do meio ambiente. Aduzem que o Direito é uma
construção humana criada com o único fim de servir ao próprio homem.
Um dos fundamentos utilizados pelos autores que defendem a manutenção do
antropocentrismo está disposto no Princípio nº 1 da Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio
19

Ambiente de Desenvolvimento de 1992: “Os seres humanos estão no centro das preocupações
com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia
com a natureza.” (apud ANTUNES, 2005, p. 26).
Entretanto, esta diretriz não é suficiente para justificar a manutenção do antropocentrismo,
porquanto o princípio acima transcrito não exclui o direito de proteção da fauna e da flora, do
âmbito do Direito Ambiental.
Isso porque, o referido princípio trata do desenvolvimento sustentável e é inequívoco que
o homem está no centro desta preocupação, já que apenas o ser humano tem a possibilidade de
utilizar-se dos recursos existentes para o desenvolvimento econômico.
Mas o Direito Ambiental não se restringe apenas a traçar diretrizes para o
desenvolvimento sustentável. Tal ramo do Direito é mais amplo e complexo e deve preocupar-se
com a garantia do equilíbrio ecológico, independentemente do interesse do homem.
Pois, ao contraporem-se interesses humanos imediatos, como o de obter lucro, ao
interesse de sobrevivência e de um meio ambiente ecologicamente equilibrado (que, giza-se, não
se restringe apenas à espécie humana), deve-se proteger este último, sob pena de, ao final,
fulminar a própria existência do homem na Terra.
A própria Constituição Federal estabelece que a ordem econômica deve pautar-se pelo
princípio de respeito e defesa do meio ambiente, consoante artigo 170, inciso VI.
Há autores que acreditam que a ruptura do paradigma antropocêntrico não é possível;
creem que o Direito Ambiental conseguirá alcançar os objetivos de proteção do meio ambiente e
garantir uma vida digna, com qualidade e saúde aos tutelados humanos, sem considerar os outros
integrantes do meio ambiente como sujeito de direitos.
Assim entende Antunes (2005, p. 20) ao afirmar que o biocentrismo não passa de um
“raciocínio primário”, por não levar em conta o fato de que “o direito é uma construção humana
para servir propósitos humanos”.
O referido jurista leciona: “O fato de que o direito esteja evoluindo para uma posição na
qual o respeito às formas de vida não humanas seja uma obrigação jurídica cada vez mais
relevante, não é suficiente para deslocar o eixo ao redor do qual a ordem jurídica circula.”
(ANTUNES, 2005, p. 20).
A seguir refere que:
20

A questão que se coloca, contudo, é a de não confundir a pretensa superação do


antropocentrismo com uma modalidade de irracionalismo, muito em voga atualmente,
que, colocando em pé de igualdade o Homem e os demais seres vivos, de fato, rebaixa o
valor da vida humana e transforma-a em algo sem valor em si próprio, em perigoso
movimento de relativização de valores. O que o Direito Ambiental busca é o
reconhecimento do Ser Humano como parte integrante da Natureza. Reconhece,
também, como é evidente, que a ação do Homem é, fundamentalmente, modificadora da
Natureza, culturalizando-a. O DA estabelece a normatividade da harmonização entre
todos os componentes do mundo natural culturalizado, no qual, a todas as luzes, o Ser
Humano desempenha o papel essencial. (op. cit., p. 20)

No entanto, releva o seguinte:

O reconhecimento de direitos que não estejam diretamente vinculados à pessoa


humana é aspecto de grande importância para que se possa medir o grau de
compromisso entre o homem e o mundo que o cerca, do qual ele é parte integrante e,
sem o qual, não logrará sobreviver. A atitude de respeito e proteção às demais formas de
vida ou aos sítios que as abrigam é uma prova de compromisso do ser humano com a
própria raça e, portanto, consigo mesmo. O reconhecimento do diferente e dos direitos
equânimes que este deve ter é um relevante fator para assegurar uma existência
digna para todos os seres vivos, especialmente para os humanos. (grifou-se) (op. cit.,
p.21/22)

Outro autor que compartilha a idéia antropocêntrica como ínsita ao Direito Ambiental é
Fiorillo (2005, p. 16). Para o aludido doutrinador,

o direito ambiental possui uma necessária visão antropocêntrica, porquanto o único


animal racional é o homem, cabendo a este a preservação das espécies, incluindo a sua
própria. Do contrário, qual será o grau de valoração, senão for a humana, que determina,
v.g., que animais podem ser caçados, em que época se pode fazê-lo, onde etc.?

Na concepção deste autor, é o homem quem define a valoração da vida de um animal,


determinando os momentos em que sua morte é permitida ou proibida.
A idéia de valor inerente à vida humana, que exclui todos os demais animais, é a última
tentativa dos filósofos do século XX para justificar o direito à exploração.
Quando questionados acerca de uma razão para adotar a consideração moral apenas para
animais humanos e excluir os outros animais da esfera moral, os filósofos apelaram para frases
“altissonantes como ‘dignidade intrínseca do indivíduo humano’. Referiram-se ao ‘valor
intrínseco de todos os homens’ como se todos os homens tivessem algum valor não especificado
que outros seres não possuem.” (SINGER, 2008, p. 271).
Segundo o filósofo (op. cit., p. 271),
21

No século XX, até a década de 1970, os filósofos soltaram as amarras dos grilhões
metafísicos e religiosos originais dessa idéia, e invocaram-na livremente, sem sentirem
qualquer necessidade de justificá-la. Por que não atribuir-nos ‘dignidade intrínseca’ ou
‘valor intrínseco’? Por que não afirmar que somos os únicos no universo que possuem
valor intrínseco? É improvável que os seres humanos, nossos semelhantes rejeitem os
louvores que tão generosamente lhes concedemos, e aqueles a quem negamos tal honra
são incapazes de se opor.
[...]
A verdade é que o apelo à dignidade intrínseca dos seres humanos parece resolver os
problemas dos filósofos igualitaristas apenas enquanto não são questionados. Quando
lhes perguntamos por que todos os seres humanos – incluindo bebês, incapacitados
intelectualmente, psicopatas criminosos, Hitler, Stalin e o resto – teriam algum tipo de
dignidade ou valor que nenhum elefante, porco ou chimpanzé poderá jamais alcançar,
vemos que essa pergunta é tão difícil de responder quanto nosso pedido original por
algum fato relevante que justifique a desigualdade entre os seres humanos e os outros
animais.

Chega-se ao absurdo de dizer que quando há choques de direitos constitucionalmente


protegidos, como vida de um animal e o direito à manifestação cultural (como farra do boi,
vaquejada e rodeio) deve-se optar pela manifestação cultural, já que o direito ambiental somente
interessa ao homem (!). (FIORILLO, 2005, p. 17).
No entanto, essa conclusão, conforme se viu brevemente acima, contraria a ética e a
moral. Assim, como o Direito Ambiental é um ramo novo do Direito e a doutrina é ainda
incipiente em relação a diversos temas, a interpretação das normas ambientais deve ser
sistemática e, acima de tudo, ética e moral.
E não há moralidade alguma em sobrepor o direito à diversão humana ao direito à vida e
ao bem-estar de qualquer animal.
Percebe-se equivocado acobertar perversidades ou violências (como as perpetradas contra
os animais) sob um manto antropocentrista, sustentado sobre o valor cultural ou recreativo que
possa representar determinada atividade humana, em relação aos animais (Milaré, 2007, p. 169).
Por todo o exposto, evidencia-se que, para efetivar a proteção aos animais, não é possível
embasar-se simplesmente em direitos “da pessoa humana”, já que estes direitos muitas vezes são
contrários à proteção ambiental. A idéia de proteção deve estar calcada em direitos inerentes ao
próprio ambiente, como sua integridade, respeito às formas de vida existentes, bem como o
direito de não ser depredado.

1.2.1.2 Da concepção biocêntrica


22

Opondo-se ao antropocentrismo, há a concepção biocêntrica, que considera o homem


como integrante da natureza. O homem faz parte do seu meio e, ao mesmo tempo, é a própria
natureza, devendo utilizar-se dos recursos naturais existentes de forma a não prejudicar o meio
ambiente.
Nesta visão, tanto o homem, quanto a natureza, devem ser protegidos, sendo que a
proteção conferida ao meio ambiente não se restringe a apenas beneficiar (ou não prejudicar) o
homem. Na concepção biocêntrica, a natureza é tutelada para garantir sua equilibrada existência.
Até mesmo o símbolo adotado pelo biocentrismo demonstra o ideal de igualdade
axiológica da vida, seja qual for a espécie.
O Tao é internalizado por um embrião, uma forma primitiva da vida. Nesta etapa da
evolução do ser, não se pode distinguir de qual espécie está-se a tratar, em decorrência da
semelhança que os seres vivos têm quando são embriões. Representa, assim, a igualdade e o
equilíbrio entre todas as formas de vida.
Sendim (1998 apud LEITE, 2003, p. 73) reconhece que há uma tendência jurídica em se
admitir a proteção da natureza pelo seu valor intrínseco e não apenas pela utilidade que tenha
para o ser humano.
Na realidade o homem, dotado de razão, deve reconhecer a igualdade de valores entre a
vida de qualquer indivíduo da espécie humana e das outras espécies, para depois valorar,
individualmente cada ser, por atributos existentes em cada um deles.
Depois de reconhecido este valor inerente a todas as formas vidas, partir-se-á a valorar
diferentemente cada indivíduo (de qualquer espécie) pelos atributos e características que possuem
individualmente. E esta valoração sempre será subjetiva, de modo que um ser humano
desconhecido, ou de má índole tem menor valor para uma pessoa do que seu animal de
estimação, por exemplo.
Outro autor que considera a vida, em um primeiro momento, não tem valor diferente para
cada espécie é G. R. Frey. O aludido doutrinador assim refere: “Não tenho e não sei de nada que
me permita afirmar, a priori, que uma vida humana de qualquer qualidade, por inferior que seja,
é mais valiosa do que a vida de um animal de qualquer qualidade, por superior que seja. (FREY
apud Singer, 2008, p. 275).
Além disso, Amaral (apud MILARÉ, 2007, p. 101) considera:
23

Já não é mais possível considerar a proteção da natureza com um objetivo decretado pelo
homem em benefício exclusivo do homem. A natureza tem que ser protegida também
em função dela mesma, como valore em si, e não apenas como um objeto útil ao homem.
(...) A natureza carece de uma proteção pelos valores que ela representa em si mesma,
proteção que, muitas vezes, terá de ser dirigida contra o próprio homem.

No mesmo sentido, Goethe já criticava o ser humano por só valorizar as coisas na medida
em que lhe são úteis (DIAS).
O meio ambiente é, então, considerado como destinatário das leis protetivas, tanto quanto
o homem, podendo, inclusive, estas normas virem a prejudicar alguns interesses humanos.
Nesta esteira, o meio ambiente deve ser protegido, não porque é interesse do homem, mas
porque a todos (no sentido de todos os seres vivos) interessa e é imprescindível à sobrevivência
da vida planetária (não apenas humana).

Sabemos que os seres naturais não-humanos não são capazes de assumir deveres e
reivindicar direitos de maneira direta, explícita e formal, embora sejam constituintes do
ecossistema planetário, tanto quanto o é a espécie humana. A Ciência não tem força
impositiva ou de coação; por isso exige que o Direito tutele o ecossistema planetário. Tal
exigência baseia-se no fato de que o mundo natural tem seu valor próprio, intrínseco e
inalienável, uma vez que ele é muito anterior ao aparecimento do Homem sobre a Terra.
As leis do Direito Positivo não podem ignorar as leis do Direito Natural. (MILARÉ,
2007, p. 101)

O valor inerente da natureza e dos animais também é considerado por Naess (apud
Milaré, 2007, p. 135). Demonstra-se, portanto que a vida (bio) tem valor próprio, independente
da espécie que a carrega. Este é o fundamento do biocentrismo.
Assim refere Milaré: “o bem-estar e o florescimento da vida na Terra, seja ela humana e
não-humana, têm valor em si mesmo (sinônimos: valor intrínseco, valor inerente). Esses valores
são independentes da utilidade do mundo não-humano para finalidades humanas” (op. cit., p.
135).
Em todos os momentos da História, sempre existiram vozes dissidentes, que criticavam o
antropocentrismo e o poder do homem sobre os demais seres vivos.
Mas é na visão Ética moderna que o biocentrismo ganha forças. Conforme Milaré (2007,
p. 131):

Numa visão ética tradicional, em que se pretende ressarcir o inocente, dá-se a primazia
do fator humano: numa perspectiva ética moderna, em que muitos fatores mais são
ponderados, não se separam a espécie humana e o ecossistema planetário. Por isso os
24

critérios de apropriação, posse, domínio e utilização dos recursos ambientais passam por
uma reformulação. Caso contrário, a Ética Ambiental apontará para as graves injustiças
que pesam como ameaças globais e que, de certa forma, banalizaram-se, perdendo a
sociedade humana a sensibilidade real de problemas extremamente graves que ela deve
enfrentar todo o dia.
O antropocentrismo reforçado pelo método científico de Descartes está na raiz desse
mal-estar generalizado que colocam em xeque as civilizações e o seu corpo de valores
não somente morais, mas, até mesmo, científicos.

Infelizmente, o ideal biocêntrico ainda é minoria na doutrina. Mas, os entendimentos


estão evoluindo para que isso mude, mesmo que lentamente.
Em outubro de 1978, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, a
qual assim considera: “Todos os animais nascem iguais perante a vida e tem os mesmos direitos à
existência.”
Além disso, desde muito tempo, o direito brasileiro reconhece que os animais encerram
valores relevantes para a sociedade que merecem ser protegidos. Já em 1924 foi editado o
Decreto n º 16.590, cujo objetivo era regulamentar as diversões públicas e, pelo qual, foram
proibidas as corridas de touro, garraios e novilhos, galos, e canários (ANTUNES, 2006).
A proteção aos animais pelo direito, de modo geral, é bastante ampla em nosso
ordenamento jurídico. No Código Civil, os animais são classificados como bens móveis
(semoventes), conforme a dicção do artigo 82. A classificação dos animais como bens móveis
indica que eles não podem ser sujeitos de direito, mas objeto de direito. Essa diferenciação de
posição no mundo jurídico indica uma concepção filosófica do legislador no sentido de que o
direito, tal como concebido no Brasil, existe para reger relações entre sujeitos de direito.
No entanto, não se pode olvidar que os animais foram elevados à categoria de bens
ambientais de natureza difusa, pela Carta Magna. Assim, a própria classificação dada aos animais
restou prejudicada, de forma que não se pode afirmar que são bens particulares ou bens coletivos.

Ademais, a Lei Maior reconhece o valor, em si, dos animais, enquanto seres vivos
dignos de respeito, contra qualquer molestação ou violência à sua integridade física; por
outra, considera-os não nocivos, porque relacionados com uma função ecológica. Dentro
dessa hodierna visão holística do conceito de meio ambiente, o homem – como animal
racional capaz de entender e compreender o valor de cada ser e suas relações
ecossistêmicas – deve assumir o papel de gestor do ambiente, respeitando as normas
primeiras que regem a natureza, para só então, com base nestas, construir o Direito
Positivo, que rege as relações humanas. (MILARÉ, op.cit., p. 168)

Não há fatos e características apenas existentes na espécie homo sapiens que justifiquem
25

ser a vida humana superior ou inferior a de outros seres. Para Bentham (apud Singer, 2008) “cada
um conta como um e ninguém como mais de um”.
Desta forma, não se pode afirmar que a vida de um humano vale mais que a vida de outro
humano ou de qualquer outro animal. A vida vale por si mesma. Tem valor intrínseco e por este
motivo não se pode estabelecer, de antemão, valores diferentes a bens iguais, ou seja, à vida.
Enfim e felizmente, a ótica biocêntrica é a tendência da evolução ética e jurídica.
26

2. ESTUDO DO TIPO PENAL AMBIENTAL DO ARTIGO 32, §1°, DA LEI 9.605/98

2.1 TIPICIDADE

Tipicidade é a adequação perfeita da conduta praticada pelo agente a um tipo penal


incriminador, ou, conforme preceitua Munhoz Conde (1998, p. 281),

é a adequação de um fato cometido à descrição que dele se faz na lei penal. Por
imperativo do princípio da legalidade, em sua vertente do nullum crimen sine lege, só os
fatos tipificados na lei penal como delitos podem ser considerados como tal.

Essa subsunção deve ser perfeita, pois, caso contrário, o fato será considerado
formalmente atípico, ou seja, se não houver um encaixe perfeito, não se pode falar em tipicidade.
O tipo penal é uma norma que descreve condutas criminosas em abstrato. Quando
alguém, na vida real, comete uma conduta descrita em um tipo, ocorre a chamada tipicidade.
O tipo penal serve-se de elementares e circunstâncias.
Aquelas são peças fundamentais da figura típica sem as quais o crime não existe. Os
elementos do tipo podem ser classificados em: objetivos ou descritivos – existem concretamente
no mundo e cujo significado não demanda nenhum juízo valorativo –, normativos – não se extrai
da mera observação, depende de uma interpretação – e subjetivos – existe uma finalidade
específica por parte do agente, uma intenção.
Circunstâncias são todos os dados acessórios da figura típica, cuja ausência não a elimina,
apenas influenciam na aplicação da pena.
Há também parte da doutrina que considera a existência de elementos negativos do tipo,
como sendo os elementos constantes no tipo penal que excluem a ilicitude do fato.

A teoria dos elementos negativos do tipo criou o discutido conceito de tipo total de
injusto, que conforme Wessels: “[...] congrega em si todos os elementos
fundamentadores e excludentes do injusto, dos quais depende, tanto em sentido positivo
como negativo, a qualidade do injusto na conduta”. (VIEIRA E ROBALDO, 2007).

Esse “tipo total de injusto” considera que as causas excludentes de ilicitude integram o
tipo penal. Ou seja, o tipo que descreve os fatos proibidos, denominados de tipos provisórios do
27

injusto ou tipos incriminadores, também é composto por descriminantes como dados negativos do
tipo.
A teoria dos elementos negativos do tipo nega autonomia dentro do sistema da dogmática
jurídico-penal às causas excludentes da ilicitude que devem compor a descrição típica (tipos
provisórios do injusto ou tipos incriminadores) como requisitos negativos.
Seria o caso da norma em estudo que estabelece como tipo penal integral a conduta de
realizar experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, quando houver métodos substitutivos.
Todavia não será sempre típica a experimentação em animais, somente quando não
existirem recursos alternativos. A inexistência de técnicas alternativas é, então, elemento
negativo do tipo e integra a descrição do delito.
Entretanto, como essa posição é minoritária na doutrina penal, analisar-se-á as
excludentes de tipicidade e ilicitude mais adiante, conforme a divisão clássica do direito penal.
Passa-se a analisar os elementos objetivos do tipo.

2.1.1 Elementos objetivos do tipo do artigo 32, §1°, da Lei 9605/98

Os elementos objetivos do tipo são aqueles que dizem respeito aos aspectos materiais do
crime. São o verbo nuclear do tipo, o sujeito ativo, o sujeito passivo, o bem jurídico tutelado.
A partir da análise dos elementos objetivos pode-se individualizar a conduta criminosa,
seus agentes, qual o objeto material do crime, ou seja, todas as características descritas no tipo.

2.1.1.1 Bem jurídico tutelado e objeto material do crime

Bem jurídico tutelado é todo o interesse que o Direito entendeu por necessário proteger,
através de suas normas, não necessariamente penais.
Para Francisco Assis Toledo:

Bens jurídicos são valores éticos sociais que o Direito seleciona, com o objetivo de
assegurar a paz social, e coloca sob a sua proteção para que não sejam expostos a perigo
de ataque ou a lesões efetivas.”(TOLEDO, 1994, p. 16).
Os bens são, pois, coisas reais ou objetos ideais dotados de “valor”, isto é, de coisas
materiais e objetos imateriais que, além de serem o que são, “valem”. Por isso são, em
28

geral, apetecidos, procurados, disputados, defendidos, e, pela mesma razão, expostos a


certos perigos e ataques ou sujeitos a determinadas lesões. (op. cit., p. 15).

Para o direito tradicional os animais são coisas, bens apropriáveis, dotados de valor.
Todavia, a partir da Constituição Federal de 1988, os animais passaram a ser protegidos de forma
diversa. A Constituição, no seu artigo 225, inciso VII, protege o animal quando proíbe práticas
que coloquem em risco a função ecológica da fauna ou que provoquem a extinção de espécies.
Protege também a vida e a integridade física e psíquica dos animais, individualmente
considerados, quando veda práticas que submetam os animais à crueldade.
Dessa forma, tanto o animal quanto sua vida e integridade foram erigidas à categoria de
interesses ou bens constitucionais. A partir de então e com o advento da lei dos crimes
ambientais, qualquer ato de crueldade contra animais é considerado antijurídico.
Ou seja, o Direito considerou vida e integridade dos animais bens merecedores de
proteção estatal ao vedar atos de crueldade contra estes seres, tanto na Constituição, quanto em
leis infraconstitucionais, como a Lei 9.605/98.
Nesse sentido, o artigo 32 §1°, da aludida norma, tem como bem jurídico tutelado a vida e
a integridade física e psíquica do animal, que, por consequência, passa a ser considerado sujeito
passivo do crime de vivissecção.

O tipo penal veda determinadas condutas por considerá-las prejudiciais ao bem jurídico;
desse modo pode-se concluir que a normatização criminal existe para defender esses
bens. [...] A tipificação penal manifesta-se para punir as ações que vão de encontro à
preservação dos bens jurídicos. (ALLEGRO, 2005).

Toledo (1994) atenta para a necessária distinção entre bem jurídico tutelado e o objeto
material do crime. O objeto de tutela são valores ético-sociais, já o objeto material do crime são
apenas as coisas materiais que recaem sobre a ação criminosa. Como no exemplo do homicídio,
em que o objeto material é o corpo humano e o bem jurídico é a vida.
Costa assevera que “há casos em que o objeto material e o sujeito passivo acabam por
coincidir, embora suas noções conceituais sejam distintas, o sujeito passivo é o titular do bem
jurídico atingido pela conduta criminosa.”
Nessa esteira, o bem jurídico tutelado no crime de experimentação animal é a integridade
física e psíquica do animal e o objeto material do delito é o animal vivo, objeto da experiência.
Por fim, por ser detentor do bem jurídico protegido, o animal, vítima da experiência, é o sujeito
29

passivo do injusto.

2.1.1.2 Tipo subjetivo: os sujeitos do crime de experimentação animal

O tipo subjetivo subdivide-se em sujeito ativo e passivo do crime.


A norma descreve: “incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel
em animal vivo [...]”.
O sujeito ativo é evidenciado pelo pronome relativo “quem”. Este pronome substitui um
substantivo que representa uma pessoa, um sujeito, evitando sua repetição.
Aquele que realiza experiência dolorosa ou cruel é o sujeito ativo do crime em estudo.
Pode ser qualquer pessoa. Geralmente serão sujeitos ativos os cientistas e os alunos que se
utilizarem de experimentos dolorosos ou cruéis. Porém, como não necessariamente a experiência
deva ter finalidade científica ou didática, qualquer pessoa pode cometer o delito.
Todavia, deve-se ter em vista que as pessoas jurídicas e seus dirigentes também podem
ser sujeitos ativos de crimes ambientais.

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei,
incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor,
o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o
preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de
outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente
conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de
seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas
físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. (sem grifos no original).

A pessoa jurídica pode, então, ser responsabilizada quando a infração cometida for
resultado de decisão do representante da pessoa jurídica, no benefício ou interesse desta
No caso do crime de experimentação animal, as empresas onde testes em animais são
realizados deverão ser responsabilizadas por crime ambiental, nos termos do artigo 32, §1°,
combinado com o artigo 3°, ambos da Lei 9.605/98. Isto porque a realização de experimentos em
animais é ato ilícito que está sendo praticado em benefício da empresa.
Outra possibilidade de responsabilização criminal de pessoa jurídica pode ocorrer quando
uma instituição de ensino tem como método de pesquisa a experiência com animais. Nesse caso,
30

a instituição permite que métodos ilícitos sejam utilizados para a satisfação de seus interesses.
Além disso, também é responsável criminalmente o gerente ou o representante da
empresa, bem como o diretor ou administrador da pessoa jurídica, quando, tendo conhecimento
de que outrem comete crime ambiental dentro da entidade, deixa de impedir o delito, conforme
preceitua o artigo 2°, parte final, da Lei dos Crimes Ambientais, cumulado com o artigo 32, §1°,
do mesmo regramento.
Portanto, o injusto de experimentação animal pode ter como sujeitos ativos: (i) qualquer
pessoa física que praticar o verbo nuclear do tipo – realizar –, (ii) a pessoa jurídica que se
beneficia com a prática do ilícito e (iii) seus representantes que, tendo conhecimento da prática
do ilícito, deixam de impedi-lo.
O sujeito passivo dos crimes ambientais é o detentor do bem jurídico que a conduta
delituosa lesou ou ameaçou. Nos tipos ambientais, em princípio, é fácil visualizar a ofensa ao
interesse de todos os cidadãos e até mesmo da humanidade, já que o Direito Ambiental é também
direito humano fundamental, razão pela qual se destaca como sujeito passivo, a priori, a
coletividade e não o Estado, uma vez que o bem jurídico ambiental não pertence a uma pessoa,
ou a pessoas determinadas e sim à coletividade, nos próprios termos da Constituição Federal, no
já citado artigo 225.
No entanto, nada impede que o delito tenha dois ou mais sujeitos passivos e tal fato ocorre
nos crimes ambientais.
No caso do crime de experimentação animal, apesar de não haver entendimento pacífico
por parte da doutrina, é sujeito passivo o animal vítima da experiência cruel ou dolorosa. Isso
porque, como já mencionado, o bem jurídico tutelado não é o animal, mas sim sua vida e
integridades física e psíquica.
Assim, como o sujeito passivo é o detentor do bem jurídico tutelado, é o animal que tem
sua vida e integridade lesadas.
A grande celeuma envolvendo a consideração dos animais como sujeito passivo de crimes
dá-se em torno da possibilidade de atribuírem-se direitos aos animais, ou seja, de considerá-los
capazes de direitos, sujeitos de direitos. Entretanto, há diversos juristas que consideram essa
atribuição possível.

Como refere Silva (apud ADEDE Y CASTRO, 2006, p. 45), a dogmática jurídica indica
que somente o homem pode ser sujeito de direitos, mas que esta lógica se inverte quando
31

falamos de direito ambiental, que aceita a idéia de que o homem é mero representante
dos animais, em juízo, como acontece com as pessoas jurídicas. Assim, o direito dos
animais, em termos de processo, administrativo ou judicial, é beneficiado pelas mesmas
garantias asseguradas aos homens.

Assim também refere Dias (2006):

Embora os animais não sejam pessoas, sob o ponto de vista jurídico são titulares de
direitos civis e constitucionais, na legislação brasileira, podendo ser, com tais,
considerados sujeitos de direitos. Seus direitos são parcialmente reconhecidos e
tutelados, e podem ser postulados por agentes titulados para esse mister, que agem em
legitimidade substitutiva. No Brasil, essa representação foi atribuída ao Ministério
Público e às sociedades ambientalistas.

No mesmo sentido, Ackel Filho (2001) informa que:

Já se pode afirmar que a norma atribui aos animais uma espécie de personificação, que
os torna sujeitos de direitos dos quais podem gozar e obter a tutela jurisdicional em caso
de violação.

Ademais, Rodrigues (2008, p. 107) igualmente considera os animais como detentores de


direitos.

Os seres vivos devem ter direitos legais assim como são os direitos humanos. Na
realidade, como observa o brilhante filósofo Michel Serres, esse direito sempre existiu
como uma idéia abstrata, da mesma forma da idéia do contrato social que fundou a
Democracia. Ou seja, mesmo aqueles que não possuíam direitos legais, como as
mulheres, as crianças, os povos indígenas, os escravos, em verdade os tinham
abstratamente, mas só passaram a tê-los legalmente com a evolução do sistema jurídico.
Assim ocorrerá com os direitos dos Animais. O quanto antes o ordenamento jurídico os
reconhecer maior será a harmonia entre os seres vivos do planeta, entre o homem e a
Natureza e entre os homens em si.

O animal como sujeito de direitos já é concebido por grande parte de doutrinadores


jurídicos de todo o mundo. Assim como as pessoas jurídicas possuem direitos de personalidade
reconhecidos desde o momento em que registram seus atos constitutivos em órgão competente e
podem comparecer em Juízo para pleitear esses direitos, também os animais tornam-se sujeitos
de direitos subjetivos por força das leis que os protegem. (DIAS, 2006)
Embora não tenham capacidade de comparecer em Juízo para pleiteá-los, o Poder Público
e a coletividade receberam a incumbência constitucional de sua proteção. O Ministério Público
recebeu a competência legal expressa para representá-los em Juízo, quando as leis que os
32

protegem forem violadas. Pode-se então concluir que os animais são sujeitos de direitos, embora
devam ser representados, da mesma forma que ocorre com os seres relativamente ou
absolutamente incapazes, que, entretanto, são reconhecidos como pessoas.

2.1.1.3 Tipo objetivo

O tipo objetivo corresponde à conduta do agente, podendo ser encontrada no verbo


nuclear do injusto. O artigo 32, §1°, da Lei dos crimes ambientais descreve: “Incorre nas mesmas
penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos
ou científicos, quando existirem recursos alternativos”. (sem grifos no original).
Realizar experiência dolorosa ou cruel, portanto, é a conduta delituosa que deve ser
praticada pelo sujeito ativo.
Tal conduta, independente de ser científica, para fins didáticos, ou não, significa utilizar-
se de técnicas empíricas para chegar a resultados esperados. Na ciência, empirismo é
normalmente utilizado quando falamos no método científico tradicional.
O empirismo é uma teoria filosófica que defende o conhecimento da razão, da verdade e
das idéias racionais através da experiência.

Etimologicamente o termo vem do latim experientia, significando prova, ensaio,


tentativa (Instituto Antônio Houaiss, 2001, p.1287), que é a acepção do termo nas
ciências experimentais. O dicionário aponta também o significado de experimentação e
experimento para o termo, na conotação científica. Na filosofia, o dicionário nos informa
que significa "qualquer conhecimento por meio dos sentidos". (Szymanski e Cury,
2004).

Experiência é conceituada pela Lei 11.794/08, nos seguintes termos:

Art. 1 o omissis
§ 2o São consideradas como atividades de pesquisa científica todas aquelas relacionadas
com ciência básica, ciência aplicada, desenvolvimento tecnológico, produção e controle
da qualidade de drogas, medicamentos, alimentos, imunobiológicos, instrumentos, ou
quaisquer outros testados em animais, conforme definido em regulamento próprio.
§ 3o Não são consideradas como atividades de pesquisa as práticas zootécnicas
relacionadas à agropecuária.
Art. 3o Para as finalidades desta Lei entende-se por:
[...]
III – experimentos: procedimentos efetuados em animais vivos, visando à elucidação de
fenônemos fisiológicos ou patológicos, mediante técnicas específicas e preestabelecidas;
33

IV – morte por meios humanitários: a morte de um animal em condições que envolvam,


segundo as espécies, um mínimo de sofrimento físico ou mental.
Parágrafo único. Não se considera experimento:
I – a profilaxia e o tratamento veterinário do animal que deles necessite;
II – o anilhamento, a tatuagem, a marcação ou a aplicação de outro método com
finalidade de identificação do animal, desde que cause apenas dor ou aflição
momentânea ou dano passageiro;
III – as intervenções não-experimentais relacionadas às práticas agropecuárias.

Entretanto, o sentido de experimento da norma penal ambiental é mais amplo, ao passo


que não se limita às experiências para fins didáticos ou científicos, podendo ser considerado
crime a realização de qualquer tipo de experiência dolorosa ou cruel em animais, contanto que
não haja técnicas substitutivas.
Outra problemática que envolve o tipo penal em estudo é a presença de elementos
normativos, que dependem de interpretação do jurista. A experiência tipificada é a dolorosa ou a
cruel. Desta feita, deve-se averiguar o sentido de dor e crueldade a ser utilizado para interpretar a
norma penal ambiental.

2.1.2 Elementos normativos do injusto ambiental

A experiência em animais, para ser típica, deve ser dolorosa e cruel. Dor e crueldade são,
portanto, elementos normativos do tipo penal ambiental e seus conceitos devem ser interpretados
da forma mais adequada aos objetivos da lei protetiva.
O conhecimento existente sobre a dor é baseado nas experiências dos seres humanos.
Entretanto há fortes indícios de que os animais, especialmente os vertebrados possuidores de
sistemas nervosos, sintam dor e possam ser vítimas de práticas cruéis.
A partir da teoria da evolução de Charles Darwin, descobriu-se que o homem e os animais
têm sensações muito próximas, dado que a anatomia, a fisiologia, as respostas farmacológicas, as
reações frentes a um estímulo nocivo e o comportamento de esquiva frente a uma experiência
dolorosa são similares. Darwin enunciou a inexistência de diferenças fundamentais entre o
homem e os animais nas suas faculdades mentais. Assim, tanto os animais, quanto os homens,
demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento.
A dor pode ser definida como “uma sensação pessoal e particular de sofrimento físico; um
estímulo nocivo que indica lesão ou dano tecidual atual ou eminente; um padrão de respostas que
34

atua para proteger o organismo contra o dano" (Sternbach, 1968).


A dor não pode ser observada diretamente a não ser em si mesma, mas se aceita que
certos sinais de comportamentos, tais como gritos e contorções, sejam em geral indícios de que
outros humanos também podem sofrer dor. Os homens podem dizer que estão sofrendo, mas isso
não se aplica no caso de uma pessoa muda, nem de uma criança, nem exclui a possibilidade de
que uma mentira seja dita. Então, de modo geral, a razão para crer que um indivíduo de outra
espécie esteja sofrendo é tão forte quanto a razão para crer que outro indivíduo de nossa espécie
está sentindo dor; isso parece especialmente verdadeiro no caso de animais ‘superiores’, dos
quais se sabe que têm um sistema nervoso muito parecido com o nosso próprio. (RYDER, 2008).
A psicologia considera a existência de três tipos de dor: dor nociceptiva é originada nos
nociceptores mecânicos, térmicos ou químicos junto da área física em que ocorre o estímulo que
a origina; dor neuropática provocada por uma lesão ou uma doença no sistema nervoso e a dor
psicológica de origem emocional, sentida a partir de pequenos estímulos, que são como que
amplificados pelo seu estado emocional de medo, ansiedade, etc
Felipe (2007, p. 73), citando Soma, concatena inúmeros sintomas que evidenciam a dor
em animais, especialmente naqueles que passam por testes e experiências laboratoriais:

Camundongo: aumento do tempo de sono, perda de peso/ desidratação, piloereção e


postura encurvada, auto-isolamento e gritos ao serem tocados; cobaia: vocalização, não-
resistência quando segurados, não-resposta a estímulos, sonolência e não-agressividade
em geral; coelho: diminuição do consumo de água e alimento, olhar dirigido para a parte
de trás da gaiola, movimentos limitados, fotossensibilidade, estoicidade; cão: menos
movimento e reação, inapetência, tremores e respiração difícil, automordedura no local
afetado; primatas não-humanos: pouca reação à dor, aparência miserável, postura
encolhida, expressão triste/evitam companhia, falta de higiene pessoal e inapetência.

Não se pode afirmar também que a anestesia ou a sedação impeçam o sofrimento do


animal utilizado ou afastem a ilicitude da conduta do agente. O experimento muitas vezes não se
restringe ao ato cirúrgico realizado sob pretenso e eficaz efeito anestésico, mas envolve um
angustiante período pré-operatório, a experiência em si (com o animal ainda vivo) e, por vezes, a
observação clínica que pode levar dias, semanas ou meses, até a “eutanásia”6. Ademais, a própria

_______________
6
O termo eutanásia está em destaque porque é utilizado por profissionais técnicos, veterinários, cientistas e até
mesmo por juristas de forma inadequada, quando se trata da interrupção da vida de animais. Eutanásia deve
considerar o interesse maior daquele que morre e não o interesse ou benefício de tal morte para aquele que a causa.
Regan (1985, p. 110 apud FELIPE, 2007, p. 82) estabelece os critérios para a utilização adequada do termo. O
indivíduo deve ser morto por meios indolores; aquele que mata deve acreditar que a morte atende aos interesses de
35

lei ambiental preconiza a adoção dos chamados métodos alternativos (já existentes), de modo que
o uso do animal, mesmo anestesiado, pode configurar crime.
Em artigo de COPORALE, descreve-se a crueldade perpetrada contra animais utilizados
em experiência:

Agli animali gli vengono recise le corde vocali per impedire loro di urlare; vengono
avvelenati, ustionati, accecati, mutilati, congelati, decerebrati, schiacciati, sottoposti a
ripetute scariche elettriche attraverso elettrodi conficcati nel cervello, infettati con
qualsiasi tipo di virus o batterio, ecc. Il 63% di questi esperimenti viene compiuto senza
anestesia, un altro 22% con anestesia solo parziale (dati britannici). [Os animais têm as
cordas vocais cortadas para impedir que urrem, são envenenados, queimados, cegados,
mutilados, congelados, têm seu cérebro retirado, espremidos, submetidos a repetidas
descargas elétricas através de eletrodos fincados no cerebelo, infestados com qualquer
tipo de vírus ou bactéria etc. Os 63% destes experimentos são feitos sem anestesia, os
outros 22% com anestesia apenas parcial (dados britânicos)]. (tradução livre da autora)

A legislação brasileira, assim como outras no mundo, reconhece a crueldade implícita na


atividade experimental envolvendo animais, tanto que se apressou em buscar alternativas para
evitar o sofrimento destes seres.
A Itália também estabeleceu a excepcionalidade da utilização de animais em
experimentos, que só poderá ser empregada quando não houver métodos substitutivos. Assim
dispõe o artigo 4 do Decreto Legislativo 116/92:

Art. 4.
1. Gli esperimenti di cui all'art. 3 possono essere eseguiti soltanto quando, per ottenere il
risultato ricercato, non sia possibile utilizzare altro metodo scientificamente valido,
ragionevolmente e praticamente applicabile, che non implichi l'impiego di animali. (Os
experimentos do artigo 3 somente podem ser realizados, para obter o resultado desejado,
não sendo possível utilizar outro método cientificamente válido, razoável e praticamente
aplicável, que não implique o emprego de animais.) (tradução livre da autora)

Além disso, a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, de 1978 estabelece no
artigo 3° que “nenhum animal será submetido a mau trato e a atos cruéis” e que “se a morte de
um animal for necessária, deve ser instantânea, sem dor nem angústia”. Preceitua ainda, no artigo
8°, que “a experimentação animal, que implica um sofrimento físico, é incompatível com os
direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra”.

quem morre e a motivação para a eutanásia não deve ter vínculo com qualquer interesse ou benefício de quem mata.
Assim, a morte do animal depois de sua utilização em experimentos nada tem de eutanásia, é apenas a morte
intempestiva de um ser que serviu de cobaia para satisfazer o interesse de outrem.
36

O Decreto n° 24.645/34 – Código de Defesa dos Animais – concatena uma série de


atitudes humanas consideradas maus-tratos e crueldade contra animais. Importante frisar que este
artigo é apenas exemplificativo, pois, como disse Adede y Castro (2006, p. 82), “o homem tem
uma capacidade extraordinária de criar novas formas de praticar tipos diferentes de crueldade”.
São exemplos de crueldade contra animais, in verbis:

Art. 3. - Consideram-se maus tratos:


I – Praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal;
II - Manter animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a respiração, o
movimento ou o descanso, ou os privem de ar ou luz;
III - Obrigar animais a trabalhos excessivos ou superiores às suas forcas e a todo ato que
resulte em sofrimento para deles obter esforços que, razoavelmente não se lhes possam
exigir senão com castigo
IV - Golpear, ferir ou mutilar voluntariamente qualquer órgão ou tecido de economia,
exceto a castração, só para animais domésticos, ou operações outras praticadas em
beneficio exclusivo do animal e as exigidas para defesa do homem, ou no interesse da
ciência;
V - Abandonar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem como deixar de
ministrar-lhe tudo o que humanitariamente se lhe possa prover, inclusive assistência
veterinária;
VI – Não dar morte rápida, livre de sofrimento prolongado, a todo animal cujo
extermínio seja necessário para o consumo ou não;
VII - Abater para o consumo ou fazer trabalhar os animais em período adiantado de
gestação;
VIII - Atrelar num mesmo veículo, instrumento agrícola ou industrial, bovinos com
suínos, com muares ou com asinos, sendo somente permitido o trabalho em conjunto a
animais da mesma espécie;
IX - Atrelar animais a veículos sem os apetrechos indispensáveis, como sejam balancins,
ganchos e lanças ou com arreios incompletos;
X - Utilizar em serviço animal cego, ferido, enfermo, extenuado ou desferrado sendo que
este último caso somente se aplica a localidades com ruas calçadas;
XI - Acoitar, golpear ou castigar por qualquer forma a um animal caído sob o veículo ou
com ele, devendo o condutor desprendê-lo para levantar-se;
XII - Descer ladeiras com veículos de reação animal sem a utilização das respectivas
travas, cujo uso é obrigatório;
XIII - Deixar de revestir com couro ou material com idêntica qualidade de proteção as
correntes atreladas aos animais de arreio;
XIV - Conduzir veículo de tração animal, dirigido por condutor sentado, sem que o
mesmo tenha boléia fixa e arreios apropriados, como tesouras, pontas de guia e retranca;
XV- Prender animais atrás dos veículos ou atados a caudas de outros;
XVI - Fazer viajar um animal a pé mais de dez quilômetros sem lhe dar descanso, ou
trabalhar mais de seis horas contínuas, sem água e alimento;
XVII - Conservar animais embarcados por mais de doze horas sem água e alimento,
devendo as empresas de transporte providenciar, sobre as necessárias modificações no
seu material, dentro de doze meses a partir desta lei;
XVIII - Conduzir animais por qualquer meio de locomoção, colocados de cabeça para
baixo, de mãos ou pés atados, ou de qualquer outro modo que lhes produza sofrimento;
XIX - Transportar animais em cestos, gaiolas, ou veículos sem as proporções necessárias
ao seu tamanho e número de cabeças, e sem que o meio de condução em que estão
encerrados esteja protegido por uma rede metálica ou idêntica que impeça a saída de
qualquer membro do animal
37

XX - Encerrar em curral ou outros lugares animais em número tal que não lhes seja
possível moverem-se livremente, ou deixá-los sem água ou alimento por mais de doze
horas;
XXI - Deixar sem ordenhar as vacas por mais de vinte e quatro horas, quando utilizadas
na exploração de leite;
XXII - Ter animal encerrado juntamente com outros que os aterrorizem ou molestem;
XXIII - Ter animais destinados á venda em locais que não reúnam as condições de
higiene e comodidade relativas;
XXIV- Expor nos mercados e outros locais de venda, por mais de doze horas, aves em
gaiolas, sem que se faca nestas a devida limpeza e renovação de água e alimento;
XXV - Engordar aves mecanicamente;
XXVI - Despelar ou depenar animais vivos ou entregá-los vivos à alimentação de outros;
XXVII - Ministrar ensino a animais com maus tratos físicos;
XXVIII - Exercitar tiro ao alvo sobre pombos, nas sociedades, clubes de caça, inscritos
no Serviço de Caça e Pesca;
XXIX - Realizar ou promover lutas entre animais da mesma espécie ou de espécie
diferente, touradas e simulacros de touradas, ainda mesmo em lugar privado;
XXX - Arrojar aves e outros animais nas caças e espetáculos exibidos para tirar sorte ou
realizar acrobacias;
XXXI – Transportar, negociar ou caçar em qualquer época do ano, aves insetívoras,
pássaros canoros, beija-flores e outras aves de pequeno porte, exceção feita das
autorizações para fins científicos, consignadas em lei anterior;

Urge ressaltar que o inciso IV deste artigo, além de outros que aqui não serão referidos,
está revogado, pois é vedado constitucionalmente ferir e mutilar animais (atos cruéis), além de
ser crime realizar experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, havendo métodos alternativos,
ou seja, nem mesmo em “benefício da ciência” é possível praticar tais atos.
Outro dispositivo que veda a crueldade em animais é o artigo 64 da Lei das
Contravenções Penais (Decreto-Lei n°3.688/41), que será analisado mais adiante, para verificar a
sua vigência ou revogação pela Lei dos Crimes Ambientais.

2.1.3 Elemento subjetivo do tipo penal ambiental

O elemento subjetivo do tipo corresponde à intenção do agente ao praticar a conduta


descrita como crime. Diz-se que este elemento está implícito na descrição do injusto, já que para
considerar a conduta como típica, o agente deve praticá-la dolosamente. São elementos subjetivos
do tipo o dolo e a culpa.
Não é punível a modalidade culposa no tipo em estudo, apenas sua modalidade dolosa.
Dessa forma, o sujeito ativo deve realizar o experimento em animais, com a vontade dirigida para
este fim.
O dolo é formado por um elemento intelectual – a consciência – e por um elemento
38

volitivo – a vontade de agir –, ou seja, significa a vontade livre e consciente de querer praticar
uma conduta descrita na norma penal incriminadora. Assim, bastará apenas que o agente queira a
realização dos componentes objetivos do tipo no caso concreto e saiba exatamente o que faz, para
que se lhe possa atribuir o resultado lesivo.
Verificados todos os elementos constitutivos do tipo, deve-se analisar agora hipótese de
excludente de tipicidade inserida no corpo do parágrafo e que limita a existência do crime quando
houver técnicas e métodos que substituam o modelo animal.

2.1.4 Existência de técnicas alternativas como condição para tipificar a experimentação


animal

A Lei 9.605/98, como assinalado, criminaliza a conduta de realizar experimentos em


animais vivos, mesmo que para fins científicos, quando houver técnicas substitutivas. É, então,
conditio sine qua non para que a experiência seja ato típico, a existência de técnicas alternativas
capazes de substituir o modelo animal, caso contrário, a conduta do agente será atípica.
Inicialmente, cabe ressaltar que métodos alternativos são todos aqueles que não utilizam
animais vivos para a realização de pesquisa ou experimento. Não se inclui neste rol a utilização
de anestésicos.
Existem inúmeros métodos científicos que prescindem do uso de animais vivos. A seguir,
citar-se-ão algumas possibilidades de substituição do modelo animal que já estão em uso e são
eficazes para obterem-se os resultados pretendidos em pesquisas e ensino. Para tanto, utilizar-se-á
lição de Levai, que em ação civil pública, concatenou diversas técnicas substitutivas:

Convém relacionar aqui, a título exemplificativo, alguns dos mais conhecidos recursos
alternativos que se ajustam ao propósito do legislador – muitos deles citados no
periódico Alternative to Animals e no livro From Guinea Pig to Computer Mouse, da
International Network for Humane Education (InterNICHE) - a saber:
Sistemas biológicos in vitro (cultura de células, tecidos e órgãos passíveis de utilização
em genética, microbiologia, bioquímica, imunologia, farmacologia, radiação,
toxicologia, produção de vacinas, pesquisas sobre vírus e sobre câncer);
Cromatografia e espectrometria de massa (técnica que permite a identificação de
compostos químicos e sua possível atuação no organismo, de modo não-invasivo);
Farmacologia e mecânica quânticas (avaliam o metabolismo das drogas no corpo
humano;
Estudos epidemiológicos (permitem desenvolver a medicina preventiva com base em
dados comparativos e na própria observação do processo das doenças);
Estudos clínicos (análise estatística da incidência de moléstias em populações diversas);
39

Necrópsias e biópsias (métodos que permitem mostrar a ação das doenças no organismo
humano);
Simulações computadorizadas (sistemas virtuais que podem ser usados no ensino das
ciências biomédicas, substituindo o animal);
Modelos matemáticos (traduzem analiticamente os processos que ocorrem nos
organismos vivos);
Culturas de bactérias e protozoários (alternativas para testes cancerígenos e preparo de
antibióticos);
Uso da placenta e do cordão umbilical (para treinamento de técnica cirúrgica e testes
toxicológicos);
Membrana corialantóide (teste CAME, que se utiliza da membrana dos ovos de galinha
para avaliar a toxicidade de determinada substância);
Pesquisas genéticas (estudos com DNA humano, como se verifica no Projeto Genoma),
etc.

Ainda, segundo o referido autor:

Nos EUA, mais de 70% das faculdades de Medicina não utilizam animais vivos,
enquanto que na Alemanha - segundo a professora Júlia Maria Matera, presidente da
comissão de bioética da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP -
nenhuma instituição o faz (boletim Notícias da Arca - Informativo Arca Brasil -
Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal, número 03, 2001, In LEVAI
e RALL, 2007).

Na Itália, o uso de animais em experimentos é regulamentado pelo decreto legislativo nº


116, de 27-01-1992, que incorpora a diretiva EEC n° 86/609/CEE, referido alhures. A outra lei
italiana que regulamenta o uso de animais no ensino é a de nº 413, de 12-10-1993 – Regras para a
Objeção de Consciência na Experimentação Animal. Tal norma obriga as universidades a
proporcionar aos estudantes métodos de ensino que não envolvam o uso de animais.
Assim, como consequência lógica da aplicação das normas, já que ambas são plenamente
válidas e eficazes, as universidades estão abolindo o uso de animais em seus laboratórios. Pois as
instituições devem proporcionar aos estudantes o acesso a modelos não animais em laboratório e,
existindo tais métodos alternativos, o uso de animais não deve ser permitido, de acordo com o
decreto nº 116.
Apenas para ilustrar, trazem-se à baila as declarações de umas dentre as 103 faculdades
(de Medicina, Biologia, Farmácia e Medicina Veterinária) italianas que eliminaram o uso de
animais em experimentos:

Universidade de Veterinária de Pisa: “É possível realizar o ensino usando métodos


práticos que não envolvam a produção de condições patológicas em animais e/ou a
morte de animais saudáveis.”
40

Universidade de Farmácia de Pávia: “É possível e se comprovou com sucesso que as


práticas didáticas tradicionais com animais podem ser substituídas por métodos que não
envolvam o uso de animais vivos ou sua morte.”
Universidade de Ciências de Modena: “É possível substituir o uso de práticas
educacionais com animais por outras que não envolvam o uso de animais vivos ou
mortos, e que são também economicamente mais baratas.”
Universidade de Veterinária de Parma: “Está demonstrada a validade dos métodos
alternativos.”
Universidade de Veterinária de Messina: “Os métodos alternativos são válidos e úteis
tanto para fins culturais como profissionais”.
Universidade de Veterinária de Milão: “Vídeos e CD-Roms são alternativas válidas
ao material biológico procedente de animais vivos”.
Universidade de Veterinária de Pádua: “As metodologias alternativas são modernas,
de bom nível científico e adequadas às necessidades européias.”
Universidade de Veterinária de Teramo: “Os métodos alternativos são, sem dúvida,
eficientes para a educação.”

No Brasil, algumas universidades já substituíram o modelo animal. Como exemplos


citam-se: os cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP adotam o método de Laskowski
(consistente no treinamento de técnica cirúrgica em animais que tiveram morte natural); a
UNIFESP utiliza um protótipo (rato) de PVC nas aulas de microcirurgia, desde 2002; a UnB
emprega a simulação computadorizada no programa de farmacologia básica do sistema nervoso
autônomo; a FMUZ que realiza pesquisas em células vivas, no departamento de patologia; o
curso de Medicina da UFRGS conta com um laboratório para as aulas práticas de técnica
operatória com simuladores plásticos e sangue artificial.
Como conclusão, pode-se afirmar que já existem bastantes técnicas que podem, a
contento, substituir o uso de animais em pesquisas e no ensino. Desta feita, todos os
experimentos feitos em animais, no Brasil, que tem um substitutivo à altura, devem ser
considerados ilegais. Ou seja, havendo universidades conceituadas que aboliram o uso de animais
em sala de aula, não há necessidade de utilizar-se, para o mesmo propósito, o modelo animal.
Além de desnecessário, o experimento torna-se ilícito, ao passo que a lei tipifica a conduta
de realizar vivissecção, quando houver técnicas alternativas.
Assim, para excluir a tipicidade, o agente deve comprovar a inexistência de meios
alternativos à pesquisa em animais.

2.2 ILICITUDE E SUAS EXCLUDENTES

A tipicidade (conduta abstratamente descrita na norma como criminosa) é indício de


41

ilicitude. Significa dizer que todas as condutas típicas presumem-se ilícitas.


Ilicitude é a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, pela qual a ação ou
omissão típicas são também ilícitas. Assim, todo ato típico tem caráter indiciário de ilicitude e,
por tal característica, a antijuridicidade deve ser analisada por exclusão. Deve-se, portanto,
considerar que todo ato típico também será ilícito se não incidir nenhuma das causas excludentes
de ilicitude.
Por esta razão, a ilicitude é sempre estudada concomitantemente às suas excludentes, pois,
não existindo excludente, o fato necessariamente será ilícito.
São causas que excluem a ilicitude: estado de necessidade, legítima defesa, estrito
cumprimento do dever legal e exercício regular de direito.
A legítima defesa e o estrito cumprimento do dever legal até podem ser levantados como
argumento de defesa, se seus requisitos estiverem presentes; no entanto, são de difícil aplicação
nos crimes ambientais. As excludentes em regra argüidas nesta espécie de delitos são o estado de
necessidade e o exercício regular de direito.
O primeiro geralmente é suscitado nos crimes de caça, para alimentação e sustento
próprio, ou no caso de desmatamento de área protegida, pelo mesmo argumento. Todavia não há,
via de regra, como se caracterizar o estado de necessidade no crime de experimentação animal,
tendo em vista os requisitos para sua caracterização, quais sejam, existência de perigo atual não
provocado pelo agente, bem jurídico do agente ou de terceiro em risco, inexigibilidade de
sacrifício do bem jurídico em perigo.
No caso do estado de necessidade, há uma escolha entre bens jurídicos, o que deve ser
sacrificado em detrimento do que deve ser protegido, sendo que ambos são tutelados pelo direito.
Poder-se-ia dizer que o agente escolheu lesar o bem jurídico integridade física do animal
para salvar o bem jurídico saúde humana.
Todavia não existe perigo atual a um bem jurídico específico que justifique o sacrifício da
integridade física ou psíquica do animal, tendo em vista que a experimentação e a pesquisa são
procedimentos que buscam descobrir curas e medicamentos de doenças e males existentes, mas
que não atingem uma pessoa em especial. É um mal (dano, ou perigo de dano) genérico e
abstrato, não se podendo especificar qual o detentor do bem jurídico que será salvo.
Além disso, a inexigibilidade de sacrifício do bem jurídico nunca será causa de exclusão
de ilicitude, mas de tipicidade, já que, se imprescindível a realização de determinada pesquisa e
42

existindo outro meio de ser realizada que não em animais, será típica e ilícita, pois não se pode
exigir o sacrifício da integridade física do animal.
Por outro lado, sendo necessária a realização de certo experimento e não existindo técnica
que substitua o modelo animal, a conduta será atípica, prescindindo da análise da ilicitude.
Outra excludente de ilicitude que poderia ser levantada pela defesa é o exercício regular
de direito. Tal discriminante pressupõe uma faculdade de agir concedida pelo ordenamento
jurídico a alguma pessoa, pelo que a prática de uma ação típica não configuraria um ilícito.
São exemplos de exercício regular de direito: lesões ocorridas na prática de esportes
violentos, desde que toleráveis e dentro das regras do esporte; intervenções médicas e cirúrgicas,
havendo consentimento do paciente; uso de ofendículos, mecanismos defensivos da propriedade,
como cerca elétricas, cacos de vidro do muro.
Em qualquer caso, não se pode ultrapassar os limites que a ordem jurídica impõe ao
exercício do direito, sob pena de incorrer no ilícito penal cominado.
No caso do crime de experimentação animal, o agente poderia alegar que realizou a
vivissecção dentro do exercício regular de seu direito, referindo que cumpriu todas as exigências,
por exemplo, da Lei Arouca (Lei 11.794/08). Entretanto, o ordenamento jurídico somente lhe
concede “direito” de realizar experimentos em animais, quando não houver métodos alternativos.
Assim, somente estará agindo dentro de sua esfera de direitos quando não existir nenhuma
técnica substitutiva ao uso do animal e se realizar o ensaio obedecendo todas as normas que
regulamentam a atividade.

2.3 CULPABILIDADE

A culpabilidade é o juízo de reprovação feito sobre alguém que praticou fato típico e
ilícito (crime). Ou seja, depois de verificada a ocorrência de um fato típico (conduta estritamente
adequada ao tipo penal descrito) e ilícito (conduta contrária ao ordenamento jurídico e
inexistência de quaisquer causas descriminantes) passa-se à análise da culpabilidade
(possibilidade de punir o agente).
Para a apreciação da culpabilidade, existem três elementos que devem estar plenamente
caracterizados para que ao agente possa ser cominada uma pena.
São eles: a imputabilidade (capacidade de compreender o caráter ilegal de sua conduta e
43

possibilidade de agir conforme o direito), potencial consciência da ilicitude do fato e a


inexigibilidade da conduta diversa.
Para Gomes (2003), “a tendência na atualidade é afirmar que a culpabilidade tem por base
a possibilidade de todo indivíduo psiquicamente normal de orientar seu comportamento conforme
o Direito, isto é, conforme a conduta imposta pela norma imperativa.” Refere ainda que:

Quem, podendo agir de modo distinto, viola essa norma, é culpável. Culpável, destarte, é
o agente que podia comportar-se de modo diferente, que podia agir de forma distinta e
não agiu.
A exigibilidade de conduta diversa, como se vê, reflete a essência do conceito de
culpabilidade que, quando enfocada como juízo de reprovação ou de censura, tem como
objeto justamente a valoração concreta sobre se o agente podia (ou não) agir (comportar-
se) de modo distinto. (op.cit.)

Tal como na análise da ilicitude, a verificação da culpabilidade se dá por exclusão.


Assim, será imputável todo aquele que não for considerado inimputável (o agente que, por
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento e os menores de 18 anos).
Se imputável, deve-se inferir se era possível exigir do sujeito que ele agisse de forma
diversa. Esta excludente de culpabilidade implica verificar a situação em que o delito foi
cometido, se no momento do ato ele estava sob influência de coação irresistível ou em estrita
obediência de ordem hierárquica. Em caso de resposta afirmativa a este questionamento, o agente
ficará isento de pena.
Por fim, há a exigência da potencial consciência da ilicitude. Para merecer uma pena, o
sujeito deve ter agido na consciência de que sua conduta era ilícita. Se não detiver o necessário
conhecimento da proibição (que não se confunde com desconhecimento da lei, o qual é
inescusável), sua ação ou omissão não terá a mesma reprobabilidade.
A errada compreensão de uma determinada regra legal pode levar o agente a supor que
certa conduta injusta seja justa. Nesse caso, surge o erro de proibição. O sujeito, diante de uma
dada realidade que se lhe apresenta, interpreta mal o dispositivo legal aplicável à espécie e acaba
por achar-se no direito de realizar uma conduta que, na verdade, é proibida.
O erro de proibição pode ser inevitável ou escusável quando o agente não tinha como
conhecer a ilicitude do fato, em face das circunstâncias do caso concreto. Se não tinha como
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saber que o fato era ilícito, é inexistente a potencial consciência da ilicitude, logo, esse erro exclui
a culpabilidade e o agente fica isento de pena.
Pode ser, todavia, evitável ou inescusável quando, embora o agente desconhecesse que o
fato era ilícito, ele tinha condições de saber, dentro das circunstâncias, que contrariava o
ordenamento jurídico. Se ele tinha possibilidade, isto é, potencial para conhecer a ilicitude do
fato, possuía a potencial consciência da ilicitude e será punido.
No caso do crime de experimentação animal, o agente pode não ter consciência do ilícito,
porque não procurou informar-se, convenientemente, para o exercício de profissão ou atividade.
Aqui o dever cívico de conhecimento da norma jurídica é plenamente exigível, o que não exclui a
culpabilidade.

2.4 FORMA MAJORADA DO CRIME DE VIVISSECÇÃO

Há ainda a forma majorada do crime de maus-tratos e experimentação animal.


Estabelece o artigo 32, §2°, da Lei 9.605/98: “A pena é aumentada de um sexto a um
terço, se ocorre morte do animal.”
Trata-se de majorante dos crimes do artigo 32 e do seu §1°. Isso porque sobrevindo a
morte do animal, houve a lesão a mais de um bem jurídico tutelado, quais sejam: a integridade
física e psíquica do animal e sua vida.

2.5 CRIME DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL E OUTRAS LEGISLAÇÕES

Ao estudar o crime de experimentação animal, não se pode olvidar que existem


legislações no ordenamento jurídico que tratam sobre o tema. Tais leis devem ser analisadas e
confrontadas com a Lei dos Crimes Ambientais, de modo a encontrar a melhor interpretação para
tais normas, a fim de manter a coesão e unidade da ordem jurídica nacional.
A primeira lei a tratar do tema experimentação animal é a Lei das Contravenções Penais
(Decreto-Lei n°3.688/41), no seu artigo 64, a seguir transcrito:
45

Artigo 64. Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo: Pena -
prisão simples, de dez dias a um mês, ou multa, de cem a quinhentos mil réis.
§ 1º Na mesma pena incorre aquele que, embora para fins didáticos ou científicos,
realiza em lugar público ou exposto ao publico, experiência dolorosa ou cruel em animal
vivo.
§ 2º Aplica-se a pena com aumento de metade, se o animal é submetido a trabalho
excessivo ou tratado com crueldade, em exibição ou espetáculo público.

Tal dispositivo, consoante posição majoritária da doutrina, foi revogado pelo artigo 32 da
Lei dos Crimes Ambientais, vez que esta norma trata de matéria de forma mais ampla, além de
ser norma mais recente.
Já a Lei 6.638/79 estabelecia normas para a prática didático-científica da vivissecção. Tal
norma assim dispunha:

Art 1º - Fica permitida, em todo o território nacional, a vivissecção de animais, nos


termos desta Lei.
Art 2º - Os biotérios e os centros de experiências e demonstrações com animais vivos
deverão ser registrados em órgão competente e por ele autorizados a funcionar.
Art 3º - A vivissecção não será permitida:
I - sem o emprego de anestesia;
Il - em centro de pesquisas e estudos não registrados em órgão competente;
Ill - sem a supervisão de técnico especializado;
IV - com animais que não tenham permanecido mais de quinze dias em biotérios
legalmente autorizados;
V - em estabelecimentos de ensino de primeiro e segundo graus e em quaisquer locais
frequentados por menores de idade.

A Lei 11.794/08 expressamente revogou a Lei 6.638/79. Todavia, esta norma já havia
sido tacitamente revogada pelo artigo 32,§1°, da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/98),
tendo em vista que a vivissecção fora criminalizada.
Entretanto, com a promulgação da Lei 11.794, em outubro de 2008, questionou-se acerca
da (i)legalidade da experimentação animal e da (in)constitucionalidade de tal norma.
A mencionada legislação regulamenta a criação e a utilização de animais em atividades de
ensino e pesquisa científica, em todo o território nacional, cria o Conselho Nacional de Controle
de Experimentação Animal, estabelece a obrigatoriedade da criação de Comissões de Ética no
Uso de Animais e comina penalidades administrativas para as instituições que descumprirem os
termos da referida lei.
Na ementa da Lei Arouca, refere-se que o objetivo da norma é regulamentar o artigo 225,
§1º, inciso VII (proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à
46

crueldade) da Constituição Federal.


Significa dizer que tal norma visa a regulamentar as práticas de experimentação animal a
fim de que estas se coadunem com a intenção constitucional, qual seja não submeter animais à
crueldade.
Deve-se atentar, todavia, que a referida lei não descriminaliza a experimentação animal,
tal qual foi tipificada na Lei 9.605/98. Impera interpretar as regras de modo a evitar antinomias.
Já que não houve revogação de nenhuma das duas normas, que são de mesma hierarquia e para
que a Lei 11.794 não seja considerada inconstitucional, ela deve ser utilizada de forma
subsidiária.
Significa dizer que tal norma regulamenta apenas as experimentações em animais atípicas,
ou seja, aquelas em que o cientista não dispõe de nenhuma técnica substitutiva ao modelo animal,
sendo inevitável a utilização da vivissecção.
Este é também o entendimento de Lourenço, em entrevista concedida ao IHU (Instituto
Humanitas Unisinos):

As leis de controle de uso de cobaias no mundo tendem a adotar a filosofia dos 3R’s
(Replacement, Reduction, e Refinement). Sob esse prisma, são tidos como métodos
alternativos todos os que se propõem a reduzir o número de animais utilizados para a
execução de um determinado experimento, diminuir o sofrimento animal por meio do
refinamento da técnica e da completa substituição do uso de animais por outros métodos.
A meu juízo, somente a última espécie se coaduna com o que dispõe o § 1º do art. 32 da
Lei n. 9.605/98. No entanto, contaminados por uma filosofia cartesiana, o
experimentador é comumente dessensibilizado ante o sofrimento de seus pacientes. A
dor e o sofrimento em sentido amplo são manifestações primariamente orgânicas que se
revelam igualmente relevantes tanto em humanos quanto em não humanos. Não há
qualquer razão do ponto de vista científico ou moral para que consideremos que esses
estados negativos menos importantes quando sentidos por animais não-humanos. É
somente por um especismo ordinário, tão simplório quanto o racismo mais descarado,
que vedamos aos animais o acesso a essa esfera mínima de garantias e de igual
consideração de interesses. (sem grifos no original)

Outra forma de interpretação levaria ao absurdo de uma lei regulamentar atividade ilícita,
proibida pelo ordenamento jurídico, o que, sabe-se, não é possível.
Uma decorrência desta interpretação é a possibilidade de responsabilizar a comissão de
ética que autorizar a realização de experimento em animais, quando existir método substitutivo,
caso em que tal órgão estará autorizando a prática de ilícito criminal ambiental.
Importante ressaltar que a culpabilidade tradicional do direito penal só pode ser atribuída
às pessoas físicas, já que somente a estas pode ser atribuída a responsabilidade pela prática de um
47

fato típico.
Todavia, a Constituição Federal criou no § 3º, do art. 225, um dispositivo que “afronta
diretamente toda a construção histórica feita pela doutrina em torno da culpabilidade.” (CINTRA
JUNIOR, 1998)
Assim dispõe o referido artigo: “§3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independente da obrigação de reparar os danos causados.”
Para responsabilizar-se um ente personificado, como a pessoa jurídica, não se deve levar
em conta o caráter subjetivo da culpabilidade, mas sim um parâmetro novo e objetivo
denominado de juízo de reprobabilidade. Tal critério consiste em um conjunto de manifestações e
atos concretos que ensejam um comportamento reprovável por parte de determinado ente, no
sentido da prática de ilícitos penais ou infrações administrativas.
48

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este estudo, pretendeu-se estudar o crime de experimentação animal, tipificado no


Brasil. Em que pese a previsão deste ilícito, inúmeros experimentos são realizados diariamente no
país, mesmo existindo diversas técnicas que substituem o uso de animais em pesquisas.
Foi necessária a análise da legislação existente e todos os elementos constitutivos do
crime de vivissecção. Foram conceituadas as concepções antropocêntrica e biocêntrica e
verificou-se que, para realizar o objetivo da lei, esta é a melhor matriz.
Os animais devem ser considerados os destinatários (sujeitos) destas normas protetivas,
assim como o objeto da proteção deve passar a ser a vida e a integridade do animal, não o próprio
animal, como objeto de direito.
A tutela da vida dos animais, de forma imediata, como objetivo da lei ambiental, sem que
os homens devam diretamente beneficiar-se dessa proteção, é reflexo da visão biocêntrica, em
que a vida (independente da espécie) é o centro das preocupações.
Somente a partir desta ótica os animais serão realmente protegidos e a exploração, de que
hoje são vítimas, terá seu fim. O ideal é encontrar nas semelhanças os motivos para a igual
consideração moral e visualizar nas diferenças a necessidade da proteção.
Assim, uma ruptura dos paradigmas atuais deve ocorrer. O antropocentrismo não é a visão
adequada para garantir a proteção dos animais.
As leis que garantem esta tutela já existem, mas a interpretação que delas é feita é que
pode mudar a realidade ou ajudar a mantê-la.
Por derradeiro, a partir da interpretação dada ao tipo penal do artigo 32, §1°, da Lei dos
Crimes Ambientais neste estudo, é possível reduzir, ou mesmo abolir, a crueldade perpetrada
contra os animais diariamente em laboratórios e salas de universidades, punindo-se de forma
efetiva os agentes que insistem em descumprir as normas instituídas.
Além disso, tal entendimento será capaz de fomentar a criação e aprimoramento de
técnicas substitutivas, garantindo a evolução científica e também moral.
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