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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA

DANIEL
LUNA RIBEIRO
MANARIN PREVE
NUNES DE SOUZA
DANIEL RIBEIRO PREVE

A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO


BRASIL

A TUTELA JURISDICIONAL DOS


ANIMAIS NÃO HUMANOS
NO BRASIL
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA
DANIEL RIBEIRO PREVE

A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS


NO BRASIL

1ª Edição
2021
Editora Belcanto
Avenida Gílio Búrigo, 702
Jardim Maristela - Criciúma/SSCEP 88815300
www.editorabelcanto.com.br

Conselho Editorial
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Daniela Lippstein (URI) Luiz Osteberk (UTAD)
Fernando da Silva Mattos (MP/PR) Mônica Duarte (Uniavan)
Helena Nastassya Paschoal Pitsica (Univali) Newton Cesar Pilau (Univali)
Ismael Francisco de Souza (Unesc) Jairo José Zoche (Unesc)
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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Dados Internacionais de Catalogação na Publica ção (CIP)
Preve, Daniel Ribeiro
(Câmara Brasileira
Ensaio do deLivro,
sobre o estado direito SP, Brasil)
ambiental [livro
Preve, Daniel Ribeiro
eletrônico] : conceito, mecanismo e desafios / Daniel
A tutela jurisdicional dos animais não humanos no
Ribeiro Preve, Maurício da Cunha Savino Filó, Newton
Cesar Pilau.
Brasil [livro -- 2. ed. -- Criciúma,
eletrônico] / DanielSC Ribeiro
: Editora Preve,
Belcanto, 2021.
Luna Manarin
PDF Nunes de Souza. -- 1. ed. -- Criciúma,
SC : Editora Belcanto, 2021.
PDF Bibliografia
ISBN 978-65-996472-0-8

Bibliografia.
1. Direito ambiental 2. Direito ambiental -
Brasil 3. Ecologia I. Filó, Maurício da Cunha Savino.
ISBNII.
978-65-84657-03-8
Pilau, Newton Cesar. III. Título.

1. Bioética 2. Direito ambiental 3. Direito


21-88778 CDU-34:502.7(81)
ambiental - Brasil 4. Direitos dos animais I. Souza,
Índices para catálogo sistemático:
Luna Manarin Nunes de. II. Título.
1. Brasil : Direito ambiental 34:502.7(81)

21-96708 CDU-34:59
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

Índices para catálogo sistemático:

1. Direitos dos animais 34:59

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO........................................................................................6

CAPÍTULO I

1 O CARÁTER ANTROPOCÊNTRICO DA TUTELA JURISDICIONAL E


A VISÃO BIOCÊNTRICA............................................................................8
1.1 OS LIMITES DO CARÁTER ANTROPOCÊNTRICO DA TUTELA
JURISDICIONAL E SEUS FATORES DE CRISE..............................................9
1.2 A VISÃO BIOCÊNTRICA COMO NECESSIDADE DA CONSTRUÇÃO
DE OUTROS PARADIGMAS...............................................................................14
1.3 O ESPECISMO E A COMPREENSÃO DOS ANIMAIS A PARTIR DA
IGUAL CONSIDERAÇÃO.....................................................................................19

CAPÍTULO II

2 SENCIÊNCIA E DIGNIDADE DA PESSOA NÃO HUMANA................30


2.1 A SENCIÊNCIA ENQUANTO ARGUMENTO MORAL PARA A DEFESA
DOS DIREITOS DOS ANIMAIS.........................................................................31
2.2DIGNIDADE DA PESSOA NÃO HUMANA: CONCEITO E
NECESSIDADE DE ESTENDER A PROTEÇÃO..............................................38
2.3 CRÍTICA AOS ARGUMENTOS ESPECISTAS..........................................47
CAPÍTULO III

3 O PRECEDENTE ARGENTINO E INSTRUMENTOS JURÍDICOS


CABÍVEIS NO BRASIL..............................................................................54
3.1 A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS...........................................54
3.2 A DECISÃO PROFERIDA NOS AUTOS DO HABEAS CORPUS DO
CASO CECÍLIA.......................................................................................................61
3.3 FORMAS DE AMPLIAÇÃO E EFETIVAÇÃO DOS INSTRUMENTOS
JURÍDICOS PARA A DEFESA ANIMAL..........................................................73

REFERÊNCIAS.........................................................................................83
SOBRE OS AUTORES..............................................................................93
APRESENTAÇÃO
Os movimentos sociais em relação aos direitos
dos animais se intensificaram ao longo do tempo. Buscando
a igualdade de consideração com suporte no princípio da
igualdade, essa defesa surgiu por meio da clássica concepção
antropocêntrica, que trata o meio ambiente em prol dos
interesses humanos, conforme suas próprias necessidades.
A fim de superar tal pensamento, a visão biocêntrica veio
defender novas práticas que modificaram a relação do
homem com a natureza, pois considerou todos os seres vivos
como sujeitos dotados de valores jurídicos.
Assim, sabe-se que esses seres prezam pela sua vida.
Eles possuem a capacidade de sentir, de forma consciente,
sensações e sentimentos. Ou seja, no campo ético-moral,
já foram devidamente demonstradas as razões pelas quais
devem possuir direitos. Observa-se, ainda, que a legislação
brasileira confere proteção aos animais não humanos, pela
Constituição Federal, em seu art. 225, §1º, inciso VII. Todavia,
eles continuam desamparados por um sistema que os explora
de diversas formas, entre elas o seu uso para fabricação de
roupas e objetos, experimentação científica, e na indústria
do entretenimento, como zoológicos e circos, vivendo em
condições de sofrimento que os humanos jamais seriam
submetidos.
Deste modo, a presente obra aborda a temática
da tutela jurisdiconal dos animais não humanos no Brasil.
Também para o desenvolvimento e aprofundamento do
tema é analisado, de forma comparativa, um relevante
6
precedente argentino, mais especificamente o habeas corpus
que concedeu liberdade a chimpanzé “Cecília”, na Argentina.
Para tanto, conceituam-se os argumentos das
correntes antropocêntrica e biocêntrica, analisando assim
as implicações trazidas pelo caráter antropocêntrico da
tutela jurisdicional. Ademais, apontam-se os paradigmas que
surgiram para superar o especismo e culminar em uma nova
compreensão dos animais.
Na sequência, o presente livro apresenta o estudo
acerca das condições dos animais não humanos, como a
senciência e a possibilidade de conferi-los dignidade no
texto constitucional, que conforme a fundamentação moral
os tornam dignos de direitos, com crítica posterior aos
argumentos especistas.
Por fim, no terceiro capítulo, abordam-se aspectos
relacionados à proteção jurídica dos animais, destacando
também o cenário internacional, a partir da análise da
decisão que concedeu liberdade a chimpanzé Cecília por meio
de um habeas corpus, para considerar um relevante critério
de reconhecimento de direitos, e as possíveis mudanças no
judiciário brasileiro, que impeçam interpretações contrárias
ao bem-estar animal. A obra tem como escopo contribuir
para o avanço nas discussões sobre a fundamentação de se
reconhecer os direitos dos animais não humanos, passando a
discutir formas de ampliar a sua tutela jurisdicional.

Luna Manarin Nunes de Souza


Prof. Dr. Daniel Ribeiro Preve

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A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

CAPÍTULO I

O CARÁTER ANTROPOCÊNTRICO DA TUTELA


JURISDICIONAL E A VISÃO BIOCÊNTRICA

Para a visão antropocêntrica, as normas relativas


aos animais não passam de objetos de direito, possuindo
o principal intuito de proteger a espécie humana. Assim,
acredita-se que o direito ambiental, como um meio de
assegurar essa forma de vida, seja o direito em questão e
acabe incluindo também os animais (MARTINS, 2012. p. 35).
Por outro lado, segundo Cais (2011, p. 33), nas ideias
do biocentrismo, todos os seres se relacionam e dependem
um do outro. Assim, o pensamento onde animais são
somente objetos de direito à disposição da espécie humana
é reavaliado, considerando sua dignidade intrínseca como
direito fundamental. Após essa conscientização, a natureza
passa a possuir valores jurídicos.
Nesse sentido, o objetivo deste primeiro capítulo é
conceituar e compreender os argumentos das duas correntes,
ao analisar os limites do caráter antropocêntrico da tutela
jurisdicional e seus fatores de crise. Por fim, serão apontados
os paradigmas que surgiram para culminar em uma nova
compreensão dos animais.

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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

1.1 OS LIMITES DO CARÁTER ANTROPOCÊNTRICO DA


TUTELA JURISDICIONAL E SEUS FATORES DE CRISE

Primeiramente, para se analisar o antropocentrismo,


precisa-se compreender como ele é conceituado. Neste
sentido, aliado às correntes de pensamento biocêntricas, existe
o sofrimento histórico que os animais enfrentam perante os
abusos da espécie humana, onde sãoexplorados em troca de
benefícios. Tal exploração tem origem no antropocentrismo,
que já na modernidade estabelecia a forma de convívio entre
as pessoas e os animais. Ela se manifesta nas atividades
científicas, através da utilização de animais em laboratórios,
e econômicas, quando priva a sua liberdade para o abate,
além do uso de agrotóxicos, prejudiciais aos recursos naturais
(PEQUENO, 2014, p. 36).
Como bem assegura Graebin (2016, p. 35), a
concepção antropocêntrica afirma que o tratamento dado
aos animais se define pelas consequências que irão ocorrer
na sociedade. Existe uma superioridade motivada pela
capacidadeintelectual, que prioriza os humanos, e considera
a capacidade matemática como principal atributo de
racionalidade. Logo, a espécie humana, sendo a única capaz
de pensar sobre o futuro, tem autorização para explorar as
demais espécies.
A luta pelos direitos dos animais tem origem
no interesse da sociedade em utilizá-los, objetivando
gerar lucros, através da pesquisa e experimentação, ou da
agricultura e alimentação, em benefício próprio (SILVA, 2015,
p. 65-66).
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A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

O autor ainda ressalta que o biocentrismo nem


sempre motivou a defesa animal. Sua contribuição modificou
a concepção inicial do texto constitucional, fundada por
interesses antropocêntricos, como a vida e a dignidade
humana (SILVA,2015, p. 66-67).
Nesta lógica, como bem pontuam Stoppa; Viotto
(2014, p. 122), o capitalismo influenciou a forma de convivência
que a sociedade estabeleceu com a natureza, pois seguindo
sua filosofia, a sociedade ocupa uma posição dominante em
relação aos seres que nela vivem, aproveitando-se deles para
satisfazer necessidades.
Dessa feita, para Marx, na riqueza social dominada
pelo modo de produção capitalista, se manifesta uma grande
quantidade de acumulação de mercadorias. Para se tornar
uma mercadoria, esta deve ser transferida a outra pessoa
por meio de uma transação, e usada como um valor-de-uso
(1867, p. 12-18).O processo de trabalho é uma prática que visa
a criação de valores de uso, utilizando os recursos naturais
para atender às exigências humanas, característica que
determina a relação entre as pessoas e a natureza, condição
natural contínua para a vida humana. O valor de uso da força
de trabalho é comandado, então, pelo capitalista (MARX,
1867 p. 74-76).
Assim, sob a intenção principal de alcançar
determinados fins pessoais, os humanos deixam de lado o
bem-estar da vida na terra e exercem sua supremaciacontra
outras espécies, utilizando também da força (STOPPA; VIOTTO,
2014, p. 122).
Nas palavras de Martins (2012, p. 21), a natureza é

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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

vista como um meio de arrecadar riquezas. Dessa forma, as


legislações ambientais, ditadas pelo capitalismo, ainda são
deficientes. Torna-se necessário promover mudanças efetivas
nas leis, que estimulem ações voltadas exclusivamente para o
bem-estar, capazes de proporcionar um avanço significativo
nesta questão. Portanto, a defesa animal no Direito, contraria
essa ideologia capitalista dos antropocentristas radicais, e
a de grandes grupos pelo mundo que temem ter prejuízos
econômicos, uma vez que a produtividade dos animais não
humanos gera lucros (MARTINS, 2012, p. 21).
A autora também salienta a possibilidade de
verificar, nos dias de hoje, que os adeptos da corrente
antropocêntrica são maioria, pois tal visão predomina no
Brasil e no mundo. Isso porque as pessoas cultivaram a ideia
de que os humanos estão acima dos animais, devido ao seu
intelecto (MARTINS, 2012, p. 35).
O pensamento antropocentrista possui papel
dominante na doutrina, anulando o biocentrismo adotado
pelos abolicionistas animais. Atualmente não há como falar
em direito animal no ordenamento jurídico brasileiro, pois seu
intuito é beneficiar a vida humana, de modo que falta uma
defesa com a finalidade exclusiva de proteger os animais
(MARTINS, 2012, p. 40).
Por conta disso, sem escolha e com a anuência
do ordenamento jurídico, a liberdade dos animais foi
cerceada, passando a viverem enclausurados em ambientes
desconhecidos, totalmente fora do lugar que pertenciam.
Assim, o processo de domesticação que ocorreu nos
zoológicos, pelo qual foram obrigados a deixar o habitat onde

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A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

se desenvolveram, é um exemplo da utilização destes para o


entretenimento humano (SOLER, 2011, p. 45).
Soler (2011, p. 46) assevera que, direta ou
indiretamente, o ser humano coloca em risco o lugar onde
ele mesmo habita pelo tratamento dispensado ao meio
ambiente, tendo em vista que a visão de que os humanos são
o centro dos interesses traz consequências degradantes para
o planeta.
Como observa o autor, a defesa da natureza
só existe como forma de assegurar a vida e os interesses
econômicos humanos, modo pelo qual manifesta-seo caráter
antropocêntrico, que desconsidera a essência e a importância
dela (SOLER, 2011, p. 47).
Na visão de Soler (2011, p. 47), a CF/88 demonstra o
seu verdadeiro objetivo no art. 225, onde afirma que a proteção
do meio ambiente deve existir em prol da vida humana. Com
isso, pode-se interpretar a partir do dispositivo que o dever de
tutela das autoridades públicas e cuidado entre os demais
indivíduos em garantir o equilíbrio da natureza não existe
por considerar a sua dignidade intrínseca. A expressão “bem
de uso comum do povo” deixa claro que o real propósito é
disponibilizar a natureza para o livre desfrute da comunidade,
a qual depende disso para viver de forma saudável.
Em vista dessa concepção antropocêntrica de
somente satisfazer a sociedade, surgiram expressões que
mercantilizaram a natureza, tais como “recursos naturais,
serviços ambientais, patrimônio da humanidade, bens
ambientais” passando a ser tratada pelo direito ambiental
de uma forma que retirou a dignidade intrínseca que possui

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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

(SOLER, 2011, p. 47-48).


Para Junges (2001, p. 47-48), a crise ecológica
surgiu devido a relação dedisputa perpetuada pelos humanos
entre o seu ambiente e a natureza, pois asobrevivência dessa
dependia de boas relações sociais. Daí nasce a necessidade
de uma mudança de perspectiva na forma que as espécies
convivem, considerando o valor único da natureza, através de
um equilíbrio entre os ecossistemas humanos, e os aspectos
sociais, políticos, econômicos e religiosos que formam a
população, sob pena de os ecossistemas humanos serem
igualmente extintos.
Nessa mesma linha, o autor considera que
a mudança ao paradigma ecológico, como solução à
crise, somente ocorrerá quando o ser humano conseguir
compreender ele próprio. Assim, a forma como se relaciona com
a natureza, permitirá construir um entorno social diferente.
Para os antropocentristas e biocentristas chegarem a um
discurso ético ideal, é preciso esclarecer questões importantes,
concebendo que a natureza faz parte da teologia da criação
(JUNGES, 2001, p. 48).
Desta forma, os defensores do meio ambiente
(biocentrismo) adotam umapostura contrária a visão centrada
na espécie humana (antropocentrismo), que explora as
demais espécies em busca de satisfazer os próprios desejos.
A corrente biocêntrica vem evidenciar, então, a urgência da
adoção de paradigmas que atribuam um novo significado a
natureza, transformando sua relação com os seres que nela
vivem

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A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

1.2 A VISÃO BIOCÊNTRICA COMO NECESSIDADE DA


CONSTRUÇÃO DE OUTROS PARADIGMAS

Para Stoppa; Viotto (2014, p. 123), o biocentrismo


manifestou-se, há não muito tempo, como uma vertente da
ética ambiental. Também chamado de ecocentrismo, seus
princípios de direito possuem argumentos opostos às correntes
antropocêntricas.
Os defensores da corrente biocêntrica acreditam
que a vida em qualquer forma merece respeito e deve ser
protegida. Essa visão julga que o fato de os animais possuírem
vida por si só já lhes confere esse direito. Para a corrente
biocêntrica, não há razão que justifique explorar nenhuma
espécie ou impor qualquer forma de rendição em benefício
da humanidade. Os animais fazem parte, portanto, do rol de
sujeito de direitos (MARTINS, 2012, p. 34).
Conforme Martins (2012, p. 45), o surgimento do
biocentrismo modificou as ações sociais perante a natureza.
Tais ações passaram a ser pautadas em uma perspectiva que
priorizou considerar a natureza, e tudo relacionado a ela,
como elementos essenciais.
Portanto, as duas correntes formam um conflito que
não tem como pauta apenas a base formal dos padrões de
proteção ambiental, mas sim valores éticos e filosóficos. Os
defensores do biocentrismo assumem uma postura crítica,
partindo da tese central de que, desde os tempos pré-
históricos, os humanos se consideram superiores (MARTINS,
2012, p. 36).
A autora também aborda a nova compreensão
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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

da relação da espécie humana com a natureza, na qual a


forma de convivência entre a sociedade, o ecossistema e sua
biodiversidade é analisada sob novas perspectivas, aliada
a alguns conceitos surgidos, a fim de modificar a maneira
que agem historicamente, na medida de em que evoluem
(MARTINS, 2012, p. 45).
Em consonância ao acima referido, para Junges
(2001, p. 35):

A preocupação e a sensibilidade ecológicas


surgiram como reação a uma mentalidade
predatória diante da natureza. Os recursos
naturais estão à disposição do desfrute ilimitado
do ser humano. O dever moral é utilizar para
proveito imediato e o mais rapidamente possível
o máximo de recursos naturais disponíveis. É a
ética que acompanha e justifica a conquista de
terras selvagens e a sua colonização e exploração
em vista do lucro e do enriquecimento. É a
mentalidade que inspirou a ocupação do território
brasileiro desde a chegada dos portugueses
e continua até os dias de hoje. A busca de
novas terras para a mineração e a agricultura
chegou aos últimos rincões do Brasil durante os
últimos dois séculos, motivada pela ideologia do
progresso, explorando os recursos naturais pela
técnica edominando a natureza para construção
da civilização. Esse processo socioeconômico e
cultural foi causado e motivado pelo capitalismo.
Os efeitos de injustiça social e destruição da
natureza estão patentes e despertam reações
no sentido de uma mudança de paradigma.

Ou seja, o uso desenfreado daquilo que a natureza


oferece ocorre desde o processo de desenvolvimento da
civilização, sem nenhum cuidado com o bem- estar desta. A
busca incessante por acúmulo de capital e crescimento

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A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

pessoal impulsionaram a compaixão pela natureza, resultando


em ações que apontam para uma grande mudança nesse
conceito capitalista.
Nesse sentido, para Pereira (2009, p. 7-8), a vida
humana é um objeto de proteção significativo que existe
em razão do meio ambiente, o qual vem ganhando atenção
especial no âmbito do direito. Por meio deste, a ciência
jurídica se torna uma das principais responsáveis por liderar
uma nova maneira de agir frente aos seres viventes e a terra.
O distanciamento em relação a natureza, como
bem assegura Junges (2001, p. 50-51), fez com que os
humanos abandonassem um elemento indispensável para
sua existência, o local onde vivem. Em vista disso, surgiu
a necessidade de superar a visão contemporânea, que
enxerga uma posição inferior nos demais seres, tratando-os
como objetos inanimados e fontes de recursos. A natureza
e os indivíduos estão ligados entre si, mas na medida em
que se originam dela, são parte integrante. Assim, o meio
ambiente representa um valor crucial, tendo em vista que
o desenvolvimento de todas as áreas da vida ocorre com
o respeito através dos atos individuais, pois interferem e
influenciam no todo.
Por isso, é preciso ter consciência de que os
humanos não ocupam o papel principal no entorno em que
se encontram, entendendo que estão meramente inseridos
nele. Viabilizando o regulamento de novas normas jurídicas,
será possível compreender que as leis devem operar a favor
da coletividade (PEREIRA, 2009, p. 8).
Por meio da proteção na Constituição brasileira

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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

de 1988, segundo Pereira (2009, p. 9), animais foram


considerados objetos de regulamentação própria como
direito fundamental, além das garantias e direitos pessoais
de todos, já estabelecidos historicamente. Sabendo que os
atos prejudiciais ao equilíbrio do meio ambiente resultaram
em vários desastres naturais, os humanos refletiram sobre a
ameaça que significavam perante os danos sofridos, quando
deixam de lado suas necessidades vitais, priorizando somente
o enriquecimento e o prazer individual. Superou-se então o
antigo pensamento jurídico, ditado pelos interesses sociais.
Na perspectiva do autor, além da motivação de assegurar a
vida humana, o dispositivo pretende recuperar a conexão das
pessoas com o lugar que pertencem, através da convivência
com o meio ambiente.
Cabe destacar que esse novo olhar desperta uma
possibilidade de evolução no Direito, a partir da mudança no
pensamento moderno:
Reflexões como essas devem abrir a mente da
sociedade para o que acontece ao seu redor.
Ainda que décadas e décadas tenham sido
necessárias para o homem perceber o quão
ignorante já foi com a natureza, quanta injustiça
já cometeu com as outras vidas que com ele
compartilham esta morada, resta a esperança,
muito através do Direito, de uma nova forma de
sentir, ver e agir com o todo do qual o animal
humano faz parte, deixando de lado a visão
antropocêntrica que sempre o guiou até os dias
dehoje (PEREIRA, 2009, p. 10).

De fato, Meneses; Silva (2016, p. 221) advertem que


se nenhuma outra espécie pode compreender sobre as coisas
e tomar decisões para controlar os acontecimentos da sua

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A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

vida como a espécie humana, adquirindo costumes e posses,


mais que apenas sujeito de direitos, o ser humano ocupa um
espaço na natureza de interdependência com os outros seres
viventes.
No ponto de vista do meio ambiente, os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana são aplicados da
mesma maneira ao não humano (MENESES; SILVA, 2016, p.
221).
O antropocentrismo decaiu devido as condições que
estão sendo impostas pelo mundo, e ficou responsável por
consolidar a quebra de paradigma. Isto posto, a sobrevivência
dos elementos naturais entrou em ameaça, pois seu uso
desenfreado representa graves riscos. Não há como impedir
a troca de papéis que ocorrerá quando a busca particular de
posses e lucros for substituída por hábitos de interesse geral.
Logo, apenas o necessário passará a ser o bastante, e não o
máximo possível, enfraquecendo o ideário capitalista criado
desde os princípios (CARDOSO; TRINDADE, 2013, p. 212).
Consoante, os movimentos de defesa animal e seus
opositores insistem em discutir sobre o rol dos sujeitos de
direitos, ao procurar pressupostos de direito necessários
que solucionem tal questão. Em vista disso, seria adequado
considerar ambos os interesses, estabelecendo uma harmonia
entre eles, e direcionando essa atenção para a eficácia do
cumprimento das leis atuais. É desnecessário aprofundar o
debate, pois a tutela dos não humanos existe em razão
do direito ambiental,motivo pelo qual já fazem jus a garantia
(MARTINS, 2012, p. 40).
No momento em que as pessoas compreenderem a

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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

importância de um novo comportamento capaz de influenciar


o presente e o futuro, elas poderão adotar pressupostos
biocêntricos para superar o conceito antropocêntrico que
sempre dominou o judiciário brasileiro. Não basta existirem
leis sem um resultado prático. O bem-estar dos não humanos
somente será considerado através de princípios morais
que substituam os costumes predominantes até hoje, e
garantam a defesa animal deforma concreta (MARTINS, 2012,
p. 40).
Assim como quem as pratica, os criadores da lei precisam
estar cientes sobre a relevância delas, entendendo o objetivo
porque existem, para que não se tornem ineficazes. Em vez
de promover novos dispositivos, é mais eficiente concretizar
as normas atuais, por meio de possíveis ações estatais, que
ressignifiquem o pensamento da sociedade e promovam
mudanças no modo de agir (MARTINS, 2012, p. 40).
Consequentemente, desafiando o senso comum, os
defensores do biocentrismo buscam encontrar uma solução
para o problema ambiental desenvolvido ao longo do tempo,
que só trouxe consequências drásticas ao planeta até agora.
Diante desse contexto, as pessoas começaram a demonstrar
simpatia pela natureza, entendendo que o ambiente em que
estão inseridos é prejudicado em meio a busca desenfreada
por dinheiro.

1. 3 O ESPECISMO E A COMPREENSÃO DOS ANIMAIS


A PARTIR DA IGUALCONSIDERAÇÃO

De acordo com o que ensina Cunha (2014, p. 20),


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A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

existem correntes que regulamentam coisas distintas. A


primeira delas é justa, pois pressupõe que os interesses
humanos devem ser respeitados da mesma forma que os
interesses animais. Já na segunda corrente, contrária a esta
afirmação, o ser humano pensa somente em si mesmo, e
julga suas escolhas como as únicas importantes. Desta forma,
pretende demonstrar à seguinte conclusão:

(1) devemos aceitar a exigência de tratar casos


relevantemente similares de maneira similar e
que; (2) tal aceitação requer que adotemos uma
perspectiva imparcial (impessoal) e rejeitemos o
egoísmo ou qualquer outra visão normativa que
implique arbitrariedade (CUNHA, 2012, p. 20)

O pensamento comum requer igual tratamento a


fatos equivalentes, baseados na coerência e relevância. Com
base na relevância, todos devem assumir a responsabilidade
de fazer escolhas com motivações semelhantes sob um
único olhar. Aceitar a matança de animais justificando que
não podem compreender obrigações e garantias perde o
sentido quando é reprimida a morte de alguns
humanos igualmente irracionais. É possível então, antes de
tudo, definir a licitude de um comportamento analisando a
coerência dele (CUNHA, 2014, p. 20).
Por sua vez, a relação entre ser sujeito de direito
e a imoralidade da morte poderia se esclarecer por meio do
argumento que considera a morte cruel tendo em vista o que
os indivíduos deixariam de vivenciar depois ela. Assim, a morte
de alguém que viveu pouco não é sentida devido aquele
indivíduo ter sido um sujeito de direitos, mas pelas coisas que

20
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

ficaria impedido de aproveitar em todo o tempo restante


(CUNHA, 2014, p. 21).
O autor traduz tal ideia da seguinte forma:

O que acabei de fazer foi sugerir que a perda do


desfrute é um critério relevante para se descobrir
quais seres é um erro matar, enquanto que
saber o que são direitos e deveres não é (talvez
seja apenas para saber quais seres devem ser
responsabilizados caso matem). Mas, se for
verdade que o critério do desfrute é relevante
e explica o erro em matar crianças humanas
(e, penso que é), então estamos logicamente
implicados a aceitar que, então, é errado matar
outros animais não-humanos sencientes (a
saber, seres capazes de ter experiências), já que
também são capazes de desfrute. O que fiz foi
apelar ao critério da relevância, argumentando
que a ideia de que só é errado matar os seres
que sabem o que são direitos e deveres reside
numa confusão entre o critério relevante para se
descobrir quais seres temos dever de considerar
com o critério relevante para se descobrir quais
seres têm o dever de considerá-los (CUNHA, 2014,
p. 21).

Conforme citado acima, o requisito essencial


analisado para avaliar a importância de preservar a vida
dos animais, nada tem a ver com o entendimento sobre sua
condição de cidadão. O requisito correto seria pensar nas
futuras vivências que a morte impede ambas as espécies
sencientes de aproveitar.
Argolo (2009, p. 922) define o especismo como o
ato de atribuir uma grande relevância a natureza humana
em detrimento das demais. Assim, por meio de tal prática se
justifica a supremacia humana, considerando as preferências
21
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

humanas superiores, porquanto os animais não têm algumas


características específicas dessa espécie.
Nessa mesma linha, Meneses; Silva (2016, p. 221)
argumentam que mediante tal raciocínio, começa-se a
imaginar a natureza em uma posição de servidão, a qual
existe com o único intuito de proporcionar conforto para a
coletividade humana e satisfazer seus interesses, como nas
teorias filosóficas.
Mas existem opressões históricas, nas quais
estiveram presentes os efeitos negativos do domínio que a
humanidade exerce sobre ela mesma, manifestadas por meio
do regime nazista, que defendia uma raça como superior,
da escravidão, que cerceava a liberdade de indivíduos em
vista da sua cor, e, na modernidade, a divisão da sociedade
sob uma classe dominante representada pela burguesia
(MENESES; SILVA, 2016, p. 223).
A maneira dos indivíduos em lidar com as outras
espécies transmite a ideia que necessitam, em defesa da
própria identidade, agir com desprezo sobre os outros. Assim,
pretendendo demonstrar uma soberania moral, ocupam um
espaço que evidencia sua predominância (MENESES; SILVA,
2016, p. 223).
Ao observar o modo como o animal humano trata
o não humano, buscando de forma primordial legitimar a
própria identidade, é possível perceber que aquele acredita
veementemente ter privilégios capazes de torná-lo único,
estando acima do não humano (MENESES; SILVA, 2016, p.
224).
Como visto, o egoísmo pode ser percebido em outras

22
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

opressões históricas, como o especismo, racismo, machismo


e homofobia, e por isso está cadavez mais difícil sustentá-lo.
Ambas as práticas têm como ponto em comum considerar
determinados interesses, ignorando outros semelhantes.
Defendem a distinção com base em critérios de raça, gênero,
orientação sexual, ou falta de escolha, que não influenciam
os desejos e predileções, enquanto ignoram o que as pessoas
realmente precisam, critério essencial para solucionar a
questão (CUNHA, 2014, p. 24).
Cunha (2014, p. 24) ainda aborda o entendimento
onde todos os valores básicos possuem princípios lógicos.
Argumentando que este se enfraquece quando determinados
valores adotam uma postura justa, segundo o que realmente
faz diferença, ao considerar os atributos essenciais das
pessoas e seu valor intrínseco, enquanto algumas pessoas não
mostram interesse pelo que é relevante, mediante premissas
imorais.
No entanto, os demais seres merecem ter a mesma
importância, considerando que igualmente apresentam
vontades. Ambos os animais e humanos devem ser dignos de
atenção quando analisados o seu sofrimento e angústia, só
assim se chegará a um parecer com o devido respeito moral
(ARGOLO, 2009, p. 922).
Para Meneses; Silva (2016, p. 228), no pensamento
que respeita os valores da sociedade, os animais têm a
obrigação de acatar todas as funções designadas pelos
humanos, reduzidos a objetos ou meros bens. Logo, é
preciso superar tal conceito, posto que esses seres sencientes
conseguem experenciar o sofrimento. O fato de apresentarem

23
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

atributos racionais mais fracos não autoriza a recusa de


direitos com base no especismo, apenas significa que não
terão exatamente os mesmos direitos.
Zambam; Andrade (2016, p. 153) ainda se preocupa
em sublinhar que o sistema jurídico ignora a verdadeira
existência e as características internas e externas dos
animais, atribuindo a eles uma existência material. Mas já
são verificados progressos, além do campo jurídico, na ciência
e nas normas morais, a fim de separá-los das coisas sem vida.
Apesar de o direito continuar, de forma impensada, igualando
os animais a objetos inanimados, surgiram evidências de
inovações quanto a essa percepção.
No momento em que a ética considera o critério
da senciência na valorização moral dos animais, ela
sustenta a ideia de que eles devem ter acesso aos direitos
fundamentais, o que não significa apenas evitar o sofrimento
visando preservá-los, mas sim oferecer todas as garantias
necessárias ao desenvolvimento. Mesmo na remota hipótese
de ser indolor, privar a liberdade animal em benefício próprio,
independentemente do fim, nunca irá respeitar a sua essência
(ZAMBAM; ANDRADE, 2016, p. 154-155).
Sabendo que encontram-se alternativas a
objetificação, os atos de maus- tratos praticados pelos
humanos contra os animais, como aprisioná-los por meio
da indústria da carne e da moda, ou para serem utilizados
em laboratórios tanto quanto desempenhando tarefas, é
irrelevante, pois contraria o julgamento moral (ZAMBAM;
ANDRADE, 2016, p. 157-158).
Nesse sentido, Cunha (2014, p. 26-27) conceitua

24
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

o princípio da igual consideração de interesses, principal


argumento utilizado por Peter Singer. Nele, a atribuição
de valor a um suposto interesse, independente de quem
atinja, deve considerar somente a qualidade desse interesse.
Vivenciar a dor significa um mal para qualquer um, já sendo
suficiente para estimular a não violência. Logo, o julgamento
de algumas preferências não deve mudar quando aplicado
às outras pessoas. Preservar a vida dos animais apresenta
tanta importância quanto preservara vida humana, visto que
conseguem perceber o seu redor, e com a morte também
deixam de aproveitar os acontecimentos. Sabendo que o
princípio da igualdade requer o igual tratamento dos iguais, e
ainda a semelhança e importância entre os interesses de tais
seres, os animais merecem ter igual consideração.
Acerca do assunto, conforme Silva (2009, p. 53),
o princípio da igual consideração de interesses determina
o dever de considerar interesses iguais igualmente,
independentemente de quem possua tais interesses. Assim,
sabendo que todos os seres compartilham sensações e
sentimentos parecidos, quando se pode relacioná-los, é
incorreto ignorar o sofrimento de um animal não-humana,
pois:
Os seus interesses devem importar e devem
ser atendidos ainda que este ser não utilize
a mesma linguagem que nós ou não atinja o
mesmo grau de inteligência e raciocínio, e tal
princípio deve servir de base para o tratamento
que dispensamos tanto aos humanos como aos
demais animais.Não se trata de diminuir os seres
humanos ou de achar que não há diferença
alguma entre as espécies, apenas de reconhecer
como detentores do direito a não serem

25
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

submetidos a tratamento discriminatório quanto


aos seus interesses, os membros de outras
espécies, já que oprincípio básico da igualdade
deve ressaltar as semelhanças entre os homens
e os demais animais e não suas diferenças. O
fato de estes poderem também sentir dor, medo
e de sofrer como nós, nos aproxima dos demais
animais e nos impõe o dever moral de levar em
consideração tanto seu existir como indivíduos
conscientes, quanto seu sofrimento ou prazer
(SILVA, 2009, p. 53).

Os animais apresentarem jeitos diferentes de


agir e de se comunicar apenas indica que sua espécie
tem a capacidade vital de transmitir ideias através de um
sistema comum, sendo a linguagem humana inútil para
eles. Por isso seria em vão continuar negando valor a outros
animais sob a justificativa de que, pela visão humana, têm
uma linguagem complexa e, assim, inadequada. A autora,
procurando esclarecer acertadamente essa incoerência,
sugere uma troca de papéis, onde os indivíduos passem a se
comunicar por meio de métodos de linguagem próprios, os
quais julgam aptos para a necessária compreensão. Nessa
hipótese, perderiam todaa credibilidade daquele ouvinte que
não consegue entender formas de comunicação alheias a sua
espécie. Diante da conversa frustrada, independentemente
do esforço em demonstrar outros gestos, como emitir sons, o
ouvinte poderia querer desqualificá-lo para tal ato. Ou seja,
seria uma cena complicada caso este utilizasse atributos de
razão ou força para autorizar o uso indiscriminado dos outros
indivíduos, supondo que a incapacidade para falar implica
necessariamente na inexistência de sentimentos ou interesses
(SILVA, 2009, p. 54).
26
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

O movimento adotado pelos defensores dos animais


repreende a existência das jaulas em si, mesmo que tenham
melhores condições. Ou seja, ainda que pensemos estar
amenizando o sofrimento dos animais não-humanos de algum
jeito, eles devem ter seus interesses respeitados no mínimo
como espécie, o que implica não os submeter a quaisquer tipos
de exploração, utilizados como refeição, vestimenta, “sujeitos
de testes em experimentos cirúrgicos, toxicológicos, militares
ou espaciais”, muito menos no entretenimento e esporte, ou
nas demais práticas contrárias à vontade (BRÜGGER, 2009, p.
203).
Conforme visto, o ponto de vista especista classifica
uma espécie como superior, enquanto o sexista classifica
um gênero, e o racista uma cor. Ou seja, o que muda são
os atributos preconceituosos utilizados para alguém exercer
poder sobre o outro (MENESES; SILVA, 2016, p. 223).
Por conseguinte, quem pratica o especismo
dissemina a ideia de que os humanos ocupam uma suposta
posição de domínio perante os animais, na qual os interesses
de outras espécies são desconsiderados em virtude de se
priorizar certos atributos de racionalidade, em desacordo
com a moral (MENESES; SILVA, 2016, p. 223).
Aqueles que pretendem continuar agindo cruelmente
e utilizam o argumento de que essa violência se estabeleceu
na cultura – fazendo parte da vida – precisam pensar na
situação, há pouco tempo, onde se tirava proveito de seres
humanos com base na diferença de cor na pele, atormentando-
os e aprisionando-os como tratamos os animais agora. Assim,
essa postura sem nenhum cabimento deixou de ser tolerada,

27
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

e sabendo que nos causa revolta imaginar tamanha falta de


instrução que autorizou o preconceito contra um povo, em
virtude da sua cor da pele, ser banalizado durante anos, é
incoerente apresentar outro sentimento quanto às atitudes
relacionadas aos não-humanos (SILVA, 2009, p. 55).
Nesse contexto de poder absoluto, a mudança de
paradigma passa a ser obrigatória, pois é preciso começar
a visar o bem-estar do próximo, isto é, considerar a essência
do animal não humano, mesmo que seja necessário eliminar
alguns interesses particulares (MENESES; SILVA, 2016, p. 225).
Brugger (2009, p. 205) se preocupa em sublinhar
que estruturar um novo paradigma de conservação da
vida tem como premissa introduzir regras morais à Ciência,
que é predominante. Isso porque as sugestões hipotéticas
e aplicáveis a respeito do correto avanço ecológico, estão
profundamente envolvidas por um pensamento onde a
ciência é superior, compreendendo os demais como meio de
alcançar um fim.
Nós acabamos dando importância aos animais em
extinção ou selvagens ao mesmo tempo que desconsideramos
os domésticos ou de laboratórios devido a esse olhar que usa
o outro para obter algo. Os costumes especistas deixados,
aliado a quebra do conhecimento e a antiética na ciência
contribuíram para reduzir vacas, porcos e frangos, na visão
de biólogos ou ambientalistas, a fontes de pesquisa para
produção. Eles até podem integrar debates filosóficos sobre
ética, mas no senso comum sua vida serve apenas de alimento
(BRÜGGER, 2009, p. 205).
Os animais, dentre todos os interesses, apresentam

28
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

de forma essencial o interesse em não sentir dor, e nosso


comportamento em nenhum momento busca respeitá-los
(BRÜGGER, 2009, p. 206).
Com efeito, embora exista uma diferença inegável
entre as espécies, e osnão humanos apresentem atributos de
racionalidade diferentes, isso não retira a relevância deles,
tendo em vista que apresentam outras qualidades importantes.
Portanto, tal argumento não pode ser utilizado para defender
uma subordinação à espécie humana, diminuindo o seu valor
(STOPPA; VIOTTO, 2014, p. 122).
Na medida em que existem outros meios de
satisfazer o interesse humano, a fim de superar a compreensão
antiga sobre os animais, é necessário abandonar o olhar de
objetificação que os desfruta desnecessariamente. Somente
mudando o contexto da sociedade sobre o todo, será possível
respeitar a dignidade intrínseca do animal não-humano,
percebendo-o como um semelhante (PEREIRA, 2009, p. 13).
Deste modo, a corrente biocêntrica veio defender
novas práticas que modificaram a relação humana com
a natureza, pois passou a considerar todos os seres vivos
como sujeitos dotados de valores jurídicos. Da mesma forma
que o ser humano, os animais gostam e prezam pela sua
vida. Eles são seres que possuem a capacidade de sentir e
experimentar sensações conscientemente. Sendo assim,
conforme será exposto adiante, no campo ético-moral, já
foram demonstradas as razões pelas quais devem possuir
direito.

29
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

CAPÍTULO II

SENCIÊNCIA E DIGNIDADE DA PESSOA NÃO


HUMANA

Em direção oposta às declarações contidas nos


trezentos e cinquenta anos anteriores, que negavam o
sofrimento animal com base na ausência de raciocínio,
nenhum pesquisador científico consegue mais reiterar isso
perante tal campo. Durante as duas últimas décadas do
século XX, profissionais das diversas áreas do conhecimento
estiveram obstinados em elucidar a capacidade mental dos
animais para a coletividade, impedindo que a ignorância
sobre essa capacidade continuasse permitindo a imposição
de sofrimento (FELIPE, 2007, p. 72).
Por conseguinte, segundo Pereira (2009, p. 3),
o Princípio da Dignidade da Pessoa humana surgiu como
resultado da compreensão de dignidade associada ao
ser humano. Tal norma, que existiu ao longo da história na
ordem jurídica, sobretudo em países ocidentais, buscava
determinar elementos importantes para a sociedade e o
Estado considerarem uma vida humana. Ocorre que a crise de
paradigma ambiental incidente agora sobre a humanidade
possibilitou a nova interpretação desse renomado princípio,
que passa a conduzir também o convívio entre a sociedade e
o meio ambiente na Terra.
Nesse sentido, o objetivo deste segundo capítulo é
estudar as condições dosanimais não-humanos que os tornam
dignos de direitos, por meio da fundamentaçãoética e moral.

30
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

E ainda, analisar a importância de transcender o princípio da


dignidade humana, considerando moralmente a dignidade
da vida animal sobre um ponto de vista jurídico mais centrado
no animal não-humano. Abandonando, assim, o atributo que
confere determinados valores ou direitos de acordo com as
diferentes espécies.

2.1 A SENCIÊNCIA ENQUANTO ARGUMENTO MORAL


PARA A DEFESA DOSDIREITOS DOS ANIMAIS

Após entender melhor as correntes filosóficas que


representam as figuras do ser humano e da natureza, e
estudar sobre os males que a primeira delas apresenta, como
também as medidas que devem ser tomadas contra os
prejuízos da irresponsabilidade ambiental, oportuno discorrer
acerca do principal argumento moral que torna os animais
não-humanos sujeitos de direitos, isto é, a capacidade de
sofrer.
A prevenção e o tratamento da dor em humanos e
animais são negligenciados. As ideias filosóficas propostas por
René Descartes no século XVII ainda não foram totalmente
esquecidas, quando este sugeriu que a fisiologia dos animais
era diferente da dos humanos, e que as respostas frente a
estímulos de dor seriam gestos involuntários por extinto de
proteção, sendo, portanto, automatizadas (LUNA, 2008, p.
19).
Na mesma linha, nas palavras de Prada (2008,
p. 11), o filósofo René Descartes é uma das personalidades

31
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

mais famosas da revolução científica no século Inventor de


um sistema que instrumentalizou o universo e os animais,
Descartes admitiu que a sensibilidade era uma característica
da alma, e por ser um privilégio do ser humano, não existia
nos animais. Diante disso, ele comparava os gemidos, uivos e
lamentos verbalizados pelos animais com os sons das rodas
de uma carroça circulando, isto é, meros atos mecânicos. A
partir daí, um grandemestre permitiu que os animais fossem
considerados objetos ou máquinas incapazes de sentir
emoções.
Já no século XX, como bem observou a teoria
evolucionista de Charles Darwin, o ser humano descende dos
animais, e, já que ambos tem anatomia, fisiologia, respostas
a estímulos prejudiciais e evitam o sofrimento de forma
parecida, os sentimentos entre eles apresentam uma grande
semelhança (LUNA, 2008, p. 19).
Isto posto, cabe trazer aqui os ensinamentos de
Naconecy (2006, p. 117), o qual conceitua a senciência como a
habilidade que os animais têm de experimentar sensações e
se preocupar com seus sentimentos. Ou seja, conseguemsentir
felicidade ou ter suas expectativas fracassadas. Especialmente
na Ética Animal, a senciência é o atributo daqueles animais
que sentem dor, assim como esperança de que ela acabe.
Em outras palavras, o animal não-humano pode
compreender sobre os seus sentimentos, sua localização, as
pessoas que o cercam, e o tratamento que recebe, por meio
dos sentidos (NACONECY 2006, p. 117).
Saad; Saad; França (2011, p. 41), explicam que,
apesar de alguns dicionários, como o Aurélio, relacionarem

32
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

a expressão “senciente” com a racionalidade, ela pode ser


utilizada basicamente para definir a capacidade de sentir por
meio de estímulos.
Portanto, como bem pontua Naconecy (2006, p.
117), um ser senciente:
tem sensações como dor, fome e frio;
tem emoções relacionadas com aquilo que
sente, como medo, estresse,frustração;
percebe o que está acontecendo com ele;
é capaz de aprender com a experiência;
é capaz de reconhecer seu ambiente;
tem consciência de suas relações com outros
animais e com os sereshumanos;
é capaz de distinguir e escolher entre objetos,
outros animais e situações diferentes, mostrando
que entende o que está acontecendo em seu
meio; avalia aquilo que é visto e sentido, e
elabora estratégias concretas paralidar com isso.

As características acima descritas formam um


consistente argumento para incluir os animais no rol de sujeito
de direitos, pois a semelhança que esses seres apresentam em
comparação a espécie humana é inegável. Logo, a sociedade
precisa aceitar que os antigos pressupostos utilizados para
isolar a espécie humana da consideração moral estão
ultrapassados, sendo a concepção biocêntrica atual, que só
se fortaleceu ao longo do tempo, a mais adequada.
Dessa feita, no que concerne ao grau de sofrimento
experimentado pelas consideráveis espécies de animais,
mesmo que diferenciá-lo conforme a classificação no
reino animal seja importante, a percepção humana sobre
a responsabilidade por outros animais deve perdurar em
qualquer intensidade de sofrimento (SAAD; SAAD; FRANÇA,
2011, p. 41).

33
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

Ou seja, primeiro deve-se aceitar e reconhecer que


todos os animais são passíveis de dor, porque analisar que ela
se manifesta em diferentes níveis dependendo da espécie,
importa menos que o dever de consideração imposto aos
seres humanos diante dessa capacidade.
Consoante, conforme Felipe (2007, p. 63), tendo em
vista que o descanso e o suprimento daquilo que é essencial,
ou seja, atender as necessidades básicas, componham a
natureza biológica dos animais, é imprescindível para o
bem-estar destes que as duas necessidades sejam satisfeitas
equilibradamente.
Assim, de acordo com a natureza de cada espécie,
os animais possuem aptidão para buscar meios que atendam
os seus interesses. Portanto, o suporte da construção do bem-
estar animal reside na possibilidade de buscar esses meios
encontrados na natureza. Semelhante aos animais, que
conseguem em benefício próprio e a sua maneira garantir
provimento, os humanos precisam da liberdade individual
para garantir o seu sustento (FELIPE, 2007, p. 63-64).
Sabe-se que a espécie animal consegue perceber
o que os cerca, e esse atributo compõe os interesses pessoais
básicos de qualquer ser, visto que possuem um corpo que,
privado de liberdade para satisfazer as necessidades, torna-
se incapaz de buscar alimento, água, respirar, e de sentir
emoções. Sendo assim, além da maneira como cada espécie
atende a essas importantes necessidades, não existem
grandes diferenças entre humanos e outros animais (FELIPE,
2007, p. 64).
Nesta lógica, o fato de os animais terem sido

34
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

separados no nascimento dequem os forneciam alimentação,


representados pelos seus pais, faz com que restringir a
liberdade deles signifique uma tortura muito grave,
independentementede qual espécie seja (FELIPE, 2007, p. 14-
15).
No momento em que um animal, humano ou não-
humano, passa a viver em más condições, sem a possibilidade
de se alimentar, se hidratar, respirar, e viver com seus
companheiros, os danos à vida desse animal surgem com a
redução ou mudança em seu desempenho físico e intelectual,
e no convívio com outros seres. Diante da mudança, o dano
é causado pela falta de suprimentos. Determinados corpos
podem sentir dor ao experenciar esse sofrimento, tendo
relação com as propriedades físicas e psicológicas individuais
(FELIPE, 2007, p. 65).
Como citado acima, os animais são constituídos
por uma estrutura física que os permite, a seu próprio modo,
procurar os interesses individuais, de forma que conseguem
ir em busca das próprias necessidades vitais, como comer e
beber água. Logo, sabendo que percebem o que acontece
a sua volta, o bem-estar deles também depende de um
ambiente tranquilo e confortável, livre de sofrimento mental.
Do contrário, se lhes retiram o acesso à água, alimento, espaço
adequado e a companhia de outras espécies, adotam um
outro comportamento, pois foram impedidos de se expressar
naturalmente.
Não há dúvida, então, de que os humanos podem
entender a linguagem física ou verbal presente nos animais
não humanos, pois compreendem as manifestações de fome,

35
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

sede ou doença nesses seres indefesos (VIEIRA; NOCERA;SILVA,


2012, p. 64).
Portanto, a manutenção da vida de qualquer
espécie animal senciente depende de liberdade física e bem-
estar emocional adequados. Conforme sua maneira única,
cada vez que os animais passam por confinamento, prisão,
sequestro, ou qualquer tipo de tortura, eles perdem o direito
de permanecer em boas condições de vida (FELIPE, 2009, p.
14).
Em consonância ao acima referido, segundo Fischer;
Librelato; Cordeiro; Adami (2016, p. 40), as novas exigências
presentes na sociedade assumem atitudes ético biocêntricas.
Sabendo que qualquer espécie que se move em busca de
provimento manifesta uma forma única de senciência, todos
os seres vivos capazes de buscar seus interesses pessoais
merecem uma vida que deve ser considerada e respeitada.
Os autores argumentam, então, não ser mais possível utilizar
atualmente a capacidade de sentir para excluir outros seres
vivos do estatuto moral, pois esse atributo já foi reconhecido
neles. Logo, torna-se indispensável uma mudança de
paradigmas que afirme sua importância, aplicando
legalmente o princípio da igual consideração de interesses.
Nesse contexto, Domingos; De Souza (2019), ensinam
que um ser senciente está ciente dos acontecimentos em sua
vida, portanto, as experiências positivas e negativas podem
afetá-lo de algum modo. Um exemplo prático corriqueiro são
animais de rua, os quais passam por experimentos dependendo
da forma como são tratados. Um cão, ao ser mal recebido, é
afetado negativamente, e assim muitas vezes não volta para

36
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

aquele lugar, ou, quando bem recebido na forma de uma boa


experiência, possui uma inclinação para retornar. O fato de
sentir demonstra a diferença existente entre indivíduos e meros
instrumentos, pela capacidade que os primeiros possuem de
aceitar ou responder de forma consciente a estímulos. Esta
habilidade ocorre em organismos que apresentam sistema
nervosocentral, cuja função caracteriza a consciência.
Dessa feita, no que se refere à preocupação
direcionada aos animais, como bem pontuam Broom; Molento
(2004, p. 9), as pessoas se equivocam ao atribuir consideração
inferior para os animais de criação, aqueles que a sociedade
não costuma ter contato. Contudo, é importante levar em
conta que um coelho com alguma intensidade de lesão ou
enfermidade, mesmo que seja um animal de estimação,
utilizado em pesquisas, de produção ou selvagem, terá o
bem-estar afetado da mesma forma.
Nesse sentido, o animal considerado instrumento
ou forma de entretenimento que vive em um ambiente de
um zoológico, merece permanecer livremente em seu habitat
natural (MENESES; SILVA, 2016, p. 221).
A base da fundamentação de que os animais sentem
dor consiste nas atitudes não verbais que eles manifestam,
ou seja, o mesmo critério aplicado às pessoas. Portanto,
sabendo que um animal, quando está sofrendo, toma
atitudes semelhantes a um humano na mesma situação, é
possível presumir que aquele animal passa por sofrimento.
Pode-se confirmar isso especialmente pela presença de sinais
óbvios de dor intensa em humanos e animais, como gritos e
convulsões. Mais que sentir dor, os animais sofrem angústia,

37
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

medo e pavor, e essas emoções negativas são percebidas


diante de seus esforços para fugir das gaiolas, jaulas e
matadouros (NACONECY, 2006, p. 106).
Desta forma, proteger os animais juridicamente,
admitindo o critério senciência, não significa buscar que sejam
bem cuidados quando estão a serviço de alguém. O que
se pretende é discutir, de forma clara, o direito das pessoas
de atingir seus fins utilizando qualquer animal senciente.
Reconhecer que a lei deve dar aos animais o mesmo amparo
concedido aos humanos, significa respeitar sua necessidade
de uma vida livre com saúde física e mental. Não obstante
a reificação contra os animais seja permitida, o sofrimento
praticado na experimentação, entretenimento e cerimônias
religiosas, ou ainda na indústria da moda e do consumo,
ignoram seus interesses de vida, circunstâncias que trazem
a necessidade de uma intervenção pelo Poder Judiciário
(ZAMBAM; ANDRADE, 2016,p. 153).

2.2. DIGNIDADE DA PESSOA NÃO HUMANA: CONCEITO


E NECESSIDADE DEESTENDER A PROTEÇÃO

Depois de discorrer sobre os seres dotados de


senciência, reconhecida assim a necessidade de sua tutela
jurídica especial, importante examinar a possibilidade de
transcender o princípio da dignidade para incluir também os
animais, por meio da proteção constitucional.
Para analisar este princípio e a importância de sua
concessão aos animais não humanos, ele deve ser conceituado.
Segundo Gomes (2010, p. 645), em 1948, por meio

38
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

da Declaração Universal dos Direitos Humanos - DIDH, a


sociedade atual concedeu os direitos que pertencem a
todo ser humano. Foi superada a concepção negativa da
escravidão, na qual os próprios humanos tinham a ideia de
que certos seres humanos haviam nascido com a função de
servir a outros.
Nos dias de hoje, o sistema de escravidão humana
não pode mais ser aceito pelo Direito Internacional, assim
como a tortura, o genocídio e os crimes cometidos contra
a população, pois além de todas as pessoas terem direito à
uma vida, elas também possuem o direito de desfrutá-la com
dignidade (GOMES, 2010, p. 645).
Assim, a palavra dignidade tem seu valor na honra,
respeito ehumanidade. O autor ainda explica que os animais
não são considerados pela Ética porque a sociedade costuma
associar esse termo apenas com o ser humano (GOMES, 2010,
p. 645).
No entanto, alguns autores consideram também a
dignidade dos animais. Com o desenvolvimento da ciência,
comprovou-se o engano da teoria de Descartes sobre a
incapacidade dos animais de sentir dor. Portanto, em vista
das atuais descobertas científicas, são necessárias na Ética
e na Filosofia, teorias que estejam em harmonia com as
novas pesquisas em Biologia, Psicologia, Medicina e Medicina
Veterinária (GOMES, 2010, p. 645).
Nessa seara, também no Brasil, a proteção animal
pelo Direito permanece com a clara tendência onde o ser
humano é o centro de tudo. Embora conste no art. 225, § 1º,
inciso VII, da Constituição Federal, a proibição expressa para

39
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

impedir os animais de sofrerem maus tratos, quase todos os


demais ordenamentos jurídicos do país equiparam os animais
a objetos inanimados, recursos ambientais, e até coisas.
Sempre protegendo, antes do animal não humano, o interesse
humano, porquanto não os considera de forma exclusiva
(SILVESTRE; LORENZONI; HIBNER, 2018, p. 64).
Consoante os ensinamentos de Ferreira (2017, p. 90),
embora a lista de diretrizes legais para a proteção animal
tenha passado por um aumento nos últimos anos, o sistema
jurídico ainda expressa fraqueza devido à abordagem cruel
que submete os animais. Mesmo hoje, esses acontecimentos
ainda fazem parte da realidade, sendo eles: o ambiente
rural difícil, onde os animais sofrem abusos e são utilizados
para acabarem fisicamente exaustos; “o mau trato diante
os holofotes dos espetáculos das arenas dos rodeios e dos
picadeiros dos pequenos circos nômades”; o sofrimento dos
animais com a criação industrial, em meio às torturas,“os
horrores dos matadouros e as terríveis experiências científicas”,
além de outras situações que sugerem maus tratos animais.
É imprescindível voltar a pensar sobre esse modelo
jurídico e procurar um modelo que considere todas as formas
de vida, não se importando com onde ela se faz presente.
Caminho este que, com certeza, segue um lado muito oposto
ao antropocentrismo (FERREIRA, 2017, p. 91).
Nesta lógica, segundo Antonio (2014, p. 58), deve-se
destacar que o direito à qualidade ambiental, mesmo após
elevado para o nível de direito fundamental (conforme estipula
o artigo 225, CF), abrange principalmente a espécie humana.
Desta forma, não é novidade que atualmente ainda é a

40
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

pessoa que se contempla com todos os direitos fundamentais


já criados, independentemente de serum indivíduo, um grupo,
ou até o gênero humano. Falta então, em seu conceito, a
desejada valorização da essência dos animais não humanos,
os contemplandodiretamente.
Também nesse sentido, Zimmermann (2013, p.
126) observa que a Carta Magna brasileira de 1988 parece
destinar a estimada proteção dos animais e das plantas, a
finalidade de assegurar a qualidade de vida e o respeito à
dignidade humana, por isso não se pode retirar das normas
constitucionais a consideração dos direitos dos animais,
como uma garantia própria em lei. Embora a Constituição
Federal brasileira de 1988 admita que a senciência é uma
característica intrínseca dos animais ao impedir que eles sejam
tratados cruelmente, essa garantia não é capaz de equiparar
os direitos dos animais e os direitos humanos, analisando da
mesma forma suas condições externas.
A mesma constatação é feita por Martins (2012, p.
43), ao salientar que em uma interpretação sistemática da
Constituição, pode-se verificar que o legislador,quando instituiu
as normas constitucionais, atribuiu sua destinação somente às
pessoas, porquanto as leis estão diretamente vinculadas aos
humanos, sem mais nenhum outro figurando como sujeito de
direitos. Logo, as disposições do art. 5º estipulam claramente
que os titulares dos direitos fundamentais são as pessoas,
nacionais ou estrangeiras.
Sobre esse respeito, devido aos lentos avanços
da sociedade, do conhecimento e da cultura, inexistem na
atualidade normas constitucionais ou até normas inferiores

41
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

à Constituição, no sentido de impor sanções disciplinares


nesta matéria, para conferir aos animais não humanos no
ordenamento jurídico a titularidade de sujeitos de direitos,
ou de seres vivos sencientes (SILVA JÚNIOR;OLIVEIRA, 2020,
102-103).
Contudo, nas palavras de Martins (2012, p. 44), não
quer dizer que a Constituição exclua a proteção exclusiva
dos animais. A sua defesa é concreta e fundamenta-se em
proibir todo comportamento cruel ou que prejudique as
espécies (Art. 225, §1º, VII), então não importa o motivo ou
razão na qual o legislador se motivou para conceber essas
regras, pois a importância delas reside em fazerem parte do
ordenamento e no seu dever de obediência, que caso não
observado, infringirá esse dispositivo.
Deve-se destacar também, que associar a teoria
dos direitos fundamentais de defesa ambiental com o
objetivo de proteger o ser humano (e atender a dignidade
humana) ainda autoriza que sejam reconhecidos os valores
inerentes aos animais, porque apenas considera a sociedade
de risco, na qual a defesa coletiva da natureza e dos animais
se faz urgente devido a falta dos recursos naturais vitais
para conservar também a vida humana na Terra. Isso porque
os direitos do meio ambiente que compreendem os seres
humanos não impedem que tais direitos sejam igualmente
direcionados aos animais (ANTONIO, 2014, p. 60).
Em consonância ao acima referido, embora
não se possa fazer uma interpretação ampla das normas
constitucionais, no que diz respeito a tornar os animais seus
titulares, observa-se que as leis foram criadas com regras

42
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

obrigatórias para serem cumpridas pela proteção ambiental.


No momento em que conferida essa tarefa ao país, principal
promotor da defesa do meio ambiente, a proteção dos
animais está assegurada na Constituição, apesar de que
indiretamente, por ter comofim defender a qualidade da vida
humana (MARTINS, 2012, p. 43).
Com efeito, Ferreira (2017, p. 90-91) dispõe o
seguinte:

Na ótica antropocêntrica, os animais não gozam


de um valor absoluto, isto é, não têm valor em
si mesmo, o que lhes garantiriam, de imediato,
o título de meros “recursos ambientais” (coisas).
Tal concepção, ao desconsiderar a singularidade
de cada criatura e a condição de “seres vivos”,
justifica o uso instrumental da fauna conforme a
serventia que os animais possam ter. Algodo tipo
ainda é reconhecido, em geral, como legítimo por
nossas ações e nossas leis. Todavia, a prática de
tratar os animais como mercadorias, matérias-
primas ou produtos de consumo, negligência
atributos importantes a partir dos quais se é
possível ampliar o status moral destes, de modo
a justificar para as pessoas o dever de respeitar
a fauna, tais como a sensibilidade desses seres,
a capacidade racional de alguns deles e a
possibilidade de atribuição de qualquer valor
moral.

Conforme citado acima, o pensamento que vê o ser


humano como centro do universo atribui um tratamento aos
animais no qual eles são apenas objetos, meios usados para
obter vantagens, não reconhecendo que possuem uma
vida única cujo valor deve ser considerado. Não obstante a
sociedade e a legislação permitam ações como essas, qualquer
tipo de serventia submetida aos animais não humanos ignora
43
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

as características importantes que demonstram o seu status


moral e justificam o dever de cuidado das pessoas diante
desses seres sensíveis e inteligentes.
Apesar disso, segundo Abilio (2017, p. 454), com
o desenvolvimento surgiu a possibilidade e a necessidade
de fornecer proteção para esses seres sencientes, os quais
encontram-se marginalizados há muito tempo, sendo
rejeitados pela sociedade. Desta forma, inexiste qualquer
razão coerente para negar os direitos fundamentais dos
animais, garantias estas que inicialmente tiveram sua
idealização destinada ao animal humano.
O autor ainda esclarece que a busca pelos direitos
humanos que devem ser assegurados para animais não
humanos, diz respeito apenas àqueles condizentes com o
interesse destes, ou seja, que as espécies possam desfrutar.
Portanto, para serem apropriados, os direitos precisam estar
em conformidade com quem os detém (ABILIO, p. 454, 2017).
Por isso, de acordo com Pereira (2009, p. 25-26),
atribuir um tratamento aos animais não humanos sencientes
com dignidade própria, significa admitir o valoressencial de sua
vida, uma existência que se relaciona com a espécie humana
de inúmeras formas na Terra. Significa aceitar que, desde a era
mais distante, os animais não humanos afetam moralmente
todas as atividades da vida terrestre. Os demais animais não
são bens semoventes, e possuem a mesma importância que
os animais humanos. Sua estrutura física carrega uma vida
que, além do valor atribuído pelas pessoas, tem condições
naturais e morais, conforme as características particulares de
sua espécie, da mesma maneira que os humanos contam com

44
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

as suas. Porém, conforme mencionado anteriormente, tais


qualidades individuais (como a capacidade dos humanos de
se comunicar), não interessam para classificar a presença de
condição moral nessas criaturas. O que efetivamente importa
é quanta dor física ou psicológica eles conseguem suportar, e
a habilidade que tem de perceber sensações de felicidade e
aborrecimento, indo sempre à procura do que corresponde à
própria dignidade no âmbito de suas possibilidades.
Constata-se, portanto, que o ambiente está
diretamente associado à sobrevivência do ser humano, e o
reconhecimento do direito fundamental a um ambiente
ecologicamente equilibrado é indispensável para os atuais
confrontos quea crise ecológica ocasionou (RECH; RIGO, p. 4).
Analisando o artigo 225 da Constituição Federal,
pode-se depreender que além de um direito fundamental, a
proteção ambiental não é apenas um direito, mas sim uma
obrigação fundamental, representada pelo dever do poder
público e da coletividade em conservar a qualidade de vida,
a saúde, e o equilíbrio do meio ambiente (RECH; RIGO, p. 5).
Com relação à proteção ambiental, há muitos temas
e assuntos ocultos, cuja análise pela sociedade se faz possível
e necessária. Porém, um determinado assunto afeta todos
mais intensamente, isto é, a obrigação de proteger os animais.
Assim, busca-se um caminho que tem como argumento a
intersecção entre o dever fundamental de defender os animais
não humanos e os direitos de proteção legal destes, como
interesses amparados pelo Poder Judiciário. Em certo sentido,
se traduz no momento em que os animais humanos assumem
o dever de se preocupar e considerar as outras formas de

45
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

vida, em especial a dos animais, quando os admitem como


possuidores específicos de direitos fundamentais, e do direito
ao princípio da dignidade devido à sua existência (MEDEIROS,
2009, p. 58).

2.3 CRÍTICA AOS ARGUMENTOS ESPECISTAS

Segundo ensina Marques (2017, p. 139-140), a


defesa dos direitos dos animais, assim como outros grandes
movimentos recentes de reinvindicação de direitos (negro,
feminista e lgbtq), tem várias linhas e disputas internas. No
entanto, embora precisem se desenvolver e evoluir muito em
questões de direito e representação, com relação ao direitos
dos animais, a busca pelo reconhecimento de direitos nessas
três grandes lutas já foi admitida, menos em alguns lugares,
mas praticamente em todas as sociedades recentes que
integram o denominado Estado Democrático de Direito. Existe
um certo pensamento que impera acerca da imoralidade
dos preconceitos e abusos que ele implica, porém, o grau
de impacto ea introdução de tais discriminações são diversos,
podendo ser imperceptíveis. Logo, o estudo e a luta por essas
questões de direitos e reconhecimento permanecem com
um longo caminho a percorrer. Ainda, sabe-se que, mesmo
nas sociedades consideradas avançadas, o machismo,
racismo e LGBTQfobia continuam fortemente presente. Seu
aparecimento às vezes ocorre de forma muito leve e oculta,
mas infelizmente, em muitos casos, também é óbvio e direto.
No Brasil, esse preconceito ainda está sendo eliminado: as
mortes ocorrem, seja por seletividade policial aos negros,

46
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

crimes violentos contra mulheres, exploração sexual e


assassinato de travestis – com índices elevados e muito
negativos, principalmente comparados a países de Estados
Democráticos de Direito. Isto significa, conclui o autor, que
as leis permanecem defasadas em muitos lugares. Mesmo
naqueles locais que possuem uma proteção melhor, ainda
faltam socialmente várias mudanças e concretização desses
direitos.
Nessa linha, Vieira; Nocera e Silva (2012, p. 63)
defendem os novos estudos feitos por neurocientistas, que
forneceram evidências da consciência animal, e indicam
comportamentos emocionais deliberados em bichos. Segundo
eles, há fortes evidências de que a maioria dos mamíferos,
pássaros e polvos, apresentam consciência. Portanto, os
humanos parecem compartilhar com os animais a base do
sistema nervoso que produz a consciência.
Outros estudos mostram golfinhos conseguindo
identificar sua imagem no espelho, geralmente buscando
também fornecer ajuda àqueles que se machucam em seu
grupo, além de saberem usar algumas ferramentas, e racionar
de um modo semelhante aos chimpanzés (VIEIRA; NOCERA;
SILVA, 2012, p. 64).
Os autores também observam que os animais são
capazes de expor emoções e dor, tendo como exemplo os
cachorros. Contudo, o comportamento dos animais selvagens
pode ser diferente daquele dos animais de estimação. Desta
forma, a respeito disso, propõem o seguinte questionamento:
“Seria um erro de interpretação, vez que o homem utiliza seus
valores para interpretar um não humano?” (VIEIRA; NOCERA;

47
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

SILVA, 2012, p. 65).


Por conseguinte, oportuno mencionar a obra de
Singer (2013, p. 318), cujo conteúdo dispõe, in litteris:

Em algum ponto durante os últimos cem anos, as


principais sociedades perderam o interesse em
animais de criação. Talvez isso tenha ocorrido
porque os patrocinadores e os funcionários eram
originários das cidades e, por isso, conheciam
mais e se importavam mais com cães e gatos
do que com porcos e bezerros. Seja qual for o
motivo, na maior parte do século XX a literatura
e a publicidade dos antigos grupos deram
uma contribuição significativa para a atitude
prevalecente de que cães, gatos e animais
selvagens precisam de proteção, mas outras
espécies não. Assim, as pessoas passaram a
pensar que o “bem-estar animal” é uma atividade
de senhoras bondosas que adoram gatos, e não
uma causa fundada nos princípios básicos da
justiça e da moralidade.

Entende-se de seu posicionamento que, com o


apoio de obras e propagandas dos povos antigos, durante
esse período histórico, o movimento pelos direitos dos animais
passou a ser visto como um grupo que assegurava a saúde de
animais domésticos e selvagens, excluindo os que fizessem
parte de outra categoria. A partir daí, a motivação que se
baseia em princípios fundamentais éticos foi confundida com
a proteção de cães e gatos, em detrimento de outras espécies
que compõem a natureza.
Nesta lógica, a última década do século XX trouxe
mudanças, pois, no início, apareceram diversas organizações
novas e mais radicais de libertação e direitos dos animais. Essas
novas organizações, junto com outras criadas anteriormente
48
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

– que desempenhavam pouca influência até então -,


aumentaram muito a percepção que as pessoas tinham sobre
o enorme e sistemático comportamento cruel em relação à
produção intensiva dos laboratórios, circos, zoológicos, e da
caça. Em um segundo momento, outras associações famosas
adotaram uma atitude mais firme frente à violência contra os
animais de criação e de laboratório, “como a RSPCA, na Grã-
Bretanha, a ASPCA e a Sociedade Humanitária dos Estados
Unidos”, possivelmente devido aos interesses que haviam
surgido(SINGER, 2013, p 318-319).
A constatação também é feita por Felipe (2007, p.
179). Em suas palavras, da mesma forma que as pessoas agem
hoje, as leis originárias de proteção animal selecionavam
determinadas espécies (apenas as corretas) para serem
objetos protegidos por lei. Concomitantemente, por não
terem conseguido superar de verdade o especismo elitista,
racional, submetem um abandono legal absoluto às outras
espécies excluídas da proteção jurídica, porque esses animais
não são alvo de qualquer preferência. O antropocentrismo
tem especial relação com o especismo elitista, consistindo,
portanto, em uma das formas pelas quais se manifesta o
especismo (FARIA; PAEZ, 2014, p. 99).
Assim, para implementar as leis protecionistas,
algumas espécies podem não ser incluídas no campo de
consideração, nesse caso a segregação ocorre pelos próprios
regulamentos de proteção (LOURENÇO, 2009, p. 3022).
Portanto, como bem pontua Singer (2013, p. 319),
dentre todos os fatores que impedem o público de começar a
considerar os animais, o mais errado parece ser a supremacia

49
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

humana – isso significa declarar que não se pode comparar


quaisquer questões relacionadas aos animais com questões
morais ou políticas importantes, para resolver problemas da
espécie humana, um ponto de vista que porsi só já denota o
especismo. O autor sugere, então, uma oportuna indagação:
Como um indivíduo, sem se dedicar a compreender totalmente
o sofrimento animal, consegue julgar que esse assunto envolve
questões inferiores às relacionadas com o sofrimento humano?
Pode-se argumentar que os animais são insignificantes, que
independentemente do nível de dor, seu sofrimento não é tão
importante quanto o das pessoas, porém, o sofrimento existe,
e mesmo em membros de outra espécie, deve ser evitado
igualmente. Ainda neste trecho, questiona-se qual seria a
opinião do público caso alguém afirmasse a supremacia dos
povos brancos, para dizer que a pobreza da África é menos
severa que a da Europa.
Dessa feita, segundo Felipe (2007, p. 189-190), para
cada criatura, vida e sensibilidade são atributos únicos, não
devendo ser consideradas eficientes ou deficientes. Eficiência
e deficiência são critérios incapazes de dizer algo sobre a vida
ou a sensibilidade pois nada têm a ver com a própria existência,
tendo em vista que ou se vive ou se morre. Têm relação, sim,
com os desejos dos humanos em utilizar a existência e/ou a
sensibilidade alheia para a satisfação pessoal. Portanto, para
aqueles que se baseiam nisso, mesmo que uma vida aparente
ser deficiente, as características morais específicas de um ser
devem ser vistas isoladamente, e isso se aplica também a
sensibilidade. É possível que algo pareça deficiente, mas seja
somente uma forma específica de sensibilidade. Quando a

50
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

visão humana é vista desse ângulo, desconsiderando outros


aspectos da sensibilidade, acredita-se ter descoberto a
incapacidade que torna os animais inferiores. Entretanto, a
presença de sensibilidade indica que eles são singulares, com
diferenças e dignidade individuais. Nesse caso, a sensibilidade
deve ser sempre considerada como companheira única na
vida de cada animal.
Ao analisar outra forma de vida sensível
externamente, ou seja, somente fazendo suposições sem
conhecê-la de forma profunda, pode-se presumir sua
deficiência. Portanto, assegura a referida autora, para ir
de encontro às expectativas da própria existência, a figura
sensível de uma vida totalmente desconhecida e não
compartilhada por outros indivíduos pode desagradar. Porém,
isso não autoriza afirmar que essa vida tenha pouco valor no
plano moral, sendo inadequada ou deficiente, pois além de
intolerantes, seriam considerados critérios de julgamento
inadequados, assim como se as pessoas fossem os sujeitos em
questão (FELIPE, 2007, p. 190).
Desta maneira, a base da consideração moral
deve adotar pressupostos do raciocínio moral. O indivíduo
que segue tal tipo de raciocínio, analisa os diferentes rumos
de ação que podem ser tomados e, considera, ainda que
parcialmente, os efeitos que uma ação causa nele próprio
e nos outros. Em vista disso, para justificar a consideração
moral, é preciso e até indispensável saber o impacto que
determinados comportamentos ou eventos têm sobre um ser,
ou seja, se resultarão em benefício ou prejuízo para ele. Uma
vez que, de modo preciso, a senciência significa o atributo
51
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

daqueles que são capazes de se afetar de maneira positiva


(agradável), ou negativa (dolorosa), não há por que excluir
os não humanos sencientes deste campo, motivo pelo qual
a consideração moral deve também compreendê-los (FARIA;
PAEZ, 2014, p. 101-102).
Uma vez que a senciência é, no mínimo, condição
aceitável para uma consideração moral plena, nenhum
fundamento sustenta o especismo elitista. Os interesses de
seres não humanos sencientes, não são destituídos de razão
moral, ou possuem razões morais menos importantes do que
os interesses semelhantes de outros seres sencientes, apenas
por eles pertencerem a espécie humana. Ainda, sabendo
que a senciência já foi reconhecida como suficiente para
considerar alguémmoralmente, todas as outras distinções que
desfavorecem os interesses de determinados seres não seguem
princípios lógicos. É injusto atribuir valor superior para o interesse
particular de não sofrer de um cão e menor para os interesses
semelhantes de um porco. Assim, além do antropocentrismo,
as espécies de especismo não antropocêntrico são apenas
formas de manifestar a intolerância, sem nenhuma razão
aceitável (FARIA; PAEZ, 2014, p. 102).
Como visto, não importa qual seja a base para a
consideração moral, se ela inclui os humanos devido as suas
características, deve incluir os não-humanos pelo mesmo
motivo. No raciocínio moral, precisa ser levado em conta
como as atitudes das pessoas podem prejudicar os animais,
e a sensibilidade desses seres indica perfeitamente isso.
Consequentemente, quaisquer atributos que costumam ser
utilizados para criar uma barreira entre as duas espécies são

52
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

injustificáveis, e, portanto, os interesses de ambos merecem


ter a mesma consideração. Nesse contexto, as mudanças
significativas que surgiram com a crise ambiental ajudam a
enfraquecer a ideia na qual todas as coisas do mundo existem
em benefício do ser humano, pela sua capacidade mental.
Logo, é fundamental um progresso no comportamento
humano quanto aos outros seres, estabelecendo relações que
contemplem a dignidade de todos os habitantes da terra.

53
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

CAPÍTULO III

O PRECEDENTE ARGENTINO E INSTRUMENTOS


JURÍDICOS CABÍVEIS NO BRASIL

Há pouco tempo, um caso emblemático ocorreu em


Mendoza, na Argentina, quando uma chimpanzé chamada
Cecília, ganhou a proteção de um instrumento jurídico que
defende os seres humanos. Vivendo em condições precárias de
confinamento em um zoológico do país, Cecília apresentava
sintomas depressivos. O animal não humano, com o apoio de
uma entidade local, foi beneficiado por um habeas corpus,
conforme decisão proferida pela magistrada, sendo, depois,
autorizada a sua transferência até o Brasil.
Nesse sentido, o objetivo deste capítulo é analisar
a tutela jurisdicional dos animais, destacando também os
cenários de outros países, como esse precedente argentino e
sua contribuição essencial, para comprovar que a senciência
pode ser utilizada como um argumento de reconhecimento
de direitos.
Ainda, serão demonstradas as possíveis mudanças
no judiciário brasileiro, que impeçam a violência e a privação
de liberdade segundo interesses morais humanos, como
formas de ampliar e concretizar a tutela jurisdicional dos
animais não humanos.

3.1 A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS

No campo ético-moral, como se verificou, já foram

54
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

precisamentedemonstradas as razões pelas quais os animais


devem possuir direitos. Uma vez considerados criaturas
sencientes, eles importam enquanto indivíduos, tendo direito
a uma existência digna, com direitos fundamentais próprios
que podem ser extraídosdo texto constitucional. Desta forma,
convém analisar aspectos importantes que envolvem a sua
proteção jurídica no Brasil e no mundo.
Diante dos novos paradigmas da ética animal,
legislações do mundointeiro, em alguns lugares mais e outros
menos, estão estudando um ajuste para reduzir o especismo
e o intenso caráter antropocêntrico de seus textos legais.
Quer expandindo a compreensão de subjetividade legal – a
exemplo da Constituição Equatoriana – quer simplesmente
impedindo a crueldade e o tratamento violento contra animais,
os legisladores procuram definir os animais não humanos de
uma nova forma (COELHO; DE MIRANDA, 2020, p. 2-3).
Deste modo, a legislação permanece como um
recurso fundamental capaz de difundir os direitos dos
animais, e superar a conduta social que discrimina as espécies
(COELHO; DE MIRANDA, 2020, p. 7-8).
Assim, há uma série de documentos legislativos
internacionais e nacionais relacionados as questões de
proteção animal, mas a “Declaração dos Direitos dos Animais”
é o principal deles (SPAREMBERGER; LACERDA, 2016, p. 190).
A constatação também é feita por Coelho; De
Miranda (2020, p. 7-8), que analisa essa Declaração como
uma relevante personificação dos esforços regidos pela
estrutura legal para superar o especismo.
O seu surgimento ocorreu após uma reunião iniciada
55
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

pela ONU (Organização das Nações Unidas), que mencionou


as práticas necessárias ao tratamento e cuidado para com os
animais (SPAREMBERGER; LACERDA, 2016, p. 190-191).
Instituída em 27 de janeiro de 1978, o objetivo da
Declaração Universal dos Direitos dos Animais era reconhecer
a defesa dos animais, legitimando o respeito, o direito à uma
vida digna, e a proteção, combatendo todos as espécies de
crueldade e abusos (ABILIO, 2017, p. 452). Segundo Gomes;
Chalfun (2010, p. 861) inúmeros países, juntamente com o
Brasil, assinaram o documento que reconhece a importância
da vida de qualquer ser vivo, e da convivência harmônica
entre os humanos e não humanos, para que a dignidade
destes seja devidamente considerada.
Cabe destacar que esse documento, mesmo não
tendo força vinculanteno Direito interno brasileiro, propõe uma
importante reflexão, pois é um documento que impulsiona o
país a observar atentamente suas normas para que respeitem
o bem-estar dos animais e evitem todas as formas de abuso
contra eles.
Continuando no âmbito internacional, o estatuto
jurídico do animal foi admitido pelo Direito Civil Austríaco
em 1988, cujo parágrafo 285 rejeitou que os animais fossem
considerados objetos e declarou a sua proteção por meio
de leis especiais. Porém, as disposições impostas relacionam-
se as “coisas”, de igual modo ocorre na Alemanha (1990) e na
Suíça (2003) (ABILIO, 2017, p. 452).
Por conseguinte, com relação a reforma da
Constituição Equatoriana, em 2008, conforme sustenta
Pacheco (2012, p. 361), ela elaborou os “derechos de la

56
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

naturaleza”, considerada atualmente o mais efetivo e


provocante desenvolvimento legislativo constitucional
dentre todos, pois reflete a nova era e o atual conceito de
solidariedade que tem origem na América Latina.
Abilio (2017, p. 452) também chama atenção para
a Constituição do Equador, por ter feito algo que nunca tinha
sido feito antes no que diz respeito à natureza e ao ponto de
vista antropocêntrico, por meio da contribuição do artigo 71.
Ele observa a força dessa proteção, destacando que
em seu texto a natureza é reconhecida como “Mãe terra”.
Importante ressaltar, nas palavras do autor, que pensando de
uma maneira coerente, já que os seres viventes fazem parte
da natureza, a inovação do país com sua visão biocêntrica,
também os levou em consideração (ABILIO, 2017, p. 452).
Nesta lógica, a proteção dos não humanos é feita
de forma gradual, porém, no que se refere ao Brasil, até esta
ocasião, os animais não receberam a titularidade de sujeitos
de direito (ABILIO, 2017, p 451).
Por meio da Lei nº 5.197 e do Decreto-Lei nº 211,
em 1.967, os animais que integram o território brasileiro, seus
ninhos, abrigos, e criadouros naturais,caracterizaram-se como
“propriedade nacional”, entretanto, o emprego da expressão
“propriedade” não significava que a União poderia dispor
livremente da fauna silvestre. A Carta Magna, em seu art.
225, caput, garante a proteção ambiental comoum interesse
de toda a coletividade (interesse difuso), quando impõe o
direito de todos ao equilíbrio ecológico do meio ambiente,
bem como prevê a natureza jurídica dos bens ambientais
para uso universal pelas pessoas, atribuindo ao Poder Público

57
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

e a sociedade a obrigação de resguardar e conservar, em


conjunto, os bens ambientais para as gerações presentes e
futuras (DE TOLEDO, 2012, p. 200).
Como bem pontua Sparemberger; Lacerda (2016, p.
192), o Brasil está entre os raros países que possui um sistema
jurídico no qual proíbe-se a crueldade contra os animais,
porém, mesmo diante de vários princípios e leis vigentes
impedindo que os humanos violem os animais, a realidade
não condiz nem um pouco com a teoria.
Todos os dias, inúmeros seres vivos sofrem com a sua
utilização, eprecisam se sujeitar aos abusos nas mais diferentes
formas, uma amostra disso são os cachorros e gatos que têm
suas vidas ceifadas após o seu descarte nas ruas. Igualmente
vivem os animais, silvestres ou não, que foram domesticados
por meio da tortura, sendo aproveitados e abusados com o
fim de utilização em apresentações destinadas ao público.
Isso acontece nos circos, zoológicos, rodeios, rinhas, bem como
pelas carroças que os cavalos carregam e cumprem o destino
submisso até que eles não resistam mais (SPAREMBERGER;
LACERDA, 2016, p. 192).
Além dos exemplos acima, ainda ocorrem muitos
outros, porque nãoobstante as variadas normas de proteção,
seu exercício está em falta, fazendo com que a presença
de senciência nos animais seja esquecida. Até mesmo as
autoridades públicas admitem esses abusos em geral, como
um dano aceitável (SPAREMBERGER; LACERDA, 2016, p. 192).
Mesmo que a Constituição Federal tutele a proteção
dos animais contra os maus tratos e a crueldade, conclui a
autora, algumas leis ordinárias têm suporte tolerante quanto

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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

às práticas dolorosas, como é o caso da “Lei dos Rodeios, Lei


dos Zoológicos, Lei da Vivissecção, Lei do Abate Humanitário, o
Código da Caça e Pesca e a Lei Arouca”. Por meio disso, ocorre
uma violação à Carta Magna brasileirade 1988, que deve ser
superior, e legaliza-se a exploração de animais, efetivando
assim o antropocentrismo no ordenamento jurídico brasileiro
(SPAREMBERGER; LACERDA, 2016, p. 193).
Como bem pontua Medeiros; Albuquerque (2015, p.
6), a estrutura brasileira segue uma racionalidade que continua
profundamente incutida em hábitos tradicionalistas, que se
consolidaram por valores antigos. Logo, as mesmas atitudes
carregadas de preconceitos que não tem perspectiva, ou
quase nenhuma, precisam mudar. A Carta Magna brasileira
de 1988 é responsável por governar o sistema, e o principal
fundamento está no fato de que ela categoriza a vedação à
crueldade e aosmaus-tratos animais.
Consoante ao acima referido, negando alguma
impressão inicial que o Direito Ambiental passe, o objetivo da
proteção à vida do animal não consiste unicamente em zelar
pelos bons costumes, equilíbrio ecológico ou a qualidade de
vida saudável. O conceito de crueldade, que não se limita
à saúde mental humana, é universal e precede o direito
positivo. Ações agressivas e dolorosas jamais serão meras
ideias abstratas, pois atingem um corpo senciente. Embora
o sistema legal frequentemente ignore a dor relacionada
aos animais, esse sentimento existe. No momento em que
revogou de forma explícita a proibição da tortura, a legislatura
nacional estabeleceu uma norma com abordagem moral que
é concentrada primeiro no bem-estar dos próprios animais,

59
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

e, em segundo lugar, no bem-estar do povo. Conquanto o


forte caráter antropocêntrico, a Constituição da República
brasileira admite a capacidade dos animais de sofrer, o que
abre portas para uma análise biocêntrica da lei de proibição
à crueldade (LEVAI, 2008, p. 178).
Entretanto, segundo Gomes; Chalfun (2010, p. 862-
863), mesmo diante do progresso alcançado, a proteção dos
animais continua frágil, assim como o interesse no assunto,
e isso demonstra novamente a importância de investigar
os direitos dos animais, sempre devendo lembrar o valor
essencial do convívio do ser humano com a natureza. A vida
dos animais se conecta as pessoas, e fornece o equilíbrio
ambiental, mesmo que outras espécies sejam desprezadas
por vários humanos. Permitir o aproveitamento de outros seres
presumindo sua inferioridade, parece inapropriado, porque já
se comprovou que da mesma forma que o ser humano, eles
experenciam a dor, alegria, e sentem fome. Desta forma, as
pessoas possuem a responsabilidade obrigatória de considerar
e defender os animais, tornando oportuno o bem-estar social,
a manutenção da vida, e o direito de todas as criaturas de
viver com dignidade.
Nesse contexto, ensina Medeiros (2009, p. 93), um
país que procura alcançar um novo referencial e um novo
modelo a ser seguido, que tenta ser definido como um país
que se compromete com o meio ambiente, responsável por
conseguir formular uma constituição com o teor de proteção
ambiental presente na Constituição Federal brasileira de
1988, precisa passar para a próxima etapa, formulando regras
concretas no sentido de proteger os animais não-humanos, e

60
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

identificá-los como seres capazes de sentir (MEDEIROS, 2009,


p. 93).
Portanto, nota-se, no cenário internacional, que o
tratamento legal dos animais vem sendo gradativamente
revisado no processo de aprimoramento de seus métodos,
o que se verifica pelo aumento da produção legislativa nos
inúmeros ordenamentos jurídicos. O intuito é concedê-los
às qualidades que foram negadas anteriormente, como a
senciência, capacidade de sentir dor e felicidade, no campo
da mente e do corpo, aceitando a dignidade dos animais,
o conflito que representa atribuí-los o mesmo tratamento
jurídico das coisas, a expressa proteção constitucional, e
assim por diante. Ao mesmo tempo, alguns países, como a
Argentina, também demonstram, por meio da jurisprudência,
estar se atrevendo a aderir essa tendência, para estender a
proteção dessas criaturas, na tentativa que tanto se deseja
de reconhecer os animais não-humanos como sujeitos de
direitos (SILVESTRE; LORENZONI; HIBNER, 2018, p. 89).

3.2 A DECISÃO PROFERIDA NOS AUTOS DO HABEAS


CORPUS DO CASOCECÍLIA

O presidente da AFADA “Associacion de Funcionarios


y Abocados pelos Derechos de los Animales”, com o apoio do
advogado Dr. Santiago Rauek, impetrou um pedido de habeas
corpus perante o Terceiro Tribunal de Garantias argentino, na
província de Mendoza, em favor de uma primata.
Como se sabe, o habeas corpus garante a defesa dos
direitos relacionados a liberdade de locomoção. No entanto,

61
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

inicialmente, esse remédio constitucional visa proteger o


direito de ir e vir de um ser humano concreto, ou seja, pessoa
física (DA SILVA; CARDOSO, 2019). Isso fez com que a seguinte
decisão se tornasse um caso emblemático, pois o paciente,
como é conhecido quem se beneficia pela medida, foi um
animal não humano.
No caso nº P-72.254/15, julgado em 03 de novembro
de 2016, o pedido descreve que no zoológico de Mendoza,
na Argentina, os donos do estabelecimento privaram a
chimpanzé Cecília, ilegal e arbitrariamente, da liberdade de
se movimentar e ter uma vida apropriada, direitos que lhes
são inerentes. Sua saúde física e psicológica havia piorado
drasticamente, agravando-se a cada dia, e diante disso havia
um claro perigo à manutenção de sua vida. Por conseguinte, o
Estado estava obrigado a determinar com urgência a soltura
daquela pessoa não humana. Neste ponto, cabe destacar
que a justificava para requerer a libertação foi que não se
pode submeter os animais ao mesmo sistema jurídico dos
direitos de propriedade, no qual todas as pessoas possuem
autonomia para usufruir dos seus bens (RBDA, 2016, p. 175).
O Dr. Buompadre requereu o resgate da chimpanzé,
e após, o seu direto transporte do zoológico de Mendoza,
para assim se mudar permanentemente para o Santuário
de Grandes Primatas de Sorocaba, em São Paulo, ou outro
local preparado para recebê-la, sendo, primeiro, examinada
por um perito da espécie. A respeito do fundamento legal
do pedido, argumentou que estariam de acordo com a
Constituição Nacional, a Constituição Provincial de Mendoza,
o Código de Processo Penal de Mendoza, a Lei Nacional nº

62
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

23.098, e de modo respectivo as demais normas jurídicas e


tratados internacionais inferiores à Constituição, apropriados
a hipótese (RBDA, 2016, p. 175-176).
Segundo o impetrante, Cecília viveu a maior parte
de sua vida presa em uma jaula de cimento no zoológico da
cidade. Em outras palavras, cercearam seu direito à liberdade
de se locomover e mantiveram-na em cativeiro no local,
como uma escrava, durante mais de 30 anos. Isso ocorreu
pela iniciativa abusiva das autoridades do estabelecimento, e
resultou no prejuízo de no mínimo dois direitos fundamentais
previstos, sendo eles a liberdade de ir e vir, e o direito de viver
com dignidade (RBDA, 2016, p. 176).
Acerca da situação, constatou que a jaula em
que ficava era um ambiente hostil, cercado por paredes e
pisos de concreto, sem espaço adequado para ela se deitar,
vivendo em péssimas condições. Além disso, não havia itens
básicos como cobertores e feno, ou um local longe do mau
tempo e do vento, que os chimpanzés tanto temem. Ela era
também exposta aos perturbadores sons emitidos enquanto
vários turistas frequentavam o local, como crianças que até
mesmo brincavam de atingir objetos no animal. Uma área
extremamente suja, em meio a fezes, que dificilmente recebia
luz solar, com temperaturas extremamente quentes no verão,
e frias no inverno (RBDA, 2016, p. 176-177).
Outro fator apontado no pedido foi que a
chimpanzé estava isolada após os companheiros de cela
morrerem, afirmando assim a necessidade de contato social
característica da espécie. Cecília também não praticava
esportes, tendo em vista a falta de natureza ou de estruturas

63
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

para brincar, ela nem mesmo possuía água disponível para


tomar quando sentisse vontade. Fatores que resultaram em
um quadro de depressão, comprometendo toda sua saúde,
pela idade avançada e pelo nervosismo que a prisão lhe
causava (RBDA, 2016, p. 177).
Desse modo, pode-se comprovar o tratamento cruel
dispensado a primatapelos seus tutores que, além lhe retirar a
possibilidade de circular livremente, também a impediram de
beber água sempre que necessitasse, se divertir, relacionar-se
com seres semelhantes, e viver em um ambiente limpo. Assim,
como visto anteriormente, quando essas necessidades vitais
não são devidamente satisfeitas, sentimentos negativos como
a tristeza, começam a ser percebidos no comportamento
desse animal. Inserida em um ambiente totalmente estranho
a espécie, e ainda sem o mínimo de bem-estar, sofrendo
estresse intenso, Cecília não tinha as mesmas atitudes de um
ser que vive na natureza, e acabou adoecendo.
Entre os argumentos para a propositura da ação,
estava a ausência de violação de lei que justificasse a sua
detenção em um lugar totalmente fechado, do qual era
propriedade. Observou-se o atributo da senciência, e as
inúmeras capacidades físicas e mentais observadas no
comportamento desses seres, dividindo praticamente os
mesmos genes que os humanos, para afirmar que mereciam
um tratamento diferente daquele destinado aos bens. Ela
experimentava a dor injustamente por uma prisão que não
tinha embasamento, nem ordem legal expedida por um juiz
(RBDA, 2016, p. 177-178).
Assim, na sentença prolatada pela magistrada

64
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

María Alejandra Mauricio, oempenho feito com base em suas


considerações, era fazer Cecília deixar de ser uma “prisioneira”
ou “propriedade”, para ser considerada “patrimônio”, por meio
das diferentes categorias presentes no texto constitucional
(BEVILAQUIA, 2019, p. 50- 51). Isso porque, em 1994, quando
houve a reforma da Constituição Nacional argentina, surgiram
espécies de direitos considerados inovadores, os direitos
de incidência coletiva (art. 43), que tem como uma de suas
regulamentações o direito ambiental, disposto no art. 41.
Assim, receberam o nome de “amparo coletivo”, demandas
que poderiam ser propostas em face das atitudes que tratam
as garantiasjurídicas do meio ambiente desigualmente. Esse
último artigo expandiu o conceito de meio ambiente, que
além de patrimônio natural, passou a compreender “valores
culturais e a “qualidade de vida social” (RBDA, 2016, p. 185).
Como bem argumentou a juíza acerca do patrimônio
natural, que é uma dessas categorias, já que Cecília fazia
parte da fauna silvestre da Argentina, a esfera de proteção
da vida silvestre prevista pela lei nacional também era
destinada a ela. Melhor dizendo, os seres que a referida lei
resguarda são os “animais bravos ou selvagens, cuja vida os
humanos controlam, em cativeiro ou semicativeiro.” Logo, o
interesse público e a responsabilidade que a lei atribuiu para
“todos os habitantes da nação” de defender e preservar a
fauna, uma vez incluindo a chimpanzé, serviu como reforço
para permitir que a ONG postulasse efetivamente os direitos
que garantissem tal proteção (RBDA, 2016, p. 185-186).
Outro argumento utilizado na análise do caso foi
que se tratava de “dano ambiental coletivo”, o qual, segundo

65
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

a Lei Geral do Ambiente nº 25.675, consiste em “qualquer


alteração relevante que modifique negativamente o meio
ambiente, seus recursos, o equilíbrio dos ecossistemas, ou
bens ou valores coletivos. “ (RBDA, 2016, p. 186-187). A juíza
deu importância, naquele cenário, ao bem-estar de Cecília,
representante do “bem ou valor coletivo”, que autoriza
a manifestação do juiz para resguardar o interesse geral.
Isso porque, uma vez integrante do “patrimônio natural”, e
convivendo com a espécie humana, ela estava vinculada ao
“patrimônio cultural da comunidade”. Em todos os sentidos,
o seu bem-estar significava considerar a defesa de um
patrimônio coletivo (RBDA, 2016, p. 189-190).
Após Cecília ser reconhecida como patrimônio, a
juíza dispôs a respeito da questão jurídica que surgia com a
transferência do animal para outro território. Mencionando a
relação que a comunidade compartilha com os integrantes de
seu patrimônio, por meio de um “vínculo espiritual”, constatou
que a existência e a força desse elo não requerem proximidade
física, sequer dependem da competência do local a que o bem
patrimonial permanece subordinado. A decisão pelo translado
da paciente, levava em conta que o Brasil era o lugar mais
adequado para proporcionar a felicidade que o país de Cecília
não conseguiu. Ela permanecia fazendo parte do patrimônio
ambiental da coletividade, que ficaria contente por contribuir
para o seu bem-estar (RBDA, 2016, p.190-191).
Encerradas as questões anteriormente mencionadas,
pretendendo formular uma solução judicial com base nos
requisitos a serem cumpridos, buscou- se observar, em primeiro
lugar, se a ação proposta nesse caso estaria de acordo com os

66
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

seus requisitos (RBDA, 2016, p.192).


O intuito do habeas corpus, lembra bem, inclui
proteger a liberdade de locomoção ilegalmente restrita, e
corrigir o método ou as condições da prisão de alguém. A
medida objetiva, portanto, analisar o descumprimento dos
direitos ou da proteção da liberdade corporal de uma pessoa
por ações administrativas que vão além do âmbito de sua
autoridade, e além da devida razoabilidade (RBDA, 2016, p.
195). No entanto, antes de resolver o caso, a juíza pretendia
discutir sobre o que chamou de “a grande questão”, quando
fez o seguinte questionamento acerca da titularidade dos
grandes primatas: “São os orangotangos, bonobos, gorilas e
chimpanzés sujeitos de direitos não humanos?” (RBDA, 2016,
p. 198).
Nesse sentido, embora no campo jurídico o conceito
de pessoa possa vincular-se ao conceito de sujeito de direito,
a opinião de ilustres filósofos, como Aristóteles, de que os
humanos e outros animais integram uma única espécie, é
recordada na sentença. Para eles, a capacidade política de
“criar sociedades” e organizar a vida urbana, consistia na
característica capaz de distingui-los. Pretendendo refutar o
entendimento legal no qual os animais integram a categoria
das coisas, a magistrada esclareceu a diferença principal no
conceito de animal não humano, que não era a capacidade
de movimento, mas a presença de vida nesses seres (RBDA,
2016, p. 200).
Considerou, na sentença, que a transformação do
animal humano como um ser moral, ético e que age com
dignidade, está passando por um constante desenvolvimento.

67
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

Conceber que o ser humano é capaz de interação social e


aprendizado, implica aceitar a necessidade de defender a
natureza, e zelar pelo bem-estar dos animais (RBDA, 2016, p.
203).
Portanto, conclui sobre a existência de titularidade
jurídica nos animais, dignos de garantias fundamentais
que devem ser protegidas, visto as suas “habilidades
metacognitivas e emoções”. Fazendo menção ao crime de
maus-tratos, a magistrada examina o intuito do criador
desta lei, que permitiu compreender, a partir do decreto, que
os animais são criaturas capazes de sentir e se mover por si
mesmas, distintas dos objetos (RBDA, 2016, p. 203).
Diante disso, menciona a referida Lei nº 14.346 do
país, sobre a crueldade contra os animais, para declarar
que a sua instituição, na medida em que defende o direito
dos animais de não serem maltratados pelos humanos,
permite interpretar que a dignidade dos animais deve ser
contemplada, no sentido de respeitar-se os seus direitos
básicos como sujeitos de direitos:

Deve-se notar que no crime de abuso animal


regulamentado pela Lei nº.
14.346 o bem legal protegido é o direito do animal
para não ser objeto de crueldade humana. A
interpretação do fim perseguido pelo legislador
implica que o animal não é uma coisa, não é
um bem semovente, mas um ser vivo senciente.
A conclusão, então, não é outra, senão que os
animais são sujeitos de direito, que tem direitos
fundamentais que não deveriam ser violados,
na medida em que possuem habilidades
metacognitivas e emoções observadas nos
parágrafos anteriores (RBDA, 2016, p. 203).

68
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

As opiniões de outros operadores do direito,


corroboraram o entendimento da magistrada, possibilitando
declarar os animais como sujeitos de direitos, que possuem
o direito fundamental de existir e se desenvolver, até o
momento da morte, no ambiente natural onde nasceram. Os
seus direitos, uma vez diferentes dos direitos dos humanos,
precisam se adequar conforme as circunstâncias especiais
de cada ser, e o nível de evolução observado cientificamente
(RBDA, 2016, p. 204).
Outro relevante critério exposto foi, sem dúvidas, a
senciência. Quando realizou uma visita pessoal – sem prévia
comunicação – ao estabelecimento onde vivia a primata,
a juíza pôde observar a situação degradante que estava
submetida. Portanto, convém destacar, in litteris, esse trecho
da sentença:

Cecília estava em um canto do recinto, pois ali


– só o sol brilhava, o bebedouro localizado no
recinto estava vazio e Cecília tinha alguns itens
como bolas, cordas, rodas de carro etc., para seu
entretenimento. No entanto, pôde-se observar
a imagem triste e dolorosa que nas paredes
da gaiola, aquelas que eram feitas de cimento,
havia desenhos de árvores e arbustos, tentando
desajeitadamente imitar o habitat natural da
primata. E é dito desajeitadamente não por que
a equipe do zoológico não tenha cuidado do
animal, mas porque escapa das possibilidades
financeiras e construtivas desta sociedade, dar
a ela um ambiente realmente adequado (RBDA,
2016, p. 208-209).

Por conseguinte, a resposta sobre o habeas corpus

69
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

ser a abordagem correta aplicável é positiva, com base na


inexistência de procedimentos jurídicos adequados ao caso,
ou seja, demandas que apreciem as condições dos animais
quese encontram presos, em meio a qualquer tipo de condição
de cativeiro que não supra as necessidades favoráveis à sua
vida. A via processual utilizada foi o meio encontrado para
agir de acordo com as circunstâncias específicas dos animais
envolvidos, e assim adaptar a lei com o fim de proteger “o
direito de Cecília a viver em um ambiente nas condições
típicas de sua espécie” (RBDA, 2016, p. 210).
Finalmente, a juíza decide deferir o pedido da ação,
para reconhecer Cecília como sujeito de direito não humano,
requerendo a providência da transferência da chimpanzé ao
Santuário de Sorocaba, no Brasil, pelo consentimento mútuo
entre as partes (RBDA, 2016, p. 211). Devido à semelhança
genética entre os chimpanzés e os seres humanos, foi julgado
que os direitos fundamentais dos chimpanzés equivalem aos
dos humanos, portanto as espécies podem ser igualadas, de
modo que os animais não humanos também estão aptos a
atuar na ação de habeas corpus (DA SILVA; CARDOSO, 2019).
Em 4 de abril de 2017, quando veio ao Brasil, a
primata precisou ficar no Aeroporto de Guarulhos, em São
Paulo, até o processo das autoridades liberarem sua chegada.
A ida ao Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba, para
dividir moradia com mais 50 chimpanzés, ocorreu em um
caminhão (2017).
No primeiro período em que Cecília habitou o novo
lar, pode-se perceber como ter frequentado durante tanto
tempo um ambiente inadequado prejudicou sua maneira de
70
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

agir naturalmente. Era preciso que ela passasse por uma fase
de adaptação, onde recuperaria aos poucos o humor, que
alterava muito o estado de saúde da primata.
Segundo o relato da veterinária que atua no
Santuário sobre a condição de Cecília, ela ingressou no
local sem problemas físicos, mas com um grave estado
de depressão. Não se movimentava o dia todo, nem se
relacionava com os outros (ROSA, 2017). Mais tarde, ainda
de acordo com as veterinárias, quando a estadia já durava
um mês, sua conduta melhorou. O fato de ter começado a
caminhar muito, observa a profissional, mostrou a estima pelo
lugar, bem como o sucesso de sua integração com o novo
ambiente. “Ela está começando a se alimentar melhor agora,
tem bastante variedade. Ela não gostava de comer banana e
agora come bastante” (2017).

Figura 1 – Fonte: Claudio Gutiérrez/Los Andes

71
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

Figura 2 – Fonte: TV TEM/Reprodução

A primeira imagem, onde Cecília aparece claramente


deprimida, foi registrada quando ainda morava no zoológico,
e por isso demonstra claramente o descontentamento
desta. Porém, na segunda imagem, tirada quando já havia
sido acolhida pelo santuário, sua expressão se transforma,
correspondendo a de um animal que está feliz, pois teve suas
necessidades básicas satisfeitas.
Logo, é possível constatar que, no presente caso,
a capacidade de experimentar sensações foi amplamente
comprovada. Quando os animais vivem em condições
favoráveis ao seu bem-estar, a melhora na qualidade de vida
reflete na conduta desse animal. Desta forma, a senciência
evidencia um critério de reconhecimento de direitos, uma vez
que a condição degradante em que estava determinou a

72
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

concessão de uma medida judicial que comumente protege


a espécie humana, em favor da primata. A evolução na
condição de Cecília, que recuperou o brilho no olhar depois de
ser transferida para o Brasil, é uma evidência empírica de que
a senciência está presente nos animais.

3.3 FORMAS DE AMPLIAÇÃO E EFETIVAÇÃO DOS


INSTRUMENTOS JURÍDICOS PARA A DEFESA ANIMAL

Como visto, a evolução tem trilhado aos poucos


uma busca pela ética abolicionista, fenômeno observado em
legislações de todo o mundo, como o Equador e Suíça, e
o Brasil também está seguindo por esse caminho (ANTONIO,
2014, p. 223).
Rollo (2016, p. 212-213) faz a mesma constatação.
Em suas palavras, embora o progresso da legislação que
representa os interesses dos animais seja lento, no mínimo
em termos de reconhecimento formal, ainda comprova uma
certa tendência de libertação por parte dos humanos, apesar
de haver retrocessos. Após alguns avanços internacionais,
entre eles a Declaração Universal dos Direitos dos Animais e
a legislação francesa, que reconheceu os animais como seres
sencientes,o desenvolvimento gradual e seu exame justificam
a máxima preocupação social acerca da questão dos animais
no Brasil.
Nessa linha, para Pacheco (2012, p. 361), não obstante
os empecilhos, adversidades e determinados contratempos, a
era contemporânea mostra caminhar em direção a um futuro
em que os humanos e os animais tenham direitos iguais.

73
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

Cabe observar, outrossim, que as várias regras de


“proteção animal” existentes, na verdade acabam indicando
uma falta de legislação, considerando as lacunas no conteúdo
das leis (MEDEIROS, 2009, p. 93).
Segundo Antonio (2014, p. 223), as novas
circunstâncias também suscitam reflexões sobre a prática
de inúmeros comportamentos que envolvem o “tratamento
cruel” dos animais, práticas as quais a Constituição brasileira,
por exemplo, proíbe na teoria. Contudo, devido ao caráter
subjetivo da expressão, em confronto com muitos interesses,
principalmente econômicos, ainda possuem amparo jurídico
ou estão sem fiscalização suficiente. Precisa-se, então,
examinar cuidadosamente a ideia de crueldade no momento
de regular tais condutas.
No mesmo sentido, como se observa no artigo
225 da Constituição Federal, o legislador omitiu de
maneira deliberada o conteúdo normativo e suas sanções,
principalmente no que diz respeito ao termo “crueldade”.
Logo, pelo que se pode concluir, consiste em uma norma sem
diretrizes determinadas que para ser completa precisa do
processo interpretativo legal. A função do aplicador da lei, é
observar as peculiaridades dos casos específicos, adaptando
o sistema jurídico de uma coletividade em contínuo progresso,
para responder às preocupações sociais com mais rapidez
(SILVESTRE; LORENZONI; HIBNER, 2018, p. 90).
Não restam dúvidas, portanto, de que a Constituição
Federal reconhece o direito concreto e independente dos
animais à tutela, eliminando o vínculo anterior com a proteção
ambiental, cuja aplicação costumava ser razoável para o

74
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

benefício exclusivo das pessoas. Nesse caso, considera-se


que a jurisprudência e a doutrina brasileiras desempenham
um papel importante, pois compete a elas preencher, nos
casos específicos, a cláusula geral que define a expressão
“crueldade” no texto constitucional. Portanto, considerando
as constantes mudanças na vida em sociedade, esta é uma
medida mais eficaz do que o conceito da palavra atribuído
pela lei (SILVESTRE; LORENZONI; HIBNER, 2018, p. 91).
De acordo com Rollo (2016, p. 213), a “Constituição
Cidadã” de 1988 foi aprimeira da história do Brasil que proibiu
a crueldade aos animais, e a jurisprudência também anuncia
uma mudança de paradigma no futuro. Assim, convém citar
decisão relativamente nova do Supremo Tribunal Federal
na qual foram vedadas condutas cruéis contra os animais,
entre elas as brigas de galo e a farra do boi. Elas puderam
refutar o pressuposto de que a cultura humana autoriza o
tratamento cruel aos animais de outra espécie. Ainda, há
pouco, o Superior Tribunal de Justiça, julgando cães e gatos,
admitiu claramente que os animais não humanos não são
objetos. Em outra decisão, o Tribunal de Justiça de São Paulo
afirmou que os animais queridos pelo casal não poderiam ser
compartilhados no Direito como se coisas fossem. O Órgão
Especial do referido Tribunal, em dezembro de 2015, com
base no “direito dos animais”, reconheceu a capacidade de
senciência percebida pelos seres, quando vedou a prova de
laço em rodeios, embora exista regulamentação autorizadora
por lei federal.
Os requerimentos por habeas corpus em prol de
animais não humanos contribuem para consolidar esse

75
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

movimento. O simples pedido, que aconteceu várias vezes, por


si só já é capaz de anunciar o nascimento de novos conceitos
(ROLLO, 2016, p. 213).
Desta forma, nota-se que o direito animal já foi
objeto inclusive de discussões no Supremo Tribunal Federal
brasileiro. Ou seja, a partir dos principais conceitos deste
campo, resta amplamente demonstrada a possibilidade de
suaprática no Brasil, para assim produzir demandas judiciais de
proteção animal, o que já vem acontecendo com frequência.
No entanto, comportamentos obsoletos ainda
dominam profundamente a racionalidade do sistema
brasileiro, estabelecido por tradições ultrapassadas. Deste
modo, as decisões dos tribunais seguem o texto legal
rigorosamente, e assim não realizam as devidas interpretações
conforme a sociedade se renova, dando importância somente
ao interesse dos tutores de animais, demonstrando que
os animais permanecem sendo considerados inferiores
(MEDEIROS; ALBUQUERQUE,2013, p. 22).
Nesta seara, se faz necessário atribuir a adequação
jurídica devida para considerar todos os seres vivos sencientes
sujeitos de direito, uma vez que a senciência implica a
existência de uma autonomia efetiva, e por isso deve-se levar
em conta os seus interesses individuais. Torna-se possível,
assim, entender que o assusto envolve justiça, porque uma vez
arbitrários o sofrimento e a tortura física e/ou mental contra
os seres humanos, seria justo que ninguém mais, como ser
senciente, precise experimentar este sentimento (ANTONIO,
2014, p. 222-223).
Posto isto, Viera; Nocera; Silva (2012, p. 69) entendem

76
LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

que a defesa de proteger a natureza está amplamente


vinculada com a necessidade da sociedade e do Poder Público
agirem em conjunto, cabendo às pessoas um comportamento
que respeite esse dever de proteção. Já o Poder Público, deve
incentivar atitudes em prol do meio ambiente, garantindo,
pela contribuição mútua, que ele seja conservado, tendo
em vista a obrigação humana em razão do desenvolvimento
sustentável dos ecossistemas e da natureza.
Nesta lógica, o autor dispõe sobre o artigo 127 da
Constituição Federal, cujo conteúdo delegou ao Ministério
Público a responsabilidade de defender os interesses da
natureza no ordenamento jurídico:

A Constituição Federal, em seu artigo 127,


incumbiu ao Ministério Público a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis, logo,
o meio ambiente ecologicamente equilibrado
trata-se de um legítimo interesse social, cabendo
ao Ministério Público Estadual ou Federal sua
proteção (VIEIRA; NOCERA; SILVA, 2012, p. 76).

O Ministério Público está responsável por tomar


todos os meios necessários que garantam o amparo concreto
dos animais não humanos, incluindo, além da fauna silvestre,
aqueles criados para abate e os animais de estimação, a fim
de impedir diversas ações que violam o seu direito a viver com
dignidade, livres de tratamentos cruéis e abusivos (VIERA;
NOCERA; SILVA, 2012, p. 76).
Por conseguinte, a atual perspectiva ética, filosófica,
e jurídica torna inteiramente oportuno ao Ministério Público
aplicar a administração de ações para proteger e defender
77
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

os animais não humanos. Superar os obstáculos ambientais,


legitimando a vida desses seres, e, portanto, a necessidade de
proteção, impede o seu uso como propriedade, e permite que
desfrutem de uma existência digna (VIERA; NOCERA; SILVA,
2012, p. 77).
Conforme Levai (2008, p. 179), como protetor do
meio ambiente e defensor dos animais, compete ao Ministério
Público, em especial, garantir a aplicação fiel das normas
de proteção mais elevadas, e envidar esforços para que as
leis inferiores à Constituição não legalizem o comportamento
cruel, impedindo a legitimação de atrocidades em quaisquer
princípios de ordem econômica, bem como não deixar que
se pratiquem pesquisas científicas antiéticas, e que nenhum
entretenimento público ou dogma religioso resultem de
costumes distorcidos ou realizem rituais de derramamento de
sangue. Os promotores devem lidar com a injustiça, a hipocrisia
social, as tradições sangrentas e os métodos legais para evitar
esse verdadeiro genocídio contra criaturas inocentes. Em suas
palavras, “os instrumentos legais da Ação Civil Pública e do
Inquérito Civil, somados à possibilidade de firmar Termo de
Ajustamento de Conduta ou de expedir Recomendação,
surtem bons efeitos preventivos, reparatórios e pedagógicos.”
Mesmo que os animais apresentem todos os
requisitos para integrar a relação processual orientados pelo
Ministério Público, o campo jurídico não é o únicomeio para os
animais escaparem de seu antigo sofrimento. Independente
do desejo em aplicar as leis, elas são incapazes de alterar,
sozinhas, a enorme violência que o sistema submete essas
criaturas. Certas medidas, como atitudes isoladas de afeição,

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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

manifestações públicas e levar os problemas ao Poder


Judiciário, até impedem o tratamento cruel ou podem
condenar os criminosos, mas apenas adiam o problema. É
essencial que as pessoas percebam as suas ações, e assim
evoluam para uma compreensão que supere “os limites
do poder econômico, da mídia globalizada, dos índices
do PIB, dos informes técnicos da OMS, dos discursos
pseudoecológicos, das cartas de intenções proclamadas ao
mundo”, e ainda as normas jurídicas orientadoras da vida
social. A excelência espiritual, obtida por meio de um método
de ensino com foco nas emoções, pode ser a única esperança
restante para eliminar as decepções que o mundo louco e
materialista trouxe, emque desde o nascimento dos animais,
durante toda sua vida e até a morte, eles são vistos de acordo
com os desejos humanos. (LEVAI, 2006, p. 188-189).
Consoante ao acima referido, segundo Silva (2009,
p. 56), as práticas e comportamentos especistas intervém na
vida diária das sociedades capitalistas, e exercem influência
no absoluto descaso em relação ao tratamento doloroso
e indigno que a maioria das espécies animais recebe.
Simplesmente atribuir direitos aos animais está muito longe
de ser a superação desse preconceito que se estabeleceu.
Desta maneira, sempre que existir uma compreensão capaz
de desenvolver significativamente o discurso especista no
mundo, a existência de leisde proteção animal não produzirá
nenhum resultado significativo.
É por isso que a única maneira de criar um novo
mundo se encontra em uma educação que desfrute de
elevados valores e princípios morais, permitindo as pessoas

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A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

entenderem a vida como algo inviolável, e enxergarem que


a natureza e os animais são um valor em si mesmos e por isso
precisam de proteção, não porque podem trazer benefícios.
A lei, sozinha, não transforma as pessoas, especialmente
porque o seu equilíbrio social prevalece nas fraquezas e nas
incertezas. Somente restaurando verdadeiramente os valores,
o que só ocorre com o vasto conhecimento humano, seria
capaz de cessar o enorme sofrimento dos animais (LEVAI,
2006, p. 189).
Entre as várias medidas para infiltrar os ideais
de justiça e moralidade da vida, há algumas que estão em
destaque: processar aqueles que cometem comportamentos
cruéis contra animais nos campos penal e civil; ir contra as
apresentações públicas de animais no entretenimento; impor
o uso de meios alternativos na experimentação animal, para
impedir que sejam utilizados vivos na ciência; lutar contra
a criação de animais por meio de métodos de produção
intensiva, que ignora o sofrimento dos animais restritos ante
a lucratividade humana; lutar contra o abate nas práticas
religiosas cruéis; contra a caça, seja em qualquer forma; contra
a indústria da moda e o tráfico animal; promover um novo
processo de inserção social, para introduzir o respeito por todas
as formas de vida; e em última análise, recuperar e admitir a
individualidade dos animais, não só no meio ambiente, mas
também como criaturas sensíveis (LEVAI, 2006, p. 189-190).
Desse modo, com o objetivo de abandonar os
prejuízos causados pela visão antropocêntrica, que utiliza os
animais segundo interesses morais humanos, o biocentrismo,
voltado para o bem-estar da natureza, apresentou novos ideais

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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

que alteraram a relação entre ambos, ao conferir titularidade


de direitos a todos os seres vivos. Consequentemente, os
defensores da corrente biocêntrica procuram formas de
enfrentar os problemas ambientais observados atualmente, e
que até esse momento resultaram em graves consequências
ao mundo. Diante da situação, surgiu a preocupação das
pessoas com o meio ambiente, percebendo que nocapitalismo,
o modo de produção e consumo desregulado e ilimitado, se
contrapõe com a finitude de recursos naturais do planeta e
com a dignidade da vida de todos os seres vivos.
Desta forma, observou-se a capacidade dos animais
de sentir conscientemente, merecendo, portanto, proteção
jurídica e igual consideração, por motivos que já foram
plenamente comprovados no campo ético-moral. Assim, as
antigas suposições utilizadas para excluí-los da consideração,
pelo seu intelecto, estão desatualizadas, e a noção biocêntrica
é a mais apropriada.
A vedação constitucional em relação à crueldade
contra os seres não humanos, a qual proibe o tratamento
cruel contra os animais, possibilita compreender os não
humanos como portadores de dignidade própria, com
direitos fundamentais oriundos do texto constitucional, pois
possuem uma vida. Outrossim, analisando o habeas corpus
que determinou retirar Cecília do zoológico na Argentina,
nota-se que além de proteger a integridade da chimpanzé,
a sentença evidenciou um critério de reconhecimento de
direitos. Ou seja, a condição triste em que ela estava, em
situação de isolamento, e a mudança de humor após ser
transferida para o santuário no Brasil, é uma prova concreta

81
A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

de que a senciência está presente nos animais, sendo capaz


de alterar comportamentos e proporcioná- los sentimentos
variados, o que motivou considerá-la como sujeito de direito.
Precedentes nacionais, como o habeas corpus
estudado, ajudam a consolidar a autonomia do direito animal,
tendo em vista que abrem margem para os operadores
aplicarem a lei da forma mais justa possível. O caso de Cecília
reconhece um animal não humano como sujeito de direitos, e
assim demonstra ser possível ampliar a tutela jurisdicional ao
encontro do reconhecimento de direitos no Brasil.
Conforme visto, cabe ao agente da lei punir àqueles
que ofendam o bem- estar dos animais. Mesmo diante da
inexistência de regras claras no ordenamento jurídico, o Poder
Judiciário precisa levar em consideração a evolução social e
as características dos beneficiários, para sempre realizar uma
interpretação que respeite a dignidade e a senciência nesses
seres.
O Ministério Público, um dos guardiões dos animais,
ou as entidades de proteção, podem e devem recorrer
aos tribunais para defendê-los. É necessário, ainda, que a
coletividade perceba as próprias atitudes e promova práticas
de defesa, evitando que a objetificação continue ocorrendo
atualmente. Entende-se, por fim, que a decisão argentina
demonstra a necessidadede concretizar os direitos dos animais
no ordenamento jurídico brasileiro, por meio de uma reforma
que efetive a sua proteção, a começar pelo atendimento das
garantias fundamentais de todos, em qualquer situação.

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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

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LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA & DANIEL RIBEIRO PREVE

SOBRE OS AUTORES

LUNA MANARIN NUNES DE SOUZA


Bacharela em Direito pela Universidade do Extremo Sul
Catarinense – UNESC. Pesquisadora colaboradora do Núcleo
de Estudos em Estado, Política e Direito (NUPED/UNESC).

DANIEL RIBEIRO PREVE


Doutor em Direito - Universidade Federal de Santa Catarina
- UFSC. Mestre em Ciências Ambientais - Universidade do
Extremo Sul Catarinense - UNESC. Especialista (lato sensu) em
Direito Civil e Metodologia do Ensino Superior e da Pesquisa
pela UNESC. Graduado em Direito pela UNESC. Professor
titular do Curso de Direito e Especializações da Unesc nas
disciplinas de Direito Administrativo, Direito Ambiental, Direito
Constitucional, Direito Imobiliário, Direito Urbanístico, História
do Pensamento e das Instituições Jurídicas, Sociologia Jurídica,
e Responsabilidade Civil. Líder e pesquisador do Grupo de
Pesquisa em Direito à Cidade e Políticas de Sustentabilidade
Urbana e Ambiental (GPDUC/UNESC) Pesquisador do Núcleo
de Estudos em Estado, Política e Direito (NUPED/Unesc).
Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Arqueologia e Gestão
Integrada de Território, na Linha de Pesquisa Patrimônio
Cultural e Ambiental, Direito e Cidadania/Unesc. Membro do
Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU). Membro da
Rede Brasileira de Urbanismo Colaborativo. Vice-Reitor da
UNESC. Advogado. Vice-Presidente da Comissão de Educação
da OAB/SC.

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A TUTELA JURISDICIONAL DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS NO BRASIL

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