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CAMPUS CURITIBA
ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO SOCIOAMBIENTAL
CURITIBA
2010
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CURITIBA
2010
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_______________________________________
Profª.Danielle Tetü Rodrigues.
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
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RESUMO
SINTESI
Parole Chiave: Legge dei Reati Ambientali; Tecniche Alternativi; Reato di Esperimentazione
Animale.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 7
1. EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL NO BRASIL: EVOLUÇÃO LEGISLATIVA E
DOUTRINÁRIA. ......................................................................................................................... 10
1.1 DESENVOLVIMENTO DA PROTEÇÃO ANIMAL NO DIREITO BRASILEIRO ........... 11
1.2 TRATAMENTO DOUTRINÁRIO ATUAL SOBRE O CRIME DE EXPERIMENTAÇÃO
ANIMAL: BREVES CONSIDERAÇÕES .................................................................................... 15
1.2.1 Do Antropocentrismo ao Biocentrismo, as concepções que informam o Direito
Ambiental ..................................................................................................................................... 17
1.2.1.1 Da visão antropocêntrica ................................................................................................ 18
1.2.1.2 Da concepção biocêntrica ................................................................................................ 21
2. ESTUDO DO TIPO PENAL AMBIENTAL DO ARTIGO 32, §1°, DA LEI
9.605/98. ........................................................................................................................................ 26
2.1 TIPICIDADE ........................................................................................................................... 26
2.1.1 Elementos objetivos do tipo do artigo 32, §1°, da Lei 9605/98 ....................................... 27
2.1.1.1 Bem jurídico tutelado e objeto material do crime ........................................................ 27
2.1.1.2 Tipo subjetivo: os sujeitos do crime de experimentação animal ................................. 29
2.1.1.3 Tipo objetivo .................................................................................................................... 32
2.1.2 Elementos normativos do injusto ambiental .................................................................... 33
2.1.3 Elemento subjetivo do tipo penal ambiental .................................................................... 37
2.1.4 Existência de técnicas alternativas como condição para tipificar a experimentação
animal ........................................................................................................................................... 38
2.2 ILICITUDE E SUAS EXCLUDENTES ................................................................................. 40
2.3 CULPABILIDADE ................................................................................................................. 42
2.4 FORMA MAJORADA DO CRIME DE VIVISSECÇÃO ..................................................... 44
2.5 CRIME DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL E OUTRAS LEGISLAÇÕES ....................... 44
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 49
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INTRODUÇÃO
Durante todo o trabalho, reforça-se a idéia de que o crime de experimentação animal deve
ser interpretado de acordo com a Constituição Federal e, nos termos da Lei dos Crimes
Ambientais, deve-se abolir o uso de animais em experimentos, na medida em que mais técnicas
substitutivas sejam criadas.
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Pelo que se depreende do novo texto legal, as pesquisas científicas ou didáticas ficaram
agora condicionadas à inexistência dos chamados "recursos alternativos", caso contrário
o cientista poderá responder a processo-crime. Entende-se por alternativo todo método
ou procedimento capaz de substituir o uso de animais em pesquisas. Considerando que
as técnicas alternativas à experimentação animal já existem - dentro e fora do País -
dependendo seu desenvolvimento e execução apenas da boa vontade dos pesquisadores,
aqueles que realizarem experimentos dolorosos ou cruéis em animais vivos estão sujeitos
às penas da lei.
Dentro do conceito de meio ambiente estão englobadas “todas as formas de vida” e, neste
aspecto, estão sob proteção do Direito Ambiental, inclusive sob o manto constitucional, os
animais.
Assim dispõe o inciso VII do primeiro parágrafo do artigo 225 da Constituição Federal:
Artigo 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
(negritou-se)
§1º - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Público:
[...] omissis
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à
crueldade.
O meio ambiente em sua totalidade é objeto de proteção do Direito Ambiental, ora como
macro-bem, unitário e complexo, ora como micro-bem, individualmente tutelado. Neste contexto,
protege-se a fauna, a fim de garantir o equilíbrio ecológico mencionado no artigo 225 da Carta
Política.
A proteção dada aos animais, incorporada na Constituição Federal carrega o sentido de (i)
evitar a extinção das espécies; (ii) coibir práticas que coloquem em risco a função ecológica da
fauna; e (iii) garantir que os animais não sejam submetidos à crueldade.
Note-se que estas são garantias constitucionais, que visam a proteger os animais de forma
direta (e não reflexa como em outras normas). Seguindo-se este raciocínio, protegendo as
espécies, evitando tratamentos cruéis, está-se garantindo a vida e a integridade dos animais. Deste
modo, a sadia qualidade de vida não se restringe apenas à espécie humana.
Ora, qual o benefício imediato para o homem (ou o reflexo imediato na sadia qualidade de
vida deste), ao proteger-se os animais? Não seria mais sensato considerar tal tutela como um
direito (sim, um direito do animal) a ser protegido, ou a não ser vilipendiado?
Evitar tal raciocínio e continuar a defender a aplicação do direito apenas em benefício do
homem pode criar alguns “monstros” no mundo dos fatos.
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Esta constatação absurda de que não se pode submeter o animal à crueldade apenas
porque trará prejuízos à saúde humana é uma falácia. Se fosse possível conceber esta afirmação
como verdadeira, muitas das legislações existentes, a exemplo da Lei Arouca (Lei 11.794/08)
seriam dispensáveis.
Veja-se o teor de alguns dos artigos da referida norma, in verbis:
_______________
1
Importante ressaltar que a autora não compartilha desse entendimento, já que considera o uso de animais em
experimentos totalmente dispensável, mormente porque há diversas tecnologias disponíveis para substituir os testes
em animais e que chegam a resultados muito mais confiáveis em relação aos obtidos a vivissecção, porquanto estes
últimos necessitam ser revalidados com testes em humanos. Podem ser citados como exemplos de técnicas
científicas alternativas ao uso de animais em experimentos a toxicologia, a análise em culturas celulares humanas,
programas de computador, modelos em materiais de plástico ou silicone que se assemelham à consistência do corpo
humano, aulas de visualização de vídeos e simuladores de computador, dentre tantas outras formas de estudo que
prescindem do uso de animais, cada vez mais ultrapassado nos países desenvolvidos da Europa. A Itália pode ser
lembrada como uma das nações em que cientistas se opõem à utilização de animais em experimentos, ressaltando
que os métodos alternativos são muitos mais confiáveis do que os tradicionais. Já em 1995, professores de medicina
enfatizavam que a pesquisa científica biomédica tende sufocar a prática da experimentação animal. “È dunque
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l’uomo la vera cavia, e l’animale è un alibi per permettere di passare alla sperimentazione umana. È dunque
impossibile vedere uma base scintifica nella sperimentazione animale, mentre purtroppo necessàrio riconoscere che
la logica dell’animale-macchina ha fatto perdere di vista le relazioni che intercorrono tra ambiente, natura e
organismi, valutando solo le singole parti e ignorando la complessità della realtà nel suo insieme. [...] Comunque,
ogni farmaco alla fine deve essere sperimentato sull’uomo: oggi la sperimentazione animale, come ho già detto, è
solo um alibi per fare sperimentazione umana.” (Gianni Tamino, 1995, disponível em
<http://www.antivivisezione.it/sperimentazione_approf009.htm>).
“É, então, o homem a verdadeira cobaia, e o animal é um álibi a permitir passar à experimentação humana. É, assim,
impossível de ver uma base científica na experimentação animal, enquanto infelizmente necessário reconhecer que a
lógica do animal-máquina fez perder de vista as relações que ocorrem entre ambiente, natureza e organismos,
valorando apenas as partes singulares e ignorando a complexidade da realidade no seu conjunto. [...] De qualquer
forma, cada fármaco, ao fim, deve ser experimentado no homem: hoje a experimentação animal, como já disse, é
apenas um álibi para fazer experimentação humana.” (tradução livre da autora).
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“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida”.
Na legislação ordinária, o maior destaque foi dado à Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605
de 1998) que criminalizou a experimentação em animais vivos, quando houver técnicas
substitutivas.
Tal dispositivo assim está positivado: “Art. 32, §1° Incorre nas mesmas penas quem
realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos,
quando existirem recursos alternativos.”
Desta forma, se uma Universidade, em qualquer cidade do país, utilizar técnica que
prescinda do uso de animais, todas as outras instituições deveriam implementá-la também, sob
pena de incorrer em crime contra a fauna, capitulado no artigo 32, §1º, da Lei dos Crimes
Ambientais.
Assim, a Lei Arouca (Lei 11.794/08)2 deve ter, cada vez mais, sua eficácia limitada, de
modo que quanto mais técnicas substitutivas forem criadas e utilizadas (de forma obrigatória),
menos experimentos serão realizados, a não ser de forma antijurídica.
Como exemplo, pode-se destacar o curso de medicina da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul – UFRGS, que desde o segundo semestre letivo de 2007 extinguiu o uso de
animais vivos nas aulas de cirurgia e outros procedimentos. Atualmente utiliza simuladores
plásticos com sangue artificial. No laboratório, os alunos utilizam braços e pedaços de pele falsos
para aprender a suturar e fazer incisões, além de um torso, onde fazem punções e colhem sangue
(artificial).
Também são realizadas práticas mais complexas, como suturas dos intestinos grosso e
delgado em um material que simula os órgãos a ponto de a mucosa e a textura serem semelhantes
às do corpo.
Desta maneira, sendo desnecessário o uso de animais nas classes de medicina da UFRGS,
não há razão para utilizar animais nos outros cursos de medicina do país. Assim, a vivissecção
nas aulas de cirurgia ou em outros estudos deve ser abolido, sob pena de as Universidades do
Brasil incorrerem em crime ambiental.
No entanto, não é essa a aplicação dada ao artigo aludido, pela maioria da doutrina pátria.
_______________
2
Para Adede y Castro (2006, p. 191) “as leis federais e estaduais, que permitem a vivissecção, são inconstitucionais.
(...) a inconstitucionalidade se revela no fato de que a Constituição Federal proíbe qualquer prática de ato que
implique crueldade contra animais.”
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A doutrina é bastante conservadora quando trata do tema direito dos animais. Para Luís
Paulo Sirvankas (1998) o tipo penal do artigo 32 restringe-se apenas aos animais silvestres, sendo
aplicável para os animais domésticos (cães, gatos, cavalos, vacas, galos etc.) o artigo 64 da Lei
das Contravenções Penais (p. 54).
Segundo o referido autor, as agravantes dos §§1° e 2° são questões delicadas ao passo que
podem constranger um professor ou cientista ao processo penal. Tal previsão poderia ser
considerada um exagero ao passo que há inclusive criações de animais para serem utilizados em
experiências e dissecações a fim de ensinar a “arte da Medicina” (ibidem).
Para Vladimir P. de Freitas e Gilberto P. de Freitas (2006) o aludido injusto penal visa a
reprimir os atentados contra os animais. O ser humano deve respeitar os demais seres da
natureza e evitar-lhes o sofrimento desnecessário. A crueldade avilta o homem e faz
sofrer, desnecessariamente, o animal. O objetivo da norma é buscar que tais fatos não se
tornem rotineiros e tacitamente admitidos pela sociedade. (p. 110)
Os referidos doutrinadores referem, com propriedade, que o artigo protege não apenas os
animais silvestres, mas também os domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos (idem, p.
110), assim como a maioria da doutrina ambiental pátria, v.g. Costa Neto e outros (2001, p. 208);
Adede y Castro (2004, p. 142); Fiorillo (2007, p. 122).
Quanto à prática de experimentos os autores não consideram o experimento em si um
crime, já que o reputam necessário para a evolução humana. Entendem que há crime apenas
“quando o animal estiver vivo e a dor for incompatível ou desnecessária à pesquisa”. Ainda,
consideram como “recursos alternativos as variadas formas de anestesia que evitam a dor”.
(FREITAS e FREITAS, op. cit., p. 113/4).
Para Capez (2002, p 73 apud ADEDE Y CASTRO, 2004, p. 143) o crime se consuma
com a submissão de animais por atos dolorosos e cruéis, “a uma série de operações, por exemplo,
observações, avaliações, provas, ensaios em condições determinadas, tendo em vista um
resultado determinado”.
Conforme ensinamentos de Costa Neto e outros (2001, p. 215) o tipo penal realiza-se
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quando o animal é objeto de experimento doloroso. Os autores criticam o fato de a norma não
estabelecer critérios para criminalização da conduta e permitir que qualquer ato, a priori, seja
considerado delituoso. Censuram ainda a inacessibilidade de métodos alternativos que, quando
inexistentes, excluem a tipicidade do fato, referindo que o injusto penal não pode ser interpretado
com vistas a atrasar a educação ou a pesquisa. Igualmente, aludem à incerteza contida no
dispositivo legal referente ao método alternativo. Indagam se tal recurso deve ser ou não capaz de
atingir os mesmos objetivos da experiência realizada em animal vivo.
Adede y Castro menciona a Lei Federal 6.638/79 (hoje revogada pela Lei 11.794/08) que
regulamenta o uso de animais em experimentos e exige uma série de normas de conduta e
autorizações para tais procedimentos. Refere que a autorização para experiências em animais
vivos, “quando não existam outras alternativas para descobertas de doenças e/ ou produção de
medicamentos humanos ou veterinários, coloca em cheque dois interesses juridicamente
relevantes: o do homem e o dos animais.” Para o autor, na falta de alternativas sempre deve-se
optar pelo interesse humano (2004, p. 145).
Se hoje a lei condiciona a vivisseção à inexistência de métodos substitutivos, isso
significa – no entendimento dos biólogos Greif e Tréz (2000, p. 137) – que, ao menos no plano
teórico, essa prática foi abolida no Brasil. Afinal, técnicas alternativas ao uso do animal em
laboratórios já existem dentro e fora do País. Entretanto, a comunidade científica insiste em
legitimar seu método cruel de pesquisa por intermédio de protocolos internos e de pretensas
Comissões de Ética.
Todas estas questões merecem ser analisadas, de maneira a possibilitar uma interpretação
da norma de acordo com os princípios do Direito Ambiental. Sem tais discussões doutrinárias,
corre-se o risco da inaplicabilidade do dispositivo ou de sua aplicação discricionária. Isso pode
acarretar a inefetividade da regra penal e a consequente disseminação de condutas indesejadas e
coibidas ou ainda a insegurança jurídica, efeitos não colimados pelo Direito.
Outra discussão interessante dá-se acerca do objeto material do crime e seu sujeito
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passivo. A doutrina majoritária entende que o bem jurídico tutelado pela norma penal ambiental é
o animal, a fauna. Considera como sujeitos passivos a União (em decorrência do artigo1° da Lei
5.197/67)3 e a coletividade (titular do direito difuso ambiente ecologicamente equilibrado) 4.
Entretanto, há dissidentes5 que consideram igualmente como sujeito passivo o animal e o objeto
material do crime a vida do animal e sua integridade física e psíquica.
Tais entendimentos advêm de matrizes filosóficas distintas – a antropocêntrica e a
biocêntrica. No primeiro caso, entende-se que os animais não podem ser sujeitos de direito, mas
apenas objeto material da norma. No segundo posicionamento, o sistema reconhece que os
animais possuem direitos inerentes a serem garantidos e os considera como sujeito passivo do
crime.
O motivo da já referida cautela doutrinária é a visão antropocêntrica que permeia o
pensamento dos juristas pátrios. Segundo Freitas e Freitas (op. cit., p. 51) a discussão sobre qual
matriz deve ser adotada ainda é incipiente, mas a Constituição Federal abarca as duas posições:
(...) no art. 225, caput, dirige-se ao homem, mas no §1°, inciso VII, do mesmo
dispositivo, refere-se a animais. Na Lei 9.605/98 dá-se o mesmo: no art. 32 protege os
animais dos maus-tratos; já no art. 37, inciso I, opta pelo homem, ao considerar como
não sendo criminoso o abate de animal para saciar a fome do agente ou de sua família.
Há, todavia, autores que vêm interpretando as leis de proteção animal de forma coerente
com os anseios constitucionais. São exemplos: o promotor de justiça Laerte Fernando Levai, o
advogado Daniel Braga, a advogada Edna Cardozo, a mestre Danielle Tetü Rodrigues.
Parte-se, desta feita, para a elucidação das matrizes filosóficas que são utilizadas pelos
juristas brasileiros, para interpretar as leis de proteção ambiental e animal.
Em que pese à preocupação dispensada ao meio ambiente, este somente tem relevância
para o Direito, atualmente, na medida em que sua degradação é prejudicial ao ser humano. A
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3
Posição adotada por Sirvankas (1998, p. 54).
4
A doutrina moderna considera a coletividade como sujeito passivo dos crimes ambientais. Para Freitas e Freitas
(2006, p. 110) a União somente será sujeito passivo quando os animais envolvidos forem oriundos da fauna silvestre.
5
Para Prinz (2007, p. 55) com o advento da Lei 9.605/98, os animais tornaram-se sujeitos passivos do crime.
18
Ambiente de Desenvolvimento de 1992: “Os seres humanos estão no centro das preocupações
com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia
com a natureza.” (apud ANTUNES, 2005, p. 26).
Entretanto, esta diretriz não é suficiente para justificar a manutenção do antropocentrismo,
porquanto o princípio acima transcrito não exclui o direito de proteção da fauna e da flora, do
âmbito do Direito Ambiental.
Isso porque, o referido princípio trata do desenvolvimento sustentável e é inequívoco que
o homem está no centro desta preocupação, já que apenas o ser humano tem a possibilidade de
utilizar-se dos recursos existentes para o desenvolvimento econômico.
Mas o Direito Ambiental não se restringe apenas a traçar diretrizes para o
desenvolvimento sustentável. Tal ramo do Direito é mais amplo e complexo e deve preocupar-se
com a garantia do equilíbrio ecológico, independentemente do interesse do homem.
Pois, ao contraporem-se interesses humanos imediatos, como o de obter lucro, ao
interesse de sobrevivência e de um meio ambiente ecologicamente equilibrado (que, giza-se, não
se restringe apenas à espécie humana), deve-se proteger este último, sob pena de, ao final,
fulminar a própria existência do homem na Terra.
A própria Constituição Federal estabelece que a ordem econômica deve pautar-se pelo
princípio de respeito e defesa do meio ambiente, consoante artigo 170, inciso VI.
Há autores que acreditam que a ruptura do paradigma antropocêntrico não é possível;
creem que o Direito Ambiental conseguirá alcançar os objetivos de proteção do meio ambiente e
garantir uma vida digna, com qualidade e saúde aos tutelados humanos, sem considerar os outros
integrantes do meio ambiente como sujeito de direitos.
Assim entende Antunes (2005, p. 20) ao afirmar que o biocentrismo não passa de um
“raciocínio primário”, por não levar em conta o fato de que “o direito é uma construção humana
para servir propósitos humanos”.
O referido jurista leciona: “O fato de que o direito esteja evoluindo para uma posição na
qual o respeito às formas de vida não humanas seja uma obrigação jurídica cada vez mais
relevante, não é suficiente para deslocar o eixo ao redor do qual a ordem jurídica circula.”
(ANTUNES, 2005, p. 20).
A seguir refere que:
20
Outro autor que compartilha a idéia antropocêntrica como ínsita ao Direito Ambiental é
Fiorillo (2005, p. 16). Para o aludido doutrinador,
No século XX, até a década de 1970, os filósofos soltaram as amarras dos grilhões
metafísicos e religiosos originais dessa idéia, e invocaram-na livremente, sem sentirem
qualquer necessidade de justificá-la. Por que não atribuir-nos ‘dignidade intrínseca’ ou
‘valor intrínseco’? Por que não afirmar que somos os únicos no universo que possuem
valor intrínseco? É improvável que os seres humanos, nossos semelhantes rejeitem os
louvores que tão generosamente lhes concedemos, e aqueles a quem negamos tal honra
são incapazes de se opor.
[...]
A verdade é que o apelo à dignidade intrínseca dos seres humanos parece resolver os
problemas dos filósofos igualitaristas apenas enquanto não são questionados. Quando
lhes perguntamos por que todos os seres humanos – incluindo bebês, incapacitados
intelectualmente, psicopatas criminosos, Hitler, Stalin e o resto – teriam algum tipo de
dignidade ou valor que nenhum elefante, porco ou chimpanzé poderá jamais alcançar,
vemos que essa pergunta é tão difícil de responder quanto nosso pedido original por
algum fato relevante que justifique a desigualdade entre os seres humanos e os outros
animais.
Já não é mais possível considerar a proteção da natureza com um objetivo decretado pelo
homem em benefício exclusivo do homem. A natureza tem que ser protegida também
em função dela mesma, como valore em si, e não apenas como um objeto útil ao homem.
(...) A natureza carece de uma proteção pelos valores que ela representa em si mesma,
proteção que, muitas vezes, terá de ser dirigida contra o próprio homem.
No mesmo sentido, Goethe já criticava o ser humano por só valorizar as coisas na medida
em que lhe são úteis (DIAS).
O meio ambiente é, então, considerado como destinatário das leis protetivas, tanto quanto
o homem, podendo, inclusive, estas normas virem a prejudicar alguns interesses humanos.
Nesta esteira, o meio ambiente deve ser protegido, não porque é interesse do homem, mas
porque a todos (no sentido de todos os seres vivos) interessa e é imprescindível à sobrevivência
da vida planetária (não apenas humana).
Sabemos que os seres naturais não-humanos não são capazes de assumir deveres e
reivindicar direitos de maneira direta, explícita e formal, embora sejam constituintes do
ecossistema planetário, tanto quanto o é a espécie humana. A Ciência não tem força
impositiva ou de coação; por isso exige que o Direito tutele o ecossistema planetário. Tal
exigência baseia-se no fato de que o mundo natural tem seu valor próprio, intrínseco e
inalienável, uma vez que ele é muito anterior ao aparecimento do Homem sobre a Terra.
As leis do Direito Positivo não podem ignorar as leis do Direito Natural. (MILARÉ,
2007, p. 101)
O valor inerente da natureza e dos animais também é considerado por Naess (apud
Milaré, 2007, p. 135). Demonstra-se, portanto que a vida (bio) tem valor próprio, independente
da espécie que a carrega. Este é o fundamento do biocentrismo.
Assim refere Milaré: “o bem-estar e o florescimento da vida na Terra, seja ela humana e
não-humana, têm valor em si mesmo (sinônimos: valor intrínseco, valor inerente). Esses valores
são independentes da utilidade do mundo não-humano para finalidades humanas” (op. cit., p.
135).
Em todos os momentos da História, sempre existiram vozes dissidentes, que criticavam o
antropocentrismo e o poder do homem sobre os demais seres vivos.
Mas é na visão Ética moderna que o biocentrismo ganha forças. Conforme Milaré (2007,
p. 131):
Numa visão ética tradicional, em que se pretende ressarcir o inocente, dá-se a primazia
do fator humano: numa perspectiva ética moderna, em que muitos fatores mais são
ponderados, não se separam a espécie humana e o ecossistema planetário. Por isso os
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critérios de apropriação, posse, domínio e utilização dos recursos ambientais passam por
uma reformulação. Caso contrário, a Ética Ambiental apontará para as graves injustiças
que pesam como ameaças globais e que, de certa forma, banalizaram-se, perdendo a
sociedade humana a sensibilidade real de problemas extremamente graves que ela deve
enfrentar todo o dia.
O antropocentrismo reforçado pelo método científico de Descartes está na raiz desse
mal-estar generalizado que colocam em xeque as civilizações e o seu corpo de valores
não somente morais, mas, até mesmo, científicos.
Ademais, a Lei Maior reconhece o valor, em si, dos animais, enquanto seres vivos
dignos de respeito, contra qualquer molestação ou violência à sua integridade física; por
outra, considera-os não nocivos, porque relacionados com uma função ecológica. Dentro
dessa hodierna visão holística do conceito de meio ambiente, o homem – como animal
racional capaz de entender e compreender o valor de cada ser e suas relações
ecossistêmicas – deve assumir o papel de gestor do ambiente, respeitando as normas
primeiras que regem a natureza, para só então, com base nestas, construir o Direito
Positivo, que rege as relações humanas. (MILARÉ, op.cit., p. 168)
Não há fatos e características apenas existentes na espécie homo sapiens que justifiquem
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ser a vida humana superior ou inferior a de outros seres. Para Bentham (apud Singer, 2008) “cada
um conta como um e ninguém como mais de um”.
Desta forma, não se pode afirmar que a vida de um humano vale mais que a vida de outro
humano ou de qualquer outro animal. A vida vale por si mesma. Tem valor intrínseco e por este
motivo não se pode estabelecer, de antemão, valores diferentes a bens iguais, ou seja, à vida.
Enfim e felizmente, a ótica biocêntrica é a tendência da evolução ética e jurídica.
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2.1 TIPICIDADE
é a adequação de um fato cometido à descrição que dele se faz na lei penal. Por
imperativo do princípio da legalidade, em sua vertente do nullum crimen sine lege, só os
fatos tipificados na lei penal como delitos podem ser considerados como tal.
Essa subsunção deve ser perfeita, pois, caso contrário, o fato será considerado
formalmente atípico, ou seja, se não houver um encaixe perfeito, não se pode falar em tipicidade.
O tipo penal é uma norma que descreve condutas criminosas em abstrato. Quando
alguém, na vida real, comete uma conduta descrita em um tipo, ocorre a chamada tipicidade.
O tipo penal serve-se de elementares e circunstâncias.
Aquelas são peças fundamentais da figura típica sem as quais o crime não existe. Os
elementos do tipo podem ser classificados em: objetivos ou descritivos – existem concretamente
no mundo e cujo significado não demanda nenhum juízo valorativo –, normativos – não se extrai
da mera observação, depende de uma interpretação – e subjetivos – existe uma finalidade
específica por parte do agente, uma intenção.
Circunstâncias são todos os dados acessórios da figura típica, cuja ausência não a elimina,
apenas influenciam na aplicação da pena.
Há também parte da doutrina que considera a existência de elementos negativos do tipo,
como sendo os elementos constantes no tipo penal que excluem a ilicitude do fato.
A teoria dos elementos negativos do tipo criou o discutido conceito de tipo total de
injusto, que conforme Wessels: “[...] congrega em si todos os elementos
fundamentadores e excludentes do injusto, dos quais depende, tanto em sentido positivo
como negativo, a qualidade do injusto na conduta”. (VIEIRA E ROBALDO, 2007).
Esse “tipo total de injusto” considera que as causas excludentes de ilicitude integram o
tipo penal. Ou seja, o tipo que descreve os fatos proibidos, denominados de tipos provisórios do
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injusto ou tipos incriminadores, também é composto por descriminantes como dados negativos do
tipo.
A teoria dos elementos negativos do tipo nega autonomia dentro do sistema da dogmática
jurídico-penal às causas excludentes da ilicitude que devem compor a descrição típica (tipos
provisórios do injusto ou tipos incriminadores) como requisitos negativos.
Seria o caso da norma em estudo que estabelece como tipo penal integral a conduta de
realizar experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, quando houver métodos substitutivos.
Todavia não será sempre típica a experimentação em animais, somente quando não
existirem recursos alternativos. A inexistência de técnicas alternativas é, então, elemento
negativo do tipo e integra a descrição do delito.
Entretanto, como essa posição é minoritária na doutrina penal, analisar-se-á as
excludentes de tipicidade e ilicitude mais adiante, conforme a divisão clássica do direito penal.
Passa-se a analisar os elementos objetivos do tipo.
Os elementos objetivos do tipo são aqueles que dizem respeito aos aspectos materiais do
crime. São o verbo nuclear do tipo, o sujeito ativo, o sujeito passivo, o bem jurídico tutelado.
A partir da análise dos elementos objetivos pode-se individualizar a conduta criminosa,
seus agentes, qual o objeto material do crime, ou seja, todas as características descritas no tipo.
Bem jurídico tutelado é todo o interesse que o Direito entendeu por necessário proteger,
através de suas normas, não necessariamente penais.
Para Francisco Assis Toledo:
Bens jurídicos são valores éticos sociais que o Direito seleciona, com o objetivo de
assegurar a paz social, e coloca sob a sua proteção para que não sejam expostos a perigo
de ataque ou a lesões efetivas.”(TOLEDO, 1994, p. 16).
Os bens são, pois, coisas reais ou objetos ideais dotados de “valor”, isto é, de coisas
materiais e objetos imateriais que, além de serem o que são, “valem”. Por isso são, em
28
Para o direito tradicional os animais são coisas, bens apropriáveis, dotados de valor.
Todavia, a partir da Constituição Federal de 1988, os animais passaram a ser protegidos de forma
diversa. A Constituição, no seu artigo 225, inciso VII, protege o animal quando proíbe práticas
que coloquem em risco a função ecológica da fauna ou que provoquem a extinção de espécies.
Protege também a vida e a integridade física e psíquica dos animais, individualmente
considerados, quando veda práticas que submetam os animais à crueldade.
Dessa forma, tanto o animal quanto sua vida e integridade foram erigidas à categoria de
interesses ou bens constitucionais. A partir de então e com o advento da lei dos crimes
ambientais, qualquer ato de crueldade contra animais é considerado antijurídico.
Ou seja, o Direito considerou vida e integridade dos animais bens merecedores de
proteção estatal ao vedar atos de crueldade contra estes seres, tanto na Constituição, quanto em
leis infraconstitucionais, como a Lei 9.605/98.
Nesse sentido, o artigo 32 §1°, da aludida norma, tem como bem jurídico tutelado a vida e
a integridade física e psíquica do animal, que, por consequência, passa a ser considerado sujeito
passivo do crime de vivissecção.
O tipo penal veda determinadas condutas por considerá-las prejudiciais ao bem jurídico;
desse modo pode-se concluir que a normatização criminal existe para defender esses
bens. [...] A tipificação penal manifesta-se para punir as ações que vão de encontro à
preservação dos bens jurídicos. (ALLEGRO, 2005).
Toledo (1994) atenta para a necessária distinção entre bem jurídico tutelado e o objeto
material do crime. O objeto de tutela são valores ético-sociais, já o objeto material do crime são
apenas as coisas materiais que recaem sobre a ação criminosa. Como no exemplo do homicídio,
em que o objeto material é o corpo humano e o bem jurídico é a vida.
Costa assevera que “há casos em que o objeto material e o sujeito passivo acabam por
coincidir, embora suas noções conceituais sejam distintas, o sujeito passivo é o titular do bem
jurídico atingido pela conduta criminosa.”
Nessa esteira, o bem jurídico tutelado no crime de experimentação animal é a integridade
física e psíquica do animal e o objeto material do delito é o animal vivo, objeto da experiência.
Por fim, por ser detentor do bem jurídico protegido, o animal, vítima da experiência, é o sujeito
29
passivo do injusto.
Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei,
incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor,
o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o
preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de
outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente
conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de
seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas
físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. (sem grifos no original).
A pessoa jurídica pode, então, ser responsabilizada quando a infração cometida for
resultado de decisão do representante da pessoa jurídica, no benefício ou interesse desta
No caso do crime de experimentação animal, as empresas onde testes em animais são
realizados deverão ser responsabilizadas por crime ambiental, nos termos do artigo 32, §1°,
combinado com o artigo 3°, ambos da Lei 9.605/98. Isto porque a realização de experimentos em
animais é ato ilícito que está sendo praticado em benefício da empresa.
Outra possibilidade de responsabilização criminal de pessoa jurídica pode ocorrer quando
uma instituição de ensino tem como método de pesquisa a experiência com animais. Nesse caso,
30
a instituição permite que métodos ilícitos sejam utilizados para a satisfação de seus interesses.
Além disso, também é responsável criminalmente o gerente ou o representante da
empresa, bem como o diretor ou administrador da pessoa jurídica, quando, tendo conhecimento
de que outrem comete crime ambiental dentro da entidade, deixa de impedir o delito, conforme
preceitua o artigo 2°, parte final, da Lei dos Crimes Ambientais, cumulado com o artigo 32, §1°,
do mesmo regramento.
Portanto, o injusto de experimentação animal pode ter como sujeitos ativos: (i) qualquer
pessoa física que praticar o verbo nuclear do tipo – realizar –, (ii) a pessoa jurídica que se
beneficia com a prática do ilícito e (iii) seus representantes que, tendo conhecimento da prática
do ilícito, deixam de impedi-lo.
O sujeito passivo dos crimes ambientais é o detentor do bem jurídico que a conduta
delituosa lesou ou ameaçou. Nos tipos ambientais, em princípio, é fácil visualizar a ofensa ao
interesse de todos os cidadãos e até mesmo da humanidade, já que o Direito Ambiental é também
direito humano fundamental, razão pela qual se destaca como sujeito passivo, a priori, a
coletividade e não o Estado, uma vez que o bem jurídico ambiental não pertence a uma pessoa,
ou a pessoas determinadas e sim à coletividade, nos próprios termos da Constituição Federal, no
já citado artigo 225.
No entanto, nada impede que o delito tenha dois ou mais sujeitos passivos e tal fato ocorre
nos crimes ambientais.
No caso do crime de experimentação animal, apesar de não haver entendimento pacífico
por parte da doutrina, é sujeito passivo o animal vítima da experiência cruel ou dolorosa. Isso
porque, como já mencionado, o bem jurídico tutelado não é o animal, mas sim sua vida e
integridades física e psíquica.
Assim, como o sujeito passivo é o detentor do bem jurídico tutelado, é o animal que tem
sua vida e integridade lesadas.
A grande celeuma envolvendo a consideração dos animais como sujeito passivo de crimes
dá-se em torno da possibilidade de atribuírem-se direitos aos animais, ou seja, de considerá-los
capazes de direitos, sujeitos de direitos. Entretanto, há diversos juristas que consideram essa
atribuição possível.
Como refere Silva (apud ADEDE Y CASTRO, 2006, p. 45), a dogmática jurídica indica
que somente o homem pode ser sujeito de direitos, mas que esta lógica se inverte quando
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falamos de direito ambiental, que aceita a idéia de que o homem é mero representante
dos animais, em juízo, como acontece com as pessoas jurídicas. Assim, o direito dos
animais, em termos de processo, administrativo ou judicial, é beneficiado pelas mesmas
garantias asseguradas aos homens.
Embora os animais não sejam pessoas, sob o ponto de vista jurídico são titulares de
direitos civis e constitucionais, na legislação brasileira, podendo ser, com tais,
considerados sujeitos de direitos. Seus direitos são parcialmente reconhecidos e
tutelados, e podem ser postulados por agentes titulados para esse mister, que agem em
legitimidade substitutiva. No Brasil, essa representação foi atribuída ao Ministério
Público e às sociedades ambientalistas.
Já se pode afirmar que a norma atribui aos animais uma espécie de personificação, que
os torna sujeitos de direitos dos quais podem gozar e obter a tutela jurisdicional em caso
de violação.
Os seres vivos devem ter direitos legais assim como são os direitos humanos. Na
realidade, como observa o brilhante filósofo Michel Serres, esse direito sempre existiu
como uma idéia abstrata, da mesma forma da idéia do contrato social que fundou a
Democracia. Ou seja, mesmo aqueles que não possuíam direitos legais, como as
mulheres, as crianças, os povos indígenas, os escravos, em verdade os tinham
abstratamente, mas só passaram a tê-los legalmente com a evolução do sistema jurídico.
Assim ocorrerá com os direitos dos Animais. O quanto antes o ordenamento jurídico os
reconhecer maior será a harmonia entre os seres vivos do planeta, entre o homem e a
Natureza e entre os homens em si.
protegem forem violadas. Pode-se então concluir que os animais são sujeitos de direitos, embora
devam ser representados, da mesma forma que ocorre com os seres relativamente ou
absolutamente incapazes, que, entretanto, são reconhecidos como pessoas.
Art. 1 o omissis
§ 2o São consideradas como atividades de pesquisa científica todas aquelas relacionadas
com ciência básica, ciência aplicada, desenvolvimento tecnológico, produção e controle
da qualidade de drogas, medicamentos, alimentos, imunobiológicos, instrumentos, ou
quaisquer outros testados em animais, conforme definido em regulamento próprio.
§ 3o Não são consideradas como atividades de pesquisa as práticas zootécnicas
relacionadas à agropecuária.
Art. 3o Para as finalidades desta Lei entende-se por:
[...]
III – experimentos: procedimentos efetuados em animais vivos, visando à elucidação de
fenônemos fisiológicos ou patológicos, mediante técnicas específicas e preestabelecidas;
33
A experiência em animais, para ser típica, deve ser dolorosa e cruel. Dor e crueldade são,
portanto, elementos normativos do tipo penal ambiental e seus conceitos devem ser interpretados
da forma mais adequada aos objetivos da lei protetiva.
O conhecimento existente sobre a dor é baseado nas experiências dos seres humanos.
Entretanto há fortes indícios de que os animais, especialmente os vertebrados possuidores de
sistemas nervosos, sintam dor e possam ser vítimas de práticas cruéis.
A partir da teoria da evolução de Charles Darwin, descobriu-se que o homem e os animais
têm sensações muito próximas, dado que a anatomia, a fisiologia, as respostas farmacológicas, as
reações frentes a um estímulo nocivo e o comportamento de esquiva frente a uma experiência
dolorosa são similares. Darwin enunciou a inexistência de diferenças fundamentais entre o
homem e os animais nas suas faculdades mentais. Assim, tanto os animais, quanto os homens,
demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento.
A dor pode ser definida como “uma sensação pessoal e particular de sofrimento físico; um
estímulo nocivo que indica lesão ou dano tecidual atual ou eminente; um padrão de respostas que
34
_______________
6
O termo eutanásia está em destaque porque é utilizado por profissionais técnicos, veterinários, cientistas e até
mesmo por juristas de forma inadequada, quando se trata da interrupção da vida de animais. Eutanásia deve
considerar o interesse maior daquele que morre e não o interesse ou benefício de tal morte para aquele que a causa.
Regan (1985, p. 110 apud FELIPE, 2007, p. 82) estabelece os critérios para a utilização adequada do termo. O
indivíduo deve ser morto por meios indolores; aquele que mata deve acreditar que a morte atende aos interesses de
35
lei ambiental preconiza a adoção dos chamados métodos alternativos (já existentes), de modo que
o uso do animal, mesmo anestesiado, pode configurar crime.
Em artigo de COPORALE, descreve-se a crueldade perpetrada contra animais utilizados
em experiência:
Agli animali gli vengono recise le corde vocali per impedire loro di urlare; vengono
avvelenati, ustionati, accecati, mutilati, congelati, decerebrati, schiacciati, sottoposti a
ripetute scariche elettriche attraverso elettrodi conficcati nel cervello, infettati con
qualsiasi tipo di virus o batterio, ecc. Il 63% di questi esperimenti viene compiuto senza
anestesia, un altro 22% con anestesia solo parziale (dati britannici). [Os animais têm as
cordas vocais cortadas para impedir que urrem, são envenenados, queimados, cegados,
mutilados, congelados, têm seu cérebro retirado, espremidos, submetidos a repetidas
descargas elétricas através de eletrodos fincados no cerebelo, infestados com qualquer
tipo de vírus ou bactéria etc. Os 63% destes experimentos são feitos sem anestesia, os
outros 22% com anestesia apenas parcial (dados britânicos)]. (tradução livre da autora)
Art. 4.
1. Gli esperimenti di cui all'art. 3 possono essere eseguiti soltanto quando, per ottenere il
risultato ricercato, non sia possibile utilizzare altro metodo scientificamente valido,
ragionevolmente e praticamente applicabile, che non implichi l'impiego di animali. (Os
experimentos do artigo 3 somente podem ser realizados, para obter o resultado desejado,
não sendo possível utilizar outro método cientificamente válido, razoável e praticamente
aplicável, que não implique o emprego de animais.) (tradução livre da autora)
Além disso, a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, de 1978 estabelece no
artigo 3° que “nenhum animal será submetido a mau trato e a atos cruéis” e que “se a morte de
um animal for necessária, deve ser instantânea, sem dor nem angústia”. Preceitua ainda, no artigo
8°, que “a experimentação animal, que implica um sofrimento físico, é incompatível com os
direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra”.
quem morre e a motivação para a eutanásia não deve ter vínculo com qualquer interesse ou benefício de quem mata.
Assim, a morte do animal depois de sua utilização em experimentos nada tem de eutanásia, é apenas a morte
intempestiva de um ser que serviu de cobaia para satisfazer o interesse de outrem.
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XX - Encerrar em curral ou outros lugares animais em número tal que não lhes seja
possível moverem-se livremente, ou deixá-los sem água ou alimento por mais de doze
horas;
XXI - Deixar sem ordenhar as vacas por mais de vinte e quatro horas, quando utilizadas
na exploração de leite;
XXII - Ter animal encerrado juntamente com outros que os aterrorizem ou molestem;
XXIII - Ter animais destinados á venda em locais que não reúnam as condições de
higiene e comodidade relativas;
XXIV- Expor nos mercados e outros locais de venda, por mais de doze horas, aves em
gaiolas, sem que se faca nestas a devida limpeza e renovação de água e alimento;
XXV - Engordar aves mecanicamente;
XXVI - Despelar ou depenar animais vivos ou entregá-los vivos à alimentação de outros;
XXVII - Ministrar ensino a animais com maus tratos físicos;
XXVIII - Exercitar tiro ao alvo sobre pombos, nas sociedades, clubes de caça, inscritos
no Serviço de Caça e Pesca;
XXIX - Realizar ou promover lutas entre animais da mesma espécie ou de espécie
diferente, touradas e simulacros de touradas, ainda mesmo em lugar privado;
XXX - Arrojar aves e outros animais nas caças e espetáculos exibidos para tirar sorte ou
realizar acrobacias;
XXXI – Transportar, negociar ou caçar em qualquer época do ano, aves insetívoras,
pássaros canoros, beija-flores e outras aves de pequeno porte, exceção feita das
autorizações para fins científicos, consignadas em lei anterior;
Urge ressaltar que o inciso IV deste artigo, além de outros que aqui não serão referidos,
está revogado, pois é vedado constitucionalmente ferir e mutilar animais (atos cruéis), além de
ser crime realizar experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, havendo métodos alternativos,
ou seja, nem mesmo em “benefício da ciência” é possível praticar tais atos.
Outro dispositivo que veda a crueldade em animais é o artigo 64 da Lei das
Contravenções Penais (Decreto-Lei n°3.688/41), que será analisado mais adiante, para verificar a
sua vigência ou revogação pela Lei dos Crimes Ambientais.
volitivo – a vontade de agir –, ou seja, significa a vontade livre e consciente de querer praticar
uma conduta descrita na norma penal incriminadora. Assim, bastará apenas que o agente queira a
realização dos componentes objetivos do tipo no caso concreto e saiba exatamente o que faz, para
que se lhe possa atribuir o resultado lesivo.
Verificados todos os elementos constitutivos do tipo, deve-se analisar agora hipótese de
excludente de tipicidade inserida no corpo do parágrafo e que limita a existência do crime quando
houver técnicas e métodos que substituam o modelo animal.
Convém relacionar aqui, a título exemplificativo, alguns dos mais conhecidos recursos
alternativos que se ajustam ao propósito do legislador – muitos deles citados no
periódico Alternative to Animals e no livro From Guinea Pig to Computer Mouse, da
International Network for Humane Education (InterNICHE) - a saber:
Sistemas biológicos in vitro (cultura de células, tecidos e órgãos passíveis de utilização
em genética, microbiologia, bioquímica, imunologia, farmacologia, radiação,
toxicologia, produção de vacinas, pesquisas sobre vírus e sobre câncer);
Cromatografia e espectrometria de massa (técnica que permite a identificação de
compostos químicos e sua possível atuação no organismo, de modo não-invasivo);
Farmacologia e mecânica quânticas (avaliam o metabolismo das drogas no corpo
humano;
Estudos epidemiológicos (permitem desenvolver a medicina preventiva com base em
dados comparativos e na própria observação do processo das doenças);
Estudos clínicos (análise estatística da incidência de moléstias em populações diversas);
39
Necrópsias e biópsias (métodos que permitem mostrar a ação das doenças no organismo
humano);
Simulações computadorizadas (sistemas virtuais que podem ser usados no ensino das
ciências biomédicas, substituindo o animal);
Modelos matemáticos (traduzem analiticamente os processos que ocorrem nos
organismos vivos);
Culturas de bactérias e protozoários (alternativas para testes cancerígenos e preparo de
antibióticos);
Uso da placenta e do cordão umbilical (para treinamento de técnica cirúrgica e testes
toxicológicos);
Membrana corialantóide (teste CAME, que se utiliza da membrana dos ovos de galinha
para avaliar a toxicidade de determinada substância);
Pesquisas genéticas (estudos com DNA humano, como se verifica no Projeto Genoma),
etc.
Nos EUA, mais de 70% das faculdades de Medicina não utilizam animais vivos,
enquanto que na Alemanha - segundo a professora Júlia Maria Matera, presidente da
comissão de bioética da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP -
nenhuma instituição o faz (boletim Notícias da Arca - Informativo Arca Brasil -
Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal, número 03, 2001, In LEVAI
e RALL, 2007).
existindo outro meio de ser realizada que não em animais, será típica e ilícita, pois não se pode
exigir o sacrifício da integridade física do animal.
Por outro lado, sendo necessária a realização de certo experimento e não existindo técnica
que substitua o modelo animal, a conduta será atípica, prescindindo da análise da ilicitude.
Outra excludente de ilicitude que poderia ser levantada pela defesa é o exercício regular
de direito. Tal discriminante pressupõe uma faculdade de agir concedida pelo ordenamento
jurídico a alguma pessoa, pelo que a prática de uma ação típica não configuraria um ilícito.
São exemplos de exercício regular de direito: lesões ocorridas na prática de esportes
violentos, desde que toleráveis e dentro das regras do esporte; intervenções médicas e cirúrgicas,
havendo consentimento do paciente; uso de ofendículos, mecanismos defensivos da propriedade,
como cerca elétricas, cacos de vidro do muro.
Em qualquer caso, não se pode ultrapassar os limites que a ordem jurídica impõe ao
exercício do direito, sob pena de incorrer no ilícito penal cominado.
No caso do crime de experimentação animal, o agente poderia alegar que realizou a
vivissecção dentro do exercício regular de seu direito, referindo que cumpriu todas as exigências,
por exemplo, da Lei Arouca (Lei 11.794/08). Entretanto, o ordenamento jurídico somente lhe
concede “direito” de realizar experimentos em animais, quando não houver métodos alternativos.
Assim, somente estará agindo dentro de sua esfera de direitos quando não existir nenhuma
técnica substitutiva ao uso do animal e se realizar o ensaio obedecendo todas as normas que
regulamentam a atividade.
2.3 CULPABILIDADE
A culpabilidade é o juízo de reprovação feito sobre alguém que praticou fato típico e
ilícito (crime). Ou seja, depois de verificada a ocorrência de um fato típico (conduta estritamente
adequada ao tipo penal descrito) e ilícito (conduta contrária ao ordenamento jurídico e
inexistência de quaisquer causas descriminantes) passa-se à análise da culpabilidade
(possibilidade de punir o agente).
Para a apreciação da culpabilidade, existem três elementos que devem estar plenamente
caracterizados para que ao agente possa ser cominada uma pena.
São eles: a imputabilidade (capacidade de compreender o caráter ilegal de sua conduta e
43
Quem, podendo agir de modo distinto, viola essa norma, é culpável. Culpável, destarte, é
o agente que podia comportar-se de modo diferente, que podia agir de forma distinta e
não agiu.
A exigibilidade de conduta diversa, como se vê, reflete a essência do conceito de
culpabilidade que, quando enfocada como juízo de reprovação ou de censura, tem como
objeto justamente a valoração concreta sobre se o agente podia (ou não) agir (comportar-
se) de modo distinto. (op.cit.)
saber que o fato era ilícito, é inexistente a potencial consciência da ilicitude, logo, esse erro exclui
a culpabilidade e o agente fica isento de pena.
Pode ser, todavia, evitável ou inescusável quando, embora o agente desconhecesse que o
fato era ilícito, ele tinha condições de saber, dentro das circunstâncias, que contrariava o
ordenamento jurídico. Se ele tinha possibilidade, isto é, potencial para conhecer a ilicitude do
fato, possuía a potencial consciência da ilicitude e será punido.
No caso do crime de experimentação animal, o agente pode não ter consciência do ilícito,
porque não procurou informar-se, convenientemente, para o exercício de profissão ou atividade.
Aqui o dever cívico de conhecimento da norma jurídica é plenamente exigível, o que não exclui a
culpabilidade.
Artigo 64. Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo: Pena -
prisão simples, de dez dias a um mês, ou multa, de cem a quinhentos mil réis.
§ 1º Na mesma pena incorre aquele que, embora para fins didáticos ou científicos,
realiza em lugar público ou exposto ao publico, experiência dolorosa ou cruel em animal
vivo.
§ 2º Aplica-se a pena com aumento de metade, se o animal é submetido a trabalho
excessivo ou tratado com crueldade, em exibição ou espetáculo público.
Tal dispositivo, consoante posição majoritária da doutrina, foi revogado pelo artigo 32 da
Lei dos Crimes Ambientais, vez que esta norma trata de matéria de forma mais ampla, além de
ser norma mais recente.
Já a Lei 6.638/79 estabelecia normas para a prática didático-científica da vivissecção. Tal
norma assim dispunha:
A Lei 11.794/08 expressamente revogou a Lei 6.638/79. Todavia, esta norma já havia
sido tacitamente revogada pelo artigo 32,§1°, da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/98),
tendo em vista que a vivissecção fora criminalizada.
Entretanto, com a promulgação da Lei 11.794, em outubro de 2008, questionou-se acerca
da (i)legalidade da experimentação animal e da (in)constitucionalidade de tal norma.
A mencionada legislação regulamenta a criação e a utilização de animais em atividades de
ensino e pesquisa científica, em todo o território nacional, cria o Conselho Nacional de Controle
de Experimentação Animal, estabelece a obrigatoriedade da criação de Comissões de Ética no
Uso de Animais e comina penalidades administrativas para as instituições que descumprirem os
termos da referida lei.
Na ementa da Lei Arouca, refere-se que o objetivo da norma é regulamentar o artigo 225,
§1º, inciso VII (proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à
46
As leis de controle de uso de cobaias no mundo tendem a adotar a filosofia dos 3R’s
(Replacement, Reduction, e Refinement). Sob esse prisma, são tidos como métodos
alternativos todos os que se propõem a reduzir o número de animais utilizados para a
execução de um determinado experimento, diminuir o sofrimento animal por meio do
refinamento da técnica e da completa substituição do uso de animais por outros métodos.
A meu juízo, somente a última espécie se coaduna com o que dispõe o § 1º do art. 32 da
Lei n. 9.605/98. No entanto, contaminados por uma filosofia cartesiana, o
experimentador é comumente dessensibilizado ante o sofrimento de seus pacientes. A
dor e o sofrimento em sentido amplo são manifestações primariamente orgânicas que se
revelam igualmente relevantes tanto em humanos quanto em não humanos. Não há
qualquer razão do ponto de vista científico ou moral para que consideremos que esses
estados negativos menos importantes quando sentidos por animais não-humanos. É
somente por um especismo ordinário, tão simplório quanto o racismo mais descarado,
que vedamos aos animais o acesso a essa esfera mínima de garantias e de igual
consideração de interesses. (sem grifos no original)
Outra forma de interpretação levaria ao absurdo de uma lei regulamentar atividade ilícita,
proibida pelo ordenamento jurídico, o que, sabe-se, não é possível.
Uma decorrência desta interpretação é a possibilidade de responsabilizar a comissão de
ética que autorizar a realização de experimento em animais, quando existir método substitutivo,
caso em que tal órgão estará autorizando a prática de ilícito criminal ambiental.
Importante ressaltar que a culpabilidade tradicional do direito penal só pode ser atribuída
às pessoas físicas, já que somente a estas pode ser atribuída a responsabilidade pela prática de um
47
fato típico.
Todavia, a Constituição Federal criou no § 3º, do art. 225, um dispositivo que “afronta
diretamente toda a construção histórica feita pela doutrina em torno da culpabilidade.” (CINTRA
JUNIOR, 1998)
Assim dispõe o referido artigo: “§3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independente da obrigação de reparar os danos causados.”
Para responsabilizar-se um ente personificado, como a pessoa jurídica, não se deve levar
em conta o caráter subjetivo da culpabilidade, mas sim um parâmetro novo e objetivo
denominado de juízo de reprobabilidade. Tal critério consiste em um conjunto de manifestações e
atos concretos que ensejam um comportamento reprovável por parte de determinado ente, no
sentido da prática de ilícitos penais ou infrações administrativas.
48
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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